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entrevista com o fotógrafo Bori Kossoy

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A histria da descoberta:Boris Kossoy, Hercule Florence e a descoberta da fotografia no Brasil.No mundo da fotografia so poucos os que conseguem associar a carreira comercial com a terica. Boris Kossoy um deles. Em uma srie de dois artigos que sero publicados nessa e na prxima edio da DPBR, ele nos conta um pouco de sua trajetria.O trabalho de Kossoy pode ser conhecido de vrias maneiras. A mais comum entre os fotgrafos da minha gerao (nascidos a partir da dcada de 70) entrar em contato por algum livro de sua autoria, principalmente da sua trilogia Fotografia e Histria, Realidades e fices na trama fotogrfica e Os tempos da fotografia, onde constri sua teoria sobre esse tipo de imagem. Outro ttulo de grande destaque em sua obra, que tambm porta de entrada para muitos o conhecerem e que lhe rendeu a maior condecorao do Ministrio da Cultura da Frana, pela contribuio Cultura, a Chevalier de lOrde des Arts et de Lettres : Hercule Florence A descoberta isolada da fotografia no Brasil.Alm disso, Boris um fotgrafo respeitado: como fotgrafo foi proprietrio do Estdio Ampliart e prestava servios para a Rede Record, Rdio Jovem Pan e Jornal da tarde, alm de ser o primeiro Brasileiro a participar da ASMP (American Society of Media Photographers) e ter fotografias incorporadas aos acervos de alguns dos museus mais importantes do mundo. Tambm professor titular da Escola de Comunicao e Artes da USP, onde desenvolve pesquisas relacionadas fotografia. Alm disso, um terico reconhecido internacionalmente: um de seus 12 livros, alguns deles editados em outras lnguas, colocou o Brasil no mapa da descoberta da fotografia, levantando informaes que comprovam que um francs chamado Hercule Florence radicado e isolado na Vila de So Carlos, que mais tarde originou Campinas, tambm pai dessa inveno.Esse um assunto delicado ao qual muita gente, ainda hoje, torce o nariz, afinal Daguerre tido como inventor, de quem a Frana comprou os direitos e doou, nobremente, ao mundo. Nesse trabalho Kossoy explica, dentre outras coisas, que a fotografia no foi exatamente inventada, mas descoberta, e que seu surgimento dependia apenas de algum que fosse capaz de olhar de cima e juntar peas que j estavam prontas pelo menos 50 anos antes.Lila: Voc soube por um parente distante do Florence sobre a suposta inveno da fotografia. Como recebeu essa notcia?Eu falei: essa boa, conta outra! Foi pelo Arnaldo Machado Florence, trineto de Hercule. Demorou um pouco, mas finalmente eu criei coragem e fui pra Campinas ver os manuscritos. Fiquei muito assustado, muito impressionado, mas no tinha dimenso. Primeiro eu achava que era fora do comum uma afirmao dessas, e segundo, eu no tinha condio por mim mesmo de compreender o que estavam naquelas 1500 pginas, divididas em 5 ou 6 volumes escritos em francs da poca. A histria longa: entre assimilar a ideia e comear a frequentar a casa dele, tomar notas e chegar concluso foram 6 ou 7 anos. No havia nenhuma afirmao do tipo: eu inventei a fotografia e usei tais tcnicas. Isso eu fui descobrindo juntando as partes, fragmentos que eu ia recolhendo.. aquilo era um dirio de trabalho, eram, eram..Lila: eram anotaes, eram anotaes, rascunhos, e pra formular o mtodo e compreender as tcnicas, que foi o meu projeto, eu precisava comprovar a veracidade do prprio documento e da tcnica inventada por ele.As preocupaes eram muitas. Eu precisava, primeiro, saber da autenticidade das anotaes: Isso foi escrito antes ou depois de Daguerre? Esse papel de poca ou um papel de 20 anos atrs? Em que medida pode haver um golpe aqui? Eu fui muito rigoroso comigo pra no aceitar isso de qualquer jeito. Por duas razes: a primeira que me faltava base pra compreenso a fundo dos mtodos e tcnicas usadas pelos pioneiros e eu tinha que aprender isso, estudar muito. Depois eu precisava saber se os materiais que ele usou poderiam ser viveis pra que ele realizasse um processo fotogrfico, ou seja, precisava testar, experimentar a frmula.Eu tambm queria precisar uma data, saber quando, exatamente, ele comea com essa pesquisa. A primeira anotao dele sobre, e eu chequei cruzando fontes dele mesmo, de 15 de janeiro de 1833. Eu comecei a estudar muito profundamente a histria do Brasil, queria ver aspectos polticos, cientficos, qumicos e verificar que tipo de cultura, de cincia que havia nesse pas naquele momento. Era muito importante saber que apoio ele poderia ter do ponto de vista tcnico e cientfico. E verifiquei que no havia nada sobre nada, ele estava falando sozinho. Acabei me interessando pela personalidade dele. Em outros momentos, em outras coisas que ele escrevia no dirio, dizia que estava no exlio, termo dele. Que ele no tem com quem falar, ele sabe que sua inveno importante e que se estivesse em outro lugar, na Frana, por exemplo, teria um outro impacto.Lila: E em que momento voc percebeu que isso era algo importante, que poderia causar uma reviravolta na histria da fotografia?Foi quando essas afirmaes comearam a causar uma srie de reaes ao contrario. Essas reaes nem foram aqui (no Brasil); aqui a reao sempre a mesma: mas puxa, que legal! Pra mim isso pior do que crtica. Mas nos Estados Unidos e mesmo na Frana, diziam que isso era impossvel e apareciam perguntas absurdas. Essas coisas foram me dando pistas: Um cara me perguntou uma vez (em ingls): isso muito interessante, voc tem um nome russo e veio da Bolvia. Eu disse: no exatamente, sou do Brasil, ao que ele respondeu: ah, que seja, a mesma coisa! Quando eu ouvi isso, vi que realmente tinha um problema. Eu comecei a perceber na pele o que a antropologia fsica, sabe? O que definido pelos nossos traos, preconceito e coisas assim. E percebi que esse tema era muito maior do que eu imaginava.Lila: e quando foi isso?Foi em 76. No comeo do ano veio um pesquisador americano aqui e fez uma longa entrevista comigo, mostrei os documentos, aquela histria n? Vem um estrangeiro, a voc mostra o que esta fazendo, eu tinha 30 e poucos anos... Enfim, esse cara voltou pros Estados Unidos e escreveu uma longa matria numa revista de grande circulao no meio da arte, praticamente dizendo que ele descobriu no Brasil um inventor da fotografia que ainda era desconhecido. Quando eu vi isso quase que eu tive um infarto, se tivesse 40 anos a mais teria tido! E a ento eu vi que era muito mais importante do que eu pensava. Esse cara tinha uma posio importante num dos museus mais importantes dos Eua na poca. Mas os nomes das peas esto todos no livro, no deixei ningum de fora.A eu ganhei um inimigo publico nmero 1 porque eu divulguei tudo o que vinha acontecendo e que essa pessoa tentou fazer no artigo, que contm tais erros, e expliquei todos os erros. Pra mostrar que o cara no tinha conhecimento e que ele estava chutando pra tentar roubar a minha pesquisa.Lila: E como voc conseguiu comprovar a veracidade da descoberta do Florence?Essa histria tem vrias boas coincidncias: Nesse mesmo ano eu recebi aqui no Brasil um professor do Rochester Institute of Tecnology, que fez exposies, inclusive no MASP. Voltando pros EUA, ele contou minha histria pro reitor do RIT, e nos colocou em contato. Eles acreditavam em mim e estavam dispostos a me ajudar. Eu disse a eles que gostaria que repetissem os mtodos utilizados pelo Florence nos laboratrios do Instituto. Eles acharam a ideia interessante e concordaram em s divulgar, no importando o resultado que desse, no final dos estudos. Eu no queria publicidade. Pra encurtar, isso foi feito, est detalhado no livro. No final daquele mesmo ano, 76 foi um ano intenso, houve um Simpsio Internacional da Histria da Fotografia em Rochester e eu fui convidado pra apresentar essa tese. Eu seria simplesmente crucificado por aqueles que escrevem a histria da fotografia.O pessoal da ASMP me ajudou tambm. Quando eu estive l desesperado porque estavam tentando roubar minha pesquisa, eles conseguiram uma espcie de reportagem investigativa. Durante 20 dias eu tomei caf da manh com um jornalista que tinha fama de escrever reportagens especiais. Ele vinha com uma lista de questes pra tentar descobrir onde estava o golpe. Com toda a simpatia, mas queria saber onde estava a jogada que pe tudo a perder. A reportagem saiu na mesma poca que comeou o simpsio, tinha 7 pginas na revista mais lida do meio. Chamava Popular Photographer , tinha tiragem de 900 mil a 1 milho de exemplares e circulava o mundo todo.No que isso convenceu aquela plateia, pelo contrrio, irritou ainda mais! Mas tudo se transformou no momento em que eu comecei a minha conferncia agradecendo ao RIT, ao reitor e ao professor tal que se incumbiram do programa de repetio das experincias... No se ouvia uma mosca e os olhos iam abrindo... A causou um frisson! Teve gente que engoliu, teve gente que no engoliu, os franceses ficaram mais irritados, os americanos eram diferentes, quando voc comprova pra eles isso assim, t acabado.1988 foi outro momento muito importante porque era o ano que antecedia os 150 anos do anncio da descoberta de Daguerre para o mundo. O ministrio da cultura da Frana organizou um colquio internacional chamado As mltiplas invenes da fotografia. Foi a primeira vez que os franceses admitiam que a fotografia podia ter mltiplas invenes. Foram convidados os especialistas em Nipce, Daguerre, Fox Talbot, Bayard, e Hercule Florence (risos) e da pra frente as coisas foram se multiplicando. Lila: Sabemos que foram mltiplos inventores, mas tem como estabelecer uma cronologia, um quem veio antes, quem veio depois?Tem, Claro. Veja, a gente tem inclusive que falar daquilo que no foi inventado. No sculo XVII as pessoas j utilizavam a cmara escura para o desenho e sabiam que a luz passa pelo orifcio e se projeta da parede posterior , a levaram para o campo e usaram como instrumento, como ferramenta. Em 1777 um qumico sueco descobriu, trabalhando com amonaco e sais de prata, que os sais que no foram atingidos pela luz so lavados pra fora se submetidos ao banho de amonaco. Mas ele no juntou uma coisa com a outra. Muitos historiadores tem em comum, apesar das divergncias, o pensamento que a fotografia poderia ter sido inventada 50 anos antes, porque j se sabia do ponto de vista fsico como se formavam as imagens e a qumica j tinha solues para que essa imagem fosse fixada. Isso de reter a imagem um sonho que existe desde a antiguidade.Cronologicamente teve o Thomas Wedgwood em 1800, depois o Nipce em 1815, tem a associao dele com o Daguerre, que se d mais ou menos no momento que o Florence comea as pesquisas dele (1833). Logo em seguida o Fox Talbot comea as experincias e o ltimo a comear o Bayard, que comea no ano de 1939. Agora isso no significa que um deles o inventor, significa que nesse processo esto todos trabalhando com o mesmo propsito, com o mesmo princpio, em direes diferentes, usando tcnicas diferentes. Lila: De certa forma era o momento da humanidade descobrir a fotografia.Sim, era. S precisava de algum olhando mais de cima pra juntar as peas. O Florence tinha uma loja de roupas e observou que as peas clareiam com a ao da luz do sol. No que elas enegrecem, o enegrecer ele vai aprender com o menino Joaquim Correia de Melo o quinzinho da botica, que trabalhava na farmcia do sogro dele, que era um boticrio naquela poca. Voc v que tanto de alquimia que tem aqui atrs, no ? Um menino de 16 anos que fala: sabe que os sais de prata que eram usados na botica pra fazer remdios eles escurecem quando expostos luz do sol? Da a ficha cai e desencadeia todas essas coisas. Mas isso j se sabia h mais de 100 anos. Ento no tem nada de gratuito aqui, no tem nada de inventou a roda.Lila: Fez conexes, s fez conexes.Lila: E quando o Florence soube da inveno de Daguerre? Chegou a manifestar alguma opinio?Ele nem sabia o que estava se passando l fora. Fica sabendo por um jornalzinho de So Paulo, o Farol Paulistano sobre essa descoberta. E a no resta pra ele nada a no ser dizer que uma mesma ideia pode ser desenvolvida por duas pessoas...Ele faz uma declarao em 1839, acho que ele est entre conhecidos e algum menciona o anncio da descoberta da fotografia. Ele fala que sente um impacto no corao quando comeam a descrever o que descobriram porque, poxa vida, se ele estivesse em algum centro, teria o reconhecimento. E a vem a pergunta contrria: ser que se ele estivesse l, na Frana ou em algum outro importante centro da poca, ele teria se interessado por isso? A histria dele diz que seus interesses estavam muito voltados pras necessidades locais: comeou a pesquisar um processo de impresso porque na vila no havia nenhuma tipografia. Ser que na Frana ele no teria se interessado pela pintura exclusivamente? Porque ele era um excelente desenhista. O que tambm uma boa pergunta pra se fazer.Lila: e atualmente, como a comunidade internacional encara essa descoberta?Tem os autores que tem profunda irritao com esse tema porque dizem que a descoberta dele no alterou em nada a histria da fotografia. uma viso muito mope da histria, porque a histria no s aquilo que foi consagrado, mas tudo aquilo que foi consagrado e tudo aquilo que no foi por tais e tais razes. Ento outra histria, n?A ltima experincia internacional foi em 2005, o ano do Brasil na Frana, quando a cidade de Nice terra natal do Florence - resolveu fazer uma homenagem a ele e organiza um seminrio de um dia completo onde as pessoas falaram sobre o Hercule e suas pesquisas. Foi muito bonito e com grande repercusso. Mas agora a postura dos franceses j outra. Teve um dado momento que os americanos comearam a falar entre os intelectuais que essa uma descoberta da fotografia nas amricas! pra mim t tudo bem! RisosLila: aos poucos as pessoas vo achando como tirar proveito da coisa, n? A Frana diz: ele era francs..., ele era francs, ento t bom! os Eua: foi nas amrica, eu digo ok, t bom tambm! Risos Ento foi essa histria do Hercules Florence que aconteceu na minha vida, n? Lila: Que histria!Isso quando estou com pouca gente eu relato dessa forma, n? Agora na academia tem que ser de outro jeito. Da eu falo de outro jeito! Assim bom porque mais humano, mostra que ele era um homem como qualquer outro, mas muito criativo, com um dom excepcional para o desenho.Essa a histria da histria. Acho que nunca a contei assim.Lila: Foi sensacional ouvir, obrigada.Gostou? Quer saber mais? No deixe de ler: Hercule Florence - A descoberta isolada da Fotografia no Brasil. Preo mdio R$ 70,00.

BOX: Andr Spnola e Castro j escreveu aqui na DPBR (Nmero X pgina tal) sobre o homem que no sabia desenhar Fox Talbot teria inventado a fotografia a partir dessa frustrao. Florence, por sua vez, era exmio desenhista. Por causa desse dom, participou de uma expedio pelo Brasil comandada pelo baro de Langsdorf, cnsul geral da Rssia no Rio de Janeiro, documentando os tipos e as espcies que encontrariam no caminho. A premissa que fez Florence investir na pesquisa que o levou a descobrir a fotografia foi a reprodutibilidade ele buscava um meio de impresso, formas mais simples para se transmitir e multiplicar a informao.

Imagens:

Figura 01

Figura 02

Figura 03

Figura 04

Figura 05Experincias de Florence: Rtulos para farmcia nas figuras 1 e 2, cpia de um diploma manico na figura 03, rtulos para vinhos nas figuras 04, retrato do Florence com 75 anos (autor desconhecido).

Conhea:Web: www.boriskossoy.comreas de atuao: Fotgrafo, pesquisador e professor titular da ECA Escola de Comunicao e Artes da USP.Mora em: So Paulo, mas tem um carinho declarado por Florianpolis, onde passa boa parte de seu tempo.Equipamentos: Leica R4s objetivas de 50 e 90mm, Hasselblad objetiva de 85mm, Canon 5D Mark II; objetivas 40-70mm e 70-200mm e uma Lumix PanasonicDMX-LX3Quem : Filho de imigrantes Ela Polonesa, ele Russo, Kossoy nasceu em 1941 em um stio prximo Vila Galvo em Guarulhos. Aos cinco anos a famlia se muda para So Paulo e aos treze ganha sua primeira cmera. No comeo dos anos 60 compra uma cmera Vectra de 35mm e se interessa especialmente por registrar os temas da natureza. Em 1968 funda o estdio Ampliart, passando a atuar nas reas de jornalismo, publicidade e retratos atendendo a clientes como Tv Record, rdio Jovem Pan, editora Abril, Bloch editores e Jornal da Tarde. Em 1965 obteve o ttulo de arquiteto e urbanista pela Universidade Mackenzie. Tornou-se Mestre em 1978, Doutor em 1979, ambos em Cincias pela Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo e ps-doutor em 1991, pela ECA Escola de Comunicao e artes da USP. Em 2000 defende sua Livre-docncia e torna-se professor titular da ECA-USP. autor de 12 livros, muitos deles dedicados teoria e pesquisa fotogrfica. Dentre sua produo fotogrfica, destaca-se a presente em seu primeiro livro, Viagem pelo Fantstico, de 1971.

Viagem pelo fantstico capa.Legenda:Primeiro livro de Kossoy, rene uma srie de contos visuais que exploram os dramas existenciais.

Lila Souza arquiteta, urbanista, especialista em fotografia pela Universidade Estadual de Londrina, Mestre em Multimeios pelo departamento de cinema do Instituto de Artes da UNICAMP. Fotografa e professora deteoria da fotografia, tcnica fotogrficae composio no Instituto Internacional de Fotografia. Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPq parao grupo Comunicao e Histria,atrelado linha de pesquisa Mdia e Memria.Contato: [email protected] extras:Eu: Na poca dessa descoberta voc no estava vinculado a nenhum programa de mestrado, doutorado? A pesquisa no teve nenhum tipo de apoio? Foi a que tudo comeou?, eu no estava na academia ainda, nem passava pela minha cabea. Eu fui fazer uma carreira acadmica por conta dessa histria. Se isso no tivesse acontecido, se Florence no tivesse aparecido na minha vida, eu estaria muito bem e satisfeito como fotgrafo a vida inteira. Depois dessa histria do Florence eu comecei a ficar curioso sobre porque haviam s 30, 40 fotgrafos que eram conhecidos no Brasil no sculo XIX, se tanto. Porque em geral s falavam de Marc Ferrez. Da comea uma outra histria, que levou 18 anos e culminou no dicionrio histrico brasileiro, com 900 verbetes, no eram bem 30 n? Era um pouquinho mais... risosNs: voc chegou a visitar alguns lugares que Florence tinha desenhado pra fotografar. Como foi isso?Foi, e em um deles eu quase morri! Risos. Isso foi uma ideia do Bardi (Pietro Maria Bardi) e esse livro um livrinho completamente esgotado que eu devo ter um aqui ou perdido l em cima, no sto, na sala dos fantasmas. Eu tenho que bater na porta antes pra ver se no tem nenhuma situao desagradvel, se eu posso entrar, porque s tem livros e os fantasmas. Posso entrar? Eles dizem: ah, voc pode. Da t todo mundo se comportando direito. Risos, a ideia do Bardi era muito interessante. O ano era 1977 e tinha esse barulho todo, teve uma repercusso bem grande aqui no Brasil nessa poca por conta dessa histria. E a ideia dele era refazer a viagem fluvial que o Florence fez comandada pelo baro de Langsdorff, cnsul geral da Rssia no Rio de Janeiro (e ele mesmo o Langsdorf no era russo, era alemo, risos), que partia de porto feliz, perto de Campinas em 1825 e, por via fluvial, voltou ao RJ em 1829. Um dos poucos sobreviventes dessa faanha foi o Florence . O prprio Langsdorf enlouqueceu durante a viagem atacado pelas febres tropicais, pela malria, bri-beri e nunca mais recuperou a razo. O primeiro desenhista da expedio, era da famlia Taunay.O primeiro desenhista seria Rugendaz, que no se adaptou com o jeito do Baro, desligando-se da expedio quando ela estava para comear. Como a ideia era levar botnicos, naturalistas e astrnomos para entrar, conhecer o Brasil profundo, Florence entrou no seu lugar. Percorrem o interior de So Paulo, passam pelas cataratas, sobem entram no Mato-Grosso, atravessam, entram no Par, atravessam toda a selva amaznica, at que a expedio se desfaz. O Langsdorf j no regulava mais, o menino Taunay morreu afogado ao ser atingido por um raio quando tentava atravessar o rio Guapor em uma tarde de tempestade. Isso daria um filme fantstico! E o prprio Florence, que acho que era o mais jovem da expedio, tem horas de febre ele foi atacado pela malria e tem horas que ele t so. Coube a ele o relato de toda a expedio e grande parte dos desenhos. Quando eles voltam, Florence procura a Maria Anglica, moa que ele conheceu antes de partirem e se casa com ela, que era filha de um grande poltico do imprio (Francisco lvares Machado Vasconcellos), que acaba sendo interventor da provncia do RS, um cara muito importante e talvez isso tenha dado ao Florence a tranquilidade pra realizar tranquilo a sua descoberta. Ele teve 20 filhos, 13 com a Maria Anglica, 7 com a segunda esposa Carolina Cruz. Tem o lado moreno da famlia (os franceses) e o lado bem alemo, loiro de olhos azuis. E tem mais um que o povo no gosta de mencionar, o vigsimo primeiro, que na verdade foi o primeiro e aconteceu durante a viagem com uma ndia. Que histria, n?