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Apresentação Vozes Especiais Fatos Links Ruy Carlos Ostermann Apresentação Apresentação Entrevista completa Fotos Vídeos Ruy Carlos Ostermann Entrevista completa Entrevista realizada nos estúdios da Famecos/PUCRS em 28 de agosto de 2001. Ruy Carlos Ostermann, nascido em São Leopoldo, em 26 de setembro de 1934. Tiago Nequesaurt – O senhor pode nos relatar o seu início no rádio, como foi, como se deu? Ruy Carlos Ostermann Se deu como eu imaginava que um microfone fosse, ou seja, um telefone. Eu dizia alô e esperava que alguém falasse comigo, eu desconhecia o microfone, foi na rádio São Leopoldo, oportunidades assim muito escassas, circunstanciais. Eu era um sujeito formado na leitura, eu gostava muito de ler, então eu tinha uma formação um pouco acima dos meus companheiros habituais, dos estudantes dos quais eu compartilhava a sala de aula e isso me favoreceu um pouco, pois quando eles precisassem de alguém que soubesse falar, eles iam me procurar. Então foi por aí que começou a minha experiência, muito modestamente, em 1962, na rádio Guaíba, eu trabalhava na Folha da Tarde, eu comecei a trabalhar na Folha da Tarde Esportiva, depois eu passei para a Folha da Tarde também coincidentemente, eram em horários diferentes. A Folha da Tarde era um jornal, um tablóide vespertino, saía à tarde, nós trabalhávamos pela manhã. E a Folha da Tarde Esportiva era um jornal matutino. Era um tablóide só dedicado aos esportes. Eu comecei por aí porque eu pratiquei basquete, eu joguei futebol, eu gostava muito do jogo e do ponto de vista que sempre me atraiu, saber como é que se joga, como é que se faz, porque é que as coisas acontecem, por onde elas passam, que era no fundo, mais ou menos, o que eu acabaria fazendo na minha vida profissional, como

Entrevista Completa _ Vozes Do Rádio - RUY CARLOS OSTERMAN

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Entrevista ao site da FAMECOS-PUC RS sobre o rádio gaúcho, a história da crônica esportiva no RS, além de comentários sobre telejornalismo e midia impressa

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Ruy Carlos Ostermann

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Ruy Carlos OstermannEntrevista completaEntrevista realizada nos estúdios da Famecos/PUCRS em 28 de agosto de 2001.

Ruy Carlos Ostermann, nascido em São Leopoldo, em 26 de setembro de 1934.

Tiago Nequesaurt – O senhor pode nos relatar o seu início no rádio, como foi, como se deu?

Ruy Carlos Ostermann Se deu como eu imaginava que um microfone fosse, ou seja, um telefone.Eu dizia alô e esperava que alguém falasse comigo, eu desconhecia o microfone, foi na rádio SãoLeopoldo, oportunidades assim muito escassas, circunstanciais. Eu era um sujeito formado na leitura,eu gostava muito de ler, então eu tinha uma formação um pouco acima dos meus companheiroshabituais, dos estudantes dos quais eu compartilhava a sala de aula e isso me favoreceu um pouco,pois quando eles precisassem de alguém que soubesse falar, eles iam me procurar. Então foi por aíque começou a minha experiência, muito modestamente, em 1962, na rádio Guaíba, eu trabalhava naFolha da Tarde, eu comecei a trabalhar na Folha da Tarde Esportiva, depois eu passei para a Folha daTarde também coincidentemente, eram em horários diferentes. A Folha da Tarde era um jornal, umtablóide vespertino, saía à tarde, nós trabalhávamos pela manhã. E a Folha da Tarde Esportiva era umjornal matutino. Era um tablóide só dedicado aos esportes. Eu comecei por aí porque eu pratiqueibasquete, eu joguei futebol, eu gostava muito do jogo e do ponto de vista que sempre me atraiu, sabercomo é que se joga, como é que se faz, porque é que as coisas acontecem, por onde elas passam, queera no fundo, mais ou menos, o que eu acabaria fazendo na minha vida profissional, como

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comentarista. Só que eu não sabia, não estava pensando nisso. Então eu joguei basquete com muitaintensidade, fiz parte de uma seleção juvenil de basquete do Rio Grande do Sul e fui técnico debasquete. Quando eu fui trabalhar, em fins da década de 50, na Caldas Júnior, eu levava comigo tudoisso e por isso encaixei imediatamente no esporte, esta é a justificativa porque eu fiz esporte durantetodo este tempo, tendo preocupações de outra ordem, que me levariam a me formar em Filosofia, a serprofessor de Filosofia e hoje ser um escritor também. Tudo isto estava metido dentro de uma mesmacoisa, mas o que mais transparecia, o que mais se via, era este meu lado esportivo, digamos, o sujeitoque lidava bem com os esportes e os entendia. Então me lembro que, em 62, na rádio Guaíba, quefuncionava no andar de cima do prédio da Caldas Júnior, desceu o Jorge Alberto Beck MendesRibeiro, que era um dos organizadores da rádio Guaíba, que é de 1957, pareceme, eles lá começaramesta experiência e ele era um sujeito que trazia a experiência, toda feita na Gaúcha, era o radialista eera um narrador realmente competente, era um homem com qualidades de rádio muito grandes. E eume lembro que ele desceu até a redação e disse escuta, me dá uma mão. Eu preciso comentários debasquetebol, naquela época tinha um campeonato em Porto Alegre com seis, sete clubes, e era de umaatividade intensa e era uma alternativa para a cobertura esportiva. E então eu fui lá, pois o responsávelpelos comentários também era colega meu de jornal, era o Alberto Mates, que fazia coberturajornalística, sobretudo o basquete. Mas ele é um homem muito engraçado. Ele falava arrevezado, elefalava com um “erre” fraco, como se dizia, o Rolla (Osvaldo Rolla) tinha três “erres”, este tinhamenos um. Então era “aremessou”, ou coisa assim, e ficava ruim, auditivamente, em rádio. Então oRibeiro queria, de certa forma, digamos, corrigir isto, e me levou para lá. Eu não sabia nada disto, eufui lá e fiquei aguardando que me chamassem. Quando alguém se atrevia a me chamar, e eu nãoestava vendo ninguém perto de mim chamando, portanto, era simplesmente a transmissão de rádio,que eu desconhecia por inteiro, ou não prestava atenção, talvez. E eu dizia alô, ao invés desimplesmente: “Pois não fulano, e tal”. Para mim, as primeiras experiências com o microfone eramcomo se eu estivesse lidando com uma coisa que eu conhecia bem, que era o telefone. Para vocêsterem uma idéia de que o meu início era um início mesmo.

Fábio Canatta – E este início não foi remunerado, não é?

Ruy Carlos Ostermann Não, não foi, foi um auxílio, eu achei interessante abrir uma outraperspectiva e me lembrei daqueles tempos lá de São Leopoldo quando eu comecei a fazer unscomentários de futebol, lá na rádio São Leopoldo, com o Brás Oliveira, queridos amigos. Então eu fizesta pequena experiência e desci para a Redação e fiquei quieto no meu canto escrevendo os meustextos, eu já sabia escrever relativamente bem textos e tal e achei que estava encerrado este pequenoepisódio, quando depois ele veio me chamar e disse que queria que eu fosse comentarista da rádio,que tu venhas aqui tomar parte da equipe de comentaristas. E o Amir Domingues, que era o primeirocomentarista da época, e era uma pessoa muito querida, se revelou um grande amigo depois. E eudigo: “Vem cá Ribeiro”. Não, tu tens jeito, é isso mesmo vamos por aí e tal, e insistiu e eu acabei,sim, sendo contratado como comentarista da rádio, e isto foi um mês ou dois meses depois de 62,desta experiência pequena com o basquete. Em 62, houve o segundo mundial do Brasil, no Chile, e euestava começando, imagina que azar. Esta Copa do Mundo eu não pude fazer por estas razões bemcompreensíveis. Depois, já em 66, eu fui o comentarista da rádio, na Inglaterra, minha primeira Copa,e daí sucessivamente, eu vou atingir a décima Copa agora, no Japão e na Coréia, de modo que o iníciofoi este.

Tiago Nequesaurt – O senhor não tinha o costume, o hábito, de ouvir rádio quando criança,quando adolescente?

Ruy Carlos Ostermann – Ouvia muito rádio…muito. Eu tinha um tio, tio Alzemiro…eu gostavamuito dele. Ele morava em Taquara e era uma das únicas pessoas que ouvia ondas curtas. Isso eraextraordinário na época. Então, eu ouvia a rádio Tupi, a rádio Nacional do Rio de Janeiro, a rádioTamoio…..eram emissoras poderosíssimas e fascinantes para mim, assim, menino. A Copa, porexemplo, de 50, eu ouvi no rádio e foi uma choradeira geral, mas eu fiquei fortemente comovido pelaemoção que os caras passavam porque, naquela época, não havendo televisão, o rádio era o único

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veículo simultâneo, instantâneo, de um episódio como uma Copa do Mundo. Então, na verdade, eunão tinha como conferir o que estava sendo dito se o jogo fosse fora. Então a margem de erro,premeditado ou não, de gafes ou fantasias…não é…..eu me lembro, por exemplo, que em 54, euodiava, de morte, o “mister Alice”, um juiz francês que apitou Brasil e Hungria…e o Brasil perdeu de4 a 2…é um célebre jogo em que o Armando Nogueira, jovem então, fazendo a cobertura – ele fazia afotografia e texto – e ele se aproximou do vestiário do Brasil e viu uma enorme discussão e a portatrancada, mas tinha uma basculante em cima, aí o que ele fez, levantou a máquina fotográfica edisparou. E pegou o chefe da delegação brasileira dando com um sapato na cabeça do “mister Alice”,essa é a foto que ele tem. Extraordinária.

Tiago Nequesaurt – Que não era o Paulo Machado de Carvalho?

Ruy Carlos Ostermann – Não, não era. Em 54 era….puxa agora você me apertou. Não lembro…nãolembro agora…54, 54, 54. Em 58 é Vicente Feola, é a organização de uma comissão técnica. E aícomeça uma mudança no futebol brasileiro, talvez fosse o Aimoré, o Aimoré foi em 62. Acabousendo em 1962 em substituição ao Feola que não estava bem de saúde naquela época. Bom, masentão, a transmissão à distância, que vinha com um som muito sofrido, mutilado, com problemas defade e tudo mais. Era uma transmissão extremamente complicada porque nós não tínhamos nenhumadas vantagens de….sistemas como nós temos agora….satélites, diabos, não tinha nada disso. Eramcabos submarinos ou eram invasões em espaços livres. Era muito complicado fazer uma transmissãode rádio, mas era o veículo de instantaneidade e o veículo do testemunho. Então, por exemplo, em1954, eu queria matar o “mister Alice”. Passados alguns anos, eu pude ver um filme de Brasil eHungria. E foi uma tremenda injustiça mesmo aquele jogo, não poderia ter sido 4 a 2, tinha que ser 8 a2, 9 a 2, tamanha a diferença dos húngaros em relação aos brasileiros. Desde então, a minha geração egerações coetâneas àquela época, ficamos discutindo um árbitro inglês que nos tinha tirado apossibilidade de vitória. Não era verdade. Mas assim era o rádio e o rádio era nossa fantasia. O rádiocriava o imaginário todo para as pessoas. Gradativamente, com o surgimento da televisão , isso vai semodificando.

Fábio Canatta – Professor, o primeiro contato que o senhor teve com o jornalismo, ou melhor,como o rádio, foi o primeiro contato que o senhor teve com o jornalismo também, não é?

Ruy Carlos Ostermann Não. Não. Eu comecei na Folha antes.

Fábio Canatta – Não, eu digo não profissionalmente. Eu digo aos seis anos de idade, em umrestaurante…

Ruy Carlos Ostermann Ah, sim, sim. Isso sim.

Tiago Nequesaurt – Um repórter chegando lá e…….

Ruy Carlos Ostermann Eu me lembro……Vocês sabem disso é!!! Eu me lembro de um episódioextraordinário, eu era garoto, nem me lembro que idade eu tinha. Mas foi no Morro do Chapéu.

Tiago Nequesaurt – Não seria aos seis anos?

Ruy Carlos Ostermann – Talvez fosse seis anos. No Morro do Chapéu um avião se estatelou contrao morro. Daí, se pode imaginar a comoção. São Leopoldo era próximo dali, não era muito longe. Daícomeçou aquela correria toda. Eu me lembro que um telefone era fantástico. Quem pudesse chegar aum telefone…..e rádio naquela época já era assim. Então eu me lembro que eu estava no bar erestaurante de meu pai, chamado Café Comercial, na rua Grande em São Leopoldo, pequenino, vendoaquela correria, aquela coisa se movimentando. Daí chega um sujeito para falar com o papai, nãoentendo bem o que eles falam, mas daí meu pai apontou o telefone. Ele foi lá, levantou o telefone, fezo pedido de ligação via telefônica, pois era assim que se fazia, e, finalmente, ele o que é quefez….depois eu soube fazer a leitura de tudo isso. Ele conseguiu fazer uma ligação para sua rádio, e a

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rádio colocouo no ar. O que se faz hoje. Aí eu me lembro…..ele falou alguma coisa assim: “senhorase senhores ouvintes, somos testemunhas de uma hecatombe..” Bah, eu caí duro. Hecatombe eu nuncatinha ouvido falar. Hecatombe nunca ouvi. O rádio era muito cheio disso, era barroco,

né !?! E a hecatombe era o desastre do avião. E aí ele contou os outros detalhes, foi a reportagem queeu pude ver embevecido. E durante um bom tempo eu pensei que eu pudesse trabalhar em rádio, fazerjornalismo, enfim, era falar complicado, muito complicado, e falar de um modo que as pessoasficassem extasiadas como aquele menino pequenino que eu era, ficou. Depois eu fui vendo que nãoera bem assim, né!?!

Fábio Canatta – Professor, a rádio Guaíba em 1963, como era o panorama da comunicação naépoca?

Ruy Carlos Ostermann Olha, nós tínhamos muitos jornais em Porto Alegre. Isso era um fato muitoimportante. Nós tínhamos o Correio do Povo, um jornal standard. E o Correio do Povo tinha umslogan interno: se o Correio do Povo não deu, o fato não aconteceu. Era uma demasia. Mas, enfim, eragrandeza e importância que tinha o jornal na época, era o principal jornal que nós tínhamos. Mas ojornal católico, O Dia…tinha o jornal dos comunistas, a Tribuna….tinha a Última Hora que estavasurgindo…Zero Hora estava também começando…tinha ainda o Diário de Notícias, também na formastandard, um jornal muito bem paginado, rico, agitadíssimo….

Tiago Nequesaurt – Tinha o Jornal do Comércio?

Ruy Carlos Ostermann – Sim. O jornal do Comércio sim. Tinham muitos jornais em Porto Alegre oque dava um clima muito agitado à cidade. A Caldas Júnior, para vocês terem uma idéia, tinha oCorreio do Povo, a Folha da Tarde e a Folha da Tarde Esportiva. E depois, somente depois da décadade 70, vai criar mais um jornal que é a Folha da Manhã. Um jornal que eu acabei me envolvendonuma reformulação que se fez. E eu acabei até sendo diretor dela. Então vocês vêem, isso era umabase. A rádio também era muito forte. Era tão forte, ou mais que os jornais. A Rádio Farroupilha eraum monumento de rádio, com estúdios….O jornalismo não. O jornalismo sempre foi fraco em rádio.O que tinha era o programa de auditório, novelas…as radionovelas que eram o que hoje são astelenovelas. Então, o rádio era um pouco jornalístico através das resenhas. O correspondente Esso, porexemplo, o repórter Esso. É, mais ou menos, o período em que se começou a fazer estas síntesesnoticiosas que entravam em certos horários. No restante, eram programas de entretenimento, devariedades, de música, muito descomprometidos. Não havia uma cobertura de rua. Eu me lembro que,na década de 60, quando a rádio Guaíba começou, que foi uma grande renovação no rádio, porque atéentão nós tínhamos os programas de auditório, isso, aquilo, e os jingles. Jingles, muito jingles, asrádios eram muito ruidosas, muito ruidosas. O Dr. Breno Caldas quando inventou a Rádio Guaíba, eleabriu esse campo chamou ao Meletti, chamou ao Mendes Ribeiro e ao Flávio Alcaraz Gomes, que erada família Alcaraz, para que eles gerenciassem aquele início. E pediu ao Capitão. Não, desculpe,pediu ao Major, o Arlindo Pasqualini, que ficasse como diretor da rádio, um correspondente a eledentro da rádio. O major nunca chegou a entender muito de rádio, mas nem precisava. Ele tinha queentender de pessoas. E nisso ele era bastante bom. Então, naquele tempo, eu me lembro que asentrevistas que começaram a ser feitas, o pessoal tinha que ir no estúdio, não havia entrevista na ruado repórter, não havia gravador. Havia as Geloso, que eram deste tamanho, nem sei se vocês tem aqui.Vocês deveriam ter num museusinho aqui.

Fábio Canatta – Parecido com aquele que se usa em cinema….

Ruy Carlos Ostermann É, mais ou menos aquilo. Eram gravadoras rudimentares, pesadonas, queeram a salvação da lavoura. Então para você fazer uma externa, digamos, em rádio, fazer umtransmissão para fora do estúdio, era uma parafernália, era complicado, e a qualidade de som nemsempre era boa. As condições de microfone, tudo isso, vão se desenvolver muito mais adiante, demaneira extraordinária. Hoje nós temos condições de ter sons locais em lugares impróprios até, tudo épossível. E as mesas hoje cuidam muito o som e naquela época as mesas eram rudimentares também

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não é. Mas o jornalismo que se fazia era assim, para se ter uma idéia de como era pouco desenvolvido.As pessoas davam entrevistas se fossem até a sede da rádio. Se fossem até lá e se dispusessem a falar.Então, eram entrevistas formais, feitas dentro de uma certa ordem, não tinham surpresas, não tinhamflagrantes, não tinha nada disso. Um episódio como aquele do Morro do Chapéu vai mobilizar, deuma forma espantosamente estranha, o repórter que entra por telefone e põe no ar. Eu não sei…eu nãovi no ar…

Tiago Nequesaurt – Era exceção?

Ruy Carlos Ostermann Era exceção, absoluta exceção. Os fatos ordinários da cidade, tudo mais, ouchegavam às redações dos jornais e das rádios ou não saíam. Era assim que se fazia.

Tiago Nequesaurt – Professor, a orelha do seu livro O Nome do Jogo diz que a sua direção, asua passagem pela direção da Folha da Manhã foi uma experiência libertária. Procede? E seprocede, porque?

Ruy Carlos Ostermann Bem, olha aqui. A Caldas Júnior sempre foi uma casa conservadora. Euestou falando a Caldas Júnior do Dr. Breno Caldas. Não a atual, que é outra coisa, outra história. Masaquela que eu conheci era respeitabilíssima, era extremamente séria, no sentido que ali se fazia ojornalismo da ocasião, o Correio do Povo tinha isso que eu falei para vocês: “se o Correio não deu, ofato não aconteceu”, para ter uma idéia, era também assim. Trabalhavase muito com o pressrelease,que era levado à redação. Eles adaptavam, tiravam datas, algumas menções de natureza comercial, ousimplesmente…Mas não limpavam muito o texto, não. Então quando você olhava o jornal, e a gentefoi aprendendo, com o tempo, a distinguir a iniciativa daquilo que era iniciativa da redação daquiloque era iniciativa da rua, a gente percebia que o texto do jornal era variado, o jornal apresentavavários textos simultaneamente porque existiam várias procedências de textos. E se fazia muitocontrabando…..imagina se for se trabalhar só com pressrelease. Isso, necessariamente, se cria umadependência da informação oficial e por outro lado determina que os fatos que estão narrados nopressrelease sejam os fatos do jornal. Então isso era muito problemático. Então, é isso que eu chamode uma visão muito conservadora.

Fábio Canatta – E isso é geral?

Ruy Carlos Ostermann Isso era geral. De toda a parte era assim. Com alguma modificação nostablóides da época, que começavam a se agitar mais. Mas a grande referência, o grande padrão era oCorreio do Povo e logo depois a Folha da Tarde. A Folha da Tarde era um jornal mais simples, ligadosó com o esporte e tal. E cumpriu magnificamente bem esta tarefa. Mas os dois grandes jornais eram aFolha da Tarde, que teve uma valorização extraordinária na época da segunda guerra mundial porqueas agências internacionais, France Press, Associated Press, fechavam suas edições na madrugada doBrasil, início da noite lá, então os jornais de lá, todos do dia seguinte, estavam todos com aquelenoticiário, mas no Brasil, os jornais todos estavam fechados. E as edições matinais estavam tambémfechadas. Quando entrava o grosso das notícias da guerra, na Europa sobretudo, os jornais não tinhamo que fazer com aquilo, mas a Folha da Tarde tinha. Ela abria a redação por volta das seis horas damanhã, eu me lembro que às sete horas eu estava na redação porque às onze nós fechávamos a edição.Mas daí todo aquele material durante a madrugada, isto década de 40, eu não estava lá, por favor, masé história né…era reaproveitado. A invasão da Polônia por exemplo, a Folha da Tarde deu sozinha.Quando ela saiu às ruas, na manhã daquele dia, estava com a notícia quente, que estava na Europa jáfazia umas doze horas, só que no Brasil tinha que se reciclar. Então isso deu muita força e crioutambém um estilo de jornalismo, mais rápido, mais ágil, mas com pouca rua, pouca pauta e comnenhum copy e com o mínimo de diagramação. As coisas eram feitas, produzido o texto de acordocom a cabeça do redator. Ele chegava da rua e dizia assim: entrevistei o governador do estado….Quebom! Temos entrevista com o governador do estado. Era o suficiente. Ele sentava e tac..tac.tac…tac..tac…tac..e não tinha lead, não tinha sublead, era um pegaratão, lá embaixo vinha: vou colocar

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todo mundo na rua. O que era a grande notícia estava no fim da matéria. Esse, na paginação do jornal,ocorria que sobrasse, pois não havendo diagramação o que se fazia: qual era a principal matéria? Éessa aqui. Então, tac…tac…tac.. Vamos botar mais duas matérias do lado. A montagem era feita narama, com composições à chumbo. Eu participei disso com a maior alegria e satisfação, mas quandofaltava página, o pessoal deixava cair na lata do lixo o que sobrava ou fazia continuação na páginaseguinte. Então quando nós fomos para a Folha da Manhã, nós nos valíamos de várias coisas.Primeiro, a Folha da Manhã foi engendrada em São Paulo, havia uma Folha da Manhã que haviacomeçado em 1969, mais ou menos, e que era um jornal para ser mais leve, mais jovem e tal, sem secomprometer muito com o azedo do diaadia, tentando fazer uma outra coisa que não deu certo. E aí,justamente pelo fato de não ter dado certo um jornal da Caldas Júnior, o doutor Breno nem poderiaadmitir uma coisa destas. Com isso, houve uma mudança radical, e aí a base desta mudança estava emSão Paulo com o Damas, José Damas, personagem notável, que era o gerente comercial em SãoPaulo, ele gerenciava anúncios e tudo o mais para as edições aqui no Sul, mas era um cara com umaboa cabeça e um relacionamento muito grande. Ele pegou daqueles cursos que a Realidade, a revistaRealidade, fez um curso especial para a formação de profissionais nas suas revistas, isso nunca maisse fez.

Tiago Nequesaurt – Final da década de 60, é isso, né?

Ruy Carlos Ostermann – Exatamente, por aí. A Realidade foi uma das revistas mais importantes queo jornalismo brasileiro já teve. E era porque trazia uma ciência básica, que era a formação, aquilo queos cursos de Jornalismo hoje tentam fazer, alguns acertam outros não, que é uma formação acadêmicarigorosa, do texto, da apuração do texto e assim por diante, das leituras, da boa investigação, isso foinaquele curso que se fez. Então, o Damas localizou lá o Elmar Bones e o José Antônio Severo,localizou os dois, persuadios a vir para o Sul, os dois eram daqui, eles toparam, e os dois vieramdirigir a Folha da Manhã, o Severo como o redatorchefe e o Elmar, o Bicudo, como o secretário deredação. E eu fui chamado pelo doutor Breno e pelo Tonho, filho dele, que já morreu, para justamentefazer o terceiro nome do grupo, para a Caldas Júnior ter um representante e como eu era um cara doesporte então a área toda do esporte ficou comigo, nós tivemos que remontar. Aquela experiência foiuma experiência, primeiro, todo o release que chegava era apenas para pauta, nunca foi publicado,nunca, a não ser que ele contivesse uma denúncia, uma posição, uma nota oficial, isso também érelease.

Tiago Nequesaurt – O que raramente acontecia.

Ruy Carlos Ostermann Raramente acontecia, claro. “Na tarde de ontem o senhor governador foi aCampinas e teve uma tarde muito agradável”. Havia um release deste tipo, dando notícia dele emCampinas, ora, convenhamos, o que ele foi fazer em Campinas, então nós pegávamos o release comopauta, como ponta de pauta. E aí fazíamos, então, começamos a trabalhar com pauteiro, isto foi umagrande inovação, não tinha. Depois, passamos, basicamente, a ter diagramação e aí se começou a fazeruma montagem de um planejamento gráfico, isto deu como decorrência a existência do Copydesk,porque, se você tinha que fazer 20 centímetros de matéria, tu podias pedir um bom redator, um bomrepórter que fizesse os 20 centímetros, mas era melhor deixálo à vontade, fazer os 40, 50 que eleachava, e alguém depois passar para os 20 essenciais dentro de uma linguagem padrão. Então esta foia grande renovação, isto foi o aspecto progressista que teve a Folha da Manhã naquele período, quecomeçou com o Severo, depois eu terminei como diretor e, finalmente, aí por 1975/76 estava esgotadaa experiência, que foi de 72 a fins de 75/76. Estava esgotada pois os conflitos daquele período, eraperíodo militar, era período do Golpe Militar, mais duro que nós tínhamos, Medici. Aí os conflitosficaram difíceis. Eu reconheço hoje, com muita naturalidade, na época com muita raiva, que ficarammuito complicados, era muito difícil de você administrar o Governo, as forças militares, as exigênciasque faziam e a nossa redação, assim, libertária, jovem, animada.

Fábio Canatta – Professor, eu queria saber duas coisas: a tua primeira experiência em umatransmissão esportiva, como foi, e a primeira experiência em uma grande transmissão esportiva.

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Ruy Carlos Ostermann – Bom, aí há muitos fatos que se assemelham a isto, mas a primeira foi emRio Grande, o Lauro Quadros era o narrador e eu o comentarista. E o Lauro sempre foi um sujeitomuito eclético em rádio. O Lauro era um leitor de notícias primoroso, era um leitor de anúncios, comose dizia, primoroso, comerciais com o Lauro são impecáveis até hoje, se ele quisesse. Depois, foi umrepórter muito engraçado, ele incluiu o humor na sua atividade geral e era narrador também, sabianarrar futebol, e, finalmente, na minha saída, acabou, por um pequeno período que eu fui para a RBS,em 1968, ele foi chamado, da condição de primeiro repórter, para ser comentarista, e começou ali umacarreira em que ele foi se aposentar nela, com muito brilho. Naquela época, quando eu fiz a primeiratransmissão de rádio, foi em Rio Grande, não havia sequer lugar para se fazer a transmissão, então,havia umas cadeiras de vime, que nos deram, a gente ficava dentro do campo, encostado noalambrado , e ali fizemos a transmissão, foi ali que a gente fez a transmissão. Este episódio eu não meesqueço, do que eu disse não me perguntem que eu não lembro, sei lá, mas era o Torneio da Morte,para vocês terem uma idéia, era onde ia ser esclarecido quem não ficaria mais na Primeira Divisão,era uma coisa horrorosa, e Rio Grande tinha um participante nesta situação e está tudo bem, eudizendo minhas coisas, pelas tantas, no meio do jogo, eu senti uma pontada violentíssima nas costas,uma coisa lancinante, insuportável, eu caí para frente, era o médico do Rio Grande, doutor Sperotto,que depois ficou meu grande amigo, completamente alucinado, ele tinha, antes, tomado café conosco,no centro da cidade, amável, anfitrião, mas, no estádio, tomado de ira, e de paixão, ele acabouidentificando em nós, em mim e no Lauro, os caras que estavam contando uma história que não eradeles, como inimigos, ou até mentindo, sei lá o que ele estava imaginando, e ele pegou o guardachuva e me estocou por trás, olha, foi um negócio violentíssimo, esta foi a primeira experiência,portanto eu sou comentarista vítima da violência, e nem tanto por o que eu tenha dito, senão por o quepassou pela cabeça do doutor Speroto.

Fábio Canatta – E o primeiro grande evento?

Ruy Carlos Ostermann – Eu acho que foi a Copa de 1966. Eu acho que a Copa de 1966, para quemtenha participado dela, ela é extraordinária, eu me lembro que a nossa equipe era o Pedro CarneiroPereira e o Antônio Carlos Resende, de narrador, e o Streck (Adroaldo Streck), que estava naAlemanha, depois foi deputado, era o repórter que veio da Alemanha para se juntar a mim que estavalá. Então esta era a nossa equipe, e o Flávio Alcaraz Gomes era o chefe da equipe.

Tiago Nequesaurt – Ele estava junto com vocês na Europa?

Ruy Carlos Ostermann – Sim, aquela foi um experiência sem precedentes, eu acho que nunca maisvai se repetir, nós ficamos 63 dias na Europa. A Seleção Brasileira fez um grande preparativo antes daCopa, na Suécia, jogou na Espanha, jogou em vários lugares, e nós acompanhamos tudo aquilo,ficamos estacionados na Suécia, para fazer a Seleção no diaadia e tal. E nós tínhamos montado umsistema de transmissão que na época foi revolucionário, que já tinha servido, de certa forma em 1962e em 1958 em certo ponto, que era o PTT de Berna, que nos permitia uma transmissão em que a gentejogava o som de onde estávamos, no caso na Inglaterra, para a Suíça, e, da Suíça, ele era amplificadoe jogado para ser sintonizado nos morros daqui. Coitados, tinham de ficar de plantão, era umatransmissão muito complexa, mas cujo resultado foi muito bom. O som, naturalmente, tinha prejuízos,mas foi muito bem. Aquele foi o episódio mais marcante, porque também foi o episódio no qual euentendi esta questão toda do futebol, foi o episódio em que eu me apaixonei pelo jogo de futebol, foionde eu tive convicção que a minha maneira de ver o futebol, de comentar o futebol estava justa,estava certa, ou seja, o futebol, tem A e tem B, não tem só A ou só B. A grande maioria acha que sertorcedor, por exemplo, não afeta o comentário, afeta sim, cria a parcialidade, se cria parcialidade, criauma distorção, e se cria uma distorção não é bom jornalismo. Mas como é que pode ser isento,cuidando que haja A e que haja B, e que você seja justo com os dois ao mesmo tempo. Então, vocêconseguiu, isto é muito difícil, eu admito, mas esta foi toda a construção intelectual e moral que eu fizcomo comentarista. E, lá na Inglaterra, eu pude perceber que isto era decisivo, porque o Brasilfracassou e eu tinha argumentos para mostrar porque que ele tinha fracassado sem cair naquelesdesvarios que muitos disseram: “era uma vergonha”, que não sei o quê, pois é, perdemos para uma

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Hungria jovem, jogando um futebol de primeiríssima ordem, Portugal, do Oto Glória, magnífico timede futebol, Eusébio, Torres, Simões. Então, ali eu percebi que o adversário era tão importante quantouma Seleção Brasileira e ali eu percebi que não pode se enrolar na bandeira do Brasil para fazer acobertura da Seleção Brasileira, ao contrário, tem que se desenrolar da bandeira do Brasil e tentarverificar como as coisas são, por isso que eu acho que a Inglaterra foi o grande episódio da minhacarreira.

Tiago Nequesaurt – Professor, como lidar com esta imparcialidade, tanto para jogos da Seleção,quanto para o nosso regionalismo?

Ruy Carlos Ostermann A primeira coisa que você não pode esperar nenhum tipo de compreensão,nenhuma generosidade das pessoas. Por que? Porque, basicamente quem se envolve com futebol é umapaixonado. Se não são apaixonados, têm uma visão unitária do que realmente lhes interessa, que éum forte desejo numa direção. Se você começar a falar do outro, você é o inimigo. Então você nãopode esperar absolutamente nesta minha postura, que eu mantenho ao longo de todo este tempo, emrádio desde 62, portanto eu estou completando 40 anos de microfone, isto é muita coisa, até acho queaté é demais, mais isto é outra coisa, vou comemorar na Copa do Mundo 40 anos de rádio, isto émuita coisa. Neste período todo eu fui exatamente este tipo de pessoa, compreende, eu nunca tivedúvida desta postura, agora nunca esperei ser o mais popular. Por que? Porque o mais popular é o quetorce para o lado. Um cara que critica o Grêmio, critica o Internacional, se coloca contra o doisquando eles estão errados, não pode ser popular. Agora, tem respeito, tem crédito, e é isto que eu achoque é a recompensa de quem faz isto. Não sou o único que faz isto, há muita gente que trabalha comisenção, tem muita gente que é torcedor de time, mas se desvincula totalmente desta relação paramanter uma isenção e cumprem esta isenção. Eu acho isto muito complicado, ser torcedor de um timee depois abrir mão disto e entrar no microfone e ter absoluta isenção, eu acho uma tarefa gigantesca.Agora, você não ter time é mais simples de manter a isenção, agora, sem isenção, sem imparcialidade,não tem trabalho jornalístico no comentário.

Tiago Nequesaurt – Pelo fato de o senhor ser de São Leopoldo e ter vivido lá sua infânciacontribuiu para não ser ligado nem a Grêmio nem a Inter?

Ruy Carlos Ostermann Ajudou, inegavelmente, é uma pergunta bem posta, poucas pessoaspercebem isto. Hoje é absurdo dizer que São Leopoldo é longe, não, São Leopoldo fica a 30quilômetros daqui. Mas naquela época a gente tinha que ir por uma estrada imperial até Porto Alegre,nós nos despedíamos dos amigos que pegavam ônibus direto na rodoviária para vir a Porto Alegre, erauma viagem, e vir a Porto Alegre era um acontecimento. E era chegar na cidade onde a gente era um“coloninho” do interior, mesmo sendo de São Leopoldo, não importa, era colono, sabe. Então a gentevinha ver filmes franceses, no Marabá, um cinema que não existe mais, passavam os filmes franceses,a gente vinha de São Leopoldo, pegava o ônibus, vinha ver e voltava à noitinha para São Leopoldo,sentava no bar que era o café do meu pai e ficava contando para uma platéia de pessoas embevecidas.Olha só, isto é aquele tempo. Então, quem eram os inimigos da gente? Eram os jovens oficiais quechegavam para o quartel em São Leopoldo, que vinham do Rio de Janeiro, de São Paulo e que vinhamnamorar as nossas gurias. E nós tínhamos ódio do visitante. Isto se transferiu muito cedo, porque oAimoré conseguiu , década de 50, 54 talvez, não, é por aí, ele conseguiu ingressar na divisão principale, então, subitamente, São Leopoldo participava do Campeonato Gaúcho, mas Novo Hamburgo, queera o nosso inimigo de sempre, as outras cidades, naturalmente, a gente já tinha esta idéia e PortoAlegre é onde estava o poder, os jornais, estava a insolência, estavam as provocações, estavam atentativa de autoritarismo sobre a gente e assim por diante. Então, a gente o que fazia, a gente não éque odiasse Grêmio e Internacional, mas eles eram os inimigos, e como o clube local era o Aimoré agente se filiou ao Aimoré, eu soltei foguetes para o Aimoré, fiz vinte coisas no Aimoré, joguei futebolno Aimoré, nos juvenis, depois montei um departamento de basquete, que foi campeão da cidade, peloAimoré, ridículas as camisas listradas que nós usávamos na época, mas enfim. Isto de São Leopoldome deixou, assim, como o menino do interior, entende, que não tinha o fascínio da grande cidade,porque a minha geração toda não teve este fascínio. Os mais ousados da minha geração foram direto

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para o Rio de Janeiro. O Rui Porto, que foi ser uma figura notável do rádio brasileiro, foi direto para aMairink Veiga, da rádio São Leopoldo para a rádio Mairink Veiga. Na aviação, era muito comum, nóssempre tivemos um aeroclube muitíssimo bom, talvez ainda seja o melhor do Estado, se não é omelhor é o segundo, e lá se formavam, pelo brevê, inúmeros pilotos que iam trabalhar diretamente naVARIG, portanto, não passavam por Porto Alegre, percebe? Então isto tudo acabou organizando nanossa cabeça uma idéia, assim, em princípio, de conflito, depois, gradativamente, a gente foialiviando. Eu vim trabalhar em Porto Alegre e qual foi uma das primeiras tarefas que me deram?Fazer a cobertura do Aimoré.

Tiago Nequesaurt – Sem o senhor pedir?

Ruy Carlos Ostermann Era natural, eu morava em São Leopoldo e iria trabalhar em Porto Alegre,o pessoal dizia o seguinte, olha, o Aimoré nos interessa, o que eu fiz? Acertei com o pessoal lá, euconhecia todo mundo, eram meus amigos, então acertei com eles e vinha fazer a cobertura do Aimoré.O primeiro sujeito que falou de um jogador de nome muito estranho e que foi um dos maioresjogadores que o futebol brasileiro já teve, foi bicampeão do mundo pelo Santos, Mengálvio, aprimeira matéria sobre Mengálvio fui eu quem fiz. Daí, durante muito tempo, o meu apelido naredação da Folha da Tarde Esportiva, era Menga, de Mengálvio. Isto teve importância, sim, o fato deser um menino do interior e de um interior muito próximo da Capital, que sofria os efeitos destacolonização de Porto Alegre, entendem? Fosse um menino de Passo Fundo, talvez eu tivesse umfascínio por Porto Alegre, e acho que muitos dos amigos que conheço, que foram de cidades maisdistantes, ficaram fascinados com a idéia de Porto Alegre e os valores que Porto Alegre propunha.Agora, eu do lado de Porto Alegre, sofri os efeitos negativos disto e, então, durante muito tempo, nutriuma diferença, uma reação, e isto acabou me permitindo a imparcialidade, que o Aimoré nunca foicampeão, foi vicecampeão em 59.

Fábio Canatta – Professor, quando surgiu a oportunidade de participar da política?

Ruy Carlos Ostermann – Foi em 82, eu fiz a Copa do Mundo em 82, que também foi uma Copamuitíssimo importante, porque a Seleção foi maravilhosa, era a Seleção do Telê Santana, não ganhoue acho que nem podia ganhar, tinha defeitos estruturais o time, mas tinha jogadores maravilhosos etinha uma concepção de futebol maravilhosa. Em 82, eu fiz a Copa e depois tirei férias e fiz uma girapela Europa, já na Gaúcha, eu vou para a Gaúcha em março de 1978, armar todo o departamentoesportivo, para a Copa da Argentina, foi uma tarefa gigantesca. Mas, em 82, eu já estava plenamentena rádio Gaúcha, já tinha sido diretor da rádio, não sei, não lembro mais direito. Bom, mas enfim. Em82, eu fiz a Copa, foi uma Copa magnífica sob vários os aspectos, e uma Copa na Espanha, foi umacoisa genial, a Espanha é um país extraordinário, no verão. Então terminada a Copa do Mundo nósficamos lá, eu, minha mulher, um casal de amigos, e aí alugamos um carro e fomos fazer uma grandeviagem pela Europa, tirei as minhas férias todas, de quase trinta dias, na Europa. Foi maravilhoso. Eutrabalhei na Globo em 82 e ganhava em dólar, isto até fica bem dizer agora, eu ganhava em dólar eganhava por participação, eu fazia apresentações dos jogos, não é, isso vocês não lembram, eu fazia aapresentação dos jogos e era pago por isto. Eu participava de uma mesa, dirigida pelo ArmandoNogueira e ganhava por isto, então quer dizer, ao fim da Copa do Mundo, eu estava com dinheirosuficiente para fazer realmente uma gira pela Europa, o que eu acabei fazendo com muito agrado.Quando eu chego a Porto Alegre, desembarco no Salgado Filho, está o Ibsen Pinheiro me esperando,ele era deputado pelo PMDB, deputado estadual, me esperando. Eu digo: “ué, mas que recepção?”Ibsen responde: “eu vim aqui te fazer um convite, o nosso deputado federal, Pedro Simon, quer falarcontigo”. Mas o que ele quer falar comigo?, “ele tem um convite para te fazer e quer te formular oconvite”. É o que eu estou imaginando, que eu vá concorrer a alguma coisa?, é, nunca havia pensadonisso, sinceramente não tinha, porque eu fazia política, fiz política universitária, eu participei daLegalidade, em 61, com extraordinário interesse, eu fui vitimado pelo golpe de 64, eu fui cassado,quer dizer, a minha vida política era intensa.

Fábio Canatta – Como vitimado pelo golpe de 64?

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Ruy Carlos Ostermann – Eu fui cassado, eu era professor da Universidade Federal e, quando dogolpe, eu era assistente do professor Ernani Maria Fiori, aí eles cassaram o professor Fiori e, porconseqüência, a mim, ao Ernildo e ao Dante, que eram assistentes. Então, eu estava iniciando umacarreira universitária, não sei se foi melhor assim, ou eu tenha perdido alguma coisa, eu confesso queeu não sei, mas era o campo da Filosofia, nós trabalhávamos na cadeira de Introdução à Filosofia.Então, a minha vida política era clara, precisa, eu tinha uma orientação política, eu tinha sofrido osefeitos desta orientação, eu me senti bem dentro disto, mas eu estava cumprindo minha tarefa,basicamente como jornalista e achava que isto já era uma contribuição. Aí me lembro que fomos àcasa do Simon, no dia seguinte, eu consultei minha mulher, consultei dois ou três amigos na época eeles disseram: “Ruy eu acho que tu tens ao menos de ouvilos, saber o que é, imagina se ele está teconvidando para ser gerente de não sei o quê e tu não vais, tem que ir”. Então fomos lá, o Ibsen foijunto, sentamos lá uma noite toda, ele conversou uma noite toda comigo. É um homem muitopersuasivo, sempre foi, é uma lembrança maravilhosa. Eu me lembro que eu e o Ibsen, naquela épocanós bebíamos bastante, nós bebemos praticamente uma garrafa de conhaque que ele tinha em casa,francês, intocado, porque ele não bebia, ele tinha um armário cheio de bebidas de todo o gênero, queele ganhava, por força de ser um político com muita relação, então ele ia armazenando aquelasgarrafas, garrafas intactas. Mas eu me lembro que lá pelas tantas: “escute Simon, nós não vamos bebernada, não?” Ibsen, por favor, vai ali, quando o Ibsen abriu a portinhola daquele armário, eu digo,Ibsen, fecha os olhos e pega alguma coisa. Para vocês terem idéia da extensão da conversa,praticamente bebemos um litro de conhaque, de ótima qualidade, não fez mal nenhum. E aí, a frasesíntese do Simon, foi a seguinte: “Ruy eu acho que me matéria de esporte, em matéria de jornalismotu já deste o teu recado. Está todo o teu recado dado, agora a política precisa de ti, para tu darescontinuidade disto sob outra forma”. Eu achei um argumento que eu podia dizer: eu não gosto, eu nãoquero, mas eu gostava de política, aí eu aceitei e me elegi em 82, justamente, para o mandato de 83 a86, aí eu fui deputado, foi uma experiência boa, depois me reelegi deputado. Nesta eleição de 82 eleera candidato ao Governo, perdeu para o Jair Soares, e, em 86, ele ganhou, quando eu fui reeleitotambém, quando ele me fez Secretário de Ciência e Tecnologia, o primeiro Secretário de Ciência eTecnologia do Estado. Eu montei aquilo tudo, fico muito contente.

Tiago Nequesaurt – A propósito, como foi a sua experiência como primeiro Secretário daCiência e Tecnologia e como Secretário da Educação?

Ruy Carlos Ostermann – Bom, são duas experiências muito distintas, tu construir uma secretariaque, até hoje, tem validade e importância e vai ter sempre, cada vez mais importância, porque está nocampo da inovação tecnológica, está no campo da ciência, do desenvolvimento é uma espécie dearticulação entre o trabalho universitário, que é a pesquisa, a elaboração do pensamento, e tal, a massacrítica, a área empresarial, onde, de algum modo estas questões são exigidas, e isso aparece também, ea área do governo, que tem que ser um impulsor, um condutor destas atividades. Este é, basicamente,o pensamento sobre ciência e tecnologia. Então eu tive que montar isto, eu fui convidado porque oSimon não queria que eu fosse o Secretário de Educação. Eu tinha sido eleito, a rigor, pelo magistério,porque eu era um professor, eu tinha uma tese bem clara a respeito destas questões do ensino, eu fizuma campanha em cima disto, muitos professores me ajudaram nesta primeira eleição, depois eu fuium deputado ativo no período anterior, eu fui um deputado muito ativo, nas greves todas contra ogoverno Jair Soares eu fui um participante interessado e me parece, assim, que bastante útil eimportante para a categoria. Então quando o Simon se elegeu todo mundo imaginou: o Ruy vai ser oSecretário da Educação. Mas como eu estava muito próximo do magistério, muito próximo do CPERSe, portanto, era um sujeito como que do lado de lá posto dentro do governo, o Simon não quis correrriscos, então ele decidiu o seguinte: eu não posso deixar de ter o Ruy, isso foi o Guazelli que me disse,mas eu não posso botar o Ruy na Secretaria de Educação, eu vou brigar com ele, porque ele tinha umaidéia errada, ele se deu conta depois, ele é um homem inteligente, porque o governo Jair Soares foimassacrado pelas greves, então quando o Simon se elegeu, com uma proposta alternativa em relação aisto, ele temia muito que tivesse inviabilizado o seu governo por força da manifestação do magistérioe do CPERS. Então, como ele ia colocar a mim, eu até entendo isto hoje, na época eu fiquei frustrado,porque eu digo: puxa vida, eu acho que eu poderia fazer um bom trabalho, porque eu ia sentar com as

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pessoas e dizer, vem aqui: o governo tem tal e tal questão a propor a vocês, vamos conversar sobreisto. Eu estabeleceria, imaginava, um diálogo bom, produtivo com o magistério. Mas, no entanto, elenão entendeu assim e o Guazelli ficou encarregado de me formular uma outra alternativa, que eu nãotinha exigências, se não é a Educação eu não quero nada, eu até não pensava em fazer parte dogoverno, eu estava dando preferência para ir, outra vez, para a tribuna, eu sou bom de tribuna, eu seidiscursar e tenho alguns recursos desta ordem e a política, assim, da negociação, da troca de idéias edos avanços e dos recuos, isto é fascinante. Mas aí o Guazelli me fez o convite para ser o Secretáriode Ciência e Tecnologia. Naquela época, o ministro de Ciência e Tecnologia era uma figuraextraordinária, era um homem que realmente estava impulsionando tudo isto e era um grande amigodo Simon, então, por força desta relação, que eu percebi, disse: “eu sou capaz de fazer um bomtrabalho lá”, e, além do mais, era o quê?, a universidade, os intelectuais, os setores de ponta dogoverno da área estatal. Digo, bom, articular todas estas coisas aqui, pegar o empresariado, sentar comeles, e dizer, olha aqui, inovação tecnológica, este é o caminho, pô, eu achei um negócio desafiador. Eaí foi exatamente em que eu fui lá, tinha uma mesa, uma cadeira e mais ninguém, era toda a secretaria,era isto, aí eu comecei a juntar as pessoas, fui atraindo pessoas, fui procurar nos segmentos dogoverno pessoas altamente qualificadas, somos amigos até hoje, eu os trouxe para o governo, trouxapara a área administrativa, executiva, e fomos montando, gradativamente, toda uma política do setor,fui à universidade, eu me lembro que, quando fui fazer a primeira palestra na universidade, depois mecontaram isto, mas vem cá, este rapaz é comentarista de futebol, ele veio aqui falar como Secretáriode Ciência e Tecnologia, mas isto até não fica bem, é uma falta de consideração com a academia, masnão me disseram nada na hora, foram me dizer depois, eu fiz um discurso, coloquei as coisasexatamente como eu as imaginava e que estavam um pouquinho à frente do que a universidadepensava, e aí eles deram para trás, mas para aí um pouquinho, ele conhece o assunto, pronto, aícomeçou, gradativamente, a se montar isto, foi uma experiência fascinante. Agora, ao cabo de um anoe meio, nem bem dois, em que eu implantei, criei os estamentos todos, criei as figuras, criei osrecursos, estabeleci uma ação política, entrou em crise o governo na área da educação. O Secretário daEducação era o Bernardo de Souza, que é um homem brilhantíssimo, absolutamente brilhante. Mas,tendo em vista que todo o governo entendia que devíamos ser duros, enérgicos com o magistério, elefoi ser duro e enérgico com o magistério. E isso foi estabelecendo rupturas gradativas deste tecidotodo. Lá pelas tantas, era quase insuperável a crise, ela ia acabar agravando a situação toda e aí o queacontece?, o Simon me chama e diz: “olha, tu vais ter que assumir a Secretaria de Educação”. Aí euestava diante de um dilema, eu não deveria ter aceitado. Por que? O que eu tenho com isso? Eu teria láno início, mas agora no meio? Mas por outro lado, quem me elegeu? Foi o magistério. Quem aposta,eu me lembro que, em uma das greves do magistério, a Secretaria de Ciência e Tecnologiaprovisoriamente funcionava em um prédio anexo ao Palácio. Então, a manifestação era em frente aoPalácio, lá pelas tantas, começavam: Ruy desce, passa para cá, Ruy desce, passa para cá. Ou seja, estámal ali, vem para cá. Isto era terrível. Mas aí, finalmente, eu não tinha opção, senão aceitar. Fuiconsultar os meus amigos todos, consultei, sobretudo, o pessoal que trabalhava comigo em Ciência eTecnologia, uma parte deles pôde ir comigo, isto foi fundamental, porque a gente tinha já um bomentrosamento e fui encarar a Educação em uma situação extremamente complicada, extremamentedifícil. A primeira cerimônia pública eu tomei posse no Palácio, fui para a Secretaria da Educação,que era ali na, entre a Júlio de Castilhos e a Mauá, ali naquele prédio antigo. Eu fui para lá, cheguei láno gabinete e tal, onde é a minha cadeira, qual é o telefone, e esse e tal, aí entrou o meu secretário,correndo: “Ruy, pelo amor de Deus tu tens que encerrar um curso especial que houve, que foi abertopelo Secretário, tu tens que fechar como Secretário”. Digo: ” mas vem cá, o meu primeiro ato públicoé ir a um seminário de professores, me apresentar lá?”.

Tiago Nequesaurt – Arriscado, não?

Ruy Carlos Ostermann Arriscado? Era quase um suicídio! Mas daí eu tive a intuição, peguei otelefone: Governador, estou indo fazer isso, isso e aquilo, eu tenho que levar uma notícia para estagente. Então, diz que nós estamos reabrindo as negociações. Eu vou dizer. Aí fui lá. Cheguei lá,passavam bilhetes por entre os professores. Dizem assim, não bata palmas, não faça perguntas. Eutenho estes bilhetes comigo até hoje, isto é lindo. Por que? Porque eles não queriam, chegava o cara

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que tinha identidade com o magistério, que era eu, mas que, a partir dali, estava representando oGoverno. Vamos devagar, eles tinham razão. Aí eu cheguei e disse a quem estava lá, fiz umaapresentação rápida, eu digo, olha, estou aqui no primeiro ato meu como Secretário e lamento, estouapressado, eu tenho que ir ao Palácio, agora, eu assegurei que nós vamos abrir as negociações. Aícomeçaram a bater palmas, e eu saí correndo de lá. Amaciei e saí correndo. Foi assim que eu fui,gradativamente, me construindo como Secretário de Educação. Hoje, eu tenho orgulho, muitaspessoas dizem, olha, foi um período de paz, foi um período de conversação, muito diferente doanterior, eu entrei lá de capacete e, como é, aquilo dos bombeiros, não estou me lembrando agora,mas, enfim, eu entrei de bombeiro. Machadinha! Capacete e uma machadinha. Eu entrei de bombeiro,não tinha alternativa, então, durante o primeiro semestre, quase, foi só para pacificar, gradativamente,aquele enorme, extraordinário problema que era a educação e ainda é, de uma certa forma, no RioGrande do Sul. Mas acho que fui bem sucedido, guardadas as dificuldades.

Tiago Nequesaurt – Professor. Vamos falar sobre os seus mais de vinte anos na rádio Gaúcha, assuas Copas do Mundo, o seu trabalho com o Ranzolin, com o Lauro Quadros.

Ruy Carlos Ostermann Eu fui convidado, o primeiro profissional competente que saiu da CaldasJúnior para a RBS foi o Antônio Brito, que depois viria a ser Governador e tudo mais, foi o portavozdo Tancredo Neves. O Antônio Brito é um jornalista de primeira linha, aí tem que se fazer a claradistinção, não estou falando de política, de partido, o jornalista. Ele montou o radiojornalismo daGuaíba, ele montou as centrais do interior, ele reorganizou todo este núcleo, ele deu sentidojornalístico ao trabalho que se fazia em rádio, é o precursor da organização do rádio em função danotícia, da pauta, da investigação, do suíte, e assim por diante.

Tiago Nequesaurt – Em que ano isto, Professor?

Ruy Carlos Ostermann Isto é 75, eu acho, por aí, é mais ou menos lindeiro com a experiência daFolha da Manhã, da Folha da Manhã saem quadros que vão compor com ele esta mudança que estavaoperando. Em 77, eu suponho, é, não foi muito antes de mim, fins de 77 ele foi contratado pela tevêGaúcha, que na época era tevê Gaúcha. Para fazer exatamente isto, montar o telejornalismo. E ele fezisto. Uma de suas primeiras decisões foi procurar a direção da casa e dizer que isto tinha que ser feitona rádio Gaúcha, e que a pessoa para fazer isto era eu. E aí eu fui procurado, em 78, em março de 78,treze de março de 78, fui procurado, me fizeram uma proposta, assim, irresistível do ponto de vistafinanceiro, não tinha comparação, e mais, me ofereceram um desafio fantástico, ou seja, assumir odepartamento de esportes da rádio Gaúcha, remontálo por inteiro e enfrentar o dissabor de ter 20%contra oitenta.

Tiago Nequesaurt – A Guaíba era fortíssima, não era?

Ruy Carlos Ostermann – Nossa Senhora! E isso foi feito. Eu, a partir de março de 78, eu tive quefazer toda a montagem de toda a cobertura da Copa do Mundo, em maio, uma viagem extensa daSeleção Brasileira pela Europa, e nada disto estava previsto, eu tive que remontar tudo isto, me deuum trabalho insano. A Copa de 78 foi na Argentina, o que favoreceu um pouquinho, afinal de contasnão era tão longe, era onde a gente tinha mais mobilidade, não é?, e fizemos uma Copa do Mundo, doponto de vista das nossas possibilidades, assim, de primeira linha. Eu assumi, consegui aumentar ossalários de todos da ordem de 100% para que não viesse a concorrência tirar os meus jogadores. Eunão podia, eu vou, vou enfrentar o mundo, isto foi condição que eu botei lá, digo, escuta, não adiantadar salário para mim. Eu estou satisfeito, o salário que vocês estão me oferecendo me serve, mas e ascondições para trabalhar, quais são? As que tu determinares, me disseram o Nélson Sirotsky e oMarcos Dvoskin, que foram os dois que vieram falar comigo.

Tiago Nequesaurt – Quem o senhor trouxe, então?

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Ruy Carlos Ostermann Não trouxe ninguém. Isto fazia parte do acordo, também. Eu cheguei lá edisse, assim: não vem ninguém para o lugar de ninguém. Vocês terão aumento na ordem de 100%, nabase, corrigindo algumas distorções, estabeleci a homogeneidade, ninguém tiraria ninguém de lá e aequipe estava pronta, quem tinha me antecedido neste cargo foi o Mendes Ribeiro, justamente o JorgeAlberto Mendes Ribeiro, é uma história curiosa, foi ele quem me deu a primeira oportunidade e eu fuilá substituilo em 78, mas eles queriam fazer uma remodelação, e eu era o cara para fazer aremodelação, eu tinha saído de uma experiência remodeladora na Folha da Manhã, não é isto?, e oBrito não só deu força como nós fizemos um planejamento básico, ele me ajudou a fazer esteplanejamento. Então, nós começamos assim, eu tinha um equipe básica, depois mais adiante, maistarde, meio ano depois, talvez, eu fui procurar um comentarista só, para completar a equipe, que eunão tinha. Aí fui buscar o João Nassif, em São Paulo, trabalhava em emissoras pequenas e tal, eu fuibuscálo, por razões que ele pôde aceitar e tal e aí nós fizemos a equipe, a equipe se manteve. Nósinstituímos várias coisas, nós fizemos a mudança da programação toda, nós valorizamos enormementeo repórter, nós criamos pautas, nós remodelamos inteiramente a jornada esportiva. A gente passou atrabalhar cientificamente, a jornada esportiva abria com o narrador principal, pouco depois abriaseuma grande mesa, da qual participavam todos que estivessem naquela cobertura ou estivessem fora dacobertura, com uma personalidade que nós elegíamos com a mais significativa da semana e aí toda aequipe participava disto e nós gastávamos ali quase uma hora com isto e só depois começava, então, acobertura propriamente dita. Terminado o jogo, nós fazíamos também esta costura toda que ainda hojetem e, nas noites da semana, de segundas às sextasfeiras, nós criamos o Show dos Esportes, que hojeé um sucesso, e era bem isto, era a reunião dos repórteres, para, ao invés de eles chegarem lá comgravações, eles chegavam lá com as suas observações, com as suas impressões. Era uma valorização amais do repórter. E a equipe foi crescendo, a gente criou, eu tinha uma retaguarda mais forte do que afrente. A minha retaguarda era formada por pessoas de primeiríssima ordem. O atual presidente daTVE, por exemplo, era um dos meus editores. O atual chefe de jornalismo da Prefeitura era um dosque estabelecia os critérios todos de cobertura e tinha voz de comando. Ele podia entrar e dizer que ocomentário estava longo, vê se abrevia, vê se abrevia. Porque ele tinha o balanço de todas as coisasque estávamos fazendo, eu era o chefe da equipe, mas ele, na jornada, era o chefe da equipe.

Tiago Nequesaurt – Ele mandava?

Ruy Carlos Ostermann Ele mandava da retaguarda para frente, às vezes na frente a gente tinha quetomar alguma decisão, e aí se tomava também. Com isso, a gente conseguiu fazer um trabalho dequalidade. Em 1978, a gente começou a marcar uma presença, eu disse, o prazo era cinco anos, parafazer uma virada, em 79 nós começamos a marcar fortemente uma presença, em 80 nós já estávamoschegando, os índices anunciavam claramente não só os 20 por cento, nós já estávamos em quase 40por cento. Em 81, houve o Mundialito, em Montevidéu, e foi a nossa primeira vitória, nós ganhamos,nós ultrapassamos, em 82 nós já estávamos na frente e também começava a crise da Caldas Júnior,isto também, certamente, favoreceu. Hoje, as situações estão invertidas, hoje a audiência que tem aGaúcha, já com outras formulações, claro, o tempo determina que seja assim, é aquela que eu recebiinvertido quando comecei.

Tiago Nequesaurt – Professor, eu tenho comigo a ambição de fazer duas perguntas para osenhor. Vou fazer duas em uma: como é escrever dois livros, como o senhor escreveu, um doInter; outro do Grêmio para que retratem, de repente, duas das mais fortes paixões, houve ummais fácil de fazer, por o senhor ter mais amigos ou informações do que o outro?; e a segunda, osenhor já pensa, o senhor já tem prazo para a aposentadoria?

Ruy Carlos Ostermann Não, começamos pela última. Nós, profissionais, jornalistas, eu acho que éuma convicção que todos nós já desenvolvemos. Se você vai continuar trabalhando como jornalista,você só pode se aposentar quando morre, porque não tem como viver da aposentadoria. Ela éinsuficiente, pequena, modesta, você não tem como viver, então tem que continuar trabalhando. Entãoeu não penso em aposentadoria por isso, eu não posso deixar mal o meu pessoal e não tem alternativa,tem que continuar. E, de uma certa forma, todos os meus colegas estão fazendo isto, de uma forma ou

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de outra eles continuam, e eu acho que eles estão certos, é uma visão de realidade. Infelizmente, nãohá como se aposentar. Eu acho que, por exemplo, as emissoras de rádio, jornais, televisões praticamerros monumentais. Por exemplo, eu acho que um sujeito que atinge 40 anos de profissionalismo, queé o meu caso, ele tem, por favor, eu estou sendo breve, eu poderia ficar falando muito mais coisas,vocês estão percebendo, ele tem uma experiência, tem uma massa de informações, tem soluções nacabeça, imagina coisas, viveu situações que ele devia fazer parte de um conselho, no qual ele pudessedar sua contribuição, que dissessem, escuta Ruy, o que tu achas disto. Não, não se faz isto comninguém, não é só comigo, então nós vamos perdendo a memória, um, nós vamos perdendo assoluções que já foram encontradas, soluções custam um esforço danado, um sacrifício, mas vocêencontra as soluções. E as soluções têm que servir. Se alguém me perguntar como se faz umacobertura de Copa do Mundo, eu sei dizer de alto a baixo, porque eu já fiz nove. Agora, como é queisto passa adiante, então, além da aposentadoria ser impossível por força dos benefícios inexistentesde aposentadoria, ainda existe esta indelicadeza, esta quase grosseria profissional, de não saber lidarcom as pessoas que têm um poder notável de sabedoria sobre as coisas que se faz.

Tiago Nequesaurt – O senhor já externou este pensamento?

Ruy Carlos Ostermann Já, várias vezes. Isto não faz sentido para as pessoas. Se você, por exemplo,pensa no Platão, que era um dos filósofos que eu gostava, ele entendia que, por exemplo, a Repúblicadeveria ser dirigida pelas pessoas mais velhas. Vamos admitir que isto seja um exagero do Platão, maspensem no Japão. No Japão, as grandes empresas, a Mitsubishi, Toshiba, o que seja, têm um conselhoformado pelas pessoas mais antigas, que trabalharam lá dentro, na direção, próximas à direção, lá embaixo, próximas ao campo de trabalho, e que são consultadas e ganham por isso, ou continuamganhando e passam a fazer isso, para justamente resolver impasses e criar soluções. Diante destasituação, o que nós poderíamos fazer? Olha, já se fez o seguinte, puxa vida, já se fez isto, já, como éque foi, assim, assim, assado. Talvez você esteja diante de uma situação, criativa e nova, mas isso nãose faz, mas enfim, deixa para lá. Não vamos nos queixar.

Tiago Nequesaurt – Os livros e as paixões.

Ruy Carlos Ostermann Ah, os livros. Eu sempre pensei em escrever porque eu acho que adocumentação, não só no esporte, mas em qualquer atividade brasileira é uma vergonha, nós nãotemos memória, nós não guardamos as coisas, nós não valorizamos as pessoas, então, agora, estácomeçando a surgir, Paulo Markum, por exemplo, um grande jornalista, entre outras coisas, dirige oRoda Viva, na TV Cultura, e tal, está lançando um livro sobre a Legalidade. Então o que ele fez, comojornalista, não é historiador, não é pesquisador, ele investiga, ele tenta um traçado para estainvestigação que ele faz. Não faz por uma pesquisa anulando direções e dizendo a verdade é esta, não.Muitas vezes, ele está lidando com uma coisa que não é, por inteiro, verdadeira, mas é exatamente oque se dispõe, o que aparece. Então, o jornalismo está começando a se dar conta disto, o Ruy Castro,por exemplo, o Anjo Pornográfico, a história fantástica do Nélson Rodrigues, que ninguém tinhaescrito. Chega de Saudades, é a história do João Gilberto e da Bossa Nova, que ninguém tinha escrito.O Garrincha, a alegria do povo, Estrela Solitária, o título é maravilhoso, e ninguém tinha escrito isto,nós mentíamos dizendo, por exemplo, que o Feola, o Vicente Feola, dormia no banco de reservas,assim era o técnico da Seleção, o homem sofria de dores incríveis, ele tomava medicações, curvavasede dor e ninguém nunca esclareceu, e daí eu perguntei ao Ruy como ele havia conseguido estainformação. Ruy, perguntei para as pessoas que trabalhavam com ele, só. Nós não investigamos, nósnão verificamos, nós não apuramos, nós não fazemos nada, a nossa memória é um desastre, para dizeruma palavra que se pode dizer aqui naturalmente, é mais do que isto, é pior do que isto. Então, eusempre pensei em escrever um livro sobre o futebol, por exemplo, eu pensava, um livro grande, quetratasse da história do futebol gaúcho, que é uma história brilhante, absolutamente brilhante. Epensava nisso, mas quando é que eu vou sentar e fazer este troço. De repente, me vem a MercadoAberto, me procura e diz: olha, nós queremos que tu escrevas um livro do Internacional, que vai teraniversário agora, 90 anos, e do Grêmio. Mas não basta fazer o do Internacional? Mais adiante, faria o

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do Grêmio. Não, não, não. Esta foi a exigência que Grêmio e Internacional fizeram. De que tuescrevas os dois livros. Olha, isto é lisonjeiro, lembram lá no início da nossa conversa que eu falei daimparcialidade. É isto, se eu sirvo para escrever o livro do Grêmio, e ao mesmo tempo, o doInternacional, eu sou uma pessoa que lida com o Grêmio e o Internacional como A e B. Não é isto,está aí a prova. Então, eu me pus a campo, montei uma pequena equipe, eu não tinha muitos recursos,eu montei uma pequena equipe para investigação, uma produção para juntar as coisas e me pus apensar, a falar com pessoas, a fazer entrevistas, nós temos mais de cem entrevistas de cada um dosdois clubes. Ouvimos todas as pessoas disponíveis, quase, e eu com a experiência que tinha e com asinformações que também tive, eu fui fazendo um roteiro, eu não chegava lá e vamos falar doInternacional, não, não, o senhor foi diretor de futebol do Internacional, e entrava direto na coisa, e aspessoas se sentiam lisonjeadas porque a gente tinha informações sobre as coisas e estava só querendoesclarecer. E muitas coisas foram esclarecidas de maneira surpreendente até, claro que são livrosincompletos, eles poderiam ser aprofundados, eu poderia ter investigado mais se eu tivesse tempo, eunão tive. São livros de três meses de trabalho. Vocês dirão, é muito tempo, acontece que eu não pudeabrir mão de nenhuma das minhas atividades, eu fiquei fazendo comentários de futebol nas quartas ànoite e nos domingos à tarde ou nos sábados. Eu fiquei fazendo o Sala de Redação todos os dias e oGaúcha Entrevista todas as tardes e eu escrevia para a Zero Hora todo o tempo, de modo que mesobrava as manhãs, eu levantava as sete horas e fechava ao meiodia, aí almoçava rapidamente e iatrabalhar. As seis e meia, sete horas eu estava em casa e trabalhava até a meianoite, todos os dias,sábados domingos, feriados, tudo, para tentar, em três meses fazer os dois livros. Um livro, trêsmeses; depois, mais três meses outro livro. Havia prazo. Depois ouve contratempos com o livro doGrêmio e a data que nós queríamos tirálo ficou prejudicada e tal, mas isso não foi o essencial, oessencial foi que eu consegui fazer os dois livros, eu fiquei muito contente porque as pessoas que,para mim há um episódio que me deixa absolutamente feliz. Quando do lançamento do livro doInternacional, isso ocorreu no Grêmio sobre outra forma, mas no livro do Internacional isto foi maisflagrante. Tinha um menino, fila imensa que se fez, lá na ponta da fila e eu fiquei olhando para ele, oque faz aquele garotinho lá no fim da fila, pequenininho, com o livro embaixo do braço, e a filaandando, e eu sou um pessoa que não diz, qual é o seu nome, obrigado, não. A gente batepapo, então,quer dizer, não sou um cara que assina, conversa, presta atenção, e procuro fazer uma dedicatória umpouco mais alusiva, mais rica e tal. E o menino na fila, vindo lentamente, aí eu notei, lá pelas tantas,eu meti o olho nele, uma referência que a gente tem, assim como o centroavante são referências nostimes, aquele menino foi referência para mim. Eu fiquei observando, ele abriu o livro, ele estava lendoo livro, e, de repente, ele chegou à minha frente. Eu digo: “garoto, eu estou te observando há tempo etu estavas lendo o livro”, ” estava sim, senhor, e daí?, gostei muito, vou lhe dizer uma coisa,professor, eu não conhecia o meu clube”.

Tiago Nequesaurt – Quantos anos ele tinha?

Ruy Carlos Ostermann – Oito ou nove anos. Eu não conhecia o meu clube. Quer dizer, se um livro écapaz de decretar isto, por uma pessoa que ainda não tem todo controle verbal e da construção dafrase e das intenções do texto, o meu texto às vezes é um pouco elaborado e tal. E assim foi, eu tenholá em casa, assim, caixas e caixas de emails, bilhetes, e telegramas de toda a sorte de manifestaçõesem cima dos livros. Então, tem alguém que diz assim, puxa, tu esqueceste de tal coisa, mas que bomque tu te lembraste de tal coisa. Então, sempre existem as compensações. São livros incompletos, masforam livros feitos com muita paixão de escritor e eu fico contente.

Tiago Nequesaurt – Foi mais difícil escrever o livro do Inter ou do Grêmio por determinadasrazões?

Ruy Carlos Ostermann – As dificuldades são iguais, porque ambos não têm memórias. Nenhumdeles têm um museu organizado, o Grêmio ainda está mais ou menos, agora está se abrindo umespaço. O do Inter não se pode dizer que é um museu, eles nunca se preocuparam em juntar as coisaspara ter uma história, tu vais no museu do Barcelona ou do Real Madrid, ou do Manchester United, eu

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fui, aí tu ficas besta, tu ficas com vergonha, tu pagas, uma moeda, uma coisinha de nada para entrar eaí tu tens a tua disposição filmes, objetos, documentos, relatos, gravações, tudo por falta deorganização, e ganham dinheiro às pampas, pois tu quer aquela camisa, tudo bem, então tu compras acamisa que está dentro do museu, mas paga. Aí tu diz assim, aquele lance extraordinário do RenatoPortalupi fazendo gol, tem isto, mas está na casa do fulano. Quer dizer, isto está nos faltando, entende,isto trouxe uma dificuldade imensa, pois eu não pude recorrer. Se eu tivesse isto organizado, àdisposição, era facílimo. Lara, um jogador magnífico, fantástico, Eurico Lara, ainda é umdepartamento de torcedores, Eurico Lara, uma figura espantosa, pois muito bem, Eurico Lara, nada, éapenas um nome do hino do Grêmio, hino do Grêmio, tem Eurico Lara no hino do Grêmio, éconsiderado por muito o maior goleiro que já se viu, um dos maiores jogadores de todos os tempos doGrêmio e eu não encontrei nada senão pequenas e breves anotações, eu tive que montar tudo isto, tiveque montar tudo isto. É justo? Não, não é justo. Os dois livros têm muito defeitos, muitos acertos, maseles têm uma coisa que eu tenho orgulho: eles conseguiram organizar um pouco a paixão de Grêmio eInternacional.

Tiago Nequesaurt – Prometo, sinceramente, que é minha última pergunta. O senhor pensa emfazer outros livros, em concluilos pelo fato de eles serem incompletos?

Ruy Carlos Ostermann É, nos estamos pensando. O livro ficou caro. É um livroálbum, é quase umlivro de arte, são muito bonitos, o designer é absolutamente genial, o Marquinhos é genial, fez umtrabalho maravilhoso, só o meu texto não salvaria aquele livro, mas como ele organizou as coisas paraproteger o meu texto, é maravilhoso, mas ficou um livro caro, um livro de quase R$ 60,00. Então, agrande massa de torcedores não pôde comprar um livro destes. Então, eu sofro, sofro penalizado,quando pessoas me pedem, e, às vezes, são exjogadores, às vezes são pessoas de primeira linha, queeu tenho na minha memória, como agradecimento por ter sido o jogador que foi, e o sujeito bate otelefone, seu Ruy, puxa vida, que bacana, eu soube tal, eu digo, tu tens o livro, não, não tenho, entãovou te mandar o livro, já sei, não pode comprar o livro. Olha só, então a gente está pensando, pareceque o editor está pensando nisto, em fazer edições mais populares, em papel mais simples, em formatoum pouquinho diferente, não capa dura, não com tanto recurso, para ele ser um livro de R$ 20,00, R$25,00, acho que aí está bem. E eu quero, se nós fizermos isto, acrescentar muita coisa que eu fuirecebendo como informação adicional, e eu mesmo descobri coisas que estavam faltando.

Fábio Canatta – Principalmente, mudar a página do Ronaldinho.

Ruy Carlos Ostermann Pois é, os dois livros estão datados, também. Eu pensei assim, por ondecomeço o livro do Internacional. Dunga, não é verdade? Era quando ele estava chegando, meu Deus!Eu digo, é o Dunga. O filho pródigo, que volta, aquelas coisas todas. Fiz uma entrevista magníficacom ele, toquei. A primeira parte do livro é o Dunga. Três meses depois o Dunga estava fora doInternacional. Bom, por onde começa o Grêmio? Mas evidente que começa com o Ronaldinho. Aí fui,na Copa América, lá do Paraguai, sentei com o Ronaldinho, eu e o David Coimbra, fiz uma conversaboa com ele sobre como ele via o Olímpico, como ele via as pessoas, para dar um ângulo novo àentrevista. E, em seguida, o Ronaldinho foi em frente, meio ano depois. Quer dizer, o datado éprejudicial, tu entendes? Então, isso nós vamos ter que mudar, sei lá, fazer um ajuste, ou quem sabediminuir um pouco a importância que eu dei, deixálo assim como um livro que, ah, isto aquirealmente foi importante, mas não o que aparentemente é mais importante, o Ronaldinho no Grêmio,Dunga no Internacional, isto aí deu azar, convenhamos, eu não merecia isso.

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