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Epistemologia de Ciências Sociais Curso de Licenciatura em Ensino de História Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas (FCSF) Departamento de História Universidade Pedagógica Rua João Carlos Raposo Beirão nº 135, Maputo Telefone: (+258) 21-320860/2 ou 21 – 306720 Fax: (+258) 21-322113 Centro de Educação Aberta e à Distancia Programa de Formação à Distância Av. de Moçambique, Condomínio Vila Olímpica, bloco 22 edifício 4, R/C, Zimpeto Telefone: (+258) 82 3050353 e-mail: [email protected] / [email protected]

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Epistemologia de

Ciências Sociais

Curso de Licenciatura em Ensino de História

Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas (FCSF)

Departamento de História

Universidade Pedagógica

Rua João Carlos Raposo Beirão nº 135, Maputo

Telefone: (+258) 21-320860/2 ou 21 – 306720

Fax: (+258) 21-322113

Centro de Educação Aberta e à Distancia

Programa de Formação à Distância

Av. de Moçambique, Condomínio Vila Olímpica, bloco 22 edifício 4, R/C, Zimpeto

Telefone: (+258) 82 3050353

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Ficha técnica

Autoria: Ângelo Pelembe Bunguele

Revisão Científica: Jorge Fernando Jairosse

Revisão da Engenharia de EAD e Desenho Instrucional: Augusta Guilima

Edição Linguistica: Salomão Massingue

Edição técnica/Maquetização: Aurélio Armando Pires Ribeiro

Layout da Capa: Valdinácio Florêncio Paulo

Imagem base da Capa: Gaël Epiney

© 2017 Universidade Pedagógica

Primeira Edição

© Todos os direitos reservados. Não pode ser publicado ou reproduzido em nenhuma forma ou meio –mecânico ou

eletrónico- sem a permissão da Universidade Pedagógica.

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Índice

Visão Geral do Módulo i

Unidade 1: Introdução à Epistemologia de Ciências Sociais 10

Lição n° 1: Conceitos eoperacionais da disciplina de Epistemologia de Ciências Sociais 11

a) Epistemologia .............................................................................................. 12

b) Conhecimento .............................................................................................. 14 c) Verdade ........................................................................................................ 15

d) Lógica .......................................................................................................... 17 e) Pesquisa........................................................................................................ 17 f) Ciência ......................................................................................................... 21

Lição n° 2: Conceitos operacionais da disciplina epistmologia de Ciências Sociais (conclusão)24

g) Método científico ......................................................................................... 25

h) Teoria ........................................................................................................... 26 i) Sociologia - .................................................................................................. 28 j) Ciências sociais ............................................................................................ 28

Lição n° 3: Classificação geral das ciências e lugar das Ciências Sociais 32

Principais formas de conhecimento e classificação do conhecimento científico .. 33

a) Formas de conhecimento e Ciências Sociais ............................................... 33

b) Classificação geral das ciências e o lugar das ciências sociais. ................... 35

Lição n° 4: Evolução histórica das Ciências Naturais às Ciências Sociais 41

a) Contexto da transição à modernidade em que emerge o método científico 42

b) Transição da filosofia à sociologia .............................................................. 43 c) Filosofia fenomenológica e existencialista .................................................. 46

d) Reflexos sobre a igreja, agente cultural e político ....................................... 48

Lição n° 5: Carateristicas e métodos científicos em Ciências Sociais 52

Principais características do método científico ..................................................... 53

Lição n° 6: Método quantitativo e qualitativo: Caraterísticas, crítica e complementaridade 57

A qualificação e a quantificação em Ciências Sociais. ......................................... 58

6.1. Método quantitativo .................................................................................... 58 6.2. Método qualitativo ...................................................................................... 62 6.3. Critérios científicos e complementaridade .................................................. 65

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Lição n° 7: Peculiaridade que desafiam a pesquisa nas ciências sociais 71

Peculiaridades das Ciências Sociais ...................................................................... 72

Unidade 2: Suportes filosóficos ou quadro de referência de Ciências Sociais 80

Lição n° 8: Positivismo, Funcionalismo e Estruturalismo 81

8.1. Positivismo ..................................................................................................... 82 8.2. Funcionalismo ................................................................................................ 82

8.3. Estruturalismo ................................................................................................ 84

Lição n° 9: Etnometodologia, Fenomenologia e Racionalismo 88

9.1. Etnometodologia ............................................................................................ 89 9.2. Fenomenologia ............................................................................................... 89 9.3. Racionalismo .................................................................................................. 91

Lição n° 10: Empirismo, Realismo e Idealismo 94

10.1. Empirismo .................................................................................................... 95

10.2. Realismo ....................................................................................................... 95 10.3. Idealismo ...................................................................................................... 97

Lição n° 11: Materialismo histórico, Hermenêutica e Filosofia analítica da linguagem 100

11.1. Materialismo histórico. ............................................................................... 101

11.2. Hermenêutica .............................................................................................. 104

11.3. Filosofia analítica da linguagem ................................................................. 106

Unidade 3: 112

Lição n° 12: Métodos das Ciências Sociais 113

Métodos que operacionalizam os quadros de referência na pesquisa social. ...... 114

Lição n° 13: A explicação nas Ciências Sociais 125

Modelos de explicação dos fenómenos sociais. .................................................. 126 13.1. A busca de leis invariáveis ......................................................................... 126 13.2. A explicação dialéctica ............................................................................... 126

13.3. A explicação das causas ............................................................................. 128 13.4. A explicação funcionalista ......................................................................... 128 13.5. A explicação hipotético-dedutiva ou racionalismo crítico ......................... 130 13.6. A explicação estatística e o factor de prova ou variável .......................... 131

13.7. Explicação sociológica ou ruptura epistemológica. ................................. 132 13.8. Explicações a posterior ou post-factum ................................................... 133

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Lição n° 14: A compreensão e Interpretação nas Ciências Sociais 135

Modelos de compressão e interpretação dos fenómenos sociais ......................... 136 14.1. As ciências do espírito ou humanas ........................................................... 136 14.2. Ciência Cultural e Ciência Natural ............................................................. 137 14.3. Os tipos ideais ............................................................................................ 138 14.4. As bases fenomenológicas das Ciências Sociais. ....................................... 139

14.5. Filosofia das Ciências Humanas ................................................................. 142 14.6. A linguagem da acção ................................................................................ 144 14.7. A dupla hermenêutica ................................................................................. 145 14.8. A interpretação da interacção social ........................................................... 147

Lição n° 15: Confiabiliodade e validade das investigações Sociais 151

Estratégias metodológicas para a credibilização e validação da pesquisa social. 151

15.1. Análise de conteúdo ................................................................................. 152

15.2. Fontes comuns de erros ........................................................................... 152 15.3. Controlo de variáveis estranhas. .............................................................. 155

Bibliografia do Módulo 159

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i

Visão Geral do Módulo

Introdução

Bem-vindo ao módulo de Epistemologia de Ciências Sociais, seu

instrumento de estudo dos conteúdos do plano temático no curso

de Ensino de História

Faça bom proveito.

Caro estudante, o módulo que se apresenta enquadra-se nas

cadeiras do 1º ano do curso de Licenciatura em Ensino de História,

visa a iniciação à pesquisa científica em Ciências Sociais, e em

História em particular, não obstante o Módulo de Introdução de

história lhe proporcionar as ferramentas da produção do

conhecimento histórico e a natureza da ciência histórica, como

Ciência Social. Com o estudo deste módulo será possível

diferenciar o conhecimento científico de outras formas de

conhecimento, reconhecer e manusear as singularidades da

pesquisa social, escolher ascorrentes filosóficas, os métodos e as

técnicas apropriadas àcompressão, interpretação e explicação dos

fenómenos sociais. Portanto, este módulo associado ao de

Metodologia de Investigação, habilitar-lhe-á a redigir textos

científicos coerentes.

O estudante deve considerar como ponto de partida que, em termos

gerais, a epistemologia é a análise do conhecimento científico e, em

termos mais específicos, analisa os suportes filosóficos das

ciências, seu objecto de estudo, os valores implicados na criação do

conhecimento, a estrutura lógica das suas teorias, os métodos

empregues na investigação e na explicação dos seus resultados e a

verificabilidade ou refutabilidade de suas teorias.Nesta senda, este

módulo pretende proporcionar ao estudante o domínio das teorias,

processos e produção do conhecimento científico em Ciências

Sociais.

.

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ii

Objectivos do Módulo

Ao completar as lições deste módulo o prezado estudante

deverá possuir três competências básicas:

Adquirir noções básicas sobre teorias e métodos das

ciências sociais;

Dominar os mecanismos de busca da objectividade nas

ciências sociais;

Compreender a importância, utilidade e paradigmas da

investigação em ciências sociais.

Por outro lado, no fim do módulo deve ser capaz de:

Compreender os princípios filosóficos, base das teorias e

métodos das ciências sociais;

Conhecer os diversos tipos de explicação e interpretação

usados pelas ciências sociais;

Diferenciar os principais paradigmas e os níveis de

integração que se estabelecem;

Conhecer os princípios fundamentais das novas teorias

derivadas dos grandes paradigmas teóricos das ciências

sociais;

Conhecer os procedimentos de pesquisa objectiva e

credível em ciências sociais.

Propósito do módulo.

O impacto prático projectado para este módulo é munir o futuro

professor de História,agente social por excelência, com

ferramentas debusca da objectividadena pesquisa de fenómenos

sociais e compreender a importância, utilidade e paradigmas da

investigação em ciências sociais.

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iii

A quem se destina o Módulo

Caro estudante e futuro professor de História tem à sua disposição

um módulo elaborado na perspectiva de combinar material de raiz e

a bibliografia básica, visando guiar e não limitar sua aprendizagem,

na perspectiva polissémica e probabilística da pesquisa social

sempre aberta a novas fontes e interpretações. Prezado colega, este

é um guia para aqueles que são confrontados com a exigência que

caracteriza o estudo universitário, onde o carácter académico

contraria a indicação de receitas únicas.

Métodos de estudo.

Estudo individual: Grande parte da sua aprendizagem,

realiza sozinho, a ler e a pensar em silêncio. Caro estudante

o módulo apresenta quatro (4) elementos estruturantes: os

apontamentos de indução, a indicação das leituras

obrigatórias, as actividades visando a realização dos

objectivos das lições e os exercícios de aplicação.

Grupos de estudo informais: Naturalmente, você não

precisa de estudar este módulo apenas individualmente. Os

materiais podem e devem ser usados por si com outros

estudantes deste curso e professores do seu grupo de

disciplina.

NOTA: Este módulo não pretende assumir nem inculcar nenhum

absolutismo do saber, por isso é desejável que seja estudado em

combinação com outros materiais, os mais importantes constam da

bibliografia final, cujas chamadas constam ao longo das lições.

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iv

Avaliação

Caro estudante, a avaliação obrigatória consistirá de dois (2)

testesescritos e exame final. Contudo, a sua calendarização e

oportunidade dependerá da planificaçãoa ser feita pelo tutor de

especialidade ou orientador, que poderá identificar outras

modalidades de avaliação e estratégias de condução do módulo.

Organização do Módulo

Estruturalmente o módulo comportatrês unidades de

aprendizagem, apresentados no sinopse que segue:

Nr. de lições Conteúdo Tempo de

estudo

I

1 e 2

Unidade I: Introdução à Epistemologia de

ciências sociais:

1.1. Discussão dos conceitos operacionais de

Epistemologia das Ciências Sociais.

10h

30h 3 1.2. Formas de conhecimento e classificação

do conhecimento científico.

3h

4 1.3. A evolução: Das ciências naturais à

sociais

3h

5 1.4. Método científico em ciências sociais

5h

6 1.5. Método quantitativo e qualitativo:

Críticas, critérios e complementaridade.

5h

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v

7 1.6. Peculiaridades das ciências sociais

4h

II

8 Unidade II: Suporte filosófico ou quadros de

referência das ciências sociais:

2.1. Positivismo, Funcionalismo,

Estruturalismo

3

10

9 2.2. Etnometodologia,

Fenomenologia, Racionalismo

2

10 2.3. Empirismo, Realismo, Idealismo

2

11 2.4. Materialismo e materialismo

histórico, Hermenêutica e Filosofia

analítica da linguagem

3

III

12 Unidade III: A construção epistemológica

das ciências sociais

3.1. Métodos das ciências sociais

Métodos de procedimento

Métodos de abordagem

5

30

13 3.2. Explicação nas ciências sociais

10

14 3.3. A compreensão e interpretação

nas ciências sociais

10

15 3.4. Confiabilidade e validade das

investigações

5

Total 80

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vi

Ícones de Actividades

Caro estudante, para lhe ajudar a orientar-se no estudo deste módulo e

facilmente foram usados marcadores de texto do tipo ícones. Os ícones

foram escolhidos pelo CEMEC (Centro de Estudos Moçambicanos e

Etnociência) da Universidade Pedagógica. Tomou-se em consideração a

diversidade cultural Moçambicana. Encontre, a seguir, a lista de ícones, o

que a figura representa e a descrição do que cada um deles indica no

módulo:

1. Exercício

[enxada em actividade]

2. Actividade

[colher de pau com alimento

para provar]

3. Auto-Avaliação

[peneira]

4. Exemplo/estudo de caso

[Jogo Ntxuva]

5. Debate

[fogueira]

6. Trabalho em

grupo

[mãos unidas]

7. Tome nota/Atenção

[batuque

soando]

8. Objectivos

[estrela cintilante]

9. Leitura

[livro aberto]

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vii

10. Reflexão

[embondeiro]

11. Tempo

[sol]

12. Resumo

[sentados à volta da

fogueira]

13. Terminologia

Glossário

[Dicionário]

14. Video/Plataforma

[computador]

15. Comentários

[Balão de fala]

1. Exercício (trabalho, exercitação) – A enxada relaciona-se com

um tipo de trabalho, indica que é preciso trabalhar e pôr em prática

ou aplicar o aprendido.

2. Actividade - A colher com o alimento para provar indica que é

momento de realizar uma actividade diferente da simples leitura, e

verificar como está a ocorrer a aprendizagem.

3. Auto-Avaliação – A peneira permite separar elementos, por isso

indica que existe uma proposta para verificação do que foi ou não

aprendido.

4. Exemplo/Estudo de caso – Indica que há um caso a ser resolvido

comparativamente ao jogo de Ntxuva em que cada jogo é um caso

diferente.

5. Debate – Indica a sugestão de se juntar a outros (presencialmente

ou usando a plataforma digital) para troca de experiências, para

novas aprendizagens, como é costume fazer-se à volta da fogueira.

6. Trabalho em grupo –Para a sua realização há necessidade de

entreajuda, que se apoiem uns aos outros

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viii

7. Tome nota/Atenção – Chamada de atenção

8. Objectivos – orientação para organização do seu estudo e daquilo

que deverá aprender a fazer ou a fazer melhor

9. Leitura adicional – O livro indica que é necessário obter

informações adicionais através de livros ou outras fontes.

10. Reflexão – O embondeiro é robusto e forte. Indica um momento

para fortalecer as suas ideias, para construir o seu saber.

11. Tempo – O sol indica o tempo aproximado que deve dedicar á

realização de uma tarefa ou actividade, estudo de uma unidade ou

lição.

12. Resumo – Representado por pessoas sentadas à volta da fogueira

como é costume fazer-se para se contar histórias. É o momento de

sumarizar ou resumir aquilo que foi tratado na lição ou na unidade.

13. Terminologia/Glossário – Representado por um livro de consulta,

indica que se apresenta a terminologia importante nessa lição ou

então que se apresenta um Glossário com os termos mais

importantes.

14. Vídeo/Plataforma – O computador indica que existe um vídeo

para ser visto ou que existe uma actividade a ser realizada na

plataforma digital de ensino e aprendizagem.

15. Balão com texto – Indica que existem comentários para lhe ajudar

a verificar as suas respostas às actividades, exercícios e questões de

auto-avaliação.

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9

Pág. 10 - 78

Conteúdos

1 U

NID

AD

E

Unidade 1: Introdução à Epistemologia de Ciências Sociais

Lição n° 1: Conceitos eoperacionais da disciplina de

Epistemologia de Ciências Sociais

Lição n° 2: Conceitos operacionais da disciplina epistmologia de

Ciências Sociais (conclusão)

Lição n° 3: Classificação geral das ciências e lugar das Ciências

Sociais

Lição n° 4: Evolução histórica das Ciências Naturais às Ciências

Sociais

Lição n° 5: Carateristicas e métodos científicos em Ciências

Sociais

Principais características do método científico

Lição n° 6: Método quantitativo e qualitativo: Caraterísticas,

crítica e complementaridade

Lição n° 7: Peculiaridade que desafiam a pesquisa nas ciências

sociais

Introdução à

Epistemologia de Ciências

Sociais

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10

Unidade 1: Introdução à Epistemologia de Ciências Sociais

Introdução

Nesta1ª unidade de aprendizagem apresentam-se seteliçõesque

correspondem ao estudo dos conceitos operacionais, a identificação do

lugar das Ciências Sociais no campo dos estudos científicos e as

particularidades da pesquisa social. Assim, nesta unidade, o focoestá nos

aspectos introdutórios do plano do módulo, conforme indiciam as metas

que seguem.

Objectivos da unidade

Ao terminar esta unidade deverá ser capaz de:

Descrever os conceitos operacionais da disciplina;

Analisar o lugar das ciências sociais na classificação geral das

ciências;

Descrever a evolução histórica das ciências naturais às sociais;

Caracterizar o método científico em ciências sociais;

Caracterizar, criticar e reconhecer os critérios básicos e de

complementaridade entre os métodos quantitativo e qualitativo na

pesquisa social;

Explicar as peculiaridades que desafiam a pesquisa nas ciências

sociais.

Tempo

30 horas.

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11

Lição n° 1: Conceitos eoperacionais da disciplina de Epistemologia

de Ciências Sociais

Introdução

Bem-vindoà lição inaugural de Epistemologia de Ciências Sociais, ela

habilita-lhe a compreender a polissemia e o carácter provisório dos

conceitos estruturantes da epistemologia da ciência e da ciência social,

mormente as características do método científico e as peculiaridades da

pesquisa social. Os conceitos e actividades seleccionadas para esta aula,

exige muita leitura e constituem o fundamento para estudar o resto do

módulo.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Objectivos

Descrever conceitos operacionais de Epistemologia,

Conhecimento, Verdade, Lógica, Pesquisa e Ciência,

Relacionar os conceitos operacionais indicados para esta

lição.

Tempo

Tempo de estudo da Unidade: 05 horas.

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12

Terminologia

Conceitos de Epistemologia, Conhecimento, Verdade, Lógica,

Pesquisa e Ciência.

a) Epistemologia

Caro estudante, este é um conceito central da filosofia do conhecimento

que indaga as leis científicas, ele integra três aspectos centrais:

possibilidade de conhecer, relação subjectiva entre sujeito e objecto do

conhecimento e a validade e aplicabilidade do conhecimento.

Gomes (1988) considera como noções elementares de epistemologia a

relação entre o sujeito e o objecto, para além dos processos histórico-

filosóficos do conhecimento e a evolução da problemática sobre sua

origem, natureza e valor.

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13

Actividade

Caro estudante, leia o conceito de epistemologia em Gomes

(1988:351/362) ou na Verbo Enciclopédia Luso-brasileira de

Cultura1e, no seu bloco de notas, estabeleça a relação

epistemológica, relacionando o que leu e a situação hipotética do

exemplo que segue: Se entregarum apagador a uma criança de 2

anos, ela pode estabelecer uma relação particular como se de um

brinquedo de viatura se tratasse e o mesmo apagador diante de

um adolescente de 16 anos a relação entre ambos muda

totalmente.

Se nas notas que fez da leitura dos autores e páginas referidos no

enunciado constam os aspectos constantes no quadro,está no

caminho certo, então complete as duas colunas em branco. Mas

se não conseguiu releia os textos e anote os elementos que

permitem chegar ao resultado esperado.

Sujeito Objecto Relação epistemológica

Criança de 2

anos

Apagador

Brinca com o apagador como

brinquedo de carro: vhummmm…

Adolescente

de 16 anos

Pensa no ambiente escolar: sala

de aula, professor, quadro, giz,

etc.

Você, caro

estudante,

antes da

leitura

Ciências

sociais

Você, depois

da leitura dos

textos

indicados

acima

Ciências

sociais

1O prezado estudante poderá consultar outra enciclopédia disponível na biblioteca mais

próxima. Contudo, tem ao seu dispor na Web a Enciclopédia Verbo Edição Século XXI,

sucessora da Verbo Enciclopédia Luso-brasileira de Cultura (ambas disponíveis

emhttps://pt.m.wikipedia.org e https://www.olx.pt)

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14

b) Conhecimento

Partamos da convicção deque o conhecimento, emergindo da totalidade da

vida psíquica, em que se insere, impõe-se como fenómeno originário e

irredutível. Objecto de uma experiência universal e constante, permanece

intraduzível na sua misteriosa complexidade, daí ser compreensível o

recurso a analogias e imagens mais ou menos sugestivas para melhor o

aproximar e descrever. Numa análise elementar, o conhecimento aparece

como acto imanente pelo qual a consciência abre-se para o mundo

circundante, tornando-o intencionalmente presente na consciência.

Inicialmente o conhecimento é um fenómeno consciente – conhecer é

ter consciência de alguma coisa, onde o conhecimento e a consciência

constituem uma unidade indissolúvel, não existindo um sem outro. Em

todo o caso conhecer é presente, pelo menos implicitamente, a reflexão

(consciência do eu) que opõe um sujeito a um objecto, relação

necessáriapois não há conhecimento sem sujeito que conhece ou sem um

objecto conhecido. O sujeito deve apreender o objecto, acolhê-lo, torná-lo

presente; enquanto ao objecto compete deixar-se apreender e especificar,

o conhecimento dando-lhe um conteúdo.

Repare que, conhecer objectivamente é manter o outro à distância,

evitando confundir-se com ele. A apreensão, pelo sujeito, manifesta-se

como êxito da consciência, uma saída da sua esfera para a do objecto e o

consequente regresso a si mesmo depois de haver o apreendido. Ora, o

sujeito não pode apreender o objecto sem se transcender, nem pode ser

consciente dessa apreensão sem de novo regressar a si mesmo ou se

interiorizar (conhecer é tornar-se o Outro, enquanto Outro). Fusão em que

no interior de um mesmo acto, sujeito e objecto conservam a sua

autonomia, portanto o sujeito torna-se o Outro sem o absorver,

respeitando a sua individualidade e no objecto não se opera nenhuma

modificação, permanecendo inalterável na sua realidade ontológicae

indiferente a ser ou não conhecido. O conhecimento é uma relação

dinâmica e vital, uma reacção a um excitante. Ora, nenhuma excitação

pode provocar uma sensação ou pensamento, se o sujeito não reagir

espontânea e pessoalmente. Essa espontaneidade é relativa: Impõe-se a

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15

intervenção de um excitante para que haja sensação e a própria vida

intelectual depende da sensibilidade. O sujeito é incapaz de produzir ou

criar o objecto, mas deve esperar que este se lhe manifeste, sendo o

sujeito de algum modo passivo, deixando-se medir e determinar pelo

objecto. O conhecimento não se pode definir como pura subjectividade,

nem como pura objectividade, é ao mesmo tempo activo e passivo,

constitutivo e receptivo, promoção interior e informação exterior, ele vive

e alimenta-se da tensão dialécticaentre o sujeito e o objecto, expressa em

termos de isolamento e comunhão, identidade e diversidade, coincidência

e distância, passividade e liberdade (Verbo Enciclopédia Luso-brasileira

de Cultura, Vol. 5, pp.1391-1395).

Actividade

Agora, verifique o que percebeu de conhecimento e se reconhece os

problemas que envolvem sua definição: Escreva no seu bloco de notas o

que entendeu como noção, origens, problemas epossibilidades do

conhecimento.

Se nas notas que fez conseguiu identificar a noção, origem, problemas e

possibilidades de conhecer, então está no caminho certo, mas se não

conseguiu volte a ler e faça notas. Por outro lado, apoie-se no texto de

Lopes (1970:171-203) que lhe permitirá fácil identificação dos

elementos que lhe conduzirão ao resultado esperado.

c) Verdade

Retenha, antes de tudo, que por verdade pode referir-se ao pensamento, ao

ser e à palavra. Na experiência humana a verdade afecta primeiro o

pensamento, este é sempre sobre alguma coisa, ele possui verdade

quando apreende o que uma coisa é, portanto, a verdade estabelece uma

relação entre o pensamento e o ser das coisas. Por outro lado, o ser das

coisas refere-se à inteligência, de outro modo não poderia por ela ser

apreendido, pois o ser das coisas é inteligível.

Observe que na comunhão interpessoal, os homens falam entre si das

coisas, dos factos e acontecimentos, pela palavra comunicam os seus

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conhecimentos, estatelando-se uma rede de relações de inteligências, ser e

palavra. Diz-se que há verdade na inteligência ou entendimento

quando ela conhece o que uma coisa é, quando há correspondência ou

adequação entre a inteligência e o ser; quando o que a inteligência diz

que é ou não é, se verifica na realidade: a verdade é lógica, porque ela

está na mente, no logos (razão). Para que a inteligência conheça o ser

das coisas, estas devem ser inteligíveis (verdade ontológica). De facto, a

relação de verdade é recíproca: A inteligência pode conhecer as coisas e

estas podem ser conhecidas, a inteligência conformando-se com o ser das

coisas e este conformando-se com a inteligência (Ex: o artista – verdade

ontológica e interprete – verdade lógica). Quando há acordo entre o que se

pensa e se diz dá-se a verdade moral (veracidade - mentira), esta é

compatível com a falsidade lógica. São disciplinas que se ocupam do

problema da verdade: Lógica/filosofia analítica da linguagem; a

lógica/coerência do pensamento/correcção do raciocínio; crítica ou teoria

do conhecimento (Gnosiologia, Epistemologia), a Ontologia, Ética,

Moral, etc.

Actividade

Caro estudante, agora questione-se sobre o tipo de verdade que a

ciência pode oferecer: Registe no seu bloco de notas as atitudes da

inteligência perante a verdade e o carácter não finito da verdade

científica.

Se nas notas que fez conseguiu identificar o processamento da

verdade pela inteligência e o carácter não dogmático da verdade

científica, então está no caminho certo, mas se não conseguiu volte a

ler e faça notas. Por outro lado, apoie-se no texto de Lopes (1970:214-

219) que lhe permitirá fácil identificação dos elementos que lhe

conduzirão ao resultado esperado.

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d) Lógica

Termo de origem grego, etimologicamente significa ciência do logos-

razão (Ciência da palavra ou do pensamento), mas a expressão pode ser

tomada em muitos sentidos. Aristóteles não usou a palavra lógica, mas

seu equivalente mais próximo naqueles tempos é analítica. Crisipo dividiu

a filosofia em Lógica, Ética e Física. Para os estóicos a Lógica

compreende a Retórica e a Dialéctica. Para Cícero, Alexandre de

Afrodisia e Beócio, o termo lógica parece designar, unicamente a

dialéctica dos estóicos. No começo da escolástica o termo mais usado foi

dialéctica, mas entre os séculos XIII-XV e XVII predomina o termo

lógica.

Actividade

Considerando que a lógica é uma ciência, arroleos requisitos

epistemológicos básicos de qualquer campo que mereça tal

consideração: Descreva, sucintamente, no seu bloco o objecto,

divisão, origem e evolução da lógica.

Se nas notas que fez conseguiu identificar objecto, divisão, origem e

evolução da lógica, então está no caminho certo, mas se não

conseguiu volte a ler e faça notas. Por outro lado, apoie-se no texto de

Lopes (1970: 5-12) que lhe permitirá fácil identificação dos elementos

que lhe conduzirão ao resultado esperado.

e) Pesquisa

Caro estudante, apreciemos Richardson (1999:15), para quem não existe

uma fórmulamágica e única para realizar uma pesquisa ideal, talvez não

existe uma pesquisa perfeita. A investigação é um produto humano, e seus

produtores são seres falíveis, pois os conceitos e princípios fundamentais

da ciência são invenções livres do espírito humano (Albert Einstein). Isto

é algo importante que o principiante deve ter em mente: fazer pesquisa

não é privilégio de alguns poucos génios. Precisa-se ter conhecimento da

realidade, algumas noções básicas de metodologia e técnicas de pesquisa,

seriedade e, sobretudo trabalho em equipa e consciência social.

Evidentemente é desejável chegar a um produto acabado, mas não é

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motivo de frustração um produto imperfeito. É melhor ter trabalho de

pesquisa imperfeito a não ter trabalho nenhum.

De facto, toda a pesquisa continuará uma ilha no grande oceano do

conhecível sobre o assunto em questão, por isso toda a pesquisa deve ser

rebatida na perspectiva deque o movimento que promove a ciência nasce

da dúvida permanente e da capacidade de invalidar oque se apresenta

como a fase suprema do saber. Por isso, toda a afirmação, todo o

princípio e toda a deliberação feita por si ou por outros pesquisadores

devem ser examinados sob o ponto de vista da sua veracidade ou

falsidade e como se pode medir sua falsidade ou veracidade. Ora para

o pesquisador principiante esta atitude pode parecer estranha pois a nossa

escola transmite uma visão absolutista do saber, porque é mais fácil

ensinar dogmaticamente que levantar dúvidas, intranquilidades ou

inquietudes. Assim, a atitude do pesquisador exige uma reorganização do

conceito de saber, uma nova visão que permita reconhecer a incerteza, a

falta de clareza, a relatividade, a instrumentalização e ambiguidade do

conceito de verdade científica. Esta posição conduz a avanços na

produção e democratização do saber e não a aceitação não questionada do

que aparece nos livros e mentes dos especialistas (Richardson, 1999:18).

Afinal para que pesquisar? Para Goergen apud Richardson (1999:16) “ a

pesquisa nas ciências sociais não pode excluir de seu trabalho a reflexão

sobre o contexto conceptual, histórico e social que forma o horizonte

mais amplo, dentro do qual as pesquisas isoladas obtém o seu sentido”.

Disto se compreende que os estudos tanto teóricos como empíricos

podem mudar de sentido a partir da consciência dos pressupostos

[valores] sociais, culturais, políticos ou mesmo individuais que se

escondem sob a enganadora aparência dos factos objectivos. Assim,

ainda que seja comum a realização de pesquisas para beneficio do próprio

pesquisador, não devemos esquecer de que o objectivo último das ciências

sociais é o desenvolvimento do ser humano [teleológica, a pesquisa social

não é de simples erudição], não obstante seu fim imediato seja a aquisição

de conhecimento.

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Como ferramenta para adquirir conhecimento, a pesquisa pode ter os

seguintes objectivos: Resolver problemas específicos, gerar teorias e

avaliar ou testar teorias existentes. Retenha que nenhum destes três

objectivos é superior aos outros, e os três podem complementar-se.

Os modelos de pesquisa segundo a classificação Issac (Gressler

(1979:19/26) pedem ser: Modelo de pesquisa histórica; Modelo de

pesquisa descritiva; Modelo de pesquisa desenvolvimentista; Modelo de

pesquisa estudo de casos; Modelo de pesquisa correlacional; Modelo de

pesquisa causa-comparação ou Ex post-facto; Modelo de pesquisa

experimental; Modelo de pesquisa quase-experimental e o Modelo de

pesquisa em acção.

Gressler (1979:9) chama atenção à valorização e fé nas pesquisas

tecnológicas e económicas em detrimento das sociais onde as exigências

são puramente teóricas, chegando-se a adulterar o conceito de pesquisa

através do simples transporte das informações contidas num livro para a

folha de papel. Por outro lado, elenca como importância da pesquisa

social: 1º desenvolver a capacidade de pensamentocrítico, levando o

estudante a aprender a pensar, acurada e criticamente; 2ºpromover a

liberdade intelectual e o pensamento independente através do

envolvimento doa alunos na pesquisa; 3º torna-os mais cooperativos

quando sua contribuição é solicitada.

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Actividade

1. Com esta actividade pretendo reafirmar que a pesquisa científica

é o objecto central deste módulo e acautelar-lhe que no mundo

real irá enfrentar a dificuldade de recursos para a pesquisa social

e estimular-lhe a começar a idealizar o campo que poderá

abraçar na sua monografia.

1.1. Registe no seu bloco os factores que justificam maiores

recursos para pesquisas tecnológicas e económicas

(laboratórios, transporte para estudos de campo e

equipamentos) e descreva as possibilidades de alargar o

prestígio da pesquisa social.

Se nas notas que fez conseguiu identificar os elementos que explicam a

tecnicização das ciências, então está no caminho certo, mas se não releia

o texto e faça notas.

1.2. Para a apropriação eficaz deste assunto descreva no seu

bloco de notas exemplos da pesquisa social, na área de

História, para cada um dos três objectivos da pesquisa e o

quarto exemplo para a possibilidade de complementaridade.

Se nas notas que fez conseguiu identificar os três objectivos da pesquisa

social e os fundamentos da complementaridade, então está no caminho

certo, mas se não conseguiu releia, faça notas e aplique tais objectivos a

uma hipotética pesquisa social histórica. Por outro lado, apoie-se no

texto de Richardson (1999:17) que lhe permitirá fácil identificação dos

elementos que lhe conduzirão ao resultado esperado.

1.3. Como caracteriza o Modelo de pesquisa histórica. Em

que difere com os níveis de pesquisa?

Se nas notas que fez conseguiu diferenciar modelos e níveis de

pesquisa, então está no caminho certo, mas se não conseguiu volte a ler

e faça notas. Por outro lado, apoie-se nos textos de Gressler (1999:19);

Gomes (1988:343/350) e Gil (1999: 4248) que lhe permitirão fácil

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identificação dos elementos que conduzem ao resultado esperado.

f) Ciência

Caro estudante, a ciência nada mais é que uma das maneiras de explicar o

universo no qual vivemos, este corpo de conhecimentos inclui aspectos

teóricos e práticos. Pode ser definida como a acumulação de

conhecimentos sistematizados, ela aborda o mundo que é possível ser

experimentado pelo Homem no seu quotidiano [mundo empírico].

Embora adefiniçãode ciência seja problemática, pode-se definir ciência

como uma forma de conhecimento que tem por objectivo formular,

mediante linguagem rigorosa e apropriada (se possível, com auxílio da

linguagem matemática), leis que regem os fenómenos. Embora variadas,

essas leis têm em comum o seguinte: podem descrever séries de

fenómenos; são comprováveis através da observação e experimentação;

são capazes de prever os acontecimentos, pelo menos de forma

probabilística. Por outro lado, pode-se definir ciência através da

identificação das suas características essenciais, portanto como forma de

conhecimento objectivo, racional, sistemático, geral, verificável e fiável2

(Gil, 1999:20).

Em geral a ciência é uma poderosa ferramenta de convicção. Existem

outras, tais como a intuição, a experiência mística, a aceitação da

autoridade. Mas a ciência, talvez pela aparente objectividade e eficiência,

proporciona a informação mais conveniente. Se alguma evidência

científica é relevante para a determinada afirmação, dita evidênciaajudará

na decisão de aceitar ou rejeitar essa afirmação. Repare que a ciência não

2O conhecimento científico é objectivo porque descreve a realidade independentemente

dos caprichos do pesquisador [?]; é racional porque se vale da razão e não de sensações

ou impressões, para chegar a seus resultados; é sistemático porque se preocupa em

construir sistemas de ideias organizadas racionalmente e em incluir os acontecimentos

parciais em totalidades cada vez mais amplas; é geral porque seu interesse se dirige à

elaboração de leis ou normas gerais, que explicam todos os fenómenos de certo tipo; é

verificável porque sempre possibilita demonstrar a veracidade das informações; é fiável

porque , ao contrário de outros sistemas de conhecimento, reconhece sua própria

capacidade de errar (Gil,1999:20).

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é dona da verdade, toda verdade científica tem carácter probabilístico

(Richardson,1999:17).

A priori, não há base para afirmar que a ciência é melhor que a revelação,

depende da cultura e das crenças das pessoas, alguns pressupostos serão

mais convincentes que outros. Contudo, pode-se aceitar que a ciência é

uma forma de adquirir conhecimento, compreensão, crença da falsidade

ou veracidade de uma proposição.

A pesquisa científica é um inquérito ou exame cuidadoso para descobrir

novas informações ou relações, ampliar e verificar o conhecimento

existente. A pesquisa científica não se limita à simples colecta de dados,

pode ser entendida como forma de observar, verificar e explanar factos

para os quais o homem necessita ampliar sua compreensão, ou testar a

compreensão que já possui a respeito dos mesmos (Gressler,1979:16)

O método científico é comparável a um telescópio, no qual diferentes

lentes, aberturas e distâncias produzem formas diversas de ver a natureza.

Assim, o uso de apenas uma vista não oferecerá uma representação

adequada do espaço total que desejamos compreender. Talvez diversas

vistas parciais [a ciência não é imparcial] permitam elaborar um mapa

tosco da totalidade procurada, que apesar da sua falta de precisão tal

mapaajudará a compreender o território em estudo (Richardson,1999:19).

Resumo da lição

Os conceitos operacionais e/ou estruturantes deste módulo,

tratados nesta aula inaugural, são cinco, designadamente:

Epistemologia, conhecimento, verdade, lógica e pesquisa. O

primeiro discute a relação entre o sujeito e objecto do

conhecimento e mobiliza o debate recorrente em ciências

sociais, o da objectividade,comummente vista como a ambiciosa

separação do pesquisador com seus valores; quanto ao conceito

de conhecimento retenha-se que ele emerge da experiência e

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revela a abertura da consciência ao mundo à volta, já a verdade,

sempre em renovação, revela a correspondência entre a

inteligência e o ser das coisas, ela é racional (produto da mente);

já a lógica é a ciência da palavra, um exercício fundamental na

pesquisa ou busca metódica da verdade dos fenómenos e factos

da natureza e da sociedade.

As aparentes lacunas na cientificidade do campo das

humanidades podem atrapalhar o estudioso menos experiente,

mas as ciências sociais, como todas as ciências, seu

desenvolvimento esbarra contra ilusões do senso comum.

Porque as ciências sociais são recentes, a resistência das ilusões

do senso comum mantém-se mais fortes. Por outro lado, o

conhecimento é teleológico e inteligível, a verdade relativa,

contingencial e dinâmica e, por fim, a pesquisa não é linear.

Bibliografia da Lição

DUVERGER, M.Sociologia política, Coimbra:

Almedina, 1983

GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa

social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.

GOMES, Rodrigues Raul. Introdução ao pensamento

histórico, Lisboa: Livros Horizonte, 1988.

GRESSLER, Lori Alice. Pesquisa educacional:

Importância, modelos, validade, variáveis, hipóteses,

amostragem e instrumentos, São Paulo: Layola, 1979.

LOPES, J. Marques, Curso de Filosofia, sl: Didáctica

editora, 1970

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:

Métodos e técnicas, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 1999.

Verbo Enciclopédia Luso-brasileira de Cultura.

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Lição n° 2: Conceitos operacionais da disciplina epistmologia de

Ciências Sociais (conclusão)

Introdução

Bem-vindoà 2ª lição, ela conclui o tema em apreço, visando habilitar-lhe a

compreender a polissemia e o carácter transitório e dinâmico dos

conceitos da ciência e da ciência social, mormente as características do

método científico e as peculiaridades da pesquisa social. Os conceitos e

actividades seleccionadas para esta aula, como na 1ª aula, constituem o

fundamento para estudar o resto do módulo

Objectivos

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

Descrever conceitos operacionais de Método científico, Teoria,

Sociologia e Ciências Sociais,

Relacionar os conceitos operacionais indicados para esta lição.

Tempo

Tempo de estudo da Unidade: 05 horas.

Terminologia

Método científico, Teoria, Sociologia e Ciências Sociais

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g) Método científico

Caro estudante, repare que a ideia de método é antiga, na Grécia

Arquimedes se preocupou com o método de cálculo de áreas planas e

Aristóteles formulou o método dedutivo para inferir logicamente as

características gerais de um fenómeno, mas foi Galileu (1564-1642) que

deu os primeiros passos para o método científico moderno ao insistir na

necessidade de elaborar hipóteses e submetê-las a provas experimentais.

Contudo, o conceito de método como procedimento para chegar a um

objectivo, começa a consolidar-se com o nascimento da ciência na Idade

Moderna, no século XVII: Francis Bacon entrou na história como criador

do método indutivo, que consiste em concluir o geral do particular,

obtido através da experiência e observação. Para ele, o método científico é

um conjunto de regras para observar fenómenos e inferir conclusões; por

seu turno, René Descartes defendia a dedução, para ele qualquer

conhecimento deve ser rigorosamente demostrado e inferido de um

principio único e fidedigno [do pressuposto geral aos particularismos].

Para ele, toda a ciência deve ter o rigor matemático e o critério para que o

conhecimento seja verdadeiro é a clareza e a evidência.

Segundo Gressler (1979:16), enquanto a pesquisa tem por finalidade a

solução de um problema, o método visa orientar a busca da solução do

problema. Assim, o método científico pode ser definido como uma

sucessão de passos pelos quais se descobrem as soluções dos problemas,

como sejam: observações preliminares, problema, revisão bibliográfica,

amostragem, instrumentos, colecta de dados, tabulação, análise e

inferências.

Retenha que, uma das condições fundamentais da ciência é a análise

imparcial dos factos. A ênfase na exactidão e imparcialidade aumenta a

validade dos conceitos e as virtudes do processo de investigação. Um

cientista que apresenta factos procedentes de observações reaplicadas

supera aqueles que não seguiram o mesmo rigor em suas pesquisas

(Gressler,1979:15).

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Actividade

1. Caro estudante mobilize todo o seu saber e experiência

para definir a ciência histórica, considerando que os

aspectos da vida humana que ele persegue são: a

organização para produzir, as actividades económicas e

recursos tecnológicos e a partilha do resultado do

trabalho.

1.1. Escreva no seu bloco de notas a definição de

História e, em seguida, identifique as operações de

medição, contidas na sua definição, nomeadamente os

instrumentos e as medições em causa.

Se nas notas que fez a sua definição de História considera que é

uma ciência social; estuda a evolução de alguns aspectos da vida

dos agrupamentos humanos; através do tempo e lugar

especificados, então está no caminho certo, mas se não conseguiu

releia, faça notas e, por outro lado, busque na sua definição regras

para a medição requerida na actividade e devidamente

demostradas no texto da aula.

h) Teoria

Caro estudante repare que muita gente usa este termo: Na linguagem

popular a teoria é identificada com a especulação, mas para a ciência é,

segundo Braithwaite apud Gil (1999:36) o conjunto de hipóteses que

formam um sistema dedutivo, ou seja, um sistema organizado de maneira

que, considerando como premissas algumas hipóteses, destas decorram

logicamente todas as outras. A importância das teorias na pesquisa social

reside em permitir uma adequada definição de conceitos, estabelecimento

de sistemas conceptuais, indicar lacunas no conhecimento, auxiliar na

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construção de hipóteses, explicar/generalizar e sintetizar os

conhecimentos e sugerir a metodologia adequada para a investigação3.

Por outro lado, filosoficamente, teoria expressa uma visão intuitiva ou

intelectiva, alguns cientistas tomam teoria como sinónimo de hipótese,

mas é distinta desta e de ciência como sistema total, porque no sentido

científico a hipótese é uma fase anterior à teoria e é parte integrante da

ciência teórica ou aplicada. Ora, o conceito teoria é relativo e paradoxal,

porque sendo a filosofia uma metateoria em relação às teorias científicas,

também inclui na sua constituição a teoria! Há, pois vários tipos de teorias

que se distinguem pelas suas estruturas e pelos objectivos formais das

ciências que vão constituir. A teoria opõe-se à praxis/acção da mesma

forma que o conceito ao objecto real, mas são complementares: A teoria é

uma visão abstracta das coisas, por oposição à prática. Mas, o conceito

científico de teoria é mais profundo e problemático: 1º Natureza da

teoria - Define-se genericamente como a explicação lógica ou abstracta

de um problema ou conjunto de problemas de qualquer ciência. Sabe-se

que o método científico começa pela observação e/ou experimentação,

hipótese e formulação da lei geral ou teoria. É pois uma hipótese já

confirmada pela experiência e que faz parte integrante da ciência, mas há

vários tipos de teorias e ciências. A teoria define-se rigorosamente pela

estrutura das proposições e operadores que a constituem, sendo que em

relação aos juízos (operadores lógicos) e suas preposições, as teorias

podem ser analíticas ou sintéticas e em relação aos raciocínios

(operadores lógicos) e suas preposições, podem ser dedutivas ou

indutivas; 2º Valor das teorias – A teoria dedutiva é sempre verdadeira

de certeza absoluta, portanto a indução, nem sempre é exacta, mas

provável, mas na Matemática é sempre certa porque pelo princípio de

recorrência são eliminadas as hipóteses de erro; 3º Limites das teorias –

São definidos pelos parâmetros de cada ciência e pelo objecto formal ou

ângulo de investigação. A teoria está para a ciência, como a parte para o

3Quanto ao papel metodológico das teorias Karl Popper apudGil (1999:36) as considera

redes estendidas para capturar o que chamamos o mundo, para realizá-lo, explicá-lo e

dominá-lo

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todo. Há teorias perfeitas, saturadas, inacabadas (…) porque são possíveis

séries translimites de teoremas e novas extensões. O limite de uma teoria

dedutiva é função de potência de generalizações do grupo de axiomas,

mas aparecem antinomias que são limites; o limite de uma teoria indutiva

é função do princípio da verificação, se a lei geral enunciada engloba

todos os fenómenos da experiência ou não. Segundo o Teorema de Gödel,

o único limite absoluto da teoria é a metateoria.

O ponto básico na construção de uma teoria é a agregação dos

conhecimentos já existentes em uma determinada área, conhecimentos

capazes de oferecer explanações lógicas das interacções entre os

fenómenos, bem como de lançar bases para novas hipóteses. Para tanto, a

teoria deve ser suficientemente bem estruturada, a fim de que as

explanações oferecidas sejam compreensíveis. A adequação de uma teoria

reflecte-se em sua capacidade de predizer novas situações, oferecendo

assim caminho para o homem visualizar o futuro antes que o mesmo

aconteça (Gressler,1979:15).

i) Sociologia -

É o estudo da vida social humana, grupos e sociedades. A Sua esfera, é

muito abrangente indo desde a análise de encontros casuais entre

indivíduos na rua, até processos sociais globais. Revela a necessidade de

adoptar uma perspectiva mais abrangente do nosso modo de ser e das

razões pelas quais agimos; ensina que o que se pode considerar natural,

inevitável, bom e verdadeiro, pode não ser, e que o que se toma como

dano na nossa vida é fortemente influenciado por forças históricas e

sociais e permite compreender as maneiras ao mesmo tempo subtis,

complexas e profundas, pelas quais as nossas vidas individuais reflectem

os contextos da nossa experiência social.

j) Ciências sociais

Foi demonstrado que a ciência tem como propósito oferecer uma

explanação objectiva, factual e útil do universo, uma explanação

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verificável dos fenómenos naturais e sociais, diferente da abordagem

artística e religiosa.

As ciências sociais e do comportamento, em particular, analisam as

interacções entre os grupos humanos e elas são produtos recentes do

esforço humano em ampliar seu raio de compressão a respeito de si

mesmo enquanto objecto de análise. Assim, não se pode pretender uma

definição de ciência que tenha aceitação universal e perene, as definições

são mutáveis no espaço e no tempo (Gressler,1979:14).

Resumo da lição

Os conceitos operacionais e/ou estruturantes deste módulo,

tratados nesta aula, encerrando a ideia da aula anterior são

quatro, designadamente: método científico, teoria, sociologia e

ciência social. O primeiro integra o conjunto de regras para

observar fenómenos e tirar conclusões, onde o ideal básico é que

qualquer conhecimento deve ser rigorosamente demonstrado;

quanto ao conceito de teoria entenda-se como o conjunto de

hipóteses de um sistema dedutivo que permite a definição

adequada de conceitos e indica as lacunas do conhecimento

nesse sistema, já a sociologia é a abordagem quantitativa

pioneira do facto social e o termo genérico de ciências sociais

integra as ciências do espírito humano. Estas duas lições

inaugurais revelam que a ciência não é a única forma de

produção do conhecimento mas, através da aplicação do método

científico, a mais credível e tem as teorias como esforço de

sistematização e universalização que, não obstante ser

problemática nas ciências sociais, foi o ponto de partida com a

sociologia ou física social, que permite abordagem quantitativa

na pesquisa social.

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Bibliografia da Lição

GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa

social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.

GRESSLER, Lori Alice. Pesquisa educacional:

Importância, modelos, validade, variáveis, hipóteses,

amostragem e instrumentos, São Paulo: Layola, 1979.

Verbo Enciclopédia Luso-brasileira de Cultura.

Auto-avaliação

Agora pretendemos encerrar o tema sobre os conceitos operacionais

e não teríamos melhor forma de fazê-lose não verificarmos oque se

conseguiu retere que podemos aplicar em situações da realidade

social. Então, veja se sabe:

I. Defina Epistemologia de Ciências Sociais?

Se a sua definição não integra os elementos definidores considerados

nos dois primeiros parágrafos da 1ª lição e a respectiva actividade na

página 7, está no caminho certo. Caso contrário releia os textos

indicados e conceba uma definição mais integradora.

II. Qual a relação entre os ideais deverdade científica e

democratização do saber?

Se nas notas que fez identificou elementos justificadores de verdade

cientifica e de democratização do saber, então está no caminho certo,

mas se não conseguiu releia, faça notas e, depois descubra as

ligações entre os dois conceitos.

III. Relacione os conceitos de conhecimento e de verdade,

como operacionais da Epistemologia de Ciências

Sociais.

Se nas notas que fez no seu bloco constam os aspectos apresentados

no quadro, então está no caminho certo, mas se não conseguiu volte a

ler e fazer notas, assim chegará ao resultado esperado

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CONHECIMENTO: A

consciência abre-se ao

mundo circundante,

tornando-o intencionalmente

presente em si

VERDADE: Relação entre o

pensamento e o ser das coisas, este

é inteligível:

Fenómeno

consciente, ter consciência

de algo - o Homem sabe

que sabe (unidade

indissolúvel entre

conhecimento e

consciência),

Capacidade de

representar o mundo

circundante e reagir nele,

Fusão em que sujeito

e objecto conservam a sua

autonomia (sujeito torna-se

o Outro sem absorver o

objecto, respeita a sua

individualidade).

Há verdade na inteligência

ou no entendimento,

Quando há correspondência ou

adequação entre a inteligência e

o ser; quando o que a

inteligência diz que é ou não é,

se verifica na realidade: a

verdade é lógica, porque ela está

na mente, no logos (razão).

IV. Explique em que medida o conhecimento histórico é

objectivo, racional, sistemático, geral, verificável e

fiável.

Se nas notas que fez identifica elementos explicativos do carácter

objectivo, racional, sistemático, geral, verificável e fiável do

conhecimento científico, então está no caminho certo, mas se não

conseguiu releia, tome notas e, por outro lado, os aplica ao caso

particular do conhecimento histórico.

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Lição n° 3: Classificação geral das ciências e lugar das Ciências

Sociais

Introdução

Bem-vindo à 3ª lição, ela tem como suporte os conceitos das duas lições

anteriores e o seu objectivo é compreender o lugar das Ciências Sociais

nas formas de conhecimento e, particularmente, no conhecimento

científico. Estude os apontamentos e realize zelosamente as actividades

com vista uma realização eficaz dos objectivos desta lição.

Objectivos

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

Caracterizar as várias formas de conhecimento,

Classificar o campo do conhecimento científico.

Tempo

Tempo de estudo da Unidade: 03 horas.

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Principais formas de conhecimento e classificação do

conhecimento científico

a) Formas de conhecimento e Ciências Sociais

Ao longo da sua existência, o Homem vem desenvolvendo sistemas mais

ou menos elaborados que lhe permitem conhecer a natureza das coisas e o

comportamento das pessoas. Pela observação ele adquire grande

quantidade de conhecimentos, valendo-se dos sentidos recebe e interpreta

as informações do mundo exterior:

Olha para o céu e vê formarem-se nuvens cinzentas, percebe que

vai chover e procura abrigo – conhecimento empírico, baseado na

observação casual.

Ao nascer, depara-se com um conjunto de crenças acerca de Deus,

da vida além da morte, seus deveres para com Deus e o próximo.

Ora, para muitos, as crenças religiosas são fontes privilegiadas de

conhecimento acima de qualquer outra fonte – conhecimento

religioso, baseado no dogma e na fé.

Os romances, poemas e a arte no geral proporcionam informações

sobre o mundo, os sentimentos e motivações das pessoas –

conhecimento artístico, baseado na ficção e representação.

Pais e professores descrevem o mundo para as crianças, enquanto

governantes, líderes partidários, escritores e jornalistas definem

normas e procedimentos que consideram adequados e, à medida

que segmentos da população lhes dão crédito, esses

conhecimentos são tidos como verdadeiros – conhecimento

autoritário, baseado na autoridade.

Os filósofos proporcionam elementos para compreender o mundo

[causas últimas das coisas] – conhecimento filosófico, em

procedimentos racional-especulativos.

Conhecimento científico, baseado no método científico. Surge

porque as anteriores formas de conhecimentos não satisfazem aos

espíritos mais críticos, para os quais a observação casual conduz a

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equívocos porque o homem é mau observador dos fenómenos

mais simples; as religiões por serem variadas oferecem

informaçõescontraditórias; a poesia e o romance são subjectivos; o

argumento da autoridade deixa transparecer a sua fragilidade de

querer manter o poder e os filósofos habitualmente avançam para

explicações metafísicas e absolutistas, que não possibilitam a

verificação (Gil,1999:20).

Como pode ver, a ciência, um dos mais importantes componentes

intelectuais do mundo contemporâneo, é uma forma de conhecimento,

mas nem todo o conhecimento é ciência. Embora a discussão em torno da

definição de ciência esteja longe do consenso, é possível descriminar o

conhecimentocientíficode outras formas de conhecimento (veja nota 2).

Contudo, há situações em que, no domínio das ciências humanas, não é

possível determinar com clareza se determinado conhecimento pertence à

ciência ou à filosofia. Ora, este debate está reflectido nas designações e

arranjo institucional da nossa faculdade, que já se designou Faculdade de

Ciências Sociais, à luz dos autores que incluem a filosofia nas ciências

sociais e agora Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas,

aparentemente à luz dos que entendem filosofia fora das ciências sociais.

Actividade

1. O conhecimento no geral e o científico, em particular, não visa

outra coisa se não a melhoria das condições de vida, por isso

as verdades são relativas, com idiossincrasias variadas.

1.1. Descreva no seu bloco de notas como o tema vida é

analisado diferentemente por filósofos, cientistas, poetas,

sacerdotes e pessoas comuns.

Se nas suas notas identifica as diferentes acepções de vida, está na

linha certa, caso contrário releia o texto e pode aprofundar as várias

acepções do conceito de vida lendo a Verbo enciclopédia.

1.2. Identifique algumas verdades amplamente

reconhecidas que se justificam apenas pelo argumento da

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autoridade.

Se nas suas notas conseguiu identificar as verdades de cada

argumento (ciência, religião, autoridade…) está no caminho certo,

mas se não conseguiu volte a ler e faça anotações.

b) Classificação geral das ciências e o lugar das ciências

sociais.

Segundo Gil (1999:21), ao longo do desenvolvimento da ciência

surgiramvárias propostas de sistemas de classificação das inúmeras

ciências e nenhum deles se mostra absolutamente satisfatório, mas

podem-se classificar as ciências, num primeiro momento em duas

categorias:

Formais, são as que tratam de entidades ideais e de suas relações,

sendo a matemática e a lógica formal as mais importantes

[exemplo a designação Faculdade de Ciências Naturais e

Matemática, revela a necessária separação da Matemática das

Ciências Naturais].

Empíricas, são as tratam de factos e processos e subdividem-se

em:

Ciências Naturais (Física, Química, Astronomia,

Biologia…)

Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia, História,

Ciência Política, Economia, Psicologia).

A Geografia uma ciência técnica de acessória à governação (gestão

territorial e geoestratégia) se separou da Faculdade de CiênciasSociais e

criou-se a Faculdade das Ciências da Terra [qual a ciência que não é da

Terra?], não obstante os especialistas da geografia humana argumentarem

que a Geografia Física é acessória à humana, fim último da pesquisa. A

Psicologia, com algumas características que a aproximam das Ciências

Naturais, constitui uma Ciência Social porque, ao tratar do estudo do

comportamento humano, trata-o a partir da interacção entre individuais.

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Actividade

1. Considere a sua anterior definição de história e a taxonomia das

ciências descrita no texto anterior como uma síntese de uma

longa evolução do esforço de classificação.

1.1. Nomeie oito diferentes tipos de ciências e, a seguir,

identifique seus objectos.

Se nas suas notas conseguiu identificar os objectos de alguns tipos de

ciências, então está no caminho certo, mas se não conseguiu volte a ler,

anotações e alargue esse leque para oito.

1.2. Sugira uma classificação das ciências, alternativa à

considerada neste módulo.

Certamente que compreendeu a classificação das ciências sugerida no

texto e seu carácter não absoluto, mas se não compreendeu releia e faça

notas. Por outro lado, apoie-se no texto de Lopes (1970:83/138) que lhe

oferece um leque alargado de taxonomias das ciências.

Como pode verificar, qualquer taxonomia tem uma perspectiva

metodológica e argumentativa. Na proposta apresentada não constam as

ciências técnicas que são muitas vezes transversais como Geografia, a

Medicina, a Filosofia [cuja cientificidade foi posta em causa], a

arquitectura e outras.

Retornando ao nosso foco, as Ciências Sociais, sabe que elas não gozam

do mesmo prestígio das Ciências Naturais, havendo autores que defendem

a sua não inclusão nas verdadeiras ciências e apresentam uma série de

objecções que induzem ao atendimento das peculiaridades das Ciências

Sociais:

Os fenómenos humanos não obedecem uma ordem semelhante à

do universo físico, o que torna impossível sua previsibilidade;

As Ciências Humanas lidam com entidades não quantificáveis,

oque dificulta a comunicação dos resultados das investigações;

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O método experimental, fundamento da ciência, exige o controlo

de variáveis que podem interferir no fenómeno estudado, ao passo

que as Ciências Sociais envolvem uma grande variedade de

factores que inviabilizam uma pesquisa rigidamente

experimental [veja fontes comuns de erros].

Gil (1999:22) entende que são objecções sérias e não emocionais, daí que

a melhor defesa das ciências sociais não está em demostrar a falácia

destas argumentações, mas antes em demonstrar que mesmo nas Ciências

Naturais, não se observa a rigorosaobservância dos itens considerados, tal

como ilustra Duverger (1983:13), para quem as Ciências Sociais:

(…) Como todas as ciências, seu desenvolvimento esbarra contra

ilusões do senso comum. Mas, nas ciências da natureza, que são mais

antigas, muitas dessas ilusões foram desde há muito denunciadas e os

factos científicos entraram no senso comum: assim, toda a gente

admite hoje que a Terra é uma esfera, embora pareça plana, e que gira

em volta do sol, embora tenhamos a impressão do contrário. Porque as

ciências sociais são recentes, a resistência das ilusões do senso comum

mantém-se mais forte.

Em seguida evidenciar que as Ciências Sociais podem fornecer

explicações segundo padrões não muito distantes das Ciências Naturais.

Com subsídios da Filosofia da Ciência4a resposta a aquelas subjecções,

em defesa do carácter científico das Ciências Sociais, podem ser:

A diferença entre as Ciências Naturais e Sociais, no tocante às

explicações, está somente em que as sociais são mais

probabilísticas que as naturais. Actualmente, esta derruba o

determinismo absoluto das ciências naturais: A genética não deixa

de ser científica por suas explicações serem de natureza

probabilística;

Uma análise profunda do problema da quantificação em Ciências

Sociais, revelo-o menos crítico do que aparenta: 1º Reconheça-se

que o objecto de estudo das Ciências Sociais é visto de um modo

que dificulta seu tratamento quantitativo (o homem não pode ser

4A obra de Lopes (1970) depois de apresentar a classificações das ciências em

Aristóteles, Bacon, Ampere, Comte e reconhecer divisão das ciências em Matemáticas,

físicas, biológicas e humanas, aborda a filosofia incluindo o que chama ciências de

espírito (sociais ou humanas), incluindo a História entre as pp.124-153.

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reduzido a um número; não se pode tratar o homem como um

conjunto de traços quantitativos …), são afirmações emocionais

que não devem ser atendidas pelos pesquisadores; 2º reconhecer

que a mensuração de fenómenos intangíveis ou o comportamento

humano (inteligência, emoções, atitudes, nível de aculturação,

mobilidade social…) é complexo porque muito mais mutável que

o comportamento de rochas, metais ou gases, oque não significa

que seja impossível o tratamento científico dos fenómenos sociais,

oque acontece é que os fenómenos humanos não podem ser

quantificados com o mesmo grau de precisão das Ciências

Naturais5.

Considera-se um obstáculo o facto de o pesquisadorestar

envolvido com o fenómeno que investiga, de facto os valores

permeiam as pesquisas sociais. Hegenberg apud Gil (1999:23)

esclarece esta questão classificando os problemas científicos em

teóricos6 (tratados mediante hipóteses e observações), técnicos

(conduzem à verificação do que é e não do que deve ser, não

envolvendo juízos de valor) e de acção (envolvendo considerações

valorativas). Gil (1999:25) reitera que as ciências sociais não

devem relegar todas as questões de valor, mas antes considerá-

lopara que cumpram um de seus mais importantes papéis –

auxiliar a promoção do ser humano.

Reconheça-se que nos experimentos em Ciências Sociais o

pesquisador não tem o poder de introduzir modificações nos

fenómenos que estuda, devendo decidir se experimento

5Os fenómenos sociais são mensurados mediante escalas menos sofisticadas- nominais e

ordinais: nas escalas nominaissão atribuídos números a categorias que se distinguem

apenas por serem mutuamente exclusivas, por exemplo a classificação de populações

segundo traços como sexo, cor da pele e nacionalidade, enquanto as escalas ordinais

deixam implícito algum tipo de ordenação, por exemplo, a ordenação dapopulação

segundo ela seja, mais ou menos agressiva, ou apresentem diferentes níveis

socioeconómicos.

6Ora um mesmo assunto pode ser enfocado sob o ponto de vista teórico e do ponto de

vista de acção. Por exemplo numa pesquisa sobre a privatização da terra, no que respeita

à sua conveniência alguns estarão a favor e outros contra (problema acção, envolve oque

deve ser), mas no que respeita a suas consequências estarãode acordo que aumentariam o

poder do estado (problema teórico).

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controlado é indispensável para a obtenção de resultados

cientificamente aceitáveis. Lembre-se que disciplinas das Ciências

Naturais como Astronomia, Embriologia,Física Relativista e

Geologia não são respeitadas pelo uso de experimentos, para além

de que a Psicologia Social e a Sociologia revelam sucesso

deexperimentos no campo social, por exemplo em pesquisas de

Sociologia Industrial aplicam-se situações laboratoriais parecidas

com as das naturais, implantando-se sistemas democráticos e

ditatoriais entre grupos de operários, sem incluir exemplos mais

amplos em pesquisas sobre migrações, comportamentopolítico e

variações de índices de natalidade que, embora não rigidamente

experimentais, possibilitam razoável grau de controlo das

variáveis envolvidas.

Resumo da lição

Esta lição ofereceu-lhe mais elementos que mostram que a ciência não

é a única forma de conhecer o mundo natural e social (empírico,

religioso, artístico, autoritário e científico) e as ciências podem ser

classificadas com base em várias taxonomias, sendo a mais conhecida

a que divide as ciências em empíricas e formais. Contudo, o exercício

apresentado permite-lhe visitar outras taxonomias e tomar uma

posição crítica sobre elas. Por outro lado, os exemplos das

designações das faculdades da UP, considerados ao longo do texto,

revelam seu carácter teleológico e, por isso, contingencial.

Bibliografia da Lição

DUVERGER, M.Sociologia política, Coimbra:

Almedina, 1983

GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa

social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.

LOPES, J. Marques, Curso de Filosofia, sl: Didáctica

editora, 1970.

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Auto-avaliação

Agora pretendemos encerrar esta 3ª lição e não teríamos melhor

forma de fazê-lose não verificarmos oque se conseguiu retere que

podemos aplicar em situações da realidade social. Então, veja se

sabe:

I. Analise a expressão: A ciência, ao contrário de outros

sistemas elaborados pelo homem, reconhece sua

capacidade de errar.

Se nas suas notas conseguiu identificar elementos que revelam que a

ciência não produz conhecimento infalível, então está no caminho

certo, mas se não volte a ler e faça anotações.

II. Oque justifica a cientificidade das Ciências Sociais

perante a acusação de sua a-cientificidade?

Se nas suas notas conseguiu identificar aspectos que sustentem que

as ciências sociais são um campo científico mas deferente das

naturais, então está no caminho certo, mas se não volte a ler e tome

notas das críticas que acusam os estudos sociais de estarem longe de

ser científicos, bem como os argumentos a favor de sua

cientificidade.

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Lição n° 4: Evolução histórica das Ciências Naturais às Ciências

Sociais

Introdução

Bem vindo à 4ª lição, ela aprofunda a aula anterior ao recuperar o

momento histórico em que surge o conhecimento científico e a evolução

das Ciências Sociais, a partir das Ciências Naturais. Estude os

apontamentos e realize zelosamente as actividades com vista o alcance

eficaz dos objectivos da lição:

Objectivos

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

Caracterizar a emergência do método científico;

Explicar a transição da filosofia à sociologia e desta à

fenomenologia e existencialismo;

Explicar o impacto do método científico sobre a doutrina e

instituição religiosa.

Tempo

Tempo de estudo da Unidade: 03 horas.

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a) Contexto da transição à modernidade em que emerge o

método científico

O absolutismo (s. XV/XVI) como transição política, no contexto da

luta da burguesia emergente contra o feudalismo;

Reforma protestante (s. XVI), como transição religiosa ao liberalismo;

Evolução do Jusnaturalismo7 ao renascimento humanista, daqui ao

iluminismo e revoluções (científica e técnica/I e IIRI e

burguesa/política e o comunismo), germes e desenvolvimento europeu;

Enquanto a revolução francesa (1789) foi o triunfo das ideias e valores

como liberdade e igualdade, sobre a ordem social tradicional, o

comunismo marxista foi o triunfo de ideias de solidariedade e justiça

distributiva;

A exaltação das nacionalidades europeias e o chauvinismo justificam o

imperialismo, que provoca o colonialismo, neste período de

transformações ou evolução das instituições políticas das monarquias

ao liberalismo e repúblicas;

Transformações nas ciências (Revolução Científica):

Naturais e tecnologia, onde a experimentação culmina com

o Darwinismo, alargado à interpretação da sociedade e da

relação entre Estados (Darwinismo político e social);

As humanas, conferem uma visão rica do Homem, com três

grandes conquistas: Psicologia, Sociologia e Antropologia, fruto

das preocupações da economia que inquere as instituições

políticas. Ora, o desenvolvimento industrial provocou a

sociologia, nascida do empirismo para vender produtos ou seja

ciência das teorias de produção e comercialização baseada no

7 O direito natural moderno liberalizou-se com Grotius, substituindo a acção e a vontade

pessoal e transcendente de Deus pela ordem imanente à natureza humana, portanto a

razão vê-se confrontada consigo própria, abstraindo de Deus e da revelação e com

Cromwell difundiu-se pela Inglaterra. Por seu turno, John Locke (Pai do liberalismo)

tentou associar o direito natural à liberdade individual, para ele, o estado de natureza,

visto como estado de guerra, e o consenso social, visto como uma espécie de

capitulação incondicional, conduziram ao absolutismo; mas o estado de natureza,

considerado como estado de paz, e o consenso social, considerado uma convenção

limitada, condicional e revogável, podem levar à liberdade: A lei da natureza é de

obrigação porque é de liberdade (Raymond Polin apud Prelot II, 2001:37).

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método quantitativo (soma os factos, analisa-os e infere o

caminho da sociedade).

b) Transição da filosofia à sociologia

O termo sociologia é da autoria de August Comte, considerado pai da

nova ciência ao defender a possibilidade de utilização do método de

análise das ciências naturais (exactas?) pelas ciências sociais atribuindo-

as o mesmo estatuto, daí ter chamado inicialmente a nova disciplina de

Física Social. Para ele esta seria uma ciência globalizante de todos os

domínios sociais (histórico, económico, político, etc.), entendendo que só

da complementaridade e interdependência das várias facetas do social, se

poderia ter uma visão perfeita [?] dos fenómenos sociais, usando o método

positivo (observação seguida de experimentação), fundamentada pela sua

famosa lei dos três estágios do desenvolvimento da inteligência humana

desde os primórdios até aos nossos dias (OLIVEIRA,1989):

O estado teológico ou fictício em que o espírito humano dirige as

investigações para a natureza íntima dos seres, as causas primeiras e

finais, isto é, para conhecimentos absolutos, onde os fenómenos são

produzidos pela acção directa e contínua de agentes sobrenaturais;

O estado metafísico é uma modificaçãogeral do primeiro, onde os

agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstractas como

entidades inerentes aos diversos seres do mundo e concebidas como

capazes de engendrar por si próprias todos os fenómenos observados;

O estado positivo, onde o espírito humano reconhece a

impossibilidade de obter noções absolutas, deixa de procurar a

origem e o destino do universo e de reconhecer causas íntimas dos

fenómenos, para se ocupar apenas em descobrir, pela utilização bem

combinada do raciocínio e da observação, explicando os factos pelos

seus elementos reais.

Portanto, neste período o conhecimento deixa-se de partir de grandes

afirmações ético-valorativas e metafísicas, entende-se que a formação das

instituições parte do comportamento social das pessoas. Ora, enquanto a

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Filosofia estuda todos os fenómenos, humanos, naturais e divinos para

encontrar e explicar suas causas últimas ou profundas, a Sociologia estuda

e aprofunda o comportamento do homem no seu contexto político,

económico e cultural, usando o método quantitativo, fruto da experiência

da Escola de Chicagopreocupada no marketingde electrodomésticos, em

que era importante saber quem poderia os comprar, pois se não

interessassem os potenciais destinatários não valeriam a pena, contudo,

não se deve confundir sociologia com materialismo, ela parte do Homem

e não de matéria. Portanto, a Sociologia surge da necessidade de

compreender e de actuar sobre a sociedade industrial.

São contribuições que caracterizam esta transição, as seguintes:

A crítica da Economia Política revelou que não se pode governar

sem saber como funciona a economia (Max Weber -1864/1920, em

Economia e Sociedade e Karl Marx -1818/1883, em O Capital - a

economia política alemã). Portanto, a política brota da aplicação de

grandes princípios (Aristóteles...) e entra nos fluxos sociais, pondo

em sua frente a condição humana, contra o Estado acima do

indivíduo defendido por Hegel, cuja filosofia foi muito criticada por

Marx. Nesta senda, Auguste Comte (1798-1857) defendeu a análise

não dos princípios da gestão pública, mas seus aspectos reais,

portanto as necessidades dos cidadãos e no seu catequicismo

positivista defendeu que gerir é contabilizar o que serve, para quem?

Governar é conhecer a sociedade e não unicamente as leis;

O desenvolvimento da Psicologia, foi uma grande conquista ao

discutir o comportamento humano para apoiar as acções ao serviço

das suas necessidades (Porque o homem age assim? Que factores o

explicam?). O médico neurologista austríaco, Sigmund Freud (1856-

1939) desenvolveu a psicologia da forma (Gestalt Theorie), segundo

qual a percepção é influenciada pelo contexto e pela configuração

do elemento percebido, ié, é o contexto em que o homem vive que

influi sobre ele. Nietzsche, por seu turno, mostra que o homem é

eixo da teologia e da política;

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A Epistemologia ao questionar as leis científicas, sua validade e

aplicabilidade suscita o problema de relevância da ciência, como

conjunto de leis que o homem cria para qualificar objectos

exteriores a ele. Como domínio do saber ela começou pela validação

das ciências naturais, desemboca na teoria da relatividade do físico

judeu Albert Einstein, para quem as teorias não são definitivas, mas

aquilo que a mente alcança. A nível individual provoca o problema

da participação, pois a ciência vale quando a vivo. Esta validade

individual, suscita o problema de me relacionar com o aprendido e o

deficit epistemológico.

Actividade

1. Ao momento em que emergiu o conhecimento científico,

Hobsbawn dedicou uma obra intitulada A época das Revoluções,

nesta eraa lei natural é aplicada na interpretação da sociedade e

justificar o contratualismo e humanização do conhecimento.

1.1. Registe no seu bloco de notas duas características das

Revolução Industrial; da Revolução Burguesa e da

Revolução Científica. Depois, explique as sinergias ou

retroalimentação entre elas.

Se nas suas notas conseguiu identificar as características das três

revoluções da era moderna, então está no caminho certo, mas se não

volte a ler e faça notas, para depois descobrir as influências entre

elas.Por outro lado, apoie-se nasobras de Hobsbawn (A Era do capital e

A Época das Revoluçõesque lhe permitirão chegar facilmente ao

resultado esperado.

1.2. Descreva um aspecto que elucide o contributo do jus-

naturalismo, o renascimento, o positivismo, humanismo e

iluminismo no desenvolvimento das Ciências Sociais.

Se nas suas notas conseguiu identificar elementos que revelam que a

ciência não produz conhecimento infalível, então está no caminho certo,

mas se não volte a ler e faça notas. Por outro lado, apoie-se na obraO

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Espírito das leis de Charles de Secondat, o barão de Montesquieu

(2005:19-29), para compreender o contributo do Jus-naturalismo no

desenvolvimento das ciências sociais e consulte os conceitos de

renascimento, positivismo, humanismo e iluminismo na Enciclopédia

Verbo, para descobrir sua implicação com o desenvolvimento das

Ciências Sociais.

c) Filosofia fenomenológica e existencialista

Partamos da compreensão de que a sociologia8 é uma ciência empírica

que parte da colecta dos dados, seguida pela sua análise, desabrocha

favorecida pelas transformações na filosofia, principalmente temáticas

como a dialéctica entre corpo e espírito e o problema gnosiológico. Ora,

deixou de ser o corpo separado do espírito ou o intelecto separado do

corpo, é o tempo da valorização do entendimento do objecto exterior

como base do conhecimento científico, portanto o fenómeno e não o

intelecto. Sobressai a experiência da relação consigo mesmo e com o

mundo exterior, esta é a Fenomenologia, que começa na Alemanha

(unificada em 1882, e já sem entraves para se desenvolver e formar uma

sociedade burguesa consumista), com adeptos comoRatzell, Max Weber e

Émile Durkheim, na França.

A filosofia alemã, era o eixo das humanidades, partindo da abstracção ao

conhecimento empírico9, isto é, dos grandes princípios à vida humana ou

da metafísica à Antropologia. A fenomenologia é o método que valoriza o

objecto - a percepção10

e revela que o objecto à minha frente, não o posso

esgotar.

8 Max Weber e Émile Durkheim são os clássicos europeus e William James e, seu aluno,

John Dewey são os expoentes na América.

9 Hegel tinha escrito no passado a Fenomenologia do espírito agora parte-se sim do

Homem concreto, não das ideias gerais ou espírito das coisas que se entendia estarem

antes das coisas.

10 David Hume, publicou “A percepção é o início do ser”, pondo em causa a filosofia

escolástica, foi perseguido pala inquisição e morreu de ataque cardíaco quando tentava

fugir para a América.

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Combinando as linhas favoráveis da sociologia e da fenomenologia

emerge na década de 1920 a Escola de Frankfurt que investigou como os

políticos lidam com a pobreza no seu discurso, identificando-se com a

crítica à modernidade na sua sociologia do comportamento humano

(Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse,

Leo Löwenthal, Franz Neumann, Friedrich Pollock, Erich Fromm, Jürgen

Habermas, Oskar Negt e Axel Honneth).

Nos séculos XIX e XX, surgiu o existencialismo11

como movimento

filosófico e literário distinto, mas os seus primeiros elementos encontram-

se no pensamento e vida de Sócrates, na Bíblia, Aurélio Agostinho e no

trabalho de muitos filósofos e escritores pré-modernos. A existência se

colocou acima da metafísica, portanto o discurso metafísico ficou na

defensiva e a fenomenologia o auge, Bobbio chama de era nobre.

Culturalmente, pode-se identificar duas linhas de pensamento

existencialista: Alemã-Dinamarquesa e Anglo-Francesa. A cultura judaica

e russa também contribuíram para esta filosofia. O movimento filosófico

agora conhecido como existencialismo francês pode ser traçado de 1879

até 1986.

Actividade

1. A cientificidade da pesquisa social foi sustentada por correntes,

na sua maioria muito críticas,centradas no valor do homem suas

actividades e na consciência.

1.1. Descreva a diferença entre fenomenologia e existencialismo,

referindo-se à forma como catapultaram as Ciências Sociais?

11Existencialismo é uma corrente filosófica e literária que destaca a liberdade individual,

a responsabilidade e a subjectividade. O existencialismo considera cada homem com um

ser único que é mestre dos seus actos e do seu destino, afirmando o primado da

existência sobre a essência, segundo Sartre: A existência precede a essência. Definição

que funda a liberdade e a responsabilidade do homem, visto que esse existe sem que seu

ser seja definido. A palavra "existencialismo" vem de "existência". Sartre, após ter feito

estudos sobre fenomenologia na Alemanha, cria o termo utilizando a palavra francesa

"existence" como tradução da palavra alemã "Dasein", termo empregado por Heidegger

em Ser e tempo. Após a Segunda Guerra Mundial, a corrente literária existencialista

contou com Albert Camus e Boris Vian, além de Sartre. É de se notar que, do ponto de

vista filosófico, Albert Camus era contra o existencialismo, e Vian era um patafísico

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48

Se nas notas que fez conseguiu identificar elementos caracterizadores

das duas correntes, então está no caminho certo, agora descubra de

que modo estimularam a pesquisa social, mas se não conseguiu volte a

ler e faça notas. Pode ainda consultar a enciclopédia Verbo ou outra

disponível na tua região

1.2. Compare a velha e nova Escola de Frankfurt,

mencionando os principais integrantes de cada uma.

Se nas notas que fez conseguiu identificar a teoria crítica como a

referência desta escola que reelabora o marxismo e reconheces a velha

geração antes do Nazismo e a segunda depois da II GM, então está no

caminho certo, mas se não conseguiu volte a ler o texto, faça consultas

na internet, até chegar ao resultado esperado.

d) Reflexos sobre a igreja, agente cultural e político

As correntes abordadas nas alíneas anteriores, provocaram mudanças na

teologia bíblica com o protestantismo na vanguarda. Reagindo aos

teóricos da linha de Lutero emergiu no catolicismo uma corrente

conservadora de que fazem parte os jesuítas e o contemporâneo papa

Bento XVI (Joseph Ratzinger), professor do Padre Filipe Couto na

Universidade de Münster. São grandes mestres da teologia bíblica que

buscam invalidar o protestantismo e valeram muito nos Concíliosde

Trento (13/12/1545 a 4/12/1563) Vaticano I (8/12/1869 a 18/7/1870) e

VaticanoII (11/10/1962-07/12/1965).

Enquanto o catolicismo atacou as racionalidades liberal e comunista, na

sua resistência e sucesso,as instituições protestantes nunca levantaram-se

contra o comunismo, nele viam aspectos positivos, elas antecederam o

catolicismo em África, em Moçambique a Igreja Presbiteriana chegou em

1875 no Khovo. O Papa Pio IX na Encíclica Quanta cura(1864) condena

os erros do liberalismo filosófico, do racionalismo, do panteísmo, do

naturalismo, do agnosticismo, do indiferentismo, o racismo, o socialismo

marxista e o comunismo.

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49

Em 1854 é proclamado o dogma da Imaculada Conceição da Bem-

Aventurada Virgem Maria.

Em 1869 o Papa Pio IX convoca o Concílio Vaticano I12, que

reafirma o dogma da Infalibilidade Pontifícia que determinou a

discriminação e mesmo a perseguição de católicos na Prússia,

onde Bismarck havia lançado a sua kulturkampf.

O Concílio também adopta a Constituição Apostólica Dei Filius

que consolida a doutrina da Igreja sobre as relações entre fé e

razão.

Inicia a era da Doutrina Social da Igreja Católica, com a publicação da

Encíclica Rerum Novarum (1891) pelo Papa Leão XIII, na qual enfrenta

os problemas da "questão social" emergidos do industrialismo e condena

os excessos do liberal-capitalismo e a defesa da luta de classes, defende o

salário justo e proclama a função social da propriedade e critica tanto

Estado do laissez-faire como o dirigismo socialista.

Actividade

A doutrina social da Igreja Católica, não sufraga o capitalismo e ataca

o comunismo: Baixe na internet a Encíclica Rerum

Novarum,elaboreum sinopse da crítica à racionalidade liberal e, por

outro lado, à racionalidade comunista.

Se nas notas que fez conseguiu identificar a critica positiva e negativa

da encíclica ao capitalismo e ao comunismo, então está no caminho

certo, agora preencha o quadro sinóptico, mas se não conseguiu volte a

ler o texto que baixou e a lição e faça anotações.

12 Por seu turno, o Concílio Vaticano II foi convocado por João XXIII, em 25 de

Dezembro de 1961. Os trabalhos foram abertos oficialmente em 11 de Outubro de 1962

e foi encerrado em 8 de Dezembro de 1965.

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50

Racionalidade liberal Racionalidade marxista

Critica negativa

Critica positiva

Resumo da lição

Esta lição ofereceu-lhe mais elementos para compreender a evolução

histórica das Ciências Naturais às Ciências Sociais, onde o papel dos

ideais renascentistas, iluministas, com correntes essência de abordagem é

a dignidade da pessoa humana, de modo que não só catapultaram as

Ciências Sociais, como impuseram a adequação da doutrina e instituições

católicas. Este movimento caracterizou o triunfo da racionalidade

burguesa que seria contraposta pela racionalidade marxista e a teoria

crítica da escola de Frankfurt traria a mais elaborada versão da

racionalidade, sem combater o marxismo.

Bibliografia da Lição

Carta encíclica Rerum Novarumdo Papa Leão XIII, sobre a

condição dos operários (15 de Maio de 1891).

HOBSBAWM, Eric. A época das revoluções, Lisboa:

Presença, 1996.

HOBSBAWM, Eric. A era do capital, Lisboa: Presença,

1979.

MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. O espírito

das leis, 3ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

OLIVEIRA, Maria da Luz; Pais, M.J. & Cabrito B.G.

Sociologia, 4ª edição, Lisboa: Texto editores, 1989.

PRÉLOT, Marcel e Lescuyer, Georges (2000). História das

ideias políticas, Vol. I (Mundo antigo ao absolutismo; Vol. II

(Do liberalismo ao constitucionalismo democrático), Lisboa:

Editorial Presença.

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51

Auto-avaliação

Agora pretendemos encerrar esta 4ª lição e não teríamos melhor

forma de fazê-lose não verificarmos oque se conseguiu retere que

podemos aplicar em situações da realidade social. Então, veja se

sabe:

I. As Ciências Sociais devem o seu método às Ciências

Naturais, mas não são auxiliares destas. Fundamente.

Se nas notas que fez conseguiu identificar elementos da

fundamentação do enunciado, então está no caminho certo, mas se

não conseguiu volte a ler e faça notas.

II. Relacione o surto do protestantismo e a abordagem científica

do mundo natural e social na modernidade?

Se nas notas que fez conseguiu identificar elementos que ligam o

protestantismo e a racionalidade moderna, então está no caminho

certo, mas se não conseguiu volte a ler e faça anotações.

III. Para Max Weber o protestantismo é o espírito do capitalismo,

título de uma das suas célebresobras. Porquê?

Se nas notas que fez conseguiu identificar elementos do

protestantismo que sustentam o capitalismo, então está no caminho

certo, mas se não conseguiu volte a ler e faça notas.

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52

Lição n° 5: Carateristicas e métodos científicos em Ciências

Sociais

Introdução

Bem vindo à 5ª lição, ela aprofunda a caracterização do método científico,

aliás o objectivo único desta lição consiste em resumir tais características

que foram sendo trazidas desde a 1ª lição. Realize zelosamente a

actividade de sistematização com vista uma aprendizagem eficaz deste

objectivo da lição.

Objectivos

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

Mencionar as principais características do método científico,

Explicar a aplicabilidade de cada característica do método

científico na pesquisa social.

Tempo

Tempo de estudo da Unidade: 05 horas.

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Principais características do método científico

Numa perspectiva de democratização do saber, Richardson (1999:18/9),

reconhece as seguintes características do método científico:

As regras do método científico são arbitrárias, existindo muitos

pressupostos para trabalhar cientificamente, o mais importante é a

indução como fonte de informação que permite o conhecimento de

muitas coisas, observando apenas algumas, enquanto o método

dedutivo enfatiza a lógica e o raciocínio matemático;

A ciência supõe que todos os fenómenos têm alguma causa, não

existem fenómenos caprichosos, pressuposto que actualmente

levanta grande discussão filosófica;

Confia na capacidade da observação dos cientistas, portanto na

percepção do pesquisador, em sua sensibilidade e memória;

Supõe que para estudar um fenómeno cientificamente, este deve

ser medido, isto é perceptível, sensível e classificável, ainda que o

cientista social possa trabalhar com conceitos teoricamente

abstractos como amor, aprendizagem, qualidade de vida (…),

antes de estudá-los empiricamente deve procurar comportamentos,

estímulos, características ou factos que representem tais conceitos

abstractos. Deste modo, a definição de um conceito são as

operações (instrumentos, medições ou códigos) realizadas para

medir a presença ou ausência do fenómeno simbolizado por dito

conceito.

Gressler (1979:14), no mesmo diapasão, defende que o conhecimento

científico deve ser do domínio público, através de uma comunicação

eficiente entre cientistas-pesquisadores-grande público, pelas seguintes

razões:

A ciência é uma actividade histórica, situada no tempo e no espaço

e construído sobre o trabalho de outras pessoas;

A comunicação é premissa básica para o progresso da ciência ao

oferecer oportunidades para novos experimentos e pesquisas;

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Possibilita os exames e verificações de seus resultados por outros

pesquisadores, passando assim ao domínio do consenso geral.

Resumindo, a ciência é a etapa suprema do conhecimento que possibilita a

transformação da natureza e da sociedade, define-se como a investigação

metódica, organizada, da realidade, para descobrir a essência dos seres

e dos fenómenos e das leis que os regem com o fim de aproveitar as

propriedades das coisas e dos processos naturais em benefício do homem.

Em síntese, são principais características do método científico:

Raciocínio lógico;

Compõe-se de 5 elementos básicos: objectivo ou meta do estudo, o

modelo da abstracção, as observações para representar a natureza

do fenómeno em estudo (dados), a decisão sobre a validade do

modelo (avaliação) e a revisão para introduzir as mudanças

necessárias no modelo;

Faz perguntas e busca respostas, por isso a pergunta deve ser

passível de resposta, para tal a formulação da pergunta deve se

basear na observação de um fenómeno, ser realista;

Elabora hipóteses e as submete às provas experimentais;

Fundamenta-se na observação baseada na experiência sensorial ou

informações dos livros, mas devem ser sensíveis, mensuráveis e

passíveis de repetição (verificabilidade);

Pensamento crítico;

Clareza e uso da evidência empírica ou verificável;

Atitude céptica, questionando sempre as crenças e conclusões

aparentemente definitivas.

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Actividade

Apesar do desacordo dos estudiosos da filosofia da ciência quanto

à cientificidade das Ciências Sociais, algumas práticas de

pesquisa conferem a necessária objectividade e rigor.Depois do

estudo atento desta lição, descubra as características do método

científico que não constando neste resumo foram referidas na 1ª,

2ª, 3ª e 4ª lição.

Se nas notas que fez conseguiu identificar características do

método científico, então está no caminho certo, mas se não

conseguiu volte a ler e faça notas.

Resumo da lição

O resumo desta lição está facilitado por ela própria ser a

sistematização do conteúdo tratado até aqui (cf. atrás em síntese, as

principais características do método científico), as regras do método

científico são arbitrárias, existindo muitos pressupostos para trabalhar

cientificamente, o mais importante é a indução como fonte de

informação que permite o conhecimento de muitas coisas, observando

apenas algumas. Tal como referimos na segunda lição, o método

científico permite observar fenómenos e tirar conclusões, na

convicção básica de que qualquer conhecimento deve ser

rigorosamente demonstrado.

Bibliografia da Lição

GRESSLER, Lori Alice. Pesquisa educacional:

Importância, modelos, validade, variáveis, hipóteses,

amostragem e instrumentos, São Paulo: Layola, 1979.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:

Métodos e técnicas, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 1999.

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Auto-avaliação

Agora pretendemos encerrar esta 5ª lição e não teríamos melhor

forma de fazê-lose não verificarmos oque se conseguiu reter e que

podemos aplicar em situações da realidade social. Então, veja se sabe:

I. Seleccione quatro das que considera as principais

características do método científico e justifique a escolha.

Se nas notas que fez conseguiu identificar características do método

científico, então está no caminho certo, mas se não conseguiu volte a

ler e faça notas.

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Lição n° 6: Método quantitativo e qualitativo: Caraterísticas,

crítica e complementaridade

Introdução

Bem-vindo à 6ª lição, ela busca a compreensão das potencialidades das

abordagens quantitativas e qualitativas na pesquisa social. Realize

zelosamente as actividades recomendadas com vista uma realização eficaz

dos objectivos da lição:

Objectivos

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Descrever as características e a crítica aos procedimentos

quantitativos e qualitativos na pesquisa social;

Explicar os requisitos de cientificidade e de

complementaridade dos dois procedimentos.

Tempo

Tempo de estudo da lição: 05 horas.

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A qualificação e a quantificação em Ciências Sociais.

Caro estudante, partamos da acepção genérica de método de pesquisa,

como a escolha de procedimentos sistemáticos para a descrição e

explicação de fenómenos, especificamente, o método científico consiste

em delimitar um problema, realizar metódicas obsecrações e interpretá-las

com base nas relações encontradas, fundamentando-se, se possível, nas

teorias existentes. Assim, o trabalho de pesquisa deve ser planificado e

executado conforme as normas requeridas por cada método.

Numa ampla classificação, há dois grandes métodos: Quantitativo e

qualitativo. Diferenciam-se não só pela sistemática pertinente a cada um

deles, mas sobretudo pela forma de abordagem do problema, deve estar

apropriado ao tipo de estudo a realizar e, é a natureza do problema ou seu

nível de aprofundamento que determina a escolha do método.

6.1. Método quantitativo

6.1.1. Características da abordagem

Caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de

colecta de informações, quanto no tratamento delas através de técnicas

estatísticas, desde as simples (percentual, media, desvio-padrão) às mais

complexas (coeficiente de correlação, análise de regressão).

Este método representa a intenção de garantir a precisão dos

resultados, evitar distorções de análise e interpretação,

possibilitando uma margem de segurança quanto às inferências;

Frequentemente aplicados nos estudos descritivos, para descobrir e

classificar a relação entre variáveis ou a relação de causalidade

entre fenómenos;

Propõe-se investigar o “que é”, portanto descobrir as

características de um fenómeno, assim seu objecto de estudo são

situações específicas, um grupo ou um indivíduo;

Igualmente podem abordar aspectos amplos de uma sociedade

como descrição da população economicamente activa, do emprego

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de rendimento e consumo, do efectivo de mão-de-obra,

levantamento da opinião e atitudes da população acerca de

determinada situação, caracterização do funcionamento de

organizações, identificação do comportamento de grupos

minoritários.

Se primariamente o estudo descritivo representa o nível de análise

que permite identificar as características dos fenómenos, sua

ordenação e classificação, por outro lado, com base neles surgem

estudos que buscam explicar os fenómenos segundo uma nova

óptica: analisar o papel das variáveis que influenciam ou causam o

aparecimento dos fenómenos – estudos que investigam a

correlação entre variáveis, fundamentais em Ciências Sociais, por

permitirem controlar simultaneamente grande número de variáveis

e, por meio de técnicas estatísticas de correlação, especificar o

grau relacional de diferentes variáveis permitindo que o

pesquisador compreenda o modo como as variáveis operam;

O estudo de correlaçãoé feito para obter melhor entendimento do

comportamento de diversos factores e elementos que influem

determinado fenómeno, podendoainda indicar possíveis factores

causais a serem depois testados em estudos experimentais. Mas, o

primeiro passo consiste em identificar as variáveis especificas que

parecem importantes para explicar complexas características de

um problema ou comportamento, onde pesquisas as anteriores e os

conhecimentos teóricos sobre a área em estudo ajudam o

pesquisador na escolha de tais variáveis;

Outro passo é a forma de colectar os dados como questionários,

testes estandardizados, entrevistas e observações. Instrumentos

usados em outros tipos de estudo, mas no caso de estudos de

correlação, as respostas devem ser quantificadas para tratamento

estatístico que servirá para testar a consistência das hipóteses;

A sua resposta à questãoII requere a consideração de um experimento

envolvendo delinquentes e não delinquentes. Repare que dada a

dificuldade das Ciências Sociais em controlar todas as variáveis numa

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situação constante, a maioria dos experimentos emprega o modelo

clássico baseado na análise de uma variável. Todo experimento que

envolve manipulação de uma variável é seguido da observação de efeitos

dessa manipulação em uma ou mais variáveis dependentes, considerando

a quase impossibilidade de se controlar rigorosamente muitas variáveis

independentes, os estudos de correlação entre variáveis e o comparativo

causal prestam grande auxílio na escolha de variantesindependentes

testadas nos estudos experimentais.

A pesquisa social defronta-se com o dilema de que o rigor que tenha sido

imprimido no controlo das variáveis durante o experimento não assegura,

necessariamente, a transferência dos resultados de um experimento a

outras situações sociais, por outro lado não se podem generalizar as

conclusões além do período em que o experimento ocorreu. Embora

muitos experimentos em Ciências Sociais estejam limitados pelas próprias

características dos sujeitos, pelos instrumentos de avaliação empregues,

pelo factor tempo, pela disposição das pessoas envolvidas e pela natureza

do experimento, há, todavia, grande tendência de pesquisadores em fazer

generalizações com base nos resultados dos experimentos, o que implica

grave incorreção quanto à aplicabilidade dos experimentos.

Actividade

1. A quantificação e a qualificação, não obstante corporizarem um

debate conflituoso nas peculiaridades da pesquisa social, sua

combinação enriquece os resultados das pesquisas.

1.1. Anote no seu bloco as incidências de um hipotético estudo

qualitativo daReacção do director de uma Escola sobre o

consumo de droga e violência estudantil.

Se suas notas conseguiu alistar as peculiaridades da pesquisa qualitativa e

quantitativa, está no caminho certo, caso contrário releia o texto, façanovas

anotações sobre a pesquisa qualitativa e expliquede forma criativa como as

manusearia no tema sugerido.

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1.2. Segundo Richardson (1999:72), as variáveis dos estudos de

correlação são apresentadas em uma das seguintes formas:

escorre contínuo, dicotomia artificial, dicotomia verdadeira e

categórica. Caracterize-as.

Se nas suas notas conseguiu alistar as características das diversas formas de

estudos de correlação, então está no caminho certo, caso contrário releia o

texto, faça anotações novas.

6.1.2. Crítica

A insistência na aplicação dos modelos das Ciências Naturais às

Ciências Sociais (concepção positivista de ciência, sua redução ao

observável, separa os factos e seus contextos e concebe o mundo

como um conjunto de factos interligados) negligenciou que o

objectivo destas é os ser humano com suas crenças e práticas e

não a explicação de um fenómeno conforme determinadas leis;

Os métodos quantitativos aperfeiçoaram-se e sofisticaram-se para

poder explicar e predizer o comportamento humano, chegando

a casos extremos de esquecer os problemas reais da maioria da

população;

A enfâse no empirismo pressupõe dados teoricamente neutros,

quando nas Ciências Sociais os dados consistem em significados

sociais e sua interpretação e compressão não pode ser assimilada

ou reduzida a descobertas e avaliação de dados observáveis;

Por outro lado, a enfâse no empirismo pressupõe dados objectivos,

logicamente possíveis apenas por meios quantitativos;

A insistência de uma ciência livre de valores que podem distorcer

ou prejudicar assuntos explicáveis “objectivamente”. Assim,

valores políticos e morais do pesquisador são vistos como

irrelevantes, conceitos como exploração, marginalização, camadas

populares (…) são tidos como reflexo de não cientificismo. Mas é

difícil demonstrar que os conceitos básicos de qualquer marco

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teórico, nas ciências sociais [e não só], expressam atitudes

específicas em relação ao homem, à organização da sociedade, às

relações entre indivíduos e grupos. Trabalhar qualquer marco

teórico implica aceitar o posicionamento e comprometer-se com os

valores políticos e morais implícitos nesse marco teórico;

As Ciências Naturais vêem o mundo físico como um objecto que

deve ser controlado tecnologicamente pelo homem [?], modelo

que não pode ser utilizado nas Ciências Sociais porque as pessoas

não se podem considerar como objectos manipuláveis nem à

organização da sociedade como um problema de engenharia.

6.2. Método qualitativo

6.2.1. Características da abordagem

Este, diferentemente do quantitativo, não emprega um instrumental

estatístico como base do processo de análise de um problema e não

pretende numerar ou medir unidades ou categorias homogéneas.

A abordagem qualitativa justifica-se por ser uma forma adequada para

entender a natureza de um fenómeno social. O desejo de quantificar a

todo o custo tem levado as Ciências Sociais a investigaroque se quantifica

mais facilmente, provocando uma pobreza de resultados, não por a

pesquisa quantitativa ser inútil na pesquisa social, mas porque há

domínios quantificáveis e outros qualificáveis, de modo que a prioridade

depende da natureza do fenómeno analisado e do material que os métodos

permitem colectar.

Em princípio, as investigações voltadas à análise qualitativa têm como

objecto situações complexas ou estritamente particulares, tais estudos

podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a

interacção de certas variáveis, compreender e classificar processos

dinâmicos da vida dos grupos sociais,contribuir no processo de mudança

de um grupo e possibilitar o entendimento profundo das particularidades

do comportamento dos indivíduos. Em suma, implicam estudos

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qualitativos embora não como domínio próprio e exclusivo, pelo menos,

três situações:

Quando há necessidade de substituir uma informação estatística

por dados qualitativos, principalmente quando se trata de

investigação sobre factos do passado [história] ou de grupos deque

se tem pouca informação.

Caro estudante, note que, estudos comparativos como renda per capita,

esperança de vida, pobreza absoluta e sistemas de governo estão bem

desenvolvidos que permitem, através de informações estatísticas situar a

posição de certos grupos com base em parâmetros estabelecidos que

servem como indicadores do nível cultural e do estágio de

desenvolvimento. Mas, ao adoptarmos uma abordagem funcionalista para

explicar aspectos culturais de um grupo, aqueles aspectos devem ser

percebidos na relação complexa com o sistema social global, por isso os

dados quantitativos não explicam por si só o nível de profundidade em

que se situam os problemas [o camponês de Magude que não gasta

1dólar/dia é pobre absoluto? Sim de acordo com estatística oficial, enão

segundo a forma como a pobreza é socialmente percepcionada em

Magude].

Quando é importante compreender aspectos psicológicos como

atitudes, personalidade, motivações, expectativas, valores, etc.

A noção de personalidade está ligada a cada indivíduo e a cada cultura.

Segundo Grawis apud Richardson (1999:82), a multiplicidade de papéis

que o indivíduo pode assumir numa cultura, testemunha a complexidade e

o grau de evolução dessa cultura, onde o papel está ligado ao status e é

mais ou menos submisso aos modelos sociais que regulam a sociedade.

Portanto, não importa entender a personalidade segundo atributos que

permitam classificar, mas a sua relação dinâmica com o social, assim os

dados qualitativos viabilizam uma análise global, relacionando o

indivíduo com a sociedade.

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64

Actividade

Esta tarefa diz respeito à vinculação entre aspectos psicológicos e a cultura,

uma constante na pesquisa social: Elabore uma ficha de resumo ou de

conteúdo do tema factores de cultura, enfatizando os conceitos antropema,

etnema e personalidade base.

Se no módulo de metodologia de investigação científica aprendeu a

elaboração de fichas, use esse saber paraelaborar uma ficha do texto de

Bernardi (1992:49/82), caso contrário, leia como se elaboram fichas nas

obras de Marconi (2011:51-72) e Eco (1998:130:156).

Quando são indicadores do funcionamento de estruturas sociais

[exploração, conservadorismo, tradicional…].

Na explicação do funcionamento das estruturas sociais a observação

qualitativa é fundamental. Sobre os procedimentos metodológicos, as

pesquisas qualitativas de campo exploram: técnicas de observação e

entrevistas [visa completar informações ou aprofundar aspectos

essenciais]devido à força com que penetram na complexidade de um

problema, enquanto as pesquisas documentaisexploram a análise de

conteúdo e a analise histórica.

Com a observação, pode-se obter informações sobre fenómenos novos e

inexplicados que desafiam a nossa curiosidade, este tipo de observação

(assistemática ou livre) tem a função de descobrir novos problemas.

Quanto à observação sistemática sobre o campo da actividade humana,

deve-se organizar um conjunto de informações ligadas a um sistema

descritivo (ficha de inquérito) e, em seguida, aplicar categorias já

levantadas por pesquisadores e proceder a posteriores estágios de análise.

6.2.2. Crítica

Muita crítica foi feita na perspectiva positivista e não interessa retomá-la,

o que resta é chamar a atenção sobre operigo de pesquisadores pouco

experientes ou tendenciosos tenderem a enaltecer seus valores, pontos de

vista e interesses próprios.Daí a importância da confiabilidade e validade

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dos instrumentos de medição e insistênciana necessidade de uma pesquisa

qualitativa crítica e válida.

Actividade

Frequentemente, o pesquisador social é chamado a desembaraçar-se dos

seus valores em nome da objectividade, o que é objectivamente

impossível mesmo nas Ciências Naturais. O que deve acontecer é uma

pesquisa crítica.

Elabore uma ficha de leitura do tema 6 de Richardson (1999: 90-103):

Pesquisa qualitativa crítica e válida, enfatizando o sentido de pesquisa

qualitativa, pesquisa social crítica, as possibilidades de uma

pesquisaqualitativa crítica e válida (selecção e familiarização com o local

de pesquisa, relações com os entrevistados, colecta das informações,

análise das informações, preparação do relatório), as generalizações e as

conclusões.

Se no módulo de metodologia de investigação científica aprendeu a

elaboração de fichas, use esse saber paraelaborar uma ficha do texto de

Bernardi (1992:49/82), caso contrário, leia como se elaboram fichas nas

obras de Marconi (2011:51-72) e Eco (1998:130:156).

6.3. Critérios científicos e complementaridade

Ambos métodos devem cumprir dois critérios primários para serem

científicos: confiabilidade e validade.

A confiabilidade reside na capacidade de os instrumentos criados

produzirem medições constantes quando aplicados a um fenómeno, ela

pode ser externa (Possibilidade de outros pesquisadores, utilizando

instrumentos semelhantes, observarem factos idênticos) e confiabilidade

interna (possibilidade de outros pesquisadores fazerem as mesmas

relações entre os conceitos e os dados colectados, com iguais

instrumentos). Na abordagem qualitativa é comum o uso do gravador para

registar entrevistas e observações e as inferências são superficiais pois a

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proximidade entre pesquisador e informante possibilita o detalhe. Na

abordagem quantitativa, as perguntas do questionário devem ser claras e

com detalhe, mantendo o anonimato para evitar distorções nas respostas.

A validade reside na capacidade do instrumento produzir medições

adequadas e precisas para chegar a conclusões correctas, bem como

aplicar as descobertas a grupos semelhantes não incluídos na pesquisa em

causa, também pode ser externa (possibilidade de generalizar os

resultados) e interna (exactidão dos dados e adequação das conclusões).

Na abordagem qualitativa é assegurada pela identificação dos vários

indicadores, justificando sua relação com os conceitos que serão medidos,

enquanto na abordagem quantitativa o poder de generalização reside na

escolha aleatória representativa de determinada população. Contudo

autores como Michel Thiollent apud Richardson (1999:88) questionam

conceitos como representatividade e generalização nas Ciências Sociais.

6.3.1. Complementaridade

Autores como Good &Hatt apud Richardson (1999:79) não distinguem

com clareza métodos quantitativos e qualitativos, porque a pesquisa

quantitativa é também, de certo modo, qualitativa, não interessando na

pesquisa moderna quão precisas são as medidas, pois o que é medido

continua a ser uma qualidade. Reconheça-se que o enfoque adoptado é

que, de facto, exige uma metodologia qualitativa ou quantitativa.

O aspecto qualitativo de uma investigação pode estar presente até mesmo

nas informações colhidas por estudos essencialmente quantitativos, não

obstante perderem seu carácter qualitativo quando são transformados em

dados quantitativos na tentativa de assegurar a exactidão dos resultados.

Uma tentativa, porque a quantificação apresenta limitações ao tentar

explicitar alguns problemas complexos. P.EX: na medição do grau de

integração de certo grupo social usando o padrão “mais ou menos” só

podemos afirmar que “A” é mais racista que B ou uma minoria se

interessa com o problema X.

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67

Para transformar dados qualitativos em elementos quantificáveis os

pesquisadores utilizam critérios, categorias e escalas de atitudes para

identificar com que intensidade ou grau, um conceito, uma atitude ou uma

opinião se manifesta. Lamentavelmente, os imperativos da quantificação

limitam o modo de colecta de dados, comprometendo os objectivos que se

deseja atingir, para além deque a natureza ou nível de complexidade de

alguns dados impossibilita sua apresentação com exactidão, além disso, a

própria medida é relativa.

Actividade

Positivistas e neopositivistas insistem na necessidade da quantificação

como requisito de objectividade na pesquisa social: Registe no seu bloco

os dogmas ideológicos ou excessos que tornam a abordagem quantitativa

um dilema na pesquisa social.

Se nas suas notas conseguiu alistar os dogmas da quantificação na

pesquisa social, então está no caminho certo, caso contrário releia o texto,

faça anotações novas.

Ora, apesar das profundas diferenças ideológicas pode-se identificar três

instâncias de integração entre ambos, nomeadamente na planificação da

pesquisa, na colecta dos dados e na análise da informação.Destacar,

sobretudo, que a pesquisa social deve integrar pontos de vista, métodos e

técnicas visando a melhoria das condições de vida da maioria da

população.

Na planificação da pesquisa.

O método qualitativo pode arrastar o qualitativo, quando na discussão

com o grupo que participa da investigação, o uso de entrevistas e a

observação poderem melhorar a formulação do problema, o levantamento

de hipóteses e a determinação da amostra.

No diapasão contrario a utilização de um questionário prévio no momento

da observação ou entrevista pode contribuir para delimitar o problema

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estudado e a informação colectada, permitindo identificar casos

representativos ou não em nível grupal ou individual.

Na colecta dos dados

Entrevistas, observações e discussões em grupo podem enriquecer as

informações obtidas, graçasao detalhe e aprofundamento das técnicas

qualitativas.

Por seu turno, o questionário prévio pode ajudar as evitar perguntas

rotineiras e a identificar características objectivas, como por exemplo

geopolíticas de uma comunidade que podem influir no contexto da

pesquisa.

Na análise da informação.

As técnicas qualitativas permitem verificar os resultados dos

questionários e ampliar as relações descobertas. Enquanto as técnicas

estatísticas podem contribuir para verificar informações e reinterpretar

observações qualitativas, permitindo conclusões menos objectivas.

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69

Resumo da lição

A quantificação e a qualificação, não obstante corporizarem um

debate conflituoso nas peculiaridades da pesquisa social, sua

combinação enriquece os resultados das pesquisas.

Frequentemente, o pesquisador social é chamado a desembaraçar-se

dos seus valores em nome da objectividade, o que é objectivamente

impossível mesmo nas Ciências Naturais. O que deve acontecer é

uma pesquisa crítica.

Bibliografia da Lição

BERNARDI, B. Introdução aos estudos etno-

antropológicos, Lisboa, Edições 70, 1992

ECO, Humberto.Como se faz uma tese em ciências

humanas, Lisboa: Editorial Presença, 1998.

MARCONI, M. de A e Lakatos, E. M. Metodologia do

trabalho científico, São Paulo: Atlas, 2011.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:

Métodos e técnicas, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 1999.

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70

Auto-avaliação

Agora pretendemos encerrar esta 6ª lição e não teríamos melhor

forma de fazê-lose não verificarmos oque se conseguiu reter e

que podemos aplicar em situações da realidade social. Então, veja

se sabe e pode se inspirar em Richardson (1999:73):

I. Embora o estudo quantitativo de correlação, possibilite

verificar a influência de grupos de variáveis no

aparecimento de um fenómeno, ou mesmo a importância

dessas para entender e explicar um problema, este tipo de

estudo não se aplica à análise de causa-efeito entre

variáveis. Porquê?

Se nas suas notas conseguiu reunir elementos para justificar

porque o estudo quantitativo de correlação não se aplica à análise

de causa-efeito, então está no caminho certo, caso contrário releia

o texto, faça anotações novas.

II. Qual seria o estudo correcto, naanálise de correlação, para

testar a hipótese segundo a qual: a agressividade nas

escolas é causa da delinquência juvenil?

Se nas suas notas conseguiu reunir elementos do procedimento de

análise de correlação, então está no caminho certo, caso contrário

releia o texto, faça anotações novas e teste a hipótese sugerida

sobre agressividade nas escolas.

III. A abordagem qualitativa é a mais indicada e não exclusiva

da pesquisa social. Porquê?

Se nas suas notas conseguiu reunir elementos para demostrar que

a qualificação é mais usual na pesquisa social e como deve ser

combinada com a quantificação, então está no caminho certo,

caso contrário releia o texto, faça anotações novas.

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71

Lição n° 7: Peculiaridade que desafiam a pesquisa nas ciências

sociais

Introdução

Bem-vindo à 7ª lição, ela busca realizar essencialmente o objectivo de

resumir esta primeira unidade de aprendizagem, ao descrever as

particularidades da pesquisa social. Realize zelosamente as actividades

recomendadas com vista uma realização eficaz daquele objectivo da lição:

Objectivos

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Explicar os cinco principais problemas levantados em

torno da objectividade da pesquisa social;

Dissertar sobre as condições da uma cientificidade da

pesquisa social diferente, mas não inferior à das Ciências

Naturais.

Tempo

Tempo de estudo da lição: 04 horas.

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72

Peculiaridades das Ciências Sociais

Caro estudante, apreciemos esta problemática a partir de Briones

(2002:14/5), para quem a Epistemologia das Ciências Sociais analisa

cinco (5) problemas principais, sobre os quais existem diversas posições

que nos permitem apreciar diversas correntes e escolas que contribuem na

construção das Ciências Sociais:

a) Os suportes ontológicos e gnosiológicos das Ciências Sociais

Este problema consiste na maior ou menor, consciente ou inconsciente

adesão dos investigadores a certas concepções sobre a natureza última das

Ciências Sociais e possibilidade de conhecê-las.

b) O objecto de estudoespecíficodas Ciências Sociais

A resposta sobre o objecto das Ciências Sociais reside na dicotomia

estudo da sociedade global e estudo de pequenos grupos. Portanto, para

alguns cientistas sociais, estas devem estudar o sistema social na sua

totalidade e utilizar para tal um enfoque macro social. Para outros deve

ser a análise de pequenos grupos, para que o investigador possa conhecer

directa e experimentalmente o funcionamento desses grupos, empregando

um enfoque micro-social.

c) A natureza do conhecimento que se obtém pela investigação

científica

Sobre a natureza do conhecimento que deve obter a investigação social

sobre os objectos que investiga, a dicotomia se apresenta na escolha de

um enfoque quantitativo ou qualitativo. O primeiro busca a medição dos

fenómenos sociais, em particular, a medição individual das propriedades

que se dão nesses objectos, mediante as chamadas variáveis, de tal modo

que seja possível a utilização das técnicas estatísticas no caso. A

alternativa qualitativa, por seu turno, implica um enfoque holístico, ou

seja, o estudo do objecto tomando-o em sua totalidade, utilizando técnicas

qualitativas adequadas para esse propósito.

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73

d) A relação entre as características do objecto investigado e os

valores do investigador

Refere-se à relação entre o objecto que se investiga e o investigador, no

cerne deste problema se colocam as seguintes perguntas:

O papel da ciência é explicar de forma total e completa o mundo

social e natural? Responde as preocupações decorrentes da vida

social ou da produção (Função teleológica)? Ora, o papel da

ciência é entender e explicar os fenómenos sociais, focalizar a

atenção em questões particulares e desafiar crenças convencionais

sobre os mundos social e natural, mas algumas correntes

defendem que a ciência social deve dar respostas às preocupações

sociais.

Deferentemente das ciências naturais na pesquisa social, os

pesquisadores podem questionar aqueles a quem estudam,

tornando-se útil controlar a força da alteridade nas entrevistas,

inquéritos e observação participante

O investigador influencia ou não o objecto de investigação que na

maioria das vezes é constituído por pessoas? Ou seja, é possível

obter através da investigação social um conhecimento que não

esteja perturbado pelos valores do investigador, por suas crenças,

preferências e pré-juízos (preconceitos)?

Existe uma ciência livre de valores? Esta preocupação é

reducionista, porque se a pesquisa social nos oferece

conhecimento sobre o mundo social, necessariamente indisponível

por outros meios, ela torna-se mais do que o simples reflexo das

nossas opiniões e preconceitos, ela substância, refuta, organiza ou

gera as nossas teorias e produz evidências que podem desafiar não

apenas nossas próprias crenças, mas também as crenças da

sociedade em geral;

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É possível a objectividade13

nas ciências? Frequentemente assume-

se que, se os nossos valores não entrarem na nossa pesquisa, ela é

objectiva e acima de críticas. Como pesquisadores sociais e

membros da sociedade é possível e desejável que suspendamos o

nosso sentimento de pertencimento? Esta é a questão central do

debate das várias escolas que dão o suporte filosófico às ciências.

e) A função final que deve cumprir a investigação científica de

acordo com o modelo escolhido para a construção das Ciências

Sociais.

Visa a função última que deve cumprir a investigação, função que

corresponde à resposta sobre a pergunta: Quando podemos entender

determinado sucesso social? O que devem buscar, em última instância, as

Ciências Sociais, através de suas teorias e métodos de investigação?

Como sabemos, a resposta se dá também em forma de uma alternativa.

Por um lado, para alguns epistemólogos e investigadores, as Ciências

Sociais devem explicar os fenómenos, olhando para os outros, o objectivo

final destas ciências é a interpretação dos fenómenos investigados. Este

dilema tem acompanhado o processo de construção das Ciências Sociais

desde seus primeiros momentos.

Briones (2002) aplica o conceito de Ciências Sociais para ciências como

Sociologia, Ciência Política, Psicologia social, Antropologia social,

Educação e Geografia Social. Entende que outras Ciências Sociais como a

História, a Economia, o Direito e outras têm seus próprios enfoques

teóricos de tal modo que só alguns temas e problemas específicos destas

ciências caiem nos marcos epistemológicos da sua obra.

Por seu turno, Pedro Demo apud Richardson (1999:30) faz uma síntese

das características próprias das Ciências Sociais que exigem pressupostos

e metodologias especificas:

13 Entendida, segundo Bernstein apud May Tim (2004:23) como a convicção básica de

que há ou deveria haver uma matriz ou estrutura permanente à qual podemos apelar em

última instância para determinar a natureza da racionalidade, do conhecimento, da

verdade, da realidade, da bondade ou da correcção. Decorre disto que muitas pessoas

aceitem como verdade o que os cientistas dizem.

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O sujeito das Ciências Sociais, o Homem, é racional [e por isso]

muito mais complexo e [imprevisível] que outros sistemas físicos;

O objecto das Ciências Sociais é histórico [por isso] a realidade

está em permanente transição e a característica fundamental desta

realidade histórica é a situação de estar e não de ser;

Existe uma consciência histórica [como pressuposto que influencia

o ser e o devir dos grupos e o comportamento individual];

Existe uma identidade entre o sujeito e o objecto da pesquisa

[Homem];

O objecto das Ciências Sociais [relações humanas] é

intrinsecamente ideológico;

Existe imbricação entre teoria e prática – a práxis.

Ora, as características do método científico valem para as Ciências

Naturais e Sociais, pois se referem a processos de conhecimento, mas não

se devem misturar metodologias (procedimentos e regras utilizadas por

um determinado método). Por exemplo fenómenos qualitativos (opiniões,

crenças, atitudes, valores, etc.) não podem ser analisados com

instrumentos quantitativos, mas com instrumentos qualitativos como

entrevistas. Enquanto na análise de informações as técnicas quantitativas

não devem ser utilizadas para análise em profundidade de dados

qualitativos, mas apenas para caracterizações gerais.

Resumindo:

Dicotomia entre o estudo da sociedade em geral e de pequenos

grupos,

A bifurcação entre a escolha de um enfoque qualitativo e

quantitativo,

A relação instável entre as características do objecto (Homem)

investigado e os valores do investigador,

A dicotomia sobre a finalidade da pesquisa social, considerando

que suas respostas são uma alternativa: Se deve explicar os

fenómenos e dar respostas teleológicas ou se visam só a

interpretação dos fenómenos investigados;

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76

O sujeito das Ciências Sociais, o – Homem - é racional e por isso

muito mais complexo e imprevisível que outros sistemas físicos;

O objecto das Ciências Sociais é histórico, por isso, a realidade

está em permanente transição e a característica fundamental desta

realidade histórica é a situação de estar e não de ser;

Existe uma consciência histórica [como pressuposto que influencia

o ser e o devir dos grupos e o comportamento individual];

Existe uma identidade entre o sujeito e o objecto da pesquisa -

Homem;

O objecto das Ciências Sociais (relações humanas) é

intrinsecamente ideológico;

Existe imbricação entre teoria e prática – a práxis.

Resumo da lição

O cerne do debate, nesta lição, é em torno da possibilidade ou não de

busca da objectividade nas ciências. Entendida, como a convicção

básica de que há ou deveria haver uma matriz ou estrutura permanente

à qual podemos apelar em última instância para determinar a natureza

da racionalidade, do conhecimento, da verdade, da realidade, da

bondade ou da correcção, deque decorreria que as pessoas aceitassem

como verdade o que os cientistas dizem. Assim, assume-se

frequentemente que, se os nossos valores não entrarem na nossa

pesquisa, ela é objectiva e acima de críticas. Como pesquisadores

sociais e membros da sociedade não é possível, nem desejável que

suspendamos o nosso sentimento de pertencimento. Esta questão é

retomada como central do debate das várias escolas que dão o suporte

filosófico às ciências, objecto da segunda unidade de aprendizagem, a

seguir.

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Bibliografia da Lição

BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias

sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.

MAY, Tim. Pesquisa social: Questões, métodos e

processos, 3ª Edição, Porto Alegre: ARTMED, 2004.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:

Métodos e técnicas, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 1999.

Auto-avaliação

da Unidade 1

1. Defina sucintamente os conceitos de epistemologia,

conhecimento, verdade, lógica, pesquisa, ciência, método

científico, teoria, sociedade e Ciências Sociais.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas.

2. Descreva o lugar das Ciências Sociais na classificação geral

das ciências.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas

3. Resuma a evolução histórica das Ciências Naturais às Sociais.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas

4. Caracterize o método científico.

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Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas

5. Caracterize a postura segundo o método quantitativo e

qualitativo, na pesquisa social e analise a crítica e os critérios

de cientificidade e de complementaridade entre ambos.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas.

6. Explique as peculiaridades que desafiam a pesquisa nas

Ciências Sociais.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder estaquestão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas.

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79

Pág. 80 - 110

Conteúdos

2 U

NID

AD

E

Unidade 2: Suportes filosóficos ou quadro de referência de

Ciências Sociais 80

Lição n° 8: Positivismo, Funcionalismo e Estruturalismo 81

Lição n° 9: Etnometodologia, Fenomenologia e Racionalismo 88

Lição n° 10: Empirismo, Realismo e Idealismo 94

Lição n° 11: Materialismo histórico, Hermenêutica e Filosofia

analítica da linguagem 100

Suportes filosóficos ou

quadro de referências de

Ciências Sociais

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Unidade 2: Suportes filosóficos ou quadro de referência de

Ciências Sociais

Introdução

Bom dia, boa tarde, boa noite conforme a hora em que iniciamos o estudo

da II unidade de aprendizagem, em seguida apresento-lhe quatro lições

que correspondem ao agrupamento dos 12 quadros de referência14

em

grupos de três, para obviar sua comparação. O espírito desta unidade

reside na necessidade de você, como pesquisador particular das Ciências

Sociais, posicionar-se epistemologicamente ante o objecto ou fenómeno

que deseja estudar.

Objectivos da unidade

Ao terminar esta unidade deverá ser capaz de:

Explicar a perspectiva da pesquisa social do Positivismo,

Funcionalismo, Estruturalismo, Etnometodologia, Fenomenologia,

Racionalismo, Empirismo, Realismo, Idealismo, Materialismo e

Materialismo Histórico, Hermenêutica e Filosofia da Linguagem,

Reconhecer os pontos fortes e fraquezas de cada quadro de

referência.

Tempo

Tempo de estudo da lição: 10 horas.

14 Rede de pressupostos ontológicos e da natureza humana que definem o ponto de vista

que o pesquisador tem do mundo que o rodeia, fazendo que ele tenda a ver e a interpretar

o mundo de determinada perspectiva em relação ao Homem, a sociedade e o mundo em

geral. Essa perspectiva epistemológica orientará a escolha do método, da metodologia e

das técnicas a usar numa pesquisa.

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Lição n° 8: Positivismo, Funcionalismo e Estruturalismo

Introdução

Bem-vindo à lição inaugural da unidade II cujo enfoque atrela-se a dois

objectivos específicos válidos a todos quadros de referência: o enfoque

perspectivado por cada quadro de referência para uma pesquisa social

objectiva e válida, bem como seus pontos fortes e fraquezas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Objectivos

Explicar as possibilidades de uma pesquisa social

objectiva, nas perspectivas do Positivismo, Funcionalismo

e do Estruturalismo;

Analisar as suas fraquezas e fortalezas na abordagem de

factos e fenómenos sociais.

Tempo

Tempo de estudo da lição: 03 horas.

Terminologia

Positivismo, Funcionalismo e Estruturalismo, como quadros de

referência da pesquisa social

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8.1. Positivismo

Pressupostos

Esta corrente surgiu na atmosfera dos sucessos das Ciências Naturais no

século XIX, mostrando a fé absoluta do poder da investigação

experimental. Esta atracção pelos métodos de investigação empírica

originou a ideia deque todos os problemas científicos e sociais poderiam

resolver-se exclusivamente por métodos empíricos e que as técnicas das

Ciências Naturais deviam ser aplicadas pelas Ciências Sociais. O

positivismo, estabelece a distinção entre factos e valores e grande

hostilidade com a religião e com a metafísica.

Segundo Comte, o espírito positivo estabelece as ciências como

investigação do real, do certo, do indubitável e do determinado onde a

imaginação e a argumentação subordinam-se à observação que, por

ser limitada, o conhecimento só apreende factos isolados, para além

deque existe uma ordem natural que os homens não podem alterar.

Pesquisa social

Deste modo só podemos interpretar a natureza na medida em que, se

acreditamos que somos produto do nosso ambiente ao qual reagimos

como as moléculas se excitam diante o aumento do calor num líquido, não

temos que perguntar às próprias pessoas (quando à experimentação agem

diferente do mundo social, então aquelas não servem para explicar este)

pois podemos prever como se comportarão, referindo-nos só aos factos

ambientais.

Portanto, devemos estudar os fenómenos sociais com a mesmo

perspectiva de químico e do médico, explicando o comportamento

humano em termos de causa e efeito, colectando dados sobre o ambiente

social e as reacções das pessoas.

8.2. Funcionalismo

Segundo Richardson (1999:29/30), no século XX as Ciências Sociais

fracassaram porque se dedicaram a seguir um fantasma que resultou da

transferência acrítica da metodologia das ciências físico-naturais ao

fenómeno humano. Até ao início dos anos 60, quase a totalidade dos

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pesquisadores seguiam orientações funcionalistas e positivistas da Escola

Americana, onde a Universidade de Chicago era o coração e a alma do

funcionalismo, oque levou à deturpação total da meta fundamental das

Ciências Sociais: o desenvolvimento do homem e da sociedade.

Pressupostos

Esta corrente enfatiza as relações e o ajustamento entre diversos

componentes de uma cultura/sociedade, seus fundadores (Herbert

Spencer-1820/1903 e Émile Durkheim-1858/1917) procuraram analogias

entre as formas de organização cultural e social com a organização dos

seres vivos.

Para o antropólogo Bronislaw Malinowski (1884-1942), a quem se deveu

a consolidação do funcionalismo como método de investigação social, o

seu raciocino básico é que, se os homens têm necessidades contínuas

devido à sua composição biológica e psíquica, essas necessidades irão

requerer formações sociais que as satisfaçam efectivamente. Por isso

toda a actividade social e cultural é funcional (desempenha funções) e é

indispensável. O seu colega Radcliffe-Brown (1881-1955), introduziu a

noção de estrutura no funcionalismo: a função de toda actividade

recorrente é seu papel na vida social e sua contribuição social para

sustentar as estruturas.

Pesquisa social

Apesar das críticas por ser identificado, em suas origens, com ideologias

conservadores continua a exercer influência na pesquisa social. As

crónicas greves dos chapeiros podem ser estudadas empiricamente como

um requerimento para formações sociais que satisfaçam efectivamente sus

necessidades, elas desempenham uma função e visam a suster estruturas

existentes (fenómeno social total). Portanto, fornece conhecimentos

empíricos úteis e potencialmente exploráveis.

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8.3. Estruturalismo

Pressupostos

Para Gil (1999:37), este termo aplica-se para as correntes que têm suas

bases nos estudos do linguista Ferdinand Saussure (1857-1913) e do

antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908- 2009). São as correntes de

pensamento que recorrem à noção de estrutura para explicar a realidade, o

pressuposto é que cada sistema é um jogo de oposições, presenças e

ausências, constituindo uma estrutura, onde o todo e as partes são

interdependentes, modificações num elemento implica modificação de

cada um dos outros e do próprio conjunto.

Richardson (1999:39) sublinha que a estrutura nunca existe na realidade

concreta, mas ela define o sistema de relações e transformações possíveis

desta realidade. O estruturalismo trabalha basicamente com estruturas

mentais (representações e suas invariáveis históricas, para ele os

fenómenos fundamentais da vida humana são determinados por leis de

actividades inconscientes. Portanto, o centro não é o indivíduo, mas o

inconsciente como sistema simbólico – o estruturalismo é anti-empírico.

Pesquisa social

Para Lévi-Strauss o modelo científico estrutural opõe-se ao empirismo,

para o qual a realidade é singular e revelada pela experiência sensível e o

objecto passa a ser o facto, ao considerar que o facto isolado não possui

significado, enquanto tal, se não considerado dentro da estrutura a que

pertence, de modo que os elementos da estrutura têm carácter relativo e o

sentido e valor de cada elemento resulta apenas da posição que ocupa em

relação aos demais.

A regra principal da investigação é que os factos devem ser observados e

descritos, sem permitir que os preconceitos teóricos alterem sua natureza

e importância, estudar os factos em si mesmos e em relação ao conjunto.

Exige o estudo imanente das conexões essenciais das estruturas

independentemente da sua génese ou de suas relações com o que é

exterior a elas. Esse estudo imanente do objecto implica a descrição dos

sistemas em termos estritamente relacionais, onde a experiência comum

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só reconhece coisas, a análise estrutural descreverá redes de relações, que

por sua vez constituem sistemas (políticos, de parentesco e filiação, de

transporte e comunicação…).

Resumindo o procedimento para uma análise estruturalista:

1º Quais os factos observados? Parte-se da investigação de um

fenómeno concreto [greves dos chapeiros], devendo ser factos

exactamente observados e descritos, estudados em si mesmos e em

relação com o conjunto;

2º Atinge-se o nível abstracto pela exposição de um modelo

representativo do objecto de estudo [conexões], procura-se a

pertinência de um elemento ao modelo em construção, sendo que

o valor de um elemento depende exclusivamente da posição que

ocupa em relação aos demais, sendo fundamental a decomposição

do fenómeno estudado procurando elementos cuja variação

produza certas modificações no conjunto e, os elementos não

pertinentes devem ser eliminados. Ora, a decomposição oferece

uma primeira aproximação à estrutura;

3º Construir a estrutura, partindo das menores unidades do

fenómeno estudado, descobrindo ou estabelecendo regras de

associação dos elementos pertinentes. Por exemplo se A é superior

a B, B é superior a C, A será superior a C;

4º Retorna-se ao concreto como uma realidade estruturada

mediante a composição de uma estrutura do fenómeno,

considerando suas manifestações empíricas visíveis e suas

relações teoricamente estabelecidas.

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86

Actividade

As teorias ou quadros de referência descritos, devem nos permitir

analisar sua adequação na pesquisa de factos e fenómenos sociais

particulares. Desenhe um esquema simbolizando a análise estruturalista

da greve dos chapeiros da sua cidade.

Se nas suas notas conseguiu reunir elementos que lhe permitem elaborar

um quadro similar ao que consta a seguir sobre idealismo e realismo,

então está no caminho certo, caso contrário releia o texto, faça

anotações novas e, principalmente, siga os exemplos que apresento no

desfecho do idealismo e do realismo, que são bastante elucidativos.

Importância e crítica

Ao negar a realidade como algo singular, rejeitar o império da experiência

sensível e considerar insignificante o estudo de factos isolados, o

estruturalismo teve grande importância no desenvolvimento das Ciências

Sociais do século XX, enquanto uma alternativa significativa para todas

as formas de positivismo e funcionalismo.

Apesar do sucesso, o estruturalismo recebe relevantes críticas: negligência

à possível transformação dos fenómenos, ao procurar estruturas

invariáveis; ao considerar o inconsciente colectivo igual em todas as

pessoas, permite que tenhamos as mesmas categorias mentais, colocando

a consciência no 2º plano; relegar a História ao 2º plano por o estudo da

estrutura preceder o estudo da evolução e da génese; ao simplificar o

fenómeno em modelos estruturais, não procede por síntese de realidades

significativas, senão pelo seu empobrecimento, etc.

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87

Resumo da lição

Com o positivismo e com o funcionalismo, as Ciências Sociais

se dedicaram a seguir um fantasma que resultou da transferência

acrítica da metodologia das ciências físico-naturais ao fenómeno

humano, mas hoje devemos buscar estas correntes para oferecer

uma base quantitativa, sem a encarrarmos como receita de

objectividade.

Apesar do sucesso e seu uso criterioso ser aconselhável na

pesquisa social, o estruturalismo negligencia a possível

transformação dos fenómenos, ao procurar estruturas

invariáveis; ao considerar o inconsciente colectivo igual em

todas as pessoas, coloca a consciência no 2º plano; para além de

relegar a História ao 2º plano, por o estudo da estrutura preceder

o estudo da evolução e da génese.

Bibliografia da Lição

GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa

social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.

OLIVEIRA, Maria da Luz; Pais, M.J. & Cabrito B.G.

Sociologia, 4ª edição, Lisboa: Texto editores, 1989

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:

Métodos e técnicas, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 1999.

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88

Lição n° 9: Etnometodologia, Fenomenologia e Racionalismo

Introdução

Bem-vindo à 9ª lição cujo enfoque igualmente se atrela a dois objectivos

específicos válidos a todos quadros de referência: o enfoque

perspectivado por cada quadro de referência para uma pesquisa social

objectiva e válida, bem como seus pontos fortes e fraquezas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Objectivos

Explicar as possibilidades de uma pesquisa social

objectiva, nas perspectivas do Etnometodologia,

Fenomenologia e Racionalismo;

Analisar as suas fraquezas e fortalezas na abordagem de

factos e fenómenos sociais.

Tempo

Tempo de estudo da lição: 02 horas.

Terminologia

Etnometodologia, Fenomenologia e Racionalismo, como quadros

de referência da pesquisa social

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89

9.1. Etnometodologia

Pressupostos

Harold Garfinkel apud Gil (1999:40) define-a como a ciência dos

etnométodos, são procedimentos que constituem o raciocínio sociológico

prático. É uma tentativa de analisar os procedimentos que os indivíduos

utilizam para realizar as diferentes operações quotidianas (tomar decisões,

comunicar-se, raciocinar, etc.).

Esta corrente tem influências da fenomenologia, pois alisa as crenças e

comportamentos de senso comum como constituintes necessários de

todo o comportamento social organizado. Os etnométodos procuram

estar mais perto das realidades correntes da vida social que os outros

sociólogos.

Pesquisa social

Admitem a necessidade de uma volta à experiência, o que exige a

modificação dos métodos e técnicas de colecta de dados e da reconstrução

teórica, rejeitando as hipóteses tradicionais da sociologia sobre a realidade

social, optando pela hipótese deque os fenómenos quotidianos se

deformam quando analisados por meio da grade de descrição científica

(Coulon apud Gil, 1999:41).

9.2. Fenomenologia

Segundo Briones (2002:31-33), actualmente entende-se por

fenomenologia a doutrina desenvolvida por Edmund Husserl (l859-1938),

entendida como um método e maneira de ver a mundo. Husserl se opõe ao

positivismo e ao pragmatismo [realismo e empirismo], embora reconheça

um valor limitado à primeira escola, ele também rejeita a crença em uma

filosofia absoluta.

As teses fundamentais da fenomenologia de Husserl, expostas em sua

obra “Investigações lógicas”, são basicamente duas:

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90

Para compreender o fluxo e conteúdo da consciência devemos nos

limitar a descrever o que nela se apresenta, sem ser condicionados

por teorias apriorísticas sobre esse conteúdo;

A exposição acima mostra que o fluxo da consciência ocorre,

isolado dos objectos concretos, mas mediante “essências ideais”.

Pesquisa social

Para o investigador, seriam algumas especificações destas duas teses

fundamentais, as seguintes:

A consciência, para Husserl, é sempre uma consciência

intencional, ou seja, a consciência de alguma coisa, isso implica

uma relação com um objecto. Para aceder à essência contida nos

fenómenos que ocorrem na consciência é necessário purificar o

fenómeno mediante um procedimento metodológico de redução

eidetica denominado epoche. Essa redução significa isolar todo o

individual e contingente que aparece no fenómeno conferido pela

intuição empírica ou por imagens da fantasia, para manter a

essência do fenómeno.

A redução eidética é acompanhada pela redução transcendental

ou redução fenomenológica que também isola a existência do

mundo ao meu redor e a existência do próprio analista, seus actos

psíquicos, interesses, etc. O que resta, depois destas reduções, é a

pura consciência: as suas experiências e conteúdo, ao que Husserl

chama consciência transcendental.

A redução fenomenológica é o método para alcançar o campo no

qual deve actuar a nova ciência (nova, como superação da crise

para a qual foram lavadas as ciências pelo positivismo). Isto é, se

você quiser filosofar, é necessário abandonar informações que lhe

dão a atitude natural e situar-se na esfera da consciência pura.

Enquanto a redução fenomenológica, com a qual você chega a este

campo, envolve aceitação de um idealismo transcendental,

Husserl não nega a existência de um mundo real, só o isola

metodologicamente. Na consciência pura se realiza a constituição

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91

do sentido dos fenómenos apreendidos ou reduzidos pela

consciência.

Husserl acusa o Positivismo de ser responsável pela crise da ciência,

porque ao reduzir o conhecimento verdadeiro ao conhecimento científico

excluiu a fundamentação filosófica deste. Para remediar esta crise propõe

a transformação da filosofia em ciência, ou seja, num sistema conceitual

de validade universal e necessária. Como tal, dela devem começar todas

as disciplinas e os fundamentos filosóficos de todas as ciências.

A fenomenologia de Husserl teve a sua principal projecção na sociologia

de Alfred Schutz e em parte por meio dele, à etnometodologia, e autores

como Peter Berger e Thomas Luckmann como o reconhecem em seu livro

“A construção social da realidade”.

Crítica

É questionável a pretensão de Husserl em encontrar, por redução

fenomenológica na consciência pura, o básico da ciência. Se por um lado

defende energicamente o racionalismo, nos faz presumir que não queria

incluir na razão o entendimento. Não é em vão que Husserl nunca analisa

a função do experimento, como uma interrogação da experiência e não

como uma simples descrição do que vemos nela. Por fim, longe da anti-

cientificidade da fenomenologia, a raiz deste pensamento deva ser

procurada na adesão inicial de Husserl à psicologia puramente descritiva

de Brentano.

9.3. Racionalismo

Pressupostos

Existem várias formas de racionalismo, como o metafísico (toda a

realidade é de carácter racional), psicológico (pensamento é superior às

emoções e à vontade) e o racionalismo gnosiológico ou epistemológico

cujos conceitos centrais tem maior pertença na abordagem deste tema dos

pressupostos filosóficos das Ciências Sociais. Deste modo, o racionalismo

defende que é possível conhecer a realidade através do pensamento puro,

sem nenhuma premissa empírica. Em essência, essa é a posição dos três

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mais destacados representantes do racionalismo: Descartes, Leibniz e

Spinoza. Por exemplo, Descartes provou a existência de Deus e do mundo

físico a partir da premissa racionalmente indubitável "penso, logo existo"

O conhecimento é propriamente tal quando se tem necessidade lógica e

validade universal. Só a razão pode permitir decidir que uma coisa é como

é e não pode ser de outra forma. Só a razão tem a capacidade de obter por

si mesma, mediante a dedução a partir de ideias inatas, outros

conhecimentos do tipo "todo efeito tem uma causa" que é evidente porque

estabelece uma relação necessária. Tais conceitos são chamados juízos

sintéticos, que por terem sua origem na razão são conhecimentos apriori

(Briones,2002:23).

Pesquisa social

O racionalismo moderno tomou várias formas, longe das pretensões mais

extremas, expressas nos séculos XVII e XVIII. Permanece, é claro, a

importância da razão no conhecimento da realidade dentro dos vários usos

do termo "Racionalismo". A eles correspondem as posições

epistemológicas de Gaston Bachelard e Karl Popper que destacam tanto o

papel da razão e da experiência empírica na pesquisa científica.

Resumo da lição

O racionalismo moderno tomou várias formas, longe das

pretensões mais extremas dos XVII e XVIII, mas permanece, a

importância da razão no conhecimento da realidade. A

fenomenologia, por seu turno, se por um lado defende

energicamente o racionalismo, nos faz presumir que não quer

incluir na razão o entendimento. Por fim a etnometodologia,

admite a necessidade de uma volta à experiência, modificando

os métodos e técnicas de colecta de dados e de reconstrução

teórica, rejeita as hipóteses tradicionais da sociologia sobre a

realidade social, optando pela hipótese deque os fenómenos

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quotidianos se deformam quando analisados por meio da grade

de descrição científica.

Bibliografia da Lição

BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias

sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.

GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa

social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.

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94

Lição n° 10: Empirismo, Realismo e Idealismo

Introdução

Bem-vindo à 10ª lição cujo enfoque atrela-se igualmente a dois objectivos

específicos válidos a todos quadros de referência: o enfoque

perspectivado por cada quadro de referência para uma pesquisa social

objectiva e válida, bem como seus pontos fortes e fraquezas

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Objectivos

Explicar as possibilidades de uma pesquisa social

objectiva, nas perspectivas do Empirismo, Realismo e

Idealismo;

Analisar as suas fraquezas e fortalezas na abordagem de

factos e fenómenos sociais.

Tempo

Tempo de estudo da lição: 02 horas.

Terminologia

Empirismo, Realismo e Idealismo, como quadros de referência da

pesquisa social.

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10.1. Empirismo

Pressuposto

Esta corrente sustenta só o reflexo do quotidiano e não as condições que o

tornam possível. Como o positivismo defende a existência de um mundo

lá fora que podemos registar e analisar independente das variações das

interpretações que as pessoas fazem, portanto a possibilidade de obter no

mundo social factos independentes da forma como as pessoas os

interpretam, é a “teoria da realidade correspondente”, segundo a qual

uma crença, afirmação ou sentença é verdadeira desde que haja um facto

externo que corresponda a ela. Pesquisa que não se referiu explicitamente

à teoria para guiar os seus procedimentos de colecta de dados, sob o lema

os factos falam por si mesmos.

Tarefa dos pesquisadores

Neste paradigma ele deve só refinar os seus instrumentos de colecta de

dados para que façam um registo neutro. A objectividade é definida pelo

desligamento do pesquisador do mundo social e precisão dos seus

instrumentos de colecta.

Exemplo: Neste paradigma ele vai descrever a greve dos

chapeiros através da teoria da realidade correspondente, através

de uma greve de chapeiros da Cidade da Beira possivelmente

anterior.

10.2. Realismo

Pressuposto

Marx defendeu que os pesquisadores devem organizar seus conceitos para

apreender com sucesso os já existentes aspectos essenciais do capitalismo

que o distinguem de outros sistemas económicos e políticos, portanto os

mecanismos e estruturas subjacentes que tornam relações quotidianas

inteligíveis dos chapeiros

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96

O conhecimento que as pessoas têm do seu mundo social afecta o seu

comportamento e tal mundo não existe independente desse conhecimento.

Para o realismo ou pós-empirismo não há um mundo social além das

percepções das pessoas, ele reflecte as condições nas quais os estados

mentais das pessoas vivem, como as estruturas são reproduzidas os

desejos e necessidades das pessoas são frustrados.

Tarefa dos pesquisadores

Revelar as estruturas das relações dos diversos campos sociais para

entender porque temos certo tipo de políticas e práticas ou as condições

que tornam possível o quotidiano, considerando que as causas são simples

tendências que produzem efeitos particulares e não determinam

necessariamente as acções. O pesquisador social volta-se para os

entendimentos e as interpretações das pessoas sobre os seus ambientes

sociais: Abordagem fenomenológica da pesquisa social.

Exemplo: Neste paradigma podemos explicar a greve dos

chapeiros como um comportamento que resulta dos já existentes

aspectos organizacionais dos transportes urbanos em que

interagem. Assim colecta os entendimentos e interpretações dos

diversos campos, partindo de algumas hipóteses: o campo social

político com politicas ambíguas resultantes do conflito de interesse

por seus agentes serem também operadores e evitam sobrecarregar

o utente por comportamento político, mas exigem receitas

apertadas aos chapeiros, o campo social da polícia, com seus

interesses corruptos que chocam com as regras éticas da

sociedade, o campo social dos utentes ávidos em chegar ao

destino, com poucas posses, e o campo social dos chapeiros ávidos

em encurtar as rotas perante uma polícia volúvel, fazer um receita

adicional à receita apertada e olham a polícia como o elemento

que frustra seus desejos e necessidades

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10.3. Idealismo

Pressuposto

As nossas acções não são governadas por mecanismos de causa – efeito

como nas ciências naturais, mas pelas regras (escritas e não escritas;

gerais e restritas) que utilizamos para interpretar o mundo. Não é aplicável

à pesquisa social falar de causa – efeito, porque as pessoas comtemplam,

interpretam e agem nos seus ambientes, deste modo. É o mundo das ideias

que interessa aos pesquisadores sociais, disto se infere que a actividade

humana não é comportamento (adaptação às condições materiais), mas

uma expressão de significado que os homens dão para a sua conduta

através da linguagem.

Existem regras na acção social através das quais produzimos a sociedade

e nos entendemos e reconhecemo-nos, que para além de serem

frequentemente violadas e diferentemente interpretadas, não se pode

prever o comportamento humano, mas as pessoas agem como se

estivessem a seguir regras e, por isso, as suas acções são inteligíveis.

A realidade não pode ser externa ao homem porque os significados que

agregamos ao mundo não são estáticos, nem universais, logo as nossas

descrições do mundo social devem resultar do contexto das culturas que

estudamos.

Tarefa dos pesquisadores

Concentrar-se sobre como as pessoas produzem a vida social, entendida

apenas através do exame da selecção e interpretação que as pessoas fazem

dos eventos e das acções. Assim, o objectivo da pesquisa é entender as

regras que as tornam possíveis, explicar como as pessoas interpretam o

mundo e interagem umas com as outras (Intersubjectividade).

Exemplo: Neste paradigma vai explicar a greve dos chapeiros

como um comportamento que resulta da interacção dos vários

campos sociais que intervém no sistema de transportes em função

das regras formais e informais, as interpretações s e violações que

possam ajudar a entender a greve.

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Actividade 18

Estas teorias ou quadros de referência devem nos permitir

analisar sua adequação na pesquisa de factos e fenómenos sociais

particulares. Os exemplos que apresento no desfecho do

idealismo e do realismo, são elucidativos.

Considerando o facto social greve dos chapeiros descreve no seu

bloco de notas a esperada postura de um pesquisador social que

busca objectividade tendo como referencial teórico a

Etnometodologia, Fenomenologia e o Racionalismo.

Se nas suas notas conseguiu reunir elementos que lhe permitem

elaborar um quadro similar ao que consta a seguir sobre

idealismo e realismo, então está no caminho certo, caso contrário

releia o texto, faça anotações novas e, principalmente, siga os

exemplos que apresento no desfecho do idealismo e do realismo,

que são bastante elucidativos.

Resumo da lição

Enquanto o empirismo sustenta só o reflexo do quotidiano e não

as condições que o tornam possível, o positivismo, por sua vez,

defende a existência de um mundo lá fora que podemos registar

e analisar independente das variações de interpretações.

Contrariamente, para o realismo, o conhecimento que as pessoas

têm do seu mundo social afecta o seu comportamento e tal

mundo não existe independente desse conhecimento. Enquanto

para o idealismo, as nossas acções não são governadas por

mecanismos de causa – efeito, como nas ciências naturais, mas

pelas regras (escritas e não escritas; gerais e restritas) que

utilizamos para interpretar o mundo

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Bibliografia da Lição

BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias

sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.

MAY, Tim. Pesquisa social: Questões, métodos e

processos, 3ª Edição, Porto Alegre: ARTMED, 2004.

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100

Lição n° 11: Materialismo histórico, Hermenêutica e Filosofia

analítica da linguagem

Introdução

Bem-vindo à 11ª lição cujo enfoque atrela-se a dois objectivos

específicos, como vimos, válidos a todos quadros de referência: o enfoque

perspectivado por cada quadro de referência para uma pesquisa social

objectiva e válida, bem como seus pontos fortes e fraquezas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Objectivos

Explicar as possibilidades de uma pesquisa social

objectiva, nas perspectivas do Materialismo Histórico,

Hermenêutica e Filosofia da Linguagem;

Analisar as suas fraquezas e fortalezas na abordagem de

factos e fenómenos sociais.

Tempo

Tempo de estudo da lição: 03 horas.

Terminologia

Materialismo e Materialismo Histórico, Hermenêutica e Filosofia

da Linguagem, como quadros de referência da pesquisa social.

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11.1. Materialismo histórico.

Pressuposto

Esta corrente fundamenta-se no método dialéctico15

, sustenta que a

produção e troca de produtos são a base de toda a ordem social, as

mudanças sociais e subversões políticas não estão nas cabeças dos

Homens mas nas transformações dos modos de produção e seus

intercâmbios. Portanto, a estrutura económica (infra-estrutura) é a base

sobre a qual se ergue a superstrutura jurídica e política à qual

correspondem certas formas de consciência social e ideológica.

A forma de produção da vida material é que determina o processo social,

político e espiritual. Esta relação entre o material e o social é dialéctica,

portanto não mecânica imediata, mas como um todo orgânico.

Como depreende, constitui uma oposição clara a toda a forma de

positivismo e estruturalismo. Segundo Richardson (1999:46/7), o

materialismo dialéctico é a única corrente de interpretação dos fenómenos

sociais que apresenta princípios (principio da conexão universal de

objectos e fenómenos e Princípio do movimento e desenvolvimento), leis

(lei da unidade e luta dos contrários, lei da transformação da quantidade

em qualidade vice-versa e lei da negação da negação) e categorias de

análise (individual/geral, causa/efeito, necessidade/acaso,

conteúdo/forma, essência/aparência, realidade/possibilidade).

Pesquisa social

15 O método ou materialismo dialéctico é a ideologia e ciência do marxismo, a única

corrente de interpretação de fenómenos sociais que apresenta princípios, leis e categorias

de análise, oposta ao positivismo. É materialismo porque sua interpretação da natureza,

sua concepção dos fenómenos naturais e sua teoria materialistas (sendo matéria aquilo

que exercendo influência nos nossos órgãos de sentido, isto é a realidade objectiva, o

mundo exterior que existe independentemente da consciência), enquanto a dialéctica

vincula-se ao processo dialógico de debate entre posições contrárias baseada no uso de

refutação ao argumento, por redução ao absurdo ou falso, a arte de chegar à verdade,

mostrando as contradições dos argumentos do oponente e superando as suas

contradições. Os argumentos da dialéctica se dividem em tese (argumento a ser

impugnado); antítese (oposição à tese) e síntese (fusão que revela as verdades de ambas e

introduz um ponto de vista superior).

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102

Na interpretação dos fenómenos observados enfatizar a dimensão

histórica dos processos sociais, a partir da identificação do modo de

produção numa sociedade e sua relação com a organização política,

jurídica e social.

Segundo Pinto apud Richardson (1999:53) o método dialéctico impõe as

seguintes exigências ao pesquisador: estudar o objecto em todos seus

aspectos e conexões, priorizando o estudo da essência do fenómeno, dar

seu quadro realista (realidade objectiva), mostrar tendências de

desenvolvimento e forças que o determinam; análise completa dos

elementos e processos, suas propriedades, conexões e qualidades;

procurar as causas e motivos dos fenómenos e análise histórica concreta

dos fenómenos e processos sociais, considerando o lugar e o período de

duração, sem esquecer as conexões históricas fundamentais. Quanto aos

cuidados o autor chama atenção à necessidade de uma consciência

metódica, uma reflexão crítica que descobre as conexões entre

fenómenos; o trânsito entre o individual e o geral e vice-versa, procurando

compreender sua unidade e a preocupação com a análise da totalidade e

de suas partes.

Importância e crítica

Significou um importante avanço na interpretação dos fenómenos sociais,

sendo a 1ª corrente epistemológica que considera a história como factor

importante no desenvolvimento dos fenómenos. Mas, criticada pelo

reducionismo da sua noção de contradição, pois nem toda a relação é

contraditória, existem as relações complementares.

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Actividade

Escreva no seu bloco, as semelhanças e as diferenças entre o

funcionalismo e o estruturalismo.

Se nas suas notas conseguiu reunir elementos que lhe permitem elaborar

um quadro similar ao que consta a seguir sobre idealismo e realismo,

então está no caminho certo, caso contrário releia o texto, faça

anotações novas e,, principalmente, seguir o exemplo da comparação,

que segue, entre o positivismo de August Comte e o materialismo

histórico de Karl Marx

Semelhanças

São quadros de referência porque definem o ponto de

vista que o pesquisador tem do mundo que o rodeia,

fazendo que ele tenda a ver e a interpretar o mundo de

determinada perspectiva,

Orientaram a escolha do método, da metodologia e

das técnicas a usar numa pesquisa.

Ambas enfatizam o peso do mundo exterior sobre as

ideias,

Diferenças

Para o positivismo não há necessidade de inquirir a

amostra, porque podemos prever seu comportamento

referindo-nos só aos factos sócio ambientais.

Para o materialismo o mundo exterior existe

independentemente da consciência, mas dependendo

da dinâmica da matéria que deve ser priorizada na

explicação dos factos e fenómenos sociais

O primeiro enfatiza a observação do mundo social e

infere sobre seus fenómenos na base de uma pretensa

lógica natural imutável que dispensa perguntas à

população em estudo, o segundo enfatiza a abordagem

histórica na interpretação da sociedade a partir do

estímulo dinâmico que a matéria exerce sobre o tecido

social.

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104

11.2. Hermenêutica

Pressupostos

É uma reacção directa à fenomenologia. Uma das primeiras aproximações

para a hermenêutica actual foi feita por Hegel Wilhelm Dilthey (1833-

1911), para quem essa disciplina deve ser o método das ciências do

espírito ou humanas. Nela, a compreensão tem um carácter objectivo que

vai para a objectivação da vida, ou seja, às obras e valores histórico -

culturais que podem ser captados pela experiência. Com Heidegger, a

hermenêutica ganhou aprofundamento e a compreensão torna-se uma

estrutura fundamental do ser humano: tal filosofia não é uma forma

particular de conhecimento, mas é a condição essencial de qualquer tipo

de conhecimento.

A partir de Hans-Georg Gadamer (1900-?), na sua obra fundamental

Verdade e método (1960), a hermenêutica deixa de ser um método, como

queria Dilthey, para se tornar uma doutrina filosófica com uma proposta

coerente acerca da “compreensão”. E seu objecto não é a exploração do

ser individual, mas a investigação do ser histórico.

Nesta versão de Gadamer, a “compreensão”, tem um carácter objectivo,

não consiste em entender o outro, mas entender-se com o outro a partir de

um “texto”. Um “texto” pode ser um evento histórico, uma obra de arte,

etc. Mas, em qualquer dos casos, o entendimento alcançado é histórico,

pois este evento ou objecto é mediado historicamente. Por outro lado, não

é possível conseguir uma compreensão livre de preconceitos (para

Gadamer significa juízo prévio). A compreensão de um texto, só é

possível a partir de um entendimento prévio ou preconceito do

pesquisador projectado sobre o objecto, preconceito que será modificado

por um e outro, levando a uma nova compreensão do presente e assim

sucessiva e infinitamente. Nas palavras deste filósofo, todo o

entendimento é feito dentro de um “círculo hermenêutico”. Compreender

não significa transladar-se à época do autor do texto ou do acontecimento

estudado, mas envolve uma fusão de horizontes, com a qual se define um

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105

horizonte mais amplo. Portanto, para Gadamer, o intérprete de um texto o

entende melhor do que seu autor.

Crítica

Para Paul Ricoeur apud Briones (2002:37) uma das principais

dificuldades para formar uma filosofia hermenêutica é que não há uma

única hermenêutica, ou seja, uma forma única de interpretação de

símbolos da linguagem. Para Freud, por exemplo, os símbolos são um

disfarce de desejos reprimidos; no entanto, para a fenomenologia da

religião, Mircea Eliade, considera-as revelações do sagrado. Mas, é

possível defender um conflito de interpretação entre os dois conceitos

opostos:

Quando a interpretação é um “exercício de suspeita”: interpretar é

desmascarar as ilusões e mentiras de consciência, que é projectada

como uma consciência falsa, porque cria valores (Nietzsche),

ideologias enganosas (Marx) ou disfarça os impulsos

inconscientes (Freud).

Quando a interpretação é a “restauração do sentido”: interpretar é

recolectar o significado dos símbolos (uma vez que há uma

verdade do símbolo).

Ricoeur, que em princípio alinha com a segunda forma de interpretação,

pensa, no entanto, que a hermenêutica deve unir-se, dialecticamente: a

suspeita e a confiança, a desmitologização e a restauração do sentido. Ou

também: que a hermenêutica deve ser, ao mesmo tempo, arqueologia do

sujeito (ao modo de Freud, descoberta do ancestral e primitivo) e uma

teleologia de consciência (ao modo de Hegel, pesquisa dos símbolos ou

figuras que dão sentido ao progresso da consciência, em si mesmo.

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Actividade

Descreva em que consiste a hermenêutica na aplicação do método

crítico na pesquisa histórica (crítica histórica).

Se nas suas notas reteve as características da hermenêutica e da critica

histórica, então está do caminho certo, agora explique como aplicaria a

hermenêutica na crítica histórica, se não consegue releia a lição, por

outro lado o texto de Gomes (1988:343-350) é valioso.

11.3. Filosofia analítica da linguagem

Pressupostos

A obra de Ludwig Wittgenstein (1889-1951), filósofo austríaco apresenta

aspectos particulares do empirismo e do positivismo lógico que,

compreende duas concepções da linguagem em relação aos objectos da

realidade: Quais os elementos filosóficos desta obra que tem relação

mais directa com a fundamentação das Ciências Sociais?

1ª Concepção, desenvolvida na obra Tratados lógico-filosóficos

(1922)

O objectivo desta obra é estabelecer os limites do que pode ser dito com

significado. A linguagem tem como propósito principal estabelecer factos

que se pretende projectar uma imagem dos mesmos, processo que envolve

o estabelecimento de uma correspondência entre o plano real e o plano

linguístico, por outras palavras, é necessário estabelecer semelhança

estrutural. A tese central nessa relação é expressa por Wittgenstein com a

frase: “O que pode ser dito, pode ser dito com toda a clareza, e sobre

oque não se deve falar guarde-se silêncio”. O mundo não é a totalidade

das coisas, mas a totalidade dos factos, que são as figuras das coisas, dos

objectos. Tudo o que pode ser pensado pode ser expresso pela linguagem,

mas o único papel significativo da linguagem é descrever os factos.

Além das descrições, a linguagem só pode estabelecer tautologias (chove

porque está chovendo). Portanto, qualquer uso além destes dois não faz

sentido, porque enunciados éticos ou metafísicos, não são empíricos.

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2ª Concepção, está na obra, Investigações lógicas (l933).

Nela desenvolve principalmente as suas investigações lógicas. Diz aqui

que não pretende teorizar ou explicar qualquer coisa, mas descrever o

fenómeno da linguagem. A este respeito, observa que a linguagem inclui

vários “jogos linguísticos”, cada um dos quais está sujeito às suas próprias

regras. Por outro lado, o significado das palavras se define pelo seu uso,

somente quando se sabe como elas são usadas tanto para interrogar,

descrever objectos, nomes, etc., pode-se dizer que se conhece e pode-se

falar uma determinada língua. Os jogos linguísticos expressam o “estilo

de vida” de uma comunidade.

Nas últimas obras deste filósofo, a língua não é mais considerada como

uma figura de realidade, mas como um instrumento, como uma

ferramenta. A tarefa do filósofo consiste em colocar as palavras do uso

quotidiano que expressam a “forma de vida da comunidade”. O resto da

sua obra é dedicado a aplicar o seu método linguístico a uma variedade de

problemas: toma conceitos da matemática ou da conversação ordinária,

separa as coisas paradoxais que dizemos de perplexidade filosófica, para

tentar dissipá-la, lembrando-nos o uso normal de conceitos, mediante os

usos reais e possíveis da linguagem em seus diversos contextos.

Crítica

Para Wittgenstein apud Briones (2002:34) a forma como usamos a

palavra Filosofia, reflecte uma luta contra o fascínio exercido sobre nós

pelas formas de expressão. Eu quero que você se lembre que as palavras

têm significados que nós as atribuímos mediante explicações. E pode-se

dar uma definição a uma palavra e utilizar a palavra de acordo com aquela

definição ou através da explicação que os que me ensinaram a palavra me

deram. Por explicação de uma palavra pode-se entender também a

explicação que damos quando se nos pergunta, ou seja, se estamos

dispostos a dar qualquer explicação; na maioria dos casos, não estamos.

Neste sentido, então, muitas palavras não têm significados estritos. Mas

isso não é um defeito. Acreditar que é, seria como dizer que a luz da

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minha lâmpada de mesa não é de modo algum qualquer luz real porque

não tem um limite preciso.

Os filósofos falam frequentemente em investigar e analisar o significado

das palavras. Mas não se esqueça que uma palavra não tem significado

dado, por assim dizer, por uma fonte independente de nós, por isso, de

modo que não há uma espécie de investigação científica sobre o que a

palavra realmente significa. A palavra tem o significado que alguém lhe

deu.

Há palavras com múltiplos significados claramente definidos. É fácil

classificar esses significados. E há palavras de que poderia dizer-se: se

utilizam de mil modos diferentes e vão mudando gradualmente de um

para outro. Não é surpreendente que não possamos estabelecer regras

rígidas de utilização.

É erróneo dizer que em filosofia consideramos uma linguagem ideal,

como oposta à nossa linguagem comum, isso faz transparecer a pretensão

de purificar a linguagem comum ou ordinária, mas a linguagem ordinária

é naturalmente perfeita. Quando elaboramos linguagens ideais, não é para

substituir a nossa língua comum, mas precisamente para eliminar alguma

dificuldade causada na mente de alguém pensando compreender o uso

exacto de uma palavra comum. Esta é também a razão pela qual o nosso

método não é simplesmente para listar os usos actuais de palavras, mas

sim em inventar deliberadamente novos, alguns deles por causa de sua

aparência absurda.

Resumo da lição

O método dialéctico exige ao pesquisador estudar o objecto em todos

seus aspectos e conexões, priorizando a essência do fenómeno, dar seu

quadro realista (realidade objectiva), mostrar tendências de

desenvolvimento e forças que o determinam; a análise completa dos

elementos e processos, suas propriedades, conexões e qualidades;

procurar as causas e motivos dos fenómenos e análise histórica concreta

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dos fenómenos e processos sociais. Enquanto que a hermenêutica tem

enfoque sobre a compressão, sendo que uma das principais dificuldades

para formar uma filosofia hermenêutica é que não há uma única

hermenêutica, ou seja, uma forma única de interpretação de símbolos da

linguagem, pois o significado das palavras se define pelo seu uso,

somente quando se sabe como elas são usadas tanto para interrogar,

descrever objectos, nomes, etc., pode-se dizer que se conhece e pode-se

falar uma determinada língua. Portanto, Os jogos linguísticos expressam

o “estilo de vida” de uma comunidade.

Bibliografia da Lição

BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias

sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.

GOMES, Rodrigues Raul. Introdução ao pensamento

histórico, Lisboa: Livros Horizonte, 1988

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:

Métodos e técnicas, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 1999.

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Auto-avaliação

da Unidade 2

1. Procure uma monografia de história já defendida e identifique os

métodos ou teorias utilizados na prossecução do trabalho (os

anunciados e os não anunciados na metodologia).

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe responder

a esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário releia o

texto e faça anotações novas.

2. Através dessa monografia disserte sobre a possibilidade do uso

singular de uma só teoria ou escola de pensamento.

2.1. Como investigador social, com qual ou quais das correntes se

identificaria. Porquê?

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem - lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário

releia o texto, faça anotações novas.

3. Quais as diferenças e semelhanças entre o empirismo e o realismo?

3.1. Qual é a doutrina filosófica que afirma que a razão e o

conhecimento são necessários para conhecer a realidade?

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe responder

esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário releia o

texto, faça anotações novas.

4. Quais as principais características da fenomenologia de Husserl?

4.1. Explique o objectivo final da abordagem de Husserl.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe responder

esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário releia o

texto, faça anotações novas.

5. Quais os momentos que se distinguem na filosofia da linguagem de

Wittgenestein? Caracterize os jogos linguísticos.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem - lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário

releia o texto, faça anotações novas.

6. Elabore um quadro sinóptico com os pontos fortes e fraquezas de

cada quadro de referência na pesquisa social.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe responder

esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário releia o

texto, faça anotações novas.

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Pág. 112 - 159

Conteúdos

3 U

NID

AD

E

Unidade 3: A construção Epistemologica das Ciências

Sociais

Lição n° 12: Métodos das Ciências Sociais 113

Lição n° 13: A explicação nas Ciências Sociais 125

Lição n° 14: A compreensão e Interpretação nas Ciências Sociais

Lição n° 15: Confiabiliodade e validade das investigações Sociais

A construção

epistemológica das

Ciências Sociais

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Unidade 3: A construção Epistemologica das Ciências Sociais

Introdução

Bom dia, boa tarde, boa noite conforme a hora em que iniciamos o

estudo da III unidade, em seguida apresento-lhe quatro lições sobre

a problemática da construção epistemológica das Ciências Sociais.

O espírito desta unidade é a necessidade de, você como pesquisador

particular das Ciências Sociais, depois de se posicionar

epistemologicamente ante o objecto ou fenómeno que deseja

estudar, escolher os métodos de procedimento e de abordagem

correspondentes e aprofundar o seu conhecimento sobre as

possibilidades de explicação, compressão, interpretação,

confiabilidade e validade da pesquisa social.

Objectivos da unidade

Ao terminar esta unidade deverá ser capaz de:

Descrever as regularidades da explicação nas Ciências Sociais

Explicar as teorias sobre a compreensão e interpretação nas

Ciências Sociais,

Analisar as possibilidades de confiabilidade e validade das

investigações sociais.

Tempo

Tempo de estudo da lição: 30 horas.

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Lição n° 12: Métodos das Ciências Sociais

Introdução

Bem-vindo à 12ª lição, cujo enfoque são os métodos a que correspondem

as correntes que estudou na II unidade. Os métodos que seguem, visam

conferir-lhe as bases lógicas da sua investigação e, por outro lado, indicar-

lhe os meios técnicos da sua investigação.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Objectivos

Caracterizar os principais métodos de abordagem e de

procedimento na pesquisa social;

Explicar a vinculação de cada método ao respectivo quadro de

referência.

Tempo

Tempo de estudo da lição: 05 horas.

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Métodos que operacionalizam os quadros de referência na

pesquisa social.

12.1. Métodos de procedimento (conferem as bases lógicas da

investigação).

Os procedimentos lógicos seguidos numa pesquisa científica são

desenvolvidos a partir de elevado grau de abstracção para decidir acerca

do alcance de sua investigação, das regras de explicação dos factos e da

validade de suas generalizações. Cada um dos métodos que seguem

vincula-se, como referi, a uma das correntes filosóficas que se propuseram

explicar como se processa o conhecimento da realidade social.

Dedutivo (inferência mediata vinculada no racionalismo).

Na acepção clássica, parte do geral ao particular, portanto, de princípios

reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a

conclusões de maneira puramente formal (em virtude apenas de sua

lógica). Segundo seus defensores (racionalistas, como Descartes, Leibniz

e Spinoza), só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro,

decorrente de princípios a priori, evidentes e irrecusáveis.

O protótipo do raciocínio dedutivo é o silogismo16

, que consiste numa

construção lógica que, a partir de duas preposições (premissas), retira uma

terceira, logicamente nelas implicadas (conclusão). Exemplo: todo

homem é mortal (premissa maior); Pedro é homem (premissa menor);

Logo, Pedro é mortal (conclusão).

Este método é mais usado nas Ciências Naturais e Matemáticas, nas

Ciências Sociais seu uso é bem mais restrito, sobretudo na economia têm

sido formuladas leis gerais como a lei da oferta e procura e a lei dos

rendimentos decrescentes (Adam Smith), mas considerá-las premissas

16 Provém de silogismo, dedução analítica ou formal descoberta por Aristóteles, por isso

é também conhecida por dedução aristotélica, ele contrasta com a dedução sintética

porque nesta a proposição deduzida não está contida na primeira. Exemplo: todo o

polígono com 3 lados iguais tem, necessariamente, 3 ângulos iguais.

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para deduções torna-se crítico porque estão envolvidos muitos factores

humanos formais e informais que reduzem sua infalibilidade.

Segundo Gil (1999:28), mesmo do ponto de vista puramente lógico, o

procedimento recebe duas importantes críticas:

Por ser puramente tautológico, permitindo concluir de forma diferente a

mesma coisa. Exemplo: quando se aceita que todo o homem é mortal,

colocar o caso particular de Pedro nada adiciona, pois essa característica

já esta na premissa maior.

Por ser um raciocínio apriorístico, porque parte de uma afirmação geral,

significa supor um conhecimento prévio, afirma-se que todo o homem é

mortal sem partir da observação repetida de casos particulares, é uma

afirmação previamente adoptada e não pode ser colocada em dúvida tal

como nos dogmas dos teólogos.

Indutivo (inferência mediata vinculada no empirismo).

Parte do particular e coloca a generalização como um produto posterior do

trabalho de colecta de dados particulares. A generalização não é buscada

aprioristicamente, mas constatada a partir da observação de casos

concretos suficientemente confirmadores dessa realidade. Segundo seus

defensores (os empiristas Francis Bacon17

, Thomas Hobbes, John Locke e

David Hume), o conhecimento é fundamentado exclusivamente na

experiência, sem considerar princípios preestabelecidos.

Este método parte da observação de factos e fenómenos cujas causas se

deseja conhecer; depois procura os comparar para descobrir as relações

entre eles e, por fim, procede a generalizações. Exemplo: António é

mortal, Benedito é mortal, Carlos é mortal, Ângelo é mortal; ora, António,

Benedito, Carlos…e Ângelo são homens; logo, (todos) os homens são

17 Diferentemente da indução sintética, formal ou enumeração completa, que nada

acrescenta ao saber das premissas ao enunciar todos os seres ou objectos com uma

mesma propriedade e inferir o que está indicado nas premissas, a indução amplificante,

chamada indução científica ou baconiana, de um número limitado de observações induz

uma conclusão que se aplica a um número infinito [?], isto é, amplifica o saber das

premissas.

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mortais. Como notas, a conclusão corresponde a uma verdade não contida

nas premissas, ela é verdadeira porque baseia-se em premissas também

verdadeiras e não apenas provável.

Com o advento do positivismo, a importância da indução foi reforçada e

passou a ser proposta também como método mais adequado para as

Ciências Sociais. Contribuindo para que os estudiosos da sociedade

abandonassem a postura especulativa e se inclinassem na observação.

Com os influxos da indução e foram definidas técnicas de colecta de

dados e elaborados instrumentos capazes de medir os fenómenos sociais.

Segundo Gil (1999:28) apesar do mérito, recebeu várias críticas: David

Hume (1711-1776) nega que possa transmitir a certeza e a evidência,

porque pode admitir que amanhã o sol não nasça, mesmo encoberto pelas

nuvens, mas suceder o contrário, crítica contornada pela teoria da

probabilidade, que permite indicar os graus de força de um argumento

indutivo. Outro crítico foi Karl Popper (1902-1994), proponente do

método que segue, em particular da explicação hipotético-dedutiva (13ª

lição).

Hipotético-dedutivo (vincula-se ao neopositivismo)

Karl Popper partiu da crítica à indução na sua obra A lógica da

investigação científica (1935), onde considera que o salto de alguns para

todos exigiria que a observação de factos isolados atingisse o infinito,

oque é impossível, seria necessário observar cada caso particular do

presente, do passado e do futuro para que o enunciado geral seja

realmente infinito, pois na realidade a soma dos casos concretos dá apenas

um número finito.

Conclui que a indução acaba caindo forçosamente no apriorismo, parte

sim de uma coerência metodológica, justificada dedutivamente. Ora, sua

justificação indutiva exigiria sua verificação factual o que significaria cair

numa petição de princípio, isto é, apoiar-se numa demonstração sobre a

tese que pretende demonstrar.

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Segundo Kaplan apud Gil (1999:30), no método hipotético-dedutivo o

pesquisador, através de uma observação cuidadosa, hábeis antecipações e

intuição científica, alcança um conjunto de postulados que governam os

fenómenos que lhe interessam, de onde vai deduzir as consequências por

meio da experimentação e, assim, refutar os postulados, substituindo por

outros. O itinerário seria: 1) Surgimento do problema – quando os

conhecimentos disponíveis sobre certo assunto são insuficientes; 2)

Formulação de conjecturas ou hipóteses – para tentar explicar a

dificuldade expressa no problema; 3) Dedução de consequências – a

partir das hipóteses formuladas, estas consequências devem ser testadas

ou falseadas ou tornadas falsas.

Repare que, enquanto o método dedutivo procura a todo o custo confirmar

a hipótese, o método hipotético-dedutivo, ao contrário, procura evidências

empíricas para derrubá-la e quando não as consegue implica a

corroboração com ela, que também é provisória, já que a qualquer

momento pode surgir um facto que a invalide.

Este procedimento tem notável aceitação nas Ciências Naturais e, nas

Ciências Sociais, a sua utilização é crítica pois nem sempre podem ser

deduzidas consequências observadas das hipóteses. Para Popper apud Gil

1999:31), as proposições derivadas da psicanálise ou do materialismo

histórico não apresentam condições para serem falseadas.

Dialéctico (vincula-se ao materialismo, concebido para a análise da

sociedade).

Da acepção de arte do diálogo, em Platão, o termo dialéctica evoluiu para

a de lógica com os medievais. Em Hegel a lógica e a história seguem uma

trajectória dialéctica, em que as contradições se transcendem, mas

resultam novas contradições que passam a requerer solução onde as ideias

têm hegemonia sobre a matéria. Marx., por seu turno, virou a dialéctica

para apresentá-la em bases materialistas, admitindo a hegemonia da

matéria sobre as ideias.

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Como estudou no capítulo II, a dialéctica marxista fornece as bases para

uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, já que estabelece

que os factos sociais não podem ser entendidos quando considerados

isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, económicas,

culturais, etc. note que a dialéctica privilegia as mudanças qualitativas,

opondo-se a qualquer modo de pensar que considera a ordem quantitativa

como norma.

Fenomenológico (vincula-se à fenomenologia)

Com este método Edmund Husserl (1859-1938) propunha-se estabelecer

uma base segura, liberta de proposições, para todas as ciências, ele

considera ingénuas as certezas positivas que permeiam o discurso das

ciências empíricas. Considera que a suprema fonte de todas as afirmações

racionais é a consciência doadora originária, por isso a primeira regra

fundamental é avançar para as próprias coisas (dados, fenómenos), aquilo

que é visto diante da consciência, não se preocupando com o

desconhecido que esteja atrás do fenómeno, visa só o dado se indagar se

este é aparente ou real.

A fenomenologia não é dedutiva nem indutiva, ela mostra o que é dado e

esclarece esse dado, não explica mediante leis e princípios, mas considera

imediatamente o que está presente à consciência – o objecto, interessa-lhe

logo não o conceito subjectivo, nem uma catividade do sujeito, mas, oque

é sabido, duvidado, amado, odiado, etc. (Bochenski apud Gil,1999:32).

Este procedimento visa proporcionar uma descrição directa da experiência

tal como ela é, sem nenhuma consideração sobre a sua génese psicológica

e das explicações causais que o estudioso pode dar, para isso, é necessário

orientar-se àquilo que é dado directamente pela consciência, excluindo

tudo aquilo que pode modifica-la, como o subjectivo do pesquisador e o

objectivo pois, não é oferecido realmente pelo fenómeno em estudo.

Para este procedimento, a realidade não é algo objectivo e passível de ser

explicado como um conhecimento que privilegia explicações em termos

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de causa e efeito, mas, oque emerge da intencionalidade da consciência,

voltada para o fenómeno – a realidade é o compreendido, o interpretado, o

comunicado, daí que, não há uma única realidade, mas tantas quantas

forem suas interpretações e comunicações (Bicudo apud Gil, 1999:33).

Dentre as várias críticas, de que é alvo, a mais importante é a que não

revela a historicidade dos fenómenos.

12.2. Métodos de abordagem (Indicam os meios técnicos da

investigação).

São os que visam proporcionar ao investigador meios técnicos para

garantir a objectividade e precisão no estudo dos factos sociais, fornecem

a orientação necessária para a realização da pesquisa social, no referente à

obtenção, processamento e validação dos dados pertinentes à

problemática em estudo. A seguir são apresentados os métodos mais

adoptados nas Ciências Sociais, mas alguns autores ampliam a lista

incluindo o método do questionário, o da entrevista, dos testes e outros,

considerando como método os procedimentos específicos de colecta de

dados. Ora, o contraste entre método e técnica reside no grau, sendo que

aqui se operacionaliza método como conjunto de procedimentos gerais

para possibilitar o desenvolvimento de parte significativa de uma

investigação científica, onde estão inclusos, no degrau inferior, os

procedimentos particulares de busca de dados.

Experimental

Consiste em submeter os objectos de estudo à influência de certas

variáveis, em condições controladas e conhecidas pelo investigador, para

observar os resultados que a variável produz no objecto. É por excelência

das Ciências Naturais, aplicado com limitações nas Ciências Sociais

devido a considerações éticas e étnicas. Segundo Giddens (2004:652) só

se pode levar pequenos grupos de pessoas para um laboratório social,

nessa situação sabem que estão a ser estudadas e comportar-se-ão de

modo diferente do normal – é o efeito de Hawthorne.

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Contudo, estes métodos podem ser aplicados com sucesso, tal como foi o

caso da realizada por Philip Zimbardo que montou uma prisão simulada,

atribuindo a alunos voluntários os papéis de guardas prisionais e

prisioneiros, querendo ver até que ponto o desempenho destes papéis

conduzia a mudanças de atitude e de comportamento. Teve que

interromper a experiência pelo alto nível de tensão resultante: os guardas

assumiam uma atitude autoritária, demostrando hostilidade aos presos,

dando-lhes ordens, agredindo-lhes verbalmente e maltratando-os e os

presos exibindo uma atitude de apatia e rebeldia. Concluiu que o

comportamento nas prisões [escolas] é mais influenciado pela natureza da

própria situação de estar preso do que pelas características individuais dos

envolvidos (Giddens,2004:652).

Observacional

É dos mais usados nas Ciências Sociais, curiosamente pode ser

considerado como o mais primitivo e impreciso, mas simultaneamente, o

mais moderno, pois possibilita o mais elevado grau de precisão nas

Ciências Sociais. Por isso em Psicologia procedimentos observacionais

são aplicados como próximos dos experimentais, diferendo destes apenas

no facto de nos experimentos o estudioso tomar providências para que

alguma coisa ocorra, a fim de observar que segue, enquanto na

observação apenas observa algo que acontece ou já aconteceu.

Retenha-se que qualquer investigação em Ciências Sociais, seja qual for o

método deve valer-se, em mais de um momento de procedimentos

observacionais, com ou sem protocolo rígido (inquérito, questionário e

observação participante).

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Actividade

Elabore um sinopse caracterizando a pesquisa documental, o inquérito, a

entrevista e a observação participante, onde assinale suas vantagens e

limitações.

Se nas suas notas conseguiu sublinhar os elementos demarcados pelo

quadro sinóptico que segue, está de parabéns, caso contrário releia as

lições, por outro lado, a leitura a Giddens (2004:655) e Gil

(1999:100/166) lhe conferirá interessantes informações para o sinopse.

TIPOS DE PESQUISA

CARACTERÍSTI

CAS

AVALIAÇÃO

VANTAGENS LIMITAÇÕES

Pesquisa documental

Inquérito

Entrevista

Observação participante

Comparativo

Procede uma investigação de indivíduos, classes, fenómenos ou factos,

visando ressaltar as diferenças e similaridades entre eles. É amplamente

usado pelas Ciências Sociais por possibilitar a comparação de grandes

agrupamentos sociais separados no tempo e no espaço, comparar

diferentes culturas, sistemas políticos ou envolvendo padrões de

comportamento familiar ou religioso de épocas diferentes, servindo

satisfatoriamente as exigências da abordagem popperiana e marxista.

Apesar de algumas vezes ser visto como superficial, há situações em que

seus procedimentos são desenvolvidos com rigoroso controlo e seus

resultados proporcionarem elevado grau de generalização.

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Estatístico

Este fundamenta-se na aplicação da teoria estatística da probabilidade e

constitui um importante auxílio à pesquisa social, mas as explicações

derivadas não podem ser consideradas absolutamente verdadeiras, mas

dotadas de boa probabilidade de serem verdadeiras [daí que Triola (1999)

adverte-nos que os números não mentem, os mentirosos fabricam os

números, usando a estatística como o bêbado utiliza o poste de energia

para se apoiar].

Segundo Gil (1999:35), mediante testes estatísticos18

é possível

determinar numericamente, a probidade de acerto de determinada

conclusão bem como a margem de erro de um valor obtido, este método

caracteriza-se pelo razoável grau de precisão, muito aceite por

pesquisadores com preocupações quantitativas, pois fornecem

considerável reforço às conclusões obtidas através da experimentação e

observação19

.

Clínico

Apoia-se numa relação profunda entre o pesquisador e o pesquisado, na

pesquisa psicológica tornou-se importante depois da pesquisa de Freud

dos determinantes inconscientes do comportamento. Este método exige

muitos cuidados na proposta de generalizações porque se apoia em casos

individuais e envolve experiências subjectivas. Sua aplicação na análise

política resultou no behaviourismo político de Easton

(Pasquino,2010:14/26).

Monográfico

Sustenta que o estudo de um caso em profundidade pode ser

representativo de muitos outros ou mesmo de casos semelhantes, sejam

18 Um dos estudos particularizado dos testes na pesquisa social pertence a Gil

(1999:150/), cujos requisitos são a validade, precisão, padronização e aferição.

19 Giddens (2004:658/9) caracteriza alguns termos estatísticos mais usados na pesquisa

social.

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123

eles individuas, instituições, grupos, comunidades, etc. Nele está

subjacente a ideia de generalização a partir de um caso particular.

Histórico

Reflecte as preocupações do materialismo, sobretudo histórico, ao abordar

a evolução do factos analisados através da retrospectiva dos

acontecimentos, processos e instituições para avaliar sua incidência no

presente. Com este método, buscam-se as raízes dos fenómenos totais que

envolvem o assunto em análise. Este modo é objecto de aprofundamento

na cadeira de Introdução à História, onde são considerados autores com

Lopes (1970:143-150), Adam (2000), Gomes (1988), Nouschi (1986),

Coliingwood (2001), entre outros.

Concluindo, retenha-se que nem sempre um método é adoptado rigorosa

ou exclusivamente numa pesquisa, é frequente dois ou mais métodos

serem combinados, porque nem sempre um único método é suficiente

para orientar todos os procedimentos desenvolvidos ao longo da

investigação (Gil,1999:33). Sobre isto Giddens (2000:655) adverte que a

investigação no “mundo” real é muito diferente dos métodos tal como são

explicados nos livros, muitas vezes o investigador pode perceber que as

ferramentas escolhidas têm um valor limitado para o tema que estuda, há

casos em que percebe que não previu certas dificuldades de acesso a uma

população ou seus instrumentos de recolha não são exequíveis, exigindo-

se aí flexibilidade de combinar vários métodos numa, usando cada um

deles para completar e testar os outros, processo chamado triangulação.

Resumo da lição

Prezado estudante retenha que os métodos de procedimento conferem as

bases lógicas da investigação, isto é, os procedimentos lógicos seguidos

numa pesquisa científica são desenvolvidos a partir de elevado grau de

abstracção para decidir acerca do alcance de sua investigação, das regras

de explicação dos factos e da validade de suas generalizações. Por outro

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124

lado, os métodos de abordagem indicam os meios técnicos da

investigação, são visam proporcionar ao investigador meios técnicos

para garantir objectividade e precisão no estudo dos factos sociais,

fornecem a orientação necessária para a realização da pesquisa social,

no referente à obtenção, processamento e validação dos dados

pertinentes à problemática em estudo

Bibliografia da Lição

ADAM, Schaff. História e verdade, 3ª edição, Lisboa:

Editorial Estampa, 2000.

COLLINGWOOOD, R.G. A ideia de história, Lisboa:

Presença, 2001.

GIDDENS, Anthony. Sociologia, Lisboa: Callouse

Gulbenkian, 2004.

GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa

social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.

GOMES, Rodrigues Raul. Introdução ao pensamento

histórico, Lisboa: Livros Horizonte, 1988.

LOPES, J. Marques, Curso de Filosofia, sl: Didáctica

editora, 1970.

NOUSCHI, André, Iniciação às ciências históricas,

Coimbra: Almedina, 1986.

PASQUINO, Giafranco. Curso de ciência política, 2ª

edição, Portugal: Principia, 2010.

Auto-avaliação

Agora pretendemos encerrar esta 12ª lição e não teríamos melhor forma de

fazê-lo se não verificarmos o que se conseguiu reter e que podemos aplicar

em situações da realidade social. Então, veja se sabe:

I. Idealize um tema de história para sua monografia e identifique,

justificando, os métodos de abordagem e de procedimento que

seriam adequados.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe responder

esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário releia o

texto, faça anotações novas sobre métodos de procedimento e de

abordagem do tema que idealizou para sua monografia

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125

Lição n° 13: A explicação nas Ciências Sociais

Introdução

Bem-vindo à 13ª lição, cujo enfoque são as lógicas da explicação de

factos e fenómenos sociais, na óptica de Comte, Marx, Durkheim,

Malinowski, Popper, Lazarsfeld e Merton.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Objectivos

Descrever a explicação buscando leis invariáveis em

Comte;

Caracterizar a explicação dialéctica de Marx;

Caracterizar a explicação causal de Durkheim;

Demonstrar a explicação funcionalista em Malinowski e

Merton;

Descrever a explicação hipotético-dedutiva ou

racionalismo crítico de Popper;

Interpretar a explicação estatística e factor de prova em

Lazarsfeld;

Descrever a explicação sociológica ou ruptura

epistemológica em Bourdieu;

Descrever a explicações a posterior ou post-factum em

Merton.

Tempo

Tempo de estudo da lição: 10 horas.

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126

Modelos de explicação dos fenómenos sociais.

13.1. A busca de leis invariáveis

August Comte (1798-1857) nas suas obras “Curso de filosofia positiva”

e “Discurso sobre o espírito positivo”, não reconhece a necessidade de

variação entre as Ciências Naturais e Sociais, para além de defender um

absolutismo na explicação científica, ao considerar que o verdadeiro

conhecimento é proporcionado pelas ciências.

Para ele todas as ciências devem usar o mesmo método para explicar os

fenómenos que estudam, o método das ciências exactas físico-

matemáticas, formula uma série de leis invariáveis baseadas em meras

especulações, entre elas a lei dos três estágios, para a qual o

desenvolvimento da mente, o conhecimento e a história passavam pelos

estágios teológico, metafísico e positivo, neste os investigadores buscam

leis invariáveis em todos os ramos da ciência, obtidas mediante a

teorização abstracta, que irão progressivamente ser substituídas por leis

mais concretas. Considera uma concepção unificada das ciências, todas

provendo de um tronco comum, a saber: 1º Matemática, como a mais

geral; 2º Astronomia; 3º Física; 4º Química, 5º Biologia e, por fim, a

Sociologia ou Física Social.

13.2. A explicação dialéctica

Karl Marx (1818-1882) no prólogo da obra “Contribuição à crítica da

economia política” apresenta o método da explicação dialéctica; na obra

“Elementos fundamentais da crítica à economia política”, estuda o

método da economia política; na obra “O capital” estuda a essência da

exploração capitalista e na obra “Miséria da filosofia e ideologia alemã”

apresenta diversas considerações metodológicas.

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A explicação, em Marx, distingue a realidade concreta do pensamento que

se projecta sobre essa realidade, ela está compreendida dentro do método,

no qual reconhece a primazia do real sobre o pensamento: o concreto não

é produto do pensamento, mas o objecto real que aparece na mente é

produto do pensamento que é a única maneira de apropriar-se a realidade

concreta. Na explicação marxista não é possível separar os valores do

investigador dos assuntos ou fenómenos sociais que ele estuda.

Toda a realidade social está submetida no movimento dialéctico, que

significa um processo permanente de contradições (por exemplo: entre as

forças produtivas e as relações de produção; entre a burguesia e

proletariado), esse processo é, considerando as circunstâncias históricas

concertas, oque deveria formar o objecto geral a ser explicado pelas

Ciências Sociais – descobrir a lei que preside o movimento da sociedade.

Sobre as relações entre a realidade concreta e a consciência e sobre as

contradições que se dão no desenvolvimento da História Social, Marx

disse:

“Na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas

relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de

produção que correspondem a uma determinada fase do

desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto

destas relações forma a estrutura económica da sociedade, a base real

sobre a que se levanta superestrutura jurídica e política e que

corresponde determinadas formas de consciência social. O modo de

produção da vida material condiciona o processo da vida social,

política, espiritual, em geral. Não é a consciência do homem que

determina o seu ser, senão, pelo contrário, o ser social é que

determina sua consciência”

Ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento, as forças

produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações

de produção existentes, com as relações de propriedade e se abre assim

uma época de revolução social. Ao mudar a base económica se

revoluciona, mais ou menos, rapidamente toda a imensa superstrutura

erguida sobre ela.

No processo dialéctico de acções e contradições, os fenómenos sociais

estão relacionados entre si numa causalidade dialéctica, segundo a qual

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um dos elos pode ser a causa do outro e, por sua vez este pode actuar

sobre a sua causa (causalidade recíproca).

13.3. A explicação das causas

Considerando as obras de Émile Durkheim (1858-1917), “As regras do

método sociológico”; “O suicídio”; “Da divisão do trabalho social” e “As

formas elementares da vida religiosa”, ele ergue-se como principal

representante do paradigma positivista nas Ciências Sociais, um empirista

e realista decidido, diferentemente de seu mentor Comte.

Para Durkheim, a explicação do social faz-se a partir de suas causas e o

ponto de partida do seu pensamento é o conceito de facto social, definido

como as maneiras de actuar, de pensar e de sentir dotadas de um poder de

coerção em virtude do que se impõe.

Distingue nitidamente facto/fenómenos materiais e imateriais, estes, com

suas características de coerção constituem o objecto de estudo da

sociologia: correspondem aos valores e normas internalizadas cuja

coerção consiste em que o seu não cumprimento leva a algum grau de

menor ou mais sanção social.

Para ele, os factos sociais devem explicar-se por outros factos sociais. A

explicação compreende tanto a causa que a produz como a função

que cumpre.

Na obra O Suicídio aplicou as regras metodológicas do que se reconhece

como modelo histórico do modelo causal multivariado [pode ler Aron

(2010:331)].

O seu conceito de função social (contribuição mais ou menos de certo

pacto social/ p. ex: o castigo) estabelece relações com a estrutura social,

antecedente directo do Funcionalismo.

13.4. A explicação funcionalista

Bronislaw Malinowski, junto de Radcliff Brown, é

considerado um dos principais antropólogos

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funcionalista e suas obras são “Enciclopédia britânica”

e “A teoria científica da cultura”

O funcionalismo tem uma longa tradição em Ciências Sociais, que

emprestaram o conceito “função” da Biologia. Para Malinowski, a análise

funcionalista de uma cultura explica os factos antropológicos em todos os

níveis de desenvolvimento, pelo papel que desempenham dentro do

sistema total da cultura, pela maneira como se relacionam entre si dentro

do sistema e pela maneira como este sistema se relaciona com o mundo

físico.

O ponto de vista funcional da cultura insiste no princípio de que todo o

tipo de civilização, todo o hábito, todo o objecto material, toda a ideia e

toda a crença, cumpre alguma função vital, tem alguma tarefa a realizar,

representa uma parte indispensável dentro de um todo em funcionamento.

Outro autor funcionalista sugerido pelo plano temático

é Thomas Merton autor da obra “Teoria social e

estrutura social”, cuja principal contribuição na análise

social foram os conceitos de “funções manifestas”, isto

é, as consequências objectivas que contribuíram para o

ajuste ou adaptação do sistema, as quais são realizadas

e conhecidas pelos membros e as “funções latentes”

que não são buscadas intencionalmente, nem

reconhecidas pelos membros do respectivo sistema

social.

Sobre o funcionalismo com método de investigação e de explicação em

Ciências Sociais, Morton apresenta um marco conceptual que denomina

de paradigma para a análise funcional em Sociologia, visando pôr em

ordem e clareza teórica e metodológica esse campo, mediante a análise de

onze conceitos básicos:

Os objectos sociais e culturais que podem ser considerados

na análise funcional;

O significado das disposições subjectivas;

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Os conceitos de consequências objectivas, isto é, as

funções e disfunções;

Unidades sociais afectadas pelas funções;

Conceito de pré-requisitos funcionais;

Conceito de mecanismos sociais pelos quais se exercitam

as funções;

Conceito de alternativas funcionais;

Obstáculos às funções;

Conceito de dinâmicas e trocas;

Conceito de validação das análises funcionais;

Problemas das implicações ideológicas da análise

funcional.

13.5. A explicação hipotético-dedutiva ou racionalismo

crítico

É patrocinada por Karl Popper, cujas principais obras são, as já referidas,

“A lógica da investigação científica”, “Conjunturas de refutação”, “O

conhecimento objectivo” e “Miséria do historicismo”. Seu pensamento

epistemológico, pertence tanto ao realismo, como ao empirismo, ao

racionalismo e mesmo ao positivismo lógico, para alguns teóricos. Popper

defende a existência de um mundo objectivo externo à consciência

(realismo científico)

Na sua crítica ao subjectivismo (nada existe se não pensar nesse algo),

apresenta os seguintes argumentos a favor do realismo:

Toda a pessoa pode constatar que sua vida está dirigida a actuar

sobre a realidade exterior, seja no contexto da vida quotidiana ou

na actividade científica;

Sempre se dirige a algo que se considera externo ao indivíduo;

Ademais, o problema da verdade e da falsidade de nossas opiniões

e teorias não teria nenhum sentido se não aludisse uma realidade

externa.

Sobre o conceito de teoria, considera que as ciências empíricas são

sistemas de teorias (enunciados universais que cobrem todos os casos a

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131

que dizem respeito), portanto, sempre escapam muitos fenómenos e

características da realidade em estudo. Enquanto, nas Ciências Sociais, ele

refuta o historicismo como método para prever o desenvolvimento da

sociedade (por exemplo. o marxismo), para ele, as Ciências Sociais não

podem formular profecias históricas de longo alcance. Sugere o método

dedutivo para propor soluções a problemas como pobreza, analfabetismo,

opressão política, etc., portanto uma metodologia que permita o

desenvolvimento de uma “ciência social tecnológica” (teleológica),

uma actividade de “engenharia social” que projectaria as instituições

sociais e reconstruiria as existentes.

Considera o método científico como o único para estudar fenómenos

naturais e sociais, sem prejuízo de reconhecer diferenças na sua aplicação,

no fundo tal método permite explicações dedutivas da estrutura e das

relações sociais.

13.6. A explicação estatística e o factor de prova ou variável

antecedente.

Paul Lazarsfeld escreveu várias obras com outros autores, as mais

importantes são : The logig of survey analysis, com Moris Rosenberg);

Discriptive statistics for sociologists, com Herman Loethar) e La

estruturas de la ciência, com Ernest Nagel.

Esta forma de explicar fenómenos e factos consiste em, quando uma

variável (fenómeno) estiver associada a outra variável, a primeira explica

a segunda se antecede a esta e existindo uma associação mais ou menos

forte entre elas. Por exemplo: se temos uma correlação de 0,76 entre

níveis académicos e salários, significa que a educação será a causa dos

maiores ou menores salários entre as pessoas, isto é, maior educação

maior salário.

A explicação estatística usa o quadro de correlação chamado “coeficiente

de determinação” como procedimento de explicação: correlações

múltiplas, percentagens, factor de prova ou variável antecedente.

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Sobre o facto de prova ou variável antecedente, Lazarsfeld diz que se os

dados recolhidos numa investigação mostram que as pessoas com maior

informação política (variável independente) votam (variável dependente)

em maior proporção as que têm menor informação política, se pode dizer,

do ponto de vista estatístico que a informação explica a disposição de

votar. Porque é assim? As pessoas com maior informação têm também

maior educação (variável antecedente), esta cumpre uma função

explicativa ou causal se se cumprirem as condições seguintes:

As três variáveis devem estar relacionadas entre si;

Quando se controla a variável antecedente a relação

entre a variável independente e a variável dependente

não deve desaparecer;

Quando se controla a variável independente, a relação

entre a variável antecedente e a variável dependente

deve desaparecer.

13.7. Explicação sociológica ou ruptura epistemológica.

O francês Pierre Bourdieu é considerado discípulo fiel de Gaston

Bachelard, da corrente do “racionalismo aplicado”, conjuntamente com

os compatriotas Jean Claude Chamboredon e Jean Claude Passeron.

Todos adoptam o preceito metodológico do seu mestre: “A ruptura e a

vigilância epistemológica”. São obras de Bourdieu, “O ofício do

sociólogo”.

A ruptura epistemológica em Bourdieu, significa a necessidade de ao

estudarmos um certo fenómeno social, rompermos com as opiniões do

senso comum (pré-noções, ideologias, tradições intelectuais…). Esta

tarefa constitui um novo espírito científico e cumpre-se com a vigilância

da razão, com a vigilância epistemológica que permite passar de um

conhecimento menos verdadeiro a um conhecimento mais verdadeiro ou

“melhor construído” pelo investigador [note que não se diz

completamente verdadeiro]. Esta atitude permite afastarmo-nos do tipo de

empirismo ingénuo, para o qual, se pode ter um conhecimento directo e

imediato do objecto investigado.

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133

Ora, isto não implica que renunciemos antecipadamente a regra de

Durkheim (todo o fenómeno social deve ser explicado pelo social e só

pelo social), mas, pelo contrário buscar uma explicação sociológica a todo

o facto social estudado, esgotando todas as possibilidades, evitando ser

tentado a buscar explicações biológicas ou fisiológicas como alternativas

para explicar o social.

13.8. Explicações a posterior ou post-factum

Thomas Merton, funcionalista e criador dos conceitos de função

manifesta e função latente, na já citada obra Teoria e estrutura social,

defende que as explicações post-factum são as explicações de alguns

resultados através de hipóteses formuladas no fim da investigação a fim

de dar cunho teórico a tais resultados.

Por exemplo, numa pesquisa que percebemos que as pessoas

desempregadas lêem menos que as empregadas porque, nas primeiras, a

ansiedade que lhes provoca a sua situação de desocupação lhes impede a

concentração e a busca da satisfação na leitura. Esta hipótese para ter

valor explicativo, deve incluir a construção empírica e, porque se formula

a posteriori, só pode ser considerada hipótese plausível, isto é, pode ou

não ser verdadeira.

Resumo da lição

A explicação de fenómenos sociais deve ser vista na sua

natureza polissémica, ela toma várias perspectivas em função da

natureza do problema, dos objectivos da pesquisa e da hipótese a

validar podendo variar desde explicação dialéctica, causal,

funcionalista, hipotético-dedutiva, estatística, sociológica ou

ruptura epistemológica e a posterior. Ora uma boa escolha e

combinação dos modelos explicativos deverá permitir uma boa

redacção. Ora, embora exista uma variação as propostas,

basicamente, concordam que a explicação deve ser feita na

identificação das causas associadas ao fenómeno ou sua dedução

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134

a partir das proposições de uma teoria, excepto na explicação

funcionalista.

Bibliografia da Lição

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico,

9ª edição, Portugal: Dom Quixote, 2010.

BARATA, Óscar Soares. Introdução às ciências sociais,

11ª edição, Viseu: Bertrand, 2004

BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias

sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.

Auto-avaliação

Agora pretendemos encerrar esta 13ª lição e não teríamos melhor

forma de fazê-lo se não verificarmos o que se conseguiu reter e que

podemos aplicar em situações da realidade social. Então, veja se

sabe:

I. Com o mesmo tema da hipotética monografia que

criaste na actividade da aula anterior, ensaie as

diversas possibilidades explicativas abordadas nesta

aula..

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder a esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas.

TEMA DA “MONOGRAFIA”:

__________________________________________________________________________________

Modelo explicativo Exemplo explicativo, segundo o modelo

Leis invariáveis

Dialéctica

Causal

Funcionalista

Hipotético-dedutiva

Estatística e factor de prova

Ruptura epistemológica

post-factum

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135

Lição n° 14: A compreensão e Interpretação nas Ciências Sociais

Introdução

Bem-vindo à 14ª lição, cujo enfoque é a compreensão e a interpretação

dos fenómenos sócias

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Objectivos

Descrever as singularidades da compressão das expressões

culturais na pesquisa social, em Dilthey;

Compreender a explicação buscando singularidades das

ciências culturais e históricas, em Richert;

Compreender o mundo social sem eliminar a integridade

subjectiva dos actores na óptica dos tipos ideais de

Webber;

Interpretar a intersubjectividade na explicação dos

fenómenos sociais, em Schutz;

Compreender a particular objectividade e o carácter

totalitário na explicação do social, em Goldmann;

Interpretar a linguagem o nexo indispensável entre a

linguagem, as ideias e os conceitos com as relações

sociais, na compressão e explicação dos fenómenos

sociais, em Winch;

Caracterizar a dupla hermenêutica na compressão do

social, em Giddens: em parte, por se lidar com um

universo já construído dentro de estruturas e significados

e, por outro lado, por o estudioso os interpretar dentro de

seus próprios esquemas teóricos e culturais;

Compreender a explicação através das interpretações que

os actores atribuem às suas próprias condutas e às

condutas dos outros, em Blumer.

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136

Tempo

Tempo de estudo da lição: 10 horas.

Modelos de compressão e interpretação dos

fenómenos sociais

Caro estudante, repare que a explicação, à semelhança da análise, são

dependentes da compreensão do facto ou fenómeno em estudo, a

diferença é porque a análise incide sobre dados (estatística e razão),

enquanto a explicação é de cariz racional, mas ambas dependem da

compreensão.

Na aula anterior, discutimos várias propostas de construção das

Ciências Sociais como ciências explicativas. Vimos que, embora

exista uma variação as propostas, basicamente, concordam que a

explicação deve ser feita na identificação das causas associadas ao

fenómeno ou sua dedução a partir das proposições de uma teoria,

excepto na explicação funcionalista.

Como constatas, nesta aula trazemos um outro extremo da construção

das Ciências Sociais, que se propõe torná-las ciências compreensíveis

ou interpretativas. Mas, contrariamente à proposta explicativa, não

existe uma unanimidade nos conceitos de compreensão ou

interpretação, como mostra a comparação dos principais

representantes desta alternativa:

14.1. As ciências do espírito ou humanas

Para Briones (2002:57), é provável que a 1ª reacção à proposta de

construção das Ciências Sociais explicativas, tomando como modelo

para a sua estruturação e metodologia as Ciências Naturais, tenha

sido do filósofo Hegel Wilhelm Dilthey (1833-1911), guru da

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137

hermenêutica.

Para ele as ciências do espírito, como a história e outras disciplinas

que lidam com a cultura, devem ter uma base epistemológica

diferente das Ciências Naturais, porque enquanto lidam com

significados culturais, as Ciências Naturais se referem e estudam o

eixo oposto. Confrontado com a explicação positivista, que para ele

visa no fundo as Ciências Naturais, as Ciências do Espírito devem

buscar a compreensão das expressões culturais. Esta compreensão é

possível porque o objecto de estudo não é algo externo ao homem,

mas parte de sua experiência como realidades espirituais ou culturais

criadas pelo próprio homem ao longo da história. No campo formado

por tais realidades, o homem se encontra em um mundo que é

característico de sua essência e pode, por conseguinte, obter a sua

compreensão.

14.2. Ciência Cultural e Ciência Natural

A principal preocupação epistemológica do filósofo alemão Heinrich

Rickert (1863 - 1936) é encontrar a diferença básica entre as

Ciências Naturais e, o que chama, ciências culturais, tema a que

dedicou o seu livro A ciência cultural e ciência natural (1910).

Encontra tal diferença nos distintos métodos utilizados por cada um

destes tipos de ciência. Para Rickert, as Ciências Naturais empregam

o método de generalizador, constituído por conjuntos procedimentos

que procuram o conhecimento geral dos objectos para quem a sua

investigação é dirigida:

Conhecer a natureza significará (...) formar com elementos universais conceitos

universais, e, quando seja possível, pronunciar princípios universais (juízos) sobre

a realidade, isto é, descobrir conceitos de leis naturais, cuja essência lógica não

contêm nada do que se encontre em tal ou qual processo singular e individual.

Em suma: as Ciências Naturais são, para Rickert, disciplinas que

buscam a formulação de generalizações sobre os objectos em estudo,

ou seja, procuraram a formular leis, o que na designação de

Windelband, são ciências nomotéticas.

Agora podemos perguntar: Qual é o método particular das ciências

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culturais? A resposta de Rickert é como se segue: é o método

individualizador ou método ideográfico. As ciências culturais ou

históricas, no geral, não procuram generalizações não se destinam a

formular leis :sua tarefa consiste na busca de singularidades, dos

aspectos particulares que individualizam um determinado fenómeno.

14.3. Os tipos ideais

Max Weber (1864-1920) chamou de compreensão ao procedimento

de apreensão empírica do sentido finalista de uma acção oriunda,

parcial ou inteiramente, de motivações racionais. Com este

argumento sustenta sua oposição à utilização dos métodos das

ciências naturais no estudo da sociedade. A compreensão envolve

uma reconstrução no sentido subjectivo original da acção e o

reconhecimento da parcialidade da visão do observador

(Gil,1999:39).

Weber distingue entre compreensão actual e compreensão explicativa

e considera importante que os cientistas sociais apreendam o mundo

social sem eliminar a integridade subjectiva dos actores que atribuem

significado, para tal desenvolve o conceito de “tipo ideal”,

constituído pela acentuação unilateral de um ou mais pontos de vista

e pela síntese de um grande número de fenómenos concretos

individuais, difusos, discretos, mais ou menos presentes e

ocasionalmente ausentes, organizados de acordo com os pontos de

vista unilateralmente acentuados numa construção analítica

acentuada. Em sua pureza conceptual, essa construção mental não

pode ser encontrada em parte alguma da realidade.

Os “tipos ideais” contém os caracteres empíricos essenciais do

fenómeno concreto e podem ser utilizados como instrumentos

científicos na ordenação sociológica da realidade. O próprio Weber,

ao analisar a legitimidade, estabelece três tipos ideias:

1º Do domínio legal (cujo fundamento é a crença na validade dos

regulamentos estabelecidos racionalmente e na legitimidade dos

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139

chefes designados);

2º No domínio tradicional (fundamentado na crença da sacralidade

das tradições e na legitimidade dos que assumem o poder em função

do costume;

3º No domínio carismático (baseado no abandono dos membros ao

valor pessoal de um homem que se distingue por sua santidade ou

heroísmo).

Estres três tipos ideais representam um factor de inteligibilidade dos

fenómenos, usuais para quem quiser estudar a legitimação da

autoridade em qualquer sociedade como recurso para descrever a

realidade empírica.

14.4. As bases fenomenológicas das Ciências Sociais.

A obra do filósofo alemão Alfred Schutz é dedicada à construção de

uma Sociologia sobre bases fenomenológicas, de acordo com as teses

de Husserl, tal é evidente na sua principal obra intitulada “O

problema da realidade social”.

A Sociologia fenomenológica de Schutz centra-se sobre o fenómeno

da intersubjectividade. Ele estudou este fenómeno levantando

questões, tais como: como é que sabemos o conteúdo da mente de

outras pessoas? Como eu conheço os outros? Como procede a

reciprocidade de perspectivas entre pessoas diferentes? Como ocorre

a compreensão e a comunicação entre as pessoas? Diferentemente de

Husserl, que estudou a intersubjectividade na própria consciência,

Schutz o faz no mundo social.

O mundo intersubjectivo, diz Schutz apud Briones (2002:62), não é

um mundo privado. Pelo contrário, é comum para todos os homens,

todos podem ter a experiência da intersubjectividade. Ela existe no

presente “vivido” no qual falamos e nos escutamos uns aos outros.

Citando o autor: Esta simultaneidade (que ocorre na interacção entre

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140

pessoas), é a essência da intersubjectividade e significa que nela

capta a subjectividade do ego, ao mesmo tempo que vivo em mim

próprio fluo em consciência.

No que foi dito atrás, deve ficar claro que não é interesse de Schutz a

interacção física entre pessoas, se não como se compreendem

reciprocamente suas consciências, a maneira como se relacionam

intersubjetivamente umas com outras, como se estabelece o

significado e a compreensão no seio das pessoas, como decorrem os

processos de interpretação das condutas dos outros, e, finalmente,

como se processa a própria auto-interpretação. Na sequência do

exposto está o postulado segundo o qual todos os conceitos que

podem construir as Ciências Sociais [Naturais e Matemáticas

também], são baseados no conhecimento comum, não na experiência

realizada por uma pessoa singular, mas na riqueza de conhecimentos

e interpretações de nossos predecessores que nos entregaram como

um mundo organizado.

Na vida quotidiana todas as pessoas usam formulários padronizados

para agir e para nomear objectos com os quais lidam. Para Schutz

apud Briones (2002: 63): todas as pessoas tendem a tipificar as

situações que ocorrem em sua experiência diária através o uso de

categorias em que colocamos as pessoas, coisas e nós mesmos. Por

exemplo, quando nos apresentam uma pessoa pela primeira vez,

dizemos “gostei muito de conhecê-lo” ou aplicamos o nome padrão

quando nos referimos a um objecto particular: assim chamamos de

“casa” ao que assim é denominado na nossa sociedade. Em geral, as

tipificações que usamos estão na linguagem e, por conseguinte,

grande parte da socialização verbal consiste na aprendizagem de

“etiquetas” ou rótulos postos nas coisas, pessoas ou acontecimentos

que ocorrem na nossa experiência.

O mundo da vida (Lebenswelt) é para Schutz o mundo da vida

quotidiana, da realidade diária e do sentido comum em que aplicamos

as tipificações ou caracterizações. Mas, o mais importante na

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141

concepção teórica deste autor, é onde ocorre a intersubjectividade,

objecto central de suas preocupações. Tal mundo é caracterizado por

seis características principais:

1) No mundo da vida há uma tensão especial da consciência do sujeito,

que se denomina “estado de alerta”. Neste estado, o sujeito presta

atenção de maneira contínua ao que sucede na vida e aos requisitos

impostos ao comportamento das pessoas;

2) O sujeito não duvida da existência deste mundo, ao contrário do

cientista que questiona o mundo quotidiano em que vivemos

espontaneamente e, pelo contrário, submetendo-o a estudo

sistemático ou questionamento constante. Em suma, o sujeito se

submete à investigação científica;

3) O mundo da vida é o mundo onde as pessoas trabalham;

4) Cada pessoa que vive neste mundo se experimenta como um “eu

próprio”;

5) O mundo da vida é caracterizado por uma forma específica de

sociabilidade na qual se dá a intersubjectividade da comunicação e

dela a acção social;

6) Finalmente, neste tipo de mundo, as pessoas têm uma perspectiva

específica tempo, composta pela intersecção do tempo pessoal e do

tempo da sociedade.

O mundo da vida se exercita na intersubjectividade, mas existe antes

de nascermos. Ele foi criado por nossos antecessores e entregue a nós

com as suas instituições, receitas e suas tipificações. Como tal, este

mundo limita nossas acções, as constrange, oferece resistências que

temos de superar ou nos render.

Outra característica importante do mundo da vida consiste em haver

uma grande quantidade de conhecimentos acumulados, comuns para

aqueles que vivem no mesmo período histórico. Nesses

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142

conhecimentos estão as tipificações ou taxonomias, as crenças, os

conhecimentos científicos e técnicos (…), os quais se apresentam

“biograficamente articulados”, isto é, cada pessoa tem a sua

particular quantidade e diversidade de conhecimentos que constituem

o seu “conhecimento privado”. Como existem tantos conhecimentos

privados como os indivíduos, eles não podem ser objecto de estudo

científico.

Finalmente, diga-se que Schutz teve discípulos importantes, como

Peter Berger e Thomas Luckman, autores conhecidos de A

Construção social da realidade, na qual traduziram para o seu uso

sociológico alguns termos ultrapassados pela fenomenologia. Schutz

também teve influência na formulação da etnometodologia,

especialmente nas versões interpretativas das Ciências Sociais.

14.5. Filosofia das Ciências Humanas

Na obra do filósofo francês Lucien Goldmann As ciências humanas

e a filosofia, encontramos novamente a tentativa de apontar as

diferenças básicas entre Ciências Sociais ou Humanas e as Ciências

Físico-Químicas, como ele as denomina. Tais diferenças são,

principalmente, no campo da objectividade do conhecimento e

carácter de totalidade que caracteriza todos os níveis da vida social.

Sobre a objectividade, Goldmann argumenta que, por um lado, as

Ciências Históricas e Humanas não são, como as Ciências Físico-

Químicas, o estudo de um grupo de homens feitos no exterior, um

mundo que eles executam seus actos. São, pelo contrário, o estudo

dessa mesma acção, a sua estrutura, as aspirações que as animam e

as mudanças que sofrem. No processo do conhecimento científico

que em si é humano, histórico e social implica, quando se trata de

estudar a vida humana, a identidade parcial entre o sujeito e objecto

do conhecimento. Por esta razão, o problema da objectividade se

apresenta de forma diferente entre as Ciências Humanas e a Física e

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143

Química.

Esta identidade parcial entre o sujeito que conhece e o objecto do

conhecimento, projecta a ideia de que todo o conhecimento do

objecto é mediado por ideologias constituídas pelos interesses e

valores das classes sociais a que pertence o pesquisador. Como

consequência desta determinação, o seu trabalho intelectual não irá

reflectir uma visão distorcida e ideológica dos factos? Esta

determinação significa que as Ciências Sociais não conseguem

alcançar uma verdade objectiva? Antes de mais considere-se que,

para Goldmann, certos juízos de valor permitem melhor compreensão

da realidade do que outros. Assim, entre duas teorias opostas terá

valor científico maior aquela que permite compreender a outra como

um fenómeno social e, também retirar dela, através de uma análise

rigorosa, suas consequências e limites. Em termos metodológicos

mais específicos, a possibilidade de alcançar um pensamento

científico que supere a consciência real de todas as classes sociais, se

apoia na possível realização dos critérios descritos a seguir:

A. Tomar consciência que o conhecimento é interferido pelos valores de

classes sociais em oposição;

B. Não hesitar conflituar com os preconceitos e “verdades”

aparentemente mais óbvias;

C. Usar a dúvida não só metódica, mas permanente e contínuo respeito

pelos trabalhos dos outros pesquisadores e aos seus próprios

trabalhos;

D. Para julgar e compreender os seus juízos e dos outros, o pesquisador

deve relacioná-los com a estrutura social, para captar seus

significados, e os factos pretende explicar e descrever, encontrando

neles a verdade que podem conter.

Enquanto sobre totalidade, a abordagem de Goldmann baseia-se no

marxismo e no psicólogo suíço Piaget. A este respeito, argumenta que

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144

a vida social, que é histórica, é um conjunto estruturado de

comportamentos individuais que ocorrem guiados pela consciência de

se é verdadeiro, falso, adequado ou inadequado em certos condições

do ambiente natural e social. Esses comportamentos, e os grupos nos

quais se realizam, tentam dar respostas à totalidade dos problemas

decorrentes em tais meios, na forma de um equilíbrio entre a praxis

do grupo e a sociedade total. Goldmann apud Briones (2002),

reafirma:

Os dados da experiência imediata se apresentam ao investigador, muitas vezes

arrancados de seu contexto global e, como tal, separados da sua significação,

separados de sua essência. Apenas pela inserção no duplo processo de

desestruturação de uma antiga estrutura significativa, e sobretudo, a estruturação

de um novo equilíbrio, se lhes pode tornar concreto, podendo-se julgar a sua

significação objectiva e sua importância relativa no conjunto (67).

A perspectiva estruturalista genética fornece ao nosso autor a base

para se juntar às funções metodológicas de compreensão e

explicação. Sem descartar do todo o elemento da empatia da primeira

destas funções, a tarefa principal da investigação consiste numa

descrição dos elementos das relações essenciais que vinculam os

elementos à estrutura que se analisa. Isto significa que a descrição

detalhada da génese de uma estrutura global tem poder explicativo

para o estudo da evolução e transformações das estruturas parciais

que dela fazem parte. Nesta abordagem se unem, para Goldmann, as

categorias de totalidade e a dimensão histórica de todo facto social.

14.6. A linguagem da acção

Em 1958, Peter Winch no seu livro A ideia de uma ciência Social (a

Filosofia da Ciência Social) ataca duramente o neopositivismo e

defende a compreensão como método adequado às Ciências Sociais.

Na sua crítica usa a Filosofia da Linguagem de Wittgenstein,

especialmente o seu conceito referente a que todo o comportamento é

guiado por regras e todo o comportamento que assim procede é um

comportamento social. Por sua vez, a descrição, a explicação e a

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145

compreensão da acção humana só é possível quando compreendemos

a natureza das instituições que nos permitem identificar que a acção

(como acção política, por exemplo) e, isso significa compreender os

modos de vida e do comportamento governado por regras que estão

envolvidos nessa acção.

Winch argumenta ainda que as relações sociais entre as pessoas

existem apenas nas suas ideias e através delas. A linguagem, as ideias

e os conceitos não podem com nitidez separar-se das relações sociais.

Consequentemente, mudanças fundamentais desses elementos usados

pelos homens também implicam necessariamente também mudanças

fundamentais no desenvolvimento social. Com estas e outras

considerações, para Winch, a tarefa do investigador social é de

esclarecer os conceitos de formas da vida que envolvem um

comportamento baseado em regras, isto é, devemos buscar

compreender a ideia ou o significado do que fazemos ou dizemos.

O significado das palavras, diz Winch, é obtido a partir das regras de

comportamento ou de comunicação. Essas regras são de origem não

pessoal, mas se formam num contexto social particular, num modo de

vida. A Sociologia é a ciência da “compreensão” das regras que as

acções das pessoas seguem um contexto de interacção que é mediado

linguisticamente.

14.7. A dupla hermenêutica

Anthony Giddens no livro “Novas Regras do Método Sociológico:

Uma crítica positiva as sociologias interpretativas” (1967) faz ampla

análise crítica das teorias sociológicas de Comte, Marx, Dilthey,

Weber, Schutz, Wittgenstein e outros, para terminar com a

apresentação de algumas novas regras do método sociológico

destinadas a demonstrar sua oposição ao famoso manifesto

sociológico emitido por Durkheim há oitenta anos.

No total, Giddens formula nove regras, das quais seleccionamos

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146

aquelas (seis), directamente relacionadas com a tarefa de construção

das Ciências Sociais.

A. A Sociologia não se ocupa de um universo pré-dado de objectos, mas

de um que é constituído ou produzido pelos procederes (acções)

activos dos sujeitos;

B. Assim, a produção e reprodução da sociedade deve ser considerada

como uma implementação inteligente dos seus membros, e não mera

mecânica de processos;

C. O domínio de actividade humana é limitado. Os homens produzem a

sociedade, mas o fazem como actores historicamente localizados, não

em condições de sua própria eleição;

D. Pesquisador social não pode aceder à vida social como um fenómeno

(dado) para observação, independente da utilização de seus

conhecimentos sobre a mesma, como um recurso mediante o qual a

constitui um tema de investigação;

E. A imersão em um modo de vida é o único meio necessário através do

qual um observador pode gerar tais caracterizações, conhecer uma

forma de vida dos outros é saber como orientar-se nela, ser capaz de

nela participar, assim como um conjunto de práticas. Mas, para o

observador social, esta é uma forma de gerar descrições que têm de

ser mediadas, ou seja transformada em categoria do discurso

científico social.

F. Assim, os conceitos sociais obedecem a uma dupla hermenêutica.

Isto significa que a Sociologia lida com um universo que já está

constituído dentro de estruturas de significados atribuídos pelos

próprios actores, a sociologia os interpreta dentro de seus próprios

esquemas teóricos mediante a linguagem corrente e técnica,

modificando assim o seu uso original pelo das pessoas.

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147

14.8. A interpretação da interacção social

Para Herbert Blumer e outros sociólogos americanos, a Sociologia

deve estudar interpretações que os actores que interagem em uma

determinada situação atribuem às próprias condutas e às condutas dos

outros. Este objecto estudo é a base da teoria do interaccionismo

simbólico cuja pesquisa se realiza em pequenos grupos sociais, para

obter dos seus próprios actores a interpretação da realidade social em

que vivem.

Em termos concretos, a busca de interpretações é conseguida com o

reconhecimento, pelo pesquisador, dos significados que os actores

dão às situações em que vivem. Os objectos materiais, as pessoas e

eventos não possuem significados em si mesmos, mas o significado é

lhes conferido pelas pessoas (actores). Através da interacção, as

pessoas constroem significado num processo de constante definição

da situação em que vivem. Essas definições podem mudar e ser

substituídas por outras, processo que é particularmente importante

para a investigação do interaccionismo simbólico.

Parece conveniente destacar que grande parte da pesquisa qualitativa

realizada usa os princípios do interaccionismo simbólico ou, em

forma reduzida, com a busca de significados construídos por um

determinado grupo de pessoas (por exemplo, o significado que os

professores, os alunos e os pais dão à escola). A questão básica é, em

tais casos, o que significam tais e quais coisas, para essas pessoas? O

sentido da compreensão em que se centrou a discussão dos primeiros

grandes epistemologistas das Ciências Sociais, anteriormente

abordada se transforma aqui em interpretação, caracterizada na

prática do interaccionismo simbólico.

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148

Resumo da lição

Caro estudante, certamente percebeu que esta aula oferece um leque

variado de modelos de compressão e interpretação dos fenómenos

sociais, o nosso desafio, como pesquisadores, é tê-los em conta de

forma criativa e dinâmica no tratamento dos dados e fontes. Esta aula

chama-nos a atenção às singularidades da compressão das expressões

culturais; buscar as singularidades das ciências culturais e históricas;

compreender o mundo social sem eliminar a integridade subjectiva dos

actores; interpretar a intersubjectividade; compreender a particular

objectividade e o carácter totalitário na explicação do social;

reconhecer o nexo indispensável entre a linguagem, as ideias e os

conceitos com as relações sociais especificas; compreender a dupla

hermenêutica: por um lado, lidamos com um universo já construído

dentro de estruturas e significados e, por outro, interpretamos os factos

dentro de nossos próprios esquemas teóricos e culturais e, por ultimo,

devemos explicar o social através das interpretações que os actores

atribuem às suas próprias condutas e às condutas dos outros.

Bibliografia da Lição

BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias

sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.

GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa

social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.

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149

Auto-avaliação

Agora pretendemos encerrar esta 13ª lição e não teríamos melhor forma

de fazê-lo se não verificarmos o que se conseguiu reter e que podemos

aplicar em situações da realidade social. Então, veja se sabe:

I. Em que consiste a explicação dialéctica, em Marx e Engels?

a) Como se manifesta o movimento dialéctico da natureza e da

sociedade?

b) Qual a relação entre a realidade social e a consciência?

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas.

II. O que busca a explicação funcionalista?

a) Considere um elemento social (conduta, prática social, crença ou

ideologia) que, na sua opinião, pode exercer uma função positiva e

uma função negativa (disfunção) sobre o grupo social em que ocorre

esse elemento.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas.

III. Qual é o conceito de teoria e de explicação em Popper?

a) Que tarefas deveriam cumprir as Ciências Sociais?

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas.

IV. Dê dois exemplos de explicação estatística.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

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150

contrário releia o texto, faça anotações novas.

V. Que diferenças existem entre o conceito de compreensão de

Webber e de Schutz

a) Em que consiste a interpretação no interaccionismo simbólico?

b) Caracterize a explicação causal em Webber, a partir de um tipo

ideal.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas.

VI. O que significa a dupla Hermenêutica, em Giddens?

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas

VII. Depois de ler atentamente e sublinhar os elementos que

conduzem a este exercício de aplicação, uma tabela como a que segue

lhe permite uma valiosa aplicação dos diversas paradigmas

interpretativos a partir da realidade histórico-social do tema que

escolheu atrás.

TEMA DA “MONOGRAFIA” (o

mesmo)_________________________________________________________________________

Modelo interpretativo Autor Exemplo, segundo o modelo

indicado

Singularidades das expressões

culturais

Singularidades das ciências culturais e históricas

Tipos ideais

Intersubjectividade

Objectividade própria e carácter totalitário

Nexo entre

linguagem/ideias/conceitos com

as relações sociais

Dupla hermenêutica

Interpretações dos actores às suas

condutas e às dos outros

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Lição n° 15: Confiabiliodade e validade das investigações Sociais

Introdução

Bem-vindo à 15ª lição, cujo enfoque é a busca de argumentos e

pragmatismo para uma pesquisa social válida e confiável, portanto

objectiva ao seu nível de desenvolvimento das Ciências Sociais e

características peculiares da relação entre seu objecto e sujeito.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Objectivos

Caracterizar os processos de análise de conteúdo;

Demonstrar as principais fontes de erro na pesquisa social;

Aplicar os processos de controlo das variáveis estranhas na

pesquisa social.

Tempo

Tempo de estudo da lição: 05 horas.

Estratégias metodológicas para a credibilização e

validação da pesquisa social.

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15.1. Análise de conteúdo

Nenhuma norma rígida pode ser estabelecida para a obtenção

de uma análise adequada. Analisar é estabelecer conclusões e,

portanto, exige familiarização com o assunto pesquisado, bem

como um grande conhecimento sobre o processo seguido na

investigação científica. A análise pode ser feita através de

dois processos: estatístico e racional.

No estatístico, o desenho da pesquisa, através do número de

variáveis, número de grupos, nível dos dados (…) é que vai

determinar a técnica estatística que deverá ser empregue por

si.

A análise racional está mais embasada na lógica, na

evidência e na argumentação de uma autoridade científica,

dependerá consequentemente da sua capacidade de reflexão e

das suas concepções como investigador.

15.2. Fontes comuns de erros

Segundo Gressler (1979:28/30), entre os elementos que podem

afectar os resultados de uma investigação, tornando-os

tendenciosos, encontram-se os que seguem:

Experimenter bias effect

Refere-se à inevitável expectativa do investigador e o efeito

desta no seu comportamento do objecto em estudo. Caro

estudante, se eu esperar um determinado comportamento,

deixando transparecer minhas expectativas, as mesmas têm a

tendência de se desenvolver. Por exemplo, se acredito que os

estudantes que frequentam o módulo de Epistemologia de

Ciências Sociais desenvolvem atitudes positivas sobre a

pesquisa e os que não frequentarem terão atitudes negativas,

este optimismo poderá afectar com grande probabilidade os

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153

resultados do meu estudo.

Hawtorne effect

Como estudamos no método de abordagem experimental, o

efeito hawthorne consiste na interacção entre os

procedimentos e o objecto em estudo ou entre os objectivos

entre si. Este fenómeno se caracteriza principalmente pelo

conhecimento prévio do indivíduo de que o mesmo está

fazendo parte de um estudo, passando a comportar-se de

forma diferente. Portanto, a pessoa passa a reagir de outra

forma pelo facto de fazer algo diferente, saído da rotina, não

devido ao tratamento d que recebe.

Nos anos 1930 um estudo sobre produtividade do trabalho na

Western Electrtic Companyʹs Hawthorne Plant, próximo de

Chicago, submeteu os trabalhadores a condições

experimentais como luz intensa, grupos de trabalho menores,

intervalos curtos, mas a produtividade continuou a aumentar

porque os trabalhadores estavam conscientes que estavam a

ser observados e aceleraram o seu ritmo normal de trabalho

(Giddens,2004:652).

Placebo effect

O termo efeito placebo é muito usado na biomedicina, em

referência à reacção do grupo que recebe algo, em

comparação com o grupo estático ou que não recebe nada. O

simples picar da agulha causa determinada reacção e não o

efeito do medicamento em si. Por exemplo, um grupo de

régulos que recebe dinheiro de transporte para ir a uma

entrevista na capital e os régulos da capital que não recebeu o

subsídio, reagirão de forma diferenciada à entrevista.

Demand characteristics

Consideram-se características de demanda, quando o objecto

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154

em estudo percebe seu papel na investigação, passando a agir

de maneira diferente. Por exemplo o seu desempenho quando

for assistido pelo supervisor e avaliador não será o mesmo

que quando assistido pelo tutor.

Mortalidade experimental

Surge quando os elementos escapam do experimento ou do

grupo estabelecido para a investigação. Por exemplo num

estudo sobre a influência do sexo do professor na

aprendizagem dos alunos e são tomados 120 alunos de ambos

sexos, passando a ser atendidos por professoras; enquanto

outros 120 são atendidos por professores, aos poucos os

alunos de um dos grupos diminuem para 60, esta perda de

elementos ou mortalidade experimental, poderá afectar os

resultados da investigação. O mesmo sucede quando

enviamos questionários para serem preenchidos, é caso de

enviares inquéritos a todos os encarregados dos alunos da sua

turma para saber a aspiração destes sobre a educação der

seus filhos: os que não responderem serão os que nada

aspiram? Ou estão satisfeitos com o que a escola oferece?

Portanto, a mortalidade quando em elevado número gera uma

complexidade que torna os resultados parciais e tendenciosos.

História

Os eventos que sucedem na pesquisa exploratória interferem

sobre a entrevista posterior. Assim, acarreta tendenciosidade

em investigações, se factos históricos interagem com o

objecto de estudo. Por exemplo, o assassinato do presidente

J.F. Kennedy que afectou o índice de suicídios nos EUA por

dois dias.

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155

Maturação

Quando objectos em estudo, com o tempo, operam mudanças

por si (crescer, amadurecer fisicamente, sentir fome, fadiga,

etc.). Os inquiridos poderão comportar-se melhor ou pior

devido à fome, à fadiga ou à idade, o que poderá ser

confundido com o tratamento aplicado.

Problemas de mensuração

Quando a mudança de testes, diferentes pessoas corrigindo,

horários diferentes ou traduções afectarem os resultados da

investigação. É inevitável que o professor ao avaliar os testes

de dois grupos ou duas turmas, o seu julgamento ao segundo

poderá ser alterado, pois a mesma se torna mais experiente ou

mais cansada ou descuidada.

Multitratamento

O tratamento múltiplo é comum em todas as delegações da UP,

na culminação da licenciatura por monografia. Os candidatos

procuram desenvolver suas pesquisas nas comunidades mais

próximas, economizando tempo e recursos. Ocorre muitas

vezes que pessoas (populações-alvo) de distritos ou bairros

vizinhos participam em vários experimentos, podendo estes

tratamentos múltiplos afectar decisivamente os resultados

finais da pesquisa.

15.3. Controlo de variáveis estranhas.

Toda a pesquisa social tem dois objectivos: Prover respostas

para as questões sociais e controlar as variâncias. Como

controlar variâncias? Consideremos três maneiras:

Maximizar a variância experimental

Consiste no efeito sistemático da variável associada com a

hipótese. Consegue-se fazendo as condições experimentais

diferentes ao máximo das condições do grupo controlo,

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156

trazendo assim um maior grau de diferença.

Minimizar o erro

Consiste em minimizar o erro resultante das diferenças

individuais que não podem ser identificadas (erro de

variação) e, por outro lado, o erro associado ao processo de

testar, reduzível estabelecendo condições de controlo ou

aumentando a confiabilidade do teste.

Anular ou isolar variáveis estranhas, consegue-se da seguinte

maneira:

Eliminar a variável ameaçadora, por exemplo se o factor

inteligência pode afectar o estudo elimina-se o factor usando

pessoas com baixo QI;

Seleccionar os elementos que participarão no estudo, os quais

serão, por sua vez, seleccionados para os grupos, tornando-se

grupo experimental e de controlo;

Incluir a variável estranha no desenho da pesquisa: se através

de revisões bibliográficas, saber-se que a variável sexo

influencia certa variável (os professores do sexo masculino

têm atitudes inferiores à das professoras em relação à

pesquisa), num segundo estudo poderemos incluir sexo como

variável para a controlar;

Procurar elementos o mais equivalente possíveis para o grupo

controlo e para o experimental;

Controlo através de fórmulas estatísticas.

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157

Resumo da lição

Nesta lição ficou estabelecido que a análise de conteúdo pode

ser feita através de dois processos: estatístico e racional. Por

outro lado, toda a pesquisa social tem dois objectivos,

nomeadamente prover respostas para as questões sociais e, por

outro lado, controlar as variâncias, por isso foram consideradas

três formas de controlar as variâncias estranhas ao assunto em

estudo. Contudo, o assunto mais importante desta aula para

você, futuro estudioso do fenómeno social, foi estar acautelado

das principais fontes de erro resultantes do comportamento

humano, tanto seu como do seu objecto.

Bibliografia da Lição

GIDDENS, Anthony. Sociologia, Lisboa: Callouse

Gulbenkian, 2004.

GRESSLER, Lori Alice. Pesquisa educacional:

Importância, modelos, validade, variáveis, hipóteses,

amostragem e instrumentos, São Paulo: Layola, 1979.

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Auto-avaliação

da Unidade 3

1. Descreva duas das principais regularidades da explicação nas

Ciências Sociais.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas

2. Quais as principais teorias sobre a compreensão e

interpretação nas Ciências Sociais.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas

3. Analise as possibilidades de confiabilidade e validade das

investigações sociais.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe

responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

contrário releia o texto, faça anotações novas

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