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A escala se propõe a avaliar o nível de estresse de cada indivíduo, permitindo uma melhor análise dos procedimentos a serem tomados
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Universidade de Braslia
Instituto de Psicologia
Curso de Ps-Graduao em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes
Construo e Validao de Escala de Estresse Organizacional
Braslia, DF
2012
2
Universidade de Braslia
Instituto de Psicologia
Curso de Ps-Graduao em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes
Construo e Validao de Escala de Estresse Organizacional
Pricila de Sousa Santos
Braslia, DF
2012
3
Universidade de Braslia
Instituto de Psicologia
Curso de Ps-Graduao em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes
Construo e Validao de Escala de Estresse Organizacional
Pricila de Sousa Santos
Orientadora: Prof. Dra. Maria das Graas Torres da Paz
Braslia, DF
Fevereiro de 2012
Dissertao de Mestrado apresentada ao
Programa de Ps-Graduao em Psicologia
Social, do Trabalho e das Organizaes, como
requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em
Psicologia Social, do Trabalho e das
Organizaes.
4
Construo e Validao de Escala de Estresse Organizacional
Dissertao defendida diante e aprovada pela banca examinadora constituda por:
___________________________________________________________________
Professora Doutora Maria das Graas Torres da Paz (Presidente)
Programa de Ps-graduao em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes
Universidade de Braslia
___________________________________________________________________
Professor Luiz Pasquali, Docteur (Membro)
Programa de Ps-graduao em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes
Universidade de Braslia
___________________________________________________________________
Professora Doutora Maria Cristina Ferreira (Membro)
Mestrado em Psicologia
Universidade Salgado de Oliveira
___________________________________________________________________
Professora Doutora Tatiane Paschoal (Membro Suplente)
Departamento de Administrao
Universidade de Braslia
5
Conhecimento no aquilo que
voc sabe, mas o que voc faz
com aquilo que sabe
(Aldous Huxley)
6
Dedicatria
Ao meu querido av,
Fabriciano Evangelista de Sousa (in memorian),
por ter me dado a honra e alegria de sua presena em minha vida.
minha maravilhosa me,
Aidil Silva de Sousa,
pelo amor e carinho incondicionais dedicados a mim.
7
Agradecimentos
Ao final desta jornada, escrever estes agradecimentos se torna uma forma de
fechar mais um ciclo em minha vida. Neste momento, agradeo primeiramente
minha me que mesmo distante nestes longos anos soube se fazer sempre
presente. Afinal, longe de casa desde cedo, no foram poucos os momentos em
que pensei em desistir, mas ela sempre esteve l me dando fora e aquele bom e
velho choque de realidade quando necessrio. Amo-te mais que tudo, me!
Agradeo aos meus avs pelos momentos inestimveis de descanso e lazer
na praia, mas especialmente pelo carinho e sabedoria que recebi em toda a minha
vida! V, voc faz muita falta!
Ao meu namorado, Charles, por ter me escutado (e agentado) nas situaes
mais difceis. Por estar sempre ao meu lado, principalmente nas horas em que eu
achava que no iria conseguir!
Aos poucos, mas inestimveis, amigos de Braslia (em especial, Karine e
Lgia), meu obrigada pelos momentos de lazer que mantiveram minha sade mental
(ou quase isto). Sem vocs esta caminhada seria imensamente mais dolorosa.
A todos os amigos da minha longa estadia por Petrolina/Juazeiro,
especialmente Eyla, Claudiane, Marianna e Joozinho, obrigada pela forte amizade
mesmo na longa distncia! A saudade de vocs me aperta o corao!
minha orientadora, Prof. Dra. Maria das Graas Torres da Paz, agradeo
pela ajuda, compreenso e discusses tericas no perodo de desenvolvimento da
pesquisa. Agradeo sobretudo por ter me acolhido de uma maneira to especial e
entrado nesta loucura junto comigo! Sero mais 4 anos juntas! Desde j, agradeo
imensamente pelos muitos ensinamentos que me transmite!
Ao professor Luiz Pasquali pela disponibilidade, pacincia e inestimvel
orientao estatstica na realizao das anlises de dados deste estudo.
s pesquisadoras Maria Cristina Ferreira e Tatiane Paschoal pelos trabalhos
publicados que colaboraram na concepo desta dissertao.
s empresas e trabalhadores participantes deste trabalho, pela abertura e
participao, constituindo a amostra da pesquisa.
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES)
por financiar meus estudos.
8
Sumrio
Lista de figuras.................................................................................................... 11
Lista de tabelas................................................................................................... 12
Resumo............................................................................................................... 14
Abstract............................................................................................................... 15
Introduo........................................................................................................... 16
Estresse.............................................................................................................. 20
Definies de estresse............................................................................... 26
Alguns Estudos sobre Estresse no Brasil.................................................. 31
Estresse ocupacional.......................................................................................... 33
Conceitos de estresse ocupacional.................................................................... 35
Modelos Tericos sobre estresse....................................................................... 38
Modelo dinmico de estresse ocupacional......................................................... 39
Teoria do ajustamento pessoa-ambiente .......................................... 39
Teoria ciberntica do estresse........................................................... 40
Modelo de Kahn e Byosiere............................................................... 40
Modelo de Lazarus............................................................................. 41
Estressores ocupacionais........................................................................... 42
Fatores intrnsecos ao trabalho.......................................................... 43
Relaes interpessoais no trabalho................................................... 45
Papis na organizao....................................................................... 46
Desenvolvimento de Carreira............................................................. 48
Clima e Estrutura Organizacional....................................................... 49
Interface famlia-trabalho.................................................................... 50
Respostas aos estressores......................................................................... 52
Medidas de estresse ocupacional............................................................... 53
Distino entre estresse e outros construtos...................................... 60
Estresse e tenso............................................................................... 60
9
Estresse e burnout.............................................................................. 61
Estresse organizacional....................................................................................... 64
Caractersticas organizacionais como estressores descritos na literatura.. 65
Estrutura organizacional..................................................................... 65
Tomada de deciso.................................................................... 66
Formalizao de procedimentos................................................. 67
Tamanho da organizao........................................................... 68
Comunicao organizacional..................................................... 68
Suporte organizacional....................................................................... 71
Incentivo/falta de Cooperao............................................................ 72
Incentivo Competio....................................................................... 73
Polticas organizacionais..................................................................... 74
Entraves Carreira/Crescimento profissional..................................... 77
Proposio do conceito estresse organizacional......................................... 78
Justificativa da pesquisa.............................................................................. 79
Objetivos da pesquisa................................................................................. 80
Mtodo................................................................................................................. 82
Amostra....................................................................................................... 82
Instrumento................................................................................................. 83
Procedimentos............................................................................................. 85
Procedimento de coleta de dados....................................................... 85
Procedimentos de anlise de dados................................................... 85
Resultados........................................................................................................... 90
Interpretao dos fatores............................................................................. 118
Avaliao do nvel de estresse organizacional percebido na amostra......... 127
Discusso............................................................................................................. 130
Fator 1 Decises organizacionais............................................................. 132
Influncia na tomada de deciso e comunicao............................... 133
10
Desconsiderao de contribuies dos funcionrios......................... 134
Fator 2 Suporte......................................................................................... 135
Suporte material.................................................................................. 136
Excesso de cooperao...................................................................... 137
Fator 3 Incentivo Competio................................................................ 137
Fator 4 Entraves ao crescimento profissional.......................................... 138
Fator Geral Estresse organizacional geral............................................... 139
Nveis de estresse organizacional percebido na amostra........................... 139
Consideraes finais............................................................................................ 142
Referncias.......................................................................................................... 146
Anexo................................................................................................................... 169
Anexo 1 - Escala de Estresse Organizacional Aplicada.............................. 170
11
Lista de figuras
Figura 1.1. Scree plot dos componentes principais da EEO............................... 101
Figura 1.2. Scree Plot do fator 1.......................................................................... 108
Figura 1.3. Scree Plot do fator 2.......................................................................... 111
Figura 1.4. Scree Plot do fator 3.......................................................................... 115
Figura 1.5. Scree Plot do fator 4.......................................................................... 117
Figura 1.6. Representao Visual do Modelo de Estresse Organizacional...... 126
12
Lista de tabelas
Tabela 1.1 Testes de Normalidade..................................................................... 91
Tabela 1.2. Estatsticas de Colinearidade........................................................... 94
Tabela 1.3. Testes KMO e Esfericidade de Bartlett dos componentes principais
da EEO................................................................................................................ 97
Tabela 1.4. Valores de Comunalidades da EEO................................................. 97
Tabela 1.5. Varincia Total Explicada da EEO.................................................... 100
Tabela 1.6. Matriz fatorial da escala.................................................................... 102
Tabela 1.7. Matriz de Correlao dos Fatores.................................................... 105
Tabela 1.8. Testes KMO e Esfericidade de Bartlett do Fator.............................. 106
Tabela 1.9. Valores de Comunalidades do Fator 1............................................. 106
Tabela 2.0. Varincia Total Explicada do Fator 1................................................ 107
Tabela 2.1. Matriz fatorial do fator 1 e preciso das facetas............................... 108
Tabela 2.2. Matriz de Correlao do Fator 1 (Facetas) ...................................... 109
Tabela 2.3. Testes KMO e Esfericidade de Bartlett do Fator 2........................... 110
Tabela 2.4. Valores de Comunalidades do Fator 2............................................. 110
Tabela 2.5. Varincia Total Explicada do Fator 2................................................ 111
Tabela 2.6. Matriz fatorial do fator 2 e preciso das facetas............................... 112
Tabela 2.7. Matriz de Correlao do Fator 2 (Facetas)....................................... 113
Tabela 2.8. Testes KMO e Esfericidade de Bartlett do Fator 3........................... 113
Tabela 2.9. Valores de Comunalidades do Fator 3............................................. 114
Tabela 3.0. Varincia Total Explicada................................................................. 114
Tabela 3.1. Matriz fatorial do fator 3 e preciso das facetas............................... 115
Tabela 3.2. Testes KMO e Esfericidade de Bartlett do Fator 4........................... 116
Tabela 3.3. Valores de Comunalidades do Fator 4............................................. 116
Tabela 3.4. Varincia Total Explicada do Fator 4................................................ 117
Tabela 3.5. Matriz fatorial e preciso do fator 4................................................... 118
Tabela 3.6. Fator 1 (Decises organizacionais.................................................... 119
13
Tabela 3.7. Fator 2 (Suporte) .............................................................................. 121
Tabela 3.8. Fator 3 (Incentivo competio) ...................................................... 122
Tabela 3.9. Fator 4 (Entraves ao crescimento profissional) ................................ 123
Tabela 4.0. Fator Geral (segunda ordem) ........................................................... 123
14
Resumo
A literatura sobre estresse ocupacional costuma frisar demasiadamente as
caractersticas da tarefa e/ou do trabalhador, negligenciando a participao de
caractersticas organizacionais no processo em questo. Diversos pesquisadores
apontam a importncia de estudos que abarquem estas caractersticas enquanto
potencialmente estressoras e a generalizao de resultados. O presente trabalho
objetivou construir e buscar evidncias de validao emprica de um instrumento
com vistas a mensurar caractersticas organizacionais como estressores em
potencial, denominado escala de estresse organizacional (EEO). Um conjunto de 60
itens foi inicialmente elaborado e aplicado a uma amostra de 454 profissionais
vinculados a instituies pblicas, privadas e de economia mista. A anlise fatorial
resultou num instrumento composto por 32 itens, cuja estrutura indicou a presena
de um fator geral de segunda ordem e quatro fatores de primeira ordem, a saber:
Decises organizacionais, Suporte, Incentivo competio e Entraves ao
crescimento profissional. O fator geral a somatria dos quatro fatores, fornecendo
uma medida geral sobre o estresse organizacional. Ao apresentar parmetros
psicomtricos satisfatrios, a EEO a primeira medida brasileira que trata de
caractersticas organizacionais desenvolvida e validada para a avaliao de
estresse organizacional.
Palavras-chave: Estresse, caractersticas organizacionais, psicometria.
15
Abstract
Much of the literature on occupational stress emphasizes the characteristics of the
task and/or the employee, neglecting the participation of organizational
characteristics in this process. Several researchers point to the importance of studies
that include these characteristics as potentially stressors and the generalization of
the results. This study aimed to develop and seek evidence of empirical validation of
an instrument designed to measuring organizational characteristics as potential
stressors, termed organizational stress scale (EEO). A set of 60 items was
developed and applied to a sample of 454 professionals of different organizations.
Factor analysis resulted in an instrument composed of 32 items, whose structure
indicated the presence of a general second-order factor (organizational stress
general) and four first-order factors, namely organizational decisions, support,
encouragement of competition and barriers to professional growth. The general
factor is the sum of these four factors, providing a general measure of organizational
stress. In presenting satisfactory psychometric parameters, the EEO is the first
Brazilian measure that deals with organizational features developed and validated
for the assessment of organizational stress.
Keywords: Stress, organizational characteristics, psychometrics.
16
Introduo
O homem destina boa parte de sua vida realizao de atividades voltadas
ao trabalho, de modo que este exerce um papel referencial em sua trajetria. As
organizaes, por sua vez, dizem respeito a uma das formas basais de oficializao
do trabalho humano, podendo ser entendidas enquanto sistemas sociais. Assim, a
relao estabelecida entre o sujeito e o trabalho que realiza, bem como, com a
organizao onde trabalha, exerce impacto sobre a maneira de pensar e se
comportar.
Neste sentido, desenvolveu-se um campo multidisciplinar de estudo
denominado Comportamento Organizacional que tem por intuito prever, explicar,
compreender e modificar o comportamento humano no ambiente organizacional
(Wagner III & Hollenbeck, 1999). Este campo do conhecimento apresenta uma
numerosa produo cientfica, ao passo que tem despertado bastante interesse em
estudiosos, vindo a contribuir grandemente no que se refere ao bom andamento das
organizaes ao cooperar na busca de explicaes para os comportamentos
ocorridos neste ou em funo deste ambiente especfico.
As pesquisas realizadas em Comportamento Organizacional tm sofrido
profunda influncia por parte das mudanas ocorridas no mundo do trabalho
(Rousseau, 1997). Mudanas estas que despertaram a necessidade de entender o
que influencia o trabalhador, como a organizao influencia seu comportamento e,
da mesma forma, como a organizao influenciada por ele. Assim sendo,
Comportamento Organizacional se mostra enquanto um campo de investigao
preocupado com estes dois tipos de influncia: das organizaes de trabalho sobre
as pessoas e das pessoas sobre as organizaes de trabalho (Brief & Weiss, 2002).
Para tanto, so investigadas neste campo, variveis como: clima organizacional,
comprometimento organizacional, satisfao no trabalho, absentesmo, estresse
ocupacional, dentre outras.
Neste universo de variveis estudadas, uma que certamente vem se
destacando nas ltimas dcadas o estresse ocupacional, com notvel aumento do
interesse de pesquisadores e estudiosos acerca do fenmeno, ocasionando o
crescimento da literatura cientfica a respeito do referido construto. Isto se deve, em
especial, s cobranas por resultados que se mostram cada vez mais intensas
17
neste incio de sculo, bem como, ao papel ocupado por este problema na atual
conjuntura do mundo do trabalho e as conseqncias negativas que acarreta.
A incidncia de enfermidades diretamente relacionadas ao estresse vem
aumentando nos ltimos anos, assim como, os esforos rumo ao desenvolvimento
de formas de preveno deste problema. Tal fenmeno ocorre em praticamente
todas as organizaes e atinge as mais diversas categorias profissionais (Zanelli,
2010), somado dificuldade que os trabalhadores dos mais diversos setores da
economia encontram para perceber e agir em detrimento de problemas que tm
como possvel causa o trabalho por eles desenvolvido.
No mbito nacional, muitas pesquisas investigam a relao do estresse com
outras variveis que impactam o contexto do trabalho. Suehiro, Santos, Hatamoto e
Cardoso (2008) que, estudando a satisfao no trabalho e vulnerabilidade ao
estresse, encontraram uma correlao negativa entre estas variveis. Por sua vez,
Paschoal e Tamayo (2005) identificaram que a interferncia famlia-trabalho
inuencia o estresse, sendo que quanto maior o nvel de interferncia, maior o
estresse.
Tem-se que o fenmeno estresse pode ocorrer nos mais diversos ambientes
e, nas ltimas dcadas, o contexto organizacional vem se destacando enquanto um
dos espaos de maior incidncia, possibilitando encontrar um nmero considervel
de trabalhos, tanto tericos quanto empricos.
Todavia, a literatura sobre este tema tem sido marcada pelo uso confuso e
inconsistente de termos diversos com o estresse, como ocorre com tenso e
burnout. Outro problema encontrado na literatura diz respeito ao fato dos estudos
destinados a abarcar o estresse no ambiente organizacional costumarem investigar
somente as caractersticas ligadas ocupao desenvolvida pelo sujeito em seu
ambiente de trabalho, no explorando a possvel influncia de caractersticas
organizacionais na ocorrncia deste fenmeno.
Muitos dos modelos tericos propostos para o entendimento do estresse no
ambiente de trabalho frisam demasiadamente aspectos da tarefa e/ou do
trabalhador, sem sequer mencionar a participao de caractersticas
organizacionais no processo em questo. As poucas investigaes neste sentido
tratam de caractersticas organizacionais separadamente, resultando em
investigaes espaadas, sem a consolidao de um construto em si. Isto implica
18
uma grave negligncia da literatura na investigao da possvel influncia dessas
caractersticas sobre a ocorrncia de estresse no ambiente de trabalho.
Esta negligncia apontada por diversos pesquisadores (Cooper, Dewe, &
ODriscoll, 2001; Ferreira & Assmar, 2008), sugerindo a necessidade de
investigao da vasta gama caractersticas enquanto potencialmente estressoras
com vistas a clarificar a relao entre elas e o estresse no ambiente organizacional,
buscando a generalizao de resultados.
Partindo da constatao desta lacuna na literatura sobre o estresse em se
tratando de sua relao com caractersticas organizacionais, bem como, do
conhecimento de que este fenmeno reconhecido enquanto um dos grandes
problemas que assolam as mais diversas instituies e classes profissionais, a
relevncia da presente pesquisa reside, especialmente, no fato de se destinar
construo de uma escala voltada a identificao de estressores provenientes
destas caractersticas prprias das organizaes que, por sua vez, afetam o
ambiente de trabalho.
O instrumento desenvolvido, denominado Escala de Estresse Organizacional
(EEO) e embasado pela proposio de um conceito de estresse que abarca estas
caractersticas organizacionais, visa colaborar para a realizao de pesquisas que
abordem o tema. Alm disto, busca contribuir para o diagnstico de estresse em
ambientes organizacionais, subsidiando a interveno, tendo em vista a defasagem
dos instrumentos existentes que acabam por no considerar as significativas
mudanas ocorridas no mundo do trabalho.
Quanto sua organizao, esta dissertao estruturada em sete captulos.
O primeiro diz respeito a uma reviso histrica acerca do fenmeno estresse,
destacando o surgimento do termo, suas definies e algumas publicaes
nacionais. Por sua vez, o segundo captulo, denominado Estresse Ocupacional,
trata da relao homem e trabalho, apresentando as vrias definies do construto,
modelos tericos destacados, principais instrumentos e estressores apontados na
literatura. O terceiro captulo, Estresse organizacional, destaca a negligncia da
literatura a respeito de caractersticas organizacionais em sua relao com o
estresse, apresentando possveis estressores e uma proposta de definio do
conceito, bem como, a justificativa e os objetivos da pesquisa. O quarto captulo
expe o mtodo adotado na execuo do trabalho, seguido do quinto captulo que
19
aborda os resultados encontrados. O sexto captulo reservado discusso dos
resultados e, por fim, o stimo captulo trata das consideraes finais do presente
trabalho.
20
Estresse
O estresse tem se constitudo numa palavra amplamente difundida nos dias
atuais, tornando-se vocbulo constante na linguagem do senso-comum. Sua
utilizao, muitas vezes indiscriminada, tanto pelos meios de comunicao quanto
pela populao, acaba por ocasionar certa confuso. Na linguagem popular, por
exemplo, estresse passou a ter diversos significados, sendo causa ou sinnimo de
muitos problemas que assolam a vida contempornea.
O estresse vem cada vez mais se apresentando enquanto uma fonte de
interesse tanto de pesquisadores quanto da populao como um todo. Todavia,
mesmo com vrias dcadas de pesquisa, os estudos acerca deste fenmeno no
apresentam consenso quanto a sua definio (Rees & Redfern, 2000), havendo um
nmero expressivo de modelos tericos que visam explicar sua ocorrncia.
Vrias e distintas estratgias foram empregadas com vistas a explicar as
origens e os significados do termo estresse (Cooper & Dewe, 2004). Uma das mais
freqentemente adotadas diz respeito etimologia da palavra, em que o termo em
questo provm do latim stringere, que significa apertar, cerrar, comprimir. Por sua
vez, outros autores defendem que, conforme ocorre com diversos vocbulos, a
palavra estresse antecede sua utilizao sistemtica ou cientfica (Lazarus &
Folkman, 1984). O termo em questo foi empregado inicialmente na fsica e
engenharia com vistas a explicar o desgaste/deformidade dos materiais quando
sujeito a uma fora externa (esforo ou tenso).
Nesta vertente, destacam-se os estudos realizados no sculo XVII pelo fsico
e bilogo Robert Hook que conferiram ao termo estresse um status mais tcnico, ao
investigar como estruturas construdas pelo homem poderiam ser elaboradas de
modo a suportar cargas pesadas sem sofrer algum tipo de colapso/deformao
(Lazarus, 1993, 1999). Vale destacar a influncia exercida pelo trabalho deste
pesquisador em diversos estudos contemporneos sobre estresse desenvolvidos
em outras disciplinas, tais quais, Fisiologia e Psicologia, especialmente em se
tratando da noo de carga externa ou demanda do ambiente (Lazarus, 1993).
Os primeiros estudos na rea de sade empregando o termo estresse datam
da primeira metade do sculo XX (Greenberg, 2002; Codo, Soratto & Vasquez,
2004). Destaca-se a grande contribuio do fisiologista Walter Cannon, pioneiro na
21
descrio de reaes do corpo ao estresse, originalmente designado resposta de
emergncia, ao identificar o que denominou resposta de luta ou fuga (Greenberg,
2002), em estudos sobre implicao do medo agudo em animais. Este termo diz
respeito a respostas fisiolgicas instintivas do organismo com vistas a sobreviver a
uma possvel ameaa, em que este se mobiliza para tipos de ao imediata
especficos: atacar/lutar ou correr e fugir (Seaward, 2009). Para possibilitar esta
ao, o organismo se prepara por meio de uma estimulao acentuada do sistema
nervoso simptico, apresentando resultados observveis como a dilatao das
pupilas para aguar a viso e desvio de sangue para os grandes msculos dos
membros inferiores e superiores para aumentar a fora (Rosch, 1984).
Neste sentido, possvel observar quatro estgios referentes resposta de
luta ou fuga: 1) envio de um estmulo ao crebro; 2) identificao do estmulo como
ameaa ou no-ameaa, com conseqente ativao do sistema nervoso e
endcrino caso a ameaa se confirme; 3) manuteno da excitao do organismo
at confirmado o final da ameaa; e 4) retorno homeostase (Seaward, 2009).
Cannon props que o intuito maior da reao de emergncia o
restabelecimento da homeostase por meio da mobilizao de energia (Meleiro,
2002). A idia de homeostase teve base nos princpios descritos por Claude
Bernard de milieu intrieur (meio interior) cujos estudos apontavam que o ambiente
interno de um organismo busca a manuteno do equilbrio independentemente do
que venha a ocorrer no ambiente externo (Lipp & Malagris, 1998). Assim, o conceito
de homeostase foi ento proposto para relatar a manuteno de variveis
fisiolgicas, como nvel de glicose no sangue e temperatura corporal, dentro de
limites aceitveis (Goldstein & Kopin, 2007), denotando equilbrio biolgico
necessrio para o bom funcionamento dos sistemas do organismo e manuteno da
vida.
As idias apresentadas por Canon foram de tamanha importncia para o
desenvolvimento de pesquisas acerca do estresse que Doublet (2000) defendeu
que sem a conceituao de homeostase a noo de estresse no seria possvel.
Assim, a proposio deste conceito se tornou o ponto de partida para investigaes
sobre o tema estresse, influenciando boa parte dos pesquisadores subseqentes,
em especial Hans Selye.
22
Conhecido como pai do estresse moderno, muitos autores creditam a Selye
a redefinio da palavra estresse ao adapt-la da fsica para as cincias humanas e
da sade (Goldstein & Kopin, 2007). Os trabalhos deste pesquisador, especialmente
a partir da dcada de 1930, conferiram notoriedade ao fenmeno em questo que,
por sua vez, obteve reconhecimento na medicina, biologia e, em seguida, na
psicologia (Codo et al., 2004).
A noo de estresse inicialmente formulada por Selye proveio de uma srie
de reaes no especficas identificadas por ele em pacientes portadores de
diferentes patologias, com o intuito de fazer referncia a alteraes endocrinolgicas
apresentadas pelo organismo quando diante de uma circunstncia que demande
uma resposta distinta de sua atividade orgnica habitual (Lipp, 1996). Neste ponto
ntida a influncia de conceitos propostos por Cannon, tais quais, resposta de luta
ou fuga e homeostase, especialmente no que diz respeito abordagem biolgica
enfatizada por Selye neste perodo.
De acordo com Cooper e Dewe (2004), o trabalho desenvolvido por este
pesquisador pode ser dividido em duas fases distintas: antes e depois da II Guerra
Mundial. Na primeira fase foi apresentado o incio de seu interesse sobre o tema,
bem como, a concepo inicial do construto. A segunda fase abarca o
desenvolvimento e discusso em torno da teoria proposta, denominada Sndrome
de Adaptao Geral (GAS: General Adaptation Syndrome), entendida por Lazarus
(1999) como a teoria mais importante acerca do estresse fisiolgico.
A GAS descreveu um harmnico conjunto neuroqumico de defesas do
organismo, exercido contra as condies nocivas ou estresse fsico, resultante da
exposio prolongada do indivduo a estressores. Trata-se de um modelo trifsico
de estresse composto pelos seguintes estgios bsicos (Selye, 1993):
1) Alerta: ocorre no momento em que o sujeito se depara com a fonte do
estresse e cujo enfrentamento causa um desequilbrio interno, culminando
em sensaes caractersticas como taquicardia, sudorese, dentre outras,
referentes perda da homeostase. Diz respeito fase positiva, ao passo que
predispe o sujeito a enfrentar a situao em que se encontra.
2) Resistncia: refere-se tentativa do organismo de resgatar o equilbrio
anteriormente perdido, valendo-se de energia adaptativa para se reequilibrar.
23
Este gasto de energia pode ocasionar cansao excessivo e dvidas quanto a
si prprio.
3) Exausto: ocorre quando o equilbrio no estabelecido na fase anterior,
fazendo ressurgir sintomas da fase inicial de forma mais aguda, podendo
ocasionar comprometimento fsico e psicolgico na forma de doenas e, em
alguns casos, resultar em morte.
Concernente a estes estgios, tem-se que o estresse pode ser identificado
em qualquer das fases, no constituindo critrio essencial que os trs estgios
sejam atingidos para a ocorrncia do fenmeno. Todavia, as formas de
manifestao diferem de acordo com o estgio em que o sujeito se encontra
(Filgueiras & Hippert, 1999)
Lipp (2003), conhecida pesquisadora brasileira no mbito do estresse,
sugeriu a existncia de um quarto estgio no modelo supracitado, que denominou
quase-exausto por estar localizado entre as fases de resistncia e exausto. De
acordo com este modelo quadrifsico, o sujeito no entra no estgio de exausto de
forma instantnea, havendo, anteriormente, um estgio de transio em que no
mais apresenta capacidade de resistncia, contudo, ainda no se encontra no
estgio de exausto. Quase-exausto diz respeito fase em que o sujeito no
consegue ter adaptao ou resistncia ao evento estressor, podendo dar margem
ao incio de quadros patolgicos no to severos quanto na fase seguinte.
Ainda em se tratando da popularizao do fenmeno estresse, vale destacar
que a II Guerra Mundial se configurou enquanto fase de suma importncia ao
suscitar o interesse em investigaes acerca de reaes emocionais (respostas)
frente s demandas do combate (estressores) (Lazarus, 1993), iniciando-se tambm
os estudos a respeito do estresse ps-traumtico (Lipp, 1996). Durante e,
sobretudo, aps este perodo, foram notveis a difuso e a visibilidade de pesquisas
sobre o tema em questo, especialmente nas disciplinas de psicologia e psiquiatria
(Codo et al., 2004).
Destaca-se neste perodo o trabalho de Grinker e Spiegel (1945) que,
investigando combatentes e veteranos de guerra, refletiram acerca do ambiente de
combate e as reaes a ele, abordando questes como estresse, depresso,
agresso e reaes neurticas, bem como, modalidades de tratamento
psicoterpico. De acordo com Lazarus e Folkman (1984), este estudo diz respeito a
24
uma das primeiras aplicaes psicolgicas do termo estresse, tratando-se de um
livro de referncia sobre a guerra na poca.
Os maiores pontos de interesse dos pesquisadores deste perodo ps-guerra
consistiam nos efeitos do estresse e tentativas de previso e explicao do
fenmeno. Eram realizadas pesquisas experimentais, especialmente impulsionadas
pelo interesse dos militares na possibilidade de selecionar e treinar soldados para
enfrentamento do estresse (Lazarus, 1993), investigando o efeito deste sobre a
vulnerabilidade dos soldados a ferimentos ou morte (Lazarus & Folkman, 1984).
Ainda no ambiente militar, outras guerras como a da Coria e do Vietn
exerceram influncia nas investigaes sobre o estresse. Ocasionando o aumento
no nmero de publicaes referentes ao estresse de combate e suas
conseqncias fisiolgicas e psicolgicas, bem como, elaborao de princpios
para a seleo de pessoas menos propensas ao estresse e desenvolvimento de
intervenes para possibilitar um desempenho mais eficaz quando submetido ao
estresse (Lazarus & Folkman, 1984).
Neste perodo, o modelo dominante na explicao do estresse levava em
considerao essencialmente questes de entrada (demanda) e sada (tenso),
tratando-se, mais especificamente, do modelo estmulo-resposta. Considerando
esta viso do estresse insuficiente, a partir da dcada de 1950, Richard Lazarus e
sua equipe de estudos introduziram outro importante elemento na investigao
deste fenmeno, ao identificarem que as mesmas condies ditas estressantes
podem causar efeitos diferentes nos indivduos (Lazarus, 1993).
Numa poca que posteriormente seria chamada pelos norte-americanos de
revoluo cognitiva, Lazarus levantou a importncia das diferenas individuais,
como variveis motivacionais e cognio. Segundo seus estudos, reside na
interpretao pessoal de um evento a qualificao deste enquanto estressor ou no,
redefinindo a noo de estresse defendida na poca e influenciando estudos e
modelos tericos desde aquele perodo at a atualidade.
Lazarus e Folkman (1984) apresentaram o Modelo de Avaliao Cognitiva,
apontando a importncia da cognio para o estresse e assinalando a existncia de
uma relao conturbada entre o sujeito e o ambiente. De acordo com este modelo,
ocorre uma avaliao da situao por parte do sujeito formada por dois processos
complementares: avaliao primria e avaliao secundria.
25
Inicialmente ocorre a avaliao primria, uma avaliao mais rpida e intuitiva
da situao, que depende diretamente das percepes das caractersticas dos
estmulos externos e da estrutura psicolgica do sujeito. Em seguida, realizada
uma avaliao secundria, mais refinada e reflexiva, em que o sujeito julga os
recursos que possui para lidar com a situao (coping), cogitando possibilidades de
atuao diante do problema. Aps estas avaliaes, pode ocorrer uma reavaliao
que, por sua vez, pode originar novas cognies e emoes. Assim, tem-se que
uma avaliao inicial pode ser modificada pelo sujeito, bem como, podem ocorrer
mudanas na estratgia de coping adotada por ele.
Alm da preocupao com as diferenas individuais, outros acontecimentos
impulsionaram a investigao dos fenmenos estresse e coping, entre eles, o
ressurgimento do interesse em psicossomtica e uma preocupao cada vez maior
com a influncia do ambiente nas questes humanas (Lazarus & Folkman, 1984).
Nas ltimas dcadas houve um notvel aumento do interesse por parte de
pesquisadores das mais diversas partes do mundo acerca do fenmeno em
questo, especialmente diante da constatao da influncia do estresses nos
mbitos fsico, emocional e social. Tal interesse culminou num aumento do nmero
de publicaes, destacando-se estudos a respeito de eventos da vida entendidos
enquanto estressores, como imprevistos dirios e tenso crnica, bem como, a
pouca ateno destinada s prevenes primria e secundria do fenmeno
(Ferreira & Martino, 2006).
As investigaes sobre estresse na rea de psicologia aplicada se tornaram
mais consistentes durante a dcada de 1980, destacando-se os estudos
experimentais e aqueles que visavam o desenvolvimento e validao de estratgias
teraputicas com vistas ao tratamento do estresse (Machado, 2003).
De acordo com Gonzlez (2001), nos dias atuais vrias disciplinas
contribuem para a construo do conceito de estresse, entre elas, a biologia, a
neuroendocrinologia, a psicobiologia e psicologia. Valendo ressaltar investigaes
acerca da ocorrncia do estresse nos mais distintos ambientes, perpassando por
espaos como trnsito (Gulian, Matthews, Glendon, Davies, & Debney, 1989;
Matthews, Tsuda, Xin, & Ozeki, 1999; Hennessy, Wiesenthal, & Kohn, 2000; Hill &
Boyle, 2006; Zanelato, 2008), escola (Vilela, 1996; Lipp, Arantes, Buriti, & Witzig,
2002) e trabalho (Lipp, 2009; Cropanzano, Howes, Grandey, & Toth, 1997).
26
Na literatura a respeito do estresse, possvel identificar trs grandes
tradies tidas como complementares (Pereira, 2005), a saber: a) bioqumica
(fisiologia do estresse): abordagem inicial do estresse, apresentada nas dcadas de
1930 a 1950, refere-se ao distrbio dos sistemas e tecidos corporais; b) psicolgica:
enfoca a percepo e o comportamento dos sujeitos mediante o fenmeno,
apresentando cinco vertentes, a saber, psicossomtica, interacionista, behaviorista
(comportamentalista), psicopatologia do trabalho e psicologia social; c) sociolgica:
referente compreenso das variveis presentes no ambiente social, especialmente
o comprometimento de uma unidade ou sistema social.
Estas diferentes abordagens acabam por acarretar vises e definies
distintas do fenmeno em questo. A seguir so apresentados alguns conceitos,
bem como, teorias destacveis. Tendo em vista o escopo desta pesquisa, vale
destacar que a nfase ser dada na vertente psicolgica.
Definies de estresse
O estresse diz respeito a um dos vocbulos mais criativamente ambguos,
com diversas interpretaes possveis, sendo que at mesmo os estudiosos no
entram em consenso quanto a sua definio (Nelson & Quick, 1994). No obstante
seja encontrado um expressivo nmero de estudos que visam abordar o tema, ainda
se fazem presentes muitos questionamentos, equvocos e dificuldades conceituais a
respeito do estresse.
A literatura referente a este fenmeno tem sido marcada pelo emprego
equivocado e potencialmente confuso de vocbulos para designar variveis
presentes neste processo (Lazarus, 1993; Zautra, 2003), sendo identificados
equvocos neste sentido desde o incio do emprego do termo. Diante disso, em um
primeiro momento, Hans Selye (1956) acreditou ser mais coerente propor uma
delimitao do que no significava o estresse, como, por exemplo, a idia de que
estresse no seria sinnimo de tenso nervosa.
Ainda hoje, conforme citado anteriormente, os estudos a respeito do
construto em questo retratam um amplo nmero de definies e modelos tericos
com vistas a abarc-lo, originando certa impreciso conceitual. Desta forma, este
27
termo acaba por ser muito mal definido, funcionando como uma espcie de guarda-
chuva de termos gerais.
Este conceito passou por uma evoluo histrica, a partir da qual os
pesquisadores costumam distinguir trs tipos de definies (Lazarus & Folkman,
1984; Sonnentag & Frese, 2003), a saber: a) aquelas que abordam os estmulos
estressores; b) aquelas que enfocam as respostas aos eventos estressores e; c)
aquelas que tratam de estmulos estressores e respostas (abordagem interacional).
Abordagens que enfocam os estmulos estressores investigam estmulos
advindos do ambiente de externo, mais especificamente, a influncia de
determinados eventos da vida, de natureza genrica, apontando um carter objetivo
dos estressores. Neste sentido, o estresse concebido enquanto estmulo
qualificado como uma varivel independente ou um ativador de um processo no
sujeito, como a perda de uma pessoa querida, o trmino de um relacionamento e a
mudana de emprego.
Todavia, as crticas em torno desta abordagem tm sido amplas e bem
cobertas pela literatura (Cooper & Dewe, 2004). A principal delas diz respeito ao fato
da presena de eventos tidos como estressores no ambiente em que o sujeito est
inserido, no necessariamente implica a ocorrncia de estresse. Isto porque
necessrio que este os perceba e avalie enquanto estressores, apontando que
caractersticas situacionais e pessoais podem intervir neste julgamento (Lazarus &
Folkman, 1984).
Definies que abordam respostas aos eventos estressores concebem o
estresse enquanto uma varivel dependente, dizendo respeito s
conseqncias/respostas de cunho psicolgico, fisiolgico e/ou comportamental.
Pesquisas que adotam esta abordagem enfocam o estresse em termos das
emoes vivenciadas pelo sujeito, bem como, a intensidade das mesmas, no
explorando os eventos desencadeadores destas reaes. Como exemplo, tm-se os
trabalhos de Marilda Lipp, autora do Inventrio de Sintomas de Stress para Adultos
(Lipp, 2000), que aborda a sintomatologia apresentada pelo sujeito acometido pelo
estresse. Paschoal e Tamayo (2004) apontam que esta abordagem contribuiu para
a identificao e compreenso das conseqncias do estresse. Contudo, a principal
crtica est na problemtica de determinar se certos comportamentos e problemas
28
(respostas) esto ligados ao estresse ou se devem a outras questes da vida do
sujeito.
Conforme explicitado, ambas as abordagens apresentadas recebem crticas
de diversos autores. Como tentativa de solucionar este impasse, foi proposta a
abordagem transacional/interacionista, defendendo que o ponto central do estresse
no se encontra no ambiente, nem na resposta, mas na relao/conjuno existente
entre ambos (Lazarus, 1990). Assim, abordagens que destacam o processo
estressores-respostas se referem ao processo geral em que demandas do ambiente
tm impacto no sujeito, dependendo do nvel de controle deste. Nesta relao,
destaca-se o papel do julgamento/avaliao realizado pelo sujeito, por meio do qual
ele atribui valncia positiva ou negativa ao possvel estressor.
Ao identificarem a existncia de formas diversas de reao ao estresse,
especialmente influenciadas por questes individuais como experincias de vida e
autoconceito, autores adeptos vertente transacional divergem da definio
proposta por Selye e da vertente estresse como resposta. Vale destacar que,
atualmente, a perspectiva transacional do estresse a mais aceita na literatura
(Fortes-Burgos & Neri, 2008).
Diante da diversidade de perspectivas existentes acerca do estresse, pode
ser apontada na literatura uma variedade de definies sobre o fenmeno. Selye
(1956), em sua definio inicial, entendia o referido fenmeno como um conjunto de
reaes fisiolgicas inespecficas do organismo, resultante de qualquer demanda
sobre o corpo. Desta forma, o autor percebia o fenmeno enquanto uma reao
natural e fundamental para a sobrevivncia.
Embora simbolize um grande progresso, especialmente diante de toda a
contribuio do trabalho proposto por este pesquisador, esta conceituao no
escapou de crticas. Foi rotulada como uma perspectiva demasiadamente
biologizante do conceito de estresse, especialmente por ignorar questes como o
impacto psicolgico e o papel ativo do sujeito na habilidade de perceber a
ocorrncia do fenmeno e intervir rumo mudana da situao (Cooper, Sloan, &
Williams,1988).
Embora a obra de Selye aponte inicialmente para um conceito de estresse
biolgico, tempos depois seu grupo de pesquisa chegou a investigar tanto o
estresse psicolgico quanto o social (Moreira & Mello Filho, 1992). Assim, Selye
29
(1974) redefiniu sua conceituao do fenmeno, propondo-o enquanto uma
resposta inespecfica do organismo frente a qualquer demanda exercida sobre ele.
Nota-se uma ampliao do conceito, no estando mais restrito questo biolgica e
podendo ser estendido s demais abordagens. Entretanto, persiste o foco nas
respostas, independente da natureza do estressor.
Selye (1974) ainda props a idia de que o estresse no diz respeito apenas
a uma ocorrncia destrutiva, podendo advir de acontecimentos positivos. Esta idia
denota que estresse pode, em partes, ser entendido como um estmulo para a
realizao de determinadas tarefas. Para isto, este pesquisador props a definio
de eustress e distress. Eustress diz respeito ao estresse positivo, referente a
sentimentos positivos, bem como, estados corporais saudveis. Por sua vez,
distress se refere ao estresse negativo, estando ligado a sentimentos ruins e
perturbao do estado corporal.
Autores como Santos (1994) contestaram a concepo de estresse positivo
e negativo, defendendo que este diz respeito a um fenmeno de carter
unicamente negativo, no apresentando contribuio alguma que resulte em
aumento de produtividade. Por sua vez, este autor defendeu que estar sujeito a um
certo nvel de presso pode desencadear em desafio e motivao no individuo.
Magnusson (1982) entendeu por estresse um conjunto de reaes fsicas ou
psicossociais do individuo s demandas que se aproximam ou excedem os recursos
que o sujeito possui para enfrent-las.
Por sua vez, Lazarus e Folkman (1986, p. 63) consideraram que o fenmeno
em questo diz respeito a "uma relao com o ambiente que a pessoa avalia como
importante para seu bem-estar e em que as demandas impem ou excedem os
recursos disponveis de enfrentamento". imprescindvel destacar a relevncia da
cognio para este processo, conforme proposto por estes autores ao instaurarem a
idia de avaliao por parte do sujeito, apontando que caractersticas situacionais e
pessoais podem exercer influncia na avaliao de um evento.
Ainda em se tratando de cognio, destaca-se a qualidade do evento
estressor enquanto potencial, ao passo que a interpretao de cada sujeito
determinar se este se classificar enquanto estressor ou no. Logo, no o
ambiente em si que vem a ser estressante, mas a relao entre pessoa e ambiente
que pode resultar na ocorrncia do estresse (Travers & Cooper, 1996)
30
Aldwin (1994, p.22) definiu estresse como uma determinada qualidade de
experincia, produzida por meio da interao entre o indivduo e o ambiente, a qual,
quer mediante super-ativao, quer mediante rebaixamento do nvel de alerta,
resulta em desconforto psicolgico ou fisiolgico.
No Brasil, Lipp (1984) entendeu o estresse enquanto uma reao psicolgica
com componentes emocionais, fsicos, mentais e qumicos a determinados
estmulos que irritam, amedrontam, excitam e/ou confundem a pessoa (p. 6). Trata-
se de uma perspectiva cognitivo-comportamental que, apesar de se referir ao
fenmeno enquanto resposta, leva em considerao, alm de outras questes, a
interpretao do evento pelo sujeito.
Moreira e Mello Filho (1992) definiram o estresse como um conjunto de
reaes e estmulos que causam distrbios no equilbrio do organismo,
freqentemente com efeitos danosos" (p. 121). Apontando, desta forma, o carter
negativo do estresse, bem como, a definio do fenmeno enquanto interao entre
estressores e respostas.
Numa viso biopsicossocial do estresse, Rodrigues (1997) delimitou o
fenmeno enquanto "uma relao particular entre uma pessoa, seu ambiente e as
circunstncias s quais est submetida, que avaliada pela pessoa como uma
ameaa ou algo que exige dela mais que suas prprias habilidades ou recursos e
que pe em perigo o seu bem-estar" (p.24). Por sua vez, Vasconcellos (1992, p. 33)
entende por estresse um processo psico-fisiolgico (...) onde ambos os aspectos e
elementos se interrelacionam na busca da reao mais adequada e possvel.
Ainda, Glina e Rocha (2000) pontuaram que o estresse diz respeito a uma
doena, tratando-se de uma tentativa de adaptao s situaes novas,
relacionado, assim, ao cotidiano de vida experimentado pelo sujeito
Apesar das distintas formas de conceituao do fenmeno, de acordo com
Lazarus (1993), alguns pontos se fazem essenciais no processo do estresse, a
saber: a) um agente causal externo ou interno (estmulo); b) uma avaliao
realizada pela mente ou sistema fisiolgico que determinar o que vem a ser
ameaador ou no; c) os processos de enfrentamento; e d) um conjunto complexo
de efeitos na mente e/ou no organismo (reaes).
31
Alguns Estudos sobre Estresse no Brasil
Diante do amplo nmero de definies que almejam compreender o
fenmeno em questo, pertinente afirmar que este diz respeito a um construto
bastante complexo e dinmico, sobre o qual incidem inmeras pesquisas tanto em
esfera nacional quanto internacional.
O nmero de pesquisas nacionais acerca do estresse tem se multiplicado
com grande rapidez nos ltimos anos. Estes trabalhos costumam investigar o
fenmeno juntamente com questes referentes sade, ocupaes e grupos de
risco, bem como, estratgias de enfrentamento (Lipp, 2001, 2003). Ainda, tem-se
que a maioria das pesquisas diz respeito a levantamentos, com adoo do mtodo
quantitativo, investigando a populao adulta e com foco no estresse ocupacional
e/ou na correlao entre o fenmeno e patologias orgnicas (Benzoni, Carneiro,
Ribeiro, Peres, & Milar, 2004).
Quanto aos instrumentos adotados para aferio do fenmeno nas pesquisas
realizadas em territrio nacional, Benzoni et al. (2004) apontaram que a ferramenta
mais empregada o Inventrio de Sintomas de Stress para Adultos elaborado por
Lipp (2000), apesar das crticas na literatura acerca da viso de estresse adotada
neste instrumento.
Nos estudos sobre o stress emocional no Brasil, destacam-se as pesquisas
realizadas nas instituies de ensino, assim como, aquelas executadas em
organizaes com o intuito de realizar o levantamento do nvel de estresse dos
trabalhadores, bem como, os trabalhos de populaes clnicas e no-clinicas (Lipp,
2007).
Apesar de um nmero expressivo de estudos ter como foco a populao
adulta, algumas investigaes se voltam para a incidncia de estresse na populao
infantil (Lucarelli & Lipp, 1999; Marques, 2004; Horta, 2007; Marturano & Gardinal,
2008) e, em menor nmero, em adolescentes e jovens adultos (Calais, Andrade &
Lipp, 2003; Fagundes & Aquino Paula, 2010; Justo & Lipp, 2010).
As pesquisas que investigam estresse em crianas, em sua maioria,
costumam averiguar a presena ou no do fenmeno, por meio da identificao de
sintomas, bem com, a correlao entre estresse e o desempenho escolar (Horta,
2007).
32
Numa investigao sobre a incidncia de estresse em crianas pr-escolares
entre 5 e 6 anos de idade, com o intuito de identificar os principais sintomas
apresentados, as fontes estressoras e as estratgias de enfrentamento adotadas
pelas crianas, Horta (2007) identificou a presena de sintomas significativos de
estresse, em especial aqueles referentes ao estresse psicolgico, assim como,
diversas fontes de estressores, entre elas, a interao familiar, a interao com
colegas e as caractersticas da escola.
So encontrados instrumentos destinados exclusivamente investigao do
fenmeno na populao infantil, como o Inventrio de Sintomas de stress infantil
(ISS I), apresentado por Lucarelli e Lipp (1999). No estudo de validao desta
ferramenta participaram 255 crianas entre 6 e 14 anos de idade, sendo
identificados 4 fatores, a saber: reaes fsicas, psicolgicas, com componente
depressivo e psicofisiolgicos. Foram obtidos ndices de preciso aceitveis, com
alfas de Cronbach entre os fatores de .72 a .79, alm de .90 na escala total.
A literatura atual sobre estresse tem feito meno ao grau de diferena entre
os sexos em relao ocorrncia do fenmeno, sendo encontrado um nmero
considervel de estudos neste sentido (Lipp, Pereira, Floksztrumpf, Muniz, & Ismael,
1996; Calais, 2003; Calais, Andrade & Lipp, 2003; Lipp & Tanganelli, 2002).
Investigando sintomas de estresse em adultos jovens e a relao com o sexo
e ano escolar em curso, num estudo com 295 estudantes, Calais et al. (2003)
encontraram correlao significativa entre sexo e nvel de estresse, onde o maior
nvel deste fenmeno foi identificado em mulheres. O sintoma mais recorrente nas
mulheres foi sensibilidade emotiva excessiva e, por sua vez, nos homens, o
pensamento recorrente.
Em consonncia, Schillings (2005) numa investigao acerca da incidncia
de estresse em mestrandos, identificou a presena deste em 62,4% da amostra, de
um total de 178 respondentes, bem como, uma incidncia de estresse no sexo
feminino (63,9%) superior a do sexo masculino (49,2%).
Conforme supracitado, muitas pesquisas que tratam do estresse abordam a
ocorrncia deste no ambiente de trabalho. Neste sentido, o captulo que se segue
visa abordar este assunto em mbito nacional e internacional.
33
Estresse ocupacional
O homem emprega uma significativa parcela de seu tempo no trabalho, de
modo que este acaba por desempenhar um papel referencial em sua vida, bem
como, por contribuir de forma expressiva na constituio de sua identidade social e
pessoal. Assim, tem-se que a relao estabelecida entre o sujeito e o trabalho que
desempenha exerce impacto sobre sua maneira de pensar e se comportar.
Quanto ao trabalho, Zanelli e Silva (1996) expuseram que se, para a
sobrevivncia, o trabalho deveria satisfazer pelo menos as necessidades bsicas
dirias, na perspectiva psicolgica uma categoria central no desenvolvimento do
autoconceito e uma fonte de auto-estima. a atividade fundamental do
desenvolvimento do ser humano" (p.21). Neste sentido, Morin (2001) pontuou que a
importncia do trabalho se deve ao fato deste possibilitar o relacionamento com
outras pessoas, acarretar sentimento de vinculao, evitar o tdio e proporcionar um
objetivo na vida.
No entanto, existem particularidades e discrepncias a respeito dos modos
de perceber o trabalho, podendo este apresentar conseqncias paradoxais nos
mbitos fsico, psquico e social dos trabalhadores (Mendes & Cruz, 2004). Isto se
deve possibilidade de acarretar bastantes alegrias e realizaes, mas tambm,
ocasionar prejuzos diversos ao sujeito.
A noo de que o trabalho pode acarretar sofrimento j se encontra na
origem da prpria palavra, tendo em vista que o termo trabalho deriva do latim,
tripalium, cujo significado se refere a um instrumento de tortura (Gorender, 2000).
Assim, tem-se que o trabalho humano, alm das questes positivas j mencionadas,
pode ocasionar dor, sofrimento e prejuzos ao trabalhador.
Alm disso, o mundo do trabalho sofreu profundas alteraes nas ltimas
dcadas, tais quais mudanas na cultura e estrutura das organizaes e adio de
novas tecnologias, tornando cada vez mais evidentes e intensas as cobranas por
melhores resultados. Estudos apontam a dificuldade que os trabalhadores dos mais
diversos setores da economia encontram para perceber e agir em detrimento de
diversos problemas que tm como possvel causa o trabalho por eles desenvolvido
(Zanelli, 2010).
34
Neste cenrio, tem-se o estresse ocupacional, um fenmeno que se faz
presente em diversas organizaes e atinge as mais distintas categorias
profissionais (Zanelli, 2010), sendo reconhecido enquanto um dos principais
obstculos ao desempenho individual e organizacional (Cartwright & Cooper, 1997;
Cooper et al., 2001). Trata-se de um construto bastante investigado, em especial
por psiclogos, uma vez que foram encontradas evidncias do desenvolvimento de
quadros de estresse em funo do trabalho (Sanzovo & Coelho, 2007).
Nas ltimas dcadas, notvel o aumento do interesse acerca do fenmeno
em questo, sendo refletido no crescimento da literatura cientfica em torno deste
construto, abordando questes como sua incidncia e prevalncia nas mais
diversas profisses. Este expressivo interesse pode encontrar justificativa em
importantes razes, como o reconhecimento de que a exposio persistente a
condies de trabalho estressantes pode acarretar graves conseqncias para a
sade e a qualidade de vida dos trabalhadores, bem como, interferir negativamente
na eficcia das instituies s quais eles esto vinculados, ocasionando inmeras
conseqncias indesejveis e dispendiosas (Murphy, Hurrell, Sauter, & Keita, 1995).
Stella et al. (1999) identificaram algumas das conseqncias mais
recorrentes advindas do estresse no trabalho, dentre as quais, diminuio da
eficincia e produtividade do sujeito, desateno, problemas de memria, excesso
ou dificuldades de sono e insegurana na tomada de decises. Por sua vez, no que
se refere s conseqncias negativas no mbito organizacional, vrios autores
colocaram que estressores ocupacionais contribuem para a ineficincia
organizacional, absentesmo, alta rotatividade de pessoal, aumento de custos dos
cuidados com sade, acidentes no trabalho, assim como, diminuio da qualidade e
quantidade de produo (Jex, 2002; Kazmi, Amjad & Khan, 2008; Sadir & Lipp,
2009).
De acordo com Silva Jnior e Ferreira (2007), os estudos tradicionais sobre o
estresse ocupacional tendem a dar maior ateno ao setor produtivo/industrial,
principalmente linha de montagem e construo civil, possivelmente devido
submisso a condies de trabalho mais extremas e/ou por se tratarem de
organizaes mais rgidas. Contudo, estes autores observaram uma expanso
dessas investigaes para outras categorias ocupacionais, especialmente aquelas
que lidam diretamente com o pblico, tais quais, enfermeiros, mdicos e docentes.
35
O estresse ocupacional no um problema restrito aos limites da
organizao, mas sim, uma questo ampla que pode envolver toda a sociedade,
resultando em problemas como aumento de gastos pblicos e/ou privados com a
sade e diminuio da qualidade de vida (Cooper & Paine, 2001). Alm disso, os
efeitos do referido fenmeno, ao ultrapassarem as barreiras organizacionais,
atingem efetivamente outras esferas da vida do sujeito, como o ambiente familiar e
sua vida em comunidade (Jex, 2002).
Apesar do estresse ocupacional ser considerado um dos temas mais
investigados pela Psicologia e do considervel progresso alcanado ao longo dos
anos, imprescindvel que seja aprofundado o conhecimento acerca da dinmica do
estresse nas organizaes (Jex, 2002). Em consonncia, Melo, Gomes e Cruz
(1997) apontaram que ainda so necessrios maiores estudos com vistas
apreciao das suas causas, efeitos, prevalncia e incidncia.
O fenmeno em questo apresenta tamanha fora e importncia que Beehr
(1998) pontuou que deveria ser considerado como uma rea de estudo e prtica
que envolve bastantes variveis interligadas. Todavia, mesmo com sua relevncia
para mundo organizacional, os estudos acerca do estresse ocupacional, conforme
ocorre com o estresse em outros mbitos, tm sido caracterizados por uma falta de
consenso quanto a sua definio, acarretando um nmero expressivo de modelos
tericos que visam explicar sua ocorrncia e, por conseguinte, uma impreciso
conceitual.
Conceitos de estresse ocupacional
Conforme constatado na literatura referente ao estresse em outros mbitos,
nos trabalhos que tratam do estresse ocupacional trs tipos de definies para o
construto merecem destaque (Jex, 1998, 2002): a) eventos estressores:
compreende estresse enquanto alguma fora que age sobre o indivduo, mais
especificamente, os estmulos advindos do ambiente de trabalho, com enfoque no
carter objetivo dos estressores; b) respostas aos eventos estressores: diz respeito
s reaes de cunho psicolgico, fisiolgico ou comportamental evocadas por algum
aspecto do ambiente de trabalho considerado aversivo pelo sujeito; c) processo
36
estressores-respostas: refere-se ao processo geral em que demandas do trabalho
exercem impacto no empregado.
Segundo Paschoal (2003), este ltimo consiste no enfoque mais completo, ao
passo que engloba tanto os estressores quanto as respostas. Ainda, constata-se
uma tendncia em conceber o estresse ocupacional enquanto estressores e
respostas, com nfase na relao entre o ambiente de trabalho e o sujeito (Tamayo
& Paschoal, 2005). Apesar desta tendncia, ainda no h consenso sobre a
definio do construto, nem acerca da melhor forma de avali-lo.
Numa breve definio, Rees (1997) entendeu o estresse ocupacional como a
incapacidade de lidar com as presses de um emprego. Por sua vez, numa
conceituao demasiado generalista, French, Cobb, Caplan, Van Harrison e
Pinneau (1976) definiram este fenmeno enquanto qualquer caracterstica advinda
do ambiente de trabalho que implique uma ameaa para o trabalhador, seja por
causa de exigncias excessivas ou por suprimentos insuficientes para o
atendimento de suas necessidades.
Outra definio proposta por Beehr e Newman (1978) concebe o estresse
ocupacional como uma situao na qual fatores do trabalho interagem com o
trabalhador, afetando sua condio psicolgica ou fisiolgica de tal forma que seu
funcionamento normal seja comprometido. De acordo com Sinha e Kahn (2006),
esta definio aborda as principais reas da vida de um indivduo ao envolver
questes como vida profissional e bem-estar social.
Sauter e Murphy (1999) expuseram que este fenmeno se refere s
respostas fsicas e emocionais prejudiciais/negativas decorrentes de exigncias
provenientes do trabalho que, de alguma forma, no correspondem s capacidades,
recursos ou necessidades do empregado. Esta viso do fenmeno enfatiza a
caracterstica negativa do estresse ocupacional experimentada pelo trabalhador.
Caplan (1983) compreendeu o construto em questo como o resultado de um
desajuste entre o que o trabalhador dispe e aquilo que o trabalho lhe exige. Mais
especificamente, o resultado entre os recursos pessoais para realizar as tarefas que
lhe cabem e as cobranas advindas do ambiente de trabalho.
Em consonncia, Seegers e van Elderen (1996, p.213) defenderam que o
estresse ocupacional o resultante da percepo entre a discordncia entre as
exigncias da tarefa e os recursos pessoais para cumprir ditas exigncias. Esta
37
definio aponta a necessidade de uma deficincia de ajuste entre o trabalhador e
as exigncias do trabalho para que se desencadeie o estresse ocupacional. Ainda,
defenderam que esta discordncia pode ser percebida pelo sujeito enquanto
desafiadora (implicando possivelmente uma dedicao tarefa) ou ameaadora
(situao estressante negativa).
Uma das definies de maior destaque diz respeito formulada por Lazarus
(1995), delimitando estresse ocupacional enquanto um processo relacional entre o
trabalhador e o seu ambiente de trabalho, no qual o indivduo julga as demandas
deste como excessivas diante dos recursos de enfrentamento que dispe. Sendo
destacado o carter transacional (ambiente-indivduo) desta definio, bem como, o
status de mediador que conferido cognio neste processo.
Cooper et al. (2001) apontaram que estudos contemporneos acerca do
estresse tendem a adotar definies que abordam esta perspectiva transacional.
Segundo a qual, o estresse no se constituiria como uma propriedade exclusiva das
caractersticas do sujeito ou do ambiente em questo, mas sim, uma conjuno de
um tipo especfico de pessoa com um determinado ambiente.
O estresse ocupacional vem sendo definido por muitos pesquisadores como
uma qualidade percebida negativamente, fruto do enfrentamento inadequado de
fontes de estresse por parte do trabalhador, ocasionando-lhe conseqncias
negativas sade mental e fsica (Clarke & Cooper, 2004). Neste tipo de definio,
destacam-se a qualidade negativa do estresse e a inadequao das estratgias de
enfrentamento adotadas pelo sujeito como pontos centrais do conceito.
No Brasil, Paschoal e Tamayo (2004), em consonncia com a definio
proposta por Lazarus (1995), defenderam que o estresse ocupacional pode ser
entendido como um processo em que o trabalhador percebe as demandas advindas
do trabalho enquanto estressores que, ao excederem sua habilidade de
enfrentamento, ocasionam reaes negativas. Por sua vez, Mendes (2008)
entendeu por estresse no trabalho um fenmeno resultante de uma tenso
acumulada devido ao constante e intenso esforo realizado pelo sujeito com vistas a
se adaptar s demandas (internas ou externas) impostas pelas dimenses da
organizao, bem como, pelas condies e relaes sociais de trabalho.
Frana e Rodrigues (1997) pontuaram que o estresse ocupacional pode ser
definido como situaes em que o ambiente de trabalho percebido como
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ameaador no concernente realizao profissional, pessoal, sade fsica e/ou
mental pelo trabalhador. Destacando que estas situaes afetam de forma negativa
sua interao com o trabalho, ao passo que o sujeito se defronta com demandas
excessivas e/ou no dispe de recursos adequados para o enfrentamento de tais
situaes.
Para Stacciarini e Trccoli (2002), o fenmeno em questo resultante das
complexas relaes estabelecidas entre condies referentes ao trabalho,
condies externas ao mesmo e caractersticas individuais do sujeito, nas quais as
demandas impostas pelo trabalho acabam por exceder as habilidades que o
trabalhador dispe.
Ainda, de acordo com Couto (1987), estresse ocupacional diz respeito a um
estado caracterizado por um desgaste anormal do organismo e/ou reduo da
capacidade de trabalho, tendo origem na incapacidade do sujeito de suportar,
superar ou se adaptar s demandas advindas do seu ambiente de trabalho, bem
como, de sua vida pessoal.
Apesar das peculiaridades encontradas em cada tipo de definio, Hart e
Cooper (2001) identificaram a existncia de algumas questes-chave presentes na
maioria das definies acerca do estresse ocupacional, dentre elas, a associao
deste fenmeno com estados emocionais desagradveis referentes ao trabalho,
bem como, experincia de sentimentos de estresse em detrimento
de emoes mais prazerosas e o fato de muitos pesquisadores estarem assumido
que, a nvel operacional, uma nica medida pode ser adotada com vistas a
mensurar o fenmeno em questo.
Modelos Tericos sobre estresse
Estresse ocupacional diz respeito a um fenmeno multifacetado e complexo
que, conforme sinalizado anteriormente, apresenta muitos (e distintos) modelos
tericos com vistas a abarc-lo. Dentre eles, alguns merecem destaque, como:
modelo dinmico de estresse ocupacional (Cooper et al., 1988), a teoria do
ajustamento pessoa-ambiente (Edwards & Cooper, 1990), a teoria ciberntica do
estresse (Edwards, 1992), modelo de Kahn e Byosiere (1992) e o modelo de
Lazarus (1995), apresentados nesta seo.
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Modelo dinmico de estresse ocupacional (Cooper, Sloan, & Williams,
1988)
O modelo de estresse ocupacional proposto por Cooper, Sloan e Williams
(1988) possibilitou a identificao e mensurao de fatores/agentes estressores
presentes no ambiente de trabalho, bem como, suas manifestaes, sendo utilizado
at a atualidade como referncia em diversas pesquisas tanto nacionais (Faria,
2005; Cabral, 2009) quanto internacionais (Swan, Moraes, & Cooper, 1993).
De acordo com este modelo, agentes estressores em potencial se fazem
presentes em todas as organizaes e ocupaes profissionais. Todavia, seu tipo e
intensidade enquanto estressor est condicionado tanto s caractersticas
organizacionais quanto individuais (vulnerabilidade individual ao estresse). Ainda, os
autores propuseram uma importante classificao para os agentes estressores,
alocando-os em seis grandes grupos, a saber: fatores intrnsecos ao trabalho, papel
na organizao, relacionamento interpessoal, desenvolvimento na carreira, clima e
estrutura organizacional e interface casa-trabalho, a serem aprofundados na seo
seguinte.
Teoria do ajustamento pessoa-ambiente (Edwards & Cooper, 1990)
Outro modelo de destaque internacional com vistas a explicar o estresse no
trabalho diz respeito teoria do ajustamento pessoa-ambiente. Segundo Edwards e
Cooper (1990), o fenmeno em questo pode ser caracterizado como uma falta de
correspondncia/ajustamento entre caractersticas da pessoa (como habilidades e
valores) e do ambiente (demanda).
A questo do ajustamento/desajustamento se refere ao grau em que as
habilidades do empregado correspondem ou no s demandas do trabalho. Assim,
um trabalhador que no apresenta competncias e habilidades suficientes para a
realizao do trabalho pode perceb-lo enquanto estressante, podendo ocorrer
tambm com aquele cujo trabalho est aqum de suas habilidades e competncias
(Jex, 2002).
Tem-se que a principal caracterstica do referido modelo diz respeito idia
de aferio do estresse ocupacional por meio do nvel de discrepncia entre o
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desejo e a percepo do trabalhador acerca de caractersticas diversas do ambiente
de trabalho (Canova, 2008). Destarte, o trabalhador percebe este ambiente
enquanto estressante mediante a falta de ajuste entre ambos (French, Caplan, &
Harrison, 1982).
Jex (2002) menciona que o referido modelo de estresse ocupacional acaba
por apresentar implicaes para muitos fenmenos organizacionais, tais quais,
seleo e socializao, sendo que suas razes histricas remetem a Kurt Lewin e
sua idia de psicologia interacionista.
Teoria ciberntica do estresse (Edwards, 1992)
Assim como o modelo supracitado, a presente teoria entende o estresse
ocupacional em termos da disparidade entre uma situao percebida e desejada
pelo empregado. Contudo, destaca que esta relao de discrepncia deve ser
entendida enquanto relevante pelo trabalhador para que ele vivencie o estresse.
Neste sentido, o ncleo deste modelo terico diz respeito ao negative
feedback loop, que atua com vistas a minimizar as discrepncias entre as
caractersticas do ambiente de trabalho e o critrio de referncia relevante para o
sujeito, tratando-se do funcionamento dos sistemas de auto-regulao (Edwards,
1992). Mais especificamente, consiste em receber as informaes advindas do
ambiente de trabalho e realizar uma comparao das mesmas com um critrio de
referncia que se mostre relevante para sujeito.
Ao identificar uma discrepncia, este se dispe a modificar/intervir no
ambiente estressor com vistas a minimizar ou cessar a fonte da discrepncia
(Paschoal, 2003). Assim, tem-se que o estresse total vivenciado por um sujeito
determinado por todas as discrepncias relevantes identificadas por ele (DuBrin,
2003).
Modelo de Kahn e Byosiere (1992)
Fruto de uma compilao de pesquisas empricas acerca do tema, trata-se de
um teoria integradora que rene antecedentes, estressores, variveis intervenientes,
respostas e conseqncias do fenmeno em questo. Kahn e Byosiere (1992)
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defenderam que a cognio vem a ser uma pea fundamental neste processo,
tendo em vista a importncia da avaliao das demandas advindas do ambiente
organizacional enquanto estressoras.
Outro fator de destaque neste modelo terico diz respeito noo de
antecedentes organizacionais, a saber, caractersticas/propriedades da organizao
que podem vir a originar estressores, tais quais, polticas, tecnologias e estruturas
organizacionais. Por exemplo, tem-se que instituies cuja estrutura implique uma
considervel distncia entre os nveis hierrquicos, somada falta ou reduzido
controle na execuo do trabalho por parte dos funcionrios pode vir a propiciar o
surgimento de estressores. Neste sentido, importante ressaltar o carter
antecedente destas variveis organizacionais, j que as mesmas no so
concebidas enquanto estressores em si, mas como fontes destes.
Modelo de Lazarus (1995)
Trata-se de um dos modelos mais ressaltados na literatura, cujo
embasamento advm dos pressupostos apresentados na teoria de estresse geral de
Lazarus e Folkman (1984). Destaca a cognio como sendo dividida em duas
partes, a saber: a) avaliao primria: corresponde avaliao da situao por
parte do indivduo, estando sujeita s percepes das propriedades dos estmulos
situacionais, bem como, sua estrutura psicolgica; b) avaliao secundria: diz
respeito avaliao do sujeito acerca dos recursos que possui para enfrentar a
situao em que se encontra (coping).
Este modelo defende que o estresse ocupacional no diz respeito a um
atributo pessoal ou do ambiente, podendo ser originado a partir do encontro entre
um trabalhador especfico e um determinado ambiente de trabalho. Assim, uma
questo crucial vem a ser nfase no processo cognitivo do estresse ocupacional. De
acordo com esta teoria, uma situao no ambiente de trabalho no vem a se
mostrar estressora para todos os trabalhadores, uma vez que, para que isto ocorra
necessrio que esta seja avaliada enquanto capaz de gerar perdas e danos ao
indivduo. Destarte, a histria de vida do sujeito pode interferir nesta avaliao, ao
passo que a percepo das caractersticas dos estmulos situacionais, bem como, a
estrutura psicolgica do indivduo esto envolvidas neste processo.
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Em geral, h uma tendncia nos modelos tericos em conceber o estresse
ocupacional como um conceito relacional e por estressores-respostas, com nfase
na relao entre o ambiente de trabalho e o sujeito (Tamayo & Paschoal, 2005),
conforme presente em teorias como a proposta por Lazarus (1995), a teoria de
ajustamento pessoa-ambiente (Edwards & Cooper, 1990) e teoria ciberntica do
estresse (Edwards, 1992). A seguir sero expostos alguns eventos estressores no
trabalho apontados na literatura.
Estressores ocupacionais
Estresse ocupacional diz respeito a um fenmeno complexo e multifacetado,
o que implica a existncia de vrias fontes de estresse j catalogadas na literatura.
Neste sentido, tem-se que eventos ou condies no ambiente de trabalho que
requeiram algum tipo de resposta adaptativa por parte do trabalhador, configurando-
se enquanto promotores de estresse, so denominados estressores (Beehr, 1998;
Jex, Beehr, & Roberts, 1992).
Uma ampla gama de pesquisas consistentes acerca de estressores tem
confirmado suas influncias nos comportamentos e atitudes dos empregados (Jex &
Crossley, 2005), mais especificamente, os efeitos negativos provocados na sade,
performance e satisfao dos mesmos (Kahn & Byosiere, 1992). Ainda, tem-se que
os estressores podem ser de natureza fsica ou psicossocial (Paschoal, 2003),
todavia, maior destaque conferido ltima categoria.
Contudo, vale ressaltar que os estressores so percebidos e interpretados
pelos trabalhadores de formas distintas, o que implica a necessidade de considerar
as caractersticas de cada empregado, bem como, sua capacidade de interao
com estas fontes de estresse presentes no ambiente ao qual esto expostos
(Martins, Bronzatti, Vieira, Parra, & Silva, 2000). Em consonncia, Lazarus (1990)
defende que um evento estressor para um sujeito num dado momento, no
necessariamente o ser em outra situao, bem como, pode no se configurar
enquanto um estressor para outro sujeito, ao passo que, este processo se encontra
atrelado percepo individual e caractersticas situacionais.
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Devido a este carter subjetivo dos estressores, alguns autores optam por
trat-los como estressores em potencial, salientando que eles teriam uma
propenso a se tornarem fontes de estresse, conforme a percepo do sujeito.
Diante da constatao da complexidade do referido fenmeno, mltiplas so
as fontes de estresse ocupacional descritas na literatura, bem como, as tentativas
de categoriz-las. Partindo do pressuposto de que todo e qualquer tipo de trabalho
apresenta agentes potencialmente estressores para cada trabalhador, Cooper e
colaboradores (Cooper,1983; Cooper et al., 1988; Cooper et al., 2001) propuseram
uma das tipologias de maior destaque relatando a existncia de seis grupos de
variveis que se configuram enquanto fontes de estresse no trabalho, descritos a
seguir.
Fatores intrnsecos ao trabalho
Diz respeito aos aspectos inerentes tarefa desempenhada pelo trabalhador,
entre os quais figuram questes referentes ao ambiente fsico (como detalhes
arquitetnicos, temperatura, barulho e iluminao), carga de trabalho (por exemplo,
expediente de trabalho, freqncia e intensidade das exigncias) e controle sobre a
atividade exercida (ausncia de autonomia).
Os estudos acerca de estresse ocupacional, em parte, tm negligenciado as
caractersticas do ambiente fsico em que o trabalho realizado, tendo em vista a
alta concentrao de investigaes acerca dos estressores psicossociais (Cooper &
Cartwright, 1997; Sparks & Cooper, 1999). Alm do que, em muitos casos, os
estudos a respeito dos fatores do ambiente fsico costumam investigar os
parmetros fsicos das tarefas realizadas, ao invs de caractersticas do espao
fsico em que o trabalho desempenhado (Vischer, 2007).
Dentre os estressores fsicos do ambiente de trabalho, os mais investigados
dizem respeito s condies ambientais, incluindo questes como iluminao,
temperatura, ventilao e barulho, que podem aumentar a hostilidade, a frustrao e
as tendncias agressivas (McCoy & Evans, 2005).
Estudos acerca dos efeitos do rudo sobre trabalhadores tm mostrado
resultados instveis, indicando a necessidade de maiores investigaes acerca
desta varivel. Todavia, algumas evidncias no que diz respeito influncia do
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rudo nos quadros de estresse foram encontradas, conforme apresentado por
Morrison, Haas, Shaffner, Garrett e Fackler (2003) ao investigarem se o rudo no
ambiente hospitalar pode ser correlacionado com o estresse de enfermeiros.
Valendo-se para tal mensurao de questionrios, amilase salivar e freqncia
cardaca, este estudo indicou que nveis mais elevados de rudo predisseram
significativamente uma freqncia cardaca mais elevada, bem como, maior
estresse subjetivo e aborrecimento nos trabalhadores.
Ainda neste fator, destacam-se os estudos acerca da carga de trabalho, que
pode ser definida como a quantidade de trabalho que um empregado tem de realizar
em um determinado perodo de tempo (Jex, 2002). Conforme apontado por Jex
(2002), ao investigar este estressor, faz-se necessrio levar em considerao duas
questes essenciais: percepes de carga de trabalho e carga de trabalho objetiva
(real). Isto porque, a duas pessoas pode ser atribudo o mesmo volume de trabalho,
mas a percepo (avaliao) acerca desta carga de trabalho ser diferente, entrando
em questo, a subjetividade. Ainda, devem ser ponderadas a freqncia desta
sobrecarga, bem como, a dificuldade da tarefa solicitada.
A sobrecarga de trabalho um estressor bastante citado na literatura acerca
do tema, sendo relatado que o excesso de tarefas pode ocasionar insatisfao,
tenso e outros problemas ao trabalhador. Contudo, a falta de carga de trabalho
tambm pode se configurar enquanto uma fonte de estresse, ao passo que longos
perodos de inatividade ou solicitaes aqum de sua capacidade podem causar
sensao de tdio (Peir, 1993; Ferreira & Assmar, 2008).
Outra questo controversa em se tratando de fonte de estresse a
autonomia no trabalho, que diz respeito ao "grau em que o trabalho oferece
liberdade substancial, independncia e discrio para o indivduo na programao
do trabalho e determinao dos procedimentos a serem utilizados na sua
realizao" (Hackman & Oldham, 1976, p. 258). Ou seja, a condio em que o
trabalho permite aos funcionrios estabelecerem seu prprio ritmo de trabalho e
procedimentos adequados para a realizao de tarefas (Shih, Jiang, Klein, & Wang,
2011).
Na literatura, estudos que utilizam os modelos referentes a questes como
demanda e controle no trabalho apontam que a capacidade de um funcionrio ter
autonomia, controlando as funes referentes ao trabalho desempenhado, pode
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diminuir os possveis impactos negativos em decorrncia da alta demanda no
trabalhador (Dwyer & Ganster, 1991). Num estudo com 306 trabalhadores da rea
de tecnologia da informao, Shih et al. (2011) encontraram que a exausto no
trabalho reduzida com a atribuio de autonomia aos funcionrios, na presena
de exigncias de aprendizagem e motivao, que, por sua vez, diminui as intenes
de rotatividade dos trabalhadores.
Destarte, muitos estudos apontam a falta de autonomia enquanto um
estressor em potencial (Dwyer & Ganster, 1991; Van der Doef & Maes, 1999).
Entretanto, deve-se levar em considerao, novamente, caractersticas prprias de
cada do trabalhador, ao passo que, algumas pessoas no lidam bem com excesso
de autonomia, necessitando de certo grau de dependncia, por assim dizer.
Relaes interpessoais no trabalho
Um nmero expressivo de atividades laborais marcado pela necessidade
de contato entre pessoas. Todavia, quando estas relaes so marcadas por
conflitos, quando so identificados problemas nas interaes pessoais firmadas
nestes contextos laborais, seja com pessoas do mesmo nvel hierrquico ou de
nveis distintos, assim como, entre empregados e clientes, podem se configurar
enquanto estressor