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Universidade de Brasília Instituto de Psicologia Curso de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações Construção e Validação de Escala de Estresse Organizacional Brasília, DF 2012

Escala de Estresse Organizacional

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A escala se propõe a avaliar o nível de estresse de cada indivíduo, permitindo uma melhor análise dos procedimentos a serem tomados

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  • Universidade de Braslia

    Instituto de Psicologia

    Curso de Ps-Graduao em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes

    Construo e Validao de Escala de Estresse Organizacional

    Braslia, DF

    2012

  • 2

    Universidade de Braslia

    Instituto de Psicologia

    Curso de Ps-Graduao em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes

    Construo e Validao de Escala de Estresse Organizacional

    Pricila de Sousa Santos

    Braslia, DF

    2012

  • 3

    Universidade de Braslia

    Instituto de Psicologia

    Curso de Ps-Graduao em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes

    Construo e Validao de Escala de Estresse Organizacional

    Pricila de Sousa Santos

    Orientadora: Prof. Dra. Maria das Graas Torres da Paz

    Braslia, DF

    Fevereiro de 2012

    Dissertao de Mestrado apresentada ao

    Programa de Ps-Graduao em Psicologia

    Social, do Trabalho e das Organizaes, como

    requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em

    Psicologia Social, do Trabalho e das

    Organizaes.

  • 4

    Construo e Validao de Escala de Estresse Organizacional

    Dissertao defendida diante e aprovada pela banca examinadora constituda por:

    ___________________________________________________________________

    Professora Doutora Maria das Graas Torres da Paz (Presidente)

    Programa de Ps-graduao em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes

    Universidade de Braslia

    ___________________________________________________________________

    Professor Luiz Pasquali, Docteur (Membro)

    Programa de Ps-graduao em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes

    Universidade de Braslia

    ___________________________________________________________________

    Professora Doutora Maria Cristina Ferreira (Membro)

    Mestrado em Psicologia

    Universidade Salgado de Oliveira

    ___________________________________________________________________

    Professora Doutora Tatiane Paschoal (Membro Suplente)

    Departamento de Administrao

    Universidade de Braslia

  • 5

    Conhecimento no aquilo que

    voc sabe, mas o que voc faz

    com aquilo que sabe

    (Aldous Huxley)

  • 6

    Dedicatria

    Ao meu querido av,

    Fabriciano Evangelista de Sousa (in memorian),

    por ter me dado a honra e alegria de sua presena em minha vida.

    minha maravilhosa me,

    Aidil Silva de Sousa,

    pelo amor e carinho incondicionais dedicados a mim.

  • 7

    Agradecimentos

    Ao final desta jornada, escrever estes agradecimentos se torna uma forma de

    fechar mais um ciclo em minha vida. Neste momento, agradeo primeiramente

    minha me que mesmo distante nestes longos anos soube se fazer sempre

    presente. Afinal, longe de casa desde cedo, no foram poucos os momentos em

    que pensei em desistir, mas ela sempre esteve l me dando fora e aquele bom e

    velho choque de realidade quando necessrio. Amo-te mais que tudo, me!

    Agradeo aos meus avs pelos momentos inestimveis de descanso e lazer

    na praia, mas especialmente pelo carinho e sabedoria que recebi em toda a minha

    vida! V, voc faz muita falta!

    Ao meu namorado, Charles, por ter me escutado (e agentado) nas situaes

    mais difceis. Por estar sempre ao meu lado, principalmente nas horas em que eu

    achava que no iria conseguir!

    Aos poucos, mas inestimveis, amigos de Braslia (em especial, Karine e

    Lgia), meu obrigada pelos momentos de lazer que mantiveram minha sade mental

    (ou quase isto). Sem vocs esta caminhada seria imensamente mais dolorosa.

    A todos os amigos da minha longa estadia por Petrolina/Juazeiro,

    especialmente Eyla, Claudiane, Marianna e Joozinho, obrigada pela forte amizade

    mesmo na longa distncia! A saudade de vocs me aperta o corao!

    minha orientadora, Prof. Dra. Maria das Graas Torres da Paz, agradeo

    pela ajuda, compreenso e discusses tericas no perodo de desenvolvimento da

    pesquisa. Agradeo sobretudo por ter me acolhido de uma maneira to especial e

    entrado nesta loucura junto comigo! Sero mais 4 anos juntas! Desde j, agradeo

    imensamente pelos muitos ensinamentos que me transmite!

    Ao professor Luiz Pasquali pela disponibilidade, pacincia e inestimvel

    orientao estatstica na realizao das anlises de dados deste estudo.

    s pesquisadoras Maria Cristina Ferreira e Tatiane Paschoal pelos trabalhos

    publicados que colaboraram na concepo desta dissertao.

    s empresas e trabalhadores participantes deste trabalho, pela abertura e

    participao, constituindo a amostra da pesquisa.

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES)

    por financiar meus estudos.

  • 8

    Sumrio

    Lista de figuras.................................................................................................... 11

    Lista de tabelas................................................................................................... 12

    Resumo............................................................................................................... 14

    Abstract............................................................................................................... 15

    Introduo........................................................................................................... 16

    Estresse.............................................................................................................. 20

    Definies de estresse............................................................................... 26

    Alguns Estudos sobre Estresse no Brasil.................................................. 31

    Estresse ocupacional.......................................................................................... 33

    Conceitos de estresse ocupacional.................................................................... 35

    Modelos Tericos sobre estresse....................................................................... 38

    Modelo dinmico de estresse ocupacional......................................................... 39

    Teoria do ajustamento pessoa-ambiente .......................................... 39

    Teoria ciberntica do estresse........................................................... 40

    Modelo de Kahn e Byosiere............................................................... 40

    Modelo de Lazarus............................................................................. 41

    Estressores ocupacionais........................................................................... 42

    Fatores intrnsecos ao trabalho.......................................................... 43

    Relaes interpessoais no trabalho................................................... 45

    Papis na organizao....................................................................... 46

    Desenvolvimento de Carreira............................................................. 48

    Clima e Estrutura Organizacional....................................................... 49

    Interface famlia-trabalho.................................................................... 50

    Respostas aos estressores......................................................................... 52

    Medidas de estresse ocupacional............................................................... 53

    Distino entre estresse e outros construtos...................................... 60

    Estresse e tenso............................................................................... 60

  • 9

    Estresse e burnout.............................................................................. 61

    Estresse organizacional....................................................................................... 64

    Caractersticas organizacionais como estressores descritos na literatura.. 65

    Estrutura organizacional..................................................................... 65

    Tomada de deciso.................................................................... 66

    Formalizao de procedimentos................................................. 67

    Tamanho da organizao........................................................... 68

    Comunicao organizacional..................................................... 68

    Suporte organizacional....................................................................... 71

    Incentivo/falta de Cooperao............................................................ 72

    Incentivo Competio....................................................................... 73

    Polticas organizacionais..................................................................... 74

    Entraves Carreira/Crescimento profissional..................................... 77

    Proposio do conceito estresse organizacional......................................... 78

    Justificativa da pesquisa.............................................................................. 79

    Objetivos da pesquisa................................................................................. 80

    Mtodo................................................................................................................. 82

    Amostra....................................................................................................... 82

    Instrumento................................................................................................. 83

    Procedimentos............................................................................................. 85

    Procedimento de coleta de dados....................................................... 85

    Procedimentos de anlise de dados................................................... 85

    Resultados........................................................................................................... 90

    Interpretao dos fatores............................................................................. 118

    Avaliao do nvel de estresse organizacional percebido na amostra......... 127

    Discusso............................................................................................................. 130

    Fator 1 Decises organizacionais............................................................. 132

    Influncia na tomada de deciso e comunicao............................... 133

  • 10

    Desconsiderao de contribuies dos funcionrios......................... 134

    Fator 2 Suporte......................................................................................... 135

    Suporte material.................................................................................. 136

    Excesso de cooperao...................................................................... 137

    Fator 3 Incentivo Competio................................................................ 137

    Fator 4 Entraves ao crescimento profissional.......................................... 138

    Fator Geral Estresse organizacional geral............................................... 139

    Nveis de estresse organizacional percebido na amostra........................... 139

    Consideraes finais............................................................................................ 142

    Referncias.......................................................................................................... 146

    Anexo................................................................................................................... 169

    Anexo 1 - Escala de Estresse Organizacional Aplicada.............................. 170

  • 11

    Lista de figuras

    Figura 1.1. Scree plot dos componentes principais da EEO............................... 101

    Figura 1.2. Scree Plot do fator 1.......................................................................... 108

    Figura 1.3. Scree Plot do fator 2.......................................................................... 111

    Figura 1.4. Scree Plot do fator 3.......................................................................... 115

    Figura 1.5. Scree Plot do fator 4.......................................................................... 117

    Figura 1.6. Representao Visual do Modelo de Estresse Organizacional...... 126

  • 12

    Lista de tabelas

    Tabela 1.1 Testes de Normalidade..................................................................... 91

    Tabela 1.2. Estatsticas de Colinearidade........................................................... 94

    Tabela 1.3. Testes KMO e Esfericidade de Bartlett dos componentes principais

    da EEO................................................................................................................ 97

    Tabela 1.4. Valores de Comunalidades da EEO................................................. 97

    Tabela 1.5. Varincia Total Explicada da EEO.................................................... 100

    Tabela 1.6. Matriz fatorial da escala.................................................................... 102

    Tabela 1.7. Matriz de Correlao dos Fatores.................................................... 105

    Tabela 1.8. Testes KMO e Esfericidade de Bartlett do Fator.............................. 106

    Tabela 1.9. Valores de Comunalidades do Fator 1............................................. 106

    Tabela 2.0. Varincia Total Explicada do Fator 1................................................ 107

    Tabela 2.1. Matriz fatorial do fator 1 e preciso das facetas............................... 108

    Tabela 2.2. Matriz de Correlao do Fator 1 (Facetas) ...................................... 109

    Tabela 2.3. Testes KMO e Esfericidade de Bartlett do Fator 2........................... 110

    Tabela 2.4. Valores de Comunalidades do Fator 2............................................. 110

    Tabela 2.5. Varincia Total Explicada do Fator 2................................................ 111

    Tabela 2.6. Matriz fatorial do fator 2 e preciso das facetas............................... 112

    Tabela 2.7. Matriz de Correlao do Fator 2 (Facetas)....................................... 113

    Tabela 2.8. Testes KMO e Esfericidade de Bartlett do Fator 3........................... 113

    Tabela 2.9. Valores de Comunalidades do Fator 3............................................. 114

    Tabela 3.0. Varincia Total Explicada................................................................. 114

    Tabela 3.1. Matriz fatorial do fator 3 e preciso das facetas............................... 115

    Tabela 3.2. Testes KMO e Esfericidade de Bartlett do Fator 4........................... 116

    Tabela 3.3. Valores de Comunalidades do Fator 4............................................. 116

    Tabela 3.4. Varincia Total Explicada do Fator 4................................................ 117

    Tabela 3.5. Matriz fatorial e preciso do fator 4................................................... 118

    Tabela 3.6. Fator 1 (Decises organizacionais.................................................... 119

  • 13

    Tabela 3.7. Fator 2 (Suporte) .............................................................................. 121

    Tabela 3.8. Fator 3 (Incentivo competio) ...................................................... 122

    Tabela 3.9. Fator 4 (Entraves ao crescimento profissional) ................................ 123

    Tabela 4.0. Fator Geral (segunda ordem) ........................................................... 123

  • 14

    Resumo

    A literatura sobre estresse ocupacional costuma frisar demasiadamente as

    caractersticas da tarefa e/ou do trabalhador, negligenciando a participao de

    caractersticas organizacionais no processo em questo. Diversos pesquisadores

    apontam a importncia de estudos que abarquem estas caractersticas enquanto

    potencialmente estressoras e a generalizao de resultados. O presente trabalho

    objetivou construir e buscar evidncias de validao emprica de um instrumento

    com vistas a mensurar caractersticas organizacionais como estressores em

    potencial, denominado escala de estresse organizacional (EEO). Um conjunto de 60

    itens foi inicialmente elaborado e aplicado a uma amostra de 454 profissionais

    vinculados a instituies pblicas, privadas e de economia mista. A anlise fatorial

    resultou num instrumento composto por 32 itens, cuja estrutura indicou a presena

    de um fator geral de segunda ordem e quatro fatores de primeira ordem, a saber:

    Decises organizacionais, Suporte, Incentivo competio e Entraves ao

    crescimento profissional. O fator geral a somatria dos quatro fatores, fornecendo

    uma medida geral sobre o estresse organizacional. Ao apresentar parmetros

    psicomtricos satisfatrios, a EEO a primeira medida brasileira que trata de

    caractersticas organizacionais desenvolvida e validada para a avaliao de

    estresse organizacional.

    Palavras-chave: Estresse, caractersticas organizacionais, psicometria.

  • 15

    Abstract

    Much of the literature on occupational stress emphasizes the characteristics of the

    task and/or the employee, neglecting the participation of organizational

    characteristics in this process. Several researchers point to the importance of studies

    that include these characteristics as potentially stressors and the generalization of

    the results. This study aimed to develop and seek evidence of empirical validation of

    an instrument designed to measuring organizational characteristics as potential

    stressors, termed organizational stress scale (EEO). A set of 60 items was

    developed and applied to a sample of 454 professionals of different organizations.

    Factor analysis resulted in an instrument composed of 32 items, whose structure

    indicated the presence of a general second-order factor (organizational stress

    general) and four first-order factors, namely organizational decisions, support,

    encouragement of competition and barriers to professional growth. The general

    factor is the sum of these four factors, providing a general measure of organizational

    stress. In presenting satisfactory psychometric parameters, the EEO is the first

    Brazilian measure that deals with organizational features developed and validated

    for the assessment of organizational stress.

    Keywords: Stress, organizational characteristics, psychometrics.

  • 16

    Introduo

    O homem destina boa parte de sua vida realizao de atividades voltadas

    ao trabalho, de modo que este exerce um papel referencial em sua trajetria. As

    organizaes, por sua vez, dizem respeito a uma das formas basais de oficializao

    do trabalho humano, podendo ser entendidas enquanto sistemas sociais. Assim, a

    relao estabelecida entre o sujeito e o trabalho que realiza, bem como, com a

    organizao onde trabalha, exerce impacto sobre a maneira de pensar e se

    comportar.

    Neste sentido, desenvolveu-se um campo multidisciplinar de estudo

    denominado Comportamento Organizacional que tem por intuito prever, explicar,

    compreender e modificar o comportamento humano no ambiente organizacional

    (Wagner III & Hollenbeck, 1999). Este campo do conhecimento apresenta uma

    numerosa produo cientfica, ao passo que tem despertado bastante interesse em

    estudiosos, vindo a contribuir grandemente no que se refere ao bom andamento das

    organizaes ao cooperar na busca de explicaes para os comportamentos

    ocorridos neste ou em funo deste ambiente especfico.

    As pesquisas realizadas em Comportamento Organizacional tm sofrido

    profunda influncia por parte das mudanas ocorridas no mundo do trabalho

    (Rousseau, 1997). Mudanas estas que despertaram a necessidade de entender o

    que influencia o trabalhador, como a organizao influencia seu comportamento e,

    da mesma forma, como a organizao influenciada por ele. Assim sendo,

    Comportamento Organizacional se mostra enquanto um campo de investigao

    preocupado com estes dois tipos de influncia: das organizaes de trabalho sobre

    as pessoas e das pessoas sobre as organizaes de trabalho (Brief & Weiss, 2002).

    Para tanto, so investigadas neste campo, variveis como: clima organizacional,

    comprometimento organizacional, satisfao no trabalho, absentesmo, estresse

    ocupacional, dentre outras.

    Neste universo de variveis estudadas, uma que certamente vem se

    destacando nas ltimas dcadas o estresse ocupacional, com notvel aumento do

    interesse de pesquisadores e estudiosos acerca do fenmeno, ocasionando o

    crescimento da literatura cientfica a respeito do referido construto. Isto se deve, em

    especial, s cobranas por resultados que se mostram cada vez mais intensas

  • 17

    neste incio de sculo, bem como, ao papel ocupado por este problema na atual

    conjuntura do mundo do trabalho e as conseqncias negativas que acarreta.

    A incidncia de enfermidades diretamente relacionadas ao estresse vem

    aumentando nos ltimos anos, assim como, os esforos rumo ao desenvolvimento

    de formas de preveno deste problema. Tal fenmeno ocorre em praticamente

    todas as organizaes e atinge as mais diversas categorias profissionais (Zanelli,

    2010), somado dificuldade que os trabalhadores dos mais diversos setores da

    economia encontram para perceber e agir em detrimento de problemas que tm

    como possvel causa o trabalho por eles desenvolvido.

    No mbito nacional, muitas pesquisas investigam a relao do estresse com

    outras variveis que impactam o contexto do trabalho. Suehiro, Santos, Hatamoto e

    Cardoso (2008) que, estudando a satisfao no trabalho e vulnerabilidade ao

    estresse, encontraram uma correlao negativa entre estas variveis. Por sua vez,

    Paschoal e Tamayo (2005) identificaram que a interferncia famlia-trabalho

    inuencia o estresse, sendo que quanto maior o nvel de interferncia, maior o

    estresse.

    Tem-se que o fenmeno estresse pode ocorrer nos mais diversos ambientes

    e, nas ltimas dcadas, o contexto organizacional vem se destacando enquanto um

    dos espaos de maior incidncia, possibilitando encontrar um nmero considervel

    de trabalhos, tanto tericos quanto empricos.

    Todavia, a literatura sobre este tema tem sido marcada pelo uso confuso e

    inconsistente de termos diversos com o estresse, como ocorre com tenso e

    burnout. Outro problema encontrado na literatura diz respeito ao fato dos estudos

    destinados a abarcar o estresse no ambiente organizacional costumarem investigar

    somente as caractersticas ligadas ocupao desenvolvida pelo sujeito em seu

    ambiente de trabalho, no explorando a possvel influncia de caractersticas

    organizacionais na ocorrncia deste fenmeno.

    Muitos dos modelos tericos propostos para o entendimento do estresse no

    ambiente de trabalho frisam demasiadamente aspectos da tarefa e/ou do

    trabalhador, sem sequer mencionar a participao de caractersticas

    organizacionais no processo em questo. As poucas investigaes neste sentido

    tratam de caractersticas organizacionais separadamente, resultando em

    investigaes espaadas, sem a consolidao de um construto em si. Isto implica

  • 18

    uma grave negligncia da literatura na investigao da possvel influncia dessas

    caractersticas sobre a ocorrncia de estresse no ambiente de trabalho.

    Esta negligncia apontada por diversos pesquisadores (Cooper, Dewe, &

    ODriscoll, 2001; Ferreira & Assmar, 2008), sugerindo a necessidade de

    investigao da vasta gama caractersticas enquanto potencialmente estressoras

    com vistas a clarificar a relao entre elas e o estresse no ambiente organizacional,

    buscando a generalizao de resultados.

    Partindo da constatao desta lacuna na literatura sobre o estresse em se

    tratando de sua relao com caractersticas organizacionais, bem como, do

    conhecimento de que este fenmeno reconhecido enquanto um dos grandes

    problemas que assolam as mais diversas instituies e classes profissionais, a

    relevncia da presente pesquisa reside, especialmente, no fato de se destinar

    construo de uma escala voltada a identificao de estressores provenientes

    destas caractersticas prprias das organizaes que, por sua vez, afetam o

    ambiente de trabalho.

    O instrumento desenvolvido, denominado Escala de Estresse Organizacional

    (EEO) e embasado pela proposio de um conceito de estresse que abarca estas

    caractersticas organizacionais, visa colaborar para a realizao de pesquisas que

    abordem o tema. Alm disto, busca contribuir para o diagnstico de estresse em

    ambientes organizacionais, subsidiando a interveno, tendo em vista a defasagem

    dos instrumentos existentes que acabam por no considerar as significativas

    mudanas ocorridas no mundo do trabalho.

    Quanto sua organizao, esta dissertao estruturada em sete captulos.

    O primeiro diz respeito a uma reviso histrica acerca do fenmeno estresse,

    destacando o surgimento do termo, suas definies e algumas publicaes

    nacionais. Por sua vez, o segundo captulo, denominado Estresse Ocupacional,

    trata da relao homem e trabalho, apresentando as vrias definies do construto,

    modelos tericos destacados, principais instrumentos e estressores apontados na

    literatura. O terceiro captulo, Estresse organizacional, destaca a negligncia da

    literatura a respeito de caractersticas organizacionais em sua relao com o

    estresse, apresentando possveis estressores e uma proposta de definio do

    conceito, bem como, a justificativa e os objetivos da pesquisa. O quarto captulo

    expe o mtodo adotado na execuo do trabalho, seguido do quinto captulo que

  • 19

    aborda os resultados encontrados. O sexto captulo reservado discusso dos

    resultados e, por fim, o stimo captulo trata das consideraes finais do presente

    trabalho.

  • 20

    Estresse

    O estresse tem se constitudo numa palavra amplamente difundida nos dias

    atuais, tornando-se vocbulo constante na linguagem do senso-comum. Sua

    utilizao, muitas vezes indiscriminada, tanto pelos meios de comunicao quanto

    pela populao, acaba por ocasionar certa confuso. Na linguagem popular, por

    exemplo, estresse passou a ter diversos significados, sendo causa ou sinnimo de

    muitos problemas que assolam a vida contempornea.

    O estresse vem cada vez mais se apresentando enquanto uma fonte de

    interesse tanto de pesquisadores quanto da populao como um todo. Todavia,

    mesmo com vrias dcadas de pesquisa, os estudos acerca deste fenmeno no

    apresentam consenso quanto a sua definio (Rees & Redfern, 2000), havendo um

    nmero expressivo de modelos tericos que visam explicar sua ocorrncia.

    Vrias e distintas estratgias foram empregadas com vistas a explicar as

    origens e os significados do termo estresse (Cooper & Dewe, 2004). Uma das mais

    freqentemente adotadas diz respeito etimologia da palavra, em que o termo em

    questo provm do latim stringere, que significa apertar, cerrar, comprimir. Por sua

    vez, outros autores defendem que, conforme ocorre com diversos vocbulos, a

    palavra estresse antecede sua utilizao sistemtica ou cientfica (Lazarus &

    Folkman, 1984). O termo em questo foi empregado inicialmente na fsica e

    engenharia com vistas a explicar o desgaste/deformidade dos materiais quando

    sujeito a uma fora externa (esforo ou tenso).

    Nesta vertente, destacam-se os estudos realizados no sculo XVII pelo fsico

    e bilogo Robert Hook que conferiram ao termo estresse um status mais tcnico, ao

    investigar como estruturas construdas pelo homem poderiam ser elaboradas de

    modo a suportar cargas pesadas sem sofrer algum tipo de colapso/deformao

    (Lazarus, 1993, 1999). Vale destacar a influncia exercida pelo trabalho deste

    pesquisador em diversos estudos contemporneos sobre estresse desenvolvidos

    em outras disciplinas, tais quais, Fisiologia e Psicologia, especialmente em se

    tratando da noo de carga externa ou demanda do ambiente (Lazarus, 1993).

    Os primeiros estudos na rea de sade empregando o termo estresse datam

    da primeira metade do sculo XX (Greenberg, 2002; Codo, Soratto & Vasquez,

    2004). Destaca-se a grande contribuio do fisiologista Walter Cannon, pioneiro na

  • 21

    descrio de reaes do corpo ao estresse, originalmente designado resposta de

    emergncia, ao identificar o que denominou resposta de luta ou fuga (Greenberg,

    2002), em estudos sobre implicao do medo agudo em animais. Este termo diz

    respeito a respostas fisiolgicas instintivas do organismo com vistas a sobreviver a

    uma possvel ameaa, em que este se mobiliza para tipos de ao imediata

    especficos: atacar/lutar ou correr e fugir (Seaward, 2009). Para possibilitar esta

    ao, o organismo se prepara por meio de uma estimulao acentuada do sistema

    nervoso simptico, apresentando resultados observveis como a dilatao das

    pupilas para aguar a viso e desvio de sangue para os grandes msculos dos

    membros inferiores e superiores para aumentar a fora (Rosch, 1984).

    Neste sentido, possvel observar quatro estgios referentes resposta de

    luta ou fuga: 1) envio de um estmulo ao crebro; 2) identificao do estmulo como

    ameaa ou no-ameaa, com conseqente ativao do sistema nervoso e

    endcrino caso a ameaa se confirme; 3) manuteno da excitao do organismo

    at confirmado o final da ameaa; e 4) retorno homeostase (Seaward, 2009).

    Cannon props que o intuito maior da reao de emergncia o

    restabelecimento da homeostase por meio da mobilizao de energia (Meleiro,

    2002). A idia de homeostase teve base nos princpios descritos por Claude

    Bernard de milieu intrieur (meio interior) cujos estudos apontavam que o ambiente

    interno de um organismo busca a manuteno do equilbrio independentemente do

    que venha a ocorrer no ambiente externo (Lipp & Malagris, 1998). Assim, o conceito

    de homeostase foi ento proposto para relatar a manuteno de variveis

    fisiolgicas, como nvel de glicose no sangue e temperatura corporal, dentro de

    limites aceitveis (Goldstein & Kopin, 2007), denotando equilbrio biolgico

    necessrio para o bom funcionamento dos sistemas do organismo e manuteno da

    vida.

    As idias apresentadas por Canon foram de tamanha importncia para o

    desenvolvimento de pesquisas acerca do estresse que Doublet (2000) defendeu

    que sem a conceituao de homeostase a noo de estresse no seria possvel.

    Assim, a proposio deste conceito se tornou o ponto de partida para investigaes

    sobre o tema estresse, influenciando boa parte dos pesquisadores subseqentes,

    em especial Hans Selye.

  • 22

    Conhecido como pai do estresse moderno, muitos autores creditam a Selye

    a redefinio da palavra estresse ao adapt-la da fsica para as cincias humanas e

    da sade (Goldstein & Kopin, 2007). Os trabalhos deste pesquisador, especialmente

    a partir da dcada de 1930, conferiram notoriedade ao fenmeno em questo que,

    por sua vez, obteve reconhecimento na medicina, biologia e, em seguida, na

    psicologia (Codo et al., 2004).

    A noo de estresse inicialmente formulada por Selye proveio de uma srie

    de reaes no especficas identificadas por ele em pacientes portadores de

    diferentes patologias, com o intuito de fazer referncia a alteraes endocrinolgicas

    apresentadas pelo organismo quando diante de uma circunstncia que demande

    uma resposta distinta de sua atividade orgnica habitual (Lipp, 1996). Neste ponto

    ntida a influncia de conceitos propostos por Cannon, tais quais, resposta de luta

    ou fuga e homeostase, especialmente no que diz respeito abordagem biolgica

    enfatizada por Selye neste perodo.

    De acordo com Cooper e Dewe (2004), o trabalho desenvolvido por este

    pesquisador pode ser dividido em duas fases distintas: antes e depois da II Guerra

    Mundial. Na primeira fase foi apresentado o incio de seu interesse sobre o tema,

    bem como, a concepo inicial do construto. A segunda fase abarca o

    desenvolvimento e discusso em torno da teoria proposta, denominada Sndrome

    de Adaptao Geral (GAS: General Adaptation Syndrome), entendida por Lazarus

    (1999) como a teoria mais importante acerca do estresse fisiolgico.

    A GAS descreveu um harmnico conjunto neuroqumico de defesas do

    organismo, exercido contra as condies nocivas ou estresse fsico, resultante da

    exposio prolongada do indivduo a estressores. Trata-se de um modelo trifsico

    de estresse composto pelos seguintes estgios bsicos (Selye, 1993):

    1) Alerta: ocorre no momento em que o sujeito se depara com a fonte do

    estresse e cujo enfrentamento causa um desequilbrio interno, culminando

    em sensaes caractersticas como taquicardia, sudorese, dentre outras,

    referentes perda da homeostase. Diz respeito fase positiva, ao passo que

    predispe o sujeito a enfrentar a situao em que se encontra.

    2) Resistncia: refere-se tentativa do organismo de resgatar o equilbrio

    anteriormente perdido, valendo-se de energia adaptativa para se reequilibrar.

  • 23

    Este gasto de energia pode ocasionar cansao excessivo e dvidas quanto a

    si prprio.

    3) Exausto: ocorre quando o equilbrio no estabelecido na fase anterior,

    fazendo ressurgir sintomas da fase inicial de forma mais aguda, podendo

    ocasionar comprometimento fsico e psicolgico na forma de doenas e, em

    alguns casos, resultar em morte.

    Concernente a estes estgios, tem-se que o estresse pode ser identificado

    em qualquer das fases, no constituindo critrio essencial que os trs estgios

    sejam atingidos para a ocorrncia do fenmeno. Todavia, as formas de

    manifestao diferem de acordo com o estgio em que o sujeito se encontra

    (Filgueiras & Hippert, 1999)

    Lipp (2003), conhecida pesquisadora brasileira no mbito do estresse,

    sugeriu a existncia de um quarto estgio no modelo supracitado, que denominou

    quase-exausto por estar localizado entre as fases de resistncia e exausto. De

    acordo com este modelo quadrifsico, o sujeito no entra no estgio de exausto de

    forma instantnea, havendo, anteriormente, um estgio de transio em que no

    mais apresenta capacidade de resistncia, contudo, ainda no se encontra no

    estgio de exausto. Quase-exausto diz respeito fase em que o sujeito no

    consegue ter adaptao ou resistncia ao evento estressor, podendo dar margem

    ao incio de quadros patolgicos no to severos quanto na fase seguinte.

    Ainda em se tratando da popularizao do fenmeno estresse, vale destacar

    que a II Guerra Mundial se configurou enquanto fase de suma importncia ao

    suscitar o interesse em investigaes acerca de reaes emocionais (respostas)

    frente s demandas do combate (estressores) (Lazarus, 1993), iniciando-se tambm

    os estudos a respeito do estresse ps-traumtico (Lipp, 1996). Durante e,

    sobretudo, aps este perodo, foram notveis a difuso e a visibilidade de pesquisas

    sobre o tema em questo, especialmente nas disciplinas de psicologia e psiquiatria

    (Codo et al., 2004).

    Destaca-se neste perodo o trabalho de Grinker e Spiegel (1945) que,

    investigando combatentes e veteranos de guerra, refletiram acerca do ambiente de

    combate e as reaes a ele, abordando questes como estresse, depresso,

    agresso e reaes neurticas, bem como, modalidades de tratamento

    psicoterpico. De acordo com Lazarus e Folkman (1984), este estudo diz respeito a

  • 24

    uma das primeiras aplicaes psicolgicas do termo estresse, tratando-se de um

    livro de referncia sobre a guerra na poca.

    Os maiores pontos de interesse dos pesquisadores deste perodo ps-guerra

    consistiam nos efeitos do estresse e tentativas de previso e explicao do

    fenmeno. Eram realizadas pesquisas experimentais, especialmente impulsionadas

    pelo interesse dos militares na possibilidade de selecionar e treinar soldados para

    enfrentamento do estresse (Lazarus, 1993), investigando o efeito deste sobre a

    vulnerabilidade dos soldados a ferimentos ou morte (Lazarus & Folkman, 1984).

    Ainda no ambiente militar, outras guerras como a da Coria e do Vietn

    exerceram influncia nas investigaes sobre o estresse. Ocasionando o aumento

    no nmero de publicaes referentes ao estresse de combate e suas

    conseqncias fisiolgicas e psicolgicas, bem como, elaborao de princpios

    para a seleo de pessoas menos propensas ao estresse e desenvolvimento de

    intervenes para possibilitar um desempenho mais eficaz quando submetido ao

    estresse (Lazarus & Folkman, 1984).

    Neste perodo, o modelo dominante na explicao do estresse levava em

    considerao essencialmente questes de entrada (demanda) e sada (tenso),

    tratando-se, mais especificamente, do modelo estmulo-resposta. Considerando

    esta viso do estresse insuficiente, a partir da dcada de 1950, Richard Lazarus e

    sua equipe de estudos introduziram outro importante elemento na investigao

    deste fenmeno, ao identificarem que as mesmas condies ditas estressantes

    podem causar efeitos diferentes nos indivduos (Lazarus, 1993).

    Numa poca que posteriormente seria chamada pelos norte-americanos de

    revoluo cognitiva, Lazarus levantou a importncia das diferenas individuais,

    como variveis motivacionais e cognio. Segundo seus estudos, reside na

    interpretao pessoal de um evento a qualificao deste enquanto estressor ou no,

    redefinindo a noo de estresse defendida na poca e influenciando estudos e

    modelos tericos desde aquele perodo at a atualidade.

    Lazarus e Folkman (1984) apresentaram o Modelo de Avaliao Cognitiva,

    apontando a importncia da cognio para o estresse e assinalando a existncia de

    uma relao conturbada entre o sujeito e o ambiente. De acordo com este modelo,

    ocorre uma avaliao da situao por parte do sujeito formada por dois processos

    complementares: avaliao primria e avaliao secundria.

  • 25

    Inicialmente ocorre a avaliao primria, uma avaliao mais rpida e intuitiva

    da situao, que depende diretamente das percepes das caractersticas dos

    estmulos externos e da estrutura psicolgica do sujeito. Em seguida, realizada

    uma avaliao secundria, mais refinada e reflexiva, em que o sujeito julga os

    recursos que possui para lidar com a situao (coping), cogitando possibilidades de

    atuao diante do problema. Aps estas avaliaes, pode ocorrer uma reavaliao

    que, por sua vez, pode originar novas cognies e emoes. Assim, tem-se que

    uma avaliao inicial pode ser modificada pelo sujeito, bem como, podem ocorrer

    mudanas na estratgia de coping adotada por ele.

    Alm da preocupao com as diferenas individuais, outros acontecimentos

    impulsionaram a investigao dos fenmenos estresse e coping, entre eles, o

    ressurgimento do interesse em psicossomtica e uma preocupao cada vez maior

    com a influncia do ambiente nas questes humanas (Lazarus & Folkman, 1984).

    Nas ltimas dcadas houve um notvel aumento do interesse por parte de

    pesquisadores das mais diversas partes do mundo acerca do fenmeno em

    questo, especialmente diante da constatao da influncia do estresses nos

    mbitos fsico, emocional e social. Tal interesse culminou num aumento do nmero

    de publicaes, destacando-se estudos a respeito de eventos da vida entendidos

    enquanto estressores, como imprevistos dirios e tenso crnica, bem como, a

    pouca ateno destinada s prevenes primria e secundria do fenmeno

    (Ferreira & Martino, 2006).

    As investigaes sobre estresse na rea de psicologia aplicada se tornaram

    mais consistentes durante a dcada de 1980, destacando-se os estudos

    experimentais e aqueles que visavam o desenvolvimento e validao de estratgias

    teraputicas com vistas ao tratamento do estresse (Machado, 2003).

    De acordo com Gonzlez (2001), nos dias atuais vrias disciplinas

    contribuem para a construo do conceito de estresse, entre elas, a biologia, a

    neuroendocrinologia, a psicobiologia e psicologia. Valendo ressaltar investigaes

    acerca da ocorrncia do estresse nos mais distintos ambientes, perpassando por

    espaos como trnsito (Gulian, Matthews, Glendon, Davies, & Debney, 1989;

    Matthews, Tsuda, Xin, & Ozeki, 1999; Hennessy, Wiesenthal, & Kohn, 2000; Hill &

    Boyle, 2006; Zanelato, 2008), escola (Vilela, 1996; Lipp, Arantes, Buriti, & Witzig,

    2002) e trabalho (Lipp, 2009; Cropanzano, Howes, Grandey, & Toth, 1997).

  • 26

    Na literatura a respeito do estresse, possvel identificar trs grandes

    tradies tidas como complementares (Pereira, 2005), a saber: a) bioqumica

    (fisiologia do estresse): abordagem inicial do estresse, apresentada nas dcadas de

    1930 a 1950, refere-se ao distrbio dos sistemas e tecidos corporais; b) psicolgica:

    enfoca a percepo e o comportamento dos sujeitos mediante o fenmeno,

    apresentando cinco vertentes, a saber, psicossomtica, interacionista, behaviorista

    (comportamentalista), psicopatologia do trabalho e psicologia social; c) sociolgica:

    referente compreenso das variveis presentes no ambiente social, especialmente

    o comprometimento de uma unidade ou sistema social.

    Estas diferentes abordagens acabam por acarretar vises e definies

    distintas do fenmeno em questo. A seguir so apresentados alguns conceitos,

    bem como, teorias destacveis. Tendo em vista o escopo desta pesquisa, vale

    destacar que a nfase ser dada na vertente psicolgica.

    Definies de estresse

    O estresse diz respeito a um dos vocbulos mais criativamente ambguos,

    com diversas interpretaes possveis, sendo que at mesmo os estudiosos no

    entram em consenso quanto a sua definio (Nelson & Quick, 1994). No obstante

    seja encontrado um expressivo nmero de estudos que visam abordar o tema, ainda

    se fazem presentes muitos questionamentos, equvocos e dificuldades conceituais a

    respeito do estresse.

    A literatura referente a este fenmeno tem sido marcada pelo emprego

    equivocado e potencialmente confuso de vocbulos para designar variveis

    presentes neste processo (Lazarus, 1993; Zautra, 2003), sendo identificados

    equvocos neste sentido desde o incio do emprego do termo. Diante disso, em um

    primeiro momento, Hans Selye (1956) acreditou ser mais coerente propor uma

    delimitao do que no significava o estresse, como, por exemplo, a idia de que

    estresse no seria sinnimo de tenso nervosa.

    Ainda hoje, conforme citado anteriormente, os estudos a respeito do

    construto em questo retratam um amplo nmero de definies e modelos tericos

    com vistas a abarc-lo, originando certa impreciso conceitual. Desta forma, este

  • 27

    termo acaba por ser muito mal definido, funcionando como uma espcie de guarda-

    chuva de termos gerais.

    Este conceito passou por uma evoluo histrica, a partir da qual os

    pesquisadores costumam distinguir trs tipos de definies (Lazarus & Folkman,

    1984; Sonnentag & Frese, 2003), a saber: a) aquelas que abordam os estmulos

    estressores; b) aquelas que enfocam as respostas aos eventos estressores e; c)

    aquelas que tratam de estmulos estressores e respostas (abordagem interacional).

    Abordagens que enfocam os estmulos estressores investigam estmulos

    advindos do ambiente de externo, mais especificamente, a influncia de

    determinados eventos da vida, de natureza genrica, apontando um carter objetivo

    dos estressores. Neste sentido, o estresse concebido enquanto estmulo

    qualificado como uma varivel independente ou um ativador de um processo no

    sujeito, como a perda de uma pessoa querida, o trmino de um relacionamento e a

    mudana de emprego.

    Todavia, as crticas em torno desta abordagem tm sido amplas e bem

    cobertas pela literatura (Cooper & Dewe, 2004). A principal delas diz respeito ao fato

    da presena de eventos tidos como estressores no ambiente em que o sujeito est

    inserido, no necessariamente implica a ocorrncia de estresse. Isto porque

    necessrio que este os perceba e avalie enquanto estressores, apontando que

    caractersticas situacionais e pessoais podem intervir neste julgamento (Lazarus &

    Folkman, 1984).

    Definies que abordam respostas aos eventos estressores concebem o

    estresse enquanto uma varivel dependente, dizendo respeito s

    conseqncias/respostas de cunho psicolgico, fisiolgico e/ou comportamental.

    Pesquisas que adotam esta abordagem enfocam o estresse em termos das

    emoes vivenciadas pelo sujeito, bem como, a intensidade das mesmas, no

    explorando os eventos desencadeadores destas reaes. Como exemplo, tm-se os

    trabalhos de Marilda Lipp, autora do Inventrio de Sintomas de Stress para Adultos

    (Lipp, 2000), que aborda a sintomatologia apresentada pelo sujeito acometido pelo

    estresse. Paschoal e Tamayo (2004) apontam que esta abordagem contribuiu para

    a identificao e compreenso das conseqncias do estresse. Contudo, a principal

    crtica est na problemtica de determinar se certos comportamentos e problemas

  • 28

    (respostas) esto ligados ao estresse ou se devem a outras questes da vida do

    sujeito.

    Conforme explicitado, ambas as abordagens apresentadas recebem crticas

    de diversos autores. Como tentativa de solucionar este impasse, foi proposta a

    abordagem transacional/interacionista, defendendo que o ponto central do estresse

    no se encontra no ambiente, nem na resposta, mas na relao/conjuno existente

    entre ambos (Lazarus, 1990). Assim, abordagens que destacam o processo

    estressores-respostas se referem ao processo geral em que demandas do ambiente

    tm impacto no sujeito, dependendo do nvel de controle deste. Nesta relao,

    destaca-se o papel do julgamento/avaliao realizado pelo sujeito, por meio do qual

    ele atribui valncia positiva ou negativa ao possvel estressor.

    Ao identificarem a existncia de formas diversas de reao ao estresse,

    especialmente influenciadas por questes individuais como experincias de vida e

    autoconceito, autores adeptos vertente transacional divergem da definio

    proposta por Selye e da vertente estresse como resposta. Vale destacar que,

    atualmente, a perspectiva transacional do estresse a mais aceita na literatura

    (Fortes-Burgos & Neri, 2008).

    Diante da diversidade de perspectivas existentes acerca do estresse, pode

    ser apontada na literatura uma variedade de definies sobre o fenmeno. Selye

    (1956), em sua definio inicial, entendia o referido fenmeno como um conjunto de

    reaes fisiolgicas inespecficas do organismo, resultante de qualquer demanda

    sobre o corpo. Desta forma, o autor percebia o fenmeno enquanto uma reao

    natural e fundamental para a sobrevivncia.

    Embora simbolize um grande progresso, especialmente diante de toda a

    contribuio do trabalho proposto por este pesquisador, esta conceituao no

    escapou de crticas. Foi rotulada como uma perspectiva demasiadamente

    biologizante do conceito de estresse, especialmente por ignorar questes como o

    impacto psicolgico e o papel ativo do sujeito na habilidade de perceber a

    ocorrncia do fenmeno e intervir rumo mudana da situao (Cooper, Sloan, &

    Williams,1988).

    Embora a obra de Selye aponte inicialmente para um conceito de estresse

    biolgico, tempos depois seu grupo de pesquisa chegou a investigar tanto o

    estresse psicolgico quanto o social (Moreira & Mello Filho, 1992). Assim, Selye

  • 29

    (1974) redefiniu sua conceituao do fenmeno, propondo-o enquanto uma

    resposta inespecfica do organismo frente a qualquer demanda exercida sobre ele.

    Nota-se uma ampliao do conceito, no estando mais restrito questo biolgica e

    podendo ser estendido s demais abordagens. Entretanto, persiste o foco nas

    respostas, independente da natureza do estressor.

    Selye (1974) ainda props a idia de que o estresse no diz respeito apenas

    a uma ocorrncia destrutiva, podendo advir de acontecimentos positivos. Esta idia

    denota que estresse pode, em partes, ser entendido como um estmulo para a

    realizao de determinadas tarefas. Para isto, este pesquisador props a definio

    de eustress e distress. Eustress diz respeito ao estresse positivo, referente a

    sentimentos positivos, bem como, estados corporais saudveis. Por sua vez,

    distress se refere ao estresse negativo, estando ligado a sentimentos ruins e

    perturbao do estado corporal.

    Autores como Santos (1994) contestaram a concepo de estresse positivo

    e negativo, defendendo que este diz respeito a um fenmeno de carter

    unicamente negativo, no apresentando contribuio alguma que resulte em

    aumento de produtividade. Por sua vez, este autor defendeu que estar sujeito a um

    certo nvel de presso pode desencadear em desafio e motivao no individuo.

    Magnusson (1982) entendeu por estresse um conjunto de reaes fsicas ou

    psicossociais do individuo s demandas que se aproximam ou excedem os recursos

    que o sujeito possui para enfrent-las.

    Por sua vez, Lazarus e Folkman (1986, p. 63) consideraram que o fenmeno

    em questo diz respeito a "uma relao com o ambiente que a pessoa avalia como

    importante para seu bem-estar e em que as demandas impem ou excedem os

    recursos disponveis de enfrentamento". imprescindvel destacar a relevncia da

    cognio para este processo, conforme proposto por estes autores ao instaurarem a

    idia de avaliao por parte do sujeito, apontando que caractersticas situacionais e

    pessoais podem exercer influncia na avaliao de um evento.

    Ainda em se tratando de cognio, destaca-se a qualidade do evento

    estressor enquanto potencial, ao passo que a interpretao de cada sujeito

    determinar se este se classificar enquanto estressor ou no. Logo, no o

    ambiente em si que vem a ser estressante, mas a relao entre pessoa e ambiente

    que pode resultar na ocorrncia do estresse (Travers & Cooper, 1996)

  • 30

    Aldwin (1994, p.22) definiu estresse como uma determinada qualidade de

    experincia, produzida por meio da interao entre o indivduo e o ambiente, a qual,

    quer mediante super-ativao, quer mediante rebaixamento do nvel de alerta,

    resulta em desconforto psicolgico ou fisiolgico.

    No Brasil, Lipp (1984) entendeu o estresse enquanto uma reao psicolgica

    com componentes emocionais, fsicos, mentais e qumicos a determinados

    estmulos que irritam, amedrontam, excitam e/ou confundem a pessoa (p. 6). Trata-

    se de uma perspectiva cognitivo-comportamental que, apesar de se referir ao

    fenmeno enquanto resposta, leva em considerao, alm de outras questes, a

    interpretao do evento pelo sujeito.

    Moreira e Mello Filho (1992) definiram o estresse como um conjunto de

    reaes e estmulos que causam distrbios no equilbrio do organismo,

    freqentemente com efeitos danosos" (p. 121). Apontando, desta forma, o carter

    negativo do estresse, bem como, a definio do fenmeno enquanto interao entre

    estressores e respostas.

    Numa viso biopsicossocial do estresse, Rodrigues (1997) delimitou o

    fenmeno enquanto "uma relao particular entre uma pessoa, seu ambiente e as

    circunstncias s quais est submetida, que avaliada pela pessoa como uma

    ameaa ou algo que exige dela mais que suas prprias habilidades ou recursos e

    que pe em perigo o seu bem-estar" (p.24). Por sua vez, Vasconcellos (1992, p. 33)

    entende por estresse um processo psico-fisiolgico (...) onde ambos os aspectos e

    elementos se interrelacionam na busca da reao mais adequada e possvel.

    Ainda, Glina e Rocha (2000) pontuaram que o estresse diz respeito a uma

    doena, tratando-se de uma tentativa de adaptao s situaes novas,

    relacionado, assim, ao cotidiano de vida experimentado pelo sujeito

    Apesar das distintas formas de conceituao do fenmeno, de acordo com

    Lazarus (1993), alguns pontos se fazem essenciais no processo do estresse, a

    saber: a) um agente causal externo ou interno (estmulo); b) uma avaliao

    realizada pela mente ou sistema fisiolgico que determinar o que vem a ser

    ameaador ou no; c) os processos de enfrentamento; e d) um conjunto complexo

    de efeitos na mente e/ou no organismo (reaes).

  • 31

    Alguns Estudos sobre Estresse no Brasil

    Diante do amplo nmero de definies que almejam compreender o

    fenmeno em questo, pertinente afirmar que este diz respeito a um construto

    bastante complexo e dinmico, sobre o qual incidem inmeras pesquisas tanto em

    esfera nacional quanto internacional.

    O nmero de pesquisas nacionais acerca do estresse tem se multiplicado

    com grande rapidez nos ltimos anos. Estes trabalhos costumam investigar o

    fenmeno juntamente com questes referentes sade, ocupaes e grupos de

    risco, bem como, estratgias de enfrentamento (Lipp, 2001, 2003). Ainda, tem-se

    que a maioria das pesquisas diz respeito a levantamentos, com adoo do mtodo

    quantitativo, investigando a populao adulta e com foco no estresse ocupacional

    e/ou na correlao entre o fenmeno e patologias orgnicas (Benzoni, Carneiro,

    Ribeiro, Peres, & Milar, 2004).

    Quanto aos instrumentos adotados para aferio do fenmeno nas pesquisas

    realizadas em territrio nacional, Benzoni et al. (2004) apontaram que a ferramenta

    mais empregada o Inventrio de Sintomas de Stress para Adultos elaborado por

    Lipp (2000), apesar das crticas na literatura acerca da viso de estresse adotada

    neste instrumento.

    Nos estudos sobre o stress emocional no Brasil, destacam-se as pesquisas

    realizadas nas instituies de ensino, assim como, aquelas executadas em

    organizaes com o intuito de realizar o levantamento do nvel de estresse dos

    trabalhadores, bem como, os trabalhos de populaes clnicas e no-clinicas (Lipp,

    2007).

    Apesar de um nmero expressivo de estudos ter como foco a populao

    adulta, algumas investigaes se voltam para a incidncia de estresse na populao

    infantil (Lucarelli & Lipp, 1999; Marques, 2004; Horta, 2007; Marturano & Gardinal,

    2008) e, em menor nmero, em adolescentes e jovens adultos (Calais, Andrade &

    Lipp, 2003; Fagundes & Aquino Paula, 2010; Justo & Lipp, 2010).

    As pesquisas que investigam estresse em crianas, em sua maioria,

    costumam averiguar a presena ou no do fenmeno, por meio da identificao de

    sintomas, bem com, a correlao entre estresse e o desempenho escolar (Horta,

    2007).

  • 32

    Numa investigao sobre a incidncia de estresse em crianas pr-escolares

    entre 5 e 6 anos de idade, com o intuito de identificar os principais sintomas

    apresentados, as fontes estressoras e as estratgias de enfrentamento adotadas

    pelas crianas, Horta (2007) identificou a presena de sintomas significativos de

    estresse, em especial aqueles referentes ao estresse psicolgico, assim como,

    diversas fontes de estressores, entre elas, a interao familiar, a interao com

    colegas e as caractersticas da escola.

    So encontrados instrumentos destinados exclusivamente investigao do

    fenmeno na populao infantil, como o Inventrio de Sintomas de stress infantil

    (ISS I), apresentado por Lucarelli e Lipp (1999). No estudo de validao desta

    ferramenta participaram 255 crianas entre 6 e 14 anos de idade, sendo

    identificados 4 fatores, a saber: reaes fsicas, psicolgicas, com componente

    depressivo e psicofisiolgicos. Foram obtidos ndices de preciso aceitveis, com

    alfas de Cronbach entre os fatores de .72 a .79, alm de .90 na escala total.

    A literatura atual sobre estresse tem feito meno ao grau de diferena entre

    os sexos em relao ocorrncia do fenmeno, sendo encontrado um nmero

    considervel de estudos neste sentido (Lipp, Pereira, Floksztrumpf, Muniz, & Ismael,

    1996; Calais, 2003; Calais, Andrade & Lipp, 2003; Lipp & Tanganelli, 2002).

    Investigando sintomas de estresse em adultos jovens e a relao com o sexo

    e ano escolar em curso, num estudo com 295 estudantes, Calais et al. (2003)

    encontraram correlao significativa entre sexo e nvel de estresse, onde o maior

    nvel deste fenmeno foi identificado em mulheres. O sintoma mais recorrente nas

    mulheres foi sensibilidade emotiva excessiva e, por sua vez, nos homens, o

    pensamento recorrente.

    Em consonncia, Schillings (2005) numa investigao acerca da incidncia

    de estresse em mestrandos, identificou a presena deste em 62,4% da amostra, de

    um total de 178 respondentes, bem como, uma incidncia de estresse no sexo

    feminino (63,9%) superior a do sexo masculino (49,2%).

    Conforme supracitado, muitas pesquisas que tratam do estresse abordam a

    ocorrncia deste no ambiente de trabalho. Neste sentido, o captulo que se segue

    visa abordar este assunto em mbito nacional e internacional.

  • 33

    Estresse ocupacional

    O homem emprega uma significativa parcela de seu tempo no trabalho, de

    modo que este acaba por desempenhar um papel referencial em sua vida, bem

    como, por contribuir de forma expressiva na constituio de sua identidade social e

    pessoal. Assim, tem-se que a relao estabelecida entre o sujeito e o trabalho que

    desempenha exerce impacto sobre sua maneira de pensar e se comportar.

    Quanto ao trabalho, Zanelli e Silva (1996) expuseram que se, para a

    sobrevivncia, o trabalho deveria satisfazer pelo menos as necessidades bsicas

    dirias, na perspectiva psicolgica uma categoria central no desenvolvimento do

    autoconceito e uma fonte de auto-estima. a atividade fundamental do

    desenvolvimento do ser humano" (p.21). Neste sentido, Morin (2001) pontuou que a

    importncia do trabalho se deve ao fato deste possibilitar o relacionamento com

    outras pessoas, acarretar sentimento de vinculao, evitar o tdio e proporcionar um

    objetivo na vida.

    No entanto, existem particularidades e discrepncias a respeito dos modos

    de perceber o trabalho, podendo este apresentar conseqncias paradoxais nos

    mbitos fsico, psquico e social dos trabalhadores (Mendes & Cruz, 2004). Isto se

    deve possibilidade de acarretar bastantes alegrias e realizaes, mas tambm,

    ocasionar prejuzos diversos ao sujeito.

    A noo de que o trabalho pode acarretar sofrimento j se encontra na

    origem da prpria palavra, tendo em vista que o termo trabalho deriva do latim,

    tripalium, cujo significado se refere a um instrumento de tortura (Gorender, 2000).

    Assim, tem-se que o trabalho humano, alm das questes positivas j mencionadas,

    pode ocasionar dor, sofrimento e prejuzos ao trabalhador.

    Alm disso, o mundo do trabalho sofreu profundas alteraes nas ltimas

    dcadas, tais quais mudanas na cultura e estrutura das organizaes e adio de

    novas tecnologias, tornando cada vez mais evidentes e intensas as cobranas por

    melhores resultados. Estudos apontam a dificuldade que os trabalhadores dos mais

    diversos setores da economia encontram para perceber e agir em detrimento de

    diversos problemas que tm como possvel causa o trabalho por eles desenvolvido

    (Zanelli, 2010).

  • 34

    Neste cenrio, tem-se o estresse ocupacional, um fenmeno que se faz

    presente em diversas organizaes e atinge as mais distintas categorias

    profissionais (Zanelli, 2010), sendo reconhecido enquanto um dos principais

    obstculos ao desempenho individual e organizacional (Cartwright & Cooper, 1997;

    Cooper et al., 2001). Trata-se de um construto bastante investigado, em especial

    por psiclogos, uma vez que foram encontradas evidncias do desenvolvimento de

    quadros de estresse em funo do trabalho (Sanzovo & Coelho, 2007).

    Nas ltimas dcadas, notvel o aumento do interesse acerca do fenmeno

    em questo, sendo refletido no crescimento da literatura cientfica em torno deste

    construto, abordando questes como sua incidncia e prevalncia nas mais

    diversas profisses. Este expressivo interesse pode encontrar justificativa em

    importantes razes, como o reconhecimento de que a exposio persistente a

    condies de trabalho estressantes pode acarretar graves conseqncias para a

    sade e a qualidade de vida dos trabalhadores, bem como, interferir negativamente

    na eficcia das instituies s quais eles esto vinculados, ocasionando inmeras

    conseqncias indesejveis e dispendiosas (Murphy, Hurrell, Sauter, & Keita, 1995).

    Stella et al. (1999) identificaram algumas das conseqncias mais

    recorrentes advindas do estresse no trabalho, dentre as quais, diminuio da

    eficincia e produtividade do sujeito, desateno, problemas de memria, excesso

    ou dificuldades de sono e insegurana na tomada de decises. Por sua vez, no que

    se refere s conseqncias negativas no mbito organizacional, vrios autores

    colocaram que estressores ocupacionais contribuem para a ineficincia

    organizacional, absentesmo, alta rotatividade de pessoal, aumento de custos dos

    cuidados com sade, acidentes no trabalho, assim como, diminuio da qualidade e

    quantidade de produo (Jex, 2002; Kazmi, Amjad & Khan, 2008; Sadir & Lipp,

    2009).

    De acordo com Silva Jnior e Ferreira (2007), os estudos tradicionais sobre o

    estresse ocupacional tendem a dar maior ateno ao setor produtivo/industrial,

    principalmente linha de montagem e construo civil, possivelmente devido

    submisso a condies de trabalho mais extremas e/ou por se tratarem de

    organizaes mais rgidas. Contudo, estes autores observaram uma expanso

    dessas investigaes para outras categorias ocupacionais, especialmente aquelas

    que lidam diretamente com o pblico, tais quais, enfermeiros, mdicos e docentes.

  • 35

    O estresse ocupacional no um problema restrito aos limites da

    organizao, mas sim, uma questo ampla que pode envolver toda a sociedade,

    resultando em problemas como aumento de gastos pblicos e/ou privados com a

    sade e diminuio da qualidade de vida (Cooper & Paine, 2001). Alm disso, os

    efeitos do referido fenmeno, ao ultrapassarem as barreiras organizacionais,

    atingem efetivamente outras esferas da vida do sujeito, como o ambiente familiar e

    sua vida em comunidade (Jex, 2002).

    Apesar do estresse ocupacional ser considerado um dos temas mais

    investigados pela Psicologia e do considervel progresso alcanado ao longo dos

    anos, imprescindvel que seja aprofundado o conhecimento acerca da dinmica do

    estresse nas organizaes (Jex, 2002). Em consonncia, Melo, Gomes e Cruz

    (1997) apontaram que ainda so necessrios maiores estudos com vistas

    apreciao das suas causas, efeitos, prevalncia e incidncia.

    O fenmeno em questo apresenta tamanha fora e importncia que Beehr

    (1998) pontuou que deveria ser considerado como uma rea de estudo e prtica

    que envolve bastantes variveis interligadas. Todavia, mesmo com sua relevncia

    para mundo organizacional, os estudos acerca do estresse ocupacional, conforme

    ocorre com o estresse em outros mbitos, tm sido caracterizados por uma falta de

    consenso quanto a sua definio, acarretando um nmero expressivo de modelos

    tericos que visam explicar sua ocorrncia e, por conseguinte, uma impreciso

    conceitual.

    Conceitos de estresse ocupacional

    Conforme constatado na literatura referente ao estresse em outros mbitos,

    nos trabalhos que tratam do estresse ocupacional trs tipos de definies para o

    construto merecem destaque (Jex, 1998, 2002): a) eventos estressores:

    compreende estresse enquanto alguma fora que age sobre o indivduo, mais

    especificamente, os estmulos advindos do ambiente de trabalho, com enfoque no

    carter objetivo dos estressores; b) respostas aos eventos estressores: diz respeito

    s reaes de cunho psicolgico, fisiolgico ou comportamental evocadas por algum

    aspecto do ambiente de trabalho considerado aversivo pelo sujeito; c) processo

  • 36

    estressores-respostas: refere-se ao processo geral em que demandas do trabalho

    exercem impacto no empregado.

    Segundo Paschoal (2003), este ltimo consiste no enfoque mais completo, ao

    passo que engloba tanto os estressores quanto as respostas. Ainda, constata-se

    uma tendncia em conceber o estresse ocupacional enquanto estressores e

    respostas, com nfase na relao entre o ambiente de trabalho e o sujeito (Tamayo

    & Paschoal, 2005). Apesar desta tendncia, ainda no h consenso sobre a

    definio do construto, nem acerca da melhor forma de avali-lo.

    Numa breve definio, Rees (1997) entendeu o estresse ocupacional como a

    incapacidade de lidar com as presses de um emprego. Por sua vez, numa

    conceituao demasiado generalista, French, Cobb, Caplan, Van Harrison e

    Pinneau (1976) definiram este fenmeno enquanto qualquer caracterstica advinda

    do ambiente de trabalho que implique uma ameaa para o trabalhador, seja por

    causa de exigncias excessivas ou por suprimentos insuficientes para o

    atendimento de suas necessidades.

    Outra definio proposta por Beehr e Newman (1978) concebe o estresse

    ocupacional como uma situao na qual fatores do trabalho interagem com o

    trabalhador, afetando sua condio psicolgica ou fisiolgica de tal forma que seu

    funcionamento normal seja comprometido. De acordo com Sinha e Kahn (2006),

    esta definio aborda as principais reas da vida de um indivduo ao envolver

    questes como vida profissional e bem-estar social.

    Sauter e Murphy (1999) expuseram que este fenmeno se refere s

    respostas fsicas e emocionais prejudiciais/negativas decorrentes de exigncias

    provenientes do trabalho que, de alguma forma, no correspondem s capacidades,

    recursos ou necessidades do empregado. Esta viso do fenmeno enfatiza a

    caracterstica negativa do estresse ocupacional experimentada pelo trabalhador.

    Caplan (1983) compreendeu o construto em questo como o resultado de um

    desajuste entre o que o trabalhador dispe e aquilo que o trabalho lhe exige. Mais

    especificamente, o resultado entre os recursos pessoais para realizar as tarefas que

    lhe cabem e as cobranas advindas do ambiente de trabalho.

    Em consonncia, Seegers e van Elderen (1996, p.213) defenderam que o

    estresse ocupacional o resultante da percepo entre a discordncia entre as

    exigncias da tarefa e os recursos pessoais para cumprir ditas exigncias. Esta

  • 37

    definio aponta a necessidade de uma deficincia de ajuste entre o trabalhador e

    as exigncias do trabalho para que se desencadeie o estresse ocupacional. Ainda,

    defenderam que esta discordncia pode ser percebida pelo sujeito enquanto

    desafiadora (implicando possivelmente uma dedicao tarefa) ou ameaadora

    (situao estressante negativa).

    Uma das definies de maior destaque diz respeito formulada por Lazarus

    (1995), delimitando estresse ocupacional enquanto um processo relacional entre o

    trabalhador e o seu ambiente de trabalho, no qual o indivduo julga as demandas

    deste como excessivas diante dos recursos de enfrentamento que dispe. Sendo

    destacado o carter transacional (ambiente-indivduo) desta definio, bem como, o

    status de mediador que conferido cognio neste processo.

    Cooper et al. (2001) apontaram que estudos contemporneos acerca do

    estresse tendem a adotar definies que abordam esta perspectiva transacional.

    Segundo a qual, o estresse no se constituiria como uma propriedade exclusiva das

    caractersticas do sujeito ou do ambiente em questo, mas sim, uma conjuno de

    um tipo especfico de pessoa com um determinado ambiente.

    O estresse ocupacional vem sendo definido por muitos pesquisadores como

    uma qualidade percebida negativamente, fruto do enfrentamento inadequado de

    fontes de estresse por parte do trabalhador, ocasionando-lhe conseqncias

    negativas sade mental e fsica (Clarke & Cooper, 2004). Neste tipo de definio,

    destacam-se a qualidade negativa do estresse e a inadequao das estratgias de

    enfrentamento adotadas pelo sujeito como pontos centrais do conceito.

    No Brasil, Paschoal e Tamayo (2004), em consonncia com a definio

    proposta por Lazarus (1995), defenderam que o estresse ocupacional pode ser

    entendido como um processo em que o trabalhador percebe as demandas advindas

    do trabalho enquanto estressores que, ao excederem sua habilidade de

    enfrentamento, ocasionam reaes negativas. Por sua vez, Mendes (2008)

    entendeu por estresse no trabalho um fenmeno resultante de uma tenso

    acumulada devido ao constante e intenso esforo realizado pelo sujeito com vistas a

    se adaptar s demandas (internas ou externas) impostas pelas dimenses da

    organizao, bem como, pelas condies e relaes sociais de trabalho.

    Frana e Rodrigues (1997) pontuaram que o estresse ocupacional pode ser

    definido como situaes em que o ambiente de trabalho percebido como

  • 38

    ameaador no concernente realizao profissional, pessoal, sade fsica e/ou

    mental pelo trabalhador. Destacando que estas situaes afetam de forma negativa

    sua interao com o trabalho, ao passo que o sujeito se defronta com demandas

    excessivas e/ou no dispe de recursos adequados para o enfrentamento de tais

    situaes.

    Para Stacciarini e Trccoli (2002), o fenmeno em questo resultante das

    complexas relaes estabelecidas entre condies referentes ao trabalho,

    condies externas ao mesmo e caractersticas individuais do sujeito, nas quais as

    demandas impostas pelo trabalho acabam por exceder as habilidades que o

    trabalhador dispe.

    Ainda, de acordo com Couto (1987), estresse ocupacional diz respeito a um

    estado caracterizado por um desgaste anormal do organismo e/ou reduo da

    capacidade de trabalho, tendo origem na incapacidade do sujeito de suportar,

    superar ou se adaptar s demandas advindas do seu ambiente de trabalho, bem

    como, de sua vida pessoal.

    Apesar das peculiaridades encontradas em cada tipo de definio, Hart e

    Cooper (2001) identificaram a existncia de algumas questes-chave presentes na

    maioria das definies acerca do estresse ocupacional, dentre elas, a associao

    deste fenmeno com estados emocionais desagradveis referentes ao trabalho,

    bem como, experincia de sentimentos de estresse em detrimento

    de emoes mais prazerosas e o fato de muitos pesquisadores estarem assumido

    que, a nvel operacional, uma nica medida pode ser adotada com vistas a

    mensurar o fenmeno em questo.

    Modelos Tericos sobre estresse

    Estresse ocupacional diz respeito a um fenmeno multifacetado e complexo

    que, conforme sinalizado anteriormente, apresenta muitos (e distintos) modelos

    tericos com vistas a abarc-lo. Dentre eles, alguns merecem destaque, como:

    modelo dinmico de estresse ocupacional (Cooper et al., 1988), a teoria do

    ajustamento pessoa-ambiente (Edwards & Cooper, 1990), a teoria ciberntica do

    estresse (Edwards, 1992), modelo de Kahn e Byosiere (1992) e o modelo de

    Lazarus (1995), apresentados nesta seo.

  • 39

    Modelo dinmico de estresse ocupacional (Cooper, Sloan, & Williams,

    1988)

    O modelo de estresse ocupacional proposto por Cooper, Sloan e Williams

    (1988) possibilitou a identificao e mensurao de fatores/agentes estressores

    presentes no ambiente de trabalho, bem como, suas manifestaes, sendo utilizado

    at a atualidade como referncia em diversas pesquisas tanto nacionais (Faria,

    2005; Cabral, 2009) quanto internacionais (Swan, Moraes, & Cooper, 1993).

    De acordo com este modelo, agentes estressores em potencial se fazem

    presentes em todas as organizaes e ocupaes profissionais. Todavia, seu tipo e

    intensidade enquanto estressor est condicionado tanto s caractersticas

    organizacionais quanto individuais (vulnerabilidade individual ao estresse). Ainda, os

    autores propuseram uma importante classificao para os agentes estressores,

    alocando-os em seis grandes grupos, a saber: fatores intrnsecos ao trabalho, papel

    na organizao, relacionamento interpessoal, desenvolvimento na carreira, clima e

    estrutura organizacional e interface casa-trabalho, a serem aprofundados na seo

    seguinte.

    Teoria do ajustamento pessoa-ambiente (Edwards & Cooper, 1990)

    Outro modelo de destaque internacional com vistas a explicar o estresse no

    trabalho diz respeito teoria do ajustamento pessoa-ambiente. Segundo Edwards e

    Cooper (1990), o fenmeno em questo pode ser caracterizado como uma falta de

    correspondncia/ajustamento entre caractersticas da pessoa (como habilidades e

    valores) e do ambiente (demanda).

    A questo do ajustamento/desajustamento se refere ao grau em que as

    habilidades do empregado correspondem ou no s demandas do trabalho. Assim,

    um trabalhador que no apresenta competncias e habilidades suficientes para a

    realizao do trabalho pode perceb-lo enquanto estressante, podendo ocorrer

    tambm com aquele cujo trabalho est aqum de suas habilidades e competncias

    (Jex, 2002).

    Tem-se que a principal caracterstica do referido modelo diz respeito idia

    de aferio do estresse ocupacional por meio do nvel de discrepncia entre o

  • 40

    desejo e a percepo do trabalhador acerca de caractersticas diversas do ambiente

    de trabalho (Canova, 2008). Destarte, o trabalhador percebe este ambiente

    enquanto estressante mediante a falta de ajuste entre ambos (French, Caplan, &

    Harrison, 1982).

    Jex (2002) menciona que o referido modelo de estresse ocupacional acaba

    por apresentar implicaes para muitos fenmenos organizacionais, tais quais,

    seleo e socializao, sendo que suas razes histricas remetem a Kurt Lewin e

    sua idia de psicologia interacionista.

    Teoria ciberntica do estresse (Edwards, 1992)

    Assim como o modelo supracitado, a presente teoria entende o estresse

    ocupacional em termos da disparidade entre uma situao percebida e desejada

    pelo empregado. Contudo, destaca que esta relao de discrepncia deve ser

    entendida enquanto relevante pelo trabalhador para que ele vivencie o estresse.

    Neste sentido, o ncleo deste modelo terico diz respeito ao negative

    feedback loop, que atua com vistas a minimizar as discrepncias entre as

    caractersticas do ambiente de trabalho e o critrio de referncia relevante para o

    sujeito, tratando-se do funcionamento dos sistemas de auto-regulao (Edwards,

    1992). Mais especificamente, consiste em receber as informaes advindas do

    ambiente de trabalho e realizar uma comparao das mesmas com um critrio de

    referncia que se mostre relevante para sujeito.

    Ao identificar uma discrepncia, este se dispe a modificar/intervir no

    ambiente estressor com vistas a minimizar ou cessar a fonte da discrepncia

    (Paschoal, 2003). Assim, tem-se que o estresse total vivenciado por um sujeito

    determinado por todas as discrepncias relevantes identificadas por ele (DuBrin,

    2003).

    Modelo de Kahn e Byosiere (1992)

    Fruto de uma compilao de pesquisas empricas acerca do tema, trata-se de

    um teoria integradora que rene antecedentes, estressores, variveis intervenientes,

    respostas e conseqncias do fenmeno em questo. Kahn e Byosiere (1992)

  • 41

    defenderam que a cognio vem a ser uma pea fundamental neste processo,

    tendo em vista a importncia da avaliao das demandas advindas do ambiente

    organizacional enquanto estressoras.

    Outro fator de destaque neste modelo terico diz respeito noo de

    antecedentes organizacionais, a saber, caractersticas/propriedades da organizao

    que podem vir a originar estressores, tais quais, polticas, tecnologias e estruturas

    organizacionais. Por exemplo, tem-se que instituies cuja estrutura implique uma

    considervel distncia entre os nveis hierrquicos, somada falta ou reduzido

    controle na execuo do trabalho por parte dos funcionrios pode vir a propiciar o

    surgimento de estressores. Neste sentido, importante ressaltar o carter

    antecedente destas variveis organizacionais, j que as mesmas no so

    concebidas enquanto estressores em si, mas como fontes destes.

    Modelo de Lazarus (1995)

    Trata-se de um dos modelos mais ressaltados na literatura, cujo

    embasamento advm dos pressupostos apresentados na teoria de estresse geral de

    Lazarus e Folkman (1984). Destaca a cognio como sendo dividida em duas

    partes, a saber: a) avaliao primria: corresponde avaliao da situao por

    parte do indivduo, estando sujeita s percepes das propriedades dos estmulos

    situacionais, bem como, sua estrutura psicolgica; b) avaliao secundria: diz

    respeito avaliao do sujeito acerca dos recursos que possui para enfrentar a

    situao em que se encontra (coping).

    Este modelo defende que o estresse ocupacional no diz respeito a um

    atributo pessoal ou do ambiente, podendo ser originado a partir do encontro entre

    um trabalhador especfico e um determinado ambiente de trabalho. Assim, uma

    questo crucial vem a ser nfase no processo cognitivo do estresse ocupacional. De

    acordo com esta teoria, uma situao no ambiente de trabalho no vem a se

    mostrar estressora para todos os trabalhadores, uma vez que, para que isto ocorra

    necessrio que esta seja avaliada enquanto capaz de gerar perdas e danos ao

    indivduo. Destarte, a histria de vida do sujeito pode interferir nesta avaliao, ao

    passo que a percepo das caractersticas dos estmulos situacionais, bem como, a

    estrutura psicolgica do indivduo esto envolvidas neste processo.

  • 42

    Em geral, h uma tendncia nos modelos tericos em conceber o estresse

    ocupacional como um conceito relacional e por estressores-respostas, com nfase

    na relao entre o ambiente de trabalho e o sujeito (Tamayo & Paschoal, 2005),

    conforme presente em teorias como a proposta por Lazarus (1995), a teoria de

    ajustamento pessoa-ambiente (Edwards & Cooper, 1990) e teoria ciberntica do

    estresse (Edwards, 1992). A seguir sero expostos alguns eventos estressores no

    trabalho apontados na literatura.

    Estressores ocupacionais

    Estresse ocupacional diz respeito a um fenmeno complexo e multifacetado,

    o que implica a existncia de vrias fontes de estresse j catalogadas na literatura.

    Neste sentido, tem-se que eventos ou condies no ambiente de trabalho que

    requeiram algum tipo de resposta adaptativa por parte do trabalhador, configurando-

    se enquanto promotores de estresse, so denominados estressores (Beehr, 1998;

    Jex, Beehr, & Roberts, 1992).

    Uma ampla gama de pesquisas consistentes acerca de estressores tem

    confirmado suas influncias nos comportamentos e atitudes dos empregados (Jex &

    Crossley, 2005), mais especificamente, os efeitos negativos provocados na sade,

    performance e satisfao dos mesmos (Kahn & Byosiere, 1992). Ainda, tem-se que

    os estressores podem ser de natureza fsica ou psicossocial (Paschoal, 2003),

    todavia, maior destaque conferido ltima categoria.

    Contudo, vale ressaltar que os estressores so percebidos e interpretados

    pelos trabalhadores de formas distintas, o que implica a necessidade de considerar

    as caractersticas de cada empregado, bem como, sua capacidade de interao

    com estas fontes de estresse presentes no ambiente ao qual esto expostos

    (Martins, Bronzatti, Vieira, Parra, & Silva, 2000). Em consonncia, Lazarus (1990)

    defende que um evento estressor para um sujeito num dado momento, no

    necessariamente o ser em outra situao, bem como, pode no se configurar

    enquanto um estressor para outro sujeito, ao passo que, este processo se encontra

    atrelado percepo individual e caractersticas situacionais.

  • 43

    Devido a este carter subjetivo dos estressores, alguns autores optam por

    trat-los como estressores em potencial, salientando que eles teriam uma

    propenso a se tornarem fontes de estresse, conforme a percepo do sujeito.

    Diante da constatao da complexidade do referido fenmeno, mltiplas so

    as fontes de estresse ocupacional descritas na literatura, bem como, as tentativas

    de categoriz-las. Partindo do pressuposto de que todo e qualquer tipo de trabalho

    apresenta agentes potencialmente estressores para cada trabalhador, Cooper e

    colaboradores (Cooper,1983; Cooper et al., 1988; Cooper et al., 2001) propuseram

    uma das tipologias de maior destaque relatando a existncia de seis grupos de

    variveis que se configuram enquanto fontes de estresse no trabalho, descritos a

    seguir.

    Fatores intrnsecos ao trabalho

    Diz respeito aos aspectos inerentes tarefa desempenhada pelo trabalhador,

    entre os quais figuram questes referentes ao ambiente fsico (como detalhes

    arquitetnicos, temperatura, barulho e iluminao), carga de trabalho (por exemplo,

    expediente de trabalho, freqncia e intensidade das exigncias) e controle sobre a

    atividade exercida (ausncia de autonomia).

    Os estudos acerca de estresse ocupacional, em parte, tm negligenciado as

    caractersticas do ambiente fsico em que o trabalho realizado, tendo em vista a

    alta concentrao de investigaes acerca dos estressores psicossociais (Cooper &

    Cartwright, 1997; Sparks & Cooper, 1999). Alm do que, em muitos casos, os

    estudos a respeito dos fatores do ambiente fsico costumam investigar os

    parmetros fsicos das tarefas realizadas, ao invs de caractersticas do espao

    fsico em que o trabalho desempenhado (Vischer, 2007).

    Dentre os estressores fsicos do ambiente de trabalho, os mais investigados

    dizem respeito s condies ambientais, incluindo questes como iluminao,

    temperatura, ventilao e barulho, que podem aumentar a hostilidade, a frustrao e

    as tendncias agressivas (McCoy & Evans, 2005).

    Estudos acerca dos efeitos do rudo sobre trabalhadores tm mostrado

    resultados instveis, indicando a necessidade de maiores investigaes acerca

    desta varivel. Todavia, algumas evidncias no que diz respeito influncia do

  • 44

    rudo nos quadros de estresse foram encontradas, conforme apresentado por

    Morrison, Haas, Shaffner, Garrett e Fackler (2003) ao investigarem se o rudo no

    ambiente hospitalar pode ser correlacionado com o estresse de enfermeiros.

    Valendo-se para tal mensurao de questionrios, amilase salivar e freqncia

    cardaca, este estudo indicou que nveis mais elevados de rudo predisseram

    significativamente uma freqncia cardaca mais elevada, bem como, maior

    estresse subjetivo e aborrecimento nos trabalhadores.

    Ainda neste fator, destacam-se os estudos acerca da carga de trabalho, que

    pode ser definida como a quantidade de trabalho que um empregado tem de realizar

    em um determinado perodo de tempo (Jex, 2002). Conforme apontado por Jex

    (2002), ao investigar este estressor, faz-se necessrio levar em considerao duas

    questes essenciais: percepes de carga de trabalho e carga de trabalho objetiva

    (real). Isto porque, a duas pessoas pode ser atribudo o mesmo volume de trabalho,

    mas a percepo (avaliao) acerca desta carga de trabalho ser diferente, entrando

    em questo, a subjetividade. Ainda, devem ser ponderadas a freqncia desta

    sobrecarga, bem como, a dificuldade da tarefa solicitada.

    A sobrecarga de trabalho um estressor bastante citado na literatura acerca

    do tema, sendo relatado que o excesso de tarefas pode ocasionar insatisfao,

    tenso e outros problemas ao trabalhador. Contudo, a falta de carga de trabalho

    tambm pode se configurar enquanto uma fonte de estresse, ao passo que longos

    perodos de inatividade ou solicitaes aqum de sua capacidade podem causar

    sensao de tdio (Peir, 1993; Ferreira & Assmar, 2008).

    Outra questo controversa em se tratando de fonte de estresse a

    autonomia no trabalho, que diz respeito ao "grau em que o trabalho oferece

    liberdade substancial, independncia e discrio para o indivduo na programao

    do trabalho e determinao dos procedimentos a serem utilizados na sua

    realizao" (Hackman & Oldham, 1976, p. 258). Ou seja, a condio em que o

    trabalho permite aos funcionrios estabelecerem seu prprio ritmo de trabalho e

    procedimentos adequados para a realizao de tarefas (Shih, Jiang, Klein, & Wang,

    2011).

    Na literatura, estudos que utilizam os modelos referentes a questes como

    demanda e controle no trabalho apontam que a capacidade de um funcionrio ter

    autonomia, controlando as funes referentes ao trabalho desempenhado, pode

  • 45

    diminuir os possveis impactos negativos em decorrncia da alta demanda no

    trabalhador (Dwyer & Ganster, 1991). Num estudo com 306 trabalhadores da rea

    de tecnologia da informao, Shih et al. (2011) encontraram que a exausto no

    trabalho reduzida com a atribuio de autonomia aos funcionrios, na presena

    de exigncias de aprendizagem e motivao, que, por sua vez, diminui as intenes

    de rotatividade dos trabalhadores.

    Destarte, muitos estudos apontam a falta de autonomia enquanto um

    estressor em potencial (Dwyer & Ganster, 1991; Van der Doef & Maes, 1999).

    Entretanto, deve-se levar em considerao, novamente, caractersticas prprias de

    cada do trabalhador, ao passo que, algumas pessoas no lidam bem com excesso

    de autonomia, necessitando de certo grau de dependncia, por assim dizer.

    Relaes interpessoais no trabalho

    Um nmero expressivo de atividades laborais marcado pela necessidade

    de contato entre pessoas. Todavia, quando estas relaes so marcadas por

    conflitos, quando so identificados problemas nas interaes pessoais firmadas

    nestes contextos laborais, seja com pessoas do mesmo nvel hierrquico ou de

    nveis distintos, assim como, entre empregados e clientes, podem se configurar

    enquanto estressor