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ESCOLA POLITCNICA DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO
JOO PAULO MACEDO GUERRA
AVALIAO DE DESEMPENHO TERMODINMICO E AMBIENTAL DE CENRIOS DE COGERAO ELTRICA EM USINAS
AUTNOMAS
SO PAULO
2014
JOO PAULO MACEDO GUERRA
AVALIAO DE DESEMPENHO TERMODINMICO E AMBIENTAL DE CENRIOS DE COGERAO ELTRICA EM USINAS
AUTNOMAS
Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo como requisito necessrio para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia.
SO PAULO
2014
JOO PAULO MACEDO GUERRA
AVALIAO DE DESEMPENHO TERMODINMICO E AMBIENTAL DE CENRIOS DE COGERAO ELTRICA EM USINAS AUTNOMAS
Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo como requisito necessrio para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia rea de Concentrao: Engenharia Qumica
Orientador: Prof. Dr. Luiz Alexandre Kulay
SO PAULO
2014
FICHA CATALOGRFICA
Guerra, Joo Paulo Macedo
Avaliao de desempenho termodinmico e ambiental de cenrios de cogerao eltrica em usinas autnomas / J.P.M. Guerra. -- So Paulo, 2014.
345 p.
Dissertao (Mestrado) - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. Departamento de Engenharia Qumica.
1.Cogerao de energia eltrica 2.Anlise energtica 3.Ciclo de vida (Avaliao) I.Universidade de So Paulo. Escola Politc-nica. Departamento de Engenharia Qumica II.t.
Dedico este trabalho minha me, pela sua vida de dedicao aos filhos e ao meu irmo Walysson, pela sua humildade inspiradora e pelo seu exemplo de perseverana.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeo ao egrgio professor Dr. Luiz Alexandre Kulay pelo seu
comprometimento no desenvolvimento desse trabalho, pela orientao consistente
e, sobretudo, pela amizade cultivada e pelo exemplo de lealdade, principalmente nos
momentos mais difceis.
Aos nobres colegas e amigos do GP2 que de certa forma contriburam para a
elaborao desse trabalho, pelas experincias trocadas e pelo companheirismo ao
longo desta caminhada: Alex, Letcia, Henrique e Victor.
Ao amigo Lauro pelo incentivo elaborao desse esforo de pesquisa, e seu irmo
lvaro Meneguetti, que gentilmente disponibilizou a usina Santa Terezinha, Unidade
Paranacity para coleta de dados e acompanhamento do processo produtivo.
Aos amigos Marcelo, Ricardo, Diogo e Isabela, que acompanharam e incentivaram
minha dedicao nesse trabalho e foram excelentes companhias durante minha
estadia em So Paulo.
O cientista um apaixonado da verdade pelo prprio amor verdade, aonde quer que ela leve
Luther Burbank Procure ser um homem de valor, em vez de ser um homem de sucesso
Albert Einstein
RESUMO
A descentralizao do setor de eletricidade brasileiro associado premente
necessidade de aumento da oferta de energia eltrica tem fomentado a busca por
fontes alternativas para produo de energia eltrica. Este fato motiva empresas do
setor sucroalcooleiro a produzir eletricidade a partir da queima do bagao de cana-
de-acar em sistemas de cogerao, elevando dessa forma a capacidade de
gerao de energia eltrica exatamente no perodo de menor oferta hdrica. A
gerao de eletricidade a partir da biomassa canavieira revela-se uma opo
interessante, pois alm de ser produzida de forma distribuda e prxima aos centros
consumidores, tem criado oportunidades a destilarias e usinas de acar para
aumentarem seus portflios de produtos.
Nesse aspecto, o presente estudo se prope a apresentar e discutir possibilidades
de cogerao de energia eltrica em usinas autnomas (destilarias) em diferentes
condies de processo e operao. Para atender a estes propsitos, foram definidos
cenrios de cogerao e desenvolvidos modelos para simulao e anlise da
produo de energia trmica e eltrica bem como estimar os impactos ambientais
associados, considerando um sistema de cogerao que opera atravs do ciclo
Rankine, que o sistema mais utilizado pelas usinas brasileiras. Os cenrios foram
analisados a partir das tcnicas de Anlise Exergtica (Anlise Termodinmica de
Primeira e Segunda Lei) e Avaliao de Ciclo de Vida (ACV). Adotou-se para o caso
da avaliao ambiental um enfoque do bero ao porto da fbrica, conforme
diretrizes metodolgicas descritas nas normas ISO 14040 e 14044. A unidade
funcional adotada foi gerar 1,0 MWh de eletricidade excedente em sistema de
cogerao energtica. O sistema de produto compreende as cargas ambientais da
etapa industrial e da produo agrcola da cana-de-acar.
Especialistas no setor e pesquisadores da rea sugerem concentrar esforos de
melhoria de desempenho termodinmico na elevao das propriedades de estado
do vapor na sada da caldeira de 20 bar at 100 bar, e simulao de sistemas de
cogerao com reaquecimento e regenerao, que so melhorias tcnicas prprias
de centrais termeltricas, mas com potencial de aproveitamento pelo setor
sucroalcooleiro. Os cenrios foram projetados com base em diferentes combinaes
dessas condies considerando duas possibilidades de utilizao da biomassa como
fonte de energia trmica: exclusivamente bagao de cana-de-acar; e uma
composio de bagao e palha. A comparao dos desempenhos termodinmicos e
ambientais dos cenrios ocorreu principalmente em termos da gerao especfica de
eletricidade, da eficincia exergtica, do perfil destruio de exergia ao longo do
ciclo e dos perfis de impactos ambientais potenciais.
Os resultados obtidos indicam que a eficincia exergtica aumenta com a
elevao das funes de estado do vapor superaquecido na alimentao da turbina,
e ao aumento do grau de complexidade do ciclo Rankine, conseguido medida que
arranjos com reaquecimento e regenerao so integrados ao ciclo. Esses arranjos
mostraram-se efetivos na melhoria dos desempenhos exergtico e ambiental dos
sistemas de cogerao a partir da queima do bagao e da palha da cana-de-acar.
Em termos de desempenho ambiental, observou-se a reduo sistmica de efeitos
negativos associada ao aumento da eficincia do ciclo termodinmico. Os resultados
da ACV ratificaram tambm, que a melhoria da eficincia exergtica do sistema
seguida de reduo de impactos ambientais. Os melhores resultados ambientais,
tanto em termos relativos, como absolutos, foram obtidos aproveitando a palha como
fonte de energia trmica na caldeira, na condio de gerao de vapor a 100 bar e
511 oC, com ciclo Rankine que utiliza reaquecimento e regenerao
simultaneamente, numa proposta chamada de ciclo Resultante, cuja reduo de
impactos ambientais ocorreu entre 5,3% e 15,6% nas categorias analisadas.
Palavras-chave: cogerao via cana-de-acar; ciclo Rankine; anlise energtica,
anlise exergtica; Avaliao do Ciclo de Vida (ACV).
ABSTRACT
The decentralization of the Brazilian electricity sector in association with the internal
electricity supply crisis has encouraged companies in the sugarcane industry to
produce electricity by burning sugarcane bagasse in cogeneration plants. This
approach reduces the environmental impact of the sugarcane production and has
opened up opportunities for distilleries and annex plants to increase their product
portfolios. Potential scenarios for technically and environmentally improving the
cogeneration performance were analyzed by using Thermodynamic analysis and Life
Cycle Assessment (LCA). The method used in this study aimed to provide an
understanding and a model of the electrical and thermal energy production and the
environmental impacts of conventional vapor power systems which operate with
Rankine cycle that are commonly used by Brazilian distilleries. Vapor power system
experts have suggested focusing on the following technical improvement areas:
increasing the properties of the steam from 20 to 100 bar, regeneration and
reheating. The case scenarios were projected based on different Rankine cycle
configurations and two possibilities of biomass utilization: only sugarcane bagasse or
sugarcane bagasse with straw.
The LCA was carried out according to ISO 14040 and 14044 regulations, with focus
from cradle to gate. A Functional unit of: "To delivery 1.0 MWh of electricity to the
power grid using cogeneration system" was defined. The product system covers the
environmental burdens of the industrial stage and the agricultural production of
sugarcane.
Thermodynamic evaluation indicated that the energy efficiency and the potential net
power exported to the grid increase as the pressure at which the vapor leaves the
boiler increases.
From the LCA, it was noted that the improved energy performance of the system is
accompanied by reduced environmental impacts for all evaluated categories. In
addition, vapor production at 100 bar and 511 C resulted in greater environmental
gains, both in absolute and relative terms. Reheating and regeneration concepts
were found to be considerably effective in improving the energy and environmental
performance of cogeneration systems by burning sugarcane bagasse and straw. For
the evaluated categories, the results indicated that the proposed modifications are
favorable for increasing the efficiency of the thermodynamic cycle and for decreasing
the environmental impacts of the product system. The best results were obtained
using bagasse and straw in the boiler furnace and using reheat-regenerative Rankine
cycle. In this case it was noted a reduction between 5.3% and 15.6% over all impact
categories analysed.
Keywords: cogeneration, sugarcane industry, Rankine cycle, energetic analysis,
exergetic analysis, Life Cycle Assessment (LCA).
LISTA DE ILUSTRAES
FIGURA 1 - SRIE HISTRICA DA PRODUO DOS PRINCIPAIS PASES PRODUTORES DA CANA-DE-ACAR, EM MILHES DE TONELADAS
(MAPA, 2013) ...............................................................................................................................................23
FIGURA 2 - MAPA DE PRODUO DE CANA-DE-ACAR NO BRASIL (NICA, 2013). ..............................................................23
FIGURA 3 - PRODUO DE CANA NO BRASIL POR ESTADOS (MAPA, 2013)...........................................................................24
FIGURA 4 - DIAGRAMA DE BLOCOS SIMPLIFICADO PARA PRODUO DE ETANOL ANIDRO A PARTIR DA CANA-DE-ACAR NUMA USINA
AUTNOMA (ADAPTADO DE DIAS ET AL., 2010).....................................................................................................28
FIGURA 5 - EVOLUO DA PRODUO DE ETANOL ANIDRO, SEGUNDO GRANDES REGIES 2002 A 2013 (ANP,2013)................29
FIGURA 6 - EVOLUO DA PRODUO DE ETANOL HIDRATADO, POR GRANDES REGIES 2003 A 2012 (ANP, 2013) .................30
FIGURA 7 - NOVAS UNIDADES E PROJETOS DE NOVAS USINAS (BNDES, 2012).......................................................................31
FIGURA 8 - PARTES DA CANA-DE-ACAR (IEL, 2008) ......................................................................................................36
FIGURA 9 - DIAGRAMA DE BLOCOS E DIAGRAMA T-S DO CICLO DE CARNOT (VAN NESS, 2007) .................................................40
FIGURA 10 - DIAGRAMA T-S DO CICLO RANKINE (VAN NESS, 2007)....................................................................................41
FIGURA 11 - REPRESENTAO DE UM CICLO RANKINE CONVENCIONAL DE UM SISTEMA DE COGERAO.......................................43
FIGURA 12 - DIAGRAMA T-S DO CICLO RANKINE COM SUPERAQUECIMENTO (VAN NESS, 2007) ...............................................45
FIGURA 13 - INFLUNCIA DA PRESSO DO VAPOR NA SADA DA CALDEIRA (VAN NESS, 2007). ...................................................45
FIGURA 14 - CICLO RANKINE COM REAQUECIMENTO (ADAPTADO DE MORAN E SHAPIRO, 2008). .............................................47
FIGURA 15 - REAQUECIMENTO COM INFINITOS TROCADORES DE CALOR (BRSCHER, 1991). ....................................................48
FIGURA 16 - CICLO REGENERATIVO IDEAL (BRSCHER, 1991). ...........................................................................................48
FIGURA 17 - VOLUME DE CONTROLE PARA UMA MASSA LEVADA AT AS CONDIES DO AMBIENTE. ............................................53
FIGURA 18 - ESQUEMA DA ANLISE DE CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO (GRIPP, 2013). .........................................................60
FIGURA 19 - ESTGIOS DO ESTUDO DE ACV. ...................................................................................................................63
FIGURA 20 - REPRESENTAO DA PROPOSTA DE UM CICLO RANKINE COM REAQUECIMENTO PARA UM SISTEMA DE COGERAO. .....81
FIGURA 21 - REPRESENTAO DA PROPOSTA DE UM CICLO RANKINE REGENERATIVO PARA UM SISTEMA DE COGERAO. ...............82
FIGURA 22 - REPRESENTAO DA PROPOSTA DE UM CICLO RANKINE RESULTANTE PARA UM SISTEMA DE COGERAO. ...................83
FIGURA 23 - ILUSTRAO DA CALDEIRA...........................................................................................................................86
FIGURA 24 - ILUSTRAO DA CALDEIRA COM REAQUECIMENTO. ..........................................................................................90
FIGURA 25 DIAGRAMA H-S PARA ILUSTRAO DA EFICINCIA DA TURBINA (ADAPTADO DE LI ET AL, 1985). ...............................93
FIGURA 26 - ILUSTRAO DO CONJUNTO TURBINA E GERADOR. ...........................................................................................94
FIGURA 27 - ILUSTRAO DO CONJUNTO CONDENSADOR E TORRE DE RESFRIAMENTO. .............................................................97
FIGURA 28 - ILUSTRAO DA BOMBA DE CONDENSADO DO CONDENSADOR..........................................................................101
FIGURA 29 - DIAGRAMA H-S PARA ILUSTRAR EFICINCIA DA BOMBA (ADAPTADO DE LI ET AL, 1985). .......................................102
FIGURA 30 - REPRESENTAO DO DESAERADOR DO SISTEMA DE COGERAO. ......................................................................104
FIGURA 31 - ILUSTRAO DE UM TROCADOR DE CALOR DO CICLO REGENERATIVO. .................................................................109
FIGURA 32 - ESQUEMA SIMPLIFICADO DO SISTEMA TURBOGERADOR NO 1 DA UTE-STP. .......................................................117
FIGURA 33 - ESQUEMA SIMPLIFICADO DO SISTEMA TURBOGERADOR NO 2 DA UTE-STP. .......................................................117
FIGURA 34 - REPRESENTAO DO SISTEMA DE PRODUTO ANALISADO..................................................................................121
FIGURA 35 - CICLO DE VAPOR CONVENCIONAL PARA UMA PLANTA DE COGERAO (INTERFACE DO SIMULADOR).........................125
FIGURA 36 - CICLO DE VAPOR COM REAQUECIMENTO PARA UMA PLANTA DE COGERAO (INTERFACE DO SIMULADOR). ..............137
FIGURA 37 - CICLO DE VAPOR REGENERATIVO PARA UMA PLANTA DE COGERAO (INTERFACE DO SIMULADOR). ........................148
FIGURA 38 - CICLO DE VAPOR RESULTANTE PARA UMA PLANTA DE COGERAO (INTERFACE DO SIMULADOR). ............................161
FIGURA 39 - MOINHO HAYBUSTER SENDO ALIMENTADO COM FARDO DE PALHA. ..................................................................188
FIGURA 40 - COMPARAO DOS RESULTADOS DA AVALIAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS GERAO DE 1,0 MWH DE
ELETRICIDADE EXCEDENTE EM SISTEMA COM CICLO CONVENCIONAL, COM E SEM UTILIZAO DE PALHA............................196
FIGURA 41 - COMPARAO DOS RESULTADOS DA AVALIAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS GERAO DE 1,0 MWH DE
ELETRICIDADE EXCEDENTE EM SISTEMA COM REAQUECIMENTO, COM E SEM UTILIZAO DE PALHA. .................................197
FIGURA 42 - COMPARAO DOS RESULTADOS DA AVALIAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS GERAO DE 1,0 MWH DE
ELETRICIDADE EXCEDENTE EM SISTEMA COM CICLO REGENERATIVO, COM E SEM UTILIZAO DE PALHA.............................198
FIGURA 43 - COMPARAO DOS RESULTADOS DA AVALIAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS GERAO DE 1,0 MWH DE
ELETRICIDADE EXCEDENTE EM SISTEMA COM CICLO RESULTANTE, COM E SEM UTILIZAO DE PALHA. ...............................199
FIGURA 44 - COMPARAO DOS RESULTADOS DA AVALIAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS GERAO DE 1,0 MWH DE
ELETRICIDADE EXCEDENTE EM SISTEMA COM CICLO CONVENCIONAL, COM E SEM UTILIZAO DE PALHA, ADOTANDO CRITRIO
ENERGTICO DE ALOCAO NO SISTEMA DE COGERAO. ........................................................................................208
GRFICO 1 - RESULTADOS DA EFICINCIA ENERGTICA E EXERGTICA PRA OS CENRIOS I A V. ..................................................126
GRFICO 2 - RESULTADO DOS INDICADORES DE PERFORMANCE ESPECFICOS, PARA OS CENRIOS I A V. .....................................127
GRFICO 3 - RESULTADOS DA ANLISE ENERGTICA PARA OS CENRIOS I A V........................................................................129
GRFICO 4 - RESULTADOS DA ANLISE EXERGTICA PARA OS CENRIOS I A V. .......................................................................131
GRFICO 5 - RESULTADOS DA EFICINCIA ENERGTICA E EXERGTICA PRA OS CENRIOS VI A X. ................................................133
GRFICO 6 - RESULTADO DOS INDICADORES DE PERFORMANCE ESPECFICOS, PARA OS CENRIOS VI A X. ...................................133
GRFICO 7 - RESULTADOS DA ANLISE ENERGTICA PARA OS CENRIOS VI A X......................................................................135
GRFICO 8 - RESULTADOS DA ANLISE EXERGTICA PARA OS CENRIOS VI A X. .....................................................................136
GRFICO 9 - RESULTADOS DA EFICINCIA ENERGTICA E EXERGTICA PRA OS CENRIOS XI A XV. ..............................................138
GRFICO 10 - RESULTADO DOS INDICADORES DE PERFORMANCE ESPECFICOS, PARA OS CENRIOS XI A XV. ...............................139
GRFICO 11 - RESULTADOS DA ANLISE ENERGTICA PARA OS CENRIOS XI A XV. ................................................................141
GRFICO 12 - RESULTADOS DA ANLISE EXERGTICA PARA OS CENRIOS XI A XV. .................................................................142
GRFICO 13 - RESULTADOS DA EFICINCIA ENERGTICA E EXERGTICA PRA OS CENRIOS XVI A XX. ..........................................144
GRFICO 14 - RESULTADO DOS INDICADORES DE PERFORMANCE ESPECFICOS, PARA OS CENRIOS XVI A XX. .............................145
GRFICO 15 - RESULTADOS DA ANLISE ENERGTICA PARA OS CENRIOS XVI A XX. ..............................................................146
GRFICO 16 - RESULTADOS DA ANLISE EXERGTICA PARA OS CENRIOS XVI A XX................................................................147
GRFICO 17 - RESULTADOS DA EFICINCIA ENERGTICA E EXERGTICA PRA OS CENRIOS XXI A XXV. ........................................149
GRFICO 18 - RESULTADO DOS INDICADORES DE PERFORMANCE ESPECFICOS, PARA OS CENRIOS XXI A XXV. ...........................150
GRFICO 19 - RESULTADOS DA ANLISE ENERGTICA PARA OS CENRIOS XXI A XXV. ............................................................152
GRFICO 20 - RESULTADOS DA ANLISE EXERGTICA PARA OS CENRIOS XXI A XXV..............................................................153
GRFICO 21 - RESULTADOS DA EFICINCIA ENERGTICA E EXERGTICA PRA OS CENRIOS XXVI A XXX. ......................................154
GRFICO 22 - RESULTADO DOS INDICADORES DE PERFORMANCE ESPECFICOS, PARA OS CENRIOS XXVI A XXX. .........................156
GRFICO 23 - RESULTADOS DA ANLISE ENERGTICA PARA OS CENRIOS XXVI A XXX. ..........................................................158
GRFICO 24 - RESULTADOS DA ANLISE EXERGTICA PARA OS CENRIOS XXVI A XXX............................................................159
GRFICO 25 - RESULTADOS DA EFICINCIA ENERGTICA E EXERGTICA PRA OS CENRIOS XXXI A XXXV.....................................162
GRFICO 26 - RESULTADO DOS INDICADORES DE PERFORMANCE ESPECFICOS, PARA OS CENRIOS XXXI A XXXV. .......................163
GRFICO 27 - RESULTADOS DA ANLISE ENERGTICA PARA OS CENRIOS XXXI A XXXV. ........................................................164
GRFICO 28 - RESULTADOS DA ANLISE EXERGTICA PARA OS CENRIOS XXXI A XXXV..........................................................165
GRFICO 29 - RESULTADOS DA EFICINCIA ENERGTICA E EXERGTICA PRA OS CENRIOS XXXVI A XL. ......................................167
GRFICO 30 - RESULTADO DOS INDICADORES DE PERFORMANCE ESPECFICOS, PARA OS CENRIOS XXXVI A XL...........................168
GRFICO 31 - RESULTADOS DA ANLISE ENERGTICA PARA OS CENRIOS XXXVI A XL............................................................169
GRFICO 32 - RESULTADOS DA ANLISE EXERGTICA PARA OS CENRIOS XXXVI A XL. ...........................................................170
GRFICO 33 - INFLUNCIA DA ADIO DE TROCADORES DE CALOR SOBRE A EFICINCIA EXERGTICA DO CICLO RANKINE, NA CONDIO
DE PRESSO DE OPERAO DE 20 BAR. ................................................................................................................343
GRFICO 34 - INFLUNCIA DA ADIO DE TROCADORES DE CALOR SOBRE A EFICINCIA EXERGTICA DO CICLO RANKINE, NA CONDIO
DE PRESSO DE OPERAO DE 45 BAR. ................................................................................................................344
GRFICO 35 - INFLUNCIA DA ADIO DE TROCADORES DE CALOR SOBRE A EFICINCIA EXERGTICA DO CICLO RANKINE, NA CONDIO
DE PRESSO DE OPERAO DE 67 BAR. ................................................................................................................344
GRFICO 36 - INFLUNCIA DA ADIO DE TROCADORES DE CALOR SOBRE A EFICINCIA EXERGTICA DO CICLO RANKINE, NA CONDIO
DE PRESSO DE OPERAO DE 80 BAR. ................................................................................................................345
GRFICO 37 - INFLUNCIA DA ADIO DE TROCADORES DE CALOR SOBRE A EFICINCIA EXERGTICA DO CICLO RANKINE, NA CONDIO
DE PRESSO DE OPERAO DE 100 BAR. ..............................................................................................................345
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - SUCESSO DE TRANSFORMAES TERMODINMICAS OCORRIDAS NO CICLO CARNOT (VAN NESS, 2007) .....................40
TABELA 2 - SUCESSO DE TRANSFORMAES TERMODINMICAS OCORRIDAS NO CICLO RANKINE (VAN NESS, 2007).....................41
TABELA 3 - DISTRIBUIO DAS PRESSES DE OPERAO DAS CALDEIRAS NAS USINAS BRASILEIRAS (IDEA, 2012) ..........................42
TABELA 4 CARACTERSTICAS DOS CENRIOS AVALIADOS PARA O SISTEMA DE COGERAO. ......................................................77
TABELA 5 - BASE DE CLCULO DOS CENRIOS ...................................................................................................................79
TABELA 6 - PRESSO DE EXTRAO TIMA PARA CADA PRESSO DA CALDEIRA ........................................................................91
TABELA 7 RESUMO DAS CARACTERSTICAS TCNICAS DOS EQUIPAMENTOS INSTALADOS NA UTE-STP. ....................................116
TABELA 8 - DESVIOS NA FORMA DE ERROS PERCENTUAIS DO MODELO EM RELAO OS SISTEMAS DA UTE-STP. ..........................118
TABELA 9 - CARACTERSTICAS DOS CENRIOS DE COGERAO COM CICLO RANKINE CONVENCIONAL. ........................................125
TABELA 10 - CARACTERSTICAS DOS CENRIOS DE COGERAO COM CICLO RANKINE COM REAQUECIMENTO. .............................138
TABELA 11 - CARACTERSTICAS DOS CENRIOS DE COGERAO COM CICLO RANKINE REGENERATIVO. .......................................148
TABELA 12 - CARACTERSTICAS DOS CENRIOS DE COGERAO COM CICLO RANKINE RESULTANTE. ...........................................161
TABELA 13 - INVENTRIO CONSOLIDADO DA PRODUO DE 1 KG DE CANA COM QUEIMADA PRVIA PERCENTUAL DEFINIDA, SEM
APROVEITAMENTO DA PALHA.............................................................................................................................174
TABELA 14 - INVENTRIO CONSOLIDADO DA PRODUO DE 1 KG DE CANA CENRIO FUTURO, SEM QUEIMADA PRVIA E COM
APROVEITAMENTO DE 50% DA PALHA.................................................................................................................177
TABELA 15 - FATORES DE EMISSO PARA A QUEIMA DA PALHA ANTERIOR COLHEITA ............................................................181
TABELA 16 - INVENTRIO DA PRODUO DE 1 KG DE ETANOL ANIDRO.................................................................................185
TABELA 17 - FATORES DE EMISSO PARA A QUEIMA DE LEO DIESEL EM MAQUINRIOS AGRCOLAS. .........................................186
TABELA 18 - PERCENTUAIS DE ALOCAO PARA CENRIOS SEM APROVEITAMENTO DA PALHA. .................................................190
TABELA 19 - PERCENTUAIS DE ALOCAO PARA CENRIOS COM APROVEITAMENTO DA PALHA. ................................................190
TABELA 20 - RESULTADOS DA AVALIAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARA OS CENRIOS I A V ASSOCIADOS GERAO DE 1,0 MWH
DE ELETRICIDADE EXCEDENTE, NA UNIDADE DE COGERAO. ....................................................................................193
TABELA 21 - RESULTADOS DA AVALIAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARA OS CENRIOS VI A X ASSOCIADOS GERAO DE 1,0
MWH DE ELETRICIDADE EXCEDENTE, NA UNIDADE DE COGERAO. ..........................................................................194
TABELA 22 - PERCENTUAIS DE ALOCAO POR CRITRIO ENERGTICO PARA CENRIOS SEM APROVEITAMENTO DA PALHA. .............206
TABELA 23 - PERCENTUAIS DE ALOCAO POR CRITRIO ENERGTICO PARA CENRIOS COM APROVEITAMENTO DA PALHA. ............206
TABELA 24 - INFLUNCIA DA ADIO DE TROCADORES DE CALOR SOBRE A EFICINCIA EXERGTICA DO CICLO RANKINE, NA CONDIO DE
PRESSO DE OPERAO DE 20 BAR. ....................................................................................................................341
TABELA 25 - INFLUNCIA DA ADIO DE TROCADORES DE CALOR SOBRE A EFICINCIA EXERGTICA DO CICLO RANKINE, NA CONDIO DE
PRESSO DE OPERAO DE 45 BAR. ....................................................................................................................341
TABELA 26 - INFLUNCIA DA ADIO DE TROCADORES DE CALOR SOBRE A EFICINCIA EXERGTICA DO CICLO RANKINE, NA CONDIO DE
PRESSO DE OPERAO DE 67 BAR. ....................................................................................................................342
TABELA 27 - INFLUNCIA DA ADIO DE TROCADORES DE CALOR SOBRE A EFICINCIA EXERGTICA DO CICLO RANKINE, NA CONDIO DE
PRESSO DE OPERAO DE 80 BAR. ....................................................................................................................342
TABELA 28 - INFLUNCIA DA ADIO DE TROCADORES DE CALOR SOBRE A EFICINCIA EXERGTICA DO CICLO RANKINE, NA CONDIO DE
PRESSO DE OPERAO DE 100 BAR. ..................................................................................................................343
SUMRIO
1. INTRODUO.......................................................................................................................................16
2. OBJETIVOS ...........................................................................................................................................21
3. REVISO BIBLIOGRFICA......................................................................................................................22
3.1. SETOR SUCROENERGTICO NO BRASIL............................................................................................... 22
3.2. O ETANOL COMBUSTVEL ................................................................................................................... 24
3.2.1. Breve Histrico do Etanol...............................................................................................................24
3.2.2. Processo Produtivo do Etanol ........................................................................................................26
3.2.3. Estatsticas da Produo de Etanol no Brasil .................................................................................28
3.2.4. Competitividade do Etanol Brasileiro ............................................................................................31
3.2.5. Aspectos ambientais da produo do etanol.................................................................................32
3.3. COGERAO DE ENERGIA ELTRICA ................................................................................................... 33
3.3.1. Contexto da cogerao de energia eltrica no Brasil ....................................................................34
3.3.2. Descrio da biomassa da cana-de-acar....................................................................................35
3.3.3. Unidades de Cogerao e o Ciclo Rankine .....................................................................................39
3.4. MELHORIAS NO CICLO RANKINE ......................................................................................................... 46
3.4.1. Ciclo Rankine com Reaquecimento ................................................................................................46
3.4.2. Ciclo Rankine Regenerativo ...........................................................................................................47
3.4.3. Ciclo Rankine Resultante................................................................................................................49
3.5. REVISO DOS CONCEITOS TERMODINMICOS................................................................................... 49
3.5.1. Primeira Lei da Termodinmica .....................................................................................................49
3.5.2. Segunda Lei da Termodinmica.....................................................................................................51
3.6. ANLISE EXERGTICA.......................................................................................................................... 51
3.6.1. O conceito de Exergia ....................................................................................................................52
3.6.2. Definio do Ambiente de Referncia............................................................................................52
3.6.3. O Balano de Exergia .....................................................................................................................53
3.6.4. Informaes adicionais sobre Exergia ...........................................................................................58
3.7. ANLISE AMBIENTAL: AVALIAO DE CICLO DE VIDA ACV .............................................................. 59
3.7.1. Conceitos e Definies ...................................................................................................................59
3.7.2. Breve histrico e aspectos normativos da ACV..............................................................................60
3.7.3. Mtodo de ACV..............................................................................................................................62
3.8. ESTUDOS CIENTFICOS ENVOLVENDO ACV E ANLISE EXERGTICA.................................................... 69
4. MTODO..............................................................................................................................................74
4.1. DEFINIO DOS CENRIOS ................................................................................................................. 75
4.2. MODELAGEM TERMODINMICA DOS CENRIOS............................................................................... 78
4.2.1. Premissas e Definio dos parmetros operacionais dos cenrios................................................78
4.2.2. A ferramenta usada para construo dos modelos matemticos .................................................80
4.2.3. Caractersticas especficas dos arranjos com reaquecimento e regenerativo ...............................80
4.2.4. Modelagem dos equipamentos .....................................................................................................83
4.3. VALIDAO DO MODELO TERMODINMICO ................................................................................... 114
ASPECTOS ESPECFICOS PARA AVALIAO AMBIENTAL ................................................................... 119
4.4. 119
4.4.1. Definio de Objetivo e Escopo....................................................................................................119
4.4.2. Sistema de Produto e Fronteiras do Sistema ...............................................................................119
4.4.3. Requisitos e qualidade dos dados................................................................................................122
5. RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................................................123
5.1. ANLISE TERMODINMICA .............................................................................................................. 124
5.1.1. Ciclo Rankine Convencional .........................................................................................................124
5.1.2. Ciclo Rankine com Reaquecimento ..............................................................................................137
5.1.3. Ciclo Rankine Regenerativo .........................................................................................................148
5.1.4. Ciclo Rankine Resultante..............................................................................................................160
5.2. ANLISE AMBIENTAL ........................................................................................................................ 172
5.2.1. Anlise de Inventrio ...................................................................................................................172
5.2.2. Avaliao de Impacto ..................................................................................................................192
5.2.3. Anlise de Sensibilidade...............................................................................................................206
6. CONCLUSES .....................................................................................................................................210
7. REFERNCIAS .....................................................................................................................................213
APNDICE A MODELAGEM DO SISTEMA DE COGERAO COM CICLO RANKINE CONVENCIONAL..............226
APNDICE B MODELAGEM DO SISTEMA DE COGERAO COM CICLO RANKINE COM REAQUECIMENTO ...245
APNDICE C MODELAGEM DO SISTEMA DE COGERAO COM CICLO RANKINE REGENERATIVO................264
APNDICE D MODELAGEM DO SISTEMA DE COGERAO COM CICLO RANKINE RESULTANTE....................265
APNDICE E MODELAGEM DO SISTEMA DE COGERAO COM CICLO RANKINE REGENERATIVO PARA
AVALIAO DA INFLUNCIA DO NMERO DE TROCADORES DE CALOR NA EFICINCIA EXERGTICA............312
APNDICE F RESULTADOS DA ANLISE PARAMTRICA PARA DETERMINAR A INFLUNCIA DA ADIO DE
TROCADORES DE CALOR NO CICLO CONVENCIONAL, OBTENDO ASSIM O CICLO REGENERATIVO.................341
16
1. INTRODUO
H aproximadamente quatro dcadas, vem se discutindo em todo o mundo a
incorporao de fontes renovveis matriz energtica das diversas naes. Seja por
causa da instabilidade econmica do preo do petrleo bruto, ou mesmo, devido aos
impactos ambientais associados a diversos estgios da cadeia de suprimentos dos
recursos fsseis. Esse enfoque deriva de uma cultura ambiental recente, que revisou
paradigmas do modelo Desenvolvimentista em que os processos industriais eram
realizados apenas com a preocupao de gerar bens de produo e consumo, a
despeito dos efeitos que proporcionassem sobre o entorno (Gil et al., 2013).
O uso de fontes de energia mais limpas tem se tornado um assunto de interesse
para a sociedade (Gonzles-Garca et al., 2012; Luo et al., 2008). Nesse contexto, o
Brasil merece especial destaque, em virtude de sua matriz energtica apresentar
elevada taxa de modais de origem renovvel. Registros oficiais do Ministrio de
Minas e Energia revelam que 45,4% de toda a energia produzida no pas em 2010
tm origem em recursos naturais que no so finitos (MME, 2011). Registros oficiais
da mesma instituio governamental datados de 2013, reportam que 85% da
energia eltrica nacional originada por fontes renovveis, sendo a oferta hidrulica
responsvel por 70,1%. A mesma fonte d conta de que a oferta de energia eltrica
cresceu 3,9% naquele perodo, sendo o modal elico foi aquele a aportar maior
incremento, com 86,7%, muito embora sua participao compreenda apenas 0,9%
da oferta interna de eletricidade do pas (BEN, 2013). A ttulo situacional, observa-se
que em 2013, a bioeletricidade sucroenergtica representou 3,0% do consumo
nacional de energia eltrica (NICA, 2014).
O crescimento da frota de veculos bicombustveis no Brasil tem justificado a forte
expanso da demanda por etanol no mercado interno. O Ministrio de Minas e
Energia, por meio da Empresa de Pesquisa Energtica (EPE), estima que a
demanda por etanol dever triplicar no curso desta dcada, passando de 27 bilhes
de litros em 2010, para 73 bilhes em 2020 j incluidos 6,8 bilhes de litros para
exportao (MME, 2011). Como desdobramentos imediatos desse desempenho,
decorrem um aumento proporcional da gerao da biomassa canavieira e,
consequente, no potencial de gerao de energia eltrica a partir da cogerao.
Somem-se a este fato, outros dois elementos no menos essenciais: O alto grau de
17
vulnerabilidade a que se expea gerao de energia eltricano pas em virtude de
oscilaes recorrentes nos nveis das barragens; e a manifesta preocupao da
sociedade moderna com as mudanas climticas (Sousa e Macedo, 2010).
Segundo dados do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, o Brasil tem
se destacado como lder mundial na produo de cana-de-acar. O caldo da cana-
de-acar consumido na produo de etanol e acar. No entanto, at
recentemente o tecido vegetal remanescente da cana, o bagao, no tinha qualquer
aplicao, sendo subutilizado ou descartado na natureza e portanto, gerando
inexoravelmente impactos ambientais. Tecnologias tm sido desenvolvidas ao longo
dos ltimos anos a fim de mudar essa situao. A mais consolidada dessas
abordgens a utilizao do bagao para produo de vapor e eletricidade, (MAPA,
2012). Por conta disso, as usinas tornaram-se potencialmente auto-suficientes em
termos energticos e at, em muitos casos, se credenciaram a exportar o excedente
de eletricidade gerada para a rede concessionria. Com isso, a cogerao
energtica passou a ser uma alternativade alta eficincia de uso racional de
combustvel primrio com vistas s produes de eletricidade e calor (Bocci et al.,
2009; Tina e Passarello, 2011).
A perspectiva de exportar eletricidade para a rede nacional, inclusive durante os
perodos de entressafra, motivou as usinas brasileiras de etanol e acar a
investirem em sistemas de cogerao nos ltimos anos. No entanto a componente
ambiental associada cogerao de eletricidade deve ser aspecto mandatrio em
avaliaes que pretendam viabilizar a integrao ao grid nacional como alternativa
de suprimento.
Por outro lado, teem crescido os questionamentos quanto a relao de dependncia
entre a produo de etanol e o processamento agrcola, a necessidade de aumento
das reas agricultveis, e a possvel competio com a produo de alimentos. Tais
discusses fomentaram a corrida tecnolgica em busca de processos mais
eficientes e com custos de produo atrativos para produo do etanol a partir de
resduos de biomassa, chamado de etanol celulsico, ou de segunda gerao
(Petrobras, 2012; CTC, 2014).
Nesse cenrio, a biomassa da cana, composta por bagao e palha, tornou-se
tambm uma opo de matria-prima para produo do etanol. Segundo dados da
18
Embrapa, a utilizao do bagao e da palha teria potencial para elevar a produo
de etanol em at 40%, para uma mesma rea plantada. A combinao das rotas de
primeira e segunda gerao na produo de etanol de cana-de-acar permitir
obter maior quantidade de combustvel sem aumentar o volume de matria-prima
plantada, porm, em detrimento da disponibilidade de bagao para a cogerao
eltrica (Embrapa, 2014).
De forma geral, h um ritmo cada vez mais intenso da explorao dos recursos
naturais para que possam ser atendidas as demandas de uma populao mundial
que no apenas continua a crescer, mas tambm, e principalmente, que exercita
padres de consumo cada vez mais elevados. A longo prazo, tal ritmo
evidentemente no pode ser sustentado por um motivo bastante simples: os
recursos naturais que o planeta pode fornecer para o atendimento das necessidades
e desejos humanos so finitos. Essa limitao precisa ser levada em conta para que
a melhoria do padro de vida experimentada pelas sociedades humanas, sobretudo
nos ltimos sculos, possa ser mantida tambm no longo prazo (Gripp, 2013).
O desenvolvimento tecnolgico tem papel fundamental no equacionamento de uma
soluo robusta para esse quadro desfavorvel. Para que o ritmo de explorao dos
recursos naturais e de gerao de rejeitos pelas atividades humanas seja compatvel
com os ciclos naturais de renovao desses prprios recursos, torna-se cada vez
mais urgente desenvolver tecnologias menos recurso-intensivas e/ou que permitam
reduzir, reaproveitar e reciclar resduos gerados, os quais, muitas vezes, possuem
grande potencial para tornarem-se novamente recursos (Gripp, 2013).
No campo energtico, esse estado de coisas insita o meio acadmico a buscar
combustveis alternativos aos de origem fssil, derivados de fontes renovveis e
com bom desempenho ambiental associado. No caso especfico da biomassa, este
esforo se concentra em duas vertentes: a viabilizao de fontes de provimento de
energia antes no aproveitadas, ou mesmo, que ainda no foram testadas; e o
aumento da eficincia energtica dos processos de cogerao. Em qualquer dos
dois enfoques, o estudo detalhado dos impactos ambientais associados aos
produtos, aparece como balizador visando agregar mais valor ao produto.
Para que as avaliaes ambientais sejam efetivas no h outra possibilidade que
realiz-las segundo uma abordagem sistmica que compreenda o ciclo de vida ,
19
a fim de detectar, de maneira precisa, pontos positivos e deficincias associadas a
substituio de recursos energticos. Ao medir os efeitos causados por produtos de
origem renovvel sobre o ambiente no exerccio do atendimento de necessidades
energticas, esta leitura possibilita implantar aes e estratgias alm da fronteira
do processo de transformao, evitando solues unilaterais, devido transferncia
de cargas ambientais entre diferentes impactos, regies ou receptores, ou seja, na
relao ambiente e qualidade de vida humana. Nesse cenrio, a incluso de etapas
como preparo do solo, extrao de recursos, transporte, produo, uso, manuteno
e descarte final do produto intrnseca anlise. Tais caractersticas metodolgicas
adicionadas ao levantamento quantitativo dos impactos ambientais relacionados ao
exerccio da funo de um produto caracterizam a base do mtodo de Avaliao do
Ciclo de Vida (ACV) (Kulay, 2000).
Por outro lado, tratando-se especificamente do uso de biomassa da cana-de-acar
como fonte energtica, um diagnstico termodinmico efetivo sobre qualquer dos
padres de sistemas de cogerao mais utilizados no Brasil, que sirva para formar
uma base slida para tomada de decises e aplicao de aes de engenharia,
passa, necessariamente, por uma anlise exergtica. Segundo Oliveira Jr. (2012),
exergia a parte da energia que pode ser completamente convertida em outras
formas de energia, ou seja, trabalho. Normalmente, o que se observa nas anlises
de sistemas trmicos a tentativa de diagnosticar o desempenho de unidades
geradoras por meio de anlise energtica, restrita a Primeira Lei da Termodinmica.
No entanto, a despeito dos resultados que oferece, Oliveira Jr. (2012) argumenta
que essa anlise considera todas as formas de energia como equivalentes, no
sendo possvel contabilizar a capacidade de realizar trabalho que est sendo
perdida ao longo de um processo, nem onde ocorrem suas irreversibilidades.
Como soluo a essa limitao, Torres (1999) sugere aferir o desempenho do
sistema considerando tambm a Segunda Lei da Termodinmica; ou seja,
realizando uma Anlise Exergtica. Segundo Tsatsaronis e Park (2002) a Anlise
Exergtica complementa a anlise energtica ao oferecer uma melhor medida da
magnitude da energia perdida em relao energia total fornecida sob a forma de
insumo energtico; uma medida da qualidade da energia do ponto de vista
termodinmico; uma varivel para definir a eficincia racional que a relao entre a
20
exergia do efeito desejado e a exergia necessria ao processo, para o sistema
energtico.
Diante dessas constataes, elevam-se categoria de requisitos essenciais a
qualquer anlise de cenrio de cogerao que simule a aplicao de tcnicas
factveis de melhoria de desempenho energtico e a utilizao de biomassa, o
conhecimento e a quantificao dos desdobramentos ambientais e energticos a
eles associados, com o intuito no apenas de identificar aspectos chave destas
aes, como tambm, de dar fundamentao consistente a processos de tomada de
deciso, incorporando, sobretudo a varivel ambiental.
21
2. OBJETIVOS
Tendo em vista o contexto apresentado por ocasio do captulo de Introduo deste
documento, o presente estudo se prope, no nvel de objetivo geral, a produzir um
diagnstico termodinmico e ambiental da cogerao de energia eltrica em usinas
autnomas para diferentes condies de processo e operao dessa tecnologia.
Desta forma, para atendimento ao propsito antes enunciado, esta iniciativa foi
estruturada na forma dos marcos intermedirios, ou objetivos especficos, que esto
descritos a seguir:
Construo de modelo conceitual e representativo de um sistema de
cogerao real, que permita comparar condies operacionais e de projeto
para diferentes status de implementao de alternativas tecnolgicas voltadas
ao aumento da eficincia termodinmica;
Avaliao de desempenhos termodinmico e ambiental do sistema em
questo para distintas condies de projeto e composies de combustveis
derivados de biomassa (bagao e palha) como fonte de energia trmica.
Alm disso, como intentos complementares, porm no menos importante e que so
imediatamente decorrentes desta iniciativa, podem-se ainda citar:
Apresentar uma contribuio indstria sucroalcooleira plasmada na forma
de aferio tcnica de potenciais aes de melhoriade eficincia energtica
sobre o ciclo termodinmico Rankine;
Avaliar a importncia de se incorporar a varivel ambiental de mbito
sistmico a projetos de engenharia voltados ao setor sucroalcooleiro com
vistas a dar suporte a processos gerenciais de tomada de deciso.
22
3. REVISO BIBLIOGRFICA
Este captulo discorre sobre o setor sucroalcooleironos mbitos de suastendncias
de produo e consumo do etanol combustvel e dacogerao energtica no Brasil.
Alm disso, apresenta uma breve reviso bibliogrfica sobre as tcnicas de Anlise
Exergtica e de Avaliao do Ciclo de Vida (ACV).
O mesmo arrazoado se encerra com uma descrio sucinta de estudos
publicadosrecentemente na literatura acadmico-cientfico que associaram de
alguma forma anlises de desempenho ambiental e exergtica, com os interesses
de verificao e de aprimoramento de sistemas de produo de energia eltrica.
3.1. SETOR SUCROENERGTICO NO BRASIL
O setor sucroalcooleiro brasileiro congrega empresas que produzem acar e/ou
etanol, ou que atuam em algum elo da cadeia produtiva desses elementos. No
Brasil, este setor est diretamente relacionado s culturas de cana-de-acar, por se
tratardo principal insumo dos processos produtivos em questo (Lins e Saavedra,
2007).
Destacam-se os seguintes produtos do processo industrial sucroalcooleiro: acar;
etanol combustvel e de uso comum, empregadona confecco de bebidas
alcolicas e para limpezas domsticas; vinhoto; levedura de cana e a eletricidade. O
bagao tem sido utilizado como fonte de energia trmica em sistemas de cogerao
instalados na maioria das usinas sucroalcooleiras do Brasil. Com incorporao da
eletricidade atualmente gerada a partir da cogerao, o setor tambm passou a ser
chamado de setor sucroenergtico (NICA, 2013).
A cana-de-acar uma das mais importantes culturas brasileira. Apresenta um
ciclo produtivo de cinco anos e com produtividade mdia varivel entre 65 e 120
t/hasempre dependendo da regio em que o cultivo ocorre, e da tecnologia agrcola
ali aplicada (MAPA, 2013). Na safra 2011/2012 a cana ocupou 8,5 milhes de
hectares cerca de 2% de toda a terra arvel do pas (CONAB, 2012). Com esse
desempenho, o Brasil se consolida como maior produtor mundial do ativo agrcola,
seguido por ndia, China, Tailndia, Mxico e Paquisto, como mostra a Figura 1.
23
Figura 1 - Srie histrica da produo dos principais pases produtores da cana-de-acar, em milhes de toneladas (MAPA, 2013)
Segundo dados da NICA (2013), em 2012 haviam 437 usinas sucroalcooleiras
ativas no territrio nacional. O cultivo de cana-de-acar se difunde pelas cinco
regies do pas; no entanto, aparece mais concentrado nas regies sul, centro-
oeste, sudeste e nordeste, assim como aparece destacado no mapa constante da
Figura 2.
Figura 2 - Mapa de produo de cana-de-acar no Brasil (NICA, 2013).
24
O estado de So Paulo aparece como o maior produtor nacional de cana-de-acar,
respondendo por 61,8% de sua produo (MAPA, 2013). Nesta regio ocorrem
tambm a maior produtividade agrcola do pas, entre 80 e 98 t/ha ao longo de cinco
colheitas sucessivas entre reformas de terreno. Registram-se em So Paulo picos
de produoda ordem de 140 t/ha, atingidos em geral no primeiro ano de cultivo
(MAPA, 2013). A Figura 3 apresenta a distribuio da produo de cana-de-acar
porestados brasileiros.
Figura 3 - Produo de cana no Brasil por estados (MAPA, 2013)
3.2. O ETANOL COMBUSTVEL
3.2.1. BREVE HISTRICO DO ETANOL
Ao longo dos tempos, a sociedade adotou os derivados de petrleo como fonte de
fornecimento de energia em detrimento de fontes renovveis, devido a seu custo
mais acessvel, e ao fato dos ativos energticos de origem agrcola serem
destinados ao mercado alimentcio. Entretanto, o aumento dos preos do petrleo
cru em virtude de impostos, tenses polticas e conflitos armados, descobertas de
novas reservas menos acessveis, e mesmo, de inovaes tecnolgicas estimulou
a busca por fontes alternativas a ele e a seus derivados. Dentre essas, ganhou
especial projeo o etanol.
25
Desde o incio do sculo XX, Henry Ford j utilizava etanol como combustvel em
motores de combusto interna; porm, devido ao baixo custo da gasolina praticado
poca este visionrio viu-se obrigado a adaptar seus motores a fontes no
renovveis (Marcoccia, 2007). Nessa mesma toada, data de 1925 o primeiro teste
realizado no Brasil com um veculo movido a etanol, segundo informativo do Instituto
Nacional de Tecnologia (INT, 1979).
Apesar dos esforos, os preos acessveis do petrleo impediram que o etanol se
popularizasse como combustvel. Ao longo do perodo que compreendeu a Primeira
Guerra Mundial, o uso do etanol industrial apresentou significativo crescimento,
alcanado a produes entre 50 e 60 milhes de gales por ano. Essa produo
marca o primeiro pico do uso de etanol nos Estados Unidos, que foi desacelerado
nos anos seguintes devido a uma srie de restries impostas pelo governo. A
Segunda Guerra Mundial revitalizou novamente a produo do etanol, muito
utilizado na produo de borracha sinttica e tambm misturado gasolina. Devido
a problemas de abastecimento de petrleo, mistura combustvel chegou a conter
42% de etanol. No entanto, j no ps-guerra constata-se mais uma vez a
deteriorao da produo de etanol, que fica restrito ao uso industrial e farmacutico
(Menezes, 1980).
A terceira onda do etanol veio em 1973, com a crise mundial do petrleo, quando os
preos da gasolina apresentaram uma alta expressiva. Nas dcadas de 1970 e
1980, o etanol era utilizado como 10% da mistura com gasolina para uso
combustvel. No incio da dcada de 1990, o preo do petrleo j apresentava
significativa reduo, levando mais uma vez contrao de mercado do etanol
combustvel nos EUA. Aps a descoberta de que o MTBE (ter metil terci-butlico),
um dos aditivos usados na gasolina, era contaminante persistente de corpos dgua,
o etanol comeou a ser usado como alternativa. A crise energtica que marcou o
incio do sculo XXI tambm contribuiu para retomada do crescimento dos
combustveis e fontes energticas sustentveis (Pellegrini et al. 2009; Marcoccia,
2007).
J no Brasil, a produo de cana-de-acar foi sempre beneficiada devido aos
fatores climticos e de colonizao. Tambm afetado pela crise de 1973, o governo
brasileiro lanou o Programa Nacional do lcool, tambm conhecido como Pr-
26
alcool, visando substituir uma parcela significativa do consumo de combustveis de
origem fssil por etanol de cana-de-acar produzido no pas. Uma medida inicial foi
expandir a mistura de etanol anidro na gasolina para 20%. Em 1976, logo aps outra
crise econmica o governo passou a incentivar tambm o desenvolvimento de
carros que usassem o etanol puro como combustvel, ao invs de gasolina. Nessa
poca a tecnologia de carros Flex ainda no estava disponvel e os consumidores
tinham que escolher entre carros que rodassem com a mistura de gasolina com 20%
de etanol ou com etanol puro. O sucesso do programa deve-se em parte s medidas
regulatrias tomadas pelo governo, que visavam amortecer oscilao dos preos de
gasolina e etanol por meio da ao da Petrobrs como agente interventor (Bertelli,
2005; BNDES, 2008).
A partir de 2003, os carros com tecnologia Flex passaram a ser comercializados em
larga escala, permitindo que o consumidor escolhesse com maior liberdade o
combustvel que pretende utilizar. Com isso, j em 2008, exatos 87% das vendas de
automveis novos j eram de carros com a tecnologia flex (NICA, 2013).
Verifica-se atualmente, no apenas no Brasil, mas tambm em outras partes do
planeta o crescimento de investimentos em tecnologias de produo sustentvel de
combustveis casos do biodiesel e etanol de primeira e segunda gerao , e de
energia como cogerao, hidreltricas, fontes elicas, energia de mars e ondas,
entre outras (Freudenberger, 2009; NICA, 2013).
3.2.2. PROCESSO PRODUTIVO DO ETANOL
No Brasil, a produo de cana compreende os estgios de preparao do solo,
plantio, tratos culturais e colheita. Os processos de preparo do solo e tratos culturais
consomem macronutrientes primrios na forma de amnia, uria, superfosfatos, ou
mesmo fosfatos de mono e diamnio, alm de cloreto de potssio , corretivos de
acidez e defensivos agrcolas triazina, diuron, ametrina, diquat e 2,4-D
essenciais para propiciar o crescimento adequado do cultivo (CTC, 2012). Mquinas
agrcolas e, por consequncia, leo diesel, so parte integrante desta rota
tecnolgica, dado que 63,65% da cana-de-acar colhida em So Paulo advm de
mecanizao (Sugawara, 2012).
27
A cana colhida ento encaminhada s usinas sucroalcooleiras por meio de modal
rodovirio. Nestas, a produo de etanol se d via fermentao alcolica por
leveduras do gnero Saccharomyces cerevisiae em condies controladas de
temperatura (20 30C) e pH (4,5 5,5).
O sistema de preparo e extrao baseado em moendas ou difusores, em que a
obteno do caldo ocorre sobpresso regulada, a qual ser proporcionada por rolos
montados em conjuntos com quatro a sete ternos de moenda sucessivos. O nmero
de conjuntos faz variar a eficincia de moagem desde 94% at 97% em termos de
volume de caldo extrado (Braunbeck e Cortez, 2005).
No conjunto de rolos da moenda, o caldo que contm a sacarose separado da
fibra (bagao), e segue para a produo de etanol ou acar. O tratamento qumico
do caldo ocorre por meio de calagem, aquecimento e decantao. Uma vez tratado,
o caldo evaporado para ajustar sua concentrao de acares e, eventualmente,
misturado com melao residual da linha de produo de acar. O produto desta
etapa, denominado mosto, prossegue para a fermentao. A adio de leveduras ao
mosto permite que o mesmo seja fermentado dando origem ao vinho com
concentrao de 7% a 10% de etanol, aps um perodo de 8 a 12 horas. Na
destilao, o etanol recuperado inicialmente na forma hidratada, com
aproximadamente 96 GL seguindo nesse forma para produo de etanol anidro
quando couber (CGEE e BNDES, 2008).
28
Figura 4 - Diagrama de blocos simplificado para produo de etanol anidro a partir da cana-de-acar numa usina autnoma (Adaptado de Dias et al., 2010)
Numa destilaria ou usina autnoma, toda cana processada serve produo de
acares destinados fermentao, com vistas a obteno de etanol. As etapas
principais do processo de produo de etanol a partir de cana-de-acar em uma
usina autnoma so ilustradas na Figura 4.
Observe-se por fim que o etanol pode ser produzido a partir de praticamente todos
os acares fermentescveis, como por exemplo, oriundos da cana-de-acar, do
milho, da beterraba, entre outros.
3.2.3. ESTATSTICAS DA PRODUO DE ETANOL NO BRASIL
Segundo o Anurio Estatstico Brasileiro do Petrleo, Gs Natural e Biocombustvel
de 2013, a produo total de etanol (anidro e hidratado) no Brasil atingiu em 2012 o
patamar de 23,8 bilhes de litros, impulsionada pelo crescimento 11,4% da produo
de etanol anidro em relao a 2011 (ANP, 2011). O Sudeste foi a regio do pas que
mais produziu, 6,3 bilhes de litros, com destaque para So Paulo, cujo
desempenhorespondeu por 55,7% da produo nacional. A Figura 5 apresenta o
histrico da produo de etanol anidro de 2003-2012.
29
Figura 5 - Evoluo da produo de etanol anidro, segundo grandes regies 2002 a 2013 (ANP,2013)
A partir de 2010 observa-se uma tendncia de aumento na produo de etanol
anidro; tendo em vista que a ampliao de terras agricultveis para a cultura de cana
no acompanhou tal expanso nota-se, por conseguinte, a reduo deproduo de
etanol hidratado, no mesmo perodo, assim como aparece indicado Figura 6.
30
Figura 6 - Evoluo da produo de etanol hidratado, por grandes regies 2003 a 2012 (ANP, 2013)
Em 2012, a produo de etanol hidratado caiu 2,4% em relao safra de 2011. O
Sudeste manteve-se como maior produtor do pas, com 56% do total nacional, e So
Paulo representou 46,4% da produo nacional (ANP, 2013).
Em 2012, o Brasil exportou 3,1 bilhes de litros de etanol, principalmente para os
Estados Unidos; por outro lado, com a queda de produo ocorrida em anos
anteriores foi necessrio importar 554 milhes de litros de etanol, sendo a quase a
totalidade desse volume advinda, curiosamente, tambm dos Estados Unidos (ANP,
2013).
Desde a introduo dos veculos flex em 2003, o setor sucroenergtico cresceu de
maneira vertiginosa at a crise financeira mundial, em 2008. Desde ento, o
mercado brasileiro vem apresentado descompasso entre a oferta efetiva e a
demanda potencial por etanol. O aumento da demanda tem ocorrido principalmente
devido expanso dos veculos flex, enquanto a oferta de etanol no apresentou
grandes avanos em razo da ausncia de investimentos no setor sucroenergtico
em capacidade produtiva nova (expanses e greenfields) nos ltimos anos.
31
A partir de 2008, houve um estreitamento da rentabilidade do combustvel no
mercado domstico que contribuiu para a reduo de investimentos nos chamados
Projetos Greenfields, que consistem em projetos incipientes de novas e modernas
unidades de produo, como mostra a Figura 7. Estima-se um dficit na produo
de etanol no Brasil at 2015 (BNDES, 2012).
Figura 7 - Novas unidades e projetos de novas usinas (BNDES, 2012)
Frente a esse cenrio, torna-se clara a necessidade de buscar novas tecnologias
para aumentar a eficincia dos processos produtivos no pas, a fim de reduzir custos
e a gerar mais produtos a partir da mesma quantidade de recursos primrios.
3.2.4. COMPETITIVIDADE DO ETANOL BRASILEIRO
A busca por alternativas de matrias-primas de fontes renovveis tem sido uma
preocupao mundial. Nesse segmento, o etanol brasileiro proveniente de cana-de-
acar figura como dos mais competitivos. O aumento do consumo de etanol no
mercado interno provocado pela crescente venda de veculos flex-fuel e o potencial
aumento do mercado externo devido s preocupaes com o Aquecimento Global
se desdobrou em aumento da demanda e do consumo de etanol (Braunbeck e
Cortez, 2005).
Segundo Goldemberg et al., (2008), o etanol brasileiro competitivo quando
comparado gasolina devido ao custo relativamente baixo de produo que o pas
pratica. Essa competitividade deve-se a avanos e inovaes tecnolgicas ocorridos
32
na etapa agrcola e industrial, desde o incio do Programa Proalcool at os dias de
hoje. A melhoria dos processos de produo e a integrao energtica com a
cogerao de vapor e eletricidade produzidos pelo bagao de cana-de-acar para
suporte a esse mesmo processamento so exemplos dos avanos tecnolgicos
ocorridos na etapa industrial. Contudo, existem oportunidades a serem exploradas
para tornar o produto mais competitivo, como por exemplo, o desenvolvimento da
tecnologia para o processo produtivo industrial do etanol de segunda gerao a
partir da biomassa da cana-de-acar, que apresenta grande potencial para o
aumento da produtividade do etanol brasileiro (NICA, 2013; CTC, 2014).
3.2.5. ASPECTOS AMBIENTAIS DA PRODUO DO ETANOL
Apesar das caractersticas de sazonalidade, a situao econmica para a atividade
canavieiratem se demonstrado favorvel nos ltimos anos; no entanto, movimentos
em torno da implantao de aes de desenvolvimento sustentvel, sobretudo no
Estado de So Paulo, criam contrates importantes quanto a produzir
biocombustveis em detrimento de alimentos.
Medidas como a certificao de usinas e plantaes visam a ampliao de
mercados, ao sugerir uma imagem de produo mais limpa e sustentvel. No
entanto, segue ativa uma ampla discusso entre produtores, comunidades locais e
organismos de regulamentao ambiental quanto aos problemas socioambientais
relacionados indstria sucroalcooleira e a produo canavieira.
Aspectos ligados monocultura da cana-de-acar, com o uso intensivo de produtos
qumicos fertilizantes e agrotxicos; a queimada das lavouras, que afeta a
qualidade do ar, destroi micro-organismos do solo, e inside sobre a fauna local; e
tambm do derrame de vinhaa e da gua de lavagem da cana nos rios, gerando
assoreamento e contaminao dos corpos hdricos so tambm objetos de critica.
(Goldemberg et al., 2008).
A realidade do setor heterognea; estudos mostram que j existem tecnologias
capazes de reduzir os impactos ambientais associados s atividades da indstria
sucroalcooleira e produo canavieira. Nesse contexto destaca-se, portanto, a
importncia de se realizar uma varredura adequada do desempenho ambiental da
33
produo do etanol. A fim de proporcionar um diagnstico consistente, esta deveria
ocorrer de maneira sistmica em termos de abrangncia, segundo o conceito de
ciclo de vida. Estudos acadmicos efetuados dentro desse recorte sero
apresentados mais a frente, no captulo especfico sobre Avaliao de Ciclo de Vida.
3.3. COGERAO DE ENERGIA ELTRICA
O sistema de cogerao responsvel pelo suprimento de energia trmica e eltrica
nas usinas de cana-de-acar. A cogerao um processo no qual uma fonte de
energia primria alimenta uma mquina ou aparelho trmico que, de sua parte e
pela reao de combusto, transforma a energia qumica do combustvel em
mecnica de eixo, a qual convertida em energia eltrica por meio de geradores
(Balestieri, 2002).
Os primeiros sistemas de cogerao passaram a ser instalados no mundo a partir da
primeira dcada do sculo XX, motivados pela necessidade de independncia
energtica, em vista das crises sistmicas no setor eltrico. A cogerao de energia
eltrica passou a ser uma prtica adotada pela agroindstria sucroalcooleira, em
virtude da disponibilidade de bagao (Gomazako e Oliveira, 2007).
O Instituto Nacional de Eficincia Energtica (INEE) aponta que a importncia da
cogerao enquanto medida de eficincia energtica levou a Unio Europia a
estabelecer, como meta para 2010, o patamar de 18% da energia por ela consumida
ser cogerada a partir de biomassa. Em pases como Holanda e Finlndia, esta forma
de produo j representa mais de 40% da potncia instalada, o que denota uma
tendncia global.
Nos ltimos anos, o excedente de eletricidade produzida nas unidades de cogerao
tem sido exportado para a rede concessionria e vendido via leiles promovidos pela
Agencia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL), sob as diretrizes do Ministrio de
Minas e Energia (MME, 2011). Na safra de 2009/2010, menos de 30% das usinas de
cana-de-acar com capacidade de moagem inferior a 2,0 Mt exportaram
eletricidade para a rede (Nyko et al., 2011).
34
O cenrio nacional apresenta uma fundamentada oportunidade de aumentar a
gerao e exportao de eletricidade para a rede, a partir da modernizao dos
sistemas de cogerao, com projetos orientados para melhorar tanto a eficincia
energtica quanto reduzir os impactos ambientais.
3.3.1. CONTEXTO DA COGERAO DE ENERGIA ELTRICA NO BRASIL
As crises do petrleo ocorridas no curso dos anos 1970 provocaram srias
consequncias economia mundial. Para efeito de mitigao deste quadro, dois
grupos de ao foram implementados: a reduo do consumo de energia; e a busca
por combustveis alternativos. Nesse contexto, a utilizao de bagao de cana-de-
acar e de outros tipos de biomassa como insumo energtico passaram a ser
alternativas para diversificao da matriz energtica brasileira (Camargo al., 1990;
Dantas, 2010).
O bagao de cana gerado na produo de acar e etanol j foi tratado como
resduo industrial nas dcadas de 1970 e 1980 (Camargo al., 1990). No entanto,
atualmente, o bagao considerado como subproduto de processo que apresenta
vrias aplicaes industriais; alm do uso como insumo energtico, destaca-se
tambm seu uso potencial como insumo para produo de etanol de segunda
gerao (Dantas, 2010). A perspectiva de aproveitamento energtico do bagao de
cana abriu novas possibilidades de mercado. No entanto, e para tornar vivel esta
alternativa, a melhoria de desempenho tambm em termos energticos dos
processamentos de acar e etanol, bem como, das unidades de cogerao,
assumiu status de componente estratgica em termos de rentabilidade para o setor
sucroalcooleiro.
Por outro lado, a descentralizao do setor eltrico brasileiro, iniciada no final da
dcada de 1990, e a crise no abastecimento de eletricidade no incio dos anos 2000
incentivaram as usinas sucroalcooleiras a produzirem excedentes de energia eltrica
para comercializao (Neoenergia, 2011). Segundo o Ministrio de Minas e Energia
(MME), em 2010, o bagao de cana-de-acar foi responsvel por 3,4% de toda
energia gerada no pas, correspondente a 18,5 TWh dos quais 9,7 TWh foram
consumidos pelo prprio setor, enquanto que os demais 8,8 TWh destinaram-se a
35
abastecer a matriz energtica nacional. No mesmo perodo, dentro do subgrupo de
biomassa, essa fonte correspondeu a 66% de toda energia gerada (MME, 2011).
No setor sucroalcooleiro h ainda um potencial adicional a ser explorado para a
cogerao, que compreende o aproveitamento da palha de cana-de-acar, insumo
que tradicionalmente queimada durante a colheita ou deixada no campo. Um
grande trabalho tem sido realizado no Brasil na busca de melhores tcnicas para a
colheita/transporte dessa biomassa, assim como para aferio de sua
disponibilidade energtica real (Nyko et al., 2011).
O aproveitamento da palha na cogerao ser incentivado pelo fato de que, no
estado de So Paulo, a lei n 11.241 de 2001 proibir a queima da palha em rea
mecanizvel (inclinao do solo menor que 12%) e no-mecanizvel,
respectivamente nos anos 2021 e 2031. Apesar disso, o governo paulista assinou
um Protocolo Agroambiental em que se compromete a cessar a queima at 2014 em
rea mecanizvel e at 2017 em rea no-mecanizvel. Sendo assim, a introduo
gradual da palha gera novos desafios que exigem constante evoluo tecnolgica
para melhor aproveitamento do seu potencial energtico, com possibilidade de
estender a operao das caldeiras para alm do perodo de processamento da cana
(CTC, 2012). Um estudo realizado pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL) em 2008, em
parceria com a Confederao Nacional da Indstria (CNI) e a usina Itaipu Binacional,
apontou que a biomassa da cana tem condies de adicionar ao sistema eltrico
brasileiro aproximadamente 15 GW at 2020, o que equivaleria a incorporar uma
nova Itaipu no parque gerador nacional. Esta constatao consolida a opinio de
que o setor pode ainda contribuir, em muito, para o suprimentoda crescente
demanda por energia no pas (IEL, 2008).
3.3.2. DESCRIO DA BIOMASSA DA CANA-DE-ACAR
Segundo as estatsticas da Unio da Indstria de Cana-de-Acar (UNICA), na safra
2008/2009 o Brasil processou cerca de 570 milhes de toneladas de cana,
produzindo ao redor de 160 milhes de toneladas de bagao. Toda cana-de-acar
produzida no Brasil ainda apresenta potencial de aproximadamente 140 milhes de
toneladas de palha folhas e ponteiros , sendo que uma pequena frao desse
36
total acompanhou os colmos de cana at a indstria e o restante foi queimado ou
permaneceu no campo.
A palha a denominao popular para as partes no colmos da cana-de-acar,
ou seja, toda parte area da planta menos os colmos industrializveis, conforme
apresentado na Figura 8. Assim, a palha composta pelas folhas verdes e secas e
pelos ponteiros de cana, formados pelos entrens imaturos do topo (palmito) e
folhas novas enroladas ao redor. O bagao, por sua vez, um subproduto do
processo de moagem dos colmos na produo de acar e do etanol (IEL, 2008).
Figura 8 - Partes da cana-de-acar (IEL, 2008)
As caractersticas tanto da palha como do bagao apresentam variaes em funo
do local de coleta do material, sistema de despalha e colheita, condies climticas
no local, estgio de desenvolvimento vegetativo da cultura, entre outras (CTC,
2012). Sendo assim, para modelagem, torna-se necessrio a obteno e utilizao
de dados mdios.
A qualidade da biomassa para fins energticos pode ser medida por meio de seu
Poder Calorfico; ou seja, a quantidade de energia liberada na combusto completa
de um combustvel. Ele pode ser dividido em: superior (PCS), em que a gua
encontra-se no estado lquido nos produtos de combusto, o que quer dizer que foi
37
recuperada a parcela correspondente entalpia de condensao da gua; e inferior
(PCI), no qual a gua encontra-se na forma de vapor nos produtos de combusto
(Cortez, 2010).
Em base mida, o bagao amostrado em diversas usinas e situaes no Brasil
mostrou grande amplitude dos resultados quanto ao Poder Calorfico (CTC, 2012).
Dias et al. (2010), em estudo que tratou de simular a produo de etanol a partir da
cana em uma destilaria autnoma, adotaram os seguintes valores mdios para o
bagao com 50% de umidade (base mida): PCIbagao = 7.565 kJ/kg, e para palha
com 15% de umidade (base umida): PCIpalha = 12.960 kJ/kg. As simulaes
efetuadas neste estudo acompanharam os mesmos valores.
Os valores percentuais de bagao gerado na usina e palha gerada no campo
associados a 1,0 t cana processada variam com as prticas culturais e as
peculiaridades regionais. Lora et at. (1997), estabeleceu um modelo para quantificar
a quantidade de biomassa residual da cultura da cana-de-acar, a partir dos
seguintes parmetros:
Coeficiente de Resduos (CR): relao entre a quantidade de resduo total
(em base seca) e a massa da colheita com umidade do campo (MC);
Coeficiente de Disponibilidade (CD): relao entre a quantidade de resduo
disponvel (em base seca) e a massa total de resduos, em %;
Quantidade Total de Resduos (CRE): CRE = MC CR
A partir do modelo, quando se analisa o bagao como resduo, os pesquisadores
apresentam um coeficiente de resduo varivel entre 0,125 e 0,15 e um coeficiente
de disponibilidade de 100%, ou seja, quando toda a biomassa encontra-se em
condies tcnico-econmicas de aproveitamento.
O parmetro fundamental para anlise do bagao de cana o coeficiente de
resduo, determinado pela variedade da cana-de-acar e seu teor de fibras. O
coeficiente de disponibilidade tende na verdade a ser sempre 100% pelo fato de o
material j se encontra no ptio da usina. Portanto, a quantidade total de bagao
disponvel varia entre 125 e 150 kg/t cana, em base seca, ou 250 a 300 kg/tcana,
com 50% de umidade (Corra Neto, 2001).
38
No caso da palha, Corra Neto (2001) a partir do trabalho de Lora et al. (1997),
sugere um coeficiente de resduo entre 0,20 e 0,30, e um coeficiente de
disponibilidade a ser definido. A situao hipottica de coeficiente de disponibilidade
de 100% consideraria a hiptese de que a palha possa ser integralmente
aproveitada (Corra Neto, 2001).
O aproveitamento da palha determinado principalmente pelo coeficiente de
disponibilidade, que varia em funo: da condio de topologia da rea plantada; do
tipo de colheita (mecanizada ou manual); do impacto da queima; e da
disponibilidade de tecnologias e infra-estrutura de processamento e de transporte. A
respeito destas condies deve-se acrescentar a variabilidade da quantidade de
biomassa que deve ser deixada no campo para cumprir o papel de adubo ou para
preservao das caractersticas do solo, dada a multiplicidade de tipos de lato-solo
em que a cana-de-acar plantada (Corra Neto, 2001; Seabra et al., 2012).
Pesquisadores, como Cardoso et al. (2013), consideraram cenrios de recuperao
de palha para cogerao eltrica com percentuais de recuperao de 30%, 50% e,
no mximo, 70%. O interesse pelo aproveitamento da palha tem crescido
recentemente, principalmente devido possibilidade de utiliza-la como fonte de
energia trmica e para produo de etanol de segunda gerao (Leite et al., 2009;
Seabra et al., 2010; Dias et al., 2012).
O desafio est na recuperao da palha depositada no campo aps a colheita
mecanizada. Segundo Cardoso et al. (2013), a questo compreende saber quanto
de palha poderia ser removida do campo de forma a melhorar a tornar a cadeira
produtiva da cana-de-acar ainda mais sustentvel. No h, por exemplo,
consenso quanto quantidade de material a ser deixado no campo (Torquato,
2012).
Vrios pesquisadores esto buscando uma soluo para elucidar esse problema.
Uma Biorrefinaria Virtual de cana (BVC) est sendo construda para avaliar questes
tcnicas, econmicas e ambientais associadas ao tema considerando a cadeia
completa da produo de cana (Cavalett et al., 2012; Dias et al., 2012).
Neste estudo adotou-se a partir de informaes disponveis em literatura abalizada a
referncia de produo de 280 kgbagao (50% umidade)/tcana, e 140 kgpalha (base seca)/tcana
39
equivalentes a 164,7 kgpalha(15% umidade)/t cana (Ensinas, 2008); Seabra, 2008;Dias et al.,
2010; Cardoso et al.,2013),
Assim como ser discutido mais adiante, as simulaes efetuadas para a unidade de
cogerao foram realizadas com duas possibilidades de utilizao de biomassa na
caldeira: a primeira contempla queima de bagao na caldeira com coeficiente de
aproveitamento de 100%; a segunda contempla alm da queima plena do bagao,
tambm a queima da palha com 50% de aproveitamento. O excedente de palha para
este segundo caso foi tratado como resduo deixado no campo
importante comentar que o setor sucroalcooleiro, em seus primrdios, ignorava a
possibilidade de aproveitamento do bagao e muito menos da palha. As usinas
compravam energia eltrica das concessionrias locais e queimava leo
combustvel. Com o passar do tempo, o uso do bagao foi se tornando rotina no
processo de cogerao, pois permitia produzir energias: trmica, para o processo
industrial; e eltrica, para a movimentao mecnica da indstria, iluminao e
outros fins (Romo Junior, 2009).
3.3.3. UNIDADES DE COGERAO E O CICLO RANKINE
A possibilidade da venda do excedente energtico impulsionou a busca por
melhores eficincias das unidades de cogerao, que geralmente so plantas de
potncia com ciclo a vapor, cujo fluido de trabalho gua (H2O) escoa em estado
estacionrio, com auxlio de bombas, atravs da caldeira, turbina e condensador.
Nesse arranjo, no h contato entre o fluido de trabalho e a fonte de calor (Pellegrini
et al. 2009).
Historicamente, os conceitos de ciclo, reversibilidade, e mximo rendimento para
uma mquina trmica, foram introduzidos em 1824 pelo engenheiro francs Sadi
Carnot, na publicao Reflections on the Motive Power of fire (Brscher, 1991). O
ciclo a vapor ideal chamado de Ciclo de Carnot, que opera de maneira reversvel.
Este constitudo por duas etapas isotrmicas conectados por outras duas
adiabticas, tal como apresentado a seguir no esquema da Figura 9 (Van Ness,
2007).
40
Figura 9 - Diagrama de blocos e diagrama T-S do ciclo de Carnot (Van Ness, 2007)
As transformaes termodinmicas ocorridas no Ciclo de Carnot compreendem as
etapas de: vaporizao; expanso adiabtica reversvel; condensao parcial do
vapor saturado; e compresso isentrpica, descritas na Tabela 1.
Tabela 1 - Sucesso de transformaes termodinmicas ocorridas no ciclo Carnot (Van Ness, 2007)
Dadas as dificuldades de operacionalizao das etapas de expanso e compresso
bifsicas, o Ciclo de Carnot costuma, no entanto e em geral, ser substitudo pelo
ciclo Rankine em unidades geradoras de potncia de usinas de cana-de-acar
(Sosa-Arnao, 2008). A produo de energia no ciclo Rankine considera por
transformaes termodinmicas os estgios de: aquecimento isobrico; expanso;
condensao; e produo de lquido sub-resfriado. A Figura 10 e a Tabela 2
descrevem na forma do Diagrama T-S (Temperatura e Entropia) e as
transformaes termodinmicas do Ciclo Rankine.
41
Figura 10 - Diagrama T-S do ciclo Rankine (Van Ness, 2007)
Tabela 2 - Sucesso de transformaes termodinmicas ocorridas no ciclo Rankine (Van Ness, 2007)
Nas dcadas de 1970 e 1980 as unidades de cogerao operavam com caldeiras
capazes de produzir vapor em torno de 20 bar e 300C, e se valiam de turbinas de
contrapresso. Esse quadro sofreu significativa remodelao no sentido de
aumentar a eficincia da cogerao. Os projetos mais modernos utilizam sistemas
que geram vapor com presses entre 44 100 bar e temperaturas acima de 480 C,
e turbinas de extrao-condensao (Sosa-Arnao, 2008). Porm a grande maioria
das usinas ainda operam em baixas condies de presso e temperatura (Tabela 3).
42
Tabela 3 - Distribuio das presses de operao das caldeiras nas usinas brasileiras (IDEA, 2012)
A tendncia natural de que cada vez mais usinas alcancem presses de operao
de 67 a 100 bar e temperaturas acima de 500C; desta forma, alm de atender s
demandas internas, gerar-se- um excedente expressivo de eletricidade destinado
ao suprimento de outros mercados (IDEA, 2012).
Melhorias no arranjo dos equipamentos e aproveitamento da energia no ciclo a
vapor so aspectos ainda pouco explorados no setor sucroalcooleiro que tambm
podem aumentar a eficincia global da cogerao. Sistemas de reaquecimento e
regenerao so exemplos de melhorias do ciclo Rankine. Estesreaquecem o vapor
parcialmente expandido pela passagem deste pelo banco de tubos da caldeira, e
aumentam a temperatura da gua de alimentao da caldeira por meio de trocas
trmicas com vapor extrado da turbina (Moran e Shapiro, 2008).
3.3.3.1. Conceitos para modelagem do Ciclo Rakine na cogerao
O ciclo termodinmico Rankine o modelo conceitual mais utilizado pelas unidades
de cogerao que operam a partir da queima de bagao de cana para modelar o
comportamento termodinmico do processo de converso de calor em trabalho
mecnico (Sosa-Arnao, 2008; Dias et al., 2011). A Figura 11 mostra um ciclo
Rankine Convencional, usado tradicionalmente nas usinas brasileiras.
43
Figura 11 - Representao de um ciclo Rankine convencional de um sistema de cogerao.
O fluido de trabalho bombeado para a caldeira sob alta presso para se tornar
vapor saturado seco, atravs do contato indireto com a fonte trmica de energia
gerada a partir da queima do bagao e da palha. O vapor passa atravs da turbina e
ao expandir produz trabalho de eixo. Evita-se usar vapor saturado na entrada da
turbina afim de no comprometer a vida til do equipamento, por conta da eroso
das ps. Justifica-se ento a recomendao de utilizar superaquecedores nas
caldeiras a fim de obter vapor superaquecido. A associao de caldeiras com
superaquecedores chamada de gerador de vapor (Moran e Shapiro, 2008).
No ciclo termodinmico, o vapor superaquecido se expande atravs da turbina, que
est conectada a um gerador de eletricidade, convertendo trabalho de eixo em
energia eltrica. Em turbinas de extrao-condensao, uma frao de vapor
extrada a um ponto intermedirio da turbina e desviada para a produo de etanol,
ilustrada na Figura 11 pela caixa descrita como processo industrial.
A frao remanescente de vapor expande at o ponto de sada da turbina a uma
presso inferior presso atmosfrica e passa atravs de um condensador a fim de
condensar o fluido de trabalho presso constante. A gua de refrigerao torna-se
lquido saturado aps a troca de calor, sendorecirculado at a torre de resfriamento
evaporativa, onde a energia da condensao do fluido de trabalho rejeitada para a
atmosfera.
44
Aps a condensao o fluido de trabalho passa por um desaerador, entrando em
contato com o condensado que retorna da unidade de produo de etanol, onde
nova troca trmica acontece. A desaerao necessria para manter a pureza do
fluido de trabalho e para minimizar a corroso (Moran e Shapiro, 2008). Finalmente
o fluido de trabalho bombeado de volta para o gerador de vapor e o ciclo se
completa.
3.3.3.2. Efeito do superaquecimento do vapor na caldeira
Conforme apresentado a seguir na Figura 12, o superaquecimento do vapor na
sada da caldeira do ponto 3 para o ponto 3, proporciona duas vantagens
importantes para o ciclo Rankine:
I. Aumento do ttulo (ou qualidade) do vapor na cauda da turbina (ponto 4).
Caso a umidade nos estgios de baixa presso da turbina exceda cerca de
10%, no h somente uma diminuio na eficincia da turbina, mas tambm a
eroso das paletas da mesma pode ocasionar um problema grave.
II. Aumento do rendimento trmico do ciclo, representado pelo aumento da rea
3 3 4 4, do diagrama T-S indicado na Figura 10.
45
Figura 12 - Diagrama T-S do ciclo Rankine com superaquecimento (Van Ness, 2007)
3.3.3.3. Efeito da presso do vapor na sada da caldeira
A Figura 13 mostra na forma do diagrama T-S a influncia do aumento da presso
de vapor na sada da caldeira para um ciclo Rankine.
Figura 13 - Influncia da presso do vapor na sada da caldeira (Van Ness, 2007).
46
Note-se quea elevaoda presso do vapor (ponto 3) provoca aumento do trabalho
na rea hachurada simples e diminuio na rea hachurada dupla. Dessa forma o
trabalho lquido tende a permanecer o mesmo, mas o trabalho rejeitado (rea a 1
4 b) diminui; portanto o rendimento do ciclo Rankine aumenta com o aumento da
presso mxima do vapor. Nota-se, no entanto, que o ttulo no ponto 4 menor que
no ponto 4. Assim, muito embora seja desejvel extrair ao mximo a energia do
fluido de trabalho por expanso, deve-se manter o titulo do vapor de cauda da
turbina em torno de 90%, sempre no sentido de, como j discutido, preservar a
integridade fsica do equipamento.
3.4. MELHORIAS NO CICLO RANKINE
Em grandes centrais termeltricas tradicionalmente so realizadas modificaes no
ciclo Rankine com o objetivo de aumentar sua eficincia trmica. Uma modificao
comum a interrupo da expanso do vapor na turbina para adico de mais calor
processo conhecido como Reaquecimento (Brscher, 1991; Moran e Shapiro, 2008).
Outra forma de promovermelhorias de eficincia trmica na planta compreende o
aumento da temperatura mdia do fludo introduzido no ciclo e, a reduo da
diferena de temperatura entre a fonte quente e o lquido comprimido que
alimentado na