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Escola Superior de Educação do Porto Pós Graduação em Educação para o Desenvolvimento, 2007 Construção do Guião Metodológico – 1ª fase Ana Pinheiro, Emília Neves, Maria João Torrão e Mónica Senra

Escola Superior de Educação do Porto Pós Graduação em ... · exemplo, no analfabetismo, na toxicodependência, no racismo do abandono escolar, entre outras. Tal com Rosa Lima,

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Escola Superior de Educação do Porto

Pós Graduação em Educação para o Desenvolvimento, 2007

Construção do Guião Metodológico – 1ª fase

Ana Pinheiro, Emília Neves, Maria João Torrão e Mónica Senra

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Pessoa, vizinhos, comunidade, instituições, território… construção de uma rede para

a mudança!

No âmbito da pós-graduação em Educação para o Desenvolvimento, realizada na

Escola Superior de Educação do Porto, através de uma metodologia

de investigação-acção aplicada num projecto de intervenção social, na freguesia

de Aldoar, o grupo propôs-se a criar uma proposta de guião metodológico para o

trabalho em rede. Com este trabalho pretendemos, em última instância, criar um

instrumento que permita fornecer algumas pistas de trabalho aos intervenientes em

projectos centrados no trabalho em parceria.

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ÍNDICE

I. Enquadramento do Projecto …………………………….……………

3

II. Análise da Realidade ……….………………………………………… 5

Descrição da realidade 5

Interpretação da realidade 10

III. Planificação Estratégica ….…………………………………………… 13

Finalidades e Objectivos Gerais 13

Expoentes-Chave da Acção 13

Estrutura organizativa 14

Infra-estruturas de apoio 18

IV. Planificação Operativa ………………………………………............. 19

Objectivos específicos 19

Planificação da avaliação 19

V. Rede de Mediadores Locais ………………………………………….. 21

Bibliografia 30

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I. Enquadramento do Projecto

Para toda e qualquer intervenção comunitária é necessário começar pela

interpretação do território. Esta interpretação não é mais que uma procura de

compreender a origem dos processos socioeconómicos e decorre da necessidade de

conhecer a razão de determinado dado, num determinado território. Para que seja

possível questionar o território é igualmente necessário apelar à forma de como esse

território funciona, seja a nível de práticas colectivas, ou a nível socioeconómico.

Além de um espaço físico, o território é um espaço de relações e uma realidade

material. Os recursos, as mobilidades e os sistemas que o integram geram economias

locais diferenciadas.

O desenvolvimento de projectos num dado território está dependente dos interesses

locais. A experiência mostra-nos que há uma maior mobilização das pessoas, quando

se aposta no seu envolvimento para a concretização de projectos com vista à

resolução dos seus próprios problemas. Defendemos assim, a criação de parcerias e a

realização de grupos de discussão para que os parceiros possam participar nos

processos de formulação, implementação da estratégia e dos resultados, no sentido

de contribuir para mobilizar esforços colectivos e diminuir as dificuldades na

concretização dos objectivos pretendidos.

Sendo a exclusão social um processo que advém dos défices do desenvolvimento das

sociedades, nomeadamente nas áreas da educação, da formação profissional e

emprego, assim como, das áreas da saúde e da habitação, a articulação das

associações e instituições locais afigura-se um meio privilegiado para intervir e agir

contra a exclusão. Pode dizer-se que os diferentes actores têm a missão de

desenvolver programas que impliquem agir nos factores de exclusão, como por

exemplo, no analfabetismo, na toxicodependência, no racismo do abandono escolar,

entre outras.

Tal com Rosa Lima, posicionamo-nos numa perspectiva cultural do desenvolvimento,

ou seja, “o desenvolvimento baseia-se no direito das pessoas e dos grupos ao acesso

às situações e instrumentos de auto-desenvolvimento, em condições que permitam o

real exercício desse direito; num conjunto de direitos sociais e políticos, cujo exercício

se traduz em processos endógenos, suportados pelo sentimento de pertença a uma

comunidade e pela participação responsável desde o início, pelo desenvolvimento

das aptidões para se ser cada vez mais cidadão, pela descentralização (controlo

local), pela procura de articulação em parcerias com todos os recursos institucionais

ou pessoais disponíveis, de serviço público ou privado” Rosa Lima (2003: 300). Pensamos

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o desenvolvimento como capacitação e qualificação das pessoas, dos territórios e das

organizações.

Neste sentido, toda a mobilização dos intervenientes deve ter em atenção alguns

aspectos, tais como, as características do local, entender bem a área de intervenção,

as “forças” que existem, fazer um diagnóstico e definir uma estratégia comum. As

diversidades dos locais implicam diferentes acções, pois estas devem ser adequadas e

enquadradas na realidade local.

As acções dos projectos devem compreender a troca de ideias entre os vários

parceiros envolvidos, assim como investir na criação de novas parcerias, no sentido de

alargar, diversificar contributos e assegurar a durabilidade e credibilidade do projecto.

No sentido de analisar e avaliar as práticas das intervenções na comunidade, é

possível identificar um conjunto de iniciativas importantes e que implicam: a

identificação e análise das práticas (compreender a mobilização dos parceiros da

rede, o funcionamento e avaliação do impacto das medidas), organizar reuniões para

troca e partilha de opiniões (cruzar metodologias e práticas) e apoiar a criação de

novas parcerias (integrar abordagens inovadoras, possuir diferentes actores sociais e

identificar outros problemas específicos).

A partir das competências de cada um dos parceiros, que se complementam tanto a

nível das actividades, como do território, será possível estabelecer novas parcerias e

prever novas iniciativas. O diálogo e a partilha são sem dúvida, o motor das iniciativas

de desenvolvimento.

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II. Análise da Realidade

De acordo com Cembranos et al. (1992), um projecto de animação comunitária

pressupõe, em primeiro lugar, a análise da realidade na qual se pretende intervir, tendo

como grande objectivo conhecer em profundidade essa realidade para transformá-la,

isto é, “se trata, en definitiva, de conocer la realidade donde se actua para saber en

qué cambiarla y como hacerlo” (Cembranos et al., 1992: 24). Para a realização desta

etapa, essencial na prossecução deste projecto, sustentámo-nos na revisão

documental, na realização de grupos de discussão com alguns dos nossos parceiros e

no contacto directo com parte da população da freguesia, especificamente do bairro

de Aldoar, bem como com a Junta de Freguesia, no âmbito das actividades do CNO,

pois, de acordo com Cembranos et al. (1992), é conveniente que esta tarefa conte

com a participação das pessoas implicadas, no sentido de a tornar mais real e mais

prática.

Assim, num primeiro momento, procurámos conhecer a realidade social da freguesia

de Aldoar, o que existe/ existiu, quer a nível de projectos de intervenção social, quer a

nível das infra-estruturas. Num segundo momento, e porque consideramos que a

realidade social não é estática, procurámos realizar uma análise projectiva e criativa

(cf. Cembranos, 1992: 39) que resultou numa análise SWOT (forças, fraquezas,

oportunidades e ameaças). Seguidamente, procurámos estabelecer relações causais

entre os fenómenos observados, no sentido de encontrarmos o espaço para desenhar

uma nova realidade.

Descrição da Realidade

A freguesia de Aldoar encontra-se limitada a Norte pelo concelho de Matosinhos, a Sul

e Oeste pela Foz do Douro e Nevogilde, a Sudeste por Lordelo do Ouro e a Este por

Ramalde, sendo uma das últimas freguesias a ser integradas no Concelho do Porto

(1895). Tem cerca de 15 000 habitantes e, apesar de ser uma área residencial por

excelência, conseguiu atingir actualmente uma certa qualidade de vida devido à

facilidade de transportes, às acessibilidades, à existência de equipamentos sociais,

culturais e desportivos.

Com efeito, Aldoar dispõe de recursos, equipamentos e infraestruturas na área da

Educação, Saúde, Cultura e Apoio Social, no entanto, nem sempre têm funcionado de

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forma integrada. Conta assim com cinco instituições de apoio à infância; no sector da

educação existem três escolas de ensino básico, uma escola secundária, uma escola

superior (enfermagem) e uma instituição privada de ensino básico; cinco instituições

de saúde; catorze associações de base local que dinamizam actividades culturais

e/ou sociais; cinco instituições de apoio à terceira idade e quatro instituições de apoio

a pessoas com necessidades especiais.

O Parque da Cidade, a Fundação Cupertino de Miranda, o Teatro da Vilarinha, a par

de uma actividade desportiva marcadamente amadora, animam esta zona

geográfica do Porto.

A freguesia continua porém a debater-se com o problema da exclusão social, embora

o trabalho de reinserção e combate à marginalidade, provocada essencialmente pela

toxicodependência, seja o principal objectivo do programa de acção do poder local

e das instituições sociais.

Este contraste populacional caracteriza esta freguesia e traduz-se numa clivagem

sociocultural que tem vindo a diluir-se progressivamente, mas que continua a ter

expressão vincada nas escolas da freguesia, microcosmo das transformações culturais

vividas nos últimos anos.

As informações sobre a caracterização populacional de Aldoar são algo limitadas. Os

resultados do estudo sócio-demográfico realizado pelo Pelouro da Habitação e

Acção Social da Câmara Municipal do Porto em 2001, dizem respeito apenas às

pessoas que habitavam nos bairros de Aldoar e Fonte da Moura. Esta caracterização

não corresponde a uma análise abrangente do território, dos seus recursos e

potencialidades. Consiste apenas num levantamento de informação sobre a

população que vive nas zonas desfavorecidas de Aldoar. Assim, de acordo com os

dados acedidos, em 2001 existiam cerca de 3500 pessoas em situação de risco. A

escolarização era baixa (25,1% não sabem ler); a taxa de actividade na população

feminina era de 19,1% e na masculina de 24,7%. Cerca de 44% das pessoas usufruíam

de pensões ou subsídios sociais. De acordo com o diagnóstico social efectuado pela

Associação Interinstitucional de Desenvolvimento de Aldoar (AIDA) em 1997, do qual

partiu intervenção social que foi desenvolvida, foi verificado que existiam problemas

de saúde em geral; maus hábitos alimentares e de higiene; forte endividamento por

má gestão dos recursos financeiros; subsidiodependência; abandono e insucesso

escolar, sobretudo na transição para o 2º CEB; baixas habilitações literárias; baixa

qualificação profissional; desemprego e emprego precário. No mesmo diagnóstico

foram identificadas potencialidades, nomeadamente nas camadas jovens –

criatividade, auto-estima e competências pessoais e escolares que podem ser

estimuladas e desenvolvidas (AIDA, 1997).

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Mais recentemente foram recolhidos alguns dados mais actuais na área da

educação através da aplicação de um questionário no ano lectivo 2004/2005, no

âmbito do Projecto “Envolver”, dinamizado pelo Agrupamento de Escolas.

Participaram no estudo 1269 alunos que frequentam escolas nesta área geográfica,

nomeadamente Escola E. B. 2/3 Manoel de Oliveira; EB1/ J.I. António Aroso; EB1 Fonte

da Moura; EB1 S. Martinho de Aldoar; Jardim de Infância da R. de Angola; EB1/ J.I. da

Vilarinha; EB1 da Ponte. Verificou-se que:

- A maior parte dos encarregados de educação possui como habilitações literárias o

2º ou 3º Ciclos do Ensino Básico. Existem ainda encarregados de educação que não

sabem ler.

- A maior parte dos encarregados de educação trabalha no sector dos serviços. É de

notar a percentagem de encarregados de educação masculinos que trabalha na

construção civil, e a dos que estão desempregados. Em algumas escolas é de notar a

percentagem que trabalha por conta própria, que são técnicos superiores ou que

têm outras profissões além das mencionadas.

- A maioria dos alunos reside em habitação social ou em cooperativas. Os restantes

vivem em casa própria ou alugada, diferente das situações acima mencionadas.

- A maioria dos alunos tem uma actividade extracurricular, sendo o desporto a

principal escolha.

- Existe uma percentagem significativa de alunos que não possui um computador.

O mesmo estudo forneceu alguns indicadores no âmbito do insucesso escolar e do

absentismo. Em relação ao insucesso escolar:

6.7% dos alunos do 1º ciclo revelam insucesso escolar (num total de 570 alunos).

21.2% dos alunos do 2º ciclo revelam insucesso escolar (num total de 264 alunos).

25.9% dos alunos do 3º ciclo revelam insucesso escolar (num total de 297 alunos).

Surgiram como possíveis causas:

- Baixo nível médio de qualificação dos pais.

- Instabilidade do corpo docente.

- Desvalorização e desinteresse pela escola.

-Estimulação e consumismo excessivo de informação divulgada pelos meios de

comunicação.

- Falta de empenho aliada a baixas expectativas escolares/profissionais.

- Absentismo e abandono escolar.

- Fraco envolvimento dos encarregados de educação no processo educativo dos filhos

por falta de formação e dificuldades na adaptação a contextos culturais diversos.

- Dificuldades na aprendizagem.

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- Falta de competências básicas de leitura, compreensão e interpretação de textos de

natureza variada.

- Falta de competências a nível do raciocínio (resolução de problemas, comunicação

matemática).

- Dificuldades do agrupamento em articular os vários ciclos.

- Dificuldades dos professores em gerir diferentes níveis e ritmos de aprendizagem, bem

como as situações de indisciplina.

No que respeita ao Absentismo/Abandono Precoce verificou-se que 17.4% dos alunos

do 2º ciclo tem falta de assiduidade (num total de 264 alunos) e que 2.4% dos alunos

do 3º ciclo tem falta de assiduidade (num total 297 alunos).

As causas identificadas foram:

- Baixo investimento na orientação dos filhos por falta de formação e/ou

disponibilidade por parte dos pais.

- Falta de empenho aliada a desinteresse e baixas expectativas escolares e

profissionais futuras.

- Influência dos familiares e do meio envolvente.

- Dificuldade na definição e implementação de metodologias e estratégias

pedagógicas que vão ao encontro das reais dificuldades e necessidades dos alunos.

- Insucesso repetido.

Adaptado do Projecto Educativo «Envolver» do Agrupamento Vertical Manoel de Oliveira.

Aldoar tem sido alvo de projectos de intervenção social, numa tentativa de atenuar as

diferenças sociais existentes. Actualmente está a ser dinamizado o projecto

“Acreditar”, até 2008, por uma equipa multidisciplinar, a partir do Agrupamento de

Escolas, integrado no programa “Escolhas”. O projecto tem-se centrado sobretudo na

comunidade escolar, nomeadamente, alunos, professores, auxiliares da acção

educativa e encarregados de educação. Para além do apoio pedagógico, pretende-

se o desenvolvimento de competências pessoais e sociais de todos os actores e a

melhoria da relação comunidade-escola, por forma a prevenir o abandono e o

absentismo escolar.

Já anteriormente a extinta AIDA desenvolveu diversas acções que pretendiam

dinamizar a rede local a partir de diferentes eixos – educação, cultura e solidariedade.

Para isso, dinamizava acções para integração na vida activa - emprego e formação

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profissional; acções de protecção; acções de promoção da integração económica,

no sentido de prevenir fenómenos de exclusão social.

A AIDA, uma associação de utilidade pública, sem fins lucrativos, de natureza não-

governamental e de âmbito local tinha como principal objectivo, promover o

desenvolvimento de competências sócio-culturais e educativas locais, junto de

crianças, jovens e adultos. No âmbito do projecto “Reconstruir Aldoar” a AIDA

promoveu diversas iniciativas, nomeadamente o “gabinete de atendimento

integrado”, com o objectivo de coordenar a articulação de instituições locais e não

locais no atendimento a nível da acção social, evitando a sobreposição de respostas

de serviços às famílias; e o “espaço jovem” (ateliers de animação pedagógica e

recreativa; passeios, visitas de estudo; atelier de informática; orientação vocacional).

Para além destas, a AIDA estabeleceu parcerias locais, nomeadamente com a DREN

no sentido de aumentar o número de adultos a frequentar o ensino recorrente. Os

últimos resultados disponibilizados pela AIDA referiam o aumento da qualificação

escolar de 80 pessoas (66 – 1º CEB e 14 – 2º CEB).

Recentemente foi aprovado o projecto “DesEnvolver Aldoar” que resulta de um

Contrato Local de Desenvolvimento Social (CLDS), regulamentado pela portaria n.º

396/2007 de 02 de Abril. O CLDS constitui um novo instrumento, no quadro do Plano

Nacional de Acção para a Inclusão (PNAI). São prioridades políticas de intervenção do

PNAI o combate ao défice histórico no domínio da pobreza persistente através da

garantia de direitos básicos de cidadania; o aumento dos níveis de qualificação como

factor determinante na ruptura dos ciclos de pobreza e a promoção de medidas de

prevenção para as novas realidades sociais que acarretam elevados níveis de risco de

exclusão. A noção de “Território” é central no PNAI dado que se considera que a

pobreza e a exclusão social são fortemente marcadas pelas especificidades do

território. Neste sentido, pretende-se “Mobilizar a Comunidade como um Todo” através

da activação das parcerias locais, da rentabilização dos recursos da comunidade e

da promoção do princípio da subsidariedade, através de parcerias (cit. in

www.portugal.gov.pt).

Assim, o CLDS integra 4 eixos de intervenção:

- Emprego/Formação/Qualificação

- Formação Parental/Família

- Capacitação da Comunidade/Instituições

- Informação e acessibilidade

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Especificamente, está definido o contributo dos Centros Novas Oportunidades (CNO)

no âmbito do eixo Emprego/Formação/Qualificação.

O CNO do CEFPI iniciou já algum trabalho de proximidade com população de Aldoar,

através da dinamização de grupo de Reconhecimento, Validação e Certificação de

Competências, no bairro, nas instalações da Associação de Ludotecas do Porto (ALP).

Nesta fase, os adultos que iniciaram o balanço de competências na ALP, encontram-

se em fases distintas do processo. Alguns adultos estão propostos para certificação,

outros adultos frequentam formação complementar nas instalações do CNO. O

processo de RVCC permitiu uma aproximação da equipa à comunidade e favoreceu

a abertura de espaços às pessoas que habitualmente desenvolvem as suas

actividades na área do bairro.

Uma outra acção iniciada pelo CNO está relacionada com o serviço de

encaminhamento de jovens e/ou adultos. Neste sentido, tem recolhido informações

junto das entidades locais no âmbito da educação/formação de jovens e adultos.

Interpretação da Realidade

No âmbito do trabalho integrado na pós-gradução Educação para o Desenvolvimento

o CNO do CEFPI propõe-se dinamizar a parceria já formalmente estabelecida no

Contrato Local de Desenvolvimento Social, dado que o CEFPI constitui um dos

parceiros do projecto.

Os serviços prestados pelo CNO – certificação escolar e/ou profissional e serviços de

encaminhamento - vão ao encontro das prioridades do PNAI. Retoma-se o conceito

de “território” no sentido de compreender as necessidades locais e formular respostas

que partam dos recursos físicos e humanos da comunidade.

Nos grupos de discussão dinamizados, pudemos partilhar algumas informações que

emergem do trabalho dos técnicos no terreno, nomeadamente com a coordenação

do projecto “DesEnvolver Aldoar” e com alguns elementos da equipa do projecto

“Acreditar”. As informações e experiências partilhadas permitiram ao grupo de

trabalho a definição de um plano de intervenção que parte do CNO do CEFPI e que

visa a colaboração com os parceiros, a dinamização da rede local e a rentabilização

dos recursos. Pretende-se, assim, contribuir para o desenvolvimento local através do

eixo da educação/formação.

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Dos grupos de discussão resultaram, ainda, algumas reflexões conjuntas, partindo dos

resultados conseguidos por projectos anteriores, das acções actuais e das que se

pretendem vir a desenvolver.

Ao longo do capítulo da caracterização da realidade, ao reflectirmos acerca das

acções implementadas neste contexto, resultou a percepção de que mais do que

“atenuar” as diferenças sociais existentes, a via para o sucesso dos projectos de

intervenção social é “integrar” essas diferenças, através de uma rede de mediação

local, dinamizada por actores formais (técnicos) e informais (pessoas da comunidade).

Verificámos que a população de Aldoar, especificamente as pessoas socialmente

excluídas, demonstram um sentimento de desacreditação face aos projectos de

intervenção social, pela sustentabilidade limitada. Neste sentido o CNO do CEFPI

pretende contribuir para uma intervenção social sustentável, partindo da activação

dos recursos existentes (físicos e humanos), ou seja, da capacitação da comunidade

que poderá assegurar a continuidade das acções.

Um dos desafios lançados num dos grupos de discussão consistiu na realização de uma

análise SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças) tendo em consideração a

realidade local.

Relativamente às “forças” da comunidade local constatámos que existem algumas

ofertas no âmbito das actividades culturais e de lazer que podem constituir uma forma

de aproximação à formação escolar e/ou profissional, através de iniciativas de

educação informal ou não-formal. O número de associações e colectividades é

significativo, tendo em conta o espaço geográfico e o número de habitantes. Para

além disso, existem já infraestruturas físicas que podem ser utilizadas e rentabilizadas.

Existem também a trabalhar no terreno recursos humanos que conhecem a realidade

de Aldoar, com maior facilidade em avaliar o trabalho até aqui desenvolvido. Neste

sentido, o seu contributo é fundamental para destrinçar iniciativas que podem ou não

surtir efeito, atendendo à realidade local.

Identificamos como “fraquezas” as diferenças sociais significativas na zona de Aldoar;

as dificuldades de comunicação e partilha de informação entre as entidades locais e

o desconhecimento e acesso limitado aos recursos existentes por parte das pessoas

que, entre outros factores, atribuímos à própria organização territorial do bairro social,

uma espécie de gueto quase impenetrável e incomunicável com a comunidade

envolvente. Apesar de terem sido convocadas pessoas da comunidade local a

participar em reuniões e actividades no âmbito dos projectos sociais, na prática, as

decisões assumiram um carácter vertical, ou seja, as acções centrais acabaram por se

revelar limitadas tendo em conta as necessidades prioritárias identificadas por essas

mesmas pessoas. Também por este motivo a sustentabilidade dos projectos e a

construção de percursos coerentes de aprendizagem não tenham sido conseguidos,

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pois a comunidade não se considerou verdadeiramente envolvida nas iniciativas.

Residirá neste facto a justificação para a fraca participação da comunidade no

desenvolvimento local e a falta de motivação para a mudança. Quando falamos na

fraca participação comunitária devemos acrescentar que, em Aldoar, existe uma

parte da população que se envolve em actividades de lazer, sobretudo na área do

desporto. Ousamos afirmar que nessas mesmas actividades os homens têm maior

participação.

Actualmente, o CLDS e o próprio CNO podem constituir “oportunidades” para uma

intervenção sustentável que resulte no desenvolvimento local, onde se privilegie a

inclusão. Encontramos como “ameaças” a resistência das pessoas relativamente a

projectos sociais e a própria conjectura sócio-económica actual que pode dificultar,

em termos práticos, a concretização de alguns objectivos, nomeadamente no domínio

da empregabilidade. As dificuldades da população em aceder ao mercado de

trabalho e à educação/formação, acumulam e agravam os factores de

desfavorecimento e exclusão social.

Em grupo de discussão clarificaram-se as condições de parceria do CEFPI e,

particularmente, do CNO do CEFPI. Assim, para além de assegurar os serviços

prestados até esta data, como os grupos de RVCC de equivalência escolar, o CNO

propôs-se a recolher informação junto das entidades locais no âmbito da

educação/formação e torná-la acessível aos parceiros, mas sobretudo às pessoas.

Numa primeira fase essa informação poderá ser afixada no Centro Social, na Junta de

Freguesia e no Agrupamento de Escolas; numa segunda fase pretendemos articular e

disponibilizar essas informações ao Gabinete de apoio na área da empregabilidade,

formação/qualificação e empreendedorismo, criado no âmbito do primeiro eixo do

CLDS. Ainda neste domínio, o CNO visa colaborar na criação e dinamização de uma

plataforma informática de partilha de informação. Certamente que o próprio CNO

beneficiará com esta colaboração em termos de divulgação dos serviços e

consequente sustentabilidade.

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III. Planificação Estratégica

Uma vez efectuada a análise de realidade, segue-se a fase de planificação que, de

acordo com Cembranos et al. (1992), consiste em traduzir em acções a tensão entre a

realidade existente e a realidade que se deseja. É nesta fase que, verdadeiramente, se

tomam decisões e se formulam os objectivos para os projectos.

A planificação estratégica desenhada implicou a definição de finalidades e objectivos

gerais; a identificação de actividades centrais, designadas por expoentes-chave da

acção, em torno dos quais gira a intervenção (Cembranos et al.,1992); a definição da

estrutura organizativa relacionada com o tipo, os objectivos e a situação social de

cada acção; a identificação das infraestruturas de apoio e a calendarização das fases

do projecto (tempo). Ainda que a definição do processo avaliativo deva integrar a

planificação estratégica, optámos por vinculá-lo aos objectivos específicos de modo a

torná-lo mais objectivo e articulado. Deste modo, iniciamos a transposição da

planificação estratégica para a planificação operativa que visa converter em acção

a estratégia planificada (Cembranos et al., 1992: 80). Seguidamente procedemos à

caracterização das fases referidas:

Finalidades e Objectivos Gerais

Pretende-se com este projecto contribuir para a dinamização do trabalho em rede na

freguesia de Aldoar, partindo dos recursos (físicos e humanos) do território. Uma

intervenção social sustentável, dotada de intencionalidade, partindo do trabalho de

proximidade com a comunidade, animado por uma rede de mediadores locais,

nomeadamente a equipa do CNO, poderá contribuir para a construção de percursos

coerentes de aprendizagem e promover a partilha de responsabilidades no âmbito da

educação/formação.

Expoentes-chave da Acção

Construção de uma plataforma de informação, dinamizada por uma rede de

mediadores locais. Numa primeira fase a equipa do CNO dinamizará uma rede de

informação que centraliza as ofertas formativas existentes na freguesia. As informações

daí resultantes serão disponibilizadas à comunidade em locais públicos, de acesso

comum. Esta iniciativa poderá, a médio prazo, traduzir-se na construção e

dinamização de uma plataforma electrónica de partilha de informação.

Criação de redes de cooperação interinstitucional de base territorial que cruzem fluxos

de informação e articulem recursos, favorecendo a organização e gestão das

diferentes ofertas e procuras formativas.

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Estrutura Organizativa

Pretendemos uma estrutura organizativa aberta às influências do ambiente, e onde

exista uma interacção entre os parceiros envolvidos.

As diferentes competências dos membros das equipas devem mobilizar-se em torno de

respostas integradas e mais eficazes. Todos os parceiros são chamados a reflectir, a

participar e a responsabilizar-se nas decisões.

Contacto prévio com algumas entidades locais �

Realização de grupos de discussão�

Recolha de informação junto das entidades localizadas em Aldoar e zona geográfica envolvente�

Identificação de representantes das entidades e da comunidade, responsáveis pela dinamização e actualização da rede de informação: Constituição da Rede de

Mediação Local�

Construção da plataforma informática (articulação com o projecto “Desenvolver Aldoar”)�

Identificação de gestores e animadores da plataforma electrónica�

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CARACTERIZAÇÃO DA ESTRUTURA ORGANIZATIVA: ACÇÃO, OBJECTIVOS, TEMPO

Contacto prévio com algumas entidades locais

Objectivos

- conhecer os possíveis parceiros para o trabalho em rede

- apresentar o projecto EDES;

- conhecer a realidade local.

Actividades

Contacto telefónico e Encontro

Tempo

Julho de 2007

Realização de grupos de discussão

Objectivos:

- Aprofundar o conhecimento do território;

- Debater questões no âmbito da educação de adultos, trabalho em parceria e

desenvolvimento local.

Actividades

Realização de grupos de Discussão

Tempo

Julho e Setembro de 2007

Resultados

Dos grupos de discussão sobressaíram algumas ideias centrais que devem ser

consideradas no projecto de intervenção social em Aldoar e que seguidamente

apresentamos:

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Trabalho em rede – discutiu-se a importância de se melhorar a partilha de informação

e articulação de esforços e responsabilidade a nível inter-institucional, mas também

entre as entidades locais e a comunidade. Este trabalho em rede implica a

identificação de mediadores locais que podem ser representantes das entidades

parceiras e da comunidade.

Intervenção social sustentável – reflectiu-se sobre as intervenções que têm vindo a ser

desenvolvidas em Aldoar. O trabalho em rede permite a aproximação às pessoas e

consequentemente o seu envolvimento activo. Deverá valorizar-se e reforçar-se o

contributo e participação das pessoas no sentido de aumentar o seu envolvimento e

contribuir para o desenvolvimento de um novo conceito de cidadania. O conceito de

cidadania activa está estritamente relacionado com a capacitação das pessoas e

das comunidades. Para além deste aspecto a rentabilização dos recursos locais e a

identificação de responsáveis pela dinamização dos mesmos poderá ser um aspecto

fundamental para a sustentabilidade do projecto. Resumindo, o envolvimento activo

das pessoas, a valorização da sua participação, a utilização e rentabilização de

recursos locais podem ser os primeiros factores de sustentabilidade da intervenção.

Educação não-formal – As oportunidades de educação não-formal podem ser um

ponto de partida para a aproximação da comunidade aos espaços de

educação/formação, dado que no território existem recursos disponíveis para o

desenvolvimento deste tipo de actividades. Intervenções anteriores reconheceram a

importância da educação não-formal, no entanto continuam a verificar-se algumas

limitações quando se analisa a intencionalidade educativa dessas actividades.

Recolha de informação junto das entidades localizadas em Aldoar e zona

geográfica envolvente

Objectivos

- recolher informação no âmbito da educação/formação;

- divulgar os serviços do CNO

Actividades

- Contacto, via telefone ou mail, com as entidades formativas na área envolvente e

registo na base de dados do CNO (serviço de encaminhamento)

Tempo

Setembro de 2007

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Identificação de representantes das entidades e da comunidade,

responsáveis pela dinamização e actualização da rede de informação.

Rede de mediadores locais 1.

Objectivos

- constituir uma rede de mediadores locais com responsabilidades partilhadas;

- facilitar o acesso à informação por parte da comunidade;

- partilhar responsabilidades na construção de percursos de aprendizagem coerentes.

Actividades

- Encontros em Rede

Tempo

Novembro 2007 a Janeiro de 2008

Construção da plataforma informática (articulação com o projecto

“Desenvolver Aldoar”)

Objectivos

- enriquecer e inovar as metodologias de partilha de informação;

- simplificar o acesso à informação por parte das entidades;

- melhorar o serviço de encaminhamento do CNO;

- contribuir para a construção de percursos coerentes de aprendizagem.

Actividades

Sessões com o gestor do Gabinete de apoio na área da empregabilidade (GAAE)

Tempo

Fevereiro de 2008 (dependente da criação do GAAE)

�������������������������������������������������1 A fase de construção e funcionamento da Rede de Mediadores Locais é desenvolvida a nas páginas 21 a 29. Esta reflexão enquadrada no âmbito da disciplina “Mediação Social” articula-se com o presente trabalho.

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Identificação de gestores e animadores da plataforma electrónica

Objectivos

- dinamizar a plataforma;

- aumentar a sustentabilidade da intervenção

Actividades

Encontros em Rede

Tempo

Pretende-se que a e-plataforma funcione independentemente da vigência

do Contrato Local de Desenvolvimento Social.

Infraestruturas de Apoio

O projecto “Aldoar com Rede” implica recursos humanos e materiais, especificamente:

- pessoas (equipas técnicas e representantes da comunidade local)

- equipamentos e materiais (sala de reuniões, gabinetes de trabalho, computadores

com acesso à internet, meios de telecomunicação).

- financiamento (o projecto “Aldoar com Rede” não implica financiamento directo

uma vez que recorre a recursos já existentes e em fase de descativação no âmbito

das entidades e dos projectos locais envolvidos). No entanto, e atendendo a que o

futuro programa PROGRESS visa conceder apoio financeiro à aplicação dos

objectivos da União Europeia no domínio do emprego e dos assuntos sociais, esta

poderá ser uma via para a consecução de algumas das acções prevista neste

projecto, nomeadamente actividades de aprendizagem mútua, sensibilização e

divulgação. O programa divide-se em cinco vertentes que correspondem aos cinco

grandes domínios de acção: o emprego, a protecção e inclusão sociais, as

condições de trabalho, a antidiscriminação e a diversidade, e a igualdade entre

homens e mulheres. Uma das formas de apoio na vertente protecção e inclusão

social, é através de acções de sensibilização, divulgação de informação e

promoção de debate entre as organizações não governamentais e os agentes

regionais e locais.

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IV. Planificação Operativa

No âmbito da planificação operativa apresentamos os objectivos específicos e a

respectiva planificação da avaliação.

Objectivos Específicos

No final da dinamização do projecto na freguesia de Aldoar pretendemos:

- aumentar o número de participantes no processo de RVCC;

- aumentar o número de participantes (jovens e/ou adultos) em acções de formação;

- aumentar o nível de escolaridade da população adulta;

- rentabilizar os recursos da comunidade local;

- aumentar a comunicação inter-institucional nas actividades orientadas para a

educação/formação, especificamente na rede de mediadores locais, em

quantidade e em qualidade;

- aumentar o acesso à informação por parte da comunidade local;

- avaliar o próprio processo de intervenção social, nomeadamente a sua

sustentabilidade.

Planificação da Avaliação

A avaliação é um momento muito importante no decorrer de qualquer projecto,

podendo ocorrer em vários momentos e permitindo múltiplas possibilidades de

utilização. Na perspectiva de Cembranos et al. (1992: 182) A avaliação pode ser

entendida como recolha e análise de uma informação “que nos permita determinar o

valor do que se faz”2.

De acordo com os objectivos específicos, a avaliação do projecto poderá recorrer-se

a diferentes metodologias, de carácter qualitativo ou quantitativo.

�������������������������������������������������2 Tradução nossa.

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Metodologias quantitativas:

- Mapa de Execução (registo quantitativo do n.º de participantes em acções de

formação ou processos de reconhecimento de competências; número de

certificados…);

- Ficha de caracterização das actividades (local, recursos humanos e materiais

envolvidos, duração, n.º de participantes, n.º de parceiros envolvidos…);

- Questionários de satisfação (a preencher por pessoas da comunidade);

- Número de utilizadores da plataforma electrónica.

Metodologias qualititativas:

- Encontros em Rede, de periodicidade mensal, donde resulta a avaliação qualitativa

dos parceiros e actas descritivas;

- Boletins de sugestões (disponíveis nos locais públicos da comunidade);

- Livro de registos informais (um livro disponível às entidades envolvidas onde podem ser

registados progressos e/ou dificuldades em qualquer momento do projecto).

Planificação da Avaliação

Objectivos Metodologias

- aumentar o número de participantes no processo

de RVCC;

- aumentar o número de participantes (jovens e/ou

adultos) em acções de formação;

- aumentar o nível de escolaridade da população

adulta;

- Mapa de Execução

- rentabilizar os recursos da comunidade local; - Ficha de caracterização das actividades

- aumentar a comunicação inter-institucional nas

actividades orientadas para a

educação/formação, especificamente na rede de

mediadores locais, em quantidade e em

qualidade;

- aumentar o acesso à informação por parte da

comunidade local.

- Questionário de satisfação

- Registo do número de utilizadores da plataforma

electrónica.

- Boletins de sugestões

- avaliar o próprio processo de intervenção social. - Encontros em Rede

- Livro “Aldoar com Rede”

Avaliação follow up

- avaliar a sustentabilidade da intervenção

- Análise do funcionamento da plataforma

electrónica;

- Mapas de execução.

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V. Rede de Mediadores Locais

O conceito de mediação social não reúne unanimidade. Ao longo dos tempos tem

vindo a ser considerado como central na vida da sociedade, no entanto, subjaz-lhe

alguma subjectividade e variabilidade, dependente da aplicação contextual.

De uma forma holística a mediação pode constituir “um meio de construção e gestão

da vida social, animado pela intervenção imparcial e independente de um terceiro

elemento, o mediador, que tem exactamente o poder que lhe foi conferido ou

reconhecido pelas pessoas” (Guillaume-Hofnung, 2000: 106). A mediação visa então a

“recomposição pacífica das relações humanas” (Luison e Valastro, 2004: 4) e pode

contribuir para a melhoria da qualidade de vida, para a inclusão e igualdade de

oportunidades ou para o desenvolvimento de um sentimento de realização pessoal

resultante da pertença comunitária.

A amplitude da definição abre espaço para as várias aplicações da mediação,

nomeadamente: Mediação social, cultural, civil, comercial, comunitária, desportiva,

familiar, laboral, penal, política entre outras. De qualquer forma, existem princípios

básicos que atravessam os diferentes campos de aplicação da mediação. De acordo

com Sousa (cit. in Oliveira e Galego, 2005) deve estar assegurada:

- a imparcialidade ou neutralidade - uma vez que aquele que media deve ser

independente face às partes envolvidas nos conflitos, e não deve impor quaisquer

soluções mas sim contribuir para que através do diálogo as partes cheguem a um

acordo;

- a confidencialidade - assumindo a sua responsabilidade em manter sigilo sobre o que

se pretende tratar e fomentando uma cultura de confiança que permita a abertura

das partes;

- a voluntariedade - uma vez que se pretende que as partes participem por iniciativa

própria e livre vontade neste processo.

De acordo com Ricardo (2006) a mediação é “um meio de ajuda que se reveste de

grande importância para o desenvolvimento pessoal, relacional, comunicacional e em

última análise societal, no qual o mediador funciona como catalisador de vontades,

fomentando o espírito de responsabilidade individual, colectiva e construção da

cidadania activa” (p. 18).

A partir dos anos 80, a mediação entrou em todas as esferas sociais, desde o contexto

familiar até ao contexto público mais lato (Guillaume-Hofnung, 2000). De acordo com

Lemaire e Poitras (2004) as práticas sociais de mediação foram impulsionadas

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sobretudo no âmbito do sistema judicial, com a necessidade de regulação de litígios; e

no âmbito do funcionamento social, especificamente, nas relações entre família,

escola e trabalho.

Sobretudo na área da intervenção social a mediação social tem sido utilizada como

estratégia de promoção de inclusão e coesão social e controlo dos mecanismos que

geram fenómenos de exclusão.

Robert Castel (cit. in Ricardo 2006: 9) define exclusão social como “a fase extrema do

processo de marginalização, entendido na perspectiva de um percurso descendente

ao longo do qual se verificam sucessivas rupturas na relação do indivíduo com a

sociedade”. A ruptura com o mercado de trabalho é um dos mais frequentes factores

de exclusão. A “crescente segmentação quer do mercado de emprego estável, quer

dos contratos de trabalho precários na economia formal e informal são atravessadas

pelas clivagens sociais produzidas pela inclusão e pela exclusão do sistema institucional

de protecção social” (Almeida, cit. in Ricardo, 2006: 13).

Deve ressalvar-se que a noção de exclusão implica a existência a um contexto de

referência, do qual se é, ou está, excluído.

Tendo em consideração os aspectos indicados sobressai a importância de conceitos

como território, inclusão, empregabilidade. Atendendo à realidade local é importante

que qualquer rede de mediadores tenha em conta as particularidades do contexto, os

recursos, as potencialidades, os constrangimentos, reconhecendo a importância da

formação/educação na promoção da empregabilidade, com consequências na

inclusão. Será, portanto, um dos contributos possíveis do CNO (Centro Novas

Oportunidades) do CEFPI, representado na rede de mediadores locais. O serviço de

informação e encaminhamento do CNO poderá permitir a integração das pessoas em

ofertas educativas mais adequadas às suas necessidades e/ou competências e, a

partir destas, promover-se para empregabilidade, nomeadamente a manutenção de

postos de trabalho ou a reinserção no mercado de trabalho.

De acordo com Guillaume-Hofnung (2000), as funções da mediação podem integrar-

se em duas categorias – mediação de conflitos e mediação das relações sociais.

A designada mediação tradicional actua já quando o conflito está instalado e permite

uma reinterpretação do conflito; já a mediação social tem um carácter mais

preventivo (Wennerstrom, 2000) pois proporciona a construção da realidade social.

Actualmente tem-se investido mais numa mediação de prevenção, apostando no

fortalecimento dos laços ou redes sociais, utilizando-se frequentemente como

instrumento de prevenção da exclusão social, como referido anteriormente, e da

segurança urbana, com o objectivo de promover a qualidade de vida nas cidades. De

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acordo com Khedimellah, Poli e Tietze (2000) a mediação social introduz alterações na

vida urbana pois favorece os processos comunicacionais; fortalece as relações sociais

e contribui para uma melhor integração de algumas populações, particularmente em

contextos desfavorecidos e previne fenómenos de violência. Num território,

especificamente Aldoar, marcado por desigualdades quer económicas, quer sociais,

onde se constata a fragilidade das relações sociais e interinstitucionais, a mediação

poderá ter um impacto positivo e com resultados mais consistentes. Por outro lado, a

possibilidade de um trabalho de proximidade com a comunidade, através de

mediadores naturais e institucionais, poderá contribuir para uma gestão das diferenças,

sem pretensão de as anular. Neste sentido, a mediação visa, neste projecto, a

integração das diferenças.

Entendemos que o cumprimento deste objectivo poderá ter que passar pela

aproximação das pessoas aos contextos de educação/formação, sendo que o CNO

do CEFPI assume aqui um papel fundamental, uma vez que tem vindo a ser dinamizar

grupos de adultos, no âmbito do processo de RVCC, que funcionam em contextos

distintos e os quais caracterizaram as diferenças deste território. Com efeito, este

processo tem sido desenvolvido em parceria com a Associação de Ludotecas do Porto

(ALP) situada na zona central do bairro de Aldoar, mas também nas instalações do

CEFPI, abertas a toda a comunidade.

A partir da análise desta experiência, temos verificado resultados que, neste

momento, nos permitem já a formulação de conjecturas sobre pequenas mudanças,

as quais, em parte, atribuímos à acção do CNO enquanto mediador. Por um lado,

começam a constituir-se grupos de adultos que integram pessoas das zonas mais

desfavorecidas de Aldoar e adultos sem qualquer limitação do funcionamento social;

por outro lado, os adultos que residem no bairro, que iniciaram o seu processo na ALP

começam a usufruir de outros recursos da comunidade, nomeadamente a sala de

informática do CNO, que anteriormente desconheciam. Os adultos desenvolveram

uma atitude mais aberta e menos resistente do que aquela que frequentemente

mobilizam. Nestas situações, o CNO pode contribuir para a inclusão e para o

desenvolvimento de processos comunicacionais de maior qualidade.

Em Portugal a exploração do tema da mediação é recente, remontando a década

de 90. Apesar do Estado ainda ter uma dinâmica tendencialmente centralizada, a

organização social do país, o expressivo número de colectividades ou a participação

popular cruzam-se no campo da mediação (Santos, cit. in Ricardo, 2006). Khedimellah,

Poli e Tietze (2000) salientam as iniciativas desenvolvidas por agentes e grupos

integrados em redes primárias, baseadas nas relações entre família, amigos e

vizinhança. As mudanças políticas de 74 introduziram um modelo de Estado-

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Providência em que o Estado constitui um agente da promoção (protector e defensor)

social e organizador da economia, enquanto que outros países, que lidavam com a

recessão económica, apoiavam as suas decisões estratégicas em princípios como

individualismo e partilha de responsabilidades (público e privado). Actualmente co-

existem duas realidades. Por um lado, os organismos públicos são encorajados a

considerar preocupações sociais e comunitárias, por outro lado, solicita-se à

comunidade um envolvimento activo em iniciativas promovidas, a nível nacional e

internacional. Nesta situação, a origem dos fenómenos de mediação pode ser mais ou

menos institucionalizada (Santos, cit. in Ricardo, 2006). De acordo com Oliveira e

Galego (2005) a implementação da mediação tem ficado um pouco ao critério dos

que a aplicam, sem que, para o efeito, existam referenciais comuns. De qualquer

forma, a lei 105/2001, representa um esforço na definição do enquadramento legal da

mediação como profissão. Embora se considere que a mediação e a intervenção do

mediador são essenciais na intervenção social, no nosso país, não existe ainda uma

matriz comum de formação, nem nenhum organismo que acompanhe e avalie as

diversas práticas de mediação. Apesar disso, está já definido um perfil de

competências associado à figura do mediador.

Sublinhamos que existência de iniciativas que partem da comunidade ou de entidades

locais, na lógica da mediação social, não substitui a responsabilidade social do Estado.

Neste sentido, a articulação entre entidades públicas e privadas, incluindo as

colectividades ou associações comunitárias, fortalece as relações sociais e consolida o

desenvolvimento de uma sociedade democrática.

Nesta quadro de entendimento, o CNO do CEFPI tem vindo a estabelecer parcerias

locais que permitem uma rentabilização dos recursos, sobretudo materiais e, para além

disso, permitem uma partilha de informação inter-institucional, que resulta num maior e

melhor acesso à informação por parte da comunidade e na construção de percursos

de aprendizagem mais adequados às especificidades da pessoa.

Pretende-se, ainda, identificar pessoas que assumam funções específicas no âmbito da

educação/formação. Estes actores, das entidades e da comunidade, constituirão uma

rede de mediadores locais, responsáveis pela animação do trabalho em rede e pela

construção de percursos coerentes de aprendizagem.

Na área da intervenção social, têm sido considerados diferentes tipos, funções e

papéis dos mediadores, como estratégia de promoção do desenvolvimento,

sobretudo em situações de exclusão social. A existência de grupos minoritários em

situação de exclusão, inseridos em contextos multiculturais com códigos culturais

distintos dificulta o acesso ao diálogo e, muitas vezes, está na base do conflito. É neste

sentido que a rede de mediação local pode ter um contributo decisivo, criando novas

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abordagens que permitam promover a inclusão e coesão sociais. Na perspectiva de

Oliveira e Galego (2005:25), “é neste contexto que a mediação sócio-cultural pode e

aparece como uma estratégia fundamental na perspectiva do reforço do diálogo

intercultural e da coesão social”. As autoras sublinham que a aplicação da mediação

social não está limitada a contextos minoritários mas sempre que se almeje a

restauração de laços sociais e modelos alternativos de gestão das relações sociais. De

qualquer forma, co-existem diferentes práticas de mediação (cit. in Ricardo, 2006: 19),

nomeadamente:

Mediação Cultural - respeita aos aspectos culturais da comunicação, e está

intimamente relacionada com a problemática da migração, das sociedades

multiétnicas e interculturais;

Mediação Escolar - a finalidade é a socialização e a produção de identidades sociais,

a criação de novos espaços de socialização e de modelos alternativos de gestão

das relações sociais;

Mediação Social - visa a aprendizagem da vida em comum e projecto de

reconstituição da estruturas intermédias entre os indivíduos e o estado.

Mediação e Conflito - prevenção do conflito social e gestão dos problemas como

oportunidade de melhorar as relações sociais;

Mediação Comunitária - cultura de participação na gestão dos conflitos e aquisição

de instrumentos de aprendizagem para a mediação, capazes de recriarem os laços

sociais;

Mediação Institucional - como processo de profissionalização da mediação, criação

de novos campos de intervenção.

Tendo em consideração as diferentes aplicações da mediação interessa esclarecer os

objectivos subjacentes à criação da rede de mediação local. Assim, e atendendo às

orientações de Pierre & Delange (2006), a mediação social centra-se mais na

socialização dos excluídos no quadro da sua sociedade de integração, construindo

para tal interacções positivas; já a mediação comunitária está mais voltada para a

comunidade, tendo em consideração os próprios constrangimentos e potencialidades

locais no reestabelecimento da coesão social. A mediação comunitária não pode ser

desvinculada do conceito de empowerment, desenvolvido por John Friedman e

adaptado por tantos outros investigadores.

Por emporwerment, (Friedman, cit. in Ricardo, 2006) entende a forma de

consciencializar os públicos alvo e capacitá-los para a importância da sua tomada de

consciência, orientada para a acção, sobre o impacto das suas construções face ao

rumo do desenvolvimento global que se quer alcançar. Como tal é “um processo que

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começa, quer por baixo, quer pelo interior de formações sociais específicas

territorialmente, com base territorial, como a aldeia, a vizinhança ou o bairro”

Friedman, cit. in Ricardo, 2006:20, 21).

As diferentes aplicações da mediação nascem em quadros conceptuais distintos. De

acordo com Fritz (2004) podemos considerar:

Mediação centrada nos participantes - de concepção humanista, está intimamente

relacionada com a socioterapia e psicoterapia. É sobretudo um recurso para o

processo de mediação familiar e por isso utilizado nesse âmbito.

Mediação orientada para a solução - utiliza um modelo por etapas e o mediador

pode facilitar e dirigir, tomar parte e sugerir soluções.

Mediação orientada para a transformação - focaliza a necessidade de mudança por

parte dos participantes. O conflito é um meio para o reconhecimento e mudança

de atitude. As partes são responsáveis pelo resultado e o mediador é um facilitador.

Mediação Narrativa - O papel do mediador é trabalhar com as partes o

desenvolvimento de um história a propósito do conflito. Permite desconstruir a

história que trazem e criar com eles uma nova história. É fortemente influenciado

pelo pós-modernismo onde não existe uma realidade objectiva, mas realidades

múltiplas.

Mediação integrada humanista - acentua o humanismo, a competência cultural, a

emancipação, o respeito e a criatividade. O mediador assume uma postura

reflexiva, ajudando a que se avalie continuamente a interacção entre os grupos.

Atribui-se uma atenção especial ao contexto.

Atendendo às diferentes abordagens verificámos que a intervenção da rede de

mediação local se pode encaixar em diferentes âmbitos de aplicação. No entanto,

acreditamos que a mediação comunitária, que se alimenta do conceito de

empowerment, poderá sustentar a intervenção.

Como foi descrito na primeira parte deste trabalho, a freguesia de Aldoar já foi alvo

de diversos processos de intervenção social, tendo-se constatado algumas limitações

em termos de sustentabilidade da intervenção. Este facto criou algumas resistências na

participação da comunidade, daí ser essencial a noção de recriação, partindo das

acções que foram desenvolvidas anteriormente e dos resultados obtidos, mobilizando-

se os recursos do território. Para além disso, a sustentabilidade dos projectos deverá ser

uma dimensão trabalhada à qual subjaz o empowerment pessoal e comunitário. Neste

sentido, enquadramos esta intervenção na mediação narrativa pois constatamos a

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necessidade de reescrever a história comunitária desgte contexto, partindo das

experiências anteriores, sem a pretensão de provocar mudanças com grande

visibilidade social, mas pequenas mudanças que possam alicerçar outras

transformações.

Portanto, a rede de mediação local pretende:

- melhorar a comunicação interinstitucional;

- tornar mais acessível a informação na área da educação/formação à comunidade;

- rentabilizar os recursos da comunidade;

- contribuir para a melhoria da relação da comunidade com os contextos formativos e,

consequentemente, aumentar a sua participação e envolvimento.

Funcionamento:

A rede de mediadores locais integra mediadores institucionais e mediadores naturais.

Delbos (2000) considera que a mediação off-stage ou citizen mediation é crucial para

o sucesso da intervenção social. A mais representativa organização finlandesa “Finnish

Mediation Support”, criada em 1990, sublinha a importância da participação da

comunidade – “citizen are essencial as volunteer mediators” (Delbos, 2000: 61). A

participação das pessoas nas sociedades democráticas “deve ultrapassar o mero

exercício de voto (…) ser cidadão implica o sentimento de pertença à comunidade

(Bartolone, 2000). Com este projecto, pretende-se investir no desenvolvimento deste

sentimento de pertença que está na base de um maior envolvimento e participação

das pessoas na vida comunitária.

Além dos mediadores naturais consideramos desejável a co-existência dos mediadores

institucionais. Estes começam a considerar-se uma profissão emergente, no contexto

urbano. As funções profissionais relacionadas com o desenvolvimento social têm

progredido, adoptando uma “perspectiva territorial e compreensiva da realidade,

baseada no conceito de proximidade” (Brévan, 2000: 21). Esta noção de proximidade

estimula e reforça o sentimento de pertença da população.

Tendo em consideração a realidade envolvente, identificamos algumas

potencialidades e constrangimentos à prática da mediação.

Potencialidades

Atendendo à análise da realidade, verificamos que a taxa de actividade das

mulheres, sobretudo nas zonas desfavorecidas de Aldoar, é baixa. Por outro lado, os

registos de actividades e iniciativas anteriores, nomeadamente no âmbito da AIDA,

indicam uma forte participação das mulheres na vida comunitária, quase sempre

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relacionada com a promoção do bem-estar das crianças e jovens. Assim, existem

condições neste território para se realçar o papel feminino nos processos de mediação.

Em outros projectos europeus adoptou-se a expressão “relay-women” (Delbos, 2006),

assumindo-se o papel da mulher como vital no sucesso dos processos de mediação. O

seu desempenho tem impacto a diversos níveis de funcionamento da comunidade,

desde a vizinhança até às instituições locais.

Uma outra potencialidade identificada está relacionada com os próprios recursos da

comunidade. Existe um grande número de colectividades e instituições com diferentes

missões que podem, em complementaridade, contribuir para a integração das

diferenças locais. Para além disso, existem pessoas, quer das entidades quer da própria

comunidade, que conhecem bem a realidade, as suas fragilidades e potencialidades.

Este conhecimento é crucial na definição de qualquer plano de intervenção social,

evitando duplicação de acções e desperdício de meios e/ou recursos. Paralelamente

estes agentes identificam as necessidades prioritárias da comunidade e conseguem

estabelecer pontes de comunicação em diferentes contextos.

Actualmente julgamos que o Centro Novas Oportunidades poderá ser um recurso

importante sobretudo na área da educação/formação, dado que o serviço de

encaminhamento e informação solicita a partilha de informação em rede,

contribuindo para uma maior articulação inter-institucional. Também o projecto

“Desenvolver Aldoar”, integrado no CLDS, é neste momento um importante recurso

que poderá ter um impacto significativo na comunidade, sobretudo porque aposta na

capacitação da comunidade e na activação do trabalho em rede.

A freguesia de Aldoar dispõe ainda de recursos materiais e de uma localização

privilegiada, aspectos importantes na implementação das acções.

Constrangimentos

Como referido anteriormente a zona de Aldoar é marcada por desequilíbrios sociais.

Co-existem nesta freguesia zonas problemáticas, onde é frequente a ocorrência de

fenómenos de exclusão social e zonas frequentadas por pessoas com estatuto sócio-

económico médio-alto. Não será por acaso que, analisando informalmente as ofertas

imobiliárias em Aldoar, verificamos dos preços mais elevados da cidade do Porto. Estas

diferenças sócio-económicas, reforçadas pela diversidade cultural e étnica, deverão

ser um dos alvos de intervenção de qualquer processo de mediação. De qualquer

forma, o enraizamento destas diferenças podem constituir um obstáculo à acção.

Por outro lado, constatou-se algum desgaste e desacreditação por parte da

população de Aldoar, sobretudo residente nas zonas mais desfavorecidas,

relativamente aos projectos de intervenção social. Acreditamos que os processos de

mediação, desenvolvidos a um nível mais complexo, por exemplo, no âmbito do

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projecto “Desenvolver Aldoar”, tenham que considerar a desconstrução de ideias e

crenças que geram resistência e desconfiança por parte da comunidade. Os

constrangimentos identificados parecem atravessar os projectos de intervenção

desenvolvidos em Aldoar. Este facto, na nossa opinião, deverá ser considerado por

qualquer equipa de intervenção social, pois parece estar relacionado com a

sustentabilidade dos projectos.

Capítulo elaborado por:

Ana Pinheiro

Maria João Torrão

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Bibliografia

AIDA (1997). Fundamentação e Enquadramento da Área de Intervenção. Porto (texto não

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Aldoar” - Intervir para Desenvolver: Experiências Comunitárias.

Decreto-Lei n.º 105/2001 (I Série-A) de 31 de Agosto

Olhar Jovem – Revista Trimestral do Espaço Jovem da AIDA, n.º 2, Abril de 1998.

Portaria n.º 396/2007 de 2 de Abril

“Projecto PartNet: Diálogo civil contra a exclusão social”. Acedido em 09/10/2007, em

http://www.inde.pt

Programa comunitário para o Emprego e a Solidariedade – PROGRESS (2007-2013)

Sítio www.portugal.gov.pt acedido em 09/10/2007.