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ESPAÇO ARQUEOLOGIA
PROJETO DE PESQUISA ARQUEOLÓGICA SUBMETIDO AO IPHAN COMO REQUISITO PARCIAL À
OBTENÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA
PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO, MONITORAMENTO E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DA UHE BAIXO IGUAÇU, MUNICÍPIOS DE
CAPANEMA, CAPITÃO LEÔNIDAS MARQUES E REALEZA - PR
COORDENADAS UTM: 22J 231378 E / 7176734 N (EIXO DO BARRAMENTO)
VALDIR LUIZ SCHWENGBER
ALESSANDRO DE BONA MELLO
RAUL VIANA NOVASCO
JEDSON FRANCISCO CEREZER
TUBARÃO-SC, OUTUBRO DE 2017
2
NOME DO PROJETO: PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO, MONITORAMENTO E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DA UHE BAIXO IGUAÇU
EMPREENDIMENTO: Implantação de usina hidrelétrica - UHE
MUNICÍPIOS: Capanema, Capitão Leônidas Marques e Realeza
ESTADO: Paraná
ÓRGÃO LICENCIADOR: Instituto Ambiental do Paraná - IAP
EMPREENDEDOR: Consórcio Empreendedor Baixo Iguaçu - CEBI. Rua Tupinambás, nº 1187 – CEP: 85760-000 Capanema/PR
EXECUÇÃO DO PROJETO:
Espaço Arqueologia Rua Germano Siebert, 645 Tubarão/SC - Centro Fone: (48) 3626-5572
APOIO INSTITUCIONAL: Museu Histórico Celso Formighieri Sperança – Cascavel-PR
ARQUEÓLOGOS COORDENADORES:
Valdir Luiz Schwengber Doutor em História – UNILEON
Alessandro De Bona Mello Graduado em História – UNISUL Especialista em Arqueologia e Patrimônio Cultural – FUCAP
Raul Viana Novasco Especialista em Arqueologia e Patrimônio Cultural – FUCAP Doutorando em História – UNISINOS
Jedson Francisco Cerezer Mestre em Arqueologia Pré-histórica e Arte Rupestre – UTAD Doutor em Quaternário, Culturas e Materiais – UTAD
EQUIPE TÉCNICA DE SALVAMENTO ARQUEOLÓGICO:
Lindomar Mafioletti Júnior Graduado em História - UNISUL Especialista em Arqueologia e Patrimônio Cultural – FUCAP
Douglas Gonçalves Pereira Graduado em Arquitetura – UNISUL Especialista em Arqueologia e Patrimônio Cultural – FUCAP
Edcarlo Cascaes Correa Graduado em Ciências Biológicas – UNISUL Pós-graduando em Arqueologia e Patrimônio Cultural – FUCAP
William Konrad Graduando em Gestão Ambiental – UNIP
Gabriel Vieira Neves Graduando em História – UNISUL
3
EQUIPE TÉCNICA DE LABORATÓRIO
Thiago Vieira Torquato Graduado em Ciências Biológicas – UNISUL Especialista em Conservação da Natureza e Educ. Ambiental – PUC/PR
Lucas Rohr Lopes Graduando em Relações Internacionais – Unisul
André Mendes Mello Graduando em Engenharia Civil – UNISUL
ARQUEÓLOGO DE MONITORAMENTO:
Alexandre da Silva Graduado em Ciências Biológicas – UNESC Pós-graduando em Arqueologia – FUCAP
Luciana de Souza Santos Graduada em Arqueologia - UFS
EQUIPE DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Tade-Ane de Amorim Doutora em Sociologia – UFSC
Bruna Donato de Oliveira Graduada em Antropologia – UFPel Mestra em Antropologia – UFPel
Cauê Cristiano Cardoso Licenciado em História – UNISUL Mestrando em Arqueologia Pré-Histórica e Arte Rupestre –IPT
Fernanda Silveira de Souza Graduanda em Ciências Sociais – UFSC
PRODUÇÃO DE MATERIAL INSTRUCIONAL E COMUNICAÇÃO:
Emeline Camargo Novasco Graduanda em Comunicação Social / Jornalismo – UNISUL
Mirian Raquel de Oliveira Graduada em Comunicação Social – UAM Pós-graduanda em Arqueologia – FUCAP
ORGANIZAÇÃO E MONTAGEM DO PROJETO
Valdir Luiz Schwengber
Raul Viana Novasco
Lindomar Mafioletti Júnior
Tade-Ane de Amorim
Lucia Maria Konrad Schwengber
4
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: RESERVATÓRIO DA UHE BAIXO IGUAÇU ........................................................................................... 10
FIGURA 2: EXEMPLO DO MÉTODO DE AMOSTRAGEM SISTEMÁTICO. FONTE: LIZEE; PLUNKETT, 1996. ............................................................................................................................................................................................ 33
FIGURA 3: EXEMPLO DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DE AMOSTRAGEM POR 'JULGAMENTO'. FONTE: LIZEE; PLUNKETT, 1996. ................................................................................................................................. 34
FIGURA 4: VEÍCULO NISSAN FRONTIER ATACK ................................................................................................... 37
FIGURA 5: VEÍCULO MITSUBISHI PAJERO SPORT HPE ...................................................................................... 37
FIGURA 6: DUAS CAIXAS PLÁSTICAS MARFINITE MODELO 1063, LADO A LADO, NA CARROCERIA DO VEÍCULO NISSAN FRONTIER ATACK ..................................................................................... 38
FIGURA 7: DUAS CAIXAS PLÁSTICAS MARFINITE MODELO 1063, EMPILHADAS, NA CARROCERIA DO VEÍCULO NISSAN FRONTIER ATACK ..................................................................................... 38
FIGURA 8: DUAS CAIXAS PLÁSTICAS MARFINITE MODELO 1063, LADO A LADO, NO PORTA MALAS DO VEÍCULO MITSUBISHI PAJERO SPORT ............................................................................................... 38
FIGURA 9: DUAS CAIXAS PLÁSTICAS MARFINITE MODELO 1063, EMPILHADAS, NO PORTA MALAS DO VEÍCULO MITSUBISHI PAJERO SPORT ............................................................................................... 38
5
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS CADASTRADOS NO SITE DO IPHAN NOS MUNICÍPIOS ABRANGIDOS PELA UHE BAIXO IGUAÇU – PR ....................................................................................................... 17
QUADRO 2: SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS À SEREM RESGATADOS NA ÁREA DA UHE BAIXO IGUAÇU ........................................................................................................................................................................................................ 30
QUADRO 3: CUSTOS PREVISTOS PARA EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES DE CURADORIA E ANÁLISE DOS BENS ARQUEOLÓGICOS ........................................................................................................................................... 36
QUADRO 4: SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS JÁ RESGATADOS NA ÁREA DA UHE BAIXO IGUAÇU ............ 40
QUADRO 5: SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS SITUADOS ENTRE A AID/AII DA UHE BAIXO IGUAÇU ....... 43
QUADRO 6: DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES EDUCATIVAS REALIZADAS NO ÂMBITO DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ............................................................................................................ 51
QUADRO 7: MECANISMOS DE AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES EDUCATIVAS A SEREM REALIZADAS ............................................................................................................................................................................ 52
QUADRO 8: CRONOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DO PROJETO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ........................................................................................................................................................................ 53
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 8
2 CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO ................................................................................ 10
3 CONTEXTO ARQUEOLÓGICO ............................................................................................................ 14
4 CONTEXTO ETNO-HISTÓRICO ......................................................................................................... 22
5 PROJETO DE SALVAMENTO ARQUEOLÓGICO ............................................................................. 30
5.1 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS .................................................................................... 31
5.2 OBJETIVOS ............................................................................................................................................................ 34
5.3 METODOLOGIA DE SALVAMENTO DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS .......................................... 35
5.4 PROPOSTA METODOLÓGICA PARA ANÁLISE E CURADORIA DO MATERIAL ARQUEOLÓGICO .............................................................................................................................................................. 35
5.4.1 Curadoria e análise dos acervos arqueológicos já resgatados .......................................... 39
5.5 CRONOGRAMA.................................................................................................................................................... 41
6 PROJETO DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO .................................................................... 42
6.1 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS .................................................................................... 42
6.2 OBJETIVOS ............................................................................................................................................................ 42
6.3 METODOLOGIA DE MONITORAMENTO E ACOMPANHAMENTO ARQUEOLÓGICO ......... 43
6.4 CRONOGRAMA.................................................................................................................................................... 45
7 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ............................................................................................................... 47
7.1 OBJETIVOS ............................................................................................................................................................ 49
7.2 METODOLOGIA .................................................................................................................................................. 50
7.3 DEFINIÇÃO DO PÚBLICO-ALVO ................................................................................................................. 52
7.4 MECANISMOS DE AVALIAÇÃO ................................................................................................................... 52
7.5 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO ................................................................................................................... 53
7.6 DIVULGAÇÃO DAS INFORMAÇÕES CIENTÍFICAS OBTIDAS ......................................................... 54
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................. 56
APÊNDICES ................................................................................................................................................... 63
APÊNDICE A – MATERIAL CARTOGRÁFICO DE CARACTERIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO ...................................................................................................................................................... 64
APÊNDICE B – DECLARAÇÃO DE COMPROMETIMENTO DA EQUIPE TÉCNICA .............................. 67
7
APÊNDICE C – SHAPEFILE DA POLIGONAL DE DELIMITAÇÃO DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS A SEREM RESGATADOS E AVALIADOS .................................................................................................................... 74
ANEXOS ......................................................................................................................................................... 75
ANEXO A – FICHAS DE CADASTRO NACIONAL DE SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS - CNSA .................. 76
ANEXO B – CURRÍCULO LATTES DOS PESQUISADORES ENVOLVIDOS ............................................... 82
ANEXO C – DECLARAÇÃO DE IDONEIDADE FINANCEIRA DO PROJETO............................................. 84
ANEXO D – DECLARAÇÃO DE ENDOSSO INSTITUCIONAL ......................................................................... 86
ANEXO E – DECLARAÇÃO COM OS DADOS DO EMPREENDEDOR .......................................................... 88
8
1 INTRODUÇÃO
Por meio do presente projeto vimos solicitar autorização para o desenvolvimento das
atividades de pesquisa referentes ao “Programa de Resgate Arqueológico, Monitoramento e
Educação Patrimonial nas áreas de influência da UHE Baixo Iguaçu”, instalada no Rio Iguaçu, na
área de abrangência dos municípios de Capanema, Capitão Leônidas Marques e Realeza, Estado
do Paraná.
Este Programa foi elaborado no intuito de atender ao disposto na Portaria IPHAN n° 230,
de 17 de dezembro de 2002, em especial ao que preconiza o seu Art. 6°, que trata da etapa de
resgate arqueológico e da equiparação da pesquisa arqueológica com a fase de obtenção da licença
de operação dos empreendimentos. Assim, a execução do presente programa representa a
continuidade do processo de licenciamento do referido empreendimento, iniciado no ano de 2007.
Em conformidade com a legislação vigente no que concerne as questões que envolvem o
Patrimônio Cultural, neste projeto estão previstas a realização das atividades de salvamento
arqueológico sobre 18 (dezoito) sítios arqueológicos remanescentes na área do reservatório da
usina identificados na etapa de prospecção arqueológica, e daqueles por ventura identificados na
etapa de monitoramento arqueológico; bem como a curadoria e conservação dos bens
arqueológicos provenientes desses sítios. Ainda, é prevista a curadoria e análise dos conjuntos
arqueológicos coletados em 15 (quinze) sítios já resgatados em uma etapa anterior de resgate
arqueológico1, e que se encontram de posse do arqueólogo Antônio Carlos Mathias Cavalheiro,
responsável pela execução do projeto já encerrado.
Além das atividades de salvamento e curadoria dos conjuntos arqueológicos, o presente
projeto também prevê a execução das atividades de monitoramento arqueológico das obras de
instalação do empreendimento, nas áreas que ainda não foram impactadas pelas obras de
instalação, a saber, as áreas onde ocorrerão a supressão da vegetação para enchimento da área de
reservatório. Também compõe este projeto uma proposta pedagógica para o desenvolvimento de
um programa de educação patrimonial, o qual tem por principal objetivo, promover a socialização
dos resultados advindos com a execução da presente pesquisa junto à comunidade regional, bem
como, abordar as questões que envolvem a pesquisa arqueológica e o patrimônio cultural
regional.
1 Realizado dentro do projeto “Programa de Resgate, Monitoramento e Educação Patrimonial UHE Baixo
Iguaçu”, processo IPHAN n° 01508.000976/2012-86, cuja portaria de autorização se encerrou em fevereiro do presente ano.
9
Desta forma, em vias de cumprir com as orientações constantes do Art. 6° da Portaria
IPHAN n° 230/2002 e do Art. 5° da Portaria SPHAN n° 007/88, o presente projeto está estruturado
do seguinte modo:
Seguindo a Introdução, o capítulo 2 trata da caracterização ambiental da área de
implantação da UHE Baixo Iguaçu, enquanto que nos capítulos 3 e 4, respectivamente, são
apresentados os contextos arqueológico e etno-histórico da região de implantação do
empreendimento. No capítulo 5 são apresentados os pressupostos teóricos e metodológicos que
nortearão o desenvolvimento das ações de salvamento dos dezoito sítios arqueológicos objetos
deste programa, além dos objetivos, metodologia e cronograma de desenvolvimento destas ações.
O capítulo 6 trata das estratégias metodológicas que serão aplicadas no decorrer das atividades
de monitoramento arqueológico. Enquanto o capítulo 7, trata das ações referentes à educação
patrimonial e demais atividades de produção de conhecimento, divulgação científica e
extroversão dos dados obtidos no âmbito deste projeto. Nos elementos pós-textuais são
apresentadas as referências bibliográficas, os apêndices e os anexos.
10
2 CARACTERIZAÇÃO DO EM PREENDIMENTO
A UHE Baixo Iguaçu está sendo implantada no Rio Iguaçu, região sudoeste do Estado do
Paraná, na área de abrangência dos municípios de Capanema, Capitão Leônidas Marques e
Realeza. A Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu está localizada à jusante da UHE Salto Caxias, nas
coordenadas 25° 30’ de latitude sul e 53° 40’ de longitude oeste, com capacidade de geração de
energia de 350 MW.
FIGURA 1: RESERVATÓRIO DA UHE BAIXO IGUAÇU
A área de influência da UHE Baixo Iguaçu compreende porções territoriais localizadas na
região sudoeste do Estado do Paraná, no baixo curso do Rio Iguaçu. Essa região possui as
características comuns às terras altas do sul do Brasil (Planalto Meridional Brasileiro), onde as
cotas variam entre 300 e 1200 metros de altitude.
O Planalto Meridional Brasileiro compreende ao domínio morfoclimático2 dos planaltos
subtropicais com araucárias. Situado entre os meridianos 54° 0'W e 49° 30' W, e entre o Trópico
de Capricórnio (paralelo 23° 30'S) e o paralelo 30° 00’S; este domínio abrange uma área de,
2 Domínios morfoclimáticos representam as associações entre elementos naturais - clima, relevo e vegetação - que resultam na formação e individualização de unidades paisagísticas.
11
aproximadamente, 400.000 km², distribuídos entre os estados do sul do Brasil - ocupa 60% do
território do Estado do Paraná, 80% do território do Estado de Santa Catarina e 35% do território
do Estado do Rio Grande do Sul.
Segundo Scheibe (1986), após os eventos geotectônicos responsáveis pela formação dos
cratons proterozóicos, mais precisamente durante o Siluriano inferior, a atividade tectônica
diminuiu consideravelmente, e o vulcanismo cessou completamente, dando início a um período
de estabilidade tectônica. De acordo com o autor, as estruturas tectônicas se tornaram
caracteristicamente cratogênicas, com grandes áreas de subsidência entre elas, as chamadas
antéclises e sinéclises, sendo que as sinéclises constituíram as bacias sedimentares do Amazonas,
do Piauí-Maranhão e do Paraná.
Na transição do Siluriano para o Devoniano houve uma melhor separação das três bacias
citadas acima e, devido ao aumento do nível do mar, ocorreu uma espessa deposição de
sedimentos marinhos, costeiros e deltaicos. Do Carbonífero inferior ao superior o mar regrediu,
dando lugar a sedimentação continental que, na Bacia do Paraná apresentou grande complexidade
devido à glaciação Gondwânica do Carbonífero superior, onde ocorreram espessos depósitos
glaciais e proglaciais e, pelo menos, três finas intercalações de sedimentos marinhos, dando
origem às rochas das formações do Grupo Itararé (SCHEIBE, 1986).
Durante o Permiano os sedimentos foram depositados sob condições aquosas
continentais, que continuaram até o começo do Triásico, dando origem às rochas das formações
dos Grupos Guatá e Passa Dois. Entre o Triásico médio e o Jurássico superior deram-se as últimas
deposições da Bacia do Paraná. Nesse período depositou-se o Arenito Botucatu, em ambiente
desértico e fluvial árido, e ocorreu o vulcanismo relacionado à ruptura do Gondwana, dando início
à abertura do Oceano Atlântico e origem às rochas das formações do Grupo São Bento (SCHEIBE,
1986).
A Formação Serra Geral (Grupo São Bento), tem a sua origem no vulcanismo basáltico
gerado pelo evento de ruptura do Gondwana e abertura do Atlântico Sul que envolveu toda a
porção leste da Plataforma Sul-Americana, chamado Reativação Wealdeniana. De acordo com
Scheibe (1986) durante o Jurássico formou-se uma extensa superfície de aplainamento, na qual
desenvolveram-se espessos perfis de solos argilosos vermelhos. Com a Reativação, tais solos
foram removidos e depositados às margens dessa grande bacia, e o embasamento sedimentar e
cristalino tornou-se exposto, erodido, transportado e depositado como um litosoma mais arenoso.
Os derrames basálticos formaram camadas de até 50 metros de espessura, e ocorrem em
mais de 20 secções. Através deles formaram-se as rochas vulcânicas que constituem hoje a porção
12
oeste do planalto meridional brasileiro, divididas em básicas e ácidas (SCHEIBE, 1986). As rochas
vulcânicas efusivas ácidas são mais resistentes às ações intempéricas, por isso foram menos
erodidas e compõem os campos de altitude, onde os solos são menos desenvolvidos e pouco
espessos. As rochas vulcânicas básicas sofreram maior alteração e transformaram-se em solos
vermelhos pouco profundos e profundos.
Em se tratando de pedologia, nessa região predominam os Latossolos, que são aqueles
solos em avançado estágio de intemperização, muito evoluídos, resultantes de enérgicas
transformações no material construtivo, que nesse caso são as rochas basálticas. São
normalmente muito profundos, sendo a espessura do solum raramente inferior a um metro
(EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 2006).
Nas áreas recobertas por latossolos, predomina a formação vegetal da floresta ombrófila
mista, conhecida como "mata de araucária". De acordo com o Manual Técnico de Vegetação
Brasileira (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1992), a composição
florística da Floresta Ombrófila Mista, caracterizada por gêneros primitivos, sugere uma ocupação
recente, a partir de refúgios alto-montanos, apresentando quatro formações diferentes: aluvial
(terraços situados ao longo dos rios), submontana (de 50 até 400 metros de altitude), montana
(de 400 até 1000 metros de altitude), alto-montana (quando situadas a mais de 1000 metros de
altitude).
Para alguns pesquisadores a araucária seria uma espécie de vegetação fóssil por ter-se
adaptado melhor às condições mais frias do final da última era glacial, permanecendo agora
somente nas áreas altas e mais frias do planalto. O domínio da Mata de Araucária começa a partir
dos 500/600 metros e ultrapassa os 1000 metros de altitude. Essa formação florestal é resultante
da interpenetração de floras de origem austral-andina e floras de origem tropical afro-brasileira
e tem como principal característica a presença massiva de Araucaria angustifolia, que por sua
abundância, porte e copas corimbiformes, imprime aspecto fitofisionômico próprio a esta
formação.
A origem da araucária e de outros indivíduos que compõem a Floresta Ombrófila Mista
vem sendo estudada por paleobotânicos e, ao que tudo indica, os ancestrais da Araucaria
angustifolia tiveram ampla dispersão e desenvolvimento no período cretáceo, há cerca de 90
milhões de anos, antes da migração continental. No continente sul-americano desenvolveu-se a
série Columbidae que posteriormente, por diferenciação, deu origem à Araucaria angustifolia no
Brasil, e à Araucaria araucana no Chile (CLAUDINO, 2011).
13
O fato de a Araucaria angustifolia formar uma cobertura muito característica, uniforme e
contínua, faz pensar que se trata de uma formação unistratificada, contudo, outras espécies de
árvores, arbustos, ervas, epífitos e lianas, se fazem presentes nos estratos mais baixos da Floresta
Ombrófila Mista. Entre as espécies florísticas que compõem essa formação florestal destacam-se:
a imbuia (Ocotea porosa) e a sassafrás (Ocotea odorífera) da família das lauráceas, bem como a
erva-mate (Ilex paraguaiensis) e a caúna (Ilex theezans) da família das aquifoliáceas (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1992; SONEGO, 2007).
Na região sudoeste do Estado do Paraná, está localizado o Parque Nacional do Iguaçu, uma
das maiores reservas naturais do Brasil. O Parque Nacional do Iguaçu foi criado em 1939, por meio
do Decreto n° 1035, sob o governo do Presidente Getúlio Vargas. A reserva abriga o maior
remanescente de floresta atlântica da região sul do Brasil. A área do parque protege uma rica
biodiversidade, formada por espécies representativas da fauna e flora brasileira. A área do parque
possui aproximadamente 1 milhão de hectares de áreas naturais. A gestão desta Unidade de
Conservação Federal é realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade –
ICMBio, órgão federal vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. A área do parque faz divisa com
vários municípios da região, dentre eles os municípios de Capanema, Capitão Leônidas Marques e
Realeza.
14
3 CONTEXTO ARQUEOLÓGICO
Assim como em boa parte do território brasileiro, no Estado do Paraná as pesquisas
arqueológicas se iniciaram ainda no século XIX, na chamada “Era das expedições” (BARRETO,
1999-2000), e eram realizadas por amadores e pesquisadores de outras áreas que empreenderam
registros e escavações pontuais a pedido de instituições de ensino e museus, a fim de obter objetos
para compor acervos e coleções.
Já na primeira metade do século XX, a partir das políticas de valorização e preservação do
patrimônio histórico, implementadas pelo Governo brasileiro, e do crescente interesse pelos
vestígios arqueológicos do litoral paranaense, tem início, no Estado do Paraná, a Era da
arqueologia acadêmica, cujo principal expoente foi o médico José Loureiro Fernandes, fundador
do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná (CEPA-
UFPR).
Nesta instituição foram realizados entre 1958 e 1964 alguns dos primeiros cursos de
formação de arqueólogos do Brasil. O primeiro curso, ministrado em 1958 pelo arqueólogo
americano Wesley Hurt, originou o primeiro movimento com viés mais profissional na
arqueologia brasileira. Em 1960, o CEPA-UFPR foi sede do curso ministrado pelo casal Joseph e
Anette Laming-Emperaire, do Museu do Homem de Paris, curso este que teve como foco a
escavação do sítio Guaraguaçu, sambaqui situado no litoral paranaense. Em 1962, na segunda
etapa do curso, a turma de alunos, coordenada pela Arqueóloga Anette Laming-Emperaire,
realizou escavações nos sítios Sambaqui do Toral e Sambaqui da Ilha dos Rosas II – em Antonina;
e no sítio Gruta do Wobeto, localizado no município de Manoel Ribas, segundo planalto
paranaense.
Destaca-se que os cursos coordenados por Anette Emperaire tinham como orientação
teórica e metodológica os pressupostos aplicados à arqueologia do paleolítico francês, portanto,
estavam voltados à compreensão da distribuição dos artefatos dentro dos “pisos arqueológicos”,
ou seja, os olhares estavam diretamente voltados para o contexto intra-sítio (BARRETO, 1999-
2000).
Em 1964, também convidado por Loureiro Fernandes, o casal norte-americano Clifford
Evans e Betty Meggers, do Smithsonian Institute de Washington, deu continuidade ao curso de
formação de arqueólogos no CEPA-UFPR. Neste curso o casal Evans introduziu um novo método
de análise e interpretação dos dados obtidos a partir de materiais cerâmicos, denominado Método
Ford. Além das contribuições no campo da análise da cerâmica, Evans e Meggers foram os
responsáveis pela adoção de uma abordagem regional nas pesquisas arqueológicas do Brasil.
15
Foi, portanto, a partir das discussões e constatações realizadas no curso dos Evans que
surgiu o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA). No âmbito deste programa,
foram realizados levantamentos arqueológicos em escala regional em praticamente todos os
Estados brasileiros, com exceção da região da Amazônia Legal. No Estado do Paraná, as pesquisas
“pronapianas” foram desenvolvidas pelos arqueólogos Igor Chmyz, que atuou em todo o território
paranaense, e por José Wilson Rauth, que se dedicou às pesquisas desenvolvidas sobre os
sambaquis do litoral do Paraná.
No Estado do Paraná essa demanda teve início ainda na década de 1960 e, através dela,
muito se produziu nos vales dos grandes rios do planalto paranaense. Pode-se dizer que o 'ponta-
pé' inicial foi dado por Igor Chmyz através do Programa de Salvamento Arqueológico no Rio
Itararé - UHE Xavantes (1965) e Projeto Itaipu (1976). Após estes, diversos outros projetos de
mesma natureza e expressão foram realizados, tais como o Projeto Arqueológico Santiago no
médio-baixo Iguaçu (1979), Projeto Arqueológico Foz do Areia no médio Iguaçu (1979), Projeto
Arqueológico na área da UHE Segredo (1987), UHE Taquaruçu (1989), UHE Salto Caxias (1993) e
LT Ivaiporã - Itaberá (2006).
Importante documento gerado a partir das pesquisas coordenadas pelo Professor Igor
Chmyz na região de Foz do Iguaçu, é o Relatório Técnico sobre a Arqueologia e a Etno-história da
Área do Parque Nacional do Iguaçu, do ano de 1999. O relatório é composto pela descrição etno-
histórica da região do extremo-oeste paranaense, onde está situado o município de Foz do Iguaçu
e também um histórico das pesquisas arqueológicas nesta região.
Segundo Chmyz e Miguel (1999), as primeiras informações arqueológicas sobre a
ocupação indígena do oeste do Paraná foram obra do naturalista argentino Juan B. Ambrosetti.
Em viagens que realizou entre os anos de 1892 e 1894, este pesquisador coletou e escavou
materiais arqueológicos, considerados “artefatos indígenas antigos”, nas margens do rio Paraná
no lado do Brasil e Paraguai. Ao visitar as Cataratas do Iguaçu encontrou fragmentos de
recipientes cerâmicos junto aos detritos vegetais acumulados na margem do rio (AMBROSETTI,
2006 [1894]).
Ambrosetti (2006 [1894]) registrou o achado de recipientes cerâmicos, grandes urnas,
artefatos de pedra como lâminas de machados e mãos de pilões na Colônia Militar de Foz do
Iguaçu. Escavações foram realizadas em montículos de terra e pedras existentes em grande
quantidade e que se revelaram estéreis aos olhos da época. O pesquisador encontrou ainda,
artefatos de pedra lascada, entre os quais uma ponta de projétil foliácea. O acervo recolhido por
Ambrosetti teve como destino o Museo de La Plata, na Argentina.
16
No ano de 1939 foi criado o Parque Nacional do Iguaçu, porém, com o crescimento da
região oeste do Estado do Paraná, a partir da década de 1940, o patrimônio arqueológico
continuou a ser impactado à medida que avançava o desmatamento e a ocupação do solo.
No final da década de 1960, mais precisamente no ano de 1969, integrados ao Programa
Nacional de Pesquisas Arqueológicas, uma equipe do CEPA constatou a existência de material
indígena nas proximidades das cataratas, resultando na identificação de 18 sítios arqueológicos,
sendo mais comuns os sítios cerâmicos relacionados à Tradição Tupiguarani (CHMYZ; MIGUEL,
1999, p. 31).
Outras pesquisas foram realizadas na região pelo mesmo pesquisador em decorrência da
construção da UHE Itaipu entre os anos de 1975 e 1983, sendo registrados 243 sítios nas margens
brasileiras do Rio Paraná, afetadas pelo empreendimento, sendo que a periodização arqueológica
iniciada no ano de 1969 foi completada e ampliada, abrangendo um espaço de tempo situado entre
6000 a. C. e 1920 d. C.
Conforme Chmyz e Miguel (1999), como resultado das pesquisas efetuadas em Foz do
Iguaçu, foram definidas dez fases arqueológicas, as mais antigas, consideradas pré-cerâmicas e
vinculadas a grupos de caçadores-coletores generalizados, receberam as denominações Vinitu,
Pirajuí, Ipacaraí e Tatuí. As mais recentes, atribuídas a grupos que tinham em comum a produção
de cerâmica e a horticultura, foram denominadas como fases Itacorá, Ibirajé, Sarandi, Icaraíma,
Cantu e Assuna.
No ano de 2014, Schwengber et al, realizaram o resgate de 03 (três) sítios arqueológicos
identificados na etapa de prospecção referente a implantação de uma linha de transmissão nos
municípios de Quedas do Iguaçu e São Jorge D’ Oeste, na região sudoeste do Paraná, sendo 01 (um)
sítio lítico composto por fragmentos de lascas em arenito silicificado entre outros materiais líticos
e 02 (dois) sítios lito-cerâmicos associados a Tradição Taquara-Itararé.
O mesmo pesquisador no ano de 2015 apresentou como resultado das atividades de
prospecção nas áreas de influência das obras de duplicação da BR-163, em trecho localizado no
sudoeste do Paraná, a identificação de dois sítios arqueológicos. Os sítios, denominados Lindoeste
1 e Lindoeste 2 caracterizam-se enquanto sítios líticos superficiais, situados em áreas onde a
agricultura se dá aos moldes da agricultura familiar. Estes sítios são compostos por materiais
líticos lascados, em sua maioria sobre arenito-silicificado dispersos pela superfície do terreno.
Outra pesquisa realizada na porção centro-oeste do Estado do Paraná também realizada
no ano de 2015 no âmbito do projeto de resgate dos sítios arqueológicos Rio Cantu I, Rio Cantu II,
Rio Cantu III, Arroio do Susto I, Arroio do Susto II, e Rio Branco I, além das Ocorrências
17
Arqueológicas I e II, todos localizados na área diretamente afetada da PCH Cantu 2, nos municípios
de Roncador, Nova Cantu, Palmital e Laranjal. Nestes sítios foram encontrados artefatos líticos
como pontas-de-projétil e mãos-de-pilão, além de fragmentos de cerâmica da Tradição
Tupiguarani com diversos tipos de tratamento de superfície, incluindo alisado, corrugado,
corrugado-ungulado e decoração pintada em vermelho sobre engobo branco.
Ainda no ano de 2015, Schwengber e equipe realizaram a escavação de três sítios
arqueológicos no âmbito do projeto de resgate dos sítios líticos Foz Cascavel I, Foz Cascavel II e
Foz Cascavel III localizados na área de influência da LT 230 kV Foz do Iguaçu – Cascavel, na porção
oeste do Estado do Paraná. Estes sítios são compostos por materiais líticos lascados, em sua
maioria sobre arenito silicificado.
Em pesquisa realizada junto ao CNSA do IPHAN, em busca de informações sobre sítios
arqueológicos situados nos municípios abrangidos pelo empreendimento, identificamos o
registro de 19 sítios arqueológicos cadastrados, dos quais, 10 são compostos por materiais líticos;
1 sítio cerâmico, 7 são sítios lito-cerâmicos e 1 sítio com gravura rupestre, conforme o Quadro 1,
abaixo.
QUADRO 1: SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS CADASTRADOS NO SITE DO IPHAN NOS MUNICÍPIOS ABRANGIDOS PELA UHE BAIXO IGUAÇU – PR
Sítio Município No do
registro Tipologia
Filiação Cultural/ Tradição
Pesquisador/ano
Ouro Azul Capanema BI31CPM-ST Lítico -- Cardeal Filho e
Cavalheiro, 2010
Vaca Branca
Capanema
PR01292 Lito-
cerâmico --
Cardeal, Thomaz e Caldarelli, 2004
Acampamento UHE Salto Caxias
Capitão Leônidas Marques
PR-CA-001 Lito-
cerâmico Tupiguarani Chmyz, 1992
Córrego Tigrinho 2
Capitão Leônidas Marques
PR-CA-003 Lítico Bituruna Chmyz, 1993
Vão entre torres 14 e 15
Capitão Leônidas Marques
PR01250 Lítico Bituruna e
Tupiguarani Parellada, 2000
Vão entre torres 16 e 17
Capitão Leônidas Marques
PR01251 Lítico Tupiguarani Parellada, 2000
Doring Capitão Leônidas
Marques BI41CLM-ST
Lito-cerâmico
Tupiguarani Merêncio, 2010
Sartori 2 Capitão Leônidas
Marques BI46CLM-ST Lítico -- Merencio, 2010
Vista Alta Capitão Leônidas
Marques BI01CLM-ST Gravura -- Cavalheiro, 2009
18
São Luís Capitão Leônidas
Marques BI06CLM-ST Cerâmico Tupiguarani Cavalheiro, 2009
Córrego Laranjeira 2
Capitão Leônidas Marques
BI11CLM-ST Lítico -- Thomaz, 2010
Joy Capitão Leônidas
Marques BI16CLM-ST Lítico -- Thomaz, 2010
Ponte Alta Capitão Leônidas
Marques BI21CLM-ST
Lito-cerâmico
Tupiguarani Cardeal Filho e
Cavalheiro, 2010
Córrego Leãozinho
Capitão Leônidas Marques
BI26CLM-ST Lito-
cerâmico Tupiguarani
Thomaz e Cavalheiro, 2010
Torre 20 Capitão Leônidas
Marques PR01291 Lítico Tupiguarani Parellada, 2000
Vertedouro Realeza PR00762 Lítico Bituruna Chmyz, 1992
Kives Realeza PR01262 Lítico -- Thomaz e
Cavalheiro, 2010
Nossa Senhora de Lourdes I
Realeza PR01570 Lito-
cerâmico Itararé-Taquara
Schwengber, 2014
Bocchi Realeza PR01668 Lito-
cerâmico Tupiguarani Cavalheiro, 2015
FONTE: CADASTRO NACIONAL DE SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS – CNSA/SGPA – IPHAN
Para melhor compreensão dos grupos humanos que ocuparam a região pesquisada,
faremos uma síntese das principais características arqueológicas dessas populações que viveram
no período pré-colonial na região.
O primeiro grupo a ser caracterizado é comumente chamado de caçadores-coletores.
Estima-se que os povos caçadores-coletores ocuparam todo o atual território do Estado do Paraná
a partir de 11.000 anos antes do presente, na transição do pleistoceno e holoceno inicial. Vestígios
da ocupação desses povos foram encontrados em várias regiões do Paraná, mas as principais
ocorrências estão localizadas nos domínios da Serra do Mar, no litoral e nos vales dos rios Tibagi,
Ribeira, Iguaçu, Ivaí, Itararé e Paranapanema (PARELLADA, 2009).
Os sítios arqueológicos associados aos caçadores-coletores geralmente apresentam níveis
de ocupações com estratos que variam desde alguns centímetros – em sítios a céu aberto – até
mais de um metro, nos abrigos sob rocha. Em alguns sítios são encontrados restos faunísticos,
sugerindo uma dieta a base de caça local pelos grupos humanos que ali se estabeleceram. Também
sendo interpretados como grupos de alta mobilidade no território, dada a dispersão dos materiais
arqueológicos, indicando se tratar de grupos compostos por poucos membros. (SCHMITZ, 1991).
Os artefatos líticos associados aos caçadores-coletores são especialmente as pontas de
projétil (pedunculadas com aletas, triangulares ou foliáceas), lascas, lâminas, artefatos bifaciais,
19
raspadores médios ou pequenos (terminais, laterais, plano-convexos, com pedúnculo, circulares,
discoidais, elípticos, unguiformes, quadrangulares e triangulares) furadores, pequenos bifaces,
percutores, talhadores, buris, e lesmas, suportes para percussão, mós. Associados a estes artefatos
também são eventualmente encontrados, machados semi-polidos, pedras de boleadeiras,
alisadores (PROUS, 1992).
Também associados aos grupos caçadores-coletores são os grandes instrumentos
confeccionados através de blocos ou seixos lascados, com destaque para talhadores, raspadores,
furadores, localizados, em geral, próximos a cursos d’água em ambientes com maior cobertura
florestal (PARELLADA, 2005).
Os vestígios associados aos grupos caçadores-coletores aparecem em sítios com datações
que se estendem até, aproximadamente, 2.000 A. P.. No entanto, tais artefatos continuam
aparecendo em sítios mais recentes, havendo para tal uma aproximação destes contextos
arqueológicos com os grupos humanos historicamente conhecidos como povos Jê Meridionais,
cuja tradição arqueológica atribuída a estes é a Traição Itararé-Taquara (ARAUJO, 2007).
No planalto paranaense, os registros arqueológicos mais antigos associados aos povos Jê
Meridionais datam de 2.0003 anos atrás. Dados linguísticos indicam que esses grupos são
originários do planalto central brasileiro, e, por volta de 3.000 anos atrás iniciaram um processo
de migração para as terras altas do sul do Brasil, tendo se fixado em áreas que atualmente são
cobertas por mata de araucária, bem como, na borda dos campos abertos. Considera-se sítios
típicos desta tradição as estruturas subterrâneas, conhecidas popularmente por “buracos de
bugre”; as aldeias a céu aberto contendo fragmentos cerâmicos; e os abrigos com pinturas e
gravuras rupestres associadas à tradição Planalto.
Os sítios atribuídos ao Jê Meridional são encontrados em ambiente subtropical desde São
Paulo até a metade do Rio Grande do Sul e contam uma história que teve início no sexto século e
terminou no décimo nono de nossa era. Nos estados do Paraná e Santa Catarina, mais
especificamente, foram identificados sítios conhecidos como “casas subterrâneas” que também
são atribuídas a estes grupos apresentando datas que variam de 1400 a 100 anos antes do
presente. As datas mais antigas do estado são encontradas no planalto, em locais cujas cotas
variam entre 900 e 1200 metros; já as datas mais recentes são encontradas na região oeste, onde
as cotas são menores e a presença da mata de araucária é inferior.
3 Segundo Parellada (2009) esses grupos iniciaram sua ocupação no estado há 4.000 anos atrás, contudo, os dados que apontam para período tão recuado encontram-se isolados, por isso não serão considerados neste texto.
20
Assim como se deu a ocupação em quase todo o território do atual estado do Paraná, pelos
grupos associados à tradição Itararé-Taquara (assumidos aqui como Jês), este também foi palco
da expansão dos grupos Guarani. Estes estão associados diretamente a “Tradição Policroma
Amazônica” no que tange a cultura material, sendo definida como Sub-tradição Guarani por
Brochado (1984). Também é convencionalmente aceita para definir o conjunto de cultura
material dos contextos da arqueologia Guarani, usa-se o termo “Tradição Tupiguarani” como
definido nas Terminologias da Cerâmica Brasileira, do ano de 1976, publicada por Igor Chmyz.
Especialmente no estado do Paraná são encontrados sítios guarani principalmente nos vales dos
rios Paraná, Ivaí, Tibagi e Iguaçu (mais detalhadamente pode ser visto o contexto em Schmitz,
(2005)). Os registros arqueológicos apontam a presença dos grupos Guarani no sul do Brasil ao
mesmo tempo em que se registram as primeiras ocupações Jê na mesma região, por volta do
século quinto de nossa Era.
Para a região da Bacia do Prata, mais especificamente, Bonomo et al. (2014), a partir do
cruzamento de dados espaciais e cronológicos de 140 sítios Guarani mapeados entre os Estados
do sul, sudeste e centro-oeste brasileiro, na Argentina, Paraguai e Bolívia, elaboraram um modelo
de dispersão da cerâmica Guarani. Os dados obtidos pelos pesquisadores, indicam que o centro de
dispersão dessa “cultura Guarani” seria a região do baixo Iguaçu e que, entre 2.000 e 1.700 anos
A. P. esta ocupação estaria concentrada na região de Itaipú, com ocorrências isoladas nos vales
dos rios Jacuí (RS), Ivaí (PR) Paranapanema (SP) e Paraná (Argentina). De acordo com os autores,
entre 1.700 e 1.000 A. P. se verifica a permanência da ocupação sobre essas áreas e uma tímida
expansão, que se restringe a algumas penetrações nos vales dos rios Ibicuí (RS) e Itararé (PR). A
partir de 1.000 A. P. ocorre uma forte expansão e a ampliação dos territórios Guarani, que, no
século XV já se estendia do vale do Paraná – a oeste; até o litoral – a leste; e do estuário do Prata –
a sul, ao vale do Tietê – a norte.
Os dados apresentados pelos autores demonstram que na região do planalto sul do Brasil
encontravam-se grupos Guarani ao longo dos grandes rios nas áreas cobertas por mata
subtropical. As pesquisas arqueológicas indicam que estas populações estavam organizadas em
aldeias relativamente estáveis. Tendo como elemento diagnóstico para o contexto arqueológico a
cerâmica. Esta cerâmica foi amplamente estudada por José Proença Brochado e colaboradores,
ganhou estatuto social ao ser interpretado com base em documentos etno-históricos, havendo
para tal, conjuntos bem definidos com forma e função dentro de linhas de tratamento de superfície
e decoração marcadas pela prescritividade como afirma Noelli (1993). Estas formas cerâmicas
compreendem vasilhas de grande, médio e pequeno porte, em conjuntos utilitários para diversas
funções do cotidiano como cozinhar, armazenar e servir, sendo em alguns casos reaproveitadas
como urnas funerárias.
21
Há que se considerar, contudo, que a noção de territorialidade Guarani ultrapassa os
limites das aldeias conhecidas arqueologicamente. A organização territorial Guarani abrange
diferentes escalas de domínio, que variam das áreas de atividades específicas, até o conjunto de
territórios amplos. O centro do território Guarani é conhecido como amundá, que, segundo Melià
(1979 apud MILHEIRA, 2010), refere-se ao espaço da aldeia, onde as atividades cotidianas e os
principais eventos políticos e sociais acontecem. De acordo com Noelli (1993), o território de
domínio de um amundá pode chegar a 50 km de raio e abrange as diversas áreas de atividades
específicas, denominadas tapýi, que incluem as zonas de caça, pesca, as roças, os caminhos e os
acampamentos temporários. Para este amplo território que comporta a sede da aldeia (amundá)
e as áreas de atividades específicas (tapýi) é dado o nome de Teko’á.
Para Milheira (2010), considerando a amplitude dos Teko’á e tendo como referência as
distâncias geralmente verificadas entre os sítios Guarani, é possível pensar que este território
amplo seria compartilhado por diversas aldeias e que, este território, definido tanto por seus
aspectos simbólicos, quanto pelas relações sociais e de parentesco, deveria ser permanentemente
assegurado. A dimensão territorial Guarani mais ampla, denominada guará, consiste no conjunto
de teko’á de regiões distintas, mas interligadas.
Em resumo, a partir das pesquisas bibliográficas realizadas, cujos dados apresentamos
neste capítulo, podemos observar a riqueza da região pesquisada, do ponto de vista da
arqueologia. Constatamos que o panorama construído até o presente momento para a ocupação
pré-colonial do atual território do Estado do Paraná, abrange apenas os grandes grupos culturais
diferenciados, principalmente, por variáveis tecnológicas. Tal aproximação demonstra as
limitações metodológicas da arqueologia brasileira das últimas 5 décadas, no entanto,
acreditamos que as perspectivas teóricas e metodológicas recentemente utilizadas, aliadas à
massa de informações produzidas na última década, auxiliarão no avanço da compreensão da
ocupação pré-colonial desta região.
22
4 CONTEXTO ETNO-HISTÓRICO
A inclusão de um levantamento etno-histórico em um trabalho de arqueologia propõe, que
as descobertas de ambas as áreas de pesquisa agreguem conhecimento através de diferentes
metodologias de trabalho, entrelaçando o passado pré-histórico com o presente etnográfico ou
histórico. Dessa forma, iremos nos deter nas próximas páginas sobre a etno-história dos povos
tradicionais, que ocuparam a região desta pesquisa.
As primeiras informações etno-históricas sobre a região pesquisada devem-se,
principalmente, aos espanhóis, que empreenderam expedições exploratórias ao território que
atualmente compreende o centro-oeste paranaense, na época de posse da Espanha, segundo o
Tratado de Tordesilhas de 1494.
Segundo Chmyz e Miguel (1999), as expedições espanholas partiam da Ilha de Santa
Catarina, através dos caminhos indígenas denominados Peabiru ou subindo pelo Rio da Prata,
guiados por indígenas conhecedores do trajeto. Expedições como as de Gonçalo Coelho (1503-
1506), Nuno Manuel e Cristóvão de Haro (1513-1514), João de Solis (1515), Aleixo Garcia (1521)
e Sebastião Caboto (1527), tinham por objetivo explorar o território. Muitas destas incursões
acabaram em conflitos com os grupos indígenas locais, os quais empreendiam na defesa de seu
território.
Aleixo Garcia, ajudado por indígenas conhecedores do trajeto, chegou até a Serra do Prata (Andes) ali obtendo ouro e prata. Entretanto, quando retornavam em direção à Ilha de Santa Catarina foram atacados por grupos de indígenas, resultando na morte de Garcia e de muitos homens que o acompanhavam. Alguns sobreviventes lograram chegar ao litoral catarinense. Levando consigo as riquezas que haviam espoliado (CHMYZ; MIGUEL, 1999, p. 3)
A expedição exploratória de Dom Alvar Nuñes Cabeza de Vaca, realizada no ano de 1541,
talvez seja a mais difundida nas narrativas históricas da época. Cabeza de Vaca partiu de Cádiz na
Espanha em 1540, aportou em Cananéia e seguiu até São Francisco do Sul, desembarcando na Ilha
de Santa Catarina no mês de março de 1541. Da Ilha de Santa Catarina, sua expedição seguiu por
terra, realizando, assim, a travessia, no sentido leste-oeste do Estado do Paraná, utilizando-se dos
caminhos do Peabiru. A expedição conduzida por índios conhecedores dos caminhos seguiu com
250 homens e 26 cavalos, para atingir o curso superior do Rio Iguaçu. A expedição de Cabeza de
Vaca foi a primeira a conhecer as Cataratas do Iguaçu, contando, para isso, com a ajuda dos índios
que habitavam a região.
23
O território objeto desta pesquisa possui uma história marcada por sucessivos conflitos
culturais. O contato estabelecido entre colonizadores europeus e grupos Guarani e Kaingang4 foi
permeado por guerras e alianças. Segundo Tommasino (2013), entre os séculos XVI e XVII a bacia
do Tibagi estava densamente ocupada por grupos Guarani e por populações Kaingang que viviam
dispersos na região.
Conforme Chmyz e Miguel (1999), durante o processo de ocupação espanhola na região
de Guairá, a Igreja Católica esteve presente pela ação da Companhia de Jesus. As comunidades,
que foram se formando na área do Prata e marginais ao Rio Paraná, tinham nos seus quadros
administrativos e funcionais alguns setores chamados “reduções organizadas” ou “colônias de
naturais”. Essas colônias eram compostas por indígenas, estando sob jurisdição de um clérigo, ao
qual cabia a catequização dos nativos.
Com a implantação das reduções jesuíticas, grande parte das populações indígenas,
inclusive os Kaingang, foi catequizada pelos missionários espanhóis e tiveram suas primeiras
experiências de contato com os europeus (TOMMASINO, 2013). Os documentos mais antigos que
descrevem o contato entre europeus e povos Jê, são dos padres jesuítas, nas reduções do Guairá
entre 1626 e 1630; e a expedição de Fernão Dias em 1660 até a Serra do Apucarana. Os padres
jesuítas referem-se aos povos Jê como “Gualachos”. A experiência das reduções do Guairá foi breve
devido aos ataques dos bandeirantes paulistas que em 1631 destruíram a missão jesuítica no
interior do Paraná (VEIGA, 2015).
Apesar da destruição das reduções nas terras paranaenses, muitos grupos permaneceram
na região, tanto os Guarani quanto os Kaingang (TOMMASINO, 2013). Porém, Mota (2008),
afirmou que parte da população Guarani migrou para as margens ocidentais do rio Paraná; alguns
foram para as novas missões jesuíticas no Rio Grande do Sul; ou acabaram sendo aprisionados
pelos bandeirantes. É certo que houve uma drástica redução dos Guarani na região e, outras etnias
principalmente os Kaingang, ocuparam esses territórios.
Segundo Tommasino (2013), a partir de 1768 os portugueses começaram a organizar a
ocupação das chamadas “terras do sertão”. Quando as terras do interior do Paraná começaram a
4 O termo Kaingang foi utilizado pela primeira vez em 1882 por Telêmaco Borba, como denominação genérica de indígenas falantes de dialetos de uma mesma língua, filiada ao Tronco Macro-Jê (VEIGA, 1992). Tradicionalmente os Kaingang encontravam-se em territórios localizados em São Paulo nas Bacias hidrográficas dos rios Tietê, Feio, Aguapeí e Paranapanema; no Paraná nas Bacias hidrográficas dos rios Tibagi, Ivaí, Piquiri e Iguaçu; em Santa Catarina nas Bacias hidrográficas do rios Iguaçu e Uruguai; na Argentina pelos territórios das Bacias hidrográficas dos rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio; e no Rio Grande do Sul nas Bacias hidrográficas dos rios Sinos, Caí, Taquari, Jacuí e Uruguai (LAROQUE, 2007).
24
ser ocupadas pelos colonizadores, os Kaingang estavam estabelecidos nas bacias do Tibagi,
Piquiri, Ivaí e Iguaçu.
No final do século XVIII, por interesse político e econômico, os portugueses resolveram
conquistar a região de Guarapuava. Associada a essa colonização, iniciou-se a catequese e o
aldeamento dos Kaingang nessa região. Segundo Veiga (2015), a colonização dos campos de
Guarapuava ocorreu nos moldes da “guerra justa”5 contra os “índios bárbaros”.
A partir da década de 1850, na região centro-norte do Paraná, ocorreram a instalação da
Colônia Militar de Jataí e dos aldeamentos de São Pedro de Alcântara e São Jerônimo da Serra, nas
margens do Rio Tibagi (VEIGA, 2015).
O primeiro aldeamento de índios Kaingang ocorreu em São Jerônimo da Serra, somente
em 1862. Segundo Tommasino (2013), os Kaingang foram aldeados neste local com objetivo de
manter certa distância dos Guarani-Kaiowa, aldeados na colônia de São Pedro de Alcântara, atual
cidade de Jataizinho (TOMMASINO, 2013).
Por meio de alianças com os colonizadores, os Guarani-Kaiowa, no centro do território
Kaingang, procuraram usufruir daquilo que os brancos lhes ofereciam. Pouco tempo depois de
terem se instalado nos aldeamentos oficiais do Império, os Guarani-Kaiowa iniciaram a
construção do Teko’á, procuraram fazê-lo longe da influência dos padres e das interferências dos
brancos, a fim de manter seu modo de vida antigo (MOTA, 2008).
Segundo Mota (2008), os Kaingang lutaram contra a invasão de seus territórios nos
campos gerais, atacando fazendas e viajantes que circulavam pelo seu território. Também
travaram guerra contra os guarani-Kaiowa na disputa por esses territórios. Os Guarani-Kaiowa,
optaram pela estratégia de política de boa vizinhança com os colonizadores com objetivo de ter
acesso aos seus bens. Por outro lado, os colonizadores aproveitavam da guerra entre Kaingang e
Guarani-Kaiowa para expandirem suas conquistas e apossarem-se das excelentes terras.
As informações sobre os Kaingang que ocupavam territórios da Bacia hidrográfica do
Tibagi, entre o século XIX e o XX, são escassas devido, principalmente, à Frente Pioneira, já que
esta última criou uma falsa imagem de que em boa parte desta região não havia grupos indígenas.
A estratégia de “vazio demográfico”, adotada pela Frente Pioneira, foi a forma encontrada para
justificar e incentivar a colonização desses espaços.
5 Conceito pautado no pensamento de Santo Agostinho, para quem, a guerra é uma extensão do ato de
governar.
25
Quando não era utilizada a justificativa explanada anteriormente, comumente afirmava-
se que os Kaingang estavam sendo integrados ou assimilados pelo Estado Nacional (LAROQUE,
2007).
Após a morte do capuchinho frei Timóteo de Castelnuevo, que governou os aldeamentos
entre 1854 e 1894, e o decreto no 6 de 5 de julho de 1900, o governo do Paraná pôs fim aos
aldeamentos de São Pedro de Alcântara e São Jerônimo. Isso teria levado os Kaingang a voltar a
ocupar seus territórios de serra entre os rios Tibagi e Cinzas (LAROQUE, 2007).
Para Laroque (2007), o fato dos Kaingang terem estabelecido uma política de aliança nos
aldeamentos de São Pedro de Alcântara e São Jerônimo não significava que estivessem dispostos
a tornarem-se agricultores, já que continuavam a se movimentar pelo território a procura de caça,
coleta e pesca.
Os colonizadores, para ocupar a região, utilizaram-se das rivalidades entre os Guarani e
Kaingang, através da força militar com a instalação da Colônia Militar do Jataí, e dos Aldeamentos
Indígenas. Cabe ressaltar que a conquista não foi tão tranquila e nem saiu como foi planejada pelas
autoridades imperiais. Frei Timóteo que dedicou quarenta anos da sua vida no trabalho com os
índios em São Pedro de Alcântara, antes de morrer em 1895, percebeu que os índios não estavam
“catequizados” e estavam exigindo a demarcação das terras que ocupavam (LAROQUE, 2007).
Assim a história dos grupos indígenas na região está repleta de guerras intertribais,
guerras contra os brancos invasores de suas terras, bem como, de alianças e acordos entre etnias,
configurando uma rica história de relações interculturais que vai além da simples polaridade
índios versus brancos.
Do ponto de vista geopolítico, a região de Foz do Iguaçu surgiu como local estratégico a
fim de proteger as fronteiras do país contra a presença de vanguardas das frentes argentinas e
paraguaias da extração de mate e madeira (WACHOWICZ 1982 apud SOUZA 2009, p. 33). Os
estrangeiros invadiam o território brasileiro a partir do sistema obrages. De acordo com Colodel
(1988 apud CHMYZ; MIGUEL, 1999, p. 9), os obrages eram enormes domínios rurais que foram
estabelecidos no Oeste paranaense e na porção sul do Estado do Mato Grosso. O termo se refere
as propriedades ou explorações instaladas onde havia a predominância da paisagem de clima
subtropical tanto na Argentina como no Paraguai. Foi nesses países, desde o início do século XIX,
que as obrages surgiram, essas propriedades existiam unicamente para a exploração intensiva
dos produtos que abundavam em suas áreas. A instalação da Colônia Militar criada pelo Ministério
da Guerra do Brasil organizou o processo de defesa da fronteira por meio do povoamento,
realizado a partir da distribuição gratuita de terras para o desenvolvimento da atividade agrícola
26
Conte (2014) explicou que em 1905, as terras da Colônia estavam divididas e distribuídas
pelo governo em lotes agrícolas e urbanos, a população colonial era composta por 58 famílias. A
grande maioria dos colonos dedicou-se à extração e venda de madeira e à coleta da erva-mate
nesses lotes. Com a exaustão desses recursos nos lotes coloniais, os colonos passaram a extrair
recursos naturais em terras devolutas, situadas nas imediações das terras da Colônia.
Por vários motivos, a administração dessa colônia não atingiu seus objetivos e no ano de
1912, o Ministério da Guerra a extinguiu e devolveu para administração do Estado do Paraná.
Martins e Ruschmann (2010), acrescentaram que a região de Foz do Iguaçu iniciou sua
colonização tardiamente, se comparada à época do descobrimento do Brasil, já que o município
homônimo só foi fundado no século XX, no ano de 1914.
A cidade era considerada como “fim do mundo”, a comunicação com o restante do país era
praticamente inexistente e o acesso, uma batalha para poucos (CONTE 2014, p. 87). Por conta do
isolamento geográfico com núcleos mais desenvolvidos do território brasileiro, Foz do Iguaçu
tornou-se economicamente dependente dos comerciantes platinos. As moedas argentina e
paraguaia eram utilizadas com maior frequência e, a diferença cambial só deixou de existir quando
as autoridades brasileiras passaram a realizar um policiamento mais intenso e constante nesta
região de fronteira.
Para Wachowicz (1982 apud SOUZA 2009), o contrabando de madeira e erva-mate não foi
um problema exclusivo de Foz do Iguaçu, e sim, uma situação que caracterizava a vida econômica
das regiões de fronteira do sul até o Mato Grosso. Para Wachowicz (1982), as atividades ilegais
faziam parte da vida econômica das cidades de fronteira.
A situação desta região passou por alguma melhora a partir da Revolução de 1930, no
sentido de maior inserção econômica, política e social no Paraná. O general Mário Tourinho foi
nomeado interventor federal no Estado e tomou uma série de medidas enérgicas para a
nacionalização da fronteira, num movimento de marcha para o oeste incentivado pelo governo
federal também em outras regiões do país. O general tornou obrigatório o uso da língua
portuguesa e da moeda nacional no comércio e nos serviços públicos, nacionalizou também
latifúndios (MARTINS E RUSCHMANN, 2010).
Foi também na década de 1930, que jornais passaram a noticiar propostas de
desenvolvimento para a região oeste do Paraná, estes projetos estavam relacionados ao turismo,
nova base econômica para a cidade de Foz do Iguaçu. Podemos inferir que esses projetos levaram
a criação em 1939, do Parque Nacional do Iguaçu pelo Governo Federal.
27
Martins e Ruschmann (2010), descreveram que a partir de 1935 chegaram os primeiros
agricultores do Rio Grande do Sul na região, inaugurando nova fase de ocupação, com a fundação
de novas cidades e com a instalação da agricultura na região do extremo oeste paranaense. De
início, a estrutura fundiária era baseada na pequena propriedade e, muitas vezes, era apenas de
subsistência. A partir da chegada dos agricultores em meados da década de 1930, a região do
sudoeste do Paraná passou a desenvolver e aumentar a produção agrícola e a criação de animais,
principalmente aves e suínos, contudo, a ocupação das terras não se deu de forma organizada e
pacífica, houve desacordos envolvendo a posse das terras, fato que gerou conflitos violentos nesta
região.
Conforme Veronese (1998), o principal fato histórico relacionado ao conflito de terras
nesta região foi denominado de “Levante dos Posseiros ou Revolta Camponesa”, ocorrida no ano
de 1957, onde os colonos armados tomaram os principais municípios da região, expulsando e
substituindo as autoridades locais. A principal pauta de luta do grupo era o reconhecimento legal
sobre as terras por parte do governo. Atualmente, as questões envolvendo a posse de terras
permanece com muitas lacunas ainda abertas, como é o caso do Movimento Sem Terra (MST), o
qual tem por principal reinvindicação, a execução de um projeto de reforma agrária.
A partir da década de 1950 com o início da industrialização da região de Foz do Iguaçu,
surgiram as grandes madeireiras, olarias, alambiques, fábricas de palmito e bebidas entre outros,
dando nova dinâmica econômica para esta região. E no ano de 1965 foi inaugurada a Ponte
Internacional da Amizade. Esta construção levou nove anos para ficar pronta e foi inaugurada
pelos Presidentes Castelo Branco, do Brasil e Alfredo Stroessner, do Paraguai (MARTINS E
RUSCHMANN, 2010), esses elementos deram novo impulso econômico para toda a região oeste
do Estado do Paraná.
Outro fato regional de grande vulto foi a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu a partir
de 1974. Este empreendimento ocasionou enorme impacto econômico e social para a região e a
população do extremo oeste paranaense. A cidade de Foz do Iguaçu atraiu correntes migratórias
e contingente populacional de outros estados e países.
A construção da hidrelétrica de Itaipu empregou um contingente de mão de obra que, no
ápice de sua construção, atingiu cerca de 40.000 trabalhadores. Foz do Iguaçu, segundo dados do
IBGE, contava em 1970 com 33.966 habitantes e passou a ter 136.321 em 1980. Se comparada à
população de 1960 (28.212 habitantes), registrou-se um crescimento de 383% no total da
população do município em apenas 20 anos. Como informa Lima (2001, p. 97) “Economicamente
Foz vivia ainda o “boom” do turismo (MARTINS E RUSCHMANN, 2010, p. 28).
28
Segundo Catta (1994 apud SOUZA 2009), a região de Foz do Iguaçu, até a década de 1970,
tinha característica daquelas cidades interioranas, de vida pacata e onde a proximidade pessoal
mantinha as relações sociais. O autor acrescentou que Foz foi atropelada pela dinâmica do
progresso e que passou por um processo de modernização bastante profundo, implicando na
rotina da população local. O período de construção da hidrelétrica envolveu o desenvolvimento
de outras atividades econômicas, como o turismo de compras de importados do Paraguai. Esse
turismo, que se convencionou chamar de ‘turismo de compras’ movimenta hotéis, restaurantes,
lanchonetes, agências de turismo e outras prestadoras de serviços. Atualmente, este tipo de
turismo teve qualificação, através do controle aduaneiro feito pela Receita Federal brasileira, onde
a fiscalização não permite a passagem de contrabando na região (RIBEIRO, 2002).
Quanto ao desenvolvimento turístico, o Parque Nacional do Iguaçu foi tombado em 1986
como Patrimônio Natural da Humanidade, pela UNESCO. Com o fato do tombamento o destino Foz
do Iguaçu começou a ser mais procurado e resultou nas obras de ampliação do Aeroporto, as obras
terminaram em 1989, que passou a receber aviões de maior porte, de destinos internacionais
(MARTINS E RUSCHMANN, 2010).
Os municípios abrangidos pela construção da UHE Baixo Iguaçu, enquadram-se de certa
maneira, dentro desta perspectiva histórica regional, contudo, cada qual com suas
particularidades.
O município de Capanema foi fundado no ano de 1951, sendo desmembrado do município
de Clevelândia, sua extensão territorial faz divisa com o Parque Nacional do Iguaçu. A partir da
década de 1950, companhias de colonização passaram a incentivar a migração de famílias
oriundas do Estado do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina para a região sudoeste do Paraná,
onde começaram a estabelecer suas propriedades. Essas migrações estavam ligadas ao contexto
da chamada “Marcha para o Oeste”. No governo do Presidente Getúlio Vargas, este projeto tinha
por principal objetivo, preencher de forma mais acentuada, os vazios demográficos da região e
assim consolidar a nacionalização da região de fronteira. Atualmente o município tem como
principais atividades econômicas, a agricultura com destaque para a produção de soja e milho,
principalmente, bem como a criação de aves e suínos. O município possui território de 418, 705
Km² e uma população de 18.512 habitantes, conforme o censo realizado pelo IBGE no ano de 2010.
As terras onde está localizado o município de Capitão Leônidas Marques passaram a ser
povoadas de forma mais efetiva a partir de meados da década de 1950, mais precisamente, a partir
do ano de 1957, com a chegada de famílias oriundas do Estado do Rio Grande Sul, lideradas pelo
Sr. João Ruth Schmidt. A denominação do município foi uma homenagem ao militar Leônidas
Marques dos Santos, o qual foi morto em combate durante a Revolução de 1924 na localidade de
29
Catanduvas (EL-KHATIB, 1969 p. 62). Atualmente o município tem como principais atividades
econômicas, a agricultura com destaque para a produção de soja e milho, principalmente, bem
como a criação de aves e suínos. A produção industrial engloba as atividades de fabricação de
móveis, beneficiamento de madeiras, fabricação e comercialização de roupas e calçados. O
município possui território de 275, 7 Km² e uma população de 15.659 habitantes, conforme o
censo realizado pelo IBGE no ano de 2014.
Por fim, acerca do município de Realeza, de acordo com IBGE (2017), a ocupação inicial
deu-se em função do extrativismo da madeira e o desenvolvimento da cidade acelerou-se após a
instalação da indústria Cazaca Ltda. As planas e férteis terras de latossolos também atraíram os
colonos oriundos dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que se instalaram na
localidade e se dedicavam ao plantio de subsistência e à criação de suínos e frango. Além disso, as
novas estradas, a existência de uma pequena usina hidrelétrica de 150KWA, o plano piloto da
cidade e as condições facilitadas para a aquisição do terreno e da madeira para construção, foram
fatores determinantes para atrair as famílias que chegavam todos os dias ao município, que foi
criado através da Lei Estadual n° 4730, de 24 de junho de 1963, e instalado em 12 de novembro
do mesmo ano, desmembrado de Ampére.
30
5 PROJETO DE SALVAMENTO ARQUEOLÓGICO
Conforme apresentado anteriormente, o presente Programa de Resgate e Monitoramento
Arqueológico e Educação Patrimonial vem atender, ao mesmo tempo, às disposições legais
instituídas pelo IPHAN através da Portaria n° 07/1988, que visa regulamentar a obtenção de
autorização para o desenvolvimento de pesquisas arqueológicas, e às orientações presentes na no
Art. 6° da Portaria IPHAN n° 230/2002.
Portanto, através deste projeto de salvamento arqueológico, no qual apresentaremos seus
objetivos, métodos e cronograma, solicitamos que seja concedida a autorização para que o mesmo
possa ser desenvolvido.
Conforme previsto, serão objeto de resgate arqueológico os 18 (dezoito) sítios
arqueológicos abaixo discriminados, bem como aqueles que por ventura sejam identificados ao
longo do monitoramento arqueológico, também contemplado neste projeto.
QUADRO 2: SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS À SEREM RESGATADOS NA ÁREA DA UHE BAIXO IGUAÇU
NOME DO SÍTIO CÓDIGO DO
SÍTIO TIPOLOGIA COORD. UTM 22 J ÁREA
LOCAL ESPECÍFICO
Barra do Sarandi BI02RLZ-ST Lítico 248755 E
7171501 N AID
Zona de Depleção
Córrego Estrela 1 BI04CPM-ST Lito-
cerâmico 235578 E
7173792 N ADA Reservatório
Córrego Saltinho 1 BI05CLM-ST Cerâmico 234570 E
7175181 N ADA Reservatório
Córrego Caçula 2 BI18CLM-ST Lítico 236950 E
7173400 N ADA Reservatório
Presotto 2 BI20CLM-ST Lítico 239115 E
7170442 N ADA Reservatório
Linha Vargem Bonita
BI27CPM-ST
Lítico 234647 E
7174474 N ADA Reservatório
Luis Pitol BI29CPM-ST Cerâmico 236455 E
7172715 N ADA Reservatório
Fazenda Sinuelo BI30CPM-ST Lítico 237133 E
7172192 N ADA Reservatório
Ouro Azul BI31CPM-ST Lito-
cerâmico 238145 E
7170056 N ADA Reservatório
Barra do Capanema 2 BI33RLZ-ST Lítico 238386 E
7169945 N ADA Reservatório
Olaria Realeza BI34RLZ-ST Lítico 241614 E
7171563 N ADA Reservatório
31
Matiuzzi BI35RLZ-ST Lítico 241464 E
7170501 N ADA Reservatório
Kives BI36RLZ-ST Lítico 241017 E
7173795 N ADA Reservatório
Tecchio BI37RLZ-ST Lito-
cerâmico 247682 E
7172204 N AID
Zona de Depleção
Monteiro 2 BI38CLM-ST Lito-
cerâmico 234311 E
7178867 N ADA Reservatório
Porto Três Irmãos 1 BI39CLM-ST Lito-
cerâmico 246180 E
7175249 N AID
Zona de Depleção
Lajedo Rodeio 1 BI40CLM-ST Lítico 246125 E
7175417 N ADA Reservatório
Porto Três Irmãos 2 BI44CLM-ST Lítico 244521 E
7176293 N AID
Zona de Depleção
Fonte: Espaço Arqueologia, 2017
Realizada a discriminação dos sítios que por ora são objetos de resgate deste programa,
nos subcapítulos seguintes serão apresentados os pressupostos teórico-metodológicos aplicados
a esta pesquisa, bem como, os objetivos, procedimentos de campo e laboratório, e cronograma
para desenvolvimento do presente programa.
5.1 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
Segundo Bicho (2012), as escavações arqueológicas atendem a uma função principal – a
obtenção de informações a respeito do registro arqueológico – contudo, podem ter dois objetivos
distintos: a investigação (arqueologia acadêmica) e a minimização de impactos patrimoniais
(arqueologia preventiva). De acordo com o autor, “no primeiro deve ser sempre respeitada à
questão do testemunho – isto é, a escavação não deve ser nunca integral, ficando um fragmento
do sítio arqueológico como testemunho” (BICHO, 2012, p. 145).
Ao tratar das pesquisas associadas à minimização de impactos patrimoniais, o autor
afirma que a intervenção poderá ser completa e o sítio ser escavado em sua totalidade, justificando
sua proposta argumentando que “[...] é preferível a sua destruição de forma controlada através da
escavação arqueológica, à destruição anárquica e absoluta das retro-escavadoras” (BICHO, 2012,
p. 145).
No entanto, deve-se ter em conta que a “destruição controlada” deve ser compensada pela
obtenção de dados arqueológicos que contribuirão para a produção de conhecimento, seja ele
associado às abordagens tecnológicas, territoriais, históricas, etc.
32
Dessa forma, ao executar o resgate de sítios arqueológicos pré-coloniais, orientaremos a
metodologia aplicada à obtenção de elementos diagnósticos que nos permitam inferir qual grupo
humano – classificado étnica ou tecnologicamente – é responsável pela produção dos registros
arqueológicos em estudo. Além desta informação, nos interessa identificar aspectos tecnológicos
da cultura material que compõe os sítios, para quê, dentro de uma perspectiva regional, sistêmica
e de longa duração, estes sejam inseridos no panorama da ocupação humana desta região.
Tal abordagem está ancorada naquilo que Binford (1962) propõe ao afirmar que a cultura
material está diretamente associada à estrutura cultural, social e econômica dos grupos humanos,
bem como nos pressupostos apresentados por Stuart Struever (1968), para quem, “the structure
of material remains reflects the manner in which a social segments to exploit its biophisical
environment.”6. Dessa forma, assumimos, assim como os autores acima citados, que é possível
caracterizar os grupos humanos – principalmente em seus aspectos econômicos – partindo de
suas escolhas tecnológicas. Assim, estudar o conjunto artefatual se torna importante para
compreender as estratégias utilizadas pelos diferentes povos para se estabelecer em
determinados espaços, e deles obter o que lhes é necessário.
Interessa-nos, também, o lugar onde os sítios arqueológicos estão implantados. Assim
como Binford (1982), entendemos que, para entender o passado, é preciso entender os lugares
onde os remanescentes deste passado estão situados. O que se quer dizer, com base no que
pressupõe o autor, é que os conjuntos de artefatos compõem sítios arqueológicos, os quais, não se
distribuem aleatoriamente no espaço, integrando, maior parte das vezes, sistemas de ocupação
complexos e padronizados que denotam importantes aspectos da organização dos povos do
passado.
Significa dizer, portanto, que além da simples recolha dos artefatos arqueológicos,
objetivar-se-á, com a metodologia que será aplicada, obter informações referentes ao contexto em
que o sítio está inserido, uma vez que, assim como Prous (1992), entendemos que são vestígios
arqueológicos todos os indícios da presença ou atividade humana em determinado local, incluindo
os vestígios do contexto ecológico, que, por sua vez, revelam em que condições o grupo humano
que produziu tais vestígios, estava vivendo. Dessa forma, cumpre dizer que, compreender o lugar
e os contextos que nele se imbricam – arqueológico e ecológico –, bem como interpretá-los à luz
do conhecimento já produzido para a região, será o mote das futuras ações de resgate.
Assim, para obter os dados necessários para se alcançar os objetivos propostos, para a
escavação de sítios arqueológicos pré-coloniais nos valemos das estratégias de amostragem
6 A estrutura dos restos materiais reflete a maneira pela qual os segmentos sociais exploram seu ambiente biofísico.
33
apresentadas por Lizee e Plunkett (1996), mesclando o que os autores chamam de “Systematic
Sampling” e “Judgmental Sampling”7. Conforme sugerem os autores, e que também é corroborado
por Green (2007) e Bicho (2012), dificilmente arqueólogos dispõem de tempo e recursos
suficientes para escavar sítios arqueológicos em sua totalidade, portanto, estes devem
desenvolver estratégias que lhes garantam uma boa cobertura da área do sítio.
As estratégias adotadas neste trabalho – Systematic e Judgmental sampling – são
geralmente aplicadas em sítios que possuem materiais dispersos em superfície, uma vez que, tais
materiais orientam as tomadas de decisão, ou seja, balizam onde devem ser escavadas as unidades
amostrais.
O método de amostragem sistemática - Systematic sampling - consiste na execução de uma
malha de intervalos regulares, onde as unidades apresentam as mesmas dimensões e mesmas
distâncias entre si. Para os autores, o objetivo desta estratégia consiste em prover uma cobertura
do sítio pautada, principalmente, na imparcialidade (figura 2).
FIGURA 2: EXEMPLO DO MÉTODO DE AMOSTRAGEM SISTEMÁTICO. FONTE: LIZEE; PLUNKETT, 1996.
Nota-se, pela figura acima, que interessa, neste método, abranger a área de dispersão do
material em superfície e auxiliar na delimitação da área de ocorrência de vestígios arqueológicos.
Não se prevê, neste caso, a ampliação das unidades de amostragem, mesmo que nelas sejam
identificadas estruturas ou concentrações de artefatos.
O método de amostragem por ‘julgamento’ utiliza unidades amostrais de dimensões
idênticas, contudo, sua distribuição é orientada pela ocorrência do material em superfície e
subsuperfície (figura 3). Conforme descrevem Lizee e Plunkett (1996, p. 5) neste método “[...] the
7 No trabalho citado, os autores apresentam três métodos distintos de amostragem: Systematic sampling; Randon sampling e Judgmental sampling, dos quais, nos valemos apenas de dois.
34
locations of excavation units is often directed towards maximizing the recovery of artifacts at a
known site”. Dessa forma, ainda segundo os autores, “[...] excavation units are clustered around
surface finds in the hope that these artifacts represent buried artifact concentrations.”8
FIGURA 3: EXEMPLO DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DE AMOSTRAGEM POR 'JULGAMENTO'. FONTE: LIZEE; PLUNKETT, 1996.
Tanto Lizee e Plunket (1996) quanto Green (2007), consideram este último método mais
eficiente, visto que, ao não se prender aos preceitos ‘duros’ da matemática, este permite que a
localização das intervenções seja conduzida pela disposição do registro arqueológico. Com isso,
advogam ambos os trabalhos, mesma quantidade de unidades escavadas é capaz de prover maior
volume de materiais e de dados não-materiais.
Assim, tendo como parâmetro os pressupostos teóricos acima apresentados, bem como as
características dos sítios, serão apresentados, abaixo, os objetivos, métodos e cronograma que
nortearão o desenvolvimento desta pesquisa.
5.2 OBJETIVOS
Geral: Executar o Programa de Salvamento Arqueológico dos sítios arqueológicos localizados nas
áreas de influência da UHE Baixo Iguaçu, visando gerar dados que contribuam para a compreensão
do processo de ocupação pré-colonial da região hidrográfica do rio Iguaçu, promovendo a
preservação do patrimônio arqueológico e transformando-o em conhecimento para a sociedade.
8 "As localizações das unidades de escavação são muitas vezes direcionadas para maximizar a recuperação de artefatos em um local conhecido”. "[...] as unidades de escavação estão agrupadas em torno de descobertas superficiais na esperança de que esses artefatos representem concentrações enterradas de artefatos".
35
Específicos:
a) Obter, a partir de escavações sobre os sítios líticos e cerâmicos, elementos da cultura material que permitam caracterizar o sítio arqueológico conforme sua tipologia e filiação tecnológica/cultural;
b) Identificar, no entorno imediato dos sítios arqueológicos, áreas fonte para obtenção de recursos;
c) Realizar análises espaciais e, por meio destas, caracterizar o sítio conforme sua implantação na paisagem em que está inserido, estabelecendo relações entre o contexto arqueológico e o contexto ambiental;
d) Gerar dados que contribuam para as discussões a respeito do processo de ocupação pré-colonial da região do Baixo Rio Iguaçu;
5.3 METODOLOGIA DE SALVAMENTO DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS
As técnicas de pesquisa que serão aplicadas nas atividades de salvamento arqueológico,
seguem descritas abaixo:
a) Identificação de material arqueológico disperso em superfície;
b) Coleta controlada de vestígios arqueológicos localizados em superfície;
c) Execução de malha amostral de unidades de escavação de 1m², equidistantes 10 metros
entre si, abrangendo as áreas de maior concentração de material arqueológico no interior
da poligonal do sítio. As unidades serão escavadas por meio de níveis artificiais de 10
centímetros;
d) Descrição das estruturas e coleta de materiais arqueológicos capazes de contribuir para a
melhor compreensão do processo de formação do registro arqueológico;
e) Análise das características ambientais das áreas diretamente relacionadas aos sítios
arqueológicos;
5.4 PROPOSTA METODOLÓGICA PARA ANÁLISE E CURADORIA DO
MATERIAL ARQUEOLÓGICO
Conforme Anexo I da Portaria IPHAN n° 196/16, informamos, em tópicos, como se dará o
processo de análise e curadoria do material arqueológico proveniente das pesquisas
desenvolvidas no âmbito do referido projeto:
I - A previsão de gastos com os materiais necessários à análise e conservação dos bens
arqueológicos em campo e laboratório, segue no quadro abaixo:
36
QUADRO 3: CUSTOS PREVISTOS PARA EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES DE CURADORIA E ANÁLISE DOS BENS ARQUEOLÓGICOS
Etapa Previsão de gastos
Conservação de materiais em campo R$ 9.800,00
Curadoria (higienização e catalogação) R$ 47.000,00
Análises em laboratório R$ 192.500,00
II - Considerando o contexto em que se encontram os sítios arqueológicos objetos de
resgate do presente programa, opta-se por realizar coleta total e controlada do material
arqueológico disposto em superfície, complementada por intervenções subsuperficiais
sistemáticas amostrais na área do sítio arqueológico. O pressuposto por trás do registro espacial
da localização de todas as peças dispostas na superfície é que, apesar de estarem elas em
superfície, sofrendo os impactos diversos, é possível que elas tenham mantido ao menos
relativamente suas conexões espaciais, conforme se verificou em pesquisas em sítios superficiais,
em outros contextos (DAVIS, 1975; CALDARELLI, 1983). As intervenções subsuperficiais
sistemáticas amostrais, conforme já apresentado, seguirão os pressupostos apresentados por
Lizee e Plunket (1996) e Green (2007), que consideram a execução de malhas regulares e
amostrais de intervenção sobre os sítios arqueológicos a estratégia mais adequada para que se
garanta a boa cobertura do sítio e obtenção equilibrada de informações acerca da distribuição
subsuperficial do registro arqueológico.
Por fim, seja por meio das coletas superficiais, ou a partir das intervenções em
subsuperfície, todo material que componha o contexto arqueológico, integre a cadeia operatória
de produção de artefatos, e possua traços que indiquem alterações antrópicas (intencionais ou
não), será coletado.
III - Serão obtidos, ao longo do processo de resgate dos sítios arqueológicos, informações
acerca dos agentes intempéricos e processos pós-deposicionais atuantes na transformação e
degradação dos bens arqueológicos, sejam eles naturais ou antrópicos.
IV - No ato da coleta, os materiais arqueológicos serão individualmente acondicionados
em sacos plásticos transparentes perfurados, e agrupados conforme sua proveniência e tipologia.
Os metadados de tais materiais constarão de uma planilha de controle de “Número de
37
proveniência” e de uma etiqueta de campo, preenchida com as seguintes informações: nome do
sítio, número de proveniência (indexada à planilha de controle), intervenção de origem, nível,
quantidade, tipologia, pesquisador responsável pela coleta e data da coleta.
Logo que extraído de seu contexto de deposição, todo bem arqueológico será mantido à
sombra, produzida por toldos ou guarda-sóis.
Destaca-se que em campo não se procederá à higienização do material coletado, sendo
necessário, portanto, apenas a existência de uma estrutura de conservação e acondicionamento
para os bens arqueológicos coletados. Neste sentido, tal estrutura será adaptada a dois veículos:
Nissan Frontier Atack, cabine dupla, de propriedade da empresa Espaço Arqueologia, a qual
possui carroceria coberta, portanto, livre das mudanças bruscas de temperatura e umidade (figura
4); e Mitsubishi Pajero Sport HPE, também de propriedade da Espaço Arqueologia, e que possui
porta malas integrado à cabine, com capacidade de 980 litros, também livre das mudanças bruscas
de temperatura e umidade (figura 5).
FIGURA 4: VEÍCULO NISSAN FRONTIER ATACK
FIGURA 5: VEÍCULO MITSUBISHI PAJERO SPORT HPE
Em ambos os veículos, são fixadas caixas plásticas Marfinite® modelo 1063 (56,5 litros),
devidamente preparadas para o acondicionamento e transporte dos bens arqueológicos (figuras
6 a 9). As caixas plásticas mencionadas são forradas com borracha EVA e, quando necessário, o
preenchimento do espaço não ocupado é feito com plástico bolha. Em campo, todas as caixas são
identificadas com o nome do sítio arqueológico e tipo de material armazenado.
Visando separar o material pesado utilizado em campo do material arqueológico, tais
veículos são equipados com bagageiros de teto, conforme figuras acima, onde as ferramentas
utilizadas são transportadas, ficando os espaços anteriormente descritos, restritos ao transporte
dos bens arqueológicos e materiais de escritório/acondicionamento (fichas, cadernos, sacos
plásticos, estojos, etc.).
38
FIGURA 6: DUAS CAIXAS PLÁSTICAS MARFINITE MODELO 1063, LADO A LADO, NA CARROCERIA
DO VEÍCULO NISSAN FRONTIER ATACK
FIGURA 7: DUAS CAIXAS PLÁSTICAS MARFINITE MODELO 1063, EMPILHADAS, NA CARROCERIA
DO VEÍCULO NISSAN FRONTIER ATACK
FIGURA 8: DUAS CAIXAS PLÁSTICAS MARFINITE MODELO 1063, LADO A LADO, NO PORTA MALAS
DO VEÍCULO MITSUBISHI PAJERO SPORT
FIGURA 9: DUAS CAIXAS PLÁSTICAS MARFINITE MODELO 1063, EMPILHADAS, NO PORTA MALAS
DO VEÍCULO MITSUBISHI PAJERO SPORT
V - Caso seja verificada a ocorrência de bens arqueológicos frágeis ou em avançado
processo de deterioração, estes serão envoltos de papel alumínio, evitando que este tenha contato
com a luz e umidade, impedindo a proliferação de fungos e demais agentes que agridam a química
e fisicamente o bem arqueológico; e acondicionados envoltos de plástico bolha em caixas
separadas.
VI - Agregações orgânicas (carvão e restos de alimento) aderidas à superfície das peças
serão mantidas, em vias de possibilitar a realização de análises de micro-restos e obtenção de
dados cronológicos.
Será dada atenção à presença de ecofatos passíveis de serem encaminhados para datação
por radiocarbono. Considera-se, dadas as características dos sítios, mais provável a identificação
de fragmentos de carvão associados aos conjuntos cerâmicos ou em possíveis estruturas de
combustão intactas; em oposição a ossos e outros materiais orgânicos passíveis de datação por
radiocarbono.
Portanto, caso ocorram, estes vestígios serão coletados em volume necessário para
execução de datações radiométricas por contagem de cintilização em meio líquido (LSC), contudo,
39
caso a amostra seja muito pequena, será enviado para a realização de datações radiocarbônicas
por AMS. Vale destacar que as amostras, independente da quantidade obtida, serão encaminhadas
para o laboratório Beta Analytic.
VII - Tendo em vista as características dos sítios arqueológicos e do material que os
compõem (materiais líticos e cerâmicos), e considerando que as análises sobre eles realizadas
partirão de uma abordagem tecnológica, desenvolvida por meio da identificação de indicadores e
traços macroscópicos, o processo de higienização será realizado a partir do uso de pincéis, escovas
e trinchas macias, sem o uso de água.
VIII - O acervo proveniente dos sítios será inventariado e todo bem receberá um código
de inventário, onde constará a sigla do sítio e seu número sequencial, por exemplo, “BI02_001”,
onde, BI02 representa abreviação de Baixo Iguaçu 02, e 001 consiste no número sequencial do
acervo. Tal código será gravado em todas as peças, ou, quando necessário, em etiquetas.
IX - Caso se verifique a possibilidade de remontagens de peças, esta se dará por meio de
colas acrílicas ou Paraloid B72 (copolímero de etilmetacrilato e metilacrilato).
X - O acervo proveniente das atividades de resgate será analisado em laboratório antes de
serem encaminhados para a instituição de guarda e pesquisa, sendo que, na análise do material
lítico, utilizar-se-ão as obras de Tixier et al. (1980), Prous (1992, 2004) e Nunes (2008); enquanto
que na análise do material cerâmico, serão utilizadas as obras de Chmyz (1976); La Salvia;
Brochado (1989) e Cerezer (2011; 2017).
XI – Todos os bens arqueológicos serão acondicionados em embalagens plásticas zipadas
e/ou lacradas com fita adesiva e acomodados em caixas de Marfinite® modelos 1061 A=15,5, L=40,
C=60; 1063 A=28, L=40, C=60 e mais uma pequena 1071 A=11, L=30, C40.
XII - Os dados a respeito dos bens arqueológicos analisados comporão uma Planilha de
Indexação e Análise de Bens Arqueológicos Móveis, seguindo as orientações presentes na Portaria
IPHAN n° 196, de 18 de maio de 2016.
5.4.1 Curadoria e análise dos acervos arqueológicos já resgatados
Conforme mencionado na introdução deste projeto, faz parte do seu escopo a realização
do processo de curadoria e análise do material arqueológico proveniente dos sítios escavados por
Antônio Mathias Cavalheiro entre os anos de 2013 e 2016, ao longo do projeto “Programa de
Resgate, Monitoramento e Educação Patrimonial UHE Baixo Iguaçu”, processo IPHAN n°
40
01508.000976/2012-86, cuja portaria de autorização se encerrou em fevereiro do presente ano.
Os sítios, que somam um total de 15 (quinze), conforme quadro abaixo, proveram, sem exceções,
materiais líticos e cerâmicos, os quais serão tratados seguindo as proposições metodológicas
apresentadas no item 5.4 deste projeto.
QUADRO 4: SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS JÁ RESGATADOS NA ÁREA DA UHE BAIXO IGUAÇU
NOME DO SÍTIO CÓDIGO DO SÍTIO TIPOLOGIA ÁREA LOCAL
ESPECÍFICO
São Luís BI06CLM-ST Cerâmico AID Infraestrutura
Córrego Laranjeira 1 BI07CLM-ST Lítico AID Infraestrutura
Marechal Lott BI09CPM-ST Lito-cerâmico AID Infraestrutura
Gonçalves Dias BI10CLM-ST Lítico AID Infraestrutura
Córrego Laranjeira 2 BI11CLM-ST Lítico AID Infraestrutura
Monteiro 1 BI12CLM-ST Lítico AID Infraestrutura
Antenor Raubert BI15CLM-ST Cerâmico AID Reservatório
Joy BI16CLM-ST Lítico AID Reservatório
Córrego Caçula 1 BI17CLM-ST Lítico AID Reservatório
Linha Hortelã 1 BI22CLM-ST Lítico AID APP
Iguaçu BI23CLM-ST Cerâmico AID Reservatório
Linha Hortelã 2 BI24CLM-ST Lito-cerâmico AID APP
Linha Hortelã 3 BI25CLM-ST Lítico AID APP
Córrego Laranjeira 3 BI53CLM-ST Cerâmico Infraestrutura
- BI54CLM-ST Lítico Reservatório
Fonte: Espaço Arqueologia, 2017
41
5.5 CRONOGRAMA
Abaixo segue o cronograma para o qual está previsto a execução do Projeto de Salvamento
Arqueológico dos sítios localizados nas áreas de influência da UHE Baixo Iguaçu, municípios de
Capanema, Capitão Leônidas Marques e Realeza, Estado do Paraná.
ATIVIDADES M1 M2 M3 M4 M5 M6 M7 M8 M9 M10 M11 M12 M13
Publicação de Portaria
X
Atividades de campo
X X X X X
Relatório Parcial de regate
X
Atividades de laboratório
X X X X X X X X X X
Relatório final de resgate
X
O cronograma acima poderá sofrer ajustes, caso os prazos burocráticos não puderem ser
cumpridos ou aspectos climáticos impossibilitarem a realização dos trabalhos nos prazos
estabelecidos em nosso plano de execução.
42
6 PROJETO DE MONITORAMENTO ARQUEO LÓGICO
Em conformidade com o previsto no título deste projeto, este também se refere à
realização de monitoramento arqueológico no decorrer das atividades de preparação das áreas
que serão afetadas pelo reservatório da UHE Baixo Iguaçu. Portanto, através deste projeto de
monitoramento arqueológico, no qual apresentaremos seus objetivos, métodos e cronograma,
solicitamos que seja concedida autorização para que o mesmo possa ser desenvolvido.
6.1 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
O Monitoramento arqueológico objeto do presente projeto, consiste no acompanhamento
integral das atividades associadas à instalação do empreendimento e que envolvam
movimentação de solo em áreas onde não foram realizadas obras de instalação do
empreendimento e locais onde não foram identificados sítios arqueológicos. Consiste, ainda, na
avaliação do potencial arqueológico das áreas à serem monitoradas, por meio do levantamento
dos dados secundários provenientes de pesquisas arqueológicas regionais (histórico das
pesquisas, registro de sítios, sínteses regionais, etc.), do contexto etno-histórico, e de dados
primários coletados em campo (informação oral, levantamento in situ e prospecções na ADA).
Tais atividades são realizadas sempre que o IPHAN considera necessário, e atuam como
meios de atendimento ao Art. 3° da Lei 3924/61, que proíbe o aproveitamento econômico e a
destruição de sítios arqueológicos antes que os mesmos sejam devidamente estudados. Dessa
forma, considerando o fato de que sítios arqueológicos foram identificados na ADA e AID do
empreendimento, e que as áreas afetadas pelo empreendimento apresentam alto potencial
arqueológico, torna-se fundamental que medidas sejam tomadas a fim de evitar que sítios que por
ventura existam e ainda sejam identificados, sofram impactados em função da conclusão das obras
de instalação do empreendimento.
A poligonal do empreendimento objeto da execução do presente projeto de
monitoramento arqueológico, restringe-se a área prevista para enchimento do reservatório, o
qual precisará passar por supressão de vegetação, necessitando-se assim de acompanhamento e
monitoramento arqueológico, uma vez que novos sítios arqueológicos poderão ser identificados.
6.2 OBJETIVOS
O objetivo geral do Monitoramento Arqueológico consiste em contribuir para a produção
do conhecimento arqueológico e preservação do patrimônio cultural da região do Baixo Rio
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Iguaçu, por meio da execução de pesquisas continuadas e do acompanhamento integral das
atividades de instalação que resultem em impactos ao solo e subsolo na poligonal prevista para o
enchimento do reservatório da usina.
Em vias de alcançar tal objetivo, a execução de monitoramento arqueológico ocorrerá
durante a realização das atividades de supressão da vegetação para enchimento do reservatório
da UHE Baixo Iguaçu.
6.3 METODOLOGIA DE MONITORAMENTO E ACOMPANHAMENTO ARQUEOLÓGICO
O monitoramento e acompanhamento arqueológico objeto deste projeto, será realizado
por um arqueólogo de campo que acompanhará diariamente as atividades das obras sob
orientação do arqueólogo coordenador. A princípio, o monitoramento ocorrerá por um período
de 13 (treze) meses, conforme cronograma abaixo, tempo previsto para que as obras sejam
concluídas.
Dentro do programa de monitoramento, que se desenvolverá concomitante ao programa
de resgate, será realizada a avaliação da situação dos sítios mapeados nas áreas de influência do
empreendimento mas que ainda não foram resgatados e não fazem parte do escopo de salvamento
arqueológico do presente projeto. Tal avaliação se dará a fim de apresentar medidas de
preservação e mitigação para estes, discriminados no quadro abaixo:
QUADRO 5: SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS SITUADOS ENTRE A AID/AII DA UHE BAIXO IGUAÇU
NOME DO SÍTIO CÓDIGO DO SÍTIO TIPOLOGIA COORD. UTM 22 J SITUAÇÃO
Vista Alta BI01CLM-ST Gravura rupestre
244386 E 7175970 N
AII
Ilha Montalvani 1 BI03CLM-ST Lítico 236291 E
7173919 N AID
Andrada 1 BI08CLM-ST Cerâmico 244642 E
7175669 N AII
Córrego Saltinho 2 BI13CLM-ST Lito-cerâmico 235194 E
7175060 N AID
Flores BI14CLM-ST Lítico 235302 E
7174827 N AID
Presotto 1 BI19CLM-ST Lítico 239186 E
7170520 N AID
Ponte Alta BI21CLM-ST Lito-cerâmico 240190 E
7170277 N AID
Córrego Leãozinho BI26CLM-ST Lito-cerâmico 241086 E
7175608 N AID
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José Guerra BI28COM-ST Lítico 234788 E
7174001 N AID
Barra do Capanema 1
BI32RLZ-ST Lítico 239294 E
7169355 N AID
Doring BI41CLM-ST Lito-cerâmico 246306 E
7175151 N AII
Lajedo Rodeio 2 BI42CLM-ST Lítico 246397 E
7175496 N AID
Foss 1 BI43CLM-ST Lítico 244885 E
7176283 N AID
Sartori 1 BI45CLM-ST Lito-cerâmico 244084 E
7178310 N AID
Sartori 2 BI46CLM-ST Lítico 244718 E
7177073 N AII
Córrego Maria BI47CLM-ST Lítico 245760 E
7177179 N AID
São Brás BI48CLM-ST Lítico 245591 E
7178473 N AID
Foss 2 BI49CLM-ST Lito-cerâmico 245581 E
7175676 N AID
Vacaria BI50CPM-ST Lítico 237450 E
7163518 N AID
Linha Moraes BI51CPM-ST Lítico 238516 E
7164665 N AID
Alto Faraday BI52CPM-ST Lítico 236034 E
7166810 N AID
Fonte: Espaço Arqueologia, 2017
Destaca-se que as avaliações serão realizadas por meio de vistorias in loco, desenvolvidas
por meio de caminhamentos sistemáticos e eventuais prospecções subsuperficiais, por meio das
quais objetiva-se obter dados referentes à delimitação horizontal/vertical dos sítios
arqueológicos.
Ademais, considerando o proposto por Bastos e Souza (2010), as atividades de
Monitoramento Arqueológico nas áreas impactadas pelas obras necessárias a instalação do
reservatório do empreendimento serão realizadas conforme os procedimentos discriminados a
seguir:
a) Concomitantemente às obras, em toda a poligonal de delimitação da Área Diretamente Afetada (ADA) serão realizados caminhamentos sistemáticos para verificação superficial do terreno e avaliar o potencial arqueológico do local;
b) O acompanhamento de atividades que envolvem intervenções no solo consistirá na avaliação prévia das áreas afetadas por meio de caminhamentos e verificações subsuperficiais;
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c) Todas as atividades realizadas no âmbito das obras de instalação, que envolvam revolvimento de solo (terraplanagem e estaqueamento), serão registradas por meio de fotografias e de anotações de campo, as quais subsidiarão a elaboração das fichas semanais de acompanhamento arqueológico;
d) Será realizada coleta de dados primários a respeito das características geomorfológicas, geológicas, pedológicas e de vegetação das áreas que serão impactadas. Tais dados serão utilizados na composição dos relatórios e das fichas semanais de acompanhamento arqueológico;
e) Documentação fotográfica das áreas impactadas antes, durante e após a realização das operações;
f) Realização de palestra de capacitação com funcionários das empresas responsáveis pela instalação do empreendimento (operadores de máquinas, serralheiros, marceneiros, pedreiros, etc.), com o intuito de instruí-los sobre a importância de preservar o patrimônio arqueológico;
g) Caso seja identificado algum sítio arqueológico na área diretamente afetada pelo empreendimento, sobre ele serão tomadas as seguintes providências:
delimitação horizontal e vertical do sítio através da escavação de poços-teste;
preenchimento da Ficha de Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos;
quando necessário, cercamento da área do sítio, acrescentando-se um entorno de 10 a 50 metros, dependendo do tamanho e características do sítio;
comunicação sobre a identificação do sítio arqueológico ao IPHAN por meio de ofício à ser remetido à esta Superintendência e aguardo de manifestação do IPHAN sobre as medidas à serem adotadas;
Por fim, informamos que todas as atividades relacionadas ao Monitoramento
Arqueológico serão descritas em fichas semanais de monitoramento, as quais irão compor os
relatórios trimestrais que serão protocolados nesta unidade do IPHAN. Cumpre destacar, ainda,
que ao término do programa de monitoramento, um relatório final será protocolado.
6.4 CRONOGRAMA
Em vias de cumprir com os objetivos propostos para o monitoramento arqueológico,
estabelecemos o seguinte cronograma:
PRODUTO Mês
1 Mês
2 Mês
3 Mês
4 Mês
5 Mês
6 Mês
7 Mês
8 Mês
9 Mês 10
Mês 11
Mês 12
Mês 13
46
Rel. trimestral
1
Rel. trimestral
2
Rel. trimestral
3
Rel. trimestral 4 / Final
Fonte: Espaço Arqueologia, 2017
Por fim, cumprindo com o que preconiza a legislação vigente, informamos que todas as
atividades relacionadas ao Monitoramento arqueológico serão descritas em fichas semanais de
monitoramento, as quais irão compor os relatórios de monitoramento, que serão protocolados
trimestralmente nesta unidade do IPHAN/PR. Cumpre destacar, ainda, que ao término do
programa de monitoramento, um relatório final será protocolado.
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7 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
O Guia de Educação Patrimonial, publicado pelo IPHAN e Ministério da Cultura,
originalmente no ano de 1996, apresenta a seguinte definição de Educação Patrimonial:
A Educação Patrimonial é um instrumento de “alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. (HORTA et al, 1999, p 6).
Não obstante o uso de aspas, o termo “alfabetização cultural” denota que os atores sociais
desconhecem sua cultura e precisam ser informados, alfabetizados sobre o que lhes deveria ser
caro. E nessa perspectiva, está ancorada a ideia de que atores sociais precisam ser ensinados a ler
o mundo no qual eles próprios estão inseridos. Da mesma forma, assume-se que haverá uma
“transmissão” de informações e valores, onde “[...] em lugar de comunicar-se, o educador faz
‘comunicados’ e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente,
memorizam e repetem. Eis aí a concepção ‘bancária’ da educação, em que a única margem de ação
que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los.”(FREIRE,
1987 p. 34).
Asseguramos que educação patrimonial, sob essa perspectiva é problemática e decorre de
visão paternalista, onde cultura e saber são doações dos que se julgam sábios aos que nada sabem.
Doação que se funda no absolutizar da ignorância constitui o que Paulo Freire chamou de
alienação da ignorância, isto é, o entendimento no qual a ignorância se encontra sempre no outro
(FREIRE, 1987 p. 34).
Há que se considerar ter havido, especialmente nas duas últimas décadas do século
passado, crescente relevância da Educação Patrimonial e do seu entendimento, cada vez mais
amplo, no tocante à dimensão cidadã do patrimônio cultural. Vislumbra-se para ela este sentido,
o que decorre de perspectiva democrática e participativa, debatida e gestada por diversos
segmentos da sociedade (AIRES et al, 2011)
Calcado numa perspectiva cidadã e participativa, em 2014, o IPHAN, por meio da
Coordenação de Educação Patrimonial – CEDUC, apresentou a seguinte definição de educação
patrimonial:
Educação Patrimonial constitui-se de todos os processos educativos formais e não formais que têm como foco o Patrimônio Cultural, apropriado socialmente como recurso para a compreensão sócio-histórica das referências culturais em todas as suas manifestações, a fim de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e preservação. Considera ainda que os processos educativos devem primar pela construção coletiva e democrática do conhecimento, por meio do diálogo permanente entre os agentes culturais e sociais e pela participação efetiva das
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comunidades detentoras e produtoras das referências culturais, onde convivem diversas noções de Patrimônio Cultural. (FLORENCIO, 2104, p. 19)
Aqui, a Educação Patrimonial é assumida como projeto integrado, buscando estabelecer
diálogo com as comunidades, a fim de valorizarem a diversidade cultural, como possibilidade de
visibilizarem-se diferentes narrativas de processos históricos e culturais e ampliar possibilidades
de participação de culturas socialmente marginalizadas.
Entendemos que o campo do patrimônio cultural é permeado de conflitos, como lembra
Florêncio (2014, p.23):
Sabe-se que as políticas de preservação se inserem num campo de conflito e negociação entre diferentes segmentos, setores e grupos sociais envolvidos na definição dos critérios de seleção, na atribuição de valores e nas práticas de proteção dos bens e manifestações culturais acauteladas.
Concordamos, mas acrescemos que os conflitos não se limitam à definição de critérios de
seleção e atribuição de valores do que é ou não assumido como patrimônio cultural para
determinada comunidade. O conflito insere-se numa posição anterior ou prévia e ainda mais
crucial. É que a concepção de patrimônio pode ser entendida de diferentes formas pelas
comunidades em que está inserido, já que é conflitante a própria noção de patrimônio cultural.
Quer dizer, não basta problematizarmos o que as comunidades assumem como seu patrimônio
histórico e cultural, precisamos considerar que patrimônio assume diferentes configurações sob
a perspectiva de cosmologias diversas.
Nesse entendimento, Silveira e Bezerra (2007) oferecem significativa contribuição. Nas
palavras dos autores:
Antes de interpretarmos as paisagens e os objetos como bens patrimoniais, devemos considerar que tais elementos estão imersos numa complexa teia de significações que encerra nexos singulares, de modo que as coisas fazem sentidos de acordo com o ethos e o eidos específicos ao contexto sócio-histórico em que aparecem. (SILVEIRA;
BEZERRA, 2007, p. 90)
Citamos Magalhães (2009), quando apresenta bases nas quais a Educação Patrimonial,
feita a partir de perspectiva dialógica, precisa estar calcada:
• Na necessidade de reconhecer seu contexto imediato, sua localidade, indo além
do patrimônio oficial, e assim, de uma concepção tradicional de identidade nacional;
• No ser libertadora, ao permitir a coexistência, conflituosa ou não, de diversidade
de manifestações e edificações, superando o que tradicionalmente se convencionou denominar
patrimônio;
49
• No foco da apropriação e da interpretação, geralmente conflituosa, favorecendo
múltiplas possibilidades de entendimento acerca do patrimônio;
• No local como espaço do plural, do móvel, onde o indivíduo estabelece relações
sociais e culturais com outras localidades;
• No valorizar narrativas capazes de articular tensões entre universal, singular e
local.
Nessa concepção dialógica de Educação Patrimonial, a proposta é de se estabelecerem
parcerias, com atividades pedagógicas baseadas em construções coletivas, quando diferentes
atores sociais são convidados a valorizar seus saberes, por vezes, invisibilizados em narrativas
oficiais.
7.1 OBJETIVOS
O objetivo geral deste projeto é ampliar vínculos da população com os bens culturais da
região, de forma a expandir as relações de afetividade entre as comunidades e os patrimônios
culturais locais.
Os objetivos específicos consistem em:
a) Proporcionar diálogo com agentes sociais do entorno do empreendimento, sobre
patrimônio cultural, em especial os de sua região;
b) Dialogar sobre os conceitos de arqueologia e patrimônio cultural de forma
transversal e interdisciplinar;
c) Explanar o conceito de patrimônio acautelado e incentivar o respeito para com o
patrimônio arqueológico e cultura imaterial;
d) Socializar com o público os resultados das pesquisas arqueológicas desenvolvidas
na área de influência do empreendimento, bem como as teorias acerca do processo
de ocupação pré-colonial da região;
e) Incentivar a ampliação ao respeito às diferenças étnicas, relacionadas à grande
variedade cultural em que se constitui a sociedade brasileira.
50
7.2 METODOLOGIA
Referentes ao processo de licenciamento para implantar a UHE Baixo Iguaçu, a ser
instalada entre os municípios de Capanema, Capitão Leônidas Marques e Realeza, estado do
Paraná, as atividades de Educação Patrimonial ocorrerão em conformidade com o
desenvolvimento do processo de licenciamento e execução das obras.
Considerando o disposto no inciso V do Art. 3 da Portaria IPHAN n. 137/16, que atenta
para o entendimento de que as “[...] práticas educativas e as políticas de preservação estão
inseridas num campo de conflito e negociação entre diferentes segmentos, setores e grupos
sociais” (BRASIL, 2016), a primeira ação será de conhecer as diferentes realidades das
comunidades impactadas pelo empreendimento. Para isso, serão desenvolvidos trabalhos de
campo com o intuito de identificarmos patrimônios culturais imateriais. Nesse processo, nós nos
valeremos de entrevistas não estruturadas, com pessoas do entorno. O viés das entrevistas
pautar-se-á na publicação “Educação Patrimonial: Inventários Participativos”, de autoria da
Coordenação de Educação Patrimonial do IPHAN.
É importante destacar que os atores sociais não apenas vivenciam as suas culturas, mas
têm capacidade de explicá-las. Cabe a nós, pesquisadores, escutá-los num processo efetivamente
dialógico e organizar tais interpretações em forma ampla de significados e significações, pois,
como afirma Pollak “[...] a memória é socialmente construída [...]” (1989, p. 208).
As ações educativas serão elaboradas com base no contexto cultural dos municípios que
compõem as principais áreas de influência do empreendimento, bem como nos resultados obtidos
nas pesquisas arqueológicas na região.
Numa proposta que pressupõe ação conjunta com atores locais, é inviável definir
previamente todas as instituições a serem envolvidas no projeto, pois tal proposição precisa de
parcerias locais como secretarias municipais de educação e escolas e gestores municipais. Tais
parcerias serão iniciadas na primeira etapa deste projeto e consolidadas no processo de realização
das atividades.
Além das atividades em espaços educacionais, realizaremos outras de capacitação com
gestores públicos dos municípios, culminando com distribuir materiais didático-informativos
sobre a arqueologia local.
Visando atingir cidadãos dos municípios da área de influência do empreendimento,
propor-se-á a realização de um fórum, em um dos três municípios que são contemplados no
projeto, com foco nos sítios arqueológicos. Para promovê-lo, serão contatadas lideranças culturais
51
e instituições presentes, que ajudem a sensibilizar os cidadãos a participarem. O evento deverá
ser divulgado em veículos midiáticos dos municípios – jornais, rádios, meio online - convidando
moradores, professores e gestores públicos para o encontro. A proposta visa favorecer e fortalecer
relações afetivas inerentes à valorização e preservação do patrimônio arqueológico da região,
conforme prevê o inciso IV do Art. 3° da Portaria IPHAN 137/16, e busca, ainda, incentivar a
participação social na formulação, implementação e execução das ações educativas. O intento é
estimular o protagonismo dos diferentes grupos sociais, como prevê o inciso I, Art. 3° da referida
Portaria, projetando ações contínuas de educação patrimonial que considerem o papel da
população ao propô-las.
Nas escolas, o desenvolvimento de atividades é proposto em três encontros, conforme
quadro abaixo:
QUADRO 6: DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES EDUCATIVAS REALIZADAS NO ÂMBITO DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Encontro Conteúdo Carga horária Metodologia Recursos didáticos
1 O que é Arqueologia 1 hora Comunicação oral Folders;
apresentação de slides
2 Oficina: fazendo com as
próprias mãos 3 horas
Manuseio de argila na produção de
vasilhas cerâmicas
Apresentação de slides e distribuição
de flyers
3 Patrimônio Cultural:
valorizar para preservar 3 horas
Mostra de fotografias
Apresentação de slides/mural
No primeiro, apresentam-se os objetivos da educação patrimonial, discorrendo sobre as
etapas da pesquisa arqueológica, enquanto se informa sobre a ocupação pré-colonial e a presença
indígena na região. Todo o processo é focado no patrimônio cultural e nos bens de interesse
arqueológicos, numa perspectiva dialógica e interdisciplinar.
O segundo, previsto para 180 minutos, contará com oficina cerâmica. Será criado ambiente
que possibilite entender e repetir a gestualidade na produção de tais artefatos, visando-se à
desconstrução de preconceitos com povos indígenas.
O terceiro encontro, também previsto para ter duração de 180 minutos, terá como foco o
patrimônio cultural local, visando estabelecer maior vínculo afetivo entre estudantes e os seus
patrimônios culturais locais. Neste, os educadores orientarão os estudantes a eleger bens
patrimoniais representativos a ser apresentados na mostra fotográfica, que poderá ser composta
52
por um mural, desenhos e ou apresentação de fotografias digitais, em conformidade com o
planejamento a ser realizado pelos professores.
Não menos relevante nesse contexto, é o processo educativo que se efetiva com os
trabalhadores envolvidos na construção da obra a ser licenciada, sejam aqueles em nível
operacional, como os de gerência. Enfatizam-se duas ações centrais: a capacitação dos
trabalhadores para reconhecer os vestígios arqueológicos e a formação para valorizar e preservar
o patrimônio cultural. Essas capacitações se darão em forma de aula expositiva e dialogada.
7.3 DEFINIÇÃO DO PÚBLICO-ALVO
Teremos como público central a comunidade escolar dos municípios, por entendermos que,
ao priorizar o contexto escolar, nossa ação se amplia, já que de forma dispersa atingiremos uma
população ampliada. Para atendermos tal público atuaremos em 2 (duas) escolas de cada um dos
três municípios envolvidos no projeto.
Os gestores públicos e os cidadãos serão contemplados com um fórum de discussão com
ênfase à arqueologia regional e sítios arqueológicos locais. Finalmente, os trabalhadores atuantes
na construção da obra, tanto a nível operacional, como de gerência serão capacitados para
reconhecer os vestígios arqueológicos, e terão possibilidade de ter ampliada a percepção para a
importância de valorizar e preservar o patrimônio cultural.
7.4 MECANISMOS DE AVALIAÇÃO
No desenvolvimento deste projeto, serão realizadas atividades para as quais se adotam
diferentes mecanismos de avaliação quanto a aproveitamento, descritos no quadro 7, que segue:
QUADRO 7: MECANISMOS DE AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES EDUCATIVAS A SEREM REALIZADAS
Atividade a ser realizada Mecanismo de avaliação
Fórum para discussões sobre o patrimônio arqueológico
A primeira forma será a adesão de moradores na atividade, assim o número de participantes será um dado importante para nossa avaliação. No decorrer do fórum, avaliaremos a participação efetiva, ou seja, analisaremos qualitativamente o envolvimento dos participantes.
Primeiro encontro nas escolas
Antes de iniciar a atividade, faremos breve questionário diagnóstico, possivelmente, em forma de desenho para vislumbrarmos o conhecimento dos estudantes sobre as temáticas a serem trabalhadas. Neste momento, também
53
avaliaremos de forma qualitativa a participação, analisando o grau de envolvimento dos estudantes pela quantidade e conteúdo de suas perguntas e comentários no decorrer dos encontros.
Segundo encontro nas escolas (oficinas de cerâmica)
Avaliação será processual, quando o educador patrimonial irá mensurar a efetividade do exercício pela participação dos discentes durante a oficina de cerâmica.
Terceiro encontro nas escolas – Patrimônio Cultural
Ao término das atividades, faremos novamente um breve questionário diagnóstico, possivelmente, em forma de desenho para vislumbrarmos se houve apropriação, por parte dos discentes, sobre as temáticas apresentadas. Também avaliaremos de forma qualitativa a participação, analisando o grau de envolvimento dos estudantes e a quantidade e conteúdo de suas perguntas e comentários no decorrer dos três encontros.
Atividade com funcionários
A avaliação será processual, quando o educador patrimonial irá mensurar a efetividade do trabalho pela participação dos funcionários durante a capacitação. O educador patrimonial também realizará perguntas diretas ao grupo sobre o assunto contemplado nas capacitações. Não serão feitas atividades escritas, uma vez que a escolaridade dos funcionários tende a ser bastante variável.
Vale destacar que, ao usarmos tais instrumentos avaliativos, buscamos investigar,
reflexivamente, em que medida os objetivos foram ou não alcançados e também incrementar, de
modo contínuo, procedimentos e metodologias empregadas.
7.5 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Segue cronograma de execução do Programa de Educação Patrimonial, a ser executado
nos municípios de Capanema, Capitão Leônidas Marques e Realeza, estado do Paraná.
QUADRO 8: CRONOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DO PROJETO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
ATIVIDADES Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6 Mês 7
Levantamento bibliográfico
X X X X X X X
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Primeiro contato com as escolas
X
Primeiro encontro com estudantes
X
Segundo encontro com estudantes
X
Terceiro encontro com estudantes
X
Fórum para discussões sobre o patrimônio arqueológico
X
Elaboração de relatório
X X X X
Envio do relatório ao IPHAN
X
O cronograma acima poderá sofrer ajustes, caso os prazos burocráticos não puderem ser
cumpridos ou o calendário escolar apresentar alterações no decorrer da implantação do projeto.
7.6 DIVULGAÇÃO DAS INFORMAÇÕES CIENTÍFICAS OBTIDAS
No âmbito deste programa, atendendo ao que prevê a Portaria SPHAN n° 007/88, estão
previstas atividades relativas à produção de conhecimento, sua divulgação científica e
extroversão.
Considerando que, paralelamente a este programa será desenvolvido um Programa de
Educação Patrimonial, por meio do qual se fará uma ampla socialização do conhecimento
produzido a partir desta pesquisa, associando a temática arqueológica às outras que tangem o
patrimônio cultural da região, neste programa serão apresentadas propostas preliminares de
divulgação que atendem ao público geral e à comunidade científica.
Para alcançar o público geral, serão utilizados instrumentos de divulgação que estarão
disponíveis em meio eletrônico. Os conteúdos disponibilizados serão provenientes das pesquisas
em curso, e sua publicação se dará em uma página eletrônica de acesso livre a todos que navegam
na internet. Essa página está hospedada em um domínio próprio9 e permite que atualizações
9 http://www.espacoarqueologia.com.br
55
sejam feitas a todo o momento. Através dessa ferramenta objetivamos aumentar o raio de
abrangência de divulgação dos resultados obtidos nas pesquisas por nós realizadas.
Em se tratando da divulgação na comunidade científica, inicialmente, temos como meta a
elaboração de artigos científicos que tratem do contexto arqueológico regional em face da
relevância do panorama arqueológico da região de abrangência desta pesquisa. Pretende-se a
publicação de tais artigos em revistas nacionais e internacionais registradas na base de dados
Qualis-CAPES. Além desta produção científica, prevemos também a participação em eventos de
arqueologia de âmbito local, regional, nacional e internacional, com o objetivo de apresentar os
métodos e os resultados obtidos no decorrer desta pesquisa.
Destacamos que, de modo oportunístico, serão realizadas ações de divulgação da pesquisa
com a comunidade onde os sítios arqueológicos que serão resgatados estão localizados, por meio
de conversas informais e distribuição de materiais didático-informativos.
56
REFERÊNCIAS
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Brasil. Revista USP, n. 44, 1999-2000, p. 32-51.
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APÊNDICES
64
APÊNDICE A – MATERIAL CARTOGRÁFICO DE CARACTERIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO
65
66
67
APÊNDICE B – DECLARAÇÃO DE COMPROMETIMENTO DA EQUIPE TÉCNICA
68
69
70
71
72
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74
APÊNDICE C – SHAPEFILE DA POLIGONAL DE DELIMITAÇÃO DOS SÍTIOS
ARQUEOLÓGICOS A SEREM RESGATADOS E AVALIADOS
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ANEXOS
76
ANEXO A – FICHAS DE CADASTRO NACIONAL DE SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS -
CNSA
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78
79
80
81
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ANEXO B – CURRÍCULO LATTES DOS PESQUISADORES ENVOLVIDOS
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ANEXO C – DECLARAÇÃO DE IDONEIDADE FINANCEIRA DO PROJETO
85
86
ANEXO D – DECLARAÇÃO DE ENDOSSO INSTITUCIONAL
87
88
ANEXO E – DECLARAÇÃO COM OS DADOS DO EMPREENDEDOR
89
90