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Revista portuguesa da Associação de Estudantes da Faculdade de Arquitectura -Universidade Técnica de Lisboa. Abrange assuntos sobre o Universo Académico, Arquitectura, Urbanismo, Design e Moda
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Editorial?
Antes que o Verão nos faça derivar para longe
deste miradouro no Alto da Ajuda, e que a
faculdade se torne (supostamente) deserta, a
esphera ainda tem algo a dizer, e acompanha o
fechar de mais um ciclo lectivo, sempre com a
esperança de constituir leitura de férias a alguma
pessoa com saudades destes lados.
Neste número a esphera has gone
M.A.D., passo a explicar; na mesma deixa lan-
çada pelas conferências realizadas no já pas-
sado mês de Maio, prevalece a marca M.A.D.
(M.A.D. People) também na tua revista. Moda,
Arquitectura e Design, num número especial e
ambicioso que recolheu e apresenta-vos agora
uma entrevista para cada tema – universal, e iné-
dito. Fomos falar com personalidades tão caris-
máticas como Bak Gordon, internacionais como
Manuel Lima, e interessantes como os White
Tent. Continua a formalizar-se a já referida inten-
ção de abranger todas as facetas de alunos desta
instituição, através do cruzamento de interesses
e informação num mesmo objecto de comuni-
cação. Pois é, diferentes e fascinantes áreas da
nossa faculdade: compreendam-se harmoniosa-
mente, se é que já não o fazem.
A equipa da esphera e a Associação
de Estudantes agradecem a todos aqueles que
nos deram uma hipótese e decifraram os carac-
teres desta revista, e aos que passaram a contar
com ela, exposta pelos recantos da faculdade,
até agora em datas incertas, mas com a sua meta
concluída.
Susana Ayres dos Santos
Coordenação Geral: Emanuel Moniz e Susana Ayres SantosRedacção: Clara Antunes, David Castanheira, Emanuel Moniz, Gostavo Briz, Margarida Maurício, Mariana Cruz e Susana Ayres SantosAgenda Cultural: Ana Raquel Ferrão, Luís SantosCoordenação Gráfica e Design: João Veras, Luís SantosIlustração: Lucas Armendani BarbosaBanda Desenhada: Carlos PáscoaCoordenação de Publicidade: Emanuel MonizConvidados especiais: Experimenta Design, Ricardo Bak Gordon, Manuel Lima e White TentImpressão: DOSSIER Comunicação e Imagem LdaTiragem: 3000Distribuição: AEFA-UTLApoios:
Propriedade da Associação de Estudantes da Faculdade de Arquitectura de Lisboa
Mandato 2008 - 2009“Retrospectivas de mais um ano”
Experimenta Design 2009
Manuel Lima“Visualização da informação na era da interconectividade global”
White Tent“Processo e Intenção”
Ricardo Bak Gordon“Aprendizagem, Ensino, Projecto”
Banda Desenhada“A Tempestade”
Papel, Arquitecto, Cidade
A Força De Não Ter Força
Índice2
4
6
9
10
20
26
28
2
Retrospectivas de mais um
ano...
Assim se passou um ano de mandato, pode-
se dizer cheio de actividades e iniciativas. Foi
um ano em que a AEFA-UTL se manteve pre-
sente na vida estudantil, apoiando os que mais
necessitavam.
Para os que mais tempo dedicaram a esta vida
de associativismo, foi sem dúvida um ano que
passou a voar. Acabámos por aprender muito,
conhecer muito e é sem dúvida uma experi-
ência que mais do que enriquecedora, espera-
mos que tenha sido útil para todos aqueles que
representámos.
A equipa reunida acabou por ser bastante dife-
rente da equipa reunida no mandato anterior,
apesar de ser vontade nossa seguir uma linha de
acção idêntica àquela que vinha sendo desenvol-
vida nas anteriores três direcções.
Esta tarefa não foi de todo simplificada, já que
desde cedo sentimos dificuldades em acompa-
nhar o elevado ritmo com que nos deparámos.
A acrescentar a tudo isto, a falta de dedicação
de alguns membros, acabou por dificultar a
vida ainda mais. Conscientes de algumas falhas,
foram sem dúvida 12 meses em que tentámos
estar acima da nossa capacidade, e que no
fundo nos deixa a sensação de dever cumprido.
O trabalho desenvolvido é meritório e, espera-
mos que a próxima direcção continue a desen-
volver o projecto que fomos criando, e que
torne esta uma Associação vital para o meio
estudantil da nossa Faculdade.
Falando um pouco mais especificamente de
actividades, aquela que foi mais complexa para
a presidência foi a Chillout Session 03. Festival
que já é uma marca em Lisboa e, que até nou-
tras cidades do pais já começa a ser conhecida.
Foi uma iniciativa que exigiu de todos os mem-
bros uma dedicação incrível, e que só se conse-
gui concretizar com a ajuda de muitos outros
alunos que alem de boa vontade e entreajuda
nada tinham a ver com a nossa Associação. Para
todos esses um obrigado especial pela ajuda
prestado em todo o projecto.
Referir apenas mais duas iniciativas: as
Conferências MAD PEOPLE e a Esphera. Se a
Esphera já era um órgão de imprensa estudan-
til aclamado dentro da FA-UTL, vimos na sua
1ª edição deste mandato elevar-se a um nível
diferente do até agora apresentado. Sofreu uma
renovação de imagem, uma paginação mais cui-
dada, e uma impressão a condizer. As confe-
rências, novamente uma iniciativa que decorre
do anterior mandato, foram organizadas com
nomes da praça pública, nas 3 áreas científicas
da nossa casa, de forma a ninguém ficar esque-
cido, atingindo-se assim uma globalidade na for-
mação extracurricular dada pela AEFA-UTL.
Mencionando os números, o mandato chega
ao fim com um total de aproximadamente 400
sócios, que beneficiaram de um conjunto de
vantagens que a nossa direcção e as anteriores
procuraram dar a todos.
Para terminar dizer apenas que foi uma expe-
riência magnífica acompanhar este grupo de
amigos num caminho nem sempre fácil, tendo
sempre em mente a vontade dos estudantes e
as necessidades dos mesmos.
por Emanuel Moniz
Mandato 2008/2009
Espaço MainElectro_Chillout Session 03
MAU Live_Chillout Session 03
3
3D & VFX
Animation
Concept Art & Storyboarding
Games
Motion Graphics & Post Production
Video
Web
Writing
Rua de São Paulo 121, 1200-427 Lisboat. + 00351 213 465 155 f. + 00351 213 463
Em grupos que não ultrapassam os dez alunos, cada curso fornece o domínio total dos métodos e técnicas usados na indústria em cada fase e em cada área de desenvolvimento de projectos reais. A Odd School está em diálogo constante com a indústria e propõe-se ajudar os alunos a seguir o seu caminho “pós-formação”: todos os alunos são orientados individualmente para as especializações mais adequadas à sua vocação e os melhores terminam a formação com o apoio real da escola para a sua integração no mercado de trabalho. A Odd School apoia os alunos no desenvolvimento dos seus próprios projectos.
odd-school.com
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Espaço MainElectro_Chillout Session 03
MAU Live_Chillout Session 03
4
ExperimentaDesign09 Setembro — 08 Novembro 2009
(Semana Inaugural 09.09.09 — 13.09.09)
A Bienal de Design, Arquitectura e Criatividade
promete uma vez mais agitar Lisboa com um
programa excitante e multidisciplinar. Sob
a égide de ‘It’s About Time’, a EXD’09 pro-
põe uma análise do tempo enquanto matéria,
recurso e desafio: tempo para agir, tempo para
colaborar, tempo para reflectir.
It’s About Time...
Como é que pensamos o tempo hoje em dia?
Com a constante aceleração da vida contempo-
rânea e a globalização, a comunicação acontece
em tempo real, as decisões são instantâneas e a
resolução de problemas resume-se a improvisos
de última hora, em vez de soluções sustentá-
veis. Num mundo à beira do colapso ambiental e
financeiro, existe uma necessidade premente de
agir. Mas será que pensamos antes de agir? Está
na hora de concentrar esforços numa reflexão
madura e numa estratégia de mudança consis-
tente. It’s About Time.
A ExperimentaDesign propõe traduzir o duplo
sentido do tema de 2009 num programa que
reflecte sobre o papel do tempo no design.
Assim, lança-se um olhar sobre os múltiplos
impactos do tempo nas disciplinas criativas e o
modo como estas podem, por seu turno, con-
tribuir para a formulação de novas noções de
tempo e urgência. Como podem os criadores
contemporâneos reconciliar a velocidade do
nosso quotidiano com a necessidade de refle-
xão? É possível desenvolver um conceito de
“design baseado no tempo”? Os processos
sociais têm vindo a conquistar uma posição pre-
ponderante no desenvolvimento de produtos
e soluções, em áreas tão distintas quanto pes-
quisa e investigação, open source e produção em
regime comunitário. As ideias chave desta pro-
blemática estão intimamente ligadas às questões
de tempo e urgência: improvisação, networking,
partilha e desenvolvimento paralelo. Está na
hora. É tempo.
Participa!
A EXD’09 desafia-te a envolveres-te neste
programa que apela ao espírito crítico e à
participação.
De 9 a 13 de Setembro, não percas o calen-
dário de eventos da Semana Inaugural: nas
Conferências de Lisboa, conhece as perspecti-
vas únicas de figuras de destaque da produção
cultural contemporânea; nas Open Talks junta-
te a um painel de especialistas internacionais
em animados debates temáticos e assiste ainda
às inaugurações das Exposições, Projectos
Especiais e Tangenciais ao longo de 5 dias de
intensa programação.
A partir de 14 de Setembro e até ao encer-
ramento da Bienal, participa também nos
workshops, debates e visitas guiadas às expo-
sições nucleares:
Quick, Quick, Slow: Esta exposição propõe
uma história alternativa do design gráfico na
relação com o tempo e noções de movimento,
aceleração e progressão. Desde as experiências
tipográficas modernistas passando pelo design
dinâmico dos anos 50, as mudanças filosóficas
radicais do final da década de 60 e os avanços
tecnológicos dos anos 90, traça um percurso
até à actualidade e a crescente importância dos
meios digitais no design gráfico.
Álvaro Siza Vieira _Fotografia: Schwarzlose / Lund.
5
Pace of Design: Com base na observação
directa do quotidiano de 7 estúdios de design
internacionais, Pace of Design acompanha o
desenvolvimento criativo, ritmos e estágios de
trabalho, numa reflexão sobre os efeitos dos
contextos culturais na definição de diferentes
utilizações, apreciações e representações do
tempo.
Lapse in Time: Num olhar crítico sobre a lógica
de produção actual, Lapse in Time protagoniza
o trabalho desafiador de jovens designers que se
situam no extremo oposto da tendência refém
do imperativo ‘tempo é dinheiro’. Testando os
limites da elasticidade criativa na vanguarda da
inovação, o seu trabalho aspira a uma mudança
de paradigma, também ele temporal.
Timeless: Como transformar “menos” em
“melhor”? A EXD lançou o repto a um conjunto
de países e às suas comunidades criativas. O
resultado é Timeless, um showcase experimen-
tal que propõe novas ideias, conceitos e estraté-
gias. Materiais e imateriais, estes artefactos para
o século XXI deverão implicar menos recursos,
sistemas de produção menos complexos e for-
mas de distribuição mais simples.
Envolve-te!
A EXD’09 procura voluntários para integrar a
equipa de colaboradores da Bienal:
> Assistentes de montagem
> Assistentes de exposição
> Monitores de visita guiada
Envia o teu C.V. para visitas@experimentade-
sign.pt até dia 30 de Junho.
Para mais informações sobre a Bienal, oportu-
nidades de workshops, debates e visitas guiadas
subsreve a newsletter EXD em:
www.experimentadesign.pt.
Acompanha também o desenvolvimento do
programa na pataforma de diálogo online:
www.experimentadesign.pt/2009/blog
Conteúdos cedidos pela EXD’09
Projecto: Come to my Place _Artista: Maxim Velcovsky_Fotografia: Edo Kuijpers.
Projecto: Harjukulma Apartment Building _Arquitecto: Peter Zumthor_Fotografia: Markus Tretter.
Projecto: Louging Space in Press & Conference Centre _Fotografia: Schwarzlose / Lund.
6
Com a vontade de fazer o melhor pela vida,
Manuel Lima não se deteve pela conclusão da
sua Licenciatura em Arquitectura do Design
(hoje Licenciatura em Design) da Faculdade
de Arquitectura da UTL. Esta foi apenas a pri-
meira etapa do seu rico percurso académico,
sendo hoje investigador e o co-fundador da
VisualComplexity.com. Recentemente voltou
à casa que o formou para apresentar o seu
trabalho (apresentação disponível em http://
www.slideshare.net/manulima/vc-portugal-
may-2009-1435702), mostrando-nos que
cabe a cada estudante construir o seu percurso
a partir da sua formação, a qual é, afinal, apenas
uma preparação para se continuar a aprender. A
revista de publicidade e design Creativity colo-
cou-o entre as 50 “cabeças mais influentes e
criativas de 2009”, e nós quisemos saber como
fala quem torna a informação de elevada com-
plexidade e extensão legível através da imagem.
Na área da Visualização de Informação,
o design é tido como uma ferramenta ou
um produto final?
A Visualização de Informação é essencialmente
uma ferramenta de tradução. O seu principal
objectivo é a conversão de dados incongruentes
em informação relevante, e finalmente em
conhecimento.
Tal como um game designer que concebe um
jogo, com um contexto e regras específicas que
são posteriormente moldadas pelo jogador,
assim é todo o designer que, após o lançamento
do produto final, perde qualquer controlo
sobre o mesmo. Ao designer compete criar as
aptidões necessárias para que esta moldagem
aconteça (pois acontecerá invariavelmente)
atribuindo ao objecto a devida flexibilidade. No
caso da Visualização de Informação isto traduz-
se na criação de uma ferramenta maleável que
permita ao utilizador final controlar, filtrar, e
modificar a visualização em função da resposta
ou padrão de informação pretendido.
Em relação ao culto excessivo da forma é
importante lembrar que qualquer projecto de
Visualização de Informação deve ser funcional,
no sentido de promover um melhor enten-
dimento do tema ou sistema representado.
Alguns destes projectos poderão revelar uma
qualidade estética impressionante, que poderá
inclusive ser considerada arte, mas esta quali-
dade “artística” deverá ocorrer como conse-
quência, nunca como objectivo central da exe-
cução. Há que ter alguma cautela, não glorificar
em demasia este resultado pois pode conduzir a
uma fixação pela beleza superficial em substitui-
ção da função informativa. Hoje é relativamente
fácil para alguém com experiência em progra-
mação criar uma visualização extremamente
rica e deslumbrante. Mas este não pode ser o
último aspecto a ser avaliado.
Determinado o fenómeno a ser traba-
lhado, como se processa o acto de pro-
jectar? O que é que o condiciona?
A maioria dos projectos de Visualização de
Informação começa com uma pergunta ou um
desejo de averiguação. Será que a taxa de obe-
sidade está associada aos países ricos? Como
se propaga globalmente um vírus informático?
Qual a zona de Portugal que mais consome
café? Depois da especulação inicial há que saber
se existem os dados necessários para uma res-
posta adequada. Após a recolha dos dados,
surge um processo de filtragem, ordenamento
e “limpeza” dos mesmos, o que, dependendo
do formato em que se encontram, pode revelar-
se uma tarefa bastante árdua. Finalmente chega
a fase de escolha do modelo (ou modelos) de
representação visual e das técnicas interactivas
mais apropriadas, tendo em vista a questão ini-
cial e a consequente exploração do utilizador
final.
Sendo esta uma área recente em desen-
volvimento, com uma forte componente
de inovação, pode dizer-se que haja
algum tipo de público-alvo definido pela
faixa etária ou é legível e acessível para
qualquer pessoa?
As ditas novas tecnologias não pertencem a
nenhuma geração em particular, pertencem a
todos nós sem excepção. Não podemos con-
fundir a destreza tecnológica com o benefício
da tecnologia. A Visualização de Informação é
uma área bastante recente que apenas agora
começou a cortar o seu cordão umbilical com
a área académica, e se porventura ainda não
conseguiu tornar-se mais acessível e legível, é
por defeito dos seus principais intervenientes.
Esta é uma disciplina do presente, que pretende
resolver um sem-número de desafios actuais,
MANUEL LIMA
Fala-nos de
“Visualização da Informação na era
da interconectividade global”
7
não cenários futuros. Tornar-se-á cada vez mais
uma técnica operativa actual com o natural
amadurecimento da disciplina, com a manifes-
tação de um saber sustentado e formas de ava-
liação eficazes.
Há algum trabalho que considere em
posição de destaque e que queira men-
cionar a título de exemplo?
É sempre muito complicado seleccionar um
projecto entre mais de 600, particularmente
por cobrirem uma grande multiplicidade de
temas desde redes de influência política a redes
neuronais. Contudo, posso mencionar um pro-
jecto que foi recentemente adicionado à lista
e que teve como objectivo desvendar o local
mais remoto do planeta. Os autores sobrepuse-
ram mais de 10 mapas distintos, representando
diferentes aspectos, como altitude, redes de
comboio, redes de comunicação, estradas, rios
navegáveis, rotas marítimas, condições do ter-
reno, entre outros, com vista a calcular quanto
tempo leva em média qualquer pessoa a che-
gar à cidade mais próxima de 50,000 ou mais
habitantes. Os resultados da visualização foram
surpreendentes. Apenas 9% do planeta fica a
mais de 48 horas de caminho térreo da cidade
mais próxima, o que anula algumas das suposi-
ções que podemos ter quando à existência de
enormes regiões intactas e isoladas. Quanto ao
título de local mais remoto, este pertence ao
planalto tibetano. Desta área até às cidades de
Lassa ou Korla são sensivelmente três semanas
de viagem – vinte dias a pé e um dia de carro.
Disse, na conferência dada na FAL, que
a sua biblioteca tinha “tudo menos livros
de design”; esta postura está mais pró-
xima da interdisciplinaridade que este
campo específico permite ou de uma
abordagem individual e própria?
Sem dúvida que por ser uma disciplina nova a
Visualização de Informação serve-se de inúme-
ras áreas de conhecimento para suportar a sua
actividade, entre as quais Human-Computer
Interaction (HCI), Engenharia Informática,
Design Gráfico, Design de Interacção e
Psicologia Cognitiva. Mas a diversidade da minha
biblioteca deve-se essencialmente ao meu inte-
resse pessoal por diferentes assuntos, que vão
desde a Genética, à Arqueologia, passando pela
Cartografia, Evolução, Sociologia, Matemática,
Emergência, e muitos outros. Aliado ao meu
interesse pela Visualização de Informação está
ainda a minha profunda atracção pelo fenó-
meno das redes complexas. E talvez tenha sido
pelo facto da topologia em rede ser verdadeira-
mente omnipresente, tanto em sistemas natu-
rais como artificiais, que acabei por me envol-
ver nesta área, de modo a poder explorar uma
visão pluralista do mundo que nos rodeia.
O seu percurso pessoal é consequência
somente da sua maneira de ser e estar,
ou isto vem acoplado a alguma circuns-
tância que o despertou para esta via, em
determinado momento da sua formação
profissional?
Houve um momento de reviravolta impor-
tante que ocorreu aquando do meu mestrado
na Parsons School of Design, ao deparar-me
com inúmeras disciplinas e correntes de pen-
samento desconhecidas, uma infindável fonte
de novo saber. Foi ao mesmo tempo uma con-
dição necessária, pois procurava uma área de
conhecimento que verdadeiramente me inte-
ressasse e motivasse a descobrir mais. Abraçar
vários domínios e abrir diferentes portas foi o
melhor método para despoletar este interesse
pela Visualização de Informação, e em particular
pela visualização de redes complexas. Mas terá
sido a constante curiosidade o principal fio con-
dutor neste percurso.
Autoria e Redacção:
Margarida Maurício e Mariana Cruz
Projecto: High Definition Map of Science _Autor: Johan Bollen.
8
ExperimentaDesign09 Setembro — 08 Novembro 2009
Projecto financiado com o apoio da Comissão Europeia.A informação contida nesta comunicação vincula exclusivamente o autor, não sendo a Comissão responsável pela utilização que dela possa ser feita.
Com o Alto Patrocínio de Sua Excelência o Presidente da República Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva.Estatuto de Interesse Cultural no âmbito da Lei do Mecenato.m
arca
asso
ciad
a
med
iafr
iend
s
Étapes; Time Out; Intramuros;Mark; Frame; Icon
ATL - Associação de Turismo de Lisboa; Cision; Instituto Português da Juventude;JCDecaux; Mota-Engil Solidáriaap
oiosMuseu do Design
e da Moda; Ordem dos Arquitectospr
otoc
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de
coop
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oci-
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mar
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ada
específic
a
co-
prod
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s
BBDO Portugal; British Council;Cinemateca Portuguesa; Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa, Londres);Museu Colecção Berardo; The Royal Society for the Encouragement of Arts, Manufactures and Commerce; Seven Art Limitedm
edia
part
ners Expresso; Casa Cláudia;
Courrier Internacional; Visão; Vida & Viagens; Arquitectura & Construção
parc
eiro
s in
stit
ucio
nais
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ocin
ador
oficial
EXD’09 / LISBOA-------------------------------------------------------BIENAL DE DESIGN, ARQUITECTURAE CRIATIVIDADE CONTEMPORÂNEA-------------------------------------------------------Tempo significa?...
Experience designDecisões instantâneasRedes sociaisTGVEfeitos imediatosLiveFeedWiFiComunicação em tempo realTwitter / Facebook / Hi5Low CostComunidades virtuaisFast forwardSpeed datingQuick timeSlow downMultitaskingMenosShuffleADSLMaisDownloadPodcastHDMMS-------------------------------------------------------It’s About Time...
Reflecte sobre o tempo enquanto recurso,matéria e desafio no design e na produção criativa.
Urgência, globalização, sustentabilidade, networking – os impactos do tempoatravessam a sociedade e a cultura contemporânea.
A EXD’09 discute, propõe, questiona,cruza perspectivas e antecipa caminhos.
It’s About Time.-------------------------------------------------------Exposições-------------------------------------------------------Grandes Conferências -------------------------------------------------------Debates Temáticos-------------------------------------------------------Ciclo de Cinema Experimental-------------------------------------------------------Intervenções Urbanas Transversais-------------------------------------------------------Laboratórios Criativos-------------------------------------------------------Showcases Experimentais-------------------------------------------------------Lounging Space-------------------------------------------------------Tangenciais-------------------------------------------------------Serviço Educativo
Visitas guiadas e workshopsItinerários e visitas orientadaspor [email protected]
procuram-se voluntários!
montagem - exposições - visitas guiadas
www.experimentadesign.pt
ExperimentaDesign09 Setembro — 08 Novembro 2009
Projecto financiado com o apoio da Comissão Europeia.A informação contida nesta comunicação vincula exclusivamente o autor, não sendo a Comissão responsável pela utilização que dela possa ser feita.
Com o Alto Patrocínio de Sua Excelência o Presidente da República Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva.Estatuto de Interesse Cultural no âmbito da Lei do Mecenato.m
arca
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Étapes; Time Out; Intramuros;Mark; Frame; Icon
ATL - Associação de Turismo de Lisboa; Cision; Instituto Português da Juventude;JCDecaux; Mota-Engil Solidáriaap
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e da Moda; Ordem dos Arquitectospr
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específic
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BBDO Portugal; British Council;Cinemateca Portuguesa; Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa, Londres);Museu Colecção Berardo; The Royal Society for the Encouragement of Arts, Manufactures and Commerce; Seven Art Limitedm
edia
part
ners Expresso; Casa Cláudia;
Courrier Internacional; Visão; Vida & Viagens; Arquitectura & Construção
parc
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nais
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ador
oficial
EXD’09 / LISBOA-------------------------------------------------------BIENAL DE DESIGN, ARQUITECTURAE CRIATIVIDADE CONTEMPORÂNEA-------------------------------------------------------Tempo significa?...
Experience designDecisões instantâneasRedes sociaisTGVEfeitos imediatosLiveFeedWiFiComunicação em tempo realTwitter / Facebook / Hi5Low CostComunidades virtuaisFast forwardSpeed datingQuick timeSlow downMultitaskingMenosShuffleADSLMaisDownloadPodcastHDMMS-------------------------------------------------------It’s About Time...
Reflecte sobre o tempo enquanto recurso,matéria e desafio no design e na produção criativa.
Urgência, globalização, sustentabilidade, networking – os impactos do tempoatravessam a sociedade e a cultura contemporânea.
A EXD’09 discute, propõe, questiona,cruza perspectivas e antecipa caminhos.
It’s About Time.-------------------------------------------------------Exposições-------------------------------------------------------Grandes Conferências -------------------------------------------------------Debates Temáticos-------------------------------------------------------Ciclo de Cinema Experimental-------------------------------------------------------Intervenções Urbanas Transversais-------------------------------------------------------Laboratórios Criativos-------------------------------------------------------Showcases Experimentais-------------------------------------------------------Lounging Space-------------------------------------------------------Tangenciais-------------------------------------------------------Serviço Educativo
Visitas guiadas e workshopsItinerários e visitas orientadaspor [email protected]
procuram-se voluntários!
montagem - exposições - visitas guiadas
www.experimentadesign.pt
White TentDar corpo a
“Processo e Intenção”
Evgenia Tabakova e Pedro Noronha-Feio for-
mam o colectivo de design White Tent. De
origem Russa e Portuguesa, licenciaram-se em
Central Saint Martin´s e no London College
of Fashion, respectivamente. Realizaram vários
estágios e trabalharam para designers como
Alexander McQueen, Lidija Kolovrat, Globe e
Matthew Williamson.
Em Abril de 2007, apresentaram a primeira
colecção de Outono/Inverno 07/08 no evento
Circuit Portugal. Integram o calendário da
ModaLisboa desde Outubro de 2007.
Que mensagens ou emoções pretendem
transmitir com o vosso trabalho?
O nosso trabalho (enquanto marca de autor)
reflecte a nossa estética pessoal e os nossos
interesses enquanto designers. A nossa lingua-
gem é o produto de uma serie de desenvolvi-
mentos, e de evolução de conceito/s aliado a
uma abordagem muito pessoal. O que nós pre-
tendemos é permitir que pessoas que se iden-
tificam com o nosso trabalho, possam utilizar
a nossa roupa para expressar o que quiserem.
Pretendemos que a nossa roupa seja um veiculo
de expressão para o utilizador, e não a sobrepo-
sição da peça ao seu utilizador.
O que consideram mais importante: o
processo ou o produto?
Consideramos que são ambos importantes.
No nosso trabalho talvez valorizemos mais o
processo. Pois acreditamos que quanto mais
rico e exaustivo for o processo, melhor será
o resultado. No entanto esta abordagem está
relacionada com o nosso tipo de projecto. Em
outras tipologias de projectos, um briefing
especifico pode levar a diferentes abordagens,
que sejam mais adequadas e que respondam
melhor ao que será em ultimo caso esperado
de um producto especifico. Acreditamos em
todo caso que quanto mais informado e atento
for um designer, melhor desenvolverá qualquer
tipo de projecto. Informação e referencias são
importantissimas.
Alguma vez o vosso trabalho foi influen-
ciado ou repensado em consequência
de reacções positivas ou negativas do
público?
Num sentido criativo, não. No entanto valoriza-
mos muito a critica construtiva ( quer esta seja
positiva ou negativa).
Qual é a vossa peça favorita de todas as
que já conceberam, e porquê?
Julgo não termos uma peça favorita, mas sim
um conjunto de peças que sentimos que reflec-
tem exactamente aquilo em que trabalhámos
em determinada altura. Por exemplo, na ultima
colecção gostamos imenso das malhas tricota-
das, assim como na colecção de PV09 gostamos
das peças cortadas a laser (camuflados).
Quais as lições mais importantes que já
aprenderam desde que trabalham nesta
área?
Que são necessários muito trabalho, dedicação
e persistencia para se atingir os nossos objecti-
vos. A valorização das opiniões de todos os que
nos rodeiam, e a encarar os nossos sucessos
com humildade.
Autoria e Redacção: Marta Cruz Lemos
9
10
RicardoBak Gordon
sobre
“Aprendizagem, Ensino, Projecto”
No âmbito do ciclo de conferências MAD
People, organizadas pela Associação de
Estudantes, recebemos no dia 7 de Maio o
arquitecto Ricardo Bak Gordon, que muito gen-
tilmente nos cedeu este espaço de conversa.
Graduado em 1990, depois de um percurso
académico muitíssimo heterogéneo, abre, no
mesmo ano, o atelier Vilela&Gordon, em con-
junto com Carlos Vilela Lúcio. Da colabora-
ção com este arquitecto nasce o projecto para
a Residência da Embaixada de Portugal em
Brasília, em 1995, primeiro prémio em com-
petição internacional e momento de projecção
definitiva de Bak Gordon. No seu currículo
contam-se diversas obras premiadas e incontá-
veis explorações em torno do tema da habita-
ção. Gere, desde o ano 2000, o seu próprio
atelier, Bak Gordon Arquitectos, e contribui
na vertente do ensino enquanto professor da
cadeira de projecto na Universidade Lusíada de
Lisboa e na Escola Superior Artística do Porto,
participando inclusivamente em múltiplos semi-
nários de arquitectura internacionais.
Propusemo-nos aqui explorar o que é o per-
curso de um arquitecto ainda jovem, na
perspectiva da partilha de experiências para
enriquecimento pragmático da nossa relação,
enquanto estudantes, com a prática de pro-
jecto. Começámos nos seus basilares contactos
com a matéria que manipula, expondo algumas
das que são as reflexões implícitas à prática da
disciplina, para passar aos momentos chave de
confronto com o impacto público da sua obra.
Sabemos que, ao longo do seu percurso
académico passou pela Faculdade de
Arquitectura do Porto, Faculdade de
Arquitectura de Lisboa e pelo Instituto
Politécnico de Milão; lugares onde teve
oportunidade de experimentar diferen-
tes metodologias de ensino. Que mais
valia lhe trouxe esta diversidade de abor-
dagens e que semelhanças e/ou diferen-
ças encontra entre as diferentes Escolas?
Primeiro que tudo é preciso compreender que
isto se passava entre 1985 e 1990. Portanto a
relação que tu tinhas com as escolas e que as
escolas tinham com os lugares eram muito dife-
rentes. Essa diferença tinha basicamente a ver
com comunicação. Tu hoje estás online e, por-
tanto, acaba por haver um conhecimento, uma
formação e um sentido autodidacta do aluno
ao longo da sua aprendizagem que se mistura
muito com a especificidade de cada escola. E
naquele tempo estar numa escola correspondia
a um ensinamento muito particular. E a escola
do Porto era, talvez, destas três escolas, a única
que se poderia dizer que era um Escola, porque
tinha um sentido muito claro de aprendizagem.
Assentava em várias coisas, uma delas no dese-
nho, que é um tema que ainda hoje para mim
tem significado, o desenho como possibilidade
de investigação em arquitectura. Ou seja, tu
viajares pelos teus pensamentos arquitectóni-
cos através do desenho, o teu braço ser uma
espécie de ligação directa ao teu pensamento.
Eu vejo isso nos meus alunos. Quando as pes-
soas têm dificuldade em desenhar, têm dificul-
dade em investigar o trabalho e têm dificuldade
em viajar por dentro e por fora das suas ideias
e, portanto, automaticamente se limitam. E o
Porto investia muito no desenho como lingua-
gem absoluta da investigação, ou seja, se quises-
ses ir para a Alemanha tu tinhas de aprender a
falar alemão, se quisesses ser arquitecto tinhas
de aprender a desenhar. Esse curso intensivo de
desenho criava uma atmosfera incrível nas pes-
soas e fazia com que as pessoas desenhassem
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pela cidade fora quase 24 horas por dia e isso
era uma experiência muito rica. Depois foi tam-
bém a minha primeira saída de Lisboa, porque
eu nasci em Lisboa e portanto foi a primeira
vez que saí de casa. E essa experiência de ir
para fora, estudar para a faculdade, conhecer
novas pessoas, novos lugares pela primeira vez
é uma experiência muito rica e que não pode
ser posta de parte daquilo que é só a escola.
Porque na nossa vida, a nossa formação, depois
direccionada para o nosso trabalho, neste caso
para a arquitectura, não pode ser separada das
outras coisas que te vão acontecendo no teu
dia-a-dia e que vão ter repercussão no teu tra-
balho e na tua aprendizagem. Por outro lado
havia o sentido de uma vida quase familiar da
escola do Porto, que era muito íntima, e que
gerava uma grande aproximação aos colegas e
professores.
Na escola de Lisboa, pelo contrário, havia uma
atmosfera muito mais independente, muito
mais dependente de cada professor, do que pro-
priamente do sentido académico de Escola que
havia no Porto. Portanto dir-se-ia que tu esta-
vas um bocadinho mais por tua conta e risco,
eras mais autodidacta, ainda no sentido de teres
que percorrer o teu caminho porque esse cami-
nho não estava em cima da mesa como estava
no Porto. Por outro lado, esse período tinha a
ver um pouco com o Pós-Modernismo. Imagina
passares da escola do Porto; aliás a Escola
Branca, tinha acabado de sair uma publicação
que se chamava As Páginas Brancas, portanto
a figura tutelar do arquitecto Álvaro Siza e uma
certa linguagem e metodologia de projecto que
se expressava com grande clareza em todos os
professores, e depois chegas a Lisboa durante o
Pós-Modernismo, numa altura que o arquitecto
Tomás Taveira liderava a escola.
Finalmente a escola em Itália, o Politécnico de
Milão. Foi um momento ainda mais raro por-
que correspondeu ao primeiro ano em que
houve trocas de Erasmus. Erasmus que, para
mim, continua a ser uma das coisas mais incrí-
veis, mais mágicas e mais obrigatórias que todos
vocês devem efectivamente fazer. Devem lutar
para ir para Erasmus. Porque vos permite de
um dia para o outro uma descoberta absoluta
e aí não há comunicação digital ou virtual que
possa competir com aquilo que é tu seres colo-
cado noutra cidade, noutro país, noutro lugar
com pessoas de outras origens e culturas e ao
mesmo tempo. Neste caso em Milão, a 3 horas
de quatro ou cinco países, vi-me colocado numa
centralidade por onde passavam naquela época
todos os conferencistas, quando aqui rara-
mente havia conferências de Arquitectura.
Portanto todas elas, muito diferentes, forma-
ram o meu pensamento, ou foram ajudando a
formar o meu pensamento sobre os lugares,
sobre as pessoas, sobre as relações. E curiosa-
mente sou capaz de dizer que não saberei afir-
mar qual foi melhor, porque todas elas tiveram
virtudes.
Falando agora desta linguagem arquitec-
tónica tão vincada e assertiva da Escola
do Porto, que todos conhecemos e sabe-
mos identificar, perguntava-lhe qual será
a sua prestação, enquanto professor, no
sentido de condicionar a liberdade cria-
tiva do aluno estilística ou formalmente,
e de que forma isso é ou não vantajoso.
Eu dou aulas há bastantes anos. Dou aulas, julgo
eu, desde 1997. Já lá vão doze anos. E para mim
nunca esteve em causa linguagem ou viagem
e direcção estética ou formal, até porque não
acredito nisso. A mim o que me interessa é que
haja um pensamento claro, um conceito que
seja perseguido no pensamento de projecto e,
portanto, tem que haver uma razão para que
as coisas aconteçam. A forma não é uma razão
suficiente. Para mim a forma é uma consequên-
cia do teu pensamento, como são outras coi-
sas, como é a função, a tensão matérica, o sis-
tema construtivo. Ou seja, a liberdade que eu
dou aos meus alunos é total, desde que eles se
esforcem para pôr de pé um pensamento arqui-
tectónico que seja uma matriz passível de ser
perseguida. Isto é, tu tens que ter um conceito,
uma ideia para o teu trabalho e, portanto, essa
ideia tem que ser clara. Não é claro o resultado
do teu projecto, mas é clara a ideia, a força da
ideia. Tu queres seguir uma investigação por-
que encontras razões para essa investigação.
O que eu acho que um professor de projecto
deve fazer é conduzir processos de investiga-
ção. Naturalmente aconselhar, naturalmente
ajudar a procurar mais intensamente um deter-
minado caminho. Mas nunca tive a necessidade
de restringir os resultados dessa investigação.
E eu sou muito exigente no sentido de pedir e
garantir que as pessoas têm, de facto, uma ideia
que possa ser perseguida e não estão apenas a
divagar sobre a forma, sobre o desenho, sobre
a escala. Se tiveres um conceito tens a hipótese
de ter um projecto.
Falou-se na conferência da importância
de um carácter auto didacta na aprendi-
zagem e da importância da motivação e
incentivo pessoal, temas cuja exploração
está, aliás, prevista no plano de Bolonha.
Qual será, num mundo que caminha para
o auto-centrismo e ambição individual, o
papel da pedagogia?
O papel da pedagogia vai ser cada vez mais a
relação que tu vais estabelecer com um profes-
sor, com um condutor de processos de inves-
tigação, antes do que com escolas. Portanto,
isto para dizer que assistimos a uma fase em
que estamos mais longe da escola enquanto
lugar de pensamento colectivo uno ou univer-
sal e sim, a caminho de relações mais pessoais
entre o aluno, esse auto didacta, e as pessoas
que vai encontrando pelo caminho, que podem
ser professores com posturas muito diferentes.
Mas sobre o auto didactismo gostava de dizer
uma coisa muito simples, que toda a gente com-
preende. Quando chegas ao 4º ano ou antes,
e estás a fazer um corte construtivo pela pri-
meira vez sobre o teu projecto, és confrontado
com questões tão simples como a construção
de um caixilho ou vão. E normalmente o aluno
entra em pânico, nunca fez um vão, não sabe
fazer o pormenor do vão. No entanto, tem 20
anos de idade, e há 20 anos que abre e fecha
portas e janelas todos os dias, na casa dele, na
casa dos avós, num edifício público, na escola,
etc. Se o auto didactismo começar por abrir
os olhos e olhar, já começa bem. Tu vives, tu
pensas, tu passas todos os dias por centenas
de situações que são fazer parte da tua vida. E,
ou estás atento a elas, ou não estás. Quantas►
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portas já abriste hoje? Basta olhar para elas, as
melhores, depois percebes porque é que gostas
mais de uma do que de outra, porque é que
uma funciona melhor do que outra. Está à tua
frente, tem um caixilho, tem um aro fixo, tem
um aro móvel, etc. Portanto isto faz com que
não haja razão nenhuma para o aluno se sentir
incapacitado. Tu hoje já passaste por 30 porme-
nores construtivos. Abre os olhos e vê. Não
fiques à espera que te ensinem, porque ele está
aí. Portanto são pequenas coisas como estas
que têm a ver com o nosso auto didactismo. O
que é esse auto didactismo? É sabermos apren-
der sozinhos, sabermos procurar sozinhos, ter-
mos uma curiosidade infinita. E é esse o sentido
que quero transmitir aos alunos: que, de facto,
é muito bom ter professores impecáveis, mas
mais que nos professores impecáveis está em
mim a possibilidade de eu não parar de reflectir,
investigar, perseguir e, inclusivamente, de sentir
a arquitectura. Porque a afectividade da arqui-
tectura sou eu que a vou descobrir. De onde
virá ela? a temperatura de um espaço, a luz, a
tensão matérica, a textura, a escala, a propor-
ção, são coisas sobre as quais devo sempre ter
opinião.
Sobre a experiência arquitectónica do
lugar. Como arquitecto e indivíduo imbu-
ído da curiosidade original de que falou,
que obras foram para si determinantes
para a sua prática arquitectónica e/ou
marcaram de alguma forma o seu per-
curso de vida?
É claro que há autores que me marcaram
muito e desde logo os primeiro que tu come-
ças a conhecer. Posso dizer-te que o arqui-
tecto Álvaro Siza, por exemplo, é uma figura
determinante no meu prazer pela Arquitectura
e também nas minhas descobertas enquanto
pensador de Arquitectura, porque senti desde
cedo que o trabalho do arquitecto Álvaro Siza
estava muito para lá da resposta funcional da
Arquitectura. A certa altura, percebes que o
arquitecto Álvaro Siza passa a anos-luz desse
modelo que a tal escola do Porto parece ter.
Ele atravessa a arte, atravessa o pensamento
artístico da arte contemporânea e portanto
vai muito além. E como figura da arquitectura
mais próxima, ainda vivo, não da nossa gera-
ção, mas das nossas vivências, da nossa parti-
cipação conjunta na sociedade, ele teve imensa
importância.
Depois há outros arquitectos que sempre me
interessaram bastante assim que os conheci.
Estou-me a lembrar do Barragán, e de uma
figura com quem agora estou a trabalhar, que
tem 80 anos, e é um personagem perfeitamente
mágico, que é o Paulo Mendes da Rocha.
A arte contemporânea sempre me interessou.
Eu trabalhei desde muito cedo com o artista
Pedro Cabrita Reis. A relação com a arte con-
temporânea chegou-me, portanto, cedo e
cativou-me bastante, e não tenho dúvida que
hoje uso referências e algumas imagens de
objectos e de peças de arte para falar sobre a
Arquitectura, porque julgo que a arte enquanto
reflexão máxima, abstracta e mais infinita pode
ser aplicada a todos os campos de investigação.
Reconheço que houve sempre trabalhos e
obras, mais do que pessoas. Mas as pessoas
também porque não se pode pôr de lado a rela-
ção que se vai tendo com elas. Umas conheces
na tua experiência, outras, que já não existem,
que tu conheceste o trabalho e a obra, mas que
marcam e é bom que marquem. É bom que
tenhamos referências. Nós não podemos ima-
ginar um cirurgião no século XXI que não tenha
estudado o que os seus pares fizeram nos últi-
mos anos ou, ao longo da História, como é que
evoluiu a medicina. E por isso na Arquitectura
também não podemos deixar de o fazer. E não
é para copiarmos modelos, é porque faz parte
da nossa aprendizagem estudar como as coisas
aconteceram até aqui, como é que elas evo-
luíram. Logo, visitar obras, ler publicações de
obras a que tu não tens acesso porque estão
do outro lado do mundo, mas podes vê-las,
estudá-las, podes interpretá-las. E deves fazer
isso de uma maneira sistematizada. Os alunos,
ao longo do seu curso, devem ter esta preo-
cupação. E não é necessário comprar todos
os livros, é preciso ter gosto por passar uma
tarde numa biblioteca ou numa livraria. Por
exemplo, quando estava na faculdade em Itália,
havia (e ainda há) no Politécnico de Milão uma
livraria que se chama CLUP. Naquele tempo a
Portugal chegava muito pouca coisa. E aquilo
foi uma descoberta incrível para nós alunos que
íamos de Portugal, e que de repente entráva-
mos numa livraria onde havia tudo. Passávamos
tardes inteiras na livraria, mais do que nas aulas.
Foi aí que conheci a maioria dos arquitectos
internacionais, as obras do Rossi, do Grassi, do
Tadao Ando, por aí fora; na CLUP, sentado a ler
os livros, a ver imagens. Portanto julgo que a
questão das referências é fundamental, é uma
aprendizagem que te fornece bagagem.
Mencionou como referência marcante
o arquitecto Paulo Mendes da Rocha.
Sabendo que esteve recentemente em
colaboração com este pai do Movimento
Moderno Brasileiro no projecto do
Museu dos Coches, em Belém; ficou-nos
a vontade, enquanto estudantes e jovens
arquitectos, de saber como se constitui
esta relação criativa com um arquitecto
que naturalmente se admira.
Eu conheço o arquitecto Paulo Mendes da
Rocha há bastante anos, mais de 10 anos, altura
em que ganhei o concurso para a Residência
da Embaixada de Portugal em Brasília. Naquele
momento, senti que precisava de um apoio no
Brasil caso aquilo se viesse a fazer; o próprio
projecto, a execução do projecto. Não conhe-
cia nada do Brasil a não ser as figuras tutelares,
como Óscar Niemeyer e o trabalho do arqui-
tecto Paulo Mendes da Rocha, os quais muito
admirava. Então peguei no telefone e andei
atrás do arquitecto Paulo Mendes da Rocha até
marcar um encontro com ele, que tive o pra-
zer de vir a ter, em São Paulo, como te dizia há
mais de 10 anos. E rapidamente passou desta
figura longínqua a arquitecto Paulo Mendes da
Rocha, o amigo. É uma pessoa de uma gene-
rosidade, de uma abertura, de um simpatia, e
principalmente de uma profundidade de refle-
xão, tida de um modo muito tranquilo e natu-
ral, admiráveis. Portanto, demo-nos muito bem
e ficámos amigos; visitámo-nos, falámo-nos,
etc. Quando surgiu este trabalho, convite que
lhe fizeram para o Museu dos Coches, o arqui-
tecto Paulo Mendes da Rocha deu-me o prazer
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►de me convidar para ser parceiro do trabalho
como atelier residente em Portugal. A primeira
vez que ele cá veio por causa deste trabalho
já trazia umas ideias e umas maquetas, mui-
tíssimo interessantes. Desde aí começámos a
trabalhar, sempre de uma forma muito natural,
sendo que não há a menor dúvida de que para
mim é uma honra trabalhar com o arquitecto
Paulo Mendes da Rocha; gosto mais de o ouvir
do que falar, porque tenho tanto para aprender
com ele. Mas o nosso quotidiano de trabalho
corre muito normalmente, partilhamos opini-
ões, discordamos quando temos de discordar, e
basicamente eu tenho aprendido muito. É efec-
tivamente uma experiência única, como podes
calcular, porque é de facto um personagem por
quem vale a pena passar na vida, e isso é um
privilégio que eu tenho.
Mencionou o projecto para a Residência
da Embaixada de Portugal em Brasília
(1995). Perguntávamo-nos como será
intervir num território tão definitiva-
mente marcado por um movimento
e por um estilo, que é o movimento
moderno, com uma importância
histórica tão largamente reconhecida;
e que impressões lhe ficaram sobre a
vivência desta cidade modelo de um tipo
de pensamento que ainda hoje conhece
importantes ecos.
Quando nós fizemos o trabalho de Brasília, eu
e o arquitecto Carlos Vilela, que era meu sócio
na altura, fizemos a nossa investigação e che-
gámos à conclusão que efectivamente o para-
digma da cidade moderna que era Brasília, e que
ainda é, é uma espécie de relíquia à nascença,
porque é uma cidade considerada património
da humanidade 20 anos depois de ser criada.►
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18
Portanto já estás a ver o despropósito de tudo
isto; como é que tu inventas uma cidade a partir
do zero, agarrada a um conceito de centralidade
física, que era a hipótese de haver um ponto no
Brasil que estivesse equidistante a todo o ter-
ritório brasileiro, mas rapidamente aparecem as
comunicações generalizadas e tu percebes que
a centralidade física de repente já não é assim
tão importante. Não podemos esquecer que
a capital do Brasil era o Rio de Janeiro, e de
repente vais para uma espécie de província e
abandonas o Rio de Janeiro. Tu não consegues
imaginar na Europa, um país como Inglaterra
dizer - agora amanhã a capital já não é Londres
é no deserto, ou Paris - quer dizer, não passa
pela cabeça de ninguém. É de facto um gesto de
uma certa loucura que o presidente Kubitschek
teve, de fazer uma nova capital nestas condi-
ções. Mas efectivamente teve sorte com os
arquitectos que ampararam essa vontade, esse
desígnio; como foi o Lúcio Costa, urbanista,
que fez o plano piloto de Brasília, e depois o
arquitecto Óscar Niemeyer, com todas as suas
obras públicas, autores da cidade de referência,
por excelência, do paradigma do movimento
moderno. E então, nós, olhando para esta
cidade geometrizada, tábula rasa, cardo decu-
manos, percebemos que a geometria do edifício
que haveríamos de fazer não encontrava razão
para que não fosse também de geometria pura,
uma peça bastante regular. No entanto, havia
sim um tema muito importante para continuar
a investigar e que não estava, a nosso ver, sufi-
cientemente explorado em Brasília, que tinha a
ver com o clima. Ao contrário do que se julga, o
planalto central onde está instalada, ancorada, e
fundada a cidade de Brasília tem um clima muito
seco. O clima do serrado. O facto de ser um
clima muito seco faz com que, desde logo, as
escolas às vezes fechem porque a humidade
relativa vai abaixo de 10%, as crianças sangrem
do nariz, as pessoas se deitem com toalhas
empapadas de água e acordam completamente
secas de manhã. Nós percebemos isso e pen-
sámos que o melhor seria criar ali um micro-
clima que conseguisse combater este clima tão
agreste e que permitisse fazer uma espécie de
oásis, se quisermos, para que se viva melhor
e mais confortável neste edifício. Este acabou
por se vir a desenhar como algo que encerra
uma espécie de floresta, ou seja, como se tu
recortasses um pedaço da floresta amazónica
e a levasses para ali, associado a uma série de
tanques e lagos que permitiam criar uma bolha
de vapor e humidificar o ar e, portanto, com
esta estratégia baseada numa nova paisagem,
numa micro paisagem, tentar fazer um edi-
fício que fosse melhor vivido do que os edifí-
cios que se deixavam ficar um pouco reféns do
clima natural que é, de facto, muito violento.
Viajei para Brasília várias vezes e infelizmente o
edifício nunca foi construído, mas eu acredito
que seria muitíssimo interessante, e ainda hoje
é dos projectos que eu mais gosto e gostava
imenso de o ter construído. Enfim, já não tenho
muita esperança de que ainda venha a ser, mas
nunca se sabe!
Projecto que será certamente constru-
ído é o Museu dos Coches para Belém,
já aqui referenciado. A este propósito,
e visto assistirmos a uma polémica des-
mesurada em torno da discussão da sua
construção e adequação ao sítio, como
é estar no foco deste debate, quando
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concerne a um projecto da nossa auto-
ria? Que elemento/s do projecto julga ser
causador desta reacção pública?
O problema é o problema das civilizações, das
sociedades, e do horror ao novo e ao desco-
nhecido. Ninguém gosta do que não conhece.
Essa é a grande questão. É por isso que tu vês
mais pessoas a mandar fazer casas com o estilo
português suave, ou clássicas, ou conservado-
ras do que contemporâneas ou modernas; é
por isso que tu vês as sociedades apegadas aos
temas do passado. E não há volta a dar, os anos
passam, as civilizações parecem evoluir, mas
essas situações básicas mantêm-se. E, quase
arriscava dizer, mantêm-se em Portugal mais do
que na maioria do mundo ocidental. Portanto
o que se passa aqui é o mesmo que se pas-
sou quando se fez o CCB (Centro Cultural de
Belém), e que se passou quando se fez a Casa
da Música, ou sempre que se quis fazer qual-
quer coisa. A diferença está nas dinâmicas de
tempo. Por exemplo, na vizinha Espanha, tu vês
que se põem em pé uma série de construções
em consciência de que a arquitectura de autor
move multidões, e é uma mais-valia turística e
cultural indiscutível. Em Portugal essa consciên-
cia ainda não está muito bem clarificada. Nós
ameaçamos sucessivamente que vamos ter
obras de fulano, sicrano e beltrano, que sabe-
mos ser autores reconhecidos, de categoria,
que vão poder trazer à nossa cidade vantagem
turística, cultural e económica garantida, mas
mesmo assim temos medo. Assim, o que se
passa com o museu dos coches, mais do que
propriamente ser uma reacção ao projecto, é
uma reacção a fazer-se qualquer coisa de novo.
E de facto as pessoas não conhecem o projecto,
não conhecem o seu autor, e ver o projecto
assim en passant não é uma solução para aquele
trabalho. Mas também é verdade que essa polé-
mica neste momento está ultrapassada, embora
haverá sempre quem diga que gosta e não gosta
das coisas. Quando se construiu o CCB, deu-se
uma polémica e uma pleura incríveis, porque se
estava a pôr em causa o conjunto edificado dos
Jerónimos. Agora, ninguém pensa tirar dali o
CCB, faz completamente parte da cidade. Acho
a polémica à volta do Museu dos Coches até
salutar, se quiseres, só é pena que ela seja feita
de uma forma muito superficial e que não se
fale por exemplo de um aspecto fundamental
daquele trabalho e da obra toda do arquitecto
Paulo Mendes da Rocha e que tem a ver com o
espaço público como espaço primeiro e funda-
mental da cidade. O arquitecto Paulo Mendes
da Rocha tem um trabalho muito pródigo, em
que o lugar público é sempre a sua prioridade. E
este trabalho, mais uma vez, tem essa generosi-
dade com a cidade. Quase se podia dizer que o
Museu vem em terceiro ou quarto lugar porque
antes se de chegar ao Museu dos Coches tu
já fizeste uma transformação à cidade incrível
com uma praça pública e a nova atitude face aos
lugares públicos que instaura, com uma maneira
de cruzar os tempos em que o casario da Rua
da Junqueira, dos séculos XVIII e XIX, é con-
frontado com uma nova modernidade; como
é que todas estas coisas coabitam, são tudo
temas que estão muito desenvolvidos naquele
projecto, e as pessoas não se apercebem disso.
Mas também não se pode fazer nada sem polé-
mica, sem debate, sem discussão; da discussão
há-de sair a luz, e é nisso em que nós temos
de acreditar. Agora, tem de ser uma discussão
séria e um debate informado, e não um debate
de generalidades.
Passamos da esfera dos grandes equipa-
mentos urbanos para uma escala mais
pessoal e relacional de projecto, que é a
que mais tem vindo a explorar, na tipo-
logia da habitação unifamiliar. De que
forma uma relação íntima com o cliente
influencia ou interfere no projecto de
arquitectura e como é que se gere esse
processo?
Quando tu fazes uma casa para um cliente espe-
cífico, que é normalmente o caso quando faço
uma moradia, este vai necessariamente ser um
elemento fulcral na tomada de decisões de pro-
jecto. Também podes fazer moradias para clien-
tes desconhecidos, por exemplo, para a opera-
ção do Bom Sucesso Design Resort, onde estou
a participar, estás a fazer moradias destinadas
a um cliente abstracto que porventura nem
hás-de conhecer, que há-de vir, um dia destes,
comprar a tua casa. Bom, mas não é dessas
moradias que estamos a falar. O que acontece
é que pode e vai diferenciar, como vimos hoje
aqui na conferência, e segundo disse o arqui-
tecto João Pedro Falcão de Campos, o pro-
cesso. Tens de virá-lo a teu favor, o que significa
saber ouvir, tirar o melhor de todas as pessoas
que vão interferir no processo de projecto. Ora
o cliente é, por definição, uma das pessoas que
mais vai interferir. Há que saber tirar o melhor
desse cliente. Perceber exactamente quais
são as suas verdadeiras preocupações, para lá
daquilo que ele próprio possa julgar que são;
porque às vezes os clientes particulares pren-
dem-se com coisas secundárias e terciárias que
parecem fazer-lhes muito sentido. Tu tens de
ter a capacidade de saber filtrar o que é essen-
cial do que é secundário e usar a teu favor, a
favor do projecto, as motivações do cliente. O
cliente no fundo vai corresponder àquilo que é
o programa. O lugar é o lugar que tu vais encon-
trar. Eu acredito ainda hoje que os projectos de
arquitectura se fazem com o programa e com o
lugar. Quanto mais rico e complexo for o lugar,
quanto mais rico e complexo for o programa,
neste caso a informação que tu vais buscar ao
cliente e não só, mais matéria-prima tens para o
teu trabalho. Esta matéria-prima serve-te para
poderes ter lenha para manter esse fogo da
investigação do projecto. E em todos os clien-
tes privados que eu tive e tenho, bem como nas
casas que desta interacção resultam, há sempre
uma componente dos trabalhos que são a cara
do cliente; os que são mais afirmativos, os que
querem espaços mais institucionais, os que são
mais íntimos e querem coisas mais confortáveis
e cozy. Tu percebes isso ao longo dos projectos,
e de facto ajuda a fazer um projecto diferente
do outro, que é o que se pretende. E de pre-
ferência que o cliente fique satisfeito e que seja
feliz porque vai lá viver a vida toda!
Autoria e Redacção:
Clara Antunes e Gustavo Briz
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Papel, Arquitecto,
Cidadepor David Castanheira
Adormeci e acordei num local diferente
daquele em que adormecera. Não estranhei,
começo a saber vestir o hábito.
Havia agora em meu redor uma quietude que
me impacientava e me deixava a braços com
um desconsolo na fronha. Triste, o mesmo de
figura. Padecia de tédio, de um tédio imenso,
mas também o medo fazia estrago no meu espí-
rito alvoraçado.
Ah! A serenidade de quem nunca estará de
mal com o mundo. Talvez com menos miolos.
Acho-me cada vez mais pachorrento e adepto
das verdades. Não sei se será bom deitar vista
à cidade.
Pilha aqui, pilha ali, proponho sistemas, tiro
corolários… Ando aos trambolhões pelas ruas,
escalo avenidas, procuro saída nos becos. Podia
até tombar como tordo que não deitavam olho.
A brisa levanta, carrega-me por alheio, o vento
serve-me de devaneio. Tropeço onde calha,
duplicando passos, meneios e gestos.
Escada acima, escada abaixo. Acelera, acelera,
pára, acelera, viro à esquerda, o furor louco,
plano sobre a praça um pouco. Oiço o mestre
ao discípulo, – Sim, senhor. O aprendiz, – Não
precisa de me chamar “senhor”. Ante o latido
do mestre, volta, – Devia-se olhar menos ao
que dizemos, e mais ao cagalhoto que não faze-
mos. Se os mortais evitassem qualquer relação
com a sabedoria, a velhice nem sequer existiria.
E não há que nos valha, nem crença, nem des-
crença. Filosofia? Não. Esta brutalidade, e nada
mais: porque sim, porque não, claro, escuro. O
binómio dos mortais.
Desenhei uma linha a meio da populaça,
antes de escrever a primeira palavra, e a pri-
meira palavra foi êxtase e a segunda foi medo.
Quedei-me a meio da terceira, que queria san-
gue. O sonhador que se domina e raras vezes
se dá ao luxo de sonhar.
Sopra de novo e eu levanto voo. Levam-me
em braços, zombeteiro este vento, esta brisa,
sentam-me de costas, brincam com facas.
Passo montras, encolho, estico, espremo-me
entre as gentes, vão-me pisando. Raios! Não me
vêem? Pulo, salto mais uma ruela, evito buro-
cracias de Deus, detesto estas corjas horren-
das. Tem de burro o juízo.
Abrandou o vento, interrompi o meu tra-
jecto junto a um moribundo. Pára um carro,
estendem-lhe o braço com trinta dinheiros, ─
Acredita em Deus? Ao abrigo de nada, o vaga-
bundo diz que sim. Recolhe a mão, arranca,
havia dado a resposta errada. Deus que console
a humanidade. Almas soberbas, corações incha-
dos! Das almas grandes a nobreza é esta.
De quando em vez gostava de não deambular
sem rumo, numa viagem ao antes e o depois,
não me deixo enganar pelo tempo, não o posso
conquistar. Ando por aqui, levo-te a ti, carre-
gas-me a mim. Poderia ser assim? Será que te
conheço? Não te lembrarás de mim?
Fazem tinta por uma linha até ao fim do dia.
Como habitual, recolho-me à procura de cesto
acolhedor. Decididamente, a vida de papel não
é fácil.
A metáfora que papel pode ter ela na arqui-
tectura, na cidade. Verdade. Verdade é que o
comum é vislumbrá-la.
Cidade. Um mar de pedras de vislumbre. Fora
de todos os códigos. Símbolo da transgressão
e de mensagem para fora do seu tempo e para
todos os tempos. Instituído em comunhão com
o universo. Laço amoroso ilícito e desviante,
sem cânone ou regra. Uma perfeição que não é
deste mundo, espaço sem igual.
Só força desmedida, mão inexorável dum
Arquitecto que cria e domina, alarga a vista de
ânsia e assombro. Muda e parada. Move e faz
ouvir. Voluptuosa paisagem. Regalo. Para o baile
nunca conseguiu par. Cada uma, cidade, única na
sua arquitectura, no seu papel.
Papel. Coisa branca, amarelada, clara, cinzenta-
acastanhada. Papel. Ferramenta privilegiada da
escrita, do desenho. Do Arquitecto e do Pintor,
do Escritor e do Escultor. Papel. Toda a arqui-
tectura tem sido vista e relatada nas costas, na
frente, na cara do papel. Intrépida personagem
que fala por um desenho, gráfico e, ou símbo-
los. Letras. Nada mais. Não é preciso menos.
Papel. Mudo. O impresso fala, o gráfico grita. O
papel. Ferramenta eleita para as mais belas das
artes. Quem melhor para descrever a cidade.
Papel. Pulou que fartou. Agora divaga. Permite
o sonho. Quer transmitir a mensagem que diz,
boa é a arquitectura.
A realidade que se faz, que se fez e sempre se
faria. O sonho, a utopia. Existe a sociedade de
consumo. A sociedade inacabada. Será Portugal?
A sociedade de informação nem me atrevo cha-
mar. Porquê produto inacabado. O prejuízo
podia ser maior. Enquanto houver positivismo,
não existe receio.
Portugal, reflexo da sua capital. É capital saber
o seu espaço actual. Lisboa. Quantos donos
tiveste? Quantos sonhos durante o sono?
Quantos tiveste acordada? Verdade. Verdade é
esta. Uma cidade é fruto da acção sonhadora
e vanguardista de alguém que julgou era para
si em particular que a arquitectura estava a
falar. Agora o que tem a arquitectura para dar?
Cada dono, cada Homem tem de sua a ideia. A
cidade tem obras majestosas, assim como tan-
tos senhores, deu lugar a sua cadeira. A cátedra.
Assento político alvejado e invejado.
Um bolo. A Cidade, Lisboa, já agora, é assim
um bolo. Massa de pão, que constantemente se
mastiga e amassa. Somente às vezes há brinde.
Quer isto dizer, que champanhe não falta a
cada corta fita. Arquitectura, que se sobrepõe
a arquitectura. Trepa por outra acima. Escala as
arribas, desce escarpas, salta bocas de vento,
poços do inferno. Cada tempo pensa o futuro
de maneira ímpar. Não se estranhe os mais
belos edifícios não terem par.
A única e verdadeira maneira de pensar a
cidade é traçar, desenhar o futuro. Querer a
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arquitectura, sem necessidade de assim a ape-
lidar. Marcar a diferença a cada reinado é nunca
deixar o trabalho por terminado. A cidade
enquanto utopia, nada mais é que uma família
destas aninhadas, sem nunca se acomodarem. É
assim, também, Arquitectura.
Se força a desenhar a arquitectura está bem
que se desfazia. Arquitectura, qual a primeira?
Lisboa? De certeza não a primeira. Nem que na
areia tivesse sido riscada. Até que Arquitectura
de nome só pós Grécia, e todos os seus anti-
gos sábios.
As nossas cidades. Basta ruas, basta prédios,
basta a casa de simples telhado a duas águas.
Quatro paredes. Logo a um canto sem arestas,
num beco, geralmente com saída, os cães se
amotinam. Então, enquanto papel, num escri-
tório entrar. Evitar, pois burocracias podem
tentar. A política sempre perigosa à arquitec-
tura, mas sem política que é da Arquitectura.
Vê-se logo que têm jeitos e humanas feições.
Mas agitam. Mudam de posição sobre a carpete
e eriçam o pêlo. Um chegou mesmo a rosnar e
outro a uivar. Era como se não conhecessem.
Uma barreira. Afinal, o emprego há-de sorrir a
outro no brevemente. As cidades não se cons-
truem sem arquitectos. Pelo menos, parte. O
disparate, quase vulgo da utopia, também não
deve ser encorajado. A isso, o trabalho multi-
disciplinar, encimado e arquitectado é o que faz
a arquitectura parte integrante da cidade, e esta
mesma, arquitectura desenhada, nem que seja
no espírito. O desenho desta não engana.
Cidade. Emblema em cada arquitectura.
Melhor cada pedra encavalitada em outra.
Mesmo desgostosa, cumpre uma arquitec-
tura. Mal amada, cumpre outra arquitectura.
Passa despercebida, mais uma. Norma, mais
uma nova. Esplendorosa, cada casa, cada arqui-
tectura. Pedra, tijolo faz o sonho. Cidade, a
Arquitectura.
Papel, Arquitectura, Cidade. O espaço
que ocupará no foro mental será sempre
maior que qualquer construção material.
O poder de sugestão que leva a pensar
e imaginar é a Cidade, a Arquitectura.
A utopia é sempre um risco que se
corre. Então, se somos apenas aprendi-
zes, maior. O sonho, a realização sem-
pre adiada, é fruto de um pensamento
cuidado. Os mestres do passado e do
presente têm isso em mente. Quando
conseguirmos controlar o sonho, a reali-
zação, estes conceitos à sua semelhança,
seremos então mestres no futuro.
Contudo, também de algo espontâneo e
esplendoroso que é livre arbitro, é arqui-
tectura, é cidade. A liberdade na sua
forma mais simples, de construir, pensar,
e reflectir. Pequenas utopias que formam
a Arquitectura, a Cidade. O querer fazer
e marcar a diferença. O nosso papel no
futuro.
Que Homem é o Homem que não faz
deste um mundo melhor.
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A força de não ter força
Que força essa, o dinheiro?
por Clara Antunes
Existir sem dinheiro é uma existência pobre.
Esta poderá parecer uma afirmação oca, mas
não é tanto assim. Julgando pela acepção
objectiva (ou pelo menos objectiva segundo
os padrões pela qual a julgamos), pobre é
um estado ou característica que implica uma
incapacidade ou escassez de. Se monetaria-
mente pobre, é-se incapacitado de participar
na giga.joga capitalista; no pobre de espírito,
está implícita uma falta de visão, nobreza ou
ética; no pobre coitado, falta de algo, carinho
ou não, que gera um excesso de compaixão.
Ora quando sem dinheiro algum, somos pela
sociedade considerados os três, porque não
nos esforçamos que chegue para o obter, logo
não temos, e somos portanto “pobres, coita-
dos!”. Esta classificação poderá não ter efeito
significativo no receptor, mas o problema é que
realmente tem. Se não temos poder monetá-
rio, sentimo-nos inevitavelmente em falta para
com a sociedade. A máquina do comboio exige,
em letras pretas e inamovíeis, 1.60 euros e de
nada serve pedir-lhe que mude de ideias. Se
ocasionalmente acontece faltarem 5cêntimos
para pagar um pão, logo nos olham os clien-
tes enfurecidos pela pressa matinal normal em
todo o cidadão pensando que género este de
pessoa que não pode sequer pagar um pão. A
experiência talvez mais humilhante por que pas-
sei foi pedir dinheiro para um bilhete. É curioso
como os olhares mudam instantaneamente de
possivelmente risonhos para acusadores, ou
então tolhidos de pena. Essa mesquinha pena
de quem se sente culpado por ter mais que
outros, e, por isso, obrigado a partilhar. E então
remexem as carteiras, onde tilintam dezenas de
outras moedinhas sequiosas de uso, saltam para
uma mão desconhecida e abrem um vazio no
mais centro do centro mais central de quem as
recebe. Resignada, mas ainda sentindo-se irre-
mediavelmente em falta para com a máquina,
as pessoas, o tempo que parou para servir
uma causa sem causa, e por fim toda a estru-
tura edificada que a recebe, por favor.Grande
falatório quando o ponto fulcral é: se por um
momento nos afastamos do que é convencio-
nalmente tido como correcto, sentimo-nos em
falta. Pobres, realmente pobres. O dinheiro foi
na verdade um pretexto. Vivamos nós sempre
suficientemente à margem!
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