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espiral Nº 12 - Julho / Setembro de 2003 boletim da associação FRATERNITAS FRATERNITAS FRATERNITAS FRATERNITAS FRATERNITAS MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO Há dias um colega nosso, que tem vindo a informar-se pelo Espiral sobre o que é o nosso Movimento, dizia- me o seguinte: “ainda não me revejo na Fraternitas”. Isto tanto pode significar que a Fraternitas não é aquilo que ele gostaria que fosse, como querer dizer que ele ainda não está psicologicamente sintonizado com um ambiente como o da Fraternitas. Ora o que a Fraternitas virá a ser vai depender do seu crescimento e sedimentação. Mas uma coisa podemos afirmar desde já: “a Fraternitas não é o lugar geométri- co dos padres casados saudosos do exercício do minis- tério”. É antes o ponto de confluência daqueles padres que decidiram em consciência deixar o exercício do mi- nistério e, tendo constituído família ou não, entendem que fizeram o que devia ser feito. Encontram-se para partilhar experiências, para mutuamente se apoiarem e para viverem a sua fé dando testemunho de uma vida coerente com os princípios básicos da sua formação. Muitos deles subscreveriam a frase dum padre da diocese de Aveiro: “Sempre desejei ser padre, até o ser.” Mas eles não gostam de viver só para si. Percebem que a sua atitude, pelas consequências pastorais que impli- cou, pode constituir um factor de mudança e ser um motivo mais para que sejam repensadas em Igreja as condições de admissão ao sacerdócio ordenado. Neste contexto é incontornável a velha questão do celi- bato sacerdotal obrigatório. Será uma vocação? A psicoterapeuta Christl Picker, num artigo publicado na Kirche In, 04/2003, p. 14, sob o título “Não há uma vocação celibatária”, escreve a dada altura: “Cada um deveria poder viver em conformidade com as suas possibilidades. Quem se sentir melhor sozi- nho, pois bem que viva sozinho, mas não lhe chame Sumário: Novos Padres: chamados e enviados 3 Ode triunfal dos hodiernos Cruzados 4 Paz eficaz 5 Sagradas mãos 5 Cartas 7 Breves 7 Esclarecimento 8 Encontro regionais 8 Entrevista com J. Gaillot 8 (continua na pág. 2) UM CAMINHO NO UM CAMINHO NO UM CAMINHO NO UM CAMINHO NO UM CAMINHO NO V V V V V O O O O O

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espiralNº 12 - Julho / Setembro de 2003

boletim da associação F R A T E R N I T A SF R A T E R N I T A SF R A T E R N I T A SF R A T E R N I T A SF R A T E R N I T A S M O V I M E N T OM O V I M E N T OM O V I M E N T OM O V I M E N T OM O V I M E N T O

Há dias um colega nosso, que tem vindo a informar-sepelo Espiral sobre o que é o nosso Movimento, dizia-me o seguinte: “ainda não me revejo na Fraternitas”.Isto tanto pode significar que a Fraternitas não é aquiloque ele gostaria que fosse, como querer dizer que eleainda não está psicologicamente sintonizado com umambiente como o da Fraternitas.

Ora o que a Fraternitas virá a ser vai depender do seucrescimento e sedimentação. Mas uma coisa podemosafirmar desde já: “a Fraternitas não é o lugar geométri-co dos padres casados saudosos do exercício do minis-tério”. É antes o ponto de confluência daqueles padresque decidiram em consciência deixar o exercício do mi-nistério e, tendo constituído família ou não, entendemque fizeram o que devia ser feito. Encontram-se parapartilhar experiências, para mutuamente se apoiarem epara viverem a sua fé dando testemunho de uma vidacoerente com os princípios básicos da sua formação.Muitos deles subscreveriam a frase dum padre da diocesede Aveiro: “Sempre desejei ser padre, até o ser.”

Mas eles não gostam de viver só para si. Percebem quea sua atitude, pelas consequências pastorais que impli-cou, pode constituir um factor de mudança e ser ummotivo mais para que sejam repensadas em Igreja ascondições de admissão ao sacerdócio ordenado.Neste contexto é incontornável a velha questão do celi-bato sacerdotal obrigatório. Será uma vocação?

A psicoterapeuta Christl Picker, num artigo publicadona Kirche In, 04/2003, p. 14, sob o título “Não há umavocação celibatária”, escreve a dada altura:

“Cada um deveria poder viver em conformidade comas suas possibilidades. Quem se sentir melhor sozi-nho, pois bem que viva sozinho, mas não lhe chame

Sumário:

Novos Padres: chamados e enviados 3

Ode triunfal dos hodiernos Cruzados 4

Paz eficaz 5

Sagradas mãos 5

Cartas 7

Breves 7

Esclarecimento 8

Encontro regionais 8

Entrevista com J. Gaillot 8

(continua na pág. 2)

U M C A M I N H O N OU M C A M I N H O N OU M C A M I N H O N OU M C A M I N H O N OU M C A M I N H O N O VVVVV OOOOO

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vocação divina. Aquele(a) que necessitar de outra(o)– como corresponde à ordem da criação – deve poderencontrá-la(o), pois é próprio do ser humano adultoter uma sexualidade vivida.(…)Nos séculos IV, V… existiram na orla do deserto ossantos estilitas, muito considerados pelo povo comoconselheiros e intercessores. Quem se aguenta duran-te anos em oração no alto duma coluna, é certamentedigno de admiração e, se fosse hoje, entraria noGuinness Book dos recordes, mas duvido que a men-talidade actual possa considerar isso uma graça divi-na. Os cristãos santificam-se pelo amor, não pelas prá-ticas ascéticas.Concluindo, eu acredito na vocação para seguir Je-sus Cristo, a qual se manifesta das mais variadas for-mas, mas não acredito numa vocação “celibatária”,porque ela não faz sentido. A vocação cristã vive-sepela fé, pela esperança e pela caridade, mas não pelaascese.

No nosso último Encontro Nacional, alguém da assem-bleia, sentindo-se feliz naquele ambiente de irmãs e ir-mãos, onde compreensão e entreajuda não são meraspalavras, lembrou as mulheres que, tendo sido freiras,decidiram sair e casar – também elas se sentiriam en-tendidas e apoiadas se formassem uma organizaçãocongénere à nossa. Porque não fomentar o aparecimen-to dum movimento de freiras, casadas ou não, e respec-tivos maridos, à semelhança desta Fraternitas de padres,que casaram ou não, e respectivas esposas? Poderemosfazer alguma coisa por elas?Interpelado na qualidade de presidente, disse que, seum pedido nesse sentido nos fosse feito, acolhê-lo-ía-mos com toda a simpatia. Mais tarde pensei o seguinte:se a Fraternitas espontaneamente pensa em ajudar osoutros, já está a abrir-se a novos horizontes, o que ésinónimo de consolidação interna.

Tal como tem acontecido connosco, também as freiras,bem como os membros de outros institutos e movimen-tos, ao saírem, são votadas ao ostracismo e proposita-damente esquecidas, em vez de serem pastoralmenteaproveitadas.Todavia, não é de perder a esperança, pois, tal como nasociedade, também na comunidade eclesial o progresso

só acontece através dum processo tese-antítese.

Esta época de pós-modernidade em que vivemos é ca-racterizada pelo forte contraste social entre ricos e po-bres. Enquanto os ricos vivem opulentamente em man-sões circundadas por altos muros fortemente guardadospor homens bem armados - afinal prisioneiros da suaopulência, os pobres são cada vez mais pobres. Portan-to não é de estranhar que um tal antagonismo exacerba-do origine a angústia e a sensação de que já nada fazsentido, nada tem significado. Então, se o mundo nãotem significado, ele será destruído. Não é por acaso quea expressão social se concretiza em tendênciasdestrutivas, em manifestações de revolta contra a socie-dade tal como está organizada, contra os falsos valores.Onde quer que haja uma reunião do capital, aí surgemmanifestações contrárias, não raro destrutivas.

Face a isto, qual é o contributo que se nos pede, a nós,homens de fé?Em primeiro lugar, temos de ter consciência de que umarevolta é sempre a explosão de injustiças sociais acu-muladas e não resolvidas. Então a explosão, sendo aaniquilação da matéria explosiva, é o início duma novaordem a instaurar.É urgente que o lugar outrora ocupado pelo marxismoseja rapidamente ocupado por uma teologia da liberta-ção e se desenvolva na Igreja uma espiritualidade derisco, que consiga descobrir, nos movimentos esotéricosou revolucionários que entusiasmam tanta gente, as no-vidades que o Espírito Santo nos quer sugerir atravésdeles. O que actualmente existe é uma espiritualidadede octogenários, receosa de tudo quanto é novo, pres-sentindo inimigos em todo o lado e perigos em qualquermovimento nascente. Ora a mensagem do Evangelho é:“Não temais!”.

Precisamos de pessoas clarividentes, capazes de desco-brir no meio da poeira da explosão o caminho certo ejusto. Um caminho novo que não é exactamente nem opercorrido pela autoridade contestada, nem o doscontestatários. Um caminho de dignificação de todos, aassumir o que de bom existe de ambos os lados, umcaminho de entendimento, de humildade. Ninguém temem si a verdade toda.

Aveiro, Agosto de 2003João Simão

(continuação da pág. 1)

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Este Domingo, 6 de Julho, temlugar a ordenação geral, na Diocesedo Porto. Serão ordenados três pa-dres e um diácono para serviço dadiocese. Escassa colheita, dirão uns.Aceitamo-los como uma dádiva àIgreja. O facto a reter é que a voca-ção sacerdotal continua a despertarem alguns, segundo uma regra quenos escapa. Antes gostávamos queos padres fossem mais e que fossemdiferentes, neste ou naquele sentido.E no entanto, eles aí estão, com asqualidades e defeitos de todos osseres humanos. Para lá de todo oestudo sociológico, sempre útil, aorigem dos presbíteros leva-nos àsfontes da vida cristã. A vocação parao ministério ordenado tem origem noapelo ao apostolado que Jesus ini-ciou nas margens do Lago deTiberíades. A pregação do Reino eo chamamento de discípulos sãoigualmente originários. Jesus con-centrou-se sobre um pequeno grupoentre esses chamados, os quais par-ticipam de maneira especial no seumistério de consagração em Deus ede envio ao mundo. Mas o sentidoda vocação é um só: viver com Cris-to a criação e da redenção do mun-do. Mais do que os outros crentes, oministro ordenado tem a particula-ridade de viver mais de perto aquilo

que é de todos. O problema das vo-cações parece, pois, um problema dopróprio seguimento de Jesus.

Os padres de hoje estão sobre-carregados e dão uma imagem depressa e de desconforto. É bom lem-brar-lhes que eles são um elemento

estruturante da Igreja mas não são aIgreja toda. A eficácia da sua acçãodepende mais da sua forma de pre-sença do que da quantidade de tra-balho realizado. Mas dir-se-á: opovo tem direito à celebração daEucaristia e aos outros sacramentos.Esse trabalho coloca os poucos pa-dres muito próximo da exaustão. Aíé necessário repensar vários cami-nhos do futuro do ministério orde-nado, partindo sempre do princípiode que a Eucaristia é o centro da vidacristã e que o povo de Deus tem di-reito a essa celebração. Nenhum fac-tor pode ter precedência em relaçãoa este. Os jovens padres de hoje le-vam- se bastante a sério e partempara a missão cheios de generosida-de e de entusiasmo. Muitos vêem-

-nos partir para a vida pastoral e fi-cam com alguma preocupação, de-vido às difíceis condições de perse-verança. É que a cultura pós-moder-na minou, com alguma profundida-de, o fundamento de alguns elemen-tos da espiritualidade sacerdotal. En-tre outras coisas, é bem de ver a di-

ficuldade que há em ligar a vida decastidade a um sinal do absoluto deDeus na história pessoal. E o mes-mo se pode dizer da obediência e dapobreza. Aquilo que pode ser tra-dução existencial concreta do valorabsoluto de Deus e do seu Reino,como eram e são esses valores, é,na cultura de hoje, algo percebidode forma diferente. Urge religar osconselhos evangélicos com o servi-ço do outro, sobretudo do pobre edo último, com o testemunho de umaliberdade para o amor, com a afir-mação de uma cultura da fra-ternidade.

VII CURSO DE FORMAÇÃO TEOLÓGICAFátima (Casa Nª Senhora das Dores)

28 de Novº a 1 de Dezº 2003

Tema: A IGREJA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO (SEGUNDO A GS)

Orienta: Dr. José Nunes, OP (prof. na Universidade Católica)

* Jorge Teixeira da Cunhain Voz Portucalense,

2 de Julho de 2003

Novos PNovos PNovos PNovos PNovos Padradradradradres:es:es:es:es:

chamados e enviadoschamados e enviadoschamados e enviadoschamados e enviadoschamados e enviados *

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Deus o quer!Nós o queremos!Nós queremos que Deus queira!Deus queira que nós queiramos!E se Deus não quiser queremos nós!Mas Deus quer porque nós queremos!

Anjos Custódios do Mundo.Polícias do Deus dos Exércitos.Zelosos Guardiões da Liberdade.Da Democracia.Da Felicidade das Nações. Dos Povos.De todos os Povos do Mundo.

Deus o quer nós o queremos!Nós queremos que Deus queira!Deus queira que nós queiramos!Deus queira que Deus queira!Deus quer porque nós queremos!

Felizes os Povos Submissosà nossa Protecção Devastadora!Mais felizes ainda os Insubmissos!Nós os submeteremos à salvífica Submissão!Nós queremos que sejam felizes!Nós queremos que sejam livres dos tiranos!(somos também nós quem define os tiranos! ...)Mesmo que eles não queiram!Sobretudo se não quiserem!Nós é que sabemos o que mais lhes convém!

Felizes os Povos submetidos à nossa Devastação!Devastamos porque só queremos o seu Bem!Devastamos porque só queremos os seus Bens!Nada pagará o Bem que lhes queremos!Nada pagará os Bens que lhes queremos!

Daqui vos anunciamos, Povos, sede livres!Escolhei a Liberdade que vos impomos!Não queirais ser pobres-e-mal-agradecidos!

ODE TRIUNFODE TRIUNFODE TRIUNFODE TRIUNFODE TRIUNFALALALALALDOS HODIERNDOS HODIERNDOS HODIERNDOS HODIERNDOS HODIERNOOOOOS CRS CRS CRS CRS CRUZADOSUZADOSUZADOSUZADOSUZADOS

Tomai a Liberdade e agradeceiàs armas que Deus nos facultou prodigamentePara conquistarmos a vossa Liberdade!

Sede livres, Povos, sede livres!Sede Livres, Democratas e Felizes!Sede Livres, quer queirais quer não!

Aceitai Livremente a Liberdade que vos impomos!Aceitai Livremente a Liberdade que vos mandamos,se preciso for (e é preciso!),nos bombonachões dos nossos bombardeiros!nos balagranadões da nossa Infantaria!nos morteirões da nossa Artilharia!nos monstrogivões da nossa Missilaria!

Sede Livres, Democratas e Felizes!Nós o queremos Deus o quer!

Anjos Custódiosdo !!!!!!!!!!!!!!!! do

Mun !!!!!!!!!!!!!!!!!!! Deusdo !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! dos

as !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Exci ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ér

lí nós velaremos pela vossa Felicidade ciPo !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! tos! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !para sermos todos (nós!) prósperos e pacíficos

! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !!! ! ! ! ! ! ! ! ! !!!!!!!!!!!!!!! IN PACE NOSTRA !!!!!!!!!!!!!

António Ínsulo(in UMA GUERRA GÓLFICA

Poema satírico, inédito)

“Deus o quer!”(Grito guerreiro dos Cruzados Medievais)

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1. Quando surgem os grandes conflitos:• Os diplomatas reúnem-se em cimeiras.

Os diplomatas são actores pró-paz.• Os pacifistas protestam nas ruas das cidades.

Os pacifistas são activistas pró-paz.• As religiões convidam seus fiéis à oração.

Estes crentes são activados pró-paz.

Nenhuma destas acções, embora positivas,consolidam a paz na sociedade humana,porque o estado de guerra interiorincendeia o mundo exterior.

2. Os pacíficos, os activadores da paz,porque cultivam a paz intrapessoal,fazendo-a emergir do seu Ser existenciale irradiando-a, continuamente, para o Universo,são os verdadeiros construtores do rio da paz.

3. O RIO da PAZ aprofunda-se e alarga-se quando:• os bens materiais são adquiridos com transparência,

desfrutados com satisfação e partilhados com alegria.• os bens psicológicos são adquiridos em fontes puras,

desfrutados em harmonia e partilhados sem discriminação.• os bens espirituais são adquiridos na profundidade do SER,

desfrutados em simplicidade e partilhados sem medida.

4. A PAZ EFICAZ, porque dá estabilidade ao psíquico,maior segurança, mais imparcialidade e simplicidade,assegura à dimensão fisiológica maior imunidade.

Cristo Martins

Mãos ungidas, sagradas, consagradas;Mãos de enlevo, eleitas, escolhidas;Mãos de rei, de profeta, abençoadas;Sacerdotais, de Cristo bem queridas.

Mãos que baptizam, ungem e perdoam,Consagram, distribuem Pão da Vida;Crismam; aos noivos unem e abençoam,Aos doentes preparam despedida...

Mãos que abraçam, que traçam o perdão,Que levantam quem cai, e encaminham,Que indicam a Verdade para Deus...

Mãos erguidas por nós, em oração,Que agradecem, suplicam e ensinam...Um dia, cantarão a Deus... nos Céus!

J. Silva Pinto – Fontes -SMP

SAGRADAS MÃOS

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to às pessoas que dizem: não per-tenço à Igreja mas o senhor é o meubispo; por exemplo, aos muçulma-nos em Paris quando afirmam: esteé o nosso bispo.

KI — Francisco de Assis vi-veu doutra maneira, deu oexemplo duma vida alterna-tiva para a Igreja da IdadeMédia, sem ele próprio criti-car a Igreja. O Senhor vê-senum papel semelhante?Gaillot — É uma honra paraS. Francisco não ter criticadoa Igreja e ter convidado osseus irmãos a corresponderemàs expectativas do papa e dosbispos. Também eu não mesinto vocacionado para criti-car a Igreja ou os bispos, issonão é tarefa minha. Eu acho que crí-tica, raiva e indignação só relativa-mente às injustiças deste mundo.Ninguém se pode calar quando hámiséria neste mundo.

KI — O bispo Kurt Krenn pelassuas atitudes ultraconservadoras épara muita gente na Áustria escân-dalo e pedra de fricção. Porque éque o visitou e como é que se en-tende com ele?Gaillot — Quando venho oficial-mente à Fundação Melk e ao Liceu,é costume informar o bispodiocesano competente. Isso foi feitoantes por Katharina Haller [a edito-ra do novo livro de Gaillot –“Machtlos, aber Frei” (= Sem Po-der, Mas Livre)]. Ora ele convidou-me para um almoço e para uma con-

versa pessoal, recebeu-me fraternal-mente, pôs-me na presidência damesa e citou S. Agostinho: “Emtudo o que conta é a caridade”.Agostinho diz que podemos ter opi-niões diferentes sobre muitas coisas,mas no fim o que conta é o amor.

KI — Esteve há pouco tempo emBagdade a engrossar as hostes dosinimigos da guerra. Qual a sua opi-nião sobre esta guerra?Gaillot — É uma guerra que nãodevia ter começado, uma guerra ile-gal, uma guerra de destruição hu-mana terrível. Considero-a um re-cuo da humanidade, um fracasso dasnegociações e das capacidades deentendimento. Em vez do direito,usa-se o poder e a força.

KI — Que consequências podemadvir desta guerra localmente limi-tada, pode degenerar num incên-dio mais vasto?Gaillot — Sim, infelizmente isso épossível. Quando se ateia um fogonão se sabe como se pode extingui-lo. Sabe-se como se começa uma

guerra, mas não como nem quandoela vai terminar. Não sabemos comoreagirão os árabes, o que farão oscurdos e os turcos. Oxalá que sepossa limitar a guerra e se regressetão cedo quanto possível às negoci-ações. Tenho muita pena que se te-nha começado uma tal guerra.

KI — O Senhor é uma espé-cie de cosmopolita da solida-riedade – por quanto tempomanterá esta vida?Gaillot — Eu acho que éDeus que determina o meu ca-minho. Há acontecimentos quesão para mim sinais. Eu vivoassim um pouco o dia a dia e,enquanto puder, continuo. Nãotenho planos para acabar comisto ou para ordenar a minhavida doutra maneira. Hoje en-contro-me com esta ou aquela

pessoa – e amanhã é outro dia.

KI — Donde lhe vem a força paramanter esta vida, para estar sem-pre a intervir a favor dos outros?Gaillot — De manhã rezo semprepelas pessoas que vou encontrar nes-se dia e à noite outra vez por aque-les que encontrei. Esta oração põe-me em contacto com muita gente, dá-me força e apoio. A oração é a mi-nha verdadeira fonte de energia.

* Esta entrevista foi conduzida porWerner Ertel no dia 1 de Abril de 2003no paço episcopal em St. Pölten duran-te a visita de Jacques Gaillot ao seucolega Kurt Krenn.

in KI, 05/2003, pp. 14,15

(continuação da pág. 8)

De manhã rezo sempre pelas

pessoas que vou encontrar

nesse dia e à noite outra vez

por aqueles que encontrei.

Esta oração põe-me em

contacto com muita gente,

dá-me força e apoio. A

oração é a minha verdadeira

fonte de energia.

Entrevista com o bispo Jacques Gaillot

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C a r t a s . . .✑

Estimados Consócios da Fraternitas

A todos, que de algum modo tiveram alguma deferência paracom o Casal Nabais, e em especial àqueles que partilharam comigoa dor da separação da Maria José (16 de Agosto), a todos repitomuito obrigado. Por ela bem-hajam.

A nossa união — livre e responsável — teve sempre como lema: oamor / perdão. Assim, ao agradecermos a Deus o Dom da vidaagradecíamos sempre o Dom recíproco do amor / perdão.

Aceito o sofrimento mas... aqui a semana da paixão (acamada)durou quatro longos anos...

“Atravessámos o limiar da esperança...” creio que posso inscrevê-la no meu dicionário dos Santos.

Caros colegas da Fraternitas, como metade (de um só corpo / umasó alma) e renovando os agradecimentos, faço votos para que todospossam dizer como eu: obrigado, Senhor, por me terdes permitido oamor conjugal.

Paz em CristoCom o amor das vossas Esposas

Manuel NabaisSesimbra, 29/08/2003

! Matrimónio: Daniel LimaCanito, filho de Manuel RamosCanito (falecido) e de MariaJoaquina Ferreira de Freitas LimaCanito, vai contrair matrimónio nodia 11 de Outubro próximo, naigreja de Vila Chã, freguesia doconcelho de Vila do Conde.Felicidades para os noivos.

! Exposição de pintura: OAlberto Videira d’Assumpção,membro da Fraternitas e autor do

b rb rb rb rb r eeeee vvvvv e se se se se s . . .. . .. . .. . .. . .logótipo da nossa associação, estápresente numa exposição de pinturaem Florença (Itália). Tem tembémobras suas presentes em Londres emgaleria de arte.Parabéns.

! Em recuperação: O Sampaio,marido da muito querida Secretária,e que já fez parte activa dos mem-bros da Direcção da nossa associa-ção, foi há pouco operado à anca es-querda. Tudo correu bem, graças aDeus, tendo regressado a casa e en-

trado em franca fase de recupera-ção.Continuação de rápidas melho-ras.

! Na mão de Deus: Tivemos no-tícia do passamento, em tempo deférias, do irmão do senhor CónegoFilipe de Figueiredo, assistente es-piritual e “fundador” do nosso Mo-vimento.A certeza da nossa oração e uniãoespiritual.Os nossos sentidos pêsames.

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No seu n.º 9 de Setembro de2002 o Espiral publicou umaentrevista de Julio PerezPinillos ao “El País”, quecomeçava assim: “Júlio PérezPinillos é presidente daFederação Internacional deSacerdotes Católicos Casadose exerce plenamente osacerdócio numa comunidadecristã de Vallecas, um bairrooperário de Madrid (…)”.

A este propósito recebemos doSecretariado da CEP umacarta a chamar-nos a atençãopara um documento daCongregação para o Clero,dirigido ao Senhor Patriarca,no qual esta Congregação,após ter consultado o Ex.moCardeal Arcebispo de Madrid,lugar de residência de JúlioPinillos, pode informar que“ele não exerce o ministériosacerdotal nem celebra ossacramentos em nenhumtemplo daquelacircunscrição eclesiástica,nem tal facto seria toleradopelas autoridades daArquidiocese, por serclaramente contrário àlegislação canónicavigente”, e manda que, ematenção à verdade, estainformação seja publicada nopróximo número do Espiral.

Kirche In — Desde que foi afasta-do da diocese de Évreux já passa-ram sete anos. Foram para si seteanos magros ou sete anos gordos?Jacques Gaillot — Vivi sempreanos gordos, adorei ser bispo, de-sempenhei essas funções o melhorque pude, tive muito gosto nisso. Eagora os anos após Évreux tambémos vivi apaixonadamente. Hoje aminha vida é totalmente diferente— outra vida, outro povo. Eupenso que a Providênciaplaneou as coisas de talforma que eu hoje per-corro uma parte da minhavida por outro caminho:agora anuncio o Evangelhoextra muros.

KI — Seria difícil imaginá-lo aregressar a um paço episcopal.Apesar disso não gostaria desentir algum reconhecimento daparte dos seus colegas bispos ou

ESCLARECIMENTO

espiralRua Lourinha, 429 - Hab 2 = 4435-310 RIO TINTO

e-mail: [email protected]

boletim daassociação fraternitas movimento fraternitas movimento fraternitas movimento fraternitas movimento fraternitas movimento

Responsável: Alberto Osório de Castro

Nº 12 - Jul/Setº de 2003

Entrevista com o Bispo Jacques Gaillot *

“O meu futuro está

O Bispo francês Jacques Gaillot, 67, destituído há oito anos dadiocese de Évreux na Normandia, desde então bispo de Partenia,cidade submersa nas areias do Sahara, esteve na Áustria, no princí-pio de Abril de 2003, a convite da ACUS — Acção Cristianismo eSocialismo — para falar, na Fundação Melk, sobre “P“P“P“P“Política com oolítica com oolítica com oolítica com oolítica com oSermão da MontanhaSermão da MontanhaSermão da MontanhaSermão da MontanhaSermão da Montanha”””””. Falou do seu trabalho em França a favordos estrangeiros indocumentados, os chamados “sem papéis”. WernerErtel entrevistou este bispo “apaixonado”.

mesmo que Roma o instalasse no-vamente como bispo duma diocese?Gaillot — Eu não creio que o meufuturo esteja em dar um passo atráspara uma diocese ou um paço epis-copal. O meu futuro está em eu fi-car de fora. O reconhecimento porparte dos outros bispos é muito im-portante, eles já o expressaram no

meu jubileu. Mas eu já tinhasentido um reconhecimento muitoantes do dos bispos: o reconhecimen-to vindo das pessoas, dum povo queeu não procurei, das pessoas que mereceberam e adoptaram. Estou gra-

em ficar de fora”

(continua na pág. 6)

Encontros Regionais

☞☞☞☞☞ NNNNNorteorteorteorteorte (Litoral)8 de Novembro – 10:00 horasColégio do Sardão (V. N. Gaia)ENCONTRO / MAGUSTO

Participa! Vem! Convida outros!