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Nº 57 - Janeiro / Março de 2016 boletim da FRATERNITAS MOVIMENTO E m dia de aniversário, costuma cantar- se a melodia "Parabéns a você" que, traduzida a letra para português, a música é praticamente igual à da versão inglesa da referida canção. Na versão latina, cuja letra sintetiza o essencial desejado nas duas músicas, ou seja, que a vida perdure e seja o mais plena possível, temos um claro exemplo da vontade humana de felicidade. É para sermos felizes e fazermos os outros felizes que vimos a este mundo; é esta a nossa missão, acredito-o profundamente. Este ano a Associação FRATERNITAS Movimento celebra 20 anos da sua fundação. Precisamos cantar-lhe os parabéns por tudo o que de bom tem sido para os que nela se apoiam, directa ou indirectamente; pela força e retempero que tem sido para os seus associados quer através dos retiros quer das formações e actualizações teológicas e culturais, tão importantes para um sempre desafiante e continuado diálogo entre o Evangelho e a Cultura. E ste ano, o nosso Encontro da Páscoa irá decorrer nos dias 29, 30 de Abril e 1 de Maio, em Fátima. No dia 1, teremos a Assembleia Geral, na qual iremos dialogar sobre alguns pontos dos Estatutos que necessitam ser revistos. O Presidente da Mesa da Assembleia Geral irá enviar a respectiva Convocatória. A Direcção “Ad multos annos" enviará também uma comunicação atempadamente, via postal e via e-mail, para que todos e todas a possam ler, reflectirem sobre ela e pronunciarem-se da melhor maneira sobre o futuro da FRATERNITAS. D esejando que todos e todas vamos sonhando e concretizando a Igreja de Jesus Cristo nas comunidades onde estamos, envio-vos um forte abraço de gratidão e apreço pela vossa coerência e verdade. Bem hajam, Santarém, 6 de Fevereiro de 2016 Luís Carlos Lourenço Salgueiro Livros editados por Sócios da Fraternitas 2-3 Conjugar verdade e misericórdia 4-5 Ainda ecos do Encontro de Formação 6 Encontro Nacional da FRATERNITAS Movimento 6 Visionamento de Uomini Proibiti (comentários) 7 Uma só coisa... necessária!... 8 Cartas 8 Igreja, Comunidades e Ministérios 9 Ao melhor dos pais 11 In Memoriam... Manuel Duarte Luís 12-10

Espiral 57

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Nº 57 - Janeiro / Março de 2016b o l e t i m d a F R A T E R N I T A S M O V I M E N T O

Em dia de aniversário, costuma cantar-se a melodia "Parabéns a você" que,traduzida a letra para português, a músicaé praticamente igual à da versão inglesada referida canção.Na versão latina, cuja letra sintetiza oessencial desejado nas duas músicas, ouseja, que a vida perdure e seja o maisplena possível, temos um claro exemploda vontade humana de felicidade.É para sermos felizes e fazermos os outrosfelizes que vimos a este mundo; é estaa nossa missão, acredito-oprofundamente.Este ano a Associação FRATERNITASMovimento celebra 20 anos da suafundação. Precisamos cantar-lhe osparabéns por tudo o que de bom tem sidopara os que nela se apoiam, directa ouindirectamente; pela força e retemperoque tem sido para os seus associados queratravés dos retiros quer das formações eactualizações teológicas e culturais, tãoimportantes para um sempre desafiante econtinuado diálogo entre o Evangelho e aCultura.Este ano, o nosso Encontro da Páscoa irádecorrer nos dias 29, 30 de Abril e 1 deMaio, em Fátima. No dia 1, teremos aAssembleia Geral, na qual iremos dialogarsobre alguns pontos dos Estatutos quenecessitam ser revistos. O Presidente daMesa da Assembleia Geral irá enviar arespectiva Convocatória. A Direcção

“Ad multos annos"enviará também uma comunicaçãoatempadamente, via postal e via e-mail,para que todos e todas a possam ler,reflectirem sobre ela e pronunciarem-se damelhor maneira sobre o futuro daFRATERNITAS.Desejando que todos e todas vamossonhando e concretizando a Igreja deJesus Cristo nas comunidades ondeestamos, envio-vos um forte abraço degratidão e apreço pela vossa coerência everdade.Bem hajam,

Santarém, 6 de Fevereiro de 2016Luís Carlos Lourenço Salgueiro

Livros editados por Sócios da Fraternitas 2-3Conjugar verdade e misericórdia 4-5Ainda ecos do Encontro de Formação 6Encontro Nacional da FRATERNITAS Movimento 6Visionamento de Uomini Proibiti (comentários) 7Uma só coisa... necessária!... 8Cartas 8Igreja, Comunidades e Ministérios 9Ao melhor dos pais 11In Memoriam... Manuel Duarte Luís 12-10

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PRODUÇÃO LITERÁRIA DE MEMBROS DA FRATERNITASLIVROS editados em 2014 (conclusão)

O Rosto Humano de Deus, A.Cunha de Olivei-ra, 2014, Ediçãodo Instituto Aço-riano de Cultura /Angra do Heroís-mo, digitação erevisão de Anto-

nieta Lopes Oliveira, [381 pági-nas]. (*)Da contracapa:

"Embora o Cristianismo tenhatomado nome a partir de Cristo, averdade é que Cristo não é nomede pessoa mas de categoria; nãoé substantivo mas adjectivo. De-riva do grego chriein, que signifi-ca "ungir", e corresponde aohebraico mashi ́ ah, ou melhor ain-da, ao aramaico meshi ´ah, quequerem dizer "ungido" e donde nosveio o termo Messias. Na Bíblia"cristos" e "messias" foram aque-les a quem Deus escolheu,predestinou e dotou de dons espi-rituais para poderem levar a caboacções de salvação. Até o ímpiorei persa Ciro (538-528 a.C.) foi"cristo" ou "messias". Assim dizo Senhor a Ciro, seu ungido(cristo, messias) a quem tomoupelas mãos: "Vou derrubar as na-ções diante de ti, desatar o cinturãodos reis, abrir-te as portas da ci-

O Secretariado tem vindo a inventariar as obras editadas dos seus membros e vai baseando-senos dados dos livros de que dispõe, na sequência adotada — os que vão sendo publicados nopróprio ano e/ou num triénio recuando no tempo. Desta vez concluir-se-á, contudo, o ano de 2014(iniciado em Espiral nº 53). Decerto que foram publicados (muitos) mais. Informem-nos segundo osdados que têm vindo a ser transmitidos e/ou selecionando excertos de vossa preferência. "LausDeo"! — assim terminam todos os livros de um dos dois autores apresentados, Jacinto de Sousa Gil.Nota prévia: O critério adotado é o da ordem alfabética dos nomes dos autores, que não seguem onovo Acordo Ortográfico.

dade …" (Is 45, 1.4). O Cristia-nismo, como religião, deve-se aoSenhor Jesus de Nazaré, perso-nagem histórica como, além da li-teratura cristã, no-lo atestam ojudeu Flávio Josefo (37/38 -103)e os romanos Cornélio Tácito (55-115), Plínio o Moço (61/62 -112/113) e Tranquilo Suetónio (69-141), autores, como se vê, con-temporâneos dos Apóstolos e daprimeira geração cristã. Os dis-cípulos e seguidores do SenhorJesus passaram a ser designadoscristãos a partir de Antioquia daSíria (Act.11, 26b), muito prova-velmente por influência de algumfuncionário ou militar romano epagão. Nunca por iniciativa pró-pria. […]

O Cristianismo não foi, origi-nalmente, uma religião de dogmas,de ritos, de cânones, mas de com-promisso e de missão: e sereisminhas testemunhas. Maisortopraxia, que ortodoxia. Nãoadmira, por isso, a existência de"cristãos anónimos", como lheschamou o grande teólogo e mes-tre Karl Rahner."Crer. Mas em Quê?, A. Cunha deOliveira, 2015, Edição do Institu-to Açoriano de Cultura / Angra do

Heroísmo, digita-ção e revisão deAntonieta LopesOliveira, [382 pá-ginas]. (*)

Da contracapa:O Cristianismo é, antes de

mais, uma fé religiosa. Diria mes-mo que a fé religiosa por exce-lência, baseada na pessoa adorá-vel do Senhor Jesus de Nazaré ena mensagem que nos trouxe so-bre o Reino de Deus. Não se tra-ta, pois, de sistema doutrinal desimples contemplação, mas, e so-bretudo, de mundividência, práti-ca, e estilo de vida.

Desde início que a adesão aosCristianismo se fez através do ritodo baptismo, mediante préviainstrução, ou catecumenato, e umaprofissão de fé. Daí que no decur-so do tempo hajam surgido as maisvariadas fórmulas de profissão dafé cristã, em obediência ao essen-cial que sempre foi a confissão dafé em Deus, Uno na essência, eTrino nas pessoas. As diversas fór-mulas de profissão da fé cristãacabaram, no século IV, por serreduzidas a uma só - o nosso Cre-do, mercê da teoria e da acção dosbispos das Igrejas do Oriente, soba égide dos imperadores romanos.

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Recitamo-lo particularmentecomo oração, e colectiva e publi-camente em certos dias de festadurante a Missa. Mas, […]: serápossível crer de verdade sem sesaber bem em quê?

Para tanto, seria necessáriopor parte de cada cristão um mí-nimo de esclarecimento de cadaconteúdo das " Verdades da Fé e,lá de tempos a tempos, a actuali-zação das sua expressões verbais.É que, mais não seja pelo progres-so da Ciência, tais expressõesverbais envelhecem. Se não mes-mo envilecem.(*) Pedido de aquisição: IAC- [email protected] (www.iac-azores.org)Alto das Covas, nº67 / 9700 Angra do HeroísmoAÇORES; telefone: 295215825

Monte Real, Jacintode Sousa Gil, Dezem-bro de 2014, publica-ção do autor, Leiria,431 páginas.

Resenha histórica de Monte Real:[…] Em 1291, o Rei D. Dinis, queaqui habitara com a sua Esposa,a Rainha Santa Isabel, "ordenouque se fizessem abertas no Paulde Ulmar, a fim de que recebes-sem terras para lavrar durante dezanos os que estivessem dispostosao seu cultivo, mediante o paga-mento à Coroa de um quarto detodo o fruto. Procurava assim D.Dinis fixar os colonos às terras,atraindo-os para que aí se estabe-lecessem. […] O mesmo D. Di-nis, "outorgou foral à sua ' Póbra',elevando-a à categoria de Vila -Vila da Póvoa de Mon Real […].Monte Real foi Vila no passado,sede de Comarca e com Admi-nistração própria. Será que a con-

dição de Vila, uma vez adquirida,alguma vez se pode perder? […]E, por isso, espero que as Entida-des competentes lhe devolvam acondição de Vila. […] - páginas11,12 e 13.

Leiria Solidária, Ja-cinto de Sousa Gil,Maio de 2015, publi-cação do autor,Leiria, 239 páginas.

Da Introdução:A Solidariedade brota do coraçãobem formado, generoso e sensí-vel às circunstâncias dos outros,quer por motivos filantrópicos,quer por motivação cristã, porquevê nos outros um Irmão e ou umFilho de Deus.[…] Leiria sempre demonstrou,através da história, esta preocu-pação com os mais desprotegidosou doentes, e especialmente comas Crianças "desvalidas ou aban-donadas". Pode-se dizer queLeiria aprendeu bem a lição dasua Rainha Santa Isabel que resi-diu no nosso Castelo. […]É esse o milagre, (referindo-sepreviamente ao milagre das ro-sas) mais ou menos silencioso,sem alarde nem vã glória, queLeiria soube actualizar atravésdos tempos e das várias convul-sões sociais.[…] Aos Homens e Mulheres dehoje, nossos potenciais leitores,pedimos que abram o seu cora-ção ao Amor dos Irmãos para che-garmos todos à Fonte do Verda-deiro Amor que é Deus. […] -páginas 13 e 14.Pedradas Soltas, Jacinto de Sou-sa Gil, Junho de 2015, publicação

do autor, Leiria, 195páginas.Da Introdução:Diz o nosso povo emsua ancestral sabedo-

ria: "Quem tem telhados de vidronão pode atirar pedradas". Não énosso objectivo atirar pedradas,porque todos temos telhados devidro. Mas, apenas e só, apontarfactos, relatar acontecimentosprotagonizados por Irmãos Sacer-dotes. Não por qualquer mesqui-nho espírito de vingança, mas paraque sirvam de alerta e de refle-xão na busca de santidade indivi-dual, de um maior amor fraternoe duma Igreja mais Santa.[…] Não interessa aqui tanto amotivação que faz soltar a "pe-drada" da minha ou da tua mão.Importa apenas e só verificar a"dor" que a dita "pedrada" lançadacausa ou causou no outro.[…] Vem a propósito recordar oque Tomás Hallik, no seu "A noi-te do Confessor", escreve: "A in-tolerância é muitas vezes fruto deinveja encoberta de outros, dumainveja que procede dos coraçõesamargurados de pessoas que nãoestão dispostas a reconhecer o seusentimento de profunda insatisfa-ção com a sua própria casa espi-ritual".[…] É nosso objectivo, primeira-mente perdoar, e secundariamen-te tentar corrigir imperfeições,endireitar caminhos, fazer pensare viver uma vida em Igreja, comoFamília mais Santa, mais cordata,com maior tolerância entre Ir-mãos, e com mais presença deDeus em todo o nosso pensar eagir. […] - páginas 11 a 15.Urtélia Silva

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Afirmava, há dias, cá para os meus botõesque, se a verdade liberta, a misericórdiasalva. Escrevia-o a propósito do pregão

lançado por Francisco na Missa de encerramentodo Sínodo de 2015: "A tarefa da Igreja é proclamara misericórdia de Deus, chamar à conversão e levartodas as pessoas à salvação".

Com efeito, o apóstolo e evangelista S. Joãoretém como palavra de Jesus aos judeus o segmentoseguinte: "conhecereis a verdade e a verdade voslibertará" (Jo 8,32). Mas, por outro lado, segundo aPalavra de Cristo, a felicidade resulta damisericórdia, como da pobreza em espírito, damansidão, da consolação sobre as lágrimas, da fomee sede de justiça, da pureza de coração e da lutapela paz, mesmo à custa da perseguição por causada justiça. Na verdade, "felizes os misericordiososporque alcançarão misericórdia" (Mt 5,7) é uma dasproclamas do Sermão da Montanha (vd Mt 5,1-12).E esta misericórdia concretiza-se no perdão e napiedade, que se recebe de Deus e se deve replicarnos irmãos: "Não devias também tu ter piedade doteu companheiro como Eu tive de ti?" (Mt 18,33). Eo apóstolo S. Tiago ensina que a misericórdia é umadas caraterísticas da Sabedoria que vem do Alto:

"Existe alguém entre vós que seja sábio eentendido? Mostre, então, pelo seu bomprocedimento, que as suas obras estãorepassadas da mansidão própria da sabedoria.Mas, se tendes no vosso coração uma invejaamarga e um espírito dado a contendas, nãovos vanglorieis nem falseeis a verdade. Essanão é a sabedoria que vem do Alto, mas é aterrena, a da natureza corrompida, a diabólica.Pois, onde há inveja e espírito faccioso tambémhá perturbação e todo o género de obras más.Mas a sabedoria que vem do Alto é, emprimeiro lugar, pura; depois, é pacífica,indulgente, dócil, cheia de misericórdia e debons frutos, imparcial, sem hipocrisia; e é coma paz que uma colheita de justiça é semeadapelos obreiros da paz.".

Aliás o cúmulo da misericórdia é o Bom Pastordar a vida pelas ovelhas (cf Jo 10,11.13), pelos

homens para que tenham a vida e a tenham emabundância (cf Jo 10,10) e, à hora da morte,exclamar "Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem oque fazem" (Lc 23,34). E esta misericórdia assumidaexponencialmente fica espelhada nas parábolas damisericórdia, convenientemente explanadas nocapítulo 15 de S. Lucas. O Bom Pastor, que tenha100 ovelhas, vai à procura da ovelha perdida até aencontrar, mesmo que tenha de deixar as outras 99no deserto; e, quando a encontra, põe-na alegrementeaos ombros e, ao aproximar-se da vizinhança,convida à alegria (cf Lc 15,3-7). Atitude semelhantetoma a mulher que tem 10 dracmas e, tendo perdidouma, não descansa até a encontrar e, encontrada,convida as vizinhas à alegria (cf Lc 15,8-10). E jávimos, noutras ocasiões, como foi a paciência doPai que tinha dois filhos: respeitou a liberdade decada um, mas fez festa quando o pródigo voltou einstou junto do filho mais velho para que alinhassena festa (cf Lc 15,11-32). Com efeito, haverá maisalegria no Céu, entre os anjos de Deus, por um sópecador que se converte do que por noventa e novejustos que não necessitam de conversão (cf Lc15,7.10).

***Também o Padre Gentili, Diretor do

Departamento para a família da CEI (ConferênciaEpiscopal Italiana), comentando o resultado dosSínodo dos Bispos de 2015, no passado dia 28 deoutubro, sintetizou o resultado dos trabalhos sinodaisna frase lapidar: "O convite é conjugar verdade emisericórdia".

Depois, explicou como acolher as ideiaslevantadas no Sínodo.

Evocando a lembrança de Francisco de que atarefa da Igreja é "proclamar a misericórdia de Deus,chamar à conversão e levar todas as pessoas àsalvação", Paolo Gentili disse que a tarefa deaplicação do Sínodo deve ser entendida à luz doRelatório Final do Sínodo (Relatio Synodi) e deveser feita com grande cuidado e sensibilidade pasto-ral com relação às famílias que vivem situações desofrimento e de conflito.

Conjugarverdade e misericórdia

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Na entrevista que deu ao Zenit — o mundo vistode Roma — Gentili explicou como a Igreja que viveem Itália recolherá alguns dos itens abordados noSínodo: dos cursos de preparação para o matrimónioao acompanhamento de famílias que sofreramperda, passando pela objeção de consciência doseducadores perante ideias e medidas que vão con-tra a moral cristã. Não faltam alguns considerandossobre o tema que tem suscitado o maior interessedos meios de comunicação: a comunhão aosdivorciados recasados civilmente.

Questionado sobre o balanço global que faz desteSínodo, chamou-lhe "uma obra-prima do Espírito".E, recordando que foi uma jornada de dois anos,que teve o primeiro ponto alto na assembleiaextraordinária de 2014, acentua que o Sínodoproporcionou "uma dupla consulta ao povo, paradepois voltar às salas sinodais para a assembleiageral ordinária que terminou recentemente". E utilizauma interessante metáfora para explicar odinamismo sinodal:

"Inicialmente, parecia ouvir uma orquestranuma espécie de sala de ensaio, onde cadaum afinava o próprio instrumento. Depois,porém, apareceu uma maravilhosa sinfonia eas posições diferentes revelaram-se umariqueza, descortinando a catolicidade e auniversalidade da Igreja.".

A seguir, sublinhou os "três ingredientesespeciais" inoculados neste itinerário pelo Papa jána vigília com que assinalou a abertura daassembleia no ano passado: "escuta mútua, confrontofraterno, olhar em Cristo". E, como suporte doenunciado de que permanecer "prisioneiro deesquemas do passado" acarreta "o risco de nãocomunicar mais a vitalidade, a beleza e a perenenovidade do evangelho", declarou:

"É muito bom fazer parte de uma Igreja viva,onde os pais se sentam à mesa com os filhos,antes de tomarem decisões importantes. Diriaque as famílias iluminaram realmente o sínodoe indiretamente também indicaram o métodode trabalho aos Padres sinodais. Um pai e umamãe que têm quatro filhos, embora tendocritérios educativos claros, nunca poderãoeducar o quarto como o primeiro; não sóporque eles mesmos mudaram e porque aquelefilho é único, mas, especialmente, por encarnaro melhor possível os valores de sempre naquele

determinado contexto histórico.".Sobre a alegação de que a comunhão aos

divorciados que assumiram uma outra relaçãoafetiva, tendo sido um tema que catalisou o inter-esse da Comunicação Social, não tem referênciavisível na Relatio Synodi, chamou a atenção para aexistência de alguns verbos-chave que indiciam aatitude a tomar relativamente a quem experimentouo fracasso do casamento e encetou uma nova união:acompanhar, discernir e incluir. Depois, explica:

"O acompanhamento é a tarefa fundamentalda Igreja, que é mestra e mãe, e, portanto,chamada a curar os feridos com misericórdia.O discernimento é a tarefa principal dospastores e de seus colaboradores. Trata-se dedeixar de ser "lentos de coração" (Lc 24,25)como os dois discípulos de Emaús, nãoreconhecendo naquela pessoa ferida Jesus quepassa ao nosso lado, ou amalgamando comatitudes confusas e erróneas situaçõescompletamente diferentes. A inclusão é aatitude das parábolas da misericórdia; em par-ticular, da mulher que se deixa iluminar pelalâmpada e, reencontrando a moeda perdida,devolve todo o valor (cf Lc 15,8-10).".

E é na síntese desta explicação que se encontracomo corolário o enunciado em epígrafe, pois PaoloGentili confessa:

"Em última análise, o que realmente mudou éa procura de um novo olhar sobre acomunidade dos crentes, para que abandoneuma atitude de julgamento sobre as famíliasferidas, conjugando eficazmente verdade emisericórdia. Só quem está em conversãopode guiar o outro na mudança do coração,senão, transforma-se em "cego e guia decegos" (Mt 15,14). Com este olhar cheio deternura poderão também indicar caminhospenitenciais que, em certas circunstâncias,abram a possibilidade de receber a comunhãoeucarística, mas, antes de tudo, há umacomunhão de abraços a ser feita.".

[…]Oxalá que o Sínodo da Verdade e da Misericórdia

não seja encerrado na gaveta do fixismo, inércia eda comodidade, mas gere a oportunidade de o Espíritorenovar a face da Terra.

Louro de Carvalho(2015.10.31)

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ainda ... Encontro de Formação

O encontro com esta pessoamuito conhecida na comunicaçãosocial foi profundo, sério eirrefutável nas suas posições. Otema foi Deus, Jesus Cristo e aIgreja. Durante três dias ouvimo--lo falar e expor com uma culturafora do comum destes temas bematuais e muito badalados.

Confesso que ouvi com muitaatenção e tirei muito proveito detudo quanto ouvi e refleti.

As ideias expostas acerca deDeus, de Jesus Cristo, inserem--se completamente dentro do quepenso e estão em consonância,penso eu, com tudo o que pensamos meus colegas. Falou-nos seminibições do Deus que nos ama eama o mundo todo sem qualquerexceção. Do Jesus que veio paraabrir as portas da eternidade felizpara toda a humanidade. Da Igrejafalou mais do que não nos disse eque todos podíamos concluir atra-vés das mensagens que nos trans-mitiu. Eu penso que ele como oPapa Francisco entendem ser ne-cessária uma profunda reforma naIgreja Hierárquica e principal-mente na Cúria Romana. Depoisde o ter ouvido, li o seu livro mais

recente Deus ainda tem futuro?As minhas ideias caminham emparalelo com as dele ali expostase explanadas de uma forma muitofilosófica e profunda. Deus temfuturo e terá sempre parapodermos compreender o enigmá-tico mundo que nos rodeia. SemEle as coisas não têm sentido esó se percebem minimamenteamando-O em espírito e emverdade. Por isso gostei de tudoquanto nos disse e tentei perceberpor que há tanta gente responsávele com obrigações de ir mais aléme mais longe e não vai. Aquiassenta como uma luva umacrítica velada à Igreja que temose que precisa de ser renovada emodernizada para poder cativar osjovens e as grandes massas quevivem afastadas e nas franjas.

Depois quero referir-me emespecial à Eucaristia do domingo.Tudo o que aconteceu antes nosdois dias de reflexão foi a grandepreparação e no dia de domingofoi só o texto do Evangelho ondese fala da instituição da Eucaristialido pela secretária Ana Marta.Penso que esta escolha não foi poracaso: as mulheres na Igreja

devem poder desempenhar todasas funções do homem. São iguaisem direitos, embora diferentes.Seria também assim na Igrejainicial e primitiva. Isto é dar umponto sem nó. Seguiu-se ime-diatamente a distribuição do Pãoe do Vinho. Inicialmente teria sidoassim, sem formalismos, semoraçõezinhas e sem rodeios oudispersão. Falando com umcolega sobre o assunto, perguntou--me ele se aquilo teria sidoEucaristia… Eu respondi clara-mente que sim e todos sem qual-quer exclusão concelebraram, ho-mens e mulheres. No princípio aseucaristias teriam em boa parteaquela simplicidade, depois de umbom e saudável convívio.

Francamente gostei. Só tivepena que não tivéssemos tido maistrabalhos de grupo para podermosficar ainda mais esclarecidos, poisquando há pessoas bem formadase intencionadas "da discussãonasce a luz" ou mais luz ainda,sobre como se devem ou não fazeras coisas para que agradem agregos e a troianos. Ubi caritas etamor Deus ibi est.Serafim de Sousa

O nosso encontro em outubro com o Prof. Dr. Anselmo BorgesFátima, outubro de 2015

ENCONTRO NACIONAL DA FRATERNITAS MOVIMENTOFátima, 29 de Abril a 1 de MaioEste Encontro anual é, todo o sabemos, muito importante!Por isso, reserva já na tua agenda estes dias e disponibiliza-te para os viveres com alegria

e em fraternidade. Ainda não dispomos de todos os dados, mas avançamos a data da sua realização.

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Comentários ao visionamento do documentárioUomini Proibiti

Após termos divulgado o documentário UominiProibiti, de que havíamos tomado conhecimento noEncontro Internacional em Guadarrama (Madrid,Espanha), recebemos,via e-mail ou via comentáriosinsertos no facebook, alguns ecos que aqui sereproduzem.Vi o filme. Para mim foi um choque, até porque passei por esse estrangulamento para ser livre,como filho de Deus. É angustiante como alguns homens (ditos "iluminados" não sei por que tenebrosasluzes) conseguem fazer leis tão obsoletas quanto desumanas, para esmagar as leis de Deus, expressasna Natureza, e fazer sofrer tanto as pessoas que se têm de anular, de se esborrachar como pessoasdignas, e no fim ouvir a classificação que lhes dão de "traidores à fé". De homens já nada sobra, porqueficaram apenas bonecos abúlicos e manejáveis...Ensinaram-nos (Oh Deus!...) que os inimigos da alma eram "o mundo, o demónio e a carne". O mundo?Mas foi para o mundo que Cristo veio! (Jo 1,11)... A carne? Mas Cristo quis incarnar (Jo 1,14)!... Odemónio? Aqui acredito, porque quem cria leis meramente humanas para anular as divinas, só pode ser"demónio"!...E tanto sofrimento se tem causado com estas leis!... Sofrimento físico, psicológico...e empobrecimentoespiritual da Igreja, para salvaguardar o seu enriquecimento material com esperadas heranças!...Tantosseres humanos atirados para as valetas da vida!... Felizmente que os cristãos estão a acordar, sobretudocom o Papa Francisco (o renovador) que nos tem ensinado a ver as coisas de outra forma mais humana.Cristo escolheu os 12 discípulos e nunca pôs o problema de serem casados ou não! Querem inventaroutros caminhos diferentes dos que Cristo indicou para os homens se realizarem como filhos deDeus?... Paiva (por e-mail)

Eu penso que este assunto só as pessoas que vivem estes problemas, é que podem dar o seuparecer, a Santa Sé havia de ser aberta, os que quisessem constituir família não haviam de serproibidos, porque de facto sabe-se casos que são uma vergonha, havia de ser liberal, cada qual seguia oque acha-se que era melhor, para a sua vida, porque ninguém poder mandar no instinto do homem.Liliana Cardoso (comentário no Facebook)

Bom documentário. Na minha opinião para definir bem a sua vocação tem se ser feita quandotiver a idade adulta porque na adolescência há processos inerentes ao crescimento psicológico e desexualidade. Bem é preciso muita reflexão. Vi um seminarista bem mais velho a ser ordenado diácononos Jerónimos. Cada um tem o seu caminho ligado a Igreja. Sónia Cristina (comentário no Facebook)

Vimos o filme. É real nas três formas de abordagem. No conteúdo é muito semelhante aoretratado no do Frei Bernardo* do Antonino de Mendonça, com a diferença de o Antonino lhe juntar afundamentação bíblica sobre o amor que ninguém tem o direito de desrespeitar.Alípio (por e-mail) *[vd Espiral nº 31, Abril/Junho de 2008]

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Recebi, li e gostei MUITO donº 56 de Espiral.

Obrigado.Foi muito bom partilhar com

vocês em Fátima e em Guadar-rama (Madrid).

E, como vos disse, fiqueimuito feliz com a abertura daFraternitas à Federação Europeiae à Confederação Mundial dosPadres Casados.

Acho que pode ampliar vossavisão, vos dar novas ideias eperspectivas.

Os comentários sobre oEncontro de Formação em Fátimaestão muito bons.

O Pe. Anselmo Borges, pelosvistos, agradou em cheio. Sofia eeu, que já o apreciávamos,ficamos muito felizes em fazeresse Encontro de Formação comele.

É por esse apreço que eu pub-lico quase toda a semana umartigo dele no nosso site. Juntocom outro de Frei BentoDomingues que também apreciomuito.

Tive a impressão que eles doisestão bem além do Episcopado edo clero de Portugal.

Nossa viagem de volta foimuito boa. Pena que, com Luís eMarta, não pudemos ficar para amissa de conclusão. Mas tivemosa boa companhia deles até aoaeroporto de Barajas.

Abraço para ti e para todos.João e Sofia Tavares

O episódio dos magos (Mt 2,1-12) surpreende-me. Enche-me deternura, curiosidade, mistério. Ésimbólico, mas estranho. Unsdesconhecidos aparecem emJerusalém em busca de um Rei...São guiados por uma estrela, queora aparece, ora desaparece.

Esses estranhos enfrentamdificuldades na busca do ideal.Não sossegam. E assumem asconsequências.

Apesar de tudo, esta festaentrou na imaginação popular quelhe dá relevo emocional e festivo.

Aproximemos esta passagemda visita que Jesus faz à famíliade Betânia (Lc 10,38-42). Marta,como sabemos, afadiga-se paraservir Jesus, que decerto adesilude: "Uma só coisa é neces-sária!" E Jesus aprova a opção deMaria: "...escolheu a melhorparte".

A estrela, hoje! E que coisanecessária?

O papa Francisco procura aestrela que há-de guiar a Igreja aJesus. Não é único! Mas não estáfácil. A estrela está encoberta porgrossas nuvens. Ou perdeu luz?Retomar a luminosidade primi-tiva custa. Ela está lá, mas precisade esforço coletivo para sereacender. É um problema daIgreja.

Andamos todos afadigados!Muitas coisas, muitas trapalhadasenchem o coração... E "uma só énecessária!" Jesus, astuto, não

‘UMA SÓ COISA...NECESSÁRIA!...'disse qual. Apenas alerta! Marta,decerto, ficou curiosa sobre qualseria a única coisa necessária,porque Jesus acrescenta que "é amelhor parte".

Amigo, ainda não descobri"essa coisa necessária". Mas tuque és perspicaz, talvez identi-fiques a Misericórdia divina e este

ano Jubilar como aresposta possí-

vel. Olhando àvolta, a nossaigreja —cristãos, pa-dres, bispos

— andamosmuito atarefados,

muito cheios detrabalho... E "uma só coisa énecessária" — martela-me aconsciência... Tira-me o sono.

Admiro o papa Francisco.Velho cheio de genica, ultrapassaos bispos muito mais novos emidade, mas vazios da presença aopovo de Deus, com sensibilidadereticente aos problemas pastorais.Temos muita gente cheia delivros, de teorias, de intelec-tualidade. Há dias, na ordenaçãode um bispo, um amigo augurava--lhe: "sejas mais pastor e menosadministrador!" Eis a questão:Temos bons administradores.Gente boa, boas pessoas, masadministradores. Precisamos depastores, que as suas vestes"cheirem a ovelha".J. Soares

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Depois de quase quarenta anos depercurso partilhado (7 congressosinternacionais, 7 latino-americanos emuitos outros nacionais), o MovimentoInternacional de PresbíterosCasados, na sua actual estruturação,como Federação Latino-americana eFederação Europeia, após ter-se reunidoem Congresso em Guadarrama (Madrid,Espanha), sob o tema "Presbíteros emComunidades Adultas", decidiutornar público este comunicado.A todo o povo de Deus.Acabámos de celebrar o 50º aniversáriodo encerramento do Concílio Vaticano II.As esperanças e os compromissos queaquele acontecimento histórico des-pertou, incentivam-nos a oferecer, umavez mais, a nossa experiência e a nossareflexão, como movimento eclesial ecomo membros da Comunidade univer-sal dos crentes em Jesus de Nazaré.Na nossa origem está areivindicação de um celibatoopcional para os presbíteros da IgrejaCatólica do Ocidente: liberdade quedeveria ser reconhecida e respeitada nãosó por ser um direito humano, mas tam-bém porque a opção (e não a imposição)é mais fiel à mensagem libertadora deJesus e à prática milenar das igrejas.Esta posição também está mais inti-mamente relacionada com o direito dascomunidades a estarem providas deservidores dedicados ao seu cuidado,que hoje está insuficientementesatisfeito.Mas o caminho que, em grupo, temos

IGREJA,COMUNIDADES EMINISTÉRIOSvindo a fazer, ampliou essa perspectivainicial — focada na questão do celibato— para aspirar e avançar para ummodelo de presbítero, não cleri-cal, e um tipo de igreja não fer-reamente alicerçada num pres-bítero exclusivamente masculino,celibatário e clérigo.Durante todos estes anos, os que hojefazemos este comunicado, temos estadointegrados e comprometidos, comsimplicidade e fidelidade, em muitosgrupos comunitários. Sempre procura-mos dar sentido cristão às nossas vidase ajudar a quantos connosco se cruzam,a descobrirem a sua dignidade comoseres humanos e como filhos do nossoPai-Mãe Deus.A partir desses compromissos,atrevemo-nos a dizer:1º.- Estamos convencidos — e nistocoincidimos com outras comunidades emovimentos de igreja, paroquiais e nãoparoquiais — que o modelo de cris-tianismo maioritariamente dominanteestá desfasado. Mais: este cristianismo,em vez de ajudar à implementação doReino de Deus e da sua justiça, é frequen-temente obstáculo à vivência dos valoresevangélicos. Urge um novo tipo deigreja e de comunidades para poderapresentar algo válido, face aos desafiosque o ser humano tem hoje pela frente.2º.- O eixo deste novo modelo de igrejadeve ser a comunidade: a vidacomunitária dos crentes em Je-sus. Sem esses grupos que partilham asua vida e a fé, que procuram descobriro Reino de Deus e vivê-lo, não há igreja.

E não podemos ignorar que as actuaisestruturas paroquiais, em grandepercentagem, são mais despenseiras deserviços religiosos e cultuais do quecomunidades vivas.3º.- Para a renovação da Igreja e dascomunidades de crentes em direcção aum modelo activamente comunitário deassembleia do Povo de Deus, é precisauma mudança estrutural. Não sãosuficientes meros esforços pes-soais! Há uma inércia de séculos:Estado Vaticano, cúrias, leis, tradições…que actuam como um peso morto e tra-vam ou desvirtuam qualquer reforma pro-gressiva.4º.- O nosso percurso tem-nos feitoexperimentar e compreender que o mo-tor dessa transformação se encontra nointerior dessas mesmas comunidades.Somente comunidades adultas,maduras, podem levar a caboessa transformação estrutural, ne-cessária e urgente. A estrutura ac-tual — preferentemente centrada naparóquia e no culto — tende apenas aperpetuar o imobilismo e a adoptarapenas mudanças de superfície, isto é,na forma, no exterior, mas sem ir ao fundodos problemas.5º.- Também compreendemos e temosexperimentado que os presbíteros —célibes ou não: esta não é a questão prin-cipal — não podem continuar acentrar tudo nas suas pessoas epretender assumir todas astarefas e responsabilidades. A suaprópria identidade e a qualidade do seu

Após o Congresso Internacional de PresbíterosCasados, foi decidido divulgar, com a máximaextensão, na última Epifania, o comunicadoconjunto que aqui reproduzimos.

(continua na pág. 10)

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muito fortes. E porque nós sótemos uma vida, há que respeitaro modo como cada um se constróiem consciência.

****Na universidade, onde

voltámos a conviver, elecontinuava a vibrar com umapalavra: AMOR! Confidenciava--me então que a vida só vale a penase vivida com amor. Conhecimais tarde a esposa, que todostratavam por Fátinha, e com quemviveu muitos anos bonitos em har-monia exemplar. Já no Hospitaldo Mar, Bobadela, onde viveuacamado os seus últimos anos, eleconfidenciou-me que tinham

jurado fidelidade mesmo paraalém da morte.

Já aposentados, aindacelebrámos a amizade através deconvívios num grupo de setecasais com histórias semelhantes,que se encontravam ora numa oranoutra casa.

Mas a sua entrega não seresumia à família. Ouvi naLardosa o muito que o ManuelLuís fez pela sua terra, presidindomesmo à direcção da associaçãoque ergueu o maravilhoso lar aliexistente. E na direcção da EscolaSecundária de Mem Martins(salvo erro) bem deu o corpo aomanifesto, especialmente na

A minha homenagem ao Manuel Luís consecução do Pavilhão Gimno-desportivo. Foi uma vida vividacom uma intensidade tal que, porproblemas de saúde, se viuobrigado a parar. E ainda eranovo…

Quando o visitava, surpre-endia-me sempre com um sorrisocativante num corpo esquelético.Uma cabeça sempre desperta,boa memória, foi altura de ele fa-lar com muito enlevo dos doisfilhos, ela na Universidade deHarvard e ele como empresáriono Alentejo, mas visitando o paitodos os dias ao fim da tarde.

Assim se vão os homens, queantes de morrer ainda passam pelocadinho doloroso do esquecimentode muitos.António Henriques

serviço impõem uma evolução para umamaior participação e para um pluralismode modelos em função e em dependênciadas comunidades concretas.6º.- Essas comunidades adultas jáexistem. Por vezes são ignoradas ouperseguidas, mas é necessário incen-tivá-las. São pequenos grupos, de redu-zidas dimensões. Os seus membrosconhecem-se, partilham, vivem a igual-dade, a corresponsabilidade, a frater-nidade e irmandade. Temos de conti-nuar a lutar por esse estilo decomunidades, perfeitamente aceitá-veis dentro da pluralidade de modeloseclesiais.7º.- Essa maturidade e maioridadepermite-lhes adaptar-se às exigênciasculturais do nosso mundo mutável. Assimvivem e formulam a fé de forma e emlinguagem compreensível. Organizam-sesegundo as suas necessidades. Essas

comunidades são livres e exercem aliberdade dos filhos e filhas de Deus.Não vivem presas ao passado. A suareferência não é a obediência, mas acriatividade a partir da fé. E, assim,podem ser compreendidas nas nossassociedades.8º.- Deste ponto de vista, resulta cadavez mais contraditória e injusta asituação das mulheres. Estãomaioritariamente presentes na vidaeclesial, mas são afastadas tradicio-nalmente das tarefas de estudo, deresponsabilidade e governo. Não hánenhum fundamento para manter estadiscriminação, que além disso supõeuma perda de um potencial humanoinsubstituível. Pode ainda esperar-serazoavelmente que a sua presençatornará as estruturas de animação e degoverno melhores, mais justas e maisequilibradas.9º.- E, finalmente, é preciso reconhecera estas comunidades o direito a

escolher e distribuir cargos,responsabilidades, serviços eministérios às pessoas queconsiderem mais preparadas eadequadas para cada tarefa, semdistinção de sexo nem de estado. Destaforma, possam chegar a ser comunidadesabertas, inclusivas, a partir dapluralidade e mútuo respeito.Temos encontrado e participado emcomunidades deste tipo. Não são umaquimera, mas uma realidade apesar dassuas deficiências e dificuldades. Eestamos decididos: continuaremos a lutarpara que cada dia sejam mais numerosase autênticas.Este caminho não é simples. Temosconsciência de que os compromissosque assumimos podem causar proble-mas. Por vezes acercámo-nos da ilegali-dade, embora não por capricho ou arbi-trariedade. Sabemos, por experiência,

(continuação da pág. 9)

(conclui na pág. 11)

Comunicado Internacional

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Manuel Duarte Luís nasceu a5 de julho de 1935, na Lardosa(Castelo Branco), filho de AnaDuarte e Martinho Luís, o segundode 6 filhos (sócio do Sporting Clubde Portugal).

Aí passou a sua infância, atéembarcar na viagem do Patriar-cado, primeiro no seminário deAlcains e depois em Portalegre.Durante muitos anos foi Diretordo Colégio Diocesano de Porta-legre, onde, dizem, "sempre pro-moveu um ambiente de amizade,união, fraternidade e muitaalegria" ajudando a transformaraquela instituição numa instituiçãode referência da região. Nessa al-tura, foi também pioneiro dacriação de muitos dos Agru-pamentos do Corpo Nacional deEscutas, tendo sido AssistenteRegional dos Escuteiros.

Já no final dos anos 70, commais de 40 anos, conheceu anossa Mãe, e abraçou corajosa-mente uma nova vida, geridapelos mesmos princípios, mascom uma estrutura comple-tamente nova.

Profissionalmente, entregou-seao ensino de Português e direção

escolar em escolas como osPlátanos em Sintra e a Escola daOuressa em Mem-Martins, ondecumpriu a promessa de tornar oensino dos nossos adolescentes omelhor ensino possível. Após areforma, abraçou causas sociaisna "sua amada terra", promoven-do, entre outras coisas, a cons-trução da casa de repouso paraidosos da Lardosa.

Pessoalmente, foi o melhor paido mundo. O pai que nos amavaacima de tudo, que nos promoviasem limites, que nos estruturou atéao ultimo momento.

Em 2009, perdeu a nossa mãee começou a ser vencido peladoença. O Parkinsonismo come-çou a minar os seus movimentose desde 2014, viveu acamado noHospital do Mar, Bobadela. Aquirecebia sempre com um sorriso,o filho que o visitava diariamentee o lembrava constantementecomo era real aquilo que sempreo moveu: O amor!

Muitos o recordam como oeducador, o diretor, o padre quese casou. O amante de causassociais, o amante da terra natal(a Lardosa), o amante do Spor-

ting. Um cérebro irrequieto echeio de sentido de humor.

Para nós, será sempre o serhumano que transformou (com anossa querida mãe) a nossa cir-cunstância na melhor das circuns-tâncias. O pai que olhava para nóscomo se fossemos magia e comisso nos fazia acreditar que podía-mos ser mais e melhores. Paranós era o pai que nos amava infini-tamente, e que, apesar e além dasdiferenças e imperfeições, noscontinuava a amar, tendo orgulhode cada milímetro da nossaexistência.

Manuel Duarte Luís morreuaos 80 anos, pai de Manuel e Inês,e avô de Joana e Marta (e sóciodo Sporting Club de Portugal).

Obrigado papá, por tudo! Serássempre um pedaço de nós, aquelepedaço que nos faz ser melhorese enquanto estivermos vivosviverás sempre connosco.

Obrigados a todos que oamaram.

Obrigados, por teres estado"Sempre alerta para servir"!

Até sempre, nosso querido!Manuel eInês Vaz Luís

Ao melhor dos pais:

àquelas intuições e declarações doVaticano II: vida fraterna, solidária,ecuménica, comprometida com a paz e ajustiça com todos os homens e mulheresde boa vontade… Estes ideais tantailusão despertaram, mas foram acan-tonados como perigosos! Porém, hoje,com a chegada do papa Francisco,retomaram actualidade e recuperaram asua cidadania na nossa Igreja.

Convidamos todos os crentes em Jesusa ser valentes e embrenhar-se nestescaminhos de criatividade, maturidade eliberdade, para tornar cada dia mais realo Evangelho da misericórdia e daresponsabilidade, diante de todos osseres humanos e diante da nossa MãeTerra.6 de janeiro de 2016.

que a vida vai muito além do normativolegal e que o Espírito não está sujeito aleis.Os desafios actuais exigem-nos abrircaminhos de diálogo e de encontro.Nestes domínios, tão necessitados demudança, temos de ser criativos. As-sumimos o protagonismo das comu-nidades. Dessa maneira, damos corpo

(continuação da pág. 10)

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Rua Dr. Sá Carneiro, 182 - 1º Dtº3700-254 S. JOÃO DA MADEIRAe-mail: [email protected]

boletim def r a t e r n i t a s m o v i m e n t oResponsável: Alberto Osório de Castro

Nº 57 - Janeiro/Março de 2016 (conclui na pág. 10)

In Memoriam...MANUELDUARTE LUÍS

1936 - 20164 de Janeiro

Mais um amigo se foi… Um amigo de muitasvidas, como eu já disse há poucos dias. Fuiacompanhá-lo até ao cemitério da Lardosa e pudetestemunhar o ambiente de comunhão e fraternidadeque ali todos vivemos.

A Clara Bacharel lembrava o Manel dos temposem que ele era Director do Colégio Diocesano dePortalegre, onde eu o acompanhei durante oito anos,e onde sempre primou por criar um ambiente deamizade, união, fraternidade e alegria. Sim, que umdos traços da sua personalidade era a alegria e oentusiasmo com que se dedicava às suas tarefas. Eforam muitas e bem marcantes. O Colégio, naqueletempo, ganhou fama de muito bom e, por isso, muitasfamílias de longe optavam por internar os seus filhos,mais de cem durante anos… Um grupo de padres eprofessores, e mesmo os funcionários, viveram aliexperiências novas de educação. O Pe. Eusébio, nofuneral, lembrou como até fomos pioneiros na liturgiae na música religiosa, com violas e uma bateria namissa dominical.

O Manuel Luís vibrava com tudo o que se fazia.Até andava sempre à nossa frente, antecipando ofuturo com um acento de optimismo que algunsachavam exagerado. Falava dos bons resultados dosalunos como obra de todos e alimentava mesmo aalegria de muitos deles aderirem à prática cristãcom naturalidade. Irrequieto por natureza, pareciaque abraçava qualquer tarefa com espírito positivoe lúdico.

Além do Colégio, o Sr. D. Agostinho, de quemfoi também secretário uns anos antes, confiou-lheainda a pastoral escutista. Começando emPortalegre, foi o Manuel Luís o grande pioneiro dacriação de muitos dos Agrupamentos do CorpoNacional de Escutas pela diocese fora. Como

Assistente Regional, ele desdobrava-se na formaçãodos chefes e das chefes dos escuteiros, agregando asi muitas boas vontades com o dom do seu lemaprático "Sempre alerta para servir". Ficam namemória aqueles acampamentos regionais enacionais como ponto alto da nossa vivência dejuventude.

O Pe. Castanheira, na Lardosa, falou do ManuelLuís também como orientador nos Cursilhos deCristandade. A sua memória prodigiosa tambémajudava naqueles "rollos" de horas, por certo!

****Um dia, já depois de eu viver em Lisboa, soube

da sua decisão de abandonar o seu múnus sacerdo-tal e viver o resto da vida em comunhão matrimo-nial com a Fátinha. Chegados aqui, vem naturalmentea surpresa para muitos: "O quê? Ele casou-se?" Édifícil sondar o interior de cada qual, pelo que omelhor é respeitar o outro.

É verdade, como dizia na Lardosa o Pe. Eusébio,com a legislação do costume, a Igreja perdeu muitostalentos, vistas as coisas mais do lado da hierarquia.Porque eu passei pelo mesmo, vamos antes ver asperspectivas do lado pessoal. É que muita gente nãocalcula como é difícil abandonar o estatuto, onde seera já bem visto e "efectivo" (como me disse o amigoDr. Marcelino) e passar a "provisório", isto é,recomeçar tudo aos 30 e tal anos, quer nas relaçõespessoais quer na profissão e nos estudos, semsegurança alguma e ameaçados mesmo de ir

"malhar com as costas na guerrado Ultramar", como aconteceu aalguns. As razões pessoais parauma decisão desta têm de ser

A minha homenagem