96
 PAUL A NUNES TOLEDO Efeito da terapia miofuncional em pacientes com paralisia facial de longa duração associada à aplicação de toxina botulínica Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências Área de concentração: Cirurgia Plástica Orientador: Prof. Dr. Marcus Castro Ferreira SÃO PAULO 2007

esteticaa

Embed Size (px)

DESCRIPTION

u57u5ru

Citation preview

  • PAULA NUNES TOLEDO

    Efeito da terapia miofuncional em pacientes com paralisia facial de longa durao associada

    aplicao de toxina botulnica

    Tese apresentada Faculdade de Medicina

    da Universidade de So Paulo para obteno

    do ttulo de Doutor em Cincias

    rea de concentrao: Cirurgia Plstica

    Orientador: Prof. Dr. Marcus Castro Ferreira

    SO PAULO 2007

  • Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

    Cora Coralina

  • Dedicatria

    Aos meus filhos Joo Cesar Filho, Gabriel e

    Pedro por me ensinarem a caminhar com

    sabedoria e juventude, ao meu neto Luka e a

    outros que possam vir, por garantirem a

    renovao da vida.

    Aos meus Pais a quem devo o alento nas horas

    difceis, apesar da distncia.

    Leda Maria Silva Nunes pelo carinho eterno.

    Ao Joo Cesar pelos caminhos que trilhamos.

  • AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

    Ao Prof. Dr. Marcus Castro Ferreira, Professor Titular da

    Disciplina de Cirurgia Plstica da Faculdade de Medicina da Universidade de

    So Paulo, orientador deste projeto, pela orientao, incentivo e confiana.

    Dra Alessandra Grassi Salles pela presena em todos os

    momentos de elaborao desta pesquisa com pacincia e amizade, sem

    desistir nunca.

    Profa Dra. Maria Lucy Fraga Tedesco, pelo constante apoio,

    carinho, amizade e por acreditar sempre na Fonoaudiologia.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Dr. Jos Carlos Marques de Faria pelos ensinamentos, estmulos

    e confiana em nosso trabalho.

    Ao Dr. Paulo Tuma pelas possibilidades de aprendizagem e troca de

    conhecimentos.

    Adriana Rahal pela realizao dos exames de eletromiografia de

    superfcie e a Dra Irene Queiroz Marhesan por permitir sua execuo no

    Cefac Centro de Especializao em Fonoaudiologia Clnica.

    Ao Sr. Jimmy Adans Costa Palandi, pela anlise estatstica.

    Marisa Sacaloski sempre com o ombro amigo disposio.

    Adriana Pontim pela amizade, apoio e esperana no futuro.

    Aos funcionrios do Ambulatrio, das Enfermarias e da Secretaria da

    Diviso de Cirurgia Plstica e Queimaduras, e do Laboratrio de

    Microcirurgia Experimental e Cirurgia Plstica da FMUSP, pela ajuda e

    agradvel convvio em todos estes anos.

    Aos colegas do Ambulatrio, Priscila, Ramiro, Jorge, Rodrigo e

    Fernanda, pelo apoio, incentivo e troca de conhecimentos.

    Aos alunos da graduao, especializao e aprimoramento em

    Fonoaudiologia pelos sonhos que se renovam e, aos poucos, tornam-se

    realidade.

    Edna Maria Rodrigues dos Santos, pelo auxlio em diversas etapas

    da ps-graduao.

  • Ao Kau Nunes Mazzeo pela organizao tcnica dos textos e

    fotografias.

    Mariana e Carolina por tornarem os momentos mais femininos.

    senhora Maria Aparecida pela presena firme e decisiva.

    Aos pacientes que colaboraram neste estudo.

    A Deus por guiar meus pensamentos e iluminar os caminhos.

  • NORMALIZAO ADOTADA

    Esta tese est de acordo com:

    Documentos oficiais 01/2001 e 02/002 do Comit de Motricidade Orofacial da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia Stedman Dicionrio Mdico. 25a. ed. Editora Guanabara Koogan, 1996. Dicionrio Odonto-Mdico Ingls/Portugus. Slon Galvo Filho 3a. ed. Editora Santos, 2001 Novo Aurlio Sculo XXI O Dicionrio da Lngua Portuguesa. Editora Nova

    Fronteira, 1999

    Referncias: adaptado de International Committee of Medical Journals

    Editors (Vancouver)

    Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Servio de Biblioteca e

    Documentao. Guia de apresentao de dissertaes, teses e monografias.

    Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Jlia de A. L. Freddi,

    Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Arago, Suely Campos Cardoso,

    Valria Vilhena. So Paulo: Servio de Biblioteca e Documentao da

    FMUSP; 2004.

    Abreviaturas dos ttulos dos peridicos de acordo com List of Journals

    Indexed in Index Medicus.

  • SUMRIO

    Lista de abreviaturas, smbolos e siglas

    Lista de Figuras

    Resumo

    Summary

    1. INTRODUO........................................................................................... 1

    2. MTODOS............................................................................................... 17 2.1 CASUSTICA..................................................................................... 18 2.2 MTODO........................................................................................... 21

    2.2.1 Tratamento Fonoaudiolgico .................................................. 21 2.2.2 Toxina Botulnica .................................................................... 30 2.2.3. Avaliao ................................................................................ 32

    2.2.3.1 Avaliao Clnica...................................................... 32 2.2.3.2 ndice de Satisfao do paciente ............................. 33 2.2.3.3 ndice de Incapacidade Facial (lIF) .......................... 33

    2.2.4 Anlise estatstica................................................................... 34

    3. RESULTADOS......................................................................................... 36 3.1 AVALIAO CLNICA....................................................................... 37 3.2 NDICE DE SATISFAO DO PACIENTE ....................................... 45 3.3 ndice de Incapacidade Funcional (IIF) ............................................. 46

    3.3.1 ndice de Funo Fsica (IFF) ................................................. 46 3.3.2 ndice de Bem-Estar Social (IBES) ......................................... 48

    3.4 Dose de toxina botulnica .................................................................. 49 3.5 Efeitos adversos aps a aplicao de toxina botulnica .................... 49 3.6 Relato dos pacientes......................................................................... 50

    4. DISCUSSO............................................................................................ 51

    5. CONCLUSO .......................................................................................... 67

    6. ANEXOS.................................................................................................. 69

    7. REFERNCIAS ....................................................................................... 74

  • LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS

    mm - Milmetros sEMG - Eletromiografia de Superfcie MO - Motricidade Orofacial SBFa - Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia CAPPesq - Comisso de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa D - Direito UPMC - University os Pittsburg Medical Center Dr. - Doutor Drs. - Doutores E - Esquerdo ed. - Edio et al - e outros f - Feminino FMUSP - Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo Fga. - Fonoaudiloga HCFMUSP - Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da

    Universidade de So Paulo IBES - ndice de Bem-Estar Social IFF - ndice de Funo Fsica IIF - ndice de Incapacidade Facial Ltda. - Limitada m - Masculino ml - mililitro (s) no - Nmero p. - pgina (s) Prof. - Professor QV - Qualidade de vida = - igual a < - menor que

    Mais ou Menos

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Esquema de manobras passivas isomtricas e isotnicas, intra

    e extra orais ..................................................................................................25

    Figura 2 - Manobra isomtrica passiva extraoral no lado no paralisado

    da face..........................................................................................................26

    Figura 3 - Manobra isomtrica passiva intraoral no lado no paralisado

    da face..........................................................................................................26

    Figura 4 - Manobra isotnica passsiva intraoral no lado paralisado da

    face, da comissura labial s tmporas..........................................................27

    Figura 5 - Manobra isotnica passiva extraoral no lado paralisado da

    face, nos msculos elevadores da asa nasal e do lbio superior. ................27

    Figura 6 - Manobra de resistncia horizontal contra o msculo bucinador. ..28

    Figura 7 - Manobra isotnica passiva extraoral na regio inferior do

    msculo orbicular dos olhos para dificuldade de vedamento palpebral. .......29

    Figura 8 - Manobra isotnica passiva extraoral na regio inferior do

    msculo orbicular dos olhos para dificuldade de vedamento palpebral. .......29

    Figura 9 - Pontos de aplicao de toxina botulnica......................................31

    Figura 10 - paciente de 26 anos, grupo A em trao oblqua dos

    msculos zigomticos...................................................................................40

    Figura 11 - Paciente de 16 anos, grupo A em trao de msculos

    elevadores da asa do nariz e lbio superior. ................................................40

    Figura 12 - Paciente de 18 anos, grupo A em trao do msculo

    abaixador do lbio inferior.............................................................................41

  • Figura 13 - Paciente de 49 anos, grupo A em trao obliqua dos

    msculos zigomticos...................................................................................41

    Figura 14 - Paciente de 44 anos, grupo A em trao de msculos

    elevadores do lbio superior e asa do nariz. ...............................................41

    Figura 15 - Paciente de 50 anos, grupo A em trao obliqua dos

    msculos zigomticos...................................................................................42

    Figura 16 - paciente de 36 anos, grupo A em protruso labial. ....................42

    Figura 17 - Paciente de 36 anos, grupo A em trao oblqua dos

    msculos zigomticos...................................................................................42

    Figura 18 - Paciente de 53 anos, grupo A em trao oblqua dos

    msculos zigomticos...................................................................................43

    Figura 19 - Paciente de 26 anos, grupo B em trao oblqua dos

    msculos zigomticos...................................................................................43

    Figura 20 - Paciente de 45 anos, grupo B em trao oblqua dos

    msculos zigomticos...................................................................................44

    Figura 21 - Paciente de 26 anos, grupo B em trao oblqua dos

    msculos zigomticos...................................................................................44

    Figura 22 - Paciente de 16 anos, grupo B em trao oblqua dos

    msculos zigomticos...................................................................................44

  • RESUMO

    Toledo PN Efeito da terapia miofuncional em pacientes com paralisia facial de longa durao associada aplicao de toxina botulnica [tese] So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo; 2007. 82 p.

    INTRODUO: A paralisia facial constrangedora tanto do ponto de vista

    funcional quanto esttico. Esta pesquisa teve por objetivo verificar o efeito da

    terapia miofuncional em pacientes com paralisia facial de longa durao

    associada aplicao de toxina botulnica. MTODOS: Foram tratados vinte

    e cinco pacientes, divididos em dois grupos. Os pacientes do grupo A

    receberam quatro sesses de terapia miofuncional antes da aplicao de

    toxina botulnica e os pacientes do grupo B simultaneamente aplicao. A

    terapia foi composta por manobras isomtricas e isotnicas passivas, intra e

    extraorais, alm de exerccios de resistncia. RESULTADOS: Aps a terapia

    miofuncional os pacientes apresentaram aumento significativo da mobilidade

    do lado paralisado da face, do ndice de satisfao do paciente com a face,

    do ndice Funcional da Face (IFF) e do ndice de Bem-Estar Social (IBES). O

    grupo de pacientes que realizaram a terapia miofuncional previamente,

    apresentou freqncia significativamente maior de dificuldade para falar,

    enquanto o grupo que realizou a terapia miofuncional a partir da data da

    aplicao de toxina botulnica, apresentou freqncia significativamente

    maior de dificuldade para mastigar. A terapia miofuncional promove simetria

    facial; satisfao dos pacientes com a face, funcionalidade oromiofacial,

    qualidade de vida e deve ser realizada antes e aps aplicao de toxina

    botulnica para reduzir os possveis efeitos adversos.

    Descritores: 1- Terapia miofuncional 2- Paralisia facial 3- Fonoterapia

    4- Toxina botulnica tipo A

  • SUMMARY

    Toledo PN Effect of the muscular-function therapy in patients with long-standing facial paralysis associate to the botulinum toxin application.[thesis] So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo; 2007. 82 p.

    INTRODUCTION: The facial paralysis is constraining so much of the

    functional point of view as aesthetic. This research had for goal verified the

    myofunctional therapy effect in patients with long-standing facial paralysis

    associate to the botulinum toxin application. METHODS: Twenty-five patients

    were treated, divided into two groups. The patients from the group A received

    four sessions of myofunctional therapy before the toxin botulinum application

    and the patients from the group B received it simultaneously to the

    application. The therapy was composed by isometric and passive isotonic

    maneuvers, inside and outside oral, and resistance exercises. RESULTS:

    After the myofuncional therapy the patients presented significant increase of

    the mobility of the paralyzed side, of the patient satisfaction index with the

    face, Functional Index of the Face (IFF) and of the Index of Social Welfare

    (IBES). The group of patient that accomplished the myofuncional therapy

    previously presented significantly larger frequency of talking difficulty, while

    the group that accomplished the miofuncional therapy from the toxin

    botulnica application date presented significantly larger frequency of

    chewing difficulty. The myofuncional therapy promotes facial symmetry;

    patients satisfaction with the face, myofuncional functionality, life quality, and

    should be accomplished before and after toxin botulnica application to

    reduce the possible adverse effects.

    Descriptors: 1- Myofunctional therapy 2- Facial paralysis 3- Speech therapy 4- Botulinum toxin type A

  • 1. INTRODUO

  • Introduo 2

    A reabilitao miofuncional de pacientes com paralisia facial , ainda

    negligenciada nos diversos sistemas de sade, evidenciando a necessidade

    de maior divulgao dos grandes benefcios funcionais, decorrentes do

    tratamento no cirrgico.1

    A face responsvel pela comunicao no verbal2 e a paralisia do

    nervo facial condio que pode causar graves distrbios fsicos,

    psicolgicos, sociais e profissionais a estes pacientes.1,3,4 A face retrata o

    Ser, a parte do corpo que demonstra as emoes e sentimentos, por meio

    dos msculos da expresso facial que movimentam a pele harmonicamente

    e resulta na simetria esttica da personalidade refletida.5

    A movimentao voluntria e o tnus da musculatura da boca so

    importantes, seja para a fala, para a alimentao e/ou na ingesto de

    lquidos. A perda destas funes acarreta dificuldades constrangedoras

    durante o processo alimentar.5,6

    Os msculos da face tem dupla funo, quais sejam ativar as plpebras

    e os lbios e retratar as emoes humanas; agem como coberturas para a

    cavidade oral, protegem os globos oculares, abrem e fecham a cavidade oral

    e as plpebras e permitem grande variao de expresses faciais, que

    transmitem as emoes, de acordo com os diferentes graus de contrao

    muscular.7,8

    A fora relativa, o comprimento e a direo das fibras musculares, desde

    sua origem at sua insero, varia de indivduo para indivduo. Os msculos

  • Introduo 3

    da mmica esto envolvidos pela fscia superficial, que age como

    transmissora e mescla as contraes de variados msculos permitindo ampla

    gama de variaes sutis nas expresses humanas. Quando contraem, a pele

    tracionada em mltiplos sulcos, conhecidos como linhas de Langer.8

    O tipo mais comum de sorriso, que 67% das pessoas apresentam,

    conhecido como sorriso de Mona Lisa. Os ngulos da boca so elevados

    primeiro, demonstrando a dominncia dos msculos zigomtico maior. O

    sorriso canino, que ocorre em 31% das pessoas, tambm chamado gengival,

    tem a dominncia do msculo elevador do lbio superior. No sorriso

    dentadura-completa, que acontece em 2% dos indivduos, todos os

    msculos elevadores e depressores dos lbios e dos ngulos contraem ao

    mesmo tempo, mostrando todos os dentes, superiores e inferiores.9

    Cada indivduo tem seu prprio padro de rugas faciais. H, entretanto,

    certos tipos prevalentes, por exemplo, na regio malar, alguns indivduos

    tm rugas horizontais com curvatura para cima, criando uma face feliz,

    contrastando com a face triste, na qual as rugas se curvam para baixo.

    (sulco naso-geniano) A fora relativa de determinados grupos musculares ao

    redor da boca so responsveis por variaes no sorriso, uma exclusividade

    do ser humano.9

    A paralisia dos msculos da mmica facial acarreta distrbios funcionais

    e estticos importantes. Funcionalmente, h distrbios na fala, deglutio,

    mastigao e na ocluso palpebral. A expresso como complemento da

    comunicao oral fundamental para o estabelecimento das relaes sociais

    adequadas. A desarmonia da mmica facial na paralisia constrangedora, no

    s para o doente como tambm para os que o cercam.10

  • Introduo 4

    O nervo facial, stimo par craniano, formado por fibras

    supranucleares e infranucleares. As fibras da regio intratemporal saem da

    ponte, cruzam o espao sub-aracnideo em direo ao meato acstico

    interno e entram no canal facial do osso temporal. Dentro do canal do facial,

    trs ramos emergem. O mais proximal o nervo petroso superficial maior,

    ao nvel do gnglio geniculado, este fornece fibras secreto-motoras para a

    glndula lacrimal e tem fibras sensitivas que identificam o sabor no palato

    mole, assim como a sensao de presso profunda e dor dos msculos e

    ossos faciais. O segundo ramo inerva o msculo estapdio, que tem como

    ao, amortecer as vibraes sonoras que alcanam o ouvido interno. O

    terceiro ramo o nervo corda do tmpano, que emerge 5mm proximal ao

    forame estilomastoideo e prov fibras secretomotoras para as glndulas

    submaxilar e sublingual, e tambm fibras sensitivas (de sabor) para os dois

    teros anteriores da lngua.11

    A poro extratemporal do nervo facial emerge do crnio pelo forame

    estilomastodeo, faz pequena inclinao ntero-lateral e atravessa a

    glndula partida. Ramos nervosos saem para os msculos occipital,

    auricular, digstrico posterior e estilohioideo antes da entrada na partida.

    Dentro da partida, o nervo tem duas divises principais, as pores

    temporofacial e cervicofacial, as quais se subdividem formando cinco ramos

    principais: temporal, zigomtico, bucal, mandibular e cervical, que

    apresentam complexa rede de conexes anastomticas, com grande

    variao anatmica entre os indivduos. 11

  • Introduo 5

    Cada nervo facial tem seu prprio padro anatmico complexo e

    variado e os ramos se superficializam medida que avanam

    anteriormente na glndula. Mais comumente, a diviso temporofacial tem

    um ramo para a regio frontal, dois para a rbita, trs para a rea

    zigomtica e dois para a rea bucal. O ramo zigomtico o maior e mais

    importante, enquanto o frontal tem o menor nmero de conexes e um

    ramo terminal em 85 a 90% dos casos. A diviso cervical menor e,

    geralmente, tem de trs a cinco ramos, um bucal, trs mandibulares e um

    cervical. Os ramos mandibulares so delicados e se conectam com outros

    ramos em apenas 10 a 15% dos casos. 12

    So dezessete pares os msculos faciais inervados pelo stimo nervo

    craniano que controlam os movimentos dos tecidos moles da face. Os ramos

    nervosos penetram na musculatura por sua poro mais profunda e

    posterior. As fibras musculares se inserem imediatamente abaixo da camada

    basal da epiderme. Os msculos freqentemente se interdigitam com a

    fscia subcutnea e com os msculos adjacentes.12

    A paralisia facial uma sndrome que representa a manifestao de

    muitas enfermidades, com mais de 75 causas conhecidas divididas em

    congnitas, traumticas, neurolgicas, infecciosas, metablicas, neoplsicas,

    txicas, iatrognicas e idiopticas. Pode tambm ser classificadas conforme

    a altura da leso no nervo em trs grupos, central ou intracraniana,

    intratemporal e extratemporal. 12

    As variedades clssicas de fraqueza motora foram descritas aps a

    paralisia do nervo facial. A paralisia supranuclear distingue-se pela

  • Introduo 6

    preservao dos msculos orbicular dos olhos e frontal, com paralisia

    dos msculos faciais inferiores do lado contralateral ao lado da leso,

    no afetando o tero superior, porque o neurnio motor inferior que

    inerva os msculos faciais superiores, recebe inervao do neurnio

    motor superior dos dois lados do crtex cerebral. Paralisias faciais do

    tipo central resultam mais comumente de etiologia vascular ou

    neoplsica, e outros dficits neurolgicos esto geralmente presentes.

    Leses do ncleo facial profundas na ponte ou no nervo facial

    intratemporal ou extratemporal, resultam em paralisia de toda a metade

    ipsilateral da face incluindo a fronte. 12

    O nervo facial contm cerca de 10000 fibras, das quais cerca de 70%

    so mielinizadas e inervam os msculos faciais. As demais 30% so

    secretomotoras e sensitivas. Estas ltimas deixam o tronco do nervo facial

    prximo ao forame estilomastoideo. Isto significa que a poro extratemporal

    do nervo facial praticamente composta de axnios motores que se dirigem

    aos msculos da expresso facial. 12

    Aps uma leso do nervo facial ocorre degenerao Walleriana, o

    nmero de clulas de Schwann diminui e se alinham no interior dos tubos

    endoneurais vazios. Os axnios crescem aproximadamente um milmetro

    por dia e se no houver reparo cirrgico, esses tubos endoneurais atrofiam e

    so preenchidos por colgeno, com reduo de grande parte de seu

    dimetro transverso no perodo de trs meses. Se o msculo no for

    reinervado, evolui com atrofia, desaparecimento dos elementos contrteis e

    eventual substituio do msculo inteiro por tecido gorduroso e colgeno. A

  • Introduo 7

    partir deste momento, tecido muscular novo deve ser transferido para o local

    a fim de obter reanimao facial.13,14

    O grau de recuperao da paralisia facial depende do tipo de leso,

    durao do perodo de denervao, conexes motoras e sensoriais

    (direcionamento de fibras), grau de reinervao e estado do msculo. Ou

    seja, se o msculo j estiver atrofiado o resultado poder no ser

    satisfatrio. 11

    O exame da funo da musculatura facial feita inicialmente pela

    observao do paciente em repouso, com a verificao do tnus muscular,

    de simetria, de contraes e espasmos musculares e das linhas de

    expresso facial incluindo o sulco nasogeniano. A funo motora testada

    ao solicitar que o paciente eleve os superclios, feche os olhos firmemente,

    mostre os dentes, contraia os lbios e outras expresses. O platisma e os

    msculos depressores so testados ao se pedir ao paciente para puxar o

    lbio inferior e o ngulo da boca para baixo. Paralisias do bucinador e

    orbicular da boca resultam em alterao na fala, perda de saliva (babar), e

    impossibilidade de assobiar ou inflar as bochechas.11

    House, em 1983, props mtodo de avaliao para paralisia facial que

    envolve a anlise de quatro aspectos: face em repouso, mover a regio

    frontal, fechamento palpebral e mover a boca. Ele verificou que outros

    mtodos atribuam pontos negativos para cada efeito secundrio encontrado

    como dor, ageusia, lacrimejamento diminudo, espasmo e ptose palpebral.

    Ainda neste estudo House constatou a utilizao de sistemas de graduao

    regional e avaliao do paciente sobre o seu percentual de recuperao,

  • Introduo 8

    mas muitas escalas eram subjetivas, complexas, de carter global e

    deveriam ser mais definidas e simples.15

    A escala de avaliao proposta por House e Brackmann, classifica a

    paralisia facial em seis categorias: (I) normal, (II) deformidade leve, (III)

    deformidade moderada, (IV)disfuno moderada grave, (V)disfuno grave e

    (VI) paralisia total.16

    As escalas de avaliao foram estudadas na tentativa de estabelecer

    um mtodo preciso e objetivo, com anlises quantitativas computadorizadas,

    entretanto estas tendem a ser complicadas, de custo elevado e no

    fornecem o resultado imediato.17,18,19,20

    As sincinesias no se encontram bem correlacionadas entre os

    sistemas nas escalas de avaliao. 21

    Ferreira descreveu o mtodo de avaliao utilizado na Disciplina de

    Cirurgia Plstica da FMUSP, publicado em 1996,22 validado nos trabalhos de

    Chem sobre a avaliao dos resultados cirrgicos tratados com enxerto de

    nervo transfacial23 e de Tariki a respeito dos resultados da rotao de retalho

    do msculo temporal para correo das alteraes oculares funcionais24. Foi

    atribudo valor zero para ausncia de movimento, um para pouco movimento

    e dois para movimento completo. Por haver menos aspectos a serem

    observados simplificam-se a avaliao e diminuem a ocorrncia de

    equvocos por parte dos examinadores.

    Ferreira e Faria, em 2002, utilizaram mtodo subjetivo para avaliar a

    melhora da simetria facial aps reanimao facial com transplante

    microcirrgico de msculo grcil. O paciente, o mdico e um observador

  • Introduo 9

    avaliaram a melhora da simetria com graduao entre excelente, boa,

    regular e pobre. Alm disso, os autores fizeram, tambm, uma anlise

    computadorizada do movimento do ngulo da boca. 25

    Segundo Ferreira e Faria, a avaliao dos resultados constitui grande

    dificuldade na cirurgia plstica quando o tratamento lida com alterao

    dinmica da aparncia. 25

    Estes autores descreveram as principais cirurgias para reanimar a face,

    cujo objetivo restaurar o equilbrio e a simetria, tanto em repouso quanto

    em movimento.9,25, 26

    A neurorrafia, ou sutura direta do coto do nervo facial, com tcnica

    microcirrgica, est indicada sempre que for possvel o afrontamento sem

    tenso dos cotos e deve ser feita o mais precocemente possvel. 9,25, 26

    Quando no for possvel a aproximao dos cotos sem tenso, realiza-

    se, enxerto de nervo, que a interposio de segmentos de nervo

    proeminente de outra localizao, em geral, o sural, entre o coto proximal e

    o distal. Faria .9, 26

    As reparaes das leses do nervo facial mais distais, apresentam

    melhores resultados, pois h retorno de movimentos faciais mais

    independentes. Os ramos bucais e zigomticos devem ser os ramos

    preferenciais de reconstruo, uma vez que os msculos por eles inervados

    so os responsveis pelas principais funes do nervo facial, como ocluso

    palpebral, labial e sorriso. 9, 26

    O enxerto transfacial de nervo, Nerve Graft, utilizado quando nervo

    facial ipsilateral no pode ser utilizado. Os ramos do nervo facial

  • Introduo 10

    contralateral so anastomosados a ramos distais no lado paralisado, atravs

    da utilizao de enxertos de nervo sural. Em geral, apenas os ramos

    zigomaticos e bucal so reconstrudos com esta tcnica, que permite

    contrao sincrnica dos msculos bucais bilateralmente, com possibilidade

    de expresso emocional. O enfraquecimento da musculatura da hemi face

    contralateral provocada pela seco de ramo do nervo facial, resulta em

    maior equilbrio e melhor simetria da face. 9, 26

    Um dos fatores mais importantes a ser considerado no tratamento

    cirrgico o tempo decorrido desde a leso do nervo. Passados dois anos,

    segundo a maioria dos autores, a atrofia muscular considerada irreversvel

    e por isso chamada paralisia facial de longa durao.9,25-27

    O tratamento cirrgico dos pacientes com paralisia facial de longa

    durao deve ser distinguido daqueles com paralisia facial de curta durao,

    uma vez que no h, pelo tempo decorrido, possibilidade de recuperao

    adequada da musculatura mmica afetada. Pode ser realizada a rotao de

    msculos regionais inervados por outro par craniano que no o facial.

    Podem ser utilizados os msculos temporal e o masseter, por oferecerem

    possibilidade de recuperao. O msculo temporal indicado para a

    reanimao palpebral, mas a contrao muscular desencadeada por

    movimentos de mastigao, que promove o encurtamento do msculo e

    conseqentemente ocluso palpebral. O controle do movimento requer

    aprendizado para se alcanar maior grau de reabilitao funcional. 9, 26

    Segundo Harii, a transferncia do msculo grcil tratamento

    importante para a reanimao dos lbios (sorriso) na paralisia facial de longa

  • Introduo 11

    durao e foi introduzida por Ferreira no Hospital da Clnicas da Faculdade

    de Medicina da Universidade de So Paulo (FMUSP) em 1976. Nesta

    tcnica, feita em dois tempos cirrgicos, realiza-se primeiramente o enxerto

    de nervo transfacial.27 No segundo tempo cirrgico, entre 9 e 12 meses aps

    o primeiro, realizado o transplante muscular do grcil, com anastomoses

    microcirrgicas feitas no enxerto de nervo sural previamente realizado e na

    artria e veia facial. 25, 27

    O avano da tcnica microcirrgica da transferncia de msculo livre

    distncia marca nova era na reanimao facial de pacientes com paralisia

    facial crnica e tem sofrido algumas modificaes desde sua introduo por

    Harii, em 1976. 27 O transplante neurovascular livre do msculo grcil para a

    reanimao de paralisia facial de longa durao tem trazido melhora na

    simetria facial tanto em repouso quanto em movimento, apesar de a

    extenso dos movimentos da comissura ter sido menores do que no lado

    no paralisado.28,29,30

    Quando a musculatura do lado no paralisado est hiperfuncionante

    so sugeridas tcnicas para diminuio desta hiperatividade muscular, tal

    como neurectomia dos ramos frontal, bucal e marginal da mandbula, bem

    como miectomias do msculo zigomtico maior e dos depressores do lbio

    inferior.9,25,26

    Como tratamento complementar s tcnicas j citadas, tem sido

    proposta a utilizao de toxina botulnica tipo A para reduzir

    temporariamente a hiperfuno muscular contralateral, melhorando a

    assimetria de pacientes com paralisia facial. A aplicao de toxina botulnica

  • Introduo 12

    um tratamento farmacolgico local para a hiperatividade muscular, que

    corrige potencialmente os desequilbrios entre msculos agonistas

    hipoativos e antagonistas relativamente hiperativos. A aplicao de toxina

    botulnica no lado no paralisado em pacientes com paralisia facial, melhora

    temporariamente a simetria facial.31-37

    As complicaes da aplicao de toxina botulnica relatadas so raras,

    no h relato de efeitos colaterais de longo prazo ou de riscos sade

    relacionados a ela. Entre as complicaes especficas relacionadas ao

    enfraquecimento excessivo dos msculos-alvo ou dos msculos adjacentes

    ao local de aplicao, incluem queda do superclio no tratamento da regio

    frontal, ptose da plpebra superior aps tratamento da regio glabelar,

    diplopia, ectrpio, sorriso assimtrico, incompetncia do esfncter oral,

    dificuldade para falar ou gargarejar aps tratamento da regio inferior da

    face, disfagia e fraqueza dos msculos flexores do pescoo aps tratamento

    do platisma.36-39

    No paciente com paralisia facial, a aplicao de toxina botulnica no

    lado no paralisado, frequentemente evolui com dficit funcional das funes

    estomatognticas, ou seja, dificuldade para falar, ingerir lquidos e mastigar.

    Tais efeitos podem durar de uma a trs semanas.31-38

    Como terapia adjuvante ao tratamento integrado da paralisia facial, a

    terapia miofuncional frequentemente complementar, seja precoce,

    tardiamente ou aps o tratamento cirrgico.7

    O trabalho de realinhamento neuromuscular em pacientes com paralisia

    facial de curta durao consiste num programa educacional sem ou

  • Introduo 13

    nenhuma utilizao das mos do terapeuta, com instrues individualizadas

    e participao ativa e motivada do paciente. No h lista genrica de

    exerccios e cada programa de tratamento diferente, baseado na

    caracterstica individual.7

    Fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais ou fonoaudilogos treinados

    instruem os pacientes e selecionam as estratgias do controle motor

    designadas para facilitar os movimentos simtricamente, evitando assim,

    atividade motora involuntria e tambm podem ser utilizadas massagens

    para diminuir os movimentos involuntrios inadequados.7,40-44

    A prtica de exerccios em casa deve manter-se na continuidade do

    tratamento durante um a trs anos, com visitas mensais na clnica durante

    seis meses. O sucesso depende do tempo que o paciente se dedica ao

    tratamento. 7,41-44

    Tcnicas de biofeedback com eletromiografia de superfcie so usadas,

    associadas a exerccios frente ao espelho, para promover informaes

    sensoriais que desencadeiam adaptaes neurais e o aprendizado. Devem

    ser inibidos os movimentos involuntrios indesejados, tais como o

    movimento do platisma ao sorrir, assim como os movimentos em massa e

    sincinesias.1,7,42-49

    Os msculos da mmica da face no tm fusos, suas unidades motoras

    so pequenas, sua regenerao mais lenta e recebem estmulos

    voluntrios e involuntrios. A estimulao eltrica contra indicada para o

    tratamento de paralisia facial, porque os estmulos exagerados promovem a

    ocorrncia de movimentos em massa e sincinesias.1,50,51

  • Introduo 14

    O tratamento do paciente com paralisia facial requer colaborao de

    neurocirurgio, neurologista, oftalmologista, otorrinolaringologista, cirurgio

    plstico, psiclogo, fisioterapeuta e fonoaudilogo e a troca de idias entre

    especialistas deve ocorrer para se obter maior sucesso da reabilitao

    facial.12

    A rea da Fonoaudiologia voltada para o trabalho miofuncional a

    Motricidade Orofacial, cujo comit, junto Sociedade Brasileira de

    Fonoaudiologia divulgou documento oficial 01/2001, que define Motricidade

    Orofacial como o campo da Fonoaudiologia voltado para o estudo, preveno,

    avaliao, diagnstico, desenvolvimento, habilitao, aperfeioamento e

    reabilitao dos aspectos estruturais e funcionais das regies orofaciais e

    cervicais As reas de domnio so distrbios da respirao, mastigao,

    deglutio, fala, malformaes craniofaciais congnitas e adquiridas,

    traumatismos de tecidos duros e moles, disfunes crniomandibulares,

    cncer de boca e neonatologia.52

    Guedes, em 1994, inseriu a Fonoaudiologia no trabalho com pacientes

    portadores de paralisia facial traumtica recente, com orientao de

    exerccios e massagens.53

    Em 1998, Altmann apresentou trabalho fonoaudiolgico em seis etapas,

    com utilizao de estmulo frio, massagens tonificadoras, indutoras, exerccios

    isomtricos, massagens isomtricas de estiramento associadas a estmulo

    quente. 54

    Os trabalhos encontrados na literatura nacional referem-se a pacientes

    com paralisias faciais de curta durao, nas quais avaliada a face em

  • Introduo 15

    repouso e durante movimentos da mmica facial. Em repouso observa-se

    continuidade das linhas de expresso da face, posio dos olhos, da asa do

    nariz, da comissura labial, do filtro, presena de linha naso-labial. Quanto

    mmica observa-se elevao dos superclios e contrao da testa,

    fechamento natural dos olhos, elevao do nariz, protruso e retrao de

    lbios, abertos e fechados, suco e encher as bochechas.42-44,55,56

    A utilizao do paqumetro quantifica diferenas entre as hemi faces na

    paralisia facial unilateral, trata-se de um outro mtodo que pode ser utilizado

    para obteno de medidas objetivas quanto evoluo do caso de paralisia

    facial na rea da Fonoaudiologia.57

    Fouquet avaliou a mmica facial pontuando de um a cinco pontos os

    movimentos da mmica facial, sendo um considerado como pouca contrao

    muscular e cinco, movimentos amplos da mmica. Os movimentos so

    avaliados segundo expresses faciais, descritas como cara de assustado,

    cara de bravo, cara de cheiro ruim, fechar os olhos suavemente, com

    fora, forar as bochechas, sorriso fechado e aberto, bico, passar fio

    dental, cara de palhao triste, cara de beicinho, cara de dor profunda.

    As sincinesias so pontuadas de zero a trs, sendo zero para ausncia de

    sincinesias e graduao mxima de trs pontos para movimentos

    incontrolveis. 58

    De acordo com Gmez e colaboradores, a terapia miofuncional na

    paralisia facial de curta durao importante pelo estmulo funcional

    precoce, antes da instalao de atrofia muscular. Tardiamente, tem ao no

    controle de sincinesias do lado paralisado. 44

  • Introduo 16

    No encontramos trabalho que sistematize e avalie resultados da

    terapia miofuncional quando complementar a cirurgias reconstrutivas na

    paralisa facial de longa durao ou associados aplicao de toxina

    botulnica.

    Esta pesquisa teve como objetivo verificar o efeito da terapia

    miofuncional em pacientes com paralisia facial de longa durao quando

    complementar ao tratamento cirrgico e associado aplicao de toxina

    botulnica no lado contralateral da face.

  • 2. MTODOS

  • Mtodos 18

    2.1 CASUSTICA

    Durante o ano de 2005, foram tratados 25 pacientes com paralisia

    facial com mais de dois anos decorridos desde o incio dos sintomas, no

    ambulatrio de Cirurgia Plstica do Hospital das Clnicas da Faculdade de

    Medicina da Universidade de So Paulo. Foram includos os pacientes de

    quaisquer etiologias.

    Foram excludos pacientes com menos de 15 anos de idade,

    gestantes, portadores de doenas sistmicas graves, com dficits de

    cognio, ou que tenham sido submetidos a tratamentos cirrgicos de

    reanimao facial h menos de 12 meses, ou seja, reconstrues do nervo

    facial, transplantes microcirrgicos e/ou transposio de msculo temporal.

    Os 25 pacientes foram separados em dois grupos, nomeados Grupo A

    e Grupo B.

    O Grupo A foi composto por doze pacientes que foram avaliados antes

    do incio dos tratamentos e em seguida receberam quatro sesses de

    terapia miofuncional individual, semanalmente. Aps este perodo, foram

    novamente avaliados e aplicada toxina botulnica tipo A Botox* no lado no

    paralisado da face. Aps um ms, quando j se percebe o efeito completo

    da toxina, os pacientes foram avaliados novamente. Este grupo de pacientes

    permaneceram dois meses em tratamento e teve trs momentos de

    * Allergan Incorporated, Irvine, Califrnia, Estados Unidos

  • Mtodos 19

    avaliao, inicial, ps terapia miofuncional e aps um ms de aplicao de

    toxina botulnica, momento final do tratamento.

    O Grupo B foi composto por treze pacientes que foram tambm

    avaliados no incio do tratamento; em seguida foi aplicada toxina botulnica

    e iniciada a srie de quatro terapias miofuncionais semanais, individuais;

    aps um ms da associao simultnea dos dois tratamentos, os pacientes

    foram reavaliados. Este grupo de pacientes permaneceu um ms em

    tratamento e teve dois momentos de avaliao, momento inicial e momento

    final do tratamento.

    A mdia da idade dos pacientes do grupo A foi de 35 anos ( 7,67); trs pacientes eram do sexo masculino (25%) e nove do sexo feminino

    (75%); quatro pacientes tinham o lado direito da face paralisado (33,3%)

    e oito o lado esquerdo (66,7%); quatro pacientes apresentaram etiologia

    idioptica/congnita (33,3%) e oito etiologia traumtica/tumoral (66,7%).

    O tempo de durao da paralisia dos pacientes do grupo A foi de

    12,33 anos ( 6,83).

    O grupo B apresentou idade mdia de 32,38 anos ( 7,15); dois pacientes eram do sexo masculino (15,4%) e onze do sexo feminino

    (84,5%); oito pacientes tinham o lado direito da face paralisado (61,5%) e

    cinco o lado esquerdo (38,57%); seis pacientes apresentaram etiologia

    idioptica/congnita (46,2%) e sete etiologia traumtica/tumoral (53,8%). O

    tempo de durao da paralisia foi de 17,08 anos ( 7,05).

  • Mtodos 20

    Todos os pacientes foram tratados por pelo menos um tipo de cirurgia

    de reconstruo facial e/ou cirurgias complementares. A caracterizao dos

    grupos quanto s cirurgias encontra-se na Tabela 1.

    Tabela 1 - Caracterizao dos grupos quanto s cirurgias

    Tipos de Cirurgias Grupo A Grupo B

    Reanimao Transplante

    microcirrgico

    7 7

    Transposio de msculo temporal

    5 3

    Enxerto ipslateral de nervo (sural)

    1 0

    Enxerto transfacial de nervo sural

    6 7

    Cirurgias Complementares

    Miectomias

    1 6

    Cantopexia 2 5

    Peso de ouro 3 3

    Suspenso esttica da face 2 3

    Fonte: Hospital das Clnicas da FMUSP

    Os pacientes ou seus responsveis foram esclarecidos sobre os

    objetivos da pesquisa, os possveis benefcios e malefcios, e assinaram

    Termo de Consentimento Livre e Esclarecido especfico aprovado pela

    Comisso de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa - CAPPesq da

    Diretoria Clnica do HCFMUSP sob o nmero 890/04.

  • Mtodos 21

    2.2 MTODO

    Os pacientes receberam quatro sesses de terapia miofuncional e

    aplicao de toxina botulnica tipo A Botox pela mesma fonoaudiloga e

    pela mesma mdica, respectivamente.

    2.2.1 Tratamento Fonoaudiolgico

    O tratamento fonoaudiolgico foi voltado para a terapia miofuncional

    orofacial, ao aplicada na musculatura por meio da modificao das funes

    orofaciais segundo documento oficial do Comit de Motricidade Orofacial

    (MO) da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa). Para este trabalho

    elegemos manobras isomtricas e isotnicas passivas intra e extraorais, nas

    quais o terapeuta realiza os movimentos e, tambm, manobras isocinticas

    orofaciais ativas, nas quais o terapeuta oferece resistncia ao movimento

    executado pelo paciente. O nmero de manobras executadas em cada

    hemiface foi determinado de acordo com o estado de contratura em que se

    encontraram os msculos, cinco vezes para musculatura menos contrada e

    oito vezes quando a musculatura encontrava-se mais contrada, seguida por

    um perodo de descanso de oito segundos e retomada por no mximo trs

    vezes, obstante o limiar de dor do paciente.

    Durante o tratamento os pacientes permaneceram deitados sobre a maca

    ,a fim de estabilizar a postura corporal e evitar movimentos associados que

    poderiam interferir no processo teraputico. O lado no paralisado foi o primeiro

    a ser tratado com as manobras isomtricas passivas intra e extraorais.

  • Mtodos 22

    Para realizarmos as manobras isomtricas passivas intraorais

    calamos luvas e a seguir solicitamos que o paciente abrisse a boca,

    colocamos o dedo polegar intraoral e o indicador extraoralmente, em forma

    de pina, pedimos ao paciente que fechasse a boca, mas no mordesse e

    mantivesse a mandbula e maxila centralizadas. Deslizamos os dedos sobre

    os grupos musculares faciais, na direo supero/inferior e sentido disto-

    mesial, com maior presso do dedo polegar, a fim de promover o

    alongamento da musculatura. Para alongarmos o msculo masseter as

    manobras foram na direo vertical, para os msculos zigomticos maior e

    menor, na direo oblqua e para o msculo risrio na direo horizontal.

    Para o alongamento do msculo orbicular da boca no tero mdio da face,

    pressionamos fortemente com o dedo indicador da outra mo, o msculo

    abaixador do septo nasal, a fim de no promover o desvio do filtro nasal

    durante a manobra e, com o dedo indicador da outra mo, realizamos o

    alongamento no sentido mesio-distal. A regio superior do msculo orbicular

    da boca foi alongada com manobra no sentido mesio-distal. No tero inferior

    da face, os msculos mentual e abaixador do ngulo da boca foram tratados

    com manobra no sentido mesio-distal e o msculo abaixador do lbio inferior

    com manobra disto-mesial, de acordo com o sentido se suas fibras

    musculares.

    As manobras isomtricas passivas extraorais foram realizadas sem

    luvas, para facilitar o deslizamento profundo na pele, segundo os mesmos

    critrios das manobras intraorais.

  • Mtodos 23

    As manobras isotnicas passivas intraorais foram executadas na hemi

    face paralisada. Com o uso de luvas, o dedo polegar foi colocado dentro da

    boca do paciente, a mandbula em posio cntrica com a maxila, os dedos

    indicador, mdio e anular extraoralmente. As manobras isotnicas foram

    executadas, no sentido nfero-superior e mesio-distal dos msculos faciais e

    da mastigao, de acordo com o sentido do movimento muscular, da

    comissura labial em direo s tmporas.

    Tambm, no lado paralisado, deslizamentos profundos nos msculos

    da face foram utilizados para as manobras isotnicas extraorais, no sentido

    nfero-superior muscular. O deslizamento inicia-se na insero muscular e

    termina em seu ponto de origem, o terapeuta deve manter a mo no ponto

    de origem muscular ao final do movimento, at a outra mo executar outro

    deslizamento e chegar ao ponto de origem, quando deve soltar a mo e

    iniciar outro deslizamento. Iniciamos os deslizamentos pelos msculos do

    tero mdio com manobras no sentido infero-superior, em direo regio

    temporal, com movimentos oblquos e verticais; para os msculos

    elevadores do ngulo da boca e do lbio superior utilizamos manobras

    isotnicas da comissura labial em direo ao canto interno dos olhos. O

    msculo orbicular da boca recebeu deslizamentos no sentido disto-mesial,

    com apoio do dedo indicador da outra mo sobre o depressor do septo

    nasal, para no haver desvio de filtro nasal. As manobras isotnicas para o

    orbicular do olho foram realizadas no sentido disto-mesial, em direo ao

    nariz e o msculo frontal recebeu manobras no sentido nfero-superior.

  • Mtodos 24

    As manobras isocinticas intraorais ativas, foram utilizadas para os

    msculos bucinador e risrio, com contra resistncia no sentido horizontal,

    na funo da suco. Para o msculo orbicular da boca, a manobra foi de

    contra resistncia no sentido vertical, durante o movimento de protruso

    dos lbios. Para o msculo orbicular dos olhos e frontal foi feita resistncia

    ao movimento de fechar os olhos com fora.

    A terapia miofuncional orofacial foi executada de acordo com os

    tratamentos cirrgicos de reanimao na hemiface paralisada.

    Aps cirurgia de transplante microcirrgico de msculo grcil, o

    msculo transplantado pode encontrar-se muito elevado e, s vezes,

    requer manobras isomtricas passivas, na tentativa de reduo de

    volume. Em seguida, aplicamos as manobras isomtricas passivas

    extra e intraorais no lado no paralisado, depois as manobras

    isotnicas passivas extra e intraorais no lado paralisado da face.

    fundamental a associao da funo do temporal e masseter, msculos

    elevadores da mandbula durante a mastigao, ao movimento de

    sorrir e fechamento palpebral, promovendo, desta forma, a elevao do

    tero mdio da face durante a mmica e a preservao da crnea pelo

    movimento palpebral.

  • Mtodos 25

    Lado paralisado Lado no paralisado

    Manobra isomtrica passiva extraoral no lado no paralisado da face

    Manobra isomtrica extra e intraoral no lado no paralisado da face

    Manobra isotnica passiva extra e intraorais no lado paralisado da face

    Manobra isotnica passiva extra oral no lado paralisado da face

    Figura 1 - Esquema de manobras passivas isomtricas e isotnicas, intra e

    extra orais

    A seguir, encontram-se demonstradas algumas manobras executadas

    em paciente de 36 anos, com transplante de msculo grcil do lado direito

    da face.

  • Mtodos 26

    Figura 2 - Manobra isomtrica passiva extraoral no lado no paralisado

    da face.

    Figura 3 - Manobra isomtrica passiva intraoral no lado no paralisado

    da face.

  • Mtodos 27

    Figura 4 - Manobra isotnica passsiva intraoral no lado paralisado da face,

    da comissura labial s tmporas.

    Figura 5 - Manobra isotnica passiva extraoral no lado paralisado da face,

    nos msculos elevadores da asa nasal e do lbio superior.

  • Mtodos 28

    Figura 6 - Manobra de resistncia horizontal contra o msculo bucinador.

    Em seguida, demonstramos manobras para promoo de fechamento

    palpebral em paciente de 36 anos, com transposio de msculo temporal

    para boca. Figuras 7 e 8.

  • Mtodos 29

    Figura 7 - Manobra isotnica passiva extraoral na regio inferior do

    msculo orbicular dos olhos para dificuldade de vedamento palpebral.

    Figura 8 - Manobra isotnica passiva extraoral na regio inferior do

    msculo orbicular dos olhos para dificuldade de vedamento palpebral.

  • Mtodos 30

    Com relao s anastomoses hipoglosso-faciais, realizamos

    exerccios de mobilidade de lngua, terapia miofuncional da deglutio e

    fala; quanto enxertia de nervo sural utilizamos a mmica facial no lado

    paralisado, junto aos movimentos do lado so, com reduo das

    sincinesias pelo controle neuromuscular.

    Os pacientes fizeram exerccios orofaciais de lngua, para mobilidade

    e tonificao, como rotao nos vestbulos orais, varredura de palato duro

    e sustentao da lngua no alvolo superior.

    Os pacientes foram orientados a realizar manobras especficas e

    exerccios orofaciais em casa, uma ou duas vezes por dia, selecionados de

    acordo com os procedimentos cirrgicos de reanimao facial. A

    mastigao dos alimentos no lado paralisado da face foi sugerida para

    todos os pacientes.

    Em caso de dor, foram orientados a suspender o tratamento at a

    sesso seguinte.

    2.2.2 Toxina Botulnica

    A aplicao de toxina botulnica foi feita segundo estudo desenvolvido

    e validado em nosso servio37.

  • Mtodos 31

    Tabela 1 - Nmero de pontos e doses mnima/mxima de toxina botulnica utilizadas por grupo muscular da face37

    Msculos Pontos Dose Total

    Frontal 2-5 6-15

    Corrugadores 1-3 3-9

    Elevador lbio 1-2 3-6

    Zigomticos 3 8-15

    Risrio 1-2 4-10

    Depr.lbio inf. 2-3 3-10

    Orbicular boca 1-2 1-2

    Orbicular olhos 2-3 4-8

    Platisma 5-15 10-26 Fonte: Salles AG.Avaliao do efeito da toxina botulnica no lado so em pacientes com paralisia facial de longa durao[tese] FMUSP -2006

    O nmero mnimo e mximo de doses, assim como o nmero de

    pontos de aplicao utilizados em cada grupo muscular, esto descritos na

    Tabela 1. A localizao dos pontos de aplicao esto demonstrados na

    Figura 2. O frasco de 100 unidades de toxina botulnica tipo A foi diludo com

    2 ml de soro fisiolgico.

    Fonte: Salles AG.Avaliao do efeito da toxina botulnica no lado so em pacientes com paralisia facial de longa durao[tese] FMUSP -2006

    Figura 9 - Pontos de aplicao de toxina botulnica

  • Mtodos 32

    2.2.3. Avaliao

    Os pacientes passaram primeiramente por entrevista para coleta de

    dados pessoais. (Anexo A)

    As formas de avaliao foram as seguintes:

    2.2.3.1 Avaliao Clnica

    A simetria esttico/funcional da face foi avaliada de acordo com

    protocolo do Servio de Cirurgia Plstica e Queimaduras do Hospital das

    Clnicas da FMUSP. Duas profissionais, mdica e fonoaudiloga, avaliaram

    a mmica facial e foi obtida mdia entre as duas avaliaes.

    Os grupos musculares de cada hemiface foram avaliados em

    diferentes expresses faciais, voluntrias, recebendo pontuao zero (0)

    caso a movimentao estivesse ausente; um (1) para movimento parcial ou

    moderado e dois (2) em caso de movimento completo ou acentuado.

    A regio frontal foi avaliada pelo movimento de elevao dos

    superclios, movimentao das plpebras durante o fechamento dos olhos,

    elevao do lbio superior pelo movimento de "franzir o nariz", trao

    oblqua do lbio superior solicitando o movimento de sorrir, trao horizontal

    do lbio superior pelo sorriso cnico, fechamento dos lbios por meio do

    movimento de protruso e a depresso do lbio inferior com o movimento de

    mostrar os dentes inferiores.

    A seguir a movimentao involuntria emocional foi avaliada em cada

    lado da face observando os pacientes durante o ato de piscar, de falar e

    sorrir espontaneamente, usando o mesmo critrio de pontuao anterior,

  • Mtodos 33

    zero quando ausente, um quando diminudo e dois quando normal. As

    deformidades em repouso nas plpebras e nos lbios, sincinesia ou

    hipertonia quando presentes, foram tambm pontuadas, com valores

    negativos, (0) se inexistentes, (-1) se deformidade parcial ou leve e (2) se

    deformidade total ou grave. Ao final, a soma dos valores parciais obtidos

    totalizava a nota final, que pode variar de -6 a 20 para cada hemi face

    avaliada.(Anexo B).

    2.2.3.2 ndice de Satisfao do paciente

    Para a determinao do ndice de satisfao do paciente em relao

    simetria facial foi solicitado a ele uma nota de zero a dez, considerando zero

    insatisfao completa e dez ndice mximo de satisfao.

    2.2.3.3 ndice de Incapacidade Facial (lIF)

    O ndice de Incapacidade Facial foi calculado segundo mtodo descrito

    por VanSwearingen e Brach60, validados em nosso meio por Faria 25. Ele

    consiste em um breve questionrio sobre as condies fsicas e

    psicossociais relacionadas funo neuromuscular da face, conforme

    protocolo do Facial Nerve Center, University os Pittsburgh Medical Center

    (UPMC) para a avaliao da experincia de vida diria dos pacientes com

    distrbio do nervo facial.

    O questionrio dividido em duas partes. A primeira parte composta

    por um questionrio para o clculo do ndice de Funo Fsica (IFF) e a

    segunda por segundo questionrio o ndice de Bem-Estar Social (IBES).

  • Mtodos 34

    2.2.3.3.1 ndice de Funo Fsica (IFF)

    um questionrio respondido pelo paciente e compreende cinco

    questes que visam avaliar as funes estomatognticas da mastigao, da

    deglutio e da fala, alm do lacrimejamento e ressecamento do olho com

    graus de dificuldade pontuados de zero a cinco. Zero corresponde a grau

    mximo de dificuldade e cinco ao mnimo. (Anexo C)

    Para a determinao do IFF utiliza-se a equao a seguir:

    (Soma da nota das questes 1 a 5) N x 100 N 4

    N= nmero de questes respondidas (de 1 a 5)

    2.2.3.3.2 ndice de Bem-Estar Social (IBES)

    Este questionrio consta de cinco questes respondidas pelo paciente,

    com pontuao um para o mnimo e seis para o mximo de bem estar social

    em cada resposta. (Anexo D).

    O ndice calculado pela equao:

    (Soma da nota das questes 6 a 10) N x 100 N 5

    N= nmero de questes respondidas (de 6 a 10)

    2.2.4 Anlise estatstica

    Os dados foram analisados quanto normalidade da distribuio e sua

    homocedasticidade, (homogeneidade das varincias) a fim de utilizar testes

    paramtricos. Quando no foi garantida a normalidade e a homocedasticidade,

    foram utilizados testes no paramtricos. Foi definido nvel de significncia

  • Mtodos 35

    de 0,10 e os intervalos de confiana calculados com 95% de confiana

    estatstica.

    As variveis idade e durao da paralisia foram analisadas segundo

    o teste de ANOVA. O teste de Igualdade de Duas Propores foi utilizado

    para analisar a distribuio dos pacientes quanto s variveis qualitativas,

    sexo e lado paralisado.

    Para a anlise dos critrios Avaliao Clnica da Face, ndice de

    Satisfao do Paciente, IFF e IBES, foi utilizado o teste paramtrico de

    Mann-Whitney.

    A anlise comparativa entre os dois primeiros momentos de avaliao

    do grupo A foi feita pelo teste no paramtrico de Wilcoxon.

  • 3. RESULTADOS

  • Resultados 37

    3.1 AVALIAO CLNICA

    Grupo A

    A nota do lado no paralisado da face dos pacientes do grupo A foi

    19,00 ( 0,93) no momento inicial, passou para 19,75 ( 0,26), aps a

    terapia miofuncional. Esta diferena no significante (p=0,104). Ao final, a

    nota foi 14,17 ( 0,76), significantemente menor em relao ao incio do

    tratamento (p=0,002 ) e aps a terapia miofuncional (p=0,002). Grfico 1.

    A nota da hemiface paralisada dos pacientes do grupo A no momento

    inicial foi 5,75 ( 1,26); aps a terapia miofuncional foi de 6,92 ( 1,46),

    aumento significativo (p=0,016). Ao final do tratamento a nota foi 9,33

    ( 1,33), aumento significativo, tanto em relao ao momento aps a terapia

    miofuncional quanto no incio do tratamento (p=0,006) e (p=0,010). Grfico 1

    Grupo B

    A nota do lado da face no paralisada dos pacientes do Grupo B, no

    momento inicial do tratamento foi 19,08 ( 0,68) e ao final dos tratamentos

    foi significativamente menor em relao ao inicio, 14,50 ( 0,84) (p=0,001)

    A nota do lado paralisado dos pacientes do grupo B foi 3,35 ( 1,39) no

    momento inicial e ao final dos tratamentos significativamente maior, 10,00

    ( 1,54) (p=0,001) em relao ao inicio do tratamento. Grfico 2.

  • Resultados 38

    Comparao entre os grupos

    Lado no paralisado da face

    Ao comparar o lado no paralisado dos pacientes do grupo A aos do

    grupo B, no houve diferena significativa entre os momentos inicial

    (p=0,0899) e final (p=0,454).

    No houve diferena significante entre os momentos aps a terapia

    miofuncional dos pacientes do grupo A e o incio do tratamento dos

    pacientes do grupo B (p=0,236).

    Lado paralisado da face

    O lado paralisado dos pacientes do grupo A tem nota significativamente

    maior, 5,75 ( 1,26), que os pacientes do grupo B, 3,35 ( 1,89), no incio

    dos tratamentos (p=0,059).

    Os pacientes do grupo A, aps a terapia miofuncional apresentaram

    nota 6,92 ( 1,46), tambm significativamente maior que os pacientes do

    grupo B, em relao ao incio do tratamento deste grupo, 3,35 ( 1,89)

    (p=0,015).

    Aps o final do tratamento, o lado paralisado teve mdia de avaliao

    semelhante nos dois grupos, em relao ao incio do tratamento. (p=0,491).

    Grfico 3.

  • Resultados 39

    Grfico 1- Avaliao Clnica - Grupo A

    19,00 19,75

    14,17

    5,756,92

    9,33

    0

    5

    10

    15

    20

    Lado no Paralisado Lado paralisado

    Avaliao Clnica - Grupo A

    Inicial Ps terapia miofuncional Final

    Grfico 2 Avaliao Clnica - Grupo B

    19,08

    14,50

    3,35

    10,00

    0

    5

    10

    15

    20

    Lado no Paralisado Lado paralisado

    Avaliao Clnica - Grupo B

    Incial Final

    Grfico 3 Comparao entre os grupos Avaliao Clnica

    19,00

    5,75

    19,75

    6,92

    14,17

    9,33

    19,08

    3,35

    14,50

    10,00

    0

    5

    10

    15

    20

    Inicial Ps terapiamiofuncional

    Final Inicial Final

    Grupo A Grupo B

    Lado no paralisado Lado paralisado

  • Resultados 40

    Exemplo da ao voluntria da mmica facial de pacientes do grupo A,

    antes, um ms aps a terapia miofuncional e um ms aps aplicao de

    toxina botulnica.

    Figura 10 - paciente de 26 anos, grupo A em trao oblqua dos msculos

    zigomticos.

    Figura 11 - Paciente de 16 anos, grupo A em trao de msculos

    elevadores da asa do nariz e lbio superior.

  • Resultados 41

    Figura 12 - Paciente de 18 anos, grupo A em trao do msculo abaixador

    do lbio inferior.

    Figura 13 - Paciente de 49 anos, grupo A em trao obliqua dos msculos

    zigomticos.

    Figura 14 - Paciente de 44 anos, grupo A em trao de msculos

    elevadores do lbio superior e asa do nariz.

  • Resultados 42

    Figura 15 - Paciente de 50 anos, grupo A em trao obliqua dos msculos

    zigomticos.

    Figura 16 - paciente de 36 anos, grupo A em protruso labial.

    Figura 17 - Paciente de 36 anos, grupo A em trao oblqua dos msculos

    zigomticos.

  • Resultados 43

    Figura 18 - Paciente de 53 anos, grupo A em trao oblqua dos msculos

    zigomticos.

    Ao voluntria da mmica facial de alguns pacientes do Grupo B, no

    incio do tratamento e aps um ms da aplicao de toxina botulnica e 4

    sesses de terapia miofuncional.

    Figura 19 - Paciente de 26 anos, grupo B em trao oblqua dos msculos

    zigomticos.

  • Resultados 44

    Figura 20 - Paciente de 45 anos, grupo B em trao oblqua dos msculos

    zigomticos.

    Figura 21 - Paciente de 26 anos, grupo B em trao oblqua dos msculos

    zigomticos.

    Figura 22 - Paciente de 16 anos, grupo B em trao oblqua dos msculos

    zigomticos.

  • Resultados 45

    3.2 NDICE DE SATISFAO DO PACIENTE

    Grupo A

    No grupo A, a mdia da nota do paciente referente satisfao com a

    face foi 5,75 ( 1,03) no momento inicial. Aps a terapia miofuncional foi

    significativamente maior, 6,83 ( 0,90) (p=0,058) em relao ao incio. A

    satisfao foi significativamente maior no final do tratamento, aps a

    aplicao de toxina botulnica, 7,46 ( 0,83) em relao ao incio (p=0,028).

    Com relao ao momento aps a terapia miofuncional, a nota foi semelhante

    (p=0,304). Grfico 4.

    Grupo B

    A mdia da nota dos pacientes do grupo B quanto ao ndice de

    satisfao da simetria da face, foi 5,81 ( 0,78), no momento inicial. Aps os

    tratamentos foi significativamente maior, 7,96 ( 0,85). (p= 0.002). Grfico 4.

    Comparao entre os grupos

    No existe diferena entre os grupos, com relao satisfao dos

    pacientes quanto simetria facial no incio do tratamento, (p=0,760) nem em

    relao ao final. (p=0,467).

    Os pacientes do grupo A tinham nota semelhante, aps a terapia

    miofuncional, aos pacientes do grupo B, no incio do tratamento. (p=0,142).

    Grfico 4.

  • Resultados 46

    Grfico 4 ndice de Satisfao do Paciente - Grupo A e Grupo B

    5,756,83

    7,46

    5,81

    7,96

    0

    5

    10

    Grupo A Grupo B

    ndice de Satisfao do Paciente

    Inicial Ps terapia miofuncional Final

    3.3 ndice de Incapacidade Funcional (IIF)

    3.3.1 ndice de Funo Fsica (IFF)

    Grfico 5 ndice de Funo Fsica - Grupo A e Grupo B

    68,7580,42 75,83 78,85 78,46

    0

    50

    100

    Grupo A Grupo B

    ndice de Funo Fsica

    Inicial Ps terapia miofuncional Final

  • Resultados 47

    Grupo A

    A mdia da nota do IFF no momento inicial do tratamento dos

    pacientes do grupo A, foi 68,75 ( 5,67) e aps a terapia miofuncional 80,42

    ( 5,18) (p=0,014), significativamente maior.

    No houve diferena significativa no IFF, entre o incio 68,75 ( 5,67) e

    o final do tratamento, 75,83 ( 7,80) (p=0,154); nem aps a terapia

    miofuncional 80,42 ( 5,18) e o final do tratamento (p=0,389).Grfico 5.

    Grupo B

    A mdia da nota do IFF no momento inicial do tratamento dos

    pacientes do grupo B, foi 78,85 ( 8,31) e ao final do tratamento foi 78,46

    ( 7,72) (p=.0,735), diferena no significante. Grfico 5.

    Comparao entre os grupos

    No momento inicial do tratamento os pacientes do grupo B tm mdia

    do IFF significativamente maior que os pacientes do grupo A (p=0,035).

    No h diferena significante entre a mdia das notas dos pacientes

    dos grupos A, aps a terapia miofuncional e a nota dos pacientes do grupo

    B, no incio do tratamento (p=0,678 ).

    No h diferena na mdia da nota final do tratamento entre os

    pacientes dos grupos A e B ( p=0,640). Grfico 5.

  • Resultados 48

    3.3.2 ndice de Bem-Estar Social (IBES)

    Grupo A

    A mdia da nota do IBES dos pacientes do grupo A no incio do

    tratamento foi 68,00 ( 9,10); aps a terapia miofuncional apresentou

    aumento significante para 78,00 ( 6,29) (p=0,037). Ao final o IBES foi 74,67

    ( 9,90).

    No houve diferena significante entre a nota inicial e final (p=0,212);

    nem entre a final e aps a terapia miofuncional (p=0,502). Grfico 6.

    Grupo B

    No grupo B, a mdia da nota do IBES no incio do tratamento foi 68,62

    ( 12,61) e ao final do tratamento foi 75,08 ( 7,70). Esta diferena no foi

    significante (p= 0,544). Grfico 6.

    Comparao entre os grupos

    O IBES semelhante nos dois grupos no momento inicial do

    tratamento. (p=0,891).

    Aps a terapia miofuncional os pacientes do grupo A, continuaram

    semelhantes aos pacientes do grupo B no incio do tratamento (p=0,511).

    No h diferena significativa entre os pacientes dos grupos A e B no

    final do tratamento. (p=0,956). Grfico 6.

  • Resultados 49

    3.4 Dose de toxina botulnica

    A dose de toxina botulnica aplicada no grupo A foi 39,25 ( 13,36) e no

    grupo B foi 36,65 ( 14,69), nmero semelhante nos dois grupos.

    Grfico 6 ndice de Bem Estar Social - Grupo A e Grupo B

    68,0078,00 74,67

    68,7275,08

    0

    50

    100

    Grupo A Grupo B

    ndice de Bem Estar Social

    inicial ps-terapia miofuncional final

    3.5 Efeitos adversos aps a aplicao de toxina botulnica

    Grfico 7 Efeitos adversos aps aplicao de toxina botulnica Grupo A e Grupo B

    8,3%

    30,8%

    50,0%

    7,7%

    0,0%

    23,1%

    0,0%5,0%

    10,0%15,0%20,0%25,0%30,0%35,0%40,0%45,0%50,0%

    Beber Falar Mastigar

    Grupo A

    Grupo B

  • Resultados 50

    Grupo A

    Um paciente apresentou dificuldades para beber (8,3%), seis para falar

    (50,00%) e nenhum para mastigar. Grfico 7.

    Grupo B

    Quatro pacientes apresentaram dificuldade para beber (30,8%), um

    para falar (7,7%) e trs para mastigar (23,1%). Grfico 7.

    Comparao entre os grupos

    No houve diferena significante entre os grupos no total de pacientes

    com efeitos adversos, aps a aplicao de toxina botulnica (p=0,543)

    Com relao ao tipo de efeitos adversos no houve diferena

    significante entre os grupos na freqncia da dificuldade para beber

    (p=0,161).

    A freqncia de dificuldade para falar foi significativa maior no grupo A

    (p=0,019) e a freqncia de dificuldade para mastigar foi significativa no

    grupo B (p=0,076). Grfico 7.

    3.6 Relato dos pacientes

    Todos os pacientes relataram que aps a terapia miofuncional a face

    parecia mais leve, melhorou o lacrimejamento ou ressecamento dos

    olhos, perceberam que os movimentos de mmica facial estavam mais

    soltos, melhoraram os movimentos de lngua e a mastigao. Trs

    pacientes relataram melhora da respirao e da viso.

  • 4. DISCUSSO

  • Discusso 52

    A paralisia facial uma sndrome que afeta a habilidade do ser humano

    de expressar emoes, com prejuzo na capacidade de ser

    compreendido. No grande o nmero de pacientes com paralisia facial, h

    poucos servios especializados e a reabilitao destes pacientes, muitas

    vezes est num plano secundrio.1-4,60 Porm, obter resultados satisfatrios

    por meio de teraputica, significa oferecer benefcios qualidade de vida do

    paciente 60

    Os pacientes tratados nesta pesquisa foram encaminhados pelos

    mdicos do ambulatrio da Diviso de Cirurgia Plstica do Hospital das

    Clnicas, para terapia miofuncional e aplicao de toxina botulnica, pois

    mesmo aps a reanimao cirrgica, apresentavam alteraes de

    movimento da mmica facial. A escolha dos pacientes para pertencerem ao

    grupo A, que recebeu terapia miofuncional antes da aplicao de toxina

    botulnica ou para o grupo B, que recebeu terapia miofuncional simultnea

    aplicao de toxina botulnica, foi aleatria, de acordo com a chegada dos

    encaminhamentos.

    No fizemos restries quanto etiologia e altura da leso, todos os

    pacientes eram portadores de paralisia facial de longa durao,

    encaminhados com diversos tratamentos cirrgicos reconstrutivos, mas que

    ainda tinham alteraes funcionais da mmica facial, com indicao de

    terapia miofuncional.

  • Discusso 53

    A anlise estatstica constatou que os grupos foram constitudos por

    pacientes com as mesmas caractersticas quanto a sexo, idade, durao da

    paralisia, lado da face paralisado e tratamentos realizados, caracterizando

    homogeneidade entre os pacientes dos dois grupos.

    O nmero de pacientes do sexo feminino foi significativamente maior

    que do sexo masculino (p

  • Discusso 54

    toxina botulnica habitualmente indicado em nosso Servio no lado no

    paralisado, no ps-operatrio imediato de procedimentos de reanimao,

    para acelerar a reabilitao do lado paralisado, enquanto na fase tardia, tem

    por objetivo melhorar a simetria. 37

    O tratamento com toxina botulnica chamado de adjuvante, ou seja,

    auxiliar ou complementar e no deve ser encarado como tratamento para

    recuperao da face paralisada10, somente melhora temporariamente a

    simetria facial. 31,32,37

    A toxina botulnica uma alternativa menos invasiva s tcnicas

    cirrgicas usadas para enfraquecimento da face contralateral normal, quais

    sejam, as neurectomias e as miectomias10,12,62. Essas tcnicas so

    consideradas complementares no tratamento cirrgico da paralisia facial,

    pois no promovem a reanimao do lado paralisado. Uma das vantagens

    do uso da toxina botulnica permitir o tratamento de forma balanceada de

    todos os msculos recrutados no sorriso e na expresso facial.37

    A mdia da dose de toxina botulnica aplicada no lado no paralisado

    da face dos pacientes foi semelhante nos dois grupos. Aos olhos do

    examinador, a movimentao dos msculos da mmica deste lado da face

    era prxima, determinando mdia de aplicao de toxina botulnica nos

    pacientes de ambos os grupos, sem grandes alteraes.

    O mtodo de avaliao dos resultados foi desenvolvido na Disciplina de

    Cirurgia Plstica da FMUSP. uma escala regional, que permite o

    acompanhamento da recuperao de cada rea da face, separadamente.

    Leva-se em considerao, aspectos negativos que diminuem a pontuao,

  • Discusso 55

    tais como a presena de sincinesias, deformidades em plpebra e lbios,

    presentes mesmo com a face em repouso, valoriza tambm, movimentos

    involuntrios, tais como o piscar e o do sorriso espontneo. A avaliao

    esttica embora com base em respostas funcionai,13,24

    A escala de preenchimento rpido e fcil, o suficiente para ser

    compatvel com a prtica clnica, inclusive por profissionais da sade, no-

    mdicos ou no-especializados. No envolve custo adicional, no requer

    equipamento especial, tomada de medidas ou realizao de clculos

    matemticos complexos. H vantagem adicional, no presente nas demais

    formas de avaliao; por meio da graduao dos dois lados da face, permite

    a comparao entre os mesmos e o clculo de um ndice de assimetria

    facial. A nota obtida pode ser convertida em porcentagem por meio de

    clculo simples, no qual 20 correspondem a 100% de funo, facilitando a

    interpretao dos dados. 37

    Esse mtodo foi validado em nosso meio na avaliao de resultados

    cirrgicos de pacientes com paralisia facial tratados com enxerto de nervo

    transfacial24 e com a rotao de retalho do msculo temporal para correo

    das alteraes oculares funcionais22

    Os pacientes que realizaram terapia miofuncional antes da aplicao de

    toxina botulnica, pertencentes ao Grupo A, demonstraram mais

    movimentos do lado paralisado da face aps a terapia e melhor simetria

    facial; as manobras executadas nesta hemiface levaram ao aumento dos

    movimentos da mmica facial em pacientes com paralisia facial de longa

    durao e auxiliaram a reanimao da face obtida por procedimentos

  • Discusso 56

    cirrgicos. A aplicao de toxina botulnica melhorou a simetria facial, ainda

    mais, pois tratou a hemiface no paralisada, enquanto a mioterapia tratava

    a hemiface paralisada. Podemos dizer que um tratamento complementa o

    outro e ambos promoveram a simetria da face dos pacientes com paralisia

    facial de longa durao.

    Realizamos exames de eletromiografia de superfcie em todos os

    pacientes, com o intuito de obtermos dados objetivos do potencial de ao

    muscular antes, aps a terapia miofuncional e aps a aplicao de toxina

    botulnica, porm no utilizamos estes dados nesta pesquisa, pois

    verificamos que o local de colocao de eletrodos, os movimentos da

    mmica e a anlise dos resultados requerem aprofundamento sobre outros

    critrios no abordados neste estudo. Acreditamos na importncia da

    eletromiografia de superfcie para o diagnstico e prognstico no momento

    pr e ps cirrgico destes pacientes, assim como durante o processo

    teraputico. Sugerimos pesquisa especfica das possibilidades de

    utilizao do exame de eletromiografia de superfcie em pacientes com

    paralisia facial tardia.

    O trabalho miofuncional referido na literatura atua, predominantemente

    em pacientes com paralisia facial de curta durao e prope exerccios,

    massagens e eletromiobiofeedback; tem como proposta exercitar a

    musculatura da face em casos de paralisia facial de qualquer origem e que

    na maioria dos casos, tero recuperao nervosa espontnea. Preocupam-

    se com a funo da mastigao e trabalham a mmica de forma controlada e

    simtrica em ambos os lados da face, de maneira sinrgica. Fazem

  • Discusso 57

    exerccios para estimular os msculos inervados pelo nervo facial e

    massagens com as pontas dos dedos.41-44,53-56,58,59,63-65

    Beurskens e Heymans, analisaram a eficcia da mmica facial ou

    reabilitao da expresso facial em terapia que consiste na combinao da

    estimulao dos movimentos e funes da expresso facial. Os objetivos

    foram promover a simetria e reduzir as sincinesias, com exerccios que

    alinham as duas hemi faces reintegrando emoo e expresso, com auto

    massagens na face e pescoo, exerccios de relaxamento, fechamento de

    lbios, devido a necessidade de comer e beber, enxaguar a boca, pronunciar

    palavras e orientar possibilidades de comunicao.66

    Byrne67 criticou o estudo de Beurskens e Heymans66, por ser de auto

    avaliao, considerada varivel importante, j que a propriocepo varia

    entre as pessoas, mas os efeitos do delineamento facial, combinado com

    biofeedback, tem sugerido benefcios na reduo das sincinesias.

    O autor67 descreve a importncia da face para a vida do ser humano,

    como um mtodo primrio de identificao, cujos movimentos das

    expresses faciais so universais, especficos e extremamente efetivos na

    melhora da comunicao entre os indivduos. 67

    No paciente com paralisia facial de longa durao observa-se

    enrijecimento dos movimentos traduzido por contratura, a presena de

    sincinesias e h modificaes permanentes da fisionomia. orientado que

    se faa compressas quentes e exerccios de alongamento para evitar as

    sincinesias, os resultados so limitados.59,44 A contratura percebida pela

    rigidez na hemiface comprometida e por sincinesias como movimentos

  • Discusso 58

    involuntrios que aparecem associados a movimentos voluntrios de grupos

    musculares independentes no lado afetado.29,44-46

    Nesta srie observamos dois tipos de quadro miofuncional na face dos

    pacientes: alguns apresentavam poucos movimentos e pouca expresso

    facial bilateralmente, como reao natural e automtica, a fim de evitar a

    assimetria dinmica. Ao mesmo tempo, apresentavam hiperfuncionalidade

    da musculatura contralateral no-paralisada: ao fazer movimentos

    involuntrios de sorrir e durante a fala, o paciente contraa todos os

    msculos do lado no paralisado da face ao mesmo tempo, sem definio

    adequada do movimento especfico, chamado movimento em massa.

    O movimento em massa deve ser diferenciado da sincinesia, que

    definida como a contrao involuntria de determinado grupo muscular

    quando da realizao de outro movimento, por exemplo, ocorrer o

    fechamento do olho durante o sorriso. A sincinesia relaciona-se

    regenerao desorientada dos axnios aps a paralisia.1,12,50

    A estimulao eltrica, mtodo que j muito utilizado pela reabilitao

    na expectativa de manter o tnus ou a viabilidade muscular, hoje contra-

    indicada em razo de evidncias de que, na realidade, pode reforar

    padres anormais como as sincinesias.1,50,51 A deficincia funcional em

    determinada regio facial pode resultar em movimentos compensatrios de

    reas distantes da regio acometida, explicando o movimento em massa 50

    Observamos que as sincinesias podem ocorrer tanto no lado paralisado

    quanto no lado no paralisado da face de pacientes com paralisia facial de

    longa durao. Devemos, por isso, exercitar o lado no paralisado da face

  • Discusso 59

    com manobras passivas isomtricas intra e extraorais, a fim de reduzir

    sincinesias e movimento em massa neste lado da face.

    A tcnica de reabilitao proposta por Diels7 tem como objetivo

    estimular a movimentao e o tnus do lado paralisado, tenha ele sido

    tratado cirurgicamente ou no, alm de poder dissociar movimentos

    involuntrios, sincinesias e relaxar eventuais contraturas nesse lado. No lado

    contralateral, ela indica manobras de alongamento muscular e relaxamento

    de contraturas, porm ela no utiliza as mos em sua terapia e os

    alongamentos so descritos como movimentos faciais utilizando-se espelho

    ou aparelho de biofeedback.

    Nos trabalhos de reabilitao realizados por Diels7 e Brach50 a terapia

    voltada para que o paciente assuma o controle dos movimentos, observa-se

    melhora da propriocepo, melhor definio de cada expresso facial,

    relaxamento de contraturas e estmulo de msculos hipofuncionantes, aps

    perodo que pode variar de seis a onze semanas de terapia.

    Nesta pesquisa foram elencadas manobras passivas e ativas,

    isomtricas e isotnicas, intra e extraorais de acordo com os movimentos da

    mmica facial executados em ambas as faces dos pacientes, sem utilizao

    de espelho, nem outro tipo de controle da movimentao voluntria. A

    escolha das manobras foi individual para cada caso.

    Nossa proposta teraputica foi realizada em quatro semanas, com

    resultados significativos na simetria facial dos pacientes do grupo A,

    (p=0,016) aps a terapia miofuncional em pacientes com mais de dois anos

    de paralisia, tempo menor que os citados por Diels7 e Brach50 em pacientes

    com paralisia facial de curta durao.

  • Discusso 60

    As tcnicas cirrgicas para reanimao facial tm como objetivo

    alcanar maior simetria facial, conseguir movimentos voluntrios os mais

    simtricos possveis e melhorar o tnus, porm uma limitao da resposta

    esttica melhor, est na tcnica ser dimensional enquanto os sorrisos so

    classificados em trs tipos.

    A transferncia microcirrgica do msculo grcil procura promover a

    elevao do lbio superior com ao similar do msculo zigomtico e o

    enxerto do nervo feito anteriormente propicia o estmulo ao movimento vindo

    do nervo facial contralateral. Para os pacientes que apresentam sorriso

    normal com elevao do lbio superior, falta no lado paralisado um

    movimento do lbio superior, pois no ocorre o movimento isolado da

    comissura, o que dificulta a simetria com alguns pacientes.28,30

    O conhecimento anatmico e funcional do sorriso, assim como a

    tcnica cirrgica utilizada, so importantes na avaliao, diagnstico e

    prognstico da proposta de terapia miofuncional.

    O prognstico da reabilitao miofuncional vai depender da relao

    entre a tcnica cirrgica de reanimao ou reconstruo microcirrgica

    realizada no paciente com o tipo de sorriso que ele apresenta.

    Pacientes com sorriso de Monalisa, submetidos transferncia

    microcirrgica de msculo em dois tempos, podem realizar manobras

    isotnicas intra e extraorais no lado paralisado da face para os msculos

    zigomticos e tero prognstico melhor que pacientes que tenham sorriso

    canino ou de dentadura completa, que exigem mais movimentos dos

    msculos elevadores da asa do nariz e lbio superior. A movimentao da

  • Discusso 61

    face realizada atravs dos msculos masseter e temporal, que elevam a

    mandbula num movimento vertical/oblquo, movimento prximo mmica do

    sorriso de Monalisa.

    Algumas vezes, h aumento de volume muscular pelo transplante

    microcirrgico do msculo grcil e apresentam-se alteraes de simetria.

    Devem-se fazer manobras passivas isomtricas intraorais do lado paralisado,

    a fim de reduzir possveis contraturas e edema, pois se somam as fibras de

    dois msculos na regio da face, o msculo de origem e o transplantado.

    Nesta tcnica cirrgica a funo da mmica do sorriso est associada

    mastigao, pois a reanimao facial envolve o msculo masseter

    responsvel pela elevao da mandbula durante o processo mastigatrio.

    A avaliao da evoluo do processo teraputico baseada na anlise

    regional da face, em numerrios, faz com que os profissionais percebam

    mais facilmente as mudanas da mmica aps tratamentos executados na

    face, mas nem sempre o paciente percebe tais mudanas. Por mais objetiva

    que a avaliao seja, pode haver interferncia de credos pessoais

    inconscientes ao profissional durante a anlise de resultados. De qualquer

    modo, o mais importante, a percepo e a satisfao do paciente com o

    processo teraputico executado, ele quem pode avaliar se o tratamento

    est melhorando seu estado fsico, funcional ou emocional.

    Quanto ao ndice de satisfao do paciente com a face aps quatro

    sesses de terapia miofuncional, constatou-se resultado significativo nos

    pacientes do grupo A (p=0,058). Aps a aplicao de toxina botulnica a

    mdia do ndice de satisfao no se alterou (p=0,304). Isto demonstrou que

  • Discusso 62

    o paciente percebeu as diferenas ocorridas aps a terapia miofuncional,

    elas foram determinantes no aumento da propriocepo da mobilidade e da

    funcionalidade da mmica facial e no se alteraram aps a aplicao de

    toxina botulnica.

    Os pacientes do grupo B, que receberam terapia miofuncional

    simultnea aplicao de toxina botulnica, tambm demonstraram aumento

    significativo da mdia do ndice de satisfao, ao trmino do tratamento em

    relao ao incio (p=0,002).

    Os pacientes dos dois grupos iniciaram a pesquisa com mdia do

    ndice de satisfao da face semelhante (p=0,760). Aps o final dos

    tratamentos a mdia do ndice de satisfao da face continuou semelhante

    nos dois grupos, em relao ao incio (p=0,142).

    A terapia miofuncional quando realizada antes da aplicao de toxina

    botulnica aumentou a mdia do ndice de satisfao do paciente, que no

    se alterou aps a aplicao da toxina botulnica. Os pacientes do grupo B

    receberam terapia miofuncional simultnea aplicao de toxina botulnica,

    melhoraram a mdia do ndice de satisfao ao final do tratamento.

    Os dois grupos finalizaram os tratamentos com ndice de satisfao

    prximo, portanto podemos referir que a terapia miofuncional colaborou no

    aumento do ndice de satisfao dos pacientes dos dois grupos.

    Dificuldades psicolgicas e sociais vivenciadas por pacientes com

    disfuno neuromuscular facial incluem alterao do bem-estar emocional,

    diminuio da auto-estima, ansiedade, depresso, isolamento social, vcios e

    dificuldades nas relaes pessoais e profissionais.

  • Discusso 63

    A Organizao Mundial de Sade declara que a sade no se restringe

    ausncia de doena, mas engloba a percepo individual de um completo

    bem-estar fsico, mental e social. 68,69 O que caracteriza o conceito de

    qualidade de vida, (QV), a subjetividade e a multidimensionalidade 69,70

    Na rea da sade, o interesse pelo conceito qualidade de vida

    relativamente recente e decorre de novos paradigmas sobre doena-sade.

    Estudiosos enfatizam que QV s pode ser avaliada pela prpria

    pessoa, ao contrrio de tendncias iniciais quando QV era avaliada por um

    observador. 70

    Estabelecer uma rotina de avaliao de QV que atenda aos interesses

    prticos de servios assistenciais e aprimore processos de diagnsticos e

    avaliao sistemtica configura-se um dos maiores desafios atuais. 70

    Fonoaudilogos e profissionais da rea da sade preocupam-se com a

    qualidade de vida que o paciente demonstra e a influncia das condutas

    realizadas. Na fonoaudiologia no encontramos pesquisas que verifiquem a

    qualidade de vida dos pacientes com paralisia facial aps o trabalho de

    reabilitao.

    Os pacientes com paralisia facial de longa durao acostumaram a ter

    sua aparncia fsica comprometida, pelo tempo de paralisia decorrido, mas

    nem por isso aceitam tal condio, buscam melhorar de alguma forma a

    simetria facial para reduzir o impacto que a aparncia causa em sua vida.

    Outro mtodo de avaliao utilizado nesta pesquisa, foi o ndice de

    Incapacidade Facial, desenvolvido no Centro Mdico da Universidade de

    Pittsburgh. Foi descrito para avaliar o impacto da paralisia facial na qualidade

  • Discusso 64

    de vida dos pacientes, mas em nosso meio, mostrou-se til tambm para

    avaliar o resultado de procedimento cirrgico para reanimao da face. 6,10,60

    especfico para a paralisia facial e respondido pelo prprio paciente,

    que fornece informaes relacionadas ao seu bem-estar social, emocional e

    a funes estomatognticas t