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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA (ETCC) SOBRE O CÓRTEX MOTOR NA MODULAÇÃO AUTONÔMICA EM PESSOAS COM LESÃO MEDULAR COM DIFERENTES GRAUS E NÍVEIS DE LESÃO. Fabiana Tenório Gomes da Silva NATAL - RN 2014

ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE … · com lesão medular (LM), mas seus efeitos sobre o sistema nervoso autonômico (SNA ... Conclusão: O presente estudo observou que a

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM

EDUCAÇÃO FÍSICA

ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA (ETCC) SOBRE O CÓRTEX MOTOR NA MODULAÇÃO AUTONÔMICA EM PESSOAS COM

LESÃO MEDULAR COM DIFERENTES GRAUS E NÍVEIS DE LESÃO.

Fabiana Tenório Gomes da Silva

NATAL - RN

2014

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ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA (ETCC) SOBRE O CÓRTEX MOTOR NA MODULAÇÃO AUTONÔMICA EM PESSOAS COM

LESÃO MEDULAR COM DIFERENTES GRAUS E NÍVEIS DE LESÃO.

FABIANA TENÓRIO GOMES DA SILVA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Educação Física.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Paulo Moreira Silva Dantas CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Eryvaldo Sócrates Tabosa do Egito

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Coordenador do Programa de Pós Graduação em Educação Física:

Prof. Dr. Arnaldo Luis Motatti

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FABIANA TENÓRIO GOMES DA SILVA

ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA (ETCC) SOBRE O CÓRTEX MOTOR NA

MODULAÇÃO AUTONÔMICA EM PESSOAS COM LESÃO MEDULAR COM DIFERENTES GRAUS E NÍVEIS DE LESÃO.

COMISSÃO EXAMINADORA:

___________________________________________________

Prof. Dr. Paulo Moreira Silva Dantas Universidade Federal do Rio Grande do Norte

___________________________________________________

Prof. Dr. Breno Guilherme de Araújo Tinôco Cabral Universidade Federal do Rio Grande do Norte

___________________________________________________

Prof. Dr. Alair Pedro Ribeiro de Souza e Silva Universidade Federal do Rio de Janeiro

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AGRADECIMENTOS

Existem tantas pessoas para agradecer durante toda minha trajetória até o

presente momento que não sei como começar. Desde então, começo minha colcha

de retalhos através do meu princípio, meio e fim que é JESUS CRISTO, onde todas

as coisas iniciam e convergem. O meu grande EU SOU colocou em minha vida

pessoas que tenho admiração, apreço e amor que são meus pais Sebastião

Jerônimo e Mirian Tenório que se esvaziaram, por longos anos, de seus objetivos e

desejos em função de unificá-los aos meus e aos de minha irmã Evelyne Tenório.

Mãe, Pai e Irmã vejo em vocês a minha base, a minha forma de ser e conduzir os

planos de Deus traçados para mim.

Gostaria de agradecer a meu orientador Prof. Dr. Paulo Moreira Silva

Dantas e a meu co-orientador Eryvaldo Sócrates Tabosa do Egito por participarem

de minha vida acadêmica de forma ímpar, mostrando sempre que o homem por

mais inteligente que possa ser, se não for humilde, o seu melhor se perde na

arrogância, pois a humildade é a partemais bela da sabedoria.

Continuando minha colcha de retalhos, agradeço a todos meus voluntários

que participaram da pesquisa, pois reconheço que não foi fácil para nenhum, mas

que a dificuldade não foi parâmetro para desistirem da pesquisa. Agradeço em

particular ao voluntário Gleidson Rodrigo do Amaral Ribeiro que ajudou de forma

ímpar tabulando os dados, fazendo gráficos e tabelas até altas horas da madrugada.

Agradeço aos meus amigos da base de pesquisa AFISA que sempre me

deram força para concluir minha pesquisa em particular Jeferson Tafarel Pereira do

Rêgo, Leônidas de Oliveira Neto e Rafaela Catherine da Silva que ajudaram de

forma miniciosa na construção e excução do projeto de pesquisa e Scheila Mariza

Pinheiro por ajudar enumeras vezes nas construções de minhas apresentações. Da

mesma forma aos meus alunos de iniciação científica Anna Gracielle Ananias,

Ignáci Tobias Diez, Antônio Carlos Queiroz Aquino e Jordan Carlos Silva de

Medeiros.

Por fim, gostaria de agradecer aos meus familiares e amigos pela

compreensão nos momentos em que a dedicação aos estudos foi exclusiva, a todos

que contribuíram direta ou indiretamente para que esse trabalho fosse realizado meu

eterno AGRADECIMENTO.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14

2. OBJETIVOS .................................................................................................... 18

2.1 GERAL .......................................................................................................... 18

2.2 ESPECÍFICOS .............................................................................................. 18

3. REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 19

3.1 LESÃO MEDULAR ........................................................................................ 19

3.2 NEUROANATOMIA ..................................................................................... 20

3.3 LESÃO MEDULAR: ALTERAÇÕES PERIFÉRICAS E CENTRAIS.............. 20

3.4 SISTEMA NERVOSO AUTONÔMICO E ALTERAÇÕES APÓS LESÃO

MEDULAR .........................................................................................................

22

3.4.1 CHOQUE NEUROGÊNICO ...................................................................... 23

3.4.2 HIPOTENSÃO ORTOSTÁTICA .............................................................. 23

3.4.3 DISREFLEXIA AUTONÔMICA ................................................................ 24

3.5 O CÉREBRO E O CONTROLE DO SISTEMA NERVOSO AUTONÔMICO . 24

3.6 ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA

(ETCC) .................................................................................................................

25

3.7 ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA

SOBRE O CÓRTEX MOTOR E ALTERAÇÕES NO SISTEMA NERVOSO

AUTONÔMICO ...................................................................................................

27

3.8 VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA ......................................... 28

4. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................ 29

4.1 MODELO DO ESTUDO ................................................................................. 29

4.2 SUJEITOS ..................................................................................................... 29

4.3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS ......................................................... 30

4.4 PROCEDIMENTOS DA ETCC ...................................................................... 31

4.5 AQUISIÇÃO DA RAZÃO LF/HF, LF E HF ........................................................................................................................

32

5. ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................ 32

6. RESULTADOS ................................................................................................ 33

7. DISCUSSÃO ...................................................................................................

8. CONCLUSÃO ..................................................................................................

9. AGRADECIMENTOS .......................................................................................

38

40

40

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10. COMENTÁRIOS E SUGESTÕES .................................................................

REFERENCIAS .............................................................................................

40

41

ANEXO ................................................................................................................ 46

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LISTA DE ABREVIATURAS

LM Lesão medular

ETCC Estimulação transcraniana por corrente contínua

AEM Atividade elétrica muscular

FC Frequência cardíaca

ASIA American Spinal Injury Association

SNA Sistema Nervoso Autonômico

M1 Córtex motor primário

SNS Sistema Nervoso Simpático

SNP Sistema Nervoso Parassimpático

FC Frequência Cardíaca

PET Tomografia por Emissão de Pósitrons

PME Potêncial Motor Evocado

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Características dos sujeitos .......................................................... 33

Tabela 2. Descrição dos resultados de acordo com o grau e nível de lesão .. 34

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Classificação das lesões medulares de acordo com o nível

anatômico da lesão. ..................................................................

20

Figura 2. Sistema nervoso periférico autônomo ...................................... 21

Figura 3 Duração dos efeitos da ETCC anódica e catódica ................... 26

Figura 4. Equipamento portátil de ETCC utilizado no estudo e seus

componentes ............................................................................

31

Figura 5. Ilustração da configuração dos eletrodos, ânodo e cátodo,

para aplicação da ETCC...........................................................

32

Figura 6. Efeitos da ETCC sham e anódica sobre LF/HF nos períodos

antes (PRÉ-E), durante (DURANTE-E) e depois da

estimulação (PÓS-E)...........................................................

35

Figura 7. Efeitos da ETCC sham e anódica sobre LF nos períodos

antes (PRÉ-E), durante (DURANTE-E) e depois da

estimulação (PÓS-E)............................................................

36

Figura 8. Efeitos da ETCC sham e anódica sobre HF nos períodos

antes (PRÉ-E), durante (DURANTE-E) e depois da

estimulação (PÓS-E)............................................................

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RESUMO

ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA (ETCC) SOBRE O CÓRTEX MOTOR NA MODULAÇÃO AUTONÔMICA EM PESSOAS COM

LESÃO MEDULAR COM DIFERENTES GRAUS E NÍVEIS DE LESÃO.

Autor: FABIANA TENÓRIO GOMES DA SILVA

Orientador: Prof. Dr. PAULO MOREIRA SILVA DANTAS

Introdução: Estimulação transcraniana por corrente continua (ETCC) tem sido usada em estudos voltados para o tratamento da dor periférica crônica em pessoas com lesão medular (LM), mas seus efeitos sobre o sistema nervoso autonômico (SNA) nestes indivíduos são inexistentes e, portanto a necessidade de estudos é de fundamental importância, pois estes indivíduos apresentam desbalanço autonômico, e sua intensidade é dependente do grau e nível da lesão. Objetivo: Investigar se a ETCC sobre o córtex motor primário irá modular o controle do SNA em pessoas com LM e se estas alterações são dependentes do grau e nível de lesão. Métodos: Estudo randomizado, placebo controlado, aplicou ETCC anódica ou sham sobre o córtex motor primário (M1), bilateralmente, com o eletrodo de referência sendo colocado na protuberância occipital. Dezenove sujeitos (lesão incompleta baixa (n=7), completa baixa (n=9) e completa alta (n=3)) visitaram o laboratório três vezes e receberam ETCC ativa ou sham por 13min. A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) foi medida antes, durante e pós-estimulação. A VFC foi calculada usando a analise espectral batimento a batimento dos intervalos derivados das ondas r-r. Resultados: A ETCC modulou o sistema nervoso autonômico de forma divergente nos grupos analisados. Nos indivíduos com LM completa alta a ETCC não alterou a VFC. Para os indivíduos com LM incompleta baixa a ETCC alterou a VFC no sentido de aumentar o simpático e reduzir o parassimpático e para os indivíduos com LM completa baixa a ETCC reduziu o simpático e aumentou o parassimpático. Conclusão: O presente estudo observou que a ETCC anódica aplicada sobre o córtex motor primário de forma bilateral, conseguiu modular o balanço do SNA em pessoas com lesão medular e este efeito é dependente do grau e nível de lesão. Palavras-chave: Estimulação Transcraniana; Sistema nervoso autonômico; Variabilidade da frequência cardíaca; Lesão medular.

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ABSTRACT

EFFECT OF ANODAL TRANSCRANIAL DIRECT CURRENT STIMULATION ON

MOVEMENT CONTROL IN PARA-POWERLIFTERS

Author: JEFERSON TAFAREL PEREIRA DO RÊGO

Supervisor: Prof. Dr. HENIO FERREIRA DE MIRANDA

Introduction: Transcranial Direct Current Stimulation (tDCS) has been used in studies for the treatment of chronic pain, but their effects on the autonomic nervous system (ANS) are non-existent. Therefore, the need for studies is of fundamental importance, as these individuals have autonomic imbalance and the intensity of this is dependent on the degree and level of injury. Objective: We investigated the effect of tDCS on the ANS in people with spinal cord injury (SCI) with different degrees and levels of injury. Methods: Randomized, placebo-controlled, double-blind, applied anodal tDCS or sham on the primary motor cortex (M1), bilaterally. The subjects (lower incomplete injury, n = 7; lower complete injury, n = 9; and high complete thoracic injury, n = 3) visited the laboratory three times and received active or sham tDCS for 13min. The heart rate variability (HRV) was measured before, during and after stimulation and analyzed the variables LF, HF and LF / HF. Results: The tDCS modulated the ANS in different ways among the groups. In individuals with SCI high complete thoracic the tDCS did not change the HRV. However, for individuals with SCI low incomplete, tDCS changed the HRV in order to increase sympathetic (LF, p = 0.046) and reduced parasympathetic (HF, p = 0.046). For individuals SCI low complete to tDCS changed the HRV reduction sympathetic (LF, p = 0.017) and increased parasympathetic (HF, p = 0.017). Conclusions: The present study suggests that anodal tDCS applied on the motor cortex bilaterally could modulate the ANS balance in people with spinal cord injury and that this effect is dependent on the degree and level of injury. key words: Transcranial stimulation; Autonomic nervous system; Heart rate variability; Spinal cord injury.

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1. INTRODUÇÃO

Após a lesão medular (LM) existem alterações fisiológicas que repercutem no

cotidiano destes indivíduos, tais como: aumento do nível de fadiga, hipotensão com

mudanças de decúbito e aumento de fatores que podem desencadear síndrome

metabólica. Atualmente, estudos com pessoas com LM com o objetivo voltado para

melhora na qualidade de vida destes indivíduos são escassos. Desde então a busca

por novas técnicas que gerem resultados positivos no dia a dia desta população são

objetivos de estudo de diversos grupos de pesquisas.

Visando melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência física e o

aumento do rendimento de paratletas, foi criado em 2011 um projeto de extensão na

universidade federal do Rio Grande do Norte (UFRN), núcleo interdisciplinar para

pessoa com deficiência (NIPED), que consiste no sincretismo de intervenções e

avaliações realizadas por profissionais como fisioterapeutas, educadores físicos,

nutricionistas e psicólogos, prestadas a população.

Em 2012 iniciou-se dentro do NIPED os estudos específicos com lesão medular

(LM), e na busca de sanar alguns questionamentos, observou-se que estudar

apenas alterações em nível periférico, não eram suficientes, desde então, o estudo

do cérebro se tornou a base necessária para nossas inquietações. Dentro desta

perspectiva observou-se que pessoas com LM apresentam diversas alterações

como atrofia cortical de áreas diretamente relacionadas ao movimento como o córtex

motor primário e a área motora suplementar, assim como o trato corticoespinhal(1), e

que este fator interferia diretamente em suas respostas eletromiográficas(2).

Para observar se a estimulação do córtex motor primário, área cortical

responsável pela liberação descendente do movimento, que em indivíduos com LM

é atrofiada, iria interferir na atividade elétrica muscular, chegou-se ao consenso de

analisar os efeitos de uma técnica, que atualmente está sendo utilizada na

reabilitação de pessoas com LM com dor periférica crônica e para o aumento de

rendimento em atletas sem deficiência física que é a estimulação transcraniana por

corrente contínua (ETCC), sobre a atividade elétrica muscular (AEM).

De acordo com a literatura, a ETCC tem mostrado efeito positivo, aumentando a

AEM em contrações isométricas voluntárias máximas(3) em pessoas sem deficiência

física. Desde então, na tentativa de observar se a ETCC iria alterar algum padrão

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elétrico muscular em um tipo de teste que se aproximasse ao máximo de suas

habilidades diárias, optou-se por um teste dinâmico. Nos estudos iniciais,

analisamos os efeitos da ETCC sobre a atividade eletromiográfica (EMG) e

tolerância ao exercício em indivíduos com LM ativos e sedentários, nossos

resultados mostraram que a ETCC não alterou a EMG nem a tolerância ao exercício

de forma significativa, mas melhorou o tempo de exercício por mais de 1 minutos

para alguns indivíduos.

Nosso próximo passo foi analisar o efeito da ETCC sobre uma variável de

fundamental importância para indivíduos com LM, que foi a variabilidade da

frequência cardíaca (VFC), pois estudos com o uso da ETCC em pessoas com LM

são escassos e pesquisas sobre seus efeitos na VFC só existem em pessoas sem

lesão medular, o que não reflete dados semelhantes, devido aos indivíduos com LM

apresentarem diversas alterações centrais e periféricas, e saber como estas

alterações ocorrem e como funciona o controle do sistema cardiovascular, é de

fundamental importância.

O controle do sistema cardiovascular é realizado, em parte, pelo sistema nervoso

autônomo (SNA), o qual fornece nervos aferentes e eferentes ao coração, na forma

de terminações simpáticas e parassimpáticas. Estas agem no coração de forma

antagônica refletindo diretamente na frequência cardíaca(4). O sistema nervoso

simpático tem o papel de aumentar a frequência cardíaca (FC), a contratilidade

miocárdica, a resistência vascular periférica e a pressão sanguínea, por induzir

vasoconstrição. Já o sistema nervoso parassimpático tem o papel de diminuir a FC(5)

e seus efeitos são amplamente apreciados devido a sua ação anti-arrítmica que é

clinicamente relevante a uma série de estados patológicos(6) e de lesões sobre o

sistema nervoso central, como lesão medular (LM)(7).

O trauma raqui-medular leva o paciente a complicações neurológicas graves

e incapacitantes sob o ponto de vista sensitivo, motor, e neuro-vegetativo abaixo do

local comprometido(5). Existem também disfunções no SNA, pois o controle da FC e

da pressão arterial dependem da atividade dos centros supra-espinhais e sua

comunicação com as vias descendentes e na LM estas vias são interrompidas,

tornando os circuitos da coluna vertebral incapazes de gerar atividade simpática.

Estes fatores geram no paciente bradicardia reflexa, hipotensão ortostática e perda

da flutuação diurna da pressão arterial(5), redução da VFC(8). Esses resultados

sugerem um aumento no controle do sistema nervoso parassimpático e uma

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diminuição do sistema nervoso simpático em indivíduos lesionados na condição de

repouso.

Existem muitas formas de avaliar o controle neural do coração e atualmente a

variabilidade da frequência cardíaca (VFC) vem sendo utilizada como uma

ferramenta simples, eficaz e não invasiva, para avaliar as flutuações que ocorrem

em períodos curtos ou prolongados entre os batimentos(9). A VFC está relacionada à

variação do ritmo cardíaco, medido pelo tempo transcorrido entre duas ondas R

consecutivas do eletrocardiograma e pelo monitor cardíaco (intervalo R-R). Um

aumento na VFC representa uma maior atividade do sistema nervoso

parassimpático (SNP) e menor da atividade do sistema nervoso simpático (SNS).

Inversamente, uma maior atividade do SNS, representada por uma menor VFC,

estaria relacionada a um maior índice de morbidade e mortalidade(10).

Atualmente técnicas de reabilitação, como a estimulação transcraniana por

corrente contínua (ETCC), são utilizadas com o objetivo de reduzir os efeitos

negativos gerados pela plasticidade cerebral pós-trauma como a inibição inter-

hemisférica e função motora em pacientes pós-avc(11) e dor periférica crônica pós-

lesão medular(12). A ETCC tem ganhado espaço nas pesquisas por ser uma técnica

simples, de fácil manuseio, mais acessível, indolor, não invasiva, sem efeitos

colaterais e por influenciar a excitabilidade cortical(13).

No uso da ETCC existem diversas configurações para colocar os eletrodos no

escalpo, entretanto, na maior parte das pesquisas para dor periférica crônica em

pessoas com LM, o eletrodo ativo é colocado no córtex motor de forma unilateral e o

de referencia no supraorbital o que poderia inibir o córtex pré-frontal medial e reduzir

o controle sobre o sistema nervoso simpático causando simpatoexcitação e assim

reduzir a VFC, o que não é positivo para esta população que já apresenta uma VFC

reduzida e propensão em desenvolver doenças cardíacas e coronarianas.

Embora a aplicação da ETCC em pessoas com LM tenha mostrando

resultados positivos para o tratamento da dor periférica crônica, pouco se sabe se

esta técnica altera a função do SNA nestes indivíduos, pois em pessoas sem

deficiência física a ETCC sobre o córtex motor primário modula o SNA no sentido de

aumento simpático(14), mostrando a necessidade de estudos que analisem os efeitos

da ETCC sobre a VFC em pessoas com LM, para assim, a técnica ser usada de

forma que não apresente riscos aos indivíduos que recebem tal intervenção.

Portanto o problema do presente estudo centra-se na investigação sobre a possível

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ação da ETCC sobre o córtex motor primário interferindo sobre o controle

autonômico de repouso em indivíduos com lesão medular e se estas alterações são

dependentes do grau e nível de lesão.

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2. OBJETIVOS

2.1 GERAL

Verificar se a ETCC vai conseguir modular o controle autonômico cardíaco de

repouso em indivíduos com LM que apresentam diferentes graus e níveis de lesão.

2.2 ESPECÍFICOS

Identificar a ação da ETCC sobre o controle autonômico cardíaco no repouso

através da VFC em indivíduos com LM;

Verificar se a ação da ETCC sobre o controle autonômico cardíaco é

dependente do grau e nível de lesão.

Observar os períodos que a ETCC gerou diferença significativa em relação ao

tempo inicial antes da aplicação da ETCC.

Identificar se o tempo que a ETCC gerou alguma alteração significativa é

divergente entre os diferentes graus e níveis de lesão.

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3. REVISÃO DA LITERATURA

3.1 LESÃO MEDULAR

Lesão medular é um dano à rede neural responsável pela transmissão,

coordenação sensorial e motora, bem como o controle autonômico dos órgãos(15).

Atualmente no Brasil existem cerca de 130 mil pessoas com LM(16), e estimasse que

6 mil novos casos acontecessem por ano(17), sendo caracterizado como o problema

de saúde pública. De acordo com as médias, a incidência de pessoas com LM é

mais expressiva nos adultos jovens, do sexo masculino, solteiros e residentes em

áreas urbanas(18).

A causa predominante constitui-se em virtude de algum tipo de trauma,

infecção, isquemia, compressão por hematoma, tumor, ou ainda, por doença

congênita ou degenerativa, podendo levar a um comprometimento na transmissão

dos impulsos nervosos, gerando alterações variadas na sensibilidade e no controle

motor voluntário e involuntário(19). É importante ressaltar que a etiologia da LM não

implica nas diferenças no quadro da lesão; entre as diversas etiologias há um

compartilhamento semelhante de alterações, consequentes do tipo de lesão –

parcial/incompleta ou total/completa – e da altura da lesão – quanto mais cranial

(alta) a lesão, mais graves são as consequências e comprometimentos.

A classificação proposta pela American Spinal Injury Association(20) vem se

destacando atualmente na literatura como uma importante (talvez a melhor)

ferramenta dentre os principais parâmetros para classificar o indivíduo com LM. A

ASIA(20) classifica em dois tipos de lesões: completa (nenhum impulso nervoso

aferente ou eferente consegue ser enviado às regiões inervadas abaixo do local

da lesão, devido ao total comprometimento das estruturas internas da medula

espinhal); ou incompleta (algumas fibras nervosas são mantidas e, assim, uma

porção dos impulsos nervosos é transmitida).

Conforme a conceituação da ASIA(20), a Tetraplegia refere-se à redução ou

perda da função motora e/ou sensorial no segmento cervical da medula espinhal,

resultando na diminuição das funções tanto dos membros superiores como dos

membros inferiores. A Paraplegia refere-se à redução ou perda da

função motora e/ou sensorial nos segmentos torácico e lombar da medula espinhal

abaixo da LM.

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Figura 1. Classificação das LM de acordo com o nível anatômico da lesão. Fonte – Adaptado de

Saint Lukes Health, 2009.

3.2 NEUROANATOMIA

A medula espinhal está localizada no canal medular da coluna vertebral e é a

via de condução dos estímulos motores e sensitivos entre o encéfalo e os órgãos

periféricos efetores. Em sua parte externa é encontrada a substância a substância

branca, que contém os tratos longitudinais e sua área central é constituída por a

substância cinzenta, formada por corpos celulares de neurônios espinhais(21).

A medula espinhal mede aproximadamente 42 a 45 cm no adulto do sexo

masculino. Em continuidade com o bulbo, seu limite anatômico cranial é o forame

magno no osso occipital, e o caudal, geralmente, na 2a vértebra lombar (L2)(22). A

medula espinhal faz conexão com 31 pares de nervos espinhais, sendo 8 pares

cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e normalmente 1 coccígeo(19).

A medula recebe impulsos parassimpáticos e simpáticos que são realizados

por diversos neurônios. O estímulo parassimpático é realizado por neurônios

localizados nas regiões tronco-cefálicas e sacrais. Já os estímulos simpáticos são

realizados por neurônios localizados nos segmentos da medula da primeira vértebra

torácica (T1) a segunda vértebra lombar (L2). Estes estímulos se originam via

cerebral e são conduzidos aos órgãos efetores.

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Figura 2. Sistema nervoso periférico autônomo. Fonte: Adaptado de Machado, 2000.

Estudos revelam que existem áreas cerebrais que são responsáveis pelo

controle do sistema nervoso autonômico (SNA) como a insula(23), o córtex pré-frontal

medial(24), e o córtex motor primário(14) e estas quando estimuladas, inibidas ou

lesionadas alteram o controle autonômico.

3.3 LESÃO MEDULAR: ALTERAÇÕES PERIFÉRICAS E CENTRAIS

Após a LM, ocorrem diversas alterações tanto em nível periférico como em

nível central que normalmente afetam o paciente em sua capacidade funcional e de

realizar as tarefas simples em seu cotidiano, podendo assim, aumentar o risco de

doenças como diabetes, hipertensão e doenças cardíacas. A intensidade com que

estas alterações ocorrem, dependerá do grau e nível da lesão, com indivíduos com

lesão mais alta, apresentando efeitos mais expressivos(25).

Algumas das alterações em nível periférico que ocorrem pós LM são redução

da área de secção transversa da fibra muscular(26), aumento da porcentagem de

gordura intra-muscular(27), aumento da insulinemia(27), redução de proteínas

responsáveis pelo controle iônico muscular como Na+K+ ATPase(28), aumento da

excitabilidade do trato corticoespinhal resultando em um maior potencial motor

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evocado nas musculaturas preservadas destes indivíduos(29) além das alterações

hormonais.

Existem diversos hormônios que são alterados pós-lesão, dentre eles as

catecolaminas são o maior foco em estudos. Um estudo recente(30) analisou a

relação entre a liberação de adrenalina plasmática com a quantidade oxidada de

ácido graxo de baixa densidade (LDL) pós-exercício físico, e comparou indivíduos

com LM com indivíduos sem LM. Seus resultados mostraram que durante o

exercício existiu aumento de catecolaminas para ambos os grupos, só que de forma

bem menos expressiva para os indivíduos com LM. Já para a quantidade de LDL

oxidada, não foi observado aumento em indivíduos com LM divergindo dos

indivíduos sem LM que apresentaram aumento significativo. O que pode mostrar a

importante relação da adrenalina para redução de LDL.

Estudos(31, 32) que analisam a concentração de catecolaminas no repouso de

indivíduos com LM e que dividem por grau e nível de lesão, mostram resultados

interessantes, pois indivíduos com paraplegia com a lesão mais baixa apresentam

níveis de adrenalina e noradrenalina mais altos que os indivíduos com paraplegia

com lesão mais alta e indivíduos sem LM, e esta diferença é ainda mais expressiva

quando comparada com tetraplégicos. Estes fatores devem ser levados em

consideração em estudos que analisem disfunção autonômica em indivíduos com

LM.

Estudos com lesados medulares também mostram alterações em nível

central(33), como a hipotrofia(1) do córtex motor primário (M1), redução de fluxo

sanguíneo cerebral(34) e uma área de representação cortical dos membros

superiores maior quando comparados com indivíduos sem lesão medular(29),

mostrando que após a LM existe plasticidade, e esta deve ser levada em conta tanto

em nível de reabilitação, em estágio agudo, como também crônico, pois muitos

destes fatores estão relacionados e divergem de acordo com o tipo, grau e altura da

lesão(34), assim como a capacidade plástica cerebral de cada indivíduo(1).

3.4 SISTEMA NERVOSO AUTONÔMICO E ALTERAÇÕES APÓS LESÃO

MEDULAR

O SNA é composto pelo sistema nervoso simpático (SNS) e pelo

parassimpático (SNP). É responsável por controlar múltiplas funções através de vias

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complexas, simpáticas e parassimpáticas, com funções regulatórias opostas. O SNS

tem o papel de aumentar a frequência cardíaca (FC), a contratilidade miocárdica, a

resistência vascular periférica e a pressão sanguínea, por induzir vasoconstrição. Já

o sistema nervoso parassimpático tem o papel de diminuir a FC(5) e seus efeitos são

amplamente apreciados devido a sua ação anti-arrítmica que é clinicamente

relevante a uma série de estados patológicos(6) e de lesões sobre o sistema nervoso

central, como LM(7).

Após a LM alguns eventos são reconhecidos como disfunções autonômicas

como o choque neurogênico, a disfunção cardiovascular (hipotensão ortostática) e a

disreflexia autonômica.

3.4.1 CHOQUE NEUROGÊNICO

Logo após a LM ocorre uma estimulação simpática elevada e uma atividade

parassimpática reflexa, que geralmente dura cerca de 3-4 minutos, provocando uma

resposta hipertensiva inicial que é condicionada pela grande libertação de

catecolaminas da supra-renal e é caracterizado como choque neurogênico.

Os efeitos gerados pelo choque neurogênico traduz-se em uma tensão

arterial sistólica inferior a 90mmHg (medida em decúbito dorsal), bradicardia, e

temperatura da pele mais elevada. Seu tratamento implica na correção da

hipotensão e bradicardia, dependendo da gravidade das disfunções cardíaca e

vasomotor(35). E seu tempo de duração é dividido em quatro fases: arreflexia ou

hiporreflexia (0-24 horas); reversão inicial com aparecimento de reflexos (1-3 dias);

hiperreflexia inicial (4 dias - 1 mês) e espasticidade (1-12 meses)(36).

3.4.2 HIPOTENSÃO ORTOSTÁTICA

A hipotensão ortostática é caracterizada por uma diminuição ≥ a 20mmHg na

pressão sistólica e/ou ≥ a 10mmHg diastólica, que geralmente ocorre com uma

média de 3 minutos após a mudança da posição de decúbito para a posição

ortostática, independentemente de ser ou não sintomática(37). Os sintomas são

tonturas e/ou vertigem, cefaleias, fadiga, hipersudorese, náusea, palidez e até

mesmo perda de consciência. Na maioria dos doentes existe uma adaptação

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progressiva, ao longo do tempo, com diminuição da frequência e gravidade dos

episódios(38).

3.4.3 DISREFLEXIA AUTONÔMICA

Disreflexia autonômica é uma hipertensão episódica que apresenta risco de

vida e se desenvolve em 50-90% das pessoas com tetraplegia ou paraplegia alta(39).

Durante a disreflexia, existe um aumento da pressão arterial que é induzida por

estímulos sensoriais, na medula espinhal, abaixo do nível da lesão, causando

debilitantes dores de cabeça, sudação, convulsões, derrames e até mesmo a morte.

Esta hipertensão pode ser iniciada por procedimentos diários de rotina, tais como a

distensão da bexiga, falta de evacuação intestinal, objetos que causem efeitos

nociceptivos e até mesmo ficar por muito tempo em uma mesma posição(40).

Os mecanismos que são desencadeados para ocorrer a Disreflexia

autônomica, que são considerados incluem a regulação alta dos receptores

vasculares de catecolaminas, aumento da liberação de catecolaminas neural,

diminuição da recaptação pré-sináptica de catecolaminas, perda do reflexo

barorreceptor e perda de inputs inibitórios via bulbo espinhal(41).

3.5 O CÉREBRO E O CONTROLE DO SISTEMA NERVOSO AUTONÔMICO

Embora o sistema cardiovascular seja capaz de manter o fluxo sanguíneo e a

função cardíaca na ausência de estímulos provenientes do sistema nervoso central,

as vias neurais que estão conectadas ao SNA, permitem um controle mais

sincronizado e rápido, quando comparada aos fatores hormonais(42), buscando

manter a homeostasia nas diversas condições diárias dos indivíduos.

É de conhecimento que centros autonômicos cerebrais recebem informações

aferentes sobre os estados autônomos periféricos (43). Assim, áreas do cérebro que

fornecem a integração eferente coordenam as respostas para o controle

autonômico(44). Estudos experimentais têm ajudado a identificar os componentes da

"rede autonômica central" e têm melhorado a nossa compreensão das relações

funcionais entre os centros corticais e subcorticais do controle autonômico

cardiovascular(43).

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Uma pesquisa(45) realizada com neuroimagem funcional utilizando tomografia

por emissão de pósitrons (PET) em humanos, analisou a pressão arterial média e a

freqüência cardíaca, durante exercício isométrico e tarefas de stress mental e

concluiram que as respostas neurais em regiões cerebrais distintas acompanham

excitação cardiovascular periférica, pois o exercício e as tarefas de stress mental

aumentaram as variáveis analisadas, como também aumentaram o nível de

excitação em áreas cerebrais específicas como o córtex cingulado anterior , córtex

pré-frontal ventromedial e hipocampo córtex pré-frontal medial, cingulado anterior,

lobo temporal medial e ínsula.

Um estudo(46) utilizando PET analisou pressão arterial, variabilidade da

frequência cardíaca e catecolaminas plasmáticas e sua relação com duas áreas

cerebrais, núcleo caudado e o córtex motor primário em indivíduos saudáveis, com

estímulos visuais diferentes, durante o repouso. Seus resultados mostram

correlação negativa entre o aumento do metabolismo da glicose no núcleo caudado

e catecolaminas plasmáticas e frequência cardíaca. Entretanto, houve uma

correlação positiva entre catecolaminas plasmáticas e ativação do córtex motor

primário.

3.6 ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA (ETCC)

O uso da corrente elétrica por pesquisadores teve inicio com a descoberta de

que descargas elétricas geradas por peixes elétricos colocados em contato com a

cabeça de pacientes, desencadeavam efeitos positivos como alivio imediato da dor

de cabeça. Com os avanços tecnológicos, novas técnicas não invasivas para

modular a função cerebral vêm sendo desenvolvidas, dentre as quais se destaca a

ETCC, que tem sido cada vez mais utilizada no âmbito da pesquisa e da prática

clínica para alterar o estado funcional do cérebro humano (47-49).

A ETCC é uma técnica de neuromodulação não-invasiva(50) que é utilizada

para estimulação cortical através de correntes elétricas aplicadas de forma contínua,

com o intuito de aumentar ou inibir a excitabilidade da membrana cortical. As

correntes elétricas aplicadas pela ETCC são divididas em anódica, responsável pelo

aumento da excitabilidade cortical, facilitando o potencial de ação pela redução do

limiar excitatório da membrana e catódica, que está relacionada à inibição do

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estimulo elétrico no córtex agindo na hiperpolarização da membrana, o que aumenta

o limiar excitatório (51) as correntes anódicas têm o potencial de despolarizar

Os efeitos da ETCC são dependentes de alguns fatores como(51) duração,

intensidade da corrente e polaridade do eletrodo. De acordo com Nitsche e Paulus

que testaram diferentes protocolos de ETCC sobre o potencial motor evocado

(PME), com intensidades de 0,2 e 1,0 mA e tempos de estimulação de 1 e 5 min,

respectivamente, observaram que ETCC anódica com duração de 5 min aumentou a

excitabilidade cortical, incrementando a amplitude do potencial motor evocado em

torno de 40% após a estimulação, enquanto a catódica provocou uma redução de

30% do PME, ou seja, existe uma interdependência entre a polaridade (Figura 2) e o

PME (ânodo estimula e cátodo inibe o PME), bem como a intensidade-dependência

para a corrente anódica (quanto maior a intensidade, maior o PME e repercussão do

efeito pós-estimulação).

Posteriormente foi realizado um outro estudo, observando o efeito da ETCC

em diferentes tempos de estimulação e com dobro da intensidade, analisando os

efeitos da ETCC no decorrer de até 2h pós-estimulação. Foi possível observar que a

ETCC aplicada por 9 min. em uma intensidade de 2mA, gera alterações na

excitabilidade que persiste por uma hora ou mais(49).

Figura 3: Duração dos efeitos da ETCC anódica e catódica. Fonte: Nitsche e Paulus (2000)

Tecnicamente, a ETCC consiste no posicionamento de dois eletrodos de

borracha, envoltos com esponjas embebecidas em meio líquido salino, com o

objetivo de evitar o contato direto com a pele do voluntário, porém permitindo a

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condução elétrica e reduzindo os riscos de reações indesejáveis(52). A corrente

aplicada durante a ETCC varia entre 0,4 e 2,0mA, aplicada no escalpo em um

período de 3 a 20 minutos, geralmente. Os eletrodos são posicionados de acordo

com o objetivo da aplicação. Caso o intuito seja aumentar a excitabilidade da

membrana cortical, o ânodo é colocado sobre a região objetivada e o cátodo, ou

eletrodo de referência, sobre outra região que não gere influência sobre a primeira.

Se o objetivo for reduzir a excitabilidade do córtex, os eletrodos devem ser

posicionados de forma contrária.

Para a aplicação da ETCC, utiliza-se um equipamento portátil, como o

mostrado na Figura 3, que possui capacidade de transmitir estímulos elétricos

constantes com amperagem máxima de 5mA. O equipamento é constituído por dois

eletrodos (ânodo e cátodo), potenciômetro (componente que permite o controle de

intensidade da corrente) e três baterias de 9V cada. Construído de modo

previamente programado para permitir intervenções simuladas, o aparelho possui

um interruptor na parte traseira que possibilita interromper a passagem de corrente

elétrica aos eletrodos. Porém, é mantida a exibição dos parâmetros de estimulação

ao longo da intervenção. Isto faz com que seja possível a realização de estudos com

grupos controle, a partir da aplicação de estímulos placebo (53).

3.7 ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA SOBRE O CÓRTEX MOTOR E ALTERAÇÕES NO SISTEMA NERVOSO AUTONÔMICO

Estudos que analisem os efeitos da ETCC no SNA, quando aplicada sobre o

córtex motor primário, são escassos e seus resultados apresentam divergências.

Alguns relatam alterações no sentido de aumento simpático e outros não mostram

alterações, embora o córtex motor primário esteja ligado a vias de controle

autonômico(54), pois o córtex motor apresenta projeções na medula ventrolateral e

esta envia projeções para o núcleo intermediolateral espinhal, onde os neurônios

pré-ganglionares controladores coração e vasos sanguíneos (segmento T2) e da

medula adrenal (segmento T8) são encontrados(54).

Um estudo(55) realizado com indivíduos saudáveis, analisando pressão

sanguínea, temperatura corporal, variabilidade da frequência cardíaca e

concentração plasmática de cortisol, antes e pós 20min de ETCC sobre M1(lado

dominante), mostrou que a ETCC apresentou resultados semelhantes para as

condições sham e anódica para as diferenças encontradas entre os períodos antes e

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pós ETCC para as variáveis temperatura corporal e concentração de cortisol. Para

as variáveis pressão arterial, variabilidade da frequência cardíaca e ventilação, não

foram encontradas diferenças nem entre os períodos, nem entre as condições sham

e anódica.

Em contra partida, um recente estudo(14) que analisou o efeito da ETCC sobre

o SNA em indivíduos saudáveis, observou que a ETCC anódica aumentou a razão

LF/HF durante e após a estimulação, quando comparada a catódica e sham.

Embora as configurações dos eletrodos, córtex motor primário (hemisfério cerebral

esquerdo) e supraorbital, intensidade da corrente (1mA) e tempo de estimulação

(15min.) tenham sido divergentes dos nossos, talvez o tempo de 13min. com uma

intensidade mais elevada (2mA) sejam suficientes para modular a atividade do SNA

em indivíduos com LM, entretanto não sabemos o tempo que este efeito perdura.

Outro fator que devemos levar em consideração é a configuração dos

eletrodos, pois atualmente a maior parte dos estudos que analisam o efeito da ETCC

sobre o SNA colocam o eletrodo de referência na região supraorbital, podendo

chegar a inibir o córtex pré-frontal medial, e esta área esta relacionada ao controle

do SNA e sua inibição pode gerar aumento de ativação simpática, o que deixa parte

destes estudos inconclusivos(14).

3.8 VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA

A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) é modulada pela ação do sistema

nervoso autonômico, por isto desperta grande interesse do ponto de vista clínico,

pela caracterização de doenças e lesão que podem influenciar o controle do sistema

nervoso autonômico sobre os batimentos cardíacos, interferindo na variabilidade da

frequência cardíaca. O aumento da variabilidade da frequência cardíaca revela a

diminuição de mortalidade em ambos os gêneros(10).

A mensuração da VFC é um método que nos permite analisar o controle neural

cardíaco durante períodos curtos ou prolongados, em diversas condições fisiológicas

(durante o sono, monitoramento de 24 horas, repouso, exercício físico e bloqueio

farmacológico), patológicas e sobre efeito de intervenções(56-58), apresentando a

vantagem de possibilitar uma avaliação não invasiva e seletiva da função

autonômica, além de ser um recurso metodológico de grande simplicidade e fácil

aplicação(59).

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O eletrocardiograma (ECG), conversores analógicos e cardiofrequencímetros são

os principais instrumentos utilizados para obtenção de índices que possibilitam a

análise da VFC. Dentre esses dispositivos os cardiofrequencímetros vem se

destacando devido a sua fácil aplicação, natureza não invasiva e a possibilidade do

seu uso em estudos de campo e durante a prática desportiva permitindo assim

registros da VFC com segurança e praticidade fora do ambiente ambulatorial(60).

A VFC pode ser analisada através de dois métodos: pelo cálculo de índices

baseado em operações estatísticas dos intervalos R-R (domínio do tempo) e pela

análise espectral de intervalos R-R ordenados (domínio da frequência). As análises

podem ser realizadas em segmentos curtos - 0,5 a 30 minutos - ou em gravações

mais longa de 24 horas(61).

As medidas do domínio da frequência são derivadas da análise do espectro de

potência que apresenta a distribuição da densidade em função da frequência2. Esta

análise decompõe a FC em seus componentes causadores, apresentando-os de

acordo com a frequência com que alteram a FC. E, além da quantidade de

variabilidade, também mostra as bandas de frequência das oscilações do ritmo

cardíaco1.

São destacadas duas faixas de frequências distintas: 1) alta frequência (0,15 a

0,40 Hz), elas são devidas à modulação vagal atuante sobre o nódulo sinoatrial(62) e

2) baixa frequência (0,04 a 0,15 Hz) elas expressam a intensidade da modulação

simpática sobre o coração(63). Os componentes de alta e baixa frequência são assim

chamados devido ao fato do nervo vago e o sistema simpático enviarem,

respectivamente, uma maior ou menor frequência de impulsos sobre o nodo

sinusal(63).

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 MODELO DO ESTUDO

O presente estudo caracteriza-se como sendo de medidas repetidas,

randomizado com desenho cruzado, placebo controlado e duplo cego. Desta forma,

todos os sujeitos passaram por todas as condições de estimulação e a controle(64).

4.2 SUJEITOS

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Dezenove indivíduos (32,47±8,07 anos; 62,12±13,83 Kg) de ambos os sexos

(3 mulheres e 16 homens), com lesão medular crônica (16,92±11,74 anos), dos

quais 7 apresentando lesão baixa incompleta em nível T12 - L1, 9 com lesão baixa

completa a nível T11 e T12 e 3 com lesão alta completa entre C4 e T6, destros

(inventário de dominância lateral de edimburgo(65)), foram informados dos

procedimentos e riscos antes de assinarem o termo de consentimento livre e

esclarecido. Os critérios de inclusão foram a não existência de lesão cerebral,

diabetes, doenças cardíacas de alto risco e não apresentar peças metálicas. Além

disso, cada voluntário foi instruído a não se alimentar até 3h antes do teste, não

realizar atividade física vigorosa, fazer a ingestão de álcool e alimentos que

contivessem cafeína, usar drogas ou nicotina e fazer atividades de stress mental

elevado por muito tempo, durante um período de 24h antes dos testes. O laboratório

apresentava temperatura e umidade do ar ideais para realização da pesquisa e

isolamento acústico para evitar qualquer alteração de estimulo auditivo nos

voluntários. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética local (750.887). Todos os

participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

4.3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

Na primeira visita ao laboratório, cada indivíduo respondeu a uma anamnese

que continha questões sobre tempo, tipo e grau da lesão, histórico pessoal de

doenças crônicas degenerativas e para pesagem. Posteriormente foi explicado como

seria realizada a pesquisa.

Nas visitas seguintes ao chegar ao laboratório cada indivíduo ficou em

repouso por 10min em uma maca, para analise da VFC, antes de começar a

condição experimental – ETCC anódica ou sham (ver procedimentos ETCC) – por

13 min, que foi realizada com indivíduo sentado na cadeira de rodas. Logo após a

estimulação, passou mais 10minutos na maca para uma nova analise da VFC. A FC

e a VFC foram gravadas em toda a extensão do experimento.

Todas as condições da pesquisa foram realizadas em um mesmo horário para

evitar os efeitos de alterações do ciclo circadiano e com um intervalo de no mínimo

72hrs entre cada sessão, para não ocasionar o efeito carry-over(66). As sessões

foram randomizadas e de forma duplo-cego. A partir dos dados obtidos nos testes, a

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razão LF/HF, LF e HF foram calculados através dos 5minutos finais de cada

condição de repouso na maca e durante toda a condição de ETCC (13 minutos).

4.4 Procedimentos da ETCC A corrente elétrica foi aplicada por um aparelho portátil que é constituído por 4

componentes principais: eletrodos (ânodo e cátodo com área de 35cm2 ou 36 cm2)

amperímetro (medidor de intensidade de corrente elétrica), potenciômetro

(componente que permite a manipulação da intensidade da corrente) e 3 baterias

(9v) para gerar a corrente aplicada. Os eletrodos serão envoltos em uma esponja

umedecida com solução salina (150Mm NaCL). Ver figura 4.

Figura 4: equipamento portátil de ETCC utilizado no estudo e seus componentes

Foi utilizado o sistema internacional EEG 10-20 para posicionamento dos

eletrodos que foram colocados na região Cz (área do córtex motor primário (M1)),

onde o anodo foi colocado bi-lateralmente com 4,5cm no hemisfério esquerdo e 4,5

cm no direito. O eletrodo de referência foi colocado na protuberância occipital, com o

objetivo de evitar efeitos inibitórios sobre a área supra-orbital contra-lateral (Fp2)(14),

o que poderia alterar os resultados da VFC. Ver figura 5.

Foi utilizada uma corrente elétrica constante de 2 mA aplicada durante 13min

com os 30seg iniciais e finais foi realizado a rampa (aumento e redução gradativos

da corrente ate chegar aos 2mA (inicial) e 0mA (final)). Para a condição de farsa, os

eletrodos foram colocados nas mesmas posições que utilizamos na anódica, no

entanto, o estimulador foi desligado após 30 s de estimulação(53).

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Figura 5. Ilustração da configuração dos eletrodos, ânodo e cátodo, para aplicação da ETCC.

4.5 AQUISIÇÃO DA RAZÃO LF/HF, LF E HF

A VFC foi gravada por um monitor cardíaco (polar®RS 800CX). O resultado do

intervalo r-r foi passado para o computador através do software polar protrainer 5

(polar®RS 800CX). As variáveis LF/HF, HF e LF foram calculadas utilizando os

5minutos finais dos 10minutos de repouso na maca (antes e pós etcc) e 13min

durante toda a estimulação pelo software Kubios HRV.

5. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Para análise estatística, inicialmente foi realizado um teste não

paramétrico Shapiro wilk para observar o comportamento da distribuição de dados.

Em seguida foi utilizada a estatística descritiva não paramétrica com os valores de

tendência central (mediana). Como análise inferencial da variabilidade da frequência

cardíaca utilizou-se o teste de Friedman para comparar as condições pré, durante e

pós ETCC e wilcoxon entre dois períodos de intervenção, ambos considerando, para

o teste de hipótese, o p-valor < 0,05, ou seja, mais de 95% de probabilidade de não

se cometer o erro do tipo I.

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6. RESULTADOS

A Caracterização da amostra pode ser observada na tabela 1 e a descrição dos nossos resultados podem ser vistos na tabela 2. TABELA 1. Características dos sujeitos (n=19)

Nº. Idade Sexo Peso Medicações Tempo de lesão

Causas da lesão

Nível da lesão

1 24 F 63,4 Dor 10 PARASITA LBI

2 24 F 64,4 - 24 MIELOME LBC

3 26 F 54,3 - 26 MIELOME LBC

4 23 M 60,9 - 23 POLIOMIE LBI

5 23 M 54 AU 2 TRAUMA LAC

6 25 M 65,3 - 7 TRAUMA LBC

7 27 M 46,5 AU 27 MIELOME LBC

8 30 M 46,3 - 17 TRAUMA LBI

9 30 M 47,5 - 17 TRAUMA LBI

10 31 M 68,4 TDM/AUC/C/I 16 TRAUMA LBC

11 31 M 60,3 - 31 MIELOME LBC

12 34 M 73,5 AUC 2,5 TUMOR LBC

13 35 M 48,8 - 27 POLIO LBI

14 36 M 51,8 RM 14 TRAUMA LAC

15 38 M 74 AU 9 TRAUMA LAC

16 41 M 89 AH/AU 1,5 TRAUMA LBI

17 41 M 89,1 AU 1,5 TRAUMA LBI

18 46 M 44,9 - 44,9 POLIO LBC

19 51 M 78 - 19 TRAUMA LBC

AH= anti-hipertensivo, Dor = para dor aguda e crônica, TDM= tratamento de doenças musculares, C= corticoide, I= imunossupressor, AU= antiespasmódico urinário, AUC= antiulceroso, RM= relaxante muscular, MIELOME= mielomeningocele, PC= paralisia cerebral, POLIO= poliomielite, LBC= lesão baixa completa, LAC= lesão alta completa, LBI= lesão baixa incompleta.

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Tabela 02. Descrição dos resultados de acordo com o grau e nível de (Wilcoxon test, *§¥p<0,05, n.u. – Unidades normalizadas). Anodal - Before

(LF_HF)

Anodal - During

(LF_HF)

Anodal - After

(LF_HF)

Sham - Before

(LF_HF)

Sham - During

(LF_HF)

Sham - After

(LF_HF)

Med Min Max Med Min Max Med Min Max Med Min Max Med Min Max Med Min Max

COMPLETE

HIGH

1,4 0,7 8,9 1,8 0,4 3,2 2,2 0,8 10,6 3,0 0,8 6,4 1,3 0,4 3,7 2,0 0,5 4,0

INCOMPLETE

LOW

3,0* 0,7 6,9 2,2 1,6 7,2 3,5* 1,4 10,5 4,0 1,6 9,6 3,1 0,7 8,5 3,0 0,6 11,7

COMPLETE LOW 3,5*§ 1,5 8,7 1,8§ 0,5 2,6 2,6* 1,2 6,9 3,1 1,2 7,1 1,8 0,9 4,0 3,1 0,8 7,5

Anodal - Before

(LF)

Anodal - During (LF) Anodal - After (LF) Sham - Before (LF) Sham - During (LF) Sham - After (LF)

Med Min Max Med Min Max Med Min Max Med Min Max Med Min Max Med Min Max

COMPLETE

HIGH

58,9 41,2 89,9 69,4 28,0 93,6 68,5 43,1 91,4 73,4 44,4 86,4 56,1 28,3 78,9 66,6 34,4 79,9

INCOMPLETE

LOW

74,6* 10,1 58,8 68,0 6,4 72,0 76,3* 8,6 56,9 79,2 13,6 61,0 75,4 21,1 71,7 73,8 20,1 65,6

COMPLETE LOW 74,7 39,4 87,3 66,9¥ 61,6 89,5 71,2¥ 58,7 91,3 75,5 62,1 90,5 67,3 42,5 89,5 75,2 38,0 92,1

Anodal - Before (HF) Anodal - During

(HF)

Anodal - After (HF) Sham - Before (HF) Sham - During (HF) Sham - After (HF)

Med Min Max Med Min Max Med Min Max Med Min Max Med Min Max Med Min Max

COMPLETE

HIGH

41,1 10,1 58,8 30,6 6,4 72,0 31,5 8,6 56,9 26,6 13,6 61,0 43,9 21,1 71,7 33,4 20,1 65,6

INCOMPLETE

LOW

25,4* 12,7 60,6 32,1 10,5 38,4 23,7* 8,7 41,3 27,2 13,6 95,0 24,4 13,6 95,0 26,3 10,5 57,5

COMPLETE LOW 25,3 10,3 39,7 33,1¥ 5,6 65,2 28,8¥ 6,1 45,1 24,6 12,3 45,0 32,7 7,4 52,6 24,8 11,8 56,3

Bold indicates significant differences between pairs (* before and after; § Before and during; ¥ During and after).

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Lesão alta completa

Para todas as variáveis (LF/HF, LF e HF) não existiu diferenças significativas

entre os períodos analisados.

Lesão baixa incompleta

Foi observado diferença significativa apenas na condição anódica nas

variáveis LF/HF entre os períodos antes e pós-estimulação (p=0,046) e durante e

pós-estimulação (p=0,046), para LF no período antes e pós-estimulação (p=0,046) e

para HF no período antes e pós-estiulação (p=0,046). Ver figuras 6,7 e 8.

Lesão baixa completa

Observamos diferenças significativas apenas na condição anódica na variável

LF/HF entre os períodos antes e durante (p=0,042) e durante e pós (p=0,018), para

LF entre os períodos durante e pós (p=0,017) e HF durante e pós (0,017). Ver figuras

6,7 e 8.

FIGURA 6. Efeitos da ETCC sham e anódica sobre LF/HF nos períodos antes (PRÉ-E), durante (DURANTE-E) e depois da estimulação (PÓS-E).

*

* €

§

§

¥

¥

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36

FIGURA 7. Efeitos da ETCC sham e anódica sobre LF nos períodos antes (PRÉ-E), durante (DURANTE-E) e depois da estimulação (PÓS-E).

FIGURA 8. Efeitos da ETCC sham e anódica sobre HF nos períodos antes (PRÉ-E), durante (DURANTE-E) e depois da estimulação (PÓS-E).

7. DISCUSSÃO

Nosso estudo analisou o efeito da ETCC aplicada sobre o córtex motor primário,

nos dois hemisférios cerebrais, sobre variabilidade da frequência cardíaca em

indivíduos com LM que apresentam diferentes graus e níveis de lesão, e observamos

¥

¥

* *

* *

¥

¥

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37

que a ETCC modula o sistema nervoso autonômico de forma divergente nos grupos

analisados. Nos indivíduos com LM completa alta a ETCC não alterou a VFC de

forma significativa. Para os indivíduos com LM incompleta baixa a ETCC alterou a

VFC no sentido de aumentar o simpático e reduzir o parassimpático e para os

indivíduos com LM completa baixa a ETCC não apresentou diferenças significativas

entre as condições inicial e final, mas apresentou alteração, embora não significativa,

no sentido de reduzir o simpático e aumentar parassimpático.

Talvez a diferença entre os efeitos da ETCC entre os indivíduos com LM baixa,

possam ser devido à quantidade de adrenalina possivelmente ser mais elevada nos

indivíduos com LM completa baixa(32), devido este fator está diretamente relacionado

ao grau de desnervação simpática, pois após destruição de um nervo simpático, o

órgão inervado se torna bem mais sensível à adrenalina, devido ao aumento de

receptores adrenérgicos(67). Desde então, os indivíduos com lesão baixa completa

apresentam hipersensibilidade adrenérgica, em nível das adrenais, portanto até

mesmo um pequeno estímulo simpático, pode causar uma alta liberação de

adrenalina em nível sistêmico, e a ETCC possa ter gerado um efeito rebote durante

sua aplicação, reduzindo o estímulo simpático e aumentando o parassimpático, mas

posteriormente voltando a seus níveis anteriores.

Embora clancy (2014)(14) tenha observado que a ativação do córtex motor

primário em indivíduos saudáveis tenha apresentado aumento de estímulo simpático,

um estudo(55) anteriormente realizado, pode mostrar um possível efeito rebote da

ETCC, pois na análise de cortisol 20min pós ETCC anódica gerou redução dos níveis

séricos quando comparados ao período antes da estimulação, caracterizando

possivelmente redução do nível de stress. Outro fator interessante é a atuação da

ETCC na modulação das supra-renais, mostrando que existe modulação sistêmica e

não só local como a cardíaca.

Nossos resultados mostraram que a ETCC aumentou o estímulo simpático para o

grupo com LM incompleta baixa, mas não para o grupo com LM completa alta, talvez

estes dados revelem que a ETCC não seja capaz de modular o SNA quando a

inervação simpática na região cardíaca é reduzida. Também é de conhecimento, que

indivíduos com LM baixa apresentam uma quantidade de adrenalina mais elevada do

que indivíduos com lesão alta e indivíduos sem LM(32), talvez devido à preservação

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da atividade das adrenais, o que talvez possa justificar o aumento simpático, gerado

pela ETCC, neste grupo.

Outro fator que talvez possa explicar a inexistência de alteração no SNA gerado

pela ETCC nos indivíduos com lesão alta, é que embora a liberação dos hormônios

produzidos pelas supra-renais não necessitem de estímulos neuronais diretos,

devido a existência de barorreceptores nas células renais apresentarem a

capacidade de sentir pequenas alterações no fluxo sanguíneo renal e transmitir esta

informação para as supra-renais, dando a capacidade de se autorregular, existe a

necessidade de alterações em outras vísceras para que ocorra este mecanismo(67).

Estas vísceras necessitam de estimulo neuronal direto para serem ativadas,

divergindo das supra-renais, e portanto, a presença de inervação simpática se torna

essencial para um bom funcionamento sistêmico, mas em indivíduos com LM alta

estas inervações não estão mais preservadas e o estímulo para liberação de

adrenalina e noradrenalina, pelas supra-renais estão reduzidos.

Estudos com animais (68, 69), relatam que o córtex motor apresenta projeções na

medula ventrolateral e esta envia projeções para o núcleo intermediolateral espinhal,

onde os neurônios pré-ganglionares controladores coração e vasos sanguíneos

(segmento T2) e da medula adrenal (segmento T8) são encontrados. Recente

estudo(14) com estimulação cerebral não invasiva em humanos revela participação de

M1 na ativação simpática, mostrando aumento simpático pós-estimulo elétrico. Como

estimulamos M1 de forma bilateral, talvez os indivíduos com LM incompleta

pudessem apresentar inervações sobre as adrenais e ter ocasionado estímulo

simpático, gerado via córtex motor, através da ETCC, divergindo assim, dos

indivíduos que com LM completa baixa, que não apresentavam as terminações

nervosas preservadas e, portanto não aconteceu o mesmo efeito.

Como observado em nossos achados, à resposta da ETCC apresentou

divergências de acordo com o grau e nível da lesão, este fator pode está também

relacionado ao grau de atrofia em áreas corticais(70) e fluxo sanguíneo cerebral

reduzido(34) em M1, pois estes fatores estão relacionados com a gravidade da lesão.

Sendo assim, a ETCC não conseguiria modular o SNA em indivíduos com LM alta

completa, cuja gravidade da lesão é mais acentuada, apresentando maior atrofia e

menor fluxo sanguíneo cerebral.

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Embora estudos(14, 34, 68) mostrem que o córtex motor está envolvido em ajustes

cardiovasculares associados com a atividade motora somática, por apresentar

ligações funcionais com a medula ventrolateral, uma região do tronco cerebral

criticamente envolvida no controle da pressão sanguínea e na regulação dos níveis

de catecolaminas no plasma, os resultados de estudos com ETCC estimulando o

córtex motor e seus efeitos sobre o SNA são divergentes.

Um estudo(55) realizado com indivíduos saudáveis mostrou que a ETCC sobre

córtex motor, aplicada unilateralmente, apresentou resultados semelhantes para as

condições sham e anódica para as diferenças encontradas entre os períodos antes e

pós ETCC nas variáveis temperatura da pele e cortisol. Para as variáveis pressão

arterial, variabilidade da frequência cardíaca e ventilação não foram encontradas

diferenças significativas entre os períodos, nem entre as condições sham e anódica.

Um estudo(14) recente que analisou o efeito da ETCC sobre o SNA em indivíduos

saudáveis, corrobora com os nossos resultados, pois observou que a ETCC anódica

aumentou a razão LF/HF durante e após a estimulação, quando comparada a

catódica e sham. Embora as configurações dos eletrodos, córtex motor primário

(hemisfério cerebral esquerdo) e supraorbital, intensidade da corrente (1mA) e tempo

de estimulação (15min.) tenham sido divergentes dos nossos, talvez o tempo de

13min. com uma intensidade mais elevada (2mA) sejam suficientes para modular a

atividade do SNA em indivíduos com LM baixa, entretanto não sabemos o tempo

que este efeito perdura.

Outro fator importante a ser analisado é a configuração como os eletrodos são

colocados no escalpo do indivíduo, pois a maior parte dos estudos o eletrodo de

referência é colocado no supraorbital, e estudos relatam que o córtex pré-frontal

medial está relacionado com o controle autonômico simpático, e a colocação do

eletrodo de referência na região supraorbital, pode reduzir a ativação do córtex pré-

frontal medial e aumentar o estímulo simpático(14). Nosso estudo anula esta

possibilidade, pois colocamos o eletrodo de referência na protuberância occipital,

desde então, podemos analisar o efeito da ETCC sobre M1.

Nossos resultados trazem dados importantes para futuras intervenções com o uso

da ETCC em pessoas com LM, pois estes indivíduos apresentam uma variabilidade

da FC reduzida e como observado, os indivíduos com LM incompleta baixa

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apresentaram aumento simpático, efeito considerado bastante positivo para estes

indivíduos que praticamente não apresentam alterações diurnas em sua FC, desde

então, o uso da ETCC poderia reduzir alguns sintomas como redução de fluxo

sanguíneo cerebral, tonturas e fadiga antecipada. Já para os indivíduos com LM

completa baixa a ETCC, dependendo da intensidade e tempo que será aplicada, não

seria indicada, pois reduz a ativação simpática, o que poderia reduzir ainda mais a

variabilidade da FC nestes indivíduos. Já para os indivíduos com LM completa alta, a

ETCC por não apresentar alterações, apresenta-se mais segura para a aplicação

com outros fins, como tratamento da dor periférica crônica pós-lesão.

8. CONCLUSÃO

O presente estudo mostrou evidencias de que a etcc anódica aplicada sobre o

cortex motor de forma bilateral, conseguiu modular o balanço do SNA em pessoas

com lesão medular e este efeito é dependente do grau e nível de lesão. Os

indivíduos com LM completa alta não apresentaram alterações com a aplicação da

ETCC. Já os indivíduos com LM baixa incompleta e completa, apresentaram

alterações autonômicas, e estas foram divergentes. Os individuos com LM baixa

incompleta apresentaram aumento simpático e redução parassimpática, já os

indivíduos com LM baixa completa, apresentaram redução do simpático e aumento

do parassimpático.

9. AGRADECIMENTOS

Agradecemos a todos os integrantes da base de pesquisa em atividade física

e saúde (AFISA) e do laboratório do movimento humano (LABMOV) da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte.

10. COMENTÁRIOS E SUGESTÕES GERAIS

Esse estudo trouxe questionamentos pertinentes sobre fatores positivos dos

efeitos da ETCC anódica aplicada sobre o córtex motor. Um deles é sobre a duração

dos efeitos após aplicação da ETCC, pois dependendo do tempo que perdure o

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efeito da estimulação, seria interessante a analise da dosagem/dia para ser aplicada

em indivíduos com LM, já que os mesmos apresentam uma variabilidade da FC

bastante reduzida e a ETCC pode aumentá-la. Outro fator importante é que não

temos conhecimento dos efeitos que a ETCC pode gerar nestes indivíduos em nível

cortical, quando usado cronicamente, desde então observamos a necessidade de

mais estudos.

Outro ponto interessante é quanto à montagem dos eletrodos, que podem

aplicar corrente elétrica bilateral ou unilateral sobre o córtex motor. Ao que temos

conhecimento, nenhum estudo comparou o efeito de diferentes montagens para

estimulação no córtex motor em indivíduos com LM. A existência de estudos mais

aprofundados que analisem o efeito da ETCC dependendo do grau e nível da lesão

também se torna fundamental.

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68. M'hamed SB, Sequeira H, Poulain P, Bennis M, Roy J. Sensorimotor cortex

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69. Sequeira H, Viltart O, Ba-M’Hamed S, Poulain P. Cortical control of somato-

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ANEXO

ANEXO 1

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa intitulada “Estimulação Transcraniana por

Corrente Contínua (ETCC) altera a tolerância ao exercício em pessoas com lesão medular?´´ que tem

como pesquisador responsável Fabiana Tenório Gomes da Silva.

O objetivo dessa pesquisa é verificar se a estimulação transcraniana por corrente contínua,

que é uma tecnica de estimulação cerebral não invasiva e indolor, irá modificar o tempo de exercício.

O motivo que nos leva a fazer este estudo é a existência de poucas pesquisas que utilizem a

ETCC visando melhoras na aptidão física de pessoas com lesão medular, pois estes indivíduos

apresentam alterações em nível cerebral e muscular e estas podem reduzir a tolerância ao exercício.

Caso decida aceitar o convite, você será submetido(a) ao(s) seguinte(s) procedimentos: (1)

Familiarização com os equipamentos e escala utilizada; (2) Testes de esforço máximo no

cicloergômetro; (3) através de um sorteio, você será submetido (em dias diferentes) a uma sessão de

estimulação cerebral anódica (estimulação verdadeira) ou placebo (estimulação falsa), com duração

de 13 (treze) minutos e com 48-72h de intervalo entre elas; (4) ao decorrer dos testes máximos, que

você fará até a exaustão, serão coletados frequência cardíaca, em intervalos pré-estabelecido irá nos

informar sobre a percepção do esforço (como você está se sentindo) e antes e pós teste será

coletado uma pequena quantidade de sangue para análise da glicemia. As sessões experimentais

serão realizadas em uma sala especialmente preparada (com pouco barulho e baixa luminosidade).

O Projeto não apresenta riscos significativos para os participantes, pois todos os artigos

científicos, até hoje, não relatam a existência de efeitos colaterais devido à aplicação da estimulação,

mostrando que a técnica é segura, talvez você possa sentir um leve formigamento na região de

colocação dos eletrodos e leve dor de cabeça. Você também pode sentir uma leve sensação de fadiga

durante a realização dos experimentos. O benefício provável da pesquisa, caso a nossa hipótese seja

confirmada, é a melhoria da sua função cerebral e periférica durante a prática de exercício físico

associado à ETCC, o que será um avanço tanto em nível de reabilitação aguda como crônica, pois o

exercício físico em pessoas com lesão medular, em sua maioria, é desencorajado devido a não

aguentarem muito tempo de exercício, levando-os a desistência. Além disso, você pode contribuir

para o entendimento da influência do cérebro humano durante a prática de exercício físico em

indivíduos com lesão medular.

Em caso de algum problema que você possa ter, relacionado com a pesquisa, você terá

direito a assistência gratuita que será prestada (pela UFRN e de responsabilidade da pesquisadora

Fabiana Tenório Gomes da Silva).

Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas ligando para (Fabiana

Tenório Gomes da Silva, 9143-1590).

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Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase

da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.

Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e serão divulgados apenas em

congressos ou publicações científicas, não havendo divulgação de nenhum dado que possa lhe

identificar.

Esses dados serão guardados pelo pesquisador responsável por essa pesquisa em local

seguro e por um período de 5 anos.

Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será assumido pelo

pesquisador e reembolsado para você.

Se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa, você será

indenizado.

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, telefone 3215-3135.

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra com o pesquisador

responsável (Fabiana Tenório Gomes da Silva).

Consentimento Livre e Esclarecido

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados serão

coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que ela trará para

mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos, concordo em participar da pesquisa (Estimulação

Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) altera a tolerância ao exercício em pessoas com lesão

medular?), e autorizo a divulgação das informações por mim fornecidas em congressos e/ou

publicações científicas desde que nenhum dado possa me identificar.

Natal , , 2014

Assinatura do participante da pesquisa

Declaração do pesquisador responsável

Como pesquisador responsável pelo estudo (Estimulação Transcraniana por Corrente

Contínua (ETCC) altera a tolerância ao exercício em pessoas com lesão medular?), declaro que

Impressão datiloscópica do

participante

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assumo a inteira responsabilidade de cumprir fielmente os procedimentos metodologicamente e

direitos que foram esclarecidos e assegurados ao participante desse estudo, assim como manter sigilo

e confidencialidade sobre a identidade do mesmo.

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora assumido estarei

infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde –

CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo o ser humano.

Natal , , 2014.

Assinatura do pesquisador responsável

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ANEXO 2

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Liberação do comitê de ética