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1 Estudo da utilização de resíduos de construção e demolição reciclados em obras visando aumento da qualidade Walber Alves Freitas 1* , Valdivânia A. do Nascimento 2 , João Batista de Oliveira Libório Dourado 3 , Bruna Leal Melo de Oliveira 4 1-4 Universidade Federal do Piauí, Centro de Tecnologia, Teresina, PI, Brasil, CEP 64049550. *e- mail: [email protected] Resumo A reciclagem dos resíduos provenientes de atividades da indústria da construção civil está sendo uma prática de fundamental importância, tanto para o meio ambiente, quanto para a sociedade em geral. O entulho de construção civil que sai dos canteiros de obras, de demolição ou de restos de construção é constituído de uma mistura heterogênea de materiais com grande potencial de reciclagem. A composição dos resíduos de construção e demolição constitui-se numa alternativa para eliminar a nociva deposição de entulho às margens de vias públicas, terrenos baldios, rios, e ao mesmo tempo obter materiais de construção mais econômicos e de qualidade assegurada. Este trabalho tem como objetivo realizar uma busca na literatura de estudos relacionados às utilizações de resíduos de construção e demolição reciclados em obras visando aumento da qualidade. Foi realizada uma busca de artigos indexados nas bases Scopus, Web of Science e Scielo. O estudo foi realizado em abril de 2019, utilizando os seguintes termos: resíduo, construção, demolição, reciclado, qualidade. Várias são as pesquisas sobre propriedades mecânicas em concretos reciclados. Na sua grande maioria, os pesquisadores avaliam propriedades mecânicas de resistência à compressão e quase sempre o resultado é o mesmo: a viabilidade técnica dos concretos com agregados reciclados devido ao seu bom desempenho diante dessa propriedade. Muitos estudos já foram desenvolvidos com estes materiais, sendo avaliados, na sua grande maioria, em propriedades mecânicas e viabilidade técnica da utilização desses resíduos incorporados ao concreto. Pouco se têm estudado sobre aspectos de durabilidade de concretos produzidos com agregados reciclados. Palavras-chave: resíduos, reciclagem, propriedades. 1. Introdução Resíduos de Construção e Demolição (RCD) são considerados todo e qualquer resíduo oriundo das atividades de construção, sejam eles de novas construções, reformas, demolições, que envolvam atividades de obras de arte e limpezas de terrenos com presença de solos ou vegetação (ANGULO, 2000; FERRAZ et al., 2001; EC, 2000; WILSON, 1996;

Estudo da utilização de resíduos de construção e demolição ......No Brasil, a geração de RCD per capita foi estimada em 500 kg/hab.ano, mediana para algumas cidades brasileiras

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Estudo da utilização de resíduos de construção e demolição reciclados em obras visando

aumento da qualidade

Walber Alves Freitas 1*, Valdivânia A. do Nascimento2, João Batista de Oliveira Libório Dourado3,

Bruna Leal Melo de Oliveira4 1-4Universidade Federal do Piauí, Centro de Tecnologia, Teresina, PI, Brasil, CEP – 64049550. *e-

mail: [email protected]

Resumo

A reciclagem dos resíduos provenientes de atividades da indústria da construção civil

está sendo uma prática de fundamental importância, tanto para o meio ambiente, quanto para a

sociedade em geral. O entulho de construção civil que sai dos canteiros de obras, de demolição

ou de restos de construção é constituído de uma mistura heterogênea de materiais com grande

potencial de reciclagem. A composição dos resíduos de construção e demolição constitui-se

numa alternativa para eliminar a nociva deposição de entulho às margens de vias públicas,

terrenos baldios, rios, e ao mesmo tempo obter materiais de construção mais econômicos e

de qualidade assegurada. Este trabalho tem como objetivo realizar uma busca na literatura de

estudos relacionados às utilizações de resíduos de construção e demolição reciclados em obras

visando aumento da qualidade. Foi realizada uma busca de artigos indexados nas bases Scopus,

Web of Science e Scielo. O estudo foi realizado em abril de 2019, utilizando os seguintes

termos: resíduo, construção, demolição, reciclado, qualidade. Várias são as pesquisas sobre

propriedades mecânicas em concretos reciclados. Na sua grande maioria, os pesquisadores

avaliam propriedades mecânicas de resistência à compressão e quase sempre o resultado

é o mesmo: a viabilidade técnica dos concretos com agregados reciclados devido ao seu

bom desempenho diante dessa propriedade. Muitos estudos já foram desenvolvidos com estes

materiais, sendo avaliados, na sua grande maioria, em propriedades mecânicas e viabilidade

técnica da utilização desses resíduos incorporados ao concreto. Pouco se têm estudado sobre

aspectos de durabilidade de concretos produzidos com agregados reciclados.

Palavras-chave: resíduos, reciclagem, propriedades.

1. Introdução

Resíduos de Construção e Demolição (RCD) são considerados todo e qualquer resíduo

oriundo das atividades de construção, sejam eles de novas construções, reformas, demolições,

que envolvam atividades de obras de arte e limpezas de terrenos com presença de solos ou

vegetação (ANGULO, 2000; FERRAZ et al., 2001; EC, 2000; WILSON, 1996;

2

SCHULTMANN; RENTZ, 2000).

Eles incluem diferentes materiais, tais como diferentes tipos de plásticos, isolantes,

papel, materiais betuminosos, madeiras, metais, concretos, argamassas, blocos, tijolos, telhas,

solos, e gesso, dentre outros.

A porção composta por concretos, argamassas, blocos, tijolos, telhas, solos, gesso, etc.

dos resíduos de construção e demolição (RCD) é de origem mineral. Esta é predominante no

RCD, representando aproximadamente 90%, na relação m/m, no Brasil (BRITO, 1998;

CARNEIRO et al., 2000), na Europa (EC, 2000; HENDRIKS, 2000) e em alguns países

asiáticos (HUANG et al., 2002).

O RCD tem, no mínimo, duas fontes de geração típicas: construção e demolição

(ANGULO, 2000). Em diversos países, os resíduos da construção representam de 19 a 52%

(m/m) do RCD, enquanto que os resíduos de demolição representam de 50 a 81% (m/m) do

RCD (ANGULO, 2000).

Os teores de materiais minerais presentes no RCD variam entre canteiros de obras e

entre países (BOSSINK; BROUWERS, 1996; PINTO, 1986), assim como os de materiais não-

minerais. Os teores de madeira são mais significativos na Inglaterra (HARDER; FREEMAN,

1997), nos Estados Unidos (EPA, 1998) e na Austrália (QUEENSLAND, 2003). O teor de

resíduos de asfalto é mais expressivo na Holanda (HENDRIKS, 2000). Estes resíduos podem

representar grande parte do resíduo da construção na Inglaterra e na Austrália. O mesmo ocorre

com os resíduos de demolição (SCHULTMANN; RENTZ, 2000; HOBBS, HURLEY, 2001).

2 Materiais e Métodos

A revisão bibliográfica foi baseada na pesquisa de artigos publicados. Os bancos de

dados utilizados para busca de anterioridade de artigos foram: realizadas buscas nas bases de

periódicos Web of Science, SCIELO e SCOPUS. O levantamento de todos os dados foi realizado

em abril de 2019.

Inicialmente, as pesquisas foram realizadas para rastrear artigos com aplicação de

resíduos de construção e demolição, através do uso das palavras-chave “construction and

demolition and waste”, no título e no abstract.

Procurou-se também a aplicação para aumento de qualidade, na tentativa de maior

abrangência de número de documentos de artigos, utilizando os termos “waste and construction

and demolition and quality”. As buscas com essas palavras- chave foram realizadas envolvendo

as bases de dados científicos (artigos), os quais foram descritos à priori.

3

3 Desenvolvimento

3.1 Impacto dos resíduos de construção e demolição nas cidades

O RCD representa de 13 a 67% em massa dos resíduos sólidos urbanos (RSU) tanto no

Brasil como no exterior, cerca de 2 a 3 vezes a massa de lixo urbano (JOHN, 2000; HENDRIKS,

2000).

No Brasil, a geração de RCD per capita foi estimada em 500 kg/hab.ano, mediana para

algumas cidades brasileiras (PINTO, 1999). Na Europa, a média de geração é acima de 480

kg/hab.ano (SYMONDS, 1999).

Quando ignorados, os RCD são responsáveis por deposições ilegais tanto no Brasil

como no exterior (PINTO, 1999; ELIAS-OZKAN, 2001; EC, 2000). Na cidade de São Paulo,

como exemplo, mais de 20% dos RCD são depositados ilegalmente dentro da cidade, gerando

um custo de R$ 45 x 106 /ano para coleta- transporte-transbordo e deposição deste resíduo no

aterro (SCHNEIDER, 2003).

Desta forma, o gerenciamento do RCD tradicionalmente praticado no Brasil e no

exterior pelo poder público é caracterizado pela limpeza repetida de áreas de deposição ilegal

dentro da malha urbana, como exemplificado na Figura 2.3, e destinação do resíduo em aterros

sanitários municipais (PINTO, 1999; SYMONDS, 1999; EC, 2000; ELIAS-OZKAN, 2001;

SCHNEIDER, 2003). A existência de multas em razão da deposição irregular é, via de regra, a

única política voltada para o gerador do resíduo.

A solução comum para deposição desses resíduos, portanto, são aterros privados, grande

parte dos quais clandestinos. Embora o RCD seja considerado inerte pela NBR 10.004 (ABNT,

1987a), ANGULO e JOHN (2002a) mostram, a partir de um levantamento bibliográfico

internacional, que componentes orgânicos como plásticos, tintas, óleos, asfaltos e madeiras,

bem como o amianto e algumas substâncias inorgânicas como manganês podem contaminar

aterros ou colocar em risco a saúde das pessoas.

Na Alemanha, a maior parte dos resíduos perigosos presentes no RCD vem do

tratamento superficial das edificações, como pinturas e sistemas de proteção (TRANKLER et

al., 1996; SCHULTMANN et al., 1997; WAHLSTROM et al.,1997; SCHULTMANN;

RENTZ, 2000). Estimou-se a presença de 58 toneladas de biofenilas policloradas (PCB) no

RCD europeu no ano de 2001 (CHRISTENSEN et al., 2002). É evidente então a necessidade

de gestão específica para os resíduos perigosos presentes no RCD como, por exemplo, o já

realizado com o amianto na União Européia (EC, 2000).

4

3.2 Estratégias para o gerenciamento adequado dos resíduos de construção e demolição

Muitos países investem num sistema formal de gerenciamento, como a Holanda

(HENDRIKS, 2000) e o Reino Unido (HOBBS; HURLEY, 2001).

O Brasil segue a mesma tendência. O sistema é composto por companhias licenciadas

para transporte, pontos de coleta de RCD para pequenos e grandes geradores (estações de

transbordo) e aterros de inertes para recuperação de áreas degradadas incluindo ou não usinas

de reciclagem (PINTO, 1999).

As estratégias necessárias de serem adotadas no gerenciamento de RCD podem ser

resumidas nos itens seguintes (JOHN et al., 2004).

3.2.1 Evitar Deposições Ilegais

No Brasil como em outros países, as deposições ilegais de RCD ocorrem em função dos

custos e distâncias que envolvem o transporte desse resíduo, especialmente em cidades de

médio e grande porte (SYMONDS, 1999; PINTO, 1999; HENDRIKS, 2000).

Embora existam leis que proíbem tal atividade, ela só se torna menos efetiva quando

também é menos interessante do ponto de vista econômico. Para isso, é necessário o

posicionamento estratégico de áreas de coleta dentro da malha urbana de forma a minimizar a

distância e o custo de transporte (PINTO, 1999).

No ano de 1999, foi aprovado pela prefeitura de São Paulo o decreto 37.952,

regulamentando as atividades dessas empresas transportadoras (OLIVEIRA et al., 2001). A

responsabilidade solidária entre gerador e transportador nas atividades de transporte e

destinação do RCD foi regulamentada em São Paulo por meio do decreto Municipal 13.298, no

ano de 2002 (SIERESP, 2003).

3.2.2 Estimular a Reciclagem

A reciclagem das frações não minerais do RCD, como madeira, plástico entre outros,

desde que segregados, é facilmente praticada visto que existem em cidades de médio e grande

porte catadores ou empresas especializadas na coleta e reciclagem de metais, papéis, plásticos,

madeiras, etc.

Neste sentido, no Brasil, a Câmara Ambiental da Indústria da Construção do Estado de

São Paulo6, órgão da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental),

contando com a participação da cadeia produtiva, universidade e consultores entre outros,

preparou diversas propostas de normas, discutidas e publicadas pela Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT) que são as seguintes:

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a) NBR 15.112 – Resíduos da construção civil e resíduos volumosos – áreas de transbordo e

triagem – diretrizes para projeto, implantação e operação;

b) NBR 15.113 – Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes – Aterros – diretrizes para

projeto, implantação e operação;

c) NBR 15.114 – Resíduos sólidos da construção civil – Áreas de reciclagem – diretrizes para

projeto, implantação e operação;

d) NBR 15.115 – Agregados de resíduos sólidos da construção civil – Execução de camadas de

pavimentação;

e) NBR 15.116 - Agregados de resíduos sólidos da construção civil – Utilização em pavimentação

e preparo de concreto sem função estrutural – requisitos.

A partir do ano de 2002, a Prefeitura de São Paulo implementou especificações internas

de serviço baseadas nessas normas, permitindo a implantação de aterro de inertes por empresas

privadas, como o extinto aterro de Itatinga e o atual aterro de Itaquera, adicionalmente aos da

prefeitura. Além disso, torna possível o emprego dos agregados de RCD reciclados nas

atividades de pavimentação do município.

Tanto no Brasil como no exterior, o uso do RCD reciclado como agregado em atividades

de pavimentação ganhou popularidade, uma vez que as exigências de qualidade como produto

são menores que as exigências de qualidade para uso em concreto (RILEM

RECOMMENDATION, 1994; HENDRIKS, 2000; ISWB, 2001). Essa prática é conhecida

como reciclagem de baixo valor (KOHLER; PENZEL, 1997; HENDRIKS, 2000; KIBERT;

CHINI, 2000; PELLETIERE, 2001).

Os agregados do setor privado são majoritariamente empregados em concretos e

argamassas e podem absorver integralmente a fração mineral do RCD reciclada sem que, com

isso, a participação no mercado ultrapasse os 20%. Além disso, em tais utilizações, os agregados

de RCD reciclados adquirem maior valor agregado como produto. Semelhantes conclusões são

citadas na Holanda (HENDRIKS, 2000; DIJK et al., 2002).

A grande vantagem competitiva dos agregados reciclados é a capacidade de minimizar

as distâncias de transporte entre produção e consumidor final (em torno de 100 km a 150 km

para areia (WHITAKER, 2001; FARINA et al., 1997) responsável por 2/3 dos custos do

produto (WHITAKER, 2001). Entretanto, no meio urbano, a produção das usinas não pode ser

6

muito elevada para não entrar em confronto com a legislação urbana como acontece com as

empresas de agregados naturais (FARINA et al., 1997; COELHO; CHAVES, 1998).

O mercado de areia pode ser um bom mercado para agregados reciclados, pois se trata

de um mercado de pequena competitividade formado por empresas de pequeno e médio porte,

em sua maioria, incluindo empresas clandestinas de extração (AZEVEDO et al., 1990;

FARINA et al., 1997) e com necessidade de fontes alternativas de matéria-prima.

O mercado de pedras britadas, por sua vez, é um mercado competitivo formado por um

setor organizado em que empresas de grande porte representam a maior parte do fornecimento

e trabalham com capacidade ociosa (em torno de 60%) (KULAIF, 2001; NETO et al., 1990).

Em países como a Alemanha, o transporte do RCD diretamente para uma usina de

reciclagem de RCD é considerado interessante do ponto de vista econômico, quando a distância

compreendida entre a usina e o RCD não ultrapassa os 25 Km (KOHLER; PENZEL, 1997).

Na Inglaterra, estava prevista uma tributação diferenciada sobre os agregados naturais

para o ano de 2002, com objetivo de tornar o uso de agregados de RCD reciclados mais

competitivo do ponto de vista econômico (HOBBS; HURLEY, 2001). Esse tipo de tributação

diferenciada para agregados naturais também ocorre na Suécia, Dinamarca e Holanda (FHA,

2000).

3.3 Utilização de agregados reciclados em concretos

A utilização dos agregados reciclados em concretos está se tornando cada vez mais

crescente. Esse crescimento pode ter se dado por várias razões, entre elas o desenvolvimento

da pesquisa na área tecnológica de produção de concretos com agregados reciclados e também

devido à conclusão de que é perfeitamente possível se utilizar parcelas de agregados

reciclados em concretos das mais variadas classes de resistência.

Inúmeras pesquisas tratam do assunto e, quase sempre, a conclusão é a mesma

ou muito similar: a de que concretos com agregados reciclados respondem positivamente quando

submetidos aos critérios de avaliações mecânicas e de durabilidade. Zordan (1997), Leite

(2001), entre outros, avaliaram a viabilidade técnica da utilização desses materiais e concluíram

que agregados reciclados são perfeitamente passíveis de serem utilizados em concretos.

Gómez-Soberon (2002) salienta que, apesar da grande porosidade dos agregados reciclados, a

sua utilização em concretos é perfeitamente aplicável.

Olorunsogo e Padayachee (2002) concluíram que, quando os concretos, obtidos com

agregados reciclados, eram avaliados por índices de durabilidade, algumas propriedades eram

melhoradas, como, por exemplo, diminuição da condutividade de íons cloreto em

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determinados níveis de substituição.

Tomadas as devidas e criteriosas precauções, os concretos obtidos a partir de

agregados reciclados podem ser utilizados nas mais diversas atividades do setor de construção

civil. Estas precauções referem-se ao tratamento dado ao agregado reciclado desde o seu

beneficiamento até o momento de ser utilizado na mistura do concreto. Essa, talvez, seja a

grande dificuldade de se trabalhar com agregados reciclados no concreto. Por causa da grande

heterogeneidade e variabilidade na composição dos agregados reciclados, às vezes não é

possível obter concretos de boa qualidade, que atendam aos requisitos pré-estabelecidos

para a produção da mistura e do desempenho do mesmo.

No estudo particular do concreto com agregados reciclados, várias são as abordagens

dadas a esse tópico, uma vez que a disponibilidade de agregados reciclados permite a aplicação

em larga escala nos concretos. Porém, a utilização desses materiais ainda é algo muito restrito às

construções de sub-base de rodovias. De acor do com Hendriks e Janssen (2001), nos Países

Baixos, mais de 90% dos resíduos reciclados são utilizados na construção de rodovias.

Só recentemente, esses agregados têm sido usados em obras que não sejam rodovias.

Segundo Touahamia, Sivakumar e McKelvey (2002), agregados provenientes de resíduos

de construção e demolição estão sendo usados em aterros para fundações, paredes de gabiões e

estabilização de encostas.

3.4 Influência dos agregados reciclados no concreto no estado fresco

As avaliações que são feitas relativas à influência dos agregados reciclados dentro

das propriedades do concreto fresco baseiam-se fundamentalmente no estudo da

trabalhabilidade dos mesmos.

De acordo com Mehta e Monteiro (1994), a trabalhabilidade dos concretos está

relacionada com a facilidade de mobilidade e com a resistência à segregação ou à exsudação.

Estas características vão depender de vários fatores, como consumo de água, consumo de cimento,

aditivos e das características dos agregados. Agregados muito angulosos ou com muitos finos

necessitam de mais água para atingir uma dada consistência.

Leite (2001) avaliou a propriedade de trabalhabilidade em concretos com agregados

reciclados em diferentes proporções, mantendo constante a relação a/c, e concluiu que estes

concretos tendem a obter trabalhabilidades insatisfatórias, principalmente com altos

percentuais de agregado graúdo incorporado à mistura.

Entretanto, a autora ressalta que as misturas apresentaram moldabilidade satisfatória

quando eram adensadas, exceto quando possuíam percentuais de 100% de substituição dos

8

agregados naturais, miúdo e graúdo, pelos reciclados. Foi constatado também, que quando as

misturas recebiam a substituição do agregado miúdo isoladamente, o abatimento aumentava.

Esse fato deve ter ocorrido em função da quantidade de finos na mistura, que possibilita

uma maior lubrificação das partículas, propiciando um aumento da trabalhabilidade.

Estes resultados levam a conclusão de que quanto maior o percentual de agregado miúdo

reciclado, isoladamente, maior é o abatimento da mistura, em relação ao agregado graúdo

reciclado. Para relação a/c maiores, Leite (2001) concluiu que quanto maior a relação a/c,

menores os valores do abatimento. Isso acontece porque misturas com relação a/c mais altas

tendem a se tornar mais ásperas, em função da menor quantidade de cimento.

Hansen (1992), ao citar trabalhos de alguns autores, salienta que algumas adições

podem ajudar as misturas a obterem um abatimento satisfatório, visto que concretos

reciclados possuem desvantagem em relação a trabalhabilidade.

Katz (2002) avaliou propriedades do concreto fresco com agregados reciclados de

idades novas e avançada e concluiu que concretos com agregados reciclados mais velhos requerem

mais água que os concretos reciclados de agregados com idades mais recentes. Isso se deve,

segundo o autor, ao percentual de finos, que nos agregados de idade mais avançada têm

quantidades de finos insuficientes que podem prejudicar a trabalhabilidade.

De uma maneira geral, os concretos com agregados reciclados tendem a apresentar

um abatimento menor com relação aos concretos com agregados naturais. Quanto maior

a dimensão máxima do agregado reciclado, menor tende a ser o abatimento obtido. Para

minimizar estas perdas algumas precauções podem ser tomadas como, por exemplo, evitar a

utilização de cimentos com altos teores de álcalis e de alta resistência, pois o calor de

hidratação, bastante int enso, pode dificultar a trabalhabilidade dos concretos.

A temperatura também é um forte influenciador na perda de abatimento, pois quanto

maior seu valor, maior tende ser a perda. Portanto, todos esses cuidados devem ser tomados

para que não haja perda do abatimento. Quando os concretos produzidos forem obtidos a

partir de agregados de natureza reciclada, estes cuidados devem ser tomados,

inevitavelmente (MEHTA e MONTEIRO, 1994; ARM, 2001; DOLLIMORE et al., 2000).

3.5 Influência dos agregados reciclados no concreto endurecido

Podem ser citados dois pólos de avaliações das propriedades do concreto. São elas

as propriedades mecânicas e de durabilidade. Para que os concretos desempenhem as funções

que lhe foram atribuídas é de se esperar que ele mantenha a sua resistência e que seja útil por

um período de vida especificado e previsto.

9

As propriedades mecânicas dizem respeito ao potencial do concreto de resistir

aos esforços que a ele for solicitado. Dentre as propriedades analisadas, a resistência à compressão

é ma is utilizada em todas as frentes de estudos, dada a relativa facilidade de realização dos

ensaios. Porém, propriedades como módulo de elasticidade e resistência à flexão são também

estudadas.

Para as propriedades de durabilidade, o grau de dificuldade come ça a aumentar dada a

diversidade de elementos que pode favorecer uma durabilidade inadequada. Efeitos físicos,

químicos e mecânicos interferem na durabilidade dos concretos, devendo ser estudados em

todos os seus aspectos.

3.5.1 Propriedades mecânicas

Várias são as pesquisas sobre propriedades mecânicas em concretos reciclados. Na sua

grande maioria, os pesquisadores avaliam propriedades mecânicas de resistência à

compressão e quase sempre o resultado é mesmo: a viabilidade técnica dos concretos com

agregados reciclados devido ao seu bom desempenho diante dessa propriedade. Apenas algumas

recomendações precisam ser feitas para que essa afirmação se confirme. O tratamento dado ao

agregado reciclado antes da concretagem é de fundamental importância para o bom desempenho

das misturas.

As mais diversas possibilidades do tratamento do agregado estão sendo testadas,

principalmente do agregado graúdo, antes da concretagem. Esse tratamento se deve,

possivelmente, a natureza heterogênea e de grande variabilidade dos materiais reciclados.

Alguns agregados graúdos, mesmo depois do beneficiamento, possuem percentuais de

impurezas impregnados na sua superfície, que podem prejudicar a qualidade do concreto.

Chen et al. (2003) desenvolveram um estudo de concretos com agregados reciclados

de tijolos e concretos, utilizando os agregados reciclados em lotes separados de agregados

graúdos reciclados, lavados e não lavados. Os resultados mostraram que os concretos

reciclados, obtidos a partir dos agregados graúdos lavados, obtiveram valores em torno de 90%

da resistência à compressão e flexão dos concretos de referência. Enquanto que para os

concretos de agregados reciclados não lavados, os valores não passaram de 75%. Para

que não houvesse a saturação dos agregados e, consequentemente, uma diminuição da resistência,

nos concretos com os agregados lavados, os mesmos eram lavados de 24 a 36 horas antes da

concretagem e armazenados em um ambiente onde a água pudesse evaporar livremente.

Oliveira e Vazquez (1996) analisaram o desempenho mecânico de concretos reciclados

utilizando-se de agregados graúdos nas condições: secos, semi-saturados e saturados. Os resultados

10

mostraram que os concretos obtidos a partir dos agregados semi-saturados obtiveram

resistências melhores aos 28 dias e praticamente com os mesmos valores de resistências dos

concretos sem agregado reciclado. Os concretos de agregados saturados obtiveram valores de

resistências cerca de 10% menor. Este mesmo percentual foi percebido na avaliação da

resistência à flexão, para qual os concretos de agregados saturados obtiveram menores valores em

relação aos de referência. Ainda segundo os autores citados, a resistência à flexão de todos os

concretos produzidos foi cerca de 10% menor que o concreto de referência.

A influência do concreto com agregado reciclado no módulo de elasticidade e na resistência

à flexão também está sendo muito estudada. Chen et al. (2003) concluiram que os agregados

reciclados possuem os valores do módulo de elasticidade cerca de 70% do valor do concreto

de referência, para as diversas relações a/c utilizadas. Nesse caso, não houve diferença significativa

entre um agregado ser utilizado da forma lavada ou não lavada. Para a resistência à flexão, os

autores puderam verificar que os concretos obtidos com os agregados lavados obtiveram uma

resistência 10% superior com relação ao concreto convencional para relação a/c igual a 0,80.

Por se tratar de um agregado que passou por um processo de lavagem, segundo os

autores, a superfície do agregado se torna mais limpa, facilitando as condições de aderência entre o

agregado reciclado e a pasta de cimento.

A questão da diminuição da resistência dos concretos reciclados está sendo alvo de muitas

discussões. É perfeitamente comum encontrar resultados onde misturas, conte ndo agregados

reciclados, obtenham valores abaixo dos de referência. Limbachiya (2000), citado por Levy

(2001) afirma que o decréscimo da resistência nos concretos com agregados reciclados se dá,

principalmente, devido à alteração da relação a/c. Zaharieva et al. (2002) enfatizam que a

alteração da relação a/c provoca diminuição das resistências, mas o acréscimo de água na

mistura, em função da alta taxa de absorção dos agregados reciclados, é necessário para

atingir uma trabalhabilidade adequada.

Um ponto fundamental que precisa ser discutido, é a alta taxa de absorção de água dos

agregados. Por ser um agregado mais poroso, obviamente irá precisar de mais água para ter a

mesma trabalhabilidade que concretos com agregados convencionais. Balizados nessa teoria,

muitos autores realizam misturas de concretos variando a quantidade de água para que o abatimento

e a trabalhabilidade sejam satisfeitos. Dessa forma, a relação a/c é alterada e a classe de

resistência desses concretos também acaba se alterando, acarretando então uma impossibilidade de

comparação direta entre concretos convencionais e reciclados.

3.6 Concretos de alta resistência e alto desempenho a partir de agregados reciclados

11

Dada a possibilidade de um bom desempenho com relação à resistência mecânic a, um

assunto que tem chamado a atenção dos pesquisadores é a utilização de agregados reciclados para

fabricação de concreto de alta resistência e alto desempenho. Trata-se de um tema relativamente

novo na bibliografia, pois antes acreditava-se que concretos de agregados reciclados tinham

resistências relativamente inferiores em relação aos outros concretos e sua aplicação era de menor

importância.

Ajdukiewicz e Kliszczewicz (2002) enfatizam que resíduos de construção e demolição

originários de obras de concreto armado e concreto protendido cujas resistências eram relativamente

altas, podem ser verdadeiras fontes de agregados de alta resistência e boa qualidade. Tais

propriedades poderão ser obtidas usando agregados reciclados formados de concreto de alta

resistência e com adição de sílica ativa e ajuda de superplastificante. Nessa pesquisa, os autores

puderam constatar que é possível obter concretos de alta resistência de agregados reciclados. Os

autores observaram também, que todas as misturas que tiveram substituição por agregados

reciclados, as resistências foram maiores que as do concreto de referência. As propriedades do

concreto que originou os agregados reciclados tiveram influência significativa nas propriedades

do concreto reciclado. Entretanto, foi preciso fazer algumas correções na relação a/c para obter

as propriedades de trabalhabilidade, mas as alterações feitas não alteraram significativamente os

valores das relações a/c. O uso de adições como sílica ativa, assim como aditivos

superplastificantes, também contribuíram para o aumento da resistência mecânica dos concretos

reciclados.

3.7 Durabilidade de concretos com agregados reciclados

A vulnerabilidade do concreto diante de condições de agressividade do meio é um

fator bastante preocupante na avaliação da vida útil das estruturas dessa origem, pois uma

durabilidade inadequada pode manifestar sérias complicações, comprometendo a utilidade das

mesmas.

Atualmente, é perfeitamente aceitável que critérios de durabilidade sejam especificados

de forma bastante clara no projeto de estruturas de concreto sujeitas às mais diversas condições

de exposição. Somado a isso, existe a consciência de que é preciso preservar os recursos

naturais através da produção de materiais e componentes com vida útil mais longa ou a produção

de materiais alternativos, como agregados reciclados.

Mas para que esses materiais alternativos sejam amplamente utilizados há uma necessidade

de conhecer o seu comportamento diante de condições que afetam negativamente as

12

propriedades do concreto.

De uma forma geral, a durabilidade de concretos, sejam eles naturais ou reciclados, incide

diretamente na facilidade ou dificuldade do transporte de fluidos dentro do concreto, sendo

classificado como um concreto pouco ou muito permeável. Os principais agentes de

transporte de fluido no concreto são a água, que pode estar pura ou pode conter agentes

agressivos, o dióxido de carbono e o oxigênio. O deslocamento desses elementos no concreto

vai depender da estrutura da pasta de cimento hidratado (NEVILLE, 1997).

O concreto de agregados reciclados também deverá responder a essa facilidade, ou não,

do transporte desses fluidos, para que sua durabilidade seja avaliada.

Rasheeduzzafar e Khan (1984), citado por Hansen (1992), compararam absorção de água

em concretos reciclados com diferentes relações a/c e concluíram que a absorção de água

nos concretos com relação a/c maior era cerca de três vezes superior à dos concretos

convencionais devido, principalmente, a porosidade do agregado graúdo reciclado. Entretanto,

essa perda poderia ser amenizada se os agregados graúdos fossem utilizados em concretos

com baixa relação a/c.

Sagoe-Crentsil, Brow e Taylor (2001) analisaram o desempenho de concretos feitos

com agregados naturais e agregados de concreto reciclados na propriedade de absorção

de água. Os resultados comprovaram que os resíduos de argamassa, que ficaram aderentes

às partículas de concreto reciclado, propiciaram um aumento da umidade do concreto,

possibilitando aumentos em torno de 25% a mais na taxa de absorção em relação ao concreto de

referência.

Quebaud et al. (1999) analisaram a permeabilidade de diversos concretos elaborados,

ora apenas com agregado graúdo reciclado e areia normal, ora com percentuais mistos

(agregados, miúdo e graúdo, naturais e reciclados) e com percentuais totais de agregados

reciclados. Os resultados obtidos mostraram que os concretos reciclados tiveram uma

permeabilidade à água bem maior que os de referência, cujos valores situaram-se entre 2 e 3

vezes a mais que a do concreto convencional. A permeabilidade ao ar situou-se com valores

de 2 a 5 vezes maior para os concretos reciclados.

Zaharieva et al. (2002) realizaram estudos sobre permeabilidade de concretos com

agregados reciclados e concluíram que, pelo fato de os agregados reciclados requerem mais

água na mistura, a permeabilidade se torna maior em relação aos concretos convencionais. Os

estudos mostraram que a porosidade do concreto reciclado foi duas vezes maior que os de referência.

3.8 Obras realizadas com concreto de agregados reciclados

13

Alguns países onde a reciclagem de resíduos de construção já está consolidada, a

utilização de agregados reciclados há muito deixou de ser apenas em obras de construção de

rodovias. Nos países europeus, precursores da reciclagem de resíduos de construção e demolição,

o concreto reciclado já está sendo utilizado em concreto armado, casas residenciais de

médio padrão, portos marítimos e até em concretos de alta resistência.

Segundo Levy (2001), a Comunidade Européia realizou, em 1988, uma série de obras

de concreto obtido a partir da reciclagem de resíduos de concreto e alvenaria, bem como

da mistura de ambos, as quais eram e continuam sendo monitoradas para que se possa avaliar o

comportamento desses concretos com relação à capacidade portante e durabilidade.

A seguir são apresentadas algumas dessas obras realizadas, em seus respectivos países,

seguidas de suas principais características:

3.8.1 Holanda

A Holanda é o país com melhor índice de reaproveitamento de resíduos de construção,

beirando a 80% dos resíduos gerados. Essa filosofia se deve, em parte, a grande escassez de

recursos naturais no país. Por conta da falta de recursos, a Holanda importa areia natural da

Sibéria e entulho da Inglaterra (TECHNE, 2001). Diante desse cenário, a solução é fazer uso

de materiais alternativos e de baixo custo. Na obra do empreendimento residencial, o projeto

foi desenvolvido para demonstrar a viabilidade técnica de substituição de 100% de agregados

naturais pelo reciclado. Os painéis não apresentaram diferenças no aspecto visual com

relação aos concretos com agregados naturais e o isolamento acústico atende as exigências

normativas. Este mesmo empreendimento está servindo de suporte para regulamentação de

normas específicas para a construção e produção de concretos com agregados reciclados (LEVY,

2001).

3.8.2 Inglaterra

Além de exportar entulho para a Holanda, a Inglaterra também é referência em

obras executadas com agregados reciclados.

Na obra do edifício do meio ambiente, as fundações obtiveram resistências de 25 MPa, as

lajes obtiveram 20 MPa e o cimento utilizado foi com adição de escória de alto forno.

O piso de alta resistência foi construído para analisar o efeito do percentual de 20%

de agregados reciclados de concreto e alvenaria de baixa qualidade. Mesmo assim, os concretos

produzidos obtiveram resistência à compressão similar a de um piso construído com

agregados naturais, atingindo 60 MPa aos 91 dias.

14

No projeto do centro de operações de tratamento de água, os resíduos aplicados no

concreto eram provenientes de concretos de dormentes ferroviários.

3.8.3 Bélgica

A Bélgica também se insere num contexto mundial como um país que também se

preocupa com o gerenciamento dos resíduos. Como exemplo disso, foi a construção da Casa da

Reciclagem, cujo projeto tinha a finalidade de informar sobre a tecnologia da reciclagem para

arquitetos e construtores, que resistem em utilizar materiais alternativos (LEVY, 2001).

Para a realização da obra da eclusa do porto de Antuérpia foram utilizados agregados

provenientes da demolição de uma das paredes de embocamento da eclusa. Para manter a

trabalhabilidade dos concretos produzidos, a técnica do pré-umedecimento foi muito eficiente,

para a qual a quantidade de água necessária foi corrigida em função da absorção dos

agregados reciclados.

Ainda com referência à obra do porto, dos 650.000 metros cúbicos de concreto, 80.000

metros cúbicos foram provenientes de agregados reciclados. A caracterização dos resíduos se

deu de forma detalhada e foi utilizada, o processamento e beneficiamento do entulho foram

otimizados e foi empregado todo o controle tecnológico do concreto. Como conseqüência, a

obra está a 14 anos sem manifestações patológicas (LEVY, 2001).

15

4 CONCLUSÃO

Os RCD são majoritariamente de origem mineral no Brasil. No entanto, eles contêm

importante fração de diferentes tipos de plásticos, papéis, madeiras, materiais betuminosos entre

outros, inclusive resíduos perigosos.

A composição da fração mineral do RCD é variável, pois é uma mistura de componentes

construtivos como concretos, argamassas, cerâmicas, rochas naturais, entre outros. Ela depende

da origem do resíduo.

Os RCD geram diversos impactos ambientais em cidades de médio e grande porte tais

como o uso de áreas de aterros, deposições irregulares, assoreamento de córregos, entupimento

de galerias e bueiros entre outros.

Deve-se gerenciar, portanto, adequadamente o RCD com o objetivo de minimizar os

seus impactos ambientais e econômicos nas cidades. Esse gerencia mento deve contemplar os

seguintes itens: a) evitar as deposições irregulares por meio de regulamentações e uma rede de

atração para esses resíduos que minimize os custos de transporte e de coleta-deposição, b) triar

os resíduos com o objetivo de aumentar a reciclabilidade deles e reduzir os riscos ambientais,

c) estimular a reciclagem por meio de especificações, decretos e normas técnicas que encorajem

as utilizações dos materiais reciclados em mercados mais competitivos.

O uso da fração mineral do RCD é fundamental para se atingir reciclagem massiva. Essa

fração pode ser absorvida integralmente no mercado de agregados para uso em concreto e

argamassa sem que, com isso, a participação no mercado ultrapasse os 20%.

No Brasil, apesar da grande demanda de material que pode ser reciclado, o uso

na fabricação de concretos ou de outros elementos da construção civil é pouco ou quase

inexistente, sendo estes materiais utilizados em sub-bases de vias e rodovias, na sua grande

maioria. A escassez dos recursos naturais é um problema que, aparentemente, não afeta este país.

Por enquanto, a grande questão consiste em resolver o problema do gerenciamento dos

resíduos dessa natureza depositados nos grandes centros urbanos. Sendo assim, cidades como

Belo Horizonte e algumas cidades de São Paulo estão buscando na reciclagem a saída

para minimizar os efeitos nocivos da deposição inadequada nas cidades dos resíduos de

natureza da atividade de construção civil.

16

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