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ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO CLÍNICO- COMPARATIVO: PSORÍASE DE INÍCIO PRECOCE E TARDIO FÁTIMA PESSANHA FAGUNDES Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina (Dermatologia), Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Medicina (Dermatologia). Orientadores: Prof a . Sueli Coelho da Silva Carneiro Prof. Absalom Lima Filgueira Rio de Janeiro Fevereiro/2007

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ESTUDO EPIDEMIOLGICO CLNICO-COMPARATIVO:

PSORASE DE INCIO PRECOCE E TARDIO

FTIMA PESSANHA FAGUNDES

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Medicina (Dermatologia), Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Medicina (Dermatologia).

Orientadores: Profa. Sueli Coelho da Silva Carneiro

Prof. Absalom Lima Filgueira

Rio de Janeiro Fevereiro/2007

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ESTUDO EPIDEMIOLGICO CLNICO-COMPARATIVO: PSORASE DE INCIO PRECOCE E TARDIO

Ftima Pessanha Fagundes

Orientadores: Profa. Sueli Coelho da Silva Carneiro Prof. Absalom Lima Filgueira

Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps-Graduao em

Medicina (Dermatologia), Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do

Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do

ttulo de Mestre em Medicina (Dermatologia).

Aprovada por:

__________________________________________ Presidente, Prof. Dr.

_________________________________________ Prof. Dr. _________________________________________ Prof. Dr.

Rio de Janeiro Fevereiro/2007

ii

iii

Fagundes, Ftima Pessanha Estudo epidemiolgico clnico-comparativo: psorase de incio precoce e tardio/ Ftima Pessanha Fagundes. Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Medicina, 2007. xiii, 111 f. : il. ; 31 cm. Orientadores: Sueli Coelho da Silva Carneiro/Absalom Lima Filgueira Dissertao (Mestrado) UFRJ / Faculdade de Medicina / Dermatologia, 2007. Referncias Bibliogrficas: f. 80-91. 1. Psorase. 2. Epidemiologia. 3. Idade de incio. Tese. I. Carneiro, Sueli Coelho da Silva; Filgueira, Absalom Lima. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina. III. Ttulo.

iv

Luz que me guia.

AGRADECIMENTOS

Ao curso de Ps-Graduao em Dermatologia da UFRJ, em especial ao

Prof. Dr. Absalom Filgueira, pela orientao e oportunidade de realizao

deste mestrado.

professora Sueli Coelho da Silva Carneiro, por sua orientao e

ensinamentos.

Ao CNPq, pelo apoio financeiro dispensado que permitiu a realizao

deste trabalho.

Ao professor Celso Tavares Sodr, que me inspirou esta especialidade, e me ensinou a exerc-la.

Aos meus Pais, Wanderlei Vioso Fagundes e Maria Luiza Pessanha Fagundes, pela formao que me permitiu chegar at aqui, e pelo apoio incondicional.

Aos meus irmos, Luciana Pessanha Fagundes, Marco Antnio Pessanha Fagundes e Wanderlei Pessanha Fagundes, exemplos de dedicao e de esforo intelectual.

Aos amigos Bruno Galvo Bazzo, Christian Jacques Rentera e Flvia de Freire Cssia cujo apoio foi essencial para a concluso deste trabalho.

A Cludia Soares, pela pacincia e auxlio na anlise estatstic.a Aos amigos Maria Augusta Castro Japiassu, Fabola de Souza e

Mello Pereira, Simone Bezerra, Camila Eiras, Eduardo Lago e Arles Brotas pela grande fora e ajuda.

s secretrias Gilsara Jaccoud da Costa e Deise Pereira da Cunha por sua eficincia e pelo carinho com que sempre fomos tratados.

Aos amigos Isabella Viggiano, Joana Pires, Nilton Caparelli e Maria Teresa Paes Leme, que me incentivaram e deram nimo neste caminho.

minha secretria e amiga Clia Silva de Menezes, por seu carinho e auxlio preciosos.

v

RESUMO

ESTUDO EPIDEMIOLGICO CLNICO-COMPARATIVO: PSORASE DE INCIO PRECOCE E TARDIO

Ftima Pessanha Fagundes

Orientadores: Prof. Sueli Coelho da Silva Carneiro Prof. Absalom Lima Figueira Resumo da Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps-Graduao em Medicina (Dermatologia), Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Dermatologia. Fundamentos: Vrios estudos tm observado a existncia de formas clnicas diferenciadas de psorase, relacionadas idade incio da doena. Pacientes de incio precoce apresentariam curso clnico sujeito a exacerbaes e remisses, maior prevalncia de histria familial de psorase e fatores desencadeantes especficos Objetivos: Distinguir um padro clnico-evolutivo e de histria familial entre a psorase de incio precoce, (antes de 30 anos: Tipo I), e a doena que se inicia tardiamente (aps 30 anos: Tipo II) e descrever a populao em acompanhamento no HUCFF/UFRJ Material e mtodos: Foram includos 259 pacientes com diagnstico clnico de psorase que foram avaliados atravs de questionrio e exame clnico. Resultados: A idade mdia de incio de doena foi de 35,7 anos para toda a amostra. As pacientes do sexo feminino apresentaram idade de incio mais precoce e valor mdio de PASI menor do que os do sexo masculino (p

ABSTRACT EARLY AND LATE ONSET PSORIASIS:

A CLINICAL AND EPIDEMIOLOGICAL SURVEY Ftima Pessanha Fagundes

Orientadores: Prof. Sueli Coelho da Silva Carneiro Prof. Absalom Lima Figueira

Abstract da Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps-Graduao em Medicina (Dermatologia), Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Dermatologia. Theoretical Basis: Some studies have suggested different patterns of psoriasis related to the age of onset. Patients with earlier onset disease would be more likely to display specific clinical characteristics such as more frequent relapses and remissions. This group would also have specific triggering factors and to present familial history of psoriasis Objectives: To describe the population of psoriatic patients at HUCFF/UFRJ and study this group with the purpose of establishing a clinical pattern of disease and of family history of those whose disease began early (before 30 years, type I) and those of late onset (after 30 years, type II). Methodology: 259 patients with the clinical diagnosis of psoriasis were interviewed and examined, lesion morphology and distribution was recorded. Results: Medium age of onset of psoriasis was 35, 7 years. Female patients had earlier onset disease, lower medium PASI (p

SUMRIO

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS .....................................................................................IX

LISTA DE FIGURAS E GRFICOS .............................................................................................X

LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................XII

LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................XII

1 INTRODUO ........................................................................................................................... 1

2 OBJETIVOS............................................................................................................................... 4

3 FUNDAMENTAO TERICA................................................................................................. 5

3.1.2 EPIDEMIOLOGIA E GENTICA...................................................................................... 5 3.1.3 FATORES DESENCADEANTES................................................................................... 12 3.1.4 PATOGNESE .............................................................................................................. 19 3.1.5 CARACTERSTICAS CLNICAS.................................................................................... 21 3.1.6 TRATAMENTO .............................................................................................................. 28

4 MATERIAL E MTODOS ........................................................................................................ 36

5 RESULTADOS......................................................................................................................... 39

7 DISCUSSO ............................................................................................................................ 68

8 CONCLUSES ........................................................................................................................ 77

9 PERSPECTIVAS FUTURAS ................................................................................................... 78

10 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................................... 79

11 ANEXOS ................................................................................................................................ 92

viii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Lista de abreviaturas APC: antigen presenting cells (clulas apresentadoras de antgeno)

CLA: cutaneous leukocyte antigen (antgeno cutneo leucocitrio)

HLA: human leukocyte antigen (antgeno leucocitrio humano)

HUCFF: Hospital Universitrio Clementino Fraga Filho

IFN: interferon

IL: interleucina

KIR: receptores tipo imunoglobulina de clulas natural killer

LFA: leukocyte function-associated antigen (antgeno associado funo do

leuccito)

MHC: major histocompatibility complex(complexo principal de

histocompatibilidade)

NGF: nerve growth factor (fator de crescimento neural)

NK: natural killer (assassinas naturais)

PASI: Psoriasis Activity and Severity Index (ndice de atividade e gravidade

da psorase)

Psorase tipo I: psorase de incio antes de 30 anos

Psorase tipo II: psorase de incio aps os 30 anos

SP: Substncia P

TNF: fator de necrose tumoral

ix

LISTA DE FIGURAS E GRFICOS

QUADRO 3-1. HLA CLASSES I E II ASSOCIADOS PSORASE VULGAR EM ESTUDOS POPULACIONAIS ....................................................................................................................... 10

QUADRO 3-2. ESTUDOS POPULACIONAIS NOS HLAS CLASSES I E II ASSOCIADOS COM PSORASE VULGAR DO TIPO I ................................................................................................ 11

QUADRO 3-3. MEDICAMENTOS SISTMICOS: EFEITOS ADVERSOS MAIS COMUNS E

EXAMES PARA ACOMPANHAMENTO. .................................................................................... 34

QUADRO 3-4. PRINCIPAIS AGENTES BIOLGICOS EM USO ATUALMENTE. .................... 35

GRFICO 5-1. DISTRIBUIO POR SEXO DE TODO O GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE .................................................................................................................................. 41

GRFICO 5-2. DISTRIBUIO POR COR DE TODO O GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE .................................................................................................................................. 43

GRFICO 5-3. DISTRIBUIO DO INCIO DA DOENA ARTICULAR DE TODO O GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE ............................................................................................. 43

GRFICO 5-4. DISTRIBUIO DE 241 PACIENTES COM PSORASE EM RELAO AO PRURIDO .................................................................................................................................... 47

GRFICO 5-5. DISTRIBUIO DE TODO O GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE E PRURIDO QUANTO FREQNCIA DESTE SINTOMA......................................................... 48

GRFICO 5-6. ESCALA VISUAL DE PRURIDO: DISTRIBUIO PERCENTUAL DE 173 PACIENTES COM PSORASE E PRURIDO .............................................................................. 49

GRFICO 5-7. DISTRIBUIO DAS LESES NA SUPERFCIE CUTNEA EM TODOS OS 259 PACIENTES COM PSORASE ESTUDADOS: LOCALIZAO E PERCENTUAL DE

PACIENTES COM LESO POR STIO ...................................................................................... 51

..................................................................................................................................................... 51

GRFICO 5-8. COMPOSIO POR GNERO DO GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE DO TIPO I.................................................................................................................................... 53

GRFICO 5-9. COMPOSIO POR GNERO DO GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE DO TIPO II................................................................................................................................... 54

GRFICO 5-10. DISTRIBUIO POR COR NO PACIENTES COM PSORASE TIPO I.......... 55

x

GRFICO 5-11. DISTRIBUIO POR COR NOS PACIENTES COM PSORASE TIPO II ...... 55

GRFICO 5-12. DISTRIBUIO DAS LESES CUTNEAS, DADOS COMPARATIVOS ENTRE 257 PACIENTES COM PSORASE TIPO I E II ............................................................. 65

xi

LISTA DE TABELAS

TABELA 5-1. DADOS DESCRITIVOS DE TODO O GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE: IDADE E PASI ........................................................................................................ 39

TABELA 5-2. DADOS DESCRITIVOS DE TODO O GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE: TEMPO DE EVOLUO, IDADE DE INCIO DA DOENA E MAIOR PERODO

DE REMISSO............................................................................................................................ 40

TABELA 5-3. TEMPO DE EVOLUO E IDADE MDIA, DIVISO POR GNERO DE TODO O GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE........................................................................... 41

TABELA 5-4. DADOS DE TODO O GRUPO DOS PACIENTES COM PSORASE, DISTRIBUIO COMPARATIVA POR SEXO............................................................................ 42

TABELA 5-5. MEDICAMENTOS TPICOS............................................................................... 44 TABELA 5-6. MEDICAMENTOS SISTMICOS UTILIZADOS POR TODO O GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE ................................................................................................... 45

TABELA 5-7. DOENAS ASSOCIADAS EM TODO O GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE .................................................................................................................................. 45

TABELA 5-8. HISTRIA FAMILIAL EM TODO O GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE46 TABELA 5-9. FATORES DESENCADEANTES DE PSORASE EM TODOS OS 259 PACIENTES COM PSORASE ESTUDADOS............................................................................ 50

TABELA 5-10. MORFOLOGIA DAS LESES: DISTRIBUIO EM TODO O GRUPO DE PACIENTES COM PSORASE ESTUDADOS............................................................................ 52

TABELA 5-11. IDADE NOS GRUPOS DE PACIENTES COM PSORASE TIPO I E TIPO II ... 56 TABELA 5-12. TEMPO DE EVOLUO NOS PACIENTES COM PSORASE TIPO I E TIPO II..................................................................................................................................................... 56

TABELA 5-13. COMPARAO ENTRE PARMETROS DE GRAVIDADE ENTRE OS DOIS GRUPOS DE PACIENTES COM PSORASE TIPO I E TIPO II. ................................................ 57

TABELA 5-14. DADOS COMPARATIVOS ENTRE PACIENTES COM PSORASE TIPO I E II: REMISSO. PASI E USO DE MEDICAES SISTMICAS..................................................... 58

TABELA 5-15. USO DE MEDICAMENTOS TPICOS, DADOS COMPARATIVOS ENTRE PACIENTES COM PSORASE TIPO I E II. ................................................................................ 59

TABELA 5-16. USO DE MEDICAMENTOS SISTMICOS, DADOS COMPARATIVOS ENTRE OS PACIENTES COM PSORASE TIPO I E II. .......................................................................... 60

TABELA 5-17. DOENAS ASSOCIADAS, DADOS COMPARATIVOS ENTRE PACIENTES COM PSORASE TIPO I E II NO HUCFF/UFRJ PERODO: DEZEMBRO/2003 A

OUTUBRO/2006.......................................................................................................................... 61

xii

TABELA 5-18. HISTRIA FAMILIAR DE PSORASE, DADOS COMPARATIVOS ENTRE PACIENTES COM PSORASE TIPO I E II ................................................................................. 61

TABELA 5-19. HISTRIA FAMILIAR COMPARADA ENTRE PACIENTES COM PSORASE TIPO I E II.................................................................................................................................... 62

TABELA 5-20: INTENSIDADE DE PRURIDO COMPARADA ENTRE 241 PACIENTES COM PSORASE TIPO I E II ................................................................................................................ 63

TABELA 5- 21: FREQNCIA DE PRURIDO COMPARADA ENTRE 166 PACIENTES COM PSORASE TIPO I E II ................................................................................................................ 63

TABELA 5-22. FATORES DESENCADEANTES, DADOS COMPARATIVOS ENTRE 257 PACIENTES COM PSORASE TIPO I E II ................................................................................. 64

TABELA 5-23. DISTRIBUIO DAS LESES CUTNEAS: DADOS COMPARATIVOS ENTRE PACIENTES COM PSORASE TIPO I E II ................................................................................. 66

TABELA 5-24. MORFOLOGIA DAS LESES, DADOS COMPARATIVOS ENTRE PACIENTES COM PSORASE TIPO I E II....................................................................................................... 67

xiii

1 INTRODUO

A psorase uma doena inflamatria crnica, recorrente, que afeta a

pele e as articulaes. Sua primeira descrio foi realizada no Corpus

Hippocraticum; no qual Hipcrates (460-377 A.C.) usou o termo psora,

significando coar (Nickoloff & Nestle 2004). Acomete aproximadamente 2%

da populao dos pases ocidentais, com uma prevalncia varivel nas

diferentes regies do mundo (Elder et al. 1994).

Trata-se de uma doena clnica e geneticamente heterognea, com

vrios fentipos descritos. A leso caracterstica uma placa eritemato-

escamosa bem delimitada. O fentipo clnico, no entanto, pode variar desde

algumas leses numulares nos cotovelos e joelhos at o acometimento de toda

superfcie cutnea. A idade de incio pode ser muito varivel, desde infncia

precoce a idade adulta tardia (Buntin 1983). Estudos epidemiolgicos tm

demonstrado que a idade pico para o incio da doena entre 15 e 25 anos,

com alguns estudos demonstrando outro secundrio, entre 40 e 50 anos

(Gunawardena et al. 1978; Smith et al. 1993).

Em 1985, Henseler e Christophers observaram duas formas distintas de

psorase, uma de incio precoce e outra de incio tardio. A psorase de incio

precoce (tipo I) caracterizou-se por evoluo instvel, com recadas freqentes.

Nestes pacientes apresentaram leses de psorase mais extensas e maior

incidncia de comprometimento ungueal. Em contrapartida, na psorase de

incio tardio, os pacientes apresentaram um curso menos grave e evoluo

mais linear da doena. Neste mesmo estudo, os autores encontraram uma

associao do HLA-Cw*6 como marcador gentico da psorase de incio

precoce.

Alguns tipos de HLA parecem estar relacionados no s a

susceptibilidade a psorase, como a fentipos diferenciados. Em estudo recente

realizado em nosso hospital, o HLA-*57 esteve associado psorase

eritrodrmica, histria de uso de tratamento sistmico e de internao

relacionada doena. Neste mesmo estudo, o HLA B57 e o HLA-Cw*06

estiveram significativamente presentes nos pacientes com psorase tipo I em

comparao com os controles (Cssia 2006).

Vrios fatores ambientais foram relacionados ao desencadeamento e

piora da psorase, incluindo infeco estreptoccica (Telfer et al. 1992;

Rasmussen 2000; Gudjonsson et al. 2003), trauma cutneo (Eyre & Krueger

1982), e estresse (Seville 1989). Estes fatores esto relacionados a formas

clnicas especficas de psorase de forma diferenciada (Naldi et al. 2001).

Contudo, as circunstncias epidemiolgicas relacionadas ao desencadeamento

e piora da doena e os mecanismos indutores do fentipo cutneo no esto

completamente elucidados (Mallbris et al. 2005).

Embora a psorase j tenha sido considerada uma doena assintomtica

(Roenigk et al. 1998), o prurido tem sido descrito como um sintoma da

psorase em mais de 70% dos doentes (Kaur et al. 1997; Christophers &

Mrowietz 1999). um fator importante na qualidade de vida destes pacientes, e

sua presena e intensidade ajudam a classificar a psorase em leve, moderada

e grave (Krueger et al. 2000).

2

Este trabalho apresenta a descrio da populao de pacientes

psorisicos acompanhados no HUCFF/UFRJ no perodo de dezembro/2003 a

outubro/2006, observando morfologia e extenso do acometimento clnico,

fatores desencadeantes, idade de incio de doena, caracterizao do prurido e

histria familial. O estudo comparativo desses parmetros nos pacientes com

doena de incio precoce e de incio tardio pode contribuir para o discernimento

de padres clnico-evolutivos da psorase.

3

2 OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL:

Distinguir padro clnico-evolutivo e histria familial entre a psorase de

incio precoce, (antes de 30 anos: Tipo I), e a doena que se inicia tardiamente

(aps 30 anos: Tipo II) por meio de entrevista orientada por protocolo e exame

clnico.

OBJETIVOS ESPECFICOS:

1) Identificar e descrever as caractersticas clnicas da psorase com incio

precoce e tardio.

2) Correlacionar a gravidade clnica com a idade de incio da doena

3) Correlacionar presena e intensidade de prurido com a idade de incio

da doena

4) Correlacionar idade de incio e gravidade da doena com o sexo.

5) Correlacionar a idade de incio com presena ou ausncia de histria

familial

4

3 FUNDAMENTAO TERICA

3.1 A PSORASE

3.1.1 DEFINIO

A psorase uma doena inflamatria crnica da pele e das

articulaes. Possui gravidade extremamente varivel, dependendo tanto de

fatores genticos como ambientais. A forma mais comum de psorase

chamada vulgar ou em placas, que se caracteriza por leses

eritematoescamosas bem delimitadas que acometem preferencialmente o

couro cabeludo, superfcies extensoras (cotovelos, joelhos) e a regio sacra.

Apresenta ainda as formas gutata, invertida, pustulosa localizada e

generalizada e a forma eritrodrmica. A psorase pode ser uma doena

incapacitante no apenas pelo envolvimento cutneo, mas tambm devido a

doena articular. A artrite psorisica a nica manifestao extracutnea

conhecida da doena (Christophers et al. 1999). uma doena caracterizada

pela proliferao da epiderme, e o sistema imunolgico possui um papel

proeminente em seu desenvolvimento.

3.1.2 EPIDEMIOLOGIA E GENTICA

Em geral, a psorase mais comum nos locais de climas mais frios do

que nas regies tropicais. Alm disto, sua prevalncia tambm se relaciona a

constituio racial da populao afetada. Estudos realizados na Europa,

Amrica do Norte e Austrlia sugerem que os caucasianos so mais afetados

que as outras raas. Possui prevalncia varivel em diferentes pases, de 6,5%

5

na Alemanha, 5,5% na Irlanda, 4,8% na Esccia, 3,7%, na Sucia, 4,8% na

Noruega, 2,0% na antiga Unio Sovitica, 2 - 4,6% nos EUA e 4,7% no Canad

(Farber & Nall 1998; Raydchauri & Farber 2001). Na Espanha, uma

prevalncia geral entre 1,17 e 1,43% foi encontrada, com uma prevalncia mais

alta (1,90%) na regio central, que se caracteriza por um clima mais seco que o

norte e a regio sul/mediterrnea (Ferrandz et al. 2001). Uma alta prevalncia

de psorase com uma taxa de 11,8% foi relatada na cidade de Kazach`ye,

localizado na regio rtica da antiga Unio Sovitica. Vrios estudos realizados

na China, incluindo Hong Kong, mostraram uma prevalncia que variou entre

0,2% e 1,5%. Na Amrica do Sul, as prevalncias relatadas so: 1,3% no

Brasil, 3% no Mxico, 2% na Venezuela e 4,2% no Paraguai (Farber & Nall

1998).

As evidncias para a importncia do fator gentico na patognese da

psorase vm da alta concordncia observada em estudos realizados em

gmeos por diversos autores (Brandrup et al.1978; Brandrup et al. 1982; Duffy

et al. 1993; Farber & Nall 1974). No estudo realizado por Farber, a doena em

pares de gmeos monozigticos apresentou padro similar em relao idade

de incio, padro de distribuio da doena, gravidade e curso clnico. Esta

similaridade no foi encontrada em pares concordantes dizigticos. A diferena

importante encontrada nas taxas de concordncia entre pares de gmeos

monozigticos e dizigticos, sugere que a hereditariedade possui um papel

causal relevante na apresentao e distribuio da doena. O fato de que nem

todos os gmeos monozigticos foram concordantes em relao ocorrncia

de psorase indica que fatores ambientais tambm so relevantes. Os estudos

genticos sugerem que a psorase possui forma de herana multifatorial. Isto

6

implica em um mecanismo polignico. Se um indivduo possui a quantidade

necessria de fatores genticos, ele possui uma probabilidade para o

desenvolvimento de psorase. Uma vez que esta possibilidade est presente,

os fatores ambientais iro determinar a manifestao da doena (Farber & Nall

1974).

Lomholt (1964), em seu estudo nas ilhas Faroe examinou quase 2/3 da

populao desta ilha, e, entre 10 984 habitantes, relatou que 2,8% tinham

psorase. Naquele ambiente climtico desfavorvel observou as idades mais

precoces de incio de doena j descritas: idade mdia de incio no sexo

masculino de 13 anos, e no sexo feminino, 12 anos. Lomholt sugeriu que,

quanto mais precocemente a psorase se inicia, mais importantes so os

fatores ambientais envolvidos no desencadeamento da mesma.

Farber e Nall (1974), em um estudo epidemiolgico em que a histria

natural da psorase foi avaliada em 5 600 pacientes encontraram uma idade

mdia de incio de 27,83+ ou 0,38 (mediana de 24, variando de 1 a 82 anos).

Nesta amostra, 10% tinham incio antes de 10 anos, 35% antes de 20 anos, e

58% antes de 30 anos. A doena ocorreu com freqncia similar em ambos os

sexos, entretanto houve um percentual maior de pacientes do sexo feminino

com incio antes dos 30 anos. Em 36% dos casos, houve ocorrncia familial de

psorase. Aproximadamente dos pacientes que relataram psorase em um ou

mais membros de suas famlias iniciaram o quadro de psorase antes dos 30

anos.

Henseler e Christophers (1985) realizaram um estudo epidemiolgico

com 2 147 pacientes de uma nica instituio. Neste estudo, foi observada

uma curva bimodal de incio de doena, com um primeiro pico entre 16 e 22

7

anos de idade e um segundo entre 57 e 60 anos. O primeiro grupo constituiria

o tipo I de psorase, com curso clnico mais grave (recadas freqentes, maior

freqncia de acometimento ungueal, envolvimento corporal extenso) Estes

autores concluram que apenas a psorase tipo I possuiria marcadores HLA

relacionados, e a psorase tipo II no possuiria padro de herana definido. Na

verdade, aparentemente, a gentica da psorase bem mais complexa, pois

marcadores de HLA tambm tm sido relacionados psorase do tipo II, e,

alm disso, genes que confeririam proteo ao desenvolvimento da doena

tm sido identificados recentemente (Cssia 2006). Assim, fatores ainda

desconhecidos poderiam estar envolvidos no desenvolvimento da doena em

um indivduo, fazendo com que um padro de herana no seja perceptvel.

Swanbeck et al. (1995), analisaram a idade de incio em 11.366

pacientes psorisicos. Os pacientes investigados apresentaram idade de incio

similar quela dos familiares afetados. A curva de idade de incio apresentou

um pico dominante na puberdade, e mais dois picos, aos 30 e 50 anos. Os

autores consideraram seus dados compatveis com o conceito de trs tipos

diferentes de psorase, diferindo na idade de incio, e herdados atravs de

genes diferentes. Estes trs grupos tenderiam a se sobrepor, o que tornaria

difcil diferenci-los com base apenas na idade de incio da doena.

Ferrndiz et al. (2002) em um estudo observacional multicntrico na

Espanha, observaram que os pacientes com psorase com incio antes de 30

anos apresentaram valores de PASI ( Psoriasis Activity and Severity Index )

mais altos, e tambm apresentaram uma necessidade significativamente maior

de medicamentos sistmicos para o controle da doena, quando comparados

com aqueles cuja doena se iniciou de forma mais tardia. Neste estudo a idade

8

mdia de incio de doena foi 29,1 anos, mais tardia que em outros pases da

Europa ocidental, onde a prevalncia de psorase mais alta.

A etiologia da psorase ainda desconhecida. Tanto fatores ambientais

como genticos esto aparentemente envolvidos. Estudos independentes

localizaram os genes de susceptibilidade psorase em 15 cromossomos

diferentes. A associao mais forte foi descrita para o locus psors 1 no

cromossomo 6p21.3. O segmento PSORS 1 est contido dentro de um bloco

de DNA na regio do MHC de classe I (Cssia et al. 2007). A associao de

vrias classes de antgenos de HLA I e II foi investigada de forma extensa em

vrios grupos tnicos (quadro 3-1). Esta pesquisa dos antgenos de HLA

associados com psorase pode ajudar no apenas a esclarecer quais seriam os

genes de susceptibilidade a doena, mas tambm sua patognese. Alguns

resduos polimrficos nos tipos de HLA ligados psorase teriam a capacidade

de se ligar e apresentar os antgenos relacionados a esta, pela conformao de

bolsos na molcula de HLA, determinando o tamanho e a carga do antgeno

ligado (Roitberg-Tambour 1994).

Uma associao altamente significativa entre o HLA Cw6 e a psorase

tem sido relatada repetidamente, como pode ser observado no quadro 3-1.

9

Quadro 3-1. HLA classes I e II associados psorase vulgar em estudos populacionais

Autor e Ano Pas n c HLA classe I (RR) HLA classe II (RR) Hapltipo (RR)

Ikheimo et al. 1996

Finlandia 70 200 Cw6 (20.8) DR7 (3.7) DQA1*0201 (6.7)

A2B13Cw6DR7DQA1*0201 (10.6) A1B17Cw6DR7DQA1*0201 (5.3)

Gonzaga et al. 1996

Brasil 22 142 Cw6 (10.0) B17 (10.1) B13 (6.8)

- -

Enerback et al. 1997

Sucia 201 77 Cw*06 - -

Shiou-Hwa et al. 1998

Taiwan 76 238 - DRB1*0701 (6.4) DRB1*0701DQA1*0201 DQB1*0201 (5.8)

Tai-Gyu et al. 2000

Corea 84 98 A1 (17.0) A30 (5.5) B13 (5.6) B37 (30.3) Cw*0602 (36.0)

DRB1*07 (5.9) DRB1*10 (26.4) DQA1*02 (6.2) DPB1*1701(24.6) DQB1*02 (2.5)

A30B13Cw*0602DRB1*07 DQA1*02DQB1*02 DPB1*1701(21.0) A1B37Cw*0602DRB1*10 DQA1*01DQB1*05 (17.7)

Kundaki et al. 2002

Turquia 100 201 A30 (4.5)

Cw3 (2.7)

Cw6 (14.3)

DR7 (3.16)

DR14 (2.18)

DQ8 (7.13)

-

Luszczek et al. 2002

Polonia 102 123 Cw6* (18.73) - -

Xue-Jun et al. 2003

China 166 204 A*26 (2.36)

B*13 (2.34)

B*27 (3.49)

Cw*0602 (4.2)

- -

Xue-Jun et al. 2004

China 189 273 - DQA1*0201 (3.36) DQA1*0104 (2.33)

-

Szczerkowska et al 2004

Polonia 78 70 Cw6* (5.67) - -

Cardoso et al. 2005

Brasil 60 100 - DRB3*02 (2.14) DRB1*0102(5.44)

DRB1*0102 DQB1*05 (5.44) DRB1*0701 DQB1*03 (9.0)

Yang et al. 2004

China 138 149 A*26 (3.42) B*27 (25.14) B*57 (9.11) Cw*0602 (4.04)

DQA1*0104 (2.86) DQA1*0201 (2.98) DQB1*0303 (4.65) DRB1*0701 (4.51)

A*26 B*27 Cw*0602 DRB1*0701 DQA1*0201 DQB1*0701/02 A*26 DRB1*0701/02 DQA1*0201 DQB1*0303

N= nmero de pacientes; c= nmero de controles; RR= Risco relativo; RC= razo de chances Adaptado de Cssia et al. 2007

Estudos de associao tambm definiram o alelo HLA-Cw6 como um fator que

predispe a psorase tipo I (quadro 3-2) e a exacerbao com infeces

estreptoccicas (Gudjonsson et al. 2002; Capon 2004).

10

Quadro 3-2. Estudos populacionais nos HLAs classes I e II associados com

psorase vulgar do tipo I

Autores e Ano Pas n c HLA classe I(RR) HLA classe II (RR) Hapltipo (RR)

Schmitt-Egenolf et al. 1993

Alemanha 47 Ext. - DRB1*0701/02

DQA1*0201

DQB1*0303

DRB1*0701/02 DQA1*0201 DQB1*0303

Schmitt-Egenolf et al. 1996

Alemanha 90 147 Cw6 B57

DQB1*0303 Cw6B57 DRB1*0701/02 DQA1*0201 DQB1*0303 (26)

Shiou-Hwa et al. 1998

Taiwan 53 238 - DRB1*1401(3.5) DRB1*1401DQA1*0101 DQB1*0503 (6.4)

Vejbaesya et al 1998

Tailandia 67 140 A*0207 B46 B57

DQB1*0303 A1B57DRB1*0701 DQA1*0201DQB1*0303 A2B46DRB1*0901 DQA1*0301DQB1*0303

Tai-Gyu et al. 2000

Corea 62 98 B37 (42.8) Cw*0602 (58.5)

DPB1*1701 (33.7) A30B13Cw*0602DRB1*07 DQA1*02DQB1*02 (19.2)

Kastelan et al. 2000

Croacia 44 139 Cw*0602 (14.45) DR7 (15.09) -

Kastelan et al. 2003

Croacia 50 140 - DRB1*0701 (5.83)

DQA1*0201 (6.12)

DQB1*0201 (3.29)

DQB1*0303 (7.51)

Cw*0602B57DRB1*0701 DQA1*0201DQB1*0201 (4.3)

Choonhakarn et al. 2002

Tailandia 95 300 A*01 (4.4)

A*0207 (4.3)

A*30 (8.0)

B*08 (4.3)

B*13 (2.5)

B*4601 (2.6)

B*57 (5.8)

Cw*01 (2.0)

Cw*0602 (9.7)

DRB1*0701 (3.4) A*30 B*13 Cw*0602 DRB1*07DQB1*02 (16.1) A*0207 B*4601 Cw*01 DRB1*09DQB1*0303 (3.9) A*01 B*57 Cw*0602 DRB1*07DQB1*0303 (4.3)

Kundaki et al. 2002

Turquia 68 201 A30 (1.17)

B50 (1.21)

Cw6 (15.6)

DR7 (3.55)

Xue-Jun et al. 2003

China 123 204 Cw*0602 (5.21) - -

Yang et al. 2004

China 113 149 - - A*26-B*27 DQA1*0201DQB1*0303 DRB1*0701/02DQA1*0104 DRB1*0701/02DQB1*0303 A*26DRB1*0701 DQA1*0201DQB1*0303

N=nmero de pacientes; c=nmero de controles; RR=Risco relativo; Ext=externo;RC=razo chances

Adaptado de Cssia et al. 2007.

11

3.1.3 FATORES DESENCADEANTES

Fenmeno de Koebner

Em 1876, Heinrich Koebner descreveu o surgimento de leses na pele

no-envolvida em pacientes com psorase como conseqncia de trauma.

Estes pacientes haviam desenvolvido psorase em stios de escoriaes,

tatuagens e mordidas de cavalo (Apud Weiss et al. 2002). Este fenmeno

observado em aproximadamente 25% dos pacientes com psorase (Boyd

1990). As leses de psorase tambm podem ser induzidas por outras formas

de leso cutnea, p.ex. queimadura solar, erupo morbiliforme por droga, ou

exantemas virais. O perodo de latncia entre o trauma e o surgimento das

leses cutneas usualmente 2-6 semanas (van de Kerkhof 2003). Ocorre

com maior freqncia no inverno que no vero, o que est relacionado

provavelmente melhora da psorase nos meses mais quentes do ano,

sobretudo em pases de clima mais frio ou temperado (Weiss et al. 2002). Pode

ser induzido em um indivduo susceptvel utilizando-se uma grande variedade

de tcnicas experimentais, todas as quais causam leso predominantemente

epidrmica e inflamao drmica (Powles et al.1990). H evidncias sugerindo

que a injeo intradrmica de soro de pacientes em recuperao de psorase

ativa possui um efeito inibitrio no fenmeno de Koebner, alm de uma ao

cicatrizante nas leses ativas de psorase (Stankler 1969).

Melski et al. (1983), em um estudo onde foram avaliados 1253 pacientes

em tratamento com fotoquimioterapia, observaram que 33% dos pacientes

apresentavam fenmeno de Koebner. O incio precoce da psorase e mltiplas

modalidades teraputicas foram ambos associados de forma independente a

leses desencadadeadas por trauma cutneo. Dentre os pacientes tanto com

12

incio antes dos 15 anos de idade e tratamento prvio com quatro ou mais tipos

de terapia, 75% relataram fenmeno de Koebner, comparados com apenas 5%

dos pacientes com incio aps os 30 anos e nenhuma terapia prvia. Os

autores sugeriram que este possa estar relacionado doena de incio precoce

e que estes pacientes sejam portadores de uma doena mais susceptvel de

apresentar recadas.

Estresse psicolgico

Segundo Fortune (2005), as indicaes de uma ligao entre estresse e

psorase vm dos prprios pacientes uma vez que 37 a 88% deles acreditam

que o estresse ou alteraes psicolgicas sejam um fator na manifestao da

sua condio. Mais recentemente, o conceito de estresse no contexto da

psorase se desenvolveu para incluir no apenas eventos significativos da vida,

mas tambm estresses crnicos, recorrentes, de baixo grau, ou problemas

dirios, que ocorrem em grande parte como resultado da prpria doena, que

crnica e muitas vezes desfigurante.

Em um dos maiores estudos, envolvendo aproximadamente 6000

pacientes na Noruega, Zachariae et al. (2004) examinaram relatos de estresse

associado a incio e atividade da doena em pacientes e membros de vrias

associaes nacionais de psorase: 71% dos membros das associaes de

psorase e 66% dos pacientes examinados referiram exacerbao da psorase

em pocas de estresse. Os pacientes que se disseram reativos a estresse

possuam maior probabilidade de ser do sexo feminino, ter histria familial de

psorase, maior gravidade de doena, e uma reduo maior da qualidade de

vida relacionada psorase.

13

Em um estudo caso-controle, realizado na Itlia, Naldi et al. (2001)

investigaram 73 pacientes com psorase gutata aguda. Eventos estressantes

nos seis meses anteriores ao diagnstico foram fatores de risco significativos

para o incio da psorase, neste grupo.

Vrias tentativas foram feitas para identificar o tempo entre a experincia

de estresse psicolgico e a expresso de doena psorase. Devrimici-Ozguven

et al. (2000) observaram que, quando comparados com os controles, pacientes

com psorase experimentaram mais estresse nos 3 meses anteriores ao incio

da doena.

Picardi et al (2003) em um estudo comparativo de pacientes com

psorase (n=40) e pacientes com outros diagnsticos dermatolgicos em que

fatores psicossomticos no so significativos (n=116), no encontrou

diferenas em termos tanto do nmero de eventos estressantes ou da natureza

dos eventos experimentados pelos dois grupos (Apud Fortune 2005). Como no

estudo realizado por Naldi et al, houve uma tendncia no significativa para os

pacientes com psorase gutata terem experimentado mais eventos

estressantes que os controles (Naldi et al. 2001).

Em alguns estudos prospectivos que examinaram a influncia do

estresse psicolgico nas manifestaes da doena e na eficcia do tratamento

sugeriram que o estresse psicolgico na forma da preocupao patolgica

pode ser implicado na resposta da psorase ao tratamento. Fortune (2003)

observou pacientes submetidos a um protocolo de fotoquimioterapia (PUVA).

Os resultados sugeriram que os pacientes que foram classificados como muito

preocupados tinham uma chance muito menor de atingir uma resposta

satisfatria que aqueles pouco preocupados. Este resultado permaneceu

14

constante mesmo quando gravidade da doena, tipo de pele, sexo, ansiedade,

depresso, idade e durao de atividade da doena foram controlados. Este

achado nos d uma evidncia importante do impacto deletrio do estresse

psicolgico na resposta da psorase ao tratamento. Em outro estudo, pacientes

mais jovens possuiriam uma taxa maior de exacerbao relacionada ao

estresse, que poderia ser de at 90% (Nyfors 1975).

Vrios estudos tentaram esclarecer as vias entre os fatores psicolgicos

e os eventos biolgicos que levariam ao processo patolgico na psorase.

Dentre estas vias, o eixo hipotlamo-hipfise-adrenal (HHA) frequentemente

considerado uma das vias maiores atravs da qual o sistema nervoso central

exerce controle sobre o sistema imune em situaes de estresse. H cada vez

mais evidncias que corroboram a noo de que uma reatividade inapropriada

do eixo HHA em sua resposta a um estmulo pode ter um impacto na resposta

individual contra doena fsica e estresse psicolgico importante (Richards

2005).

H evidncias em seres humanos e animais experimentais de que o

estresse poderia suprimir ou melhorar a funo imunolgica, dependendo de

sua natureza e das variveis imunolgicas em questo. Schimidt-Ott et al.

(1998) compararam pacientes com psorase (n=15), dermatite atpica (n=15) e

controles saudveis (n=15). Os participantes completaram a mesma tarefa

estressante. Os resultados ps-estresse mostraram aumentos nos nmeros de

linfcitos T circulantes (CD8+/CD11b+/CD16-) nos pacientes com psorase e

dermatite atpica quando comparados com controles saudveis. Houve

aumento nas clulas natural killers nos trs grupos. Estes achados sugerem

que o estresse induz alteraes no nmero de linfcitos T citotxicos, e isto

15

poderia estar associado a uma exacerbao da psorase. J foi documentado

que o estresse induzido pela ansiedade levaria a uma resposta de linfcitos T

Helper 1, o que por sua vez poderia desencadear psorase (Maes et al. 1998).

Infeces

As infeces tm sido reconhecidas h muito tempo como fatores de

desencadeamento ou de exacerbao da psorase. A freqncia com a qual

isto ocorre varia, contudo, nos diferentes estudos, de 15 a 76% (Krueger 1984).

O surto de psorase gutata frequentemente ocorre 1-2 semanas aps

uma infeco estreptoccica aguda. Entre pacientes com psorase gutata

aguda, 56 a 85% tm evidncia de doena estreptoccica precedente

(Christophers & Mrowietz 1999).

A protena M estreptoccica um fator de virulncia usualmente

expresso pelos Streptococcus hemolticos dos grupos A, C e G. Caracteriza-

se por repeties de estruturas espiraladas em - hlice e vrios agregados de

repeties de seqncias de aminocidos quase idnticas. As ceratinas

epiteliais compartilham esta estrutura com a Protena M, e uma extensa

homologia de aminocidos foi relatada entre a protena M e as queratinas 16 e

17 (Gudjonsson et al. 2003). Nenhuma destas est presente na epiderme

normal, mas ambas esto muito aumentadas na placa de psorase (Lago et al.

2007).

Acredita-se que uma reao cruzada entre a protena M e a ceratina

epidrmica desempenhe um papel na patognese da psorase, provavelmente

ao nvel das clulas T.O papel dos streptococcus hemolticos e da protena M

16

no desencadeamento da psorase gutata foi confirmado em muitos estudos

(Naldi et al. 2001; Leung et al.1995; Telfer et al. 1992).

As toxinas bacterianas tambm poderiam funcionar como

superantgenos, que podem se ligar de forma inespecfica s molculas do

MHC (major histocompatibility complex) da classe II e estimular as clulas T

que expressam segmentos V especficos do receptor de clulas T (Leung et

al. 1993).

Em relao psorase crnica, alguns estudos recentes tm

demonstrado que estas bactrias poderiam possuir um papel na piora do

quadro cutneo.

Em um estudo retrospectivo (N=369) aproximadamente 30% dos

pacientes com psorase crnica relataram que haviam notado piora de sua

doena relacionada faringite (Gudjonsson et al. 2001). Os mesmos autores

realizaram um estudo prospectivo, onde 208 pacientes com psorase em placas

e 116 controles foram acompanhados por um ano. Estes autores observaram

que os pacientes com psorase apresentaram sintomas de faringite e infeco

por streptococcus hemolticos com freqncia significativamente maior que

os controles. Alm disto, houve piora do PASI correlacionada com os episdios

de infeco somente nos casos em que streptococcus hemolticos protena M

positivos (Gudjonsson et al. 2003).

A infeco pelo HIV tambm agrava a psorase ainda que a freqncia

da doena no esteja aumentada nos pacientes HIV positivos (van de Kerkhof

2003). A dermatite psoriasiforme pode ser a primeira manifestao clnica da

infeco pelo HIV (Christophers & Mrowietz 1999).

17

Medicamentos

Vrias substncias foram descritas como desencadeadoras de psorase,

em particular ltio, -bloqueadores, antimalricos e interferon. A retirada rpida

de corticides pode induzir psorase pustulosa, assim como surtos de psorase

em placas (Christophers & Mrowietz 1999). H relatos esparsos de piora da

psorase com anti-inflamatrios no- esteroidais, mas na maior parte dos

pacientes estas drogas possuem um pequeno impacto (van de Kerkhof 2003).

Consumo de lcool e tabagismo

Consumo aumentado de lcool e uma incidncia maior de tabagismo

foram associados com psorase (van de Kerkhof 2003). Poikolainen et al.(1990)

observaram que pacientes psorisicos do sexo masculino relataram maior

ingesta de lcool que os controles, antes e aps o incio da doena cutnea.

Contudo os mesmos autores realizaram um estudo com pacientes do sexo

feminino, e no conseguiram demonstrar que o lcool seria um fator de risco,

uma vez que as pacientes com psorase no relataram uma ingesta superior a

dos controles (Poikolainen et al. 1994). Raychaudhuri e Gross (2000), no

encontraram correlao entre a gravidade da psorase (percentual de

envolvimento corporal e remisso) e o consumo de lcool. Assim, o papel do

consumo de lcool nesta doena permanece obscuro.

18

3.1.4 PATOGNESE

H uma grande quantidade de evidncias de que a psorase seja uma

doena auto-imune mediada por clulas T do tipo1, como o diabetes ou a

esclerose mltipla (Lowes 2004). O foco nos linfcitos T veio com a observao

de que as leses de psorase melhoravam em pacientes em uso de

ciclosporina (Fradin 1990; Lago et al. 2007). Alm disto, os linfcitos T e

macrfagos surgem nos infiltrados drmicos das leses de psorase antes do

desenvolvimento de alteraes significativas na epiderme (Uyemura et

al.1993). Os fatos de que o transplante de medula ssea alogenico leva a

resoluo de leses de psorase persistentes e que esta doena pode se

desenvolver em pacientes previamente no-psorisicos que recebam uma

doao de medula ssea de doador com psorase tambm apontam nesta

direo (Lowes 2004).

O envolvimento dos linfcitos T na patognese da psorase pode ser

descrito como uma seqncia de trs eventos principais: ativao inicial dos

linfcitos T, a migrao dos linfcitos T para a pele, e os vrios papis

desempenhados pelas citocinas liberadas pelos linfcitos T e outras clulas.

Uma vez no stio de inflamao, os linfcitos T ativados encontram o antgeno

iniciador, e liberam citocinas T helper tipo 1 (Th1), que possuem um papel

central na expresso fenotpica da psorase (Mehlis 2003). As principais

citocinas Th1 envolvidas na patognese da psorase so: IFN- , IL-2, e TNF-.

A IL-2 estimula a proliferao de linfcitos T, e o tratamento com IL2 est

associado com surtos de psorase (Lee et al. 1988). O IFN- pode inibir a

apoptose de ceratincitos pelo estmulo da expresso da protena anti-

19

apoptose Bcl-x nestas clulas. Isto provavelmente contribui para a

hiperproliferao dos ceratincitos observada nas leses de psorase (Mehlis

2003). O TNF pode promover psorase de vrias formas, como atravs do

aumento da proliferao de queratincitos e do estmulo da produo de

citocinas pr-inflamatrias pelos linfcitos T e macrfagos, de quimiocinas

pelos macrfagos, e de molculas de adeso pelas clulas vasculares

endoteliais (Goffe & Cather 2003). Alm disso, as citocinas Th1 causam a

liberao de citocinas de outras clulas, produzindo uma cascata de

mediadores qumicos (Mehlis 2003). Nas respostas imunolgicas normais, os

antgenos so eliminados pela ativao das clulas T na pele e ento a

resposta cessa. Na psorase, a infiltrao de clulas T e a resposta efetora

persistem cronicamente. O acmulo de linfcitos T e clulas dendrticas

maduras em torno dos vasos da derme podem funcionar como um tecido

linfide secundrio na pele e, portanto, perpetuar a resposta imunolgica

celular no local (Lew et al. 2004).

Ao mesmo tempo, possvel que mecanismos da imunidade inata

tambm estejam alterados e colaborem para a imunopatogenia da psorase. As

clulas natural killer (NK) so clulas efetoras da imunidade inata. Elas

possuem na sua superfcie receptores tipo-imunoglobulina (KIR). Os receptores

KIR so especficos para as molculas HLA classe I, sendo que alguns KIR

tm ligantes MHC classe I bem definidos (Cssia 2006).

Alguns estudos genticos recentes correlacionaram combinaes

de genes KIR e HLA com o prognstico de diversas doenas. Alguns dados

sugerem que a doena pode ser modificada por interaes especficas do KIR

com seu ligante, mais do que a capacidade de resposta das clulas NK ou T.

20

Associaes com diferentes combinaes HLA-KIR, envolvendo tanto KIR

inibitrios quanto de ativao, tm sido descritas. Alguns trabalhos relatam a

associao de determinados KIR e alelos HLA-C com o aumento da

susceptibilidade psorase vulgar e artrite psorisica (Bachelez 2005).

Hiperplasia e alterao na diferenciao dos ceratincitos so as

caractersticas clssicas das leses de psorase. A populao de clulas

proliferativas est aproximadamente dobrada na psorase, onde o ciclo celular

mais que 8 vezes mais curto (36 versus 311 horas). A produo diria de

ceratincitos nas leses psorisicas aproximadamente 28 vezes maior que

na epiderme normal. Esta hiperproliferao dos ceratincitos estimulada

pelas citocinas liberadas tanto pelos linfcitos T como pelos prprios

ceratincitos (Krueger & Ellis 2005).

3.1.5 CARACTERSTICAS CLNICAS

A leso caracterstica da psorase a placa eritematodescamativa bem

delimitada. O tamanho da leso pode variar de ppulas puntiformes at placas

que cobrem uma grande superfcie corporal.

O sinal de Auspitz uma caracterstica especfica da leso

eritematodescamativa da psorase. Ocorre quando as escamas so removidas

mecanicamente da placa. Aps alguns segundos, pequenas gotculas de

sangue surgem na superfcie eritematosa, em virtude da hiperpapilomatose

(van der Kerkhof 2003).

O tipo mais comum de psorase a psorase em placas, ou psorase

vulgar. As leses ocorrem em placas de formato arredondado ou oval, e so

encontradas comumente nos cotovelos, joelhos, couro cabeludo, regio sacra e

umbigo. Outra forma de doena a psorase gutata, que se caracteriza pelo

21

desenvolvimento sbito de pequenas leses de psorase, redondas, no tronco

e na regio proximal das extremidades. Estes pacientes podem apresentar

resoluo espontnea aps alguns meses ou podem desenvolver psorase

vulgar. A maior parte dos pacientes que apresenta um quadro de psorase

gutata eventualmente desenvolve psorase vulgar.

Quando a psorase afeta as pregas cutneas, incluindo axilas, virilhas e

pescoo, chamada psorase flexural ou invertida. Estas leses so

tipicamente eritematosas, brilhantes, sem descamao (Christophers &

Mrowietz 1999).

A eritrodermia psoritica se caracteriza por um envolvimento total ou

quase total da pele pela psorase em atividade. O eritema generalizado a

caracterstica mais importante, e a descamao usualmente menos

proeminente quando comparada com a psorase em placas. Esta forma pode

se apresentar de forma abrupta, como eritema generalizado, ou evoluir

lentamente a partir de psorase em placas pr-existente. Alguns dos fatores

desencadeantes j descritos foram infeco, drogas e retirada sbita de

corticoterapia (Christophers & Mrowietz 1999; van der Kerkhof 2003 ).

As alteraes ungueais so freqentes na psorase, com prevalncia

que varia de 12 a 82% na literatura (Carneiro et al. 2000; Mallbris et al. 2005).

As alteraes ungueais caractersticas na psorase so pitting, oniclise,

mculas amareladas e hiperceratose subungueal. A incidncia destas

alteraes varia significativamente entre os estudos. Existe uma alta

associao, de 90 a 95%, entre artrite psoritica e psorase ungueal. Pitting e

oniclise foram a combinao mais freqente de alteraes em alguns estudos

(Farber & Nall 1974). No entanto, de Jong et al. (1996), em um estudo

22

realizado atravs de questionrio aplicado em 1 728 pacientes, observaram

como combinao de alteraes mais freqente, pitting e onicodistrofia, em

47,8% dos pacientes. Estes mesmos autores encontraram uma associao

ntida entre durao das leses cutneas de psorase e a psorase ungueal

Quanto maior a durao das leses, maior a freqncia da psorase ungueal.

Dois estudos retrospectivos realizados no Hospital Universitrio

Clementino Fraga Filho (HUCFF) mostraram os dados clnicos e

epidemiolgicos da populao de pacientes com psorase do hospital. Dos

pacientes cadastrados no HUCFF entre 1993 a 1997, 106 tiveram o diagnstico

clnico e histopatolgico de psorase, sendo que 82% tinham comprometimento

ungueal, 71% tinham a forma em placas, e em torno de 20% tinham a forma

eritrodrmica (Aslanian et al. 2005). Entre 1998 a 2000, 85 novos pacientes

avaliados atravs de reviso de pronturio tiveram o diagnstico de psorase; a

forma clnica mais prevalente foi a em placas (42%), seguida da eritrodrmica

(33%) e da pustulosa (26%). A forma artroptica foi encontrada em 16,5% dos

pacientes. A alta percentagem de pacientes eritrodrmicos ou com psorase

pustulosa refletiu o perfil de pacientes atendidos em hospitais universitrios. A

freqncia abaixo daquela esperada, quando se leva em conta a prevalncia

da doena e volume mensal de pacientes atendidos no Servio de

Dermatologia, decorre provavelmente destes dados terem sido obtidos atravs

de reviso de pronturios, o que exclui todos os pacientes diagnosticados em

outros centros, cujos laudos histopatolgicos no constam na base de dados

informatizada (Pinheiro et al. 2002).

23

Comprometimento articular

Uma parte dos pacientes com psorase desenvolver um forma de

artrite inflamatria conhecida como artrite psorisica (APs), que contribui de

forma significativa para a reduo da qualidade de vida dos pacientes com

psorase. A prevalncia da APs no bem definida devido falta de

reconhecimento e no-diagnstico. Estimativas de sua prevalncia entre os

pacientes com psorase variam de 6% a 39% (Gelfand 2005; Myers 2006).

A artrite psorisica se apresenta com os aspectos caractersticos de

inflamao articular, incluindo edema, eritema e calor, em uma ou mais

articulaes, manifestando-se ao final de forma poliarticular assimtrica. Moll e

Wright (1973) dividiram a artrite psorisica em cinco subgrupos de pacientes. A

artrite oligoarticular assimtrica forma mais freqente (70%). O envolvimento

se inicia pelas articulaes dos dedos das mos e dos ps, com sinovite da

bainha dos tendes dos flexores e artrite dos dedos, levando ao quadro de

dactilite ou dedos em salsicha. A progresso lenta. Quadros de

envolvimento simtrico similar a artrite reumatide ocorrem em 15% dos casos

de artrite psorisica. Nestes casos h envolvimento de articulaes maiores

como os joelhos e tornozelos, os punhos e as metacarpofalangeanas. A artrite

das interfalangeanas distais (tpica da doena), a artrite mutilante e a forma

axial (espondilite e sacroilete) correspondem a 5% dos casos cada uma. O

curso clnico varivel, desde sintomas leves que no requerem nenhuma

terapia at uma artrite grave incapacitante. Vrios padres de envolvimento

axial podem ser identificados. Alguns casos parecem ser indistinguveis da

espondilite anquilosante, com envolvimento simtrico da coluna, incluindo as

24

articulaes sacro-ilacas. Esses pacientes so em geral HLA B27 positivos e

queixam-se de dor e rigidez na coluna. Em outro grupo, o envolvimento axial

assimtrico e nem sempre acompanhado de sacroileite, que quando presente

pode acometer apenas uma articulao. Um nmero considervel de pacientes

evolui com artrite erosiva e alteraes funcionais, necessitando de tratamento

sistmico. Tenosinovites e entesites tambm fazem parte do quadro de artrite

psorisica, e podem ocorrer mesmo na ausncia de artrite, o que pode levar

confuso com fibromialgia ou leso por esforo repetitivo (Christophers &

Mrowietz 1999; Myers 2006).

Em 75 a 85% dos pacientes, a artrite se segue ao

desenvolvimento das leses cutneas, em mdia nos 10 anos subseqentes, e

no restante, se desenvolver simultaneamente, ou mesmo antes do

desenvolvimento do quadro de psorase (Roberts et al.1976).

A artrite psorisica pode ser vista em todos os tipos de leses de pele,

entretanto h maior freqncia e gravidade da artrite nos pacientes com leses

cutneas disseminadas.

Um trabalho publicado em 2005 mostrou o perfil de 106 pacientes

acompanhados no ambulatrio de dermatologia do HUCFF: a idade mdia na

poca do diagnstico foi de 48 anos, 24% dos pacientes tiveram o diagnstico

de artrite psorisica, sendo os joelhos (57%) e as pequenas articulaes das

mos (56%) e ps (50%) os locais mais acometidos. Em todos os pacientes

com artrite, observaram-se alteraes ungueais. A psorase pustulosa foi

observada em 41% dos pacientes com artrite e em 9% dos pacientes sem

acometimento articular (Aslanian et al. 2005).

25

Prurido

O prurido uma queixa freqente entre os pacientes psorisicos. Em um

estudo realizado por Koo (1996), em que 599 pacientes foram entrevistados

pelo telefone e atravs de questionrio, o prurido esteve presente em 55% dos

pacientes e foi o fator de impacto psicosocial e de interferncia com o dia-a-dia

em comum entre todos os pacientes. Gupta et al. (1988) observaram que 55 de

82 (67%) dos pacientes hospitalizados com psorase se queixaram de prurido

moderado ou grave. Estes mesmos autores demonstraram que muitos

pacientes psorisicos com prurido so deprimidos. Yosipovitch et al. (2000)

examinaram as caractersticas do prurido na psorase utilizando um

questionrio estruturado (n=101) e 84% dos pacientes apresentavam prurido.

Neste estudo, a temperatura ambiental foi um fator dirio importante, sendo o

calor um fator de agravamento do prurido. Os autores consideraram que a alta

prevalncia e intensidade do prurido nesta populao estudada poderia estar

relacionada s altas temperaturas durante todo ano no local onde o estudo foi

realizado (Singapura). Curiosamente, 23% destes pacientes relataram que um

banho quente aliviava o prurido.

Em estudo realizado no HUCFF/UFRJ com 61 pacientes, observou-se

que 26,23% (16) no apresentaram prurido, 37,7% (23) referiram prurido

moderado e 36,07% (22) intenso. Tanto a anlise clnica quanto histolgica

destes pacientes foi muito semelhante. A quantificao histomorfomtrica dos

mastcitos na derme papilar das leses revelou um aumento significativo

destas clulas nas amostras de pacientes com prurido (p=0,003). Da mesma

forma, houve tambm uma correlao significante entre o nmero de

mastcitos e a intensidade do prurido (Arajo 2006).

26

Nakamura et al. (2003) tambm correlacionaram prurido com um

aumento de mastcitos, encontrando ao nvel ultraestrutural sinais de ativao

destas clulas (projees aumentadas e alteraes de grnulos especficos).

Esses autores tambm observaram uma inervao mais rica na derme

superficial e na epiderme quando comparada com a pele sem prurido. Esse

achado sugere que pacientes com psorase pruriginosa seriam mais

vulnerveis a estmulos extrnsecos e intrnsecos aps estimulao das fibras

C. A inervao cutnea em condies patolgicas pode ser afetada por muitos

fatores, tais como o grau de desenvolvimento das leses cutneas. De fato,

existe uma tendncia em muitos pacientes com psorase pruriginosa de

referirem prurido mais intenso nas leses novas, e no naquelas totalmente

desenvolvidas. Homogeneizados de pele de pacientes com prurido

apresentaram nveis mais altos de NGF (nerve growth factor), quando

comparados com aqueles sem prurido. Este mediador poderia, ento, ser

responsvel pelo aumento da inervao, e sua fonte seriam os prprios

queratincitos hiperproliferativos.

A SP (substncia P) um importante neuropeptdeo liberado pelas fibras

nervosas sensitivas em resposta a estmulos endgenos (estresse) e exgenos

(leso) (Farber et al. 1986). A SP est relacionada a mltiplas respostas

celulares, como vasodilatao, degranulao de mastcitos, inflamao

neurognica, ativao de macrfagos e neutrfilos, e modulao da liberao

de citocinas. Quando aplicada na pele, a SP capaz de induzir prurido (Barnes

et al. 1986). Um aumento das fibras nervosas SP-imunoreativas tem sido

observado em certas doenas inflamatrias como a psorase, a dermatite

atpica e o prurigo nodular, motivo pelo qual a SP est implicada na

27

fisiopatologia destas doenas e do prurido (Jarkivallio et al. 2003; Liang et

al.1998).

Associao entre psorase e doenas sistmicas

Acredita-se que as doenas cardiovasculares (infarto do miocrdio,

embolia pulmonar, acidentes cerebrovasculares) ocorram com maior freqncia

em pacientes com psorase. Em um estudo em que foram revisados os

pronturios de 127.706 pacientes com psorase leve e 3854 com psorase

grave, os autores encontraram prevalncia maior de diabetes, hipertenso,

dislipidemia, obesidade e tabagismo nos pacientes com psorase, quando

comparados com a populao em geral (Neimann 2006).

Infiltrao gordurosa, inflamao periportal e necrose focal, foram

observados com maior freqncia nas bipsias hepticas dos pacientes com

psorase antes do incio da terapia com metotrexato, quando comparado com

os controles (Zachariae & Sogaard 1973). Nos pacientes com psorase, a

administrao crnica de metotrexato est associada com um risco significativo

de dano heptico, enquanto doses similares de metotrexato em pacientes com

artrite reumatide no possuem este potencial hepatotxico (van de Kerkhof

2003).

3.1.6 TRATAMENTO

Avaliao da gravidade da doena

A terapia da psorase depender da gravidade da doena e extenso do

acometimento clnico, e inclui tanto o controle dos surtos agudos como a

manuteno em longo prazo de uma doena de evoluo crnica. H pelo

menos duas interpretaes para como a gravidade da doena definida na

psorase. O mtodo utilizado habitualmente pelas agncias reguladoras

28

americanas e companhias farmacuticas, define a gravidade apenas de acordo

com o percentual de superfcie corporal envolvido (psorase grave definida

como mais de 10% da superfcie corporal envolvida) (Krueger et al. 2000). O

PASI pode ser utilizado como mtodo de se avaliar a gravidade do

acometimento cutneo. Seu clculo feito baseado na medida das leses de psorase a partir das quatro variveis clnicas mais importantes: rea

comprometida, eritema, infiltrao e descamao. Nesta escala o corpo

humano dividido em: cabea, tronco, membros superiores, membros

inferiores, correspondendo respectivamente a 10, 30, 20 e 40% de toda a

superfcie cutnea (Fredriksson & Pettersson 1978). Uma forma alternativa de

se avaliar estes pacientes tambm inclui a superfcie corporal envolvida, mas

tambm acessa o impacto na qualidade de vida (i.e. variando de nenhum efeito

na doena leve a efeitos de deteriorao na doena moderada a grave),

localizao das leses (se em reas visveis como face ou mos, na doena

mais grave) e disposio do paciente em aceitar efeitos colaterais dos

medicamentos que possam alterar o estilo de vida pessoal (maior disposio

indica doena mais grave) (Krueger et al. 2000).

Terapias tpicas

Como uma regra geral, o tratamento tpico utilizado para tratar

psorase leve e localizada, enquanto a fototerapia ou terapia sistmica so em

geral reservadas para formas mais disseminadas ou graves. Contudo, a

fototerapia ou a terapia sistmica (isoladas ou combinadas com tratamento

tpico) podem ser utilizadas para a psorase leve quando o paciente no

responde ao tratamento tpico.

29

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Retrieve&dopt=AbstractPlus&list_uids=357213&query_hl=6&itool=pubmed_docsum

Os emolientes so um importante tratamento adjuvante no tratamento

da psorase em placas. Agem atravs da hidratao e amolecimento da

superfcie descamativa e hiperceratsica das placas. Particularmente teis so

os emolientes contendo agentes ceratolticos tais como o cido saliclico.

Muitas vezes estas preparaes agem tambm aumentando a penetrao da

medicao tpica utilizada (Scheinfeld 2004).

Os corticides tpicos ainda so prescritos com muita freqncia, pois a

doena apresenta uma resposta rpida ao seu uso. Contudo, seu uso contnuo

no tratamento da psorase pode resultar em efeitos colaterais graves. Os mais

comuns ocorrem no local da aplicao, levando a atrofia cutnea, estrias e

telangiectasias. Uma das maiores complicaes dos corticides tpicos a

taquifilaxia, onde a resposta teraputica cessa de ocorrer conforme o

tratamento continuado e, alm disso, pode ocorrer um agravamento do

quadro na sua retirada (Aaronson & Lebwohl 2004; Cristophers & Mrowietz

1999).

O calcipotrieno (Daivonex) um anlogo da vitamina D3 que se liga a

receptores seletivos da vitamina D em vrios tipos celulares importantes na

patognese da psorase, inibindo a hiperproliferao e a diferenciao anormal

dos ceratincitos, caractersticos das leses psorisicas (Lebwohl 2005). A sua

eficcia clnica comparvel ou melhor que dos corticides tpicos ou do

ditranol. O calcipotrieno possui, porm alguns efeitos colaterais dermatolgicos,

como eritema perilesional e queimao nas reas de aplicao. O calcitriol

(Silkis) possui estes efeitos em um uma freqncia menor, contudo um

pouco menos eficaz, sendo indicado sobretudo para utilizao na face e zonas

intertriginosas (Korver et al. 2007). Devido ao incio de ao relativamente

30

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Search&itool=pubmed_AbstractPlus&term=%22Aaronson+DS%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Search&itool=pubmed_AbstractPlus&term=%22Lebwohl+M%22%5BAuthor%5D

lento, estes agentes frequentemente so utilizados em associao a corticides

nas semanas iniciais do tratamento. Em nossa realidade, o custo muitas vezes

limita a nossa prescrio destes agentes, que so pouco acessveis para

grande parte dos pacientes em acompanhamento no HUCFF.

O coaltar um produto da purificao do carvo, e tem sido utilizado

para tratar doenas cutneas h 2000 anos. Age atravs de suas propriedades

ceratoplsicas, antiacantticas, fotossensibilizadoras e vasoconstritoras. Na

psorase, suprime a sntese de DNA e reduz a taxa de mitose na epiderme.

uma opo teraputica relativamente segura e eficaz para a psorase. Seu

potencial carcinognico controverso, mas estudos em humanos no

conseguiram demonstrar um aumento na incidncia de carcinoma, apesar de

seu uso nos ltimos 75 anos. O regime de Goeckerman modificado, onde o

coaltar aplicado noite nas placas de psorase, e o paciente se expe ao Sol

pela manh eficaz na maior parte dos pacientes com psorase vulgar em 3-4

semanas e capaz de induzir remisses de longa durao. Este regime

utilizado com muita freqncia em nossos pacientes. Os derivados de alcatro

tiveram seu uso muito reduzido na Europa aps o surgimento dos anlogos de

vitamina D, pois so medicaes cuja utilizao bastante incmoda, pelo fato

de serem irritantes e poderem manchar a pele e as roupas do paciente.

Terapias mais recentes como calcipotriol e tazaroteno so mais eficazes que

coaltar, porm so mais caras e nem sempre disponveis (Thami & Sarkar

2002).

O tazaroteno um retinide tpico que se liga especificamente ao

receptor do cido retinico (RAR), sem afinidade pelo receptor X retinico

(RXR). Liga-se especificamente os subtipos e de RAR e acredita-se que

31

reduza a inflamao e cause diferenciao epidrmica. utilizado muitas

vezes em associao com corticides, para minimizar seu efeito irritativo. Seu

custo limita sua utilizao em nossa realidade (Aaronson & Lebwohl 2004).

Terapias de uso sistmico

A fototerapia com ultravioleta B (UVB) e fotoquimioterapia com

ultravioleta A (UVA) aps a ingesta ou tratamento tpico com psoraleno so

duas modalidades teraputicas clssicas e eficazes para pacientes com

psorase moderada a grave (van de Kerkhof 2003). Os efeitos colaterais do

tratamento com UVB so queimao e fotossensibilidade. O PUVA aumenta a

incidncia do carcinoma espinocelular, e, em menor grau, do melanoma

maligno. Outros efeitos menos importantes so envelhecimento cutneo

prematuro, nusea, cefalia e queimao (Aaronson & Lebwohl 2004).

O metotrexato a terapia sistmica de primeira linha para a psorase e

altamente eficaz para doena grave. Porm seus efeitos colaterais graves

restringem seu uso a doena grave resistente a tratamentos tpicos e

foto(quimio)terapia, ou situaes em que esta esteja contra-indicada ou

indisponvel. Na verdade, como o metotrexato um tratamento disponvel, e os

pacientes possuem dificuldades para a realizao de fototerapia, este

medicamento tende a ser utilizado com grande freqncia. Age pela inibio da

enzima dihidrofolato redutase atravs de um mecanismo competitivo,

resultando em reduo da sntese de folatos. Isto leva a inibio da sntese de

DNA e da sntese de protena. Embora o metotrexato cause uma inibio

temporria da proliferao dos queratincitos durante as primeiras 24hs aps

uma dose teraputica, improvvel que esta inibio seja relevante para seu

modo de ao na psorase. Provavelmente, seu efeito nos linfcitos circulantes

32

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Search&itool=pubmed_AbstractPlus&term=%22Aaronson+DS%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Search&itool=pubmed_AbstractPlus&term=%22Lebwohl+M%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Search&itool=pubmed_AbstractPlus&term=%22Aaronson+DS%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Search&itool=pubmed_AbstractPlus&term=%22Lebwohl+M%22%5BAuthor%5D

e cutneos clinicamente mais relevante. uma droga eficaz para todas as

variantes clnicas de psorase. Possui efeitos colaterais significativos (quadro 3-

3), devendo ser utilizada de forma criteriosa, conforme as indicaes j citadas.

Alm disso, o paciente deve ser monitorado cuidadosamente durante seu uso

(van de Kerkhof 2003).

No incio dos anos 60, modificaes na molcula de vitamina A

resultaram na descoberta da primeira gerao de retinides. Pesquisas

posteriores levaram o desenvolvimento da segunda gerao de retinides, os

retinides monoaromticos, etretinato e seu metablito livre, o acitretin. O

acitretin um tratamento eficaz e muito utilizado atualmente no tratamento da

psorase. Um dos grandes problemas dos retinides sistmicos sua

teratogenicidade, e mulheres em idade frtil devem realizar contracepo por

at dois anos aps a interrupo de seu uso. O acitretin est indicado na

psorase grave, que no responde adequadamente a fotoquimioterapia e ao

tratamento tpico. Pode ser utilizado como monoterapia no tratamento da

psorase eritrodrmica ou pustulosa, porm possui uma eficcia limitada na

psorase crnica em placas. O tratamento combinado com foto(quimio)terapia

e/ou anlogos de vitamina D3 resulta em uma melhora substancial da resposta

clnica. A eficcia teraputica mxima atingida em aps 2-3 meses. O

paciente deve ser acompanhado quanto aos possveis efeitos colaterais, que

podem afetar a tolerabilidade deste frmaco (Christophers & Mwietz 1999).

A ciclosporina um undecapeptdeo cclico que foi isolado do fungo

Tolypocladium inflatum. Seu mecanismo de ao se baseia na sua ligao

com a ciclofilina, e o complexo ciclofilina-ciclosporina inibe a calcineurina. Isto

faz com que ocorra a inibio da resposta antignica de linfcitos T helper e

33

reduo na secreo de IL-2 e interferon (Aaronson & Lebwohl, 2004). A

eficcia da ciclosporina foi demonstrada em todas as variantes de psorase,

incluindo psorase ungueal e artropatia psoritica (Lago 2007). A melhora

observada em algumas semanas. A ciclosporina est indicada na psorase

grave em que terapias convencionais (tratamentos tpicos, fotoquimioterapia,

acitretin, metotrexato) so contra-indicadas ou ineficazes. Possui efeitos

colaterais graves, que devem ser monitorados de forma adequada durante o

tratamento (quadro 3-3) (van de Kerkhof 2003).

Quadro 3-3. Medicamentos sistmicos: efeitos adversos mais comuns e exames para acompanhamento.

Drogas Efeitos adversos Exames laboratoriais Categoria

na gravidez

Metotrexato Hepatoxicidade, nuseas, vmitos, cefalia,

reativao de reaes fototxicas, estomatite

ulcerativa, mielossupresso, anemia,

pneumonite, fibrose pulmonar, induo de

linfomas, teratogenicidade

Testes de funo heptica,

Hemograma com contagem de

plaquetas, funo renal, bipsia

heptica quando a dose de 1,5g

atingida

X

Acitretin Teratogenicidade, hepatotoxicidade,

hiperostose, hiperlipidemia, efeitos

mucocutneos, hiperlipidemia, alopecia,

artralgias, mialgias, pseudotumor cerebral

-HCG, perfil lipdico, testes de

funo heptica, hemograma

com contagem de plaquetas,

funo renal, creatina

fosfoquinase

X

Ciclosporina Toxicidade renal, hipertenso, sintomas

gastrointestinais, sintomais gripais,

hipertricose, hipertrofia gengival

Testes de funo renal, perfil

lipdico, monitorao da presso

arterial, hemograma com

contagem de plaquetas,

dosagem de magnsio e potssio

C

Adaptado de Lebwohl 2005. Categorias na gravidez: C inclui drogas cujo risco no pode ser descartado devido a dados insuficientes. X inclui drogas que esto absolutamente contra-indicadas na gravidez devido aos riscos fetais comprovados so maiores que possveis benefcios

34

Conforme a patognese da psorase se torna mais conhecida, novas

estratgias so desenvolvidas, de forma direcionada aos diferentes pontos da

cascata de eventos que levam a psorase. Estes pontos incluem: interrupo

da migrao linfocitria para a epiderme e a derme; inibio da apresentao

de antgeno e subseqente ativao e proliferao de clulas T; preveno da

produo e liberao de citocinas Th1 aps a ativao das clulas T;

antagonismo direto ao das citocinas Th1 e aumento da resposta Th2

(Kormeili et al. 2004) A terapia biolgica foi desenvolvida a partir deste

conhecimento, e representa atualmente uma alternativa no tratamento da

psorase, sobretudo para os pacientes em que j se esgotaram as alternativas

de terapia sistmica.

O quadro 3-4 sintetiza os principais agentes biolgicos em uso

atualmente, e seu mecanismo de ao

Quadro 3-4. Principais agentes biolgicos em uso atualmente.

Medicamento Mecanismo de ao

Alefacept Interfere com a funo das clulas apresentadoras de antgeno, inibindo a

ativao das clulas T

Efalizumab Inibe a adeso entre as clulas T e o endotlio

Etanercept Bloqueia a ao do TNF

Infliximab Bloqueia a ao do TNF

Adaptado de Luka 2006.

35

4 MATERIAL E MTODOS

Este estudo foi realizado atravs da avaliao clnica por exame fsico e

entrevista de dezembro/2003 a outubro/2006. um estudo observacional,

clnico-epidemiolgico, do tipo transversal (seccional) (Klein 2003) e foi

aprovado pelo comit de tica em pesquisa do HUCFF em 11/12/2003,

processo nmero 177/03.

Foram avaliados: histrico da doena, tratamentos tpicos e sistmicos

utilizados, doenas associadas, uso de medicamentos, prurido (presena,

intensidade e freqncia), histria familial e fatores desencadeantes atravs de

questionrio.

A morfologia e a extenso do acometimento clnico atual foram

avaliadas clinicamente, e, quantificados atravs do PASI, enquanto o

comprometimento articular foi avalido pelo interrogatrio dirigido e pelo exame

das articulaes sintomticas.

Os pacientes foram divididos em dois grupos de acordo com a faixa

etria de incio da doena: psorase tipo I (incio antes de 30 anos) e psorase

tipo II (incio aps 30 anos).

36

Os parmetros de gravidade comparados entre os dois grupos foram:

Histria de internao

Episdios de eritrodermia

Uso de medicaes sistmicas

Histria de remisso, independente de uso ou no de

medicamentos

Durao da maior remisso

Prurido: presena, freqncia e intensidade

PASI

Doena articular

Foram utilizados os seguintes critrios de incluso:

a. Pacientes de ambos os sexos

b. Idade a partir de 12 anos

c. Diagnstico clnico e/ou histopatolgico de psorase com ou sem

comprometimento articular.

Foram utilizados os seguintes critrios de excluso:

a. Idade inferior a 12 anos

b. Paciente no colaborativo

37

Metodologia Estatstica

A anlise descritiva dos dados foi realizada e os dados foram expressos

como freqncias, no caso de variveis categricas, e, como mdias com seus

respectivos desvios-padres, no caso de variveis contnuas.

Para comparaes das variveis contnuas entre os diferentes grupos de

faixa etria de incio da doena (at 30 anos ou maior de 30 anos) foi usado o

teste U de Mann-Whitney. As variveis dicotmicas ou categricas foram

comparadas entre esses grupos utilizando-se o teste qui-quadrado.

38

5 RESULTADOS

Foram entrevistados e examinados 259 pacientes portadores de

psorase no perodo de dezembro de 2003 a outubro de 2006.

A idade mdia dos pacientes foi de 48, 40 anos (dp 13,98)

enquanto a mediana foi de 49, 83 anos (14,41 79,58 anos)

O PASI mdio foi 8,03, a mediana 5,40 (dp 8,71).

Tabela 5-1. Dados descritivos de todo o grupo de pacientes com psorase: Idade e PASI

Idade PASI

vlidos 257 259

indisponvel 2 0

Mdia 48,40 8,03

Desvio padro 13,98

Mediana 49,83 5,40

Mnimo 14,41 ,00

Mximo 79,58 60,00

Percentis 25 38,91 2,30

50 49,83 5,40

75 58,52 10,60

39

A idade mdia de incio da doena cutnea foi de 35,72 anos

(dp14,64), e a mediana 34,00 anos.

A mdia do tempo de evoluo foi de 13 anos, e a mediana 10

anos.

A mdia do maior perodo de remisso foi de 41,10 semanas (dp

96,76), com mediana de 8,00 semanas.

Tabela 5-2. Dados descritivos de todo o grupo de pacientes com psorase: tempo de evoluo, idade de incio da doena e maior perodo de remisso

Tempo de

evoluo

(anos)

Incio da

doena

(idade)

Maior perodo de

remisso

(semanas)

Vlidos 257 257 225

No-vlidos* 02 02 34

Mdia 13,01 35,72

41,10

Desvio

Padro

9,28 14,64 96,76

Mediana 10,00 34,00 8,00

Mnimo 1,00 2 , 00

Mximo 45,00 74,00 780,00

Percentis 25 6,0 24,00 , 00

50 10,00 34,00 8,00

75 18,00 47,00 52,00

* Pacientes para os quais este dado no esteve disponvel

40

Dados por Sexo

O sexo masculino foi representado por 147 pacientes (56,8%) e o

feminino por 112 (43,2%).

Grfico 5-1. Distribuio por sexo de todo o grupo de pacientes com psorase

masculino(147) 56,8%

feminino(112) 43,2%

No houve diferena significativa entre os dois sexos quanto ao tempo

de evoluo e idade mdia dos pacientes.

Tabela 5-3. Tempo de evoluo e idade mdia, diviso por gnero de todo o grupo de pacientes com psorase

Sexo Tempo de Evoluo Idade

Feminino 13,10 (dp 9,70) 46,00 (dp14,82)

Masculino 12,95 (dp 8,98) 50,26 (dp13,03)

41

As pacientes do sexo feminino apresentaram um incio de doena mais

precoce (p

Com relao cor, 51% (132) dos eram pacientes brancos, 16,2% (42)

negros, 27% (70) pardos e 0,4% (1) amarelo, em um total de 245

pacientes.

Este dado no esteve disponvel para 14(5,4%) pacientes

(desconhecido).

Grfico 5-2. Distribuio por cor de todo o grupo de pacientes com psorase

branco(132) 51,0%

amarelo(01) 0,4%

desconhecido(14) 5,4%

negro(42) 16,2%

pardo(70) 27,0%

O comprometimento articular esteve presente em 30,8% (80/259) dos

pacientes. A distribuio de seu incio (anterior, concomitante ou posterior) est

colocada no grfico 5-3.

Grfico 5-3. Distribuio do incio da doena articular de todo o grupo de pacientes com psorase

anterior(07) 8,8%

posterior(60) 75,0%

concomitante(13) 16,3%

43

Histria clnica

Ocorreram episdios de eritrodermia em 29,7% (77/259) dos

pacientes

Internaes relacionadas doena em 20,5% (53/259).

Tratamentos prvios

Os tratamentos prvios utilizados pelos pacientes esto descritos na

tabela 5-5:

Tabela 5-5. Medicamentos tpicos

Medicamentos Tpicos (n=259) %

Anlogos de vitamina D3 (45) 17,4%

Derivados de alcatro (163) 62,9%

Corticides (155) 59,8%

Emolientes (166) 64,1%

Tazaroteno (6) 2,3%

Em termos de fototerapia, 43/259 pacientes j haviam utilizado PUVA

(16,6%) e 4/259 pacientes UVB (1,5%).

44

Os medicamentos utilizados pelos pacientes para tratamento da

psorase (alm do oxsoralen naqueles que realizaram fototerapia) foram:

Tabela 5-6. Medicamentos sistmicos utilizados por todo o grupo de pacientes com psorase

Medicamentos (n=259) %

Metotrexato (124) 47,8%

Ciclosporina (29) 11,2%

Retinide (37) 14,3%

Corticide (46) 17,8%

Dapsona (13) 5,0%

Pentoxifilina (04) 1,5%

Doenas Associadas

Os pacientes foram questionados quanto s seguintes patologias associadas:

Tabela 5-7. Doenas associadas em todo o grupo de pacientes com psorase

Doenas

Associadas

(n=259) %

Diabetes mellitus (26) 10%

Alcoolismo (08) 3,1%

Depresso (61) 23,6%

Dislipidemia (63) 24,3%

Hipertenso (83) 32,0%

Hepatopatia (13) 5,00%

45

Histria familial

Dentre os 259 pacientes, 26,6% (69/259) apresentavam histria

familial de psorase.

Tabela 5-8. Histria Familial em todo o grupo de pacientes com psorase

Histria familial (n=259) %

Psorase (69) 26,6%

Diabetes (70) 27,0%

Alcoolismo (18) 6,90%

Depresso (15) 5,80%

Dislipidemia (30) 11,6%

Hipertenso (84) 32,4%

46

Prurido

Duzentos e quarenta e um pacientes foram questionados em relao ao

prurido, e em 77,17% (186) deles o sintoma estava presente. Dezoito pacientes

no foram questionados a respeito deste sintoma devido a sua entrada mais

precoce no estudo.

O prurido foi considerado:

Leve a moderado em 44,81% (108/241).

Intenso em 32,36% (78/241).

Grfico 5-4. Distribuio de 241 pacientes com psorase em relao ao prurido

leve / moderado(108) 44,8%

intenso(78) 32,3%

ausente(55) 22,9%

47

O grupo que apresentava prurido se compunha de 186 pacientes. A freqncia

do prurido foi:

diria em 48,38% (90/186).

semanal em 18,27% (34/186).

espordica em 22,58% (42/186).

Este dado no esteve disponvel para 10,75% (20/186) dos pacientes que

apresentavam prurido.

semanal(34) 18,3%

dirio(90) 48,4%

espordico(42) 22,6%

no pesquisados(20) 10,8%

Grfico 5-5. Distribuio de todo o grupo de pacientes com psorase e prurido quanto freqncia deste sintoma

48

Os valores relatados por 173 pacientes quando questionados em

uma escala visual graduada de 1 a 10 em relao ao prurido

esto sumarizados no grfico 5-6.

0,6 1,12,3

6,37,5

19

6,98,6

19

4

24,7

0

5

10

15

20

25

percentual de pacientes

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10escala visual do prurido

Grfico 5-6. Escala visual de prurido: distribuio percentual de 173 pacientes com psorase e prurido

49

Fatores desencadeantes da psorase

O fenmeno de Koebner foi considerado desencadeante de psorase por

31,3% (81) dos pacientes; o fator emocional, por 82,2% (213); enquanto a

faringite foi referida por 10,4% (27).

Tabela 5-9. Fatores desencadeantes de psorase em todos os 259 pacientes com psorase estudados

Fatores desencadeantes (n=259) %

Fenmeno de Koebner (81) 31,3%

Fator emocional (213) 82,2%

Faringite (27) 10,4%

50

Distribuio das leses cutneas

A distribuio das leses quanto morfologia est sumarizada no grfico 5-7.

Grfico 5-7. Distribuio das leses na superfcie cutnea em todos os 259 pacientes com psorase estudados: localizao e percentual de pacientes com

leso por stio

61,757,4

57,754,255,4

43,3

14,427,3

8,21,5

14,435,1

0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00

couro cabeludo

tronco

MMSS

cotovelos

MMII

joelhos

palmo-plantar

reg. Sacra

genitlia

mucosas

face

unhas

loca

liza

o

percentual de pacientes

51

Morfologia das leses

A distribuio quanto morfologia est resumida na tabela 5-10.

Tabela 5-10. Morfologia das leses: distribuio em todo o grupo de pacientes com psorase estudados

Morfologia (n=259) %

Placas e gutata (09) 3,91%

Placas e eritrodrmica (02) 0,86%

Eritrodrmica e pustulosa (01) 0,43%

Placas e pustulosa (01) 0,43%

Placas (198) 86,08%

Gutata (15) 6,52%

Eritrodrmica (4) 1,73%

Desconhecida (29) 11,19%

52