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ESTUDO ERGONÔMICO DE INSTALAÇÕES DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR PÚBLICA Saulo Gomes Moreira (UFMS ) [email protected] Nadya Kalache (UFMS ) [email protected] Giovanni Grossi Crema (UFMS ) [email protected] BRUNA YARA DA SILVA FIORAMONTE (UFMS ) [email protected] Sabrina da Silva Felix (UFMS ) [email protected] Neste artigo avaliaram-se e compararam-se as condições ambientais de trabalho em salas de aula em um prédio novo e antigo, assim como nas salas de professores, em uma universidade pública na cidade de Campo Grande, estado de Mato Grosso do Sul. Para concretização do estudo efetuaram-se medições dos fatores ambientais de temperatura, umidade, luminosidade e ruídos em três prédios distintos. A pesquisa caracteriza-se como descritiva com abordagem qualitativa e fez-se necessário para a coleta de dados o uso de equipamentos como termo- higrômetro, luxímetro digital e decibelímetro. As medições foram executadas em dias, horários e condições de tempo variadas, para que representasse as condições reais de trabalho dos usuários. O artigo mostra os valores encontrados nas mensurações realizadas nas instalações de cada sala, bem como a problemática observada. A partir dos dados analisados e registrados, propõem-se soluções para as questões críticas observadas. Palavras-chaves: Ergonomia, análise ergonômica, ambiente de trabalho XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

ESTUDO ERGONÔMICO DE INSTALAÇÕES DE UMA … · de observar qual atende melhor as especificações adequadas. Ao final do artigo serão feitas recomendações para fazer frente

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ESTUDO ERGONÔMICO DE

INSTALAÇÕES DE UMA INSTITUIÇÃO

DE ENSINO SUPERIOR PÚBLICA

Saulo Gomes Moreira (UFMS )

[email protected]

Nadya Kalache (UFMS )

[email protected]

Giovanni Grossi Crema (UFMS )

[email protected]

BRUNA YARA DA SILVA FIORAMONTE (UFMS )

[email protected]

Sabrina da Silva Felix (UFMS )

[email protected]

Neste artigo avaliaram-se e compararam-se as condições ambientais

de trabalho em salas de aula em um prédio novo e antigo, assim como

nas salas de professores, em uma universidade pública na cidade de

Campo Grande, estado de Mato Grosso do Sul. Para concretização do

estudo efetuaram-se medições dos fatores ambientais de temperatura,

umidade, luminosidade e ruídos em três prédios distintos. A pesquisa

caracteriza-se como descritiva com abordagem qualitativa e fez-se

necessário para a coleta de dados o uso de equipamentos como termo-

higrômetro, luxímetro digital e decibelímetro. As medições foram

executadas em dias, horários e condições de tempo variadas, para que

representasse as condições reais de trabalho dos usuários. O artigo

mostra os valores encontrados nas mensurações realizadas nas

instalações de cada sala, bem como a problemática observada. A

partir dos dados analisados e registrados, propõem-se soluções para

as questões críticas observadas.

Palavras-chaves: Ergonomia, análise ergonômica, ambiente de

trabalho

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1. Introdução

Alguns autores consideram a ergonomia uma ciência, por gerar conhecimento, tal como

Wisner (1995), que a define como sendo o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao

homem e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam

ser utilizados com o máximo de conforto, de segurança e de eficácia. Já outros autores a

consideram uma tecnologia por possuir caráter aplicativo e transformador.

Contudo, alguns pontos são comuns em todas as teorias: aplicação dos estudos ergonômicos, a

natureza multidisciplinar, o fundamento nas ciências e a concepção do trabalho. O estudo

ergonômico foi tornando-se cada vez mais importante no mesmo ritmo em que a preocupação

com as condições de bem estar e saúde das pessoas que desenvolvem uma atividade em

determinado ambiente também foi sendo solicitada e relevante. Sabe-se que um ambiente de

trabalho ergonomicamente adequado contribui para um melhor desempenho dos funcionários,

ou seja, possibilita melhores resultados de produtividade, além de evitar problemas

relacionados à saúde do trabalhador.

Abrantes (2004) afirma que “a análise ergonômica é importante, pois indica como e em que

condições os trabalhos são realizados”.

Neste artigo será discutida a ergonomia do ambiente, que é uma das vertentes dessa ciência.

Serão mensurados os níveis de iluminância, ruídos, temperatura e umidade de salas de uma

universidade a fim de analisar os resultados obtidos e avaliar se estão de acordo com os

valores ideais para a atividade desenvolvida no ambiente considerado. Serão comparados os

dados de salas de aulas e salas de professores entre prédios novos e antigos com a finalidade

de observar qual atende melhor as especificações adequadas.

Ao final do artigo serão feitas recomendações para fazer frente às condições inadequadas

encontradas. Além dessa análise, serão discutidos o layout das salas de aulas, a respeito da

disposição das carteiras, e condições de acessibilidade para portadores de necessidades

especiais.

Escolheu-se como objeto de estudo, uma universidade pública localizada na cidade de Campo

Grande no estado de Mato Grosso do Sul. A escolha de tal instituição é justificada por esta ser

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um complexo com edificações de diferentes épocas e que abriga atividades de estudo e

trabalhos diretamente relacionados à leitura e escrita, ou seja, atividades que necessitam de

condições ambientais favoráveis para que o desempenho dos utilizadores do local seja

satisfatório.

Devido ao desenvolvimento do estudo da ergonomia ao longo dos anos, foram criadas normas

para a regulamentação das condições de trabalho, como a NR-17, que visa o conforto e

segurança do trabalhador em seu ambiente de trabalho. O estudo seguirá esta e outras normas

específicas de cada medição que serão detalhadas posteriormente.

2. Fundamentação teórica

2.1 Ergonomia

A ideia da ergonomia faz parte da vida do homem desde as primeiras armas e ferramentas que

eram adaptadas às pessoas, assim como aos seus trabalhos. Começou a ser estudada a partir da

primeira guerra mundial e desenvolveu-se com a segunda.

É “uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres

humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos

a projetos, a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema” (IEA,

2009).

Ao longo dos anos a ergonomia cresceu e expandiu suas áreas de atuação e hoje tem diversos

seguimentos, tais como a antropotecnologia, a macroergonomia e a ergonomia ambiental.

2.2 Ergonomia ambiental

A ergonomia ambiental nada mais é do que a interferência dos fatores ambientais na anatomia

e psicologia humana. Essa ciência no campo de trabalho estuda e aplica melhorias de forma a

proporcionar maior conforto e bem estar, além de promover maior rendimento.

“Ergonomia é o termo designativo da aplicação multidisciplinar de conhecimento que trata de

uma série de cuidados que envolvem o homem e as particularidades inerentes a cada tarefa

que realiza nas condições de trabalho, observadas as característica e limitações individuais.”

(BARBOSA FILHO, 2010, p. 69)

Desta forma, para avaliar um ambiente, três grupos de elementos são necessários:

Aspectos técnicos e materiais – concepção espacial, layout, conceitos dimensionais e

conforto ambiental. Medições de iluminância, ruídos, temperatura e umidade;

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Aspectos organizacionais – recursos humanos, normas e procedimentos que

disciplinem a organização do trabalho, tais como as Normas Brasileiras

Regulamentadoras (NBR) e as Normas Regulamentadoras (NR);

Aspectos psicológicos – percepção do usuário, fronteiras dos espaços, comunicação

humana e estética. Conforme a NR 17, as condições ambientais de trabalho devem

estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do

trabalho a ser executado.

Soares et al (2004), destacam a importância da análise ergonômica do trabalho para se ter um

ambiente adequado aos empregados, visando o bem estar dos mesmos. Segundo Rocha

(1995), faz-se necessário uma atenção especial na questão da iluminação, da sonorização e da

temperatura, porque estes aspectos agem de modo positivo ou negativo no rendimento do

trabalho.

2.3 Iluminância de interiores

A iluminância, medida em luxes, é o fluxo luminoso (lúmen) incidente numa superfície por

unidade de área (m²). Portanto, a iluminância, por ser uma densidade de fluxo luminoso, nos

indica o quão iluminado está uma determinada região. Os valores ótimos de quantidade de

luxes são designados pela NR 17, enquanto a NBR 5413 estabelece os níveis mínimos de

iluminância, sendo assim em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada,

natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade.

“A utilização racional dos índices de luminosidade nos ambientes de trabalho evita doenças

visuais, diminuição da fadiga ocular, aumento da eficiência e a diminuição do número de

acidentes”. (ROCHA, 1995, p. 264)

Abrantes (2004) salienta que uma iluminação inadequada pode interferir no desempenho das

pessoas, podendo causar depressão, cansaço e estresse.

2.4 Ruídos

Pode ser qualquer som indesejável, desagradável e que perturba, tanto de forma física como

de forma psicológica aquele que o percebe, prejudicando o rendimento na atividade. O ruído é

medido em decibéis e a exposição a níveis superiores a 50 dB pode causar deficiência

auditiva. Com a finalidade de padronizar tal valor criou-se a NBR 10.152 que relaciona os

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índices de poluição sonora de acordo com horário e local, a fim de evitar prejuízos à saúde e

proporcionar conforto acústico.

2.5 Ambiente térmico

Temperatura é a grandeza que caracteriza o estado térmico de um corpo ou sistema. Porém o

que se sente está mais ligado ao termo de sensação térmica, que além da temperatura externa

depende da umidade do ar e velocidade do vento.

Umidade do ar é a quantidade de vapor de água existente na atmosfera que pode ser expressa

em valores absolutos (g/m³) ou em porcentagem (%). A umidade do ar de um determinado

local interfere diretamente na qualidade de vida dos usuários, podendo gerar problemas

respiratórios quando está baixa ou tonturas e proliferação de fungos quando está alta.

Ambos são fatores que influenciam na produtividade dos funcionários, para tanto seus valores

são especificados na NR 17. Para Kroemer e Grandjean (2005), “a manutenção de um clima

confortável é essencial para o bem estar e desempenho em eficiência máxima”.

2.6 A universidade

O termo universidade provém do latim “universitas” cujo significado esta relacionado com

“conjunto, universalidade, comunidade”, entretanto o uso deste termo com o conceito que é

hoje empregado tem origem na expressão “universitas magistrorum et scholarium”

(comunidade de mestres e estudiosos) o que se leva a definir uma universidade como uma

comunidade multidisciplinar onde os mestres detentores do conhecimento passam os mesmos

aos estudiosos em busca de aprimoramento intelectual e profissional.

Por esse motivo é que foi escolhido esse ambiente para o estudo de caso, por ser um local de

desenvolvimento intelectual e que para tanto necessita de uma estrutura favorável para essas

atividades. Além disso, as particularidades ambientais da localização da instituição estimulou

o estudo.

2.7 Acessibilidade

Acessibilidade compõe o conceito de cidadania, no qual os indivíduos têm direitos

assegurados por lei que devem ser respeitados, entretanto, muitos destes direitos esbarram em

barreiras arquitetônicas e sociais (MANZINI et al., 2003).

Esse tema é pauta de muitas discussões levantadas atualmente, seja pela defesa da igualdade

ou pela necessidade de adaptar ambientes, tendo em vista facilitar a circulação dos deficientes

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físicos. Segundo Bittencourt; et.al.(2004), um espaço construído, quando acessível a todos, é

capaz de oferecer oportunidades igualitárias a todos os usuários.

Entretanto, mesmo com tantos debates, pouco se observa na prática. Para Silva (2008),

verifica-se a divulgação de um discurso favorável à inclusão, mas na prática há a permanência

da realidade excludente, ou seja, na realidade concreta as coisas permanecem da mesma

forma.

Sendo a universidade analisada, um local de grande afluência de público, suas instalações

devem estar todas dentro dos parâmetros exigidos pela norma da NBR 9050 referente à

acessibilidade e pelo decreto nº 5.296 de 2 de dezembro 2004, que normatiza as questões

relativas à acessibilidade.

“Os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou modalidade, públicos ou privados,

proporcionarão condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes ou

compartimentos para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusive

salas de aula, bibliotecas, auditórios, ginásios e instalações desportivas, laboratórios, áreas de

lazer e sanitários”. (DECRETO 5.296, Art.24.)

3. Metodologia

O estudo de caso foi baseado em dados quantitativos a respeito de intensidade luminosa, nível

de ruídos, de temperatura e umidade. Os dados foram coletados, catalogados, observados e

discutidos.

No momento da análise, o cunho do estudo passou a ser de base qualitativa, pois foram

julgadas as condições do ambiente para o bem estar de quem o utiliza.

Os dados foram coletados em três edifícios da instituição:

Prédio A, datado de 1992, onde há laboratórios e sala de professores;

Prédio B, construído em 1994 e destinado às atividades de sala de aula;

Prédio C, inaugurado no ano de 2012, sendo um complexo com laboratórios, sala de

aula e sala de professores.

Para a pesquisa foram recolhidos dados de uma sala de professores do Prédio A, com área de

18,04m²; uma sala de professor do Prédio C com 18,54m²; uma sala de aula do Prédio B com

93,75m² e uma sala de aula do Prédio C com 104,87m². As comparações foram realizadas

entre ambientes que desenvolvem a mesma atividade.

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Figura 1 – Sala de professores do Prédio C

Fonte: Do autor

Figura 2 – Sala de professores do Prédio A

Fonte: Do autor

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Figura 3 – Sala de aula do Prédio B

Fonte: Do autor

Figura 4 – Sala de aula do Prédio C

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Fonte: Do autor

As técnicas a respeito de como fazer corretamente as medições, tal como o manuseio dos

aparelhos e os locais onde recolher os dados, foram consultadas em manuais e normas da

ABNT. Com o objetivo de uma pesquisa mais detalhada, apuraram-se informações de

iluminância no período diurno e noturno para salas de aula; informações de ruídos em

diferentes ocasiões para todas as salas, os valores de temperatura e umidade foram recolhidos

apenas com os aparelhos de ar condicionado ligados. As medições ocorreram durante o mês

de Março de 2013, nos períodos matutino, vespertino e noturno.

Com o auxilio de um luxímetro digital (TES Electrical Electronic Corp, modelo TES 1332)

foram feitas medições em cinco pontos distintos das salas e calculou-se a média aritmética

entre eles obtendo o resultado final. A escala utilizada no aparelho foi de 2000 lux. Para saber

qual o nível recomendado pela norma NBR 5413 considerou-se a idade dos usuários inferior a

40 anos para salas de aula e, entre 40 a 55 anos para salas de professores; a velocidade e

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precisão como sendo importante para ambas e a refletância do fundo da tarefa sendo de 30 a

70%, já que as mesas são claras e os pisos, escuros. Porém a norma ainda considera um valor

limite de 400 lux para esses ambientes.

Figura 5 – Luxímetro digital

Fonte: Do autor

Para aferir a temperatura e umidade utilizou-se um aparelho que faz as duas funções chamado

termo-higrômetro digital (Minipa, modelo MT-241). Recolheram-se dados dos extremos das

salas e foi calculada a média aritmética entre eles.

Figura 6 – Termo-higrômetro digital

Fonte: Do autor

Por fim, o ruído foi medido com um decibelímetro digital (Minipa, modelo MSL1351C)

apenas no ponto central das salas.

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Figura 7 – Decibelímetro digital

Fonte: Do autor

Além dos fatores ambientais, realizou-se uma verificação a respeito das questões de

acessibilidade dos prédios e a disposição das carteiras de estudos nas salas de aula. Um

parecer crítico foi gerado segundo a situação observada destacando as condições inadequadas

encontradas.

4. Apresentação dos resultados

Os dados coletados durante o estudo foram expostos na seguinte tabela com os valores

mensurados e os recomendados pelas normas, a fim de facilitar a comparação e a análise dos

resultados. Dados em vermelho correspondem a valores em desacordo com as normas.

Tabela 1 – Resultados obtidos

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Fonte: Do autor

4.1 Temperatura

Ao realizar as comparações entre os valores obtidos de temperatura das salas de aula do

Prédio B (mais antigo) e do Prédio C (mais novo) constatou-se que apesar dos aparelhos de ar

condicionado do Prédio C serem mais novos, estes são menos eficientes no condicionamento

ambiental do que os instalados no Prédio B. Tal condição indica que pode ter ocorrido um

equívoco no dimensionamento da potência térmica dos aparelhos e/ou um mau funcionamento

dos equipamentos no prédio mais novo.

Apesar das duas temperaturas das salas de aula estarem acima da média recomendada pela

norma, no bloco velho ela se apresenta do gosto e conforto dos usuários da sala, levando em

conta que as janelas possuem películas de controle solar escuras, as quais ajudam no conforto

térmico. Já no bloco novo os usuários estavam incomodados com a temperatura elevada, uma

vez que, além dos aparelhos de ar condicionado serem menos eficientes, as películas de

controle solar são claras, o que diminui o conforto térmico.

As propostas de mudanças são a aplicação de película de controle solar mais escura, para

bloqueio de calor, nas janelas da sala de aula do Prédio C, além de manutenção e/ou troca dos

aparelhos de ar condicionado.

No caso da comparação das salas de professores concluiu-se que a temperatura aferida no

bloco novo está acima do recomendado pela norma, contudo o ambiente em questão estava

agradável aos usuários, atendendo a finalidade da ergonomia. No bloco antigo, foi feito a

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troca do ar-condicionado recentemente e a temperatura medida está condizente com os

valores recomendados por norma. Desta forma não há necessidade de melhorias ou novas

adaptações nas instalações.

4.2 Umidade relativa do ar

Devido às boas condições climáticas durante as medições não houve grandes alterações entre

os ambientes estudados, condizendo com os limites estabelecidos pelas normas.

4.3 Iluminação

Com relação à iluminação, apenas a sala de aula do prédio C apresentou irregularidade com

iluminância: acima da sugerida pela norma no período diurno e abaixo no período noturno.

Tendo em vista esta comparação, constatou-se que a grande influência da luz natural na sala

deve-se a pouca eficiência da película de controle solar e a não existência de brise no edifício,

que tem por função bloquear a incidência direta de raios solares. O Prédio C apresenta

somente uma marquise destinada à proteção contra águas pluviais, deixando as janelas do piso

inferior (salas de aula) expostas diretamente à radiação solar.

Figura 8 – Visão externa das salas de aula do Prédio C

Fonte: Do autor

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Por outro lado, no Prédio B, mesmo sendo uma construção mais antiga, possui brises para

proteção das salas de aula tanto no térreo como no piso superior. Isso, juntamente com as

árvores ao redor do prédio, auxilia para manter a luminosidade em níveis aceitáveis.

Figura 9 – Visão externa da sala de aula do Prédio B

Fonte: Do autor

Frisando que as luminárias e películas de controle solar são diferentes entre as salas,

verificou-se que as lâmpadas e/ou luminárias são mais eficientes no Prédio B do que no

Prédio C. Como solução, propõe-se a troca das películas de proteção solar e/ou

remanejamento das lâmpadas e/ou luminárias.

Figura 10 – Película de controle solar do Prédio C

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Fonte: Do autor

Figura 11 – Película de controle solar do Prédio B

Fonte: Do autor

4.4 Ruído

Neste quesito, todos os ambientes analisados apresentaram resultados acima do recomendado

pela norma. Durante as medições nas salas de professores, constatou-se que, no Prédio C,

ocorreu influência de ruídos externos oriundos de obras próximas ao local elevando o nível

sonoro, enquanto que, no Prédio A, os valores elevados foram causados principalmente por

atividade típicas da rotina do ambiente, como atendimento de alunos e ligações telefônicas.

Em relação às salas de aula, os aparelhos de ar condicionado, por serem do tipo de janela, que

possuem a unidade condensadora e evaporadora num único gabinete contribuíram para os

valores elevados de ruído observados.

4.5 Acessibilidade

No quesito acessibilidade, a infraestrutura da instituição ainda é muito falha, visto que

existem alunos cadeirantes que não conseguem realizar facilmente suas atividades diárias,

bem como necessidades fisiológicas. Como exemplo, o acesso de entrada para o Prédio B é

uma rampa que não favorece o deslocamento independente do cadeirante, pois este não

consegue subir sozinho devido a grande inclinação da mesma.

Apesar da existência do elevador para acesso ao piso superior, a falta de manutenção

rotineira, segundo alunos e funcionários, provoca falhas de funcionamento recorrentes.

Também não foram observados bebedouros específicos para cadeirantes.

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Já no ambiente das salas de aula a situação é ainda mais crítica. O portador de necessidade

especial encontra dificuldades de se locomover entre as filas de carteiras, uma vez que o

espaçamento não é o suficiente para uma movimentação adequada e há a necessidade de

deslocar as carteiras para chegar aonde deseja. Existe apenas uma carteira adaptada, porém o

uso desta se torna inviável por comprometer a distribuição das demais carteiras.

Tabela 2 – Resultados obtidos

Medidas

recomendadas

Sala de Aula

Prédio B

Sala de Aula

Prédio C

Distância do

quadro a primeira

carteira

2,60m 1,12m 3,30m

Largura do

corredor principal 1,5m 0,67m 0,83m

Distância do fundo

a última carteira 1,2m 0,50m 2,0m

Distância dos

corredores

secundários

1,2m 0,38m 0,45m

Fonte: Do autor

Com as informações coletadas constatou-se que a disposição dentro da sala compromete até

mesmo a circulação de alunos que não possuem nenhuma necessidade especial, visto que os

dados em vermelho são aqueles em desacordo ao recomendado. Uma das alternativas seria

reduzir o número de carteiras em sala de aula e redistribuir as turmas mais numerosas para

salas maiores.

O que se percebeu foi que as salas são muito compridas e estreitas, opondo-se ao ideal de

largura e comprimento. Essa característica pode vir a comprometer não só a área de

circulação, mas também o desempenho dos alunos que sentam mais ao fundo e ficam muito

distantes da lousa e do professor.

5. Conclusão

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A partir da compilação dos dados, registraram-se as atuais condições de trabalho na

Universidade analisada. Verificou-se então, a necessidade de melhorias de alguns quesitos

ergonômicos nos ambientes estudados.

Dos fatores ambientais avaliados, o que apresentou valores mais incompatíveis com os

recomendados por norma foi o nível de ruído. Em todos os ambientes o ruído teve valores

acima dos valores preconizados na NBR 10152 como ideais para um local acusticamente

confortável.

Em alguns casos o nível de iluminação também se mostrou excessivo, o que pode causar

prejuízo aos utilizadores do ambiente, provocando perda de produtividade. Destaca-se

também que a iluminação excessiva pode indicar um desperdício de utilização de energia

elétrica em alguns casos.

Na sala de aula analisada no Prédio B (de 1994), observou-se que os espaçamentos entre as

carteiras de estudo prejudica a circulação dos alunos e professores, especialmente daqueles

que são portadores de necessidades especiais. No Prédio C (de 2012) tal situação é

minimizada, pois os espaçamentos permitem uma melhor circulação, embora ainda estejam

abaixo do recomendado.

De uma maneira geral, não pode se relacionar firmemente a idade dos prédios com as suas

condições ergonômicas, haja visto que condições inadequadas foram observadas tanto em

prédios mais antigos quanto em prédios mais novos. Tal condição destaca que um cuidado no

planejamento e projeto das instalações prediais é de fundamental importância para que sejam

constituídos ambientes ergonomicamente adequados para os utilizadores.

Em suma, o presente trabalho alcança seu objetivo de mensurar os níveis de temperatura,

umidade, luminosidade e ruído, analisando e comparando as condições ambientais de trabalho

nas salas de aula e de professores entre as unidades, bem como propor soluções para os

problemas encontrados.

6. Referências bibliográficas

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APÊNDICE A - Planta da sala de aula do Prédio B com disposição das carteiras

Fonte: Do autor

APÊNDICE B - Planta da sala de aula do Prédio C com disposição das carteiras

Fonte: Do autor