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Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis Estudo sobre a Alteração do Conteúdo dos Pareceres de Auditoria Independente após a Adoção da Lei 11.638/2007. Sandra Regina Siqueira de Sena Orientador: Prof. Dr. Henrique Formigoni São Paulo 2011

Estudo sobre a Alteração do Conteúdo dos Pareceres de …tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/885/1/Sandra... · 2016. 7. 19. · S474e Sena, Sandra Regina Siqueira de. Estudo

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    Universidade Presbiteriana Mackenzie

    Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

    Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

    Estudo sobre a Alteração do Conteúdo dos Pareceres de Auditoria Independente após a Adoção da Lei 11.638/2007.

    Sandra Regina Siqueira de Sena

    Orientador: Prof. Dr. Henrique Formigoni

    São Paulo

    2011

  • Sandra Regina Siqueira de Sena

    Estudo sobre a Alteração do Conteúdo dos Pareceres de Auditoria Independente após a Adoção da Lei 11.638/2007.

    Orientador: Prof. Dr. Henrique Formigoni

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Presbiteriana Mackenzie para a obtenção do título de Mestre em Controladoria Empresarial.

    São Paulo

    2011

  • S474e Sena, Sandra Regina Siqueira de.

    Estudo sobre a alteração do conteúdo dos pareceres de auditoria independente após a adoção da Lei 11.638/2007 / Sandra Regina Siqueira de Sena - 2011.

    96 f. ; 30 cm

    Dissertação (Mestrado em Controladoria Empresarial) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.

    Bibliografia: f. 77-84.

    1. Auditoria. 2. Pareceres de Auditores. 3. Convergência Contábil. I. Título.

    CDD 657.3 

  • Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Professor Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto

    Decano de Pesquisa e Pós-Graduação Professor Dr. Moisés Ari Zilber

    Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Professor Dr. Sérgio Lex

    Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis Professora Dra. Maria Thereza Pompa Antunes

  • Tudo posso nAquele que me fortalece”. Filipenses 4:13

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeço primeiramente a Deus pela força durante esta jornada, pois “Ele é quem nos dá

    forças para adquirirmos riquezas” (Deuteronômio 8:17), sendo a conclusão deste estudo uma

    grande riqueza intelectual.

    Agradeço ao Moacir, meu marido, meu suporte e guia, pelo apoio emocional; à minha mãe e

    à minha família por compreenderem minha ausência.

    Agradeço à Cristina Salazar, minha amiga, que forneceu todo suporte para a realização do

    trabalho, assim como à Cescebrasil Seguros de Crédito e Garantia pelo apoio financeiro.

    Agradeço aos meus amigos, em especial, Adriana Caroci e Paulo Lima.

    Agradeço de forma especial ao meu orientador Prof. Dr. Henrique Formigoni, que me guiou

    nas decisões e indicou o caminho a seguir e, também, à Coordenadora do Curso Prof. Dra.

    Maria Thereza Pompa Antunes pelo excelente programa apresentado.

    Por fim, agradeço a todo Corpo Diretivo da Universidade Presbiteriana Mackenzie pela

    qualidade do ensino e a oportunidade de buscarmos sempre a excelência.

  • RESUMO

    O presente estudo teve como objetivo principal verificar se houve alteração nos pareceres

    emitidos pelas auditorias independentes após adoção da Lei 11.638/2007. A amostra foi

    composta por companhias abertas, não financeiras, com ações negociadas na Bovespa, as

    quais apresentaram Demonstrações Contábeis no período de 2006 a 2009, totalizando 449

    empresas geradoras de 1.796 observações, cujos dados foram extraídos do banco de dados da

    CVM – Comissão de Valores Mobiliários. Foi realizada uma análise de conteúdo nos

    pareceres de auditoria, segregados entre firmas de auditoria Big Four, ou seja, Deloitte

    Touche Tohmatsu; Ernst & Young; PricewaterhouseCoopers e KPMG, e Non Big Four, que

    representaram as outras empresas de auditoria. Constatou-se que o conteúdo dos pareceres de

    auditoria manteve o mesmo padrão ao longo dos quatro exercícios analisados, considerando

    os tipos de pareceres: sem ressalvas; com ressalvas; com abstenção de opinião e com parecer

    adverso. Observou-se vasta utilização dos parágrafos de ênfase, que podem constar em

    pareceres com, ou sem ressalvas, destacando que as observações neles contidas se referiam

    muitas vezes a incertezas que não trariam impacto nas demonstrações contábeis. Identificou-

    se, também, que a maioria das companhias abertas optou pela contratação das Big Four

    durante o período analisado, e, ainda, que as firmas de auditoria Non Big Four se

    mostraram mais conservadoras, pois apresentaram um nível de observações em seus

    pareceres, significativamente, superior as das Big Four. Os dados sugerem que as Non Big

    Four têm mais independência na realização do trabalho de auditoria, pois expressaram sua

    opinião de forma mais contundente ainda que desfavorável à companhia auditada. No entanto,

    vale questionar se as Big Four emitem quase a totalidade de seus pareceres sem ressalva,

    porque as companhias que as contratam são grandes corporações e, consequentemente,

    possuem um regime de governança mais rigoroso através da existência de comitê de auditoria

    com os devidos controles internos, ou se as Big Four têm, aparentemente, maior dependência

    das companhias que as contratam e sofrem pressão para que seus pareceres sejam emitidos

    sem ressalvas devido ao conflito de agência, já que a companhia contratante é responsável

    pelos honorários das firmas de auditoria.

    Palavras chave: Auditoria; Pareceres de Auditores; Convergência Contábil.

  • ABSTRACT

    The primary goal of this study is to verify whether there have been any changes in the reports

    issued by independent auditors after the adoption of Act Number 11638/2007. The sample is

    composed of non-financial listed companies whose shares are traded on the Bovespa (São

    Paulo Stock Exchange) with released Financial Statements in the period between 2006 and

    2009, totaling 449 companies with 1.796 observations, whose data was extracted from the

    database of the CVM (Brazilian Securities and Exchange Commission). The auditors’ reports

    were analyzed as divided among the Big Four auditing firms, i.e., Deloitte Touche Tohmatsu;

    Ernst & Young; PricewaterhouseCoopers and KPMG, and the Non Big Four representing the

    other auditing firms. The conclusion was that the contents of the auditors’ reports maintained

    the same standards along the four fiscal years considering the following types of reports:

    unqualified; qualified; disclaimer of opinion and adverse opinion. Particular attention was

    given to the utilization of emphasis paragraphs which may be found in unqualified and

    qualified reports pointing out that the observations therein contained referred several times to

    uncertainties which would not have had any impact on the financial statements. It was also

    identified that the majority of the open capital companies chose to hire the Big Four during

    the period analyzed, moreover, the Non Big Four appeared to be more conservative, because

    they presented a significantly higher level of observations as compared with the Big Four.

    The collected data suggested that the Non Big Four have greater independence in the

    development of their auditing work, expressing their opinion in a more forceful manner, even

    if unfavorable to the audited company. However, we must question whether the Big Four

    issue almost all their opinions as unqualified because the companies hiring them are large

    corporations and, consequently, have more strict requirements through their audit committees

    with the necessary internal controls, or if the Big Four are, apparently, more dependent on

    their contracting companies thus suffering pressure to issue unqualified opinion reports due to

    agency conflicts, since the hiring company is responsible for the fees paid to the audit firms.

    Keywords: Auditing; Auditors’ Reports; Accounting Convergence

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO 13

    1.1 Contextualização do Tema 13

    1.2 Questão de Pesquisa 17

    1.3 Objetivo Geral 17

    1.3.1 Objetivos Específicos 17

    1.4 Justificativas e Contribuições 17

    2 REFERENCIAL TEÓRICO 19

    2.1 Estrutura Conceitual da Contabilidade 19

    2.1.2 Características Qualitativas da Informação Contábil 22

    2.2 Convergência Contábil no Mundo 26

    2.2.1 Convergência Contábil no Brasil 28

    2.3 Auditoria 35

    2.3.1 Atualização das Normas de Auditoria 40

    2.3.2 Parecer dos Auditores Independentes 47

    2.4 Teoria da Sinalização 56

    3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 61

    3.1 Tipo e Método de Pesquisa 61

    3.2 População e Amostra 61

    3.3 Procedimento de Coleta e Tratamento dos Dados 62

    4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS , ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 63

    5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 74

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77

    Apêndice 1 - Lista de Escândalos Financeiros da Última Década 85

    Apêndice 2 - Lista de Companhias Abertas Utilizadas na Amostra 86

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 – Cronograma de implementação do IFRS no Brasil 14

    Figura 2 – Resumo dos componentes do risco de auditoria 16

    Figura 3 – Contratação das firmas de auditoria independente 64

    Figura 4 – Contratação das Big Four 65

    Figura 5 – Perfil dos tipos de pareceres de auditoria emitidos no período de 2006 a 2009

    66

    Figura 6 – Perfil dos tipos de pareceres de auditoria emitidos pelas Big Four no período de 2006 a 2009.

    67

    Figura 7 – Perfil dos tipos de pareceres de auditoria emitidos pelas Non Big Four no período de 2006 a 2009.

    68

    Figura 8 – Perfil - Pareceres com ressalvas 69

    Figura 9 – Perfil - Pareceres com parágrafo de ênfase 69

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 – Relevância da informação contábil 23

    Quadro 2 – Status dos pronunciamentos emitidos pelo CPC até 31/07/2011 31

    Quadro 3 - Exemplo de Parecer sem Ressalva 49

    Quadro 4 - Exemplo de Parecer com Ressalva 50

    Quadro 5 - Exemplo de Parecer Adverso 52

    Quadro 6 - Exemplo de Parecer com Abstenção de Opinião 53

    Quadro 7 - Exemplo de Parecer com Parágrafo de Ênfase 55

       

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 – Resultados dos ajustes no patrimônio líquido 35

    Tabela 2 – Resultados dos ajustes no resultado do exercício 35

    Tabela 3 – Firmas de auditoria envolvidas em escândalos financeiros 38

    Tabela 4 – Constituição da amostra 62

    Tabela 5 – Resumo dos pareceres de auditoria por tipo em número absoluto 63

    Tabela 6 – Resumo dos pareceres de auditoria por tipo em percentual 64

    Tabela 7 – Detalhes dos parágrafos de ênfase 70

    Tabela 8 – Caracterização dos parágrafos de ênfase 70

  • LISTA DE SIGLAS

    ABRASCA Associação Brasileira das Companhias Abertas

    APIMEC Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais

    BOVESPA Bolsa de Valores de São Paulo

    CFC Conselho Federal de Contabilidade

    CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis

    FASB Financial Accounting Standards Board

    FIPECAFI Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras

    GAAP Generally Accepted Accounting Principles

    IAS International Accounting Standards

    IASB International Accounting Standards Board

    IBRACON Instituto dos Auditores Independentes

    IFRS International Financial Reporting Standards

    NBC Normas Brasileiras de Contabilidade

    SEC Securities Exchange Commission

    SFAC Statement of Financial Accounting Concepts

    US GAAP United States Generally Accepted Accounting Principles

  • 13  

    1 INTRODUÇÃO

    1.1 Contextualização do tema

    O processo de globalização trouxe para o primeiro plano a demanda por informações

    contábeis confiáveis e comparáveis para suportar a variedade de transações e operações dos

    diferentes mercados, pois tanto os usuários internos da contabilidade como os externos

    dependem da informação contábil para tomada de decisão.

    Considerando a importância da informação contábil e sua influência no mercado é de

    se esperar que a informação divulgada seja de qualidade e compreensível, haja vista que se

    trata de um canal de comunicação entre as companhias e os usuários dessas informações. No

    entanto, existem diretrizes para divulgação das informações contábeis. No Brasil, diversos

    órgãos como: Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Comitê de Pronunciamentos

    Contábeis (CPC) e Banco Central do Brasil (BCB) são responsáveis pela definição das

    normas de registro do fenômeno econômico e divulgação da informação que é realizada

    através das demonstrações contábeis.

    Antes do advento das normas internacionais de contabilidade (International Financial

    Reporting Standards - IFRS), cada país utilizava os chamados Princípios Contábeis

    Geralmente Aceitos (Generally Accepted Accounting Principles - GAAP) definidos pela

    autoridade contábil local de cada país. Esses princípios poderiam ter resultados diferentes se

    fossem traduzidos ou transcritos para o GAAP de outro país, gerando assim uma interpretação

    inadequada da informação contábil, além da falta de transparência e objetividade da mesma.

    Segundo Niyama (2006) a harmonização dos padrões contábeis facilita a comunicação

    e contribui para minimizar as diferenças contábeis entre os diversos países, possibilitando a

    comparabilidade das informações. O autor enfatiza, ainda, a diferença entre harmonização e

    padronização, sendo que a primeira procura preservar as particularidades de cada país

    enquanto a segunda trata de um processo de uniformização.

    Segundo Carvalho et al. (2006), a internacionalização da contabilidade visa reduzir as

    incertezas do investidor estrangeiro, que deveria interpretar as demonstrações contábeis de

    cada GAAP local, com o intuito de torná-las compatíveis e comparáveis.

    Em 2011, o IFRS havia sido adotado por mais de 100 países. No Brasil, o movimento

    de adoção das Normas Contábeis Internacionais iniciou-se com o Comunicado do Banco

    Central 14.259/06 e Instrução 457/2007 da CVM. Em 28 de dezembro de 2007, o Governo

    Brasileiro aprovou a Lei 11.638 e, posteriormente, a Lei 11.941/2009 (conversão da Medida

    Provisória 449/2008), alterando vários dispositivos da Lei das Sociedades Anônimas (Lei

  • 14  

    6404/1976) para possibilitar o processo de convergência das práticas contábeis adotadas no

    Brasil com aquelas constantes das normas internacionais de contabilidade - IFRS.

    A síntese do processo de adoção do IFRS no Brasil é apresentada na Figura 1 que, em

    linhas gerais, demonstra o seu cronograma da implementação .

    Figura 1 - Cronograma de implementação do IFRS no Brasil

    Fonte: Deloitte Touche Tohmatsu (2008)

    As alterações decorrentes da Lei 6404/1976, inclusive pela Lei 11.638/2007 e Lei

    11.941/2009, visam trazer a informação contábil mais próxima à realidade da entidade,

    considerando, por exemplo, a contabilização pelo valor justo e não pelo valor nominal, o

    cálculo do impairment, a contabilização de instrumentos financeiros e do arrendamento

    mercantil entre outros.

    Essas alterações devem ser acatadas pelas companhias abertas, as quais, de acordo

    com a CVM, são as empresas que possuem títulos negociados em bolsa de valores ou em

    mercado de balcão (entende-se por títulos: ações, direitos de subscrição, debêntures e notas

    promissórias), e também por empresas de grande porte: aquelas que possuem um ativo total

    superior a R$ 240.000.000,00 ou Receita Anual Bruta superior a R$ 300.000.000,00. As

    empresas de pequeno e médio porte não estão sujeitas às regras da CVM, no entanto o CFC

    criou uma norma para estas através de um Pronunciamento Contábil específico visando à

    harmonização da informação contábil.

    Destaca-se, ainda, que as demonstrações contábeis das empresas de grande porte

    devem ser auditadas por auditores independentes devidamente registrados na CVM.

  • 15  

    Dentre as firmas de auditoria independente destacam-se as Big Four (nomenclatura

    genérica dada às grandes firmas de auditoria: Deloitte Touche Tohmatsu, Ernst & Young,

    KPMG e PricewaterhouseCoopers) e as Non Big Four, representadas pelas demais firmas de

    auditoria independentes de menor porte.

    Yu (2007), através de testes empíricos, concluiu que as maiores firmas de auditoria

    (Big Four) proveem maior qualidade de verificação informativa, haja vista que as mesmas

    têm adotado critérios de minimização de riscos, incrementando os controles internos e

    investindo na capacidade técnica dos seus profissionais.

    Segundo Attie (2006), o objetivo da auditoria independente é assegurar que as

    demonstrações contábeis representem, adequadamente, a situação patrimonial da empresa.

    O auditor independente é um especialista que conhece os negócios da entidade e as

    exigências que se aplicam à preparação das demonstrações assim como à sua validação

    (Boynton et al., 2002). Entende-se, assim, que a auditoria aumente a confiança dos usuários

    das demonstrações contábeis.

    A auditoria independente deve verificar, através da comprovação de dados e testes

    substantivos de acordo com as normas de auditoria, se as demonstrações contábeis expressam,

    adequadamente, a situação patrimonial da companhia e o resultado de suas operações,

    emitindo um Parecer sobre a avaliação realizada (ATTIE, 2006).

    Attie (2006) afirma, ainda, que a forma de comunicação da auditoria independente

    com os usuários internos ou externos é através de seu Parecer final, que pode ser classificado

    em: Parecer sem Ressalva; Parecer com Ressalva; Parecer Adverso e Parecer com Abstenção

    de Opinião. Destaca-se ainda que o Parecer com ou sem ressalva pode conter um parágrafo de

    ênfase em que, supostamente, as demonstrações contábeis estão de acordo com as normas

    vigentes exceto por algum fator que, do ponto de vista do auditor, não seja, suficientemente,

    relevante para ser classificado como Parecer com Ressalva ou como Parecer Adverso.

    Entende-se, assim, que o tipo de parecer do auditor independente pode sinalizar

    alguma inconsistência contida na informação contábil, ou ainda informar alguma incerteza

    quanto à continuidade do negócio.

    Vale ressaltar que existem riscos inerentes ao trabalho da auditoria independente que,

    se não evitados, podem gerar questionamentos quanto à qualidade do trabalho do auditor. A

    Figura 2 demonstra os componentes dos riscos no processo de auditoria.

  • 16  

    Figura 2 - Resumo dos componentes do risco de auditoria Fonte: Boynton et al. (2002)

    Stahn (2005) analisou os inquéritos administrativos instaurados pela CVM entre os

    anos de 2000 a 2004 a fim de apurar irregularidades no trabalho de auditoria independente e

    concluiu que, para esses inquéritos, o planejamento do trabalho do auditor foi realizado de

    forma inadequada e não houve aplicação dos procedimentos obrigatórios. Além disso, a

    amostragem de verificação dos dados utilizada pelos auditores apresentou-se limitada,

    afetando o conteúdo do parecer dos auditores independentes em todos os casos.

    Almeida (2006) realizou uma análise crítica nos pareceres de auditoria independente e

    constatou alguns desvios e falta de aderência às Normas Brasileiras de Contabilidade, levando

    a equívocos na emissão dos pareceres de auditoria.

    A Comissão de Valores Mobiliários – CVM preocupada com os pareceres de auditoria

    emitidos nas demonstrações contábeis de 2010 realizou um estudo e constatou desvios

    recorrentes no nível de informação prestada pelas companhias abertas brasileiras, além da

    omissão de informações relevantes nas notas explicativas com base nas demonstrações

    contábeis intermediárias do ano de 2010. Dessa forma a CVM poderá exigir a republicação

    dos balanços e também abrir processos para avaliar a conduta dos administradores e auditores.

    (TORRES, 2011).

    Em uma análise prévia dos pareceres de auditoria realizada pela autora, foi constatada

    uma alteração nos pareceres de auditoria das empresas Itautec S/A, Battistella Administração

    e Participações S/A, e Fibria Celulose S/A relativa aos anos de 2007 comparativamente ao de

    2008. No exercício encerrado em 2007, os pareceres de auditoria dessas empresas foram

    emitidos sem ressalvas ou qualquer outra observação, no entanto, no exercício encerrado em

    2008, os pareceres de auditoria apresentaram parágrafos de ênfase relativos às operações de

  • 17  

    derivativos, pressuposto de continuidade de negócios e inconsistência na contabilização de

    provisões.

    Uma dúvida que pode surgir é se esse fato ocorreu somente nessas empresas, ou se é

    algo que ocorreu em maior proporção após a adoção das novas práticas contábeis pelas

    empresas brasileiras.

    1.2 Questão de pesquisa

    Diante do exposto e considerando ainda, que a nova realidade da contabilidade no

    Brasil, está muito mais baseada no julgamento e não na aplicação de regras, elaborou-se a

    seguinte questão de pesquisa:

    Houve alteração no conteúdo do parecer emitido pela auditoria independente

    após a adoção da Lei 11.638/2007?

    1.3 Objetivo Geral

    Verificar se, após a adoção da Lei 11.638/2007, houve alteração no conteúdo dos

    Pareceres emitidos pelos Auditores Independentes, de forma a avaliar se houve contribuição

    à maior qualidade e transparência na comunicação da informação contábil.

    1.3.1 Objetivos Específicos

    Analisar o conteúdo dos pareceres emitidos pela auditoria independente nas

    demonstrações contábeis de 2006, 2007, 2008 e 2009;

    Identificar os tipos de Pareceres de Auditoria Independente emitidos nesse

    período;

    Analisar o conteúdo de cada tipo de parecer emitido segundo as normas de

    auditoria.

    1.4 Justificativas e Contribuições

    As demonstrações contábeis são a forma expressa de comunicação entre as empresas e

    os usuários da informação contábil, os quais têm a expectativa de receber uma informação que

    seja completa, compreensível, confiável, consistente e transparente, haja vista que vários

    usuários tomarão decisões importantes com base nas demonstrações contábeis apresentadas.

    Assim como na comunicação social, a comunicação da informação contábil pode ser

    prejudicada se forem constatadas distorções no objeto da comunicação.

  • 18  

    A comunicação da opinião dos auditores independentes é realizada através dos

    pareceres emitidos, assim, considerando que este estudo buscou verificar alterações no

    conteúdo dos pareceres emitidos pelas auditorias independentes e a não existência de um

    estudo qualitativo desta natureza, acredita-se que este estudo contribui para preencher uma

    lacuna no conhecimento.

    A literatura, trazendo mais informações a respeito destes pareceres, contribui para o

    amadurecimento da pesquisa sobre auditoria das demonstrações contábeis. Entende-se que a

    pesquisa contribui, também, para a tomada de decisão dos analistas, investidores, gestores da

    própria companhia e usuários das demonstrações contábeis ao analisar os sinais identificados

    nos pareceres emitidos pelas auditorias independentes.

    Este estudo justifica-se, considerando que as firmas de auditoria também foram co-

    responsáveis pelos escândalos financeiros da última década devido à falta de transparência

    em seus pareceres emitidos.

    Entende-se, ainda, que este estudo contribui para o ambiente corporativo e acadêmico

    em virtude de que o mesmo destaca a importância da aderência dos auditores às normas

    vigentes.

  • 19  

    2 REFERENCIAL TEÓRICO:

    2.1 Estrutura Conceitual da Contabilidade

    Hendriksen e Breda (1999) abordam as dificuldades que são encontradas ao se tentar

    chegar a uma conclusão sobre princípios contábeis e, a uma estrutura conceitual da

    contabilidade, que sejam universalmente aceitas. Os autores atribuem tais dificudades à

    complexidade de elaboração das teorias sobre a divulgação de informações financeiras.

    A contabilidade não é um exercício mecânico ou um conjunto de regras que poderia ser aplicado a um computador. No máximo, trata-se de uma ciência social. Alguns diriam que é uma arte. Existe e continuará a existir o julgamento de profissionais responsáveis. (HENDRIKSEN E BREDA, 1999 p. 85).

    Iudícibus (2004, p.25) descreve que “O objetivo básico da Contabilidade […] pode ser

    resumido no fornecimento de informações econômicas para os vários usuários, de forma que

    propicie decisões racionais”. Portanto, a qualidade da informação contábil é essencial para o

    usuário externo, pois o mesmo poderá ser influenciado na tomada de decisão de acordo com a

    qualidade da informação.

    Os usuários externos não podem escolher os critérios de mensuração e/ou

    evidenciação contábil e, nem tampouco, escolher o auditor responsável pelo exame das

    Demonstrações Contábeis da entidade; mas devem acreditar nas Demonstrações Contábeis

    certificadas por tais profissionais, em que tais demonstrações estejam sendo elaboradas

    corretamente e com cuidadosa aplicação do conjunto de conhecimentos certos e gerais da

    ciência contábil (PAULO, 2002).

    Usuário pode ser definido como qualquer pessoa física ou jurídica, que tenha interesse

    na avaliação e progresso de determinada entidade, seja a mesma lucrativa ou não

    (IUDÍCIBUS, 2004).

    Vale ressaltar que cada usuário tem uma necessidade diferente; os investidores, que

    são aqueles que aportam o capital, estão preocupados com os riscos inerentes e,

    principalmente, com o retorno do investimento; os empregados têm interesse em saber sobre

    o desempenho da empresa; os fornecedores, assim como os bancos, têm interesses em

    comum, uma vez que os dois querem saber a capacidade de pagamento da empresa; o governo

    tem como objetivo principal a cobrança de impostos, mas também utiliza as demonstrações

    contábeis a fim de delinear um perfil da economia nacional.

    Nota-se que, ao lado da preocupação com a acurácia da informação contábil, por parte

    dos usuários da contabilidade caminha a necessidade de se manter essa informação inteligível

    e significativa em âmbito internacional. Por exemplo, quando as empresas necessitam captar

  • 20  

    recursos em um mercado externo específico, precisam fornecer informações capazes de

    retratar sua situação econômico-financeira em um determinado período para que sejam feitas,

    por parte dos mais diversos usuários desse mercado, análises e avaliações de seu desempenho

    empresarial no presente, passado e futuro. (PENA, 2008).

    Com o fim de prover maior transparência e comparabilidade às informações

    contábeis,e com a necessidade de adoção dos padrões internacionais de contabilidade, iniciou-

    se, em 2005, o processo de convergência contábil no Brasil com a publicação da Deliberação

    488/05 da Comissão de Valores Mobiliários - CVM, determinando como obrigatória a

    convergência contábil internacional para as companhias abertas.

    Destaca-se, ainda, a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) através

    da Resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) No. 1.055/2005 a partir da união

    de esforços e objetivos de diversas entidades: Associação Brasileira das Companhias Abertas

    (ABRASCA), Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de

    Capitais (APIMEC), Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), Fundação Instituto de

    Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI) e Instituto dos Auditores

    Independentes (IBRACON), (PENA, 2008; GERON, 2008).

    Tendo discorrido sobre o cenário internacional a partir do qual se desdobra a

    necessidade de adaptação do mercado brasileiro aos acontecimentos internacionais e,

    portanto, da contabilidade a essas novas exigências, passa-se então a analisar a Estrutura

    Conceitual da Contabilidade da forma como é apresentada pelo CPC.

    A nova Estrutura Conceitual adotada no Brasil representa a primazia da Essência

    sobre a Forma, a qual assume, na abordagem do CPC, a forma de atributo indispensável para

    a observância da característica qualitativa da confiabilidade.

    Uma das características da informação contábil é, exatamente, o fato de que ela deve

    representar adequadamente os eventos ocorridos. As normas contábeis internacionais adotam

    a filosofia de que elas devem ser centradas em princípios, não em regras, o que aumenta as

    responsabilidades dos profissionais da área contábil, dos gestores das empresas e dos

    auditores que passarão a utilizar mais, usualmente, o julgamento (IUDÍCIBUS; MARTINS;

    GELBKE, 2010).

    Sendo assim, o CPC emitiu o Pronunciamento Conceitual Básico – Estrutura

    Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, determinando

    que as demonstrações contábeis sejam preparadas de acordo com o modelo contábil. Esse

    modelo deve ser baseado no custo histórico recuperável segundo o conceito da manutenção

  • 21  

    do capital financeiro nominal conforme a Estrutura Conceitual de Contabilidade. Ele tem

    tendo como finalidade:

    (a) dar suporte ao desenvolvimento de novos Pronunciamentos Técnicos e à revisão de Pronunciamentos existentes quando necessário; (b) dar suporte aos responsáveis pela elaboração das demonstrações contábeis na aplicação dos Pronunciamentos Técnicos e no tratamento de assuntos que ainda não tiverem sido objeto de Pronunciamentos Técnicos; (c) auxiliar os auditores independentes a formar sua opinião sobre a conformidade das demonstrações contábeis com os Pronunciamentos Técnicos; (d) apoiar os usuários das demonstrações contábeis na interpretação de informações nelas contidas, preparadas em conformidade com os Pronunciamentos Técnicos; e (e) proporcionar, àqueles interessados, informações sobre o enfoque adotado na formulação dos Pronunciamentos Técnicos.

    De acordo com o Pronunciamento Conceitual Básico, existem dois pressupostos

    básicos na elaboração das demonstrações contábeis: o Regime de Competência e o

    pressuposto da Continuidade. No regime de competência, todas as transações contábeis são

    reconhecidas e registradas na data do fato gerador, independentemente da entrada ou saída de

    caixa. Portanto, é possível visualizar, no Balanço Patrimonial, por exemplo, a conta

    “Duplicatas a Receber” que caracteriza uma venda a prazo cujo recebimento ocorrerá no

    período seguinte.

    Quanto ao pressuposto da continuidade, o CPC é convergente com a estrutura da

    CVM, pois adota o conceito do going concern (entidade em marcha) como indicador de

    continuidade. Ele estabelece que no caso de intenção, necessidade de redução de atividades

    ou, até mesmo, paralisação as demonstrações contábeis deverão ser preparadas em uma base

    diferente (LEMES; CARVALHO, 2010).

    A estrutura conceitual do CPC traz para a contabilidade brasileira o tratamento

    detalhado dos Elementos das Demonstrações Contábeis, apresentando considerações sobre a

    posição patrimonial e financeira, ativos, passivos, patrimônio líquido, desempenho, receitas,

    despesas e ajustes para a manutenção de capital. O Reconhecimento desses elementos é

    proposto pela análise da probabilidade de realização de benefício econômico futuro,

    confiabilidade na mensuração, reconhecimento de ativos, passivos, despesas e receitas. Ele

    trata, ainda, da mensuração dos elementos das demonstrações contábeis já mencionados.

    O CPC considera a definição do objetivo da contabilidade bastante importante para o bom

    desempenho do ensino da contabilidade e atribui à ciência contábil o papel de portadora de

    importantes informações para a tomada de decisões, estabelecendo parâmetros para provisões

    futuras a respeito da vida econômica e financeira da entidade. Ele, ainda, pondera que

  • 22  

    somente as demonstrações contábeis não são suficientes e nem são o único meio de prover

    informações para os usuários destas, devido à sua diversidade, seus interesses e sua

    compreensão da informação contábil, fazendo-se necessário o uso de Notas Explicativas e

    Quadros Complementares.

    2.1.2 Características Qualitativas da Informação Contábil

    Por qualidade entende-se a excelência do produto ou serviço prestado. Prazeres (1996)

    cita os conceitos dos seguintes autores quanto a produtos ou serviços:

    Armand Felgenbaum: “qualidade é a composição total das características de marketing, engenharia, fabricação e manutenção de um produto ou serviço, em uso, que atenderá as expectativas do cliente”. Portanto, espera-se que a elaboração das demonstrações contábeis atenda todas as características qualitativas da contabilidade.

    J.M. Juran: “o nível de satisfação alcançado por um atendimento aos objetivos do usuário, durante o seu uso, é chamado de adequação ao uso”. A adequação da informação contábil depende de sua compreensibilidade pois cada usuário utiliza a informação de maneira a adequar ao seu objetivo principal, seja para uma análise com foco em acionistas, investidores ou credores.

    William Edwards Deming: “qualidade é a satisfação do cliente” e “melhoria contínua”. Os usuários da informação contábil podem ser considerados os clientes, e sua satisfação está ligada, diretamente, à relevância e transparência da informação.

    Phillip Crosby: “qualidade é conformidade com os requisitos”, o que, sendo aplicável ao cenário contábil, pode-se deduzir como a devida aplicação da legislação contábil vigente.

    Os mesmos conceitos de qualidade supramencionados são também aplicáveis à

    contabilidade, cujo objetivo é gerar informação consistente e com excelente padrão de

    qualidade, supondo que as informações são elaboradas em base segura para que não haja

    interpretação equivocada por parte dos usuários.

    O Financial Accounting Standards Board (FASB), através do Statement of Financial

    Accounting Concepts (SFAC) no 2, intitulado Qualitative Characteristics of Accounting

    Information, elencou as características qualitativas que tornam a informação contábil útil,

    sendo estas: compreensibilidade, relevância, confiabilidade e comparabilidade; todas

    ratificadas no Pronunciamento Conceitual Básico.

    O CPC apresenta também um novo enfoque das Características Qualitativas das

    Demonstrações Contábeis, denominando-as qualitativas e definindo-as de uma forma mais

    abrangente como Compreensibilidade, Relevância, Confiabilidade e Comparabilidade. Ao

  • 23  

    lado das mencionadas características, o CPC também considera os aspectos Tempestividade,

    Equilíbrio do custo e benefício entre as características qualitativas e aborda, também, o

    aspecto da visão verdadeira e apropriada, uma aplicação do true and fair view.

    Compreensibilidade: Para Goulart (2003), a compreensibilidade está relacionada com

    a necessidade de prover os usuários com informações que sejam passíveis de entendimento, já

    que, pouca ou nenhuma validade terá a informação que, embora relevante, não seja

    compreendida pelos usuários.

    O FASB classificou a compreensibilidade como uma das características que auxiliam

    o usuário a entender as informações contábeis; contudo tal atributo requer que os usuários

    possuam um nível mínimo de conhecimento e de especialização para então compreender e

    interpretar tal informação e utilizá-la em seu processo decisório.

    A pesquisa realizada por Dias Filho (2001) aponta a compreensibilidade como uma

    das características vitais à eficácia da informação contábil. Dessa forma, é necessário que as

    demonstrações contábeis se apresentem compreensíveis, principalmente, para aqueles

    usuários que não possuem poder de determinar quais informações devem ser divulgadas.

    Relevância: na estrutura conceitual do CPC, é considerada a influência que a

    informação contábil pode ter na tomada de uma decisão, tornando a sua utilização

    indispensável para o usuário. À medida que uma informação apresenta influência econômica

    para o usuário, ela ganha relevância, permitindo que este avalie eventos presentes, passados e

    futuros.

    Hendriksen e Breda (1999) descrevem relevância como característica básica da

    informação útil. A informação relevante é aquela pertinente à questão analisada, englobando

    três aspectos conforme apresentado no Quadro 1. Quadro 1 – Relevância da Informação Contábil

    ASPECTOS DESCRIÇÃO

    Relevância para metas Alcançada quando a informação permite que as metas dos usuários sejam atingidas

    Relevância semântica Alcançada quando o destinatário da informação compreende o significado da informação divulgada

    Relevância para tomada de decisões

    Alcançada quando a informação facilita a tomada de decisões pelos usuários

    Fonte: Adaptação de Hendriksen e Breda (1999) O FASB adotou o entendimento de que a informação relevante é aquela que auxilia o

    usuário na tomada de decisão. É a informação com a capacidade de “fazer diferença” em uma

    decisão. Para “fazer diferença”, a informação deve ser oportuna e ajudar os usuários a “(...)

  • 24  

    fazer predições sobre o resultado de eventos passados, presentes e futuros, ou confirmar ou

    corrigir expectativas anteriores”.

    A Relevância é consubstanciada, ainda, pela materialidade a qual é abordada pelo CPC

    como fator primordial para a observância da característica qualitativa da Relevância.

    Considera-se que uma informação é material se a sua omissão ou distorção influenciar as

    decisões econômicas dos usuários da informação contábil, dependendo do tamanho do item

    ou do erro em questão. A Materialidade representa, portanto, um ponto de corte, não sendo

    considerada em si uma característica qualitativa primária da qual a informação necessita para

    ser útil.

    Confiabilidade: Para que sejam confiáveis, as informações devem ser apresentadas

    livres de erro e viés. O FASB define a confiabilidade em função de:

    Fidelidade de Representação: as informações representam fielmente os fenômenos

    que se pretende representar. O FASB definiu assim a fidelidade de representação:

    “correspondência ou concordância entre uma medida ou descrição e o fenômeno a

    que visa representar”

    Verificabilidade: pressupõe a ausência de viés pessoal ou subjetividade, permitindo

    a indivíduos qualificados independentes chegarem a medidas ou conclusões

    essencialmente iguais a partir do exame da mesma evidência. A verificabilidade é

    um conceito relativo e, por isso mesmo, não determina, por si só, a confiabilidade.

    Neutralidade: Apesar de o termo ser muito próximo do significado da ausência de

    viés, neutralidade quer dizer que não há viés na direção de um resultado

    predeterminado. Tendo como norma que a informação contábil deve refletir com

    fidelidade a atividade econômica sem utilizar artifícios ou maquiagem que visem

    influenciar comportamento em qualquer direção específica, a possibilidade de

    conseguir essa neutralidade sem viés ainda se constitui num ponto controvertido.

    O Equilíbrio entre o Custo e o Benefício é considerado pela estrutura do CPC como

    uma limitação de ordem prática às características da Relevância e da Confiabilidade das

    informações ao estabelecer que o benefício trazido por uma informação deve superar o custo

    que a mesma teve ao ser produzida. No entanto, a avaliação da relação custo-benefício é

    classificada como exercício de julgamento.

    Por outro lado, os custos não recaem, necessariamente, sobre aqueles usuários que

    usufruem dos benefícios. Estes podem ser aproveitados por outros usuários além daqueles

    para os quais as informações foram preparadas. É difícil, portanto, aplicar o teste de custo-

  • 25  

    benefício em qualquer caso específico. Todos os envolvidos na elaboração, divulgação e

    utilização da informação contábil devem estar cônscios dessa limitação. 

    Comparabilidade: O CPC - Pronunciamento Contábil Básico enuncia que:

    A comparabilidade deve possibilitar ao usuário o conhecimento da evolução entre determinada informação ao longo do tempo, numa mesma Entidade ou em diversas Entidades, ou a situação destas, num momento dado, com vista a possibilitar-se o conhecimento das suas posições relativas.

    Segundo Hendriksen e Breda (1999) o atributo da comparabilidade é aquele que

    confere à informação contábil um aspecto capaz de aumentar, consideravelmente, a sua

    utilidade ao possibilitar a comparação da empresa com outras empresas e com ela própria em

    períodos distintos, permitindo aos usuários identificar semelhanças e diferenças entre dois

    conjuntos de fenômenos econômicos.

    O conceito de Comparabilidade trazido pelo CPC estabelece que deve haver a

    possibilidade de os usuários da informação contábil fazerem uma comparação das

    demonstrações contábeis de uma mesma entidade ou entre entidades ao longo do tempo a fim

    de identificar tendências na posição patrimonial e financeira das mesmas, bem como o seu

    desempenho.

    Ainda segundo o CPC, os usuários devem ser informados das práticas seguidas na

    elaboração das informações contábeis, bem como de qualquer mudança nessas práticas e dos

    efeitos dessas mudanças. A Comparabilidade não deve ser confundida, também, com mera

    uniformidade e não deve ser um empecilho à introdução de normas contábeis mais

    aperfeiçoadas, por ser inapropriado manter certas práticas contábeis quando há alternativas

    mais relevantes e confiáveis.

    Portanto, a devida aplicação das características qualitativas e das normas e práticas

    contábeis apropriadas, possivelmente, resultem em demonstrações contábeis que reflitam

    aquilo que se entende como visão verdadeira e apropriada das informações. A estrutura

    conceitual do CPC aplica o termo true and fair view a demonstrações contábeis a serem

    elaboradas no Brasil. Esse termo, que o CPC não traduziu em seu texto, demonstra a

    proximidade entre essa estrutura conceitual e as diretrizes do IASB (PENA, 2008).

    A aplicação do true and fair view pressupõe que o contador não deva ser um mero

    cumpridor de regras, o que envolve juízo de valor por parte de quem prepara as

    demonstrações contábeis e por parte de quem as audita. Significa, também, que o profissional

    contábil deverá ser verdadeiro. No entanto, dependendo das referências utilizadas, a

  • 26  

    percepção da verdade pode ser diferente de uma pessoa para outra, podendo comprometer a

    credibilidade das demonstrações, bem como a sua comparabilidade.

    2.2 Convergência Contábil no Mundo

    No decorrer do tempo, os profissionais de contabilidade têm se organizado de

    diferentes maneiras com a finalidade de atingir mais acurácia na prática da contabilidade e

    com a constante preocupação do true and fair, o verdadeiro e o apropriado. A criação do

    FASB (Financial Accounting Standards Board) na América do Norte em 1973 e do IASB

    (International Accounting Standards Board), antes IASC (International Accounting

    Standards Committee), no mesmo ano, na Europa, reflete a preocupação com os diferentes

    padrões contábeis existentes no mercado global.

    Enquanto o FASB, sediado nos Estados Unidos, arregimenta os padrões americanos, o

    IASB reúne países europeus e de outros continentes. Além dos Estados Unidos da América, o

    FASB conta ainda com Austrália, Canadá, França, Alemanha, Japão, México, Reino Unido e

    Irlanda para harmonização da informação contábil. (PENA, 2008)

    O padrão americano, a princípio, predominou devido à importância da sua economia ,

    à qualidade do seu padrão contábil (USGAAP) e ao fato de muitas empresas quererem

    participar da bolsa de Nova Iorque. No entanto os europeus preocupavam-se com a

    supremacia americana, de modo que o IASB criou um conjunto de normas próprias,

    diferenciadas em relação às dos EUA, mas mantendo o mesmo padrão básico conceitual

    (IUDÍCIBUS, 2007).

    Os sistemas legais, em combinação com as diferenças políticas e econômicas, criaram

    uma vasta diversidade de sistemas contábeis; como resultado, a comparação entre

    demonstrações dessa natureza em diferentes países tornou-se uma tarefa difícil. Dentre os

    diversos sistemas legais originados na Europa destacam-se o inglês, o francês e o

    escandinavo, que contribuíram para a diversidade de sistemas contábeis existentes. Diante

    dessa percepção, os membros da comunidade européia iniciaram um movimento com o

    objetivo de harmonizar as diferentes normas contábeis.

    A harmonização consiste em um processo que buscou aumentar a comparabilidade das

    práticas contábeis, limitando as suas diferenças. Nas décadas de 1970 e 1980, os esforços para

    concretizar a harmonização estavam relacionados com a emissão de diretrizes para facilitar os

    fluxos financeiros entre empresas de diferentes países. Na década de 1990, o processo de

    harmonização foi impulsionado pelas normas do International Accounting Standards (IAS),

    que foram as precursoras das IFRS (International Financial Reporting Standards). No ano de

  • 27  

    2005, a Europa tornou obrigatória a adoção das IFRS pelas empresas situadas nos países

    membros (LIMA, 2011).

    De fato, no âmbito da convergência às normas IFRS, considera-se como ponto de

    partida uma lei emitida em 2002 (Regulation EC nº 1606/2002), por parte da União Européia,

    que obrigou a adoção das normas para todas as empresas de capital aberto que exercem

    atividades em seus países membros. As normas IFRS são elaboradas pelo IASB, que assumiu

    essa função normatizadora em 2000. Tal lei passou a vigorar a partir do ano de 2005, quando

    todas as empresas listadas em bolsas de valores na União Européia foram solicitadas a fazer

    suas demonstrações contábeis consolidadas de acordo com as IFRS (LIMA, 2011).

    Por outro lado, o FASB estabeleceu como missão a melhoria da utilidade da

    informação financeira, a manutenção de padrões atualizados para refletir mudanças no

    ambiente econômico, a promoção da convergência de padrões internacionais de contabilidade

    (em conjunto com o IASB) e a melhoria do entendimento da natureza e do propósito da

    informação financeira contida nos relatórios financeiros (PENA, 2008).

    A preocupação com a promoção da convergência de padrões internacionais de

    contabilidade deve ser notada e existe a propósito da evolução dos mercados econômicos, o

    que levou a uma evolução da contabilidade no decorrer do tempo, especialmente, nos Estados

    Unidos.

    Segundo Calixto (2010), são grandes as expectativas quanto à adoção do padrão IFRS,

    tendo em vista prováveis mudanças significativas que podem ocorrer no ambiente dos

    negócios, especialmente, com a possibilidade de se acabar com a variedade de normas

    contábeis que as empresas precisam acompanhar em cada país em que operam. Acredita-se

    que uma linguagem comum internacional poderá trazer grandes benefícios para a elaboração

    de análises econômico-financeiras das empresas de países e regiões diferentes.

    Espera-se, como resultados advindos da convergência às normas IFRS, uma série de

    vantagens, tais como: maior transparência e comparabilidade dos demonstrativos financeiros,

    integração dos mercados financeiros internacionais, consolidação dos blocos econômicos,

    atuação de instituições e órgãos em vários países de maneira conjunta e internacional e

    estabilidade financeira.

    De acordo com Ali e Hwang (2000), cinco fatores são de primordial importância no

    que diz respeito ao nível informacional das demonstrações contábeis:

    i. Sistema financeiro orientado para o mercado;

    ii. Sistema legal britânico-americano com mercado de capitais desenvolvido e

    propriedade dispersa;

  • 28  

    iii. Participação dos profissionais no estabelecimento de normas;

    iv. Baixa influência das normas tributárias nos sistemas contábeis;

    v. Montante gasto em auditoria.

    Portanto, o cenário vivido pela economia global até a década de 90, em que cada país

    realizava sua contabilidade de acordo com as normas e a legislação vigente no bloco regional

    ao qual estava atrelado, perdeu o seu sentido no cenário de expansão econômica vivido no

    presente. Uma mesma empresa poderia contabilizar resultados bem diferentes em seus

    balanços se estes fossem feitos de acordo com um ou outro método (IUDÍCIBUS, 2007).

    Não é mais possível trabalhar com uma contabilidade, somente, de acordo com a

    economia nacional; e pode ser inviável continuar a trabalhar, somente, com um método

    contábil europeu, americano ou chinês, por exemplo. A internacionalização da economia

    torna imperativa a mudança na metodologia contábil no mundo inteiro (LEITE, 2004).

    Desse modo, o processo de harmonização busca reconhecer as particularidades de

    cada país, tenta conciliá-las, maximizando a utilidade da informação contábil para os seus

    usuários e para o mercado de capitais.

    2.2.1 Convergência Contábil no Brasil

    O avanço do Brasil no sentido da harmonização contábil é marcado pela criação da lei

    6404/1976 para atender às exigências do mercado acionário brasileiro, a qual recebeu o nome

    de Lei das S.A. e que, no ano seguinte, foi estendida às demais sociedades por meio do

    Decreto Lei 1598/1977.

    Em relação à inovação, pode-se afirmar que essa lei introduziu novos e importantes

    conceitos ao direito societário ao adaptar conceitos locais já bastante utilizados em economias

    mais desenvolvidas à realidade brasileira, alinhando a legislação societária brasileira à de

    países como os Estados Unidos e países europeus, que haviam também reformulado suas

    legislações sobre as sociedades anônimas (GERON, 2008)

    O Ministério da Fazenda, em sua Carta de Exposição de Motivos n. 196 de 24 de maio

    de 1976, afirma que o projeto da Lei das S.A. tinha por objetivo criar a estrutura jurídica

    necessária ao fortalecimento do mercado de capitais no Brasil. Havia a preocupação de criar

    uma sistemática que assegurasse ao acionista minoritário o respeito a regras definidas sem, no

    entanto, imobilizar o empresário. Ao empresário era oferecida a liberdade de escolher os

    valores mobiliários que melhor se adaptassem ao seu empreendimento (ações, bônus,

    debêntures).

    Essa lei não sofreu alterações expressivas em termos contábeis até 2007. Com o

    passar dos anos, as exigências do mercado apresentaram modificações e se intensificaram, de

  • 29  

    modo que a Lei n. 6.404/1976, que representava na época um avanço, passou a representar

    uma restrição às empresas (PENA, 2008; GERON, 2008).

    Assim, a Lei das S.A. sofreu, no decorrer de 30 anos, algumas alterações em seus

    artigos que tratam de assuntos jurídicos, através das Leis 9.457/1997 e 10.303/2001; e sofreu

    uma grande alteração nos artigos que tratam de assuntos contábeis por meio da Lei

    11.638/2007 (GERON, 2008).

    Ainda no ano de 1976, foi criada a CVM, com autoridade para determinar regras na

    divulgação das informações de companhias abertas, tornando-se uma influência definitiva nas

    práticas contábeis brasileiras. O Brasil passou então a contar com uma lei de referência e

    norma máxima no que diz respeito a companhias abertas e com uma Comissão com

    autoridade para normatizar assuntos ligados à evidenciação dessas empresas abertas no Brasil

    (MARTINS; LOPES, 2005).

    A necessidade da criação da Lei 9457/1997 se refletia nas mudanças enfrentadas pela

    economia brasileira. A abertura à concorrência de produtos estrangeiros e a estabilidade da

    moeda, reduzindo ganhos no floating e impondo às companhias brasileiras a necessidade de

    mais eficiência para competirem com as empresas estrangeiras, passaram a demandar da

    legislação brasileira mais flexibilidade no que diz respeito aos processos de reestruturação

    empresarial (EIZIRIK, 1997).

    A Lei 10.303/2001 tinha como objetivo a proteção dos acionistas minoritários e a

    introdução de princípios de boas práticas de governança corporativa de forma a fortalecer o

    mercado de capitais. Essa mesma lei ampliou os poderes de regulação e fiscalização da CVM,

    o que aumentou a sua capacidade de exigir transparência de informação das companhias.

    Em 1999 a CVM entregou ao, então, ministro Pedro Malan o anteprojeto de alteração

    da Lei das S.A., alterando, principalmente, as disposições contábeis em seus capítulos XV,

    XVI, XVIII e XX. A justificativa apresentada pela CVM ao Governo incluía o processo de

    globalização das economias com abertura de mercados, expressiva quantidade de capitais

    ingressando no país, além do acesso à captação de recursos no exterior pelas empresas

    brasileiras.

    As mudanças ocorridas no Brasil refletem o cenário contábil mundial, especialmente o

    fortalecimento dos padrões internacionais de contabilidade a partir de 2005 e a adoção desses

    padrões pela Comunidade Européia.

    Destaca-se então a publicação da Deliberação CVM n. 488/2005, que determinou

    como obrigatória a harmonização contábil para as companhias abertas no Brasil. Nela são

    destacadas a importância e a necessidade de as práticas contábeis brasileiras serem

  • 30  

    convergentes com as práticas internacionais. A Deliberação também dispõe sobre

    considerações gerais para a apresentação de demonstrações contábeis com maior

    transparência, diretrizes para sua estrutura e requisitos mínimos para seu conteúdo, incluindo

    a descrição de práticas contábeis.

    Em 2006, foi estabelecido através do Comunicado 14.259 de 10 de março, do Banco

    Central do Brasil, que as instituições financeiras deveriam apresentar suas demonstrações

    consolidadas de acordo com as normas internacionais até 2010. Iudícibus (2007) entende que,

    com a criação do CPC em 2005 e a aderência do Banco Central do Brasil ao IASB, haveria

    uma força muito grande para a internacionalização do padrão contábil brasileiro.

    Não menos importante é a criação do CPC, Comitê de Pronunciamentos Contábeis, em

    2005, com o objetivo de emitir pronunciamentos contábeis em harmonia com a IFRS, e, como

    mais um passo na direção da harmonização contábil (BR GAAP).

    De acordo com Navaes (2010), o CPC tem por objetivo o estudo; o preparo e a

    emissão de Pronunciamentos Técnicos; orientações e interpretações sobre procedimentos de

    Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza para permitir a emissão de

    normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu

    processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira

    aos padrões internacionais.

    Portanto, o CPC visa centralizar e uniformizar a produção de procedimentos contábeis

    a fim de estabelecer, em médio prazo, um único conjunto de normas para aplicação no Brasil,

    adequando-se aos padrões internacionais.

    Até 31/07/2011 o CPC já emitiu diversos pronunciamentos na busca da harmonização,

    demonstrados no Quadro 2 que inclui a respectiva norma do IAS quando aplicável.

  • 31  

    Quadro 2 - Status dos pronunciamentos emitidos pelo CPC até 31/07/2011

    CPC PRONUNCIAMENTO IAS STATUS Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis N/A emitido

    1 Redução ao Valor Recuperável de Ativos IAS 36 emitido 2 Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações

    C áb iIAS 21 emitido

    3 Demonstração dos Fluxos de Caixa IAS 7 emitido 4 Ativo Intangível IAS 38 emitido 5 Divulgação sobre Partes Relacionadas IAS 24 emitido 6 Operações de Arrendamento Mercantil IAS 17 emitido 7 Subvenção e Assistência Governamentais IAS 20 emitido 8 Custos de Transação e Prêmios na Emissão de Títulos e Valores Mobiliários IAS 39 emitido 9 Demonstração do Valor Adicionado -DVA N/A emitido

    10 Pagamento Baseado em Ações IFRS 2 emitido 11 Contratos de Seguro IFRS 4 emitido 12 Ajuste a Valor Presente N/A emitido 13 Adoção Inicial da Lei no. 11.638/07 e da Medida Provisória no. 449/08 N/A emitido 14 Instrumentos Financeiros: Reconhecimento, Mensuração e Evidenciação - Fase I N/A discussão 15 Combinação de Negócios IFRS 3 emitido 16 Estoques IAS 2 emitido 17 Contratos de Construção IAS 11 emitido 18 Investimento em Coligada e em Controlada IAS 28 emitido 19 Investimento em Empreendimento Controlado em Conjunto IAS 31 emitido 20 Custos de Empréstimos IAS 23 emitido 21 Demonstração Intermediária IAS 34 emitido 22 Informações por Segmento IFRS 8 emitido 23 Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro IAS 8 emitido 24 Evento Subsequente IAS 10 emitido 25 Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes IAS 37 emitido 26 Apresentação das Demonstrações Contábeis IAS 1 emitido 27 Ativo Imobilizado IAS 16 emitido 28 Propriedade para Investimento IAS 40 emitido 29 Ativo Biológico e Produto Agrícola IAS 41 emitido 30 Receitas IAS 18 emitido 31 Ativo Não Circulante Mantido para Venda e Operação Descontinuada IFRS 5 emitido 32 Tributos sobre o Lucro IAS 12 emitido 33 Benefícios a Empregados IAS 19 emitido 34 Exploração e Avaliação de Recursos Minerais IFRS 6 discussão 35 Demonstrações Separadas IAS 27 emitido 36 Demonstrações Consolidadas IAS 27 emitido 37 Adoção Inicial das Normas Internacionais de Contabilidade IFRS 1 emitido 38 Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração IAS 39 emitido 39 Instrumentos Financeiros: Apresentação IAS 32 emitido 40 Instrumentos Financeiros: Evidenciação IFRS 7 emitido 41 Resultado por Ação IAS 33 emitido 42 Contabilidade e Evidenciação em Economias Altamente Inflacionárias N/A discussão 43 Adoção Inicial dos Pronunciamentos Técnicos CPC 15 a 41 N/A emitido 44 Demonstrações combinadas N/A discussão

    PME Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas N/A emitido Fonte: CPC (2011)

    A Lei 11.638 ao ser promulgada, em 28 de dezembro de 2007, alterou os dispositivos

    contábeis da Lei das Sociedades por Ações e trouxe consigo uma nova filosofia contábil: a

    primazia da Essência Econômica sobre a Forma Jurídica, a primazia da Análise de Riscos e

  • 32  

    Benefícios sobre a Propriedade Jurídica e a adoção de normas orientadas em princípios de

    julgamento (GERON, 2008).

    Em harmonia, o CPC emitiu o Pronunciamento Conceitual Básico – Estrutura

    Conceitual para Elaboração das Demonstrações Contábeis em janeiro de 2008, baseado no

    Framework for the Preparation and Presentation of Financial Statements (IASB). Tal

    pronunciamento foi aprovado pela CVM, através da Deliberação n. 539/2008 e pelo CFC,

    através da Resolução 1121/08, que alterou a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC T1) e

    substituiu, portanto, a Deliberação CVM n. 29/1986 e a Resolução CFC 750/1993.

    Observa-se, a partir daí, uma mudança de foco, ou seja, a contabilidade brasileira

    passa a formalizar a tendência de conversão de suas normas aos padrões contábeis do IASB,

    buscando a aproximação com as normas internacionais.

    Girotto (2007) espera que nos próximos anos seja consumado o processo de

    convergência que irá inserir o Brasil na lista de usuários do IFRS.

    Em 2007, a CVM publicou a Instrução 457, de 13 de julho, que tornou obrigatória às

    companhias abertas a apresentação de demonstrações financeiras consolidadas de acordo com

    o padrão contábil internacional a partir de 2010. De acordo com a Instrução:

    As companhias abertas deverão, a partir do exercício findo em 2010, apresentar as suas demonstrações financeiras consolidadas, adotando o padrão contábil internacional, de acordo com os pronunciamentos emitidos pelo International Accounting Standards Board – IASB.

    Em síntese, as principais alterações introduzidas pela Lei 11638/2007 foram as

    seguintes:

    Substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos pela

    Demonstração dos Fluxos de Caixa.

    Inclusão da apresentação da Demonstração do Valor Adicionado (DVA), aplicável

    apenas para companhias abertas, que demonstra o valor adicionado pela

    companhia, bem como a composição da origem e alocação de tais valores.

    Possibilidade de manter separadamente a escrituração das transações para atender

    à legislação tributária e, na seqüência, os ajustes necessários para adaptação às

    práticas contábeis.

    Criação de novo subgrupo de contas, intangível, que inclui ágio, para fins de

    apresentação no balanço patrimonial. Essa conta registrará os direitos que tenham

    por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou exercidos

    com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido.

  • 33  

    Obrigatoriedade do registro no ativo imobilizado dos direitos que tenham por

    objeto bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da Companhia,

    inclusive os decorrentes de operações que transfiram à Companhia os benefícios,

    riscos e controle dos bens (exemplo: leasing financeiro).

    Obrigatoriedade de a companhia analisar, periodicamente, a capacidade de

    recuperação dos valores registrados no ativo imobilizado e intangível.

    Requerimentos para que as aplicações em instrumentos financeiros, inclusive

    derivativos, sejam registradas (i) pelo seu valor de mercado ou valor equivalente,

    quando se tratar de aplicações destinadas à negociação ou disponíveis para venda;

    e (ii) pelo valor de custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme

    disposições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização, quando

    este for inferior.

    Criação de um novo subgrupo de contas, Ajustes de Avaliação Patrimonial no

    patrimônio líquido, para permitir o registro de determinadas avaliações de ativos a

    preços de mercado, principalmente instrumentos financeiros; registro de variação

    cambial sobre investimentos societários no exterior avaliados pelo método de

    equivalência patrimonial (até 31 de dezembro de 2007 essa variação cambial era

    registrada no resultado do exercício); ajustes dos ativos e passivos a valor de

    mercado, em razão de fusão e incorporação ocorridas entre partes não relacionadas

    que estiverem vinculadas à efetiva transferência de controle.

    Introdução do conceito de ajuste a valor presente para as operações ativas e

    passivas de longo prazo e para as relevantes de curto prazo.

    Revogação da possibilidade de registrar (i) prêmio recebido na emissão de

    debêntures e (ii) doações e subvenções para investimento (incluindo incentivos

    fiscais) diretamente como reservas de capital em conta de patrimônio líquido. Isso

    significa que as doações e as subvenções para investimento passarão a ser

    registradas no resultado do exercício. Para evitar a distribuição como dividendos, o

    montante das doações e subvenções poderão ser destinados, após transitarem pelo

    resultado, para reserva de incentivos fiscais.

    Eliminação da reserva de reavaliação. Os saldos existentes nas reservas de

    reavaliação deverão ser mantidos até sua efetiva realização ou estornados até o

    final do exercício social em que a Lei entrar em vigor.

  • 34  

    Eliminação do parâmetro de relevância para ajuste do investimento em coligadas e

    controladas pelo método de equivalência patrimonial e substituição do parâmetro

    de 20% do capital social da investida para 20% do capital votante da investida.

    Grecco et al. (2009) analisaram o impacto das mudanças na Legislação Societária

    Brasileira, em 2008, no índice de conservadorismo das companhias abertas, estudando os

    efeitos dos ajustes em decorrência da adoção das novas práticas contábeis, principalmente, no

    Patrimônio Líquido e no Resultado do Exercício.

    Tanto no Patrimônio Líquido quanto no Resultado do Exercício, notou-se maior

    número de ajustes decorrentes do CPC 14 - Instrumentos financeiros: reconhecimento,

    mensuração e evidenciação, os investimentos temporários, que de acordo com a nova regra

    devem ser avaliados conforme a intenção da companhia em negociá-los para venda antes ou

    depois de seu vencimento. Dessa forma, os investimentos classificados como destinados à

    negociação imediata e disponíveis para venda deverão ser calculados a valor de mercado ou

    equivalente.

    Os valores de aplicações temporárias para os quais a gestão tem a intenção de manter

    até o vencimento, deverão ser avaliados pelo custo de aquisição atualizado. O ajuste a valor

    de mercado dos títulos destinados à negociação imediata terá, como contrapartida, o resultado

    do exercício, e o ajuste a valor de mercado dos títulos disponíveis para venda deverá ter,

    como contrapartida, a conta de Ajustes de Avaliação Patrimonial que deverá ser transferida

    para o resultado na efetiva realização da operação ou quando da reclassificação do

    investimento temporário como destinado à negociação imediata.

    Os principais resultados estão demonstrados nas Tabelas 1 e 2:

  • 35  

    Tabela 1 - Resultado dos Ajustes no Patrimônio Líquido

    Fonte: Grecco et al. (2009)

    Tabela 2 – Resultado dos Ajustes no Resultado do Exercício

    Fonte: Grecco et al. (2009)

    Grecco et al. (2009) concluíram que a adoção das novas práticas contábeis no ano de

    2008 trouxe um maior nível de conservadorismo às demonstrações contábeis das companhias

    abertas brasileiras.

    2.3 Auditoria

    A denominação auditor é antiga, mas a data de sua adoção é desconhecida. Attie

    (2006) explica a origem do termo:

  • 36  

    A origem do termo auditor em português, muito embora perfeitamente representado pela origem latina (aquele que ouve, o ouvinte), na verdade provém da palavra inglesa to audit (examinar, ajustar, corrigir, certificar). Segundo se tem notícias, a atividade de auditoria é originária da Inglaterra que, como dominadora dos mares e do comércio em épocas passadas, teria iniciado a disseminação de investimento em diversos locais e países e, por consequência, o exame de investimentos mantidos naqueles locais.”

    O objetivo da auditoria é certificar a veracidade das informações nas demonstrações

    contábeis divulgadas pelas companhias e assegurar que elas representem, adequadamente, a

    situação financeira e patrimonial do auditado. Para tanto é necessário que o auditor tenha

    capacidade técnica, competência e ética profissional (ATTIE, 2006).

    Boynton et al. (2002) classificam a auditoria em três tipos:

    Auditoria de Demonstrações Contábeis, aquela que tem como objetivo principal a

    emissão de pareceres sobre a adequação das normas contábeis pela companhia

    auditada assim com sua situação patrimonial;

    Auditoria de Compliance, em que ocorre assistência à alta direção e certifica-se que

    todas as normas internas ou externas de órgãos reguladores estão sendo

    devidamente cumpridas pela companhia; e

    Auditoria Operacional, realizada com o objetivo de testar a eficiência dos

    procedimentos operacionais e sistemas de informação, além de analisar a

    consistência dos resultados obtidos por tais procedimentos/sistemas, evitando,

    assim, distorções na informação contábil.

    Ainda segundo Boynton et al. (2002) definem, também, que a necessidade de auditoria

    das demonstrações contábeis advém de quatro condições:

    Conflitos de interesse: em função dos conflitos de agência, tendo em vista que os

    usuários das demonstrações se preocupam com os conflitos entre os seus interesses

    e os da administração da empresa, ou entre as diferentes classes de usuários

    (credores e acionistas, por exemplo).

    Consequência: como são utilizadas para a tomada de importantes decisões de

    investimento e concessões de empréstimos, por exemplo, é crucial que as

    demonstrações contábeis sejam tão corretas quanto possível e apresentem o máximo

    de informações relevantes para a tomada de decisão.

    Complexidade: a complexidade na preparação das demonstrações contábeis faz com

    que estejam sujeitas a erros e sejam de difícil avaliação por parte de usuários não-

    especialistas, daí a necessidade de revisão por peritos (os auditores independentes).

  • 37  

    Distância: distância, tempo e custo tornam impraticável, mesmo para o usuário com

    conhecimento técnico para tanto, checar se os registros contábeis são corretos e

    constituem a verdadeira fonte de informação das demonstrações contábeis, por isso

    a necessidade de recorrer ao trabalho do auditor independente.

    Atribui-se, então, ao auditor um papel de intermediário informacional, uma vez que,

    nos mercados financeiros, investidores e administradores possuem informações assimétricas.

    Para Martins e Lopes (2005) a informação contábil funciona como “redutora da assimetria

    informacional”, sendo evidência do fato a publicação de demonstrações contábeis auditadas.

    Os investidores, pelo fato de não possuírem a mesma informação que os gestores da

    organização, necessitam de “instrumentos independentes para avaliar a real situação da

    empresa”.

    Entende-se, portanto, que a figura do auditor independente é um elemento

    imprescindível para a credibilidade do mercado e um instrumento de inestimável valor na

    proteção dos investidores, uma vez que a sua função é zelar pela fidedignidade e

    confiabilidade das demonstrações contábeis da entidade auditada.

    A exatidão e a clareza das demonstrações contábeis, inclusive a divulgação, em notas

    explicativas, de informações indispensáveis à visualização da situação patrimonial, financeira

    e dos resultados da instituição auditada dependem de um sistema de auditoria eficaz e,

    fundamentalmente, da tomada de consciência do auditor quanto ao seu verdadeiro papel

    dentro desse contexto.

    Fica reconhecida, também, a necessidade de que o mercado disponha de auditores

    independentes altamente capacitados e que, ao mesmo tempo, desfrutem de um elevado grau

    de independência no exercício de sua atividade.

    Pode-se observar, diante do exposto, a importância do auditor independente no âmbito

    do mercado de capitais. Justifica-se a reflexão sobre a forma que tem esse profissional de se

    comunicar com o usuário externo e sobre a tarefa que consiste em atribuir credibilidade às

    informações contábeis utilizadas no processo decisório.

    Para Healy e Palepu (2000), não está claro se a credibilidade aumenta a partir da

    segurança fornecida pelos auditores, ou a partir de outras informações como o risco de litígio

    para os gerentes por divulgação de informação enganosa. Certamente, a credibilidade das

    demonstrações contábeis não vem apenas dos auditores independentes, mas não há razão para

    negar a sua relevância para a credibilidade de tais informações.

    Houve ocasião em que a auditoria criou uma forte reputação de não somente avaliar o

    desempenho dos administradores, mas, especialmente, de descobrir as fraudes conduzidas

  • 38  

    pelos gestores. De acordo com Reis Júnior (2006), as auditorias realizadas nos Estados

    Unidos no início do século XX eram padronizadas segundo o modelo da Inglaterra, cujos

    exames eram feitos “para serem reportados aos administradores e para detectar fraudes.” Ao

    comentar sobre o volume de documentos auditados, o mesmo autor relata que “em muitos

    casos, todas as transações de uma entidade eram auditadas”, e, no entanto, “considerações de

    custo forçaram os auditores a modificarem suas técnicas de exames detalhados para

    amostragens e testes.”

    Certamente, os fatos históricos que abalaram a credibilidade do mercado de capitais

    resultaram em respostas à crise que impactaram fortemente a reputação do auditor,

    considerando que as firmas de auditoria foram corresponsáveis pelos escândalos corporativos

    ocorridos no Brasil e no mundo.

    A Tabela 3 apresenta os percentuais de participação das firmas de auditoria que

    prestaram serviços às companhias envolvidas nos principais escândalos financeiros

    divulgados pela mídia na última década, ressaltando que as Big Four (Big Five, considerando

    a extinta Arthur Andersen) auditaram 93% destas, de acordo com detalhes destacados no

    Apêndice 1. Tabela 3 – Firmas de auditoria envolvidas em escândalos financeiros Firmas de Auditoria Participação Escândalos

    Financeiros Arthur Andersen (Extinta) 26% Deloitte Touche Tohmatsu 24% Ernst & Young 15% KPMG 14% PricewaterhouseCoopers 14% Non Big Four 7%

    Fonte: Cilo (2010); Wikipedia (2011)

    Nos Estados Unidos, esses escândalos tiveram como protagonistas a Enron e a Arthur

    Andersen. Como resposta, foi aprovada a Lei Sarbanes & Oxley em 2002, visando à proteção

    dos investidores por meio da melhoria do processo de divulgação financeira, que, sem dúvida,

    trouxe mais responsabilidade aos administradores e auditores (TILLMAN; FARES, 2002).

    No Brasil, também houve dúvida sobre a qualidade da auditoria e, como resposta, a

    CVM criou a regulamentação que determina o rodízio de auditores independentes,

    primeiramente, nas instituições financeiras, e depois a mesma obrigatoriedade foi estendida a

    todas as companhias abertas listadas em bolsas de valores.

    O auditor torna-se assim um profissional responsável pela validação de um amplo

    leque de informações requeridas pela CVM e outros órgãos, mas essa validação precisa ser

  • 39  

    feita por um profissional qualificado e independente em seu julgamento para que essas

    informações auditadas possam ser publicadas.

    Segundo Lattorraca (1970) apud Ricardino e Carvalho (2004), o descobrimento de

    fraudes “já foi o propósito primário da auditoria.” Todavia, o desenvolvimento econômico

    resultou em um cenário novo e mais complexo, no qual a magnitude dos negócios realizados e

    o volume de transações aumentaram tanto que esse propósito “se tornou menos importante

    comparado com a opinião sobre as demonstrações contábeis, consideradas em seu conjunto.”

    A principal estratégia corporativa para fazer frente ao aumento substancial do volume

    das transações econômicas e buscar padrões elevados de governança corporativa foi a adoção

    de sistemas informatizados, os quais agilizam os processos de negócios e contribuem para

    aperfeiçoar o controle interno das empresas.

    Segundo Barbosa (2008), os auditores sentiram-se mais confortáveis em ter por

    clientes empresas mais bem organizadas, inclusive as empresas mais bem informatizadas, e

    reduziram a sua ênfase na descoberta de fraudes; passaram, assim, a ser vistos como

    provedores de confiabilidade para as demonstrações contábeis das empresas.

    A auditoria independente é considerada como importante suporte para a existência e

    continuidade do trabalho da CVM no Brasil. Nos Estados Unidos, a Securities Exchange

    Commission (SEC), em Pronunciamento emitido em 2001, considera que os auditores

    independentes são, por extensão do significado desta definição, “os ‘guardiões’ do mercado

    de capitais”, recebendo, ainda, em consequência dessa estrutura legislativa, uma grande

    valorização econômica e uma importante confiança pública. A SEC considera, no mesmo

    pronunciamento, que o requisito independência é “vital para o nosso mercado de capitais”.

    A demanda por serviços de auditoria, segundo caracterização de Wallace (1987),

    apresenta as seguintes categorias:

    Os serviços de auditoria ocorrem porque os custos de agência aumentam

    devido à separação entre propriedade e controle, para reduzir os custos de

    agência e monitorar a administração. Os auditores são indicados pelos

    acionistas.

    Os serviços de auditoria ocorrem devido à assimetria informacional entre

    administradores e investidores da empresa.

    Os serviços de auditoria são contratados como uma espécie de seguro para

    investidores e credores em caso de perdas financeiras.

    Assim, o valor de uma auditoria pode ser especificado como informacional no que diz

    respeito à sua contribuição na decisão de alocação de recursos, ou contingente, uma vez que o

  • 40  

    valor da auditoria é o valor a ser recebido pelo litígio movido pelos usuários das

    demonstrações contábeis, em caso de falha dessa mesma.

    Portanto, espera-se que os auditores não falhem na condução de seu trabalho. A

    evidência mais forte de que há uma falha de auditoria ocorre quando há litígio contra os

    auditores. Pode-se então depreender que a ausência de litígio contra os auditores indica uma

    auditoria de qualidade, mas não necessariamente. Simplesmente pode ocorrer que uma falha

    na auditoria não foi detectada. Se uma falha ocorreu e não foi detectada é bem provável que a

    empresa e seus acionistas não sofreram efeitos econômicos adversos, tais como falência ou

    aumento do desequilíbrio econômico em virtude de tal falha (BARBOSA, 2008).

    As falhas de auditoria com consequências econômicas relevantes não são frequentes.

    Isso é um fato muito significativo para a reputação do trabalho do auditor e não deixa de

    aduzir ao que se espera da profissão e do profissional.

    De acordo com Reis Júnior (2006), espera-se que a função de auditoria siga elevados

    padrões:

    A função da auditoria deve ser exercida em caráter de entendimento e de forma que o trabalho executado tenha e mereça toda a credibilidade possível, não sendo permissível a existência de qualquer sombra de dúvida quanto à honestidade e aos padrões morais do auditor. O Auditor deve ser alguém com profundo equilíbrio e probidade, uma vez que sua opinião influencia outras pessoas, principalmente em relação a interesses financeiros e comerciais que eventuais acionistas, proprietários, clientes e fornecedores, dentre outros, possam ter.

    2.3.1 Atualização das Normas de Auditoria

    A NBC P 1 – Normas Profissionais de Auditor Independente, aprovadas pela

    resolução CFC N.º 851/99, que trata da atualização das normas de auditoria contida na NBC

    TA 200 – Objetivos Gerais do Auditor Independente e a Condução de uma Auditoria em

    Conformidade com Normas de Auditoria, requisitos aplicáveis a auditorias de demonstrações

    contábeis para os períodos iniciados em ou após 1º de janeiro de 2010.

    A NBC P1 versa sobre os princípios éticos e profissionais que devem reger a atividade

    do auditor (RESOLUÇÃO CFC N.º 851, 1999; ARAUJO, 1998).

    A Independência é a condição primordial do trabalho de auditoria para a obtenção dos

    elementos de prova e exercício do julgamento do auditor. De acordo com Reis Júnior (2006),

    o condicionamento dos atos do auditor para sua função “constitui-se elemento restritivo, e

    portanto, impeditivo de executar o que é necessário”. Assim sendo, o auditor pode “não reunir

    as melhores e mais eficientes provas cabais que, a seu juízo, seriam vitais para a emissão de

  • 41  

    sua opinião.”

    De acordo com a NBC P1, o contador, na função de auditor independente, deve agir

    em conhecimento e deve manter-se atualizado, garantindo, assim, o seu nível de competência

    profissional pelo “conhecimento atualizado dos Princípios Fundamentais de Contabilidade e

    das Normas Brasileiras de Contabilidade, das técnicas contábeis, especialmente, na área de

    auditoria, da legislação inerente à profissão, dos conceitos e técnicas administrativas e da

    legislação específica aplicável à entidade auditada” (RESOLUÇÃO CFC N.º 851, 1999).

    O auditor, como requisito prévio para assumir a responsabilidade por uma auditoria

    das demonstrações contábeis, deve ter conhecimento da atividade da entidade auditada,

    inclusive um conhecimento preliminar e resultante da avaliação, junto à administração da

    entidade, do grau de complexidade das operações e do grau de exigência requerido para a

    realização do trabalho de auditoria. A Resolução CFC nº 851/99 determina que:

    O conhecimento do auditor deve ser suficiente para que lhe seja possível identificar e compreender as transações realizadas pela mesma e as práticas contábeis aplicadas, que possam ter efeitos relevantes sobre a posição patrimonial e financeira da entidade, e o parecer a ser por ele emitido sobre as demonstrações contábeis.

    O auditor não deve aceitar o serviço de auditoria se reconhecer não estar

    adequadamente capacitado para realizá-lo (RESOLUÇÃO CFC N.º 851/99).

    De acordo com a norma NBC P1, não é permitido executar trabalho de auditoria

    independente no período a que se refere a auditoria ou durante a execução dos serviços em

    relação à entidade auditada, suas coligadas, controladas, controladoras ou integrantes do

    mesmo grupo econômico o auditor que:

    Apresente vínculo conjugal ou de parentesco consanguíneo ou por afinidade,

    com administradores, acionistas, sócios ou com empregados que tenham

    ingerência na sua administração ou nos negócios, ou sejam responsáveis por

    sua contabilidade;

    Tenha apresentado relação de trabalho como empregado, administrador ou

    colaborador assalariado, ainda que essa relação seja indireta nos dois últimos

    anos;

    Possua participação direta ou indireta como acionista ou sócio;

    Possua interesse financeiro direto, imediato ou mediato, ou substancial

    interesse financeiro indireto, compreendida a intermediação de negócios de

    qualquer tipo e a realização de empreendimentos conjuntos;

  • 42  

    Exerça função ou cargo incompatível com a atividade de auditoria

    independente;

    Tenha fixado honorários condicionais ou incompatíveis com a natureza do

    trabalho contratado; e,

    Encontre-se em qualquer outra situação de conflito de interesses no exercício

    da auditoria independente, na forma que vier a ser definida pelos órgãos

    reguladores e fiscalizadores.

    Ocorrendo qualquer das hipóteses de conflitos de interesses mencionados nesse item, o

    auditor não deve aceitar o serviço de auditoria proposto ou deve renunciar à função

    (RESOLUÇÃO CFC N.º 851/99).

    O princípio da Integridade é abordado na Norma NBC TA 200 como parte integrante

    do item Requisitos Éticos Relacionados à Auditoria de Demonstrações Contábeis. No

    apêndice Aplicação e Outros Materiais Explicativos, no subitem Exigências Éticas Relativas

    a uma Auditoria de Demonstrações Contábeis, o CFC ressalta que:

    O auditor está sujeito a exigências éticas relevantes, inclusive as relativas à independência, no que diz respeito a trabalhos de auditoria de demonstrações contábeis. As exigências éticas relevantes abrangem o Código de Ética Profissional do Contabilista, relacionados à auditoria de demonstrações contábeis bem como as NBC PA aplicáveis.

    Os princípios fundamentais de ética profissional relevantes para o auditor quando da

    condução de auditoria de demonstrações contábeis estão implícitos no Código de Ética

    Profissional do Contabilista e na NBC PA 01. Esses princ�