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EVOLUÇÃO DA PAISAGEM NA RPPN CISALPINA: FOTOINTERPRETAÇÃO E MAPEAMENTO
TEMÁTICO
Katia Kayahara da Silva
Einstein Antônio da Silva
Orientador: Paulo César Rocha
UNESP/ FCT
PROEX, Pró-Reitoria de Extenção
1- INTRODUÇÃO
O escoamento nos canais fluviais apresenta diversas características dinâmicas, que se
tornam responsáveis pelas qualidades atribuídas aos processos fluviais. A dinâmica do escoamento,
no que se refere à perspectiva geomorfológica, ganha significância na atuação exercida pela água
sobre os sedimentos do leito fluvial, no transporte dos sedimentos, nos mecanismos deposicionais e
na esculturação da topografia do leito (Christofoletti, 1981).
A morfologia de um sistema fluvial reflete uma história denudacional. Segundo Petts & Foster
(1990), os rios podem ser vistos como um sistema aberto, em termos de entrada (input) e saída
(output) de massa e energia, e como sistemas de processo-resposta, mantendo três características:
1- sua operação é controlada pela magnitude e freqüência de inputs; 2- mudanças progressivas na
morfologia e operação do sistema podem ocorrer se mudanças nos inputs ou degradação interna do
sistema ocorrerem; 3- auto-regulação ou trocas negativas (feedback) podem ocorrer criando um novo
estado de equilíbrio entre as formas e os processos.
A área do sistema rio-planície fluvial que se encontra a montante do lago da Usina
Hidrelétrica (U.H.E.) Engenheiro Sergio Motta, só recentemente passou a ser estudada, após o
enchimento do lago. Contudo, boa parte dos conhecimentos adquiridos no trecho a jusante podem
ser utilizados nesta área, devido às coincidentes morfologias identificadas.
As imagens satélites são um recurso acessível e de baixo custo, por esses motivos a sua
utilização tem se difundido tanto para um emprego mais teórico, quanto prático. Além do baixo custo
que a utilização dessas ferramentas proporciona, seu caráter multitemporal permite observar e
estudar fenômenos dinâmicos, nesse caso em particular, as variações na lâmina de água e na
cobertura do solo, por exemplo. Esses recursos são cada vez mais utilizados pela cartografia e a
geografia no segmento de análise e pesquisa. Suas aplicações têm sido muito utilizadas no
entendimento dos sistemas fluviais, principalmente nos grandes ecossistemas rio-planície de
inundação.
1.1 - A Área de Estudo
O trecho da planície do Rio Paraná que está sendo mapeada corresponde à planície do rio
que se encontra entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, mais precisamente entre os
municípios de Panorama – SP e Brasilândia – MS, apresentando altitudes que variam entre 257 e
270 metros acima do nível do mar. O local se encontra dentro da Reserva Particular do Patrimônio
Cisalpina, mantida pela CESP, representada na figura 1.
Figura 1: Recorte de imagem do mosaico Google Earth.
A imagem mostra a densidade dos paleocanais da área, é possível ver também que
esses paleocanais apresentam certa inclinação se comparados ao atual canal principal do Rio
Paraná, isso ocorreu por ação de movimentos tectônicos pretéritos.
Com declividades que variam de 0% a 8%, o terreno na planície se mostra ondulado e
suavemente ondulado. Nas cotas mais baixas se encontra afloramentos de basaltos, nas barrancas
se observa o afloramento de arenitos do Grupo Bauru, o Arenito Santo Anastácio e com menos
freqüência os Arenitos Caiuá, nas cotas mais altas nota-se o afloramento de arenitos Adamantina,
também do Grupo Bauru.
Além de sua importância para a preservação da fauna e flora locais, a reserva
Cisalpina, apresenta uma grande importância no que diz respeito aos estudos arqueológicos, pois se
encontra na reserva dois sítios arqueológicos, que contém vestígios de povos coletres-caçadores-
pescdores pré-históricos. Ambos estão ameaçados pela velocidade da regressão da margem.
A reserva Cisalpina abrange a antiga Fazenda Olympia, que pertencia ao grupo
Cisalpina e outras áreas situadas na margem direita do Rio Paraná.
A Fazenda possuía maquinário de última geração, não existente em outros lugares do
país, a principal atividade era a orizicultura, mas as enchentes do Rio Paraná arrasavam a cada ano
suas plantações, até a década de 1980, quando seu proprietário resolveu abandonar as atividades
produtivas e transformar a Fazenda Olympia, com 10631 hectares em uma reserva florestal.
Depois da transformação da Fazenda Olympia em “Refugio Particular de Animais
Nativos”, o senhor Luigi (Proprietário da fazenda), através de um contrato de comodato, passa cerca
de dois hectares para o grupo indígena Ofaié, que depois do alagamento do local devido ao
fechamento das comportas da barragem de porto primavera, foram transferidos para Bodoquena.
A planície de inundação do alto curso do Rio Paraná possuía grande extensão, que hoje
é interrompida pelo lago da U.E. Engenheiro Sergio Motta (Usina Hidroelétrica Engenheiro Sergio
Motta), essa interrupção causou uma série de alterações naturais e conseqüentemente sociais nas
áreas afetadas.
2-OBJETIVO GERAL
As planícies de inundação apresentam uma grande diversidade de ambientes (lóticos,
lenticos e terrestres) e de condições (aquáticas e terrestres). Para compreender de maneira eficiente
esses ambientes é necessário que se tenha um entendimento da distribuição das feições da planície,
pois com isso é possível entender a dinâmica da área, as alterações causadas pelo regime
hidrológico e as conseqüências da interferência antrópica nesse ambiente.
Por isso a utilização da cartografia temática é de grande importância, visto que esse
instrumento permite compreensão do espaço, pois através dela é possível mostrar a espacialidade
de fenômenos, fatos, feições e mudanças decorridas com o tempo. Portanto para um melhor
entendimento da nova paisagem da planície de inundação do alto curso do Rio Paraná, se pretende
confeccionar um conjunto de cartas temáticas da planície de inundação em seu trecho à montante da
U.E. Sergio Motta.
3- OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Confeccionar cartas temáticas através do uso de imagens de satélite, fotografias aéreas.
Essas cartas compreenderão os temas: uso/ocupação, vegetação, umidade da área em diferentes
períodos hidrológicos e a hipsometria da planície de inundação. Além da confecção das cartas a
Interpretação dessas cartas de algumas imagens é uma etapa fundamental para tentar obter uma
compreensão da dinâmica da cobertura e zoneamento das superfícies tanto espacial quanto
sazonalmente.
4- METODOLOGIA
O primeiro passo foi a construção de uma tabela e um gráfico contendo os dados diários
de cota e vazão, para que através deles fossem escolhidos os dias das imagens para a construção
das cartas.
Para a obtenção das imagens escolheram-se os satélites CIBERS (satélite sino-brasileiro
de recursos terrestres) e o LANDSAT (Land Remote Sensing Satellite). O satélite CIBERS surgiu de
uma parceria entre os setores de tecnologia chinês e brasileiro, abordo desse satélite estão os
sensores:
• CCD: câmera com resolução espacial de 20 metros, coleta dados em cinco canais três na
região do visível, um infravermelho próximo e um pancromático, cobrindo 113
km por 113 km, por imagem, a cada 26 dias;
• IR-MSS: com resolução de 80 metros, cada imagem cobre uma área de 120 km por 120 km à
26 dias, nos canais espectrais: pancromático, região do visível, infravermelho próximo e dois
no infravermelho médio;
• WFI: coletada dados da mesma área de 3 a 5 dias, com 260 metros de resolução espacial
cobre uma área de 890 km por 890 km, em dois canais espectrais, um visível e um
infravermelho próximo.
O LANDSAT é um projeto da Agência Espacial Americana (NASA), desenvolvido pra a
observação de recursos naturais terrestres. Nos três primeiros satélites da série LANDSAT o
principal sensor era o MSS (Multespactral Scanner System), a partir do LANDSAT 4 começou a
operar um novo sensor o TM (Thematc Mapper), que foi substituído no LANDSAT 7 pelo ETM+
(Enhanced Thematic Mapper, Plus). As imagens desses satélites podem ser adquiridas,
gratuitamente, através do site do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Para a carta hipsometria, será construído um modelo digital de elevação, a partir de
imagens geradas pelo SRTM (The Shuttle Radar Topography Mission), da NASA, pois essas
imagens são mais confiáveis para a construção de cartas desse tipo.
Para o tratamento dos produtos dos sensores remotos será utilizado o programa
SPRING, que foi desenvolvido pelo INPE/DPI (Divisão de Processamento de Imagens), com a
participação do EMBRAPA/CNPTIA - Centro Nacional de Pesquisa Tecnológica em Informática para
Agricultura, IBM Brasil - Centro Latino-Americano de Soluções para Ensino Superior e Pesquisa,
TECGRAF - PUC Rio - Grupo de Tecnologia em Computação Gráfica da PUC - Rio e
PETROBRÁS/CENPES - Centro de Pesquisas "Leopoldo Miguez". Para auxílio e consulta, a fim de
esclarecer dúvidas, levantar dados não presentes nas imagens de satélite e checar os pontos de
localização, cartas e mapas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e fotografias
aéreas, principalmente com o uso da estereoscopia, se mostraram eficientes para melhor entender a
morfologia do local.
Além da confecção dos mapas, a interpretação dos produtos dos sensores e remotos e das
cartas é uma etapa importante, quando se busca a compreensão do local em estudo.
Concomitante ás etapas citadas anteriormente está sendo feito um contínuo levantamento
bibliográfico, através da leitura de livros teses e artigos que possam dar aporte teórico adequado ao
trabalho.
6- RESULTADO (S) PRÉVIOS
O presente texto procura trazer um conjunto de conhecimentos necessários, para a
compreensão dos processos ambientais na RPPN Cisalpina, as influências do regime hidrológico
atual, as interferências antrópicas e o estado de recuperação desta Unidade de Conservação. Assim,
baseado na utilização de ferramentas de geoprocessamento, dados de campo e dados hidrológicos,
serão produzidas as cartas temáticas mencionadas.
Durante o levantamento de campo foi possível notar de forma clara a diferenciação entre os
paleocanais e os paleodiques, representados na figura 2, As áreas mais baixas e úmidas são os
paleocanais e as áreas mais altas e com vegetação mais densa são os paleodiques.
Figura 2: Observa-se na foto que a área mais baixa encontra-se inundada, esse trecho é um antigo canal do rio Paraná, e ao fundo nota-se uma vegetação de maior porte, no local onde está essa vegetação situava-se os antigos diques marginais. Fonte: trabalho de campo, 2008. Autor: Katia Kayahara da Silva
Os resultados prévios da análise de imagens e níveis fluviométricos indicam um
alagamento parcial dos paleocanais, devido à manutenção de níveis fluviométricos do rio Paraná na
cota 257 m, no remanso do reservatório de Porto Primavera. A área é resultado do antigo ambiente
fluvial do Rio Paraná e em parte do Rio Verde e estava passando por um gradativo abandono e
conseqüente ressecamento. Além disso, a área vinha sendo bastante ocupada por atividades
pecuaristas, agrícolas e turismo pesqueiro nas margens do rio Paraná. Esse fato pode ser facilmente
comprovado quando se observa a imagem anterior ao fechamento das comportas de porto primavera
(figura 3).
Não apenas a instalação da U.E.Sergio Motta causou alterações na área de estudos, a
implantação da própria reserva Cisalpina contribui para alterar a cobertura do solo. Uma vez que
uma fazenda produtora de arroz se tornou um abrigo para a vida silvestre.
Ainda analisando a figura 3 percebe-se que no mosaico da década de 1980 a área da
planície era largamente ocupada e pouco vegetada, enquanto que na figura 4 da imagem LANDSAT
fica visível a grande massa vegetada que recobre a planície. Mas o entorno da reserva (planalto)
permanece bastante utilizado, principalmente pela pecuária extensiva, e alguns criadores de gado,
desrespeitam os limites da reserva e por vezes levam parte do seu rebanho para pastar no interior da
Cisalpina.
Figura 3: mosaico de fotos aéreas da década de 1980. O ressecamento do local é notado principalmente pelos bancos de areia (manchas claras) no canal principal da rio Paraná. Fonte: CESP.
Figura 4: imagem LANDSAT 7, nas bandas R, G, B -12/02/2002.
Na comparação entre as duas imagens temporais, é possível observar que as novas
paisagens de áreas alagadas e a delimitação dos paleocanais e paleodiques agora revegetados. A
parte mais baixa de Leste e Sudeste ficou praticamente toda alagada, tornando-se ecossistemas
aquáticos, alguns lacustres e outros fluviais.
7- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível através deste estudo, promover o encontro entre os conhecimentos teóricos
até o momento adquiridos e suas aplicações, possibilitando ver a viabilidade de certos conceitos no
plano prático, através da visualização dos efeitos hidrodinâmicos da área, a partir da interpretação de
produtos de sensoriamento remoto.
Até o momento, os produtos dos sensores remotos que foram utilizados se mostrarão
eficientes para esse tipo de trabalho e mesmo contando com essa eficiência o trabalho de campo
não perde valor, pois é em campo que se sanam dúvidas a respeito de certas feições representadas
nas imagens.
Mesmo sendo tão úteis, não se pode esquecer, que os mapas são representações da
realidade, e não a realidade em si, por isso deve-se ter cuidado com sua utilização, tendo em vista
que por vezes eles possuem simplificações. Assim, tanto os dados de sensoriamento remoto
mensuráveis estão servindo um banco de dados, quanto outros dados levantados no campo também
servirão o banco de dados e poderão ser mapeados.
A construção da U.E. Engenheiro Sergio Motta alterou o regime hidrológico, provocando
o aumento do nível do canal e do lençol freático, durante as águas altas esse fato tem provocado
alagamento parcial da várzea e reativação de alguns paleocanais. Tal fato significa uma alteração
hidrológica bastante intensa no sistema, que passa a se restabelecer como ambiente de várzea, visto
que vinha experimentando uma fase longa de ressecamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Planície de Inundação do Alto Rio Paraná: Aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá: EDUEM: Nupélia, 1997. 460 p.
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Petts, G. ; Foster, I.. Rivers and landscape. London: Edward Arnold ed. 1985. 274 p
Rocha, Paulo César. Dinâmica dos Canais no Sistema Rio-Planície Fluvial do Alto Rio Paraná, nas Proximidades de Porto Rico-PR. 2002. 125 f. Tese (Doutorado em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá.