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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE ALAGOAS 26ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA CAPITAL 26ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA CAPITAL EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL / FAZENDA ESTADUAL DA CAPITAL O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, através da 26ª Promotoria de Justiça da Capital (Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde), com espeque nos arts. 127 e 129, II, da Constituição Federal, na Lei nº 7.347/85, que disciplina a Ação Civil Pública e, especialmente, no art. 2º, §1°, da Lei nº 8.080/90, que trata da Legislação da Saúde no Brasil, vem, à presença de Vossa Excelência, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de tutela antecipada para cumprimento de obrigação de fazer, em face do ESTADO DE ALAGOAS, pessoa jurídica de direito público interno, com sede na rua Avenida Assis Chateaubriand, n° 2576, Centro, nesta Capital, representado na forma do que estabelece o art. 12, I, do Código de Processo Civil, pelos motivos fáticos e jurídicos infra expendidos: 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · Capital, representado na forma do que estabelece o art. 12, I, do Código de Processo Civil, pelos motivos fáticos e

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26ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA CAPITAL26ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA CAPITAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL / FAZENDA ESTADUAL DA CAPITAL

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, através da 26ª Promotoria de Justiça da Capital (Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde), com espeque nos arts. 127 e 129, II, da Constituição Federal, na Lei nº 7.347/85, que disciplina a Ação Civil Pública e, especialmente, no art. 2º, §1°, da Lei nº 8.080/90, que trata da Legislação da Saúde no Brasil, vem, à presença de Vossa Excelência, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de tutela antecipada para cumprimento de obrigação de fazer, em face do ESTADO DE ALAGOAS, pessoa jurídica de direito público interno, com sede na rua Avenida Assis Chateaubriand, n° 2576, Centro, nesta Capital, representado na forma do que estabelece o art. 12, I, do Código de Processo Civil, pelos motivos fáticos e jurídicos infra expendidos:

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I - DOS FATOS

Aos 29 (vinte e nove) dias do mês de maio de 2013, foi instaurado, no âmbi-to desta 26ª Promotoria de Justiça da Capital de Defesa da Saúde, o Procedimento Preli-minar nº 55/2013, em virtude do recebimento do Ofício nº 154/SEAUD/AL/DENASUS/SGEP/MS, proveniente do Departamento Nacional de Audito-ria do SUS – DENASUS, encaminhando Relatório de encerramento da Auditoria nº 13099/2013, realizada no Hospital Geral do Estado Dr. Osvaldo Brandão Vilela – HGE/AL, com o escopo de avaliar causas e razões do não comparecimento de médicos aos serviços de Urgência e Emergência. (doc. 01)

Ratificando a manifesta problemática envolvendo as ausências dos profissi-onais da saúde, in casu, especificamente, dos médicos, durante o horário de expediente no nosocômio em tela, verificam-se, no suprarreferido Relatório de Encerramento de Au-ditoria, a Constatação de Não Conformidade nº 246733, a qual aponta as falhas de registro de frequência dos médicos do Hospital Geral de Alagoas, e a Consta-tação de Não Conformidade nº 246744, que expõe a fragilidade dos instrumen-tos utilizados no levantamento das ocorrências e causas do não comparecimen-to de médicos ao local de trabalho.

Na supradita Constatação nº 246733, a equipe de Auditoria que realizou a inspeção no HGE/AL evidenciou que o registro de comparecimento dos médicos da unidade hospitalar é realizado em folhas de frequência individuais distribuídas pelos di-versos setores da instituição, e, após apreciação dessas folhas, contatou-se as seguintes situações:

1. Ocorre o preenchimento inadequado das folhas de frequência individu-ais, com assinatura sem identificação do horário de entrada e saída do local de trabalho, registro de horário incompleto ou inocorrência de registro de entrada ou de saída.

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2. Médicos efetivos classificados em regime de trabalho como alcançá-vel (sobreaviso) nas especialidades de Cirurgia Plástica, Nefrologia, Oftal-mologia, Otorrinolaringologia e Urologia NÃO ASSINAM a folha de fre-quência individual, apresentando o comportamento de 43%, 75%, 90%, 91% e 61%, respectivamente. Sendo observado, ainda, AUSÊNCIA de fo-lhas de frequência individual para essas especialidades, com exceção de Cirurgia Plástica, no percentual de 25%, 10% e 15%, respectivamente.

3. Nas especialidades de Clínica Geral e Ortopedia registram assinatura nas folhas de frequência individual no percentual de 41% e 59%, respectiva-mente, tendo sido verificada, ainda, AUSÊNCIA de folhas de frequência para alguns profissionais dessas especialidades.

Na mesma Constatação, é mencionado que, em entrevista com a Coordena-dora do Serviço de Gestão de Pessoas do HGE/AL, foi exposto que:

1. Há médicos que se negam a assinar a folha de frequência individual e mui-tos não a preenchem devidamente.

2. Cada Coordenação Médica encaminha dados de frequência para a Coorde-nação do Serviço de Gestão de Pessoas, para análise e os devidos encami-nhamentos.

3. As informações de faltas não justificadas são encaminhadas para a Direção do Hospital, para que sejam adotadas as providências cabíveis.

Destarte, restou a conclusão de que apesar de existirem folhas de frequên-cia e integração entre a Coordenação do Serviço de Gestão de Pessoas e as Coordena-ções Médicas, tendo em vista que a referência adotada para o fechamento das informa-

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ções de frequência são os dados encaminhados pelas últimas retrorreferidas Coordena-ções, o atual sistema de controle de presença é frívolo, não contendo a mínima eficácia em sua aplicação real.

No tocante à Constatação nº 246744, é verificado que o levantamento das ocorrências e das causas do não comparecimento de médicos ao HGE é feito com base em Atestados Médicos apresentados dentro de 72 (setenta e duas) horas pós ocor-rência e folhas de frequência individual as quais, no entanto, não constituem referência para a consolidação do registro de assiduidade, por conter as fragilidades supraexpendi-das da Constatação nº 246733.

Outrossim, a retrocitada entrevista com a Coordenadora do Serviço de Ges-tão de Pessoas demonstrou que há descumprimento do prazo para a entrega dos atesta-dos, bem como a ocorrência de faltas sem a apresentação da devida justificativa por meio de atestado. Foi exposto, ainda, que, no fluxo integrado entre a Coordenação do Serviço de Gestão de Pessoas e as Coordenações Médicas, as faltas computadas são analisadas e encaminhadas à Direção Geral, para as devidas providências, e que os ates-tados são validados por 02 (dois) médicos lotados no setor da Qualidade de Vida no Tra-balho – QVT. Destarte, resta nítido que a supramencionada comprovação de assiduidade encontra-se em dissonância com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis do Estado de Alagoas, instituído pela Lei Estadual nº 5.247, de 26 de julho de 1991, no que versa acerca do registro manual, mecânico ou eletrônico de frequência, haja vista as irregularidades ora expendidas.

Nesse diapasão, impende-se ressaltar que, a despeito de o presente relató-rio de auditoria ter como escopo avaliar as causas e razões do não comparecimento de médicos aos serviços de Urgência e Emergência do nosocômio em tela, é de patente co-nhecimento que, não apenas entre os médicos, mas entre todos os profissionais da saú-de e servidores envolvidos no funcionamento tanto do referido HGE quanto no de todas

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as unidades de saúde sob a gestão do Estado de Alagoas, há a corriqueira burla do cum-primento da carga horária, não sendo tolerável essa destreza na conduta de profissio-nais que exercem, diuturnamente, os serviços de urgência e emergência imprescindíveis ao salvamento de vidas, sendo, portanto, a presente demanda judicial direciona-da, isonomicamente, a todos os servidores públicos, quer sejam efetivos, presta-dores de serviço, terceirizados e, inclusive, acadêmicos, lotados nas unidades de saúde estaduais. (doc. 02)

Por derradeiro, resta hialino que, enquanto persiste a vulnerabilidade do sistema de controle de assiduidade em vigor, é o ordenamento jurídico pátrio que é constantemente lesado por iterativos atos e condutas de improbidade, bem como os ci-dadãos que têm lacerados os seus direitos basilares à saúde e à vida, maculando a possi-bilidade de uma existência digna.

II – DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A Constituição Federal estatui, em seu artigo 127, que “o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.

Outrossim, no artigo 129, inciso II, nossa Carta Magna dispõe que é função institucional do Ministério Público “zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados pela Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia”.

Ulteriormente, em seu artigo 197, a própria Carta Constitucional define que são serviços de relevância pública “as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,

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devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física e jurídica de direito privado”.

Desta forma, infere-se dos artigos acima citados que é inegável a legitimação do Ministério Público no que concerne à propositura de ações que obrigam os Poderes Públicos a prestarem atendimento universal e igualitário à saúde, pois são serviços erigidos, por norma constitucional, à condição de relevância pública.

Além disso, a Lei nº 7.347/85, que disciplina a ação civil pública, é taxativa, afirmando, em seu art. 5º, que a ação poderá ser proposta “pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela União, pelos Estados e Municípios. Poderão também ser propostas por autarquia, empresa pública, fundação, sociedade de economia mista ou por associação que (...)”.

Vejamos decisão do Supremo Tribunal Federal, proferindo a pacificidade do entendimento de ser legítimo o Ministério Público para ajuizar medidas judiciais em defesa de direitos difusos, coletivos e homogêneos:

CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICO. DEFESA DE DIREITOS COLETIVOS. CF/88, ARTS. 127, 129, III. 1. O Ministério Público detém legitimidade para propor ação civil pública na defesa de interesses difusos, coletivos e homogêneos (CF/88, arts. 127, caput, e 129, II e III). Precedente do Plenário: RE 163.231/SP, rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 29.06.2001. 2. O art. 557, caput, do Código de Processo Civil permite ao relator, em decisão monocrática, negar seguimento a recurso manifestamente intempestivo, incabível ou improcedente e, ainda, quando contrariar a jurisprudência predominante do Tribunal. 3. Agravo regimental improvido.(STF - AI: 507297 MG , Relator: Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, DJe-145 EMENT VOL-0240906PP-01433)

Ad hunc modo, este Parquet detém plena legitimidade para propor a presen-te Ação Civil Pública com o fim de pleitear a concretização dos direitos basilares à saú-

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de e à vida que são violados reiteradamente em razão da ausência de profissionais da saúde que deveriam se fazer presentes no Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela, com o pleno cumprimento da carga horária pela qual são devidamente remunerados pelo erário.

III - DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO DE ALAGOAS

A Constituição Federal, em seu artigo 23, inciso II, estabelece que “é competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios cuidar da saúde e assistência pública (...)”.

Neste desiderato, a Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal nº 8.080/90), em seu artigo 4º, versa que “o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde”, seguindo em seu artigo 6º, inciso I, alínea d, “estão incluídas ainda no campo de atuação do SUS, a execução de ações de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica”.

Ademais, insofismavelmente é o Hospital Geral do Estado de Alagoas Dr. Osvaldo Brandão Vilela de gestão do Estado de Alagoas, não restando qualquer ínfimo jaez de dúvida quanto a seu ingresso, como réu, na relação jurídica ora em testilha.

IV – DO DIREITO

Dispõe nossa contemporânea Carta Constitucional, em seu artigo 196:

“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

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políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

A Lei Maior, continua, em seu artigo 197, definindo que são serviços de relevância pública “as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física e jurídica de direito privado”.

Outrossim, a Constituição da República, em seu art. 37, assim como a Carta Constitucional do Estado de Alagoas, em seu art. 42, dispõem que a Administração Pública de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios deve obedecer aos princípios da legalidade, da impessoalidade, e da eficiência. E, nesse mesmo diapasão, as axiomáticas Lei da Improbidade Administrativa (Lei Federal nº 8.429, de 2 de junho de 1992) e Lei do Servidor Público (Lei Federal nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990), cristalinamente determinam, respectivamente:

Lei nº 8.429/92:

Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.”

Lei nº 8.112/90:

“Art. 116. São deveres do servidor: I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo; II - ser leal às instituições a que servir; III - observar as normas legais e regulamentares; VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de outra autoridade competente para apuração; (Redação dada pela Lei nº 12.527, de 2011) (...)

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IX - manter conduta compatível com a moralidade administrativa; X - ser assíduo e pontual ao serviço;”

Art. 117. Ao servidor é proibido: I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia autorização do chefe imediato; (...) XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho;

De mesmo modo, a Lei Estadual nº 5.247, de 26 de julho de 1991, que insti-tui o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis do Estado de Alagoas, versa acerca da inassiduidade dos servidores públicos estaduais em seu art. 141: “Entende-se por inassiduidade habitual a falta ao serviço sem causa justificada, por 30 (trinta) dias, interpoladamente, durante o período de 12 (doze) meses.” Outrossim, o Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e posteriores alterações, determina em seu art. 41, § úni-co, a respeito dos métodos de comprovação de assiduidade :

Art. 41 - Em todas as atividades será obrigatório para o empregador o registro dos respectivos trabalhadores, podendo ser adotados livros, fichas ou sistema eletrônico, conforme instruções a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho. Parágrafo único - Além da qualificação civil ou profissional de cada traba-lhador, deverão ser anotados todos os dados relativos à sua admissão no emprego, duração e efetividade do trabalho, a férias, acidentes e demais circunstâncias que interessem à proteção do trabalhador.

No mesmo sentido, dispõe o Código de Ética Médica, em seu Capítulo III, atinente à Responsabilidade Profissional:

Capítulo III – Responsabilidade Profissional:

“Art. 35 – Deixar de atender em setores de urgência e emergência, quando for de sua obrigação fazê-lo, colocando em risco a vida de pacientes, mes-

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mo respaldado por decisão majoritária da categoria.

Art. 36 – Afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamen-te, sem deixar outro médico encarregado do atendimento de seus pacientes em estado grave.

Art. 37 – Deixar de comparecer a plantão em horário preestabelecido ou abandoná-lo sem a presença de substituto, salvo por motivo de força mai-or.”

Outrossim, o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, estatui as seguintes proibições que envolvem a prática da burla à carga horária:

“Art. 35 – Registrar informações parciais e inverídicas sobre a assistência prestada.

Art. 80 – Delegar suas atividades privativas a outro membro da equipe de enfermagem ou de saúde, que não seja enfermeiro.

Art. 56 – Executar e determinar a execução de atos contrários ao Código de Ética e às demais normas que regulam o exercício da Enfermagem.

Art. 73 – Trabalhar, colaborar ou acumpliciar-se com pessoas físicas ou jurí-dicas que desrespeitem princípios e normas que regulam o exercício profis-sional de enfermagem.”

Nesse universo fraudulento, convencido da axiomática fragilidade quanto ao registro de frequência pelas vias manual ou mecânica, o legislador deliberou acerca do melhor instrumento de controle de assiduidade e pontualidade, determinando que to-dos os servidores públicos federais terão sua frequência registrada obrigatoriamente através de CONTROLE ELETRÔNICO DE PONTO, consoante o determinado pelo De-creto nº 1.867, de 17 de abril de 1996, em seu art. 1º:

“Art. 1° O registro de assiduidade e pontualidade dos servidores públicos fede-rais da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional será reali-zado mediante controle eletrônico de ponto.”

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Sob este viés, perfaz-se elucidado que o ordenamento jurídico pátrio esta-belece que, para o liso e reto exercício dos serviços públicos, é irrefragavelmente neces-sário um meio idôneo de controle de assiduidade daqueles que o desempenham, sendo curial e imprescindível a adoção de sistema eletrônico de controle de ponto para o preenchimento da lacuna que ocasiona e oportuniza a prática reiterada de atos de des-lealdade e improbidade contra a administração pública.

V – DO SISTEMA ELETRÔNICO DE CONTROLE DE PONTO POR RECONHECI-MENTO BIOMÉTRICO E DE SUAS VERTENTES

Não obstante os parâmetros e as razões exaustivamente supraexpendidos acerca da irrefutável necessidade da implantação do sistema eletrônico de controle de frequência nas unidades de saúde estaduais, vale ressaltar a importância da implanta-ção de um sistema eletrônico plenamente eficaz ao fim que se destina, sendo ele, o pa-tente Registro de Ponto por Biometria.

A impressão digital é a técnica de identificação biométrica mais antiga e tem sido utilizada com sucesso em inúmeras aplicações, como por exemplo o Registro Geral (RG) ou identidade, utilizadas pelas Secretarias de Segurança Pública em todo o Brasil. A identificação biométrica por impressão digital é definida como segura pelo princípio da unicidade, no qual é estimado que a possibilidade de duas pessoas, incluin-do gêmeos, terem a mesma impressão digital é menor que uma em um bilhão. Essa se-gurança é ratificada pelo meio científico desde 1823, quando o cientista tcheco, Jan Evangelista Purkinje, durante suas pesquisas sobre glândulas sudoríparas, constatou que a pele dos dedos possuía desenhos formados por sulcos e ranhuras únicos para cada indivíduo.1

1 SANCHEZ, M. P. Registro de frequência de discentes por meio de biometria. 2011. 70 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade de Taubaté, Taubaté-SP. 2011.

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Sendo notoriamente comprovada a eficácia do sistema em tela, verifica-se, consoante notícia veiculada no próprio site da Secretaria Estadual de Saúde (doc. 03), que em abril de 2010, o Hospital Geral do Estado de Alagoas promoveu o cadastramento biométrico de servidores efetivos, prestadores de serviço, terceirizados e acadêmicos, visando combater as fraudes, já existentes desde à época, no controle de frequência ma-nual.

Todavia, é de conhecimento deste Parquet que surgiram danificados, subi-tamente, a aparelhagem responsável pelo funcionamento do sistema de ponto biométri-co, tendo, imoral e ilegalmente, o modo de registro de frequência do HGE regredido às falhas modalidades manuais.

Nesse sentido, a despeito de ser o sistema biométrico de controle de ponto o mais eficaz e pertinente à necessária prestação eficiente dos serviços públicos, deve-se ser ressaltada que não só há a necessidade da implantação desse método em todas as unidades de saúde sob gestão do governo estadual, mas também a da efetiva fiscaliza-ção da utilização do mesmo, sendo devido o provimento concomitante de todos os meios imprescindíveis à segurança, manutenção e pleno funcionamento do sistema, assim como, devem ser adotadas, pela respectiva administração de cada unidade, as providên-cias necessárias à operativa fiscalização do procedimento de justificativa adotado aos servidores para as eventuais saídas/faltas ao trabalho, bem como ser esse tópico objeto de auditorias periódicas pela Secretaria Estadual de Saúde, sob pena de ser jogado fora todos recursos públicos despendidos com o sistema de registro biométrico.

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VI – DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA INAUDITA ALTERA PARS

A concessão antecipada da tutela está prevista no artigo 273, do Código de Processo Civil, que estatui que “o juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação”.

Nos termos dos artigos 11 e 12, caput, da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), o juiz pode conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, impondo multa diária ao réu e fixando prazo razoável para o cumprimento da obrigação.

No caso em tela, a detença enfrentada por eventual indeferimento do pleito ou, ainda, pelas consequências do atual falho sistema de controle de assiduidade, causa irrefragavelmente danos irreversíveis a toda a população alagoana que necessita diariamente do fragilizado Sistema Único de Saúde. Destarte, caso não seja concedida a tutela antecipada, a demora ainda será bastante estendida em razão dos largos prazos de que goza o Estado para contestar, sendo o longo decurso do tempo desmedidamente prejudicial, acarretando indiscutivelmente danos irreparáveis à saúde e à vida de todos os pacientes em decorrência da ausência de profissionais da saúde que executem o devido atendimento e acompanhamento imprescindíveis à sobrevi-vência dos usuários do SUS.

Nesse nefando sentido, inúmeras e reiteradas notícias são veiculadas na mí-dia apontando as iterativas ausências de profissionais da saúde às unidades onde deve-ria exercer suas funções, ocasionando um imensurável prejuízo à população, acarretan-do, inclusive, desprezivelmente, a morte de pacientes. (docs. 04 a 08)

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VII - DO PEDIDO

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por intermédio de seu agente infra-assinado, REQUER, CONSIDERANDO A RELEVÂNCIA DA PRESENTE DEMANDA:

I - A concessão da tutela antecipada, a fim de determinar que o Estado de Alagoas implante, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, o sistema de controle eletrônico BIOMÉTRICO de carga horária, para todos os servidores públicos, quer sejam efetivos, prestadores de serviço, terceirizados e, inclusive, acadêmicos, envolvidos no funcionamento do Hospital Geral do Estado e das Unidades de Saúde sob gestão do Estado de Alagoas (doc. 02), mormente as de caráter de urgência e emergência; em conjunto com a implementação de todas as ações de fiscalização, manutenção e segurança ou de diversa natureza que sejam necessárias à efetividade do sistema, inclusive a adoção, pela respectiva administração de cada unidade, das providências necessárias à operativa fiscalização do procedimento de justificativa adotado aos servidores para as eventuais saídas/faltas ao trabalho, bem como que seja esse tópico objeto de auditorias periódicas pela Secretaria Estadual de Saúde, a fim de garantir o real cumprimento da jornada de trabalho pela qual todos os servidores são devidamente remunerados pelos cofres públicos, e, por conseguinte, sejam tutelados os direitos à saúde e à vida dos sofrentes usuários do Sistema Único de Saúde que necessitam nimiamente dos serviços prestados pelo Hospital Geral do Estado e pelas Unidades de Saúde sob gestão estadual.

II - Que se comunique ao Secretário de Saúde do Estado de Alagoas, na qualidade de autoridade diretamente responsável pelos atos a serem cumpridos em razão das ordens judiciais expedidas decorrentes da tutela liminar ora pleiteada, bem

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como a cada um dos eventuais sucessores deste durante o período em que tramitar a presente demanda, que o descumprimento das providências acima mencionadas e ordenadas pelo Juízo implicará na incidência, por parte dos agentes responsáveis pela implementação das medidas judiciais, na incursão pessoal pelo cometimento das sanções legais cabíveis pela desobediência;

III - A cominação de astreintes em desfavor do Réu, a incidir em caso de descumprimento da decisão antecipatória em tela, nos termos do art. 11, da Lei nº 7.347/85, no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), a ser debitado dentre as verbas de contingência e as destinadas ao âmbito de publicidade e marketing do Estado de Alagoas, assim como, caso sejam estas insuficientes, debite-se da Conta Única do Tesouro Estadual. Concomitantemente, proscreva-se a veiculação, pelo mesmo ente federativo, de propagandas de todas as espécies, enquanto não sanadas e cumpridas as pendências administrativas e judiciais atinentes à efetivação da prestação obrigatória dos essenciais serviços públicos de saúde, tendo em vista que se há exiguidade de recursos para a concretização do primário e fulcral direito à vida, não deve haver, então, numerários disponíveis às prescindíveis atividades do gênero publicitário, as quais tiveram, imoralmente, no corrente mês, crédito suplementar de R$ 8,8 milhões, enquanto as Unidades de Saúde sob gestão estadual padecem, e, inclusive, se fecham, por falta de recursos de manutenência. (docs. 09-10) Outrossim, requer, ainda, que os referidos valores, a caso debitados, venham a ser depositados em conta específica do Fundo Estadual de Saúde com o fim de serem revertidos à aquisição, implantação e manutenção do Sistema Eletrônico de Registro de Ponto Biométrico ora altercado.

IV - A citação do réu, na pessoa de seus representantes legais, para, querendo, responder aos termos da presente ação, no prazo legal, sob pena de confissão e revelia;

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Page 16: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · Capital, representado na forma do que estabelece o art. 12, I, do Código de Processo Civil, pelos motivos fáticos e

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE ALAGOAS

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V – Que seja este Ministério Público Estadual intimado, pessoalmente, dos atos processuais, no endereço da 26ª Promotoria de Justiça da Capital, localizada no edifício da Escola Superior do Ministério Público – Rua Dr. Pedro Jorge Melo e Silva, nº 79, Poço, Maceió/AL – CEP 57.025-400.

VI - Que sejam julgadas procedentes as pretensões ora deduzidas, confirmando-se, em definitivo, todos os pedidos requeridos em sede de tutela antecipada, condenando-se o Estado de Alagoas nas obrigações ali descritas e determinando que a antecipação da tutela, de início deferida, continue produzindo seus efeitos até o trânsito em julgado da sentença de procedência.

Protesta por todo gênero de provas em direito admitidas.

Dá-se à causa, para efeitos fiscais, o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Termos em que pede, e espera, deferimento.

Maceió, 29 de Abril de 2014.

MICHELINE LAURINDO TENÓRIO SILVEIRA DOS ANJOS Promotora de Justiça Titular da 26ª Promotora de Justiça da Capital

H.L.

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