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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO GIANCARLO ALVES DO NASCIMENTO PRESCRIÇÃO DOS DANOS MORAIS TRABALHISTAS JOÃO PESSOA 2011

FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP CURSO … GIANCARLO... · a terceira corrente pela aplicação da prescrição prevista na legislação trabalhista. Sendo assim, o

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

GIANCARLO ALVES DO NASCIMENTO

PRESCRIÇÃO DOS DANOS MORAIS TRABALHISTAS

JOÃO PESSOA

2011

GIANCARLO ALVES DO NASCIMENTO

PRESCRIÇÃO DOS DANOS MORAIS TRABALHISTAS

Artigo Científico apresentado como requisito para

conclusão de curso referente à disciplina de

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do curso

de Direito da Faculdade de Ensino Superior da

Paraíba.

Orientador: Profº Esp. Adriano Mesquita Dantas

JOÃO PESSOA

2011

N244p Nascimento, Giancarlo Alves do Nascimento

Prescrição dos danos morais trabalhistas / Giancarlo Alves do

Nascimento. – João Pessoa, 2011.

21f.

Orientador: Prof. Esp. Adriano Mesquita Dantas

Artigo (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino Superior

da Paraíba – FESP.

1. Direitos fundamentais 2. Relações de trabalho 3. Eficácia I.

Título.

BC/FESP CDU: 347.426:331 (043)

GIANCARLO ALVES DO NASCIMENTO

PRESCRIÇÃO DOS DANOS MORAIS TRABALHISTAS

Artigo Científico apresentado como requisito

para conclusão de curso referente à disciplina de

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do

curso de Direito da Faculdade de Ensino

Superior da Paraíba.

Aprovada em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________

Profº. Esp Adriano Mesquita Dantas – FESP

Orientador

________________________________________

Profº. – FESP

________________________________________

Profº. – FESP

3

PRESCRIÇÃO DOS DANOS MORAIS TRABALHISTAS

GIANCARLO ALVES DO NASCIMENTO *

RESUMO

O texto discorrerá sobre o instituto da prescrição, diferenciando da decadência e abordando os

seus efeitos na relação processual. Antes da vigência da Emenda Constitucional nº 45/2004, o

prazo era o da lei civil, surgindo divergência quanto à aplicação do prazo da prescrição

quando a Justiça do Trabalho passou a ser competente para julgar tal demanda. Surgiram três

teorias, a imprescritibilidade da pretensão indenizatória, o da incidência da legislação civil, e

a terceira corrente pela aplicação da prescrição prevista na legislação trabalhista. Sendo assim,

o presente trabalho tem por objetivo analisar qual a teoria mais adequada para disciplinar a

prescrição da pretensão que envolva indenização por danos morais no âmbito da relação de

trabalho.

Palavras-chaves: Prescrição. Dano moral. Direito do trabalho.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Quando o empregador agride a moral do empregado, gera uma expectativa para este

ver aquele indenizar a lesão provocada em seu direito, possuindo certo prazo para exigi-lo.

Isto porque, segundo a máxima jurídica, “Dormientibus non succurrit jus”, não ampara os

que demoram a buscar a reparação do seu direito violado. A lei confere certo tempo para

aquele que sofreu violação de seu direito possa pleitear a reparação do dano causado, o que

chamamos de prescrição. Ou seja, para que o autor possa buscar essa reparação, a regra

jurídica fixa um prazo para sua pretensão ou ação. Sendo assim, é de suma importância para o

empregado saber quando que prescreve tal direito.

Diante disso, o presente artigo tem como objetivo principal estudar qual é o prazo

mais adequado da prescrição para pretensão do dano moral sofrido no curso da relação de

trabalho, uma vez que a Justiça do Trabalho passou a ser competente para julgar tal demanda

após a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 45/2004.

Diante, de controvérsias e havendo grande discussão de qual seria o prazo

prescricional aplicável, é importante definir qual seria o mais adequado. Para isso,

* Graduando do Curso de Ciências Jurídica da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP.

[email protected]

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analisaremos o instituto da prescrição, diferenciando da decadência, explicando a prescrição

no Direito do Trabalho para após debatermos as teorias existentes a respeito da prescrição do

dano moral trabalhista. Mostrando o posicionamento do Colendo Tribunal Superior do

Trabalho.

2 DA PRESCRIÇÃO

A finalidade desse instituto, assim, igualmente o da decadência é de garantir a paz

social, a tranquilidade da ordem jurídica, pois cada direito estabelece um prazo para que possa

ser exercido, a fim de não poder afetar a segurança jurídica da sociedade. É o que ensina

Rodrigues (2003, p. 325):

A maioria dos escritores, entretanto, fundamenta o instituto no anseio da

sociedade em não permitir que demandas fiquem indefinidamente em aberto;

no interesse social em estabelecer um clima de segurança e harmonia, pondo

termo a situações litigiosas e evitando que, passados anos e anos, venham a

serem propostas ações reclamando direitos cuja prova de constituição se

perdeu no tempo [...] Sem a prescrição, a pessoa deveria manter-se em

estado de intranquila atenção, receando sempre um litígio baseado em

relações de há muito transcorridas, de prova custosa e difícil, porque não só

a documentação de sua constituição poderia haver-se extraviado, como a

própria memória da maneira como se estabeleceu estaria perdida. Com

efeito, mister que as relações jurídicas se consolidem no tempo. Há um

interesse social em que situações de fato que o tempo consagrou adquiram

juridicidade, para que sobre a sociedade não paire, indefinidamente, a

ameaça de desequilíbrio representada pela demanda. Que esta seja proposta

enquanto os contendores contam com elementos de defesa, pois é do

interesse da ordem e da paz social liquidar o passado e evitar litígios sobre

atos cujos títulos se perderam e cuja lembrança se foi. Portanto, embora haja

um interesse considerável do devedor em ver a prescrição operar, igual e

direto é o interesse da sociedade em sua eficácia, pois representa um

elemento de estabilidade que cumpre preservar. Daí entender-se que as

normas sobre a prescrição são de ordem pública, insuscetíveis, portanto, de

ser derrogadas por convenção entre os particulares.

A prescrição é um modo de se extinguir um direito que um indivíduo possui para

preservá-lo ou reparar quando já foi violado, no prazo prescrito em lei.

Não se pode confundir com o instituto da decadência, que é definido pela extinção do

direito propriamente dito, pela perda do direito potestativo, em virtude da inércia do titular em

prazo prefixado. Não há o que se falar em prestação positiva ou negativa de outrem. A

decadência fixada em lei, diferentemente da prescrição, não pode ser renunciada (art. 209 do

CC/02).

Os prazos prescricionais no Direito Civil são aqueles previstos nos artigos 205 e 206

5

do Código Civil, enquanto os prazos decadenciais são todos aqueles não previstos nesses

artigos. De acordo com o art. 207 do Código Civil de 2002, a decadência poderá estar sujeito

a normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição quando houver disposição

legal nesse sentido.

Leal (1959, p. 133-134) faz a seguinte distinção:

É de decadência o prazo estabelecido pela lei, ou pela vontade unilateral ou

bilateral, quando prefixado ao exercício do direito pelo seu titular. E é de

prescrição, quando fixado, não para o exercício do direito, mas para o

exercício da ação, originando-se ambos do mesmo fato, de modo que o

exercício da ação representa o próprio exercício do direito, o prazo

estabelecido para a ação deve ser tido como prefixado ao exercício do

direito, sendo, portanto, de decadência, embora aparentemente se afigure de

prescrição.

A prescrição é a perda da pretensão, pelo decurso de tempo descrito em lei, de um

indivíduo tem de ver fazer valer seu direito, quer o garantindo de forma a não ser violado,

quando houver uma ameaça, quer seja para reparar ou amenizar os danos do direito já violado.

Então, quando alguém tiver seu direito subjetivo violado nasce para si, uma pretensão

de valer seu direito ou a reparação do dano sofrido, dentro de um prazo legal (arts. 205 e 206,

CC/2002). Se o titular do direito infringido não intentar com a ação devida dentro desse prazo,

sofrerá, nos dizeres Diniz (2009, p. 404), “uma sanção adveniente, que é a prescrição”.

Entende-se por pretensão a exigibilidade de ver o cumprimento de um direito, que se

dá por meio de uma ação, observamos o que dispõe o art. 189, do Código Civil Brasileiro de

2002: “Art. 189 - Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela

prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206”.

Segundo Gagliano e Pamplona Filho (2008, p. 457), pretensão é:

[...] expressão utilizada para caracterizar o poder de exigir de outrem

coercitivamente o cumprimento de um dever jurídico, vale dizer, é o poder

de exigir a submissão de um interesse subordinado (do devedor da prestação)

a um interesse subordinante (do credor da prestação) amparado pelo

ordenamento jurídico.

O Código de Processo Civil é expresso no seu art. 269, IV1, em afirmar que quando o

juiz extingue o processo em razão da prescrição e decadência, é com resolução de mérito.

Porém, essa resolução se dá apenas quando o juiz percebe a existência da prescrição e

decadência após a citação do réu para apresentar contestação.

1 “Art. 269 - Haverá resolução de mérito:

IV - quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição”.

6

Por outro lado, o art. 295, IV, do CPC2 determina que a inicial seja indeferida quando

o juiz verificar, desde logo, a prescrição ou a decadência. Consequentemente o processo será

extinto sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, I, do CPC3, tendo em vista o

indeferimento da inicial, em função da prescrição ou decadência.

2.1 Prescrição nas Relações de Emprego

A prescrição no Direito do Trabalho está disciplinada na Constituição Federal de 1988

no rol dos direitos sociais. Tem previsão expressa no art. 7º, XXIX, que após a Emenda

Constitucional nº 28, de 26 de maio de 2000, passou a ter a seguinte redação:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que

visem à melhoria de sua condição social:

(...)

XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com

prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até

o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho.

Antes da mencionada Emenda a redação fazia uma distinção entre a prescrição dos

créditos trabalhistas oriundos dos trabalhadores urbano e rural, onde mencionava, apenas, que

este tinha um prazo de dois anos após a extinção do contrato.

Agora, o trabalhador possuirá um prazo de dois anos a contar da extinção do contrato

de trabalho para ajuizar uma reclamação trabalhista, percebendo seus créditos anteriores a

cinco anos a contar da data da interposição da ação,

Ou, ainda que não tenha se extinguido o contrato de trabalho, ou seja, esteja no curso

do contrato de trabalho, o trabalhador poderá perceber seus créditos retroativos a cinco anos a

partir do ajuizamento da reclamação, com fundamento no artigo constitucional mencionado,

bem como no art. 11 da CLT.

Vale ressaltar que a Lei nº 9.658/98, incluiu, o § 1º, “o disposto neste artigo não se

aplica às ações que tenham por objeto anotações para fins de prova junto à Previdência

Social”, o que veio reforçar o entendimento doutrinário e jurisprudencial que, as ações

2 “Art. 269 - A petição inicial será indeferida:

(...)

IV - Quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a prescrição” 3 “Art. 295 - Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:

I - quando o juiz indeferir a petição inicial”

7

meramente declaratórias não prescrevem, não se sujeitando a prazo prescricional nenhum.

Ação que tem por finalidade o reconhecimento do vínculo empregatício, com a

respectiva anotação do contrato de trabalho na CTPS, não flui prazo prescricional. Neste

sentido, o TST, cancelou a súmula 644, por meio da Resolução nº 121/2003. Vejamos:

RECURSO DE REVISTA. ANOTAÇÃO DA CTPS.

IMPRESCRITIBILIDADE. Contra a anotação da CTPS não corre

prescrição. A atual orientação do TST, erigida desde o cancelamento da

Súmula 64 pela Resolução nº 121/2003, segue no sentido de ser

imprescritível a ação declaratória de reconhecimento do vínculo de emprego,

com a consequente determinação de anotação do contrato de trabalho na

CTPS. Assim, em se tratando de ação declaratória, não flui prazo

prescricional para reclamar contra omissão de anotação do contrato de

trabalho na carteira profissional. Confira-se, a propósito, o teor do § 1º do

artigo 11 da Consolidação das Leis do Trabalho. Recurso de revista

conhecido e provido. (TST-RR-1246/2001-057-03-00, Rel. Min. Dora Maria

da Costa, 8a Turma, DJ de 28/8/2009)

3 AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS NAS RELAÇÕES

DE EMPREGO

Com a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004,

que ampliou a competência da Justiça do Trabalho, dando uma nova redação ao art. 114, da

CF, conferiu a essa justiça especializada o poder de julgar as ações de indenização por dano

moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho (inc. VI).

Antes mesmo da entrada em vigor da mencionada emenda, o Tribunal Superior do

Trabalho já havia firmado o entendimento que é a justiça trabalhista a competente para julgar

demandas que verse sobre danos morais trabalhistas.

Com o advento da mencionada EC, o Supremo Tribunal Federal, em 29 de junho de

2005, através do Conflito de Competência 7204 – 1 / Minas Gerais atribuiu a Justiça do

Trabalho, a competência de julgar as ações de que trata os danos morais decorrentes de

acidente de trabalho, vejamos:

CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA JUDICANTE EM RAZÃO DA

MATÉRIA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E

PATRIMONIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DO TRABALHO,

PROPOSTA PELO EMPREGADO EM FACE DE SEU (EX-)

EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. ART.

114 DA MAGNA CARTA. REDAÇÃO ANTERIOR E POSTERIOR À

4 SUM-64 PRESCRIÇÃO (cancelada) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

A prescrição para reclamar contra anotação de carteira profissional, ou omissão desta, flui da data de

cessação do contrato de trabalho.

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EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/04. EVOLUÇÃO DA

JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

PROCESSOS EM CURSO NA JUSTIÇA COMUM DOS ESTADOS.

IMPERATIVO DE POLÍTICA JUDICIÁRIA. (CC 7204 – 1 / MG, Relator:

Min. Carlos Britto, Data de Julgamento: 29/06/2005, Tribunal Pleno, Data de

Publicação: DJ 09/12/2005)

Após o julgamento deste Conflito de Competência passou a discutir em relação à

prescrição, para isso surgiu três correntes acerca de qual o prazo prescricional deve ser

aplicado para que possa exigir a reparação dos Danos Morais, oriundo do contrato de

trabalho.

Há uma corrente em que afirma ser imprescritível a ação de indenização por danos

morais decorrentes no âmbito da relação trabalhista. Tendo em vista que, os danos morais

relacionam-se com a personalidade do agente, afetando a honra.

Duas são as correntes em que defendem correr prazo prescricional. O previsto na

Constituição Federal de 1988 ou pelo Código Civil Brasileiro. Há correntes que protegem a

incidência de cada uma delas.

Primeiramente, o prazo prescricional previsto para as ações pessoais, na vigência do

Código Civil de 1916 era de 20 anos:

Art. 177 - As ações pessoais prescrevem, ordinariamente, em 20 (vinte) anos, as

reais em 10 (dez) anos, entre presentes, e entre ausentes em 15 (quinze), contados da data em que poderiam ter sido propostas.

Já no Novo Código Civil Brasileiro de 2002, em seu art. 206, §3º, V, prevê a

incidência do prazo de 3 (três) anos para a pretensão de reparação civil.

Para quem defende a aplicação da prescrição prevista no direito comum, ampara-se no

art. 8º, da CLT5, tendo em vista que o art. 4º, LICC

6, bem como o art. 127, CPC

7, não afasta o

dever do juiz de julgar, ante a omissão, lacuna ou obscuridade da legislação, afirmando que na

legislação trabalhista não possui dispositivo que discipline acerca da prescrição da referida

pretensão jurídica.

5 “Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou

contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e

normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o

direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o

interesse público.

Parágrafo único - O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que

não for incompatível com os princípios fundamentais deste.” 6 “Art. 4

o - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os

princípios gerais de direito.” 7 Art. 127 - O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.

9

Também, há argumentos no sentido de que o objeto da ação de indenização de danos

morais é a violação da personalidade, da honra, o que constitui natureza civil, possuindo

crédito no âmbito civil decorrente da vigência do contrato de trabalho. Realçando a ideia de

que a competência seja da Justiça do Trabalho não afasta a natureza jurídica do pedido.

Já a Constituição Federal/88 em seu art. 7º, XXIX, dispõe que:

São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: ação, quanto aos créditos resultantes das

relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os

trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho.

Para os adeptos dessa corrente, afirmam que o dano moral é decorrente de relação

trabalhista, possuindo crédito de natureza trabalhista. Não podendo definir como o prazo

prescricional o previsto na óptica do direito civil, pois, o dano foi ocasionado sob a égide do

contrato de trabalho, então o empregado está sobre a proteção do direito laboral, sendo assim,

aplica-se o prazo prescricional da relação trabalhista.

Continuam afirmando que, definida a competência da justiça trabalhista para julgar a

ação de reparação de danos morais decorrentes de uma relação trabalhista ao qual envolve no

polo da demanda o empregado e empregador, igualmente, a prescrição a ser aplicada é a

definida no direito laboral, prevista na CF, bem como na CLT.

Outrossim, com o mesmo fundamento de que, fazendo uma interpretação sistemática

de que, recorre-se ao direito comum, quando na legislação trabalhista não contemplar referida

matéria, não ocorre no presente caso, pois, está bem definida a prescrição trabalhista prevista

na Lei Maior.

Segundo Lima Filho (2005, p.2), não há prazo para a pretensão à reparação dos danos

morais decorrentes da relação de trabalho, vejamos:

Por isso, os direitos da personalidade têm como principal característica a

imprescritibilidade que decorre da sua natureza indisponível. Não se tratam,

pois, de meros direitos trabalhistas como pretendem alguns, ou civis no

sentido estrito como sustentam outros. Ao contrário estar-se diante direitos

fundamentais de índole constitucional, considerados como cláusulas pétreas.

Por consequência, dotados de proteção até mesmo contra o querer

democrático, ou seja, contra a vontade do legislador (artigo 60, § 4º, inciso

IV da CF/88)

10

É comum pensarmos que como o dano moral diz respeito à personalidade do

indivíduo, leva-nos a concluir que o direito de ver o agressor a amenizar lesão sofrida não

prescreve, por serem imprescritíveis direitos que versem sobre a personalidade. O que não é

verdade.

Para os defensores dessa corrente, trata-se de violação aos direitos a dignidade da

pessoa, saúde, personalidade, honra, imagem, portanto, viola direitos, inerentes ao homem,

fundamentais do indivíduo que tem por característica a indisponibilidade, não podendo a

vítima renunciá-lo, e consequentemente são imprescritíveis.

A Constituição Federal cuida desse direito como fundamental ao indivíduo no art. 5º,

V e X8. Desse modo, não se aplica, a prescrição dos créditos resultantes da relação de

trabalho, nem os de natureza civil. Não corre qualquer prescrição para os direitos que versem

sobre a integridade física, moral e psíquica de qualquer pessoa, não perde a exigibilidade

destes direitos, em razão da inércia do titular por certo período de tempo.

Isto porque, apenas prescreve direitos patrimoniais, os extras patrimoniais não é objeto

desse instituto jurídico, sendo assim, o dano moral é classificado como direito que não é

patrimonial, portanto, considera-se imprescritível.

No momento, cabe mencionar a explicação de Paroski (2010, p. 185), do entendimento

equivocado da imprescritibilidade do dano moral:

A demanda através da qual se pretende reparação do dano moral não versa

diretamente sobre direitos da personalidade, mas sim, sobre as

consequências de sua ofensa, em razão da lesão sofrida em seu patrimônio

ideal.

Sendo assim, o que prescreve não é o direito à honra (da personalidade) propriamente

dita, e sim de ver reparado, compensado, amenizado a lesão sofrida, decorrente da sua

violação. Na demanda não se discute, nos dizeres do mencionado autor, se alguém fica ou não

com a honra, mas se houve a ofensa e o quantum devido para amenizá-lo.

Segundo parte da doutrina e entendimento jurisprudencial do Colendo Tribunal

Superior do Trabalho entendem que a aplicação da prescrição em ações de indenização por

danos morais no âmbito trabalhista, deve ser a prevista no art. 7º, XXIX, da Constituição

Federal.

8 “Art.5º […]

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material,

moral ou à imagem;

[...]

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a

indenização pelo dano moral decorrente de sua violação”.

11

Os seguidores dessa corrente explicam que, a aplicação deste prazo é devida, em

decorrência dos danos morais serem oriundos de uma relação de trabalho ou emprego, que no

curso desse contrato foi violado um direito a imagem, honra, a personalidade do empregado,

constituindo-se, assim, créditos trabalhistas.

Ou seja, o direito à indenização por danos morais tem natureza jurídica trabalhista,

pois, o empregado, foi constrangido perante o seu empregador ou terceiros, que possuía o

dever de interferir na relação constrangedora, a fim de cessá-la.

Sendo, os créditos resultantes de contratos de trabalho, seja de forma originária ou

derivada, deve ser aplicada a prescrição de natureza trabalhista, inserta na Lei Magna de 1988,

possuindo o prazo de 5 (cinco) anos para pleitear a indenização, observando-se os 2 (dois)

anos após a extinção do pacto laboral.

Os defensores dessa corrente rebatem o argumento de que se deve aplicar

subsidiariamente o direito comum, regra prevista no parágrafo único do art. 8º, da CLT. Tendo

em vista que, somente se aplica o direito comum quando não houver na legislação trabalhista

regra que possa ser aplicada. Vejamos o que nos diz Miranda (apud MOLINA, 2007, p.1):

o ramo do direito em que nasce a pretensão é o que lhe marca a prescrição,

ou estabelece prazo preclusivo ao direito. Se essa regra jurídica não foi

prevista, rege o que o ramo do direito aponta como fundo comum a ele e a

outros ramos do direito. No plano internacional, o sistema jurídico que é

estatuto da pretensão também é da prescrição.

Todavia, há previsão de indenização por danos morais de natureza trabalhista, prevista

no art. 7º, XXVIII, da CF, prevista também, prescrição de natureza trabalhista, inserta no art.

7º, XXIX, da CF. Com isso, não justifica a aplicação subsidiaria do direito comum, por

estarem amparadas no Direito do Trabalho tais pretensões.

Segundo Paroski (2010, p.187), defendem a aplicação desse prazo prescricional:

Florindo, Oliveira, Pamplona Filho, Caputo Bastos, Ricardo Sampaio e Hélio A. Bitencourt

Santos.

Também é o pensamento de Barros (2007, p. 1023-1024), ao afirmar a necessidade da

propositura da ação, no período de dois anos a partir da extinção do contrato de trabalho,

mesmo dependendo de apuração na órbita criminal:

Mesmo quando o pedido de compensação por dano moral decorra da imputação

de crime ao empregado, cuja apuração está sendo feita em outro segmento do

Judiciário, a ação trabalhista deverá ser ajuizada dentro de dois anos a contar do

término da relação de emprego, podendo a ação trabalhista ser posteriormente

suspensa, se for o caso, na fora prevista no art. 265, IV, do CPC.

12

Confrontando com a ideia de aplicação da prescrição trabalhista nas demandas que

verse sobre indenização por danos morais ocorridos durante o contrato de trabalho, há

corrente que defende a aplicação da prescrição do Código Civil, uma vez que, a incidência do

lapso prescricional não vem necessariamente da competência de uma determinada demanda.

Explicando com outras palavras, o prazo prescricional a ser aplicado em uma

determinada pretensão de reparação de um direito violado não é fixado perante o juízo a ser

julgado tal demanda, é a natureza jurídica do direito a ser pleiteado que vai determinar a

prescrição a ser aplicada, independente da competência.

Certo que a prescrição é instituto de direito material e a competência, de direito

processual, não possuindo qualquer relação, são institutos diferentes. Não se pode fixar a

prescrição em função da competência.

Passa a discutir qual dos prazos é aplicável, se o previsto no art. 206, §3º, V9, do

Código Civil, ou se o prazo geral de 10 (dez) anos, inserto no art. 20510

.

Se for para beneficiar ao trabalhador, é mais justa a incidência do prazo geral de 10

(dez) anos, ou de 20 (vinte) anos, respeitando a regra de transição do art. 2.02811

do CC.

Segundo entendimento de Scuassante (2010), essa regra é a mais adequada, tendo em vista

que os danos morais não se tratam de reparação de natureza civil, muito menos, trabalhista,

cuida-se, na verdade, de violação de direito relacionados à personalidade, à honra, não

amparada por nenhuma delas, pois não há previsão legal, e se não há, aplica-se o da regra

geral.

No mesmo sentido é pensamento de Melo (2004, p. 463):

A reparação por danos pessoais (moral, material ou estético) decorrentes de

acidente do trabalho constitui direito humano fundamental de índole

constitucional e não mero direito de índole trabalhista ou civil. Desse modo,

por inexistir norma expressa sobre o prazo de prescrição das respectivas

pretensões, aplicam-se subsidiariamente os prazos previstos na lei civil:

vinte anos para as ofensas ocorridas até 9.1.2003 (CC de 1916, art.177) e 10

anos para as ofensas ocorridas a partir de 10.1.2003 (CC de 2002, art. 205).

9 “Art. 206. Prescreve:

(...)

§ 3o Em três anos:

(...)

V - a pretensão de reparação civil;” 10

“Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor”. 11

“Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada

em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.”

13

Quando um indivíduo sofre, psicologicamente ou fisicamente, em função de uma

conduta praticada por outrem, deve ser indenizado. Isto porque, o Código Civil de 2002, em

seu art. 186, afirma: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imperícia,

violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Prescreve o parágrafo único do art. 92712

, no Código Civil, o dever de reparar o ato

ilícito previsto no arts. 186 e 18713

, do mesmo diploma legal. Todavia, não é mero dissabor

que enseja a reparação, mas sim, um constrangimento que perturbe o sossego do lesado. Tem

que haver prejuízos que devem ser decorrente do ato ilícito.

Equivocadamente, Maior (2005), defende:

Quanto à prescrição do dano moral decorrente do acidente do trabalho,

importante destacar que o bem jurídico protegido é um direito da personalidade.

O direito à personalidade decorre da relação jurídica básica que cada cidadão

possui com todos os outros, independentemente da existência de uma relação

jurídica específica. A pessoa não perde esse direito quando se integra a uma

relação jurídica específica. O empregador é responsável por reparar o dano

moral não por ser o empregador, juridicamente qualificado, mas por ser

responsável pela reparação, na medida em que o empregado está sob sua

subordinação. Não se trata, portanto, de um crédito trabalhista, mas de um bem

jurídico a que todos os cidadãos têm direito, inclusive o empregado. A reparação

deste bem não é uma reparação civil, pois seu fundamento é constitucional

(artigo 5º). Basta avaliar as hipóteses mencionadas no parágrafo 3º, do artigo

206 do CC, para verificar que não se autoriza vincular os danos ali mencionados

ao dano decorrente do acidente de trabalho, cuja reparação está na própria

origem do Estado Social e dos direitos humanos. No aspecto do benefício

previdenciário, aliás, a ideia é a da imprescritibilidade do benefício,

prescrevendo-se apenas as parcelas, mas jamais o direito de pleitear o benefício

(auxílio-doença). Não cabe, portanto, a tese de que a prescrição, no Direito

Civil, é de três anos, para os acidentes do trabalho e que, por isto, a trabalhista

quinquenal, é mais benéfica. A reparação do dano pessoal, decorrente de

agressão a direito da personalidade, é, portanto, imprescritível, E, não se

querendo ver isto, a prescrição, na pior das hipóteses, é vintenária, para os casos

anteriores à edição do Código Civil ou decenária, para as ações posteriores.

Não merece nenhum aprofundamento da ideia da imprescritibilidade da reparação dos

danos morais, pois como já afirmado anteriormente, o que prescreve não é o direito a honra, a

privacidade, a imagem, a intimidade, a personalidade do ofendido. E o que se pretende buscar

é a reparação ou a compensação dos prejuízos ocasionados em razão da violação desses

direitos.

12

“ Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados

em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco

para os direitos de outrem.” 13

“Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os

limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”

14

O Código Civil de 2002, no art. 206, § 3º, V, estabelece o prazo de 3 (três) anos para

que um particular possa exercer a exigibilidade de uma reparação civil. Não restam dúvidas

que o prazo será esse, quando o dano for ocasionado por um terceiro, que seja particular, pois

o Código Civil regula direito envolvendo particulares.

Já o dano ocasionado em uma relação de emprego, que figure em um dos polos o

empregado e no outro o empregador deve prevalecer às regras do Direito do Trabalho, nele há

previsão que os créditos resultantes da relação de trabalho são de 5 anos, respeitando o prazo

de 2 anos, contados da extinção do contrato de trabalho.

Vale mencionar, o mesmo entendimento do Professor Doutor da Universidade de São

Paulo Mallet (apud MOLINA, 2007, p.3):

De todo modo, qual é a prescrição para reclamar a indenização decorrente de

acidente de trabalho?

Respondo que, se a pretensão é trabalhista, se a controvérsia envolve

empregado e empregador, se a competência para julgamento da causa é da

Justiça do Trabalho, a prescrição é e só pode ser a trabalhista, do artigo 7º do

inciso XXIX, da Constituição, e não a prescrição civil, de 20 anos, no antigo

Código, e de 3 anos, no novo. Não importa que a responsabilidade civil seja

assunto disciplinado no Código Civil. O que importa é que a pretensão é

trabalhista, porque decorre diretamente do contrato de trabalho. Não se pode

dizer, de outro lado, que a regra especial de prescrição do Direito Civil

prevalece ante a regra geral do Direito do Trabalho. O art. 7º, inciso XXIX,

da Constituição, disciplinou o prazo prescricional trabalhista, sem

estabelecer exceções. (O novo Código Civil e o Direito do Trabalho,

publicado na Revista Eletrônica Júris Plenum, CD 1, ed. 70, Editora Plenum,

março/abril de 2003).

A reparação do dano sofrido, moralmente, não se trata de crédito, muito menos verbas

de natureza trabalhista e/ou previdenciário, mas é uma forma de amenizá-lo, mesmo assim,

deve prevalecer a prescrição trabalhista, tendo em vista a presença das figuras que o Direito

do Trabalho tutela, e nada mais justo que seja aplicada todas as regras previstas no ramo

trabalhista.

No mesmo sentido Süssekind e Melo (apud ALENCAR, 2004, p. 115-116) afirma que:

a partir do momento em que a Constituição expressamente coloca a

indenização de dano moral decorrente do acidente do trabalho, quando

requerida em face do empregador, como um direito do trabalhador, seja

porque a controvérsia se dá necessariamente entre empregado e empregador

e tem como objeto um fato do contrato de trabalho, que é o acidente, não se

poderia deixar de reconhecer que a pretensão respectiva se revestiria um

verdadeiro crédito resultante da relação de trabalho e por conta disso, a ação

reparatória estaria sujeita ao prazo prescricional previsto no inciso XXIX, do

artigo 7º da Carta da República.

15

Vale mencionar trecho do Acórdão que definiu a competência da Justiça Trabalhista

para julgar a demanda que versa sobre danos morais advindos da relação de trabalho:

Ora, um acidente de trabalho é fato ínsito à interação

trabalhador/empregador. A causa e seu efeito. Porque sem o vínculo

trabalhista o infortúnio não se configuraria; ou seja, o acidente só é acidente

de trabalho se ocorre no próprio âmago da relação laboral. (...) Vale dizer, o

direito à indenização em caso de acidente de trabalho,quando o empregador

incorrer em dolo ou culpa, vem enumerado no art.7º da Lei Maior como

autêntico direito trabalhista. E como todo direito trabalhista, é de ser tutelado

pela Justiça especial, até porque desfrutável às custas do empregador (nos

expressos dizeres da Constituição).14

Na verdade, pouco importa onde sejam julgadas demandas com o objetivo de

reparação dos danos morais trabalhistas, deveria sempre ser aplicada a prescrição trabalhista,

antes mesmo da entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 45/2004, pois sempre estão

presentes as partes que figuram no contrato de trabalho , visando uma reparação de um ato

ilícito pelo empregador, que por sua vez, considera-se crédito trabalhista.

Não faz sentido o argumento de que, aplica-se a legislação civil, quando uma

determinada demanda está sendo julgada na justiça comum, e sendo a justiça trabalhista a

julgadora da mesma demanda, incide a prescrição trabalhista, pois a prescrição não é definida

por regras de competência. É definida pela pretensão de um direito que se pretende buscar,

independentemente do órgão julgador.

Ademais, não há qualquer omissão nas normas trabalhistas em relação à prescrição da

pretensão de direitos que resultem da relação de trabalho. Pois, está prevista no art. 7º, inciso

XXIX, da Constituição de 1988 c/c o art. 11 da CLT e não existe qualquer ressalva em que

utilize os prazos de natureza civil.

Encontra-se no Direito do Trabalho exceções da aplicabilidade do prazo geral da

prescrição, é o caso, por exemplo, do não recolhimento do FGTS, por disposição expressa do

art. 23, §5º, da Lei nº 8.036/9015

.

14

Voto proferido pelo Relator Ministro Carlos Britto, nos itens 15 e 19. 15

“Art. 23. Competirá ao Ministério do Trabalho e da Previdência Social a verificação, em nome da Caixa

Econômica Federal, do cumprimento do disposto nesta lei, especialmente quanto à apuração dos débitos e das

infrações praticadas pelos empregadores ou tomadores de serviço, notificando-os para efetuarem e comprovarem

os depósitos correspondentes e cumprirem as demais determinações legais, podendo, para tanto, contar com o

concurso de outros órgãos do Governo Federal, na forma que vier a ser regulamentada.

[...]

§ 5.º O processo de fiscalização, de autuação e de imposição de multas reger-se-á pelo disposto no Título VII

da CLT, respeitado o privilégio do FGTS à prescrição trintenária”.

16

Nesse sentido a prescrição da pretensão de reparação de danos morais decorrentes do

contrato de trabalho não constitui qualquer exceção da regra geral, não incide a prescrição de

natureza civil, quer seja ela o estipulado para a reparação civil, prevista no art. 206, §3, V ou

o prazo geral prevista no art. 205, do mesmo diploma legal, mas sim a prescrição trabalhista,

prevista na Constituição e na Consolidação das Leis Trabalhistas.

4 POSIÇÃO DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

Não era pacifica o entendimento, até mesmo, entre as Turmas do Tribunal Superior do

Trabalho, em relação de qual seria a aplicação do prazo prescricional. Diante disso, para

acabar com as divergências a Seção Especializada em Dissídios Individuais do Colendo

Tribunal Superior do Trabalho pacificou o entendimento de que, se os danos morais forem

sofridos antes da vigência da Emenda Constitucional nº 45/2004 deve ser aplicado o prazo

prescricional previsto na legislação civil, com a finalidade de preservar os princípios da

segurança jurídica e do direito adquirido.

Para isto, deve ser observada a regra de transição do art. 2.028 do Código Civil de

2002, se na data da entrada em vigor do atual Código Civil, em 11/11/2003, houver

transcorrido mais da metade do prazo previsto no art. 177 do Código Civil de 1916, que era

de 20 anos, será aplicado este prazo prescricional.

Por outro lado, se houver transcorrido menos da metade do prazo previsto no código

anterior (9 anos e 11 meses, por exemplo), o prazo prescricional será o de 3 (três) anos,

previsto no art. 206, § 3º, do Código Civil de 2002.

Portanto, nessa ordem de ideias, vejamos o entendimento do Tribunal Superior do

Trabalho, no sentido da prescrição dos danos morais da seara trabalhista:

RECURSO DE REVISTA. 1. PRESCRIÇÃO. INDENIZAÇÃO POR

DANOS MORAIS E MATERIAIS. ACIDENTE DO TRABALHO. REGRA

DE TRANSIÇÃO. AÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA APÓS O PRAZO

DE TRÊS ANOS CONTADOS DA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE

2002. PRESCRIÇÃO TOTAL. Tratando--se de pedido de dano moral e/ou

material decorrente de acidente do trabalho, esta Corte pacificou

entendimento no sentido de que, quando a lesão for anterior à Emenda

Constitucional nº 45/2004, o prazo prescricional aplicável será o previsto no

Código Civil de 2002, observada a regra de transição prevista no artigo

2.028 desse mesmo diploma legal; bem assim que, quando a lesão for

posterior à referida emenda, o prazo prescricional aplicável será o

trabalhista, previsto no artigo 7º, XXIX, da Constituição Federal. No caso

concreto, o acidente do trabalho ocorreu em 28/11/2001, portanto

anteriormente à Emenda Constitucional nº 45/2004, sendo aplicável, assim, a

17

prescrição civil. Verifica-se, ainda, não transcorrido mais da metade do prazo

de vinte anos previsto no Código Civil de 1916, quando da entrada em vigor

do atual Código Civil, em 11/1/2003. Desse modo, o prazo prescricional

aplicável é o previsto no artigo 206, § 3º, V, do Código Civil de 2002, qual

seja de 3 (três) anos, contados do início da vigência do referido diploma. Sob

tal óptica, portanto, tendo em vista a ocorrência do acidente do trabalho em

novembro de 2001, o reclamante deveria ter ingressado com a ação até

11/1/2006, a fim de evitar o corte prescricional. Todavia, como o

ajuizamento da reclamação se deu apenas em 12/12/2006, impõe-se concluir

pela prescrição total da pretensão obreira. Recurso de revista não conhecido.

(...) (RR-132900-09.2006.5.04.0451, Relatora: Dora Maria da Costa, Data de

Julgamento: 05/05/2010, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/05/2010)

Extraí da jurisprudência acima transcrita que, após a Emenda Constitucional nº

45/2004, entende-se que o prazo prescricional a ser aplicado nas demandas que verse sobre

danos morais no âmbito trabalhista é o previsto para os créditos resultantes da relação de

trabalho previsto no art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal. Pelo fato de que os danos

sofridos têm seus efeitos decorrentes do contrato de trabalho, aplicando-se tal prazo

prescricional, vejamos:

RECURSO DE REVISTA. PRESCRIÇÃO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR

DANOS MORAIS E MATERIAIS. ACIDENTE DO TRABALHO OCORRIDO

ANTES DA EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004. A SDBI45-1 do TST

vem reiteradamente decidindo que nos casos de pedidos de reparação por danos

morais decorrentes de acidente de trabalho, inclusive doença ocupacional,

aplica-se a prescrição prevista no art. 7º, XXIX, da CF/1988. Na hipótese, é

incontroversa a ocorrência do dano em 30/7/2005 e da aposentadoria por

invalidez em 11/9/2008, tendo o reclamante ingressado com a sua reclamação

em dezembro de 2008. Logo, seja pelo prazo quinquenal, seja pelo bienal

previsto na norma constitucional citada, a pretensão indenizatória não se

encontra alcançada pela prescrição. Devem retornar os autos à Vara de origem a

fim de apreciar o feito, como entender de direito. Recurso de revista conhecido e

não provido. (RR - 106200-90.2008.5.13.0025, Relator: Augusto César Leite de

Carvalho, Data de Julgamento: 03/08/2011, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT

12/08/2011)

RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANOS

MORAIS/MATERIAIS DECORRENTE DE ACIDENTE DO TRABALHO.

PRESCRIÇÃO APLICÁVEL. O fato de as indenizações por dano patrimonial,

moral, inclusive estético, serem efeitos conexos do contrato de trabalho (ao lado

dos efeitos próprios deste contrato), atrai a submissão à regra do art. 7º, XXIX,

da Carta Magna. Independentemente do Direito que rege as parcelas (no caso,

Direito Civil), todas só existem porque derivadas do contrato empregatício,

sujeitando-se ao mesmo prazo prescricional. Assim, tratando-se de ação em que

se pleiteia reparação de ordem material e moral decorrente de acidente de

trabalho, ajuizada na esfera trabalhista em 2006 - após, portanto, a estabilização

da competência desta Especializada para julgamento de causas dessa natureza -,

a prescrição aplicável é a prevista na Constituição Federal, art. 7º, XXIX, não

sendo cabível a incidência da regra prescricional civilista. Recurso de revista

desprovido. (ED-E-RR - 147300-89.2006.5.03.0084, Relator: Mauricio Godinho

Delgado, Data de Julgamento: 04/06/2008, 6ª Turma, Data de Publicação: DJ

20/06/2008)

18

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prescrição, diferentemente da decadência extingue a pretensão da exigibilidade da

reparação do direito violado ou manutenção do direito ameaçado pelo decurso do prazo

estipulado na legislação. Se o juiz acolher a alegação de prescrição será o processo extinto

com resolução do mérito, salvo se for observado quando no recebimento da inicial, caso em

que será extinto sem resolução de mérito.

O instituto da prescrição no Direito do Trabalho foi disciplinado na Constituição

Federal de 1988, no rol dos direitos dos trabalhadores, fixando em um prazo único, que é de 5

(cinco) anos no curso do contrato de trabalho, e se extinguiu o contrato de trabalho, o

empregado terá um prazo de 2 (dois) anos para o ajuizamento da reclamação na Justiça do

Trabalho e receberá seus créditos retroativos a cinco anos.

Atualmente não é discutível a competência da Justiça do Trabalho para julgar ação de

indenização por danos morais trabalhistas, tendo em vista a entrada em vigor da Emenda

Constitucional nº 45/2004, que deu uma nova redação ao art. 114 da Constituição Federal,

bem como o Conflito de Competência 7204-1 Minas Gerais.

Não é merecida atenção a primeira corrente acerca da imprescritibilidade da reparação

dos danos morais trabalhistas sofridos, pois não se trata do direito a personalidade em si,

sendo assim, prescreve tal direito.

A segunda, que defende a incidência do prazo da lei civil também deve ser esquecida,

nem mesmo quando a justiça comum era competente para julgar tal demanda era a mais

adequada, trata-se de direito de natureza civil, porém deve prevalecer a terceira corrente, pois

estão envolvidas as duas figuras que tutela o Direito do Trabalho, a saber: e empregador e o

empregado.

Ainda mais, a prescrição é prevista constitucionalmente, fazendo referência a créditos

resultantes da relação de trabalho e não em créditos trabalhistas, que é diferente. Não dando

maior atenção de que a legislação trabalhista não regula a respeito do tema.

19

ABSTRACT

This paper is about the institution of prescribing, differing decay, studying their effects on

procedural relationships. Before enactment of the Constitutional Amendment No. 45/2004,

the time was the civil law, arising from disagreement about the application of the term of

prescription when the justice of the work came to be competent to judge such a demand.

Therefore, this paper aims in order to find a way to which theory best suited for the

application of the statute of limitations for actions involving compensation for moral damages

in the employment relationship. This came three theories, the imprescriptible claim damages,

the incidence of civil law, and the third current provided by the application of limitation on

labor legislation.

Keywords: Prescription. Moral damages. Labor law.

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