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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ FAESPI CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA RAILANE MONTEIRO CARVALHO A PERCEPÇÃO DO ADOLESCENTE DEPENDENTE QUÍMICO PERANTE A SOCIEDADE TERESINA PI 2017

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ – FAESPI

CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

RAILANE MONTEIRO CARVALHO

A PERCEPÇÃO DO ADOLESCENTE DEPENDENTE QUÍMICO PERANTE A

SOCIEDADE

TERESINA – PI

2017

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RAILANE MONTEIRO CARVALHO

A PERCEPÇÃO DO ADOLESCENTE DEPENDENTE QUÍMICO PERANTE A

SOCIEDADE

Monografia apresentada à Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Psicologia. Orientador: Profº. Me. Carlos Antonio Santos.

TERESINA – PI

2017

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RAILANE MONTEIRO CARVALHO

A PERCEPÇÃO DO ADOLESCENTE DEPENDENTE QUÍMICO PERANTE A

SOCIEDADE

Monografia apresentada à Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Psicologia.

Aprovado em: _____ / _____ / 2017.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Profº. Me. Carlos Antônio Santos

Orientador Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI

______________________________________________ Profª. Esp. Rosangela Parga de Oliveira

1ª Examinadora

Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI

______________________________________________ Profª. Me. Thamya Thercia O. Ribeiro da Silva

2ª Examinadora

Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI

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AGRADECIMENTOS

Mais uma vitória alcançada, um novo ciclo se inicia, novos desafios e muitas

expectativas imperam para a primeira psicóloga da cidade de Jenipapo dos Vieiras,

e diante dessa conquista venho expressar a minha gratidão a Deus, primeiramente

por permitir que mais um sonho se concretizasse, tornando-se realidade.

Como Psicóloga reconheço a importância das relações e da plenitude dos

contatos estabelecidos, pois sei que é impossível alcançar qualquer que seja a

conquista de forma isolada, e é com essa certeza que venho enfatizar a importância

de cada contribuição presente nessa minha caminhada, cada professor que esteve

como mediador desse processo de construção profissional, a coordenadora do curso

que sempre se colocou disponível a contribuir, cada colega de sala que com muita

força e determinação vivenciou comigo muitos desafios e muitas conquistas até

chegarmos a tão sonhada formatura. Não posso deixar de mencionar a minha

profunda gratidão a todos os amigos que partilhavam desse sonho comigo antes

mesmo de eu dar o primeiro passo e adentrar o bacharelado, a todos os meus

professores de Jenipapo que me fizeram acreditar que eu poderia alcançar minhas

metas.

A minha família materna e paterna que sempre me forneceram incentivo

para ir em busca de meus objetivos, e de uma forma muito especial minha mãe,

Nonata De Carvalho, meu pai Deusimar Carvalho, minha irmã Rainara Monteiro,

minha mainha Aldenora Holanda e seu esposo Antônio que sem dúvida foram a

base mais solida e os maiores motivadores e incentivadores dessa conquista.

Nossa família foi à peça chave para que eu conseguisse encarar e vencer

cada um dos desafios presentes nesses cinco anos de formação profissional.

Agradecer ao tio Vicente e a família que abriram a porta de sua casa e abraçaram

comigo esse sonho, Zé Luiz e Edilena, em seguida Sara e Rufino e também Bastião

e Rosilda que foram essenciais para a concretização de meus objetivos, minha avó

Ana Francisca que está aplaudindo do céu nesse momento, minha Avó Maria José

dos Anjos e meu avô Manoel Monteiro que são exemplos vivos de que o impossível

está apenas um passo à frente e pode ser conquistado.

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Portanto, sou profundamente grata a cada um dos citados, por me ouvir e

acolher as minhas dificuldades, por rir e chorar comigo e por me fornecerem os

suportes necessários para a conclusão dessa tão importante etapa.

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Quando já não tinha espaço, pequena fui Onde a vida me cabia apertada

Em um canto qualquer acomodei Minha dança, os meu traços de chuva;

Nada do que eu fui me veste agora Sou toda gota, que escorre livre pelo rosto;

Nunca mais serei aquela Que se fez seca

Vendo a vida passar pela janela [...]

(Maria Gadú)

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RESUMO

Na atualidade, a dependência química tem sido considerada pela sociedade, um grave problema, que atinge pessoas de diversas faixas etárias, de qualquer classe social, e sem distinção de sexo. Diante desse fato, este estudo tem como objetivo investigar como o adolescente dependente químico se percebe diante do olhar social. Trata-se de uma revisão bibliográfica narrativa realizada nos artigos publicados entre 2010 e 2017, nas seguintes bases de dados: SCIELO, Biblioteca Virtual em Saúde - Psicologia, LILACS e PePSIC - Periódicos Eletrônicos em Psicologia. Os critérios de exclusão foram: artigos de revisão de literatura, artigos de atualização, anais de Congressos e publicados em língua estrangeira. Os resultados foram discutidos a partir das seguintes categorias: “Os adolescentes dependentes químicos e as relações familiares” e “O adolescente dependente químico e sua perspectiva junto à sociedade”. Foi possível observar que o uso de drogas tem atingido um número crescente de adolescentes, e em decorrência desse fato, presencia-se na sociedade, uma forte banalização desse problema grave de saúde pública. Sugere-se que as políticas públicas sejam mais eficazes, e que a intervenção junto aos adolescentes dependentes químicos seja efetivada através de ações de cunho educativo e que busque a redução dos danos e a reinserção social e familiar deste segmento da população. Palavras-chave: Adolescentes. Família. Drogas.

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ABSTRACT

At present, the chemical dependency has been considered by society, a serious problem, which affects people of various age groups, from any social class, and without distinction of sex. Given this fact, this study aims to investigate how the chemical dependent teenager realizes on the look. This is a literature review carried out in narrative articles published between 2010 and 2017, in the following databases: SCIELO, Virtual Health Library-Psychology, LILACS and PePSIC-electronic Psychology Journals. Exclusion criteria were: literature review, update articles, congresses and published in a foreign language. The results were discussed from the following categories: "young people drug addicts and family relationships" and "the adolescent chemical dependent and your perspective by the society". It was possible to observe that the use of drugs has achieved an increasing number of teenagers, and due to this fact, presence in society, a strong this serious problem of trivialization. It is suggested that public policies are more effective, and that the intervention with adolescents addicts take effect through educative and actions that seek to harm reduction and social and family reintegration of this segment of the population. Keywords: Adolescents. Family. Drugs.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 8

2 A DEPENDÊNCIA QUÍMICA ...................................................................... 10 2.1 FATORES QUE DESENCADEIAM A DEPENDÊNCIA QUÍMICA .............. 10 2.2 TIPOS DE DROGAS E SEUS EFEITOS NO ORGANISMO ...................... 12 2.2.1 A cocaína ................................................................................................... 15 2.2.2 A maconha ................................................................................................. 16 2.2.3 O crack ....................................................................................................... 16 2.2.4 O LSD ......................................................................................................... 17 2.3 CONSEQUÊNCIAS DO USO E ABUSO DE DROGAS .............................. 18 2.4 OLHAR DA SAÚDE MENTAL SOBRE A DEPENDÊNCIA QUÍMICA ........ 21

3 ADOLESCÊNCIA E FAMÍLIA: CONCEPÇÕES E RELACÕES ................ 34

3.1 CONVERSANDO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE ADOLESCÊNCIA ....... 34 3.2 OS ARRANJOS FAMILIARES NA ATUALIDADE ...................................... 35 3.3 POR QUE A RELAÇÃO ADOLESCENTE E FAMÍLIA É TÃO

COMPLEXA? ..............................................................................................

37 4

A PERCEPÇÃO DO ADOLESCENTE DEPENDENTE QUÍMICO PERANTE A SOCIEDADE .........................................................................

41 4.1 METODOLOGIA ......................................................................................... 41 4.2 ANÁLISE DE DADOS ................................................................................. 41 4.2.2 O adolescente dependente químico e sua perspectiva junto à

sociedade ..................................................................................................

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 45

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 46

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1 INTRODUÇÃO

A dependência química é um grave problema de Saúde Pública, atingindo

crianças, adolescentes, homens e mulheres de qualquer classe social, sem distinção

de sexo, credo ou cor. Em decorrência do seu crescimento, acaba sendo

banalizada, e a sociedade passa a acreditar que esse tipo de contingência é normal.

Dessa forma, é importante compreender que as influências do contexto social,

somadas ao fato da adolescência ser uma época de experimentações, levam ao

aparecimento de comportamentos de risco, entre eles, o uso de drogas lícitas e

ilícitas. (SOLDERA et al., 2004).

Nessa fase é necessário entender as relações grupais, tendo em vista que

os adolescentes sentem a necessidade de pertencer à um grupo que constrói sua

identificação, onde o mesmo terá grande influência sobre as decisões e os

delineamentos que os adolescentes seguirão. Esse grupo é importante, por que ele

desempenha um papel social em um momento no qual o adolescente está

construindo sua independência e dão menos importância ao que é falado pela

família, gerando assim os conflitos familiares, é justamente nesse período de crise

que a droga entra na vida dos adolescentes. (CAVALCANTE et al., 2008).

Entende-se que a família tem uma função norteadora no tratamento e nas

relações comportamentais que cada elemento possui na sociedade. Desse modo, é

de suma importância observar os fatores nos quais cada indivíduo se encaixa.

(LARANJEIRA, 2010). Contudo, esses fatores não podem ser analisados

particularmente, visto que a conexão de todos leva a outro fator, o biopsicossocial,

que, segundo Laranjeira (2010, p. 05), “parece haver um componente biológico

herdado nos transtornos de abuso de sustâncias, mas este componente isolado não

explica a complexibilidade do fenômeno”.

As consequências do uso de drogas vão além dos danos individuais e

orgânicos, visto que interferem diretamente na conjuntura familiar, transformando os

membros da família em co-dependentes, ocasionando a fragilização e/ou a quebra

dos vínculos familiares, além do sofrimento e da desolação. Além disso, cria um ciclo

vicioso de marginalização perante à sociedade. (LARANJEIRA, 2010).

Nesse contexto, trabalho surgiu coma necessidade de compreender como

os adolescentes em dependência química se sentem diante da sociedade, tendo em

vista que esse é um aspecto necessário para embasar e desenvolver intervenções

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pertinentes para o tratamento dos mesmos, onde os adolescentes dependentes

químicos em sua maioria ganham o rótulo de marginalização pela sociedade, que

atrela a dependência de substâncias psicoativas a criminalidade e marginalização de

forma em que esses usuários acabam sendo lançados à margem da sociedade.

Nesse sentido, este estudo tem como objetivo geral analisar como o

adolescente dependente químico se percebe diante do olhar social. Nesse intento

elencam-se como objetivos específicos: averiguar o fenômeno da dependência

química, compreender porque as relações entre família e adolescente muitas vezes

são complexas; identificar através de uma revisão bibliográfica de que forma a

sociedade interfere na vida de adolescentes em dependência química. Surgindo o

questionamento de o que há na literatura científica sobre a percepção do

adolescente dependente químico perante à sociedade?

Com base nos artigos de revisão narrativa, que são publicações amplas,

adequadas para descrever e discutir o desenvolvimento ou o "estado da arte" de um

determinado tema, sob ponto de vista teórico ou contextual. As revisões narrativas

não informam as fontes de informação utilizadas, a metodologia para busca das

referências, nem os critérios utilizados na avaliação e seleção dos trabalhos.

(BERNARDO et al, 2004). Constituem, basicamente, de análise da literatura

publicada em livros, artigos de revista impressas e/ou eletrônicas na interpretação e

análise crítica pessoal do autor.

Essa categoria de artigos têm uma função principal para a educação

continuada, pois, permitem ao leitor adquirir e atualizar o conhecimento sobre uma

temática específica em curto espaço de tempo; contudo não possuem metodologia

que permitam a reprodução dos dados e nem provêem respostas quantitativas para

questões específicas. (BERNARDO et al, 2004).

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2 A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

A preocupação com o crescente aumento do uso e/ou abuso de drogas,

existe uma grande dificuldade em se delimitar um limite entre um consumidor

ocasional e um dependente químico, isto porque cada sujeito consiste num

organismo único que reage de modo diferente. No caso do adolescente, este se

encontra numa fase peculiar do desenvolvimento humano, o que demanda por uma

análise mais cautelosa.

O uso de substâncias químicas por parte da grande parcela da sociedade,

em especial os jovens, tem obrigado governos e a sociedade civil a pensarem

alternativas de tratamento eficazes e capazes de reinserir os indivíduos na

sociedade, não numa visão marginalizada, mas como sujeitos sociais, dignos de

oportunidades, respeito e acesso pleno às condições de dignidade humana. Diante

desse fato buscou-se nesse capítulo conhecer os tipos de drogas, no intuito de

analisar os seus efeitos no organismo, assim compreender os porquês das

dependências em tantas pessoas, além de buscar entender os fatores que

desencadeiam a dependência química. (BLUM et al, 2003).

2.1 FATORES QUE DESENCADEIAM A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Para se compreender quais motivos levam uma pessoa a fazer uso de

drogas, é preciso considerar que se tratam de multifacetadas razões e contextos que

permeiam e que acabam por incentivar tal prática. Na verdade, ao se criar uma lista

sobre o que motiva as pessoas ao uso das drogas, seria possível perceber que as

razões são muitas e que essa lista ainda ficaria incompleta. Assim, motivos como a

curiosidade, a busca pelo esquecimento de problemas, devido às frustrações ou

insatisfações, a fuga de uma vida tediosa, um remédio para timidez e para a

insegurança, a crença de que certas drogas podem aumentar a criatividade, a

sensibilidade e a potência sexual, a busca do prazer dentre outros. (BLUM et al,

2003).

Em suma, as afirmações acima são corroborados por outros estudos como

os de Blum et al. (2003) mostrando que uma família desestruturada, caracterizada

pela falta de diálogo e interação afetiva entre seus membros, baixo envolvimento

dos filhos nas atividades familiares e pouco controle dos pais sobre suas amizades e

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atividades desenvolvidas, funciona como influência negativa, facilitando o consumo

de drogas por jovens.

De acordo com Schenker e Minayo (2005) e conforme o depoimento dos

entrevistados, a família cumpre importante função na formação da índole de um ser,

visto que se trata de fonte de socialização primária do jovem, na qual as práticas

educativas e o estilo de criação podem alertar e afastar os jovens de

comportamentos de risco existentes na sociedade, como o abuso de drogas. A

prevenção mais efetiva consiste na utilização dos pais para a redução do risco de

seus filhos.

De acordo com o Ministério da Saúde (2003) existem cinco fatores

determinantes que propiciam o abuso de drogas, que são: a escassez de

informação, a dificuldade de inserção no âmbito familiar e no mercado de trabalho, a

insatisfação com a qualidade de vida, problemas de saúde e facilidade de acesso a

tais substâncias.

De acordo com Sanchez et al. (2004) destacam-se como motivos para o

uso, a curiosidade, necessidade de se inserir em determinado grupo, reduzir

inibições, adquirir coragem, relaxar para lidar com problemas, rituais religiosos e

busca pelo prazer. Nesse sentido, pode-se compreender que são muitos os fatores

que causam o uso de drogas, contudo é preciso destacar que as relações familiares

são cruciais para que jovens iniciem o abuso de drogas.

Conforme assinala Tavares et al. (2001) os fatores familiares referem-se à

um ambiente doméstico caótico, ou seja, onde há ocorrência de pais que abusam de

alguma substância, uma ausência de paternidade, sobretudo em relação a filhos de

temperamento difícil e, por fim, ausência de vínculo afetivo com o jovem.

Nesse sentido, entende-se que não somente o comportamento dos pais

serve de modelo para os filhos, mas também o relacionamento entre eles é

fundamental para a constituição da identidade do jovem. Diante de vínculos

familiares fragilizados, muitos jovens buscam preencher o vazio das relações com os

pais através da inserção em grupos sociais, às vezes salutares em outras não.

Devido à necessidade de pertencer a um grupo, que o jovem passa a adotar os

valores e normas desse grupo. Em alguns grupos há tolerância, aprovação ou

mesmo o consumo de drogas o que se configura como um fator determinante ao uso

abusivo destas substâncias. (SCHENKER; MINAYO, 2005).

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2.2 TIPOS DE DROGAS E SEUS EFEITOS NO ORGANISMO

O uso de álcool e drogas na sociedade atual é fruto de hábitos e costumes

antigos disseminados na cultura mundial. Algumas pessoas podem fazer uso de

determinadas substâncias e não se tornarem dependentes destas. Porém, existem

pessoas que possuem pré-disposição à dependência química e ao alcoolismo e não

conseguem se controlar em presença da substância, trazendo as mais variadas

consequências para o meio social, familiar, ambiente de trabalho, dentre outras.

(BARROS FILHO, 2008).

Com base em documentos oficiais direcionados à sociedade, o uso de

drogas por jovens têm sido cada vez mais presentes na realidade brasileira e traz

consequências sérias nas diversas dimensões de seu desenvolvimento e no

convívio familiar. E em alguns casos, o consumo de drogas ou outras problemáticas,

em geral, podem estar vinculadas a conflitos de origem familiar.

A dependência química é reconhecida como doença pela Organização

Mundial de Saúde, visto que há mudança na estrutura e no funcionamento normal

da pessoa, trazendo-lhe prejuízos. Nesse sentido, constitui-se como uma doença

uma vez que é o fruto de uma cadeia de fatores (físicos, emocionais, psíquicos e

sociais) que operam ao mesmo tempo, sendo uns são mais dominantes em uma

pessoa específica, do que em outras. (BRASIL, 2003)

Compreende-se dessa forma, que a dependência química consiste numa

intercorrência que compromete o ser humano nas suas três dimensões

constitucionais, ou seja, a biológica, a psíquica e a social, e atualmente, é percebida

com uma expressão da questão social, à medida que atinge o mundo inteiro, e todas

as classes sociais. Nesse sentido, é importante compreender a classificação do uso

e/ou abuso de drogas. (BARROS FILHO, 2008).

Segundo Barros (2008) o uso e/ou abuso de drogas podem ser assim

classificados, devido a abstinência que diz respeito à ausência de consumo, a

experimentação que constitui no uso ocasional, para satisfazer a curiosidade ou

inteirar a pessoa a um grupo, o uso recreacional que se refere ao consumo

atenuado não expondo o indivíduo ou o grupo a situações de risco para a saúde

física ou psicológica e do qual não surge de problemas sociais, o abuso das drogas

onde o consumo causa danos à saúde física, psíquica ou social do indivíduo ou o

expõe a riscos e a dependência química que se reflete no uso compulsivo da

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substância, onde o sujeito prioriza o consumo da substância acima de outros

interesses pessoais, sociais ou profissionais, ou seja, situação onde há perda de

controle.

Portanto é possível compreender que um indivíduo não inicia o uso de

drogas ou o abuso delas por acaso ou por uma decisão isolada, o uso indevido de

drogas é produto de um grande número de fatores. Assim, não devemos afirmar que

a iniciação ao uso de drogas se dá pelo fato da pessoa nascer predestinada a usar

drogas, contudo não podemos afirmar que as usa apenas por influências de amigos

ou mesmo de traficantes.

Para que se compreendam os motivos que ocasionam o uso de drogas

dentre os adolescentes, foco central desse estudo deve-se antes de tudo apreender

a realidade desses, levando em consideração instituições como a família, os pares e

a comunidade onde o adolescente vive. De acordo com Associação Brasileira de

Psicologia (APA) (2002) estas instituições possuem um papel essencial na proteção

dos jovens, embora também as desenvolvam como fatores de risco se exercerem

influências que levem ao consumo de drogas.

Logo, resumindo tem-se o uso, abuso e dependência química, cada um com

aspectos específicos e dessa forma demandando intervenções que devem ser

pautadas de acordo com as particularidades de cada situação. A principal

característica da dependência de substâncias corresponde à presença de um

conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos, que corroboram

para que o indivíduo continue a utilização de uma determinada substância, mesmo

com os problemas expressivos que se relacionam à mesma, ou seja, um

comportamento compulsivo de consumo da droga. (APA, 2002).

Com base nos estudos de Laranjeira (2010) depois de certo tempo de uso

de uma determinada substância, a pessoa adquire tolerância em relação a ela,

fazendo com que o corpo precise cada vez mais dela e em doses maiores, para

produzir o mesmo efeito, uma vez que existe uma readaptação do cérebro ao

estímulo progressivo da droga.

O cérebro do dependente químico busca conservar, sempre, certo equilíbrio

e tenta readaptar-se após a exposição à droga, o que, com a repetição do uso, torna

o efeito mais rápido e passageiro, colaborando dessa forma, para manter a

dependência e o aparecimento dos danos, causados pela mesma. A dependência

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ocasiona modificações marcantes na interação do indivíduo com seus familiares,

afetando suas relações sociais e até mesmo profissionais. Diante disso, percebe-se

o efeito das drogas no cérebro a médio e longo prazo, ou seja, à medida que o seu

uso se intensifica, mais a pessoa acredita que precisa dela para manter as

sensações nela obtidas. (LARANJEIRA, 2010).

A dependência de droga como um estado mental e físico, que resulta no

intercâmbio entre um organismo vivo, e uma droga, e tem como característica a

presença de um comportamento marcado pela compulsão de usar a droga para

experimentar seu efeito psíquico e, às vezes, evitar o desconforto originado por sua

ausência, o que caracteriza a abstinência. (BRASIL, 2010).

Assim, ao consumir a droga, o sujeito tem uma sensação momentânea de

prazer e logo que o efeito da mesma acaba, o que tende a causar na pessoa a

vontade de consumi-la novamente pra ter o mesmo prazer e abolir com os sintomas

da abstinência. (APA, 2002).

Hoje em dia, os progressos científicos no que se refere à dependência

química permitem dizer que a droga é somente um dos fatores da trilogia que leva à

dependência. Os outros dois são o indivíduo e a sociedade, onde a droga e o

indivíduo se deparam. De acordo com essa afirmativa, entende-se que a

dependência química não se refere apenas ao uso de drogas em si, é preciso

considerar as relações sociais do individuo, bem como aspectos de sua

personalidade, ou seja, é necessário compreender que os sujeitos recebem diversas

influências durante seu desenvolvimento. (DIEHL et al., 2011).

As drogas são substâncias que podem inibir, acentuar ou modificar, em

parte, um comportamento passível de ocorrer no indivíduo. Historicamente as

drogas eram empregadas pelos homens primitivos ou pelas antigas sociedades,

dentro de seus rituais e como face a uma forma de alcançar contato com entidades

divinas, de um modo restrito e como parte da atividade cultural e religiosa de suas

civilizações. (OUTEIRAL, 2008).

Independente das épocas e culturas é importante destacar que as drogas

psicotrópicas atuam sobre o cérebro, e cada uma de um modo específico, e desta

forma, quanto aos efeitos, às substâncias podem ser classificadas como drogas

depressoras, que são substâncias que podem lentificar ou diminuir a atividade dos

neurônios, já as drogas estimulantes são capazes de aumentar a atividade neural,

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acelerando o pensamento e a euforia, a atenção e a vigília, neste caso, a mudança

gerada é qualitativa e o cérebro passa a funcionar fora do seu normal e sua

atividade fica perturbada. O que se percebe, que os efeitos das drogas no cérebro

variam desde a lentidão até à alteração do padrão de comportamento dos

indivíduos, o que trará danos a curto, médio ou longo prazo, dependendo da droga e

da frequência de seu consumo. (NEAD, 2009).

A palavra droga é ligeiramente coligada a substâncias que alteram estados

da mente, proporcionando experiências de prazer, capazes de levar parte de seus

usuários ao uso contínuo e à dependência. Dessa forma, as drogas, psicotrópicas,

agem no cérebro, modificando a maneira de sentir, de pensar muitas vezes de agir.

Entretanto, estas mudanças psíquicas não são iguais para toda e qualquer droga,

pois cada substância é capaz de causar distintas reações (NEAD, 2009).

Objetivamos no decorrer da escrita apresentar os diferentes tipos de drogas

e com suas características de efeitos e consequências. Cabe destacar que algumas

das drogas mais conhecidas e de maior consumo são: a cocaína, a maconha e o

crack. Sendo que cada uma delas são diferenciadas pelos seus efeitos

característicos, como estimulantes, depressores, alucinógenos e inalantes. (NEAD,

2009).

2.2.1 A cocaína

Na sociedade tem-se algumas drogas que são amplamente e licitamente

consumidas, exemplos disso são o tabaco e o álcool, contudo, o fato destas drogas

serem legalizadas e seu consumo liberado, não significa que as mesmas não

provoquem danos a quem as consuma, muito pelo contrário, sabe-se que o tabaco

ocasiona diversos tipos de câncer e o álcool pode, além de causar doenças, alterar

a personalidade de quem o consome. (NEAD, 2009).

A cocaína é um estimulante anestésico, que causa excitamento, combate a

fadiga, reduz a fome, aumenta a resistência física, eleva o humor, alívio das

sensações de medo e ansiedade, em algumas pessoas, provoca irritabilidade,

ansiedade e insônia. A cocaína pode levar o indivíduo a um aumento de risco

cardíaco, depressão e paranóia. O uso pode ser através de inalação (pó) ou injeção,

quando diluída em água. (NEAD, 2009).

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Diante do relatado acima, compreende-se que os efeitos da cocaína são amplos, e

irão depender do organismo de cada pessoa, em algumas reduz o apetite, as deixa

excitadas e agitadas, em outras ocasiona a irritabilidade e ansiedades e em alguns

casos pode levar à paranóia e a um ataque cardíaco. Trata-se portanto, de uma

droga de poder devastador.

2.2.2 Maconha

Outra droga bastante conhecida e considerada a droga mais popular nos

dias atuais, é a maconha, também chamada de marijuana, e amplamente consumida

pelo fato de ser uma droga mais acessível e mais barata.

A maconha tem seu uso mais comum, pelo fato de ser uma droga mais

barata, entretanto, isso não significa que seus efeitos não são graves. Ela, ao longo

do tempo de consumo, pode comprometer a memória de quem a utiliza com

frequência, alterando e diminuindo a capacidade de assimilar, por exemplo,

informações simples do dia-a-dia, como o número de telefone ou nome de uma

pessoa. (NEAD, 2009).

2.2.3 O crack

Na atualidade muito se tem falado da droga denominada de crack. Talvez

uma das drogas de maior poder devastador e de maior facilidade em causar

dependência química, mesmo não sendo uma das mais baratas quanto ao quesito

preço. O crack é um derivado químico da cocaína, contudo com efeitos mais

intensos e perigosos, pois causa euforia, bem-estar, prazer, sentimento de

onipotência e alucinações. Segundo MOCELIN; MOREIRA (2010) o crack é:

[...] Uma droga tão devastadora que pode viciar logo na primeira vez. O cérebro sofre danos irreparáveis, a saúde fica debilitada e a vida se transforma em momentos intermináveis de dor e sofrimento. São comuns as mortes causadas diretamente pelo uso do crack, como também são comuns os assassinatos nos acertos de conta entre traficante e usuários, além dos inúmeros casos de violência doméstica em que não faltam histórias de horror protagonizadas por filhos batendo em suas mães e mães acorrentando seus filhos na tentativa desesperada de livrá-los do vício. Por uma pedra, o usuário é capaz de mentir, de roubar e de se desfazer de qualquer objeto que possa ser trocado pela droga, inclusive o próprio corpo, quando já não há mais nada o que vender (MOCELIN; MOREIRA, 2010, p.21)

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O crack é um psicoativo de efeitos intensos e de duração bastante curta

(máximo de cinco minutos), o que gera uma dependência muito rápida e grave efeito

de abstinência. A consequência do uso dessa substância é a tendência suicida,

problemas respiratórios, pulmonares, cerebrais e risco de infarto. (FREITAS, 2008).

2.2.4 O LSD

Contudo o mais poderoso dos alucinógenos é o LSD sigla para Dietilamida

do Ácido Lisérgico, e comumente amplamente difundidas em festas, shows, e

encontra nos jovens e adolescentes seu maior público consumidor. Os efeitos do

LSD são a dilatação das pupilas, o aumento de pressão arterial, do ritmo cardíaco e

da glicose no sangue, náuseas, calafrios, ardores, tremores, tonturas e cefaléias. Os

efeitos psicológicos são alucinógenos, visuais e táteis, pânicos, impulsos violentos e

suicidas. (LIMA, 2009).

É, portanto, uma droga potencialmente destrutiva, uma bomba-relógio, na

qual seus efeitos são refletidos nos indivíduos que a consomem podem levar os

mesmos a cometerem atos de violência contra os outros e contra si próprios. (LIMA,

2009).

Mesmo com todos os efeitos negativos das referidas drogas, observa-se que

as pessoas procuram nestas a libertação de sofrimentos e angústias, e acreditam

que tem o controle sobre o seu uso, podendo abandonar o vício quando desejarem.

Entretanto, o uso de drogas faz com que o indivíduo apresente perda de controle e

que não consiga mais viver sem os efeitos dessas substâncias, caracterizando,

assim a dependência de drogas com a necessidade de tratamento. (LIMA, 2009).

Outro ponto que requer atenção é que a relação do ser humano com as

drogas antecede a própria criação das sociedades e do estado, ou seja, é uma

substancia que lhe acompanha a muito e muito tempo, ou nas palavras de Lima

(2009, p.16):

O ser humano sempre teve contato com a droga, este consumo existe, ao longo dos tempos, desde as épocas mais antigas e em todas as culturas e religiões. Por motivos, religiosas, recreativos, de cura, as drogas acompanham a história da humanidade. Na cultura ocidental, o marco inicial da difusão da droga vem associado ao movimento hippie dos anos 60, nos Estados Unidos. O uso de drogas, dentro do movimento hippie, surge como uma reação ao autoritarismo, presente, sobretudo, na família, na escola. De modo que as drogas exerciam um papel integrador na tentativa de reconstruir uma sociedade sensível e solidária. [...]

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Podemos também citar os diversos apelos e estímulos ao consumo de

drogas realizado tanto pela Televisão através das várias campanhas de estímulos

ao consumo de álcool e cigarros. Esses apelos, no entanto não isentam seu poder

destrutivo, pois, além de alterar a percepção, atenção, formação de memória e

coordenação motora, a maconha age diretamente nos sistemas neurais e o seu

consumo intenso pode ocasionar sérios problemas de motivação comportamental,

principalmente em jovens. (LIMA, 2009).

Diante do divulgado, confirma-se que as drogas e principalmente o crack

vem sendo considerado um dos maiores problemas de saúde pública do país e a

principal causa da violência nos centros urbanos. Torna-se aqui indispensável,

analisar de que forma este fenômeno está relacionado às diferentes expressões da

questão social, sendo estas, fruto de uma sociedade desigual, constituída no

sistema capitalista de produção. (LIMA, 2009).

É imprescindível conhecer que fatores levam esses sujeitos a iniciar-se no

mundo das drogas, bem como compreender o que é juventude e a importância do

convívio familiar para a prevenção ou para a redução de danos ocasionados pelo

uso ou abuso de drogas. O uso de droga, dessa forma, deve ser prevenido e o

tráfico dessas substâncias deve ser rigidamente combatido.

Nesse sentido, busca-se no próximo capítulo analisar as principais políticas

públicas que visam à prevenção ao uso de drogas, a redução dos danos causados

pelo uso contínuo de drogas e, sobretudo o combate do crime hediondo, que é o

tráfico dessas substâncias. O uso de drogas, como foi evidenciado, causa danos,

muitas vezes irreversíveis para quem delas se utiliza, entretanto não cabe o papel

de julgar os motivos que levam o consumo de tais substâncias e muito menos das

pessoas dependentes químicas.

2.3 CONSEQUÊNCIAS DO USO E ABUSO DE DROGAS

Quando se almeja refletir sobre as consequências que o uso abusivo de

droga ocasiona, é preciso considerar que esta prática traz prejuízos em vários

âmbitos, ou seja, no pessoal, no familiar, no social dentre outros. Diante dessa

perspectiva iniciam-se tais reflexões com alguns danos ocasionados ao dependente

químico. (MACHADO et al.2012).

Uma consequência do uso abusivo de drogas refere-se à quebra dos

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vínculos familiares, visto que a partir do uso de tais substâncias inicia-se uma cadeia

de eventos que culmina em conflitos e muitas vezes o afastamento de alguns

membros da família. (ABREU et al., 2010).

Nesse sentido, ao se falar de impacto pessoal ou individual é lembrar as

agressões físicas sofridas e/ou realizadas pelo dependente. Em análise aos estudos

a seguir correlatados, foi possível confirmar que tanto as agressões praticadas

quanto as sofridas foram tiveram como protagonistas pessoas desconhecidas e

familiares.

No que se refere às agressões familiares, afirma Machado et al. (2012), que,

dentre 1.235 relatos de agressões, 49,4% foram cometidas contra os familiares,

entre esses, os próprios pais. Os agressores eram na maioria usuários de crack e de

álcool.

Esse dado revela o quão ficam fragilizadas as relações familiares, visto que

valores como respeito aos mais velhos, por exemplo, deixam de existir quando

ocorrem atos agressivos promovidos pelo dependente químico. (MACHADO et al,

2012).

O uso de drogas também é responsável pela origem de experiências que

acarretam posteriormente em autodestruição, além de provocar condutas violentas.

Esse fato pode ser comprovado através de uma pesquisa brasileira realizada com

1.547 pessoas que buscaram o Serviço Nacional de Informações e Orientações

sobre a Prevenção do Uso de Drogas, onde foi constatado que 11,2% dos usuários

já haviam cometido agressões físicas contra seus familiares. (MACHADO et

al.2012).

De acordo com Ribeiro (2012), geralmente o dependente químico torna-se

agressivo quando se vê sem a droga, ocasionando um desejo intenso e nesse

contexto que se ampliam os desentendimentos e as discussões cujo o intuito é obter

mais dinheiro para a aquisição da droga. Outra consequência do uso abusivo de

drogas é refletido nos acidentes de trânsito, sendo estes considerados um problema

mundial de saúde pública, sendo o uso de drogas, sobretudo o álcool, um dos

fundamentais fatores que colaboram para este quadro.

Segundo Abreu et al (2010), entre as vítimas fatais de acidentes de trânsito,

grande parte se encontravam sob efeito do álcool, sendo na sua grande maioria

jovens e adultos do sexo masculino. Sabe-se que o aumento do risco de acidente de

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trânsito pode estar ligado à perda da concentração e da prudência, à maior

sensibilidade à luz em virtude da dilatação das pupilas causada pelo uso de certas

substâncias estimulantes, além de sintomas psicológicos, como paranóia e

alucinação. (PONCE; LEYTON, 2008).

No âmbito familiar as consequências não são menos devastadoras, e a

família está associada também a motivação para o uso cerca de drogas, fato

comprovado pela pesquisa de Silva e Mattos (2010) que afirma em virtude de seus

estudos quantitativos que 60% dos dependentes químicos têm algum membro

familiar que faz uso, abuso ou tem a dependência de drogas, destacando-se, entre

os familiares envolvidos, os irmãos, compreendendo 39,8%. Nesse sentido, pode-se

entender que filhos ou irmãos de dependentes químicos têm um risco maior de

fazerem uso de álcool e outras drogas, quando comparados a filhos de não

dependentes químicos. (DIEHL et al. 2011).

Deste modo, entende-se que o uso de drogas feito pelos pais, coligado a

características individuais, motiva o risco de uso de drogas pelos filhos. Contudo, é

importante destacar que o uso de drogas por parte dos pais não é exclusivamente o

fator determinante para a dependência dos filhos.

Outra questão a ser discutida refere-se a uma consequência que é tanto

familiar quanto social, o rompimento dos vínculos familiares. De acordo com Aragão

et al (2009), 46% dos dependentes químicos têm dificuldades em manter as

relações familiares, o que gera sentimentos como resignação, solidão, frustração e

tristeza, o que compromete os vínculos e implica seu rompimento.

Em virtude da ruptura dos vínculos familiares, muitos dependentes químicos

passam a viver em situação de rua, daí se faz necessário que haja um resgate dos

laços afetivos com a família para que se ampliem as chances de tratamento, uma

vez que esta é fundamental na motivação e enfrentamento do uso de drogas.

Segundo Aragão at al. (2009) o uso de drogas faz, muitas vezes, com que o

usuário não consiga manter-se no mercado de trabalho, o que ocasiona furtos no

ambiente domiciliar no intuito de manter o consumo. Isso torna a família vulnerável

visto que está se sente impotente, o levando a optar por trabalhar, estudar, realizar

suas atividades diárias ou vigiar o usuário de drogas durante todo o decorrer do dia.

O que acaba gerando sofrimento e angústia.

Diante dos prejuízos ocasionados pelo uso abusivo de drogas, pode-se

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perceber que o mais profundo se traduz na quebra dos vínculos familiares, visto que

a família é um importante suporte para que o dependente químico supere a

realidade inserida no mundo das drogas.

2.4 OLHAR DA SAÚDE MENTAL SOBRE A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

O crescente número de pessoas que consomem algum tipo de substância

psicoativa tem sido considerado um complexo problema que assola de forma

devastadora toda a sociedade, sobretudo pelo fato deste número ter se ampliado. O

uso de drogas traz impactos econômicos e sociais, o que faz que tal questão seja

um grave problema de saúde pública, afetando principalmente os jovens. Nesse

sentido, é fundamental que se conheça o padrão do consumo de substâncias

psicoativas de determinada sociedade, para que sejam implantados programas

efetivos de prevenção ao consumo, uma vez que tais dados subsidiam os

parâmetros necessários para a criação de políticas públicas cuja finalidade seja a

prevenção e o tratamento, e dessa forma otimizando os resultados. (LARANJEIRA

et al, 2010).

A prevenção refere-se às ações que objetivam a redução dos problemas de

saúde relacionados ao uso de drogas e, dentro dessa ótica o melhor jeito de abordar

a temática do uso e abuso de drogas entre os jovens é indubitavelmente a

prevenção. Nesse sentido, compreende-se que a prevenção busca impedir que o

indivíduo se insira no submundo das drogas.

Nessa conjuntura, para que as ações preventivas possam ser eficazes, é

fundamental que elas se norteiem por uma perspectiva que leve em consideração as

demandas e características biopsicossociais do público-alvo a que estas são

destinadas. Assim, partindo desse pressuposto que se faz necessário que delimite o

referido público-alvo. (MOREIRA et al, 2001).

Assim, de acordo com a Organização Mundial Da Saúde OMS (2004), uma

vez definida a população-alvo, os objetivos e as metas, deverá ser pensada uma

intervenção preventiva fundamentada em três níveis de prevenção fundamentais

que são a prevenção primária, a prevenção secundária e a prevenção terciária.

Diante dessa afirmativa é importante que se analise individualmente cada um

desses níveis de prevenção.

A prevenção primária se configura através de ações que buscam impedir o

uso de drogas, objetivando reduzir a possibilidade de novas pessoas começarem a

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usar. Nesse sentido, compreende-se que inicialmente a prevenção focaliza suas

ações na prevenção através da educação. Considerando esses aspectos, observa-

se que a prevenção passa, em princípio, pela educação. (MOREIRA et al, 2001).

No âmbito da prevenção secundária esta engloba ações que tem em vista

evitar situações de complicações para as pessoas que fazem uso casual de drogas.

Trata-se de um prolongamento da prevenção primária, em todos os momentos em

que esta não atingiu as metas ansiadas. Ou seja, são ações que visam evitar que a

dependência química se estabeleça.

E por fim, a prevenção terciária que consiste em ações que, buscam evitar

prejuízos tendo como finalidade evitar a recaída, tendo em vista a reinserção social

do indivíduo, possibilitando-lhe novas chances de engajamento na família, no

trabalho dentre outros. (MOREIRA et al, 2001).

Cabe ressaltar a que os programas que visam prevenir o uso de drogas,

devem estar focados na promoção da saúde e da educação. Essas propostas de

atuação são referências para a orientação de organização institucional que almeje

implantar um programa de prevenção. (MOREIRA et al, 2001).

Acredita-se que o uso de drogas tem suas raízes na busca de uma fuga para

as frustrações que os jovens enfrentam. Frustrações oriundas da falta de inserção

no mercado de trabalho, de uma escola distanciada da realidade dos jovens, da

escassez de alternativas de lazer e de outras atividades culturais, além da ausência

de participação no espaço político.

Vale ressaltar ainda que, é de suma importância o papel do Estado na

criação e implementação de políticas públicas que indiquem programas de

prevenção ao uso abusivo de drogas e embora já muito se avançou sobre esta

questão, ainda, é preciso fomentar um direcionamento mais específico. (PINSKY;

BESSA, 2004).

No que diz respeito ao enfrentamento ao problema das drogas, tem-se na

Lei 11.343/06, um importante marco legislativo que além de criar o Sistema Nacional

de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD indica medidas voltadas à prevenção

ao uso, à atenção e à reinserção social dos usuários e dependentes de drogas,

estabelece normas que visam à repressão à produção não autorizada e ao tráfico

ilícito de drogas e, por fim, delibera sobre os crimes e apresenta outras provisões.

(BRASIL, 2003).

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Cabe destacar que diante do exposto a atual legislação prioriza a prevenção

em detrimento à repressão, ou seja, primazia no âmbito preventivo ao invés do

repressivo, uma concepção que, pode ser percebida em seu art. 5º, onde são

determinados os objetivos do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas

(BRASIL, 2003), segundo os dados que são:

I - contribuir para a inclusão social do cidadão, visando a torná-lo menos vulnerável a assumir comportamentos de risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e outros comportamentos correlacionados; II - promover a construção e a socialização do conhecimento sobre drogas no país; III - promover a integração entre as políticas de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas públicas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, Estados e Municípios; IV - assegurar as condições para a coordenação, a integração e a articulação das atividades de que trata o art. 3o desta Lei. (BRASIL, 2003).

Entende-se dessa forma, que existe uma preocupação em promover a

educação dos sujeitos no que se refere aos comportamentos de risco que podem

torná-lo vulnerável ao uso das drogas, também há proposta de divulgação de

informações sobre as drogas em todo o país, além de propor a integração de

diversas políticas de prevenção, ou seja, a adoção de medidas educativas que

visam impedir a ocorrência do problema, e não exclusivamente se inquietar em

combatê-lo depois de construído. (PINSKY; BESSA, 2004).

No âmbito da reinserção social, familiar e ocupacional preconizadas na Lei

Antidrogas podem servir para rescindir o ciclo consumo/tratamento na maioria dos

envolvidos, à proporção que assumem o caráter de reconstrução dos danos sofridos

pelo uso e abuso de drogas, tendo, portanto, o objetivo de devolver ao indivíduo o

exercício integral de sua cidadania.

Quando se pensa em prevenção como uma responsabilidade policial pode

até parecer uma concepção absurda, visto que a polícia em todos os seus âmbitos

está normalmente coligada à repressão de crimes e à perseguição de criminosos.

Especialmente porque até no próprio organograma da Polícia Federal é possível ver

que não é preconizado o recrutamento de agentes a função preventiva. O que se

sabe é que o usuário de drogas ou o dependente destas trata-se de um cidadão que

possui direitos, e que pelo fato que diversos atos violentos serem associados ao uso

e ao combate a este reforçam a concepção de que todo usuário é criminoso e assim,

um perigo a sociedade. Assim, é fundamental que se difundam valores que

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respeitem os direitos, a cidadania, que seja direcionados para o uso equilibrado e

responsável, tendo em vista os padrões de consumo atuais agrupados.

(GUIMARÃES et al, 2004).

Também é de suma importância que haja o fortalecimento da articulação da

rede de atenção à saúde das pessoas que fazem uso de outras drogas, nos diversos

níveis de complexidade. Fomentando dessa forma, a criação de serviços de

atendimento, prevenção e acompanhamento sistemático dos usuários de drogas que

contem com a participação e atuação de uma equipe especializada apta a ofertar

respostas efetivas a esses problemas. (DELGADO, 2005).

Podemos destacar que no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, os

serviços proporcionados aos usuários de drogas concentram-se no Centro de

Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (CAPSad), que tem como finalidade

atender as demandas de usuários de álcool e de outras drogas, onde são realizadas

ações que vão desde o atendimento individual até o atendimento em grupos ou

oficinas terapêuticas, além de visitas domiciliares. (MIRANDA, 2004).

O CAPSad ainda se apresenta como sendo uma resposta tímida da saúde

pública a este desafio e vem se expandido lentamente pelas cidades brasileiras.

Sem dúvida é um dispositivo importante para o enfrentamento das questões

referentes ao uso abusivo de drogas, mas este atendimento não está formalizado na

maioria das cidades brasileiras, isto é, o CAPSad é um recurso que ainda não está

disponível à população em várias localidades. (DELGADO, 2005).

Diante de tudo que foi dito anteriormente, a prevenção, a difusão de

informações sobre os danos do uso de drogas, dos recursos que podem ser

acessados pelos usuários na busca por um tratamento especializado, bem como o

envolvimento de todos que fazem parte da convivência familiar e comunitária,

constituem ações de suma importância para o enfrentamento desse problema tão

complexo e cada vez mais visível na sociedade.

As ações que envolvem o enfrentamento da questão do uso e/ou abuso de

drogas demandam por mudanças de paradigmas, da construção de novos conceitos

e esvaziamento de idéias preconceituosas e discriminantes. (FONTES et al, 2006).

Diante da realidade de um dependente químico é preciso que haja uma

efetiva implantação de atividades, ações e programas de redução de demanda e

redução de danos, que considerem os determinantes de saúde, que englobam a

renda familiar e nível social, o nível educacional, as condições ocupacionais ou de

emprego, meio ambiente físico, funcionamento orgânico, herança genética,

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habilidades sociais, práticas de saúde pessoal, desenvolvimento infantil saudável e

acesso ao sistema de saúde. (FONTES et al, 2006).

Estas ações devem ser compreendidas como interferências preventivas,

devendo ser apreendidas entre as medidas a serem implementadas, sem prejuízo a

outras modalidades de intervenção e estratégias de redução da demanda.

Contudo, percebe-se que a implementação de ações articuladas entre

redução de demanda e de redução de danos é algo complexo, visto que envolve

diversos atores sociais, como a família, a sociedade, o Estado, dentre outros, além

de que seja necessária a apreensão de que a problemática do uso e /ou abuso de

drogas não deve ser apreendida de forma isolada de todo um contexto que engloba

desde a renda da família até o acesso efetivo aos programas de saúde.

No que se refere a redução de danos, no âmbito da Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios - PNAD, menciona-se a necessidade de se estabelecer

estratégias de Saúde Pública direcionadas a minimizar as antagônicas

consequências do uso indevido de drogas, objetivando reduzir as situações de risco

mais constantes desse uso, que representem potencial prejuízo para o indivíduo,

para determinado grupo social ou para a comunidade. (FONTES et al, 2006).

A Política de Redução de Danos trata-se de conjunto de estratégias de

intervenção que abrangem ações direcionadas aos usuários de drogas e usuários de

drogas injetáveis, à sua rede social e familiar, à comunidade em geral e a setores

governamentais e não-governamentais.

No Brasil a primeira experiência em redução de danos, ocorreu em 1989, na

cidade de Santos, onde se realizou a distribuição de seringas descartáveis entre

usuários de drogas injetáveis cujo objetivo era conter a propagação do HIV/AIDS, e

desde então em muitos estados brasileiros tem sido desenvolvidas ações nesta

perspectiva, sejam por instituições públicas ou por organizações da sociedade civil,

e com apoio, especialmente das diretrizes do Ministério da Saúde, por meio dos

Programas Nacionais de DST/AIDS, Hepatites Virais e Saúde Mental. Estas ações

também se ampliaram para diferentes drogas e diferentes formas de uso de drogas,

saindo do foco do usuário de droga injetável. (PASSOS; SOUZA, 2011).

É somente durante a década de 90, com a atuação das organizações civis,

que a redução de danos se afirmará, gradativamente, como política governamental.

Em 1994, o Conselho Federal de Entorpecentes deu parecer favorável à realização

de atividades de Redução de Danos e o primeiro programa brasileiro sistemático

começou, em 1995, em Salvador-Bahia.

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Se considerarmos o primeiro programa de Redução de Danos desenvolvido

na Holanda, constatam os que demoramos quase quinze anos para oficializar o

primeiro programa de RD no País. O atraso em adotar o programa de Redução de

Danos como uma política pública de prevenção do HIV/AIDS, no Brasil, trouxe sérias

consequências para o controle dessa epidemia. (CRUZ, 2011).

A força política da Redução de Danos vai se intensificando ainda mais ao

longo dos anos 90 com as conferências mundiais de redutores de danos, realizadas

anualmente em diversos países. Em 1997, surge a ABORDA -Associação Brasileira

de Redutores de Danos e em 1998 surge a REDUC - Rede Brasileira de Redução

de Danos. Acompanhando estes programas, várias leis foram sancionadas para

legitimar a prática da redução de danos em vários estados e municípios. Entretanto,

o foco da Redução de Danos nesta época está na população, ou seja, do ponto de

vista epidemiológico. Nesse sentido, a Redução de Danos visa minimizar danos à

sociedade que sofre uma epidemia de HIV e outras doenças. (CRUZ, 2011).

O principal desígnio do Programa Redução de Danos é a redução da

incidência de DST/HIV/AIDS, Hepatites e outras doenças de transmissão sanguínea

e sexual entre usuários de drogas e usuários de drogas injetáveis. De acordo com a

Cartilha ABC redução de Danos (BRASIL,2003), os princípios que norteiam esse

programa são:

[...] Busca ativa pelo usuário nos locais onde vive e faz uso de drogas; Vínculo ético e afetivo que promove a confiança entre usuário e Agente de Prevenção como instrumento fundamental de trabalho; Abordagem não estigmatizante, não excludente, sigilosa e baseada na empatia do Agente Redutor de Danos com o usuário; Intervenção que respeita e promove a autonomia, reconhece o direito e o dever de escolha e estimula a responsabilidade de cada indivíduo; Realização de ações de educação em saúde que promovam novos modos de relação com as drogas a partir do estabelecimento de um compromisso, não ideal, mas possível e desejável, com a preservação da própria vida e com a saúde da comunidade (BRASIL, 2003, p.22).

Compreende-se desse modo que estes princípios evidenciam a necessidade

de um autocuidado com relação ao uso de drogas, que possibilita também

desenvolver o sentido de responsabilidade sobre si mesmo e sobre as pessoas do

círculo de relação. A estratégia de redução de danos dirigida para os usuários

injetáveis promove, além de orientações, a distribuição/troca de seringas e agulhas e

outros insumos de prevenção preconizando que as injeções sejam realizadas com

equipamentos estéreis. (CRUZ, 2011).

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A redução de danos é um modelo alternativo e inovador para a abordagem

de dependentes químicos, consistindo em um conjunto de medidas de saúde pública

direcionadas a minimizar as consequências antagônicas do uso de drogas, tendo

como princípio essencial o respeito e a liberdade de escolha dos usuários que, por

vezes, não conseguem ou não querem parar de usar substâncias psicoativas e, por

isso, a intenção é reduzir ou minimizar riscos decorrentes do uso. A Política de

Redução de Danos também constitui ações que transversalizam os serviços da rede

assistencial do SUS, em especial, os serviços de saúde mental (como os Centros de

Atenção Psicossocial - CAPS) e os serviços de atenção primária à saúde (como a

Estratégia Saúde da Família). (CRUZ, 2011).

Em 2006, com a divulgação e implementação da Política Nacional de

Promoção da Saúde reforçou as ações de atenção ao usuário de drogas,

preconizando o desenvolvimento de iniciativas preventivas e de redução de danos

que envolvam a co-responsabilização e autonomia da população, enquanto uma

prática eminentemente ética. (BRASIL, 2003).Esse trabalho avançou gradativamente

até ampliar seu campo de atuação para outras drogas, passando a conceber as

estratégias de RD como uma política de saúde. Avanços também foram obtidos no

campo dos direitos, com muitos estados e municípios criando legislações

específicas sobre práticas de redução de danos. (BRASIL, 2003).

A lei federal 11.343/2006 institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas

sobre Drogas – SISNAD – que prescreve medidas para prevenção do uso indevido,

atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, estabelece

normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e

define crime, o que fez avançar um pouco mais, na medida em que afastou o uso de

drogas do âmbito policial (supressão da pena de prisão para usuários de drogas),

aproximando-o mais das questões da saúde. (CRUZ, 2011).

A Redução de Danos, hoje, constitui-se em um conjunto de políticas públicas

ligadas ao enfrentamento dos eventuais problemas relacionados ao uso de drogas,

articulando distintas realidades: prevenção ao HIV/AIDS e hepatites virais, promoção

integral de saúde às pessoas que usam drogas e diminuição da violência. Tal

articulação consiste no apoio/incentivo ao protagonismo das pessoas que usam

drogas, na busca pelo cuidado de si e manejo do seu uso de drogas. Contudo, os

projetos de redução de danos têm apresentado alguns problemas: em sua maioria

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continuam a ser desenvolvidos à margem do SUS; permanecem desarticulados com

outras instâncias; seu espectro de ação em nosso meio é limitado, encontrando forte

tensionamento com outros setores do aparelho estatal, posicionados a favor de uma

política antidrogas. (BRASIL, 2003).

No Brasil, os Programas de Redução de Danos têm sido implantados em

várias cidades brasileiras, fundamentados em ações de campo, desenvolvidas por

agentes comunitários de saúde devidamente treinados, que compreendem troca e

distribuição de seringas, atividades de informação, educação e comunicação,

aconselhamento, encaminhamento e vacinação contra hepatite (FONTES et al,

2006).

Apesar das dificuldades encaradas para implementar os programas de

Redução de Danos, o Brasil vem cumprindo um papel central entre os países da

América Latina, por seu conhecimento e experiência no desenvolvimento de

estratégias de Redução de Danos entre usuários de drogas. (BRASIL, 2003).

De um modo geral, é necessário reunir as estratégias de Redução de Danos

no âmbito dos serviços regulares de assistência, com o intuito de promover a

humanização desses serviços e a adaptação de sua operação a populações

historicamente excluídas, com difícil acesso à rede de saúde (BASTOS; MESQUITA,

2010).

Entre as estratégias de redução de danos, conforme Almeida (2003), podem

ser citadas algumas como terapias de substituição, ou seja, substituir o uso de

drogas de efeitos mais intensos por drogas consideradas mais leves, terapias de

redução do consumo e aconselhamento sobre os riscos presentes no uso, que

visam sensibilizar os usuários de drogas a refletiram sobre os efeitos destas em seu

organismo e na sua vida de um modo geral, busca de parceria dentre outras.

Estas ações, citadas acima, mostram a preocupação em deslocar a droga,

enquanto um problema universal a ser combatido, para o usuário e seu uso

particular da droga, ou seja, constituem a chamada prevenção primária, pois buscam

estabelecer barreiras à contaminação de agentes patológicos e promover a saúde.

No que se refere à prevenção secundária esta diz respeito ao diagnóstico precoce,

limitando a ação da doença. Em relação à redução de danos, esse nível de

prevenção é realizado através da testagem do HIV, fazendo com que as pessoas

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possam saber de sua contaminação e realizar o tratamento adequado, quando

necessário. (ALMEIDA, 2003).

Na esfera dos Centros de Atenção Psicossocial - CAPS, várias cidades

brasileiras oferecem assistência a usuários de drogas sem enfatizar a abstinência,

farmácias que contribuem, facilitando o acesso a equipamentos de injeção estéreis e

descartáveis, já constituem experiência importante e são locais onde os princípios

de Redução de Danos têm encontrado ressonância e aplicação. Entretanto, ainda se

faz necessário que se instaure essa prática nos serviços básicos de saúde, para que

se adequem às peculiaridades dos usuários de drogas, incluindo-os em sua clientela

não concentrando apenas na distribuição de seringas e preservativos (FONTES et

al, 2006).

Para implantação, deste modo, das práticas preventivas, é essencial que

haja um envolvimento de toda a sociedade, compreendendo-se que não existem

receitas mágicas para resolver a questão do uso de drogas e danos a ela

associados. Importante também é consentir uma valorização dos indivíduos, o olhar

sem preconceitos e a compreensão da existência de múltiplos fatores que estão

ligados ao consumo de drogas. Este olhar admite promover comportamentos mais

seguros, determinando benefícios diretos e indiretos à coletividade (FONSECA;

BASTOS, 2005).

A redução de danos é uma aposta inovadora, uma aposta ética. Não tem

como meta fixa a eliminação desses comportamentos, o que a torna, desde logo

diferente de outras práticas outrora utilizadas no tratamento de dependentes

químicos (como por exemplo, os Alcoólicos Anônimos, que visam a abstinência total

e permanente). O que a redução de danos pretende é a construção de atitudes

responsáveis em face de comportamentos de risco. Percebe-se com isso, que o

conceito de redução de danos traz como meta informar, se aproximar do usuário de

drogas, além de educar as pessoas e a sociedade no sentido de produzir atitudes

saudáveis que minimizem as consequências adversas do consumo de drogas.

(FONSECA; BASTOS, 2005).

Nesta perspectiva a Redução de Danos inclui ações no campo da saúde

pública e de políticas públicas que visam prevenir os danos antes que eles

aconteçam, ou seja, como uma ferramenta para melhorar a saúde integral das

pessoas, abordando o fenômeno Drogas de maneira mais realista, sem julgamentos

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de valor. Uma estratégia focada na legitimação da cidadania dos usuários, na

condição de sujeitos de direitos. Um conjunto de promoção de saúde e cidadania,

respeitando a premissa de que saúde é um direito de todos.

Partindo desses pressupostos, pode-se entender que a Redução de Danos

trata-se de um novo paradigma que constitui num novo olhar sobre a questão das

drogas, instituindo novas tecnologias de intervenção, comprometida com o respeito

às diferentes formas de ser e estar no mundo. E, desse modo, a redução de danos

não coloca os usuários em nenhum outro lugar senão no de cidadãos com direito à

vida e à saúde, e estimula nessas práticas de cuidado de si para que possam

efetivamente tomar seus lugares no tecido social. Redução de Danos é prevenção

de danos, foca na prevenção do uso de drogas, bem como em pessoas que seguem

usando drogas. (SOUZA; MONTEIRO, 2011).

O programa de Redução de Danos tem um princípio maior, uma política

social cujo objetivo prioritário é minorar os efeitos negativos decorrentes do uso de

drogas. Partindo desta perspectiva, redução de danos pode ser sintetizada em cinco

princípios:

Um primeiro princípio pode ser descrito como uma alternativa de saúde pública aos modelos moral, criminal e de doença. A RD como princípio experimental e empático, desvia-se de tais princípios evitando julgamentos morais de certo ou errado e oferecendo uma variedade de políticas e de procedimentos que visam à redução das consequências prejudiciais do comportamento dependente. (FONSECA; BASTOS, 2005, p.07).

Trata-se, portanto, de adotar uma nova concepção do uso de drogas, ou

seja, visto como um caso de política e não de polícia, onde o usuário deve ser

percebido como um sujeito que precisa de cuidados em saúde e não de julgamentos

ou apenas ser excluído da sociedade como um ser fora da moral. (FONSECA;

BASTOS, 2005).

No segundo princípio, é reconhecida a abstinência como resultado ideal, mas são aceitas alternativas que reduzam os danos. Alternativas estas não definidas a priori e sim no acontecer humano. A Redução de Danos partindo desta perspectiva reconhece a abstinência como resultado ideal, mas aceita alternativas que minimizem os danos para aqueles que permanecem usando drogas. A proposta de abstinência ou nada para o tratamento de dependência de drogas é uma proposta que ainda é hegemônica no Brasil e na maior parte dos países do mundo. (FONSECA; BASTOS, 2005, p.09).

Conforme a citação acima se entende que não é necessário admitir apenas

um uso ou não de drogas, visto que existem alternativas que a médio e longo prazo

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visam reduzir os danos, sobretudo pelo fato de que existem diversos e complexos

tipos de usuários e de utilização de drogas. Assim, entende-se que o respeito aos

usuários de drogas pelo direito às suas escolhas individuais, pois mesmo que pareça

estranho essa concepção, é preciso lembrar que vive-se numa uma sociedade

democrática, que optou pelo respeito às opções individuais. No caso do uso das

drogas, também se pode utilizar o princípio de que a liberdade individual deve ser

preservada, desde que não interfira na liberdade do outro.

Podemos enfatizar, que a Redução de Danos não é contra a abstinência,

principalmente quando o comportamento do usuário é considerado perigoso, daí

esta propõe diminuir o nível da exposição ao risco. Nos casos de indivíduos que

tenham comportamento de uso excessivo ou de alto-risco esses são estimulados a

dar um passo de cada vez a fim de reduzir as consequências prejudiciais de seu

comportamento.

É importante destacar que as estratégias de Redução de Danos também

são direcionadas aos usuários de drogas legais, como o tabaco e o álcool, para, por

exemplo, tabagistas que não conseguem abandonar o uso de maneira repentina e

definitiva, para esses casos têm-se alternativas como o uso de adesivos de nicotina,

as gomas e outras formas de administração de nicotina menos nocivas do que o

fumo.

Os serviços de redução de danos englobam diversos compromissos, que

vão desde o uso controlado da substância até as terapias de substituição de drogas

desde que sejam criados em conjunto. No que se refere aos de uso controlado,

adota-se a diminuição gradativa da utilização ou da quantidade, o que leva o usuário

a sair de uma forma excessiva de uso, para um uso mais seguro e menos prejudicial

à sua saúde. Segundo Souza; Monteiro (2011, p. 12).

O Terceiro princípio é a redução de danos como uma abordagem que surgiu de “baixo para cima”, baseada na defesa do usuário, e não como política de “cima para baixo”, promovida pelos formuladores de políticas de drogas. Desse modo, os necessitados têm mais possibilidade de aderir, envolver-se e iniciar a mudança do comportamento. Em primeiro lugar, os defensores de abordagem de baixa exigência estão dispostos a encontrar o indivíduo em seus próprios termos – encontrá-lo onde você estiver, em vez de onde você deveria estar [...]

Trata-se, portanto, de uma abordagem que busca apreender sua realidade na

totalidade, considerando dos diversos âmbitos em que se insere. Não percebe a

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questão do uso de drogas como o foco central, mais sim o usuário com suas

particularidades. O quarto princípio compreende que os serviços de tratamento e

saúde que devem estabelecer com o usuário relações de apoio, sem o uso de

técnicas ofensivas, e sim instrumentos de acolhida e escuta.

Diante de tal princípio, fica evidente que é preciso compreender que as

pessoas são diferentes diante dos usos das drogas e reagem de formas diferentes

e há formas diversas de compreender a questão enfocando a partir dos vários

pontos de vista, incluindo as dimensões social, cultural, psicológica, biológica,

jurídica, dentre outras. Segundo FONSECA; BASTOS (2005):

Por último, “a redução de danos baseia-se nos princípios da experimentação empática versus idealismo moralista”. O experimentalismo empático não pergunta se o comportamento em questão é certo ou errado, bom ou ruim, doentio ou saudável. O experimentalismo preocupa-se com o manejo das questões cotidianas e das práticas reais, preocupa-se em estar la com outro, dialogando e ouvindo o outro, e juntos buscando alternativas viáveis para aquele momento e para aquela situação específica. (FONSECA; BASTOS, 2005, p.12).

Conforme a citação acima pode-se entender que o princípio fundamental

que norteia a Redução de Danos constitui no respeito à vida e na liberdade de

escolha, permitindo que suas ações sejam direcionadas à promoção do exercício e

respeito às diferenças, cujo foco é o resgate da dignidade e da cidadania, uma

abordagem humana que busca se isentar de julgamentos críticos e morais, e que

valoriza a vida, a promoção de saúde e da responsabilidade pessoal, e que percebe

que o enfrentamento à questão das drogas é muito mais que a punição decorrente

de comportamento inadequado. (FONTES et al, 2006).

Atualmente, vem se evidenciando, sobretudo na mídia muitos delitos e

crimes associados ao uso de drogas, contudo, devido à complexidade que engloba

essa questão, se faz necessário refletir sobre qual direção deve-se pautar as ações

nesse âmbito, diante disso no próximo item busca-se analisar a questão da

drogadição sob o aspecto punitivo, ou seja, um caso de polícia, ou sob o prisma da

prevenção e redução de danos, através de políticas públicas.

A nomenclatura “Comunidade Terapêutica” tornou-se oficial a partir da

Resolução 101 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, de 30 de maio

de 2001 que define esta como sendo um serviço de atenção a pessoas com

problemas fruto do uso ou abuso de substâncias psicoativas. Ou seja, há um

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reconhecimento da existência e do trabalho destas instituições e há um

estabelecimento de um modelo básico para o seu funcionamento: o psicossocial, no

intuito de garantir o caráter terapêutico de suas ações. (BRASIL, 2011).

Essas instituições fazem uso de conhecimentos, instrumentos e técnicas

científicas, na área da saúde mental, social e física, para o atendimento ao usuário

de substâncias químicas que busca ajuda para o tratamento que se concentra no

fortalecimento físico, psíquico e espiritual, para que o usuário se mantenha abstêmio

pelo maior tempo possível. Esse é o quadro que prevalece nos atendimentos

prestados pelas comunidades terapêuticas. (BRASIL, 2011).

No Brasil, a grande maioria destas comunidades, são de cunho religioso

(católicas ou evangélicas), surgiram, gradativamente, devido duas razões

fundamentais, uma para preencher as lacunas deixadas pelas políticas públicas

nesse âmbito e a outra razão refere-se ao fato de essas lacunas foram sendo

preenchidas por diferentes confissões religiosas, motivadas pela premissa de

evangelização, e também pela necessidade de darem resposta aos pedidos de

ajuda por tratamento que chegavam às suas portas na mesma proporção em que a

dependência química alcançava números alarmantes de vítimas.

Essas instituições se difundiram pelo Brasil e estima - se que hoje existam

no país cerca de 2000 comunidades terapêuticas, que se ampliaram pautadas no

voluntariado, na prática assistencialista e no ensino religioso, obtendo resultados,

enquanto as políticas públicas passavam distante da resolução questão da

dependência química, pois esta era visto como caso de polícia e não como política

de saúde pública. (BRASIL, 2011).

Ao longo do tempo as demandas ficaram mais complexas, as políticas na

área da saúde e da assistência foram sendo definidas, o terceiro setor se configurou

e ganhou espaço, fatos que colaboraram para uma maior sistematização no

tratamento da dependência química.

Dessa forma, muitas das Comunidades Terapêuticas avançaram no que se

refere sua intervenção técnica e profissional do trabalho junto à questão da

dependência química, não só porque precisaram se adequar às normas da ANVISA

e/ou da legislação social referente a essa demanda, mas também porque

precisavam sobreviver e com qualidade social.

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3 ADOLESCÊNCIA E FAMÍLIA: CONCEPÇÕES E RELACÕES

3.1 CONVERSANDO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE ADOLESCÊNCIA

A adolescência trata-se da etapa da vida de maior vulnerabilidade, na qual o

indivíduo experimenta novos comportamentos, dentre as quais, a experiência e uso

abusivo de drogas, considerando que, neste momento crítico para o

desenvolvimento de aptidões pessoais e interpessoais, e conquista de capacidades

para a tomada de decisões, o uso de drogas se apresenta como uma maneira de

lidar com as circunstâncias problemáticas. Neste momento de vida, o adolescente

busca novas atitudes, buscando- se colocar em grupos pessoais, nos quais passa a

ter relações de amizade, com pessoas diferentes do seu grupo familiar. (FREIRE;

GOMES, 2012).

A adolescência é explicada como um estágio do desenvolvimento humano,

com significados específicos, a partir dos quais se colocariam necessidades de

saúde que se relacionam à conjuntura social, cultural e familiar em que estão

inseridos (SALOMÃO, 2007). De acordo com as fontes documentais da Organização

Mundial de Saúde (2004), o adolescente é todo o indivíduo entre 10 e 19 anos. Já o

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), este é considerado o indivíduo entre

12 e 18 anos de idade.

As diferentes demarcações da faixa etária que determinam o período da

adolescência são irrelevantes no que se referem às transformações modificações

biológicas, psicológicas e sociais que acontecem neste momento de vida. Conforme

a realidade em que estão inseridos, os adolescentes passam a viver essa fase antes

dos 10 anos, sem fim demarcado com exatidão. Muito embora seu início possa ser

definido pelas mudanças biológicas seja no início da maturação sexual, determinada

como puberdade. São os aspectos socioeconômicos que determinaram a sua

conclusão, a partir do momento em que o adolescente passar a ser

economicamente independente da família. Assim sendo, este período pode ser mais

curto ou pode se prolongar. (TIBA, 1994).

Conforme define Tiba (1994) a adolescência é como um segundo parto, no

qual a criança nasce da família para a sociedade, significando que o modo de sentir,

viver, pensar e agir dos pais diante da vida será determinante para a Constituição

deste adolescente e sua passagem para a idade adulta, em que ele fará suas

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próprias escolhas a partir de suas vivências no âmbito familiar.

De acordo com Herbert (1991) o termo adolescência diz respeito ao

processo de desenvolvimento psicológico correlacionado com os mecanismos de

crescimento físico, definidos pelo termo puberdade. Contudo, este período varia de

acordo com a cultura e está abrangendo períodos cada vez maiores, podendo se

estender até os 22 anos ou mais, idade na qual se considera que o indivíduo seja

apto a estabelecer sua identidade pessoal.

De acordo com Gherpelli (1998, p.25), o adolescente pode ser definido como

um indivíduo com o corpo na puberdade e a mente descobrindo o pensamento, mas

que não se pode precisar o início da puberdade, pois cada pessoa se desenvolve de

forma individual e progressiva, podendo começar aos oito ou aos onze anos.

As mudanças cognitivas, físicas, biológicas, emocionais e sociais

vivenciadas pelos adolescentes se relacionam à fase da vida em que passam a

incorporar novas práticas, comportamentos e avanços para uma vida autônoma,

mas são estes mesmo aspectos que expõem os adolescentes as diversas situações

de risco a saúde e a vida dos adolescentes (FARIAS, 2004).

3.2 OS ARRANJOS FAMILIARES NA ATUALIDADE

As diversas teorias existentes sobre a família buscam explicar a estruturação

desse grupo, que foi se transformando desde sua origem mais remota. Já foi um

conjunto de escravos ou criados, conforme determina a origem etimológica do

vocábulo famulus que significa escravo, servo. Na era medieval, o papel da família

era a de garantir a transmissão da vida, do nome e dos bens materiais. (FREITAS,

2008).

A partir do século XV, as crianças ficavam em casa até os 07 ou 09 anos de

idade, quando eram enviadas para casa de um mestre com o intuito de aprender um

ofício como aprendiz. As relações entre mestres e aprendizes eram mais

importantes do que entre pais e filhos. Nessa mesma época nasceu a escola como

fornecedora de educação. Nos séculos XVI e XVII o modelo familiar se transforma e

os pais cuidam de sua educação, trabalho, carreira, futuro, dentre outros aspectos.

(FREITAS, 2008).

Já a família moderna, tem o papel essencial de educar e proporcionar bem-

estar às crianças. Para Grünspun (1983) cita que a família já passou pelas eras

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patriarcal, matriarcal e hoje vive a era filial, na qual quem comanda é o filho. A

criança se expõe como o núcleo da família e da sociedade, transformando a

estrutura da família e consequentemente da sociedade. (GRUNSPUN. 1983 apud

FREITAS, 2008).

A família é deste modo, uma instituição que permite diferentes arranjos,

apresentando como papel básico a socialização primária das crianças e dos

adolescentes. (SCHENKER; MINAYO, 2005). E é no âmbito familiar que ocorrerão

as primeiras identificações, espelho para identificações futuras, reproduzindo

padrões culturais e concentrando possibilidades de constituição dos sujeitos e

cidadãos, que terão função relevante na criação de condições relacionadas, tanto ao

uso abusivo de drogas pelo adolescente quanto aos fatores de proteção à medida

que se apresenta como um dos elos mais fortes dessa cadeia de muitas e

complexas faces, que forma o uso abusivo de drogas instaurado na adolescência.

(AMAZONAS, 2003),

Osório (1992) considera que a família é uma unidade grupal na qual se

desenvolvem três tipos de relações pessoais: aliança (casal), filiação (pais e filhos) e

consanguinidade (irmãos) que objetiva conservar a espécie por meio da

descendência, equipando condições para edificação de suas identidades pessoais e

de valores éticos, religiosos, estéticos e culturais.

Sua estrutura permite também a divisão da família em nuclear (conjugal)

constituída por pai-mãe-filhos, extensa composta por outros componentes que

tenham laços de parentesco, a monoparental que contempla um único parente direto

e a abrangente que inclui pessoas que não são parentes, mas que coabitam.

(OSÓRIO, 1992). Nesse sentido, compreende-se que:

De acordo com a estrutura familiar, diferentes funções são assumidas pelos seus membros: num casal que não possui filhos os papéis se resumem na relação marido e mulher; com relação à família nuclear seriam os de pai, mãe e filhos; numa família extensa são incluídos os papéis dos avós, tios e outros, ou ainda pessoas que coabitam. Ocorrendo, no processo de interação familiar a influência recíproca na relação entre pais e filhos, na qual a psicodinâmica reside em seu caráter interativo, através de processos de trocas, mutualidades e interações afetivas. (OSÓRIO, 1992. p.). 38

De acordo Schenker e Minayo (2005) as famílias atualmente enfrentam

grandes dificuldade em estabelecer normas e limites para seus filhos, independente

de sua constituição. Já em relação ao adolescente, este demonstra uma ausência

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de assertividade e ambiguidade com relação às leis e normas.

Pelo fato de ser co-responsável pela formação dos indivíduos, a família está

diretamente implicada no desenvolvimento saudável ou adoecido de seus

componentes, se apresentando como elo entre seus membros e aos vários campos

da sociedade, desempenhando, por conseguinte, influência ao uso, abuso ou

dependência de substâncias psicoativas. (FREIRES; GOMES,2012).

Acrescenta ainda Grandesso (2000) que: as relações entre os indivíduos são

construídas, por meio de processo de co-responsabilidade pela criação,

desenvolvimento e qualidade dessa relação. Crescer e passar da etapa familiar para

a seguinte significa formar negociações que derivam em transformações nas

relações previamente estabelecidas.

3.3 POR QUE A RELAÇÃO ADOLESCENTE E FAMÍLIA É TÃO COMPLEXA?

Pode-se proferir que um episódio previsível que apresenta grande impacto na

vida familiar é a adolescência, percebida como uma crise importante na conjuntura da

família. Vista como uma etapa do ciclo de vida familiar, a adolescência apresenta

empreitadas particulares, que abrangem todos os membros da família. Pode-se

afirmar, então que este período se constitui como uma etapa de transição do

indivíduo, da infância para a idade adulta, evoluindo de um estado de intensa

dependência para uma condição de autonomia pessoal e de uma condição de

necessidade de controle externo para o autocontrole, sendo caracterizado por

transformações evolutivas céleres e profundas nos sistemas biológicos, psicológicos e

sociais. (MARTURANO et al,2004).

Assim sendo, nesse momento evolutivo, decisivo para o desenvolvimento do

indivíduo, emana todo o seu processo de maturidade biopsicossocial, acontecendo à

obtenção da imagem corporal definitiva, bem como a estruturação derradeira da

personalidade. (OSÓRIO, 1992).

Nesse sentido, adolescência corresponde a um fenômeno biopsicossocial cujo

elemento psicológico do processo é constantemente determinado, transformado e que

sofre influências da sociedade. Esta fase da vida corresponde a descobertas dos

próprios limites, de questionamentos dos valores e das normas familiares e de intenso

apoio aos valores e normas do grupo de amigos. Nessa perspectiva, é um período de

rupturas e aprendizados, uma fase assinala da pela necessidade de integração social,

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pela busca da auto-afirmação e da independência individual e pela significação da

identidade sexual. (SILVA ; MATTOS,2010).

Os adultos têm uma função essencial neste processo, porque oferecem o

alicerce inicial aos mais jovens, a bagagem de regras e normas fundamentais para o

social, bem como operam como modelos introjetados, comumente como ideais,

cujas atitudes e condutas serão repassados às gerações que os sucedem. (SILVA ;

MATTOS,2010).

Apesar da adolescência ser considerada por muitos como um fenômeno

universal, ou seja, que acontece em todos os povos e em todos os lugares, o início e a

duração deste período evolutivo varia de acordo com a sociedade, a cultura e as

épocas, ou seja, esta fase evolutiva apresenta características específicas

dependendo do ambiente sócio-cultural e econômico no qual o indivíduo está inserido.

Entretanto, o conceito de adolescência, tal como conhecemos hoje, é uma construção

recente do ponto de vista sócio-histórico. (OSÓRIO, 1992).

Admite-se, em geral, que nessa etapa do desenvolvimento, a pessoa passa

por períodos de desequilíbrios e instabilidades extremadas, sentindo-se muitas vezes

injustiçado, confuso, inseguro, angustiado, incompreendido por pais e professores, o

que pode ocasionar problemas para os relacionamentos do adolescente com as

pessoas mais próximas da sua convivência social. Contudo, essa crise

desencadeada pela vivência da adolescência é de essencial valor para o

desenvolvimento psicológico dos indivíduos, o que faz dela uma crise normativa.

(OSÓRIO, 1992).

Entretanto, a experiência da adolescência não é um processo constante e

uniforme para todas as pessoas, mesmo compartilhando de uma mesma cultura. Ela

costuma ser, comumente, um momento de conflitos e desordens para muitos, mas

também existem pessoas que passam por esta etapa sem manifestarem maiores

problemas e dificuldades de adaptação. Dados epidemiológicos evidenciam que cerca

de 20% dos adolescentes apresentam problemas de saúde mental e necessitam de

ajuda, enquanto que os demais atravessam essa etapa do desenvolvimento sem

maiores problemas, isto é, vivenciam a adolescência “absolutamente imunes a

qualquer tipo de crise. Simplesmente vivem, adquirem ou não determinados valores,

idéias e comportamentos e chegam ‘incólumes’ à idade adulta”. (BECKER, 1994, p.

12).

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Além disso, é imprescindível observar ainda que o processo de adolescência

não afeta somente os sujeitos que estão passando por este momento, mas também

as pessoas que coexistem diretamente com os mesmos, especialmente a família.

Isso já que a adolescência dos filhos influência de forma direta na dinâmica familiar,

constituindo-se, deste modo, como um processo complexo e doloroso tanto para os

adolescentes quanto para seus pais, visto que, a família não é formada pela simples

totalidade de seus componentes, mas um sistema composto pelo conjunto de

relações interdependentes no qual a transformação de um elemento induz a do

restante, transtornando todo o sistema, que passa de um estado para outro.

(BECKER, 1994).

Deste modo, a adolescência beneficia as condições indispensáveis para a

emergência de uma série de problemas e conflitos dentro da conjuntura familiar,

existindo um aumento das brigas e disputas entre pais e filhos no decorrer dos anos

da adolescência, o que demanda por uma negociação constante, inerente a esta fase,

maior a potencialidade de conflitos entre as gerações. O aumento desses conflitos

comumente está acompanhado de uma redução na proximidade da convivência,

especialmente em relação ao tempo que adolescentes e pais passam juntos. Apesar

disso, um conflito bem negociado pode levar a um crescimento para os filhos e para

os pais. (MARTURANO et al,2004).

Por esse pretexto o diálogo nessa fase do desenvolvimento toma uma função

ainda mais importante, apesar de muitas vezes os adolescentes procurarem se fechar

em seu “mundo” próprio. Devido à essa tendência ao retraimento e a busca de abrigo

na fantasia, o diálogo com os componentes da família, nessa fase da vida, é

primordial, porque é precisamente nesse momento que eles mais precisam de um

norte e da compreensão dos pais, sendo que todo a herança que a família imprimiu

aos mesmos desde a infância permanece sendo relevante. A ausência de diálogo no

ambiente familiar pode, logo, ocasionou, em certos casos, exacerbar algumas

dificuldades, especialmente em termos de relacionamento, podendo afetar até mesmo

o bem-estar e a saúde psíquica dos adolescentes. (MARTURANO et al,2004).

Nessa conjuntura, Marturano et al (2004) enfatizam que, além do diálogo,

quando a família procura desde cedo formar relações de respeito, confiança, afeto e

civilidade entre seus componentes, tende a lidar com essa etapa do

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desenvolvimento de uma forma mais adequada e com menos dificuldades do que

uma outra família na qual tais valores não foram perpetrados.

Quando um grupo familiar possui um filho adolescente, o grupo como um todo

parece adolescer. Os pais vivenciam sentimentos variados em decorrência da

adolescência de seus filhos e as respostas que são capazes de dar aos adolescentes

estão condicionadas à forma pela qual os mesmos resolveram o seu processo

adolescente, “ao nível de integração que têm como casal e à sua capacidade de

adaptação às redefinições que esta situação implica”. (KALINA, 1999, p. 21).

Assim, pode-se dizer que, frente à adolescência dos filhos, os pais

apresentam uma angústia intensa, tanto em função de suas próprias inseguranças

quanto por evocações conscientes ou inconscientes de suas fantasias e/ou atitudes

vivenciadas durante o seu próprio processo adolescente. (LEVISKY,1998).

Além das questões apontadas acima, é importante pontuar ainda que, a

sociedade em geral, bem como a instituição familiar em particular, tem vivido

inúmeras mudanças, que acabam produzindo transformações proeminentes no que se

refere às vivências, à percepção e à constituição que os adolescentes, por exemplo,

produzem de seus aspectos sócio afetivos, bem como de seus projetos de vida.

(LEVISKY,1998).

Dessa forma, atualmente, entende-se que as inadequações de conduta e até

mesmo a exposição a riscos desnecessários podem surgir em função da própria

curiosidade, extremamente presente nessa fase da evolução humana, e de outros

fatores cognitivos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais que podem

desempenhar um papel importante na determinação de comportamentos de risco

nesse período do desenvolvimento. No caso específico do consumo de substâncias

psicoativas, regulamentadas ou ilícitas, apesar de sempre ter existido, só se tornou

um fator preocupante para os pais na contemporaneidade, pois o consumo de drogas

aumentou significativamente entre os adolescentes nos últimos anos. (REBOLLEDO,

et al, 2004).

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4 A PERCEPÇÃO DO ADOLESCENTE DEPENDENTE QUÍMICO PERANTE A

SOCIEDADE

4.1 METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica narrativa, que

consiste basicamente, de análise da literatura publicada em livros, artigos de

revista impressas e/ou eletrônicas na interpretação e análise crítica pessoal do

autor. (CERVO; BERVIAN, 2007).

Foram selecionados apenas artigos científicos que apresentam o texto

completo, escrito em língua portuguesa, cujo periódico estivesse indexado à

base de dados, livres de recortes temporais e que incluíssem o objetivo da

investigação, selecionados a partir de uma leitura criteriosa dos títulos e

resumos. Com análises dos artigos e critérios de exclusão, artigos foram

excluídos por serem: 19 (dezenove) de revisão de literatura, 33 (trinta e três)

eram artigos de atualização, 17(dezessete) eram anais de Congressos e 13

(treze) publicados em língua estrangeira. Com estudos e análises, este estudo

foram utilizados apenas 08 (oito) artigos.

Foram identificados 23 (vinte e três) artigos na base de dados SCIELO,

40 (quarenta) na Biblioteca Virtual em Saúde - Psicologia, 12 (doze) na base de

dados LILACS e 15 (quinze) na PePSIC - Periódicos Eletrônicos em Psicologia.

Os resultados foram discutidos a partir das seguintes categorias: “Os

adolescentes dependentes químicos e as relações familiares” e “O adolescente

dependente químico e sua perspectiva junto à sociedade”.

4.2 ANÁLISE DE DADOS

4.2.1 Os adolescentes dependentes químicos e as relações familiares

Quando se almeja refletir sobre as consequências que o uso abusivo de

droga ocasional, é preciso considerar que esta prática traz prejuízos em vários

âmbitos, ou seja, no pessoal, no familiar, no social dentre outros. Diante dessa

perspectiva iniciam-se tais reflexões com alguns danos ocasionados ao dependente

químico.

Falar de impacto pessoal ou individual é lembrar as agressões físicas

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sofridas e/ou realizadas pelo dependente. Em análise aos estudos a seguir

correlatados, foi possível confirmar que tanto as agressões praticadas quanto as

sofridas foram tiveram como protagonistas pessoas desconhecidas e familiares.

No que se refere às agressões familiares, afirma Machado et al. (2012), que,

dentre 1.235 relatos de agressões, 49,4% foram cometidas contra os familiares,

entre esses, os próprios pais. Os agressores eram na maioria usuários de crack e de

álcool. Esse dado revela o quão ficam fragilizadas as relações familiares, visto que

valores como respeito aos mais velhos, por exemplo, deixam de existir quando

ocorrem atos agressivos promovidos pelo dependente químico.

O uso de drogas também é responsável pela origem de experiências que

acarretam posteriormente em autodestruição, além de provocar condutas violentas.

Esse fato pode ser comprovado através de uma pesquisa brasileira realizada com

1.547 pessoas que buscaram o Serviço Nacional de Informações e Orientações

sobre a Prevenção do Uso de Drogas, onde foi constatado que 11,2% dos usuários

já haviam cometido agressões físicas contra seus familiares, (MACHADO et

al.,2013).

De acordo com Ribeiro et al (2010), geralmente o dependente químico torna-

se agressivo quando se vê sem a droga, ocasionando um desejo intenso, uma

fissura, é nesse contexto que se ampliam os desentendimentos e as discussões cujo

o intuito é obter mais dinheiro para a aquisição da droga.

No âmbito familiar as consequências são devastadoras, e a família está

associada também a motivação para o uso cerca de drogas, fato comprovado pela

pesquisa de Silva et al (2010) que afirma em virtude de seus estudos quantitativos

que 60% dos dependentes químicos têm algum membro familiar que faz uso, abuso

ou tem a dependência de drogas, destacando-se, entre os familiares evolvidos, os

irmãos, compreendendo 39,8%. Nesse sentido, pode-se entender que filhos ou

irmãos de dependentes químicos têm um risco maior de fazerem uso de álcool e

outras drogas, quando comparados a filhos de não dependentes químicos.

Soccol et al., (2014) relatam que os anseios expressados pelo familiar

ocorrem devido ao comportamento instável do dependente químico, o que causa

exaustão em seu convívio com o mesmo e acarreta sentimentos de insegurança e

de impotência. Dessa forma, identifica-se que a família não está preparada para

suportar tal grau de desorganização provocado pelas condições de incerteza. Nesse

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sentido, mesmo que só um membro da família seja dependente químico, todos

precisam de tratamento, pois a família adoece junto. Dentre as alterações de

comportamento que modificam o cotidiano de todos os diretamente envolvidos,

destaca-se a agressividade, por parte do indivíduo dependente químico, que

prejudica ainda mais as relações familiares.

Conforme estudo de Soccol et al., (2014) conviver cotidianamente com um

indivíduo dependente químico requer uma reorganização da família, pois a mesma

necessita dedicar mais tempo e atenção a esse uma vez que o mesmo passa a ser

dependente de seus cuidados. Esses vão, desde o cuidado do dia-a-dia, até o

cuidado à saúde. Nesse mesmo contexto, a família vivencia, no seu cotidiano, o

retrocesso do dependente químico com relação às suas responsabilidades,

deixando de ter credibilidade na visão da mesma. Isso ocasiona o estreitamento dos

laços de confiança na relação intra-familiar.

Outra questão a ser discutida refere-se a uma consequência que é tanto

familiar quanto social, os rompimentos dos vínculos familiares. De acordo com

Aragão et al (2009), 46% dos dependentes químicos têm dificuldades em manter as

relações familiares, o que gera sentimentos como resignação, solidão, frustração e

tristeza, o que compromete os vínculos e implica seu rompimento.

Em virtude da ruptura dos vínculos familiares, muitos dependentes químicos

passam a viver em situação de rua, daí se faz necessário que haja um resgate dos

laços afetivos com a família para que se ampliem as chances de tratamento, uma

vez que esta é fundamental na motivação e enfrentamento do uso de drogas.

Diante dos prejuízos ocasionados pelo uso abusivo de drogas, pode-se

perceber que o mais profundo se traduz na quebra dos vínculos familiares, visto que

a família é um importante suporte para que o dependente químico supere a

realidade inserida no mundo das drogas.

4.2.2 O adolescente dependente químico e sua perspectiva junto à sociedade

É inegável a sedução e a curiosidade que o assunto dependência química

suscita. Muito embora o tema faça parte da vida cotidiana das pessoas, e dos meios

de comunicação, com evidência na mídia escrita e falada, nos meios eletrônicos e

nas rodas de conversas entre os adolescentes, tais informações, pela sua

abrangência e difícil controle dos conteúdos divulgados, podem ao mesmo tempo

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provocar orientações, mas também servir de estímulo à curiosidade deste grupo,

cujas vulnerabilidades se arranjam em diferentes e variadas possibilidades

(DELPHIM et al., 2014).

Assim, através do estudo de Lopes et al., (2014) observou-se que os

adolescentes entrevistados afirmaram que no campo social, o abuso e a

dependência química são geradores de transtornos tanto individual como para o

grupo social em que vive. O uso da droga leva à perda de emprego e de bens

materiais, ruptura familiar, afastamento de amigos e religião, instabilidade financeira,

dentre outros.

No estudo de Dietz et al., (2011), além das relações que envolvem o meio

familiar ou o grupo de amigos, a forma como o indivíduo se insere no meio social, a

escola e o trabalho, também interferem nas escolhas que o mesmo fará em sua

vida. No que se refere à escola, observa-se na narrativa dos sujeitos pesquisados

que, quando esse ambiente ou as relações estabelecidas nele não possuem

significado na vida do jovem, essa condição pode contribuir para o uso de

substâncias psicoativas.

Conforme assinalam ainda Dias et al, (2014) os adolescentes que fazem uso

de drogas geralmente possuem baixa autoestima, às vezes procuram formas de

culpar os outros pelos seus problemas ou mesmo fazer o uso das drogas como

forma de se integrar e aumentar sua estima. Em vários casos demonstram repulsa a

si mesmos e aos outros, a autoestima é uma parte do autoconceito. É o juízo

pessoal de valor expresso nas atitudes que o indivíduo tem consigo mesmo. É uma

experiência subjetiva acessível às pessoas por meio de relatos verbais e

comportamentos observáveis, eles também adotam certas atitudes como forma de

se destacar, mesmo que de forma negativa.

E por fim, o estudo de Miranda. (2011) ao elucidar afirmando que as

pessoas são produtos da sociedade e se transformam de acordo com os preceitos e

os valores impostos, dessa forma é fundamental que ocorram mudanças no enfoque

da prevenção e que o Brasil recupere o tempo desenvolvendo programas voltados

ao adolescente e não às drogas, e que ainda, seja envolvida toda a sociedade, em

prol desta questão, afinal, ainda é mais fácil prevenir a remediar.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A temática das drogas continua sendo uma das mais debatidas atualmente,

tendo em vista seu poder de proliferação social, atraindo cada vez mais usuários e,

conseguintemente, causando danos à sociedade em geral. A problemática das

drogas é tão vasta que, de alguma forma está ligada a áreas do conhecimento como

a saúde, a economia, a educação e a segurança, fazendo com que sejam afetadas

sempre que os índices relativos às drogas se alteram.

A resposta para entender o porquê de jovens usarem drogas não é tão

simples uma vez que para se analisar o fenômeno do uso de drogas é preciso levar

em consideração três importantes fatores: a droga, a pessoa e o meio em que ela

vive. As inúmeras variáveis implicadas nesses três elementos permitem um número

infindável de configurações possíveis para o uso de drogas.

De forma geral, pode-se afirmar que o que leva os adolescentes a fazer uso

e/ou abuso de drogas é um conjunto de fatores e que a combinação desses fatores

pode tornar uma pessoa mais vulnerável ao uso.

Foi possível observar também, que os adolescentes percebem os prejuízos

familiares, sociais, materiais ocasionados pela dependência química, contudo,

enfatiza-se que é preciso que haja uma articulação entre diversas políticas públicas

e instituições que promovem o tratamento dos dependentes químicos, tendo como

premissa a garantia de direitos fundamentais, sobretudo o direito à vida.

O grande desafio atual, na redução de consumo e do tráfico de

entorpecentes é conseguir chegar ao jovem antes que ele venha a ter contato com o

mundo das drogas, é antecipar-se á oferta diária de drogas, tanto direta como pela

curiosidade despertada através dos meios de comunicação. O esforço

governamental, através das ações das policias estaduais ou federais, não tem

surtido os efeitos desejados.

Portanto, com as análises dos objetivos da pesquisa realizada, espera-se

que este estudo possa contribuir para futuros debates sobre o tema jovens e uso

abusivo de drogas, e que esta realidade possa a médio ou longo prazo, ser

superada e que seja apenas uma página na história desses e de toda uma

sociedade que vivencia cada vez mais a questão das drogas em seu cotidiano.

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