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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ FAESPI CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA RENATA THAÍSE DE ARAÚJO RIBEIRO QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU? O DIVÓRCIO NO EMOCIONAL INFANTIL TERESINA PI 2018

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ – FAESPI

CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

RENATA THAÍSE DE ARAÚJO RIBEIRO

QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU? O DIVÓRCIO NO EMOCIONAL INFANTIL

TERESINA – PI

2018

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RENATA THAÍSE DE ARAÚJO RIBEIRO

QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU? O DIVÓRCIO NO EMOCIONAL INFANTIL

Monografia apresentada à Faculdade de

Ensino Superior do Piauí – FAESPI, como

requisito parcial para a obtenção do grau

de Bacharel em Psicologia.

Orientadora: Profª. Me. Odete Guimarães

Cajueiro da Silva Neta.

TERESINA – PI

2018

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RENATA THAÍSE DE ARAÚJO RIBEIRO

QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU? O DIVÓRCIO NO EMOCIONAL INFANTIL

Monografia apresentada à Faculdade de

Ensino Superior do Piauí – FAESPI, como

requisito parcial para a obtenção do grau

de Bacharel em Psicologia.

Aprovada em: _____/_____/2018.

BANCA EXAMINADORA

Profª. Me. Odete Guimarães Cajueiro da Silva Neta Orientadora

Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI

Esp. Myrla Sirqueira Soares 1ª Examinadora

Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI

Profª. Esp. Larisse Miranda Cruz 2ª Examinadora

Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI

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Dedico esse trabalho à minha trajetória de vida representada através da letra desta música ''Tocando em Frente'' (Maria Bethânia): Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais. Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe, eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei e nada sei. Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs. É preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso chuva para florir. Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente. Como um velho boiadeiro levando a boiada eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu sou estrada eu vou. Todo mundo ama um dia, todo mundo chora, um dia a gente chega no outro vai embora. Cada um de nós compõe a sua história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser feliz.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ser minha fonte de forças ocultas, me

socorrendo e me concedendo respaldos o suficiente para elaborar este trabalho.

Agradeço aos amores de minha vida, meus pais Renato e Francisca por ter

me proporcionado uma boa educação e paciência ao longo de cada passo dado em

minha vida e aos meus irmãos Roberta e Fabrício por perdoarem à minha ausência

aos finais de semana.

Ao querido esposo José Augusto, que durante todo o percorrer da graduação

aguentou minhas depressões quando me via estressada com excesso de bagagem

de estudos, me deu grande apoio para que eu nunca desistisse da carreira de

psicologia.

À minha supervisora top das galáxias Odete Cajueiro, sempre com muito

respaldo, por ter me mostrado o melhor caminho a ser trilhado, sempre com

cuidados e dedicação para que todo esse trabalho saísse da melhor forma possível.

Aos meus parentes, em especial Vó Luiza, Vó Teresa, Tia Elizane que

sempre tiveram bem próximo da minha pessoa, acompanhando cada vitória vencida

em cada período da graduação.

As minhas amigas de faculdade e vida, e aos colegas de turma que sempre

me fizeram rir mesmo quando tudo parecia desmoronar. E aos demais, a instituição

FAESPI e coordenação por dispor para o curso de psicologia professores de

excelência no qual todos conseguiram contribuir de alguma forma para meu

crescimento profissional e pessoal.

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Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai.

Sigmund Freud

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RESUMO

As diversas transformações ocorridas na sociedade têm implicado grandes transformações nos indivíduos, bem como nas novas configurações familiares que se estabelecem. Este conteúdo vem trazer quais as implicações de uma configuração familiar de divórcio vêm trazer para o desenvolvimento psíquico dos filhos. Tendo como objetivo em investigar a partir da literatura o impacto e os fatores associados da separação conjugal no desenvolvimento emocional e psicológico dos filhos na contemporaneidade, avaliar a produção científica existente acerca dos e feitos e consequências psicológicas do divórcio nos filhos, dentro do contexto familiar, bem como verificar como os filhos enfrentam esse processo de dissolução conjugal na contemporaneidade. Todo este conteúdo está dividido em capítulos com embasamento na construção familiar, configurações familiares, como se dá o processo do divórcio, os tipos de guarda parental, os efeitos da alienação parental, e as competências do psicólogo jurídico nesse contexto. Trazem-se na metodologia como foram realizados os processos desta pesquisa, sendo esta bibliográfica de caráter sistemática. Os resultados foram obtidos a partir da seleção dos artigos expostos em um fluxograma e logo em seguida a análise destes. Por fim, as considerações do contexto geral.

Palavras-chaves: Família. Divórcio. Desenvolvimento emocional. Filhos.

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ABSTRACT

The various transformations that have taken place in society have led to great transformations in the individuals, as well as in the new family configurations that are established. This content comes to bring about the implications of a familiar setting of divorce come to bring to the psychic development of children. Aiming to investigate from the literature the impact and the associated factors of the conjugal separation in the emotional and psychological development of the children in the contemporaneity, to evaluate the existent scientific production on the facts and psychological consequences of the divorce in the children, within the familiar context, as well as to verify how the children face this process of conjugal dissolution in contemporaneity. All this content is divided into chapters based on family building, family settings, divorce proceedings, types of parental custody, parental alienation effects, and the legal psychologist's competencies in this contexto.The methods used in this research are brought to the methodology, being this bibliographical of a systematic nature. The results were obtained from the selection of the articles exposed in a flow chart and soon after the analysis of these. Finally, the considerations of the general context.

Keywords: Family. Divorce. Emotional development. Children.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 10

2 REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................... 13 2.1 TRANSFORMAÇÕES DO CONCEITO DE FAMÍLIA.................................. 13 2.1.1 Novas configurações familiares e o ciclo vital....................................... 14 2.2 SUBJETIVIDADE DO CASAL E CASAMENTO.......................................... 17 2.2.1 Crises conjugais e o divórcio................................................................... 19 2.3 MODALIDADES DE GUARDA.................................................................... 21 2.3.1 A alienação parental e síndrome de alienação parental........................ 22 2.3.2 Competências do psicólogo jurídico....................................................... 23

3 METODOLOGIA.......................................................................................... 26

4 ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS....................................... 28

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 32

REFERÊNCIAS........................................................................................... 33

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1 INTRODUÇÃO

O título desse trabalho ‘‘Quem tem medo do lobo mau’’ é uma metáfora

utilizada para designar o possível efeito que o divórcio pode desenvolver no

emocional infantil; logo abaixo, se traz o significado que o divórcio possui, tendo em

vista que ao longo de todo o desenvolvimento do conteúdo, saberemos se o divórcio

pode ou não ser um fator causador de algum efeito nas crianças.

A família vem sofrendo profundas transformações durante as últimas

décadas, por face da evolução que está ocorrendo nas sociedades. Somos movidos

a todo o momento por novas configurações que se estabelecem nos

comportamentos, bem como no âmbito familiar e principalmente no que se diz

respeito ao relacionamento conjugal (JURAS; COSTA, 2011).

A palavra "divórcio" vem do latim divortium, que quer dizer "separação".

Nesse sentido, entende-se o divórcio como uma dissolução conjugal que ocorre na

vida de um casal, desafiando toda sua estrutura, bem como sua dinâmica,

principalmente quando há filhos envolvidos (JURAS, COSTA, 2011).

Quando a separação envolve a existência de filhos da união do casal, a

dinâmica se complexifica, porque não significa apenas um fim de uma relação a

dois, e sim de uma divisão de coparentalidade, pois os filhos ainda precisarão de

cuidados (GRZYBOWSKI; WAGNER, 2010). Essas mesmas autoras ainda

ressaltam sobre o significado de coparentalidade:

A coparentalidade trata-se, portanto, de um Inter jogo de papéis que se relaciona com o cuidado global da criança, incluindo valores, ideais, expectativas que são dirigidas à mesma, numa responsabilidade conjunta

pelo bem-estar desta (GRZYBOWSKI; WAGNER, 2010, p. 77).

A coparentalidade é a divisão de papéis entre duas pessoas no qual são

responsáveis pelo o cuidado da criança, e não é apenas um processo do pai e da

mãe, e sim equivale aos parentes que tomam conta desta mesma, ou seja, um

parente que toma como medidas protetivas a guarda da criança, dando-lhe toda a

assistência necessária (GRZYBOWSKI; WAGNER, 2010).

O divórcio é uma realidade que tem se tornado cada vez mais comum na

sociedade. Contudo, sabe-se que quando há filhos na relação do casal a situação

pode se tornar mais delicada (ISOTTON; FALCKE, 2014).

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Quando uma família desempenha um bem-estar psicológico e emocional à

criança essa tem maiores chances de crescer de forma saudável, mas quando a

relação do casal não vai bem e esses decidem tomar providências pensando em si

mesmos na atitude de optar pela separação, é necessário analisar também os filhos

e verificar até que ponto essa atitude pode ser ou não um fator saudável para os

filhos. Nessa situação, a relação dos cônjuges tem como base constantes conflitos,

permeados por brigas dificultando os cuidados com os filhos colocando como

necessidade de ganhar e desvalorizar a imagem um do outro e com todos esses

conflitos à situação fica complexa trazendo efeitos psicológicos e emocionais à

criança (JURAS; COSTA, 2011).

Quando se depara com o divórcio em uma família, procura-se entender se

este evento pode ser ou não impactante na vida dos filhos, é essencial considerar a

dinâmica desse casal com o filho e o desenvolvimento etário decorrentes da idade.

O divórcio não implica forçosamente maior impacto numa dada idade, mas sim efeito

diferente consoante no estágio de desenvolvimento da criança (RAPOSO et al.,

2011).

É essencial que os pais no momento de ruptura, estejam seguros

emocionalmente para poder ajudar a promover um bom desenvolvimento psicológico

da criança, é necessário que os pais estejam com suas capacidades de resolução

de conflitos e controle da raiva e da perda contidas, bem como conscientes dos

sentimentos da criança para que possam se mostrar compreensivos e oferecer

apoio, já que os filhos precisarão para compreender o que está acontecendo

(ISOTTON, FALCKE, 2014).

Quando os pais estão separados e exercem seu papel sem se sentirem

obrigados, passando a impressão de cooperatividade e afeto a criança, com certeza

trará um bem-estar emocional a essa filho, ampliando suas percepções quanto à

dissolução de forma positiva (RAPOSO et al., 2011).

O contexto geral desse trabalho objetiva-se em investigar a partir da literatura

o impacto e os fatores associados da separação conjugal no desenvolvimento

emocional e psicológico dos filhos na contemporaneidade, avaliar a produção

científica existente acerca dos efeitos e consequências psicológicas do divórcio nos

filhos, dentro do contexto familiar, bem como verificar como os filhos enfrentam esse

processo de dissolução conjugal na contemporaneidade.

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Esse trabalho irá consistir capítulos no qual será embasada a construção de

uma família; Subjetividade do casal até a decisão do casamento; O

processo de dissolução conjugal, a alienação parental, modalidades de guarda e as

competências do psicólogo jurídico no processo de alienação e guarda parental.

Como resultados, serão expostos os possíveis efeitos que o divórcio pode

desenvolver na psiquê da criança e a discussão de todos eles, e por fim a conclusão

do contexto geral.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 TRANSFORMAÇÕES DO CONCEITO DE FAMÍLIA

Do ponto de vista histórico e sociológico, a palavra ‘‘família’’ não era

representada por cônjuges ou filhos. Este nome foi originado a um conjunto de

escravos pertencentes a um mesmo homem, foi criado a fim de denominar uma

classe social no qual abrangia mulheres, filhos e escravos possuindo direito inclusive

em suas vidas (SILVA et al., 2012).

No decorrer da história, devido a várias transformações ocorridas, o termo

‘‘família’’ passou por novos conceitos aplicando-se a denominar uma gama

diferenciada de grupos sociais, em termos de estrutura e função.

Na primeira metade do século XX, o termo família era denominado como

tradicional, sendo constituída por pai, mãe e os filhos. Nesse período, havia divisão

do trabalho por gênero, onde os papéis dos cônjuges já eram determinados de

forma social e cultural. Desse modo, os homens eram o provedor da família, tinham

um espaço de atuação social, enquanto as mulheres eram reservadas ao ambiente

privado e doméstico, cuidando da casa e dos filhos, sendo que nesta configuração

familiar a educação era pautada na moral religiosa, socialmente aceita, e no controle

quanto ao cumprimento das normas sociais (SILVA, 2015).

Já na segunda metade do século XX, iniciam-se os processos de

transformações sociais, econômicas e trabalhistas. Tais mudanças vêm balançando

a estrutura e o modo de organização familiar tradicional, sendo estes por conta do

processo de urbanização e industrialização, o avanço da tecnologia, a inserção da

mulher no mercado de trabalho e as alterações na dinâmica dos papéis parentais e

de gênero (SILVA, 2015).

Essas transformações, por sua vez, vêm propor uma relação mais simétrica

nos papéis e obrigações dos cônjuges, a partir de uma perspectiva na quais ambos

devem realizar tarefas domésticas e atribuições externas, além de participar do

processo educativo e do cuidado com os filhos (BRUSCHINI; RICOLDI, 2012).

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2.1.1 Novas configurações familiares e o ciclo vital

Até os dias atuais, ainda é difícil apresentar os reais significados de uma

família, já que durante muitos anos ela vem se reformulando cada vez mais. Com

novos conceitos apresentados, a literatura aponta a família como um microssistema

fundamental para interação dos envolvidos. É nessa constituição que ocorre o

desenvolvimento humano, nela as pessoas tanto constroem sua história quanto são

constituídas por ela, através dos valores, tradições e segredos intergeneracional e

do que dela herdam (KOLLER; ANTONI; CARPENA, 2012).

As autoras Féres-Carneiro e Magalhães (2011), apontam que nas últimas

décadas as inúmeras transições sociais levaram a redefinição e o conceito de

família, dentro dela temos múltiplos arranjos conjugais o que chamamos de novas

configurações familiares, que muitas vezes é considerado formal diante do contexto

social e pela legislação.

Dentre as múltiplas configurações familiares, podemos apresentar as mais

conhecidas:

Família Tradicional: Nessa instituição é considerada as famílias casadas cujo

aquela em que os pais estejam vivenciando o primeiro casamento, ou a primeira

união estável, com os primeiros filhos e que estejam coabitando (sem formalização

em termos legais) (FÉRES-CARNEIRO; MAGALHÃES, 2011).

Família Divorciada/Separada: Aquelas cujos pais estão separados legalmente

ou não. Nesse aspecto é muito importante que os pais valorizem o relacionamento

com os ex-cônjuges na medida em que a exigência de que os filhos ‘‘escolham um

lado’’ para que não ocorram sentimentos de ambivalência nos mesmos (FÉRES-

CARNEIRO; MAGALHÃES, 2011).

Família Recasada: Essas famílias se enquadram em um espaço familiar

reconstituído após a separação dos pais e a nova união de um deles ou de ambos,

ou após a viuvez de um deles e sua nova união conjugal (FÉRES-CARNEIRO;

MAGALHÃES, 2011).

Famílias Monoparental: Esta é formada por apenas um dos genitores pai ou

mãe e os filhos onde o genitor (a) será responsável pelo sustento, educação e

criação dos filhos (FÉRES-CARNEIRO; MAGALHÃES, 2011).

Família Homoparental: Caracterizado por um vínculo conjugal entre duas

pessoas do mesmo sexo. Este arranjo vem tomando espaço cada vez mais dentro

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da sociedade (FÉRES-CARNEIRO; MAGALHÃES, 2011). Essas mesmas autoras

ainda acrescentam sobre a homoparentalidade:

São muitos empasses na consolidação de uma nova ordem familiar, como homoparental, visto que, apesar das transformações ocorridas, nossa sociedade ainda é marcada pelo poder do patriarcado, com muitas premissas que ainda persistem fortemente, como a ideia do homem como provedor e a mulher como cuidadora dos filhos (FÉRES-CARNEIRO; MAGALHÃES, 2011,p. 126-127)

Considerando os diversos tipos de configuração de familiar, a homoparental

ainda é um tabu diante de muitos olhares, porém aos poucos está ganhando seu

espaço na sociedade.

Independente das diversas configurações que se estabelecem enquanto

família, esta deve ser um espaço de afeto e conforto no qual garante a criança

saúde, igualdade, educação, bem como outros fatores constituintes de proteção

(ASSIS; LIMA, 2014).

A participação da família na vida dos filhos é de suma importância e cumpre

uma função básica de cuidado. Uma boa vinculação com pessoas próximas,

relações afetivas estáveis, olho no olho, comunicação e manutenção do respeito são

essenciais e apontadas na literatura como protagonistas na construção de uma

estrutura emocional segura (KOLLER; ANTONI; CARPENA, 2012).

A importância da família seja ela nas relações sociais ou na vida emocional

de cada membro inserido nessa constituição é indiscutível. Essa constituição é a

mediadora entre o sujeito e o ambiente onde se aprende a perceber o mundo e a

ganhar espaço nele. Sendo esta a primeira formadora de uma identidade social e a

qual os seres humanos aprendem a fazer referência (KOLLER; ANTONI; CARPENA,

2012).

Estudos evidenciam que os brasileiros de modo geral, conceituam a família

de forma muito positiva. Consideram que é a instituição mais importante acima da

Igreja e do Estado. E são atribuídas como um espaço onde há amor incondicional e

união (CERVENY; BERTHOUD, 2008).

Ainda sobre a importância da família, as autoras Koller, Antoni e Carpena

(2012, p.159) soma:

Para cumprir o compromisso de acompanhar o desenvolvimento dos filhos requer compreensão e flexibilidade dos adultos, assim como respeito à

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individualidade das crianças. A família é um grupo dinâmico que precisa reformular-se internamente para se adequar à passagem de seus membros pelo ciclo vital e às inúmeras mudanças da própria vida e da sociedade.

O ciclo vital que as autoras acima citam, são várias etapas definidas sob

alguns critérios pelas quais as famílias passam, desde sua constituição

propriamente dita até a morte. Esses critérios podem ser a idade dos pais ou filhos,

o tempo da união do casal, a entrada e saída dos membros considerando-se suas

diversas configurações (CERVENY; BERTHOUD, 2008).

Diante da literatura, podemos considerar as fases do ciclo vital:

A fase de aquisição: caracterizada como o período da união do casal, a entrada dos filhos até a adolescência. Um período onde há a definição de um modelo próprio familiar, o casal se organiza para ter a casa própria, poupanças para os estudos dos filhos buscam a estabilidade emocional e financeira propriamente dita (CERVENY; BERTHOUD, 2008, p. 11).

A fase adolescente: É um período onde as famílias tem tendência a

adolescerem. Os pais estão na faixa dos 40 anos e parecem reviver o momento da

adolescência, preocupando-se com o aspecto físico. Quando apenas um dos

cônjuges incorpora essa fase, pode acabar sobrecarregando o que não adolescer

com a sensação de ter mais um filho, já que uma vez que isso acontece, a

hierarquia familiar se dissolve entre pais e filhos, e as regras da primeira fase já não

dão conta do bom funcionamento da família (CERVENY; BERTHOUD, 2008).

A fase madura: Essa fase pode ser considerada a mais longa do ciclo vital

considerada também como a casa cheia. É nessa fase que os filhos saem de casa e

a entrada de novas pessoas, como os netos, o período em que começam a cuidar

das gerações mais antigas e cuidar da aposentadoria, vista que já estão chegando

ao envelhecimento (CERVENY; BERTHOUD, 2008).

A fase última: Essa fase é considerada a consequência das fases anteriores.

Se o casal conseguiu plantar bons frutos é a fase da colheita, onde poderão

vivenciar tudo aquilo que plantaram, tendo em vista que a viuvez pode ser

vivenciada nessa fase e se tornar também um período muito doloroso (CERVENY;

BERTHOUD, 2008).

Essas fases composta no ciclo vital são direcionadas apenas aos brasileiros

já que na fase madura quando se considera a ‘‘casa cheia’’, para os americanos é o

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‘‘ninho vazio’’, uma vez que a cultura de lá permite que os filhos saem de casa muito

cedo (CERVENY; BERTHOUD, 2008).

O Ciclo Vital vem para apresentar a construção e fases que a família passa

ao longo de toda a vida. A partir dessa perspectiva, pode-se perceber que as

famílias brasileiras de modo geral, apresentam o objetivo de construir seu próprio

modelo de família, priorizando as atividades comuns e o bom convívio entre si.

2.2 SUBJETIVIDADE DO CASAL E CASAMENTO

A necessidade do ser humano de estar com outro são imprescindíveis. Essa

necessidade inicia-se quando ainda bebês, nas primeiras relações com as figuras de

referência.

As relações primárias são importantes para que o individuo possa criar novos

e importantes laços em um processo contínuo que permeia por todo o ciclo vital

(ROLIM; WENDLING, 2013).

Sabemos que as pessoas se formam a partir de suas relações, tanto com

pessoas quanto com objetos e símbolos que o permeiam. A literatura aponta, que

uma vez que o homem vive fora da sociedade fica impossibilitado de sobreviver.

Compreender o que rege aquele indivíduo é muito importante para entender os

possíveis eventos psicossociais de tal sujeito (ROLIM; WENDLING, 2013).

Scorsolini-Comin e Santos (2010, p.525) afirmam que:

Somos constituídos pelos relacionamentos que estabelecemos, motivo pelo qual é muito importante investigarmos como se dão esses vínculos. A nova ordem cultural na contemporaneidade valoriza os laços emocionais e sentimentais, as trocas íntimas entre as pessoas e a proximidade comunicacional com o outro. O despeito de, na modernidade, o casamento ter sido locus da vida comum e ponto de partida para a formação da família, atualmente há um estágio no qual as relações são marcadas por um aprofundamento do individualismo, que estimula a instabilidade do relacionamento íntimo e leva a constantes reformulações dos projetos conjugais; esses fenômenos contemporâneos evidenciam a necessidade de aceitação das heterogeneidades, das descontinuidades e efemeridades das relações.

Mesmo com a cultura individualista que predomina nos dias atuais, as

pessoas ainda procuram parceiros para dividir uma vida no intuito de não ficarem

sozinhas.

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O casamento contemporâneo passa por muitas significações intensas na vida

das pessoas, já que por sua vez, encontrar alguém para compartilhar sua vida

parece ser uma busca incansável, mas os sujeitos consideram que buscar a

felicidade sem casamento pode levar a uma vida solitária e isolada (SCORSOLINI-

COMIN; SANTOS, 2010).

Atualmente, devido às várias transformações na sociedade, os sujeitos por se

sentirem menos ligados as tradições familiares, sentem-se mais livres para

buscarem um parceiro que esteja ligado as suas expectativas sociais, pessoas e

familiares (ROLIM; WENDLING, 2013).

Trazendo o casamento como um conceito, este pode ser considerado como

uma construção onde dois ‘‘estranhos’’ carregados de subjetividade e de um

passado individual diferentes, se encontram e redefinem. Na vida conjugal, a

realidade subjetiva é sustentada pelos parceiros, que confirmam e reconfirmam a

realidade objetiva internalizada por eles. O casal constrói assim, não somente a

realidade presente, mas reconstrói a realidade passada, fabricando uma nova

construção de vida que integra os dois passados individuais (FÉRES-CARNEIRO;

MAGALHÃES, 2011).

''O casamento não é apenas a união de dois indivíduos; representa a

modificação de, no mínimo, dois sistemas diferentes, as famílias de origem dos

cônjuges, e o desenvolvimento de um terceiro subsistema, o casal'' (ROLIM;

WENDLING, 2013).

A diferença entre os cuidados parentais e socioculturais reflete na construção

da subjetividade do pai e da mãe assim havendo um encontro de subjetividades,

esse encontro define a relação intersubjetiva entre pai, mãe e os filhos (FÉRES-

CARNEIRO; MAGALHÃES, 2011).

O que as pessoas mais pontuam no sentido de estarem casadas é a vivência

da conjugalidade, no compartilhamento da experiência de uma vida a dois

(SCORSOLINI-COMIN et al., 2015). Este mesmo autor apresenta mais sobre a

conjugalidade:

A conjugalidade pode ser definida como dimensão psicológica compartilhada, com uma dinâmica inconsciente regulada por leis e funcionamento específicos. É um processo de construção de uma realidade comum. A conjugalidade é constituída por um sistema com funcionamento autônomo, sujeito a conflitos ou crises que remetem à dinâmica inconsciente compartilhada. A vinculação na díade é importante para a intimidade e para o investimento na relação amorosa, o que está associado

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à satisfação conjugal. A intimidade é uma experiência que tem início nas primeiras relações estabelecidas na infância e, como tal, ultrapassa a noção de proximidade afetiva. Contempla um conjunto de percursos desenvolvimentais e implica em movimentos constantes de autonomia e diferenciação. (SCORSOLINI-COMIN et al., 2015, p. 481)

Quando nos deparamos com uma díade de subjetividade, logo se consegue

perceber uma diferenciação, que cabe ao casal tentar equilibrar.

As relações humanas são como jogos colaborativos onde todos os jogadores

possam obter benefícios das relações, mas é necessário que os mesmos respeitem

as regras sem expandir o leque de possibilidades para as suas ferramentas afiadas,

ou seja, os casais devem respeitar a subjetividade e

as limitações um do outro para que possam tornar ilimitado o tempo de união estável

(BOAS; DESSEN; MELCHIORI, 2010).

No fenômeno da conjugalidade, estão presentes duas forças, desejo e amor: o amor, como um impulso centrífugo, caracterizado pela vontade de cuidar e de preservar o objeto cuidado, e o desejo como uma força centrípeta, caracterizada pelo impulso de expandir-se, ir além. Essas forças permeiam várias esferas da sociedade atual, que é uma sociedade eminentemente de consumo, e também as relações conjugais, que cada vez mais também se caracterizam por “relações de bolso”, pois “você as guarda no bolso de modo a poder lançar mão delas quando for preciso”. São relações instantâneas, das quais as pessoas têm controle e que são descartadas quando não atendem mais as expectativas (ROLIM; WENDLING, 2013, p.,172).

À esse cenário percebe-se o quanto as relações de nível conjugal passa por

momentos fragilizados, onde o casal prefere optar muitas vezes pelo

desmembramento da relação do que buscar melhoras para a relação.

2.2.1 Crises conjugais e o divórcio

A literatura traz que é bastante comum nos depararmos com casais que

tenham um nível de insatisfação conjugal altíssimo e esses não conseguem lidar de

formar positiva. Os homens mesmo insatisfeitos, não querem romper o laço conjugal

e, porventura, buscam satisfação em relações extraconjugais. As mulheres buscam

uma relação de cooperatividade, também acabam tornando-se insatisfeitas, pois se

sentem sozinha em um casamento onde não existe mais equilíbrio na relação,

aumentando cada vez mais a insatisfação e muitas vezes buscando sair desse ciclo

optando pela separação. (NETO; STREY; MAGALHÃES, 2011).

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‘‘A crise conjugal tende a afetar significativamente todo o funcionamento da

família, incluindo as relações parentais além de estarem associados a problemas de

comportamento dos filhos’’(BOAS; DESSEN; MELCHIORI, 2010).

Independente das crises do casal é necessária flexibilidade, em que as

negociações devem ser realizadas para que a família possa lidar de maneira

funcional, garantindo sua continuidade e permitindo o crescimento de seus

membros, mas quando se percebe que não há mais estabilidade para continuar, a

melhor solução é a dissolução conjugal apesar de afetar significativamente a

criança, o pior poderá ser o sofrimento desse filho diante de tantos conflitos

(SOARES; COLOSSI, 2016).

A dissolução conjugal é um evento complexo tanto para os pais quanto para

as crianças. Nessa perspectiva, sobre o processo de dissolução, dados do IBGE

(2015, p. 1), trazem que:

328.960 divórcios concedidos em 1 instância ou por escrituras extrajudiciais. Houve um declínio no número de divórcios contabilizados pela pesquisa em relação à 2014, quando o total de divórcios concedidos em 1 instância ou por escrituras extrajudiciais foi de 341.181.

No Brasil, os índices de divórcios de 2015 ocorreram um declínio comparado

ao ano de 2014, mas, nesse sentido, percebe-se que ainda há muitas dissoluções, e

os filhos de pais separados são os que mais sofrem com essa dissolução conjugal

(IBGE, 2015).

A literatura agrega alguns dos fatores que podem levar a separação conjugal,

apontando a hipervalorização do individualismo, a busca de realização pessoal e a

independência econômica, principalmente pelas mulheres; depois vem a infidelidade

masculina. Toda vivência de separação passa por um processo doloroso já que uma

vez os parceiros passa por um processo de luto, uma sensação de morte recíproca

(ROLIM; WENDLING, 2013).

''Nesse sentido, verifica-se que as relações conjugais estão cada vez mais

fragilizadas, rápidas e cristalizadas. Apesar de ser um processo complexo muitas

vezes é considerado um fator positivo para constituintes da relação'' (ROLIM;

WENDLING, 2013).

Percebe-se que o divórcio se desenvolve a partir de expectativas egóicas não

atendidas por um ou ambos os cônjuges.

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2.3 MODALIDADES DE GUARDA

Quando ocorre a separação conjugal e há filhos envolvidos, deve-se procurar

a melhor forma de lidar com a situação e como farão com as crianças. Para tanto,

quando os pais entram em litigio o ideal é definir o melhor para os filhos. Sendo

assim, pode-se pontuar os tipos de guarda parental e como se dá esse processo.

Existem dois tipos de modalidades de guarda, o exclusiva e compartilhada:

• Guarda Exclusiva: É aquela onde uma só pessoa detém o direito sobre

a criança (GADONI-COSTA; FRIZZO; LOPES, 2015).

• Guarda Compartilhada: É aquela onde os cuidadores dividem a

custódia dos filhos, os direitos aos cuidados e convivência mantendo-

se dois lares para os filhos (GADONI-COSTA; FRIZZO; LOPES, 2015).

A literatura salienta que no Brasil, na maioria dos casos de guarda, a

exclusiva ainda é a mais comum e muitas vezes concedida à mãe, ficando o pai com

o direito de visita. A própria literatura ainda aponta que a guarda compartilhada

ainda é a mais saudável, considerando o melhor interesse da criança (GADONI-

COSTA; FRIZZO; LOPES, 2015).

Independente do tipo de guarda que será estabelecido, há um consenso atual

de que as divergências entre os genitores enquanto aos cuidados dos filhos

deveriam ser resolvidas por eles mesmo, de forma a chegar a um acordo quanto à

definição das responsabilidades em relação ao suporte emocional e financeiro da

criança. No entanto, a realidade mostra que nem sempre os progenitores estão

disponíveis, ou até mesmo possuem capacidade para chegar a um acordo sobre a

definição da guarda da criança (ROVINSKI, 2007).

Rovinski (2007, p.121-122) acrescenta:

Os diversos motivos e sentimentos associados à ruptura da relação, as questões financeiras, e as próprias limitações na capacidade emocional de lidar com fatores de estresse, podem criar situações de impasse e até de risco à integridade da criança, sendo necessária a intervenção jurídica.

Sabe-se que o processo de dissolução conjugal é complexo. Vista ao exposto

acima, quando os genitores não conseguem lidar de forma saudável, é necessário

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uma das partes fazer uma solicitação judicial no intuito de resolver o quanto antes

este conflito, priorizando sempre o bem estar da criança.

2.3.1 A alienação parental e síndrome de alienação parental

A família é um processo que está em constante mudança e por esse fator,

pode sofrer alterações em sua configuração.

Um dos fatores mais complexo para uma família é o processo de divórcio,

como visto no segundo capítulo, tendo em vista que deve haver dos pais uma maior

flexibilidade quanto o manejo da relação com os filhos, já que nesse conflito

conjugal, pode haver a alienação parental e uma possível síndrome de alienação

parental induzidas por uma das partes e desenvolvida nos filhos (FERMANN;

HABIGZANG, 2018).

Jesus e Cotta (2016) traz que a definição de uma alienação parental (AP), é

um fenômeno que decorre de um litígio de separação do casal, sendo apresentado

quando estes têm filhos juntos e quando há uma guarda unilateral, sendo que o não

guardião tende a ser alvo de difamação e acusações indevidas. O genitor detentor

usa a manipulação, na desqualificação do outro genitor, na intenção de limitar ou

cessar o convívio familiar dos filhos com o mesmo.

Pode-se perceber a alienação parental na criança, quando ela apresenta

rejeição de um dos genitores através de explicações infundadas para a rejeição,

ausência de ambivalência, apoiar apenas um dos pais no conflito parental, ausência

de culpa pela rejeição e difamação do genitor, relato de experiências não vividas ou

reprodução do discurso do alienador pela criança, rejeição e difamação a outros

membros familiares do genitor alienado (FERMANN; HABIGZANG, 2018).

Já a síndrome de alienação parental (SAP), são os sintomas decorrentes da

alienação parental, que podem aparecer através de doenças somáticas, ansiedade,

medo, insegurança, depressão, comportamento hostil, falta de organização,

frustração, irritabilidade e culpa (FERMANN; HABIGZANG, 2018).

Existe a lei 12.318, de 26 de Agosto de 2010 que vai trabalhar em cima das

questões de alienação parental, nela está estipulada:

Art. 2º Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos

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genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente o genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. Art. 3o A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda (BRASIL, 2010, p. 1).

A prática da alienação parental pode fazer com que o genitor perca o direito

sobre a criança além causar profundas consequências psíquicas e emocionais para

esta.

2.3.2 Competências do psicólogo jurídico

Aqui iremos abordar o que é a psicologia jurídica e o modo de atuação em

processos de guarda e alienação parental.

A psicologia jurídica é uma área de especialidade da Psicologia que estuda

vários fatores do campo jurídico com enfoque no comportamento humano

associados aos fatores psíquicos (SHINE, 2010).

O psicólogo jurídico atuará realizando atendimentos às partes fazendo

investigações e perícias psicológicas, algumas entrevistas, aconselhamentos,

elaboração de laudos. O psicólogo jurídico poderá contribuir para políticas

preventivas, estudando a subjetividade do indivíduo, entre outras atuações. O

psicólogo jurídico poderá atuar junto à uma equipe multidisciplinar, de forma

integrada, junto aos juizados de família, para atendimento dos membros do núcleo

familiar. Fazendo atendimento aos pais, às crianças e jovens, facilitando

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esclarecimentos, tirando dúvidas e trabalhando ansiedades, visualizando a criança

como um sujeito que tem direito à expressão e à informação (SHINE, 2010).

A psicologia jurídica é subdividida em vários setores. Dentro desta

perspectiva, foi selecionada uma das subdivisões, ‘‘a psicologia jurídica e o direito

de família’’, no qual o psicólogo poderá trabalhar nas (Varas de famílias, divórcio,

disputa de guarda, investigar a alienação parental entre outros associados).

Nesta subdivisão de atuação do psicólogo, este só poderá atuar designado

pelo o juiz, como perito oficial ou assistente técnico (que pode ser contratado

também por uma das partes) (SHINE, 2010). Nas competências de:

Perito oficial: este faz uma investigação pericial sobre o caso dado pelo

juiz, a fim de responder algum quesito proposto pelo o mesmo. O perito

utilizará todos os recursos metodológicos possíveis e adequados para

o tipo de investigação. Ao final, emitirá um laudo com as informações

necessárias de acordo com a pergunta do caso (ROVINSKI, 2007).

Assistente técnico: este irá investigar o trabalho do perito oficial,

avaliando cada passo criteriosamente, e ao final emitirá um relatório

com os pontos que este considera relevantes (ROVINSKI, 2007).

Nos casos de guarda ou a alienação parental, de maneira geral, espera-se

que o perito realize entrevistas individuais com cada progenitor, a fim de coletar

dados pessoais (construção da família, relação do casal e com os filhos e etc). Na

coleta de informações com os filhos (quem passa maior parte do tempo com este,

quem cuida quando fica doente, quem ajuda nas atividades escolares, como

manejam situações de problema etc.) Após esse processo da entrevista deve-se

partir para uma avaliação de personalidade de cada progenitor, através da utilização

de instrumentos de testes de nível intelectual e de personalidade. Para as crianças

são utilizados os testes gráficos, pois este aliviam as tensões em crianças que

apresentam muitas resistências e defesas internas devido ao elevado nível de

conflito em que estão inseridas (ROVINSKI, 2007).

Nas práticas das Varas de família permite dizer que o sofrimento dos pais

advindos do processo do divórcio pode produzir uma resposta somática até mesmo

o aparecimento de sintomas psíquicos graves. Muitos destes conflitos gerados pelas

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partes quando chegam a processos judiciais, acaba atingindo as crianças e os

adolescentes (ROVINSKI, 2007).

Para melhores resoluções destes conflitos dos pais o psicólogo jurídico

poderá desenvolver atividades de mediação para a busca de soluções conjuntas

entre os ex-cônjuges, grupos focais de atendimentos a famílias, com o objetivo de

resolução dos impasses surgidos no processo judicial (ROVINSKI, 2007).

É de competência de o psicólogo jurídico na vara de família utilizar de sua

capacidade profissional, para subsidiar possíveis conflitos psíquicos com os filhos

menores em processo de alienação ou guarda parental, sempre pautado a proteger

a integridade da criança ou adolescente, assim, trazendo para os autos do processo

a realidade psicológica das partes, e o real comportamento dos pais ou

responsáveis que foram devidamente avaliados pelo psicólogo, contribuindo na

decisão judicial final.

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3 METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de caráter sistemática, no qual Galvão

e Pereira (2014), afirmam que as revisões sistemáticas são amplas e trazem

informações gerais sobre o tema em questão, sendo comuns em livros-texto. Os

métodos para elaboração de revisões sistemáticas são: elaboração da pergunta de

pesquisa, busca na literatura, seleção dos artigos, extração dos dados, avaliação da

qualidade metodológica, síntese dos dados, avaliação da qualidade das evidências,

publicação dos resultados.

Para o levantamento de dados, foram utilizados alguns quesitos nas etapas a

seguir:

1ª Fontes:

I. Foram lidos 7 capítulos de livros diferentes em idioma português para

fundamentar os capítulos deste trabalho e que tivessem como foco a

formação da família e seus parâmetros. Estes livros estão entre os

anos de 2007 a 2015. Ainda como fundamentações, foram utilizadas

monografia, dissertação e artigos originais. A seleção dos artigos

passaram por critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 17

para o embasamento teórico de modo geral deste trabalho, a partir do

ano de 2010 a 2018 em língua portuguesa. Os demais critérios estão

nos tópicos a seguir.

II. Adotou-se como fontes de informações as bases de dados eletrônicas:

• Scielo: A Scientific Electronic Library Online - é uma biblioteca eletrônica

que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros.

• Lilacs: é um componente da Biblioteca Virtual em Saúde em contínuo

desenvolvimento, constituído de normas, manuais, guias e aplicativos,

destinados à coleta, seleção, descrição, indexação de documentos e

geração de bases de dados.

III. Utilizou-se como descritores: família, divórcio,

desenvolvimento emocional e filhos.

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IV. Foram excluídos da pesquisa: resenhas, artigos duplicados e relatos de

experiências.

2ª Coleta de Dados:

I. Nesta etapa foi feita uma leitura exaustiva de todo o material selecionado,

com o intuito de clareza e objetividade, analisando se os conteúdos apresentados

eram relevantes para a produção da pesquisa.

3ª Análise dos Resultados:

I. Nesta etapa, foi realizada uma leitura bem mais ampliada, verificando-se, as

informações contidas nas fontes utilizadas, tendo como objetivo discutir e responder

o problema da pesquisa.

4ª Discussão dos Resultados:

I. Nesta etapa os resultados serão apresentados em forma de um fluxograma,

sendo pontuado e discutido se há efeitos pós-divórcio, se sim quais. Concluindo

então, o resultado daquilo em que este trabalho se propõe a trazer.

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4 ANÁLISE E DISCUSSÕES DE RESULTADOS

Os resultados foram coletados da seguinte forma: Foram identificados na

base de dados Scielo, 6.143 artigos para o descritor ‘‘família’’, 48 artigos para o

descritor ‘‘divórcio’’, 1.216 artigos para o descritor ‘‘filhos’’ e 161 artigos para

desenvolvimento emocional. Em virtude da amplitude dos termos optou-se usar o

termo booleano and para as combinações ‘‘família and divórcio’’; família and filhos’’,

resultando respectivamente, 10 a 226 estudos.

Na base de dados Lilacs, 8.089 artigos para o descritor ‘‘família’’, 52 artigos

para o descritor ‘‘divórcio’’, 1.680 para o descritor ‘‘filhos’’ e 292 para o descritor

‘‘desenvolvimento emocional’’. Como o Scielo, este, também obteve a utilização do

termo booleano and, obtendo 30 artigos para a combinação ‘‘família and divórcio’’ e

591 para ‘‘família and filhos’’.

Após critérios de inclusão e exclusão na base de dados do Scielo, obteve-se

17 artigos, e no Lilacs resultou 0 artigo. No total obteve-se 17 artigos recuperados

para a pesquisa, como segue o fluxograma.

Fluxograma: levantamento e seleção dos artigos para análise .

Fonte: autoria própria

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Diante da seleção de pesquisa, foram eleitos 17 artigos de estudos no qual a

maioria descreve o divórcio como um causador do estresse emocional da criança,

quando os pais não conseguem lidar de forma saudável, pois os filhos nunca

estarão preparados para receber esse impacto emocional.

Todo divórcio afeta a dinâmica familiar e os membros envolvidos. A

literatura retrata diferentes perspectivas que podem ser observadas em crianças que

vivem nesse tipo de processo. Em face desse aspecto, será pontuada aqui a

discussão dos pontos encontrados durante a pesquisa.

Todos os artigos que se referiam ao divórcio na vida da criança pontuaram

como um fator negativo. Os autores que mais destacam esses pontos são Viega e

Ramires (2012), Raposo et al. (2011), Juras e Costa (2011).

Um dos pontos encontrados onde Viega e Ramires (2012) também colocam,

refere-se ao temperamento da criança. Quando esses possuem temperamento fácil,

inteligentes, responsáveis e socialmente sensíveis conseguem evidenciar uma

melhor capacidade de adaptação positiva em meia transição familiar. Caso contrário,

pode apresentar raiva, medo, depressão e culpa que pode persistir por volta de um

ano após a separação, quando começa a emergir a redução da tensão e um

crescente senso de bem-estar. A criança tem aquele momento conflituoso consigo

mesma por não entender o que está acontecendo na família, porém dependendo do

manejo dos pais os efeitos de mal estar emocional podem ir desaparecendo aos

poucos.

Outro ponto importante a ser colocado aqui são as questões escolares. As

crianças que provém de famílias cujos pais estão separados, podem ser menos

capazes de terminar tarefas escolares, possuem maiores dificuldades em

concentrarem-se nas tarefas complexas, piores resultados comparados aos de

família intactas, além de terem menor responsabilidade. Estudos evidenciam que os

baixos rendimentos acadêmicos de filhos de pais divorciados, estão ligados por um

lado ao pouco envolvimento parental e, por outro lado, as adaptações dos pais à

própria separação (JESUS; COTTA, 2016).

Quando as crianças estão em idade pré-escolar elas apresentam maior risco

de desenvolver trajetórias sociais e emocionais desadaptativas em comparação às

crianças das demais idades. Algumas tarefas desenvolvimentais podem ficar

comprometidas, pois a sua imaturidade cognitivo-emocionais faz com que sejam

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menos capazes de avaliar os processos e as consequências da separação e

centralizam em si a responsabilidade pela ruptura dos pais (RAPOSO et al., 2011)

Raposo et al. (2011, p.31) ainda coloca que:

[...] as crianças de pais separados apresentam maior probabilidade de desenvolver perturbações de depressão e ansiedade, mais comportamentos oposicionais, menor autoestima, pior comportamento social, pior rendimento acadêmico, maiores défices de atenção e maiores dificuldades de relacionamento interpessoal.

Ainda sobre os efeitos da separação conjugal na vida dos filhos, estes podem

desenvolver suas relações interpessoais de forma negativa, podendo ter dificuldades

em estabelecer relações de confiança e de maior intimidade com outras pessoas.

Essas mesmas podem desenvolver problemas no sono e na alimentação, grande

sentimento de culpa por idealizarem que os pais estão se separando por conta

deles, sentimento de impotência e baixa auto-estima. (JURAS; COSTA, 2011).

Apesar de alguns pais tentarem resguardar a criança do sofrimento psíquico

causado pelo divórcio, o desgaste dessa situação é inevitável, uma vez que a

criança é muito sensível e consegue perceber que há algo de errado, só não

consegue ainda elaborar todo esse conflito desencadeando sentimentos de

desproteção, tristeza e angústia.

Outro ponto importante sobre os efeitos do divórcio na criança, onde Raposo

et al. (2011) coloca, são os problemas financeiros dos pais. Estas dificuldades

normalmente surgem após divórcio, sendo este um problema que atinge a criança

de forma direta e indiretamente.

Atingirá de forma direta porque quanto menos recursos econômicos tiver,

menor a qualidade de vida da criança, como viver em bairros com problemas ou até

mesmo ter menos oportunidades educacionais, interferindo na sua realização

acadêmica. Já na forma indireta, as questões financeiras podem afetar muitas vezes

o ajustamento pós-divórcio no genitor detentor da guarda, influenciando o seu

estado de humor, funcionamento e capacidade para providenciar cuidados

apropriados à criança, ou seja, se o detentor e da guarda não estiver em condições

emocionais, psicológicas ou financeiras para ficar com a criança, pode ainda mais

complexificar os conflitos da criança atingindo até mesmo seu comportamento.

A coparentalidade cooperativa como já se sabe, é envolvimento conjunto e

recíproco dos ambos os pais na educação, cuidados e decisões sobre a vida dos

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filhos, é igualmente decisiva no ajustamento da criança ao divórcio. Ainda

considerada a melhor solução para diminuição das frustrações emocionais da

criança.

Diante de todos os estudos realizados, percebe-se que o divórcio é um

causador de efeitos negativos no desenvolvimento psíquico da criança. O

senso comum geralmente traz que o divórcio muitas vezes pode ser positivo, aqui

não se discorda dessa hipótese, já que uma vez que ele seja destrutivo o ideal é

afastar a criança desses conflitos, porém, independente dos conflitos gerados dentro

de casa quando os pais ainda estão juntos, a criança não deixa de sofrer ao ver os

genitores em casas separadas, podendo refletir todo esse sentimentos em efeitos

negativos em longo prazo, podendo apresentar-se nas questões acadêmicas, vida

pessoal, vida afetiva ou em qualquer outro âmbito da vida destes.

Como questões de enfrentamento de todo esse processo conflituoso, é

interessante os pais buscarem orientações psicológicas para que eles saibam

conduzir esta situação, de tal maneira a não prejudicar o bem estar dos filhos, afinal

de contas as crianças têm necessidades emocionais a serem supridas de forma que

esta possa adquirir melhor, uma segurança psíquica, constituída na primeira

infância, favorecendo assim, a capacidade de enfrentar traumatismos posteriores,

aumentando a chance de superá-los.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A esses traços pode-se concluir que o divórcio pode desenvolver uma

alteração negativa no emocional da criança a partir da dimensão conflituosa em que

se encontra no ambiente familiar. Como o intuito desta pesquisa foi trazer a criança

como alvo do divórcio, sabe-se que esta não tem a cognição completa, ou seja,

ainda não tem entendimento suficiente para elaborar o contexto conflituoso que se

encontram os pais, acabam gerando maiores angústias e sofrimento, sendo

apresentados em comportamentos ‘‘inadequados’’, dentro dos padrões sociais.

Como é um processo de separação e os profissionais que lidam com estas

questões familiares são do contexto jurídico, o importante são estes profissionais

priorizarem o bem-estar dos filhos e, em razão disso, privilegiar os papéis parentais

em detrimento dos conjugais em uma situação de divórcio destrutivo.

Desta forma, pode-se trazer o profissional de psicologia que trabalha junto às

varas de família com uma tarefa de orientação e de conscientização junto às

famílias, no sentido da real importância da função dos genitores na vida dos filhos e

do seu impacto no desenvolvimento cognitivo, social e emocional, já que uma vez os

pais que estão em conflito acabam esquecendo do cumprimento de seus deveres na

vida da criança, tendo como foco a imagem destrutiva um do outro.

Embora existam muitos estudos trazendo a família e suas adversidades,

principalmente relacionadas aos aspectos do divórcio, observa-se a escassez de

estudos quando se refere aos efeitos que o divórcio possa trazer aos filhos. É

interessante que se crie mais pesquisas metodológicas de intervenção, pautando

também o trabalho dos profissionais que atuam na área psicológica e em como

trabalhar a criança nesse contexto de conflito, abrindo novos espaços empíricos e

dando luz de um entendimento mais amplo quanto à temática.

Assim, o “Quem tem medo do lobo mal”, o divórcio, quando for tratado com as

crianças se tornará uma temática mais branda e saudável para ser tratada neste

contexto familiar. Fazendo com que a criança não crie “lobos” diante de uma

situação que pode acontecer em qualquer contexto familiar.

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REFERÊNCIAS ASSIS, Larissa Regina de Lucena; LIMA, Glaudston Cordeiro de. Família, Parentalidade e Adoção: Um Estudo Psicanalítico sobre Homoafetividade. 2014

Disponível em: <https://scielo.com.br/abordagens/psicanalise/familia-parentalidade-e-adocao-um-estudo-psicanalitico-sobre-homoafetividade> Acesso em 18 Nov. 2017

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