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FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO PROGRAMA DE MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO LINHA DE PESQUISA: ORGANIZAÇÕES E FORMAS DE GESTÃO OS DESAFIOS E AS ARMADILHAS NA IMPLANTAÇÃO DO BSC – UM ESTUDO DE CASO EM UM BANCO PRIVADO BRASILEIRO. DIOGO FERRAES CURITIBA 2010

FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO PROGRAMA DE ......FIGURA 05 – A visão da estratégica em perspectivas múltiplas FIGURA 06 – O Papel do BSC FIGURA 07 – Barreiras à execução

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  • FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO

    PROGRAMA DE MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM ORGANIZAÇÕES E

    DESENVOLVIMENTO

    LINHA DE PESQUISA: ORGANIZAÇÕES E FORMAS DE GESTÃO

    OS DESAFIOS E AS ARMADILHAS NA IMPLANTAÇÃO DO BSC – UM

    ESTUDO DE CASO EM UM BANCO PRIVADO BRASILEIRO.

    DIOGO FERRAES

    CURITIBA

    2010

  • DIOGO FERRAES

    OS DESAFIOS E AS ARMADILHAS NA IMPLANTAÇÃO DO BSC – UM ESTUDO DE

    CASO EM UM BANCO PRIVADO BRASILEIRO.

    Dissertação de Mestrado apresentado como

    requisito parcial à obtenção do título de Mestre.

    em Organizações e Desenvolvimento. Programa

    de Mestrado Interdisciplinar em Organizações e

    Desenvolvimento da FAE – Centro Universitário.

    Orientadora: Profa. Dra. Lis Andréa Pereira Soboll

    CURITIBA

    2010

  • DIOGO FERRAES

    OS DESAFIOS E AS ARMADILHAS NA IMPLANTAÇÃO DO BSC – UM ESTUDO DE

    CASO EM UM BANCO PRIVADO BRASILEIRO.

    Dissertação de Mestrado apresentado como

    requisito parcial à obtenção do título de Mestre.

    em Organizações e Desenvolvimento. Programa

    de Mestrado Interdisciplinar em Organizações e

    Desenvolvimento da FAE – Centro Universitário.

    Banca Examinadora:

    Prof. Dr. Antoninho Caron

    Prof. Dr. Eduardo Damião da Silva

    Profa. Dra. Lis Andréa Pereira Soboll

    Prof. Dr. José Vicente Bandeira de Mello Cordeiro

    CURITIBA

    2010

  • AGRADECIMENTOS

    Ao refletir sobre essa dura jornada percebo o quanto esse processo me

    fez melhorar como acadêmico e profissional. Passei a entender que o certo não

    é tão certo assim e que muitas vezes o caminho mais difícil é aquele que

    oferece o maior aprendizado. Certamente não teria conseguido sem o apoio e

    o amor de Deus pela minha vida, que me deu saúde e condições para passar

    por toda essa experiência. Devo agradecer ainda aos meus amigos, a minha

    família, meus irmãos Francisco, Cássia e Tiago, a minha doce avó Carmelinda

    que é uma segunda mãe para mim. À minha querida mãe Salete e ao meu

    grande pai Francisco por tudo que me ensinaram e pelo incentivo irrestrito com

    o qual sempre pude contar. Preciso agradecer a pessoa que sempre está ao

    meu lado, que me suportou nesse processo e que animou quando achei que já

    não havia mais força, minha amada esposa Marileize, a quem dedico esse

    feito. Por fim, mas não menos importante quero registrar meu agradecimento,

    meu respeito, admiração e carinho por minha orientadora Lis Andréia, por tudo

    que me ensinou, pelo choque de visão que despertou nesse novo pesquisador.

    Acredito que saí renovado dessa etapa, longe de ter crescido o suficiente e

    pronto para refletir e aprender ainda mais pela frente.

  • Lista de Figuras

    FIGURA 01 – Níveis da Estratégia

    FIGURA 02 – Estratégia uma perspectiva histórica

    FIGURA 03 – 5Ps da Estratégia

    FIGURA 04 – Dinâmica da Estratégia

    FIGURA 05 – A visão da estratégica em perspectivas múltiplas

    FIGURA 06 – O Papel do BSC

    FIGURA 07 – Barreiras à execução da estratégia

    FIGURA 08 - Etapas para Estruturação de um modelo de Gestão Estratégica Baseada no Balanced Scorecard

    FIGURA 09 – Exemplo de um mapa estratégico

    FIGURA 10 - Principais Publicações Sobre BSC

    FIGURA 11 – Analisando a Presença dos Cinco Princípios na Organização

    FIGURA 12 – Cinco Princípios de Uma Organização Orientada para Estratégia

    Lista de Gráficos

    GRÁFICO 01 – Foco do Mercado

    GRÁFICO 02 - Banco XV Radar Comparativo 2004 e 2007

    Lista de Tabelas

    TABELA 1 - Os Cinco Princípios Estratégicos

    TABELA 2 – CARACTERIZAÇÃO DOS ENTREVISTADOS

    Lista de Quadros

    QUADRO 1: Melhorias nos Indicadores da Empresa (clientes e financeiros)

  • SUMÁRIO

    RESUMO .................................................................................................... 5

    1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 6

    1.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................... 9

    1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................. 9

    2 ESTRATÉGIA E O BALANCED SCORECARD ..................................... 10

    2.1 ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO .......................... 10

    2.2 BALANCED SCORECARD: ORIGEM E PROPOSTA ......................... 17

    2.3 O BALANCED SCORECARD COMO UM MODELO DE GESTÃO

    ESTRATÉGICA.......................................................................................... 21

    3 METODOLOGIA 36

    3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA ........................................................ 40

    3.2 FONTES DE DADOS ............................................................................ 41

    3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ..................................... 42

    3.4 TRATAMENTO DOS DADOS .............................................................. 44

    3.5 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ............................................................... 45

    4 DESCRIÇÃO DO CASO BANCO XV ...................................................... 46

    4.1 HISTÓRICO DO BANCO XV ................................................................ 46

    4.2 HISTÓRICO DO BALANCED SCORECARD NO BANCO XV ............ 48

    4.3 Desafios na implementação do BSC sob os cinco princípios 50

    4.4 BENEFÍCIOS DO BSC ......................................................................... 55

    5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................... 59

    5.1 CATEGORIA TEMÁTICA 01: TRADUZIR A ESTRATÉGIA EM

    TERMOS OPERACIONAIS ........................................................................ 60

    5.2 CATEGORIA TEMÁTICA 02: ALINHAR A ORGANIZAÇÃO À

    ESTRATÉGIA ............................................................................................. 65

    5.3 CATEGORIA TEMÁTICA 03: TRANSFORMAR A ESTRATÉGIA EM

    TAREFA DE TODOS .................................................................................. 70

    5.4 CATEGORIA TEMÁTICA 04: FAZER DA ESTRATÉGIA UM

    PROCESSO CONTÍNUO ........................................................................... 76

    5.5 CATEGORIA TEMÁTICA 05: MOBILIZAR A MUDANÇA ATRAVÉS

    DA LIDERANÇA EXECUTIVA .................................................................... 80

    6. CONCLUSÕES ....................................................................................... 86

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 93

    ANEXOS ................................................................................................. 96

  • 5

    RESUMO

    As pressões do mercado e dos trabalhadores exigem uma reforma nos

    modelos de gestão disciplinar criados sob moldes centralizadores e rígidos. Surge

    na década de 90 o conceito do Balanced Scorecard “BSC” criado por Robert Kaplan

    e David Norton, apresentado com um modelo que assegura a execução da

    estratégia. Esse trabalho estuda a implantação deste modelo em um banco privado

    brasileiro, tendo como objetivo identificar os desafios e as armadilhas na

    implantação de um modelo de gestão baseado no BSC.

    Primeiramente foi realizada uma revisão da teoria sobre estratégia

    empresarial e BSC. Depois foi desenvolvido um estudo de caso, com análise

    longitudinal e corte transversal, de natureza qualitativa, consistindo em uma

    pesquisa descritiva e ex-post facto. O estudo de caso foi realizado por meio da

    analise de relatórios de consultoria e com a realização de seis entrevistas. Foi

    utilizada a análise de conteúdo para tratamento dos dados coletados. Os resultados

    do estudo apontam que num período pós-implantação da metodologia do BSC,

    melhorias ocorreram na estratégia da empresa, no concernente a gestão dos ativos

    tangíveis e intangíveis, na definição dos indicadores crucialmente importantes para

    gestão da estratégia e ainda na forma com que a estratégia foi comunicada dentro

    da organização. Os principais desafios apontados pelo estudo estão relacionados a

    fazer da estratégia da organização uma atividade de todos, bem como causar

    mudança comportamental necessária para que todos usem o método da maneira

    proposta pelos autores. A principal armadilha revelada nesse processo está

    relacionada à eclosão de uma vertente de controle, oriunda de uma alteração na

    aplicação e interpretação do método baseado no BSC. Ao invés de focalizar suas

    forças no aprendizado a organização passou em determinado momento a focalizar o

    controle, praticando pressão na gestão das equipes. Os cinco princípios de uma

    organização orientada para estratégia propostos por Kaplan e Norton não foram

    completamente implementados em todos os níveis da organização. Mesmo com

    todas as falhas encontradas há melhoria nos indicadores e na gestão da estratégia,

    pois com o BSC a estratégia passou a ser trabalhada de forma contínua. Segundo a

    proposta dos autores o envolvimento das pessoas em torno de uma estratégia

    comum permite as organizações alinhar esforços em busca de um objetivo comum e

    consistente, nesse estudo é percebido que existe uma melhoria nesse quesito.

  • 6

    INTRODUÇÃO

    Em uma conjuntura de mercado marcada pelo alto grau de

    profissionalização dos competidores atuantes no cenário vigente, detalhes deixam

    de representar diferenças pífias e passam a representar os fatores que agregam

    valor e definem rumos de sucesso e insucesso. Nesse contexto observa-se a

    proeminência da estratégia, como ponto decisivo para a superação dos concorrentes

    ou adversários. Organizações altamente eficazes buscam desenvolver estratégia e

    planos estratégicos cada vez mais completos, para dessa maneira sobrepujar os

    demais atores do mercado em que competem. Para que as estratégias possam

    oferecer algum diferencial competitivo é requerida uma grande percepção e

    coerência na proposição de um planejamento estratégico adequado a realidade do

    momento e do futuro. Ainda é exigido a habilidade e o rigor para fazer dessa

    estratégia mais do que uma abstração, transformando-a em execução do

    planejamento estratégico em um grupo de ações práticas.

    No século XXI, a habilidade da organização em responder às mudanças e

    demandas ambientais o mais rápido possível está se tornando uma forte vantagem

    competitiva. Contrapondo passado, atualidade e futuro, ao observar o processo

    estratégico, desde sua concepção até sua execução, percebe-se que ele permeia os

    três momentos apontados. Sob esse enfoque, cada vez mais, a análise do

    desempenho empresarial tomada única e exclusivamente por meio dos indicadores

    contábeis está caindo em desuso. Isto ocorre porque os indicadores contábeis

    registram dados já acontecidos e são incapazes de considerar ações atuais ou

    mesmo perspectivas futuras. Portanto,

    “desenvolver uma estratégia para uma organização com base em indicadores contábeis é o equivalente a dirigir um veículo olhando para o retrovisor. Assim como o retrovisor do veículo registra apenas a pista por onde o veículo já percorreu, os balanços e as demonstrações dos resultados fornecem dados defasados e obsoletos” (KAPLAN e NORTON 2000).

    É preciso então, para o desenvolvimento de uma estratégia eficiente, que

    não somente se possam computar os dados que ocorrem em tempo real na

    organização, mas também que se levem em consideração outras dimensões além

    da financeira, bem como verificar se as atividades que estão ocorrendo dentro da

    organização estão alinhadas com a estratégia da mesma.

  • 7

    Ter capacidade de observar e mensurar o que realmente ocorre na

    organização e verificar se as atitudes atuais estão condizentes com a estratégia da

    mesma é condição necessária, mas não suficiente para se elaborar uma boa

    estratégia (KAPLAN; NORTON, 2000). Isto ocorre porque, cada vez mais, são os

    ativos intangíveis e não os equipamentos, estoques ou as edificações que a

    organização possui que revelam sua efetividade. Exemplificando, Brigham e Enhardt

    (2006), mostram que apesar da Coca-Cola possuir pouquíssimos ativos fixos, o seu

    valor de mercado, cotado no preço das suas ações é em muito superior ao de outras

    companhias do mesmo setor, inclusive mais bem equipadas. Portanto, a capacidade

    da Coca-Cola em efetivamente atender as expectativas de seus clientes e gerenciar

    atividades que agreguem valor para os mesmos é que garante uma forte vantagem

    competitiva. É preciso então, para o desenvolvimento de uma estratégia eficiente,

    que não somente se possam computar os dados que ocorrem em tempo real na

    organização, mas também que se levem em consideração outras dimensões além

    da financeira, bem como verificar se as atividades que estão ocorrendo dentro da

    organização estão alinhadas com a estratégia da mesma.

    Para Kaplan e Norton (1997) as organizações devem procurar maneiras ou

    métodos para romper as barreiras que as impedem de executar em plenitude suas

    estratégias. Nesse contexto vale resgatar a existência de quatro barreiras que se

    colocam entre o planejamento e a execução das estratégias. A primeira é a “barreira

    de visão” que indica que em média apenas 5% da força de trabalho conhecem as

    estratégias/desafios da empresa. A segunda é a “barreira humana” que constata que

    somente 25% dos colaboradores recebem incentivos vinculados aos desafios da

    empresa. A terceira é a “barreira de gestão” que evidencia que 85% dos altos

    executivos gastam menos de 1 hora por mês para discutir estratégias. A quarta e

    ultima é a “barreira de recursos” que constata que apenas 60% das organizações

    vinculam o orçamento à estratégia. Na década de 90 alguns estudiosos como

    Michael Porter, Henry Mintzberg, Robert Kaplan, David Norton e outros se

    propuseram a estudar estes desafios para que pudessem sobrepujá-los, não

    obstante buscavam uma maneira efetiva de derrubar de forma literal as barreiras

    que se contrapunham a execução das estratégias em sua plenitude.

    Em sua primeira obra os criadores do BSC o apresentaram como uma

    “ferramenta gerencial” (KAPLAN; NORTON, 1997) servindo como um modelo para

    balanceamento de indicadores de desempenho para gestão da estratégia. Numa

  • 8

    tentativa de suprir as defasagens desse trabalho Kaplan e Norton ampliaram a visão

    do BSC relendo-o como um “modelo de gestão” (KAPLAN; NORTON, 2000), que

    pudesse analisar o desempenho organizacional por meio de indicadores que

    transcendessem as perspectivas puramente financeiras e contábeis e que fosse

    capaz de mensurar em tempo real o que se passava na organização. Usando os

    indicadores como um termômetro para medir os resultados obtidos com a execução

    do planejamento estratégico. O BSC permite ainda checar se as atividades

    executadas pela organização estão de acordo com a estratégia estipulada, se

    colaboram na mensuração dos ativos intangíveis que realmente agregam valor para

    os clientes (KAPLAN; NORTON, 2004). Portanto, segundo os seus elaboradores,

    não se trata de uma técnica que meramente auxilia a organização a divulgar a sua

    estratégia, mas sim um modelo capaz de ajudá-las a elaborar, consolidar,

    compartilhar, divulgar e monitorar a melhor estratégia estipulada e a ser percorrida

    de forma continuada para a organização e seus stakeholders. De acordo com a

    leitura dos próprios criadores do conceito a metodologia em questão aproxima-se

    mais de um novo modelo de gestão do que simplesmente uma sistematização de

    controle, por envolver mudanças nos valores compartilhados e no modo como a

    organização interpreta o ambiente e como e a ele responde.

    Dada a importância deste modelo de gestão largamente aplicado por

    diversas organizações nos dias atuais, este projeto apresenta um estudo de caso em

    um banco privado brasileiro que adotou o BSC como seu modelo de gestão

    estratégica.

    O estudo e análise desse tema se justificam na medida em que se observa a

    complexidade enfrentada pelas empresas no que cerne ao equilíbrio entre o

    crescimento econômico e desenvolvimento sustentável. Nesse contexto é possível

    entender que o foco das empresas não pode ser única e exclusivamente a

    lucratividade, pois essa prática seria predatória diante da voracidade pela

    rentabilidade no curto prazo, podendo comprometer a sustentação da empresa no

    longo prazo. Tendo em vista que a precipitação de algumas decisões pode levar a

    organização a assumir riscos mal avaliados ou ainda incompatíveis com suas

    contingências.

  • 9

    1.1 OBJETIVO GERAL

    O objetivo geral deste trabalho é identificar os desafios e as armadilhas na

    implantação de um modelo de gestão baseado no Balanced Scorecard em um

    banco privado brasileiro.

    O balanced scorecard é reconhecido no meio executivo e acadêmico pela sua

    capacidade de adaptabilidade às organizações em que é implementado. Esta

    pesquisa se propõe a responder a seguinte pergunta de pesquisa: quais os desafios

    e as armadilhas na implantação de um modelo de gestão baseado no Balanced

    Scorecard em um banco privado brasileiro?

    1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    Os objetivos específicos são:

    • Descrever o modelo de gestão baseado no BSC com base na literatura

    científica;

    • Descrever a aplicação do BSC em um banco privado;

    • Analisar a adesão da organização estudada à proposta do modelo de gestão

    baseado no BSC;

    • Analisar os problemas e os benefícios da implantação do BSC em um banco

    privado.

    O exame aqui proposto busca clarificar ainda mais o tema gestão estratégica

    com a aplicação do método do Balanced Scorecard. Através desse estudo de caso é

    possível comparar a teoria com a prática de gestão baseada no BSC, analisando

    dessa forma a aplicação da proposta em termos reais, principalmente observado a

    adesão do modelo e sua capacidade de agir como um coadunar de forças para que

    toda organização possa se alinhar em torno de um objetivo comum. Esse estudo

    oferece contribuição tanto no campo prático como no teórico pois serve como exame

    à aplicação do BSC e ainda como referencial para futuros estudos sobre o tema.

  • 10

    2 ESTRATÉGIA E O BALANCED SCORECARD

    2.1 ESTRATÉGIA E O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

    Ao longo dos anos as organizações têm buscado um nível de organização e

    articulação que lhes assegure competitividade, lucratividade e longevidade em

    termos concretos. Para tanto é cada vez maior o cuidado com os caminhos seguidos

    na busca dos objetivos traçados. Nesse contexto a estratégia surge como um fator

    decisivo para que as organizações consigam alcançar suas metas de maneira

    efetiva. Sob essa ótica Chandler (1962), apresenta a estratégia como a

    determinação de metas básicas a longo prazo e dos objetivos de uma empresa e a

    adoção das linhas de ação e aplicação dos recursos necessários para alcançar

    essas metas. Sob a visão de Johnson e Scholes (2007) as estratégias são

    categorias amplas ou tipos de ações para alcançar objetivos estratégicos. Para

    ambos a estratégia representa a definição de um caminho para que se possa

    alcançar o destino traçado respeitando as inúmeras variáveis existentes.

    Para Andrews (1971), a estratégia corporativa é o conjunto dos principais

    objetivos, propósitos ou metas e as políticas e planos essenciais para conseguir

    ditas metas, estabelecidos de tal maneira que definam em que classe de negocio

    está a empresa o deseja estar.

    Para melhor entender a dinâmica da estratégia dentro das organizações é

    importante entender que dentro de um contexto estratégico existem níveis diferentes

    da estratégia. De acordo com Porter (1999) todos os níveis são fundamentais e

    precisam ser trabalhados para que os planos e de ação e projetos desmembrados

    possam defender as estratégias propostas. Como é possível observar na Figura 1

    existem três níveis da estratégia: estratégia corporativa – diz respeito ao

    posicionamento da organização, a definição dos mercados alvo e dos grandes

    objetivos e direcionadores que orientarão todo o grupo; o segundo nível é a

    estratégia de negócio – ela é responsável pela orientação específica para cada

    mercado ou nicho de mercado que a organização atua, respeitando as variáveis

    micro ambientais do setor e direcionando ações específicas para esse contexto;

    existe ainda a estratégia operacional – que trata das definições que orientam o

    posicionamento das áreas de suporte dentro da organização, elas são responsáveis

    pela estruturação dos processos asseguram toda estruturação da empresa e são

  • 11

    fundamentais para que as estratégias dos outros dois níveis sejam cumpridas. É

    muito importante observar que esses três níveis estão interligados e funcionam

    como funil, por fim, tudo deve apontar para a estratégia corporativa.

    FIGURA 01 – Níveis da Estratégia

    Fonte: Adaptado de Porter (1999)

    Considerando os diversos níveis da estratégia é necessário considerar o que é

    postado por porte, em primeira instância a estratégia consiste em um

    posicionamento único da empresa Porter (1999). Que refletirá a direção macro que

    será seguida em todos os níveis, respeitando é claro as particularidades e ações de

    cada nível.

    A concepção e a execução da estratégia se impõem ao longo do tempo como

    um dos grandes desafios organizacionais haja vista a grande complexidade que

    compõe o enredo em questão.

    Aquilo que os biólogos escrevem a respeito da adaptação das espécies (por exemplo. "equilíbrio interrompido") pode ter relevância para a compreensão da estratégia como posição ("nicho"). Aquilo que os historiadores concluem a respeito de períodos no desenvolvimento das sociedades (tais como "revolução") pode ajudar a explicar diferentes estágios no desenvolvimento de estratégias organizacionais (por

  • 12

    exemplo, "reformulação" como forma de "revolução cultural"). As descrições que os físicos fazem da mecânica quântica e as teorias do caos dos matemáticos podem dar uma idéia a respeito de como as organizações mudam. E assim por diante. Acrescente a isso toda a literatura comumente reconhecida como relevante para o estudo das organizações - psicologia da cognição humana bem como carisma de liderança, antropologia de culturas na sociedade, economia na organização industrial, planejamento urbano em processos formais de planejamento, ciência política na elaboração de políticas públicas, história militar de estratégias de conflito, e assim por diante - e o resultado é uma enorme e dispersa literatura, capaz de produzir todos os tipos de idéias. No limite, a formulação de estratégias não trata apenas de valores e da visão, de competências e de capacidades, mas também de militares e de religiosos de crise e de empenho, de aprendizado organizacional e de equilíbrio interrompido, de organização industrial e de revolução social. (MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL 2000, p.16).

    O termo estratégia pode ser definido como propõe Garland Wright (1992, apud

    Mintzberg et al. 2000). "Planos da alta administração para atingir resultados

    consistentes com as missões e objetivos da organização". Para melhor entender o

    desenvolvimento da estratégia ao longo do tempo vale observar a Figura 2 que

    apresenta a evolução da literatura sobre estratégia.

    FIGURA 02 – Estratégia uma perspectiva histórica

    Fonte: Elaboração do Autor

  • 13

    É perceptível que a estratégia é um conceito para o qual existem inúmeras

    definições, e que ainda é caracterizado por muitas vezes receber de um mesmo

    sujeito uma definição e aplicação de maneiras distintas, proveniente da redução a

    que foi submetida à idéia da estratégia no momento em que foi definida se

    comparado ao contexto em que foi aplicada. Para que esse conflito possa ser

    compreendido pode ser observado na Figura 03 que compara os 5 Ps da estratégia

    propostos por Mintzberg (1987). Apresentando-a como um plano que se refere a

    olhar para frente, o autor apresenta a estratégia como um padrão que consiste em

    olhar o comportamento passado, uma posição, isto é, a localização de determinados

    produtos em determinados mercados, uma perspectiva, que representa a maneira

    fundamental de uma organização fazer as coisas, estratégia como um

    pretexto/truque, isto é, uma "manobra" específica para enganar um oponente ou

    concorrente.

    FIGURA 03 – 5Ps da Estratégia

    Fonte: Adaptado de Mintzberg (1987)

  • 14

    Para Mintzberg (2006),

    “estratégia empresarial é o modelo de decisões de uma empresa que determina e revela seus objetivos, propósitos ou metas, produz as principais políticas e planos para atingir essas metas e define o escopo de negócios que a empresa vai adotar o tipo de organização econômica e humana que ela é ou pretende ser e a natureza da contribuição econômica e não-econômica que pretende fazer para seus acionistas, funcionários, clientes e comunidade” (MINTZBERG 2006, p.78).

    Toda organização nasce por meio de um projeto, que visa alcançar resultados

    normalmente comuns a qualquer empresa. Pontos como destaque, participação de

    mercado, lucro, retorno sobre o capital investido e tantos outros pontos são

    almejados, para coadunar esses fatores de forma a alcançar longevidade e

    permanência no mercado, a tendência natural é aplicar seus esforços em uma

    hipótese de futuro. De acordo com Mintzberg, Henry; Quinn (1993) na expectativa de

    auferir bons resultados as organizações desenvolvem planos, objetivos, metas e

    táticas. A esse processo podemos chamar de planejamento. O planejamento

    estratégico acontece na medida em que se organizam essas idéias de forma

    sistematizada e lógica para que se possa alcançar um padrão de ação ao longo do

    tempo.

    “Estratégia empresarial pode ser vista como um padrão de unidade de

    coerência e consistência interna de decisões de uma empresa que determina e

    revela seus objetivos, propósitos ou metas de longo prazo e produz as principais

    políticas e planos para a obtenção dessas metas” (ANSOFF, 1990). Nesta linha de

    raciocínio, Wittington (1996), Andrews (1980) propõem que a estratégia reflete os

    meios, os mecanismos que a organização possui para atingir seus objetivos pré-

    estipulados. Portanto é na estratégia empresarial que as organizações definem as

    medidas, as ações, a serem tomadas para que seus objetivos de longo prazo sejam

    alcançados de forma a assegurar um processo de deliberação estratégica

    estruturado, como será verificado na Figura 04.

  • 15

    FIGURA 04 – Dinâmica da Estratégia

    Fonte: Mintzberg e Quinn 1993, p.16

    Equilibrar a balança que representa a contraposição da vontade de mercado e

    a da organização, isso consiste em um dilema para qualquer estrategista, e

    representa um desafio para qualquer organização. Para Mintzberg, Ahlstrand &

    Lampel (2000) é possível chamar uma de estratégia pretendida e a outra de

    estratégia realizada. Num contexto em que a primeira representa uma hipótese e a

    outra a aplicação dessa hipótese na prática, surge uma importante pergunta: as

    estratégias realizadas devem sempre ter sido pretendidas? De acordo com

    Mintzberg (2006) é bem evidente que as estratégias pretendidas nem sempre são

    realizadas.

    De acordo com Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) nem todas as estratégias

    são puramente deliberadas, assim como poucas são totalmente emergentes. Uma

    significa aprendizado zero, a outra significa controle zero. Na prática ambas devem

    se misturar, de alguma maneira precisam se fusionar: exercer controle fomentando o

    aprendizado. Observando de outra maneira, as estratégias devem formar bem como

    ser formuladas. “As estratégias emergentes não são, necessariamente, más, e as

    estratégias deliberadas, boas” (MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL 2000, p. 18).

    Os estrategistas eficazes precisam balanceá-las de maneira que reflitam as

  • 16

    condições vigentes, equilibrando habilidade de antecipação e também a agilidade de

    reação a eventos inesperados.

    O planejamento estratégico é concebido em um momento distinto de sua

    execução, dessa forma é possível observar que ele é proposto no passado, podendo

    ser esse passado representado por um dia, uma semana ou um ano. A questão que

    remanesce é: como fazer com que esse planejamento continue representando uma

    linha lógica e contínua das vontades da empresa? Para tanto é necessário

    considerar a necessidade de revitalização diária para que não a estratégia não fique

    obsoleta. Segundo Mintzberg e Quinn (1993), ao processo que faculta esse ajuste

    pode se denominar deliberação. É representada na Figura 04 pela seta mais longa

    que liga as duas setas maiores. Ao processo de deliberar é possível descrever em

    termos estratégicos como o ato de olhar para as opções vis a vis e compará-las de

    maneira a avaliar quais têm maior aderência ao plano e quais não servem para o

    desafio em vigor. Ainda faz parte desse processo avaliar quais das ações originais

    deverão ser descartadas para dar lugar as novas ações, haja vista a existência de

    recursos limitados, assim como uma capacidade de ação idealizada no

    planejamento. A questão que surge dessa busca de equilíbrio é que para que entre

    algum elemento novo no planejamento estratégico é preciso aumentar a capacidade

    de execução estratégica ou será necessário repor a nova iniciativa por uma que

    deve ser descontinuada.

    A estratégia é um processo organizacional, multiforme e inseparável da

    estrutura, do comportamento e da cultura da empresa. Entretanto, podemos abstrair

    desse processo dois aspectos importantes, inter-relacionados na vida real, mas

    separados para fins de análise. O primeiro pode ser chamado de formulação da

    estratégia, o segundo, de implementação (MINTZBERG 2006, p.78). Sob esse

    enfoque a formulação e a execução da estratégia são dois extremos existentes

    dentro do campo estratégico que não faz qualquer sentido em caso de ausência de

    um deles.

    A formulação da estratégia se dá na medida em que a estratégia é pensada de

    forma lógica e a esse raciocínio se adiciona a mensuração de possíveis riscos, que

    ora calculados, podem ou não ser assumidos. Para Mintzberg (2006, p.79) as

    principais subatividades da formulação da estratégia como uma atividade lógica

    incluem identificação de oportunidades e ameaças no ambiente da companhia,

  • 17

    associadas à inclusão de algumas estimativas ou riscos para as alternativas

    discerníveis.

    De acordo com Kaplan e Norton (1997) existe nas organizações uma

    incoerência fundamental entre o desenvolvimento e a formulação das estratégias e

    sua implementação. “A incoerência entre a formulação e a implementação da

    estratégia é causada por barreiras criadas pelos sistemas gerenciais tradicionais –

    os sistemas que as organizações utilizam para: Criar e comunicar estratégias e

    direções, alocar recursos, definir metas e direções para departamentos, equipes e

    indivíduos e fornecer feedback” (KAPLAN e NORTON, 1997 p. 199). Dessa forma a

    execução da estratégia se revela como um dos pontos em que as organizações mais

    falham e as quatro barreiras encontradas na execução da estratégia..

    Sob a ótica de Mintzberg (2006, p.79) a implementação efetiva pode tornar uma

    decisão estratégica sólida ou uma escolha bem sucedida discutível. Portanto, é

    importante examinar os processos de implementação, pesando as vantagens das

    alternativas estratégicas disponíveis. Para se obter sucesso organizacional não

    basta apenas executar uma estratégia, pois a hipótese em que se apostou pode ser

    ruim, assim a avaliação contínua da estratégia faz parte do seu processo de

    execução e representa um fator crítico de sucesso para sua longevidade.

    2.2 BALANCED SCORECARD: ORIGEM E PROPOSTA

    “O processo de gestão por meio de relatórios financeiros trimestrais e anuais

    continua atrelado a um modelo contábil desenvolvido há séculos para um

    ambiente de transações isoladas entre entidades independentes” (KAPLAN E

    NORTON 1997, p.7). Os professores e consultores Robert Kaplan e David Norton

    após anos de estudo propuseram, no começo da década de 90, o conceito do

    Balanced Scorecard, que previa a utilização de indicadores balanceados de

    desempenho para mensurar a performance estratégica das empresas.

    Concluíram que mais do que um quadro de indicadores precisavam encontrar

    uma forma de elencar as metas crucialmente importantes para as organizações

    de acordo com suas estratégias. Para tanto os indicadores precisavam estar

    totalmente conectados as estratégias propostas para medir a efetividade da

    hipótese assumida, bem como para propor as correções de rumo necessárias

    com base nos resultados obtidos. Para Kaplan e Norton (1997), o Balanced

  • 18

    Scorecard complementa as medidas financeiras do desempenho passado com

    medidas dos vetores que impulsionam o desempenho futuro. Os objetivos e

    medidas do scorecard derivam da visão e estratégia da empresa. Os objetivos e

    medias focalizam o desempenho organizacional sob quatro perspectivas:

    financeira, do cliente, dos processos internos e de aprendizado e crescimento /

    pessoas como pode ser observado na Figura 05.

    FIGURA 05 – A visão da estratégica em perspectivas múltiplas

    Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (1997)

    Procurando pelo equilíbrio estratégico, os pesquisadores entenderam que o

    uso de indicadores contábeis e financeiros que consistiam no padrão de gestão

    usado até então, poderia comprometer o resultado esperado no longo prazo.

    Haja vista a estratégia de uma organização não se limita apenas aos resultados

    financeiros ou ainda às contas do Balanço patrimonial ou DRE. Os indicadores

  • 19

    contábeis registram apenas dados já acontecidos e são incapazes de considerar

    ações atuais ou mesmo perspectivas futuras. É preciso então, para o

    desenvolvimento de uma estratégia efetiva, que não somente se possam

    computar os dados que ocorrem em tempo real na organização, mas também

    que se levem em consideração outras dimensões além da financeira, bem como

    verificar se as atividades que estão ocorrendo dentro da organização estão

    alinhadas com a estratégia da mesma. É possível estruturar um painel de

    gestão baseado em indicadores, que está para os líderes da organização como

    um painel de um avião para um piloto. Da mesma maneira como o piloto

    controla o vôo utilizando inúmeros instrumentos e medidas de forma integrada,

    que lhe facultam a análise do desempenho do trecho já percorrido, bem como a

    projeção do restante da viagem. Os gestores podem usar o mapa estratégico,

    seus indicadores e os projetos associados para avaliar a performance

    alcançada até o momento, e projetar os próximos passos em termos de curto,

    médio e longo prazo (KAPLAN e NORTON 1997).

    O Gráfico 01 indica as motivações e tendências mercadológicas que

    pressionaram acadêmicos e executivos a renovar o modelo de tomada de

    decisão clássico que perdurava a gerações e repousava sobre os moldes do

    século XVIII.

    GRÁFICO 01 – Foco do Mercado

    Fonte –Adaptado - Baruch Lev fund Pesquisa de Intangíveis - New York University (1996)

  • 20

    A lógica criada pelos propositores do conceito do BSC segue uma tendência

    de mercado, como aponta o Gráfico 01. Os modelos de tomada de decisão

    baseados em ativos tangíveis vinham perdendo força no mercado, por se

    demonstrarem insuficientes para facultar decisões assertivas em termos de

    planejamento estratégico. Fazia-se necessário dimensionar fatores intangíveis que

    representavam maior valor para empresa do que sua própria estrutura, prédio e

    bens, sendo, portanto tão ou mais relevantes que os ativos tangíveis. O ponto em

    questão que perpassava as análises naquele momento estava voltado para

    tangibilizar o intangível, ou por assim considerar, como avaliar ou quantificar itens

    como Know How, força da marca, valor da marca, capital intelectual, cultura e tantos

    outros itens que são crucias para o sucesso corporativo e que muitas vezes valem

    mais do que toda a estrutura física e financeira da empresa juntas. Observando o

    exemplo de empresas como Nike e Coca Cola que valem mais pelo que

    representam do que pelo que são em termos de estrutura física. De acordo com

    Kaplan e Norton (1997, p.7), o ideal é que o modelo da contabilidade financeira se

    ampliasse de modo a incorporar a avaliação dos ativos intangíveis e intelectuais de

    uma empresa, como produtos e serviços de alta qualidade, funcionários motivados e

    habilitados, processo internos eficientes e consistentes, e clientes satisfeitos e fiéis.

    A avaliação dos ativos intangíveis e das capacidades da empresa seria

    particularmente útil, visto que, para o sucesso das empresas da era da informação,

    eles são mais importantes do que os ativos físicos e tangíveis.

    A Figura 05 apresenta a linha de raciocínio proposta pelos autores quando da

    apresentação do modelo BSC ao meio acadêmico e empresarial. É fixado aqui que o

    principal papel da metodologia é trabalhar a execução da estratégia, fazendo com

    que o verbo se torne ação consistente e melhorada ao longo do tempo, agindo como

    um conector entre o planejamento estratégico e o alinhamento dos processos e

    projetos a essa estratégia. A proposta teórica do BSC não revoga em nada o que

    havia sido dito por Mintzberg, Porter, Sun Tzu, Ansoff, Clausewitz e outros. Ao

    contrário reforça a importância de seus estudos e foca nas lacunas existentes,

    ligadas a execução da estratégia. Ao longo de sua proposta Kaplan e Norton

    apresentam várias ideais de como fortalecer o processo de planejamento, mas sem

    revogar a carga teórica já existente. Nesse contexto sua atenção está voltada para

    os dois níveis representados em cor mais escura na Figura 06, eles reforçam a idéia

    de que as empresas falham na conexão das estratégias e sua execução no campo

  • 21

    tático. A proposta do modelo é conectar o planejamento estratégico de longo prazo

    com o plano tático de curto prazo (KAPLAN e NORTON 2000). O BSC é proposto

    como um mecanismo que preenche a lacuna existente, usando técnicas de

    mensuração de resultados, comunicação integrada, estabelecimento de projetos

    estratégicos e feedback contínuo e assertivo.

    FIGURA 06 – O Papel do BSC

    Fonte – Adaptado Kaplan e Norton 1997

    2.3 O BALANCED SCORECARD COMO UM MODELO DE GESTÃO

    ESTRATÉGICA

    A função do Balanced Scorecard é assegurar que a estratégia proposta esteja

    consistente e que possa ser executada de forma deliberada, onde cada mudança ao

    longo do tempo seja analisada sob o prisma da aderência a hipótese inicial proposta.

    Segundo seus elaboradores, é preciso, mais do que uma simples declaração do

    presidente da empresa para que a estratégia seja discutida por todos e que fique

  • 22

    clara a todos os que compõem a organização. O Balanced Scorecard propõe isso

    por meio do constante feedback dado aos integrantes da organização.

    Para Kaplan e Norton (2004) um dos recursos mais caros e delicados das

    organizações modernas é o conhecimento; gerá-lo, gerenciá-lo e mantê-lo são

    desafios constantes para todo o mercado. O principal ativo de uma sociedade

    baseada no conhecimento é o conjunto de pessoas que trabalham nela, seu

    capital intelectual ou o conhecimento e a experiência que possuem, bem como

    seu poder para compartilhar seus conhecimentos.

    De acordo com Kaplan e Norton (1997) a mensuração de ativos

    intangíveis é uma tarefa ardilosa, que demanda esforço e trabalho no sentido de

    identificar, mapear e aferir tais informações. Ao se falar de estratégia e de

    gestão, há um movimento que sai da intenção em direção dos resultados

    concretos, haja vista que cada plano ou cada hipótese estratégica será colocada

    em prática e será, portanto testada.

    Nesse processo é possível observar a importância da força de trabalho,

    pois grande parte do resultado será construída pelas suas mãos. De acordo com

    Kaplan e Norton (2004) o alinhamento do time em torno de um objetivo comum

    é um fator crucial para o sucesso na execução da estratégia. Nesse contexto

    não é suficiente ter um planejamento estratégico super desenvolvido e

    arquitetado, sem que exista na mesma medida uma capacidade de execução de

    mesma ordem e força. Surgem então algumas questões: Como assegurar que

    aquilo que foi planejado possa ser aplicado na prática? Como converter as

    expectativas de resultados em resultados concretos? Como garantir que exista

    perenidade ao longo do tempo na gestão desse processo? As respostas surgem

    na medida em que se coaduna a capacidade de pensar e agir. No campo

    empresarial o ambiente é mais complexo, se fazendo necessário associar às

    práticas do BSC os conceitos e as práticas da gestão da qualidade e

    produtividade que já foram apresentados anteriormente.

    É senso comum no mercado empresarial que os funcionários tendem a

    praticar de forma continuada ações que são incutidas em seu cotidiano

    profissional, que passam a fazer parte de sua realidade. Como apontam Kaplan

    e Norton (2000) a liderança executiva executa um papel fundamental no que diz

    respeito a mobilizar e orientar padrões de comportamento dentro das

  • 23

    organizações. Por meio do dia a dia as pessoas passam a constatar os padrões

    existentes no cotidiano em que estão inseridas. Há que considerar a integração

    entre as práticas de BSC, Qualidade e Produtividade de forma contínua. Dessa

    forma as barreiras ao uso de tais métodos tende a enfraquecer, pois a equipe

    passa a usar os novos conceitos por meio da aplicação prática. Nesse contexto

    os trabalhadores devem ser convidados a fazer parte da construção do modelo

    da organização, para que o trabalho não seja rotulado como sendo pertencente

    a gestão, a diretoria ou de algum executivo. Mas sim sendo observado como um

    trabalho do grupo. “Para que as organizações atinjam seus objetivos – nos

    setores de fabricação ou de serviços, no âmbito privado ou público, em

    entidades com fins lucrativos ou sem fins lucrativos – todos seus membros

    devem estar alinhados com a estratégia” (KAPLAN e NORTON 2000, p.226). O

    conhecimento criado e o estímulo ao aprendizado e da mensuração dos

    resultados trará a tona um clima de aprendizado e reflexão. Torna-se

    fundamental ajustar o foco de visão entre a organização e os funcionários, para

    tanto é preciso descobrir o “gap” de percepção para que seja possível sobrepô-

    lo.

    O modelo de gestão baseado no BSC está centrado na idéia de que só se

    pode gerenciar o que se pode medir e que o fator determinante do valor das

    empresas ou organizações está contido na capacidade de mensurar os ativos

    intangíveis. Nesse sentido Kaplan e Norton (1997) indicam que não se pode

    gerir uma organização ou uma estratégia tendo como base apenas a

    mensuração de ativos tangíveis, como resultados financeiros e contábeis. Essa

    visão deve ser compartilhada entre os líderes da organização e seus liderados,

    desta forma todos conseguirão trabalhar com um objetivo comum criando um

    ambiente de aprendizado e não de simples controle. Pois o foco do uso do BSC

    está ligando a capacidade de se aprender com o dia a dia, para que nos futuro

    não sejam repetidos os mesmos erros e ainda, quando possível, que os erros

    sejam mitigados e evitados. A chave para o bom desempenho da organização

    está na capacidade de criar um ambiente altamente propício à motivação, para

    que os trabalhadores estejam desejosos pelo aprendizado, e que por sua ver a

    organização possa promovê-lo por meio de cursos, palestras, bolsas de ensino

    e o próprio trabalho. Tais práticas auxiliarão a organização a atingir seus

  • 24

    objetivos em relação às estratégias almejadas, fazendo com que as barreiras

    que comumente se apresentam ante a implementação das estratégias sejam

    derrubadas. Na Figura 07 é possível identificar as quatro barreiras mais comuns

    à execução de estratégias.

    FIGURA 07 – Barreiras à execução da estratégia

    Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (1997)

    Com a utilização desse modelo, segundo os autores, é informado a cada

    funcionário o porquê de estar realizando determinada atividade e qual a contribuição

    que sua atividade traz para a estratégia como um todo.

    Para que as tarefas da empresa se coadunem com os objetivos estipulados o

    BSC propõe analisar a estratégia e as atividades da empresa sob quatro

    perspectivas como mostram Kaplan e Norton (1997):

    • A perspectiva financeira descreve os resultados tangíveis da estratégia em

    termos financeiros e indicam se a estratégia e a sua implementação estão

    contribuindo para o alcance dos objetivos financeiros e assegurando a saúde

    financeira da empresa relacionada à rentabilidade, lucratividade e agregação

    de valor aos acionistas;

    • A perspectiva do cliente define os objetivos do crescimento da receita por

    meio da satisfação e retenção dos clientes bem como a conquista de novos.

  • 25

    Para isso a organização deve identificar e focar nas atividades que realmente

    agregam valor para os clientes, ou seja, nas atividades que os clientes

    acreditam serem relevantes para eles e que estarão dispostos a pagar mais

    por isso;

    • A perspectiva dos processos internos procura localizar e enfatizar os pontos

    fortes das: operações, gerenciamento da relação com os clientes, processos

    de inovação, gerenciamento das leis e regulamentos relativos ao negócio,

    qualidade e produtividade que produzem valor para os clientes e geram

    impacto nos objetivos financeiros e na satisfação de todos os “stakeholders”.

    • A perspectiva do aprendizado e crescimento identifica os ativos intangíveis

    mais importantes da estratégia e envolve as competências e infra-estruturas

    necessárias para o desenvolvimento de um clima que propicia a mudança,

    inovação, excelência operacional e o crescimento no médio e no longo prazo.

    Para que a estratégia ocorra conforme o previsto é necessário que a

    organização realize uma série de atividades diferentes das de seus concorrentes.

    “Quando uma organização consegue realizar uma determinada atividade melhor do

    que seus concorrentes isto garante a ela uma eficácia operacional temporária”

    (PORTER, 1999). Temporária, porque outras empresas concorrentes poderão

    facilmente copiar o modelo de execução vigente. Ao contrário desta, uma vantagem

    competitiva sustentável de longo prazo, para Porter (1999), consiste em a

    organização fazer uma série de atividades de maneira diferente da de seus

    concorrentes, ou mesmo algumas poucas atividades-chave de maneira totalmente

    diferente. Isto ocorre porque a cópia de várias atividades implantadas em uma

    empresa por parte de suas concorrentes pode tornar-se demasiadamente cara ou

    mesmo inviável.

    Sob a perspectiva de Porter (1986), qualquer estratégia bem sucedida deve

    levar em conta o que os clientes acreditam agregar valor para eles. Este aspecto

    importante é enfatizado no BSC. Segundo os seus elaboradores, cabe ao BSC, no

    início de seu desenvolvimento, procurar identificar qual é a perspectiva financeira a

    ser alcançada e quais são os clientes a serem atingidos antes que qualquer atitude

    seja tomada. Portanto, antes de se desenvolver a estratégia propriamente dita,

    ressaltam os autores ser necessário saber quais são os clientes que a organização

    deseja atender e quais são as atividades que devem ser executadas capazes de

  • 26

    agregar valor para os mesmos. Indo mais além, enfatizam os autores que cabe à

    organização ainda estabelecer o que não fazer e quem não atender, pois é, segundo

    eles, inviável para qualquer organização tentar atender a todos os segmentos

    disponíveis. A estratégia é assim, uma questão de escolha (KAPLAN; NORTON,

    2004).

    Prahalad e Hamel (1990) afirmam que, para que uma boa estratégia

    empresarial seja realizada, é necessário ainda que a mesma motive e apaixone

    todos os membros da organização em busca de um objetivo comum a ser

    perseguido. Mais ainda, afirma Freeman (2004) ser necessário não somente que os

    integrantes da organização sejam comunicados sobre a estratégia da organização,

    mas, sobretudo, que ela seja divulgada a todos os stakeholders, ou seja, a todas as

    pessoas que direta ou indiretamente influenciam ou são influenciados pelas

    decisões dela. Da mesma forma, afirmam os autores do BSC que a comunicação a

    todos os stakeholders da estratégia organizacional representa um dos pilares

    centrais para gestão efetiva da estratégia. Os objetivos a serem atingidos, as metas

    e os mecanismos da empresa, os quais antigamente permaneciam em sigilo

    absoluto, sob a ótica do BSC passam a ser de conhecimento público. Nesse

    contexto Kaplan e Norton (2000) reconhecem esta prática como, a única forma de se

    conseguir todos os envolvidos com a organização trabalhando em conjunto em prol

    de um objetivo comum.

    Contudo, nem sempre a estratégia inicialmente proposta perpetua-se. O

    ambiente onde a empresa está inserida, as demandas ambientais, o que os clientes

    querem, mudam constantemente e cabe à organização estar sempre revisando a

    estratégia estipulada. De acordo com a teoria do BSC (KAPLAN e NORTON; 2000,

    2004) é necessário que reuniões periódicas sejam sempre agendadas com o intuito

    de se revisarem os objetivos e metas a serem alcançados. Tal perspectiva corrobora

    o ponto de vista de Mintzberg (2001) que afirma que no decorrer da implantação da

    estratégia inicial, estratégias emergentes podem surgir e cabe à organização

    escolher qual a que melhor se coaduna com os seus princípios e objetivos.

    Em uma linha complementar a proposta por Mintzerg, o BSC aparenta seguir a

    mesma lógica, pois, segundo os autores, cabe-lhe a identificação dos ativos

    intangíveis únicos da organização, ou seja, aquilo que apenas aquela organização é

    capaz de fazer melhor que os concorrentes, ou seja, os seus recursos mais

  • 27

    preciosos. A identificação e mensuração dos ativos intangíveis ocorrem por meio dos

    mapas estratégicos (KAPLAN E NORTON 2004).

    De acordo com Kaplan e Norton (2004) consistem em mapas estratégicos as

    relações de causa e efeito na qual a melhoria em uma atividade pode agregar valor

    em outra atividade em uma perspectiva completamente distinta. Exemplificando:

    melhor satisfação dos funcionários (perspectiva de crescimento e aprendizado) pode

    ser ocasionada por melhorar o ambiente de trabalho (perspectiva dos processos

    internos) que por sua vez pode refletir em melhor atendimento aos clientes

    (perspectiva dos clientes) e estes passam a comprar mais e assim aumentar as

    receitas (perspectiva financeira) da empresa. Portanto, se a organização tiver jeito

    próprio, recurso único, em melhorar a satisfação dos seus funcionários esse recurso

    se transformará em vantagem competitiva sustentável que se refletirá num melhor

    desempenho financeiro. Essa é talvez a grande contribuição do BSC para a

    estratégia empresarial, pois por meio da análise estratégica o BSC consegue

    mensurar ativos intangíveis como satisfação do cliente, satisfação dos funcionários e

    mesmo melhorias em processos internos como logística.

    Para Kaplan e Norton (2000) cada uma das quatro perspectivas existirão várias

    atividades que a organização deverá realizar, as quais estarão ligadas entre si, uma

    interferindo na outra , conforme evidenciadas pelos mapas estratégicos. Cabe

    ressaltar que como o BSC auxilia na elaboração de uma estratégia única para cada

    organização, as atividades que cada organização deverá fazer para agregar valor

    para os clientes também serão únicas. Assim não existirão duas organizações com o

    mesmo mapa estratégico. Portanto, a maneira como a organização realiza suas

    atividades, o seu mapa estratégico, é um recurso único de cada organização e que

    dificilmente poderá ser imitado por alguma concorrente. Sob este ponto de vista,

    Nonaka e Takeushi (2007) afirmam que o modo peculiar de a organização realizar

    as suas atividades é parte integrante de um tipo de conhecimento organizacional

    denominado de tácito que é, para eles, o recurso mais dificilmente imitável e

    substituível.

    Segundo Kaplan e Norton (1997) a existência de um planejamento estratégico

    bem elaborado representa sem sobra de dúvidas uma vantagem competitiva em

    termos de mercado, no entanto, tal vantagem pode ser anulada se a ela não for

    associada à capacidade de transformar o planejamento estratégico em um plano de

    ação tático e operacional que converta os pensamentos em ações sincronizadas

  • 28

    para tirar a estratégia do campo cognitivo lançando-o no campo prático. Dessa forma

    a escolha da melhor estratégia em si não produzirá resultados satisfatórios se a

    organização não conseguir alinhar as atividades que executa à estratégia. A

    estratégia da organização só ocorrerá como o previsto se a mesma for capaz de

    avaliar se as atividades que estão sendo executadas realmente estão de acordo

    com os objetivos traçados.

    O BSC realiza esta tarefa por meio dos indicadores de desempenho. Uma

    vez estabelecidas às atividades que a organização deve fazer para atingir a

    estratégia, o BSC permite que se desenvolvam indicadores para mensurar todas as

    principais atividades da organização. Qualquer desvio entre o que a organização

    deveria estar fazendo para atingir os seus objetivos e o que ela estiver fazendo de

    errado aparecerá nos indicadores. Os indicadores servem assim como alertas

    capazes de mostrar aos gestores quaisquer desvios não somente entre as

    atividades que a organização deveria estar desenvolvendo e o que ela realmente

    está fazendo, como também se as atividades que ela está fazendo estão de acordo

    com o cronograma. Por exemplo, um indicador pode mostrar que se deva diminuir o

    índice de defeitos por milhão em uma linha de montagem. Se ao invés de diminuir

    essa taxa começar a aumentar, os indicadores serão capazes de indicar isso e

    caberá aos gestores a função de identificar as causas do mau desempenho e tomar

    as medidas cabíveis.

    Por fim é necessário salientar que a importância do BSC está na sua

    capacidade de resposta imediata às mudanças ambientais. Quanto maior for à

    capacidade da organização de responder rapidamente as demandas ambientais,

    maiores serão as suas probabilidades de sobrevivência. Para Kaplan e Norton

    (2000) o BSC proporciona mais agilidade de reação às mudanças do ambiente de

    duas maneiras: primeiro porque qualquer mudança do ambiente tenderá a impactar

    nos indicadores de desempenho e a estratégia deverá ser revista o quanto antes.

    Um segundo aspecto que favorece a maior agilidade às mudanças no ambiente é

    que, no caso de empresas que utilizam o BSC, todos os integrantes da organização

    tendem a estar comprometidos com a estratégia. Portanto, qualquer necessidade de

    reestruturação interna deve ocorrer de forma mais compartilhada, uma vez que os

    executivos sabem que tal atitude visa ao alcance das metas estabelecidas pela

    estratégia.

  • 29

    O modelo BSC tem sido utilizado em muitos cenários diferentes e produzido

    resultados muito promissores, não somente em empresas do setor privado, mas

    também do setor público. Sua aplicabilidade se estende desde micro-empresas

    (CLEG; TAN, 2007) até grandes corporações em países emergentes.

    No que tange ao processo de implantação do BSC, Kaplan e Norton (2000),

    descrevem que as organizações que obtiveram resultados mais promissores

    seguiram uma seqüência lógica mostrada e sumarizada na Tabela 01, a qual os

    mesmos denominaram de cinco princípios básicos que governam a estratégia. Estes

    princípios englobam as quatro perspectivas da literatura do primeiro livro e

    demonstram como é a seqüência a ser seguida no processo de implantação do

    método na prática.

    TABELA 01: Os Cinco Princípios Estratégicos

    ETAPA PRINCÍPIO NO QUE CONSISTE

    1 Traduzir a estratégia em termos operacionais

    Executar as atividades necessárias indicadas nas quatro perspectivas e desenvolver o mapa estratégico.

    2 Alinhar a organização à estratégia

    Fazer com que as atividades da empresa estejam condizentes com a estratégia da mesma.

    3 Motivar para fazer da estratégia tarefa de todos

    Mobilizar todos os stakeholders e membros da organização para atuarem em prol da estratégia.

    4 Fazer da estratégia um processo contínuo

    Revisar constantemente a estratégia da empresa.

    5 Mobilizar a liderança executiva

    Fazer com que os dirigentes se preocupem com a estratégia, e com os benefícios advindos da mesma.

    Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (2000)

    No entanto, apesar da existência de bibliografia sobre a efetividade do BSC

    poder ser encontrada, muito pouco se tem publicado a respeito das dificuldades em

    sua implantação e em como é penoso o processo de mudança de uma postura

    imediatista como a brasileira para uma perspectiva estratégica voltada ao longo

    prazo.

    A mudança cultural que acompanha um novo modelo de gestão, como se

    apresenta o BSC, envolve uma nova forma de interpretar o ambiente, de mudar o

    modo com o qual a organização observa seus stakeholders, ou seja, uma mudança

    nos valores compartilhados por seus membros. É nisso que o BSC se engaja e

    encontra as principais dificuldades: em mudar a cultura, o posicionamento da

    organização frente ao ambiente e a todos os envolvidos com a sua estratégia. O

  • 30

    presente trabalho interessa-se nesse aspecto: em apontar não somente as

    melhorias decorrentes da implantação do BSC como em enfatizar as dificuldades e

    os desafios decorrentes do processo de implantação do mesmo. Na Figura 08 estão

    sistematizados os passos que as organizações precisam para poder implementar o

    BSC e, por meio dele, estruturar seu modelo de gestão estratégica.

    FIGURA 08 – Etapas para Estruturação de um modelo de Gestão Estratégica Baseada no Balanced

    Scorecard

    Fonte: Adaptado Kaplan e Norton 2006

    Antes da execução desses seis passos vistos é importante ressaltar a

    existência de um planejamento estratégico definido, documentado e atualizado para

    que seja possível implementar o BSC. Na Figura 08 temos o Planejamento

    Estratégico com base para tudo, do contrário não faz sentido algum propor um

    método para se executar uma estratégia inexistente. O primeiro passo é a

    Identificação dos Temas Estratégicos, que consiste na extração dos pilares

    estratégicos que estão contidos do próprio planejamento. Observa-se que ao

    conseguir identificar os pilares estratégicos dentro de tudo o que foi proposto,

    discutido e firmado no planejamento se torna fundamental para o sucesso da

    estratégia, pois a concentração de esforços nos pontos críticos de sucesso oferece a

  • 31

    estruturação de um plano de execução estratégico concentrado e objetivo. Em geral

    é proposto um pilar para cada uma das perspectivas existentes: financeira, clientes,

    processo e aprendizado e crescimento. A segunda etapa está ligada a construção

    do Mapa Estratégico, que faz a alusão a diagramação da estratégia de forma lógica,

    no sentido de que uma vez identificado os pilares estratégicos que traduzem o

    discurso mestre do planejamento é necessário propor ações que assegurem que

    cada um dos pilares será colocado em prática. Por exemplo, a empresa X pode

    firmar um “tema estratégico” para a perspectiva de aprendizado e crescimento que

    seja “ser a melhor empresa para se trabalhar”. Esse pilar ou tema estratégico não

    passará de um discurso se a ele não forem associadas ações, como, por exemplo,

    “atrair e reter talentos, assegurar comprometimento com responsabilidade social e

    treinar e preparar funcionários”. Estas seriam três ações usadas que serviram para

    defender o pilar em questão, como exemplo. Essa mesma lógica vale para cada uma

    das quatro perspectivas já vistas anteriormente. O importante é relacionar todas as

    ações entre si, em um diagrama de causa e efeito, que servirá para analisar o

    caminho da estratégia, auxiliará no processo de comunicação da estratégia e

    consistirá em um grande artifício de análise para apontar os pontos de

    estrangulamento da execução da estratégia. Pode-se verificar de maneira mais clara

    o exemplo de um mapa estratégico ilustrativo na Figura 09.

  • 32

    FIGURA 09 – Exemplo de um mapa estratégico

    Fonte – Elaboração Própria

    A terceira etapa desse processo é a definição de indicadores e metas, que

    existem para atribuir capacidade de mensuração e tangibilização ao processo lógico

    da estratégia que possui alto grau de intangibilidade. A solução encontrada repousa

    no uso de indicadores. Para cada objetivo ou ação exposto no mapa estratégico

    teremos um ou mais indicadores para medir se aquela ação está sendo executada

    ou não. O critério de comparação é uma referência, nesse caso a referência do

    valor alvo é a meta. A quarta etapa desse processo é a seleção de projetos

    prioritários, e repousa sobre a necessidade de fazer os reajustes necessários para

    trazer os resultados cada vez mais próximos dos alvos definidos ou de suas metas,

    e isso não acontecerá simplesmente por que existe um controle da estratégia em

    termos de mapa e indicadores dotados de metas é preciso fazer algo para corrigir o

    rumo quando a coisa não vai bem, ou ainda para garantir que o desempenho

  • 33

    continua acima do esperado, esse “algo” que precisa ser feito é tratado no método

    por meio dos projetos estratégicos, que são criados para contra-atacar pontos que

    apresentam falhas ou reforçar pontos de alto desempenho. Com o andamento do

    projeto e suas conclusões é possível avaliar se a melhora esperada do resultado de

    um indicador “x” está acontecendo como previsto. Exemplo, se o projeto de

    lançamento de um produto novo aumenta o resultado do indicador de receita total

    dentro da meta almejada. A quinta etapa da implementação do BSC é a criação das

    reuniões de análise estratégica, que servem para manter aceso o processo de

    discussão, revisão, validação e comunicação da estratégia dentro da organização.

    Por meio de uma discussão continuada é possível superar o problema de memória

    de curto prazo que temos como característica humana, ou seja, tudo que não é

    revisado é esquecido e deixado de lado. A expectativa com a realização periódica de

    reuniões nesse formato é que se consiga manter a estratégia viva e atualizada na

    organização, para que o BSC não perca força, pois pior do que não controlar a

    estratégia é controlar uma estratégia desatualizada que não tem aderência a

    realidade da empresa e ao momento do mercado. A sexta etapa é alinhar a

    remuneração variável as metas estratégicas, ou seja, criar um vínculo entre os

    desafios da organização e do funcionário. Lembrando que o conceito aqui não é

    promover uma competição desenfreada entre os funcionários para que concorram

    entre si para ver quem ganhará bônus ou não no final do ano. A idéia é oferecer um

    incentivo além do esperado, quando a organização alcança um desempenho ótimo,

    dessa forma se a corporação ganha, todos ganham e a estratégia passar a ser

    desmembrada em desafios das áreas, dos gestores, das equipes e dos funcionários,

    de maneira que se todos alcançam a meta à organização também alcançara a sua.

    Passando por essas seis etapas a organização possui uma estrutura básica para

    trabalhar a estratégia como um modelo de gestão, mudando a postura da

    organização sobre a importância do tema dentro dela e ainda trabalhando a

    comunicação dentro da corporação.

    Para fechar essa seção do trabalho será colocada em evidência a espinha

    dorsal do conceito do Balanced Scorecard às vistas científicas. Observando as

    principais publicações feitas pelos criadores do método, indicadas a seguir, na

    Figura 10 e sua análise explora a lógica dos autores, bem como a evolução do BSC

    ao longo dos anos.

  • 34

    FIGURA 10 – Principais Publicações Sobre BSC

    Fonte: Elaboração Própria

    Os primeiros artigos publicados entre 1990 e 1992 apresentavam o BSC

    como um modelo baseado em indicadores para avaliação da estratégia de forma

    balanceada, olhando a empresa não somente como um sistema financeiro, mas

    como um todo maior e mais complexo transcrito em quatro perspectivas já vistas e

    descritas no trabalho. O primeiro livro, cujo título em português é “A Estratégia em

    Ação” sistematiza o conceito e apresenta o formato idealizado para se traduzir a

    estratégia de uma maneira executável e clara, saindo do discurso e partindo para

    uma execução mensurável e continuada. O segundo livro lançado em 2000, cujo

    título em português é “Organização Orientada para a Estratégia” fala basicamente da

    descoberta dos cinco princípios de uma organização orientada para estratégia, que

    também já foram vistos anteriormente no trabalho. Esse livro remonta as

    experiências das primeiras organizações em larga escala que usaram o método, em

    todas que apresentaram um desempenho ótimo foram identificados pontos em

    comum que culminaram nos cinco princípios. Os autores retratam que não basta

    estabelecer indicadores para controlar a estratégia, é preciso encontrar nos

    indicadores idéias para que se possa estruturar um sistema de gestão baseado na

  • 35

    estratégia. O quarto livro lançado em 2004, cujo título traduzido para nossa língua é

    “Mapas Estratégicos” aborda basicamente o cuidado com a diagramação da

    estratégia, como o desenho literal de um mapa, que permita percorrer “n” vezes o

    mesmo caminho, seguindo um padrão e melhorando-o com base nas experiências

    práticas. O quinto livro lançado em 2006 que tem o título traduzido como

    “Alinhamento”, contempla o desafio de colocar todos os funcionários e todas as

    unidades de uma mesma organização compartilhando um objetivo comum. Para

    tanto, itens como mudança da postura, comunicação, motivação e gestão se

    destacam no cerne da obra. O último livro lançado tem o título “Execução Premium”

    e fecha a lógica com a seguinte análise: se nesse momento as organizações que

    usam o BSC já conseguiram traduzir suas estratégias em termos executáveis

    (primeiro livro), já assumiram a estratégia como mola propulsora da organização e

    se gerenciam por ela (segundo livro), já conseguiram diagramar suas estratégias em

    mapas que lhes permitem registrar os caminhos percorridos e por percorrer para que

    possam analisar e comunicar isso para toda a organização (terceiro livro) e já

    trouxeram todas as unidades, áreas e funcionários para o mesmo foco (quarto livro),

    não existem razão pela qual não se possa esperar uma execução perfeita da

    estratégia (quinto livro).

  • 36

    3 METODOLOGIA

    Nesta seção pontuam-se os motivos que levaram à escolha do modelo de

    pesquisa adotado bem como o caminho metodológico aplicado com a finalidade de

    desenvolver o estudo proposto.

    Esse estudo tem como foco principal identificar os desafios e as armadilhas

    na implantação de um modelo de gestão baseado no Balanced Scorecard em um

    banco privado brasileiro. Para tanto essa pesquisa se divide em dois momentos

    distintos, um com referência a experiência profissional do pesquisador, que foi um

    dos atores responsáveis pela condução do projeto onde foi implantado o balanced

    scorecard no Banco privado estudado, no período de 2006 a 2008. Num segundo

    momento, enquanto acadêmico o pesquisador retornou ao caso para ampliar a

    análise a partir do olhar dos funcionários de áreas e unidades distintas desta mesma

    empresa.

    Para coadunar essa pesquisa realizada em dois momentos distintos o

    pesquisador optou pela realização de um estudo de caso, como será reforçado

    adiante. Uma das questões chave para o estudo remanesce em como analisar a

    relação entre o modelo de gestão baseado no balanced scorecard e a sua

    implantação em um banco privado. Quais são os resultados desse processo,

    observando o olhar da empresa e o olhar do trabalhador. Para tanto, é necessário

    apresentar o modelo de gestão baseado no BSC com base na literatura científica.

    Ainda é preciso descrever a aplicação do BSC dentro da empresa alvo de estudo,

    para posteriormente comparar a proposta teórica do modelo Balanced Scorecard e

    sua implantação no caso estudado.

    Traduzir a estratégia em termos operacionais, alinhar a organização à

    estratégia, transformar a estratégia em tarefa de todos, fazer da estratégia um

    processo contínuo e mobilizar a mudança por meio da liderança executiva são as

    categorias analíticas que norteiam o estudo. Estas categorias são descritas,

    conceitualmente (descrição constitutiva - DC) e operacionalmente (descrição

    operacional - DO), conforme exposto a seguir.

  • 37

    a) Traduzir a estratégia em termos operacionais:

    DC: Nesta era de trabalhadores do conhecimento, estratégias devem ser

    executadas em todos os níveis da organização. É preciso mudar os

    comportamentos e adotar novos valores. A chave para essa transformação é

    inserir a estratégia no centro do processo gerencial. No entanto, é impossível

    executar a estratégia sem antes compreendê-la e não há como compreendê-la

    sem primeiro descrevê-la (KAPLAN e NORTON 2000, p.77). O que está posto

    pela proposta do modelo em questão é colocar a estratégia como o coração da

    empresa, fazendo com que todos os produtos que sejam lançados a todos os

    níveis da organização perpassem a estratégia e possam levar consigo a parte

    necessária dela a cada nível da organização.

    DO: No cotidiano organizacional a tradução da estratégia em termos

    operacionais aparece por meio da avaliação da presença de quatro elementos

    básicos, são eles: A existência de um mapa estratégico que contenha os

    objetivos estratégicos definidos no BSC, A existência de indicadores estratégicos

    que são os instrumentos responsáveis pela tangibilização dos objetivos de forma

    numérica, a definição de metas estratégicas que representam o desafio em

    termos numéricos para cada indicador e por fim a existência de um portfólio de

    projetos estratégicos definidos, desenhados, com cronogramas ajustados e em

    execução.

    b) Alinhar a organização à estratégia:

    DC: A estratégia corporativa notável não é apenas um conjunto aleatório de

    blocos de construção, mas um sistema de partes independentes cuidadosamente

    concatenadas. Na estratégia corporativa excelente, todos esses elementos

    (recursos, negócios e organização) estão alinhados entre si. Tal alinhamento é

    determinado pela natureza dos recursos da empresa – seus ativos, habilidades e

    capacidades especiais (KAPLAN e NORTON 2000, p.176). A reflexão solicitada

    neste trecho é de que não há como compartilhar tais recursos de forma

    harmoniosa dentro de uma organização se não existir um objetivo comum e claro

    a todos os funcionários, setores e unidades da corporação.

    DO: No cotidiano organizacional o alinhamento da organização à estratégia em

    termos operacionais aparece por meio da avaliação da presença de dois

    elementos de alta complexidade. O primeiro é avaliar se a estratégia foi

  • 38

    desdobrada para o nível de unidades de negócio, o que significa que as unidades

    em questão devem possuir estratégias particulares que derivem da estratégia

    corporativa da organização. O segundo elemento usa a mesma lógica, e busca

    avaliar se as unidades de apoio também possuem estratégias desdobradas da

    estratégia corporativa da organização. Existem algumas técnicas para fazer esse

    desdobramento, no caso em questão avalia-se o uso do BSC como modelo para

    o desdobramento da estratégia.

    c) Transformar a estratégia em tarefa de todos:

    DC: Para que as organizações atinjam seus objetivos – nos setores de fabricação ou

    de serviços, no âmbito privado ou público, em entidades com fins lucrativos ou sem

    fins lucrativos – todos os seus membros devem estar alinhados com a estratégia

    (KAPLAN E NORTON 2000, p.226). Distribuir responsabilidades e fazer com que

    cada funcionário possa entregar seus resultados configura um dos maiores desafios

    da administração moderna. Nesse contexto a idéia de trabalhar com a divisão de

    responsabilidades e com o respaldo do comprometimento do time caracteriza uma

    alternativa estruturada que pode responder a lacuna identificada.

    As organizações focalizadas na estratégia compreendem bem a importância de

    comprometer a alinhar todos os empregados com a estratégia (KAPLAN E NORTON

    2000, p.227).

    DO: No cotidiano organizacional a transformação da estratégia em tarefa de todos

    aparece por meio da avaliação da presença de três elementos, são eles: A

    existência de um plano de comunicação integrado e contínuo. Para assegurar que

    os temas de alta relevância estratégica possam perpassar a organização em todos

    os níveis e de forma multiforme (visualmente, teoricamente e laboralmente). O

    próximo elemento está ligado ao desdobramento dos desafios para as equipes, que

    significa a existência de planos de contribuição para cada time dentro da

    organização. O último elemento é a presença de um plano de incentivo, que

    reconheça o bom desempenho e assegure que os resultados oriundos da superação

    das metas sejam divididos com os funcionários por meio de prêmios monetários ou

    não.

  • 39

    d) Fazer da estratégia um processo contínuo:

    DC: As organizações focalizadas na estratégia utilizam um processo de “loop duplo”,

    que integra a gestão dos orçamentos e das operações com a gestão da estratégia

    (KAPLAN E NORTON 2000, p.288). O engessamento oriundo de um processo

    orçamentário lento e inflexível gera grande adversidade para os sistemas de gestão

    modernos, pois o requerimento do mercado atual é a agilidade e a flexibilidade na

    tomada de decisão. Dessa forma integrar os processos de gestão orçamentária e

    gestão estratégica faz sentido, na medida em que o primeiro serve como o pulmão

    da empresa e o segundo como o cérebro.

    A estratégia evolui em tempo real à medida que a própria organização gera

    novas idéias e trajetórias (KAPLAN E NORTON 2000, p.290). Por meio do uso da

    tecnologia os indicadores podem ser acompanhados diariamente, o que mostra em

    tempo real o desempenho da empresa. Tal funcionalidade faculta aos gestores as

    tomadas de decisões nas reuniões que existem para revisão da estratégia.

    DO: No exercício da gestão da organização fazer da estratégia um processo

    contínuo aparece por meio da avaliação da presença de três elementos, são eles: A

    integração entre o planejamento estratégico e planejamento orçamentário. A

    existência de um sistema que suporte a gestão dos elementos do BSC (indicadores,

    metas, projetos e etc). A realização das reuniões de análise estratégica, com

    calendário definido e com formato desenhado.

    e) Mobilizar a mudança por meio da liderança executiva:

    DC: O termo transformação diferencia a intensidade da mudança organizacional

    decorrente da nova estratégia de negócio em comparação com a resultante do

    processo de melhoria contínua. Os líderes das organizações focalizadas na

    estratégia sem dúvida promovem transformações, não apenas mudanças em

    pequena escala (KAPLAN e NORTON 2000, p.343). Não é requerido a uma

    organização que queira adotar o BSC como modelo ou sistema de gestão fazer

    apenas alguns pequenos ajustes em sua estrutura e modo de gestão. Pelo contrário

    é requerida uma quebra de paradigma, pois a mudança exigida é tão forte que

    marcará a mutação da organização para um nível superior.

    As grandes mudanças organizacionais não precisam ser apenas produto do medo.

    Os líderes eficazes são capazes de motivar a mudança por meio da inspiração

  • 40

    quanto ao futuro (KAPLAN e NORTON 2000, p.346). O processo ideal é o da

    angariação de forças, onde os líderes somam seu conhecimento e hipóteses aos

    conhecimentos das pessoas que mais conhecem a empresa, os funcionários. Cabe

    aos líderes organizar e canalizar toda essa energia de forma construtiva.

    DO: No cotidiano organizacional a mobilização da mudança por meio da liderança

    executiva aparece por meio da avaliação da presença de três elementos, que são: A

    mobilização acionada pela liderança, que consiste em um posicionamento claro dos

    líderes em relação à mudança nas práticas de gestão e também ao uso do

    planejamento estratégico para que ao longo do processo as idéias proposta pelos

    líderes possam ganhar sócios. Surge ainda à necessidade de liderar as equipes, que

    está relacionado ao fato dos líderes se envolverem no cotidiano dos times,

    participando das decisões de forma ativa. Por fim cabe aos líderes a incumbência de

    transcrever a visão estratégica para dentro da organização, que consiste na criação

    de mecanismos, como relatórios e análises que sistematizem suas percepções em

    relação as oportunidades e ameaças internas e externas a organização. Esse

    material deve dar subsídio ao processo de tomada de decisão.

    A análise de cada uma das categorias será feitas da forma mencionada

    utilizando o esquema desenhado na Figura 11 para estruturar um gráfico que mostre

    a presença de cada uma das categorias no estudo de caso.

  • 41

    FIGURA 11 – Analisando a Presença dos Cinco Princípios na Organização

    Fonte: Adaptado Kaplan e Norton (2000)

    3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

    A abordagem metodológica da pesquisa se caracteriza como de natureza

    qualitativa, realizada nos moldes de um estudo de caso único tratando-se de um

    estudo longitudinal com corte transversal. De acordo com Triviños (1987, p.116-117)

    “(...) a pesquisa qualitativa parte da descrição que busca captar não só a aparência

    do fenômeno, como também sua essência, buscando as causas da sua existência,

    explicar sua origem, suas relações, suas mudanças”.

    O estudo de caso se caracteriza como um tipo de pesquisa cujo objeto é

    uma unidade que se analisa exaustivamente, examinando detalhadamente o

    ambiente dessa unidade ou de uma situação em particular. Segundo Yin (2005,

    p.33) “o estudo de caso como estratégia de pesquisa compreende um método que

    abrange tudo – tratando da lógica de planejamento, das técnicas de coleta de dados

    e das abordagens específicas à análise dos mesmos”.

  • 42

    Quanto aos fins, esta pesquisa é descritiva, pois tem como objetivo

    proporcionar familiaridade com o tema em questão, e também busca expor as

    características da aplicação do método já consagrado em um banco privado

    brasileiro, por meio da confirmação de idéias preliminares, sua complementação e

    aprimoramento. Segundo Vergara (2000, p.47), a pesquisa descritiva expõe

    características de determinada população ou de determinado fenômeno. Pode

    também estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza. Não tem

    compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal

    explicação.

    Com relação aos procedimentos técnicos utilizados essa pesquisa foi

    documental e ex-post facto. Para Kerlinger (1979) a pesquisa documental

    assemelha-se à pesquisa bibliográfica, entretanto as fontes que a constituem

    contemplam documentos e não apenas livros publicados e artigos científicos

    divulgados, como é o caso da pesquisa bibliográfica. Na pesquisa ex-post facto ,de

    acordo com Kerlinger (1979),muitas vezes o fato a ser estudado já ocorreu,

    verificando-se quais elementos acarretaram determinado acontecimento, ou quais

    prováveis caminhos surgirão devido ao fato acontecido.

    3.2 FONTES DE DADOS

    Como fontes de dados para este trabalho, foram usados instrumentos de

    coleta qualitativos e quantitativos. Dentro dos preceitos de um estudo de caso, foram

    utilizadas duas fontes de dados: fontes de dados primários e secundários.

    Os dados secundários são aqueles já disponíveis, contidos em documentos,

    livros, manuais, artigos científicos e relatórios. No estudo em questão os dados

    secundários foram coletados por meio de documentos, publicações no site da

    organização, artigos, e principalmente por meio de relatórios de consultoria realizada

    pelo pesquisador na organização alvo do estudo, documentado em relatórios

    profissionais da empresa de consultoria cujo nome é confidencial.

    Neste trabalho, os dados primários foram obtidos por meio de roteiros de

    entrevista semi-estruturados com perguntas abertas que objetivam responder as

    questões emergentes da pesquisa.

  • 43

    3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

    Para a realização da coleta de dados a primeira fase se deteve a seleção de

    documentos relativos ao caso estudado, foram buscados aqueles que pudesse

    oferecer a maior amplitude possível na análise do caso em questão. Para as

    entrevistas realizadas foi usada uma amostragem intencional não-probabilística,

    tendo em vista as características do estudo. Amostragem não probabilística é aquela

    em que a seleção dos elementos da população para compor a amostra depende ao

    menos em parte do julgamento do pesquisador ou do entrevistador no campo.

    (Mattar, F. 1996, p.132). O tipo de amostragem foi intencional ou por julgamento pelo

    interesse, por acessibilidade e adesão.

    Os relatórios de consultoria retratam o período de 2004 a 2008. Os

    relatórios, os trechos que revelam a identidade da organização estudada e ainda o

    nome da empresa de consultoria envolvida são mantidos em sigilo, seguindo