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1 FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO PROGRAMA DE MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO MARCUS CESAR FRANZOLIN PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NO CICLO PRODUTIVO DE UMA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL NO PARANÁ: UM ESTUDO DE CASO. CURITIBA 2011

Marcus Cesar Franzolin - FAE

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1

FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO

PROGRAMA DE MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM ORGANIZAÇÕES E

DESENVOLVIMENTO

MARCUS CESAR FRANZOLIN

PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NO CICLO PRODUTIVO DE

UMA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL NO PARANÁ: UM ESTUDO DE CASO.

CURITIBA

2011

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MARCUS CESAR FRANZOLIN

PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NO CICLO PRODUTIVO DE

UMA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL NO PARANÁ: UM ESTUDO DE CASO.

Dissertação apresentada à UNIFAE – Centro Universitário Franciscano como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Organizações e Desenvolvimento. Área de concentração: Organizações e Dinâmica Socioeconômica Linha de Pesquisa: Políticas Públicas e Desenvolvimento Orientador Prof. Dr. Antoninho Caron

CURITIBA

ABRIL 2011

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Dedico este trabalho ao meu filho Gian Lucca e a minha esposa Janaína pelo entendimento e colaboração no decorrer da execução desta importante etapa de minha vida. Aos meus pais, Waldir e Batistina (in memorian) por todos os incentivos recebidos em minha formação.

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5

AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente a Deus por esta oportunidade e inspiração para o

desenvolvimento deste trabalho. Ao meu orientador Prof. Dr. Antoninho Caron por

toda sua ajuda e orientação prestada. À banca Prof. Dr.Edmilson de Souza-Lima e

Prof. Dr. Christian Luiz da Silva por seus questionamentos e sugestões ao

enriquecimento deste estudo. Aos profissionais Sr.Flávio Turra e Sr. Robson

Maciolette da OCEPAR pela total colaboração a esta investigação. À cooperativa

que propiciou este estudo, em especial ao Eng. Aparecido Fadoni e a todos que se

dispuseram e contribuíram para esta pesquisa, possibilitando a execução deste

estudo de caso. Por fim a todos que de alguma forma colaboraram e incentivaram

para esta efetivação.

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6

RESUMO

Este estudo tem como principal objetivo de observação os aspectos da dimensão ambiental em todo o ciclo produtivo de uma linha agroindustrial, para a transformação de grão de soja em óleo refinado comestível de uma cooperativa do Estado do Paraná. Este trabalho converge com a linha do programa de Mestrado em Organizações e Desenvolvimento por estudar políticas adotadas nesta cooperativa em seu ciclo produtivo. Assim, foi constituído em duas etapas, iniciando com uma pesquisa teórica a respeito de tópicos pertinentes ao tema em estudo, como o desenvolvimento, sustentabilidade e o cooperativismo, bem como de assuntos conexos ao estudo de caso apresentado, o manejo do solo e das águas, fertilidade do solo, agrotóxicos, manejo integrado de pragas, erosão hídrica e a transformação da soja em óleo refinado. Através destas conceituações parte-se para o estudo de caso descritivo de natureza qualitativa exploratória, com a finalidade de aproximar a teoria pesquisada às práticas adotadas pela cooperativa. Através das informações obtidas na etapa empírica, foram levantadas as relações entre a cooperativa e os sojicultores, fornecedores, recepção de soja em grão para a transformação em óleo refinado comestível e, finalizando com a distribuição do produto acabado ao mercado. Também foram vistos as ações que atingem a toda a comunidade, mesmo que ultrapassem os limites ambientais, refletindo no econômico e no social. Como principal resultado deste estudo se percebe que as políticas adotadas pela organização colaboram com a sustentabilidade ambiental e pode interagir entre as dimensões do modelo Triple Botton Line. Palavras chaves: Desenvolvimento sustentável, Cooperativismo, Dimensão ambiental em um ciclo produtivo agroindustrial, Ações para alcançar a sustentabilidade,

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7

ABSTRACT

This study is mainly focused on the observation of the aspects of environmental dimension from a general production cycle at an agro industrial cooperative in the State of Parana, in the processing of soybeans into refined edible oil. This investigation converges with the program of Master Degree of Organization and Development from UNIFAE “Centro Universitário”, which took place in two stages, starting with a theoretical research on topics which are relevant to understand the issues related with the study, such as development, sustainability and cooperatives, as well as the topics which increase knowledge about the theme, such as management of soil and water, fertility soil, pesticides, integrated pest management, erosion and the agro industrialization to transform soybean into refined oil. Through these concepts, a qualitative descriptive exploratory investigation has been developed, with the aim of bringing the theory research to compare it with the practices adopted by the cooperative under analysis. With the information obtained, the study then focused on the multiple relationships involving the cooperative, soy farmers as a cooperated supplier, and all the other kind of suppliers until the receipt of soybeans for processing into refined edible oil, finalizing with the distribution of the final product to be introduced to the market. There is also an overview of the actions which affect the community as a whole, even beyond the environmental limits, reflecting in the social and economic profiles. As the main outcome from this study, it enables the understanding that the policies adopted by this organization can collaborate with environmental sustainability and can also interact with the dimensions of the Triple Bottom Line described in this study by Dyllick and Hockerts.

Keyword: Sustainable development, Cooperatives, Environmental dimension and the poduction of refined soybean oil.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACI Aliança Cooperativa Internacional

ANVS Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ANP Agência Nacional de Petróleo

ANTT Agência Nacional de Transportes Terrestres

APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

ART Anotação de Responsabilidade Técnica

BPF Baixo Ponto de Fluidez

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e Caribe

CIMA Comissão Internacional para Preparação da Conferência das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CTC Capacidade de Troca Catiônica

DAIA Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental

DDT Dicloro-Difenil-Tricloroetano

EMATER Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural

FECOOPAR Federação e Organização das Cooperativas do estado do Paraná

Ha Hectares

IAP Instituto Ambiental do Paraná

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

NC Necessidade de Calagem

MBH Microbacias Hidrográficas

MIP Manejo Integrado de Pragas

MIPGRÃO Manejo Integrado de Pragas de Grãos Armazenados

MO Matéria Orgânica

OCEPAR Organização de Cooperativas do Estado do Paraná

RPM Rotações por Minuto

PCR Polymerase Chain Reaction

PEM Penitenciária Estadual de Maringá

pH Potencial Hidrogeniônico

PIB Produto Interno Bruto

PGAIM Programa de Gestão Ambiental Integrada em Microbacias

PMISA Programa de Manejo Integrado do Solo e da Água

PN Poder de Neutralização

PROICS Programa Integrado de Conservação dos Solos

PRNT Poder Relativo de Neutralização Total

PVT Proteínas Vegetais Texturadas

SEAB Secretaria da Agricultura e do Abastecimento SESCOOP Serviço Nacional de Aprendizagem do cooperativismo do Estado

do Paraná

SINAN Sistema Nacional de Notificação de Agravos

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9

SINITOX Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas

SMA Sustainable Management Accounting

UNCED United Nations Conference on Environment and Development

USDA Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

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10

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1- Síntese das práticas identificadas ............................................................ 23

Figura 1 – A Sustentabilidade e suas dimensões ambientais, sociais e econômico-

financeiras ................................................................................................................. 32

Figura 2 – Três dimensões da Sustentabilidade ....................................................... 34

Figura 3 – A Sustentabilidade corporativa com foco nos negócios ........................... 34

Figura 4 – Sustentabilidade corporativa com foco na natureza (ambiental) .............. 35

Figura 5 - Sustentabilidade corporativa com foco na sociedade ............................... 36

Quadro 2: Níveis de alguns componentes do solo (método Mehlich para P e K) para

efeito da interpretação de resultados de análise química do solo. ............................ 46

Quadro 3 – Quantidade de nutrientes absorvida pela cultura de soja ....................... 47

Quadro 4 - Recomendação de adubação para soja no Estado do Paraná. .............. 47

Figura 6: Tendência da disponibilidade de diversos elementos no solo e a relação

com o pH. .................................................................................................................. 48

Quadro 5 – Infestação para controle para as principais pragas da soja .................... 57

Figura 7 - Prensa contínua “Expeller”: ....................................................................... 62

Figura 8 – Esquema simplificado do processo de extração do óleo bruto e de farelo

desengordurado ........................................................................................................ 65

Figura 9: Esquema simplificado da degomagem ....................................................... 67

Figura 10 – Neutralizador descontínuo...................................................................... 68

Quadro 6 - Concentrações de hidróxido de sódio na neutralização .......................... 68

Figura 11 – Resumo do processo de neutralização do óleo degomado .................... 69

Figura 12 – Esquema simplificado do processo de branqueamento ......................... 70

Figura 13 – Desodorização semicontínua – Equipamento Girdler ............................ 72

Figura 14 (1.7.1) – Esquema para entendimento do estudo de caso ........................ 78

Figura 15 - Visualização das recomendações da Cooperativa para os cooperados . 87

Figura 16 – Relação da Cooperativa com fornecedores de insumos e implementos 89

Quadro 7 - Limites para a padronização da soja em grão. ........................................ 92

Figura 17 - Recepção da soja para armazenagem ................................................... 93

Figura 18 – Subprodutos da produção de óleo encaminhados à outra produção. .... 97

Figura 19 – Cooperativa produtos finais e ligação com o setor de distribuição ....... 101

Figura 20 – Interações entre a cooperativa. associados e comunidade .................. 105

Figura 21 – Entendimento desta organização cooperativa sobre o cooperado ....... 106

Quadro 8 - Papel que os cooperados desempenham ............................................. 106

Page 11: Marcus Cesar Franzolin - FAE

11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13

1.1- Contexto ............................................................................................................. 13

1.2 – Problema de pesquisa ...................................................................................... 18

1.3– Objetivo geral .................................................................................................... 19

1.4- Objetivo específicos ........................................................................................... 19

1.5- Pressupostos ..................................................................................................... 20

1.6- Justificativa ......................................................................................................... 20

1.7- Organização do trabalho .................................................................................... 21

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 24

2.1- Desenvolvimento e sustentabilidade .................................................................. 24

2.2- Cooperativismo .................................................................................................. 37

2.3- Expansão da agricultura e da agroindústria no Brasil ........................................ 40

2.4 – Manejo integrado do solo e das águas ............................................................. 41

2.4.1- Fertilidade do solo ......................................................................................... 45

2.4.2 – Agrotóxicos.................................................................................................. 49

2.4.3 – Combate à erosão hídrica ........................................................................... 53

2.4.4 – Manejo integrado de pragas ........................................................................ 53

2.5 – Soja .................................................................................................................. 58

2.6- Processo agroindustrial de transformação da soja em óleo refinado ................. 59

2.6.1- Recepção e armazenamento da soja ............................................................ 60

2.6.2- Preparação para a produção de óleo ............................................................ 60

2.6.3- Extração do óleo bruto .................................................................................. 61

2.6.4- Processo de refinação do óleo bruto ............................................................. 65

2.6.5 – Aproveitamento da “borra”........................................................................... 72

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................... 73

3.1 – Formulação do problema de pesquisa ............................................................. 73

3.2 – Objetivos da pesquisa ...................................................................................... 73

3.3- Conceituação de variáveis ................................................................................. 74

3.4- Delineamento da pesquisa ................................................................................. 75

3.5- População e amostragem .................................................................................. 77

3.6- Fontes de coleta e tratamento de dados ............................................................ 80

4 ESTUDO DE CASO .............................................................................................. 81

Page 12: Marcus Cesar Franzolin - FAE

12

4.1- Histórico da cooperativa ..................................................................................... 81

4.2 – Constatações das práticas observadas no estudo de caso .............................. 82

4.2.1 – Contato entre cooperativa e cooperados na produção de soja em grão ..... 83

4.2.2- Relação entre Cooperativa e os fornecedores de insumos e implementos .. 87

4.2.3 – Relação entre Cooperativa e sojicultores para recebimento dos grãos ...... 90

4.2.4 – Transformação da soja em óleo refinado comestível .................................. 93

4.2.5 – Relação Cooperativa / produto acabado e sua distribuição ao comércio .... 98

4.2.6 – Outras interações que a cooperativa tem com a comunidade................... 102

4.2.7 – Visão desta cooperativa perante o cooperado .......................................... 105

4.3 – Práticas aplicadas na cooperativa e a teoria .................................................. 107

4.3.1 – Práticas da cooperativa para o desenvolvimento ambiental sustentável .. 107

4.4 – Conclusões do Estudo de Caso ..................................................................... 117

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 125

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 132

ANEXOS ................................................................................................................. 139

APÊNDICE .............................................................................................................. 144

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13

1 INTRODUÇÃO

1.1- Contexto

Para melhor entendimento deste estudo é realizado um aprofundamento de

alguns conceitos como o Desenvolvimento, Sustentabilidade e Cooperativismo,

sendo realizando um breve histórico e conceituações de alguns autores.

Assim, o homem começou a revolução da produção com a inovação

tecnológica, aprimorando as vias de transportes e ampliando os empreendimentos

comerciais. Como principal força de toda esta evolução, é possível sintetizar que foi

via a mecanização da indústria e da agricultura. Ainda no conjunto das ações que

levou a esta evolução na produção, destaca-se a aceleração nos transportes e na

comunicação e, conseqüentemente, o aumento do controle capitalista nas atividades

econômicas. Pode-se dizer que esta fase se iniciou antes de 1760 na Revolução

Industrial. Contudo, seu maior ímpeto foi no século XIX. Assim, historiadores

entendem que houve duas Revoluções Industriais, sendo que o ano de 1860 dividiu

a “Primeira” da “Segunda” revolução industrial (BURNS, 1965).

Como destaque da diferenciação destes dois períodos pode-se citar: o

descobrimento de novos processos de produção do aço; a invenção do dínamo; o

motor de combustão interna; a produção em massa e adoção de processos

automatizados da indústria; o domínio crescente da ciência na indústria; o progresso

do setor de metais leves das ligas de ferro; a revolução nos transportes; o

desenvolvimento da aviação e do telégrafo sem fio e, como grande diferencial

menciona-se o domínio da indústria pelas instituições financeiras (BURNS, 1965).

Tratando especificamente sobre a agricultura, destaca-se a introdução de

novas culturas, novas tecnologias de manejo, produção de adubos artificiais,

influência da mecanização nos tratos culturais e, principalmente, a popularização de

equipamentos e máquinas (BURNS, 1965).

Juntamente à Revolução Industrial surge a evolução da administração e da

economia que, segundo Capra (1982, p.182), define como uma “disciplina que se

ocupa da produção, da distribuição e do consumo de riquezas”. Ela tenta determinar

valores relativos a trocas de bens e serviços, destacando dentre os economistas

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clássico da época, o pensador e Fisiocrata1 Adam Smith. Ele investigou como a

riqueza de uma nação pode aumentar e ser distribuída. Opôs-se à concepção

mercantilista de que a riqueza aumenta somente pelo comércio exterior e pela

reservas de prata e ouro, sustentando que a riqueza depende mesmo da habilidade,

produção e eficiência da nação. Para Adam Smith a divisão do trabalho era de

fundamental importância para o crescimento (CAPRA, 1982).

Também no século XIX, socialistas associacionistas estavam difundindo

princípios cooperativistas, sendo suas principais formas as Cooperativas de

Produção Agrícola ou Agropecuária e as Cooperativas de Produção Industrial

(PINHO, 1966). A primeira cooperativa foi fundada em 1844, na cidade de Rochdale,

Inglaterra, modelo o qual continua sem alterações significativas até os dias de hoje.

Sua constituição foi de vinte e oito (28) artesões que estavam sem poder atuar em

suas áreas devido a Revolução Industrial e a perda de suas funções pela força

motriz. Desta forma resolveram se unir para continuar sobrevivendo de seu trabalho

(QUEIROZ, 1996).

Com a evolução ou avanço que estava ocorrendo desde a segunda metade

do século XVIII, foi necessária uma adequação da palavra desenvolvimento, a qual

passou a considerar a territorialidade como uma “ferramenta” ou um “termômetro” de

medição da dinâmica da economia. Neste período não era considerado como um

crescimento das atividades econômicas, mas passou a ser entendido como quase

sinônimo de crescimento por dois séculos. Após a Segunda Guerra Mundial, foi

necessário fazer a distinção do aumento das atividades econômicas (crescimento) e,

a melhoria das condições de vida de uma população (desenvolvimento). Notou-se

também que, em determinados países havia crescimento econômico sem que fosse

refletida em benefícios a todos os grupos sociais (BURSZTYN, 2006).

Assim, o crescimento econômico deve beneficiar não apenas uma parcela da

sociedade, mas todos os grupos sociais. É necessário pensar como uma economia

social busca melhorar os indicadores de qualidade de vida para todos e, não de

outra forma que não seja global (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006).

Capra (1996) destaca a relação que há com tudo que se refere à vida do

homem, emergindo então o pensamento sistêmico. Esta foi uma profunda revolução

1 Fisiocrata: Economista da escola do Francês Quesnay (1694-1774). Os fisiocratas sustentavam que

a terra é a única e verdadeira fonte de riquezas e que existe uma ordem natural e essencial das sociedades humanas, que é inútil contrariarem com leis regulamentos ou sistemas.

Page 15: Marcus Cesar Franzolin - FAE

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nos conceitos humanos, pois a ciência sistêmica2 mostra que os sistemas vivos não

podem ser compreendidos por meio de uma simples análise, ou seja, com

parâmetros fixos sem considerar a interdependência da variação de outros fatores

em seu estado final (CAPRA, 1996).

Assim, o Impacto da ecologia3 “na cultura humana nas diversas áreas da

ciência, nas discussões políticas e no comportamento de vários grupos sociais é

cada vez mais perceptível” (LAGO; PÁDUA, 1989, p.10). Assim, não é possível

categorizar estas divergências de entendimento como uma crise da produção,

consumo, social, ambiental, econômica, política, energética, ou outra qualquer, pois

é global e de todas as dimensões e setores. É o envolvimento do contexto, sem

poder tratar com particularidades (LEFF, 2007). Esta conscientização ecológica se

encontra em grande e acelerada expansão, sendo seu objetivo integrar ao

pensamento dos ecólogos e economistas em uma transdiciplinaridade voltada ao

mundo sustentável (BROWN, 2003).

Para os autores Lopes, Sachs e Dowbor (2010) o uso do Produto Interno

Bruto (PIB) como medição de desenvolvimento é algo incompleto e negligencia a

contabilização da destruição do planeta e da distribuição desigual da renda. Ainda,

esquecem de contabilizar gastos com a recuperação, mitigação e os de

preservação, demandando investimentos e o uso da máquina produtiva. Também,

como o “lucro4” é o principal motivador de aplicações de investimentos privados,

estes autores (2010) dizem que este elemento não age de forma favorável à

democratização da riqueza e do meio ambiente. Através da extração dos recursos

naturais de forma mais eficiente, é possível utilizar externalizações para obtenção de

custos dos capitais naturais:

A financeirização dos processos econômicos vem há décadas se alimentando da apropriação dos ganhos da produtividade que a revolução tecnológica em curso permite, de forma radicalmente desequilibrada. Não é o caso de desenvolver o processo aqui, mas é importante lembrar que a

2 Ciência Sistêmica: Contrapõe-se ao pensamento reducionista. Entende-se que a vida é composta por partes em combinação e inter-relações, causando de alguma forma, influência uma na outra. Tal ciência inclui a interdisciplinaridade. As partes não estão isoladas e a natureza do todo não é simplesmente a soma das partes. 3 Ecologia: Ciência que estuda os ecossistemas, ou seja, o estudo da distribuição e abundância dos seres e das interações que determinam a sua distribuição. Segundo Capra é dividida em ecologia rasa e ecologia profunda, sendo a rasa antropocêntrica, ou centrada no ser humano, colocando-o acima ou fora da natureza. A profunda não separa o homem de qualquer outra coisa do contexto. 4Lucro: Considerado um retorno positivo de um investimento realizado por um indivíduo nos negócios.

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16

concentração de renda no planeta está atingindo limites absolutamente obscenos (LOPES; SACHS; DOWBOR, 2010, p.9).

Em um estudo realizado por Dyllick e Hockerts (2002) sobre a

sustentabilidade de uma empresa, destacam a necessidade do provimento da

satisfação das necessidades humanas das pessoas envolvidos com a empresa, ou

seja, de seus stakeholders5. Tais necessidades estão dentro das dimensões

ambientais (naturais), sociais e econômicas para um contínuo provimento. No

debate global de Brundtland6 de 1987, conhecido como “Nosso futuro comum”, foi

escrito a idéia do desenvolvimento sustentável. Fator que contribui ao sucesso deste

objetivo são as políticas convergentes para este fim, com integração das dimensões

para alcance da sustentabilidade7 (DYLLICK; HOCKERTS, 2002).

O reconhecimento da insustentabilidade ou da dúvida sobre o padrão

econômico, social e ambiental contemporâneo, ao menos traz a reflexão da finitude

dos recursos, das injustiças sociais ocasionadas pelo atual modelo adotado pela

humanidade. No relatório de Brundtland, dá a idéia sobre o “Desenvolvimento

Sustentável”, ou seja, aquele “capaz de garantir as necessidades das gerações

futuras” (BECKER et al, 1997, p. 20 e 21).

Na busca da sustentabilidade empresarial, o cooperativismo mostra-se no

mínimo muito afinado com o sentido sustentável através dos princípios e filosofias

do cooperativismo, fato que chamou a atenção para a execução deste estudo.

De forma direta, a palavra cooperativismo é entendida pelo autor Ferreira

(1983) como o princípio de progresso socialista e de decadência do capital.

Para Gal (1981) é um fenômeno composto por: a) uma concepção filosófica

que está refletida da tendência de agregamento do homem, ou seja, da vida em

sociedade, do princípio de ajuda mútua para a luta de conservação da espécie em

contraposição de todos contra todos e de cada um contra o próximo; b) da

5 Stakeholders: qualquer pessoa que tenha alguma relação direta ou indireta com a empresa, como

fornecedores, clientes, acionistas, funcionários, comunidade local e etc. 6 Brundtland: Relatório intitulado como “Nosso Futuro Comum (Our Commom Futuro)” quando foi concebida uma definição de desenvolvimento sustentável: “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. 7 Sustentabilidade: Que atendam as três bases para se chegar ao total equilíbrio: econômico, ambiental e social.

Page 17: Marcus Cesar Franzolin - FAE

17

intensidade variável de diferentes formas ou meios de se chegar à evolução do

homem como um todo.

Para a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), Cattani (2009) diz que a

cooperativa é:

Uma associação autônoma de pessoas unidas voluntariamente para prosseguirem as suas necessidades e aspirações comuns, quer econômicas, quer sociais, quer culturais, através de uma empresa comum democraticamente controlada (ACI apud CATTANI, 2009, p. 96).

Dos Valores Cooperativos destacados na “Declaração sobre a Identidade

Cooperativa”, se define como:

As cooperativas baseiam-se em valores de ajuda e responsabilidade próprias, democracia, igualdade, equidade e solidariedade. Na tradição dos seus fundadores, os membros das cooperativas acreditam nos valores éticos da honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação pelos outros (DIC apud LEITE, 2010).

Segundo a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná

(OCEPAR) estes princípios valorizam a ética, as relações solidárias e a cooperação

mútua para a complementação do atendimento e de seus objetivos. Por sua vez, a

assistência técnica pelo trabalho com relevantes resultados, pode difundir de

maneira concreta, como a colheita de um produto ou como o processamento

agroindustrial. Este resultado tanto pode integrar o mercado interno como o externo

que, dependendo da qualidade do produto, pode difundir sua venda ou levá-lo à

extinção. As cooperativas agropecuárias do Estado do Paraná têm ganhado muitos

mercados e colocado produtos paranaenses em mais de 80 mercados de diferentes

países (OCEPAR, 2009).

O segmento mais representativo do cooperativismo no Brasil é das produções

agropecuárias. O cooperativismo é uma forma de organização humana para gerar

benefícios sociais e econômicos demonstrando um grande potencial ao

desenvolvimento do país (FERREIRA; BETTONI, 1994).

Com respeito aos produtos derivados de soja e sua comercialização pelas

cooperativas do Paraná, cita-se como as mais representativas: soja triturada, óleo

bruto e degomado, tortas e resíduos sólidos da extração do óleo refinado não

quimicamente modificado, proteínas de soja em pó, lecitinas, creme e condensado,

óleo hidrogenado e margarinas, maionese e bebidas proteinadas de soja (OCEPAR,

2009). Muitos outros produtos derivados de diferentes culturas e criações também

são produzidos e comercializados no Paraná pelas cooperativas, porém, não serão

Page 18: Marcus Cesar Franzolin - FAE

18

utilizados neste estudo especificamente, por se tratar da investigação do ciclo

produtivo da soja em óleo refinado comestível.

1.2 – Problema de pesquisa

A economia capitalista desenvolveu no mundo um argumento para o incentivo

ao consumo através da obsolescência planejada8, obsolescência cultural ou

perceptiva9 (LEONARD, 2008) e o descartável10, a necessidade de geração de

trabalho. Importante lembrar que a obsolescência não é apenas material, pois

envolve também a mão-de-obra no aspecto humano, havendo uma má divisão e

distribuição dos “frutos” gerados por este processo (LAGO; PADUA, 1984). Este fato

vem contribuindo ao desequilíbrio do sistema produtivo e, por conseqüência,

afetando os setores natural, social e econômico.

Os movimentos ambientais dos cidadãos colocam a sociedade frente a ela

mesma para uma autocrítica, sem que a parcela menos favorecida reivindique,

segundo Bauman (2001, p.130), “uma redistribuição de poder nem reclamem melhor

balanço dos custos ecológicos do processo econômico”, porém, propõe a abertura

de “processos políticos e jurídicos para a apropriação social da natureza”.

Para Queiroz (1996) o cooperativismo no aspecto social, pode ser entendido

como uma forma mais equitativa e mesmo democrática. O cooperativismo tem

aceitação em quase todos os países, sofrendo algumas adequações para atender

algumas necessidades e interesses específicos dos trabalhadores envolvidos. Neste

sentido, o cooperativismo torna-se uma alternativa aos trabalhadores que, em casos

extremos, conseguem ocupar novamente sua função perdida dentro de uma

empresa e, com dignidade, retornam ao seu ofício (QUEIROZ, 1996).

O sistema cooperativista pode ser também um caminho para educação

onde as cooperativas possuem uma participação dos ciclos econômicos do Estado

8 Obsolescência planejada: Quando é forçada a troca de um produto de forma planejada, sem que com isso seja perdida a confiança do consumidor do produto e do fabricante. 9 Obsolescência Cultural ou Perceptiva: É a inserida por veículos como propaganda, as quais ditam a moda e costumes, influenciando de forma decisiva o mercado consumidor. 10 Descartável: Seria tudo pela comodidade através do “use e jogue fora”.

Page 19: Marcus Cesar Franzolin - FAE

19

do Paraná, que formam estruturas em setores específicos da economia rural e

urbana, com maior destaque entre outras áreas a agropecuária (OCEPAR, 2009).

Com a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (OCEPAR) o

cooperativismo se integra na representatividade, fomentação da economia, na

defesa sindical, na capacitação de diversas atividades como a promoção social,

além de atuar em conjunto com: Sindicato; o Serviço Nacional de Aprendizagem do

Cooperativismo (SESCOOP/PR); e, a Federação e Organização das Cooperativas

do Estado do Paraná (FECOOPAR) (OCEPAR, 2009). Este trabalho conjunto entre

entidades busca alcançar o desenvolvimento, não exclusivamente econômico, mas

um completo com valores humanos e ambientais

Assim, considerando os princípios e valores do cooperativismo, pergunta-se:

quais práticas relativas aos aspectos ambientais no ciclo produtivo desta cooperativa

agroindustrial, que dentro da produção do óleo refinado de soja, contribuem para

que esta organização alcance a sustentabilidade ambiental?

1.3– Objetivo geral

Este estudo tem como Objetivo Geral analisar a dimensão ambiental da

sustentabilidade em um ciclo produtivo de uma cooperativa agroindustrial, a qual

transforma soja in natura em óleo refinado comestível.

1.4- Objetivo específicos

Como objetivos específicos da pesquisa, colocam-se os seguintes pontos a

serem pesquisados:

1) Políticas adotadas pela empresa, que possam gerar resultados positivos para

repartição de frutos aos associados, direcionando o foco à preservação ambiental;

2) Ações que influenciam a dimensão ambiental e contribuam para a

sustentabilidade nas outras duas dimensões.

Page 20: Marcus Cesar Franzolin - FAE

20

1.5- Pressupostos

1) Os resultados positivos para os associados são facilitados pela disciplina de

trabalho desenvolvido dentro dos princípios cooperativistas da associação e da

orientação técnica para a produção;

2) A integração das diferentes áreas do processo produtivo, desde o recebimento de

insumos para a correta aplicação no plantio da cultura, orientada pelas técnicas

administradas pela cooperativa, somam-se ao processo de transformação e

refinação do óleo para a colocação do mesmo no mercado, pode-se deduzir que

todo este processo é beneficiado pela disciplina aplicada em cada uma das fases

desta operação, aproximando assim, esta Cooperativa no caminho de pelo menos

da sustentabilidade ambiental.

1.6- Justificativa

O alinhamento deste estudo com o programa de Mestrado em Organizações

e Desenvolvimento da UNIFAE Centro Universitário está no fato de estudar políticas

adotadas em uma organização cooperativa, voltada a ações que contribuam com a

dimensão ambiental da sustentabilidade, que em geral colaboram não apenas aos

envolvidos com as ações, mas também para a comunidade local como um todo,

geralmente transpassando para as dimensões sociais e financeiras.

Como contribuição deste estudo relativo às cooperativas especificamente,

está que na maioria das pesquisas desenvolvidas, o foco principal é as dimensões

econômicas e sociais, porém, esta releva os aspectos ambientais do ciclo completo

de produção de uma agroindústria para produção de óleo de soja refinado. Embora

fundamentação cooperativa se incline ao lado socioeconômico dos associados, este

estudo dá a principal atenção aos cuidados ambientais em todo o ciclo produtivo da

cooperativa, desde a produção de soja in natura com as considerações técnicas

para a otimização da produção no campo, até a sua transformação agroindustrial

para o óleo e a adição de outros elementos (insumos) no processo para obtenção de

óleo refinado, finalizando o ciclo com a distribuição ao consumidor final. Todo este

processo é observado na ótica ambiental, observando as ações que contribuam para

Page 21: Marcus Cesar Franzolin - FAE

21

a preservação, manutenção que possam gerar benefícios à própria cooperativa,

como para a comunidade em geral.

Outra contribuição está que na divulgação deste estudo para outras empresas

ou entidades, possa ocorrer um melhor entendimento das vantagens geradoras de

benefícios possíveis às aplicações em outros ciclos produtivos e, de diferentes

comunidades ligadas ou não a ele.

Constituição do Brasil. Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (MANNRICH, 2000, p. 105 e 106).

Por fim, com a atual concentração demográfica nas cidades nos espaços

urbanizados, tem ocorrido um crescimento rápido e desordenado, o que favorece

muitas vezes à invasões e fragilização dos serviços públicos básicos (ex:

saneamento, coleta de lixo e área de zoneamento), contribuindo de forma efetiva na

ocorrência de impactos ambientais. Já a agricultura brasileira tem havido uma

modernização tecnológica, incorporando novos conceitos de manejo e sistemas

produtivos, com o interesse de minimizar ao máximo os impactos no meio ambiente,

direcionando atividades com a expectativa de transformá-las em processo

sustentável, com conciliação da preservação dos recursos naturais e a viabilidade

econômica (OCEPAR, 2009). Assim, técnicas utilizadas nas orientações para a

produção agrícola equilibrada, na maioria das vezes devem ser empregadas não

somente por um agricultor, mas por mais outros que pertençam à mesma microbacia

ou pelos vizinhos imediatos, para que haja os benefícios esperados pela ação da

técnica, como do manejo e da conservação ambiental.

1.7- Organização do trabalho

O trabalho está dividido em cinco capítulos, os quais contextualizam o

entendimento de forma local e global do ambiente do sistema produtivo e de

consumo, destacando o desenvolvimento sustentável, o cooperativismo, a expansão

da agricultura e agroindústria do Brasil, o manejo do solo e das águas, o soja e o

processo de transformação da soja para óleo refinado. O estudo de caso realizado é

um levantamento do processo produtivo da agroindústria da cooperativa, tendo

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22

como ênfase à dimensão ambiental da sustentabilidade, destacando os benefícios

recebidos pelos associados da cooperativa em questão. Após o estudo de caso tem

as considerações finais.

A divisão dos capítulos é realizada em cinco partes, sendo que o primeiro se

trata da introdução, a qual é subdividida na contextualização, problema de pesquisa,

objetivos e justificativa. O segundo é a fundamentação teórica que orientam o

entendimento do estudo para a análise do processo agroindustrial da cooperativa,

onde será atentada principalmente a dimensão ambiental. O terceiro descreve todos

os procedimentos metodológicos, a conceituação de variáveis estuda com o

delineamento da pesquisa, amostragem e, a coleta para o tratamento dos dados.

Posteriormente, no quarto capítulo é realizado o Estudo de Caso da

cooperativa partindo do histórico, verificação das práticas realizadas no estudo à

análise de todas as informações conseguidas. Por fim, no quinto capítulo as

Considerações Finais.

1.7.1- Síntese das relações identificadas entre a Cooperativa e os outros sujeitos

Fonte: Elaborado pelo autor

Page 23: Marcus Cesar Franzolin - FAE

23

Quadro 1- Síntese das práticas identificadas RELAÇÃO A RELAÇÃO B

Recomendações técnicas: - Plantio - Fertilidade (adubação e calagem) - Agrotóxicos - Manejo do solo e das águas - Manejo de pragas - Colheita - Como evitar perdas na safra e melhorar a administração da área

- Atenção com os fornecedores em seu atendimento e profissionalismo. - ISO 9000 – gestão da qualidade. - Trabalho conjunto em projetos diversos iniciados pelos fornecedores: - Educação ambiental - Educação no exercício da cidadania - Informação sobre Agrotóxicos - Cooperativismo e outros temas

RELAÇÃO C RELAÇÃO D Sojicultores: - Cuidados da produção à colheita (Cooperados e cooperantes) - Qualidade dos grãos: umidade, impurezas, quebrados e outros - Transporte da lavoura à Cooperativa Cooperativa: - Recebe grãos nos entrepostos e na central cooperativa - Controle de qualidade segundo Portaria No. 262 padronização, classificação e comercialização da soja em grão. - Cuidados com a manutenção dos armazéns - Conservação da armazenagem (MIPGRÃO) - Identificação do fornecedor se necessário for.

Certificações e licenciamentos: - DAIA (Determinação de Aspectos de Impactos Ambientais) - ISO 14000 – gestão ambiental. - Crédito de carbono Produtos finais: - Farelo de soja para venda - Óleo de soja refinado. Adubos orgânicos: - Cinzas da queima do bagaço de cana para geração de energia. - Lodo do refino do óleo. - Resíduo da terra branqueadora. - Resíduos da filtragem do óleo. Projeto de crédito de carbono: - Substituição do óleo BFP por biomassa. Empresas de saponificação: - Borra do processo de refino. Exportação: - Ácido graxo a 0,4% que é obtido a Vitam. E.

RELAÇÃO E RELAÇÃO F Equipe mista de distribuição: - ISO 9000 – gestão da qualidade. - OHSAS 18000 – gestão da avaliação da saúde e segurança ocupacional. - Representantes Comerciais, Vendedores próprios e distribuidores em locais distintos conforme o produto final em que atuam. - Representantes comerciais para a distribuição específica no mercado de óleo refinado de soja comestível. Mercado externo: - Aproximadamente 1% de toda a produção total final. Reaproveitamento de embalagens: - Garrafas PET de óleo (fios ecológicos). - Cartonados Longa Vida (substituição de telhas de amianto e outros). - Reaproveitamento adequado de embalagens de agroquímicos. - Conscientização da reciclagem de materiais. Acompanhamento pelo COC: - Reclamações, sugestões, esclarecimentos e satisfação cliente

Projeto Cultivar: - Cooperativa, IAP, APAE, PEM , BASF. - Mão-de-obra da APAE e PEM. - Inclusão social. - Remuneração para alunos da APAE. - Produção de mudas de árvores nativas. - Envolvimento com o Programa de Mata Ciliar. Escola no Campo: - Educação, informação, meio ambiente, tecnologia, alimentos e difusão. - Cooperação entre Syngenta e outras instituições governamentais. Integração Agricultura e Pecuária: - Recuperação de terras degradadas. - Benefícios para agricultores, comunidades e municípios. Cooper Jovem: - Integração Cooperativa, OCEPAR e SESCOOP. - Empregos, produção, preservação ambiental, cultural e social, princípios cooperativistas. Núcleo Jovem e Núcleo Feminino: - Cooperativismo, administração propriedade, desenvolvimento do potencial pessoal de profissional.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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24

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este tópico é uma pesquisa que referência a teoria de diferentes assuntos

que embasam o entendimento para as conclusões do estudo de caso de uma

cooperativa agroindustrial, onde é estudado todo o ciclo produtivo do óleo refinado

de soja produzido por ela, com foco principal na dimensão ambiental da sustentabili-

dade.

Embora sejam tradados alguns assuntos com definições mais polêmicas entre

autores, elas em geral se completam e muito nos ajudam no embasamento das

ações para o estudo de caso, que possibilitam a ajudar na avaliação das ações

sustentáveis. Importante lembrar que este tópico não é um modelo único de ações

pré-definidas para o alcance da sustentabilidade, mas poderá nortear um caminho a

ser seguido no estudo.

Inicia-se com o levantamento sobre desenvolvimento e sustentabilidade,

avançando para o cooperativismo, depois para temas como expansão da agricultura

e da agroindústria no Brasil, manejo do solo e das águas, quando é salientado que a

má administração deste recurso pode resultar em perdas da fertilidade do solo e

conseqüentes gastos financeiros para reposição e manutenção. Este fato afeta

variáveis para a recuperação do solo com necessidade de calagem, adubações e

combustíveis para uso dos implementos. Assim este tópico direciona-se para o uso

de agrotóxicos, mostrando seus riscos de intoxicação na vida em geral quanto de

todo um ecossistema, o manejo integrado de pragas e combate à erosão. Com

informações específicas da soja e todo o seu processo de transformação em óleo

refinado, forma-se a expectativa de entendimento para embasar-se no processo

aplicado pela cooperativa no ciclo produtivo do óleo e seus principais resultados

alcançados.

2.1- Desenvolvimento e sustentabilidade

Com os avanços tecnológicos que resultaram em grandes invenções, em

especial as inovações mecânicas, a exemplo a força hidráulica, avanços nas

fundições do ferro, mecanização da indústria têxtil, maquinaria na indústria, motores

de combustão externa e posteriormente interna, navios motorizados, trens e

Page 25: Marcus Cesar Franzolin - FAE

25

aberturas das inúmeras estradas de ferros, invenção dos telégrafos e a

mecanização da agricultura e o desenvolvimento dos químicos agrícolas e outros

(BURNS, 1966), movimentaram a Revolução Industrial e a Agricultura Comercial.

Segundo Veiga, para a maioria das pessoas “até hoje não existiu diferença

entre industrialismo e desenvolvimento”. A idéia está sempre associada ao

progresso e industrialização. Esta utopia11 entrou em crise após prestar grandes

serviços nos dois séculos passados. Nos países do norte, ou seja, os

industrializados, a crise da palavra utopia é profunda. “É crucial conhecer as razões

de seu desabamento nos países do chamado núcleo orgânico” (VEIGA, 2005,

p.194). Assim, Veiga (2005, p.196) conclui que: “sejam quais forem os termos desse

compromisso, uma coisa é certa: a velha utopia industrialista não é mais

sustentável”.

Então esta associação de desenvolvimento com industrialização, também

aceita por alguns economistas e autores, não significa o real desenvolvimento

através do crescimento econômico. Países do mundo que almejam a

industrialização pura e simples em seus territórios, criam políticas governamentais

para atrair indústrias pensando que junto virá o desenvolvimento. À luz de países ou

regiões mais industrializadas, os menos providos deste atributo, pensam que

conquistarão o mesmo conforto e a qualidade de vida para seu povo, exatamente

como o do país modelo ou referência. Assim, países subdesenvolvidos pensam que

industrialização seria sinônimo de crescimento econômico e, por fim, significaria

desenvolvimento (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006).

Ainda no período da Revolução Industrial, a expressão “Desenvolvimento”

começou a ser classificada com uma nova conceituação, destacando duas

características marcantes: (1) a referência de uma territorialidade e (2) o uso como

termômetro da dinâmica da economia. Sendo esta palavra entendida como

evolução, avanço, mas não como aumento das atividades econômicas. Quase como

sinônimo de crescimento. Após a II Guerra Mundial houve uma distinção de

conceitos para melhor entender a palavra: a) aumento das atividades econômicas

(crescimento) e, b) melhoria geral das condições de vida das populações (verdadeiro

desenvolvimento). Embora o primeiro seja necessário para se chegar ao segundo,

11

Utopia: Imaginário de uma criação poética do autor inglês Thomas Morus, onde tudo está organizado da melhor forma possível. Fantasia.

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26

não significa ser uma condição suficiente que se atingir um pode-se chegar ao outro.

Como exemplo, é possível perceber uma economia crescer no sentido produtivo em

determinado local, porém, sem que haja uma divisão equitativa dos lucros para toda

a nação (BURSTZEN, 2006).

Gal (1981) tem uma imagem concreta do desenvolvimento em que ela tem

necessariamente seus indicadores: a) renda per capta; b) nível de consumo per

capto; c) concentração urbana; d) índice de crescimento demográfico; f) métodos de

produção e sua tecnificação; g) organização sócio-econômica; e h) política e

distribuição de renda. Também, a situação dos países em desenvolvimento é

caracterizada por uma estrutura econômica e social, mesmo que dualista nos

aspectos dos índices: a) renda, demanda, produtividade, desemprego e pobreza; b)

no setor rural emprego e produção; c) tecnologia importada e emprestada, inovação;

d) concentração metropolitana; e) crescimento demográfico, educação e progresso

na medicina; f) institucionalismo; e g) nível de serviços.

Como visto, também para Veiga (2005) existe uma confusão no entendimento

entre desenvolvimento e riqueza. Para muitos economistas convencionais, existe

uma equivalência entre PIB (Produto Interno Bruto) e a renda per-capta, como forma

de raciocínio para se chegar ao desenvolvimento. Na realidade pode-se chegar à

riqueza e, esta, pode ajudar a se obter outros interesses, como o bem estar, poder,

ou uma combinação deles (VEIGA, 2005). Mesmo que o país tenha um acúmulo de

riqueza e ingresse a um contexto orgânico12, a palavra desenvolvimento não pode

ter um parâmetro da definição tão simplória como a divisão per-capta do PIB. Em se

aceitando esta definição como uma possibilidade de alcançar o verdadeiro

desenvolvimento, este processo seria lento (VEIGA, 2005). Por esta razão é muito

comum este meio de avaliação ou de raciocínio para tentar se discutir o

desenvolvimento de determinado local.

Para Gal (1981) o fator essencial do desenvolvimento é a produtividade, a

qual reflete em maior demanda de recursos naturais, mão–de-obra, tecnologia e

maior complexidade administrativa. Já para Dowbor, “a produtividade sempre foi

vista como um conceito positivo” (2009, p.1), ou seja, produzir mais com menos

energia ou ganhar mais com menor investimento, por exemplo. Porém, para este

12 Contexto Orgânico: É um contexto o qual o foco observado sofre influências de diversos fatores e que forma o ambiente que influencia este em questão.

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27

autor, há um erro na definição. Pois deixa-se de lado no cálculo da produtividade de

uma propriedade agrícola, as terras que não são plantadas. Também na indústria,

esquece-se dos problemas sociais ou o respeito ao próprio homem, lembrando-se

apenas dos lucros para este cálculo (DOWBOR, 2009).

De acordo com Oliveira (2006) o desenvolvimento pode ser entendido:

Como um complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política e, principalmente, humana social. Desenvolvimento nada mais é que o crescimento – incrementos positivos no produto e na renda – transformado para satisfazer mais diversas necessidades do ser humano, tais como: saúde, educação, habitação, transporte, alimentação, lazer, entre outras” (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006, p.19).

Há evidências hoje que os problemas de pobreza, satisfação das

necessidades básicas (alimentação, saúde e habitação), matriz energética com

fontes renováveis e, inovações tecnológicas, há um estreito relacionamento entre os

problemas ligados ao meio ambiente e o estilo de desenvolvimento aplicado na

esfera local. Não faz sentido opor meio ambiente e desenvolvimento, pois o primeiro

é resultado da dinâmica do segundo. Assim, o livro da Presidência da República do

Brasil do período de Fernando Collor (CIMA, 1991, p.19) afirma: “Os problemas de

preservação do meio ambiente são os problemas do desenvolvimento, os de um

desenvolvimento desigual para as sociedades humanas e nocivo para os sistemas

naturais”.

Assim deve ser melhor avaliado as propostas dos países que buscam a

industrialização:

Nas economias altamente industrializadas os problemas de meio ambiente podem ser, em geral, associados à poluição. Suas políticas ambientais orientam-se, por isso mesmo, a evitar o agravamento da degradação ou, ainda, a restaurar os padrões de qualidade de água, ar e solo anteriores à crise. Nos países subdesenvolvidos, a crise ambiental está claramente associada ao esgotamento de sua base de recursos, e suas políticas deveriam dar prioridade à gestão racional dos recursos naturais (CIMA, 1991, p.16 e 17).

“As crises ambiental, econômica e social colocaram em cheque as noções

generalizadoras e progressivas do desenvolvimento e do progresso” (ALMEIDA,

1997, p.17). Para alguns países do Terceiro Mundo, segundo Becker et al (1997) foi

evidenciado que o progresso não era uma virtude para todos os sistemas

econômicos e, para todas as sociedades e nações. Historicamente esta particular

realidade refletiu para as sociedades industriais. Assim, países pobres que buscam

Page 28: Marcus Cesar Franzolin - FAE

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a industrialização usando como modelos os países já industrializados teriam que

enfrentar a dificuldade sobre a virtude do progresso não ser de todos. Esta visão

está centrada na compreensão de que o desenvolvimento sócio-econômico é

resultado de avanços técnico-científicos, o que assegura o crescimento e o

progresso das virtudes humanas e, de suas liberdades e poderes. Assim, sintetiza-

se o desenvolvimento na seguinte visão: desenvolvimento técnico-científico →

desenvolvimento sócio-econômico → progresso e crescimento (BECKER et al,

1997).

Hoje é possível dizer que cresce a consciência de que a natureza não é

apenas uma despensa ou almoxarifado, mas pode ser vista como um quarto de

despejo, ou lata de lixo e esgoto, não apenas da produção, mas também do

consumo. Assim, os refugos do que é considerado o sistema econômico do homem,

é também da sociedade ecumênica (BURSTZEN et al, 1993).

Para o tema desenvolvimento, quase foi colocado à parte o que diz respeito

ao meio ambiente nas discussões. Ambientalistas não se declaram contra a uma

causa tão universal, embora quando as enfrentam, segundo Marcel Burstzen (2006),

há uma constatação que ainda hoje a questão ambiental é vista como “uma

limitação ao desenvolvimento” e não uma condição básica para uma forma durável

de desenvolvimento, ou seja, sustentável (BURSTZEN, 2006).

Em um contexto geral, Becker et al (1997) coloca a possibilidade de outro tipo

de desenvolvimento, com uma organização social desenvolvimentista e

modernizadora, com equilíbrio na base social, econômica, cultural e ambiental, na

busca da sustentabilidade. Com esta visão, pensa-se em um novo projeto para a

sociedade, com o objetivo de garantir a sobrevivência dos grupos sociais e da

natureza para o presente e o futuro. Porém, para garantir este desenvolvimento, é

claro que há necessidade do reconhecimento da insustentabilidade do predominante

modelo econômico mundial, ou no mínimo, o desequilíbrio das dimensões bases e o

quanto é inadequado o atual padrão de desenvolvimento para a sociedade.

Este crescimento extraordinário da economia mundial foi gerado pelas

políticas econômicas de apoio que, do ponto de vista ecológico, podem ser

considerados fracassados, pois são as mesmas que apóiam um manejo inadequado

de florestas, pradarias, pesqueiros e terras agrícolas, destacando assim quatro

ecossistemas fornecedores de alimentos e de toda a matéria-prima para o homem.

Embora muitos vivam numa sociedade urbana e de alta tecnologia, o homem

Page 29: Marcus Cesar Franzolin - FAE

29

precisa entender e ter a consciência de que ele depende dos sistemas naturais da

Terra exatamente como os seus ancestrais caçador-catadores que dependiam

anteriormente (BROWN, 2003).

Para que haja a sustentabilidade e a preservação ambiental há a necessidade

de garantir às gerações futuras as mesmas condições e recursos naturais que a

atual geração tem à sua disposição. Este assunto foi tratado na segunda metade do

século XX no chamado Clube de Roma em relatório publicado e intitulado como

“The limits to growth” (Limites do crescimento) em 1972. Assim houve uma

preocupação na produção de alimentos e no crescimento linear da população

mundial, a qual o aumento da população tendia a ser maior que a da produção de

alimentos, podendo assim, chegar a um comprometimento para a população

mundial. Ainda, o Clube de Roma (1970) e, Thomas Malthus13 em seu tempo em

1805, preocupou-se com a falta de alimento para a população crescente. Os cinco

temas globais discutidos neste fórum foram: “1) aceleração da industrialização; 2)

aumento dos indicadores de destruição; 3) rápido crescimento populacional; 4)

deploração dos recursos naturais não-renováveis e 5) deterioração do ambiente.”

Sempre se buscou o caráter sustentável e chamando a atenção para a poluição e

degradação ambiental planetária (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006, p. 21 e 22).

A sustentabilidade como novo critério básico e integrador precisa estimular permanentemente as responsabilidades éticas, na medida em que a ênfase nos aspectos extra-econômicos serve para reconsiderar os aspectos relacionados com a eqüidade, a justiça social e a ética dos seres vivos (JACOBI, 2007, p.54).

Segundo Figge e Hahn (2002) o conceito de desenvolvimento sustentável tem

evoluído muito nos últimos vinte e cinco anos, principalmente no sentido

macroeconômico. O conceito central está em estabilizar o bem-estar no mínimo de

forma a não prejudicar ou deixar ainda pior o ambiente para a presente e as futuras

gerações. Economistas utilizam diferentes formas de capital, como por exemplo, os

13

Thomas Maltus: Representa o paradigma de uma visão que ignora ou rebaixa os benefícios da industrialização ou do progresso tecnológico. Para ele a diferença entre as classes sociais era uma conseqüência inevitável. A pobreza e o sofrimento eram o destino para a grande maioria das pessoas. Expôs suas idéias em dois livros: o Primeiro ensaio e o Segundo ensaio. Tanto para Malthus como para seus discípulos, qualquer melhoria no padrão de vida de grande massa é temporária, pois ela ocasiona um inevitável aumento da população, que acaba impedindo qualquer possibilidade de melhoria. Foi um dos primeiros pesquisadores a tentar analisar dados demográficos e econômicos para justificar sua previsão de incompatibilidade entre o crescimento demográfico e à disponibilidade de recursos.

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produtos manufaturados, capital humano (conhecimentos e habilidades), capital

natural e ainda o capital social (relacionamento entre indivíduos e instituições).

Assim segue as regras do capital, onde o desenvolvimento pode ser chamado

de sustentável se garantir o estoque de capital global ou, pelo menos, do capital de

forma geral ao longo do tempo (FIGGE; HAHN, 2002). Então é diferenciado dois

tipos de capital, que podem ser substituidos por outro mais fraco ou forte no sentido

da sustentabilidade. O de sustentabilidade fraca14 implica que é o capital que pode

ser substituido por outro, porém, perderá em estoque e poderá ser substituido por

uma outra forma de capital. A crença da possibilidade da não-substituição de algum

tipo de capital, força a conservação e a preservação de alguns estoques não

substituíveis. Assumindo que o capital natural está escasso e perto de seus limites

para produção de manufaturados, a imposição de níveis críticos de fortes capitais

sustentáveis, torna-se necessário a conscientização da possibilidade de perdas de

fontes naturais de capital de forma irreversível (FIGGE; HAHN, 2002, p.2).

A maior preocupação das maiores e melhores organizações de todo o mundo

hoje é relativo à sustentabilidade dos seus próprios negócios. A origem deste

movimento se deu por questões ambientais, os quais devem ser vistos de forma

ampliada com a incorporação de temas voltados à qualidade, saúde e segurança do

trabalho, com a própria preservação ambiental e com a preservação de

responsabilidades corporativas (ALLEDI; QUELHAS, 2003). Para um

desenvolvimento sustentável é necessário aquele que satisfaça “as necessidades do

presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas

próprias necessidades” (ALLEDI; QUELHAS, 2003, p. 4).

Segundo Carvalho e Barcellos (2010, p. 100) o que é sustentável é o que

pode ser mantido e, em ecologia, o qual pode ser dito que o ecossistema tem seu

certo grau de sustentabilidade ou resiliência como um todo. Em grosso modo é a

capacidade do ecossistema de enfrentar as dificuldades e perturbações externas

sem comprometer suas funções. Resiliência ecológica é o entendimento da

capacidade de um ecossistema de resistir às perturbações do meio e assim mesmo

manter o seu estado específico. Enfatizando o lado econômico, May et al (2010) diz

14 Sustentabilidade fraca: O capital natural não necessita de um tratamento diferenciado, pois ele é simplesmente considerado outro tipo de capital como qualquer outro. Esta possibilidade de substituição aliada à eficiência produtiva pode permitir a superação de limitações que venham impedir o crescimento econômico devido à escassez de recursos.

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31

que a sustentabilidade é o crescer no longo prazo em função da produção além do

capital.

Esta idéia incorpora os recursos naturais e aborda a hipótese da substituição

perfeita entre os fatores produtivos, ou seja, a substituição de uma floresta por uma

indústria não seria um problema, desde que tivessem o mesmo valor, pois nesta

visão estaria substituindo um tipo de capital por outro. Para este princípio estaria

também implícito que não haveria maiores dificuldades em mensurar

monetariamente estoques de diferentes tipos de capital, podendo formar então, a

sustentabilidade fraca da economia ecológica (MAY et al, 2010).

Logicamente coloca-se em contraposição defensores da sustentabilidade

forte15, a qual defende que o capital natural é complementar e não substituível pelo

capital reprodutível. Ainda, segundo May et al (2010) para a economia ecológica o

significado da sustentabilidade do capital natural tem grande importância “pois é ela

que garante a existência de vida humana na Terra” (2010, p.101). A Terra está se

aproximando a um nível crítico em diversos aspectos que podem transformar a

qualidade do ar, das águas e dos gases da atmosfera em condições que afetam as

condições das vidas de todos os ecossistemas do planeta (MAY et al, 2010).

Das incertezas do futuro em relação ao meio ambiente e de suas relações, os

educadores deverão preparar e reelaborar as informações ambientais para a

retransmissão aos interessados com o fim de seu melhor entendimento sobre o

meio. Elas deverão estar inseridas às diversas determinações e intersecções desta

complexa relação, enfatizando a capacitação e percepção das relações entre as

diferentes áreas para formação de um todo, sendo em uma esfera local ou global,

onde explicita a necessidade de enfrentar as exclusões e desigualdades como uma

realidade a se deparar (JACOBI, 2007).

Igualmente como mostrado acima, segundo Alledi e Quelhas (2003), se

pudesse usar uma palavra para representar o centro da sustentabilidade, ou seja, o

local de interseção das suas três dimensões, a palavra seria o respeito. “Respeito ao

meio ambiente, respeito às pessoas e respeito ao capital” (ALLEDI; QUELHAS,

2003, p. 5) buscando assim um equilíbrio. A busca da sustentabilidade empresarial

15 Sustentabilidade forte: Se opõe à sustentabilidade fraca, a qual requer a manutenção dos diferentes tipos de capitais separadamente. Isso significa que a sustentabilidade forte não aceita substituição perfeita ou quase perfeita do capital natural por capital manufaturado. Desta forma, alguns autores acreditam que para a sobrevivência humana são indispensáveis alguns serviços de tipos de ecossistemas e, que não são substituíveis por outros.

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ou mesmo pessoal exige-se uma conduta adequada com princípios éticos,

responsabilidade social e individual ou mesmo corporativa.

Figura 1 – A Sustentabilidade e suas dimensões ambientais, sociais e econômico-financeiras

Fonte: Adaptado de ALLEDI e QUELHAS (2003, p. 4)

Segundo Romeiro (1999) o termo “Desenvolvimento Sustentável” é oriundo

do nome ecodesenvolvimento16 que surgiu no início da década de 1970. No relatório

do “Clube de Roma” havia uma polarização que opunham duas visões em relação

ao crescimento econômico e meio ambiente. De um lado os que defendiam os

limites ambientais ao crescimento econômico, os chamados tecno-cêntricos radicais,

onde defendiam que são relativos dentro da capacidade inventiva da humanidade e,

que considerando uma força positiva poderia eliminar disparidades sociais com um

custo ecológico inevitável, porém com inúmeros outros benefícios obtidos para o

homem. De outro lado os eco-cêntricos radicais, os quais acreditam que o meio

ambiente tem inúmeros limites ao crescimento econômico, estando a humanidade

próxima de uma catástrofe que pode levar ao esgotamento dos recursos naturais

que são explorados sem critérios para a utilização da capacidade, assim como de

assimilação do meio, ou seja, com conseqüência da poluição (ROMEIRO, 1999).

16 Ecodesenvolvimento: Existe uma concordância de que este termo foi criado por Ignacy Sachs na escola de altos estudos em Ciências Sociais de Paris, surgido nas suas qualificações conceituais.

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33

Para Sachs (2000) o assunto com respeito ao meio ambiente, formou duas

opiniões claras e diferentes: 1) da Abundância e; 2) dos Catastrofistas. Pouco tempo

depois as duas posições foram descartadas para o surgimento de uma intermediária

entre o “Economicismo determinista”, ou seja, a prioridade ao crescimento

econômico e, o “Fundamentalismo ecológico”, que significa a inexorabilidade do

crescimento do consumo e esgotamento dos recursos naturais (SACHS, 2000).

Como Desenvolvimento sustentável ou Ecodesenvolvimento não é um caminho para

extremos, mas sim de um desenvolvimento harmonioso com objetivos sociais,

ambientais e econômicos, em curto espaço de tempo este tema toma maiores

proporções para os rumos do desenvolvimento (JACOBI, 2007).

Atualmente, o desafio de fortalecer uma educação para a cidadania ambiental convergente e multirreferencial se coloca como prioridade para viabilizar uma prática educativa que articule de forma incisiva a necessidade de se enfrentar concomitantemente a crise ambiental e os problemas sociais. Assim, o entendimento sobre os problemas ambientais através da visão do meio ambiente como um campo de conhecimento e significados socialmente construídos é perpassado pela diversidade cultural e ideológica e pelos conflitos de interesse (JACOBI, 2007, p.59).

Para Denardin e Sulzbach (2005) o conceito deste novo desenvolvimento é o

utilizado para a formulação de políticas que busquem atingir a mesma

sustentabilidade apresentada na Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento. O conceito central desta idéia é de manter o Capital Natural ou

Recursos Naturais, como uma herança que deva ser conservada e usada, de

maneira que possa ser mantida sua capacidade nas suas diferentes funções e

qualidades. Ainda está implícita a equidade intrageracional e intergeracional dando a

oportunidade para gerações futuras de satisfazer suas necessidades igualmente

como a presente geração (DENARDIN; SULZBACH, 2005).

Conforme já mencionado anteriormente, Dyllick e Hockerts (2002) salientam a

importância da busca da sustentabilidade entre as dimensões dos negócios

empresarias, as quais reforçam a necessidade de ações harmônicas entre as

principais dimensões da sustentabilidade (ambiental, social e econômica – figura 2).

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34

Figura 2 – Três dimensões da Sustentabilidade

Fonte: Adaptado de DYLLICK; HOCKERTS, 2002, p 132.

Estas ações harmônicas potencializam as tendências entre as dimensões,

como as: (a) Eco-eficiência, (b) Sócio eficiência, (c) Eco-efetividade, (d) Suficiência;

(e) Sócio eficácia e o (f) Patrimônio ecológico:

a) Eco-eficiência – É alcançado pela empresa através de preços competitivos de

bens e serviços e que atendam as necessidades do homem, acrescendo em

qualidade de vida e reduzindo impactos ambientais, respeitando o ciclo natural de

reposição da natureza ao ambiente;

b) Sócio-eficiência: descreve a relação entre valores acrescentados em uma

empresa e o seu impacto social. Para os itens a e b é considerado primariamente

aspectos da sustentabilidade econômica, conforme figura 3;

Figura 3 – A Sustentabilidade corporativa com foco nos negócios

Fonte: Adaptado de DYLLICK; HOCKERTS, 2002, p 136.

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35

c) Eco-efetividade: Se, por exemplo, a eco-eficiência para uma empresa é a

produção de veículos com combustíveis alternativos que tenham redução da

emissão de gases (CO2), sua Eco-efetividade seria uma solução definitiva para um

combustível sem emissão de gases, como exemplo o carro com motor elétrico;

d) Suficiência: Seguindo o exemplo anterior, se a sociedade aceita este modelo de

veículo, ele se torna suficiente, ou seja, o consumo deste produto não agride a

natureza quando é usado. Lembrar que para os casos c e d o foco é a

sustentabilidade ecológica, sendo ele o principal objetivo a ser atingido para a

responsabilidade ambiental do produto, conforme figura 4;

Figura 4 – Sustentabilidade corporativa com foco na natureza (ambiental)

Fonte: Adaptado de DYLLICK; HOCKERTS, 2002, p 137.

e) Sócio-eficácia: Embora a sócio-eficiência possa ser um instrumento com um

aumento relativo para se atingir a sustentabilidade social, a sócio-eficácia ajudaria a

não formar ilhas de insatisfação na base da pirâmide de uma parcela da população

mundial. Deveria haver uma estratégia para que todos tivessem a oportunidade de

ter determinado produto e/ou serviço, no mínimo os básicos, de determinados

setores como de alimentos, saúde, financeiros bem como de comunicação. Assim,

uma conduta empresarial pode ser julgada em uma escala relativa, mas em relação

a uma escala social absoluta;

f) Patrimônio ecológico: Faz parte do nexo da relação entre a gestão do Capital

Natural e da Sustentabilidade Social. Enquanto as gerações atuais consomem

capital natural de gerações presentes e futuras sem a chance de escolha delas,

deveria ser encontrada uma solução equitativa dos bens naturais do planeta, sem

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36

prejuízo para qualquer um dos envolvidos. Assim, destaca-se como o maior bem

social o Capital Natural, o qual deve ser trabalhado para se atingir a sustentabilidade

(DYLLICK; HOCKERTS, 2002).

Figura 5 - Sustentabilidade corporativa com foco na sociedade

Fonte: Adaptado de DYLLICK; HOCKERTS, 2002, p 138.

Neste contexto, Arroyo (2008) destaca a importância de um bom sistema

contábil que possa proporcionar ao mesmo tempo informações econômicas,

ambientais e sociais. Enfatiza que a contabilidade de gestão sustentável

(Sustainable Management Accounting - SMA) utiliza informações financeiras e não-

financeiras para otimizar e alcançar negócios sustentáveis. Por este meio, o sistema

SMA ajuda a identificar e redistribuir os custos ambientais e sociais para uma melhor

definição das medidas ambientais e sociais, com uma ligação às medidas

financeiras para aplicação desta contabilidade ao orçamento de capital. Importante

notar que existem nos sistemas tradicionais de contabilidade os custos ambientais e

sociais, mas não são relevados, assim, escondem-se com as despesas gerais

(ARROYO, 2008).

Uma forma para avaliar o impacto ambiental dos produtos ou dos processos

no ambiente, bem como a sua melhoria neste aspecto, é a de avaliar seu completo

ciclo de vida para o impacto monetário, identificando assim, custos ambientais

através de todas as fases de sua vida. Outra técnica sugerida por Arroyo (2008) é

custeio baseado em atividades, o que implica alocar os custos ambientais

diretamente às atividades e produtos que causam os custos. A principal vantagem

desta técnica é que os custos ambientais não são contabilizados como despesas

gerais e, portanto, os gestores poderão avaliar o custo real de seus produtos. Este

Page 37: Marcus Cesar Franzolin - FAE

37

autor também diz que a maioria das empresas não tem seus custos ambientais e

sociais discriminados por atividade, instalação e produtos. Para implantação do MAS

deve-se integrá-los em seus sistemas de custeio, medição de desempenho e

orçamento de capital. É importante notar que a adaptação dos sistemas de

contabilidade de gestão (MAS) é um processo interativo que leva mudanças na

estratégia da empresa, o que significa que o grau de adaptação varia conforme a

empresa muda sua estratégia de sustentabilidade (ARROYO, 2008).

A busca da sustentabilidade ambiental para algumas organizações é de

grande relevância, sendo que em diferentes casos é pensado além, como um maior

equílibrio em diferentes dimensões. É o caso da real sustentabilidade ou o respeito

ao triple bottom line. Destas organizações filosofias diversas podem ajudar resgatar

aspectos importantes, porém, com a necessidade de manter constantes evoluções

para a realidade conjuntural do momento. Pode-se dizer que é o caso de algumas

cooperativas.

2.2- Cooperativismo

A idéia das cooperativas é antiga, mas seus ideais e as posturas estão bem

presentes até hoje. Segundo Pinho (1966) a origem da palavra cooperação tem o

significado de auxílio a um bem comum e, cooperativismo, como a renovação social

pela cooperação, ou seja, uma interação social em que as pessoas se unem para

alcançar um objetivo.

Desta forma, o cooperativismo tem inicialmente uma concepção filosófica que

se baseia e reflete a uma tendência de se aglomerar do ser humano e de viver em

sociedade. Com a idéia da ajuda mútua, Gal (1981) afirma que serve como um

instrumento de sobrevivência da espécie que se contrapõe “à luta de todos contra

todos e cada um contra o próximo” (GAL, 1981, p.13). Desta forma Gal também

lança um segundo raciocínio sobre as práticas de diferentes intensidades em que

variam ao que pode ser chamado de evolução humana.

Podem-se encontrar manifestações e provas de agrupamento humano e cooperativismo desde a época das cavernas até aos nossos dias. Na Pré-História e na Idade Média e na Idade Primitiva, a tribo e o clã; durante a era da escravidão, agrupamentos de seres livres como os essênios; na Idade Média, diversas manifestações que culminaram com as “guildas” como manifestação de agrupamento econômico. Mas, é somente depois da grande mudança estrutural denominada “Revolução Industrial” que o cooperativismo transcende de uma Manifestação esporádica e isolada

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para tomar a transcendência de “movimento”, adotando certa metodologia e princípios que o transformaram em um sistema (GAL, 1981, p. 13 e 14).

As cooperativas influenciaram a sociedade e sua organização até mesmo nas

motivações econômicas. Iniciou-se no período feudal, quando parte desta sociedade

buscou submeter atividades produtivas em regras que refletira em distribuição justa,

em uma ordem que se pensava ser o ideal, a qual continha a apropriação dos

recursos naturais e até mesmo a especificação da qualidade do que se produzia.

Nesta influência deu-se continuidade na evolução da sociedade moderna, sendo

possível identificar o fim das restrições do caráter religioso, estético, cultural e social,

onde a racionalidade econômica pode se valer. Esta evolução influencia o

dinamismo tecnológico já presente na sociedade feudal. O lado negativo foi a

exploração do trabalho que gerou uma realidade não imaginável para a sociedade

com reações intelectuais e organizacional como os movimentos socialistas e

sindicalistas. Gradativamente houve restrições à exploração do trabalho com

revelações, proibições de trabalho infantil, salário mínimo, férias remuneradas entre

outras. Salienta-se que algumas destas regras se embasaram em princípios

medievais, como o princípio escolástico do preço justo (MAY et al, 2010).

A primeira cooperativa foi fundada em 1844, na cidade de Rochdale,

Inglaterra, modelo que continua sem alterações significativas. Sua formação foi da

união de 28 artesões que estavam sem poder atuar em suas áreas, devido a

Revolução Industrial e a perda de suas funções pela utilização da força motriz.

Assim, uniram-se para sobreviver de seu trabalho. As dificuldades não acabaram,

por isso, organizaram a primeira cooperativa noticiada no mundo. Seu ramo de

atuação era o têxtil e tinha a finalidade de desenvolver o bem comum dos que

haviam perdido o emprego. Esta união resultou na oportunidade de intervir em seus

negócios e em suas ocupações profissionais e serviços por eles desempenhados

(QUEIROZ, 1996).

Dentro de um contexto geral, a cooperativa é uma organização especial,

como um agrupamento diferente da organização social, a qual atribui a formação de

comunidades com um contexto institucional mais amplo, como um grupo íntimo e

informal, como ocorre no caso de uma família. Assim, dando continuidade ao

raciocínio de Gal (1981), esta organização cooperativa pode além de ter uma

finalidade específica de sua organização (consumo, produção, entre outras), um

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cunho social para uma distribuição equitativa na distribuição de benefícios (lucro),

alcançando uma estrutura interna com bases democráticas.

Havendo uma cooperação de forma organizada com estatuto previamente

estabelecido, surgem grupos sociais, dos quais as cooperativas visam em primeiro

lugar fins econômicos e educativos (PINHO, 1966). Como afirmado por Queiroz

(1996), esta idéia deu tão certo que em apenas trinta e sete anos após a fundação, a

Europa já possuía em torno de mil cooperativas com mais de quinhentos e cinqüenta

mil associados. Nas Américas o cooperativismo chegou dentro das três primeiras

décadas do século XX. No Brasil chegou por volta de 1932 e foi consolidada pelo

Decreto Federal no. 22.232/32.

Rocha et al (2004) diz que desde a criação da primeira cooperativa, seus

princípios sofreram as influências e adaptações da evolução do mercado, sendo que

desta forma puderam se tornar mais competitivas. Ao longo dos trinta e um

congressos realizados pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI) desde sua

criação em 1895, os princípios cooperativistas passaram por reformulações, das

quais pode-se compreender a existência de uma dialética entre idéias das práticas

cooperativas. Assim, os princípios cooperativistas possuem uma ordem prática

funcional com o objetivo de se chegar à utopia cooperativa. A discussão de idéias e

práticas cooperativas é o que desencadeia o fenômeno da dialética cooperativista.

Desta forma, o contexto dos princípios cooperativos e as práticas cooperativistas

propiciam às organizações a forma de se utilizar os recursos financeiros, humanos e

tecnológicos, para que o trabalho seja o mais eficiente possível (ROCHA et al,

2004).

Com uma evolução natural nos princípios, chegaram ao Brasil sete princípios

cooperativos, sendo eles adequados e adaptados à legislação local: 1. Adesão livre;

2. Singularidade de voto; 3. Controle democrático: 4. Neutralidade: nenhuma

discriminação política, social, racial é aceita na cooperativa; 5. Retorno das sobras: a

cooperativa não visa lucro, sua missão é o benefício do cooperado; 6. Educação

permanente; 7. Cooperação intercooperativa: a proposta de cooperativismo abrange

a área social, o que é natural e essencial a sua aplicação com outras cooperativas.

(QUEIROZ, 1996).

Ainda no Brasil, o cooperativismo foi uma alternativa encontrada para

combater a precarização das condições de trabalho das últimas décadas, quando

houve um considerável aumento dos socialmente excluídos, os quais sobrevivem no

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40

mercado informal de trabalho. Desta alternativa, com o intuito de encontrar uma

possibilidade de geração de renda à população afetada pela dificuldade de trabalho.

Busca-se então uma mudança de mentalidade para preparar e assumir uma postura

para uma nova perspectiva, direcionando para a coletividade em detrimento à

individualidade (ROCHA et al, 2004).

As cooperativas são organizações com característica de atuação local e que possuem pessoas cooperadas da própria comunidade. No Brasil e principalmente no Estado do Paraná, este tipo de organização é muito comum no meio rural através das cooperativas de produção agropecuárias (SILVA; ALVES; SALANEK, 2008, p, 2).

No Estado do Paraná as cooperativas não tiveram seus objetivos

direcionados apenas na produção de alimentos, mas de inserção na industrialização

de produtos, que buscassem agregar mais valores através de serviços

transformações em prol de seus cooperados. Cooperativas tiveram a união de seus

produtores somados para melhor produzir criar uma maior força de atuação em cima

de um mesmo interesse produtivo (SILVA; ALVES; SALANEK, 2008). No Paraná há

duzentos e trinta e oito cooperativas registradas na OCEPAR sendo que oitenta e

uma são agropecuárias e que parte delas possuem o processo de industrialização

(OCEPAR, 2009).

2.3- Expansão da agricultura e da agroindústria no Brasil

Esta expansão também se deveu pelo avanço contínuo de tecnologias para

produção mais intensiva que culminaram no avanço de novas áreas e capacidade

de produção. Concentração de terra e desigualdades são problemas que estão na

raiz dos problemas econômicos, sociais e ambientais no Brasil. Para a

modernização da agricultura houve desigualdades na distribuição de terras e como

das culturas a serem exploradas. Começou de forma mais intensa nas regiões

Sudeste e Sul, especialmente São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, com maiores

espaços agrícolas para as lavouras de exportação. Posteriormente encaminhou-se

para as regiões Centro-Oeste e Zona da Mata nordestina. O modelo de estratégia de

modernização foi através da afirmação dos complexos agroindustriais, combinando

a ciência à agricultura, com o setor produtivo e a supressão do distanciamento entre

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41

a agricultura e a indústria de transformação para a realidade de sua região (CIMA,

1991).

A utilização de tratores na agricultura ilustra uma desigualdade no processo

de modernização da agricultura. Embora tenha havido um crescimento enorme das

quantidades de equipamentos utilizados nos últimos anos, no final da década de

1980 a região Sul contava com quarenta e quatro por cento do total agrícola, onde

havia a maior concentração de estabelecimentos rurais equipados com tratores. A

adubação química reforça estes dados de desigualdades na utilização e distribuição

perante o público produtor. Com o rápido crescimento da agricultura, veio junto o

agravamento social, problemas ecológicos e ambientais que, através do uso muitas

vezes excessivo e sem critérios de químicos (fertilizantes a agrotóxicos) coloca

também a intensa mecanização de algumas áreas como agentes de degradação

(CIMA, 1991).

2.4 – Manejo integrado do solo e das águas

O solo é um dos recursos naturais de maior disponibilidade na superfície

terrestre, sendo ele essencial nas atividades humanas como na produção de

alimentos e para moradia. Assim o homem usa tecnologias para transformar terras

em espaços produtivos, porém, nem sempre é considerando as limitações de seu

uso. A mecanização atual além de ser algo essencial para a produção em massa, ou

em grandes proporções, geralmente é traduzida como desastrosas e geradoras de

conseqüências que ajudam na deterioração das terras agricultáveis, aumentando o

potencial de erosão e de outras conseqüentes perdas. Países da América Latina

devido à disponibilidade de terras para a implantação da agricultura e pecuária

ajudaram a atender a demanda, até então, sem grande preocupação na degradação

das áreas utilizadas (GUERRA; SILVA; BOTELHO, 2010).

Segundo Costa et al (2006), o princípio da utilização do solo paranaense foi

caracterizado como um sistema agrícola não conservacionista, alimentado por

estímulos econômico facilitadores da exploração cíclica e migratória, fato que

contribuiu na degradação ambiental. A erosão hídrica e suas conseqüências

tornaram-se visíveis pela prática dos sistemas de produção. A mudança do

comportamento começou a ocorrer, de acordo com Costa et al (2006), no primeiro

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programa de combate a erosão do Paraná, no ano de 1960, conhecido como Projeto

Noroeste devido a localização de sua implantação no Estado, o qual buscava o

combate da erosão nos núcleos urbanos por motivo da má ocupação do solo, o qual

evoluiu posteriormente para a zona rural daquelas regiões, havendo o conseqüente

combate à erodibilidade nas terras.

Assim, os programas do Paraná continuaram a evoluir e foram lançados

outros com este mesmo fim, como o Programa Integrado de Conservação dos Solos

(PROICS) em 1975, com o objetivo de combate à erosão hídrica pela conservação

do solo e da água, manejo da fertilidade do solo com incentivos para aquisição de

calcário, e a correta utilização de implementos para se obter técnicas

conservacionistas. Este programa também incentivava técnicas de manejo bio-

cultural do solo, como os preparos reduzidos, cultivo mínimo17, plantio direto18, e a

rotação de culturas com plantas para a adubação verde19, visando assim, aumentar

a cobertura vegetal e reciclar a fertilidade das terras sob uso agrícola intensivo.

Posteriormente (1984) o governo Estadual lançou o Programa de Manejo Integrado

do Solo e da Água (PMISA), no qual incluía terraceamento e adequação de

estradas, a correção da acidez e o reflorestamento conservacionista. Com este

programa havia a necessidade de uma maior integração entre produtores rurais,

associações comunitárias organizadas pelos municípios e, por fim, a toda as

propriedades que pertenciam às microbacias20 trabalhadas na região, momento em

17 Cultivo mínimo: Sistema de cultivo que se situa entre o sistema de cultivo convencional e o sistema de plantio direto. O trânsito de máquinas agrícolas neste solo é mínimo. 18 Plantio direto: Sistema de manejo do solo onde a palha e os restos vegetais são deixados na superfície do solo. Revolvimento da terra é apenas no sulco onde são depositadas sementes e fertilizantes. As plantas infestantes são controladas por herbicidas. Não há preparo do solo, apenas é feito o sulco de plantio. 19 Adubação verde: Prática de plantar outras culturas além das que usualmente são cultivadas nesta área, para melhorar das condições físicas, químicas e biológicas do solo. A intenção é de enriquecê-lo nutricionalmente pelo plantio de leguminosas, as quais se associam com bactérias fixadoras de nitrogênio do ar e a transfere para as plantas. Também estimulam a população de fungos micorrízicos, microorganismos que aumentam a absorção de água e nutrientes pelas raízes. Também os restos orgânicos favorecem o aumento da biomassa vegetal, como podem contribuir para o controle de ervas daninhas pela cobertura morta sobre o solo, como pela liberação de substâncias vindas da raíz, inibidoras da germinação de outras ervas (alelopatia). 20 Microbacia: Do ponto de vista físico é uma unidade geográfica delimitada por uma rede de drenagem (córregos) que deságua em um rio principal. Se ficarmos restrito apenas ao aspecto geográfico, a microbacia não se diferencia da definição de bacia hidrográfica, podendo até ser classificada como uma pequena bacia. Ela está associada à realização de programas de desenvolvimento sustentável, tendo como beneficiários diretos comunidades rurais.

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que aumentou a credibilidade do programa nas práticas conservacionistas (COSTA

et al, 2006).

Com respeito à erosão hídrica do solo, pode ser potencializada em

conseqüência da topografia, da cobertura vegetal e de sua origem. Obviamente,

além desta natural pré-disposição, o seu manejo e a forma de utilização e

exploração (comercial ou agrícola), exige práticas adequadas de conservação e

manutenção. Neste sentido, o momento de implantação de uma cultura, por

exemplo, é o momento de maior vulnerabilidade da terra de uma propriedade,

principalmente na ocorrência de chuvas (COGO et al, 2003).

Assim, para inicio de um trabalho voltado à preservação de uma área, é

essencial o conhecimento topográfico, com as marcações das curvas de nível21

como de toda a área da microbacia que a envolve. Aqui deverão ser consideradas

também as áreas a serem cobertas permanentemente, como as matas ciliares22,

topo de morros e assim por diante (GOMES, 1987).

Com os preparos reduzidos e especificamente o plantio direto, elimina-se a

mobilização superficial dos solos e o mantém coberto pelos restos de culturas,

ocasionando uma conseqüente proteção da erosão e aumento do teor da matéria

orgânica. Também há uma economia relativa às operações convencionais para o

preparo agrícola do solo. Dentro do preparo convencional, o desenvolvimento

radicular das culturas é prejudicado devido à compactação logo abaixo à

profundidade de operação dos implementos conhecidos como pé-de-grade ou de

arado23, compactação que dificulta o desenvolvimento radicular e a absorção de

nutrientes (TAVARES FILHO et al, 2001).

21 Curvas de nível: Linhas que ligam quotas que possuem a mesma altitude em um levantamento topográfico. 22 Matas ciliares: Matas que possuem uma determinada largura ao longo de um rio determinado pela legislação, para assegurar a proteção do rio e do solo deste local. 23 Pé-de-grade ou pé-de-arado: Forma de compactação do solo agricultável prejudicial ao desenvolvimento da cultura instalada na área, sendo a conseqüência do trânsito de máquinas e dos equipamentos para a execução do serviço de aração e gradagem. Esta ação é devido ao peso do trator e dos implementos da camada logo abaixo ao solo trabalhado, ou seja, da terra revolvida na aração e ou da gradeação no decorrer dos anos e de forma constante. Esta compactação é prejudicial ao desenvolvimento do sistema radicular da cultura pela dificuldade de liberação de nutrientes às raízes, aeração da terra próxima ao sistema radicular e, a percolação da água. O uso de forma inadequada dos referidos implementos agrícolas, acaba favorecendo a perda de solo e, conseqüentemente da produtividade, uma vez que a disponibilização dos nutrientes é afetada em razão do aumento do potencial erodível do solo.

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Para implantar este sistema de plantio é recomendado práticas corretivas de

forma que seja precedido na instalação, como: eliminação de sulcos de erosão,

correção e manutenção do sistema de terraceamento, eliminação da acidez e

correção da fertilidade do solo, descompactação, uso de colhedeiras com picador de

palha, uso de semeadeiras especiais para plantio-direto, não utilização de áreas

infestadas de plantas daninhas de difícil controle, e condução de rotação de culturas

que possibilitem uma boa cobertura do solo, com diversificação do sistema radicular.

Este sistema não pode ser visto como uma prática a ser usada em solos

degradados, compactados e infetados por plantas daninhas

(OCEPAR/EMBRAPA,1989).

O uso da agricultura convencional tem ajudado em alguns casos a aceleração

da degradação do solo, causando desequilíbrio nas características física, químicas e

biológicas, o que pode afetar de forma direta no potencial produtivo. Assim,

destacam-se como os maiores problemas da degradação: a compactação, ausência

de cobertura vegetal, erosão hídrica e, a utilização de áreas inapropriadas para

cultivo anual. Outro manejo que de certa forma é tradicional, porém não adequado, é

a queima dos resíduos da cultura anterior, o que ocasiona a redução da infiltração

de água, contribuindo à erosão e a diminuição do teor de matéria orgânica,

influenciando o teor de “Ca” e a capacidade de reter cátions trocáveis do solo. Na

queima ainda pode ser convertido alguns nutrientes da matéria orgânica em

inorgânica, volatilizar nutrientes como: nitrogênio, enxofre, fósforo, potássio, cálcio e

magnésio. Os nutrientes também podem ser perdidos pela lixiviação24. No momento

entre um plantio e outro, o chamado “pousio”, recomenda-se movimentar o solo

somente para o plantio da próxima safra (OCEPAR /EMBRAPA,1989).

Dos programas desenvolvidos no Paraná relacionados às microbacias, o

Programa de Manejo Integrado do Solo e das Águas (PMISA), do PARANÁ RURAL,

diagnosticava as realidades encontradas no meio rural nas microbacias,

estabelecendo ações agro-ecológicas e sócio-econômicas nas comunidades

(COSTA et al, 2006) e, o atual Programa de Gestão Ambiental em Microbacias

24 Lixiviação: Processo de extração de uma substância presente em componentes sólidos pela sua dissoluçção em um líquido. É um termo utilizado em vários campos da ciência, tal como a geologia, ciência do solo, metralugia e química. Nas regiões equatoriais, e nas áreas de clima úmido, com abundantes precipitações sazonais, verifica-se, com maior facilidade, os efeitos da lixiviação do solo. Dentre os componentes que são extraídos estão os minerais solúveis, como fósforo, cálcio, nitrogênio, etc.

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(PGAIM), o qual apresenta como estratégia principal a ”Melhoria da qualidade e

aumento da disponibilidade de água; recuperação de áreas de preservação

permanente; prevenção e fiscalização e educação socioambiental” (PGAIM, 2009,

p.1). Das ações de planejamento e gestão deste programa, destaca-se: integração

continuada para o meio ambienta como as ações nas Bacias hidrográficas/

microbacias; integração entre sujeitos e instituições; condutas que contribuam para a

sustentabilidade; proteção, recuperação e preservação do solo, florestas e águas em

ambientes rurais e urbanos; mobilização para a participação da sociedade havendo

um controle social; reconhecimento e fortalecimento de lideranças socioambientais;

trabalho na multiplicação de agentes para a expansão desta idéia; conversão aos

programas globais como a Carta da Terra, Agenda 21; entre outros (PGAIM, 2009).

2.4.1- Fertilidade do solo

Um solo fértil é um solo vivo, um complexo ecossistema com ciclo de plantas,

bactérias, pequenos animais e reações químicas. Carbono e nitrogênio são dois

elementos químicos básicos aos ciclos ecológicos, além de muitos outros nutrientes

químicos e minerais necessários para os ciclos que equilibram o ecossistema

(CAPRA, 1982).

Com grande variabilidade de suas características físicas, químicas e

mineralógicas, as espécies vegetais diferem na capacidade de absorção e utilização

dos nutrientes, sendo que a partir destas diferenças são determinadas técnicas de

adubação, a qual deve ser considerada como base o resultado da análise de solo,

informações sobre o tipo do solo e as informações de tratos culturais anteriores,

como calagem, adubação, culturas implantadas, os rendimentos obtidos e outras

informações possíveis de se levantar. Assim a recomendação para adubação deve

ser orientada ao que se encontra no solo, interpretando os três níveis: alto, médio e

baixo, conforme mostrado na tabela abaixo (OCEPAR/EMBRAPA, 1989):

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Quadro 2: Níveis de alguns componentes do solo (método Mehlich para P e K) para efeito da interpretação de resultados de análise química do solo.

meq/100 cm3 solo ppm %

Al +++ K+ Ca++ Mg++ P K+ Saturação C M.O.

Al+++

Muito baixo – – – – – – ‹ 5 – –

Baixo ‹ 0,50 ‹ 0,10 ‹ 2 ‹ 0,4 ‹ 3 ‹ 40 5-10 ‹ 0,80 ‹ 1,50

Médio 0,50-1,50 0,10-0,30 2-4 0,4-0,8 3-6 40-120 10-20 0,80-1,40 1,50-2,50

Alto › 1,50 0,30-0,40 › 4 › 0,8 › 5 120-160 20-45 › 1,40 › 2,50

Muito alto – › 0,40 – – – › 160 › 160 – – Fonte: OCEPAR/EMBRAPA, 1989, p. 13.

Conforme Gomes (1985, p. 85) classifica, “terra ácida é sinônimo de terra

ruim”. Em locais com estas características nascem plantas de pouca exigência

quanto à fertilidade do solo, pois a acidez impede a absorção de muitos nutrientes,

algo que exige uma correção de seu pH25 através da utilização de calcário,

geralmente aplicado de forma mecânica por esparramadeiras (GOMES, 1985).

Terras com solo levemente acidificado se dão melhor para a produção

agrícola, pois diminuindo a acidez para concentrações adequadas à vida das

plantas, há uma elevação da produção da cultura, pois há: a) Diminuição de

elementos tóxicos às plantas que são favorecidos pela terra ácida (Al3+); b)

Aumento da disponibilidade do nitrogênio, enxofre, fósforo entre outros; c)

Disponibilização de cálcio e magnésio, os quais são essenciais às plantas e podem

corrigir possíveis deficiências; d) Melhora as propriedades físicas do solo,

contribuindo ao arejamento, absorção de água e liberação de íons e cátions na

solução do solo (GOMES, 1985).

Das exigências minerais, no que diz respeito à disponibilização dos nutrientes

para as espécies ou determinadas espécies vegetais, são influenciadas por muitos

fatores, como condições climáticas, chuvas, e temperatura, assim como genética

das cultivares de uma mesma espécie, o teor de nutrientes do solo e dos tratos

culturais. Para tanto, alguns trabalhos desenvolvidos possuem quantidades médias

de nutrientes em mil quilogramas de restos culturais de soja, em mil quilogramas de

grãos de soja como mostrado no quadro 2 abaixo (OCEPAR/EMBRAPA, 1989):

25

pH: Refere-se a uma medida que indica se uma solução líquida é ácida (pH < 7, a 25 °C), neutra (pH = 7, a 25 °C), ou básica/alcalina (pH > 7, a 25º C). Uma solução neutra só tem o valor de pH = 7 a 2 °C, o que implica variações do valor medido conforme a temperatura.

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Quadro 3 – Quantidade de nutrientes absorvida pela cultura de soja

(Kg/ha) Kg/ha g/ha

N P2O5 K2O S Ca Mg B Cl Mo Cu Fe Mn Zn Co Al

Grãos 1.000 51 10 20 5,4 3,0 2,0 200 237 5 100 700 300 400 – 15

Restos 1.000 32 5,4 18,0 10,0 9,2 4,7 – 23 2 – – – – – 172

culturais

Fonte: OCEPAR/EMBRAPA, 1989, p. 16.

Para cálculo do custo para aplicar adubos organo-minerais, deve ser com

base nos teores de P2O5 e K2O, baseados pelas análises existentes na legislação

regulamentadora do comércio destes produtos. O quadro 3 associa a análise do solo

e o conhecimento técnico da área a ser utilizada, indicando a necessária da

diversificação de fórmulas dos adubos, conforme ao que seja necessário. Desta

forma a aplicação dos três nutrientes de grande importância (N, P, K) poderão ser

realizados de acordo com o referido quadro:

Quadro 4 - Recomendação de adubação para soja no Estado do Paraná.

Análise do solo Solos cultivados No.1 Solos de uso recente No.2

P K N P2O5 K2O N P2O5 K2O

Baixo 0 40 - 50 60 0 90 - 100 45 Baixo Médio 0 40 - 50 45 0 90 - 100 35 Alto 0 40 - 50 30 0 90 - 100 15 Muito Alto 0 40 - 50 0 0 90 - 100 0

Baixo 0 30 - 40 60 0 60 - 70 45 Médio Médio 0 30 - 40 45 0 60 - 70 30 Alto 0 30 - 40 30 0 60 - 70 15 Muito Alto 0 30 - 40 0 0 60 - 70 0

Baixo 0 20 - 30 60 0 40 - 50 45 Alto Médio 0 20 - 30 45 0 40 - 50 30 Alto 0 20 - 30 30 0 40 - 50 15 Muito Alto 0 20 - 30 0 0 40 - 50 0

Fonte: Adaptado de OCEPAR/EMBRAPA, 1989, p. 18.

Vários fatores determinam a disponibilidade de nutrientes para as plantas no

solo, entre eles está o valor do pH da solução, a qual mostra a concentração de íons

de hidrogênio na solução. Desta forma, a figura 6 mostra a disponibilidade de

nutrientes em solos excessivamente ácidos em que ocorre a diminuição da

disponibilidade de fósforo, cálcio, magnésio, potássio e molibdênio, havendo, no

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48

entanto, o aumento da solubilização de íons como, zinco, cobre, ferro, manganês, e

alumínio, que dependendo do manejo usado no solo e da adubação, chegam a

níveis de toxidez às plantas (OCEPAR/EMBRAPA, 1989).

Figura 6: Tendência da disponibilidade de diversos elementos no solo e a relação com o pH.

Fonte: Adaptado de OCEPAR/EMBRAPA, 1989, p. 13.

2.4.1.1 – Necessidade de calagem

A Necessidade de Calagem (NC) é na realidade uma relação entre saturação

de bases do solo, a capacidade de troca catiônica26 (CTC) e, o poder relativo de

neutralização total (PRNT) do calcário. Assim é importante notar que ela (NC) não

explicada diretamente o baixo pH do solo, mas as conseqüências negativas que ele

pode causar ao sistema radicular da planta cultivada, como a liberação de

elementos tóxicos na solução do solo e, que são trocados por outros necessários

para a planta, podendo intoxicá-la ou impedindo o seu desenvolvimento normal

26 Capacidade Total Catiônica: É a quantidade total de cátions que um solo, ou algum de seus constituintes, pode adsorver e trocar a um pH específico. No solo, a CTC é devida à superfície específica e às cargas inerentes ou acidentais de colóides eletronegativos, como os minerais de argila, a sílica coloidal e o húmus.

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49

(EMBRAPA, 2003). Em geral, valores de pH (em H2O) do solo abaixo de 5,5 podem

condicionar graves problemas de toxicidade de alumínio para as plantas. O “efeito

concentrador” de carga negativa, que pode tomar lugar tanto na parede celular como

na membrana plasmática, é maior para cátions mais carregados, como o Al3+

(MACHADO, 1997, p. 4).

Há mais de uma forma para determinar a quantidade de calcário a ser

aplicada ao solo, como exemplo os métodos da Neutralização do Al3+ e suprimento

de Ca2+ e Mg2+ e da Saturação de bases do solo.

Para o cálculo do PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total),

principalmente nos Estados do sul do Brasil, utiliza-se o método o qual mede a

eficiência de calcários conjugando o poder de neutralização total com a eficiência

relativa de partículas de diferentes tamanhos, reconhecendo a granulometria como

fundamental na ação dos calcários. Ela é facilitadora da reação corretiva da acidez.

Os cálculos da eficiência em geral limitam-se a considerar a composição química

(RAIJ,1977).

Assim a qualidade dos calcários agrícolas depende fundamentalmente das

características do teor de neutralizantes e granulometria. Esses parâmetros são

possíveis de serem determinados, porém, separadamente e sem avaliar

seguramente a qualidade dos calcários agrícolas, dificultando um uso totalmente

racional considerando a sua qualidade nas recomendações de calagem

(BELLINGIERI; ALCARDE; SOUZA, 1988).

De acordo com Raij (1977) a classificação do pior calcário, o PRNT é de 52,3

% e, do melhor, PRNT de 93,8%. Assim, a ação dele no solo deverá ser bem diverso

sobre a acidez, sendo que se para o primeiro fosse necessário 1,8 ton./ha, o

segundo seria necessário 1 ton./ha para o mesmo efeito corretivo no solo.

2.4.2 – Agrotóxicos

O conceito de agrotóxico na legislação brasileira está descrito no artigo 1o,

inciso IV do Decreto n. 4.074 de 2002 que regulamenta a Lei n. 7.802 de 1989:

Art. 1o . Para os efeitos deste Decreto, entende -se por: IV - agrotóxicos e afins - produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens,

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50

na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores decrescimento.

Quando se iniciou a revolução verde27, ocorreram diversas e profundas

mudanças no trabalho tradicional da agricultura, momento em que tecnologias

baseadas no uso extensivo de agentes químicos começavam a ser adotados. Então

começaram a aparecer os impactos no ambiente e na própria saúde humana. Estes

agroquímicos objetivavam a proteção das lavouras contra doenças e pragas para

melhorar a produção. Porém, foi esquecida qualificação da força de trabalho nos

países que os manuseavam, ocorrendo contaminação nas zonas rurais que

passaram para as urbanas, podendo atingir a massa da população por

determinantes culturais, sociais e econômicos (MOREIRA et al, 2002).

No princípio de seu uso, um pequeno número de compostos inorgânicos

envolvendo os elementos químicos como o cobre e o arsênio, visava aumentar a

provisão de alimentos após a Segunda Guerra Mundial e a explosão demográfica

mundial. Com a procura de produtos mais “eficientes” para o aumento produtivo de

alimentos, foram introduzidos os primeiros produtos orgânicos para agir como

agrotóxico, destacando a ação do dicloro-difenil-tricloroetano (DDT). Mais tarde

conheceu-se melhor a atuação dos químicos organoclorados no meio ambiente e

junto à saúde do homem, o que motivou a mudança para agrotóxicos inibidores da

acetilcolinesterase. Assim, os organoclorados, até aquele momento, cumpriam o

papel de controle de pragas, sendo substituídos por agrotóxicos organofosforados e

carbamatos 2,3 (VEIGA, M. M. et al, 2006).

De acordo com Capra (1982, p. 246) “o uso maciço de fertilizantes e

pesticidas químicos mudou toda a estrutura básica da agricultura e da lavoura”.

Ainda a indústria investiu na persuasão dos agricultores para lucrar nos campos com

o argumento de controle de parasitas e pragas com produtos químicos e aumento de

27

Revolução verde: É a criação e disseminação de novas tecnologias para o aumento da produção agricola como: sementes, práticas que permitem aumento na produção em países menos desenvolvidos, principalmente nas décadas de 1960 e 1970. Este é um amplo programa idealizado para aumentar a produção agrícola no mundo por meio do 'melhoramento genético de sementes, tecnologia de plantio, de colheita, uso intensivo de insumos industriais, irrigação, mecanização e redução do custo de manejo através do gerenciamento da produção.

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51

produção. Assim, como fez a indústria farmacêutica junto aos médicos e pacientes,

Capra (1982) diz que a indústria petroquímica também vem trabalhando junto aos

agricultores e profissionais da área, para que periodicamente sejam adicionados

químicos no solo para manter sua produção.

Polemicamente colocado por Almeida (2002), este modelo de produção pode

gerar tanto impactos negativos à saúde dos homens, quanto problemas ao meio

ambiente quando comparados aos benefícios de aumento de produção nas lavouras

(VEIGA, M.M et al, 2006). O mais difundido na população mundial foi o DDT

(diclorodifeniltricloroetano), sendo este inseticida responsável por disfunções

reprodutivas em animais superiores. Assim, a intensa atividade da indústria

agricultura no século XX, começou a contaminar o ar, água e solos através dos

resíduos químicos (ALMEIDA, 2002).

O Brasil é hoje um dos maiores mercados mundiais de uso de agrotóxicos.

Em pesquisa desenvolvida por Farial, Rosal e Facchinill (2009, p.336) “noventa e

cinco por cento de estabelecimentos rurais usavam agrotóxicos com freqüência” na

Serra Gaúcha devido à agricultura familiar. Mesmo com o uso intensivo destes

produtos, oficialmente os registros de intoxicações de casos agudos são limitados e

quase inexistentes para os casos crônicos. O órgão oficial e responsável para

notificação de intoxicações por agrotóxicos é o Sistema Nacional de Notificação de

Agravos (SINAN), porém na prática, o mais utilizado é o Sistema Nacional de

Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), o qual registra principalmente os

casos mais graves, com uma relação de oito casos anuais/cem mil habitantes, com

uma predominância de tentativas de suicídio (FARIAL; ROSAL; FACCHINILL, 2009).

Segundo Veiga, M.M et al (2006), já existe uma relação direta entre

produtividade agrícola e degradação ambiental, com danos à saúde humana pelo

uso excessivo de agrotóxicos. Há uma dificuldade de prever com exatidão os efeitos

adversos deste produto ao meio ambiente, pois depende das características

químicas do produto, da quantidade absorvida ou ingerida e exposta ao ambiente ou

indivíduo, como da saúde, resistência e constituição física e da saúde geral.

A avaliação dos riscos de contaminação do meio ambiente por via dos

agrotóxicos apresenta certa dificuldade de identificação, pois podem ser

persistentes, móveis e tóxicos ao solo, água e ar. Tendem a acumular no solo, na

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biota28, podendo chegar aos sistemas superficiais por deflúvio superficial pelo

runoff,29 como no subterrâneo por lixiviação. A contaminação indireta do meio

ambiente também está presente, com a eliminação de predadores naturais e

microorganismos que potencializam a ação biocida dos produtos. Os efeitos podem

ser crônicos e interferir na expectativa de vida de animais, insetos e

microorganismos, afetando o crescimento, a fisiologia e a reprodução dos mesmos e

afetar até mesmo a alimentação, o habitat e conseqüentemente a biodiversidade.

Com o uso constante destes produtos, ocorre uma resistência dos insetos alvos,

havendo a necessidade do acréscimo das doses, para que cumpram os mesmos

objetivos anteriores (VEIGA, M.M; SILVA, D. M.; VEIGA, L. B. E, 2005).

É sabido que os agrotóxicos afetam a dinâmica dos ecossistemas como o

processo de quebra da MO, respiração do solo, ciclo de nutrientes e eutrofização30

de águas. No entanto pouco se sabem do processo de degradação destes produtos

no meio ambiente, por isso a preocupação da forma de aplicação, transporte,

armazenagem e descarte dos agrotóxicos, para evitar a contaminação de

mananciais e águas e, por conseqüência, a contaminações em massa. (VEIGA,

M.M; SILVA, D. M.; VEIGA, L. B. E, 2005).

28 Biota: conjunto de seres vivos de um ecossistema, o que inclui a flora a fauna, fungos e outros grupos de organismos. 29 Runoff: É o escoamento da água ou de uma mistura que esteja na superfície do solo em excesso, ou mesmo no subsolo, a qual será deslocada de acordo com a gravidade local como córregos, rios ou lençóis de água. 30

Eutrofização: O termo vem do grego "eu", que significa “bom, verdadeiro” e "trophein", “nutrir”. Assim, “eutrófico” significa "bem nutrido" e opõe-se a oligotrófico, a situação contrária em que existem poucos nutrientes na água, como acontece em geral, nas águas oceânicas. Este fenômeno é causado pelo excesso de nutrientes (compostos químicos ricos em fósforo ou nitrogênio) numa massa de água, provocando um aumento excessivo de algas. Por sua vez, estas aumentam o desenvolvimento do consumo primário e, eventualmente, de outros elementos da cadeia alimentar desse ecossistema. Este crescimento de microorganismos geralmente diminui a quantidade de oxigênio no ambiente desta água, Provocando morte e decomposição de muitos microorganismos, afetando de forma negativa a qualidade da água e alterando este ecossistema. É comum a ocorrência deste fenônemo em atividades humanas como as industriais, domésticas e agrícolas. Exemplo: contaminação por fertilizantes, agrotóxicos, etc.

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53

2.4.3 – Combate à erosão hídrica

Com tudo que foi visto acima, o combate à erosão é algo essencial para

conservação ambiental, diminuição de perdas econômicas e combate a problemas

na saúde animal e principalmente do homem. Com respeito às perdas podem ser de

solo, nutrientes, corretivos, fertilizantes, sementes, das condições naturais,

produção, combustível, equipamentos e de sua manutenção. Ainda há os riscos de

assoreamento de rios, contaminações do solo, água, animais e do próprio homem

pelo transporte de materiais pela erosão.

O processo erosivo causado pelas chuvas atinge praticamente toda a

superfície da terra, principalmente nas áreas de clima tropical em decorrência ao

elevado índice pluviométrico nestas regiões. Em locais desmatados para exploração

de madeira ou agrícola, os solos desprotegidos de cobertura vegetal, potencializam

à susceptibilidade à erosão. Para combater de forma eficaz e eficiente, Guerra

(2010) recomenda conhecer bem as práticas conservacionistas do solo, bem como o

desenvolvimento do processo erosivo nos diferentes tipos de solo e seus estágios

de formação desde o princípio das chuvas (GUERRA; SILVA; BOTELHO, 2010).

Guerra propõe que áreas de risco quando devidamente identificadas sejam

apoiadas pela legislação de proteção ambiental, com o objetivo de prevenir e

controlar erosão por ravinas e/ou voçorocas. Ravinas são incisões de menos de

cinqüenta centímetros e voçorocas com mais de cinqüenta. Assim, somando a ação

das águas superficiais e subsuperficiais, com o aprofundamento dos sulcos até

atingir o lençol freático, forma-se a voçoroca diferindo da chamada ravina apenas

pela profundidade menor (GUERRA; SILVA; BOTELHO, 2010).

2.4.4 – Manejo integrado de pragas

Para que se tenha uma menor contaminação ambiental pelo consumo de

agrotóxicos e, de seus efeitos negativos contra os ecossistemas, o manejo integrado

de pragas é um grande aliado, pois como é sabido, a planta tem uma capacidade de

suportar o ataque de determinado número de insetos sem que este dano venha

prejudicar a sua produção de forma definitiva. Se há um ataque no começo do

desenvolvimento da planta, ou seja, antes do florescimento, a soja, por ser o

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54

exemplo estudado, sabe-se que suportará mais pela razão de possuir nesta fase

muita energia para soltar mais folhas. Assim pode ser feito um levantamento em

campo para saber como está a desfolha da lavoura, e a quantidade de lagartas e

percevejos recolhido em uma batida-de-pano31 (EMATER, 1988). Desta forma, o

Manejo Integrado de Pragas sugere o momento de aplicação de defensivos, quando

o dano ou a número de pragas está no limite para que seus inimigos naturais não

consigam controlá-los. Para este controle é necessário conhecer primeiramente as

pragas, os inimigos naturais, o momento em que as pragas podem prejudicar a

lavoura e, avaliar quantas pragas está atacando e seu volume de dano para o

controle dela (EMATER, 1988).

Assim, segue um resumo das principais pragas para a cultura da soja:

a) Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), com falsas pernas vestigiais no abdômen

e se locomovem medindo palmos. Não confundir com as falsas-medideiras.

Coloração geral é verde, com estrias longitudinais brancas no dorso. Em alta

população ou escassez de alimento torna-se escura, podendo atingir quarenta

milímetros (40mm) de comprimento.

b) Percevejo verde (Nezara viridula): Devido à temperatura adaptou-se melhor na

região sul. Adulto com cor verde e tamanho de até quinze milímetros (15mm). Seu

prejuízo às plantas começa no terceiro ao quinto instar larval32, quando sugam os

grãos de soja.

c) Percevejo pequeno (Piezodorus guildinii): Ampla distribuição geográfica chegando

ao norte e nordeste do Brasil. Adulto com aproximadamente dez milímetros (10mm)

de comprimento e cor verde amarelada. Apresenta uma listra transversal marrom

avermelhada na parte dorsal do tórax próximo à cabeça. É no terceiro ao quinto

31

Batida-de-pano: Método de vistoria para verificar o ataque de pragas na lavoura de soja para o seu manejo integrado. É um artefato constituído de um metro de pano por 80 centímetros de largura, com duas varas de um metro e meio para poder suportar o pano e colocá-lo na rua da plantação. Cobre-se bem o chão entre as duas fileiras de soja e, abaixam-se as plantas de fora para dentro em cima do pano e bate-se nas plantas de forma firme para derrubar todas as pragas no pano. Depois se contam as pragas e anota-se em uma ficha de controle. No mesmo local da batida-de-pano é avaliado quantos por cento das folhas foram danificadas pelas lagartas. Verifica-se também o quanto os ponteiros foram atacados em 2 metros em linha da plantação, quantas plantas foram atacadas nestes dois metros e, posteriormente faz-se a porcentagem das plantas atacadas. Para saber quantas batidas é necessário dar na área, uma lavoura de até 10 ha é feito 6 pontos, 10 a 30 ha em 8 pontos, 30 e 100 ha 10 pontos, mais de 100 ha divide-se em talhões de 100 ha. 32

Ínsteres-larvais: Estágio de desenvolvimento dos insetos.

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55

instar larval prejudicial à soja. Prejudica qualidade das sementes e causa retenção

foliar à cultura da soja.

d) Percevejo marrom (Euschistus heros): Adaptado para climas mais quentes (norte

do Paraná ao Centro Oeste do Brasil). Coloração marrom-escura, com

prolongamentos laterais em forma de espinhos na parte da frente de seu corpo.

Danos às sementes entre o terceiro e o quinto instar, quando atingem de cinco a dez

(5 a 10mm) milímetros.

Observação: Esclarece-se que há outras pragas que podem infestar a cultura da

soja, mas são classificadas como secundários e/ou esporádica (HOFFMANN-

CAMPO et al, 2000).

O manejo integrado reduz o uso de inseticidas e mantém no campo os

inimigos naturais para combater os insetos predadores. Abaixo segue os principais

inimigos naturais das pragas citadas acima citadas (EMATER, 1988; HOFFMANN-

CAMPO et al, 2000):

a) Fungos: atacam diversas espécies de pragas, sendo o mais conhecido o

Nomuraea rileyi que ataca as lagartas de várias espécies e causa a Doença Branca,

quando há alta umidade do ambiente (> 80%). Pode dizimar as populações de

lagartas. Seus esporos se espalham com o vento e infectam outros insetos. Além

das lagartas podem infectar os percevejos, por exemplo;

b) Vírus: Baculovírus da lagarta-da-soja Baculovirus anticarsia, é mortal para as

larvas de A. gemmatalis, morrendo cerca de sete dias após a infecção. Fica presa

ao substrato apenas pelas falsas pernas. O seu corpo se rompe e libera grande

quantidade do vírus na cultura em poços dias, contaminando as populações

subseqüentes;

c) Predadores: podem ser de duas ordens: Hemípteros e Coleópteros, os quais se

alimentam de diversas pragas;

d) Parasitas: mais comuns das ordens Diptera e Hymenoptera. Ovoposição nos ovos

ou nas formas jovens ou adultas. Alimenta-se dos tecidos internos do hospedeiro

sem causar sua morte imediata.

Para o controle das principais pragas da soja são recomendados alguns

procedimentos (HOFFMANN-CAMPO et al, 2000; EMATER, 1988):

1) Lagartas-da-soja (Anticarsia gemmatalis) Controle:

a) Antes da floração – Trinta por cento (30%) das folhas destruídas e mais de

quarenta (40) lagartas na média dos pontos de amostragem;

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b) Depois da floração – quinze por cento (15%) das folhas destruídas ou mais de

quarenta lagartas na média dos pontos de amostragem. Observação: para os dois

casos acima, considerar apenas lagartas com mais de um e meio (1,5 cm)

centímetros, ou seja, lagartas grandes.

Controle biológico por baculovírus: Cinqüenta (50) lagartas grandes doentes

aplicam-se em um (1) ha ou meio (0,5) alqueire de soja. Coletam-se lagartas mortas

(cor amarelada) para o controle biológico. Lagarta morta na cor preta, o vírus não

funcionará mais. O modo de preparo para 1ha: a) Cinqüentas lagartas grandes

infectadas (mais de 3 cm), ou vinte (20g) gramas; b) bater no liquidificador com água

e coar com gaze; c) aplicação de vinte gramas por ha (20 g/ha). Como pó

molhável: vinte gramas de lagarta mortas e infectadas com no mínimo quinze (15

l/ha) litros de água, ou cinco (5 l/ha) litros de óleo não refinado de soja. Geralmente

a aplicação do baculovírus controla a lagarta por toda a safra.

Controle biológico pela bactéria Bacillus thuringiensis: possui toxinas que paralisam

o intestino do inseto. As lagartas contaminadas param de se alimentar, algumas

horas após a ingestão do produto, e morrem poucos dias depois (HOFFMANN-

CAMPO et al, 2000).

2) Broca-dos-ponteiros: controle após encontrar trinta por cento (30%) ou mais de

plantas com o ponteiro atacado. Lagartinha que fica escondida dentro dos brotos,

Não cai na batida-de-pano. Examina-se a parte superior das plantas para ver se tem

ataque. Contar o número de ponteiros atacados em dois metros de linha, depois

contar o número de plantas nestes dois metros de linha para tirar a porcentagem.

3) Percevejos – prejuízo à soja quando atacam na formação das vagens ou na

formação dos grãos. Se os galhos da soja já estiverem amarelos, sua presença já

não causa mais prejuízo. Controle somente quando encontrar quatro (4) percevejos

na média dos pontos amostrados nas batidas (HOFFMANN-CAMPO et al, 2000).

O controle químico deve ser realizado somente se os inimigos naturais não

estiverem conseguindo cumprir o seu papel sozinho, ou seja, quando for observado

um aumento do número de pragas ou de desfolhamento no limite em que as plantas

não possam suportar (EMATER, 1988). O quadro 4 resume os índices de infestação

no controle das principais pragas da lavoura de soja no campo.

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Quadro 5 – Infestação para controle para as principais pragas da soja

Fonte: EMBRAPA soja

Além do manejo integrado de pragas existe o Manejo Integrado de Pragas do

Grão, conhecido como MIPGRÃO33. Alguns dos problemas que podem ser gerados

por tais pragas é a presença de fragmentos de insetos, deterioração da massa de

grãos, contaminação fúngica, presença de micotoxinas, efeitos na saúde humana e

animal, dificuldades para a exportação dos produtos e dos subprodutos devido aos

riscos que possam causar, resultando em perdas quantitativas e qualitativas do que

foi colhido. Estes problemas podem seguir em toda a cadeia do grão, finalizando na

mesa do consumidor (DE MORI; LORINI, 2007).

De acordo com De Mori e Lorini (2007), além dos impactos na cadeia

produtiva, o MIPGRÃO gera impactos econômicos positivos como a valoração do

produto ofertado, a racionalização de uso de inseticidas, o aumento da duração do

33

MIPGRÃO: Manejo Integrado de Pragas do Grão Armazenado que consiste em tratamento preventivo, com base no preparo dos armazéns para receber os grãos. Há pragas que se reproduzem na poeira e em resíduos de grãos, que podem ser evitado pela higienização do local. Este manejo consiste em (a) mudança no comportamento dos armazenadores na fase inicial e um acompanhamento responsável durante o período; (b) conhecer a unidade armazenadora dos grãos, com acompanhamento da chegada à expedição; (c) limpeza e higienização da unidade armazenadora; (d) identificação de pragas; (e) potencializar a destruição de cada espécie de praga; (f) proteção do grão com inseticida; (g) tratamento curativo sempre que houver presença de pragas e, (h) constante monitoramento da massa de grãos.

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período entre tratamentos preventivos e curativos, obtendo uma conseqüente

manutenção da imagem do produto e da organização. Sabe-se também que pode

resultar a redução de custos em até 60%, como foi constado em estudos.

No aspecto ambiental esta tecnologia tem grande alteração na redução na

emissão de material particulado e odores na atmosfera, sendo que com a diminuição

de transilagens e de tratamentos químicos, há uma redução de uso de produtos

químicos e emissão de partículas de pó. Com a implantação do MIPGRÃO a

manutenção da limpeza descartou o uso de túneis e galerias de tratamento (DE

MORI; LORINI, 2007).

2.5 – Soja

Uma leguminosa34 herbácea anual com alto teor protéico em seus grãos

(trinta e oito por cento) com fácil adaptação climática e de fotoperíodo. Seu nome

científico é Glycine max (L.) Merril, ou ainda Glycine hispida com inúmeras

variedades e cultivares. Classificada como uma das principais oleaginosas do

mundo. Foi introduzida no Brasil no ano de 1908 por imigrantes japoneses nos

Estados da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) (BARRETO,

2004).

[...] apenas a partir da década de 1970 observou-se o crescimento da sua produção no país. De 1970 a 1979 a sojicultura se expandiu na região tradicional, isto é, onde se iniciou sua cultura (Região Sul e São Paulo), devido a fatores como: condições edafo-climáticas favoráveis, boa infra-estrutura (sistema viário, portuário, comunicações), o estabelecimento de uma articulada rede de pesquisa de soja (BARRETO, 2004, p2).

A Revolução Verde contribuiu muito na produção e desenvolveu práticas

culturais específicas, as quais podem minimizar impactos gerados pela sojicultura e

no meio ambiente, de onde podemos destacar o Plantio Direto e a Rotação de

Culturas. Quando realizado o Plantio Direto sem o uso de herbicidas, considera-se

uma prática realmente conservacionista, conforme citado por Barreto (2004).

34

Leguminosas: São plantas que produzem as suas sementes em vagens e que realizam simbiose com as bactérias do gênero Rhizobium, produzindo nódulos nas raízes destas plantas e, estas bactérias possuem grande importância no ciclo do nitrogênio, convertendo o nitrogênio atmosférico em amônia é liberando ao solo para aproveitamento de outras plantas.

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59

2.6- Processo agroindustrial de transformação da soja em óleo refinado

Inicialmente é muito importante destacar que para a instalação de uma

agroindústria é necessário satisfazer algumas exigências legais, como o caso da

Resolução CONAMA 237/97, a qual reza sobre o seguinte conceito do licenciamento

(TCU, 2007):

Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras; ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (TCU, 2007, p.10).

Abaixo segue o rol de algumas atividades e de empreendimentos que

necessitam de licenciamento ambiental para seu funcionamento. É lembrado que

todos os custos relativos a esta licença correm por conta do empreendedor (TCU,

2007)

Indústria de produtos alimentares e bebidas: [...] beneficiamento, moagem, torrefação e fabricação de produtos alimentares; refino/preparação de óleo e gorduras vegetais; fabricação de bebidas não alcoólicas, bem como engarrafamento e gaseificação de águas minerai; [...] (TCU, 2007, p.49).

Na agroindustrialização do grão de soja há as resultantes desta

transformação industrial, gerados através da trituração dos grãos em óleo bruto, a

torta e a farinha, que a partir destes é produzida a lecitina de soja, óleo alimentício,

margarina, gorduras emulsionadas, leite de soja, queijo de soja, molho de soja e as

Proteínas Vegetais Texturadas (PVT), das quais são utilizadas com o fim de

substituir a carne animal (BARRETO, 2004).

O óleo de soja é o tipo de óleo mais consumido no mundo, sendo o seu

concorrente direto o óleo de palma. No Brasil há diversos incentivos para a produção

e comercialização deste óleo. Aqui são produzidas as seguintes qualidades: bruto,

refinado comestível, refinado industrial e lecitina. O Refinado apresenta-se com cor

levemente amarelado, límpido com odor e sabor suave característico. Sua utilização

é alimentício como óleo de cozinha, tempero de saladas, produção de margarinas,

gordura vegetal, maionese, entre outras. Sua grande vantagem sobre os outros

Page 60: Marcus Cesar Franzolin - FAE

60

óleos é devida seu baixo preço aliado com sua qualidade alimentícia. Como

comparação de sua qualidade, a carne de vaca e de peixe fornece dezoito por cento

de proteína, enquanto que as sementes de soja contêm quarenta por cento

(Campestre, 2010).

A aplicação do óleo de soja além da alimentação humana pode ser aplicada

na indústria cosmética, farmacêutica, veterinária, ração animal, industrial na

produção de vernizes, tintas, plásticos, lubrificantes e outros (Campestre, 2010).

2.6.1- Recepção e armazenamento da soja

Os grãos recebidos pela agroindústria são avaliados por amostragem nos

aspectos umidade, pureza (materiais estranhos à soja), grãos quebrados, avariados

e ardidos. Antes da armazenagem é realizada a Pré-Limpeza.

A condição da armazenagem da soja é de fundamental importância, pois

afetam diretamente na qualidade do produto final. Quando armazenadas em más

condições, podem ocorrer problemas como o aquecimento da semente por

fermentação e podem chegar até mesmo à carbonização caso esteja com umidade

acima da crítica (13%), podendo ocasionar o aumento da acidez, com

escurecimento do óleo da semente e dificultando o refino e clarificação. Tais

modificações afetam o sabor e o aroma dos farelos e óleos, modificações estruturais

com diminuição do índice de iodo depois da armazenagem prolongada da semente

(MANDARINO; ROESSING, 2001).

2.6.2- Preparação para a produção de óleo

Depois de limpar e separar as polpas ou cotilédones dos tegumentos ou

cascas ocorre o descascamento, sem que aí, os grãos sofram pressão para não

haver perda de parte do óleo por migração da polpa para a casca. Esta casca, no

geral, é queimada para a geração de calor pelas caldeiras. Os descascadores são

batedores ou facas giratórias com peneiras vibratórias e insuflação de ar. Os

cotilédones ou poupas após estarem separadas e descascadas, sofrem um

aquecimento entre cinqüenta e cinco e sessenta graus Celsius (50 e 60º C).

Page 61: Marcus Cesar Franzolin - FAE

61

A trituração e a laminação diminuem o volume do grão, momento que começa

a extrair o óleo. Podem-se utilizar rolos de aço inoxidável horizontais e oblíquos,

para o esmagamento. Com posterior desidratação para ativação das enzimas

celulares, como a lípase e a peroxidase, geram efeitos negativos à qualidade do

óleo e da torta, devendo ser efetuado o mais rápido possível.

O seu posterior cozimento facilita a saída do óleo nas bandejas sobrepostas e

aquecidas (4 a 5 unidades), utilizando vapor direto com rápida elevação da

temperatura ou, indiretamente, quando o aquecimento é realizado por vapor na

camisa do cozedor. Em temperaturas e a umidade que chegam aos flocos de

setenta a cento e cinco graus e vinte por cento de umidade. Este processo aumenta

a permeabilidade das membranas celulares e facilita a saída do óleo com a

diminuição de sua viscosidade e da tensão superficial. O cozimento ainda coagula e

desnatura parcialmente as proteínas, fazendo inativação das enzimas lipolíticas,

diminuindo a produção de ácidos graxos livres e o conteúdo de composto de enxofre

(MANDARINO; ROESSING, 2001).

2.6.3- Extração do óleo bruto

Nas antigas plantas de extração de óleo, prensas contínuas ou “expelers”

(figura 7) é seguida a extração por meio de solventes orgânicos. Este método

dissolve o óleo residual e deixa a torta que saiu da prensa praticamente sem óleo.

Depois o solvente é separado do óleo e, este último, é colocado junto ao óleo bruto

que foi extraído da prensagem. Este óleo é filtrado para retirar impurezas mecânicas

arrastadas pelas partículas de grãos. A torta final (farelo) extraída contém menos de

um por cento (1%) de óleo, que é novamente submetido a uma moagem ou

armazenado em sacos ou silos. Nos processos mais modernos são utilizados flocos

colocados diretamente em extratores onde o óleo extraído é diretamente realizado

por força do solvente orgânico (MANDARINO; ROESSING, 2001).

Na prensagem mecânica os grãos entram na prensa ou “expeler” (figura 7)

por um eixo alimentador, formado por barras de aço regulares e distanciado por

lâminas. Este distanciamento permite que o óleo possa sair enquanto é triturado e

filtrada as partículas do resíduo da prensagem. No centro há um “tipo” de cesto em

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62

forma de rosca que movimenta e comprime o material para frente ao mesmo tempo,

podendo alcançar uma pressão de duzentas atmosferas por cm2.

Figura 7 - Prensa contínua “Expeller”: 1- Motor elétrico/ 2- Redutor/ 3- Entrada dos grãos condicionados/, 4- Rosca helicoidal/ 5- Cesto/ 6- Cone de saída/ 7- Saída do farelo ou torta.

Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.15.

A extração pelo uso de solvente orgânico utiliza atualmente o hexano com

ponto de ebulição aproximado de setenta graus Celsius (70º C). Os flocos laminados

após passar pelo extrator são submetidos a duas formas para a retirada do óleo: 1)

Dissolução: rápido e fácil; 2) Difusão: mais demorada, por depender da mistura do

óleo e do solvente através da parede celular semi-permiável. O subseqüente

desengorduramento dos grãos laminados na parte inicial é muito rápido,

decrescendo no decurso do processo. A quantidade de óleo no farelo após a

extração é em torno de zero vírgula cinco a zero vírgula seis por cento (0,5% a

0,6%) (MANDARINO; ROESSING, 2001).

A solução do óleo com o solvente é chamado de miscela e, o fator que define

a velocidade da extração no processo é a obtenção do equilíbrio entre óleo-miscela-

solvente. A escolha do hexano como solvente satisfaz uma série de exigências

como dissolver o óleo com facilidade sem que venha agir com outros compostos dos

grãos, possuir composição homogenia na faixa da temperatura de ebulição, não se

Page 63: Marcus Cesar Franzolin - FAE

63

misturar com água com a qual não forma azeótropos35, ter baixo calor latente de

ebulição, porém, apresentam desvantagens como alta inflamabilidade e alto custo.

Para um futuro, pensa-se na possibilidade da utilização industrial do etanol

(MANDARINO; ROESSING, 2001).

Na extração semi-contínua geralmente utiliza-se uma seqüência de três a seis

extratores com tanques para coleta do óleo. O solvente se movimenta no fluxo

contrário do material trabalhado. Neste sistema o rendimento é relativamente baixo e

é exigido mais mão-de-obra.

A extração contínua é da década de 1950 no Brasil e com “know how”

estrangeiro. A exceção é o sistema “CODIC” que contém roscas em posições

inclinadas com seu início alargadas e vão afinando, sendo que a torta proveniente

da pré-prensagem mergulhada em solvente ou miscela que é encaminhada por

movimento espiral para o extrator seguinte. É de montagem fácil e custo

relativamente baixo e a mão-de-obra empregada é menor que na extração semi-

contínua. Problemas identificados: presença de impurezas em quantidade

excessiva.

Sistema “LURGI” utiliza uma esteira horizontal munida de “semicanecas” que

se movimentam independente por uma tela ou chapa perfurada. No fim do percurso

omaterial cai e retorna ao início. O solvente e a miscela são injetados na esteira

superior e à tela inferior, extraindo por completo ao final do curso. Posteriormente

são transportados para secadores ou dessolvedores. Já o extrator “MIAG” é muito

semelhante a este, porém são utilizadas canecas inteiras.

O sistema “SMET” utiliza esteira também e baseia-se em chuva de solvente.

Método muito utilizado no Brasil. Por esteira o material é levado para extração por 35 Azeótropos: Mistura de duas ou mais substâncias que, em certa composição, possui um ponto de ebulição constante e fixo, como se fosse uma substância pura, não podendo, com isso, seus componentes serem separados por processo de destilação simples. Misturas comuns não têm ponto de ebulição constante mas sim uma faixa de temperaturas na qual ocorre a mudança de fase, e nesse sentido, o azeótropo é diferente, pois seu ponto de ebulição é fixo. Um azeótropo pode ferver a uma temperatura inferior, intermediária ou superior às temperaturas dos componentes da mistura quando puros. Quando é inferior, chama-se azeótropo de mínimo ponto de ebulição ou azeótropo negativo. Quando é superior, azeótropo de máximo ponto de ebulição ou azeótropo positivo. Outra característica de um azeótropo é que a composição do líquido azeótropo e do vapor em equilíbrio com tal líquido é a mesma. Por exemplo, se um azeótropo é composto de duas substâncias, A e B, com proporções respectivas de 60% e 40%, quando vaporizado resulta em um vapor com os mesmos 60% de A e 40% de B. 35 Terra diatomácea: Utilizado em um método de filtração para clarificar produtos. Normalmente, a filtração é procedente da filtração grosseira por meio de separadores, decantadores, ou tanques de repouso, para o polimento final por terra diatomácea (DE) ou inserção de outros meios filtrantes. Terra branqueadora. Também é utilizada em armazenagem de grãos com efeito inseticida.

Page 64: Marcus Cesar Franzolin - FAE

64

diversos atomizadores de solvente. Abaixo da esteira há os receptáculos de miscela,

que é centrifugado e alimenta o atomizador, quando ocorre a seção de escorrimento

de miscela. Ao sair o material, a esteira é limpa continuamente por meio de uma

escova cilíndrica e rotatória. A miscela sai praticamente livre de finos e pode ser

dispensada a filtração deste material.

O último é o sistema “ROTOCEL” que constitui um cilindro dividido em

setores, onde é coloca a matéria-prima (os flocos), mantendo-a em baixa rotação. A

miscela mais concentrada está no início e, posteriormente, vêm as mais diluídas até

a entrada do solvente puro, quando cai a torta e o farelo em uma tela para ser

transferido para o dessolventizador. Este modelo ocupa menor espaço que outros

extratores contínuos. Neste processo a miscela é filtrada para a retirada de finos e

encaminhar ao destilador contínuo, onde o óleo separado do solvente é aquecido a

setenta a noventa graus Celsius (70 a 90º C) sob vácuo, reduzindo o solvente do

óleo à aproximadamente cinco por cento (5%). O hexano é destilado por meio de um

“evaporador de filme com insuflação de vapor direto”. Ainda, para retirar algum sabor

indesejável do farelo de soja, ele sofre a dessolventização, processo térmico que

pode utilizar uma secadora de rosca horizontal, ou dessolventizador-tostador que

realiza uma cocção úmida, para uma evaporação do solvente (MANDARINO;

ROESSING, 2001).

Para a recuperação do solvente, a dessolventização da miscela e do farelo

praticamente o remove todo. O motivo da perda do hexano é da mistura

incondensável formada entre seus vapores e o ar. Esta remoção do solvente da

mistura utiliza compressores a frio nas instalações através de colunas de absorção

com óleo mineral. Isto é possível devido à maior solubilidade do hexano em óleo

mineral do que no ar. Os gases incondensáveis entram na colona pela parte inferior

e, o solvente é absorvido por um óleo mineral (MANDARINO; ROESSING, 2001).

Figura 8 esquematiza a extração do óleo.

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65

Figura 8 – Esquema simplificado do processo de extração do óleo bruto e de farelo desengordurado

Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.19.

2.6.4- Processo de refinação do óleo bruto

Este procedimento melhora a aparência, odor e sabor, removendo os

componentes abaixo citados (MANDARINO: ROESSING, 2001, p. 20):

a) substâncias coloidais, proteínas, fosfatídeos e produtos de sua decomposição; b) ácidos graxos livres e seus sais, ácidos graxos oxidados, lactonas, acetais e polímeros; c) substâncias coloridas como clorofila, xantofila, carotenóides, incluindo-se neste caso o caroteno ou pró-vitamina A; d) substâncias voláteis como hidrocarbonetos, álcoois, aldeídos, cetonas e ésteres de baixo peso molecular; e) substâncias inorgânicas como os sais de cálcio e de outros metais, silicatos, fosfatos, dentre outros minerais; f) umidade.

Suas etapas são:

1) Degomagem ou hidratação; 2) Neutralização ou desacidificação; 3) Branqueamento ou clarificação; 4) Desodorização.

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66

2.6.4.1 – Degomagem ou hidratação

Este processo remove do óleo bruto os fosfatídeos36 que podem alcançar em

torno de três por cento, a lecitina que possui valor comercial, as proteínas e as

substâncias coloidais. Esta etapa reduz a quantidade de álcali a ser utilizado durante

a subseqüente neutralização. As substâncias chamadas “gomas” são facilmente

hidratáveis na presença de água, mas insolúveis no óleo e possibilitam sua remoção

(MANDARINO; ROESSING).

O método mais utilizado para a degomagem é a adição de um a três por

cento (1% a 3%) de água no óleo bruto aquecido a sessenta a setenta graus Celsius

(60º a 70º C) e agitação durante vinte a trinta minutos, formando um precipitado que

é centrifugado e removido a cinco ou seis (5 a 6) mil rotações por minuto (rpm).

Neste processo se extrai a lecitina comercial, que é formada por volta de sessenta

por cento (60%) da mistura de fosfatídeos (lecitina, cefalina e fosfatidilinositol) e

trinta e oito (38%) por cento de óleo a dois por cento (2%) de umidade

(MANDARINO; ROESSING, 2001).

Outra opção para a degomagem é a injeção continuada de óleo aquecido a

sessenta graus Celsius (60º C), com tempo de hidratação reduzida para alguns

minutos. Ainda há outro método que pode ser utilizado, que é variando a

porcentagem de ácido fosfórico de zero vírgula um a zero vírgula quatro por cento

(0,1% a 0,4%), com uma concentração de oitenta e cinco por cento (85%),

misturando a ele óleo bruto a sessenta e sessenta e cinco graus (60º e 65ºC)

Célsius, com posterior adição de terra diatomácea37 na concentração de zero vírgula

dois por cento (0,2%) com o fim de branquear o óleo. A separação da goma é

realizada por filtração ou centrifugação. A figura 9 é um esquema simplificado da

degomagem (MANDARINO; ROESSING, 2001).

36 Fosfatídeos: Substâncias que são constituídas por uma mistura de ésteres de ácidos graxos, ácido fosfórico e aminoglicol. São glicerídeos complexos que contém duas moléculas de ácidos graxos e uma de ácido fosfórico e, no radical fosfato, liga-se radicais de outros compostos. Variam a composição de acordo com os tipos de ácidos graxos ligados ao glicerol. Frequentemente um ácido graxo é saturado e outro é insaturado. Fosfatídeos são encontrados em membranas celulares do cérebro, tecidos nervosos e fígado. Estão presentes nas gemas de ovos na medula ócea e em sementes de vegetais.

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67

Figura 9: Esquema simplificado da degomagem

Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.22.

2.6.4.2 – Neutralização ou desacidificação

Com adição de hidróxido de sódio ou, às vezes carbonato de sódio em

solução aquosa, elimina-se do óleo de soja degomado, ácidos graxos livres e outros

componentes considerados impurezas (proteínas, ácidos graxos oxidados e

produtos resultantes da decomposição de glicerídeos), ocasionando o

branqueamento parcial do óleo. Métodos de neutralização:

a) Neutralização descontínuo: Em “tacho” de óleo com capacidade de seis a quinze

toneladas com agitador mecânico, adiciona-se a solução alcalina e a água. Através

de uma “camisa” para o vapor indireto e, um chuveirinho ou atomizador com

aplicação direta da solução. Em óleo de baixa acidez é adicionado de vez em

quando, solução aquosa e quente (90 a 95º C) de hidróxido de sódio sem agitar.

Solução alcalina com maior concentração é adicionada aos óleos com acidez

elevada sob intensa agitação à temperatura ambiente, facilitando o contato com as

duas fases. Depois de quinze a vinte minutos aquece-se à temperatura de cinqüenta

a setenta graus Célsius (50º a 70º C), que é a temperatura apropriada para quebrar

esta emulsão, com uma velocidade reduzida do agitador. Depois do repouso da

mistura por algumas horas é separado o sabão da “borra” formada, retirando pelo

fundo do tacho (torneira) e, lava-se o óleo com água fervendo três a quatro vezes

em porções de dez a vinte por cento (10% a 20%) em relação a quantidade de óleo,

deixando o composto em repouso por mais ou menos trinta minutos entre as lavadas

(MANDARINO; ROESSING, 2001).

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68

Figura 10 – Neutralizador descontínuo

Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.23.

As concentrações de hidróxido de sódio para aplicação, em relação a outros

parâmetros da neutralização, são apresentadas conforme quadro 5.

Quadro 6 - Concentrações de hidróxido de sódio na neutralização

Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.23.

b) Neutralização contínua: Método muito utilizado nas indústrias de óleo devido à

economia de tempo e menor perda no processo. Há a adição de solução de

hidróxido de sódio ao óleo depois de aquecido a sessenta e cinco graus a noventa

graus Célsius (65 a 90º C) de temperatura. Depois, separa-se o óleo neutralizado

da “borra” através de centrifugação. Ainda como opção, é possível substituir o

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69

hidróxido de sódio por carbonato de sódio ou a mistura de ambos os reagentes, a

qual afeta a eliminação de fosfatídeos, corantes e outras impurezas. Este processo

reduz a saponificação ao mínimo do óleo neutro (MANDARINO; ROESSING, 2001).

c) Neutralização pelo método Zenith: No Brasil é usado por apenas uma empresa

atualmente.

A figura 11 esquematiza a neutralização do óleo degomado.

Figura 11 – Resumo do processo de neutralização do óleo degomado

Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.26.

2.6.4.3- Branqueamento ou clarificação

A degomagem e a neutralização por álcalis têm um efeito branqueador devido

à remoção de pigmentos presentes no óleo de soja, como também da coagulação e

a ação química. No entanto, como é uma exigência dos consumidores, geralmente

querem óleo quase incolor, o que é possível somente com a adsorção de pigmentos

com terra clareadoras, ativadas ou naturais, podendo ser algumas vezes misturadas

com carvão ativado na proporção que varia de 10:1 à 20:1. As terras ativadas

podem ser preparadas quimicamente com silicato de alumínio, enquanto que as

terras naturais clareiam bem menos que as terras ativadas, com menor custo

(MANDARINO; ROESSING, 2001).

A secagem é a primeira etapa do branqueamento do óleo neutralizado,

sendo efetuada continuamente. A eficiência das terras clarificantes, é maior no meio

anidro, sendo que alternativamente o óleo passa no processo de secagem com o

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70

branqueador sob vácuo por trinta minutos, à temperatura de oitenta a noventa graus

Célsius (80º a 90º C). Assim, o clarificante é adicionado por sucção e o óleo é

misturado com a terra clarificante com agitação na temperatura de oitenta a noventa

e cinco graus Celsius (80 a 95ºC) por vinte a trinta minutos (20 a 30 min.). Depois o

óleo é esfriado a sessenta ou setenta graus Celsius (60 a 70º C) e passado em

filtros prensa.

Embora indústrias esmagadoras utilizem o processo contínuo com terra

clarificante ao óleo aquecido em uma suspensão a dez por cento, aqui no Brasil o

método branqueador é realizado de maneira descontínua. No processo contínuo a

mistura de óleo e de terra passa pelo branqueador por vinte minutos e depois passa

pelo filtro prensa. Ambos os processos colaboram para o branqueamento térmico,

reduzindo a terra clarificante para obtenção da cor desejada no produto acabado.

(0,1% a 0,2%) por cento (MANDARINO; ROESSING, 2001).

Após a filtração fica retido perto de cinqüenta por cento (50%) de óleo que é

utilizado ar comprimido e insuflação de vapor direto, caindo este percentual para

quarenta e pouco por cento. O restante retido é geralmente desprezado. A figura 12

mostra o esquema do processo de branqueamento do óleo neutro seco.

Figura 12 – Esquema simplificado do processo de branqueamento

Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.26.

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71

2.6.4.4- Desodorização

Nesta última etapa do refino do óleo de soja são removidos sabores e odores

indesejáveis, sendo que geralmente são voláteis, com sua pressão de vapor

superior ao dos ácidos oléicos ou esteáricos. São estes produtos:

a) Compostos adquiridos na armazenagem e processados pelos grãos e, pelo

próprio óleo como aldeídos, cetonas, ácidos graxos oxidados, produtos de

decomposição de proteínas, carotenóides, esteróis, fosfatídeos e outros;

b) Substâncias naturais do óleo, tais como hidrocarbonetos insaturados e ácidos

graxos de cadeia curta e média; e

c) Ácidos graxos livres e peróxidos.

Com uma pressão mantida constante em dois milímetros de mercúrio a oito

milímetros de mercúrio (2 mm Hg a 8 mm Hg) e temperatura de vinte a vinte e cinco

graus Célsius (20º a 25ºC), faz-se uma insuflação direta com vapor remoção

completa dos ácidos graxos livres residuais. Este processo pode ser executado de

três formas (MANDARINO; ROESSING, 2001):

1) Descontínua: Através de um tacho vertical com capacidade de seis mil a quinze

mil litros, e uma serpentina para vapor com disposição para insuflação indireta,

mesmo mantendo uma pressão absoluta na superfície de óleo baixa em mm de Hg,

há um aumento na pressão de forma progressiva, devido à crescente coluna de

óleo, levando o tempo de seis a oito horas para a desodorização;

2) Contínua: Com o alto vácuo que vai de 2 a 6 mm e, temperatura de duzentos e

quarenta a duzentos e sessenta graus Celsius (240º C a 260º C) o tempo para a

desodorização passa de uma hora e meia a duas horas e meia, reduzindo

consideravelmente do tempo em relação ao primeiro processo;

3) Semicontínua: O aparelho mais usado na indústria de médio e grande porte é o

semicontínuo Girdler, figura 13, o qual possui um corpo de aço e com cinco ou mais

bandejas de aço inoxidável. Nas primeiras bandejas o óleo é pré-aquecido e, nas

intermediárias o aquecimento chega à temperatura de duzentos e trinta a duzentos e

quarenta graus Celsius (230º C a 240º C), o qual faz por vapor direto a insuflação.

Na última bandeja há um resfriamento a quarenta e quarenta e cinco graus Célsius

(40º e 45ºC). No aquecimento é realizada uma reação química (difenila e óxido de

difenila) mais o óleo térmico ou, o vapor indireto de alta pressão, conhecido como

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72

“dow-therm”. Por mais ou menos trinta minutos o óleo permanece em cada uma das

bandejas e, efetua a troca automaticamente. A principal vantagem deste processo

está no caso de algum escape de ar e algum vazamento, não atingindo o óleo. Em

acréscimo, este aparelho semicontínuo realiza o resfriamento do óleo nele mesmo.

Figura 13 – Desodorização semicontínua – Equipamento Girdler

Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.29.

2.6.5 – Aproveitamento da “borra”

A borra é o resíduo de todo o processo, composto por uma mistura de sabão,

óleo arrastado, substâncias insaponificáveis e impurezas, tais como gomas e

fosfatídeos, que podem ser utilizada na fabricação de sabão (em pó ou em barra).

Esta borra contém cerca de cinqüenta por cento (50%) de água e, às vezes, a

matéria graxa é recuperada por acidificação com ácido sulfúrico, com o fim de

reduzir o custo do transporte, em tachos de madeira revestidos por chumbo e aço

inoxidável, que são resistentes a ácidos minerais. A borra final contém geralmente

mais de sessenta por cento (60%) de ácidos graxos livres sendo todo o resto

glicerídeos e substâncias não graxas (MANDARINO; ROESSING, 2001).

Page 73: Marcus Cesar Franzolin - FAE

73

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo é mostrado mais uma vez o problema e os objetivos gerais e

específicos da pesquisa. Em seguida é detalhado o porquê da escolha desta

cooperativa e como são tratadas as categorias analíticas, isto é, as definições

constitutivas que permearão todo o estudo, assim como o delineamento, a amostra,

a população, os instrumentos de coleta de dados e o método de análise, buscando

trabalhar no entendimento de como foi realizado o estudo de caso e os resultados

obtidos.

3.1 – Formulação do problema de pesquisa

Para a consecução dos objetivos da pesquisa proposta, faz-se necessário

expor o seguinte problema de pesquisa, a qual servirá de guia para a coleta e a

análise dos dados:

Quais práticas relativas aos aspectos ambientais no ciclo produtivo desta

cooperativa agroindustrial, que dentro da produção do óleo refinado de soja,

contribuem para que esta organização alcance a sustentabilidade ambiental?

3.2 – Objetivos da pesquisa

Conforme Richardson (2007), os objetivos da pesquisa, subdivididos em geral

e específicos, foram extraídos do problema de pesquisa e são utilizados na

condução da investigação. Assim, apresentam-se os seguintes objetivos:

Objetivo Geral é analisar a dimensão ambiental da sustentabilidade em um

ciclo produtivo de uma cooperativa agroindustrial, a qual transforma soja in natura

em óleo refinado comestível. .

Como Objetivos Específicos formulou-se os seguintes:

1) Políticas adotadas pela empresa, que possam gerar resultados positivos para

repartição de frutos aos associados, direcionando o foco à preservação ambiental;

2) Ações que influenciam a dimensão ambiental e contribuam para a

sustentabilidade nas outras duas dimensões.

Page 74: Marcus Cesar Franzolin - FAE

74

3.3- Conceituação de variáveis

Neste item há conceituações de alguns termos de forma mais literal, sem

maiores aprofundamentos, devido à importância destes termos no decorrer do

estudo realizado. Dentro do referencial teórico há um maior detalhamento com mais

profundidade por diferentes autores, havendo maior enriquecimento nas definições:

a) Agrotóxicos: Produtos físicos, químicos, biológicos com fins de melhoria na

produção, armazenagem e beneficiamento na agropecuária. Pode causar danos aos

seres vivos.

b) Calagem: É a aplicação de calcário em uma área específica. Influencia o pH e a

disponibilidade de micro e macronutrientes,

c) Controle integrado de pragas: Controle que se baseia no conhecimento de

organismos nocivos e benéficos para uma população dentro de um ecossistema

(BRECHELT, 2004, p.12).

d) Cooperativismo: É a doutrina que visa à renovação social através da cooperação

para atingir um objetivo comum (PINHO, 1966, p.7).

e) Desenvolvimento: Crescimento econômico com melhoria na qualidade de vida de

uma população em determinada região (BURTZEN, 2006).

f) Desenvolvimento sustentável: Preocupa-se com o uso dos recursos naturais para

as atuais e futuras gerações, dando igual oportunidade na qualidade de vida para

eles (MONTIBELLER FILHO, 1993, p.133 e 135).

g) Ecodesenvolvimento: Significa o desenvolvimento endógeno de determinado local

dependendo exclusivamente de suas próprias forças com harmonia nos objetivos

sociais e econômicos (MONTIBELLER FILHO, 1993, p.132 e 133).

h) Erosão hídrica: Processo erosivo causado pelas chuvas, atingindo praticamente

toda a superfície da terra (GUERRA; SILVA; BOTELHO, 2010, p. 17).

i) Expansão da agricultura: Avanço contínuo de tecnologias para produção intensiva

nas áreas produtivas. Aproxima-se da agroindústria de transformação, ciência e a

agricultura (CIMA, 1991, p. 31 e 32).

j) Fertilidade do solo: Relação que altera a capacidade de absorção e utilização dos

nutrientes da cultura implantada em uma área (OCEPAR/EMBRAPA, 1989, p. 12).

k) Manejo dos solos e das águas: Técnicas utilizadas para combater a erosão,

manter a fertilidade do solo e a qualidade das águas (COSTA, 2006, p. 5 e 6).

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75

l) Soja: Leguminosa herbácea anual com alto teor protéico em seus grãos. Seu

nome científico é Glycine max (L.) Merril, ou ainda Glycine hispida..

m) Sustentabilidade: Respeito ao meio ambiente, respeito às pessoas, respeito ao

capital (ALLADI; QUELLAS, 2003, p.5).

3.4- Delineamento da pesquisa

Optou-se pela perspectiva qualitativa para que houvesse maior oportunidade

de abranger diferentes formas que ajudam a compreender e explicar fenômenos

sociais com pouco afastamento do ambiente original e, ainda, de ouvir sujeitos

dentro de uma lógica e exposição de razões que ajudem a compreender o contexto

da realidade local (GODOI; BALSINI). Também, uma investigação que lança

diferentes problemas ou limitações do ponto de vista da pesquisa social, a pesquisa

qualitativa tem a expectativa de colocar condutas às pessoas entrevistadas em um

contexto o qual não tenta explicar como foi desenvolvido o seu senso de consciência

para o assunto abordado (RICHARDSON, 2008). Este autor também explica:

A pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos (RICHARDSON, 2008, p. 90).

Para um trabalho Descritivo, segundo Godoi e Balsini (2007), além de ser um

dos métodos mais utilizados em pesquisas, também é um dos mais abrangentes em

análise de estudos, é um dos modelos que melhor se enquadra quando há riquezas

de materialismos e melhor detalha as pessoas, situações e acontecimentos que

ajuda o pesquisador a obter as informações necessárias a ele. Porém, todas estas

informações contribuem para transcrição da construção do objeto para a pesquisa

Qualitativa – Exploratória.

Para uma descrição holística e intensiva, o Estudo de Caso é entendido como

uma forma bastante adequada para a pesquisa, pois ajuda na revelação e

compreensão de determinado contexto das relações estabelecidas entre as

variáveis em questão da pesquisa. Em resumo Yin (2005) interpreta que este

modelo de estudo permite uma investigação que preserva as características das

inter-relações significativas da vida real, como ciclos de vida individuais, processos

Page 76: Marcus Cesar Franzolin - FAE

76

organizacionais e administrativos, contextualização urbana e local, como as relações

internacionais dos setores econômicos.

O Estudo de Caso é avaliado por Godoy (2007) como adequado para o

enfoque dos problemas práticos ocorridos em situações sociais presentes em

atividades de procedimentos do cotidiano. Deve ser visto de forma abrangente

dentro do contexto para interpretação não somente das pessoas envolvidas, mas

também nos impactos de suas crenças e as decisões e interações de seu entorno.

Ainda, a autora deixa claro que o pesquisador deve estar atento a insights para

novos significados, que levem a novos pensamentos e a repensar o fenômeno em

que leva à investigação (GODOY, 2007).

Esta pesquisa será um Estudo de Caso Descritivo por ser uma pesquisa que

detalha a estrutura das atividades e das transformações no tempo, podendo ser

relacionado com diferentes fenômenos, tais como as relações de produção e de seu

pessoal envolvido (colaboradores e associados, cotistas, técnicos, diretores e da

própria comunidade local em que a cooperativa está inserida). Importante lembrar

que para este estudo, a teoria não ficará marcada fortemente com proposições e

conceitos abstratos, mas ajudará a formação de uma proposta que integra a

realidade teórica dentro de informações empíricas abstraídas em campo (GODOY,

2007).

A temporalidade desta pesquisa se adéqua mais a uma linha transversal com

aproximação longitudinal. Richardson (2008) justifica que a coleta de dados é

realizada em um determinado ponto do tempo, com uma amostra selecionada para

que seja descrita a população neste período ou realidade do momento. Com isso, a

adequação desta temporalidade junto à pesquisa na cooperativa é justificada pela

realização em dado momento do tempo, com a contextualização do ambiente para a

realidade daquele momento, com uma sociedade que vivencia aos apelos do

capitalismo, mas com que a abordagem se aproxime desta empresa, com total

atendimento aos objetivos e à resposta da questão de pesquisa dentro deste

contexto.

Page 77: Marcus Cesar Franzolin - FAE

77

3.5- População e amostragem

A escolha desta Cooperativa específica no Estado do Paraná foi motivada por

pretender estudar uma agroindústria paranaense e, que pudesse ser avaliado o ciclo

completo do processo produtivo do óleo de soja refinado comestível, desde a

produção primária à secundária, dentro da dimensão ambiental. A idealização deste

estudo junto a uma cooperativa foi devido à possibilidade de verificar a

sustentabilidade na dimensão ambiental, mas sendo possível a identificação de

forma mais clara das outras dimensões (social e a econômica).

A razão da escolha do embasamento ambiental da sustentabilidade é pela

razão deste pesquisador não ter encontrado estudo em cooperativas agroindustriais,

voltados para esta dimensão. Em geral foi observados estudos em cooperativas

ligados aos aspectos socioeconômicos e aos princípios e fundamentos

cooperativistas. Já a escolha específica desta cooperativa foi devido à

representatividade no mercado paranaense e nacional, participando com diversos

produtos industrializados no Estado do Paraná e no contexto Brasil.

O primeiro passo se deu contatando por telefone a OCEPAR para explicar o

estudo e verificar a possibilidade de ajuda para a execução do projeto. Prontamente

aceitaram e se propuseram a ajudar, quando foi marcado um encontro na própria

sede da instituição em Curitiba. Com as devidas explicações e uma carta de

apresentação da FAE Centro Universitário – Curitiba, qualificaram-me para esta

pesquisa, quando me foi sugerido o contato com quatro cooperativas. Duas delas

não possuíam o ciclo completo da produção do óleo refinado, outra não nos foi dado

abertura para execução do estudo, porém a última foi tão receptiva quanto à própria

OCEPAR, dispondo-se a ajudar em tudo que fosse possível.

Desta forma concretizou-se este projeto de estudo. Buscou-se obter as

impressões da relação entre cooperativa e cooperados em cada fase produtiva do

grão de soja, como as orientações técnicas, plantio da cultura, entrega dos grãos à

cooperativa e transformação agroindustrial. Posteriormente a relação entre

cooperativa e seus fornecedores, tanto para a produção agrícola como para a fase

industrial. Por fim, a preparação para distribuição do produto final (óleo de soja

refinado comestível) para o mercado. Em todas estas fases é entendido por este

pesquisador que, se mal administrados, podem tornar-se produtos de alto potencial

de contaminação ambiental.

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78

Importante destacar que este estudo acompanhará todo o ciclo produtivo do

óleo refinado de soja, obtendo apenas uma ótica no acompanhamento,

exclusivamente da cooperativa em torno das relações com cooperados,

fornecedores e colaboradores. Aspectos socioeconômicos são secundários, porém

serão observados. O levantamento deste estudo será realizado nos setores

correspondentes da cooperativa como:

a) Assistência técnica aos produtores agrícolas e fornecimentos de insumos;

b) Recebimento dos grãos para a transformação;

c) Produção de óleo de soja refinado comestível;

d) Distribuição do produto acabado aos consumidores finais.

Como possível dificuldade encontrada no estudo está nas informações

obtidas, que são de uma única fonte ou perspectiva (cooperativa), o qual pode

influenciar nos resultados finais obtidos, devido à natural empolgação de toda a

equipe disposta à colaborar.

Abaixo segue a figura 14 com o esquema para melhor entendimento do

estudo junto à cooperativa.

Figura 14 (1.7.1) – Esquema para entendimento do estudo de caso

Fonte: Elaborado pelo auto

Page 79: Marcus Cesar Franzolin - FAE

79

A amostra é Não Probabilística Intencional, ou seja, é não probabilística

porque os entrevistados são escolhidos com critérios para melhor colaborar nas

necessidades das informações, buscando atingir os objetivos das entrevistas. Na

maioria das vezes é necessário assegurar a presença do “sujeito-tipo”, para garantir

melhor qualidade de resposta para as questões formuladas. Já para a classificação

Intencional é devido à racionalidade ou pelo julgamento estabelecido no plano pré-

formulado pelo pesquisador. Este plano possui características que definem as

populações de acordo com as necessidades da pesquisa (RICHARDSON, 2008).

a) População: Cooperativa específica:

A escolha dos entrevistados nos respectivos setores: (1) Gerente comercial de

insumos; (2) Gerente industrial; (3) Gerente de produção; (4) Coordenador ambiental

e (5) Gerente Comercial. Programado conversar também com outros colaboradores

e pessoas da população local, a fim de sentir a impressão que tinham da

cooperativa, mesmo não sendo foco de estudo no momento, com o fim de agregar

valor nas informações obtidas.

b) Amostragem:

Cooperativa Agroindustrial no setor de transformação de soja in natura em óleo

refinado comestível, onde haja a transformação dos grãos entregues pelos

cooperados ou cooperantes. Deve ser uma cooperativa consolidada no mercado

para a economia local, brasileira e mesmo com contribuição global.

O instrumento de coleta desta entrevista é utilizado um roteiro Não Diretivo

Semi-estruturado, ou seja, não são utilizadas perguntas pré-formuladas e em ordem

pré-estabelecida. O entrevistador apenas sugere o tema em estudo, para que o

entrevistado tenha liberdade para colocar e contribuir para a pesquisa os seus

pontos de vista. Desta forma é descrito o processo agroindustrial e a aplicação dos

princípios cooperativistas em pró desta produção. Também pode ser melhor

avaliado se há a preocupação na busca da sustentabilidade, principalmente a

ambiental, no processo produtivo perante a sociedade e à comunidade local. Da

mesma forma, segundo Richardson (2008), a entrevista semi-estruturada também

ajudará para um maior detalhamento por parte do entrevistador, para que possa

realizar uma avaliação na análise qualitativa com maior pormenorização da

realidade vivida pelo entrevistado.

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80

3.6- Fontes de coleta e tratamento de dados

Primeira etapa: Contato com a OCEPAR para solicitar ajuda para realizar o

estudo com a cooperativa. Envia-se carta de apresentação da UNIFAE – Curitiba

para qualificar este pesquisador para o estudo. Definida a cooperativa, inicia-se

contato com responsáveis das respectivas áreas internas e a coleta de dados

secundários (levantamento do perfil por sites da internet e documentos possíveis

para pesquisa).

Segunda etapa: Foi realizada a coleta de dados primários com a utilização de

instrumentos de coleta: roteiro, técnica de entrevista em profundidade. Instrumento

de coleta com roteiro não-diretivo semi-estruturado, para o aprofundamento de

acordo com a necessidade, focando sempre os objetivos para alcançar a resposta

da pesquisa.

Terceira etapa: Transcrição das entrevistas para análise das informações

para se cumprir o que este estudo está determinado a realizar.

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81

4 ESTUDO DE CASO

4.1- Histórico da cooperativa

A história desta Cooperativa foi iniciada por Cafeicultores no dia 27 de março

de 1963, em uma ação de quarenta e seis produtores com o fim de organizar os

interesses de produção e venda sem intermediários de seus negócios. Começou

com apenas uma máquina de café e instalações cedidas em favor da cooperativa

por dois anos pelo cooperado número dois, Joaquim Romero Fuentes. Em 1965

quase fechou, porém, devido à diretoria indicada na época para liquidá-la, começou

a receber algodão para seu beneficiamento e, em 1967 comprou uma máquina para

tal. Seu resultado foi uma surpreendente reabilitação aponto de 1969 adquirir uma

segunda máquina para beneficiamento de algodão.

No ano de 1971 começou a seqüência de crescimentos com a construção de

um armazém graneleiro, sendo este o primeiro do Estado do Paraná, com a

finalidade de atender às culturas de trigo e milho. Também colaborou na chegada da

soja, a qual acabou assumindo o lugar do café que atravessava crises constantes e

desestimuladoras para seus produtores. Quando ocorreu a grande geada em 1975,

ocorreu o golpe de misericórdia aos cafeicultores, estimulando de forma

considerável o recebimento da soja. Este momento gerou também uma frustração

aos sojicultores que, na época, simplesmente vendiam a matéria-prima a grandes

grupos industriais, os quais agregavam valores ao produto para eles ganharem uma

fatia bem maior nos preços que esta cooperativa recebia.

Desta forma a diretoria da cooperativa optou na industrialização do grão de

soja através da instalação da primeira unidade de extração de óleo e farelo de uma

cooperativa do Estado do Paraná. Entre 1975 a 1982, a cooperativa já contava com

mais de vinte e cinco mil cooperados e muitos entrepostos para recebimento em

diversos municípios da região. Já na década de 1980 até 1982 diversificou com a

incorporação na indústria da soja com a desodorização e refino, obtendo uma

unidade de envasamento de óleos vegetais e, também, com a chegada aos

supermercados de óleo refinado de soja. No segmento têxtil houve a melhoria dos

fios de algodões e de sua qualidade.

No entanto, no ano de 1990 a economia do Brasil quase a obrigou a uma

reestruturação administrativa, fato que fez com que a cooperativa começasse a

trabalhar na otimização de custos e na profissionalização das diferentes áreas para

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82

a valorização da participação dos produtores. Com isso houve a introdução da

tecnologia do café adensado em 1992 resgatando esta cultura novamente e, o

cultivo e a industrialização da canola. Neste período dos anos de 1990, fase em que

o país estava sofrendo com a desorganização econômica, bancos de grande porte

estavam quebrando, exigindo um grande esforço com alianças de cooperativas para

se unirem em estratégias e acabar com a ociosidade do parque industrial. Assim

diversificou sua capacidade industrial.

Em 2003 inaugurou-se um novo conjunto de indústrias de bebidas à base de

soja, néctar de frutas, maionese, catchup e mostarda, momento que se iniciou uma

nova fase da cooperativa. No noroeste do Paraná foi investido em um projeto

econômico-social, o qual apostava na integração da agricultura com a pecuária, com

a reutilização de pastagens degradadas para o plantio de grãos. Também houve o

plantio de laranja em um local com forte expansão de pomares, onde ocorria o

incremento da renda de produtores e dos municípios, quando se originou a marca

PURITY na esfera nacional e, de outras indústrias menores para atender mercado.

Neste momento a cooperativa já trabalhava na capacitação de seus

cooperados, como forma de melhorar a produtividade e o aumento de seu

faturamento. Em 2008 foi de um vírgula quatro bilhão (R$ 1,4 bilhão) de reais, sendo

atualmente considerada, segundo seu site, “uma das cooperativas mais modernas e

bem administradas do Brasil, além de modelo em responsabilidade social e

ambiental”.

4.2 – Constatações das práticas observadas no estudo de caso

Neste tópico será examinada cada uma das conexões existentes entre esta

cooperativa e as respectivas relações com cada setor da produção primária ou

secundária, descrevendo as informações recebidas pelos colaboradores contatados

(Figura 13 – Esquema para entendimento do estudo de caso). Ressaltam-se aqui os

aspectos da base ambiental da sustentabilidade e alguns reflexos positivos para as

outras duas que formam o triple botton line.

Importante destacar também, que as informações que constam neste tópico

do estudo foram adquiridas pelos métodos de entrevista em profundidade semi-

estruturada, conforme descrito na metodologia, como também, por meio de

Page 83: Marcus Cesar Franzolin - FAE

83

informações dos sites abertos ao público. Lembrando ainda, que as informações

coletadas não são uma opinião por parte deste pesquisador, podendo concordar ou

não com a teoria pesquisada.

4.2.1 – Contato entre cooperativa e cooperados na produção de soja em grão

A relação da cooperativa com os fornecedores de grãos e cooperados (A)

mostra-se tranqüila e com relacionamento respeitoso entre as partes. Esta

informação pode ser notada pela presença de alguns cooperados no momento da

entrevista, que estavam se atualizando e trocando informações sobre a colheita no

mesmo momento em que o gerente de produção daquela unidade dava sua

contribuição ao estudo, com a apresentação de como era desenvolvido o trabalho da

cooperativa no setor de assistência técnica e venda de insumos para a produção

primária. Com os poucos contatos com os cooperados que lá estavam, foram

trocadas algumas palavras sobre o atendimento, mesmo não fazendo parte do que

estava previsto.

Notou-se a existência de uma atenção da cooperativa aos cooperados

sojicultores no que tange a expansão da agricultura e do atendimento à

agroindústria. Esta atenção se serve da modernização da produção pela utilização

de máquinas e implementos, adubação química, utilização de agrotóxicos, sementes

apropriadas, combate à erosão e manejo adequado com novas tecnologias. As

recomendações técnicas podem evitar ações inadequadas que possam contribuir

para o enfraquecimento das áreas agrícolas, como a eliminação de matas-ciliares e

nativas e das várzeas. No manejo integrado dos solos e das águas envolvem

assuntos como plantio-direto e convencional, adubação verde, trabalhos em

microbacias, tratos culturais e a correta utilização de maquinários. Desta forma

subentendem-se também os assuntos relacionados à fertilidade do solo e sua

relação com as características físicas, químicas e mineralógicas. Ainda atentam-se

aos riscos do uso dos agrotóxicos e do controle de pragas e infestações, bem como

de seu controle.

De acordo com as informações recebidas na entrevista deste tópico (A), a

cooperativa realiza um levantamento na propriedade quando é iniciada a

participação de algum novo cooperado, para que possa desta forma, receber as

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84

orientações necessárias de acordo com as necessidades e da capacidade de

execução do agricultor. Tais orientações vão desde análises de solo para verificar a

necessidade de calagem para a realização de reações químicas no solo,

implantação da cultura e seu manejo, momento adequado para colheita e até

instruções para a administração da propriedade.

Com respeito à predominância do tipo de plantio e manejo encontrado nas

áreas de soja dos associados na região, na sua grande maioria é o plantio direto que

predomina, sendo que este método atinge mais de noventa (90%) por cento de toda

a área plantada. Com este método de plantio as vantagens conservacionistas são

muitas, como manter coberta por vegetação a área plantada, protegendo-a contra

erosão e evitando diversos danos ao solo como a manutenção de matéria orgânica,

umidade local e as propriedades estruturais. Também ajuda no combate à

compactação pelo menor trânsito de máquinas e implementos na terra, menor

incidência de ervas daninhas e, maior conservação do micro-ecossistema local. Este

método requer o uso de um dissecante foliar antes do plantio e, no caso do uso de

um herbicida, utiliza-se um pós-emergente de acordo com a infestação identificada.

É importante também a informação de que os sojicultores hoje preferem

utilizar sementes geneticamente modificadas (transgênicas) a utilizar as

convencionais. Esta nova tecnologia possui esmagadora maioria, com uns noventa e

oito por cento de adeptos. Embora tenha que se pagar royalties às empresas

produtoras multinacionais, são sementes que não sofrem com tantos ataques de

insetos.

Já para o Manejo Integrado de Pragas, ou seja, usando o conhecimento da

existência de uma capacidade de resistência a uma determinada quantidade de

ataque de insetos, há diferentes resistências dependendo da fase em que a planta

se encontra e, sem que sofra significativa alteração na sua produção. Com este

manejo é possível haver uma diminuição do uso de agrotóxicos, o que pode

significar em redução de custos com o trânsito de maquinários na lavoura,

diminuição da compactação e gastos com combustível e menor risco de

contaminação. Porém, mesmo com tais argumentações, existe uma maior

dificuldade de aceitação deste manejo pelo agricultor, principalmente pelos maiores

produtores, devido ao seu maior trabalho que possa gerar.

A erosão hídrica, como é um tema de grande importância que afeta também a

preservação ambiental, é descrito informações relacionadas às microbacias e alguns

Page 85: Marcus Cesar Franzolin - FAE

85

procedimentos para evitá-la, na qual é trabalhado no programa PGAIM do Estado do

Paraná em parceria com outros órgãos e instituições do Estado. Muitas vezes estas

ações de combate vão além das recomendações técnicas direcionadas a apenas

uma propriedade, sendo que neste trabalho, geralmente exige-se uma ação conjunta

com os agricultores vizinhos. Neste programa que desenvolve um trabalho com toda

a microbacia em diversos âmbitos da comunidade, ajudam o combate à erosão na

execução de curvas de nível, terraceamentos, reimplantação de matas-ciliares e etc.

No geral, como os cooperados da cooperativa já são agricultores mais experientes e

instruídos, não é necessário iniciar desde esta fase a orientação, sendo que a

participação da cooperativa está mais relacionada a passar índices ao governo, do

que recomendar a execução destas benfeitorias.

A erosão em áreas agrícolas, geralmente causa prejuízos maiores aos que

são vistos pelos “olhos do agricultor”. Além da perda do solo mais rico para a cultura,

muitas vezes é perdido sementes, adubos, nutrientes naturais do próprio solo e o

investimento do calcário lançado para correção e para as troca catiônicas. De

grande relevância ainda, está o risco de contaminação do meio ambiente através de

transporte de materiais pulverizados por agroquímicos (herbicidas, inseticidas e

fungicidas), podendo ainda ser lavado e transportado pelo solo ou, mesmo lixiviado

aos lençóis freáticos, rios, córregos e nascentes. Ainda existe o risco de fixação de

venenos nos colóides do solo contaminando o ambiente.

O deslocamento de terras ocasionado pela erosão, como sabido, pode

provocar e contribuir para o assoreamento de rios e, até mesmo pode mudar

percursos e afetar a vegetação e o solo deste local. Assim, a necessidade da mata-

ciliar influencia a qualidade da água e mesmo ajuda para evitar o assoreamento dos

rios, preservando e mantendo a reserva das águas, do micro clima e da

biodiversidade local (Lei n.° 4.771/65).

Como já mencionado, as recomendações técnicas que envolvem estes

cuidados são realizadas pela cooperativa e feita de acordo com a necessidade com

referência ao levantamento prévio da propriedade. No entanto, a cooperativa não

tem como cobrar a realização das recomendações ao agricultor, sendo de inteira

responsabilidade e interesse do cooperado, refletindo a não execução da

recomendação em perdas de produtividade, podendo ocasionar perdas financeiras

decorrente de investimentos mal realizados, ou mesmo, em determinadas situações,

Page 86: Marcus Cesar Franzolin - FAE

86

podendo chegar a receber multas por infração à legislação ou algum órgão com este

poder.

Com respeito às embalagens de agrotóxicos, embora seja regulamentado

pela Lei Federal No. 9.974 de 6 de junho de 2000, a qual altera a Lei no 7.802, de 11

de julho de 1989, que regulamenta sobre pesquisas, produção, embalagens e

rotulações, transportes, armazenagem, comercialização, propaganda comercial,

utilização, importação, exportação, destinos dos resíduos e embalagens, registros,

classificação, controle, inspeção e fiscalização de agrotóxicos, como de todos os

seus componentes e afins, para que possam ser tomadas outras providências sobre

o assunto (Lei No. 9.974/2000). Nesta lei é definida a obrigatoriedade do retorno da

embalagem, para o estabelecimento que comercializou o produto no prazo de um

ano a contar da data de compra, com uma política de recebimento destas

embalagens pelo fabricante:

"§ 2o Os usuários de agrotóxicos, seus componentes e afins deverão efetuar a devolução das embalagens vazias dos produtos aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos, de acordo com as instruções previstas nas respectivas bulas, no prazo de até um ano, contado da data de compra, ou prazo superior, se autorizado pelo órgão registrante, podendo a devolução ser intermediada por postos ou centros de recolhimento, desde que autorizados e fiscalizados pelo órgão competente (Lei No. 9.974/2000).

De acordo com esta política de entrega das embalagens após a tríplice

lavagem dos respectivos recipientes, a cooperativa conta com o apoio de trinta

locais de recebimento, com uma aceitação para o retorno das embalagens de

aproximadamente cento e cinqüenta toneladas, o que representa mais de seiscentas

mil embalagens entregues, para que seja redirecionada a uma reciclagem e

recolocação de novas mercadorias no mercado.

Esta ação é considerada como referência para o Estado do Paraná e Brasil,

atingindo em média novena e nove por cento (99 %) de entrega de embalagens

limpas com efetuação da tríplice lavagem pelos associados. Para as embalagens

que não é possível a execução desta lavagem e que não podem ser reaproveitadas,

como as embaladas em sacos plásticos, são encaminhadas pela cooperativa a um

incinerador no Estado de São Paulo. O processo de reciclagem atinge seis vírgula

um (6,1) mil cooperados, sendo que tem como participante em sua maioria,

agricultores de pequeno porte. Este trabalho correspondeu em 2009 produtores de

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87

soja e milho, que gerou o faturando de um vírgula quatro bilhões de reais (R$ 1,4

bilhões).

Figura 15 - Visualização das recomendações da Cooperativa para os cooperados

Relação A: Recomendações técnicas:

- Plantio - Fertilidade (adubação e calagem) - Agrotóxicos - Manejo do solo e das águas - Manejo de pragas - Colheita - Como evitar perdas na safra e melhorar a administração da área

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.2.2- Relação entre Cooperativa e os fornecedores de insumos e implementos

Com respeito ao contato e a relação entre Fornecedores de Insumos e

Implementos com a Cooperativa (B), também foi informado que há uma boa relação

comercial entre fornecedores, cooperativa, cooperados e cooperantes. O grande

respeito informado pela cooperativa está na forma em que tratam os fornecedores,

sendo mencionados como parceiros. Das boas relações pode ser citadas as

parecerias entre eles e Semeato, Pirelli, Shell, Texaco, Cordetec, Embrapa,

Brasmac, Syngenta, Bayer, Basf, Monsanto, Iara, Bungüe, Cargill, Fertipar, entre

outras. Das parecerias encontradas de alguns fornecedores, mencionou-se a

possibilidade de adquirir plantadeiras, pneus e combustível (diesel), por exemplo,

com pagamento a ser realizado após a colheita, com acréscimo de alguns juros

previamente acordado.

É possível ocorrer o rompimento do contrato ou descredenciamento de algum

destes fornecedores, embora seja muito difícil e não souberam informar se já

ocorreu alguma vez este fato até hoje. Conforme relatado, estas empresas são

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88

renomadas no mercado e sempre respeitaram e cumpriram os seus objetivos e

contratos. Com a maioria dos fornecedores existem financiamentos próprios com os

cooperados interessados, havendo tido até hoje atenção e respeito na negociação.

Algumas destas empresas desenvolvem projetos próprios paralelos aos seus

principais objetivos de negócios com a comunidade, sendo muitas delas

consideradas também exemplares, com apoio de outras instituições e órgãos

governamentais, como ocorre com a Syngenta. Esta possui um projeto junto a

algumas comunidades, envolvendo órgãos governamentais (prefeituras) e

instituições como universidades e a própria cooperativa, como também outras

organizações. Este projeto chama-se “Escola no Campo”.

Projeto que foi criado em 1991 no Estado de São Paulo, com apoio da

“Secretaria da Educação daquele Estado” com o fim de formar novas gerações de

agricultores conscientes para a preservação ambiental e uso de tecnologias de

produção de alimentos. Assim migrou para outras localidades, quando obteve

também apoio desta cooperativa (SYNGENTA, 2011).

Com esta cooperativa em específico, o projeto começou com a parceria em

2005, com a intenção de levar aos participantes os conhecimentos básicos e as

informações sobre meio ambiente e cooperativismo. Este projeto também prevê a

realização de palestras para que os professores de escolas locais possam replicar

as informações de forma adequada, incluindo assuntos como plantio de árvores e

outros cuidados essenciais para uma vida saudável e com qualidade. Seu público

alvo na realidade são crianças do ensino fundamental da zona rural para que

aprendam basicamente sobre as relações que envolvem o ambiente e sua

preservação, esclarecimentos sobre agrotóxicos, e mesmo sobre a globalização da

economia mundial e as influencias que esta realidade traz ao campo. Assim, a

cooperativa está exercendo também seus princípios cooperativistas, destacando o

terceiro e o sexto, ou seja, a democratização de poderes e a educação permanente.

Também, outro princípio fundamental do cooperativismo bastante salientado e

respeitado por eles é o sétimo, a Cooperação Intercooperativa. A informação

recebida foi que recentemente outra organização cooperativa, que no entendimento

deste pesquisador seria uma concorrente desta, solicitou e recebeu o fornecimento

de algumas toneladas de soja convencional (sem transgenia) para a efetivação de

um negócio comercial. Também é possível através da “Cooperação

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89

Intercooperativa” o fornecimento para alguma outra cooperativa de algum produto

que tenha em estoque, porém que esteja faltando no mercado.

Outro ponto a ser salientado é que esta cooperativa atualmente possui um

controle dos fornecedores e prestadores de serviços, que é realizado através de

uma planilha. Esta se refere ao projeto da certificação da ISO 900038 (gestão da

qualidade), sendo esta responsável por algumas políticas adotadas no controle e

avaliação dos fornecedores e prestadores de serviços. Assim, idealizou-se o

“Sistema Integrado da Gestão da Qualidade” (Anexo), destacando os Serviços e os

Requisitos Mínimos para a execução do trabalho e, o acompanhamento dos

prestadores se está apto para desempenhá-lo. Este critério ou política adotada pela

cooperativa ajuda em muito na avaliação do desempenho de quem está mais

alinhado com ela e, colabora na obtenção de informações que mostrem os pontos

fortes da relação, como também identifica os pontos fracos.

Com respeito à relação entre a Cooperativa e fornecedores de insumos e

implementos (B), é possível identificar alguns aspectos que envolvam o meio

ambiente com ações relacionadas a outras dimensões. Na figura 16 destacam-se as

mais evidentes:

Figura 16 – Relação da Cooperativa com fornecedores de insumos e implementos

Relação B: - Atenção com os fornecedores em seu atendimento e profissionalismo. - ISO 9000 – gestão da qualidade.

- Trabalho conjunto em projetos diversos iniciados pelos fornecedores: - Educação ambiental - Educação no exercício da cidadania - Informação sobre Agrotóxicos - Cooperativismo e outros temas

Fonte: Elaborado pelo autor.

38

ISO 9000: International Organization for Standardization - normas técnicas internacionais que estabelecem modelos de gestao de qualidade para qualquer tipo de organizações. Esta organização elabora seu próprio projeto para execução, sendo ele fiscalizado em sua elaboração, execução e manutenção por um órgão certificador.

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90

4.2.3 – Relação entre Cooperativa e sojicultores para recebimento dos grãos

Não é recebida soja somente por cooperados, sendo possível que

cooperantes também entreguem. Assim, os lotes de grãos a receber podem ser

colocados nos entrepostos da região mais próxima da área da lavoura, sendo de

inteira responsabilidade do produtor da colheita ao transporte até o destino final (C).

Quando há necessidade de movimentação pela cooperativa para outro local após a

entrega pelo sojicultor, a responsabilidade passa a ser da cooperativa. Assim,

depois de acertado e entregue no valor já definido, incluindo os respectivos

descontes por falhas da qualidade no lote carregado, se houver algum problema

posterior de estoque ou qualidade, o sojicultor não terá envolvimento na

responsabilidade.

Também é importante destacar, que os cooperados não são obrigados a

entregar suas safras para a cooperativa, deixando-os à vontade para a escolha da

melhor oportunidade e preço, embora geralmente entreguem para ela devido as

vantagens da participação de lucros no balanço de final de ano. Esta proposição

condiz com a liberdade de livre escolha do cooperado para a entrega ou mesmo a

liberdade de entrar e sair da cooperativa de acordo com seus interesses, conforme

os princípios cooperativistas.Da mesma forma, se um cooperante se interessar em

ingressar como associado, também é possível. No entanto é necessário realizar um

levantamento da propriedade referente aos últimos cinco anos, para saber a forma

de condução das culturas, quantidade média produzida, investimentos realizados,

qualidade da produção, as vendas e assim por diante. Também é verificada toda a

área disponível para produção, com o fim de melhor orientação e recomendações

técnicas para execução de benfeitorias, se necessárias. Anotam-se também

deficiências e pontos favoráveis para a produção das safras.

Na associação de um novo cooperado é necessário ainda, o pagamento de

uma jóia para integralizar à cooperativa, sendo que o valor é geralmente por volta de

vinte reais por hectare (R$ 20,00/ha) e que deve ser realizado em dinheiro, podendo

ser dividida em três vezes e/ou alguma outra negociação que seja interessante para

as partes com base neste valor. Ainda é exigida a participação do agricultor em um

curso sobre cooperativismo, esclarecendo os princípios, direitos e deveres, sendo

que este esclarecimento é ministrado pela própria cooperativa, previamente

agendado.

Page 91: Marcus Cesar Franzolin - FAE

91

Há situações curiosas para a entrega das safras, pois existem cooperados

que também são cooperados de outras cooperativas. Desta forma este associado

pode avaliar a forma mais adequada a ele e de seus interesses, para onde entregar

sua produção. Esta atitude não é vista de forma negativa para a imagem do

cooperado, pois não são poucos que possuem esta vantagem e a cooperativa

assim, mantêm-se normalmente dentro do mercado.

Outro aspecto relevante na relação entre cooperativa, cooperado e

cooperante é que não há diferenciação de preços entre eles. No caso de venda e/ou

compra de produtos por estes sujeitos, a diferença está apenas nas vantagens em

favor dos cooperados, no que diz respeito às somas dos valores investidos que

colaboram no aumento de faturamento na divisão dos lucros no fim do balanço

anual. Desta forma, destaca-se a maior atenção dos cooperados pela cooperativa,

quando desperta a visão do cooperado como proprietário do negócio. Tais atitudes

podem influenciar na maior integração entre cooperados, favorecendo

confraternizações através da realização de torneios diversos, participação de

palestras de interesse comum, dias-de-campo e outras atividades.

Para o recebimento da produção dos grãos, não existe exatamente uma

exigência impeditiva de entrega, mas uma avaliação na qualidade do lote a ser

entregue. Nesta avaliação podem ocorrer descontos nos valores a pagar aos

produtores, respeitando a “Portaria de Classificação de Soja”, ou seja, como descrito

na PORTARIA nº 262, de 23 de Novembro de 1983 que normatiza a qualidade para

a classificação e comercialização da soja em grão, com o objetivo de definir as

características de identidade, qualidade, apresentação, embalagem e as medidas

correlatas para soja Glycine max (L) Merril destinada à comercialização (PORTARIA

No. 262, 1984). Assim, definiram-se limites máximos de umidade e impurezas ou

avariados.

Para tal avaliação há outro quadro que mostram os valores dos descontos,

porém, não foi possível ser repassado por eles. Como outra observação, o uso de

defensivos não limita os preços de venda do produto e nem de seu recebimento pela

cooperativa. Segue quadro 6 com alguns limitantes da qualidade e as porcentagens

máximas permitidas:

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92

Quadro 7 - Limites para a padronização da soja em grão. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Umidade Aceito até 30%. Tolerado até 14% antes que comecem a efetuar

os descontos.

Impurezas Tolerado até 1%, quando começa a ser efetuado os descontos;

Avariados Tolerado até 8%, quando começam os descontos;

Queimados Tolerado até 1%, quando começam a ter descontos;

Quebrados Tolerado até 30%, quando começam a ter descontos.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Fonte: Informações obtidas na própria cooperativa

O soja é classificado como convencional e transgênico dependendo apenas

das sementes utilizadas. Estes dois tipos de soja in natura são separados pela

cooperativa apenas para se ter um histórico de sua origem, caso haja algum

comprador que exija alguma que não tenha transgenia. Para tanto, no embarque ou

no desembarque são retiradas amostragens de tempos em tempos para realizar

análises que confirmem se são ou não transgênicas. O teste é o Polymerase Chain

Reaction (PCR)39.

Na armazenagem dos grãos que antecedem a transformação ou sua venda

para outra finalidade, há tratamentos que eliminam o uso de defensivos, conhecido

como MIPGRÃO. O expurgo dos grãos é de grande importância para eliminar

perdas por insetos, os quais podem ser efetuados por gás, utilizando basicamente a

FOSFINA (fosfeto de alumínio) realizado em câmaras de expurgo ou, outros locais

com vedação total, por um período mínimo de exposição de quatro dias de forma

intensa, a qual procede a eliminação dos insetos. Uma vez aplicado este produto,

deve-se aguardar pelo menos trinta dias para a utilização dos grãos, inclusive para a

indústria. Também é necessário cuidados para se evitar explosões devido à poeira

e a baixa umidade do ambiente em que se encontram os grãos armazenados. Para

estes locais são utilizados recursos de exaustão e sucção do ar, o qual descarta-se

esta possibilidade.

39

PCR: Reação em cadeia da polimerase ou Polymerase Chain Reaction que se resume em um método de aplificação de DNA sem o uso de um organismo vivo. Técnica comum em utilização laboratorial em pesquisas médicas e biológicas para diversas tarefas como o sequenciamento de genses, diagnosticos de doenças e criação de organismos transgêncicos. Com alteração do código genético foi criado plantas e animais com as características desejadas por milhares de anos, como plantas resistentes às doenças, secas, ataques de pragas, necessitando assim, menos recursos ambientais (água, fertilizante, etc.).

Page 93: Marcus Cesar Franzolin - FAE

93

Para o ano de 2011 estima-se uma produção de soja na Região 1 da desta

cooperativa, ou seja, a região da matriz, de quinhentos e setenta a seiscentos e

setenta milhões de toneladas (570 a 670 milhões/ton.), ou aproximadamente

cinqüenta (50) sacas/ha de soja entregue por cooperados da região, o que

representaria três mil toneladas/dia de óleo e farelo produzidos pela indústria de

transformação. Assim dá para se ter uma idéia estimada da quantidade de armazéns

necessários para armazenagem dos grãos. A figura 17 ressalta especificamente a

relação de recebimento do grão pela cooperativa para a armazenagem.

Figura 17 - Recepção da soja para armazenagem

Relação C: Sojicultores:

- Cuidados da produção à colheita (Cooperados e cooperantes) - Qualidade dos grãos: umidade, impurezas, quebrados e outros - Transporte da lavoura à transformação Cooperativa: - Recebe grãos nos entrepostos e na central cooperativa - Controle de qualidade segundo Portaria No. 262 – padronização, classificação e comercialização da soja em grão. - Cuidados com a manutenção dos armazéns - Conservação da armazenagem (MIPGRÃO) - Identificação do fornecedor se necessário for.

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.2.4 – Transformação da soja em óleo refinado comestível

O processo de transformação do grão de soja in natura para outros produtos

derivados após o esmagamento é sintetizado na proporção de setenta e cinco por

cento (75%) em farelo de soja, vinte por cento (20%) em óleo e, os outros cinco por

cento (5%) em rejeitos.

Page 94: Marcus Cesar Franzolin - FAE

94

O cumprimento da legislação na obtenção do Licenciamento Ambiental para

manter uma Agroindústria em funcionamento tem o objetivo de agir preventivamente

no que diz respeito à proteção do bem comum do povo, o meio ambiente, assim

como compatibilizar em sua preservação com o desenvolvimento econômico-social:

“Ambos, essenciais para a sociedade, são direitos constitucionais. A meta é cuidar

para que o exercício de um direito não comprometa outro igualmente importante”

(TCU, 2007, p.9).

Assim, esta agroindústria segue as Determinações de Avaliação de Impactos

Ambientais, o DAIA. Este órgão analisa estudos ambientais de empreendimentos

que possam estar sob avaliação de impactos ambientais para o licenciamento. Tudo

em conformidade com o CONAMA nas Resoluções 01/86 e 237/97, que também

analisa o licenciamento dos empreendimentos de pequeno impacto de forma

suplementar, para os que não constituam fontes de poluição, localizados nos

municípios que não tenham os recursos necessários para a efetivação deste

licenciamento ambiental. Desta forma o DAIA emite parecer técnico que possa

subsidiar o licenciamento ambiental pela Secretaria do Meio Ambiente (SMA), órgão

responsável para a produção do Termo de Referência o qual elaborará o Estudo de

Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto do Meio Ambiente (RIMA). Com

estes se obtêm o Licenciamento Ambiental que são diretrizes para a recuperação de

áreas degradadas. Para as informações técnicas as consultas devem ser feitas aos

órgãos do sistema.

Com a preocupação com o meio ambiente, desenvolveu-se o projeto para a

certificação ISO 1400040, que envolve a gestão ambiental. Esta já foi aprovada para

certificação e estão trabalhando no envolvimento e na incorporação de todos os

colaboradores no projeto, para que assim possam alcançar o êxito desta

empreitada. Com esta intenção, também foi desenvolvido um quadro que descreve a

disposição de todos os resíduos na cooperativa em seus devidos processos de

transformações. Este quadro não identifica apenas os resíduos de transformação do

grão de soja em óleo e de seu refino, mas de qualquer atividade que resulte em

qualquer resíduo, ou que possam aproveitá-lo em outro processo produtivo,

40

ISO 14000: International Organization for Standardization - reúne normas que estabelecem diretrizes sobre a área de gestão ambiental dentro de empresas. Assim, estas empresas elaboram o seu próprio projeto para execução, sendo ele fiscalizado em sua elaboração, execução e manutenção por órgãos certificadores.

Page 95: Marcus Cesar Franzolin - FAE

95

quantificando o quanto é gasto em seu transporte, como o valor de sua venda se for

o caso. No final é gerado um balanço total do que é gasto e do que é faturado.

Especificamente na produção de óleo de soja refinado é descrito por eles o

seguinte método de produção:

a) Preparação: Forma convencional utilizada.

1- Pré-limpeza;

2- Descascamento;

3- Condicionamento;

4- Trituração e laminação;

5- Cozimento.

Nesta seqüência que envolve o esmagamento do grão de soja para a

produção do óleo como também do farelo, há a necessidade de energia, que

anteriormente era produzida por um óleo derivado do petróleo e bastante pesado de

baixa fluidez, óleo BPF41 (Baixo Ponto de Fluidez). Este combustível foi substituído

pelo bagaço de cana-de-açúcar oriundo de sua própria produção de álcool, o qual

emite menor quantidade de gás carbônico para a atmosfera que o combustível

anterior, sendo ele ainda renovável. Deste processo gerador de energia para o

esmagamento da soja, como também o calor utilizado para o processo, obtém-se

um resíduo resultante da queima do bagaço, que são as cinzas desta combustão.

Para que este resíduo não seja um poluente sem destino certo, a cooperativa o

transporta e o entrega a uma empresa de adubos orgânicos, situada no Estado do

Paraná. Este produto não é vendido, mas simplesmente entregue para esta empresa

com transporte por conta da cooperativa, o qual é citado e descrito na planilha de

“Disposição dos Resíduos” (anexo), destacando o “Balanço Geral de Custos” onde é

demonstrado o que foi faturado ou quanto se gastou com a destinação dos resíduos.

Como nesta ação é utilizada biomassa para geração de energia pela

cooperativa, está sendo montado um projeto que gera Crédito de Carbono pela

substituição do óleo BPF por este combustível menos poluente e renovável. O que

41 Óleo BPF: Óleo combustível derivado de petróleo, também chamado óleo combustível pesado ou óleo combustível residual, é a parte remanescente da destiliação das frações do petróleo, designadas de modo geral como frações pesadas, obtidas em vários processos de refino. Largamente utilizados na indústria moderna para aquecimento de fornos e caldeiras, ou em motores de combustão interna para geração de calor, o óleo BPF é utilizado em equipamentos destinados à geração de energia térmica. Riscos à saúde trazidos pela queima para aquecimento das caldeiras pode acometer o sistema respiratório.

Page 96: Marcus Cesar Franzolin - FAE

96

no começo era uma ação de finalidade de apenas ocasionar redução de custos,

transformou-se em uma ação que afetou de maneira positiva na questão ambiental.

b) Extração do óleo Bruto: São destacadas em cada fase do processo, algumas

especificidades desta agroindústria:

1- Extração com solvente orgânico: Neste processo é utilizado o solvente Hexano42;

2- Extração contínua em sistema “ROTOCEL”, sendo este processo composto por

um cilindro dividido em setores, que em baixa rotação é inserido flocos de soja e, a

massa inicial percola pela miscela e depois com ela mais diluída é dada a entrada

do solvente puro, quando uma tela se abre e deixa cair a torta ou o farelo,

transferindo-o ao dessolventizador.

3- Destilação da Miscela: O óleo é separado do solvente por aquecimento (70º a

90ºC) sob vácuo. Aqui o conteúdo de solvente pode ser reduzido até cerca de cinco

por cento (5%) e, o hexano residual é destilado em um evaporador com insuflação

de vapor direto.

4- Dessolventilação e tostagem do farelo: Processamento térmico que inativam

fatores antinutricionais e de substâncias que causam sabores indesejáveis.

5- Recuperação do solvente: É removido praticamente todo o solvente utilizado na

extração do óleo através de compressores e ar frio;

Devido a necessidade de gerar calor dentro deste processo, a queima do

bagaço da cana também é utilizado para este fim.

c) Processo de refinação do óleo bruto: São destacadas em cada fase do processo,

algumas especificidades da agroindústria da cooperativa.

1- Degomagem: Nesta etapa são retirados os fosfatídeos (lecitinas) hidratáveis com

a utilização de água (2 a 4%) separando-a do óleo por centrifugação;

2- Neutralização contínua: Nesta etapa é utilizada o ácido fosfórico para retirar os

fosfatídeos não hidratáveis e soda cáustica líquida para neutralizar a acidez do óleo,

que é expressa em ácido oléico;

3- Branqueamento: Nesta etapa é adicionada ao óleo argila ativada com ácido

sulfúrico, para que seja realizada a adsorção de pigmentos que conferem coloração

acentuada ao óleo [clorofila (verde), xantofila (amarelo) e caroteno (vermelho)], além

42

Hexano: Hidrocarboneto alcano com a fórmula química CH3(CH2)4CH3. O prefixo "hex" refere-se aos seus seis atómos de carbono, já a terminação "ano" indica que os carbonos possuem ligações simples. O hexano é irreactivos, e frequentemente são usados como solvente inerte em reacções orgânicas. São também componentes comuns da gasolina.

Page 97: Marcus Cesar Franzolin - FAE

97

de remoção de metais pesados como ferro e chumbo. A argila ativada ou terra

branqueadora depois de usada também é encaminhada para a produção de adubo

orgânico, juntamente com as cinzas do bagaço de cana.

4- Desodorização: É a última etapa do refino do óleo. O óleo branqueado é

submetido a uma destilação numa temperatura de 245º C com agitação através da

injeção de vapor direto numa atmosfera mantida sob alto vácuo. O produto oriundo

desta etapa é o óleo refinado (triglicérides) 99,6% e o ácido graxo 0,4%. Este ácido

graxo é rico em tocoferol, de onde pode ser obtida a Vitamina E, sendo esta vendida

e exportada para o Japão.

5- Borra: Como são misturas de sabão, óleos arrastados, impurezas (gomas,

excesso de soda e fosfatídeos), ou seja, subprodutos da etapa de neutralização,

elas são vendidas para utilização nas indústrias de saponificação.

Ainda com respeito aos resíduos deste ciclo de produção há a água da

lavagem do processo e os resíduos das filtragens, sendo eles formadores do lodo da

produção de óleo refinado que também são transportados para a empresa que

produz os adubos orgânicos.

Assim, como complemento das informações acima, o volume diário de óleo

refinado é de quatrocentas e oitenta (480) ton./dia, gerando assim uma grande

quantidade de resíduos e subprodutos, os quais podem ser redirecionados a outro

processo industrial e/ou entregues para a produção de adubos orgânicos (D). A

figura 18 mostra de forma sintética os principais produtos e seus resíduos no

processo produtivo e seu encaminhamento para outros setores de produção.

Figura 18 – Subprodutos da produção de óleo encaminhados à outra produção.

Relação D: Certificações e licenciamentos: - DAIA (Determinação de Aspectos de Impactos Ambientais) - ISO 14000 – gestão ambiental. - Crédito de carbono (continua)

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98

(continuação) Produtos finais: - Farelo de soja para venda - Óleo de soja refinado. Adubos orgânicos: - Cinzas da queima do bagaço de cana para geração de energia - Lodo do refino do óleo - Resíduo da terra branqueadora - Resíduos da filtragem do óleo Projeto de crédito de carbono: - Substituição do óleo BFP por biomassa Empresas de saponificação: - Borra do processo de refino.

Exportação: - Ácido graxo a 0,4% que é obtido a Vitamina E.

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.2.5 – Relação Cooperativa / produto acabado e sua distribuição ao comércio

Na relação entre a Cooperativa Agroindustrial e a distribuição do óleo refinado

comestível até chegar aos consumidores finais (E), trabalha-se com uma equipe

mista de Representantes Comerciais, Vendedores próprios e Distribuidores. A

atuação da equipe de venda depende do canal em que atuam, locais de venda e

quanto de público atingem, sendo que para o caso específico do óleo refinado, os

Representantes Comerciais é a principal forma de distribuição. No caso dos

produtos que compõem o mix destinado ao varejo como sucos, bebidas à base de

soja, maioneses e molhos, são os Distribuidores o foco de atendimento. Assim, para

a definição desta equipe de vendas, a cooperativa é quem determina o perfil que os

Representantes, Distribuidores e Vendedores devem possuir e a forma de

negociação dos contratos desta distribuição.

Com o trabalho distribuído em regiões para que seja atendida de forma mais

eficiente possível e de acordo com a necessidade e interesse da cooperativa, este

setor tem grande abrangência na cobertura para a colocação e distribuição no

mercado e, de certa maneira, entendem que esta forma que gera uma maior

economia de atuação.

A respeito da produção total de óleo refinado, praticamente é toda colocada

no mercado brasileiro, com mais de noventa e nove por cento (99%) e, apenas

menos de um por cento (1%) destinado ao mercado externo, tendo como principais

destinos a América do Sul e a África.

Page 99: Marcus Cesar Franzolin - FAE

99

Importante destacar que a cooperativa dispõe de um número 0800 para dar

esclarecimentos, receber sugestões, críticas e reclamações, sendo esta central de

atendimento a responsável pelo COC (Centro de Orientação ao Consumidor).

Também este COC recebe o feedback da satisfação dos consumidores, assim como

a necessidade de alguma modificação do produto através de pesquisas específicas

e exclusivas realizada pelo departamento de marketing.

Como ação específica realizada nesta interação entre produção e a

distribuição aos consumidores finais, destaca-se o programa iniciado por este

departamento há pouco tempo, que orienta os consumidores a retornar as garrafas

PET de óleo refinado, com o fim de reutilização do polímero que o compõe, para

transformá-lo em fios ecológicos sintéticos.

Esta ação possui grande repercussão e interação que atinge as dimensões

ambiental, social e econômica. A ambiental por estar retirando da natureza um

grande número de garrafas PET que potencializa a poluição do ambiente. A

econômica por gerar oportunidade de renda e dividendos para os cooperados e, por

fim, social por poder gerar mais trabalho e empregos na transformação em fios

sintéticos e na fabricação das camisetas ecológicas, podendo gerar contribuições

que melhorem a qualidade de vida das pessoas incluídas neste meio, por exemplo.

Existe também um projeto para reciclagem das embalagens Cartonadas

Longa Vida, as utilizadas nas embalagens de sucos, divisão de sucos da

cooperativa. Com parceria de outras empresas, está sendo estudado e desenvolvido

um material duro e resistente o suficiente, para que possa substituir telhas de

amianto, podendo ser o amianto tóxico e fazer mal à saúde do homem. Além desta

substituição, podem ser produzidos outros produtos como o que foi apresentada no

dia da visita em Maringá, como pranchetas. Com este projeto é pretendido divulgar a

reciclagem de materiais, gerando benefícios ambientais, econômicos e sociais.

Em paralelo à ação anterior, pode ser citado também o retorno a esta

organização e o encaminhamento das embalagens dos agroquímicos para a

transformação em outros produtos e a devolução ao mercado sob outra

configuração não tóxica. Desta transformação são produzidos conduítes corrugados

para construção civil, caixas de baterias automotivas, tampas de produtos químicos

e de agroquímicos, cordas, tubulação para esgoto, entre outros. Da mesma forma

que a ação da transformação de garrafas PET em fios sintéticos para produção de

camisetas, esta reutilização das embalagens também contribuem para a retirada das

Page 100: Marcus Cesar Franzolin - FAE

100

embalagens do meio ambiente, gerando recursos em favor dos cooperados e

colaborar com a sociedade com menos poluição, geração de empregos e salários.

Assim, para se ter idéia do montante faturado por eles em 2009 com esta ação, foi

de um vírgula quatro bilhão de reais (R$ 1,4 bilhão).

Esta cooperativa desde 2001 desenvolve projetos com a finalidade de realizar

concursos e gincanas para a conscientização de cooperados e de seus filhos e,

mesmo da comunidade em geral, para o recolhimento de lixo e a conseqüente

contribuição para a reciclagem de materiais que permaneceriam poluindo o meio

ambiente local. Porém, com esta atitude foi mostrado a possibilidade de reversão

desta realidade que, se somada à recuperação das embalagens conforme exposto

acima, podem somar um grande benefício à toda a sociedade.

Como já expressado anteriormente sobre a relação existente entre

cooperativa e fornecedores de insumos e implementos (B), item 4.2.2, informou-se

também sobre a certificação ISO 9000, da qual foi montada uma planilha do Sistema

de Gestão da Qualidade, onde foi colocado como variáveis o tipo de serviço

prestado pelos fornecedores e, os requisitos necessários para desempenhar estes

trabalhos. Com tais informações é possível chegar pela cooperativa, a uma melhor

avaliação da qualidade destes serviços.

Também há a certificação OHSAS 1800043, que assim como a ISO 9000 e a

ISO 14000 é uma certificação voltada agora para a área da saúde e da segurança

ocupacional. Este sistema de gestão formaliza nas políticas, programas,

procedimentos e processos de negócios da organização e, o cumprimento das

exigências legais das partes interessadas. Esta condução deve ser seguida de

forma ética e socialmente responsável. Com grande dinamismo, este sistema de

gestão deve agir de acordo com a movimentação e cumprimento de seus objetivos e

propósitos, visando uma contínua melhoria para as partes (ARAÚJO; SANTOS;

MAFRA, 2006).

43

OHSAS 18000: Occupational Health and Safety Assessment Series. Série de Avaliação de Saúde e Segurança Ocupacional a qual retrata a preocupação da empresa com a integridade física de seus colaboradores e parceiros. Esta certificação do Sistema de Gestão de Responsabilidade Social demonstrará ao mercado que a empresa não existe apenas para explorar os recursos econômicos e humanos, mas também para contribuir com o desenvolvimento social, por meio da realização profissional de seus colaboradores e da promoção de benefícios ao meio ambiente e às partes interessadas. Acidentes, incidentes constituem, muitas vezes, em eventos que devem ser controlados de maneira preventiva através do planejamento, organização e avaliação do desempenho dos meios de controles implementados.

Page 101: Marcus Cesar Franzolin - FAE

101

Assim a cooperativa, conforme exposto nas entrevistas, vem demonstrando

interesse em atender as exigências necessárias para o melhor relacionamento

possível entre esta organização, colaboradores, fornecedores e prestadores de

serviços, buscando mais do que uma simples relação comercial, mas um trabalho

que desperte um envolvimento maior e, como muitas vezes expressado pelos

gerentes e colaboradores, um sentimento maior de parcerias.

Por fim, salientam-se mais uma vez a forma em que é realizada a distribuição

dos produtos da cooperativa, oportunidade em que foi enfatizada sua melhor

eficiência na distribuição e venda, através da utilização mista de Representantes

Comerciais, Distribuidores e Vendedores nas regiões pré-estabelecidas. Para a

distribuição específica do óleo de soja refinado, opera-se somente com

Representantes Comerciais, dos se esperam os melhores resultados no aspecto da

economia (combustível, manutenção de veículos e maior alcance ao consumidor),

cumprindo assim, mais uma etapa do ciclo produtivo. A figura 19 mostra a interação

entre a Cooperativa no setor de transformação do óleo refinado e da distribuição do

produto final para o mercado.

Figura 19 – Cooperativa produtos finais e ligação com o setor de distribuição

Relação E: Equipe mista de distribuição: - ISO 9000 – gestão da qualidade. - OHSAS 18000 – gestão da avaliação da saúde e segurança

ocupacional. - Representantes Comerciais, Vendedores próprios e distribuidores em locais distintos conforme o produto final em que atuam. - Representantes comerciais para a distribuição específica no mercado de óleo refinado de soja comestível. Mercado externo: - Aproximadamente 1% de toda a produção total final. Reaproveitamento de embalagens: - Garrafas PET de óleo (fios ecológicos). - Cartonados Longa Vida (substituição de telhas de amianto e outros). - Reaproveitamento adequado de embalagens de agroquímicos. - Conscientização da reciclagem de materiais (continua)

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102

(continuação) Acompanhamento pelo COC: - Reclamações, sugestões, esclarecimentos e satisfação cliente.

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.2.6 – Outras interações que a cooperativa tem com a comunidade

Este tópico considera os trabalhos realizados pela cooperativa, que com suas

ações não envolvam diretamente o ciclo produtivo do óleo refinado de soja, nem

mesmo os aspectos diretamente relacionados ao ambiental desta agroindústria (F).

Contudo, estas ações podem contribuir indiretamente nesta dimensão e somar com

ações que reflitam de forma positiva para a comunidade.

Destas ações pode ser citado, mais uma vez a parcerias para a execução de

algumas ações, como o “Projeto Cultivar”, o qual foi iniciado em 2006 com a

participação desta organização, IAP (Instituto Ambiental do Paraná), APAE

(Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e da PEM (Penitenciária Estadual),

a qual tem como objetivo atender a algumas necessidades ambientais, como

produção de mudas nativas de árvores e, a inclusão social de pessoas especiais e

da comunidade carcerária. As mudas produzidas são para atender aos cooperados

através da distribuição para reposição de matas ciliares e em outros locais,

utilizando a mão-de-obra da APAE e da PEM. Assim, houve a recuperação e

melhora do viveiro situado na área da penitenciária e, o acompanhamento do projeto

pelo Ministério do Trabalho, Conselho Municipal dos direitos das pessoas

Deficientes de Maringá e também da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente da

Pessoa com Deficiência, para instrução e acolhimento das necessidades para o

trabalho dentro da legalidade.

Como informação adicional, este projeto faz parte do Programa de Mata Ciliar

da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos iniciado em 2003. Ainda esta

cooperativa conta com importante parceria da empresa BASF fabricante de

defensivos agrícolas, a qual apóia as ações de sustentabilidade da cooperativa

(COOPERATIVA, 2011).

Outro trabalho que envolve parcerias com outras empresas é o projeto

“Escola no Campo”. Esta ação quer educar crianças da zona rural ajudando a

esclarecer temas como cooperativismo e seus princípios, informações sobre

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103

agrotóxicos, meio ambiente, inserção do campo na globalização da economia e

outros assuntos relativos à vida no campo, ressaltando ainda a importância do uso

da tecnologia para a produção de alimentos saudáveis. Com a participação da

empresa SYNGENTA, parceira e fornecedora desta cooperativa, desenvolvem aqui

um programa de esclarecimentos sobre agrotóxicos, preservação do meio ambiente,

informações sobre globalização da economia e assuntos pertinentes à vida no

campo (COOPERATIVA, 2011).

Ainda é desenvolvido por esta organização o “Projeto de Integração da

Agricultura e Pecuária” que procura recuperar solos degradados devido à pecuária

intensiva e a baixa potenciabilidade produtiva nas respectivas áreas. O Paraná

representa aproximadamente vinte e um por cento (21%) da produção agrícola de

soja no Brasil e, estas terras degradadas, uns dezesseis por cento (16%) das terras

agricultáveis do Paraná. Desta forma, a recuperação destas áreas degradas traz

muitos benefícios para o solo do agricultor através da recuperação de nutrientes

pela implantação de plantio direto do soja, aumento da renda em relação à

pastagem e plantio do soja, como da geração de emprego no campo nestas áreas.

Este projeto beneficia cento e oito (108) municípios da região noroeste do Estado do

Paraná e há uma reversão do empobrecimento regional através do aumento de

trabalho remunerado e fortalecimento do comércio e dos municípios através dos

tributos arrecadados pelos impostos (COOPERATIVA, 2011).

Esta Cooperativa possui outro programa direcionado ao público jovem dos

cooperados, o chamado “Programa Cooperjovem”, que em parceria com OCEPAR e

a SESCOOP (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do

Paraná) trabalham em conjunto para que sejam divulgadas em escolas as práticas

cooperativistas que ajudem a ampliar o cooperativismo e o empreendedorismo na

comunidade cooperativa, tendo como grande contribuição da cooperativa o

desenvolvimento da comunidade na geração de empregos, produção e serviços que

alcançam a preservação ambiental, contribuição cultural e social com o atendimento

não apenas dos cooperados, embora seja o principal foco. (COOPERATIVA, 2011).

Dos objetivos principais que se destacam deste programa está o ensinamento

dos princípios fundamentais e da filosofia cooperativista, a inter-relação entre o

desenvolvimento da cooperação e da solidariedade humana, iniciando na sala de

aula e passando posteriormente para toda a escola e finalizando na família. De

acordo com o entendimento desta cooperativa, este trabalho reflete na

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104

sensibilização de toda a comunidade local através das ações que influenciam

positivamente a vida de todos, na busca do melhoramento de condição de vida e, na

aproximação da instituição escola às pessoas do local. Assim, este projeto envolve

professores da sexta à oitava série do ensino fundamental, com atuação na região

onde vivem os associados que, em parceria com o SESCOOP, os professores são

capacitados para a multiplicação destes conhecimentos, com disponibilização do

material didático às escolas, orientação aos professores regentes, manual do

professor e, por fim, o material em três volumes da “Turma da Cooperação”. Este

último é um material lúdico para as crianças sobre o tema Cooperativismo

(COOPERATIVA, 2011).

Ainda há o projeto “Núcleo Jovem” que atua junto a filhos de cooperados.

Algumas unidades de atuação são na localidade de Cianorte, Japurá, Jussara e

Maringá. Tem a intenção de oferecer maiores informações sobre o cooperativismo,

como administrar a propriedade do pai e, assim por diante. Assim a cooperativa

resolveu criar este projeto com apoio das unidades acima citadas, para o

desenvolvimento do potencial profissional e pessoal, onde está por começar na

relação familiar e na transação da empresa rural familiar. Como resultado deste

projeto há encontros com jovens de diversas regiões que buscam os mesmos

objetivos, como capacidade de liderança, ampliação e percepção do conhecimento

do cooperativismo, ética e valores como a valorização feminina da mulher e do

homem no campo (COOPERATIVA, 2011).

Por fim, atendendo a uma grande demanda feminina na cooperativa em

diferentes unidades locais, solicitaram mais informações a respeito do

cooperativismo e da administração da propriedade rural da sua família, quando com

o apoio das unidades acima citadas, criaram os “Núcleos Femininos”, formadas por

cooperadas, esposas e filhas de cooperados. Elas também buscavam o

desenvolvimento profissional e pessoal para contribuir no desempenho social e

econômico. Com objetivos similares aos dos projetos acima explicados, o Núcleo

Jovem e o Núcleo Feminino queriam multiplicar e divulgar o cooperativismo,

apresentar as atividades por elas desenvolvidas, sugerindo um maior envolvimento

da mulher dentro da cooperativa e a atenção em preocupar-se nos assuntos

correlatos a elas (COOPERATIVA, 2011).

Page 105: Marcus Cesar Franzolin - FAE

105

A figura 20 sintetiza os trabalhos desenvolvidos pela cooperativa e parceiras,

que resultam no fortalecimento do cidadão como pessoa e profissionalmente, sua

participação no envolvimento ao cooperativismo, ética e valores.

Figura 20 – Interações entre a cooperativa. associados e comunidade

Relação F: Projeto Cultivar:

- Cooperativa, IAP, APAE, PEM , BASF. - Mão-de-obra da APAE e PEM. - Inclusão social. - Remuneração para alunos da APAE. - Produção de mudas de árvores nativas. - Envolvimento com o Programa de Mata Ciliar. Escola no Campo: - Educação, informação, meio ambiente, tecnologia, alimentos e difusão. - Cooperação entre Syngenta e outras instituições governamentais. Integração Agricultura e Pecuária: - Recuperação de terras degradadas. - Benefícios para agricultores, comunidades e municípios. Cooper Jovem: - Integração Cooperativa, OCEPAR e SESCOOP. - Empregos, produção, preservação ambiental, cultural e social, princípios cooperativistas. Núcleo Jovem e Núcleo Feminino: - Cooperativismo, administração propriedade, desenvolvimento do potencial pessoal de profissional.

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.2.7 – Visão desta cooperativa perante o cooperado

Em termos gerais, esta Cooperativa Agroindustrial entende que seu

cooperado tem especial participação com três papeis diferentes: a) de fornecedor de

produtos primários, momento em que busca o melhor preço de venda de seu

produto; b) de cliente, quando compra produtos e busca o melhor preço e facilidades

para seu pagamento e aquisição, por fim, c) de proprietário, quando procura adquirir

na divisão com os outros cooperados, o maior lucro acumulado no exercício anual.

Page 106: Marcus Cesar Franzolin - FAE

106

A figura 21 representa o círculo em que o cooperado se enquadra dentro da

visão cooperativa. Segundo os gerentes locais, este pensamento exige-se especial

atenção e sensibilidade pelos colaboradores, para que possam realizar um

atendimento que satisfaça as três posições em que ocupam.

Figura 21 – Entendimento desta organização cooperativa sobre o cooperado

Fonte: Elaborado pelo autor.

O quadro 7 identifica os mesmos papéis que o cooperado desempenha dentro

da cooperativa, segundo a mesma visão e entendimento no trabalho desenvolvido

pelos colaboradores.

Quadro 8 - Papel que os cooperados desempenham -------------------------------------------------------------------------------------------------- 1º - Fornecedores querem melhores preços e vantagens na venda;

2º - Clientes querem o melhor atendimento e preços para compra;

3º - Donos exige melhores rendimentos para divisão do lucro.

-------------------------------------------------------------------------------------------------- Fonte: Elaborado pelo autor

Salienta-se que sobre este entendimento é ressaltada a palavra respeito.

Busca-se com isso especial atenção aos Princípios Cooperativistas e, colaborar em

sua divulgação mostrando condições para que todos usufruam os seus direitos e

cumpram seus deveres.

Fornecedores

Donos

Clientes

Page 107: Marcus Cesar Franzolin - FAE

107

4.3 – Práticas aplicadas na cooperativa e a teoria

Este tópico é uma comparação das ações desenvolvidas pela cooperativa e a

teoria que foi pesquisada, com colocações e algumas considerações do pesquisador

com uma visão mais crítica nas informações colhidas em campo, considerando-as

como verdadeiras e colocadas realmente em prática segundo ao que foi repassado

nas entrevistas.

4.3.1 – Práticas da cooperativa para o desenvolvimento ambiental sustentável

Conforme visto, industrialização para muitas pessoas tem o significado de

desenvolvimento, fato que representaria apenas o crescimento econômico da

população (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006). Porém esta definição está incompleta e

necessita de uma complementação, como a melhoria da qualidade de vida das

pessoas que vivem em uma região. Assim, segundo CIMA (1991), mantendo este

raciocínio, os países altamente industrializados geralmente degradam o meio

ambiente, poluem, afetam a quantidade dos recursos naturais, trazendo

consideráveis prejuízos à natureza e ao homem, o que não significaria

desenvolvimento. Para Burns (1966) o começo destes acontecimentos foi intitulado

como Revolução Econômica que evoluiu para a Revolução Industrial e se estendeu

a todos os domínios da produção.

Na evolução da palavra desenvolvimento, houve em determinado momento, a

distinção de “territorialidade”, como se fosse um instrumento de medição da

economia. Desta forma era possível realizar uma avaliação de uma região e ver se

obteve crescimento. Posteriormente, após a II Guerra Mundial, segundo Burstzen

(2006), a palavra desenvolvimento foi dividida em dois conceitos para interpretação:

(a) Crescimento das atividades econômicas e (b) Melhoria da condição e qualidade

de vida da população.

A equivalência entre o PIB e a renda per capta para verificação do

desenvolvimento é uma medida incompleta. A riqueza pode ajudar a chegar ao bem

estar da pessoa, mas é complementar. Desenvolvimento não pode ter uma

conceituação tão simplória como foi colocada anteriormente (VEIGA, 2005).

Tampouco, segundo Becker et al (1997), não é compatível o raciocínio de que

Page 108: Marcus Cesar Franzolin - FAE

108

desenvolvimento pode ser comparado ao meio biológico, ou seja, uma repetição de

outro indivíduo já desenvolvido e geneticamente exposto. Neste raciocínio

necessariamente haveria um retorno ao modelo passado, repetindo variações do

ambiente naquele entorno, sem uma nova construção para este novo ambiente e

realidade, mas como se fosse repetitivo ou apenas uma cópia de ambientes

diferentes para este futuro. Esta idéia não pactua com o desenvolvimento voltado ao

lado sócio-econômico, pois há inúmeras variáveis na construção ambiental, o que

traz ao homem casos diferentes e inéditos para a construção de uma realidade do

momento (BECKER et al, 1997).

O trabalho que esta cooperativa desempenha na geração de renda, com foco

principal aos seus cooperados, atinge também cooperantes, colaboradores,

fornecedores e a própria comunidade local, o que leva ao encontro aos autores

citados e que trata sobre o tema desenvolvimento sustentável, somando ao aspecto

do crescimento econômico, benefício à sociedade e ao meio ambiente. Também

esta cooperativa contribui em seu trabalho no desenvolvido em sua região, ajudando

a manter a ocupação profissional de indivíduos na agroindústria e no campo, como

ocorreu no período da Revolução Industrial, quando se buscava dar novamente

trabalho às pessoas deixadas à margem, devido à aplicação da força motriz na

indústria. Desta forma, o cooperativismo através de objetivos comuns, resgata o

desempenho de ocupações profissionais e conquistas que ajudam a estabelecer e a

fortalecer o respeito próprio destes trabalhadores (QUEIROZ, 1996).

Esta Cooperativa Agroindustrial, conforme pesquisado e nos relatos obtidos,

foi iniciada através da dificuldade de cafeicultores da região do norte do Paraná, que

estavam buscando melhores preços e condições de vendas sem a atuação de

intermediários, que se iniciou através de quarenta e seis produtores para obtenção

de um espaço dentro do mercado. Porém, as adversidades transformaram a idéia

inicial em muitas outras possibilidades, como o beneficiamento de algodão,

armazenamento de cereais e o trabalho com outros produtos. O crescimento

econômico desta cooperativa mostrou-se incontestável, com aumento de rendas e

diversificação dos produtos.

Assim foi possível comparar com a teoria pesquisada os acontecimentos

descritos no estudo. O desenvolvimento industrial não ficou apenas no crescimento

físico da cooperativa, mas demonstrou-se mais aprofundado no respeito e ao meio

ambiente, seja no aspecto social (comunidades) com participação econômica da

Page 109: Marcus Cesar Franzolin - FAE

109

vida da comunidade ou no mínimo, dos stakeholders. Não ficou focado somente à

agroindústria ou no faturamento para divisão dos lucros entre cooperados, embora

muito bem atentado neste aspecto. Assim, colaborou a ligação a uma

contextualização local às práticas tecnológicas, como o caso da produção de fios

ecológicos derivados das garrafas PET e produção de camisetas com estes fios

sintéticos. Como já trabalhavam na produção de fios de algodão, adaptaram-se para

os fios sintéticos também.

A sustentabilidade precisa ser estimulada para as responsabilidades dentro

da ética, com ênfase no que não envolve somente a economia, mas que considere a

justiça social, maior equidade na divisão dos frutos produzidos e do bom senso do

homem pelos outros seres vivos do planeta (JACOBI, 2007). Usando uma só palavra

que represente de forma mais adequada e direta a sustentabilidade, novamente é

citada a palavra respeito. “Respeito o meio ambiente, respeitando às pessoas e

respeito ao capital” (ALLADI; QUELHAS, 2003, p.5). Assim, ao que foi recebida de

informações deste estudo, a palavra que complementa a anterior seria Integração

entre cooperados e de suas famílias aos seus negócios. Desta forma não pode ser

excluído o trabalho junto à comunidade da região.

Como já mencionado anteriormente, o cooperativismo no Brasil foi uma das

alternativas que muito ajudou ao combate da precarização das condições de

trabalho nas décadas passadas recentes, principalmente quando houve um

considerável aumento dos socialmente excluídos, os quais sobrevivem no mercado

informal de trabalho, tanto no campo quanto na zona urbana. Com a dificuldade de

obter renda, a população ligada a um determinado produto ou atividade, unem-se

para obter uma maior força de negociação e buscar realizar uma mudança de

mentalidade para assumir uma postura com uma nova perspectiva, direcionando

para a coletividade em detrimento à individualidade (ROCHA et al, 2004). A

cooperação presta um auxílio para ser alcançado um mesmo objetivo e,

cooperativismo é a doutrina que muda a sociedade através da cooperação, podendo

ser por um ponto de vista sociólogo ou por uma interação entre indivíduos (PINHO,

1966). Em um contexto geral, a cooperativa é uma organização especial, diferente e

poderia ter o simbolismo como ocorre em uma família, com distribuição de

benefícios alcançados, sendo tudo ligado às bases democráticas (GAL et al, 1981).

Dos textos abordados nas idéias básicas do cooperativismo acima, esta cooperativa

Page 110: Marcus Cesar Franzolin - FAE

110

mostra-se bem alinhada e adaptada às circunstâncias do momento, com projetos

associados ao seu constante crescimento.

Em uma reflexão sobre o cooperativismo, esta cooperativa mostrou-se com

um grande respeito aos Princípios Cooperativistas, enfatizando muito bem o sexto

(educação permanente), com trabalhos constantes entre cooperados e parte da

comunidade, aprimorando a educação sobre cooperativismo, integração e atividades

conjuntas através de projetos diversos com outras entidades parceiras e órgãos

como prefeitura municipais e do próprio Estado. Também, com o despertar das

atividades que relevam o conhecimento ambiental, com ações preservacionistas ou

de conscientização de problemas causados pela má exploração e condução

ambiental, aplicam-se então manejos que evitam a potencialização de problemas

que possam prejudicar a vida e os ecossistemas. Como exemplo, pode ser citado às

ações de informações sobre o cooperativismo, agrotóxicos, replantio de árvores para

recuperação de matas ciliares e conservação ambiental, reciclagem, educação e

influências na vida das pessoas. Estas ações podem ser tidas através da execução

de alguns programas como o Projeto Cultivar, Escola no Campo, Cooper Jovem,

Núcleo Jovem e Núcleo Feminino conforme informado anteriormente e, mesmo de

outras ações relacionadas aos processos do ciclo produtivo do óleo refinado de soja.

Como conseqüências finais destas ações para a cooperativa, podem ser

sintetizadas o crescimento econômico e aumento na divisão de benefícios aos

cooperados. Desta forma, no ano de 2011 foi projetado alcançar um e meio (1,5)

bilhão de reais a dois (2) bilhões de reais em todas as suas atividades produtivas.

Como pontos favoráveis a esta conquista estão os princípios fundamentais do

cooperativismo, dos quais é destacado o terceiro (Controle Democrático), o quarto

(Neutralidade) e o quinto (divisão das sobras), dá-se direitos e autonomia para o

cumprimento das obrigações com todos da comunidade associada e com reflexos

aos não associados. Como se observou na visita in loco a cidade, com alguns

poucos contatos obtidos com cooperados, lembrando novamente que este não era o

foco do estudo a ser observado, demonstravam-se satisfeitos e motivadas às

discussões dos assuntos tratados com a gerência que os atendiam.

É possível dizer que hoje cresce a consciência de que a natureza não é

apenas uma despensa ou almoxarifado, mas que muitas vezes é tratada desta

forma (BURSTZEN et al, 1993). Com algumas ações da cooperativa pode-se dizer

que esta interpretação expressada por Burstzen et al (1993) está sendo trabalhada

Page 111: Marcus Cesar Franzolin - FAE

111

para combatê-la. Pode ser citado inicialmente sobre o trabalho desenvolvido junto

aos agricultores com respeito às recomendações técnicas para a aplicação de

agroquímicos nas lavouras, instruindo-os sobre a tríplice lavagem das embalagens e

sua devolução nos postos de recolhimento. Também no novo trabalho que está

sendo iniciada para as embalagens PET e as cartonadas longa vida no caso dos

sucos. Ainda no encaminhamento dos resíduos da transformação da soja in natura

em óleo refinado para a fabricação de adubos orgânicos, na utilização da biomassa

para produção de energia e calor para o processo de produção, nos trabalhos de

conscientização junto aos cooperados e comunidade sobre reciclagem, relevando os

males que os resíduos podem causar e, nos trabalhos conjuntos com o Estado,

prefeituras e outros órgãos e instituições a respeito das ações junto às microbacias,

bem como dos projetos apoiados pela cooperativa para a constante informação e

formação do público participante.

Ajudando na contribuição para também melhorar o desempenho dos

agricultores no crescimento econômico, podem ser lembradas as orientações

técnicas para a produção do grão de soja na transformação em óleo, orientações e

recomendações que vão do método de plantio, adubação, sementes, combate a

infestações de pragas, combate à erosão, colheitas, manejo do solo e, como evitar

perdas econômicas na safra e na propriedade, fato que geralmente colaboram para

a melhoria da produção e aumento da produtividade, podendo haver o crescimento

financeiro junto aos sojicultores e melhorando a condição financeira individual e da

comunidade.

As atitudes no presente que ajudam a preservar para o futuro mostram-se

de fundamental importância na preservação e manutenção do solo. Assim, com a

necessidade de produzir permanentemente em suas terras e de forma mais eficiente

possível, os sojicultores cooperados estão trabalhando com uma maioria absoluta,

com cultivos de menor movimentação do solo possível, como o plantio direto,

mantendo assim, na maior parte do tempo, as terras cobertas com palhas e matéria

orgânica, preservando a umidade no solo, o que colabora em muito no combate da

erosão e perdas causadas por ela, não perdendo a fertilidade e ocasionando a

manutenção das características necessárias para a longa vida no solo. Segundo foi

informado, as recomendações técnica por parte da cooperativa são realizadas, mas

algumas vezes podem não ser cumpridas pelo produtor. Assim, os trabalhos como o

manejo das microbacias são repassados pela cooperativa e, ainda, podem ajudar

Page 112: Marcus Cesar Franzolin - FAE

112

em seu desenvolvimento se seguidas às orientações. A sua divulgação não é o foco

das atenções dela, mas apóiam este trabalho e ajudam a outros órgãos do Estado

com as informações apresentadas.

Como seqüência de programas de Conservação dos Solos, o Paraná vem

aplicando desde a década de 1970 o combate à erosão através do manejo do solo e

das águas. No manejo da fertilidade do solo deu incentivos para aquisição de

calcário e a correta utilização de implementos para aplicar as técnicas

conservacionistas. Por fim, este programa também incentiva técnicas de manejo bio-

cultural do solo, como o preparo reduzido com o cultivo mínimo, plantio direto, e a

rotação de culturas com plantas para a adubação verde para manter ou aumentar a

cobertura vegetal, colaborando então, na fertilidade. Para o programa de

microbacias o Estado tem realizado incentivos que incluem terraceamentos,

adequação de estradas para escoamento das safras, a correção da acidez do solo,

o reflorestamento conservacionista entre outros. Com este programa há a integração

entre produtores rurais, associações comunitárias organizadas pelos municípios,

entidades e/ou associações em todas as propriedades que pertençam às

microbacias (COSTA et al, 2006). Por esta infra-instrutora formada no Estado do

Paraná, a cooperativa não necessita iniciá-la, apenas dar o suporte aos órgãos

competentes e a seus cooperados.

Uma exploração agrícola sem importar-se com a manutenção e preservação

do solo e do meio ambiente, pode-se deparar de forma rápida com uma degradação,

com desequilíbrio nas propriedades física, químicas e biológicas do solo, fator que

afeta direta e indireta no potencial produtivo. Assim, destacam-se como principais

causas da degradação, a compactação. Este envolve ausência de cobertura vegetal,

erosão hídrica, utilização de áreas inapropriadas e mal conduzidas para o cultivo

anual, com ausência de técnicas específicas. Conforme Guerra, Silva e Botelho

(2010) salientam, nas terras tropicais que normalmente apresentam alto índice

pluviométrico, em áreas desmatadas e com solos desprotegidos de cobertura

vegetal, potencializam sua susceptibilidade erosiva, recomendando-se práticas

conservacionistas neste solo, procurando evitar formação da erosão e suas

conseqüentes perdas.

Uma das primeiras ações da cooperativa junto aos cooperados seria um

levantamento da propriedade, podendo assim, realizar uma avaliação mais

detalhada para as recomendações técnicas, a exemplo a identificação das medidas

Page 113: Marcus Cesar Franzolin - FAE

113

mais urgentes e, das possíveis a serem executadas na atual condição da

propriedade e da capacidade técnica e financeira do produtor, bem como das que

requerem outro momento ou etapa.

Aqui novamente se destaca o combate à erosão. Sua importância é enorme,

evitam-se perdas de investimentos realizados na terra, como curvas de

nível/terraceamentos, calagem, adubos, sementes, matéria orgânica e do solo

propriamente dito (GOMES, 1985). Áreas com acidez elevada e Al3+ tóxicos

necessitam de calcário, fato que pode acarretar em maiores perdas após aplicação

em áreas mais propensas. Pode ainda afetar a fertilidade da terra e afetar e seu

potencial produtivo, podendo favorecer a terra ácida, a intensidade do alumínio e

afetando a disponibilidade de nitrogênio, enxofre, fósforo, cálcio e magnésio, entre

outros (OCEPAR/EMBRAPA, 1989). Assim, de forma prática, dá-se para imaginar

que perdas com erosão podem significar mais que perdas de investimentos, mas

redução de potencial produtivo e perdas ambientais.

A orientação técnica sobre os agrotóxicos é também de grande importância,

como os esclarecimentos nos projetos desenvolvidos e/ou apoiados por esta

cooperativa. Se perguntado a um agricultor o que fazer se aparecer uma praga em

sua lavoura, o mais fácil a se escutar, segundo a EMATER (1988) é: realizar uma

aplicação de veneno. No entanto, segundo recomendações técnicas, não é a melhor

resposta, pois o veneno mata a praga e também o inimigo natural. Assim, no geral, o

retorno da praga é mais intenso por não ter por quem ser combatida. Por este

motivo, na próxima aplicação será necessário o uso de mais veneno contra a

mesma praga. Desta forma, com as recomendações técnicas, a aplicação de

produtos químicos podem se tornar mais adequados para a conservação ambiental.

Desta forma as informações são passadas aos agricultores, informando-os sobre o

produto e os riscos de seu uso, podendo ser uma maneira, até de inibir o seu uso.

Assim o controle integrado de pragas ganha maiores dimensões quando

esclarecido aos agricultores que há uma capacidade da planta de suportar o ataque

de determinada quantidade da praga, sem que o dano causado na planta venha

prejudicar a sua produção. Desta forma, este manejo sugere o momento correto de

aplicação de defensivos, quando o dano ou a número de pragas está no limite para

que seus inimigos naturais consigam controlá-las (EMATER, 1988). Este método

diminui sensivelmente o uso de inseticida e os gastos financeiros com a aplicação.

Embora nem sempre este manejo seja praticado pelos cooperados quando

Page 114: Marcus Cesar Franzolin - FAE

114

recomendado pelos técnicos, os proprietários de áreas maiores fecham-se ainda

mais para a adoção e o acompanhamento para o manejo integrado.

O controle natural das pragas é de grande valia para proteção do meio

ambiente, pois existem diferentes meios naturais de combate, como a competição

no caso de ervas daninha, utilizando o sufocamento através da cultura (luz e

nutrientes), bem como de insetos nocivos às pragas ou doenças que as

enfraquecem e geralmente as levam à morte. Assim, o plantio-direto também

colabora para diminuir aplicações. Ainda, como outra medida de controle há a

utilização da batida-de-pano, a qual levanta como está a infestação na lavoura e o

estágio de vida em que se encontra a planta. Também ajudam a constatar os danos

causados nas plantas da lavoura e a fase em que se encontram as pragas. Também

a identificação da praga e de seu inimigo natural, como os estragos já realizados.

As pragas da soja podem ser controladas através de doenças naturais, como

exemplo o Baculovírus, o qual ataca as lagartas-da-soja (Anticarsia gemmatalis), ou

ainda a doença branca, a qual ataca as lagartas e as deixam preguiçosas até matá-

las e as tornando brancas pelo fungo Nomuraea (EMATER,1988). No caso dos

percevejos realiza-se controle químico após comprovação de seu ataque na

formação das vagens ou dos grãos. Se encontrado apenas nas bordas da plantação,

realizar a aplicação apenas nestes locais. Estas recomendações são realizadas pela

cooperativa aos sojicultores que desejem fazer o controle integrado de pragas,

podendo assim reduzir em muito a utilização de venenos e ajudando na preservação

do micro ecossistema local.

Com respeito às infestações nos grãos armazenados, também pode ser

utilizado o controle integrado, deste que não haja perdas tanto qualitativas quanto

quantitativa para os grãos armazenados. Neste caso são recursos utilizados

principalmente pela cooperativa, quando recebida a safra para o armazenamento do

grão até sua utilização. Este processo é o conhecido como MIPGRÃO, o qual

identifica a infestação dos insetos da armazenagem, contaminação fúngica com

toxinas com efeitos negativos para a saúde do homem e animais, dificuldades para

exportação e outros subprodutos que possam ter um potencial risco para outras

utilizações. Assim há necessidade de realizar expurgos para evitar tais problemas

indesejados.

Conforme exposto na visita in loco, o procedimento de armazenagem da

cooperativa começa não pelo recebimento da safra, mas pelos cuidados com a

Page 115: Marcus Cesar Franzolin - FAE

115

limpeza das áreas reservadas para a armazenagem, como da verificação da

qualidade dos grãos (limpeza e umidade). Posteriormente é realizado o expurgo com

fosfina com gás e o líquido, deixando por pelo menos quatro dias em exposição

intensa com o composto químico. Somente depois de trinta dias poderá ser utilizado

o grão para qualquer fim. Periodicamente após a carência do prazo exigido pelo

produto, é realizado um acompanhamento de como está o processo da

armazenagem.

Já no processo agroindustrial referente ao ciclo de transformação da soja in

natura em óleo refinado comestível, a cooperativa informou todo o processo utilizado

em sua industrialização. Em algumas fases foram ressaltadas algumas informações

conforme já exposto no item 4.2.4, principalmente quando havia uma exposição que

compatibilizava com a teoria pesquisada (item 2.6), destacando assim, alguma

diferença no método realizado por eles, ou mesmo que apresentavam diferenças

positivas nos aspectos ambientais.

Desta forma falou-se sobre o processo que envolve a geração de energia

para esmagamento da soja na produção de farelo e óleo, como do calor necessário

para a refinação, utilizando a biomassa proveniente da queima do bagaço da cana-

de-açúcar, sendo que os resíduos desta combustão são utilizados para a produção

de adubo orgânico. Também a terra-clarificante utilizada no processo de

branqueamento do óleo refinado, após seu uso, é também redirecionada para

fabricação de adubo orgânico. Na produção do óleo bruto, uma vez extraída por

meio de solvente orgânico, o Hexano, utiliza-se o ROTOCEL, ou seja, equipamento

em forma de cilindro para extração do óleo via solvente orgânico, que aproveita ao

máximo a matéria-prima (flocos de soja), a qual através de uma rotação baixa forma

a miscela que gradativamente torna-se mais diluída em um fluxo contrário entre a

miscela e a entrada do solvente puro. Na parte inferior do cilindro separa-se a torta

ou o farelo, transferido-o para o dessolventizador para um processamento térmico

com o fim de inativar elementos antinutricionais que afetam o sabor. A recuperação

do solvente é praticamente total devido à utilização de um compressor e ar frio.

O processo de refinação do óleo bruto é para melhorar a aparência, o odor e

o sabor. Neste foi visto que a teoria não difere muito da prática utilizada, havendo

apenas algumas particularidades do processo, como os detalhes com o intuito de

maior aproveitamento dos resíduos, exemplificado na venda da borra para

fabricação de sabão, o ácido graxo a 0,4% para a obtenção da Vitamina C e

Page 116: Marcus Cesar Franzolin - FAE

116

exportação ao Japão. Por fim, os resíduos de filtragem do óleo e o lodo do refino,

todos provenientes da água da lavação da produção do óleo refinado, a qual e

entregue para a produção de adubo orgânico.

Devido à substituição do Óleo BFP pala a biomassa na geração de energia no

processo de produção e refinação do óleo, a cooperativa está elaborando um projeto

para que possa receber em seu benefício créditos de carbono.

Com a soma dos resultados obtidos pela cooperativa nos processos

produtivos e nos projetos em que estão executando, mostram-se bem positivos nos

aspectos ambientais. Como a redução ou quase eliminação de resíduos deixados ou

lançados no meio ambiente, a venda de subprodutos para outras cadeias produtivas

desta transformação, o reaproveitamento de embalagens para produção de outros

produtos e mais os aspectos educacionais transmitidos para a comunidade local, os

quais ajudam a explicitar e divulgar algumas destas práticas.

Como exemplo mais direto, pode-se exemplificar o aproveitamento dos

recipientes PET utilizado no envasamento de óleo refinado, o qual está sendo

estudado a viabilização do reaproveitamento para a transformação em fios

ecológicos. Aproveitando este rumo, embora não seja relativo ao processo do óleo

refinado, também há o estudo do reaproveitamento das embalagens longa vida de

sucos, transformando-os em material duro que possam substituir o amianto na

fabricação de telhas, como também de outros objetos.

Assim, praticamente toda a teoria pesquisada neste estudo foi utilizada por

esta cooperativa, mostrando-se dentro de um caminho com inclinação ao

desenvolvimento ambiental. As certificações ISO 9000 (Qualidade), a ISO 14000

(Ambiental), a OHSAS 18000 (Segurança e saúde do trabalho) também ajudaram a

impactar positivamente a agro-industrialização nos aspectos ambientais, com ações

favoráveis ao meio ambiente e nas outras duas dimensões do triple bottom line.

Ainda há o respeito à legislação e à legalidade deste processo produtivo, sobretudo

o respeito ao meio ambiente, aos cooperados e ao próprio homem.

Page 117: Marcus Cesar Franzolin - FAE

117

4.4 – Conclusões do Estudo de Caso

Das informações coletadas para este estudo, diversas ações desempenhadas

pela cooperativa mostram-se direcionadas para um crescimento que respeita e

propaga a fundamentação cooperativista, contribuindo também a uma formação

educacional com consciência à dimensão ambiental da sustentabilidade, alastrando-

se também às bases socioeconômicas da comunidade.

O alvo principal desta cooperativa está ligado mais aos cooperados, que

muitas vezes, beneficiam nas ações que envolvem toda a comunidade em que estão

inseridos. Como exemplo cita-se os métodos de condução das lavouras no campo,

os programas conjuntos aos fornecedores parceiros que abrangem a inclusão social,

educação ambiental, auxílio à formação profissional e pessoal, envolvimento do

jovem e da mulher nos interesses culturais, sociais e rurais. Também auxilia na

recuperação social e educacional, podendo orientar na manutenção e nos

investimentos ambientais, objetivando assim, a permanência das famílias nas

propriedades rurais. Ainda pode ser citada a reutilização de produtos que, se

ignorados, estariam contribuindo com a poluição ambiental, como os de reciclagem

de embalagens de óleo e, das embalagens de agrotóxicos, os quais geram novas

oportunidades de trabalho, fonte de renda e reutilização de material potencial

gerador de resíduos tóxicos.

Como ressalva aos procedimentos para a eliminação das embalagens de

defensivos agrícolas, cita-se a entrega para queima dos saches não possíveis a

realização da tríplice lavagem. Estas entregas são para a realização da queima dos

mesmos, por uma indústria no Estado de São Paulo, procedimento este, que por

falta de conhecimento por parte deste pesquisador, não saberia se há isenção de

danos ambientais neste método, devido à emissão de gases tóxicos à atmosfera.

Voltando aos aspectos positivos relacionados ao meio ambiente, o

reaproveitamento e o redirecionamento do material do ciclo de transformação da

soja in natura em óleo, são praticamente reutilizados todos os subprodutos deste

processo agroindustrial. Como exemplo, tem-se a venda dos subprodutos que

resultam na borra e nos ácidos graxos 0,4%, contribuindo na geração de renda e,

ainda, no redirecionamento de outros resíduos para a transformação em adubos

orgânicos (cinzas da queima da biomassa, lodo de refino, resíduos da filtragem do

óleo e a água da lavagem do processo de transformação). Observa-se que estes

Page 118: Marcus Cesar Franzolin - FAE

118

últimos resíduos não são geradores de renda, mas, contudo são retirados do meio

ambiente. Constatando estas ações e os benefícios gerados à natureza, não trazem

somente benefícios para a cooperativa, mas a todos os cooperados e à sociedade.

Por imposição da legislação, esta agroindústria precisa atender as

Determinações dos Aspectos Ambientais (DAIA), o que inclui as Resoluções

CONAMA 01/86, 237/97 e 357. Também o projeto próprio desta organização para a

Certificação ISO 9000 (Gestão da Qualidade) e a Certificação ISO 14000 (Gestão

Ambiental), estando este aprovado e aguardando a visita da empresa certificadora

para o recebimento da mesma. Por serem projetos basicamente novos, foi

repassada a informação de que, principalmente os projetos ISO, há um trabalho

constante de formação dos colaboradores, ocasionando maior envolvimento,

participação e aceitação. Complementando, a cooperativa também está se

enquadrando na OHSAS 18000 (sistema de gestão com foco à Saúde e Segurança

Ocupacional).

Novamente são enfatizados pela cooperativa os princípios fundamentais do

cooperativismo, quando em diversos momentos é demonstrado pelos entrevistados

o grau de fortalecimento e envolvimento devido à democratização na educação dos

cooperados e cidadãos, como ocorre nos programas do Projeto Cultivar, Escola no

Campo, Integração Agricultura e Pecuária, Cooper Jovem, Núcleo Jovem e Núcleo

Feminino. Existem ainda programas que envolvem toda a comunidade, como

instituições governamentais e não-governamentais que geram trocas de informações

entre indivíduos e incentivam a inter e transdisciplinaridade na interação entre

sujeitos e instituições.

Este Estudo de Caso vem mostrando algumas atitudes da cooperativa de

superação e empreendedorismo, como a ampliação de negócios mesmo em

momentos de dificuldade da economia brasileira, com implantação de novas culturas

agrícolas, novos processos agroindustriais que contribuem à diversificação e até

mesmo ao pioneirismo de algumas ações, colaborando a concretizar o respeito aos

princípios cooperativistas e, de forma quase indireta, à fundamentação ao triple

botton line da sustentabilidade (ambiental, social e econômica) - ver figura 2.

Das informações coletadas e desempenhadas nas ações desta cooperativa,

sobressai-se o principal foco deste estudo, a dimensão ambiental. Conforme

demonstrado por Dyllick e Hockerts (2002), exemplificado pelas Figuras 3, 4 e 5, são

evidenciados também aspectos nas dimensões Financeiras ou do Negócio (a

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119

Cooperativa em si), Ambiental ou Natural e da Sociedade ou Social, formando desta

forma, as interfaces Eco-eficiência, Eco-efetividade, Suficiência e o Patrimônio

Ecológico. Das diferentes interpretações possíveis na relação das interfaces aqui

destacadas, é possível obter diferentes interpretações complementares às inter-

relações. Desta forma, coloca-se uma interpretação nas Relações destacadas no

modelo das práticas identificadas entre cooperativa e os agentes participantes

dentro do ciclo produtivo do óleo. Têm-se o que segue:

Na Relação A, que diz respeito ao comportamento entre a cooperativa e os

cooperados na produção dos grãos de soja, através da ótica da própria cooperativa

e com uma visão exclusivamente ambiental, forma-se a interface da Eco-eficiência.

Nesta é possível destacar as ações que ajudam a reduzir impactos ambientais e,

que respeitam o ciclo natural de reposição da natureza. As recomendações técnicas

de preservação e manejo são de grande importância e destaque para melhorar e

manter a conservação e o desempenho da produção sem impactos negativos à

natureza.

Para a interface que forma a Eco-efetividade, ou seja, as orientações por

parte da cooperativa que não permitam impactos negativos ao meio ambiente na

produção agrícola. Das informações obtidas está sendo trabalhado de forma intensa

o uso das melhores tecnologias e informações sobre como utilizar os agrotóxicos,

fertilizantes químicos, manejos do solo, entre outros.

Para que nesta Relação A haja a Suficiência, ou seja, a inter-relação entre a

dimensão Ambiental e a Sociedade sem haver agressão ao meio ambiente pela

produção de soja, as orientações técnicas são, mais uma vez, de fundamental

importância, como o combate das perdas por erosão, combate ao desmatamento

pela informação e adequação das áreas plantadas, à intoxicação do solo por

químicos e mau uso dos insumos, e assim por diante.

Por fim estas orientações técnicas ajudam também na manutenção do

Patrimônio ecológico, o qual as gerações atuais, mostram-se com um consumo

exagerado deste capital, consumindo também o correspondente das futuras

gerações. Como exemplo desta destruição pode-se citar do solo, a contaminação

das águas, das vegetações pela falta de cuidados à preservação e manutenção,

mostrando um conseqüente efeito ao maior bem social da comunidade, o próprio

Capital Natural.

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120

Na Relação B, a qual norteia o relacionamento entre a cooperativa e seus

fornecedores de insumos e implementos, destaca-se inicialmente a Eco-eficiência.

Além da parceria profissional informado pela cooperativa nas ações descritas

anteriormente, como o desenvolvimento de projetos com o fim de educar e colocar

em prática ações ambientais, que respeitem o ciclo natural da natureza sem

ultrapassar os limites de uso e produção, dentro dos interesses produtivos do

homem. Desta forma são exemplificados a utilização de agroquímicos e o corte de

matas ciliares para aumento da área plantada.

A Eco-efetividade é conquistada nesta relação, através da melhoria da

produção e mesmo da real produtividade, sem que haja qualquer agressão ao

ambiente, como o uso de implementos sem causar danos por compactação que

possam gerar erosão, intoxicação pelo o uso de agrotóxicos, como também, da

reciclagem das embalagens, iniciado pela orientação do uso, lavação e devolução,

como ainda, a utilização de sementes sem que haja degradação ambiental, animal,

etc.. Do mesmo modo a educação e a informação também ajudam na Suficiência,

havendo um maior entendimento por parte da sociedade, para um consumo

inteligente na produção dos insumos, incluindo a reciclagem de produtos,

protegendo assim, o Patrimônio Ecológico de toda a sociedade.

Na Relação C, a qual trata o relacionamento entre a cooperativa e os

sojicultores que entregam os grãos de soja para transformação em óleo refinado,

destaca-se o entendimento da interface da Eco-eficiência. Aqui alguns cuidados

são necessários para que não haja perda na qualidade, primariamente na produção

do campo, onde os problemas resultados do excesso de umidade, impurezas,

quebrados entre outros, não se tornem obstáculo para a boa qualidade. Tais fatores

podem afetar além da aparência do grão, na qualidade final do fruto e produto (óleo

refinado), na conseqüentemente diminuição do preço na venda final do grão do

sojicultor.

Para a Eco-efetividade seriam necessários cuidados por parte do sojicultor,

como um manejo adequado da cultura, com maior controle dos desempenhos dos

equipamentos utilizados e, controle de todo o desenvolvimento da soja. Assim,

poderia se evitar os problemas negativos já mencionados anteriormente. Em todo

este processo é importante que os efeitos negativos ao meio ambiente sejam

combatidos e buscado alternativas mais eficientes com menor degradação. Desta

forma, é possível chegar também à Suficiência através da sustentabilidade

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121

ecológica, com trabalhos que visem não ultrapassar os limites da natureza, como o

desenvolvimento da cultura em questão, bem como do solo e de seu substrato

natural (nutrientes, M.O., sementes, etc.). Assim, destaca-se de forma bastante

explícita, a necessidade de trabalho na terra para que se possa atingir a

sustentabilidade e preservação do Patrimônio Ecológico (capital natural) da

sociedade.

Ainda, com a higienização por parte da cooperativa nos locais de

armazenagem dos grãos, evita-se a infestação de insetos nos grãos e ajudam ao

MIPGRÃO, evitando mais uma vez, a utilização mais acentuada de inseticidas em

combate às pragas.

A Relação D, a qual é caracterizada dentro da própria cooperativa e o setor

agroindustrial que transforma o grão de soja em óleo refinado, iniciando-se com os

licenciamentos e certificações relativos ao meio ambiente, como a DAIA (Resoluções

CONAMA) e a ISO 14000. Assim, para se alcançar a Eco-eficiência, pode ser

citada a substituição do óleo mineral BFP pela biomassa oriunda do bagaço de

cana-de-açúcar, vinda da produção de álcool da própria cooperativa, para a geração

de energia no processo de amassamento do grão de soja, como de calor para os

processos seguintes. Do amassamento do grão obtêm-se farelo e óleo de soja,

aproveitando o primeiro para venda e, o segundo, para refino. Desta forma

contribuem para a Eco-eficiência e, a Eco-efetividade com o aproveitamento dos

resíduos para outras cadeias produtivas, como a venda da borra da destilação do

óleo de soja para a indústria de saponificação. Também destaca-se a venda para

exportação do Ácido graxo a 0,4%, de onde pode ser obtida a Vitamina E. Por fim, a

destinação de resíduos para a indústria de adubos orgânicos, como as cinzas da

queima do bagaço de cana, o lodo do refino do óleo, os resíduos da terra

branqueadora e as impurezas da filtragem do óleo refinado.

Os aproveitamentos de resíduos contribuem também para a Suficiência e o

Patrimônio Ecológico, pois a suficiência é a aceitação pela sociedade de um

produto que não consome e nem utiliza de forma exaustiva o meio ambiente e, o

Patrimônio Ecológico. Mantendo o Capital Natural pela preservação, haverá uma

contribuição para a sustentabilidade ambiental.

Na Relação E que enquadra a cooperativa e o setor de distribuição dos

produtos finais, pode-se destacar que na distribuição específica do óleo de soja

refinado, realizado por Representantes Comerciais ao mercado, este sistema se

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mostra com boa afinidade ao rendimento na interface da Eco-eficiência, com menor

manutenção da estrutura já existente de outros produtos, como a economia de

combustíveis e lubrificantes dos veículos utilizados nesta venda. Na Eco-

efetividade utiliza-se novos materiais, originados na reciclagem das garrafas PET

para o óleo comestível de soja. Esta equipe trabalha na divulgação deste

reaproveitamento das garrafas para a produção de fios ecológicos para a confecção

de camisetas, bem como, de forma paralela à produção de óleo comestível, há a

reciclagem das embalagens longa vida de sucos de frutas PURITY, ou seja, de outro

segmento da cooperativa a qual também é divulgado a reciclagem do material.

Esta reciclagem entra no aspecto da Suficiência e do Patrimônio

Ecológico, pois é uma ação que favorece ao meio ambiente na utilização de novos

recursos para a fabricação de produtos (camisetas e das telhas, por exemplo), sem

que sejam extraídos da natureza e/ou de materiais tóxicos. Por fim, a ação que

talvez esteja mais aproximada à Relação A que esta, pois é o reaproveitamento

oportuno das embalagens de agrotóxicos utilizados e levados pelos produtores

cooperados ou não, para a fabricação de outros produtos sem consumo do capital

natural.

A Relação F é a interface entre a comunidade local e a cooperativa como um

todo, ou seja, como os reflexos da produção em prol da comunidade com uma visão

enfatizando os aspectos ambientais. Como exemplo, cita-se o Projeto Cultivar,

produzindo mudas de árvores nativas que ajudam o Programa de Mata Ciliar, com

produção focando os cooperados com o propósito de reposição e formação das

matas, como de topo de morros ou incremento de reservas permanentes das

propriedades. O Projeto Escola no Campo que através de parcerias com outras

empresas desenvolvem a educação e informação sobre o meio ambiente,

tecnologias, alimentos e a propagação das informações estudadas. O Projeto

Integração Agricultura e Pecuária que ajudam na recuperação de terras improdutivas

devido ao uso intensivo da pecuária, para a reintrodução da agricultura e a

recuperação do potencial produtivo. Também a introdução de outros projetos como o

Cooper jovem e os núcleos Jovens e os Femininos, que também trabalham nas

informações de preservação ambiental e das propriedades de sua família. Estes

projetos trilham o caminho da Eco-eficiência através da educação para produzir e,

para atender às necessidades das propriedades de suas famílias, ajudando a reduzir

os impactos ambientais, respeitando o ciclo natural da natureza.

Page 123: Marcus Cesar Franzolin - FAE

123

Também a interface que relaciona a Eco-efetividade é ajudada com a

educação, que possibilitam o fim do consumo de determinados produtos que

possam proporcionar consumos alternativos, como o aceite do manejo integrado de

pragas pela comunidade, não prejudicando e nem mesmo consumindo o capital

natural, ocasionando a Suficiência e, conseqüentemente, gerando a conservação e

a manutenção do Patrimônio Ecológico da comunidade, atuando assim, para as

presentes e futuras gerações.

Dentro das ponderações realizadas acima, a cooperativa parece buscar de

forma constante o caminho para a sustentabilidade ambiental e, quiçá, das outras

duas bases sustentáveis. Para a sustentabilidade ambiental, conforme salientado

por Dyllick e Hockerts (2002), o uso dos recursos naturais precisa respeitar o tempo

natural de reprodução ou, encontrar alternativas que possam substituir o produto em

questão. Para tanto, não é desejável acúmulo de emissões à atmosfera, mas sim

condições para a absorção ou assimilação da poluição pelo meio. Desta forma esta

organização parece se mostrar disposta a criar e divulgar soluções que somem na

preservação dos ecossistemas que a envolve.

Também, conforme já colocado anteriormente em outros itens, este estudo,

embora tenha sido focado nos aspectos ambientais, invariavelmente transpassam

para a dimensão Social, interagindo nas interfaces da Sócio-Eficiência e Sócio-

Eficácia. Assim, a Sócio-Eficiência é o que a sociedade tem capacidade de

consumir de forma adequada, ou seja, bom preço, produtos de boa qualidade e

acessíveis a eles, sem formar ilhas de acesso. Já a Sócio-Eficácia seria a solução

da cooperativa de não formar estas ilhas de consumo ou de excluídos para algum

produto disponível por eles.

Desta forma seria possível destacar na Relação F. Aqui a Sócio-Eficiência

são as respostas que a sociedade leva para a cooperativa em relação a alguns

produtos, como a acessibilidade, qualidade e o desempenho deste. Em

contrapartida, a Sócio-Eficácia tem a capacidade de responder à sociedade uma

relação com os produtos acessíveis a eles. Este trabalho pode ser realizado pela

cooperativa com a intenção de receber respostas pelo fornecimento de preços

acessíveis, maiores informações do produto como sobre os aspectos

conservacionistas, reciclagens e etc.. No mínimo utilizar esta oportunidade de

esclarecimento sobre sua produção, o seu processamento, vantagens utilizadas do

método produtivo e, o que pode ser melhorado ainda mais.

Page 124: Marcus Cesar Franzolin - FAE

124

Para tanto, embora não se tenha estudado com profundidade como o COC

atua, esta unidade trabalha executando parte deste serviço com esclarecimentos

sobre os produtos e atendendo as reclamações, sugestões e divulgam os trabalhos

de reciclagem. Desta forma, já realizam parte do que foi informado nas entrevistas.

Encontraram-se aqui diversas ações relativas à dimensão ambiental dentro do

ciclo produtivo do óleo refinado de soja. Em atenção à produção primária e em sua

transformação, criou-se diferentes segmentos produtivos, desencadeando outras

redes trans e multidisciplinares com segmentos agronômicos, mecânicos, químicos,

administrativos e legislativos, aproximando assim as diferentes áreas técnicas e

profissionais, porém, mantendo suas identidades dentro das disciplinas e funções.

Desta forma, parece ter sido identificado na aplicação deste estudo, a confirmação

do que disse Capra (1996), em que a soma das partes não é apenas o simples

resultado deste, mas um algo maior que se incorpora nas interações existentes das

relações, formando uma sinergia ampla e mais abrangente.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em todo o processo de produção esta cooperativa mostrou-se preocupada

com o enfoque ambiental, desde a produção primária da soja, ou seja, da aplicação

de tecnologias pelas recomendações técnicas e a implantação pelos cooperados.

Com uma avaliação prévia da propriedade para verificar pontos fortes e fracos para

sua capacidade de produção, bem como a capacidade de absorção das informações

pelo agricultor e, o estágio em que a propriedade se encontra. Também se considera

a capacidade monetária do agricultor cooperado, com o fim de verificar a

aplicabilidade das recomendações técnicas sugeridas. Este trabalho geralmente é

iniciado por uma análise química do solo, para a verificação sobre a fertilidade,

planejamento das culturas a serem implantadas, sementes, manejo e condução. A

recomendação do momento mais adequado para a colheita também faz parte do

processo e, por fim, as orientações para a administração da propriedade como um

todo.

A preocupação para não perder os investimentos no solo da propriedade do

cooperado, com adequações para a realidade de cada local, faz parte das

recomendações para a diminuição de riscos contra o meio ambiente. A erosão

hídrica, neste Estudo de Caso, tem grande ênfase no manejo de solo. Ações que a

evitam diminuem gastos e perdas, mas, sobretudo, colaboram na manutenção da

terra para sua aptidão à produção, contribuindo no equilíbrio do potencial produtivo.

Estas ações podem reduzir custos de produção e favorecer ao equilíbrio ecológico,

podendo ajudar à defesa de ataques de pragas e melhorar a qualidade dos grãos

produzidos.

Há décadas o Estado do Paraná vem desenvolvendo políticas públicas

voltadas à comunidade, com trabalhos focados nas microbacias. Nestas ações, a

participação de cada agricultor tem especial importância para a maior eficácia dos

programas. O PGAIM contribui na execução de melhorias técnicas nas áreas

envolvidas, com trabalhos na conservação dos solos e das águas e, conseqüentes

ganhos monetários e qualidade de vida aos agricultores participantes. Assim, a

integração social das famílias torna-se um importante resultado, salientando então, a

necessidade da participação da cooperativa junto aos cooperados. Mesmo que a

atuação neste programa não seja de forma direta, a cooperativa ajuda em muitos

Page 126: Marcus Cesar Franzolin - FAE

126

casos na implantação de melhorias e fornecimento de informações aos órgãos

responsáveis do Estado.

Com relação ao uso de agroquímicos, os agricultores recebem da cooperativa

recomendações e informações sobre a tríplice lavagem e a aplicação dos

respectivos produtos. Complementar a estas, as recomendações sobre a adequada

armazenagem e o retorno dos recipientes aos pontos de coleta no prazo máximo de

um ano. Deste local é encaminhado para reciclagem, de maneira que possam ser

recolocados no mercado como novos produtos.

Ainda, com referência ao encaminhamento das embalagens de defensivos

para se evitar poluição por contaminação, sugere-se uma melhor avaliação sobre a

incineração das embalagens do estilo “sache”, ou daquelas que não possibilitem a

tríplice lavagem. A dúvida manifestada é se tal procedimento não causa liberação de

gases e elementos tóxicos à atmosfera.

Respeitando os interesses do agricultor, a cooperativa não obriga a entrega

da produção de um cooperado. Também aceitam a produção de um cooperante com

os mesmos critérios de preços e qualidade que de um cooperado. Para tanto, a

grande diferença entre estes indivíduos é que os cooperados ganham também na

divisão dos ganhos no balanço geral no fim de cada período, após a apuração dos

lucros. De forma imediata, o valor das vendas respeita os preços vigentes pelo

mercado pela classificação geral da produção de soja, tabela de classificação do

Ministério da Agricultura.

Na produção agroindustrial, o esmagamento da soja e a refinação do óleo

bruto se traduzem na redução de perdas de insumos e maior rendimento dos

resultados. Também a cooperativa procura vender além de seu produto alvo, óleo

refinado de soja, encaminhar subprodutos de seu ciclo para outras cadeias

produtivas. Esta contribuição ajuda na geração de novas rendas, ganhos ambientais

com diminuição ou eliminação da degradação por contaminação do meio e, ainda,

menor exploração na natureza para obtenção de novos recursos.

Na produção de energia e calor a substituição do óleo mineral BPF pela

biomassa (bagaço de cana-de-açúcar), advinda das usinas de álcool desta

cooperativa, faz deste combustível alternativo uma grande opção ecológica, com

menor potencial poluidor e renovável. Dos resíduos as cinzas oriundas da queima

são utilizadas como subproduto para mistura em adubos orgânicos.

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127

Do grão de soja além da produção do óleo, retira-se o farelo que é vendido

para utilização como alimento, a borra originada na refinação do óleo bruto é

vendida para a indústria de saponificação, os ácidos graxos a 0,4% (Vitamina E) é

utilizado para exportação ao Japão. O transporte de resíduos de todo o processo de

transformação do óleo para a indústria de adubos orgânicos. Também a reciclagem

das garrafas PET de óleo em fios sintéticos, para a produção de camisetas e, o

reaproveitamento das embalagens plásticas dos agroquímicos, para produção de

outros produtos possíveis de serem colocados no mercado sem risco de

contaminação. Por fim, paralelamente a este ciclo, a reutilização das embalagens

cartonadas longa vida de sucos de fruta, para o reaproveitamento para fabricação de

materiais duros.

Neste processo produtivo estudado, a utilização dos subprodutos para outros

ciclos produtivos além de gerar benefícios aos seus cooperados, contribui na

geração de oportunidades de geração de novos empregos, renda das vendas para a

cooperativa e, situações que envolvem outras dimensões da sustentabilidade, não

havendo uma limitação apenas nos aspectos ambientais, mas abrangendo também

o socioeconômico.

Ainda há a preocupação do cumprimento da legislação referente às

particularidades desta agroindústria, respeitando diretrizes da Determinação de

Aspectos Ambientais (DAIA), as Resoluções CONAMA 001/86 (Estudo de Impactos

Ambientais – EIA - e do Relatório de Impactos Ambientais – RIMA), 237

(licenciamentos ambientais) e 357 (águas e efluentes) da agroindústria.

Posteriormente há as certificações que envolvem os compromissos da cooperativa

ISO 9000 (gestão da qualidade), ISO 14000 (gestão ambiental) e a OHSAS 18000

(gestão da saúde e da segurança ocupacional).

Partindo desta idéia, há um acompanhamento mais compromissado da

cooperativa junto aos seus fornecedores e prestadores de serviços, para que

atendam as exigências mostrando a capacitação da execução, respeitando a

legislação Federal, Estadual e Municipal e o seu comprometimento com a

cooperativa e cooperados.

Com este fim foram desenvolvidas duas tabelas de controle pela cooperativa,

sendo que a primeira controla as exigências para os serviços dos fornecedores e

prestadores de serviços, classificando as especificidades exigidas para seu cada

desempenho. A outra tabela controla todos os resíduos gerados, identificando onde

Page 128: Marcus Cesar Franzolin - FAE

128

é produzido e para onde será encaminhada, destacando o custo do transporte, a

destinação ou, o valor da venda, se houver. Estas tabelas tornaram-se uma

ferramenta de grande importância para acompanhamento do outro ciclo produtivo,

controle da gestão da qualidade e da gestão ambiental.

Dos compromissos acima citados há o comprometimento de ordem legal da

organização para adequação das gestões, principalmente a ambiental. O PGAIM é

um programa de grande envergadura para o Estado do Paraná, que complementam

os trabalhos das comunidades em que atuam. Também os programas executados

em parcerias com a cooperativa, como o “Projeto Cultivar”, que exalta o trabalho

junto aos alunos da APAE, a socialização de detentos da PEM, o “Escola no Campo”

com educação das crianças sobre meio ambiente, cooperativismo, reciclagem entre

outros. O programa de “Integração da Agricultura e Pecuária”, recuperando áreas

degradadas plantio e pecuária. Por fim, os que visam à educação ambiental,

cooperativismo, social, profissional e de cidadania, para jovens filhos de cooperados

e, os núcleos femininos, através do “Cooper Jovem”, “Núcleo Jovem” e “Núcleo

Feminino”.

Por fim, a distribuição do produto acabado para consumo final, havendo para

o caso do óleo “Representantes Comerciais”. A cooperativa no geral trabalha com

uma equipe mista com Representantes Comerciais, Vendedores próprios e

Distribuidores, com atuação em seu canal específico de distribuição. Conforme

informação recebida, este sistema propicia uma maior economia de custos por

manutenção (combustíveis e manutenção) para a cooperativa. Outra ação que o

canal de distribuição também opera, é a divulgação dos programas de reciclagem.

Das Políticas geradoras de resultados positivos para os associados no

aspecto ambiental, iniciam-se desde a produção primária à secundária do óleo

refinado. As orientações técnicas aos cooperados em sua lavoura oferecem o que a

avaliação técnica entende como necessária e dentro da capacidade que cada um.

Também a divulgação para a devolução das embalagens de agrotóxicos vazios e

lavados (tríplice lavagem) e, o encaminhamento para o seu reaproveitamento. Ainda

a reciclagem das garrafinhas PET de óleo em fios ecológicos e, a produção paralela

das embalagens longa vida de sucos.

A política produtiva do óleo em seu processo agroindustrial colabora no

aproveitamento de resíduos, com retirada de embalagens do meio ambiente para

um novo processamento e de despoluição ambiental, podendo beneficiar na geração

Page 129: Marcus Cesar Franzolin - FAE

129

de nova linha produtiva, com uma motivação socioeconômica. Ainda a implantação

dos projetos ISO 9000, 14000 e o OHSAS 18000 que despertam maior envolvimento

dos colaboradores e, a vantagem do controle dos materiais e serviços. Com respeito

às normas da legislação, há o cumprimento do DAIA e as Resoluções CONAMA

001/86, 237 e 357 da agroindústria. Por fim, os projetos diversos (“Projeto Cultivar”,

“Escola no Campo”, ”Integração Agricultura e Pecuária”, “Cooper Jovem” e o “Núcleo

Jovem” e “Núcleo Feminino”) que contribuem no geral, para a profissionalização, o

cooperativismo e a administração da propriedade.

Ainda há o trabalho desenvolvido pelo COC, entre outras coisas, divulga a

reciclagem de material como das garrafas PET, as cartonadas longa vida e outras

promoções que possam ser realizadas pela cooperativa, colaborando desta forma,

na geração de benefícios financeiros à cooperativa como os ambientais.

Ressaltam-se aqui as ações que influenciam os aspectos ambientais, mas

que refletem em outras dimensões por estarem interligadas ou seqüenciadas, como

citado por Capra (1996, p.46): “as propriedades das partes não são propriedades

intrínsecas, mas só podem ser entendidas dentro do contexto do todo maior”. Assim,

muitas das ações adotadas e que estão ligadas ao aspecto ambiental, normalmente

geram influências econômicas positivas aos associados e à comunidade. Com esta

constatação, geralmente afetam os aspectos sociais e que podem contribuir para

melhorias na qualidade de vida desta população. Como exemplo, o acesso à

tecnologia pelos sojicultores, colabora para a diminuição de desperdícios, contribui

para conservação do solo, na qualidade das águas, com menor intoxicação por

defensivos e, menor uso de agentes compactadores do solo, como tratores e

equipamentos. Com tais economias o agricultor pode melhorar seus ganhos da

produção e desencadear alterações em todo seu sistema produtivo.

Das políticas referentes aos projetos desenvolvidos em parcerias, o “Cultivar”

incluem crianças especiais da APAE e detentos da PEM, produzindo mudas nativas

para a preservação ambiental e inclusão social, com renda e motivação pessoal. O

projeto “Escola no Campo” gera educação referente o cooperativismo, saúde, meio

ambiente e qualidade de vida às crianças envolvidas. A “Integração Agricultura e

Pecuária” gera melhorias nas propriedades desgastadas pela pastagem, com efeitos

na renda, diversificação de culturas, qualidade de vida dos envolvidos e arrecadação

para os municípios. Por fim as “Cooper Jovem” e o “Núcleo Jovem” e “Núcleo

Feminino”, oferecendo educação, informações a respeito sobre o cooperativismo e

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130

orientações sobre a administração da terra (sua propriedade), meio ambiente e

envolvimento do meio rural ao contexto atual.

Ficou claro o respeito aos cooperados e aos princípios cooperativistas por

esta organização, com comprometimento às assistências aos associados pelos

técnicos envolvidos. A disciplina das implementações das recomendações é

ordenada e dentro da capacidade do cooperado e da propriedade, sobretudo com

respeito ambiental. Estas recomendações complementam a melhoria das

propriedades e da preservação do potencial produtivo.

A avaliação prévia da propriedade e o reconhecimento do que existe,

possibilita a primeira e as subseqüentes recomendações, para que o planejamento

adequado dentro da realidade da área e do proprietário. Assim a relação existente

entre cooperativa e cooperado se estreita e é formado encima da confiança e nos

bons princípios, inclusive os cooperativistas.

Nas etapas do ciclo produtivo do óleo refinado, esta cooperativa desempenha

de forma intensa, parecendo comportem-se como se cada uma delas fosse a mais

importante de toda a produção. Este fato resulta em melhorias de cada setor, com

acréscimo de uma sinergia entre as fases. As respostas são ações de preservação e

ganhos ambientais, que resultam em melhorias financeiras e afinidade com a

relação social, incrementando a possibilidade de atender as bases sustentáveis.

Neste programa de Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da

UNIFAE – Curitiba, na linha de pesquisa de Políticas Públicas e

Desenvolvimento, as ações adotadas e empenhadas neste estudo junto a esta

organização cooperativa, alinham-se ao programa dando atenção à dimensão

ambiental da sustentabilidade, sendo que chegaram a transpassar para as outras

duas dimensões, enfatizando a concepção da idéia do “triple botton line”. Algumas

vezes na inter-relação destas três bases, resultaram em um engrandecimento nos

resultados alcançados, ajudando e corroborando no entendimento de um

desenvolvimento sustentável para esta organização.

Relevante informar que as pesquisas referentes às cooperativas, conforme

observado por este pesquisador, na grande maioria dos trabalhos escritos que

envolvem cooperativas agropecuárias, relacionam-se com os aspectos

socioeconômicos, sendo que este estudo focou a fundamentação ambiental e, que

em alguns momentos, a transdiciplinaridade do tema sugeriu algumas

considerações dentro do campo dos alicerces da sustentabilidade.

Page 131: Marcus Cesar Franzolin - FAE

131

Das contribuições realizadas por este estudo, acredita-se que este trabalho

em alguns pontos inovador no ciclo produtivo estudado, possa contribuir para outras

organizações com atitudes mais convencionais e, ao mesmo tempo, que possa

gerar frutos de forma coletiva. Nesta direção é possível a geração de oportunidades

às pessoas, para obtenção de melhor qualidade de vida de forma mais justa e com

respeito ao meio ambiente.

Como possível problema nas informações adquiridas neste estudo, está que

foi realizada observando apenas a perspectiva da cooperativa em seu ciclo

produtivo, podendo passar a falsa impressão aos observadores, que as informações

obtidas correspondem a uma visão unânime, tanto dos diretores da cooperativa

quanto dos cooperados, fornecedores, colaboradores, prestadores de serviços e da

própria comunidade. Embora seja possível obter este mesmo resultado, sugere-se

como estudo complementar a este, um com maior aprofundamento das informações

obtidas, entrevistando agora os stakeholders e a comunidade local, captando assim,

as suas impressões. Ainda, realizar o mesmo trabalho junto a outras cooperativas e

com ampliação da pesquisa para análise também quantitativa, para verificar se este

perfil se repete em todas cooperativas agropecuárias.

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REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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Continuação p. 172

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APÊNDICE

Carta de Apresentação à OCEPAR

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ROTEIRO DE PESQUISA NA COOPERATIVA 1) Departamento comercial e técnico: a) Procedimentos adotados pela cooperativa com os cooperados sojicultores; b) Principais recomendações técnicas aos cooperados; c) Insumos utilizados (adubos, sementes, agrotóxicos, equipamentos) e acompanha-mento dos fornecedores; d) Se há alguma relação ou interatividade entre cooperativas, instituições com preocupações conservacionistas ou de manejo. 2) COOPERATIVA e os fornecedores e sua relação: a) Insumos agrícolas; b) Insumos industriais; c) Embalagens dos produtos acabados; d) Atenções ao aspecto ambiental destes fornecedores. 3) Recepção da soja pelos produtores agrícolas: a) Quem são os fornecedores; b) Exigências ou especificações técnicas para entrega dos grãos à cooperativa; c) Aspectos ambientais desta fase (utilização de produtos de conservação dos grãos, riscos de explosão dos grãos, outros). 4) Processo de transformação da soja em grão para óleo refinado: a) Método de industrialização; b) Produtos químicos utilizados; c) Cuidados ambientais; d) Atenção aos fornecedores. 5) Distribuição e atendimento ao público: a) Estratégias adotadas; b) Atendimentos aos distribuidores; c) Atenção ao público consumidor; d) Preocupações aos aspectos ambientais; e) Outras atenções adotadas no processo. 6) Contribuição da cooperativa em geral: a) Forma de contribuição para a sustentabilidade de cooperados e comunidade; b) Principais políticas internas e ações voltadas à dimensão ambiental; c) Ações que afetam positivamente a cooperados, colaboradores e à comunidade.