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01 “FAMÍLIA ANDREAZZA NO RIO GRANDE DO SUL” Capa e Arte Gráfica: CO-AUTORES Redação: Romeu Andreazza Pesquisa, documentos e revisão: Ely José Andreazza Edy Lourdes Peccin Bordin e Leonora Maria Andreazza Lovatto === (História e “Stórie”) Rua Voluntários da Pátria, 1070 Fone: (55) 231-4080 E-mail: [email protected] Rua General Canabarro, 826 Fone: (55) 231-2114 / Fax: (55) 231-2660 E-mail: [email protected] Jaberson Alves Severo Kelem Aguiar de Lima ===.=== VCS Editora Ltda Rosário do Sul - RS GRÁFICA SARAN Rosário do Sul - RS

“FAMÍLIAANDREAZZA NO RIO GRANDE DO SUL”files.romeu2.webnode.com/200000009-dc6aede5cd/1ª parte... · 2014-01-08 · NO RIO GRANDE DO SUL ... Se “volê” viver bem. 5 - O Vovô

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01

“FAMÍLIA ANDREAZZANO RIO GRANDE DO SUL”

Capa e Arte Gráfica:

CO-AUTORES

Redação: Romeu AndreazzaPesquisa, documentos e revisão:

Ely José Andreazza

Edy Lourdes Peccin Bordin

e Leonora Maria Andreazza Lovatto

===

(História e “Stórie”)

Rua Voluntários da Pátria, 1070

Fone: (55) 231-4080

E-mail: [email protected]

Rua General Canabarro, 826

Fone: (55) 231-2114 / Fax: (55) 231-2660

E-mail: [email protected]

Jaberson Alves Severo

Kelem Aguiar de Lima

===.===

VCS Editora Ltda

Rosário do Sul - RS

GRÁFICA SARAN

Rosário do Sul - RS

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FICHA CATALOGRÁFICA

_________________________________________________

Endereço: Romeu Andreazza

R. Gal. Canabarro,1484

Cep-97.590.000

E-mail: [email protected]

Rosário do Sul - RS

_____________________________________________________

A 557 f Andreazza, 1926.Família Andreazza: história e “stórie” /Romeu

Andreazza.Rosário do Sul: VCS Ed., 2004.

235 p. : il.

. 1. Genealogia: Família Andreazza: Rio Grande do Sul.2. Colonização Italiana : Rio Grande do Sul.3 . Imigração Italiana : Rio Grande do Sul. 4. História :Rio Grande do Sul. I. Título.

CDU:929(ANDREAZZA)

_____________________________________________________Catalogação elaborada pela Biblioteca Pública do Estado

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S U M Á R I O

1 - Aviso aos Navegantes!

2 - Introdução

PRIMEIRA PARTE - CARTA PARA ANA AURÉLIA

CAPÍTULO Iº - OS IMIGRANTES - 111-Os Motivos. 2-Pobres, mas alegres.3-No tutti. 4-Hino. 5-Na mata.

6-Confusão do tigre.

CAPÍTULO IIº - OS ANDREAZZA - 21

CAPÍTULO IIIº - O PATRIARCA GIUSEPPE ANDREAZZA -35

CAPÍTULO IVº - ÂNGELO ANDREAZZA, O IRMÃO-48

CAPÍTULO Vº - CONSTANTE ANDREAZZA-54

CAPÍTULO VIº - A VOVÓ REGINA PICCOLI -66

CAPÍTULO VIIº - O PAI JOAQUIM ANDREAZZA -91

CAPÍTULO VIIIº - A MÃE AURÉLIA DE CARLI -108

1-O casal da Esperança. 2 -Embarque na França. 3- Chegada no RJ. 4 - A SãoSebastião. 5 - Enfim, Campo dos Bugres. 6 - Giuseppe comandava.

7 - Ancestrais, o nome ANDREAZZA, Pronúncia.

1 - O Patriarca, o Pinheiro e a Família. 2-Conforto familiar. 3 - Documento próMemória 4-Organização social-religiosa. 5-O “BARBA”. 6-”Sairam de casa.”

1 - Ângelo sempre ajudou. 2 - A filha Ângela casou.3 - “De faca na bota”. 4 - O “fogo-lar”.

1 - Constante e Regina. 2 - Festa de casamento. 3 - Carreteiro calmo e sereno. 4 - Osburros com nomes políticos. 5 - A estória do “baloz”.6 - Arroz irrigado. 7 - Costante era firme e constante.

1 - Regina sabia ler. 2 - “Te sê benedetta”. 3 - Quitandeira, gostava de cantar. 4 -“Cáspite”! “Orco Zio”! 5 - “Quatro passi si fá casi...cosi”.

6 - A via sacra. 7 - Uma suave reclamação. 8 - Mulheres de coragem.9 - O Costante também. 10 - O “angelet”. 11 - Ditos e Cantos.

12 - I cantori. 13 - A passarinhada. 14 - Devoções. 15 - O pãozinho de San Roco. 16 - ANona era “furba”. 17 - A Tia Alice, a Caixa postal.

1 - Joaquim e Aurélia. 2 - Uma tragédia. 3 - Namoro e casamento.4 - Se “volê” viver bem. 5 - O Vovô Antônio De Carli.

6 - Joaquim e a Escola. 7 - Os Vacarianos. 8 - As três voltas da égua báia. 9 - A Cantina eas provas do vinho. 10 - Usina elétrica, rádio e geladeira. 11 - Morou na cidade, visitou

Rosário. 12 - Construiu a igrejinha.

1 - Mãe na Colônia. 2 - Mais um nenê. 3 - As festas, “la sagra”.

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SEGUNDA PARTEA FAMÍLIA DE DAVIDE

TERCEIRA PARTEA ÁRVORE GENEALÓGICA

RAIZ - TRONCO - TRÊS RAMOS

A P Ê N D I C E

CAPÍTULO IXº - O PAI, DAVIDE PAOLO ANDREAZZA - 113

CAPÍTULO Xº - O FILHO, LUIZ ANDREAZZA - 122

CAPÍTULO XIº - O NETO, MINISTRO MÁRIO DAVID ANDREAZZA -140

CAPÍTULO XIIº - PRIMEIRO RAMO - 150

CAPÍTULO XIIIº - SEGUNDO RAMO - 156

CAPÍTULO XIVº - TERCEIRO RAMO - 173

CAPÍTULO XVº - GALERIA DOS DESTAQUES - 190. 6-Cleufe

CAPÍTULO XVIº - O CARÁTER DOS ANDREAZZA - 197

CAPÍTULO XVIIº- A ORIGEM DO NOME - 199

CAPÍTULO XVIIIº - CO-AUTORES - 211

CAPÍTULO XIXº - OS ENCONTROS DOS ANDREAZZA(SSA) - 219

CAPÍTULO XXº - OS VÊNETOS, NOSSOS ANTEPASSADOS - 229

1 - Ascendência. 2 - Vida de Industrial Pioneiro. 3 - Elisa Adami.4 - Descendência.

1 - A cidade através de uma Família. 2 - Os negócios.3 - O hobby de Luiz Andreazza. 4 - A famosa Adega.

5 - O hobby e a Imprensa. 6 - Um relógio raro. 7 - Liderança de Pai para Filho. 8 -Homenagem. Principais visitantes da adega.

1 - Ministro dos Transportes na Festa da Uva. 2 - Popular, dinâmico, “pão doce”.3 - A Justiça sempre tarda

1 - Família de Pietro Antônio Andreazza

2- A Família de Ângelo Andreazza

3 - A Família de Giuseppe Sebastiano Andreazza

1-Hegínio. 2-João.-3-Ary. 4-Pe. Ambrósio .5-Ângelo

1-Origem da Família e do Nome. 2 - Documentos.

Ely José - Edy Lourdes - Leonora Maria

1º-Na Linha Sessenta; 2º -Na Saúde; 3º e 5º em Água Azul; 4º e 6º Campo Largo.

1-Dados Históricos. 2- Imigração. 3-Colonização

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PRIMEIRA PARTE

“CARTA PARA ANA AURÉLIA”

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“A vida não é a que a gente viveu,e sim a que a gente recorda,

e como recorda para contá-la.”

Miguel Garcia MarquezPrêmio Nobel. Em, “Viver para Contar “

“Não se consegue amarcompletamente

a não ser na memória.”Inês Pedrosa.

1 - AVISO AOS NAVEGANTES !

Para os leitores que vão “NAVEGAR” neste mar emque procuro atravessar as ondas das aventuras eangústias da nossa “FAMÍLIA ANDREAZZA NO RGS”,especialmente dos três ramos Pietro Antônio (seu filhoInocente Pietro ), Ângelo ( seu filho Constante ), e GiuseppeSebastiano ( seu filho Davide Paolo), devo explicar que,residindo em Rosário do Sul há quase 50 anos evisitando pouco meus parentes, estou passando porsituação bem caracterizada pelo falecido LUIZANDREAZZA que dizia a meu Pai, - “Joaquim, se a gentenão se visita, perde o parentesco”.

A pedido de minha filha Ana Aurélia, anotei o quesei por ouvir falar e o que me informaram, minha irmãLeonora, o parente Dr. Ely José Andreazza e minha primaEdy Lourdes Peccin Bordin, com o objetivo de tentar,desta maneira, “visitar” a todos e proporcionarfundamentos SEGUROS para quem se interessar de não“perder o parentesco”.

Os assuntos são apresentados sem ordemcronológica, conforme vêm à memória, no sistema “ palavra-puxa-palavra”.

Acrescento que, a Carta redigida à feição dadestinatária, foi lançada na Internet durante um ano eentregue em rascunho a vários parentes para recebercorreções de quem quisesse colaborar, incluindo novosnomes, novos fatos vividos ou contados que são ostesouros da saga de nossos queridos antepassados.

Pequenas ações somadas formam a vida e,transmitidas aos pósteros, a verdadeira história humana!

Auguri, salute e bonna fortuna a tutti!

Romeu Andreazza

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2 - Carta para Ana Aurélia.Rosário do Sul, 16 de maio de 2002.

Querida filha Ana Aurélia.

A teu pedido, vou anotar o que lembro ou meinformaram a minha irmã Leonora, o Dr. Ely JoséAndreazza, a prima Edy Lourdes Peccin Bordin e outrosparentes de Caxias, sobre a nossa família, partindo dasorigens que nos foram transmitidas nas conversas com aVovó Regina, o vovô Constante e alguns documentostranscritos. Como desejas, não esquecerei a letra das belascanções, que tanto cantamos!

Passado pouco mais de um século, oresultado da imigração italiana em nosso Estado, já mereceuinúmeros estudos e publicação de livros, romances e atéfilmes como “O Quatrllho”, de autores de renome.

Trata-se de uma grande aventura humana designificado épico, que deverá ter sempre maior consagração.Não pelos imigrantes, pessoas simples, que nunca se tiverampor heróis. Mas, pela soma do seu trabalho constante queproduziu uma cultura diferente, agora tão valorizada ereconhecida.

Hoje, dia 16 de maio, a imprensa da Capital noticiaque as Autoridades comemoraram, oficialmente, o “DIA DAETNIA ITALIANA” e, com antecedência, o aniversário dos 127anos da Imigração no RGS, cuja data é 20 deste. O

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auditório Dante Barone, ( nome de família imigrante!) daAssembléia Legislativa, foi palco de apresentações musicaisde canções típicas que encantaram os participantes. OCônsul da Itália, na cerimônia, definiu: “O Rio Grande do Sulé o Estado brasileiro socialmente mais desenvolvido e acomunidade italiana tem nele uma contribuição muitoimportante em todos os campos”. Disse mais, que 40 milpessoas são consideradas, hoje, italo-gaúchas, têm duplacidadania, e os descendentes da imigração iniciada em 1875,já alcançam quase três milhões que, somados a outrositalianos de origem, no Brasil, são 30 milhões.

De fato, a colonização, se estendeu rapidamente peloEstado todo. Depois, nas “terras novas”, a Oeste de SantaCatarina, Paraná e Mato-Grosso. Enfim, de Rondônia aoNordeste, da Bahia ao Maranhão.

Sempre em busca de terras férteis e oportunidade denegócios, tal qual fizeram “Os Vênetos, Nossos Antepassados”(título do livro do Pe. Antônio Lorenzato) que, saindo da Ária,no Oriente, percorreram o norte e o sul da Europa, até sefixarem em Veneza. Depois de Italianizados, enquantoprosperaram dominando os mares durante a Idade Média,descansaram alguns séculos, para lançarem-se novamente àexploração de mundos desconhecidos, como a “MÉRICA” ouo Pais da “cocanha”, como alguns imaginavam. Seguiram oexemplo dos seus conterrâneos Marco Pólo que foi à China,Cristóffolo Colombo e Américo Vespucci que descobriram eexploraram o MUNDO NOVO, depois denominado AMÉRICA(de Américo).

==

NOTA -

descansa no Carnaval”.

Hoje, Caxias do Sul tem 375.000 habitantes, (na região,800.000), 25.000 empresas, Universidade com 32.000 alunos, produzdesde parafusos até tratores e caminhóes-fora-de-estrada, é osegundo polo metal-mecânico do Brasil, suas fábricas representam60% da riqueza local, com atuação internacional, potencial deconsumo de US$3.136,00 per capita e 74 anos de espectativade vida. Dados publicados pela Revista EXAME (11/2003) sob otítulo “DNA do Empreendedorismo”, apontado como característicado povo e seu progresso que “desconhece crises”, sendo “a únicacidade que não

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CAPÍTULO Iº - OS IMIGRANTES

Monumento ao Imigrante

1- Os motivos da imigração

- Talvez perguntes por que os imigrantes da Itáliavieram ao RGS, para aquelas montanhas e florestas, quandoaqui na Campanha havia terra plana a perder de vista.

O Imperador Dom Pedro II, queria povoar a Regiãoda Serra Gaúcha. Tinha como experiência bem sucedida, acolonização alemã de São Leopoldo iniciada em 1824, emfranco desenvolvimento, que fora incentivada pela princesaLeopoldina, de nacionalidade austríaca e língua alemã,durante o reinado de Dom Pedro Primeiro.

E havia o lado estratégico, a considerar. Os alemãesquanto os italianos, povos conhecedores da arte militar, comfacilidade para o treinamento, poderiam fornecer recrutas nadefesa do solo gaúcho contra os castelhanos que andavam

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sempre de olho no Sul do Brasil.

A Itália, por sua vez, superpovoada, palco de muitasguerras e destruição, o povo passando fome e frio,precisava encontrar uma solução. Lá só viviam bem “

os Senhores, donos das terras, que as arrendavamaos agricultores pobres, “ mediante entrega demeia ou de até dois terços da produção. Na hora dapartilha, “ , “ os ricos levavam quase tudo, deixando,apenas, o necessário à sobrevivência dos fracos parceiros.Estes nunca conseguiriam formar capital ou qualquer reservaque lhes desse garantia e tranqüilidade para o futuro dosfilhos. Um pedaço de terra própria, sequer conseguiamsonhar, fosse possível.

Havia igualmente outros fatores a influenciar aemigração, além das guerras que a cada geração aconteciam,matando muitas pessoas e destruindo patrimônios.Ultimamente as lutas pela Unificação da Itália. O serviçomilitar duro e longo de vários anos castigava demais. Nãomenos importante, a exígua produtividade dos solosdesgastados pelo constante cultivo do milho, que introduzia odesânimo na perspectiva de melhorar a sua vida..

Em nossa família, falava-se muito nas pelagrasiguais às terras da Itália. Quando se tratava de alguma glebade chão fraco, esgotado, cheio de samambaias (indício deterra ácida ), que produzia pouco ou quase nada, chamavam-no de pelagra. “Quela terra é una pelagra”.

A fome de que tanto se fala, talvez proviesse daescassa produção dos campos enfraquecidos por anosde exploração predatória, sem rotação ou descanso..

“Pelagra”, lá na Itália, também era uma doença dapele, que aparecia por falta de nutrição completa, equilibrada.

Aqui, nas colônias, os imigrantes aprenderam que,depois de um ano de cultivo com milho seguido do trigo, ostalhões de terra deveriam repousar por três a quatro anos.Recuperavam assim a fertilidade e produziam sempre, pelarotação de culturas com a vegetação da natureza.

Por último, e não o menos importante dos motivos, foio inverno que durava cinco meses, com intempéries dechuva, frio e neve, quando os pobres passavam o tempo nasestrebarias junto das vacas de leite e dos cavalos, para se

isignori,”

contadini”,

i siori

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aquecerem ao bafo e à temperatura do corpo dos animais.De noite se acomodavam no feno, afim de não congelar. Nãohavia de onde tirar lenha para o fogo de aquecer o ambientee a roupa era escassa. A vovô Regina dizia que secavamesterco de vaca e guardavam para queimar no inverno.

A maioria das casas tinha dois andares. O térreoservia de estrebaria, onde pousavam os animais. O andar decima compreendia a sala-cozinha e os quartos. As frestas doassoalho permitiam a passagem do calor transpirado pelasvacas e cavalos.

Mas, nem tudo era tristeza. Entre os contadini,agricultores, havia também o lado bom e alegre da vida queeles próprios faziam acontecer, de um modo ou de outro.Sobravam bastante tempo, porque não podiam trabalhar aterra coberta de neve e os artesanatos caseiros que semprerenderam, estavam em baixa, frente à produção industrial quedominava o mercado O único serviço diário e obrigatório paraos homens, era tirar a neve dos telhados, afim de nãodesabarem com o peso. Usavam rastilhos de cabo comprido.

À noite alongavam os “filós”, serões de “fazer fio” paratecer, dali vinha o nome. Rezavam o rosário, cantavamorações e preces, como as ladainhas de Nossa Senhora.Depois, uma a uma, “le nostre belle canzioni” de amor e deguerra, muito populares. Contavam “stórie” ou inventavam“mentiras”, charadas, para pegar alguém distraído, entreter-see rir bastante antes de dormir. Terminando o “filó”, liam ereliam as artimanhas do Bartoldo, o bobo das Cortes quedava respostas inteligentes, espirituosas e rápidas para todasas perguntas. Ele se fazia de bobo, para divertir os outros eganhar a vida, mas. sabia de tudo.... e de todos.

As mulheres, durante os serões, também costuravam eremendavam roupas, trançavam a “drezza”, com palha detrigo, empregada na feitura de chapéus e “spórte” , um tipo desacola aberta, com duas alças também trançadas.

Os homens, quando terminavam os assuntos, jogavambaralho, dados ou a mora, que era o divertimento maior,dentro de casa. Não custava nada, senão algum raspão ou

2 - Pobres, mas alegres.

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calo nos dedos, da tanto bater.

Um parceiro, batia rápido na mesa, mostrava um, dois,três , cinco dedos, cantando ”séi, séi, séi” (seis); o outro, dolado oposto, gritava ao mesmo tempo “du, quatro, tre, cinque,nove, sete”, trocando os números e os seus dedos a cadajogada. Aquele que acertasse a soma, ganhava um ponto,anotado pelo juiz, sentado à cabeceira. Esse jogo vinha daantiga tradição deixada pelos soldados romanos, praticadodurante séculos. É desnecessário dizer que, à volta da mesa,ficava a “torcida”, aclamando as jogadas, os acertos, osmalabarismos dos braços e da voz.

Todos católicos praticantes, guardavam a fé em Deuse sempre conservavam o bom humor. A conformidade com “avontade divina”, fazia-os suportar resignados as tristezas davida, com o que mantinham a família unida e suavizavam asreclamações dos mais moços.

A vovó Regina nos contava tudo isso e mais: queuns vizinhos, quando matavam os porcos de engorda, o donoda terra buscava as carnes, a banha e tudo o mais,deixando apenas um pedaço de toicinho salgado que ficavapendurado por um cordão e balançava de cá pra lá sobre amesa, tendo eles a ilusão de que “toc(h)ando” com apolenta, se alimentavam de gordura. Durava o toucinholongo tempo até gastar ou rançar.

Ela narrava essa “stória” e ria demais. Nós, os netos,também riamos, achando graça do fato e, principalmente, damaneira dela contar. Mas, não acreditávamos que fosseverdade. Tanto que não incluía nunca algum parente quetivesse passado por essa situação. Indagávamos, por maisdetalhes e ela sempre respondia:... “eram uns vizinhos”... “nóme ricordo piú del nome”. Cada vez, mudava um pouco a“stória”, inventando, para distrair.

Em todo caso, se não era “de véro”, alguém lhe haviacontado e servia para descrever a situação de carência emque vivia o povo que precisava mudar de vida sob pena deperecer.A vovó dizia mais, que sua mãe, durante a viagem denavio, insistia para os homens da família escolherem umaterra boa que tivesse muita lenha de queimar e se aquecerno frio do inverno e água boa para beber. Reclamava daágua escassa e distante de casa, que se obrigava a buscarnuma bica de pouca vazão. Não imaginava que teria água e

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lenha com fartura, aqui na América.

Regina lembrava que no verão secavam figos e nozespara comer no inverno. Sua mãe Giovanna, depois de secos,os empacotava e “escondia” na areia limpa e fina, dentro derecipientes. Às vezes cada pessoa recebia meio figo epolenta para a sua refeição.

- ( não todos, não muito!)

As pesquisas históricas informam, é bom ressaltar, quenem todos os emigrantes eram deserdados da sorte. Haviaos que viviam bem na Toscana e no Vêneto. Prova é anarrativa do imigrante José Gelain, fundador do povoado deSão José do Ouro - RS, que chegou ao Campo dos Bugresem 13 de maio de 1888. A família dele cuidava as terras “deiSignori”, mas tinha renda de sobrar, porque eram bons osricos patrões e remuneram bem.

Aqui na região do Rio das Antas, “rio da zanta “,os seus familiares e o próprio José, conforme deixou escrito,passaram por tristes e desolados dias, sofrimentos e grandesdesgraças. Em 18 dias, no Barracão dos imigrantes, noCampo dos Bugres, morreram quatro familiares seus. Elepassou por mil peripécias, antes de se estabelecer na suacolônia. Em suma, a vida dos Gelain, era melhor na Itália(Confert ”Semblantes de Pioneiros” pg 12, de Fidelis DalcinBarbosa).

A respeito da superpovoação da Itália e dosproblemas resultantes, existe uma canção que diz:

Depois de muitas sondagens, reuniões diplomáticas eestudos, os dois Governos, Brasileiro e Italiano, entenderam-se e assinaram o Acordo da Imigração para povoar a Provínciade São Pedro do Rio Grande do Sul.

Para tanto, credenciaram agenciadores que percorriamo Norte da Itália, alistando interessados, mas exagerando napropaganda da América. Ganhavam pelo número de pessoasque conseguissem convencer a embarcar. Descreviam onovo País como sendo a Terra da Fartura, “terra da

3 - Nó tutti, nó troppo.

L'Itália é piccolina, - C'é gente in quantitá!

E questa é la rovina.... De paesi e cittá”.

“A Itália é pequenina, / tem gente em quantidade.

“E esta é a ruína... / de povoados e cidade !..”

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cocanha, onde quem menos trabalha, mais ganha”.

Não é que acreditassem os emigrantes nessa “lorota”,inventada na Idade Média. Mas, sabe-se, a fantasia sempreajudou a estimular o homem em suas decisões, pensando no“Pais das maravilhas”, no El Dorado, na sorte.

Esse assunto mereceu a publicação de umencantador romance do brilhante e virtuoso escritor JoséClemente Pozenato, “A COCANHA”. Muito bom autor,descendente de imigrantes que nos brindou também comoutros livros, como “O caso do Martelo” e o “Quatrilho”, cujofilme conhecemos e apreciamos repetidas vezes. Recebeu oreconhecimento do Mundo Cinematográfico, do públicobrasileiro e internacional.

Os imigrantes imaginavam que iriam para a Américado Norte, onde já havia progresso. Os agenciadores sempree só falavam na “MÉRICA” que na sua mente era uma só.Por esse motivo, é considerada “HINO DA IMIGRAÇÃO”, acanção, conhecida de todos nós e que leva esse título. Foicomposta aqui no Brasil, por ocasião do cinqüentenário, em1925. Transcrevo a letra, para não esqueceres, minha filha, eensinares à Antônia que, nas festinhas familiares, sempre mepede para cantar:

4 - Hino da Imigração

M É R I CA

Mérica, mérica, mérica

Cosa sarala sta mérica”

Mérica, mérica, mérica.

L'é un bel mazzolino di fior!”

Da l'Itália noi siamo partiti,

Sian partiti co el nostro onore

Trenta sei giorni de máchine a vapore

E nela Merica noi siamo arrivai..

E nela Mérica noi siamo arrivati,

No abian trovato ne paglia, ne fieno.

Abbian dormito sul nudo terreno,

Como le béstie abbiam riposá...

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E la Mérica l'é larga e l'é lunga

L'é formata de monti e de piani...

E con l'indústria dei nostri italiani

Abbian formato paesi e citá!”

!-“Andian far la Mérica”, - vamos fazer a América, diziam

os emigrantes, ao partirem

Não imaginavam, que seriam atirados no meio damata, sem o acompanhamento e sem os recursosprometidos pelo governo.

O Imperador Brasileiro, ao que se sabe, assumira aobrigação de pagar a passagem e o transporte até oCampo dos Bugres, onde entregaria os lotes de terrasdemarcadas, com a área de vinte e cinco hectares paracada chefe de família, ou adulto maior de idade. Numeradase mapeadas em “linhas”, “travessões” e léguas, ( eram aotodo 17 léguas, em Caxias) mas sem estradas. Apenas,picadas abertas a facão e machado, possibilitando o trânsitode muares, usados no transporte das mudanças e nascomunicações com a sede.

A nossa propriedade, onde nascemos e nos criamoscom os pais, o vovô Constante e a Vovó Regina, sedenominava “Lote 49 da Linha 30, do Travessão ThompsomFlores, da Nona Légua”. conforme consta das escrituras deaquisição. Distava seis quilômetros do “Campo dos Bugres,logo chamado "Centro Dante Alighieri", em homenagem aogrande poeta da Divina Comédia e depois, definitivamente,Caxias do Sul.

Apesar de tudo o que sofreram na chegada e nainstalação das famílias, os imigrantes não se queixavam danova Pátria. Lamentavam apenas os primeiros tempos emque passaram por necessidades de toda ordem. Choravam adistância dos parentes e amigos que ficaram e “dei nostrimorti”, os falecidos cujas sepulturas não poderiam maisvisitar.

Faltou assistência, particularmente, médica. E orientaçãosanitária. Morriam sem saber do que. Não havia qualquerindicação de cuidados higiênicos, quando da permanênciaprolongada nos tais Barracões. E na colônia, tiveram que

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aprender a adaptar-se aos poucos, errando mais do queacertando. Trocando informações e experiências.

Fome, todavia, como na antiga pátria, não sofrerammais. E isso era o principal! O Italiano aprecia, comoninguém a boa e farta alimentação. Em Veneza meperguntaram, em 1988, “Comme é il Brasile?” Depois da minharesposta, que era grande, a segunda pergunta foi -“Semanggia benne nel Brasile?” se come bem lá no Brasil?Ficaram surpresos, quando lhes disse que assávamosmetade de um boi no espeto ao fazer uma festa qualquer! Éclaro que a fantasia, (“Má dio, che cosa !”, exclamaram),aumentou sua admiração..

Logo aprenderam a caçar os animais de carne, àmaneira dos índios, que ainda existiam nas florestas maisdistantes e deixaram seus ensinamentos, de cavar fundascovas nos rastos e caminhos, cobrindo-as com galhos levese folhas, para disfarçar. A anta, o porco do mato e outrosbons petiscos, caiam no buraco e não conseguiam maisescapar. Na manhã seguinte, bastava abater e carnear.

Usavam arapucas, como pequenas cestas viradas deboca pra baixo, feitas de taquara, para os passarinhos. Osgrandes pássaros, caçavam de espingarda. Colhiam frutas domato. E começaram imediatamente a plantar as sementes demilho ou de trigo, de feijão, conforme indicasse o clima, aterra e o tempo que se apresentava ao contrário da Itália.Lá, no seu “paese” era inverno e aqui, nos mesmos meses defim e começo de ano, era verão.

As mulheres, mais previdentes, trouxeram sementes dehortaliças e de grãos cultivados na Itália. Outras, receberamaqui, algum tempo após a chegada. Trataram de fazer ashortas caseiras, mantendo à mão os temperos de cozinha everduras para as saladas costumeiras. Importante foi a ajudada natureza, no primeiro inverno, colhendo o pinhão que haviaem abundância nas florestas dos pinheirais.

Comiam pinhão de manhã, de tarde e à noite. Cozido,sapecado no fogo, do jeito que fosse. Tomou o pinhão o lugarda batata, pois as cozinheiras logo aprenderam a utilizá-lo detodas as formas, até como paçoca ou no lugar da massa e do“rizo” (arroz).

muito

5- No meio da floresta, novos “sócios”

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Poucos meses passados, vinda a primavera ouanunciado o verão, entraram a colher a produção dalavoura, para consumir. No primeiro ano. No seguinte, a safravenderam no povoado a maior parte. Deviam iniciar opagamento da terra e atender aos compromissos dascompras de sal, café e outros gêneros, das “vendas” (casasde comércio).

Por falta de informação, perdiam parte do milho eoutros grãos. Os animais selvagens, macacos e papagaios,gralhas e araras se adornavam da produção, substituindo osricos donos da terra, “ i siori”, que tomavam grande parte dacolheita, na Itália. Mas, aqui no Brasil, ainda sobrava, porquenão mais eram obrigados à meação. E as safras, em terra boa,se apresentavam fartas. Precisavam vigiar a plantação,disparando tiros de arma ou explodindo bombas de pólvora emorteiros improvisados. Colocavam espantalhos no meio dasroças, assustando os pretensos novos “sócios”.

Passados alguns anos, apareceram as pragas dosratos e dos gafanhotos que liquidavam lavouras inteiras.Estes, dizem que vinham do Paraguai, em nuvens.Multiplicavam-se rapidamente. Os saltões, filhotes de cor preta,cobriam o chão e devoravam rapidamente todas as folhasque encontrassem. Para combatê-los abriam valos,enxotando-os para dentro, com vassouras improvisadas.Cobertos com terra, morriam. Era uma legítima “praga doEgito”, como a descrita na Bíblia.

Nos primeiros tempos, passaram por alguns sustos, nomeio dos matos. Ouviram falar que os “tigres e onças”podiam atacar de noite e matar as pessoas, levar ascrianças. Foram ensinados a manter uma fogueira, doentardecer até a manhã seguinte, para espantá-los.

Contava o vovô Constante, que um colono recémhavia comprado um burro de carga, que usaria também noarrastão e no arado. Na primeira noite, com medo que oburro fugisse, amarrou-o numa árvore, a certa distância dasua casa.

Obedecendo a tal recomendação de fazer a fogueira,amontoou muitos tocos e galhos de árvore para durar toda anoite. Em falta de lenha seca, lançou na ponta final, galhosverdes e também algumas taquaras, imaginando que, com ocalor, secariam e queimariam. O fogo pegou bem e ele foi

6 - A confusão do “tigre”

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dormir. Mas, lá pelas tantas da madrugada, a fogueiraaumentou e alcançou as taquaras disparando um tiroteio deestalos em cascata. As taquaras tem os entrenós ocos.Postas verdes ao fogo, explodem!

O burro alarmou-se com os estouros. Lançou um “urro”desesperado, parecido com um assobio misturado a umgrosso ronco intercalado do Hih...hóh!...Hih..hóo! O dono que,a essa altura dormia a sono solto e tinha esquecido oanimal, foi acordado pela mulher ao grito de “é o tigre, é otigre”. Meio sonolento, saltou da cama, agarrou a espingardae disparou na direção do barulho os dois tiros da “scioppa”,arma de dois canos, com chumbo grosso. O silênciorepentino o tranqüilizou. De certo o “tigre”, surpreendido, foraembora para o mato. Voltou o dormir, que estava muitocansado.

Mas, no dia seguinte, quando foi buscar o burro, viuque o mesmo se encontrava deitado, pernas espichadas,morto. Acertara os dois tiros na cabeça do coitado.

O pior viria tempos depois. Quando aparecia nareunião da “sociedade” aos domingos, muitas pessoas lheperguntavam: -“Como foi aquele caso? É verdade que vocêmatou o tigre?!” E riam, às gargalhadas, fazendo troça dele.

Era obrigado a agüentar quieto, senão aumentavam a“stória”, até que ficasse brabo, para se divertirem mais ainda,à sua custa.

O nono Constante dizia que, depois da morte doburro, ele voltou a carregar os sacos de milho nas costas,porque não tinha mais dinheiro para comprar outro animal decarga.

Ana Aurélia,

devo lembrar que, no Brasil, nunca existiram tigresnos matos, apenas onças. A memória do “tigre” vinha daItália e da África.

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CAPÍTULO IIº - A FAMÍLIA ANDREAZZA

GIUSEPPE ANDREAZZA E ANA POLONEATTO

1 - O CASAL DA ESPERANÇA

“ O verão de 1879 trazia a bonança de novoscaminhos”.

“A vida recomeçava”.

“Para os que aqui viviam, era apenas temporada detrabalho e acolhida aos recém-chegados. Aos que vinham, oestio era prenúncio de outra alvorada”.

“O dia 19 de janeiro desse mesmo ano, trazia umaigual geração de deserdados, mas que retumbaram a

Minha filha,

- já apreciaste a introdução que serve de moldura.Vou entrar, agora, diretamente na história dos Andreazza.Para tanto, transcrevo, como pórtico, pois me pareceadequado, o que os jornalistas Tânia e Charles Tonetpublicaram na imprensa de Caxias, em 24 de abril de1998, sob o título

“Pouso de Lembranças”

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esperança em medida não menos que infinita”.

“E naquele fatigado navio e naquela cansada caravanaconduzida por tropeiros, estavam o Chefe de FamíliaGiuseppe Andreazza com Anna Poloneatto e seus oito filhos,irmão, cunhada e sobrinhos, vindos de Onigo, Província deTreviso. A Vila de Santa Tereza de Caxias, sobre solobrasileiro e sob o sol das ilusões iluminadas, abraçava seusnovos filhos adotivos”.

Belas e significativas palavras ! Fiz uns versos,procurando interpretar a chegada dos Andreazza:

Mostravam na decisão um sentimento.

E com ele, seu mundo iam transformar.

Sofreram quais náufragos soltos ao vento...

Mas fizeram da Esperança o novo lar !

Decisão firme de procurar melhor futuro, sentimentosfortes, imaginação, ilusões e muita ESPERANÇA dominaramos ANDREAZZA que emigraram para Caxias, partindo deOnigo del Piave, distrito de Montebelluna, Comuna dePederobba, Provincia de Treviso, (diziam-se Trevisanos ),Região de Veneza. Ver o mapa a seguir.

Não se consideravam italianos. Passaram a sê-lo aquino Brasil, porque assim foram chamados. Para os brasileiros,quem vinha da Itália era italiano. A unificação do País malfora concluída, de 1866 a 1870, pela ação fogosa de GiuseppeGaribaldi, nosso conhecido herói da Guerra dos Farrapos.

Ainda não haviam assimilado a nova bandeira, "dei trécolori". No Vêneto, eram originários de Nervesa della Bataglia,situada junto ao Rio Piave, e aqui na colônia cantavam umacanção de guerra, muito popular, sobre o combate e o Rio,cuja letra vou transcrever:

Il Piave mormorava Calmo e plácido, al passaggio

Dei primi fanti, il ventiquatro maggio;

L'exérito marciava Per raggiuger la frontiera

Per far contro il nemico uma brriera.

Era um presságio dolce e lusinghiero,

Il Piave mormoró: - “Non passa lo straniero!”

La leggenda del Piave

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M A P A

Mapa da Região do Vêneto

VENEZA

TREVISO

QUERO PEDEROBBA ONIGO MONTE BELLUNA NERVESA

RIO PIAVE

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2 - Embarque na França

Os Andreazza embarcaram no “Vapor” francês Ville deSantos, no porto do HAVRE, ao norte da França, não emGênova, como a maioria dos imigrantes. Partiram em 02 dedezembro de 1878 e chegaram ao Campo dos Bugres (Caxias) em 19 de janeiro de 1879. Portanto, quatro anosdepois do início da imigração de 1875.

Vinham também no mesmo navio, as famílias Piccoli,Casagranda, Cima, Zorzi, Meneghetti, Demori, Ortolan eoutras, segundo o documento de vistoria dos passageiros,emitido na chegada ao Rio de Janeiro, que vai reproduzidono Cap. XVIIº.- Terceira Parte.

Comandados pelo “Capo de la Famiglia”, GIUSEPPESEBASTIANO ANDREAZZA, de 46 anos, acompanhado desua mulher Anna Poloneat to, de 44 anos; com seus oitofilhos: Pietro Domenico, de 23 anos; Sebastiano, de 22anos; Vittore Leone, de 20 anos; Regina, de 17 anos; DavidePaolo, de 15 anos; Maria Carolina, de 14 anos; GiuseppinaCorona, de 11 anos; Francesco Domenico, de 2 anos; dacunhada Emiglia Tereza, viúva, com 63 anos; e dos sobrinhosórfãos, Inocente Pietro com 10 anos e Francesca Anna, com7 anos, filhos de Antônio Pietro (1815-1873); acompanhadotambém de seu irmão Angelo, viúvo, de 49 anos, com doisfilhos: Ângela, de 21 anos e CONSTANTE (meu avô) de 7anos de idade, formavam um clã de 16 pessoas.

Todos os homens, maiores de 12 anos, sabiam ler eescrever.

Iniciaram os preparativos para a emigração, com todaprobabilidade, no mês de junho de 1878, data da Lista queGiuseppe fez dos Andreazza. “venuti in America”. Ele queassumiu, ao natural, o posto de Capofamiglia, tomou todasas providências, visitando o Padre da Paróquia de Onigo,Dom Giácomo Calarezza, ao qual solicitou as informações dosarquivos oficiais e datas de nascimento e casamento,formando a nominata que deve ter servido para tirar osPassaportes. Assim, tomou outros encargos, como os contatospara garantir as passagens do navio, junto a agenciadores.

Ao par disso, as mulheres da família, com Anna àfrente, conferiam as roupas, confeccionavam outras, preparavamsementes de hortaliças e procuravam adivinhar o que precisariam,no futuro, ao se instalarem na “Mérica”. Levando em conta que

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o Clã dos Andreazza, partiu três anos após os primeirosimigrantes, já deveriam saber algo sobre o novo “paese”.

Os preparativos religiosos também se verificaram.Várias missas foram celebradas, quando Dom Giácomopassou as instruções e recomendações de rezarem todos osdias e confiarem em Deus, pedirem a proteção de NossaSenhora que os haveria de atender.

Em meados de novembro viajaram de carroção oucarreta, até a cidade de Treviso, onde tomaram o trem atéVerona, centro ferroviário maior. Ali embarcaram no comboio deMilão, passando por toda a França, chegando a Paris e,depois, ao Porto do Havre, onde esperaram a chegada donavio. Também poderiam ter tomado o famoso “trem alemão”,passando por Insbruck e baldeando para outro “maria-fumaça”,rumo a Paris e ao Havre. Não encontramos nenhum dadoregistrado sobre essas viagens, mas, aconteceram de certeza,porque os meios de transporte eram esses.

Nessas longas esperas nas “gares”, baldeações e naviagem marítima, apareceram problemas de toda ordem, comose depreende de informações orais transmitidas, entre os 183imigrantes com suas inúmeras bagagens, alojados na terceiraclasse. Giuseppe Sebastiano provia a tudo e mantinha o seugrupo unido e solidário. Tanto assim que não houve mortes eninguém adoeceu, diferentemente de outras viagensmigratórias.

Em 29 de dezembro o Vappore “Ville de Santos”,capitaneado por Mr. Fontaine atracou no Porto do Rio deJaneiro, onde foi emitida a “Nota” de conferência dospassageiros, chamada de “PARTE do empregado que visitou oNAVIO”, documento recuperado através do Arquivo Nacional,pelo qual foi possível comprovar o nome, idade e família detodos os imigrantes daquela

3- Chegada ao Rio de Janeiro

viagem, bem assim, o nome docomandante e o porto de embarque. Pelo mesmo documentoficaram dirimidas dúvidas porque nele consta não teremhavido queixas entre os passageiros que apresentavam “BOA”saúde.

Desembarcaram todos os 183 imigrantes, porque tiveramque tomar outro Barco menor, até Porto Alegre.A vovó Reginacontava que o Navio “Grande” continuou a sua rota, levandobagagens e documentos de muitos passageiros que restaram

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só com a roupa do corpo e algumas sacolas.

Os documentos pessoais dos Andreazza, guardados porGiuseppe, foram passados por ele, anos mais tarde, ao filhoDavide Paolo e por este, a seu filho Luiz Andreazza.Infelizmente um incêndio da Loja Andreazza, em 31-01-1948,destruiu tudo. Por esse motivo e também pela destruição daIgreja de ONIGO e de Nervesa della Bataglia, na GuerraMundial de 1914/18, frustrados se tornaram quaisquer pedidosde dupla cidadania e passaporte italiano, para os nossosparentes Andreazza de Caxias.

Apenas os descendentes de Francesco Domenico,último filho de Giuseppe, conseguiram se documentar, porquefoi batizado e registrado na paróquia de Pederobba, nãodestruída pela Guerra e no registro civil que passou a ser odocumento legal, após a unificação da Itália. É necessáriocomprovar descendência italiana e registro dos ancestrais, paraobter a dupla cidadania de que falou o Cônsul Italiano.

Em Porto Alegre demoraram poucos dias e nãosabemos se fizeram a pé o trajeto, bem provável, ou seutilizaram o “bondinho” puxado a burros, entre o porto e o“Barracão” do alojamento que ficava no hoje bairro do Cristal.

De barcaça foram conduzidos até São Sebastião doCai, pelo rio do mesmo nome, numa navegação de 100quilômetros, aproximadamente. Nesse porto fluvial pousaramem terra firme e plana, imaginando que a vida seria bastantecômoda, diferente da região Alpina, onde nasceram e secriaram no meio das montanhas.

Dois dias depois, organizados em caravana, galgando aSerra, logo se aperceberam que não havia estradas, masapenas trilhas abertas a facão e machado no meio da mata eque a região não tinha planuras como as do Piave, massomente morros e peraus semelhantes ao Monte Grappa.

Os homens a pé, as mulheres e crianças no lombodos burros. Os tropeiros encarregados do transporte, queeram chefiados pelo Bugre João, homem cuidadoso eresponsável, segundo informações de membros da famíliaDemori, transmitidas a mim pelo dr. Ely José, orientavam atodos para não se afastarem da longa fila indiana e não seperderem.

4 - Chegada a São Sebastião do Caí

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Era a Caravana da Esperança em busca de um futuromelhor. O Chefe Giuseppe auxiliava na condução, resolvendoas reclamações de mulheres e crianças, tentando entender-secom o Bugre João, o qual sabia algumas palavras emitaliano, aprendidas nas “tropeadas” anteriores. Para ele quedescendia dos antigos índios civilizados pelos Jesuítas nasVacarias das Reduções, e acostumado a servir de guia, nãohavia problema que não resolvesse. Conhecia os segredosda floresta e as dificuldades de conduzir tantas mulheres comfilhos pequenos, no meio de adultos distraídos pelo espantosoambiente, que apresentava novidades a todo momento.

Faziam paradas freqüentes, para descansar algumtempo e contar uma a uma as pessoas, porque o condutornão queria extraviar ninguém. Assim recordava a minha avóRegina que era criança, mas bem esperta e observava atudo.

Transpostas as montanhas, em alguns dias, demoraramna pousada do “Barracão dos Imigrantes” de 1875. Local maisdescampado e plano, de onde divisaram a paisagem de morros,paredões, grandes pedras e matos, com árvores de todaespécie, pinheiros com troncos enormes, impressionando porsua altura e formato. Viam pássaros estranhos e animaisselvagens dos quais os tropeiros-condutores ensinavam onome e explicavam as propriedades da carne.

Encontraram naquele lugar, inicialmente marcado paraser o Centro da Colonização, alguns imigrantes jáestabelecidos em pequenas casas de madeira, com os quaistrocaram informações corriqueiras, pois ainda que falassemlíngua (milanês) semelhante à sua, não eram pessoasconhecidas. Mas, serviram de alento as palavras de ânimo e"auguri", desejos de boa sorte, que lhes deram.

Esse local tomou o nome de Nova Milano e asautoridades ali ergueram, no Centenário em 1975, o“Monumento ao Primeiro Imigrante Italiano”, do qual se vê afoto.

Antonia Altiva Damiani Flôres Andreazza,frente ao monumento da Imigração Italiana,

em Nova Milano

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5 - Enfim, o Campo dos Bugres

Após uma semana de estafante caminhada ao sol dejaneiro, a desajeitada mas esperançosa caravana alcançou o“Campo dos Bugres”. Alojaram-se todos no grande Barracãoda imigração, onde permaneceram até resolver, com oDistribuidor Oficial, em quais lotes de terra iriam estabelecersuas famílias.

Havia uma Comissão do governo brasileiro incumbidade demarcar as colônias e abrir as picadas, ou caminhos decomunicação. Inicialmente gratuitos, os lotes, a partir de 1879,começaram a ser vendidos a $250 mil réis. Cada chefe defamília, tinha direito a uma casa de madeira de 4 x 8 metrosou tábuas correspondentes para construí-la com trinta edois metros quadrados, mais ferramentas e sementes.Marcavam os pagamentos para iniciarem em 18 meses,tempo necessário para derrubar o mato, roçar, queimar,plantar e colher a segunda produção. A primeira seria paraconsumo próprio.

A família dos Andreazza e outras lideradas porGiuseppe, que vieram no mesmo navio, compraram as terrasde imigrantes poloneses porque as estavam devolvendo aoDistribuidor. Iam embora “Os Polacos”, como eram chamados.Falavam pouco e diziam “kaput”,...“kaput”, mostrando comgestos que seus parentes haviam morrido por intensa febre.Assim nos contava o Nono Constante.

Proliferavam doenças nos “Barracões”, como a diarréia,o tifo, a scarlatina. Morriam as pessoas mais fracas.Sobreviveram os mais fortes.

Houve a troca de lotes, porque o grupo do Giuseppeiria receber, pela ordem, colônias localizadas no Rio dasAntas, situadas ao longo do afluente São Marcos.

Na negociação procedida por Giuseppe, foi tratado queos Andreazza e demais famílias que se estabeleceram noTravessão Thompson Flores, Nona Légua, local.posteriormente denominado “Saúde”, futuro subúrbio da Vila,deveriam pagar com a produção futura. Os poloneses sedeslocaram em direção a Vacaria, distribuídos à volta domencionado riacho, local que passou a ser chamado “SãoMarco dos Polacos”, hoje próspera cidade dos caminhoneirose da produção de alho.

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Bem orientados e dirigidos pelo Capo Giuseppe, emborachegassem a Caxias quatro anos após o inicio da imigração,os Andreazza e demais famílias, conseguiram terras a quatroquilômetros do Campo dos Bugres.

Ele entendeu mais prudente ficarem perto do centro dacolonização. Também pesou na sua decisão a circunstânciadas terras adquiridas, embora mais caras, já estarem abertascom algumas clareiras de mato derrubado pelos “polacos”,prontas para o cultivo. Resolveram rápido e trataram de sairdaquela balbúrdia do Barracão infectado pela falta dehigiene. A acumulação, o ajuntamento de muitas pessoaspor longos meses, criava diversos problemas sanitários edoenças contagiosas.

Giuseppe e seu clã ocuparam o lote nº 37 com a áreade 189.899 mts2, ou sejam, 18 hectares e fração, doTravessão Thompson Flores, Nona Légua. Para quem viviacultivando pequenos “ ”, campos de dois a três mil m2,a terra adquirida enchia a vista e satisfazia a vontade de serproprietário.

Muito experiente, o Patriarca sabia ler, escrever edecidir responsavelmente. Possuía a visão de futuro. Comoprova disso, antes de sair de ONIGO, copiou dos arquivos daparóquia, os nomes dos familiares, “a la partenza, venuti inAmérica”, - ”de partida, indo para a América”.

Dentre os vários documentos dos Andreazza, guardadospor Luiz Andreazza, o dr. Ely José, copiou em 26 de junho de1946, o escrito do Giuseppe, com absoluta fidelidade, tantoque se esmerou em não corrigir os erros de grafia nelecontidos. Essas anotações confrontadas a outro documentode viagem, ( o “Parte” ) tornaram possível confirmar idades,filiações e parentescos, do nosso tronco e dos três ramosemigrados para Caxias.

Calcula-se também que “Il Capo” Giuseppe,considerando o bom número de familiares adultos que oacompanhavam, tenha comprado vários lotes, não apenasum. Talvez trouxesse “denaro”, marengos, da Itália. PeloCenso de 1890, o irmão Ângelo tinha registrado, em seunome, no mesmo Travessão Thompson Flores, o lote nº39.

6 - Giuseppe Sebastiano comandava

campi

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IGREJA, TORRE, RIO PIAVE E CASA DOS ANDREAZZA

ONIGO - ITÁLIA

ONIGO - ITÁLIA

ONIGO DI PIAVERIO DO PIAVE

CASA ONDE NASCERAMDAVIDE PAOLO -

CONSTANTE - INOCENTE

Na foto: Cleufe, Cecília Andreazza, seu filho Antônio e amigos.

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O patriarca Giuseppe Sebastiano Andreazza nasceuem 1832, era o filho mais novo de Pietro Giovanni Andreazza(1798-1878) que fora casado com Maria Pissagia e, portanto,neto do mais antigo ancestral de que se tem noticia edocumentos, Ângelo Andreazza (1760-1829), casado comFrancesca Bresolin. No mesmo ano do falecimento deste,nasceu o nosso Ângelo, meu bisavô, que foi batizado, comoera da tradição, com o mesmo nome.

Eram originários de Nervesa della Bataglia, situada àmargem direita do rio PIAVE, da mesma forma que Onigo,Pederobba e Quero , situadas mais para a nascente, ounorte, a poucos quilômetros, como sinaladas no mapa acima.

Quantos Andreazza restaram em Onigo? O PietroGiovanni, pai do Ângelo e do Giuseppe ficou, de certeza,porque era muito velho, tinha 80 anos e não quis emigrar,como contava o vovô Constante. Sentia-se doente, alegavaque seu fim estava próximo e queria ser enterrado nocemitério da sua mulher Maria e dos seus. Morreu no mesmo1878, não sabemos o mês. Mas, sendo viúvo, ficou em casade quem? Faltam informações sobre outros parentes.

E quanto ao sobrenome ANDREAZZA, há inúmerasafirmações, em livros e revistas, que vem do gregoANDRÉAS, nome de André, o apóstolo irmão de Pedro. Épalavra formada do substantivo “Anér, Andrós”( nominativo e

7 -Ancestrais, SobrenomeAndreazza, Pronúncia.

2º ENCONTRO DA FAMÍLIA ANDREAZZA EM Nª Sª DA SAÚDE, CAXIAS

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genitivo. O Grego tem declinações), que significa homem,guerreiro. Foi latinizado “Andréas”, fixado no italiano ANDRÉAe transformado em Andreazza.

Há muitas variantes do sobrenome, difundidas portoda a Itália, fora da Região do Vêneto, como nos informa arevista “Trentini”(pg 44 n.08). Existem Andreozzo, Andreasi,Andreatti, Andreatta, Andreazzi, Andrei, Andreola, Andreani,Andreolli, Andreotti e outros.

O nome André, como o de Pedro, João e demaisapóstolos, popularizou-se com a difusão do Cristianismoentre os habitantes de toda a Itália e Europa, desde o final doImpério Romano.

No livro da história da comuna de “QUERO” ( DalleOrigini al XVIII Seccolo” (pg. 176 e 178), consta o capítulo 13,que tem por título “OS ANDREAZZA” e descreve a origem dosobrenome. Diz, em resumo, que havia na primeira metade do1300, Bartolomeo Corpolongo ( homem de alta estatura ) quedeixou um filho de nome ANDRÉA, o qual em 7 de março de1389, fez um testamento destinando bens a várias Igrejas e aseu filho Silvestre. Este deixou dois filhos, Romano e Andréasendo que, o novo ANDRÉA também teve um filho igualmentechamado ANDRÉA, nascido ao redor de 1425, e para nãoser confundido com o pai, seu nome foi transformado emAndreazza, (sic!) que significa André GRANDE, sobrenometransmitido a todos os seus descendentes. (“per non essereconfuso com quello del padre, fu trasformato in Andreazza,che transmise poi cognomizzato ( adotado por sobrenome=”cognome”) a tutti i suoi discendenti”). Ver o original noCap.XVIIº, “Documentos”.

Registra o livro de Quero, mais detalhes. Que esse“Andrea grande”, ou Andreazza, teve nove descendentes, queforam, Bernardin, Pelegrin, Zan Domenego, Iacomo, Bona,Francesca, Malgarita, Elena e Maria. Em 1499, os Andreazzaestavam ainda todos juntos na casa do ancestral BartolomeoCorpolongo, num total de 15 pessoas. Aumentaram muito opatrimônio.Prova disso, é que em 1518, Bernardin Andreazza,foi uma pessoa consultada “per la preparazione dell'estimo diQuero” ( orçamento ?). Em 1538, no “paese”, (povoado)falavam em “quelli de i Andreazza”, aqueles dos Andreazza, oque significa “destaque”, deferência.

Nas primeiras dezenas do 1500, os Andreazza

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estavam entre os “contadini” mais abastados. Pietro Andreazzaé “mériga” ( cargo público ) em 1585. Um Domenico Andreazzaé “homo di comun” em 1683. Mas, nos inventários de bens,há a impressão de que a família foi empobrecendo, o que seconfirma em 1710, quando os 22 Andreazza, chefes defamília possuem, na média, pouco mais de meio “campo” (mais ou menos 3.000 mts2 cada um). Por fim, no cadastronapoleônico de 1811, encontram-se, em Quero, 16Andreazza, chefes de família, proprietários de terras. Mas,nenhum deles está entre os ricos: Somente SilvestroAndreazza tem 52,47 “pertiche” ( medida, de uma taquara),mas todas situadas nas terras pouco produtivas doSchiavenin.

É razoável supor que, a par do empobrecimento,alguns “Capifamiglia” tenham migrado para outras localidadescomo Nervesa della Bataglia, onde encontramos as raízesdos “nossos Andreazza”.

Uma pergunta caberia:-Se o Cadastro Napoleônico de1811 relacionou os Andreazza de Quero, não teria registradoalgum Andreazza de Nervesa ou de Onigo? Com acesso aoCadastro, teríamos outros dados. Estou imaginando um rumopara pesquisa.

É uma história longa que explica, como aconteceu atransformação de Andrea para Andreazza. Na interpretaçãolingüística se informa que é o nome “Andréa com o sufixo“azza”, significando “grande”, talvez pensando no Corpolongo,nome do bisavô do primeiroAndreazza.

O prof. Ciro Mioranza, define o sufixo, como feminino (!)singular. O mesmo autor, embora não inclua o “azza” na listainicial dos sufixos, aponta que “azzo”, é “aumentativo”;enquanto “ezza”, pode ser aumentativo e diminutivo; e ”izzo”, édiminutivo.

Podemos aceitar o “azza”, dos Andreazza, comoaumentativo masculino, conforme a história de Quero.

É historiador e lingüista, o Prof. Ciro Mioranza, naturalde Flores da Cunha. Seu ”Dicionário dos SobrenomesItalianos” (Ed. Escala 1997) em que apresenta mais de 25.000,está em Segunda edição. Explica ele: “cumpre salientar quecada um (dos nomes ) possui uma origem precisa nocontexto histórico medieval, época em que surgiram e sefixaram os sobrenomes italianos modernos” (pg.5).

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Característica física ou da profissão ou da história influíam,para formar o nome de família (sobrenome=cogn(nh)ome).

O nosso parente e xará italiano, Romeo Andreazza,remeteu o extrato do livro “Quero”.(doc.a final) ao Dr ElyJosé, mostrando a versão nele contida e resumida acima.

Não tentando “meter a colher”, pois este assuntopertence aos profissionais, mas lembrando que todos osque somos da origem italiana e que nos criamos ouvindoou falando a língua vêneta, sabemos muito bem, da semcerimônia que esse povo tem de alterar as palavras e osnomes. Especialmente os de família, formando apelidos eoutros derivados, na maioria das vezes, por afetividade. Eramusados nas conversas familiares da colônia.

Concluindo, podemos aceitar como certo, que os nossosantepassados de 1.400, transformaram Andrea em Andreata,Andreaza, Andreazza, Andreotti, Andreassi, para indicar umaspecto físico da pessoa, como dá a entender o nome do“Andréa Grande”, que seria homem de alta estatura,transformado em ANDRÉ-AZZA.

A respeito da pronúncia correta do Andreazza, emToscano, língua oficial da Itália desde 1886, é ANDREATSA;mas em vêneto, é com som de duplo S, (assa). Osbrasileiros, por sua vez, inventaram o "AZA", pronunciandoAndreaza.

Na língua vêneta, derivada do latim popular, o somde dois ZZ é igual a SS ou Andreassa. Tanto é certa essaversão, que os nossos parentes de Campo Largo, noParaná, aqui no Brasil passaram a assinar-se Andreassa(com dois esses), por causa da pronúncia. Registraram osnascimentos dos filhos sem mostrar documentos, mas,pronunciando o sobrenome para o funcionário do Cartório.Este, não teve dúvidas. "Tacou" dois ss.

Podem surgir dúvidas sobre o que estou escrevendo.Mas, como dizem os antigos, quando se apertam frente àrealidade: “se não é verdadeiro, (pelo menos), é bemexplicado”, - “ , ”

.

A PRONÚNCIA

si non é vero - é benne trovatto

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8 - Outros nomes alterados

O Padre Maurizio Gotard,

Algo parecido acontecia com o nome de outrasfamílias. José Gelain, de origem francesa, diz que o avô doseu avô, de nome Bernardo Gelain, rico e viajado, após aguerra Vêneta de 1790, ”estabeleceu-se nestas vastas eférteis planícies da Província de Pádua......”Nas inúmeraslagoas e banhados daquele tempo, abundava a caça.... Todasas manhãs, partia com os cães da raça Braco (para caçar).Diziam: lá vai Gelain com os cães Bracos. Com o tempo,passaram a chamá-lo pelo apelido de Braco, com que anossa família é conhecida ainda hoje”. ( in “Semblantes dePioneiros”, Fidelis Dalcin Barbosa, pg.15)

Outra estória semelhante é a dos próprios Andreazzaque, em Onigo, cuidavam dos gados e vacas de seuspatrões, e com o passar dos anos, foram chamados de“Vaccher” ou vaqueiros, como apelido ou sobrenome, peloqual eram mais conhecidos,

nosso vigário de Rosário, énatural de CEMBRA, Região da Bréscia mas, criado no Trento,e me disse que alem dos "vacchér", vaqueiros, naquela regiãoalpina existem os "casér", que são os encarregados de pastorearas vacas leiteiras de diversos proprietários nos campos públicos,da comunidade. Tiram o leite e fabricam os queijos de altaqualidade, provenientes da rica flora existente nos pastos que osanimais comem. Em cada metro quadrado há mais de 200espécies diferentes de pasto, com alto poder nutritivo, o que dácondições das vacas produzirem o leite queijeiro, de especialqualidade. No final da temporada do verão, é realizada a feira dados queijos, quando os citadinos vão comprar. Queijo tão bom édisputado e não sobra. Vendem tudo, por bom preço. Lembroque as “feiras”, foram inventadas pelos comerciantes deVeneza. Hoje em dia são organizadas em todos os paises.

Para entender melhor os "vacchér" e os "casér", o nossodeputado Delfin Neto, de descendência italiana, quando Ministrodizia que a Itália havia feito a melhor e mais prática reformaagrária do mundo. Cada família tem sua pequena terra. Mas, nopovoado ( paese) há um campo comum, da comunidade. Para látodos mandam os animais quando precisam descansar " i campi" edeixar crescer o pasto, para depois fazer o feno ou cultivar a"píccola terra" situada junto da morada. Todos pagam o “casér” eum arrendamento simbólico, ao poder público, mas resolvem seu

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problema de apêrto. E conseguem bons queijos e bons ganhos !

Finalmente, para dirimir outras dúvidas, quanto àformação e origem do nome de nossa família Andreazza,passo a transcrever o que li no livro “Familia Lorenzato..” doPadre Antônio Domingos Lorenzatto (pg 137) :

“Observou um pesquisador italiano, que é característicodos sobrenomes da região do Vêneto, da qual faz parte aProvíncia de Treviso, serem patronímicos, isto é, derivados denomes próprios de antepassados. Aquele ancestral que deuorigem ao nosso sobrenome Lorenzato, chamava-se emitaliano, LORENZO, em português, Lourenço, em Latim,Laurentius, de louro, dourado. Igualmente, desse patronímicoLorenzo se originaram outros sobrenomes, como Lorenzón,Lorenzoni que encerram a idéia de grande, forte; Lorenzi,plural de Lorenzo, muitos Lourenços; existem também osformas Lorenzêt, Lorenzétti e Lorenzini, que lembram umdiminutivo...”

Eu mesmo conheci em 1952, na cidade de RioGrande-RS, um comerciante com o nome de ANDREAZZI, queo usava em letreiro na sua Loja. Indaguei a respeito e meafirmou que descendia de imigrantes italianos não parentesdos ANDREAZZA de Caxias, que nem conhecia.

É bom lembrar finalmente que na Idade Média, o povonão sabia ler nem escrever. Existiam até reis e nobresanalfabetos. Assinavam os documentos “reais” “em cruz”,com o selo, isto é, o “carimbo” gravado no anel, usado numdedo da mão, como nós, a caneta no bolso. Os nomes defamília, propagados “de ouvido” mudavam facilmente asílaba, o som final. Mais do que hoje, havia os meio-surdos, ( ! )que escutavam mal....

O romance de Umberto Ecco, “ O Nome da Rosa”,filmado, retrata bem que nos mosteiros se multiplicavam oslivros, antes de Guttenberg, com os frades que sabiam ler,escrever, copiar. O povo não. Apenas “ouvia”, falavae...cantava. - Outra vez....”si non é vero”...

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