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Universidade Gregório Semedo Metodologia da Investigação Científica Introdução “O mundo de hoje é o mundo da Investigação Científica” A investigação científica é hoje o grande doador de conhecimentos para a sociedade, é a ferramenta mais útil que a sociedade humana tem para o seu desenvolvimento sócio económico em diversas direcções. É óbvia a importância da Metodologia de Investigação Científica, o seu objecto de estudo esta bem identificado é a Investigação Científica. O objectivo fundamental deste programa de Metodologia da Investigação visa, no desenvolvimento de capacidades e habilidades do pensamento lógico, permitir trabalhar com o material de estudo de forma independente, aprender e ser consequentes com o método científico e a lógica da Ciência. O conteúdo programático apresenta um sistema de conhecimentos actualizados e coerentes, tomando em linha de conta o nível de desenvolvimento intelectual dos estudantes. O programa consta de 5 temas ou unidades, distribuídas em 60 horas lectivas. As horas lectivas incluem aulas teóricas, aulas práticas e avaliação. Objectivos gerais Contribuir para o desenvolvimento de capacidades e habilidades do pensamento lógico aplicáveis ao processo de investigação científica; Desenvolver habilidades para interpretar as relações existentes entre objectos, fenómenos, factos e processos da realidade objectiva; Conhecer os fundamentos gerais do processo de investigação científica, para ser aplicados nos casos particulares; Prof. Dr. Ricardo Richards Mesa Dra. Maria Elena Pérez Martinez Doutora Sónia Fuertes Blanco Doutor Nuno Tavares Prof. Dr. Rene Batista 1

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Universidade Gregório Semedo Metodologia da Investigação Científica

Introdução

“O mundo de hoje é o mundo da Investigação Científica”

A investigação científica é hoje o grande doador de conhecimentos para a sociedade, é a ferramenta mais útil que a sociedade humana tem para o seu desenvolvimento sócio económico em diversas direcções.

É óbvia a importância da Metodologia de Investigação Científica, o seu objecto de estudo esta bem identificado é a Investigação Científica.

O objectivo fundamental deste programa de Metodologia da Investigação visa, no desenvolvimento de capacidades e habilidades do pensamento lógico, permitir trabalhar com o material de estudo de forma independente, aprender e ser consequentes com o método científico e a lógica da Ciência.

O conteúdo programático apresenta um sistema de conhecimentos actualizados e coerentes, tomando em linha de conta o nível de desenvolvimento intelectual dos estudantes.

O programa consta de 5 temas ou unidades, distribuídas em 60 horas lectivas. As horas lectivas incluem aulas teóricas, aulas práticas e avaliação.

Objectivos gerais

Contribuir para o desenvolvimento de capacidades e habilidades do pensamento lógico aplicáveis ao processo de investigação científica;

Desenvolver habilidades para interpretar as relações existentes entre objectos, fenómenos, factos e processos da realidade objectiva;

Conhecer os fundamentos gerais do processo de investigação científica, para ser aplicados nos casos particulares;

Formar uma atitude científico-investigativa que permita na ordem teórica e/ou prática, responder adequadamente às exigências do desenvolvimento da sua profissão;

Criar as bases de uma inquietude científica capaz de dirigi-los ao encontro com o trabalho de investigação de forma independente.

Objectivos específicos Conhecer a natureza ou os fundamentos da Ciência e caracterizar o conhecimento

científico em relação a outros tipos de conhecimento; Identificar os principais métodos teóricos e empíricos de investigação; Saber procurar informação e tratá-la de forma adequada aos objectivos definidos; Apresentar e desenvolver noções básicas sobre o processo da investigação

científica; Adquirir ferramentas que permitam definir conceitos básicos adequados ao Processo

de Investigação Cientifica.

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Plano temático

Tema Conteúdos Teóricas Aulas PráticasTotal I Introdução 08 - 08 II O Conhecimento 04 - 04 III Métodos Científicos 04 - 04 IV Processo de Investigação Científica 02 04 06 V Procedimento de pesquisa 14 26 40

Total 30 30 60

Tema I Introdução1.1 Apresentação da disciplina. Objectivos gerais e específicos. Explicação dos conteúdos

temáticos. Formas de organização do ensino. Avaliação. Bibliografia;1.2 A Ciência. Definição. Ciência Moderna. Objecto de estudo;1.3 A Investigação Científica. Definição. Objecto de estudo;1.4 Metodologia da Investigação Científica. Definição. Objecto de estudo;1.5 O Investigador. Características; 1.6 Tipos de pesquisas. Pesquisa qualitativa e quantitativa. Características.

Tema II O conhecimento2.1 O conhecimento. Definição. Características gerais do conhecimento;2.2 Estruturas que permitem o conhecimento no homem: receptor, via aferente, centro

nervoso. Relações entre elas e com o ambiente externo. 2.3 Tipos de conhecimentos. Características. Relações entre eles.2.4 Os meios especiais do conhecimento;

Tema III Métodos Científicos3.1 O método científico. Definição. Origem dos principais métodos científicos;3.2 Tipos de métodos científicos. Métodos teóricos e métodos empíricos. Conceito e

características;3.3 Tipos de métodos teóricos. Analise e síntese. Indução e dedução. Hipotético dedutivo.

Métodos dialécticos. Conceito. Características. Relações com o processo de investigação;

3.4 Tipos de métodos empíricos. Observação científica. Definição. Tipos de observação. Importância da 6observação científica. Experiência científica. Definição. Importância. Medições. Definição. Tipos de medições. Importância.

3.5 Métodos específicos das ciências sociais: histórico, comparativo, tipológicos, funcionalistas, estatístico. Características e aplicação.

Tema IV Processo de Investigação Científica4.1 Investigação científica. Definição. Conceito de processo e sistema;4.2 Etapas do processo de investigação científica. 4.2.1 Primeira etapa: Preparação, organização e planificação da investigação. Características.4.2.2 Segunda etapa: Execução do trabalho de investigação;4.2.3 Terceira etapa: Processamento da informação; 4.2.4 Interpretação dos dados recolhidos. Importância; 4.2.5 Quarta etapa: Redacção do informe de investigação;4.3 Necessidade do trabalho de pesquisa.

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Tema V Procedimento de pesquisa5.1 Escolha do tema;5.2 Revisão de trabalhos prévios5.2.1 A Informação Científico-Técnica. Conceito. Objectivos;5.2.2 Fichas do investigador. Tipos. Elaboração;5.3 O problema científico. Definição. Características. Finalidades do problema. Formulação;5.4 Titulo do trabalho;5.5 Objecto de estudo;5.6 Os objectivos da investigação. Definição. Determinação e formulação dos objectivos da

investigação;5.7 Hipótese. Definição. Características. Formulação. Funções. Importância;5.8 Variáveis. Definição. Variáveis independentes, dependente e controladas. 5.9 População e amostra. Definição. Características. Relações. Importância. Selecção da

amostra. Amostragem. Distintos tipos de amostragem. Selecção. Importância;5.10 Técnicas para recolher os dados. 5.10.1 Observação científica. Distintos tipos de observação científica. 5.10.2 Entrevistas. Entrevista individual e grupar. Características. Vantagens;5.10.3 Inquéritos por questionários, testes, outros. Tipos de inquéritos por questionário:

abertos, fechados, mistos. Características. Vantagens.

Metodologia

As sessões predominantemente teóricas consistem na exposição de conteúdos por parte do docente baseada no método expositivo.

Nas sessões predominantemente práticas serão utilizadas estratégias de ensino/aprendizagem diversas para a consolidação de conhecimentos e para motivar o aluno a participar nas aulas sobre matérias específicas e relevantes do conteúdo programático.

Avaliação

Avaliação contínua será realizada sistematicamente, mediante perguntas orais e escritas nas aulas.

Realizar-se-ão duas (2) provas parcelares. Na primeira prova parcelar serão avaliados os Temas I, II, III e IV. Na segunda será avaliado o Tema V.

A avaliação será concluída em consonância com o regulamento superiormente aprovado.

Bibliografia

Albarello,L. e outros. Práticas e Métodos de Investigação em Ciências Sociais. Editora Gradiva, Lisboa, 1997.

Azevedo, Mário. Teses, Relatórios e Trabalhos Escolares, 4ª Edição. Universidade Católica, Lisboa, 2004.

Carmo, Hermano. Metodologia da Investigação: Guia para Auto-aprendizagem, Universidade Aberta, Lisboa, 1998.

De Andrade Marconi, M. e Lakatos, E.M. Fundamentos de Metodologia Científica. 6º Edição. Editora Atlas, S. A. São Paulo, 2005.

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De Oliveira, S. L. Tratado de Metodologia Científica: Projectos de Pesquisas, TGI, TCC, Monografias, Dissertações e Teses, Ed. Pioneira, São Paulo, 2001.

Quivy, R. e Campenhoudt, L. V. Manual de Investigação em Ciências Sociais, 3ª edição, Editora Gradiva, Lisboa, 2003.

Santos Silva, A. Metodologia das Ciencias Sociais, 14ª edição, Edições Afrontamento, Porto, 2007.

Severino, A.J. Metodologia do Trabalho Científico, 22ª edição, Cortez Editora, São Paulo, 2004.

Tarciso Leite, F. Metodologia Científica: Métodos e Técnicas de Pesquisa (Monografias, Dissertações, Teses e Livros, Ed. Idéas e Letras, São Paulo, 2008.

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Tema 1 Introdução

O título da disciplina é composto por três palavras que devem ser analisadas para uma melhor compreensão, pois representam a base do processo de investigação científica.

O que é metodologia?

A metodologia é uma palavra que deriva do grego e que etimologicamente pode ser definida como estudo de métodos, sendo o método o caminho ou a maneira para chegar a um determinado fim ou objectivo (Richardson, 2008, p. 22).

Tomanik (2004, p. 21) considera que “metodologia é a parte das ciências que se ocupa da descrição, análise e avaliação dos métodos”.

Dessa forma, em termos gerais, a metodologia pode ser definida como o conjunto de operações logicamente ordenadas e relativas a um problema de pesquisa determinado.

O que significa Investigar ou Pesquisar?

Para estudar o conceito coloquemos em exemplo simples. Quando procuramos por uma rua buscamos esta informação das mais variadas formas, perguntamos, olhamos. Isto é pesquisar, pois estamos buscando um conhecimento que NÃO possuímos e do qual necessitamos.

Portanto, investigar significa descobrir, procurar alguma resposta para indagações propostas que podem ser encontradas ou não.

Para Silva e Menezes (2001) “pesquisar, significa, de forma bem simples, procurar respostas para indagações propostas”.

Mas, nem toda a pesquisa é científica.

O que significa Investigação Científica?

Significa buscar os conhecimentos apoiando-se em procedimentos capazes de dar confiabilidade aos resultados, ou seja, é todo um conjunto de acções dirigidas a encontrar solução para um problema científico proposto, utilizando a metodologia de investigação científica.

O aparecimento da Investigação Científica esta vinculada à necessidade que enfrenta o Homem de dar solução aos problemas da vida quotidiana: precisando explicar, predizer e transformar essa realidade para satisfazer suas necessidades. Podemos assim, considerar que pesquisar é o modo fundamental de produzir conhecimentos.

O que investigar?

Investiga-se aquele problema cuja solução não se conhece e existe a possibilidade de conhecer, para dar solução a uma necessidade da comunidade ou parte dela. Se não se

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avistar a possibilidade de solução do problema por não contar com os conhecimentos ou meios necessários, não se investiga.

Para investigar há que criar condições de investigação, determinar o problema de investigação que realmente seja um problema que mereça ser investigado e que solução há para necessidades objectivas.

E quem investiga?

O investigador é aquele que, a partir do seu raciocínio lógico e suas capacidades para investigar, dedica o seu tempo e esforços no fazer científico, com a finalidade de dar solução a problemas científicos que afectam a comunidade ou parte dela em que ele está inserido.

Características do investigador:

Ter desejo de saber, de informar-se sobre as coisas e os fenómenos que o cercam e que se apresentam em determinados momentos, relevantes para o conhecimento do mundo em que vive;

Ter conhecimentos do assunto a ser investigado, assim como domínio da metodologia da investigação científica;

Estar preocupado e buscar factos novos e princípios relacionados com algum sector do conhecimento;

Ser responsável e dedicar tempo e esforço organizado à sua pesquisa, o que requer concentração, continuidade e empenho;

Ser persistente, para se corrigir e recomeçar o trabalho sempre que seja necessário (perseverança e paciência);

Ser metódico, isto é programar as experiências, elaborar esquemas de trabalho (protocolo) e cronogramas, organizar suas anotações;

Ser estudioso, informado e intelectualmente organizado (curiosidade e criatividade); Ter hábito de leitura e o interesse por manter-se em dia com o conhecimento

científico na sua área e áreas afins.

Como definir a Ciência?

Todos temos uma ideia, pelo menos aproximada, do que é a ciência porque hoje em dia esta palavra e seus derivados fazem parte de nossa linguagem quotidiana. É conveniente, no entanto, esboçar algumas definições que contribuam a conformar melhor nossa ideia sobre a ciência, seu conteúdo e seu lugar no mundo que nos rodeia.

Segundo o dicionário Aurélio, ciência é uma palavra que se deriva do latim “scientia” e significa “conhecimento”, sendo definida como o “conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objecto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos factos e um método próprio”.

Neste mesmo dicionário a ciência é considerada como um “processo pelo qual o homem se relaciona com a natureza visando à dominação dela em seu próprio benefício”.

Segundo Marconni e Lakatos, (1992) a ciência é

Acumulação de conhecimentos;

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Actividade que se propõe a demonstrar a verdade dos factos experimentais e suas aplicações práticas;

Caracteriza-se pelo conhecimento científico; É um conjunto orgânico de conclusões certas e gerais metodicamente demonstradas

e relacionadas com o objectivo determinado.

Segundo Ender-Egg (cit. Marconni e Lakatos, 2007), na sua obra “Introdução às Técnicas de Investigação Social” apresenta um conceito muito abrangente de ciência. O autor define-a como:

“Conjunto de conhecimentos, racionais, certos e prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis que fazem referencia a objectos de uma mesma natureza “.

Racional, dá-se na actividade cognitiva do homem, tem exigências de método e está constituído por uma série de elementos básicos, tais como sistema conceptual, hipóteses, definições: diferencia-se das sensações ou imagens que se reflectem em um estado de ânimo;

Certo ou provável, já que não se pode atribuir à ciência a certeza indiscutível de todo saber que a compõe. Ao lado dos conhecimentos certos e autênticos é grande a quantidade dos prováveis;

Obtidos metodicamente, não se adquirem ao acaso ou na vida quotidiana, mas mediante regras lógicas e procedimentos técnicos;

Sistematizadores, não se tratam de conhecimentos dispersos e desconexos, mas de um saber ordenado logicamente, constituindo um sistema de ideias;

Verificáveis, pelo facto de que as afirmações, que não podem ser comprovadas ou que não passam pelo exame da experiência, não fazem parte do âmbito da ciência. As afirmações devem ser comprovadas pela observação;

Relativos a objectos de uma mesma natureza, ou seja, objectos pertencentes a determinada realidade, que guardam entre si certos caracteres de homogeneidade.

As definições concordam em que a ciência é um sistema de conhecimentos sobre a realidade natural e social que nos rodeia. Um sistema de conhecimentos, que abarca leis, teorias e também hipóteses, e que se encontra num processo contínuo de desenvolvimento, o que significa que o homem aperfeiçoa continuamente seu conhecimento sobre toda a realidade circundante actual e passada permitindo-lhe, em certa forma, predizer o futuro, pelo que a ciência é uma forma da actividade humana, ou da consciência social.

Portanto, falar de Ciência, é falar de um sistema de conhecimentos concretos, metodicamente sistematizados e verificável, obtidos mediante o raciocínio lógico aplicando o método científico.

É muito importante ter presente que a ciência é um produto da lógica e que esta lógica é a que permite à ciência penetrar nos fenómenos e processos da realidade objectiva, o qual permitem a verificação dos factos.

Aproveitamos este momento para entender o contraste entre a definição de ciência com outros conceitos comummente utilizados.

Tecnologia: “Estudo dos materiais e processos utilizados pela Técnica, empregando-se, para isso, as teorias e as conclusões das Ciências”. Nesta definição ressalta a ligação que esta opera entre a ciência e a produção em geral. A tecnologia é, fundamentalmente, um produto da ciência e pretende conhecer a natureza.Prof. Dr. Ricardo Richards Mesa Dra. Maria Elena Pérez Martinez Doutora Sónia Fuertes BlancoDoutor Nuno TavaresProf. Dr. Rene Batista

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Técnica: “É um Saber-fazer, com a necessidade de ser baseado na ciência”, pelo que a técnica é um conjunto de procedimentos, uma realização.

Componentes da Ciência

Objectivo ou finalidade da ciência: é a preocupação em distinguir a característica comum ou leis gerais que regem determinados eventos;

Função da ciência: é o aperfeiçoamento, por meio do crescente acervo de conhecimento, da relação do homem com seu mundo;

Objecto da ciência: Pode ser dividido em objecto material e um objecto formal Objecto material: aquilo que pretende estudar, analisar, interpretar ou

verificar, de modo geral; Objecto formal: o enfoque especial, em face das diversas ciências que

possuem o mesmo objecto material

Como se manifesta a lógica da Ciência?

A lógica da ciência manifesta-se através de procedimentos e operações intelectuais lógicas (como por exemplo, observar, identificar, caracterizar, argumentar, comparar, explicar, etc.), que:

Possibilitam a observação racional e controlam os factos; Permitem a interpretação e explicação adequada dos fenómenos da realidade

objectiva; Contribuem para a verificação dos fenómenos, positivados pela experimentação ou

pela observação; Fundamenta o estabelecimento dos princípios e das leis.

Classificação das Ciências

A complexidade do Universo e a diversidade de fenómenos que nele se manifestam, aliadas à necessidade do Homem de estudá-los, levaram ao surgimento de diversos ramos de estudo com sua ordem de complexidade.

Uma das classificações possíveis das ciências é:

1.- Ciências Formais ou Puras: Sintetiza e explica os factos e princípios descobertos sobre o universo e seus habitantes. Ex: Filosóficas e matemáticas

2.- Ciências Factuais ou Aplicadas: Utiliza os factos e princípios científicos para fazer coisas úteis aos homens. Ex: Naturais e Sociais.

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Origem da Ciência moderna

Na natureza etimológica do seu significado, existe “ciência” praticamente desde o aparecimento do Homem na Terra, já que todas as sociedades humanas desenvolveram, ao longo da sua história, modos de conhecimentos e de actuação sobre a realidade que foram e são a base experimental da sua sobrevivência (Freitas, 2008).

Desde a Antiguidade aparece a divisão entre o trabalho físico e o trabalho intelectual, pequenos grupos de homens dedicam-se ao trabalho intelectual com a finalidade de organizar a divisão e controlo das terras, do exército, a navegação, a direcção do estado e outras. Estas actividades exigiam experiência e conhecimentos especiais, e se converteram em campos de aplicação dos conhecimentos obtidos na Ciência.

Foi lento o andar da Ciência e o desenvolvimento dos seus métodos de investigação. Um conjunto de transformações no pensamento de alguns cientistas, modificaram em parte algumas teorias e práticas da investigação científica por altura da segunda metade do século XVI e o século XVII.

Estas novas concepções revolucionárias e atitudes perante a investigação científica deu passo à aplicação de métodos de investigação científica mais eficientes, aparece uma nova metodologia científica, que abre o caminho a Ciência Moderna.

Afirma-se com frequência que Galileu Galilei (matemático, físico e astrónomo italiano) 1564-1642, foi o pai da Ciência Moderna, o fundador da metodologia da investigação científica moderna, sem dúvida o fundador da Ciência experimental.

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NATURAIS

FíSICA

Nuclear, mineralogia, logística militar, petrografia, geologia, engenharia, astronomia

QUíMICA

Orgânica, inorgânica, físico-química, farmácia e bioquímica

BIOLOGIA

Botânica, medicina, zoologia, veterinária, agricultura, tecnologia de alimentos, enfermagem, ecologia

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SOCIAIS

Sociologia, psicologia, antropologia, direito, economia, administração, comunicação social, história, etc.

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O maior contributo de Galileu à metodologia científica foi a unificação dos métodos de investigação teóricos e práticos para realizar a investigação científica. As investigações puramente teóricas perderam interesse a partir de Galileu, que priorizou a componente experimental como base do conhecimento científico, aprofundando a importância do enfoque teórico que leva a realização da experiência. Para Galileu, a experiência só tem valor quando se converte em objecto de investigação teórica.

Teoria Experimentação Teoria

Evidentemente estamos em presença de uma relação causa-efeito.

Vinculou a teoria com a prática (experimentação). Utilizou métodos teóricos e métodos práticos nas suas investigações, situação que acabou por ser seguida por todos os investigadores.

Um dos valores mais admiráveis de Galileu foi a introdução da matemática na prática da investigação científica.

Descobriu as leis dos pêndulos e da queda dos corpos. Inventou o termómetro e a balança hidrostática e estabeleceu os princípios da dinâmica moderna, entre muitos outros contributos que deu à Ciência.

O rápido aumento e complexidade dos diversos sistemas de conhecimento, a diversidade dos fenómenos que neles se manifestam, aliada à necessidade do homem de estudá-los para poder entendê-los e explicá-los, levaram ao surgimento de diversos ramos de estudo das ciências, que exigiram uma classificação:

Definição de Metodologia de Investigação Científica (MIC)

Em suma, pode ser dito que a Metodologia da Investigação Científica estuda os caminhos do saber apoiando-se em procedimentos capazes de dar confiabilidade aos resultados, ou seja, é a reflexão sistemática sobre os métodos, procedimentos e técnicas que utilizamos no processo de investigação científica.

A Metodologia da Investigação Científica proporciona ao pesquisador a via que precisa para chegar ao conhecimento da realidade, seguindo uma série de passos cujo fim é a busca contínua do desconhecido, sua correcta interpretação e solução. Na sua ausência, essa busca converte-se em algo caótico e desordenado, cujas possibilidades de lucros são muito escassas e requer grandes esforços.

O objecto de estudo da MIC é o processo de INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA.

Tipos de investigação ou pesquisa

A diversidade da Ciência leva ao homem a abordar os problemas da natureza em vários enfoques e graus de aprofundamento.

Desde a segunda metade do século XX os principais enfoques são:

Enfoque quantitativo: utiliza a recolha e a análise de dados para testar as questões de pesquisa com base na medição numérica e confia na análise estatística para

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estabelecer padrões gerais de comportamento de uma população. Eles se associam às experiências, às pesquisas a questões fechadas ou aos estudos em que se empregam instrumentos de medição padronizados;

Enfoque qualitativo: utiliza a recolha de dados sem medição numérica para descobrir ou aperfeiçoar questões de pesquisa e pode ou não provar hipóteses em seu processo de interpretação. Neste tipo de pesquisa podem ser utilizadas técnicas tais como observação não estruturada, entrevistas abertas, revisão de documentos, discussão em grupos, avaliação de experiências pessoais, inspecção de histórias de vida, introspecção, etc.

Actualmente admite-se a classificação dos diversos tipos de pesquisas baseado noutros aspectos e que podem ser, segundo os objectivos que se procuram atingir ou segundo os procedimentos seguidos.

Segundo os objectivos da pesquisa estas podem ser:

Exploratória ou bibliográfica : Procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos. Esta pode ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou experimental; em ambos casos, ela busca proporcionar maiores informações sobre determinado assunto, a fim de facilitar a delimitação de uma temática de estudo, definir os objectivos, formular as hipóteses de uma pesquisa ou ainda descobrir um novo enfoque para o estudo que se pretende realizar. Em resumo, constitui geralmente o primeiro processo de qualquer pesquisa científica.

Descritiva : Nela se observam, registam, analisam e correlacionam fenómenos sem manipulá-los.

A pesquisa descritiva pode assumir diversas formas entre as quais se destacam:

Pesquisa de opinião : procura obter atitudes, pontos de vistas e preferências que as pessoas têm a respeito de algum assunto, com o objectivo de tomar decisões.

Estudo de caso : estudo aprofundado de um determinado objecto de maneira a permitir o seu amplo e detalhado conhecimento.

Pesquisa - acção : envolvimento de modo cooperativo entre o pesquisador e o pesquisado.

Participativa : (Similar à pesquisa – acção) Caracteriza-se pela interacção entre o pesquisador e os representantes da pesquisa.

Experimental : É uma pesquisa onde se manipulam uma ou mais variáveis independentes relacionadas com o objecto de estudo, a fim de observar e interpretar as inter-relações e graus de intensidade e de modificações acontecidas no objecto de pesquisa. Trata-se de uma pesquisa típica das ciências puras, ciências biológicas, sociais, educação e psicologia.

McMILLAN & SCHUMACHER (2001) classificam os tipos de pesquisas:

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Como foi dito, na pesquisa experimental, o pesquisador manipula os objectos de investigação, controla variáveis e impõe condições. O objectivo principal é estudar relações causa-efeito. Nas ciências humanas e sociais (onde, normalmente, é de difícil aplicabilidade) exige amostragem aleatória.

Na realmente experimental existe uma manipulação directa de condições (variável independente), comparando, no mínimo, duas condições ou grupos. A medição de variações das variáveis dependentes visa a quantificação rigorosa, com a utilização de estatística inferencial para formulação de conclusões de natureza probabilística sobre os resultados.

No desenho pré-experimental ou quase-experimental não se apresentam 2 ou mais das características do realmente experimental (maior ou menor controlo de validade interna).

Nos desenhos não experimentais estão:

Descritivo – descrição de fenómenos quantificando parâmetros (ex: competência de leitura dos estudantes de uma escola; variações das temperaturas na Terra nos últimos 100 anos, etc.)

Comparativo – comparação de fenómenos ou grupos (ex: certo desempenho em géneros diferentes; incidência de determinada doença na cidade e campo)

Correlacional – estabelecer relações entre duas séries de fenómenos ou grupos (ex: correlação QI e classificações escolares; consumo de tabaco e mortalidade; humidade e uma praga)

Survey – identificação, caracterização e descrição das, crenças, etc. (aplicabilidade interdisciplinar e de interfaces)

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Tipos de investigação

Quantitativa

Experimental

Qualitativa

Não experimental Interativa Não Interativa

Pré-experimental

Realmente experimental

Quase-experimental

Um único sujeito

Descritiva

Comparativa

Correlacional

Survey (de opinião)

Ex post facto

Etnográfica

Fenomenológica

Estudo de caso

Grounded theory

Estudos críticos

Análise conceitual

Análise histórica

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Ex post facto – estabelecer relações causais entre variáveis que não podem ser manipuladas, incide, sobre coisas já acontecidas (ex: internato escolar e certas características

Os diferentes tipos de pesquisas qualitativas já foram analisados.

Trabalho individual

1. Analisa o seguinte esquema

2. Responda verdadeiro ou falso

a.- ______ Não existe ciência sem emprego de método científico

b.- ______ O objecto de estudo da MIC é o processo de investigação científica

c.- ______ A lógica da ciência fundamenta-se no estabelecimento de princípios e leis

d.- _____ Para Galileu a experiência só tem valor quando converte-se em objecto de investigação científica

3. Analisa o seguinte parágrafo:

“A ciência é o conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objecto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio”.

4. A Ciência apresenta um conjunto de características que a identificam. Assinale marcando com uma (X) as que considera que correspondem à Ciência:

1. É um pensamento racional _____;2. Rigorosa ____;3. Objectivo _____;4. Lógica e confiáveis ____; 5. É sistemática ____;6. Exacto ____;7. Falível ____;8. Definitivo ____;9. Verificável ____;10. Experimental ____;11. Procura as relações causais ____.

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CIÊNCIACIÊNCIA INVESTIGAÇÃO CIENTIFICAINVESTIGAÇÃO CIENTIFICA

MÉTODOS CIENTÍFICOSMÉTODOS CIENTÍFICOS

METODOLOGIASMETODOLOGIAS

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5. Faça uma reflexão por escrito, acerca das semelhanças e/ou diferenças entre ser investigador e ser estudante do ensino superior.

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Tema II - O conhecimento

“São muitos os sinais de que o conhecimento se tornou o recurso económico mais importante para a competitividade das empresas e dos países”.

Parte destes conhecimentos é produto das investigações científicas, do pensamento criador dos homens.

Uma máxima: “Para investigar é necessário pensar com lógica”, não podemos realizar uma investigação científica, se não sabemos pensar e pensar com a lógica da Ciência, aplicando a Metodologia da Investigação Cientifica.

É muito importante relacionar os objectos, fenómenos e processos que estudamos para ver que há de geral e particular entre eles, assim como estabelecer as relações causa efeito. Isto permitirá desenvolver habilidades do pensamento lógico e aprender a identificar, caracterizar, comparar, argumentar e explicar.

“Conhecer os objectos, fenómenos e processos da realidade, as suas relações, mais os resultados destas relações e outros é indispensável para desenvolver um pensamento criador no estudante”

O que é o conhecimento?

Para definir o que é o conhecimento temos que considerar dois elementos clássicos, estreitamente relacionados historicamente, “o objecto a conhecer” e “o sujeito que conhece”.

Objecto a conhecer Sujeito que conhece

O objecto a conhecer, é tudo o que rodeia o homem, encontra-se na realidade objectiva. Exemplo: coisas, processos, fenómenos, pessoas, animais, plantas, ar, água, outros. O modo de ver a realidade depende dos conhecimentos, cultura, experiências e até daquilo que estamos à espera ou à procura.

O ser humano é o sujeito que conhece, a sua realidade. Ele apresenta estruturas que lhe permitem conhecer a realidade objectiva, na medida que vai vivendo. Exemplo: quando o ser humano nasce (bebe) não conhece a sua realidade, no decurso dos dias inicia o seu processo de conhecimento, começa a relacionar-se com a sua realidade, começa a conhecer. Em pessoas normais o processo de conhecimento, não para até a morte.

Agora é preciso que o sujeito (homem) incorpore o objecto através do pensamento e interpretação, portanto, a teoria do conhecimento diz que a partir da relação entre objecto a conhecer e o sujeito que conhece, o homem apropria-se da realidade objectiva e ao mesmo tempo penetra nela e surge assim o conhecimento.

Não esquecer que: “O conhecimento é adquirido pelo homem, na sua interacção com o seu ambiente e que é no ambiente do homem que se encontram os objectos a conhecer”.

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Estruturas que permitem o conhecimento no homem

O conhecimento é um processo que se dá no homem, em virtude do seu sistema nervoso central e periférico, onde se encontram estruturas capacitadas para este processo, que se inicia com a vida e termina com a morte.

No processo de conhecimento participam várias estruturas nervosas, estas são:

1. Os receptores ou órgãos dos sentidos;2. A via aferente;3. O centro nervoso no córtex cerebral.

Os receptores ou órgãos dos sentidos, recebem os estímulos do ambiente em forma de energia e transformam esta energia em outra forma de energia - o impulso nervoso. Esta propriedade dos receptores de captar a energia do ambiente e transformá-la em outra forma de energia (impulso nervoso) permite que sejam chamados transdutores.

Cada receptor capta uma forma específica de energia, exemplo:

O receptor visual contem células especializadas em receber a energia luminosa que reflectem os corpos que se encontram à nossa volta (realidade) e transformar essa energia em impulso nervoso;

O receptor auditivo contem células especializadas em receber as ondas sonoras e transformá-la em impulso nervoso;

O receptor do olfacto apresenta células especializadas em receber a energia gasosa que se desprende dos corpos e transformá-la em impulso nervoso;

O receptor do gosto ou paladar contém papilas gustativas que recebem uma energia química e a transformam em impulso nervoso.

O receptor do tacto realiza a percepção da pressão por terminações nervosas e transforma-a em impulso nervoso.

Esses estímulos captados e transformados em impulso nervoso têm que chegar ao córtex cerebral, pelo que essa viagem é realizada pela via aferente.

A via aferente, constituída por nervos aferentes que conduzem o impulso nervoso (a informação captada da realidade) desde o receptor até ao centro nervoso.

O centro nervoso no córtex cerebral, apresenta uma área onde chega o impulso nervoso com a informação da realidade objectiva, aí se produzindo uma sensação que se traduz na percepção e representação da realidade, dando espaço ao conhecimento da realidade objectiva.

Resumindo, pode ser dito que os receptores são as primeiras estruturas que entram em contacto com a realidade objectiva (o objecto a conhecer). Por eles a informação é recebida dos objectos da realidade em forma de energia e é transformada em impulso nervoso que, viajando pela via aferente até o centro nervoso, produz o processo de conhecimento em virtude da actividade cognitiva.

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A actividade cognitiva do homem

A actividade cognitiva é um processo que se caracteriza por ser um conjunto de reacções neuro-hormonais, que dão lugar a processos psíquicos, mediante os quais se reflecte a realidade objectiva no cérebro, dando-se ao homem, a capacidade de conhecer. Estas funções correspondem à Actividade Nervosa Superior dos seres humanos. Portanto, o córtex cerebral (cérebro) é uns dos órgãos onde se realiza a Actividade Nervosa Superior.

Assim sendo, o conhecimento é a relação que se estabelece entre o objecto a conhecer e o sujeito que conhece, mediante um mecanismo operatório, constituído pelas estruturas estudadas.

Qual é a causa do conhecimento no homem?

O objecto a conhecer? As estruturas nervosas?

O ponto de partida é o objecto a conhecer e o conhecimento, o efeito. Logicamente não há efeito sem causa. A causa antecede ao efeito e origina-o. Para se encontrar a causa de processos e fenómenos tem que recorrer-se ao passado imediato ou mediato.

Na relação causa - efeito, podemos encontrar as seguintes relações;

(1) (2)

X Y Y X

causa efeito causa efeito

Em (1), (X) é causa e (Y) é efeito. Em (2), (Y) é causa e (X) é efeito, o qual podemos representar:

(3)

X Y

(3) Simplifica o expressado em (1) e em (2).

O processo de conhecimento nas diferentes formações socioeconómicas. Importância do conhecimento para o desenvolvimento da sociedade humana. - O conhecimento no momento actual.

O mundo dos conhecimentos é o mundo dos critérios, das ideias; à medida que o conhecimento aumenta, também aumentam os critérios, as ideias e aparecem novos conhecimentos que contribuem com o desenvolvimento da sociedade.

A história e evolução da raça humana estão, desde os primeiros tempos, ligadas ao acto de conhecer, a essa incessante busca de explicação para os fenómenos produzidos e existentes tanto na natureza como no mundo social e individual.

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A sociedade humana transitou por diferentes formações sócio – económicas. Neste transitar o conhecimento permitiu a evolução da sociedade humana; o homem teve a capacidade de criar objectos, coisas, descobrir e explicar fenómenos, processos que enriquecem a sua realidade objectiva. As mesmas formações sociais – económicas, expressam materialmente a organização e formas de convivência social que nelas existiram e constituem exemplos da evolução do conhecimento no homem. O conhecimento se acumula e evolui a formas superiores na medida que se transita de uma formação para outra.

Por esta razão, a evolução do conhecimento pode ser analisado nas diferentes formações socioeconómicas da humanidade, elas são:

Evolução das sociedades

C.. Primitiva Escravidão Feudalismo Capitalismo

Calcula-se que os seres humanos aparecem na terra entre 45,000 e 60,000 anos atrás.

Quando o homem surgiu encontrou actuou sobre a realidade objectiva com a qual se começou a relacionar e a conhecer.

No começo, as pessoas viviam sem grandes preocupações. Para se alimentarem, colhiam frutos das árvores, caçavam animais pequenos, vestiam-se de peles e moravam em cavernas. Os instrumentos ainda eram poucos desenvolvidos: lascas de pedra, pedaços de madeira, etc. Todos tinham que trabalhar para viver. O trabalho de todos e de cada um era trabalho para todos.

Como surgiu a necessidade do conhecimento no homem primitivo?

Quando começaram a perguntar-se qual é a causa daquilo que estavam a observar. Nesse momento surgem as formas mais primitivas do pensamento científico.

Para responder àquelas perguntas, o pensamento do homem tinha que revisar o passado, em busca da causa daquilo que no presente interessava saber. Assim surge no pensamento dos homens primitivos a relação causa-efeito.

Pode-se dizer que a causa se manifesta primeiro e o efeito depois. Agora pode ser o contrário. Não há efeito sem causa.

Lentamente o progresso foi sendo feito. Os homens aprenderam a fazer vasilhas de barro. Fizeram arcos e flechas. Começaram a caçar animais maiores. Descobriram o fogo, começarem a construir suas casas. Homens e mulheres passaram a conquistar e a dominar a natureza. Com tudo isto, o pensamento foi evoluindo e explicando muitas coisas, produzindo novos conhecimentos que permitiram contribuir ao desenvolvimento sócio económico.

Através destas actividades do homem, a própria natureza forneceu novos objectos elaborados pelo pensamento ingénuo do homem, naquela altura. Agora o seu pensamento amadureceu até adquirir o pensamento consciente e criador, pelo que a comunidade primitiva é uma importante etapa no conhecimento.

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A comunidade primitiva ruiu, dando lugar à formação socioeconómica esclavagista.

Na sociedade esclavagista ocorreram mudanças no conteúdo e no carácter do trabalho. Os instrumentos de pedra e madeira cederam lugar aos instrumentos de cobre, de bronze e, mais tarde, de ferro. Contudo, as possibilidades de evolução do trabalho sob o regime esclavagista eram limitadas, pois as relações de produção consistiam no facto dos meios de trabalho do próprio trabalhador (escravo) serem propriedade de um senhor.

Com a participação activa do homem aparecem novos elementos que se incorporam na realidade objectiva, aparecem novos recursos, meios criados pelo próprio homem, que lhe permitem adquirir novos conhecimentos, que enriquecem a vida material e espiritual do homem.

A sociedade feudal representou a substituição do regime esclavagista. Nesta, o desenvolvimento das forças produtivas atingiu um nível mais elevado em relação ao regime esclavagista. As relações de produção feudais eram baseadas na grande propriedade fundiária, eram relações de exploração dos camponeses pelo proprietário da terra - senhor feudal. Neste período, obtém-se o aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalho, no entanto, a técnica baseava-se no trabalho manual e desenvolvia-se com relativa lentidão.

Destaca-se entre meados do século XV e XVI o avanço das forças produtivas - invenções e descobrimentos. A difusão do pensamento humano, com a invenção da imprensa e o progresso da ciência da navegação. Iniciam-se as técnicas industriais e comunicacionais ultrapassando a técnica agrícola. Inicia-se um processo que colocará a indústria no primeiro plano do progresso, emergindo uma transição do feudalismo para o capitalismo.

No século XVII, inicia o processo de industrialização, dá-se o êxodo rural e a desvalorização da mão-de-obra pela aplicação da máquina.

Com a chegada do século XVIII, as ciências desenvolviam-se prodigiosamente e o homem sentia-se também em movimento, num caminhar contínuo e ascendente - era a ideia do progresso. O progresso significava aumento de produção e, portanto, da concentração maior de capital. A ciência e a vida humana foram suportes que direccionaram uma mudança significativa nas relações de trabalho entre os homens.

O conhecimento é adquirido pelo homem, na sua interacção com o seu ambiente, onde se encontra o objecto a conhecer.

Podemos então perguntar-nos:

Quando surge o conhecimento? Desde a primeira formação socioeconómica da humanidade, a comunidade primitiva

Então qual é o mais importante para o desenvolvimento das sociedades que existiram?

Sem dúvida que o conhecimento

conhecimento

capital

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Actualmente o conhecimento do homem continua a desenvolver-se, num contexto em que novas coisas são observadas e descobertas.

Tipos de conhecimentos. Características

De acordo com Trujillo (1974), distinguem-se quatro (4) tipos de conhecimentos: científico, popular, religioso (teológico) e filosófico:

O conhecimento popular, vulgar ou senso comum

É transmitido de geração para geração por meio da educação informal e baseado em imitação e experiência pessoal, é um conhecimento empírico. É o modo comum, corrente e espontâneo de conhecer, que se adquire no trato directo com as coisas e com os seres humanos. É o saber que preenche nossa vida quotidiana (diária) e que se possui sem o procurar ou estudar, isto é, sem a aplicação de um método e sem reflexão sobre algo.

Segundo Ender-Egg (1978) o conhecimento popular caracteriza-se por ser:

Valorativo ou sensitivo: fundamenta-se nas vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária;

Superficial: conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas. Expressa-se por frases como “ porque o vi “, “ porque o senti “, “porque o disseram “, “ porque todo o mundo diz”

Assistemático: baseia-se na organização particular das experiências próprias do sujeito que conhece e não numa sistematização de ideias que procure uma formulação geral que explique os fenómenos observados, aspecto que dificulta a transmissão desse modo de conhecer;

Subjectivo: porque é o próprio sujeito que organiza sua experiências e conhecimentos, tanto os que adquire por vivência própria quanto por ouvir dizer;

Verificável: visto que está limitado ao âmbito da vida quotidiana e diz respeito àquilo que se pode perceber no dia-a-dia.

Falível: em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final. Inexacto: pois conforma-se com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito

do objecto. Não permite a formulação de hipótese sobre a existência de fenómenos situados além das percepções objectivas.

Acrítico: porque esses conhecimentos nunca se manifestam de uma forma crítica.

O conhecimento científico

Apresenta formas, modos e métodos específicos para conhecer. É um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meios de procedimentos científicos e transmitido por intermédio de um treino apropriado. Caracteriza-se pela procura das possíveis causas do acontecido.

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Características.

Real ou factual: porque lida com ocorrências ou factos, lida com tudo o que existe e se manifesta de alguma forma;

Contingente: porque suas proposições ou hipótese têm sua veracidade ou falsidade conhecida através da experiência e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico;

Sistemático: porque é um saber ordenado logicamente, constituído por um sistema de ideias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos;

Verificável: porque as afirmações (hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência;

Falível: porque não é algo definitivo, absoluto ou final; Aproximadamente exacto: porque com o aparecimento de novas proposições e o

desenvolvimento de técnicas é possível se transforma o acervo da teoria existente.

Segundo Mário Bunge, no âmbito das ciências factuais, o conhecimento científico caracteriza-se além do expressado anteriormente por ser:

Racional: porque esta constituído por juízos, conceitos e raciocínios (e não por sensações) o que permite que as ideias que o compõem possam combinar-se segundo um conjunto de regras lógicas com vista à produção de novas ideias;

Objectivo: porque procura alcançar a verdade factual por meio dos meios de observação e experimentação;

Claro e preciso: porque os problemas na ciência devem ser formulados com clareza;

Comunicável: porque sua linguagem deve poder informar todos aqueles que tenham sido instruídos para entendê-la;

Acumulativo: porque seu desenvolvimento resulta de um contínuo seleccionar de conhecimentos significativos e operacionais;

Explicativo: porque a sua finalidade é explicar os factos em termos de leis e as leis em termos de princípios.

O conhecimento científico obtém-se, mediante o método científico.

O conhecimento filosófico

O conhecimento filosófico é fruto do raciocínio e da reflexão humana, caracterizado a própria razão humana. Busca dar sentido aos fenómenos gerais do universo, ultrapassando os limites formais da ciência.

Características

Valorativo: porque seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação. As hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência e não na experimentação.

Não verificável: porque os enunciados das hipóteses filosóficas não podem ser confirmados nem refutados.

Racional: porque os enunciados encontram-se logicamente correlacionados. Sistemático: porque suas hipóteses e enunciados visam uma representação

coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la na sua totalidade. Infalível e exacto: porque tanto na busca da realidade capaz de abranger todas as

outras, quanto na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus Prof. Dr. Ricardo Richards Mesa Dra. Maria Elena Pérez Martinez Doutora Sónia Fuertes BlancoDoutor Nuno TavaresProf. Dr. Rene Batista

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postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação).

Assim, se o conhecimento científico abrange factos concretos, positivos e fenómenos perceptíveis pelos sentidos, através do emprego de instrumentos, técnicas e recursos de observação, o objectos de análise da filosofia são ideias, relações conceptuais, exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais e, por essa razão, não são passíveis de observação sensorial directa ou indirecta (por instrumentos), como a que exigida pela ciência experimental.

O conhecimento filosófico obtém-se mediante o método racional, no qual prevalece o processo dedutivo, que antecede a experiência e não exige confirmação experimental, mas somente coerência lógica.

O conhecimento religioso

O conhecimento religioso ou teológico apoia-se em doutrinas que contêm posições sagradas.

Características

Valorativo, Inspiracional e Infalível: porque todo o conhecimento deriva de um acto de fé e de revelação do sobrenatural.

Sistemático: porque é obra de um criador divino Não verificável: porque está sempre implícita uma atitude de fé perante um

conhecimento revelado Exacto: porque suas hipóteses e postulados não são submetidos ao decisivo teste

da observação, experimentação

Assim, o conhecimento religioso ou teológico parte do principio de que as “verdades” tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em “revelações” da divindade (sobrenatural).

Se o fundamento do conhecimento científico consiste na evidência dos factos observados e experimentalmente controlados, no caso do conhecimento teológico, o fiel não se detém à procura de evidências, pois apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas.

Contudo, estas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa. Um cientista, voltado, por exemplo, ao estudo da física, pode ser crente praticamente de determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida quotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum.

Os meios especiais do conhecimento

Os meios especiais do conhecimento, especialmente criados na ciência para o estudo dos objectos, fenómenos e processos da realidade objectiva, permitiram atingir novos conhecimentos científicos e acelerar a aparição dos mesmos.

Meios especiais do conhecimento são:

Os materiais;

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Os matemáticos; Lógicos linguísticos.

Os meios materiais do conhecimento criam-se especialmente com o propósito de estudar os objectos da natureza. São todos aqueles diversos aparelhos criados a partir do pensamento científico do Homem com a finalidade de descobrir e chegar a novos conhecimentos, sem os quais não seria possível atingi-los.

Exemplos: o telescópio, lupas, distintos tipos de microscópios, distintos tipos de máquinas fotográficas, máquinas de vídeo, a TV, computadores, aparelhos utilizados na medicina para investigar e diagnosticar estados de saúde, etc. Também são meios materiais do conhecimento as instalações experimentais de diversos tipos, laboratórios, plataformas espaciais e muitos outros.

Nas ciências sociais, foram criados outros meios materiais - inquéritos, entrevistas, testes e fichas (guias) como técnicas ou instrumentos de auxílio à observação científica.

Os meios matemáticos do conhecimento surgem na antiguidade com os bons resultados da matemática na Babilónia e no Egipto aplicados ao conhecimento e manipulação da Natureza, da terra e do Céu. Foram esses conhecimentos que possibilitaram a construção das Pirâmides, das embarcações que percorriam naquela altura os rios e os mares no âmbito das rotas comerciais e de conquista militar.

Actualmente, os meios matemáticos aplicam-se na solução dos problemas das Ciências Naturais e da Tecnologia. A matemática aplica-se ao cálculo e à construção de raciocínios, sendo a matriz de ideias e princípios que possibilitam o surgimento de novas hipóteses, teorias e orientações na Ciência.

O uso dos meios matemáticos do conhecimento é a mais importante característica no desenvolvimento de toda a Ciência actual. As investigações actuais exigem a aplicação da matemática, cálculos de relações entre variáveis e a estatística em todos os processos de análise, jogando um papel fundamental nos resultados das mesmas.

Os meios lógicos e linguísticos têm a sua base na actividade cognitiva do homem, nos processos psíquicos (emocionais e afectivos), que permitem o pensamento e o raciocínio lógico para interpretar e estabelecer relações entre os objectos, fenómenos e processos da nossa realidade.

Estas interpretações são expressadas mediante determinada linguagem que se associa com a realidade e a lógica e que, no final, expressam teorias, leis, generalizações e conceitos. São exemplos a palavra falada ou escrita, símbolos, gráficos, fórmulas, figuras, outros.

São importantes porque expressam a qualidade do pensamento dos cientistas e o caminho percorrido no processo de investigação.

Nestes meios existe uma relação muito importante, a relação pensamento-linguagem. Todos devemos ter em consideração esta relação de forma a expressar com clareza as interpretações e leitura que se faz do contexto.

A Ciência como forma especial do conhecimento humano

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A ciência como forma especial do conhecimento humano, inicia-se na época que aparece o trabalho intelectual e separa-se do trabalho físico. Daí que a classe social dominante utilize o trabalho intelectual no sentido de:

Organizar a produção material, o controlo da distribuição dos recursos da produção e dos bens materiais da sociedade;

Dirigir aqueles que participam no processo de trabalho; Criar as formas de governar, fundadas no domínio das minorias sobre as maiorias; Desenvolver a Ciência, a arte e outros ramos da actividade espiritual.

Estas formas de trabalho intelectual receberam os contributos da ciência para garantir ainda mais a hegemonia da classe dominante.

A aparição destas funções conduz à diferenciação e à emersão de grupos especiais de pessoas que realizam funções específicas do trabalho intelectual.

Desta maneira a ciência forma-se historicamente como um processo especial do conhecimento, utilizado por uma minoria. Em suma

A actividade cognitiva na ciência é realizada por grupos de pessoas especialmente preparadas;

O desenvolvimento do processo do conhecimento científico converte-se em fim social destes grupos;

A actividade cognitiva dos cientistas realizar-se na forma de investigação científica; Na ciência criam-se e elaboram os meios especiais do conhecimento.

Como conclusão pode ser dito que a ciência como forma especial de conhecimento tem três funções essenciais: explicar, predizer e transformar a realidade em correspondência com as necessidades e demandas da sociedade.

Trabalho individual

1. O que é conhecimento?2. O que há de geral na estrutura e função dos receptores?

3. O que há de particular na estrutura e funcionamento dos receptores?

4. Coloca um exemplo na tua especialidade de relação causa - efeito, em que a causa de um efeito e o efeito se converta em causa.

5. Como a relação entre conhecimento-pensamento explica o percurso histórico da sociedade humana.

6. Não há dúvida, as sociedades humanas evoluíram, qual é a causa ou as causas da evolução das sociedades humanas? Explique.

7. Analise a relação causa - efeito nos elementos do processo de conhecimento

Objecto a conhecer Sujeito que conhece

8. Fundamenta a seguinte afirmação:

“O homem de hoje de forma geral possui mais conhecimentos, que o homem do passado”.

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9. No quadro seguinte, assinale com uma X as características que correspondem a cada tipo de conhecimento

Características Tipo de conhecimento

Científico Popular Filosófico Religioso

Objectivo

Sistemático

Racional

Valorativo

Superficial

Verificável

Exacto

Aproximadamente exacto

Falível

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Tema III - Métodos científicos

O método científico. Definição.

O que é método?

É um procedimento ou caminho para alcançar determinado fim.

O que é método científico?

É o conjunto de actividades para um cientista desenvolver uma experiência a fim de produzir conhecimento, bem como corrigir e integrar conhecimentos pré-existentes. Consiste na junção de evidências observáveis, empíricas e mensuráveis, baseadas no uso da razão.

Todas as ciências se caracterizam pela utilização de métodos científicos, contudo, nem todos os ramos de estudo que empregam estes métodos são ciências, nem todos os que utilizam estes métodos estão fazendo ciência.

O método científico é a teoria e prática da investigação científica. O método científico é o conjunto de actividades racionais, sistemáticas que permitem

concretizar novos conhecimentos obtidos da realidade objectiva.

Historia e desenvolvimento do método

Da mesma forma que o conhecimento se desenvolveu, o método também sofreu transformação.

Os primeiros a tratar do assunto foram Galileu Galilei, Francis Bacon e Descartes.

Segundo Galileu, as ciências não têm como principal foco de preocupações a qualidade, mas as relações quantitativas. Seu método pode ser descrito como indução experimental, chegando a uma lei geral através da observação de certo número de casos particulares.

Os principais passos de seu método são:

Observação dos fenómenos; Análise dos elementos constitutivos desses fenómenos com a finalidade de

estabelecer relações quantitativas entre eles; Indução de certo número de hipóteses, tendo por fundamento a análise da relação; Verificação das hipóteses aventadas através da experiência; Generalização do resultado das experiências para casos similares; Confirmação das hipóteses, obtendo-se a partir dela uma lei geral.

O método de Bacon estabelece que o conhecimento científico é o único caminho para a verdade dos factos e deve acompanhar os seguintes passos:

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Experimentação - nessa fase o cientista deve observar e registar, de forma sistemática, todas as informações que têm possibilidade de ser recolhidas;

Formulação da hipótese - tendo como base as experiências e análise dos resultados obtidos;

Repetição os experiências noutros lugares e por outros cientistas; Testagem da hipótese Formulação de generalizações e leis

Descartes considera que só se chega à certeza por medo da razão, e postula 4 regras:

Da evidência Da análise (decompondo o todo em partes e indo do mais simples ao mais

complexo) Da síntese (reconstituição do todo) Da enumeração

Tipos de métodos

Actualmente há uma grande diversidade de métodos científicos que podem ser divididos em dois grandes grupos, os métodos teóricos e os métodos empíricos.

Métodos teóricos

Os métodos teóricos são um conjunto de processos mentais que permitem o raciocínio lógico do homem para estudar a realidade e poder estabelecer, teoria, leis, princípios, generalizações que devem ser comprovados na prática.

Os métodos teóricos possibilitam a interpretação conceptual dos dados empíricos, a explicação dos factos e o aprofundamento das relações e qualidades fundamentais dos processos não observados directamente.

Características

São o produto da actividade cognitiva do homem; Foram os primeiros utilizados na ciência; Estão associados à linguagem.

Existem diversos tipos de métodos teóricos, só vamos a estudar os seguintes:

Análise e síntese; Indutivo; Dedutivo; Hipotético – dedutivo; Dialéctico.

A análise e a síntese são dois processos cognitivos que cumprem funções muito importantes na investigação científica.

Análise - é o processo que possibilita decompor mentalmente um todo complexo nas suas partes e qualidades (a partir da representação mental do todo único, fazemos a decomposição ou divisão em nossa mente das partes desse todo único). Exemplo:

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pensamos no corpo humano como um todo íntegro, seguidamente em nossa mente são representadas as partes do corpo, cabeça, extremidades.

Síntese - é o processo mental inverso à análise. Pela síntese integramos mentalmente as partes que separamos do objecto, fenómeno ou processo em estudo.

Conhecer estes processos mentais, como funcionam, é algo de muito importante, porque nos permite enfrentar a realidade com maior consciência dos métodos que aplicamos, dos caminhos lógicos que vamos seguir para investigar as coisas e penetrar na essência das mesmas.

O caminho lógico que segue o nosso pensamento perante as coisas complexas, é o que se sequencia à decomposição das partes – análise de cada uma delas e subsequente integração num todo único, depois de conhecidas as respectivas propriedades individuais.

Estes processos constituem pares dialécticos, não existem independentes um do outro.

O método indutivo - parte de dados particulares, suficientemente constatados para a inferência de uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas.

Ou seja, a indução é uma operação lógica que vai do particular ao geral. Representa um salto qualitativo no conhecimento, traduzido enriquecimento da informação derivada do exame de acontecimentos particulares. A partir das premissas tira-se uma conclusão.

Exemplo:

António é mortal. Benedito é mortal. Ora, António e Benedito são homens. Logo, (todos) os homens são mortais.

A indução realiza-se em três etapas:

A observação dos fenómenos A descoberta da relação entre fenómeno A generalização da relação

O método indutivo tem grande valor porque estabelece as generalizações sobre a base dos estudos dos fenómenos singulares.

O método dedutivo - é uma forma de raciocínio que parte do geral para o particular, enunciando de modo explícito a informação já contida nas premissas.

Exemplo:

Todo homem é mortal. (premissa maior), Pedro é homem. (premissa menor), Logo, Pedro é mortal. (conclusão)

Tem o propósito de explicar o conteúdo das premissas, ao contrário do método indutivo que procura ampliar o alcance dos conhecimentos. Os argumentos dedutivos sacrificam a ampliação do conteúdo para atingir a certeza, ao passo que os argumentos indutivos aumentam o conteúdo das premissas com sacrifício da precisão.

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A indução e a dedução reflecte a lógica objectiva dos fenómenos e processos da realidade, permitem o enlace entre o singular e o geral da mesma realidade.

Vejamos um exemplo prático: Numa investigação em primeiro lugar pode-se usar o método dedutivo, usando a observação para verificar se determinada teoria existente se confirma na realidade.

Noutra fase, e porque, por exemplo, o investigador constata que existe algo que não esta completo em determinada teoria, parte para uma investigação empírica, e utiliza o método dedutivo para desenvolver uma nova teoria a partir dos dados obtidos na investigação.

Uma comparação entre ambos é:

Dedutivos Indutivosa. Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira

a. Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é provavelmente verdadeira, mas não necessariamente verdadeira

b. Toda a informação ou conteúdo factual da conclusão já estava, pelo menos implicitamente, nas premissas

b. A conclusão encerra informações que não estavam, nem implicitamente, na premissa

No método hipotético-dedutivo a ciência inicia-se com conceitos não derivados da experiência, mas a partir de postulados em forma de hipóteses formuladas pelo investigador com base nas suas premissas. Portanto, parte da percepção de uma lacuna nos conhecimentos sobre a qual formula hipóteses; depois, pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência dos fenómenos abrangidos pela hipótese.

Um esquema simplificado das etapas do método hipotético-dedutivo, foi realizado por Lakatos e Marconi (2008). Vejamos:

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O método hipotético-dedutivo desempenha um papel essencial no processo de verificação da hipótese.

O método dialéctico - brinda as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade. Diz que os fenómenos não podem ser entendidos quando considerados isoladamente. Exemplo: para entender a sociedade deve-se considerar todas as influências possíveis (políticas, económicas, culturais, etc.).

Baseia-se em três grandes princípios:

A unidade dos opostos (todos os fenómenos apresentam aspectos contraditórios) Quantidade e qualidade (enquanto características que estão inter-relacionadas) Negação da negação (como elemento de desenvolvimento e alteridade)

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Conhecimento prévio e teorias existentes

Formulação de hipóteses ou questões, a partir de um facto, lacuna ou

problema detectado

Escolha de técnicas e métodos para testagem das hipóteses

Recolha de dados

Analise dos dados

Avaliação das hipótese

Refutação das hipótese Aceitação das hipótese

Poderá conduzir a nova teoria, que poderá originar novas lacunas ou

novos problemas

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Relações entre os métodos teóricos

Os métodos teóricos constituem um sistema de métodos aplicados ao processo de investigação, pelo que devem considerar-se como um sistema. As relações que se estabelecem entre a análise, a síntese, a indução e a dedução devem, por isso, ter uma aplicação consciente em toda a parte teórica da investigação científica. E não só, também quando estamos a estudar os conteúdos dos nossos materiais de estudo.

Quando estudamos as experiências científicas realizada, esse estudo implica a utilização de métodos teóricos, mediante os quais elaboramos novas teorias.

Métodos empíricos

Os métodos empíricos são aqueles métodos de investigação científica que se realizam mediante a prática (a actividade prática do homem) para comprovação dos factos. Estes métodos empíricos estudam a realidade concreta e actuam sobre ela. Além disso, participam no descobrimento e acumulação dos factos e no processo de verificação das hipóteses

Características

São o produto da actividade prática da ciência; Utilizam-se na comprovação e verificação de teorias; Utilizam-se em todas as investigações científicas.

Existem diversos tipos de métodos empíricos:

Observação científica Experiência científica Medição

Diariamente encontramo-nos perante um variado conjunto de situações e acontecimentos; as pessoas caminham pelas ruas, as crianças jogam no jardim, em casa, realizando observações sobre tudo que sucede à nossa volta. Estas observações diárias caracterizam-se por serem casuais, espontâneas e subjectivas.

Com a aparição da espécie humana, aparece esta forma de observação diária (quotidiana), mas quando o homem começa a correlacionar conhecimentos, aparece a observação científica. A observação científica também evolui até atingir as formas e concepções actuais. A observação científica é o método empírico mais primitivo, foi o primeiro método empírico e foi utilizado para fazer ciência primitiva, teórica.

Devemos diferenciar a observação como método científico, da observação quotidiana.

O que é a observação científica?

Existem diversas definições sobre a observação científica, vejamos só dois:

“A observação científica é o método empírico de investigação, utilizado nas ciências para a obtenção de informação primária acerca dos objectos investigados ou para a comprovação das consequências empíricas da hipótese”.

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“A observação como método científico é uma percepção atenta, racional, planificada e sistemática, dos fenómenos relacionados com os objectivos da investigação, nas suas condições naturais, habituais, sem provocá-los, para oferecer uma explicação científica do mesmo”.

A observação científica é a forma mais elementar do conhecimento científico. As medições e a experiência incluem a observação, embora a observação pode ser realizada fora da experiência e medições.

Características:

Consciente: porque está dirigida a um objectivo ou fim determinado; Sistemática: porque para observar cientificamente, é preciso ter em consideração,

princípios, tarefas e prazos específicos; Objectiva: porque a observação científica permite uma observação objectiva da

realidade que garanta:

A recolha de informação de todos e cada um dos conceitos (variáveis) que aparecem na hipótese. Estes conceitos devem ser previamente definidos correctamente. Quando este se cumpre, falamos que existe validez na observação;

Elaborar um guia de observação, onde aparece aquele que temos que observar, com claridade e precisão, para não provocar ambiguidade; para que outros observadores que queiram aplicá-la, possam aplicá-la da mesma maneira. Quando este se cumpre, falamos que a observação é confiável.

O método de observação científica pode utilizar-se conjuntamente com outros métodos teóricos e empíricos, técnicas (questionários, entrevistas, testes, outros).

Requisitos da observação científica

O investigador deverá delimitar com claridade os aspectos que serão objecto de estudo, (é impossível observar tudo). A selecção do que deverá observar-se responde aos objectivos da investigação.

A observação deve-se caracterizar pela sua objectividade (observar os fenómenos como acorrem na realidade). Devem utilizar-se guias, escalas ou outros instrumentos que garantam a objectividade do registo.

A observação deve ser sistemática (não resulta científico interpretar fenómenos que foram observados numa só vez). Resulta necessário observar fenómenos em várias ocasiões para atingir interpretações objectivas.

Duração (uma observação realizada em tempo insuficiente, não permite explicar adequadamente o facto que estudamos).

Tipos de observação científica

A observação científica evoluiu chegando a formas diversas devido às necessidades de observar o incremento e a diversidade de objectos, fenómenos e processos diferentes, com finalidade científica.

O método de observação científica pode ser classificado de acordo com diferentes critérios. Vamos referir-nos à classificação da observação em dependência do sujeito que a realiza.

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Segundo este ponto de vista podemos classificar a observação em observação interna e observação externa.

A observação interna: é um tipo especial de observação onde o próprio sujeito se analisa a si mesmo, se auto-observa os seus próprios estados psíquicos, a suas vivências.

A observação externa: é aquela que se realiza por observadores treinados sobre o objecto de estudo.

Neste tipo de observação registam-se os fenómenos tal e como acorrem, do modo mais fiel possível, para posteriormente oferecer uma interpretação precisa do observado:

Na Observação directa - o investigador entra em contacto imediato com o objecto de observação

Na Observação directa aberta - o observador não participa nas actividades que realizam os sujeitos observados, ele é testemunho.

Na Observação directa encoberta - o observador encontra-se oculto, podendo utilizar aparelhos de filmagem, dispositivos televisivos, gravadoras, outros.

Importância da observação científica

Historicamente a observação foi o primeiro método de investigação empregado e durante muito tempo constituiu a forma básica de obter informação científica.

A importância fundamental da observação como método científico, é permitir obter a informação do comportamento do nosso objecto de investigação tal e como este se dá na realidade. É uma forma de obter informação directa ou imediata sobre o fenómeno ou objecto que está sendo investigado.

A observação estimula a curiosidade, conduz ao descobrimento de questões que podem ter interesse científico e provocam a formulação de problemas e hipóteses correspondentes.

A observação pode utilizar-se em combinação com outros métodos e técnicas.

Experiência científica

A generalidade dos autores considera o método experimental como o fundamental, o mais completo, o mais importante no processo de investigação científica. Expressam, que a experiência constitui o método modelo para conhecimento científico e que é utilizada para adquirir conhecimentos sobre a regularidade e novos factos.

Diferencia-se da observação porque o investigador intervém de modo directo na experiência, criando as condições necessárias para que se produza o facto objecto desta.

A constatação de um facto pode verificar-se por meio da observação ou outros métodos, embora quando tratamos de descrever as leis que permitem a sua manifestação, os princípios básicos que o definem, é necessário o uso do método experimental.

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Importância da experiência científica

Para poder explicar e predizer é imprescindível conhecer as relações causais presentes nos objectos, fenómenos ou processos estudados.

Os resultados da experiência permitem confirmar ou criar novas teorias, actuam como estimulo para a sua modificação ou para a emersão de novas teorias.

Medição

A medição desenvolve-se para obter informação numérica acerca de uma propriedade ou qualidade do objecto ou fenómeno.

Métodos específicos das Ciências Sociais

A lista dos métodos específicos das ciências sociais é longa, mas no quadro desta disciplina analisaremos somente alguns deles.

Método histórico - é um método teórico de pesquisa mediante o qual se estudam as distintas etapas que atravessa um objecto, processo ou fenómeno em sua sucessão cronológica desde seu surgimento para conhecer sua evolução e desenvolvimento com a finalidade de descobrir tendências.

Assim, o método histórico consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma actual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época.

O método histórico preenche os vazios dos factos e acontecimentos, apoiando-se em um tempo, mesmo que artificialmente reconstruído, que assegura a percepção da continuidade e do entrelaçamento dos fenómenos.

Exemplo: Para compreender o problema Israelo-Palestiniano investigam-se os factores histórico-geográficos do passado deste espaço.

Método funcionalista - estuda o objecto do ponto de vista da função das suas unidades ou partes.

A sua metodologia considera que a sociedade é formada por partes componentes, diferenciadas, inter-relacionadas e interdependentes, satisfazendo, cada uma, funções essenciais da vida social, e que as partes são melhor entendidas, compreendendo-se as funções que desempenham no todo.

O método funcionalista considera, por um lado, a sociedade como uma estrutura complexa de grupos de indivíduos, reunidos numa trama de acções e reacções sociais e, por outro, como um sistema de instituições correlacionadas entre si, agindo e reagindo umas em relação a outras. Qualquer que seja o enfoque, fica claro que o conceito de sociedade é visto como um todo em funcionamento, um sistema em operação. E o papel das partes nesse todo é compreendido como funções no complexo de estrutura e organização.

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Método comparativo - neste método realizam-se comparações, com a finalidade de verificar similitudes e explicar divergências entre diversos tipos de grupos, sociedades ou povos no presente e no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto aos seus diferentes estádios de desenvolvimento.

Exemplo: União Africana e a União Europeia: os objectivos e as missões.

Método estatístico: Os processos estatísticos permitem obter, de conjuntos complexos, representações simples e constatar se essas verificações simplificadas têm relações entre si. Assim, o método estatístico significa redução de fenómenos sociológicos, políticos, económicos em termos quantitativos e a manipulação estatística, que permite comprovar as relações dos fenómenos entre si e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado.

O papel do método estatístico é, antes de tudo, fornecer uma descrição quantitativa da sociedade, considerada como um todo organizado. Por exemplo, definem-se e delimitam-se as classes sociais, especificando as características dos membros dessas classes, e depois mede-se a sua importância ou a variação, ou qualquer outro atributo quantificável que contribua para o seu melhor entendimento. Mas a estatística pode ser considerada mais do que apenas um meio de descrição racional; é também, um método de experimentação e prova, pois é método de análise.

Exemplo: Verificar a correlação entre o nível de escolaridade e a amamentação materna.

Trabalho individual

1. Faça uma comparação entre os métodos científico teóricos e empíricos tendo em conta suas características.

2. Mencione os métodos científicos teóricos estudados e defina cada um.3. Foi estudado o rendimento académico dos estudantes da turma GCM15 e

concluímos que o rendimento é bom. Que método teórico foi aplicado e por quê?4. Elabore uma guia de observação com cinco (5) características a observar de um

objecto de estudo seleccionado por você.5. Elabore um quadro com os métodos específicos da ciência sociais e uma

característica de cada um deles.6. Responda verdadeiro ou falso

______ A observação constitui a forma mais elementar do conhecimento científico

______ Os resultados da experiência permitem confirmar ou criar novas teorias

______ Os métodos empíricos realizam-se mediante a prática

______ A observação científica é objectiva, consciente e sistemática

______ Os métodos teóricos constituem um sistema

______ O método científico é a ferramenta da ciência para obter conhecimento

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Tema IV - Processo de Investigação Científica

Este tema é fundamental para a melhor compreensão do processo de investigação científica, uma vez que constitui a base para a realização do Protocolo de Investigação Cientifica. Além disso, permite clarificar duvidas sobre alguns aspectos da Metodologia da Investigação e conhecer a estrutura interna do processo de investigação científica.

Foi citado que a pesquisa é uma actividade voltada para a solução de problemas teóricos ou práticos com o emprego de processos científicos. Ela parte de uma dúvida ou problema com o uso do método científico, busca uma resposta ou solução.

Estrutura interna do Processo de Investigação Científica

A investigação científica é um PROCESSO integrado por um conjunto de etapas coerentemente ordenadas e com requisitos que é necessário cumprir rigorosamente.

Mediante a seguinte seta representamos o processo de investigação científica, com inicio em A e termo em B.

A B

Para estudar este processo precisamos de fazer uma análise, dividir o processo A-B, em partes, de maneira a estudar cada uma das partes separadamente e depois integrar a mesmas para compreender o que acontece no espaço A-B.

Estas etapas ou partes constituem a estrutura interna do Processo de Investigação Científica.

Em quantas partes temos dividido o processo de Investigação Científica para melhor compreensão de sua estrutura interna?

Alguns investigadores para fazer compreensível este estudo do processo de investigação científica dividem o mesmo em dois, três ou cinco etapas. Nos vamos a dividir didacticamente o processo considerando 4 etapas:

A 1 2 3 4 B

As etapas são:

1.- Organização, preparação e planificação do processo de investigação;

2.- Execução do processo de investigação;

3.- Processamento dos dados, da informação;

4.- Elaboração do informe de investigação.

Evidentemente estas 4 etapas ou partes sucessivas ou consecutivas não devem-se alterar, devido a lógica das partes.Prof. Dr. Ricardo Richards Mesa Dra. Maria Elena Pérez Martinez Doutora Sónia Fuertes BlancoDoutor Nuno TavaresProf. Dr. Rene Batista

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Portanto, a estrutura interna do Processo de Investigação Científica indica-nos a lógica da ciência para investigar.

Todos os investigadores independentemente do tipo de investigação a realizar, seguem sempre a lógica da ciência expressada na estrutura interna do processo de investigação científica.

O Processo de Investigação Cientifica é um sistema e como tal responde às características de todo sistema.

Características de cada etapa do processo de Investigação Científica

Cada etapa tem sua característica.

Primeira Etapa - Organização, preparação e planificação do processo de investigação

A primeira etapa do processo de investigação é geralmente a mais longa e desta dependem os resultados da investigação. Por isso é preciso ter muito cuidado para não cometer erros que mais adiante podem prejudicar os resultados da investigação.

Isto não quer dizer que apareçam imprevistos que obriguem a fazer modificações no Protocolo de Investigação, que nos obriguem a fazer trocas ou eliminar aspectos planificados. Isto deve-se a factores relacionados com a própria dinâmica da vida, há coisas que mudam e em consequência devem ser mudados outros factores do sistema para que o mesmo atinja os seus objectivos.

Esta etapa culmina com a conclusão do Protocolo ou Projecto de Investigação, no qual encontramos toda a Organização, Preparação e Planificação do processo de investigação científica que se vai realizar.

Na primeira etapa os investigadores destacam e colocam o aspecto ou a necessidade de investigar um assunto, analisando-se as possibilidades reais para poder efectuar a investigação científica do tema, que dará solução a uma necessidade da sociedade ou parte dela.

Entre as primeiras tarefas, para não dizer a primeira, encontra-se o estudo, por parte dos membros da equipa, do assunto a investigar, isto é, começando pela busca da Informação Científica Técnica existente sobre o tema de investigação a realizar em bibliotecas, centros de documentação, centro de informação científica, de onde se extrairá documentação de publicações, livros, monografias, artigos em revistas especializadas, Internet ou outra fonte existente.

Nesta etapa também são definidos o título do trabalho, o objecto de estudo e os objectivos gerais e particulares da investigação. Nela também se formula o problema, a hipótese e se identificam as variáveis do estudo. Além disso, são definidos os instrumentos de trabalho (métodos, procedimentos e técnicas) e o cronograma a empregar.

Nesta etapa fica definido o que vai a ser feito nas etapas seguintes.

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Segunda Etapa - Execução do processo de investigação

É a etapa de aplicação dos instrumentos sobre a amostra seleccionada com a finalidade de recolher os dados ou a informação. Nesta etapa obtêm-se as respostas às perguntas presentes nos instrumentos de trabalho (inquérito por questionário, entrevista, etc.) e que constituem a informação, os dados que se buscam no processo de investigação para chegar a comprovar a hipótese e, portanto, atingir novos conhecimentos.

Terceira Etapa - Processamento dos dados, da informação

Nesta etapa processa-se (análise e relacionamento) a informação recolhida na Segunda Etapa do processo de investigação, sendo seus resultados comparados com a hipótese, com a finalidade de se comprovar e validar a mesma para se saber se a solução do problema realmente é o formulado pela hipótese.

O processamento da informação permite a aparição de novos conhecimentos teóricos.

Quarta Etapa - Elaboração do Relatório de investigação

O Relatório Final deve conter rigoroso ordenamento e alto grau de cientificidade para expressar todas as relações captadas desde a primeira etapa até seu momento final. Neste Relatório devem aparecer, com claridade, os resultados e possíveis aplicações dos mesmos e outros aspectos relevantes da investigação realizada.

Tema V - Procedimento de pesquisaProf. Dr. Ricardo Richards Mesa Dra. Maria Elena Pérez Martinez Doutora Sónia Fuertes BlancoDoutor Nuno TavaresProf. Dr. Rene Batista

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Objectivos:

Compreender a sequência das partes em que pode ser dividido didacticamente o processo de Investigação Cientifica, para a sua melhor compreensão;

Determinar os aspectos essências e operacionais do processo de Investigação Cientifica.

Escolha do tema de investigação

O processo de investigação científica inicia-se com a selecção de um tema geral ou assunto.

O tema de investigação refere-se ao conteúdo mais amplo, mais geral, mais universal que vai ser investigado.

Exemplos de temas podem ser: Economia, Política, Marketing Social, Marketing e Vendas, Avaliação do desempenho, Motivação do pessoal, Desenho e análises de funções, Higiene e segurança no trabalho, Redes, etc.

Essa etapa da pesquisa tem especial atractivo, já que o investigador tem maior liberdade para a escolha do tema e deverá repousar nas suas preocupações e interesses dentro do seu campo de acção e de seus juízos de valor.

Assim, quatro perguntas deverão ser respondidas positivamente para que o tema possa ser eleito com acerto:

I. Tenho interesse no tema? O pesquisador deve ter curiosidade pessoal e/ou profissional em relação ao tema seleccionado.

II. Sou capaz de resolver o tema? O conhecimento e experiência anterior à pesquisa em relação ao tema são fundamentais.

III. Há interesse social no estudo do tema? O pesquisador deve propor tema original, pois de nada adianta escolher um tema que já foi exaustivamente discutido. Actualmente existem poucos temas que nunca foram abordados, em contrários, há poucos temas totalmente estudados.

IV. A sociedade em que vivo oferece-me recursos para estudar o tema? O pesquisador deve analisar se dentro o contexto social em que irá pesquisar possui a bibliografia, o financiamento e a possibilidade de recolher dados num prazo adequado à apresentação de resultados sobre o tema seleccionado. Sem não tem as condições necessárias devera desistir dessa investigação.

Em resumo, escolher um tema significa seleccionar um assunto de acordo com as inclinações, as possibilidades, as aptidões e as tendências de quem se propõe elaborar o trabalho, assim como encontrar um objecto que mereça ser investigado cientificamente e tenha condições de ser formulado e realizado.

Título do trabalho

Dentro de um mesmo tema deve-se seleccionar um tópico para ser estudado e analisado em profundidade, tornando-o viável de ser pesquisado.

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Esta delimitação começa com a formulação do título que tem que ter-se em conta ao longo do todo o processo de investigação científica. Não delimitar o tema é uma das falhas mais comuns para o fracasso da investigação.

O título é o conteúdo específico que se vai investigar, pelo que não deve oferecer ambiguidade na interpretação de aquilo que vai a ser estudado.

No título deve aparecer o objecto de estudo e as unidades de análise, o lugar onde se vai realizar a investigação e outros aspectos que permitam expressar com claridade e precisão, aquilo que será pesquisado.

De forma geral, deve ser escrito de maneira concreta utilizando o menor número de palavras possível.

De um tema podem ser feitos diferentes trabalhos.

Revisão Bibliográfica

É a realização de uma pesquisa bibliográfica que visa identificar, localizar, interpretar e anotar a informação existente em suportes estáveis sobre a questão delimitada.

Inicia-se na primeira etapa da estrutura interna do processo de investigação científica e só termina quando o trabalho de investigação tenha culminado, ou seja, quando os integrantes da equipa tenham realizado esta actividade em todas as etapas do processo de investigação.

O que é a Informação Científico Técnica?

A Informação Científico Técnica (I.C.T.) é o registo em diferentes formatos do conteúdo do sistema de conhecimento adquirido a partir da ciência ou técnica.

A dinâmica do mundo actual exige aos estudantes do Ensino Superior, aos professores e todos aqueles que precisem estudar, investigar e estar actualizados, que sejam organizados e estejam eficientemente preparados para enfrentar com êxito os Sistemas de Informação Cientifica.

As finais do século XVI e princípios do século XVII, período do surgimento da Ciência Moderna, a quantidade de cientistas existentes era exígua, hoje é maior e deve-se a diversos factores, entre eles:

O reconhecimento dos contributos da Ciência e Técnica para o desenvolvimento socioeconómico;

A massificação e participação humana no ramo da Ciência, o que faz com que, actualmente, se incorporem e dediquem mais pessoas ao trabalho científico e às investigações científicas;

O surgimento de novos ramos da ciência.

A I.C.T. é um importante recurso que intervém de forma decisiva no desenvolvimento e independência soberana dos países. Mediante a Informação Científico Técnica conhecemos o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias, introduzidas na prática.

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Hoje a I.C.T. é eficientemente controlada, embora o seu acesso não seja possível para todos os países e para todos os homens equitativamente por diversas razões, entre elas a socioeconómicas.

A I.C.T. é muito antiga, surgiu com a divulgação dos primeiros trabalhos científicos realizados em épocas remotas, quando a mesma era verbal; mais adiante a palavra foi levada ao papel sob diferentes formas de apresentação até que surgiram os meios electrónicos.

Cada pessoa segundo o seu nível de preparação e de desenvolvimento intelectual e socioeconómico dá solução às suas necessidades através dos diferentes meios de informação científica.

A I.C.T. tem como objectivos fundamentais:

1.- Na etapa preliminar, redefinir o tema de forma mais detalhada e equacionar as diferentes abordagens para dar explicação à hipótese;

2.- Servir para elaborar um plano de índice geral relacionando os diferentes aspectos e partes do tema;

3.- Identificar as palavras-chave que possam descrever ou estar relacionadas com o tema;

4.- Identificar todas as teorias existente sobre o tema;

5.- Indagar sobre as pesquisas que tem sido feitas sobre o tema em questão e os métodos utilizados.

Isto permitirá fazer uma ideia acerca dos diversos estudos já desenvolvidos sobre o assunto, a fim de evitar a desnecessária repetição de trabalhos, permitindo, posteriormente, a realização de comparações e análises dos resultados obtidos no processo de investigação científica.

A revolução da Internet

A Internet, rede mundial de computadores, tornou-se uma importante fonte de pesquisa para os diversos campos do conhecimento. O termo refere-se a uma interligação de carácter planetário e aberto ao público, que liga redes informáticas de organismos oficiais, educativos e empresariais.

A partir do surgimento dos sistemas electrónicos de informação, a população mundial assistiu ao incremento de diferentes e variadas formas de I.C.T., permitindo o acesso dos interessados a milhares de informações que estão armazenadas em seus Web Sites, permitindo consultar e colher elementos informativos e a troca de mensagens e informações, com rapidez, eliminando barreiras de tempo e de espaço.

São muitos os sites onde podemos obter informação fiável, e cientificamente válida, porém, necessitamos de ter já conhecimento prévio para pesquisar nas fontes certas, porque os perigos de falta de qualidade da informação fornecida, pode fazer incorrer os investigadores em interpretações erróneas. Sendo assim, é recomendável confirmar as fontes das

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informações recolhidas na Internet e não fazer uso de trabalhos que não tenham um autor referenciado.

Fontes bibliográficas

A recolha da informação deve ser realizada em bibliotecas, arquivos, agências governamentais, instituições, ou qualquer serviço de informação existente.

Tais documentos definem-se pela natureza dos temas estudados e pelas áreas em que os trabalhos se situam e encontram-se em bibliotecas, arquivos, agências governamentais, instituições ou qualquer serviço de informação existente.

Em Angola, pese embora o esforço de actualização das bibliotecas, ainda acontece haver dificuldade em encontrar literatura actualizada sobre alguns temas científicos.

Estas fontes podem ser:

Publicações Científicas Trabalhos Científicos

Dentro das publicações científicas encontram-se as comunicações científicas, artigos científicos, relatórios científicos, recensões críticas, conferências e livros científicos.

Os trabalhos científicos podem ser monografias, dissertações e teses.

Uma comunicação científica refere-se à informação apresentada em congressos, simpósios, a ser posteriormente publicada em anais e revistas.

Um relatório científico é um tipo de relatório escrito que divulga os resultados parciais ou totais de uma pesquisa. É o mais sucinto dos trabalhos científicos.

A recensão crítica é um pequeno texto que, discorrendo sobre um livro, artigo, texto ou filme com abordagem crítica, acrescenta novos elementos, contribuindo para um esclarecimento sintetizado do assunto em questão. É feita, em geral, por um cientista que, além do conhecimento sobre o assunto, tem capacidade de juízo crítico.

A conferência consiste numa exposição oral sobre um assunto científico que pode destinar-se à publicação, uma vez preparado o texto com essa finalidade.

O artigo científico é uma publicação que trata de pequenos estudos verdadeiramente científicos que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento, mas que não constituem ainda volume informativo para um livro. São publicados em revistas especializadas e permitem a reprodução da experiência realizada.

Existem vários conceitos sobre monografia dependendo da forma de análise dos autores. Num contexto geral, monografia é o tratamento exaustivo de um tema específico que resulte de uma investigação científica que se comunica de forma escrita. Deve apresentar uma contribuição relevante ou original e pessoal à ciência. Tem uma estrutura definida que deve ser cumprida de forma rigorosa.

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Um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é um género de monografia, pedido como etapa obrigatória para obtenção de graus académicos de licenciatura, apresentando algumas peculiaridades de acordo com a instituição que o solicita.

Os termos dissertação e tese aplicam-se ao trabalho final de curso de pós-graduação strictu sensu, para obtenção dos títulos de mestre e doutor, respectivamente. As diferenças de conteúdo desses trabalhos residem na complexidade e profundidade dos temas desenvolvidos, dependendo de objectivos para sua elaboração. Destaca-se, entretanto, que no caso da tese o aspecto da originalidade é uma questão fundamental a ser perseguida.

Fichas

A utilização de fichas permite ao investigador organizar eficientemente a Informação Científica Técnica (I.C.T.), o seja, colocar à sua disposição uma série de informações de obras já consultadas que, na sua maior parte não lhe pertencem, mas que lhe permitem a identificação de obras, seus conteúdos, realizar citações, analisar o material e elaborar criticas do documento analisado.

Actualmente, as fichas são utilizadas nas mais diversas instituições do mundo.

Os registos podem ser feitos em folhas pequenas de cartolina ou papel de maneira pautada ou mais modernamente através de programas de computador (Bases de Dados) que permitem que esses vários registos sejam elaborados e consultados com maior facilidade.

As fichas pautadas ou não devem preencher determinados requisitos, tais como durabilidade e tamanho. Existem fichas de diversas dimensões:

grande 12 x 20 cm; médio 10 x 15 cm;

pequeno 8 x 13 cm, que é a mais utilizada internacionalmente.

Tipos de fichas

a. Ficha bibliográfica

A ficha bibliográfica tem como objectivo identificar a obra consultada.

Três tipos de documentos são habitualmente objecto deste tipo de ficha: livros, monografias, artigos científicos e partes (capítulos e secções) de livros.

O formato usual para este tipo de ficha quando se pretende identificar um livro ou monografia é: ultimo sobrenome do autor em maiúscula, vírgula, primeiros nomes, ponto, Título da obra, ponto, edição, ponto, local de edição, dois pontos, nome da Editora, vírgula, ano da publicação, virgula, números de páginas, ponto.

Ex.:

Assunto: RECURSOS HUMANOS Local:

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CAETANO, A. Avaliação do Desempenho, Metáforas, Conceitos e Práticas, Lisboa: ISCSP Ed., 2008, 200 pp

Chama-se a atenção que:

O último apelido do autor pode ser registado em maiúscula ou não, não entanto, o critério de registo deve ser uniforme para todo o trabalho.

Quando se trata de uma obra de auditoria colectiva se adopta: Até três autores procede-se da mesma forma, separando os nomes por

ponto e vírgula (;)

Ex.: MARTINS, Pedro; Souza, Carlos F., Métodos Modernos de Gestão, São Paulo: Editora Fontes, 1994, 250 p.

Para mais de três autores menciona-se o primeiro seguido da expressão et al.

Ex.: ALTAMIRO, J. S. et al. A metodologia do ensino na graduação. 2 ed. Rio de Janeiro: Vozes Ed., 1988, 120 pp

Para entidades colectivas, em geral entra-se pelo nome em maiúscula.

Ex.: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Biblioteca Central. Normas para apresentação de trabalhos. Curitiba, 2000

O título, dada sua importância deve ser destacado, umas vezes a negrito, outras a itálico, outras a sublinhado, o importante é usar um critério uniforme.

O local de edição e a editora devem ser colocados sem ed., e quando se trata de uma co-edição ou de um livro publicado em vários locais, essa informação deve ser separada por uma barra.

Quando falta alguma informação bibliográfica essencial deverá ser registada da forma seguinte: sem data = s/d; sem editor = s.n; sem local de edição = s.l.

No caso de artigos inseridos em revistas, deverão ser assinalados com o título em letra normal, seguido do título da fonte original em itálico, volume, número da revista, e intervalo de páginas correspondentes ao artigo.

Ex.: AAKER, D. A. Organizing a Strategic Information Scanning System. California Management Review, 25(2), 1983, pp. 76-83.

Os artigos sem nome de autores (ex. artigo de jornal ou relatórios de empresas) deverão estar alfabeticamente explicitados a partir do nome da organização ou fonte responsável pelos mesmos (exemplo 6)

Ex.: HORWATH CONSULTING Portuguese Hotel Industry 1990. Lisboa, Horwath Consulting, 1991.

No caso de capítulos inseridos em obras, estes deverão ser assinalados com: Sobrenome, N. [Nome] (Ano). Título da obra, a designação In, Sobrenome, N. [Nome] da obra colectiva, Título da Obra colectiva entre aspas, Edição [quando existente]. Lugar de Publicação, Nome da Editora, p. x [ou, pp. x-xx] (exemplo 7).

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Ex.: AXELROD, R. Decision for Neoimperialism: The Deliberations of the British Eastern Committee in 1918. In: Axelrod, R. (Ed.). The Structure of Decision: The Cognitive Maps of Political Elites. Princeton, NJ, Princeton University Press, 1990, 23-55 pp.

b. Ficha de conteúdo

Enquanto a ficha bibliográfica contém só os elementos de identificação da obra, a ficha de conteúdo apresenta uma síntese bem clara e concisa das ideias principais da obra. Na sua elaboração o pesquisador pode fazer um resumo com suas próprias palavras, evitando observações e colocações subjectivas para que não fuja do assunto central da obra. Deve ser breve, sem transcrições textuais da obra e sem que seja um sumário ou índice das partes componentes do texto. Deve conter todos os aspectos que identificam a obra.

Ex.:

Assunto: Recursos Humanos Local:

CAETANO, A. Avaliação do Desempenho, Metáforas, Conceitos e Práticas, Lisboa: ISCSP Ed., 2008, 200 pp

RESUMO

c. Ficha de citação

Nessa ficha será reproduzido todo conteúdo textual da obra que interesse ao pesquisador e que se pretende usar como citação na redacção do trabalho. Também está presente toda a informação que caracteriza a obra.

Para sua elaboração devem-se observar os seguintes cuidados:

A citação tem de vir entre aspas; Após a citação, deve constar o número da página de onde foi extraída. Isso permitirá

a posterior utilização no trabalho com a correcta indicação bibliográfica;

A supressão de uma ou mais palavras deve ser indicada, utilizando-se, no local da omissão, três pontos entre parênteses e por espaços no inicio e final (…)

A supressão de um ou mais parágrafos deve ser assinalado por uma linha completa de pontos;

A frase pode ser complementada, se necessário.Prof. Dr. Ricardo Richards Mesa Dra. Maria Elena Pérez Martinez Doutora Sónia Fuertes BlancoDoutor Nuno TavaresProf. Dr. Rene Batista

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Ex.:

Assunto: Metodologia Científica Local:

MARCONI, M.A; LACKATOS, E.M. Metodologia do Trabalho Científico. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1995, 300 pp

“O conhecimento popular e o científico possui objectivo comum, mas o que os diferencia é a forma, o modo e os instrumentos do ‘conhecer’. Uma das diferenças é quanto à condição ou possibilidade de se comprovar o conhecimento que se adquire no trato directo com as coisas e o ser humano”. (pp 10).

Ficheiro do Investigador

O ficheiro é a maneira que tem o investigador de organizar as fichas elaborados durante todo o período de investigação.

Sua estruturação dependerá dos critérios do investigador. Os critérios mais utilizados são a classificação por ordem alfabética ou por assunto.

Deve ser de tal forma que permita a qualquer momento incluir novos assuntos, nova subdivisões, sem necessidade de refazer o trabalho.

Objecto de estudo

O objecto da pesquisa responde a pergunta O que é que se pesquisa? Ou que vai a ser investigado?

Expressa com poucas palavras a essência, a direcção do que vai a ser investigado. Formulamos o objecto de estudo relacionando o tema com o título.

Exemplo:

Tema: Gestão de Empresas

Título: Critério dos trabalhadores da empresa X, sobre os factores que possibilitam melhorar a gestão empresarial, para atingir o rápido crescimento económico.

Objecto do estudo: Critérios sobre a gestão empresarial

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Analisando os primeiros elementos iniciais que aparecem na primeira etapa do processo de investigação científica, é indubitável que constituam um sistema, que se inicia com a selecção do tema, revisão bibliográfica, formulação do título e do objecto de estudo.

Problema

Formular o problema científico consiste em dizer de maneira clara, explícita e compreensível a dificuldade com a qual nos defrontamos ou pretendemos resolver.

Em geral, o problema é uma questão que mostra uma situação deficitária de investigação científica, pelo que é o ponto de partida da pesquisa. Da sua formulação dependerá o desenvolvimento da investigação.

Responde a pergunta Por que investigar?

As qualidades que devem estar integradas num problema científico são:

Objectividade - Subjectividade: Todo problema tem que responder a uma necessidade real da sociedade;

Totalidade - Especificidade: O problema não pode ser impreciso. A precisão do problema possibilita determinar dialecticamente o objecto da investigação como totalidade e especificar questões particulares que interessam dentro da realidade que se estuda;

Insuficiência teórica: deve mostrar que existe um desconhecimento teórico do assunto a estudar e que se precisa resolver.

Este deve ser formulado sem ambiguidade e de forma interrogativa para facilitar a identificação do que se deseja pesquisar. Ex.:

Quais são as causas...?

O que é …?

Porquê …?

Qual é o critério dos...?

Que efeito...?

Como se relacionam...?

Em que condições...?

Qual é a via para …?

Como funciona …?

Deve expressar uma relação entre duas ou mais variáveis.

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Ex.: Na empresa X, em que condições é possível melhorar a gestão empresarial para atingir o rápido crescimento económico?

Objectivos da investigação

O objectivo é a finalidade ou metas que o investigador quer atingir com a realização da investigação e respondem a pergunta Para quê investigar?

Deve expressar com claridade e objectividade o propósito da pesquisa, para evitar ambiguidades que possam conduzir à perda da direcção da pesquisa.

Qualquer trabalho de investigação é avaliado pelo cumprimento dos objectivos através de um processo sistemático, para não se afastar dos mesmos.

Em sua formulação devem:

Expressar de modo sintético e genérico as qualidades do objecto. Ser formulados em tom afirmativo; Ser formulados em forma clara e precisa; Ser mensuráveis, verificável e comprováveis.

O processo de investigação científica pode ser realizado em diferentes etapas.

Por exemplo se o título do trabalho a desenvolver é “Algumas das principais causas de falência das pequenas empresas comerciais no município da Maianga no ano 2007”.

Então, para conhecer as principais causas é possível que precise identificar os procedimentos e métodos usados pelos gestores e depois analisar esses procedimentos comparando-os com as normas científicas de gestão empresarial.

Observe-se como a investigação pode ser progressiva, levando a esclarecer diferentes tipos de objectivos.

Um objectivo geral é o propósito geral que o trabalho pretende alcançar. Ele expressa uma acção que produz, um resultado desejado num espaço de tempo determinado e medível. É atingido ao final do processo de investigação.

Os objectivos específicos estabelecem propósitos particulares. Eles resultam da decomposição do objectivo geral em passo lógicos e sequenciados, apontando para as principais variáveis em estudo. Também são chamados parciais, precisamente porque se atingem a médio prazo. O seu cumprimento é obtido em menos tempo que os objectivos gerais. Portanto:

Somatórios específicos = geral = resultado esperado

Ex.: Para se realizar esta investigação o objectivo geral será:

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- Determinar as principais causas de falência das pequenas empresas comerciais no município da Maianga no ano 2007.

Os objectivos específicos poderão ser:

- Identificar os procedimentos e métodos usados pelos gestores das pequenas empresas comerciais no município da Maianga no ano 2007.

- Comparar os procedimentos e métodos usados pelos gestores das pequenas empresas comerciais com as normas científicas de gestão empresarial actuais.

Observe-se que devem ser formulados depois do tema e do título e iniciar utilizando um verbo no infinitivo. Exemplo: determinar, analisar, comprovar, descobrir, definir, comparar, descrever, estabelecer, explicar, caracterizar, discutir, etc.

Cada investigação deve propor uma quantidade limitada de objectivos e estes devem ser formulados desde o início da pesquisa, apesar de, durante o processo de investigação, poderem surgir objectivos novos, não previstos e surgir a necessidade de modificar algum objectivo proposto ou incluir algum novo. Agora isto não significa deixar de respeitar o que esta bem pensado e o que aparece no Protocolo.

Relação problema-objecto-objectivo

Na pesquisa científica a tríade formada pelo, problema, o objecto e o objectivo constituem um conjunto inseparável, pois não é possível referir-se a um deles sem fazer alusão aos outros.

O problema manifesta-se no objecto; o objectivo pretende resolver o problema, ou seja, transformar o objecto. Daí que exista entre estes três elementos uma relação com carácter de lei.

Hipótese

As hipóteses constituem tentativas de respostas provisórias ao problema de investigação que devem ser testadas durante a pesquisa. Surgem da observação dos factos, dos resultados obtidos de outras pesquisas, das teorias já existentes ou da intuição do pesquisador, pelo que sua formulação é de natureza criativa e requer experiência na área.

Resumindo:

Dúvida tentativa de solução

? resposta antecipada

Problema hipótese

Cumpre uma função orientadora fundamental, já que permite ao investigador confirmar ou negar a teoria.

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Se confirmamos a hipótese reafirmamos ou comprovamos a teoria que ela expressa, se não confirmamos a hipótese, é negada ou refutada pelos dados adquiridos e processados.

Há investigações científicas que não formulam hipótese. Esta ausência faz pobre o nível teórico da investigação e limita a orientação para obter os dados que é necessário buscar e encontrar.

Sua formulação deve ser simples, clara, compreensível e passível de verificação. Os conceitos empregados no enunciado de uma hipótese devem ser precisos, a fim de evitar o sentido ambíguo e, consequentemente, facilitar o processo da pesquisa.

É sempre uma afirmação e pode estar explícita ou implícita na pesquisa.

A estrutura ou composição da hipótese consiste em:

Unidades de observação: são as pessoas, grupos, objectos, actividades, países, instituições, etc. sobre os que trata a investigação;

Variáveis: são os aspectos ou características quantitativas ou qualitativas que se buscam respeito as unidades de observação;

Termos lógicos: relacionam as unidades de observação com as variáveis ou estas últimas entre si.

Há várias formas de formular hipóteses, mas a mais comum é aquela que se formula em forma de proposição mediante a seguinte fórmula:

Se “X” então “Y” , onde “X” e “Y” são variáveis.

Exemplos 1.- Se estudam diariamente, então terão bons resultados académicos.

Variáveis “X” = estudam diariamente

“Y” = terão bons resultados académicos

As Variáveis

As variáveis são aspectos ou características que têm a propriedade de poder variar, ou seja, aquilo que pode assumir diferentes valores ou aspectos. Essa variação deve ser mensurável, de forma quantitativa ou qualitativa. Ex: sexo, preferência religiosa, etc.

Elas têm que ser definidas em função do objectivo proposto e estão vinculadas com a hipótese de forma explícita ou implícita.

Existem diversos tipos de variáveis, nos vamos a estudar só três, a variável independente, a variável dependente e a variável controlada ou de controlo.

A variável independente (X) é aquela que influencia, determina ou afecta outra variável; é factor determinante, condição ou causa para determinado resultado, efeito ou consequência.

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A variável dependente (Y) consiste naqueles valores (fenómenos, factores) a serem explicados ou descobertos, em virtude de serem influenciados, determinados ou afectados pela variável independente.

Numa pesquisa, a variável independente é o antecedente e a variável dependente é o consequente. Os investigadores fazem predições a partir de variáveis independentes para variáveis dependentes.

Observe o seguinte exemplo de hipótese para tirar a variável independente e a dependente:

Os estudantes que estudam regularmente terão alta possibilidade de obter bons resultados académicos.

Variáveis “X” = Os estudantes que estudam regularmente (estudam regularmente)

“Y” = alta possibilidade de obter bons resultados académicos (resultados académicos)

Se estudam correctamente, então obterão bons resultados

X = Variável independente = estudam correctamente;

Y = Variável dependente = obterão bons resultados.

A variável independente influi sobre a variável dependente, porque os bons resultados estão em dependência do estudo correcto. Portanto podemos afirmar que se não se estuda correctamente, os resultados vão ser fracos. Isto indica-nos que quando o investigador mexe na variável independente a variável dependente varia. Nesta relação se explica que a variável independente é influenciada pelo critério do investigador e a variável dependente é influenciada pela variável independente.

As variáveis indicam-nos o que temos que pesquisar, ou seja, indicam o caminho para elaborar os instrumentos de trabalho.

Analisando a variável independente, estudam correctamente, isto indica-nos que devemos investigar se os estudantes estudam correctamente, logo temos que perguntar e observar nos instrumentos (inquéritos, entrevistas, fichas de observação, testes e outros), o modo de estudo que realizam, para saber se é correcto ou não o estudo que fazem os estudantes.

Exemplo:

Prestam atenção na sala de aula? Participam na sala de aula respondendo as perguntas do professor? Tomam nota adequadamente e perguntam quando não entendem? Quantas horas estudam diariamente? Que métodos de estudos utilizam? Realizam as tarefas e entregam-nas atempadamente ao professor? Que características apresenta o lugar ou local onde estudam? Existe boa

iluminação; ventilação e temperatura agradável?

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Prepara os materiais de estudo: livro, apontamentos, papel para fazer resumo, lápis, outros?

Estas e outras perguntas são indicadas pela variável independente à amostra, quando lhe são aplicados os instrumentos, constituindo-se as respostas que a amostra dá a estas perguntas, como os dados ou a informação que serão processados para conhecer se eles estudam correctamente e verificar ou confirmar a hipótese.

As variáveis controladas como o seu nome indica serve para controlar determinados aspectos que podem fugir ao controlo e actuar em forma negativa, afectando os resultados da investigação. Exemplo de variáveis que podem ser variáveis controladas:

Sexo; Idade; Estatura; Peso; Categoria Outras.

Exemplo: No caso da idade para estabelecer o controlo indicamos que a amostra estará integrada por crianças do grupo etário de 6 a 9 anos de idade.

Instrumentos de trabalho

Uma vez seleccionada a amostra, definem-se os instrumentos com as perguntas indicadas pelas variáveis tiradas da hipótese. Estas respostas da amostra constituem a informação que se precisa para confirmar ou não a hipótese.

Os instrumentos são elaborados na primeira etapa do processo de investigação científica e aplicam-se à amostra na segunda etapa, que é conhecida como Etapa de Execução ou Recolha da Informação.

Os instrumentos (meios especiais do conhecimento) utilizados no processo de investigação científica são muito variados e criam-se segundo as características da investigação e da amostra.

São instrumentos:

Inquéritos por questionários, entrevistas e outros; Fichas de observação; Testes; Outros existentes ou criados especificamente para a investigação a realizar.

O que é um inquérito?

Segundo Carmo e Ferreira (1998) um inquérito “é um processo em que se tenta descobrir alguma coisa de forma sistemática”, o seja, é inquirir, questionar, pedir informação da realidade social para responder a um determinado problema.

Nas Ciências Sociais os inquéritos mais utilizados são por Questionário e por Entrevista.

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O principal factor distintivo entre um inquérito por entrevista e um inquérito por questionário é a presença ou ausência do investigador no acto de recolha de dados.

Inquérito por questionário

O questionário é o instrumento mais usado para o levantamento de informação. Consiste num material impresso com um conjunto de perguntas que constituem um sistema que devem ser respondidas por escrito. Distingue-se porque a sua aplicação exclui nalguns casos, a relação de comunicação oral entre inquiridor (pesquisador) e inquirido (informante). Cabe ao pesquisador elaborar o questionário e ao informante preenchê-lo.

A escolha do questionário como instrumento de trabalho para a recolha de informação sobre um determinado tema apresenta vantagens e desvantagens relativas à sua aplicação.

As vantagens fundamentais são:

Permitir comparações precisas entre as respostas dos inquiridos devido a uniformização das perguntas;

Permitir ser aplicado a um grande número de indivíduos; Implicar menores custos; Permitir maior rapidez na recolha e análise de dados; Garantir anonimato do informante; Garantir a natureza impessoal e padronizada das perguntas.

Suas limitações são:

Poder existir pouco aprofundamento do material recolhido; Poder existir interpretações erróneas devido a dificuldades de expressão e

comunicação escrita de ambas as partes; Poder existir uma elevada taxa de respostas em branco; Não conhecer as circunstâncias em que foi respondido o questionário, pelo que as

respostas dependem da disposição do inquirido no momento do preenchimento; Excluir pessoas que não sabem ler nem escrever.

Aspectos a ter em conta na utilização da técnica de inquérito por questionário.

a. Planeamento do questionário

Nesta fase procurar-se-á delimitar o tipo de informação a obter em consonância com os objectivos definidos para o inquérito e que estão relacionados com uma ou mais variáveis a medir.

b. Elaboração do questionário

Procede-se nesta fase à construção do documento que deve:

Ter só aquelas perguntas que sirvam para recolher ou testar a informação pertinente,

Ter um tipo de linguagem acessível aos inquiridos;

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Ter uma apresentação agradável de modo a facilitar a manipulação, leitura das perguntas e respectivas respostas;

Limitar a sua extensão de modo a propiciar a totalidade das respostas em aproximadamente 30 minutos;

Codificar as questões para facilitar a tabulação posterior; Reduzir ao mínimo o número de folhas para evitar reacções negativas por parte do

inquirido; Elaborar instruções definidas e metas explicativas de preenchimento e dos

objectivos do instrumento, o que será analisado posteriormente; Evitar questões (perguntas) ambíguas pelas palavras utilizadas, pelas expressões

muito coloquiais ou por usar palavras muito difíceis para a compreensão do informante;

Começar com as perguntas mais fáceis; Usar um ordenamento lógico e encadeado na apresentação das questões ao

informante; Incluir as informações que são necessárias para outras perguntas; Ter em conta que se forem utilizadas questões (perguntas) abertas, estas devem vir

no final, junto às questões que abordem temas mais delicados para o informante.

c. Aplicação do questionário

O pesquisador pode aplicar o questionário de duas formas: realizá-lo por contacto directo ou enviá-lo pelo correio.

Quando o pesquisador entrega os questionários directamente para ser respondidos, pode esclarecer as dúvidas aos inquiridos. Pode ser aplicado pelos investigadores ou pessoas designadas pelos mesmos, que não necessariamente são membros da equipa de investigação. Neste último caso, é importante uma selecção e formação dos entrevistadores.

Os questionários respondidos pelo correio devem trazer todas as instruções e tem como principal desvantagem a baixa taxa de devolução.

d. Análise dos resultados

Esta fase inclui, além de outras operações, a codificação das respostas, o apuramento e tratamento estatístico da informação e a elaboração das conclusões fundamentais a que o inquérito tenha conduzido.

e. Apresentação dos resultados

Concretiza-se normalmente na redacção de um relatório de inquérito.

Como fazer um questionário?

Os questionários apresentam duas partes fundamentais: a Introdução e os Blocos de perguntas.

A introdução do questionário é muito importante porque dela depende o êxito ou não dos resultados obtidos.

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Deve estar presente em toda introdução:

A apresentação do investigador ou entidade patrocinadora; As razões da realização do trabalho, a importância do resultado; As instruções para o preenchimento do questionário que devem ser precisas,

breves e claras; Garantir a confidencialidade das respostas fornecidas e; Agradecer pela ajuda e o tempo utilizado em contestar o questionário.

O bloco de perguntas esta formado por:

Perguntas de identificação – pelas quais se solicitam dados gerais do inquirido que o permitem identificar e relacionar com a população (exemplo: idade, género, profissão, habilitações académicas, etc.).

Os restantes blocos de perguntas estão relacionadas com a informação indicada para medir as variáveis e podem ser:

Perguntas de informação: o objectivo é a recolha de dados sobre factos e opiniões. Perguntas de descanso: Servem para introduzir uma pausa e mudar de assunto ou

introduzir perguntas de maior dificuldade. Perguntas de controlo: Servem para verificar a veracidade de outras perguntas

inseridas noutra parte do questionário. Consiste em se perguntar um assunto já questionado de forma diferente. Se houver contradição, este questionário deve ser abortado na hora da tabulação dos dados.

Ex.: Possui forno microondas? E mais adiante: Quantos anos de uso têm seu forno microondas? Se a primeira for respondida não, a outra também o será.

Tipo de questões ou perguntas

Na construção do questionário admitem-se dos tipos de questões (perguntas):

a. Questões Abertas: Permitem ao inquirido construir a resposta segundo seu critério, permitindo deste modo a liberdade de expressão. São, claramente, as mais difíceis de analisar, pelo que devem ser usadas parcimoniosamente.

Em sua redacção deve ser evitadas as perguntas personalizadas Exemplo: na sua opinião, o que pensa a respeito de..., pois tende a provocar respostas de fuga.

Exemplo: Como se esforça por cumprir os seus deveres de estudante para atingir bons resultados académicos?

b. Questões Fechadas: São aquelas que possuem um número predeterminado de respostas, a partir das quais o informante tem de fazer a escolha que mais se adequa à sua opinião. Podem ter resposta única ou múltipla.

As perguntas fechadas de respostas únicas podem ser formuladas com dois ou mais alternativas.

1.- Exemplo com duas alternativas:

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Coloque uma cruz na resposta escolhida

1.1.- Você estuda diariamente?

Sim______ Não ______

2.- Exemplo com várias alternativas:

Coloque uma X na resposta seleccionada

2.1.- Quantas horas estudou durante a semana passada?

2.1.1._____ Não estudei;

2.1.2 _____ Mais as menos 5 horas;

2.1.3 _____ Entre 6 – 8 horas;

2.1.4 _____ Entre 9 – 12 horas;

2.1.5 _____ Entre 13 – 16 horas;

2.1.6 _____ Mais de 17 horas.

As perguntas fechadas de escolha múltiplas são aquelas em que o inquirido pode indicar várias respostas à vontade, com limite ou não de respostas.

3.1.- Assinale com uma X qual ou quais dos serviços que oferece a biblioteca da UGS utilizou no passado mês

3.1.1 ____ Não entrei;

3.1.2 ____ Consulta de livros;

3.1.3 ____ Leitura de jornal;

3.1.4 ____ Estudar;

3.1.5 ____ Navegar na Internet;

3.1.6 ____ Realizar trabalhos informatizados;

3.1.7 ____ Outros.

Estas perguntas fechadas de escolha múltiplas podem, em determinadas ocasiões, ser mistas. São uma combinação de respostas múltiplas com respostas abertas, possibilitando mais informações sobre o assunto.

Ex.:

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4. Após terminar o curso que frequenta pretende:

4.1 Fazer o mestrado ____

4.2 Arranjar emprego _____

4.3 Outra situação _______ Qual? ______

Também podem ser de escolha múltipla encadeada, onde a segunda resposta dependa da resposta primeira.

Ex.:

5. Você participa nalgum projecto social?

_____ Sim _____ Não

Se sim, em qual área?

_____ Saúde

_____ Educação

_____ Meio ambiente

Escalas de atitudes

Por vezes as questões podem ser colocadas sob a forma de escalas de atitudes, permitindo ao investigador medir atitudes e opiniões do inquirido a respeito de um fenómeno determinado.

Existem diversos tipos de escala:

a. De ordenaçãob. De Likert c. De VAS (Visual Analogue Scale)d. De intensidadee. Outras

A escala de ordenação aponta a ordem de importância para o tema estudado. Exemplo: Da lista que se segue escolha por ordem de importância (1ª, 2ª e 3ª) qual motivo que leva as empresas a actuarem de forma socialmente responsável

a. Autopromoçãob. Isenções tributáriasc. Actuar na redução das desigualdades sociais

A escala de Likert apresenta uma série de cinco proposições, das quais o inquirido deve seleccionar uma, podendo estas ser: concorda totalmente, concorda, sem opinião, discorda, discorda totalmente. É efectuada uma cotação das repostas que vai de modo consecutivo:+2, +1, 0, -1, -2 ou utilizando pontuações de 1 a 5. Se a proposição é negativa, Prof. Dr. Ricardo Richards Mesa Dra. Maria Elena Pérez Martinez Doutora Sónia Fuertes BlancoDoutor Nuno TavaresProf. Dr. Rene Batista

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a cotação tem que ser invertida. Por exemplo, concordar com a afirmação “não considero importante a disciplina Metodologia da Investigação Científica para o futuro desenvolvimento como profissional” significa uma atitude negativa na concepção do processo docente pelo que a resposta concorda totalmente recebe uma cotação de -2 e assim sucessivamente.

VAS (Visual Analogue Scale) consiste na apresentação de diversos pares adjectivos antónimos (bipolares) separados por uma linha horizontal com 10 cm de comprimento. O inquerido deverá responder com uma cruz à questão assinalando, na linha, a posição que corresponde à sua opinião.

Interessante ________________________________ Aborrecida

Se a linha é dividida em intervalos então será uma escala numérica

Na escala de intensidade apresenta-se um conjunto de respostas onde cada uma deve ser valorada segundo seu critério. Com esta escala pretende-se fazer uma valoração quantitativa relativamente à atitude do inquirido; as restantes só medem o grau de concordância ou não, relativamente às proposições de opinião.

Ex.: Numa escala de 1 a 6 atribua valores sobre as razões que levaram a inscrever no curso que esta a estudar (em que 1 significa o mínimo de concordância/falso e 6 significa o máximo de concordância/verdade)

1 2 3 4 5 6 S/RSempre gostei da profissão que vou terNeste curso não é preciso estudar muitoNão sabia o que queria, por isso vim para este cursoCom este curso consigo obter facilmente um emprego

Tipos de Questionários

Existem três tipos de questionários: abertos, fechados e mistos.

O questionário do tipo aberto caracteriza-se por apresentar todas as perguntas abertas.

O questionário fechado tem na sua construção, apenas perguntas fechadas, pelo que se facilita o tratamento e análise da informação. Para o inquirido exige um menor esforço e tempo para responder, porque não tem que escrever ou verbalizar o pensamento;

Questionários Mistos: Tal e como o nome indica caracterizam-se por apresentar perguntas abertas e fechadas.

Pré – Teste do questionário

Antes de administrar o questionário, o investigador deve proceder a um pré-teste, a fim de:

Verificar falhas na redacção das perguntas,

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Analisar se as respostas alternativas às questões fechadas cobrem todas as respostas possíveis;

Avaliar a ordem das questões; Avaliar se estão presentes todas as perguntas relevantes; Analisar o grau de exaustão do respondente.

Para tanto é aplicado sobre uma pequena amostra da população alvo ou semelhante seguida de entrevista para localizar falhas.

Exemplo de Inquérito por questionário (só tem valor como exercício pedagógico)

Caro trabalhador:

O presente inquérito tem como propósito conhecer a sua opinião relativamente ao desempenho organizacional da empresa. Os seus comentários ajudarão a melhorar continuamente o nosso trabalho. As respostas ao questionário são anónimas.

Leia atentamente cada pergunta do questionário antes de responder. As suas opiniões e percepções são importantes e pedimos que responda ao maior número possível de questões.

Obrigado por dispensar alguns minutos a preencher este questionário e a fazer valer a sua opinião.

Marque com uma (X) segundo corresponda no seu caso.

I.- Dados gerais.

1.1 Sexo. 1.1.1._______ Masculino 1-1-2 ______ Feminino1.2 Idade

1.2.1 ______ 18 – 25 anos 1.2.2 ______ 26 – 35 anos

1.2.3 ______ 36 – 45 anos 1.2.4 ______ 46 – 55 anos

1.2.5 ______ 56 – 60 anos 1.2.6 ______ mais de 60 anos.

1.3 Função que desempenha na empresa ___________________

1.4 - Anos de serviços que leva na empresa

1.4.1 ______ 0 – 5 Anos 1.4.2 _____ 6 – 10 anos

1.4.3 ______ 11 – 15 Anos 1.4.4 _____ 16 – 20 anos

II.- Responda a cada item assinalando uma, e apenas uma “X” nas questões seguintes. As opções são:Prof. Dr. Ricardo Richards Mesa Dra. Maria Elena Pérez Martinez Doutora Sónia Fuertes BlancoDoutor Nuno TavaresProf. Dr. Rene Batista

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DF= Discordo Fortemente, D= Discordo, N= Neutro, C=Concordo, CF=Concordo Fortemente

DF D N C CFA minha chefia ajuda-me a perceber o que é esperado de mimA minha chefia comunica de forma aberta e honestaA minha chefia comunica os objectivos do nosso departamento eficazmenteAcredito que minha remuneração e o meu desempenho estão directamente ligadosObtenho a formação de que necessito para efectuar um trabalho eficienteA Empresa fornece oportunidades de aprendizagem e desenvolvimentoEstou envolvido nas decisões que afectam o meu trabalhoSinto que faço parte da equipa de trabalhoA minha chefia valoriza as minhas ideias e opiniões

III.- É-lhe fornecida uma oportunidade adicional para partilhar informações com a administração. Escreva a respeito sobre qualquer questão relativa à nossa actividade, pessoal e/ou ambiente de trabalho

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Agradecemos a sua participação neste importante processo

Entrevista

A entrevista é uma técnica utilizada na investigação social que muitos autores consideram como a técnica por excelência para obter informações sobre o que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem, desejam, fazem, fizeram ou pretendem fazer.

É definida por Haguette (1997) como “o processo de interacção social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objectivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”.

Segundo Farias (2008) a técnica de entrevistas para a recolha de dados tem como vantagens fundamentais:

A obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos da sociedade; Poder ser usada com qualquer segmento da população (analfabetos ou não); Maior flexibilidade e possibilidades de repetir e esclarecer as questões ao

pesquisador; Possibilita captar a expressão corporal do entrevistado; Permite a quantificação dos dados e posterior tratamento estatístico.

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Algumas limitações são:

Dificuldades de expressão e comunicação entre ambas partes; Possibilidade de influência do entrevistado, consciente ou inconscientemente, pelo

entrevistador; Disposição do entrevistado em dar opiniões, informações ou dados relevantes; Receio do entrevistado ser identificado; Baixo controle sobre a recolha de dados; Elevada disponibilidade temporal.

Há diferentes formas de estabelecer um contacto entre entrevistado e entrevistador, pelo que é preciso adequar o tipo de contacto ao tipo de estudo a realizar. Podem ser:

entrevista pessoal/cara a cara entrevista telefónica entrevista postal, onde as entrevistas são deixadas no correio e existe o contacto

social na recolha.

Existem diversos tipos de entrevistas, que variam de acordo com o propósito do entrevistador:

a. Estruturada: É aquela que o entrevistador segue um formulário com perguntas claramente definidas e geralmente fechadas, a fim de obter uniformidade no tipo de informação recolhida e minimizar a variação entre as questões postas ao entrevistado, o que facilita a análise dos dados e permite replicar o estudo.

A entrevista estruturada não possibilita aprofundar questões que não foram antecipadamente pensadas, reduz a flexibilidade e espontaneidade durante a entrevista e não são tomados em conta as circunstâncias e elementos pessoais durante o processo.

Este tipo de entrevista utiliza-se fundamentalmente em pesquisas de controlo ou verificação de aspectos a investigar.

b. Aberta ou Não-Estruturada: É útil em estudos descritivos e na fase inicial (exploratória) da investigação e tem a possibilidade de aplicar-se a todo tipo de pessoas e situações.

Nela o entrevistador propõe o tema e o entrevistado tem liberdade para discorrer sobre o mesmo; o investigador precisa apenas de um documento escrito com o objectivo e as linhas orientadoras para a realização da entrevista.

As perguntas geralmente são abertas e podem ser respondidas dentro de uma conversa informal. Em ocasiões novas, as perguntas emergem no contexto imediato da entrevista, permitindo aprofundar o tema e ter uma boa percepção das diferenças individuais dos entrevistados.

Este tipo de entrevista requer muito tempo e seu êxito depende das capacidades e treino do entrevistador.

c. Semi-Estruturada ou Semi-Aberta. São aquelas onde existe um guião previamente preparado com perguntas fechadas e abertas, sem que se exija uma ordem rígida nas questões. O desenvolvimento vai-se adaptando ao entrevistado e o pesquisador deve ficar

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atento para redirigir a discussão quando o informante tenha “fugido” ao tema ou tenha dificuldades com ele, fazendo perguntas adicionais.

Este tipo de entrevista é muito utilizado quando se deseja delimitar o volume de informações, a fim de que os objectivos sejam alcançados; permite um tratamento sistemático dos dados e é aconselhada para entrevistas a grupos. Utiliza-se em estudos de verificação ou aprofundamento de aspectos a investigar.

d. Clínica. Serve para o estudo da conduta de pessoas e é utilizada principalmente pela psicologia e áreas terapêuticas.

Aspectos a ter em conta na utilização da técnica da entrevista

a. Planeamento da entrevista

É uma das etapas mais importantes que requer tempo e exige cuidados. Para isso:

Devem ser definidos os objectivos que se pretendem atingir com a entrevista; Deve ser elaborado o plano de entrevista com as perguntas a serem feitas ao

entrevistado e a ordem em que elas devem acontecer. Estas perguntas devem dar resposta ao objectivo proposto na entrevista. Por exemplo a variável idade pode ser perguntada de diversas formas:

- Que idade tem? ou,

- Em que ano nasceu? ou,

- A sua idade está incluída em qual dos seguintes grupos?

Menos de 20

Entre 21 e 30

Entre 31 e 40

Entre 41 e 50

Mas de 51

O investigador deve analisar qual é a que maior informação oferece para seu estudo.

É recomendável fazer perguntas curtas, sempre que possível;

Ex.: Conte-me como está a funcionar a empresa com o novo sistema de Gestão de Recursos Humanos implementado. Eu sei que aproximadamente dois anos a empresa contratou pessoal especializado para a elaboração e estabelecimento de um novo sistema

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de Gestão de Recursos Humanos. Poderia, por favor, contar como está a funcionar a empresa com o novo sistema implementado? (não fazer!)

Devem ser evitadas perguntas tendenciosas ou perguntas que sugere uma resposta específica;

Se o informante não sabe responder a uma pergunta, apresente várias opções diferentes para ele. Se você tem interesse numa das opções, coloque-a no meio das outras opções; ela não deve ser a primeira nem a última;

Deve ser realizada a escolha do entrevistado procurando seleccionar passos que tenham conhecimento do tema pesquisado e segundo o objectivo proposto. Poderá ser personalizada, no caso de amostras intencionais (quando se procura inquirir entrevistados qualificados ou fazer a escolha dos entrevistados dentro da população de forma aleatória). Pode ser individual ou em grupos, segundo os objectivos da mesma;

Deve ter em conta a disponibilidade do entrevistado fazendo a marcação da entrevista com antecedência explicitando data, hora e duração provável;

Exemplos de perguntas:

1) Há quanto tempo exerce a função de gestor?2) Que aspectos do trabalho lhe permite prever anomalias e intervir acertadamente?3) Na sua perspectiva, quais são os factores que concorrem para uma boa gestão?4) Qual o contributo do marketing no sucesso da empresa?5) Qual o meio de comunicação favorável que a empresa deve utilizar nas suas

publicidades?

b. Diante do entrevistado: Estabeleça uma relação amistosa explicando a finalidade da pesquisa, seu

objectivo, relevância e ressaltar a necessidade de sua colaboração. Escolha um lugar apropriado, quieto e sem interrupções; é preciso obter e manter a confiança durante a entrevista. Ofereça garantia ao entrevistado de sigilo nas informações;

Saber escutar é muito importante. A interferência do entrevistador deve ser mínima, este deve assumir uma postura de ouvinte e apenas em caso de extrema necessidade, ou para evitar o termo precoce da entrevista, pode interromper o discurso do informante;

É importante em entrevistas pouco estruturadas, saber respeitar os silêncios que por vezes ocorrem no discurso do entrevistado, permitindo-lhe assim reflectir sobre o que fala. Outras vezes o entrevistador utiliza o silêncio sensível (ficar em silêncio por 1 ou 2 segundos adicionais) que pode servir para encorajar o informante a falar mais;

Em certas ocasiões, repetir a última frase ou comentário do informante serve para estimular a conversa e /ou confirmar que o pesquisador entendeu a mensagem do informante, às vezes com um tom de pergunta;

A formulação das perguntas deve ser feita de acordo com o tipo de entrevista. Na primeira parte devem ser utilizadas perguntas de “aquecimento” que contribuíam a colocar ao entrevistado no tema de conversação e que ajude a estabelecer um clima de confiança em pouco tempo. Ex. Pode perguntar de seu trabalho, sua relação com o tema de pesquisa, pode intercalar alguma anedota. Ao final de momento inicial, deve ficar claro que se vai passar à realização das perguntas próprias do assunto em estudo;

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É importante durante o decorrer da entrevista fazer perguntas de focagem que encorajem o informante a falar mais: Ex: que mais? E aí? Conte mais detalhes, conte em detalhe o que aconteceu, etc. O objectivo é fazer o informante continuar detalhando o que ele estava falando ao invés de encorajá-lo a mudar de tópico. Nessas circunstâncias é preciso manter o controlo com diplomacia;

Por vezes o entrevistado precisa fazer perguntas melindrosas, as quais devem ser posicionadas no fim da entrevista, momento em que existe um maior clima de confiança e devem ser elaboradas cuidadosamente;

Diante do entrevistado não demonstre insegurança ou admiração excessiva para que isto não venha a prejudicar a relação entre entrevistador e entrevistado;

Seja objectivo, já que entrevistas muito longas podem se tornar cansativas para o entrevistado.

c. Registo de respostas

As respostas, se possível, devem ser anotadas no momento da entrevista, sem deixar que o entrevistado fique esperando sua próxima pergunta, enquanto você escreve. Tem que ser feito de forma que não implique inibições ao inquirido. O registo das respostas deve ser feito com as mesmas palavras utilizadas pelo entrevistado. Pode anotar gestos, atitudes e inflexões da voz.

O uso do gravador é um recurso útil, mas deve ser permitido pelo entrevistado, já que pode inibir seu desenvolvimento. Leve todo o material necessário para fazer observações sobre as entrevista.

d. Término da entrevista

A entrevista deve terminar num ambiente de cordialidade, agradecendo o tempo dispensado, para que o pesquisador, se necessário, no futuro possa obter novos dados, sem que o informante se oponha a isso. Pode ser feita alguma pergunta de confirmação, se necessário e pedir novos nomes de pessoas que possam também informar sobre a área de trabalho.

e. Relatório

Uma vez realizada a entrevista o pesquisador deve transcrever e analisar as informações imediatamente após a sua realização.

Pré- Teste da entrevista

É preciso realizar um pré-teste da entrevista com alguém que poderá fazer críticas e validar a operacionalidade do instrumento antes de se encontrar com o entrevistado de sua escolha.

Observação Científica

Este instrumento foi analisado no capítulo III de métodos científicos.

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A observação científica é uma técnica da recolha de dados que utiliza os órgãos dos sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade de forma consciente, sistemática e objectiva.

Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos que se deseja estudar.

Este instrumento pode ser utilizado na pesquisa conjugada com outras técnicas ou de forma exclusiva de forma a permitir obter informação do objecto de investigação tal como este se dá na realidade.

O principal problema é que a presença do pesquisador pode provocar alterações no comportamento dos observados, destruindo a espontaneidade dos mesmos e produzindo resultados pouco confiáveis.

No processo de observação estão presentes cinco elementos:

O objecto a observar; O sujeito ou observador; O ambiente que rodeia a observação; Os meios de observação (telescópios, câmaras fotográficas, microscópios,

cronómetros, câmaras de vídeo, básculas, etc.); O conhecimento que o observador possui do objecto a observar.

Requisitos da observação científica

O investigador deverá delimitar com claridade os aspectos que serão objecto de estudo já que resulta impossível observar tudo. Sua selecção responde aos objectivos da investigação. Podem ser observadas pessoas, grupos, actividades, instituições e acontecimentos sobre os quais a pesquisa versa;

A observação deve-se caracterizar por sua objectividade: observar os fenómenos como ocorrem na realidade;

Devem utilizar-se guias, escalas ou outros instrumentos que garantam a objectividade do registo durante a observação;

A observação deve ser sistemática: não resulta científico interpretar fenómenos que foram observados de uma só vez. Resulta necessário observar fenómenos em várias ocasiões para atingir interpretações objectivas;

Duração: uma observação realizada em tempo insuficiente, não permite explicar adequadamente o facto que estudamos;

Para realizar a observação requere-se que o pessoal seja experimentado e que tenha conhecimento prévio do que observar;

No momento de observar, não se deve afectar o desenvolvimento habitual do objecto de observação;

A observação deve realizar-se por mais de uma pessoa; Podem ser utilizados registos iconográficos (fotografias, filmes, vídeos, etc.); caso o

objecto de sua observação sejam indivíduos ou grupos de pessoas, devem ser preparados para tal caso.

Características do observador

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Para fazer uma boa observação é importante que a pessoa faça treinos da atenção, de forma de forma a poder aprofundar a capacidade de seleccionar informação do objecto a observar através dos órgãos dos sentidos.

Para qualquer investigador, este procedimento implica:

Saber identificar indícios, o que requer um treino continuado da atenção; Possuir uma boa preparação teórica e empírica do objecto a ser observado; Ter a capacidade para comparar o que observa com o que constitui a sua

experiência anterior e a partir de daí tirar novas conclusões.

Um treino que propomos para ajudar a incrementar o nível de atenção consiste em observar uma vela acesa e fazer 15 observações do fenómeno que está acontecer. Aconselha-se fazer observações não só com a vista como também com outros órgãos como o tacto. Para melhor descrição do fenómeno tente fazer também observações quantitativas. Faça um relatório de todo o fenómeno observado.

Tipos de observação

Segundo Marconi e Lakatos (1999), a observação científica pode ser classificada de acordo com diferentes critérios.

Segundo a participação do observador:

Não participante: Durante a observação, o pesquisador não interage de forma alguma com o objecto de estudo. Nela, reduz substancialmente a sua interferência no observado, podendo ser utilizados instrumentos de registo com prévia autorização dos elementos do grupo alvo, com vista a possibilitar o controlo das variáveis a observar. Sua aplicação seja limitada já que só se adequa a alguns objectos de estudo.

Participante: Consiste na participação real do pesquisador junto a população observada.

Em geral, são apontados duas formas:

Natural - o observador pertence à mesma comunidade ou grupo que investiga. Artificial - o observador integra-se no grupo com a finalidade de obter informações.

Segundo os meios utilizados:

Observação não estruturada: é a que se realiza sem planeamento e sem controlo anteriormente elaborado, como decorrência de fenómenos que surgem do imprevisto.

Observação estruturada: é a que se realiza em condições controladas para se responder a propósitos que foram anteriormente definidos. Requer planeamento e necessita de operações específicas para o seu desenvolvimento.

Segundo o número de observadores:

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Individual: é a técnica de observação realizada por um pesquisador. Nesse caso, a personalidade dele projecta-se sobre o observado, fazendo algumas inferências ou distorções, pela limitada possibilidade de controlos.

Em equipa: é a mais aconselhável, pois o grupo pode observar a ocorrência por vários ângulos.

Em dependência do sujeito que a realiza:

Interna: É o próprio sujeito o que se analisa a si mesmo, se auto-observa. O sujeito observa seus próprios estados psíquicos, a suas vivências.

Externa: É aquela que é realizada por observadores treinados sobre o objecto de estudo.

Directa: Entra em contacto imediato com o objecto de observação. Directa aberta: O observador não participa das actividades que realizam os sujeitos

observados. Ele é testemunho.

Directa encoberta: O observador encontra-se oculto, podendo utilizar aparelhos de filmagem, gravadores, etc.

Guia de observação e sistema de registo

A guia de observação inclui todo o conjunto de indicadores necessários a ser observados para atingir o conhecimento mais exacto do objecto em estudo. É importante que sejam características de algum aspecto importante para a investigação. Sua missão é apoiar outras informações obtidas através de outros instrumentos de pesquisa.

Para ser conceber tal instrumento é conveniente tirar partido da informação bibliográfica que o investigador possua e dos contactos efectuados no estudo exploratório, bem como um conhecimento prévio do terreno a observar.

É recomendado elaborar escalas de observação para poder comparar e quantificar os dados obtidos. A escala dependerá dos objectivos da observação e das características a ser observadas.

Um exemplo de guia de observação pode ser:

Actividade Bom Razoável Mau

Feita a observação, é importante seu rápido registo sob pena de perder elementos valiosos.

Para além do uso dos próprios guiões de observação é usual recorrer a um diário de pesquisa que é um documento aberto em que o investigador vai registando por ordem cronológica os acontecimentos mais relevantes observados, e todas as outras informações úteis a não esquecer.

O diário de pesquisa pode ser sob suporte digitalizado ou papel.

O relatório final da observação devera ser feito o mais cedo possível.

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Ficha de observação

Planear a observação significa estabelecer:

Onde: em que lugar e situação a observação será realizada Quando: em que momento será realizada Quem: Quais serão os sujeitos a serem observados O quê: que comportamentos e circunstâncias ambientais devem ser observados Como: quais as técnicas de observação e registo a utilizar

Tudo isto constitui uma ficha de observação.

Exemplo:

Ficha de observação

Título da observação:

Objecto da observação:

Objectivo da observação:

Nome dos observadores:

Data da observação:

Lugar da observação:

Hora de começo e fim da observação:

Actividade Bom Razoável Mau

5.8 População, amostra e amostragem

Uma vez definidos os instrumentos de recolha de dados, passa-se a definir sobre quem serão aplicados.

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População ou universo é o conjunto de todos os objectos ou sujeitos que concordam com determinadas características comuns. Exemplo: crianças, adolescentes, jovens, estudantes, administradores, dirigentes, trabalhadores, etc. O número de elementos de uma população designa-se por dimensão e representa-se por N. A população deve ser definida em pormenor, de tal forma que um investigador determine se os resultados que se obtiveram ao estudar uma população podem ser aplicados com características idênticas a outras.

Como caracterizar a população?

Simplesmente, estudantes universitários. Unidade de análise: Estudantes da turma OGE 11. A população está constituída por estudantes de primeiro ano, do curso de Gestão de Empresas, da Universidade Superior Gregório Semedo, período da manhã, jovens com idade compreendida entre 18 e 25 anos, a média de idades é 21 anos, a turma esta constituída por 52 estudantes, 30 meninas e 22 rapazes, entre eles 6 são trabalhadores.

No caso de caracterizar crianças, administradores ou outros que constituam unidades de análise, procede-se da mesma forma, destacando as características comuns. Caracterizar a população é muito importante, precisamente porque expressa as características de onde vamos tirar os indivíduos que formam parte da amostra. Devemos ser cuidadosos e manter as características da amostra.

Além disso, quando caracterizamos uma população, estamos delimitando a mesma e expressando valores da unidade de análise que podem ser utilizados como variáveis.

Na prática, em grande número de pesquisas, os elementos de uma população são demasiado numerosos para serem estudados na sua totalidade, sendo necessário proceder-se à selecção de uma parte ou subconjunto representativo da população que se denomina amostra, onde se aplicam os instrumentos para obter dados ou informação.

Os resultados obtidos do estudo da amostra são inferidos a toda a população, pelo que é muito importante fazer uma selecção da amostra de tal maneira que seja representativa da população, para que os resultados possam cumprir com este fim.

No sentido de resguardar a cientificidade do estudo e das condições para a comprovação da hipótese é necessário que a amostra seja representativa do universo. A representatividade da amostra está relacionada com o plano ou regra de selecção definidos para a escolha dos elementos e com a proporção de elementos seleccionados em relação ao universo.

Algumas indagações fundamentais devem ser respondidas no sentido de garantir a representatividade:

Quantos indivíduos devem formar parte da amostra? Como seleccionar os indivíduos de tal forma que todos os elementos da população

tenham possibilidades iguais de ser representados na amostra?

A resposta à pergunta “Quantos indivíduos devem formar parte da amostra?” é difícil. Se ela for muito pequena os resultados da pesquisa não poderão ser generalizados a toda a população.

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Geralmente, para pesquisas descritivas uma amostra que represente 10% da população é adequada, já que a percentagem de erro situa-se à volta dos 3 ou 4%. Se a população é pequena será necessária uma percentagem maior. Existem técnicas estatísticas precisas que determinam o tamanho da amostra.

A selecção da amostra realiza-se utilizando diferentes técnicas de amostragem. Existem dois grandes tipos de técnicas: a probabilística e a não probabilística.

Quando aplicamos uma técnica probabilística, damos a todos os indivíduos da população a mesmas possibilidades de estarem presentes na amostra. São seleccionados aleatoriamente ou ao acaso.

Para operacionalizar esse princípio é necessário, em primeiro lugar, relacionar todos os elementos que formam a população, de tal maneira que, por determinado procedimento, se possa seleccionar ao acaso qualquer elemento para a constituição da amostra. Pode-se usar desde o simples sorteio às tabelas de números aleatórios, criadas cientificamente e que aparecem em qualquer livro de estatística.

Existem diversos tipos de técnicas probabilísticas, delas só vamos a estudar duas - Aleatória Simples e a Aleatória Simples Estratificada.

A amostragem aleatória simples é a forma básica da amostra probabilística o seja, dá a cada integrante da população a mesma probabilidade de ser incluído na amostra.

O exemplo a seguir foi retirado do livro de Carmo e Ferreira (1998).

Suponha que:

i. Num curso de GRH a população é constituída por 530 estudantes;ii. A dimensão da amostra que se pretende seleccionar é de 20%. Logo, têm que ser

seleccionados 106 estudantes;iii. A partir da lista de estudantes atribui-se um número a cada estudante entre 000 e

530;iv. Utilizando a tabela de número aleatório, da qual se reproduz a título ilustrativo uma

parte, seleccionam-se os estudantes que constituirão a amostra

99116

15696

97720

11666

71628

40501

22005

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f. Como o total da população é de 530 estudantes, interessam apenas os 3 últimos dígitos;

g. O primeiro estudante a ser seleccionado é aquele a quem foi atribuído o número 116 (3 últimos dígitos de 99116);

h. O número seguinte da tabela é 15696, agora não existe nenhum estudante com o número 696 uma vez que o total da população é 530;

i. Procedendo como indicado anteriormente, selecciona-se em seguida estudantes com números terminados em 501, 005 e assim sucessivamente até ser completada a amostra de 106 estudantes.

Na amostragem aleatória simples estratificada a população é dividida, formando estratos baseados em determinados critérios ou atributos dos indivíduos como idade, sexo, etnia, profissão, etc.

Obtém-se, posteriormente, uma amostra aleatória simples de cada estrato que serão reunidas para formar a amostra propriamente dita.

Exemplo:

A população é constituída por estudantes da Universidade Gregório Semedo dos cursos de GCM, GRH e OGE. Considerou-se que as variáveis sexo e curso tinham incidência na pesquisa a ser feita, pelo que é oportuno constituírem-se estratos em relação a cada uma dessas variáveis.

População da UGS

GCM GRH OGE TotalSexo feminino 170 220 140 530Sexo masculino 150 160 130 440Total 320 380 270 970

A amostra será constituída por:

Amostra 20% = 194 estudantes

GCM GRH OGE TotalSexo feminino 34 44 28 106Sexo masculino 30 32 26 88Total 64 76 54 194

Neste tipo de amostragem, as amostras são mais representativas da população e conferem mais objectividades aos resultados. Nela os elementos que integram a amostra estão na mesma proporção em que existem na população geral.

As amostras não probabilísticas são compostas muitas vezes de forma acidental ou intencional. Não consideram a possibilidade dos indivíduos da população integrarem a amostra. Fundamenta-se nos critérios do investigador e nos objectivos da investigação. São pouco utilizadas no processo de investigação científica porque não é possível generalizar os resultados da pesquisa realizada em termos da população. Pode ser utilizada:

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Quando se estudam determinadas populações cuja listagem completa é impossível de obter;

Quando o investigador está interessado em estudar determinados indivíduos; Na fase exploratória da pesquisa.

Trabalho individual

1.- Análise o seguinte parágrafo: “A riqueza de um país não se mede somente pelo seu PIB e pela produção de riqueza material, típica das sociedades industriais, mas também pelo seu potencial de produção científica e pelo manancial dos seus cientistas”

2.- Interpreta o seguinte esquema:

3.- De uma fonte bibliográfica seleccionada pelo estudante, elabore uma ficha bibliográfica, de resumo e de citação.

4.- A partir do tema seleccionado por você:

a.- Formule um título para seu trabalho

b.- Formule um objectivo geral

c.- Formule o problema

d.- Formule a hipóteses

e.- Determine as variáveis dependentes e independentes

5.- Elabore um questionário misto, uma entrevista semi-estruturada e uma ficha de observação do tema de trabalho seleccionado pelo estudante.

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ICT INVESTIGADOR

FICHAFICHEIRO DO

INVESTIGADOR

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