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FICHA PARA CATÁLOGO ARTIGO FINAL · infância, na adolescência, conflito intrapessoal e conflito interpessoal, o que se refere a confusão entre vizinhos, briga familiar, desentendimento

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FICHA PARA CATÁLOGO ARTIGO FINAL

Título:

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS EM EDUCAÇÃO: ENTENDENDO E INTERVINDO

NO CONTEXTO ESCOLAR.

Autora Sulamita Gomes Vinharski

Disciplina/Área

Pedagogia

Escola de Implementação do Projeto

Colégio Estadual Professora Helena Ronkoski Fioravante - Ensino Fundamental e Médio

Município da

escola

Reserva

Núcleo Regional de Educação

Telêmaco Borba

Professor-Orientador

Prof. Dr. Nei Alberto Salles Filho

Instituição de

Ensino Superior

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Relação Interdisciplinar

Resumo

Este artigo mostra os resultados de estudos realizados por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná

(PDE), em parceria com a Universidade Estadual de Ponta Grossa. O processo se iniciou pela elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica, o qual norteou as ações descritas na Produção Didático-

Pedagógica e sua implementação na escola. A proposta foi desenvolvida em uma turma de sexto ano, de uma escola pública do interior do Paraná, tendo como objetivo geral entender os processos de

conflitologia escolar, buscando a relação entre elementos conceituais, metodológicos e pedagógicos para a intervenção no cotidiano escolar. A implementação ocorreu por meio de oito oficinas realizadas junto,

primeiramente, aos alunos, e em alguns momentos com os pais. Os encontros buscaram resgatar temas como diálogo, paz, respeito, cooperação, tolerância, perdão, entre outros valores, utilizando

atividades expressivas, reflexivas, e recursos audiovisuais. Observou-se boa participação dos alunos, sendo evidente em comportamentos pró-ativos e colaborativos, bem como nas relações interpessoais

demonstradas nos encontros. Sabe-se que a melhora nos relacionamentos interpessoais pode apresentar resultados a longo prazo, ressaltando o papel da escola em promover práticas e reflexões

de modo contínuo que possibilitem a compreensão da mediação e resolução de conflitos.

Palavras-chave Conflitos. Alunos. Escola.

Produção Final

Artigo

Público: Alunos do sexto ano, pais e/ou responsáveis.

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MEDIAÇÃO DE CONFLITOS EM EDUCAÇÃO: ENTENDENDO E

INTERVINDO NO CONTEXTO ESCOLAR

Sulamita Gomes Vinharski1

Nei Alberto Salles Filho2

Resumo: Este artigo mostra os resultados de estudos realizados por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE), em parceria com a Universidade Estadual de Ponta Grossa. O processo se iniciou pela elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica, o

qual norteou as ações descritas na Produção Didático-Pedagógica e sua implementação na escola. A proposta foi desenvolvida em uma turma de sexto ano, de uma escola pública do interior do Paraná, tendo como objetivo geral entender os processos de conflitologia escolar, buscando a relação entre

elementos conceituais, metodológicos e pedagógicos para a intervenção no cotidiano escolar. A implementação ocorreu por meio de oito oficinas realizadas junto, primeiramente, aos alunos, e em alguns momentos com os pais. Os encontros buscaram resgatar temas como diálogo, paz, respeito,

cooperação, tolerância, perdão, entre outros valores, utilizando atividades expressivas, reflexivas, e recursos audiovisuais. Observou-se boa participação dos alunos, sendo evidente em comportamentos pró-ativos e colaborativos, bem como nas relações interpessoais demonstradas nos

encontros. Sabe-se que a melhora nos relacionamentos interpessoais pode apresentar resultados a longo prazo, ressaltando o papel da escola em promover práticas e reflexões de modo contínuo que possibilitem a compreensão da mediação e resolução de conflitos.

Palavras-chave: Conflitos. Alunos. Escola.

1 Pedagoga da Rede Estadual de Ensino do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional/PDE - 2016, lotada no Colégio Estadual Professora Helena Ronkoski Fioravante,

Município de Reserva - PR. 2 Professor Orientador do PDE e do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Coordenador do Núcleo de Estudos e Formação de Professores em

Educação para a Paz e Convivências - NEP/UEPG.

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho resultou da implementação de uma proposta do

Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE), após ser

observada a necessidade de buscar subsídios para intervir nos relacionamentos

interpessoais entre os educandos, trazendo como enfoque "Conflitos entre alunos na

escola".

Entende-se que a escola, apesar de ser um lugar privilegiado para que as

diversas opiniões sejam manifestadas, tem dificuldade em lidar com os conflitos

vivenciados pelos diferentes sujeitos que dela fazem parte. Muito se tem falado em

violência, indisciplina, falta de limites, desinteresse em estudar, falta de estrutura

familiar e, diversas outras causas que buscam justificar tais conflitos, contudo, as

intervenções sugeridas não dão conta de subsidiá-los, o que acaba gerando

insatisfação por parte da comunidade escolar, pois reflete no desempenho escolar

dos alunos.

O processo de ensino e aprendizagem é permeado por relações e vivências

que ocorrem dentro da escola, mas também em contextos externos a esta, os quais

podem interferir no ambiente educacional. Diante disso, Aquino (1996, p.7) ao

abordar a temática de conflitos nas escolas brasileiras, afirma que demandas deste

gênero são comumente observadas no cotidiano escolar, e consideradas obstáculos

no processo pedagógico.

Frente aos inúmeros desafios da escola, ressalta-se que nem sempre as

formações acadêmicas dos profissionais da educação os preparam para o

enfrentamento de situações de violência e indisciplina que perpassam o cotidiano

escolar. Deste modo, é preciso buscar respaldo teórico, analisar melhor as diversas

situações e refletir sobre os problemas e suas causas, a fim de que as ações para

tentar amenizá-los sejam mais eficazes. Deste modo, levanta-se as seguintes

questões norteadoras deste trabalho: como entender os processos de conflitologia,

criando condições para o debate acerca das situações conflituosas apresentadas

pelos alunos no âmbito escolar? Quais ações são imperativas para construir

posicionamentos respeitosos frente às diferenças entre atores sociais participantes

da comunidade escolar?

Assim, a presente proposta teve como objetivo entender os processos de

conflitologia escolar, buscando a relação entre elementos conceituais,

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metodológicos e pedagógicos para a intervenção no cotidiano escolar. A

implementação ocorreu no Colégio Estadual Professora Helena Ronkoski

Fioravante, no município de Reserva-PR, por meio de oficinas com alunos do sexto

ano. Destas, dois encontros foram direcionados aos pais destes alunos, por

entender que os conflitos se dão inclusive nas relações familiares. As oficinas

permitiram discutir, refletir e debater sobre a escola enquanto espaço de convivência

e desenvolvimento de relações sociais, tendo em vista a construção de um ambiente

promotor da cultura da paz.

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Ao abordar a temática relacionada a conflitos, ressalta-se que estes podem

ter base em diversas causas, que vão desde o âmbito pessoal até os pautados nas

questões políticas e sociais, e essas causas geram certas consequências. Entende-

se, portanto, que os conflitos ocupam um campo muito amplo, para além das

relações interpessoais entre os cidadãos. Vinyamata (2005, p. 14), pontua muito

bem essa ideia, abrangendo as diferentes dimensões sobre o assunto:

No entanto, convém levar em conta que, com frequência, as origens e causas primeiras da maior parte dos conflitos têm de ser encontradas entre as divergências e tensões geradas no âmbito do poder, do Estado, da

própria direção das organizações, e não tanto nas ações dos cidadãos (VINYAMATA, 2005, p. 14).

A exemplo do que vem sendo discutido, quando a origem do conflito está

relacionada a miséria, a consequência pode gerar atitudes agressivas e violentas, e

por sua vez, a intervenção poderá ser voltada para programas sociais. Ou se há

conflitos no trabalho, as causas podem estar relacionadas às más condições do

trabalho, nas distribuições das funções. Se observarmos as diversas situações onde

ocorrem conflitos, é possível constatar que eles se fundamentam nos erros de

gestão das tensões e da convivência, no modo de vida que adotamos, e na

compreensão que temos do mundo (VINYAMATA, 2005).

Para se compreender os conflitos, primeiramente é necessário analisar a

origem dos mesmos e as possíveis causas de seu desenvolvimento, bem como

aspectos inerentes a situação, como sentimentos de angústia, temor, e seus

respectivos motivos. Vinyamata (2005) esclarece tal ideia citando como uma das

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razões a negligência para as necessidades do ser humano, que pode gerar

insatisfação e reações adversas, como a falta de autocontrole, falta de razão,

agressividade e violência. O autor ainda orienta quanto a intervenção junto a

situações de conflitos, ressaltando a prática de maneira pacífica, indutiva,

respeitando o ser humano em sua totalidade:

As intervenções deverão constituir-se em processos dialógicos, de negociação, mediação, arbitragem ou tratamento, utilizando os recursos adequados, trata-se de casos de conflitos interpessoais, sociais, políticos ou

internacionais (VINYAMATA, 2005, p. 15).

Quando se aborda a questão da complexidade em se trabalhar nas tensões

dos conflitos, destaca-se a importância da conflitologia, a qual se refere

propriamente a ciência do conflito e detém conhecimentos e técnicas para atender

situações desse cunho, mais especificamente sobre os processos de reconciliação.

Ressalta-se que há uma diferença entre conflitologia e mediação, pois esta é

entendida como uma técnica utilizada pela primeira. O conflitólogo, por sua vez, ao

fazer a conciliação, deve se utilizar da lógica e do raciocínio, tendo habilidades e

capacidade de olhar de forma diferente para problemas que parecem não ter

soluções. Para isso, deve estar munido de conhecimentos ímpares, que refletem

mudanças na forma de perceber o outro e a vida (VINYAMATA, 2005).

Torna-se relevante refletir sobre como o conflito faz parte da vida das

pessoas, pois, de acordo com Chrispino e Chrispino (2002), todos já vivenciaram

alguma situação de conflito na vida. A exemplo, tais situações podem ter ocorrido na

infância, na adolescência, conflito intrapessoal e conflito interpessoal, o que se

refere a confusão entre vizinhos, briga familiar, desentendimento entre alunos, entre

outras ocasiões cotidianas.

Ao trazer a discussão sobre conflitos de forma específica para o contexto

escolar, é necessário ressaltar mais uma vez, que o conflito vai além desses

espaços, pois está presente nos diversos relacionamentos interpessoais,

independente do ambiente em que se está presente. Para Salles Filho (2015, p. 5):

"Conflitos são situações onde as pessoas possuem metas ou valores divergentes,

gerando incompatibilidade entre pessoas ou grupos". Ou seja, conflitos são próprios

do comportamento do ser humano e quando nos referimos à escola, entendemos

que as situações de conflitos são muito mais evidentes devido a diversidade de

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sujeitos, e consequentemente a variedade de opiniões, interesses e objetivos que há

entre eles.

Chrispino e Chrispino (2002) apontam que, atualmente, percebe-se um

sentimento de frustração que a sociedade tem para com a escola, pelo fato desta

não corresponder às expectativas esperadas. Porém, esse sentimento é muito mais

acentuado no interior da própria escola, considerando que ela não dá conta de

atender os problemas que vem enfrentando, e que fazem parte da sociedade

contemporânea. Nesse sentido, os autores afirmam que a escola necessita de

mudanças significativas para que os estudantes tenham nova postura frente aos

seus conflitos. No entanto, tais mudanças vão além de aspectos curriculares e

estruturais da sala de aula, mas de mudanças do sistema escolar, envolvendo os

diferentes protagonistas.

Até que esse processo de transformação aconteça, ainda assim, se faz

necessário priorizar o diálogo entre os alunos no ambiente escolar, dando a

oportunidade para que estes possam expressar suas ideias, com respeito, através

de um ambiente de cooperação. Deste modo, tende-se a atenuar ações arbitrárias

que, por muitas vezes, calam as vozes dos sujeitos envolvidos na tentativa de evitar

ou eliminar o conflito, impossibilitando sua negociação e ressignificação, deixando

de promover uma cultura da paz (BRANCO; MANZINI; PALMIERI, 2012).

É preciso destacar que a escola é, simultaneamente, espaço de conflitos e

espaço de vivências/convivências, e não há como desvincular um de outro, visto que

ambos fazem parte da vida das pessoas. Salles Filho (2016, p. 303), comenta que:

"Vivências são as inúmeras experiências humanas dos indivíduos e convivências, a

ênfase dessas experiências com os outros". Logo, a diversidade presente no

ambiente escolar possibilita que grande parte das convivências aconteçam na

perspectiva de conflitos. Para o autor, intervir em ambos os domínios mencionados

(vivências/convivências) são estratégias de enfrentamento dos conflitos:

Temos que reafirmar a importância de estarmos atentos aos processos de vivências/convivências humanas, especialmente os estabelecidos nos

espaços escolares, buscando a necessidade de uma construção através de práticas de mediação dos conflitos ou baseadas em processos de ressignificação dos valores humanos, ficando alertas quando os discursos

tendam para uma "harmonia" total e geral, pois, como sabemos, isso seria praticamente impossível pelas diferenças e enfoques de um mundo plural e multicultural (SALLES FILHO, 2016, p. 311).

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Portanto, é preciso olhar com mais cuidado para os processos de vivências/

convivências humanas que se dão nos ambientes escolares, os quais estão

vinculados aos processos de conflitos. Nesse sentido, é importante estabelecer

novas práticas para mediar tais conflitos, considerando também as intervenções

dentro de uma perspectiva das vivências e convivências (SALLES FILHO, 2016, p.

311).

A presente construção teórica permite, nesse momento, refletir sobre o

espaço escolar enquanto ambiente privilegiado para desenvolver práticas dialógicas

a partir de situações de conflitos, dando a oportunidade de levar o aluno de fato a

ouvir seu colega e a se sentir no lugar do outro, entendendo seu ponto de vista e

sendo mais tolerante. As relações dentro da escola, devem ser pautadas na

construção de consensos de forma argumentada, aprendendo a partilhar ideias, não

impondo o poder de forma arbitrária e arrogante, mas aprendendo a exercê-lo a

favor e não contra, propondo maneiras mais pacíficas de viver e conviver. Saber que

a escola vai além de ensinar saberes acadêmicos, ela deve propiciar condições de

convivência mais acolhedoras, alegres, comunicativas e solidárias (ESTÊVÃO,

2008).

No entanto, sabe-se que é necessário, no ambiente escolar, a construção da

disciplina e de normas internas. Nesses processos, a construção deve ser

negociada entre seus pares, e articulada de forma democrática, de modo que

propicie a participação ativa por parte dos alunos. Jares (2005 apud ESTÊVÃO,

2008, p. 511), traz algumas orientações sobre a disciplina democrática:

Deve procurar: Coesão e a integração, autoestima positiva, autonomia e emancipação, cultivo das boas relações interpessoais e aprendizagem

cooperativa. Deve evitar: Exclusão, ameaças e dominação, medo e submissão, ridicularizarão, derrotismo e a humilhação, silêncio como regra habitual, indiferença no trato interpessoal e competição interpessoal

(JARES, 2005 apud ESTÊVÃO, 2008, p. 511).

Deste modo, a escola deve ser compreendida como importante espaço de

convivências, apresentando em seu contexto ações que promovam a participação,

alegria e cuidado mútuo entre alunos. Assim, deixará evidente seu indispensável

papel de contribuir no desenvolvimento de valores positivos na formação dos

sujeitos que atuarão para além do ambiente escolar, mas também nos diversos

espaços em que ocorrem as práticas sociais.

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Quando se estabelece na escola, ações que potencializem as capacidades do

aluno, quando são desenvolvidas ações que visam a prevenção de conflitos, e

quando o foco para resolver as questões conflituosas deixar de ser na pessoa, e

passar a ser nas causas e origens do problema, certamente haverá melhora no

clima escolar, e os próprios estudantes terão autonomia e habilidade para resolver

seus conflitos (VINYAMATA, 2005).

3 IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA, RESULTADOS E DISCUSSÃO

A proposta de intervenção consistiu no desenvolvimento de oficinas, pelo fato

destas se caracterizarem como espaços coletivos que possibilitam a reflexão sobre

determinado tema, permitindo aos seus participantes compartilhar experiências,

vivências, troca de saberes, dialogando com a realidade, refletindo e analisando

situações e acontecimentos concretos. A proposta foi desenvolvida junto a turma do

sexto ano "D" do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual Professora Helena

Ronkoski Fioravante, no município de Reserva.

É necessário destacar que todos os temas, bem como as atividades

desenvolvidas nas oficinas, foram elaborados de acordo com a proposta do projeto,

o qual teve entre seus objetivos tentar sensibilizar os alunos a respeito do seu papel

na escola enquanto ambiente de relações sociais. Nesse sentido, e considerando o

perfil dos alunos da turma em que ocorreu a implementação, buscou-se propor

ações que propiciassem o debate sobre a boa convivência entre estes alunos.

A seguir, serão descritas algumas ações da implementação, para ilustrar a

percepção geral sobre cada oficina e a participação dos alunos.

I Oficina - Apresentação. Objetivo: Contar aos alunos sobre o projeto e sensibilizá-

los sobre o tema. Descrição: Nesta oficina os alunos se mostraram bem receptivos

em relação a proposta do Projeto. Como sugerido na oficina, foi aplicado um breve

questionário para verificar a percepção dos alunos sobre o tema "Conflito",

observando que tiveram um pouco de dificuldade para respondê-lo. Após conversa

com a turma e por meio dos comentários sobre o curta-metragem "Bridge", pode ser

percebido que eles compreenderam a importância do diálogo entre as pessoas,

principalmente no ambiente escolar. O primeiro encontro foi muito agradável, pois

permitiu estabelecer o primeiro contato com os alunos, sendo momentos de

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aproximação com a turma, a qual demonstrou bastante entusiasmo em participar do

projeto.

II Oficina- Dialogando com os pais. Objetivo: Trazer esclarecimentos sobre o projeto

de intervenção e de como este poderá contribuir para compreender melhor os

conflitos que acontecem na família. Descrição: O encontro com os pais foi um

momento importante pois, além de trazer esclarecimentos sobre o trabalho a ser

desenvolvido com os alunos, também possibilitou conhecer melhor os pais e ainda

saber algumas informações sobre seus filhos. A apresentação do projeto foi feita por

meio de slides, utilizando também vídeos para elucidar melhor o tema. No final da

oficina houve um momento bem agradável de confraternização entre os pais.

Durante a conversa com pais, os mesmos comentaram sobre a relevância de

abordar questões como respeito e diálogo entre os alunos, visto que infelizmente a

falta de educação e o desrespeito são atitudes cada vez mais presentes no

comportamento das pessoas.

III Oficina - Conflitos. Objetivo: Trazer exemplos de conflitos para a sala de aula,

propiciando a reflexão dos alunos sobre as diversas situações, e quais atitudes são

imperativas para o encaminhamento dessas situações. Descrição: Durante o

desenvolvimento das ações propostas nesta oficina, é importante destacar o

desempenho dos alunos em algumas atividades. Por exemplo, na atividade em que

deveriam criar uma história, propondo uma solução para as situações que

representassem algum conflito, os alunos foram criativos, demonstrando

compreensão sobre a importância de buscar uma solução de maneira pacífica para

alguns problemas. Entretanto, na atividade em que eles próprios deveriam simular

uma situação, tendo um outro colega como mediador, muitos alunos utilizaram

palavras agressivas em relação ao outro. Percebeu-se que alguns alunos tendem

até mesmo em apresentar um comportamento agressivo. Isso reforça a necessidade

de desenvolver práticas na escola que estimulem o respeito ao próximo, a tolerância

e o diálogo entre os colegas, a fim de tornar a escola um espaço de convivência

mais agradável.

IV Oficina - Vivências interiores. Objetivo: Entender como os alunos se percebem e

percebem seus colegas, no que se refere a características e atitudes, diante das

situações vivenciadas no dia a dia. Descrição: Nesta oficina, uma das atividades foi

realizada com o recurso de um espelho, momento em que os alunos deveriam

descrever a si mesmos, sendo observada a dificuldade e timidez por parte da

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maioria de falar de si mesmo em frente aos colegas. Complementando tal etapa, foi

realizada a atividade "Desenho de um boneco", na qual deveriam inserir as

características físicas e pessoais. É importante destacar a maneira como muitos

alunos tiveram a imagem de si mesmo, sendo que alguns apresentaram uma

percepção negativa e até mesmo de inferioridade, justificando a dificuldade de

desenvolver a proposta, já relatada anteriormente. Foi necessário ressaltar aos

alunos que todos são diferentes, e que isso torna a vida interessante e mais bonita.

O vídeo "Normal é ser diferente", passado no final da oficina, contribuiu muito para a

discussão.

V Oficina - Paz. Objetivo: Esclarecer que apesar das circunstâncias de violência, é

possível escolher a paz. Descrição: Partindo da premissa que, embora a violência

esteja presente na vida das pessoas, buscou-se mostrar aos alunos que cada um é

responsável em tornar a paz uma realidade, e que não há solução para os

problemas com atitudes violentas. No desenvolvimento da oficina, observou-se

como muitos alunos são sensíveis a algumas atividades, como por exemplo, quando

a música foi trabalhada em forma de poesia, e também quando tiveram a

oportunidade de ouvi-la e cantá-la. Foram momentos positivos no sentido de haver

harmonia entre os alunos. Durante as atividades e no diálogo com a turma, alguns

alunos se destacaram em seus comentários no que se refere a importância de ter

atitudes não violentas no dia a dia, citando exemplos do bairro e até mesmo de

parentes próximos, os quais erraram por ter escolhido atitudes violentas. Nesse

sentido, ressalta-se mais uma vez a importância do trabalho com oficina, pois são

momentos que possibilitam aos participantes compartilhar experiências e vivências

que fazem parte de suas realidades, relacionando-as com o tema discutido.

VI Oficina - Valores. Objetivo: Trabalhar com os alunos alguns valores essenciais

para a vida, como por exemplo, a questão do respeito como atitude imprescindível

ao comportamento do ser humano. Descrição: Por meio do trecho do filme "Cordas",

foi possível levá-los a reflexão sobre o amor ao próximo, a importância de acolher ao

outro e respeitá-lo em suas diferenças. A construção do vocabulário de significados,

atividade em que os alunos deveriam encontrar os sinônimos das palavras que

demonstrassem atitudes de respeito, também foi bem significativo. A turma

demonstrou ter noção das atitudes de respeito, de como agir no ambiente escolar,

com colegas, professores e funcionários, embora alguns tenham mais dificuldades

de colocar em prática alguns comportamentos. Foi novamente trabalhado com

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música, cujo tema foi sobre amigo. Alguns alunos compartilharam experiências

pessoais, como também em relação a conflitos interpessoais e seus desfechos. Mais

uma vez a atividade que aconteceu por meio de uma música mexeu com a emoção

de alguns alunos, sendo necessário conversar individualmente com estes. Tais

atividades tendem a explorar algumas emoções, favorecendo algumas práticas

importantes para o fortalecimento das relações sociais, como pedir perdão,

demonstrar apreço pelo colega não só por palavras, mas por meio de gestos como,

por exemplo, de um abraço.

VII Oficina - Convivência. Objetivo: Compreender sobre a importância de conviver

junto ao próximo com atitudes de respeito, tolerância e amor. Descrição: Esta oficina

possibilitou a reflexão de atitudes imprescindíveis para a boa convivência entre eles.

A dinâmica "Objeto da palavra", a qual enfatizava que um colega só poderia falar

depois que seu colega lhe passasse o objeto selecionado, enfatizou a importância

de respeitar o próximo em todos os sentidos, inclusive quando estiver falando. Foi

um momento em que os alunos puderam ouvir uns aos outros de maneira

respeitosa, destacando uma qualidade do seu colega. Comentou-se sobre a

importância de ser gentil quando falar com o próximo, de ouvi-lo com atenção,

ressaltando o respeito nas palavras e atitudes. Ainda nesta oficina, foi passado o

trecho do filme "Procurando Nemo", oportunizando que os alunos conversassem

sobre algumas questões importantes como valorizar amigos, família, respeitar as

pessoas, as regras, obedecer aos pais, trabalhar em equipe, entre outras atitudes

positivas e que ajudam a melhorar a convivência com o próximo. É de extrema

importância refletir com os alunos atitudes e sentimentos que favoreçam os

relacionamentos interpessoais, para que diminua as posturas de violência e

desrespeito dentro do ambiente escolar e na própria sociedade. Para finalizar, foi

aplicado novamente o questionário utilizado no primeiro encontro, a fim de verificar a

compreensão dos alunos sobre o tema "Conflito", e as atitudes necessárias para

uma boa convivência entre eles.

VIII Oficina - Encontro pais e filhos. Objetivo: Promover momento de interação entre

alunos e seus respectivos pais ou responsáveis, compartilhando as experiências

mais significativas realizadas no desenvolvimento das oficinas. Descrição: Essa

ocasião foi de extrema importância pois permitiu momentos de descontração e

aproximação entre pais e filhos, compartilhando vivências e conceitos expressivos

observados nas intervenções. Foram feitas algumas apresentações pelos alunos,

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utilizando músicas e coreografias, em que as letras e os gestos expressavam

mensagens relacionadas aos valores abordados nos encontros. Também foram

expostos cartazes e outros trabalhos realizados pelos alunos, os quais relataram aos

pais os significados de suas produções. Os alunos homenagearam seus pais,

entregando um cartão destacando as qualidades dos mesmos, considerando que foi

enfatizado durante as oficinas a importância de valorizar as qualidades do outro,

contribuindo para fortalecer ainda mais as relações afetivas.

Resultados da Proposta

Conforme relatado nas oficinas I e VII, foi aplicado o questionário com a

finalidade de observar a evolução antes e após as intervenções realizadas. Na

avaliação inicial, constatou-se que alguns alunos se referiram ao conflito como

"briga" (ES)3; outros, a uma "coisa negativa, ruim" (ES2); e outros escreveram que

não sabiam do que se tratava. Quando foi solicitado que descrevessem uma

situação de conflito, a maioria escreveu que não sabiam, ou citaram agressões

físicas. Na questão que perguntava sobre como as pessoas deveriam agir em uma

situação de conflito, alguns escreveram que não sabiam, ou citaram frases, como:

"não continuar a briga" (ES3); "deixar pra lá" (ES4); "não sendo irritado" (ES5);

"ignorar" (ES6); "sem briga" (ES7). Nessa questão, no questionário aplicado após as

oficinas, os alunos demonstraram compreensão sobre a importância da conversa, do

diálogo e do respeito ao próximo. Em algumas respostas escreveram frases como:

"conversar e resolver a situação" (ES8); "saber conversar" (ES9); "ouvir o outro"

(ES10); "não brigar" (ES11); "dialogar e ver que ninguém é igual a você" (ES12); "pedir

desculpas" (ES13); "conversar com calma e respeito" (ES14). Dessa forma, verifica-se

o quanto é importante desenvolver ações na escola que potencializem atitudes

positivas dos sujeitos, auxiliando na mudança de concepção e postura a respeito

das situações de conflitos, as quais são comuns no ambiente escolar.

GTR: Atendendo a uma das normas do Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE), foi ofertado aos professores da rede pública do Estado do Paraná o curso de

Formação de Grupo de Trabalho em Rede – GTR, o qual se caracteriza pela

3 Os estudantes do Sexto ano D foram nominados ocasionalmente como ES, ES2, ES3, E4 ..... En,

pelo fato dos relatos terem sido reportados por um grupo de alunos.

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interação a distância entre o professor que participa do Programa de

Desenvolvimento Educacional - PDE e os professores da rede pública estadual.

O GTR tem como alguns objetivos propiciar aos seus participantes o

redimensionamento da prática pedagógica, a partir das produções do professor PDE

e ainda permitir que contribuam na Produção Didático-Pedagógica, a fim de que seu

projeto possa encontrar sustentação na prática pedagógica4.

Assim, ressalta-se a relevância deste curso, pois, além oportunizar a

socialização com os demais colegas a respeito do tema apresentado no Projeto de

Intervenção Pedagógica e das ações descritas na Produção Didático-Pedagógica,

permitiu perceber como os conflitos são cada vez mais frequentes em todos os

espaços escolares, fato este comprovado no comentário de uma participante:

As relações entre os alunos no meu colégio são muito conflituosas.

Diariamente atendemos muitas situações que envolvem bullying, agressões verbais e físicas. Os alunos se mostram cada vez menos intolerantes e são agressivos por motivos nem sempre compatíveis com o que causou o

conflito. (P1)5

Fica também evidente a necessidade dos educadores em buscar respaldo

teórico e compartilhar ações positivas, a fim de tentar amenizar os problemas

decorrentes da falta de diálogo e respeito entre os alunos na escola.

Destaca-se ainda, as ricas contribuições dos participantes, com sugestões de

materiais para leitura, recursos pedagógicos, bem como de ações realizadas em

suas respectivas escolas, as quais já têm colaborado para o enfrentamento das

diversas situações conflituosas no ambiente escolar.

Discussão

Conforme o desenvolvimento das Oficinas, foi possível verificar maior

participação dos alunos nas atividades propostas, bem como postura ativa para

atender as tarefas solicitadas. Menciona-se também, nesse sentido, a realização de

atividades expressivas, como a confecção de cartazes com frases e figuras a

escolha dos alunos e, do mesmo modo, expressividade corporal através de músicas

4 Disponível em: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=503>. Acesso em: 07/09/2017. 5 Um dos professores participantes do GTR (Grupo de Trabalho em Rede) foi nominado

eventualmente por P1.

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e danças, também trazidas pelos educandos. Observou-se participação significativa

dos alunos no domínio das relações interpessoais, demonstradas por meio de

expressões de sentimentos positivos, de respeito ao próximo e cooperação nas

atividades em grupo.

Desse modo, retoma-se um aspecto que foi abordado na construção teórica

do presente trabalho, que norteou a preparação e implementação da proposta. A

possibilidade de intervir nos processos de vivências/convivências é considerada boa

estratégia para favorecer os relacionamentos interpessoais, a diminuição do

desrespeito, da violência e o enfrentamento dos conflitos (SALLES FILHO, 2016).

Para o autor, as relações estabelecidas dentro do espaço escolar devem ser

baseadas na cooperação, na integridade, no respeito, priorizando também os

sentimentos e as emoções, que muitas vezes são deixados de lado, para enfatizar a

competitividade e o individualismo, infelizmente tão presentes no cotidiano escolar.

No desenvolvimento das oficinas, inclusive pelo fato destas serem espaços de

trocas, intervindo na perspectiva da horizontalidade, ficou evidente as relações de

cooperação e participação por parte dos alunos.

A escola configura-se como ambiente privilegiado que possibilita ao indivíduo

relacionar-se com seus pares, superando alguns comportamentos egoístas por meio

da cooperação, compreendendo o outro como seu igual (VIDIGAL; OLIVEIRA,

2013). Promover atividades que aproximem os alunos uns dos outros, que os façam

considerar e respeitar a opinião do colega, imbuídos do mesmo objetivo e

sentimento, certamente fortalecerá positivamente os relacionamentos interpessoais

entre eles.

Considerando a afirmação de Chrispino (2007, p. 16): "O conflito, pois, é parte

integrante da vida e da atividade social, quer contemporânea, quer antiga". Logo,

ressalta-se a importância de se trabalhar nas relações de convivência, refletindo por

meio de vivências conflituosas entre os alunos, as consequências de suas atitudes e

escolhas.

Portanto, reconhecer a existência dos conflitos existentes no espaço escolar

como inevitáveis, e ao mesmo tempo, uma manifestação natural nas relações entre

os sujeitos, traz vantagens, como: "[...] ensina a ver o mundo pela perspectiva do

outro [...] permite perceber que o outro possui uma percepção diferente; racionaliza

as estratégias de competência e de cooperação [...]" (CHRISPINO, 2007, p. 17).

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Essa declaração do autor reforça a importância de ter utilizado como recursos

nas intervenções, as dinâmicas em grupos, simulações de situações de conflitos,

construção coletiva de regras de convivência, enfim, atividades que enfatizaram

também o favorecimento das relações coletivas. Nesse sentido, foi ressaltado a

importância do diálogo, do respeito, da tolerância, e outros valores imprescindíveis

para a boa convivência entre os alunos, buscando construir uma cultura de paz no

contexto escolar. Acrescentando a presente discussão, Vinyamata (2005) destaca

que os inúmeros conflitos nos remetem a pensar em soluções e modos de intervir de

maneira que as pessoas sejam capazes de resolver seus próprios problemas. Como

o próprio autor sugere, "pacificar é contribuir para isso" (p. 26). Assim, o resgate de

valores e o incentivo ao diálogo são ações que estimulam a posição ativa do sujeito

frente as situações de conflitos.

Destaca-se também a participação familiar nesse trabalho, evidenciando que

trazer a família para escola para compartilhar objetivos, anseios, estabelecendo uma

relação de diálogo com esses pais, é de extrema relevância, fortalecendo ainda mais

o trabalho escolar. Segundo Jares (2008, p. 26): "A família é o âmbito inicial de

socialização e onde aprendemos os primeiros hábitos de convivência". Portanto,

compartilhar com eles o objetivo deste trabalho, com certeza contribuirá para a

melhora nos relacionamentos interpessoais em casa também.

Sabe-se que a mediação de conflitos intervém na dimensão da subjetividade,

e que nem sempre os resultados são mensuráveis. Em se tratando desse contexto,

ressalta-se que as ações não trazem efeito imediato, pois dependem da assimilação

do sujeito e que tal aspecto reflita em suas atitudes. Compreende-se também que

tentar intervir nas relações conflituosas não é uma tarefa fácil, pois há situações

complexas, que exigem esforços de outras instâncias e não só das pessoas

envolvidas (VINYAMATA, 2005).

Vinyamata (2005) traz uma contribuição importante ao justificar que os

conflitos serão uma constante na vida das pessoas. O autor compreende que

sempre existirá a urgência de satisfazer determinadas necessidades de

subsistência, que, por sua vez, desencadeiam sentimentos de medo e angústia. E,

para responder a essas diversas situações que são próprias da existência humana,

as pessoas apresentam certas atitudes, as quais podem ser pautadas em agressão

e violência.

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Nesse sentido, utilizar estratégias que visem a compreensão de que o diálogo

e o respeito devem permear as relações em todas as situações, pode favorecer a

capacidade de desenvolver as relações interpessoais e aspectos inerentes a estas,

como a boa comunicação, empatia, emoções e sentimentos, melhorando as

situações de conflitos no espaço escolar. Deste modo, Vinyamata (2005, p. 28)

ainda destaca que "aprender a viver em paz, é basicamente, um exercício de

transformação". E essa transformação requer mudanças profundas na relação com o

outro e consigo mesmo, mudança de valores, de convicções e nas atitudes do dia a

dia. Cientes de que tais princípios foram norteadores no desenvolvimento da

implementação, espera-se que os alunos tenham compreendido e os coloquem em

prática, sempre que necessário, amenizando o clima de tensão originados pelos

conflitos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do desenvolvimento do presente trabalho, destaca-se a importância

da realização de todas as etapas do mesmo. A construção teórica possibilitou a

compreensão sobre a temática, e pode nortear a fase de elaboração e

implementação da proposta. De modo geral, os resultados quanto as intervenções

puderam ser observados principalmente quando esta se desenvolveu, por meio da

participação dos alunos de acordo com os preceitos de diálogo, respeito,

cooperação, expressão de sentimentos e promoção de atividades que favorecessem

os relacionamentos interpessoais.

No entanto, por se tratar de um tema que depende da assimilação do sujeito,

sabe-se que demais resultados relacionados a maior participação dos alunos em

situações que necessitem a mediação e resolução de conflitos poderão ser

observados ainda no futuro, nas demandas que serão próprias das convivências

entre eles.

Compreende-se o papel da escola para além de suas funções pedagógicas,

mas também enquanto espaço que busca o desenvolvimento de cidadãos. Nesse

sentido, a tarefa de abordar sobre a mediação de conflitos nesse meio é de extrema

relevância, pois discutir sobre tal temática junto aos alunos propicia também o

pensamento crítico, a formação para a democracia, a prevenção de violência e um

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ambiente de melhor convivência. Logo, estas práticas podem ser disseminadas por

parte dos estudantes nos demais contextos em que estão inseridos.

Ressalta-se que o resgate de valores como respeito, responsabilidade e

cooperação deve ser realizado no cotidiano das relações interpessoais, mediadas e

principalmente vivenciadas por todos os sujeitos da escola, como alunos,

professores, funcionários, equipe pedagógica e direção. Deste modo, evidencia-se

que estas práticas poderão ser aplicadas para além da realização da presente

proposta, sendo necessária a continuidade de discussões e reflexões no contexto

escolar.

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