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EM OUTRASLÍNGUASnão existe umapalavra que traduzacom a amplitudenecessária o quesignifica saudade.algumas trazemconceitos próximos.em inglês, saudadeé I miss you, que

quer dizer sinto sua falta; em Francêssouvenir, que significa lembrança; emitaliano ricordo affetuoso, recordaçãoafetuosa: em alemão, a palavra utilizadapara tentar se descrever o conceito desaudade é sehnsuch.No Brasil há,inclusive, o dia da saudade, que écomemorado oficialmente em 30 dejaneiro

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Existência

A saudade, a nostalgia e o inefávelProvenientes de um tempo passado que traz lembranças, a saudade e a nostalgia, sempre mote decanções e poemas, nos tiram do automatismo da vida vivida neste instante e nos levam a contatar ainterioridade com mais intensidade

Renato Nunes

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É própria do ser pelo qual nutrimos afinidade a existência de uma considerávelrelação de proximidade, que estimula a convivência regular dos encontros. Por isso,quando tal ser se ausenta, sentimos a marca inflamada da saudade, um trágicovazio existencial que o usufruto de nenhum bem material pode preenchersatisfatoriamente, pois tal disposição interior nasce de uma experiência pura doreconhecimento da alteridade do ser ao qual nos afeiçoamos. Nelci Silvério deOliveira aponta que a saudade consiste em "abraçar e saborear lentamente a

presença de uma ausência, a ausência de uma presença"10. A saudade permitereconhecer o digno valor da toda condição que, de algum modo, nos complementaexistencialmente, circunstância que demonstra a matriz ética subjacente nessadisposição sentimental. Maria Teresa de Noronha postula que, "Sendo a saudadeuma realidade do Ser, ela existe, assim pensada na relação com o outro, porque éaí que ela assume extensão e corporeidade na palavra que comunica e na obra que

realiza"11.

A saudade revela talvez o traço mais sublime do âmago humano em suaconstituição cotidiana no mundo ao conceder para a figura do outro o nosso amor,afirmando assim a plena dignidade do ser que nos complementa; desejamos ter ooutro de volta para que possamos nos tornar preenchidos. Maria Teresa de Noronhasalienta ainda que o estado saudoso, não redutível apenas à mera análise

psicológica, possui na sua origem elementos que ultrapassam o domínio do comportamento individual, insinuando- -se, por

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essa razão, na esfera essencial da natureza humana e inscrevendo-se na esfera da ontologia12. Parecer similar aoapresentado por Eduardo Lourenço,quando postula que a saudade "não é da ordem da representação, mas da pura vivência.A consciência 'saudosa' não joga consigo mesma, é palco de um jogo. Não é o eu que contempla a saudade, analisa-a ou jogacom ela; é ela que faz dele joguete, que o avassala: o eu converte-se, por inteiro, em saudade. Não estamos aqui no plano da

psicologia ou mesmo da gnosiologia, mas no plano da ontologia"13. A saudade, desse modo, manifesta-se como um amor quenão se expressa a partir de aspectos concretos ou mesmo físico-orgânicos, mas sim em dimensões mentais ou intencionais;tais vivências de coisas, lugares e pessoas continuam a reviver na recordação própria da saudade. Para Dalila L. Pereira daCosta, a saudade "nasce sempre desse processo dialético, como conflito: está entre um estado passado e outro atual,através da desunião entre uma vivência usufruída antes e sua ausência de agora, entre dois seres separados, pelo tempo ou

espaço"14.

A saudade é reveladora do sentimento de ausência e de que precisamos o outro de volta para

preencher o vazio desta falta

A lembrança não é mera revisão do passado; ela comunga do ato de saudade e por isso participa de um tempo de presentedesejoso de recuperação, enraizando assim o passado no presente, na esperança de revivê-lo. A saudade, mediante a açãoda memória, faz reviver a intensidade do passado e reacender a esperança do futuro. Eduardo Lourenço diz que "todo o nosso

ser ancorado no presente fica, de súbito, ausente. Sentimo-nos como um rio que deixa de correr e reflui para a nascente"Nessas condições, a saudade nos concede a expectativa de que poderemos, no porvir, saciar a carência pela ausência daquiloque amamos desfrutando novamente de sua presença, decorrendo disso o ato que denominamos popularmente "matar asaudade". Esse sentimento se constitui então como uma espécie de força interior que nos impulsiona a perseverar naexistência para que possamos obter novamente, em um dado momento do futuro, a felicidade que perdemos quando as coisasamadas nos foram subtraídas pelas circunstâncias da vida, das quais nem sempre temos o controle.

A saudade, apesar de muitas vezes gerar ansiedade pelo desejo de rever o quanto antes aquilo que amamos, nos dá tambémo ímpeto de lutar contra as adversidades cotidianas, para que o instante da felicidade do reencontro entre os dois amorespossa se efetivar em sua máxima plenitude. Desprovida de saudade, a vida humana decerto seria miserável, pois estaríamosreduzidos a um presente instantâneo grosseiro, automático.

Nostalgia e sentimento de perdaA nostalgia, por sua vez, palavra derivada do grego por meio da contração de nostos (vontade de regressar) e algia (dor),representa originalmente o pungente desejo humano de retorno ao lar, como Odisseu em seu célebre périplo de vicissitudesmaravilhosamente narrados por Homero na Odisseia.

A nostalgia, em sua acepção existencial, também se filia ao poder da memória em recordar as valiosas vivências do passado,distinguindo-se da saudade. No entanto, pelo fato de que, quando o indivíduo reencontra lugares ou pessoas queridas, otormento moral despertado pela lembrança maravilhosa de outrora não atenua o sentimento de perda, mas antes o intensifica,pois o ser nostálgico toma ciência de que os momentos de gáudio não mais retornarão. Dessa maneira, a nostalgia secaracteriza como a dificuldade de afirmação das condições da vida presente em favor de um passado repleto de encanto ealegria, talvez inexistentes na própria atualidade daquele que direciona o enfoque de sua consciência e de sua afetividade paraos tempos pregressos.

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A nostalgia significa a dificuldade em aceitar o presente; é quando se dá mais

ênfase ao passado, algo que já aconteceu e foi permeado de alegrias

Muitas paisagens, músicas, aromas, podem evocar as lembranças do passado.

O indivíduo nostálgico considera que a felicidade e stá, emespecial, situada no passado; Este somente existe n a memóriacomo recordação saudosa

O indivíduo nostálgico considera que a felicidade está, emespecial, situada no passado; este somente existe na memóriacomo recordação saudosa, como uma lembrança pungente norecôndito do âmago, não mais como um ato concreto. EduardoLourenço argumenta que a nostalgia, "sofrimento por conta de umbem perdido que era constitutivamente nosso, desvenda-se erevela-se como um sentimento essencialmente negativo, espécie

de luto que o tempo desvanece sem o deixar esquecer"16.

O estado de felicidade inebriante do passado somente pode serrevisitado pela memória, que registra dignamente esse momentoespecial. Se porventura o ser amado pode ser realcançado nopresente, a vivência singular que ele provocou no ânimo saudosoem determinado momento é inalcançável. No contexto daexperiência nostálgica, podemos ainda tornar a contemplar osaprazíveis locais de alegrias do passado, mas aqueles temposnão mais. Casimiro de Abreu apresenta magistralmente essadisposição nesses versos encantadores: "Oh! Que saudades quetenho/ da aurora da minha vida,/ da minha infância querida/ que osanos não trazem mais!/ Que amor, que sonhos, que flores,/naquelas tardes fagueiras,/ à sombra das bananeiras,/ debaixo

dos laranjais!"17

A nostalgia é, nessas condições, um sentimento de suave tristezadecorrente da contemplação do passado belo, que geralmentemotiva o abatimento das disposições ativas da vitalidade de umhomem; essa inclinação pode levá-lo inclusive a sofrer terríveistormentos morais na condução de sua vida prática, como

decorrência do anseio de reviver novamente as experiências do passado tais como elas existiram, desconsiderando assim oavanço do tempo cronológico e dos acontecimentos em sua própria vida. Todavia, se não existisse a nostalgia, assim comomencionado sobre a saudade, a dimensão simbólica da existência humana se tornaria empobrecida, pois seríamos regidosapenas pela ação mecânica de um presente automático, desprovido de toda lembrança do passado, das recordações felizesde um tempo que já se foi e que de alguma maneira moldam nossa vida atual.

Um aroma, uma melodia, um local ou mesmo uma palavra podemevocar a manifestação da recordação dessa doce lembrança naatualidade, fazendo-nos rememorar cada instante dessa vivência

como se a estivéssemos revivendo concretamente18.Conseguimos reproduzir nuances afetivas da experiência deoutrora, impressões psicológicas similares às originais. Podemosreencontrar os lugares amados, mas os dias que proporcionaram

tal júbilo não podem retornar extensivamente19. Os atos felizes dopassado se encerram em sua singularidade, incapaz de serrepetida como tal, pois cada momento é único e isso motivanossa tristeza, decorrente da impotência de reter essa vivênciatão especial e aprazível.

A nostalgia pode impedir o desenvolvimento da flexibilidadecriativa necessária para a realização de novos atos edificantes nopresente, tornando-nos assim prisioneiros de um passadocristalizado pela memória que recalcitra na recordaçãointermitente dos eventos. Entretanto, isso não significa uma

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Mas os instantes felizes vividos neste tempo se fecham em si mesmos, são

incapazes de se repetir, pois cada momento é único

proposta de depreciação axiológica da nostalgia, pois esta é umaexperiência afetiva autêntica, constituinte da formação existencialnão apenas de indivíduos, mas também de sociedades. Alémdisso, a nostalgia representa a dignificação da consciência histórica do ser humano, conforme a percepção da temporalidadeque rege sua própria vida. Apregoa-se no senso comum que "quem vive de passado é museu": nada mais leviano e vazio, poistudo aquilo que hoje somos é fruto de nossas ações pregressas, que moldaram paulatinamente nossas qualidades einterações com a realidade circundante. Cabe-nos dar novo significado, no presente, à herança construtiva das nossas ações,e assim tornar plena de dignidade nossa vida pela compreensão de que as recordações dos jubilosos momentos precedentesestão ainda alojadas em nosso âmago, servindo sempre de inspiração para nosso aprimoramento no presente.

1 Ressalto que uma obra de grande valor filológico para o estudo do conceito de saudade e sua evolução histórica e literária na visão de mundo lusitana é A saudade

portuguesa, de Carolina Michaëlis de Vasconcelos.2 LOURENÇO, Mitologia da saudade, p. 15.3 NORONHA, A saudade - contribuições fenomenológicas, lógicas e ontológicas, p. 219.4 COSTA, "Saudade, unidade perdida, unidade reencontrada" In: Introdução à saudade, p. 117.5 LOURENÇO, Mitologia da saudade, p. 12.6 PIÑEIRO, Pra unha filosofia da saudade, p. 18.7 OLIVEIRA, A tríplice dimensão da saudade, p. 61.8 GOMES, "Saudade ou do mesmo e do outro", In: Introdução à saudade, p. 185.9 LOURENÇO, Mitologia da saudade, p. 28.10 OLIVEIRA, A tríplice dimensão da saudade, p. 6.11 NORONHA, A saudade - contribuições fenomenológicas, lógicas e ontológicas, p. 162.12 NORONHA, A saudade - contribuições fenomenológicas, lógicas e ontológicas, p. 60.13 LOURENÇO, Mitologia da saudade, p. 33.14 COSTA, "Saudade, unidade perdida, unidade reencontrada", In: Introdução à saudade, p. 109.15 LOURENÇO, Eduardo. Mitologia da saudade, p. 32.16 LOURENÇO, Mitologia da saudade, p. 33.17 CASIMIRO DE ABREU, Meus oito anos, vs. 1-8..18 Tomo a liberdade de externar uma composição musical que me desperta sentimentos nostálgicos: o segundo movimento (Andante) da "Sinfonia n. 29 em Lá Maior" de

Mozart, K. 201.19 Vejamos os seguintes versos cantados pelo Conde Rodolfo no I ato da ópera "La sonnambula", música de Vincenzo Bellini e libreto de Felipe Romani: "Vi ravviso, o

luoghi ameni, / In cui lieti, in cui sereni / Sì tranquillo i dì passai / Della prima gioventù! Cari luoghi, io vi trovai, / Ma quei dì non trovo più"..

Referências

CASIMIRO DE ABREU. "Meus oito anos" in: As primaveras . Goiânia: Kelps, 2009, p. 30-31.COSTA, Dalila L. Pereira. "Saudade, unidade perdida, unidade reencontrada" in: Costa, Dalila L. Pereira; Gomes, Pinharanda.Introdução à saudade. Antologia teórica e aproximaç ão crítica. Porto: Lello e Irmão, 1976, p. 77-155.GOMES, Pinharanda. "Saudade ou do mesmo e do outro" in: in: COSTA, Dalila L. Pereira; Gomes, Pinharanda. Introdução àsaudade. Antologia teórica e aproximação crítica. Porto: Lello e Irmão, 1976, p.157-215.HOMERO. Odisseia. Trad. de Carlos alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.LOURENÇO, Eduardo. Mitologia da saudade. São Paulo: Companhia das letras, 1999.MICHAËLIS DE VASCONCELOS, Carolina. A saudade portuguesa. Lisboa: Guimarães, 1996.NORONHA, Maria Teresa de. A saudade - contribuições fenomenológicas, lógicas e ontológicas. Lisboa: INCM, 2007.OLIVEIRA, Nelci Silvério de. A tríplice dimensão da saudade. Goiânia: AB Editora, 1998.PIÑEIRO, Ramón. Pra unha filosofia da saudade . Vigo: Galaxia, 1953.

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