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ANÁLISE DA VIBRAÇÃO DE ESTRUTURAS COM MEMÓRIA DE FORMA UTILIZANDO O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS Klaus Reis von Haehling Lima Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Mecânico. Orientador: Prof. Marcelo Amorim Savi RIO DE JANEIRO DEZEMBRO DE 2014

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ANÁLISE DA VIBRAÇÃO DE ESTRUTURAS COM MEMÓRIA DE FORMA

UTILIZANDO O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Klaus Reis von Haehling Lima

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de

Engenheiro Mecânico.

Orientador: Prof. Marcelo Amorim Savi

RIO DE JANEIRO

DEZEMBRO DE 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica

DEM/POLI/UFRJ

ANÁLISE DA VIBRAÇÃO DE ESTRUTURAS COM MEMÓRIA DE FORMA

UTILIZANDO O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Klaus Reis von Haehling Lima

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO.

Aprovado por:

________________________________________________

Prof. Marcelo Amorim Savi

________________________________________________

Prof. Anna Carla Monteiro de Araujo

________________________________________________

Prof. Daniel Alves Castello

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

DEZEMBRO DE 2014

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais Klaus e Regina Celi, que sempre tiveram a

educação dos filhos como prioridade. Dedico este trabalho a eles, pois sempre me

incentivaram a ser uma pessoa correta, aplicada e humana. Agradeço também à minha irmã

Regine pelo seu apoio inestimável à família, o que garantiu a continuidade da minha

formação profissional. Sou grato à minha avó Maria Luisa pelos constantes incentivos ao

estudo, os quais contribuíram para os meus esforços acadêmicos.

Agradeço ao meu orientador Prof. Marcelo Amorim Savi, cuja paciência e

compreensão foram essenciais para o andamento deste trabalho. Agradeço também aos

Professores Daniel Alves Castello e Anna Carla Monteiro de Araujo, por terem aceito fazer

parte desta banca avaliadora, além de terem proporcionado valioso conhecimento nas

disciplinas que me lecionaram ao longo da graduação.

Por fim, agradeço aos amigos que tive o prazer de conhecer ao longo dessa jornada.

Em especial, ao André Luna, Edoardo Mies, Thiaron Silva, Luiz Messeder, Frederico Castro

e Pedro Mobilio.

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SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES....................................................................................................6

LISTA DE TABELAS..............................................................................................................8

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................11

1.1 Organização do Trabalho.............................................................................................13

2 MATERIAIS INTELIGENTES................................................................................14

2.1 Ligas com memória de forma.......................................................................................14

2.2 Aplicações...................................................................................................................19

3 DINÂMICA NÃO-LINEAR: FUNDAMENTOS TEÓRICOS..............................22

3.1 Espaço de Fase.............................................................................................................22

3.2 Seção de Poincaré.........................................................................................................23

3.3 Diagrama de Bifurcação...............................................................................................24

4 SISTEMAS FÍSICOS.................................................................................................26

4.1 Modelo de uma massa..................................................................................................26

4.2 Modelo multi-massas...................................................................................................27

5 MODELAGEM..........................................................................................................28

5.1 Modelo Constitutivo.....................................................................................................28

5.2 Modelos em Elementos Finitos....................................................................................31

6 SIMULAÇÕES NUMÉRICAS: MODELO DE UMA MASSA.............................34

6.1 Vibrações Livres...........................................................................................................34

6.2 Varreduras de Frequências Isotérmicas........................................................................38

6.3 Variações de Temperatura a Frequências Constantes..................................................46

7 SIMULAÇÕES NUMÉRICAS: MODELO MULTI-MASSAS.............................49

7.1 Vibrações Livres...........................................................................................................49

7.2 Variações de Temperatura a Frequências Constantes..................................................54

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8 CONCLUSÕES..........................................................................................................58

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................60

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1: Comparação entre frequência e densidade de energia

de atuação de diferentes materiais ativos.................................................................................15

Figura 2.2: Transformações de fase induzidas por temperatura

em estado livre de tensões.......................................................................................................16

Figura 2.3: Orientação das variantes........................................................................................16

Figura 2.4: Efeito de memória de forma..................................................................................17

Figura 2.5: Pseudoelasticidade induzida por temperatura.......................................................17

Figura 2.6: Pseudoelasticidade induzida por tensão................................................................18

Figura 2.7: Diagrama tensão-deformação no comportamento

pseudoelástico..........................................................................................................................18

Figura 2.8: Aparelho ortodôntico (Lagoudas, 2008)................................................................19

Figura 2.9: Stent autoexpansivo

(http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/48/Stent4_fcm.jpg)...............................20

Figura 2.10: Modelo de asa flexível (B. Sanders et al., 2004).................................................20

Figura 2.11: Absorvedor de vibrações (Aguiar et al., 2012)....................................................21

Figura 3.1: Espaços de Fase (de Paula, 2005)..........................................................................23

Figura 3.2: Seção de Poincaré (Moon, 1992)...........................................................................24

Figura 3.3: Diagrama de Bifurcação (de Paula, 2005).............................................................25

Figura 4.1: Modelo de uma massa............................................................................................26

Figura 4.2: Modelo multi-massas.............................................................................................27

Figura 5.1: Gráfico tensão-deformação no teste uniaxial com modelo Auricchio-Taylor.......31

Figura 5.2: Modelos em elementos finitos (as massas pontuais estão marcadas em

vermelho)..................................................................................................................................32

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Figura 5.3: Numeração dos fios (modelo de uma massa)........................................................33

Figura 6.1: Vibrações livres a 300 K........................................................................................35

Figura 6.2: Vibrações livres (300 K→280K)...........................................................................37

Figura 6.3: Varreduras de frequência: (a) Crescente; (b) Decrescente....................................38

Figura 6.4: Diagrama de Transmissibilidade (5g)....................................................................39

Figura 6.5: Diagramas de Bifurcação (5g): (a) Crescente; (b) Decrescente............................40

Figura 6.6: Mapa de Poincaré, varredura crescente (5g) .........................................................41

Figura 6.7: Mapa de Poincaré, varredura decrescente (5g)......................................................42

Figura 6.8: Diagrama de Transmissibilidade (30g)..................................................................42

Figura 6.9: Diagramas de Bifurcação (30g): (a) Crescente; (b) Decrescente..........................43

Figura 6.10: Mapa de Poincaré, varredura crescente (30g)......................................................44

Figura 6.11: Mapa de Poincaré, varredura decrescente (30g)..................................................45

Figura 6.12: Deslocamento com variação de temperatura em todos os fios (5g)....................46

Figura 6.13: Deslocamento com variação de temperatura em todos os fios (30g)..................47

Figura 6.14: Deslocamento com variação de temperatura desigual (5g).................................47

Figura 6.15: Deslocamento com variação de temperatura desigual (30g)...............................48

Figura 7.1: Massa perturbada e fio analisado...........................................................................49

Figura 7.2: Vibrações livres a 300 K........................................................................................50

Figura 7.3: Vibrações livres a 300 K - direção z......................................................................51

Figura 7.4: Vibrações livres (300 K→280K)...........................................................................52

Figura 7.5: Vibrações livres (300 K→280K) – direção z.........................................................53

Figura 7.6: Deslocamento com variação de temperatura em todos os fios (5g)......................54

Figura 7.7: Deslocamento com variação de temperatura em todos os fios (30g)....................55

Figura 7.8: Resfriamento localizado........................................................................................55

Figura 7.9: Deslocamento com variação de temperatura localizada (5g)................................56

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Figura 7.10: Deslocamento com variação de temperatura localizada (30g)............................56

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LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1: Dimensões atribuídas............................................................................................27

Tabela 5.1: Parâmetros constitutivos.......................................................................................32

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

ANÁLISE DA VIBRAÇÃO DE ESTRUTURAS COM MEMÓRIA DE FORMA

UTILIZANDO O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Klaus Reis von Haehling Lima

Dezembro/2014

Orientador: Marcelo Amorim Savi

Curso: Engenharia Mecânica

Estruturas com materiais ativos, tais como as ligas com memória de forma (SMAs),

são de especial interesse para aplicações mecânicas e aeroespaciais. As SMAs vem ganhando

espaço nas práticas de engenharia, e isto se relaciona ao comportamento não-linear do

material. O acoplamento termomecânico, inerente à liga, possibilita o desenvolvimento de

novas soluções para problemas dinâmicos existentes. Este trabalho utiliza o método dos

elementos finitos para a análise dinâmica de estruturas com elementos de SMA. Modelos

arquétipos são abordados utilizando o modelo constitutivo de Auricchio-Taylor (1996) em

elementos do tipo treliça. As análises são realizadas utilizando o código comercial ABAQUS.

Duas estruturas diferentes são investigadas: com uma massa e multi-massas. Inicialmente,

aborda-se a estrutura com uma massa composta de quatro fios de SMA em duas direções

perpendiculares conectadas a uma massa central. Cada fio é também conectado a uma

estrutura rígida. Vibrações livres e forçadas são analisadas. A estrutura multi-massas que

consiste em doze fios interconectando quatro massas é também considerada, sob vibrações

livres e forçadas. Tem-se por intuito explorar carregamentos térmicos para que se observe a

influência do acoplamento termomecânico dessa liga. Mudanças de temperatura são impostas

com o propósito de controle de vibrações. Os resultados mostram que o método dos

elementos finitos consiste em uma ferramenta eficaz para a análise dinâmica de estruturas

inteligentes, apresentando boa flexibilidade. O comportamento de dependência da

temperatura por parte dessas estruturas indica a adaptabilidade e o seu potencial para o

controle de vibrações.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Mechanical Engineer.

VIBRATION ANALYSIS OF SHAPE MEMORY ALLOY STRUCTURES USING THE

FINITE ELEMENTS METHOD

Klaus Reis von Haehling Lima

December/2014

Advisor: Marcelo Amorim Savi

Course: Mechanical Engineering

Structures with active materials such as shape memory alloys (SMAs) are of

particular interest for mechanical and aerospace applications. The SMAs have gain ground in

engineering practice, and this is related to its non-linear behavior. The thermomechanical

coupling, inherent to the alloy, enables the development of new solutions to existing dynamic

problems. This work implements the finite element method for the dynamic analysis of

structures with SMA elements. Archetypal models are addressed using the Auricchio-Taylor

constitutive model (1996) on truss-type elements. The analyses are performed using the

commercial code ABAQUS. Two different structures are investigated, with a single mass and

multi-masses. Initially, the single-mass structure composed by four SMA wires in two

perpendicular directions connected to a central mass is discussed. Each wire is also connected

to a rigid frame. Free and forced vibrations are analyzed. The multi-masses structure that

consists of twelve wires interconnecting four masses is also considered under free and forced

vibration. The goal of this work is the use of thermal loadings in order to observe the

influence of the alloy’s thermomechanical coupling. Temperature changes are imposed for

the purpose of vibration control. The results show that the finite element method consists of

an effective tool for dynamic analysis of smart structures with good flexibility. The

temperature dependence behavior of these structures indicate their adaptability and potential

for vibration control.

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1 INTRODUÇÃO

As ligas com memória de forma, ou “shape memory alloys” (SMAs), pertencem à

classe dos materiais inteligentes apresentando um acoplamento entre os campos térmico e

mecânico. As transformações de fase martensíticas ocorrem sob mudanças de tensão e/ou

temperatura específicas e são responsáveis pelos comportamentos únicos e não-lineares dessa

liga, provendo larga aplicabilidade.

Muitos autores tem explorado o comportamento não-linear das SMAs de maneira a

alterar a resposta de sistemas dinâmicos. Tamanho interesse se explica a partir do grande

potencial para o controle de vibrações, assim como da possibilidade de se obter respostas

dinâmicas interessantes. Em termos de dinâmica aplicada, tem sido estudadas situações

explorando a dissipação adaptativa associada ao laço de histerese, e a mudança de

propriedades mecânicas relacionada às transformações de fase. De maneira a explorar essas

particularidades, sistemas de poucos graus de liberdade tem sido largamente discutidos na

literatura. Machado (2007) mostrou como as características não-lineares das SMAs podem

afetar a vibração de um sistema de um grau de liberdade considerando diferentes acelerações

e histórias de carregamento.

Algumas contribuições exploraram a possibilidade de redução de vibrações ao se

alterar a rigidez de elementos de SMA com mudanças de temperatura. Williams et al. (2002)

e Savi et al. (2011) fizeram uso de tal ideia aplicando absorvedores de vibração adaptativos

incorporando a liga com memória de forma como elemento de regulagem. Aguiar et al.

(2012) considerou osciladores de um e dois graus de liberdade, analisando de um ponto de

vista experimental a influência das variações de temperatura na rigidez e histerese, e como

estes afetam as condições de ressonância desses sistemas. Silva (2011) direcionou seu foco ao

controle de vibrações de um sistema rotor-mancal, comparando as respostas a diferentes

temperaturas.

Em geral, a dinâmica não-linear dos sistemas com liga com memória de forma é

extremamente rica, estando relacionada a respostas complexas. Os comportamentos

interessantes dos osciladores com SMA tem sido discutidos em diferentes perspectivas

(Bernardini e Rega, 2005; Machado et al. 2009; Savi e Braga, 1993; Savi e Pacheco, 2004).

Lacarbonara et al. (2004) realizou uma investigação numérica sobre a resposta não-linear de

um oscilador SMA de um grau de liberdade, extraindo uma rica classe de soluções, tais como

quase-periodicidade e caos. Bernardini e Rega (2007) direcionaram seus esforços à

caracterização da resposta caótica de um oscilador pseudoelástico. Sitnikova et al. (2011)

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analisou um oscilador com impacto em uma restrição de SMA, também alcançando dinâmica

complexa notando a capacidade de redução de vibrações através de mudanças de amplitude.

A resposta dinâmica de estruturas envolvendo SMAs também tem atraído esforços de

pesquisa. Savi e Nogueira (2010) investigaram através de simulações numéricas a dinâmica

de uma treliça pseudoelástica de duas barras, alcançando respostas complexas.

Apesar das diversas aplicações existentes na indústria aeroespacial, há ainda demanda

para o entendimento de estruturas em grande escala (como antenas) utilizando componentes

de SMA. Nesse sentido, sistemas compostos de massas conectadas por elementos de SMA

são de especial interesse. Uma massa conectada a quatro fios de SMA foi anteriormente

estudada por de Paula et al. (2012). Este modelo arquétipo possibilita a compreensão de

sistemas maiores, que podem conter centenas de elementos interconectados. A abordagem foi

direcionada à natureza não-linear da resposta dinâmica, dando especial atenção às bifurcações

e aos atratores caóticos.

O uso da análise em elementos finitos (FEA) está bastante consolidada, permitindo a

compreensão de fenômenos complexos como comportamentos não-homogêneos. A

implementação de modelos constitutivos de SMA em FEA tem demonstrado eficácia para

tratar problemas que apresentam não-linearidades geométricas e necessidades de otimização

(Auricchio e Taylor, 1996; La Cava et al., 2004; Bandeira et al., 2006, Hartl et al., 2011).

A estrutura em SMA discutida por de Paula et al. (2012) foi revisitada por Peraza et

al. (2013) utilizando FEA. Os autores estudaram a influência do modelo constitutivo, do tipo

de elemento e da configuração estrutural (todos os fios com pré-tensões iguais ou diferentes)

na resposta do sistema.

O presente trabalho lida com a análise de vibrações de estruturas com memória de

forma, através da utilização do método dos elementos finitos. Dois modelos diferentes são

investigados. Inicialmente, a estrutura com uma massa conectada por quatro atuadores de

SMA é submetida a vibração livre e forçada. Posteriormente, uma extensão com quatro

massas conectadas por doze atuadores é analisada também em vibração livre e forçada. A

possibilidade de controle de vibração com variações de temperatura é estudada em ambas as

situações. Objetiva-se explorar a capacidade adaptativa das estruturas além de mostrar a

flexibilidade da abordagem utilizando o método dos elementos finitos.

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1.1 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho é organizado em 7 capítulos. Este primeiro capítulo é dedicado à

introdução do trabalho, tratando sobretudo de suas motivações e objetivos.

O Capítulo 2 apresenta uma breve discussão acerca dos materiais inteligentes. São

explicadas as particularidades das ligas com memória de forma e suas aplicações mais

frequentes.

O Capítulo 3 trata da descrição dos sistemas físicos a serem estudados. Basicamente

estudam-se dois modelos arquétipos capazes de representar um sistema de maior escala.

No Capítulo 4, é feita uma breve explicação do modelo constitutivo utilizado, bem

como dos modelos em elementos finitos de ambos os sistemas abordados.

O Capítulo 5 trata dos fundamentos teóricos relacionados à dinâmica não-linear,

explicando as principais ferramentas de análise que são utilizadas neste trabalho.

O Capítulo 6 apresenta os resultados das simulações com o modelo de uma massa.

Inicialmente, são tratadas as vibrações livres. Analisa-se a questão da influência da

temperatura. Em vibrações forçadas, são realizadas varreduras de frequência que tem por

objetivo caracterizar a resposta dinâmica do sistema. As respostas a determinados

carregamentos termomecânicos em frequências específicas com temperatura variável também

são investigadas.

No Capítulo 7, aborda-se o sistema amplificado, ou multi-massas. Vibrações livres e

variações de temperatura são impostas e seus efeitos são analisados. Vibrações forçadas

também são impostas, fazendo um paralelo com o sistema abordado anteriormente.

Finalmente no Capítulo 8 são apresentadas as conclusões referentes ao trabalho, assim

como comentários acerca dos métodos utilizados.

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2 MATERIAIS INTELIGENTES

Os materiais inteligentes são aqueles que apresentam o acoplamento entre campos

físicos diferentes. Tal característica lhes confere a capacidade adaptativa de se adequarem às

condições ambientais ou operacionais. Também chamados de materiais ativos (Lagoudas,

2008), esses materiais são reconhecidos por apresentarem sensibilidade e grande capacidade

de atuação.

Os materiais inteligentes são comumente classificados de acordo com o tipo de

acoplamento apresentado. Destacam-se os materiais mais frequentemente utilizados, como as

ligas com memória de forma, os materiais piezoelétricos e os fluidos magneto-reológicos.

Esses materiais tem a capacidade de mudar as suas propriedades mecânicas e/ou

eletromagnéticas quando submetidos a uma diferença de potencial, a um campo eletro-

magnético, a variações de temperatura ou de tensão.

As estruturas contendo materiais inteligentes como sensores e atuadores vem

ganhando espaço, e são conhecidas como estruturas inteligentes. De acordo com a literatura

(Lagoudas, 2008), existem dois requisitos essenciais para a escolha do material adequado: a

densidade de energia de atuação e a freqüência de atuação do material.

2.1 LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA

As ligas com memória de forma (SMAs) pertencem à classe dos materiais inteligentes

por apresentarem o acoplamento termomecânico. Este é responsável pelo comportamento que

dá nome ao material, o efeito de memória de forma, que consiste na recuperação da forma

previamente estabelecida através de um carregamento termomecânico apropriado. Esses

materiais são capazes de responder com forças de restituição de grandes magnitudes, caso

haja alguma restrição para a recuperação da sua forma original. Por esse motivo, considera-se

que as ligas com memória de forma possuem alta densidade de energia de atuação. As SMAs

porém, exibem respostas em baixas frequências, já que dependem de processos de troca

térmica. A relação entre as SMAs e outros materiais inteligentes é mostrada na Figura 2.1.

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Figura 2.1: Comparação entre frequência e densidade de energia

de atuação de diferentes materiais ativos.

Essencialmente, são tratadas duas fases sólidas nas SMAs: a austenita e a martensita.

É justamente na transformação não-difusiva entre essas fases que se observa o interessante

comportamento não-linear da liga. Em um estado livre de tensões, a fase martensítica é

estável em baixas temperaturas, possuindo diversas variantes, enquanto que a fase austenítica

é estável em altas temperaturas, apresentando apenas uma variante. Nas SMAs, a

determinação da fase sólida predominante depende não somente da composição e da

temperatura (como nas ligas ferro-carbono), como também do estado de tensões e da história

de carregamento.

No estado livre de tensões a altas temperaturas, a redução de temperatura induz a

transformação de fase que leva a austenita para a chamada martensita geminada (“twinned”),

que possui 24 variantes. Cada variante representa uma orientação cristalográfica distinta. O

posterior aumento de temperatura induz a transformação inversa. A Figura 2.2 mostra uma

representação esquemática desse processo. Nota-se a existência de quatro temperaturas

específicas (𝑀𝑠, 𝑀𝑓, 𝐴𝑠 e 𝐴𝑓) que consitem nas temperaturas de início e fim da transformação

martensítica e austenítica, respectivamente.

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Figura 2.2: Transformações de fase induzidas por temperatura

em estado livre de tensões.

Na transformação martensítica induzida por tensão, ocorre o alinhamento dessas

variantes na direção do carregamento, predominando apenas uma variante. Esta fase

martensítica é chamada de não-geminada (“detwinned”). Tal reorientação das variantes

também ocorre caso a martensita geminada seja submetida a carregamentos mecânicos. A

representação esquemática desse processo pode ser vista na Figura 2.3. Neste caso, mesmo

que o carregamento mecânico seja retirado, uma amostra mantém-se deformada,

apresentando uma deformação residual.

Figura 2.3: Orientação das variantes.

O efeito de memória de forma é observado quando a amostra com deformação

residual, no estado de martensita não-geminada, é aquecida até que se transforme totalmente

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em austenita. Assim, obtém-se a recuperação total da forma original da amostra. Este

fenômeno é esquematizado na Figura 2.4.

Figura 2.4: Efeito de memória de forma.

O fenômeno de pseudoelasticidade acontece quando é feita a transformação entre a

austenita e a martensita não-geminada. Tal transformação pode ser obtida tanto por

carregamentos térmicos quanto por carregamentos mecânicos, como mostram as Figuras 2.5

e 2.6.

Figura 2.5: Pseudoelasticidade induzida por temperatura.

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Figura 2.6: Pseudoelasticidade induzida por tensão.

Os efeitos observados nesse processo são uma mudança expressiva de rigidez e a

histerese na conclusão do carregamento-descarregamento. Ambos são mostrados na Figura

2.7, que apresenta o diagrama tensão-deformação do processo. Esses efeitos se mostraram

muito interessantes em aplicações dinâmicas, já que a mudança de rigidez possibilita alterar a

resposta natural de um sistema e a histerese representa a capacidade de dissipação de energia.

Analogamente às quatro temperaturas específicas de transformação (𝑀𝑠, 𝑀𝑓, 𝐴𝑠 e 𝐴𝑓), aqui

tratam-se de quatro tensões específicas que representam o início e fim da transformação

martensítica e austenítica (𝜎𝑀𝑠, 𝜎𝑀𝑓, 𝜎𝐴𝑠 e 𝜎𝐴𝑓). Na região de transformação de fase,

conhecida como “plateau”, ocorrem grandes deformações com pouca reação em tensão por

parte do material.

Figura 2.7: Diagrama tensão-deformação no comportamento pseudoelástico.

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2.2 APLICAÇÕES

O comportamento singular das ligas com memória de forma tem sido largamente

explorado em diversas áreas de ciência e tecnologia. No que diz respeito a aplicações

biomédicas, a caracterísitica biocompatível dessas ligas se mostrou interessante,

possibilitando a sua utilização em instrumentos cirúrgicos, cardio-vasculares, ortopédicos,

ortodônticos, entre outros. Nos aparelhos ortodônticos, os fios pseudoelásticos (Figura 2.8)

aparecem como excelente alternativa. A possibilidade de se operar no “plateau”

pseudoelástico concede aos dentes uma força de atuação moderada e aproximadamente

constante enquanto os mesmos se movem na boca do paciente. Isto permite postergar as

intervenções profissionais, já que o material permanece ativo por períodos de tempo mais

longos. Ainda em aplicações biomédicas, o efeito de memória de forma é explorado como

comportamento autoexpansivo em dispositivos cardiovasculares (Machado & Savi, 2002,

2003 e Duering et al., 1999). Um exemplo destes dispositivos é o “stent”, mostrado na

Figura 2.9.

Figura 2.8: Aparelho ortodôntico (Lagoudas, 2008).

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Figura 2.9: Stent autoexpansivo

(http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/48/Stent4_fcm.jpg)

Na área de engenharia, tem-se diversas aplicações interessantes. É o caso das

estruturas flexíveis como asas ou aerofólios (dentre outros), que podem adquirir geometrias

diferentes por atuação de elementos em SMA aquecidos por fonte elétrica (Rediniotis et al.,

2002; S. Wax et al., 2003; J. Mabe et al., 2005; T. Turner et al., 2006).

Figura 2.10: Modelo de asa flexível (B. Sanders et al., 2004)

Especialmente em aplicações dinâmicas, o interesse em atuadores de SMA recai tanto

sobre a dissipação adaptativa de energia, relacionada ao seu comportamento histerético,

quanto às mudanças de suas propriedades mecânicas causadas pelas transformações de fase.

As respostas dos sistemas com SMAs tem sido estudadas, observando a capacidade de

reduzir efeitos indesejados, como vibrações, e a possibilidade de se obter resultados

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dinâmicos interessantes e complexos, como respostas caóticas. A Figura 2.11 apresenta um

sistema que exemplifica a aplicação de atuadores de SMA como absorvedores de vibração

adaptivos (Aguiar et al., 2012). Seu uso é atraente sobretudo como alternativa para sistemas

onde a frequência de forçamento é variável.

Figura 2.11: Absorvedor de vibrações (Aguiar et al., 2012).

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3 DINÂMICA NÃO-LINEAR: FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Dinâmica não-linear é o nome dado a uma teoria matemática elaborada para se

estudar sistemas dinâmicos cujas equações de governo são não-lineares. Nesses sistemas,

uma série de comportamentos podem surgir quando existem pequenas variações paramétricas

ou de condições iniciais. Dentre os possíveis resultados, destacam-se as órbitas periódicas, as

quasi-periódicas e o caos.

O objetivo deste capítulo é apresentar as principais ferramentas desta teoria para

análise dinâmica de sistemas não-lineares. Aqui são introduzidos os conceitos utilizados neste

trabalho para uma análise qualitativa dos sistemas dinâmicos estudados: o espaço de fase, a

seção de Poincaré e o diagrama de bifurcação. Esses conceitos são essenciais na medida em

que fornecem uma compreensão global do comportamento do sistema.

3.1 ESPAÇO DE FASE

O espaço de fase pode ser definido como o espaço vetorial de um sistema dinâmico,

representado pelas suas variáveis dependentes. Trata-se de um diagrama que relaciona uma

variável de interesse com a sua taxa de variação. Cada ponto do espaço de fase representa um

estado do sistema, e por esse ponto, passa apenas uma trajetória. À medida que sistema evolui

no tempo, os sucessivos pontos representativos traçam uma curva no espaço de fase,

definindo uma trajetória.

Quando o sistema exibe um comportamento periódico, o sistema visita repetidas

vezes o mesmo conjunto de pontos, originando, assim, uma curva fechada. No entanto, no

caso de sistemas em regime caótico, devido à falta de peridiocidade, as trajetórias nunca se

fecham. Sistemas quasi-periódicos também apresentam como trajetória uma curva aberta. A

Figura 3.1(a) apresenta uma trajetória periódica, período-1, enquanto a Figura 3.1(b)

apresenta uma trajetória caótica típica.

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(a) (b)

Figura 3.1: Espaços de Fase (de Paula, 2005)

3.2 SEÇÃO DE POINCARÉ

A seção de Poincaré é um procedimento muito utilizado no estudo de problemas de

dinâmica não-linear, pois possibilita uma melhor compreensão da dinâmica global do sistema

e identifica a natureza da resposta. Este procedimento permite que um sistema dinâmico

contínuo no tempo seja modelado como um sistema discreto (mapa), reduzindo-se desta

forma a dimensão do problema.

A construção do mapa baseia-se na determinação dos pontos de interseção da

trajetória do sistema com um hiperplano. Este é definido por um ponto escolhido

arbitrariamente no espaço de fase e deve ser tranversal à trajetória que passa pelo plano

escolhido. O conjunto desses pontos de interseção constitui o mapa de Poincaré do sistema, e

o hiperplano escolhido é chamado de seção de Poincaré (Otani e Jones, 1987).

Em geral, para sistemas sujeitos a forçamento periódico, é comum a adoção da seção

de Poincaré uma superfície relacionada a uma determinada fase de forçamento, como mostra

a Figura 3.2. Assim, o intervalo de tempo entre cada amostragem é igual ao período de

forçamento.

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Figura 3.2: Seção de Poincaré (Moon, 1992)

Portanto, no caso de respostas com período simples, se observa apenas um ponto no

mapa de Poincaré. Para respostas com mais de um período, tem-se um conjunto de pontos

representando cada período. Para o movimento quasi-periódico, o mapa apresenta uma curva

fechada. E finalmente para a dinâmica caótica, vê-se um conjunto infinito de pontos,

usualmente possuindo regiões vazias e regiões densas, organizadas em lamelas.

3.3 DIAGRAMA DE BIFURCAÇÃO

O objetivo do diagrama de bifurcação é capturar qualquer mudança qualitativa na

natureza da resposta do sistema, como consequência da variação de algum parâmetro.

A representação do diagrama de bifurcação é feita através de um gráfico que relaciona

alguma variável do sistema, como posição ou velocidade, contra algum parâmetro do sistema,

que é variado de forma quasi-estática. O fenômeno da bifurcação está estreitamente

relacionado com a existência do caos no sentido de que um sistema dinâmico que não

apresenta algum tipo de bifurcação não apresenta uma resposta caótica. Deve-se destacar, no

entanto, que a recíproca não é verdadeira, ou seja, um sistema que apresente bifurcações não

necessariamente apresenta uma resposta caótica (Savi, 2003). A Figura 3.3 mostra um

exemplo deste diagrama.

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Figura 3.3: Diagrama de Bifurcação (de Paula, 2005)

Para a construção dos diagramas de bifurcação neste trabalho, considera-se a posição

a partir da seção de Poincaré como variável de análise, e como parâmetro a frequência de

forçamento. Vale comentar que outro parâmetro possível de ser utilizado seria a temperatura,

tendo em vista a alta sensibilidade da liga com memória de forma em relação a este

parâmetro.

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4 SISTEMAS FÍSICOS

Estruturas de grande escala podem ser modeladas como sistemas de múltiplos graus

de liberdade. Aplicações aeroespaciais incluem diversas estruturas, tais como antenas, onde

se deseja utilizar as características únicas de certos materiais inteligentes com o objetivo de se

obter um comportamento dinâmico desejado. Tais estruturas porém, podem conter centenas

de elementos, o que acarreta um alto número de graus de liberdade. Para tratar desse

problema, modelos arquétipos ganham espaço para compreender as características gerais do

comportamento da estrutura.

4.1 MODELO DE UMA MASSA

O modelo arquétipo (ou modelo primitivo) é definido como um modelo padrão a

partir do qual sistemas semelhantes derivam ou se baseiam. Neste caso, propõe-se abordar

um sistema simplificado com graus de liberdade reduzidos, de maneira a se obter a

compreensão global do sistema de grande escala. O modelo arquétipo bidimensional proposto

em de Paula et al. (2012) representa uma boa alternativa para a abordagem do problema das

antenas de SMA. Trata-se de um sistema com quatro fios em SMA conectados a uma única

massa central (pontual, desconsiderando dimensões) e a uma estrutura rígida. No presente

trabalho, tal modelo é revisitado, atribuindo dimensões unitárias aos elementos. O modelo de

uma massa pode ser observado na Figura 4.1, e as dimensões atribuídas aos elementos estão

relacionadas na Tabela 4.1, a seguir.

Figura 4.1: Modelo de uma massa

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Tabela 4.1: Dimensões atribuídas

Massa pontual 1 kg

Comprimento dos fios 1 m

Área de seção circular dos fios 1 mm²

4.2 MODELO MULTI-MASSAS

Além do modelo de uma massa, é proposto neste trabalho um modelo multi-massas,

também bidimensional, que consiste em doze fios interconectando quatro massas pontuais. O

modelo é apresentado na Figura 4.2.

Figura 4.2: Modelo multi-massas

O objetivo de se abordar esse sistema é obter uma compreensão da influência de um

número maior de graus de liberdade, bem como explorar a flexibilidade da análise em

elementos finitos. Os parâmetros dimensionais adotados são os mesmos do modelo anterior.

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5 MODELAGEM

5.1 MODELO CONSTITUTIVO

O comportamento termomecânico das ligas com memória de forma pode ser

capturado por meio de modelos constitutivos que estabelecem uma descrição fenomenológica

desses materiais. Lagoudas (2008) e Paiva e Savi (2006) apresentaram uma visão geral acerca

das equações constitutivas para SMAs. Neste trabalho, o modelo Auricchio-Taylor (1996) é

adotado considerando a formação e recuperação de deformações inelásticas associadas à

transformação de fase martensítica.

O modelo adota como variáveis de controle a tensão de Kirchhoff, τ, e a temperatura

T. Para capturar os efeitos induzidos pela transformação de fase, assume-se uma

decomposição do gradiente de deformação F, na forma:

𝑭 = 𝑭𝑒𝑭𝑡𝑟 (1)

onde 𝑭𝑒 é a parcela elástica da deformação, enquanto que 𝑭𝑡𝑟 é uma variável interna

relacionada às transformações de fase. Este modelo não faz distinção entre as variantes que

podem estar presentes na fase martensítica. Desse modo, utiliza-se somente um parâmetro

escalar, 𝜉𝑀 , representando a fração volumétrica de martensita.

São consideradas duas transformações de fase:

Conversão de austenita em martensita de única variante (A→M)

Conversão de martensita de única variante em austenita (M→A)

Assim, são atribuídas mudanças em 𝜉𝑀 em ambos os processos, obtendo:

�̇�𝑀 = �̇�𝑀𝐴𝑀 + �̇�𝑀

𝑀𝐴 (2)

Para modelar a dependência da pressão na transformação de fase, o autor utiliza uma

função do tipo Drucker-Prager para o carregamento:

𝐹𝐴𝑀(𝝉, 𝑇) = ‖𝒕‖ + 3𝛼𝑝 − 𝐶𝐴𝑀𝑇 (3)

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onde t é a parcela desviatórica da tensão (definida como: 𝒕 = 𝝉 − 𝑡𝑟(𝝉)𝟏/3) e 1 é o tensor

unitário.

A variável p representa a pressão, 𝐶𝐴𝑀 e α são parâmetros do material.

O início e o fim da função de transformação podem ser expressos como:

𝐹𝑠𝐴𝑀 = 𝐹𝐴𝑀 − 𝑅𝑠

𝐴𝑀 (4)

𝐹𝑓𝐴𝑀 = 𝐹𝐴𝑀 − 𝑅𝑓

𝐴𝑀 (5)

com

𝑅𝑠𝐴𝑀 = [𝜎𝑠

𝐴𝑀 (√2

3+ 𝛼) − 𝐶𝐴𝑀𝑇𝑠

𝐴𝑀] (6)

𝑅𝑓𝐴𝑀 = [𝜎𝑓

𝐴𝑀 (√2

3+ 𝛼) − 𝐶𝐴𝑀𝑇𝑓

𝐴𝑀] (7)

onde 𝜎𝑠𝐴𝑀 , 𝜎𝑓

𝐴𝑀 , 𝑇𝑠𝐴𝑀 e 𝑇𝑓

𝐴𝑀 são todos parâmetros do material. As condições para que haja a

conversão de austenita em martensita de única variante são assumidas como sendo:

𝐹𝑠𝐴𝑀 > 0, 𝑓𝑓

𝐴𝑀 > 0, �̇�𝐴𝑀 > 0. (8)

Para a evolução da fração volumétrica de martensita, pode-se assumir tanto a forma

exponencial:

�̇�𝑀𝐴𝑀 = 𝐻𝐴𝑀𝛽𝐴𝑀(1 − 𝜉𝑀)

�̇�𝐴𝑀

(𝐹𝑓𝐴𝑀)2 (9)

sendo 𝛽𝐴𝑀 um parâmetro do material, ou na forma linear:

�̇�𝑀𝐴𝑀 = −𝐻𝐴𝑀(1 − 𝜉𝑀)

�̇�𝐴𝑀

𝐹𝑓𝐴𝑀 (10)

O parâmetro escalar 𝐻𝐴𝑀 incorpora as condições para a ativação da transformação de

fase (Eq. (8)) e é definido pela relação:

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𝐻𝐴𝑀 = {1, se 𝐹𝑠

𝐴𝑀 > 0 , 𝐹𝑓𝐴𝑀 < 0, �̇�𝐴𝑀 > 0

0, caso contrário (11)

No caso da transformação no sentido inverso (martensita → austenita), opera-se com

equações análogas, sendo as condições as seguintes:

𝐹𝑠𝑀𝐴 < 0, 𝐹𝑓

𝑀𝐴 > 0, �̇�𝑀𝐴 < 0. (12)

Para a evolução da fração volumétrica na forma exponencial e linear tem-se,

respectivamente:

�̇�𝑀𝑀𝐴 = 𝐻𝑀𝐴𝛽𝑀𝐴𝜉𝑀

�̇�𝑀𝐴

(𝐹𝑓𝑀𝐴)2 (13)

e

�̇�𝑀𝑀𝐴 = 𝐻𝑀𝐴𝜉𝑀

�̇�𝑀𝐴

𝐹𝑓𝑀𝐴 (14)

No que diz respeito ao parâmetro escalar 𝐻𝑀𝐴, tem-se:

𝐻𝑀𝐴 = {1, 𝑠𝑒 𝐹𝑠

𝑀𝐴 < 0 , 𝐹𝑓𝑀𝐴 > 0, �̇�𝑀𝐴 < 0

0, 𝑐𝑎𝑠𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟á𝑟𝑖𝑜 (15)

A Figura 5.1 apresenta os resultados obtidos a partir da simulação numérica do

modelo apresentado para um caso de teste uniaxial de tração a três temperaturas diferentes.

Pode-se observar que o modelo é capaz de capturar o comportamento histerético da liga, bem

como a sua dependência da temperatura.

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Figura 5.1: Gráfico tensão-deformação no teste uniaxial com modelo Auricchio-Taylor

5.2 MODELO EM ELEMENTOS FINITOS

O método dos elementos finitos é utilizado neste trabalho para estudar a resposta

dinâmica das estruturas arquétipas de SMA. As análises são realizadas utilizando o

“ABAQUS/Standard implicit finite element solver”, com o modelo constitutivo Auricchio-

Taylor.

Ambos os sistemas de uma massa e multi-massas são modelados de maneira

semelhante. Os fios horizontais estão alinhados ao eixo x, enquanto os verticais, ao eixo y. As

malhas são construídas empregando elementos de treliça do tipo “Three-node quadratic truss

elements”. Massas pontuais de 1 kg são colocadas em cada interseção de fios e os efeitos

gravitacionais são desprezados. Como as massas são pontuais, não são considerados os

efeitos de inércia rotacional. Os modelos em FEA são apresentados na Figura 5.2.

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(a) Sistema de uma massa (b) Sistema multi-massas

Figura 5.2: Modelos em elementos finitos (as massas pontuais estão marcadas em vermelho).

Peraza et al. (2013) fez uma comparação entre a resposta utilizando elementos de

treliça e elementos de viga no sistema de uma massa. Foi constatado que a diferença entre as

respostas é pouco expressiva. Portanto, tendo em vista que os fios não apresentam resistência

à flexão, considera-se vantajosa a adoção de elementos de treliça, que não levam em conta o

momento fletor. Como consequência, conforme mostrado na contribuição mencionada, tem-

se uma grande economia no tempo computacional ao se utilizar o elemento do tipo treliça.

Na Tabela 5.1, apresentam-se os parâmetros constitutivos considerados.

Tabela 5.1: Parâmetros constitutivos

Parâmetros Valores

𝐸𝐴(GPa) 55

𝐸𝑀(GPa) 46

𝜈𝐴 = 𝜈𝑀 0,33

𝑀𝑠 (K) 245

𝑀𝑓 (K) 230

𝐴𝑠 (K) 270

𝐴𝑓 (K) 280

𝐶𝐴 = 𝐶𝑀(MPa/K) 7,4

H 0,056

𝑛𝑖(𝑖=1,2,3,4) 0,5

𝜌 (kg/m³) 6450

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Para auxiliar na exposição dos resultados, a Figura 5.3 exibe a numeração a ser

utilizada na referência dos fios.

Figura 5.3: Numeração dos fios (modelo de uma massa)

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6 SIMULAÇÕES NUMÉRICAS: MODELO DE UMA MASSA

Este capítulo é dedicado à apresentação dos resultados das simulações com o modelo

de uma única massa. Aplica-se uma pré-tensão nos fios de tal forma que evite com que os

fios atinjam carga nula, aumentando a estabilidade das respostas. A pré-tensão é escolhida tal

que todos os fios possuam a mesma fração volumétrica de martensita. O valor adotado é de

50%, para que a cada carregamento/descarregamento, apresente alguma histerese

promovendo dissipação de energia. A temperatura de referência é 300 K.

Inicialmente, simula-se a vibração livre, onde a massa central é perturbada nas três

direções (x, y e z). Compara-se a resposta em diferentes temperaturas. Posteriormente,

consideram-se vibrações forçadas e varreduras de frequência são realizadas a 300 K. As

diferenças entre as varreduras crescente e descrescente são apontadas e a influência da

aceleração de forçamento é discutida.

Além disso, variações de temperatura são impostas ao sistema vibrando sob

frequências constantes. Discute-se o potencial de se reduzir a amplitude da resposta através

desse procedimento.

6.1 VIBRAÇÕES LIVRES

Considere a análise de vibrações livres. A primeira simulação é executada à

temperatura de referência (300 K). A Figura 6.1 mostra os espaços de fase relativos ao

deslocamento da massa nas três direções, bem como o diagrama tensão-deformação e o

comportamento da tensão no tempo.

(a) (b)

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(c)

(d)

(e)

Figura 6.1: Vibrações livres a 300 K

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Nas Figuras 6.1(a) e 6.1(b) observa-se que os espaços de fase nas direções x e y

convergem para uma dinâmica de menor amplitude. Isto se explica através das Figuras 6.1(d)

e 6.1(e). À medida que o tempo evolui, a dissipação promovida pelos sub-laços de histerese é

responsável por uma redução na magnitude da tensão. Sendo o sistema bidimensional, existe

pouca resistência ao movimento fora do plano que contém a estrutura. Isso explica a maior

amplitude de movimento na direção z, como mostra a Figura 6.1(c).

É importante frisar que nesta simulação, foi provocada a vibração livre do sistema

mantendo-se a temperatura constante em 300 K. Isto significa que a extração de energia do

sistema se deu somente pela histerese, sendo associada à transformação de fase induzida por

tensão. Agora, após a perturbação na temperatura de referência, reduz-se a temperatura para

280K enquanto o sistema evolui dinamicamente. O resultado pode ser visto na Figura 6.2.

(a) (b)

(c)

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(d)

(e)

Figura 6.2: Vibrações livres (300 K→280K)

Diferentemente do caso anterior, nota-se que o sistema consegue alcançar o repouso

nas direções x e y, que formam o plano da estrutura. A particularidade desse resultado é bem

exposta através dos diagramas relativos à tensão [Figuras 6.2(d) e 6.2(e)]. Nota-se que com a

interferência na temperatura, a magnitude da tensão cai bruscamente, indicando que a

mudança de temperatura pode amplificar a retirada de energia deste sistema ao aumentar a

histerese. O resultado da dinâmica fora do plano segue o mesmo comportamento observado

na simulação anterior [Figura 6.2(c)]. Isto mostra que até mesmo a mudança de temperatura

não é capaz de conter a dinâmica fora do plano.

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6.2 VARREDURAS DE FREQUÊNCIAS ISOTÉRMICAS

As varreduras de frequência são comumente realizadas em sistemas dissipativos

sujeitos a forçamento externo, pois viabilizam a apreciação mais completa de suas dinâmicas.

Para a análise das respostas naturais, utiliza-se aqui o diagrama de transmissibilidade, que

relaciona a amplitude da resposta com a amplitude do forçamento em função da frequência.

Além da caracterização da resposta natural, existe também o interesse sobre a

natureza dinâmica deste sistema. Por conta disso, são também construídos diagramas de

bifurcação para cada varredura, com o objetivo de explicitar a não-linearidade do sistema

analisado. Em pontos específicos, apresenta-se também os mapas de Poincaré. A seção de

Poincaré foi escolhida como sendo a cada pico de excitação.

A aceleração do forçamento é expressa como função da gravidade, onde

𝐴𝜔² = 𝑘𝑔

sendo 𝑔 a aceleração da gravidade, 𝐴 a amplitude e 𝜔 a frequência angular de forçamento.

As varreduras de frequência são realizadas a duas acelerações diferentes, são elas 5g e

30g. Quanto às frequências, utiliza-se o intervalo entre 5 Hz e 100 Hz, variando em

incrementos de 5 Hz. O tempo de aplicação do forçamento está associado a 1500 ciclos em

cada frequência, descartando os primeros 500 ciclos como transiente. A Figura 6.3 exibe o

comportamento da frequência de forçamento no tempo. Todas as varreduras foram realizadas

a 300 K e em forçamento vertical (direção y).

(a) (b) Figura 6.3: Varreduras de frequência: (a) Crescente; (b) Decrescente

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Primeiramente, as soluções em 5g são apresentadas. A Figura 6.4 mostra o diagrama

de transmissibilidade relativo às varreduras crescente e decrescente. A Figura 6.5 mostra os

diagramas de bifurcação correspondentes.

Figura 6.4: Diagrama de Transmissibilidade (5g)

A partir da análise da Figura 6.4, é possível observar que na aceleração em questão, a

transmissibilidade fica acima do valor unitário em boa parte das frequências escolhidas. Isto

significa que o estímulo é amplificado, representando um efeito indesejado para esta

aplicação. Nota-se também que existe uma boa compatibilidade entre as curvas crescente e

decrescente até a condição de pico, que é bem definida em 45Hz. Somente nas frequências

superiores a 45Hz, as curvas começam a divergir.

45Hz

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(a)

(b)

Figura 6.5: Diagramas de Bifurcação (5g): (a) Crescente; (b) Decrescente

Analisa-se agora os diagramas de bifurcação (Figura 6.5). A primeira observação a ser

feita está relacionada à divergência entre as varreduras crescente e decrescente. Ao contrário

do que foi discutido com a transmissibilidade, aqui não se observa a mesma equivalência. O

que se vê claramente nos resultados é como a posição do ponto colhido na seção de Poincaré

varia de forma diferente em cada varredura. Apesar disso, ambos os diagramas de bifurcação

mostram um salto na mesma faixa de frequências, entre 40 e 55Hz, que contém a frequência

de pico. Isso indica que o sistema não só é sensível a essas frequências em termos de

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amplitude (transmissibilidade), mas também responde com uma mudança na região do espaço

em que a oscilação ocorre. Todas essas características estão ligadas à não-linearidade do

material, onde a condição inicial e a história do carregamento são determinantes na resposta

dinâmica do sistema.

É importante lembrar também, que um ponto no diagrama de bifurcação representa

dinâmica periódica. Portanto, pode-se dizer que o sistema responde em grande parte das

frequências de forma periódica. Na frequência de 65Hz, entretanto, nota-se que no sentido

crescente não há somente um ponto no diagrama de bifurcação, enquanto que no sentido

decrescente há, claramente, apenas um ponto. Além disso, é nessa frequência onde ocorre o

maior descasamento na transmissibilidade. Portanto, propõe-se uma avaliação mais detalhada

desta frequência.

Para realizar a análise da frequência de 65Hz, utiliza-se do mapa de Poincaré. A

Figura 6.6 apresenta tal resultado na varredura crescente, enquanto que a Figura 6.7, na

varredura decrescente.

Figura 6.6: Mapa de Poincaré, varredura crescente (5g)

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43

Figura 6.7: Mapa de Poincaré, varredura decrescente (5g)

O mapa de Poincaré relativo à varredura crescente não contém somente um ponto,

mas sim uma curva fechada. Tal resultado é atrelado a uma dinâmica quasi-periódica. Já

quanto à varredura decrescente, tem-se o ponto que é característico de uma dinâmica de

período-1. Existe também uma grande diferença na região do espaço em que a oscilação

ocorre, como foi colocado anteriormente.

Aborda-se então as soluções em 30g. A Figura 6.8 mostra o diagrama de

transmissibilidade relativo às varreduras crescente e decrescente. A Figura 6.9 mostra os

diagramas de bifurcação correspondentes.

Figura 6.8: Diagrama de Transmissibilidade (30g)

75Hz

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Neste caso, a primeira observação a ser feita é a respeito da magnitude de

transmissibilidade. Agora tem-se uma resposta em que o valor de transmissibilidade máximo

fica em torno de 1,5. Na faixa de frequências analisada, a maior parte exibe o valor inferior a

1, o que significa que nesta aceleração tem-se uma dissipação maior. Isto se deve ao fato de

que com maior amplitude de forçamento, os fios sofrem maior tensão, induzindo mais

transformação de fase e assim conferindo ao sistema maior capacidade dissipativa. Logo, essa

diferença em relação ao caso anterior é de grande interesse para redução de vibrações.

(a)

(b)

Figura 6.9: Diagramas de Bifurcação (30g): (a) Crescente; (b) Decrescente

Assim como no caso anterior, as curvas de transmissibilidade para a varredura

crescente e decrescente são bem compatíveis, a menos da região próxima à condição de pico.

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Apesar de apenas a varredura decrescente apresentar um pico bem definido em 75Hz, nota-se

que é nessa frequência onde ocorre a maior divergência na transmissibilidade. Esta condição

pode ser observada também nos diagramas de bifurcação. Como na aceleração de 5g, tem-se

um salto na faixa que engloba a frequência de pico.

Os diagramas de bifurcação para 30g mostram que em todas as frequências o sistema

exibe movimento periódico simples, indicando que na medida em que se aumenta a

amplitude do forçamento, o sistema passa a responder de forma mais “bem comportada”.

Para verificar esses resultados, mostra-se os mapas de Poincaré relativos à frequência

de pico (dessa vez, 75Hz) em ambas as varreduras. A Figura 6.10 apresenta tais resultados na

varredura crescente, enquanto que a Figura 6.11, na varredura decrescente.

Figura 6.10: Mapa de Poincaré, varredura crescente (30g)

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Figura 6.11: Mapa de Poincaré, varredura decrescente (30g)

Após a análise dos diagramas de transmissibilidade e bifurcação correspondentes às

duas acelerações, é possivel perceber a sensibilidade do sistema quanto à amplitude de

forçamento e à história de carregamento. Nota-se um “trade-off” na comparação dos

resultados. Ao se elevar a amplitude, sistema perde a capacidade de exibir um

comportamento dinâmico complexo. Entretanto, ocorre uma redução na trasmissibilidade, o

que é mais interessante para essa aplicação.

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6.3 VARIAÇÕES DE TEMPERATURA A FREQUÊNCIAS CONSTANTES

Nesta seção, discute-se a possibilidade de reduzir a amplitude de vibração através de

variações de temperatura, enquanto o sistema é estimulado a excitações harmônicas com

frequências constantes. Para isso, o sistema é submetido às frequências de maiores

transmissibilidades, baseando-se nos diagramas anteriormente comentados.

São estudadas duas possibilidades de variações de temperatura. Inicialmente, todos os

fios da estrutura são submetidos à mesma variação, promovendo um comportamento

homogêneo. Posteriormente, analisam-se situações não-homogêneas, considerando o caso em

que apenas alguns fios sofrem essa mudança, enquanto os demais permanecem na

temperatura de referência.

Primeiramente, é estudada a aceleração de 5g na frequência de pico (45Hz).

Conforme mostrado na Figura 6.12, a redução na temperatura de todos os fios até 280 K

promove uma pequena redução na amplitude da resposta, somente em cerca de 3%. Além

disso, nota-se o efeito de mudança no ponto médio de oscilação.

Figura 6.12: Deslocamento com variação de temperatura em todos os fios (5g)

A Figura 6.13 mostra o resultado à condição de pico em 30g (75Hz). Neste caso, a

mudança de temperatura se mostra eficaz na alteração da amplitude de resposta, reduzindo-a

em cerca de 42%. Para esta aceleração, a interferência da variação de temperatura sobre o

ponto médio também é mais significativa.

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Figura 6.13: Deslocamento com variação de temperatura em todos os fios (30g)

A alteração da temperatura induz uma mudança na rigidez dos fios de SMA (como

mostrado anteriormente na Figura 4.1), que altera a sensibilidade às frequências que

originalmente geravam altas amplitudes de resposta. Assim, o controle pode ser realizado

através da variação da rigidez e da dissipação de energia devida à histerese.

Com o intuito de avaliar a não-homgeneidade da temperatura testa-se o caso em que

dois fios são submetidos à mudança de temperatura (fios #2 e #3), enquanto os demais (fios

#1 e #4) se mantém na temperatura de referência (a numeração dos fios foi exposta na Figura

4.3). A Figura 6.14 mostra o resultado para a condição de pico em 5g, enquanto que a Figura

6.15 mostra o resultado correspondente a 30g.

Figura 6.14: Deslocamento com variação de temperatura desigual (5g)

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Figura 6.15: Deslocamento com variação de temperatura desigual (30g)

Diferentemente das simulações com temperatura homogênea, não são observadas

reduções de amplitude. Pelo contrário, no primeiro caso ocorre um aumento de 41% na

amplitude, e no segundo caso se observa um acréscimo em cerca de 3%. O segundo efeito é a

mudança brusca no ponto de oscilação, sensivelmente maior que no primeiro caso.

Essas diferenças são explicadas lembrando-se da influência da temperatura sobre a

rigidez dos fios de SMA. Como apenas dois fios sofrem essa mudança de temperatura,

somente esses tem a rigidez afetada. Ou seja, metade do sistema torna-se menos rígido,

oferecendo menos resistência ao forçamento (que está na frequência natural dos fios mais

rígidos), aumentando assim a amplitude. No caso da direção y mostrada, nota-se que o ponto

médio de oscilação se deslocou para cima nos dois casos apresentados. Lembrando que o fio

#1 agora é mais rígido que o fio #3 (ambos verticais), faz sentido que a massa tenha se

deslocado para cima, aproximando-se do fio mais rígido.

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7 SIMULAÇÕES NUMÉRICAS: MODELO MULTI-MASSAS

Neste capítulo, aborda-se o sistema multi-massas em vibrações livres e forçadas. A

mesma pré-tensão é adotada para todos os fios sob a mesma temperatura de referência que o

modelo de uma massa. Para se avaliar as vibrações livres, o sistema atual também é

submetido a perturbação nas três direções. Analisa-se o caso à temperatura constante e com

variação de temperatura. Posteriormente, estuda-se o caso com vibrações forçadas, fazendo

analogia ao que foi exposto no modelo de uma massa. A influência da temperatura é

novamente tratada.

7.1 VIBRAÇÕES LIVRES

Assim como no modelo anterior, inicialmente considera-se a vibração livre na

temperatura de referência (300K). A Figura 7.1 faz a indicação da massa perturbada e do fio

do qual são analisadas a tensão e a deformação.

Figura 7.1: Massa perturbada e fio analisado

A Figura 7.2 mostra os espaços de fase relativos ao deslocamento da massa nas três

direções, bem como o diagrama tensão-deformação e o comportamento da tensão no tempo

do fio analisado.

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(a) (b)

(c)

(d)

Figura 7.2: Vibrações livres a 300 K.

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Os resultados apontam que a dinâmica no plano que contém a estrutura converge para

uma menor amplitude, concordando com o que foi visto com o modelo anterior. Novamente,

a dissipação promovida pelos sub-laços de histerese [Figura 7.2(c)] é responsável por esse

efeito. Uma particularidade é o comportamento da tensão no tempo [Figura 7.2(d)]. Nota-se

uma aparência pulsante que difere bastante do resultado anterior. Quanto à dinâmica fora do

plano, apresenta-se na Figura 7.3 o gráfico da posição no tempo.

Figura 7.3: Vibrações livres a 300 K – direção z.

Apesar da dinâmica fora do plano não convergir para uma menor amplitude (o que

está de acordo com o modelo de uma massa), o deslocamento nessa direção exibe um

comportamento bem mais complexo. Essas diferenças apontam a influência do maior número

de graus de liberdade, pois à medida que a perturbação pode se propagar através de um

sistema de maior escala, comportamentos mais interessantes podem ser gerados.

Após a perturbação na temperatura de referência, reduz-se a temperatura para 280K

com o sistema em movimento. O resultado pode ser visto na Figura 7.4.

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(a) (b)

(c)

(d)

Figura 7.4: Vibrações livres (300 K→280K).

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Agora, com a redução de temperatura, o sistema consegue convergir para uma

amplitude ainda menor que no caso anterior (no plano que contém a estrutura). Nas Figuras

7.4(c) e 7.4(d), percebe-se que a redução de temperatura é capaz de amplificar o efeito

dissipativo do material, ampliando os laços de histerese e reduzindo o valor da tensão. Como

mostra a Figura 7.5, a dinâmica fora do plano parece não sofrer o efeito da mudança de

temperatura. Este mesmo comportamento foi observado no modelo de uma massa e

representa uma limitação física desses sistemas.

Figura 7.5: Vibrações livres (300 K→280K) – direção z

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7.2 VARIAÇÕES DE TEMPERATURA A FREQUÊNCIAS CONSTANTES

Nesta seção, o sistema multi-massas é estimulado a excitações harmônicas com

frequências constantes. Como no modelo de uma massa, o sistema é submetido às

frequências de maiores transmissibilidades, baseando-se nos estudos apresentados

anteriormente.

Com o objetivo de controle de vibrações, variações de temperatura são impostas ao

sistema. Inicialmente, todos os fios da estrutura são submetidos à mesma variação,

promovendo um comportamento homogêneo. Posteriormente, analisam-se situações não-

homogêneas, realizando-se apenas um resfriamento localizado, ou seja, apenas nos fios que

se conectam à massa que foi perturbada na seção anterior.

Primeiramente, estuda-se a aceleração de 5g na frequência de pico (45Hz). Conforme

mostrado na Figura 7.6, a redução na temperatura de todos os fios até 280 K promove uma

pequena redução na amplitude da resposta, somente em cerca de 4%. Além disso, nota-se o

efeito de mudança no ponto médio de oscilação.

Figura 7.6: Deslocamento com variação de temperatura em todos os fios (5g)

A Figura 7.7 mostra o resultado à condição de pico em 30g (75Hz). Neste caso, a

mudança de temperatura se mostra eficaz na alteração da amplitude de resposta, reduzindo-a

em cerca de 25%. A interferência da variação de temperatura sobre o ponto médio tem

essencialmente a mesma intensidade que no caso 5g (45Hz).

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Figura 7.7: Deslocamento com variação de temperatura em todos os fios (30g)

Como já explicado na seção 6.3, a alteração da temperatura induz uma mudança na

rigidez dos fios de SMA que altera a sensibilidade às frequências que originalmente geravam

altas amplitudes de resposta. Assim, o controle pode ser realizado através da variação da

rigidez e da dissipação de energia devida à histerese.

Com o intuito de avaliar a não-homgeneidade da temperatura, testa-se o caso em que

apenas os fios conectados à massa perturbada (nas simulações de vibração livre) sofrem a

mudança de temperatura. Os demais fios se mantém na temperatura de referência. A Figura

7.8 exibe os fios que sofrem o resfriamento. A Figura 7.9 mostra o resultado para a condição

de pico em 5g, enquanto que a Figura 7.10 mostra o resultado correspondente a 30g.

Figura 7.8: Resfriamento localizado

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Figura 7.9: Deslocamento com variação de temperatura localizada (5g)

Figura 7.10: Deslocamento com variação de temperatura localizada (30g)

Diferentemente das simulações com o modelo de uma massa, mesmo com o

resfriamento localizado é possível obter reduções de amplitude. Apesar de no caso 5g ocorrer

um aumento de 17% na amplitude, no caso 30g se observa uma redução em cerca de 36%. O

efeito da mudança brusca no ponto de oscilação, continua nítido neste sistema.

Conforme exposto nas figuras, existe uma boa compatibilidade entre os resultados do

modelo multi-massas com o modelo de uma massa. Apesar de serem observados fenômenos

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mais complexos como o deslocamento fora do plano nas vibrações livres, a influência da

temperatura sobre a dinâmica deste modelo se assemelha muito ao que foi visto no modelo

arquétipo. Isto valida a ideia de que modelos arquétipos podem representar de forma

satisfatória sistemas de maior escala.

Além disso, a variação de temperatura localizada fornece um resultado satisfatório em

termos de redução de amplitude de vibração. O interesse prático por trás dessa comparação

está ligado ao consumo de energia. O aquecimento de todo o sistema para se amenizar os

efeitos de um forçamento pode ser muito custoso, sobretudo em um sistema de grande escala

e com muitos graus de liberdade. Portanto, havendo a possibilidade de se alcançar um

resultado satisfatório com o mínimo de intervenção sobre o sistema, mais eficiente se torna o

método de controle.

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8 CONCLUSÕES

Este trabalho apresenta um estudo numérico a respeito da dinâmica tridimensional de

sistemas envolvendo as ligas com memória de forma. Tais sistemas foram abordados com o

intuito de representar a dinâmica de um sistema mais complexo, contendo diversos graus de

liberdade. Dois sistemas arquétipos, que representam estruturas de grande escala, são

investigados: o sistema de uma massa; e o sistema multi-massas.

O método dos elementos finitos é utilizado considerando o modelo consitutivo de

Auricchio-Taylor (1996) para descrever o comportamento termomecânico das SMAs.

Inicialmente, estuda-se o sistema de uma massa em vibrações livres e forçadas. O

acoplamento termomecânico das SMAs é observado primeiramente através da redução da

resposta livre através de uma mudança de temperatura. Tal redução é relacionada à

dependência da rigidez do material e da histerese sobre a temperatura, sendo observadas

sobretudo no movimento dentro do plano que contém a estrutura. Em seguida, são realizadas

varreduras de frequência a temperatura constante. Duas acelerações de forçamento são

comparadas, onde também se observam diferenças entre as varreduras crescentes e

decrescentes. Os diagramas de transmissibilidade são a ferramenta principal no estudo das

possibilidades de se obter a redução de vibrações. Paralelamente, diagramas de bifurcação

são construídos com o intuito de se obter uma melhor compreensão da riqueza dinâmica

desse sistema. É discutida a oposição entre a natureza da resposta e a redução de vibrações,

ao se confrontar os mapas de Poincaré com os valores de transmissibilidade. Posteriormente,

variações de temperatura são impostas ao sistema vibrando nas condições de máxima

transmissibilidade. A possibilidade de controle de vibrações através da mudança de

temperatura é novamente discutida, chamando atenção para a questão da homogeneidade da

temperatura ao longo do sistema.

No segundo momento, um sistema multi-massas é abordado em vibrações livres e

forçadas, avaliando a influência da temperatura. Nota-se que, assim como no sistema de uma

massa, é possível modificar visivelmente a dinâmica dentro do plano que contém a estrutura

através de mudanças de temperatura. Além disso, o movimento fora do plano neste caso

também se mostra pouco controlável termicamente. O sistema é então excitado nas condições

de máxima transmissibilidade identificadas no modelo de uma massa. Novamente, avalia-se a

possibilidade de controle através da mudança de temperatura, comentando também a questão

da homogeneidade. Adicionalmente, a possibilidade de interferir apenas localmente é

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discutida, apontando situações onde é possível melhorar a eficiência dos métodos de controle

baseados em temperatura.

As análises realizadas mostram que estruturas construídas a partir de ligas com

memória de forma podem apresentar comportamentos singulares e de grande aplicabilidade.

A exploração dos efeitos associados ao seu acoplamento termomecânico representa ainda

uma grande oportunidade para a solução alternativa de problemas de engenharia. Além disso,

nota-se que é possível extrair resultados de sistemas não-lineares através da utilização dos

elementos finitos. A flexibilidade do método permite simular um grande número de

possibilidades.

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