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Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Fontes de Informação Sociológica Bárbara Andreia Borges Rodrigues Coimbra, Janeiro de 2004

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Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Fontes de Informação Sociológica

Bárbara Andreia Borges Rodrigues

Coimbra, Janeiro de 2004

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A Violência Doméstica

em Portugal

Bárbara Andreia Borges Rodrigues N.º 20030972

1º Ano -1º Semestre

Fontes de Informação Sociológica

Dr. Paulo Peixoto

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Índice

Introdução..............................................................................................1 Desenvolvimento....................................................................................3 Onde localizar as fontes .............................................3 Testemunho de uma vítima .......................................9 Etapas de Pesquisa ................................................................................11 Ficha de Leitura ....................................................................................13 Avaliação de uma página da Web sobre “a Violência Doméstica” ..15 Conclusão ...............................................................................................17 Referências bibliográficas ....................................................................18 Anexos Anexo I Texto de suporte para a elaboração da Ficha de Leitura Anexo II Página Web avaliada

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Introdução

Ao contrário do que possa parecer, a violência doméstica não é um fenómeno dos nossos dias, simplesmente a evolução dos tempos e o desenvolvimento da comunicação social permitem que haja, agora, uma maior consciencialização da questão em causa. A prática desta violência atravessa os tempos, e apresenta características muito similares em países cultural e geograficamente distintos, mais e menos desenvolvidos. Denomina-se “violência doméstica” a violência física, psicológica, verbal, sexual, que ocorre entre membros de uma família ou que partilham o mesmo espaço de habitação. “Estas circunstâncias fazem com que este seja um problema especialmente complexo, com facetas que entram na intimidade das famílias e das pessoas (agravado por não ter, regra geral, testemunhas, e ser exercida em espaços privados). Abordá-lo é delicado, combatê-lo é muito difícil. É verdade, no entanto, que mercê do grande interesse que as principais organizações internacionais têm dedicado a este tema nas últimas décadas, temos actualmente a consciência mais desperta para conhecer o problema e, consequentemente, para o enfrentar. (...) Não podemos ignorar, no entanto, que a grande maioria de situações que prefiguram casos de violência doméstica são ainda as exercidas sobre as mulheres pelo seu marido ou companheiro. Este tipo de violência doméstica tem significativas implicações políticas, sociais e até económicas e constituiu uma violação dos direitos humanos com raízes históricas e culturais. Na sua origem está, porém, a persistência de flagrantes desigualdades entre as mulheres e os homens”. (CIDM: s.d.)

Assim, a violência doméstica é uma questão universal que atinge milhares de pessoas, em grande número de vezes de forma silenciosa e dissimuladamente. Este fenómeno “acomete ambos os sexos e não costuma obedecer a nenhum nível social, económico, religioso ou cultural específico, como poderiam pensar alguns”. (Ballone, 2003) A sua importância é relevante sob dois aspectos: primeiro, porque imputa às suas vítimas um sofrimento indescritível, e, em segundo, porque pode impedir um bom desenvolvimento físico e mental da vítima.

Este é o tema que pretendo tratar ao longo deste trabalho, procurando reunir algumas das fontes de informação indispensáveis para uma pesquisa ou um estudo futuro. Dos milhares de vítimas de violência doméstica, só um número reduzido, mas em constante aumento, apresenta queixa passível de futuro tratamento estatístico. Por isso, este é um tema de tratamento austero e difícil. Será, no entanto, proveitoso interrogá-lo, pelo lado da sociologia. A evolução do conhecimento relativo a este assunto desperta algumas questões, tais como: “Trata-se de um fenómeno recente? Ou recente será apenas a sua visibilidade?”. (Pais, 1998: 69) O que provocou o aumento da denúncia do fenómeno? Para responder a estas e a outras questões será indispensável recorrer a vários autores, que descrevem momentos fulcrais da história da violência doméstica em Portugal e no resto do mundo (nomeadamente no Brasil e no sul da Europa).

No âmbito desta temática destaca-se, ainda, os diferentes tipos de violência doméstica que se podem identificar, e as suas implicações sociais e familiares.

Estas são, então, algumas das questões que tenciono abordar, através da indicação de algumas vias para obter mais informação. A exploração de fontes de natureza

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sociológica sobre a violência doméstica é vital para uma avaliação e discussão desta em todas as suas vertentes.

Este trabalho baseia-se em fontes de informação de índole variada, sendo compostas por livros, sites da Web, reportagens de jornais e televisivas.

Ao longo da pesquisa não me restringi a Portugal. Por um lado, porque as transformações ocorridas acompanham um movimento global, tendo características em comum. Por outro, a investigação em Portugal dentro deste tema é ainda um pouco reduzida, e as características são relativamente similares. Pesquisei apenas em português, pois é-me mais fácil a compreensão da informação nesta língua.

A página da Web, que escolhi para avaliar, aborda o tema da violência doméstica de uma forma clara, expondo algumas das temáticas a esta relacionadas de forma clara e pormenorizada. Esta destina-se, na minha opinião, a um público alargado, sendo útil, quer para investigadores e estudantes, quer para pessoas comuns, que queiram saber mais sobre esta matéria.

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Desenvolvimento

O fenómeno da violência sempre existiu como expressão da ira humana. Nos nossos dias ela tem-se tornado um sinal dos tempos. É um fenómeno encontrado em todos os lugares do globo e que aterroriza a todos. Ela apresenta-se de diversos modos e são muitas as suas causas. A experiência da violência dentro dos lares tem múltiplas raízes: deformação do carácter e da personalidade, educação, condições sociais, alcoolismo, drogas, etc... No nosso país, calcula-se que o alcoolismo e o uso de drogas são as causas mais frequentes da violência que dilacera o coração dos pais e dos filhos e promove a desagregação familiar. “Há milhares de mulheres que sofrem de alguma forma de violência nas mãos dos seus maridos e namorados em cada ano. São muito poucas as que contam a alguém - um amigo, um familiar, um vizinho ou à polícia”. (Ballone, 2003) As vítimas da violência doméstica são oriundas de várias culturas, grupos sociais, de todas as religiões e são de todas as idades. Todas elas partilham sentimentos de insegurança, isolamento, culpa, medo e vergonha. (idem, 2003) Onde localizar as Fontes Livros científicos No livro “Homicídio conjugal em Portugal: Rupturas violentas da conjugalidade” (Pais, 1998), a autora, que é uma referência na área da sociologia da família, apresenta um estudo que “ultrapassa as dimensões de uma análise do homicídio para se situar na confluência de áreas como a violência na família, a violência conjugal e a violência contra a mulher”. (Lourenço apud Pais, 1998: 11) Num dos capítulos do presente livro um dos temas tratados é o Espaço doméstico e violência. Aqui a autora pretende analisar o problema social que é a violência doméstica, como esta se processa e quem são os mais atingidos. “Trata-se de uma violência que, por diversos motivos, tem sido silenciada, tendo ocupado um “lugar secreto” na conjugalidade, continuando ainda hoje muito oculta, não só devido à pressão social para a não denúncia, como também a imperativos de ordem sociocultural, pelo que tem sido considerada um comportamento normal, tradicional e socialmente legitimado na relação entre os cônjuges”. (Pais, 1998: 70) Através da realização do inquérito nacional à violência contra as mulheres feito em Portugal, N. Lourenço, M. Lisboa e E. Pais chegaram à conclusão “ser a casa o espaço privilegiado da violência contra as mulheres e a violência ser transversal a todas as classes sociais, diferenciando-se contudo quando analisada segundo as suas formas/tipos de manifestação”. (Pais, 1998: 70-71) Assim, pode-se concluir que “a violência psicológica é, de um modo geral, comum a todos os estratos sociais, estando a física mais localizada nos estratos sociais baixos”. (idem, 1998) No livro “Prevenir a Violência Doméstica - Trabalhando em Rede” (AAVV, 2002), os diversos autores procuraram fazer um apanhado dos variados “pontos” que

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a violência doméstica envolve. Assim, à problemática juntam os profissionais de saúde, a justiça, a comunicação social, os agentes sociais, os agentes da autoridade, a escola, entre outros. Para o presente trabalho, entendi que o capítulo “violência doméstica e agentes sociais” da autoria de Susana Mota e de Nuno Gradim era o mais específico para o tema em análise. Os autores dividem este capítulo em sub-temas para uma melhor compreensão da problemática. Começam por explicitar o quão complexo é o assunto, seguindo para uma análise dos custos sociais, analisando ainda o enquadramento legal deste crime, o processo de apoio às mulheres vítimas, a forma de actuação dos profissionais, o pedido de apoio e fazem também uma planificação e objectivos de intervenção junto de mulheres vítimas, recomendações gerais, dando, por fim, conta da experiência de quem contacta diariamente com as vítimas, etc.

Artigos de jornais No dia 25 de Novembro celebrou-se o Dia Internacional para Eliminação da Violência contra as Mulheres. Este facto originou um aumento significativo de informação relativo ao tema por parte dos órgãos de comunicação social. Desta forma, justifica-se que grande parte das fontes utilizadas, pertencentes a estes órgãos, sejam provenientes deste dia e do seguinte. No jornal Público do dia 25 de Novembro encontramos uma notícia redigida por Andreia Sanches (2003a) intitulada “Filhos de mulheres vítimas de violência adoecem mais” que nos revela as conclusões de um estudo elaborado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL), através do SociNova - Gabinete de Investigação em Sociologia, no quadro de uma solicitação da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres: “Custos Sociais e Económicos da violência contra as mulheres”. Ainda no mesmo jornal e da mesma jornalista (Sanches, 2003b), podemos ler a notícia “Mais de 12 mil participações de violência doméstica em 2002”, que analisa dados estatísticos. Finalmente, Andreia Sanches (2003c) escreve, ainda, “Falta de informação nos países do Sul da Europa”, onde são apresentadas conclusões do Relatório Penélope1. No Jornal de Notícias do dia 25 de Novembro, Susana Otão redigiu uma notícia “Cinco mulheres morrem por mês vítimas de violência”, onde apresenta os contínuos números assustadores da problemática. Podemos encontrar, também, na mesma notícia declarações de Manuel Ferreira Antunes, presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, e uma síntese do Relatório Penélope. O jornal A Capital (Cardoso, 2003), do mesmo dia, faz alusão à necessidade, defendida pelo presidente da APAV, da constituição de um Observatório sobre a Violência Doméstica e a criação de uma rede de apoio às pessoas agredidas. Também este jornal apresenta dados estatísticos sobre a problemática. “Tratar agressores e salvar relação” de Manuela Guerreiro (2003) e “Violência mata cinco por mês” de Edgar Nascimento (2003) são duas notícias do Correio da Manhã, referentes à aplicação da lei e à importância de um Observatório e de uma rede de apoio. Finalmente, no dia 25 saíram, ainda, nas bancas O Comércio do Porto (Barbosa, 2003) e o 24 Horas (Tavares, 2003), cujas notícias redigidas referentes ao fenómeno Violência Doméstica se situam nos mesmos pontos que os jornais atrás referidos.

1 Estudo sobre a violência doméstica no Sul da Europa explicado mais à frente na página 8.

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No dia seguinte ao Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, os jornais fizeram novamente referência à problemática. Assim, podia-se ler no Público, por Andreia Sanches (2003d) “Mulheres vítimas de violência são um custo para a sociedade”, notícia baseada em declarações de Maria Amélia Paiva, presidente da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres (CIDM), apresentando esta realidade como «crua e dura». A Capital (Dutra, 2003) baseia a sua informação, neste dia, em dados fornecidos pelo Serviço de Informação e Acompanhamento de Vítimas de Violência Familiar (SIAVVF) e pelo Centro de Estudos para a Intervenção Social (CESIS), informação esta referente, sobretudo, a dados estatísticos relativos à agressão física. No Jornal de Notícias deste dia, pode-se ler “Um projecto para cumprir a lei” de Alexandra Inácio (2003) e “Lei deve ser mais dura com o agressor” de Clara Vasconcelos (2003). Ambas as notícias se referem à aplicação da lei em Portugal. Para concluir, um último jornal, O Primeiro de Janeiro (2003), refere que “Os números de violência em Portugal são «intoleráveis»”. Também neste jornal se dá primazia a dados da APAV (s.d.), registando, ainda, declarações de Morais Sarmento, ministro da Presidência. Dados estatísticos Podemos encontrar dados estatísticos em diversas publicações, parecendo-me os da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) os mais completos pois fazem diversas estatísticas, comparando os dados. Assim, pode-se dizer que a APAV (s.d.) registou no ano passado mais de 17 mil crimes de violência doméstica, 60% dos quais relativos a maus tratos físicos, perpetrados, na sua grande maioria, pelo cônjuge ou companheiro. Mais de 3750 pessoas foram maltratadas dentro das suas próprias casas em 2001. É ainda a mesma Associação que nos revela que “Em Portugal, morrem por mês cinco mulheres vítimas de violência doméstica, uma em cada dez é vítima pelo menos uma vez na vida e uma em cada três é repetidamente vítima”. (Nascimento, 2003: 5). “(...) Algumas morrem nas mãos do carrasco com quem partilham a casa, a mesa e a cama (...) cerca de 60 por ano em Portugal (...)”2. Calcula-se que um homem em cada quatro e uma mulher em cada seis, ainda hoje, aprovam que os cônjuges, em certas condições e dentro de certos limites, rule of thumb, possam bater nas mulheres. (Pais, 1998: 71) Relativamente ao perfil da vítima as estatísticas apontam para que esta seja mulher, entre os 16 e os 44 anos, residente na área de Lisboa ou Porto. (Duarte, 2003) Recorrendo à reportagem de Joana Ramalhão sabemos que quanto ao agressor, normalmente, é homem, entre os 36 e os 45 anos de idade e pertencente à área da construção civil ou da indústria.

2 Tal como podemos constatar na reportagem de Joana Ramalhão exibida no Jornal da Tarde de 20 de Novembro de 2003.

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Quadro I

Crimes de Violência Doméstica segundo o sexo da vítima (1º Semestre de 2003)

Violência doméstica Feminino Masculino Não sabe/nr Total Maus tratos físicos 2666 154 46 2866

Maus tratos psíquicos 2597 198 37 2832 Ameaças/ Coacção 1765 90 21 1876 Difamação/ Injúrias 857 54 16 972

Subtracção de Menor 25 8 1 34 Violação da obrigação de alimentos 74 8 1 83

Violação 111 6 - 117 Abuso Sexual 90 13 1 104

Outros em meio doméstico 56 19 - 75

Fonte: APAV (s.d.) Ao analisarmos o quadro I chegamos facilmente à conclusão que a violência doméstica é um problema que atinge sobretudo mulheres, e que a violência física, a violência psicológica e a agressão emocional são os crimes que mais vigoram na nossa sociedade, logo seguidos da violação. Estes números não estariam completos sem antes ser analisada a tabela abaixo sobre o tipo de violência e o tipo de agressor, notando-se claramente a questão das agressões incidirem nas físicas e psicológicas e noutros crimes (nos quais se pode subentender a negligência). Outro dado relevante é o facto do agressor ter um grau de parentesco muito próximo da vítima (cônjuge/companheiro; ex-cônjuge/companheiro; pai/mãe).

Quadro II

Crimes de Violência Doméstica segundo a relação do autor do crime com a vítima (1º Semestre de 2003)

Relação com a vítima Maus tratos físicos

Maus tratos

psíquicos

Violação Abuso sexual

Outros crimes

Total

Nenhuma 5 3 1 2 4 15 Cônjuge/Companheiro 2134 2120 57 29 1544 6484

Ex-Cônjuge/Companheiro 185 179 7 3 180 654 Namorado/a 50 44 2 - 56 152

Pai/Mãe 205 218 19 32 185 657 Filho/a 129 127 1 - 136 383

Irmão/Irmã 30 26 5 8 35 102 Avô/Avó 5 7 - 3 6 21

Neto/a 12 9 - - 11 32 Sogro/a 2 5 - - 5 12

Outro familiar 32 31 11 10 44 128 Entidade patronal 1 3 2 - 4 10 Colega de trabalho - 1 - - 4 5

Vizinho/a 3 5 2 2 13 25 Amigo/a 1 - 1 2 1 5

Conhecido 6 3 4 3 7 23

Fonte: APAV (s.d.)

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A APAV fornece-nos, também, informação estatística relativa às causas deste género de violência: a mais referida foi o álcool (97,1%), seguindo-se o desemprego (83,9%), a pobreza/exclusão social (80%), e o baixo nível de escolaridade (74,4%). No que se refere à medida de combate, os portugueses privilegiam a adopção de leis mais severas (95,7%), e defendem que os jovens devem ser educados sobre o que é o respeito mútuo (94%). É importante, contudo, não esquecer que estes números não passam de projecções, servem apenas como referência para uma realidade em grande parte oculta, já que continua a ser encarada como tabu. Aplicação da lei Em alguns artigos de jornais e nos livros científicos podemos encontrar algumas passagens referentes à aplicação da lei relativamente ao crime da violência no seio da família. “Os sistemas jurídico-legais durante muito tempo não ousaram regulamentar a esfera privada da família, orientando-se pelo princípio de que «entre marido e mulher ninguém mete a colher»”. (Pais, 1998: 81) “As lacunas existentes sobre esta matéria têm sido efectivamente muito grandes, tendo-se constituído apenas o sujeito masculino como sujeito de direito no sistema jurídico e a aplicação do direito reduzido fundamentalmente à esfera pública. As raras vezes que a lei se imiscuiu na esfera privada fê-lo adoptando atitudes diferenciadas no tratamento dos sexos, promovendo desigualdades que se transformaram em injustiças”. (idem, 1998: 81) Leonor Furtado (2001) , no que respeita à área penal, refere que “a busca de soluções passa por procurarmos que a vítima tenha efectivamente um apoio psicológico, material, pessoal e económico, e que o agressor seja também apoiado em termos de tratamento, em termos de integração e ressocialização”. (Furtado, 2001: 67) “A ressocialização não se esgota apenas na vítima e no agressor, tem que integrar todos os elementos do núcleo familiar e a própria sociedade onde essa família se insere. (...) Os ditados populares reflectem, muitas vezes, uma cultura desculpabilizante da violência, como por exemplo, «entre marido e mulher não metas a colher», «lá em casa manda ela mas nela mando eu». Este tipo de provérbios, fazem parte de uma cultura que atravessa toda a sociedade. E chega aos interventores judiciários, juizes, magistrados do Ministério Público, advogados, polícias, são seres humanos, com todos os erros, com toda a carga educativa e cultural que receberam dos elementos do núcleo familiar, dos pais”. (idem, 2001: 67) No entanto, embora se verifique um aumento da visibilidade desta violência, embora nos encontremos numa sociedade com uma mentalidade mais aberta e com um mais facilitado acesso à informação “não chegam a 250 os crimes em julgamento”. (Inácio, 2003: 11) Quer isto dizer que são muito poucas as vítimas que levam o processo até ao fim, isto é, muitas das que apresentam queixa retiram a mesma. “«A lei deve ser mais agressiva com o agressor», posição defendida por Ana Sara Brito, do Departamento Nacional de Mulheres Socialistas”. (Vasconcelos, 2003: 11) “A socióloga Elza Pais defendeu que a regulamentação das casas-abrigo deve prever uma equipa técnica capaz de dar apoio psicológico às mulheres e às crianças que acolhe”. (idem, 2003: 11) “A par de tudo isso (...) é preciso levar as mulheres a apresentarem queixa. Apenas 1% das mulheres o fazem e (...) «o silêncio é a pior das violências»”. (ibidem , 2003: 11)

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O Plano Nacional Contra a Violência Doméstica, ainda aprovado pelo Governo PS, estipulava a criação de um abrigo por destrito, dois em Lisboa e dois no Porto. Neste momento há três em todo o país. Daí o projecto de resolução, uma vez que as maiores lacunas não são na legislação mas no seu cumprimento. (Inácio, 2003: 11) Apesar da transformação dos maus tratos em crime público ter facilitado o combate à violência doméstica, a APAV considera que a vítima ainda não é suficientemente protegida em Portugal. “As mulheres continuam a sofrer com a morosidade da justiça e há ainda uma grande falta de apoios, nomeadamente no que diz respeito à existência de centros de acolhimento”. (APAV, s.d.) O Relatório Penélope sobre a violência doméstica no Sul da Europa, co-financiado pela Comissão Europeia, denuncia uma insuficiência de informação sobre a problemática da violência doméstica e sobre os diferentes tipos de intervenção política, jurídica e social, em todos os países em estudo. Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia possuem ainda graves lacunas nesta área, nomeadamente no que respeita à legislação, que existe, mas que fica muitas vezes por aplicar. (Otão, 2003b: 6) Em todos os casos faltam, por exemplo, “recursos financeiros e materiais” e profissionais especializados. O relatório conclui pela necessidade de se aplicar um Plano Europeu de Combate à Violência Doméstica, no contexto da Comissão Europeia, em resposta à necessidade de estabelecer padrões mínimos para garantir a protecção das mulheres vítimas de violência doméstica. (Sanches, 2003c: 5) Outras fontes

Ao realizar a pesquisa na internet encontrei um sítio que me permitiu compreender melhor o que se entende por violência doméstica. Apesar de ter dados brasileiros, a informação que contém é bastante boa (pois não apresenta apenas dados estatísticos) para que se entendam todas as vertentes da violência conjugal: violência física, psicológica, verbal, negligência, violação. “Violência física é o uso da força com o objectivo de ferir, deixando ou não marcas evidentes. São comuns murros e bofetadas, agressões com diversos objectos e queimaduras com objectos líquidos ou quentes. Quando as vítimas são homens, normalmente a violência física não é praticada directamente. Tendo em vista a habitual maior força física dos homens, havendo intenções agressivas, esses actos podem ser cometidos por terceiros, como por exemplo, parentes da mulher ou profissionais contratados para isso. (...) A Violência Psicológica ou Agressão Emocional, às vezes tão ou mais prejudicial que a física, é caracterizada por rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições exageradas. Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes indeléveis para toda a vida”. (Ballone, 2003). Para além de informação ainda mais detalhada, nesta página podemos encontrar estatísticas relativas ao perfil do agressor e da vítima, consequências para as crianças, etc. A página da internet faz ainda referência à página do português Gilberto Lúcio Silva sobre mitos e verdades da violência doméstica, muito interessante para uma melhor compreensão da problemática. Por fim, as reportagens retiradas dos programas informativos audio-visuais, Jornal Nacional, Bom Dia Portugal, Jornal da Tarde e Telejornal, fornecem-nos informação estatística, declarações de membros da APAV, as conclusões do Relatório Penélope3.

3 Referimo-nos aqui concretamente às reportagens de Joana Dias Duarte transmitidas na TVI no Jornal Nacional de 24 e 25 de Novembro, de Rita Lemos transmitida na RTP1 no programa Bom Dia Portugal de 25 de Novembro, de Joana Ramalhão transmitida na RTP1 no Jornal da Tarde de 20 de

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O facto deste ser um crime público que exige apoio humano e material, apoio esse que é escasso no nosso país, ainda nestas reportagens podemos assistir a relatos de vítimas de maus tratos domésticos. Testemunho de uma vítima Relato de uma mulher, mãe de quatro filhos, que durante mais de dez anos foi agredida pelo marido. Luísa é o nome fictício utilizado na reportagem de Joana Dias Duarte. «Quando nós nos casámos, não nos casámos com a ideia de nos separar. Ora, se eu me casei era p’ra fazer uma vida de futuro, só que isso não aconteceu. Porque era eu a levantar o castelo e ele a deitar o castelo abaixo. Era eu a construir e ele a destruir. (...) A primeira vez foi uma simples...uma coisa muito simples...pronto...ele quis ir sair...e eu queria ir sair com ele...que era normal, não é? Se ele dizia que ía ao café...eu também queria ir ao café...ai não vais ao café, não vais ao café, não vais ao café...e eu teimei que queria ir ao café, não é? E ele vai daí e deu-me uma tareia a pontos de me pôr mesmo...bem, a cara toda inchada e tudo em casa mesmo, pronto...num estado lastimoso... E numa primeira vez ninguém vai adivinhar de futuro, por aí fora o que vai acontecer...continuei e porque pronto, ele era uma pessoa que eu só vim a conhecer mais tarde. (...) Ele fazia-se uma pessoa mas na verdade ele era outra...e eu enquanto acreditei na outra versão, na versão melhor...fui-me deixando ficar. (...) Os maus-tratos mais frequentes foram ao fim de já ter os filhos...quase todos, já tinha três, pelo menos...aí começaram a ser agressões quase diárias. (...) Ainda tive o quarto porque o quarto já...se eu fiquei grávida mesmo sem...sem querer, eu aceitei os filhos todos que vieram...não tinham culpa, não é? (...) Ele ultimamente fazia questão de me maltratar...à frente dos filhos...desde ofensas, ele começava por ofensas, e depois ía por aí fora a bater...e se os filhos gritavam batia nos filhos e partia tudo e prontos por aí fora. (...) E eu própria comecei a ter medo...pronto...eu vivia debaixo de um pânico e os filhos viviam debaixo de um pânico...constante. A pontos de muitas vezes já ninguém comer, de muitas vezes ninguém querer sair à rua p’ra não olhar p’ra ninguém. Na escola, ninguém, nos colégios, nas creches, as...tudo se vía aflito com as crianças, porque eles andavam revoltados, eles andavam agitados, eles...quando chegava a hora de ir p’ra casa, choravam. (...) Toda a gente sabia ultimamente. (...) Ninguém fazia nada porque tinham medo. (...) Do meu marido...porque ele ameaçava toda a gente. Toda a gente que me defendesse ‘tava na lista. A saída de casa foi numa noite a caminho do hospital. (...) Aí eu fui p’ró hospital e eu aí decidi não entrar mais em casa. (...) Os filhos foram atrás de mim. (...) Depois dormi num banco de jardim toda a noite com os filhos...até amanhecer. Depois de amanhecer fui à APAV. Depois duma situação dessas, a pessoa sente-se fora da situação...a paz é a coisa melhor que nós podemos sentir...e então, vindo a paz, eu consegui dar a volta a tudo...que isto são marcas que ficam p’rá vida inteira». Através deste testemunho podemos confirmar todas as informações expostas atrás. A vítima explica como o casamento começou bem e, depois, o marido, por situações consideradas normais num casamento, como saírem juntos, inicia a destruição do mesmo. O testemunho revela não só as agressões físicas e psicológicas de que

Novembro e de Luísa Bastos e Rita Ramos transmitidas na RTP1 no programa Telejornal de 25 de Novembro.

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geralmente se fala, mas também, a agressão aos filhos e, pode subentender-se, o abuso sexual (raramente denunciado pois as vítimas consideram fazer parte dos deveres ou direitos matrimoniais) quando se fala do quarto filho. Finalmente, pode compreender-se como são importantes as associações de apoio à vítima para a reconstrução de uma vida, até ali, de sofrimento.

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Etapas de Pesquisa

No passado dia 25 de Novembro celebrou-se o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, pelo que a minha pesquisa se iniciou, precisamente, pela recolha de todas as reportagens, do dia 24 e 25 referentes ao tema do presente trabalho, oriundas dos mais diversos jornais que circulam no nosso país. A informação retirada desta pesquisa baseia-se, sobretudo, em dados estatísticos produzidos pelo Ministério da Administração Interna, pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV, s.d.), pelo Plano Nacional de Violência Doméstica (CIDM, s.d.), pelo “Relatório Penélope”. Também o Estudo “Custos Sociais e Económicos da Violência Contra as Mulheres” elaborado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL), através do SociNova - Gabinete de Investigação em Sociologia, no quadro de uma solicitação da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres foi uma fonte importante para a comparação de informação. Ainda nos jornais encontrei dados relativos ao modo de aplicação da lei, aos apoios que as vítimas recebem, e tomei conhecimento de alguns relatos anónimos de vítimas.

Igualmente nestes dois dias consegui informação audio-visual dos mais diversos programas informativos da televisão portuguesa, nomeadamente do Jornal Nacional (TVI), Bom Dia Portugal (RTP1), Telejornal (RTP1) e ainda do Jornal da Tarde do dia 20 de Novembro (RTP1). Identicamente a informação retirada foi muito ao encontro da informação da imprensa. Este facto foi-me bastante útil na minha indagação, na medida em que me foi permitida uma comparação de informação.

Consultei, também, a base de dados da Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra onde encontrei diversos livros científicos relativos à violência doméstica. Destaquei dois que me pareceram bastante interessantes: Homicídio Conjugal em Portugal, de Elza Pais (1998) e Prevenir a Violência Doméstica trabalhando em rede, editado pela Secretaria Regional dos Assuntos Sociais (AAVV, 2002). Ambos os livros abordam, na minha opinião, muito bem o assunto. Analisam todas as vertentes deste problema social de forma detalhada e, no caso do segundo livro, recorrendo a várias personalidades, como responsáveis institucionais.

Para as pesquisas na Web utilizei, principalmente, o motor de busca Google, pois parece-me o mais fácil de utilizar, embora ultimamente se encontre muito ruído se não formos cuidadosos. O tema da violência doméstica é muito abrangente, de modo que necessitei de ao longo da pesquisa especificar cada vez mais o tipo de informação que pretendia.

Assim, numa primeira fase, realizei uma pesquisa simples referindo apenas as palavras-chave “violência doméstica”. Como é natural, o ruído foi muito: 34.400 registos encontrados. Perante estes resultados tive de especificar a minha pesquisa. Assim, utilizei a pesquisa avançada do Google tendo como palavra-chave “violência”, a expressão “doméstica”, apenas em português, nos últimos três meses, escolhi a ocorrência “no título da página” e o formato de arquivo “qualquer formato”. Como resultado obtive 317 registos, ou seja, diminuí bastante o ruído. Aqui o ruído existente já é aceitável, por isso, decidi não delimitar mais a minha pesquisa e consultar apenas os links que me pareceram mais importantes. Resolvi, no entanto, pesquisar, também, noutro motor de busca, o Yahoo, para uma comparação de

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resultados encontrados. Utilizei a pesquisa avançada, tendo como palavra-chave “violência doméstica”, no título da página, em qualquer domínio e apenas em português. O resultado obtido foi 282 registos. Pude concluir que alguns links eram idênticos aos encontrados através do anterior motor de busca, o que me suscitou interesse para a pesquisa.

Ainda na pesquisa na Web consultei algumas das páginas aconselhadas no site da APAV, onde encontrei mais informação específica importante para esta temática.

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Ficha de Leitura

Título da Publicação: Prevenir a Violência Doméstica Trabalhando em Rede Autores da publicação: AAVV Local onde se encontra: FEUC Data da Publicação: 2002 Edição: Comissão Consultiva Regional para os

Direitos das Mulheres Local de Edição: Ponta Delgada Editora: Secretaria Regional dos Assuntos Sociais Título do Capítulo utilizado para a realização da ficha de leitura: Violência Doméstica e Agentes Sociais Autores do capítulo: Susana Mota e Nuno Gradim Cota: 342.7 SEM N.º Págs. da publicação: 189 Páginas do capítulo: 115-140 Assuntos: Custos sociais, intervenção com as vítimas, enquadramento legal do crime, processo de apoio às vítimas, como devem actuar os profissionais, quando surge o pedido de ajuda, objectivos da intervenção junto das vítimas, a experiência de quem trabalha com as vítimas

Palavras-Chave: Violência Doméstica Data de Leitura: 20-12-2003 Área Científica: Sociologia Sub-Área Científica: Sociologia da Família Susana Mota e Nuno Gradim, são Técnicos Superiores na Delegação do Norte da

Comissão para a Igualdade e Para os Direitos das Mulheres (CIDM). No capítulo do livro “Prevenir a violência doméstica trabalhando em rede:

violência doméstica e agentes sociais” (Mota e Gradim, 2002: 115-140), os autores apresentam de forma clara os custos sociais da violência conjugal, a intervenção com as vítimas, a importância da formação dos profissionais de apoio e o que devem ter em conta na sua actuação, explicitam o sentido de crise, quais as necessidades da vítima, etc.

A violência doméstica é uma problemática muito complexa que necessita de uma

abordagem psicossociocultural. Não se tratando apenas de um problema social, médico, policial ou jurídico, a vitimação da mulher é, na generalidade, um factor de risco para o desencadear de dificuldades psicológicas.

Muitas vezes, os programas de intervenção apresentam algumas restrições devido a alguma resistência dos profissionais em legitimarem as sérias e graves consequências provocadas pelos maus tratos; e por certas reacções das vítimas como a minimização e a negação da gravidade dos maus tratos. Esta atitude dá origem a um pedido de ajuda, muitas vezes, indirecto, ou seja, procuram ajuda para o mal estar psicológico (por exemplo devido a problemas económicos) e não pela situação de maus tratos.

É importante referenciar, no entanto, que nas últimas duas décadas tem-se assistido a uma mudança de mentalidade, isto é, a uma maior consciencialização e crescente percepção dos elevados custos sociais e psicológicos, por parte dos investigadores e técnicos que contactam diariamente com a problemática da violência conjugal.

O papel desempenhado pelos profissionais é de capital importância, pois é no atendimento e nos processos que desenvolvem que reside a verdadeira capacidade de resposta que uma instituição pode dar a este problema social. O atendimento e o acompanhamento desadequados dão origem ao que se convencionou chamar «dupla vitimização ou vitimização secundária». (Mota e Gradim, 2002: 117) É, portanto, necessária a formação de todos aqueles que trabalham com as vítimas de violência doméstica: “as forças policiais, o aparelho judiciário, os técnicos de saúde, os serviços sociais, devendo essa formação ser ajustada à cultura própria e às

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necessidades específicas dos grupos de profissionais a que se destina”. (Mota e Gradim, 2002: 117)

Em 2000, este crime tornou-se público, isto é, passa a ser obrigatória a sua denúncia por parte das forças policiais. Este novo estatuto, do crime, trouxe vantagens e desvantagens.

Ao longo do tempo, foram-se concebendo estratégias que permitissem um melhor apoio às vítimas de coacção familiar. Assim, “nasce” a “Intervenção em crise (..) uma terapia psicológica em que se acompanha uma pessoa a vivenciar um acontecimento traumático, como a vitimação”. (Mota e Gradim, 2002: 120)

Muitas vezes coloca-se pergunta “Quando surge a crise?”. Neste capítulo pode-se encontrar uma esclarecedora resposta, não só para esta pergunta, como também para um lado da problemática que geralmente não se tem em conta: a actuação dos profissionais. Neste ponto, bem como, no “Como devem actuar os profissionais da crise”, os autores dão dicas importantes do que é necessário fazer/ ter em conta quando se está perante uma vítima de violência no seio familiar, revelando uma boa pesquisa relativa ao assunto.

Quando se trabalha com a violência conjugal é importante saber em que momento surge o pedido de ajuda. Esta questão é, igualmente, bem abordada pelos dois autores. Eles descrevem sinteticamente três objectivos de intervenção prioritários.

As disposições legais são de conhecimento fundamental para quem se confronta com a questão. Assim, são enunciadas neste capítulo três leis do Código Penal Português que os autores acharam relevantes.

Ainda neste capítulo se pode encontrar uma planificação e objectivos de intervenção junto de mulheres vítimas de opressão doméstica e uma síntese das “diferentes barreiras e obstáculos com que as mulheres vítimas de violência se confrontam quando decidem “fugir” à violência e aos abusos”. (Mota e Gradim, 2002: 128)

Para finalizar, para os leitores do livro, em geral, e do capítulo, em particular, Susana Mota e Nuno Gradim deixam recomendações gerais, que não são mais do que um resumo e umas dicas de combate a este problema social. Do mesmo modo, expõem a experiência de trabalhar com este tipo de vítimas e apresentam os resultados “de um estudo recente levado a cabo na Austrália por duas investigadoras da Universidade de Curtin e que versou sobre o impacto da intervenção junto de vítimas de violência doméstica nos profissionais de ajuda”. (Mota e Gradim, 2002: 133)

O texto de suporte desta ficha de leitura esclarece, na minha opinião, todos os custos sociais que a violência conjugal implica. Desde a formação dos profissionais, às necessidades da vítima, a todos os factores a ter em conta na presença desta, ou seja, no que se refere ao outro lado da questão: não ao tipo de agressão, mas sim aos meios de apoio, às necessidades da vítima e ao esclarecimento da problemática. Este texto, em particular, e o livro, em geral, aborda claramente e muito bem o tema. Isto tudo com a vantagem de ser relativo à sociedade portuguesa, especificamente. No entanto, o discurso é muito técnico. Falta-lhe uma análise segundo uma perspectiva mais sociológica para que todos os pontos de vista da questão fiquem claros.

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Avaliação da Página da Web

Esta foi a página da Web que seleccionei para ser analisada e criticada: http://www.psiqweb.med.br/infantil/violdome.html

A página intitulada “Violência Doméstica” elaborada por Geraldo José Ballone (2003), aborda a temática em todas as suas vertentes. Para além de simplificar o conceito de violência doméstica e a importância do seu conhecimento, remete-nos para diversas páginas e livros, com informação relevante sobre assuntos relacionados. Distingue, claramente, os tipos de violência conjugal: coacção física, psicológica, verbal, sexual, negligência. Fornece-nos, igualmente, informação sobre as causas e consequências desta realidade social e estatísticas do perfil da vítima e do agressor. Em relação ao seu autor, esta não disponibiliza qualquer tipo de informação, sabemos apenas que se chama Geraldo José Ballone, o que poderia tornar a página pouco credível. Também o facto da página ser brasileira poderia suscitar algumas dúvidas sobre a sua credibilidade, pois no que se refere a dados estatísticos esta poderia apenas ter em conta o Brasil. Todavia, isto não acontece, porque o autor complementa os dados brasileiros com outros gerais. Contudo, o autor remete-nos para diversos sítios credíveis e utiliza fontes conceituadas: dados estatísticos da APAV ou para a Fundação da Juventude. Outra prova, ainda, é o caso do autor fazer diferentes citações de diversas instituições, como do Conselho da Europa, dados de 1997 da Unicef, da Organização Mundial de Saúde (OMS), do sítio SaudePrev. Recomenda-nos, também, a página do português Gilberto Lúcio da Silva sobre mitos e verdades da violência doméstica, transcrevendo algumas passagens. Desta forma, parece-me que a credibilidade da fonte é inquestionável. A página escolhida é de origem brasileira, sendo, portanto, o idioma o português. A informação/dados não se restringe ao Brasil, como referi no parágrafo anterior, as hiperligações remetem-nos para páginas com dados relativos a todo o mundo. O objectivo do sítio é, na minha opinião, é o de informar de uma maneira geral sobre a problemática e todas as questões com ela relacionadas. A página relativa à violência doméstica pode ser útil tanto para investigadores e estudantes interessados no tema, como para pessoas vítimas ou não, que queiram obter informação adicional sobre a temática. No que diz respeito à apresentação, a página torna o conteúdo um pouco pesado por dois motivos fundamentais: não tem qualquer imagem e as cores não são cativantes. Preto no branco, sem qualquer cor adicional a não ser as colunas azuis laterais que remetem para outras páginas para informação mais específica de determinado ponto da questão. Apesar de achar que a página erra nestes dois pontos, parece-me, contudo, que o autor quis vincar a seriedade da informação. Um dos pontos positivos da página é que podemos contactar com o autor através de e-mail. Na página principal do sítio (www.psiqweb.med.br) existe uma hiperligação para o e-mail do autor. No entanto, a disponibilidade deste para responder é muito limitada. Ao acedermos à hiperligação para lhe enviarmos um e-mail, aparece no ecrã uma caixa informativa na qual o autor pede desculpa pela falta de tempo para responder. Contudo, dá a garantia de que o e-mail será lido. Outro ponto a favor é a apresentação da data, isto é, vem no final da página a referência à última actualização (2003). Outro dos pontos fortes do site é o facto de serem referidas todas as fontes utilizadas, chegando mesmo a ter hiperligações a fontes consultadas. Os links existentes que são extremamente úteis e de fácil acesso. Porém,

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como a página tem muitos hiperligações isto poderá tornar-se confuso e dificultar o acesso à informação. Não obstante, esta pareceu-me de fácil compreensão e acessível. Na minha opinião, o documento é de fácil navegação e as páginas carregam rapidamente. A informação é gratuita.

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Conclusão

Não se pode definir um conceito universal de violência. Esta varia de sociedade para sociedade, que a define segundo os seus próprios critérios que variam de cultura para cultura. Pode, assim, dizer-se que a violência é um mito eterno, e, que em cada período da História, fala-se dela como sendo a pior de todas. No entanto, nos nossos dias, “não é tanto a violência que é recente mas a consciência que dela se tem, bem como a intolerância como se lida com ela”. (Pais, 1998: 33)

Ao longo do trabalho, procurei clarificar uma das muitas vertentes da violência, a violência doméstica. Por isso, não será, de todo, absurdo afirmar que apenas é possível chegar a uma única conclusão: “Nascida num espaço privilegiado de vivência dos afectos, a violência doméstica destrói as relações familiares e transforma as suas vítimas em pessoas dependentes, apáticas e revoltadas. Prende-as às correntes do vazio, da ausência e do desespero”. (Mendes apud AAVV, 2002) O lar, que supostamente é o refúgio da intimidade e da privacidade, é, também, um local de agressividade e violência. Esta violência no seio da família constitui “uma verdadeira violação dos direitos humanos” (Pais, 1998: 69), bem como, é “mais acentuada nas vertentes da agressão física da mulher por parte do marido do que vice-versa”. (idem, 1998: 69)

Em suma, o fenómeno da violência doméstica é muito complexo e provoca muitas questões, tais como: como é possível que em pleno século XXI os números de violência doméstica continuem a ser exorbitantes? Ou será a actuação dos profissionais a mais correcta?

A realização do presente trabalho revelou-se muito vantajosa, para mim, a vários níveis. Escolhi o tema da violência doméstica porque se trata, primeiro, de um tema para o qual a sociedade ainda não tem ou não quer ter consciência da sua gravidade, segundo, porque há relativamente pouco tempo (no dia 25 de Novembro) se celebrou o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, o que me permitiu encontrar mais facilmente informação relativa ao assunto. À medida que ía pesquisando, ía-me apercebendo que aquilo que julgava saber, relativamente a esta matéria, era apenas uma cota parte da realidade existente.

Assim, posso afirmar que este trabalho me instruiu claramente sobre dois pontos fundamentais que, a meu ver, eram o seu objectivo: o conhecimento aprofundado do tema escolhido e a correcção de determinados erros que me apercebi que cometia na elaboração de trabalhos. Em suma, aprendi a estruturar e a organizar um trabalho, apesar de, dada a minha inexperiência, ainda ter dificuldade a indicar as fontes das citações utilizadas. Tomei, igualmente, conhecimento de diversas fontes importantes para trabalhos futuros. É, ainda, de importância relevante deixar exposto que, no decorrer da elaboração do trabalho, encontrei alguns obstáculos, tais como: a pesquisa na internet revelou-se um pouco complicada, pois todas as equações de pesquisa que utilizei devolviam-me ou "silêncio" ou "ruído" (sobretudo este último), e por isso, tive de especificar cada vez mais, e recorrer também aos links aconselhados em páginas específicas, por exemplo da APAV; em relação à estruturação do trabalho, tive dúvidas sobretudo na organização do estado das artes, pois foi a primeira vez que tive contacto com uma estruturação desta natureza.

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Referências Bibliográficas

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Otão, Susana (2003a), “Cinco mulheres morrem por mês vítimas de violência”. Jornal de Notícias, 25 de Novembro, pp. 6. Otão, Susana (2003b), “Relatório Penélope propõe Plano Europeu de Combate”. Jornal de Notícias, 25 de Novembro, pp. 6. Pais, Elza (1998), Homicídio conjugal em Portugal: rupturas violentas da conjugalidade. Lisboa: Hugin. Sanches, Andreia (2003a), “Filhos de mulheres vítimas de violência adoecem mais”. Público, 25 de Novembro, pp. 2-3. Sanches, Andreia (2003b), “Mais de 12 mil participações de violência doméstica em 2002”. Público, 25 de Novembro, pp. 4. Sanches, Andreia (2003c), “Falta informação nos países do Sul da Europa”. Público, 25 de Novembro, pp. 5. Sanches, Andreia (2003d), “Mulheres vítimas de violência são «um custo para a sociedade»”. Público, 26 de Novembro, pp. 29. Tavares, Pedro Sousa (2003), “Violência doméstica provoca 11% dos homicídios”. 24 Horas, 25 de Novembro, pp. 6. Vasconcelos, Clara (2003), “Lei deve ser mais dura com o agressor”. Jornal de Notícias, 26 de Novembro, pp. 11.

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Anexos

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Anexo I

Texto de suporte para a elaboração da Ficha de Leitura

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Anexo II

Página Web avaliada