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ADALBERTO DE OLIVEIRA FRANCO INDÚSTRIA DE MATERIAL DE DEFESA, INOVAÇÃO E DUALIDADE. Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel Cav Edison Gomes. Rio de Janeiro 2013

FRANCO, Adalberto de Oliveira. Indústria de material de defesa

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ADALBERTO DE OLIVEIRA FRANCO

INDÚSTRIA DE MATERIAL DE DEFESA, INOVAÇÃO E DUALIDADE.

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel Cav Edison Gomes.

Rio de Janeiro 2013

C2013 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________

Assinatura do autor

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Franco, Adalberto de Oliveira. Indústria de Material de Defesa, Inovação e Dualidade: Cel Cav

Adalberto de Oliveira Franco. - Rio de Janeiro : ESG, 2013.

44 f.: il.

Orientador: Cel Cav Edison Gomes de Souza Neto. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2013.

1. Dualidade. 2. Inovação. 3. Material de Defesa..

A minha esposa Simone e minhas filhas

Isabella e Rafaella, uma homenagem pelo

apoio e compreensão dedicados à

conclusão deste trabalho.

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me permitido manter a perseverança e a dedicação para a

realização deste trabalho.

Ao orientador e amigo, Coronel de Cavalaria Edison Gomes, meu sincero

agradecimento pelo apoio e confiança depositados durante todas as fases da

execução deste trabalho.

Aos estagiários da melhor Turma do CAEPE pelo convívio harmonioso de

todas as horas e que se transformaram em amizades.

Ao Corpo Permanente da ESG pelos ensinamentos e orientações que me

fizeram refletir, cada vez mais, sobre a importância de se estudar o Brasil com a

responsabilidade implícita de ter que melhorar.

“ Só existe soberania de fato com Defesa forte, isto é, com Forças Armadas adequadamente equipadas e adestradas, em condições de atuar de forma conjunta em quaisquer cenários, especialmente entre os cenários de ameaças cada vez mais difusos”.

Presidência da República, Secretaria de Assuntos Estratégicos – Plano Brasil

2022, Brasília, dezembro de 2010.

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo apresentar os incentivos governamentais, com

participação da iniciativa privada para desenvolver e fortalecer a Indústria Nacional

de Defesa como preconiza a Estratégia Nacional de Defesa procurando referenciar a

capacidade de inovação e produção de material de uso dual, com o máximo de

tecnologia nacional, como forma de atender as necessidades das Forças Armadas e

o mercado externo. Inicialmente, será apresentado uma síntese histórica do

desenvolvimento da indústria de defesa internacional e no Brasil enfocará as

iniciativas de produção por parte estatal e da iniciativa privada. Será apresentado a

importância da Base Industrial de Defesa, setor estratégico para a soberania do

Estado, como foi para o país na década de 1970 até o final da década de 1980,

período no qual o Brasil conquistou importante mercado no âmbito internacional, no

entanto na década de 1990 passa por declínio decorrente de crises econômicas

internas e no cenário internacional tanto por questões econômicas quanto políticas

como a Queda do Muro de Berlim e consequente fim da Guerra Fria, vindo com isso

a ocorrer uma oferta de material de emprego militar disponibilizado pelos países

integrantes tanto do Pacto de Varsóvia quanto do Tratado do Atlântico Norte. Após a

apresentação das iniciativas governamentais para fortalecer a indústria de material

de defesa, em cooperação com a iniciativa privada, serão citados alguns benefícios

para a sociedade proporcionados pela Base Industrial de Defesa.

Palavras-chave: Dualidade, Inovação, Material de Defesa.

ABSTRACT

This paper aims to present government incentives, with participation of the private

sector to develop and strengthen the National Defense Industry as stated in the

National Defense Strategy looking to reference the capacity of innovation and

manufacturing of dual-use technology with the Maximum of national technology in

order to meet the needs of the armed forces and the external market. Initially it will be

introduced an overview of the historical development of the international and

Brazilian defense industry and initiatives focusing on the production by the state and

private enterprise. It will be presented the importance of the Defense Industrial Base,

a strategic sector for the sovereignty of the state, as it was for the country in the

1970s until the late 1980s, when Brazil conquered important market in the

international armaments, passing, in the early 1990s, by a decline due to internal

economic crises and in the international cenario both for economic policies such as

the fall of the Berlin Wall and the subsequent end of the Cold War, as a consequence

a military material supply offer occured both from the countries of the Warsaw Pact

as the North Atlantic Treaty. After the presentation of government initiatives to

strengthen the defense equipment industry, in cooperation with the private sector, it

will be mentioned some benefits to society provided by the Defense Industrial Base.

Keywords: Duality, Innovation, Defense Material.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIMDE Associação Brasileira das Indústrias de Material de Defesa e

Segurança

AVIBRAS Aviões Brasileiros

BID Base Industrial de Defesa

CMID Comissão Mista da Indústria de Defesa

CT&I Ciência, Tecnologia e Inovação

EB Exército Brasileiro

EED Empresa Estratégica de Defesa

EMBRAER Empresa Brasileira de Aeronáutica SA

END Estratégia Nacional de Defesa

ENGESA Engenheiros Especializados SA

ENGEPRON Empresa Gerencial de Projetos Navais

F Ter Força Terrestre

FA Forças Armadas

FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

IMBEL Indústria de Material Bélico do Brasil

IME Instituto Militar de Engenharia

LBDN Livro Branco de Defesa Nacional

MCT Ministério de Ciência e Tecnologia

MD Ministério da Defesa

MEM Material de Emprego Militar

PAED Plano de Articulação e Equipamento de Defesa

PAEMB Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PED Produtos Estratégicos de Defesa

Pemaer Programa Estratégico Militar da Aeronáutica

PMD Política de Material de Defesa

PNID Política Nacional da Indústria de Defesa

PROSUB Programa de Desenvolvimento de Submarinos

Prossuper Programa de Obtenção de Meios de Superfície

SAE Secretaria de Assuntos Estratégicos

SEPROD Secretaria de Produtos de Defesa

Sisdabra Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro

SisGAAz Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul

VBTP-MR Viatura Blindada de Transporte de Pessoal-Média Sobre Rodas

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11

2 SÍNTESE HISTÓRICA .................................................................................. 15

3 LEGISLAÇÃO GOVERNAMENTAL E INICIATIVA PRIVADA .................... 24

3.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL ......................................................................... 24

3.2 POLÍTICA DE DEFESA NACIONAL (PDN) .................................................. 25

3.3 ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA....................................................... 27

3.4 POLÍTICA NACIONAL DA INDÚSTRIA DE DEFES (PNID) ......................... 28

3.5 POLÍTICA DE COMPENSAÇÃO INDÚSTRIAL, COMERCIAL E

TECNOLÓGICA ............................................................................................29

3.6 POLÍTICA MILITAR DE DEFESA (PMD) ...................................................... 29

3.7 COMISSÃO MISTA DA INDÚSTRIA DE DEFESA (CMID)........................... 29

3.8 LIVRO BRANCO DE DEFESA NACIONAL (LBDN) ..................................... 30

3.9 LEI Nº 12.598, DE 22 DE MARÇO DE 2012 ................................................ 31

3.10 SECRETARIA DE PRODUTOS DE DEFESA (SEPROD) ............................ 34

3.11 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE MATERIAL DE

DEFESA E SEGURANÇA............................................................................34

3.12 BASE INDÚSTRIAL DE DEFESA (BID) ....................................................... 37

3.13 DUALIDADE, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO ................................................37

4 CONCLUSÃO. .............................................................................................. 41

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 43

11

1 INTRODUÇÃO

As mudanças no cenário internacional têm se efetuado rapidamente e por

vezes mais rápidas que nossa capacidade de percepção e análise. Podemos

observar essas alterações no cenário mundial com alguns exemplos: Queda do

Muro de Berlim, caracterizando o fim da Guerra Fria; primeira Guerra do Golfo no

Iraque, ataques terrorista contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001,

data ainda lembrada como o marco inicial de um novo período de tensões no

cenário politico mundial; a Guerra contra o Terror ainda em prosseguimento no

Iraque e Afeganistão, e finalmente a Primavera Árabe.

Se acrescentarmos os conflitos políticos, étnicos ou religiosos em diversas

regiões, o mundo passa hoje por novas ameaças pelo terrorismo, químico biológico

e nuclear e outras ameaças já conhecidas como o crime organizado transnacional,

trafico internacional de drogas e armas.

A situação geopolítica mundial nos mostra que os Estados Unidos ainda

mantêm seu espaço como maior potência econômica e militar, mesmo com a crise

econômica de 2008 que ainda afeta a maioria dos países da Comunidade Europeia

no entanto não podemos deixar destacar a capacidade desses povos de se

recuperarem economicamente.

Mesmo assim, surgem no cenário global, outros países ditos emergentes

como o grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do sul), Indonésia,

México, Turquia e a Nigéria, com suas próprias necessidades e soluções, são

potências regionais, que embora muitas vezes com interesses estratégicos e

poderio militar bem diferentes, buscam um papel mais significativo na mediação de

conflitos e na formulação de novas políticas para a promoção da paz e da segurança

internacional.

Nessa realidade mundial, o Brasil se integra e a segurança internacional e

sobretudo a regional, dependem da contribuição de nosso país, devido à sua

importância econômica e à crescente influência global. Temos interesses com

possibilidades de enfrentar contenciosos, tais como: o mar territorial brasileiro e a

exploração da Plataforma Continental; o acesso à tecnologia de ponta nos setores

de balística, aviônica e nuclear; o controle das fronteiras e dos crimes

transfronteiriços, biopirataria e a preservação da Amazônia, dentre outras.

12

Um País não pode abrir mão de seus próprios meios de defesa e, ainda, de

ser compatível com sua realidade (dimensão) política, social e econômica

Não apenas o Brasil, bem como os demais países Sulamericanos ainda

dependem da importação de produtos de defesa praticamente de todos os sistemas,

particularmente de média a alta complexidade e tecnologia sensível e que se não

for dado a necessária importância ao tema aumentará ainda mais o hiato tecnológico

existente. Nossa capacidade de produção de Material de Defesa, embora em

posição de destaque no continente, encontra-se em termos relativos, bem

inferiorizada em relação ao avanço tecnológico dos países desenvolvidos e ainda

mesmo, internamente quando no século passado conseguimos manter uma

razoável, ou por não dizer significativa indústria de defesa na proximidade do estado

da arte para a época.

No Brasil, pela atual ausência de antagonismos internacionais ou regionais

não pode ser motivo de não se dar à devida importância à Expressão Militar do

Poder Nacional, mesmo considerando que defesa da integridade do patrimônio

nacional e soberania constituem-se responsabilidade de todas as Expressões do

Poder Nacional. Desta forma, a dependência externa em material de defesa pode

caracterizar uma vulnerabilidade do Poder Nacional. Portanto não condizente com a

importância do Brasil no cenário mundial.

Coerente com o Brasil que logrou alcançar uma posição de maior destaque

no cenário internacional o tema Defesa Nacional entrou no século XXI com novos e

urgentes desafios.

A criação do Ministério da Defesa (MD), em 1999, foi o passo essencial na

direção de um novo modêlo de políticas para a Segurança e Defesa, daí seguiram-

se outras conquistas.

A Politica de Defesa Nacional (PDN), apresentada pela primeira vez em

1996, reformulada em 2005, atualmente sendo atualizada como Política Nacional de

Defesa, estabelece as bases que orientam as ações do Estado com o objetivo de

fortalecer o Poder Nacional contra ameaças externas. Em 2008, a Secretaria de

Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República e o MD elaboraram,

conjuntamente, a Estratégia Nacional de Defesa (END), documento focado em

ações de médio e longo prazo e destinado a ampliar e fortalecer a capacidade de

13

defesa do país que em 2012 foi atualizado, atualmente encontra-se no Congresso

Nacional. No ano de 2010 foi publicada a Lei Complementar 136, que criou o

Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, ampliando a abrangência e a

profundidade das ações sob a responsabilidade das Forças Armadas na fronteira

terrestre, nas águas interiores e no mar contra os delitos transfronteiriços e crimes

ambientais. Em 2012, visando tornar público os assuntos de defesa para as

próximas décadas o governo editou o Livro Branco de Defesa (LBDN).

A END tem a finalidade primordial de fortalecer três setores de extrema

importância para a defesa, são os Eixos Estruturantes: Cibernético a cargo do

Exército; Espacial a cargo da Força Aérea e o Nuclear com a Marinha. Por meio

deles o país promove a recomposição da capacidade operativa das Forças Armadas

e, ao mesmo, tempo busca autonomia tecnológica e o fortalecimento de sua

indústria de defesa, como pretende se atingir com a END.

Ainda em consonância com a END, as Forças Armadas estabelecem seus

programas de transformação orientados para a reestruturação e modernização:

-Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil (PAEMB) onde se situa o

Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), o Programa de

desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) e o Programa de Obtenção de Meios

de Superfície (Prossuper).

-Estratégia Braço Forte, que orientará os investimentos do Exército até 2030 e que

apresenta, entre diversas iniciativas o Sistema Integrado de Monitoramento de

Fronteiras (SisFron) e o Projeto da Viatura Blindada de transporte de Pessoal-Média

Sobre Rodas (VBTP-MR).

-Plano Estratégico Militar da Aeronáutica (Pemaer), abrangendo o sistema de

Defesa Aeroespacial Brasileiro (Sisdabra) e o Programa de Aquisição de Caças de

Superioridade Aérea (FX-2).

- Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PAED) a cargo do MD.

Sancionada em março de 2012, a Lei 12.598 institui um marco regulatório

para o setor de defesa. A norma diminui o custo de produção de companhias

legalmente classificadas como estratégicas e estabelece incentivos ao

desenvolvimento de tecnologias indispensáveis ao Brasil. A Lei traz a possibilidade

de credenciar Empresas estratégicas de Defesa (EED), homologar Produtos

Estratégicos de Defesa (PED) e mapear as cadeias produtivas do setor.

14

Se bem articulada com o mercado consumidor externo, a Indústria de

Material de Defesa possibilita o fortalecimento do Poder Militar e, também, o

econômico. Nesse sentido, o governo tem apresentado propostas e estratégias,

baseado na atual conjuntura internacional e nacional, para alavancar o setor de

material de defesa. Destaca-se nesse incentivo, a característica de buscar o valor

dual do Material de Emprego Militar (MEM) e a inovação, procurando assim garantir

o desenvolvimento e a sobrevivência nesse tipo de mercado.

15

2 SÍNTESE HISTÓRICA

A Primeira Revolução Indústrial, ocorrida na metade do Sec XIX, fez surgir

a indústria de material de defesa na Europa, estimulada por empresários ousados

como Alfred Nobel, Amstrong e Friedrich Krupp, que iniciaram o desenvolvimento

tecnológico dos armamentos e dos explosivos, evoluindo rapidamente como os

demais setores da indústria.

Nascido em Estocolmo, 1833, Nobel foi ao mesmo tempo, inventor da

dinamite e criador do maior prêmio anual da paz. Obcecado pela ciência dos

explosivos, e por outro lado, era um pacifista, também como empresário era um

financista arrojado, criou um grande império multinacional de armamento e

explosivos, chegando a ser o proprietário da fábrica sueca Bofors de armamento

pesado. Em 1867, patenteou o invento da dinamite. Posteriormente, desenvolveu a

balistite, pólvora que não produz fumaça, utilizada nas armas leves.

Inicialmente a fábrica de Krupp, se caracterizou como produtora de aço e

rodas ferroviárias e a fabricante de canhões como uma atividade secundária. Krupp

era um grande exportador para a Europa, sendo que seu próprio país era um dos

menores clientes.

Com a guerra franco-prussiana (1870) que se utilizou dos canhões da

fabrica de Krupp para a conquista da vitória, a produção voltou-se quase que

exclusivamente para o armamento. Com isso, passou a ter como clientes, além da

Prússia: a Rússia, Inglaterra e a própria França. Para a História Militar como

evolução da arte da guerra, passou a ser referenciada como a primeira guerra

industrializada da Europa, como foi a Guerra Civil Americana para o continente

americano.

Da mesma forma de Krupp, paralelamente Willian Armstrong desenvolveu

seu negócio a partir de 1845 na Inglaterra. Inicialmente se instalou em Elswick

fabricando guindastes hidráulicos. Foi na Guerra da Criméia que o governo britânico

solicitou que Armstrong fabricasse minas submarinas para serem utilizadas contra

navios russos. Junto com seu sócio Stuart Rendel, desenvolveram um novo tipo de

canhão até então diferente de todos em uso, foi projetado para ser carregado pela

culatra ao invés de o fazer pela boca, também por seus projeteis serem de forma

alongada, diferentes das bolas de ferro fundidas, em uso até então.

16

Ao terminar a guerra da Criméia o exército inglês, mesmo tendo recebido

a patente do invento, não deu continuidade ä produção do canhão e terminou seu

contrato com Amstrong, obrigando este a produzir para exportar tornando-se então o

maior concorrente da fabrica de Krupp, desenvolvendo-se como a Fábrica Elswick

de Material Bélico. Amstrong, mesmo antes de iniciar as exportações, passou a

conviver com um conflito ético: seus princípios morais e patrióticos se enfrentavam

com a necessidade de vender armas a potências estrangeiras. Porém Stuart Rendel,

irmão do seu sócio convenceu-o do contrário com a seguinte afirmação:

“A manufatura de armas para potências estrangeiras estava longe de

constituir um ato impatriótico, pois seu próprio pais se beneficiaria, na medida em

que aumentava sua experiência e capacidade de produção, enquanto os países

estrangeiros sofreriam as desvantagens de ficarem dependentes de nós, quanto äs

suas munições de guerra”.

Assim como a fabrica de Krupp, Amstrong dependeu, fundamentalmente,

de encomendas estrangeiras para se desenvolver e permanecer no mercado,

fornecendo armas para a Guerra Civil Americana, exportando também para a Itália,

Egito, Turquia e Chile, entre outros.

Ainda no final no século XIX, na Inglaterra, iniciou-se o surgimento de uma

grande indústria de material de defesa: a Vickers que inicialmente instalou-se em

Sheffield. Seu primeiro cliente foi o Ministério da Defesa Britânico, fornecendo seus

canhões em quantidade que possibilitou a compra de um estaleiro em Barrow-in-

Furnes, a aquisição da companhia Maxim-Nordenfelt, produtora até então dos mais

letais armamentos do mundo, possibilitando a construção de navios de guerra com

canhões e couraças.

Quando comprou a fabrica de metralhadoras Maxim-Nordenfelt, em 1897,

a Vickers adquiriu também os serviços do mais célebre de todos os vendedores

internacionais de armas, Basil Zaharoff, graças a ele a empresa exportou para todos

os países da Europa, de Portugal até a Rússia. Venderam também para a América

do Sul e Estados Unidos.

A competência profissional de Sir Basil Zaharoff possibilitou que o

material de defesa produzido pela Vickers fosse vendido a quase todos os países do

mundo. Conhecido como “mercador da morte”, Zaharoff trabalhou para a Vickers até

1925, quando completou 75 anos, acredita-se que tenha sido o mais experiente

17

profissional deste ramo no mundo. Justificava a atividade de produção e venda de

armas com as seguintes ideias:

“Elas fornecem as conexões e as informações que habilitam as grandes

potências a aumentar sua influência e manter os laços com seus clientes, mesmo quando se tornam

inimigos”.

“A exportação de armas contribui para a prosperidade nacional e, a nação

que as vende a outras nações, fica mais a par da verdadeira situação militar e moral dos países

compradores”.

O início do século XX caracterizou-se para a indústria de defesa a sua

internacionalização pela formação de acordos entre os fabricantes. Essa associação

entre as empresas tornou-se um fator de incentivo para as inovações e

experimentos, iniciou-se nessa época a fabricação de submarinos acionados por

baterias e do surgimento da espoleta tempo.

Os europeus, particularmente os alemães, franceses e britânicos, foram os

grandes fornecedores de material de defesa por ocasião da Primeira Guerra

Mundial. Os Estados Unidos ainda não possuíam muita expressão no setor de

defesa, fornecendo apenas couraças para blindagem, explosivos e munições. Pode-

se afirmar que os principais fornecedores europeus de material de defesa

venderam armamento e munição para os inimigos do exército de seus próprios

países.

A Liga das Nações, criada por ocasião do Término da Primeira Guerra

mundial, iniciou uma grande campanha para o desarmamento dos países e redução

na produção de material de defesa. Apesar de ter ocorrido uma drástica redução na

produção o comércio exterior não se extinguiu por completo.

Nos Estados Unidos da América o primeiro ato para limitar o livre

comércio de armamento foi a aprovação pelo Congresso da Lei da Neutralidade

(1935), o qual pressionado por grupos pacifistas obrigou ao Presidente americano,

em caso de guerra entre países estrangeiros, aplicar o embargo das armas.

Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, os fabricantes europeus

estavam em uma situação bem diferente daquela de 1914-1918. Os estaleiros

ingleses estavam quase falidos, enquanto os Estados Unidos da América prontos a

experimentar a criação de uma próspera indústria de material de defesa,

particularmente a indústria aeronáutica.

18

A expansão das indústrias de material de defesa e das Forças Armadas

americanas na Segunda Guerra Mundial alavancou o panorama econômico dos

Estados Unidos da América. Houve um ponto de inflexão na indústria de defesa,

quando a superioridade europeia em material de defesa foi superada pela indústria

americana, não revertida até hoje.

Para referenciar a situação brasileira na fabricação de material de defesa,

por ocasião da primeira revolução industrial, partiremos da chegada de Dom João VI

em 1808, quando foram inaugurados, no mesmo ano, a Fábrica de Pólvora Negra da

Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro, para atender ä Marinha e ao Exército e

o Estaleiro Mauá na Ponta da Areia, também no Rio de Janeiro.

Em 1810, foi inaugurada a Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, em

Sorocaba, São Paulo. Ainda no início do século XIX, foram criados os Arsenais da

Bahia, de Pernambuco e Mato Grosso, todos destinados principalmente à fabricação

de canhões e o Arsenal do Rio Grande do Sul com a finalidade de consertar

armamentos.

Desta forma, pode-se observar que apesar das condições favoráveis da

indústria brasileira, a importação de armamento de grande porte dependia dos

ingleses. No Brasil a Corte Portuguesa privilegiava a monocultura do café e a

importação de manufaturados ingleses. Essa prática sufocava o crescimento

industrial brasileiro e se distanciava do avanço tecnológico dos demais países que

se beneficiavam das transformações proporcionadas pela Revolução Industrial.

No Rio de Janeiro, em 1863, a fim de atender o Exército e a Marinha foi

criado o Laboratório Pirotécnico de Campinho que fabricava espoletas, cartuchos,

foguetes à Congrëve, morrões, iluminativos, entre outros produtos.

A Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870) exigiu considerável esforço da

indústria de material militar. A necessidade de controlar a Bacia do Paraná-Paraguai

levou à armação de navios de guerra couraçados (blindados), no Arsenal de Guerra

do Rio de Janeiro, tecnologia dominada, até então, pelos Estados Unidos da

América. A guerra demandava a produção em grande escala de projéteis, cartuchos

e pólvoras. Apenas no Laboratório Pirotécnico de Campinho foram produzidos

sessenta e sete milhões de cartuchos para armas portáteis raiadas e dezoito

milhões de cartuchos para armas lisas. O Arsenal de Guerra do Rio de janeiro (Casa

do Trem, 1762) produziu grande quantidade de canhões de calibres que íam de 4”

19

até 24”. Do término do conflito até o final do século XIX foram criados: a Fábrica de

Armas da Conceição, Rio de Janeiro (1885); Fábrica de Pólvora de Coxipó, Mato

grosso (1889); Laboratório Pirotécnico do Menino Deus, Rio Grande do Sul (1889) e

Fábrica do Realengo, Rio de Janeiro (1898).

Do início do século XX até 1930, a evolução da indústria de material de

defesa foi inexpressiva. O processo de industrialização do Brasil continuava

dependente da monocultura do café, que não possibilitava que os lucros fossem

aplicados no pequeno parque industrial da época. A dependência do mercado

externo era significativa. Particularmente, em termos de material pesado,

permanecia então a produção de armamentos com técnicas ultrapassadas por falta

de mão-de-obra qualificada e tecnologia adequada.

A Primeira Guerra Mundial não contribuiu para o crescimento da indústria

de material de defesa do Brasil, por não ter participado do esforço de guerra, o Brasil

não foi beneficiado com financiamentos externos destinados aos países aliados.

Mesmo assim, nesse período foram criados o Parque de Aerostação, em Realengo,

Rio de Janeiro (1908); a Fábrica de Pólvora Sem Fumaça, posteriormente

denominada Fábrica Presidente Vargas, em Piquete, São Paulo (1909); o Parque de

Realengo (Aeronáutica), Rio de Janeiro (1920); Companhia Brasileira de Cartuchos

(CBC), (1926) e o Parque de São Paulo (Campo de Marte), São Paulo, para a

manutenção de aeronaves e de motores (1930).

A crise mundial de 1929 proporcionou para a indústria brasileira, com o

incentivo do governo de Getúlio Vargas, um processo coordenado de

industrialização visando à substituição das importações, principalmente na

instalação das indústrias de base. Foram criadas, a Fábrica do Andaraí (1932), Rio

de Janeiro, para a fabricação de munição de artilharia; a Fábrica de Curitiba, no

Paraná (1933), para a fabricação de material hipomóvel e de engenharia; a Fábrica

de Juiz de Fora, Minas Gerais (1933), para a fabricação de munição de artilharia; a

Fábrica de Itajubá, Minas Gerais (1933), para a fabricação de armamento leve.

A imposição do Estado Novo (1937) por Getúlio Vargas, proporcionou o

lançamento das bases da politica de crescimento industrial sob o controle estatal.

Em 1938, foi criada a Fábrica do Galeão, Rio de Janeiro, onde se instalaram as

Oficinas Gerais de Aviação Naval. Em 1939, foram criadas a Fábrica de Material de

Comunicações, Rio de Janeiro e a Taurus, Rio Grande do Sul.

20

A 2ª Guerra Mundial proporcionou para as Forças Armadas a sua

reorganização e a modernização do seu equipamento. A Aviação do Exército

montava aeronaves de combate com apoio dos norte-americanos, e a Marinha com

projetos alemães passou a fabricar caça-minas, chegando a armar um navio

monitor e três contratorpedeiros, com projetos norte-americanos.

A aquisição de tecnologias sensíveis mesmo nos dias atuais, se não

impossível, é, no mínimo, de difícil obtenção. Mesmo sendo um aliado dos Estados

Unidos da América, a negativa de repassar o conhecimento para a fabricação de

sonares à Marinha durante a guerra foi um exemplo dessa situação. Essa

constatação levou, ainda na década de cinquenta a aproximação entre

pesquisadores civis e militares, sendo a Marinha pioneira nessa parceria,

aproximando-se da comunidade científica e da Universidade de São Paulo para a

consecução dos seus projetos, formação de engenheiros, a qual que se mantém

nos dias atuais.

Com o término da Segunda Guerra Mundial, o Brasil seguiu na sua política

de expansão industrial, procurando alcançar a auto-suficiência em indústria de base.

A política econômica do governo de substituição de importações favoreceu o

crescimento de mão de obra qualificada, técnicos e engenheiros e para a indústria

nacional. Nesse período surgiram: a Companhia Siderúrgica Nacional (1946); a

Fábrica de Artefatos da Marinha, Arsenal da Urca e a Fábrica de Bom Sucesso, Rio

de Janeiro; a Fábrica de Torpedos e o Centro de Armamento da Marinha, em Niterói;

Parque Aeronáutico de Belém, Para e o Parque Aeronáutico de Porto Alegro ambos

em 1947; o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, São José dos Campos, São Paulo

(1950) e a Petrobrás (1953).

Uma consequência do pós guerra foi o Acordo de Assistência Militar

Brasil-EUA (1952-1977). A decisão pelo acordo levou à oportunidade para as

Forças Armadas, de testarem, implantarem e desenvolverem doutrinas, táticas e

técnicas da 2° Guerra Mundial; por outro lado o trabalho de pesquisa e de fabricação

de material de defesa ficou em segundo plano nesse período.

No início dos anos 60 o setor industrial continuava a crescer, tanto que

superou a média dos demais setores, exceto o setor de MEM, ainda estatizado, que

continuava dependendo do Acordo Militar até 1977.

21

Ainda na década de 60, o MEM recebido pelo acordo estava se tornando

obsoleto e era necessário ser substituído, ocasionando resistência por parte dos

norte-americanos. Uma solução para contornar esse impasse foi repotencializar o

material existente, possibilitando uma sobrevida ao material. Essa opção

proporcionou a aquisição de conhecimento, tempo e capacidade para desenvolver

alguns projetos brasileiros. Os projetos deram prosseguimento, inicialmente, pela

produção de itens simples como uniformes, equipamentos, munições, armamentos

e viaturas leves. Desta forma, desenvolveu-se a capacidade técnica para a

repotencialização do material (principalmente aviões, carros de combate e navios)

até então exístente nas Forças Armadas e produtos mais complexos, como

blindagens, canhões, metralhadoras, embarcações e sistemas de pontaria.

Ao final da década de 70, ainda por ocasião fim do Acordo Militar, o Brasil

já dispunha de razoável capacidade e estrutura nas áreas de pesquisa tecnológica e

capacitação de recursos humanos que proporcionaram um maior crescimento das

indústrias e, também, pelo surgimento dos incentivos fiscais e subsídios

governamentais fez surgirem as empresas de economia mista e de capital privado

dispostas a investir na produção de MEM. São empresas que se beneficiaram ou

foram criadas: a AVIBRÁS (1965), ENGESA (1965), EMBRAER (1969). IMBEL

(1976), entre outras.

Assim, na década de 1980, o Brasil era um grande exportador de material

de defesa, com produtos de significativa qualidade, apenas perdendo

competitividade pela conjuntura internacional do final desta década, também devido

as sucessivas crises econômicas vividas no país e falta de planejamento estratégico

governamental.

A situação adversa por qual passou a indústria de material de defesa

atingiu as Forças Armadas brasileiras, impedidas de renovar seu MEM, cada vez

mais defasado tecnologicamente. A redução constante dos orçamentos de defesa,

levaram a priorização de aquisição de pequenos lotes de material disponível no

mercado internacional, com isso amenizando o MEM em obsolescência.

Na década de 1990, a conjuntura internacional marcada pelo fim da

Guerra Fria com a derrocada da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

consolidou os Estados Unidos da América como única superpotência mundial tanto

22

econômica como militar. A superioridade das suas Forças Armadas, é reforçada pela

liderança tecnológica na produção de MEM.

Contrariando as expectativas de paz prolongada esperada em decorrência

do fim da Guerra Fria, o que ocorreu foi o surgimento de inúmeros conflitos de

ordem regional de pequena e média intensidades em consequência do

ressurgimento de antigos antagonismos de ordem religiosa, étnica ou tribal

sufocadas durante décadas pelo confronto ideológico. A Guerra do Golfo e,

particularmente, os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, as Guerras do

Iraque e do Afeganistão ainda em curso são os exemplos mais atuais da

complexidade dos conflitos, caracterizados pela incerteza, terrorismo internacional

fundamentado principalmente pelo fanatismo religioso, tráfico de drogas e armas.

Em decorrência dessas novas características dos conflitos armados, a

doutrina, equipamento e a organização das Forças Aramadas têm evoluído,

particularmente no uso de tecnologias de última geração, desenvolvidas para

provocar significativo desequilíbrio tecnológico entre os oponentes envolvidos.

Liderada pelos EUA, a superioridade tecnológica militar está restrita a um

pequeno número de países que dispõem de conhecimento, recursos financeiros e

apoio de seus governos para grandes investimentos nas industrias de defesa. Os

demais países ficam a margem, condenados cada vez mais ä defasagem

tecnológica. Acrescenta-se a dificuldade de competir em igualdade de condições

desses países, a substituição por parte dos países ricos por novos MEM devido à

evolução tecnológica, também uma grande oferta, a preços baixos, de MEM no

mercado mundial oriundo dos arsenais do Pacto de Varsóvia e da OTAN

ocasionados pela redução de seus efetivos.

Como forma de reagir a essa situação, países como o Brasil tem buscado

soluções para recuperar a indústria de defesa, no qual o apoio estatal é significativo

para alavancar a exportação de material de defesa. Para incentivar a produção, uma

das soluções encontradas foi o apoio governamental objetivando a capacidade de

inovação e tecnologia voltadas para a fabricação de MEM de valor dual.

Desta forma, países que desejam fazer valer sua soberania precisam

acompanhar e dominar tecnologias necessárias à produção de material de uso dual.

Para tanto torna-se necessário incentivo estatal na aquisição de conhecimento,

capacidade para inovar, pesquisar, projetar e produzir MEM.

23

O próximo capítulo apresentará as medidas adotadas pelo governo federal

e pela iniciativa privada para recuperar a indústria de material de defesa, diminuir os

principais problemas que afetam a produção e consequente redução da

competitividade nos mercados interno e externo.

24

3 LEGISLAÇÃO GOVERNAMENTAL E INICIATIVA PRIVADA

O desenvolvimento e consolidação da indústria de defesa devem ser incluídas

em política de governo específica para o setor. As ações a serrem realizadas devem

conciliar os interesses do Governo Federal, mais especificamente das Forças

Armadas e das Industrias de defesa brasileiras.

Desta forma, o Ministério da Defesa, como órgão governamental diretamente

envolvido e interessado no setor de defesa, idealizou e apresentou legislação,

aprovando portarias normativas, bem como inovadora estratégia com o objetivo de

apoiar e contribuir para o fomento e o desenvolvimento da Indústria Nacional de

Material de Defesa. Algumas dessas iniciativas foram submetidas ao Congresso

Nacional e materializaram-se na forma de leis e seus decretos.

Por sua vez, as Forças Armadas, em consonância com as políticas e medidas

governamentais, vêm aperfeiçoando seus sistemas de gestão de modo a contribuir,

dentro e fora das forças na obtenção de conhecimento, criando soluções nacionais

que possibilitem o fortalecimento do pais na produção de material de defesa.

3.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A Constituição da República Federativa do Brasil (CF) é o instrumento legal

de maior hierarquia que orienta e ampara as medidas necessárias para garantir não

apenas o desenvolvimento da indústria nacional de defesa, como também toda a

área relacionada ä Expressão Cientifica e Tecnológica do Poder Nacional.

O capítulo IV da CF trata nos artigos 218 e 219 “Da ciência e tecnologia”.

Vejamos:

Art 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento cientifico, a

pesquisa e a capacitação tecnológicas.

§ 1 A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do Estado,

tendo em vista o bem público e o progresso das ciências.

§ 2 A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução

dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo

nacional.

§ 3 O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de

ciência, pesquisa e tecnologia, e concederá aos que dela se ocupem meios e

condições especiais de trabalho.

25

§ 4 A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação

de tecnologia adequada ao pais, formação e aperfeiçoamento de seus

recursos humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem

ao empregado, desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos

resultantes da produtividade de seu trabalho.

§ 5 É facultado aos estados e ao Distrito Federal vincular parcela de sua

receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e ä pesquisa

científica e tecnológica.

Art 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado

de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e socioeconômico, o bem-

estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei

federal.

Também, especificamente quanto ao MEM a CF em seu Art 21, inciso VI:

Autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico.

3.2 POLÍTICA DE DEFESA NACIONAL

O Decreto Nr 5.484, de 30 de junho de 2005, aprova a Política de Defesa

Nacional, e dá outras providências. Trata-se de um documento que condiciona as

ações para o planejamento de defesa, voltada essencialmente à defesa externa. Do

seu texto de introdução temos:

A política de Defesa Nacional voltada, preponderantemente, para ameaças externas,

é o documento condicionante de mais alto nível do planejamento de defesa e tem por

finalidade estabelecer objetivos e diretrizes para o preparo e o emprego da

capacidade nacional, com o envolvimento dos setores militares e civil, em todas as

esferas do Poder Nacional. O Ministério da Defesa coordena as ações necessárias à

Defesa Nacional.

Esta publicação é composta por uma parte política, que contempla os conceitos, os

ambientes internacionais e nacionais e os objetivos da defesa. Outra parte, de

estratégia, engloba as orientações e diretrizes.

A PDN tema de interesse de todos os segmentos da sociedade brasileira, tem como

premissas os fundamentos, objetivos e princípios dispostos na CF e encontra-se em

consonância com as orientações governamentais e a politica externa do País, a qual

se fundamenta na busca da solução pacífica das controvérsias e no fortalecimento da

paz e da segurança internacionais.

Após um longo período sem que o Brasil participe de conflitos que afetem

diretamente o território nacional, a percepção das ameaças está desvanecida para

muitos brasileiros. Porém, é imprudente imaginar que um pais com o potencial do

Brasil não tenha disputas ou antagonismos ao buscar alcançar seus legítimos

26

interesses. Um dos propósitos da PDN é conscientizar todos os segmentos da

sociedade brasileira de que a defesa da Nação é um dever de todos os brasileiros.

O Decreto da PND procura ambientar o tema discorrendo em uma sequencia

que abrange:

1. O ESTADO, A SEGURANÇA E A DEFESA.

2. O AMBIENTE INTERNACIONAL.

3. O AMBIENTE REGIONAL E O ENTORNO ESTRATÉGICO.

4. O BRASIL.

5. OBJETIVOS DA DEFESA NACIONAL.

6. ORIENTAÇÕES ESTRATÉGICAS.

7. DIRETRIZES.

Ressaltando o tema indústria de MEM podemos apresentar dos Nr 6 e 7.

ORIENTAÇÕES ESTRATÉGICAS:

6.6 A expressão militar do Pais fundamenta-se na capacidade das Forças

Armadas e no potencial dos recursos nacionais mobilizados.

6.8 A ausência de litígios bélicos manifestos, a natureza difusa das atuais

ameaças e o elevado grau de incertezas, produto da velocidade com que as

mudanças ocorrem, exigem ênfase na atividade de inteligência e na

capacidade de pronta resposta das Forças Armadas, äs quais estão

subjacentes , tais como versatilidade, interoperabilidade, sustentabilidade e

mobilidade estratégica, por meio de forças leves e flexíveis, aptas a atuarem

de modo combinado e a cumprirem diferentes tipos de missões.

6.9 O fortalecimento da capacitação do País no campo da defesa é essencial

e deve ser obtido com o envolvimento permanente dos setores

governamental, industrial e acadêmico, voltados ä produção cientifica e

tecnológica e para a inovação. O desenvolvimento da indústria de defesa,

incluindo o domínio de tecnologias de uso dual, é fundamental para alcançar

o abastecimento seguro e previsível de materiais e serviços de defesa.

6.10 A integração regional da indústria de defesa, a exemplo do mercosul,

deve ser objeto de medidas que propiciem o desenvolvimento mútuo, a

ampliação dos mercados e a obtenção de autonomia estratégica.

6.21 É prioritário assegurar a previsibilidade na alocação de recursos, em

quantidade suficiente, para permitir o emprego das Forças Armadas.

DIRETRIZES:

II dispor de meios militares com capacidade de salvaguardar as pessoas, os

bens e os recursos brasileiros no exterior;

27

V aprimorar a vigilância, o controle e a defesa das fronteiras, das águas

jurisdicionais e do espaço aéreo do Brasil;

IX implantar o Sistema Nacional de Mobilização e aprimorar a logística militar;

XVII estimular a pesquisa cientifica, o desenvolvimento tecnológico e a

capacidade de produção de materiais e serviços de interesse para a defesa;

XVIII intensificar o intercâmbio das Forças Armadas entre si e com as

universidades, instituições de pesquisa e indústrias, nas áreas de interesse

de defesa;

XXI contribuir ativamente para o fortalecimento, a expansão e a consolidação

da integração regional com ênfase no desenvolvimento de base industrial de

defesa;

XXIV criar novas parcerias com países que possam contribuir para o

desenvolvimento de tecnologias de interesse da defesa.

3.3 ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA

O Decreto Nr 6.703, de 18 de dezembro de 2008, aprova a Estratégia

Nacional de Defesa, e dá outras providências. A END foi estabelecida com o

propósito de modernizar a estrutura de defesa atuando em três eixos estruturantes.

O primeiro trata de como as Forças Armadas devem-se organizar e orientar para

melhor desempenharem sua destinação constitucional e suas atribuições na paz e

na guerra. O segundo eixo refere-se ä reorganização da indústria nacional de

material de defesa, para assegurar que o atendimento das necessidades de

equipamento das Forças Armadas apóie-se em tecnologias sob domínio nacional. O

terceiro eixo estruturante diz respeito a composição do efetivo das Forças Armadas

e o serviço militar obrigatório.

Sobre o assunto o Informativo da Associação dos Diplomados da Escola

Superior de Guerra N° 273/Dezembro de 2012, p6 discorre:

A Estratégia Nacional de Defesa tem objetivo de fortalecer três setores de

extrema importância: o cibernético, o espacial e o nuclear. Como decorrência

de sua provisória natureza, esses três segmentos transcendem a divisão

entre desenvolvimento e defesa, entre alcance civil e militar. Portanto, esse

fortalecimento assegurará o atendimento ao conceito de flexibilidade no

interesse nacional.

Na verdade, o que a Estratégia Nacional de Defesa estabelece para as

Forças Armadas ultrapassa a simples modernização dos meios ou adaptação

28

de suas estruturas. Prevê a transformação das Forças no sentido de lhes

habilitar a defender o Brasil. E transformar, neste caso, significa dotar as

Forças Armadas de novas estruturas e capacidades para cumprir suas

missões e desempenhar as funções do combate moderno na era do

conhecimento.

Uma das maiores preocupações é no sentido de que as Forças Armadas

brasileiras possam agir com o máximo de independência. E os setores

espacial e cibernético permitirão, em conjunto, que a capacidade de visualizar

o próprio pais não dependa de tecnologia estrangeira e que as três Forças

possam atuar em rede instruídas por monitoramento que se faça também a

partir do espaço.

A meta é unificar as operações das três Forças, muito além dos limites

impostos pelos protocolos de exercícios. E os instrumentos principais dessa

unificação serão o Ministério da Defesa e o Estado Maior de Defesa,

reestruturado como Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas.

Nas diretrizes nela contidas, identifica-se a o apoio ä reestruturação da

indústria de material de defesa, com objetivo principal de assegurar o atendimento

das necessidades de equipamento das Forças Armadas com MEM de tecnologia

nacional.

A END apresenta um planejamento de longo prazo para a área de defesa,

envolvendo a sociedade, Forças armadas, indústria nacional, centros avançados de

pesquisa civil ou militar e instituições acadêmicas.

3.4 POLÍTICA NACIONAL DA INDÚSTRIA DE DEFESA

Como instituição governamental interessada e voltada para os assuntos de

defesa o Ministério da Defesa (MD) tem procurado implementar, ao longo dos

últimos anos, medidas para estruturar e fortalecer a indústria, ciência e tecnologia

(civil e militar) voltados para a produção de MEM.

Uma das iniciativas anteriores aos decretos que aprovaram a PDN e a END o

MD através da Portaria Normativa Nr 899/MD, de 19 de julho de 2005, aprova a

Politica Nacional da Industria de Defesa que visa o fortalecimento da Base Industrial

de Defesa (BID), com os seguintes objetivos:

I – Conscientização da sociedade em geral quanto ä necessidade de o Pais

dispor de uma forte BID;

29

II – Diminuição progressiva da dependência externa em produtos estratégicos

de defesa, desenvolvendo-os e produzindo-os internamente;

III – Redução da carga tributária incidente sobre a BID, com especial atenção

äs distorções com relação aos produtos importados;

IV – Ampliação da capacidade de aquisição de produtos de defesa da

indústria nacional para as Forças Armadas;

V – Melhoria da qualidade tecnológica dos produtos estratégicos de defesa;

VI – Aumento da competitividade da BID brasileira para expandir as

exportações;

VII – Melhoria da capacidade de mobilização.

3.5 POLÍTICA DE COMPENSAÇÃO INDÚSTRIAL, COMERCIAL E TECNÓLIGA

Aprovada pela Portaria Normativa Nr 764/MD, de 27 de dezembro de 2002, a

Política de Compensação Industrial, Comercial e Tecnológica tem como objetivo

coordenar as atividades que envolvem a utilização da ferramenta Offset em

benefício do desenvolvimento industrial, tecnológico e de comércio exterior da BID

brasileira, a partir da utilização do poder de compra e do poder concedente do

Estado, quando das importações de produtos de defesa.

3.6 POLÍTICA MILITAR DE DEFESA

Aprovada pela Portaria Nr 400/SPEAI/MD, de 21 de setembro de 2005, a

PMD tem por objetivo orientar os planejamentos estratégicos militares das Forças

Armadas e do Estado Maior de Defesa. Com relação à BID destaca-se como

objetivo proporcionar estímulo ao desenvolvimento e implementação de uma base

industrial de defesa visando à autonomia tecnológica e à priorização do uso de

produtos de defesa brasileiros. Com relação às diretrizes militares de defesa

destacam-se as ações para estimular a pesquisa científica, a criação e a ampliação

do conteúdo tecnológico dos produtos de defesa fabricados no País; intensificar o

intercâmbio das Forças Armadas com as universidades, institutos de pesquisa e

indústria da área de interesse da defesa; e buscar a progressiva nacionalização dos

produtos de defesa, e o fortalecimento, a exemplo do Mercosul, de uma base

industrial regional, visando a obter maior grau de autonomia estratégica de produtos

de defesa.

30

3.7 COMISSÃO MISTA DA INDÚSTRIA DE DEFESA.

Criada por intermédio do Decreto N° 7.970, de 28 de março de 2013, a

Comissão Mista da Indústria de Defesa- CMID, tem por finalidade assessorar o

Ministro de Estado da Defesa em processos decisórios e em proposições de atos

relacionados à indústria nacional de defesa.

A CMID possui as seguintes atribuições:

I- propor e coordenar estudos relativos à política nacional da indústria de

defesa;

II- promover a integração entre o Ministério da Defesa e órgãos e entidades

públicas e privadas relacionadas à base industrial de defesa;

III-emitir parecer e propor ao Ministro de Estado da Defesa as classificações

de bens, serviços, obras ou informações nos termos do inciso I do caput do

art. 2° da Lei n°12.598, de 2012, como Produto de Defesa- PRODE;

IV- emitir parecer e propor ao Ministro de Estado da Defesa as classificações

de conjunto inter-relacionado ou interativo de Produto de Defesa como

Sistema de Defesa- SD, nos termos do inciso III do caput do art.2° da Lei n°

12.598, de 2012;

V- propor ao Ministro de Estado da Defesa a classificação de PRODE como

Produto Estratégico de Defesa- PED, nos termos do inciso II do caput do atr.

2° da Lei n° 12.598, de 2012;

VI- propor ao Ministro de Estado da defesa o credenciamento de empresa de

Defesa como Empresa Estratégica de Defesa, nos termos do inciso IV do

caput do atr. 2° da Lei 12.598, de 2012;

VII- propor ao Ministro de Estado da defesa políticas e orientações sobre

processos de aquisição, importação e financiamento de que tratam os artigos

3°, 4° e 6° da Lei 12.598, de 2012; e

VIII- apreciar e emitir parecer sobre os Termos de Licitação Especial- TLE.

3.8 LIVRO BRANCO DE DEFESA NACIONAL

O artigo 9º, parágrafo 3º da Lei Complementar 97/1999, modificada pela Lei

Complementar 136/2010, estabeleceu a obrigatoriedade do Poder Executivo

31

apresentar ao Congresso Nacional, na primeira metade da sessão legislativa

ordinária de 2012, a primeira versão do Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN).

Também determina que deverá ser atualizado, a partir de 2012, de 4 (quatro) em 4

(quatro) anos, o LBDN, o PDN e a END.

O LBDN soma-se à Estratégia Nacional de Defesa e à Política Nacional de

Defesa como documento esclarecedor sobre as atividades de defesa do Brasil.

O Livro contém dados estratégicos, orçamentários, institucionais e materiais

detalhados das Forças Armadas, abordando os seguintes assuntos: O Estado

brasileiro e a Defesa Nacional; O ambiente estratégico do século XXI; A defesa e o

Instrumento Militar; Defesa e Sociedade;A Transformação da Defesa e Economia da

Defesa.

3.9 LEI NR 12.598, DE 22 DE MARÇO DE 2012

A lei Nr 12.598 “Estabelece normas especiais para as compras, as

contratações e o desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa; dispõe

sobre regras de incentivo ä área estratégica de defesa; altera a lei Nº 12.249, de 11

de junho de 2010; e dá outras providências.

A CMID que tem por missão assessorar o MD tem na Lei Nº 12.598 como um

incentivo ä indústria nacional de defesa. Sobre o assunto o Informativo da

Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra Nr 273/Dezembro de

2012, p4 assim se refere:

A desnacionalização da chamada de indústria de defesa é preocupante. As

multinacionais estão entrando com força no mercado brasileiro, para ocupar

um setor altamente estratégico. Em recente artigo publicado no “Jornal do

Brasil Online”, o jornalista Mauro Santayana assinalou que o país procura

investir na defesa, mas esta sendo muito moroso e comete um erro crasso, o

de não produzir seus próprios armamentos e materiais de combate.

A cada ano devida à Amazônia e ao Pré-sal, entre outras razões,

cresce a importância de a nação aumentar - como acontece na Europa com

complexos industriais militares como a EADS, a Navantia e Finmecannica - a

participação direta do Estado na indústria brasileira de defesa, e o grau de

conteúdo nacional nas encomendas que estão sendo contratadas junto a

empresas, assinalou o jornalista acrescentando: No mundo inteiro, quem

32

comanda a produção de armamentos- direta ou indiretamente – é o Estado.

No Brasil, o melhor caminho deve ser o que o Governo e o Congresso estão

propondo, ainda que timidamente, com a criação da Amazul. Não se pode

admitir – como ocorre com a projetada fabricação de 2 mil blindados ligeiros

Guarani no município mineiro de Sete Lagoas, pela Iveco – que apenas 60%

das peças utilizadas sejam fabricadas no Brasil.

EMPRESAS NACIONAIS

Em recente evento da Associação dos Diplomados da Escola

Superior de Guerra (ADESG), no Rio de Janeiro, o Comandante do Exército

general Enzo Peri, fez um importante pronunciamento, em que abordou o

delicado tema.

Em resposta a um discurso de saudação do presidente da ADESG,

Pedro Berwanger, que destacou a importância da atuação dos militares no

desenvolvimento econômico e social do país, o chefe militar disse que as

Forças Armadas precisam estar à altura do destaque que o Brasil tem hoje no

cenário internacional, como sexta maior economia do mundo.

Nesse sentido, afirmou ser necessário um maior repasse de recursos

para reequipar e manter as três Armas e defendeu que a industria de defesa

tenha a participação de mais empresas brasileiras, para evitar a

desnacionalização do setor. Fez então uma pausa e reforçou: “Eu me refiro a

empresas genuinamente brasileiras”.

Essa preocupação não é somente do general Enzo Peri, mas do

governo brasileiro como um todo. E no início deste ano a legislação foi

mudada, através da aprovação da Lei Nº 12.598, de 22 de março. A partir de

sua publicação, as licitações e contratações de produtos e serviços

estratégicos de defesa passam a poder ser restritos a fabricante credenciado

como Empresa Estratégica de Defesa (EED).

A Lei 12.598 no artigo 2°, prevê que para requerer o credenciamento perante

o Ministério da Defesa como EED, a empresa deve se dedicar a atividades de

pesquisa, produção, industrialização, manutenção, venda e revenda de produtos

estratégicos de defesa, ser sediada no Brasil, bem como as instalações industriais e

administração. A EED necessita comprovar em seus atos constitutivos ou nos do

seu controlador, que em cada assembléia geral o numero de sócios ou acionistas

estrangeiros não possam deter quantidade de votos superior a dois terços do total

dos que puderem controlados pelos acionistas brasileiros presentes.

Outra reportagem sobre o assunto, do Informativo da Associação dos

Diplomados da Escola Superior de Guerra Nr 277/Abril de 2013, p9:

33

Regulamentada lei de fomento ä Base Industrial de Defesa.

O governo federal editou Decreto Nr 7970, de 28 de março de 2013,

que regulamenta dispositivos da Lei 12.598/2012, marco legal para as

compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e sistemas de

defesa no país. Assinado pela presidenta da República, Dilma Rousseff,

ele foi publicado nesta segunda-feira no Diário Oficial da União. A iniciativa

está inserida o contexto do “Brasil Maior”. Sancionada em março do ano

passado, a Lei 12.598 assinala um ponto de inflexão no modo como o

Brasil cuida da Indústria de defesa. Além de instituir um marco regulatório

para o setor, a norma diminui o custo de produção d companhias

legalmente classificadas como estratégicas e estabelece incentivos ao

desenvolvimento de tecnologias indispensáveis ao Brasil.

De imediato, a regulamentação traz a possibilidade de credenciar

Empresas Estratégicas de defesa (EED), homologar Produtos Estratégicos

de Defesa (PED) e mapear as cadeias produtivas do setor. A norma

também permite as Compensações Tecnológicas, Industriais e Comerciais

e fomentar o conteúdo nacional da Base Industrial de Defesa, bem como

incrementar a pauta de exportações de produtos de defesa.

O decreto contempla ainda a criação da Comissão Mista de Indústria de

Defesa- CMID, assessoria de alto nível que possibilitará a participação,

junto ao MD, de outros órgãos e entidades ( públicas e privadas) no

credenciamento das em presas estratégicas de defesa e na homologação

de produtos estratégicos.

A CMID atribui um perfil interministerial e multidisciplinar ao processo.

Embora o ´poder decisório, por Lei, seja prerrogativa do MD, optou-se por

sistemática interativa que ouve os diversos segmentos interessados no

tema”, assegura o general-de-divisão Aderico Mattioli, diretor do

Departamento de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa (MD).

Um dos elementos chave do novo decreto é a definição é a definição do

Termo de Licitação Especial (TLE), uma opção concorrencial que permitirá

que as compras e contratações de setor sigam uma lógica baseada não

apenas nos custos dos projetos. Segundo o texto da regulamentação, a

opção pelo TLE exige motivação para que o procedimento especial seja

utilizado, permitindo a adoção de critérios como orientação mais

estratégica, no intuito de fortalecer a Base Industrial de Defesa.

“Isso nos possibilita, por exemplo, levar em conta outras variáveis

importantes na elaboração nos termos de licitação, como aspectos

geopolíticos ou fatores micro e macroeconômicos de longo prazo, que

34

permitirão às empresas brasileiras desenvolver capacidades tecnológicas e

construir vantagens competitivas, afirmou o general.

O decreto também garante às empresas estratégicas de defesa e acesso a

financiamentos para programas, projetos e ações relativas a bens de

defesa nacional. Um aspecto importante, já que, em muitos casos, essas

empresas necessitam de condições especiais de financiamento para levar

seus projetos adiante, sobretudo iniciativas de maior horizonte temporal.

Aproxima regulamentação da Lei 12.598/2012 será a definição das regras

específicas de RTID, um regime especial de tributação que desonera

empresas de encargos diversos.

3.10 SECRETARIA DE PRODUTOS DE DEFESA

A SEPROD tem por finalidade assessorar na formulação e atualização,

acompanhar a execução das seguintes políticas:

- Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação de Defesa, visando ao

desenvolvimento tecnológico e à criação de novos produtos de defesa;

- Política Nacional da Industria de Defesa; e

- Política de Obtenção de Produtos de Defesa.

A secretaria normaliza e supervisiona às ações relativas ao controle das

importações e exportações de produtos de defesa, e representa o MD perante

outros ministérios, em fóruns nacionais e internacionais que envolvam produtos de

defesa e nos assuntos ligados a ciência, tecnologia e inovação.

Participa junto ao Governo Federal no estabelecimento de normas especiais

de incentivo à industria de defesa, nas compras de produtos e contratações, de

modo a promover seu desenvolvimento e fomentar maior competitividade no

mercado internacional. Participa, ainda, na supervisão e fomento das atividades de

tecnologia industrial básica de interesse comum das Forças Armadas; supervisiona

as atividades de ciência, tecnologia e inovação que visem ao desenvolvimento e à

industrialização de novos produtos de defesa e supervisiona as atividades de

obtenção de informações de tecnologia militar e do Sistema Militar de Catalogação.

35

3.11 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE MATERIAL DE DEFESA E

SEGURANÇA

A ABIMDE é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que congrega empresas

do setor de material de emprego militar, com a finalidade de patrocinar, promover e

representar seus interesses e objetivos comuns, visando o engrandecimento social e

econômico do País. Atua no relacionamento entre as indústrias e órgãos

governamentais, procurando agilizar e incentivar a comercialização, o

desenvolvimento e a qualidade dos produtos brasileiros.

A associação tem por missão congregar representar e defender os interesses

das empresas associadas, contribuindo na formulação de politicas públicas para o

setor de Defesa, e para a criação e manutenção de uma Base Industrial, Logística,

Científica, Tecnológica e Inovação forte e saudável, voltadas para a Defesa, em

consonância com os objetivos de soberania nacional e da Constituição Brasileira.

A Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança

(ABIMDE) é uma das entidades mais importantes do país, em termos de desenvolvimento

estratégico. A entidade que representa esse segmento no país fechou 2012 com 180

empresas associadas e a expectativa é de que em 2013 este número cresça em torno de

20%, em função dos novos projetos do governo para o setor, que envolvem vultosos

investimentos.

As companhias que atuam no mercado de defesa já estão gerando, juntas, cerca de

30 mil empregos diretos e 120 mil, indiretos, movimentando mais de US$ 4 bilhões/ano no

comércio exterior, sendo US$ 2 bilhões em exportação e US$ 2 bilhões em importação.

Segundo um estudo sobre o potencial do setor, realizado recentemente pela

ABIMDE, esse número de empregos pode mais que dobrar nas próximas duas décadas, em

razão dos projetos já anunciados pelo governo. A expectativa é de que os investimentos

girem na ordem de US$ 100 bilhões aplicados em projetos específicos para vigilância das

fronteiras marítimas, aéreas e terrestres do país.

Nesse segmento, os principais programas são o SISFRON ( Sistema de Vigilância

da Fronteira); O SISGAAZ( Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul); o PROSUPER (

Programa de Aquisição de Navios de Superfície ); o F-X2 (que dotará a Força Aérea

Brasileira de aeronaves de caça e ataque de última geração); e, mais recentemente, o projeto

PROTEGER ( do Exército, que visa garantir a segurança de instalações como usinas

nucleares, hidrelétricas, empresas consideradas estratégicas, instalações do pré-sal etc.).

36

O projeto PROTEGER passou a integrar essa lista recentemente e já entra como

indicação de investimentos de cerca de US$ 30 bilhões, o que possibilitou um grande salto no

índice de aporte financeiro esperado para o setor.

De acordo com a AMBIDE, até 2020 o Brasil tem a possibilidade concreta de

praticamente dobrar o número de postos de trabalho altamente especializados. A estimativa é

de que o setor gere cerca de 48 mil novos empregos diretos e 190 mil indiretos. Já para 2030,

a expectativa é ainda melhor, passando par 60 mil novas vagas diretas e 240 mil indiretas.

Novo presidente

Desde o final de janeiro, o engenheiro Sami Yossef Hassuani, da indústria Avibras, é

o novo presidente da AMBIDE. Seu objetivo é fortalecer o setor, dando continuidade ao

trabalho que o conselho diretor da entidade de classe vinha realizando ao longo dos últimos

anos.

A associação tem exercido um papel fundamental na retomada da indústria nacional.

O desafio da atual gestão será consolidar a posição da AMBIDE, levando a indústria de

defesa no cenário nacional, como indutora de desenvolvimento e educação científica,

criadora de empregos de alto valor agregado para exportação”, destaca Hassuani,

acrescentando que o setor industrial de defesa no Brasil manteve o ritmo de crescimento

anunciado no ano passado.

O novo presidente revela que o crescimento sustentado do setor está sendo

comprovado pelo “Diagnóstico da BID” ( Base Industrial de Defesa, o maior levantamento já

feito no país sobre essa estratégica atividade empresarial.

O projeto “ Diagnóstico da BID” vem sendo feito pela instituição em parceria com a

Universidade Federal Fluminense e deve ser concluído dentro de alguns meses. Parte da

pesquisa envolve um questionário que já foi enviado a todas empresas do setor. O objetivo é

mapear e detalhar toda a cadeia produtiva. Segundo o novo presidente, uma das metas é

identificar as dificuldades que vem sendo enfrentadas nas áreas técnicas, legislativa e

política.

Todos os obstáculos e problemas serão elencados neste diagnóstico. Assim que

tivermos esse grande mapa detalhado e estudado, vamos apresentar aos Ministério da

Defesa e ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, para que sejam

pensadas as soluções e alternativas destinadas a apoiar nossas indústrias, diz Hassuani.

Grandes conquistas

A AMBIDE, já teve papel importante em uma das grandes conquistas do segmento, a

aprovação da Lei n° 12.598, de 22 de março de 2012, que estabeleceu normas especiais

para compra, contratação e desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa, dispondo

ainda sobre regras de incentivo à área estratégica desse mercado.

Essa lei criou as Empresas Estratégicas de Defesa ( EEDs), considerando-as como

indústrias de interesse especial da Nação, e estabeleceu normas para implantação de regime

tributário dessas empresas, que desonera seus produts ou serviços para o governo.

37

A AMBIDE vem tendo presença ativa nos eventos de mobilização nacional e que

discutiram a importância da soberania tecnológica brasileira e do fortalecimento do setor,

como o Seminário de Defesa Nacional, realizado em parceria com a Câmara dos Deputados,

teve a participação também na preparação do “Livro Branco de Defesa Nacional.

O presidente Sami Hassuani destaca que outro ponto importante para a nova gestão

será estreitar os laços com o Ministério da Fazenda, o Ministério o Orçamento e Gestão e ,

em especial, com o Ministério da Justiça. Para o novo dirigente da entidade, uma das metas

será estabelecer uma relação mais próxima, visando apoiar o país na questão da segurança

interna, principalmente nos grandes eventos que já estão programados: Copa das

Confederações( 2013), Copa do Mundo (2014) e Olimpíada ( 2016)

3.12 BASE INDUSTRIAL DE DEFESA

O capitulo 5 (cinco) do LBDN faz referencia a BID como sendo um conjunto

de indústrias e empresas organizadas em conformidade com a legislação brasileira,

que participam de uma ou mais das etapas da pesquisa, desenvolvimento,

produção, distribuição e manutenção de produtos de defesa. Ainda considera que

uma indústria de defesa competitiva e consolidada gera empregos qualificados e

incentiva o desenvolvimento tecnológico com encadeamentos produtivos para outros

setores da indústria.

A indústria de defesa possui as seguintes características: necessidade de

grande escala produtiva e de altos dispêndios em pesquisa e desenvolvimento;

longo prazo de maturação dos projetos e curto ciclo de vida de materiais; e

existência de um mercado fortemente influenciado pelas compras governamentais e

pelas exportações e com a presença de setores altamente competitivos.

Ainda o LBDN observa que a BID, isoladamente, não possui condições e

capacidade para atender às demandas de abastecimento de produtos e de serviços

militares. A capacitação nacional somente será atingida na sua plenitude se toda a

infraestrutura de ciência, tecnologia e inovação for devidamente estabelecida, ativa e

integrada.

O Brasil ocupa a 27ª posição entre os países que mais exportam armamentos

a BID participa com 0,1% de todas as exportações mundiais com armas

convencionais. O comercio de material de defesa é restrito e altamente regulado,

vários países desenvolvem política tecnológica e industrial voltada para sua indústria

38

de defesa, e as compras governamentais se pautam não apenas por questões

técnicas e econômicas, mas também por interesses geopolíticos.

3.13 DUALIDADE, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Ainda neste capitulo foram abordados temas de iniciativas privadas e

governamentais, particularmente aquelas que visam aperfeiçoar a legislação para

estimular e desonerar a indústria, bem como estabelecer parcerias internas e com

outros países.

Toda indústria para se desenvolver necessita basicamente de três

características (qualidades): competitividade, inovação e capacitação. Nesse sentido

a END estabelece que o setor industrial de material de defesa do estado deverá

estar focado para desenvolver e até mesmo produzir o que o setor privado não

possa criar ou fabricar, em curto ou médio prazo obtendo o devido lucro. A estratégia

da parceria interna ou externa torna-se então um poderoso instrumento da

competitividade para a IND, com possibilidades de obtenção de novos materiais,

serviços ou produtos para ampliar ou conquistar novos mercados.

Outro mecanismo que vem sendo incentivado pela END é o desenvolvimento

de tecnologia para aplicação e produção de uso dual dentro da IND. Uma indústria

de material de defesa que produza exclusivamente MEM é normalmente deficitária,

que exclusivamente depende das compras governamentais e do mercado externo.

Desenvolvendo essa tecnologia dual na IND poderíamos reduzir ou anular períodos

de ociosidade do setor industrial de material de defesa.

O incentivo governamental pode ser encontrado no LBDN, capítulo cinco, p

217:

Compartilhar ou cercear o conhecimento científico e tecnológico é uma

decisão política que interfere diretamente nas negociações comerciais entre

países, incluindo as negociações de produtos de defesa.

Para atender às orientações contidas na Estratégia Nacional de Defesa. O

Ministério da Defesa, em coordenação com outros ministérios e com

representações de setores empresariais e acadêmico, desenvolve ações no

sentido de integrar ao sistemas de ciência e tecnologia existentes no Brasil.

39

Uma sensível economia de meios e de esforços poderá ser alcançada se

houver maior integração dos órgãos de pesquisa e desenvolvimento das

Forças Armadas, não somente na execução de projetos ou de interesse

comum, mas também na exploração de novas oportunidades na área de

ciência e tecnologia.

Uma maior participação da comunidade cientifica civil nos projetos militares,

inclusive com a possibilidade de transferência de recursos orçamentários da

defesa para infraestrutura de ciência e tecnologia civis pode, também,

racionalizar a condução de projetos de interesse da Defesa.

A interação entre instituições de pesquisa civis e militares, universidades e

empresas é fundamental para integrar os esforços empresariais na criação de

pólos de alta tecnologia em variadas áreas. No Brasil, os pólos tecnológicos

estão diretamente ligados a processos de planejamento que envolvem o

governo, universidades e empresas, com destaque especial para os

incentivos do Estado ao desenvolvimento tecnológico. O Pólo Tecnológico de

São José dos Campos, na área espacial, pode ser considerado um exemplo

de sinergia no setor científico-tecnológico.

O LBDN cita exemplos de projetos com tecnologia dual nos Setores

Estratégicos para as Forças Armadas:

- Área Nuclear: construção de usina de enriquecimento de urânio, para uso

pacifico, em escala industrial e capacidade de produção de combustível nuclear na

busca de autonomia das centrais nucleares nacionais;

- Área Espacial: sistemas de monitoramento e controle SISFRON, SisGAAz

e SISCEAB, que permitirão a obtenção de novas tecnologias no setor; e

- Área Cibernética: implantação de um Centro de Defesa Cibernético que

contribuirá para elevar a segurança e a capacidade de atuar em rede tanto na área

militar quanto em diferentes setores do governo e da sociedade.

Se os esforços da iniciativa privada e governamentais para alavancar a IND

tanto atuando na atualização da legislação, mesmo estabelecendo parcerias em

pesquisa, inovação e produção setor de IND podemos identificar alguns benefícios

para toda a sociedade, entre outros:

- capacidade de projetar, desenvolver e fabricar sistemas, materiais, componentes e

equipamentos nucleares e convencionais com uso de tecnologia dual;

40

-Fortalecimento da Indústria Nacional com geração de empregos e elevação dos

níveis de qualificação em todas as áreas de ciência e tecnologia.

- Aumento do poder dissuasório do País, fortalecendo sua capacidade de atuar

autonomamente no campo internacional com redução das vulnerabilidades a

pressões externas;

- Integração de universidades e centros de tecnologia e pesquisa militares no

desenvolvimento e absorção de tecnologia sensível;

- Desenvolvimento da indústria naval, impulso à construção civil, implantação de

empresas de alta e média tecnologias e incremento substancial do setor de

comércio;

- Elevação da capacidade de prover segurança em grandes eventos;

- Capacitação e aprimoramento de mão de obra;

- Transferência de tecnologia;

- Maior integração regional, entre órgãos de governo e com países vizinhos;

- Estímulo à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação tecnológica;

- Diversificação da pauta de exportações

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4 CONCLUSÃO

Durante as décadas de 1970 e 1980, nossa Indústria de Material de Defesa

cresceu principalmente financiada pelos países árabes e apoiada na capacidade de

desenvolvimento tecnológico, até então já existente no pais. Nesse período, foram

criadas ou cresceram potencialmente grandes empresas privadas voltadas para a

fabricação de MEM, como a ENGESA, a AVIBRAS e a EMBRAER. Com o fim da

Guerra Irã-Iraque causaram a desaceleração do período de prosperidade da

industria de material de defesa.

Também sucessivas crises econômicas no Brasil, combinada com a

conjuntura internacional desfavorável, somada a falta ou incapacidade na época de

visão estratégica governamental para reverter a situação fizeram com que a indústria

de MEM acumulasse prejuízos, ocasionando o fechamento de diversas empresas,

nesse contexto pode-se citar a ENGESA. Na Europa a Queda do Muro de Berlim e a

fragmentação do estado soviético tornou a situação para os fabricantes ainda mais

critica devido a oferta de material militar no mercado internacional de MEM

oferecidos pelos países participes da OTAN e do Pacto de Varsóvia.

Mesmo assim, a Indústria de MEM já representou, no último quartil do século

XX, importante segmento econômico brasileiro, com significativa contribuição para a

balança comercial e a possibilidade de abertura para novos mercados com produtos

inovadores e de qualidade. Atualmente, o Governo Federal tem procurado, sob a

coordenação do Ministério da Defesa e demais setores governamentais e privados

criar uma legislação que tem por objetivo fortalecer a indústria de defesa nacional e

por consequência a recomposição da capacidade operativa das Forças Armadas,

como preconiza e END.

Isoladamente, a Base Industrial de Defesa, não possui condições e

capacidade para fornecer material e serviços às Forças Armadas. Para atingir esse

potencial será necessário a integração de toda a infraestrutura de ciência, tecnologia

e inovação existente nos setores do Estado e da iniciativa privada caracterizados

pelas ações de pesquisa básica e aplicada, desenvolvimento e avaliação, projetos,

serviços, logística e fabricação de produtos de uso dual. Sobre o uso dual, o LBD

faz referencia a essa característica quando ressalta que a recuperação e

fortalecimento da BID, metas constantes na END, além de atender a demanda das

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Forças Armadas deverão funcionar como indutoras de inovação procurando a

finalidade de prover serviços e produtos para fins de uso civil.

Das iniciativas governamentais, pode-se destacar a Lei nº 12.598, de 22 de

março de 2012, que visa estabelecer normas especiais para as compras,

contratações de produtos e de sistemas de defesa e ainda dispõe sobre regras de

incentivo para a área estratégica de defesa. Isto porque a as políticas de governo,

até então, não se mostravam compatíveis com o crescimento da economia

brasileira, nem com a demanda de MEM das Forças Armadas. Também devido ao

comércio desse tipo de material ser restritivo e muito regulado pelos países

fabricantes que desenvolvem política tecnológica e industrial específica para

serviços e a fabricação de material de defesa onde a transação comercial para as

compras do governo e entre os Estados vão além das características técnicas e

econômicas, passando, também, por questões geopolíticas. Se por um lado essas

atitudes geram cerceamento e restrições ao acesso ou transferência de produtos e

tecnologias de material de defesa, serve de estímulo para fortalecer a indústria

nacional na busca da autonomia tecnológica e na criação e inovação em novos

setores estratégicos.

Significativo para o fomento e incentivo no desenvolvimento da BID e dentro

da finalidade da END e da PNID, o Ministério da Defesa criou a Secretaria de

Produtos de Defesa com a função de assessoramento e atualização de políticas (de

tecnologia, inovação, importação e exportação de produtos de defesa) e

acompanhamento da execução dessas políticas.

Neste contexto, as ações estratégicas apresentadas neste trabalho, voltadas

para a indústria de defesa apresentadas pelo Governo federal e iniciativa privada

quando efetivadas poderão trazer significativos benefícios para as FA tanto para

diversos setores da economia.

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REFERÊNCIAS

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