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FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS FLÁVIO OZORIO DE FREITAS CULTURA ORGANIZACIONAL E SUA RELAÇÃO COM A RESISTÊNCIA À MUDANÇA: A percepção dos funcionários da TLI VITÓRIA 2010

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FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS

FLÁVIO OZORIO DE FREITAS

CULTURA ORGANIZACIONAL E SUA RELAÇÃO COM A

RESISTÊNCIA À MUDANÇA: A percepção dos funcionários da TLI

VITÓRIA 2010

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FLÁVIO OZORIO DE FREITAS

CULTURA ORGANIZACIONAL E SUA RELAÇÃO COM A

RESISTÊNCIA À MUDANÇA: A percepção dos funcionários da TLI

Trabalho apresentado como requisito parcial para obtenção de nota à Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças.

Professor: MSC Frederico Pífano de Rezende

VITÓRIA 2010

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RESUMO

A intensidade de mudanças no meio empresarial tem sido desafiador para as

pessoas que compõem o universo organizacional. Pois as organizações possuem

identidades próprias, caracterizando assim seu meio cultural de relações e

trabalhos. Interferir nesse processo requer o planejamento cauteloso dos gestores

para que seus liderados entendam, aceitem e se adaptem às transformações

necessárias para o desenvolvimento do negócio. O objetivo deste estudo foi

identificar de que maneira a cultura organizacional se relaciona com a resistência à

mudança, priorizando a subjetividade dos indivíduos em sua relação com meio.

Assim, pretendeu-se expor a relevância da temática escolhida, tornando evidente o

papel das pessoas no contexto cultural das organizações. A metodologia utilizada foi

de natureza qualitativa, por meio de estudo de caso, sustentado por pesquisas de

campo, descritiva, explicativa e bibliográfica. Realizou-se entrevista com oito

funcionários da empresa TLI, que passou por um processo de aquisição impactando

sua cultura e gerando assim resistências às mudanças. A realidade do cenário

pesquisado permitiu identificar que deficiências na gestão e na comunicação do

processo de transformação foram cruciais para o comprometimento dos planos da

empresa. Nessa perspectiva, o referencial teórico forneceu elementos coerentes

para o confronto com a prática, permitindo o alcance do objetivo proposto.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5

1.2 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ................................................................................ 7

1.3 RELEVÂNCIAS DO ESTUDO ............................................................................... 7

2 REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................... 8

2.1 SISTEMÁTICA SOBRE CULTURA ORGANIZACIONAL ...................................... 8

2.2 MUDANÇA ORGANIZACIONAL E SUA RELAÇÃO COM A CULTURA ............. 11

2.3 RESISTÊNCIA À MUDANÇA .............................................................................. 13

2.4 A RESISTÊNCIA À MUDANÇA PELA ÓTICA DO INDIVÍDUO ........................... 18

2.5 RESISTÊNCIA À MUDANÇA NO ÂMBITO DA CULTURA ORGANIZACIONAL 23

2.6 AQUISIÇÃO EMPRESARIAL E MUDANÇA CULTURAL .................................... 25

3 METODOLOGIA .................................................................................................... 28

3.1 TIPO DE PESQUISA ........................................................................................... 28

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA .................................................................................... 28

3.3 SELEÇÃO DOS SUJEITOS ................................................................................ 29

3.4 COLETA DE DADOS .......................................................................................... 29

3.5 TRATAMENTO DOS DADOS ............................................................................. 29

3.6 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ................................................................................ 29

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ....................................................... 30

4.1 ESTUDO DE CASO ............................................................................................ 30

4.2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA DE CAMPO ........................... 31

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4.2.1 Aspectos da Cultura DLI versus TLI ............................................................. 31

4.2.2 A mudança na percepção do indivíduo ........................................................ 37

4.2.3 O entendimento dos entrevistados sobre a cultura DLI versus TLI .......... 45

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 48

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50

APÊNDICE ................................................................................................................ 52

ROTEIRO DA ENTREVISTA ..................................................................................... 52

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1 INTRODUÇÃO

Com o intuito de compreender e trabalhar as organizações, o estudo da cultura

organizacional tem relevante significado para aqueles que se propõem a investigar a

realidade de uma organização. A intenção por traz desse assunto vai além das

análises dos ritos e símbolos que a corporação tem como próprios. Busca-se cada

vez mais, conhecer o meio empresarial para saber gerenciá-lo em meio às

mudanças contínuas de um mercado agressivo por satisfação, qualidade e lucro.

Entra em cena a mudança organizacional, fenômeno que também é cobiçado por

diversos autores e alvo do interesse de estudantes de administração e gestores

organizacionais que presenciam todos os dias novas formas de gerir. Em meio a

tantas mudanças, missões são revistas, novos valores são ditados e a cultura vai se

transformando. Mas o que parece tão simples e natural, na verdade em algumas

empresas, talvez na maioria, se mostra problemático: a resistência das pessoas.

Ainda que as transformações do mundo corporativo sejam intensas, os gestores

empresariais precisam estar conscientes da real situação do seu negócio para o

planejamento eficaz de mudanças na organização. Pois mudar procedimentos,

políticas e outras questões visíveis dentro da organização podem transparecer maior

facilidade, mas o grande desafio está justamente nos aspectos invisíveis do

ambiente, ou seja, a subjetividade dos funcionários, suas percepções sobre o que

está acontecendo e conseqüentemente seu comportamento em relação aos fatos.

Por isso, como apontado acima, a resistência das pessoas às mudanças pode ser

negativa sob a ótica do negócio que pretende alcançar seu objetivo acima de

qualquer condição emocional, mas pode ser positiva a partir do momento que o

indivíduo passa a ser sujeito participante do que será mudado.

A lógica desse processo é que as pessoas dão o sentido de existência à corporação,

e são elas que vivenciam e transformam a cultura organizacional, com seus hábitos,

suas crenças, a maneira de negociar com seus clientes. Enfim, o modo de ser

empresa que determinado grupo desenvolveu no dia a dia de trabalho.

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Ao apontar a importância das pessoas na conjuntura apresentada, essa pesquisa

objetivou identificar como a cultura organizacional está relacionada com a

resistência à mudança, focando o indivíduo.

Para o alcance desse objetivo, questões intermediárias permitiram a coerência do

estudo, tais como:

Condensar a teoria sobre cultura e mudança organizacional e as resistências

das pessoas no processo de transformação.

Estudar um caso organizacional, tendo como base as referências teóricas

pesquisadas.

A presente pesquisa foi estruturada em cinco capítulos, todos com intuito de integrar

os assuntos propostos e alcançar o objetivo final.

O primeiro capítulo apresentou o tema a ser estudado sustentado por análises

decorrentes de leituras para o referencial teórico e das conclusões obtidas, além das

delimitações e relevâncias do estudo.

No capítulo dois está a base para o desenvolvimento do estudo. Buscou-se a

definição de cultura, mudança e resistência com foco nas organizações e nos

indivíduos.

Para demonstrar como se desenvolveu esta pesquisa, o capítulo três exibiu a

metodologia utilizada, a fim de esclarecer o tipo de estudo, seu universo e amostra,

os sujeitos selecionados, como os dados foram coletados e tratados e o que limitou

esse método.

Diante desse entendimento, o quarto capítulo explorou os dados obtidos nas

entrevistas por meio da análise situacional do campo de estudo.

A pesquisa foi encerrada com as considerações finais dos autores abrangendo os

aspectos mais relevantes da teoria e da prática avaliada.

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1.2 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

O estudo foi desenvolvido tendo como campo para a pesquisa a empresa TLI,

situada no estado do Espírito Santo.

Buscou-se analisar o contexto da cultura organizacional da TLI antes e depois da

aquisição, caracterizando assim o processo de mudanças no ambiente.

Para isso, foram selecionados e entrevistados, intencionalmente, funcionários que

conheceram a empresa antes do processo de mudança. A coleta de dados ocorreu

por meio de perguntas semi-estruturadas.

1.3 RELEVÂNCIAS DO ESTUDO

Estudar a literatura sobre cultura organizacional é importante para que se entendam

determinados aspectos das organizações, assim como os desafios das mudanças

que as empresas enfrentam e o que os indivíduos representam nesse processo.

Esta pesquisa utilizou de conceitos teóricos para analisar a realidade de uma

empresa que ao ser adquirida por outra, enfrentou e ainda enfrenta, mudanças que

impactaram sua cultura.

Compreender essa dinâmica pode ser considerada uma das principais relevâncias

desse estudo, pois permitiu analisar as várias percepções dos indivíduos tidos como

atores daquele cenário. Por meio dessa compreensão, sugestões de melhorias

puderam ser apontadas como forma de contribuir para a gestão estratégica de

pessoas.

Deve-se destacar que este trabalho não é relevante apenas para seus autores, mas

também estudiosos da área empresarial, por apresentar uma temática

contextualizada, dando novos subsídios para a eficácia organizacional e agregando

melhorias no campo da pesquisa.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico da presente pesquisa foi estruturado em seis tópicos, a saber: a

sistemática sobre cultura organizacional; mudança organizacional e sua relação com

a cultura; resistência à mudança; a resistência à mudança pela ótica do indivíduo; a

resistência à mudança no âmbito da cultura organizacional; a aquisição empresarial

e mudança cultural.

2.1 SISTEMÁTICA SOBRE CULTURA ORGANIZACIONAL

Estudar cultura organizacional pode ser considerado o meio para se apontar

questionamentos mais sérios a respeito dos modelos que permitem compreender e

trabalhar as organizações. Pois as dificuldades encontradas por pesquisadores ao

tentar captar a essência de certos fenômenos organizacionais ou os obstáculos

enfrentados por administradores ou consultores para implantar processos de

mudanças, tecnicamente bem justificados, mas que não conseguem decolar,

indicam a necessidade de incorporar a questão da cultura organizacional.

Para iniciarmos esta parte teórica da pesquisa, apresentamos o conceito proposto

por Chiavenato (1999, p.138), que define cultura organizacional como:

[...] o conjunto de hábitos e crenças estabelecidos através de normas, valores, atitudes expectativas compartilhados por todos os membros da organização. Ela refere-se ao sistema de significados compartilhado por todos os membros e que distingue uma organização das demais. Constitui o modo institucionalizado de pensar e agir que existe em uma organização. A essência da cultura de uma empresa é expressa de maneira como ela faz seus negócios, a maneira como ela trata seus clientes e funcionários, o grau de autonomia ou liberdade que existe em suas unidades ou escritórios e o grau de lealdade expresso por seus funcionários com relação à empresa. A cultura organizacional representa as percepções dos dirigentes e funcionários da organização e reflete a mentalidade que predomina na organização.

Por meio desse conceito pode-se concluir que a cultura organizacional condiciona a

administração das pessoas. E por mais que existam empresas do mesmo segmento

produtivo, não existe um padrão para lidar com os indivíduos, pois cada organização

cultiva e mantém a sua própria cultura. É por esse motivo que algumas empresas

são conhecidas por peculiaridades próprias. Nesse mesmo raciocínio, Lima e Albano

(2002) frisam que para analisar e intervir em uma organização se faz necessário

englobar todos os componentes organizacionais e ter uma atenção especial aos

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chamados “sintomas culturais” tais como: o perfil dos líderes e clientes internos, os

ritos e símbolos presentes nas relações, os tipos de comunicação adotados, a

filosofia que guia a política de gestão, o clima organizacional, a coerência entre a

missão da organização e as atitudes comportamentais de seus componentes, enfim

inúmeros fatores significativos para a visualização da cultura organizacional.

Esse conjunto de significados do ambiente pode caracterizar a cultura como forte ou

fraca. É forte quando seus valores são compartilhados intensamente pela maioria

dos funcionários e influencia comportamentos e expectativas, e fraca quando ocorre

o contrário. Com isso percebe-se a importância do universo simbólico da

organização, pois ele proporciona um referencial de padrões de desempenho entre

os funcionários, influenciando a pontualidade, a produtividade e a preocupação com

qualidade e serviço ao cliente.

Essa simbologia cultural revela a identidade da organização, que

[...] é construída ao longo do tempo e passa a impregnar todas as práticas, constituindo um complexo de representações mentais e um sistema coerente de significados que une todos os membros em torno dos mesmos objetivos e dos mesmos modos de agir. Ela serve de elo entre o presente e passado e contribui para a permanência e a coesão da organização (CHIAVENATO, 1999, p.139).

Tal citação leva-nos a compreensão de que a cultura é aprendida, transmitida e

partilhada entre os membros da organização. Em outras palavras, ela representa as

normas informais e não escritas que orientam o comportamento dos membros da

corporação no dia a dia e que direcionam suas ações para o alcance dos objetivos

organizacionais.

O alcance de objetivos está estritamente ligado à proposta de missão da empresa, e

é a cultura que define essa missão e provoca o nascimento e o estabelecimento dos

objetivos do negócio. Para isso a cultura precisa estar alinhada juntamente com

outros aspectos das decisões e ações da empresa como planejamento,

organização, direção e controle. Na verdade,

[...] a cultura é a maneira como cada organização aprendeu a lidar com seu ambiente e com os seus parceiros. É uma complexa mistura de pressuposições, crenças, comportamentos, histórias, mitos, metáforas e outras idéias que, tomadas juntas, representam a maneira particular de uma organização funcionar e trabalhar (CHIAVENATO, 1999, p.140)

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Esse mesmo autor esclarece que a cultura é composta de três componentes:

a) Artefatos: as coisas concretas que cada indivíduo vê, ouve e sente quando se

depara com uma organização.

b) Valores compartilhados: são as justificativas aceitas por todos os membros,

ou seja, os valores relevantes que se tornam importantes para as pessoas e

que definem as razões pelas quais elas o fazem.

c) Pressupostos básicos: são crenças inconscientes, percepções, sentimentos e

pressuposições dominantes nos quais as pessoas acreditam.

Estes três componentes podem ser divididos em visíveis e invisíveis. Os

componentes visíveis são orientados para aspectos operacionais e de tarefas, ou

seja, a estrutura organizacional, os títulos e descrições de cargos, os objetivos e

estratégias, a tecnologia e as práticas operacionais, as políticas e diretrizes de

pessoal, os métodos e procedimentos e medidas de produtividade física e financeira.

Os componentes invisíveis, considerados afetivos e emocionais, são orientados para

aspectos sociais e psicológicos, como os padrões de influência e poder, as

percepções e atitudes das pessoas, os sentimentos e normas dos grupos, os valores

e expectativas, os padrões de interações informais, as normas grupais e as relações

afetivas.

Investigar estes dois componentes culturais permite a identificação de um universo

criado pela ação coletiva dos indivíduos e dos grupos dos quais fazem parte,

universo este mantido por meio dos padrões de significados que compartilham. A

formação da cultura organizacional baseia-se, assim, nas interpretações que os

indivíduos fazem da realidade ao seu redor, de acordo com os valores que

compartilham (FEUERSCHUTTER, 1997). Serão as explicações compartilhadas

pelo grupo em face da sua experiência vivida que tecerão os laços entre os homens.

As respostas aprendidas levarão, obrigatoriamente, a valores, e esses a

comportamentos, sem que seja possível uma avaliação consciente de sua origem.

Em última instância, o grupo é ensinado sobre o que é ou não correto, e norteará

sua ação a partir daí (PINTO; VERGARA, 1998).

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Com a apresentação sucinta do que vem a ser a cultura organizacional, passaremos

ao breve estudo sobre mudança organizacional.

2.2 MUDANÇA ORGANIZACIONAL E SUA RELAÇÃO COM A CULTURA

Não é surpresa que o mercado muda continuamente, pois para atender cada vez

melhor as exigências do consumidor e serem competitivas no cenário da economia

global, as organizações precisam lidar bem com as mudanças.

Mudança organizacional pode significar desde uma alteração de uma posição no

mercado em que está inserida, mudança em sua função social, modificação em seu

direcionamento estratégico, com uma possível alteração na sua missão, ou

mudança em sua cultura, com reavaliação de seus valores e práticas em diferentes

níveis de autoridade e responsabilidade.

Para um justo entendimento Chiavenato (2005, p.425) define que “mudança é a

passagem de um estado para o outro. É a transição de uma situação para outra

situação diferente. Mudança representa transformação, perturbação, interrupção,

fratura”. Wood (2000) corrobora ao definir que mudança é qualquer transformação

de natureza estrutural, estratégica, cultural, tecnológica, humana ou de outro

componente, capaz de gerar impacto em partes ou no conjunto da organização.

Em se tratando do foco deste estudo, abordaremos o processo de mudança com

interferência direta na cultura organizacional, o que será exemplificado no estudo de

caso mais adiante.

Vários são os autores que discutem sobre a possibilidade de mudar a cultura das

organizações. Justamente porque é algo difícil tanto para quem é responsável pelas

estratégias do negócio, como para aqueles que executam as tarefas. De acordo com

Chiavenato (1999, p.145) a mudança cultural pode ser mais facilmente conduzida

quando ocorrem uma ou mais das seguintes condições:

- Uma crise dramática: É o choque que abala a situação vigente e coloca a questão

da relevância da cultura atual; crises como uma súbita dificuldade financeira, a perda

de um grande cliente ou uma dramática mudança tecnológica conduzida por um

concorrente.

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- Modificações na liderança: Uma nova liderança de topo que proporcione um novo

conjunto de valores pode ser capaz de responder a uma crise.

- Organização pequena e jovem: Quanto mais nova a empresa, tanto mais fácil

mudar a cultura da organização. E é mais fácil para a administração comunicar os

novos valores quando a organização é pequena. Isto explica a dificuldade que as

grandes corporações têm para mudar suas culturas.

- Cultura fraca: quanto mais sólida é a cultura, tanto maior o comprometimento entre

os membros em relação aos valores e, portanto, mais difícil de mudar. Ao contrário,

culturas fracas são mais facilmente mudadas.

Mas o mesmo autor argumenta que se ocorrerem essas condições que permitam a

mudança cultural, devem-se considerar as seguintes sugestões:

- Os dirigentes devem assumir papéis positivos dando o tom da sua conduta.

- Devem criar novas histórias, símbolos e rituais para substituir os atuais.

- Selecionar, promover e apoiar empregados que adotam novos valores.

- Redesenhar os processos de socialização e alinhá-los com novos valores.

- Mudar o sistema de recompensas para obter aceitação dos novos valores.

- Substituir normas não escritas por novas regras e regulamentos impostos.

- Agitar as sub culturas com transferências de pessoas, rotação de cargos e/ou

demissões.

- Trabalhar com consenso de grupos utilizando a participação dos funcionários e

criação de um clima de alto nível de confiança.

Entretanto, o aspecto cultural de uma empresa vem tratar do muito de subjetividade

existente nas organizações e do qual as ferramentas tradicionais não conseguem

dar conta. Pois quando falamos em mudança organizacional, temos que pensar não

apenas em estruturas físicas ou geografias, mas naquelas que dão sentido de

existência ao negócio: as pessoas. São os indivíduos da empresa os responsáveis

pela cultura que ali se desenvolve. Por isso a dinâmica social do grupo é regida por

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fatores que tanto podem facilitar como dificultar um processo de mudança, podendo

explicar tanto o sucesso como o fracasso de uma adaptação necessária, como as

conseqüências desta para o próprio grupo. Serão as explicações compartilhadas

pelo grupo em face da sua experiência vivida que tecerão os laços entre os homens.

As respostas aprendidas levarão, obrigatoriamente, a valores, e esses a

comportamentos, sem que seja possível uma avaliação consciente de sua origem.

Em última instância, o grupo é ensinado sobre o que é ou não correto, e norteará

sua ação a partir daí (VERGARA; PINTO, 1998).

Qualquer que seja a orientação, não é possível à organização testar um processo de

mudanças sem a contrapartida de sua transformação cultural, dentro da participação

e do comprometimento do grupo como um todo. A mudança cultural precisa, então,

ser sustentada por formas que não sejam estranhas à organização, para que haja

real motivação e comprometimento com seus objetivos. Independentemente das

ameaças oriundas da percepção da mudança pelo grupo serem imaginárias ou não,

seus efeitos são sempre reais e se manifestam na resistência que o grupo impõe ao

processo (VERGARA; PINTO, 1998). De qualquer forma, um projeto forçado ou

imposto de mudança organizacional pode vir a desestabilizar um grupo, visto que

“os símbolos que são criados para dar sentido à vida, e que são uma forma de

manifestação desse sentido, são quebrados, negados ou substituídos” (Freitas, apud

VERGARA; PINTO, 1998).

Diante do exposto, será abordada no tópico seguinte, de forma abrangente, a

resistência à mudança.

2.3 RESISTÊNCIA À MUDANÇA

A resistência à mudança está presente até mesmo em organizações que estão

dispostas a mudar. Essa resistência não acontece por acaso, simplesmente porque

as pessoas não querem mudar.

As pessoas resistem à mudança quando consideram que suas conseqüências são negativas. Embora as pessoas sejam diferentes em termos de sua disposição em antever conseqüências negativas, e mesmo quando suas razões pareçam lógicas ou até equivocadas a quem esta de fora, as pessoas não resistem automaticamente às mudanças. As pessoas resistem às mudanças por alguma razão e a tarefa do gerente é tentar identificar essas razões e, quando possível,

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planejar a mudança de modo a reduzir ou eliminar os efeitos negativos e corrigir as percepções errôneas (COHEN & FINK, 2003, p.350).

A resistência é apresentada como a maior dificuldade de se implementar uma

mudança, e muitos esforços são dedicados a procurar meios para superar essa

resistência. Geralmente as pessoas resistem à mudança porque esta traz prejuízos

a elas. E as prejudica não somente por questões psicológicas de medo e incerteza,

mas por algumas razões bem claras, a maioria das iniciativas de gerenciamento da

mudança confere pelo menos para alguns, mais trabalho, menos salário ou

demissão. Se isso não fosse verdade, provavelmente não haveria resistência. Trata-

se de um fenômeno multifacetado, e é possível pensar em uma situação em que

haja resistência à mudança mesmo quando as pessoas têm vantagem com ela

(GRAY, 2004).

A literatura acadêmica e gerencial aponta a resistência como uma das principais

barreiras à mudança bem sucedida. Com isso, são inúmeras as estratégias

apontadas para tratar esse tipo de situação dentro das empresas.

Em um trabalho clássico sobre o assunto, Kotter e Schlesinger (apud CHIAVENATO,

at al, 2005, p. 442) indicam seis estratégias para contornar a resistência à mudança:

Comunicação e educação: A resistência à mudança pode ser superada ou reduzida por meio da prévia comunicação às pessoas, para ajudá-las a compreender a lógica e a necessidade da mudança. A comunicação de idéias e do projeto de mudanças ajuda as pessoas perceber a necessidade da mudança e a lógica inerente a ela. O processo de comunicação pode envolver reuniões, discussões, apresentação a grupos, relatórios e memorandos. Se a fonte da resistência é a falta de comunicação ou precária informação, a informação deverá esclarecer todas as dúvidas e a resistência tenderá a cessar. Cada gerente deve preparar uma apresentação audiovisual, explicando as mudanças e suas razões para os grupos de pessoas envolvidas em exposições e reservar tempo para os debates e dúvidas. E repetir perseverantemente essa apresentação durante meses a fio para vários grupos. A confiança mútua e a credibilidade ajudam a eliminar a resistência à mudança.

Participação e envolvimento: Antes que a mudança aconteça, as pessoas precisam estar inseridas no processo. É difícil uma pessoa resistir a uma mudança de cuja decisão tenha participado ativamente. Os iniciadores da mudança devem envolver os resistentes em algum aspecto do projeto e da implementação da mudança, bem como ouvir atentamente suas sugestões. A resistência é neutralizada com um esforço participativo de mudança. As pessoas envolvidas passam a

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participar intensamente como sujeitos ativos e não meramente como sujeitos passivos. Isso representa uma profunda mudança na filosofia e na cultura organizacional, pois a participação e o envolvimento emocional das pessoas é uma posição eminentemente democrática.

Facilitação e apoio: A resistência potencial pode ser contornada, concedendo facilitação e apoio no sentido de ajudar as pessoas a se ajustarem à mudança. Essa estratégia pode incluir aconselhamento, treinamento interno nas novas funções, planos de desenvolvimento e aquisição de novos conhecimentos e novas habilidades para preparar as pessoas para a inovação. A organização municia seu pessoal com as ferramentas e técnicas sobre como fazer a mudança e a inovação. Simplesmente, a organização divulga entre seus funcionários a tecnologia – o saber fazer, isto é, o know-how – da mudança. Cada gerente é instruído e educado sobre o comportamento de mudança e inovação e passa a instruir e educar seus subordinados. Com isso, o gerente transforma-se de controlador, supervisor e, conseqüentemente, autocrata em educador, orientador, líder, motivador, coach, comunicador e multiplicador dos esforços de mudança. Assim, se o motivo da resistência à mudança é o temor, medo ou ansiedade, o aconselhamento, a terapia e o treinamento em novas habilidades podem ajudar. Os agentes de mudança oferecem esforços apoiadores para reduzir a resistência.

Negociação e acordo: Outra maneira de lidar com a resistência é oferecer algo de valor em troca da mudança. A organização oferece aos resistentes ativos ou potenciais certos incentivos para compensar a mudança. A negociação e acordo constituem uma forma de barganha que é indicada quando fica claro que alguém vai sair perdendo com o resultado da mudança e quando seu poder de resistência é bastante representativo. Um gerente pode negociar com colegas ou subordinados um acordo escrito discriminando o que eles receberiam em troca e quando e qual o tipo de cooperação deveria receber deles. Os acordos negociados evitam resistências, embora possam também envolver custos elevados. A negociação é necessária quando a resistência vem de uma fonte poderosa. Sua desvantagem é o custo.

Manipulação e cooptação: Em muitas situações, pode-se lançar mão de tentativas secretas para influenciar as pessoas. A manipulação significa a utilização seletiva de informações e a estruturação consciente de eventos. Ela se refere a tentativas de influenciar disfarçadamente as pessoas. A distorção de fatos para torná-los mais atraentes, a sonegação de informações indesejáveis e a criação de falsos rumores para induzir as pessoas a aceitar as mudanças são exemplos de manipulação. Por outro lado, a cooptação é uma forma de manipulação com participação. Trata-se de uma tentativa de conquistar os líderes dos grupos de resistência oferecendo a eles papéis-chave nas decisões sobre mudança para obter sua aquiescência. Cooptar um indivíduo é dar a um de seus líderes, ou a alguém que o grupo respeita, um papel importante no projeto ou na implementação da mudança. Não se trata de uma forma de participação, porque os iniciadores da mudança não desejam receber sugestões do cooptado, mas simplesmente seu endosso ou anuência.

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Coerção: Finalmente, a resistência pode ser tratada de forma coercitiva por meio da ameaça explícita ou implícita (como perda do cargo ou da promoção), demissão ou transferência de pessoas. É o uso de ameaças diretas ou do uso de forças contra os resistentes. Quando a rapidez é essencial e as mudanças não são populares, a coerção pode ser a única alternativa pela frente. O emprego da coerção é arriscado, pelo fato de que as pessoas ficam profundamente magoadas e ressentidas quando são forçadas a mudar. Suas vantagens e desvantagens são semelhantes às da manipulação e cooptação.

Porém, Hernandez e Caldas (2001) salientam que não existe uma “receita” para

sanar tal problemática, uma vez que a resistência à mudança é um dos possíveis

comportamentos que indivíduos podem adotar como resultante da sua percepção

sobre a mudança.

Dentro dessa crítica, esses autores apontam os principais pressupostos sobre a

temática de resistência à mudança, bem como propõem os contrapressupostos que

podem ser utilizados na construção de novas teorias e modelos:

a) Pressuposto: A resistência à mudança é um “fato da vida” e algo que

inexoravelmente irá ocorrer durante processos de transformação.

Contrapressupostos: A resistência à mudança é rara e deverá ocorrer somente na

presença de circunstâncias excepcionais.

Ao procurar evitar ou prevenir a resistência, os agentes da mudança acabam

contribuindo para a sua ocorrência ou agravamento.

A resistência é um comportamento definido pelos detentores de poder quando são

desafiados em seus privilégios ou posições.

b) A resistência à mudança é nociva à organização. Os seres humanos são

naturalmente resistentes a mudanças.

Contrapressupostos: A resistência é um fenômeno saudável e positivo.

A resistência é utilizada como uma desculpa para justificar processos de mudança

mal desenhados ou malsucedidos.

c) Pressuposto: Os seres humanos são naturalmente resistentes a mudanças.

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Contrapressuposto: Seres humanos anseiam por mudança, e tal necessidade

comumente sobrepõe-se ao medo do desconhecido.

d) Pressuposto: Os empregados são os atores organizacionais que têm maior

probabilidade de resistirem à mudança.

Contrapressuposto: A resistência à mudança é um comportamento que pode ser

exibido tanto por gerentes quanto por empregados.

e) Pressuposto: A resistência à mudança é um fenômeno massificado.

Contrapressuposto: A resistência é tanto um fenômeno individual como grupal – a

resistência vai variar de um indivíduo para o outro em função de fatores pessoais e

situacionais.

Esses autores argumentam que as variáveis individuais e situacionais são tão ou

mais importantes que o processo de percepção em si mesmo, uma vez que, em

condições de mudança organizacional, essas variáveis moderam todos os estágios

do processo de percepção da mudança, influenciando a maneira como cada

indivíduo cria a sua própria representação da realidade. Tão importante quanto à

análise das causas da resistência, particularmente para a mudança organizacional, é

a identificação dos grupos e indivíduos que terão maior inclinação a resistir à

mudança e das razões desse comportamento (HERNANDEZ; CALDAS, 2001).

Dentro dessa questão comportamental, de acordo com Chiavenato (2005, p.439) a

resistência à mudança pode ser conseqüência de aspetos lógicos, psicológicos ou

sociológicos, a saber:

Aspectos Lógicos: a resistência lógica decorre do tempo e do esforço requerido para uma pessoa se ajustar à mudança, incluindo novos deveres e tarefas que precisam ser aprendidos. Estes são os reais custos impostos às pessoas. Quando se acredita que a mudança será favorável no longo prazo para as pessoas, elas certamente se mostrarão predispostas a pagar o investimento de curto prazo.

Aspectos Psicológicos: a resistência psicológica é “lógica” em termos de atitudes e sentimentos das pessoas a respeito da mudança. As pessoas podem sentir medo do desconhecido, desconfiar da liderança do gerente ou perceber que sua segurança no emprego está ameaçada. Mesmo que a organização não creia que haja justificativas para esses sentimentos, eles devem ser reconhecidos como reais.

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Aspectos Sociológicos: a resistência sociológica é a “lógica” em termos de interesses de grupos e valores sociais envolvidos. Os valores sociais são forças poderosas, e devem ser cuidadosamente considerados. Existem coalizões política, valores sindicais opostos e valores de diferentes comunidades que podem afetar o comportamento das pessoas diante das mudanças. No nível de pequenos grupos, por exemplo, existem colegas de trabalho que podem ser demitidos por causa de mudanças. As pessoas podem indagar se a mudança é consistente em seus valores sociais ou se elas matem o espírito de equipe.

A atenção do agente de mudança deve estar voltada para estes aspectos para que

saiba como intervir e interagir com o indivíduo.

Diante do exposto, passaremos ao estudo sobre resistência à mudança sob a ótica

do indivíduo.

2.4 A RESISTÊNCIA À MUDANÇA PELA ÓTICA DO INDIVÍDUO

Independente da posição hierárquica em que o indivíduo se encontre na

organização, ele é uma “peça” do grupo organizacional responsável pela produção,

reprodução e transformação do ambiente. Entretanto, segundo Vergara e Silva

(2003) as pessoas não se tornam atores verdadeiros se elas não são igualmente

sujeitos, ou seja, pessoas que possam expressar aquilo que são ou, em outras

palavras, que estejam engajadas naquilo que fazem. Assim, o fazer autêntico é

sempre acompanhado do poder de dizer ‘eu’.

Por mais racional que seja entender que uma empresa precisa mudar diante de uma

circunstância externa, ou até mesmo interna, deve-se levar em consideração a

subjetividade dos colaboradores que ali se encontram. Ao ignorar esta premissa o

agente de mudança pode transparecer não se preocupar com as individualidades,

aflorando a resistência aos novos processos de trabalho.

Entende-se a partir daí como é delicado mudar o que para os funcionários de uma

organização sempre foi tido como “normal”, como se a empresa fizesse parte da sua

vida, pois é ali que ele passa a maior parte do seu dia. O espaço ocupado pelas

organizações na vida contemporânea faz com que elas sejam um elemento de

primeira grandeza no imaginário das pessoas e em suas construções sobre a

realidade. É de se esperar, por exemplo, que as mudanças promovidas pelas

organizações afetem as identidades dos indivíduos e alterem significativamente a

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forma como eles compreendem suas relações com o mundo, inclusive com a própria

organização (VERGARA; SILVA, 2003).

A partir do momento que novas políticas e procedimentos são expostos, uma nova

postura profissional é exigida. Vergara e Silva (2003) afirmam que é preciso que se

veja a mudança organizacional também como uma mudança de relações: do

indivíduo com a organização, dele com seus pares, da organização com a

sociedade, do indivíduo com a sociedade e dele consigo mesmo.

Ainda de acordo com esses autores, uma limitação dos modelos tradicionais de

gestão de mudanças, que assumem a perspectiva de um problema a ser

solucionado, é que eles enfatizam excessivamente a racionalidade e,

conseqüentemente, não levam em conta a complexidade, a ambigüidade e os

paradoxos que fazem parte da organização. Nesse contexto, as reações emocionais

à mudança são vistas, por exemplo, como uma questão menos importante, o que,

na análise desses dois autores, acontece por que:

a) O gerente que pensa, age e é treinado de modo racional pode descartar a

complexidade emocional, simplesmente porque ela é “irracional”. Ou seja, o que é

paradoxal e contraditório é, simplesmente, irrelevante;

b) As culturas organizacionais são freqüentemente desenvolvidas como uma defesa

contra emoções como a ansiedade, o que torna difícil para os indivíduos a

expressão de seus sentimentos na organização;

c) Os gerentes, concentrados em uma cultura organizacional de realização de

tarefas e de solução de problemas estratégicos, consideram as emoções e os

sentimentos difíceis de serem articulados;

d) As organizações dão pouco espaço e oportunidade para que seus membros

analisem e compreendam seus próprios sentimentos conscientes e inconscientes,

bem como os sentimentos dos outros, tanto no que diz respeito à vida

organizacional, em geral, quanto no que diz respeito à mudança, em particular.

Estes apontamentos e a própria literatura sobre a temática de mudança

organizacional consideram que as pessoas são seres lógicos e racionais, que

mudam seu comportamento de acordo com as informações que recebem e com seu

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próprio interesse. O ajustamento do indivíduo às situações de mudança requer a

construção de uma nova visão sobre si mesmo, de novas identidades, de uma nova

relação com o mundo. E essas construções não se tornam possíveis se o indivíduo

não tiver a oportunidade de compreender e manifestar seus sentimentos, de

elaborar os medos e angústias gerados pela mudança, de passar, necessariamente,

por um processo de subjetivação.

Nesse sentido, Hernandez e Caldas (2001) enfatizam um estudo sobre a resistência

à mudança, orientado para o indivíduo, discutindo o processo de percepção. Pois

para esses autores os modelos prevalecentes de resistência à mudança tendem a

considerar que os indivíduos resistem de forma homogênea. Essa hipótese

desconsidera o fato de que, na maior parte das vezes, os indivíduos percebem os

objetos e os acontecimentos de forma pessoal e distinta e, assim, seria de se

esperar que as suas reações individuais seguissem o mesmo padrão. Para aqueles

que acreditam em resistência uniforme à mudança, os indivíduos teriam a tendência

a adotar comportamentos resistentes similares como resposta às mudanças.

Entretanto essa noção de resistência uniforme não é compatível com o conceito

amplamente aceito de que a realidade também deve ser entendida como um

fenômeno pessoal, baseado nas necessidades, desejos, valores e experiências

individuais. Assim, a realidade para cada indivíduo corresponderia à sua percepção

individual daquilo que existe ou acontece ao seu redor, e, conseqüentemente, suas

ações e reações estariam baseadas na realidade percebida, e não,

necessariamente, na realidade objetiva dos fatos e acontecimentos.

Para uma melhor compreensão, percepção é definida como o processo pelo qual um

indivíduo seleciona, organiza e interpreta os estímulos com o objetivo de formar

representações significativas e coerentes da realidade (HERNANDEZ; CALDAS,

2001).

Hernandez e Caldas (2001) explicam três estágios do processo de percepção:

Teoricamente, o primeiro estágio consiste na seleção dos estímulos. A idéia é a de

que os indivíduos tendem a buscar as mensagens de forma seletiva, isto é, eles

buscam as mensagens que tenham um conteúdo agradável e rejeitam aquelas com

conteúdo ameaçador. Pelas mesmas razões, os indivíduos tenderiam a prestar mais

atenção às informações que preenchem as suas necessidades e desprezar ou, até

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mesmo bloquear, a sua percepção de informações consideradas irrelevantes. É o

processo de seleção de estímulos que explicaria porque um indivíduo pode não

perceber que o status quo pode ser inadequado ou que um indivíduo pode não ser

capaz de “ver” problemas que deveriam ser resolvidos ou, mesmo após a

identificação do problema, pode não ser capaz de “enxergar” as possíveis soluções.

O segundo estágio da dinâmica da percepção corresponde à organização dos

estímulos. Acredita-se que os indivíduos organizam regularmente os estímulos em

categorias recuperadas como um todo, uma vez que, se cada indivíduo percebesse

cada estímulo como sendo único, ele não poderia se lembrar de mais do que uma

mínima fração do que geralmente percebe. Obviamente, diferentes indivíduos

costumam organizar os estímulos de diferentes formas e esse fato também é

bastante relevante para se compreender as situações de mudança organizacional.

O terceiro e último estágio, a interpretação perceptual, também tem uma natureza

individual, uma vez que depende das expectativas dos indivíduos originadas de suas

experiências anteriores, do número de interpretações possíveis que eles podem

antever e dos seus interesses no momento da percepção.

O processo de percepção também depende da quantidade e da qualidade dos

estímulos interiores e exteriores. Os estímulos exteriores são proporcionados pelo

ambiente e detectados pelos sentidos. Como os indivíduos estão constantemente

expostos a uma grande quantidade de estímulos provenientes do ambiente, eles

acabam por desenvolver mecanismos de defesa para não ficarem completamente

desorientados. Esse mecanismo de defesa é representado pelos estímulos

interiores, que emergem na forma de predisposições, tais como expectativas,

motivos e lições aprendidas, todas baseadas em experiências anteriores. A

combinação desses dois tipos de estímulos, interiores e exteriores, proporciona aos

indivíduos representações distintas e individuais da realidade.

De forma geral, Hernandez e Caldas (2001) expõem um modelo de resistência

individual às mudanças que compreendem uma série de sete estágios. São eles:

1) Exposição à Mudança ou Inovação: é caracterizado pelo contato inicial do

indivíduo com a intenção da mudança ou com informações sobre ela. Tais intenções

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ou informações podem ser transmitidas pelos agentes da mudança por intermédio

dos canais formais e informais da organização (“radio corredor” ou “rádio peão”).

2) Processamento Inicial: o indivíduo irá comparar os atributos percebidos da

mudança com as conseqüências previstas e com as suas expectativas, atitudes e

comportamentos adotados no passado.

3) Resposta Inicial: o indivíduo apresentará uma aceitação inicial ou uma rejeição

inicial, que, por sua vez, pode ter natureza ativa ou passiva. Três são os resultados

possíveis desse processo: percepção de baixa consistência, moderada consistência

ou alta consistência.

4) Processamento Estendido: o indivíduo irá avaliar, mais cuidadosamente, os

atributos da mudança proposta, tentando reconciliar as inconsistências encontradas

entre esses atributos e o seu conhecimento com o objetivo de diminuir a sua

dissonância. O resultado dessa avaliação é a percepção da mudança como

oportunidade, ameaça ou, em alguns casos, oportunidade e ameaça ao mesmo

tempo.

5) Aceitação e Resistência Emocionais: formam-se as emoções, estados mentais

que surgem como resultado de comparações conscientes e inconscientes,

geralmente de natureza automática, entre a situação real e a situação almejada.

Caso a mudança proposta tenha sido percebida como oportunidade, as emoções

resultantes são positivas e podem incluir amor, carinho, orgulho, paz, etc. A

resistência emocional, por sua vez, é o resultado da formação de emoções

negativas, tais como medo, angústia, tristeza, raiva, culpa, vergonha, etc.

6) Integração do modelo: o indivíduo tentará integrar todas as emoções e respostas

cognitivas geradas no estágio anterior.

7) Conclusão, o modelo prevê que o indivíduo pode adotar quatro diferentes

possibilidades de comportamentos: a) resistência; b) decisão de superar a

resistência; c) indecisão; d) adoção (ou teste) da mudança.

Estes sete estágios podem resultar em quatro tipos de diferentes resultados: a)

adoção espontânea da mudança; b) decisão para se superar a resistência à

mudança; c) adoção de um comportamento resistente; d) indecisão.

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Para ser possível criar um processo de mudança em que haja pleno engajamento de

todas as pessoas da organização, é preciso que cada uma delas, preservando sua

condição de sujeito, esteja engajada como um ator que se apropria do sentido de

coletividade, caso contrário, possíveis focos de resistências poderão abalar o

processo de transformação.

Nesse sentido, ingressamos na problemática que trata a resistência à mudança no

âmbito da cultura organizacional.

2.5 RESISTÊNCIA À MUDANÇA NO ÂMBITO DA CULTURA ORGANIZACIONAL

A comunicação foi apontada acima como um dos possíveis meios para contornar a

resistência à mudança. Por mais simples que possa parecer esta estratégia, Silva e

Vergara (2003) destacam que a grande dificuldade encontrada por gestores em

processos de mudança, está no alinhamento dos colaboradores no que corresponde

a comunicação, compreensão, assimilação e execução dos objetivos propostos pela

organização. Diante dessa falta de alinhamento, mudar elementos de uma cultura

torna-se um desafio ainda maior, uma vez que não existe por parte dos envolvidos

coerência no que é falado e no que feito.

Schein (apud SALVADOR; TRÉS; COSTALONGA; PELISSARI; SILVA, 2008)

defende que a cultura inicia-se com a imposição de valores através da liderança

sobre os grupos e que a partir da receptividade desses valores, o gerenciamento se

torna mais acessível e definirá gerações posteriores, ou seja, é possível superar

esse processo de resistência alinhando todos os membros da organização ao seu

objetivo. Esse autor afirma ainda que a cultura organizacional é uma variável interna

da organização sendo passível de ser gerenciada, manipulada, criada ou até

destruída e delega ao gestor o papel de criar culturas fortes através de uma clara

definição de técnicas eficientes de disseminação dos valores definidos nos

pressupostos dessa cultura.

Além da disseminação dos novos valores, é preciso que exista a preocupação de

ajustar a realidade da organização à mudança cultural. Vergara e Pinto (1998)

sugere que a mudança cultural seja sustentada por formas que espelham a

realidade da empresa para que os indivíduos sintam-se motivados e comprometidos

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com os objetivos propostos, caso isso não ocorra, sempre haverá resistência dos

indivíduos que fazem parte do processo.

Entender a realidade da organização é considerar as diversas variáveis situacionais,

que moderam o processo de percepção e avaliação das mudanças. Esses fatores

referem-se aos estímulos proporcionados pelo ambiente no qual o indivíduo está

inserido; mais especificamente, eles geralmente são provenientes do grupo a que o

indivíduo pertence ou da organização propriamente dita, por meio dos seus canais

formais e informais de comunicação. Em relação a esses moderadores situacionais,

estudos anteriores mostraram que fatores como a cultura organizacional,

solidariedade grupal, crenças compartilhadas, existência de conflitos internos,

necessidade de conformidade, comprometimento da alta gerência com o processo

de mudança, inércia organizacional, tipo de poder existente na organização e na

estrutura organizacional, podem exercer influência sobre a percepção individual e

influenciar a adoção de comportamentos resistentes (HERNANDEZ; CALDAS,

2001).

A cultura de uma organização, por exemplo, pode ter entronizado valores nos

membros da organização que influenciarão sua forma de perceber processos de

mudança. Para ilustrar esse ponto, é de se supor que em uma organização cuja

cultura valorize a inovação, os seus membros sintam-se menos inclinados a resistir a

processos de mudança que introduzam inovações do que indivíduos pertencentes a

organizações com uma cultura menos progressista. No entanto, mesmo em

organizações com culturas que valorizam a inovação, é possível encontrar

indivíduos que resistirão às mudanças como uma forma de desafiar a cultura em si

mesma ou como forma de se destacar politicamente.

A dinâmica intergrupal também é um dos moderadores situacionais bem explorados

na literatura (HERNANDEZ; CALDAS, 2001). Por exemplo, em uma organização

onde exista conflito de interesses entre determinados grupos, é de se esperar que

os membros de um desses grupos estejam mais inclinados a resistir às mudanças

propostas por um grupo rival do que se a proposta tivesse partido de grupos aliados.

Explicada essa parte sobre a resistência no âmbito da cultura organizacional,

apresenta-se a seguir uma breve dissertação sobre o comportamento resistente das

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pessoas quando a mudança cultural ocorre em decorrência de uma aquisição

empresarial. O objetivo dessa explanação é permitir o entendimento do estudo de

caso realizado mais adiante e dar base para a discussão proposta.

2.6 AQUISIÇÃO EMPRESARIAL E MUDANÇA CULTURAL

Com base no artigo de Tenure e Cansado (2005), destacaremos os principais

pontos que relacionam o processo de aquisição empresarial à cultura

organizacional, com especial atenção ao caso brasileiro, em virtude da identificação

do estudo de caso apresentado a seguir.

A literatura sobre processos de fusão e aquisição organizacional, principalmente no

que tange a influência da cultura brasileira em seu desenvolvimento, tem enfocado

pouco a análise e a descrição dessas transações.

Segundo os autores, as fusões e aquisições (F&A) apresentam a partir dos anos

1990 um crescente papel na economia mundial, e em particular na economia

brasileira. Essas relações podem se caracterizar por diferentes tipos de combinação

estratégica, exigindo níveis de investimentos variados, com formatos legais

específicos, e, sobretudo, causarem diferentes impactos nas pessoas envolvidas.

Como o estudo de caso tem como foco um processo de aquisição, não entraremos

em detalhes sobre a fusão. Mas é válido descrever o que vem a ser cada uma delas

para melhor entendimento.

A fusão envolve uma combinação completa de duas ou mais empresas, cada uma

deixando de existir legalmente para formar uma terceira, com nova identidade.

Apesar da suposta igualdade entre os parceiros, o que geralmente ocorre é o

controle por parte de um deles. E, de fato, o número de fusões “reais” é tão baixo

que, para propósitos práticos, a expressão “fusões e aquisições” basicamente

significa aquisições.

Na aquisição é realizada a compra do controle acionário de uma empresa por outra.

Esse processo envolve grau de investimentos e de controle, maior impacto sobre a

gestão, um processo de integração cultural mais complexo e menor possibilidade de

reversibilidade.

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Dentre as peculiaridades a serem identificadas e investigadas no processo de

aquisição, destacam-se: os valores praticados; os mitos e os ritos organizacionais;

as políticas que impulsionam e distorcem os princípios existentes; eventuais

mudanças ou ajustes de cultura feitos no passado; e as características e visões dos

líderes.

Vários estudiosos concordam que uma das principais etapas desse processo seja a

integração, pois é fundamental para garantir o êxito da aquisição. Essa etapa

envolve divergências de cultura e, por isso, deve ser cuidadosamente planejada.

Barros (apud TANURE; CANÇADO, 2003) identifica três tipos de aculturação na fase

de integração: a assimilação, a mescla, e a pluralidade.

Na assimilação há uma cultura dominante, observa-se grande mudança na empresa

adquirida e pouca na adquirente. A empresa adquirente absorve a outra, impondo

seus procedimentos, seus sistemas e sua cultura.

Na mescla há uma convivência de culturas, sem a dominância de uma delas, com

moderado grau de mudança em ambas. O alcance do equilíbrio na convivência é

possível em termos teóricos, mas na prática uma das partes tende a dominar, seja

de forma sutil ou ostensiva. Isso não significa que a cultura organizacional

predominante não seja alterada pela convivência e pelo questionamento. Desse

processo resulta uma terceira cultura.

Na pluralidade cultural a adquirente não influencia significativamente a adquirida, e

ocorre pouca mudança em ambas. É caracterizada pela convivência de diferentes

culturas. Trata-se de um processo transitório, embora não necessariamente breve.

Ao longo do tempo, a empresa compradora tende a interferir na adquirida. Na

maioria das vezes esse movimento é impulsionado pela introdução de novos

sistemas de acompanhamento e de controle, diferentes dos adotados pelas

adquirentes.

Quando a motivação da compra é classificada como tradicional, relacionada à

expansão geográfica, a integração pode se dar por meio de assimilação, com rápida

incorporação da adquirida. Se a motivação é transformacional – por exemplo, ligada

à aquisição de novas tecnologias – devem-se preservar as características e o

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modelo de gestão da adquirida, e o processo de integração surge pela pluralidade

cultural, mesmo que transitoriamente.

Um elemento importante que já tratamos em tópicos acima, em relação à resistência

à mudança, é a comunicação. Esta é um elemento característico da integração.

Segundo Barros (apud TANURE; CANSADO, 2005), a comunicação cumpre

diferentes objetivos nas várias fases das operações de fusão e aquisição. Em um

primeiro momento, o objetivo é informar de maneira abrangente a todos, a fim de

minimizar especulações. As especulações geram insegurança, inquietude e

ansiedade, sentimentos estes que podem intensificar as reações de tensão, a ponto

de prejudicar a performance dos funcionários. Posteriormente, a comunicação deve

sinalizar a direção a ser tomada, bem como divulgar os valores, as crenças e os

princípios que regerão a nova organização. Essas informações ajudam os

funcionários a situarem-se e a minimizarem suas tensões frente ao futuro que os

espera.

Os gestores devem examinar e pesar os fatores que podem influenciar o ajuste

organizacional, prever e entender a futura dinâmica cultural ainda na fase de

negociação e preparar um plano para abordar essas questões caso a operação seja

concretizada.

No caso de empresas brasileiras, é importante destacar que apesar da

modernização gerencial, a racionalidade administrativa é permeada por traços

característicos da cultura local, como: informalidade, cordialidade e afetividade;

relações de protecionismo e personalismo; a instituição do jeitinho para se resolver

problemas; tendências a se evitar conflito e a não assertividade permeiam as

relações profissionais, questões críticas diante do processo de mudança cultural.

Cabe enfatizar que, para a correta avaliação cultural, não basta apenas conhecer a

cultura da empresa-alvo. A empresa compradora precisa enxergar claramente sua

própria cultura e compreendê-la em sua inteireza.

A teoria desenvolvida por autores renomados e condensada na primeira parte desse

trabalho de finalização de curso proporcionou aos pesquisadores um melhor

entendimento sobre o tema abordado que juntamente com a metodologia a seguir

descrita, constituíram o suporte técnico e metodológico para a pesquisa de campo.

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3 METODOLOGIA

Para o alcance dos objetivos propostos nesta pesquisa utilizou-se a seguinte

metodologia:

3.1 TIPO DE PESQUISA

O estudo apresentou característica descritiva por descrever sobre: mudança e

cultura organizacional e a relação desses fatores com a resistência dos indivíduos; a

percepção dos funcionários da empresa TLI, campo de aplicação dessa pesquisa. A

partir de então, foi possível usar todo conteúdo teórico para interpretar e explicar a

realidade vivenciada na empresa, o que caracterizou este trabalho também como

explicativo.

Conforme taxionomia proposta por Vergara (2000, p.46), o trabalho teve como

suporte os seguintes tipos de pesquisas:

a) Pesquisa Bibliográfica: levantamento de material necessário para compreensão

do assunto.

b) Pesquisa Documental: utilização de material não publicado sobre a empresa.

c) Pesquisa de Campo: utilização de entrevistas, como coleta de dados na empresa

campo do estudo.

d) Estudo de Caso: apresentação da empresa e a situação que aborda o problema

explicado por meio do conteúdo teórico.

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

O universo desta pesquisa foi compreendido por 150 (cento e cinqüenta)

funcionários da empresa TLI, dos quais 08 (oito) representaram a amostra, de

acordo com a acessibilidade e intencionalidade.

Na concepção de Vergara (2004, p. 51) ver os temas abaixo como:

a) Acessibilidade, longe de qualquer procedimento estatístico, seleciona elementos pela facilidade de acesso a eles.

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b) Intencionalidade é constituída pela seleção de elementos que o pesquisador considere representativos da população-alvo, o que requer profundo conhecimento dessa população.

3.3 SELEÇÃO DOS SUJEITOS

A seleção dos sujeitos seguiu como critério o tempo de serviço de cada colaborador

na empresa TLI. Pois se priorizou os funcionários que estavam na organização

antes da aquisição e que acompanharam as conseqüentes mudanças.

3.4 COLETA DE DADOS

Para uma coleta de dados eficaz, foi realizada uma pesquisa bibliográfica

explorando tanto livros que tratam sobre mudança e cultura organizacional, como

artigos atuais e críticos em relação a esses assuntos.

Foram pesquisados também documentos da empresa em que constam sua proposta

de missão, visão e valores, tanto no presente, quanto antes da aquisição.

De posse dessas informações, foi elaborado um questionário para aplicação da

entrevista semi-estruturada, o que serviu para alcançar informações mais

detalhadas, destacar os aspectos mais importantes e conseguir uma descrição

precisa da situação exposta no estudo de caso, já que os entrevistados foram atores

no cenário em investigação.

3.5 TRATAMENTO DOS DADOS

Os dados dessa pesquisa foram tratados qualitativamente, por meio da análise de

conteúdo, ou seja, todo o levantamento teórico e documental serviu de base para

explicar as informações coletadas nas entrevistas.

3.6 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

O método limitou-se a seleção dos atores para a entrevista, tendo em vista a

impossibilidade de serem entrevistados todos os colaboradores que acompanharam

o processo de aquisição e as resistências às mudanças. Além disso, dos

funcionários selecionados, alguns se recusaram a responder certas perguntas e

outros, se mostraram resistentes até mesmo a participar do trabalho, por

desconfiança. No entanto tais limitações foram superadas e a pesquisa concluída.

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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 ESTUDO DE CASO

A TLI é uma empresa situada na cidade de Cariacica, no estado do Espírito Santo

responsável por projetar, implementar e operar soluções exclusivas em

armazenamento, consolidação e distribuição de mercadorias para diversos setores

da economia, atuando em toda a cadeia logística.

A empresa, que antes era DLI, recebeu essa denominação após ser adquirida por

outra organização de grande porte no ano de 2007. Um provedor logístico integrado

que atua no transporte, armazenagem, controle e gestão de estoque e

desenvolvimento de soluções logísticas em diversos setores da economia, tais como

automotivo, combustíveis, agronegócio, papel e celulose, químico, refrigerados,

telecomunicações, eletroeletrônicos e informática.

Com a aquisição uma nova identidade precisou ser formulada, como forma de

integrar os negócios e fortalecer, principalmente para o cliente interno, a nova

cultura que estava por nascer.

A proposta de missão foi reformulada alicerçada por valores compatíveis com a

realidade da organização, priorizando a ética, transparência, valorização das

pessoas, senso de urgência, o trabalho em equipe, a simplicidade, o

comprometimento, o empreendedorismo e a segurança. Todo esse composto

permite à empresa a visão de ser o melhor entre os maiores operadores logísticos

da América Latina.

Por trás desse trabalho duas questões merecem destaque e caracterizam o

problema dessa pesquisa: a mudança cultural e as resistências dos funcionários.

A aquisição trouxe mudanças significativas para o ambiente organizacional da TLI.

Entre elas podemos destacar: a antiga empresa era considerada matriz e passou a

ser filial, tendo todo o seu corpo diretivo e estratégico em outro estado; apesar de

similares, os negócios não eram os mesmos, o que dificultou a integração dos

funcionários de cada unidade ao remeter suas documentações à matriz; a

reformulação de alguns setores provocou downsizing (processo que a curto prazo

envolve demissões, achatamento da estrutura organizacional, reestruturação,

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redução de custos e racionalização); com a aquisição, novas formas de trabalho

surgiram por meio da implantação de um sistema integrado de logística (WMS)

exindo dos funcionários dedicação para a transição e aprendizagem; com a

reestruturação das rotinas de trabalho, a gestão também mudou, com a contratação

de novos gestores.

Esse conjunto de mudanças abriu espaço para focos de resistência com influência

da cultura organizacional, o que caracterizou este estudo e é exposto a seguir por

meio do questionário aplicado aos funcionários da TLI.

4.2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA DE CAMPO

Para a coleta das informações foi confeccionado um roteiro de entrevista, levando-

se em consideração os objetivos intermediários deste trabalho, com o intuito de se

alcançar resposta para o problema proposto: De que maneira a cultura

organizacional se relaciona com a resistência à mudança?

Foram entrevistados 08 (oito) funcionários da empresa TLI, cujos cargos são: 01 (um

coordenador de operações alfandegárias); 01 (um) supervisor de operações

logísticas; 01 (um) Supervisor de cargas perigosas; 01 (um) Analista Administrativo e

04 (quatro) Assistentes Administrativos.

4.2.1 Aspectos da Cultura DLI versus TLI

Começamos a entrevista pedindo ao entrevistado que falasse sobre sua percepção

da empresa antes da aquisição, podendo destacar pontos positivos ou negativos. A

intenção dessa introdução foi descrever elementos considerados relevantes para o

colaborador, característicos da cultura do ambiente.

Anterior à aquisição, a empresa investia muito pouco

em melhorias e na adequação aos processos. Havia

na gestão anterior maior proximidade e

centralização junto aos colaboradores

(Coordenador).

O que chama a atenção nessa primeira fala é a questão da proximidade da gestão

em relação aos colaboradores, ou seja, com a aquisição um dos elementos da

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cultura CLI, “a presença do gestor”, certamente foi sentida a partir do momento que

os gestores ficaram mais distantes, em outro estado.

Era uma empresa bem família que se preocupava

com seus funcionários. Era transparente, fazia

reuniões para expor como a empresa estava indo,

incentivava o funcionário a crescer junto com o

crescimento da empresa. (Assistente

Administrativa).

Entende-se que o modo de pensar a empresa como “família” também foi abalado. E

com a expansão do negócio, compreender toda a dinâmica de uma empresa de

grande porte, caracterizou-se na percepção da entrevistada como “falta de

transparência” e “falta de preocupação com o crescimento do funcionário”. Nas

palavras de Lima e Albano (2002) é preciso ter uma atenção especial aos chamados

“sintomas culturais”, ou seja, a presença e o tratamento dos líderes, a comunicação

do ambiente e outros fatores que poderão ser percebidos nas entrevistas a seguir.

Aparentemente tínhamos a impressão que a união e

o companheirismo eram maiores. O esforço em

conjunto nos trazia resultados positivos visíveis e

por vezes palpáveis. A nível de motivação e orgulho

era perceptível em todos os setores - salvo raras

exceções (Assistente Administrativa).

A fala dessa entrevistada sinaliza que o enfraquecimento na união e no

companheirismo pode justificar certas dificuldades no ambiente de trabalho, como

por exemplo, o trabalho em equipe. É importante notar então o que impactou esses

relacionamentos, pois a mudança cultural sustentada por formas estranhas à

organização dificulta o alcance dos objetivos traçados (VERGARA; PINTO, 1998).

Quando era CLI tinha-se uma resposta imediata,

pois a gerência estava integrada. A ausência do

gerente inibe o contato direto da área operacional

quando ele está por perto (Supervisor).

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Um dos gestores da unidade, o supervisor também destaca como fator relevante da

antiga cultura, a questão da comunicação eficaz, abordada no referencial teórico

como uma das estratégias para se contornar a resistência à mudança

(CHIAVENATO, 2005).

A empresa era melhor em termos de benefícios

(Assistente Administrativo).

A administração era melhor; o funcionário “vestia a

camisa da empresa”; o tratamento do gestor era

melhor; as pessoas eram mais valorizadas; os

benefícios eram melhores (Assistente

Administrativo).

A empresa apresentava falta de recursos e a

centralização era maior (Supervisor).

Ao captar o que esses funcionários consideravam importante na cultura DLI,

percebeu-se que as respostas eram sempre comparativas ao que eles vivenciam na

atualidade, ou seja, a mudança acarretada pela aquisição da empresa trouxe perdas

e conseqüentemente, resistências. Por isso, as falas e as expressões dessas

pessoas podem não demonstrar satisfação com o processo.

Perguntou-se então qual a realidade após a aquisição, na percepção do funcionário.

Com a aquisição, a gestão ficou à distância. Com

isso, a resposta para a resolução de problemas que

dependem de intervenção da alta direção ficou mais

morosa (Coordenador).

Com a aquisição, a empresa passou a se reportar à

matriz, em São Paulo, e esse entrosamento não

ocorreu. Por se tratar de negócios distintos, nossa

divisão em particular, a comunicação muitas vezes é

dificultada. (Analista Administrativo).

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Por meio da fala da Analista Administrativa, apontamos o que é referenciado na

página 27, sobre a importância da informação para que se minimizem as

especulações, pois estas geram insegurança, inquietude e ansiedade.

Não existe transparência nos assuntos pertinentes

ao nosso conhecimento. Falta respeito com os

funcionários (Assistente Administrativo).

Uma grande reestruturação no quadro de

funcionários, com extinção/remoção de setores,

gerando a partir de então desconfiança e

insegurança; distanciamento físico da diretoria nos

dando a sensação de abandono; planejamentos e

projetos inacabados, favoritismo pessoal e nível de

motivação em declínio (Assistente Administrativo).

Melhorou muito as instalações da empresa, a

organização da empresa, mas a comunicação ainda

é precária (Supervisor).

A administração do negócio melhorou e novas

oportunidades surgiram (Assistente Administrativo).

Os funcionários não abraçam tanto a causa da

empresa; falta mais do gestor; as pessoas não estão

sendo valorizadas (Assistente Administrativo).

A comunicação está deficiente; existe uma

dificuldade de ver/entender os propósitos de missão

e visão acontecerem na prática; falta valorização

das pessoas e transparência (Supervisor).

Pode-se perceber pelas falas dos entrevistados que a comunicação e a gestão das

pessoas são os pontos mais críticos da nova realidade organizacional. Conforme

referenciado por Chiavenato (2005), o aspecto psicológico deve ser reconhecido

como real. E as falas acima refletem essa afirmativa, pois destacam o que essas

pessoas pensam e sentem com relação à mudança, ou seja, demora na resolução

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de problemas, comunicação dificultada, falta de transparência, desconfiança,

insegurança e desmotivação.

Diante do exposto, foi preciso entender como a empresa tem tratado o funcionário

em meio ao processo de mudança.

A empresa tem tratado os colaboradores para que

os mesmos busquem a excelência no que fazem,

treinando, reciclando e promovendo dinâmica de

grupo (Coordenador).

Eles não querem saber se estamos preparados para

fazer qualquer mudança. Eles impõem da maneira

que eles acham melhor, sem pedir nossa opinião

porque para eles não faz diferença (Assistente

Administrativo).

Percebe-se que o gestor responde a pergunta destacando o trabalho que a empresa

vem desenvolvendo para as novas adequações do negócio. Porém a segunda

entrevistada deixa claro em sua fala que a mudança é imposta. A terceira resposta

vai ao encontro dessa alegação.

Muitas vezes o funcionário é tratado com frieza ou

desdém diante de uma opinião contrária da

empresa. Apesar da existência do diálogo quanto a

algumas medidas que foram tomadas ao longo

desta “mudança”, a empresa “peca” ao dizer de uma

forma e fazer/realizar de outra, cobrar o empenho e

melhor desempenho e não dar o suporte seja

estrutural, sistêmico e até pessoal, ou seja, o diálogo

se tornou um monólogo, a conversa muitas vezes é

unilateral e por vezes acompanhada de um discurso

pronto. Barreiras são criadas (mesmo que de forma

velada) e novamente a motivação é abalada

(Assistente Administrativo).

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É importante ressaltar nessa fala o que vem a ser a mudança pelo entendimento do

indivíduo, ou seja, as pessoas precisam ser sujeitos das situações da empresa,

expressando suas idéias e sendo autênticas (VERGARA; SILVA, 2003). Outro fator

relevante é alinhamento do que a empresa está pregando ao colaborador e fazendo

na prática, ou seja, a coerência das propostas.

Aos resistentes a empresa tem simplesmente

demitido e não faz nada para melhorar esse clima

(Assistente Administrativo).

Compreende-se que a partir do momento que as pessoas não aceitam as novas

normas do processo de mudança organizacional, certamente a empresa realoca

esses indivíduos ou decide desligá-los do quadro para que o comportamento

resistente não venha a dificultar o andamento do trabalho. Mas pela fala do

Assistente conclui-se que a empresa não está desenvolvendo nenhuma medida para

melhorar o clima organizacional, ou seja, saber o que vem causando o medo e a

resistência às novas propostas, que no momento julgam pertinentes.

Falta informação e quando tem não é eficaz

(Assistente Administrativo).

Faltam recursos para certas exigências e

esclarecimento (Supervisor).

Mesmo enfatizando como a empresa tem tratado o funcionário nesse processo, as

falas acima revelam justamente aquilo que a TLI não tem feito, ou seja, uma

comunicação mais eficaz com propostas de mudança esclarecidas. A ausência

desse esclarecimento é crucial para o surgimento de fofocas, medo do

desconhecido e demais comportamentos impróprios que favorecem a resistência.

Nesse sentido os entrevistados expuseram o que essas mudanças trouxeram para o

dia a dia de trabalho ou para empresa.

A melhora da qualidade no serviço é um dos pontos

positivos que deve ser destacado. Ainda não

atingimos o grau de satisfação plena, devido a

algumas deficiências estruturais e à insuficiência de

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recursos (máquinas e equipamentos)

(Coordenador).

As mudanças estão trazendo muitos problemas,

gerando insatisfação. Nem tudo que eles falam, eles

cumprem. Mudam suas opiniões em todos os

momentos, assim alguns procedimentos não são

cumpridos (Assistente Administrativo).

Houve melhorias de processos, de setores, de fluxo

documental, mas ocorreu em paralelo um aumento

de atividades e serviços que provocaram uma

sobrecarga para alguns

setores/empregados/funções (Assistente

Administrativo).

Mais trabalho, mais estresse, mais erros pela falta

treinamento (Supervisor).

Trouxe mais modernização da estrutura, da

tecnologia e com isso mais aprendizado (Assistente

Administrativo).

Mais trabalho; mais cobranças; melhorou a

estrutura, mas faltam equipamentos; tem pouca mão

de obra (Assistente Administrativo).

Analisando de forma geral, em se tratando de tecnologia e estrutura, a TLI

modernizou suas instalações. Seja pela carência de mão de obra ou pelo excesso

de trabalho em alguns departamentos, os erros e estresse dos funcionários são os

pontos negativos mais destacados nessa parte da entrevista.

4.2.2 A mudança na percepção do indivíduo

Em contrapartida ao que a empresa tem realizado nesse período de mudança,

abordamos como o indivíduo tem encarado o processo de mudança.

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Sinto um pouco de dificuldade. Estou acostumada

de um jeito e ter que mudar tudo por outro

totalmente diferente do habitual é estranho

(Assistente Administrativa).

Na explicação de Vergara e Silva (2003), o espaço ocupado pela organização na

vida das pessoas faz com ela (a empresa) seja um elemento de primeira grandeza

no imaginário desses indivíduos. Logo, a mudança organizacional pode afetar a

compreensão do indivíduo com relação à empresa. Essa “compreensão” merece

atenção, pois ela pode ser determinante para a resistência a mudança.

Em outra entrevista, a funcionária esclarece:

A princípio procuro ser receptiva a toda mudança,

sem abrir mão de questionamentos que possam

ocorrer. Percebo que propostas e planejamentos

são bons no quesito “papel” e “discurso”, porém

quando estas começam a não caminhar lado a lado

com a realidade, a desconfiança começa a rondar

(Assistente Administrativo).

Essa fala traz novamente a importância que o indivíduo dá aquilo que a empresa

propõe, esclarece, orienta e realiza.

Eu encaro com naturalidade. Mudança é sempre

bom (Assistente Administrativo).

Não gosto de mudança, mas estou tentando me

adaptar (Assistente Administrativo).

O processo tem contribuído de certa forma para meu

desempenho; sinto-me útil, mas questiono se terei

chance de evoluir aqui, porque não temos um plano

de carreiras (Supervisor).

Nestas três falas é possível perceber que existem aquelas pessoas que agem com

naturalidade em relação às mudanças, outras mesmo não gostando, tentam se

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adaptar. Isso vai ao encontro do que exposto na página 17, de que a resistência não

é um fenômeno massificado, podendo ser individual ou grupal. Mas o que de fato é

comum a esses indivíduos é: o que essas transformações podem trazer

positivamente em termos profissionais.

Após compreender como cada colaborador tem encarado a mudança, tentou-se

identificar como esse indivíduo percebe a relação dos colegas com a gestão das

mudanças.

Toda mudança gera certa incerteza e insegurança,

sobretudo para aqueles que estão acostumados

com as práticas antigas. Hoje, a meu ver, pessoas

resistentes à mudança são poucas. A maioria está

incorporando a filosofia da nova gestão

(Coordenador).

Na maioria dos colegas eu percebo insatisfação

(Assistente Administrativo).

Existem empregados que realmente acreditam e

desejam que as mudanças vieram para melhorar.

Lutam, incentivam, fazem o papel pessoal de dar

crédito à empresa, porém, para a maioria dos

empregados as mudanças são encaradas com muita

desconfiança. Existe uma névoa de

questionamentos e interrogações que permeiam a

cabeça dos funcionários devido, exatamente, a

muito discurso e pouca ação, muitas promessas e

pouco retorno (Assistente Administrativo).

Os funcionários sentem-se pressionados e às vezes

desmotivados com a perda de alguns benefícios e o

aumento do serviço, sem reconhecimento

(Supervisor).

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O que eu mais percebo é o medo (Assistente

Administrativo).

Eu percebo muita reclamação e desmotivação

(Assistente Administrativo).

As pessoas estão curiosas, com receio da

demissão. Percebo a dúvida se esse negócio é

mesmo viável. Vejo pessoas aqui dentro e de olho

em oportunidades lá fora (Supervisor).

Ao analisar as falas do coordenador e dos assistentes notou-se que a liderança não

está ciente do ponto de vista da maioria, ou seja, os funcionários de linha percebem

a insatisfação dos colegas com mais intensidade. A maioria das respostas sinaliza

que o medo, a desconfiança e a desmotivação são algumas das principais

percepções dos funcionários.

De maneira geral, os funcionários sentem-se sobrecarregados em virtude do

aumento da demanda. Entretanto, o problema não se concentra apenas no cansaço

físico ou mental, mas a contrapartida da empresa em detrimento desse fato. A

mudança é importante, mas não se deve enfatizar apenas a racionalidade e ignorar

a complexidade, a ambigüidade e os paradoxos que fazem parte da organização

(VERGARA; SILVA, 2003).

No tocante aos novos valores que a empresa vem buscando desenvolver,

questionou-se como o indivíduo interpreta o trabalho desempenhado pela empresa

em relação à missão dela no mercado.

A empresa quer ser a melhor e está batalhando para

isso (Assistente Administrativo).

A empresa tem sido coerente com aquilo que ela

prega em sua missão (Assistente Administrativo).

A empresa esta trabalhando para isso, mas a

cobrança em excesso enfraquece o abraço à causa

(Assistente Administrativo).

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Existe coerência em alguns pontos face ao empenho

dos funcionários; mas quando se fala em empresa

que retém os melhores profissionais é questionável,

diferente de atrair, pois a empresa é bem vista no

mercado (Supervisor).

A empresa está em busca da conquista do maior

espaço possível, em um mercado local, cada vez

mais competitivo. Daí a exigência/cobrança de

melhores resultados logísticos, no entanto,

vislumbrar o futuro sem realizar no presente a base

para esse crescimento, torna a missão um pouco

distante da realidade que se espera (Assistente

Administrativo).

Esta última fala vai ao encontro do que o referencial teórico menciona: é preciso que

exista a preocupação de ajustar a realidade da organização à mudança cultural.

Os funcionários reconhecem que corporativamente a empresa tem trabalhado na

busca da excelência, fazendo valer sua proposta de missão. Em contrapartida a TLI

pode não estar atenda ao seu maior bem, as pessoas, pois conforme apontado na

última fala, reter o pessoal que hoje compõe o quadro não é prioridade.

Responsáveis por gerir esse processo de mudança, o gestor pode ser considerado o

principal veículo de informação aos seus liderados. Nesse sentido os entrevistados

falaram o que eles percebem na atuação dos gestores.

Gerir é administrar; é conhecer; é a partir do

conhecimento, tomar ações, de preferência que

sejam positivas, se caso provindas de um bom

planejamento, enfim, hoje percebo uma tomada de

medidas e ações sem um conhecimento de

processos, de sistemas, de pessoas. Não posso ser

leviana de falar que temos maus gestores e sim que

existe uma má concentração/distribuição do poder

gerir (Assistente Administrativo).

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A gestão esta sendo bem envolvida, mas às vezes

não consegue atender de forma integral as

exigências dos clientes por meio dos seus liderados

(Supervisor).

Eu percebo empenho para conscientização,

comprometimento, capacitação e profissionalismo

dos colaboradores (Analista Administrativo).

Vejo todos os dias que esta faltando respeito e

diálogo por parte dos gestores, e mais clareza. Nada

se muda de um dia para outro (Assistente

Administrativo).

Falta proatividade por parte de alguns gestores

(Assistente Administrativo).

Parece não estar capacitado para sua

responsabilidade; cobram demais; precisam de mais

informação e conhecimento; precisam saber

informar (Assistente Administrativo).

Percebo certo desânimo de alguns e empenho de

outros. O líder é quem conduz o comportamento dos

liderados e nisso percebo muita falha (Supervisor).

Em se tratando da atuação dos gestores no processo de mudança da TLI, os

entrevistados, de maneira geral, foram enfáticos ao expor que os mesmos precisam

mostrar mais empenho. Além disso, o gestor deve trabalhar com consenso de

grupos utilizando a participação dos funcionários, criando um clima de alto nível de

confiança (pág. 12).

Solicitou-se ao entrevistado que apontasse políticas que seriam ideais para que as

mudanças fossem bem sucedidas.

No âmbito interno, a transparência junto aos

colaboradores deve ser fundamental em todos os

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aspectos. Em relação ao mercado, como operador

logístico, devemos ser capazes de enfrentar

quaisquer tipos de desafios ainda não

experimentados. A empresa necessita ter diferencial

para buscar a fidelização dos clientes

(Coordenador).

Mudança deve se feita com responsabilidade e

consciência conversando com o funcionário,

perguntando se tem alguma idéia para agregar a

essa nova mudança (Assistente Administrativo)

O emprego real de gestão de pessoas e gestão de

conhecimento, no sentido do emprego da política

“quem faz; o que faz; como faz”, deveria ser

conhecido no sentido real. Na escala hierárquica

não de baixo para cima e sim de cima para baixo,

sem partidarismo, com seriedade. Reconhecimento

por mérito e não por “coleguismo” (Assistente

Administrativo).

Treinamento para os colaboradores; melhorar

alguns procedimentos operacionais; melhorar o

trabalho em equipe (Supervisor).

Políticas que desenvolvessem o diálogo e a

transparência (Assistente Administrativo).

Acompanhamento de perto por parte do gestor

(Assistente Administrativo).

Clareza na divulgação de resultados; metas bem

definidas; investimento nas pessoas e melhoria na

comunicação (Supervisor).

É notório que as opiniões de cada entrevistado focam mais a gestão estratégica de

pessoas do que qualquer outra melhoria de sentido material. Isso pode estar

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passando despercebidamente por parte da alta gestão, caso ela considere esse

momento da empresa e as decisões a serem tomadas como questões meramente

racionais. Conforme descrito no referencial teórico, as reações emocionais à

mudança são vistas como uma questão menos importante quando o gerente pensa,

age e é treinado de modo racional descartando a complexidade emocional,

simplesmente porque ela é “irracional”. Ou seja, o que é paradoxal e contraditório é,

simplesmente, irrelevante. Outro fator relevante é a nova cultura que está se

desenvolvendo na TLI, como uma defesa contra emoções como a ansiedade, o que

torna difícil para os indivíduos a expressão de seus sentimentos na organização

(VERGARA; SILVA, 2003).

Para finalizar a entrevista, os entrevistados mencionaram que ameaças ou

oportunidades as mudanças podem trazer.

As mudanças se bem planejadas e estruturadas não

oferecem ameaças para ninguém. Já em relação às

oportunidades, sobressairão aqueles que tiverem

espírito empreendedor, serem produtivos, ser líder

com grande capacidade de gestão (Coordenador).

Aquele que não se adéqua a novas mudanças pode

ser demitido. Aqueles que aceitarem terá uma

oportunidade de mudar de setor, receber uma

classificação, um aumento de salário e

conhecimento para si mesmo (Assistente

Administrativo).

“Se” ou “quando” a empresa conseguir distinguir

empregados, funções, pessoas e processos; quando

souber a diferença entre custo e investimento,

estaremos preparados para mudanças, pois ao

chegar neste estágio existirá o comprometimento, a

seriedade e o orgulho de fazer parte de uma

organização, bem como, preparados para quaisquer

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ameaças, já que as mesmas fazem parte do dia a

dia (Assistente Administrativo).

Como ameaça a demissão. E como oportunidade,

crescimento profissional para os funcionários

(Supervisor).

Oportunidade de crescimento; ameaça é o medo de

perder o emprego (Assistente Administrativo).

A demissão é a maior ameaça. As pessoas

costumam dizer aqui que “o jacaré está passando”;

e como oportunidade o crescimento profissional

(Assistente Administrativo).

A ameaça é ser demitido e a oportunidade o

crescimento profissional (Assistente Administrativo).

As respostas acima enfatizam a demissão como ameaça que o processo de

mudança pode trazer. Em contrapartida, essas transformações podem proporcionar

oportunidades de desenvolvimento profissional.

4.2.3 O entendimento dos entrevistados sobre a cultura DLI versus TLI

No início da entrevista foi exposto ao entrevistado que este estudo estaria focado em

três aspectos: a cultura da empresa DLI e TLI; as mudanças na organização e as

resistências das pessoas ao processo de transformação. Foram observadas durante

a conversa as reações de cada indivíduo diante da perguntas e percebeu-se:

sentimentos de insatisfação com a realidade vigente na TLI; o medo de responder

certas questões e até de participar da pesquisa; a naturalidade para falar de

situações que já se transformaram em rotineiras no ambiente organizacional.

Ao final da entrevista, solicitou-se que cada funcionário falasse algo sobre a cultura

da empresa antes ou depois da aquisição, sem a preocupação com conceitos.

Alguns problemas que a empresa enfrenta todos os

dias são culturais, ou seja, é aquele pensamento de

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que “aqui as coisas sempre foram assim”

(Supervisor).

Hoje eu posso dizer que vivemos a cultura das

incertezas aqui na empresa (Assistente

Administrativo).

É difícil falar de cultura hoje, porque acredito estar

nascendo ainda uma nova cultura aqui. (Supervisor)

Só posso dizer que eu gostava mais da empresa

antes da compra dela por outra (Assistente

Administrativo).

Se eu disser que a cultura antiga atrapalha as

mudanças de hoje eu posso me comprometer –

risos (Assistente Administrativo).

Por meio dessas declarações, percebe-se que existe uma nova realidade que

separa a cultura DLI das novas formas de gestão da TLI. Essa diferença nas formas

de trabalhar, de se comunicar, os novos valores e sua missão diante do mercado

são prova de tudo isso.

Conforme referenciado nas páginas 19 e 20, as pessoas são seres lógicos que

mudam seu comportamento de acordo com as informações que recebem e com seu

próprio interesse. As entrevistas apontaram a comunicação e a transparência como

um dos principais problemas responsáveis pelas resistências dos indivíduos às

mudanças, pois na cultura anterior, em virtude da presença constante dos gestores,

os funcionários se sentiam bem informados com relação à situação da empresa, o

que não vem acontecendo na atualidade.

Outra questão de destaque nessas entrevistas é a gestão da mudança, ou seja, os

gestores, agentes de transformação desse processo precisam assumir papeis

positivos, dando o tom de sua conduta. Além disso, redesenhar os processos de

socialização e alinhá-los aos novos valores (pág. 12).

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Quanto ao papel de cada funcionário, foi exposto o distanciamento que esses

indivíduos sentem com relação às decisões, o que vem a contribuir para

comportamentos resistentes e pode ser tratado com participação e envolvimento

(pág. 17).

As entrevistas trouxeram a confirmação de que é possível criar uma linha de

raciocínio para entender como a cultura da empresa está relacionada à resistência

das pessoas, provocada pelas mudanças organizacionais.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para as considerações finais da presente monografia, os objetivos intermediários

foram alcançados no sentido de responder ao problema final proposto.

Em decorrência das análises realizadas por meio da pesquisa de campo e

sustentadas pelo referencial teórico, é relevante apontar algumas considerações.

Ao que concerne à bibliografia sobre cultura organizacional, este trabalho permitiu a

compreensão da importância desse tema. Pois cada organização é composta por

diferentes pessoas que dão o sentido de existência ao negócio, com seus valores e

suas características. Trazer a mudança para esse ambiente cultural pode ter

conseqüências positivas ou negativas. Pois na maioria dos casos a resistência dos

indivíduos deverá ser bem tratada, para que os objetivos sejam alcançados com

plenitude.

A que se destacar que embora a bibliografia existente sobre mudança

organizacional ofereça “receitas” de como tratar as resistências das pessoas, cada

realidade organizacional terá uma tratativa diferente. E mais, a resistência não é

unicamente nociva, podendo ser positiva a partir do momento em que os gestores

sabem reconhecer suas causas e tratá-las.

A pesquisa demonstrou como os funcionários percebem as mudanças que a

empresa vem enfrentando para alcançar os objetivos da missão no mercado. Ainda

que o processo de aquisição tenha vindo como fator de melhoria para o negócio,

deve-se destacar que a TLI, por meio da sua gestão, mostra-se mais preocupada

com seus planejamentos do que com a interação com os sujeitos ali presentes, em

termos de esclarecimento e atenção à subjetividade.

Aponta-se ainda que a ausência de esclarecimento em meio às transformações

causa incerteza e medo, cedendo espaço para o surgimento de uma cultura onde

predominam a falta de diálogo e a sinceridade entre seus membros. A que se pensar

não apenas na racionalidade de gerar lucro, ignorando o fato de que as pessoas têm

emoções e que elas estão ali simplesmente pela troca de trabalho e dinheiro. Essa é

a concepção que os gestores precisam se atentar, pois somente os aspectos

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visíveis da cultura não são suficientes para que ela seja forte, caso contrário existirá

sempre a rotatividade de pessoal e outras medidas paliativas.

Outro ponto importante que a pesquisa revelou é a questão da adaptação. A DLI

precisou ser adquirida por outra empresa e se adaptar a essa nova realidade. Mas a

DLI são as pessoas e essa adaptação envolve cada funcionário, ou seja, aqueles

indivíduos que continuaram a agir da mesma forma foram desligados. Isso sinaliza

que no mundo corporativo ou o indivíduo se adapta às estratégias da gestão ou ele

está fora.

Em relação às entrevistas, é válido ressaltar que os entrevistados não quiseram

responder certos questionamentos e as respostas apresentadas possibilitaram a

análise dos pontos considerados relevantes para o estudo.

Finalizando, a pesquisa permitiu que se relacionasse a cultura organizacional com

as mudanças e as resistências do processo, abrindo espaço para que outras

realidades corporativas sejam efetivamente investigadas, a fim de proporcionar a

seus membros cada vez mais, melhores condições de trabalho.

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APÊNDICE

ROTEIRO DA ENTREVISTA

1. Em sua opinião, como era a empresa antes da aquisição (pontos positivos ou

negativos)?

2. Que mudanças você percebeu na empresa após a aquisição?

3. Como a empresa tem tratado os funcionários em meio ao processo de

mudança?

4. Como você tem encarado o processo de mudança?

5. Como você percebe a relação dos empregados com a gestão das mudanças?

6. O que essas mudanças trouxeram para o dia a dia de trabalho ou para

empresa?

7. Como você interpreta o trabalho desempenhado pela empresa em relação à

missão dela no mercado?

8. Nesse processo de mudança, o que você percebe na atuação dos gestores?

9. Em sua opinião, que políticas seriam ideais para que as mudanças fossem

bem sucedidas?

10. Que ameaças ou oportunidades as mudanças podem trazer?