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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR CAMPUS PROFESSOR FRANCISCO GONÇALVES QUILES CACOAL DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DIREITO THIAGO GREGÓRIO DE OLIVEIRA (IN) CONSTITUCIONALIDADE DO VETO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA AO ART. 2º DA LEI N.º 13.491/2017 TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO MONOGRAFIA CACOAL RO 2018

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · por ocasião dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos mundiais ocorridos no Estado do Rio de Janeiro, no ano de 2016. De acordo com

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR

CAMPUS PROFESSOR FRANCISCO GONÇALVES QUILES – CACOAL

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DIREITO

THIAGO GREGÓRIO DE OLIVEIRA

(IN) CONSTITUCIONALIDADE DO VETO DO

PRESIDENTE DA REPÚBLICA AO ART. 2º DA LEI N.º 13.491/2017

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

MONOGRAFIA

CACOAL – RO

2018

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THIAGO GREGÓRIO DE OLIVEIRA

(IN) CONSTITUCIONALIDADE DO VETO DO

PRESIDENTE DA REPÚBLICA AO ART. 2º DA LEI N.º 13.491/2017

Monografia apresentada à Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR – Campus Professor Francisco Gonçalves Quiles – Cacoal, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, elaborada sob a orientação da professora Mestra Sônia Mara Nita e coorientação do professor Mestre Gilson Tetsuo Miyakava.

CACOAL - RO

2018

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Fundação Universidade Federal de Rondônia

Gerada automaticamente mediante informações fornecidas pelo(a) autor(a)

Oliveira, Thiago Gregório de .

(In) Constitucionalidade do veto do Presidente da República ao art. 2º daLei n.º 13.491/2017 / Thiago Gregório de Oliveira. -- Cacoal, RO, 2018.

95 f. : il.

1.Processo. 2.Legislativo. 3.Constitucional. 4.Veto. 5.Executivo. I.Miyakava, Gilson Tetsuo. II. Título.

Orientador(a): Prof. Me. Gilson Tetsuo Miyakava

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) - FundaçãoUniversidade Federal de Rondônia

O48i

CDU 342.515

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Coorientador(a): Prof.ª Ma. Sônia Mara Nita.

CRB 11/Nº891Bibliotecário(a) Naiara Raíssa da Silva Passos

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(IN) CONSTITUCIONALIDADE DO VETO DO

PRESIDENTE DA REPÚBLICA AO ART. 2º DA LEI N.º 13.491/2017

THIAGO GREGÓRIO DE OLIVEIRA

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade

Federal de Rondônia UNIR – Campus Professor Francisco Gonçalves Quiles –

Cacoal, para obtenção do grau de Bacharel em Direito, mediante a Banca

Examinadora formada por:

_______________________________________________________________ Professor Mestre Gilson Tetsuo Miyakava – UNIR – Presidente

_______________________________________________________________ Professora Doutora Neiva Cristina de Araújo – UNIR – Membro

_______________________________________________________________ Professora Esp. Maria Del Consuelo A. F. e Silva – UNIR – Membro

Conceito: 87.

Cacoal, RO, 07 de dezembro de 2018.

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Dedico este trabalho à memória de meus pais.

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AGRADECIMENTOS

A Deus sempre presente, pela saúde e disposição que me permitiu o êxito em

mais esta importante etapa de minha vida.

Aos meus orientadores, Professor Mestre Gilson Tetsuo Miyakava e

Professora Mestra Sônia Mara Nita, pela inestimável paciência e disponibilidade em

transmitir seus conhecimentos. “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o

que ensina” (Cora Coralina).

Aos demais Professores, servidores e prestadores de serviço da Fundação

Universidade Federal de Rondônia (UNIR), que direta e/ou indiretamente

contribuíram com a minha formação acadêmica. Aos mestres que de alguma forma

passaram pela minha vida e desenvolvimento escolar, desde a alfabetização.

Gratidão!

Aos amigos, Rubens Couti Pereira da Fonseca e Júlio Iago Vieira Trindade,

pelo grande apoio e ensinamentos. Gratidão!

À minha namorada pelo incentivo e compreensão na correria de cada

semestre.

À sociedade.

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“Teu dever é lutar pelo Direito, mas no dia em que encontrares em conflito o Direito e a Justiça, lute pela Justiça”.

(Eduardo Juan Couture)

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RESUMO

A presente monografia tem por finalidade a investigação acadêmica sobre (in) constitucionalidade do veto do Presidente da República ao artigo 2º da Lei n.º 13.491/2017 – lei que alterou a competência da Justiça Militar. Busca-se destacar o objetivo inicial do projeto de lei, sob o viés do processo legislativo constitucional e a verificação de eventual inconstitucionalidade, ou não, do veto que altera o seu conteúdo efetuado pelo Chefe do Poder Executivo Federal, especialmente frente ao princípio da separação dos poderes, previsto no artigo 2º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Analisam-se ainda as razões que justificaram o veto e a consequente transformação da natureza temporária da lei em permanente, além de investigação doutrinária sobre possível usurpação de competência legislativa pelo Presidente da República Federativa do Brasil. Para tanto, utilizou-se o método da abordagem dogmática, arvorando-se na técnica de pesquisa exploratória por meio de bibliografias.

Palavras-chave: Processo. Legislativo. Constitucional. Veto. Executivo

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ABSTRACT

This undergraduate thesis aims to academically research the (un) constitutionality of the President of the Republic’s veto to article 2 of Law nº 13,491/2017, which changed the Military Court’s jurisdiction. It aims to highlight the initial objective of the bill, under the prism of the constitutional legislative process, and thus examine the possible unconstitutionality of the veto that changed its content, by a personal act of the President of the Republic, especially in regard to the principle of separation of powers, provided by the second article of the Constitutional of the Federative Republic of Brazil. It also seeks to analyze the veto message and the consequent transformation of the temporary nature of the bill into permanent, as well as academically investigate the possible usurpation of legislative competence by the President of the Federative Republic of Brazil. In order to accomplish its goals, this thesis was developed through a dogmatic approach, hoisting itself in the technique of exploratory research through bibliographies.

Keywords: Process. Legislative. Constitutional. Veto. Executive.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10

1 FUNDAMENTOS .................................................................................................. 13

1.1 ORIGENS DO ESTADO ..................................................................................... 13

1.2 DA COLABORAÇÃO DE PODERES ................................................................. 16

1.3 PODER LEGISLATIVO ...................................................................................... 20

2 PROCESSO LEGISLATIVO CONSTITUCIONAL................................................. 23

2.1 PRINCÍPIOS DO PROCESSO LEGISLATIVO ................................................... 25

2.1.1 Princípio da democracia ............................................................................... 26

2.1.2 Princípio da não convalidação das nulidades ............................................ 28

2.1.3 Princípio da controlabilidade ....................................................................... 28

2.1.4 Princípio da oralidade ................................................................................... 29

2.1.5 Princípio da publicidade ............................................................................... 29

2.1.6 Princípio da simetria ..................................................................................... 30

2.1.7 Princípio do bicameralismo .......................................................................... 31

2.1.8 Princípio da separação da discussão e votação ........................................ 31

2.2 SISTEMA DE FREIOS E CONTRAPESOS – “CHECK AND BALANCES” ......... 32

3 FASES DO PROCESSO LEGISLATIVO .............................................................. 35

3.1 FASE DE INICIATIVA ........................................................................................ 36

3.2 FASE CONSTITUTIVA ....................................................................................... 38

3.2.1 Sanção ........................................................................................................... 41

3.2.2 Veto ................................................................................................................ 42

3.2.3 Manutenção/Derrubada de veto pelo Congresso Nacional ........................ 45

3.3 FASE COMPLEMENTAR ................................................................................... 48

4 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ........................................................ 50

4.1 MENSAGEM DE VETO AO ARTIGO 2º DA LEI N.º 13.491/2017 ...................... 54

4.2 (IN) CONSTITUCIONALIDADE DO VETO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA 56

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 67

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 70

ANEXOS .................................................................................................................. 75

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INTRODUÇÃO

A Lei n.º 13.491/2017, que alterou a competência da Justiça Militar, emergiu

por ocasião dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos mundiais ocorridos no Estado do

Rio de Janeiro, no ano de 2016. De acordo com a Câmara dos Deputados Federais,

a sensação de insegurança pública e impunidade sentida por grande parte daquela

população, consubstanciadas nos elevados índices de violência e criminalidade

naquele Estado da Federação, obrigou o Congresso Nacional e o Poder Executivo a

articularem-se com urgência visando dar uma resposta efetiva de segurança pública

à sociedade.

Nas palavras do professor Brasileiro (2017, s.p.), tratava-se de uma

excepcionalidade, conforme voto do relator da Comissão de Constituição, Justiça e

de Cidadania da Câmara dos Deputados Federais, ao incluir cláusula de vigência

temporária ao Projeto de Lei n.º 5.768/2016, que previa a vigência até 31 de

dezembro de 2016, sendo que ao final da vigência, retornaria a ter eficácia a

legislação anterior por ela modificada.

Nesse contexto, essa pesquisa acadêmica tem por finalidade destinar

especial atenção ao complexo processo legislativo estabelecido em 1988 pela

Constituição da República Federativa do Brasil, aprofundando-se à segunda fase

(designada “fase constitutiva”), sobretudo, no momento de deliberação do Chefe do

Poder Executivo, quanto ao veto, pelo qual o Presidente da República pode

balancear as deliberações do Poder Legislativo, efetivando a ideia de harmonização,

equilíbrio e independência dos Poderes do Estado no clássico sistema de freios e

contrapesos.

Assim sendo, far-se-á uma análise específica sobre o veto do Presidente da

República ao artigo 2º (que estabelecia a natureza temporária da referida lei), tendo

em vista que, inicialmente, o projeto de lei que foi discutido e aprovado pelo

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Congresso Nacional, teria sido desnaturado em sua essência temporária,

transformando-se em lei permanente, por meio do veto do Chefe do Executivo

Federal, sob as justificativas de contrariedade ao interesse público, intempestividade

e óbice à criação de um tribunal de exceção no Brasil.

Posto isso, revela-se a imprescindibilidade desta pesquisa em razão da

recente publicação da Lei n.º 13.491/2017, uma vez que são poucos os

doutrinadores que abordaram especificamente a temática e a verificação específica

de possível (in) constitucionalidade formal da lei ora em comento, somada à

eventual usurpação da competência legislativa pelo Poder Executivo Federal.

Esta pesquisa utilizou-se do método de abordagem dogmática, apoiando-se

na técnica de pesquisa exploratória em sede de identificação de bibliografias

reconhecidas no mundo jurídico e acadêmico, no intento de contribuir com o debate

e colaborar com o avanço científico e acadêmico, brindando a sociedade com os

conhecimentos jurídicos reunidos nesta monografia.

Para tanto, está dividida sistematicamente em quatro (04) capítulos para

melhor compreensão e análise do fato social ora examinado. Inicialmente, buscar-

se-á destacar os aspectos principiológicos que envolvem a criação e a legitimação

do Estado na história geral e na filosofia, bem como explorar principalmente os

aspectos do sistema de freios e contrapesos, com especial ênfase ao Poder

Legislativo.

O segundo capítulo será o responsável pela exposição da efetiva formação do

processo legislativo, em especial, a verificação da incidência de diversos princípios

correspondentes.

No terceiro capítulo, sob a ótica da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, demonstrar-se-á detalhadamente as múltiplas fases do processo

legislativo (com ênfase limitada ao procedimento comum ordinário, devido à

objetividade inerente a esta pesquisa) pelas quais passam os projetos de leis

ordinárias, com ênfase específica sobre o momento de sanção e veto do Chefe do

Poder Executivo Federal, objeto principal deste estudo.

O quarto capítulo está destinado precipuamente ao estudo do controle de

constitucionalidade preventivo por parte do Presidente da República, além da

verificação dos objetivos iniciais e os fatores legitimadores da Lei n.º 13.491/2017.

Destaca-se ainda, a verificação das deliberações do Presidente da República por

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meio de mensagem oficial encaminhada ao Congresso Nacional contendo as razões

que justificaram o veto ora estudado.

Por fim, a averiguação de eventual (in) constitucionalidade do referido veto do

Chefe do Poder Executivo Federal, sob a perspectiva doutrinária e da Corte

Suprema, notadamente, face à possível afronta ao princípio da separação dos

poderes, insculpido no artigo 2º da Constituição da República Federativa do Brasil

de 1988, pela transformação da natureza temporária da referida lei em permanente.

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1 FUNDAMENTOS

1.1 ORIGENS DO ESTADO

Nas palavras do autor português Canotilho (1993, p. 15), o conceito de

Estado possui alicerce histórico, sendo constituído por três elementos fundamentais:

Território, povo e politicidade:

Desde o século passado [...] que o conceito de Estado é assumido como uma forma histórica (a última para os modernos porventura a penúltima para os pós­modernos) de um ordenamento jurídico geral (GIANNINI) cujas características ou elementos constitutivos eram os seguintes: (1) ­ territorialidade, isto é, a existência de um território concebido como "espaço da soberania estadual"; (2) ­ população, ou seja, a existência de um "povo" ou comunidade historicamente definida; (3) ­ politicidade: prossecução de fins definidos e individualizados em termos políticos. A organização política do Estado era, por sua vez, uma parte fundamental ("parte orgânica") da Constituição. Esta articulação do “Estado” com o “texto” – daí a tradicional designação de “Constituição do Estado” – é também questionada nos esquemas de representação da pós-modernidade (Grifos do autor).

Interessante destacar, desde já, que o conceito histórico de Canotilho é

colocado em xeque por Streck (2014, p. 137-138), segundo o qual entende que:

[...] a questão da soberania [...], a questão do poder e dos vínculos jurídicos que unem os diversos elementos, apontam para um necessário redimensionamento das tradicionais teorias acerca de quais são os elementos que constituem o Estado.

O termo Estado tem sua origem no latim e significa “estar firme”, tendo

aparecido pela primeira vez em 1513, utilizado por Maquiavel em sua obra

denominada O Príncipe. Além disso, Dalari (1998, p. 22) ensina que:

A denominação Estado (do latim status estar firme), significando permanente de convivência e ligada à sociedade política, aparece pela primeira vez em “O Príncipe” de MAQUIAVEL, escrito em 1513, passando a ser usada pelos italianos sempre ligada ao nome de uma cidade independente, como, por exemplo, stato di Firenze. Durante os séculos XVI e XVII a expressão foi sendo admitida em escritos franceses, ingleses e alemães. Na Espanha, até o século XVIII, aplicava-se também a denominação de estados a grandes propriedades rurais de domínio particular, cujos proprietários tinham poder jurisdicional. De qualquer forma, é certo que o nome Estado, indicando uma sociedade política, só aparece no século XVI, e este é um dos argumentos para alguns autores que não admitem a existência do Estado antes do século XVII. Para eles, entretanto, sua tese não se reduz a uma questão de nome, sendo mais importante o argumento de que o nome Estado só pode ser

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aplicado com propriedade à sociedade política dotada de certas características bem definidas. A maioria dos autores, no entanto, admitindo que a sociedade ora denominada Estado é, na sua essência, igual à que existiu anteriormente, embora com nomes diversos, dá essa designação a todas as sociedades políticas que, com autoridade superior fixaram as regras de convivência de seus membros (Grifo nosso).

Nesse raciocínio, para a filosofia, o Estado é uma ficção e foi inventado pelos

gregos e romanos:

Polis é a Cidade, entendida como a comunidade organizada, formada pelos cidadãos (politikos), isto é, pelos homens nascidos no solo da Cidade, livres e iguais, portadores de dois direitos inquestionáveis, a isonomia (igualdade perante a lei) e a isegoria (o direito de expor e discutir em público opiniões sobre ações que a Cidade deve ou não deve realizar). Ta politika são os negócios públicos dirigidos pelos cidadãos: costumes, leis, erário público, organização da defesa e da guerra, administração dos serviços públicos [...]. Civitas é a tradução latina de polis, portanto, a Cidade como ente público e coletivo. Res publica é a tradução latina para ta politika, significando, portanto, os negócios públicos dirigidos pelo populus romanus, isto é, os patrícios ou cidadãos livres e iguais, nascidos no solo de Roma. Polis e civitas correspondem (imperfeitamente) ao que, no vocabulário político moderno, chamamos de Estado: o conjunto das instituições públicas (leis, erário público, serviços públicos) e sua administração pelos membros da Cidade. Ta politika e res publica correspondem (imperfeitamente) ao que designamos modernamente por práticas políticas, referindo-se ao modo de participação no poder [...] (Grifos da autora) (CHAUI, 2000, p. 479-480).

Seguindo as lições da filósofa Chaui (2000, p. 483-485), expostas adiante, o

conceito moderno de Estado é o todo dos órgãos e entes públicos que possuem

administração pelos membros da sociedade (de forma semi-direta, conforme

estabelecido na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988). A intenção

da criação do Estado era evitar que o absolutismo predominasse e, dessa feita,

prevalecesse a justiça na comunidade.

Quando se afirma que os gregos e romanos inventaram a política, o que se diz é que desfizeram aquelas características da autoridade e do poder. Embora, nos começos, gregos e romanos tivessem conhecido a organização econômico-social de tipo despótico ou patriarcal, um conjunto de medidas foram tomadas pelos primeiros dirigentes – os legisladores – de modo a impedir a concentração dos poderes e da autoridade nas mãos de um rei, senhor da terra, da justiça e das armas, representante da divindade. [...] criaram a idéia (sic) e a prática da lei como expressão de uma vontade coletiva e pública, definidora dos direitos e deveres para todos os cidadãos, impedindo que fosse confundida com a vontade pessoal de um governante. Ao criarem a lei e o direito, afirmaram a diferença entre o poder político e todos os outros poderes e autoridades existentes na sociedade, pois conferiram a uma instância impessoal e coletiva o direito exclusivo ao uso

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da força para punir crimes, reprimir revoltas e matar para vingar, em nome da coletividade, um delito julgado intolerável por ela [...]. O monopólio da força, da vingança e da violência passou para o Estado, sob a lei e o direito [...], criaram o espaço político ou espaço público – a assembléia (sic) grega e o senado romano -, no qual os que possuem direitos iguais de cidadania discutem suas opiniões, defendem seus interesses, deliberam em conjunto e decidem por meio do voto, podendo, também pelo voto, revogar uma decisão tomada [...].

Pimenta (2007, p. 44) entende que o absolutismo é o completo desrespeito ao

Estado e seus elementos fundamentais. Para o autor:

O termo absolutismo, dentro do contexto político, deve ser entendido como a ausência de qualquer subordinação por parte do detentor do poder, o qual exercia suas funções sem qualquer controle ou dependência com os demais órgãos do Estado.

Para Gomes (2015, p. 26), a palavra política detém variados significados.

Nesse sentido, explica que,

No dia a dia, é associada à cerimônia, à cortesia ou à urbanidade no trato interpessoal; identifica-se com a habilidade no relacionar-se com o outro. Também denota a arte de tratar com sutileza e jeito temas difíceis, polêmicos ou delicados. Expressa, ainda, o uso ou emprego de poder para o desenvolvimento de atividades ou a organização de setores da vidasocial; é nesse sentido que se fala em política econômica, financeira, ambiental, esportiva, de saúde. Em geral, o termo é usado tanto na esfera pública [...], quanto na privada [...]. Possui igualmente sentido pejorativo, consistente no emprego de astúcia ou maquiavelismo nas ações desenvolvidas, sobretudo para obtenção de resultados sem a necessária ponderação ética dos meios empregados.

Cintra, Grinover e Dinamarco (2009, p. 43) lecionam que o Estado moderno

está fundado no intento de promover a justiça social (“Estado social”).

O Estado moderno repudia as bases da filosofia política liberal e pretende ser, embora sem atitudes paternalistas, “a providência do seu povo”, no sentido de assumir para si certas funções essenciais ligadas à vida e desenvolvimento da nação e dos indivíduos que a compõe. [...] E hoje, prevalecendo as idéias (sic) do Estado social, em que ao Estado se reconhece a função fundamental de promover a plena realização dos valores humanos, isso deve servir, de um lado, para pôr em destaque a função jurisdicional pacificadora como fator de eliminação dos conflitos que afligem as pessoas e lhes trazem angústia; de outro, para advertir os encarregados do sistema, quanto à necessidade de fazer do processo um meio efetivo para a realização da justiça (Grifos dos autores).

Apoiando-se nas manifestações retromencionadas, percebe-se a

responsabilidade avocada pelo Estado no sentido de promover o bem-estar e justiça

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social à coletividade, o que, invariavelmente, redunda em processos legislativos,

uma vez que este também é um meio de manifestação estatal de promoção de

justiça, nada obstante à existência de outras formas legítimas que emergem por

meio de processos administrativos e judiciais.

1.2 DA COLABORAÇÃO DE PODERES

As funções do Estado, denominadas pela Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 de “Poderes”, estão previstas no artigo 2º: “São

Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e

o Judiciário”, em que pese Aristóteles ter sido o precursor da teoria, conforme

leciona Pimenta (2007, p.136), seguido por boa parte da doutrina:

Embora Aristóteles já tivesse lançado na antiguidade as bases teóricas para a “tripartição dos poderes” em sua obra “Política”, na qual o filósofo já vislumbrava a existência de três funções distintas exercidas pelo poder soberano, esse princípio tem em Montesquieu a sua principal referência (Grifos do autor).

Corroborando esse pensamento, Streck (2014, p. 152-153) afirma que foi

Montesquieu, em 1748 em sua obra O Espírito das Leis, quem deu início à clássica

tripartição de Poderes do Estado.

Foi, contudo, com Montesquieu e seu De L’Esprit des Lois (1748) que emergiu a percepção de uma tripartição (Executivo, Legislativo e Judiciário) de funções como “poderes” independentes entre si. Entretanto, permanecem obscuras as atribuições de cada um deles. No Estado Moderno, a separação de poderes/especialização de funções atua conjuntamente com o constitucionalismo no sentido da delimitação do poder do mesmo [...] (Grifos do autor).

É importante ressaltar que para a maioria dos doutrinadores, o Poder Estatal

é uno, conforme estabelecido no parágrafo único do artigo 1º da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988: “Art. 1º [...] Parágrafo único: Todo o poder

emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,

nos termos desta Constituição”. Logo, de acordo com a lição de Streck (2014, p.

153), é preferível falar em “colaboração de poderes”:

Atualmente, seria preferível falarmos em colaboração de poderes, particularmente no âmbito do parlamentarismo e de independência orgânica

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e harmônica dos poderes, quando do presidencialismo, embora mesmo isso sofra os influxos da organização sociopolítico-econômica atual, podendo-se melhor falar em exercício preponderante de certas atribuições por determinados órgãos do poder público estatal ou, como é o caso das funções executiva e jurisdicional no campo da aplicação do direito ao caso concreto, onde o que diferencia é a maior ou menor eficácia conclusiva do ato praticado ou da decisão (Grifos nossos).

Para o autor, o surgimento da teoria da tripartição dos poderes e o sistema de

freios e contrapesos foi uma evidente tentativa de estabelecer um sistema de

controle do Estado.

Consectário desta teoria, surge o sistema de freios e contrapesos (check and balances), significando a tentativa de se estabelecer um mecanismo de controle recíproco entre os chamados três Poderes, para fins de salvaguarda da liberdade (Grifos do autor) (STRECK, 2014, p. 153).

Desta forma, emergiram as funções legislativas, executivas e judiciárias, cada

qual com uma legítima limitação.

As funções tradicionalmente foram apresentadas como sendo a legislativa, que se manifesta através da edição de normas gerais e obrigatórias para todos; a executiva, que atua através da implementação de soluções concretas, sendo a função como responsabilidade de governo, como atribuições políticas, colegislativas e de decisão, além da administração pública em geral; e a jurisdicional, cujo campo é o da solução em específico dos conflitos surgidos e regulados pelas regras gerais, interpretando e aplicando a lei (STRECK, 2014, p. 153).

Conforme os ensinamentos de Maluf (2013, p. 171-172), a divisão dos

poderes de Estado refere-se à divisão do poder de soberania e representa a

essência do sistema constitucional, nos seguintes termos:

A divisão do poder de Estado em três órgãos distintos (Legislativo, Executivo e Judiciário), independentes e harmônicos entre si, representa a essência do sistema constitucional. Uma Constituição que não contenha esse princípio não é Constituição, como afirmaram os teóricos do liberalismo. [...] Nos Estados monárquicos antigos, medievais, e até mesmo no começo da idade moderna, bem como nas primitivas repúblicas gregas e romanas, não havia, em regra, divisão funcional do poder de governo. Naquelas o monarca, e nestas as assembleias populares acumulavam as funções de legislar, executar as leis e julgar as controvérsias. Entretanto, já os filósofos antigos cogitaram da limitação do poder de governo. Platão, no Diálogo das leis, aplaudindo Licurgo por contrapor o poder da Assembleia dos Anciãos ao poder do Rei, doutrinou que “não se deve estabelecer jamais uma autoridade demasiado poderosa e sem freio nem paliativos”. E Aristóteles,

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em sua obra Política, chegou a esboçar a tríplice divisão do poder em “legislativo, executivo e administrativo”. Na antiga república romana o consulado, a questura, a pretura e as magistraturas menores, todas elas, eram exercidas por dois magistrados com poderes iguais, o que constituiu, de certo modo, um sistema prático de limitação do poder pelo poder: dualidade de magistrados com poderes iguais, cabendo a cada um, qualquer deles, em iguais condições, a totalidade do poder. O direito de veto de um magistrado contra a decisão do seu par correspondia, embora de maneira empírica, ao moderno processo constitucional. Continuando as elocubrações dos filósofos gregos, John Locke tratou do assunto com relativa amplitude, aconselhando a divisão do poder em quatro funções. Além desse líder inglês, outros pensadores, notadamente Bodin e Swift, desenvolveram a velha tese em função das teorias racionalistas. A preocupação constante dos teóricos foi sempre de evitar a concentração de todo o poder numa só pessoa ou num só órgão (Grifos nossos).

Maluf explica que foi o filósofo John Locke quem previu a divisão do poder

estatal em quatro funções. Contudo, ressalta que a América do Norte “adotou

integralmente a doutrina de Montesquieu [...]”.

Reafirmaram os constitucionalistas norte-americanos, de modo categórico, que a concentração dos três poderes num só órgão de governo representa a verdadeira definição de tirania: Quando na mesma pessoa ou corporação, o poder legislativo se confunde com o executivo, não há mais liberdade. Os três poderes devem ser independentes entre si, para que se fiscalizem mutuamente, coíbam os próprios excessos e impeçam a usurpação dos direitos naturais inerentes aos governados. O Parlamento faz as leis, cumpre-as o executivo e julga as infrações delas o tribunal. Em última análise, os três poderes são os serventuários da norma jurídica emanada da soberania nacional (Grifos do autor) (MALUF, 2013, p. 171-172).

Cumpre mencionar que a teoria de Montesquieu foi consagrada durante a

Revolução Francesa, no artigo 16 da Declaração dos Direitos do Homem e do

Cidadão, nos seguintes termos: “Toda sociedade na qual a garantia dos direitos não

estiver assegurada, nem determinada a separação dos poderes, não tem

Constituição”.

Maluf (2013, p. 173) também ensina que o poder de soberania é indivisível, e,

com efeito, o que há é a distribuição das manifestações do poder soberano em três

órgãos, da seguinte maneira:

A soberania é realmente, necessariamente, una e indivisível. Ora, o Estado é a organização da soberania, e o governo é a própria soberania em ação. O poder, portanto, é um só, uno e indivisível na sua substância. Não pode haver duas ou mais soberanias dentro de um mesmo Estado, mas pode perfeitamente haver órgãos diversos de manifestação do poder de soberania. Cada órgão, dentro da sua esfera de ação, exerce a totalidade

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do poder soberano. Em outras palavras: cada ato de governo, manifestado por um dos três órgãos, representa uma manifestação completa do poder. [...] A aparente confusão, porém, pode ser facilmente desfeita, colocadas as coisas nos seus devidos termos: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário são poderes independentes no sentido literal da palavra, já que devem ser harmônicos e coordenados entre si. São órgãos de manifestação do poder de soberania nacional, que é, na sua essência, uno e indivisível. Cada um, na esfera da sua função específica, exerce a totalidade desse poder. Como o corpo humano que dispõe de vários órgãos e sentidos (visão, audição,dicção etc.) sujeitos ao fulcro de uma só vontade, o Estado manifesta a sua vontade, o seu poder, através desses três órgãos que compõem a sua unidade. Cada um dos três poderes, isoladamente, sem a correlação e a integração dos dois outros, não chegaria a expressar o poder do Estado (Grifos do autor).

Para o autor, a divisão do poder de Estado deve ser entendida como uma

forma de organização e funcionamento dos poderes separadamente, mas com um

só objetivo: a manifestação da soberania nacional.

[...], a divisão formal e funcional (não substancial) do poder de Estado repele o significado literal do termo independente. Os três poderes só são independentes no sentido de que se organizam e funcionam separadamente, mas se entrosam e se subordinam mutuamente na finalidade essencial de compor os atos de manifestação da soberania nacional, mediante um sistema de freios e contrapesos, na expressão dos constitucionalistas norte-americanos, realizando o ideal de contenção do poder pelo poder — Le pouvoir arrête le pouvoir, doutrinou Montesquieu (Grifos do autor) (MALUF, 2013, p. 173).

Entretanto, Streck (2014, p. 151-152) adverte que a clássica separação dos

Poderes, outrora idealizada pelo filósofo Montesquieu em 1748, está ultrapassada

desde as primeiras intervenções do Estado social.

As funções do Estado vêm sofrendo transformações na exata medida em que o Estado assume novos contornos. Desse modo, a clássica separação de funções de cada um dos Poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) de há muito está superada. Observe-se que, com os primeiros sinais do intervencionismo estatal, próprios do Estado Social (contemporâneo), já ocorreram sensíveis alterações na esfera das relações entre os Poderes do Estado, mediante o deslocamento da esfera de tensão do Poder Legislativo para o Poder Executivo. Já no Estado Democrático de Direito, próprio do constitucionalismo do pós-guerra, tem-se nitidamente o deslocamento dessa esfera de tensão, passando do Poder Executivo e do Poder Legislativo para o Poder Judiciário, mormente nos países com Constituições dirigentes, onde os Tribunais Constitucionais proporcionam aquilo que muitos autores chamam de “juridicização da política”.

Com efeito, o autor afirma que a esfera de tensão se encontra nos tribunais

constitucionais que configuram um fenômeno denominado judicialização da política.

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1.3 PODER LEGISLATIVO

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estabelece no

artigo 44 que: “O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se

compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal”.

Assim, inicialmente, mostra-se importante a abordagem de algumas noções

sobre o contexto histórico do Poder Legislativo para melhor compreensão e

panorâmica do complexo processo legislativo.

De acordo com Bernardi (2009, p. 19),

A origem mais remota do Poder Legislativo encontra-se nos Conselhos de Anciãos que vários povos antigos conheceram. Cerca de quatro mil anos antes de Cristo, as tribos começaram a estabelecer os seus conselhos que tinham como finalidade disciplinar a vida comunitária e aconselhar a orientar os chefes que, com o tempo, passaram a ser denominados de reis, à medida que esses povos iam aumentando em número e subdividindo-se em várias tribos. Os egípcios, os sumérios, os babilônicos, os hebreus, os romanos e também os gregos (atenienses, espartanos e alguns outros povos da Grécia) conheceram tal instituição. A organização política arcaica era inicialmente constituída pelos anciãos da cidade, baseada na tradição e nos costumes, transmitida oralmente e impregnada de conceitos e princípios eclesiásticos e religiosos (Grifos do autor).

Gomes (2015, p. 26) afirma que: “No mundo grego, a política era

compreendida como a vida pública dos cidadãos, em oposição à vida privada e

íntima. [...] Compreendia-se a política como a arte de definir ações na sociedade,

[...]”. O autor afirma ainda que o filósofo Aristóteles acreditava que “[...] o homem é

um animal social [...]”.

Verifica-se então que há séculos a história da humanidade registra algumas

funções legiferantes exercidas pelo Estado, no sentido de organizar e pacificar a

vida em sociedade.

Era o Conselho dos Anciãos, reunido em assembleia, que propunha as leis. As propostas dessas leis eram levadas para consulta ao povo que, reunido em Ágora*, aprovava-as ou não. Assim era o sistema de governo dessa civilização – não havia órgãos legislativos tais como os conhecemos hoje, constituídos por representantes do povo; a democracia era exercida de forma direta, ou seja, pelas próprias palavras dos cidadãos (BERNARDI, 2009, p. 20).

O autor continua explicando que os mais antigos da época eram os

responsáveis pela elaboração, discussão e deliberação acerca das leis que iriam

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reger a vida das pessoas e conduzir os atos do governo. É pertinente observar que o

termo Ágora, de acordo com o autor, em nota de rodapé, era “o espaço público;

praça principal das cidades gregas da Antiguidade clássica”.

Para esse autor, na história da Antiguidade, dentre diversos existentes,

destacou-se o do Rei Hamurabi, entre 1955 a 1913 a.C. na Babilônia, especialmente

pelos aspectos extremos e cruéis das penas previstas na referida legislação. Ensina

ainda que:

O Senado Romano se encontra na genealogia do Poder Legislativo e também possui sua origem nos Conselhos de Anciãos. A palavra senado vem do latim senatus, cuja origem terminológica encontra-se no termo senex, que significa “velho”, “idoso”, de “cabelos brancos” (Grifos do autor). [...] É na Idade Média que surge o embrião do Poder Legislativo como o conhecemos atualmente. Deu-se com a revolta dos nobres na Inglaterra. Com o apoio do Papa, a nobreza impõe limitações aos poderes reais, em 1215, por meio da Magna Carta, e o rei João, monarca da referida época, fica conhecido na história como João Sem Terra. O Rei João não concordou com as prerrogativas da Magna Carta, que previa poderes para um comitê formado por 25 barões, que poderia anular as decisões reais, inclusive utilizando-se da força, se necessário. [...] Durante esse período histórico, que vai até a Revolução Francesa, surgem em vários países europeus parlamentos que tentam limitar o poder de seus soberanos [...] (Grifos do autor) (BERNARDI, 2009, p. 20).

No Brasil, o surgimento do Poder Legislativo ocorreu no período das colônias,

conforme leciona o autor: “Eram elas compostas de um presidente, três vereadores,

dois almotacéis, um escrivão, e dois juízes, escolhidos de forma indireta pelos

eleitores, estes sim eleitos pelos homens livres do lugar”.

Almotacéis eram funcionários que atuavam como fiscais de pesos e medidas

no Brasil colonial. Nesse período colônia, teorias como a do filósofo Montesquieu já

vigoravam, a exemplo da tripartição dos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário)

e que na verdade, são funções estatais, tendo em vista que o Poder é um só,

segundo a maioria da doutrina e a Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, já explanado anteriormente.

Porém, para Bernardi (2009, p. 31-34), foi com a Constituição do Brasil de

1824 no Império do Brasil que emergiu o sistema bicameral. Havia também a

previsão de quatro poderes políticos, sendo o Poder Moderador (idealizado pelo

filósofo John Locke) um deles, o qual tinha a função de mediar os conflitos junto aos

outros poderes do Império.

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Com a Constituição Imperial de 1824, surge o Poder Legislativo no Brasil, regido pelo sistema bicameral, por meio da Assembleia Geral, composta pela Câmara de Deputados, [...] e pela Câmara de Senadores ou Senado. [...] A Constituição reconhecia quatro poderes políticos do Império Brasileiro, delegados pela nação: o Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo e o Poder Judicial. A nação era representada pelo imperador e pela Assembleia Geral [...]. O Poder Moderador era o quarto poder introduzido pela Constituição do Império, de 1824, que dava ao imperador brasileiro a capacidade de interferir, junto aos outros poderes, em um conflito. [...] A primeira constituição republicana, de 1891, estabelecia que o Poder Legislativo deveria ser exercido pelo Congresso Nacional, composto da Câmara dos Deputados e do Senado, com a sanção do presidente da República. [...] Entre as atribuições privativas do Congresso Nacional, estava a de aprovar o orçamento nacional, legislar sobre os direitos civil, comercial, criminal eprocessual (especificamente na justiça federal) e decretar leis e resoluções para o exercício dos poderes da União, bem como as leis orgânicas, objetivando a execução da Constituição (art. 34, CF/1891).

Somente em 1891, junto com a primeira constituição republicana, foi que se

consolidou o modelo de divisão do poder estatal no Brasil que vigora até os dias

contemporâneos.

Nada obstante à viagem histórica, a qual se faz necessária para a

compreensão da realidade contemporânea, alguns fundamentos teóricos que

embasam o tema ora proposto serão abordados doravante, a fim de proporcionar

uma compreensão mais adequada no que se refere ao processo legislativo, de

acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

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2 PROCESSO LEGISLATIVO CONSTITUCIONAL

Canotilho (1993, p. 905) ensina que o processo legislativo é formado por

diversos atos, os quais devem encontrar suporte na Constituição.

A formação dos actos normativos obedece a um iter juridicamente regulado que se costuma designar por procedimento. A actual relevância do estudo da forma jurídica de desenvolvimento das actividades públicas (e, dentre elas, as normativas) justifica o tratamento autónomo das questões de procedimento. Aqui interessa salientar que nem todos os procedimentos normativos gozam de dignidade constitucional formal [...].

Barcellos (2018, p. 362) ensina que o Poder Legislativo possui duas funções

intrínsecas: “Ao lado da atividade de fiscalização, a elaboração de normas é a

principal função do Poder Legislativo” (Grifos nossos). Deve buscar os interesses

da sociedade e o bem-estar da coletividade.

Segundo entendimento de Paulo e Vicente (2015, p. 527), o objeto do

processo legislativo é a produção das espécies normativas e está consagrado na

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 59, e também

consolidado na doutrina, que o processo legislativo é a compreensão do “conjunto

de atos (iniciativa, emenda, votação, sanção e veto, promulgação e publicação)

realizados pelos órgãos competentes na produção das leis e outras espécies

normativas indicadas diretamente pela Constituição”.

Neste sentido, é imprescindível destacar que,

O direito nasce do consenso social, mas, para que tal consolidação se dê efetivamente, são necessárias regras para a sua elaboração, na qual o Processo Legislativo tem papel imprescindível. O Processo Legislativo é a evolução da sociedade humana no processo de elaboração da norma jurídica. [...] a caminhada humana tem sido penosa (BERNARDI, 2009, p. 39).

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estabeleceu no

artigo 59, variados tipos de leis (em sentido amplo) que são elaboradas por meio do

processo legislativo, sendo que cada tipo possui suas peculiaridades.

Pacheco (2013, p. 14) corrobora o entendimento do conceito de processo

legislativo, nos seguintes termos:

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O chamado processo legislativo, em verdade, contém um pouco de tudo isso, compreendendo o ato de proceder, o curso, a sucessão de atos realizados, de acordo com regras previamente fixadas, para a produção das leis no âmbito do Poder Legislativo (Grifos da autora).

O Consultor Legislativo Nunes Júnior, em estudos e notas técnicas

apresentados à Câmara Legislativa, afirma que a locução do processo legislativo

pode ter um viés sociológico, consistente “num conjunto de fatores reais que

impulsionam e direcionam as atividades dos legisladores”.

Moraes (2017, p. 476) confirma e aprofunda o entendimento de Nunes Júnior:

O termo processo legislativo pode ser compreendido num duplo sentido, jurídico e sociológico. Juridicamente, consiste no conjunto coordenado de disposições que disciplinam o procedimento a ser obedecido pelos órgãos competentes na produção de leis e atos normativos que derivam diretamente da própria constituição, enquanto sociologicamente podemos defini-lo como o conjunto de fatores reais que impulsionam e direcionam os legisladores a exercitarem suas tarefas.

Silva (2013, p. 528) leciona que processo legislativo “é um conjunto de atos

ordenados visando a criação de normas de Direito [...]”.

Diante dos diversos conceitos apresentados sobre o que é efetivamente o

processo legislativo constitucional, torna-se possível afirmar que é uma sequência

lógica de atos legalmente praticados por indivíduos com atribuições e competências

definidas na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, direcionando-

se à regulamentação e harmonização da vida em sociedade, por meio da edição de

leis, com vistas ao interesse da coletividade, devendo encontrar na Constituição da

República Federativa do Brasil o seu legítimo fundamento.

Não se admite confundir processo legislativo com procedimento legislativo,

como objetivamente explica Silva (2013, p. 534): “Procedimento legislativo é o modo

pelo qual os atos do processo legislativo se realizam. Diz respeito ao andamento da

matéria nas Casas legislativas. É o que na prática se chama tramitação do projeto

[...]” (Grifos do autor).

De acordo com Cintra, Grinover e Dinamarco (2009, p. 297),

“Etimologicamente, processo significa marcha avante ou caminhada (do latim,

procedere = seguir adiante) [...]”.

Os referidos autores afirmam que o conceito de processo foi confundido por

bastante tempo, pois era entendido apenas como meros atos processuais. No

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entanto, o processo tem força própria e interliga os sujeitos processuais. Já o

procedimento, para eles, é o meio utilizado pelo qual o processo se desenvolve.

Além disso, os autores ensinam que: “Processo é [...] instrumento para o

legítimo exercício do poder, ele está presente em todas as atividades estatais

(processo administrativo, legislativo) e mesmo não-estatais [...]”.

Diante desse pressuposto, Cavalcante Filho (2017, p. 23-24) manifesta o seu

entendimento pertinente ao denominado processo legislativo constitucional:

É claro que toda essa atividade legislativa também produz efeitos colaterais. As leis, quando são muitas, tendem a se banalizar. E, se não forem cumpridas, de nada adianta serem elaboradas. Mas tudo isso só confirma a responsabilidade que recai sobre os ombros daqueles que devem formulá-las. Mesmo porque, num regime em que ninguém pode ser obrigado a fazer ou a deixar de fazer algo a não ser em virtude de lei (CF, art. 5º, II), pode-se mesmo afirmar que, quanto mais lei, menos liberdade. Essa é a função primordial do legislador – e de toda a sociedade: equilibrar a regulamentação (lei) com o respeito à liberdade e à autodeterminação. Não se pode afirmar seja uma tarefa irrelevante (Grifos nossos).

Nessa compreensão, é imprescindível a verificação dos princípios mais

recorrentes na doutrina e que legitimam e regem o processo legislativo

constitucional.

2.1 PRINCÍPIOS DO PROCESSO LEGISLATIVO

Com bases nas reflexões iniciais do que os teóricos entendem por processo

legislativo constitucional, Poder Legislativo e as suas respectivas evoluções, é

importante destacar alguns princípios que devem ser o sustentáculo do processo

constitucional legislativo. Segundo a doutrina de Bernardi (2009, p. 100), “[...]

existem princípios que devem ser observados para que a referida proposição tenha

um formato, um estilo, que a caracterize como de uma lei”.

Abreu (2010, p. 45) afirma que a violação a um princípio é muito mais grave

que transgredir uma norma. “[...] A desatenção ao princípio implica ofensa não a

um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos

[...]” (Grifos Nossos). É a violação ao próprio “Contrato Social” de Rousseau.

Moraes (2007, p. 1100) afirma que o devido processo legislativo deve

observar inexoravelmente o princípio da legalidade, respeitando-o, especialmente no

tocante aos seus limites.

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O respeito ao devido processo legislativo na elaboração das espécies normativas é um dogma corolário à observância do princípio da legalidade, consagrado constitucionalmente, uma vez que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de espécie normativa devidamente elaborada pelo Poder competente, segundo as normas de processo legislativo constitucional.

Adiante, o autor continua explicando quais as consequências do desrespeito

aos princípios constitucionais legislativos.

O desrespeito às normas de processo legislativo constitucionalmente previstas acarretará a inconstitucionalidade formal da lei ou ato normativo produzido, possibilitando pleno controle repressivo de constitucionalidade por parte do Poder Judiciário, tanto pelo método difuso quanto pelo método concentrado. Saliente-se, ainda, que, mesmo durante o processo legislativo, os parlamentares têm o direito público subjetivo à fiel observância de todas as regras previstas constitucionalmente para a elaboração de cada espécie normativa, podendo, pois, socorrerem-se ao Poder Judiciário, via mandado de segurança (Grifos nossos).

Assim, é evidente que a inobservância aos princípios constitucionais ensejará

fatalmente na invalidação dos atos praticados, como por exemplo,

inconstitucionalidade de lei produzida de forma desatenciosa aos procedimentos

estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

2.1.1 Princípio da democracia

A democracia é princípio basilar que legitima o poder do povo concedido aos

seus representantes, proclamado na Constituição da República Federativa do Brasil

de 1988:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (Grifos nossos).

Nos ensinamentos de Cavalcante Filho (2017, p. 32-24), democracia significa

o poder do povo, sendo que, no Brasil vigora a democracia semidireta, pois vai além

das eleições dos representantes, permitindo-se a participação popular direta na

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formação da vontade política por meio dos instrumentos estabelecidos na própria

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

O autor ainda menciona que no processo legislativo o princípio da democracia

incide de forma incisiva, direta, pois, como valor fundamental que é, a democracia

não deve ser refletida somente como a vontade da maioria, mas consistir

principalmente em respeito ao direito de voz das minorias, que configura o primado

do pluralismo político, um dos pilares do Estado de Direito.

Nas Constituições de vários Estados-membros dos Estados Unidos, em fins do século XVIII, e nos documentos constitucionais suíços do início do século XX, surgiram mecanismos que, ao lado da eleição de representantes, permitiam a participação popular direta na formação da vontade política: eram os chamados institutos da democracia semidireta, que caracterizam um país como adotante da democracia semidireta, ou mista (em que, ao lado da representação indireta tradicional, há também a participação popular direta). Esse é o modelo atual de democracia adotado no Brasil [...]. Um dos maiores empecilhos à adoção de uma democracia direta na atualidade é de ordem prática. Não obstante se reconheça que essa seria a forma ideal de organização política (ainda mais com a crise do sistema representativo), não se revela factível, com a densidade populacional e o ritmo de vida típicos da pós-modernidade, organizar um sistema baseado na votação direta de proposições legislativas por todos os integrantes de um Estado. Essa é a justificativa maior da democracia semidireta (CAVALCANTE FILHO, 2017, p. 33-34, grifos nossos).

Para o autor citado, a participação popular do povo diretamente foi uma

tentativa de consolidar o Estado de Direito, quando da promulgação da Constituição

da República Federativa do Brasil em 1988, haja vista a recente crise ocorrida anos

antes na democracia, fundada basicamente na ditadura militar.

A ideia de participação popular direta – como uma tentativa de relegitimar o Estado de Direito, em vista da crise da democracia representativa – fundamenta-se em três pilares básicos: o reconhecimento da soberania popular; a legitimação das autoridades constituídas/representativas; e a proteção contra a ditadura e a justificação do caráter obrigatório (legitimidade) do próprio direito. Nesse contexto, a iniciativa popular surge, ao lado de institutos como o referendo, o plebiscito, o veto popular, o recall, dentre outros, como uma forma de valorizar a soberania popular, legitimando a atuação normativa do Estado e, por conseguinte, reforçando a validade social do próprio sistema jurídico (CAVALCANTE FILHO, 2017, p. 34).

Streck (2014, p. 76) trata a democracia como “o jogo das regras e as regras

do jogo”. Além disso, faz um alerta quanto à possibilidade de a democracia ser

usada para efetivar (ou não) a justiça social.

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[...] é evidente que a democracia requer uma grande dose de justiça social e uma razoável preservação do habitat nacional e das fontes de recursos, como lembra Karl Deutsch, para preservar o cidadão do amanhã. Não é possível falar em democracia em meio a indicadores econômicos-sociais que apontam para a linha (ou abaixo da) linha da pobreza. Uma grande dose de justiça social é condição de possibilidade da democracia (Grifos nossos).

Barroso (2006, p. 58) revela que a democracia é muito mais que prevalecer a

vontade da maioria. Nesse sentido,

A democracia não se assenta apenas no princípio majoritário, mas, também, na realização de valores substantivos, na concretização dos direitos fundamentais e na observância de procedimentos que assegurem a participação livre e igualitária de todas as pessoas nos processos decisórios [...].

Somente dessa forma é que a legitimação da democracia em uma sociedade

torna-se possível. Observando e respeitando o núcleo essencial deste princípio.

2.1.2 Princípio da não convalidação das nulidades

Outro princípio importante a ser destacado é o da não convalidação das

nulidades, que segundo entendimento do autor Cavalcante Filho (2017, p. 30), trata-

se da impossibilidade de saneamento de eventuais nulidades ocorridas durante as

diversas fases do processo legislativo, sob pena de inconstitucionalidade.

Em regra, as nulidades (=vícios, defeitos, falhas) do processo legislativo são insanáveis (não são corrigíveis, não podem ser convalidadas). Isso significa que as nulidades do processo de formação das leis são absolutas, não podem ser objeto de correção posterior.

Em suma, a não convalidação das nulidades é fatal, possuindo natureza

absoluta, não se admitindo em hipótese alguma convalidação das nulidades, por

exemplo, pela sanção do Presidente da República, sob pena de ferir os fundamentos

do Estado de Direito.

2.1.3 Princípio da controlabilidade

Cavalcante Filho (2017, p. 30) destaca, igualmente, o princípio da

controlabilidade (ou do controle de constitucionalidade), que é decorrência natural e

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automática do sistema de freios e contrapesos (o qual será abordado adiante) e do

princípio da separação dos poderes.

Segundo esse axioma, o processo legislativo pode ser controlado (fiscalizado) quanto à incompatibilidade com a Constituição, seja pelo próprio Legislativo (controle preventivo feito pelas Comissões de Constituição e Justiça), seja pelo Executivo (o Presidente pode vetar projetos de lei que entenda inconstitucionais), seja, posteriormente, pelo Judiciário (que pode declarar a inconstitucionalidade de uma lei por violação ao processo legislativo).

Logo, a controlabilidade é princípio basilar do Estado Democrático de Direito,

pelo qual, manifesta a fiscalização e controle de um poder sobre o outro, efetivando

a harmonia, sem interferir nas respectivas independências funcionais.

2.1.4 Princípio da oralidade

O princípio da oralidade, por seu turno, é destacado por Cavalcante Filho

(2017, p. 30) tendo em vista que os atos do processo legislativo não precisam ser

praticados por escrito em razão de serem dinâmicos, sob pena de tornar o processo

legislativo inviável. As manifestações dos parlamentares simplesmente podem ser

verbais, e assim devem ser consideradas legítimas.

Assim, o princípio da oralidade pressupõe o pragmatismo. Aquilo que é

prático e evidencia-se por uma simples razão: tornar-se-ia impossível fomentar os

debates durante o processo legislativo, bem como o dinamismo que é exigido para a

produção legiferante.

2.1.5 Princípio da publicidade

O princípio da publicidade, consagrado no artigo 37, caput, da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, emerge na lição de Moraes (2017, p. 259),

e basicamente significa o legítimo acesso e acompanhamento da sociedade a todas

às manifestações do Poder Público, devendo ser excepcional a restrição desse

princípio aos interessados.

O princípio da publicidade tem absoluta primazia na Administração Pública, garantindo o acesso às informações a toda a Sociedade, pois como bem salientado pelo Ministro Marco Aurélio, “o princípio da publicidade no que

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deságua na busca da eficiência, ante o acompanhamento pela sociedade. Estando em jogo valores, há de ser observado o coletivo em detrimento, até mesmo, do individual”. A regra, pois, é que a publicidade somente poderá ser excepcionada quando o interesse público assim determinar, prevalecendo esse em detrimento do princípio da publicidade.

Dessa forma, é possível concluir que o princípio da publicidade é de suma

importância para a efetiva análise e controle social dos atos produzidos pelos

representantes eleitos pelo povo, o qual delegou a eles o poder soberano. A

publicidade é regra. A exceção deve ser somente em casos de legítimo interesse

público para a salvaguarda do bem coletivo.

2.1.6 Princípio da simetria

Cavalcante Filho (2017, p. 31) preconiza que o princípio da simetria do

processo legislativo está estabelecido na Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, no artigo 25, pelo qual deve ser entendido que as regras básicas do

processo legislativo federal devem observância obrigatória à Carta Política pelos

demais entes da federação – Estados, Distrito Federal e municípios. O autor ventila

inclusive julgado da Corte Suprema.

De acordo com o art. 25, caput, da Constituição, os Estados-membros organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios estabelecidos na Constituição. Dessa norma o STF induz o chamado princípio da simetria, segundo o qual os Estados, o DF e os Municípios devem adotar, nas linhas gerais, os mesmos princípios básicos aplicáveis na esfera da União. No âmbito do processo legislativo, é firme a posição do Supremo Tribunal Federal no sentido de que “as regras básicas do processo legislativo federal – incluídas as de reserva de iniciativa –, são de absorção compulsória pelos Estados, na medida em que substantivam prisma relevante do princípio sensível da separação e independência dos poderes” (STF, Pleno, ADI 430/DF, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 01.07.1994).

Partindo desse pressuposto, os entes federativos não podem por mera

liberalidade definirem regras que afrontem a Constituição da República Federativa

do Brasil de 1988 sob a pecha do costume regional ou local, pois se assim agirem,

poderão incorrer indubitavelmente em inconstitucionalidade por afronta à separação

dos poderes.

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2.1.7 Princípio do bicameralismo

O princípio do bicameralismo é verificado na Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, no artigo 44º, pelo qual determina que “O Poder

Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos

Deputados e do Senado Federal”.

Nesse viés, Bernardi (2009, p. 269-270) ensina que pelo sistema bicameral,

há duas casas: Uma iniciadora e outra revisora, assim sendo, ambos os projetos de

lei devem passar pelas duas casas.

O sistema bicameral e a denominação Congresso Nacional se mantiveram nas constituições que se seguiram até os dias de hoje, com exceção da Constituição de 1937, período histórico denominado de Estado Novo. [...] No mundo todo, o Poder Legislativo é estruturado nas formas unicameral e bicameral. O modelo unicameral é aquele em que o processo de elaboração legislativa ocorre em apenas uma única Casa Legislativa. Já no sistema bicameral, para que uma norma seja aprovada, ela deve passar por processos de votação em Casas legislativas distintas. [...] No Brasil, um país federativo, o Poder Legislativo é bicameral, sendo exercido pelo Congresso Nacional, que é composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal (art. 74, CF). No Sistema Legislativo brasileiro, em nível federal, há duas Casas Legislativas; isso significa, como foi dito, que um projeto de lei, para ir à sanção ou veto do presidente da República, deve ser necessariamente aprovado pelos dois órgãos legislativos, cada um funciona como revisor do outro. Deve haver um consenso entre as duas Casas para que um projeto seja aprovado. O sistema bicameral brasileiro foi a forma que a nação encontrou para manter o equilíbrio entre as unidades federadas. Os deputados representam o povo, enquanto que os senadores representam os estados (Grifos doautor).

Assim sendo, cumpre destacar que, por óbvio, somente se aplica o

bicameralismo na esfera federal, como uma forma de equilibrar a representação dos

Estados da federação perante a União.

2.1.8 Princípio da separação da discussão e votação

O princípio da separação da discussão e da votação no processo legislativo

deve ser compreendido em razão do grau de complexidade que existe no momento

de criação de uma lei (em sentindo lato). Além disso, deve haver a rigorosa divisão

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desse mister em etapas claramente distintas, viabilizando o processo legiferante,

primando pela racionalidade.

O regime de tramitação ordinária é aquele em que o projeto passa por um processo de avaliação em etapas sucessivas, no qual os membros do parlamento possuem a oportunidade para apresentar seus pontos de vista. Durante esse processo, ocorre a apresentação das emendas, os debates, as manifestações de opiniões, por meio de pareceres e votos nas comissões técnicas, e, conforme o caso, a votação definitiva em plenário. Se houver veto, esse regime de tramitação ainda prevê a manifestação a favor ou contra o veto do Poder Executivo por parte do Legislativo (BERNARDI, 2009, p. 228).

Portanto, é na fase da discussão em que ocorrem os debates, emergem os

pareceres e as emendas às propostas de alteração legislativa. Já na fase da

votação, via de regra, não é possível a apresentação de emendas, pois essa etapa é

destinada exclusivamente à votação das emendas que já foram discutidas na etapa

anterior.

2.2 SISTEMA DE FREIOS E CONTRAPESOS – “CHECK AND BALANCES”

O sistema de freios e contrapesos (também bastante conhecido pela

expressão “check and balances”), versa, em suma, na divisão do poder soberano

(uno) do Estado em três órgãos máximos, com independência e funções

especializadas, buscando um fim comum (ideal). Assim é o extrato da lição de

Pimenta (2007, p. 136):

[...] consiste tal princípio na divisão funcional do poder político do Estado, com a atribuição de cada função governamental básica a um órgão independente e especializado. Prevê a divisão do poder estatal em três funções básicas: legislativa, executiva e judiciária.

Moraes (2017, p. 314) corrobora esse entendimento:

Note-se que nos referimos às garantias dos Poderes Legislativo, Executivo, Judiciário e da Instituição do Ministério Público, uma vez que se assemelham em virtude da autonomia, independência e finalidades constitucionais. Além disto, exercem todos funções únicas do Estado, dentro de uma visão mais contemporânea das funções estatais, que reconhece que o Estado constitucional de direito assenta-se na ideia de unidade, pois o poder soberano é uno, indivisível, existindo órgãos estatais, cujos agentes políticos têm a missão precípua de exercerem atos de soberania. Aliás, bem o disse Rousseau, o poder soberano é uno. Não pode sofrer divisão. Assim, o que a doutrina liberal clássica

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pretende chamar de separação dos poderes, o constitucionalismo moderno determina divisão de tarefas estatais, de atividades entre distintos órgãos autônomos (Grifos nossos).

Silveira (1999, p. 99) afirma que a doutrina de freios e contrapesos possui

origens distintas:

A doutrina dos freios e contrapesos foi formulada, à vista da Constituição americana, em desenvolvimento do princípio da separação dos poderes. O balance originou-se na Inglaterra, pela qual a Câmara dos Lordes (os nobres) passaram (sic) a equilibrar (balancear) os projetos de leis advindos da Câmara dos Comuns (originários do povo), a fim de evitar que leis demagogas, ou formuladas pelo impulso momentâneo de pressões populares, fossem aprovadas. Nas Repúblicas, o Senado, além e representar os interesses dos Estados-Membros, também exerce essa função. Já o check, por sua vez, surgiu quando o Justice Marshal declarou em sua opinion, lançada no famoso caso Marbury x Madison, em 1803, que o Poder Judiciário tinha a missão constitucional de declarar ainconstitucionalidade – e portanto tornar nulos – dos atos do Congresso, quando, a seu exclusivo juízo, tais leis não guardassem harmonia com a Carta Política. Pela doutrina do Judicial Review o Judiciário passa a controlar o abuso do poder dos outros ramos governamentais. Debaixo do princípio da separação, esclarece Jonathan Rose, cada ramo do poder foi provido de independentes meios de exercer checks on and to balance as atividades dos outros dois, assim garantindo que nenhum ramo pudesse alguma vez exercer autoridade ditatorial sobre os trabalhos do governo. Desse modo, os três ramos do governo são separados e distintos um do outro. Os poderes dados a cada um são delicadamente controlados pelo poder dos outros dois. Cada ramo serve de controle sobre potenciais excessos dos outros dois (Grifos do autor).

Assim, o sistema de freios e contrapesos visa à proteção das pessoas contra

os mandos e desmandos da tirania. Configura a busca incessante pela proteção à

liberdade do cidadão.

Pimenta (2007, p. 137) alega que o referido princípio é aplicado mediante

mitigação.

Tem-se, na verdade, que a teoria de Montesquieu, muito embora adotada nas Constituições de quase todo mundo, vem sendo aplicada com certa mitigação, já que a separação das funções estatais não segue a natureza absoluta defendida pelo pensador. Assim, na atualidade e na maioria dos Estados Nacionais, cada Órgão exerce, além de sua função típica, a qual permanece com um caráter predominante, também as outras duas funções, as quais passam a ser consideradas atípicas, por serem típicas dos outros órgãos. Dessa forma, o Legislativo, por exemplo, além da função típica que é inerente a esse poder, que consiste na elaboração e votação de leis, exercerá, ainda, em uma função atípica de caráter executivo, como é o caso da administração de sua própria estrutura e uma função atípica de caráter judiciário, como, por exemplo, o julgamento do Presidente da República pelo Senado Federal em caso de crimes de responsabilidade [...] (Grifos nossos).

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Trata-se das funções típicas e atípicas de cada órgão. A separação dos

poderes efetiva-se no sistema de freios e contrapesos o que redunda,

invariavelmente, na fiscalização de uma função pela outra, prevenindo ou mesmo

reprimindo eventuais excessos e/ou intromissões, ou ainda, na usurpação de

competências que possam ocorrer. Evidencia-se no processo legislativo por meio

das iniciativas privativas, por exemplo.

Para Silva (2005, p. 109) a divisão de poderes possui dois suportes basilares:

A divisão de poderes fundamenta-se, pois, em dois elementos: (a) especialização funcional, significando que cada órgão é especializado no exercício de uma função; assim, às assembleias (sic) (Congresso, Câmaras, Parlamento) se atribui a função Legislativa; ao Executivo, a função executiva; ao Judiciário, a função jurisdicional; (b) independência orgânica, significando que, além da especialização funcional é necessário que cada órgão seja efetivamente independente dos outros, o que postula ausência de meios de subordinação. Trata-se, pois, como se vê, de uma forma de organização jurídica das manifestações do Poder (Grifos do autor).

A especialização funcional e a independência orgânica, em suma são,

respectivamente, a competência típica de cada poder e a ausência de ingerências

de um poder sobre o outro, garantindo-se a plena liberdade de atuação, devendo

observância apenas aos mandamentos constitucionais.

Assim sendo, é importante destacar quais são as fases que compõem o

processo legiferante, tema que será abordado no próximo capítulo.

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3 FASES DO PROCESSO LEGISLATIVO

Fernandes (2017, p. 848), acompanhando a doutrina majoritária, afirma que

há quatro tipos de processo legislativo no que diz respeito à organização política, a

saber:

a) Processo legislativo autocrático: é aquele no qual o povo nãoparticipa da elaboração das leis, na medida em que as mesmas são produzidas autocraticamente, sem legitimidade popular. Seja por um soberano, por um líder ou mesmo por um grupo. b) Processo legislativo direto: é aquele no qual o povo participadiretamente na produção das leis, não havendo representantes para tal produção. c) Processo legislativo indireto: é aquele no qual as leis são produzidaspor meio de representantes populares. É a regra em nosso ordenamento constitucional. É o nosso processo legislativo por excelência. d) Processo legislativo semidireto: é aquele no qual as leis sãoproduzidas por representantes e posteriormente são encaminhadas a referendo popular. Esse tipo de processo legislativo, embora não seja a regra, poderá ocorrer em nosso ordenamento constitucional com base nas figura (sic) do referendo [...] ou do plebiscito [...] (Grifos do autor).

Ao passar pelas diversas fases, desde a concepção do projeto de lei até a

entrada em vigor efetivamente da lei, o processo legislativo torna-se um sistema

demorado (via de regra), sendo excepcionalmente submetido à votação em regime

de urgência, ante as necessidades sociais apresentadas.

Moraes (2017, p. 477) classifica os processos legislativos em dois grandes

gêneros: “[...] O primeiro em relação às formas de organização política e o segundo

em relação à sequência das fases procedimentais”. Em outras palavras, trata-se da

articulação dos interessados visando a propositura de projeto de lei, e, uma vez

proposto, a efetivação do processo legiferante propriamente dito.

O processo legislativo constitucional é dividido em múltiplas fases, conforme

lição de Fernandes (2017, p. 850), a fase introdutória constitui “a fase de deflagração

do processo legislativo. É o motor propulsor do processo legislativo, que faz com

que ele tenha início”.

São três espécies de processos ou procedimentos legislativos, conforme

assevera Moraes (2017, p. 477):

Há três espécies de processos ou procedimentos legislativos, o comum ou ordinário, o sumário e os especiais. O processo legislativo ordinário é aquele que se destina à elaboração das leis ordinárias, caracterizando-se pela sua maior extensão.

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O processo legislativo sumário, [...] apresenta somente uma diferenciação em relação ao ordinário, a existência de prazo para que o Congresso Nacional delibere sobre determinado assunto. Por fim, encontramos os processos legislativos especiais estabelecidos para a elaboração das emendas à Constituição, leis complementares, leis delegadas, medidas provisórias, decretos-legislativos, resoluções e leis financeiras (lei de plano plurianual, lei de diretrizes orçamentárias, leis do orçamento anual e de abertura de créditos adicionais) (Grifos nossos).

Bernardes (2017, p. 1054) detalha os aspectos técnico-jurídicos das espécies

do processo legislativo:

No que diz respeito ao aspecto técnico jurídico a) Processo legislativo ordinário: visa a produção das leis ordinárias.b) Processo legislativo sumário: é o processo legislativo padrão (comum)dotado de maior celeridade. É também chamado de "regime de urgência constitucional". c) Processos legislativos especiais: são aqueles que visam a produçãodas emendas constitucionais, das leis complementares, das leis delegadas, das medidas provisórias, dos decretos legislativos e das resoluções (Grifos do autor).

Assim sendo, passa-se ao estudo das fases de iniciativa, fase constitutiva e a

fase complementar, tendo como enfoque principal o procedimento comum ordinário,

em razão da própria natureza objetiva desta pesquisa acadêmica.

3.1 FASE DE INICIATIVA

Barcellos (2018, p. 365) declara que a fase de iniciativa (entenda-se:

introdutória) é “[...] Na realidade, de maneira mais precisa, [...] a possibilidade que a

Constituição atribui a alguém de desencadear o processo, apresentando ao Poder

Legislativo uma proposta/minuta de uma proposição legislativa [...]”.

Nessa mesma linha de raciocínio, Mendes (2015, p. 904) afirma que “o

processo legislativo tem início quando alguém ou algum ente toma a iniciativa de

apresentar uma proposta de criação de novo direito [...]”.

Seguindo o entendimento acima, Fernandes (2017, p. 1054) ensina que as

espécies normativas originárias do processo legislativo constitucional possuem

natureza primária, nos moldes do artigo 59 da Constituição da República Federativa

do Brasil de 1988, e são constitutivas de direito novo, nos seguintes termos:

As espécies normativas que se originam do processo legislativo são intituladas de espécies normativas primárias e estão alocadas no art. 59, da

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CR/88, sendo as mesmas: I. Emenda à CR/88; lI. Leis complementares; IlI. Leis ordinárias; IV. Leis delegadas; V. Medidas provisórias; VI. Decretos legislativos; e VII. Resoluções. Portanto, essas espécies são denominadas como "constitutivas de direito novo", ou seja, normas que trazem algo de novo ao ordenamento, daí serem chamadas de espécies normativas primárias, diferenciando-se das espécies normativas secundárias (como os decretos regulamentares editados pelo Poder Executivo), que não são elaboradas em nosso processo legislativo (Grifos nossos).

Para Moraes (2017, p. 478), “Iniciativa de lei é a faculdade que se atribui a

alguém ou a algum órgão para apresentar projetos de lei ao Legislativo, podendo ser

parlamentar ou extraparlamentar e concorrente ou exclusiva”.

Segundo o autor, a iniciativa de lei parlamentar é atribuída aos membros do

Congresso Nacional, por força da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988. Já a iniciativa extraparlamentar, refere-se ao Chefe do Poder Executivo, ao

Ministério Público, aos Tribunais Superiores e aos cidadãos.

Por fim, a iniciativa concorrente, conforme lição extraída do referido autor, “é

aquela pertencente a vários legitimados de uma só vez [...], enquanto iniciativa

exclusiva é aquela reservada a determinado cargo ou órgão [...]”.

Em qualquer caso, o autor ensina que o mister cabível ao Congresso

Nacional é a definição da atuação das duas Casas:

[...] definir qual das casas legislativas analisará primeiramente o assunto (Deliberação Principal) e qual atuará como revisora (Deliberação Revisional). Assim, a discussão e a votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e dos cidadãos, terão início na Câmara dos Deputados, conforme preceituam os arts. 61, §2º, e 64, caput, da Constituição Federal.

Bernardes (2017, p. 1057) destaca ainda que há também as denominadas

iniciativa conjunta e iniciativa vinculada, diferenciando-as:

e) Iniciativa Conjunta é aquela em que a faculdade é atribuída a mais deuma pessoa ou ente, porém, em comunhão (em grupo). Nesse sentido, o processo só é deflagrado se todos os entes apresentarem o projeto conjuntamente. Um exemplo é o antigo art. 48, XV, da CR/88 (antes da EC n° 41/03). Tratava sobre o teto do funcionalismo público. O teto seria a remuneração dos ministros do STF, que seria regulado mediante Lei de iniciativa conjunta de 4 Presidentes: Presidente da República, do STF, da Câmara e do Senado. A EC n° 41/03 modificou a exegese do art. 48, XV, determinando que o teto agora é de iniciativa privativa do STF para a produção normativa. f) Iniciativa vinculada é aquela em que a faculdade é atribuída a umlegitimado que é obrigado a dar início ao processo legislativo, na forma e prazo estabelecido na Constituição. Portanto, o legitimado está vinculado a um prazo e a uma forma previamente definidas no diploma constitucional.

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Exemplo: iniciativa das leis orçamentárias (Lei do Plano Plurianual - PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO e Lei Orçamentária Anual - LOA). Nestas, os projetos devem ser enviados ao legislativo nos prazos estipulados no documento constitucional (Grifos do autor).

O autor também ensina que a sanção do Presidente da República não tem o

condão de suprir vício de iniciativa do processo legislativo por haver

inconstitucionalidade formal propriamente dita no momento em que emerge o

desrespeito ao artigo 61, §1º da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988 (regras de reserva de iniciativa). Em que pese a Corte Suprema haver

entendido o contrário em julgado histórico em 1946, considerando o princípio da

instrumentalidade das formas e da economia processual. Nada obstante, não é o

que prevalece.

3.2 FASE CONSTITUTIVA

Fernandes (2017, p. 850), seguindo a maioria da doutrina, explicita sobre a

segunda fase, denominada “fase constitutiva”, fazendo menção inclusive à

possibilidade de rejeição do veto do Chefe do Executivo federal pelo Congresso

Nacional.

É a fase de tramitação do processo legislativo, na qual ocorrerão as discussões e deliberações das proposições normativas. A corrente majoritária vai entender que é na fase constitutiva que nascem as espécies normativas em nosso ordenamento jurídico. A corrente majoritária entende que, por exemplo, no caso do processo legislativo ordinário, a lei irá ter seu nascimento (no final da fase constitutiva) com a sanção ou com a rejeição do veto do Presidente da República pelo Congresso Nacional.

Barcellos (2018, p. 369) diz que “Como regra geral, na fase da discussão, os

projetos percorrerão as comissões dentro de cada Casa Legislativa, que poderão vir

a aprová-los, rejeitá-los/arquivá-los ou alterá-los, quando então serão submetidos à

votação [...]”. Deve haver uma ampla discussão e votação sobre a matéria proposta.

É mister do Presidente da Casa fazer juízo de admissibilidade sobre projeto

de lei proposto, conforme ensina Fernandes (2017, p. 1062-1063):

[...] d) Com isso, o Presidente da Casa (que é o Presidente da Mesa) deverá tomar algumas decisões sobre o PLO. Quais são as decisões do Presidente

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da Casa quando o projeto é apresentado? Isso pode e deve ser observado no regimento das Casas. Nesses termos, o Presidente irá decidir sobre: d.1) Ele fará um juízo de admissibilidade sobre o projeto. Portanto, ele irá devolver a matéria: [...] Se for evidentemente inconstitucional (flagrantemente inconstitucional). [...].

Deve o projeto de lei iniciado passar por prévio controle de

constitucionalidade e legalidade na Comissão de Constituição e Justiça e nas

Comissões Temáticas:

Porém, independentemente das comissões escolhidas, sempre o projeto terá de passar pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Casa respectiva, seja na Câmara seja no Senado. Nesses termos, é na CCJ que ocorre o controle de constitucionalidade dos projetos de lei que estão tramitando pela Casa. Mas, é importante salientar que, além do controle de constitucionalidade, a CCJ também fará um controle de legalidade, juridicidade, regimentalidade e técnica legislativa das proposições (FERNANDES, 2017, p. 1063).

O autor revela que é possível também a propositura de emendas, que são

proposituras acessórias à proposição principal, independentemente do regime de

tramitação do projeto de lei:

Além disso, é mister salientar que independentemente do regime de tramitação (se tradicional ou conclusivo), poderá haver a apresentação de emendas aos projetos de lei (PLOs) em tramitação nas Casas

(FERNANDES, 2017, p. 1062-1063).

No entanto, assevera Moraes (2017, p. 482) que em caso de emendas ao

projeto aprovado em uma Casa, deverá retornar à outra, em homenagem ao

princípio do bicameralismo.

Importante ressaltar que em face do princípio do bicameralismo, qualquer emenda ao projeto aprovado por uma das Casas, haverá, obrigatoriamente, que retornar à outra, para que se pronuncie somente sobre esse ponto, para aprová-lo ou rejeitá-lo, de forma definitiva. Dessa forma, o posicionamento da Casa que iniciar o processo legislativo (Deliberação Principal) prevalecerá nesta hipótese. Observe-se que os projetos de lei deverão, sempre, ser aprovados por ambas as Câmaras. Somente no caso de aprovação com emendas é que retornará à Casa iniciadora. Se houver aprovação, por uma das Casas e rejeição por parte de outra, o projeto de lei será arquivado, somente podendo ser reapresentado nos termos do art. 67, da Constituição Federal.

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Lenza (2016, p. 681) ao ensinar sobre as emendas parlamentares, diz que “O

texto de 1988 resistiu aos parlamentares boa parte do poder de emenda que lhes

havia sido retirado pelo regime (ditatorial) anterior”.

Moraes (2017, p. 483) afirma que “As emendas são supressivas, aditivas,

aglutinativas, modificativas, substitutivas e de redação”. Nesse viés:

Emendas supressivas são aquelas que determinam a erradicação de qualquer parte da proposição principal. Emendas aditivas são aquelas que acrescentam algo à proposição principal. Por sua vez, as emendas aglutinativas resultam da fusão de outras emendas, ou a destas com o texto original, por transação tendente à aproximação dos respectivos objetos. Emendas modificativas são aquelas que alteram a proposição sem a modificar substancialmente. Existem, ainda, as emendas substitutivas, que são apresentadas como sucedâneo a parte de outra proposição, que tomará o nome de “substitutivo” quando a alterar, substancial ou formalmente, em seu conjunto; considerando-se alteração formal aquela que visar exclusivamente ao aperfeiçoamento legislativo. Por fim, temos as emendas de redação, que se constitui na apresentada para sanar vício de linguagem, incorreção de técnica legislativa ou lapso manifesto (Grifos nossos).

Há de se ressaltar que para a aprovação de projeto de lei, deve haver o

quórum constitucional para instalação da sessão de votação, conforme o exposto

adiante, a aprovação do projeto de lei depende de maioria simples:

Tratando-se de lei ordinária, a aprovação do projeto de lei condiciona-se à maioria simples dos membros da respectiva Casa, ou seja, somente haverá aprovação pela maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros, nos termos do art. 47, da Constituição Federal. Note-se que o quorum constitucional de maioria simples corresponde a um número variável, pois dependendo de quantos parlamentares estiverem presentes, este número poderá alterar-se. O que a Constituição Federal exige é um quorum mínimo para instalação da sessão. Dessa forma, presentes, no mínimo, a maioria absoluta dos membros da respectiva Casa Legislativa, o projeto de lei poderá ser posto em votação, aplicando-se como quorum de votação a maioria dos presentes. Devemos, portanto, diferenciar o quorum para instalação da sessão, do quorum de votação de um projeto de lei ordinária (Grifos do autor) (MORAES, 2017, p. 482).

Após a aprovação do projeto de lei, Fernandes (2017, p. 1066) explica que o

projeto é então encaminhado para a Casa revisora e receberá um número para sua

tramitação.

Sobre essa etapa, Moraes (2007, p. 1184) adverte que “[...] O exercício da

sanção ou veto do Presidente da República incidirá sobre o texto formalmente

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consubstanciado no autógrafo, que deve retratar fielmente o projeto aprovado pelo

Congresso Nacional”.

É na fase constitutiva, após as deliberações parlamentares, que o Presidente

da República analisará, emitindo suas manifestações, efetivando-se o sistema de

freios e contrapesos.

Após o término da deliberação parlamentar, o projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional é remetido à deliberação executiva, onde será analisado pelo Presidente da República, podendo este vetá-lo ou sancioná-lo. O exercício da sanção ou veto do Presidente da República incidirá sobre o texto formalmente consubstanciado no autógrafo, que deve retratar fielmente o projeto aprovado pelo Congresso Nacional. A existência da participação do Poder Executivo, além dos casos de iniciativa, nesta fase da feitura das leis, justifica-se pela ideia de inter-relacionamento entre os Poderes do Estado, com a finalidade de controles recíprocos. Como salientado por Kildare Gonçalves Carvalho, o poder de veto equilibra na sistemática presidencial a falta de prerrogativa do Presidente para dissolver a Câmara, existente no sistema parlamentarista (MORAES, 2017, p. 1184).

Barcellos (2018, p. 375) afirma que “Nos países presidencialistas, como regra

geral, o Executivo participa do processo legislativo por meio da sanção ou veto. A

sanção é o ato pelo qual o que antes era projeto transforma-se em norma positiva.

[...] pode ser expressa ou tácita [...]”. Assim, o Presidente da República poderá

sancionar ou vetar o projeto de lei a ele proposto.

3.2.1 Sanção

A sanção é a concordância, aquiescência do Chefe do Executivo Federal ao

projeto de lei votado no Congresso Nacional, conforme a lição de Moraes (2017, p.

484), exposta adiante:

É a aquiescência do Presidente da República aos termos de um projeto de lei devidamente aprovado pelo Congresso Nacional. Poderá ser expressa, nos casos em que o Presidente manifestar-se favoravelmente, no prazo de 15 dias úteis, ou tácita, quando silencia nesse mesmo prazo. A sanção também poderá ser total ou parcial, conforme concorde ou não com a totalidade do projeto de lei já aprovado pelo Parlamento. Havendo sanção, o projeto de lei segue para a fase complementar.

Nesse sentido, Fernandes (2017, p. 858) também entende a sanção “[...]

como a aquiescência do Presidente da República ao projeto de lei. É com ela que

faz com que o projeto deixe de ser projeto e passe a ser lei [...]”.

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Fernandes (2017, p. 1067-1068), corroborando o entendimento de Moraes,

explica que a sanção transforma o projeto de lei em lei. Além disso, a sanção pode

ser expressa ou tácita, total ou parcial:

Expressa: é aquela que ocorre quando explicitamente, em um prazo de 15 dias úteis, o Presidente da República sanciona o projeto de lei. Tácita: É aquela que ocorre quando o Presidente da República, nos 15 dias úteis, não sanciona o projeto expressamente, mas também não o veta. A sanção pode ser ainda especificada em total (o Presidente sanciona todo o projeto de lei) ou parcial (o Presidente sanciona parte do PLO e a outra parte é vetada) (Grifos do autor).

Quando o Presidente da República discorda do projeto de lei, sua

manifestação formal deve ser por meio de veto, o qual será tratado adiante.

3.2.2 Veto

Segundo ensinamento de Cavalcante Filho (2017, p. 125), o veto tem origem

no latim e significa proibição: “Realmente, ‘veto’ vem do latim e significa,

literalmente, “eu proíbo”. Essa “proibição” na verdade não é absoluta, podendo ser

derrubada pelo Congresso Nacional”.

O veto, para Barcellos (2018, p. 376), “é um exemplo de controle de

constitucionalidade levado a cabo por um órgão político. [...] pode ser definido com a

discordância do Presidente da República ao projeto de lei [...]”.

Silva (2008, p. 458) ensina sobre o veto que,

“Veto” é o modo de o chefe do Executivo exprimir sua discordância com o projeto aprovado, por entendê-lo inconstitucional ou contrário a interesse público. Será total se recair sobre todo o projeto, e parcial se atingir parte do projeto; mas este somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea (art. 66, §2º). Com isso se corta o mau vezo de veto sobre palavra ou grupo de palavras, que não raro importava mudar o sentido do texto [...] (Grifos do autor).

Nesse sentido, o Presidente da República tem suas competências

estabelecidas na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, e

especialmente no artigo 66, há permissão legal de veto total ou parcial de projetos

de lei submetidos a ele.

Confirmando esse entendimento, Lenza (2016, p. 749) explica que

“Terminada a fase de discussão e votação, aprovado o projeto de lei, deverá ele ser

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encaminhado para a apreciação do Chefe do Executivo. Recebendo o projeto de lei,

o Presidente da República o sancionará ou o vetará”.

Sanção, como já explanado anteriormente, é a concordância (aquiescência,

anuência ou aceitação) do Presidente da República e, conforme lição do autor Lenza

(2016, p. 749), “[...] sendo esse o momento em que o projeto de lei se transforma em

lei, já que, como se verá, o que se promulga é a lei”.

De outro norte, Moraes (2017, p. 484) entende que o veto “É a manifestação

de discordância do Presidente da República com o projeto de lei aprovado pelo

Poder Legislativo, no prazo de 15 (quinze) dias úteis [...]”. O mesmo autor

acrescenta que há divergência quanto à natureza jurídica do veto: se é um poder,

um direito, ou um poder-dever. Dessa forma,

A natureza jurídica do veto é outro dos muitos pontos que não encontram unanimidade na doutrina constitucional, existindo inúmeros juristas defensores da tese de tratar-se de um direito, outros os entendem como um poder; havendo ainda tese intermediária que consagra o veto como um poder-dever do Presidente da República. O Presidente da República poderá discordar do projeto de lei, ou por entendê-lo inconstitucional (aspecto formal) ou contrário ao interesse público (aspecto material). No primeiro caso teremos o chamado veto jurídico, enquanto no segundo, o veto político. Note-se que poderá existir o veto jurídico-político. O veto é irretratável, pois uma vez manifestado e comunicadas as razões ao Poder Legislativo, tornar-se-á insuscetível de alteração de opinião do Presidente da República (Grifos nossos).

Do exposto, depreende-se que o Chefe do Poder Executivo exerce

fundamentalmente controle sobre o Poder Legislativo, nos termos do sistema de

freios e contrapesos de Montesquieu, quando possui a competência constitucional

de vetar determinados projetos de lei, que submetidos à sua apreciação, vislumbrar

em seu juízo de valor, contrariedade aos interesses da coletividade.

Moraes (2017, p. 484) afirma que Presidente da República deve se manifestar

no prazo de 15 dias úteis:

É a manifestação de discordância do Presidente da República com o projeto de lei aprovado pelo Poder Legislativo, no prazo de 15 (quinze) dias úteis, iniciando-se sua contagem com o recebimento do projeto de lei por parte do Chefe do Poder Executivo. O dia inicial não se conta, excluindo-se da contagem; inclui-se, porém, o dia do término.

O autor ensina adiante que, dentre as principais características do veto, este

deve ser expresso e motivado:

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Expresso: sempre decorre da manifestação de vontade do Presidente, no prazo de 15 (quinze) dias úteis, pois, em caso de silêncio, a própria Constituição Federal determina a ocorrência da sanção. Motivado ou formalizado: o veto há de ser sempre motivado, a fim de que se conheçam as razões que conduziram à discordância, se referentes à inconstitucionalidade ou à falta de interesse público ou, até se por ambos os motivos. Esta exigência decorre da necessidade do Poder Legislativo, produtor último da lei, de examinar as razões que levaram o Presidente da República ao veto, analisando-as para convencer-se de sua mantença ou de seu afastamento, com a consequente derrubada do veto. Além disso, o veto é formal, pois deverá ser feito por escrito, juntamente com suas razões (Grifos do autor).

Além disso, Fernandes (2017, p. 1068) complementa que o veto pode ser

total ou parcial, em que pese haver óbices à função legiferante ser exercida pelo

Presidente da República:

[...] total ou parcial, porém, conforme disposição constitucional, o veto parcial tem que ser sempre de texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou alínea, pois não existe a possibilidade do Presidente da República vetar palavras ou expressões do PLO. O objetivo dessa característica é evitar que o Presidente da República legisle alterando o significado das proposições normativas (Grifos nossos).

É importante reiterar que, nas lições do referido autor, o veto pode ser político

(aspecto material), jurídico (aspecto formal), ou ainda político-jurídico,

respectivamente, conforme o exposto:

Político: ocorre quando o Presidente da República veta o projeto por entendê-lo contrário ao interesse público. Jurídico: ocorre quando o Presidente da República veta o projeto por entendê-lo inconstitucional. Político-jurídico: o projeto de lei é vetado por ser, no entendimento do Presidente, contrário ao interesse público e também inconstitucional (Grifos do autor).

Verifica-se, portanto, que o veto do Presidente da República pode ter um viés

ideológico, sobretudo, político-partidário, no intuito de atender demandas

previamente agendadas.

Moraes (2007, p. 484-485) afirma ainda que para evitar desvirtuamento de

projeto de lei submetido à apreciação do Poder Executivo, não é permitido que o

Presidente da República transforme-se em legislador. O objetivo, em suma, é evitar

a mudança do espírito da lei.

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O Presidente da República poderá vetar total ou parcialmente o projeto de lei aprovado pelo Legislativo, desde que esta parcialidade somente alcance texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea. Dessa forma, impossível o veto de palavras, frases ou orações isoladas, pois a prática constitucional mostrou que o veto parcial, incidindo sobre qualquer parte do projeto como previsto na Constituição revogada, desvirtuava, muitas vezes, o sentido da proposta legislativa e transformava o Presidente em legislador. A razão da existência do veto parcial é recordada por Manoel Gonçalves Ferreira Filho, e visa atender a uma necessidade universal, qual seja, fornecer ao Poder Executivo os meios necessários para expurgar dos textos legislativos as denominadas riders (causas legais), que constituíam disposições que, sem conexão com a matéria principal tratada [...] (Grifos nossos).

Assim, o autor ensina que o veto é supressivo, pelo qual poderá eliminar

totalmente artigo, parágrafo, inciso ou alínea. Além disso, não pode o Presidente da

República adicionar textos ao projeto de lei.

3.2.3 Manutenção/Derrubada de veto pelo Congresso Nacional

Cavalcante Filho (2017, p. 126) em seu magistério, ensina que, nada obstante

às diversas classificações que a doutrina destina ao veto (absoluto, legislativo,

parlamentar, popular, total, parcial e relativo), no Brasil, o sistema adotado é a

relativização do veto, integrando a fase do veto ao processo legiferante.

[...] 2) relativo: é o sistema atualmente adotado no Brasil, em que o vetopresidencial pode ser derrubado. Ou seja: mesmo com a discordância do Chefe do Executivo, pode acontecer de um projeto de lei transformar-se em lei (no caso brasileiro, se o veto for derrubado pela maioria absoluta do Congresso: art. 66, § 4º). Diz-se também sistema do veto suspensivo, pois não impede o projeto de tornar-se lei: apenas devolve a matéria à deliberação do Legislativo. 3) legislativo: é o sistema em que a fase do veto integra o processolegislativo propriamente dito, isto é, o Presidente veta um projeto de lei, e não uma lei já feita e acabada (Grifos do autor).

Fernandes (2017, p. 1069), por seu turno, diz que o veto é irretratável:

[...] se o Chefe do Executivo vetar o projeto, ele não poderá voltar atrás e modificar seu entendimento. Portanto, uma vez explicitado o veto com suas razões, esse ato se torna impossível de ser alterado pelo Presidente da República.

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O mesmo autor continua ensinando que o veto não é absoluto, podendo ser

superado, devendo ser retornado ao Congresso Nacional para as deliberações

pertinentes, especialmente quanto às alterações provocadas pelo Executivo:

[...] o veto será sempre superável (passível de superação). O veto jamais será absoluto. Nesses termos, o veto sempre irá voltar ao Congresso Nacional para, em sessão conjunta, dentro de um prazo de 30 dias contados da data do recebimento, ser apreciado. Assim sendo, o veto poderá ser: Rejeitado: quórum de maioria absoluta e com votação aberta. Com isso, a lei (e não o projeto, como erroneamente diz o texto constitucional!) será encaminhada ao Presidente da República para que esse a promulgue e publique. Se o Presidente da República não o fizer, o Presidente do Senado a promulga. Se não o fizer, o Vice-Presidente do Senado o fará. Aprovado (manutenção do veto): caso não seja alcançada a maioria absoluta na votação para a rejeição do veto, o mesmo será mantido. Nesse caso, todo o PLO ou a parte vetada do mesmo vai para o arquivo. Nesses termos, conforme ditame constitucional, temos que a matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional. Por último, é mister salientar que, em termos práticos, pode ocorrer: 1) Veto total do Presidente, com posterior rejeição total pelo CongressoNacional (aqui será encaminha ao Presidente a lei para sua devida promulgação); 2) Veto total do Presidente com posterior rejeição parcial do veto peloCongresso (aqui o Congresso aprovou o veto (manteve o veto) a alguns dispositivos, porém rejeitou o veto em relação a outros que terão de ser encaminhados para a promulgação); 3) Veto parcial do Presidente com posterior rejeição total do veto parcial(aqui o Congresso rejeitou o veto do Presidente fazendo com que haja a promulgação da parte que estava, até então, vetada pelo Presidente); e 4) Veto parcial com posterior rejeição parcial pelo Congresso Nacional(aqui o Presidente vetou parcialmente um projeto e o Congresso rejeitou partes do veto parcial, ou seja, rejeitou o veto sobre alguns dispositivos, fazendo com que os mesmos tenham de ser promulgados) (Grifos do autor).

Nesse mesmo raciocínio, Moraes (2017, p. 485) corrobora sobre a

manutenção ou a derrubada do veto pelo Congresso Nacional:

Havendo veto do Presidente da República ao projeto de lei, esse retornará ao Congresso Nacional, onde, nos termos já analisados, será reapreciado pelo Poder Legislativo. Se houver sanção parcial, somente o texto vetado retornará ao Congresso Nacional para deliberação. A parte sancionada deverá ser, no prazo de 48 horas, promulgada e publicada. A votação sobre a manutenção ou derrubada do veto será realizada em escrutínio aberto, para garantia de transparência e possibilidade de controle dos eleitores para efetividade da soberania popular. A EC nº76, de 28 de novembro de 2013, aboliu a votação secreta nos casos de deliberação sobre os vetos presidenciais. Se o veto for superado, pela maioria absoluta dos Deputados e Senadores, a lei será remetida, novamente, ao Presidente da República, para promulgação.

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Se, porém, for mantido, o projeto de lei será arquivado, não havendo possibilidade de nova e posterior análise por parte do Poder Legislativo deste mesmo veto, pois a confirmação parlamentar das razões subjacentes ao veto governamental importa em extinção definitiva do processo legislativo e impede, consequentemente, a reabertura das fases procedimentais. Observe-se que, esgotado sem deliberação o prazo de 30 (trinta) dias úteis, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas asdemais proposições existentes em sessão conjunta do Congresso Nacional, até sua votação final. Não há, porém, obrigatoriedade de observância da ordem cronológica dos vetos, conforme decidiu cautelarmente o Supremo Tribunal Federal.

Lenza (2016, p. 704) assevera que se o veto for derrubado, a lei deverá ser

remetida ao Presidente da República em até 48 horas para a promulgação. Além

disso, se ele não a promulgar, o Presidente ou o Vice-Presidente do Senado o fará.

Sendo derrubado o veto, a lei deverá ser enviada ao Presidente da República para promulgação dentro do prazo de 48 horas. Se este não o fizer, caberá ao Presidente do Senado a promulgação, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo (art. 66, §§5º e 7º, da CF/88). Aqui, o texto não prevê alternativa. Reforçando o comando, a regra diz que caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo (Grifos do autor).

Para o autor, caso o veto seja mantido, em respeito ao princípio da

irrepetibilidade, o projeto deverá ser arquivado nos moldes do art. 67 da Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988.

Mendes e Paulo (2017, p. 807) explicam que o veto não poder dar azo ao

Presidente da República para que altere a essência do projeto de lei votado no

Congresso Nacional. É evidente a preocupação da doutrina quanto à possibilidade

do Presidente da República modificar a essência da vontade do Legislador.

[...] O veto parcial não pode recair apenas sobre palavras ou conjunto de palavras de uma unidade normativa. O veto parcial não pode deixar de incidir sobre o texto integral do artigo, parágrafo, inciso ou alínea. Busca-se prevenir, assim, a desfiguração do teor da norma, que poderia acontecer pela supressão de apenas algum de seus termos.

Mendes (2017, p. 807) lembra que nem todos os atos derivados do processo

legislativo estão sujeitos ao veto ou à sanção.

Nem todos os instrumentos de atos normativos primários se submetem a sanção e veto. Não há veto ou sanção na emenda à Constituição, em decretos legislativos, em resoluções, leis delegadas ou em lei

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resultante da conversão, sem alterações, de medida provisória (Grifos nossos).

Assim sendo, após a finalização da fase constitutiva com todas as

manifestações favoráveis e desfavoráveis emitidas pelo Presidente da República e

após a devolução ao Congresso Nacional, passa-se à última fase do processo

legiferante.

3.3 FASE COMPLEMENTAR

Fernandes (2017, p. 850) destaca que a fase complementar é a fase de

eficácia,

É a fase na qual temos um atestado de existência da espécie normativa (proposição normativa primária) e sua publicização para todo território nacional. Por isso, a doutrina a identifica, não raro, como fase de integração de eficácia, em razão da existência da espécie normativa em que surgiu no final da fase constitutiva.

Com a fase complementar, encerra-se o processo legislativo. É o momento

que surge então uma lei, em sentido amplo e estrito, podendo começar a produzir

efeitos no mundo jurídico.

Lenza (2016, p. 708) explica que “A fase final ou complementar do processo

legislativo pode ser bipartida na promulgação e na publicação da lei [...]”.

Para o autor, a promulgação é um atestado da existência válida da lei.

A promulgação nada mais é que um atestado da existência válida da lei e de sua executoriedade. Apesar de ainda não estar em vigor e não ser eficaz, pelo ato da promulgação certifica-se o nascimento da lei. José Afonso da Silva aponta que “o ato de promulgação tem, assim, como conteúdo a presunção de que a lei promulgada é válida, executória e potencialmente obrigatória”. [...] o que se promulga e publica é a lei, ou seja, no momento da promulgação o projeto de lei já se transformou em lei. [...] o projeto de lei vira lei com a sanção presidencial ou com a derrubada do veto pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores, nos termos do art. 66, §4º [...].

Já a publicação, para o autor, significa que a lei deverá ser levada ao

conhecimento de todos.

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Promulgada a lei, deverá ser publicada, ato pelo qual se levará ao conhecimento de todos o conteúdo da inovação legislativa. A publicação implementa-se pela inserção no Diário Oficial, devendo ser determinada por quem a promulgou. Com a promulgação, tem-se o estabelecimento do momento em que o cumprimento da lei deverá ser exigido. [...] O período que vai da publicação da lei à sua vigência chama-se vacatio legis (Grifos do autor).

A importância da publicação da lei é tamanha, visto que incidirá, doravante, o

artigo 3º da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (LINDB), in verbis:

“Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.

É dizer, ninguém poderá invocar a ignorância para se elidir de deveres,

obrigações e direitos, salvo raríssimas hipóteses.

Uma última digressão: a promulgação e a publicação são sempre atos conjuntos, ou seja, que ocorrem conjuntamente? Não, não são sempre atos conjuntos. Pode ocorrer a promulgação e, só posteriormente, a publicação da nova lei (FERNANDES, 2017, p. 1074).

Insta salientar que, na lição do autor, nem sempre a promulgação e a

publicação ocorrem simultaneamente, podendo ocorrer separadamente, sem, no

entanto, implicar em invalidação do ato.

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4 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Barroso (2006, p. 1) afirma que o ordenamento jurídico é um sistema que

deve ser regido pela unicidade, e a sua quebra pode ensejar em controle de

constitucionalidade.

O ordenamento jurídico é um sistema. Um sistema pressupõe ordem e unidade, devendo suas partes conviver de maneira harmoniosa. A quebra dessa harmonia deverá deflagrar mecanismos de correção destinados a restabelecê-la. O controle de constitucionalidade é um desses mecanismos, provavelmente o mais importante, consistindo na verificação da compatibilidade entre uma lei ou qualquer ato normativo infraconstitucional e a Constituição. Caracterizado o contraste, o sistema provê um conjunto de medidas que visam a sua superação, restaurando a unidade ameaçada. A declaração de inconstitucionalidade consiste no reconhecimento da invalidade de uma norma e tem por fim paralisar sua eficácia.

Moraes (2017, p. 476) alerta que o processo legislativo constitucional deve

ser rigorosamente observado, sob pena de ferir a legalidade, que é consagrada na

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

O respeito ao devido processo legislativo na elaboração das espécies normativas é um dogma corolário à observância do princípio da legalidade, consagrado constitucionalmente, uma vez que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de espécie normativa devidamente elaborada pelo Poder competente, segundo as normas de processo legislativo constitucional, determinando, desta forma, a Carta Magna, quais os órgãos e quais os procedimentos de criação das normas gerais, que determinam [...].

Barroso (2006, p. 5-6) demonstra que o contexto histórico e o pioneirismo do

controle de constitucionalidade emergiram na Corte Suprema dos Estados Unidos

da América, em 1803, no caso Marbury v. Madison.

Marbury v. Madison foi a primeira decisão na qual a Suprema Corte afirmou seu poder de exercer o controle de constitucionalidade, negando aplicação a leis que, de acordo com sua interpretação, fossem inconstitucionais. Assinale-se, por relevante, que a Constituição não conferia a ela ou a qualquer outro órgão judicial, de modo explícito, competência dessa natureza. Ao julgar o caso, a Corte procurou demonstrar que a atribuição decorreria logicamente do sistema. A argumentação desenvolvida por Marshall acerca da supremacia da Constituição, da necessidade do judicial review e da competência do Judiciário na matéria é tida como primorosa. Mas não era pioneira nem original. De fato, havia precedentes identificáveis em períodos diversos da história, desde a antiguidade, e mesmo nos Estados Unidos o argumento já havia sido deduzido no período colonial, com base no direito inglês, ou em cortes federais inferiores e estaduais. Além disso, no plano teórico, Alexander

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Hamilton, no Federalista n. 78, havia exposto analiticamente a tese, em 1788. Nada obstante, foi com Marbury v. Madison que ela ganhou o mundo e enfrentou com êxito resistências políticas e doutrinárias de matizes diversas (Grifos do autor).

Sobre a essência do controle de constitucionalidade, Moraes (2017, p. 518)

ensina que é pressuposto para a manutenção da supremacia da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, incidindo reflexos nos direitos fundamentais:

A ideia de constitucionalidade está ligada à Supremacia da Constituição sobre todo o ordenamento jurídico e, também, à de rigidez constitucional e proteção dos direitos fundamentais. Em primeiro lugar, a existência de escalonamento normativo é pressuposto necessário para a supremacia constitucional, pois, ocupando a constituição a hierarquia do sistema normativo é nela que o legislador encontrará a forma de elaboração legislativa e o seu conteúdo. Além disso, nas constituições rígidas se verifica a superioridade da norma magna em relação àquelas produzidas pelo Poder Legislativo, no exercício da função legiferante ordinária. Dessa forma, nelas o fundamento do controle é o de que nenhum ato normativo, que lógica e necessariamente dela decorre, pode modificá-la ou suprimi-la. A ideia de intersecção entre controle de constitucionalidade e constituições rígidas é tamanha que o Estado onde inexistir o controle, a Constituição será flexível, por mais que a mesma se denomine rígida, pois o Poder Constituinte ilimitado estará em mãos do legislador ordinário. A supremacia constitucional adquiriu tamanha importância nos Estados Democráticos de Direito, que Cappelletti afirmou que o nascimento e expansão dos sistemas de justiça constitucional após a Segunda Guerra Mundial foi um dos fenômenos de maior relevância na evolução de inúmeros países europeus (Grifos nossos).

O autor esclarece que a rigidez constitucional também é pressuposto que

incide sobre o controle de constitucionalidade. Além disso, acerca do controle

preventivo constitucional preventivo, afirma que o primeiro controle preventivo é

mister das comissões de constituição e justiça do Congresso Nacional, cabendo ao

Presidente da República, em um segundo momento. De todo modo, o controle

preventivo de constitucionalidade deverá ocorrer durante a produção legislativa:

A primeira hipótese de controle de constitucionalidade preventivo refere-se às comissões permanentes de constituição e justiça cuja função precípua é analisar a compatibilidade do projeto de lei ou proposta de emenda constitucional apresentados com o texto da Constituição Federal. A segunda hipótese encontra-se na participação do chefe do Poder Executivo no processo legislativo. O Presidente da República poderá vetar o projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional por entendê-lo inconstitucional (CF, art. 66, § 1º). É o chamado veto jurídico. Assim, no Brasil o controle preventivo de constitucionalidade é realizado sempre dentro do processo legislativo, em uma das hipóteses

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pelo Poder Legislativo (comissões de constituição e justiça) e em outra pelo Poder Executivo (veto jurídico) (MORAES, p. 522-523, grifos nossos).

Fernandes (2017, p. 1423) ensina que há 3 tipos de inconstitucionalidade: por

ação, por omissão e formal. O autor detalha cada uma delas da seguinte maneira:

A inconstitucionalidade por ação diz respeito a uma conduta positiva que contraria normas previstas na Constituição. Ou seja, o Poder Público produz atos normativos em desacordo com a normatividade constitucional. A inconstitucionalidade por omissão decorre de uma conduta negativa dos Poderes Públicos. Ou seja, os mesmos não atuam, restam em inércia e com isso não viabilizam direitos previstos na Constituição. Nesse sentido, esse tipo de prática omissiva (non facere) também se caracteriza como inconstitucional em alguns ordenamentos jurídicos, como o nosso de 1988. A omissão, atualmente, vem sendo classificada como total (absoluta) ou parcial. A omissão total ocorre na hipótese de ausência de norma para viabilizar direitos previstos na Constituição, ou seja, nesse caso o legislador realmente não empreendeu a providência legislativa devida. Já a omissão parcial ocorre quando existe ato normativo, porém o mesmo é insuficiente (insatisfatório) para a viabilização adequada de direitos previstos na Constituição. A inconstitucionalidade, também, pode ser conceituada como formal (nomodinâmica) ou material (nomoestática), conforme o tipo de vício ocorrido na edição de leis ou atos normativos em relação à Constituição. Portanto, conforme o conceito acima citado de controle de constitucionalidade, temos que as leis ou atos normativos devem preencher requisitos formais e materiais para terem validade e, com isso, adequarem-se à Constituição. A inconstitucionalidade formal é aquela que envolve um vício no processo de produção das normas jurídicas, na medida em que as leis ou atos normativos são editados em desconformidade com as normas previstas constitucionalmente. Nesse sentido, fala-se na obediência a requisitos formais. Esses dizem respeito, conforme salientado, ao modo ou à forma de elaboração (produção) da lei ou do ato normativo. Ou seja, se as leis ou atos normativos respeitaram (observaram) em sua gênese as normas previstas na Constituição. Sem dúvida, os vícios formais envolvem defeitos na formação do ato normativo (Grifos do autor).

O autor aprofunda-se sobre a inconstitucionalidade formal, que é a

modalidade aplicável ao caso ora estudado, demonstrando que esta se subdivide

em três espécies:

Inconstitucionalidade formal orgânica: envolve o descumprimento de regras de competências previstas na CR/88 para a produção do ato. Como exemplo, podemos citar uma norma estadual que venha a legislar sobre direito penal e com isso descumprir o art. 22, 1, da CR/88, que estabelece ser matéria de competência privativa da União a legislação sobre direito penal. Portanto, se uma Lei Estadual dispuser sobre essas matérias do art. 22, 1 (sem a necessária delegação prevista no art. 22, parágrafo único) haverá, então, inconstitucionalidade formal orgânica por descumprimento de regra de competência. Inconstitucionalidade formal por descumprimento dos pressupostos objetivos do ato previstos na CR./88: conforme a doutrina de Gomes

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Canotilho, existem pressupostos definidos na Constituição que devem ser entendidos como elementos determinantes de competência para órgãos legislativos no exercício da função legiferante. Esses pressupostos são inarredáveis e de cunho objetivo. No ordenamento constitucional brasileiro, é mister salientar que também existem esses pressupostos a serem respeitados sob pena de inconstitucionalidade formal [...]. Inconstitucionalidade formal propriamente dita: ocorre por inobservância das normas do processo legislativo previstas nos arts. 59 a 69 CR/88. Nesse caso, irá ocorrer o descumprimento do devido processo legislativo constitucional. Certo é que, para a doutrina majoritária, o processo legislativo tem três fases: iniciativa, constitutiva e complementar. Nesse sentido, será necessário cumprir seguintes requisitos para que haja uma produção adequada (ou em consonância) das respectivas espécies normativas previstas na Constituição [...] (Grifos do autor).

Moraes (2017, p. 523) ensina que o princípio da legalidade e o processo

legislativo constitucional são pilares fundamentais do Estado Democrático de Direito:

O princípio da legalidade e o processo legislativo constitucional são corolários; dessa forma, para que qualquer espécie normativa ingresse no ordenamento jurídico, deverá submeter-se a todo o procedimento previsto constitucionalmente. Dentro deste procedimento, podemos vislumbrar duas hipóteses de controle preventivo de constitucionalidade, que buscam evitar o ingresso no ordenamento jurídico de leis inconstitucionais: as comissões de constituição e justiça e o veto jurídico.

Como já visto anteriormente, o Congresso Nacional e o Presidente da

República podem/devem exercer controle de constitucionalidade preventivo. Este,

quando os projetos de lei são submetidos às suas deliberações para sanção ou veto.

Aquele, quando os projetos de leis são submetidos às Comissões de Constituição de

Justiça para análise da constitucionalidade e da legalidade.

Controlar a constitucionalidade significa verificar a adequação (compatibilidade) de uma lei ou de um ato normativo com a constituição, verificando seus requisitos formais e materiais. Dessa forma, no sistema constitucional brasileiro somente as normas constitucionais positivadas podem ser utilizadas como paradigma para a análise da constitucionalidade de leis ou atos normativos estatais [...]. O art. 5º, II, da Constituição Federal, consagra o princípio da legalidade ao determinar que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Como garantia de respeito a este princípio básico em um Estado Democrático de Direito, a própria Constituição prevê regras básicas na feitura das espécies normativas. Assim, o processo legislativo é verdadeiro corolário do princípio da legalidade, como analisado no capítulo sobre direitos fundamentais, que deve ser entendido como ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de espécie normativa devidamente elaborada de acordo com as regras de processo legislativo constitucional (arts. 59 a 69, da Constituição Federal).

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Assim sendo, a inobservância das normas constitucionais de processo legislativo tem como consequência a inconstitucionalidade formal da lei ou ato normativo produzido, possibilitando pleno controle repressivo de constitucionalidade por parte do Poder Judiciário, tanto pelo método difuso quanto pelo método concentrado (MORAES, 2017, p. 519) (Grifos nossos).

Nessa linha de raciocínio, o autor continua detalhando os aspectos subjetivos

e objetivos do controle de constitucionalidades aplicados ao processo legislativo.

Subjetivos: Referem-se à fase introdutória do processo legislativo, ou seja, à questão de iniciativa. Qualquer espécie normativa editada em desrespeito ao processo legislativo, mais especificamente, inobservando aquele que detinha o poder de iniciativa legislativa para determinado assunto, apresentará flagrante vício de inconstitucionalidade. Objetivos: Referem-se às duas outras fases do processo legislativo: constitutiva e complementar. Assim, toda e qualquer espécie normativa deverá respeitar todo o trâmite constitucional previsto nos arts. 60 a 69 (Grifos do autor).

Assim sendo, após a aprovação nas duas casas do Congresso, enviou-se o

Projeto de Lei n.º 5.768/2016 ao Presidente da República para análise e

deliberações, conforme preceitua a Constituição da República Federativa do Brasil

Federal de 1988, o que redundou na sanção da Lei n.º 13.491 (que alterou a

competência da Justiça Militar), em 13 de outubro de 2017, com uma ressalva ao

artigo 2º, a qual será tratada adiante.

4.1 MENSAGEM DE VETO AO ARTIGO 2º DA LEI N.º 13.491/2017

Moraes (2017, p. 520) afirma que é imprescindível a observância ao primado

do Estado de Direito Democrático, por parte dos Poderes do Estado.

O Poder Executivo, assim como os demais Poderes de Estado, está obrigado a pautar sua conduta pela estrita legalidade, observando, primeiramente, como primado do Estado de Direito Democrático, as normas constitucionais. Dessa forma, não há como exigir-se do chefe do Poder Executivo o cumprimento de uma lei ou ato normativo que entenda flagrantemente inconstitucional, podendo e devendo, licitamente, negar-se cumprimento, sem prejuízo do exame posterior pelo Judiciário (Grifos nossos).

Nesse contexto, após submissão do Projeto de Lei n.º 5.768/2016 às

deliberações do Presidente da República, à época, o Chefe do Executivo vetou o

artigo 2º (acrescentado em 06 de julho de 2016 pelo Deputado Júlio Lopes, na

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Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) que previa sua vigência até o dia 31

de dezembro de 2016, e que, ao final, retornaria a ter eficácia a legislação anterior,

ipsis litteris: “Art. 2o Esta Lei terá vigência até o dia 31 de dezembro de 2016 e,

ao final da vigência desta Lei, retornará a ter eficácia a legislação anterior por

ela modificada” (Grifos nossos). Trata-se do epicentro desta pesquisa.

Neste viés, Brasileiro (2017, s.p.) entende que originalmente era prevista uma

mudança temporária de competência pela referida lei por conta do evento

Olimpíadas e Paraolimpíadas 2016, no Brasil.

No entanto, com o veto ao artigo 2º do referido projeto de lei, surgiu a

celeuma, pois o Presidente da República vetou o artigo de maneira integral,

aparentemente obedecendo o princípio da legalidade sob o comando constitucional

do artigo 66, § 2º, pelo qual determina que “O veto parcial somente abrangerá texto

integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea”.

Contudo, segundo entendimento de Brasileiro (2017, s.p.), o Presidente da

República teria desvirtuado o que fora aprovado pelo Congresso Nacional,

verificando ainda flagrante usurpação de competência pelo Poder Executivo em

detrimento do Poder Legislativo no momento em que desnaturou o todo lógico

aprovado pelo Congresso Nacional, transformando uma lei temporária em lei

permanente.

Para Brasileiro (2017, s.p.), trata-se de manifesta inconstitucionalidade formal,

contrariando os válidos fundamentos apresentados na Mensagem de Veto ao

Congresso Nacional emitida pelo Presidente da República, nos seguintes termos:

As hipóteses que justificam a competência da Justiça Militar da União, incluídas as estabelecidas pelo projeto sob sanção, não devem ser de caráter transitório, sob pena de comprometer a segurança jurídica. Ademais, o emprego recorrente das Forças Armadas como último recurso estatal em ações de segurança pública justifica a existência de uma norma permanente a regular a questão. Por fim, não configura adequado estabelecer-se competência de tribunal com limitação temporal, sob pena de se poder interpretar a medida como o estabelecimento de um tribunal de exceção, vedado pelo artigo 5º, inciso XXXXVII da Constituição (Grifos Nossos).

Brasileiro (2017, s.p.) concorda que o emprego das Forças Armadas como

última instância para promover a segurança pública tem sido corriqueiro,

especialmente em unidades federativas com altos índices de violência, a exemplo do

Estado do Rio de Janeiro, porém, o referido professor não admite que a Constituição

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da República Federativa do Brasil de 1988 seja atropelada a fim de se resolver um

problema estatal, sob pena de comprometer principalmente a segurança jurídica, e,

neste viés, Brasileiro afirma que o Presidente da República não poderia ter vetado o

artigo 2º da Lei 13.491/2017.

4.2 (IN) CONSTITUCIONALIDADE DO VETO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Bernardi (2009, p. 41), em seu magistério, instrui que “a origem mais remota

do termo lei é lex, que provém de três verbos latinos: ligare, cujo significado é ‘aquilo

que se liga’; legere, ou seja, ‘aquilo que se lê’; e elegire, ou seja, ‘aquilo que se

elegeu’: escolheu; [...]”. Continua o autor:

A palavra lei se confunde, muitas vezes, ao termo direito, do latim directus, cujo significado é “aquilo que é justo”, ou, como afirma a filosofia, “a arte do justo”, ou “aquilo que é reto”, “que está de acordo com a lei”. Direito, em latim, traduz-se como jus. A lei, filosoficamente, portanto, deve refletir o direito, deve ser justa, deve representar o conceito de bem (Grifos do autor).

Barcellos (2018, p. 16), por seu turno, afirma que “[...] Normas sociais, por sua

vez, são comandos deontológicos, indicando um dever-ser, padrões de conduta a

cumprir ou evitar, padrões de conduta de alguma forma adotados pelo grupo social e

cuja observância se espera”.

É importante mencionar também o artigo 6º da Declaração de Direitos do

Homem e do Cidadão, de 1789, que assevera: “A lei é a expressão da vontade

geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de

mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para

proteger, seja para punir [...]”.

Assim sendo, Fernandes (2017, p. 1073) entende que o veto tem natureza

política: “[...] é considerado um ato de natureza política, não há que se falar em

controle judicial sobre as razões do veto”. Além disso, o autor reconhece que há

duas correntes de pensamento em que se discute a natureza legislativa e a natureza

executiva do veto:

[...] muito se discute sobre sua natureza. Nesse sentido, há duas correntes sobre o tema: a 1ª corrente entende que o veto tem natureza legislativa. Já a 2ª corrente entende que o veto tem natureza executiva. A corrente majoritária é a que entende ter o veto natureza legislativa. Nesses termos, o chefe do Poder Executivo está vetando no iter do

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processo legislativo, e, com isso, estaria o Presidente exercendo uma função atípica por dispositivo constitucional. É a corrente defendida, entre outros, por José Afonso da Silva. A corrente minoritária é defendida, entre outros, por Kildare Gonçalves Carvalho e por Hilda Brandão [...] (Grifos nossos).

No entanto, o conceito de Constituição, para Azambuja (2008, p. 169), é

aquilo que forma a própria estrutura do Estado e regula o seu funcionamento, o que

redunda no respeito à Constituição também por parte do Estado.

O termo Constituição é empregado em sentido amplo ou em sentido restrito. Na acepção geral, Constituição é a própria organização do Estado, são as instituições políticas e jurídicas que o formam e lhe caracterizam a estrutura. Nessa acepção, todos os Estados têm e sempre tiveram Constituição, que compreende as tradições e costumes políticos, as leis e documentos que regulam a sucessão dos tronos, criam órgãos e lhes regulam o funcionamento. Em sentido restrito, que é o usual, Constituição é o conjunto de preceitos jurídicos, geralmente reunidos em um código, que discrimina os órgãos do poder público, fixa-lhes a competência, declara a forma de governo, proclama e assegura os direitos individuais (Grifos nossos).

Nesse pensamento, o referido autor evidencia o princípio da

constitucionalidade, que em tese, é a devida disciplina de todas as leis derivadas de

Constituição:

O princípio da constitucionalidade das leis é, em síntese, o de que, sendo a Constituição a lei básica e fundamental, todas as outras leis devem ser conformes aos seus preceitos e ao seu espírito. Toda a lei ordinária que, no todo ou em parte, contrarie ou transgrida um preceito da Constituição, diz-se inconstitucional, tem um vício que a anula e deve ser declarada tal pelo poder competente, que é o Judiciário (Grifos do autor).

Para Bernardi (2009, p. 96), “a norma legislativa deve refletir de maneira

perfeita a ideia que se almeja traduzir. [...]. Por isso, a questão do estilo a ser

utilizado pelo legislador é fundamental para que, no momento da interpretação da

norma, não seja distorcido o seu verdadeiro significado” (Grifos nossos).

Portanto prevalece a corrente majoritária sobre o veto possuir natureza legislativa e

ao exercê-lo, o Presidente da República desempenha uma função atípica, não

podendo agir ilimitadamente, sob pena de ferir a Carta Política.

Neste raciocínio, paradoxalmente, em 2017, o Presidente da República (à

época Michel Miguel Elias Temer) ao vetar o artigo 2º do projeto que originou a lei

n.º 13.491/2017, tornando a lei permanente, em flagrante inconstitucionalidade por

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alteração indevida do espírito da lei, conforme entendimento de Brasileiro (2017,

s.p.), havia tratado sobre o tema quando escreveu em sua obra “Elementos de

Direito Constitucional”, publicada em 2008:

Assim, o fundamento doutrinário que alicerça a concepção de que o veto parcial deve ter maior extensão suporta-se na idéia (sic) de que, vetando palavras ou conjunto de palavras, o Chefe do Executivo pode desnaturar o projeto de lei, modificando o seu todo lógico, podendo, ainda, com esse instrumento, legislar. Basta – como se disse – vetar um advérbio negativo (TEMER, 2008, p. 143-144, grifos nossos).

Continua Temer, nas páginas seguintes, detalhando como seria a

configuração da usurpação de competência do Legislativo pelo Executivo, proibida

pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, pois ao mudar o

espírito da lei por meio de veto, altera-se significativamente a vontade do Legislador,

tornando-se ilegítimo o veto:

Data vênia, não é bom esse fundamento, uma vez que: a) o todo lógico da lei pode desfigurar-se também pelo veto, por inteiro, do artigo, do inciso, do item ou da alínea. E até com maiores possibilidades; b) se isto ocorrer – tanto em razão do veto da palavra ou de artigo – o que se verifica é usurpação de competência pelo Executivo, circunstância vedada pelo art. 2º da CF (Grifos nossos).

O escritor aponta algumas possíveis soluções para o caso, previstas pelo

constituinte originário:

[...] c) qual a solução para ambas as hipóteses? O constituinte as previu: aposto o veto, retorna o projeto ao Legislativo e este poderá rejeitá-lo, com o que se manterá o todo lógico da lei. Objeta-se, entretanto: a rejeição do veto exige maioria absoluta e, por isso, uma minoria (1/3) poderá editar a lei que, na verdade, não representa a vontade do legislador. Responde-se: se isto suceder, qualquer do povo, incluídos os membros do Legislativo, do Executivo ou do Judiciário, pode representar aos legitimados constitucionalmente (art. 103, I a IX, da CF) para a promoção da representação de inconstitucionalidade daquela lei em face de usurpação de competência vedada pelo art. 2º da CF (Grifos nossos).

Sob o mesmo ponto de vista, Mendes (2015, p. 904), ensina que por meio do

veto parcial, o Presidente da República deve evitar desfigurar o teor da norma, com

os seguintes termos.

O veto pode ser total, quando abarca todo o projeto, ou parcial, se atinge apenas partes do projeto. O veto parcial não pode recair apenas sobre

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palavras ou conjunto de palavras de uma unidade normativa. O veto parcial não pode deixar de incidir sobre o texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou alínea. Busca-se prevenir, assim, a desfiguração do teor da norma, que poderia acontecer pela supressão de apenas algum de seus termos (Grifos nossos).

Brasileiro (2017, s.p.) explica que é importante destacar que a possível

usurpação de competência revelada por Temer e também por Mendes,

especificamente quanto à análise da Lei 13.491/2017, a despeito de outros pontos

polêmicos de discussão sobre a inconstitucionalidade da referida lei, leva ao

questionamento do veto ao artigo 2º, que estabelecia a temporalidade da lei, e ao

vetar, o Presidente da República teria transformado a natureza da lei para lei

permanente, alterando completamente a vontade originária do Legislador.

Moraes (2017, p. 484-485) leciona que,

[...] o Presidente da República poderá vetar total ou parcialmente o projeto de lei aprovado pelo Legislativo, desde que esta parcialidade somente alcance texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea. Dessa forma, impossível o veto de palavras, frases ou orações isoladas, pois a prática constitucional mostrou que o veto parcial, incidindo sobre qualquer parte do projeto como previsto na Constituição revogada, desvirtuava, muitas vezes, o sentido da proposta legislativa e transformava o Presidente em legislador. A razão da existência do veto parcial é recordada por Manoel Gonçalves Ferreira Filho, e visa atender a uma necessidade universal, qual seja, fornecer ao Poder Executivo os meios necessários para expurgar dos textos legislativos as denominadas riders (causas legais), que constituíam disposições que, sem conexão com a matéria principal tratada, eram enxertadas pelos parlamentares, forçando o Presidente da República a aceitá-las, sancionando-as, sob pena de fulminar todo o projeto com o veto total (Grifos nossos).

Pedro Lenza (2016, p. 750) corrobora os entendimentos doutrinários já

expostos, afirmando que: “[...] Assim, pode-se afirmar que não existe veto de

palavras, o que poderia alterar, profundamente, o sentido do texto. [...]”.

Fernandes (2017, p. 1068) ensina que: “[...] pois não existe a possibilidade do

Presidente da República vetar palavras ou expressões do PLO (projeto de lei

ordinária). O objetivo dessa característica é evitar que o Presidente da

República legisle alterando o significado das proposições normativas” (Grifos

nossos). Explica ainda em nota de rodapé, a diferença de controle de

constitucionalidade entre o Judiciário e o Executivo.

Aqui notamos uma diferença do Chefe do Poder Executivo em relação ao Poder Judiciário, pois certo é que o STF no controle de constitucionalidade

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de Leis ou atos normativos pode adotar o princípio da parcelaridade, ou seja, pode declarar a inconstitucionalidade de palavras ou expressões (FERNANDES, 2017, p. 1068).

Brasileiro (2017, s.p.) traz à lume que, a despeito da interpretação literal do

art. 66, §2º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estabelecer

que “O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de

inciso ou de alínea”, o Presidente da República vetou o artigo de forma integral,

entretanto, desvirtuou completamente o que havia sido aprovado pelo Congresso

Nacional. Transformou uma lei temporária em lei permanente e, assim sendo,

Brasileiro (2017, s.p.) propugna pela inconstitucionalidade da Lei n.º 13.491/2017.

De outro giro, o Presidente do Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas

Gerais, Fernando Galvão (2017, s.p.), manifestou-se em artigo publicado pelo

Observatório da Justiça Militar, defendendo que não há inconstitucionalidade do veto

do Presidente da República ao caráter temporal da lei (art. 2º), pois o projeto de lei

foi discutido e votado no ano de 2017 no Congresso Nacional e o artigo 2º previa o

fim da vigência da futura lei em 31 de dezembro de 2016, perdendo

automaticamente seu objeto. O autor afirma que os parlamentares sabiam

perfeitamente o que estavam votando e não é admissível pressupor ingenuidade dos

representantes populares:

Afirmar que os senadores, não sabiam o que estavam votando um projeto com restrição temporal já ultrapassada pressupõe uma ingenuidade dos parlamentares que não é admissível. Os senadores sabiam perfeitamente o que estavam votando! Sabiam que se alterassem o projeto levariam a questão novamente ao exame da Câmara e que há urgência em aprovar as disposições do projeto em razão da situação delicada pela qual se encontra a segurança pública no Estado do Rio de Janeiro. Decidiram por aprovar o projeto e por, de fato, obrigar a um veto obrigatório do artigo da temporalidade pelo presidente da República. Se não bastasse o fato de que o projeto continha uma referência temporal ultrapassada, ainda seapresentava evidente a violação ao disposto no art. 5º, inciso XXXVII, da Constituição da República – que veda a instituição de juízo ou de Tribunal de Exceção. No caso, é manifestamente inconstitucional a instituição de um juízo e um Tribunal para as olimpíadas (Grifos do autor).

Nessa toada, Galvão (2017, s.p.) concebe que não há inconstitucionalidade

pelo veto do artigo pelo Presidente da República, em razão de manifesta

intempestividade.

Não vetar o dispositivo significaria sancionar uma lei completamente incapaz de produzir efeitos. Manter o dispositivo implicaria em uma

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contradição lógica insuperável: concretizar a manifestação legislativa e, ao mesmo tempo, sancionar uma lei que não pode produzir qualquer efeito jurídico (Grifos nossos).

Galvão explica que os senadores sabiam que estavam votando, no ano de

2017, uma lei essencialmente temporal, e que essa temporalidade estava

prejudicada, visto que a data final prevista no projeto enviado ao Presidente da

República era expressa até o dia 31 de dezembro de 2016. Saliente-se que o

Presidente da República deliberou sobre o projeto de lei somente no ano de 2017.

Entende Galvão (2017, s.p.) que, em razão da urgência percebida pelo Poder

Público em apresentar uma proposta solucionadora à perda de controle da

segurança pública pelo Estado do Rio de Janeiro, os congressistas optaram em

deixar a cargo do Presidente da República as deliberações quanto à questão da

temporalidade prejudicada do projeto de lei.

Era uma tentativa de dar vigência ao projeto de lei, o mais rápido possível,

nada obstante as consequências jurídicas posteriores, caso viesse a ser aprovado

sem veto algum, como por exemplo, a criação de um Tribunal de Exceção, que é

expressamente proibido no Brasil pela Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988 e repudiado pelas organizações internacionais de proteção aos

direitos da pessoa humana.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; [...] (CRFB/1988).

De acordo com Galvão (2017, s.p.), o Presidente da República, sumariamente

ao se deparar com a situação deficitária do projeto de lei, vetou o artigo 2º na

tentativa de excluir a inconstitucionalidade do projeto de lei, afastando a

configuração de criação de Tribunal de Exceção no Brasil, e dessa forma, corrigir um

vício de natureza material.

Data vênia ao respeitável entendimento de Galvão, cumpre destacar que

tradicionalmente no ordenamento brasileiro, há maior incidência do controle

repressivo de constitucionalidade em detrimento do controle preventivo, conforme

lição de Moraes (2017, p. 520).

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[...] enquanto o controle preventivo pretende impedir que alguma norma maculada pela eiva da inconstitucionalidade ingresse no ordenamento jurídico, o controle repressivo busca dele expurgar a norma editada em desrespeito à Constituição. Tradicionalmente e em regra, no direito constitucional pátrio, o Judiciário realiza o controle repressivo de constitucionalidade, ou seja, retira do ordenamento jurídico uma lei ou ato normativo contrários à Constituição. Por sua vez, os poderes Executivo e Legislativo realizam o chamado controle preventivo, evitando que uma espécie normativa inconstitucional passe a ter vigência e eficácia no ordenamento jurídico (Grifos nossos).

Caso prospere o argumento de usurpação de competência pelo Presidente da

República, há grave violação do princípio da separação dos poderes, ideia criada

pelo reconhecido filósofo Montesquieu, e consagrado no artigo 2º da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, além de eventual lesão a outros princípios

de Direitos Humanos.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Mendes e Paulo (2017, p. 807) afirmam que “O STF entendeu, no passado,

que a sanção ao projeto que surgiu de usurpação da inciativa privativa do Presidente

da República sanava o vício, suprindo a falta da iniciativa correta (Súmula 5/STF)”.

Ocorre que, data vênia à manifestação da Corte Suprema, ninguém está

acima da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, nem o Estado

nem os cidadãos, tão pouco seus agentes. Portanto, todos devem submeter-se aos

mandamentos constitucionais. Neste viés, de acordo com a doutrina, é evidente que

a Súmula 5/STF está superada.

Moraes (2017, p. 476) afirma que o desrespeito às normas constitucionais

cabíveis ao processo legislativo enseja em inconstitucionalidade formal,

possibilitando controle de constitucionalidade repressivo por parte do Poder

Judiciário:

O desrespeito às normas de processo legislativo constitucionalmente previstas acarretará a inconstitucionalidade formal da lei ou ato normativo produzido, possibilitando pleno controle repressivo de constitucionalidade por parte do Poder Judiciário, tanto pelo método difuso quanto pelo método concentrado. Saliente-se, ainda, que mesmo

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durante o processo legislativo, os parlamentares têm o direito público subjetivo à fiel observância de todas as regras previstas constitucionalmente para a elaboração de cada espécie normativa, podendo, pois, socorrerem-se ao Poder Judiciário, via mandado de segurança (Grifos nossos).

Barcellos (2018, p. 376) assevera que “A promulgação não sana, por

evidente, qualquer vício que tenha havido no processo legislativo capaz de

gerar a inconstitucionalidade da lei aprovada. Trata-se apenas de uma espécie

de certificação de caráter formal [...] (Grifos nossos)”. É a observância ao princípio

da não convalidação das nulidades, tratado no capítulo 2.

Barcellos (2018, p. 376) relembra também que,

Ao invés de sancionar o projeto aprovado pelo Legislativo, no entanto, o Chefe do Executivo poderá vetá-lo total ou parcialmente, entendido como parcial o que recai sobre texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou alínea (art. 66, § 2º), não se admitindo veto de palavras isoladas. O art. 66 prevê ainda que ele deve sempre ser motivado, admitindo-se dois fundamentos distintos: contrariedade ao interesse público (motivação política) e/ou inconstitucionalidade (motivação jurídica). O veto deve ser submetido ao Legislativo, que poderá superá-lo, por voto da maioria absoluta de seus membros [...] (Grifos nossos).

Partindo da premissa que o Poder Legislativo deve apreciar o veto do

Presidente da República, não é possível conceber que nenhum representante do

Congresso Nacional não tenha percebido a evidente transformação da natureza da

lei, em sua temporalidade, transformando-a em permanente. Com efeito, segundo o

entendimento de Galvão (já exposto anteriormente), o Congresso Nacional não

vetou o referido artigo antes de enviar o projeto de lei para deliberações do Poder

Executivo federal em razão da urgência quanto à entrada em vigor da referida lei.

Segundo Barcellos (2018, p. 376), o Supremo Tribunal Federal entende que o

controle de constitucionalidade pelo Poder Judiciário não é possível quanto ao

exame dos fundamentos de veto do Presidente da República a projeto de lei.

A doutrina discutiu se seria válido que o Judiciário examinasse os argumentos utilizados na motivação do veto, para controlar sua consistência, isto é: se caberia ao Judiciário, eventualmente, considerá-lo inconstitucional quando se utilizar de indevidos fundamentos de inconstitucionalidade. A questão foi submetida ao STF, que entendeu que o controle não é possível, já que o veto, seja qual for seu fundamento, é um ato privativo de outro poder, sendo insindicável juridicamente.

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Nessa esteira, Barcellos (2018, p. 377) entende que esse controle de

constitucionalidade cabe somente aos parlamentares; “O STF admite, porém, que os

parlamentares – e apenas eles – possam impugnar processo legislativo em curso

com fundamentação em violação à norma constitucional [...]” (Grifos nossos).

Para a autora, o entendimento firmado pela Corte Suprema é a

impossibilidade do Poder Judiciário efetivar controle de constitucionalidade sobre

processo legislativo em andamento (em fase de formação). Não fala nada sobre o

controle de constitucionalidade a posteriori, ou seja, após a entrada em vigor da lei,

e em caso de omissão dos parlamentares na fase de formação do processo

legiferante.

No entanto, data vênia ao respeitável entendimento da referida autora, é de

se verificar a possibilidade de exceções, mantendo-se em vista o funcionamento da

efetiva democracia no Estado de Direito, sob pena de instauração do caos jurídico

conforme entendimento de Brasileiro (2017, s.p.) anteriormente demonstrado.

Nessa linha de pensamento, Agra (2018, p. 536) corrobora afirmando que o

veto não é absoluto. O Chefe do Poder Executivo não pode usurpar as

competências do Poder Legislativo:

O veto não é absoluto, mas relativo, porque o Congresso Nacional pode derrubá-lo, aprovando a propositura normativa. Ele sinaliza a ideia de discordância de uma propositura legislativa. Assim, o chefe do Executivo não pode utilizar esse instituto para modificar o trabalho dos parlamentares, acrescentando, suprimindo ou modificando partes da propositura apresentada (Grifos nossos).

Para Pimenta (2007, p. 199-200) a inconstitucionalidade por ação é aquela

que deriva da produção de atos legislativos contrários aos princípios da Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988.

A inconstitucionalidade por ação ocorre com a produção de atos legislativos ou administrativos que contrariem regras ou princípios da Constituição. O fundamento dessa inconstitucionalidade está na ideia de que, do princípio da supremacia da Constituição resulta o da compatibilidade vertical das normas da ordenação jurídica de um país, no sentido de que as normas de grau inferior somente valerão se forem compatíveis com as normas de grau superior, que é a Constituição. As que não forem compatíveis com ela são inválidas, pois a incompatibilidade vertical resolve-se em favor das normas de grau mais elevado, que funcionam com fundamento de validade das inferiores. Essa incompatibilidade vertical de normas inferiores (leis, decretos, etc.) com a Constituição é o que, tecnicamente, se chama inconstitucionalidade das leis ou dos atos do Poder Público. Essa inconstitucionalidade pode se

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manifestar com a existência de vício formal ou de vício material na norma (Grifos nossos).

É notável a preocupação dos doutrinadores quanto à preservação do princípio

da legalidade e da segurança jurídica, de forma a manter a legitimidade da função

legiferante perante a sociedade.

“O Estado Democrático de Direito é aquele formado a partir das mãos do

povo, que, ao criar suas normas jurídicas, respeita-as e as cumpre fielmente”

(SANTOS, 2013, p. 25). O autor trata de um dos conceitos básicos de Estado

Democrático de Direito, e que é compreendido pela maioria da doutrina. O Estado,

formado pelo povo, cria as leis buscando o interesse coletivo, sendo que este

mesmo Estado deve submeter-se a essas leis que ele mesmo criou.

O controle de constitucionalidade configura-se, portanto, como garantia de supremacia dos direitos e garantias fundamentais previstos na constituição que, além de configurarem limites ao poder do Estado, são também uma parte da legitimação do próprio Estado, determinando seus deveres e tornando possível o processo democrático em um Estado de Direito (MORAES, 2017, p. 519) (Grifos nossos).

Moraes (2017, p. 529) ensina que deve haver o devido respeito ao processo

legislativo na elaboração das leis. A inobservância da elaboração das leis (em

sentido amplo), se for necessário (e aqui poderia ser entendido como exceção),

deverá ser corrigida pelo Poder Judiciário.

As normas de processo legislativo constitucional, previstas nos arts. 59 a 69 da Constituição Federal, possuem eficácia plena e imediata, vinculando a atividade do legislador na elaboração das diversas espécies normativas em respeito ao devido processo legislativo [...] o respeito ao devido processo legislativo na elaboração das diversas espécies normativas é um dogma corolário à observância do princípio da legalidade, pelo que sua observância deve, se necessário for, ser garantida jurisdicionalmente (Grifos nossos).

Do exposto, em que pese haver algumas divergências doutrinárias sobre o

controle de constitucionalidade do veto do Presidente da República, sob o prisma

teórico acadêmico, resta evidente a inconstitucionalidade do veto do Presidente da

República ao artigo 2º da Lei n.º 13.491/2017, visto que não é concebível a inércia

do Poder Legislativo quanto à flagrante usurpação de competência, tornando-se o

Congresso Nacional inteiro condescendente com a desordem jurídica, o que

invariavelmente, fomenta o caos às normas de direito e da justiça.

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Ademais, não se pode olvidar do raciocínio de Galvão (2017, s.p.) que ventila

a possibilidade do Congresso Nacional, ter constatado e mesmo assim ter mantido o

veto inconstitucional do Presidente da República, na ocasião em que foi submetido

às deliberações dos parlamentares quanto à sua manutenção ou derrubada, face ao

contexto de urgência apresentado/requerido à aprovação da Lei n. 13.491/2017.

É imprescindível anotar que, segundo ensinamento de Cavalcante Filho

(2017, p. 127), acompanhando a doutrina majoritária, o veto não pode desvirtuar a

vontade legítima do Legislador.

Antigamente, adotava-se o chamado princípio da parcelaridade, segundo o qual era lícito ao Presidente vetar apenas algumas palavras dentro de um dispositivo. Teoricamente, o que não podia haver era o desvirtuamento do sentido do enunciado. A prática, porém, mostrava quadro diverso. A doutrina narra situação em que o Governador do Estado de São Paulo, em 1963, deparou-se com projeto de lei ao qual queria dar eficácia imediata, mas a Assembléia (sic) redigira que “Esta lei entra em vigor após 90 dias de sua publicação”. O Chefe do Executivo não se fez de rogado: vetou a expressão “90 dias de” e a redação restou a seguinte: “Esta lei entra em vigor após (vetado) sua publicação”. Violou-se, obviamente, a vontade do legislador. Para evitar tais abusos, a Constituição de 1988 passou a prever que “O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea” (art. 66, § 2º). Perceba-se: ainda se dota o veto parcial no Brasil? Sim. Mas esse poder é ilimitado? Não. Se o Presidente desejar vetar apenas um inciso, poderá fazê-lo? Sim, mas terá que vetar todo o inciso, e não apenas as palavras ou expressões que lhe desagradem. É interessante também registrar a pertinente observação feita por Denise Vargas, quando anota, referindo-se ao veto parcial, que: “Situação distinta ocorre com o Judiciário que pode, no âmbito do controle de constitucionalidade, declarar inconstitucionalidade de palavras ou expressões contidas no dispositivo, atendidos alguns princípios hermenêuticos” (Grifos do autor).

Finalmente, de todo o exposto nesta pesquisa acadêmica, e para arrematar o

tema ora proposto, resta claro e indubitável que o Presidente da República ao

exercer seu inconformismo com o projeto de lei, por meio de veto, não pode alterar,

suprimir, transformar ou desvirtuar a vontade subjetiva do Legislador, sob pena de

submeter todo o processo legislativo à inconstitucionalidade formal especialmente

no caso em comento, visto que Congresso Nacional deixou de se manifestar

formalmente quanto à manutenção ou derrubada do veto, omitindo-se.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relevância desta pesquisa acadêmica, evidencia-se quanto à continuidade

de produção de conhecimento jurídico sobre o processo legislativo constitucional de

formação das leis, principalmente no tocante ao clássico princípio da separação dos

poderes (colaboração de poderes) e sobre o sistema de freios e contrapesos,

consagrados pela doutrina e positivados na Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, e em especial quanto à ampliação da ciência jurídica a sociedade.

É verdade que a sociedade e o Direito estão em constante mutação. Nesse

raciocínio, a presente pesquisa envidou esforços no sentido de buscar os aspectos

históricos, desde os primórdios, visando encontrar as origens do processo legislativo

e ventilar o contexto social pelo qual se legitimou o projeto de lei que deu origem à

Lei n.º 13.291/2017 e seus objetivos iniciais, sendo principalmente, os altos índices

de violência apresentados no Estado do Rio de Janeiro às vésperas de sediar os

Jogos Olímpicos mundiais, em 2016.

Partindo-se dos objetivos principais desta pesquisa, verificou-se os conceitos

de Estado e seus princípios basilares, bem como a estrutura das fases do processo

legislativo, nos termos da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

sob um especial enfoque na fase da deliberação e veto do Presidente da República,

constatando notável preocupação da doutrina quanto à preservação do princípio da

legalidade e da segurança jurídica, a fim de estabilizar a legitimidade da função

legiferante estatal à sociedade.

Observou-se que, para boa parte da doutrina, a manifesta

inconstitucionalidade formal foi provocada pelo Presidente da República ao vetar o

artigo 2º da Lei n.º 13.491/2017, quando transformou a essência temporária da lei

em permanente.

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Finalmente, em que pese haver pensamentos doutrinários divergentes quanto

às possibilidades do veto do Chefe do Executivo Federal, constatou-se a

legitimidade do emprego das Forças Armadas como ultima ratio para promover a

segurança pública, especialmente em unidades federativas com altos índices de

violência, a exemplo do Estado do Rio de Janeiro, corroborando manifestação

expressa na mensagem do veto do Presidente da República ao Congresso Nacional.

Do exposto, nada obstante aos pensamentos doutrinários heterogêneos sobre

o controle de constitucionalidade do veto do Presidente da República, sob o prisma

teórico acadêmico, à luz da análise jurídica, é possível comungar das reflexões de

Brasileiro (2017, s.p.), pelo qual entende que resta evidente a inconstitucionalidade

do veto do Presidente da República ao artigo 2º da Lei n.º 13.491/2017, visto que

não é concebível a inércia do Poder Legislativo quanto à flagrante usurpação de

competência, tornando-se o Congresso Nacional inteiro condescendente com a

desordem jurídica, o que invariavelmente, fomenta o caos às normas de direito e da

justiça.

Conclui-se, no entanto, data vênia aos entendimentos contrários, que não é

admissível que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 seja

atropelada a fim de se resolver um problema estatal, sob pena de comprometer

principalmente a segurança jurídica, e assim sendo, acompanhando o entendimento

da doutrina, o Presidente da República não poderia ter vetado o artigo 2º da Lei

13.491/2017, pois agindo dessa forma, contaminou de inconstitucionalidade formal o

processo legislativo, transformando-se em verdadeiro legislador por meio de

usurpação das atribuições do Poder Legislativo, o qual se manteve omisso, inerte,

pela manutenção do veto (manifestamente inconstitucional), numa tentativa

desenfreada de prover meios legais para a segurança pública efetivar a contenção

da violência no Estado do Rio de Janeiro.

De outro lado, não se pode olvidar do raciocínio de Galvão (2017, s.p.) que

ventila a possibilidade do Congresso Nacional ter constatado e ainda assim ter

mantido o veto do Presidente da República, ao submetê-lo às deliberações dos

parlamentares quanto à sua manutenção ou derrubada, face ao contexto de

urgência apresentado/requerido à aprovação da Lei n. 13.491/2017.

Por fim, resta o insuperável questionamento da doutrina, se cabe ou não, ao

Supremo Tribunal Federal (em “ultima ratio”) o controle de constitucionalidade do

veto do Presidente da República (neste caso específico) que desvirtuou a vontade

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do Congresso Nacional, por meio de usurpação de Poder e desrespeito ao princípio

da separação dos poderes ou se esse controle de constitucionalidade somente é

cabível aos próprios parlamentares, os quais possuem a função legiferante, em que

pese, in casu, mantiveram-se omissos, inertes, na oportunidade de avaliação de

manutenção ou derrubada do referido veto (ainda durante a formação do processo

legislativo constitucional), relegando a efetivação da plena democracia no Estado de

Direito.

Em suma, o que pode ser afirmado, indubitavelmente, é que a Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988 garante expressamente que o Chefe do

Executivo não pode alterar, por meio de veto, a essência do projeto de lei

devidamente aprovado pelo Congresso Nacional, sob pena de usurpar a o Poder

Legislativo (função legislativa) e comprometer todo o ordenamento jurídico.

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ANEXOS

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Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001, que institui aInfraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil.

Ano CLIV No- 198

Brasília - DF, segunda-feira, 16 de outubro de 2017

ISSN 1677-7042

Sumário

Atos do Poder Judiciário

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

PLENÁRIO

DECISÕESAção Direta de Inconstitucionalidade e

Ação Declaratória de Constitucionalidade(Publicação determinada pela Lei nº 9.868, de 10.11.1999)

Julgamentos

MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONS-TITUCIONALIDADE 5.763

(1)

ORIGEM :5763 - SUPREMO TRIBUNAL FEDERALPROCED. :CEARÁR E L ATO R :MIN. MARCO AURÉLIOREQTE.(S) :ASSOCIAÇÃO DOS MEMBROS DOS TRIBU-

NAIS DE CONTAS DO BRASIL - ATRICONA D V. ( A / S ) :GUILHERME LEITE CHAMUM AGUIAR

(51143/DF) E OUTRO(A/S)INTDO.(A/S) :ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO

CEARÁPROC.(A/S)(ES) :RODRIGO MARTINIANO AYRES LINS

(019952B/CE)

AM. CURIAE. :ASSOCIACAO DOS SERVIDORES DOS TRIBU-NAIS DE CONTAS DOS MUNICIPIOS DO ES-TADO DO CEARA - ASTCOM-CE

A D V. ( A / S ) :GERALDO DE HOLANDA GONCALVES FI-LHO (0017824/CE)

A D V. ( A / S ) :LUCIANA LÓSSIO (15410/DF)A D V. ( A / S ) :DANIELA MAROCCOLO (00018079/DF)A D V. ( A / S ) :RODRIGO FARRET (00013841/DF)A D V. ( A / S ) :BRUNA LOSSIO PEREIRA (000045517/DF)A D V. ( A / S ) :DIEGO RANGEL ARAUJO (56315/DF)AM. CURIAE. :ASSOCIAÇÃO NACIONAL DO MINISTÉRIO

PÚBLICO DE CONTAS - AMPCONA D V. ( A / S ) :LUÍS MAXIMILIANO TELESCA (014848/DF)AM. CURIAE. :ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRIBUNAIS

DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS - ABRACOMA D V. ( A / S ) :ROBSON HALLEY COSTA RODRIGUES

(27422/CE)AM. CURIAE. :PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - DI-

RETÓRIO REGIONAL DO ESTADO DO CEARÁA D V. ( A / S ) :MARCELO CAMA PROENÇA FERNANDES

(22071/DF)AM. CURIAE. :ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MINISTROS E

CONSELHEIROS SUBSTITUTOS DOS TRIBU-NAIS DE CONTAS - AUDICON

A D V. ( A / S ) :ANDRE LUIS NASCIMENTO PARADA(33332/DF)

AM. CURIAE. :PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO - DIRETÓ-RIO NACIONAL

A D V. ( A / S ) :JORGE OCTÁVIO LAVOCAT GALVÃO(23437/DF)

AM. CURIAE. :TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DOCEARÁ

PROC.(A/S)(ES) :PAULO SAVIO NOGUEIRA PEIXOTO MAIA(21781/DF)

AM. CURIAE. :PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASI-LEIRA - DIRETÓRIO DO ESTADO DO CEARÁ

A D V. ( A / S ) :ADEMAR BORGES DE SOUSA FILHO(029778/DF)

Decisão: Após o relatório e as sustentações orais, o jul-gamento foi suspenso. Ausente, justificadamente, o Ministro DiasToffoli. Falaram: pela requerente, Associação dos Membros dos Tri-bunais de Contas do Brasil - ATRICON, o Dr. Cláudio Pereira deSouza Neto; pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, o Dr.Rodrigo Martiniano Ayres Lins, Procurador-Geral da Assembleia Le-gislativa do Estado do Ceará; pelo amicus curiae Associacao dosServidores dos Tribunais de Contas dos Municipios do Estado doCeará - ASTCOM-CE, a Dra. Luciana Lóssio; pelo amicus curiaePartido da Social Democracia Brasileira - Diretório do Estado doCeará, o Dr. Ademar Borges de Sousa Filho; pelo amicus curiaeAssociacao Nacional do Ministério Público de Contas - AMPCON-CE, o Dr. Luís Maximiliano Telesca; pelo amicus curiae PartidoSocial Democrático - Diretório Nacional - PSD, o Dr. Jorge OctávioLavocat Galvão; pelo amicus curiae Associação Brasileira de Tri-bunais de Contas dos Municípios - ABRACOM, o Dr. Robson HalleyCosta Rodrigues; pelo amicus curiae Partido Democrático Trabalhista- Diretório Regional do Estado do Ceará, o Dr. Marcelo Cama Proen-ça Fernandes; pelo amicus curiae Tribunal de Contas do Estado doCeará - TCE/CE, o Dr. Paulo Sávio Nogueira Peixoto Maia. Pre-sidência da Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 5.10.2017.

Acórdãos

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.879 (2)ORIGEM :ADI - 4879 - SUPREMO TRIBUNAL FEDERALPROCED. :MATO GROSSO DO SULR E L ATO R A :MIN. CÁRMEN LÚCIAREQTE.(S) :PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICAINTDO.(A/S) :ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE

MATO GROSSO DO SULA D V. ( A / S ) :SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

Decisão:O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto daRelatora, julgou procedente a ação, para declarar a inconstitucionali-dade da Lei nº 3.469/2007 do Mato Grosso do Sul. Ausentes, justi-ficadamente, os Ministros Celso de Mello e Roberto Barroso, e, par-ticipando do Seminário de Verão 2017, na Faculdade de Direito da Uni-versidade de Coimbra, em Portugal, o Ministro Ricardo Lewandowski.Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 30.6.2017.

E M E N TA : AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDA-DE. LEI N. 3.469/2007 DE MATO GROSSO DO SUL. REGRASPARA A FISCALIZAÇÃO E IMPOSIÇÃO DE NOTIFICAÇÕES PORAGENTES PÚBLICOS. COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO PA-RA LEGISLAR SOBRE TRÂNSITO. EXIGÊNCIA DE REQUISITOSINEXISTENTES NA LEGISLAÇÃO NACIONAL. AUSÊNCIA DA LEICOMPLEMENTAR PREVISTA NO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART.22 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AÇÃO JULGADA PRO-CEDENTE PARA DECLARAR A INCONSTITUCIONALIDADE DALEI N. 3.469/2007 DE MATO GROSSO DO SUL.

Secretaria JudiciáriaPATRÍCIA PEREIRA DE MOURA MARTINS

Secretária

Atos do Poder Legislativo

LEI No- 13.491, DE 13 DE OUTUBRO DE 2017

Altera o Decreto-Lei no 1.001, de 21 deoutubro de 1969 - Código Penal Militar.

O P R E S I D E N T E D A R E P Ú B L I C AFaço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono

a seguinte Lei:

Art. 1o O art. 9o do Decreto-Lei no 1.001, de 21 de outubrode 1969 - Código Penal Militar, passa a vigorar com as seguintesalterações:

"Art. 9o ..............................................................................................................................................................................................

II - os crimes previstos neste Código e os previstos nalegislação penal, quando praticados:..........................................................................................................

§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolososcontra a vida e cometidos por militares contra civil, serão dacompetência do Tribunal do Júri.

§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolososcontra a vida e cometidos por militares das Forças Armadascontra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, sepraticados no contexto:

I - do cumprimento de atribuições que lhes forem esta-belecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Es-tado da Defesa;

II - de ação que envolva a segurança de instituição militar oude missão militar, mesmo que não beligerante; ou

III - de atividade de natureza militar, de operação de paz, degarantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadasem conformidade com o disposto no art. 142 da ConstituiçãoFederal e na forma dos seguintes diplomas legais:

a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - CódigoBrasileiro de Aeronáutica;

b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;

PÁGINA

Atos do Poder Judiciário ..................................................................... 1Atos do Poder Legislativo ................................................................... 1Atos do Poder Executivo..................................................................... 2Presidência da República ..................................................................... 5Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações ....... 6Ministério da Cultura ......................................................................... 12Ministério da Defesa.......................................................................... 15Ministério da Educação ..................................................................... 15Ministério da Fazenda........................................................................ 19Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços ................... 25Ministério da Justiça e Segurança Pública ....................................... 28Ministério da Saúde ........................................................................... 32Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União......... 72Ministério das Cidades....................................................................... 72Ministério de Minas e Energia.......................................................... 72Ministério do Desenvolvimento Social ............................................. 81Ministério do Esporte......................................................................... 82Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão ................ 82Ministério do Trabalho ...................................................................... 82Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil ........................ 83Ministério Público da União ............................................................. 87Tribunal de Contas da União ............................................................ 87Poder Legislativo................................................................................ 89Poder Judiciário.................................................................................. 90Entidades de Fiscalização do Exercício das Profissões Liberais .... 91

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2 ISSN 1677-7042 1 Nº 198, segunda-feira, 16 de outubro de 2017

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c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Códigode Processo Penal Militar; e

d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral." (NR)

Art. 2o ( V E TA D O ) .

Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 13 de outubro de 2017; 196o da Independência e129o da República.

MICHEL TEMERRaul Jungmann

Atos do Poder Executivo

DECRETO No- 9.168, DE 13 DE OUTUBRO DE 2017

Promulga o Acordo sobre Serviços Aéreosentre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República de Mo-çambique, firmado em Brasília, em 17 dejunho de 2010.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuiçãoque lhe confere o art. 84, caput, inciso IV, da Constituição, e

Considerando que o Acordo sobre Serviços Aéreos entre oGoverno da República Federativa do Brasil e o Governo da Repúblicade Moçambique foi firmado em Brasília, em 17 de junho de 2010;

Considerando que o Congresso Nacional aprovou o Acordopor meio do Decreto Legislativo nº 199, de 18 de setembro de 2015; e

Considerando que o Acordo entrou em vigor para a Re-pública Federativa do Brasil, no plano jurídico externo, em 11 de abrilde 2016, nos termos do parágrafo 1º de seu Artigo 27;

D E C R E T A :

Art. 1º Fica promulgado o Acordo sobre Serviços Aéreosentre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo daRepública de Moçambique, firmado em Brasília, em 17 de junho de2010, anexo a este Decreto.

Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional atosque possam resultar em revisão do Acordo e ajustes complementares,que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônionacional, nos termos do inciso I do caput do art. 49 da Consti-tuição.

Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua pu-blicação.

Brasília, 13 de outubro de 2017; 196º da Independência e129º da República.

MICHEL TEMERAloysio Nunes Ferreira FilhoMauricio Quintella

ACORDO SOBRE SERVIÇOS AÉREOS ENTRE OGOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

E O GOVERNO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

O Governo da República Federativa do BrasileO Governo da República de Moçambique(doravante denominados "Partes"),

Sendo as Partes signatárias da Convenção sobre Aviação Ci-vil Internacional, aberta à assinatura em Chicago no dia 7 de de-zembro de 1944;

Reconhecendo a importância do transporte aéreo como ummeio de criação e fortalecimento das relações de amizade, enten-dimento e cooperação entre os povos dos dois Países;

Desejando contribuir para o desenvolvimento da aviação civilinternacional;

Desejando concluir um acordo com o propósito de estabe-lecer e explorar serviços aéreos entre e além dos seus respectivosterritórios;

Acordam o seguinte:

Artigo 1Definições

Para aplicação do presente Acordo, salvo disposições emcontrário, o termo:

a) "autoridade aeronáutica" significa, no caso da RepúblicaFederativa do Brasil, a Autoridade da Aviação Civil, constituída pelaAgência Nacional de Aviação Civil e no caso da República de Mo-çambique, a Autoridade da Aviação Civil designada por Instituto deAviação Civil de Moçambique, ou em ambos os casos qualquer outraautoridade ou pessoa autorizada a executar as funções exercidas pelasautoridades acima mencionadas;

b) "Acordo" significa o presente Acordo, o respectivo Anexoe quaisquer emendas ao Anexo desde que adotados em conformidadecom as disposições do artigo 21° do presente Acordo;

c) "capacidade" significa a quantidade de serviços estabe-lecidos pelo Acordo, medida normalmente pelo número de voos (fre-quências) ou de assentos, ou toneladas de carga oferecidas em ummercado (par de cidades ou país a país) ou em uma rota, durante umdeterminado período;

d) "Convenção" significa a Convenção sobre Aviação CivilInternacional, aberta para assinatura em Chicago no dia 7 de Dezem-bro de 1944, e inclui qualquer Anexo adotado de acordo com o Artigo90 daquela Convenção e qualquer emenda aos Anexos ou à Con-venção, de acordo com os Artigos 90 e 94, na medida em que essesAnexos e emendas tenham entrado em vigor para ambas as Partes;

e) "empresa aérea designada" significa uma empresa aéreaque tenha sido designada e autorizada em conformidade com o Artigo3 (Designação e Autorização) do presente Acordo;

f) "preço" significa os preços e encargos que deverão serpagos pelo transporte aéreo de passageiros, bagagem e carga e ascondições segundo as quais se aplicam estes preços, incluindo preçose condições para agentes e outros serviços auxiliares, mas excluindo aremuneração e condições para o transporte de mala postal;

g) "território" em relação a um Estado tem o significado a eleatribuído no Artigo 2 da Convenção;

h) "tarifa aeronáutica" significa o valor cobrado às empresasaéreas, pelas autoridades competentes, ou por estas autorizado a sercobrado, pelo uso do aeroporto, ou de suas instalações e serviços, oude instalações de navegação aérea, ou de instalações de segurança daaviação, incluindo as instalações e os serviços relacionados, por ae-ronaves, suas tripulações, passageiros e carga; e

i) "serviço aéreo", "serviço aéreo internacional", "empresaaérea" e "escala para fins não comerciais", têm os significados a elesatribuídos no Artigo 96 da Convenção.

Artigo 2Concessão de Direitos

1. Cada Parte concede à outra Parte os direitos especificadosneste Acordo, com a finalidade de operar serviços aéreos interna-cionais nas rotas especificadas no Quadro de Rotas.

2. Sujeito às disposições deste Acordo, as empresas aéreasdesignadas por cada uma das Partes gozarão dos seguintes direitos:

a) sobrevoar o território da outra Parte sem pousar;

b) fazer escalas no território da outra Parte, para fins nãocomerciais;

c) fazer escalas nos pontos das rotas especificadas no Quadrode Rotas do presente Acordo para embarcar e desembarcar tráfegointernacional de passageiros, bagagem, carga ou mala postal sepa-radamente ou em combinação;

d) os demais direitos especificados no presente Acordo.

1. As empresas aéreas de cada Parte, outras que não as de-signadas com base no Artigo 3 (Designação e Autorização) desteAcordo também gozarão dos direitos especificados nas letras a) e b)do parágrafo 2 deste Artigo.

2. Nenhum dispositivo do parágrafo 2 será considerado comoconcessão a uma empresa aérea designada de uma Parte do direito deembarcar, no território da outra Parte, passageiros, bagagem, carga emala postal, mediante remuneração e destinados a outro ponto noterritório dessa outra Parte.

Artigo 3Designação e Autorização

1. Cada Parte terá o direito de designar por escrito à outraParte, através dos canais diplomáticos, uma ou mais empresas aéreaspara operar os serviços acordados e de revogar ou alterar tal de-signação.

2. Ao receber tal designação e o pedido de autorização deoperação da empresa aérea designada, na forma e no modo prescritos,cada Parte concederá a autorização de operação apropriada com amínima demora de trâmites, desde que:

a) a empresa aérea seja estabelecida no território da Parte quea designa;

b) o efetivo controle regulatório da empresa aérea designadaseja exercido e mantido pela Parte que a designa;

c) a Parte que designa a empresa aérea cumpra as disposiçõesestabelecidas no Artigo 7 (Segurança Operacional) e no Artigo 8(Segurança da Aviação); e

d) a empresa aérea designada esteja qualificada para satis-fazer outras condições determinadas segundo as leis e os regula-mentos normalmente aplicados à operação de serviços de transporteaéreo internacional pela Parte que recebe a designação.

3. Ao receber a autorização de operação constante do pa-rágrafo 2, uma empresa aérea designada pode, a qualquer tempo,começar a operar os serviços acordados para os quais tenha sidodesignada, desde que ela cumpra as disposições aplicáveis do presenteAcordo.

Artigo 4Negação, Revogação e Limitação de Autorização

1. As autoridades aeronáuticas de cada Parte terão o direitode negar as autorizações mencionadas no Artigo 3 (Designação eAutorização) deste Acordo à empresa aérea designada pela outra Partee de revogar, suspender ou impor condições a tais autorizações, tem-porária ou permanentemente, nos casos em que:

a) elas não estejam convencidas de que a empresa aérea sejaestabelecida no território da Parte que a designou; ou

b) o efetivo controle regulatório da empresa aérea designadanão seja exercido e mantido pela Parte que a designa; ou

c) a empresa aérea designada não esteja qualificada parasatisfazer outras condições determinadas segundo as leis e regula-mentos normalmente aplicados à operação de serviços de transporteaéreo internacional pela Parte que recebe a designação; ou

d) a Parte que designa a empresa aérea não cumpra as dis-posições estabelecidas no Artigo 7 (Segurança Operacional) e no Ar-tigo 8 (Segurança da Aviação).

2. A menos que a imediata revogação, suspensão ou imposiçãodas condições previstas no parágrafo 1 do presente Artigo seja es-sencial para impedir novas infrações a leis e regulamentos, ou às dis-posições deste Acordo, esse direito somente será exercido após a rea-lização de reunião de consulta com a outra Parte. Tal consulta deveráocorrer antes de expirar o prazo de trinta (30) dias a partir da data dasolicitação por uma Parte, salvo entendimento diverso entre as Partes.

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Nº 198, segunda-feira, 16 de outubro de 2017 5ISSN 1677-70421

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Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001, que institui aInfraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil.

MINISTÉRIO DA DEFESADECRETO DE 13 DE OUTUBRO DE 2017

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuiçãoque lhe confere o art. 84, caput, inciso XXI, da Constituição, e tendoem vista o disposto nos art. 12 e art. 29 do Regulamento da Ordem doMérito Naval, aprovado pelo Decreto nº 3.400, de 3 de abril de 2000,e na qualidade de Grão-Mestre da Ordem do Mérito Naval, resolve

ADMITIR,

no Quadro Suplementar da Ordem do Mérito Naval, no grau deGrande Oficial, o Almirante YAMIL OCTAVIO BORDA SOSA, Co-mandante-Geral da Armada Boliviana.

Brasília, 13 de outubro de 2017; 196º da Independência e129º da República.

MICHEL TEMERRaul Jungmann

Presidência da República

DESPACHOS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICAMENSAGEM

No- 402, de 13 de outubro de 2017.

Senhor Presidente do Senado Federal,

Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do § 1o do art.66 da Constituição, decidi vetar parcialmente, por contrariedade aointeresse público, o Projeto de Lei no 44, de 2016 (no 5.768/16 naCâmara dos Deputados), que "Altera o Decreto-Lei no 1.001, de 21 deoutubro de 1969 - Código Penal Militar".

Ouvido, o Ministério da Defesa manifestou-se pelo veto aoseguinte dispositivo:

"Art. 2o Esta Lei terá vigência até o dia 31 de dezembro de2016 e, ao final da vigência desta Lei, retornará a ter eficácia alegislação anterior por ela modificada."

Razões do veto

"As hipóteses que justificam a competência da Justiça Mi-litar da União, incluídas as estabelecidas pelo projeto sob sanção,não devem ser de caráter transitório, sob pena de comprometer asegurança jurídica. Ademais, o emprego recorrente das ForçasArmadas como último recurso estatal em ações de segurançapública justifica a existência de uma norma permanente a regulara questão. Por fim, não se configura adequado estabelecer-secompetência de tribunal com limitação temporal, sob pena de sepoder interpretar a medida como o estabelecimento de um tri-bunal de exceção, vedado pelo artigo 5o, inciso XXXVII daConstituição".

Essas, Senhor Presidente, as razões que me levaram a vetaro dispositivo acima mencionado do projeto em causa, as quais orasubmeto à elevada apreciação dos Senhores Membros do CongressoNacional.

No- 403, de 13 de outubro de 2017. Encaminhamento ao CongressoNacional do ato constante do Decreto de 11 outubro de 2017, pu-blicado no Diário Oficial da União do dia 13 de outubro de 2017, que"Outorga concessão à Eldorado Sistema de Televisão Ltda. para exe-cutar, sem direito de exclusividade, serviço de radiodifusão de sons eimagens, no Município de Pindamonhangaba, Estado de São Paulo".

CASA CIVILINSTITUTO NACIONAL DE TECNOLOGIA

DA INFORMAÇÃODESPACHOS DO DIRETOR-PRESIDENTE

Entidade: AR FECOMERCIO ROProcesso Nº: 99990.000594/2017-67

No termo do Parecer n° 323/2017 CGAF/DAFN e DespachoDecisório n° 281, DEFIRO o pedido de credenciamento da AR FE-COMERCIO RO, vinculada à AC CERTISIGN MÚLTIPLA e ACCERTISIGN RFB, na cadeia da AC CERTISIGN e AC RFB, res-pectivamente, com instalação técnica localizada na Avenida CarlosGomes, nº 382 - Caiari - Porto Velho/RO, para as Políticas de Cer-tificados já credenciadas.

Entidade: AR FOCUS CERTIFICADOSProcesso no: 99990.000887/2017-44

Acolhe-se o parecer n° 421/2017/CGAF/DAFN e DespachoDecisório n° 286 que opina pelo deferimento do pedido de des-credenciamento da AR FOCUS CERTIFICADOS vinculada à ACSERASA CD, localizada na Alameda Santos 1000, 10° Andar, Sala 2,Cerqueira César, São Paulo-SP.

Entidade: AR LIDERSISProcesso Nº: 99990.000426/2017-71

No termo do Parecer n° 316/2017 CGAF/DAFN e DespachoDecisório n° 287,DEFIRO o pedido de credenciamento da AR LI-DERSIS vinculada à AC SERPRO ACF e AC SERPRO RFB, nacadeia da AC SERPRO e AC RFB, com instalação técnica localizadana Rua QS 03, Lotes 3/9, s/n, sala 1309, Edifício Pátio Capital, ÁguasClaras, Brasília/DF, para as Políticas de Certificados já credenciadas.

Entidade: AR PRIMECERT CERTIFICADOS DIGITAISProcesso Nº: 99990.000629/2017-68

No termo do Parecer n° 437/2017 CGAF/DAFN e DespachoDecisório n° 288, DEFIRO o pedido de credenciamento da AR PRI-MECERT CERTIFICADOS DIGITAIS vinculada à AC SERPROACF e AC SERPRO RFB, na cadeia da AC SERPRO e AC RFB,com instalação técnica localizada na Rua dos Guajajaras, no 715, Sala602, Pavimento 6 - Lourdes - Belo Horizonte/MG, para as Políticasde Certificados já credenciadas.

GASTÃO JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS

S E C R E TA R I A - G E R A LSECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO

INSTRUÇÃO NORMATIVA No- 1, DE 13 DE OUTUBRO DE 2017

Estabelece critérios sobre conduta e dosime-tria na aplicação da penalidade de impedi-mento de licitar e contratar prevista no art.7º da Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002,no âmbito da Presidência da República.

O SECRETÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO DA SECRE-TARIA-GERAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, no uso daatribuição que lhe confere o inciso VII, do art. 7º, do Anexo V doDecreto nº 9.038, de 26 de abril de 2017, e

Considerando o teor das determinações 9.5.1 e 9.5.2 doAcórdão nº 754/2015-TCU-Plenário, expedido pelo Tribunal de Con-tas da União, as quais foram objeto de divulgação aos órgãos doSistema de Serviços Gerais - SISG no Portal de Compras do GovernoFederal;

Considerando a necessidade de instrução processual admi-nistrativa no âmbito da Presidência da República com adequaçãoentre meios e fins, com vedação a imposição de obrigações, restriçõese sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias aoatendimento do interesse público, resolve:

Art. 1º Estabelecer procedimentos para a definição da do-simetria na aplicação da penalidade de impedimento de licitar e con-tratar prevista no art. 7º da Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002, noâmbito da Presidência da República.

Art. 2º Nas licitações na modalidade pregão realizadas noâmbito da Presidência da República é obrigatória a instauração deprocedimento administrativo para a aplicação das respectivas sanções,quando da ocorrência das condutas a seguir relacionadas:

I - não assinar o contrato/ata de registro de preços ou nãoaceitar/retirar o instrumento equivalente, quando convocado dentro doprazo de validade de sua proposta:

Pena - impedimento do direito de licitar e contratar com aUnião e descredenciamento do Sistema de Cadastramento Unificadode Fornecedores - SICAF pelo período de 4 (quatro) meses;

II - deixar de entregar documentação exigida para o cer-tame:

Pena - impedimento do direito de licitar e contratar com aUnião e descredenciamento do SICAF pelo período de 2 (dois) meses;

III - fizer declaração falsa ou apresentar documentação falsa:

Pena - impedimento do direito de licitar e contratar com aUnião e descredenciamento do SICAF pelo período de 24 (vinte equatro) meses;

IV - ensejar o retardamento da execução do objeto:

Pena - impedimento do direito de licitar e contratar com aUnião e descredenciamento do SICAF pelo período de 4 (quatro)meses;

V - não manter a proposta:

Pena - impedimento do direito de licitar e contratar com aUnião e descredenciamento do SICAF pelo período de 4 (quatro)meses;

VI - falhar na execução do contrato:

Pena - impedimento do direito de licitar e contratar com a Uniãoe descredenciamento do SICAF pelo período de 12 (doze) meses;

VII - fraudar na execução do contrato:

Pena - impedimento do direito de licitar e contratar com aUnião e descredenciamento do SICAF pelo período de 30 (trinta)meses;

VIII - comportar-se de modo inidôneo:

Pena - impedimento do direito de licitar e contratar com aUnião e descredenciamento do SICAF pelo período de 24 (vinte equatro) meses; e

IX - cometer fraude fiscal:

Pena - impedimento do direito de licitar e contratar com aUnião e descredenciamento do SICAF pelo período de 40 (quarenta)meses;

Parágrafo único. Para os fins desta Instrução Normativa,considera-se:

I - retardar a execução do objeto qualquer ação ou omissãodo licitante que prejudique o bom andamento da licitação, inclusivedeixar de entregar a amostra no prazo assinalado no edital, queevidencie tentativa de indução a erro no julgamento, ou que atrase aassinatura do contrato ou da ata de registro de preços;

II - não manter a proposta a ausência de seu envio, bemcomo a recusa do envio de seu detalhamento, quando exigível, ouainda o pedido, pelo licitante, da desclassificação de sua proposta,quando encerrada a etapa competitiva, desde que não esteja fun-damentada na demonstração de vício ou falha na sua elaboração, queevidencie a impossibilidade de seu cumprimento;

III - falhar na execução contratual o inadimplemento graveou inescusável de obrigação assumida pelo contratado;

IV - fraudar na execução contratual a prática de qualquer atodestinado à obtenção de vantagem ilícita, induzindo ou mantendo emerro a Administração Pública; e

V - comportar-se de modo inidôneo a prática de atos di-recionados a prejudicar o bom andamento do certame ou do contrato,tais como a fraude ou frustração do caráter competitivo do pro-cedimento licitatório, ação em conluio ou em desconformidade com alei, indução deliberada a erro no julgamento, prestação falsa de in-formações, apresentação de documentação com informações inve-rídicas, ou que contenha emenda ou rasura, destinados a prejudicar averacidade de seu teor original.

Art. 3º As sanções previstas nos incisos I a IX do art. 2ºpoderão ser majoradas em 50% (cinquenta por cento), para cadaagravante, até o limite de 60 (sessenta) meses, em decorrência doseguinte:.

I - quando restar comprovado que o licitante ou contratadotenha registro no Sistema de Cadastramento Unificado de Forne-cedores - SICAF de penalidade aplicada no âmbito da Presidência daRepública, em decorrência da prática de qualquer das condutas ti-pificadas na presente norma, nos 12 (doze) meses que antecederam ofato em decorrência do qual será aplicada a penalidade;

II - quando restar comprovado que o licitante tenha sidodesclassificado ou inabilitado por não atender às condições do edital,quando for notória a sua impossibilidade de atendimento ao esta-belecido;

III - quando o licitante, deliberadamente, não responder àsdiligências destinadas a esclarecer ou a complementar a instrução doprocesso licitatório; ou

IV - quando restar comprovado que o licitante tenha prestadodeclaração falsa de que é beneficiário do tratamento diferenciadoconcedido em legislação específica.

Art. 4º As penas previstas nos incisos I, II, IV e V do art. 2ºpoderão ser reduzidas em 50% (cinquenta por cento), uma única vez,após a incidência do previsto no art. 3º, quando não tenha havidonenhum dano à Administração, em decorrência de qualquer das se-guintes atenuantes:

I - a conduta praticada tenha sido, desde que devidamentecomprovada, decorrente de falha escusável do licitante ou contratado;

II - a conduta praticada seja decorrente da apresentação dedocumentação que contenha vícios ou omissões para os quais nãotenha contribuído, ou que não sejam de fácil identificação, desde quedevidamente comprovado; ou

III - a conduta praticada seja decorrente da apresentação dedocumentação que não atendeu às exigências do edital, desde que resteevidenciado equívoco em seu encaminhamento e a ausência de dolo.

Art. 5º A penalidade a que se refere o inciso II do art. 2º seráafastada quando a entrega da documentação ocorrer fora dos prazosestabelecidos, desde que não tenha acarretado prejuízos à Admi-nistração, observando-se ainda, cumulativamente, que:

I - a documentação entregue esteja correta e adequada ao quefora solicitado;

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Coordenação de Comissões Permanentes - DECOM - P_5369

CONFERE COM O ORIGINAL AUTENTICADO

CÂMARA DOS DEPUTADOS

PROJETO DE LEI N.º 5.768, DE 2016 (Do Sr. Esperidião Amin)

Altera o Decreto-lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969, Código Penal Militar.

DESPACHO: ÀS COMISSÕES DE: RELAÇÕES EXTERIORES E DE DEFESA NACIONAL E CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA (MÉRITO E ART. 54, RICD)

APRECIAÇÃO: Proposição Sujeita à Apreciação do Plenário

PUBLICAÇÃO INICIAL Art. 137, caput - RICD

1

*C0060484A*

C0

06

04

84

A

Page 81: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · por ocasião dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos mundiais ocorridos no Estado do Rio de Janeiro, no ano de 2016. De acordo com

2

Coordenação de Comissões Permanentes - DECOM - P_5369

CONFERE COM O ORIGINAL AUTENTICADO

PL 5768/2016

“Art. 1º O art. 9º do Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969, Código Penal ‘Militar,

passa a vigorar com a seguinte redação:

'Art. 9º ........................................................................

....................................................................................

II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados:

....................................................................................

§ 1º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares

contra civil, serão da competência da justiça comum.

§ 2º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares

das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se

praticados no contexto:

I – do cumprimento de atribuições que lhe forem estabelecidas pelo Presidente da República

ou pelo Ministro de Estado da Defesa;

II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que

não beligerante; ou

III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de

atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no Art. 142 da

Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais:

a) Código Brasileiro de Aeronáutica;

b) Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999;

c) Código de Processo Penal Militar; e

d) Código Eleitoral.' (NR)."

JUSTIFICAÇÃO

A presente modificação, de imediato, suprime a especificação referente a

militares dos estados, Distrito Federal e territórios, contidas no § 1º, pois a permanecer tal

redação haverá uma lacuna legislativa, diante da ausência de definição da jurisdição

competente para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida cometidos por militares das

Forças Armadas, no exercício de suas atividades rotineiras, haja vista que o § 2º cuida

somente dos crimes cometidos por militares das Forças Armadas no exercício das atividades

nele especificadas.

Ainda no § 1º verifica-se que na redação original não há menção à expressão

contra civil. No entanto, caso não seja procedida a inclusão da expressão contra civil, até

mesmo nos casos de crimes dolosos contra a vida de militares, o julgamento passará a ser da

justiça comum.

Com a modificação efetuada no inciso I do § 2º, que compreende o

acréscimo da figura do Presidente da República, busca-se ampliar a guarida a ser conferida

aos militares que estejam sendo empregados em atividades excepcionais, pois, não raro, o

Presidente da República, na condição de Chefe Supremo das Forças Armadas, valendo-se da

competência que lhe é atribuída, determina o emprego das Forças Armadas em missões

atípicas que não se encontram compreendidas dentre as já especificadas.

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3

Coordenação de Comissões Permanentes - DECOM - P_5369

CONFERE COM O ORIGINAL AUTENTICADO

PL 5768/2016

Quanto à alteração a ser procedida no inciso III do § 2º almeja-se consignar,

de forma expressa, a competência da Justiça Militar da União no processamento e julgamento

de militares que, no contexto de atuação em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO),

venham a praticar crimes dolosos contra a vida de civil.

Embora a atual redação faça menção à Lei Complementar nº 97, de 1999, e

tal lei venha a tratar justamente da atuação do militar na faixa de fronteira e em operações de

garantia, da lei e da ordem, não há alusão expressa à atuação do militar em ações de GLO,

somente sendo mencionada a atuação do militar em ação militar, operações de paz e ação

subsidiária, que podem não compreender a atuação do militar em GLO, pois não há consenso,

no âmbito jurídico, acerca da natureza dessas ações. Assim, não havendo expressa alusão a

atuação dos militares no contexto de operações de GLO, e não havendo um consenso acerca

da natureza dessas ações, corre-se o risco de não ser-lhes assegurada a proteção e a segurança

jurídica que o diploma legal busca conferir .

Cumpre ressaltar que as Forças Armadas encontram-se, cada vez mais,

presentes no cenário nacional atuando junto à sociedade, sobretudo em operações de garantia

da lei e da ordem. Acerca de tal papel, vale citar algumas atuações mais recentes, tais como, a

ocorrida na ocasião da greve da Polícia Militar da Bahia, na qual os militares das Forças

Armadas fizeram o papel da polícia militar daquele Estado; a ocupação do Morro do Alemão,

no Estado do Rio de Janeiro, em que as Forças Armadas se fizeram presentes por longos

meses; e, por fim, a atuação no Complexo da Maré, que teve início em abril de 2014.

Dessa forma, estando cada vez mais recorrente a atuação do militar em tais

operações, nas quais, inclusive, ele se encontra mais exposto à prática da conduta delituosa

em questão, nada mais correto do que buscar-se deixar de forma clarividente o seu amparo no

projeto de lei.

Por fim, sugere-se substituir a expressão ação militar por atividade de

natureza militar, por ser mais usual.

Sala das Sessões, em 06 de julho de 2016.

Deputado ESPERIDIÃO AMIN

PP/SC

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LEGISLAÇÃO CITADA ANEXADA PELA Coordenação de Organização da Informação Legislativa - CELEG

Serviço de Tratamento da Informação Legislativa - SETIL Seção de Legislação Citada - SELEC

CONSTITUIÇÃO

DA

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

1988

PREÂMBULO

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional

Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos

direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a

igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem

preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional,

com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte

Constituição da República Federativa do Brasil.

.......................................................................................................................................................

TÍTULO V

DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS

.......................................................................................................................................................

CAPÍTULO II

DAS FORÇAS ARMADAS

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela

Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na

hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-

se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer

destes, da lei e da ordem.

§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na

organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas.

§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares.

§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-

lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (Parágrafo acrescido

pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)

I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, são

conferidas pelo Presidente da República e asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da

reserva ou reformados, sendo-lhes privativos os títulos e postos militares e, juntamente com

os demais membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas; (Inciso acrescido pela

Emenda Constitucional nº 18, de 1998)

II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil

permanente, ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", será transferido

para a reserva, nos termos da lei; (Inciso acrescido pela Emenda Constitucional nº 18, de

1998 e com redação dada pela Emenda Constitucional nº 77, de 2014)

III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego

ou função pública civil temporária, não eletiva, ainda que da administração indireta,

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ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", ficará agregado ao respectivo

quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser promovido por

antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela promoção e transferência

para a reserva, sendo depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a

reserva, nos termos da lei; (Inciso acrescido pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998 e

com redação dada pela Emenda Constitucional nº 77, de 2014)

IV – ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; (Inciso acrescido pela

Emenda Constitucional nº 18, de 1998)

V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos

políticos; (Inciso acrescido pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)

VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou

com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz,

ou de tribunal especial, em tempo de guerra; (Inciso acrescido pela Emenda Constitucional nº

18, de 1998)

VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de

liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao

julgamento previsto no inciso anterior; (Inciso acrescido pela Emenda Constitucional nº 18,

de 1998)

VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII,

XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem como, na forma da lei e com

prevalência da atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea "c"; (Inciso acrescido pela

Emenda Constitucional nº 18, de 1998 e com redação dada pela Emenda Constitucional nº

77, de 2014)

IX - (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 2003)

X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a

estabilidade e outras condições de transferência do militar para a inatividade, os direitos, os

deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos militares,

consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de

compromissos internacionais e de guerra. (Inciso acrescido pela Emenda Constitucional nº

18, de 1998)

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos

que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se

como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se

eximirem de atividades de caráter essencialmente militar.

§ 2º As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em

tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

DECRETO-LEI Nº 1.001, DE 21 DE OUTUBRO DE 1969

Código Penal Militar

Os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar, usando

das atribuições que lhes confere o art. 3º do Ato Institucional nº 16, de 14 de outubro de 1969,

combinado com o § 1° do art. 2°, do Ato Institucional n° 5, de 13 de dezembro de 1968,

decretam:

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PARTE GERAL

LIVRO ÚNICO

TÍTULO I

DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR

.......................................................................................................................................................

Crimes militares em tempo de paz

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei

penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;

II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual

definição na lei penal comum, quando praticados:

a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma

situação ou assemelhado;

b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à

administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de

natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar

contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Alínea com redação dada pela Lei nº 9.299,

de 8/8/1996)

d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da

reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a

administração militar, ou a ordem administrativa militar;

f) (Revogada na Lei nº 9.299, de 8/8/1996)

III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra

as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I,

como os do inciso II, nos seguintes casos:

a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem

administrativa militar;

b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade

ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no

exercício de função inerente ao seu cargo;

c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,

observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;

d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em

função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação

da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele

fim, ou em obediência a determinação legal superior.

Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e

cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no

contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de

1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Parágrafo único acrescido pela Lei nº 9.299, de

7/8/1996, com redação dada pela Lei nº 12.432, de 29/6/2011)

Crimes militares em tempo de guerra

Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra:

I - os especialmente previstos neste Código para o tempo de guerra;

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II - os crimes militares previstos para o tempo de paz;

III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual

definição na lei penal comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o agente:

a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado;

b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a

eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a segurança

externa do País ou podem expô-la a perigo;

IV - os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos

neste Código, quando praticados em zona de efetivas operações militares ou em território

estrangeiro, militarmente ocupado.

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

LEI COMPLEMENTAR Nº 97, DE 9 DE JUNHO E 1999

Dispõe sobre as normas gerais para a

organização, o preparo e o emprego das Forças

Armadas.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA ,

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei

Complementar:

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Seção I

Da Destinação e Atribuições

Art. 1º As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela

Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na

hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República e destinam-se

à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes,

da lei e da ordem.

Parágrafo único. Sem comprometimento de sua destinação constitucional, cabe

também às Forças Armadas o cumprimento das atribuições subsidiárias explicitadas nesta Lei

Complementar.

Seção II

Do assessoramento ao Comandante Supremo

Art. 2º O Presidente da República, na condição de Comandante Supremo das

Forças Armadas, é assessorado:

I - no que concerne ao emprego de meios militares, pelo Conselho Militar de

Defesa; e

II - no que concerne aos demais assuntos pertinentes à área militar, pelo Ministro

de Estado da Defesa.

§ 1º O Conselho Militar de Defesa é composto pelos Comandantes da Marinha, do

Exército e da Aeronáutica e pelo Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas.

(Parágrafo com redação dada pela Lei Complementar nº 136, de 25/8/2010)

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§ 2º Na situação prevista no inciso I deste artigo, o Ministro de Estado da Defesa

integrará o Conselho Militar de Defesa na condição de seu Presidente.

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

FIM DO DOCUMENTO

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C â m a r a d o s D e p u t a d o s

PL 5.768/2016

Autor: Esperidião Amin

Data da Apresentação:

06/07/2016

Ementa: Altera o Decreto-lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969, Código Penal Militar.

Forma de Apreciação:

Proposição Sujeita à Apreciação do Plenário

Texto Despacho:

Às Comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional e Constituição e Justiça e de Cidadania (Mérito e Art. 54, RICD) Proposição Sujeita à Apreciação do Plenário Regime de Tramitação: Ordinária

Regime de tramitação:

Ordinária

Em 06/07/2016

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C Â M A R A D O S D E P U T A D O S

REDAÇÃO FINAL

PROJETO DE LEI Nº 5.768-A DE 2016 Altera o Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969 - Código Penal Militar.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Art. 1º O art. 9º do Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de

outubro de 1969 - Código Penal Militar, passa a vigorar com

as seguintes alterações:

“Art. 9º ................................

...................................................

II – os crimes previstos neste Código e

os previstos na legislação penal, quando

praticados:

...................................................

§ 1º Os crimes de que trata este artigo,

quando dolosos contra a vida e cometidos por

militares contra civil, serão da competência do

Tribunal do Júri.

§ 2º Os crimes de que trata este artigo,

quando dolosos contra a vida e cometidos por

militares das Forças Armadas contra civil, serão da

competência da Justiça Militar da União, se

praticados no contexto:

I – do cumprimento de atribuições que

lhes forem estabelecidas pelo Presidente da

República ou pelo Ministro de Estado da Defesa;

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C Â M A R A D O S D E P U T A D O S

II – de ação que envolva a segurança de

instituição militar ou de missão militar, mesmo que

não beligerante; ou

III – de atividade de natureza militar,

de operação de paz, de garantia da lei e da ordem

ou de atribuição subsidiária, realizadas em

conformidade com o disposto no art. 142 da

Constituição Federal e na forma dos seguintes

diplomas legais:

a) Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de

1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica;

b) Lei Complementar nº 97, de 9 de junho

de 1999;

c) Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de outubro

de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e

d) Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 -

Código Eleitoral.”(NR)

Art. 2º Esta Lei terá vigência até o dia 31 de

dezembro de 2016 e, ao final da vigência desta Lei, retornará

a ter eficácia a legislação anterior por ela modificada.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua

publicação.

Sala das Sessões, em 6 de julho de 2016.

Deputado JULIO LOPES

Relator

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