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Fundamentos de FILOSOFIA GILBERTO COTRIM MIRNA FERNANDES COMPONENTE CURRICULAR FILOSOFIA VOLUME ÚNICO ENSINO MÉDIO MANUAL DO PROFESSOR 42392L2928

Fundamentos Da Filosofia

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filosofia

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  • Fundamentos deFILOSOFIA

    GILBERTO COTRIMMIRNA FERNANDES

    COMPONENTE CURRICULAR

    FILOSOFIA

    VOLUME NICOENSINO MDIO

    MANUAL DO PROFESSOR

    Fundamentos

    deFILO

    SOFIA

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    Filoso

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    42392L2928

    VOLU

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    NICO

    FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA - capa prof.indd 1 19/06/14 14:23

  • Fundamentos deFILOSOFIA

    MANUAL DO PROFESSOR

    2 edio 2013So Paulo

    Gilberto CotrimBacharel e licenciado em Histria pela Universidade de So PauloMestre em Educao, Arte e Histria da Cultura pela Universidade MackenzieProfessor de Histria na rede particular de ensinoAdvogado

    Mirna FernandesBacharel em Filosofia pela Universidade de So PauloAssessora pedaggica

    Componente CurriCular

    FILOSOFIA

    Volume niCoenSino mDio

    FILOVU-001-009-iniciais.indd 1 5/30/13 2:38 PM

  • Rua Henrique Schaumann, 270 Cerqueira Csar So Paulo/SP 05413-909Fone: (11) 3613 3000 Fax: (11) 3611 3308Televendas: (11) 3616 3666 Fax Vendas (11) 3611 3268

    Atendimento ao professor: (11) 3613 3030 Grande So Paulo 0800 0117875 Demais localidades [email protected]

    www.editorasaraiva.com.br

    Gerente editorial M. Esther Nejm

    Editor Glaucia Teixeira M. T.

    Coordenador de reviso Camila Christi Gazzani

    Revisores Maria da Graa Rego Barros, Maria Luiza Simes, Mariana Belli, Ricardo Miyake

    Assistente de produo editorial Rachel Lopes Corradini

    Coordenador de iconografia Cristina Akisino

    Pesquisa iconogrfica Cesar Atti, Mariana Valeiro

    Licenciamento de textos Erica Brambila

    Gerente de artes Ricardo Borges

    Produtor de artes Narjara Lara

    Supervisor de artes Fernando Jesus Claro

    Projeto grfico Alexandre de Paula

    Capa Narjara Lara com fotografia de Margaret Coxall/The Bridgeman Library/Grupo Keystone (Private Collection)

    Diagramao Aquarela Editorial

    Assistente de produo de artes Jacqueline Ortolan, Paula Regina Costa de Oliveira

    Tratamento de imagens Bernard Fuzetti, Emerson de Lima

    Impresso e acabamento

    O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra est sendo utilizado apenas para fins didticos, no representando qualquer tipo de recomendao de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

    Fundamentos de Filosofia Gilberto Cotrim, Mirna Fernandes, 2013

    Direitos desta edio:SARAIVA S.A. Livreiros Editores, So Paulo, 2013

    Todos os direitos reservados

    Impresso no Brasil 2013

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Cotrim, Gilberto Fundamentos de filosofia / Gilberto Cotrim, Mirna Fernandes. 2. ed. So Paulo : Saraiva, 2013.

    Suplementado por manual do professor.ISBN 978-85-02-19161-7 (aluno)ISBN 978-85-02-19162-4 (professor)

    1. Educao Filosofia I. Fernandes, Mirna. II. Ttulo.

    13-03419 CDD-370.1

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Educao : Filosofia 370.12. Filosofia da educao 370.1

    FILOVU-001-009-iniciais.indd 2 29/05/13 15:18

  • Esta obra constitui uma proposta de estudo da fi losofi a centrada em seus funda-mentos e baseada em uma exposio clara e concisa. Enriquecida com textos dos grandes fi lsofos, apresenta tambm uma variedade de imagens e atividades para apoiar o processo de ensino-aprendizagem.

    O contedo est organizado em quatro unidades, tendo como objetivo abordar as fi losofi as sob o enfoque temtico e histrico:

    Introduo ao fi losofar dedica-se a mostrar o que a experincia fi losfi ca e o fi losofar, como em um passo a passo, usando como referncia temas fundamen-tais da identidade fi losfi ca.

    Ns e o mundo concentra-se em alguns dos problemas basilares do pensa-mento fi losfi co e da prpria experincia humana, relacionados com a descoberta progressiva do mundo e de ns mesmos dentro desse mundo.

    A fi losofi a na histria oferece uma viso geral do pensamento fi losfi co ociden-tal desde a Antiguidade at a poca contempornea, procurando contextualizar historicamente as distintas fi losofi as e os debates que despertaram.

    Grandes reas do fi losofar trabalha reas temticas de estudo e pesquisa que ganharam especial ateno nas sociedades contemporneas e no mbito espec-fi co da fi losofi a.

    Entendemos que esta introduo aos estudos fi losfi cos deve ser trabalhada com fl exibilidade. Os contedos devem ser discutidos, questionados e ampliados, servindo como ponto de partida para outras refl exes e aprofundamentos constantes.

    Desse modo, esperamos que voc, estudante, cresa cada vez mais na conscincia de si mesmo e do mundo em que vive, como pessoa e como cidado.

    Os autores

    Gerente editorial M. Esther Nejm

    Editor Glaucia Teixeira M. T.

    Coordenador de reviso Camila Christi Gazzani

    Revisores Maria da Graa Rego Barros, Maria Luiza Simes, Mariana Belli, Ricardo Miyake

    Assistente de produo editorial Rachel Lopes Corradini

    Coordenador de iconografi a Cristina Akisino

    Pesquisa iconogrfi ca Cesar Atti, Mariana Valeiro

    Licenciamento de textos Erica Brambila

    Gerente de artes Ricardo Borges

    Produtor de artes Narjara Lara

    Supervisor de artes Fernando Jesus Claro

    Projeto grfi co Alexandre de Paula

    Capa Narjara Lara com fotografi a de Margaret Coxall/The Bridgeman Library/Grupo Keystone (Private Collection)

    Diagramao Aquarela Editorial

    Assistente de produo de artes Jacqueline Ortolan, Paula Regina Costa de Oliveira

    Tratamento de imagens Bernard Fuzetti, Emerson de Lima

    Impresso e acabamento

    O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra est sendo utilizado apenas para fi ns didticos, no representando qualquer tipo de recomendao de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

    Fundamentos de Filosofi a Gilberto Cotrim, Mirna Fernandes, 2013

    Direitos desta edio:SARAIVA S.A. Livreiros Editores, So Paulo, 2013

    Todos os direitos reservados

    Apresentao

    Impresso no Brasil 2013

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Cotrim, Gilberto Fundamentos de fi losofi a / Gilberto Cotrim, Mirna Fernandes. 2. ed. So Paulo : Saraiva, 2013.

    Suplementado por manual do professor.ISBN 978-85-02-19161-7 (aluno)ISBN 978-85-02-19162-4 (professor)

    1. Educao Filosofi a I. Fernandes, Mirna. II. Ttulo.

    13-03419 CDD-370.1

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Educao : Filosofi a 370.12. Filosofi a da educao 370.1

    Recursos digitais

    Os smbolos a seguir estodistribudos ao longo deste livro.Eles indicam os recursos que voc poder acessar na verso digital da obra.

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    FILOVU-001-009-iniciais.indd 3 30/05/13 11:05

  • CAPtULO 1 A felicidade ............................ 12

    Felicidade O bem que todos desejam ......... 15Experincia filosfica ............................................ 15Felicidade e sabedoria .......................................... 16

    Anlise e entendimento .................................... 18Conversa filosfica ............................................ 18

    Como viver para ser feliz? O que disseram os sbios gregos .................... 19

    Fontes da felicidade .............................................. 19Plato: conhecimento e bondade .......................... 21Aristteles: vida terica e prtica ......................... 22Epicuro: o caminho do prazer ............................... 24Estoicos: amor ao destino ..................................... 25

    Anlise e entendimento .................................... 28Conversa filosfica ............................................ 28

    Como anda nossa felicidade? O que dizem as cincias .................................. 29

    Perspectiva histrica ............................................. 29Perspectiva de outras cincias ............................. 30Concluso .............................................................. 32

    Anlise e entendimento .................................... 33Conversa filosfica ............................................ 33De olho na universidade ................................... 34Sugestes de filmes .......................................... 34

    CAPtULO 2 A dvida ................................. 35

    Indagao O pensamento busca novos horizontes ............................................. 38

    A importncia de perguntar .................................. 38Atitude filosfica .................................................... 39Dvida filosfica .................................................... 41Regra da razo ...................................................... 42

    Anlise e entendimento .................................... 42Conversa filosfica ............................................ 42

    Dvida metdica O exerccio da dvida por Descartes .................................. 43

    Aprendendo a duvidar ........................................... 43Aprendendo a filosofar .......................................... 48

    Anlise e entendimento .................................... 49Conversa filosfica ............................................ 50De olho na universidade ................................... 50Sugestes de filmes .......................................... 50

    CAPtULO 3 O dilogo ............................... 51

    Caminhos do entendimento O poder da palavra ........................................................ 54

    A importncia da linguagem ................................. 54Conhecer e acreditar conhecer ............................. 55

    Anlise e entendimento .................................... 57Conversa filosfica ............................................ 57

    Mtodo dialgico Scrates e a arte de perguntar .................................................... 58

    Explicando o mtodo ............................................. 58Dois momentos do dilogo .................................... 60

    Anlise e entendimento .................................... 62Conversa filosfica ............................................ 63De olho na universidade ................................... 63Sugestes de filmes .......................................... 63

    CAPtULO 4 A conscincia ......................... 64

    Conscincia Perceber o que acontece ........ 67O que a conscincia? .......................................... 67Conscincia e identidade ...................................... 69Experincia privada ............................................... 70

    Anlise e entendimento .................................... 71Conversa filosfica ............................................ 71

    Consciente e inconsciente As contribuies da psicologia .................................................... 71

    Freud: inconsciente pessoal ................................. 71Jung: inconsciente coletivo ................................... 73

    Anlise e entendimento .................................... 75Conversa filosfica ............................................ 75

    Conscincia e cultura As interaes com o ambiente ............................................... 76

    Durkheim: conscincia coletiva ............................ 76Modos de conscincia ........................................... 77

    Anlise e entendimento .................................... 79Conversa filosfica ............................................ 79

    Conscincia e filosofia Do senso comum sabedoria ...................................................... 80

    Investigando o senso comum ................................ 80Desenvolvendo a conscincia crtica ..................... 81Buscando a sabedoria ........................................... 82Cincia e filosofia .................................................. 83

    Anlise e entendimento .................................... 84Conversa filosfica ............................................ 84De olho na universidade ................................... 85Sugestes de filmes .......................................... 85

    Sumrio

    UNIDADE 1 Introduo ao filosofar

    FILOVU-001-009-iniciais.indd 4 15/05/13 11:06

  • CAPtULO 5 O argumento .................................. 86

    Descobrindo os argumentos Primeiros passos ............................................................. 89

    A lgica no cotidiano ............................................. 90Raciocnios e argumentos ..................................... 90Premissas e concluso ......................................... 92Proposies e termos ........................................... 93

    Anlise e entendimento .................................... 94Conversa filosfica ............................................ 94

    Explorando os argumentos Contribuies da lgica aristotlica ....................................... 94

    Contedo e forma .................................................. 95Verdade e validade ................................................. 95Validade e correo ............................................... 97Explorando os termos ........................................... 97Proposies categricas ....................................... 98Princpios lgicos fundamentais ......................... 100Quadrado dos opostos ......................................... 101

    Anlise e entendimento .................................. 102Conversa filosfica .......................................... 102

    Argumentao As distintas formas de raciocinar ................................................. 102

    Deduo ............................................................... 103Induo ................................................................ 104Doutrina do silogismo ......................................... 105Falcias ................................................................ 107

    Anlise e entendimento .................................. 109Conversa filosfica .......................................... 110De olho na universidade ................................. 110Sugestes de filmes ........................................ 110

    Esquema Histria da filosofia ..........................111Quadro sintico Grandes reas do filosofar .... 112

    CAPtULO 6 O mundo ...................................... 116

    Metafsica A busca da realidade essencial 117O que o ser ........................................................ 117Problemas da realidade ...................................... 118

    Anlise e entendimento .................................. 121Conversa filosfica .......................................... 121

    Do mito cincia Vises de mundo atravs da histria ......................................... 122

    Primeiras cosmologias ....................................... 123Metafsicas gregas clssicas............................... 123

    Dissoluo do cosmos ......................................... 125Anlise e entendimento .................................. 127Conversa filosfica .......................................... 127

    Metafsicas da modernidade O debate entre materialistas e idealistas .................... 128

    Dualismo cartesiano ........................................... 129Materialismo mecanicista ................................... 130Idealismo absoluto .............................................. 131

    Anlise e entendimento .................................. 133Conversa filosfica .......................................... 133

    Tendncias contemporneas Como se concebe o mundo hoje em dia ....................... 134

    Reducionismo materialista ................................. 134Enfoques no reducionistas ................................ 135

    Anlise e entendimento .................................. 136Conversa filosfica .......................................... 137De olho na universidade ................................. 137Sugestes de filmes ........................................ 137Para pensar ..................................................... 138

    CAPtULO 7 O ser humano .............................. 139

    Natureza ou cultura? Um ser entre dois mundos .................................................. 140

    Humanos e outros animais ................................. 140Sntese humana ................................................... 142Ponto de transio .............................................. 143

    Anlise e entendimento .................................. 145Conversa filosfica .......................................... 145

    Cultura As respostas ao desafio da existncia .................................................. 146

    Caractersticas gerais ......................................... 147Cultura e cotidiano .............................................. 147Ideologia .............................................................. 149

    Anlise e entendimento .................................. 151Conversa filosfica .......................................... 151

    Antropologia filosfica Da concepo metafsica existencial ................................. 152

    Natureza essencial .............................................. 152Estado natural ..................................................... 153Realidade concreta e liberdade........................... 154

    Anlise e entendimento .................................. 155Conversa filosfica .......................................... 155De olho na universidade ................................. 155Sugestes de filmes ........................................ 156Para pensar ..................................................... 156

    CAPtULO 8 A linguagem ................................ 158

    Linguagem e comunicao A construo de sentidos e realidades ............................... 159

    UNIDADE 2 Ns e o mundo

    FILOVU-001-009-iniciais.indd 5 29/05/13 15:18

  • Linguagem na histria ........................................ 160Seres lingusticos ................................................ 163Linguagem como filtro ........................................ 164Linguagem como ao ........................................ 165

    Anlise e entendimento .................................. 166Conversa filosfica .......................................... 167

    Filosofia da linguagem Algumas concepes principais ....................................................... 167

    Origem das lnguas ............................................. 167Relao palavras e coisas ................................... 169Jogos de linguagem ............................................ 169Atos da fala .......................................................... 170Gramtica: adquirida ou inata? ........................... 170

    Anlise e entendimento .................................. 171Conversa filosfica .......................................... 171De olho na universidade ................................. 172Sugestes de filmes ........................................ 172Para pensar ..................................................... 172

    CAPtULO 9 O trabalho .................................... 174

    Trabalho Caractersticas e histria ........... 175Papis do trabalho .............................................. 175Trabalho na histria ............................................ 176

    Anlise e entendimento .................................. 178Conversa filosfica .......................................... 178

    Alienao A pessoa alheia a si mesma ..... 179Trabalho alienado ................................................ 179Consumo alienado ............................................... 181Lazer alienado ..................................................... 183

    Anlise e entendimento .................................. 184Conversa filosfica .......................................... 184

    Perspectivas Tempo livre ou desemprego? ... 184Sociedade do tempo livre .................................... 185Sociedade do desemprego .................................. 185

    Anlise e entendimento .................................. 186Conversa filosfica .......................................... 186De olho na universidade ................................. 186Sugestes de filmes ........................................ 186Para pensar ..................................................... 187

    CAPtULO 10 O conhecimento ......................... 189

    Gnosiologia A investigao sobre o conhecer ..................................................... 190

    Questes bsicas ................................................. 190Representacionismo ........................................... 191Relao sujeito-objeto ........................................ 191

    Anlise e entendimento .................................. 192Conversa filosfica .......................................... 192

    Fontes primeiras Razo ou sensao? ..... 192Racionalismo ....................................................... 192Empirismo ........................................................... 192Apriorismo kantiano ............................................ 193

    Anlise e entendimento .................................. 194Conversa filosfica .......................................... 194

    Possibilidades O que podemos conhecer? 194Conceito de verdade ............................................ 194Dogmatismo ........................................................ 195Ceticismo ............................................................. 195Criticismo ............................................................ 196

    Anlise e entendimento .................................. 197Conversa filosfica .......................................... 197De olho na universidade ................................. 197Sugestes de filmes ........................................ 197Para pensar ..................................................... 198

    CAPtULO 11 Pensamento pr-socrtico ........ 202

    Plis e filosofia A passagem do mito ao logos .......................................................... 203

    Mitologia grega .................................................... 203Plis e razo ........................................................ 205

    Anlise e entendimento .................................. 205Conversa filosfica .......................................... 205

    Pr-socrticos Os primeiros filsofos gregos ........................................................... 206

    A busca da arch ................................................. 206Pensadores de Mileto .......................................... 206Pitgoras: os nmeros ........................................ 208Herclito: fogo e devir ......................................... 209Pensadores de Eleia ............................................ 210Empdocles: os quatro elementos ..................... 212Demcrito: o tomo ............................................. 212

    Anlise e entendimento .................................. 214Conversa filosfica .......................................... 214De olho na universidade ................................. 214Sugestes de filmes ........................................ 215Para pensar ..................................................... 215

    CAPtULO 12 Pensamentos clssico e helenstico ...................................................... 217

    Democracia ateniense O debate em praa pblica ................................................................ 218

    Sofistas: a retrica .............................................. 218

    UNIDADE 3 A filosofia na histria

    FILOVU-001-009-iniciais.indd 6 15/05/13 11:06

  • Scrates: a dialtica ............................................ 220Anlise e entendimento .................................. 222Conversa filosfica .......................................... 222

    Plato Alicerces da filosofia ocidental ...... 222Dualismo platnico .............................................. 222Processo de conhecimento ................................. 223Reis-filsofos....................................................... 224

    Anlise e entendimento .................................. 224Conversa filosfica .......................................... 225

    Aristteles Bases do pensamento lgico e cientfico ........................................... 225

    Da sensao ao conceito ..................................... 225Hilemorfismo teleolgico .................................... 226tica do meio-termo ............................................ 229

    Anlise e entendimento .................................. 229Conversa filosfica .......................................... 229

    Filosofias helenstica e greco-romana A busca da felicidade interior ........................ 230

    Do pblico ao privado .......................................... 230Epicurismo: o prazer ........................................... 230Estoicismo: o dever ............................................. 231Pirronismo: a suspenso do juzo ....................... 231Cinismo ................................................................ 231Pensamento greco-romano ................................ 232

    Anlise e entendimento .................................. 233Conversa filosfica .......................................... 233De olho na universidade ................................. 233Sugestes de filmes ........................................ 233Para pensar ..................................................... 234

    CAPtULO 13 Pensamento cristo .................. 236

    Perodo medieval Filosofia e cristianismo .... 237Cristianismo ........................................................ 237F versus razo .................................................... 238Filosofia medieval crist ..................................... 239

    Anlise e entendimento .................................. 239Conversa filosfica .......................................... 240

    Patrstica A matriz platnica de apoio f ... 240Santo Agostinho .................................................. 240

    Anlise e entendimento .................................. 242Conversa filosfica .......................................... 242

    Escolstica A matriz aristotlica at Deus ... 243Relao entre f e razo ..................................... 244Estudo da lgica .................................................. 244Questo dos universais ....................................... 244Santo Toms de Aquino ....................................... 245

    Anlise e entendimento .................................. 248

    Conversa filosfica .......................................... 248De olho na universidade ................................. 248Sugestes de filmes ........................................ 249Para pensar ..................................................... 249

    CAPtULO 14 Nova cincia e racionalismo ...... 251

    Idade Moderna A revalorizao do ser humano e da natureza ........................ 252

    Renascimento ...................................................... 253Anlise e entendimento .................................. 255Conversa filosfica .......................................... 256

    Razo e experincia As bases da cincia moderna ................................................................ 256

    Francis Bacon ...................................................... 258Galileu Galilei ...................................................... 259

    Anlise e entendimento .................................. 261Conversa filosfica .......................................... 261

    Grande racionalismo O conhecimento parte da razo ............................................... 261

    Ren Descartes ................................................... 261Baruch Espinosa ................................................. 263

    Anlise e entendimento .................................. 266Conversa filosfica .......................................... 266De olho na universidade ................................. 266Sugestes de filmes ........................................ 267Para pensar ..................................................... 267

    CAPtULO 15 Empirismo e Iluminismo ........... 269

    Empirismo britnico O conhecimento parte da experincia ...................................... 270

    Processo de conhecer ......................................... 270Thomas Hobbes ................................................... 271John Locke .......................................................... 272David Hume ......................................................... 273

    Anlise e entendimento .................................. 274Conversa filosfica .......................................... 274

    Iluminismo A razo em busca de liberdade . 275Caractersticas do Iluminismo ............................ 275Jean-Jacques Rousseau ..................................... 278Immanuel Kant .................................................... 280

    Anlise e entendimento .................................. 282Conversa filosfica .......................................... 283De olho na universidade ................................. 283Sugestes de filmes ........................................ 283Para pensar ..................................................... 283

    CAPtULO 16 Pensamento do sculo XIX ........ 285

    Sculo XIX Expanso do capitalismo e os novos ideais .............................................. 286

    FILOVU-001-009-iniciais.indd 7 15/05/13 11:07

  • Progresso versus desumanizao ....................... 286Romantismo ........................................................ 287Positivismo .......................................................... 289

    Anlise e entendimento .................................. 290Conversa filosfica .......................................... 290

    Friedrich Hegel O idealismo absoluto....... 291Idealismo alemo ................................................ 291Racionalidade do real .......................................... 292Movimento dialtico ............................................ 292Saber absoluto .................................................... 293Filosofia e histria ............................................... 293Legado de Hegel .................................................. 294

    Anlise e entendimento .................................. 294Conversa filosfica .......................................... 294

    Karl Marx O materialismo dialtico e histrico ...................................................... 294

    Crtica ao idealismo hegeliano ............................ 295Materialismo histrico ........................................ 295

    Anlise e entendimento .................................. 297Conversa filosfica .......................................... 298

    Friedrich Nietzsche Uma filosofia a golpes de martelo ................................... 298

    Escrita aforismtica ............................................ 298Influncia de Schopenhauer ............................... 298Vontade de potncia ............................................ 299Apolneo e dionisaco ........................................... 300Genealogia da moral ........................................... 300Niilismo ............................................................... 300

    Anlise e entendimento .................................. 301Conversa filosfica .......................................... 301De olho na universidade ................................. 301Sugestes de filmes ........................................ 302Para pensar ..................................................... 302

    CAPtULO 17 Pensamento do sculo XX ......... 304

    Sculo XX Uma era de incertezas ............. 305Espao para o incerto .......................................... 305Mundo de contradies ....................................... 305Impresses antagnicas ..................................... 306

    Existencialismo A aventura e o drama de existir ........................................................ 306

    Problema de existir ............................................. 307Influncia da fenomenologia ............................... 307Heidegger: a volta questo do ser ................... 307Sartre: o ser e o nada .......................................... 309

    Anlise e entendimento .................................. 310Conversa filosfica .......................................... 310

    Filosofia analtica A virada lingustica da filosofia ........................................................ 311

    Russell: a anlise lgica da linguagem .............. 311Wittgenstein: jogos de linguagem ....................... 312

    Anlise e entendimento .................................. 313Conversa filosfica .......................................... 313

    Escola de Frankfurt A teoria crtica contra a opresso .......................................... 314

    Sociedade de massa e razo instrumental ......... 314Indstria cultural ................................................. 315Razo dialgica e ao comunicativa .................. 315Verdade intersubjetiva e democracia .................. 316

    Anlise e entendimento .................................. 316Conversa filosfica .......................................... 316

    Filosofia ps-moderna O fim do projeto da modernidade ............................................ 317

    Debilitao das esperanas ................................ 317Viso fragmentria .............................................. 317Foucault: os micropoderes .................................. 318Derrida: a desconstruo .................................... 319

    Anlise e entendimento .................................. 320Conversa filosfica .......................................... 320De olho na universidade ................................. 320Sugestes de filmes ........................................ 320Para pensar ..................................................... 321

    CAPtULO 18 A tica ........................................ 324

    tica e moral O problema da ao e dos valores ................................................. 325

    Distino entre moral e tica .............................. 325Moral e direito ..................................................... 326Moral e liberdade ................................................ 327Liberdade versus determinismo ......................... 328Transformaes da moral ................................... 330Piaget: o desenvolvimento da razo e da moral . 330Escolhas morais .................................................. 331

    Anlise e entendimento .................................. 332Conversa filosfica .......................................... 332

    tica na histria Algumas concepes da filosofia moral .......................................... 333

    Antiguidade: tica grega ..................................... 333Idade Mdia: tica crist ..................................... 334Idade Moderna: tica antropocntrica ................ 335Idade Contempornea: tica do indivduo concreto .................................. 336

    UNIDADE 4 Grandes reas do filosofar

    FILOVU-001-009-iniciais.indd 8 15/05/13 11:07

  • Anlise e entendimento .................................. 339Conversa filosfica .......................................... 339De olho na universidade ................................. 340Sugestes de filmes ........................................ 340Para pensar ..................................................... 341

    CAPtULO 19 A poltica .................................... 342

    Poltica Bem comum ou exerccio do poder? ...................................................... 343

    Conceitos de poltica ........................................... 343Fenmeno do poder ............................................ 344Formas de poder ................................................. 344

    Anlise e entendimento .................................. 345Conversa filosfica .......................................... 345

    Estado A instituio que detm o poder poltico ........................................................... 346

    Origem do Estado ................................................ 346Funo do Estado ................................................ 346Sociedade civil e Estado ...................................... 347Regimes polticos ................................................ 347

    Anlise e entendimento .................................. 350Conversa filosfica .......................................... 350

    Poltica na histria Principais reflexes filosficas ............................................................ 350

    Plato: o rei-filsofo ............................................ 350Aristteles: o animal poltico .............................. 351Prncipe bom e virtuoso ...................................... 352Direito divino de governar ................................... 352Maquiavel: a lgica do poder............................... 352Bodin: direito divino ............................................. 353Questo da criao do Estado ............................. 354Hobbes: o Estado soberano ................................ 354Locke: o Estado liberal ........................................ 355Rousseau: da vontade geral surge o Estado ....... 356Montesquieu: a separao dos poderes ............. 356Hegel: do Estado surge o indivduo ..................... 357Marx e Engels: Estado como instrumento do domnio de classe ........................................... 357

    Anlise e entendimento .................................. 359Conversa filosfica .......................................... 359De olho na universidade ................................. 359Sugestes de filmes ........................................ 360Para pensar ..................................................... 360

    CAPtULO 20 A cincia .................................... 362

    O que cincia Do mtodo s leis cientficas ...................................................... 363

    Objetivos da cincia ............................................. 363Mtodo cientfico ................................................. 363

    Leis e teorias cientficas...................................... 364Transitoriedade das teorias cientficas ............... 364Filosofia da cincia .............................................. 365

    Anlise e entendimento .................................. 365Conversa filosfica .......................................... 365

    Cincia na histria A razo cientfica atravs do tempo ........................................... 365

    Cincia moderna ................................................. 365Desenvolvimento das cincias ............................ 366Revolues cientficas ......................................... 367Cincia ps-moderna .......................................... 368

    Anlise e entendimento .................................. 369Conversa filosfica .......................................... 369

    Epistemologia A investigao filosfica da cincia ....................................... 370

    Papel da induo ................................................. 370Critrio da verificabilidade .................................. 370Critrio da refutabilidade .................................... 370Rupturas epistemolgicas .................................. 371Paradigmas e revolues cientficas .................. 371

    Anlise e entendimento .................................. 372Conversa filosfica .......................................... 373

    Cincia e sociedade As relaes entre essas duas esferas ........................................ 373

    Mitos da cincia ................................................... 373Crtica da cincia ................................................. 375

    Anlise e entendimento .................................. 376Conversa filosfica .......................................... 377De olho na universidade ................................. 377Sugestes de filmes ........................................ 377Para pensar ..................................................... 377

    CAPtULO 21 A esttica ................................... 380

    Beleza A experincia do prazer ................ 381O que o belo? .................................................... 381

    Anlise e entendimento .................................. 383Conversa filosfica .......................................... 383

    Arte A expresso criativa da sensibilidade . 384O que arte? ....................................................... 384Arte e educao ................................................... 387Arte e indstria cultural ...................................... 387

    Anlise e entendimento .................................. 388Conversa filosfica .......................................... 389De olho na universidade ................................. 389Sugestes de filmes ........................................ 389Para pensar ..................................................... 390

    NDICE DE CONCEItOS E NOMES ............. 392bIbLIOGRAFIA .......................................... 396

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  • UNID

    ADE 1

    losofarIntroduo ao

    alosoaumramodoconhecimentoquetemafamadeserabstratoedifcil,masvocverquenosetratadeumbichodesetecabeas.seusob-jetosbsicosdeestudoso temas tocomunsefundamentaisdaexistnciahumanacomoavidaeamorte,obemeomal,averdadeeafalsidade,afelicidadeeador,oamor,opoderetantosoutros.

    Porisso,olosofaralgonoapenasnecessrioetil,mastambmprazeroso.epodesertosim-plescomopensar a vida e viver o pensamentosquedemaneiraprofundaeradical(comodeniuolsofofrancsandrcomte-sponville).

    ento,prepare-separadarosprimeirospassosna experincia losca e, assim, entrar nessemundo fascinante das interpretaes que o serhumanoformulousobresimesmoeouniverso.

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  • Pensar a vida e viver o pensamento, de forma profunda e radical. Isso filosofar.

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  • Unidade 1 Introduo ao fi losofar64

    Cap

    tulo 4

    Conceitos-chaveconscincia, identidade, inconsciente, inconsciente coletivo, conscincia coletiva, conscincia religiosa, conscincia intuitiva, conscincia racional, senso comum, conscincia crtica

    leo sobre tela (1956) com representao de um ritual da fertilidade Carlos Pertuis.O autor dessa pintura criou mais de 20 mil trabalhos artsticos em um hospital psiquitrico, onde viveu 38 anos como interno.

    Que elementos fundamentais da existncia humana voc pode discernir nesta pintura?

    Questes fi losfi cas

    O que a conscincia? H relao entre conscincia e cultura? A conscincia sempre a mesma ou evolui?

    A conscincia

    Pelo que estudamos at agora, possvel dizer que filosofar uma prtica que ajuda a nos desprendermos de nossas tolices? Parece que sim. Vimos como a atitude filosfica des-banaliza o banal e reencanta a vida, fazen-do-nos prestar mais ateno a nossos mni-mos atos, emoes e pensamentos. Ela nos ajuda, enfim, a viver com mais conscincia.

    Mas, ento, o que a conscincia?, diria Scrates. Vejamos que respostas podemos encontrar.

    CARLO

    S PER

    TUIS/COLE

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    PARTICULA

    R

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  • 65Captulo 4 A conscincia 65Captulo 4 A conscincia

    S ITUAO FILOSFICA

    A ecologista e a psiclogaEm uma regio coberta pela Mata Atlntica, uma ecologista, Lia, recebe a visi-

    ta de uma amiga. Como est exuberante e belo este bosque! Sim, ele est recuperando sua rica biodiversidade. No derrubo nenhuma

    rvore e plantei muitas espcies nativas, principalmente frutferas. Por que frutferas, Lia? Porque seus frutos servem de alimento para pssaros e a fauna terrestre

    local, favorecendo sua reproduo. Alm disso, os animais espalham as sementes contidas em seus excrementos por todos os lados, o que multiplica a floresta.

    Eu nunca tinha pensado nisso... Seria timo se todos aprendessem essas coisas e agissem da mesma forma.

    Seria, mas a verdade que eu tambm j fiz muita besteira, acreditando que era o correto. Lamento at hoje! que antes eu no sabia tudo isso... eu no tinha conscincia.

    Ah, a conscincia! Sempre ela... conclui rindo a amiga, que psicloga.

    NORIS M

    ARIA DIAS

    Amizade Noris Maria Dias, leo sobre tela (Coleo particular).

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  • Unidade 1 Introduo ao fi losofar66 Unidade 1 Introduo ao fi losofar66

    Onde ocorre esse dilogo e quem so os interlocutores?

    O dilogo ocorre em uma regio onde a flora e a fauna esto ameaadas de extino a Mata Atlntica , e os interlocutores so uma ecologista e uma psicloga. Observe que a compreenso do que so essas atividades (a ecologia e a psicologia) nos ajuda a entender o sentido mais profundo que a conversa-o assume.

    Qual o tema do dilogo?

    O dilogo trata do tema da natureza e da interveno humana nos ciclos na-turais, destacando a interao que existe. No entanto, podemos dizer que na parte final do dilogo o objeto da conversao acaba sendo, progressivamente, a conscincia.

    Que momentos podemos distinguir na historieta?

    Se tomarmos como referncia o atuar da conscincia das duas interlocuto-ras, podemos dividir a historieta em cinco momentos sucessivos: (1) no incio, ambas mantm um foco de ateno no tempo presente e dirigido ao mundo exterior (o bosque, os animais, a conduta humana em relao a eles etc.); (2) depois, quando a psicloga se d conta de que nunca tinha pensado no que lhe acabava de explicar a amiga, o foco passa a ser interno (reflexivo) e ter o passado (a memria) como pano de fundo; (3) mas logo em seguida, quando idealiza um mundo em que as pessoas tenham os mesmos valores ecolgicos da amiga, o foco volta-se outra vez para o exterior, aponta para o futuro; (4) a, a ecologista faz uma autocrtica (eu tambm j fiz muita besteira...), de modo que o foco passa a ser interno novamente, iluminando o passado; (5) por ltimo, vem o comentrio reticente da psicloga, que parece ter chegado a uma compreenso de sntese sobre o que foi conversado.

    Que problema(s) filosfico(s) podemos identificar nessa historieta?

    Claramente, a relao destrutiva do ser humano com a natureza um tpico importante de questionamento. Mas podemos dizer que o problema de fundo do dilogo a compreenso do que a conscincia e do papel que ela tem em nossas vidas.

    ANALISANDO A SITUAO

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  • 67Captulo 4 A conscincia

    CONSCINCIAPerceber o que acontece

    Nossa anlise dessa historieta semelhante a muitas que vivemos cotidianamente teve como propsito destacar alguns aspectos pelos quais o tema da conscincia pode ser abordado: consci-ncia de si, do que se pensa, sente e faz; conscin-cia do tempo; conscincia do mundo e dos outros; conscincia tica etc.

    O que a conscincia?Esses mltiplos aspectos j mostram um pou-

    co da complexidade desse tema. No simples conhecer nem explicar o que a conscincia, pois dependemos justamente dela para fazer isso. Existe uma recursividade em saber que se sabe, em sentir que se sente enfim, em ser consciente de que se consciente. o que torna esse tema fascinante, como destaca o mdico e cientista por-tugus Antnio Damsio (1944-):

    O que pode ser mais difcil do que saber como sa-bemos? O que pode ser mais grandioso que o fato de entender que ter conscincia torna possvel, e mes-mo inevitvel, nossa interrogao sobre a conscin-cia? (Sentir lo que sucede, p. 20. Traduo nossa.)

    Recursividade capacidade que algo tem de poder aplicar-se sobre si mesmo sucessivas vezes, cada vez usando como base o resultado de sua aplicao anterior.

    A conscincia costuma ser entendida, por-tanto, como um fenmeno ligado mente, esfe-ra em que ocorrem diversos processos psqui-cos (pensamento, imaginao, emoo, mem-ria, entre outros), especialmente o conhecimen-to. Para vrios estudiosos, nada caracteriza mais o ser humano do que a conscincia, pois ela que nos permite estar no mundo com algum saber, com-cincia. Como assinala o paleon-tlogo e filsofo francs Pierre Teilhard de Char-din (1881-1955):

    O animal sabe. Mas, certamente, ele no sabe que sabe: de outro modo, teria h muito multiplica-do invenes e desenvolvido um sistema de cons-trues internas. Consequentemente, permanece fechado para ele todo um domnio do Real, no qual nos movemos. Em relao a ele, por sermos re-fl exivos, no somos apenas diferentes, mas outros. No s simples mudana de grau, mas mudana de natureza, que resulta de uma mudana de esta-do. (O fenmeno humano, p. 187.)

    Devido a essa diferena especfica entre os hu-manos e os outros animais, durante certo tempo nossa espcie classificada biologicamente como Homo sapiens (homem que sabe) foi designada por alguns estudiosos como Homo sapiens sapiens: o ser que sabe que sabe. Isso quer dizer que somos capazes de fazer nossa inteligncia debruar sobre si mesma para tomar posse de seu prprio saber, avaliando sua consistncia, seu limite e seu valor.

    Foi o que fez Descartes, em suas Meditaes (como vimos no captulo 2). Essa capacidade seria a base pelos menos em boa parte das grandes criaes humanas, como a tica, o direito, a arte, a cincia e a filosofia. Ou seja, sem conscincia, no haveria nada disso.

    Observando a conscinciaO curioso que, em geral, tenhamos to pouca

    percepo de nossa conscincia no dia a dia. Isso no ocorre, porm, em todo o mundo. Em algu-mas culturas orientais, por exemplo, a meditao uma prtica frequente, pois muitas pessoas cos-tumam dedicar regularmente algum tempo para a

    Parece haver nveis distintos de conscincia entre os seres e em etapas distintas de cada ser. Significa isso que nossa conscincia pode evoluir a estados de maior percepo, clareza e entendimento? O que devemos fazer para alcan-los?

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  • Unidade 1 Introduo ao fi losofar68

    Na meditao busca-se manter a conscincia permanentemente focalizada na prpria conscincia.

    observao da prpria conscincia e sua expan-so, estimulando a introspeco habilidade muito importante para quem filosofa.

    Introspeco observao que uma pessoa faz do que ocorre dentro de si mesma, da prpria mente e seus processos.

    Se podemos dizer que o mtodo cientfi co cons-truiu durante sculos o conhecimento do Ociden-te, devemos acrescentar que o seu equivalente no Oriente foi a meditao, que durante milnios edifi -cou a sabedoria das suas culturas mais tradicionais. (BYINGTON, A construo amorosa do saber, p. 270.)

    Faamos, ento, uma experincia. Por alguns minutos, vamos tentar ser mais introspectivos, procurando observar a conscincia de uma ma-neira mais vivencial e direta, um pouco maneira de Descartes nas Meditaes (releia essa parte do captulo 2) ou dos sbios do Oriente.

    Algo semelhante parece ocorrer quando per-demos os sentidos em um desmaio. Somos ento como um quarto vazio, escuro e silencioso. Parece que nada acontece. Quando despertamos, esse quarto comea de novo a encher-se de luz e de objetos. Voltamos a sentir nossos corpos e di-versas impresses e pensamentos passam a pre-encher nossas mentes.

    Tambm podemos usar a imagem da escurido para entender essa frase to comum: Eu no sabia, eu no tinha conscincia. Nesse caso, no estva-mos desacordados, no sentido literal da palavra, mas sim no sentido metafrico. Havia um objeto, um sentimento, um conhecimento que estava em um canto escuro de nosso quarto e que, por isso, no podamos v-lo. De repente, foi iluminado, passan-do a integrar a totalidade consciente de nosso ser.

    CONEXES

    1. Faa a seguinte meditao para observar sua conscincia: a) sente-se ou deite-se em um lugar cmodo e res-

    pire profundamente vrias vezes, procurando re-laxar todo o corpo e a mente;

    b) observe atentamente o ar entrando e saindo pe-las narinas (a inspirao e a expirao) e procure no pensar em nada;

    c) por ltimo, ponha sua ateno sobre esse eu que observa o inspirar e o expirar a cada instante, repetidamente, sem cessar; fi que assim durante meia hora;

    d) depois, elabore um relato sobre essa experincia de observar sua conscincia, suas difi culdades e descobertas.

    Sentimento de si e do objetoVejamos, agora, o que a conscincia do ponto

    de vista neurocientfico. Adotaremos, para tanto, a interpretao de Antnio Damsio, que combina biologia com um pouco de filosofia.

    Neurocientfi co relativo s neurocincias, isto , aos diversos ramos da cincia que estudam o sistema nervoso, como a neurobiologia, a neurofi siologia, a neuropsiquiatria etc.

    Sempre me intrigou o momento especfi co em que, enquanto esperamos sentados na plateia, percebemos um movimento e um intrprete entra em cena, ou, para adotar outra perspectiva, o ins-tante em que um intrprete, esperando na penum-bra, v abrir-se as cortinas, que revelam as luzes, o palco, o pblico.

    Primeiro busquemos o estado oposto ou a ne-gao da conscincia: quando que no estamos conscientes e o que acontece ento conosco? Em condies normais, entramos nesse estado todos os dias ao dormir, o que corresponde a cerca de um tero de nossas vidas. Enquanto dormimos, nossos sentidos esto desconectados de tudo o que ocorre a nossa volta, ou dentro de ns mes-mos e de nossos corpos. Durante o sono, se no sonhamos, supe-se que no temos nenhuma sensao, nenhum pensamento ou sentimento, nenhuma lembrana, imaginao ou fantasia. No percebemos nada.

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  • 69Captulo 4 A conscincia

    Sem importar o ponto de vista que se adote, h alguns anos entendi que a comovedora inten-sidade desse instante provm de que encarna uma instncia de nascimento, de passagem pelo limiar de um mundo restrito e protegido para a possibilidade e risco de um mundo mais amplo e exterior. [...] sinto que entrar em cena tambm uma vigorosa metfora da conscincia, do de-sabrochar de uma mente que sabe, da simples e signifi cativa chegada da sensao de self [si mes-mo] ao mundo mental. [...]. Escrevo sobre a sen-sao de self e sobre a passagem da inocncia e ignorncia sapincia e individualidade. (Sentir lo que sucede, p. 19. Traduo nossa.)

    [...] sentir o que acontece quando o ato de apre-ender algo modifi ca seu ser [os processos fsico--qumicos que ocorrem dentro de seu crebro]. A presena jamais descansa, desde o despertar at o dormir. A presena deve estar a, seno voc no est. (Sentir lo que sucede, p. 26. Traduo nossa.)

    Em algumas patologias mentais, por exemplo, acredita-se que a pessoa perde contato com essa presena. Dizemos que ela se ausenta, embo-ra esteja acordada e reaja aos estmulos externos at certo ponto de maneira normal, mas automa-ticamente. Essa pessoa estaria tendo, portanto, um distrbio da conscincia.

    Assim, no processo de conhecer, a conscincia seria o padro mental unificado que se forma quando se conjugam o sentimento de si (self) e o objeto que se percebe e se torna conhecido. Sem sensao ou sentimento de si no h conscincia (cf. DAMSIO, Sentir lo que sucede, p. 27).

    Conscincia e identidadeEssa sensao de self, ou sentimento de si, re-

    laciona-se basicamente com o aqui e agora, com o presente. No h um antes ou um depois. , por exemplo, a experincia de ver neste instante estas letras impressas enquanto voc l este livro, com-binada com a sensao de que voc que v, e no outro ser. Consegue perceber isso?

    Cu aberto Roland Topor, litografia (Coleo particular). Quando no est essa presena do observador que voc, voc tampouco est como ser consciente.

    Menino e co acompanham atentamente algum acontecimento. Em que se diferenciam ento suas conscincias?

    Desse modo, segundo Damsio, estar cons-ciente envolve no apenas um ato de conhecer o que acontece, como geralmente se entende: im-plica, basicamente e como primeiro estgio, um sentir. Vejamos o que isso significa.

    Enquanto voc l este texto e capta o significa-do dele, ocorre um processo em seu crebro que lhe indica que voc e no outra pessoa que est envolvido nesse ato de ler e entender o texto. Esse processo, diz o neurocientista, configura uma presena a presena do observador que voc. Ela corresponde, em seu organismo, a uma sensao ou sentimento. Trata-se do:

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  • Unidade 1 Introduo ao fi losofar70

    Pois, ento, esse o primeiro passo do pro-cesso de estar consciente. Corresponde ao nvel mais bsico do processo de conhecer.

    Como afirma Damsio, trata-se de um fenme-no biolgico simples, vinculado ao sistema nervoso, que no seria exclusivo dos seres humanos.

    No entanto, essa conscincia nuclear, bsica, quando se insere em determinado ponto da histria de um ser que capaz de estabelecer relaes en-tre seu passado e seu futuro como ns, os huma-nos em um fluxo contnuo, torna-se uma sensa-o de si mais elaborada. assim que surge em mim, em voc, em qualquer um a conscincia do eu, da prpria identidade: em outras palavras, a percepo de um conjunto de caracteres prprios que se mantm no tempo e no espao do corpo fsi-co, constituindo o si mesmo, por oposio ao outro.

    Trata-se de um fenmeno biolgico complexo vinculado, alm das emoes, tambm mem-ria, linguagem, razo e que apresenta o poten-cial de evoluir durante a vida inteira de um indiv-duo (cf. DAMSIO, Sentir lo que sucede, p. 32-33).

    Por meio desse fenmeno biolgico complexo a conscincia ampliada o ser humano tam-bm adquire conhecimento de suas transforma-es durante sua existncia, bem como do mun-do que o rodeia. Esse fenmeno teria possibilita-

    do no apenas as inmeras criaes humanas, mas tambm a problematizao da prpria exis-tncia individual quem sou eu?, para que es-tou aqui?, o que devo fazer? e outras ques-tes ligadas angstia existencial e filosofia.

    Experincia privadaObserve tambm que, tanto do ponto de vista

    biolgico como psicolgico, a conscincia uma experincia marcadamente privada, que se vive apenas na primeira pessoa. Isso quer dizer que ela pertence apenas ao organismo ou indivduo que a tem e no pode ser compartilhada direta-mente com mais ningum.

    No entanto, conscincia esto muito vincula-das as condutas e estas sim podem ser observa-das por terceiros. Em outras palavras, as condutas so experincias pblicas, isto , podem ser per-cebidas por mais de um indivduo ou organismo e potencialmente por todos.

    , portanto, pelo que dizem e fazem as outras pessoas que normalmente inferimos que elas, como ns, tm ideias, pensamentos, sensaes e sentimentos tudo o que se relaciona com a cons-cincia , embora no possamos conhecer direta-mente o que pensam e sentem.

    Natureza da conscinciaSe a conscincia constitui um fenmeno mental, qual

    ser, ento, a natureza da mente? Os fenmenos mentais esto relacionados com nosso corpo fsico, nossa biologia, ou constituem uma instncia parte? So apenas fsicos ou apenas psquicos? So corporais ou espirituais?

    A maioria das pessoas tende a pensar que existe uma mistura ou combinao das duas coisas no pro-cesso de estar consciente: algo ocorre no crebro, mas tem um desdobramento no corpreo, imaterial. Essa foi nossa abordagem at agora, nosso pressuposto.

    Pressuposto aquilo que antecede ou constitui algo necessariamente; ideia que se supe antecipadamente a outra.

    No entanto, ser que faz sentido pensarmos em uma mistura? Como essas duas instncias se combinam? A dimenso corporal determina a conscincia, ou ser o contrrio?

    No vamos tentar responder a essas questes ago-ra, pois elas relacionam-se com um dos problemas fundamentais e mais discutidos da histria da fi loso-fi a, que ser tratado ao longo do livro. Mas no perca de vista essa questo sobre a relao corpo-mente ou matria-esprito.

    Como se integra a totalidade do ser humano, isto , suas dimenses corporal, emocional e lingustico-espiritual?

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  • 71Captulo 4 A conscincia

    1. Formule uma defi nio geral de conscincia.

    2. Relacione a recursividade da conscincia com a antiga classifi cao do ser humano como Homo sapiens sapiens.

    3. Como se forma, no mbito da conscincia, a noo de identidade?

    4. Por que se diz que a conscincia uma experincia privada? O que pode torn-la pblica?

    1. Conscincia e identidade

    Pesquise e aprofunde seu entendimento sobre o tema da identidade, refl etindo sobre as seguintes questes:

    a) O que a identidade de uma pessoa? Todas as pessoas tm identidade?

    b) Como a identidade se vincula com a conscin-cia? Voc consegue perceber essa relao em si prprio/prpria?

    c) importante que as pessoas valorizem suas prprias identidades?

    Depois, rena-se com colegas para uma troca de ideias e a elaborao de um documento que sin-tetize suas opinies e concluses, concordncias e discordncias.

    CONSCIENTE E INCONSCIENTEAs contribuies da psicologia

    Freud: inconsciente pessoal

    Retrato de Freud, que nasceu no seio de uma famlia judia e viveu a maior parte de sua vida na cidade austraca de Viena poca um dos principais e mais efervescentes centros culturais do mundo. Em 1938, porm, com a invaso nazista, foi obrigado a mudar-se para Londres, onde faleceu no ano seguinte. Sua obra teve enorme

    impacto nas cincias humanas, na filosofia,

    na literatura e nas artes, tornando-o uma das figuras mais influentes do pensamento contemporneo.

    Para compreender a conscincia, seus vncu-los com a totalidade de nossas vivncias e suas possibilidades de expanso, igualmente impor-tante entender outros fenmenos que, embora ocorram no interior de cada um de ns, escapam nossa conscincia. Esses fenmenos podem, no entanto, influir na maneira como percebemos as coisas e em nossas condutas.

    Voc nunca sentiu que, s vezes, sua mente pa-rece esconder uma parte de seu ser da outra par-te de seu ser? o que ocorre, por exemplo, quan-do de repente voc se recorda de algo que lhe aconteceu na infncia e havia ficado esquecido durante todo esse tempo. Ou quando voc chora sem saber por que, diz alguma coisa sem querer ou faz algo que no sabe justificar.

    Pois bem, foi a partir da observao dessas e de outras condutas estranhas que se formula-ram algumas concepes importantes para a compreenso da mente e do ser humano e que marcaram profundamente a cultura ocidental contempornea. Referimo-nos aos trabalhos de dois pilares na rea dos estudos da mente e da alma humana: Freud e Jung.

    Na passagem do sculo XIX para o sculo XX, o mdico neurologista austraco Sigmund Freud (1856-1939) concebeu uma teoria da mente que revolucionou a histria do pensamento, em v-rios sentidos, e criou a psicanlise (definio em quadro adiante).

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  • Unidade 1 Introduo ao fi losofar72

    PsicanliseA psicanlise uma disciplina que consiste, basicamente, de uma teoria da mente e da conduta hu-

    mana vinculada a uma tcnica teraputica para ajudar as pessoas que apresentam problemas psicol-gicos ou psiquitricos.

    Caracteriza-se pela interpretao, por um terapeuta (psicanalista), dos contedos inconscientes en-contrados em palavras, sonhos e fantasias do paciente. Para tanto, utiliza-se do mtodo de associao livre, em que o paciente expressa o que lhe vier mente, falando e associando as palavras e ideias livre-mente, sem crtica ou preocupao de ser coerente.

    Inconsciente e sexualidadePara comear, Freud rejeitava a identificao entre conscincia e psiquismo (isto , o conjunto dos pro-

    cessos psicolgicos), algo bastante comum. A maioria das pessoas tende a pensar que no existe nada mais em suas mentes alm daquilo que sabe, seus pensamentos, imagens e recordaes. Ou seja, tende-mos a acreditar, no fundo, que conscincia e mente so a mesma coisa e que a mente pode conhecer tudo se empreender o trabalho devido para tal.

    Freud afirmou, no entanto, que a maior parte de nossas vidas psquicas dominada pelo que chamou de inconsciente. A outra parte, o cons-ciente, seria bastante reduzida e, em grande me-dida, determinada pela primeira. Assim, o incons-ciente no seria a simples negao abstrata da conscincia, uma espcie de nada (como na me-tfora do quarto vazio, que usamos antes), e sim uma parte integrante de nossa personalidade, bastante ativa e determinante, na qual coisas existem e acontecem sem que as percebamos.

    As novidades lanadas por Freud no pararam por a. Para ele, a sexualidade (a chamada libido)

    constituiria o elemento fundamental do incons-ciente, bem como de toda a dinmica da vida ps-quica. Essa teoria escandalizou a sociedade de seu tempo, principalmente por enfatizar a existn-cia de atividade sexual nas crianas, bem como a importncia que vivncias e traumas sexuais in-fantis teriam na determinao do comportamento das pessoas durante toda a vida adulta. Para Freud, esses traumas estariam vinculados a uma etapa do desenvolvimento infantil em que as crian-as se sentiriam atradas pelo progenitor de sexo oposto conceito que ficou conhecido como com-plexo de dipo (ser trabalhado no captulo 11).

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    PARTICULA

    R Homem tentando capturar serpentes em um cesto Carlos Pertuis, leo sobre papel. Freud observou que o inconsciente se manifesta em nossas vidas de forma simblica, como ocorre nos sonhos e na arte. O smbolo principal dessa imagem, por exemplo, a serpente. Na linguagem psicolgica, esse rptil remete a processos inconscientes de mudanas ou de situaes inesperadas e assustadoras geradoras de angstia. Como analisou a psiquiatra brasileira Nise da Silveira (1905-1999), o indivduo da pintura parece estar conseguindo domar algumas das serpentes que o ameaavam (elas se dirigem para dentro do cesto), mas ainda h uma que se lana como uma flecha sobre ele.

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  • 73Captulo 4 A conscincia

    De acordo com a teoria freudiana, trazer conscincia esses contedos reprimidos e enten-d-los ajudaria o indivduo a lidar com seus medos e inibies e a se adaptar da melhor maneira pos-svel sua realidade concreta no presente.

    Jung: inconsciente coletivoO mdico psiquiatra suo Carl Gustav Jung

    (1875-1961) foi, durante algum tempo, colabora-dor de Freud e admirador de suas teorias. Mas os dois discordavam sobre diversas questes. Freud opunha-se, por exemplo, ao interesse de Jung pe-las religies, enquanto este discordava da impor-tncia que seu colega dava ao impulso sexual e aos traumas ligados represso na infncia. As divergncias levaram a um rompimento entre eles, e Jung desenvolveu sua prpria linha de pensa-mento, conhecida como psicologia analtica (defini-o em quadro adiante).

    Aparelho psquicoDe acordo com a teoria freudiana, o aparelho

    psquico humano estaria estruturado em trs ins-tncias ou esferas: id, superego e ego.

    O id a instncia mais antiga do inconsciente e da psique de um indivduo. Est presente desde seu nascimento. Nele dominam as pulses, isto , os impulsos corporais e os desejos inconscientes mais primitivos e instintivos, basicamente relacio-nados com a libido.

    Regido pelo princpio do prazer, o id empurra o indivduo a buscar aquilo que lhe traz satisfao e a negar o que lhe traz insatisfao, desconhecen-do as demandas da realidade e das normas so-ciais. Atua de maneira ilgica e contraditria (ver definies no prximo captulo) e tem nos sonhos seu principal meio de expresso. Apesar disso, o id seria o motor oculto do pensamento e da conduta humana.

    O superego outra instncia do inconsciente, mas esta se forma no processo de socializao da criana, principalmente a partir da interao com os pais e dos nos que ela recebe, explcita ou implicitamente, durante toda a sua infncia: Isso no pode, Isso feio, e assim por diante.

    Esse conjunto de regras de conduta que a criana absorve de seu meio social vai constituin-do um ncleo de foras inconscientes (o supere-go), que reprime os impulsos inaceitveis do id. Portanto, o superego tem o papel de censurar e controlar nossos impulsos instintivos. Ele se ex-pressa em nossa conscincia moral e relaciona--se com nosso eu ideal (ou ego ideal).

    O ego, por sua vez, a instncia consciente e pr-consciente (potencialmente consciente) do aparelho psquico. Ele interage com o mundo exter-no, ao mesmo tempo em que recebe as presses das duas esferas inconscientes (o id e o superego).

    regido pelo princpio da realidade, ligado s condies e exigncias do mundo concreto. Assim, o ego precisa lidar no apenas com as dificulda-des da vida cotidiana, mas tambm resolver de maneira realista os conflitos entre seus desejos internos (as necessidades de prazer imediato do id) e seu senso moral (o superego).

    Freud tambm observou que, quando no con-segue enfrentar diretamente essas demandas conflitantes, o ego costuma empregar diversos mecanismos de defesa, pelos quais os contedos censurados pelo superego so reprimidos (recal-cados), mas acabam expressando-se de forma in-direta na vida da pessoa (como em atos falhos, sonhos e projees).

    Para Jung, a vida psquica envolveria muitos outros elementos, e seria um reducionismo inter-pretar a maioria de seus eventos como manifesta-es de carter sexual. Embora a libido seja tam-bm importante na teoria junguiana, ela enten-dida como uma energia vital mais ampla e neutra, vinculada no apenas ao sexo, no sentido estrito da palavra (cf. SAMUELS e outros, Dicionrio crtico de anlise junguiana, verbete energia).

    Ato falho ao de dizer ou fazer algo por engano, sem inteno, mas que seria, na verdade, a expresso de algum pensamento, juzo ou desejo reprimido.Projeo ao pela qual um indivduo projeta em outra pessoa algo que ele no aceita e reprime em si mesmo, de forma inconsciente, mas que lhe pertence, como sentimentos, pensamentos ou desejos.Reducionismo tendncia a reduzir as explicaes sobre fenmenos complexos a seus termos mais simples, tidos como mais fundamentais ou banais; geralmente se refere ao reducionismo materialista--mecanicista (tudo reduzido matria e s leis fsico--qumicas).

    Retrato de Carl Gustav Jung, que investigou as relaes possveis entre a psique e as manifestaes culturais, integrando psicologia elementos vindos de diversas reas, como

    a antropologia, a arte, a mitologia e a religio.

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  • Unidade 1 Introduo ao fi losofar74

    Teoria dos arqutiposJung tambm ampliou o conceito freudiano de

    inconsciente. Isso se deu a partir da observao, nos sonhos relatados por seus pacientes (e em seus prprios sonhos), da presena de diversas imagens estranhas, que no podiam ser associa-das a nenhuma de suas experincias individuais, biogrficas. Paralelamente, estudando as culturas dos povos antigos da sia, da frica e da Amrica pr-colombiana especialmente o simbolismo de suas mitologias , o psiquiatra percebeu que havia uma srie de imagens que se repetiam nas mais variadas expresses culturais do planeta e coinci-diam com as dos sonhos de seus pacientes.

    Jung concluiu que se tratava de imagens pri-mordiais. Segundo ele, essas imagens primor-diais constituem os pensamentos (e sentimentos) mais antigos, gerais e profundos da humanidade, possuindo vida prpria e independente. Teriam, portanto, um carter impessoal e universal.

    Primordial relativo aos primrdios, isto , s origens, fase de surgimento ou de criao de algo; mais antigo, primeiro, original.

    Formulou, ento, a tese de que existe uma lin-guagem comum a todos os seres humanos de to-dos os tempos e lugares da Terra. Ela est formada por essas imagens ou contedos simblicos muito primitivos chamados arqutipos, na teoria jun-guiana , que refletem algo como a histria evolu-tiva de nossa espcie. Vividos de maneira no consciente por todas as pessoas, os arqutipos for-mam, segundo Jung, o estrato (ou camada) mais profundo da psique humana o chamado incons-ciente coletivo (pertencente a toda a humanidade).

    esquerda, escultura em pedra com representao de Xiuhcoatl, a serpente de fogo dos astecas (1300-1521) (Museu Nacional de Antropologia, Cidade do Mxico, Mxico). direita, escultura em mrmore representando a serpente Glycon da civilizao romana (sculo II) (Archologisches Landesmuseum, Constance, Alemanha). Imagens de serpentes esto presentes nas mais diversas culturas, mitologias e pocas, alm de serem frequentes nos sonhos de pessoas, mesmo daquelas que nunca tiveram contato com qualquer tipo de cobra.

    Mural que representa a roda da vida, da tradio mahayana do budismo tibetano (Kopan monastery, Bhaktapur, Nepal, sia). Seu conjunto forma um mandala. Com uma grande variedade de desenhos, os mandalas so representaes figurativas e/ou geomtricas organizadas de modo a formar uma imagem concntrica ou circular (que o significado da palavra snscrita mandala). Na simbologia das formas, o crculo pode significar perfeio, unidade e plenitude.

    O inconsciente coletivo seria, portanto, um conjunto universal de predisposies para perce-ber, pensar e agir de determinadas maneiras, mas que tambm sustenta a ao criativa, pois, segundo Jung, constituiria a base sobre a qual se assentam os grandes pensamentos e obras-pri-mas da humanidade.

    Principais arqutiposJung descreveu uma srie de arqutipos. Entre

    eles esto aquelas imagens que se condensam em torno de experincias to bsicas e universais como o nascimento, a morte, a criana, a me, o velho sbio, o heri e Deus.

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  • 75Captulo 4 A conscincia

    H outras, porm, que refletem a estrutura da prpria psique, como a persona (a mscara que usamos para enfrentar o mundo e conviver com a comunidade, incorporando suas expectativas), a sombra (aquilo que no temos desejo de ser), a anima (a imagem de mulher contida na psique de um homem) e o animus (a imagem de homem contida na psique de uma mulher).

    Mas o arqutipo mais importante na teoria junguiana o do self (o si mesmo, como vi-mos anteriormente). Corresponde imagem primordial da totalidade do ser, isto , a essn-

    Psicologia analticaA psicologia analtica seria, para Jung, uma evoluo da psicanlise, por abranger tanto o mtodo psicanal-

    tico de Freud como a psicologia individual de Adler, alm de outras tendncias. Diferenciava-se, porm, da psicanlise entre outros aspectos por valorizar a anlise e interpretao do

    presente do indivduo e sua intencionalidade (ou seja, o futuro para o qual aponta esse presente, suas potencia-lidades).

    Por isso, considerada por alguns estudiosos como uma viso mais otimista do inconsciente, pois este no estaria to condicionado pelo passado, como em Freud, e sim mais aberto criatividade em sua interao com as circunstncias existenciais de cada indivduo e sua simbologia.

    5. Alm de ter de lidar com as difi culdades do mun-do, o ego vive pressionado pelo id e pelo superego. Interprete essa afi rmao.

    6. O que so os mecanismos de defesa, segundo a teoria freudiana? Procure exemplos de sua expe-rincia.

    7. O que so os arqutipos e como Jung chegou concluso de sua existncia?

    8. Explique o conceito de inconsciente coletivo.

    2. Autoconhecimento

    Conhece-te a ti mesmo e conhecers o universo e os deuses (frase inscrita no Orculo de Delfos, situado no templo dedicado ao deus Apolo, na Grcia).

    cia de uma pessoa em conexo com uma di-menso maior. Transcendendo a conscincia e a dimenso individuais, o self conectaria a pes-soa famlia, coletividade, ao planeta e ao cosmos. Desse modo, o self o arqutipo da sabedoria de um ser ou organismo, no senti-do de representar a intencionalidade, o prop-sito ou o sentido de sua existncia. (Se essa ideia ficou muito complicada para voc, volte a este trecho depois de estudar o captulo inteiro, ou depois de ler tambm o captulo 6, que fala sobre o universo).

    CONEXES

    2. Observe o desenho do mandala da pgina anterior. Que elementos simblicos ou fi gurativos voc consegue encontrar? Quais deles voc identifi caria como um arqutipo?

    Refl ita sobre essa frase, relacionado-a com o inconsciente e as teorias de Freud e Jung. Depois, rena-se com colegas para apresentar-lhes suas consideraes, escutar as refl exes deles e debater sobre os dife-rentes pontos de vista.

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  • Unidade 1 Introduo ao fi losofar76

    Considerado um dos pais da sociologia, Durkheim (foto)

    procurou entender o que mantm a unidade de uma

    sociedade, concluindo que as normas, as crenas e os valores

    comuns tm umpapel determinante

    nesse sentido.

    CONSCINCIA E CULTURAAs interaes com o ambiente

    Continuemos nossa investigao sobre a conscincia. Primeiramente, adotamos uma perspectiva que se pode dizer mais biolgica, o que nos permitiu obter uma concepo geral do termo e seus pressupostos bsicos. Depois, en-veredamos pela psicologia profunda, para inves-tigar como se relaciona a conscincia com outras reas de nosso mundo psquico, caminho que nos indicou que o ser humano no s razo, pois h muito de irracionalidade e mistrio em ns. Agora vamos estudar nosso tema empre-gando um ponto de vista mais sociolgico ou de uma psicologia social.

    Durkheim: conscincia coletiva

    Freud chamou nossa ateno para o fato de que muitos dos contedos da conscincia so absorvi-dos por ns desde a mais tenra infncia e que, mesmo no sendo totalmente conscientizados, acabam moldando nossa conscincia moral (a no-o de como devemos agir) e nosso eu ideal (a pes-soa que queremos ser), por meio do superego.

    Isso quer dizer que boa parte dos contedos que preenchem a cada instante nossa conscincia so informaes que nos chegam de fora j prontas, podendo ser processadas depois no contexto de novas experincias. Trata-se das normas e vises de mundo que aprendemos da famlia e do meio social a que pertencemos. Em seu conjunto, pode-mos dizer que esses elementos culturais consti-tuem outro tipo de conscincia, que coletiva, como aponta um contemporneo de Freud, o socilogo francs mile Durkheim (1858-1917):

    O conjunto das crenas e dos sentimentos comuns mdia dos membros de uma mes-ma sociedade forma um sistema determina-do que tem vida prpria; poderemos cham-lo

    conscincia coletiva ou comum. Sem dvida, ela no tem por substrato um rgo nico; , por defi nio, difusa em toda extenso da sociedade; mas no deixa de ter caracteres especfi cos que fazem dela uma realidade distinta. Com efeito, independente das condies particulares em que os indivduos esto colocados; eles passam, ela permanece. a mesma no norte e no sul, nas grandes e pequenas cidades, nas diferentes profi sses. Da mesma forma, no muda a cada gerao, mas, ao contrrio, liga umas s outras as geraes sucessivas. Portanto, completa-mente diversa das conscincias particulares, se bem que se realize somente entre indivduos. Ela o tipo psquico da sociedade, tipo que tem suas propriedades, suas condies de existn-cia, seu modo de desenvolvimento, tudo como os tipos individuais, embora de uma outra maneira. (Da diviso do trabalho social, p. 40.)

    Durkheim concebe, portanto, a existncia de uma conscincia coletiva como uma realidade distinta do indivduo, no sentido de que no mi-nha nem sua, no pessoal, no nasce de ns individualmente. Ela pertence a um ou outro gru-po social ou sociedade inteira e passa de gera-o em gerao, podendo ser estudada como um fenmeno especfico. No entanto, como a consci-ncia coletiva absorvida por ns e opera tambm dentro de nossa mente, ela passa a ser nossa conscincia tambm.

    A educao, como assinalou Durkheim, constitui parte importante do sistema de transmisso e manuteno da conscincia coletiva em uma sociedade, pois nela aprendemos a viver em conformidade com as normas e valores sociais.

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  • 77Captulo 4 A conscincia

    Foi o que apontou o filsofo alemo Georg W. F. Hegel (1770-1831). Para ele, haveria trs gran-des formas de compreenso do mundo: a reli-gio, a arte e a filosofia. A diferena entre elas estaria no modo de conscincia que se destaca em cada uma: enquanto a religio apreende o mundo pela f, a arte o faz pela intuio, e a filo-sofia, pela razo. Vejamos cada uma.

    Conscincia religiosaA conscincia religiosa um modo de per-

    ceber e entender a realidade que busca ir alm dos limites definidos pela vivncia imediata e cotidiana. Desse modo, integra o elemento so-brenatural, a noo de que existe um poder su-perior inteligente, isto , a divindade. Trata-se de uma experincia baseada em boa parte na f, na crena inabalvel nas verdades revela-das, que conduziria a uma percepo do divino ou do transcendental.

    O sentir do corao mais importante na compreenso da realidade. O espao e o tempo so vividos de uma maneira distinta da comum, em uma procura de conexo com a dimenso do sagrado e do eterno.

    Transcendental que vai alm da realidade sensvel; que est em outra dimenso, em outro mundo, geralmente tido como superior ou fundamental.Sagrado que se relaciona com o divino, ou que se insere em uma dimenso maior, mais ampla que a experincia cotidiana (o profano).

    Em qualquer sociedade, a religio defi ne um modo de ser no mundo em que transparece a busca de um sentido para a existncia. Nos mo-mentos em que a vida mais parece ameaada, o apelo religioso se torna mais forte.

    As crenas religiosas e as mgicas so, para os que as adotam, formas de conhecimento e teorias da natureza do universo e do homem. As prticas religiosas e mgicas so, portanto, rela-cionadas frequentemente com a procura de ver-dades que, segundo se imagina, os homens de-vem conhecer para seu prprio bem e que esto acima do conhecimento comum ou da deduo puramente racional.

    [...] Para aquelas pessoas que tm uma experi-ncia religiosa, toda a natureza suscetvel de re-velar-se como sacralidade csmica. O Cosmo, ou seja, o conjunto do universo, em sua totalidade, pode tornar-se uma hierofania, isto , uma mani-festao do sagrado. (MACEDO, Imagem do eterno: religies no Brasil, p. 15-16.)

    Quando dizemos, por exemplo, Precisamos de cidados conscientes, Agiu de acordo com sua conscincia ou Eu no tinha conscincia, esta-mos falando de uma conscincia individual como um saber que envolve no apenas possuir uma in-formao, mas tambm sentir que essa infor-mao a mais adequada. E esse sentido de ade-quao dado, de modo geral, pela conscincia coletiva, que funciona dentro de ns como um fil-tro cultural orientador de nossa percepo: isso bom, aquilo no ; isso belo, aquilo feio; isso pode, aquilo proibido; isso existe, aquilo fico; isso eu vejo, aquilo eu ignoro; e assim por diante.

    Em consequncia, teramos dentro de ns dois tipos de conscincia, ou, como expressou Durkheim:

    Existem em cada uma de nossas conscincias [...] duas conscincias: uma comum com o nos-so grupo inteiro e, por conseguinte, no somos ns mesmos, mas a sociedade vivendo e agindo dentro de ns. A outra representa, ao contrrio, o que temos de pessoal e distinto, o que faz de ns um indivduo. [...] Existem a duas foras contr-rias, uma centrpeta e outra centrfuga, que no podem crescer ao mesmo tempo. (Da diviso do trabalho social, p. 69.)

    Isso quer dizer, por exemplo, que se eu penso demais em meus interesses pessoais (conscincia individual, fora centrfuga), dando pouco espao mental para os interesses dos outros, posso sofrer depois a presso moral advinda do grupo ou da so-ciedade que se v afetada (conscincia coletiva, for-a centrpeta). Portanto, de acordo com Durkheim, a coeso social dependeria de certa conformida-de das conscincias particulares conscincia co-letiva, a qual se expressa principalmente por meio das normas morais e das normas jurdicas (leis, regulamentos, contratos, acordos etc.).

    Como est vinculado a outros conceitos que abordaremos mais adiante, como senso comum (neste captulo), ideologia e cultura (captulo 7) e dever (captulo 18), o tema da conscincia coleti-va ficar cada vez mais claro para voc.

    Modos de conscinciaTudo o que vimos at aqui nos mostra que a

    conscincia pode ser entendida de distintas manei-ras, dependendo de como a abordemos, e tambm que h diferentes maneiras de estar consciente, pois cada um de ns pode relacionar-se com a re-alidade em mltiplos modos e sentidos. Um reflexo disso encontra-se em nossa produo cultural.

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  • Unidade 1 Introduo ao fi losofar78

    No caso do cristianismo, essa perspectiva religiosa teve de conviver historicamente com o desenvolvimento da razo filosfica e cientfica e adequar-se a esta em vrios momentos. Os longos debates travados entre os defensores da f e os da razo durante a Idade Mdia no con-seguiram, no entanto, conciliar satisfatoria-mente essas duas concepes (conforme estu-daremos no captulo 13).

    No perodo seguinte, a discusso prosseguiu entre os filsofos. Descartes, por exemplo, colo-cava a nfase na razo (conforme j estudamos), enquanto o francs Blaise Pascal (1623-1662) fazia o contraponto ao afirmar que o corao tem razes que a razo desconhece (Pensa-mentos, p. 107). Em outras palavras, existem ou-tras possibilidades de conhecer das quais a conscincia racional no participa.

    Conscincia intuitivaA intuio uma forma de tomar conscin-

    cia que pode ser descrita como uma percepo que se traduz em um saber imediato, ou seja, que no passa por mediaes racionais. Ocorre como um insight (termo ingls que designa a compreenso repentina de um problema ou si-tuao). Desse modo, a intuio distingue-se do conhecimento formal, refletido, que se constri por meio de argumentos. Seu melhor campo de expresso so as atividades artsti-cas e literrias.

    Jovem realiza o retrato de um modelo em oficina de arte. De maneira intuitiva, isto , pela viso direta e sem a necessidade de raciocnio, o artista percebe as dimenses e propores do rosto masculino sua frente e procura reproduzi-las no papel.

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    Oferenda a Iemanj, a Rainha do Mar, em praia de Salvador, Bahia. O culto a esse e outros orixs (ou divindades) foi trazido por africanos escravizados a alguns pases da Amrica Latina. Cada orix est relacionado com certos elementos e foras da natureza e determinadas caractersticas humanas.

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  • 79Captulo 4 A conscincia

    possvel falar em dois tipos de intuio: a sensvel e a intelectual. O filsofo grego Arist-teles (384-322 a.C.) referia-se intuio intelectual como o conhecimento imediato de algo universalmente vlido que, posteriormen-te, seria demonstrado por meio de argumentos. De fato, a histria da cincia relata que muitas das grandes descobertas cientficas deram-se primeiro como intuies e s depois foram com-provadas experimentalmente e fundamentadas em uma teoria.

    A intuio sensvel, por sua vez, seria um co-nhecimento imediato restrito ao contexto das experincias individuais, subjetivas. Ou seja, so aquelas leituras de mundo guiadas pelo con-junto de experincias de cada indivduo e que, dessa forma, s podem ser decifradas a partir de suas vivncias particulares. Por exemplo: voc nunca teve alguma sensao estranha ou suspeita sobre algo, sem saber bem por que, e depois descobriu que sua impresso estava cor-reta? Muitas vezes basta apenas um pequeno sinal, um olhar, um gesto, palavras soltas, que se juntam automaticamente com nossa vivncia passada e surge a intuio.

    Conscincia racionalA conscincia racional o modo de perceber e

    entender a realidade baseado em certos princ-

    pios estabelecidos pela razo, como o de causa e efeito (em que todo efeito deve ter a sua cau-sa) e o de no contradio (em que um argu-mento no pode ser verdadeiro e falso ao mes-mo tempo), entre outros. Por exemplo: quando penso se bater neste objeto, ele se mover ou se ela viu isso, no cega, estou fazendo uso desse tipo de conscincia.

    A conscincia racional pretende alcanar um