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FUNDAMENTOS DE PSICOPATOLOGIA “Introdução em Psicopatologia”

Fundamentos de psicopatologia

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FUNDAMENTOS DE PSICOPATOLOGIA

“Introdução em Psicopatologia”

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INTRODUÇÃO EM PSICOPATOLOGIA

A Psicopatologia é a ciência que estuda as anormalidades psíquicas do ser humano.

Para este fim podemos utilizar diferentes meios. O método utilizado pela psiquiatria como ferramenta para diagnóstico sindrômico e nosológico é a Fenomenologia (do grego phainesthai, aquilo que se apresenta ou que se mostra, e logos, explicação, estudo). Afirma a importância dos fenômenos da consciência os quais devem ser estudados em si mesmos

Obs.: A nosologia é a parte da medicina que trata das enfermidades em geral e as classifica do ponto de vista explicativo

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A Psicopatologia fenomenológica baseia-se na descrição dos fenômenos psíquicos, conforme são observados ou relatados. O importante na fenomenologia é descrever o que é vivido diretamente pelo indivíduo.

Existem dois meios de adoecer, segundo a psicopatologia fenomenológica:

o desenvolvimento - o adoecer é compreendido pela constituição, personalidade e história do paciente;

o processo - algo diferente e novo na constituição e história do paciente.

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Normalmente, examina-se de forma isolada cada função psíquica do paciente para depois formular o todo psíquico. A Psicopatologia é uma abstração analítica da realidade e da totalidade do psiquismo humano, decompondo-o em conceitos operativos para formular, mais tarde, os quadros nosológicos (quadros classificatórios e explicativos da doença)

A Psicopatologia importa-se fundamentalmente com a forma de cada função psíquica; os conteúdos têm uma importância secundária. Exemplo: a forma de um livro é aquilo que faz com que reconheçamos que se trata de um livro, (a essência do objeto); o conteúdo é aquilo que define tal livro (a mensagem).

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Exame Psíquico

É o principal instrumento para a realização do diagnóstico em Psiquiatria.

Visa o estabelecimento de um diagnóstico psiquiátrico, criação e desenvolvimento de aliança de trabalho e prognóstico do paciente.

Deve-se fazer um corte longitudinal na vida do paciente biografia e história de sua doença atual. Através do corte transversal estado do paciente no momento do exame psíquico.

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O exame psicopatológico, correspondente a um corte transversal na vida do paciente, compreende as funções psíquicas que devem ser observadas e/ou deduzidas para a realização de um diagnóstico.

A caracterização das funções psíquicas permite que se diferenciem os principais quadros clínicos das diversas síndromes mentais parâmetros para a adoção de conduta terapêutica adequada

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CLASSIFICAÇÃO DAS FUNÇÕES PSÍQUICAS

1. SENSOPERCEPÇÃO2. PSICOMOTRICIDADE3. AFETIVIDADE4. CONAÇÃO (VONTADE)5. IMPULSIVIDADE6. INTELIGÊNCIA7. ORIENTAÇÃO8. MEMÓRIA9. JUÍZO10. PENSAMENTO11. CONSCIÊNCIA12. ATENÇÃO

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1. SENSOPERCEPÇÃO

É uma atividade de incorporação das informações do meio externo e corporais ao psiquismo

Sensopercepção: sensação + percepção Sensação: fenômeno elementar resultante da

ação dos estímulos externos e internos sobre os órgãos dos sentidos. Exemplo: sensação de calor ao se aproximar a mão do fogo

Percepção: quando acrescentamos à sensação uma interpretação que provém da memória e do raciocínio. Exemplo: tocar o fogo é perigoso porque causa dor

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Na Psicopatologia da sensopercepção existem as alucinações como principal anormalidade (veremos adiante)

As variações sem caráter psicopatológico são as ilusões e as pareidolias

Ilusões: percepções onde o objeto reconhecido é diferente do real

Pareidolias: ilusões provocadas voluntariamente. Exemplo: enxergar figuras nas nuvens

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2. PSICOMOTRICIDADE

Função responsável pela discriminação dos movimentos a serem realizados em uma determinada tarefa

Na Psicopatologia da psicomotricidade existem:

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Estereotipias (repetição automática de gestos, movimentos, frases ou palavras sem razão conhecida)

Ecopraxias: repetição de gestos de outras pessoas Ecolalia: repetição da fala de outra pessoa Flexibilidade cérea: a pessoa permanece na

posição em que é colocado (“estátua de cera”) Agitação psicomotora: movimentos múltiplos, às

vezes agressivos Catatonia: quadro clínico caracterizado por

diversas alterações psicomotoras

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3. AFETIVIDADE

Atividade subjetiva e atemática onde se incluem os sentimentos e as emoções

Sentimentos: são os “estados do eu” que não são controlados pela vontade e são provocados por impulsos internos e externos. Exemplos: amor, raiva, amizade

Emoções: são “estados afetivos” provenientes de uma reação psíquica e orgânica acompanhadas de reações neuro-vegetativas. Exemplo: medo, pânico, ansiedade

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Os sentimentos e as emoções são classificadas em:

Estabilidade: estáveis/instáveis Ressonância: relacionado à amplitude Tonicidade: tônus (força)

aumentado/diminuído Coerência: se há dissociação ideo-afetiva

ou não. Exemplo: “quem ama não mata” Humor: estado disposicional da

afetividade - expansivo/depressivo

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4. CONAÇÃO (VONTADE)

Volição ou vontade Atividade de direcionamento da ação Alterações: Qualitativas: negativismo

(resistência/oposição para fazer algo) Quantitativas: hiperbulia (qualquer

estímulo é uma motivação; quer fazer tudo ao mesmo tempo); hipobulia ou abulia (grande diminuição ou falta de desejo e motivação para fazer algo)

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6. INTELIGÊNCIA

Capacidade de elaborar valores, adaptar-se a novas situações; capacidade de analisar, sintetizar, abstrair e processar pensamentos e idéias; capacidade de resolver problemas

Alterações psicopatológicas da inteligência: oligofrenias (redução da capacidade da inteligência), que variam de leve à grave

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7. ORIENTAÇÃO

É o conjunto das funções psíquicas responsáveis pela tomada de consciência, em cada momento de nossa vida, da situação real em que nos encontramos

A orientação está sempre relacionada às noções de tempo e espaço.

São 4 as formas de orientação: Temporal: relativa aos conceitos de tempo

(hora do dia, dia do mês, noite/dia) Espacial: relativa aos conceitos de espaço

(onde está, dentro/fora)

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Autopsíquica: relativa ao próprio indivíduo - capacidade de fornecer dados de sua identificação, saber quem é, seu nome, idade, nacionalidade, profissão, estado civil, etc.

Alopsíquica: relacionada ao tempo e espaço - capacidade de estabelecer informações corretas acerca do lugar onde se encontra, tempo em que vive, dia da semana, do mês, etc.

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No Exame Psíquico é importante: Observar desorientação no tempo, pelo

correto conhecimento do dia, mês, época do ano, dia da semana e ano. Observar se o paciente tem noção do tempo decorrido no hospital ou entre eventos recentes.

Quanto ao espaço, perguntar sobre o lugar (nome do hospital, andar, cidade, endereço).

Quanto à pessoa, perguntar sobre dados pessoais (nome, idade, data de nascimento), bem como sobre familiares.

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10. PENSAMENTO

É o suceder de idéias Divide-se em processo (forma) e conteúdo Processo (forma): é o modo como uma pessoa reúne idéias e

associações. Pode ser: lógico/coerente ou ilógico/incoerente Quanto à forma, podemos encontrar os seguintes formatos

psicopatológicos: Fuga de idéias (a pessoa não consegue ter um pensamento

lógico) Neologismos (criação de palavras inexistentes na linguagem

para se referir às suas idéias) Lentificação / aceleração (opostos relacionados ao ritmo do

pensamento) “Roubo de pensamento” “Salada de palavras” ou incoerência (“não fala coisa com

coisa”) Eco (repetição das idéias de outras pessoas)

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Quanto ao conteúdo (idéias, crenças, preocupações e obsessões da pessoa):

Delírios (veremos mais à frente) Idéias de influência (a pessoa se percebe

como alguém de muita importância – “Jesus”, “Napoleão”) e referência (tudo diz respeito a ela)

Pobreza de conteúdo

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11. CONSCIÊNCIA

É a capacidade neurológica de captar o ambiente e de se orientar de forma adequada, é estar lúcido. A consciência pode ser considerada do ponto de vista psiquiátrico, como um processo de coordenação e de síntese da atividade psíquica.

É uma das funções psíquicas com a qual estabelecemos contato com a realidade, através do qual tomamos conhecimento direto e imediato dos fenômenos que nos cercam.

Podemos ter alterações "fisiológicas" da consciência, dentre elas, sono, sonho, hipnose e cansaço.

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1. Alterações quantitativas: há variação do nível de consciência, ou seja, da claridade com que os fenômenos psíquicos são vivenciados, o indivíduo apresenta fala, pensamento e emoções que dificilmente podemos entender, confunde percepções, não consegue fixar sua atenção e geralmente está desorientado.

2. Alterações qualitativas: referem-se a variação de amplitude do campo de consciência. Uma alteração qualitativa é o estado crepuscular, onde há um estreitamento do campo da consciência, o paciente parece ter perdido o elo com o mundo exterior, quase não fala e age como se estivesse psiquicamente ausente. O estado crepuscular pode estar presente em algumas doenças como a epilepsia e a histeria.

Leve torpor obnubilação coma

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No Exame Psíquico é importante: Observar modificações no nível de consciência, registrar possíveis flutuações no nível de consciência e observar se há estreitamento da amplitude do campo de consciência. Isso pode ser observado pela capacidade de responder ao ambiente, em especial a participação no exame.

Duas outras funções auxiliam na avaliação da consciência, pois já estão alteradas em diminuições bem discretas do nível de consciência, quando o indivíduo nem aparenta estar sonolento ainda, que são: a atenção e a orientação.

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12. ATENÇÃO

Considera-se a atenção como um processo psicológico mediante o qual concentramos a nossa atividade psíquica sobre o estímulo que a solicita, seja este uma sensação, percepção, representação, afeto ou desejo, a fim de fixar, definir e selecionar as percepções, as representações, os conceitos e elaborar o pensamento. Resumidamente pode-se considerá-la como a capacidade de se concentrar, que pode ser espontânea ou ativa; é um processo intelectivo, afetivo e volitivo.

Distinguem-se duas formas de atenção: 1. Atenção voluntária: é aquela que exige certo esforço,

no sentido de orientar a atividade psíquica para determinado fim.

2. Espontânea: é a tendência natural da atividade psíquica orientar-se para os estímulos sensoriais e sensitivos

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O grau de concentração da atenção sobre determinado objeto não depende apenas do interesse, mas do estado de ânimo e das condições gerais do psiquismo.

O interesse e o pensamento são os dirigentes da atenção, sendo que a intensidade com que a efetuamos é o grau de concentração alcançado.

As alterações da atenção desempenham um importante papel no processo de conhecimento. Em geral estas alterações são secundárias, decorrem de perturbações de outras funções das quais depende o funcionamento normal da atenção. A fadiga, os estados tóxicos e diversos estados patológicos determinam uma incapacidade de concentrar a atenção.

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Hipoprosexia: é a diminuição da atenção, ou o enfraquecimento acentuado da atenção em todos os seus aspectos. É observada em estados infecciosos, embriaguez alcoólica, psicoses tóxicas, esquizofrenia e depressão. Pode ocorrer por:

- falta de interesse (deprimidos e esquizofrênicos) - déficit intelectual (oligofrenia e demência) - alterações da consciência (delirium) Os estados depressivos geralmente se acompanham de diminuição da

capacidade de concentrar a atenção como um todo. No entanto, têm aumento da concentração ativa para temas depressivos (hipertenacidade).

Hipotenacidade: diminuição da atenção "ativa". Hipertenacidade: aumento da atenção "ativa" Hipovigilância: diminuição da atenção "passiva" Hipervigilância: "distratibilidade", ou aumento da atenção "passiva" A Hipervigilância e Hipotenacidade podem ocorrer nos casos de

mania. A Hipovigilância e Hipertenacidade ocorrem nos casos de depressão.

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No Exame Psíquico é importante: Referir se o paciente está disperso ou

não, como se comporta em relação ao que acontece no ambiente.

Descrever se responde às perguntas prontamente ou é necessário repeti-las.

Pode-se pedir para que o paciente realize operações aritméticas ou enumere dias da semana ou meses, em ordem normal ou inversa o que exigiria mais atenção.

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ALUCINAÇÕES

As alucinações diferem das percepções normais por não serem desencadeadas por um objeto externo ou um estímulo sensorial

Tipos de alucinações: Auditivas: ruídos, zumbidos e especialmente

vozes geralmente ameaçadoras (persecutórias), raramente amigáveis, que se “comunicam” através de frases e comentários curtos, em forma de comandos

Visuais: produtos patológicos da percepção perturbada; são referidas como visão alucinatória de objetos ao redor da pessoa

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Táteis: relacionam-se à esfera das sensações corporais; podem incluir sensações alucinatórias de mal-estar no corpo da pessoa: “eletricidade”, sensações de ser atacados por radiações ou outros processos físicos. Podem sentir os órgãos internos repuxarem, serem cortados ou se corroerem. Sensações de funcionamento alterado dos órgãos especialmente os sexuais (homens sentem ardência na região genital e as mulheres sentem-se abusadas)

Olfato e paladar: relacionado com delírio de perseguição. A pessoa teme ser envenenada e pode sentir o paladar diferente em comidas e bebidas

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DELÍRIOS

São falsos juízos da realidade, baseados na projeção (a pessoa projeta no delírio o conteúdo de sua idéias patológicas). Possuem a mesma estrutura das alucinações

Idéias delirantes: ocorrem na imaginação da pessoa. Percepções delirantes: são percepções verdadeiras que são interpretadas de forma anormal

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Temas mais comuns dos delírios: Delírios de referência: forma mais comum. A pessoa

julga-se que tudo que ocorre ao seu redor tem relação com ela, está ocorrendo devido a ela e tem a finalidade de lhe comunicar alguma mensagem. Tem conteúdo de perseguição e ameaça

Delírios de prejuízo: as coisas acontecem contra a pessoa, que sempre está sendo prejudicada, ofendida ou diminuída pelas outras

Delírio de perseguição: fatos inofensivos são interpretados pela pessoa como sinais de ameaça e perseguição. Inicia-se com um sentimento sinistro de perseguição (“tensão de delírio”) e é seguido pela interpretação concreta de que a pessoa é perseguida ou vítima de complô

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Delírio erótico:mais freqüente em mulheres. A pessoa sente-se amada por um homem que conhece de passagem ou que nunca falou com ela. Justifica que o homem não a procura por laços de família ou posição social. Pode haver idéias de perseguição

Delírio de ciúmes:mais frequente em homens. O homem convence-se da infidelidade da mulher mesmo que não haja provas ou indícios para tal. Acusa a mulher de vida “desregrada”

Delírio de grandeza:o indivíduo superestima a sua própria pessoa. Pode se sentir “escolhido” para realizar feitos fantásticos.

Delírio de pequenês ou niilista:o indivíduo não vê mais nada em si que não seja a impotência, nulidade e perda. No delírio niilista o inidívuo pode sentir que não existe “realmente”, que vive somente na aparência; nega a sua existência e de seus familiares também.