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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES Fábio de Figueiredo ORIENTADORA: Profª. Luciana Madeira Rio de Janeiro 2016

GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE

MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

Fábio de Figueiredo

ORIENTADORA:

Profª. Luciana Madeira

Rio de Janeiro 2016

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Engenharia da Produção. Por: Fábio de Figueiredo

GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

Rio de Janeiro 2016

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AGRADECIMENTOS

Aos companheiros das Diretorias de Manutenção

e Operações da Varig e Webjet, que me

ensinaram a trabalhar pela segurança e

satisfação do cliente.

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DEDICATÓRIA

À minha esposa Priscila e ao nosso filho

Bernardo, dádivas de Deus para minha vida.

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EPÍGRAFE

“A principal finalidade de um esforço para compreender uma parte anteriormente não estudada da realidade é reduzir a complexidade do mundo real a um modelo compreensível e manipulável pelo homem.”

H. Igor Ansoff

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RESUMO

As metodologias de Gerenciamento de Projetos sempre dedicam

especial atenção ao subtema Gerenciamento de Custos, não importando se a

organização executora e/ou o projeto em questão seja de cunho lucrativo ou

não. É imprescindível garantir que os recursos financeiros orçados sejam

controlados. O presente trabalho monográfico visa identificar oportunidades de

redução de custos nos projetos de manutenção preventiva de aeronaves.

Devido a normas específicas de órgãos deste setor, a manutenção

preventiva das aeronaves é algo mandatório e faz parte de planos de

manutenção definidos pelos fabricantes e, por vezes, ampliados pelas

autoridades de aviação civil dos países em que a empresa opera. Nas páginas

seguintes serão apesentadas situações diversas que impactam no orçamento e

no controle dos referidos custos, dentre os quais: Atrasos na chegada de voos;

intempéries climáticas; intervalos de manutenção a serem observados;

disponibilidade de técnicos qualificados e habilitados; suprimento e logística de

ferramentas e materiais.

Em primeiro plano é demonstrado como tirar proveito das lições

aprendidas em projetos concluídos, viabilizando-se a redução contínua dos

custos nos projetos vindouros. Ratifica-se a importância de se armazenar os

registros em um banco de dados que permita a comparação entre o que foi

planejado e o que, efetivamente, se realizou.

Por fim, define-se que quando o projeto for de grande porte, deve-se

avaliar detalhadamente a opção pela gestão dos custos baseada em atividade,

conhecida como ABM (Activity-Based Management).

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METODOLOGIA

A metodologia escolhida para realização desta pesquisa é

basicamente a consulta à bibliografia disponível e o conhecimento empírico,

eventualmente registrado em anotações de trabalho, enquanto atuava como

Coordenador de Planejamento de Manutenção e Coordenador de Voos da

Varig S.A. e da Webjet Linhas Aéreas Ltda. Estas duas empresas aéreas

nacionais foram compradas por uma concorrente e deixaram de operar.

Da bibliografia, foram escolhidas obras técnicas relacionadas a

Gestão de Aeroportos, Gestão de Operações Logísticas, Gestão de

Manutenção Aeronáutica, Engenharia Aeronáutica, Administração Estratégica,

Administração de Serviços, Gerenciamento de Projetos e Gerenciamento de

Custos de Projetos. Toda a produção monográfica está devidamente

credenciada aos autores e obras referenciadas.

Outra forma de pesquisa foi através da internet, em sítios de

instituições e publicações periódicas.

O objetivo da consulta foi a identificação das oportunidades de

redução de custos utilizadas por empresas do ramo e a associação destas

oportunidades às técnicas de gerenciamento de custos de projetos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I

Manutenção Aeronáutica 13

1.1. Programas de Manutenção de Aeronaves 15 1.2. Operacionalizando a Manutenção Preventiva 16 1.3. Controle Técnico de Manutenção 19 1.4. Planejamento de Manutenção 20 1.5. Subcontratação de Serviços 22

CAPÍTULO II

Gerenciamento de Custos em Projetos de Manutenção 24

2.1. Conhecendo a Frota de Aeronaves 25 2.2. Gerenciando Projetos, Objetivos e Serviços 25 2.3. Aspectos Contábeis e Classificação de Custos 27 2.4. Orçamento e Controle de Custos 30

CAPÍTULO III

Redução de Custos na Manutenção Preventiva de Frota de Aeronaves 33

3.1. Tratativa dos Riscos 35

3.2. Combate aos Desperdícios 36

3.3. Ambiente “Zero Defeito” 39

3.4. Negociações 41

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CONCLUSÃO 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 47

ÍNDICE 50

ÍNDICE DE FIGURAS 52

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INTRODUÇÃO

Desde que Alberto Santos Dummont e os irmãos Wright construíram

suas máquinas voadoras, os operadores de aeronaves tem-se deparado com o

desafio de voar com segurança e a baixo custo. Não importa se a aeronave a

ser operada é um monomotor Grand Caravan ou um multimotor Antonov, há

custos operacionais comuns que vão desde a homologação do avião perante

as autoridades de aviação civil, até a aquisição de modernos sistemas de

posicionamento e auxílio ao pouso que permitem operações - em aeroportos

igualmente equipados – sem visibilidade e sem teto, ou seja totalmente às

escuras, sob fortes chuvas ou ainda sob nevasca (ANDERSON JR., 2015).

A indústria aeroespacial, assim como as operadoras de linhas

aéreas regulares, tem servido de benchmarking e de referência em termos de

pesquisa e desenvolvimento que visam a segurança, qualidade, custos,

pontualidade e regularidade de voos (TEGTMEIER, 2012). Decisões como a

escolha do material que irá compor a estrutura mecânica de um novo modelo

de aeronave a ser fabricado, são tão complexas que demandam soluções cada

dia mais inovadoras e criativas. No entanto, embora esta questão seja atual,

ela não é nova. Tampouco é novo o histórico de soluções encontradas, com

grande destaque às que foram pensadas e utilizadas nos períodos das grandes

guerras mundiais e da conquista do espaço (SUTHERLAND, 2014), e que

posteriormente viriam a ser adaptadas às situações operacionais ligadas ao

transporte aéreo comercial de carga e de passageiros.

Devido a normas específicas de órgãos deste setor, a manutenção

preventiva das aeronaves é algo mandatório e faz parte de planos de

manutenção definidos pelos fabricantes e, por vezes, ampliados pelas

autoridades de aviação civil dos países em que a empresa opera (ANAC,

2006). Estes serviços são executados em períodos que variam de 2 horas a 15

dias de solo, em intervalos controlados por calendário, hora voada e ciclo

(decolagem e pouso). Uma empresa aérea com 20 aeronaves que voem em

média 10h e 8 ciclos por dia, deve cumprir aproximadamente 5000 tarefas de

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manutenção preventiva por ano. É importantíssimo identificar e reduzir custos

destas inúmeras atividades.

Entretanto, no Brasil, há inúmeras variáveis envolvidas na

programação de parada de uma aeronave para serviços de manutenção.

Questões como atrasos na chegada de voos, intempéries climáticas, intervalos

de manutenção a serem observados, disponibilidade de técnicos qualificados e

habilitados, priorização de serviços de manutenção corretiva, permissão de

trabalho no aeroporto local, suprimento e logística de ferramentas e materiais,

costumam alterar várias vezes o período de solo previsto para cumprimento

das tarefas. Estas alterações podem ser muito significantes em termos de

custo final. Quanto mais as estudarmos estas variáveis, mais chance teremos

de as mitigarmos.

Os serviços de manutenção preventiva aeronáutica são repetitivos.

Portanto para controlar seus custos visando reduzi-los, deve-se analisar

constantemente todos os fatores do momento e compartilhar os dados

observados, a fim de que os riscos de imprevistos na programação estejam

controlados. Ainda assim, o gestor da manutenção deve ter um parâmetro de

custos de reprogramação e retrabalhos a serem comtemplados em seu

orçamento.

Há técnicas comprovadamente úteis, oriundas de outros ramos e

que nos ajudaram a traçar as diretrizes para identificar e reduzir os custos dos

serviços de manutenção em aeronaves. Destacaremos as seguintes: a)

Gerenciamento de Projetos por atividades numa EAP (estrutura analítica do

projeto) e; b) Produção Enxuta (Lean Manufacturing) com base na eliminação

de desperdícios (SUTHERLAND, 2014).

Não podemos nos esquecer de que avião em rota não pára no

acostamento. Entre uma etapa e outra de voo, os tempos de solo duram em

média 30 minutos (ANAC, 2016). Mas, segundo ASHFORD et al (2015), é

necessário que pelo menos uma vez a cada dia, estes tempos de solo se

estendam por pelo menos 4 horas, a fim de viabilizar a alocação de recursos

e/ou o deslocamento da aeronave à uma área do aeroporto onde seja permitido

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efetuar determinadas intervenções de manutenção, ou ainda até o hangar mais

próximo.

É necessário aproveitar todos os recursos de forma inteligente, para

executar com sucesso as intervenções de manutenção exigidas pelo

fabricante, pela engenharia de manutenção ou pela autoridade de aviação civil.

Um destes recursos, o tempo, é o mais crítico (PMBOK, 2008).

Num ramo onde as margens de rentabilidade do negócio são tão

reduzidas quanto na aviação (JOSEF BARAT, 2012), é de se admirar que

existam tão poucas publicações a retratar o tema de custos relacionados à

manutenção aeronáutica. Para Barat (2012), dentre os custos operacionais de

uma empresa aérea, a manutenção de suas aeronaves é o segundo maior,

ficando atrás apenas dos custos com combustível. Enfatizo assim, a

importância deste estudo, principalmente no intuito de alavancar discussões e

fomentar aos docentes, discentes, profissionais e entusiastas da área que

cooperem de alguma forma com a disseminação de ideias correlatas, a

despeito do canal a ser escolhido.

No primeiro capítulo desta monografia, analisaremos o contexto

específico e peculiar da manutenção aeronáutica, já com enfoque no

conhecimento das variáveis e restrições que regem as operações da aviação

civil nacional. Passando-se ao segundo capítulo, destaca-se a ampliação da

visão de produto final de um projeto aos serviços de manutenção, fazendo-nos

entender especificamente a origem e classificação contábil dos custos, bem

como a metodologia orçamentária e de controle. No último capítulo, identificam-

se as oportunidades de redução de custos nos projetos de manutenção

preventiva de aeronaves, correlacionando-se as evidências contábeis, a

análise de riscos, o combate ao desperdício e a busca pela excelência na

qualidade final e na garantia de novos negócios.

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CAPÍTULO I

MANUTENÇÃO AERONÁUTICA

Os fabricantes de aeronaves, fornecem aos compradores de seus

aviões os manuais de manutenção. Estes manuais de manutenção contêm,

basicamente, as informações, instruções de trabalho e boas práticas a serem

seguidas pelos profissionais técnicos em cada sistema / área de intervenção.

Devido a normas específicas de órgãos da aviação civil, a

manutenção preventiva das aeronaves é algo mandatório e faz parte de planos

de manutenção definidos pelos fabricantes e, por vezes, ampliados pelo órgão

regulador. Os serviços de cunho preventivo são executados em períodos que

variam de minutos a dias de solo, e em intervalos controlados por calendário,

número de horas voadas e ciclos (decolagem e pouso) realizados pelo avião. É

importante ressaltar que, aqui, estamos diante de eventos únicos, que embora

sejam descritos como uma atividade repetitivas a uma determinada frequência,

não tem suas condições reproduzidas, uma vez que as aeronaves estarão sob

outras condições em termos de utilização, quando de suas repetições.

Para Kinnison (2004), a despeito de termos uma considerável

melhora na qualidade e confiabilidade dos componentes e sistemas, assim

como em materiais e procedimentos, durante os 100 anos de história da

aviação, nós ainda não alcançamos a perfeição total. Equipamentos de

aviação, não importando quão bons e confiáveis sejam, ainda precisam de

atenção, de tempos em tempos. Outro ponto a ser observado é que as

aeronaves são normalmente os equipamentos que primeiro recebem as

inovações tecnológicas, fazendo com que novos ciclos de manutenções

preventivas se iniciem.

Algumas intervenções de manutenção são realizadas em rampa,

como a verificação física visual das rodas e pneus, reabastecimento de

combustíveis, óleo e fluidos, passando pelo reparo de pequenas falhas

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registradas na caderneta técnica pelo comandante, para as quais não seja

necessário a retirada da aeronave de serviço (Ashford et al, 2015).

Já as intervenções mais complexas, pesquisas de pane, substituição

de motores, reparos estruturais e outras mais demoradas, poderão requerer o

deslocamento da aeronave por terra, até uma área apropriada de manutenção

(KINNISON, 2004). Este caso específico é o que originou o problema objeto de

nosso estudo. O gerenciamento de projetos de manutenção preventiva

aeronáutica e, por conseguinte, a crescente preocupação em identificar e

diminuir seus custos, têm-se posicionado como relevantes temas entre os

estudiosos deste ramo. O desafio é grande, pois não se pode, de maneira

alguma, abrir mão do cumprimento da legislação em vigor, que preza pela

segurança de voo, em primeiro lugar.

No Brasil, a concessão do serviço público de transporte aéreo é

regulada pela Agência Nacional de Aviação Civil:

A atividade regulatória da ANAC pode ser dividida em duas vertentes: a regulação técnica e a regulação econômica. A regulação técnica ocupa papel de destaque na Agência e busca principalmente a garantia da segurança aos passageiros e usuários da Aviação Civil, por meio de regulamentos que tratam sobre a certificação e fiscalização da indústria. Isto decorre da necessidade de que as operações aéreas cumpram rígidos requisitos de segurança e de treinamento de mão de obra. (ANAC, 2016).

Com base em legislação específica do setor, uma empresa

homologada de linha aérea regular pode operar com ou sem bases de

manutenção, subcontratando, neste caso, oficinas de manutenção

aeronáuticas homologadas que atendam aos programas de manutenção das

aeronaves. Os regulamentos RBAC 121, RBAC 145, RBHA 91 e RBHA 135

(ANAC, 2016) especificam as normas relacionadas aos operadores e

mantenedores de aeronaves.

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1.1. Programas de Manutenção de Aeronaves

Há dois tipos de tratativas no desenvolvimento de Programas de

Manutenção citadas por Kinnison (2004), quais sejam: A tratativa orientada a

processos, que lida com a atitude perante as ações de manutenção e, a

tratativa orientada a tarefas, que define a maneira como as ações de

manutenção são determinadas e endereçadas aos componentes e sistemas.

Referente à classificação supracitada, será destacada apenas a tratativa

orientada a processos, na qual a redução de custos tem se apresentado como

diferencial de escolha.

Na tratativa orientada a processos, Kinnison (2004) destaca o

controle de subcomponentes por hora-limite (HT), monitoramento de condições

(CM) e “em condições” (OC). Ainda complementa, informando que o

monitoramento de condições (CM), não monitora na prática a “condição” de um

subcomponente, mas sim, as estatísticas de falha ou de remoção da unidade.

Na verdade, o monitoramento das condições de um componente é realizado

pelo processo “em condições” (OC). Já o processo por hora-limite (HT), é

apresentado como um preventivo de falhas que requer que o item seja

removido, reparado por completo ou parcialmente, ou até mesmo descartado

antes que alcance um determinado prazo limite.

A fabricante Boeing, relata em seu site um breve histórico da origem

dos Programas de Manutenção baseados em tarefas:

O manual “Maintenance evaluation and Program Development” , também citado como “MSG-1” foi desenvolvido em 1968 para o Boeing 747 [...]. MSG-1 usava a lógica decisória para desenvolver manutenção programada.

Para as aeronaves dos anos 70, foi desenvolvido o documento “Airline/Manufacturer Maintenance Program Planning” ou “MSG-2” [...]. A filosofia do MSG-2 era baseada no fato de que todo avião e seus componentes alcançam um momento em que deverão ser “zerados” ou “revisados” por completo e recondicionados como novos.

Em 1978, a United Airlines [...] desenvolveu uma metodologia para estruturar Programas de Manutenção baseados em

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práticas testadas e aprovadas pelas linhas aéreas. Esta metodologia foi a base do MSG-3, o padrão atual da indústria.

Esta metodologia tem uma tratativa orientada a tarefas que analisa os modos de falha dos sistemas de um certo nível, ou de cima a baixo. As tarefas de manutenção são realizadas por razão de segurança, operação ou economia. Envolvem tanto a manutenção preventiva, quanto tarefas de pesquisa de pane. (BOEING, 2016, p.06, tradução minha).

Embora o modelo dos reguladores e da Boeing seja efetivo em

termos de segurança, não podemos nos esquecer daqueles que são

elaborados por técnicos e engenheiros das linhas aéreas. Nestes modelos, as

boas práticas de manutenção e as lições aprendidas em projetos anteriores,

somam-se aos requisitos anteriormente apresentados, possibilitando

intervenções mais eficientes e menos custosas, embora algumas vezes, mais

frequentes.

1.2. Operacionalizando a Manutenção Preventiva

Avaliando os exemplos de Programas de Manutenção apresentados

por Kinnison e pela Boeing, há que se enfatizar que o empenho na redução de

custos operacionais evolui constantemente, permitindo a cada operador

escolher o Programa de Manutenção que melhor se aplica à sua frota, em cada

momento da operação, resguardando-se a conformidade de migração entre um

e outro.

A despeito do programa de manutenção a ser escolhido, deve-se

tomar como premissa o seguinte:

Manutenção é o processo de garantir que um sistema execute continuamente sua função pretendida no nível para o qual foi projetado em termos de confiabilidade e segurança. (KINNISON, 2004, p.35, tradução minha).

Os custos envolvidos na manutenção de aeronaves, também

passam pelo consumo de combustível, um insumo necessário para testes de

motores e sistemas, inclusive em voo. Além disso, etapas de posicionamento

das aeronaves em centros de manutenção (ferry flights) e de reposicionamento

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posterior na malha operacional, também consomem uma quantidade relevante

de combustível. Segundo a OPEC (2010), o consumo de toneladas de

combustível por quilometro voado, aumentou em média 6,1% durante as

décadas iniciadas em 1980, 1990 e 2000. Neste nível, o setor de aviação

consome 5,8% de todo o petróleo consumido no mundo.

Voar com segurança e confiabilidade, em equipamentos com

manutenção em dia, reduz consideravelmente o consumo de combustível, quer

seja pela diminuição de testes e voos relacionados à manutenção, quer seja

pelo bom rendimento dos motores principais e auxiliares. Aeronaves lavadas e

com pintura polida, também economizam combustível em função da diminuição

do coeficiente de arrasto (resistência do ar ao movimento da aeronave),

segundo Anderson Jr. (2015).

Com base com o que ora é apresentado, conclui-se que distinguir a

manutenção preventiva de aeronaves de sua operação propriamente dita, é

tarefa bastante difícil. Boa parte da malha aérea de uma empresa é pensada e

definida com base nas “operações” de manutenção já previstas, a serem

realizadas em intervalos de tempo conhecidos. Com isso, é muito comum que

um determinado modelo de aeronave opere uma rota favorável à programação

de paradas em bases qualificadas e habilitadas a cumprirem as tarefas

requeridas (CONTATO RADAR, 2016).

No Brasil existem 734 aeroportos e aeródromos de todos os portes,

sendo esta a segunda maior rede do mundo, apenas superada pelos Estados

Unidos com 5.146, conforme Barat (2012). Entretanto, hangares ou centros de

manutenção homologados para aeronaves civis de médio porte são apenas 13,

localizados nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, São José dos Campos,

São Carlos, Gavião Peixoto, Salvador, Brasília, Confins, Pampulha e Porto

Alegre (ANAC, 2016). Estes números refletem que a maioria dos centros de

manutenção estão no sudeste, por onde passa também a maioria das

aeronaves.

Em análise aos obstáculos que o setor aéreo enfrenta, Barat (2012)

cita a tributação brasileira como uma restrição. Por conta das diferentes

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localizações de aeroportos e centros de manutenção no Brasil, a estimativa dos

custos indiretos com serviços contratados e com as operações realizadas são

afetadas pela variação do ICMS, imposto estadual que obriga as empresas

aéreas a adotar complexas logísticas operacionais a fim de reduzir seus custos

e tentar obter lucro na operação.

Mas, as dificuldades não param por aí. Nem sempre há

infraestrutura, equipamentos, mão-de-obra, hangar, ferramental, material de

reposição e de consumo disponíveis, e assim, não são raras as

reprogramações de serviço para momento e local mais oportunos, como forma

de também reduzir os custos. Por vezes, a realização de serviços de

manutenção em empresas localizadas no exterior pode ser viável, a depender

do serviço, tributação, políticas alfandegárias e trabalhistas.

Outro custo relevante se refere a aquisição de materiais de

consumo, peças de reposição e subcomponentes em moeda estrangeira.

Como para o PMBOK (2008), as estimativas de custo são um prognóstico

baseado na informação conhecida num determinado momento, é preciso

estabelecer contratualmente os valores mínimos e máximos aceitáveis em

termos de variação cambial para ambas as partes, fornecedor e cliente, em um

dado período futuro.

Não se pode esquecer que o fato de uma aeronave operar

exclusivamente no Brasil, não exime seus arrendatários ou proprietários de

atender a legislações internacionais do setor. Em outras palavras, algumas

tarefas de manutenção podem ser reguladas por órgãos internacionais, não

prejudicando a aeronavegabilidade dentro de nosso país, mas expondo às

empresas que não as cumprem a penalidades contratuais.

Barat (2012), chama atenção de que o ramo da aviação é um dos

poucos onde o planejamento de uma manutenção preventiva sofre tantos

revezes. Na operação de uma linha aérea regular, há inúmeras variáveis que

acarretam a reprogramação de parada de uma aeronave para serviços de

manutenção. Questões como atrasos na chegada de voos, intempéries

climáticas, alterações na programação de voos para determinada aeronave,

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intervalos limites de manutenção a serem observados, utilização média diária,

disponibilidade de técnicos qualificados e habilitados, priorização de serviços

de manutenção corretiva, permissão de trabalho no aeroporto local, suprimento

de ferramentas e materiais, dentre outros, costumam alterar várias vezes a

programação do período de solo previsto para cumprimento das tarefas. Estas

alterações podem ser muito significantes em termos de custo final,

especialmente quando envolvem traslados de posicionamento, ou seja, voos

não-produtivos, sem carga e sem passageiros.

1.3. Controle Técnico de Manutenção

Atividades de manutenção preventiva costumam ser repetitivas num

determinado intervalo. Cabe ressaltar que mesmo sem levantar voo, as

aeronaves devem estar disponíveis, ou seja, em condições de assumir um voo.

Por vezes, é requerida uma determinada inspeção ou verificação diária, que a

despeito de nenhum voo ter sido realizado, deve ser cumprida (KINNISON,

2004).

Esporadicamente, pode-se solicitar à tripulação técnica, que de

forma oportuna, realize em voo um determinado teste, ou ainda, que permita a

presença de um membro da equipe de terra na cabine de comando da

aeronave para monitoramento e registro de determinados parâmetros de voo

que comporão os dados da pesquisa de pane, proporcionando uma definição

mais objetiva e prática do que fazer quando a aeronave estiver por mais tempo

em solo. O relato destas atividades deve ser minuciosamente registrado pela

tripulação no livro de bordo, a fim de dar ainda mais crédito aos registros da

equipe de terra. Registros técnicos bem elaborados, documentados e

arquivados podem evitar que um determinado serviço seja repetido ou até

mesmo contratado novamente a terceiros. O PMBOK (2008) atesta que o

registro e a documentação de qualquer tipo de projeto são a base do

conhecimento organizacional corporativo.

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Na aviação, qualquer parafuso, rebite, graxa, ou outro item pequeno

instalado ou consumido na aeronave deve ser passível de rastreabilidade

“desde o berço”, ou seja, desde sua fabricação. Materiais controlados por lote,

ou por número de série, devem ter seus respectivos documentos disponíveis

para serem anexados como evidência de conformidade em relação às

instruções das diretrizes aeronáuticas (serviços mandatórios) ou do manual de

manutenção (ANDERSON JR., 2015).

Todo este conjunto de cuidados relativos aos registros, documentos

da aeronave, da empresa, dos mecânicos e da tripulação é conhecido como

Legalidade Aeronáutica (ANAC, 2016). Costuma-se dizer que sem papel a

aviação pára. E isso não é exagero, como há diferentes legislações

aeronáuticas ao redor do mundo, alguns registros físicos (papéis) podem ser

requeridos pelo proprietário ou por alguma autoridade do ramo em até 20 anos

ou mais (KINNISON, 2004). Alguns destes documentos seguem sujos de

graxa, o que dá ainda mais valor ao documento, pois considera-se que o

técnico executor da tarefa consultou suas instruções a todo tempo.

1.4. Planejamento de Manutenção

Os centros de controle operacionais das grandes empresas aéreas,

dispõem de uma estrutura dedicada à manutenção (ASHFORD et al, 2015).

Técnicos experientes cuidam das atividades relacionadas a ações corretivas

que garantam o despacho legal e seguro do voo, em decisões que devem ser

tomadas em questões de minutos.

No que tange a ações corretivas, estas eventualmente são

consequências de tratativas preventivas para as quais não era previsto

encontrar anormalidade. Taleb (2008) afirma que o que imaginamos,

discutimos ou nos preocupamos, não necessariamente acontecerá, pois nos

preocupamos com os eventos “improváveis” errados. Não há como prever o

que desconhecemos, ou seja, aquilo do qual nunca ouvimos falar e que nunca

antes aconteceu.

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No que tange ao planejamento de manutenção, devido à extrema

utilização das aeronaves para voo e pouco tempo disponível de solo, as ações

corretivas (decorrentes das preventivas) costumam gerar indisponibilidade da

aeronave para atender a programação seguinte de voos, ocasionando prejuízo

a todos, desde a empresa aérea, passageiros, contratantes dos serviços e os

próprios planejadores, uma vez que precisarão replanejar as atividades

(KINNISON, 2004).

Nos centros de controle operacionais (CCO), também é prevista a

interação face-à-face dos coordenadores de voo com os analistas que cuidam

do planejamento e replanejamento das tarefas preventivas. Eles precisam

reagir rapidamente às alterações de malhas que podem culminar no desvio de

determinada aeronave para outra trilha de voos e, por conseguinte, outro

destino final. No CCO da extinta Varig S/A em cada turno havia 1 planejador de

manutenção para cada 4 coordenadores de voo. Somente assim era possível

dar fluxo às demandas diárias de manutenção de uma empresa que chegou a

operar 134 aeronaves simultaneamente (CONTATO RADAR, 2016).

Cabe ao planejador de manutenção conhecer os prazos e limitações

legais a fim de oferecer soluções alternativas às já programadas e proporcionar

aumento da eficiência operacional da empresa (ANAC, 2016). Por que manter

uma operação em atraso, quando se pode trocar os planos e realizar a

intervenção de manutenção no dia seguinte? A empresa, seus acionistas e

clientes agradecem.

No decorrer dos anos, algumas ações preventivas se tornam mais

frequentes por terem seu intervalo reduzido quando da proximidade da

aeronave em atingir sua vida útil (KINNISON, 2004). Manter a operação deste

modelo na frota, pode exigir mais ações corretivas decorrentes de tarefas

preventivas como a inspeção estrutural, por exemplo. A análise do retorno

sobre o investimento, em termos operacionais e comerciais, deve se tornar

ainda mais criteriosa. Certa vez, ao ser planejada uma parada de manutenção

mais longa de um Boeing 737-300 da Webjet Linhas Aéreas Ltda. (empresa

extinta), percebeu-se que uma aeronave Boeing 737-300 estava próxima de

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22

alcançar os 60.000 ciclos de voo, faixa a partir da qual deveria cumprir uma

completa revisão estrutural, que custaria cerca de US$ 4 milhões e uns 60 dias

de indisponibilidade. Foi proposto à diretoria da empresa que deixasse a

aeronave em reserva de operação, desta forma foram ganhos 2 anos sem este

impacto e, durante este período, a empresa negociou a venda da aeronave

para desmonte e remoção de peças (CONTATO RADAR, 2016).

O aperfeiçoamento dos processos de trabalho, a nível de técnicas,

tecnologias e recursos empregados, tende a permitir a antecipação da

execução de serviços mais simples compatíveis com os que foram

anteriormente programados. Assim, aproveitam-se os mesmos recursos para a

execução de mais tarefas, até mesmo em diferentes aeronaves que estejam

simultaneamente em solo e geograficamente próximas. O PMBOK (2008)

classifica esta metodologia como paralelismo de atividades.

Quando for necessário programar tarefas mais complexas e

demoradas, deve-se utilizar o maior intervalo possível entre duas

programações distintas destes serviços, desde que respeitadas a

disponibilidade dos recursos e a estratégia operacional da linha aérea, que

normalmente opta por realizá-las em períodos de baixa demanda de

passageiros e/ou cargas. Agindo assim, o ciclo de alocação de maiores

recursos tende a ser mais longo e menos custoso (KOLANJIAPPAN, 2015).

1.5. Subcontratação de Serviços

O atendimento às demandas de manutenção, às vezes, é oferecido

por terceiros, que uma vez credenciados junto ao órgão responsável,

estruturam-se e vendem serviços relacionados à frota para qual estão

habilitados a cuidar (ANAC, 2016). Isto possibilita ao contratante uma melhor

estimativa de custos e analise do desempenho final do projeto com vistas ao

aperfeiçoamento dos seguintes.

Page 23: GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

23

O conhecimento da tarefa a ser executada favorece ao operador

decidir entre contratar os serviços ou realizá-los através de recursos próprios.

Quanto mais dados são analisados, mais subsídios são obtidos para negociar

melhores preços com os fornecedores nacionais e estrangeiros (TEGTMEIER,

2012).

No capítulo seguinte, daremos prosseguimento ao tema através da

conceituação de projetos de serviços, classificação de custos e técnica de

orçamentação, enquadrados no cenário da manutenção de frota de aeronaves.

Page 24: GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

24

CAPÍTULO II

GERENCIAMENTO DE CUSTOS EM PROJETOS DE MANUTENÇÃO

O desenvolvimento simultâneo de várias atividades e a conseguinte

coordenação de todos os recursos disponibilizados, proporcionam um desafio

ímpar em projetos de manutenção preventiva de frotas de aeronaves.

As frotas são divididas em modelos de aeronaves e no grupo destes

modelos, há aeronaves com características diferentes. Segundo Anderson Jr.

(2015), esta diferenciação se deve a inúmeras razões, dentre as quais se

destacam:

a) Configurações originais de fábrica solicitadas pelos primeiros

proprietários, como por exemplo, um componente adicional de entretenimento

a bordo ou um sistema opcional de diminuição de arrasto aerodinâmico para

redução do consumo de combustível;

b) Processos e/ou materiais alternativos utilizados em determinado

número de série produzido. Pode-se eventualmente substituir o fornecedor das

tintas de acabamento da fuselagem, mantendo-se os requisitos técnicos e

atendendo as demandas de tonalidade especificadas por quem irá operar a

aeronave;

c) Modificações pós-entrega em cumprimento à uma diretriz de

aeronavegabilidade ou à uma sugestão do fabricante. Estas modificações

visam ganhos em segurança operacional de voo ou aeroportuária, ou ainda

vislumbram oportunidades de aumento de vida útil de determinado

equipamento ou sistema aeronáutico.

Page 25: GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

25

2.1. Conhecendo a Frota de Aeronaves

Cada linha de produção de aeronaves de cada fabricante, demanda

manuais específicos para as unidades ali produzidas. Segundo Kinnison

(2004), há manuais para manutenção da aeronave (AMM), manutenção dos

componentes da aeronave (CMM), catálogo ilustrado de peças (IPC), manual

de diagramas elétricos (WDM), lista de equipamentos mínimos (MEL), dentre

outros. Todos estes, são utilizados como referência e instrução técnica do

fabricante para cumprimento das tarefas preventivas constantes do banco de

dados para planejamento da manutenção (MPD), outro documento também

fornecido pela fábrica e específico para cada aeronave produzida em cada

linha de produção.

A despeito das múltiplas características até aqui apresentadas,

existem também as similaridades entre os modelos de aeronaves.

Similaridades básicas como dimensões, formas, configurações de passageiros

e de cargas, número de motores, e outras mais, que nos possibilitam

enquadrar suas atividades de manutenção e destiná-las um controle por

processos que reunirá a definição dos recursos necessários para manter sua

funcionalidade. A padronização da frota é uma das melhores alternativas para

se reduzir e controlar os custos (TEGTMEIER, 2012).

A funcionalidade de uma aeronave é a base de sua

despachabilidade, ou seja, de sua condição operacional de assumir voos.

Alcançar este objetivo e manter bons indicadores deste quesito para toda a

frota é um dos principais interesses estratégicos das companhias aéreas

(TEGTMEIER,2012).

2.2. Gerenciando Projetos, Objetivos e Serviços

Para Kinnison (2004), a seção de Planejamento do MPD detalha a

responsabilidade por planejar todas as atividades relacionadas à manutenção,

incluindo mão-de-obra, infraestrutura, e suprimentos necessários à estas

Page 26: GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

26

atividades. O Planejamento também coleta os dados sobre tempo de

execução, mão-de-obra empregada e infraestrutura realmente utilizada na

realização da manutenção, para de forma acurada, reajustar estes requisitos

no planejamento das tarefas de manutenção subsequentes (GIANESE &

CORRÊA, 1996).

Cada aeronave em operação, de acordo com a média diária de

horas voadas, pode ser objeto de centenas de intervenções anuais de

manutenção. De acordo com o MPD dos fabricantes, algumas tarefas são

cíclicas, a cada voo, outras são diárias, e também há aquelas programadas a

cada determinado número de horas de voo (KINNISON, 2004). Algumas destas

intervenções, no entanto, requerem esforços bem coordenados. As revisões

gerais, manutenções com maior intervalo de execução dependem de recursos

coordenados por um time de especialistas em projetos, dada à sua

complexidade. Estudos como programação linear e pesquisa operacional,

também são bem-vindos, a fim de identificar gargalos e otimizar recursos

(SMAILES & McGRANE, 2010).

Peter Drucker citado por Do Valle et al (2007), popularizou na

década de 1950 entre as grandes corporações o termo gerenciamento por

objetivos, um processo de gestão no qual o corpo diretivo e os funcionários

concordam em objetivos comuns e passam a estabelecer prazos, métricas e

modo de atingi-los. O conceito de gerenciamento por objetivos, influenciaria

significativamente a formulação da teoria de gerenciamento de projetos. Hoje,

quer seja no ramo acadêmico ou profissional, percebo ainda viva a teoria do

gerenciamento por objetivos, embora não formalizada. As metodologias atuais

de gerenciamento de projetos, convergem para o alcance de objetivos comuns,

divididos em blocos de tarefas (MARTINELLI, 2009).

Segundo Do Valle et al (2007), os projetos geram produtos, serviços,

ou resultados exclusivos e singulares.

A tarefa central do gerenciamento de projetos sempre foi a combinação do trabalho de diferentes pessoas para a execução de tarefas que seriam úteis para os clientes ou as organizações. Independentemente do projeto, seja a construção de uma

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27

catedral ou a de um avião para 500 passageiros, existe um núcleo central de conceitos e processos que é compartilhado pela maioria dos projetos. (DO VALLE et al, 2007, p.26-27).

Na ótica de Clemente (2002), o conceito de projeto é amplo e

poderia facilmente ser aplicado a qualquer atividade de planejamento, afinal, a

essência da atividade de planejamento é a escolha de situações futuras

adequadas ao ambiente que envolve a organização e o estudo dos cursos

alternativos de ação para alcançá-las.

Analisando as duas definições sob a condição do gerenciamento de

projetos, considerando a prestação de serviço como produto final, entende-se

que a proposição de Clemente (2002) é a mais coerente. Como no

gerenciamento de projetos trabalha-se a divisão das atividades em blocos,

configurando a estrutura analítica do projeto (EAP), podemos por analogia

associar uma tarefa de manutenção mais simples, ou até mesmo um bloco de

atividades a ser realizada durante o pernoite de uma aeronave no aeroporto,

como um pequeno projeto.

Corpo técnico, espaço físico, infraestrutura industrial, disponibilidade

de materiais, fornecedores credenciados, verbas para contratação de

prestadores de serviço, fluxo de informações e intervalo de solo disponível, são

alguns recursos a serem planejados. Para Dinsmore & Silveira Neto (2004),

gerenciar estes fatores, juntamente com o orçamento, cronograma e dos

padrões de qualidade, é função do gerente de projetos, ou de profissionais

habilidosos que detenham conhecimento específico para conduzi-los.

2.3. Aspectos Contábeis e Classificação de Custos

No Brasil, as demonstrações de resultado do exercício das

empresas aéreas são apresentadas com base nos balanços anuais que

coincidem com o ano civil, sendo finalizados em 31 de dezembro. Para

Stickney & Weil (2001), as atividades operacionais da maioria das empresas

modernas não se dividem tão facilmente em “projetos”. Por esta razão, e

Page 28: GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

28

devido à constante postergação de data de início, não raramente um projeto é

concluído fora do prazo, prejudicando os resultados do período contábil

seguinte. Há que se destacar que, em alguns casos, até mesmo a antecipação

da data de conclusão pode gerar um problema de fluxo de caixa não orçado.

O fato é que, desde o estudo de sua viabilidade técnico e econômica,

passando-se por sua execução e até dar-se por concluído, qualquer projeto

envolve custos. Na área de manutenção preventiva aeronáutica os custos

destes projetos devem ser diariamente aferidos, uma vez que, em detrimento

de seu viés operacional, não são considerados como fatores geradores de

receita (RODRIGUES, 2013).

Martinelli (2009), enfatiza que para um projeto apresentar resultados

financeiros desejáveis, é necessário conhecer e identificar todos os custos

envolvidos, desde os da fase inicial, quando ainda não foi tomada a decisão de

ir adiante no projeto, até aqueles custos para encerramento e lançamento.

Destaca ainda, que o corte custos relacionados a investimentos em estudos de

viabilidade tem reflexo direto no objetivo do projeto, considerando que o

controle de custos deve ser iniciado na fase de planejamento, uma das mais

importantes de qualquer projeto. E, complementa:

O gerenciamento de custos no projeto considera, além dos recursos necessários para se terminar as atividades do cronograma, o efeito das decisões sobre os custos de utilização, manutenção e suporte do produto ou serviço.

As estimativas de custos do projeto são ferramentas que aprimoram as tomadas de decisões, quando se conhece os custos envolvidos, torna-se possível controlar e analisar a melhoria dos prazos e desempenho de entrega do projeto.

........................................................................................................

Normalmente, a estimativa de custos inclui a identificação e a consideração de diversas alternativas. A exatidão de uma estimativa de custos de um projeto tende a aumentar à medida que o projeto se desenvolve e vão se obtendo mais informações sobre o projeto.

Os custos das atividades do cronograma envolvem, mas não se limitam a mão-de-obra, materiais, equipamentos, serviços, instalações, provisão de inflação, custos de contingência, entre outros. (MARTINELLI, 2009, p. 84).

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29

Seguramente, não há como dissociar a estimativa dos custos da

fase de planejamento do projeto. Nenhuma decisão de dimensionamento de

recursos será racional, caso não leve em consideração o custo contábil

envolvido.

Já em relação a como estes custos incidem no projeto, Freires

(2011) os classifica como diretos e indiretos, sendo diretos aqueles que podem

ser apropriados diretamente à tarefa realizada e indiretos, os que dependem de

cálculo, rateios ou estimativas para serem apropriados. Os custos diretos

agregam valor ao serviço (RODRIGUES, 2013).

Tomando por base a classificação de Freires (2011), a manutenção

preventiva aeronáutica apresenta como custos diretos os materiais consumidos

nos serviços, como óleo de motor, anéis de vedação e fixadores. A mão-de-

obra dos técnicos e inspetores que executam as tarefas também são

classificados como custos diretos. Quanto a exemplos de custos indiretos,

consideram-se: material de limpeza, manutenção de ferramentas, impostos,

seguros, aluguel de armazéns, equipamentos de proteção individual, mão-de-

obra indireta, subsídio a refeições, dentre outros.

Considerando-se o cenário da aviação comercial, os custos fixos

podem ser representados pelo aluguel do hangar. Nos custos variáveis

enquadraríamos as horas-extras e adicionais noturnos dos técnicos. Já nos

mistos, encontraríamos, por exemplo, a conta de energia elétrica, que mesmo

quando não consumida, ainda é cobrada com uma taxa mínima, pela

disponibilização por parte da concessionária.

Freires (2011), também discorre sobre a classificação de custos

baseada na relação do volume de atividades por unidade de tempo, sendo

considerados como custos fixos, variáveis e mistos. Fixos são aqueles cujos

valores são os mesmos, qualquer que seja o volume de produção da empresa.

Variáveis, são os que tem valor alterado em função do volume de produção. Já

os mistos, ou semivariáveis, variam parcialmente com o nível de produção,

mas possuem uma parcela constante, ainda que não haja produção.

Classificação complementar é feita por Rodrigues (2013), que nos apresenta a

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30

metodologia de custeio ABC (Custeio Baseado em Atividades). Nela,

estabelecem-se relações entre as atividades e o consumo de recursos,

independentemente de fronteiras departamentais, permitindo a identificação

dos fatores que levam a organização a incorrer em custos nos seus processos

de oferta de produtos e serviços.

No que se refere a controle de custos, quanto mais rastreabilidade

estiver disponível melhor. Sendo assim, a metodologia ABC tem grande

vantagem em relação às demais que foram citadas. Além de favorecer o

controle e alocação de custos em cada atividade, esta metodologia também

traz benefícios à orçamentação de projetos futuros, estudando-se caso a caso

o histórico de atividades comuns realizadas em projetos anteriores. Os

planejadores de manutenção que contratam serviços estão sempre atentos a

estes valores médios, a fim de balizar as futuras negociações de preços.

2.4. Orçamento e Controle de Custos

Normalmente, as empresas subestimam os valores orçados para os

projetos, cabendo aos analistas de custo revisar e apresentar com frequência o

status do que fora planejado ante o realizado. Esta apresentação é

exemplificada por Fitzsimmons & Fitzsimmons (2014) como o gráfico de valor

agregado, mas é também conhecido como “curva S””, sendo apresentado na

figura a seguir:

Page 31: GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

31

Figura 1 – Gráfico de valor agregado. (Fonte: Fitzsimmons & Fitzsimmons, 2014).

Thiry-Cherques & Pimenta (2013), propõem que o orçamento ou

estimativa de custos de um projeto de qualquer tipo, deva assegurar: a) A

alocação de todos os custos do projeto num quadro lógico de fácil acesso; b) A

determinação do custo total do projeto em seus contornos mais amplos e as

previsões de possíveis alterações contingenciais; c) A possibilidade de efetivo

controle dos custos do projeto nas etapas subsequentes à configuração; d) A

conversibilidade em relação aos mecanismos orçamentários das organizações

com interesse no projeto, de modo a viabilizar a conexão e a interação entre os

mecanismos orçamentários das organizações e o orçamento do projeto.

E quanto ao rigor requerido para orçar, afirmam:

Ao configurar o projeto, é essencial que se tenha em mente a importância da obtenção de informações acuradas para elaboração do orçamento. É uma crença comum que o rigor na elaboração do orçamento limita a criatividade na administração e restringe a tomada de decisões que poderiam afetar positivamente a qualidade do projeto. O equívoco aqui é duplo: toma-se o efeito pela causa e desconhece-se o ofício da administração de projetos.

O fato gerador dos problemas relacionados com o orçamento é a escassez de orçamentos construídos tecnicamente. Como

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32

orçamentos mal elaborados comprometem a negociação, a administração e a avaliação do projeto, tende-se a inverter o problema, pondo-se a culpa no instrumento e não no seu mau

uso. (THIRY-CHERQUES & PIMENTA, 2013, p. 55).

Tais conceitos, ora apresentados, formam uma abrangência geral de

relevantes informações referentes a orçamentação e controle de custos no

gerenciamento de projetos. No capítulo a seguir, busca-se identificar as

oportunidades de reduzir estes custos e dar acurácia aos orçamentos, a fim de

cumpri-los. Fatores agregadores de valor em termos de qualidade de

processos, pesquisa & desenvolvimento, análise de riscos, desperdícios,

negociações e treinamento, também serão oportunamente expostos e

discutidos.

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33

CAPÍTULO III

REDUÇÃO DE CUSTOS NA MANUTENÇÃO

PREVENTIVA DE FROTA DE AERONAVES

Num ramo onde as margens de lucro são mínimas, como o da

aviação comercial brasileira, a busca pela constante redução de custos é o que

garante a competitividade e, por que não dizer, a sobrevivência de uma

empresa de transporte aéreo. Um equipamento (aeronave) em bom

funcionamento e com manutenção regular periódica em dia é o ponto de

partida para que a concessão pública do serviço aéreo de cargas ou

passageiros seja bem cumprida (BARAT, 2012).

A segurança de voo deve estar sempre no enfoque dos operadores.

O papel principal da manutenção preventiva é identificar com antecedência a

possível falha de um componente, dirimindo assim os eventos de manutenção

corretiva e/ou as operações de voo em contingência, que se utilizam de

sistemas alternativos, redundantes ou reservas (KINNISON, 2004). Uma vez

atingida a excelência neste tema, tem-se, por conseguinte, equipamentos com

eficiência operacional aumentada. Isso, no campo da aeronavegabilidade,

reflete-se também em regularidade de voos, ou seja, diminuição dos

cancelamentos por razões técnicas, e principalmente, na pontualidade dos

mesmos.

Entretanto, operar um voo seguro, com frequência e no horário, não

é sinônimo de rentabilidade. A chave para este sucesso é agradar o cliente em

tudo, inclusive no preço da passagem aérea ou do frete da carga (BARAT,

2012). Desta forma as empresas aumentam sua participação no mercado,

ganhando clientes dos competidores, ou até mesmo criando uma nova geração

de consumidores de seus serviços, em detrimento aos rodoviários, por

exemplo.

Os custos com manutenção se constituem variáveis. Entende-se que

estes gastos são diretamente proporcionais ao incremento da oferta de voos e

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destinos, pois desta forma, ainda que a companhia não insira mais aeronaves

em sua frota, tem-se a elevação da utilização diária individual de cada avião,

quer seja em horas de voo ou em etapas (ciclos) realizados (ANAC, 2016).

Conforme visto anteriormente, a metodologia de custeio baseado em

atividades (ABC), destaca-se no gerenciamento de custos de projetos de

manutenção aeronáutica. Outrossim, uma evolução desta, a ABM, é

conceituada a seguir:

A Gestão Baseada em Atividade (ABM) é uma ferramenta que está se firmando com efeitos importantes na avaliação da vantagem competitiva. Através do ABM, as empresas estão percebendo não apenas alocações incorretas de custos, mas também contribuições abaixo do esperado para atividades bastante dispendiosas.

O gerenciamento baseado em atividade refere-se a todo o conjunto de ações que podem ser tomadas com base em informações sobre custeio baseado em atividade, com vistas ao desempenho de todo o sistema gerencial. Com a ABM, busca-se alcançar os objetivos fazendo-se uso de uma quantidade menor de recursos. Ou seja, a organização pode obter os mesmos resultados com um custo total menor (menor dispêndio de recursos) por meio da maximização do desempenho das atividades. (RODRIGUES, 2013, p. 69)

Com efeito, a ABM representa o que há de mais eficiente no

gerenciamento de custos de projetos de manutenção preventiva de aeronaves.

Ao trabalharmos com esta ferramenta, tratamos os dados históricos registrados

pela técnica ABC, de forma a obter informações táticas e de apoio à decisão no

que se refere à orçamentação e controles de custos.

Ao desvendarmos os custos em sua origem, percebemos que

variadas são as formas e as oportunidades de reduzi-los. Aspectos técnicos,

tributários, legais, operacionais, tecnológicos, sociais, comerciais e

comportamentais, são alguns dos que devem ser somados para que se

alcance uma diminuição relevante de custos (STICKNEY & WEIL, 2001).

A pesquisa, o desenvolvimento e a disseminação das melhores

práticas e lições aprendidas entre empresas fabricantes de aeronaves,

operadoras e mantenedoras, podem trazer benefícios cruciais a todos os

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35

stakeholders do mercado, inclusive aos concorrentes, que em alguns casos

específicos, tornam-se legalmente solidários com a finalidade de atender este

transporte público de interesse nacional (KINNISON, 2004).

3.1. Tratativa dos Riscos

Parar uma aeronave no hangar, na véspera de um dia de voos

lotados, como por exemplo dia 24 de dezembro, tem seus riscos. No entanto,

ao decidirmos por essa parada, ou ao sermos levados a esta situação por um

acumulo de outras prioridades, entendemos que maiores serão os riscos por

não se efetuar a manutenção preventiva, objetivo da parada (ASHFORD et al,

2015).

Gianese & Corrêa (1996) possuem uma opinião bem interessante

que relaciona custos e riscos. Para eles, quando reduzimos os riscos,

consequentemente também reduzimos os respectivos custos que podem

comprometer substancialmente a percepção do cliente quanto à qualidade do

serviço. A falta de materiais necessários à prestação de serviço, é um exemplo

de causa associada a este cenário.

Embora a abordagem dos autores sobre a tratativa de riscos tenha

enfoques distintos, ratifica-se aqui que o maior risco é desagradar ao cliente.

Quanto mais as companhias aéreas se expõem a riscos, menos clientes

estarão dispostos a contratar seus serviços. Hoje em dia, a simples divulgação

de um resultado negativo no exercício fiscal, pode levantar dúvidas sobre o

investimento de recursos em manutenção preventiva e, consequentemente,

levar alguns clientes a buscarem uma concorrente.

Não obstante, onde há risco, há oportunidade. Gianese & Corrêa

(1996) propõem que um sistema adequado de gestão de materiais permite

trabalhar com menor nível de estoque (inventário) e, portanto, menores níveis

de custos operacionais (capital empatado, espaço de armazenagem,

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36

iluminação, mão-de-obra de manuseio e controle, segurança patrimonial,

obsolescência, entre outros.

Ainda no âmbito do risco, é importante ressaltar que,

invariavelmente, estes nos levam às perdas. Na óptica de Freires (2009), perda

é o consumo anormal ou involuntário de um bem ou serviço. Destacam-se as

perdas com incêndios, gasto com mão de obra durante greves e os materiais

deteriorados por defeitos anormais.

Outro tipo de risco que pode culminar na elevação dos custos da

manutenção de aeronaves é a variação cambial. Contratos em moeda

estrangeira devem ser providos de ferramentas de proteção quanto à uma

determinada variação para mais ou para menos.

Todos estes riscos são potencializados quanto maior for a frota de

aviões, e por consequência, o volume de intervenções programadas de

manutenção. Para solucionar este problema, ainda que de forma parcial, temos

como transferir nossos riscos à uma companhia seguradora (CARVALHAL,

2012). Agindo assim, contratamos um serviço com custo fixo em troca de

eliminar os riscos de absorvermos custos variáveis imensuráveis.

3.2. Combate ao Desperdício

Cumprir atividades complexas, com a coordenação de diversos

recursos, é um tanto quanto desafiador. Mas, para que o desafio continue a

existir, devemos nos lembrar que os recursos são finitos e onerosos. Aumentá-

los acima da demanda, não é uma atitude financeiramente inteligente.

Desperdiçá-los, muito menos.

Para Caxito (2008), os conceitos de produtividade e controle são

inseparáveis. Ele cita que o quanto mais tarde um problema for identificado,

mais desperdícios ocorrerão como tempo para análise e tomada de decisão,

mão-de-obra, materiais, horas-extras, além da entrega do serviço ao cliente. A

redução do custo das falhas de processos internos, contribuí para a redução

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dos custos totais. Manter uma aeronave em condições seguras de operação

não é nada barato, no entanto, ao conhecermos as características

operacionais, as configurações sistêmicas e a malha aérea da empresa

operadora, conseguirmos trabalhar os processos de forma a integrar a

manutenção preventiva ao conceito de operação regular da aeronave.

O orçamento anual dedicado à manutenção de aeronaves,

normalmente supera o lucro de uma companhia aérea (BARAT, 2012). Por esta

razão, as diretorias de manutenção das grandes empresas aéreas são tratadas

como verdadeiras unidades de negócio, no sentido da responsabilidade de

atuarem com a estratégia empresarial de algo que não é o foco de nenhuma

companhia aérea, parar o avião para serviços. Não raramente, estas diretorias

acabam por entender que há potencial para oferecerem a prestação de

serviços de manutenção aeronáutica a seus pares.

Kinnison (2004) relata que embora uma empresa aérea tenha

responsabilidade pela manutenção total de sua frota, esta, nem sempre a

executa por si mesma. Frequentemente, alguns ou todos os serviços de

manutenção são contratados junto a outras empresas aéreas ou perante

empresas especializadas em manutenção aeronáutica.

Tendo como base o mercado das empresas prestadoras de serviços

de manutenção aeronáutica, Kolonjiappan (2015), destaca uma relação entre

os processos de manufatura enxuta - Lean Manufacturing - e o ambiente

produtivo de manutenção. Em seguida, relaciona o maior objetivo do Lean

Manufacturing à problemática em questão, lembrando que a redução de custos

deve ser tratada através da eliminação dos desperdícios. Adicionalmente,

define estes custos na indústria da aviação como sendo: a) Aplicação

redundante de recursos que não agregam valor ao serviço; b) Manutenção

excessiva; c) Volume de serviços simultâneos; d) Estoque de peças acabadas;

e) Tempo de espera; f) Processamento inadequado; g) Movimentação

desnecessária; h) Transporte não previsto; i) Defeitos; j) Peças descartadas; k)

Ferramentas danificadas; l) Dispositivos obsoletos.

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38

Uma prática comum, também entendida como desperdício, é a

“canibalização” de componentes. Trata-se da remoção de um componente

operativo de uma aeronave que está em solo por um período longo de

manutenção, para atender outra em caráter emergencial, a fim de evitar um

cancelamento ou um atraso de voo. De acordo com Kinnison (2004), a melhor

forma de lidar com este “mal necessário” é priorizar a solicitação formal de

material ao setor de Suprimentos, para que eles confirmem se não há

realmente um outro componente disponível, obter o consentimento dos

gerentes de manutenção de linha e de hangar e por último, o aval do diretor de

manutenção.

O desperdício causado por processamento impróprio de tarefas, fora

do sequenciamento proposto no cronograma da parada, também deve ser

evitado. Nesta linha de raciocínio, Martinelli (2009) reforça que os desperdícios,

em geral, influenciam na composição dos custos, e que o processo de

atividades sequenciadas é um dos passos fundamentais para se obter uma

composição de custos coerente com os objetivos do projeto.

Ainda relacionado ao processamento impróprio de atividades,

Sutherland (2014) apresenta um valioso estudo sobre o desperdício de tempo

em projetos. Esta aplicação é muito apropriada para a mão-de-obra não

envolvida diretamente na execução das tarefas, mas sim, em seu planejamento

e controle. Veja a tabela a seguir e suas considerações:

Número de projetos

simultâneos

Porcentagem do tempo

disponível por projeto

Perda com a troca de

contexto

1 100% 0%

2 40% 20%

3 20% 40%

4 10% 60%

5 5% 75%

Tabela 1: Perda com a troca de contexto. Fonte: Sutherland (2014).

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39

A coluna “Perda com a troca de contexto” é puro desperdício. Isso mesmo: se você tem cinco projetos, cerca de 75% do seu trabalho não vai a lugar algum – três quartos do seu dia são jogados na lata do lixo.

........................................................................................................

Então, o que acontece se você é interrompido, ou se tem de trocar rapidamente para outro projeto? Você já deve ter adivinhado: aquela arquitetura mental cuidadosamente construída desmorona. Pode levar horas de trabalho apenas para voltar ao mesmo estado de consciência e atenção. Esse é o custo. Então, minimize esse desperdício tentando fazer de uma vez só todas as tarefas que exigem um tipo específico de concentração. Divida essas tarefas em blocos de tempo, nos quais será possível desligar o telefone e colocar na porta uma placa “Não perturbe”. (Sutherland, 2014, p. 93 e 95).

O efetivo planejamento de manutenção requer a emissão de um

documento formal, o workscope (KINNISON, 2004). Elaborar este documento

não é simples. O responsável deve fazer uma projeção futura de utilização da

aeronave, a fim de não sobrecarregar a parada de manutenção com serviços

preventivos que tenham prazo para alcançarem um próximo evento deste

porte. Neste ponto, economiza-se tempo e dinheiro.

Outro ponto de suma importância tem como referência os

aspectos humanos. A concepção clássica da administração de empresas, que

separava as funções relacionadas ao pensar e à execução foi abandonada por

implicar em grandes perdas. A perda, ou o desperdício principal, é o do

potencial de criatividade das pessoas detentoras de um conhecimento

específico sobre o processo de trabalho, que são as que executam, afirma

Clemente (2002). KOLANJIAPPAN (2015) corrobora este pensamento ao

considerar desperdício de talento e/ou habilidades quando não se delega a

atividade certa para a pessoa certa.

3.3. Ambiente “Zero Defeito”

Houve um tempo em que gerenciar a qualidade era determinar o

nível ótimo do esforço de inspeção que minimizasse os custos combinados da

prevenção, da inspeção, das falhas internas e das falhas externas com o

Page 40: GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

40

esforço de inspecionar. Este é o contexto em que Gianese & Corrêa (1996) se

situam para apresentar uma primeira evolução do gerenciamento da qualidade,

com prioridade ao esforço pela prevenção, conhecido como movimento da

Qualidade Total. Posteriormente, baseado principalmente em modelos

utilizados por companhias aéreas, bancos, hospitais e maternidades, este

movimento deu lugar ao “Zero Defeito”, onde não há nível aceitável de defeitos.

Hoje, para todos os sistemas de operações, já se aceita amplamente que qualidade deve ser construída ao longo da produção, através da garantia de que cada processo esteja sob controle. Se isto puder ser atingido, a inspeção dos resultados dos processos pode até passar a ser dispensável. (Gianese & Corrêa, 1996, p. 202).

A despeito deste conceito ter como um de seus pais a aviação,

existem situações nas quais a figura do inspetor é mandatória, especialmente

para garantir o cumprimento de etapa por etapa de um determinado processo.

Mesmo assim, prevalecem o foco e o esforço de prevenir o erro através do

acompanhamento do processo e não do resultado do serviço. Ao percebermos

que algo está errado no processo de pintura de uma aeronave, por exemplo,

não precisamos esperar o tempo de cura da tinta para examinar o serviço.

Pode-se, assim, iniciar as ações corretivas de diminuir o desperdício de tempo,

material e recursos humanos.

Outra ferramenta bastante difundida e voltada para ambientes

“zero defeito” é a Confiabilidade. Segundo Kinnison (2004), entende-se por

Confiabilidade a probabilidade de um equipamento cumprir sua função

requerida, sob condições específicas sem falhar por um determinado período

de tempo. Para seu uso eficaz, a Confiabilidade depende de um programa, um

conjunto de regras e práticas para monitoramento da performance dos

componentes acompanhados, visando o ajuste dos intervalos de manutenção

ou de seus procedimentos, de forma adequada, conforme ilustrado a seguir.

Tegtmeier (2012) descreve um trabalho em conjunto entre a

companhia aérea cargueira Fedex, a fabricante de aeronaves Boeing e o

fornecedor de componentes aeronáuticos Honeywell, onde com base nos

dados do programa de Confiabilidade da aérea, um componente elétrico que

Page 41: GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

41

falhava com frequência e por diversos motivos, fora enviado à oficina do

fornecedor para um estudo detalhado e conjunto. O resultado foi muito positivo,

elevando o MTBUR (tempo médio entre remoções não programadas) de 1.309

horas de voo, para 11.236 em apenas cinco meses. Hoje a Fedex luta para

manter-se num ambiente “Zero Defeito” pesquisando os equipamentos que

falham por inteiro, em vez de pesquisar e resolver um problema de cada vez.

A jornada em busca do ambiente capaz de gerar “Zero Defeito” é

longa. Para Gianese & Corrêa (1996) é fundamental que haja o

comprometimento da alta direção da empresa em ir além da mera alocação de

recursos. Deve-se passar por definições claras dos requisitos e prioridades e a

assunção de tarefas específicas como: a) acreditar na relação entre melhoria

da qualidade e o crescimento dos negócios; b) entender a lógica e a prática

das ferramentas utilizadas na busca deste objetivo; c) formar opinião e difundir

conceitos-chaves. Além disso, a mudança de atitude perante o trabalho, deve

ser proposta através de treinamentos extensivos em todos os níveis, deixando

claro que o treinamento não apoia o processo de melhoria de qualidade, ele é o

processo de melhoria de qualidade.

3.4. Negociações

Quando contratamos um serviço pesado de manutenção

aeronáutica, quer seja interno ou externo, precisamos alinhar nossas

expectativas. Através deste alinhamento inicial, inicia-se o rascunho do

contrato, no qual deverão constar os requisitos de nível de serviço. O

conhecimento prévio do fornecedor e do serviço certamente facilitará esta fase.

Quando nem todas as informações estão disponíveis, pode-se

utilizar a estimativa análoga, técnica que utiliza o custo real de projetos

anteriores como base para estimar o atual. Na fase inicial do projeto de

manutenção, essa análise costuma ser muito utilizada, conferida, pois permite

uma visão e percepção geral de como será o andamento do projeto. Por ser

menos precisa, esta técnica, também é menos onerosa, desde que seja

Page 42: GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

42

observada a necessidade de comparação com projetos realmente

semelhantes, conforme Martinelli (2009).

Para Larentis (2009), antes de se sentar à mesa para negociar o

contrato, é importante saber que não há garantia de se sair plenamente

satisfeito, ainda que seja exercido o papel de cliente. O interesse principal, para

os dois lados é sair da mesa com a certeza de que novos negócios serão feitos

entre as partes.

Carvalhal afirma: “Há uma intensa interdependência e

complementaridade entre conhecer o tema (perspectiva prática) e o

planejamento (perspectiva conceitual)” (2012, p. 56). O reflexo disso talvez seja

o que causa desconforto para alguns. Alguém que não conhece manutenção

aeronáutica conseguirá se planejar para reduzir os custos estimados do

projeto? Ou quem planeja meticulosamente a conversa, conseguirá conhecer o

mínimo do assunto para resguardar seus interesses?

Uma vez iniciadas as negociações, as partes não devem se ater

somente aos valores. Prazo de conclusão do serviço, garantias, uma boa

cadeia de suprimentos, empréstimos, regime de horas-extras para recuperação

de prazos, pessoal qualificado, entre outros, são fatores que realmente

agregam valor a qualquer negociação, e devem ser avaliados com bastante

atenção (LARENTIS, 2009).

Discutir sobre cláusulas de multas e penalidades o tempo todo,

pode resultar no constrangimento de ver uma das partes recusando-se a

debater sobre os bônus. Na aviação, os bônus de antecipação de entrega de

um serviço podem ser incluídos em contrato, o que incentiva o contratado a

trabalhar com mais eficiência e dependendo do valor a considera-lo como

receita para a alocação de mais recursos.

Quando se negocia, a todo o momento busca-se fazer valer a

pena o custo da oportunidade (RODRIGUES, 2013). Ou seja, para o investidor

da empresa, vale a pena que as partes fechem negócio, ou seria melhor

vender a aeronave no estado e aplicar os recursos em algum negócio mais

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43

rentável e com menos incertezas. Estar tranquilo e transmitir serenidade são

fundamentais para que o ambiente se torne favorável. Carvalhal (2012)

estabelece que a conquista da confiança é uma condição necessária para que

as partes possam chegar a um acordo.

Clemente (2002) enfatiza que durante a etapa de

acompanhamento do serviço, é função do responsável técnico exigir o

cumprimento das questões contratuais vigentes, bem como submeter-se

àquelas que competem ao contratante. Infelizmente, quando os primeiros

imprevistos de uma manutenção preventiva pesada (longa) começam a

aparecer, a expectativa de cumprimento do cronograma desaparece e, junto

com ela, a chance de se manter o orçamento dos serviços. Em termos de

empresa aérea, perder tempo e dinheiro é realmente crítico.

Neste momento a percepção do contratante do serviço é

aguçada. De igual forma a sua imaginação. Tudo parece conspirar contra os

objetivos do projeto e ainda existe a presunção de se imaginar que nem tudo

acontece por acaso e que, de alguma forma, os interessados em lucrar a

qualquer custo podem chegar a situações onde o pensamento de cliente e

fornecedor não convergirão. O clima pode ficar tenso.

Mary Parker Follet citada por Larentis (2009), classifica os

métodos de lidar com os conflitos: a dominação (vitória de um lado sobre o

outro), a conciliação (cada lado sede um pouco) e a integração (ambas as

partes encontram um espaço – desejos integrados). Seguramente, o método

da dominação não garantirá negócios futuros.

Uma particularidade do ramo da aviação, é que há muito pouca

margem para negociação, ainda mais quando nos referimos a um serviço

isolado. Ambas as partes sabem disso. A troca de informações costuma fazer a

negociação tender para a busca de algo maior, mais duradouro e, por vezes,

consente-se em trazer à pauta mais serviços para aquela aeronave, ou mais

aeronaves para cumprir aquele serviço. Assim, normalmente, reduzem-se os

custos.

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44

Larentis (2009), complementa sobre a negociação: “[...] deve-se

concentrar nos interesses de ambos, buscar alternativas de ganhos mútuos e

encontrar critérios objetivos para a solução de problemas.” (p. 19). E Carvalhal

(2012) complementa, ao afirmar que o melhor resultado de uma negociação é

ter a certeza de que as partes poderão voltar a fazer negócio.

Todos os subtemas apresentados neste capítulo devem ser

observados na busca pela redução de custos nos serviços de manutenção

aeronáutica. Sabe-se, no entanto, que a Gestão Baseada em Atividade (AVM)

consegue diagnosticar com precisão onde cada centavo do projeto está sendo

aplicado. Assim, consegue-se dedicar atenção às oportunidades mais

evidentes de redução.

Page 45: GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DE PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA PARA FROTA DE AERONAVES

45

CONCLUSÃO

Gerenciar custos de projetos é uma tarefa que exige bastante

dedicação, ainda mais quando o projeto em si é a prestação de um serviço cujo

usuário final é muito rígido em relação à mudança de planos, como os

passageiros de linhas aéreas, por exemplo. Seu bem-estar e sua plena

segurança durante a etapa de voo é o objetivo de todos aqueles que executam

as atividades de manutenção preventiva.

Numa área tão regulamentada e padronizada quanto à de operação

aeronáutica, quase não se percebem diferenças entre o serviço final de

manutenção preventiva quando este é cumprido por equipes distintas. Os

técnicos tem a mesma habilitação e treinamento; os planejadores de

manutenção seguem obrigatoriamente as diretrizes gerais dos fabricantes e

autoridade civil em relação ao modelo de aeronave, ao ferramental, aos

componentes e às técnicas de execução; e, por fim, a legalidade requerida

para os registros de serviços executados, também é a mesma.

Saindo do ambiente onde tudo é previsível, o autor se concentrou

naquilo que é incerto, fomentando assim uma nova perspectiva na localização

e redução de custos. Mais importante do que barganhar preço com os

fornecedores, é estabelecer uma relação de parceria onde, por vezes, seu

concorrente pode ser aquele que vai te atender e liberar sua aeronave para

voo. Mais importante do que planejar a malha aérea para facilitar o

posicionamento das aeronaves em manutenção, é aproveitar uma mudança de

rota imprevista e algumas horas de solo para antecipar aquilo que pode vir a

ficar pendente de execução no dia seguinte. Mais importante do que dominar a

teoria do gerenciamento de custos, é aplicá-la somente depois que a

segurança, a qualidade e a disponibilidade da aeronave estiverem garantidas.

Considerando que o cronograma de um projeto detém o tempo total

previsto de execução do mesmo, compreende-se que a menor parte rastreável

do projeto é uma atividade, uma ação, uma tarefa a ser cumprida. Desta forma,

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46

a metodologia de Custeio Baseado em Atividade (ABC) cai como uma luva no

gerenciamento de custos de manutenção preventiva em aeronaves. Em

determinada ocasião, serão cumpridas 1500 tarefas numa parada de 20 dias.

Já em outra, uma única tarefa no intervalo de 30min de solo no aeroporto.

Quaisquer que sejam as tarefas programadas, a metodologia ABC dará conta

de identificá-las e atribuir-lhes seus custos.

Mas, não termina aí. Identificar, rastrear, orçar e registrar

corretamente os custos das atividades é apenas o começo de algo que, por

fim, pode representar o diferencial competitivo entre as companhias aéreas:

Reduzir os custos das intervenções preventivas de manutenção das aeronaves

de suas frotas. Para tanto, conclui-se que o passo seguinte é tomar

conhecimento dos riscos inerentes às operações, combater o desperdício,

buscar um ambiente onde os processos sejam capazes de gerar serviços

isentos de falhas e permitir que, futuramente, fornecedores e clientes estejam

aptos a voltar a fazer negócios. Como última etapa, deve-se fazer uso da

Gestão Baseada em Atividade (ABM) a fim de avaliar a vantagem competitiva

do projeto, visando alcançar seus objetivos através de um menor dispêndio de

recursos, maximizando-se o desempenho de execução de cada atividade.

Com efeito, a ABM representa o que há de mais eficiente no

gerenciamento de custos de projetos de manutenção preventiva de aeronaves.

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47

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 EPÍGRAFE 05 RESUMO 06 METODOLOGIA 07 SUMÁRIO 08 INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I

Manutenção Aeronáutica 13

1.1. Programas de Manutenção de Aeronaves 15 1.2. Operacionalizando a Manutenção Preventiva 16 1.3. Controle Técnico de Manutenção 19 1.4. Planejamento de Manutenção 20 1.5. Subcontratação de Serviços 22

CAPÍTULO II

Gerenciamento de Custos em Projetos de Manutenção 24

2.1. Conhecendo a Frota de Aeronaves 25 2.2. Gerenciando Projetos, Objetivos e Serviços 25 2.3. Aspectos Contábeis e Classificação de Custos 27 2.4. Orçamento e Controle de Custos 30

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CAPÍTULO III

Redução de Custos na Manutenção Preventiva de Frota de Aeronaves 33

3.1. Tratativa dos Riscos 35

3.2. Combate aos Desperdícios 36

3.3. Ambiente “Zero Defeito” 39

3.4. Negociações 41

CONCLUSÃO 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 47

ÍNDICE 50

ÍNDICE DE FIGURAS 52

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Gráfico de valor agregado. 31