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Uma revista a serviço do País ENTREVISTA | SWEDENBERGER BARBOSA GOVERNO SOCIEDADE GestãoPública & Desenvolvimento CLáUDIO EMERENCIANO: ALéM DO HORIZONTE POLÍTICAS DA UNIÃO Governo lança Programa Mais Irrigação para minimizar a seca LEGISLATIVO Frente parlamentar debate o novo Sistema Nacional de Conhecimento ESTADOS E MUNICÍPIOS Prefeitos participam do Congresso Brasileiro de Gestão Pública Municipal IBAP RECONHECE AS MELHORES PRÁTICAS DA GESTÃO PÚBLICA ISSN 0103-7323 9 7 7 0 1 0 3 7 3 2 0 0 9 5 9 Ano XXI - Nº 59 - Novembro de 2012 - R$ 14,80 Alexandre André dos Santos, diretor de Avaliação do Ensino Básico do INEP, recebe o Prêmio Gestão de Excelência

Gestão Pública e Desenvolvimento

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O Instituto Brasileiro de Administração Pública – IBAP, sociedade civil sem fins lucrativos, foi fundado em setembro de 1990, com sede em Brasília–DF e atuação em todo o território nacional. Criado a partir da convergência de ideias e experiências de seus fundadores e associados, fundadores da Escola Nacional de Administração Pública – ENAP, e com colaboração da Divisão de Administração Pública da ONU, o IBAP está articulado para oferecer serviços especializados em consonância com as necessidades e expectativas de seus clientes, com a missão de proporcionar-lhes sempre, qualidade, satisfação e elevado espírito ético-profissional. A revista Gestão Pública & Desenvolvimento é editada pelo Instituto Brasileiro de Administração Publica que em 1991 lançou a primeira edição com peridiocidade anual até o ano de 2006. Em 2007, agregou-se ao nome da revista o termo Desenvolvimento, passando assim a ser “Gestão Pública & Desenvolvimento” e sua peridiocidade trimestral. Nesse período a revista passou por significantes modificações em seu layout, ganhando um visual contemporâneo, além de abranger informações sobre a iniciativa privada e terceiro setor. Dada a importância da Gestão Pública no cenário brasileiro que passou a ser agenda prioritária aos principais governantes, a crescente procura e interesse pela revista e pelo tema, a edição da revista passou a ser mensal.

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Page 1: Gestão Pública e Desenvolvimento

Uma revista a serviço do País

ENTREVISTA | SWEDENBERGER BARBOSA

G O v E R N O S O c i E D A D E

GestãoPública& Desenvolvimento

Cláudio EmErEnCiano:além do HorizontE

POLÍTICAS DA UNIÃOGoverno lança Programa mais

irrigação para minimizar a seca

LEGISLATIVOFrente parlamentar debate o novoSistema nacional de Conhecimento

ESTADOS E MUNICÍPIOSPrefeitos participam do Congresso

Brasileiro de Gestão Pública municipal

IbaP reconhece as melhores PrátIcas da Gestão PúblIca

ISS

N 0

103-

7323

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59

Ano

XXI -

Nº 5

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012

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0

alexandre andré dos Santos, diretor de avaliação do Ensino Básico do inEP, recebe o Prêmio Gestão de Excelência

Page 2: Gestão Pública e Desenvolvimento

Uma parceria dos Governos Federal, Estadual e Municipal.

CartaSUSOuvidoria Ativa

da Rede Cegonha

MAIS QUALIDADE NA SAÚDE. É UM DIREITO SEU GARANTIDO PELO SUS.

Saúde Mais Perto de Você.Acesso e Qualidade – PMAQ

Veja como participar:

Você cuida da saúde. A saúde cuida de você.

O Ministério da Saúde quer ouvir a sua opinião para melhorar a saúde no Brasil. Faça a avaliação do atendimento que recebeu pelo SUS. Participe.

Quem for internado pelo SUS vai

receber uma carta para avaliar

o atendimento. A postagem

é gratuita. Se preferir, pode

responder ligando 136 ou

acessando saude.gov.br/cartasus.

Mulheres que fi zeram seu parto

pelo SUS vão receber uma

ligação para dizer se foram bem

atendidas antes, durante e depois

do nascimento dos fi lhos.

As Unidades Básicas de

Saúde serão monitoradas pela

população. As bem avaliadas vão

receber mais recursos. Quando

um avaliador perguntar a sua

opinião, participe. 

#todospelasaude

an_PMAQ_420x280.indd 1 8/14/12 10:55 AM

Page 3: Gestão Pública e Desenvolvimento

Uma parceria dos Governos Federal, Estadual e Municipal.

CartaSUSOuvidoria Ativa

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MAIS QUALIDADE NA SAÚDE. É UM DIREITO SEU GARANTIDO PELO SUS.

Saúde Mais Perto de Você.Acesso e Qualidade – PMAQ

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pelo SUS vão receber uma

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Saúde serão monitoradas pela

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Page 4: Gestão Pública e Desenvolvimento

índice

14 CAPAInstituto Brasileiro de Administração Pública lança o Prêmio Gestão de Excelência

ENTREVISTASWEdEnBErGEr BarBoSa: GDF quer se tornar exemplo de um governo de participação social

JUDICIÁRIOaÇÃo PEnal 470: As decisões do STF sobre o julgamento do mensalão

informação e conhecimento para o fortalecimento da cidadania

07

54

Divulgação

Agência Brasil

SeçõeS

ENTREVISTA7 SWEDENBERGER BARBOSA

12 ESPLANADA EM FOCO

37 POLÍTICA E PODER

GOVERNANçA E GESTÃO40 MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO

BRAGASe não presta, não presta

INTERNACIONAL76 MIChAEl KAIN

A incerteza prevalece na economia global

84 PRêMIOS E PUbLICAçõES

86 CURSOS E EVENTOS

OPINIÃO89 CláUDIO EMERENCIANO

Além do horizonte

geStor e carreiraS82 lei de greve no serviço público

mobiliza servidores

4 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 5: Gestão Pública e Desenvolvimento

62 MINISTRA CARMEM LÚCIAA política será mais ética com a lei da Ficha limpa

64 DIREITO CONSTITUCIONALAntônio Teixeira leite analisa mais um capítulo da história das Constituições

68 DIREITO INTERNACIONALRamiro laterça fala sobre a violência contra a mulher no mundo

ageNDa BraSÍLia

71 LITERATURAAcademia Taguatinguense poderá ser tornar patrimônio cultural

terceiro Setor

74 FUNDAçÃO ITAÚO investimento social da entidade em educação

Desde1991

G O v E R N O S O c i E D A D E

GestãoPública& Desenvolvimento

LegiSLativo

22 EDUCAçÃOCristovam defende novo Sistema Nacional de Conhecimento e Inovação

24 TRAbALHO Congresso Nacional se movimenta para regulamentar a terceirização de serviços

30 SISTEMA POLÍTICOReforma política acirra os debates no Congresso Nacional

poLÍticaS Da uNião

38 INTEGRAçÃO NACIONAL Programa Mais Irrigação vai beneficiar dezesseis estados

eStaDoS e muNicÍpioS

44 PREFEITOSlíderes municipais participam do Congresso Brasileiro de Gestão Pública

51 MARANHÃOAs principais estratégias de desenvolvimento

SiStemaS e iNovação

53 TRANSPARêNCIADnit lança Boletim Eletrônico de Medição

JuDiciário

54 AçÃO PENAL 470As decisões do STF sobre o julgamento do mensalão

59 AçÃO PENAL 530STF julga mensalão do PSDB no primeiro semestre de 2013

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 5

Page 6: Gestão Pública e Desenvolvimento

www.revistagestaopublica.com.br

FundadoresFrancisco Alves de AmorimJoão Batista Cascudo Rodrigues (In Memoriam)

conselho EditorialFrancisco Alves de Amorim - PresidenteJosé Wilson Granjeiro - Vice-PresidentePaulo Rodrigues Mendes - AnerRicardo Wahrendor_Caldas - Professor/UnB-DFRoberto Seara Machado Pojo Rego - AnespJoão Bezerra Magalhães Neto - Administrador

Diretor-GeralMoises luiz Tavares de Amorim

AdministrativoGerson Floriz Costa

Departamento JurídicoMarco Aurélio Soares Salgado

Relações institucionais:Eraldo Pinheiro de Andrade

EditoraMaria Félix Fontele - RP 302/0352V/GO [email protected]

Redaçã[email protected]

JornalistasAna Seidl, Menezes y Morais, Robson Silva e Najla Passos

colaboradores nesta ediçãoMichael Kain, Fernando Vasconcelos, Antônio Teixeira leite,Marcus Vinicius de Azevedo Braga, Ramiro laterça, Francisco Machado Silva,e Cláudio Emerenciano

DiagramaçãoElton Mark

RevisãoGustavo Dourado

Editor de Fotografialuiz Antônio

Atendimento:[email protected]

Assinatura:[email protected]

Publicação: Mensalcirculação: NacionalTiragem: Trinta mil exemplaresimpressão: Gráfica Coronário

BrasíliaSClN 104 - Bloco D - Sala 104 - 70.733-540 - Brasília-DFTelefax.: 55.61. 3201 6018 - 9972 6018Site: www.revistagestaopublica.com.brE-mail: [email protected]

RepresentantesBelo horizonte/MG - Márcio lima-Tel.: 319986-4986Rio de Janeiro/RJ - Rizio Barbosa - Tel.: 21 2222-2414Natal/RN - Tania Mendes -Tel.: 84 9991 1111Salvador/BA - Eliezer Varjão - Tel.: 71 91650547iSSN 0103-7323 Registrado no 1º. Ofício de Registro Cível das Pessoas Naturais e Jurídicas - Brasília- DF.

As matérias assinadas são de responsabilidade dos seus autores. São reservados os direitos inclusive os de tradução. É permitida a citação das matérias, desde que identificada a fonte.

O Instituto Brasileiro de Administração Pública (Ibap), fundado em setembro de 1990, com sede em Brasília e atuação em todo o território nacional, lançou recentemente o Prêmio Gestão de Excelência, destinado a reconhecer e homenagear gestores públicos que fizeram dos mode-los de gestão e qualidade as suas principais ferramentas para melhorar os resultados e serviços à comunidade, com foco na modernização e na desburocratização. O Ibap, que é uma sociedade civil sem fins lucrativos de caráter educativo, científico e cultural, edita a revista Gestão Pública & Desenvolvimento, lançada em 1991. Agora, com esse prêmio, o ins-tituto vem contribuir, mais uma vez, para os processos de melhoria da gestão pública. Nesta primeira edição, o prêmio foi concedido ao dire-tor da Avaliação do Ensino Básico (Daeb), Alexandre André dos Santos, pelos relevantes trabalhos e iniciativas inovadoras desenvolvidas. A Daeb é ligada ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Nacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação. Vale a pena confe-rir esse trabalho.

Ainda nessa área de melhoria da gestão pública, trazemos escla-recedora entrevista com o chefe da Casa Civil do Governo do Distrito Federal, Swedenberger do Nascimento Barbosa, que tem revolucionado a administração do GDF com a criação de mecanismos que favorecem o controle e a transparência no uso dos recursos públicos. Swedenber-ger criou a Junta de Execução Orçamentária e duas coordenadorias que planejam, monitoram as prioridades e controlam a aplicação das verbas. Especialista em administração pública e bioética, ele afirma que a ética e o compromisso público são os dois pilares que constituem a essência do papel e da imagem que deve ter o gestor.

Outro assunto relevante desta edição, entre tantos outros, é sobre o encontro de dezenas de prefeitos em Brasília, nos próximos dias 12 e 13, em torno do Congresso Brasileiro de Gestão Pública Municipal e da XIII Conferência das Cidades. Os gestores municipais, eleitos e reelei-tos em outubro, vão se reunir com lideranças políticas e administradores públicos dos três níveis de governo, especialistas de organizações não governamentais e de instituições, quando discutirão assuntos relacio-nados a cidadania responsável, gestão pública eficiente e providências importantes a serem tomadas no início de mandato. O evento é pro-movido pela Frente Parlamentar Mista para o Fortalecimento da Gestão Pública, presidida pelo deputado Luiz Pitiman, em conjunto com a Comissão de Desenvolvimento Urbana e com a Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara.

Boa leitura. Maria Félix FonteleEditora-chefe

CARTA AO LEITOR

Colaboração:

G O v E R N O S O c i E D A D E

GestãoPública& Desenvolvimento

IASIAInternational Association of Schools and Institutes of Administration

DPADM/ONU Divisão de Administração Pública e Gestão do Desenvolvimento das Nações Unidas

PARCERIAS INSTITUCIONAIS

Page 7: Gestão Pública e Desenvolvimento

EntrEvista

SWEDENBERGER BARBOSA

GDF cria Junta de Execução OrçamentáriaCoordenadorias planejam e monitoram a aplicação dos recursos públicos

maria Félix Fontele

Q uatorze anos depois de ter sido secretário de Governo do DF, durante a administração

de Cristovam Buarque (1995-1998), Swedenberger do Nascimento Bar-bosa retornou ao Palácio do Buriti para, mais uma vez, ajudar o gover-nador a colocar ordem na casa. Em março, o governador Agnelo Queiroz recriou, por meio de decreto, a Secre-taria da Casa Civil, sob medida para Swedenberger, ou, simplesmente, Berge. Negociador nato, com bom trânsito no governo federal, onde tra-balhou na Presidência da República, Berge é o responsável pela gestão administrativa dos projetos do GDF. Com oito meses à frente da pasta, o chefe da Casa Civil destaca: “Conse-guimos arrumar a casa, equilibrar as nossas contas e voltamos a funcionar como o governo que todo brasiliense merece”. Nome de extrema expe-riência no serviço público, Berge

administra os recursos com mão de ferro. Criou a Junta de Execução Orçamentária e duas coordenado-rias que vão planejar e monitorar as prioridades. “O atual governo do DF estabeleceu compromisso com o

compartilhamento da gestão pública com a população. Mantido esse com-promisso, o GDF pode se tornar para o país exemplo de um governo de participação social”, avalia.

Swedenberger do Nascimento

José Cruz/ABr

Swedenberger Barbosa: o bom gestor deve ter ética e compromisso público

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 7

Page 8: Gestão Pública e Desenvolvimento

EntrEvista

SWEDENBERGER BARBOSA

Barbosa nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte. Formou-se em Odontologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Desde 1981, mora em Bra-sília. Aprofundou-se nas áreas de administração pública, bioética e saúde pública. Especializou-se em Saúde Pública e em Saúde Coletiva. Em 2010, lançou o livro Bioética no Estado brasileiro: situação atual e perspectivas futuras. No ano seguinte, foi convidado pelo Ipea para orga-nizar outro livro: Bioética em debate aqui e lá fora. Com intensa atua-ção na vida política e sindical, Berge sempre conciliou a militância polí-tica com as atividades profissionais. É um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Nesta entrevista, ele fala com exclusividade sobre seu tra-balho à frente da Casa Civil. Para ele, “a ética e o compromisso público são dois pilares que constituem a essên-cia do papel e da imagem que deve ter o gestor”.

Qual o papel atual da Casa Civil do distrito Federal, recriada pelo governador agnelo Queiroz em março de 2012?

SWEDENbERGER bARbOSA – A Casa Civil é a responsá-vel pela gestão administrativa do Governo do Distrito Federal. Isso implica em articular internamente o governo, fazer a coordenação das ações estratégicas, das prioridades e das políticas públicas. A par-tir dos comandos do governador, a Casa Civil age como a facilita-dora para que as ações e políticas aconteçam no prazo e da forma pla-nejada, fazendo com que as diversas áreas de governo trabalhem de forma integrada. Além da organiza-ção local, fazemos a articulação do

GDF com o governo federal. Temos promovido reuniões sistemáticas com os ministérios a fim de trazer as experiências bem-sucedidas dos governos Lula e Dilma para a capi-tal da República. Exemplo disso é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que traz R$ 14 bilhões de investimentos em trans-porte, energia, água, saneamento, saúde, educação e habitação para o Distrito Federal. Também acompa-nhamos a execução e monitoramos todas as prioridades de governo coordenadas pela Casa Civil. O meu compromisso com o governador Agnelo Queiroz é fazer a máquina administrativa andar bem, em um passo firme, forte, seguro e rápido.

Como é voltar ao GdF 14 anos depois? o que mudou?

SWEDENbERGER – São momen-tos distintos. Nesse período em que estive no governo federal, o Distrito Federal cresceu de maneira vertigi-nosa. Um exemplo para perceber essa mudança é o fato do número de veícu-los em Brasília ter dobrado na última década. Isso sem falar do desenvol-vimento da região do Entorno, cujos

habitantes estão incorporados à rea-lidade social e econômica da capital federal. Hoje, quando tratamos de políticas públicas, temos de conside-rar não só o crescimento das regiões administrativas, que se tornaram verdadeiras cidades, mas também dos municípios vizinhos. Ou seja, Brasília se tornou uma grande metrópole. Apesar disso, os governos que passaram por aqui não consegui-ram acompanhar as transformações provocadas por esse crescimento e chegamos a uma situação de servi-ços e políticas públicas inadequadas e não integradas. Por isso, nosso desa-fio agora é readequar o Estado de forma a gerar desenvolvimento sus-tentável, com foco na inclusão social e econômica da população.

Quando o senhor assumiu o cargo disse que o atual governo do dF estabeleceu compromisso com o compartilhamento da gestão pública com a população. Como isso ocorre na prática?

SWEDENbERGER – Um dos principais instrumentos da ges-tão democrática  do governo é o Orçamento Participativo, que está sob a condução da Coordenadoria das Cidades da Casa Civil. Essa é uma forma engajada e comprome-tida que o governo Agnelo escolheu para ouvir o que a população pensa e deseja para a cidade. Só neste ano, mais de 12 mil pessoas participa-ram das 201 plenárias promovidas em todas as regiões administrati-vas. Isso não é qualquer coisa. No fim desse processo, inclusive com votação pela internet, a população definiu 31 prioridades a serem exe-cutadas pelo governo nos próximos anos. Essas ações foram incorpora-das ao Projeto de Lei Orçamentária

“ NOSSO DESAFIO AGORA é READEqUAR O ESTADO DE FORMA A GERAR DESENVOlVIMENTO SUSTENTáVEl, COM FOCO NA INClUSãO SOCIAl E ECONôMICA DA POPUlAçãO”

8 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 9: Gestão Pública e Desenvolvimento

(PLOA) de 2013, em tramitação na Câmara Legislativa. Mas é preciso lembrar que também foram cria-das outras formas de participação social, como os conselhos de polí-ticas públicas em diferentes áreas, além das ouvidorias. Na Casa Civil, por exemplo, temos uma ouvidoria que chamo de militante e itinerante. O ouvidor não fica atrás de uma mesa apenas esperando as denún-cias e reclamações chegarem. Ele vai às ruas vistoriar como estão as obras, os serviços e os equipamentos públicos, conversa com a comu-nidade e depois traz as demandas para serem resolvidas internamente. Dessa forma, temos conseguido

avançar a fim de constituir um sis-tema de participação social cada vez mais integrado às decisões governamentais.

Entre as atribuições da Casa Civil está o acompanhamento das políticas de gestão governa-mental, visando a eficiência das demais secretarias de Estado, administrações regionais e da administração indireta. o senhor poderia fazer um balanço sobre a atuação da nova Casa Civil nesse sentido?

SWEDENbERGER – Implantamos um modelo de gestão com algumas premissas

fundamentais. A primeira é que ele foi pautado na realidade de uma estrutura administrativa formada por muitos órgãos, o que possibilita a dispersão de recursos e esforços. Por isso, vimos a necessidade de criar um instrumento que centra-lizasse e organizasse o orçamento e colocasse as prioridades defini-das pelo governador em primeiro lugar. Esse instrumento é a Junta de Execução Orçamentária (JEO), que é presidida pelo governador, coor-denada pelo chefe da Casa Civil e composta pelos secretários de Planejamento e de Fazenda. Outra iniciativa igualmente importante foi a criação de duas coordenadorias na

Swedenberger no dia da posse: compromisso com o compartilhamento da gestão pública com a população

Roberto Barroso/Mais Com

unidade

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 9

Page 10: Gestão Pública e Desenvolvimento

EntrEvista

SWEDENBERGER BARBOSA

Casa Civil para planejar e monito-rar essas prioridades. Sendo assim, a Coordenadoria de Planejamento e Gestão tem atuado na análise dos méritos de diversas ações submeti-das para a decisão do governador, ou naquelas de iniciativa do próprio governador. Nesse sentido, devido à sua importância e alcance, o PAC no Distrito Federal tem sido um dos principais temas trabalhados por essa equipe. A outra coordenadoria é a de Monitoramento, responsá-vel por acompanhar a execução de todo recurso liberado pela Junta e as ações prioritárias do governo coordenadas pela Casa Civil. Com essa estrutura, eu posso sentar com os secretários das diversas áreas do governo para adotar ou corri-gir as políticas intersetoriais. É uma característica minha de trabalhar coletivamente. Até porque, com os desafios existentes no DF, só é pos-sível avançar com uma ação coletiva e de entendimento e compromisso comuns. Dessa forma, estamos conseguindo melhorar a situação da cidade e a qualidade de vida da população. Na área de transportes, estamos executando projetos impor-tantes como o Expresso DF-Eixo Sul, que liga o Gama e Santa Maria ao Plano Piloto, e começaremos a executar outros como o Eixo Oeste, que inclui o túnel de Taguatinga e outras intervenções viárias; retoma-remos as obras do VLT, agora dentro do PAC. Na Saúde, aumentamos o número de Clínicas da Família, de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), aderimos a programas federais como o Brasil Sorridente, entre diversas outras iniciativas. Também contratamos 1.400 servi-dores na área de Saúde e mais de mil para a Educação. Isso sem falar

em programas como o Brasil sem Miséria, de Combate ao Crack e outras drogas, etc. Agora, acho que o nosso ritmo de trabalho ainda tem de melhorar.

é verdade que o senhor con-trola os gastos do governo com mão de ferro?

SWEDENbERGER – A grande diferença na aplicação dos recursos aconteceu com a criação da Junta de Execução Orçamentária (JEO). Por meio da junta, o orçamento do Distrito Federal passou a ser visto como um todo e a ter uma centra-lidade nas prioridades do governo. Isso refletiu na execução de ações consideradas fundamentais pelo governador e resultou no que pode-mos ver com a recuperação dos equipamentos públicos, no recapea-mento das vias, nas construções de ciclovias, de creches e de UPAs, ou seja, em prioridades que envolvem todas as áreas do governo. Isso só é possível por causa da JEO, que neste ano conseguiu identificar mais de R$ 600 milhões que estavam dispo-nibilizados e espalhados dentro das secretarias. Esses recursos foram centralizados nas prioridades. Sem

a JEO, o orçamento é de cada secre-tário, mas com ela o orçamento passa a ser do governo e do gover-nador. É outra lógica, portanto, na qual se consegue suprir essa disper-são da organização administrativa existente entre os órgãos. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2013 foi criado a partir desse novo modelo e, assim, não precisaremos mais buscar os recursos dispersos. Montamos, para o próximo ano, uma carteira de projetos estrutu-rantes com investimento de R$ 3 bilhões em ações de urbanização, mobilidade urbana, conservação do patrimônio histórico, grandes eventos esportivos, tratamento de resíduos sólidos, saúde, abasteci-mento de água, saneamento básico, segurança pública.

Com a sua chegada ao GdF houve integração maior do governo local com o governo federal quanto ao desenvolvi-mento de programas?

SWEDENbERGER – Essa foi uma das tarefas que me foi dada pelo governador. Eu passei nove anos no governo federal, a maioria deste tempo na Presidência da República, e tenho um bom relacionamento com os ministros da presidenta Dilma Rousseff. Naturalmente, isso acaba sendo um facilitador para criarmos um diálogo com o governo federal. Desde que assumi a Casa Civil tenho cumprido uma agenda rigorosa de interlocução com a Esplanada dos Ministérios. Toda semana tenho reunião em algum ministério. Já estive diversas vezes no Planejamento, na Casa Civil, na Justiça, na Saúde, na Segurança, nas Cidades, dentre muitos outros. Em muitas dessas reuniões, vou

“ A éTICA E O COMPROMISSO PúBlICO SãO DOIS PIlARES qUE, A MEU VER, CONSTITUEM A ESSêNCIA DO PAPEl E DA IMAGEM qUE DEVE TER O GESTOR”

10 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 11: Gestão Pública e Desenvolvimento

acompanhado do secretário de Estado da respectiva pasta para fazer com que eles criem uma rela-ção direta. Isso é muito importante tendo em vista que um terço do orçamento do DF não demanda de esforço local, pois vem da União, ao mesmo tempo em que existe um conjunto de políticas públicas do governo federal nos quais o DF está integrado ou deverá se integrar. Só de investimentos do PAC, como eu já citei, são R$ 14 bilhões. O papel da Casa Civil do DF é organizar a estrutura e facilitar o processo que envolve o governo federal em todas as áreas e políticas, como de com-bate ao crack, de assistência à saúde, na educação, de combate à fome e à

miséria, nos investimentos que aten-dem o cidadão e que gerem emprego e renda etc.

o senhor se aprofundou nas áreas de administração pública, bioética e saúde pública. o que está sendo levado desse conheci-mento para a gestão do GdF?

SWEDENbERGER – A ética e o compromisso público são dois pila-res que, a meu ver, constituem a essência do papel e da imagem que deve ter o gestor. Ele precisa ter cre-dibilidade em seus atos. Sem essa credibilidade, que se traduz tanto no seu pensamento como em seus atos, não é possível ao gestor ser sujeito legítimo do processo.

Em seu livro “Bioética no Estado brasileiro: situação atual e perspectivas futuras”, o senhor destaca a necessidade de se  avançar para que os direitos pessoais, morais e sociais sejam garantidos à luz das novas tecno-logias, numa sociedade complexa. as políticas públicas devem ser orientadas nesse sentido?

SWEDENbERGER – Se tiverem como referência a dignidade da pes-soa humana, as políticas públicas contribuem para os avanços desses direitos. A consequência inevitável disso é de seguir na direção da cida-dania plena. Esse é um caminho que busco trilhar como gestor público, mas que, às vezes, não agrada. n

Swedenberger: “Se tiverem como referência a dignidade da pessoa humana, as políticas públicas contribuem para os avanços desses direitos”

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 11

Page 12: Gestão Pública e Desenvolvimento

ESPLANADA EM FOcOESPLANADA EM FOCOana sEiDL

“Nada como um dia atrás do outro.”Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente, no dia 28 de novembro sobre as relações do ex-presidente lula com a ex-assessora Rosemary Nóvoa de Noronha.

“A crise econômica tem o poder de afetar todo o planeta e seus novos e inquietantes contornos

já atingem os países emergentes e em desenvolvimento.”dilma rousseff, presidenta da República, na Argentina, em 28 de novembro, no encontro com a presidenta Cristina Kirchner, quando defendeu a integração entre os dois países e parcerias para fortalecer a indústria.

Valter Campanato/ABr

““Não adianta reclamar. O mercado é livre.”Wagner Bittencourt, ministro da Secretaria de Aviação Civil. Recado dado em 29 de novembro para quem deixou para comprar as passagens aéreas de fim de ano na última hora. Passagens de ida e volta de Brasília para o Nordeste chegaram a R$ 5 mil.

“Considero injusta e juridicamente equivocada a sentença. Solicito à Suprema Corte uma nova análise, isenta, sem os holofotes.”João Paulo Cunha (Pt/SP), único deputado federal entre os 25 réus condenados no processo do mensalão que irá para a cadeia (18 meses).

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12 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 13: Gestão Pública e Desenvolvimento

n RELAçÃO DE LULA COM Ex-ASSESSORA O relatório da Operação Porto Seguro da Polí-

cia Federal revela trocas de favores entre a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, e os chefes da quadrilha que negociava pareceres técnicos fraudulentos, Paulo e Rubens Vieira, ex-diretores da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A polícia investigou, ano a ano, as vantagens exigidas por Rosemary, 57 anos, que transita no Partido dos Trabalhadores desde os anos 1990, quando traba-lhava como secretária do então presidente nacional do PT, José Dirceu. Rose conhece o ex-presidente Luiz Iná-cio Lula da Silva há 19 anos.

Pertencente ao Sindicato dos Bancários, aproxi-mou-se de Lula como admiradora. Eleito em 2002, Lula levou Rose para trabalhar com ele no escritório da Presidência da República em São Paulo, onde recebia salário de R$ 11 mil. Foi mantida no cargo no mandato de Dilma Rousseff a pedido do antecessor. Na gestão passada, era a única funcionária do gabinete da Presi-dência em São Paulo a participar das comitivas oficiais nas viagens presidenciais, mas só viajava quando a então primeira-dama, Marisa Letícia, não estava pre-sente. Policiais federais referem-se à Operação Porto Seguro como “Operação Marisa”.

n AGêNCIAS REGULADORAS SOb SUSPEITAA prisão de dois ex-diretores da Agência Nacional de Águas

(ANA), Paulo Vieira, e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Rubens Vieira, investigados por suposto envolvimento em esquema de venda de pareceres jurídicos, expôs a gravidade do problema da regulação dos serviços prestados ao cidadão. A operação Porto Seguro da Polícia Federal revela uma situação grave com indícios de muitas irregularidades e a transformação das agências reguladoras em balcão de negócios. Criadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso para fiscalizarem a prestação de serviços públicos pratica-dos pela iniciativa privada hoje são motivo de disputa política. Os principais controladores são o PT e o PMDB. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que os cargos téc-nicos seriam ocupados por servidores de carreira, concursados e muito bem remunerados. Mas os cargos de diretores se tornaram alvo de disputa. Um setor que fiscalizará pelo menos R$ 200 bilhões em investimentos nos próximos anos, não deveria ter sua conduta ética sob suspeita. Indicações políticas de pessoas sem conhe-cimento técnico para as funções que exercem, ausência de transparência nas decisões tomadas e diretores que acabam sendo capturados pelo mercado que deveriam fiscalizar são alguns dos problemas levantados pelo Congresso Nacional, Tribunal de Contas da União (TCU) e Controladoria-Geral da União (CGU).

Alexandra Martins

n COMISSÃO DA VERDADE HOMENAGEIA DEPUTADOS CASSADOS PELA DITADURAA Comissão da

Verdade da Câmara tomou a iniciativa de homenagear no dia 13 de dezembro 173 deputados que foram cassados pela ditadura militar, des-tes apenas 26 estão vivos. Eles terão a devolução simbólica dos mandatos retira-dos pelo regime de exceção a partir do golpe militar. Em 13 de dezembro 1968, uma reunião realizada no Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, entre integrantes do governo militar iniciava um período triste de nossa história. Nascia o Ato Institucional nº 5, que fechou o Congresso Nacio-nal, cassou os direitos de cidadãos e parlamentares, principalmente os opositores da ditadura. Segundo a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), coordena-dora da Comissão da Verdade da Câmara, o objetivo é resgatar a memória parlamentar dos cassados pela ditadura. “Uma homenagem à soberania popular, que foi usurpada no momento que o povo ficou sem seus representantes.”

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 13

Page 14: Gestão Pública e Desenvolvimento

capa

instituto Brasileiro de Administração Pública lança o Prêmio Gestão de ExcelênciaInstituições que apresentarem os melhores resultados serão reconhecidas

ana Seidl

O diretor da Avaliação do Ensino Básico (Daeb), Ale-xandre André dos Santos,

diretoria ligada ao Instituto Nacio-nal de Estudos e Pesquisas Nacionais Anísio Teixeira (Inep) do Ministério da Educação, recebeu o Prêmio Ges-tão de Excelência 2012 do Instituto

Brasileiro de Administração Pública (Ibap), em parceria com a Revista Gestão Pública & Desenvolvi-mento. O prêmio, em sua primeira edição, visa reconhecer e homena-gear gestores públicos que fizeram dos modelos de gestão e qualidade as suas principais ferramentas para melhorar os resultados e servi-ços à comunidade, com foco na

modernização e desburocratização das instituições públicas. Alexan-dre Santos foi escolhido por uma equipe de especialistas da área, com base também em pesquisa nacional. A instalação de modelo de excelência e os excelentes resultados do Enem, Prova Brasil e Índice de Desenvol-vimento da Educação Básica (Ideb) nortearam a escolha

IBAP

14 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

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Charles Damasceno

A Diretoria de Avaliação da Edu-cação Básica (Daeb) tem como missão contribuir para a melhoria da Edu-cação Básica por meio de pesquisas, estudos, avaliações e aprimoramento dos instrumentos para medição de resultados em articulação com a sociedade. A esta diretoria compete (Decreto 6.317, de dezembro de 2007) definir e propor parâmetros, critérios e mecanismos de realização das avalia-ções da educação básica; promover, em articulação com os sistemas estaduais e municipais de ensino, a realização das avaliações da educação básica; apoiar os estados, o Distrito Federal e os municípios no desenvolvimento de projetos e sistemas de avaliação da Educação Básica; promover a rea-lização de avaliações comparadas, em articulação com instituições nacionais e organismos internacionais; e pro-mover, coordenar e realizar estudos e pesquisas relacionados à educação básica e suas avaliações.

A Diretoria de Avaliação da Edu-cação Básica (Daeb) tem sob sua responsabilidade sete grandes exa-mes e avaliações: o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem); Prova Bra-sil/Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb); o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja); a Provinha Brasil; o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras); o Programme for International Stu-dent Assessment (Pisa) - Programa Internacional de Avaliação de Estu-dantes; o Terceiro Estudo Regional Comparativo e Explicativo – Terce, desenvolvido pelo Laboratório Latino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação (Laboratorio Latino-americano de Evaluación de la Calidad de la Educación - LLECE),

da Oficina Regional da Unesco para a América Latina e o Caribe (Orealc).

ENEMO Exame

Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da educação básica, buscando contribuir para a melhoria da qualidade desse nível de escolari-dade. A partir de 2009 passou a ser utilizado também como mecanismo de seleção para o ingresso no ensino superior. Foram implementadas mudanças no exame que contribuem para a democratização das oportuni-dades de acesso às vagas oferecidas por Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), para a mobilidade acadêmica e para induzir a reestrutu-ração dos currículos do ensino médio. O Enem tem maior visibilidade uma vez que instrumentaliza o acesso ao ensino superior da rede pública, o que

tem uma grande importância para a sociedade. A preparação do exame dura oito meses, desde o processo de elaboração de itens, montagem de provas, distribuição, aplicação, pro-cessamento de dados e anúncio dos resultados. É um processo complexo com muitos atores envolvidos que demanda uma grande capacidade de gestão e governança.

O Enem também é utilizado para o acesso a programas oferecidos pelo governo federal, tais como o Programa Universidade para Todos (ProUni). O Exame Nacional do Ensino Médio de 2012 foi realizado nos dias 3 e 4 de novembro e teve 5.791.290 par-ticipantes inscritos. A maioria é de mulheres, 3.416.435 (59%). Os homens, com 2.374.855 participantes, representaram 41%. Os maiores con-tingentes estão em São Paulo (932.493 inscritos); Minas Gerais (653.074); e Bahia (421.731), que bateu o Rio de Janeiro (408.902). O Inep divulgou no dia 22 de novembro o resultado do

alexandre Santos: escolhido por uma equipe de especialistas da área, com base também em pesquisa nacional

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 15

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capa

IBAP

Enem por escola de 2011 mostrando os resultados de 10.076 estabeleci-mentos, correspondendo a 40,56% do universo brasileiro do ensino médio.

PROvA BRASiL/ SAEBO Sistema

de Avaliação da Educação Básica é com-posto por duas avaliações complementares. A Ava-liação Nacional da Educação Básica (Aneb) abrange de maneira amostral os estudantes das redes públicas e pri-vadas do país, localizados na área rural e urbana e matriculados no 5º e 9º anos do ensino fundamental e também no 3º ano do ensino médio. Os resultados são apresentados para cada unidade da federação, região e para o Brasil como um todo.

A segunda, Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), é apli-cada censitariamente aos alunos de 5º e 9º anos do ensino fundamental público, nas redes estaduais, munici-pais e federais, da área rural e urbana, em escolas que tenham no mínimo 20 alunos matriculados na série avaliada. Nesse caso, a prova recebe o nome de Prova Brasil e oferece resultados por escola, município, unidade da federa-ção e país que também são utilizados no cálculo do Ideb.

As avaliações que compõem o Saeb são realizadas a cada dois anos, quando são aplicadas provas de Lín-gua Portuguesa e Matemática, além de questionários socioeconômicos aos alunos participantes e à comunidade escolar. Mais de 6,2 milhões de estu-dantes estavam aptos a participar da Prova Brasil e Saeb em 2011 nas 27 uni-dades da federação. As provas foram aplicadas em mais de 70 mil esco-las, localizadas em 5.538 municípios

espalhados em todo o Brasil.

ENccEJAO Exame Nacio-

nal para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), em sua sexta edição, é uma avaliação voluntária e gratuita ofertada às pessoas que não tiveram a oportunidade de concluir os estudos em idade apropriada. O obje-tivo é medir competências, habilidades e saberes adquiridos tanto no processo escolar quanto no extraescolar.

Na última edição, em março do ano passado, foram inscritos 142.545 can-didatos Encceja. É uma oportunidade para adultos e jovens com mais de 15 anos concluírem os estudos. Todos os que obtiverem proficiência mínima exigida, 100 pontos em cada uma das provas escolhidas, recebem certificado do ensino fundamental emitido pela Secretaria de Educação do estado ou do município do candidato. No total, 837 escolas em todo o país recebe-ram os inscritos ao Encceja. São Paulo teve o maior número de interessados, 67.613, seguido do Rio Grande do Sul, com 23.349 candidatos. O exame ainda é aplicado nos presídios e no exterior.

cELPE-BRASO Cer-

tificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estran-geiros (Celpe-Bras) é conferido aos estrangeiros com desempenho satis-fatório em teste padronizado de português, desenvolvido pelo Ministé-rio da Educação. O exame é aplicado no Brasil e em outros países com o apoio do Ministério das Relações Exterio-res. Internacionalmente, o Celpe-Bras é aceito em firmas e instituições de

ensino como comprovação de com-petência na língua portuguesa e, no Brasil, é exigido pelas universidades para ingresso em cursos de gradua-ção e em programas de pós-graduação. Outorgado pelo MEC, o Celpe-Bras é o único certificado brasileiro de pro-ficiência em português, como língua estrangeira, reconhecido oficialmente. É conferido em quatro níveis: inter-mediário, intermediário superior, avançado e avançado superior. O pri-meiro teste foi aplicado em 1998. Em 2011, mais de 7 mil participantes bus-caram a certificação do Celpe-Bras.

PiSA O Programme for

International Stu-dent Assessment (Pisa) - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes - é uma ini-ciativa internacional de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolari-dade básica obrigatória na maioria dos países. O programa é desenvol-vido e coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em cada país participante há uma coordenação nacional. No Brasil, o Pisa é coor-denado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aní-sio Teixeira (Inep).

O objetivo do Pisa é produzir indicadores que contribuam para a dis-cussão da qualidade da educação nos países participantes, de modo a sub-sidiar políticas de melhoria do ensino básico. A avaliação procura verificar até que ponto as escolas de cada país participante estão preparando seus jovens para exercer o papel de cidadãos na sociedade contemporânea.

16 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

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Parceiros

De acordo com a diretora executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, “a Prova Brasil é um instru-mento que permite um diagnóstico da qualidade do ensino oferecido hoje no país, sendo essencial para que possamos acompanhar se os alunos estão aprendendo o que têm di-reito ao longo de sua trajetória escolar”. Ela acrescenta que por meio da Prova Brasil, é possível identificar as deficiên-cias de aprendizado dos alunos para que os gestores tomem as medidas efetivas para solucioná-las ou ampliar as ações exitosas. “O próximo passo será o processamento e divul-gação dos resultados cada vez em menor tempo, com diag-nósticos claros e em uma linguagem que as escolas possam compreender para planejar suas ações”, ressalta.

A secretária estadual de Educação do Mato Grosso do Sul e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Maria Nilene Badeca da Costa, destaca que “as avaliações externas são de fundamental importân-cia para a implementação das políticas educacionais, pois apontam os indicadores de qualidade do ensino ofertado nas redes e, consequentemente, da aprendizagem dos es-tudantes”. A partir dessas avaliações, os gestores da edu-cação podem promover ações que visam a efetividade dos processos educativos. Segundo ela, “o Enem constitui-se em importante diagnóstico do ensino médio em nosso país”.

O presidente da Associação Brasileira de Avaliação Edu-

cacional (Abave), Ruben Klein, destaca que “em qualquer avaliação a disponibilização de dados para pesquisadores e a sociedade permite uma resposta rápida para a definição de políticas públicas”. Ele lembra que antes da reformulação do Inep, em 1995, o resultado do Saeb demorava dois, três e até quatro anos. Agora os censos escolares saem no mesmo ano e assim a distribuição dos recursos de Fundeb é feita rapidamente. Agora a prova Brasil ajuda a gestão escolar.

A secretária Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Cláudia Costin, diz que o Ideb foi uma inovação importante que permite saber se o direito a um ensino de qualidade garantido pela Constituição de 88 está sendo cumprido ou não. “No município do Rio de Janeiro, a frequência à escola é de 98%, mas não basta só frequência, a Prova Brasil mos-tra se as crianças estão aprendendo.” Segundo a secretária, a Prova Brasil e o Ideb são fundamentais para a gestão da rede, para saber se ela está avançando ou não. No Rio houve uma melhora de 22% nos anos avançados.

De acordo com Francisco Soares, membro do Conselho Nacional de Educação, a Daeb, sob a diretoria do Alexan-dre, está retomando uma importante função histórica: “A produção da interpretação pedagógica dos números que sintetizam o desempenho dos alunos nas avaliações. Estes números têm sido usados principalmente com finalidades normativas e comparativas”.

priscila cruz: a Prova Brasil permite um diagnóstico da qualidade do ensino oferecido hoje no país

ruben Klein: disponibilização de dados permite uma resposta rápida para a definição de políticas públicas

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IBAP

EntrEvista// ALEXANDRE ANDRÉ DOS SANTOS

Trabalho do diretor de Avaliação do Ensino Básico é reconhecido pela sociedadeUma de suas metas é fortalecer os processos de gestão com foco no cidadão

P ara Alexandre André dos San-tos, receber o Prêmio Gestão de Excelência 2012 foi motivo

de muita alegria, resultado do tra-balho desenvolvido pelo Inep desde 2009, um processo de aprendizagem organizacional e fortalecimento da estratégia de gestão das avaliações educacionais. “No aspecto técnico pedagógico, o objetivo é fortalecer cada vez mais a excelência da equipe por meio de várias ações, e, por outro lado, aumentar a capacidade de governança sobre as avaliações. Isto é possível por meio do aumento da transparência e controle destes pro-cessos”, destaca.

Alexandre possui extenso currículo. É doutorando em Pla-nejamento, Integração Econômica e Territorial pela Universidade de Leon (Espanha) e mestre em Geo-grafia pela Universidade de Brasília. É bacharel e licenciado em Geogra-fia pela Universidade de Joinville. Desde 2008 é servidor público fede-ral concursado no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio-nais Anísio Teixeira (Inep). Em 2011, foi coordenador geral de Operações Logísticas do Inep e desde abril de

2012 é diretor de Avaliação da Edu-cação Básica do Inep. Com diversas publicações em periódicos nacionais e internacionais, tem experiência na área da gestão pública, com ênfase em gestão de pessoas, políticas públi-cas sociais e avaliação educacional.

Segundo ele, o fortalecimento dos processos internos de gestão, avalia-ção e planejamento da Daeb, foi, sem dúvida, o motivo principal para a conquista do prêmio do Ibap. “Fazer o controle, dar transparência e ser orientado para resultados, a partir do cliente, dos cidadãos e dos gestores”, destaca.

Alexandre Santos destaca três pontos do seu trabalho: fortalecer a excelência técnica do servidor, forta-lecer os processos de gestão e o foco no cidadão e no cliente. Estes pontos

permitem um grande aprimoramento. Nomeado para a Diretoria de Avalia-ção do Ensino Básico em abril deste ano, convidado pelo presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa, o gestor tem ainda muitos planos para a dire-toria. Em entrevista à Revista Gestão Pública & Desenvolvimento, Ale-xandre fala das ações desenvolvidas.

Como são desenvolvidas as parcerias com a daeb?

ALExANDRE SANTOS – O foco é no cliente, no gestor, na comuni-dade, na escola que usa os nossos dados. A Prova Brasil, por exemplo, gera resultados de qualidade de ensino de português e matemática para cada escola pública deste país. E para isso acontecer precisamos saber quais as necessidades dos gestores,

Charles Damasceno

Santos: processo de aprendizagem organizacional e fortalecimento da estratégia de gestão das avaliações educacionais

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das unidades escolares, dos atores que usam nossos resultados. Fizemos um movimento de fortalecer nos-sas ações com os principais atores que usam nossos dados para melho-ria desses processos. Acabamos de organizar o Seminário Internacional de Uso de Fatores Associados em Avaliações de Larga Escala, realizado no Conselho Nacional de Educação, nos dias 12 e 13 de novembro. Uma demanda de vários atores para que discutíssemos, além do uso dos dados de rendimento, que a prova apre-senta de proficiência, a inclusão de vários questionários: socioeconômico de professores, de diretor, da escola etc. Precisamos melhorar a entrega destes dados. Isso para definir quais os fatores que influenciam na qua-lidade do resultado da educação. Neste seminário participaram vários experts internacionais do Canadá, da Colômbia, do Pisa e do Terce que vieram do Chile e trouxeram impor-tantes contribuições para esse debate. Um evento para cerca de 120 pessoas em parceria com a Abave, Associação Brasileira de Avaliação Educacional, e a Ong Todos pela Educação, uma das mais importantes que atualmente discute a qualidade de ensino neste país. O público foi formado por pes-quisadores que usam nossos dados, representantes de instituições que tra-balham com educação, um debate bem qualificado.

Entre as ações de destaque da Daeb estão o fortalecimento das parcerias institucionais e ações em conjunto - Todos pela Educação, Fun-dação Lemann, Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave), Conselho dos Secretários Estaduais de Educação (Consed), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educa-ção (Undime), entre outros. Temos o

curso sobre Teoria de Resposta ao Item (TRI); o guia de redação do Enem; a disponibilização dos microdados da Prova Brasil 2011; o fortalecimento dos processos internos de gestão, ava-liação e planejamento; a implantação do Modelo de Excelência em Gestão Pública; e monitoramento dos proces-sos por sistema web (Simec).

Como funciona a teoria da resposta ao item (tri)?

ALExANDRE SANTOS – É uma modelagem estatística que utiliza-mos no Enem e na Prova Brasil para que possamos ter condições de com-parar as notas ao longo dos anos. Se não tivermos esta metodologia, podemos ter uma prova muito difícil num ano e as notas serem muito bai-xas, e noutro ano uma prova muito fácil e os alunos tirarem notas altas. É preciso fazer uma mediação para que haja o mesmo nível. Essa meto-dologia permite que haja o mesmo grau de dificuldade entre um exame e outro e assim possamos comparar as notas. Precisamos usar uma modela-gem estatística e a que usamos para a Prova Brasil e o Enem é a Teoria de Resposta ao Item (TRI). É uma tecnologia desenvolvida por pesqui-sadores americanos, desde a década de 50, utilizada nos Estados Unidos em processos de avaliação e que che-gou ao Inep em 1995. Poucas equipes no país têm o domínio desta tecnolo-gia. Para o Inep, pensando no cliente,

foi fundamental difundi-la para que mais pessoas possam trabalhar. A partir de uma demanda de pesqui-sadores do Paraguai, que trabalham conosco com o Terce, nós realizamos de 26 a 29 de novembro em Foz do Iguaçu um curso com a participação de mais de sete países. O curso foi aberto com 15 vagas para pessoas que trabalham em avaliação educacional da Rede de especialista que atuam no Terce de toda América Latina. Foram disponibilizadas mais de 20 vagas para o pessoal do Consed, Undime, Todos pela Educação e servidores do Inep. A tecnologia é complexa, portanto, o curso é para grupos pequenos.

uma cartilha sobre a tri vai ser lançada?

ALExANDRE SANTOS – Esta é uma demanda associada ao Enem. Como a nota dele é baseada na Teoria de Resposta ao Item, lançaremos uma cartilha. Há uma dificuldade do jovem em entender a sua nota. O Inep e a Daeb preparam uma cartilha didática a fim de explicar ao jovem o que é a TRI e o que significa a nota dele. A nota do Enem pode variar de menos infinito a mais infinito, mas cada prova tem uma nota mínima e uma nota máxima, mas a média é 500. A nota tem um significado pedagó-gico, se o aluno tirou 300, é porque aprendeu um conjunto de conheci-mentos. Quando o estudante vê a nota dele vai saber o que aprendeu e o que falta aprender em termos de conte-údo, habilidades e competências. Isso é um diferencial muito grande, e uma contribuição não só para o Enem, quanto para a Prova Brasil, cujos dados servem para fazer o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Então quando as redes

“ O FOCO é NO ClIENTE, NO GESTOR, NA COMUNIDADE, NA ESCOlA qUE USA OS NOSSOS DADOS”

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 19

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IBAP

recebem as notas por escola, conse-guem saber o que aquela escola já aprendeu e onde os professores e a comunidade escolar precisam investir para melhoria da qualidade do ensino.

Como é constituído o Índice de desenvolvimento da Edu-cação Básica (ideb)?

ALExANDRE SANTOS – O Ideb é constituído por dois grandes ele-mentos integrantes da qualidade da educação. O primeiro é a proficiên-cia do aluno em matemática e leitura. O aluno faz a prova que serve para calcular a nota daquela escola, esta terá uma pontuação de acordo com o desempenho dos alunos. O segundo é o chamado fluxo escolar, isto é, a capacidade que aquela rede tem de fazer com que o aluno seja apro-vado todo ano. Não adianta fazer um esforço de qualidade se você não consegue levar todos os alunos para o ano seguinte. Se poucos alunos pas-sarem de ano, você não teve sucesso. Como anualmente temos os dados do Censo Escolar que indicam esse processo de fluxo e a cada dois anos

contamos com os dados da Prova Brasil, temos condições de ter um indicador, o Ideb. Cada escola, cada secretário municipal ou estadual de educação consegue ter um retrato da qualidade do ensino e tem condições de fazer intervenções.

o ensino médio é o mais pro-blemático?

ALExANDRE SANTOS – Sim, estamos há cerca de dez anos sem melhorias significativas. Neste nível, não conseguimos resultado por escola porque ainda não fazemos uma ava-liação censitária, apenas só por amostragem, aí o resultado é por uni-dade da federação. O problema é que se você tem só a média do estado, não dá para saber quais escolas estão bem ou mal, olhar para as que estão fazendo boas coisas e replicar boas práticas nas que estão com dificul-dade. Estamos fazendo um esforço muito grande para que nos próximos anos consigamos fazer a Prova Brasil também censitária para o nível médio, esse é um desafio logístico importante que não é de fácil implementação.

Hoje fazemos esta prova no quinto e nono anos para todos os estudantes da rede pública e no nível médio apenas numa amostra, portanto, não temos o resultado por escola. Um diretor de estabelecimento de ensino médio quando vê o resultado não sabe se o dele está representado na amostra, e, então, fica mais difícil de implementar uma melhoria. Quando o resultado é por unidade escolar você conse-gue olhar para cada experiência. No Enem, em novembro, foi divulgado o resultado por escola relativo. No entanto, não divulgamos o resultado por escola quando menos de 50% dos alunos do terceiro ano não fizeram a prova. Isto porque neste caso pode ser que a amostra seja só dos melhores e isso pode inviabilizar o resultado, não é representativo.

a partir de 2009, o Enem passou a ser mecanismo de ingresso para o nível superior. o que representa isso para a demo-cratização do ensino?

ALExANDRE SANTOS – Quando o Enem passa a ser porta de entrada para vaga na rede pública fede-ral, todas as redes do ensino médio olham para o exame e vão calibrar sua prática pedagógica para se ajus-tar àquilo que está na prova. O Enem tem uma grande capacidade de indu-ção de mudança no ensino médio. Por ele ser porta de entrada ao ensino superior, acreditamos que tem um impacto muito grande na qualidade do ensino médio. Isso possibilita que mais pessoas possam almejar e ter acesso ao ensino superior. As uni-versidades públicas estão fortemente ancoradas neste processo. Em quatro anos, 50% das vagas serão para a rede pública e isso representa democrati-zar o acesso. Aumenta a inclusão de

Seminário internacional de uso de Fatores associados em avaliações de Larga escala: Francisco Soares, Ruben Klein, Alexandre Santos e Antonio Ronca

Charles Damasceno

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parcelas da sociedade, historicamente em desvantagem, e este governo tem o compromisso de aumentar a equidade.

Qual a importância da dispo-nibilização dos microdados da Prova Brasil?

ALExANDRE SANTOS – São os microdados que precisam ser dis-ponibilizados para a sociedade, principalmente à academia, para que os pesquisadores possam fazer pesquisas. Toda a base de dados é disponibilizada. Foi feito um esforço para disponibilizar os dados da Prova Brasil no mesmo ano da divulgação destes. Isso é muito oportuno, pois a academia consegue fazer outras pes-quisas e entregar para a sociedade em tempo. Por exemplo, infelizmente os microdados da Prova Brasil de 2009 foram disponibilizados apenas no ano passado. Neste ano conseguimos entregar no mesmo ano e isso foi um ganho muito grande. Os dados ficam no site do Inep e qualquer um pode acessar e baixar.

a daeb fortaleceu os pro-cessos internos de gestão, avaliação e planejamento?

ALExANDRE SANTOS – Eu acre-dito que o motivo pelo qual ganhamos o prêmio do Ibap foi porque fortale-cemos a nossa capacidade de gestão e governança. De fazer o controle e dar transparência e ser orientado para resultados, a partir do cliente, dos cida-dãos e dos gestores. Estas ferramentas estão fortemente associadas, por exem-plo, a implementação de processos de avaliação da gestão. Construímos um calendário de avaliação e plane-jamento da diretoria, uma coisa que parece simples, mas que na prática era muito difícil de fazer. Implantamos

o Modelo de Excelência em Gestão Pública, do Decreto 5.378, de 23 de fevereiro de 2005 que instituiu o Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização, GesPública, pelo Ministério do Planejamento. A adesão a este programa fez com que refletísse-mos melhor sobre nossas práticas para melhorar a nossa gestão. A utilização do instrumento de autoavaliação (IAGP) também foi importante para poder-mos qualificar a nossa gestão e uma série de ações todas na mesma linha no sentido de dar sustentação à qualidade

da gestão e governança, capacidade de controle e monitoramento dos pro-cessos que desenvolvemos. No caso do Enem, por exemplo, temos mais de 3.500 pontos de controle. Fizemos um processo de mapeamento, identi-ficação de todas as atividades relativas ao Enem, e estamos fazendo um con-trole de cada um desses tópicos, o que dá a dimensão da complexidade do processo.

Qual a importância da criação da Comissão assessora de Gestão de avaliação?

ALExANDRE SANTOS – A Daeb identificou a necessidade de haver um espaço de reflexão com experts no campo da gestão. Foi constituída

uma comissão formada por seis gran-des especialistas do país no campo da gestão, por exemplo, o profes-sor Sandro Trescastro Bergue. Neste comitê discutimos e refletimos sobre a nossa prática. Não basta a discus-são interna, precisamos discutir com a sociedade. Formado por especialis-tas também de fora o comitê busca trocar ideias e assim aprimorar mais ainda os nossos processos.

Há um aumento dos processos de capacitação?

ALExANDRE SANTOS – Sim, para manter a excelência técnica da equipe. Cursos de mestrado, oficinas internas de capacitação, inclusive, téc-nicos são enviados ao exterior, para trazer o que há de mais avançado no campo da avaliação educacional. Constituímos no segundo semestre um colegiado com o objetivo de dar transparência e capacidade de envol-vimento dos servidores nas propostas de capacitação e afastamento, com cri-térios objetivos. Tem muita gente que precisa sair, então, precisamos definir o percentual de servidores que a gente pode estar disponibilizando simulta-neamente para mestrado e doutorado. Por exemplo, 70 servidores, 10%, sete servidores podem estar participando destes processos de dois a três anos, há cursos mais rápidos de seis meses. Estabelecemos duas datas, abril e outubro, para que os interessados apresentem suas propostas de afasta-mento. Este ano estão previstas quatro vagas. Também haverá um concurso no qual aumentaremos nosso número de servidores, e assim abriremos mais três vagas. Em outubro deste ano, alguns voltam e abrimos mais vagas. Já criamos um fluxo permanente de saída e retorno, o servidor vai e volta bem melhor. n

“ EU ACREDITO qUE O MOTIVO PElO qUAl GANhAMOS O PRêMIO DO IBAP FOI PORqUE FORTAlECEMOS A NOSSA CAPACIDADE DE GESTãO E GOVERNANçA”

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 21

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LEgisLativo

EDUCAçãO

cristovam defende novo Sistema de conhecimento e inovação Proposta do senador prevê a criação de carreira nacional de professor

ana Seidl

N o momento em que o projeto do segundo Plano Nacional de Educação (PNEII), apro-

vado pela Câmara dos Deputados, tramita no Senado, o novo Sistema Nacional de Conhecimento e Inova-ção (SNCI) e a Gestão Escolar foram temas de seminário proposto pela Frente Parlamentar Mista para o For-talecimento da Gestão Pública no dia 9 de novembro. O coordenador da área de educação da frente, senador

Cristovam Buarque (PDT-DF), disse que é preciso olhar de maneira revo-lucionária a educação de base, as universidades e os institutos cien-tíficos e tecnológicos. “Eu defendo uma revolução na educação de base, a refundação da universidade para ajustá-la ao século XXI, a criação de novos institutos de ciência e tec-nologia, incentivos ao empresário inovador e mais bibliotecas e museus nas cidades”, observou o senador.

Segundo a proposta, o PNE-II apresenta 230 metas intencionais,

sem a definição de como atingir cada uma delas. A meta concreta se refere ao compromisso de resevar 10% do PIB para a educação. O novo sistema apresenta cinco partes: revolução na educação básica, fundação de um novo sistema universitário, amplia-ção dos institutos de pesquisas, bases para a produção criativa no setor pro-dutivo, e fortalecimento do entorno social favorável ao conhecimento e à inovação. O sistema prevê a cria-ção de uma nova carreira nacional de professor, capaz de atrair os melhores

Lia de Paula/Agência Senado

cristovam Buarque, ao lado de pitiman: debate sobre a gestão escolar com especialistas

legislativo

22 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 23: Gestão Pública e Desenvolvimento

quadros da sociedade brasileira para a atividade docente, o que exige um salário mensal de aproximadamente R$ 9.000,00 (equivalente à média recebida pelos docentes da Austrália, Finlândia, Chile e Coréia do Sul).

A proposta do SNCI foi elaborada por um grupo de pesquisadores e especialistas em educação, entre eles Waldery Rodrigues Júnior, do Insti-tuto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Presente ao seminário, Wal-dery alertou para a necessidade de se discutir a forma de aplicação dos recursos em educação previstos no PNE. Para ele, tão importante quanto a quantidade é a qualidade do inves-timento. “O PNE traz a exigência de investimento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação. Isso é muita coisa, um valor elevado e que precisa ser discutido.”

O pesquisador informou que o percentual de investimento no setor hoje é de 5,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, algo em torno de R$ 236 bilhões, levando-se em consideração a renda nacional de 2012, calculada em R$ 4,143 trilhões.

EScOLA DO SESc É REFERêNciA EM GESTãO EScOLAR

A Escola do Sesc de Ensino Médio, no Rio de Janeiro, foi o exem-plo usado no Seminário Gestão Escolar. É uma escola-residência, que abriga alunos de todas as partes do país. Todos têm bolsa integral e cursam o ensino médio com um pro-grama acadêmico individualizado em turmas de, no máximo, 15 alu-nos. A escola foi a 23ª colocada no ranking nacional no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2011. A média de aprovação nos vestibulares, segundo o diretor substituto Antônio Viveiros, é de 95%.

Viveiros disse trabalhar com o conceito de gestão escolar que con-sidera o protagonismo juvenil, ouvindo os jovens. Ele ressaltou que a escola tem infraestrutura adequada e horário integral, quesitos que fazem parte da proposta de federalização da educação de base defendida por Cristovam.

Walter Garcia, um dos fundadores do Instituto Paulo Freire, ressaltou que é preciso definir um salário para o professor que atraia e mantenha as pessoas mais capazes na carreira de docente.

Segundo Cristovam Buarque é preciso ter professores bem prepara-dos em gestão, “a minha proposta é criar escolas de gestão escolar, hoje existe uma aqui outra ali. Eu propo-nho cerca de 20 mil no Brasil.” Para o senador, os professores que sonha-rem um dia serem diretores devem fazer o curso. Na hora de substituir o diretor, faz-se eleição para que pro-fessores, pais, alunos e funcionários escolham, mas só pode ser candidato quem tiver o diploma.

O presidente da Frente Parla-mentar Mista para o Fortalecimento da Gestão Pública, deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF), disse que, “é preciso fazer um trabalho muito grande na profissionalização e meritocracia e termos o gestor edu-cacional, que vai ajudar nesta organização para que as escolas do Brasil tenham um modelo que possa ser referência no mundo”.

Segundo Pitiman, a educação é uma das prioridades da Frente Parla-mentar Mista para o Fortalecimento da Gestão Pública. “Consideramos que a educação é um dos pilares da sociedade, sem ela não chegare-mos a nenhum outro item que deva ser estudado ou pesquisado”, desta-cou. “Por isso, convidamos o senador Cristovam Buarque, que é especia-lista em educação no país, professor, ex-governador, ex-ministro da Edu-cação e atualmente senador. Ele pode contribuir muito para que possa-mos ter marcos regulatórios e leis que possam melhorar a educação no país”, concluiu. n

público participa dos debates da comissão de educação, cultura e esporte

Roberto Rodrigues

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 23

Page 24: Gestão Pública e Desenvolvimento

TRABAlhO

congresso Nacional se movimenta para regulamentar a terceirização de serviços Tema gera discórdia entre patrões e empregados

menezes y morais

Uma luz no fim do túnel no mundo do trabalho. Fator que divide o Congresso Nacional

e movimenta as relações capital/tra-balho no Brasil desde a década de 1990, embora suas origens remontem à década de 70, a terceirização deve ser votada pelo Congresso Nacional

até o final deste ano. A terceirização, que o Grande Dicionário Sacconi define como sendo o ato de “transfe-rir a terceiros certo tipo de trabalho, para reduzir custos e encargos”, virou objeto de milhares de ações nos tri-bunais regionais do Trabalho e no Tribunal Superior do Trabalho em Brasília. Somente no TST trami-tam cerca de 5 mil ações. Por falta

de legislação específica, patrões, trabalhadores, parlamentares e espe-cialistas falam em “insegurança jurídica” para o setor. O Brasil tem mais de 10 mil trabalhadores terceiri-zados, nos setores público e privado.

Essa prática das empresas e órgãos públicos empregarem funcionários cujas carteiras de trabalho são assina-das pela empresa que terceiriza a mão

Renato Araújo/ABr

comissão especial do trabalho terceirizado: debate sobre novas regras para as terceirizações

legislativo

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de obra – os trabalhadores terceiriza-dos classificam de “nefasta” – é mais comum no serviço público, nas três esferas do Poder Executivo (federal, estadual e municipal), incluindo as grandes empresas estatais, entre elas Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica.

Em Brasília, na Esplanada dos Ministérios, a contratação de trabalhadores via empresas que ter-ceirizam mão de obra é lugar comum. A terceirização também é objeto de polêmica no Congresso Nacional, onde existem cerca de 350 proposi-ções, incluindo 80 projetos de lei, que mobilizam representantes do capital e do trabalho, que, felizmente, dialo-gam na tribuna democrática.

O Estado brasileiro não está total-mente à deriva dessa questão graças ao Decreto 2.271/97, assinado pelo então presidente Fernando Henri-que Cardoso e ao TST, que editou a súmula 331, de olho no mundo do trabalho. A súmula 331 normatiza a contração de trabalhador terceiri-zado apenas para as atividades-meios das empresas – áreas de conserva-ção e vigilância. A norma da mais alta corte trabalhista brasileira res-ponsabiliza a empresa prestadora de serviço pelas obrigações trabalhistas em casos de inadimplência da tercei-rizada: caso a empresa não pague o trabalhador terceirizado, a empresa contratante é responsável pela dívida.

O PROJETO Na Câmara, o deputado Sandro

Mabel (PR-GO) fala em nome de seus pares. Seu projeto de lei 4.330/04, que regulamenta a terceirização, tem 25 emendas e deverá entrar na ordem do dia até o final do ano, com o substitutivo do deputado Arthur Maia (PMDB-BA). “As relações de

trabalho na prestação de serviços a terceiros reclamam urgente interven-ção legislativa”, afirma o deputado. Entre outras questões polêmicas, o projeto permite a contratação de trabalhadores terceirizados para qualquer função – de atividade fim da empresa ou de atividade comple-mentar, como limpeza e alimentação.

O projeto do deputado Mabel legaliza as diferenças salariais e nor-matiza, também, suas diferenças

entre terceirizados e funcionários que têm contratos diretos de trabalho. Este projeto, que tem como relator o deputado Arthur Maia (PMDB-BA), divide as opiniões dos trabalhadores. O relator entende ser “inadmissível” que a terceirização ainda não tenha “um marco regulatório”. O parla-mentar peemedebista defende que a regulamentação da terceirização alcance outros setores do mundo do trabalho. Arthur Maia revela que o projeto de lei não deixa de fora seto-res como a indústria automobilística, agrícola, de telecomunicação e da construção civil.

Em seus pontos principais, o pro-jeto de lei do deputado goiano Mabel estabelece que o contrato de trabalho, na produção terceirizada, deve ver-sar sobre “serviços determinados e específicos”. O projeto também esta-belece que “podem ser terceirizadas as atividades inerentes, acessórias ou complementares às atividades econô-micas do contratante”.

O projeto de lei, que tramita em fase final na Câmara dos Deputados,

Deputado Sandro mabel: seu projeto que regulamenta a terceirização tem 25 emendas

Renato Araújo/ABr

O PROJETO DO DEPUTADO MABEl lEGAlIZA AS DIFERENçAS SAlARIAIS E NORMATIZA, TAMBéM, SUAS DIFERENçAS ENTRE TERCEIRIZADOS E FUNCIONáRIOS qUE TêM CONTRATOS DIRETOS DE TRABAlhO

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 25

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TRABAlhO

estabelece: “A empresa contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a prestação de serviços, ficando-lhe ressalvada ação regressiva. Nessa ação, será devida também uma indenização do mesmo valor da importância paga ao trabalhador”.

Os deputados Maia e Mabel enten-dem que a realidade do mundo do trabalho “atropelou” a terceirização, que ganhou força global com a cha-mada doutrina do neoliberalismo, movimento político-econômico ini-ciado na década de 1970.

OUTRAS PROPOSiçõESNa última década foram apre-

sentadas 305 proposições à Câmara dos Deputados, incluindo emenda constitucional, projetos de lei e requerimentos, dispondo sobre a terceirização. Entre essas proposi-ções, o projeto de lei 7389/10, de autoria da deputada Maria Lúcia Cardoso (PDMB-MG), que define regras sobre terceirização na Lei de Licitações e proíbe a administração pública de reembolsar salários de terceirizados. O texto muda a Lei de Licitações (8.666/93). Outro projeto de lei é o de nº 7423/10, que extingue

a terceirização de serviços de saúde. De autoria do deputado Dr. Rosinha (PT-PR), acaba com a transferên-cia da prestação de serviços de saúde para organizações sociais.

Entre as demais propostas de emenda à Constituição (PEC), a de nº 133/2012, de autoria do depu-tado Lourival Mendes (PTdoB-MA), altera o artigo 197 da Constituição Federal para proibir a terceirização e a privatização da mão de obra das ações e de serviços de saúde. Entre outros projetos e proposições sobre o tema estão os apresentados pelos deputados Toninho Pinheiro (PP-MG), Padre João (PT-MG) e Erika Kokay (PT-DF). A deputada Erika Kokay, do Distrito Federal, apre-sentou emenda em coautoria com o deputado Sebastião Bala Rocha (PDT-AP), requerendo a realização de audiência pública para discutir o processo de demissão sumária dos bancários da rede Itaú / Unibanco, além de “práticas como a rotativi-dade, o assédio moral, a terceirização e as metas abusivas a que são subme-tidos esses trabalhadores”.

O deputado Sabino Castelo Branco (PTB-AM), por outro lado, mesmo

Deputado arthur maia: regulamentação da terceirização deve alcançar outros setores do mundo do trabalho

PMDB

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ção NA úlTIMA DéCADA

FORAM APRESENTADAS 305 PROPOSIçõES à CâMARA DOS DEPUTADOS, INClUINDO EMENDA CONSTITUCIONAl, PROJETOS DE lEI E REqUERIMENTOS, DISPONDO SOBRE A TERCEIRIZAçãO

legislativo

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fazendo parte da base de sustentação do governo, apresentou requerimento em 10/5/2011, que solicita seja convi-dado o presidente do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação - FNDE, Daniel Silva Balaban, “para prestar esclarecimentos sobre a política de repasse de verbas e terceiri-zação do trabalho adotada pelo poder público para a merenda escolar”.

O deputado Vicentinho (PT-SP) apresentou emenda em 30/6/2011 que solicita audiência pública para debater o tema “Terceirização nas empresas públicas, com a presença de representantes das empresas do setor elétrico, da Petrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e Correios”. A emenda foi arquivada.

OS PRóS E OS cONTRAA terceirização divide opini-

ões. De um lado, os que a defendem argumentam que a terceirização é a

alternativa para suprir empresas e instituições oficiais da mão de obra qualificada para determinado setor. Eles juram por todos os lucros que a terceirização impede a falência de certas empresas diante das crises sis-temáticas do capitalismo, face às normatizações da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

O presidente do TST, João Ores-tes Dalazen, soma-se ao coro dos que veem a terceirização como um “fenômeno irreversível” no mundo contemporâneo. Mas reconhece que a justiça trabalhista aguarda com urgência uma legislação sobre a terceirização. Inclusive para desafo-gar a Justiça do Trabalho. A maior parte delas está relacionada ao fato de as empresas prestadoras de ser-viço não pagarem os encargos sociais dos terceirizados. Os defensores da terceirização criticam o chamado “custo Brasil”, com o argumento de

concursobrasEm Brasília, onde o maior empregador é o setor públi-

co – cuja admissão aos seus quadros é exclusiva via con-curso público – fala-se inclusive numa instituição que se chamaria “Concursobras”. A Concursobras substituiria o atual Centro de Seleção e Promoção de Eventos da Uni-versidade de Brasília (Cespe/UnB), que vive a expectativa de se transformar em empresa pública. Em 18/08/2012, o Cespe divulgou notícia dando conta que “o prazo para regularização dos profissionais que trabalham sob contra-tos precários foi estendido até que o projeto de lei que vai criar a chamada Concursobrás seja votado pelo Congresso Nacional”.

Cespe/UnB pode continuar sendo contratada para pro-mover seleções e concursos públicos. A previsão ê que o Ministério da Educação (MEC) transforme o Cespe/UnB em uma empresa pública especializada em realizar concursos

e avaliações federais, em especial o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Atualmente, o Cespe/UnB tem 78 servidores da UnB e 410 prestadores de serviço que estão em situação irregu-lar. O Cespe foi criado para preparar os vestibulares dos cursos da UnB. Com o tempo, passou a programar projetos de avaliação educacional e a promover concursos para as mais variadas carreiras da administração pública.

A Concursobrás usaria o mesmo modelo utilizado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), estatal criada no fim do ano passado para gerenciar hospitais uni-versitários. Por enquanto, a Ebserh caminha a passos lentos, sem plano de carreira aprovado para os funcionários. E a insegurança jurídica que envolve funcionários terceirizados continua tencionando no mundo do trabalho no Brasil.

vicentinho (pt-Sp): emenda para debater o tema nas empresas públicas

: José Cruz/ABr

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 27

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TRABAlhO

que os impostos “sobrecarregam” as empresas com “pesados” encargos trabalhistas.

Os críticos da terceirização, entre eles as centrais sindicais, afirmam que ela é inconstitucional. A Consti-tuição estabelece o concurso público como regra de acesso ao serviço público. E a CLT normatiza que todo empregador deve assinar a carteira de trabalho do empregado. Os repre-sentantes dos trabalhadores lembram que a terceirização passa por cima de “conquistas históricas” da cate-goria. Muitas vezes a empresa que terceiriza não paga as verbas inde-nizatórias no final do contrato de trabalho. As obrigações trabalhistas também deixam de ser depositadas. E que o terceirizado não usufrui dos benefícios trabalhistas históri-cos negociados com a classe patronal ao longo de duros e árduos anos de

mobilização dos trabalhadores. De acordo com dirigentes trabalhistas, o fenômeno da terceirização pode enfraquecer o movimento sindi-cal porque os sindicatos não podem atuar numa empresa que tem empre-gadores diversificados.

A Central Única dos Trabalhado-res (CUT) prefere o projeto de lei do deputado Vicentinho (PT-SP), que proíbe as empresas terceirizarem suas atividades fins. Pela proposta

de Vicentinho, as empresas que ter-ceirizam têm “responsabilidade solidária” com os funcionários tercei-rizados, se responsabilizando pelas suas obrigações trabalhistas e pre-videnciárias. A CUT divulgou nota oficial afirmando que o projeto de lei do deputado Mabel e outras propos-tas patronais mantêm o terceirizado como trabalhador de segunda cate-goria. Essas propostas, de acordo com o presidente da CUT, Artur Henrique, “institucionalizam a pre-carização do trabalho como padrão de contratação, aprofundando ainda mais todos os problemas deste pro-cesso como redução dos postos de trabalho, intensificação do trabalho, incremento dos acidentes e doenças, rebaixamento dos direitos, fragmen-tação da organização sindical”.

A CSP Conlutas, por sua vez, é con-tra as propostas do deputado Mabel e da CUT. A CSP entende que as duas propostas não resolvem os problemas da terceirização. O entendimento é o de que as propostas de Mabel e Vicen-tinho, ao invés de proporem o fim da terceirização, apenas estabelecem limites para a contratação de trabalha-dores. A posição da CSP é pelo “fim da terceirização, para que as empre-sas só contratem em regime de CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas)”.

AciDENTES DE TRABALhO Também é fato de que há grande

número de acidentes de trabalho neste setor, por falta de treinamento adequado. De acordo com o Depar-tamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), oito em cada dez acidentes de tra-balho acontecem com terceirizados. Naqueles que registram óbitos, qua-tro entre cinco são registrados em empresas prestadoras de serviço.

Joilson cardoso da ctB e o presidente da cut, artur Henrique: propostas atuais fortalecem a precarização do trabalho

A CUT PREFERE O PROJETO DE lEI DO DEPUTADO VICENTINhO (PT-SP), qUE PROíBE AS EMPRESAS TERCEIRIZAREM SUAS ATIVIDADES FINS

legislativo

28 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 29: Gestão Pública e Desenvolvimento

Dados divulgados pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) revelam: entre 1995 a 2010 foram registradas 283 mortes por acidente de trabalho na Petrobras. Somados aos óbitos em 2011, o número macabro ultrapassa a 300 trabalhadores terceirizados que perderam suas vidas.

Em agosto de 2011 foram regis-tradas oito mortes de terceirizados na Petrobras. O TST seguiu a trilha da União, na edição de regras para a terceirização no serviço no âmbito público federal.

O QUE PODE NAS cONTRATAçõES A União regulamentou a terceiri-

zação pelo decreto 2.271/97. Editado em 7 de julho de 1997 pelo então pre-sidente Fernando Henrique Cardoso,

este decreto “dispõe sobre a contra-tação de serviços pela administração pública federal direta, autárquica e fundacional e dá outras provi-dências”. Sobre a contratação de trabalhador terceirizado, o decreto presidencial estabelece em seu artigo 1º: “No âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional poderão ser objeto de execução indireta as atividades mate-riais acessórias, instrumentais ou complementares aos assuntos que constituem área de competência legal do órgão ou entidade”.

O decreto normatiza as áreas que podem ter trabalhador terceiri-zado: “As atividades de conservação, limpeza, segurança, vigilância, trans-portes, informática, copeiragem,

recepção, reprografia, telecomuni-cações e manutenção de prédios, equipamentos e instalações serão, de preferência, objeto de execução indireta”.

LEGiSLAçãO iNSUFiciENTE Uma opinião é unânime nesta

questão: a legislação é insuficiente. Enquanto a súmula do TST com-plementa o decreto presidencial, o deputado Arthur Maia critica a súmula do Tribunal Superior do Trabalho, alegando que ela “não é suficiente, porque traz uma regra geral que não se adéqua a seto-res que terceirizam quase todas as suas atividades pela exigência da especialização, como a indústria automobilística”. n

Tcu fixa Prazo Para subsTiTuição Enquanto o Congresso Nacional não vota uma lei que

regularize a terceirização, outras instituições do Estado bra-sileiro trabalham discretamente neste sentido. No dia 1º de outubro de 2012, o Tribunal de Contas da União (TCU) fixou prazo até 30 de novembro próximo para que as empresas públicas acabem com a terceirização das atividades-fim. Até 2016, essas empresas só poderão ter funcionários concur-sados. De acordo com o TCU as empresas devem apresentar um plano de substituição de funcionários terceirizados que exerçam atividades-fim, com o objetivo de evitar burlar a concursos públicos. Nesse plano, deverão constar quais são as atividades consideradas fins, além do plano de previsão da saída gradual de terceirizados e a contratação de concur-sados até 2016, quando expira o prazo de implantação do plano. Caso os planos de substituição não sejam apresenta-dos até a data, as estatais estarão sujeitas a multa de até R$ 30 mil, em parcela única.

O Ministério do Transporte saiu na frente, com a portaria anunciada em 18/09/2012, que impede a terceirização da guarda portuária. Antes, a segurança do porto poderia ser encaminhada pela administração diretamente ou mediante

contratação de terceiros. Com a nova redação, a administra-ção do porto organizará e regulamentará a guarda portuária.

De acordo com informações da Agência Brasil, a regra vale para todas as aproximadas 130 empresas públicas da administração indireta, sociedades de economia mista e subsidiárias, sob a responsabilidade do Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Mpog).

A Agência Brasil lembrou que Petrobras e Correios “são exemplos de estatais que realizaram concurso público re-centemente, mas ainda praticam a contratação de tercei-rizados em detrimento de concursados”. O Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (SindiPetro-RJ) informou que a Transpetro, subsidiária da Petrobras, por exemplo, “tem mais de mil terceirizados que deveriam ser substituídos por apro-vados em concurso que ainda não foram convocados”. Em dezembro de 2010, a Petrobras divulgou que tinha 291.606 funcionários terceirizados em seus quadros, contingente de trabalhadores superior aos contratados diretamente, que so-mavam 80.492 até então.

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 29

Page 30: Gestão Pública e Desenvolvimento

SISTEMA POlíTICO

Reforma política acirra o debate na câmara e no Senado Financiamento público de campanha emperra a aprovação do projeto

menezes y morais

A reforma política estimula os debates no Congresso Nacio-nal há duas décadas, mas sua

aprovação final continua distante. O relator da matéria, deputado Hen-rique Fontana (PT-RS), acreditava que a Câmara votaria a reforma política até o final deste ano e o

Senado Federal no primeiro semes-tre de 2013. Mas mudou de ideia, e acredita que o Congresso Nacional poderá votar a reforma somente no primeiro trimestre de 2013. A maior resistência à aprovação na Câmara dos Deputados é o financiamento público exclusivo das campanhas, questão que não encontra entrave no Senado.

Outro ponto polêmico na Câmara dos Deputados, que muitos parla-mentares rejeitam, é o que acaba com o voto do eleitor nos candidatos da sua preferência. Pela proposta do relator, se aprovada, os eleitores não votariam mais individualmente em seus candidatos a vereador, deputado estadual e federal – mas nos partidos, que apresentam listas de candidatos.

Fabio Pozzebom/Agência Câm

ara

comissão especial da reforma política: debates intensos entre parlamentares e pouco consenso

legislativo

30 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

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Por outro lado, o relator petista reconhece as dificuldades. “A reforma do sistema político é a mais difícil de todas as reformas, porque altera o alicerce de como se estrutura o poder no país”, ava-lia Fontana. A reforma vai alterar o artigo 45 da Constituição Fede-ral. Por isto o projeto relatado pelo deputado petista precisa ser apro-vado em dois turnos na Câmara e no Senado: 308 dos 513 deputados precisam dizer sim ao projeto de lei da reforma. Esse número signi-fica um terço dos votos na Câmara dos Deputados, percentual a ser alcançado também entre os sena-dores. Este é o quórum qualificado para aprovação das Propostas de Emenda à Constituição (PECs). “A reforma implica mudanças no sis-tema eleitoral brasileiro, entre as quais o financiamento público das campanhas eleitorais”, diz o relator Henrique Fontana.

Em função das dificuldades, Fontana adiou por duas vezes a votação de seu relatório sobre a reforma política, temeroso de pro-váveis derrotas. Ele revelou que a maior resistência é a proposta de financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais, ideia que tem unanimidade no PT, “mas é rejeitada por quatro grandes legen-das no Congresso: PMDB, PSDB, DEM e PP”.

A tese do financiamento público – acrescenta o parlamentar – é mal compreendida. “O sistema de financiamento privado traz enorme prejuízo à democracia. Entre outros pontos, por dar enorme poder aos financiadores.” Para ele, o modelo atual estimula a corrupção e “afasta da política cidadãos com boas ideias e ideais”.

RELATóRiO No relatório, Fontana propõe a

criação de fundo, gerenciado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que poderia receber doações de empresas públicas e privadas. Este ponto é alvo de críticas de vários deputados. Para Fontana, mudan-ças estruturais no sistema político brasileiro seriam “decisivas” para consolidar a democracia. “O voto proporcional, por exemplo, é uma

qualidade do nosso sistema”. O primeiro passo – acrescen-

tou – “para não reformar nada é querer reformar tudo. Optei por priorizar alguns pontos e focar no que me parece mais essencial. O financiamento público exclusivo de campanha é fator de forte restri-ção nos custos. Para que as disputas eleitorais voltem a ser baseadas em programas e não sejam, apenas, um festival de marketing”.

Segundo o deputado, existem setores que se beneficiam do sistema atual, caríssimo e baseado no finan-ciamento privado das campanhas e um temor de parte dos parlamen-tares de fazer a mudança. “Mas na sociedade há uma maioria expres-siva que apoia a reforma, sendo mais de 80% da população”, observa. Fon-tana destaca ainda que o sistema atual de financiamento privado leva ao encarecimento astronômico das campanhas. “Em 2002, os custos de todas as campanhas foram de R$ 827

Fabio Pozzebom/Agência Câm

ara

Fontana: relator propõe criação de fundo gerenciado pelo TSE e que poderia receber doações

“MAS NA SOCIEDADE há UMA MAIORIA EXPRESSIVA qUE APOIA A REFORMA, SENDO MAIS DE 80% DA POPUlAçãO”Henrique Fontana, deputado federal

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 31

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SISTEMA POlíTICO

milhões. Em 2010, a soma atingiu R$ 4,8 bilhões. O aumento foi de 591%. As eleições se transformaram em uma corrida do ouro na qual a capa-cidade de arrecadar vale mais do que o projeto que se defende ou a história e o currículo de quem concorre”.

LiSTA DE cANDiDATOSAlém da polêmica estabelecida

em torno do financiamento público exclusivo e do voto distrital, a revista Gestão Pública & Desenvolvimento apurou a existência de outro ponto de dissenso na proposta que consta do relatório de Henrique Fontana: a questão da lista de candidatos. Conforme a proposta petista, se apro-vada, os eleitores não votariam mais individualmente em seus candida-tos a vereador, deputado estadual e federal, mas nos partidos que apre-sentarem listas de candidatos.

De acordo com a quantidade de votos obtidos, cada partido ele-gerá um determinado número de

representantes, respeitando a ordem de apresentação dos nomes estabe-lecida nas prévias partidárias. Os parlamentares ouvidos sobre esta asseguram que a lista de candidatos não passa, porque “desconfigura” a democracia brasileira.

O relatório de Henrique Fontana propõe outras questões polêmicas no projeto de lei de reforma polí-tica. Entre elas a cláusula de barreira, a criação de federações partidárias, a

instituição da fidelidade partidária, modificação na regra de suplência dos senadores e o fim do voto obri-gatório. Mas o relator acredita que muitos dos que hoje são contra pode-rão “mudar de ideia”.

Uma delas é a questão da lista fechada para “aumentar represen-tatividade feminina” na política. Outra é a que obriga partidos coli-gados nas eleições a atuarem junto no Congresso Nacional. Conforme o raciocínio petista, os votos peeme-debistas somados aos demais seriam suficientes para aprovar as mudanças no atual sistema político.

Mesmo não tendo uma posição fechada pela totalidade da bancada e a maioria apoiar o voto distrital, por exemplo, até o fechamento desta edição, pouco mais de 20 deputa-dos peemedebistas haviam aderido à proposta petista do voto proporcio-nal misto. O maior entrave no PMDB contra a reforma é a proposta de implantação do modelo de financia-mento público de campanha.

Henrique Fontana reconhece o impasse, mas acredita na saída negociável, porque o problema do financiamento das campanhas atinge todos os partidos. Para ele, “quase todos os partidos brasileiros enfren-tam problemas com financiamento de campanha. Precisamos nos dar conta, em nome do futuro do País, da nossa democracia, de que a adoção do financiamento público dará mais autonomia aos governos eleitos”.

MOviMENTOS SOciAiSA proposta de Fontana sobre os

movimentos sociais acontece na prá-tica. A Frente Parlamentar Mista em Defesa da Reforma Política com Parti-cipação Popular, por exemplo, recebeu sugestões para a reforma política,

Frente instalada no ano passado: pressão para que população participe dos debates

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O MAIOR ENTRAVE NO PMDB CONTRA A REFORMA é A PROPOSTA DE IMPlANTAçãO DO MODElO DE FINANCIAMENTO PúBlICO DE CAMPANhA

legislativo

32 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 33: Gestão Pública e Desenvolvimento

que se resumem em quatro propo-sições temáticas: fortalecimento da democracia direta; democratização e fortalecimento dos partidos políticos; reforma do sistema eleitoral e controle social do processo eleitoral.

A iniciativa foi elogiada por diver-sos parlamentares da bancada petista na Câmara. A deputada Erica Kokay (PT-DF), por exemplo, alerta para o risco de serem incluídos na reforma aspectos que dificultem a participa-ção popular no processo eleitoral. “Chega de faz de conta. O Brasil só terá uma democracia plena se con-seguir incluir na política todos os cidadãos, independentemente de cor, sexo, orientação sexual ou classe social”. Erika Kokay concorda com o financiamento público. Para ela, o atual modelo de financiamento, embasado no fator econômico, afasta do Poder Legislativo os represen-tantes legítimos de segmentos da sociedade. “O dinheiro passa a ser uma premissa excludente e faz com que tenhamos representações polí-ticas que se distanciam do que é a representação do povo brasileiro”, disse a parlamentar do DF.

Os deputados Alessandro Molon (PT-RJ) e Amauri Teixeira (PT-BA) elogiam os diferentes segmentos sociais que estão engajados no debate. “Sozinho se faz pouco, mas uni-dos podemos fazer muito. Quando a sociedade se organiza para cobrar seus direitos, as coisas andam”, disse Alessandro Molon. Amauri Teixeira, por sua vez, alertou que a participação dos movimentos sociais “impedirá que haja retrocessos na nova legis-lação político-eleitoral, caso fique restrita ao âmbito do parlamento”.

Para a deputada Luci Choina-cki, “se os movimentos sociais não se envolverem, cada grupo ou partido

político defenderá a reforma que melhor beneficia seus interesses. Não podemos permitir que os inte-resses econômicos vençam mais esta batalha”.

PSDB, DEM E OUTROS PARTiDOSNa oposição ao governo federal, o

PSDB entende que a proposta do PT não será aprovada. De acordo com o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), o anteprojeto vai con-tra o que a maioria dos deputados

tucanos pensa sobre o tema. A riva-lidade política entre os partidos é outro entrave nas negociações.

Existe ainda o fator DEM. Ini-cialmente democratas e petistas expressaram posições semelhantes quanto à reforma política, mas depois vieram discordâncias, começando pela proposta petista de criação do sistema de voto proporcional misto, que obriga o eleitor a votar duas vezes, no entendimento do DEM.

“É até uma questão de ética: o abuso do poder econômico passa por essa questão do financiamento de campanhas. Estabelecer o finan-ciamento público exclusivo é cortar o mal pela raiz”, acredita a depu-tada Luiza Erundina (PSB-SP), para quem o financiamento público “cor-rige distorções” do sistema partidário brasileiro. Mas os que são contra o financiamento público exclusivo dizem que ele não extingue o caixa dois nas campanhas eleitorais.

O deputado Sandro Alex (PPS--PR), por exemplo, é um deles. “Muitos pegarão dinheiro do Estado

parlamentares e movimentos sociais: pela democratização e fortalecimento dos partidos

Walter Cam

panato/ABr

“ SOZINhO SE FAZ POUCO, MAS UNIDOS PODEMOS FAZER MUITO. qUANDO A SOCIEDADE SE ORGANIZA PARA COBRAR SEUS DIREITOS, AS COISAS ANDAM”Alessandro Molon, deputado federal

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 33

Page 34: Gestão Pública e Desenvolvimento

SISTEMA POlíTICO

e vão continuar praticando caixa dois. Além disso, é um modelo que só funciona se conjugado à lista fechada de candidatos – senão, como saber quem vai ganhar quanto?”

ESPEciALiSTASAlguns cientistas políticos acre-

ditam que o financiamento público poderia resolver o problema de caixa dois. Para o cientista político David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília, a Jus-tiça Eleitoral é fundamental nesta questão. Mas, para isto, é preciso “poderes e recursos, humanos e financeiros, para fiscalizar os gastos de campanha”.

Mas, hoje, acrescentou Fleischer, “não é esse o caso. A Justiça Eleitoral está com muita dificuldade para obri-gar os candidatos a abrir as contas”. O cientista político Cristiano Noronha concorda com o colega da UnB. “Se a Justiça Eleitoral tivesse instrumentos para fiscalizar e punir, não haveria necessidade de haver financiamento público de campanha”.

Para Noronha, a Justiça Eleito-ral “estando bem preparada, pode fiscalizar independente da ori-gem do dinheiro”. Para Noronha, o financiamento público exclusivo de campanha teria que vir obrigatoria-mente com o voto em lista. “Para evitar que recursos públicos fossem colocados nas mãos de pessoas, de forma individual. Então, uma coisa acaba sendo ligada a outra.”

SENADORES LAMENTAM FALTA DE cONSENSO

O senador Wellington Dias, autor da ideia que muda a data de posse dos governadores e do presidente da República eleitos, lembrou que o Senado está fazendo sua parte: dis-cutiu e deliberou várias questões da reforma política em pouco menos de 50 dias, na Comissão de Reforma Política, presidida pelo senador Francisco Dorneles (PP-RJ), envia-das à Câmara dos Deputados. E que os projetos a serem votados no Senado sobre reforma política são consensuais.

Entre os cinco textos prontos para votação no Senado, há três propostas de emenda constitucional (PECs). A primeira matéria na agenda, PEC 37/11, reduz de dois para um o número de suplentes de senador e proíbe que o suplente seja cônjuge ou parente do candidato. Também prevê novas eleições no caso de vacância permanente do cargo. Nesta matéria aguarda inclusão na ordem do dia o PLS 268/2011, sobre financiamento público das campanhas eleitorais.

Também consta dessa fila de espera a PEC 38/2011, que muda para 5 de janeiro a posse de presidente da República e a de governadores e pre-feitos para 10 de janeiro. Também espera para entrar na ordem do dia a PEC 42/2011, estabelecendo que qualquer alteração no sistema elei-toral dependerá de aprovação em referendo popular e a PEC 40/11, que permite coligações eleitorais apenas nas eleições majoritárias.

Também a PEC 37/2011, que muda as regras para suplência de senador e o PLS 266/2011, que nor-matiza a fidelidade partidária. Ainda na CCJ do Senado, aguarda reexame de relatório a PEC 43/11, que insti-tui o sistema eleitoral proporcional de listas fechadas nas eleições para a

Senador Wellington Dias, autor da ideia que muda a data de posse dos governadores e do presidente da república eleitos

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“ ESTE é O MOMENTO IDEAl PARA DISCUTIR TEMAS COMO O FINANCIAMENTO PúBlICO DE CAMPANhA E O FIM DA REElEIçãO”Ana Amélia, senadora

legislativo

34 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 35: Gestão Pública e Desenvolvimento

Câmara dos Deputados. A proposta tramita em conjunto com a PEC 23/11, que foi rejeitada na comissão, mas recebeu recurso para votação em Plenário.

Aprovado na CCJ foi encami-nhado à Câmara o PLS 265/2011, que veda a transferência de domicilio eleitoral de prefeitos e vice-prefei-tos durante o exercício do mandato. Também foi enviado à Câmara o PLS 267/2011, que trata da cláu-sula de desempenho partidário nas eleições. Diante de tantas proposi-ções, os 81 senadores sabem que têm que negociar muito para transfor-mar sugestões em projetos de lei ou emendas constitucionais.

Para o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) a reformas política é prioridade do Senado Federal. “Espero que possamos nos debruçar, no próximo ano, na reforma política, que a sociedade brasileira aguarda há algum tempo”, avalia. O seu colega Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) está de acordo. Para ele, os senadores estão se mobilizando pela reforma

política. A senadora Ana Amélia (PP-RS)

sustenta: “Este é o momento ideal para discutir temas como o financia-mento público de campanha e o fim da reeleição”. Para a senadora, isso os coloca em situação privilegiada, por contarem com a máquina pública a seu serviço.

A senadora propõe que, caso seja mantida a reeleição, o chefe de Exe-cutivo que concorrer a novo mandato se desincompatibilize do cargo no mínimo quatro meses antes das elei-ções. Ana Amélia

apresentou proposta de emenda à Constituição com essa regra (PEC 48/12). Outra opção seria acabar com a reeleição, ampliando os man-datos para cinco anos.

“Já avançamos muito com a redução dos showmícios, distribui-ção de brindes, camisetas. Por que não podemos avançar muito mais?” Indaga a senadora gaúcha, alegando que as regras eleitorais brasileiras, normatizadas pela Constituição de 1988 estão ultrapassadas. “Por isso a reforma política requerer urgência”, afirmou. Vários colegas da senadora concordam com essa urgência.

Os senadores Álvaro Dias (PSDB-PR), Jorge Viana (PT-AC), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Paulo Paim (PT-RS) asseguram que as regras eleitorais brasileiras não condizem com os avanços conquis-tados pela democracia nos últimos anos. Para eles, o envelhecimento das regras eleitorais no Brasil foi com-provado nas eleições municipais de outubro.

Os quatro senadores apontam a necessidade urgente de uma reforma política no país. “O processo político e o regramento eleitoral estão aquém dos avanços que já conquistamos”, avalia Jorge Viana. O senador petista entende que a reforma política é “o dever de casa” que o Congresso pre-

cisa fazer, instituindo, por exemplo, normas para evitar “partidos car-toriais e alianças cartoriais”.

O senador José Pimentel (PT-CE) afirma que o Brasil deu o

primeiro passo da reforma polí-tica ao criar o fundo partidário, mas

ainda falta discutir o meca-nismo de acesso e

democratização das instâncias partidá-rias. A senadora

valdir raupp: a reforma política é prioridade no Senado Federal

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álvaro Dias: as regras eleitorais não condizem com os avanços conquistados pela democracia

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 35

Page 36: Gestão Pública e Desenvolvimento

SISTEMA POlíTICO

Lídice da Mata (PSB-BA) afirmou que o Senado “cumpriu seu papel”, no entanto, “a sociedade não verá o Senado como um clube de amigos, mas como instituição alta que repre-senta a sociedade nos seus desejos de mudança e de melhoria da qualidade de vida”.

PAcTO FEDERATivO Diante das dificuldades para se

chegar ao consenso, o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), acredita que a saída é um “pacto federativo antes da reforma política”. O entendimento não é total nem no mesmo partido, reconhece. A falta de consenso em relação à maior parte dos temas da reforma política deve levar o Senado a se dedicar à aná-lise dos projetos que tratam do pacto federativo.

O líder petista inclusive debateu a ideia do pacto em reunião com os líderes dos partidos com represen-tação no Senado. De acordo com o seu colega Álvaro Dias, o Senado tentará um entendimento com a Câmara para avançar a votação das matérias aprovadas pelos senadores. “As opiniões são as mais diversas e desencontradas. É difícil encontrar um consenso, mas isso faz parte do parlamento”, afirmou.

No entendimento do sena-dor tucano, abstenção e voto nulo registrados nas eleições municipais de outubro traduzem o desencanto do eleitor. Houve o enfraqueci-mento dos partidos, que foram “ignorados” pela população e se descaracterizaram em determi-nadas alianças. Para o senador tucano, o julgamento do mensa-lão no Supremo Tribunal Federal “influenciou” os eleitores, agora mais exigentes. n

iTens aProvados na ccJ do senadoA Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal aprovou treze

itens, subdivididos, relativos à reforma política, que o plenário deverá votar no pri-meiro trimestre de 2013, conforme previsão de alguns senadores. Confira alguns dos itens aprovados pelos senadores, enviados à Câmara dos Deputados, para fazer parte do projeto de lei cujo relator é o deputado Henrique Fontana (PT-RS).

Filiação partidária – Mantém o prazo mínimo de um ano de filiação par-tidária antes das eleições para que o eleitor possa ser candidato.

Suplente de senador – Redução de dois para um suplente. Fica vedada a eleição de suplente que seja cônjuge, parente consanguíneo ou afim até o segundo grau ou por adoção do titular. As alterações não valem para senadores e suplentes eleitos em 2006 e 2010.

Data de posse – As posses de governadores de Estado e do Distrito Federal e prefeitos passariam para 10 de janeiro. Do presidente da República para 15 de janeiro.

voto - Permanece o voto obrigatório.

Reeleição e mandatos – Fim da reeleição com mandato de cinco anos para presidente da República, governadores de Estado e do Distrito Federal e prefeitos.

Sistema eleitoral – Adoção do sistema proporcional com listas fechadas nas eleições para deputados federais, estaduais, distritais e vereadores. Cada partido apresenta uma lista de candidatos.

coligações – Fim das coligações nas eleições proporcionais, mantendo-se a permissão para as eleições majoritárias.

Financiamento de campanha – Adoção do financiamento exclusivamen-te público das campanhas eleitorais. Fixação de teto para os gastos de campa-nhas eleitorais efetuados pelos partidos.

Filiação partidária e domicílio eleitoral – Mantém o prazo mínimo de um ano de filiação partidária antes das eleições para que o eleitor possa ser candidato. Quando ao domicílio eleitoral mantém o prazo mínimo de um ano de domicílio eleitoral antes das eleições, na circunscrição em que o eleitor pre-tende ser candidato. Proibe que prefeitos e vice-prefeitos mudem de domicílio durante o mandato.

Fidelidade partidária – Ratificação por lei da regra do Tribunal Superior Eleitoral que prevê que o mandato pertence aos partidos. O abandono da sigla acarreta a perda do mandato, exceto se houver justa causa.

cotas para as mulheres – Estabelece a alternância entre homens e mu-lheres na lista preordenada de candidaturas, de forma que haja um candidato de cada sexo na lista.

legislativo

36 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

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n ACM NETO qUER IR MAIS ALéM Na condição de

prefeito de Salva-dor, terceira maior cidade do país em número de eleito-res, ACM Neto tem deixado claro que pretende dar voos mais altos e, por isso, não descarta novas alianças e parcerias. Em entrevista ao quadro Poder e Política, da Folha e do Uol, o prefeito eleito disse que o Democra-tas está aberto para qualquer conversa a respeito de 2014. Chegou até a elogiar a presidenta Dilma Rousseff. Para ele, “o governo Dilma é melhor que o de Lula, tendo mais equi-líbrio na posição institucional.” Também deixou claro que seu partido não vai se alinhar “automaticamente” aos tuca-nos. “Temos uma aliança histórica com o PSDB, mas ainda é muito cedo”, adiantou. E não descartou uma possível aproximação com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). É um novo ACM Neto, com discurso de líder e dirigente do Executivo, depois de derrotar o candi-dato do PT, Nelson Pelegrino, no segundo turno do pleito para a prefeitura de Salvador e ser considerado coman-dante do terceiro maior colégio eleitoral do Brasil.

n PSDb LANçA OFICIALMENTE O NOME DE AéCIO NEVES PARA 2014

Agora é oficial. Aécio Neves irá disputar a Presidência da República em 2014, conforme ficou acertado no último dia 3 de novembro, em Brasília, quando a pré-candidatura do senador foi lançada, durante encontro dos prefeitos do PSDB eleitos em outubro. Entusiasmado, o ex-presidente Fer-nando Henrique Cardoso disse que Aécio não precisa nem de convenção para ter seu nome aprovado. “Ele será ungido can-didato”, afirmou FHC. O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, lançou também o nome de Aécio para presidir o par-tido. “Aécio é, seguramente, o verdadeiro candidato da maioria do PSDB e deve assumir a presidência do partido. É o chefe que precisamos e o líder que desejamos”, discursou Guerra. O senador tucano disse se sentir honrado e informou que sua candidatura será lançada no início de 2014. “Eu estou pronto. O Brasil está cansado com o que está acontecendo”, comentou Aécio, referindo-se às atuais denúncias de corrup-ção. Aécio observou que este é o momento de o PSDB fazer um projeto de uma nova gestão para o país

n POR ONDE ANDA MARINA SILVA Cada vez mais em defesa de um movimento

político transpartidário, a ex-senadora Marina Silva tem encontrado dificuldades para criar um novo partido. Depois de ficar em terceiro lugar na corrida eleitoral pela Presidência da República, em 2010, e permanecer sob os holofotes após conquistar 20 milhões de votos, Marina criou o Movimento por uma Nova Política, o qual, segundo disse, seria embrião para a formação de um partido. Contudo, o movimento não deslan-chou a contento e Marina ainda não encontrou seu rumo, pelo menos na seara partidária. Ela própria afirma que tem dúvidas quanto à cria-ção de um novo partido. “Um partido não se faz só em função de eleição, e sim de um projeto, e só tem sentido se esse projeto estiver à altura dos desafios do século XXI”, observou recentemente. Mas, nos bastidores, ela conversa com aliados do PSOL e do PDT sobre se ainda há espaço para sua candidatura em 2014. Analisa, por exemplo, se Eduardo Campos vai se apresentar como uma terceira via no processo eleitoral. E se ainda tem condições de conquistar mais de 20 milhões de votos em 2014.

Antonio Cruz/ABr

Jornal Grande Bahia

POLÍTICA E PODERPolÍtiCa E PodErMaria FÉLIX

aécio e FHc: bom-humor e lançamento de pré-candidatura do PSDB ao Planalto

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 37

Page 38: Gestão Pública e Desenvolvimento

poLíticas da união

INTEGRAçãO NACIONAl

Programa Mais irrigação vai beneficiar dezesseis estadosGoverno quer minimizar os efeitos da seca e valorizar a agricultura familiar

da redação

N o último dia 13 de novembro, a presidenta Dilma Rous-seff lançou o programa Mais

Irrigação com o objetivo de minimi-zar os efeitos da seca, principalmente a que atinge a região do semiárido nordestino. O programa, coorde-nado pelo Ministério da Integração Nacional, deverá investir cerca de R$ 3 bilhões, oriundos do Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC2), e mais R$ 7 bilhões da iniciativa pri-vada. A cerimônia de lançamento, no Palácio do Planalto, foi prestigiada por vários ministros e pelos gover-nadores dos estados que deverão ser beneficiados.

Dados do Ministério da Inte-gração mostram que o programa envolverá 66 regiões e abrangerá 538 mil hectares de 16 estados: Ala-goas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão,

Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima, Sergipe e Tocantins. Uma das metas é investir em terras que tenham vocação para produção de biocombustíveis, frutas, leite, carne e grãos.

Na ocasião, Dilma Rousseff afir-mou que a irrigação permanente e terras constantemente aproveita-das são a melhor resposta para seca.

presidenta Dilma rousseff: governo vai derrotar a seca com o uso da tecnologia

José Cruz/ABr

38 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 39: Gestão Pública e Desenvolvimento

“Nós queremos esse modelo bem--sucedido e esperamos que ele se espalhe pelo Brasil, recriando opor-tunidades de produção e esperança”, disse a presidenta. Mais adiante, ela destacou: “Vamos derrotar a seca e usaremos para isso o que há de melhor na tecnologia”. Ela destacou que a intenção do governo é valorizar o agricultor familiar e desenvolver a economia regional de forma sus-tentável. Segundo ela, uma das características do Mais Irrigação é a busca de mais eficiência para melhor investir. “Falo da eficiência para obter uma maior produção agrícola, maior renda gerada nas regiões pobres do país, e da operação adequada dos projetos de irrigação”, ressaltou.

A presidente cobrou dos ministros Fernando Bezerra Coelho (Integra-ção Nacional) e Tereza Campello (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) a entrega de 160 mil cis-ternas até o final do ano. “Os males provocados pela estiagem se ainda são muitos e se ainda são extensos, temos o absoluto compromisso de superá-los, estão sendo enfrentados com firmeza”, afirmou.

A presidenta lembrou que embora a dimensão do Mais Irrigação seja e será necessariamente nacional, ela não nega o seu impacto no Nordeste. “Nós queremos impactar o semiárido nordestino. Queremos porque essa é a região histórica em que o Brasil viu a seca ocorrer. E que hoje inclusive vive uma das mais violentas secas dos últimos 40 anos”, observou. Dilma Rousseff ressaltou que o governo tem “o mais absoluto compromisso” de superar os problemas provoca-dos pela seca. “Temos hoje uma rede de amparo social robusta, que evitou que a seca se transforme em fome e saques. As bolsas Estiagem e Família

garantem ao povo do semiárido os recursos para sobreviver”, declarou.

O ministro da Integração Nacio-nal, Fernando Bezerra Coelho, fez a apresentação detalhada do pro-grama. Segundo ele, na primeira

fase, oito projetos vão abranger 189 mil hectares. A segunda abrangerá 13 planos, já selecionados no PAC 2. O terceiro eixo trata da agricultura familiar e pequenos irrigantes. São 27 projetos sendo que 25 voltados para o Nordeste do país. A última fase é a de estudos e projetos e conta com 18 iniciativas.

“O que queremos é aperfeiçoar a ocupação agrícola. É preciso redu-zir a baixa produtividade e buscar a melhor gestão da infraestrutura. O Brasil é hoje produtor para mui-tos outros povos. É evidente que os frutos da agricultura irrigada terão destino em muitos mercados fora do país”, disse o ministro. n

Com informações da Agência Brasil

esTado de emergênciaMais de 250 municípios da Bahia estão em situação de emergência em de-

corrência da seca devido a estiagem prolongada na região. Dados da Coorde-nação de Defesa Civil da Bahia (Cordec) indicam que a estiagem vai continuar pelo menos até o fim de novembro. Em algumas áreas as chuvas estão previstas apenas para final de novembro ou inicio de dezembro. Nos últimos dois anos, o governo da Bahia investiu cerca de R$ 4 milhões, mediante convênios, para o abastecimento de água por meio de carro-pipa, beneficiando quase 500 mil pessoas.

Pesquisa realizada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb) em quase cem municípios revela que a queda da produção chega a 100% em algumas lavouras e a 60% nos rebanhos. O levantamento indica os percentuais de perdas em diversos segmentos do setor agropecuário, mas não revela o tamanho do prejuízo financeiro.

A pesquisa foi feita em Senhor do Bonfim, Jacobina, Ipirá, Guanambi, Irecê, Jequié e Vitória da Conquista. O mapa ainda acrescentou as regiões de Jua-zeiro, no Norte, e de Feira de Santana, no agreste, por causa do rebanho de caprinos e da pecuária de leite e a agricultura de sequeiro, respectivamente. O vice-presidente da Faeb, Humberto Miranda, lamenta a situação dos agricul-tores e pecuaristas baianos, descapitalizados com a estiagem. “O tempo vai passando e as agruras vão aumentando. O que resta aos produtores são as terras e as dívidas”, ressalta.

“ NóS qUEREMOS IMPACTAR O SEMIáRIDO NORDESTINO. qUEREMOS PORqUE ESSA é A REGIãO hISTóRICA EM qUE O BRASIl VIU A SECA OCORRER”Presidenta Dilma Rousseff

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 39

Page 40: Gestão Pública e Desenvolvimento

marcuS viNiciuS De aZeveDo BragaAnalista de finanças e controle da Controladoria-Geral da União. é formado em Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e bacharel em Ciências Navais com habilitação em Administração pela Escola Naval. é mestre em Educação pela Universidade de Brasília

govErnança e gEstão

“A principal função do auditor inclusive nem é a de fiscalizar depois do fato consumado, mas a de criar controles internos para que a fraude e a corrup-ção não possam sequer ser praticadas” (Stephen Kanitz, 1999)

Se não presta, não presta v ai chegando o final do ano, encerra-se mais um

ciclo e nos vemos às voltas, mais uma vez, com a questão da prestação de contas. Uma situação

comum à vida de todo gestor, envolta de ideias pré-con-cebidas e preconceitos e que será objeto de reflexão nas breves linhas desse artigo.

PRESTAçãO DE cONTASA ideia de se prestar contas não é nova. A Bíblia, livro

maior dos cristãos, já mostrava no Novo Testamento (Mt: 25) o Senhor da vida pedindo informações sobre as pro-vidências adotadas em relação às moedas recebidas, na famosa “Parábola dos talentos”. A Declaração dos Direi-tos do Homem e do Cidadão, de 1789, documento basilar da Revolução Francesa, já asseverava que “(...) todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus repre-sentantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração.” E ainda que “ (...) a sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.”

A Constituição Federal de 1988 indica o dever de pres-tar contas de forma límpida, no parágrafo único do Art. 70- “Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária”. Desde a Constitui-ção de 1891, inclusive, todas as Cartas Magnas brasileiras prevêem, de alguma forma, a prestação de contas dos recursos públicos.

Mas, o que seria então prestar contas? Bem, dentro dos

sistemas administrativos diversos, as limitações huma-nas na execução das tarefas atribuídas nos forçam a delegarmos a execução das tarefas, com graus de autono-mia diversos concedidos aos executores. Esses prepostos agem em nome do responsável pela tarefa primária, divi-dida agora em várias sub-tarefas, e após um período de tempo, estes executores devem prestar contas do que fizeram com os recursos recebidos, demonstrando que realizaram o acordado.

É uma discussão de poder, de submissão a um orde-namento, demonstrado pelo ato de provar o seu fiel cumprimento. Mas também é uma discussão contra-tual, sinalagmática, de adimplemento de uma parte de um acordo. E dessa demonstração da exatidão do

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cumprimento deriva a ideia de pres-tar contas, contas que devem “fechar”, pois o uso de cálcu-los permite que seja aferido o recebido, as ações e os resultados, em uma estrutura aritmética de igualdade simples.

Receber a delega-ção de outrem é para cumprir uma finalidade maior, o que não ocorre por conta, às vezes, da preguiça, de interes-ses privados, de razões conjunturais, de fenôme-nos aleatórios e, ainda, pela intercessão de outros interessados. Entretanto, apesar dessas causas lis-tadas, deve-se ter em mente que prestar contas é diferente de ser culpabilizado. Pelo contrá-rio, é um instrumento que resguarda o agente delegado, certificando que ele, formalmente, cumpriu o seu dever, e em que medida.

De forma costumeira, prestar contas é um ato voluntário, um dever já pré-agendado no momento da delegação. Caso não se preste con-tas, a autoridade delegante poderá “tomar as contas”, avaliando de forma compulsória o que foi feito e responsabilizando quem de direito a reparar o não executado. Por isso existe a figura do rol de responsáveis, que delimita o alcance e a individua-lização dos responsáveis por prestar contas.

Da mesma forma, a prestação de contas exige expertise, seja de quem demonstra a realiza-ção do que foi feito, seja da parte de quem analisa, para concluir que realmente a obrigação está atendida. É tam-bém um processo de comunicação, onde o recebedor de recursos informa o que foi feito dos recursos recebi-dos a quem o concedeu. Na gestão pública ou privada, prestamos contas cotidianamente, pois sempre exis-tem as relações de poder e de delegação, ainda que no

setor público esses delegantes sejam menos individualizados, dado que se encontram na sociedade

e seus diversos segmen-tos. Peter Drucker, na sua

sabedoria, dizia que em relação ao fundo público,

se não houvessem os pro-cessos e os formulários, seríamos condenados a pilhagem sistemática. Tal sentença de tão célebre pensador reforça o valor

dos mecanismos burocrá-ticos nessa tarefa de prestar contas, na busca de se identi-ficar, registrar e formalizar os

atos, ainda que o enfoque dado a esse processo de agrupamento de infor-

mações seja muitas vezes débil para inibir desvios e identificar fragilidades, por ter uma

visão puramente documental, ensimesmada, no aspecto nega-tivo da burocracia.

A FiNALiDADE DE SE PRESTAR cONTAS

A finalidade de se prestar con-tas é demonstrar a autoridade delegante que os objetivos propos-tos foram cumpridos (resultados) e que esses processos guarda-ram adequação (conformidade) com as regras e princípios esta-belecidos em um contexto mais amplo. Sim, pois se o recebedor de recursos descumpre as nor-mas e princípios, a sua gestão terá consequências reflexas para todo

o sistema, dentro do aspecto funcional do princípio da legalidade.

As contas, então, são prestadas a alguém, que analisa o apresentado a luz da conformidade e dos resultados, emi-tindo uma opinião, que certifica as contas, determinando providências corretivas, preventivas e até punitivas. Isso por que a delegação de hoje será substituída por outra amanhã, com outro ator, e as informações obtidas no

“ NA GESTãO PúBlICA OU PRIVADA, PRESTAMOS CONTAS COTIDIANAMENTE, POIS SEMPRE EXISTEM AS RElAçõES DE PODER E DE DElEGAçãO, AINDA qUE NO SETOR PúBlICO ESSES DElEGANTES SEJAM MENOS INDIVIDUAlIZADOS”

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 41

Page 42: Gestão Pública e Desenvolvimento

processo de prestação de contas servem para melhorar os processos e até excluir do sistema os agentes que a ele não se adequam.

A finalidade da elaboração do processo de presta-ção de contas deve se focar na possibilidade dos dados ali apresentados servirem para o destinatário de essas informações concluir pelo cumprimento dos resultados e adequação dos processos, e, ainda, permitir que os erros detectados sejam computados em ações correti-vas e que, de forma preventiva, atuem sobre a gestão, tornando-a mais eficaz e eficiente, atuando sobre o sistema.

Da mesma forma, o gestor ao construir o seu processo de contas, efetua uma recapitulação de atos e fatos, conduzindo-o a uma reflexão que permite a sua auto avaliação da gestão, sopesando erros e acertos, na construção da melhoria contínua.

Não pode ser deixado de citar também que o processo de prestar contas, no que tange a recursos públicos, é um instru-mento de transparência e de consequente indução do controle social, precisando para isso ser construído de forma inteligível para a população, para que reverta em informações que ajudem a avaliação daquela gestão por um público leigo, permitindo a esse concluir pela qua-lidade dos serviços prestados e ainda, que identifique

como interagir na melhoria dos processos e na vigilância dos seus prepostos.

Essa discussão serve para ilustrar que prestar contas não é um listar de documentos sem sentido, um agrupa-mento de papéis que por vezes necessita de um carrinho para o seu transporte. O papel pode conter muita infor-mação inútil, ou ainda, que não permite a análise. Por

vezes, o papel pouco prova da vera-cidade dos atos e fatos, tendo um papel remoto e assíncrono, que pouco auxilia para avaliar os resultados e a conformidade daquela parceira.

Prestar contas é dizer o que estamos fazendo e como estamos fazendo, o que pode se dar de forma cotidiana ou em ciclos, para fins ope-racionais. A prestação de contas tem um caráter mais relevante do que a transparência, a partir do momento que ela transcende a disponibiliza-ção de informações, constando desta a explicação do que foi feito na gestão,

o como e o por quê, focado no receptor dessa mensagem. Isso é bem diferente de apenas um amontoado de dados organizado em papeis.

O uso de ferramentas de tecnologia da Informação, em especial na transferência de recursos para diversos atores em diversos locais, possibilita a simplificação das pres-tações de contas, e ainda, a identificação de fragilidades

“ PRESTAR CONTAS é DIZER O qUE ESTAMOS FAZENDO E COMO ESTAMOS FAZENDO, O qUE PODE SE DAR DE FORMA COTIDIANA OU EM CIClOS, PARA FINS OPERACIONAIS”

42 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

SE NãO PRESTA, NãO PRESTA

Artigo

Page 43: Gestão Pública e Desenvolvimento

que podem ser mapeadas e revertidas em ações que pro-movam a melhoria global da gestão. Mas, para isso, faz-se necessário o desenvolvimento de metodologias e proces-sos, seja do lado de quem presta contas, seja do lado de quem analisa as contas, que permitam identificar o que realmente é relevante e como deve ser sua análise com o propósito de obter informação útil e que propicie a melhoria do processo.

O uso de fotografias, georreferenciamento, cruza-mento de dados informados com fontes externas e outros bancos de dados e, ainda, a avaliação in loco mediante um critério de riscos. São estas algumas práticas pionei-ras que permitem transcender a ideia de prestar contas de um amontoado de processos para uma metodologia que permita que a certificação ocorra com o mínimo de custos e o máximo de efetividade pela ótica do analisador das contas, contribuindo, de forma concomitante, com a produção de informações gerenciais que melhorem a ges-tão a partir do processo de contas.

EXERcíciO DEMOcRáTicOO gestor de recursos públicos, de um modo geral, não

gosta de prestar contas, Diz que é burocrático, que atra-palha, que não serve para nada. Por outro lado, herdamos de nossos antecessores portugueses essa ideia cartorial, de se registrar tudo, o que faz dos modelos de prestação de contas focados na informação e não do uso que vai ser dado a essa informação. O foco é no receptor das informações e o porquê que elas são produzidas. Fugir disso é cair em um emaranhado de informações desconexas.

Entretanto, é preciso desenvol-ver tecnologias e procedimentos que aperfeiçoem a prestação de contas de recursos públicos, atribuindo a esses processos um sentido estratégico, de aferição de resulta-dos e produção de feedbacks para a melhoria contínua e ainda, como oportunidade de autocontrole, de reflexão do gestor sobre a sua prática.

A democracia não prescinde da prestação de con-tas, como mecanismo de informação ao povo, titular do poder, do cumprimento dos objetivos pactuados nos programas de governo constantes do orçamento, e de responsabilização dos acertos e dos erros, dentro do con-texto da accountability.

Delegação sem prestar contas não presta a um gasto de qualidade. Não basta apenas aos delegadores distri-buir recursos e estabelecer normas, mas sim atuar no acompanhamento que culmina com a prestação de con-tas, contribuindo para o atingimento das finalidades, no

mundo real. Delegar é uma arte e a prestação de contas é uma ferramenta essencial nesse sentido.

A prestação de contas na admi-nistração pública se faz em vários momentos, seja nas contas anuais dos administradores julgados pelos Tribu-nais de Contas, sejam nas contas do presidente da República, as chamadas contas de governo, ou ainda, nas des-centralizações de recursos de um ente para o outro, nas ações em parceira no contexto federativo, nos chamados

convênios e outros instrumentos congêneres.Em todas essas situações, e em outras que existirem a

delegação, as reflexões aqui apresentadas nos fazem ver a prestação de contas como algo além de uma forma-lidade, e sim como um instrumento valioso da gestão, que pode e deve ser bem utilizado, sabendo separar o joio do trigo do que é uma maneira de simplificar e oti-mizar esse processo ou torna-lo um mero aglomerado de informações a onerar o sistema, sem contribuir para a sua melhoria. n

“ DElEGAR é UMA ARTE E A PRESTAçãO DE CONTAS é UMA FERRAMENTA ESSENCIAl NESSE SENTIDO”

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 43

Page 44: Gestão Pública e Desenvolvimento

EstaDos e Municípios

EMPREENDEDORISMO

Prefeitos se reúnem em Brasília em busca da construção de um novo BrasilCongresso Brasileiro de Gestão Pública Municipal e Conferência das Cidades mobilizam os administradores

ana Seidl

P refeitos eleitos e reeleitos em outubro deste ano estarão em Brasília nos dias 12 e 13 de

dezembro, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília/DF, em torno do Congresso Brasileiro de

Gestão Pública Municipal e da XIII Conferência das Cidades. Os eventos vão mobilizar os gestores municipais em favor da construção de uma nova administração pública, com foco na cidadania responsável e na gestão pública eficiente. Eles irão participar das palestras e painéis informativos

sobre providências a serem toma-das no início de mandato e sobre as novas técnicas de gestão e políticas de mobilidade urbana. Lideranças políticas e gestores públicos dos três níveis de governo, especialistas de organizações não governamentais e de instituições civis participarão do

ao centro, o deputado Luiz pitiman e o presidente da Frente Nacional de prefeitos, João coser: preparativos para receber os novos gestores municipais eleitos

Divulgação

44 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 45: Gestão Pública e Desenvolvimento

evento que tem como tema Gesto-res Municipais construindo um novo Brasil. Lideranças políticas e gestores públicos dos três níveis de governo, especialistas de organizações não governamentais e de instituições civis vão prestigiar o congresso.

A promoção é da Frente Parla-mentar Mista para o Fortalecimento da Gestão Pública, presidida pelo deputado federal Luiz Pitiman (PMDB/DF), em conjunto com a Comissão de Desenvolvimento Urbano e a Comissão de Traba-lho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados. “O evento é uma maneira de aper-feiçoar os debates sobre a gestão pública em nível municipal, tra-zendo lá da ponta as dificuldades enfrentadas no dia a dia” ressalta Pitiman. O parlamentar lembra que a gestão pública ainda é muito inci-piente nos mais de 5.500 municípios brasileiros. “Boa parte dos impos-tos arrecadados é gasta no âmbito dos estados e municípios, onde nem sempre, até hoje, foi dada a devida atenção no que diz respeito à pre-paração de mão de obra disponível. Um grande desafio da frente é esti-mular as administrações estaduais e municipais a adotarem práticas mais modernas e eficientes de ges-tão”, disse.

O parlamentar defende a con-tratação de gestores públicos de carreira pelas prefeituras e câmaras municipais. Segundo Pitiman, esses profissionais garantirão a continui-dade dos projetos de longo prazo nos municípios, independentemente do prefeito que estiver governando. “É fundamental investirmos na profis-sionalização do gestor público para que ele não se sinta inseguro com a mudança de prefeito ou de presidente

da Câmara, nem que seja demitido ou perseguido por uma situação polí-tica”, destaca.

PAiNÉiS Os temas principais dos painéis

são: Gestão eficiente para um novo governo; Sistemas de gestão pública e inovação; Participação do cidadão

na gestão municipal; e Governança, agenda legislativa e associações municipais; Relações federativas e Finanças dos municípios. Represen-tantes de órgãos como o Ministério do Planejamento, Supremo Tribunal Federal, Câmara de Gestão Pública do Governo Federal, Tribunal de Contas da União, Organização das Nações Unidas e Secretaria Geral da Presidência da República vão par-ticipar dos debates e dos painéis do congresso.

PúBLicO-ALvO Prefeitos e prefeitas eleitos em

2012; autoridades da Presidência da República, dos ministérios setoriais; do Judiciário; dos governos estaduais; deputados e senadores; representan-tes de órgãos públicos e estatais, dos órgãos de controle externo e interno, de entidades de classe e associati-vas; de entidades do “Sistema S”; empresas estatais e fornecedores de produtos e serviços municipais.

pitiman e o presidente da comissão de Desenvolvimento urbano da câmara, deputado Domingos Neto: parceria na realização do congresso

Divulgação

“ UM GRANDE DESAFIO DA FRENTE é ESTIMUlAR AS ADMINISTRAçõES ESTADUAIS E MUNICIPAIS A ADOTAREM PRáTICAS MAIS MODERNAS E EFICIENTES DE GESTãO”Luiz Pitiman, deputado federal

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 45

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estados e municípios

EMPREENDEDORISMO

cONFERêNciA DAS ciDADESCom o tema da Mobilidade

urbana: acessibilidade, infraestru-tura e obras para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, a Comissão de Desenvolvimento Urbano (CDU) da Câmara dos Depu-tados realiza também, nos dia 12 e 13 de dezembro, a XIII Conferência das Cidades no Auditório Planalto com a participação dos governadores Edu-ardo Campos (PSB) de Pernambuco e Cid Gomes (PSB) do Ceará.

O evento acontece em parce-ria com a Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público e a Frente Parlamentar Mista para o Fortalecimento da Gestão Pública, que são os promotores do Congresso Brasileiro de Gestão Pública Munici-pal. Alcançar resultados práticos que contribuam para o aperfeiçoamento da infraestrutura no país e garantir a melhoria da mobilidade urbana são objetivos da conferência.

Segundo o deputado Domingos Neto (PSB/CE), presidente da CDU, toda a sociedade sofre com a falta de mobilidade originada da ausência de planejamento urbano nas nossas cidades, “nossa missão nessa con-ferência é, não apenas acompanhar, mas também cobrar”. O tema da XIII Conferência das Cidades visa buscar soluções para os grandes e médios centros, por essa razão será discu-tido em painéis a aplicação da Lei de Mobilidade Urbana, a integração dos modais de transporte, o financia-mento e a avaliação de experiências exitosas nos transportes e integra-ção social, para serem aplicadas em outras cidades do nosso país.

PALESTRANTES cONviDADOSEntre os palestrantes convida-

dos estão Fausto Nilo Costa Júnior,

arquiteto e urbanista; João Car-los Coser, prefeito de Vitória-ES e presidente da Frente Nacional dos Prefeitos (FNM); Eduardo Cam-pos, governador do Estado de Pernambuco; José Ademar Gon-dim Vasconcelos, presidente da Empresa de Transportes Urba-nos de Fortaleza e presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Transporte Urbano e Trânsito; Alexandre de Ávila Gomide, diretor de Estudos

e Políticas do Estado, das Institui-ções e da Democracia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); Renato Boareto, do Insti-tuto de Energia e Meio Ambiente; Joubert Fortes Flores Filho, pre-sidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passagei-ros sobre Trilhos (ANPTrilhos); e Júlio Eduardo dos Santos, secre-tário Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades. n

Prêmio selo cidade cidadã 2012A Comissão de Desenvolvimento Urbano

da Câmara dos Deputados (CDU) promo-veu o concurso “Selo Cidade Cidadã”. Para participar, as prefeituras que implementaram projetos exitosos na área se inscreveram no site da CDU até 15 de outubro. As cida-des premiadas vão receber troféu, direito do uso do selo oficial e da marca “Selo Cidade Cidadã – Ano 2012”, que poderão usar na divulga-ção de suas ações por até um ano. Os gestores receberão o prêmio na Câmara dos Deputados, em Brasília.

Para incentivar a participação dos municípios pequenos e de médio porte, o concurso é dividido em três categorias: até 60 mil habitantes, entre 60.001 habitantes até 499.999 habitantes e mais de 500 mil habitantes.

O presidente da CDU, deputado Domingos Neto, explica que o objetivo do concurso é incentivar projetos que buscam alternativas inteligentes para a mo-bilidade. “É uma forma das cidades mostrarem o que estão fazendo para re-solver problemas de trânsito e transporte”, ressalta. Os ganhadores da oitava edição do concurso foram São José dos Campos, com o projeto Calçada Segura; Campinas, com o projeto sobre investimentos em serviços públicos de transpor-te; Toledo (PR), com o projeto Topedalando; Caraguatatuba (SP), com o projeto Caraguá Acessível; e Forquilhinha (SC), com o projeto Integração da Ciclovia.

46 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 47: Gestão Pública e Desenvolvimento

Os gestores empreendedores premiados Eles estimulam o desenvolvimento com incentivo aos pequenos negócios

ana Seidl

O Sebrae realiza anualmente o Prêmio Prefeito Empre-endedor, que incentiva o

desenvolvimento municipal com base no apoio aos micro e pequenos negócios. Este ano foram premia-das 12 iniciativas, sendo cinco na categoria Melhor Projeto, uma para cada região do país, e sete Destaques Temáticos.

O presidente do Sebrae, Luiz

Barretto, incentiva a criação de um movimento no Brasil para que “o empreendedorismo entre de fato na agenda dos prefeitos”. Ele destaca a importância do apoio aos pequenos negócios para o desenvolvimento da economia brasileira. Cita como exemplo o Simples Nacional, sistema especial de tributação de micro e pequenas empresas (MPE) que conta com mais de 6,3 milhões de empre-endimentos. Barretto lembra que “desde que o Simples entrou em vigor,

em julho de 2007, o regime já gerou mais de R$ 148 bilhões em arrecada-ção, dos quais mais de R$ 11 bilhões se referem a tributos municipais”.

“Ganham o empreendedorismo, os governos e a sociedade. As expe-riências positivas já estão espalhadas por todo o país”, diz o presidente do Sebrae. Ele também incentiva os municípios a tratarem de maneira diferenciada os Empreendedores Individuais (EI) no que se refere à concessão de licenciamento para que

Divulgação/Sebrae

cerimônia de entrega do prêmio prefeito empreendedor 2012: reconhecimento

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 47

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estados e municípios

EMPREENDEDORISMO

exerçam as suas atividades. Os EI são trabalhadores por conta própria que ganham, no máximo, R$ 60 mil por ano, como costureiras, cabeleireiras, pedreiros e encanadores.

Os vencedores da categoria Melhor Projeto por região foram: Euricélia Melo Cardoso, do muni-cípio de Laranjal do Jari (AP), pela região Norte; Euvaldo de Almeida Rosa, de Santo Antônio de Jesus (BA), Nordeste; Fernando Zafonato, de Matupá (MT), Centro-Oeste; Vinícius de Medeiros Farah, de Três Rios (RJ), Sudeste; e Elson Muna-retto, de Bom Sucesso do Sul (PR), pela região Sul.

O prefeito Reinaldo Landulfo Teixeira, do município de Capitão Enéas (MG), venceu em dois desta-ques temáticos: Compras Públicas dos Pequenos Negócios Locais e Lei Geral Municipal – que trata da implantação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Lei Comple-mentar 123/06) nos municípios. O prefeito Nelson Trad Filho, de Campo

Grande (MS), conquistou o destaque Médios e Grandes Municípios.

Os demais vencedores da catego-ria Destaques Temáticos são: Edgar Bueno, de Cascavel (PR), por Forma-lização de Empreendimentos e apoio ao Empreendedor Individual; Mar-celo Cabreira Xavier, de Silva Jardim (RJ), Crédito e Capitalização; José Ivo Sartori, de Caxias do Sul (RS), Pro-moção do Desenvolvimento Rural; e Valentina Helena de Andrade Toneti, de Jacarezinho (PR), campeã do des-taque Planejamento e Gestão Pública para o Desenvolvimento Sustentável.

O prefeito Reinaldo Landulfo, de Capitão Enéas (MG), garantiu que “o melhor foi participar do prê-mio, pois foi possível perceber que somos capazes de mudar uma rea-lidade, seja qual for o tamanho do município”.

SãO JOSÉ DOS cAMPOSSão José dos Campos foi a ven-

cedora do 7º Prêmio Prefeito Empreendedor na categoria Melhor Projeto em Gestão Pública para o Desenvolvimento Sustentável em março deste ano. O prefeito Eduardo Cury, de São José dos Campos, esteve no Reino Unido, no início de dezem-bro, para uma missão internacional. A viagem fez parte do Prêmio Nacio-nal Prefeito Empreendedor 2012. O objetivo é reunir os prefeitos ven-cedores para trocar experiências de sucesso e iniciativas de incentivo aos micro e pequenos negócios, que poderão servir de exemplo para as prefeituras brasileiras. São José dos Campos é um dos polos mais impor-tantes do Brasil no desenvolvimento de alta tecnologia, além de ter voca-ção empreendedora, com milhares de micro e pequenas empresas, respon-sáveis por dois terços dos empregos no município.

Neste ano, São José dos Cam-pos venceu a etapa estadual, quando 240 municípios se inscreveram e

galeria do empreendedor: centros de compras e de prestação de serviços em bairros de São José dos campos

Ronny Santos

eduardo cury: prefeito empreendedor 2012

48 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 49: Gestão Pública e Desenvolvimento

199 foram pré-selecionados. O Selo Prefeito Empreendedor foi entre-gue para 91 prefeituras e apenas dez municípios receberam o troféu como prêmio: três na categoria esta-dual e sete Prêmios Temáticos. De acordo com o prefeito Eduardo Cury, São José dos Campos sempre teve “uma posição de destaque nas pre-miações destinadas às prefeituras de melhor desempenho, principalmente quando se trata de avaliação da ges-tão pública e das iniciativas voltadas para a  inovação em administração municipal”.

A prefeitura criou em bairros distantes as Galerias do Empreen-dedor, que são centros de compras e de prestação de serviços operados por empreendedores que moram no bairro. Isso gera emprego e renda e facilita vida das pessoas que não pre-cisam se deslocar ao centro da cidade para adquirir diversos produtos e serviços. São seis dessas galerias, que serão tocadas por empreendedores treinados e assistidos permanen-temente pelo Sebrae. Cury destaca ainda que empreendeu, “ inúme-ras ações para reduzir a burocracia, ampliar o acesso do cidadão aos serviços públicos de qualidade e ade-quar a infraestrutura do município às demandas sociais, econômicas e da expansão urbana”.

TRêS RiOS (RJ) O prefeito de Três Rios, Vinicius

Farah, foi o vencedor em duas catego-rias da VII Edição do Prêmio Sebrae, em 15 de maio deste ano, em Brasília. Iniciativas empreendedoras e a polí-tica adotada no município que tem como base a atração de empresas de diferentes portes e segmentos garan-tiram o prêmio a Vinicius Farah. “Este prêmio consolida o grande momento

que estamos vivenciando em Três Rios. Temos desenvolvimento com qualidade de vida. Cuidamos da base estrutural para abraçar este momento de crescimento com segurança, quali-ficação profissional, saúde, educação, infraestrutura, cultura e principal-mente com carinho especial para cada cidadão, respeitando as necessi-dades individuais”, afirma.

Com uma população superior a 80 mil habitantes e uma localiza-ção geográfica privilegiada, próxima aos grandes centros produtores e consumidores e com acesso fácil às principais rodovias, Três Rios vive um momento promissor. Bem dife-rente do período em que a economia local dependia de três grandes indús-trias que, ao falirem na década de 80, deixaram mais de 12 mil traba-lhadores desempregados e 20 anos de estagnação. O balanço atual da Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro (Jucerja) mostra que, de 2009 a junho de 2012, mais de 900 empre-sas se instalaram em Três Rios. “Na nossa cidade, o tapete vermelho está estendido tanto para a grande quanto para a microempresa” garante o prefeito.

O prefeito Vinicius Farah par-ticipou em novembro deste ano de uma missão técnica internacional

prefeito vinicius Farah: prêmio consolida o grande momento vivido pela cidade

“ NA NOSSA CIDADE, O TAPETE VERMElhO ESTá ESTENDIDO TANTO PARA A GRANDE qUANTO PARA A MICROEMPRESA”Vinicius Farah, prefeito de Três Rios

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 49

Page 50: Gestão Pública e Desenvolvimento

estados e municípios

EMPREENDEDORISMO

nos Estados Unidos, onde se inte-grou a diversas atividades e cursos sobre boas práticas de gestão pública. “Levamos para o exterior nosso modelo de gestão, que fez com que ganhássemos o prêmio Prefeito Empreendedor, e trouxemos conosco mais experiência e novas ideias,

especialmente na questão do empre-endedorismo”, afirmou o prefeito.

JAcAREziNhO (PR)Valentina Helena de Andrade

Toneti foi a campeã do destaque Pla-nejamento e Gestão Pública para o Desenvolvimento Sustentável da VII Edição de Prêmio Prefeito Empreendedor do Sebrae. O obje-tivo do projeto premiado é integrar a população ao mercado de traba-lho, fortalecer as micro e pequenas empresas e a agricultura familiar. O resultado foi alcançado pela implan-tação de um programa integrado voltado ao desenvolvimento susten-tável e à modernização da gestão pública, planejamento e gestão à serviço do empreendedorismo e do trabalho.

A grande estratégia foi a implan-tação do Plano Integrado de Sustentabilidade e Modernização da Administração Municipal, composto

por programas que têm como base a modernização da administra-ção, focada no uso responsável dos recursos públicos, na revisão de pro-cessos internos e na reestruturação de secretarias chaves. O plano trans-formou servidores municipais em mais do que agentes políticos, agen-tes de mudança, comprometidos com metas e resultados, pois afinal são eles que operacionalizam todos os programas e ações.

Segundo a prefeita Valentina Toneti, a modernização da adminis-tração é o meio para propulsionar empregos e empreendedorismo, principalmente voltados aos peque-nos negócios urbanos e rurais que são as molas propulsoras do desen-volvimento, gerando ocupação, renda, impostos e prosperidade. Ela destaca quatro pontos em sua administração: modernização da gestão pública municipal com foco na boa administração dos recur-sos financeiros; incentivar às micro empresas e empresas de pequeno porte e os microempreendedores Individuais, criando a Secretaria Municipal de Comércio, de Indús-tria, Turismo e Serviços que será a grande articuladora do desenvol-vimento do ambiente favorável ao empreendedorismo; investir em capacitação, formação técnica e profissional e apoiar a agricul-tura Familiar, pois em Jacarezinho dos mil e seis (1006) produtores rurais, novecentos e sessenta e sete (967), 96% pertencem à agricul-tura familiar. No ranking estadual do IDMPE - Índice de Desenvol-vimento Municipal para Micro e Pequenas Empresas publicado pelo SEBRAE PR, Jacarezinho é o 50º com melhor indicador entre 399 municípios, no Paraná. n

valentina toneti: foco na modernização da gestão pública

vista de Jacarezinho: cidade se destaca no planejamento e desenvolvimento sustentável

50 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 51: Gestão Pública e Desenvolvimento

MARANhãO

Governadora Roseana destaca as principais estratégias de desenvolvimento Investimentos em petróleo, gás e energia já somam mais de 120 bilhões

da redação

N a abertura do seminário Maranhão – Oportunidade de Investimento, realizado

em 27 de novembro pelo governo do Estado em parceria com o jor-nal Valor Econômico, a governadora

Roseana Sarney disse que a região vive hoje um momento único em seu desenvolvimento. “Em 2010, o IBGE divulgou que o nosso PIB foi 8,7%, um crescimento acima da média bra-sileira e a segunda do Nordeste com uma variação de mais de 10% de um ano para outro”, destacou Roseana ao

lembrar que vários empreendimen-tos estão sendo instalados em São Luis e em diversas regiões do Mara-nhão, com investimentos da ordem de R$ 120 bilhões. Segundo ela, esses investimentos envolvem projetos diversificados nas áreas de petró-leo e gás, energia, cimento, alumínio,

Agência de Notícias do M

aranhão

roseana Sarney abre seminário sobre as oportunidades de investimentos no maranhão

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 51

Page 52: Gestão Pública e Desenvolvimento

estados e municípios

EMPREENDEDORISMO

ouro, logística e outros.A governadora lembrou que o

seminário foi realizado com o intuito de mostrar às pessoas o processo de desenvolvimento do Maranhão, estado que possui hoje uma econo-mia forte, moderna e competitiva. “Temos o desafio de produzir bens e serviços de qualidade e com baixo custo. A parceria com a inicia-tiva privada tem sido essencial e vai garantir ao estado mais competiti-vidade e mais riqueza”, destacou a governadora.

O seminário foi coordenado pelo diretor de Eventos e Seminários do Jornal Valor Econômico, Carlos Raí-ces. O evento reuniu executivos dos principais projetos em implanta-ção no Maranhão e representantes de entidades e instituições ligadas ao setor produtivo.

PAiNÉiSO secretário de Indústria e Comér-

cio, Maurício Macedo, abordou o tema Estratégia de Desenvolvimento do Maranhão. Segundo ele, o cres-cimento do estado nos últimos três anos foi acelerado. “Agora, precisamos amplificar nosso portfólio de investi-mentos”, observou. Para o secretário, o Maranhão hoje é um estado pro-missor, que possui vários atrativos, especialmente porque é o Portal da Amazônia, que liga o Nordeste ao Centro/Oeste. “Estamos nos tor-nando grandes produtores de energia elétrica e gás e com rodovias, ferrovias e o Porto do Itaqui em processo de expansão e modernização, fatores que tornam o estado um dos mais atraen-tes no momento”, concluiu.

O superintendente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Helton Mendes, palestrante do painel Ins-trumentos para Financiamento, disse

que o BNB investiu R$ 2,5 bilhões em projetos maranhenses no ano de 2011 e possui a meta de superar esse valor   este ano. “Temos diversos ins-trumentos para apoiar os investidores, possuímos um portfólio de produtos e serviços diferenciados para cada empreendimento. O Maranhão vem dando sinais de que é um grande estado, que tem grande potencial e vamos continuar apostando e inves-tindo cada vez mais”, assegurou. .

O painel Desenvolvimento em Parceria com a Iniciativa Privada foi apresentado pelo diretor de implantação da MPX Energia, Edio Rodenheber. Ele disse que o Mara-nhão representa, hoje, o maior polo de investimento para a empresa. “Estamos investindo, entre MPX e OGX, na exploração gás, R$ 9 bilhões no Maranhão”, afirmou ao lembrar que a primeira termelétrica a carvão já entrou em operação e que a segunda térmica a gás deve entrar em operação em janeiro de 2013.

SETOR iNDUSTRiALO presidente da Federação das

Indústrias do Maranhão (Fiema), Edilson Baldez, afirmou que o setor industrial é o mais beneficiado. “Esse

setor está trabalhando para aten-der esse novo cenário econômico, investindo na ampliação de nossa infraestrutura física, na compra de equipamentos e em recursos humano e tecnológico”, sustentou. Ele lem-brou que os investimentos da Fiema superam R$ 67 milhões, visando a ampliação do atendimento educacio-nal e de capacitação técnica. “Sozinho não conseguiríamos avançar, mas a parceria pública e privada vai permi-tir tornar as empresas competitivas no mercado nacional e internacional. Acreditamos no futuro promissor do Maranhão”, salientou.

O presidente da Alcoa para América Latina, Franklin Feder, falou sobre os 40 anos de inves-timentos no Maranhão. Segundo ele, a escolha foi acertada, mas que isso só aconteceu a partir da parce-ria com o poder público. “A Alcoa acredita no Maranhão e continua investindo, foram R$ 4 bilhões na expansão da refinaria e na cons-trução da hidrelétrica de Estreito e mais R$ 30 milhões em investimen-tos sociais”, informou. n

Com informações da Agência de Notícias do Mara-

nhão

invesTimenTosEntre os grandes projetos desenvolvidos no Maranhão está a Refinaria Premium

I, com investimentos da ordem de R$ 40 bilhões, construída pela Petrobras no mu-nicípio de Bacabeira. A refinaria tem capacidade para refinar 600 mil barris de petró-leo. Além disso, os maranhenses contam com a construção do Píer IV em São Luís e a duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC), com investimentos totais de R$ 12,5 bilhões no Maranhão e no Pará. Outros projetos importantes são a planta da Suza-no Papel e Celulose em Imperatriz; a Hidrelétrica de Estreito; e as termelétricas da MPX Itaqui, (obra de R$ 1,8 bilhão em construção em São Luís) e Gera Maranhão, no município de Miranda do Norte, já inaugurada; além da exploração de gás pela OGX em Capinzal do Norte e Santo Antonio dos Lopes.

52 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Page 53: Gestão Pública e Desenvolvimento

sistEMas e inovação

CONTROlE E TRANSPARêNCIA

Dnit lança Boletim Eletrônico de Medição Cidadãos poderão monitorar andamento das obras pela internet

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transpor-tes (Dnit) lançou, em 12 de

novembro, o Boletim Eletrônico de Medição (BEM), desenvolvido em parceria com o Serpro. Com essa inovação, os cidadãos poderão con-sultar, pela internet, informações sobre andamento das principais obras realizadas pelo país. O Bole-tim Eletrônico de Medição (BEM) está disponível no site da autarquia (www.dnit.gov.br), com a descrição dos serviços e materiais pagos men-salmente em cada empreendimento, bem como os valores gastos.

Inicialmente, os cidadãos pode-rão consultar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) sob a responsabilidade do Dnit. Ao todo, são 107 obras. O diretor--geral do Dnit, Jorge Fraxe, informou que a expectativa é que até o pri-meiro semestre de 2013 todas as 400 obras em curso, sob a responsabili-dade da autarquia, incluídas ou não no PAC, estejam disponíveis no site. Segundo ele, os reparos e manuten-ções realizados pelo Dnit devem ser acrescentados no próximo ano.

Ele lembra que este novo método de trabalho será basicamente infor-matizado, o que irá permitir a redução do número de agentes responsáveis e do tempo de efetivação do pagamento dos serviços, eliminando assim a burocracia e a consequente demora

nos prazos de execução. Estarão dis-poníveis dados sobre a evolução físico-financeira das obras. Além das informações do boletim, o usu-ário também poderá conferir dados complementares sobre a obra, como data de início e término do contrato, número do contrato, empresa res-ponsável e tipo de intervenção.

Para facilitar a compreensão, foi elaborado um glossário com as siglas utilizadas nos documentos. É possí-vel verificar em cada boletim o que foi feito desde o início da obra, em cada trecho, e quanto foi gasto em cada serviço realizado.

ETAPASAntes de ser divulgado, o boletim

passa por quatro etapas. Primeiro a ela-boração, feita por empresa supervisora,

contratada pelo Dnit. Há o registro dos serviços executados e aprovação do fiscal da unidade em questão. Em seguida, o boletim é avaliado por um superintendente da autarquia, que verifica a conformidade documen-tal e de medição. Quando aprovada, a medição é publicada no site.

Desde a finalização do boletim até a publicação, o prazo é de cerca de oito dias. “O que antes precisava de 30 a 35 assinaturas foi reduzido para quatro eta-pas”, informou Jorge Fraxe. Ele lembra que o objetivo do Boletim Eletrônico de Medição (BEM) é levar, sem interme-diários, a informação ao cidadão. “Isso cria uma relação de confiança com ele, além de aumentar a autoestima do Dnit”, concluiu Jorge Fraxe.

Fonte: Portal do Dnit

o diretor geral do DNit, Jorge Fraxe, lança o Boletim eletrônico de medição: mais transparência

Divulgação/Dnit

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 53

Page 54: Gestão Pública e Desenvolvimento

JuDiciário

AçãO PENAl 470

Julgamento do mensalãoSTF confirma compra de apoio político na Câmara e condena vinte e cinco

najla Passos

S ete anos após o escândalo do chamado “mensalão” sur-preender o país, o Supremo

Tribunal Federal (STF) decidiu, por maioria, que políticos da cúpula do PT se uniram a empresários e ban-queiros para comprar o apoio político da Câmara dos Deputados para a

aprovação de projetos de interesse do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No mais contro-verso julgamento da década, os dez ministros que compõem hoje a corte máxima do país condenaram 25 dos 38 réus denunciados originalmente pelo Ministério Público (MP) por crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, peculato, gestão fraudulenta de instituição financeira, lavagem de

dinheiro, evasão de divisas e forma-ção de quadrilha.

Entre eles, três dos mais destaca-dos nome do PT: o ex-ministro José Dirceu, apontado como “chefe da qua-drilha”, o ex-presidente do partido, José Genoino, considerado o “interlocutor político” do grupo, e o ex-tesoureiro da sigla, Delubio Soares, tido como “elo entre o núcleo político e os núcleos operacionais”. E oito deputados e

ministros do Supremo tribunal Federal (StF): julgamento histórico e controverso da década

Agência Brasil

54 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Judiciário

Page 55: Gestão Pública e Desenvolvimento

ex-deputados: o então presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, Romeu Queirós (PTB), o ex-líder do PMDB na Câmara, José Borba, o então presidente do PL, Val-demar da Costa Neto, Bispo Rodrigues (PL, atual PR), Pedro Correa (PP) e Pedro Henry (PP), além de assessores e funcionários dos seus partidos.

Também foram condenados grandes empresários do ramo da publicidade, como Marcos Valério, tido como “idealizador e principal articulador do esquema”, seus sócios Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, a diretora de uma das agências deles, Simone Vaconcellos, e o advogado do grupo, Rogério Tollentino. E, ainda, banqueiros e altos dirigentes de instituições financeiras, como José Sebastião Salgado, Kátia Rabello e Vinicius Samarane, do Banco Rural, e o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato.

Foram absolvidos os ex-minis-tros da Secretaria de Comunicação da Presidência, Luiz Gushiken, e dos Transportes, Anderson Adauto, além do ex-chefe de gabinete dele, José Luiz Alves. E também os publi-citários responsáveis pela campanha que levou Lula à presidência, Duda Mendonça e Zilmar Fernandes, uma funcionária de Marcos Valério, Geiza Dias, a ex-dirigente do Banco Rural, Ayanna Tenório.

E, ainda, os ex-deputados profes-sor Luizinho (PT-SP), João Magno (PT-MG), Paulo Rocha (PT-PA), a ex-assessora parlamentar dele, Anita Leocádia e o ex-assessor do extinto PL, Antônio Lamas. Foi excluído por erro processual o doleiro Carlos Alberto Quaglia, dono da empresa Natimar, que responderá, agora, em 1ª instância. O secretário nacional

do PT, Sílvio Pereira, fez acordo com a promotoria em 2008 e não foi jul-gado. O ex-deputado José Janene (PP-PR) morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

“O que estamos julgando é um modo espúrio, delituoso de fazer política”, reiterou por várias vezes o presidente da corte, Ayres Britto, durante o julgamento. “Estamos a condenar não atores políticos, mas protagonistas de sórdidas tra-mas criminosas”, justificou o decano da corte, ministro Celso de Mello. “Nada mais ofensivo e transgressor do que a formação de uma quadrilha no núcleo mais íntimo e elevado de

um dos poderes da República”, obser-vou ele, após a condenação de sete réus por formação de quadrilha.

Foram quase três meses de julgamento até o último juízo conde-natório: 39 longas sessões, ou quase 160 horas de trabalhos, incluindo sus-tentações orais, defesas, acusações, debates e, inclusive, muitos bate--bocas acalorados entre os ministros. O relator da ação, Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski, divergiram quanto à metade das con-dutas analisadas, o que, em muitos momentos, pareceu desestabilizar o curso da ação e deixar a corte susce-tível às mais variadas críticas.

RELATOR X REviSOROs entreveros entre os ministros

relator e revisor começaram já no primeiro dia de julgamento, quando Lewandowski propôs o desmembra-mento do processo, para que os réus, sem direito a foro privilegiado, tives-sem direito a julgamento em dupla instância, como define a lei. Barbosa

Nelson Jr

ministro ayres Brito: STF julgou um modo delituoso de fazer política

“ O qUE ESTAMOS JUlGANDO é UM MODO ESPúRIO, DElITUOSO DE FAZER POlíTICA”Ministro Ayres brito

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 55

Page 56: Gestão Pública e Desenvolvimento

AçãO PENAl 470

discordou e, recorrendo ao princí-pio da economia processual, alegou que o julgamento único daria mais agilidade ao assoberbado Judiciá-rio brasileiro. Venceu o impasse com a maioria dos votos dos demais. A segunda divergência grave ocor-reu após o término das sustentações orais do MP e dos advogados. O rela-tor sugeriu uma metodologia inédita para o julgamento: o fatiamento em blocos, por meio do qual a ordem do julgamento não corresponderia a cri-térios pré-estabelecidos, mas sim a uma sistemática definida exclusiva-mente por Barbosa. O revisor insistiu no curso regular da ação, com a apre-sentação dos votos réu a réu. Mais uma vez foi vencido pelo voto da maioria. Para Barbosa, o fatiamento deixaria o processo mais ágil e claro. Já Lewandowski defendia que, sem a visão de conjunto do processo, os demais ministros poderiam incorrer em erros graves.

Os advogados foram os que mais

se rebelaram contra a metodologia. Mesmo agora, após o final da etapa de condenações e absolvições, eles avaliam que o fatiamento significou um grave entrave ao legítimo direito de defesa dos réus. “Este julgamento é uma obra em andamento, porque trouxe várias questões novas que, a nosso ver, não tiveram todas elas as melhores soluções, as soluções mais garantistas dos direitos dos cidadãos. O fatiamento prejudicou sobrema-neira a defesa dos réus, pelo fato da defesa ter sido feita de uma vez só e, os votos, de forma fatiada”, avaliou Luiz Fernando Pacheco, que defende José Genoino.

Para o advogado Castellar Gui-marães, que representa Cristiano Paz, o relator deu muita ênfase a denuncia e mal avaliou o trabalho dos advogados. “Isso fez com que as armas ficassem desiguais. O critério adotado do fatiamento, por exem-plo, trouxe certo prejuízo da defesa, até porque não foi observada uma

regra de tópico a tópico. Eles foram alterados, acredito, de acordo com a conveniência do julgador”.

TRâMiTES cONvENciONAiS As críticas ganharam mais peso

e ultrapassaram o plenário do STF quando os ministros expuseram os parâmetros jurídicos que adotariam para proferir seus votos. A compreen-são de que um indício tem o mesmo valor que uma prova, a adoção da polêmica teoria geral do domínio do fato para incriminar a cúpula petista e o entendimento de que não era mais necessário comprovar ato de ofício para tipificar o crime de corrupção geraram as maiores discórdias, a ponto de juristas, acadêmicos e inte-lectuais se insurgirem, questionando a possibilidade do processo se transfor-mar em “julgamento de exceção”.

O presidente da corte, minis-tro Ayres Britto, e o decano Celso de Mello dedicaram várias intervenções a esclarecer a opinião pública que o julgamento seguiu todos os trâmites convencionais do tribunal, não ino-vando nem em metodologias e nem em jurisprudências. “O Supremo não tem procedido a alterações pro-cessuais, nem alterado sua própria jurisprudência, ao contrário. As diretrizes firmadas em diversos pre-cedentes têm pautado, neste caso, a atuação do STF”, afirmou Mello, em 27/9, com a anuência de Britto.

PARâMETROS MAiS RíGiDOS A própria dinâmica do julga-

mento, entretanto, foi desvelando as mudanças inauguradas. “A corte abandonou a exigência de ato de ofí-cio”, reconheceu o ministro Gilmar Mendes, na sessão de 17/9. Já no dia 11/10, o ministro Marco Aurélio Mello chegou a alertar os colegas que

Joaquim Barbosa: ministro foi aclamado pela conduta no julgamento

Nel

son

Jr

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Judiciário

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a “elasticidade” dada à tipicidade do crime de lavagem de dinheiro pode-ria desqualificar todo o julgamento. “Preocupa-me, sobremaneira, o dia-pasão que se está dando à lavagem de dinheiro. Isso repercutirá nacio-nalmente, considerada a atuação dos diversos órgãos investidos do ofício judicante. Um suspiro no âmbito do Supremo repercute, e repercute em termos de se assentarem enfoques, de se assentar jurisprudência”, observou.

Dessa forma, prevaleceu o entendi-mento de que a corte fixou parâmetros mais rígidos para o combate à corrup-ção, criando novas jurisprudências, mas também que descuidou em observar as garantias fundamentais das liberdades individuais. O debate, portanto, segue amadurecendo na sociedade. “Se o país quer passar a cor-rupção a limpo, vamos precisar passar também o direito penal a limpo”, afir-mou o ex-ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, que defendeu José Roberto Salgado, em 22/10, ao comen-tar a quantidade de questões jurídicas que a corte teria que definir durante o processo de fixação das penas.

cALENDáRiO POLíTicONo meio político, a principal crí-

tica se concentrou na coincidência entre o calendário da ação penal e das eleições municipais deste ano. As con-denações dos principais nomes do PT por corrupção ativa coincidiram com a véspera do primeiro turno das elei-ções. Já as condenações dos mesmos réus por formação de quadrilha se deu na semana que antecedeu o segundo turno. Em grandes cidades como a capital paulista, onde a polarização PT e PSDB é grande, o tema foi ampla-mente explorado no horário eleitoral gratuito e gerou grande número de representações à Justiça Eleitoral.

A MEGAESTRUTURA DO STFApesar das críticas pontuais

dos meio intelectualizados, o jul-gamento surpreendeu pelo ritmo tranquilo com que percorreu esses quase três meses. O STF reforçou a segurança externa, cercou as depen-dências do tribunal e até mesmo parte da Praça dos Três Poderes, mas as esperadas manifestações contra os “mensaleiros” ou contra a corrupção não ocorreram. Curio-samente, o protesto mais severo que o órgão enfrentou no período foi organizado pelos próprios servido-res da Justiça, que reivindicam novo

plano de carreira. Nas redes sociais, entretanto, a

realidade foi outra. Ministros foram alçados ao posto de super-heróis, enquanto outros receberam a pecha de inimigos da República. Joaquim Barbosa, o que mais condenou no processo, foi o mais aclamado: chegou a ser estampado na primeira página de um dos principais jornais do país tra-vestido de Super-homem e virou tema dos adereços fabricados pela indústria para o carnaval. Lewandowski, com seu estilo mais comedido e garantista, ouviu toda sorte de impropérios.

A rotina interna do STF também foi toda ela adaptada para o julgamento. No andar superior ao plenário da corte foi improvisada uma sala de imprensa para receber os 500 jornalistas, nacio-nais e internacionais, cadastrados para cobrir o evento. No andar infe-rior, uma sala de apoio atendeu aos 120 advogados dos réus e assessores. Toda a sistemática de acesso ao ple-nário foi alterada para que jornalistas, advogados e público ficassem em áreas diferenciadas. A segurança interna também foi redobrada. n

ricardo Lewandowski: proposta de desmembramento do processo

Nelson Jr

APESAR DAS CRíTICAS PONTUAIS DOS MEIO INTElECTUAlIZADOS, O JUlGAMENTO SURPREENDEU PElO RITMO TRANqUIlO COM qUE PERCORREU ESSES qUASE TRêS MESES

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 57

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AS cONDENAçõES E AS PENASmenezes y morais

valdemar costa foi condenado por crime de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Pena: sete anos e 10 meses de prisão, mais multa de R$ R$ 1,08 milhão. Pedro henri foi condenado por crime de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Pena: sete anos e dois meses de prisão, mais multa de R$ 932 mil. Eles fazem parte dos condenados pelo STF juntamente com mais 23 envolvidos no mensalão. O STF julgou 35 envolvidos e condenou 25, entre eles José Dirceu, ex-deputado cassado e ex-ministro da Casa Civil no primeiro governo Lula. Dirceu foi apontado pelo STF como chefe da quadrilha e foi condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, sendo apenado a 10 anos e 10 me-ses de prisão, mais multa de R$ 676 mil. José Genoíno, ex-presidente nacional do PT, foi condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, com pena de seis anos e 11 meses de cadeia, mas multa de R$ 468 mil.

Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, foi condenado a oito anos e 11 meses de prisão e multa de R$ 365 mil. car-los (Bispo) Rodrigues: pena de seis anos e três meses de prisão, mais multa de R$ 726 mil. Roberto Jefferson, que denunciou o esquema de corrupção, ex-presidente nacional do PTB: condenado por corrupção ativa e lavagem de di-nheiro. Pena: sete anos e 14 dias de prisão, mais multa de R4 746.200mil.

Romeu Queiroz: condenado a seis anos e seis meses de prisão, mais multa de R$ 858 mil. José Borba: condenado por corrupção passiva, condenado a dois nos e seis meses de prisão, mais multa de R$ 360 mil. Pedro corrêa: con-denado por corrupção passiva a nove anos e cinco meses de cadeia, mas multa de R$ R$ 1,13 milhão.

NúcLEO OPERAciONAL Marcos valério, operador do mensalão, condenado por

corrupção ativa, lavagem de divisas, lavagem de dinheiro, peculato e formação de quadrilha. Pena: 40 anos, dois me-ses de 10 dias de prisão, mais multa de R$ 2,71 milhões. cristiano Paz, condenado por corrupção ativa, lavagem de dinheiro, peculato e formação de quadrilha. Pena: 25 anos, 11 meses de 20 dias de prisão, mais multa de R$ 2, 79 milhões.

Ramon hollerbach, condenado por corrupção ativa, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, peculato e formação de quadrilha. Pena: 29anos, sete meses e 20 dias de pri-são, mais multa de R$ 2,79 milhões. Simone vasconcelos, condenada por corrupção ativa. Evasão de divisas. Lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Pena: 12 anos, sete meses e 20 dias de prisão, mais multa de R$ 374, 400 mil.

Rogério Tolentino, corrupção ativa, lavagem de dinhei-ro e formação de quadrilha. Pena: oito anos e 11meses de prisão, mais multa de R$ 312 mil. henrique Pizzolato: corrupção ativa, lavagem de dinheiro e peculato. Pena: 12 anos se sete meses de prisão, mais multa de R$ 1,31 milhão. Joao cláudio Genu: corrupção ativa, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Pena: sete anos e três meses de prisão, mais multa de R$ 520 mil. Enivaldo Quadrado: lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Pena: cinco anos e nove meses de prisão, mis multa de R$ 28,600 mil.

Breno Fischberg: lavagem de dinheiro. Pena: cinco anos e 10meses de cadeia, mais multa de R$ 572 mil. Ja-cinto Lamas: corrupção passiva. Pena: cinco anos de prisão, mais multa de R$ 260 mil. Emerson Palmieri: corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Pena: quatro anos de cadeia, mais R$ 228 mil de multa.

NúcLEO FiNANcEiRO Kátia Rabello: evasão de divisas, gestão fraudulenta,

lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Pena: 16 anos e oito meses de prisão, mais multa de R$ 1,51 milhão.

José Roberto Salgado: evasão de divisas, gestão frau-dulenta, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Pena: 16 anos e oito meses de cadeia, mais multa de R$ 1 milhão.

vinicius Samarane: gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. Pena: oito anos, nove meses e 10 dias de prisão, mais multa de R$ 598 mil.

AçãO PENAl 470

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Judiciário

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AçãO PENAl 530

STF julga tucanoduto no primeiro semestre de 2013Aécio Neves diz que PSDB não comprou apoio político no Congresso Nacional

menezes y morais

D epois do veredito da Ação Penal nº 470, mais conhecida como mensalão do PT, que

condenou 25 de um total de 38 réus em sessões realizadas de 3 de agosto ao final de novembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar

a Ação Penal nº 530, que trata do chamado mensalão do PSDB. O mensalão tucano ocorreu em Minas Gerais (MG) em 1998. O ministro--relator da AP 530 deve ser indicado até o final de janeiro de 2013 e o pro-cesso julgado pelo STF no primeiro semestre.

O mensalão tucano, que também

atende pelas denominações populares de mensalão mineiro e tucanoduto, tramita no STF oriundo do Inquérito nº 2280, interposto pela Procurado-ria-Geral da República (PGR) contra o atual deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG), pela suposta prática dos crimes de peculato e lava-gem de dinheiro. A denúncia foi

Gervásio Baptista

ministros no julgamento da ação penal 470. No próximo ano, vão julgar o mensalão do pSDB

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 59

Page 60: Gestão Pública e Desenvolvimento

recebida pelo plenário do STF em 3 de dezembro de 2009.

A PGR assegura que se trata de um esquema de financiamento irregular, com recursos públicos e doações privadas ilegais, montado pelo empresário Marcos Valério, o mesmo operador do mensalão do PT, condenado pelo STF a pena de 40 anos, 2 meses e 10 dias, mais multa de R$ 2,71 milhões.

À época a frente do Ministé-rio Público Federal (MPF) Antonio Fernando de Sousa denunciou 15 políticos por peculato e lavagem de dinheiro. Ele afirmou que o esquema montado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza para injetar dinheiro público na campa-nha de Azeredo foi “o laboratório” do mensalão nacional. Pelo menos R$ 5,17 milhões, em valores da época, teriam saído de estatais mineiras para o esquema de arrecadação para-lela da campanha.

A arrecadação de caixa dois teria sido feita pela agência SMP&B, do empresário Marcos Valério. Os des-vios teriam se dado por meio de cotas de patrocínio de eventos e publici-dade fictícia. Muitos dos acusados são ligados às estatais mineiras. De acordo com a Polícia Federal, seis empreiteiras doaram R$ 8,2 milhões para a campanha de Azeredo sem declarar essas doações à Justiça Elei-toral, o que é obrigatório por lei. É o chamado caixa dois.

Ao completar dois mandatos em 28 de junho de 2009, Antonio Fer-nando deixou a PGR, cargo ocupado desde então por Roberto Gurgel. No STF, o ministro Joaquim Barbosa foi indicado relator do processo. Mas como assumiu a presidência do STF, outro relator será indicado.

Fernando Henrique Cardoso era

o presidente da República à época do mensalão mineiro. Joaquim Bar-bosa determinou em 19 de dezembro de 2007 a notificação das 15 pessoas para apresentarem defesa prévia. Entre os notificados, além de Aze-redo, o então ministro de Estado do governo FHC, Walfrido dos Mares Guia (PTB), que pediu demissão quando a denúncia foi divulgada pelo procurador-geral da República.

Em 3 de dezembro de 2009, por cinco votos contra três, o plená-rio do Supremo decidiu abrir ação penal contra Azeredo e torná-lo réu por envolvimento em um esquema de caixa dois. O Supremo Tribunal Federal decidiu aceitar a denúncia criminal proposta por cinco votos a três. Os votos do Supremo que trans-formaram Azeredo em réu foram proferidos pelos ministros Ricardo Lewandowski, Cezar Peluso, Car-los Ayres Britto e Marco Aurélio,

que votaram com o relator Joaquim Barbosa.

Em 2010, a 9ª Vara Criminal de Belo Horizonte (MG) recebeu a denúncia de peculato e lavagem de dinheiro contra 11 acusados, entre eles Azeredo, o senador Clé-sio Andrade (PR), o ex-ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia, o empresário Marcos Valério e os ex-sócios de Valério na agência SMP&B Comunicação, Ramon Hol-lerbach Cardoso e Cristiano de Mello Paz, todos condenados pelo STF no mensalão do PT.

De acordo com as investigações da Polícia Federal, o montante teria sido desviado por meio de patrocínios das empresas estatais Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Comig), Companhia de Sanea-mento de MG (Copasa) e Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge) a eventos esportivos de motocross.

Wilson Dias

Fernando Henrique cardoso era o presidente da república à época do mensalão mineiro

A ARRECADAçãO DE CAIXA DOIS TERIA SIDO FEITA PElA AGêNCIA SMP&B, DO EMPRESáRIO MARCOS VAléRIO

AçãO PENAl 470

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Judiciário

Page 61: Gestão Pública e Desenvolvimento

DESPAchONo último despacho como rela-

tor da Ação Penal 530, o ministro Barbosa determinou que fossem tomados os depoimentos de oito pessoas em Ceará, Minas Gerais e Pernambuco, iniciando a fase de oitiva de testemunhas de defesa. Ao todo, oito testemunhas serão ouvi-das por juízes federais, sendo seis em Belo Horizonte (MG), uma em Jabo-atão dos Guararapes (PE) e uma em Fortaleza (CE). As testemunhas de acusação já foram ouvidas.

Conforme o relator, o juízo de Belo Horizonte (MG) deverá ouvir as seis testemunhas no prazo de 40 dias, contados a partir do dia do recebimento da carta de ordem. No segundo dia subsequente à oitiva da última testemunha em Belo Hori-zonte ou dois dias depois do prazo de 40 dias, o juízo de Jaboatão dos Guararapes deverá iniciar a oitiva da testemunha. Em seguida, o mesmo ocorrerá em Fortaleza (CE), para o depoimento da última testemunha.

PSDB DivULGA NOTAO Partido da Social Democracia

Brasileira (PSDB) negou a existên-cia do mensalão tucano. Em nota oficial à imprensa o PSDB afir-mou que a sua bancada no Senado acata a decisão do STF, porém rea-firma sua confiança na honradez e na lisura de seus representantes. Ao jor-nal O Globo, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato à suces-são da presidenta Dilma Rousseff em 2014, declarou que aprova o julga-mento do STF do mensalão mineiro.

Todas as denúncias devem ser apuradas, disse Aécio, para quem “elas não têm coloração partidária. Têm que ser analisadas, julgadas e eventualmente punidas com absoluta

clareza e firmeza. Onde houver culpa-bilidade, o réu deve ser punido. Onde não houver, deve ser inocentado”.

Para o senador presidenciável, o mensalão mineiro não pode ser

comparado ao mensalão do PT, que veio a público no primeiro governo Lula. “Na minha avaliação, há uma diferença muito grande entre aquilo que ocorreu no plano federal e os problemas que ocorreram na cam-panha do então candidato Eduardo Azeredo. Acho que com serenidade e muita transparência Azeredo terá tempo de apresentar seus argumen-tos e demonstrar que não há paralelo entre uma questão e outra”, afirmou. Para Aécio, o mensalão mineiro se resumiu a caixa dois No caso do PT, houve compra de apoio parlamentar.

Aécio é citado em uma lista como sendo beneficiário de R$ 110 mil na campanha de 1998, quando era candidato a deputado federal. Em nota divulgada à época, quando era deputado federal, sua assessoria negou o recebimento desses recur-sos, destacando que Aécio não fora citado “no corpo do relatório da Polícia Federal”. n

Senador aécio Neves: mensalão mineiro não pode ser comparado ao mensalão do PT

José Cruz/ABr

“ TODAS AS DENúNCIAS DEVEM SER APURADAS. ElAS NãO TêM COlORAçãO PARTIDáRIA. TêM qUE SER ANAlISADAS, JUlGADAS E EVENTUAlMENTE PUNIDAS COM ABSOlUTA ClAREZA E FIRMEZA”Senador Aécio Neves

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 61

Page 62: Gestão Pública e Desenvolvimento

carmem Lúcia diz que a política será mais ética com a Lei da Ficha Limpa Julgamento do mensalão também vai melhorar a qualidade do voto

menezes y morais

N o entendimento da presi-denta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Car-

mem Lúcia, a política brasileira será mais ética com a Lei da Ficha Limpa e o julgamento do mensalão, pelo Supe-rior Tribunal Federal. Segundo ela, os eleitores estão mais preocupados em avaliar a “ética” dos candidatos na hora do voto. Para a ministra, a Lei da Ficha Limpa e julgamentos do men-salão, que resultaram na condenação de políticos, estimularam o brasileiro a melhorar a qualidade do voto. Para

Carmen Lúcia é preciso que o eleito-rado conheça melhor os pormenores da Lei da Ficha Limpa, cujo efeito moralizante pôde ser sentido nas urnas nas eleições deste ano. “Como foi a própria cidadania que conse-guiu a ficha limpa, houve um ânimo maior nessa eleição”, observa. Mas ela adverte: “A consequência do voto também é preciso ser considerada pelo próprio eleitor”.

Ela informou, em cadeia de rádio e TV, que até o final de dezembro, o TSE julgará 2,9 mil recursos sobre registros de candidaturas, com base na Lei da Ficha Limpa, relativos aos

candidatos às eleições municipais de 2012. O candidato ficha suja que recorreu junto aos tribunais regio-nais eleitorais (TREs) provavelmente perderá, porque corre o risco de não tomar posse. Carmen Lúcia desta-cou que as primeiras eleições com a Lei da Ficha Limpa não eximem o eleitor de responsabilidade ao votar. “Você, cidadão, é autor da Lei da Ficha Limpa. Nós juízes garantiremos a sua aplicação, mas quem vota é você. Democracia, nós construímos. O Bra-sil que queremos é um Brasil justo, igual, honrado, limpo”.

Embora o candidato nesta condição

ElEIçõES 2012

presidenta do tSe, carmem Lúcia: cidadãos estão mais preocupados em avaliar a ética

Carlos Humberto/SCO

/STF

62 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

Judiciário

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tenha direito de recorrer ao TSE, a ten-dência é que a decisão dos TREs seja mantida em Brasília. A ministra lem-brou que o registro desses candidatos foi analisado por uma dupla instân-cia. Os que impetraram recurso no TSE são candidatos que tiveram o registro indeferido pelo juiz de pri-meiro grau e pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Segundo Carmen Lúcia são grandes as chances de que o registro de candidatura tam-bém seja rejeitado pelos ministros do TSE. “Se ele [candidato] já teve deci-são em uma ou duas instâncias – o juiz eleitoral indeferiu, ele foi ao TRE e o TRE indeferiu – ele vem ao TSE. Estando contrário a uma diretriz, provavelmente ele vai perder. Isso é importante que os eleitores tenham em mente”, enfatizou.

Segundo a ministra, se vetado pelo tribunal, o eleito poderá não tomar posse. A ministra ressaltou ainda que muitas vezes o político que recorre está perdendo e quer poster-gar um resultado negativo. Segundo ela, a lentidão do Judiciário em con-cluir julgamentos se deve, em parte, ao excesso de recursos.

Em dezembro será feita a diplo-mação dos prefeitos e vereadores eleitos, que serão empossados em 1º de janeiro de 2013. Ainda de acordo com a ministra, quem optou por votar em candidatos que tiveram o registro negado pela Justiça Eleitoral sabia do risco de ter o voto anulado. No total, o TSE tem 6,7 mil recursos pendentes de análise, sendo 2,9 mil sobre a Lei da Ficha Limpa.

EXERcíciO DE LiBERDADE“Houve resposta do juiz, do Tribu-

nal Regional Eleitoral. Quando ele – o candidato – apareceu como indefe-rido e com recurso pendente, significa

que a lei garante a ele o direito de, por sua conta e risco, deixar seu nome às urnas, e disso é dada ciência ao cida-dão. Quando o cidadão votou no exercício de sua liberdade, que que-remos preservar mais do que tudo, lutamos muito por isso, sabia que isso podia acontecer”, afirmou.

“A Lei da Ficha Limpa não é juris-prudência nova, não é uma legislação nova, e foi, portanto, no exercício da liberdade de cada um que se teve essa situação”, lembrou a presidenta do TSE. A lei foi editada em 2010, mas não pôde ser aplicada naquele ano porque a norma precisava estar em vigor por pelo menos 12 meses antes de ter efetividade.

PAPEL SOciALPara Carmem Lúcia, a Lei da Ficha

Limpa cumpriu um papel social. “Acho que a Lei da Ficha Limpa foi mais bem trabalhada no sentido de orientar o voto pela ética e acho que o Brasil está caminhando nessa tendência em geral na política”, destacou. Para a ministra, há “um cansaço” que gera um tipo de comportamento antiético. “Chega-se a um ponto em que há uma reação. Essa reação eu acho que no Brasil aconte-ceu”. Por fim, ressaltou a “tranquilidade e rapidez das eleições municipais” do primeiro turno. Revelou que foram decretadas menos de duas mil pri-sões em todo o país, classificadas como “casos pontuais”. n

manifesTaçãoUma semana após a minis-

tra Carmen Lúcia elogiar a vi-gência da Lei da Ficha Limpa, manifestantes promoveram ato de apoio ao Supremo Tribu-nal Federal pelo julgamento do processo do mensalão. O desa-gravo foi realizado na manhã do feriado de Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro), em frente ao STF, na semana em que o tribunal condenou a cú-pula do PT por corrupção ativa. Com o apoio de turistas que passavam pela Praça dos Três Poderes, os manifestantes cantaram o Hino Nacional e soltaram balões com faixas com dizeres “O Brasil mudou?” e “A pizzaria fechou!”.

Rodrigo Montezuma, organizador do ato, marcou o encontro pelas redes sociais. “O ativismo virtual é muito maior e também mais confortável. Vamos continuar buscando ética na política”, disse. Esses manifestantes protestam contra a corrupção desde o dia 7 de setembro de 2011. “Não estamos come-morando, pois comemorar a condenação de qualquer pessoa é sempre uma tristeza. Estamos nos manifestando. Viemos deixar um recado por uma política limpa, queremos regras mais claras e transparentes; queremos que a dura mão da Justiça seja dura, com todos, sem distinção”, completou.

manifestantes promovem ato de apoio ao StF pelo julgamento processo do mensalão

Divulgação

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 63

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aNtoNio teixeira Leite Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. é advogado especializado em Direito Público, em Direito Previdenciário e MDB em Direito Tributário pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Instituto Brasiliense de Direito Público

DirEito constitucionaL E aDMinistrativo

história das constituições Parte IIA cONSTiTUiçãO DE 1934

A Constituição de 1891 apresentou falhas graves no modelo implementado de organização federativa. Pri-meiro, ao possibilitar que dois estados, São Paulo e Minas, montassem um esquema para revezamento de seus repre-sentantes na Presidência, na chamada política do café com leite. Segundo, ao permitir enormes fraudes eleitorais, ante a não instituição do voto secreto obrigató-rio em todo o país. Terceiro, ao permitir que oligarquias e famílias se perpetuassem nos governos estaduais. Enfim, as críticas, as insatisfações e os problemas gerados eram muitos. Em 1930, eclode um movi-mento armado, a chamada Revolução de 30, que derruba o presidente em exercí-cio, Washington Luís, impede a posse do candidato eleito, Júlio Prestes, e conduz Getúlio Vargas a assumir a Presidência, que governa sem uma constituição. Esta situação perdura até 16 de julho de 1934, quando a Assembleia Constituinte pro-mulga uma nova carta.

Organização do Estado – Continuamos a ser uma federação. Mas o antigo modelo, com ampla capacidade de autogoverno e legislação pelos estados foi, desde o iní-cio da constituinte, amplamente criticado. Até mesmo uma guerra civil, envolvendo entes federados, ocorrera, no país, em 1932. No entanto, retornar ao modelo de estado uni-tário seria um retrocesso inaceitável pelos integrantes da federação. A solução foi conservarmos o federalismo, mas as matérias de maior importância seriam repassadas para a competência privativa da União. Assim, somente esta pas-sou a poder legislar sobre direito civil, penal, comercial, processual, matéria eleitoral, dentre outras. Como os esta-dos perdiam parcela de seus poderes, em consequência, o

Senado também perde parcela de seu papel. Passa a ser, por esta carta, apenas um órgão colaborador.

Organização de poderes – Continuamos a ter uma tri-partição de poderes, seguindo o modelo de Montesquieu. O Executivo e o Legislativo seriam eletivos. Mas o Senado deixava de ser uma casa revisora, e passava a ser apenas colaboradora, com um papel auxiliar. Instituía-se o voto

secreto. Outra grande mudança residiu na extinção do cargo de vice-presidente da República.

Direitos fundamentais – Esta Cons-tituição foi muito inovadora neste campo. Primeiro, ao introduzir em nosso ordena-mento jurídico, o mandado de segurança, remédio constitucional para garantir um direito líquido e certo. Segundo, ao trazer, pela primeira vez, os direitos de segunda geração, ou direitos de segunda dimensão, também conhecidos como direitos sociais. O Estado passava a ser provedor de serviços públicos importantes. A concepção consti-tucional adotada passava a ser de proteção

ao trabalhador, com um núcleo de direitos constitucionais, fortalecidos por outros que viriam em uma série de leis.

A cONSTiTUiçãO DE 1937Pelas regras da Constituição de 1934, no ano de 1938,

haveria eleições para presidente e como não era permitida a reeleição, Getúlio Vargas teria de deixar o governo. Mas, ficou evidenciado que suas pretensões eram de permanecer na Presidência e por tempo indeterminado. Não era uma tarefa fácil, pois seus planos iam de encontro à estrutura constitucional vigente e, certamente, levantariam muitos opositores. A solução era uma nova constituição, que ampa-rasse seus planos e eliminasse quaisquer possibilidades de

64 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

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oposição. Isto irá ocorrer a 10 de novembro de 1937, quando o presidente anuncia por rádio a decretação do Estado Novo. Nesse mesmo dia, outorgar-se-ia uma nova carta constitucional, conhecida também como “a polaca”, pois era influenciada pela constituição polonesa.

Organização de poderes – Havia um Poder Legisla-tivo, formado pela Câmara dos Deputados, eletiva, com mandato de quatro anos e constituída por representantes do povo; e pelo conselho federal, constituída em parte pelos repre-sentantes dos estados e, em parte, por indicados do presidente, com mandato de seis anos. É curiosa a previsão do artigo 56, de que este conselho seria presidido por um ministro de Estado, escolhido pelo presidente. Só quem poderia propor leis era o presidente, um terço de deputados ou membro do conselho federal. O presidente poderia ainda expedir decretos-lei e, até, dissolver a Câmara dos Deputados. Essas dis-posições ficaram só no papel, pois, na prática, o poder legislativo foi fechado no golpe do Estado Novo e não mais reaberto. Os partidos polí-ticos também foram dissolvidos. Getúlio governou sozinho por meio de decretos-leis, mui-tos em vigor até os dias atuais, como a CLT, o Código Penal e a criação do sistema S.

Plebiscito e duração do mandato presidencial – Há um dispositivo que previa a submissão da nova Consti-tuição a um plebiscito, na forma regulamentada por um decreto do presidente da República, que nunca veio. Ou seja, pela primeira vez uma carta seria submetida à apro-vação popular. É curioso que o mandato presidencial foi fixado em seis anos, mas este período ficaria renovado até a realização do plebiscito. Como este plebiscito nunca ocorreu, este dispositivo serviu para simular que Getúlio teria um mandato, pois, na realidade, houve a sua perpe-tuação no poder.

Organização do Estado – Previa que éramos uma federação, formada pela União, estados e Distrito Federal, sendo mantida a divisão político territorial existente. O art. 6º fixava que a União poderia criar, para a defesa nacional, territórios federais. Assim, foram criados os territórios de Rondônia, Roraima, Amapá, Iguaçu e Ponta Porã, todos

em áreas fronteiriças. Na prática, essas disposições não foram cumpridas pois nosso federalismo desapareceu, com a nomeação de interventores nos estados e a extinção dos governadores eleitos, com o fechamento das assem-bleias legislativas estaduais, e com o desaparecimento do Senado como casa representativa dos entes federados.

Direitos fundamentais – A Constituição de 1937 tra-zia, em seu texto, os principais direitos fundamentais, no

entanto, foram em muito atenua-dos. O cidadão poderia manifestar seu pensamento, mas mediante as condições e nos limites prescri-tos na lei. Havia pena de morte. O domicílio e a correspondência eram invioláveis, mas a lei pode-ria criar exceções. Reduziam-se os direitos e garantias fundamentais, como o fim do direito de greve, da impetração do mandado de segu-rança, do mandado popular. Um reflexo do autoritarismo contra os direitos dos cidadãos foi a atuação de dois órgãos de exceção: o DIP (Departamento de Imprensa e Pro-paganda), atuando na censura, e o DOPS (Departamento de Ordem Político e Social), órgão de policia-

mento político.

A cONSTiTUiçãO DE 1946Com a necessidade de redemocratização do país, em

1945, Getúlio foi derrubado e findado o Estado Novo. Os partidos políticos foram reconstituídos e convocada uma Assembleia Constituinte para elaboração de uma nova carta. Em geral, as constituições devem olhar para o futuro, com normas inovadoras. Mas a Constituição de 1946 foi muito voltada para o passado, trazendo de volta antigas disposições. Reestruturar-se-ia o sistema de tripartição de poderes, independentes entre si. Recriar-se-ia o cargo de vice-presidente. Reintroduziria o voto secreto. A censura era extinta. Retornavam os direitos fundamentais. Como mudança significativa, surgia a ação direta de inconstitu-cionalidade, a ADIN. Um dispositivo desta carta fixava que o cidadão votava, em separado, para Presidente e para Vice. Assim, poder-se-ia eleger o presidente de uma chapa e o vice de outra, até mesmo opositora e com ideologia totalmente diferente.

getúlio vargas, após o golpe do estado Novo, outorgou a constituição de 1937

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 65

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A cONSTiTUiçãO DE 1967A Constituição de 1946 enfrenta sucessivas crises polí-

ticas. Primeiro, com a reeleição de Getúlio Vargas, que já governara o país por longos 15 anos, na maior parte deste período, de forma autoritária. Seu novo governo mergu-lha em grave crise institucional, findando com o suicídio do próprio presidente. Seu sucessor JK só consegue assu-mir graças a intervenção militar. A gota d`água surgiria em consequência da previsão constitucional que possibilitava a eleição de presidente e do vice de chapas diferentes. A renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, e a posse do vice, João Goulart, fazem-se por meio de uma emenda constitucional, que introduz o parlamentarismo. O novo sistema não agrada à população e, por meio de um ple-biscito retorna-se ao presidencialismo, trazendo mais instabilidades. Um golpe militar em 1964 inaugura uma nova ordem no país.

O governo militar, através de sucessivos atos institucio-nais, promove mudanças profundas na carta constitucional de 1946. Mas se a Constituição é a lei maior, e se esta é revogada, até mesmo em suas disposições mais importan-tes, por simples atos administrativos do governo, então já não existe mais. Necessário se fazia, portanto, a elabora-ção de uma nova carta, o que irá ocorrer em 15 de abril de 1966, com o Decreto nº 58.198, instituindo uma comissão de juristas para elaborar um projeto de constituição. Com o Ato Institucional nº 4, o Congresso Nacional foi convo-cado para se reunir extraordinariamente, no período de 12 de dezembro de 1966 a 24 de janeiro de 1967, para votar e promulgar o projeto de constituição apresentado pelo pre-sidente da república.

Organização de poderes e do Estado – Uma das diretrizes desta Constituição foi a de fortalecer o Poder Executivo, às custas do esvaziamento das competências dos demais. Quem mais perde é o Legislativo, reduzido a uma figura decorativa. Alguns parodiavam que enquanto a Inglaterra tinha o rei para enfeitar, aqui tínhamos o Congresso. As emendas constitucionais passavam a ser propostas apenas pelo presidente da república. O chefe de governo passava a ser eleito indiretamente, por um colégio eleitoral, formado pelos membros do Congresso Nacional e pelos delegados dos estados, escolhidos pelas Assem-bleias Legislativas, para um mandato de cinco anos. A União também sai fortalecida frente aos estados.

A cONSTiTUiçãO DE 1969Contexto histórico – Em 1969, o então presidente

Costa e Silva sofre um AVC, ficando impossibilitado para o exercício do cargo. Previa a Constituição de 1967, em seu art. 80, que, neste caso, seriam chamados a ocupar a Presidência, o vice-presidente, e, em ordem sucessória, o presidente da Câmara dos Deputados, o presidente do Senado federal e o presidente do Supremo Tribunal fede-ral. Mas, os ministros militares decidiram não seguir este comando constitucional. Editaram o AI-12, assumindo a Presidência. Novamente um ato administrativo e unilateral do Executivo derrogava a Constituição. A 14 de outubro de 1969, era editado o AI-16 que declarava vago os cargos de presidente e vice, e revogava o art.80 da Constituição. A 17 de outubro, o Executivo ficava autorizado a legislar sobre todas as matérias, inclusive a de emendar a Constituição. Logo, em seguida, era baixada, pelos ministros militares, a Emenda Constitucional nº 1, publicada no diário oficial a 20 de outubro, incorporando as medidas de exceção trazi-das pelo Ato Institucional n° 5 e outros subsequentes. Não houve a outorga de uma nova constituição, mas, como a emenda alterava não alguns dispositivos, mas todo o texto constitucional, trazendo uma nova redação, restava evi-denciado estarmos diante de uma nova carta.

Organização de poderes – Tínhamos a tripartição de poderes. Havia um Poder Legislativo, bicameral, formado pela Câmara e pelo Senado. O presidente era eleito por um colégio eleitoral, mediante votação aberta e nominal. A eleição de governador e vice dar-se-ia também por meio de um colégio eleitoral, mas, em 1980, com a EC nº 15, passou a ser por voto direto e secreto. Os governadores do Distrito Federal e dos Territórios eram nomeados pelo presidente. Os prefeitos eram eleitos diretamente.

A cONSTiTUiçãO DE 1988O governo militar estava chegando ao esgotamento e as

mudanças começavam a ocorrer. Com a emenda Constitu-cional nº 11, estavam revogados todos os atos institucionais anteriores. Abria-se caminho para a redemocratização do país e para uma nova Constituição. Em 1985, o colégio eleitoral elege Tancredo Neves para a Presidência do país, que, no entanto, falece sem tomar posse. O vice assume e, no fim de 1985, envia a proposta de emenda constitucional convocando uma Assembleia Constituinte, para elabora-ção de uma nova carta, a ser formada pelos parlamentares eleitos em 1986. Era, também, em paralelo, instituída uma comissão de juristas, para apresentar um esboço inicial. Mas os constituintes foram muito refratários a trabalhar em cima de um texto prévio. Escolher-se-ia, como presidente

66 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

hISTóRIA DAS CONSTITUIçõES

DirEito constitucionaL E aDMinistrativo

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da Constituinte, o deputado Ulysses Guimarães. Após muitas discussões, chegamos a um texto final

pródigo em artigos, chegando a um total de 250, a mais extensa de toda a história. Era o reflexo da concepção de que se deixássemos para lei ordinária, acabaríamos por não concretizar o direito. A solução seria colocar no texto consti-tucional, para que se concretizassem. No fim, produzimos a mais analítica de todas as cartas. Foi muito abrangente, deta-lhista, com disposições sobre quase todos os assuntos, com muitas matérias que inquestionavelmente estavam insertas no campo da legislação infraconstitucional. Promulgar-se--ia, a nova carta, em 5 de outubro de 1988.

Sistema de governo e Organização de poderes – Houve distorções no modelo de sistema de governo ado-tado, porque, inicialmente, o texto foi desenvolvido para a adoção do parlamentarismo. Mas, depois, a corrente majoritária passou a apoiar o sistema presidencialista. Em consequência, o texto ficou com características dúbias. Um exemplo clássico foi a possibilidade de adoção de medidas provisórias pelo chefe de governo, algo inexistente no pre-sidencialismo. Outra novidade era a iniciativa popular para a proposição de lei. O Executivo seria chefiado por um pre-sidente, eleito por voto direto e secreto. Quanto à duração do mandato, a Constituição anterior previa seis anos, mas, agora, se pretendia quatro. Acabou se criando uma regra de transição, por pressão direta de Sarney, lhe dando cinco anos de mandato. Assim, este foi o mandato mais longo sob a égide da Constituição de 1988. O Legislativo saiu for-talecido, com a função de controle externo sobre os demais poderes, inclusive o Executivo, até mesmo em matéria de gastos. No Judiciário, acrescentar-se-ia um novo tribunal superior, o Superior Tribunal de Justiça, com a finalidade de resolver litígios envolvendo a legislação federal.

Organização do Estado – Distorceu, em muito, nosso federalismo. Por um lado, reduziu as receitas tributárias da União, e aumentou significativamente a dos estados e municípios, mas, por outro, não transferiu as competên-cias da União para estes entes. Pelo contrário, aumentou-se as atribuições do ente federal. Na União, como solução para compensar as perdas, instituir-se-iam contribuições sociais. O resultado foi o aumento expressivo da carga tri-butária sobre toda a população.

Direitos fundamentais – Foi a primeira Constituição não iniciada seja pela organização dos poderes, seja pela organização do estado, colocando como título inicial, os direitos fundamentais. Concedeu-se ampla liberdade de

imprensa. Introduzia o direito do consumidor, com a fixa-ção de prazo para a elaboração de um código de defesa. Instituía-se o direito à licença paternidade e avançava-se na licença maternidade. Introduziram-se normas de prote-ção ao meio ambiente, inexistente nas cartas anteriores. O cidadão poderia ter acesso a qualquer dado existente a seu respeito em órgãos governamentais, tendo como garan-tia a ação de habeas data. Surgia também outro remédio constitucional: o mandado de injunção, para suprir norma regulamentadora cuja ausência inviabilizava o exercício de direitos. Os direitos sociais saíram fortalecidos. Fixou--se o direito ao salário mínimo capaz de satisfazer a todas as necessidades do trabalhador e que não poderia servir de indexador, à jornada de 44 horas, à indenização por demissão sem justa causa. O servidor público passou a ter direito a sindicalização e a greve, a ser regulamentada por lei específica. As entidades de classe, os sindicatos e os partidos políticos com representação no congresso nacio-nal poderiam impetrar mandado de segurança coletivo. Saúde, previdência e assistência social tiveram avanços sig-nificativos, com a universalização do atendimento médico público e a instituição de um sistema único de saúde, apon-tado como o maior projeto de inclusão social já feito no país.

Conclusão – O Brasil tem quase dois séculos de histó-ria constitucional. É certamente um período considerável, repleto de eventos e de um acervo de cartas magnas singular, não só por termos em nosso currículo, oito Constituições, mas principalmente pela diversidade de disposições que elas apresentaram. Já fomos Monarquia e República, fomos presidencialistas e parlamentaristas, fomos Estado unitá-rio e federativo, fomos democráticos e autoritários. O país já atravessou períodos de ampla descentralização e outros de total centralização. Enfim, podemos dizer que vivencia-mos diversas ordens político-social. Hoje, resta a certeza de que ainda há muito que se avançar, principalmente em matéria de eficiência, igualdade, efetividade dos direitos do cidadão e moralidade pública. No entanto, chegamos a uma maturidade, ao longo desses quase dois séculos, e consolidamos o consenso geral de que a Constituição que nos governa, pode não ser a melhor possível, pode deixar margem a falhas, pode ser indutora de problemas, mas, mesmo com todos os seus defeitos, é uma lei indispen-sável para o funcionamento de nossas instituições, para a estabilidade do país, para a existência da sociedade politi-camente organizada e, acima de tudo, para garantir nossos direitos fundamentais. n

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ramiro LaterçaDoutorando pela Universidade de Buenos Aires (UBA/Argentina). é advogado, professor universitário e consultor jurídico internacional

Pelo fim da violência contra as mulheresT itulo mais que comum, porém incisivo e con-

clama nações, governos e populações na sociedade internacional não só pela lembrança de que 25 de

novembro de 2012 é o dia Internacional para a Elimi-nação da Violência contra as Mulheres, mas, sobretudo, porque violência é crime.

Desta feita, a mulher, em muitos países ainda é objeto de barganha e, porque não, de usurpação, de abusos, de desigualdades, de condenação a situações limítrofes, por-que fragilizada pela sua própria condição e estruturas, em sua grande maioria, biológica, física, psicoemocio-nal e financeira. Eis o porquê do secretário-geral da ONU pedir ao governo de Cabul, marcando o Dia Internacio-nal para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, bem como aos governos em todo o mundo para viverem as suas obrigações no intuito de acabarem com a violên-cia contra mulheres e meninas, diga-se de passagem, uma das violações mais comuns dos direitos humanos.

“Neste Dia Internacional, apelo a todos os governos a cumprirem as suas promessas para acabar com todas as formas de violência contra as mulheres e meninas em todas as partes do mundo”, o secretário-geral Ban Ki--moon disse em um comunicado divulgado. “Peço a todas as pessoas para apoiar esta importante meta”, acrescentou.

Assim, o apelo do secretário-geral vem à frente da sessão de março de 2013 a 45 membros das Nações Uni-das Comissão sobre o Status da Mulher, em Nova York, que se centrará na prevenção e eliminação da violência contra as mulheres e meninas e o que não faltarão nas mesas e comissões são projetos e medidas sérias, preven-tivas e curativas deste grande mal que ainda assola nossa humanidade.

Cabe ressaltar que, no mês passado, independente do Afeganistão, a Comissão de Direitos Humanos (AIHRC) disse que registrou 550 casos de violência contra as

mulheres no mês passado, mostrando um aumento notável nos meses anteriores. E mais, o Afeganistão é amplamente considerado como um dos países mais difí-ceis para as mulheres viverem, apesar dos movimentos de criminalizar o casamento infantil, casamento forçado, compra e venda de mulheres para fins de ou sob o pre-texto de casamento, baad (dando uma mulher ou menina resolver uma disputa), estupro e espancamento entre outros crimes bárbaros para a sociedade internacional.

E aqui é bom relevar que estes mesmos Estados que compõem a sociedade internacional têm obri-gações concretas e claras para combater a violência contra as mulheres sob o vértice do direito interna-cional, incluindo a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. E não é por somenos importância que ativistas dos direi-tos das mulheres têm observado o dia contra a violência no aniversário da morte de três mulheres da República Dominicana desde 1981.

DirEito intErnacionaL

cartaz exibido em uma marcha das mulheres contra a violência em Lisboa, portugal

68 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

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Em 25 de novembro de 1960, três irmãs, Patria Mercedes Mirabal, Minerva Mirabal Argentina Maria Antonia e Maria Teresa Mirabal foram assas-sinadas sob as ordens do governante dominicano Rafael Trujillo, depois de terem lutado contra a sua ditadura, o que serviu, lamentavelmente, para que em 17 de dezem-bro de 1999, a Assembleia Geral da ONU designasse o dia 25 de novembro como o Dia Internacional para a Elimi-nação da Violência contra as Mulheres. 

E não param por aí as situações bárbaras e limítro-fes que vivem as mulheres em todo o mundo, como por exemplo, na Índia.

Em Haryana, menor alega estupro em gangue por 12 homens. Em outro caso de crime contra a mulher, uma adolescente do distrito de Karnal em Haryana alegou que ela foi estuprada por 12 homens. Segundo a polícia, um dos acusados, conhecido da vítima, foi preso. Em um dia, quando um pai-nel parlamentar visitou Haryana para atender algumas das vítimas de estupro e suas famílias, outro inci-dente de crime contra a mulher no estado veio à luz, com uma mulher de 50 anos de idade, alegando gan-grape por quatro pessoas não identificadas.

Press Trust of India | quarta--feira 17 de outubro, 2012 – Esposa do ministro-chefe Bhupinder Singh Hooda de Asha Hooda na quarta--feira disse que sua “cabeça está pendurada na vergonha” quando o Estado, uma posi-ção de destaque em muitas áreas, é apontado por coisas negativas que incluem relação sexual adversa e recentes incidentes de crimes de toda sorte.

Numa altura em que o Estado está enfrentando severas

críticas por crime contra as mulheres, uma panchayat já teria oferecido dinheiro para a família de uma

das vítimas para proteger o acusado.Em ainda outro incidente de crime contra

mulheres em Haryana, uma mulher de 30 anos, casada, foi supostamente estuprada em Lakhan

Majra aldeia sob Meham subdivisão em Rohtak em Haryana.

Mutilações – Muitos casos de mutila-ção genital feminina provavelmente não são registrados na Austrália, disse um ministro

de Estado, na sexta-feira, depois que quatro pessoas foram cobrados sobre a circuncisão alegada

de duas meninas com idades entre 6 e 7.Estupros na Índia – Bengala Ocidental e Andhra Pra-

desh ganharam duvidosa distinção de liderar uma lista de Estados onde o crime contra as mulheres em 2011 era maior.

Estrangulamento – A história vergonhosa e sór-dido de filhas indesejadas na Índia continua. No último incidente, uma mulher em Amritsar foi supostamente estrangulada até a morte por seu marido depois que ela

deu à luz uma menina pela terceira vez.

Em meio à preocupação com incidentes frequentes de crime con-tra as mulheres em Delhi, Sheila Dikshit ministro-chefe disse que a migração e «cruzando» de pessoas através da cidade são os maiores obstáculos em manter um controle sobre os criminosos.

Diante de tal quadro em nível mundial, somente a título de con-traponto, a tal contexto hediondo, no Brasil, as mulheres gozam dos mesmos direitos e deveres legais que os homens, o que é claramente expresso no artigo 5 º da Constitui-ção do Brasil de 1988. Hoje, o que se verifica, quanto à situação política da mulher no Brasil é um escritório

em nível de gabinete, a Secretaria de Assuntos da Mulher, que supervisiona uma secretaria especial que tem a res-ponsabilidade de garantir os direitos legais das mulheres. 

Embora a lei proíba a discriminação de gênero no emprego e salários, há ainda, e isto se constata no

“ é PRECISO INVESTIMENTO ORçAMENTáRIO FEDERAl, ESTADUAl E MUNICIPAl MACIçOS, EM SEGURANçA, EM SAúDE E EM EDUCAçãO PARA qUE REAlMENTE POSSAMOS CONSTATAR E FAZER VAlER O TãO PROPAlADO DIREITO DA MUlhER”

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 69

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cotidiano laboral e social entre mulheres e homens, dis-paridades salariais significativas.  No entanto, muitas mulheres foram eleitas prefeitas, nas últimas eleições bra-sileiras e muitas mulheres foram aprovadas em concursos públicos e tomaram posse como juízas federais. E mais, a primeira mulher a assumir como senadora da República se deu em 1979. 

E não para por aí, pois as mulheres tornaram-se can-didatas a vice-presidente, pela primeira vez, em 1994 e a partir de 2009, apenas 9% das cadeiras no parlamento nacional foram ocupadas por mulheres. Por último, hoje, o Brasil é governado por uma mulher, portanto, mais que premente, faz-se, data máxima vênia, hora de colocar ponto final na violência contra a mulher e não mais nos justificarmos, por meio de políticas públi-cas não muito eficazes, pois remediar, agora, não é mais a solução, é preciso investimento orçamentário federal, estadual e munici-pal maciços, em segurança, em saúde e em educação para que realmente possa-mos constatar e fazer valer o tão propalado “direito da mulher”.

E aqui nos cabe recordar, também, que em 21 de novembro, o Fórum Econômico Mundial divulgou um estudo indicando que o Brasil tinha praticamente erra-dicado diferenças de gênero no tratamento, a educação e saúde, mas que as mulheres ainda ficaram “atrás” em salários e influência política. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, às mulheres foram pagos 30 % menos do que os homens. Em 2005, o relator especial da ONU Despouy observou um nível surpreendentemente baixo de representação das mulheres no sistema judicial, pois estas ocupavam “apenas 5 % dos postos mais altos no Judiciário e no Ministério Público”.

Enfim, apesar de proibido por lei,  a violência doméstica no Brasil continua a ser generalizada e subno-tificadas. Existe uma tendência a culpar as vítimas desses crimes, e as queixas crimes em relação à violência domés-tica são suspensas, inconclusivas, e até elas mesmas se

veem em condição subalternas e emocionalmente depen-dentes de seus parceiros conjugais ou não a ponto de se omitirem e de não quererem mesmo levar a termo a devida e justa punição pela gravidade dos crimes perpe-trados contra elas no cotidiano da tessitura social. 

O governo tem agido para combater a violência con-tra as mulheres, definitivamente por meio da criação de delegacias e varas criminais nos fóruns de todo o país dedicadas exclusivamente para tratar dos crimes contra as mulheres, em especial, contra a violência doméstica, embora muitas dessas unidades têm ficado aquém dos

padrões e estratégias gover-namentais, principalmente no que diz respeito à falta de proteção das vítimas após queixas, denúncias, relatos etc. Todavia, pelo menos, aumentaram a consciência pública das pessoas, em especial, por parte dos homens, no que se refere aos crimes con-tra as mulheres, servindo, hoje, como alerta para a sociedade de que nada mais poderá e deverá ficar impune.  

A recente (Lei Maria da Penha, nomeada em home-nagem a Maria da Penha,

uma mulher que ficou paraplégica depois de ter sido espancada pelo marido violento e lutou para a aprovação desta lei, foi sancionada em 2006 e marca um esforço para fazer a prisão de maridos violentos mais rígida e garan-tida, a fim de prevenir a violência doméstica e evitar a impunidade.

Por fim, pensando o Brasil e a sua legislação - Estu-pro é ilegal e punível com 8 (oito) a 10 (dez) anos de prisão.  No entanto, alguns estupradores são levados a julgamento ou condenados e a lei ainda permite que um estuprador condenado a ser exonerado se ele se casar com a vítima. E mais, o estupro conjugal, embora tecni-camente ilegal, não é comumente visto pelos tribunais como um crime.

Portanto, é esta a hora Brasil de colocar FIM à Violên-cia contra as Mulheres. Aproveitemos a data sugestiva e o chamado do Secretário-Geral da ONU. E porque não? n

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PElO FIM DA VIOlêNCIA CONTRA AS MUlhERES

DirEito intErnacionaL

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agEnDa BRaSÍLIalITERATURA

Os 26 anos da Academia Taguatinguense de LetrasInstituição deverá ser elevada à condição de patrimônio cultural do DF

c onsiderada uma das instituições culturais mais atuantes do Distrito Federal, a Academia Tagua-tinguense de Letras (ATL) comemorou seus 26

anos em grande estilo, com uma festa no Teatro da Praça (Espaço Cultural de Taguatinga). Um dos pontos altos da programação foi a posse do escritor Pedro Gomes como acadêmico

titular, na cadeira 21, patroneada por Augusto dos Anjos. A posse de acadêmicos beneméritos e honorários foi outro momento importante do evento, que contou com a participação de vários integrantes da comunidade cultural e artística de Taguatinga e do Distrito Federal. Deputados, procuradores, gestores, líderes comunitários e empresários também prestigiaram a cerimônia.

O presidente da ATL/DF, escritor Gustavo Dourado, lembrou que foi um dos encontros mais especiais da aca-demia que, ao completar 26 anos de existência, demonstra cada vez mais vitalidade, compromisso e engajamento com a causa cultural de Taguatinga e do Distrito Federal. “Por isso mesmo, em breve a ATL/DF deverá ser considerada patrimônio cultural de Taguatinga e do DF”, ressaltou.

MANiFESTAçãO Durante a solenidade, os presentes manifestaram-

-se pela permanência da Academia Taguatinguense de Letras (ATL/DF) no Espaço Cultural de Taguatinga, local onde funcionam a ATL/DF, a Biblioteca Braille Dorina Nowill, o Teatro da Praça e a Biblioteca Machado de Assis, constituindo o maior patrimônio cultural do povo de Taguatinga. A academia tem o maior acervo de livros de escritores do Distrito Federal, com mais de sete mil obras, atuando no campo da cultura, da literatura e da educação. Gustavo Dourado lembra que apesar de sua importância, o espaço cultural está sempre ameaçado de despejo e da falta de apoio institucional. “Há quem pretenda destruí-lo para transformá-lo em um shopping”, observa. Segundo

ele, o espaço sofre de descaso do poder público, faltando--lhe manutenção, iluminação, servidores e equipamentos.

“Agora pretendem tombar o espaço, o que seria de grande valia para Taguatinga, mas, para fazê-lo, inexpli-cavelmente, querem excluir a Academia Taguatinguense de Letras”, denuncia Gustavo Dourado. Ele lembrou que a Constituição cidadã, em seus artigos 215/216, cita que a cultura (nela está incluída implicitamente a ATL) é tratada como relevante para consecução dos objetivos da Repú-blica, e, por estes dispositivos constitucionais, devem se pautar o poder público e as autoridades para fazerem suas leis e normas.

Na ocasião, os participantes assinaram o manifesto da academia, hoje com mais de duas mil assinaturas em favor da permanência da ATL no espaço cultural e pela sua ele-vação à condição de patrimônio cultural de Taguatinga e do Distrito Federal. Portanto, a comunidade de Tagua-tinga, por meio de suas lideranças

representativas, pioneiros, cidadãos honorários, escrito-res, políticos, artistas independentes, advogados, servidores públicos, sindicalistas, administradores, produtores, pro-fessores conscientes, líderes estudantis e empreendedores apoiam a permanência da Academia Taguatinguense de Letras no Espaço Cultural de Taguatinga. n

membros da academia: luta pela permanência da instituição no espaço cultural de Taguatinga

Gustavo Fontele Dourado

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 71

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sociEDaDE

TERCEIRO SETOR

O investimento social da Fundação itaú em educação Olimpíada da Língua Portuguesa premia os melhores

da redação

c om atuação em todo o territó-rio brasileiro, em parceria com as três esferas de governo, com

o setor privado e com organizações da sociedade civil, a Fundação Itaú Social tem conquistado reconheci-mento no Brasil e no exterior pelo seu trabalho em favor da melhoria da educação. O Programa Escrevendo o Futuro, que em 2008 se transformou em Olimpíada da Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, foi incorporado

à política de governo federal para o Ensino Fundamental e Médio. O programa é desenvolvido pelo Minis-tério da Educação (MEC) e pela Fundação Itaú Social, sob a coorde-nação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).

Em novembro, a fundação reali-zou encontros regionais da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, seguidos de premiações. De 5 a 7 de novembro, em Natal (RN), participaram 125 alunos e seus

respectivos professores do 9º ano do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino Médio, selecionados em todos os estados brasileiros, na cate-goria crônica. Entre os semifinalistas, 16 são do Rio Grande do Norte. Em 26 de novembro, a Secretaria de Edu-cação de Osasco promoveu a etapa municipal de premiação de 2012 da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro.

A olimpíada tem como objetivo contribuir para a formação de profes-sores, tendo em vista a melhoria do

Lançamento da edição da olimpíada da Língua portuguesa de 2012: participação do ministro Aloísio Mercadante

Fundação Itaú Social

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ensino da leitura e escrita nas esco-las públicas brasileiras. Os alunos e professores escolhidos nesta fase participam de diversas atividades de formação, como oficinas de leitura e escrita e visitas culturais. Todos os semifinalistas (alunos e professo-res) recebem medalhas de bronze e podem escolher livros em uma livra-ria montada especialmente para eles. A olimpíada foi contemplada, em 2009, pelo Prêmio Corporate Citizen of the Americas Award, que reco-nhece projetos privados de combate à pobreza no continente, cedido pela Fundação pelas Américas, órgão da Organização dos Estados America-nos (OEA). O programa foi inscrito na categoria Educação, que comporta projetos promotores do desenvolvi-mento por meio do ensino.

Outro programa desenvolvido pela Fundação Itaú é o da Melho-ria da Educação no Município, que tem como foco a formação conti-nuada dos gestores para uma gestão mais efetiva na promoção da qua-lidade da educação. A metodologia utilizada prevê que, ao longo de dois anos, os gestores sejam prepa-rados para fazer um diagnóstico da situação local a partir da análise de indicadores sociais, com o objetivo

de desenvolver e implementar Planos Municipais de Educação (PME).

O processo de elaboração dos pla-nos é feita de maneira participativa e envolve diferentes atores sociais. O objetivo é mobilizar a sociedade para as questões educacionais e ampliar o debate acerca do tema. Desde que foi criado, em 1999, já ofereceu capa-citação a 3.438 gestores de 1.027 municípios em 17 estados brasileiros. A coordenação técnica dos trabalhos é do Centro de Estudos em Educa-ção, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). São parceiros do programa a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)

A fundação criou ainda o Prê-mio Itaú-Unicef e o Programa Jovens Urbanos, que incentivam a oferta de atividades socioeducativas para crianças, adolescentes e jovens de forma articulada com as políticas públicas educacionais e assistenciais, explorando diferentes espaços edu-cativos para proporcionar uma formação mais completa.

Patrícia Mota Guedes, espe-cialista em gestão educacional da Fundação Itaú Social, afirma que a gestão educacional é uma área estra-tégica para melhorar a qualidade das escolas públicas, pois abrange eixos estruturantes como a seleção e a formação de professores e ges-tores, o currículo, financiamento, sistemas de acompanhamento, de avaliação e a aproximação com as famílias. Segundo ela, “aprimorar a gestão educacional de uma rede, portanto, também envolve desen-volver estratégias específicas para essas comunidades mais vulneráveis, garantindo padrões básicos de quali-dade de ensino para todos”. Patrícia lembra que o Itaú entende que a educação é o principal fator a ser con-siderado para o desenvolvimento sustentável do Brasil. E que as pro-postas desenvolvidas pela fundação têm como foco a educação integral, a gestão educacional, a avaliação de projetos sociais e a mobilização social. n

Com informações da Fundação Itaú Social/Notícias

livrosA Fundação Itaú

Social também dis-tribui livros gratui-tos para crianças em todo o Brasil. Em 2010, a fun-dação distribuiu 8 milhões de livros. Com o projeto Itaú Criança, a fundação doa livros infanto-juvenis em todo o território nacional, a fim de contribuir para a educação, cultura e lazer das crianças. Segundo a fundação, cerca de 2,34 milhões de exemplares foram en-tregues em 2012.

Fund

ação

Itaú

Soc

ial

Fundação Itaú Social

entidade distribui livros gratuitos, incentiva a cultura e a educação em suas várias expressões

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 75

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micHaeL KaiNEconomista e cientista político, graduado pela Universidade do País de Gales. é pós-graduado pelas universidades de Manchester e de Cambridge

intErnacionaL

A incerteza prevalece na economia global A pós três anos de marchas e

contramarchas, envolvida com a crise bancária ameri-

cana e o alto grau de endividamento dos países da zona do euro, a eco-nomia global ainda padece de incerteza e, no curto e médio prazo, os prognósticos de mudança não são alvissareiros. O Fundo Monetá-rio Internacional (FMI) revisou para baixo as estimativas de crescimento da economia mundial para este ano e o vindouro, destacando que as eco-nomias do Brasil e do Reino Unido apresentam boas condições de cres-cimento. O fundo acredita que a taxa de crescimento do produto interno bruto (PIB) em 2012 no Brasil seja inferior a 1,6%, cifra esta também referida pelo Banco Central brasi-leiro e organismos de pesquisa. O Brasil, como muitas outras nações, foi afetado pela desaceleração da economia chinesa, que adquire uma alta proporção das exporta-ções de produtos primários do país. A diretora-gerente do FMI Chris-tine Lagarde afirmou em recente reunião do Fundo e do Banco Mun-dial em Tóquio que há sérios riscos à recuperação econômica global. Ela sugeriu que os Estados Unidos e Europa atuem sem delongas para retomar o ritmo de suas economias

e adotem políticas pró-crescimento. Asseverou ainda, ser mais do que necessário que seja alcançado equilí-brio entre a austeridade e a criação de emprego e renda; certamente, uma mudança de ótica daquela institui-ção. A senhora Lagarde se mostrou pessimista quanto ao rumo da eco-nomia mundial este ano. Como economia e política não podem ser dissociadas, o foco de atenção dos especialistas e do mercado financeiro são as eleições presidencial e parla-mentar nos Estados Unidos e a troca de poder na China.

ESTADOS UNiDOS E chiNA A economia americana dá sinais

de recuperação, embora a taxa de crescimento do PIB não deva exce-der os 2,1%. A taxa de desemprego recuou em setembro para 7,8% com-parada à de agosto, 8,1%. O número que é o menor dos últimos três anos vem sendo usado e criticado na cam-panha presidencial, mas eleva as chances de reeleição do presidente Barrack Obama, em 6 de novem-bro. Mais de 114 mil empregos foram criados em setembro. O desem-penho do presidente Obama no

Diretora do Fmi,christine Lagarde: ainda há sérios riscos à recuperação econômica global

Marcello Casal/ABr

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primeiro debate realizado nos Esta-dos Unidos deixou muito a desejar; o presidente atuou de forma defen-siva e o seu rival, republicano Mitt Romney, ganhou o debate, de acordo com a mídia e pesquisas de opinião pública norte-americana.

O economista americano James Galbraith afirmou em entrevista ao canal de televisão Globo News que a desigualdade socioeconômica nos Estados Unidos é um risco sério para a estabilidade da economia, posto que a sociedade americana atual é mais desigual em termos de renda e riqueza que nas décadas de 50 e 60. Assegurou que os ex-presidentes republicanos Reagan e Nixon seriam hoje considerados perigosos progres-sistas pela corrente conservadora republicana que controla o partido. Culpou o risco excessivo assumido pelo sistema bancário e financeiro do país pela crise que abalou o mundo no final de 2007 e julgou necessário o aumento de impostos para os mais ricos, com vistas à redução da desi-gualdade e da pobreza no país. Tal análise é adequada para qualquer outra nação. O Brasil, no governo do presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, adotou medidas de política para reduzir a desigualdade econômica e social e conseguiu for-talecer a classe média que representa 53% da população.

A China encontra-se em estado de paralisia política aguardando a troca de liderança no partido comunista em oito de novembro, o que ocorre uma vez, a cada década. O país se recupera do escândalo de corrupção que afetou um dos líderes mais for-tes do partido, Bo Xilai, e sua esposa Gu Kailai culpada pelo assassinato do empresário inglês, Neil Heywood. Bo Xilai foi expulso do partido.

Problemas políticos afetam decisões econômicas, principalmente quando o poder é concentrado. A segunda economia do mundo começou a desacelerar, ainda que venha obtendo taxas respeitáveis de crescimento; em setembro, a taxa de crescimento do PIB foi 7,4%, um pouco inferior à alcançada em agosto, 7,6%. As expor-tações cresceram 10% em setembro, atingindo a meta perseguida pelo governo.

A EUROPA REviSiTADA A crise da zona do euro se arrasta

há três anos com efeitos perver-sos sobre a economia local e global. Várias soluções foram negociadas e já se vislumbra alguma luz no final do túnel, com a criação de um fundo permanente, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, com recur-sos de mais de 500 bilhões de euros (R$ 1,5 trilhão). O objetivo do fundo é recapitalizar diretamente os bancos da zona do euro, sem recorrer aos gover-nos e sem elevar a dívida pública. O presidente francês François Hollande afirmou recentemente que a Europa está mais perto de sair da crise, ainda que a população organizada não tenha presenciado tal aproximação, dadas as greves gerais e protestos observados em vários países europeus.

O Banco Central Europeu (ECB, na sigla em inglês) iniciou a com-pra de títulos da dívida soberana da Espanha e da Itália exigindo medi-das severas de austeridade a esses governos. Tais decisões têm contri-buído para diminuir o nervosismo

“ O ECONOMISTA AMERICANO JAMES GAlBRAITh AFIRMOU EM ENTREVISTA qUE A DESIGUAlDADE SOCIOECONôMICA NOS ESTADOS UNIDOS é UM RISCO SéRIO PARA A ESTABIlIDADE DA ECONOMIA”

o Banco central europeu compra títulos da dívida soberana da espanha e da itália e exige medidas severas de austeridade a esses governos

Alex Domanski / Reuters

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InternacIonal

A INCERTEZA PREVAlECE NA ECONOMIA GlOBAl

e a volatilidade do cético mercado financeiro. A Espanha, que tem enfrentado sérios problemas no refi-nanciamento da dívida, continua relutante em solicitar um pacote de resgate à Comissão Europeia o que contribuiria para reabilitar a fraca economia. A gerente do FMI vem alertando os líderes europeus para a necessidade de oferecer maior prazo à Grécia para que possa se ajustar às condições impostas pelos credores; tal prorrogação encontra resistência por parte dos alemães.

A reunião de cúpula da União Europeia (UE), ocorrida em 18 de outubro em Bruxelas, chegou a resul-tados decisivos e que se espera sejam praticados logo no início de 2013, como a supervisão dos seis mil ban-cos da eurozona pelo ECB. Tal medida facilitaria a intervenção antecipada naqueles bancos que demonstrassem maior risco de perdas e o saneamento decorrente evitaria a contaminação do sistema bancário. Essa união bancária, se bem efetivada, dará maior confiança

ao mercado, mas enfraquece o poder regulador dos bancos centrais nacio-nais. O Reino Unido, que sedia o maior centro financeiro da Europa, demons-tra preocupação e requer salvaguardas que protejam o Banco da Inglaterra, o banco central britânico. A apreen-são da Grã-Bretanha e de outros nove países europeus, não-membros da zona do euro, é com o poder votante na nova união bancária estabelecida na zona do euro. Tal modificação envolve um equilíbrio delicado para a União Europeia entre os países membros e os não-membros da eurozona.

Na Espanha, além dos problemas econômicos, uma questão histórica pode abalar o reino, com repercus-sões em toda a Europa. A maior região do país e a mais rica, a Catalunha cuja capital é Barcelona, aprovou a reali-zação de um plebiscito para aprovar ou não a independência. A Catalu-nha responde por 18% da formação do produto espanhol, gerou mais de 210 bilhões de euros em 2011 e conta com sete milhões de habitantes (mais

de 15% da população espanhola). É uma das áreas mais industrializadas da Europa e também uma das mais endividadas. A expectativa é que o voto pró-independência seja em torno de 49%, mas o resultado poderá ser diferente. Se os catalães decidirem pela independência da Espanha, tor-nando-se um mini-estado na Europa, os riscos econômicos e políticos para o país serão enormes, levando em conta a situação precária atual da Espanha. A Catalunha poderá ser obrigada a dei-xar a União Europeia, abandonar o euro e criar sua própria moeda. Outro movimento pró-independência na Europa parte da Escócia, que tenta se desligar do Reino Unido. O primeiro--ministro britânico David Cameron e o primeiro-ministro escocês Alex Salmond acordaram os termos da consulta pública a ser realizada na Escócia no outono de 1914. Espera--se que os escoceses ao refletir sobre os efeitos econômicos, financeiros, de segurança, defesa e da própria moeda rejeitem o separatismo.

A iNTEGRAçãO DOS NEGóciOS NA AMÉRicA LATiNA

Em 22 de junho foi confirmada a fusão das empresas aéreas Lan Airli-nes, do Chile e a TAM Linhas Aéreas, do Brasil, formando a LATAM Airline, o maior grupo aeroviário da América Latina e um dos maiores do mundo. Tal fusão é uma forma prática de inte-gração de negócios regionais. O grupo LATAM com uma receita de 13,5 bilhões de dólares em 2011 opera com uma frota de 310 aeronaves em 22 paí-ses voando para 150 destinos; emprega 51 mil pessoas e carrega um milhão de toneladas de carga. Essa nova compa-nhia latino-americana abre as portas da região para o mercado global e aumenta as chances de escolha para

antonio patriota e alfredo moreno: Brasil e chile buscam novas oportunidades comerciais e econômicas

Elza

Fiú

za/A

Br

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os consumidores, em uma indústria extremamente competitiva.

O Brasil sob a batuta da presidente Dilma Rousseff mantém excelente relação política e econômica com o Chile, um dos mais moderados paí-ses da América Latina. O ministro das Relações Exteriores do Chile, Alfredo Moreno, visitou o Brasil em 8 de outu-bro, para avaliar as relações bilaterais e as novas oportunidades comerciais e econômicas. O Chile, nos últimos dois anos, foi o segundo maior par-ceiro do Brasil na América Latina, com um fluxo total de comércio de 10 bilhões de dólares, em 2011. Ao Bra-sil se destina o segundo maior volume de investimentos do Chile no exterior, cerca de 12 bilhões de dólares no ano passado. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, setenta compa-nhias brasileiras operam no Chile com investimentos superiores a 3,2 bilhões de dólares.

O Chile foi o primeiro país da América do Sul a se tornar mem-bro do clube de países desenvolvidos representados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Eco-nômico (OCDE) em 2010. A taxa de crescimento econômico do Chile em 2012 é estimada em de 6%, quase qua-tro vezes a brasileira (1,6%). O Chile é um país de médio porte, com popula-ção de 17,4 milhões, dez vezes menor que a do Brasil. O PIB chileno em 2012 deverá atingir 246 bilhões de dólares e a renda per capita, 14.150 dólares, de acordo com a revista “The Economist”. Detém uma economia eficiente e de mercado baseada em commodities e comércio; atualmente desenvolve a ati-vidade de eco-turismo, em alta escala e qualidade. O Chile estimula a entrada de investimento estrangeiro.

Ao que parece, as grandes econo-mias do grupo BRICS (Brasil, Rússia,

Índia, China e África do Sul) estão se tornando retardatárias na corrida pelo crescimento econômico, dando lugar a países menores com economias mais dinâmicas e flexíveis. O presidente chi-leno, de centro-direita, Sebastián Piñera Echenique, apresentou recentemente um programa econômico objetivando atingir o grau de país desenvolvido, com a redução da pobreza, da desigual-dade social e aumento da capacidade de concorrência e integração com a eco-nomia global. O Chile não apresenta os graves problemas econômicos e sociais de outros países latino-americanos. A política externa é moderada e adaptada ao tamanho da economia e do territó-

rio e é realista quanto às ambições de ordem política. Historicamente, o Chile mantém laços culturais, econômicos e políticos com o Reino Unido. O liberta-dor, pai da pátria, Diretor Supremo do Chile, Bernardo O’Higgins, era filho de um irlandês.

A presidente Dilma, seguindo os passos do ex-presidente Lula, man-tém um crescente diálogo com o Uruguai, aumentando a integração regional, econômica, comercial e polí-tica com o vizinho. O Uruguai é um

dos líderes do MERCOSUL (Mer-cado Comum do Sul) e da UNASUL (União das Nações Sul-Americanas). Nos últimos anos, o Brasil tornou-se um dos maiores parceiros comerciais do Uruguai. Em 2011, o fluxo total de comércio entre as duas nações foi de 3,9 bilhões de dólares, um incremento de 26,4% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do Itamaraty. De janeiro a setembro de 2012, o comér-cio entre o Brasil e o Uruguai totalizou 2,88 bilhões de dólares, sendo 1,64 bilhão de exportações e 1,24 bilhão de importações, com um superávit de 400 milhões de dólares para o Brasil. Uru-guai é um país de democracia estável e forte, seguindo uma posição política e econômica moderada na América do Sul. Com 3,4 milhões de habitan-tes, o Uruguai em 2012 produzirá o equivalente a 49 bilhões de dólares, significando uma renda per capita de 14.610 dólares, maior que a do Brasil.

O mundo assistiu, em 7 de outubro, a reeleição do presidente Hugo Chávez da Venezuela, com maioria de 55% dos votos válidos para o quarto mandato. Foi uma disputa apertada e trinta par-tidos de oposição se uniram em torno da candidatura do governador do estado de Miranda, Henrique Capriles Radonski. O governador parabenizou o presidente Chávez pela vitória, que por sua vez, mostrou-se conciliató-rio em seu discurso de agradecimento aos eleitores. Espera-se que os ares de união não se dispersem, seja pelo pre-sidente ou pela oposição. Com o novo mandato, o presidente Chávez comple-tará vinte anos no poder, tempo mais que suficiente para passar o legado a outro político. A presidente do Brasil apresentou suas congratulações ao pre-sidente eleito e confirmou a parceria do Brasil com a Venezuela na promo-ção da igualdade social e econômica da

“ O BRASIl SOB A BATUTA DA PRESIDENTE DIlMA ROUSSEFF MANTéM EXCElENTE RElAçãO POlíTICA E ECONôMICA COM O ChIlE, UM DOS MAIS MODERADOS PAíSES DA AMéRICA lATINA”

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InternacIonal

A INCERTEZA PREVAlECE NA ECONOMIA GlOBAl

América Latina, uma idéia positiva. A Venezuela é um país rico óleo e

gás, com ambição política regional e global, a despeito de uma população de 28 milhões. O país dispõe da maior reserva mundial conhecida de petróleo e gás natural e é um dos maiores for-necedores de petróleo para os Estados Unidos, apesar das diferenças políti-cas. A eleição presidencial ocorreu sem transtorno, livre e justa, de acordo com observadores internacionais. A oposi-ção criticou a campanha controlada pelo presidente, com cobertura total da imprensa falada e escrita e pouco espaço para a oposição. No final, todos acataram a palavra das urnas.

A CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) ao examinar as estimativas da taxa de crescimento do PIB para a região em 2012 mostrou resultado para o Bra-sil de 1,6%, taxa inferior a dos demais países, à exceção do Paraguai, cuja economia retrocedeu 2%, ou seja, apresentou taxa negativa. A taxa média de crescimento do produto na América Latina será de 3,2% em 2012,

significando dizer que a do Brasil é apenas a metade. Para 2013, a CEPAL estima que o Brasil cresça 4%, valor idêntico ao da taxa média regional. Tal crescimento derivará de acréscimo nos investimentos públicos e privados no país. A presidente brasileira vem ado-tando medidas de política objetivando a expansão da indústria e da econo-mia, mas os resultados só aparecerão no médio e longo prazo. Contudo, alguns investidores estrangeiros têm criticado a atitude governamental considerada intervencionista que afe-tam o setor financeiro e os resultados das companhias estatais. Argumen-tam que as políticas não são propícias ao capital comparadas a outras eco-nomias latino-americanas de livre mercado, com o México e o Chile.

iRLANDAO presidente da República da

Irlanda, Michael D Higgins, visitou o Brasil no mês de outubro, acompa-nhado pelo Ministro do Comércio e Desenvolvimento e uma delegação de empresários irlandeses. A visita

foi importante para o Brasil, pois a Irlanda chefiará o Conselho da União Europeia na primeira metade de 2013, ocasião em que ocorrerá a próxima reunião de cúpula Brasil - União Europeia. A EU é uma das mais importantes parceiras comer-cial e econômica do Brasil. A visita do presidente irlandês visou ava-liar a expansão do comércio bilateral e avanços na cooperação educacio-nal e tecnológica entre os dois países, na esteira do programa “Ciência sem Fronteiras”. A República da Irlanda tem apenas 4,2 milhões de habitan-tes. O PIB em 2012 deverá atingir 219 bilhões de dólares e a renda per capita equivale a 52.180 dólares. A despeito da crise econômica da zona do euro que sufoca o país, quase levando ao colapso o sistema bancário e à adoção de medidas de austeridade preconi-zadas pelos credores, a economia da Irlanda começa a reagir e ainda conta com uma renda per capita razoável.

O presidente Higgins é membro do partido de centro-esquerda, Par-tido Trabalhista Irlandês, que guarda muito em comum com o PT (Partido dos Trabalhadores). Além de encon-trar a presidente Dilma Rousseff, o senhor Higgins visitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando deba-teram a crise econômica europeia. O presidente irlandês disse concordar com a presidente Dilma Rousseff que a Europa necessita adotar medidas de política pró-crescimento e de criação de emprego, ao invés de programas deflacionários de corte de despe-sas e austeridade. Espera-se que esta visão mais progressista e expansioná-ria do presidente influencie a política regional quando o país ocupar a pre-sidência da EU no período de janeiro a junho de 2013, reduzindo o desem-prego e a recessão local.

o presidente da irlanda, michael D Higgins, e Dilma rousseff: parceria reforçada

osé

Cruz

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SíRiA E TURQUiA: TENSõES AMEAçADORAS

Os recentes ataques das forças do governo sírio atingindo território turco e o revide da Turquia é preo-cupante e ameaça a paz no Oriente Médio, palco de conflitos históri-cos, principalmente pelo fato de a Turquia ser uma força econômica crescente na região e de deter pode-rio militar e político. O país revive a tradicional dominação do Oriente Médio durante o império turco. A Turquia é um dos líderes da OTAN (Organização do Tratado do Atlân-tico Norte) e detém a segunda maior força armada da organização, depois dos Estados Unidos. A Turquia conta com uma população de 74,7 milhões e PIB estimado em 729 bilhões de dólares em 2012. A renda per capita é relativamente baixa, de 9.760 dólares. A administração do país está redes-cobrindo as raízes orientais, embora pela própria geopolítica encontre--se no cruzamento entre a Europa e a Ásia e planeje se tornar mem-bro da União Europeia. A oposição à entrada da Turquia na EU é forte por parte dos governos da França e da Alemanha, mas conta com o apoio do Reino Unido. Só o tempo dirá.

cONcLUSãOA exportação chinesa aumentou

10% em setembro, uma boa notí-cia. A economia dos Estados Unidos vem melhorando e a taxa de desem-prego caiu de 8,1% em agosto para 7,8% em setembro. A Venezuela ree-legeu o controverso presidente Hugo Chávez no dia 7 de outubro para o quarto mandato de seis anos. Ele está no poder há 14 anos. A economia da Venezuela depende pesadamente da produção de petróleo; 90% da receita orçamentária vêm do mineral

e financia o ambicioso projeto eco-nômico e social do presidente. A preocupação maior é com a saúde do senhor Chávez, em tratamento contra um câncer de natureza desco-nhecida pela maioria da população. O vice-presidente, Nicolas Maduro, ocupava o Ministério de Relações Exteriores e é tido como um par de mãos seguras. A eleição presidencial americana ocorrerá em 6 de novem-bro e as pesquisas de opinião indicam empate técnico. É uma competi-ção entre duas visões de futuro, bem como de qualidades pessoais e habi-lidades. Em termos de crescimento econômico, a OCDE mostra-se oti-mista quanto ao crescimento do Brasil e do Reino Unido em 2013.

O nível de riqueza pessoal ao redor do mundo se reduziu pela primeira vez em meados de 2012, desde o iní-cio da crise financeira de 2007-2008. Estudo realizado pelo Banco Credit Suisse mostrou uma queda média de 5% na riqueza individual, sendo esta de 14% na Europa. Os ativos privados somaram 233 trilhões entre meados de 2012, inferior em 5% ao estimado em igual período de 2011. A recessão em grande número de países deprimiu o valor dos ativos em ações, imóveis e

outras propriedades.O prognóstico do FMI é pessi-

mista e afirma que os Estados Unidos e a Europa precisam sanar a questão da dívida pública. Com a distra-ção imposta pelas eleições gerais no país, a situação só ficará mais clara e estável após o período eleitoral. Os sinais emitidos pela Europa são mais esperançosos. O presidente fran-cês François Hollande afirmou após a reunião de cúpula da UE que a Europa está se aproximando da saída para a crise da zona do euro. A União Europeia anunciou recentemente a criação do tão esperado Fundo Euro-peu de estabilização Financeira com o aporte de 500 bilhões de euros que propiciará a recapitalização de ban-cos em dificuldades, sem aumentar os gastos do governo com a dívida soberana.

A Espanha está sujeita a um processo de secessão por parte da Catalunha que demanda indepen-dência; esta é a região mais rica e também a mais endividada. Qual-quer movimento mais incisivo de separação aumentará a instabilidade política e econômica do país, que apresenta uma das mais altas taxas de desemprego da Europa e tenta aplicar um plano severo de austeridade, sem o apoio da população. Outras regiões da Espanha e de outros países pode-rão tentar o mesmo, adicionando mais problemas aos atuais. A União Europeia, em meio à crise, teve o seu momento de reconhecimento ao ser agraciada com o Prêmio Nobel da Paz 2012, devido aos esforços para a manutenção da paz, cooperação e suporte aos direitos humanos na Europa. O prêmio causou controvér-sia na imprensa especializada, mas a maioria dos analistas considerou a escolha positiva. n

“ O NíVEl DE RIqUEZA PESSOAl AO REDOR DO MUNDO SE REDUZIU PElA PRIMEIRA VEZ EM MEADOS DE 2012, DESDE O INíCIO DA CRISE FINANCEIRA DE 2007-2008”

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gEstor e carrEiras

FUNCIONAlISMO

Fonacate/Divulgação

Lei de greve no serviço público mobiliza servidores Representantes das carreiras típicas de Estado finalizam proposta

O Fórum Nacional Perma-nente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) prepara

um projeto de lei de greve do serviço público, tema que tem mobilizado a categoria nos últimos meses, desde as últimas paralisações de servidores ocorridas neste ano. No último dia 20 de novembro, na sede da Associa-ção Nacional dos Auditores Fiscais da Receita (Anfip), o fórum realizou uma assembleia geral com a parti-cipação dos presidentes de todas as afiliadas, quando foi debatida a regu-lamentação do direito de greve dos servidores públicos.

“Precisamos finalizar nossa proposta e conversar com os par-lamentares sobre a importância de garantirem os direitos dos servido-res públicos, porque um projeto do governo, com certeza, não vai tra-tar de todos os itens que precisam ser regulamentados como a polí-tica salarial, o plano de carreira, a negociação coletiva e a data base dos servidores”, afirmou o presidente do Fonacate em exercício e também pre-sidente da Anfip, Álvaro Solon de França. Segundo ele, o projeto que está sendo preparado pelo Execu-tivo – coordenado pelo Ministério do Planejamento Orçamento e Ges-tão (MPOG) e pela Advocacia Geral da União (AGU) – se não for apresen-tado ainda este ano, deve ser entregue ao Congresso Nacional no começo do calendário legislativo de 2013.

Em dezembro, o Fonacate fará nova assembleia, com a participa-ção do deputado federal Roberto Policarpo (PT/DF), que apresentou recentemente na Câmara um projeto que também trata da Lei de Greve do Funcionalismo.

DEBATE NO SENADONo último dia 30 de outubro, o tema

sobre a regulamentação do direito de greve no serviço público também foi debatido entre os membros do Fona-cate e o senador Paulo Paim (PT/RS). Na ocasião, o presidente do Fonacate em exercício, Álvaro Sólon de França, agradeceu a atitude de Paim ao evitar que o PLS (Projeto de Lei do Senado) 710/2011, do senador Aloysio Nunes (PSDB/SP) – que disciplina a greve de

servidores públicos – fosse aprovado em caráter terminativo no Senado e em seguida encaminhado para a Câmara dos Deputados. O senador conse-guiu pedir que o projeto tramitasse pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) – da qual é presidente – e a Comissão de Assuntos Sociais (CAS). Originalmente, a matéria tramitaria em apenas uma comissão do Senado: a de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).

“Se não fosse pela diligência do senador Paulo Paim, talvez estivés-semos discutindo nesse momento o projeto do senador Aloysio na Câmara dos Deputados”, observou o presidente do Fonacate. Segundo ele, o objetivo das Carreiras de Estado não é apenas que se regulamente

Servidores debatem regulamentação do direito de greve em comissão do Senado

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Fonacate/Divulgação

o direito de greve, como também o projeto estabeleça a negociação salarial. “99,9% dos movimentos organizados pelos servidores públi-cos são para garantir a recomposição das perdas salariais. Por isso, quere-mos discutir esse projeto para que ele tenha uma maturação necessária ao ponto de atender aos direitos dos ser-vidores públicos”, observou Álvaro.

O senador Paulo Paim citou pro-jetos de sua autoria que tratam do assunto. Um de 1991 (quando era deputado) e outro de 2007, o PLS (Projeto de Lei do Senado) nº 84/07. “Direito de greve: são essas as pala-vras e esse é o objetivo do meu projeto. Acredito, como vocês, que é preciso garantir o legitimo direito de greve dos servidores públicos”, sus-tentou o senador. Ele lembrou ainda que existem inúmeros projetos de lei no Congresso que têm o objetivo de precarizar os direitos dos servidores públicos. “Esses dias vi um que diz que bancário não tem direito a fazer greve”, relatou. Paim afirmou que tópicos como política salarial, plano de carreira, negociação coletiva, data base dos servidores serão abordados em seu projeto, o PLS 84/07.

O presidente União Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon Sindical), Rudinei Marques, destacou que os servidores querem uma lei que atenda aos inte-resses da categoria sem prejudicar a sociedade. O presidente da Associação Nacional dos Servidores Efetivos das Agências Reguladoras (Aner), Paulo Mendes, comentou: “Precisamos regulamentar o papel do governo, que é o patrão, com relação aos servidores – os empregados do Estado. Porque é exatamente essa desobrigação do governo em apresentar propostas que nos leva a um movimento de greve”.

NOvA PROPOSTARecentemente, o deputado Roberto

Policarpo apresentou uma nova pro-posta, fruto das conclusões finais da Mesa de Negociação de Salá-rios e Direito de Greve, discutidos durante dois anos na gestão do então secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duva-nier Paiva Ferreira. “Entendemos que essa urgência do governo em aprovar um projeto de lei de greve dos servido-res públicos é resultado do movimento realizado pelas carreiras de Estado esse ano. Foram mais de 300 mil ser-vidores mobilizados lutando por suas perdas salariais. Mas, não podemos deixar de lado um material negociado durante dois anos com mais de 30 enti-dades representativas dos servidores e principalmente acordos importan-tes como os firmados na Convenção 151”, sustentou a presidente do Sinait, Rosângela Rassy.

O senador Paulo Paim pediu para o Fonacate estudar a proposta do deputado Policarpo, já que dentre as existentes é a que mais está de acordo com parte dos anseios das carreiras de Estado.

Ao encerrar a reunião com o senador Paulo Paim, o presidente Álvaro Sólon de França afirmou que

o Fonacate prima pelo diálogo até a exaustão e que o Fórum acredita no parlamento brasileiro, pedindo apoio do senador na realização de audiên-cias e debates sobre o tema.

PEc 555Outra preocupação das entida-

des que compõem o Fonacate é com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 555/06, que prevê o fim à cobrança de contribui-ção previdenciária sobre os proventos dos servidores públicos aposentados. De acordo com o Álvaro Sólon de França, as entidades precisam se unir e fazer um esforço concentrado para a inclusão da matéria na Ordem do Dia do plenário. “Precisamos lutar pela aprovação desta PEC pelo menos em primeiro turno na Câmara”, afirmou o presidente do Fonacate em exercício.

O Fonacate já encaminhou ofícios aos líderes da Câmara solicitando audi-ência para tratar da importância da aprovação do projeto. No documento, a Diretoria Executiva do Fórum des-tacou: “Reiteramos a Vossa Excelência que é de fundamental relevância para o serviço público que a PEC 555/2006 seja pautada e votada pela justiça que representa para os servidores inativos e pensionistas”. n

representantes sindicais e o senador paulo paim: debate sobre o direito de greve

Novembro de 2012 - Gestão Pública & Desenvolvimento 83

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prêMios e pubLicaçõEs

Modernização da gestão pública

L ançado durante o 87º Fórum Nacional de Secretários de Administração, em Brasília, o

Prêmio Consad de Jornalismo 2013 vai contemplar jornais impressos e revistas que apresentarem os melho-res trabalhos sobre a modernização da gestão pública. Devem ser inscri-tas matérias publicadas entre 1º de janeiro de 2012 e 28 de fevereiro de 2013. Da comissão julgadora do prê-mio, que será dividido em categorias nacional e regional (que engloba as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste), participarão exclusivamente jornalistas renoma-dos e profissionais de comunicação. O nome dos contemplados será divul-gado durante o VI Congresso Consad

2013, que acontecerá no mês abril de 2013, em Brasília.

Será distribuído um total de R$ 80 mil em prêmios, mais 18 troféus. Na categoria nacional, os prêmios serão os seguintes: 1º lugar, R$ 15 mil; 2º lugar 10 mil; e 3º lugar, R$ 5 mil. Na categoria regional (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte) serão premiados o 1º colo-cado com R$ 5 mil; o 2º, R$ 3 mil; e o 3º, R$ 2 mil.

O presidente do Consad e secre-tário de Administração do Ceará, Eduardo Diogo, afirma que o prin-cipal objetivo do prêmio é valorizar o trabalho da imprensa, que sem-pre apoia e contribui para dar maior visibilidade ao conselho. A

comissão julgadora será formada pelo presidente do Consad e por representantes indicados pela Fede-ração Nacional dos Jornalistas (Fenaj), do jornal Valor Econômico, da Universidade Federal de Brasília e da revista Exame.

O regulamento do prêmio já está sendo elaborado e será divulgado brevemente no sitewww.consad.org.br. O tema é Modernização da Gestão Pública. Poderão concorrer matérias jornalísticas publicadas em veículos impressos, como jornais e revistas, no período de 1º de janeiro de 2012 a 28 de fevereiro de 2013. n

Informações da assessoria de imprensa do Consad

(www.consad.org.br)

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Prêmios e Publicações

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GESTÃO PÚbLICA – DEMOCRACIA E EFICIêNCIA Uma visão prática e política

● auTor: RICARDO DE OlIVEIRA ● ediTora: FGV

Lançado no Rio de Janeiro, em setembro, e em Brasília, em outubro, o livro Gestão pública: democracia e eficiência. Uma visão prática e política, de Ricardo de Oliveira, apresenta solu-ções para uma série de questões relacionadas à gestão pública, discorrendo sobre o Estado e suas reformas, políticas públicas, gestão para resultados, profissionalização, parcerias, quali-dade do gasto, entre outros temas. Com um excepcional poder de síntese, e com abrangência e seletividade, ele foca no essencial. O texto fluido é um passeio pelo mundo da gestão pública. O autor defende o tema, enaltece sua importância e fala sobre o Estado e suas reformas e a complexidade do contexto. Ricardo de Oliveira foi secretário de Estado de Gestão e Recursos Humanos do Espírito Santo (2005-2010), diretor de Planejamento do Inmetro (1994-2005), e hoje preside a Empresa de Tecnologia da Prefeitura do Rio de Janeiro (IPLANRIO).

DIREITO ADMINISTRATIVO E DEMOCRACIA ECONÔMICA

● auToras: DANIElA BANDEIRA DE FREITAS E VANICE REGINA líRIO DO VAllE

● ediTora: FóRUMObra coordenada por Daniela

Bandeira de Freitas e Vanice Regina Lírio do Valle, Direito Administrativo e Democracia Econômica foi lançada no dia 3 de outubro, no Congresso de Direito Administrativo do Estado do Rio de Janeiro. A percepção do Direito Administrativo unicamente como instru-mento de controle do poder desconsidera o papel promotor do desenvolvimento, indispensável no contexto de um Estado pluriclasse, que se submete a Constituições de cunho compromissório e tem substan-cialmente ampliado o seu rol de funções e de finalidades sociais em relação à concepção oitocen-tista. O Estado pluriclasse, governado pela representação das diversas classes sociais, incumbe-se não apenas das funções administrativas stricto sensu, como a segurança pública e a diplomacia, mas do fornecimento de utilidades econômicas, vale dizer, da prestação de serviços públicos como educação e saúde públicas e assistência social, entre outros. Daniela Ban-deira de Freitas é doutoranda pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e juíza do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Vanice Regina Lírio do Valle tem pós-doutorado em Administração pela EBAPE/FGV e doutorado em Direito pela UGF. É professora permanente do PPGD/UNESA e procuradora do município do Rio de Janeiro

TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO PARA EMPRESAS qUE APRENDEM

● auToras: ONíZIA DE FáTIMA ASSUNçãO E TOMASINA CANABRAVA

● ediTora: SENAC DISTRITO FEDERAlO livro procura

esclarecer os funda-mentos e as práticas que permeiam a gestão de treinamento, desenvol-vimento e educação nas organizações. Voltado para aqueles que assumem papéis e atividades rela-cionados com o ensinar e o aprender, é uma ferra-menta valiosa tanto para os integrantes das equipes de Treinamento e Desenvolvi-mento (T&D) em educação quanto para profissionais de outras áreas, como gerentes, técnicos, professores e instrutores. As autoras destacam a importância e o significado das organizações, a relação do possível entre teoria e prática na preparação para a autonomia, os princípios da aprendizagem e da educação nas empresas, treina-mento e aperfeiçoamento para o século XXI, sistema de gestão de pessoas, entre outros temas.

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cursos e EvEntos

cONGRESSO DO cLADTransparência, participação social e foco nos resultados

marcus Vinicius de azevedo Braga

c om mais de 1800 participan-tes, o Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma

del Estado y de la Administración Pública, ocorrido de 30/10 a 2/11 na cidade de Cartagena de Índias, na Colômbia, apresentou relevantes dis-cussões no contexto da gestão pública ibero-americana. Organizado pelo Centro Latinoamericano de Admi-nistración para el Desarollo-CLAD, o congresso, em sua 17ª edição, foi realizado no Centro de Convenções

Júlio César Turbay Ayala, em Car-tagena de Índias, no litoral da Colômbia, com a participação de delegações de 27 países, representan-tes de todos os continentes, a exceção da Ásia, África e Oceania.

O evento contou com o copatro-cínio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do governo brasileiro, da Corporação Andina de Fomento (CAF), do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas e da Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB), contando com o apoio local na sua organização

do Departamento Administrativo da Função Pública da República da Colômbia e da Escola Superior de Administração Pública (http://www.esap.edu.co/) daquele país.

O evento primou pela organiza-ção e pelo alto nível dos trabalhos apresentados, que envolveram 436 conferencistas de diversos países, abordando vários temas na área da gestão pública. Especial desta-que foram as conferências plenárias, ocorridas durante as manhãs do evento, com apresentações dos pro-fessores Paulo Roberto Motta (FGV/

CUlTURA DA GESTãO

mais de 1.800 pessoas participaram do evento, realizado na cidade de cartagena de Índias, na colômbia

Divulgação/CLAD

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cursos e eventos

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Divulgação/CLAD

BRASIL), Joan Subirats (Universidad Autónoma de Barcelona/ Espanha) e. Michael Barzelay, da London School of Economics and Political Science (LSE), do Reino Unido.

PAiNÉiSOs painéis apresentados divi-

diram-se em áreas temáticas que priorizavam a profissionalização da função pública; a implantação de uma cultura de gestão da qualidade; a descentralização administrativa; a administração pública inclusiva e participativa; o direito público; as políticas no contexto de crise e ainda, a transparência e a prestação de contas. As temáticas da transpa-rência, participação social e o foco nos resultados apareceram como discussões centrais, nos diversos painéis, demonstrando que a ques-tão democrática e a da eficiência se apresentam como temas basilares na gestão pública atual.

A participação de estudantes e agentes públicos de diversos paí-ses fez do evento uma oportunidade ímpar de troca de experiências e de discussão sobre temas complexos, como a questão da meritocracia, dis-cutida em vários painéis, bem como as experiências de políticas des-centralizadas, situação comum às repúblicas federalistas como o Brasil, e que foi objeto de várias discussões.

Do Brasil, foram apresenta-dos painéis de vários ministérios do Executivo federal, bem como expe-riências de governos estaduais e municipais e de estudiosos da aca-demia sobre o assunto, incluindo panelistas brasileiros com aqueles oriundos de outros países, em uma salutar troca de experiência.

O acolhimento e a organização marcaram o XVII Congresso CLAD,

a transversalidade de temas rezou a discussão nos painéis. Mas, acima de tudo, ficou a certeza da importância de eventos como esse para discu-tirmos entre os vizinhos a gestão pública e os seus desafios.

O próximo Congresso CLAD será na cidade de Montevidéu, no Uru-guai, e aguarda a presença, como panelistas ou participantes, daqueles

que se interessam por fazer e estudar a gestão pública em todas as suas ver-tentes, apresentando-se como espaço de excelência para divulgação e troca de ideias.

DEPOiMENTOS DE BRASiLEiROS Karla Borges, ouvidora-

-geral do município de Salvador: “O CLAD nos oportuniza tomar

ProfissionalismoO CLAD foi um exemplo de organização que surpreendeu positivamente os

participantes. Copos de papel prezando a sustentabilidade, solícitos monitores orientando e apoiando os congressistas. Entretanto, o ponto digno de nota foi a cerimônia de abertura, na noite de 30/10, com os 1800 participantes reunidos no auditório principal. Antes da fala de qualquer autoridade, um senhor bem vestido aproximou-se do microfone e de forma clara e pausada, dirigiu-se ao público presente explicando a todos os presentes como eles deveriam agir no caso de um sinistro, apontando as regras de conduta, as saídas de emergência etc. Um exemplo concreto de profissionalismo e seriedade na organização do evento e que deve servir de norte para a administração pública de todos os países.

Delegações de 27 países representantes de todos os continentes prestigiaram o congresso

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conhecimento de práticas exito-sas que estão sendo aplicadas nas diversas administrações públicas dos países participantes, possibili-tando-nos compartilhar e discutir experiências de forma conjunta.”

Mylena Correa, servidora da Agência Nacional de Energia Elé-trica (Aneel): “De modo geral, achei a infraestrutura boa, a organiza-ção satisfatória, local adequado e as cadeiras confortáveis.”

Wagner Rosa, servidor da Secre-taria Federal de Controle Interno da CGU: “O CLAD, por sua experiência em realização de eventos internacio-nais, é bastante organizado, desde a confirmação da inscrição (neste ano houve inovação, com indicação de código de barras para quem já havia feito o pagamento, agilizando o processo), pessoal de apoio para informações (salas, horários, temas de cada painel), disponibilização de recursos técnicos (recursos de mídia, microfones), cumprimento rigoroso de horários das apresentações (início e duração), além de stands de promo-tores (revistas técnicas, consultorias, divulgações turísticas), coffee breaks, pôsteres de divulgação institucio-nal, até o permanente cuidado com a segurança. Merece destaque especial as informações sobre procedimentos de emergência, apresentados logo no início da Conferência de Inaugura-ção. “

Maria de Fátima Ferreira, da Secretaria de Fazenda do Estado de SP: “Entendo como oportunidade única de interagir com os colegas de governo dos países ibero-america-nos e de compartilhar as iniciativas que colaboraram para o desenvolvi-mento da administração pública em um espaço democrático de exposição de ideias.” n

sobre o clad O Centro Latino-Americano para o Desenvolvimento da Administra-

ção, o CLAD, é um organismo internacional criado em 1972 sob a ini-ciativa dos governos do México, Peru e Venezuela. Sediado em Caracas, capital da República Bolivariana da Venezuela, teve sua criação apoiada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (Resolução 2845 - XXVI), visando criar uma entidade regional que tivesse no cora-ção da sua atividade a modernização das administrações públicas, um fator estratégico no processo de desenvolvimento econômico e social.

A missão do CLAD é promover a discussão, troca de experiências e conhecimentos sobre a reforma do Estado e a modernização da admi-nistração pública, em especial por meio da organização de reuniões in-ternacionais especializadas, a publicação de obras, fornecimento de do-cumentação e serviços de informação, estudos, pesquisas e, ainda, pela implementação de cooperação técnica entre os seus países membros e de outras regiões.

O CLAD é uma referência internacional necessária nas áreas de sua competência. Além disso, alcançou o reconhecimento entre os governos da América Latina. Ele também realiza pesquisas e capacitações em con-junto com diversas instituições governamentais e instituições cooperati-vas de pesquisa e ensino na Europa, nos EUA e no Canadá. Fonte: http://www.clad.org/

CUlTURA DA GESTãO

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cursos e eventos

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opinião

cLáuDio emereNciaNoProfessor da UFRN

Além do horizonteO s sonhos e as fantasias da infância não se per-

dem. Não se degradam. Tampouco se desfazem ante o ímpeto e a voracidade do fluxo da vida.

Especialmente em circunstâncias inesperadas, imprevisí-veis, tortuosas, sofridas, injustas, tristes e impiedosas. A infância, usufruída ou desejada, perdida ou imaginada, será sempre uma espécie de porto seguro, uma terra, um oásis, um lugar de felicidade e encantamento além do horizonte. Eis um enigma que esconde, em seu conte-údo e substância, o contraponto entre a simplicidade e a complexidade, o visível e o desconhecido, o que foi e o que será, a luminosidade da manhã e o esmaecer do crepúsculo. Os homens, ainda hoje, em todos os lugares, têm sede dessa água, que brota de uma fonte inesgotá-vel: as lembranças mais puras e preciosas da infância. Eis por que tantos e tantos morrem dessa sede, que instiga, impulsiona e realimenta a dureza nos corações. O ódio, a violência, a crueldade, o desamor, a estupidez e a indife-rença são manifestações da maior de todas as deserções e perdas: a grandeza da condição humana. É uma espécie de abdicação espiritual, que se difunde, em nossos dias, em escala planetária. Sonega às novas gerações, garro-teadas pela internet e pela globalização, os caminhos da reflexão e do exercício individual do livre arbítrio. Tenta inocular nas pessoas um individualismo, que emerge de supostas impotência e incapacidade de cada um para resolver questões urgentes e coletivas. Fomenta um alhe-amento, que realimenta o imobilismo, a incompetência e a ineficácia governamentais. Destrói a perspectiva do amanhã.

O mundo não pode girar em torno do deus dinheiro, do frenesi de negócios, lucros e rentabilidade, renegando e revogando a ética, a moral e a justiça. Essa talvez seja a fonte original de todos os conflitos, inclusive daque-les que invocam razões étnicas e religiosas. O homem comum, hoje em dia, não se diferencia mais como anti-gamente. Pode estar num centro cosmopolita, ou numa pequena aldeia, perdida, longínqua, distante do fervilhar

das cidades. Pode ser um executivo, um servidor público, um operário, um agricultor, mas os sentimentos, as pre-ocupações e os questionamentos existenciais são os mesmos. Ninguém quer ver morrer a consciência das coisas essenciais, que dignificam e enobrecem cada um: amor, solidariedade, simplicidade, honradez, lealdade, sinceridade, fidelidade, paz, humildade e serenidade. Ninguém quer exilar-se de si mesmo. Perder a percepção do que é humano e permanente. Jamais abdicar a crença de que os sonhos, os ideais e a busca da felicidade movem a vida. Render-se à passividade alicerçada no indivi-dualismo, no medo, na insegurança, na indiferença, na subserviência, no interesse, na acomodação e na medio-cridade. Esse é o maior antagonismo à democracia em nossos dias. Alastra-se a ideia de que o cidadão é impo-tente para estancar e desmobilizar a erosão ética e moral, que fragiliza as instituições democráticas. Ledo engano. A participação consciente, contínua, inspirada no inte-resse coletivo, ainda é o maior antídoto às tentativas de cercear direitos, garantias e liberdades individuais. Essên-cia da civilização.

o mundo não pode girar em torno do deus dinheiro, do frenesi de negócios, lucros e rentabilidade, renegando e revogando a ética, a moral e a justiça

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O homem somente excede a si mesmo quando se despoja dos seus egoísmos. Pensa e age buscando a felici-dade ao servir. O serviço é um caminho através do qual a civilização avança, inspirada e reanimada por ações indi-viduais e coletivas. Não há anistia para o ódio, a violência, a injustiça, a desumanidade, a iniquidade e a infâ-mia como fins em si mesmos. Não há circunstância capaz de justificar ou legitimar a destruição dos verda-deiros valores humanos. Legado de todos os que, no passado, acredita-ram no amor, e os que, no presente, praticam-no e o exercitam como forma de viver. A vida não é estática, sempre igual e previsível. É incontro-lavelmente dinâmica. Seu ritmo se confunde com a evolução universal. Eis a síntese do poema da Criação: amar infinitamente. Desabrochar e renovar, contínua e eternamente, o amor.

O que define o essencial para o homem? A ques-tão nos remete ao mundo interior de cada um, à sua

fé, ou à sua concepção do mundo e da vida. Balzac, em sua monumental “Comédia Humana”, imerge nessa busca em conto ao mesmo tempo dramático e terno: “Jesus Cristo em Flandres”. Em poucas páginas, em

estilo original e primoroso, ainda atual, o enredo transcorre em con-texto peculiar: um grupo de pessoas de várias classes e profissões, num barco, a inquietação do mar, a imi-nência de tragédia, a morte e o castigo, a fé e a salvação, o sentido da vida. A mesma incursão literária na essencialidade da vida, também genial, encontra-se em dois outros contos: “O pequeno órfão ou o menininho na árvore de Natal de Cristo” de Fiódor Dostoievski e “O presente dos Magos” de O. Henry.

Os homens, diferentemente das aves do céu, voam com sonhos, questionamentos, laços e esperanças. Identifi-cam a substância da vida através da fé e do coração. Assim descortinam além do horizonte... n

“ OS hOMENS, DIFERENTEMENTE DAS AVES DO CéU, VOAM COM SONhOS, qUESTIONAMENTOS, lAçOS E ESPERANçAS”

olúcaro

90 Gestão Pública & Desenvolvimento - Novembro de 2012

AléM DO hORIZONTE

opinião

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Page 92: Gestão Pública e Desenvolvimento

Uma parceria pelageração de trabalhoe renda no país.

www.fbb.org.br/bndes-fbb

A Fundação Banco do Brasil e o BNDES

se uniram para promover o desenvolvimento

sustentável de comunidades rurais e urbanas

que vivem em situação de vulnerabilidade

econômica, por meio de programas

e tecnologias sociais voltados à geração

de trabalho e renda.

Em três anos, foram investidos

R$ 130 milhões, envolvendo mais

de 120 mil famílias no processo

de transformação social.