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Governança de Recursos Pesqueiros na Bacia do Rio Acre com Ênfase na Tríplice Fronteira (Brasil, Peru e Bolívia) Rodrigo Rodrigues de Freitas (UNICAMP) Biólogo, Mestre em Geografia e Doutorando em Ambiente e Sociedade [email protected] Vera Lucia Reis – Iniciativa MAP (Madre de Dios-PE, Acre-BR e Pando-BO) Doutora em Gestão de Recursos Hídricos [email protected] Marcelo Apel Filósofo e Educador Popular [email protected] Resumo O co-manejo adaptativo vem sendo considerado como uma estratégia apropriada para garantir a governança de recursos naturais no longo prazo. Durante o ano de 2009 foi realizado um diagnóstico dos recursos pesqueiros da Bacia do Rio Acre através de entrevistas semi- estruturadas, história oral e oficinas envolvendo representantes de organizações do Brasil, Peru e Bolívia. O recente conflito pelo comércio de uma espécie de peixe pouco apreciada no Brasil (Piranambu - Pinirampus pirinampu) é analisado do ponto de vista das macro-instituições que regulam a gestão dos recursos pesqueiros na Bacia Amazônica. As Colônias de Pesca demonstraram ser instituições pouco resilientes para responder às rápidas mudanças geradas pela construção da Rodovia do Pacífico que possibilitou a abertura de mercado com a cidade peruana de Puerto Maldonado. O sistema sócio-ecológico da pesca apresenta evidências de crise, a qual é condicionada pelo período duvidoso em que a política de seguro-defeso é concedida aos pescadores. Apesar do seguro-defeso corresponder ao período de desova da maior parte das espécies de peixes, este não é o período em que as presas estão mais vulneráveis. Por tratar-se de um afluente dos grandes rios amazônicos, o Rio Acre possui um regime fluviométrico caracterizado pelos extremos de variação de altura. Na estação seca o rio torna-se com profundidade tão rasa que as espécies de peixes grandes conseguem subi-lo para completar seu ciclo reprodutivo e, entretanto, esta é a época de maior atividade de pesca. Sugerem-se medidas urgentes e ações em longo prazo visando estabelecer sistema de co-manejo adaptativo. Palavras-chave Participação, Co-manejo adaptativo, Sistemas Sócio-Ecológicos, Instituições, etnoconhecimentos

Governança de Recursos Pesqueiros na Bacia do Rio Acre com ... · espécies de peixes, este não é o período em que as presas estão mais vulneráveis. Por tratar-se de um afluente

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Governança de Recursos Pesqueiros na Bacia do Rio Acre com Ênfase

na Tríplice Fronteira (Brasil, Peru e Bolívia)

Rodrigo Rodrigues de Freitas (UNICAMP)

Biólogo, Mestre em Geografia e Doutorando em Ambiente e Sociedade

[email protected]

Vera Lucia Reis – Iniciativa MAP (Madre de Dios-PE, Acre-BR e Pando-BO)

Doutora em Gestão de Recursos Hídricos

[email protected]

Marcelo Apel

Filósofo e Educador Popular

[email protected]

Resumo

O co-manejo adaptativo vem sendo considerado como uma estratégia apropriada para garantir a

governança de recursos naturais no longo prazo. Durante o ano de 2009 foi realizado um

diagnóstico dos recursos pesqueiros da Bacia do Rio Acre através de entrevistas semi-

estruturadas, história oral e oficinas envolvendo representantes de organizações do Brasil, Peru e

Bolívia. O recente conflito pelo comércio de uma espécie de peixe pouco apreciada no Brasil

(Piranambu - Pinirampus pirinampu) é analisado do ponto de vista das macro-instituições que

regulam a gestão dos recursos pesqueiros na Bacia Amazônica. As Colônias de Pesca

demonstraram ser instituições pouco resilientes para responder às rápidas mudanças geradas pela

construção da Rodovia do Pacífico que possibilitou a abertura de mercado com a cidade peruana

de Puerto Maldonado. O sistema sócio-ecológico da pesca apresenta evidências de crise, a qual é

condicionada pelo período duvidoso em que a política de seguro-defeso é concedida aos

pescadores. Apesar do seguro-defeso corresponder ao período de desova da maior parte das

espécies de peixes, este não é o período em que as presas estão mais vulneráveis. Por tratar-se de

um afluente dos grandes rios amazônicos, o Rio Acre possui um regime fluviométrico caracterizado

pelos extremos de variação de altura. Na estação seca o rio torna-se com profundidade tão rasa

que as espécies de peixes grandes conseguem subi-lo para completar seu ciclo reprodutivo e,

entretanto, esta é a época de maior atividade de pesca. Sugerem-se medidas urgentes e ações em

longo prazo visando estabelecer sistema de co-manejo adaptativo.

Palavras-chave

Participação, Co-manejo adaptativo, Sistemas Sócio-Ecológicos, Instituições, etnoconhecimentos

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Introdução

Estratégias de manejo de recursos naturais baseadas em sistemas de comando-e-controle

vêm sendo questionadas desde a década de 80 (WALTERS, 1986) em função da complexidade

envolvida nas relações entre ambiente e sociedade (FOLKE et al. 1998). A governança de

recursos pesqueiros no contexto amazônico necessita de enfoques que privilegiem a

complexidade envolvida em lidar com elevada diversidade biológica e cultural, em um contexto de

rápidas (ARMITAGE et al., 2009) e recentes transformações sócio-culturais, sócio-econômicas e

nos ecossistemas. O co-manejo adaptativo tem recebido considerável atenção como uma

estratégia de governança inovativa para lidar com a complexidade dos sistemas-sócio ecológicos

(FOLKE et al. 2005; PLUMMER 2009). O co-manejo adaptativo (ARMITAGE et al. 2009) surge da

unificação dos enfoques de co-manejo (PINKERTON, 1989), que apregoa o compartilhamento de

poder e responsabilidade entre os usuários do recurso e o Estado ou outros grupos de interesse

(ARMITAGE et al. 2007), com a abordagem do manejo adaptativo dos recursos naturais

(HOLLING, 1973; WALTERS, 1986) que trata os sistemas de manejo como experimentos e as

políticas como hipóteses em face a inerente incerteza presente nos sistemas sócio-ecológicos

(SSE). A noção de SSE abandona as idéias de determinismo ambiental ou social e da

interdependência homem/natureza a favor de uma visão co-evolutiva (FOLKE et al. 1998) de um

sistema complexo adaptativo (OLSSON et al. 2004). SSE vem sendo tratados com enfoques

centrados na sua dinâmica, nas surpresas e nas incertezas (PLUMMER, 2009, FOLKE et al.

2007). A governança deste tipo de sistema requer tanto conhecimento científico, como o

conhecimento local (CASH et al., 2006), o qual sempre foi utilizado como medida conservativa por

populações locais, como pescadores artesanais (JOHANNES, 1998; BERKES et al. 1995).

ARMITAGE et al. (2009) oferece um modelo de análise para o co-manejo adaptativo que é

baseado em temas-chave situados entre dois conjuntos de variáveis: I. Pensamento de sistemas

complexos, capacidade adaptativa e resiliência e aprendizado, conhecimento e capital social e; II.

Design institucional, parcerias e divisão de poder, implicações nas políticas e condições de

sucesso e falha. Esta abordagem será utilizada para a análise da pesca artesanal na Bacia do Rio

Acre (Estado do Acre, Brasil), com ênfase nos conflitos presentes na tríplice fronteira (Brasil, Peru

e Bolívia).

Situações de conflito no uso dos recursos pesqueiros na região da tríplice fronteira entre o

Estado do Acre (Brasil) e os Departamentos de Pando (Bolívia) e Madre de Dios (Peru) foram

relatadas pelo governo brasileiro (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade –

ICMBIO), imprensa e pescadores desde 2008. Nos últimos quatro anos, uma espécie de peixe

pouco apreciada no Brasil, o Piranambu (Pinirampus pirinampu), foi descoberto como ideal na

preparação de um prato tradicional no Peru, o ceviche, em função de possuir poucos espinhos e

de “pegar” o tempero. A relativa abundância da espécie no Rio Acre, aliado a facilidade de

captura e a abertura de mercado em Puerto Maldonado, induzida pela conclusão do asfaltamento

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do trecho Iñapari-Puerto Maldonado da Rodovia do Pacífico, seduziu os peruanos, a partir do final

de 2008, a praticarem a pesca desta espécie durante o Inverno Amazônico (Estação chuvosa).

Este período coincide com a época em que ocorre a maior quantidade de Piranambus e com a

suspensão da pesca no Brasil, pelo período de quatro meses (15 novembro a 15 de março), em

que é fornecido o seguro-defeso (IN 205/07 para o Rio Acre). Este contexto conduziu ao presente

estudo que evidenciou um agravamento na crise pela qual o sistema de gestão da pesca na Bacia

do Rio Acre está passando. São apresentadas características da dinâmica dos recursos e do

ecossistema, as percepções que os usuários possuem da situação do recurso, o perfil sócio-

econômico dos pescadores, os arranjos institucionais existentes e discutidos alternativas para a

crise no SSE baseado na análise histórica das mudanças na paisagem e nas percepções dos

usuários dos recursos pesqueiros.

Metodologia

A pesquisa foi baseada em entrevistas semi-estruturadas e oficinas tri-nacionais realizadas

no município de Iñapari (Peru). Utilizou-se a metodologia “bola de neve” e das oficinas tri-

nacionais para identificação de informantes em cada uma das comunidades e nos municípios

(BERNARD, 1995). Foram realizadas entrevistas informais e semi-estruturadas sem gravação e

com roteiros adaptados aos diferentes atores sociais da que atuam na pesca, sendo eles:

pescadores, comerciantes, consumidores, atravessadores e compradores. Dentre os

entrevistados presentes na Tabela I, os pescadores velhos foram os únicos que tiveram as

entrevistas gravadas, juntamente com os presidentes das Colônias de Pescadores de Boca do

Acre, Brasiléia, Porto Acre, Assis Brasil e Iñapari. Foram entrevistados seis atravessadores de

pescado. As entrevistas descritas como sendo realizadas em Assis Brasil foram, subindo o Rio

Acre a partir da cidade até a última aldeia do povo Jaminawa (Patos). No percurso foram

abordados pescadores brasileiros e peruanos, havendo dois casos em que foram realizados

“Grupos Focais” com o Povo Jaminawa na Aldeia Três Cachoeiras (Peru e Brasil) e na

Comunidad Nativa Bélgica (Peru).

Entre outubro e dezembro de 2009 foram realizadas 26 entrevistas semi-estruturadas

gravadas com pescadores velhos, através da metodologia da História Oral (BOSI, 1983;

THOMPSON, 1992) nas seguintes localidades: São Miguel, Colônia São Pedro, Bolpebra,

Colocação São Sebastião, Aldeia situada abaixo de Bolpebra, Aldeia Três Cachoeiras, Aldeia dos

Patos, Aldeia Ananá, Aldeia Apuí, Xapuri, Rio Branco e Brasiléia. Outras entrevistas semi-

estruturadas não gravadas foram realizadas no mesmo período, sendo para ambos aplicados pré-

testes para adequação do roteiro de entrevistas e posteriormente descartados. No geral foram

realizadas 49 entrevistas com pescadores do Rio Acre, sendo 55% pertencentes à região do

município de Assis Brasil.

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Os dados do trecho transfronteiriço (Alto Acre) foram analisados pela triangulação: (i) das

anotações de campo; (ii) das transcrições das entrevistas semi-estruturadas com as classes de

atores sociais estabelecidas; (iii) dos resultados do diagnóstico rápido participativo (grupo focal),

junto a Iniciativa MAP1 (Mini-MAP Bacias Hidrográficas); (iv) da análise estatística das entrevistas;

(v) de dados externos (documentos e literatura) e; (vi) visitas aos órgãos governamentais do

Brasil, Peru e Bolívia relacionados à pesca.

Tabela I – Amostragem das entrevistas por localidade.Instrumento amostral/Localidade

B. do Acre Rio Branco P. Acre Xapuri Brasiléia Assis Brasil Total

Entrevistas semi-estruturadas com pescadores

08 07 02 03 07 26 53

Entrevistas semi-estruturadas com consumidores

02 03 05 03 03 16

Entrevistas semi-estruturadas com comerciantes

03 01 04

Total 08 12 05 09 10 29 73

A Iniciativa MAP trata-se de um espaço interinstitucional com encontros regulares visando

estabelecer políticas públicas temáticas (Educação, Agrofloresta, Bacias Hidrográficas, Direitos

Humanos, etc.) na região de fronteira do Brasil (Acre), Bolívia (Pando) e Peru (Madre de Dios). As

oficinas tri-nacionais realizadas em Iñapari ocorreram no contexto no Mini-MAP Bacias

Hidrográficas. Participaram destas oficinas representantes governamentais do Peru e do Brasil

envolvidos com a gestão da pesca, representantes dos povos Jaminawas e Manchineris, da

Comunidad Nativa Bélgica (Peru), pesquisadores brasileiros e peruanos, representantes da

Colônia de Pescadores de Assis Brasil e da Associação de Pescadores de Iñapari e membros da

sociedade civil organizada da Bolívia. A metodologia destas oficinas consistiu em palestras de

representantes governamentais, trabalho em grupo para construção de mapas participativos e

levantamento dos principais problemas relativos a pesca na Bacia do Rio Acre.

Resultados

Características Geográficas, das dinâmicas ecossistêmicas e das técnicas de pesca

O Estado do Acre possui importantes afluentes da Bacia Amazônica, como os rios Juruá,

Tarauacá, Envira, Iaco, Purus e Acre, estando neste último concentrada a maior densidade

populacional, constituindo uma importante via de transporte de mercadorias para populações

ribeirinhas. A Bacia do Rio Acre situa-se na Amazônia sul-ocidental, compartilhada pelo

departamento peruano de Madre de Dios, os estados brasileiros do Acre e Amazonas e o

departamento boliviano de Pando (Figura 01) caracterizado por uma grande diversidade étnico-

1 Iniciativa MAP (Madre de Dios-PE, Acre-BR e Pando-BO) – processo de articulação de representantes de Governo, Instituições de

Ensino e pesquisa e Movimento social na fronteira Brasil, Bolívia e Peru, cujo movimento existe desde 1999.

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cultural e uma das áreas de maior biodiversidade do Planeta (SOUZA et al., 2003). Uma parte do

Acre forma o Corredor Biológico Oeste da Amazônia, considerado o de maior prioridade para a

conservação da biodiversidade e manutenção de serviços ambientais, havendo possibilidade de

integração com o Corredor Norte através do fortalecimento do Sistema Nacional de Unidades de

Conservação (SOUZA et al., 2003).

Em território acreano, a Bacia do Rio Acre é formada por 11 municípios, além do município

de Boca do Acre, no Estado do Amazonas. O Rio Acre nasce em território peruano, em cotas da

ordem de 400 m e corre na direção Oeste-Leste, deixando-o na altura do município de lñapari, e

segue fazendo fronteira com Brasil e Bolívia (ACRE, 2000, 2007). Percorre mais de 1.190 km

desde suas nascentes até a sua desembocadura, na margem direita do Rio Purus2. A topografia

da Bacia do Rio Acre caracteriza-se por apresentar valores de elevação entre 300 a 430 m,

próximo às cabeceiras e entre 150 a 300 m, a partir daí para a jusante (Acre, 2000; 2007). A rede

de drenagem da bacia hidrográfica do Rio Acre é caracterizada por Rios sinuosos e volumosos,

escoando suas águas no sentido Sudoeste a Nordeste, e, por estreitas planícies fluviais de

deposição de sedimentos retirados pela erosibilidade das águas sobre as margens (ACRE, 2000).

O período de “águas altas”, correspondente a estação chuvosa, ocorre entre Janeiro e

Maio e o de “águas baixas”, correspondente a estação seca, Junho a Dezembro. O trecho de

Boca do Acre a Rio Branco é navegável, tem 311 km de extensão e uma profundidade mínima de

0,80 m em 90% do percurso. O regime fluviométrico possui elevação máxima anual durante o

período das cheias, ocasião em que as águas ocupam toda faixa da planície fluvial. Essa

movimentação de descida e subida das águas obedece ao regime pluviométrico na bacia

hidrográfica (ACRE, 2000), cuja altura média da margem é de 12,90 m na Estação chuvosa e 1,90

m na Estação seca. O Rio Acre tem experimentado eventos extremos alternados com secas

severas e grandes inundações, provocando danos sociais e econômicos importantes na região.

Em 1997 as inundações chegaram a atingir o nível de 17,60 m. Em setembro de 2005 o nível

mínimo do rio Acre em Rio Branco foi 1,64 m e o máximo foi de 14,42 m em fevereiro, sendo estes

valores respectivamente, 1,95 m e 16,72 m no ano seguinte, dificultando a coleta de água para

tratamento e distribuição para a população de Rio Branco e gerando inundações responsáveis por

desabrigar milhares de famílias (ACRE, 2000.2007).

A bacia hidrográfica do Rio Acre apresenta diferentes usos e ocupação do solo, havendo

intensificação dos processos de desmatamento e queimadas, para implantação da pecuária e

agricultura. Esta bacia tem sido alvo de intensas transformações, com destaque para a construção

da Estrada Interoceânica, destinada ao escoamento dos produtos brasileiros para os mercados

internacionais, através dos portos peruanos, no Pacífico (BROWN et al., 2002). Até início da

2 Ministério dos Transportes ( http://www.transportes.gov.br/bit/hidro/detrioacre.htm)

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década de 80, os recursos pesqueiros em toda a Bacia do Rio Acre eram utilizados por uma

comunidade identificável de usuários que podiam excluir outros e regular o seu uso, ou seja,

tratava-se de um regime de apropriação de propriedade comum (BERKES, 1996). O crescimento

urbano do Vale do Acre iniciado a partir da década de 80 ocorreu de forma desordenada, que é

caracterizado pela falta de saneamento básico nas cidades, ocupação de Fundos de Vale e Áreas

de Proteção Permanente. As consequências para a pesca são desastrosas, uma vez que o Rio

Acre passa a receber a carga de poluição das cidades, o aumento da pesca comercial e as

margens de rios e igarapés passam por uma significativa erosão decorrente do desmatamento

que vem transformando a Floresta em pastagem para o gado. Associado a esse quadro, ocorre

um aumento na atividade de piscicultura, que contribui para a degradação dos sistemas aquáticos

pela formação de açudes para dessedentação animal, os quais muitas vezes são formados pela

barragem de igarapés e sobre olhos d´água.

Figura 01 – Bacia do Rio Acre. Fonte: Agência Nacional de Águas (ANA), 2009.

Com relação à dinâmica dos recursos pesqueiros, o fenômeno da piracema constitui a

principal oportunidade para a pesca. O período de piracemas está associado a estação seca

variando conforme o trecho do Rio Acre: de agosto a dezembro no Alto da Bacia do Rio Acre; de

julho a outubro em Porto Acre, que fica mais a jusante e; de junho a setembro em Boca do Acre.

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O mês considerado o melhor para a pesca no Rio Acre considerado por 17% dos pescadores foi

junho, porém a partir de abril até outubro, são meses propícios dependendo da altura do rio e da

espécie. As piracemas eram mais frequentes e mais sazonais para certas espécies no passado,

quando eram observadas espécies maiores, sendo atualmente o Mandim e o Curimatã mais

freqüentemente relatados.

Para os pescadores, os peixes não estão ovados na piracema, mas a realizam para

reproduzir a montante do rio, o que deve estar associado a necessidade de realizar o esforço

natatório contra a corrente para que ocorra a maturação das gônadas. A informação de que o

peixe capturado na migração está mais gordo pode estar associado ao processo de maturação

gonadal. A piracema é considerada pelos pescadores como uma migração, sendo a desova

denominada de arrojo. A desova ocorre no início da Estação chuvosa, a partir de Novembro até

Fevereiro, havendo relatos deste padrão ser alterado para certas espécies, como o Piranambu

que já foi encontrado ovado desde agosto até outubro.

A dinâmica do rio é acompanhada pelos pescadores que vivem em sua margem, uma vez

que 63% das residências ficam até 100 m da beira do Rio e 19% entre 100 e 200 m. Os

pescadores entendem a reprodução dos peixes como associado ao Lago, Rio, Igarapés e áreas

alagáveis da Floresta (denominadas localmente de Igapós) de acordo com a fase da vida em que

se encontram. Desta forma, regulam suas práticas de pesca e criam suas instituições em função

desta dinâmica. A Figura 02 ilustra a pesca em Boca do Acre, a qual não responde para todas as

espécies e ecossistemas associados a Bacia do Rio Acre. Durante os meses de Novembro até

Fevereiro, quando o Rio Purus tem pouco peixe e coincide com o período de defeso, o mercado

local de Boca do Acre é abastecido com a pesca no Lago Novo, um meandro abandonado do Rio

Purus, formado a cerca de 40 anos.

O ciclo reprodutivo da Curimatã e da Branquinha é relatado por um pescador: “ (...)

reproduz em água represada (...), quando o rio tá cheio que a água do Rio fica nivelada com a do

Lago, ele sai praquela represa, pros baixo e fica lá desovando. (...) O importante para essas

espécies se reproduzirem é aquele capim que tem no lago e a tranquilidade. Ele solta a ova e ela

fica grudada no capim (...) Alguns guardam os filhotes dentro da escama”. Segundo BARTHEM &

GOULDING (1997) “Muitas espécies comercialmente importantes têm complexos ciclos

migratórios e usam uma variedade de ambientes ao longo de suas vidas”.

Na maior parte dos casos (42%), a pescaria ocorre durante três ou mais dias de duração,

dois dias em 39% dos casos e apenas um dia em 19% (n=31). Em 33% dos casos, são realizadas

mais de 16 pescarias por mês, enquanto que 30% dos entrevistados pescam de um a três dias ao

mês. No Rio, o melhor local para pescar peixe grande são os poços e baixos, dependendo da

presa. Mais de 90% dos Pescadores utilizam tarrafa e linhada (Figura 03), que são característicos

da pesca de subsistência.

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Figura 02 – Dinâmica reprodutiva dos peixes em Boca do Acre segundo pescadores.

O Piranambu é um bagre e carnívoro, considerados topo de cadeia. “É especialmente

voraz, atacando peixes presos em malhadeiras. É oportunista e inclui diversos itens em sua dieta”

(FERREIRA, 1988). Segundo Eusébio Carpio Chavés (DIPRODUCE) o piranambu pode ser a

piracatinga (Calophysus macropterus) ou ambos tem sido vendidos como piranambu no Peru.

FERREIRA (op. cit.) descreve: “Do ponto de vista da dieta é uma espécie considerada oportunista,

ingerindo alimentos de origem animal e vegetal, além de carcaças de animais mortos. Causa

prejuízos à pesca comercial ao atacar peixes presos em malhadeiras, em cardumes mistos com

candirus. Em função dos hábitos alimentares, não é muito apreciado como alimento em muitas

áreas da Amazônia”. A técnica de pesca do Piranambu é realizada com o ubre da vaca (parte do

peito viscosa e dura), o qual é colocado na água por alguns minutos e em seguida retirado, onde

os peixes ficam aderidos, sendo colocados com a mão para dentro da canoa Também é

confeccionada uma armadilha com vísceras amarradas em um pedaço de pau.

A pesca com Tingui era praticada no passado pelos indígenas do alto rio Acre, sendo

referida como específica para duas espécies, o Bodó e a Piaba: “Tinha lugar que não podia botar,

para não morrer todos os peixes”. Outras duas artes de pesca associadas ao passado por estes

povos era a flecha (“Pegava Curimatã (...) Tambaqui, Surubim e Caparari na flechada”) e o

fisgador (arpão pequeno com um anzol na ponta) utilizado no mergulho em poços.

Apenas uma pequena fração da pesca no município de Boca do Acre (AM) ocorre no Rio

Acre, pois o Rio Purus é muito mais piscoso. A pesca no Rio Purus ocorre em embarcações

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maiores do que as do rio Acre, denominadas Baleieras, que ficam até 20 dias pescando, comporta

até 7 toneladas de peixe e leva sempre a “equipe” (canoas com motor de rabeta a reboque).

0 5 10 15 20 25

Tarrafa

Malhadeira

Espinhel

Anzol

Linhada

Figura 03 – Técnicas de pesca mais utilizadas pelos pescadores do Rio Acre (n = 45).

Percepção Ambiental dos Pescadores do Rio Acre

Apesar da carência de estudos para a Bacia do Rio Acre, SOUZA et al. (2003) indicam

haver pouco mais de uma centena de espécies de peixes. Os pescadores do Rio Acre entendem

que existe uma situação de crise na pesca (Tabela II) e de acordo com as entrevistas realizadas,

78% das espécies consumidas mudaram nos últimos 10 anos. Espécies de peixes grandes são

relatadas como inexistentes ou muito raras atualmente, sendo elas: Dourada, Jundiá, Jundiá-

Preto, Jundiá-Amarelo, Mapará, Surubim, Caparari, Caparari, Jaú (Jundiá de Escama), Filhote,

Peixe-lenha, Peixe-Coati, Pescada, Tambaqui, Pirapitinga e Matrinchã.

Tabela II – Opinião dos pescadores sobre a condição do Rio Acre em suprir a população de peixes (n amostral e porcentagem).

Condição Atual do Rio Acre Como era há 10 anos? Como estará daqui a 5 anos?

Péssima 11 26% 1 2% 13 32%

Ruim 10 23% 7 17% 11 27%

Regular 14 33% 3 7% 5 12%

Boa 7 16% 16 39% 10 24%

Ótima 1 2% 14 34% 2 5%

Total 43 100% 41 100% 41 100%

Para os pescadores, os peixes grandes não sobem mais o Rio para realizar a piracema

porque atualmente o Rio possui menos água e encontra-se mais raso. No passado, mesmo na

estação seca, segundo os entrevistados, haviam canais escavados pelos próprios peixes, jacarés,

tracajás e arraias para a migração (piracema) e passagem de canoas. Estas espécies também

10

escavavam poços que eram utilizados para abrigo e reprodução. A falta da água no Rio está

diretamente relacionado a escassez das espécies citadas, ao desmatamento, a colocação de

Malhadeiras na foz do Rio Acre, a proliferação de açudes, a elevada quantidade de pescadores

no Rio e ao uso de artes de pesca ilegais. Este contexto de ausência de direitos de propriedade

bem definidos, evidencia que o regime de apropriação (OSTROM, 1990; BROMLEY, 1992;

FEENY et al.1990) dos recursos pesqueiros realizado no Rio Acre encontra-se na situação de livre

acesso.

Nas oficinas tri-nacionais realizadas em Iñapari as espécies de peixes presentes no Alto

Rio Acre foram nomeadas em português, espanhol e sua taxonomia foi aplicada por especialistas

brasileiros e peruanos com auxílio de manuais (FERREIRA, 1988 e SANTOS, 2006), seguido da

situação da pesca (Muito Pouco, Pouco ou Muito) na percepção dos Povos Manchineri e

Jaminawa, dos Pescadores Brasileiros e dos Pescadores Peruanos e Bolivianos (Tabela III).

Tabela III – Situação da pesca segundo pescadores Manchineris, Jaminawa, Brasileiros, Peruanos e Bolivianos.

Situação da pesca Pescadores Espécies“pouco” ou “muito pouco” Todos Cachorra (Parauchenipterus galeatus), Cará (Geophagus

proximus e Acarichthys heckellii), Mandi mole (Pimelodus sp. –ocorre mais nos igarapés), Pescada (Pachypops spp. e Plagiooscion spp e Cynoscion), Peixe elétrico, Poraquê ou Enguia (Electrophorus electricus), Peixe-sabão (Crenicichlaspp.), Peixe moela, Piaba (Astyanax spp. pouco nos igarapés), Sarapó (Gymnotus carapo), Sardinha (Triportheus ssp. –ocorre mais nos igarapés), Tamuatá (só existe nos lagos) e Traíra (Hoplias gr. Malabaricus – ocorre mais nos lagos)

“pouco” ou “muito pouco” Manchineris, Jaminawas e Pescadores Peruanos e Bolivianos

Bodó-cavalo (Hypostomus emarginatus, Liposarcus pardallis), Cangati, Caparari (Pseudoplatystoma tigrinum), Curimatã (Prochilodus nigricans), Mapará (Hypophthalmus ssp.), Matrinchã (Brycon cephalus), Peixe-lenha (Sorubimichthys planiceps), Pirapitinga (Piaractus brachypomus), Piaba-pinta-do-cão, sem-sangue ou Mojara, Branquinha (Cyphocharax abramoides, Potamorhina ssp.,Steindachnerina cf. bimaculata e Curimata inornata), Mandi-Braço-de-Moça, Mandi-mandubé e Mandi-boca-aberta.

“pouco” ou “muito pouco” para dois grupos e “muito” para um

Pacu (Mylossoma spp, Myleus ssp., Metynnis ssp. e Catoprion mento), Cascudo (Psectrogaster ssp.), Jundiá-preto (Rhandia sp.), Mané-besta e Piau (Leporinus sp.). Algumas espécies como Cascudo, o Jundiá (Jaú - Rhandia sp.), Jundiá-bandeira (Camisa-de-meia - Rhandia sp.), Jundiá-preto, Jutubarana, Mandi (Clarias sp.), Mandi-olho-de-boi (Pimelodus sp.) e Piranambu (Pinirampus pirinampu)

“muito” Todos Cuiú (Oxydoras niger), Dourada (Brachyplathystoma flavicans – em janeiro), Piranha-preta (Pygocentrus natterei, Serrasalmus sp. – nos lagos), Piranha-vermelha (Pygocentrus natterei, Serrasalmus sp.), Surubim (Pseudoplatystoma ssp., Brachyplatystoma juruense – entre setembro e novembro), Cachimbo, Candirú, Mandi-chaú, Bico-de-pato e Arraia (Potamotrygon ssp.)

Sem informações Todos Piracatinga (Calophysus macropterus), Cubio, Cujuba, Jandiá (Leiarius marmoratus), Braço-de-moça e Acaratinga.

11

A espécie considerada mais abundante no Rio Acre é o Mandim com 46%, seguido do

Piranambu com 39% (Figura 04). Relatos de aumento na quantidade de peixes pequenos e de

Piranambu nos últimos 8 anos estão possivelmente associados tanto a abertura de mercado para

pesca de peixes pequenos, como a alteração nas redes tróficas do rio Acre. Na medida em que as

espécies de maior porte e os predadores (com exceção da espécie humana) que ocupam o topo

da pirâmide trófica têm suas populações suprimidas ou mantidas a níveis irrisórios, espera-se que

haja uma explosão demográfica das populações de pequenos peixes que estão na base.

0

5

10

15

20

25

Mandim Curimatã Piranambu Cachorra

Figura 04 – Espécies de peixes mais abundantes no Rio Acre segundo pescadores entrevistados (n = 46).

O Perfil do Pescador do Rio Acre

Pelo menos uma parte da vida dos entrevistados foi dedicada ao extrativismo da castanha

e da seringa, cujo modo de vida em colocações (ALMEIDA, 1990) é caracterizado pelo árduo

trabalho, em regime de escravidão. Quarenta e dois por cento dos pescadores entrevistados

recebem até R$ 300,00 (Figura 05) e em 7% entrevistas a água foi considerada péssima (n = 46).

As histórias de vida refletiram um elevado padrão de migração (100% deles nasceram em um

lugar diferente do que mora), relacionada ao extrativismo e à cultura de Povos Amazônicos.

Apenas 8% dos pescadores residem a mais de 30 anos no mesmo local, apesar de 91%

possuírem casa própria (n = 47). A média de filhos no Alto Rio Acre é maior do que na sede do

município, ficando em torno de 7 para os Pescadores Velhos e entre 1 a 3 filhos para 45% dos

demais. A maioria dos pescadores possui de 3 a 5 residentes por casa e cerca de 74% dos

entrevistados possuíam mais de um membro da família fora de casa. Com relação ao estado civil,

54% dos pescadores são casados e 27% amigados, sendo que 61% das esposas não declararam

renda nas entrevistas.

12

A maioria dos pescadores velhos nunca frequentou a escola em função da distância e/ou

da inexistência nos Seringais e entre os pescadores ativos, 67% possuem o fundamental

incompleto. A iniciação na pesca era aprendido pelos pais ou por outro adulto próximo a partir de

9 anos ou mais cedo no caso dos indígenas (6 anos), sendo realizado por observação, como a

agricultura e a caça. As pescarias são praticadas de forma acompanhada [46% (n = 37) são

realizadas com 3 a 4 pessoas] ou solitária. No passado, quando não havia motor, havia maior

exigência da pesca acompanhada com divisão de tarefas: o remador, o varejeiro e os pescadores.

Essa divisão de trabalho com os parceiros de pescaria nem sempre foi evidente, porém a divisão

dos peixes, normalmente, era igualitária. Cerca de 90% dos pescadores entrevistados possuem

canoa própria, sendo que 29% possuem mais de uma. As canoas de 9 m foram as mais

destacadas, chegando a 29%, seguido das canoas de 11 m (25%).

Não possui

até 300 reais

300 a 500 reais

500 a 700 reais

700 a 900 reais

900 a 1100 reais

1100 a 1300 reais

1300 a 1500 reais

acima de 1500 reais

Figura 05 – Distribuição de renda entre os pescadores do Rio Acre (n = 40).

A Comercialização do Pescado na Bacia do Rio Acre

Apesar da fartura da pesca no passado, não havia um mercado para o peixe. O papel da

pesca sempre esteve associado a uma atividade secundária, voltada para a subsistência e, em

certa medida, para a diversão. A impossibilidade de comercialização esteve associada tanto a

ausência de mercados, quanto a impossibilidade de o seringueiro lidar com o dinheiro. A maioria

(75%) dos fornecedores de peixe para o comércio de Rio Branco é de Boca do Acre. O

armazenamento do pescado é realizado em Balcão frigorífico (63%) e em isopor com gelo (38%),

sendo o gelo fundamental em 78% dos transportes de peixe realizados. O método de salga para a

conservação do pescado permanece relevante, correspondendo a 40% dos casos em

13

contraposição ao gelo que representa 60% (n = 42). Dos comerciantes visitados, 88% declaram

receber inspeção frequentemente, na maioria dos casos (86%) da Vigilância Sanitária.

A maior parte do peixe é vendido para o atravessador (67%), sendo somente 29%

comercializado diretamente com o consumidor final (n=24). Mesmo assim, 42% dos pescadores

consideram “razoável”, 25% consideram “bom” e somente 21% consideram “pouco” o valor

recebido pelo pescado (n=24). Algumas espécies, como o Tambaqui e Curimatã diminuíram seu

preço nos últimos dois a três anos em função da concorrência gerada pelo aumento de açudes

produtivos. O consumidor de pescado é um público em geral de baixa renda, sendo que 53%

declararam receber até R$ 300,00. O Tambaqui lidera com 53% da preferência do consumo de

peixe, seguido pelo Curimatã, Jundiá e Mandim com 13%. Em 69% dos casos o peixe é

eviscerado em casa. Houve um presidente da Colônia de Pescadores e 31% (n = 39) dos

pescadores entrevistados alegam ter havido mudança no sabor do peixe.

O Piranambu pescado em Brasiléia e Xapuri é levado para venda em Assis Brasil. A

Associação de Pescadores de Iñapari, composta por nove Pescadores, foi fundada a dois anos

em função da oportunidade de mercado de Piranambu com Puerto Maldonado. Este comércio

movimenta até 20 toneladas/mês o que corresponde a um ingresso de R$ 76.000,00 para a

economia local dos setores populares onde estão envolvidas cerca de 20 famílias. São vendidas

cerca de 20 toneladas por mês, as quais são divididas entre o Atravessador e o dono de açude no

Peru que compra Piranambu no Brasil. A cada quilo de Piranambu vendido (R$ 3,80) fica R$ 0,50

para a Associação de Pescadores de Iñapari, a qual se relaciona com o DIRPRODUCE (Ministério

da Produção), com Sede em Puerto Maldonado. O Piranambu é comprado o ano todo, sendo

cerca de 90% consumido em Puerto Maldonado, enquanto os outros 10% são exportados para

uma fábrica boliviana de enlatado de La Paz. Estima-se que 95% do peixe comprado pelo

Atravessador seja Piranambu, sendo pagos R$ 3,80/Kg (há dois anos era vendido a R$ 5,00/Kg).

Uma vez que o Piranambu não existe mercado no Brasil, o atravessador sempre

encomenda o pescado para garantir a compra com um Agenciador. O Agenciador do

Atravessador realiza a compra direta do peixe com o pescador e recebe R$ 0,12/Kg. Alguns

pescadores de Assis Brasil chegam a comprar e pescar Piranambu em Rio Branco para vender ao

Agenciador. O Piranambu que o Atravessador negocia ao longo da viagem para Puerto

Maldonado é vendido para revendedores entre R$ 5,50/Kg a R$ 6,00/Kg, sendo vendido a R$

8,00/Kg em Restaurantes de Puerto Maldonado. A Vigilância Sanitária não está presente no Peru

e no Brasil e existem relatos de espécimes que apresentam uma mancha, sendo descartada certa

quantidade de peixe quando são encontradas. No período de estudo não foi verificada fiscalização

sanitária ou tributária.

14

Arranjos Institucionais

O conceito de instituição é derivado de NORTH (1990), que compreende as restrições

humanamente inventadas que moldam as interações humanas e a maneira como as sociedades

evoluem ao longo do tempo. As instituições são formadas por restrições formais (normas, leis,

constituições), restrições informais (normas de comportamento, convenções e códigos de conduta

auto-impostos) e as características de seus mecanismos de cumprimento. Desta forma, as

instituições formam incentivos para troca humana, seja ela política, social ou econômica.

Instituições, assim como direitos de propriedade (a estrutura de direitos para recursos e as regras

sobre as quais esses direitos são exercidos) são mecanismos usados para controlar o uso do

ambiente e o comportamento em relação ao outro (BROMLEY, 1991). As normas formais relativas

a pesca nos três países (Tabela IV) passavam por um momento de instabilidade durante a

realização da pesquisa. No Brasil, a nova lei de pesca entrou em vigor em junho de 2009, dando

maior reconhecimento para o pescador artesanal. Após a aprovação da nova Constituição, a lei de

pesca na Bolívia está em fase de tramitação. Algumas normas informais foram espontaneamente

manifestas pelos pescadores, sendo que para a maioria dos pescadores de subsistência não

existem normas formais que limitem a pesca.

Tabela IV – Normas formais relativas à pesca na Bacia do Rio Acre no Peru, Brasil e Bolívia.Peru Brasil Bolívia

Lei Geral de Pesca 25977 e seu Regulamento DS. 012-2001; Lei Orgânica 26821; DS 016 – 2007 PRODUCE; Lei Orgânica dos Governos Regionais 26867; Lei 29338; Decreto Lei 27460; RM 219-2001 – PE

Portaria IBAMA nº 7 02/02/96; Portaria IBAMA nº 08/96; IN IBAMA nº 43, 26/06/04; Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; Decreto nº 6.514, de 22 DE Julho de 2008; IN IBAMA nº 156, 14/03/07; Portaria IBAMA nº 48, 05/11/07; IN IBAMA nº 205, 24/10/08; Lei nº 9433; Lei nº 11.959, 29/06/09; Portaria Interministerial MPA/MMA nº 2,13/11/09, Decreto nº 6.514, de 22/07/08

Constituição Política do Estado; Código Civil; Nº 1333 27-Abr-1992; Nº 1700 12-Jul-1996; Nº 1715 18-Out-1996; Nº 1777 17-Mar-1997; No. 2028 28 - Outubro – 1999; No. 2066 11-Abril-2000; Lei No. 2878 de 08-out-2004

Segundo a Lei 11.699/08 que dispõe sobre as Colônias de Pescadores, estas instituições,

assim como as Federações e Confederações, são consideradas como órgãos de classe dos

trabalhadores do setor artesanal da pesca, com forma e natureza jurídica própria, obedecendo ao

princípio da livre organização. Apesar de interagirem com diversas organizações em múltiplos

níveis, a noção de livre organização não é clara entre os presidentes de Colônia, ficando

extremamente vinculados a Federação e ao MPA (Ministério da Pesca e Aquicultura), e, em

alguns casos, considerando o IBAMA (Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis) como um problema. Muitas Colônias estão vinculadas a associações de piscicultura

e reclamam da burocracia dos órgãos ambientais para construção de açudes. Apesar de esta

atividade comprometer os afluentes, muitos presidentes consideram a solução para a crise da

pesca no rio Acre. Desta forma, as Colônias de Pesca parecem não apresentar atributos como

flexibilidade e adaptação para processos de co-manejo adaptativo (BERKES e FOLKE, 1998),

tendo o foco das suas ações voltadas para a garantia do seguro-defeso ao pescador.

15

Cerca de 81% dos entrevistados praticam pesca de subsistência e não recebem seguro-

defeso (n = 22), sendo que cada Colônia de Pescadores possui uma organização própria para

garantir o seguro-defeso ao pescador (Tabela V). Este seguro equivale a 04 salários-mínimos ao

ano (R$ 1.800,00). Todo o ano existe uma relação diferente dos peixes que são proibidos de

pescar durante o defeso, sendo desconhecida por parte das Colônias de Pescadores e dos

próprios pescadores.

Tabela V – Exigências das Colônias de Pescadores para retirada do seguro-defeso.Município Qtd. Mínima de

Notas Fiscais/mêsTotal ao ano

Valor por Nota Fiscal (R$) Total ao ano (R$)

Boca do Acre 01 08 15,00 120,00Rio Branco 07 56 10,00 560,00Porto Acre Não existe 04 10 40Brasiléia/Epitaciolândia 05 40 Cobra mensalidade de R$

15,00180,00

Assis Brasil 03 24 Cobra 5% por Nota Fiscal1. Variável1 Consta na Nota Fiscal o valor que o pescador recebe pelo peixe.

A pesca praticada pelos moradores localizados a montante da Tríplice Fronteira, na

Reserva Extrativista (RESEX) Chico Mendes, nas Terras Indígenas e na Comunidad Nativa

Bélgica (Peru) visa somente a subsistência e possui diferentes normas de uso de acordo com o

marco legal das Áreas Protegidas. Existe um conflito entre estes com os pescadores profissionais

(com carteira da Colônia de Pescadores) da sede do município de Assis Brasil e, em parte de

Iñapari, que visam a pesca comercial e são responsabilizados pela diminuição na quantidade de

peixe. Essa característica da subsistência dominou o discurso de alguns entrevistados, os quais

reivindicam de maior direito que o pescador comercial. Todas as vezes que uma Unidade de

Conservação restringe a pesca para os usuários externos principia-se um conflito envolvendo os

pescadores profissionais que reivindicam o direito de pescar em toda extensão do Rio. Este tipo

de conflito também foi verificado entre os Pescadores de Boca do Acre e moradores da RESEX

Arapixi (Rio Purus).

O conflito entre pescadores da sede do município, extrativistas e indígenas levou o

ICMBIO a intermediar uma negociação com os diferentes usuários ao longo dos anos de 2006 e

2007. Após diversas oficinas realizadas com cada ator específico e com todos os atores reunidos,

o processo resultou na Instrução Normativa (IN) 156/07. Ela estabelece exclusividade sobre a

pesca aos indígenas na área da Terra Indígena (TI) e aos extrativistas na área da RESEX,

restando aos pescadores profissionais o trecho do Rio Acre a jusante da RESEX. Os pescadores

profissionais, porém, não reconhecem o Acordo de Pesca existente na área da RESEX e nas TI´s,

pois alegam que: “os índios e extrativistas vem pescar aqui e nós não podemos pescar lá?”.

O Piranambu é pescado durante 4 meses do ano (Novembro a Março), os quais coincidem

ao período do defeso no Brasil, sendo que a partir de abril “o rio começa a descer e os peixes

voltam”. Os pescadores peruanos de Piranambu consideram impossível fazer um acordo visando

instituir o defeso (veda) em seu país no mesmo período do Brasil, pois este corresponde ao único

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período do ano em que eles pescam. Assim, do ponto de vista dos pescadores de Piranambu

peruanos, a situação deve permanecer como está, ou seja, os peruanos pescando entre

Novembro e Março e brasileiros pescando o resto do ano. Em 2009 a ação do ICMBIO na

fiscalização da pesca foi acompanhada pela Polícia Federal e atualmente a problemática encontra

alternativas de resolução pela via diplomática. O conflito pela pesca comercial do Piranambu é

percebido pelos pescadores de Iñapari como abuso de autoridade dos órgãos de fiscalização

brasileira e assimetria nas relações de tributárias de fronteira. Uma vez que o rio é compartilhado

entre brasileiros e peruanos, e a legislação peruana não os proíbe de pescar durante o período do

defeso brasileiro e os pescadores peruanos não estão sujeitos a fiscalização brasileira. Os

pescadores peruanos também reclamam dos controles aos quais estão submetidos pela aduana e

Polícia peruana em relação aos documentos e a quantidade de peixe, não existindo igualdade de

tratamento pelo governo brasileiro aos seus pescadores.

Do ponto de vista dos pescadores brasileiros, o Piranambu representa garantia de venda,

enquanto que o peixe capturado o restante do ano é obtido através de um esforço que muitas

vezes não paga a despesa da pescaria. Além disso, os pescadores brasileiros se consideram

melhores do que os peruanos por ficarem mais tempo no rio pescando. Esta situação de crise

para o enfoque do co-manejo adaptativo representa uma oportunidade de responder com

estratégias apropriadas aos feedbacks do SSE (GUNDERSON e HOLLING, 2002). A

manutenção do modelo convencional do paradigma de comando-e-controle traduzido em normas

regionais generalizantes executadas por instituições locais comprometidas com o seguro-defeso

conduziu o sistema a um estado indesejável pelos usuários dos recursos pesqueiros. O conflito da

pesca do Piranambu pode ser compreendido como a evidência do sintoma que encontra suas

causas e as alternativas para seu enfrentamento em um problema estrutural do sistema “top

down” de manejo que estabelece um período único do seguro-defeso para toda a Bacia

Amazônica.

Segundo muitos pescadores, o principal responsável pela eliminação dos peixes grandes,

da arraia, do jacaré e do tracajá no Rio, foi a época do defeso no período errado. O defeso na

Estação chuvosa foi estabelecido em virtude de corresponder ao período de desova da maioria

das espécies de peixes da Bacia Amazônica, inclusive do Rio Acre. Na Estação seca o acesso

aos poços e pausadas, para captura através do uso do cerco com malhadeiras, é extremamente

predatória pelo fato das presas encontrarem-se mais vulneráveis e compromete as raras espécies

de maior porte: “Quando a gente pisa na pausada, a gente sabe se tem peixe no meio”. Assim,

visando conduzir o SSE para um estágio desejável de conservação dos recursos pesqueiros,

cabem os seguintes questionamentos: Qual o melhor período do ano para haver uma interrupção

da atividade de pesca? A época em que os peixes são mais facilmente capturados ou a época em

que eles estão desovando? Um processo auto-organizativo que promova o desenvolvimento do

co-manejo adaptativo deve ser facilitado por regras e incentivos de altos níveis que tenham o

17

potencial para expandir domínios de estabilidade desejáveis a uma região e tornem os SSE mais

robustos para mudança (OLSSON et. al. 2004). A pesquisa indicou que deveria haver um ajuste

na escala (FOLKE et al. 2008) do critério utilizado para o defeso no Rio Acre. Além do período

reprodutivo das espécies (estação chuvosa), onde a pesca é menos seletiva e as espécies estão

desovando, deveria ser considerado o período em que o peixe é mais facilmente capturado e em

que existe o maior número de piracemas (estação seca). Segundo RUFFINO (2005): “A criação

de regras para o uso dos recursos pesqueiros não depende apenas dos conhecimentos científicos

obtidos. Trata-se, sobretudo, da mediação de interesses econômicos, políticos e culturais”.

Considerações Finais

Estudos de caso indicam que o co-manejo adaptativo deve ser tratado como um processo

que envolve diversos grupos de interesse em uma construção que normalmente dura mais de dez

anos. Porém, a evidente crise indicada deve ser encarada com urgência para que sejam criadas

estratégias multi-institucionais visando adaptar-se e responder às mudanças no SSE. A excessiva

ênfase no seguro-defeso e na piscicultura conduziu a pesca artesanal no Rio Acre ao colapso de

seus estoques. É imprescindível que haja uma inversão no foco das ações, para que elas estejam

voltadas às questões-chave que garantam a resiliência das instituições e do ecossistema.

Como desdobramentos da pesquisa colaborativa, durante as duas oficinas foi construída

uma matriz contendo os principais problemas da pesca, as potencialidades, as soluções e as

ações necessárias. Os principais problemas levantados foram a escassez de peixes, o deterioro

do ecossistema, as políticas públicas, a organização social e a comercialização. A partir desta

matriz foi elaborada uma Proposta de Gestão Integrada da Pesca na Bacia do Rio Acre, a qual foi

apresentado ao Convênio de Cooperação Internacional para a Região MAP e entregue para o

Comitê de Fronteiras Assis Brasil (Brasil), Iñapari (Peru) e San Pedro de Bolpebra (Bolívia). Este

Comitê é composto pela representação das Prefeituras dos três municípios dos três países e com

interlocução direta junto ao Ministério das Relações Exteriores. Suas recomendações foram: (i)

Fazer um estudo sobre o critério para o defeso no Acre; (ii) fiscalização mais efetiva pela Marinha

do Brasil em Boca de Acre, para que não coloquem malhadeiras na desembocadura do Rio Acre;

(iii) Inspeção sanitária do pescado (peruano e/o brasileiro) que se comercializam no Peru; (iv)

Criação de uma estação de pesquisa e reprodução de Piranambu em sistemas controlados

(aqüicultura); (v) Efetividade da fiscalização através de auto-controle das organizações de

pescadores, aplicando multas aos sócios pelo não cumprimento das normas, e ação do IBAMA e

da Polícia Federal, e Instituições pertinentes, para infratores reconhecidos pelos usuários e; (vi)

Promover a implementação de normas sobre sanidade alimentar.

18

Agradecimentos

Somos gratos a Carla Guaitanele e Luis Felipe do ICMBIO pelo trabalho anterior com os

pescadores que resultou no Acordo de Pesca, ao atual gestor da ESEC Rio Acre, Lincoln

Schwarzbach pelo apoio prestado durante a execução do trabalho de campo, aos participantes

das oficinas, em especial a Evandro Câmara e Maira (IBAMA), Pepe (Herencia Bolívia), Jorge

Barras (Iñapari – Peru), Verônica e Eusébio (DIRPRODUCE – Peru), Manoel Araújo e Jairo (Assis

Brasil) e ao WWF-Brasil, pela colaboração financeira a Iniciativa MAP. Também somos gratos a

Francisco Alexandre Almeida (Xandão) e Machael Lima pelo apoio na coleta e digitalização dos

dados. Estendemos nosso agradecimento ao Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD), o qual financiou esta pesquisa.

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