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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS LINHA DE ESTUDOS EPISTEMOLÓGICOS E DIDÁTICA EM EDUCAÇÃO FÍSICA GRUPO DE PESQUISA EM LAZER E FORMAÇÃO DE PROFESSORES III SEMINÁRIO EMDEPISTEMOLOGIA E ETEORIAS DA EDUCAÇÃO Epistemologias e teorias do conhecimento na pesquisa em Educação e Educação Física: as reações aos pós-modernismos PROPOSTAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO FÍSICA: DEBATENDO A CONTEMPORANEIDADE EPISTEMOLOGICA INTRODUÇÃO Contextualizando o debate .....Será que se requer grande acuidade de espírito para se compreender que idéias, noções, concepções, numa palavra, a consciência do ser humano sofre modificações em função das mudanças que se operam nas condições concretas de sua existência material, em suas relações sociais, em sua vida social” (MARX E ENGELS. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo, Global, 1984. p. 34) O presente debate esta sendo travado no momento em que a humanidade, perplexa, se depara com mais uma das profundas crises do capital, que busca se recompor e obter, cada vez mais, exorbitantes taxas de lucro, baseado no roubo, legalmente estabelecido pela propriedade privada dos meios de produção da vida e pelo alienante trabalho assalariado subsumido ao capital - nova forma de escravidão - , no contexto do parasitário complexo econômico especulativo, que está aniquilando a humanidade (MARTINS, 1999). Portanto, não é pouca coisa situar o debate no contexto conjuntural e estrutural da crise para justificarmos a relevância das reações as teorias pós-modernas ao irracionalismo, aos ―giros‖ ou ―viradas‖ idealistas -, imposturas intelectuais e recuo teórico que vem desarmando a classe trabalhadora no campo e na cidade, contribuindo para a alienação e a contra-revolução. Ocorre no tempo histórico de levantes na América Latina - pátria mãe que já sofreu séculos de violência e dor como demonstra Salazar (2006) e que não deixou, um dia sequer, de lutar pela sua autonomia, independência e soberania perante os paises imperialistas. Dá-se no momento em que no continente Latino Americano movem-se as forças que querem ver suas reivindicações históricas atendidas, entre as quais, se destaca, o rompimento com o neo-colonialismo e com o avanço do imperialismo 1 . Dá-se no 1 Sobre a América Latina e o colonialismo ver mais in: GALEANO; Eduardo. As veias Abertas da América Latina. 8º Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1979. SALAZAR, Luis Suárez. Madre América: Un siglo de violencia y dolor (1898-1998).2º Ed. Editorial de Ciencias Sociales. Habana/Cuba, 2006. GARCIA MARQUES; Gabriel. Cem anos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS

LINHA DE ESTUDOS EPISTEMOLÓGICOS E DIDÁTICA EM EDUCAÇÃO

FÍSICA

GRUPO DE PESQUISA EM LAZER E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

III SEMINÁRIO EMDEPISTEMOLOGIA E ETEORIAS DA EDUCAÇÃO

Epistemologias e teorias do conhecimento na pesquisa em Educação e Educação

Física: as reações aos pós-modernismos

PROPOSTAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO FÍSICA: DEBATENDO A

CONTEMPORANEIDADE EPISTEMOLOGICA

INTRODUÇÃO – Contextualizando o debate

“.....Será que se requer grande acuidade de espírito para

se compreender que idéias, noções, concepções, numa

palavra, a consciência do ser humano sofre modificações

em função das mudanças que se operam nas condições

concretas de sua existência material, em suas relações

sociais, em sua vida social” (MARX E ENGELS.

Manifesto do Partido Comunista. São Paulo, Global,

1984. p. 34)

O presente debate esta sendo travado no momento em que a humanidade,

perplexa, se depara com mais uma das profundas crises do capital, que busca se

recompor e obter, cada vez mais, exorbitantes taxas de lucro, baseado no roubo,

legalmente estabelecido pela propriedade privada dos meios de produção da vida e

pelo alienante trabalho assalariado subsumido ao capital - nova forma de escravidão -

, no contexto do parasitário complexo econômico especulativo, que está aniquilando a

humanidade (MARTINS, 1999). Portanto, não é pouca coisa situar o debate no

contexto conjuntural e estrutural da crise para justificarmos a relevância das reações

as teorias pós-modernas – ao irracionalismo, aos ―giros‖ ou ―viradas‖ idealistas -,

imposturas intelectuais e recuo teórico que vem desarmando a classe trabalhadora no

campo e na cidade, contribuindo para a alienação e a contra-revolução. Ocorre no

tempo histórico de levantes na América Latina - pátria mãe que já sofreu séculos de

violência e dor como demonstra Salazar (2006) e que não deixou, um dia sequer, de

lutar pela sua autonomia, independência e soberania perante os paises imperialistas.

Dá-se no momento em que no continente Latino Americano movem-se as forças que

querem ver suas reivindicações históricas atendidas, entre as quais, se destaca, o

rompimento com o neo-colonialismo e com o avanço do imperialismo1. Dá-se no

1 Sobre a América Latina e o colonialismo ver mais in: GALEANO; Eduardo. As veias Abertas da América Latina.

8º Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1979. SALAZAR, Luis Suárez. Madre América: Un siglo de violencia y dolor

(1898-1998).2º Ed. Editorial de Ciencias Sociales. Habana/Cuba, 2006. GARCIA MARQUES; Gabriel. Cem anos

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momento em que os balanços e avaliações da educação demonstram que apesar dos

esforços empreendidos, sob o marco das políticas neoliberais, compensatórias, focais,

assistencialista a educação fracassou (MELO 2004). A universalização e a qualidade

do ensino básico e superior não foi atingida, bem como, a formação de professores

não atende as demandas nacionais. O Público está a perder, a mercadorização da

educação, ciência & tecnologia avançam. O debate se trava no momento em que se

constata que o padrão cultural esportivo da população brasileira não foi elevado e, a

democratização do esporte para todos não foi atingida. O evento acontece no

momento em que, ainda ecoa a voz de Che Guevara no Plenário das Nações Unidas,

bradando ―Já soou a última hora do colonialismo e milhões de habitantes da África,

Ásia, e América Latina levantam-se, buscando uma nova vida e impondo seu direito

irrestrito à autodeterminação e ao desenvolvimento independente de suas nações‖

(CHE, Assembléia da ONU, 1964). Momento em que ainda ecoa a voz de Josué de

Casto declarando ao receber um prêmio internacional, ―Eu, que recebi um prêmio

internacional de paz, penso que, infelizmente, não há outra solução que a violência

para América Latina. Cento e vinte milhões de crianças se agitam no centro desta

tormenta.‖ (Eduardo Galeano. Veias Abertas da América Latina. 1979, p. 15).

O debate tem sua localização especifica no interior do III Seminário de

Epistemologia e Teoria da Educação – EPISTED e o IV Colóquio de epistemologia –

GTT do CBCE. Esses dois eventos visam ―...sistematizar, analisar e socializar a

produção científica da área, assim como manter um permanente debate sobre a

problemática que a identifica...‖

Segundo os organizadores ―a reunião desses dois eventos se deve aos

indicadores advindos das 378 pesquisas defendidas na Faculdade de Educação da

UNICAMP sendo: 192 teses de doutorado e 186 dissertações (dezembro de 2005).

Desses 45 pesquisas são dedicadas à problemática da Educação Física, seja na

tentativa da fundamentação de uma filosofia da área ou da reflexão sobre a história da

Educação Física. Portanto temos um evento conjunto entre a área da epistemologia da

Educação Física e a linha de epistemologia e teorias da educação do grupo Paidéia da

FE/UNICAMP.

As temáticas delimitadas resultaram da consideração do que foi desenvolvido

no evento anterior a saber: as problemáticas filosóficas da Educação e da Educação

Física e sobre o debate das tendências epistemológicas e pedagógicas das pesquisas

atuais desenvolvidas nesses campos do conhecimento, particularmente o debate sobre

os ―giros epistemológicos‖ e suas repercussões na pesquisa educacional que foi

aprofundado em mesas redondas durante o XV Congresso Brasileiro de Ciências do

Esporte, realizado em Recife em setembro de 2007 onde foi sugerido a ampliação do

debate, considerando a sua relação com as teorias do conhecimento e os

desdobramentos na controvérsia epistemológica contemporânea entre modernidade e

pós-modernidade, assim como as reações à denominada ―virada lingüística‖. Estarei

me valendo, no inicio, do debate, desse aprofundamento para acrescer com as reações

ao pós-modernismo.

de solidão. São Paulo, Record, 2000.

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Os organizadores do evento apontam que ―As tentativas de aprofundamento

incluem um olhar crítico sobre as diversas ―viradas epistemológicas‖ (lingüística,

hermenêutica, pragmática e ontológica), uma retomada das teorias do conhecimento

que fundamentam as pesquisas em Educação e Educação Física, e uma atualização

das controvérsias em torno dos pós-modernismos‖, ponto que destacarei.

Abordarei a temática geral: “Epistemologias e teorias do conhecimento na

pesquisa em Educação e Educação Física: as reações aos pós-modernismos”

(conferência de abertura no dia 09/12/2008) considerando que existem estudos que

demonstram tendências hegemônicas claras ao idealismo na produção do

conhecimento na educação e na educação física (2007) e, considerando a ementa

proposta pela organização:

―A compreensão do debate sobre as novas correntes pós-

modernistas que vem influenciando a pesquisa em

Educação e Educação Física pode se orientar pelas reações

à ―virada linguística‖. Tais reações se expressam nas

viradas ―hermenêuticas‖, ―pragmática‖ e o resgate da

―ontologia‖ ou do real independente da consciência e da

linguagem. Tanto o debate como o sentido das diversas

reações devem ser ponderadas com as teorias de

conhecimento e as perspectivas histórico-sociais em

confronto. As ponderações e confrontos devem ser

explicitados, para os pesquisadores se apropriarem

criticamente de novas ferramentas de análise e/ou

superarem modismos, desvios e posturas ingênuas que

produzem dispersões e diluem a capacidade de

aprofundamento na compreensão das práticas pedagógicas

e os compromissos históricos dos educadores‖.

Apresento, portanto, uma delimitação do tema, para que não recaia sobre uma

única conferência, a grandiosidade das pretensões dos organizadores. Os

desdobramentos do tema central assumem, no conjunto a responsabilidade do

aprofundamento, destacando que os limites temporais e teóricos são muitos. Como

podemos verificar o tema central - Epistemologias e teorias do conhecimento na

pesquisa em Educação e Educação Física: as reações aos pós-modernismos serão

desdobradas durante o evento, no seguinte:

1. Pós-modernidade e teorias críticas (1a Mesa redonda dia 09/12/2008).

Ementa: Mesa que pretende discutir as reações aos pós-modernismos a partir das

teorias criticas. As teorias críticas, seus pressupostos e categorias (capacidade da

razão humana de compreender a realidade e a história, historicidade e totalidade)

são alvo do debate entre modernidade e pós-modernidade. Quais as contra-

argumentações em defesa da atualidade e vigência das concepções e categorias

dessas teorias críticas? De que forma essas controvérsias afetam os fundamentos

teóricos da pesquisa e das práticas pedagógicas em Educação e/ou em Educação

Física?

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2. Produção científica em Educação e Educação Física e o atual debate teórico-

metodológico (2a mesa redonda, dia 10/12/2008).

Ementa: A pesquisa em Educação e/ou Educação Física vem sendo influenciada,

particularmente, desde o começo do século, por novas correntes denominadas

genericamente de pós-modernas (pós-estruturalistas, neo-pragmatistas, pós-

criticas). Tais correntes são apenas modismos ou se constituem como uma das

tendências teórico-metodológicas? Como se caracterizam as pesquisas que

pretendem se aproximar dessas perspectivas? Como os pesquisadores vinculados a

outras abordagens reagem às novidades e a denominada ―crise dos paradigmas?‖

As tensões geradas podem se caracterizar como um debate entre diversas

abordagens teórico-metodológicas? Quais os pontos centrais desse debate?

3. Teorias e práticas pedagógicas e as controvérsias epistemológicas

contemporâneas (3a mesa redonda, 11/12/2008).

Ementa: As práticas e teorias pedagógicas não são alheias às influências do debate

contemporâneo entre modernidade e pós-modernidade. Quais os desdobramentos

dessa controvérsia no campo da educação? Como esse debate se apresenta na

apropriação ou não de referenciais teóricos e a utilização de categorias para a

compreensão das práticas no campo amplo da educação? Quais as interfaces

desse debate com as políticas sociais e educativas?

Para organizar o debate sobre as correntes pós-modernistas que vem influenciando

a pesquisa em Educação e Educação Física vou inicialmente tratar de localizar o que

são os ―giros‖ ou as ―viradas lingüísticas‖, a saber, a virada ―hermenêutica‖,

―pragmática‖ e o resgate da ―ontologia‖ ou do real independente da consciência e da

linguagem e, qual o sentido das diversas reações, a partir da ponderação das teorias

de conhecimento e as perspectivas histórico-sociais em confronto.

Vou explicitar, também, de forma sucinta o que é o irracionalismo, o pós-

modernismo, os ―giros‖ ou ―viradas‖ idealistas e as reações daí advindas,

questionando conceitos, explicitando interesses subjacentes a defesa da

irracionalidade, do subjetivismo, dos particularismos, e do fragmentarismo (

LOMBARDI, 2003) e, levantando hipóteses sobre o status da teorização na educação

no Brasil.

Considerando que a concepção materialista dialética da história é extremamente

atual vamos nos valer de categorias analíticas que explicitam, desvelam, explicam e

permitem a ação em um contexto de relações, nexos e determinações, para reagir ao

pós-moderniso enquanto uma corrente contra-revolucionaria. Segundo LOMBARDI,

(2003, IX) a categoria que mais bem expressa o conjunto de relações implicadas na

atual produção e reprodução da existência dos homens é o modo capitalista de

produção; a melhor categoria para expressar a atual fase das relações capitalistas

entre diferentes povos e nações certamente não é globalização, mas imperialismo; as

melhores categorias que expressam a forma de organização capitalista nesta fase não

são mercado ou concorrência mas concentração da produção é monopolização.

Ademais, a melhor categoria para expressar a essência do próprio capital que nesta

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atual fase domina e controla a própria acumulação é capital financeiro. Acrescento,

conforme Trotsky que a melhor categoria, decorrente da formação econômica atual, é

modo de vida,e por fim, a melhora categoria para discutir teoria do conhecimento é

organização do trabalho de produção da ciência.

As hipóteses a serem confrontadas no decorrer do texto são as seguintes:

1) prevalecem, hegemonicamente no Brasil, teorias reformistas, anti-

revolucionarias, tanto na produção do conhecimento quanto nos subsídios de

política pública nas áreas de educação, educação física e esporte o que pode

ser constatado nos aportes teóricos mencionados nos textos, relatórios,

projetos, programas e demais documentos, onde são silenciados os aspectos

referentes as leis gerais que regem o modo do capital organizar a vida; do

Estado burguês e da necessidade histórica de derrubá-lo, dos hábitos de vida

burguesa em família e a necessidade de destruí-los e, a estratégia e tática na

luta de classes para superação do capitalismo rumo ao comunismo.

2) é necessário avançar, reagir, resistir, por rupturas e saltos qualitativos, para

novas sínteses em patamares teórico-práticos mais elevados, superando os

desvios teóricos, rompendo ilusões, lutando contra o fitichismo, o

irracionalismo e o idealismo, buscando a referencia clássica marxista;

3) existem reações, sim, na luta concreta, que buscam construir e erguer outros

pilares para a produção do conhecimento científico e para a escolarização, e

esses pilares já podem ser reconhecidos e são: o combate ao irracionalismo,

ao pós-modernismo, aos ―giros‖ e ―viradas‖ idealistas, buscando consolidar

uma consistente base teórica marxista, avançar na consciência de classe, na

formação política e na organização revolucionária, como contra-ponto aos

pilares da educação defendidos pela UNESCO para o mundo.

4) ventos de esquerda ainda sopram na América Latina, contraditoriamente, e o

marxismo, enquanto filosofia, o materialismo histórico dialético enquanto

epistemologia e, o socialismo enquanto projeto histórico, estão recolocados

mais fortes do que nunca, pela sua aderência ao real, como referencia para

tratarmos da produção do conhecimento científico e das políticas públicas na

perspectiva do projeto histórico para além do capital.

As ponderações e confrontos entre correntes ―pós-modernistas‖ e as reações serão

explicitados, para que os pesquisadores não somente se apropriarem criticamente de

ferramentas de análise e/ou superarem modismos, desvios e posturas ingênuas que

produzem dispersões e diluem a capacidade de aprofundamento na compreensão das

práticas pedagógicas, como pretendem os organizadores dos eventos, mas, para que

sejam avaliadas as dramáticas conseqüências sociais de tais posições teóricas e mais,

para que se fortaleçam compromissos históricos dos pesquisadores e educadores com

a emancipação humana, a saber, com o projeto histórico comunista.

Enfim, a intenção pedagógica é contribuir reconhecendo onde estão se efetivando

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reações e ajustes de contas com o irracionalismo, o pós-modernismo, os ―giros‖ ou

―viradas‖ idealistas, ou seja com a tradição pós-moderna, para ao conhecê-la, romper

com ela, porque esse é um dos pré-requisitos para uma renovação da teoria

educacional e da teoria pedagógica no Brasil e na América Latina, hoje, na

perspectiva de enfrentar e superar o modo do capital organizar a vida e, com isso

avançar na construção do projeto histórico comunista. Contribuir para que a história

não se separe da teleologia.

Nos últimos 30 anos os movimentos de luta social no Brasil, de caráter

confrontacional aos pilares do capital, vem gritando alto e de bom tom - o capitalismo,

forma hegemônica de produção da vida esgotou suas possibilidades civilizatórias. ‖O

REI ESTA NU―2. Os movimentos ecológicos, feministas, pacifistas, de resistência e

reivindicatórios dos últimos trinta anos gritam isto também, apesar de todas as

formulações teóricas que afirmam ser relativa a verdade e, que tudo é um ponto de vista

e que a história está no fim e o que nos resta e encontrar a terceira via, um outro mundo

possível, ou seja, humanizar o capital.

Consoante com o historiador Eric Hobsbawm (2008)3, reafirmo conforme suas

palavras que:

É tempo de restabelecer a coalizão daqueles que desejam

ver na história uma pesquisa racional sobre o curso das

transformações humanas, contra aqueles que a deformam

sistematicamente com fins políticos e simultaneamente, de

modo mais geral, contra os relativistas e os pós-modernos

que se recusam a admitir que a história oferece essa possibilidade.

Essa possibilidade histórica é que a ciência seja efetivamente colocada a

serviço da humanidade, das transformações sociais, o que implica a revolução na

formação econômica. Isto exige um radical enfrentamento às teorias contra-

revolucionárias – o irracionalismo, o pós-modernismo, os ―giros‖ idealistas.

Identificá-las, combatê-las, superá-las em uma época de crise estrutural global do

capital, uma época histórica de transição da ordem social existente para uma

qualitativamente diferente não é pouca coisa. Tais características definidoras do

espaço histórico e social em que vivemos indicam o espaço e tempo nos quais os

desafios e tarefas cotidianas e históricas (HELLER; 2008) 4 estão colocadas.

I. OS GIROS OU O EMBATE ENTRE IDEALISMO E

MATERIALISMO?

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem

2 „ Aber er hat gar nichts an― sagte endlich ein Kleines kind....Aber er hat ja gar nichts an rief zuletz das ganze Volk.―

ANDERSEN; Hans Christian. „Der kaisers neue kleider― In: MÄRCHEN VON ANDERSEN.Belin:Germany

Droemersche Verlagsanstalt p. 89-93, 1934. 3 Ver mais In: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14924.

4 HELLER; Agnes. O Cotidiano e a História. São Paulo, Paz e Terra, 2008.

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como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua

escolha e sim sob aquelas com que se defrontam

diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A

tradição de todas as gerações mortas oprime como um

pesadelo o cérebro dos vivos.” MARX. In: O 18 Brumário

de Luís Bonaparte.

Para compreensão básica dos ―Giros‖ ou ―viradas‖ vou me valer de sínteses

apresentadas por Gamboa (2007)5 ressaltando que existem duas grandes

possibilidades históricas do ser humano conhecer o real, ou é pela via do idealismo,

que pressupõe a consciência, acima do real, pressupõe a existência de seres acima do

ser humano que criaram a natureza e os seres, que pressupõe o Absoluto ou, o

materialismo que pressupões as relações entre matéria e consciência, em tempos,

espaços e movimentos segundo leis e relações, nexos e determinações recíprocas,

concretas, da existência, no intercâmbio do ser humano com a natureza para manter a

vida, conhecer e constituir assim a história. Portanto, se fomos enquanto seres

humanos subsumidos por leis físicas e biológicas, a linha do tempo e da luta pela vida

permitiu saltos qualitativos e hoje prevalecem as leis sócio-históricas. Ressalto, ainda,

que esse embate que perpassa a história desde os pré-socráticos está recolocado no

momento em que verificamos o recuo da teoria (MORAES, 2003), no momento em

que constatamos o fracasso da Educação no Brasil (NEVES, 2005) e, no momento

em que a soberania da nação brasileira está ameaçada e a existência da própria

humanidade está em questão.

Vale ressaltar, ainda, que as formulações em torno dos ―giros‖, ou seja,

formulações para superar contradições teóricas localizadas em paradigmas e

abordagens anteriores, se dão durante o breve século vinte, um dos mais devastadores

e mortais séculos que a humanidade viveu comprovado nas duas grandes guerras

mundiais e seus mortíferos aparatos, entre os quais constam como política os regimes

fascista e nazista e as ditaduras de Estado e militar e, como arma, a bomba atômica

capaz de destruir o planeta, mas incapaz de reconstruí-lo uma única vez

(HOBSBAWM, 1995). 6 Nunca a ciência e a tecnologia evoluíram tanto e, nunca se

perdeu tanto a esperança e a perspectiva. Nunca a ciência e a tecnologia evoluíram

tanto, mas nunca foram tantos os que passam fome e sofrem de desnutrição, ou

morrem de doenças plenamente evitáveis, embora seja possível aumentar colheitas,

multiplicar alimentos e desenvolver novas vacinas, medicamentos e equipamentos

médicos. Nunca a ciência e a tecnologia evoluíram tanto, mas nunca a humanidade

5 Ver mais In:

http://www.cbce.org.br/cd/mesas/GTT%204%20Epistemologia%20MESA%20REDONDA%204%20Silvio%20Ga

mboa.pdf. Acesso 08 de dezembro as 15 horas. 6. Eric Hobsbawm no livro ―A Era dos extremos. O breve século XX: 194-1991‖ explica a trajetória da sociedade no

período compreendido entre os anos 1914 e 1991, marcado pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), seguida pela

Revolução Russa (1917), e pelos momento mais marcantes do capitalismo mundial, a quebra da bolsa de Nova

Iorque (1929), culminando na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), conflito que envolveu diretamente a quase

totalidade dos países. Período em que foram detonadas as duas primeiras bombas atômicas sobre Hiroxima e

Nagasaki.

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sofreu tanto os impactos das catástrofes da natureza – terremotos, maremotos,

furacões, e outras manifestações da natureza – apesar de existirem meios possíveis

tanto de prever, como de prevenir, quanto de enfrentar as adversidades. Não é de hoje

que o homem enfrenta o que é próprio do planeta terra, no entanto, a tecnologia para

a defesa das populações serve somente para poucos. Nunca a humanidade esteve tão

vulnerável a sofrer os impactos do sistema econômico, especulativo, parasitário, que

não poupa povos e nações. Nunca tivemos tantos conflitos bélicos em nosso planeta.

São mais de 75 conflitos bélicos. São aproximadamente mil bases militares instaladas

no mundo pelo império Norte Americano e seus aliados. E para nosso desassossego,

os Estados Unidos da América do Norte, além de sua profunda crise no setor

imobiliário que levou o governo a empregar, aproximadamente, 850 bilhões de

dólares, em um rombo financeiro de aproximadamente 3 trilhões, para ―salvar‖

especuladores, reativou a sua 4º Frota Naval que estava desativada há 58 anos, desde

a Segunda Guerra Mundial, com a alegação de monitorar os governos de esquerda da

América Latina, monitorar as riquezas da região.

No momento em que estão sendo levantadas as principais hipóteses do

esgotamento das teorias educacionais e pedagógicas nos encontramos para debater as

reações aos pós-modernismos. Uma teoria se esgota quando não explica e atua no

real (SOUZA, 1987). E entre as hipóteses do esgotamento da teoria constam às

formulações e explicações dos pós-modernos que silenciam sobre as leis gerais de

desenvolvimento da natureza e da sociedade, as leis gerais do capital, a natureza e o

combate aos Estado burguês e, silenciam sobre as táticas e estratégias da luta de

classes para transformar a atual formação econômica em uma nova e superior forma

de organizar os meios de produzir e reproduzir a vida.

Portanto, para criticarmos as teorias, fruto do trabalho humano no processo

sistemático e rigoroso de produção do conhecimento, é necessário resgatar o caráter

ontológico da produção do conhecimento e distinguir as formas em que se apresenta a

atividade produtiva do homem, para compreendermos o grau de alienação do

trabalho: trabalho em sua acepção geral - como ‗atividade produtiva‘: a

determinação ontológica fundamental da ‗humanidade‘[...]; e em sua acepção

particular, na forma de ‗divisão do trabalho‘ capitalista. É nesta última forma, que o

‗trabalho‘ é a base de toda a alienação. (MÉSZÁROS, 2006, p.78). (Grifos do

autor).

Mas afinal, o que impede o homem de realizar sua atividade produtiva de

forma não alienada, ou seja, o impede de satisfazer suas necessidades de forma

emancipada? Marx demonstrou em ―O Capital‖ que é a propriedade privada dos

meios de produção – o intercâmbio – e a divisão do trabalho. O homem, a partir

destas mediações, se aliena do próprio trabalho, de sua própria atividade

teleologicamente guiada; da matéria a que se aplica o trabalho, o objeto de trabalho;

bem como, dos instrumentos do trabalho (componentes do processo de trabalho).

Ocorre aqui uma ‗mediação da mediação‘, uma mediação historicamente específica,

no modo de produção do capital; mediação de segunda ordem - forma específica,

alienada, da mediação de primeira ordem, da automediação ontologicamente

fundamental do homem com a natureza (mediação de primeira ordem).

(MÉSZÁROS, 2006, p.78).

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Como referência para a elaboração do conhecimento científico partimos da

mediação de primeira ordem, o que implica considerar a forma com a qual os homens

produzem os bens necessários à vida, ou seja, considerar o trabalho enquanto a

atividade humana que transforma a natureza nos bens necessários à reprodução

social.

Portanto, o processo de que participam o homem e a natureza, Marx (1980)

denomina trabalho, isto é, o:

[...] processo em que o ser humano com sua própria

ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio

material com a natureza. Defronta-se com a natureza

como uma de suas forças. Põe em movimento as forças

naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos,

a fim de apropriar-se dos recursos da natureza,

imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando

assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao

mesmo tempo modifica sua própria natureza.

Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e

submete ao seu domínio o jogo das forças naturais.

Não se trata aqui das formas instintivas, animais de

trabalho. [...] (MARX, 1980, p. 202).

Para compreendermos, portanto, como se dão as mediações de segunda ordem

na produção científica, devemos considerar suas manifestações concretas: as

condições de vida da classe trabalhadora, que é a única capaz de produzir a riqueza

(material e espiritual), e que enfrenta, em sua atividade produtiva, dificuldades

extremas que a vem impedindo de garantir a produção e reprodução da vida, isto

porque os trabalhadores produzem através de técnicas rudimentares, sem os meios de

produção adequados, sem financiamento, sem acesso às tecnologias, produzindo

pouco e se desgastando muito e ainda, porque as tecnologias disponíveis foram

desenvolvidas para uma produção na lógica capitalista, e portanto são destrutivas da

natureza. Os trabalhadores necessitam produzir sem se auto-destruir, destruindo a

natureza. No contexto da lógica do capital, o conhecimento cientifico que deveria ser

força produtiva, ideológica e política, converte-se em força destrutiva.

Diante desta situação, podemos identificar as fragilidades do modo de

produção em que estamos inseridos: a destruição e/ou a precarização da força

humana que trabalha e a degradação crescente do meio ambiente, na relação

metabólica entre homem, tecnologia e natureza7, e neste contexto, derrubar a tese de

que o que está alavancando a reestruturação produtiva é a ciência e a tecnologia. Isto

é uma ilusão. Bonotto (2005) contribui neste debate, apontando que, o fator real que

está alavancando a chamada reestruturação produtiva é o controle do trabalho por

parte do capital. Enquanto isso, os idealistas argumentam que vivemos na ―sociedade

do conhecimento‖, e que o simples acesso ao conhecimento garantiria o progresso, o

desenvolvimento, a empregabilidade. Segundo o autor, o que ocorre é a apropriação

7 MÉSZÁROS, 2002.

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privada do conhecimento cientifico e tecnológico e que as novas tecnologias não são

difundidas pelo fato de serem substancialmente novas, ou boas para as pessoas, e sim,

por permitir um controle ainda maior do processo produtivo pelo capital. Diante desta

problemática, nos coloca o seguinte desafio: há a possibilidade de implementação de

novos métodos produtivos a partir da dialética? A resposta dada pelo autor é a de

chamar a responsabilidade para os pesquisadores, ressaltando que o desenvolvimento

da dialética, a generalização dialética das lógicas não-clássicas e o acúmulo

científico dos trabalhadores indicam caminhos para a implementação de melhores

métodos produtivos. (Idem, p.72).

É preciso, portanto, compreender por que se nega o conhecimento e as

ferramentas, os instrumentos, para a produção do conhecimento cientifico? Porque

são necessários ao capital os desvios teóricos, as ilusões, os giros e viradas idealistas?

Entendemos que esses problemas, identificados na realidade, são produtos da

materialização das estratégias que o capital se vale para manter sua determinação

mais profunda8 que é a sua expansão e a acumulação, através da extração e

acumulação de trabalho excedente9, e o faz através da mediação do Estado e suas

medidas que aprofundam o acirramento da luta entre as classes. As mediações do

Estado se expressam nas reformas e nas novas leis decorrentes destas primeiras. Entre

elas destacamos a questão da educação via escolarização da classe trabalhadora e as

estratégias do capital para educar o consenso. Lucia Neves (2005)10

, demonstrou que

a ampliação do Estado Brasileiro a partir dos anos 1980, no contexto de

implementação e aprofundamento do modelo societário neoliberal, vem se dando por

meio de um programa político especifico – a Terceira Via que visa educar para o

consenso sobre os sentidos de democracia, cidadania, ética, participação adequados

aos interesses privados do grande capital nacional e internacional.

Estas mediações visam adequar, ideologicamente11

, as condições da produção

do conhecimento, desde os financiamentos concedidos, quanto ao tratamento dos

fenômenos da realidade, a partir de abordagens epistemológicas, que os isolam,

confundem, esvaziam o conteúdo do real concreto.

A ciência atrelada à tecnologia ocupa um importante papel no processo de

auto-reprodução do capital. Em um projeto societário de economia globalizada, onde

se reúne o grupo dos oito países mais desenvolvidos do mundo, de onde saem os

8 Mészáros, I. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. Campinas-SP: Boitempo Editorial & Editora da

Unicamp, 2002. p.100. 9 Sobre os conceitos de trabalho necessário e trabalho excedente, verificar capítulo V (Processo de trabalho e processo

de produzir mais valia) de Marx, Karl. O capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. 10

Lúcia Neves organizou um livro sobre a ―Nova Pedagogia da Hegemonia:estratégia do capital para educar o

consenso‖, após três anos de investigações do Coletivo de Estudos de Política Educacional da Universidade Federal

Fluminense (UFF). 11

Segundo Mészáros, as diferentes formas ideológicas de consciência social têm implicações práticas de longo alcance

em todas as suas variedades, na arte e na literatura, assim como na filosofia e na teoria social, independentemente de

sua vinculação sociopolítica a posições progressitas ou conservadoras. [...] . Como resultado de tais determinações

inerentemente práticas, as principais ideologias levam a marca muito importante da formação social cujas práticas

produtivas dominantes (como por exemplo, o horizonte de valores da empresa privada capitalista) elas adotam como

definitivo quadro de referência. (Mészáros, I. O Poder da Ideologia. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004). Ao

apontarmos esta compreensão, entendemos que o quadro de referência, no caso da ciência e tecnologia, vem sendo

cada vez mais a solução dos problemas da crise estrutural do capital (os quais, a princípio, não tem resolução), o que

vem significando, nas últimas décadas de forma intensa, a exploração e expropriação do trabalho e do trabalhador.

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marcos regulatórios sob os quais os demais países deverão organizar suas produções

deixam muito evidentes as relações, nexos e determinações. O historiador Osvaldo

Coggiola, denomina este fenômeno de alienação capitalista da ciência. Citando Paul

Forman, um dos principais historiadores da Física, aponta:

A ciência é cada vez mais ―uma empresa política e econômica‖.

Atualmente ―a ciência é valorizada simplesmente como um

componente da tecnologia, e esta não como um meio para fazer

ciência. A tecnologia se transforma no propósito da ciência,

estabelece seus objetivos e orienta sua atividade, não mais

concebida como dotada de seus próprios fins ou objetivos

intrínsecos, porque carente de uma concepção hierárquica de

conhecimento: a ciência é incapaz de criar seus próprios fins, a

tecnologia se converte no instrumento e objetivo indispensável

da atividade científica. (FORMAN apud COGGIOLA, 2005,

p.7).

A ciência voltada para o desenvolvimento das tecnologias, está cada vez mais

deixando de lado as necessidades humanas. Disso decorrem graves conseqüências, ou

seja, a relação que hominiza o homo sapiens sapiens – o trabalho -, vem sendo

destruída, precarizada, e junto a ela todos os bens construídos historicamente.

Assim, o conhecimento, na sociedade do capital, adquire força produtiva –

quando, o conhecimento produzido, incorporado aos processos produtivos, aumenta a

produtividade, o rendimento, a mais-valia, assegurando a acumulação do capital e as

condições que o perpetuam, contraditoriamente, também enquanto força destrutiva;

proporciona dominação política – quando incorporado à sociedade industrial, a

modernidade e a pós-modernidade, por uma política de racionalidade científico-

tecnológica assumida pelo Estado, determina condições de vida, processos de

trabalho, de acesso a bens culturais como educação, saúde, seguridade; e força

ideológica – quando se submete aos interesses da classe dominante, mediatizados

pelo Estado e expressos em leis, planos, diretrizes governamentais e administrativos.

(SOBRAL, 1986, p.287-305).

É, portanto, sob essa base concreta, real, do conhecimento científico, enquanto

necessidade humana vital que vamos enfrentar o desafio de estudar os giros ou a

virada lingüística para desmistificar as crenças e as ilusões na neutralidade cientifica

e sua expressão atual expressa na morte da razão.

O QUE SÃO OS “GIROS” OU A “VIRADA LINGUISTICA?”

“A finalidade científica e política que perseguimos nos

proíbe de dar uma definição acabada de um processo

inacabado. Ela nos impõe observar todas as fases do

fenômeno, de fazer aparecer as tendências progressistas e

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reacionárias, de revelar sua interação, de prever as

diversas variantes do desenvolvimento ulterior e de

encontrar nesta precisão um ponto de apoio para a ação”

(TROTSKY,1995) .12

O que são, portanto, os ―Giros‖ ou a ―virada lingüística?‖ São explicações

científicas sobre a ciência e a produção do conhecimento científico que implicam em

uma cosmovisões, em uma filosofia e estão ancorados em pressupostos ontológicos e

gnosiológicos.

Segundo Ghiraldelli (2008)13

A "virada linguística" ou linguistic turn é o nome adotado

para um novo rumo que a filosofia ganhou no século XX..

Segundo Paulo, com a filosofia, os gregos antigos

perguntavam sobre a realidade, os modernos, com

Descartes, passaram a perguntar sobre o conhecimento da

realidade e, assim, criaram a dualidade sujeito-objeto,

transformaram a filosofia em epistemologia (subjugando a

metafísica, a ontologia e a cosmologia (e a ética, estética

etc.) à teoria do conhecimento) e, enfim, criaram o

"método". Assim, a característica da história da filosofia,

guiada pelo pensamento moderno, é a de tomar a filosofia a

partir de dois núcleos: texto de epistemologia seguido de

texto de método. Os textos de epistemologia e de método

avançaram a ponto de ampliarem, em muito, o que hoje

chamamos de filosofia da mente. Tentando explicar o

funcionamento do aparato cognitivo e a verdade, os

filósofos chegaram a dois pontos: 1) o sujeito não é uma

unidade e, talvez, nem seja sujeito, talvez tenhamos de

manter a noção de mente e de individualidade, mas não

associá-la, mais, imediatamente, à noção de sujeito

moderno - ou abandonamos tal noção ou a reconstruímos;

2) a mente não consegue apontar para o real e explorar o

real sem a linguagem, pois esta não é apenas a expressão

de pensamentos e, sim, a maquinaria do próprio

pensamento e a única forma pela qual acessamos o

pensamento, nosso e de outrem. Este segundo ponto é o

centro da linguistic turn: os filósofos tenderam, então, a

centrar atenção na linguagem, em vários sentidos. A

filosofia da linguagem ganhou um impulso muito grande no

12 TROTSKY, Programa de Transição. São Paulo, Comissão de Formação, 1995. 55 ª Aniversário do assassinato de Trotsky e 100 ª Aniversário da

Morte de F. Engels. 13

http://ghiraldelli.multiply.com/journal/item/112 ver mais in:

http://portal.filosofia.pro.br/fotos/File/virada.pdf

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século XX e tende a chamar a atenção, ainda, como ponto

central, no século XXI.Essas duas conclusões fizeram a

ponte da filosofia moderna para a filosofia contemporânea.

Três são as principais frentes onde se deu o giro lingüístico:

1) O neopositivismo lógico ou empirismo lógico – Círculo de Viena – década de

20 do séc. XX – São representantes: Schlick, Carnap, Nagel, Morris, Quine,

Pierce, Frege e Wittgenstein (Tratactus). Sustentavam a idéia de que o

conhecimento pode ser obscurecido por perplexidades lingüísticas. Reduziam a

filosofia à epistemologia e esta à semiótica. A missão mais importante da

filosofia deveria ser realizada à margem de especulações metafísicas. Admite-

se três tipos de relações entre os signos: sintática, semântica e pragmática.

Buscam-se a construção de linguagens idéias.

2) A Filosofia de Wittgenstein – que em sua ―segunda fase‖ – a partir da obra

―Investigações Filosóficas‖ – rompe com sua obra anterior ―Tratactus14

‖.

Propunha a reformulação da teoria tradicional da semelhança entre linguagem

e mundo. Não existe o mundo em si, independente da linguagem, pois somente

temos o mundo na linguagem. Esta deixa de ser um instrumento de

comunicação do conhecimento e passa a ser condição de possibilidade para a

constituição do conhecimento. Não há essências. É impossível determinar a

significação das palavras sem uma consideração do contexto socioprático em

que são usadas. Tal contexto é contexto de ação.

3) O Desenvolvimento da filosofia da linguagem ordinária – Principais

representantes, Wittgenstein, Austin e Searle. A linguagem é vista como

instrumento de comunicação e dominação social. Consideração da dimensão

pragmática do discurso ligado a ações coletivas, intersubjetivas, mesclando

atos de linguagem e práticas. A linguagem é essencialmente ação social e

horizonte a partir de onde os indivíduos exprimem a realidade.

O giro lingüístico, segundo Gamboa (2007), generalizou-se no conjunto das

demais tradições filosóficas do século XX, tornando o tema da Linguagem comum à

reflexão de diferentes linhas das ciências humanas. Ainda segundo Gamboa (2007), o

debate epistemológico contemporâneo pode ser organizado com base nos ―giros‖ que

permite centralizar a controvérsia sobre as formas do conhecimento e do discurso

científico-filosófico, reconhecendo a importância das chamas abordagens pós-

modernas e as respostas que essas perspectivas vem gerando em outras abordagens

mais tradicionais como a hermenêutica15

, a pragmática16

e a dialética17

.

14

Inspirador central da teoria do positivismo lógico - a teoria verificacionista do significado.

15 O termo "hermenêutica" provém do verbo grego "hermēneuein" e significa "declarar", "anunciar", "interpretar",

"esclarecer" e, por último, "traduzir". Significa que alguma coisa é "tornada compreensível" ou "levada à compreensão".

Desde o os séculos XVII e XVIII o termo é utilizado no sentido de uma interpretação correta e objetiva da bíblia. Para

outros o termo "hermenêutica" deriva do grego "ermēneutikē" que significa "ciência", "técnica" que tem por objeto a

interpretação de textos religiosos ou filosóficos, especialmente das Sagradas Escrituras; "interpretação" do sentido das

palavras dos textos; "teoria", ciência voltada à interpretação dos signos de seu valor simbólico. Wilhelm Dilthey é o

primeiro a formular a dualidade de "ciências da natureza e ciências do espírito", que se distinguem por meio de um

método analítico esclarecedor e um procedimento de compreensão descritiva. Compreensão é apreensão de um sentido,

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A localização do debate dos ―Giros‖ ou ―Viradas‖ pode ser localizada na

fundamentação das tendências pós-modernas e pós-estruturalistas que incluem

correntes expressivas do meio educacional como as teorias pós-criticas e o neo-

pragmatismo.

Ainda segundo Gamboa (2007), o ―giro lingüístico‖ (linguistic turn) que se

fundamenta em autores como Saussure, Barthes, Derridá, Deleuze, White e LaCapra,

Foucault sustenta as seguintes teses entre outras:

•A linguagem carece de toda referência à realidade (Saussure); •Não existe

nada fora do texto (Barthes);

•O texto não guarda relação com o mundo exterior, não faz referência à

realidade, nem depende de seu autor. O texto também deve ser liberado do autor

(Foucault);

•Não existe unidade entre a palavra e a coisa à qual se refere. Existe um

infinito leque de significados sem um sentido claro (Derrida).;

•No texto as intenções do autor carecem de importância (White e La Capra);

e sentido é o que se apresenta à compreensão como conteúdo. Só podemos determinar a compreensão pelo sentido e o

sentido apenas pela compreensão. sentido bíblico. Para Heidegger, em sua análise da compreensão, diz que toda

compreensão apresenta uma "estrutura circular". "Toda interpretação, para produzir compreensão, deve já ter

compreendido o que vai interpretar. Para Paulo Ricoeur compreender um texto é encadear um novo discurso no

discurso do texto. Isto supõe que o texto seja aberto. Ler é apropriar-se do sentido do texto. De um lado não há reflexão

sem meditação sobre os signos; do outro, não há explicação sem a compreensão do mundo e de si mesmo.

16 Enquanto escola filosófica o pragmatismo tens suas origens nos Estados unidos da América, caracterizada pela

descrença no fatalismo pela certeza de que só a ação humana, movida pela inteligência e pela energia, pode alterar os

limites da condição humana. Inspirada em Ralph Waldo Emerson, seus fundadores foram Charles Sanders Peirce, com

seu artigo How to make our ideas clear, e Wiliam James, que retomou as idéias de Peirce, popularizando-as em sua

coletânea "O Pragmatismo". Segundo James e Francis Schaeffer, o Pragmatismo aborda o conceito de que o sentido de

tudo está na utilidade - ou efeito prático - que qualquer ato, objeto ou proposição possa ser capaz de gerar -

componentes vitais da verdade. Uma pessoa pragmática vive pela lógica de que as idéias e atos de qualquer pessoa

somente são verdadeiros se servem à solução imediata de seus problemas. Um dos expoentes dessa corrente é Richard

Rorty. Ver mais in: http://portal.filosofia.pro.br/fotos/File/virada.pdf e ainda, no texto de Paulo Ghiraldelli Jr. "Rorty: a

Andorinha Solitária que Faz Verão." Cult (Especial Filosofia), ano 8, número 97, novembro de 2005, páginas 58-61.

17 O conceito de dialética pode ser localizado em diferentes doutrinas filosóficas. Para Platão, a dialética é sinônimo de

filosofia, o método mais eficaz de aproximação entre as idéias particulares e as idéias universais ou puras. É a técnica

de perguntar, responder e refutar (Sócrates 470ª.C. – 399 a. C. Platão considera que apenas através do diálogo o filósofo

deve procurar atingir o verdadeiro conhecimento, partindo do mundo sensível e chegando ao mundo das idéias. Pela

decomposição e investigação racional de um conceito, chega-se a uma síntese, que também deve ser examinada, num

processo infinito que busca a verdade. Para Aristóteles a dialética é a lógica do provável, do processo racional que não

pode ser demonstrado. Para Immanuel Kant retomando a noção aristotélica define a dialética como a "lógica da

aparência". Para ele, a dialética é uma ilusão, pois baseia-se em princípios que são subjetivos. A dialética idealista e

materialista se distinguem a partir das contribuições de Hegel, Marx e Engels. Diferentemente do método causal, no

qual se estabelecem relações de causa e efeito entre os fatos o modo dialético busca elementos conflitantes entre dois ou

mais fatos para explicar uma nova situação decorrente desse conflito. Os elementos do esquema básico do método

dialético são a tese, antítese e a síntese. A tese é uma afirmação ou situação inicialmente dada. A antítese é uma

oposição à tese. Do conflito entre tese e antítese surge a síntese, que é uma situação nova que carrega dentro de si

elementos resultantes desse embate. A síntese, então, torna-se uma nova tese, que contrasta com uma nova antítese

gerando uma nova síntese, em um processo em cadeia infinito. A dialética hegeliana é idealista, aborda o movimento

do espírito. A dialética marxista é um método de análise da realidade, que vai do concreto ao abstrato e que oferece um

papel fundamental para o processo de abstração. Segundo Engels e Marx a dialética tem leis que se expressam na

natureza, na sociedade e no conhecimento e portanto, lógica, teoria do conhecimento e materialismo histórico dialético

são uma única coisa. Resumidamente estas leis são: ação recíproca, unidade polar ou "tudo se relaciona"; mudança

dialética, negação da negação ou "tudo se transforma"; passagem da quantidade à qualidade ou mudança qualitativa;

interpenetração dos contrários, contradição ou luta dos contrários.

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•A linguagem constitui em si mesma a única realidade existente, fundamentos

de todos os fenômenos sociais;

•Sujeito: Homem desaparece como fator ativo e com ele a intencionalidade

humana como elemento criador de significado (pós-humano);

•Objeto: o texto literário, histórico, científico (em si mesmo, sem o seu

referente original).

Muitas polêmicas foram levantadas a partir do ―giro lingüístico‖, que podem

ser identificadas segundo Gamboa (2006) como: ―giro hermenêutico‖ (Gadamer);

―giro pragmático‖ (Habermas); ―giro ontológico‖ (Escola de Budapeste). O ―giro

hermenéutico‖ defendido por Gadamer (1995) debate particularmente as teses de

Derrida e contra argumenta que ―a obra, literária, artística‖ nos diz algo atendendo a

sua própria intenção‖. ―a palavra, a frase, o discurso nos remete ao autor e a suas

intenções.(GADAMER, el giro hermenéutico, Madrid: Cátedra, 1995, p. 69) .

Ainda segundo Gamboa, a polêmica sobre os ―giros‖ continua com Habermas

que entra no debate de forma explicita nas obras como, ―Verdad e justificación‖

.(Madrid: Trotta, 2002), e La ética del discurso y la cuestión de la verdad (Buenos

Aires: Paidos, 2006). Habermas defende o ―Giro pragmático‖ apresentando a tradição

hermenêutica que vai desde Humboldt e Schleiermacher até Heidegger e Gadamer

(defensores do giro hermenêutico) como outra versão do giro lingüístico

(Wittgenstein, Derrida, Rorty). Tanto um como outro giro pretendem superar a

filosofia mentalista (o significado está na mente) com a filosofia lingüística (o

significado está na linguagem) e focalizando a linguagem desde perspectivas opostas

e utilizam meios distintos, ―por um lado, os instrumentos da análise lógica (semântica

formal) e por outro da semântica orientada ao conteúdo (holística)... mas, ignoram os

aspectos pragmáticos do diálogo... lócus da racionalidade comunicativa‖ (2006, p.

70) ―tais enfoques estão compromissados, de um modo ou outro com a prioridade da

semântica sobre a pragmática‖ (p. 71). Habermas, junto com Karl-Otto Apel propõem

uma ―pragmática do significado‖, entretanto assumem como desafio, a questão da

defesa do realismo (giro ontológico) depois do giro pragmático, já que ―...o giro

pragmático não deixa espaço para duvidar da existência de um mundo, que se

percebe independente das nossa descrições e como o mesmo para todos nós‖. (p. 74).

―E dependendo das linguagens teóricas que escolhamos, obteremos diferentes

descrições, as quais podem se referir, entretanto, as mesmas coisas. Em

conseqüência, o mundo deveria se conceber como a totalidade dos objetos, não dos

fatos, os quais dependem da linguagem. A este conceito semântico de mundo como

um sistema de referencias possíveis corresponde um conceito epistemológico de

mundo como a totalidade das coações implícitas impostas sobre nossas diversas

formas de conhecer o que sucede no mundo‖(P. 78).

Em seus estudos Gamboa (2006) demonstra ainda que ―além do desafio

assumido por Habermas e Apel, o giro ontológico também tem mais três outras

vertentes‖ a saber:

a) ―Ontologia do ser social‖ de Lukács e defendido pela escola de

Budapeste que prioriza o entender o mundo a explicá-lo ou

compreendê-lo. Conhecida como a teoria do reflexo Lukács defende

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que tanto o reflexo, científico, estético o literário, refletem a mesma

realidade objetiva (ontológica), independente da consciência situada

na base de toda obra (literária, científica, filosófica ou estética)

acentuando a unidade de identidade e diversidade nas categorias tanto

científica, filosóficas e estéticas. Gamboa demonstra também que

Mészáros (1993) reafirma o método dialético que considera a

existência de uma realidade (ontológica) passível de ser conhecida

através de diversas mediações determinadas pelo desenvolvimento das

forças produtivas e as condições materiais históricas que os sujeitos

sociais se apropriam para conhecer essa realidade.

b) ―giro ontológico‖ atribuído à escola de Ilya Prigogine (1917-2003),

ganhador do prêmio Nobel de química pelos estudos com a

termodinâmica a sua teoria sobre estruturas dissipativas. Prigogine

busca superar os relativismos fundados na concepção subjetiva de

tempo como duração (matemática quântica de Borh) ou de tempo sem

direção (Eistein). A inclusão do tempo como realidade cosmológica

(ontológica), além das nossas medidas (subjetivas), e integrando o

devir ao ser caracteriza uma nova perspectiva da ciência

contemporânea e recoloca a ontologia como base da epistemologia

(Prigogine e Stengers, 1998). Stengers integrante da escola de

Prigogine debate na Invenção das ciências modernas (São Paulo: Ed

34, 2002) a tensão entre duas abordagens das ciências, a da

objetividade científica das ciências exatas e das crenças científicas dos

estudos culturais (pós-estrutralismo). A superação dessa tensão se da

através da ―ontologia‖. A identidade da ciência está em discutir o quê

é a realidade, o quê é o mundo.

c) ―giro ontológico‖ atribuído a Maturana (1999) quando pretende

provar através da neurobiologia os problemas da percepção e se depara

com uma ―objetividade-entre-parênteses‖ e com a necessidade de

discutir: a ontologia da explicação como condição para a constituição

da observação, a ontologia da realidade, a ontologia da cognição e a

ontologia do social e da ética. (Ontologia da realidade, Belo

Horizonte: Ed UFMG, 1999)

Gamboa conclui que ―essa controvérsia vem se apresentando na pesquisa em

Educação Física com os desafios das teorias pós-estruturalistas e pós-criticas, e que é

pertinente aprofundar nessas polêmicas que ajudam a revelar os limites e as

implicações das diferentes perspectivas epistemológicas‖.

O DESTAQUE PARA OS GIROS NA PERSPECTIVA DA “”ONTOLOGIA

REALISTA”

Vou me valer, novamente, no debate sobre ―giros na perspectiva da ontologia

realista‖, da contribuição de Gamboa (2007) apresentada inclusive no II Seminário e

III Colóquio sobre epistemologia e teorias da educação. Segundo ele uma das reações

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ao denominado ―giro lingüístico‖ vem das teorias do conhecimento que superando os

conceitos originais do ―mentalismo‖ (a representação dos objetos ou coisas na mente)

reafirmam a necessidade de considerar a realidade (ontos) independente da

consciência e da linguagem. O discurso e a linguagem deverão se referir a alguma

realidade (objeto) ou referente empírico, construído social e historicamente, ou

mesmo virtual, mas independente do sujeito, da sua percepção, da consciência e das

palavras utilizadas para se referir a ele. São três reações, segundo Gamboa, na

perspectiva da ―ontologia realista‖ que vem se destacando no contexto do debate: a

denominada Escola de Budapeste (Luckács, Mészáros, Bhaskar), Escola de Prigogine

e a Escola de Maturana.

Além da polêmica sobre o ―giro pragmático‖, ainda segundo Gamboa, tanto os

giros lingüísticos, como o hermenêutico, pretendem superar a filosofia mentalista (o

significado está na mente) propondo como alternativa a filosofia lingüística (o

significado está na linguagem). Tanto o ―giro lingüístico‖ como o ―giro

hermenêutico‖ focalizam a linguagem desde perspectivas opostas e utilizam meios

distintos, ―por um lado, os instrumentos da análise lógica (semântica formal) e, por

outro, a semântica orientada ao conteúdo (holística)... mas, ignoram os aspectos

pragmáticos do diálogo... lócus da racionalidade comunicativa‖ (2006, p. 70) e ―tais

enfoques estão compromissados, de um modo ou outro com a prioridade da

semântica sobre a pragmática‖ (p. 71). Habermas e Apel propõem uma ―pragmática

do significado‖, entretanto, assumem como desafio, a questão da defesa do realismo

(giro ontológico) depois do giro pragmático, já que ―...o giro pragmático não deixa

espaço para duvidar da existência de um mundo, que se percebe independente das

nossa descrições e como o mesmo para todos nós‖. (p. 74). ―E dependendo das

linguagens teóricas que escolhamos, obteremos diferentes descrições, as quais podem

se referir, entretanto, as mesmas coisas. Em conseqüência, o mundo deveria se

conceber como a totalidade dos objetos, não dos fatos, os quais dependem da

linguagem. A este conceito semântico de mundo como um sistema de referências

possíveis corresponde um conceito epistemológico de mundo como a totalidade das

coações implícitas impostas sobre nossas diversas formas de conhecer o que sucede

no mundo‖ (p. 78).

O que constatamos, a partir dos estudos de Gamboa é que o giro ontológico

tem outras vertentes, tais como a da ―Ontologia do ser social‖ de Lukács e defendido

pela escola de Budapeste que prioriza o entender o mundo a explicá-lo ou

compreendê-lo (Introdução a uma estética marxista, Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1978). Segundo Lukács que defende a teoria do reflexo, afirma que tanto o

reflexo, científico, estético ou literário, reflete a mesma realidade objetiva

(ontológica), independente da consciência, situada na base de toda obra (literária,

científica, filosófica ou estética) acentuando a unidade de identidade e a diversidade

nas categorias tanto científica, filosóficas e estéticas. Mészáros (Filosofia, ideologia e

ciência social), São Paulo: Ensaio, 1993), reafirma o método dialético que considera

a existência de uma realidade (ontológica) passível de ser conhecida através de

diversas mediações determinadas pelo desenvolvimento das forças produtivas e as

condições materiais históricas que os sujeitos sociais se apropriam para conhecer essa

realidade. A Escola de Budapeste se apóia na teoria do conhecimento marxista. Os

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trechos a seguir explicitam a prioridade das condições reais do homem concreto sobre

as representações, a linguagem e a interpretação. São os homens que produzem as

suas representações, suas idéias, etc., mas, os homens reais atuantes, tais como são

condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e das

relações que a elas correspondem; (...) A consciência nunca pode ser mais que o ser

consciente; e o ser dos homens é o seu processo de vida real... Não é a consciência

que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência. (...) Não partimos

do que os homens dizem, imaginam ou representam, tampouco não do que eles são

nas palavras, no pensamento, na imaginação e na representação dos outros, para

depois se chegar aos homens de carne e osso; mas, partimos dos homens em sua

atividade real, é a partir de seu processo de vida real que representamos também o

desenvolvimento dos reflexos e das repercussões ideológicas desse processo real.

(Marx & Engels. Ideologia Alemã, Lisboa: Avante, 1981, p. 19). Com base nessa

teoria do conhecimento, Gamboa defende que é mais apropriado denominar esse

―giro ontológico‖ de ―re-virada‖, ―inflexão ou reação ontológica‖, uma vez que se

pretende, colocar o homem com os pés na terra e a cabeça sobre um corpo fincado na

realidade. Ou, de defender a tese de que ―os homens pensam como vivem‖ e não o

contrário, ―os homens vivem, segundo seus pensamentos ou representações‖ (tese

idealista). Isto é, os homens vivem, têm experiências concretas e a partir dessas

condições concreta, eles criam seu imaginário.

Outra linha do ―giro ontológico‖, segundo Gamboa é atribuída à escola de

Prigogine que busca superar os relativismos fundados na concepção subjetiva de

tempo como duração (matemática quântica de Borh) ou de tempo sem direção

(Eistein). A inclusão do tempo como realidade cosmológica (ontológica), além das

nossas medidas (subjetivas), e a integração do ―devir‖ (tempo irreversível) ao ―ser‖

caracteriza uma nova perspectiva da ciência contemporânea e recoloca a ontologia

como base da epistemologia (Prigogine e Stengers, Entre el tiempo y la eternidad.

Buenos Aires: Alianza, 1998). Também, Stengers, integrante da escola de Prigogine

debate na Invenção das ciências modernas (A Invenção das ciências modernas. São

Paulo: Ed 34, 2002) a tensão entre duas abordagens das ciências, a da objetividade

científica das ciências exatas e das crenças científicas dos estudos culturais (pós-

estrutralismo). A superação dessa tensão se dá através da ―ontologia‖. A identidade

da ciência está em discutir o quê é a realidade, o quê é o mundo (ser ontológico). A

base da ciência está no conhecimento dos fenômenos, como eles são, se apresentam e

se revelam e não nas formas como o homem representa ou atua sobre o mundo. O

conhecimento dos fenômenos (ciência) antecede a sua intervenção sobre eles

(técnica).

A terceira linha do ―giro ontológico‖, segundo Gamboa, é atribuída a Maturana

(Ontologia da realidade, Belo Horizonte: Ed UFMG, 1999) quando pretende provar

através da neurobiologia os problemas da percepção e se depara com uma

―objetividade-entreparênteses‖ e com a necessidade de discutir: a ontologia da

explicação como condição para a constituição da observação, a ontologia da

realidade, a ontologia da cognição e a ontologia do social e da ética.

Gamboa demonstra, portanto, que nessas três linhas de pensamento, o ―giro

linguístico‖ vem gerando amplas e profundas reações, não apenas no âmbito das

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19

filosofias da linguagem (hermenêutica de Gadamer e Pragmatismo dialógico de

Habermas), mas, também no âmbito das teorias do conhecimento fundadas no

realismo (ontologia).

AS REAÇÕES AO IDEALISMO E AO PÓS-MODERNISMO

“Fora precisamente Marx quem primeiro descobrira a

grande lei da marcha da história, a lei segundo a qual

todas as lutas históricas, quer se processem no domínio

político, religioso, filosófico, ou qualquer outro campo

ideológico, são na realidade apenas a expressão mais ou

menos clara de lutas entre classes sociais, e que a

existência e, portanto, também os conflitos entre essas

classes são, por seu turno, condicionados pelo grau de

desenvolvimento de sua situação econômica, pelo seu

modo de produção e pelo seu modo de troca, este

determinado pelo precedente.” ENGELS In: Prefácio a

terceira edição do 18 Brumário de Luis Bonaparte de Karl

Marx, Hamburg, 1885.

As contribuições que apresento nesse III Seminário de Epistemologia e Teorias

da Educação e IV Colóquio de Epistemologia são reações ao irracionalismo, ao pós-

modernismo. Conto para tal com obras como a de Evangelista (1992) que ao

responder, com suas investigações a determinadas questões ataca o cerne de

concepções teóricas veiculadas a exaustão e cuja aceitação, à primeira vista, beira a

unanimidade. As três questões que Evangelista busca responder e que o levam a

questionar as referencias bibliográficas são: a) como o capital articula a coersão e

consenso visando o controle e a dominação do trabalho; b) como os trabalhadores,

em uma resposta ativa à exploração do trabalho, encetam a sua resistência através de

diversas modalidades de práxis social; c) como a consciência apreende as

contradições existentes entre capital e trabalho. Conto ainda para reconhecer reações

ao irracionalismo pós-moderno com as evidentes denuncias sobre ―Mercandilização

da sociedade‖ (FREI BETTO; 2008), as ―imposturas intelectuais‖ (SOKAL &

BRICMONT, 1999), a ―lógica cultural do capitalismo tardio‖, (JAMESON, 1997) o

―recuo da teoria‖, (MORAES, 2003) o ―iluminismo às avessas‖ (MORAES; 2003),

―os desvios teóricos‖ (ANDERSON, 2004); de ―como não ler Marx de Souza Santos

(PAULO NETTO, 2004), a ―sobreposição de conceitos‖ (BOGO, 2008); ―a educação

contra o capital‖ (TONET; 2007), e por fim, ―a defesa do marxismo‖ (TROTSKY,

S/D), a atualidade extrema da concepção materialista dialética da história

(LOMBARDI, 2003) que são algumas, mas não as únicas, ―reações aos pós-

modernismos‖, reações essas que, não de maneira hegemônica, aparecem nas 378

pesquisas defendidas na Faculdade de Educação da UNICAMP sendo: 192 teses de

doutorado e 186 dissertações (dezembro de 2005) e nas 45 pesquisas dedicadas à

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20

problemática da Educação Física.

Inicialmente vou me valer de uma crônica de Frei Betto (2008) 18

para

descrever o que é mesmo pós-moderno? Somos todos pós-modernos? Frei Betto em

recente resenha publicada no Correio da Cidadania, questionou se somos todos pós-

modernos? Conclui dizendo que a resposta é sim se comungamos essa angústia, essa

frustração frente aos sonhos idílicos da modernidade. Argumenta que

....nenhum sistema filosófico resiste, hoje, à mercantilização

da sociedade: a arte virou moda; a moda, improviso; o

improviso, esperteza. As transgressões já não são exceções,

e sim regras. O avanço da tecnologia, da informatização,

da robótica, a gloogletização da cultura, a

telecelularização das relações humanas, a banalização da

violência, são fatores que nos mergulham em atitudes e

formas de pensar pessimistas e provocadoras, anárquicas e

conservadoras. Na pós-modernidade, o sistemático cede

lugar ao fragmentário, o homogêneo ao plural, a teoria ao

experimental. A razão delira, fantasia-se de cínica, baila

ao ritmo dos jogos de linguagem. Nesse mar revolto,

muitos se apegam às "irracionalidades" do passado, à

religiosidade sem teologia, à xenofobia, ao consumismo

desenfreado, às emoções sem perspectivas. Para os pós-

modernos a história findou, o lazer se reduz ao

hedonismo, a filosofia a um conjunto de perguntas sem

respostas. O que importa é a novidade. Já não se percebe a

distinção entre urgente e importante, acidental e essencial,

valores e oportunidades, efêmero e permanente. A estética

se faz esteticismo; importa o adorno, a moldura, e não a

profundidade ou o conteúdo. O pós-moderno é refém da

exteriorização e dos estereótipos. Para ele, o agora é mais

importante que o depois. Para o pós-moderno, a razão vira

racionalização, já não há pensamento crítico; ele prefere,

neste mundo conflitivo, ser espectador e não protagonista,

observador e não participante, público e não ator. O pós-

moderno duvida de tudo. É cartesianamente ortodoxo. Por

isso não crê em algo ou em alguém. Distancia-se da razão

crítica criticando-a. Como a serpente Uroboros, ele morde

a própria cauda. E se refugia no individualismo narcísico.

Basta-se a si mesmo, indiferente à dimensão social da

existência. O pós-moderno tudo desconstrói. Seus

postulados são ambíguos, desprovidos de raízes,

invertebrados, sensitivos e apáticos. Ao jornalismo, prefere

o shownalismo.O discurso pós-moderno é labiríntico,

18

http://www.correiocidadania.com.br/content/view/2314/55/ Acesso em 08/12/08 às 07:14h.

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descarta paradigmas e grandes narrativas, e em sua

bagagem cultural coloca no mesmo patamar Portinari e

Felipe Massa; Guimarães Rosa e Paulo Coelho; Chico

Buarque e Zeca Pagodinho. O pós-modernismo não tem

memória, abomina o ritual, o litúrgico, o mistério. Como

considera toda paixão inútil, nem ri nem chora. Não há

amor, há empatias. Sua visão de mundo deriva de cada

subjetividade. A ética da pós-modernidade detesta

princípios universais. É a ética de ocasião, oportunidade,

conveniência. Camaleônica, adapta-se a cada situação. A

pós-modernidade transforma a realidade em ficção e nos

remete à caverna de Platão, onde nossas sombras têm mais

importância que o nosso ser e as nossas imagens que a

existência real.

Segundo ANDERSON (2004), a primeira abordagem filosófica do termo pós-

modernidade foi realizada por Lyotard19

em seu livro ―A condição pós-moderna‖

datada de 1979. A Condição Pós-Moderna(1979), utiliza o conceito de "jogos de

linguagem" , originalmente desenvolvido por Ludwig Witgenstein, e refere-se a uma

agonística entre esses jogos - característica da experiência da pós-modernidade, assim

como a fragmentação e multiplicação de centros e a complexidade das relações

sociais dos sujeitos.Lyotard considera que a chegada da pós-modernidade ligava-se

ao surgimento a uma sociedade pós-industrial, na qual o conhecimento tornara-se a

principal força econômica de produção, embora perdendo a sua legitimidade

tradicional porque atrelado ao capital, ao estado sendo a verdade reduzida ao

desempenho à eficácia. A Ciência tornara-se um jogo de linguagem que já não podia

mais reivindicar o privilegio sobre outras formas de conhecimento visto ter ocultado

sua base, a saber, as duas grandes narrativas da modernidade: a primeira herdada da

Revolução Francesa, materialista, que colocava a humanidade como agente histórico

de sua própria libertação por meio do avanço do conhecimento e, a segunda,

descendente do idealismo alemão que via o espírito como progressiva revelação da

verdade, mitos que justificaram a modernidade.

Segundo Santos (2006), convencionou-se que o modernismo teria chegado ao

fim na década de 40, mas especificamente no dia 6 de agosto de 1945, as 8 horas e 15

minutos, quando a bomba atômica foi lancada sobre Hiroxima, iniciando o pós-

modernismo20

, visível na tecnologia eletrônica que invadiu o cotidiano, na era da

informática; na avidez de consumo, na sedução do individuo, na moral hedonista, com

os valores colocados no prazer, expressando-se na arquitetura, na pintura, na escultura.

19

Jean-François Lyotard (Versalhes, 10 de agosto de 1924 – Paris, 21 de a bril de 1998) filosofo francês, importantes

pensadores na discussão sobre a pós-modernidade. Autor dos livros a Fenomenologia, A Condição Pós-Moderna e O

Inumano.

20 Historicamente, segundo Santos (2006, p.20), o pós-modernismo foi gerado por volta de 1955, para vir a luz lá pelos

anos 60. Sociologos americanos batizaram o período de realizacoes decisivas que irropmeram nas artes, ciência e na

sociedade como a época pós-moderna, empregando termo empregado pelo historiador Toynbee em 1947.

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Os signos e codigos representam a realidade. É o quarto poder e existem ciências para

estuda-los – Seniologia (ciência dos signos) e a Teoria da Comunicacao. O modelo de

signo criado pelos semiologos ingleses Ogdon e Richards, segundo Santos (2006, p 15)

, explica o central do pós-modernismo e tem a ver com a Lingustica, a Cibernética, a

Estética e até a filosofia. É um tripe que tem em um de seus apices o Signo, a

Linguagem, o Simulacro, o Espetáculo(pós-modernismo), de outro o Espirito a razao, a

idéia o sujeito a referencia. Por fim no terveiro apice o Referente O objeto, a realidade,

a materia.A pós-modernidade é um mundo super criado pelos signos. Materia e espirito

se esfumam em imagens, em digitos, num fluxo acelerado. A isso, Segundo Santos

(2006, p. 16 os filosofos denominam de desreferencializacao do real e

dessubstancializacao do sujeito, ou seja a realidade se degrada em fantasmagoria e o

sujeito (individuo) perde a substancia interior, sente-se vazio. O filho do modernismo

diz Santos, mobilizava as massas para a luta politica. Na sociedade pós-industrial

dedica-se as minorias. Tuando na micrologia do cotidiano. O Pós-modernismo é um

ecletismo, isso é a mistura de várias tendências. Prevalece o circuito informacoa-

estetizacao-erotizacao-personalizacao do cotidiano. Só há revolucao no cotidiano.Enfim

o pós-modernismo encarna estilos de vida, filosofia na qual viceja a idéia niilista do

nada, do vazio, da ausência de valores e sentidos para a vida. Afirma Santos (2006, p.

11) o pós-modernismo é coisa típica das sociedades pós-industriais baseadas na

informação. Paira, portanto, um irracionalismo próprio do modo do capital determinar,

em última instância, os rumos da economia.

Para Eagleton (1998), que realiza criticas contundentes à força do pós-

modernismo e a seus equívocos, o pós-modernismo refere-se em geral a uma forma

de cultura contemporânea e o termo pós-modernidade alude a um período histórico

especifico. Pós-Modernidade segundo o autor, é uma linha de pensamento que

questiona as noções clássicas de verdade, razão, identidade e objetividade, a idéia de

progresso ou emancipação universal, os sistemas únicos, as grandes narrativas ou os

fundamentos definitivos da explicação. Vê o mundo como contingente, gratuito,

diverso, instável, imprevisível. Emerge de uma nova forma do capitalismo. Para

Mészaros (2003) o que emerge do sociometabolismo do capital é a barbárie. É

taxativo quanto ao que nos espera para o próximo período de recomposição

hegemônica do modo do capital organizar a produção dos bens materiais e imateriais

– é a barbárie se as forças socialistas não avançarem.

Para demonstrar as fálacias, o simulacro da pós-modernidade forjada por

imposturas intelectuais podemos apontar a sangrenta e cruel batalha travada, por

exemplo, na América Latina contra a violencia dos paises colonialistas e

imperialistas, que durante séculos vem oprimindo os povos com um padrao de

relacoes que se carcaterizam, segundo Florestan Fernandes como de exploracao e

explotacao dos seres humanos e da natureza. Salazar (2006) nos apresenta dados

históricos sobre a violencia que carcaterizam bem um processo de revolucao

permanente (Trotsky,2007) que coloca por terra a tese pós-modernista de que a

revolucao se dá somente no cotidiano. O esquema por ele abordado demonstra com

dados concretos o periodo da colonizacao, da independencia parcial das nacoes e dos

paises, a era da industrializacao, das politicas neo-liberais, de seu esgotamento e

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agora, da busca dos povos latino americanos pela soberania das nacoes. A revolucao

está em curso, para superar a fase pré-historica da relacoes sociais possiveis a

humanidade (MARX, 1986) e aponta para uma formcao economica, um modo de

organizar a producao e reproducao da vida qualitativamente superior. O pós-moderno

ou a contemporaneidade não é uma forma de superação do moderno, segundo Freitas,

mas, sim o aprofundamento, sob outras bases, das formas de exploração do homem .

Vejamos o quadro abaixo exposto por Salazar (2006) em recente curso ministrado na

UFBA (2008).

RevoluçãoRevolução RevoluçãoRevolução Comuna Comuna Revoluções Unidade Rev. Revoluções Unidade Rev. SocialismoSocialismo

Francesa Haitiana Francesa Haitiana de Paris frustradas? de Paris frustradas? Popular Popular BolivarianaBolivariana do séc.do séc.

1789 1804 1848 1849 1857 1789 1804 1848 1849 1857 1871 1930 Chilena 1871 1930 Chilena 1999/2002 1999/2002 XXI?XXI?

1817 1817 1955 1970 19901955 1970 1990

1810 1810 1890 19171890 1917

1824 1824 1942 19591942 1959

Ind. Ind. ImcompletaImcompleta 1895 1895 Rev. Cubana 1979Rev. Cubana 1979

da América Latina da América Latina Liberalismo Liberalismo Rev. SandinistaRev. Sandinista

Popular Popular e Granada e Granada

Reformas Rev. Revolução C.R. Neoliberal

México Revoluções Liberais Mexicana Cubana

FEUDALISMO CAPITALISMO SOCIALISMO/COMUNISMO

Ciclo revoluções burguesas Ciclo revoluções socialistas

17831783

Independência Independência

dos USAdos USA

1775 1775

Salazar expôs que a América Latina não deixou de lutar um dia sequer na

busca de completar o ciclo das revoluções em curso, datadas desde a primeira

revolução reconhecida na América Latina, a Revolução Haitiana de 1804 que seguiu

no rastro das revoluções em curso na Europa, onde as bandeiras da Igualdade,

Liberdade, Fraternidade estavam erguidas. Primeira republica a libertar os escravos o

Haiti hoje luta para retirar de seu solo tropas de ocupação imperialista, lideradas,

lamentavelmente, pelo Brasil. Entre brutais repressões militares até a atua

manifestação continental contra o imperialismo norte-americano, em defesa da

soberania das nações, lutam os povos. Por mais que nos seja difícil reconhecer a

revolução e permanente Esta práxis social que eleva sim a consciência de classe dos

trabalhadores, se não de maneira célere e linear, como seria necessária, mas, sim, por

contradições, idas e voltas, refluxos e avanços significa as formas de resistência da

classe trabalhadora, muitas vezes derrubada, freada, assegurada, por formas de

governança e políticas compensatórias, focais, assistencialistas. Neste lastro histórico

asseguram-se, forjam-se, elaboram-se teorias, explicações cientificas sobre a

natureza, o homem, a sociedade e o conhecimento. Wood (1999, p. 7) e Foster (1999,

p 196) ao investigarem sobre a agenda ―pós-moderna‖ e defenderem a história

demonstram as pretensões dos pós-modernistas com suas concepções sobre o

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conhecimento cientifico e seu relativismo e solipsismo21

. O fio principal que perpassa

os princípios pós-modernos é a ênfase na natureza fragmentada do mundo e do

conhecimento. As implicações políticas disso tudo são não existe base para

solidariedade e ação coletiva fundamentada nos interesses dos produtores livremente

associados. É, portanto, neste movimento onde se expressam a luta de classes que é

possível reconhecer a que servem certas teorias? O que significa decretar o marxismo

como morto? O que são os giros? Por que negar a capacidade do ser humano

compreender e agir no real para transformá-lo com radicalidade. Assim como os

trabalhadores reagem e resistem as forças que os oprimem na formação econômica

em geral, são esboçadas as resistências e reações aos desvios teóricos, enfim ao pós-

modernismo.

As reações ao pós-modernismo aparecem tanto na crônica de Frei Betto quanto

na produção acadêmica quanto em outros espaços da vida. As reações ao pós-

modernismo, que se infiltram, com suas explicações, posições e posturas, todos os

âmbitos da vida humana e do Estado, não aparecem somente no campo da produção

do conhecimento científico, no embate entre o idealismo e o materialismo. Aparecem

também nos enfrentamentos para além do debate na academia e se expressam no

interior dos partidos políticos, quando está em jogo a direção do projeto histórico em

disputa, quando estão em confronto as reformas e as contra-reformas, a revolução e a

contra-revolução (NETTO; J. P.; 2005). Nos movimentos de luta social contra o

capital, quando está em jogo o papel e as relações a serem estabelecidas entre o

público e o privado, entre o Estado burguês e o rumo que devem assumir as políticas

públicas, por exemplo, a formação humana – alienação X emancipação humana -.

Presentes na luta dos contrários e no enfrentamento da grande contradição do capital

educar/alienar. Aparece na luta pela definição de políticas públicas no campo do

esporte entre o projeto para elevar o padrão cultural esportivo da população brasileira

e o projeto de transformar o Brasil em um país Olímpico. Aparece no âmbito sindical

quando está em confronto o papel a ser assumido pelas direções na luta de classes e,

fundamentalmente, nas nossas vidas cotidianas, em nossas famílias, quando temos

que nos situar perante a história e nos reconhecermos enquanto gênero humano,

enquanto humanidade, que necessita se emancipar, que está em franco processo de

degeneração e destruição e que deve encontrar um outro modo de organizar a

produção e reprodução da vida qualitativamente superior. Aparece no enfrentamento

ao plano mundial de educação sustentado pelas formulações encontradas em

Relatórios de agentes internacionais como a UNESCO que preconiza, conforme

podemos constatar no relatório da comissão internacional da Organização das Nações

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) conhecido como Relatório

Jacques Delors, presidente da Comissão (1998), como pilares para a educação o

―aprender a aprender‖, ―aprender a ser‖, "aprender a fazer‖, ―aprender a conviver‖,

etc. Duarte (2003) refere-se a 4 pilares, 7 saberes e 10 competências. 21

O solipsismo é a consequência extrema de se acreditar que o conhecimento deve estar fundado em estados de

experiência interiores e pessoais, não se conseguindo estabelecer uma relação direta entre esses estados e o

conhecimento cientifico objetivo de algo para além deles. O solipsismo do momento presente estende este ceticismo aos

nossos próprios estados passados, de tal modo que tudo o que resta é o eu presente.

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A reação pode ser verificada no contra-ponto a isso tudo quando se levantam

sólidas proposições pedagógicas nas lutas dos movimentos que enfrentam os pilares

mais gerais do capital, a saber, a propriedade privada dos meios de produção, a super-

exploração do trabalho assalariado e articulam-se as lutas imediatas com as mediatas

e históricas, quando se defende para a formação escolar uma consistente base teórica

materialista dialética histórica, a consciência de classe forjada na inserção concreta na

luta de classes, a formação política na defesa da classe trabalhadora e a organização

revolucionária, como pilares centrais do projeto de escolarização. Quando defende-se

como fundamentos da educação, a escola do trabalho socialmente útil como

principio educativo, o sistema de complexos temáticos para organizar o

conhecimento no programa escolar e, a auto-organização dos sujeitos, elementos

centrais para a escolarização da população de uma nação que se quer soberana, digna

e com seu povo feliz, conforme localizamos em proposições para a Educação do

Campo do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Apesar das evidencias e da necessidade vital histórica da superação do modo

do capital organizar a vida, existem os que defendem a tese da condição pós-moderna

(HARVEY, 2006) como sendo uma mudança abissal nas praticas culturais, bem

como, político-econômicas, desde mais ou menos 1972. Segundo HARVEY

Essa mudança abissal está vinculada à emergência de

novas maneiras dominantes pelas quais experimentamos o

tempo e o espaço. Embora a simultaneidade nas dimensões

mutantes do tempo e espaço não seja prova de conexão

necessária ou causal, podem-se aduzir bases a priori em

favor da proposição de que há algum tipo de relação

necessária entre a ascensão de formas culturais pós-

modernas, a emergência de modos mais flexíveis de

acumulação do capital e um novo ciclo de ―compressão do

tempo-espaço‖ na organização do capitalismo. .Mas essas

mudanças, quando confrontadas comas regras básicas de

acumulação capitalista, mostram-se mais como

transformação da aparência superficial do que com sinais

do surgimento de alguma sociedade pós-capitalista ou

mesmo pós-industrial inteiramente nova.

A batalha de enfrentamento do pós-modernismo e sua definição de padrões de

ciência, crítica social e de prática política não tem sido nada fácil. Trata-se de

enfrentar a ―lógica cultural‖ do capitalismo segundo Jameson (1997). O combate é

diuturno e pode ser verificado, por exemplo, na obra de Alan Sokal e Jean Bricmont

(1999) que vem denunciando o relativismo pós-moderno, que sustenta a tese de que a

verdade objetiva não passa de uma convenção social. São analisados textos que

demonstram as mistificações físico-matemáticas perpetradas por Lacan, Kristeva,

Irigaray, Latour, Baudrillard, Deleuze, Guatteri, Virilio. Eles demonstram que ―o rei

está nu‖, demonstram o abuso da terminologia científica e a irresponsável

extrapolação de idéias das ciências naturais para as ciências sociais.

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Segundo o historiador Hobsbawm (2008)

...o relativismo exerce atração sobre a história dos grupos

identitários. Por diferentes razões, a invenção massiva de

contra-verdades históricas e de mitos, outras tantas

tergiversações ditadas pela emoção, alcançou uma

verdadeira época de ouro nos últimos trinta anos. Alguns

desses mitos representam um perigo público —em países

como a Índia durante o governo hinduísta, nos Estados

Unidos e na Itália de Silvio Berlusconi, para não mencionar

muitos outros dos novos nacionalismos, acompanhados ou

não de manifestações de integrismo religioso.

Admite Hobsbawm (2008) que esse fenômeno deu lugar a muito palavrório e

bobagens nas margens mais longínquas da história de grupos específicos —

nacionalistas, feministas, gays, negros e outros— por outro, gerou desenvolvimentos

históricos inéditos e extremamente interessantes no campo dos estudos culturais,

como o "boom da memória nos estudos históricos contemporâneos" , como Jay

Winter o denomina.

Duarte (2003) para quebrar a ilusão pós-moderna da ―sociedade do

conhecimento‖ ressalta que não pactua com o fetichismo de que vivemos na

―sociedade do conhecimento‖, das ―tecnologias de informação e de comunicação

(TIC)‖, nem com a idéia de que o conhecimento, por si só, será capaz de, em todas as

esferas da vida social contemporânea, rearticular experiências sociais possibilitando

novas formas de interação social e transformando as normas e os valores. Não pactua

com o fetiche da ―ética‖ que oculta, nega e desconsidera a luta de classes e ignora o

movimento mais geral do capital, suas leis e sua estrutura e organiza o poder da

burguesia através do Estado definindo os rumos da economia política. Ressalta que

assim como no século XX tivemos os avanços decorrentes de descobertas nas

ciências básicas do século XIX, nas áreas de ciências naturais e exatas, visíveis em

tecnologias aplicadas que possibilitaram entre outros fatos a chegada a outros

planetas, o século XXI deverá avançar a partir das descobertas básicas dos séculos

XIX e XX nas áreas das ciências biológicas e humanas. Os exemplos do uso dessas

tecnologias no modo de vida são muitos e de grande impacto, atingindo todas as

esferas de experiência e de atividade públicas e privadas. Os impactos sócio-políticos

dessa presença maciça das tecnologias não são dados de antemão, mas sabe-se que

uma das características centrais é o processo de produção social e apropriação

privada das tecnologias, como todos os bens produzidos pelo sistema capitalista. Seus

resultados são apropriados privadamente, mantendo relações que subsumem o

trabalho ao capital. Elas não são capazes de engendrar novas formas de sociabilidade,

novas formas de ação social e novas formas de atuação política. Duarte (2003)

destaca, ainda, que não devemos nos iludir com o enfoque da sociedade da

informação e do conhecimento, nem acreditar que as transformações nas relações

sociais, políticas e econômicas, sobretudo a partir das TIC, ocorrerão por si só. Não

nos iludimos com a emergência de um campo conhecido como ―NBIC‖ –

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Nanotecnologia, Biotecnologia, Informática e Ciências Cognitivas ou Ciências da

Mente. Essa área do conhecimento, por si só, não pode mudar o relacionamento

milenar construído entre os seres humanos e a natureza, que apresenta um padrão

hegemônico – a exploração da natureza e a exploração do homem pelo homem.

Exemplos clássicos são as novas tecnologias na agricultura, a biotecnologia em geral

como os transgênicos, a nanociência e a nanotecnologia e suas implicações na gestão

pública e no modo de vida. As potencialidades sociais e ambientais dessas conquistas

em uma sociedade de classes já foram evidenciadas nos últimos três séculos, as

forças produtivas estão em franca degeneração e decomposição.

O que constatamos, tanto na literatura consultada, bem como, na análise das

bases teóricas da política educacional no Brasil, é o evidente e progressivo recuo da

teoria em pesquisas educacionais, um processo que traz implicações epistemológicas,

éticas e políticas, segundo Moraes (2003) na própria produção de conhecimentos na

área. Ainda segundo Moraes (2003) as possíveis determinações desse processo são:

a) a emergência de um ethos neodarwinista nas universidades, com a consequente

degradação da vida acadêmica e, b) por outro lado, o ceticismo epistemológico

corrente que trivializa a questão do conhecimento e da verdade e procede a um sutil

exercício linguístico criando um novo e pragmático vocabulário destinado a assegurar

a obediência e a resignação públicas. Ao tratar do recuo da teoria Moraes (2003, p.

151) parte da consideração dos efeitos desestabilizadores da reestruturação

socioeconômica em escala planetária. Parte dos espraiamento dos imperativos

capitalistas em todas as esferas da vida humana estado de coisa que tem efeitos

profundos sobre as várias práticas sociais, de modo particular, na educação. A isso

corresponde uma educação, dos ―pactos prontos‖, aprendizagens configurada nos

discursos políticos educacionais como verdadeira panacéia. A discussão teórica

afirma Moares (2003, p. 153) tem sido ―gradativamente suprimida ou relegada a

segundo plano nas pesquisas educacionais, com implicações que podem repercutir, a

curto e médio prazo, na própria produção do conhecimento da área.‖ E o fim da teoria

acompanhada da promessa de uma utopia educacional alimentada por um indigesto

pragmatismo, uma utopia praticista. Uma verdadeira ―marcha a ré intelectual‖.

Segundo Moraes (2003, p. 154) o que está direcionando o movimento que

marginaliza o debate teórico é a efetivação das próprias políticas educacionais em

nível nacional e internacional, por exemplo, as exigências das agencias financiadoras,

a CAPES, e outras.

Outra razão é que no plano teorético as propostas que desqualificam a teoria

têm origem na convicção da falência de uma determinada concepção de razão: a

chamada razão moderna de corte iluminista. Uma vez perdidos os tradicionais

instrumentos de legitimação instaura-se o mal estar epistemológico, o cetisismo,

ético, político e, o desencanto, abrindo-se a agenda que abrigou os ―pós‖, os ―neo‖, os

―anti‖ que infestam a intelectualidade. Inaugura-se a era cética e pragmática.A

negação da objetividade aparece associada a idéia de desintegração do espaço

público, do fetichismo da diversidade, da compreensão de que o poder e a opressão

estão pulverizados em todos os lugares. . Daí a impossibilidade de uma base de

resistência e de enfrentamento da realidade. . frente a ela o sujeito estético,

fragmentário reconhece mas revela-se impotente.Nessa inflexão teórica o sutil

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exercício linguistico põe em pratica a pragmática retórica de ressignificação de

conceitos. Alcançar o consenso é o fundamental, substituir sentidos e significados e a

precisão de conceitos por termos vagos que diluem principalmente seu caráter

rigoroso. São exemplos a substituição dos termos como ―luta de classes‖ por

―identidade‖, a ressignificação de ―sociedade civil‖, sujeitos histórico por atores,

condições objetivas da existência – formações econômicas por cenários, etc., etc.

Negam-se articulações, nexos determinações entre economia e poder político,

proclama-se a autonomia do político e do discurso. No horizonte ideológico

apaziguado constrange-se o agir consciente, dilui-se valores e fins, esvazia-se

diferenças, reduzi-se tudo a diversidade cultural. Denotam-se conforme Moares

(2003, 164), o silêncio e o esquecimento.

Moraes defende que a realidade da escola nos dias de hoje, a política de

conhecimento que envolve e a matriz cognitiva que se põe em jogo não podem

abdicar de uma teoria e de uma crítica que as apreendam em suas determinações

concretas. Só a teoria, associada a uma intensa renovação pedagógica é capaz de

impedir a redução de ―novos objetos‖ em ―microobjetos‖, na pesquisa educacional.

Defende que deve ser recolocado um grande debate filosófico e científico a respeito.

José Paulo Netto (2004) em seu livro ―Marxismo Impenitente‖ discute as idéias

marxistas e ressalta que para ―purgar-se do desastre em que se saldou a experiência

do chamado ―socialismo real‖, pretendem superar a ―ortodoxia metodológica‖, pela

via do pluralismo, transitar a modernidade do socialismo cientifico pra a criatividade

pós-moderna da reinvenção das utopias, substituir as exigências da supressão da

propriedade privada dos meios fundamentais de produção e controle social do

mercado, deslocar as velhas concepções das lutas de classes pelas ―novas‖ lutas

sociais moleculares, enfim, propor, em lugar do ―ultrapassado‖ projeto

revolucionário, a constituição de um novo contrato social. Trata-se de capitulação

intelectual que tem contribuído para as derrotas que a classe trabalhadora vem

amargando. Faz-se necessário a quebra do cerco ideológico , com a descoberta dos

―clássicos‖ da tradição marxista.

José Paulo Netto reage também a leitura ―simplória‖ e incompetente de

Boaventura de Souza Santos sobre a obra de Marx e sua contribuição para a

sociologia. Netto critica a ―sinopse crítica do desenvolvimento do marxismo, do final

do século XIX à década de 80 do século XX, organizada em quatro períodos com

tratamento bem diferenciado‖, pelo seu caráter tosco e insuficiente que culmina com

conclusões reducionistas e com o desprezo as reiteradas e enfáticas notações

marxianas sobre o caráter tendencial e histórico das leis histórico-sociais. Souza

Santos, a partir de sua ―avaliação do marxismo enquanto tradição teórica da

sociologia‖ admite que, para o enfrentamento da ―transição paradigmática‖ Marx não

tem serventia. As determinações complexas, bem como os complexos sistemas de

mediações, que articulam a totalidade concreta que é a sociedade burguesa são

neglicenciadas nas análises, admitindo-se assim, pós-modernismos, que não suportam

o rigor da teoria marxista.

Ademar Bogo (2008), em seu livro ―Identidade e luta de classes‖, critica os

pós-modernos que ―induzidos pelo processo de individualização humana‖, cada vez

mais crescente no capitalismo, apegam-se aos conceitos de identidade com a clara

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intenção de colocá-lo em destaque, sobrepondo-o ao conceito de luta de classes. E

esta erosão do conceito e das referencias afeta profundamente as possibilidades de

avançar em direção a emancipação humana. Defende as leis da dialética materialista

histórica para ultrapassar as limitações das identidades e para compreender as

contradições do capital, expressas no Estado-nação, na capacidade de percepção das

diferenças, na perda dos direitos, na exaustão da natureza e o extermínio das espécies.

Para Robert Kurz22

(2008), sociólogo alemão, autor de "Os Últimos

Combates", afirma no Caderno Mais, da Folha de São Paulo, que a pós-modernidade

está no fim. De qualquer modo, o conceito foi desde sempre um embrulho enganador:

deveria sugerir algo historicamente novo e, no entanto, não podia indicar um

conteúdo próprio. A vacuidade das autodenominações remete ao fato de a pós-

modernidade não ser nada senão o capitalismo moderno em estado de carência

conceitual e em uma forma tardia de auto-espelhamento fútil.

Para Evangelista (1992) certos setores intelectuais das Ciências Sociais

afirmam que atravessamos uma crise teórica sem precedentes em toda a história e

estamos diante de uma verdadeira crise ―de paradigma‖. Dentro dessa crise das

grandes teorias sociais estaria situada a crise do marxismo. A critica recai sobre o

marxismo e a necessidade de um novo paradigma capaz de dar visibilidade a ―novos

fenômenos‖, ―novas dimensões da realidade‖, ―novos atores‖, ―novos movimentos

sociais‖, ―novos espaços políticos‖, ―novas práticas sociais‖, ―novas representações

simbólicas‖ e a uma ―nova teorização social‖. Os índices dessa crise do marxismo

estariam:

...no fracasso das experiências históricas de construção do

socialismo – o chamado socialismo real - e na estagnação

política dos partidos operários que optaram ou foram

levados a pautar as suas ações no interior dos mecanismos

institucionais da democracia representativa, nas sociedades

capitalistas ocidentais. (EVANGELISTA, 1992, p. 13-14).

Os inspiradores ou seja, os fundamentos teóricos da critica ao marxismo vem

de Castoriadis e se expressam na obra de SADER ( 1986; 1988). Em síntese, para

estes autores ―o marxismo não é mais a expressão do caráter revolucionário do

proletariado ou quaisquer camadas sociais‖ (Evangelista, 1992, p. 18).

Outro vinculo identificado por Evangelista vêm do pós-estruturalismo francês,

principalmente sua vertente Foucaultiana. Os vínculos são com,

...o pós-estruturalismo francês e, com seu último subtrato

teórico, com o pensamento ―pós-moderno‖, que resulta da

critica à modernidade e à razão moderna, inaugurando um

novo irracionalismo profundamente influente nos dias de

hoje, no Brasil. (EVANGELISTA, 1992, p. 20)

22

http://obeco.no.sapo.pt/livro_razao_sangrenta.htm. http://www.krisis.org. http://resistir.info

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Segundo Evangelista (idem,21):

O estruturalismo e o pós-estruturalismo podem ser reunidos

dentro de um campo comum de operações lógicas. A

primeira delas é a ―exorbitação da linguagem‖, através da

generalização das categorias da lingüística para o domínio

antropológico, com Levi-Strauss, e, em seguida, para

―todas as principais estruturas sociais‖, com Foucault

(Anderson, 1984, p. 46-47). A segunda, que é seu efeito

imediato mais importante, é a atenuação da verdade‖, pela

separação entre ―significante‖ e ― significado‖, até a sua

autonomização frente ao significado. Assim, corta-se

―qualquer possibilidade de verdade como correspondência

entre as proposições e a realidade‖. A verdade e a fixidez

do sentido não passam de ilusões. A distinção entre o

verdadeiro e o falso é, em si mesmo, uma falsificação

primária. E ―sem falsidade a verdade deixa de existir‖.

Como é através da evidência que podemos distinguir entre

o verdadeiro e o falso, ―premissa ineliminável de qualquer

conhecimento racional‖, ela é simplesmente desdenhada: o

―jogo das significações‖ está acima da verdade e da

falsidade. É aqui que o ―discurso‖ ganha um novo status

teórico, com a eliminação de todas as referências a um

centro, a um sujeito ou a uma origem. E terceira, e última,

dessas operações lógicas é a ―descauzualização da história.

O estruturalismo e o pós-estruturalismo podem ser situados como integrantes

de um diversificado movimento intelectual de critica à modernidade e à razão

moderna.É a ―apologia orgiástica ao sem-sentido e da desrazão‖ segundo Zaidam

Filho, (1989, p. 25). Para Evangelista (ibidem, p. 31)

Se é impossível a descoberta de um sentido no processo

histórico-social, que posa ser racionalmente apreendido,

instaura-se o império da incognoscibilidade com a

relativização de todo o conhecimento, permitindo uma

multipliscidade inesgotável de interpretações, todas válidas.

A realidade teria como característica essencial o seu

caráter fragmentário, que impede qualquer possibilidade de

síntese ou totalização, que apreenda o real. É daí que

advém o jogo da crítica ao marxismo.

Para Evangelista estas teorias estruturalistas e pós-estruturalistas levam a

desvios teóricos que enfraquecem a práxis social de resistência, a elevação da

consciência de classe.

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Para consubstanciar a critica no campo da educação e dar-lhe consistência vou

me valer de uma resenha do livro do professor FREITAS, Luiz Carlos de. Uma pós-

modernidade de libertação: reconstruindo as esperanças. Campinas-SP: Autores

Associados, 2005, realizada por Joelma Albuquerque, doutoranda da UNICAMP, e

bolsista do projeto Educação do Campo da LEPEL/FACED/UFBA.

FREITAS (2005) expressa sua preocupação com a problemática da pós-

modernidade e a teoria pedagógica recuperando dois significados para o fim das

certezas: um no mundo científico e outro no mundo político. Para discutir essas

―proposições‖ de incertezas, discute o fato da queda do Leste Europeu como uma das

principais justificativas para o combate à metanarrativa socialista (cap. 1); a origem

das incertezas analisando a pós-modernidade como uma expressão da fase de

financeirização do capitalismo somada a tese do esgotamento do sistema capitalista

histórico (cap. 2); a naturalização das incertezas ao longo da escala evolutiva, e o

risco positivista e pragmatista das idéias pós-modernas (cap. 3); e ainda, a partir da

análise do cenário da sociedade atual, nos convida à construção de uma pós-

modernidade que seja comprometida com a libertação, pelo caminho da crítica

marxiana à modernidade, ou seja, um esforço coletivo de criação de uma nova ordem

mundial (cap. 4). Para o autor, pós-modernidade ―designa um movimento que

compartilha do fim das metanarrativas, o qual acha que o pronome ―nós‖ é sinônimo

de opressão entende que o ―eu‖ é a única instância que governa a relação com as

coisas e com as pessoas‖ (p.7). Busca situar o entendimento da expressão

recuperando alguns autores como Lyotard (2002), Sanfelice (2001) Anderson (1999),

Norris, (1998), Wood (1999) e Magda e Vidal (1998). Destaca-se deste debate, a

compreensão da globalização econômica como a base material da pós-modernidade,

o que reforça a controvérsia de que os pós-modernos criticam racionalmente a

modernidade ao mesmo tempo em que defendem o irracionalismo. Expõe elementos

que justificam seu interesse em discutir a temática, que passam por dar visibilidade a

um contraponto às conseqüências da virada do capitalismo em direção à globalização

e, a partir daí, a organização do movimento pós-modernista, que resultaram em dois

impactos de alto poder destrutivo no campo da educação: 1) o impacto das políticas

neoliberais; e 2) e, somado ao primeiro (predominantemente no campo da economia e

das políticas públicas), o impacto das teses pós-modernistas no campo da ciência e

da cultura. Para o autor, ―prestam um serviço inestimável à causa liberal-

conservadora, à medida que deixam o campo econômico e político inteiramente à

mercê da interpretação neoliberal, sem falar do seu impacto negativo na mobilização

social‖ (p.13), pois para os pós-modernos, a organização se dá pelo discenso, pois os

consensos restringem e oprimem. (p.16). Sua indicação para a superação das teses

pós-modernas, é que, diante do debate educacional, evitemos as desqualificações e

que busquemos ―superar por inclusão‖, utilizando o instrumental conceitual da

dialética considerado adequado para uma rica compreensão, por parte de um

educador, das questões levantadas para análise e discussão no texto.

No capítulo 1 ―O que nos impede de pensar?‖, o autor descreve as incertezas

humanas de nosso tempo, desde o desemprego estrutural e suas conseqüências para as

famílias, passando pelo conjunto de incertezas da burguesia (falências, vendas,

fusões, oscilações na bolsa), até as incertezas da juventude, que forma sua

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personalidade em meio à incerteza e ao caos.

A partir da visão dos capitalistas acerca do mundo atual, caracterizado como

―momento em que nada é previsível (...).‖ onde ―(...) ninguém mais está seguro de

nada‖. Ainda, ―muitas das idéias que foram sólidas como rocha para gerações e

gerações se desmancham no ar como fumaça‖, (Peters, 2003 apud Freitas, 2005),

seria necessário aceitar e incentivar a destruição para a recriação de novos modelos,

ou seja, é necessário se adequar – destruindo e recriando – às ordens incertas do

capital. Freitas analisa a experiência do socialismo real, já que os pós-modernos

costumam fazer referência a esta experiência para justificar sua opção pela recusa às

metanarrativas. Neste sentido, se valendo de Wallerstein e recupera as três grandes

ideologias ou projetos políticos dos últimos 200 anos - o conservadorismo; o

liberalismo; e o socialismo – destacando como importante o papel do Estado nestas

três ideologias políticas: para os socialistas, o Estado exercitava a vontade geral. Para

os conservadores, protegia os direitos tradicionais contra a vontade geral. Para os

liberais, criava as condições adequadas ao florescimento dos direitos individuais. Esta

é uma questão importante, segundo Freitas, porque nos leva a entender qual foi a

filosofia política que, de fato, foi derrotada com o desaparecimento do socialismo no

Leste Europeu. A tese central é a de que, 1989 foi a continuação de 1968, período no

qual assistiu-se o colapso do liberalismo e a derrota política para os que sustentavam

a economia internacional capitalista, e portanto, o que estaria sendo derrotado nas

portas dos anos de 1990 com o desaparecimento da União Soviética seria o

liberalismo e não o socialismo.

Diante deste quadro, os pós-modernos quando fazem a crítica aos metarrelatos,

tomam ao pé da letra a experiência russa como expressão de uma metanarrativa

socialista, quando o que vimos é que ‗o socialismo real se tornou vítima do próprio

liberalismo, ou seja, da concepção de mudança por dentro do próprio Estado, e com

isso foi descaracterizado enquanto portador de uma modernidade da libertação‘.

(Freitas, p.37, Grifos do autor). Essas observações são importantes porque nos

permitem distinguir entre a proposta ideológica em si e o projeto político implantado

de fato em nome dessa ideologia. Desta forma, ainda recorrendo à Wallerstein,

aponta as crítica vazias à obra de Marx, questiona a quem interessaria ignorar sua

obra por completo, e reafirma a importância da crítica marxiana à modernidade, a

qual, ao seu ver, permanece como uma das mais abrangentes e aprofundadas, não

sendo possível ignorar o exame crítico marxiano da modernidade, independente das

soluções de superação que venhamos a encontrar no futuro. Desta forma, a queda do

Leste Europeu e do Socialismo real tem tido um efeito nefasto, e um deles é que

clichês relacionados a este fato, tem tido mais a função de bloquear nosso

pensamento do que nos estimular a novos desafios.

No capítulo 2, intitulado de ―A crise do capitalismo real e as incertezas‖

aprofunda a compreensão das incertezas na fase mais atual do capitalismo, buscando

explicar a crise da hegemonia, recuperando a partir de Arrighi (1996), a interpretação

das relações capitalistas em torno da fórmula D-M-D‘ de Marx. A partir da análise do

que significa a ênfase na relação M-D‘, caracteriza a fase em que se encontra o

capitalismo norte-americano, uma fase de instabilidades de um final de hegemonia

que cria as condições necessárias para a fuga do capital da sua forma mercadoria para

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sua forma monetária. Nesta predomina uma ética do consumo, em uma sociedade de

consumidores, o que antes, na relação D-M, predominava a ética do trabalho, numa

sociedade do trabalho. Os pós-modernos estariam, portanto, ―detectando uma

mudança nesse esquema geral do processo de acumulação de riquezas, por um lado,

e, por outro, nos termos de Jamerson (2002), formam a própria expressão cultural

desse ciclo de acumulação do capitalismo tardio‖. (Freitas, p.53).

No que diz respeito ás metanarrativas em disputa, Freitas aponta que as teses

pós-modernas esvaziam a importância das metanarrativas e ao fazê-lo retiram a

possibilidade de uma nova ordem e favorecem a visão liberal, quando nega a

possibilidade de um consenso em torno de um projeto coletivo e insiste na diferença

individual, desarticulando os movimentos sociais contestatórios e dificulta sua

organização e crescimento. Isso significa que os indivíduos tinham um ponto de

referência coletivo para atuarem em razão dele.

(...) era a genericidade, o gênero humano em uma relação

dialética com a particularidade frágil e temporária do indivíduo.

Com o predomínio das incertezas, o rompimento dessa relação

deixa, agora, os indivíduos à mercê de sua finitude, sem

perspectivas, restrito aos limites de seu próprio eu, restrito à

duração de sua própria vida‖. (Freitas, 2005, p.55-56).

Diante da negação das metanarrativas (socialismo, liberalismo e

conservadorismo), questiona se o pós–moderno seria ideologicamente neutro.

Recupera novamente em Wallerstein o sentido de pós-moderno, que é tido como um

―estado de presciência, um movimento que tem a sensibilidade para perceber o

esgotamento das práticas exercitadas nos últimos 200 anos em relação às

metanarrativas disponíveis, incluindo o próprio ciclo de acumulação sistêmica do

capital (...). (Freitas, p.58). A partir de análises acerca do esgotamento da hegemonia,

o autor considera que nas próximas décadas abrem-se perspectivas positivas para a

humanidade, onde o desafio seria converter esse momento de aparente fragilidade do

capitalismo histórico em algo mais que uma simples troca de hegemonia.

No capítulo 3, ―A tentativa de naturalizar as incertezas‖, Freitas alerta sobre os

riscos do neopragmatismo e do subjetivismo, e o faz caracterizando-os. Uma dessas

características é a insatisfação com os modelos de produção do conhecimento. Em

relação ao sujeito, que para os materialistas históricos compõem uma relação

dialética com o objeto, os pós-modernos adotam uma postura subjetivista, isolando o

sujeito e colocando-o no papel de um ―leitor‖ cuidadoso do mundo; não tem

preocupação coma verdade, já que não há um discurso geral, pois estes devem ser

locais e múltiplos; os conceitos são apenas enunciados que nos fazem pensar, e não a

representação da essência de um fenômeno. Disso decorre que, a verdade passa a ser

simplesmente o que se ajusta a um dado sistema de crença em vez daquilo que

descreve objetivamente um mundo existente independentemente do sujeito; que sem

nenhum padrão exógeno de verdade, é difícil entender como qualquer opinião possa

ser errada ou qualquer prática injusta; (Nanda, 1999); e que, ao combater a idéia de

totalidade, tudo em nome do antiessencialismo, o pós-moderno abala sua própria

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capacidade de explicar historicamente fatos sociais e termina caindo no empirismo

radical dos positivistas, já que os fatos são arrancados de seu contexto vivo para

serem compreendidos apenas em isolamento (Malik, 1999). Freitas (2005) ainda se

vale de Habermas para analisar a questão, quando este último faz uma crítica a

Foucault ao concluir: (...) Foucault é íntegro o suficiente para confessar essas

inconseqüências – mas não tira delas nenhuma conseqüência. (Habermas, 2002,

pp.387-388, apud Freitas, 2005, p.64).

Em relação aos riscos do neopositivismo, o outor aborda a questão se valendo

do físico Prigogine, avaliando o que está por trás da ―teoria do caos‖, que vem sendo

apropriada inadvertidamente pelos pós-modernos para justificar suas posturas. O fato

é que nossa cultura não gosta de crises, teme o conflito e não gosta da contradição.

Frente a isto, a física dos ‗processos de não-equilíbrio‘ proposta por Prigogine, caiu

como uma luva para os pós-modernos. Esta estabelece que os períodos de equilíbrio

são seguidos de desequilíbrio, e nesse processo não se gera um caos permanente, mas

gera-se uma nova ordem. Isso significa que a desordem conduz a uma nova ordem,

através de um processo de ―auto-organização‖, que no mundo das partículas depende

de ―probabilidades‖. Freitas (2005) explicita diversas questões sobre esta teoria, mas

uma das mais importantes é a da transposição direta para os assuntos humanos das

descobertas do mundo físico, o que significa que é um equívoco desconsiderar que a

auto-organização (probabilística) em nível de matéria não pode ser automaticamente

transferida para o sujeito humano, pois assim retiramos deste a sua dimensão de

sujeito da história, ou seja não se leva em conta a diferença entre matéria bruta, as

formigas e os seres humanos pensantes.

Outros aspectos dentre os que Freitas aponta, são a questão da diferença e da

particularidade, e da razão. Busca em Malik (1999) a análise de que a diferença é

elevada a uma posição absoluta na história pelos pós-estruturalistas e pós-

modernistas, a tal ponto que passa a ter o mesmo papel ‗essencialista‘ que a

‗natureza‘ representou no positivismo do século XIX; e faz isso contraditoriamente,

no mesmo momento em que a crítica pós-moderna tenta livrar-se do essencialismo

em seu método. (apud Freitas, p.78). Sobre a razão, afirma que ―Os pós-modernos

não conseguem livrar-se da ‗razão‘ que tanto criticam e não dispensam uma boa

justificativa científica para sua causa. É como se o termo ‗teoria do caos‘ os livrasse

de uma racionalidade e ocultasse a ‗razão‘‖. E termina questionando: ―Mas o que

fazer com os algoritmos matemáticos de Prigogine que explicam a racionalidade do

caos?‖ (Freitas, 2005, p. 80).

No capítulo 4 ―A necessidade de reconstruir as esperanças‖, Freitas (2005)

inicia retomando a ética do consumo. Conforme a explicação da ênfase na fase M-D‘,

fase de financeirização, ao ler Bauman (2003), explica como esta característica afeta

um tema muito discutido pelo pós-modernismo que é o ‗indivíduo‘. Na sociedade do

trabalho, os produtores só cumprem sua função coletivamente, através da cooperação

entre os mesmos. Na sociedade do consumo, com os consumidores acontece

exatamente o contrário, pois este é uma atividade privada, individual e solitária. A

ética da sociedade de consumidores é aquela em que o que confere status a este é o

consumo e não o trabalho, onde é possível subir ou descer no conceito das pessoas a

depender do que você consome. Ainda relacionando as defesas pós-modernas com a

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fase de financeirização do capitalismo, Freitas, analisando as colocações de Deleuze

& Guattari (2000) demonstra como a estética rizomática contribui para a manutenção

das incertezas, na medida em que esta considera que nunca se deve plantar, fincar

raiz e sim fazer rizomas; que devemos ser rápidos, e que perguntas como para onde

você vai, de onde vem e aonde quer chegar, são inúteis. Esta compreensão que aponta

para o fugaz, elimina a visão de totalidade, e contribui para a naturalização e

ocultação das reais causas das incertezas.

Analisando a atual fase do capitalismo e a suas conseqüências do ponto de

vista da flexibilização, da insegurança, da ausência de previsibilidade, da competição,

nas quais se encontram os indivíduos, tece uma crítica ao pós-moderno que não ajuda

na crítica a esta ética, e questiona até que ponto o subjetivismo não constitui uma

maneira de ocultar o real, transferir a crise do capitalismo real para o âmbito

pessoal e isentá-lo de suas responsabilidades pelas incertezas em que jogou boa

parte da população mundial?. E prossegue com a reflexão que neste contexto a

teoria do caos é utilizada para referendar esse jogo de incertezas. (Freitas, 2005,

p.92). O indivíduo isolado e fragmentado é ocultado no ―indivíduo diferente‖. Esta

concepção individualista, atrelada à noção de rizoma, vai se refletir na educação,

com as redes curriculares e de ensino, sem começo e sem fim, como se o aluno fosse

um cliente a escolher o seu produto final. Assim, fazer rizomas está na base de uma

justificativa cultural para o ensino no capitalismo tardio. Do ponto de vista da

chamada ―classe média‖, Freitas (2005) analisa que o pós-modernismo nos coloca em

uma posição mais confortável, já que não há mais metanarrativas que venham nos

incomodar assinalando nossos compromissos com as classes menos favorecidas.

Recuperando as concepções de modernidade tecnológica e modernidade de

libertação, Freitas caminha para a conclusão apontando que somente devemos

compreender o período atual como ―pós-moderno‖ se este for entendido como o

processo pelo qual iremos gerar uma nova ordem social que retome as bandeiras da

modernidade da libertação, na qual o ser humano deixa de ser uma mercadoria. Neste

sentido aponta como tarefa para as próximas décadas superar o capitalismo para

instaurarmos uma nova ordem social e nos organizar para intervir nessa construção,

já que enquanto seres humanos nos distanciamos das meras probabilidades, e

projetamos, temos intenção na nossa intervenção. (Freitas, 2005, 106).

O autor apresenta algumas possibilidades para enfrentarmos o nosso tempo e

reconstruirmos as esperanças, o que é necessário para construir uma pós-modernidade

de libertação. Neste sentido, ―será necessário recuperar valores universais de

libertação e emancipação humanas que nos unam e nos dêem horizontes e forças para

lutar por uma outra ordem social.‖ (Freitas, 2005, p.106-107).

Após realizar uma análise da conjuntura e demonstrar como está a situação

atual do modo de produção capitalista, ressalta que a grande questão do século XX é

como conciliar o indivíduo com o coletivo e vice-versa, onde o indivíduo constrói-se

na relação da particularidade com a genericidade. Outra questão é sobre as

metanarrativas,. Que possamos examinar seriamente os caminhos históricos trilhados

e projetar alternativas. Ainda, aponta como possibilidade de bifurcação (contrapondo-

se ao facismo e à dispersão cultural), a retomada do socialismo, corrigindo-se os

devidos equívocos. Sendo assim, nos chama a atenção para o dilema: socialismo ou

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barbárie, apontando que será necessário conquistarmos a oportunidade de uma nova

tentativa socialista, e ressalta apoiado em Wallerstein que se Marx não definiu muito

bem os contornos da ordem social superadora do capitalismo, cabe a nós fazê-lo.

Diante das questões colocadas acerca das conseqüências da abordagem pós-

moderna de mundo para a ciência, para o indivíduo, para o gênero humano, para a

sociedade, é necessário reagir, resistir com estudos rigorosos cuidadosos, e

intensificar o debate em torno das questões colocadas e das teses levantadas em

contraponto às mesmas, para que possamos cada vez mais aprofundar a compreensão

acerca da pós-modernidade e combatê-la com propriedade

OS DESVIOS TEÓRICOS E O ATRASO DA TEORIA E DA POLÍTICA.

Perry Anderson, em seu livro Considerações

sobre o marxismo ocidental, apresenta, entre as

principais características do marxismo ocidental

as seguintes: a) o divórcio estrutural do

marxismo com a prática política, da teoria com a

práxis; b) o silencio premeditado do marxismo

ocidental em áreas fundamentais para as

tradições clássicas do materialismo histórico: as

leis econômicas do funcionamento do

capitalismo como um modo de produção, a

análise da máquina política do estado burguês, a

estratégia da luta de classes necessária para

derrubá-la; c) deslocamento do eixo

gravitacional do marxismo europeu no sentido

da filosofia, de estudos da superestrutura, com

sua conseqüente” academização“. Para

Anderson, ajustar as contas com esta tradição,

isto é, conhecê-la e romper com ela, é assim um

dos pré-requisitos para uma renovação da teoria

marxista hoje.” (PUCCI, Bruno. Teoria critica e

Educação. Rio de Janeiro, Vozes, 1995. P. 13).

Com base na sistematização aqui exposta sobre os giros, as viradas, o pós-

modernismo e as reações a ele, podemos nos perguntar sobre teorias educacionais e

pedagógicas que prevalecem no Brasil. Qual a nova pedagogia da hegemonia? Quais

as estratégias do capital para educar o consenso? (NEVES, 2005) Quais os giros da

teoria? Como penetram, com que argumento, na organização do trabalho do professor

na sala de aula e na escola? Como sustentam políticas educacionais de estado e de

Governos? Para exemplificar, vamos mencionar seis nomes que ganharam especial

destaque no Brasil e que compõe a hegemonia no campo teórico educacional: o

francês Edgar Morin, o suíço Philippe Perrenoud, os espanhóis César Coll e Fernando

Hernández, o português António Nóvoa e o colombiano Bernardo Toro. O que

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defendem esses teóricos? São ―autores de sucesso‖ porque vendem muitos livros, são

citados e elegidos como suporte teórico de teses e dissertações. Seu prestígio reside,

em boa parte, nos livros publicados sobre temas pontuais e na influencia nas políticas

públicas educacionais no Brasil. Diferentemente dos grandes nomes da educação,

como Vigotsky, Jean Piaget, Paulo Freire ou Emilia Ferreiro, esses autores de

vanguarda não têm a pretensão de fazer descobertas geniais. O ―negócio‖ deles é

reprocessar idéias já largamente difundidas (e aceitas) e apresentá-las numa

linguagem fácil, objetiva e coerente com as necessidades atuais diz a imprensa que os

divulga. Coll, por exemplo, partiu das idéias de Piaget para escrever sobre currículo.

Perrenoud desenvolveu o conceito de competências – que o tornou um fenômeno

editorial – depois de estudar, entre outros, os ensinamentos de Freire. Toro ganhou

fama ao definir as sete bases sobre as quais todo estudante deve construir não só o

aprendizado, mas a vida. Morin, o mais idoso, vem há algumas décadas aprimorando

a chamada teoria da complexidade e influenciou a política educacional do Brasil com

sua teoria dos sete saberes - Morin escreve o livro Os sete saberes necessários à

educação do futuro, apresentando o que ele mesmo chama de inspirações para o

educador e que é comumente chamado de " Os 7 saberes", onde se refere aos saberes

necessários para uma boa prática educacional :1º Saber: Erro e ilusão - Não afastar o

erro do processo de aprendizagem, íntegrar o erro ao processo, para que o

conhecimento avance; 2º Saber: O conhecimento pertinente. Juntar as mais variadas

áreas de conhecimento, contra a fragmentação; 3º Saber: Ensinar a condição humana.

Não somos um algo só. Somos indivíduos mais que culturais, somos psíquicos,

físicos, míticos, biológicos, etc.; 4º Saber: Identidade terrena. Saber que a Terra é um

pequeno planeta, que precisa ser sustentado a qualquer custo. Idéia da

sustentabilidade terra-pátria. 5º Saber: Enfrentar as incertezas. Princípio da incerteza.

Ensinar que a ciência deve trabalhar com a idéia de que existe coisas incertas; 6º

Saber: Ensinar à compreensão. A comunicação humana deve ser voltada para a

compreensão. Introduzir a compreensão; compreensão entre departamentos de uma

escola, entre alunos e professores, etc.. 7º Saber: Ética do gênero humano. É a

antropo-ética. Não desejar para os outros, aquilo que não quer para você. A antropo-

ética está ancorada em três elementos: Indivíduo; Sociedade; Espécie . Edgar Morin

influenciou também nas medidas para a reforma universitária no Brasil no inicio do

Governo Lula, através de sua ONG (OUROS). O português Nóvoa, dedica-se a

formação profissional e defende a formação do professor reflexivo. O espanhol

Hernández mesclou várias teorias para difundir os benefícios de se trabalhar com

projetos didáticos. ―Eles têm enorme capacidade de síntese‖, diz Sérgio Antonio da

Silva Leite, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). ―E têm

também o mérito de expor suas idéias no momento de redefinição do papel da

escola‖, completa Ana Rosa Abreu, consultora do Ministério da Educação. Conhecer

esses seis autores é fundamental, diz a imprensa, para manter-se atualizado e,

sobretudo, refletir sobre os problemas de sala de aula. ―Não espere encontrar, nos

livros, soluções prontas para o dia-a-dia. Elas só surgem com uma interpretação da

leitura apoiada na experiência pessoal‖, explica Ana Rosa . A professora Luciola

Licínio de Castro Paixão Santos, doutora em Formação de Professores pela

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca outra característica comum

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aos novos pensadores: textos de fácil compreensão. ―Talvez esse seja um dos motivos

para o enorme sucesso deles no Brasil.‖ A imprensa estimula os professores a

buscarem as inovações didática. Dizem, ―Agora é a sua vez. Afinal, como você já

cansou de ouvir, as novidades tecnológicas surgem a toda hora, o mercado de

trabalho anda exigente (com os professores e com os alunos), a sociedade reavalia

seus valores dia após dia, então é imperativo aperfeiçoar a didática‖. Asseguram que

conhecendo as propostas de Morin, Coll, Hernández, Perrenoud, Nóvoa e Toro o

professor estaria mais preparado para superar o desafio das inovações didáticas. Nada

de critica, nada de localização dessa tendência teórica com o avanço do neo-

tecnicsmo. Por isso, é vital, é imprescindível, ajustar as contas com tal tradição, que

perde a referencia teleológica, histórica, não se sustenta com consistência e aderência

a prática concreta nas escolas brasileiras e se apresenta acritica e a-histórica.

NEVES (2005) organizou o resultado de três anos de pesquisa do Coletivo de

Estudos de Política Educacional da Universidade federal Fluminense (UFF) e

demonstrou como o Estado brasileiro vem difundindo, na sociedade brasileira, novos

ideais, idéias e práticas voltadas para a construção de uma nova pedagogia da

hegemonia: uma educação para o consenso dos sentidos de democracia, cidadania,

ética e participação adequados aos interesses privados do capital. Demonstra como a

nova pedagogia atua no sentido de restringir o nível de consciência política coletiva

dos organismos da classe trabalhadora que ainda atuam no nível ético-politico para o

nível econômico corporativo. A Nova hegemonia estimula a pequena política em

detrimento da grande política proporcionando a grande política da

conservação.Apresenta elementos sobre o Estado educador que através de novas

estratégias nas relações Estado e sociedade civil consolida e aprofunda, no espaço

brasileiro, o projeto neoliberal de sociabilidade, o projeto da burguesia mundial para

a atualidade – a Terceira Via, com uma nova interpretação do mundo, uma nova

ideologia, sintonizando o ―novo estado democrático‖ com os organismos da

sociedade civil, ou seja a articulação entre a esfera estatal e a esfera privada,

incorporando e superando a concepção de individualismo do pensamento

(neo)liberal. Esta concepção, segundo Lima e Martins, (2005, p. 42-67) tem como

objetivo prático: a) construir consciência política que não permita ao individuo

compreender seu real papel sócio-político a partir de sua posição nas relações de

produção; b) induzir a percepção de que seu valores são decorrentes de sua

capacidade de se autogovernar e que metas e objetivos são independentes das

condições concretas; c) estimular possibilidades de associações para participação em

processo isolados sem que isto signifique incentivar a consciência política de

pertencer a uma dada classe social que não detém meios de produção e que é super

explorada. Segundo Melo (2005, p. 69-82) isto constitui tática de uma frente de

defesa dos interesses sociais do capitalismo mundial representada nos organismos

internacionais de condução de um novo bloco histórico. Essas mudanças se

materialisam na inserção da ciência e tecnologia na produção social, na reprodução

ampliada do capital e do trabalho, bem como no delineamento das transformações nas

relações de poder do Estado. Harmonia social e realização intensa de estratégias de

conformação social são importantes nesta governança mundial do capital. Para isso é

preciso educar/deseducar a classe trabalhadora. Não é portanto pouca coisa nos

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perguntarmos como é tratado no interior da escola a teoria do conhecimento que

contribua não para a acomodação e harmonia no capitalismo, mas, sim, para

revolucionar o modo de produção e reprodução da vida na perspectiva teleológica da

superação do capital rumo ao projeto histórico socialista?

Provavelmente, poderemos constatar, analisando a produção do conhecimento na

área da educação e da educação física, bem como, as referências teóricas na política

pública, o atraso da teoria, os desvios teóricos os ―giros prevalecendo‖, ou seja,

quando nos perguntamos, na educação e na educação física, sobre a epistemologia e a

teoria do conhecimento constatamos o atraso e os desvios, ou seja, a predominância

de teorias contra-revolucionárias e reformistas.

Não são hegemônicas na atualidade, proposições superadoras. Esse ciclo

encerrou-se na década de 80 inicio dos anos 90. Provavelmente esse atraso e os

desvios decorrem da prevalência no Brasil e na América Latina, de teorias

reacionárias, anti-revolucionárias, que mantêm a internalização da alienação humana

(Mészáros 2005). Levanto a hipótese de que estas teorias podem ser reconhecidas

como reacionárias e anti-revolucionárias, também, pelos seguinte:

• a) separam a teoria da prática política, as premissas teóricas das premissas

programáticas – Trotsky (1995); Lessa (2007); Coggiola (1995); Saviani e

Lombardi (2005).

• b) se valem da praxis utilitária em detrimento da práxis revolucionária - Kosik

(1976); Kopnin (1972) Cheptulin (1982);

• c) deslocam o eixo gravitacional da filosofia materialista dialética para ―giros‖

idealistas, que subsidiam estudos da superestrutura, com a conseqüente

―academização‖ e a fixação de intelectuais institucionais em retirada, que

enfatizam abordagens individualistas e idealistas – Anderson (2004), Petras

(2002); Duarte (2001; 2003; 2004)

• d) adesão acrítica ao projeto de mundialização da educação subsidiado pelo

liberalismo, por teorias pós-modernas e financiado pelas agencias multilaterais

de investimento – Petras (2002, 1996a, 1996b); Tommasi, ; Warde; Haddad

(1996); Leher (Melo (2004); Lombardi & Sanfelice (2007)

• e) total ou parcial abandono do materialismo dialético e histórico como lógica

e teoria do conhecimento para orientar o currículo e o não enfrentamento dos

limites apontados pela critica – Frigotto (1996, 1998ª, 1998b); Kuenzer (1996)

– Duarte (2003)

• f) silêncio da teoria sobre: - as leis econômicas do funcionamento do

capitalismo como um modo de produção da vida – Marx (1983) e Engels

(1990) em franca decomposição, degeneração, destruição; - da máquina

política do estado burguês - Lênin (2007; 2007) e; - da estratégia da luta de

classes necessária para derrubá-la (Trotsky, 1995);

• g) a dissociação entre história e teleologia (Lombardi & Saviani ;2005),

Segundo Emir Sader (2004, p. 12) é necessário conhecer como o marxismo

ocidental chega ao Brasil, em que contexto ele se desenvolve e o que representou o

confronto e os embates com as influências e adesões ao liberalismo e ao

neoliberalismo da ―nova esquerda‖, especialmente no Partido dos Trabalhadores, mas

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não só. No interior de todos os âmbitos da vida, da academia aos movimentos

sindicais, estudantil, populares, favoreceu-se um desprezo pela elaboração teórica o

que acabou refletindo na prática e nas novas temáticas, cada vez mais diluídas,

dispersas e sem assegurar a totalidade, o conjunto e a radicalidade nas elaborações,

logo, não são propositivas na linha da superação dos limites teóricos e, muito menos,

do projeto histórico.

Com base no presente instrumental, podemos agora nos debruçar na produção

cientifica que circula no campo da educação e da educação física, seja em anais de

eventos, nos periódicos, nas dissertações e teses, quanto nas pesquisas independentes,

nos ensaios, nas produções monográficas nos relatos de experiência. Podemos nos

debruçar nas referencias teóricas que sustentam as políticas públicas de educação e

educação física no Brasil e veremos que são evidentes, o recuo da teoria, as

imposturas intelectuais, a capitulação intelectual, enfim a retirada da intelectualidade

da frente de batalha pela revolução socialista.

O que fazer, quais seriam os desafios a enfrentar para sintonizar uma busca

constante da perspectiva teleológica de construção do comunismo enquanto modo de

organizar a produção e reprodução da vida e a perspectiva epistemológica marxista

na produção do conhecimento cientifico da educação e da educação física.

Ivo Tonet (2007) em seu livro ―A educação contra o capital‖ ressalta que temos

que combater a atual forma de sociabilidade no marco do capital, e que toda a

atividade educativa deve ter em seu horizonte norteador a emancipação humana que

consiste em homem livres, senhores de seu destino, sujeitos da história em outra

forma de sociabilidade com base no trabalho associado, onde produtores associados

de forma livre, consciente e coletiva controlam o processo de produção e distribuição

da riqueza., forma ampla e profunda onde os homens terão a regência – na forma

mais ampla e profunda humanamente possível – o processo histórico. Formar,

portanto, pessoas comprometidas com a transformação radical da sociedade.

Contraditoriamente, vivemos em um tempo histórico de enormes desafios,

principalmente na América Latina. Enormes desafios locais, regionais, nacionais e

internacionais no campo educacional, nas relações de trabalho, frente aos avanços do

imperialismo, fase superior do capitalismo, com suas conseqüências parasitárias

nefastas, destrutivas e nos cabe estabelecer referências de rupturas, de quebra de

ilusões e de combate ao fetichismo. Ruptura com paradigmas teóricos que iludem

mais do que apóiam a elaboração de conhecimentos científicos (Duarte, 2003),

quebra de ilusões nas idéias de igualdade, fraternidade e democracia burguêsa

(Chomsky, 1999), do fetichismo do Estado-de-Bem-Estar-Social, que em tempos de

ditadura do capital em sua fase superior, o imperialismo (Lênin, 2007), tem servido

muito mais para transferir obrigações a sociedade civil do que garantir direitos

constitucionais. Combate ao fetichismo da técnica e da tecnologia (Lessa, 2007) que,

por si só, em uma sociedade de classes, não resolve os problemas de fundo a respeito

da subsunção do trabalho ao capital, das guerras imperialistas (Coggiola, 1996,

Petras, 2002)) e da garantia do direito à educação e ao esporte socialmente

referenciados para todos. A estes se agregam o combate ao individualismo (Duarte,

2004), ao primado do mérito pessoal, ao competitivismo, ao produtivismo, ao

pragmatismo do pós-modernismo e do subjetivismo, para reconstruir esperanças

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(Freitas, 2005). Estas rupturas necessárias não se darão sem enfrentamentos, sem

disputas, sem embates, porque a educação e a educação física, pelo impacto do

neoliberalismo (Boron, 2004) é alvo dos interesses de acordos comerciais

internacionais que entram na escola sim e fazem dela mais um fator de rendimento ao

capital. Referências políticas se fazem necessárias para trabalhar na educação e na

educação física, enfim, um projeto histórico socialista que enfrente as táticas

ultrapassadas e esgarçadas do pacto social liberal, dos consensos de classe, estratégia

do capital para manter a hegemonia (Neves, 2005). Nesse sentido reafirmamos o

marxismo e o socialismo revolucionário (Engels, s/d) porque não perderam qualquer

atualidade, apesar da necessidade histórica de compreendermos o conteúdo da luta

entre as classes sociais nesse início de milênio, para distinguirmos as ditas esquerdas

que continuam a se afastar, cada vez mais, da teoria que deveria alimentar as suas

práticas, do que realmente são medidas de esquerda (Petras, 2008). Reafirmamos a

teoria marxista, a pedagogia socialista, ou seja, a teoria pedagógica critica da prática

da escola capitalista, que surge dentro dos limites das correlações de força existentes

numa determinada formação social, a partir das próprias categorias que representam o

movimento real dessa prática, incluídas suas contradições e formas de superação.

CONCLUSÃO PROVISÓRIA - O DESAFIO DA RAZÃO: MANIFESTO PARA A

RENOVAÇÃO TEÓRICA DA EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO FISICA BASEADO

NO MARXISMO.

“...A terceira fase, potencialmente a mais mortal, do

imperialismo hegemônico global, que corresponde à

profunda crise estrutural do sistema do capital no plano

militar e político, não nos deixa espaço para tranquilidade

ou certeza. Pelo contrário, lança uma nuvem escura sobre

o futuro, caso os desafios históricos postos diante do

movimento socialista não sejam enfrentados com sucesso

enquanto ainda há tempo. Por isso, o século à nossa

frente será o século do “socialismo ou barbárie”. (

MÉSZÁROS, István. O século XXI: socialismo ou

barbárie?. São Paulo, Boitempo, 2003, p. 13)

Provavelmente, poderemos constatar na área da educação e educação física,

assim como em outras áreas das ciências sociais e humanas, que continua

hegemônica a interpretação do mundo, a luz de um relativismo absoluta, do niilismo,

diluindo-se e despoltizando-se a força ideológica, política e produtiva do

conhecimento científico, em beneficio da classe capitalista. Reafirmamos, continua

sendo necessário reverter a sentença constatativa de Mrax nas Teses Contra

Feuerbach, "Até agora, os filósofos não fizeram mais do que interpretar o mundo;

trata-se de mudá-lo‖. Provavelmente, a maioria dos intelectuais não querem mais

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mudar o mundo. Os que queriam mudar o mundo o fizeram com base na referencia

marxista e queriam mudar o mundo junto com os movimentos operários e socialistas;

movimentos que se transformariam, em grande medida devido à influência do

marxismo, em forças políticas de massas.

Provavelmente, no Brasil, somos capazes, também, de verificar pelos fatos

como os intelectuais deixaram de ser revolucionários sociais e, nunca foram ou

deixaram de ser marxistas. Essa reação tem, provavelmente, na área de educação e

educação física o aniquilamento da idéia de que é possível predizer, apoiados na

análise histórica, o sucesso de uma forma particular de organizar a sociedade

humana. Compromete-se assim a teleologia, o vir-a-ser. Também na educação e na

educação física prevalecem, apoiadas por teorias que se colocam na perspectiva pós-

moderna a dissociação entre educação e educação física e a teleologia.

Diante de todos esses desvios, nos alerta Hobsbawm (2008) que ―É tempo de

restabelecer a coalizão daqueles que desejam ver na história uma pesquisa racional

sobre o curso das transformações humanas, contra aqueles que a deformam

sistematicamente com fins políticos e simultaneamente, de modo mais geral, contra

os relativistas e os pós-modernos que se recusam a admitir que a história oferece essa

possibilidade‖. Está em curso a transição do capitalismo ao socialismo (TROTSKY.

Programa de Transição, São Paulo S/D) o que deverá influenciar a virada teórica, não

para ―pós‖, ou ―neo‖, mas, sim, para os clássicos, da qual o marxismo constituiu um

elemento importante, apesar de que isso nem sempre foi totalmente reconhecido.

Marx influenciou a história principalmente através dos historiadores e dos

pesquisadores em ciências sociais que retomaram as questões que ele colocava,

tenham eles trazido, ou não, outras respostas. Portanto, o ponto de vista marxista é

um elemento necessário para a reconstrução da frente da razão, como foi nas décadas

de 1950 e 1960.

Neste momento em que o imperialismo – fase superior do capitalismo (LENIN,

2007) – assume seu teor mais dramático, é inaceitável, por exemplo, que a academia

continue a negar as categorias e leis da dialética materialista histórica, continue a se

valer de concepções teóricas idealistas e do relativismo epistêmico, que

desestimulam, enfraquecem e desmobilizam a força e a unidade da luta de classes,

atrasando a revolução proletária que deverá ―livrar a humanidade de um sistema de

produção condenado‖ (SOKOL, 2007, p. 186). A passagem do imperialismo à

revolução socialista continua encontrando como obstáculo os que defendem a

―transformação social‖ somente nas palavras, afastando de fato a possibilidade de

conquista do poder político por parte dos trabalhadores e do avanço no enfrentamento

das contradições, visíveis nos espaços e tempos onde as contingências podem indicar

possibilidades qualitativamente superiores, como, por exemplo no trabalho

pedagógico de produção do conhecimento cientifico. Mais do que ontem, faz-se hoje

premente a necessidade de combater o simplismo, as imposturas intelectuais – o ―uso

abusivo dos conceitos da ciência pelos filósofos pós-modernos‖ (SOKAL e

BRICMONT, 1999) –, o desenraizamento do conhecimento de suas bases

ontológicas; combater o idealismo progressista da neutralidade científica, da

convivência pacífica entre antagônicos, do pluralismo em uma sociedade onde

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existem e são ocultadas as classes antagônicas, da eternidade do capitalismo, da

naturalidade dos fenômenos sociais, da falência do socialismo, do fim do proletariado

(LESSA, 2007), do fim da luta de classes, da perda de referências históricas

(MÉSZÁROS, 2003), conforme sustentam as teses do fim da história (ANDERSON,

1992) e as teses da pós-modernidade (ANDERSON, 1999). Teses estas que se

expressam de maneira hegemônica nas explicações sobre a educação. Neste sentido

recolocamos conceitos históricos sem os quais não é possível refletir com

radicalidade, no conjunto e na totalidade (SAVIANI, 1985) a problemática da

Educação para além do capital.

Por fim, o conhecimento especial, denominado ―científico‖, dentro do qual

reconhecemos as teorias pedagógicas, surge da atividade prática humana – o trabalho

– e se desenvolve baseado nela. O motor principal desse desenvolvimento é

constituído pelas necessidades materiais de produção; portanto, pode-se afirmar que o

desenvolvimento da ciência subordina-se ao Projeto Histórico e às relações

econômicas predominantes por ele estabelecidas. É dessas relações que depende o

ritmo do desenvolvimento científico e o aproveitamento das conquistas científicas

inclusive nos campos da educação e da educação física. É preciso, portanto, avançar,

superar dicotomias entre as quais a dicotomia entre ciências humanas e sociais como

nos explica Mészáros em sua sitese sobre a concepção de ciência em Marx, assim,

[...] o homem, enquanto parte específica da natureza (um

ser com necessidades físicas historicamente anteriores a

todas as outras), precisa produzir para se manter. Para

tanto, ele cria, necessariamente, neste processo, uma

complexa hierarquia de necessidades ‗não- físicas‘, que se

tornam igualmente necessárias à satisfação de suas

necessidades físicas originais. (MÉSZÁROS, 2006,p.79).

Essas explicações nos permitem superar a falsa dicotomia entre ciências

humanas e ciências naturais, bem como, nos apropriarmos da defesa de Marx de uma

ciência humana, uma ciência de síntese concreta integrada com a vida real. O ponto

de vista dela é o ideal do homem não-alienado, cujas necessidades ‗reais humanas‘–

em oposição às necessidades ‗inventadas especulativamente‘ como às necessidades

‗abstratamente materiais‘, praticamente desumanizadas – determinam a linha de

pesquisa em cada campo particular. As realizações dos campos particulares –guiadas

desde o início pela estrutura referencial comum de uma ‗ciência humana‘ não-

fragmentada – são, então, reunidas numa síntese superior, que por sua vez determina

as linhas subseqüentes de investigações nos vários campos. (Ibdem, p.98).

Mas não vamos avançar com uma educação rebaixada, com atraso teórico e se

continuarmos a destruir o pensamento e a atitude critica na escola. A destruição do

pensamento crítico é um fruto dessa educação alienada. O pensamento crítico

constitui uma prova das ações, resoluções, criações e idéias à luz de determinadas

teorias, leis, regras, princípios ou normas e, também, da sua correspondência com a

realidade. Shardakov (1968), assinala cinco condições para que se desenvolva essa

mentalidade crítica: Possuir os conhecimentos necessários na esfera em que a

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atividade mental crítica deverá ser desenvolvida. Não se pode analisar criticamente

aquilo sobre o qual não se possuem dados suficientes; Estar acostumado a comprovar

qualquer resolução, ação ou juízo emitido antes de considerá-los acertados;

Relacionar com a realidade as regras, leis, normas ou teorias correspondentes, o

processo e o resultado da solução, a ação ou juízo emitido; Possuir o suficiente nível

de desenvolvimento no que diz respeito à construção dos raciocínios lógicos; Ter

suficientemente desenvolvida a personalidade: as opiniões, as convicções, os ideais e

a independência na forma de atuar.

Constatamos, por fim, que em oposição às teorias pedagógicas idealistas,

reacionárias e anti-revolucionárias que sustentam como pilares para a educação o

―aprender a aprender‖, ―aprender a ser‖, "aprender a fazer‖, ―aprender a conviver‖,

etc., levantam-se sólidas proposições pedagógicas nas lutas dos movimentos, com

destaque para o movimento campesino, que enfrentam os pilares mais gerais do

capital a propriedade privada dos meios de produção, a superexploração do trabalho

assalariado. Portanto, podemos concluir que uma consistente base teórica materialista

dialética histórica, a consciência de classe, a formação política e a organização

revolucionária são elementos centrais para a escolarização de uma nação que se quer

soberana, digna e com seu povo feliz. Isto passa necessariamente pelo domínio dos

meios e do produto do processo de produção do conhecimento científico.Daí a

necessidade vital da escola pública laica, de qualidade socialmente referenciada em

todos os graus e níveis de ensino. Da educação infantil a pós-graduação.

Destacamos, portanto, para os estudos e debates os conceitos básicos para

compreendermos e propormos o materialismo histórico dialético enquanto

possibilidade epistemológica, o marxismo como filosofia e o comunismo como

projeto histórico, enquanto base e fundamentação de propostas educacionais e de

proposição pedagógica. Segundo Kopnin (1978), na ciência, enquanto sistema de

conhecimento, a relação entre os conceitos se estabelece com base nos princípios

aprovados pela prática, conceitos basilares e axiomas que expressam a idéia de uma

dada ciência. A ciência é a unidade orgânica do conhecimento, unidade que surgiu

por efeito de lei. Seu princípio unificador é o método, que absorveu toda a história

antecedente do conhecimento do objeto. O ideal contido no conhecimento, nos indica

Kopnin (1978), é uma forma especial de atividade do sujeito. E se sob a linguagem da

teoria científica não conseguimos descobrir esse conteúdo, então a nossa análise não

atingiu sua meta. Vale destacar, para enfrentar o idealismo teórico, que a chamada

interpretação epistemológica, com o concurso do dispositivo categorial, inclui a

linguagem da teoria científica no processo geral de movimento do conhecimento, no

desenvolvimento intelectual da humanidade. Enquanto linguagem, nenhuma teoria

pode ser exposta ou entendida como sistema de conhecimento humano se ao

interpretá-la for aplicado apenas seu próprio dispositivo categorial. Por isto,

concomitantemente com a linguagem de uma dada teoria e o dispositivo lógico

formal da análise, as categorias filosóficas constituem, indiscutivelmente, um acervo

indispensável de meios de interpretação da linguagem da teoria científica, situada na

crítica a práxis da humanidade, ou seja, do real concreto apreendido pelo pensamento

– o concreto pensado. Ao fragmentar a filosofia, a lógica, a ciência e a teoria do

conhecimento, para formular explicações, os idealistas negam com isto a

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coincidência entre dialética, lógica e teoria do conhecimento, negam o movimento do

pensamento como reflexo subjetivo e objetivo do real, negam a natureza social da

filosofia, da lógica da ciência, negam com isto os fundamentos lógico-gnosiológicos

da realização prática do conhecimento (KOPNIN, 1978). Separam com isto as

premissas teóricas das programáticas e tornam-se obstáculos à revolução das relações

entre trabalho-capital, trabalho-educação. Vale destacar que esta subsunção e sua

manutenção, pela alienação (MÉSZÁROS, 2005, 2006), aprende-se na escola,

inclusive nas aulas na pós-graduação. Enfrentar a alienação com o estudo sistemático

e rigoroso na base do materialismo histórico dialético justifica, portanto, a própria

pós-graduação e seus grupos de pesquisa.

Enfim, com base no real, nos fatos, nos argumentos reafirmamos nossas

hipóteses:

a) prevalecem, hegemonicamente no Brasil, teorias reformistas, anti-

revolucionarias, tanto na produção do conhecimento quanto nos subsídios de

política pública nas áreas de educação, educação física e esporte o que pode ser

constatado nos aportes teóricos mencionados nos textos, relatórios, projetos,

programas e demais documentos, onde são silenciados os aspectos referentes

as leis gerais que regem o modo do capital organizar a vida; do Estado burguês

e da necessidade histórica de derrubá-lo, dos hábitos de vida burguesa em

família e a necessidade de destruí-los e, a estratégia e tática na luta de classes

para superação do capitalismo rumo ao comunismo.

b) é necessário avançar, reagir, resistir, por rupturas e saltos qualitativos, para

novas sínteses em patamares teórico-práticos mais elevados, superando os

desvios teóricos, rompendo ilusões, lutando contra o fitichismo, o

irracionalismo e o idealismo, e isto passa sim pelo domínio da lógica e teoria

do conhecimento materialista histórica dialética, passa pelo marxismo;

c) existem reações, sim, na luta concreta, que buscam construir e erguer outros

pilares para a produção do conhecimento científico e para a escolarização, e

esses pilares já podem ser reconhecidos e são: o combate ao irracionalismo, ao

pós-modernismo, aos ―giros‖ e ―viradas‖ idealistas, buscando consolidar uma

consistente base teórica marxista, avançar na consciência de classe, na

formação política e na organização revolucionária, como contra-ponto aos

pilares da educação defendidos pela UNESCO para o mundo.

d) ventos de esquerda ainda sopram na América Latina, contraditoriamente, e o

marxismo, enquanto filosofia, o materialismo histórico dialético enquanto

epistemologia e, o socialismo enquanto projeto histórico, estão recolocados,

mais fortes do que nunca, pela sua aderência ao real, como referencia para

tratarmos da produção do conhecimento científico e das políticas públicas na

perspectiva do projeto histórico para além do capital

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