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BRASÍLIA 2007 PARTE 1 LEIS ESTADUAIS E DE MUNICÍPIOS DE CAPITAIS: UMA PESQUISA COMPARATIVA ESTUDOS DAS LEIS DE INCENTVO À CULTURA

Guia SESI de Investimento Cultural Volume 04 - Parte I - Estudos das Leis de Incentivo à Cultura

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Esse volume do guia está divido em duas partes: Uma Pesquisa Comparativa e A Legislação e Dados Básicos. A primeira se concentra em analisar as leis de incentivo nas esferas estadual e municipal. Já a segunda parte expõe as leis de criação e instituição do incentivo cultural. Mapas e tabelas ilustram o desempenho do investimento em cultura regionalizado.

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ESTUDOS DAS LEIS DE INCENTVO C U LT U R A

PARTE 1 LEIS ESTADUAIS E DE MUNICPIOS DE CAPITAIS: UMA PESQUISA COMPARATIVA

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ESTUDOS DAS LEIS DE INCENTIVO CULTURA

PARTE 1 LEIS ESTADUAIS E DE MUNICPIOS DE CAPITAIS: UMA PESQUISA COMPARATIVA

CONFEDERAO NACIONAL DA INDSTRIA CNI Presidente: Armando de Queiroz Monteiro Neto SERVIO SOCIAL DA INDSTRIA SESI Conselho Nacional Presidente: Jair Meneguelli SESI Departamento Nacional Diretor: Armando de Queiroz Monteiro Neto Diretor-Superintendente: Antonio Carlos Brito Maciel Diretor de Operaes: Carlos Henrique Ramos Fonseca

ESTUDOS DAS LEIS DE INCENTIVO C U LT U R ALEIS ESTADUAIS E DE MUNICPIOS DE CAPITAIS: UMA PESQUISA COMPARATIVA

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2007. SESI Departamento Nacional. Qualquer parte desta obra poder ser reproduzida, desde que citada a fonte. SESI/DN Unidade de Cultura, Esporte e Lazer UCEL

FICHA CATALOGRFICA S491e Servio Social da Indstria. Departamento Nacional. Estudos das leis de incentivo cultura / SESI. DN. Braslia : SESI/DN, 2007. 2 v. ; 26 cm. 204 p. Contedo : v.1 Leis Estaduais e de Municpios de Capitais: uma pesquisa comparativa. - v.2 Leis Estaduais e de Municpios de Capitais: a legislao e os dados bsicos. ISBN 978-85-7710-050-7 1. Incentivo Fiscal 2. Legislao Estadual 3. Brasil. 5. Brasil I. Ttulo. CDU 336.027:316.72(81)

SESI Servio Social da Indstria Departamento Nacional Sede Setor Bancrio Norte Quadra 1 Bloco C Edifcio Roberto Simonsen 70040-903 Braslia DF Tel.: (61) 3317-9290 Fax: (61) 3317-9316 http://www.sesi.org.br

SUMRIO

APRESENTAO 1 INTRODUO ........................................................................................................................................................... 9 2 NOTAES E BREVE HISTRICO.......................................................................................................................15 3 LEGISLAO ESTADUAL DE INCENTIVO CULTURA NO BRASIL: INVENTRIO ATUAL ................37 4 GASTOS PBLICOS E INCENTIVO FISCAL: RESULTADOS NA ESFERA ESTADUAL .............................95 4.1 ACRE ................................................................................................................................................................ 102 4.2 BAHIA .............................................................................................................................................................. 104 4.3 CEAR ............................................................................................................................................................. 109 4.4 DISTRITO FEDERAL ....................................................................................................................................... 112 4.5 GOIS .............................................................................................................................................................. 115 4.6 MINAS GERAIS ................................................................................................................................................ 117 4.7 PAR ................................................................................................................................................................ 124 4.8 PERNAMBUCO ............................................................................................................................................... 126 4.9 RIO GRANDE DO NORTE ............................................................................................................................. 130 4.10 RIO GRANDE DO SUL ................................................................................................................................. 133 4.11 SO PAULO................................................................................................................................................... 140

5 LEGISLAO MUNICIPAL DE INCENTIVO CULTURA NO BRASIL: INVENTRIO ATUAL DA LEGISLAO DOS MUNICPIOS DE CAPITAIS ................................................. 143 5.1 ARACAJU (SERGIPE) ....................................................................................................................................... 145 5.2 BELM (PAR) ................................................................................................................................................. 147 5.3 BELO HORIZONTE (MINAS GERAIS)............................................................................................................ 147 5.4 CAMPO GRANDE (MATO GROSSO DO SUL).............................................................................................. 148 5.5 CUIAB (MATO GROSSO) ............................................................................................................................. 148 5.6 CURITIBA (PARAN) ...................................................................................................................................... 149 5.7 FLORIANPOLIS (SANTA CATARINA) ......................................................................................................... 149 5.8 JOO PESSOA (PARABA)............................................................................................................................... 150 5.9 MACAP (AMAP).......................................................................................................................................... 150 5.10 NATAL (RIO GRANDE DO NORTE)............................................................................................................ 150 5.11 PALMAS (TOCANTINS)................................................................................................................................ 151 5.12 PORTO ALEGRE (RIO GRANDE DO SUL) .................................................................................................. 151 5.13 RECIFE (PERNAMBUCO) ............................................................................................................................. 152 5.14 RIO BRANCO (ACRE) ................................................................................................................................... 152 5.15 RIO DE JANEIRO (RIO DE JANEIRO)........................................................................................................... 153 5.16 SALVADOR (BAHIA)...................................................................................................................................... 154 5.17 SO PAULO (SO PAULO) .......................................................................................................................... 154 5.18 TERESINA (PIAU) ......................................................................................................................................... 155 5.19 VITRIA (ESPRITO SANTO) ....................................................................................................................... 155 6 GASTOS PBLICOS EM CULTURA NOS MUNICPIOS DE CAPITAIS ......................................................157 7 COMPONENTES BSICOS DE FORMULRIO PADRO PARA INSCRIO DE PROJETO CULTURAL .....165 REFERNCIAS ............................................................................................................................................................189 APNDICES ................................................................................................................................................................191 APNDICE A: INFORMAES CADASTRAIS SISTEMAS INSTITUCIONAIS DA CULTURA ESTADOS E MUNICPIOS DE CAPITAIS AGOSTO A NOVEMBRO DE 2005................................................. 191 APNDICE B: ICMS CULTURAL TER MUDANAS CONSELHO CURADOR DO IEPHA-MG APRIMORA NORMAS ................................................................................................................. 196 APNDICE C: QUADRO COMPARATIVO DAS LEGISLAES ESTADUAIS DE INCENTIVO CULTURA - MINAS GERAIS, PERNAMBUCO E RIO GRANDE DO SUL - ESTADOS CONSIDERADOS REPRESENTATIVOS PARA AS PRINCIPAIS REGIES 2005 ............................................... 197

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APRESENTAO

om o objetivo de dotar o Servio Social da Indstria (SESI) e, mais especificamente, suas reas de gesto da cultura de uma ampla base de dados sobre a legislao em cultura no Brasil, o SESI Departamento Nacional, por meio do Instituto Plano Cultural, realizou pesquisa que trata das Leis de Incentivo Cultura no Brasil Estados e Municpios de Capitais. Essa pesquisa compreende a primeira etapa de um estudo mais amplo relativo ao Patrocnio Cultural. Ambos fornecero os fundamentos e subsdios para os bancos de dados em estruturao no programa SESI Cultura, em sua atual gesto. A pesquisa concebida no mbito da Tecnologia SESI Cultura tambm considera a cultura o bem maior da cidadania, o espao de incluso em que o ser humano melhor se expressa e se realiza para

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poder ser sujeito do prprio fazer histrico, um dos aspectos fundamentais para o desenvolvimento de um povo de determinada regio. Pressupe que, alm de promover o crescimento humano, a cultura deve ser considerada como fonte de riqueza e geradora de empregos, e a diversidade e a pluralidade cultural, a memria histrica, a criao artstica e a comunicao humana so elementos indispensveis ao desenvolvimento do homem. Cabe ao Estado atuar como indutor e regulador das iniciativas culturais, e no apenas como patrocinador ou executor de projetos de difcil trnsito no marketing cultural, mediante a utilizao de fundos pblicos. A atuao do Estado deve ser no sentido de abrir espaos cultura, uma conquista cidad e um direito de todos. Sob esse enfoque, a pesquisa sobre Leis de Incentivo Cultura volta-se, especificamente, ao financiamento da ao cultural nas esferas subnacionais, considerando o entorno da legislao de incentivo no Pas, sob a hiptese principal de que o novo modelo de financiamento das atividades culturais, mediante leis de incentivo cultura, inaugurado pela Lei Rouanet, necessita de aprimoramentos. Isso consensual nos mais diversos fruns em que se discute a cultura brasileira, como, tambm, caminhos e solues apontadas passam pelas esferas subnacionais e pela implantao, divulgao e aprimoramento de mecanismos de incentivos fiscais nas instncias estaduais e municipais. A pesquisa revela a sua importncia no contexto dos mltiplos atores que atuam na gesto da rea da cultura no Brasil, tendo como um pblico-alvo mais direcionado esses atores na estrutura institucional do SESI voltada para a rea da cultura, de tecnologia da informao e de suporte e divulgao das informaes. Para esses agentes multiplicadores na estrutura do

SESI, conhecer as bases legais e as condies de financiamento das aes culturais em suas vrias dimenses so requisitos estratgicos na elaborao de seus planos de ao, em suas atuaes e tomadas de decises cotidianas. A pesquisa apresentada em dois volumes. O primeiro compreende o contedo analtico sobre as Leis de Incentivo Cultura e as informaes relevantes extradas da pesquisa. O segundo traz as leis de criao e instituio do incentivo cultural e as tabelas bsicas do estudo de recursos oramentrios e resultados dos incentivos por estados e municpios. Vale ressaltar que, em face do grande volume de informaes e do alcance da pesquisa, outras informaes relativas legislao de regulamentao das leis, editais, formulrios e instrues normativas e bases de dados e informaes primrias sero disponibilizadas em meio magntico. Antonio Carlos Brito Maciel Diretor-Superintendente do SESI/DN

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INTRODUO

m geral, os indivduos tm grandes idias. Para o artista ter grandes idias, quase um compromisso. preciso que elas se concretizem, saiam das mentes e do papel, alcancem os cidados, o pblico-alvo. A autoria transforma o projeto em filho, e filhos so filhos, sempre perfeitos. Entretanto, importante ser crtico. Saber se existe inovao, audcia criativa, originalidade, ineditismo, vanguarda e talento artstico ou apenas se est reinventando a roda, o que, tambm, em princpio, no invalida, a priori, o fazer cultural. primordial buscar sugestes sobre o projeto, estabelecer dilogo com outras pessoas para comentrios e discusses. Quem est fora, s vezes, consegue perceber aspectos que o envolvimento do autor deixou escapar. A abertura a opinies negativas essencial. Faz parte do aprendizado encarar elogios e crticas como

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matria-prima para a qualidade do produto final (ACRE, 2005). Cultura , antes de tudo, um produto comunitrio. Os princpios e os valores que sustentam o paradigma cultural de um povo orientam seus usos, seus costumes, seu folclore, sua maneira de fazer e viver. Por meio da Arte em suas diferentes formas de expresso, tais valores so veiculados, preservados e difundidos. Assim, as leis estaduais e municipais de fomento cultura inovam, procurando trazer para as comisses de avaliao dos projetos culturais critrios e parmetros relativos sua qualidade cultural e ao nvel de interesse coletivo que o projeto representa. A informao nunca circulou com tanta facilidade. Perceber e pesquisar sobre outros projetos no significa copiar ou plagiar. O importante , principalmente, aprender com as dificuldades e os erros dos outros. Existem o direito autoral e tambm segredos profissionais, porm tambm h maior disponibilidade para socializar informaes e experincias. Idias mal desenvolvidas ou formatadas inadequadamente, em qualquer rea, transformam-se em grandes fracassos. No existem frmulas mgicas: vale experincia, talento, inventividade, profissionalismo e oportunidade (ACRE, 2005). Ao desenvolver seu projeto, necessrio desconsiderar inicialmente os modelos, os formulrios de leis de incentivo ou de instituies financiadoras. A concepo exige liberdade e o maior detalhamento possvel do projeto. Um adequado detalhamento do projeto leva seu proponente a pensar suas etapas, com foco na descrio das tarefas, na definio de custos e condies para atingir o objetivo proposto. Percorrido esse amplo caminho de concepo e criao do projeto, o preenchimento de formulrios torna-se tarefa mais fcil e mais realista.

Se a inteno para concretizar o projeto buscar recursos na iniciativa privada mediante leis de incentivos culturais, atualmente os principais suportes para concretizar aes de marketing cultural no Brasil, fundamental que, na elaborao, o autor esteja preocupado com aspectos que interessam a potenciais patrocinadores. Assim, o projeto ter trnsito na rea do marketing cultural. Cada empresa possui um perfil de comunicao, uma verba prevista, uma definio de pblico consumidor e rea geogrfica de atuao. Uma empresa no se interessa por todos os projetos culturais e um projeto cultural no interessa a todas as empresas. Existem nichos de mercado para todos os tipos de projetos, bastando saber adapt-los s estratgias de comunicao das empresas patrocinadoras. Perceber os possveis interesses ou necessidades das empresas patrocinadoras no significa transformar o projeto em um produto para venda, alterar o conceito do que se pretende para facilitar a obteno de recursos. Um bom projeto cultural no um agregado de promoes, cartazes, folhetos, anncios e a marca do patrocinador na camiseta do artista. Empresas com gerncias mais sintonizadas j percebem que o retorno mais positivo do patrocnio cultural est intimamente ligado essncia do projeto, e isso constitui o diferencial. Aos empreendedores culturais cabe ter, dicotomicamente, flexibilidade e limites nos processos de negociaes e ajustes junto s empresas incentivadoras. Na obteno do patrocnio cultural, recomenda-se buscar conhecer a atividade econmica da empresa e sua condio econmico-financeira, em que o produtor cultural ou o agente captador apresenta o projeto e a estrutura do planejamento tributrio e fiscal da empresa; quais os principais tributos que

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a empresa recolhe aos cofres pblicos e como atua em termos de planejamento tributrio para reduzir sua carga fiscal. Frases relativas ao alcance do patrocnio cultural esto na mdia, nas pesquisas e no cotidiano do Brasil: o apoio cultura, mais que uma ferramenta do marketing dos clientes, parte do perfil de uma empresa moderna, preocupada em devolver sociedade o que ela lhe d. O desenvolvimento de uma sociedade, de uma empresa, de uma comunidade, passa indiscutivelmente pela cultura. Onde a cultura se manifesta, a cidadania est assegurada. Se o consumidor tem a opo entre duas empresas, escolher a que considera que reflete uma postura de empresa-cidad. O investimento em cultura no s um bom negcio, mas tambm uma eficiente estratgia de valorizao da imagem das empresas junto comunidade. A cultura um setor estratgico quando se procura complementar o posicionamento da marca. Para Franceschi (1998, p. 35), O marketing moderno reserva para o exerccio da responsabilidade social das empresas as funes mais nobres no processo da conquista das preferncias do mercado. Uma empresa atuante nessa rea, e, portanto, sintonizada com as demandas culturais e sociais de sua comunidade, ser sempre preferida a qualquer outra que no possua a mesma capacidade de responder a essas aspiraes. O marketing cultural para Almeida (1992, p. 4) a extenso do marketing empresarial, que utiliza as atividades artsticas como ferramenta de comunicao, buscando a promoo das marcas e produtos das empresas. J para Fischer (1998, p. 68), o marketing cultural o conjunto de aes promocionais baseadas em eventos, atividades culturais ou produtos artsticos com o intuito de criar,

desenvolver ou reforar uma imagem favorvel organizao que as patrocina, sendo tambm uma das ferramentas do marketing-mix que reala o papel da organizao como agente sociocultural. Assim, observa-se que o marketing cultural um elemento da estratgia de comunicao corporativa que visa, sobremodo, promoo, defesa, ao patrocnio e valorizao de bens e padres culturais, sejam de cunho literrio, cientfico, artstico, educacional, e vinculao desses valores com a empresa para a valorizao da marca ou da instituio perante os agentes econmicos. consensual entre os diversos autores que, por promover a associao entre a atividade cultural e a comunicao empresarial, o marketing cultural tem-se revelado nos dias atuais um dos mais eficazes instrumentos de comunicao corporativa. A saturao da publicidade convencional levou as empresas a buscar formas de comunicao empresarial que consigam, de forma gil e eficiente, atrair um pblico consumidor exigente e diferenciado, conferindo a elas grande valor de mercado. Isso acontece, pois o patrocnio de eventos culturais encontra-se quase sempre associado a uma atividade valorizada socialmente. Assim, o ganho de imagem alcanado pela associao da arte e da empresa origina-se da transferncia de valores prprios da primeira, como beleza, sofisticao, exclusividade, ousadia e prestgio, para os produtos e para a marca da segunda. Logo, por meio do marketing cultural, agrega-se ao produto vendido uma carga simblica das atividades culturais que oferece aos consumidores mais do que o valor da prpria utilidade. O marketing cultural, utilizando-se do estabelecimento de relaes entre realidades distintas, associa as necessidades e desejos de expresso do artista ou agente cultural

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s caractersticas, necessidades e vontades de expresso empresarial. E, alcanada uma associao e identificao pelo consumidor de uma manifestao cultural por ele valorizada, com uma marca, tende-se a criar um vnculo de fidelidade e preferncia por aquele produto, cujo potencial mercadolgico se amplia. Em relao ao apoio cultura como poltica de responsabilidade social, Sarkovas (1994, p. 5) afirma que no Brasil as conexes entre as empresas e as atividades artsticas tm-se ampliado de forma significativa. Pressionados pela ausncia de suportes institucionalizados para pesquisa, criao, produo e circulao de bens artsticos e culturais, os profissionais do setor buscam amparo dos recursos empresariais, fazendo surgir um mercado embrionrio de patrocnio s artes. Paralelo a esse movimento, o marketing empresarial procura novos meios de promoo de suas marcas e produtos e, nesse processo, vem-se utilizando, cada vez mais, das atividades artsticas como ferramenta de comunicao, o que faz com que o marketing cultural movimente atualmente boa parte do mercado artstico e j se constitua importante fonte de recursos. Sob esse prisma, o patrocnio cultural visto como uma forma de harmonizar o negcio da empresa com a sociedade. Investir em cultura uma forma de criar uma proteo invisvel a favor de sua imagem. Entretanto, buscar um patrocnio tarefa difcil e que exige profissionalizao. Alm dos aspectos relativos cultura e mercado abordados acima, outro aspecto importante, na discusso sobre o tema renncia fiscal e legislao de incentivo, diz respeito dicotomia pr e contra esse mecanismo como instrumento de poltica cultural. As posies favorveis asseguram que o Estado no deve ser produtor de cultura, mas apenas provedor

dos recursos que a sociedade alocar da maneira que melhor lhe convier. Que a renncia fiscal liberta a atividade cultural do paternalismo estatal e das restries ideolgicas dos grupos polticos que eventualmente ocupam o poder; que o incentivo cultural um instrumento gil, pois independe de uma srie de trmites burocrticos exigidos pelo poder pblico, facilita o estabelecimento de parcerias entre o mercado e o governo com a finalidade de executar projetos de interesse pblico e estimula de vrias maneiras a profissionalizao do setor cultural, desde as fases de elaborao dos projetos e busca de patrocnio at a etapa de execuo e ps-produo. Por ltimo, o argumento de que a renncia fiscal faz crescer o montante de recursos disponveis em todas as regies, principalmente naquelas que concentram maior populao (e pblico consumidor de cultura) e onde a produo cultural quantitativamente mais representativa, precisa ser apreciado por ser uma constatao contrria ao que afirmam os nodefensores da renncia fiscal como instrumento de poltica cultural. Esses ltimos asseguram que o incentivo fiscal tem provocado a diminuio, em alguns casos, at mesmo a substituio dos oramentos dos rgos de cultura e, quando permite que projetos desses rgos possam ser incentivados, estabelece uma disputa desigual entre o Estado e os produtores culturais na captao de recursos. Ainda na viso pessimista de argumentos desfavorveis e contrrios utilizao do mecanismo de renncia fiscal para o incentivo cultura, tem-se que esse instrumento transfere do Estado para o mercado a responsabilidade de incentivar a cultura; mercantiliza a cultura, submetendo a criatividade e a liberdade artstica aos parmetros mercadolgicos; beneficia os artistas consagrados, com os quais os patrocinadores

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preferem identificar suas marcas, em detrimento das propostas inovadoras ou de cultura local e popular; privilegia as regies economicamente mais fortes, pois nelas que se concentra a maior parte dos contribuintes de impostos e, portanto, os potenciais patrocinadores; estimula a realizao de eventos, que possibilitam retorno mais imediato de marketing, em detrimento de atividades de maior durabilidade, como a pesquisa, a formao artstica e a criao da infra-estrutura necessria para a rea cultural. E ainda que o incentivo fiscal de difcil fiscalizao, fator que estimula a m utilizao ou desvio de recursos pblicos. A realizao e o desenvolvimento de uma pesquisa, a definio de sua metodologia, a compilao de seus resultados compreende um processo evolutivo em que ajustes e correes de rumo podem ocorrer durante o desenvolvimento da pesquisa em decorrncia dos procedimentos adotados no tratamento terico e emprico do estudo. A despeito de a experincia permitir essa assertiva, o roteiro inicial aponta para uma anlise comparativa das legislaes estaduais e municipais de incentivo cultura, numa abordagem que considere o entorno dessas leis no que se refere ao contexto dos recursos oramentrios disponveis para a cultura nas esferas subnacionais no Brasil.

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NOTAES E BREVE HISTRICO

incentivo cultural, ou incentivo fiscal cultura, assume freqentemente a forma de dedues nos impostos devidos por indivduos (pessoas fsicas) ou empresas (pessoas jurdicas) como compensao por gastos efetuados com o apoio a prticas culturais. So trs as principais modalidades cobertas pelos incentivos fiscais: doao, patrocnio e investimento. Na primeira modalidade doao , h transferncia de recursos aos produtores culturais (ou empreendedores) para a realizao de obras ou produtos culturais sem que haja, por parte do incentivador, interesses promocionais, publicitrios ou de retorno financeiro. A doao corresponde ao tradicional mecenato cultural. No caso do patrocnio que diz respeito ao marketing cultural , h transferncia de recursos a produtores culturais para a realizao de projetos

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culturais com finalidades promocionais, publicitrias ou de retorno institucional. Por fim, o investimento refere-se transferncia de recursos a produtores culturais para a realizao de projetos com a inteno de participao nos eventuais lucros financeiros. Nessa modalidade, a empresa considera o empreendimento cultural como um negcio. Na legislao brasileira, incentivos fiscais produo cultural sempre existiram de forma indireta, na forma de abatimentos por despesas de promoo ou publicidade. Mas, a partir de 1986, comearam a surgir legislaes especficas. A primeira lei brasileira de incentivos fiscais cultura, a Lei Federal no 7.505, mais conhecida como Lei Sarney, embora tenha sido apresentada ao Congresso Nacional em 1972, s foi aprovada em 1986. A partir da constatao de que alguns produtores culturais no poderiam sobreviver somente com recursos prprios, a Lei Sarney foi criada para incentivar empresrios a investir no setor cultural e pretendia incrementar a cultura e democratiz-la. A Lei Sarney era um mecanismo de financiamento das atividades culturais por meio da concesso de incentivos fiscais aos contribuintes do Imposto de Renda que decidissem incentivar projetos culturais mediante doao, patrocnio ou investimento. Apesar de seus resultados quantitativos no terem sido divulgados devidamente nem avaliados com rigor, de acordo com Santa Rosa (1991), ela foi fundamental para o processo de reaquecimento cultural do Pas no perodo de sua existncia (19861989), apesar de todas as suas imperfeies. Estimase que foram gastos cerca de US$ 450 milhes em apoio arte e cultura do Pas, dos quais US$ 112 milhes correspondem ao incentivo fiscal e o restante contrapartida dos patrocinadores. Entretanto, no se conhece a distribuio desses

recursos segundo sua origem ou destino. A particularidade mais criticada dessa lei foi a de que, por no exigir aprovao tcnica prvia dos projetos culturais, mas apenas o cadastramento como entidade cultural junto ao Ministrio da Cultura (MinC) das pessoas e firmas interessadas em captar recursos das empresas, a lei teria favorecido irregularidades, pois qualquer nota fiscal emitida por uma entidade cadastrada poderia ser usada pelo seu destinatrio para abatimento fiscal, independentemente de se referir ou no despesa efetiva com projeto cultural. Sua revogao no incio do governo Collor, em maro de 1990, em virtude da ocorrncia de desvios em seus objetivos, juntamente com a extino e fuso do Ministrio da Cultura e de diversas fundaes culturais, aliadas ao agravamento da crise econmica e ausncia de qualquer tipo de incentivo para o setor, provocou grave crise no universo da produo cultural brasileira. Como conseqncia dessa situao desastrosa, a maioria das empresas incentivadoras reduziu ou cancelou seus patrocnios e doaes a projetos culturais. A criao de mecanismos de incentivo fiscal no mbito municipal foi a soluo encontrada para o fomento das atividades artstico-culturais. A Lei Mendona (Lei no 10.923/90), do municpio de So Paulo, regulamentada em 1991, constituiu medida pioneira que serviu de modelo para diversos municpios ao permitir a deduo do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e do Imposto sobre Servios (ISS) para os contribuintes que aplicassem recursos na rea cultural. Aps a Lei Mendona, surgiram leis municipais em diversas capitais brasileiras e outras cidades, bem como leis estaduais de incentivo cultura, as quais definem como instrumento de incentivo fiscal um percentual do Imposto sobre Circulao

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de Mercadorias e Servios (ICMS). Entretanto, em ambos os nveis, o processo de implantao das leis tem sido lento e, muitas vezes, seus resultados no correspondem s expectativas e demandas dos artistas e produtores culturais. Em substituio Lei Sarney e em resposta s presses dos setores artsticos, o governo Collor acabou por admitir retomar o financiamento da cultura, sancionando a Lei no 8.313/91, mais conhecida como Lei Rouanet. Esta lei introduziu a aprovao prvia de projetos por parte de uma comisso formada por representantes do governo e de entidades culturais. Criou um conjunto de aes na rea federal, chamado de Programa Nacional de Apoio Cultura (Pronac), que recuperou e ampliou alguns mecanismos da Lei Sarney, ao estabelecer os seguintes instrumentos de fomento a projetos culturais: Fundo Nacional da Cultura (FNC), Fundos de Investimento Cultural e Artstico (Ficart) e Incentivo a Projetos Culturais (Mecenato). O Fundo Nacional da Cultura financia at 80% do custo total de projetos culturais, atendendo prioritariamente aos de carter regional, apresentados por pessoas fsicas ou jurdicas de natureza pblica ou privada, desde que sem fins lucrativos. O fundo concretizou a alocao de recursos oramentrios da Unio para o financiamento da cultura por meio de emprstimos reembolsveis ou cesso a fundo perdido e criou mecanismos que, se bem utilizados, podero contribuir para diminuir as desigualdades regionais e democratizar o processo cultural. O segundo instrumento estabelecido pelo Pronac os Ficart ainda no foi operacionalizado com o devido sucesso. Sua constituio, funcionamento e administrao ficaram a cargo da Comisso de Valores Mobilirios (CVM), que passaria a atuar mediante a venda de cotas de projetos artsticos a investidores por meio de instituies credenciadas.

O Incentivo a Projetos Culturais mediante o Mecenato, por sua vez, possibilita s pessoas fsicas e jurdicas a aplicao de parcelas do Imposto de Renda, a ttulo de doaes ou patrocnios, em apoio a projetos culturais previamente aprovados pela Comisso Nacional de Incentivo Cultura. O incentivador poder deduzir do IR devido os seguintes percentuais: 80% do valor das doaes e 60% do valor dos patrocnios, no caso de pessoas fsicas, observado o limite percentual de 6% do Imposto de Renda devido; 40% do valor das doaes; e 30% do valor dos patrocnios, no caso de pessoas jurdicas tributadas com base no lucro real, tendo como limite o percentual de 4% do imposto devido. A pessoa jurdica poder tambm abater o total das doaes e patrocnios como despesa operacional, reduzindo o valor tributvel e, em conseqncia, diminuindo os valores de Contribuio Social e do Imposto de Renda. Alm das vantagens tributrias, o patrocinador pode, dependendo do projeto que apoiar, obter retorno em produtos (livros, discos, esculturas, gravuras) para brinde ou obter mdia espontnea. O recebimento do produto artstico gerado pelo projeto est limitado legalmente a 25% do total produzido e deve se destinar distribuio gratuita. Para garantir que no se repetissem as distores de que foi acusada a aplicao da Lei Sarney, a nova regra criou normas e empecilhos, tais como: impediu a remunerao de intermedirios; enrijeceu o processo de avaliao de projetos; estabeleceu em nvel muito baixo o percentual de imposto que as empresas poderiam direcionar Cultura. Aliado ao desconhecimento e ao preconceito dos empresrios em relao lei, as novas regras no conseguiram mobilizar parcela significativa dos recursos postos disposio pela renncia fiscal pelo governo federal entre 1992 e 1994. Nesse contexto desfavorvel ao financiamento dos

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projetos e atividades culturais em parceria com a iniciativa privada, no incio de 1995, procedeu-se reforma da Lei Rouanet como ao prioritria do Ministrio da Cultura. As mudanas na legislao vigente tiveram por objetivo torn-la mais gil, desburocratizar e dinamizar o processo de anlise dos projetos, aumentar o percentual de desconto do Imposto de Renda de 2% para 5% e reconhecer o trabalho de profissionais especializados na elaborao de projetos e captao de recursos junto s empresas, alm de promover campanhas de divulgao e de esclarecimento da legislao em vigor. Essas medidas resultaram em um crescimento significativo do nmero de projetos incentivados e dos recursos canalizados cultura a partir de ento. Uma outra lei de incentivo cultura em nvel federal a Lei do Audiovisual (Lei no 8.685), sancionada no governo do presidente Itamar Franco, em 20 de julho de 1993, que foi a grande responsvel pelo incremento verificado no financiamento ao cinema e no nmero de filmes produzidos e em processo de produo nos ltimos anos. Esta lei permite ao contribuinte investidor em produo de obras audiovisuais nacionais previamente aprovadas pelo Ministrio da Cultura o abatimento de 100% do valor das cotas adquiridas no Imposto de Renda devido at o limite mximo de 3% para pessoas jurdicas e 5% para pessoas fsicas, sendo que o investidor torna-se scio da produo, com participao nos lucros. A Lei do Audiovisual foi concebida para vigorar por um perodo de dez anos, na tentativa de alavancar o renascimento da indstria cinematogrfica brasileira mediante um fomento inicial do mercado investidor para que, posteriormente, esse segmento pudesse sobreviver sem o incentivo fiscal. Para estimular o fomento de reas culturais especficas, dando-lhes condies de maior competitividade no mercado de captao de

recursos, a Medida Provisria no 1.589/97 estabeleceu o abatimento de 100% do valor aplicado do imposto devido, desde que no ultrapasse os 4% do valor de IR devido, para investimento em determinados setores contemplados pela Lei Rouanet, a saber: artes cnicas, livros de valor artstico-literrio ou humanstico, msica erudita ou instrumental, circulao de exposies de artes plsticas, doaes de acervos para bibliotecas pblicas e museus. Na seqncia, a Medida Provisria no 1.636/97 reduziu o limite de renncia fiscal definido na Lei Rouanet de 5% para 4% do Imposto de Renda a pagar, o que diminuiu a capacidade de investimento das empresas, tornando necessrio um maior nmero de parceiros para conseguir o mesmo volume de recursos de antes. Segundo Castello (2002, p. 636), na gesto Weffort no MinC, surgia ainda, formalmente, a figura do agente cultural, profissional encarregado da venda de projetos e que pode cobrar comisso pela intermediao de recursos. O custo com os agentes podia ser includo no oramento. Permitiu-se, alm disso, que os projetos fossem encaminhados ao MinC no mais em prazos rgidos, mas durante todo o ano e o tempo fixado para a apreciao dos projetos pelo ministrio caiu de noventa para sessenta dias. Estava implantado, assim, um mercado de patrocnios, intermediado pelos agentes culturais, profissionais capacitados para lidar com operaes financeiras e dotados de conhecimentos sobre a rea tributria, as finanas e o marketing. Pesquisas idneas j mostravam que o principal motivo que leva as empresas a investir no patrocnio a perspectiva de ganho em sua imagem institucional. Ao investir na cultura, a empresa deseja, antes de tudo, absorver uma parte da imagem positiva e da aura que a cercam. Ficava criado, assim, no s um mercado de bens culturais,

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mas um mercado de imagens institucionais. Ainda para esse autor, duas idias so importantes para se entender a poltica cultural gerida pelo ministro Francisco Weffort ao longo dos oito anos do governo FHC. Primeiro, a de que sem dinheiro no existe produo cultural; logo, as duas coisas no podem ser contrapostas mas, ao contrrio, devem estar associadas. Segundo, a de que necessrio construir no Brasil uma forte indstria cultural, at para que, na borda dessa indstria, possa vir a surgir uma vanguarda que dela se desligue e a ela se contraponha, quanto mais a zona de racionalidade se expande, mais se expande, necessariamente, a fronteira com o desconhecido e o experimental. Uma opo clara pela retomada da Lei Rouanet, entretanto, com uma aprovao prvia dos projetos mais burocrtica, o que no chega a ser, contudo, garantia de que as presses do mercado estaro sob controle. Nessa gesto, verifica-se agilidade na captao de recursos pela Lei Rouanet. Se ao longo do governo Itamar Franco apenas 72 empresas se valeram da Lei Rouanet para investir na cultura, s no primeiro ano do governo FHC (1995), esse nmero saltou para 235; 614 empresas em 1996; 1.133 empresas em 1997; 1.061 em 1998; 1.040 em 1999. Enquanto a expanso significativa entre 1995 e 1998 no reside em novidades legais, mas, antes disso, em um fator poltico: empenhado no sucesso da poltica de incentivos, o presidente fez recomendao expressa s empresas estatais para que passassem a investir na cultura; no que contou com o pessoal e apoio de Srgio Motta, Ministro das Comunicaes, responsvel pelo envolvimento com a cultura notado entre as estatais do setor, o declnio verificado a partir de 1998 tambm foi motivado pelo mesmo fator que, antes, atuara de modo favorvel. Ocorre que, em 1997, tomou fora o processo de privatizaes das estatais; as novas

empresas privatizadas se desinteressam da cultura e s viriam a retomar os investimentos a partir de 2000, e mesmo assim impulsionadas por novos estmulos oferecidos pelo Estado. Quanto s distores no processo, Castello (2002, p. 638) assinala que no primeiro ano do governo FHC a distribuio de patrocnios por meio da Lei Rouanet concentrou mais da metade dos recursos de R$ 50,55 milhes em apenas dez projetos, quase todos de empresas que criaram as prprias instituies culturais, em particular alguns grandes bancos. Segundo Dria (2000, p. 61), em 2000, apenas dezessete empresas responderam por 61% dos incentivos fiscais federais que chegaram ao mercado (R$ 213 milhes de um total de R$ 353 milhes), contra 2.629 empresas pequenas que aportaram apenas 2% equivalentes a R$ 7 milhes. Na concentrao regional, verifica-se que 320 empresas localizadas em So Paulo e Rio de Janeiro concentraram 94% dos incentivos. Ainda em 1996, embora trabalhando com 18% a menos de verbas que no ano anterior, o Ministrio da Cultura anunciou investimentos da ordem de R$ 200 milhes na restaurao do patrimnio histrico, em quinze estados verba proveniente de um acordo entre o governo federal e o BID, com R$ 100 milhes prometidos para 1998 e outros R$ 100 milhes para 1999. Se o oramento do MinC veio crescendo ao longo dos anos, a aplicao desses recursos continua entregue, em geral, a fatores casuais e, mesmo, aleatrios. Foram R$ 104 milhes em 1995; R$ 214 milhes em 1996; R$ 249 milhes em 1997. Em 1998, embora o oramento direto tenha cado cerca de 15%, o total chegou a algo em torno de R$ 427,10 milhes, a preos correntes de 2004. A partir desse exerccio, quedas seqenciais so verificadas, com um alcance de apenas R$ 213,4 milhes em 2005, aps o contingenciamento.

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As despesas realizadas pelo Ministrio da Cultura e suas entidades supervisionadas atingem R$ 427,10 milhes; R$ 410,94 milhes; R$ 366,94 milhes; R$ 398,70 milhes, respectivamente, em 1995, 1998, 2002 e 2004, valores expressos a preos mdios de 2004 (tab. 2.1). Comparando os valores dos dois primeiros anos do segundo governo FHC com os dois primeiros anos do governo Lula, verifica-se que ocorreu uma reduo real nessas despesas da ordem de 20,42% entre os dois perodos, uma vez que entre 1999 e 2000 o montante atinge R$ 881,24 milhes contra R$ 708,71 milhes no perodo 2003-2004.

Tabela 2.1 Despesas por rgos e entidades Ministrio da Cultura Brasil 1995/2004 (Valores em R$ de 2004)

Fonte: Dados Bsicos: Ministrio da Fazenda: Secretaria do Tesouro Nacional, Balanos Gerais da Unio Elaborao: Instituto Plano Cultural, Diretoria de Pesquisa. Belo Horizonte, Setembro de 2005

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J em 2005, como assinalado, com o Decreto no 5.379, de 25 de fevereiro de 2005, o governo federal alcanou fortemente o Ministrio da Cultura, em cortes oramentrios, passando de uma previso na Lei Oramentria Anual (LOA) de 2005 de R$ 480,00 milhes para R$ 213,40 milhes, com uma reduo nominal de 55,64% em termos de contingenciamento de gastos para cumprir as metas de resultado primrio. J o oramento de investimento do Ministrio da Cultura, cuja previso na Lei Oramentria Anual de 2004 era de R$ 97,76 milhes, apresentou uma execuo em termos de despesa empenhada de R$ 45,21 milhes e de despesa paga de apenas R$ 13,66 milhes. Quanto aos nmeros do incentivo cultural federal mediante a Lei Rouanet, so apresentados nas tabelas de 2.2 a 2.4 (nmero de projetos) e 5 (recursos), e nos grficos de 2.1 a 2.3 (recursos e taxas). Tabela 2.2 Projetos apresentados Lei Rouanet Brasil 1996-2004 (em nmeros)

Fonte: Dados Bsicos: Ministrio da Cultura Elaborao: Instituto Plano Cultural: Diretoria de Pesquisa

Tabela 2.3 Projetos aprovados pela Lei Rouanet Brasil 1996-2004 (em nmeros)

Fonte: Dados Bsicos: Ministrio da Cultura Elaborao: Instituto Plano Cultural: Diretoria de Pesquisa

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Tabela 2.4 Projetos que captaram recursos Lei Rouanet Brasil 1996-2004 (em nmeros)

Fonte: Dados Bsicos: Ministrio da Cultura Elaborao: Instituto Plano Cultural: Diretoria de Pesquisa

Tabela 2.5 Captao de recursos mediante a Lei Rouanet por rea cultural 1996-2004 (Valores a preos constantes de 20041)

Continua

Fonte: Dados Bsicos: Ministrio da Cultura Elaborao: Instituto Plano Cultural: Diretoria de Pesquisa

Concluso

Fonte: Dados Bsicos: Ministrio da Cultura Elaborao: Instituto Plano Cultural: Diretoria de Pesquisa 1 Valores corrigidos pelo IGP (DI) 2 O valor de 2005 refere-se ao perodo de janeiro a julho. Valores atualizados pelo MinC.

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Grfico 2.1 Evoluo da captao de recursos mediante a Lei Rouanet por rea cultural 1996-2004 Brasil. (Valores a preos constantes de 20041)

Fonte: Dados Bsicos: Ministrio da Cultura Elaborao: Instituto Plano Cultural: Diretoria de Pesquisa 1 Valores corrigidos pelo IGP (DI)

Grfico 2.2 Captao de recursos mediante a Lei Rouanet por rea cultural. Comparao (1998-2000) e (2002-2004). (Valores em R$ milhes constantes de 20041)

Fonte: Dados Bsicos: Ministrio da Cultura Elaborao: Instituto Plano Cultural: Diretoria de Pesquisa 1 Valores corrigidos pelo IGP (DI)

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Grfico 2.3 Variao real Captao e recursos mediante a Lei Rouanet por rea cultural Comparao (1999-2000) e (2003-2004) %

Fonte: Dados Bsicos: Ministrio da Cultura Elaborao: Instituto Plano Cultural: Diretoria de Pesquisa

Grosso modo, esses nmeros evidenciam que, a despeito das restries oramentrias, o Estado investe no s por intermdio dos mecanismos da renncia fiscal (na renncia fiscal, no a iniciativa privada que investe, mas, indiretamente, o prprio Estado), mas tambm por meio do dinheiro investido pelas estatais e Ministrio. O que caberia pesquisar seriam os dados atuais dos investimentos privados em cultura. No Brasil, quanto alcanam esses montantes relativos a investimentos diretos da iniciativa privada na rea cultural? Para Faria (2000, p. 44), as leis de incentivo cultura foram criadas na dcada de 1990 para estimular a iniciativa privada a investir em cultura num momento em que o Estado brasileiro fechava os rgos culturais mais representativos, reduzia seu oramento e comeava a construir um

estado mnimo e um mercado mximo. Com as leis culturais, abria-se mo das polticas pblicas de cultura e realizava-se a cultura com o dinheiro pblico na esfera privada [....]. Hoje, aps onze anos, ainda no temos um quadro dos principais resultados dessas leis, quais projetos contemplados, suas reas e linguagens, as regies e cidades que foram atendidas. inacreditvel que esses dados no estejam organizados. J segundo Dria (2003, p. 195), as leis de incentivo federal, tal como so praticadas, acabam por constituir uma espcie de esfera pblica no-estatal, como uma privatizao de parte da antiga funo cultural do Estado brasileiro. Na verdade, o Estado se retirou da gesto direta do dinheiro pblico, garantindo que ele iria para a cultura se e

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quando os produtores culturais conseguissem sensibilizar o empresariado e os cidados com suas propostas. Assim, o Estado abriu mo do papel eletivo que consiste em determinar quais produtores e propostas mereciam apoio e dinheiros pblicos [...] D-se ento uma inverso no desejada: a privatizao da poltica cultural com recursos pblicos (renncia fiscal crescentes, ao passo que os recursos privados a eles agregados so decrescentes). Essa posio do autor no consensual e no se fundamenta em dados empricos relativos a pesquisas especficas em empresas sobre investimentos diretos em cultura ou contrapartidas realizadas mediante patrocnio cultural. Pesquisas empricas realizadas em alguns estados junto a empresas patrocinadoras que utilizam leis estaduais conjuntamente com a Lei Rouanet j apontam alguma expanso de investimentos nessa direo (BARACHO E FLIX, 2001; MOREIRA SOUZA E STARLING, 2004; e SANTANA, 2004). Assim, para fundamentar essa discusso, a grande lacuna a ser preenchida, como assinalado anteriormente, cabe s pesquisas que busquem estimar o montante de recursos privados aplicados diretamente no setor cultural, tanto no que se refere s contrapartidas na utilizao das leis, quanto em termos de investimentos diretos na rea cultural, sem a utilizao de leis de incentivo. Ainda quanto utilizao de leis de incentivo cultura em vigor ou em implantao em esferas subnacionais, segundo Berman, Durand e Gouveia (1995, p. 7), em meados de 1995, j dispunham de leis aprovadas de incentivo fiscal cultura o Distrito Federal e mais quatro estados (Par, Pernambuco, Rio de Janeiro e So Paulo) e oito capitais estaduais (Aracaju, Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador, So Paulo, Teresina e Vitria). Complementando esses autores, vale mencionar outro significativo nmero

de municpios como Londrina, So Bernardo do Campo, Uberlndia, Santo Andr, So Jos dos Campos e muitos outros, nos quais leis de incentivo e de fundos foram criadas na dcada de noventa. Considerando que o fomento cultura no Brasil e aspectos relativos ao seu financiamento possam avanar nas esferas subnacionais, mediante renncias fiscais e investimentos privados diretos, duas projees fundamentadas so apresentadas a seguir. Ambas referem-se renncia fiscal de leis de incentivo estaduais e municipais, no sendo includas as contrapartidas de incentivadores culturais previstas nas legislaes e, no caso dos municpios, tambm no esto includos os valores relativos fixao de recursos oramentrios para fundos pblicos de cultura. Os dados bsicos de arrecadao de ICMS, de IPTU e de ISS de 1998 a 2004 so da Execuo Oramentria de Estados e Municpios divulgados pela Secretaria do Tesouro Nacional. O ITBI e as taxas municipais no foram includos porque a maioria das leis municipais baseia-se no IPTU e no ISS que ainda so a base da arrecadao municipal. Para as projees dos valores da arrecadao lquida1 de ICMS e da arrecadao dos impostos estaduais IPTU e ISS, at 2010, utilizou-se o modelo de srie temporal2, em que o comportamento futuro da varivel resulta basicamente do seu comportamento passado. Foram tomados os parmetros mdios da legislao atual de incentivo fiscal no que se refere ao percentual de incidncia para a definio legal do limite mximo de recursos disponveis, anualmente, para a renncia fiscal cultura.J deduzida do montante arrecadado a parcela de 25% a ser repassada aos municpios e deduzidas outras vinculaes constitucionais. 2 Anlises de Sries Temporais: Conjunto de tcnicas estatsticas orientadas para a identificao das tendncias de uma ou mais variveis em funo do tempo. Em linhas gerais, so diversos procedimentos para a diferenciao entre as oscilaes devido ao acaso daquelas que so um reflexo da dinmica do fenmeno estudado. Parte do processo envolve tomar a curva produzida pela varivel quando esta traada em funo do tempo (Srie Temporal) e suaviz-la por meio de um de muitos mtodos, de modo a produzir uma Srie Suavizada que mostra as principais tendncias de evoluo e uma Srie de Resduos que representa as variaes aleatrias.1

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As tabelas 2.7, 2.8 e 2.9 so relativas s estimativas e projees da renncia na esfera estadual pressupondo a incidncia de 0,5% na receita lquida da arrecadao do ICMS, conforme art. 216 6o (CF, Emenda Constitucional no 42, de 19 de dezembro de 2003). As tabelas 2.10, 2.11 e 2.12 so relativas s estimativas e projees da renncia na esfera municipal pressupondo a incidncia de 1% na arrecadao de IPTU e de ISS. No foi includo o ITBI, porque na legislao de algumas capitais ele no considerado, alm de seu valor ser pouco significativo, o que afetaria muito pouco a previso. Os valores da renncia constantes nas tabelas 2.9 e 2.12, respectivamente, para os estados e para as capitais para o perodo 1998-2004 e projetados para 2005-2010 evidenciam uma significativa fonte de financiamento para as aes culturais. A despeito das limitaes e dos modestos pressupostos adotados, verifica-se que em termos de grandeza essas possibilidades de fomento s aes culturais mediante a utilizao da renncia fiscal j incluiriam, em 2005, os valores de, respectivamente, R$ 112,26 milhes e R$ 549,77 milhes nas capitais e nos estados. Estimativas sensivelmente elevadas, projetadas em funo do limite legal mximo permitido e supondo que estariam operacionalizadas em sua potencialidade no conjunto dos estados e das capitais. Os valores anuais de 1998 a 2010 (em R$ correntes) alcanados na projeo so: Tabela 2.6 Valores estimados e projetados para o incentivo fiscal potencial Brasil 1998-2010 (em R$)

Fonte: Dados Bsicos: Tabelas 2.7 a 2.12 Elaborao: Instituto Plano Cultural, Diretoria de Pesquisa

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Favoravelmente ao comportamento expansionista desses nmeros projetados, vale citar que em conformidade com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) no 101, de 4 de maio de 2000, tornase obrigatria a anexao lei oramentria de demonstrativo regionalizado dos efeitos das isenes, anistias, remisses, subsdios e benefcios de natureza financeira, tributria e creditcia sobre as receitas e despesas pblicas (conforme artigo 10, inciso XII, da Lei no 13.959, de 26 de julho de 2001). Esse anexo da Lei Oramentria Anual permite estimar os benefcios concedidos na rea do ICMS, de outros tributos estaduais e dos incentivos financeiros e seus impactos nas finanas dos estados, considerando nesses os valores relativos aos incentivos culturais (BARACHO E FLIX, 2001, p. 8). A LRF dispe que no apenas as despesas mas tambm as renncias s podero ser institudas a partir da existncia de arrecadao que as comporte, considerando a estimativa de seus impactos econmicos e financeiros e disposies na Lei de Diretrizes Oramentrias (LDO). Argumenta-se que essas restries no afetam as condies de instituies de renncias fiscais para a cultura, que devem figurar como metas nas LDO anuais, pois geram renda, emprego, arrecadao de impostos e movimentam a economia. Dois importantes aspectos relativos ao entorno das legislaes de incentivo cultura das esferas subnacionais no Brasil merecem ainda ser pontuados. O primeiro, citado acima, refere-se aos fundamentos legais na esfera federal que antecedem as decises e encaminhamentos nos outros nveis da federao. A esse ttulo, a Emenda Constitucional no 42, de 19 de dezembro de 2003, acrescenta o 6o ao art. 216 da Constituio Federal, que permanece aps essa alterao com a seguinte redao:

Art. 216. Constituem patrimnio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referncia identidade, ao, memria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I as formas de expresso; II os modos de criar, fazer e viver; III as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas; IV as obras, objetos, documentos, edificaes e demais espaos destinados s manifestaes artstico-culturais; V os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagstico, artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico. 1o O Poder Pblico, com a colaborao da comunidade, promover e proteger o patrimnio cultural brasileiro, por meio de inventrios, registros, vigilncia, tombamento e desapropriao e de outras formas de acautelamento e preservao. 2o Cabem administrao pblica, na forma da lei, a gesto da documentao governamental e as providncias para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. 3o A lei estabelecer incentivos para a produo e o conhecimento de bens e valores culturais. 4o Os danos e ameaas ao patrimnio cultural sero punidos, na forma da lei. 5o Ficam tombados todos os documentos e os stios detentores de reminiscncias histricas dos antigos quilombos. 6o facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento cultura at cinco dcimos por cento de sua receita tributria lquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicao desses recursos no pagamento de: (Includo pela Emenda Constitucional no 42, de 19.12.2003)

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I despesas com pessoal e encargos sociais; (Includo pela Emenda Constitucional no 42, de 19.12.2003) II servio da dvida; (Includo pela Emenda Constitucional no 42, de 19.12.2003). Esses dispositivos permitem a ampliao do apoio e fomento aos programas e projetos culturais nas esferas estaduais. O segundo, destacado em pesquisas anteriores (BARACHO, 1997, p. 16), refere-se percepo de que existe complementaridade em termos de intensificao dos mecanismos de fomento por esferas da administrao pblica. Evidncias empricas constatam que, quando o governo federal intensifica o fomento, observa-se retrao por parte das outras esferas e vice-versa. Isso tambm acontece no que se refere alocao de recursos oramentrios pelas esferas em suas trs instncias no Brasil. Na prxima seo, ser apresentado o quadro atual da legislao estadual de incentivo cultura no Brasil, resultante da pesquisa realizada pela Diretoria de Pesquisa do Instituto Plano Cultural, a partir do contrato de consultoria firmado com o SESI / Departamento Nacional / Gerncia de Cultura. Vale reiterar que a hiptese principal que norteia a formulao da pesquisa e a elaborao do estudo de que o novo modelo de financiamento das atividades culturais, mediante leis de incentivo cultura, inaugurado pela Lei Rouanet, necessita de aperfeioamentos. Isso parece ser consensual nos mais diversos fruns onde se discute a cultura brasileira, como tambm caminhos e solues apontadas passam pelas esferas subnacionais e pela implantao, divulgao e aprimoramento de mecanismos de incentivos fiscais nas instncias estaduais e municipais.

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Tabela 2.7 Arrecadao de ICMS por estados do Brasil 1998-2004 (em R$ mil valores correntes)

Fonte: Dados Bsicos: Ministrio da Fazenda Conselho de Administrao Fazendria (CONFAZ) Boletim da Arrecadao Estadual site: http://www.fazenda.gov.br/confaz/ acesso 15/10/05 Elaborao: Instituto Plano Cultural Diretoria de Pesquisa 1 Taxa estimada por r={[(Vn/Vi)1/n]-1}*100, onde Vn: valor do ano final, Vi: valor do ano inicial e n: nmero de anos do perodo considerado. Taxa geomtrica que distinta da taxa estimada pela curva de Lorenz, que considera todos os valores dos anos da srie e as desigualdades entre os pontos sob a curva no Grfico

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Tabela 2.8 Projeo da arrecadao de ICMS por estados do Brasil 2005-2010 (em R$ mil valores correntes)

Fonte: Dados Bsicos: Ministrio da Fazenda Conselho de Administrao Fazendria (CONFAZ) Boletim da Arrecadao Estadual site: http://www.fazenda.gov.br/confaz/ acesso 15/10/05 Elaborao: Instituto Plano Cultural Diretoria de Pesquisa

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Tabela 2.9 Estimativa (1998-2004) e projees (2005-2010) do incentivo fiscal estadual com base em 0,5 do ICMS lquido 1998-2010 (em R$ valores correntes)Continua

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Concluso

Fonte: Dados Bsicos: Ministrio da Fazenda Conselho de Administrao Fazendria (CONFAZ) Boletim da Arrecadao Estadual site: http://www.fazenda.gov.br/confaz/ acesso 15/10/05 Elaborao: Instituto Plano Cultural Diretoria de Pesquisa

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Tabela 2.10 Arrecadao de IPTU por municpios de capitais 1998-2004 Estimativa para 2005-2008 (em R$ milhes valores correntes) Brasil

Fonte: Dados Bsicos: Secretaria do Tesouro Nacional (STN) Finanas dos Municpios do Brasil Elaborao: Instituto Plano Cultural Diretoria de Pesquisa

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Tabela 2.11 Arrecadao de ISS por municpios de capitais 1998-2004 Estimativa para 2005-2008 (em R$ milhes valores correntes) Brasil

Fonte: Dados Bsicos: Secretaria do Tesouro Nacional (STN) Finanas dos Municpios do Brasil Elaborao: Instituto Plano Cultural Diretoria de Pesquisa

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Tabela 2.12 Estimativa (1998-2004) e projees (2005-2010) do incentivo cultural a partir de impostos municipais IPTU e ISS e incidncia mdia de 1% capitais Brasil (em R$ correntes)Continua

Concluso

Fonte: Dados Bsicos: Secretaria do Tesouro Nacional (STN) Finanas dos Municpios do Brasil Elaborao: Instituto Plano Cultural Diretoria de Pesquisa

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LEGISLAO ESTADUAL DE INCENTIVO C U LT U R A N O B R A S I L : INVENTRIO ATUAL

presente pesquisa realizou inventrio das legislaes estaduais de incentivo cultura no Brasil, classificando esses mecanismos conforme os seguintes critrios: (A) Estados onde no existem Leis de Incentivo, nem Leis de Fundo de Incentivo Cultura nem Sistemas de Incentivo Cultura (INEXISTNCIA); (B) Estados onde existem apenas Leis de Incentivo (LEIS DE INCENTIVO); (C) Estados onde existem apenas Leis de Fundo (LEIS DE FUNDO); (D) Estados onde existem Leis de Incentivo, e o Fundo um artigo na Lei de Incentivo (PROGRAMA CULTURA); (E) Estados onde existe um Sistema Estadual de Cultura (SISTEMA DE CULTURA); (F) Estados onde existe Lei de Incentivo Cultura vinculada a outros setores (CULTURA E OUTROS);

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Quadro 3.1 Classificao estados por categorias de A a G

Fonte: Instituto Plano Cultural Diretoria de Pesquisa Sendo: (A) Inexistncia; (B) Leis de Incentivo; (C) Leis de Fundo; (D) Programa Cultura; (E) Sistema de Cultura; (F) Cultura e Outros

Pelo quadro 3.1, verifica-se que no existe legislao de incentivo e apoio nos estados do Amazonas, Rondnia, Roraima, Alagoas e Maranho. No Amazonas, entretanto, o oramento da Cultura ocupa a quarta posio no total dos oramentos estaduais de cultura, portanto atrs apenas dos estados de So Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Nesse estado, onde no existe uma legislao estadual voltada para o incentivo cultural, o foco do patrocnio cultural est, essencialmente, na utilizao de Leis Federais. No Maranho, o sistema operacional da cultura funciona na estrutura da Administrao Direta com incentivos em programas constantes do Oramento Estadual e tambm operacionalizados mediante editais, numa ao centralizada por Departamentos das reas culturais. Nos exerccios de 1989 e 1990, tm-se despesas com atividades a cargo do Fundo de Desenvolvimento da Cultura (Fundec).

Em agosto de 1985, no VIII Frum Nacional de Secretrios de Cultura, em Joo Pessoa/PB, entre as informaes percebidas nas exposies dos secretrios estaduais de Cultura no referido Frum, pode-se mencionar que, em 1984, o Maranho contava com apenas 0,3% do oramento estadual, dos quais 80% cobriram os gastos com pessoal (POERNER, 1997, p. 55). Em Rondnia, foi criada, pelo Decreto no 8.528, de 30 de outubro de 1998, a Fundao Cultural e Turstica do Estado de Rondnia (Funcetur). J em Roraima, a Lei no 55, de 9 de dezembro de 1993, cria o Conselho Estadual de Cultura. Essa lei teve sua redao alterada pela Lei no 264, de 12 de julho de 2000. No levantamento realizado, no foram encontradas legislaes de incentivos fiscais cultura, nesses dois estados da regio norte. Na regio nordeste, o estado de Alagoas criou, em 30 de julho de 1985, um Fundo de

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Desenvolvimento de Cultura, sendo pioneiro em relao a todos os estados da Federao. Segundo Poerner (1997, p. 6), em 24 de agosto de 1985, no VIII Frum Nacional de Secretrios de Cultura, em Joo Pessoa/PB, mereceu moo de aplauso o governador de Alagoas, pela assinatura de decreto que estabelecia o repasse de 50% do valor das multas de trnsito do estado para o pioneiro Fundo de Desenvolvimento da Cultura de Alagoas. Todavia, no atual inventrio esse Fundo no se encontra em operao e o estado tambm no promulgou nenhuma outra lei de incentivo cultura1. O quadro 3.2 traz a legislao estadual do incentivo cultura por estados da Federao. Verifica-se que a coluna (A) do quadro 3.1 no figura no 3.2, uma vez que se refere aos estados onde no existe legislao de incentivo cultura. Inicialmente, na leitura das informaes sobre legislao cultural do quadro 3.2, vale considerar o histrico da tramitao da legislao no estado do Paran onde o projeto que deu origem Lei no 13.133, de iniciativa parlamentar, foi aprovado pela Assemblia Legislativa e recebeu o veto do Governador Jaime Lerner sob a justificativa de ser inconstitucional. A Assemblia Legislativa, por sua vez, rejeitou o veto, fazendo promulgar a Lei em 16 de abril de 2001. Em 17 de setembro de 2001, o governador do estado fez protocolizar, junto ao Supremo Tribunal Federal, Ao Direta de Inconstitucionalidade (Adin), que recebeu o no 2.529, sem pedido de liminar. A despeito de considerar a lei inconstitucional, por intermdio do Decreto no 5.570, de 15 de abril de 2002, o governo do estado regulamentou-a; por meio da Resoluo no 82/02, de 10 de outubro de 2002, a Secretaria da Cultura (SEEC) baixou normas e procedimentos sobre a organizao e o funcionamento do Plano Estadual de Incentivo Cultura, referente ao Mecenato Subsidiado; em 16

de outubro de 2002, foi tornado pblico o Edital no 01/02 convidando os interessados a inscrever projetos culturais para o Mecenato Subsidiado. No prazo, foram apresentados cerca de 590 projetos. No Dirio Oficial de 30 de dezembro de 2002, foi publicada relao contendo 63 projetos aprovados; pelo Ofcio no 31/03-GS, de 23 de janeiro de 2003, a Secretaria da Cultura solicitou Secretaria de Estado da Fazenda (SEFA) que expedisse os certificados aos que tiveram seus projetos aprovados; diante da solicitao da SEEC, a SEFA solicitou direo da Procuradoria-Geral do Estado (PGE) que se manifestasse sobre a possibilidade de atendimento, uma vez que existia a Adin; a PGE se pronunciou no sentido de que a Lei efetivamente inconstitucional e, embora eficaz, pela impossibilidade de sua aplicao, pelas razes expendidas no Parecer no 045/2003, aprovado em 15 de maro de 2003. Com fundamento naquele Parecer, os certificados que autorizariam a captao dos recursos no foram expedidos pela SEFA e os trabalhos foram suspensos pela SEEC. Em 18 de junho de 2003, o governador do estado do Paran ingressou com pedido de liminar. Em 5 de setembro de 2003, a Procuradoria-Geral da Repblica manifestou-se mediante parecer pela procedncia da Adin. Desde 5 de setembro de 2003, os autos esto conclusos ao Relator, Ministro Gilmar Mendes. Conforme Baracho e Trres (2001): O estado do Paran apresenta uma experincia pioneira, no que tange ao

Pelos dados de cadastro, foi possvel manter contato com a MARTINE, Marcela da PGF no estado de Alagoas, [email protected], (82) 3216 9873, que informou, mediante e-mail datado de segundafeira, 15 de agosto de 2005, 16h33, que o secretrio de Cultura de Alagoas o Senhor Eduardo Bomfim, informou telefone (82) 3315 1915 e e-mail [email protected]. A despeito das diversas tentativas da coordenao da pesquisa, no respondem aos e-mails enviados e os telefones no so atendidos.1

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gerenciamento das parcerias com a iniciativa privada no sentido de viabilizar aes na rea cultural. Esse estado, embora no tenha uma lei estadual de incentivo cultura, vem conduzindo, desde o incio de 2001, o programa Conta Cultura, regulamentado por Lei e Decreto e constante do Plano Plurianual do Paran. A Conta Cultura 2001 um programa administrado pela Secretaria de Estado da Cultura, que tem por objetivo facilitar a parceria entre empreendedores culturais e empresrios, a fim de viabilizar a realizao de projetos culturais j aprovados pela Lei Federal no 8.313/91 (Lei Rouanet). Podem se inscrever e participar os empreendedores culturais paranaenses ou radicados no estado do Paran, pessoas fsicas ou jurdicas, que obrigatoriamente tiverem seus projetos j aprovados pela Lei Federal no 8.313/91 e pela Lei no 8.685/93 (Lei do Audiovisual). O Programa Conta Cultura 2001 s aceitar a inscrio de projetos aprovados pela Lei Federal no 8.313/91 que estejam na vigncia do perodo de captao de recursos. Paranaenses residentes fora do estado do Paran podero inscrever-se, desde que no projeto esteja prevista a participao de, no mnimo, 70% (setenta por cento) de profissionais radicados no estado do Paran. Em sua primeira etapa (abril/maio/junho de 2001) de execuo, a Conta Cultura movimentou recursos da Copel, da Sanepar e da Petrobras, que juntas destinaram R$ 1,64 milho para projetos paranaenses, tendo sido inscritos 96 projetos, sendo que, destes, 55 passaram por um processo de anlise e 41 foram desqualificados por no apresentarem a documentao solicitada. Na sua 2a etapa, de julho a setembro de 2001, foram inscritos

66 projetos. Destes, 60 passaram por um processo de anlise e 6 foram desqualificados por no apresentarem a documentao solicitada. Nessa etapa, a Conta Cultura do Paran continuou contando com a parceria da Copel, da Sanepar e da Petrobras. Juntos, esses parceiros destinaram R$ 2,50 milhes para projetos paranaenses, assim distribudos: 15% para a rea de msica; 25% para artes cnicas; 30% para audiovisual; 15% para humanidades; e 10% para artes plsticas. Finalmente, na 3a etapa (outubro/novembro/ dezembro de 2001), dos 114 projetos inscritos, 33 foram indicados para captarem recursos junto aos parceiros do programa Conta Cultura. Sero disponibilizados R$ 2 milhes nessa etapa (dados e informaes retiradas dos balanos gerais do estado). Entretanto, conforme Amaral e Mussi Augusto (2005), O nico Edital publicado relativo Lei Estadual de Incentivo Cultura (Lei no 13.133, de 16 de abril de 2001) teve seus procedimentos interrompidos, sendo que os certificados no chegaram a ser expedidos pela Secretaria da Fazenda, motivo pelo qual no houve nenhuma movimentao de recursos. Nenhum dos 63 projetos aprovados chegou a receber qualquer incentivo. Verifica-se assim que no Paran a experincia pioneira da Conta Cultura, similar apenas em legislao de Pernambuco, encontra-se em apreciao, num processo em que parece no existir consenso nem vontade poltica para buscar uma soluo a bom termo para o setor cultural do estado. Dando continuidade apreciao do quadro 3.2, verifica-se que na categoria (F), em que a lei de incentivo cultura insere-se em uma legislao

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mais ampla agregando outros setores, esto os estados do Acre, Esprito Santo e Rio de Janeiro. O primeiro possui uma Lei de Incentivo Cultura e ao Desporto (Lei no 1.288/99) com editais de funcionamento operando desde 2000, conforme Gregrio Filho (2005). Em seis anos de funcionamento, a lei movimentou uma mdia de R$ 1 milho/ano, dividido mais ou menos igualmente entre projetos desportivos e culturais. Segundo Poerner (1997, p. 62), no XII Frum Nacional de Secretrios de Cultura, realizado em outubro de 1986, em Rio Branco/AC, destacou-se o apoio instituio de casas de cultura e criao de um Sistema Nacional de Bibliotecas. No Esprito Santo, encontra-se em fase de regulamentao o Fundap Social, fundo pblico de natureza financeira, sem personalidade jurdica, cujos recursos sero geridos pelo Banco de Desenvolvimento do Esprito Santo S.A. (Bandes), registrados em conta prpria, e devem ser utilizados em financiamento a micro e pequenas empresas industriais, comerciais e de servios, microempreendedores, incluindo do setor informal e a projetos sociais e culturais, numa estrutura de financiamento reembolsvel. Essa experincia, embora numa fase bastante inicial, inclui a cultura em uma tendncia j observada nos diversos bancos de fomento do Pas, que atuam como mandatrios dos estados na gesto de fundos de natureza rotativos, visando expandir o crdito de fomento, a custos abaixo dos de mercado para setores que geram emprego e renda na expanso da atividade econmica. Por ltimo, nessa categoria em que a cultura aparece juntamente com outras reas na legislao de incentivo fiscal, tem-se o estado do Rio de Janeiro que, tal como no Acre, a legislao envolve o esporte. Todavia, nesse caso numa dimenso muito menos eqitativa, em termos de alocao

de recursos, comparativamente ao que ocorre no Acre. O Rio de Janeiro possui Lei de Incentivo desde 1992. A Lei no 1.954 instituda em 26 de janeiro de 1992 e regulamentada dois anos depois pelo Decreto no 20.074, de 15 de junho de 1994. Essa Lei foi regulamentada at por diversos decretos, resolues, regulamentos e instrues normativas, sendo alterada pela Lei no 3.555, de 27 de abril de 2001, que foi regulamentada pelo Decreto no 28.444, de 29 de dezembro de 2001. A Lei no 1.954, de 26 de janeiro de 1992, inclui o esporte ao estabelecer, em seu artigo 2o, que no foi alterado nas regulamentaes posteriores a seguinte abrangncia: msica e dana; teatro e circo; artes plsticas e artesanais; folclore e ecologia; cinema, vdeo e fotografia; informao e documentao; acervo e patrimnio histrico-cultural; literatura; esportes profissionais e amadores, desde que federados. Apenas nos estados do Amap, Minas Gerais e Rio Grande do Norte existe uma legislao de incentivo cultura referente apenas lei (sem nenhuma referncia a fundos, sistemas ou programas), em que se relacionam aspectos de renncia fiscal; alocao de recursos de empresas mediante doao, patrocnio ou investimento e mecanismos de seleo e controle dos projetos culturais. J em outros estados, o enquadramento das legislaes ocorre s como fundos pblicos de cultura, como Sergipe, ou em leis de incentivo e leis de fundos, como Bahia, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, ou ainda em categorias mais amplas de programas e sistemas em que leis de incentivo e artigos relativos aos fundos interagem numa legislao nica, como Par, Tocantins, Cear, Paraba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piau, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Gois (quadro 3.2). Essa ltima categoria da

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classificao, definida nesse estudo, parece ser a tendncia mais atual de expanso das estruturas de fomento das aes culturais mediante renncia fiscal e outras fontes de recursos comuns em instituio e funcionamento de fundos pblicos. Da mesma forma que Minas Gerais, Santa Catarina tambm traz a possibilidade de utilizao de recursos da dvida ativa para o incentivo cultura, mediante renncia fiscal no mbito do ICMS. Em Minas Gerais, a Lei de 1997, (Lei no 12.733, de 30 de dezembro de 1997), sendo regulamentada dois anos depois de sua criao pelo Decreto no 40.851, de 30 de dezembro de 1999, modificados pela Lei no 13.665, de 20 de julho de 2000, sendo que o Decreto no 41.184, do mesmo ano, e o no 43.615, de 26 de setembro de 2003, regulamentaram suas novas alteraes. O primeiro edital de 1998 j registrou um total de 1.027 projetos apresentados, sendo que 317 foram aprovados e 111 captaram R$ 6,42 milhes em valores correntes da poca. A experincia mineira mostra inovao se comparada a outros mecanismos de incentivo. Ela admite como incentivador aquele contribuinte que deve ICMS ao governo, abrangendo, portanto, a dvida ativa do estado. Toda empresa cujo dbito estiver inscrito em dvida ativa, at 31 de dezembro de 1999, poder quit-lo com 25% de desconto, desde que apie financeiramente projeto cultural previamente aprovado pela Comisso Tcnica de Anlise de Projetos (CTAP), repassando ao empreendedor o valor correspondente a 18,75% de sua dvida total em at 12 vezes. O restante (56,25%) deve ser pago Secretaria da Fazenda, que, por meio de negociao, permite o parcelamento em at 60 vezes.

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Quadro 3.2 Legislao estadual de incentivo cultura no Brasil

Fonte: Dados Bsicos: Governos Estaduais Elaborao: Instituto Plano Cultural Diretoria de Pesquisa Sendo: (B) Estados onde existem apenas Leis de Incentivo (LEIS DE INCENTIVO); (C) Estados onde existem apenas Leis de Fundo (LEIS DE FUNDO); (D) Estados onde existem Leis de Incentivo e o Fundo um artigo na Lei de Incentivo (PROGRAMA CULTURA); (E) Estados onde existe um Sistema Estadual de Cultura (SISTEMA DE CULTURA); (F) Estados onde existe Lei de Incentivo Cultura vinculada a outros setores (CULTURA E OUTROS). O (A) foi retirado porque se refere inexistncia de leis de incentivo * Legislao ainda no regulamentada ou em fase de regulamentao No foi considerado o PL no 1.127/2003 do Estado de So Paulo com a previso de criao de um fundo cultural com oramento previsto em R$ 110 milhes, uma vez que ainda est em fase de projeto de lei em discusso. Em So Paulo, tambm no foi includa a Lei no 10.242, de 22/3/1999, que autoriza o Poder Executivo Estadual a estabelecer na Loteria Estadual de SP a Loteria da Cultura, com sede na Capital, , a ser explorada e administrada pelo Estado, pela da Nossa Caixa Nosso Banco S.A., sendo que o resultado lquido do servio da Loteria da Cultura ser creditado em fundo especial da Secretaria da Cultura do Estado de SP no ms subseqente ao ms da extrao.

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Essa opo vem ampliando os recursos destinados a projetos culturais; estima-se que possibilite a utilizao de cerca de R$ 900 milhes de reais provenientes da dvida ativa. Uma outra vantagem que a aprovao de projetos para captao com base na Dvida Ativa no se encontra sujeita ao Edital anual da Lei de Incentivo, sendo os projetos apresentados analisados mensalmente. O problema inicialmente enfrentado pelos empreendedores culturais para conseguirem patrocnio das empresas inscritas na dvida ativa do estado, em decorrncia do sigilo da informao, vem sendo equacionado pela Secretaria de Fazenda com o compromisso firmado em legislao conjunta com a Secretaria de Cultura de Minas Gerais de divulgar junto aos inscritos na dvida ativa do estado esse dispositivo da lei de incentivo cultura (art. 5o da Lei no 12.733). Outro ponto relevante da Lei de Minas Gerais que permite os recursos destinados aos projetos apresentados pelas entidades da Administrao Pblica Indireta Estadual, que desenvolvem atividades relacionadas com a rea artsticocultural, bem como pessoas jurdicas de direito privado sem fins lucrativos, criadas com a finalidade de dar suporte a museu, biblioteca, arquivo ou unidade cultural pertencente ao Poder Pblico, no podero exceder a 35% da parcela da receita do ICMS disponibilizada anualmente pelo estado para projetos culturais. O estado considera essa forma de competio vlida, desde que qualquer projeto do Poder Pblico concorra de forma igualitria com os demais projetos apresentados por particulares. No entanto, o que tem acontecido na realidade a substituio dos recursos diretos que o estado deve repassar a essas instituies pelos recursos obtidos pela lei de incentivo (BARACHO E TRRES, 2001). No Amap, embora exista uma legislao anterior, Lei no 105, de 8 de setembro de 1993, que no vingou, a experincia iniciada com a Lei no 777,

de 14 de outubro de 2003, resultante do Projeto de Lei no 92, do mesmo ano, mais recente e j alcana a fase de regulamentao. Essa Lei sofreu alteraes, estabelecidas na Lei no 912, de 1o de agosto de 2005, no que se refere delimitao de percentuais de 1,5%, 2%, 2,5%, 3%, 4% e 5%, limites por faixas de recolhimento mensal do ICMS de empresas, potenciais patrocinadoras. Alm disso, outras exigncias da situao legal das empresas ante o fisco estadual constam das alteraes. As evidncias relativas a prazos apontam para a percepo de que, no Amap, o processo de regulamentao e implantao do incentivo fiscal cultura, mediante lei de incentivo, encontra-se em fase inicial, com a legislao mais abrangente e inovadora datada de agosto de 2005. interessante observar os avanos que a legislao de incentivo fiscal cultura do Amap apresenta em termos de sua vinculao e disposies legais consoantes aos conceitos e linguagens muito mais adequados aos setores do fisco estadual que especificamente ou apenas rea da Cultura, o que denota avanos no tratamento legal e coordenado nesse estado. No conjunto dos estados e Distrito Federal, apenas Sergipe tem somente Lei de Fundo. A primeira experincia data de 30 de setembro de 1975 e a segunda de 21 de dezembro de 2001, mas ainda em fase de regulamentao. Na Bahia, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, existem Leis de Incentivo no mbito do ICMS, em separado das Leis de Fundo em que as origens de recursos abrangem outras fontes alm do ICMS. Na Bahia e no Rio de Janeiro, as leis de fundo so de 2005, ps-LC no 42 e ainda no foram regulamentadas (quadro 3.2). J a Lei Estadual de Incentivo Cultura do Rio de Janeiro existe desde 1992 (Lei no 1.954, de 26 de janeiro de 1992, com as alteraes da Lei no 3.555,

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de 27 de abril de 2001, e do Decreto no 28.444, de 29 de maio de 2001). A grande novidade nesse estado que a lei no funciona por editais, mas por ordem de protocolo dos projetos e exerccio financeiro do ICMS. Existem editais apenas para a divulgao de resultados de aprovao de projetos em cada uma das reunies das comisses de avaliao. A Lei da Bahia mais recente, de meados da dcada de 1990, de 9 de dezembro de 1996, compreende o programa Fazcultura, cujos resultados mostramse importantes para a cultura baiana. Esse programa assegura que os eventos decorrentes dos projetos culturais incentivados devem ter o lanamento no estado da Bahia, sendo obrigatoriamente, mas no exclusivamente, realizado na Bahia. Dispe tambm que 75% dos profissionais envolvidos devem ter domiclio e residncia comprovada no estado da Bahia h, pelo menos, trs anos, sendo obrigatria a apresentao da declarao de anuncia ao projeto cultural (Resoluo no 280/2001). Outro aspecto inovador a distribuio de recursos por reas culturais, da mesma forma que a proposio do Fundo do Estado de So Paulo. No Mato Grosso do Sul, a Lei no 2.366, de 4 de dezembro de 2001, e a Lei no 2.645, de 11 de julho de 2003, foram regulamentadas pelo Decreto no 11.299, de 16 julho de 2003. Uma inovao na legislao de fundos pblicos desse estado compreende a fixao do valor da contrapartida pela populao do municpio de onde procede o projeto. Os projetos apresentados por pessoas jurdicas de direito pblico devem prever a contrapartida financeira obrigatria, fixada conforme o nmero de habitantes de cada municpio: para municpios de at 50.000 habitantes: 5%; para municpios de 50.001 at 150.000 habitantes: 10%; para municpios de 150.001 at 300.000 habitantes: 15%; para municpios de 300.001 at 500.000

habitantes: 20%; e para municpios acima de 500.000 habitantes: 25%. No Mato Grosso, Lei no 7.179, de 19 de outubro de 1999, regulamentada pelo Decreto no 1.140, de 26 de janeiro de 2000, foi substituda pela Lei no 8.257, de 22 de dezembro de 2004, ainda noregulamentada. Uma inovao nesse estado, ainda na Lei no 7.179/99, que o fundo capitalizado pela movimentao da lei, nos seguintes termos: ser creditado em favor do Fundec/MT o correspondente a 7% do valor captado de cada projeto aprovado pela Lei Estadual de Incentivo Cultura, a ttulo de taxa de administrao, de acordo com procedimentos a serem estabelecidos no decreto de regulamentao desta Lei. As experincias de legislao voltadas para a implementao de fundos pblicos nesses quatros estados so recentes e ainda em fase inicial, demandando aprimoramentos e avanos para se consolidarem. As legislaes mais antigas de fundos pblicos nos estados brasileiros mostram a legislao pertinente ao fundo concebida na estrutura da lei de renncia fiscal e, nesse caso, os resultados j se mostram mais consolidados, como acontece na Lei Jereissati no Cear (Lei no 12.464, de 29 de junho de 1995) e na de So Paulo (Lei no 8.819, de 10 de junho de 1994). Ambos os estados tambm buscam conceber outras legislaes de fundos mais abrangentes e especficas, mas que ainda se encontram em discusso no legislativo; no Cear como lei; e, em So Paulo, como projeto de lei, por isso no consta do quadro 3.2. Na legislao de incentivo cultura, em vigor, no estado de So Paulo (LIC), dois pontos merecem destaque. Primeiro, verifica-se que o nico estado brasileiro em que a representao do setor pblico na Comisso que avalia os projetos a serem executados compreende a indicao de tcnicos

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com notoriedade em cada uma das reas, como acontece nas outras leis para os representantes do setor privado e no para os do setor pblico que, em outros estados, so indicados pelos cargos pblicos que ocupam em entidades da rea da cultura. A proficincia e a capacitao adequada voltada para o setor cultural no necessariamente so uma condio para integrar a comisso de avaliao de projetos na maioria dos estados. A condio a ocupao de cargos pblicos na rea da cultura e fora dela, em rgos e entidades de outras reas como fazenda, planejamento, cincia e tecnologia, esportes, entre outras. Segundo, que da mesma forma como ocorre, mais recentemente, na legislao em vigor no estado do Pernambuco, tambm em So Paulo, percentuais de aplicao de recursos por reas culturais so definidos na legislao e incidem sobre o montante global definido para o fomento cultura em cada exerccio financeiro. Ainda quanto ao primeiro aspecto pontuado, observa-se que no estado do Paran, a despeito das dificuldades no processo de implementao da legislao estadual de incentivo cultura, tambm a representao volta-se para a instalao de cmaras setoriais por reas culturais. J em Santa Catarina, a representao na Executiva de Apoio Cultura, a representao mais centralizada apenas do setor pblico, de forma paritria entre secretarias de cultura e fazenda (quadro 3.9). Quanto renncia fiscal no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a lei de incentivo do Mato Grosso no obteve xito no incio de sua primeira experincia de lei de incentivo cultura (Lei no 5.893-A, de 12 de dezembro de 1991, que s foi regulamentada e entrou em funcionamento ao final dos anos noventa. A nova legislao fundamentada nos dispositivos da anterior de 1991 compreende a Lei no 6.913, de 4 de julho de 1997, e a no 7.042, de 15 de outubro de 1999, regulamentada pelo

Decreto no 1.140, de 26 de janeiro de 2000, que apresenta gerenciamento inovador e de alcance em termos de contedo, estrutura e divulgao favorveis, com cartilhas e manuais bem elaborados. No Mato Grosso do Sul, para a Lei de Incentivo no 1.872, de 17 de julho de 1998, no foi possvel levantar sua regulamentao, assim acredita-se que essa lei ainda no est em funcionamento. Pernambuco, Piau, Rio Grande do Sul e Gois buscam estruturar o Sistema de Incentivo Estadual Cultura. Sendo que em Pernambuco e no Rio Grande do Sul essas experincias, iniciadas respectivamente em 1993 e 1998, so bastante ricas e encontram-se consolidadas em termos dos resultados alcanados. As de Gois e Piau so relativamente mais recentes. O Piau promulgou em 8 de setembro de 2004 o Sistema de Incentivo Estadual Cultura (SIEC). O Sistema possibilitar o investimento mensal de R$ 100 mil em projetos culturais. O recurso provm do Fundo e da Lei de Incentivo Cultura do Estado, por meio de iseno fiscal. O SIEC tambm prev a aplicao de 30% dos recursos destinados cultura em projetos do interior do estado. J em Gois, o programa Goyazes de 10 de maio de 2000 e ainda trilha seus primeiros passos de funcionamento. Finalmente, embora a estrutura legal de fomento Cultura do Distrito Federal se fundamente em impostos distritais, ele foi includo pela pesquisa nas partes relativas aos estados, por se constituir em uma Unidade da Federao no mesmo patamar poltico das esferas estaduais. Segundo informaes disponibilizadas por Terra (2005), a Lei no 158, de 29/7/91, e demais decretos de regulamentao foram extintos; atualmente, no mbito do Distrito Federal, est em vigor a Lei Complementar no 267, de 15/12/99, que dispe sobre a criao do Programa de Apoio Cultura (PAC), que criou o Fundo da Arte e da Cultura

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(FAC) e foi regulamentado pelo Decreto no 21.251, de 12/7/2000, que posteriormente foi alterado pelo Decreto no 23.213, de 9/9/2002, todos disponveis no site www.sc.df.gov.br. O FAC possui como fonte de recursos contribuies mensais do ramo de atacadistas, que so empresas que fazem opo pelo Termo de Acordo de Regime Especial (TARE), termo este assinado junto SEFAZ e receita das bilheterias dos espaos culturais da Secretaria de Estado de Cultura (Lei no 389/2003). O FAC est estruturado hoje com uma Diretoria, uma Assessoria e dois Ncleos (um financeiro e outro de prestao de contas). Conta ainda com dois rgos colegiados: o Conselho de Cultura do Distrito Federal (CCDF), que possui a funo normativa e articuladora da ao do governo no mbito do sistema cultural do DF, e o Conselho de Administrao do FAC/CAFAC, cuja funo administrar os recursos do Fundo. Para que o artista tenha acesso ao apoio do FAC, deve passar por duas etapas: a de credenciamento, que ocorre no momento em que o CCDF analisa o perfil e a trajetria artstica do proponente. Uma vez aprovado, o artista recebe um Certificado de Ente e Agente Cultural (CEAC), expedido pela Secretaria de Estado de Cultura, com validade de 24 meses (prorrogveis por sucessivos perodos); quando credenciado, o artista est habilitado a apresentar Projeto Cultural para apoio financeiro do FAC. O Fundo conta hoje com um oramento anual da ordem de R$ 7 milhes e desde sua criao tem executado 100% de seu oramento, tendo apoiado desde sua criao um total de 1.356 projetos culturais, no valor de R$ 21,88 milhes. Nos quadros apresentados a seguir, so considerados conjuntamente para a totalidade dos estados da Federao, incluindo o Distrito Federal, os temas: objetivos e finalidades (quadro 3.3); origem dos recursos (quadro 3.4); proponentes e

beneficirios (quadro 3.5); existncia de cadastro de produtores culturais (quadro 3.6); percentuais de doao, patrocnio e investimentos no mbito da renncia fiscal e a previso de contrapartidas no mbito de recursos prprios recursos privados (quadro 3.7); documentao bsica exigida na inscrio de projetos ou no cadastro de proponentes (quadro 3.8); impedimento e vedaes das diversas leis (quadro 3.9); e composio e representatividade de comisses e conselho