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VIRTÚ: DIREITO E HUMANISMO
HÁ EFICÁCIA DA LEI ANTITERRORISMO
THERE'S EFFICIENCY OF BRAZILIAN LEGISLATION IN COMBATING TERRORISM
Neylor Pacheco da Silva
1, Anna Cathleen Moreira Rezende
2
1- Aluno do Curso de Direito
2- Professora Especialista do Curso de Direito
Resumo: hodiernamente discutia a necessidade de uma tipificação ao crime de terrorismo.
Durante bastante tempo, a Lei de Segurança Nacional, que até então era a única norma que
tratava acerca do tema, era alvo de grandes debates sobre a sua aplicabilidade. Já que o
Estado tem o dever de reprimir e punir as condutas humanas consideradas perniciosas e
maliciosas para a sociedade utilizando para este fim o ordenamento jurídico para tipificar as
conduta e aplicar pena para prevenir os delitos. Pelo temor que a penalização causará ao
criminoso, nesse sentido, este trabalho tem como objetivo demonstrar a eficácia da legislação
brasileira no combate ao crime de terrorismo, tendo em vista, os preceitos constitucionais que
estabelece ao legislador o dever de criminalizar certas condutas estabelecidas pela
Constituição Federal. Tais preceitos são chamados de mandado constitucional ou de
criminalização, nesse rol encontra-se relacionado o terrorismo, que é equiparado aos crimes
hediondos, conforme a o artigo 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal. Destaca-se que para
prevenir o crime de terrorismo o Estado aprovou em março de 2016 a Lei 13.260/2016 (Lei
Antiterrorismo), que disciplina o crime de terrorismo, abordaremos os principais modos de
impor a vontade pelo uso sistemático do terror.
Palavras-chave: terrorismo; eficiência; mandado constitucional e criminalização.
Abstract: in our times discussed the need for typifying the crime of terrorism. For a long
time, the National Security Act, which until then was the only standard that was on the
subject, was the subject of great debate about their applicability. Since the State has a duty to
suppress and punish human behaviors considered harmful and malicious to society using for
this purpose the legal system to criminalize the conduct and apply penalty to prevent crime.
The fear that the penalty will cause the criminal in this sense, this work aims to demonstrate
the effectiveness of Brazilian legislation to combat terrorist crime, given the constitutional
provisions establishing the legislature the duty to criminalize certain conduct established by
the Constitution Federal. These precepts are called constitutional order or criminalization, this
list is related terrorism, which is equivalent to heinous crimes, according to Article 5, item
XLIII of the Federal Constitution. It is noteworthy that to prevent the crime of terrorism the
state approved in March 2016 the Law 13,260 / 2016 (Anti-Terrorism Act), which regulates
the crime of terrorism, we will cover the main ways of imposing the will by the systematic
use of terror.
Keywords: terrorism; efficiency; constitutional warrant and criminalization.
Sumário: Introdução. 1. Conceito de terrorismo. 2. A evolução do terrorismo. 3. Combate ao
terrorismo. 4. Princípios 4.1 Princípio da Legalidade 4.2 Princípio da Proporcionalidade. 5. O
direito penal do inimigo. 6. As Possibilidades de ataques terroristas no Brasil. 7. A
importância da internet para o terrorismo. 8. Considerações finais. Referencial bibliográfico.
2
Introdução
O terrorismo é um crime de motivo político, religioso e ideológico que tem como
finalidade acabar com o domínio de uma potência com hegemonia mediante o uso da
violência extrema impondo horror a pessoas inocentes mediante ataques e meios agressivos,
estas condutas são repudiadas de tal forma pela nossa Constituição Federal que equipara este
delito aos crimes hediondos.
Anote-se que o terrorismo é considerando um mandado de criminalização nos termos do
Artigo 4º, VIII e 5° XLIII, da Lei Maior, sendo assim, estabelece ao legislador o dever-poder
de criar uma norma incriminadora para tipificar a sua conduta diante da dimensão perniciosa e
repugnante do resultado que ele traz a sociedade.
Nesse aspecto, com a entrada em urgência da Lei 13.260, regulamentando o artigo 5° da
Constituição Federal, fica o questionamento se esta norma incriminadora será eficaz para
combater o terrorismo?
Ressalta-se, que a Lei antiterror foi inserida na legislação pátria mediante pressão
internacional visando os diversos eventos de proporções internacionais que serão realizados
no Brasil tornando nosso Estado alvo indireto de grupos terroristas.
Diante deste contexto, pretende-se analisar a eficácia da legislação brasileira no
combate ao terrorismo, dando ênfase a Lei 13.260/2016, que regulamenta o dispositivo no
inciso XLIII do artigo 5° da Constituição Federal, disciplinando e tratando de disposições
investigatórias e processuais e reformulando o conceito sobre organizações terroristas, bem
como a tipificação ao crime de terrorismo na forma da lei.
Para uma visão ampla sobre o assunto a ser discutido a sua fundamentação será voltada
aos estudos doutrinários e a Lei Penal no sentido de verificar a eficiência dos resultados na
prevenção do crime de terrorismo.
Para isto o trabalho será desenvolvido utilizando o método dedutivo para as seguintes
hipóteses: há necessidade de tipificar o crime de terrorismo no ordenamento jurídico
Brasileiro, o Brasil poder ser alvo de terrorismo, a legislação vigente é capaz de combater o
terrorismo de forma eficiente e o ordenamento Jurídico Brasileiro está de acordo com o
Direito Internacional para combater o terrorismo.
3
1. Conceito de Terrorismo
Inicialmente, cumpre destacar que o terrorismo é o instrumento do terror apto a
provocar danos ou promover destruição em massa.
Na legislação brasileira a Lei nº 13.260/2016, traça a definição do crime de terrorismo,
nos seguintes termos:
Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos
previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito
de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar
terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz
pública ou a incolumidade pública.
§ 1o São atos de terrorismo: I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar,
portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos
biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou
promover destruição em massa;
II – (VETADO);
III - (VETADO);
IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a
pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou
parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de
transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias,
hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas
ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de
geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de
exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias
e sua rede de atendimento;
V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à
ameaça ou à violência.1
Nesse sentido, o renomado doutrinador WOLOSZYN aduz que:
Na definição de luiz Alberto Moniz Bandeira, em sua obra Formação do
Império Americano, resumidamente terror é um recurso à violência como
arma política, quer com objetivo revolucionário ou de repressão, visando
gerar sentimentos de pavor e atemorizar os adversários2.
Ainda na visão do autor o Código Criminal norte-americano define o terrorismo como
sendo atividades que envolvem atos violentos ou que causem perigo à vida humana, e que
tenham por objetivo intimidar ou coagir a população civil, influenciar a política
governamental por intimidação ou coerção, afetando a condução governamental com práticas
de assassinatos, sequestros, uso de bombas e armas de destruição em massa.
1 Lei 13.260, de 16 de março de 2016 – Regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5º da Constituição
Federal, disciplinando o terrorismo. 2 WOLOSZYN, André Luís, Ameaças e Desafios à Segurança Humana no Século XXI, 2ª. Ed. Rio de Janeiro:
biblioteca do Exército – BBLIEX. 2013. Pag. 129.
4
Vale ressaltar, que o Supremo Tribunal Federal já havia se manifestado sobre a
necessidade de uma definição típica sobre o crime de terrorismo já que a Constituição Federal
apenas traz referência ao crime nesse sentido o tribunal destaca:
Na forma do Informativo nº 722 HC – 124682:
ARTIGO
A 2ª Turma resolveu questão de ordem, suscitada pelo Ministro Celso de
Mello (relator), para declarar extinto pedido de prisão preventiva para fins de
extradição, em razão da omissão do Estado requerente em produzir a
documentação que se lhe exigira com suporte no Tratado de Extradição entre
a República Federativa do Brasil e a República do Peru. No caso, apesar de
instado formalmente a produzir as informações complementares que lhe
foram requisitadas, o referido Estado deixara de produzir, não obstante a
obrigação imposta em sede convencional, elementos de informação
necessários à descrição dos fatos imputados, do tempo e do local de sua
suposta ocorrência, do órgão judiciário competente para o processo e
julgamento, além da disciplina normativa, naquele ente político, da
prescrição penal. A Turma asseverou que os elementos informativos
faltantes constituiriam documentos de produção obrigatória, indispensáveis à
regular formalização do pleito extradicional, ou do pedido de prisão cautelar,
consoante resultaria da determinação constante do Estatuto do Estrangeiro
(art. 80, “caput”, “in fine”) e, também, do referido Tratado de Extradição
(Artigo 19, n. 1). Seria encargo processual cuja satisfação incumbiria ao
Estado que postulasse a prisão cautelar, ou a extradição, sob pena de, em não
o cumprindo, expor-se ao indeferimento liminar do pedido. Por outro lado, e
a despeito do que consignado, não haveria, igualmente, a possibilidade de
prosseguimento do feito, isso em decorrência da impossibilidade, no caso, de
observância do princípio da dupla tipicidade, eis que, tratando-se do delito
de terrorismo, inexistiria, quanto a ele, no sistema de direito positivo
nacional, a pertinente definição típica. Mostrar-se-ia evidente a importância
dessa constatação, porquanto a comunidade internacional ainda não teria
sido capaz de chegar a uma conclusão acerca da definição jurídica do
crime de terrorismo. Inclusive, seria relevante observar a elaboração, no
âmbito da ONU, de ao menos 13 instrumentos internacionais sobre a
matéria, sem que se chegasse, contudo, a um consenso geral sobre quais
elementos essenciais deveriam compor a definição típica do crime de
terrorismo ou, então, sobre quais requisitos deveriam considerar-se
necessários à configuração dogmática da prática delituosa de atos terroristas.
Tornar-se-ia importante assinalar, no entanto, no que se refere aos
compromissos assumidos pelo País, que os novos parâmetros consagrados
pela Constituição determinariam uma pauta de valores a serem protegidos na
esfera doméstica mediante qualificação da prática do terrorismo como delito
inafiançável e insuscetível da clemência soberana do Estado (CF, art. 5º,
XLIII). Essas diretrizes constitucionais — que evidenciariam a posição
explícita do Estado brasileiro de frontal repúdio ao terrorismo —
desautorizariam qualquer inferência que buscasse atribuir às práticas
terroristas tratamento benigno de que resultasse o estabelecimento, em torno
do terrorista, de inadmissível círculo de proteção, a torná-lo imune ao poder
5
extradicional do Estado. PPE 730/DF, rel. Min. Celso de Mello, 16.12.2014.
(PPE-730)3.
O terrorismo também é citado na Lei de Segurança Nacional de nº 7.170, de 1983, em
especial no artigo 20, que define o seguinte: “praticar atentado pessoal ou atos de
terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção
de organizações políticas clandestinas ou subversivas4”.
Sendo assim, o terrorismo são atos contra o Estado Democrático que utilizam o
emprego da violência sem limites tendo a sua ação dirigida a finalidade de impor o terror e
pânico a sociedade, portanto tais condutas devem ser punidas nos rigores da lei, e para
cumprir este objetivo é fundamental a eficiência da norma incriminadora.
2. A Evolução do Terrorismo
Primeiramente, cumpre apontar que a sociedade moderna está ficando cada vez mais
refém dos atentados terroristas, de modo que grupos criminosos organizados, nacionais e
internacionais acabam afrontando a sociedade.
No Brasil, especificamente em 2006, tivemos grandes manifestações intermediadas por
uma organização criminosa, o Primeiro Comando da Capital – (PCC), que colocou em prática
uma articulada ação terrorista, consistentes em vários atentados comandados por presidiários
que estavam ainda reclusos no sistema penitenciário, que levou o Governador do Estado de
São Paulo, José Serra, a pedir ajuda aos EUA5.
Em efeito, o PCC também ameaçou atacar vans, ônibus escolares, grandes colégios e
hospitais privados, fazendo com que em muitas instituições de ensino as aulas fossem
suspensas por causa do medo da violência, entretanto a Organização Criminosa, não pode ser
considerada um grupo terrorista já que os ataques são condutas isoladas e não possuem o
caráter da prática habitual cujo objetivo é desorganizar a sociedade e a tomada do poder pela
violência ilegítima.
Daí nasceu à preocupação para criar a lei antiterror no Brasil, sobre o assunto discorreu
UIRÁ MACHADO, coordenador de artigos e eventos da folha de S. Paulo:
3 Informativo nº 722, HC nº 124682. Da 2ª Turma do STF, no julgamento, PPE 730/DF em 16 de dezembro de
2014. Relator: Ministro Celso de Mello. 4 Lei de Segurança Nacional de nº 7.170, de 1983.
5 Disponível em: http://apublica.org/2011/06/serra-governador-pediu-ajuda-aos-eua-contra-ataques-de-pcc/.
Acessado em 26 de maio de 2016.
6
Especialista em terrorismo pelo Colégio Interamericano de Defesa (EUA), o
major André Luís Woloszyn, 42, afirma que o PCC adota uma estratégia
terrorista em suas ações. Para ele, o combate requer a criação de leis que
definam e punam o terrorismo. Do contrário, o cenário pode piorar. A seguir,
trechos da entrevista de Woloszyn, analista de inteligência estratégica pela
Escola Superior de Guerra e especialista em ciências penais.
FOLHA - É possível considerar terrorista a estratégia do PCC?
ANDRÉ LUÍS WOLOSZYN - Sim. Uma das características das ações
terroristas é a imprevisibilidade aliada à arbitrariedade. As ações ocorrem
repentinamente em diversos locais e sem aviso prévio, o que provoca pânico
pela sensação de insegurança, fruto de uma "suposta" vulnerabilidade
permanente. Outra questão que reforça essa tese é que, no mundo, quase a
totalidade dos grupos terroristas assumem a autoria dos atentados logo após
praticá-los. Fazem isso como forma de atrair a mídia e reforçar, reafirmar o
poder que o grupo tem. Essa estratégia dificulta a ação do poder público por
sua imprevisibilidade de alvos, pela natureza indiscriminada dos ataques.
Ataques simultâneos a alvos diferentes elevam o nível de estresse das forças
policiais, que aguardam uma próxima ação em local indeterminado.
FOLHA - A Constituição já repudia o terrorismo e o considera crime
inafiançável. O que é preciso mudar?
WOLOSZYN - Não basta estar na Constituição. O legislador terá de
descrever a conduta punível na legislação penal, o que é terrorismo e quais
as práticas que são consideradas ações terroristas. Caso contrário,
juridicamente, o terrorismo não existe.
FOLHA - Podemos dizer que o PCC inaugura o terrorismo no Brasil?
WOLOSZYN - É muito cedo e muito forte afirmar que o PCC inaugurou no
Brasil o que especialistas chamam de terrorismo doméstico. Mas as recentes
investidas --com coordenação, planejamento, imprevisibilidade, grau de
violência e abrangência nas ações-- são um marco nas relações de poder-
violência e criminalidade no país. O que não podemos permitir é que esse
cenário evolua.
FOLHA - E isso passa por mudanças na legislação?
WOLOSZYN - É necessário criar uma legislação penal que defina o que é
terrorismo e quais as ações consideradas como tal. Se essas mesmas ações
fossem realizadas em países como EUA, Inglaterra, Espanha e França,
seriam consideradas "atos terroristas", e a pena seria de prisão perpétua6.
Anote-se, que o PCC possui vários objetivos por trás de suas ações criminosas, sendo
que o primeiro é a desestabilização política do governo estadual e o segundo e uma
demonstração de força, isso nada mais é do que atos de terrorismo.
Em apertada síntese, é importante mencionar que há relatos sobre a origem do
Terrorismo no século III, A.C., razão pela qual foi citado em algumas passagens de textos
bíblicos, de acordo com WOLOSZYN:
6 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u124910.shtml. Acessado em 26 de maio de
2016.
7
O terrorismo como instrumento do terror é um fenômeno que remota
ao século III, a.C., citados em algumas passagens do texto bíblico,
especialmente no Antigo Testamento. Registros dão conta de que, no
ano 48 a.C., os Zelote ou “fervorosos” (grupos de revolucionários
extremistas judeus radicalmente contra a dominação romana)
iniciaram um movimento de insurreição utilizando ações terroristas7.
Segundo o autor, nesse período os objetivos dos Zelotes era defender a Terra Santa e
buscavam a liberação do julgo romano pela violência.
Entretanto, historicamente o primeiro grupo reconhecido como terrorista foi formado na
Rússia em 1879 o Narodnaya Volva (Vontade do Povo), que se baseava nas manifestações
sociais contra Czar. Sobre o assunto LARIZZATTI aponta o seguinte:
O primeiro grupo historicamente reconhecido a apontado como terrorista foi
o Narodnaya Volya (Vontade do Povo), também conhecido como
Pervomartovtsi, formado na Rússia em 1879 e que pregava o levante do
povo contra o Czar opressor. Em 1881 assassinaram o Czar Russo Alexandre
II, num atentado suicida cometido por Ignacy Hryniewiecki, mas não
obtiveram sucesso em iniciar uma revolução contra o governo, tendo a
maioria dos membros sido condenados à morte por enforcamento e
executados em 03 de abril de 1881. Influenciados pelo Narodnaya Volya, em
1880, rebeldes Armênios usaram táticas terroristas semelhantes contra o
Império Turco (...).
A partir de 1979, com a Revolução Islâmica no Irã e a criação do Estado
Islâmico pelo Aiatolá Khomeini, surgiram e se desenvolveram dois grandes
grupos terroristas, o Hezbollah e a Jihad Islâmica, que visavam a formação
de Estados Islâmicos no Líbano e Egito, respectivamente.
Em meados de 1990 desenvolveu-se o denominado narcoterrorismo,
caracterizado pelo uso do tráfico de entorpecentes para fins terroristas e
políticos, e praticado especialmente por grupos como as FARC, o Sendero
Luminoso e o Talibã.
Neste século XXI passou a imperar o Super Terrorismo, caracterizado por
atentados midiáticos como o ataque arquitetado por Osama Bin Laden e
promovido por membros da Al- Qaeda, no fatídico 11 de setembro de 2001,
quando foram lançados aviões sequestrados contra as torres gêmeas, em
Nova York e contra o Pentágono, em Washington, provocando a morte
imediata de pelo menos 2.750 pessoas. Até então a Al-Qaeda era um grupo
terrorista pouco conhecido pelo mundo. O Super Terrorismo se intensificou
através dos ataques praticados em Madri, no dia 11 de março de 2004 e em
Londres, no dia 07 de julho de 20058.
Nesse contexto, é importante destacar as palavras que Madaleine Albright, a secretária de
Estado Unidos, “enfatizou que o terrorismo constituía a mais importante ameaça que os Estados
7 WOLOSZYN, André Luís. Ameaças e desafios à segurança humana no século XXI. 2ª Ed. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército - RJ. 2013. Pag. 1293. 8 LARIZZATTI, Rodrigo. Histórico Del Derecho. A Evolução do terrorismo, crime organizado e a reação do
estado. Universidad del Museo Social Argentino/UMSA. Julho de 2011. 40 fls.
8
Unidos e o mundo enfrentariam no início do século XXI e altos funcionários norte-americanos
reconhecerem que os terroristas, mais do que nunca, estavam em condições de obter e usar armas
nucleares, químicas e biológicas”9.
3. Combate ao Terrorismo
Diante da atrocidade de 11 de setembro de 2001 é extremamente necessária uma
resposta internacional conjunta no sentido de prevenir, coibir e punir o terrorismo buscando
assim reduzir a vulnerabilidade dos países dos atentados praticados pelos grupos terroristas.
Nesse contexto, ressaltamos diante dos danos causados a sociedade pelos ataques de
grupos terroristas, principalmente em países como Estados Unidos, França e Inglaterra, o
terrorismo esta na pauta de discursões no Conselho de Segurança da Organização das Nações
Unidas (ONU) e reuniões de grupos de países como o G20 que representa as 20 maiores
economias do mundo, desta forma, os Países buscam medidas estratégicas e assinam
declarações conjuntas no sentido de prevenir e punir as ações de grupos terrorista no mundo,
entretanto, as resoluções, declarações conjuntas e tratados internacionais tornam-se normas
programáticas, diante da soberania da legislação penal de cada Estado.
No Brasil o artigo 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal equipara o terrorismo aos
crimes hediondos, estabelecendo ao Legislador Ordinário um mandado para criminalizá-lo,
entretanto, Destaca-se a lentidão do Estado que somente em março de 2016 aprovou a Lei
13.260/2016 (Lei Antiterrorismo), que disciplina o crime de terrorismo.
Vale ressaltar que a Lei Antiterror foi aprovada diante da pressão internacional, tendo
em vista, os diversos eventos mundiais que o Brasil será palco como, por exemplo: as
olimpíadas e paraolimpíada no ano de 2016. Além dessa pressão internacional notam-se
vestígios do cenário político atual do Estado, onde ocorreram diversas manifestações, muitas
inclusive com atos de vandalismo, tais como: atear fogo em ônibus, destruição de paradas de
ônibus, bloqueios de rodovias e milhares de pessoas em cima e em torno do palácio do
planalto. Aspectos deste crime destacando o posicionamento constitucional em relação ao
tema.
De modo que se tudo isso fosse encarado como ato terrorista estaríamos incriminando
pessoas que saíram as ruas para reivindicar seus direitos.
9 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Geopolítica e Política Exterior. Estados Unidos, Brasil e América do Sul -
Brasília. Fundação Alexandre de Gusmão, 128 Pag. ano 2009.
9
Dessa forma, devemos apreciar a Lei 13.260/2016, de acordo com o conceito analítico
de crime, dando ênfase ao aspecto jurídico. Nesse sentido nos ensina Fernando Capez, o
crime pode ser conceituado sob o aspecto analítico, uma vez que, o conceito analítico, busca
sob um prisma jurídico estabelecer os elementos estruturais do crime, com a finalidade de
proporcionar a mais justa decisão sobre a infração penal10
,
Nesse contexto, crime é todo fato típico, ilícito e culpável, portanto, a tipificação do
delito é de fundamental importância, já que segundo o artigo 5°, XXXIX, da Constituição
Federal prevê expressamente que: não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
a prévia cominação legal11
.
Neste sentido ressalta Capez, que: “a tipicidade (relação entre o tipo e a conduta) resulta
do princípio da reserva legal. Logicamente, o tipo há de ser previsto para que a ação seja bem
identificada”12
.
De acordo com o autor, o tipo penal corresponde a um fato criminoso, portanto um
molde criado pela lei, em que se está escrito o crime com todos os seus elementos, de modo
que as pessoas sabem que só cometerão algum delito se vierem a realizar uma conduta
idêntica à constante do modelo legal, dessa forma, a tipicidade consiste na justaposição entre
uma conduta na vida real e o tipo legal descrito na lei penal.
Para tanto, para se combater o terrorismo primeiramente cria-se a norma, que por sinal
já está em vigor, bem como exigir o cumprimento da norma dentro dos casos isolados
considerados terroristas.
O certo é que, o terrorismo dos novos tempos é muito perigoso. Destrói a segurança
interna de uma nação, além de minar as relações de segurança global.
É um dos grandes responsáveis por violações bárbaras a direitos humanos (junto com a
inércia dos líderes mundiais em combater a fome, pobreza e doenças banais que atingem mais
da metade do planeta) e muitas vezes é o agente causador de guerras e conflitos mundiais.
10
CAPEZ, Fernando, Curso de Direito Penal Parte Geral, Volume 1, 10ª. Ed. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 112 11
Constituição Federal de 1988. 12
CAPEZ, op cit. p. 185
10
4. Princípios
Princípio é a base que constitui a essência dos valores fundamentais do ordenamento
jurídico, é o núcleo central do ordenamento contendo força normativa, considerando fonte
mediata do direito penal, apesar de conter um número elevado de possibilidade de
interpretação conforme o momento.
Os princípios possuem a finalidade de auxiliar na solução de casos concretos, sendo
utilizadas várias vezes diante da omissão no ordenamento jurídico servindo como direção para
o legislador, portanto, as normas incriminadoras devem estar em harmonia com os princípios,
sob pena de ser manifestar a inconstitucionalidade substancial da norma.
De acordo com os ensinamentos de Celso Antônio Bandeira de Mello, citado por Capez:
violar um principio é muito mais grave do que transgredir uma norma. A
desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico
mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. È a mais grave
forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do
princípio atingido, porque representa ingerência contra todo o sistema,
subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu
arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra13
.
Nesse passo, convém lembrar que segundo Capez:
os princípios tem a função de aplicar a justiça de forma plena, e não apenas
formal, implica, portanto, aliar ao ordenamento jurídico positivo a
interpretação evolutiva, calcada nos costumes e nas ordens normativas
locais, erigidas sobre padrões culturais, Moraes e sociais de determinado
grupo social ou que estejam ligados ao desempenho de determinada
atividade14
.
Por derradeiro, verifica-se que os príncipios tem a função de orientar o legislador
ordinário, no intuito de limitar o poder punitivo estatal mediante a imposição de garantias aos
cidadãos.
4.1.Princípio da Legalidade
Primeiramente, cumpre apontar que o princípio da legalidade é um dos pilares na
estrutura do direito penal, de modo que este princípio está no artigo 5º, inciso XXXIX, da
Constituição Federal “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem a prévia
cominação lega”15
.
13
CAPEZ, Fernando, Curso de Direito Penal Parte Geral, Volume 1, 10ª. Ed. São Paulo: Saraiva. 2006 p. 8 14
Ibidem. p. 107. 15
Constituição Federal de 1988
11
Com essa vertente do princípio da legalidade, tem-se a certeza de que ninguém será
punido por fato que, ao tempo da ação ou da omissão, era tido como um indiferente penal,
haja vista a inexistência de qualquer lei penal incriminando-o (nullum crime nulla poena sine
lege praevia).16
O princípio da legalidade se divide em quatro subprincípios: anterioridade da lei (lege
praevia); reserva legal (lege scripta); proibição de analogia in malam partem (lege stricta); e
taxatividade (lege certa)17
Dito isto, anote-se que a lei jamais poderá retroagir a fim de incriminar fatos ocorridos
anteriormente à sua vigência.
Assim, mesmo que o agente pratique um fato definido como crime pela nova lei se esta
lei ainda estiver em seu período de vacatio legis, não poderá ser responsabilizado
criminalmente.
Dessa forma, não basta a simples publicação da lei para que seja cumprida e
determinação constante do nullum crimen nulla poena lege praevia, há necessidade
inafastável da sua entrada em vigor.
A certeza da proibição somente decorre da lei, bem como afirma TOLEDO. Vejamos:
Da afirmação de que só a lei pode criar crimes e penas resulta, como
corolário, a proibição da invocação do direito consuetudinário para a
fundamentação ou gravação da pena, como ocorreu no direito romano e
medieval18
.
A fonte de conhecimento imediata do Direito Penal é a lei e sem ela não se pode proibir
ou impor condutas sob a ameaça de sanção (nunllum crime nulla poena sine lege scripta).
A anterioridade da lei penal está contido no artigo 5°, inciso XL, da CF e artigo 1º do
Código Penal, que leciona que não há crime anterior que o defina.
Dessa forma, a lei penal será aplicada aos fatos praticados somente após a lei entrar em
vigor não podendo jamais retroagir para prejudicar exceto para beneficiar o réu.
16
GRECO, Rogério. Sistema Prisional: colapso atual e soluções alternativas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Impetus,
2015. 17
ANDRÉ Estefam ; VICTOR Eduardo Rios Gonçaves, Direito Penal Esquematizado, 2ª. Ed. São Paulo:
Saraiva. 2012, p. 107. 18
ASSIS TOLEDO, Francisco. Princípios básicos de direito penal, 5ª. Ed. São Paulo: Saraiva, p. 25.
12
Por fim, é necessário que a lei penal seja taxativa descrevendo de forma clara o ato
criminoso.
4.2. Princípio da Proporcionalidade
Segundo o Artigo 8°, da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, “a
lei apenas deve estabelecer penas estritas e evidentemente necessárias e ninguém pode ser
punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente
aplicada”19
. Nesse escopo, o princípio da proporcionalidade divide-se em três requisitos,
quais sejam: a adequação, a necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito.
O requisito da Adequação refere-se aos meios lesivos utilizados para a consecução do
fim perseguido pela norma ao comportamento socialmente relevante baseado em algum valor
constitucional.
Desta forma, a necessidade refere-se ao fato do Direito Penal ser aplicado somente
quando os demais ramos do direito não apresentarem um solução para o problema neste caso
necessitando da tutela penal.
Como foi o caso da necessidade da criação da lei nº 13.260/2016 para tipificar a conduta
do crime de terrorismo no ordenamento jurídico brasileiro, pois não havia na legislação
nenhuma norma que tratava sobre o tema em exame.
A proporcionalidade em sentido estrito evidencia a gravidade da sanção a ser aplicada
ao crime praticado.
Corrobora para esse entendimento a obra intitulada Dos Delitos e das Penas, de autoria
do Marquês de Beccaria:
Para não ser um ato de violência contra o cidadão, a pena deve ser, de modo
essencial, pública, pronta, necessária, a menor das penas aplicável nas
circunstâncias referidas, proporcionada ao delito e determinada pela lei.20
Dito isto, o princípio da proporcionalidade rechaça, portanto, o estabelecimento de
comunicações legais que careçam de relação valorativa com o fato cometido e a aplicação da
pena.
19
Declaração de Direitos do homem e do Cidadão de 1789 artigo 8ª. 20
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas, volume 1, 6ª Ed. São Paulo: Martin Claret. 2011.
13
5. Direito Penal do Inimigo
Segundo André Estefam e Victor Eduardo Rios Gonçalves “o Direito Penal do Inimigo
foi apresentado em 1985 por Gunter Jakobs como uma antítese do Direito Penal do Cidadão,
que tem como objetivo garantir a eficácia da norma”21
.
Segundo o autor, essa teoria visa o intermédio de normas mais rigorosas, que permite
uma proteção mais eficaz do corpo social e tem como finalidade combater perigos a
sociedade.
O autor ainda destaca que o infrator não é considerado como sujeito de direitos, mas um
inimigo a ser eliminado e privado do convívio social, podendo ser citado a Patriot Act dos
Estados Unidos (Lei Patrióta), que visa uma proteção mais eficaz já que neste ordenamento
autoriza a detenção de pessoas por tempo indeterminado e violação dos direitos individuais
dos suspeitos de envolvimentos de práticas terroristas e a tortura como meio legítimo de
interrogatório.
Na concepção de André Estefam e Victor Eduardo Rios Gonçalves, “O Direito Penal do
Inimigo é apresentado como uma legislação de exceção; quase um estado de guerra, fundado
em normas específicas que visam o combate do inimigo e a eliminação dos perigos por ele
gerados” 22.
Dessa forma, nota-se claramente que o Direito Penal do Inimigo é incompatível com o
ordenamento jurídico do Brasil, pois a Constituição Federal Brasileira está baseada no Estado
Democrático de Direito, devendo o Estado respeitar o ordenamento jurídico e seus princípios.
De modo que a Constituição Federal Brasileira estabelece limites ao Estado este fato
assegura ao cidadão certas garantias constitucionais que sucumbem diante da teoria do Direito
Penal do Inimigo tendo como finalidade eliminar perigos, antecipar a punição baseada na
periculosidade do agente aplicar penas severas, de ter uma legislação diferenciada com a
finalidade de combate e aplicação de medidas de segurança sem ampla defesa e contraditório,
21
ANDRÉ Estefam e VICTOR Eduardo Rios Gonçalves, Direito Penal Esquematizado, 2ª. Ed. São Paulo
Saraiva. p. 167 22
Ibidem. p. 172
14
legitimar a tortura como forma de interrogatório desrespeitando os princípios do ordenamento
jurídico estabelecido na legislação.
No entanto, Guilherme de Souza Nucci, traz uma definição bem mais precisa sobre o
direito penal do inimigo, qual seja:
Vale, em primeiro lugar, defini-lo: trata-se de um modelo de direito penal,
cuia finalidade e detectar e separar, dentre os cidadãos, aqueles que devem
ser considerados os inimigos (terroristas, autores de crimes sexuais violentos,
criminosos organizados, dentre outros)23
.
Ainda afirma NUCCI que estes não merecem do Estado as mesmas garantias humanas
fundamentais, pois, como regra, não respeitam os direitos individuais alheios. Portanto,
estariam situados fora do sistema, sem merecerem, por exemplo, as garantias do contraditório
e da ampla defesa, podendo ser flexibilizados, inclusive, os princípios da legalidade, da
anterioridade e da taxatividade.
São pessoas perigosas, em guerra constante contra o Estado, razão pela qual a eles
caberia a aplicação de medidas de segurança e seus atos já seriam passíveis de punição
quando atingissem o estágio da preparação. Admite-se, ainda, que contra eles sejam aplicadas
sanções penais desproporcionais a gravidade do fato praticado.
Entretanto, os países que sofrem atentados terroristas sempre decretam estado de
segurança máxima, o que no Brasil é denominado Estado de Sítio, nestes casos existindo a
mitigação de direitos consagrados na Constituição Federal.
6. Possibilidade de Ataques Terrorista no Brasil
Inicialmente, destaca-se que o Brasil está passivo a ataques terroristas. Nesse sentido,
corrobora para esse entendimento o que asseverou o professor DINIZ:
O Brasil pode ser alvo de atentados terroristas já que possui diversas
instalações que podem sofrer ataques de organizações terrorista, além de
possuir dificuldade nas áreas de inteligência e segurança e ser um local de
fácil entrada e saída, aliados com diversas etnias que presentes tornam nosso
território privilegiado para ações terrorista.24
.
23
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal – Parte Gera e Especial. 7ª Ed. Rio de Janeiro: RT.
2011, pag 1131. 24
http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/publicacoes-oficiais-1/catalogo/orgao-essenciais/gabinete-de-
seguranca-institucional/secretaria-de-acompanhamento-de-estudos-institucionais/ii-encontro-de-estudos-
terrorismo. Acessado em 30/11/2015.
15
Dessa forma, citamos como exemplo, os grandes eventos de proporções mundiais como,
Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016, onde estarão grandes multidões e estarão presentes
inúmeras autoridades de toda a parte do mundo, o que tornar o Brasil um país com grande
probabilidade de ser alvo de ataques terroristas.
Em entrevista ao G1, Luiz Alberto Sallberry, diretor da Agência Brasileira de
Inteligência (Abin), afirma “que o órgão impediu ataques no país durante a Copa do Mundo
de 2014 ao identificar suspeitos e planos antecipadamente e que o nível de ameaça de uma
ação hoje no país está aumentado”25
. Dessa forma o diretor não trata o terrorismo como um
risco, mas como uma ameaça não apenas para a sociedade, como também para o Estado
Brasileiro.
Anota-se, que a tipificação do crime de terrorismo era uma obrigação que o Brasil havia
assumido, tendo em vista a possibilidade de sediar eventos internacionais, tais como Copa do
Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Vale ressaltar que até o Exército Brasileiro teme ações terroristas, diante do afastamento
da presidente Dilma Rousseff, uma vez que pode gerar um período de agitação e ações
desestabilizadoras no Brasil.
Crise – Exército teme ‘ações terroristas’
A possibilidade concreta de ataques terroristas durante as Olimpíadas, no
Rio de Janeiro, é apenas mais uma preocupação para o Exército Brasileiro.
Fontes ligadas às Forças Armadas afirmaram à DefesaNet que o clima de
tensão se agravou nas últimas horas com a saída de Dilma Rousseff.
O Batalhão de Caçapava, no Vale do Paraíba paulista, está de prontidão há
uma semana para possíveis bloqueios e ataques ao longo da Rodovia
Presidente Dutra e também expediu um comunicado de alerta para os centros
de ‘Tiro de Guerra’ para que reforcem a guarda nos depósitos de
armamentos leves.
O alvo desta vez não é o Estado Islâmico ou qualquer ação que venha do
Oriente Médio ou dos países ocupados pela Rússia ou Estados Unidos. Mas
de grupos irregulares como o colombiano, s Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (FARC), que já atuou financiada por partidos
políticos de esquerda e sindicatos na desocupação pela Polícia Militar de São
Paulo da invasão numa área privada sob litígio judicial conhecida como
‘Pinheirinho’, em São José dos Campos, em 2012.
Outro grupo que tem chamado atenção são os de extrema esquerda
argentinos “La Campora”, criados pelos Governos Kirchner como elementos
25
Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/01/abin-diz-que-alerta-terrorista-cresceu-no-pais-e-
que-impediu-ataque-na-copa.html. Acessado em 30/11/2015.
16
de apoio e ataque a adversários. Atualmente trabalham na desestabilização
do Governo Mauricio Macri26
.
Desde o governo Lula, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) não são
consideradas uma entidade terrorista no Brasil e nem envolvidas com narcotráfico, como já
foi declarado pelas autoridades colombianas e dos Estados Unidos.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) são consideradas uma
organização terrorista pelo governo da Colômbia, Estados Unidos, Canadá e pela União
Europeia, inclusive já tendo sequestrado e mantido em cativeiro diverso estrangeiros,
inclusive brasileiro.
Os governos do Equador, Bolívia, Brasil, Argentina e Chile não consideram
o ‘exército popular’ de vertente marxista-leninista uma entidade terrorista e a
reconhecem como legítima. Isso facilitaria em muito o trânsito dos
‘guerrilheiros’ no território do país, inclusive com recentes embates no
Acre.27
7. A importância da Internet para o Terrorismo
Na concepção de Gabriel Weimann28
, especialista em terrorismo que coordena o estudo
sobre a presença dos grupos terrorista on-line, na faculdade de Haifa, em Israel, em entrevista
a Folha.com, afirma que os ataques terroristas nos Estados Unidos em 11 de setembro ao
World Trade Center não seriam possíveis de serem realizados sem o uso da internet, esta
ferramenta foi utilizada pelos terroristas para pesquisar as rotas de vôos, comprarem as
passagens aéreas e descobrirem até quantos passageiros estariam em cada um dos quatros
aviões.
De acordo com a entrevista Weimann29
relata que quando Osama Bin Laden criou a Al
Qaeda, no Afeganistão para lutar contra a União Soviética, o terrorista sabia que para iniciar
os ataques terroristas precisavam de soluções para os seguintes problemas, quais sejam: um
exército para combater, captar recursos, tecnologia e capacidade de comunicação global.
26
Disponível em: http://www.defesanet.com.br/crise/noticia/22346/CRISE---Exercito-teme-%E2%80%98acoes-
terroristas%E2%80%99. Acessado em 10/06/2016. 27
Disponível em: http://www.defesanet.com.br/crise/noticia/22346/CRISE-Exercito-teme. acessado em 23 de
maio de 2016. 28
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2011/09/972760-internet-transformou-a-al-qaeda-em-
mcdonalds-do-terror-diz-especialista.shtml. acessado em 5/11/2015. 29
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2011/09/972760-internet-transformou-a-al-qaeda-em-
mcdonalds-do-terror-diz-especialista.shtml. Acessado em 5/11/2015.
17
Diante de todas essas dificuldades, a internet foi à ferramenta fundamental e ideal para
solucionar todos os problemas citados acima e de grande potencial para vender o terror, fazer
a publicidade das ações terroristas, divulgar as técnicas e táticas entre os seus membros,
coletar informações para planejar as ações terroristas e fazer a publicidade divulgando as
guerras santas, recrutando pessoas para fazerem parte da rede terrorista e arrecadando fundos
para pratica das ações planejadas.
Portanto, na visão do especialista, acima citado, a Internet é usada para falar com os
mais diversos públicos e recrutar pessoas em geral, incluindo até mesmo crianças, além de ser
uma ferramenta fundamental para arrecadar fundos e coletar informações para planejar e
executar atentados terroristas.
Lado outro, a transformação da internet de uma rede de pesquisa de elite em um meio
de comunicação de massa alterou drasticamente a equação da ameaça cibernética global.
Anota-se, o que destacou o Ministro Wellington Moreira Franco, Secretario de Assuntos
Estratégicos:
O sistema global de TIC pode ser explorado por uma variedade de usuários
ilegítimos e ainda pode ser usado como uma ferramenta de agressão em
nível de Estado. Essas atividades podem ser organizadas ao longo de um
espectro de execução do crime de nível inferior, individual (hacking, por
exemplo), ou relacionadas ao comportamento dos intervenientes não estatais
e grupos (ou seja, os criminosos e terroristas), e, ainda, aos planos
orquestrados pelos governos. É importante observar que, embora este
espectro de atividades tenha mérito como um dispositivo organizacional, ele
é errado analiticamente. Esses diversos usuários da internet não se
enquadram em campos distintos e muito menos em uma hierarquia simples
de ameaças. Por exemplo, hacking pode ter uso muito grave no crime
organizado; criminalidade organizada pode ser vinculada ao terrorismo
internacional; e terrorismo pode ser usado como uma ferramenta de agressão
do Estado30
.
A internet é um sistema global das redes altamente complexo que está constantemente
evoluindo e sendo alterado, de modo que é preciso estar cada vez mais se aprimorando a
respeito da tecnologia para evitar e combater ataques em face da nossa sociedade.
Por derradeiro, finaliza-se aduzindo que o “o ensino é a chave para mudar a forma como
consideramos, planejamos e empregamos as Operações Cibernéticas Ofensivas (Op Ciber
Ofs)” 31
.
30
Desafios e Estratégias Para a Segurança e Defesa Cibernética. Secretaria de Assuntos Estratégicos – Ministro
Wellingon Moreira Franco. 31
Revista Profissional do Exército dos EUA. Setembro – Dezembro de 2014.
18
8. Considerações Finais:
Diante do exposto, verifica-se que há necessidade do Legislador de cumprir o mandado
constitucional de criminalizar o terrorismo no ordenamento jurídico brasileiro, sob penal de
ação de inconstitucionalidade omissiva.
Ressaltamos que o Brasil diante da pressão de órgãos internacionais já que será palco
em diversos eventos mundiais como os Jogos Olímpicos e paraolímpicos que serão realizados
na cidade do Rio de Janeiro em 2016, está procurando combater o terrorismo.
Este fato pode ser comprovado com a promulgação da Lei nº 13.260/2016, que tipifica o
crime de terrorismo em nosso ordenamento jurídico. Entretanto, a presente norma não garante
o objetivo primordial do Direito Penal, que é a repressão e punição da conduta considerada
perniciosa para a sociedade.
Nesse sentido, pode-se dizer com firmeza que a Lei nº 13.260 de março de 2016, e
extremamente necessária já segue a ordem expressa na Constituição Federal para criminalizar
o terrorismo no ordenamento jurídico brasileiro. Nota-se ainda, que a vigência dessa norma
incriminadora visa atender a pressão internacional no sentido de combater o terrorismo nos
grandes eventos realizados no Brasil.
Entretanto destaca-se que a Lei 13.260/2016 não é eficaz no combate ao terrorismo e
pode não surtir os efeitos esperados pela a sociedade quando for aplicada no caso concreto.
Pois a tipificação do crime é vaga e procura defender formas de preconceito, ódio, crimes
contra a pessoa e organizações criminosas tratados em legislação especificas do ordenamento
jurídico brasileiro.
Verifica-se ainda, que a norma incriminadora não protege o Estado de Direito, que é o
elemento subjetivo da conduta terrorista, dando ênfase, a proteção das pessoas, que neste caso
são apenas ferramentas utilizadas para o crime.
Entretanto, fica evidente, que a medida da Lei Antiterror de elevar a pena não é capaz
de cumprir o objetivo primordial do Direito Penal de prevenir e punir as condutas praticadas
contra os bens jurídicos tutelados pelo Estado, tendo em vista que os atentados terroristas são
praticados mediante táticas suicidas.
19
Vale ressaltar, que a prisão dos lideres de grupos terrorista, torna o Estado alvo direto de
atentados, além da possibilidade do contato direto com presos comuns ser uma ameaça, diante
das precárias condições do sistema carcerário brasileiro. Nesse sentido, fica evidente que os
Grupos Terroristas possuem elevado arsenal bélico, e táticas estratégicas de guerras capazes
de especializar e incentivar o uso da violência ilegítima pelo crime organizado no Brasil.
Para tanto, o que se espera é a aplicação imediata dessa Lei, bem como que a força
policial em âmbito nacional possa agir o quanto antes para evitar atos terroristas e
proporcionar um país pacífico.
Diante disso, é possível afirmar que o Estado está buscando aperfeiçoar o combate ao
terror e ao crime organizado, assim cita-se alguns grandes exemplos na tentativa de se
preparar para essa forma criminosa: o DAT (Divisão de Antiterrorismo) da Polícia Federal, a
Polícia Militar do DF (Serviço de Inteligência), o Exército Brasileiro (Forças Especiais –
Brigada de Combate ao Terrorismo situada em Goiânia), a Polícia Civil do Paraná (Grupo
TIGRE), a Polícia Civil do DF (Divisão de Inteligência), a Polícia Militar do Rio de Janeiro, a
Polícia Militar de São Paulo, a Polícia do Senado Federal (Serviço de Inteligência).
Esperamos que com a chegada dos megaeventos em nosso país, traga uma preocupação
para o Estado e entes privados no sentido de se preparem para o combate o terrorismo.
Ressaltamos que a soberania na legislação penal dos países que trata sobre o tema deve
estar de acordo com uma diretriz internacional para combater o crime, já que as diferenças
culturais, ideológicas, políticas e religiosas podem tornar o assunto contraditório e trazer
soluções diferentes e ineficazes para solucionar o problema.
Afinal, se cada país utilizar os meios que julga necessário para coibir o terrorismo
conforme os fatores descritos acima estas normas estarão fadadas ao fracasso citando como
exemplo a Lei PatriotAct, aplicada nos Estados Unidos que segue a teoria do Direito Penal do
Inimigo desenvolvida por Gunter Jakobs e tendo como adepto a essa corrente o renomado
doutrinador Eugênio Raul Zafarroni.
O Direito Penal do Inimigo é um ordenamento jurídico diferenciado com restrições de
liberdade e revogação de garantias, podendo aplicar a tortura aos acusados de crime de
terrorismo, pois são considerados inimigos no Estado. Entretanto, apesar da intervenção
americana no Oriente Médio e a morte de Osama Bin Laden, líder da Al Qaeda, o fim do
20
terror fica cada vez mais distante com o surgimento de novos grupos terrorismo como o
Estado Islâmico que buscam o poder através da violência ilegítima sistematizando o
terrorismo através de diversas células de ataque.
O presente Trabalho de conclusão de Curso está limitado ao terrorismo regional com a
visão política voltada para a ação do crime organizado, dessa forma, visa eliminar os atos
cruéis praticados por grupos armados e facções criminosas no Brasil, sendo estas condutas
comparadas ao terrorismo de forma equivocada além de já possuírem tipificação no nosso
sistema jurídico.
Desta forma ressaltamos ainda, que para combater de forma eficaz o terrorismo é
necessário que os Estados abdiquem de sua soberania e se submetam a uma legislação
unificada sob a supervisão de um órgão internacional com a competência para processar e
julgar este crime independente do território que o delito foi praticado.
Por derradeiro, o que realmente se espera é que não tenhamos só uma Lei que tipifique
o crime de terrorismo, mas uma norma capaz de satisfazer os anseios da sociedade, qual seja a
paz social.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente à Deus por ter me iluminado e dado saúde e força para realizar
a concretização deste trabalho; a minha mãe Eleuza Pacheco da Silva de forma especial, Anna
Cathleen, minha orientadora, pela orientação e garantia das condições para a realização deste
trabalho.
Referências
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Saraiva. 2010.
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21
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XLIII do art. 5º da Constituição Federal, disciplinando o terrorismo.
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22
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