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Curso de Direito Artigo Revisão FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA: DIREITO AO RECONHECIMENTO E SUCESSÃO SOCIO-AFFECTIVE AFFILIATION: RIGHT TO RECOGNITION AND SUCCESSION Australene Cristina Alves Lopes 1 , Marcelo Batista de Souza 2 1 Aluna do Curso de Direito 2 Professor Especialista do Curso de Direito Resumo O presente artigo tem por objetivo abordar a maneira com que o afeto é distinguido no m e i o familiar e a igualdade entre os filhos trazidos pela Constituição Federal, principalmente o direito de filiação, Contudo tal instituto não é reconhecido expressamente no nosso ordenamento jurídico, porém é reconhecido por nossas jurisprudências e doutrinadores que veem o laço paterno afetivo como um elo criado ao longo dos anos derivado da afinidade pai e filho. Um dos objetivos deste trabalho é demonstrar a importância do afeto no estabelecimento da filiação, por ser um dos critérios para se definir a filiação socioafetiva. No entanto, para se estabelecer uma filiação baseada na socioafetividade é necessário que a posse de estado de filho esteja configurada, este trabalho então apresenta quais são os requisitos que a doutrina entende serem necessários para caracterizar a posse de estado de filho. Define também uma das espécies da filiação socioafetiva, os filhos de criação, e com base numa pesquisa jurisprudencial e doutrinária, tenta demonstrar a necessidade de proteção jurídica a essa modalidade de filiação e, consequentemente, oferecer aos filhos de criação todos os direitos inerentes a uma filiação. Palavras-Chave: afeto; família, filiação socioafetiva; filho de criação; sucessão. Abstract This article aims to address the way affection is distinguished within the family and equality among the children brought by the Federal Constitution, particularly the right to membership, however such institute is not expressly recognized in our legal system, but it is recognized by our case law and the scholars who see parental affective bond as a bond created over the years derived from the father and son relationship. One goal of this work is to demonstrate the importance of affect in establishing paternity, as one of the criteria to define the socio-affective affiliation. However, to establish a membership-based socioafetividade is necessary that the possession of child status is set, this paper then presents what are the requirements that the doctrine believes are necessary to characterize the state of possession of child. Defines also a species of socio-affective affiliation, the children of creation, and on the basis of jurisprudential and doctrinal research, attempts to demonstrate the need for legal protection for this type of membership and hence offer children creative all rights inherent in a affiliation. Keywords: affection; family, social-affective affiliation; child-rearing; succession. Contato: [email protected] 1. Introdução O objetivo deste artigo é mostrar que mesmo inexistindo vínculo biológico o direito à paternidade está resguardado a partir do vínculo afetivo, o trato como se filho fosse e a fama de filho esteja presente nesse liame, fazendo com que o instituto família afetiva ali estejam apresentados. A paternidade socioafetiva se constrói independentemente de laço biológico paterno. Este conjunto salienta a evolução da Constituição Federal de 1988, no que se refere ao instituto família que antes da CF/88, não reconhecia o filho havido fora do casamento e o denominava ilegítimo. Desde então, transformações expressivas aconteceram fazendo com que a família fosse notada não só como entidade formada pela autoridade patriarcal, mas também a formada por todos os seus entes, sendo estes, de origem biológica ou não. Em relação à desigualdade existente entre filhos legítimos e ilegítimos, o art. 227, § 6º, da CF/88, solucionou o problema, tornando-os iguais mesmo não sendo concebido dentro do casamento. Sendo assim, as decisões do nosso ordenamento jurídico hoje entendem que pai é aquele que cria e não apenas aquele que gera. A paternidade afetiva se difere da adoção uma vez que a adoção é aquela em que a paternidade não se baseia no vinculo afetivo e sim no jurídico. Na paternidade afetiva o vínculo que

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Curso de Direito Artigo Revisão

FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA: DIREITO AO RECONHECIMENTO E SUCESSÃO

SOCIO-AFFECTIVE AFFILIATION: RIGHT TO RECOGNITION AND SUCCESSION

Australene Cristina Alves Lopes1,

Marcelo Batista de Souza

2

1 Aluna do Curso de Direito 2 Professor Especialista do Curso de Direito

Resumo

O presente artigo tem por objetivo abordar a maneira com que o afeto é distinguido no m e i o familiar e a igualdade entre os filhos

trazidos pela Constituição Federal, principalmente o direito de filiação, Contudo tal instituto não é reconhecido expressamente no

nosso ordenamento jurídico, porém é reconhecido por nossas jurisprudências e doutrinadores que veem o laço paterno afetivo como

um elo criado ao longo dos anos derivado da afinidade pai e filho. Um dos objetivos deste trabalho é demonstrar a importância do

afeto no estabelecimento da filiação, por ser um dos critérios para se definir a filiação socioafetiva. No entanto, para se estabelecer

uma filiação baseada na socioafetividade é necessário que a posse de estado de filho esteja configurada, este trabalho então

apresenta quais são os requisitos que a doutrina entende serem necessários para caracterizar a posse de estado de filho. Define

também uma das espécies da filiação socioafetiva, os filhos de criação, e com base numa pesquisa jurisprudencial e doutrinária,

tenta demonstrar a necessidade de proteção jurídica a essa modalidade de filiação e, consequentemente, oferecer aos filhos de

criação todos os direitos inerentes a uma filiação.

Palavras-Chave: afeto; família, filiação socioafetiva; filho de criação; sucessão.

Abstract

This article aims to address the way affection is distinguished within the family and equality among the children brought by the Federal

Constitution, particularly the right to membership, however such institute is not expressly recognized in our legal system, but it is

recognized by our case law and the scholars who see parental affective bond as a bond created over the years derived from the father

and son relationship. One goal of this work is to demonstrate the importance of affect in establishing paternity, as one of the criteria to

define the socio-affective affiliation. However, to establish a membership-based socioafetividade is necessary that the possession of

child status is set, this paper then presents what are the requirements that the doctrine believes are necessary to characterize the state

of possession of child. Defines also a species of socio-affective affiliation, the children of creation, and on the basis of jurisprudential

and doctrinal research, attempts to demonstrate the need for legal protection for this type of membership and hence offer children

creative all rights inherent in a affiliation.

Keywords: affection; family, social-affective affiliation; child-rearing; succession.

Contato: [email protected]

1. Introdução

O objetivo deste artigo é mostrar que mesmo inexistindo vínculo biológico o direito à paternidade está resguardado a partir do vínculo afetivo, o trato como se filho fosse e a fama de filho esteja presente nesse liame, fazendo com que o instituto família afetiva ali estejam apresentados. A paternidade socioafetiva se constrói independentemente de laço biológico paterno.

Este conjunto salienta a evolução da Constituição Federal de 1988, no que se refere ao instituto família que antes da CF/88, não reconhecia o filho havido fora do casamento e o denominava ilegítimo.

Desde então, transformações expressivas aconteceram fazendo com que a família fosse notada não só como entidade formada pela autoridade patriarcal, mas também a formada por todos os seus entes, sendo estes, de origem biológica ou não.

Em relação à desigualdade existente entre filhos legítimos e ilegítimos, o art. 227, § 6º, da CF/88, solucionou o problema, tornando-os iguais mesmo não sendo concebido dentro do casamento. Sendo assim, as decisões do nosso ordenamento jurídico hoje entendem que pai é aquele que cria e não apenas aquele que gera.

A paternidade afetiva se difere da adoção uma vez que a adoção é aquela em que a paternidade não se baseia no vinculo afetivo e sim no jurídico. Na paternidade afetiva o vínculo que

faz este elo é o do afeto, do amor que o tempo constrói.

2. Progresso Constitucional da Filiação e a Legislação a partir da Constituição Federal de 1988.

A Legislação Civil de 1916 não especificava o que se caracterizava como uma família. Com a Constituição Federal de 1988, as relações patrimoniais e as de parentesco, foram drasticamente alteradas e, por falta de compatibilidade entre Constituição Federal e Código Civil na época, surgiu necessidade fazê-la no Código Civil de 2002.

A filiação que existia no Código Civil de 1916 era regulada com base no Direito Romano e fazia discriminação entre os filhos, classificando-os em legítimos, ilegítimos ou adotivos.

Os filhos legítimos seriam aqueles concebidos na constância do casamento, mesmo que anulado ou nulo, se foi contraído de boa fé.

Ainda citava os casos em que haveria a legitimação do filho que seria equiparado aos filhos legítimos, sendo denominada de filiação legitimada. Esta legitimação seria decorrente do casamento dos pais, tornando-se, desse modo, legítimos os filhos havidos antes do matrimônio, portanto apenas se beneficiavam os filhos ilegítimos naturais.

Os filhos ilegítimos eram os filhos concebidos fora do casamento, ou seja, que não possuíam os pais unidos através de laços matrimoniais, subdividindo-se em naturais e espúrios, sendo que estes últimos assim considerados devido ao impedimento dos pais de contraírem núpcias na época da concepção do filho.

A filiação ilegítima natural é aquela em que o filho nasce de um casal com o qual não existe impedimento matrimonial, ou seja, os pais poderiam realizar o casamento, porém não o fizeram.

A filiação ilegítima espúria subdivide-se em: espúrio incestuoso e espúrio adulterino, sendo que o incestuoso é aquele em que os pais são parentes em grau muito próximo, o qual impede o enlace matrimonial; e o espúrio adulterino ocorre quando o pai ou a mãe ao tempo da concepção ou parto se encontrava ligado ao casamento com outrem.

Assim sendo, os filhos oriundos de pessoas não casadas eram descriminados e não possuíam os mesmos direitos dos filhos nascidos de um casal ligado em matrimônio.

A adoção para o ordenamento jurídico anterior e para o vigente é uma forma artificial de filiação que tem a intenção de igualar a filiação natural, sendo também conhecida como filiação civil, pois o seu resultado não é de uma relação biológica, mas de uma exteriorização de vontade.

Devido às grandes mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais, com o passar dos anos, uma nova família brotou, passando a ser o afeto a raiz do conceito familiar. Os laços de afeto passassem a ter mais valor que os sanguíneos, excluindo de uma vez a família fundamentada exclusivamente pelo vínculo matrimonial. A família passa a ser, então:

“O refúgio privilegiado das pessoas contra a agitação da vida nas grandes cidades e das pressões econômicas e sociais. O que mais conta é a intensidade das relações pessoais de seus membros. Diz-se por isso que é a comunidade de afeto e entre ajuda (Donizetti, 2007)”.

1

Com esse desenvolvimento a Constituição Federal de 1988, adotou um sistema onde fosse tirada a desigualdade em relação à filiação tentando manter a igualdade entre filhos havidos dentro e fora da relação matrimonial. Ela visa a família como parte essencial, base da sociedade e o Estado asseguram à família especial proteção, sendo:

“dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (CF/88, art. 227).

2

No que trata o texto constitucional, aponta-se, a igualdade entre os filhos que ficam amparados no art. 227, § 6º, sendo claro que todos os filhos independendo de sua origem, são possuidores dos mesmos direitos e qualificações não podendo ocorrer predileção por nenhum deles sendo todos possuidores de direitos iguais diante da filiação. Com a adoção este direito passa a ser expresso através de sua aceitação passando ali a estabelecer o grau de parentesco, ou melhor, filiação para possuir iguais direitos e qualificações a que tem direito o filho natural.

1

DONIZETTI, Leila. Filiação Sócio-Afetiva e Direito à Identidade Genética. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. 2 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, Rio

de Janeiro, ed. Saraiva, 2013.

Acompanhando as mudanças da família, Venosa entende que, nas civilizações ocidentais, atualmente, a ideia de família distancia-se cada vez mais do conceito de poder e supremacia de um membro da família, fazendo com que os direitos familiares tornem-se iguais para todos, e, dentro dessa perspectiva.

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O novo conceito de família assegurado pela Carta Federal de 1988 trouxe um conceito de família mais abrangente, conferindo proteção estatal à instituição, não importando a forma como foi constituída, seja pelo casamento, seja pela união estável, ou ainda pela entidade monoparental.

4

Assim, Maria Berenice Dias, nos ensina que:

A família identifica-se pela comunhão de vida, de amor e de afeto no plano da igualdade, da liberdade, da solidariedade e da responsabilidade recíproca. No momento em que o formato hierárquico da família cedeu lugar à sua democratização, em que as relações são muito mais de igualdade e de respeito mútuo, e o traço fundamental é a lealdade, não mais existem razões morais, religiosas, políticas físicas ou naturais que justifiquem a excessiva e indevida ingerência do Estado na vida das pessoas.

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O novo Código Civil, em seus primeiros

artigos relativos à filiação, já demonstra declaradamente a impossibilidade de distinção de direitos ou de qualificações, entre as várias espécies de filiações, em conformidade com o dispositivo constitucional do artigo 227 §6 da Constituição Federal.

Em seu artigo 1597 fez surgir inovações correlatas aos avanços científicos, já que ao fazer uma cópia do artigo 338 do Código Civil de 1916 inovou, ao acrescer nesse rol, três incisos que tratam de filhos havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga e havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que haja prévia autorização do marido.

No entanto, o Novo Código Civil não tratou da posse de estado de filho como um importante

3 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família.

5.ed. São Paulo: Atlas S.A., 2014. 4

CAVALCANTI, Lourival Silva. União estável. São Paulo: Saraiva 2003, p. 28. 5 DIAS, Maria Berenice Dias. Manual de Direito das Famílias.

São Paulo: RT, 2010, p.55.

meio de prova para a configuração de um laço de filiação, com o ideal de beneficiar o melhor interesse da criança.

Ante as mudanças sociais e uma melhor adequação das normas relativas à filiação, o novo Código Civil deveria seguir o entendimento moderno de que a entidade familiar deveria ser compreendida como uma unidade afetiva e cultural e não mais como uma unidade de origem biológica.

O legislador não deve pensar que importa à criança qual a sua origem biológica, já que seria mais vantajoso para ela viver em companhia de quem lhe assegura o afeto e se interessa pela sorte, muito não seja este pai socioafetivo o

responsável pela sua geração.

3. Parentesco e Filiação

O conceito de parentesco evoluiu muito, segundo uma perspectiva constitucional. Embora o direito de família tenha historicamente se dedicado mais ao estudo do parentesco consanguíneo, cabe registrar a importância do parentesco por adoção, por afinidade e o parentesco civil.

Paulo Lôbo define parentesco como:

“relação jurídica estabelecida por lei ou por decisão judicial entre uma pessoa e as demais que integram o grupo familiar, nos limites da lei. A relação de parentesco identifica as pessoas pertencentes a um grupo social que as enlaça num conjunto de direitos e deveres.”

6

Conforme ensinamento de Maria Berenice Dias:

parentesco e família não se confundem, ainda que as relações de parentesco sempre sejam identificadas como vínculos decorrentes da consanguinidade, ligando as pessoas a determinados grupo familiar. Não existe coincidência entre o conceito de família e o de parentesco, uma vez que, na ideia de família, está contido o parentesco mais importante: afiliação.

7

Para Maria Helena Diniz,

6 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008,

p. 181. 7 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito de famílias. São

Paulo: RT, 2010. p.313.

“parentesco é a relação vinculatória existente não só entre pessoas que descendem umas das outras ou de mesmo tronco comum, mas também entre um cônjuge ou companheiro e os parentes do outro, entre adotante e entre pai institucional e filho socioafetivo.”

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Dessa forma, tem-se que o parentesco será estabelecido por lei e dentro dos limites dela, podendo também ser estabelecido em decorrência de decisão judicial, como no caso de adoção.

No entanto, através das relações de parentesco é que os indivíduos são identificados socialmente e, consequentemente, adquirem direitos e obrigações. Porém, muito mais do que adquirir direitos e obrigações, o fato de ser parente suscita sentimentos de pertencer a uma mesma família, ocasionando assim uma série de dependências, em especial afetiva, de um para com o outro.

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4. Reconhecimento dos Filhos

Os filhos de pais casados não precisam ser reconhecidos, devido á presunção de paternidade existente nos filhos oriundos do enlace matrimonial ou na constância deste, contudo, o filho concebido fora do casamento, não é beneficiado por tal presunção legal de paternidade. Sendo que, embora existindo o enlace biológico entre pai e filho, resta o vínculo jurídico de parentesco, que só deriva do reconhecimento.

O reconhecimento, então, é o ato pelo qual o pai ou a mãe, em conjunto ou separadamente, admite como sendo sua filiação através de um ato espontâneo e por escrito, é este o reconhecimento voluntário, existe também o reconhecimento judicial obtido por meio de sentença, através do processo de investigação de paternidade e/ou maternidade, sendo de qualquer forma irrevogável.

“O reconhecimento vem a ser o ato que declara a filiação havida fora do matrimônio, estabelecendo, juridicamente, o parentesco entre pai e mãe e seu filho”

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8 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de

família. v. 5 23 ed. rev., atual. e ampl. de acordo com a Reforma do CPC e com o Projeto de Lei n. 276/2007. São Paulo: Saraiva 2008, p. 431. 9 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008,

p. 181. 10

Euclides de Oliveira, Reconhecimento de filhos e investigação de paternidade, Informativo IASP, citado por Maria

Existem dois tipos de reconhecimento de filiação, quais sejam, voluntário e judicial.

Segundo Antônio Chaves através do reconhecimento voluntário o pai, a mãe ou ambos revelam, de maneira espontânea, o vínculo afetivo que existe de fato, com relação ao filho, reconhecendo-o como tal (art.1607).

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Portanto, a finalidade do reconhecimento é a aquisição do estado de filiação, “não podendo comportar condição ou termo, ou qualquer cláusula que venha a limitar ou alterar os efeitos admitidos por lei”.

O novo Código Civil estabelece em seu artigo 1609 e incisos que o reconhecimento poderá ser feito: a) no registro de nascimento, b) por escritura pública ou escrito particular; c) por testamento; d) por manifestação direta e expressa perante o juiz.

No reconhecimento judicial o filho de um relacionamento não matrimonial, que não obtiver o seu reconhecimento espontaneamente pode adquiri-lo através de uma ação judicial, imprescritível, de direito personalíssimo e indisponível, conforme dispõe o artigo 27 da lei 8069/90 Estatuto da Criança e do Adolescente.

O Código Civil anterior estabelecia os casos em que caberia a investigação de paternidade, já o Novo Código Civil não especifica.

A ação de investigação de maternidade, promovida contra a suposta a mãe, é raríssima, devido à parêmia “mater semper certa este”, e possuía algumas vedações no Código Civil anterior prevista no artigo 364, tais como quando tenha por fim atribuir prole ilegítima à mulher casada ou incestuosa à solteira, no entanto com o advento do Novo Código Civil não há mais qualquer tipo de restrição.

As consequências do reconhecimento do filho, segundo Maria Helena Diniz, são:

“1- estabelecer liame de parentesco entre o filho e seus pais;

2-dar ao filho reconhecido, que não reside com o genitor que o reconheceu, direito à assistência e alimentos;

3- sujeitar o filho, se menor ao poder familiar (art.1616);

4-conceder direito à prestação alimentícia tanto ao genitor que reconhece como ao filho reconhecido (1694);5- equiparar para efeitos sucessórios, os filhos de

Helena Diniz, em seu livro Direito de Família, 5 volume, pág.395. 11

Maria Helena Diniz, Direito de Família, 5 vol., pág.400.

qualquer natureza (art.1829,I e II e 1845);

6- autorizar o filho a propor ação de petição de herança.”

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5. Filiação Socioafetiva

A filiação compreende as espécies jurídica (legal ou presumida), biológica (científica ou instrumental decorrente da evolução tecnológica) e socioafetiva (cultural, decorrente da verdade real ou socioafetiva). Cada uma delas com seus conceitos e efeitos, em razão de variadas circunstâncias que irão abranger e principalmente sobre o predomínio de uma sobre as demais.

O afeto possui grande relevância jurídica, especialmente no que diz respeito ás relações familiares.

A moderna tendência do Direito de Família nas legislações estrangeiras está ligada a questão da afetividade na filiação, causando verdadeiras revoluções nas estruturas familiares, passando a família a ser analisada do ponto de vista sociológico, independentemente da origem biológico-genética, por meio de novos elementos que permitem uma igualdade aos personagens que a compõem, através do cordão umbilical do amor, do afeto, da solidariedade, da posse do estado de filho e da verdadeira paternidade, fato social e não biológico.

A paternidade socioafetiva surge então como sendo aquela emergente da construção afetiva, através da convivência diária, do carinho e cuidados dispensados à pessoa. Surge dentro do conceito mais atual de família, ou seja, de família sociológica, unida pelo amor, onde se busca mais a felicidade de seus integrantes.

A doutrina moderna passa a analisar a paternidade através da relação de afetividade existente entre pai e filho, que não é o pai biológico, no entanto, cria o filho, o protege, dá amor, ou seja, dedica ao mesmo incondicionalmente voluntariamente.

“O novo posicionamento acerca da verdadeira paternidade não despreza o liame biológico da relação paterno-filial, mas dá notícia do incremento da paternidade socioafetiva, da qual surge um novo personagem a desempenhar o importante papel de pai: o pai social, que é o pai de afeto, aquele que constrói uma relação com o filho, seja biológica ou não, moldada pelo

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DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. v. 5 23 ed. rev., atual. eampl. de acordo com a Reforma do CPC e com o Projeto de Lei n. 276/2007. São Paulo: Saraiva 2008, p. 431.

amor, dedicação e carinho constantes”

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A doutrina e a jurisprudência brasileira moderna tratam do tema, existindo diversas decisões judiciais reconhecendo a paternidade baseada nos laços de afetividade, apesar da nossa legislação manter-se inerte. Tais como:

“Negatória de Paternidade. Anulação de Registro. Caracterização da Filiação socioafetiva. Impossibilidade. 1. Entre a data do nascimento da criança e o ajuizamento da ação transcorreu mais de seis anos. 2.Narrativa da petição inicial demonstra a existência de relação parental. 3. Sendo a filiação um estado social, comprovada a posse do estado de filho, não se justifica a anulação do registro de nascimento por nele não constar o nome do pai biológico e sim o do pai afetivo. 4.reconhecimento da paternidade que se deu de forma regular, livre e consciente, mostrando-se a revogação juridicamente impossível. 5. Hipótese do que a doutrina e jurisprudência nomeiam de adoção à brasileira. Negado Provimento ao Apelo”( Apelação Cível nº 70012250528, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, relatora Maria Berenice Dias).

Podemos vislumbrar no novo Código Civil em alguns dispositivos um apoio ao critério socioafetivo:

“1) art.1593 “ o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem”, quando o código menciona a expressão “outra origem” poderia ser interpretada como incluindo o parentesco fixado em função de liame socioafetivo; 2)art.1597, V “havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido” presumir-se-ia que a anuência marital na inseminação artificial

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Almeida, Maria Cristina de. Investigação de Paternidade e DNA: Aspectos Polêmicos. 2001, p.159-60

heteróloga implicou no surgimento de uma relação socioafetiva; 3)art.1605,II “quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já certos”, que vem a ser o fenômeno da posse de estado de filho, única manifestação, no dito Código, do critério socioafetivo”

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A Constituição Federal de 1988 revelou princípios constitucionais, que geraram grandes mudanças na entidade familiar e possibilitam o reconhecimento da filiação socioafetiva, tais como: o da igualdade (art.5 caput), da proibição de discriminação entre a filiação (art.227 §6), a supremacia do interesse dos filhos (art.227 caput), da cidadania e da dignidade da pessoa humana (art.1, II e III).

Portanto, a Constituição Federal de 1988 , estabeleceu um novo conceito de família, baseada na reciprocidade de direitos entre pais e filhos, na igualdade entre os filhos, abolindo as discriminações e as diferenças de direitos entre os filhos, levando-se em consideração o interesse do filho e o que lhe for melhor.

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Existindo atualmente portanto, três critérios para o estudo da filiação: verdade jurídica, verdade biológica e verdade socioafetiva.

Entende-se por verdade sociológica, a constatação de que ser pai ou mãe, não se pauta apenas no vínculo genético com a criança, mas naquela pessoa que cria, educa, dá amor, carinho, dignidade e condição de vida, realmente exercendo a função de pai ou de mãe levando em consideração o melhor interesse da criança.

Nota-se que muitas vezes os laços de afetividade que unem pai e filho, são mais fortes que os vínculos consanguíneos que, porventura, possam existir.

Do ponto de vista psicológico o amor entre uma criança e seu pai não ocorre em razão de vinculo de sangue, mas sim da convivência, do afeto e da certeza de proteção que aquela pessoa lhe proporciona.

A verdade biológica é um fator natural que gera ao ser humano um direito personalíssimo, indisponível e imprescritível de reconhecer a paternidade, conforme determina o artigo 27 da Lei 8069/90, através de uma relação

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www.gontijo-familia.adv.br/tex 155. Acessado em outubro de 2014. 15

“ A despeito da ausência de regulamentação em nos princípios constitucionais de proteção à criança (art.227 da CF), assim como da doutrina da integral proteção consagrada na Lei nº 8.069/90 (especialmente nos art. 4º e 6º), ser possível extrair fundamentos que, em nosso direito, conduzem ao reconhecimento da paternidade sócio-afetiva, revelada pela ‘ posse de estado de filho’, como geradora de efeitos jurídicos capazes de definir a filiação.” ( TJRS – AL 599296654 – 7º C. Cível – relator Luiz F. Brasil Santos).

consanguínea e hereditária, que não se fixa simplesmente por uma relação de afeto ou de amizade. E com os avanços tecnológicos, esse reconhecimento tornou-se mais fácil em virtude do exame de DNA que comprova, com imensa probabilidade de acerto, o vínculo sanguíneo de um determinado individuo para com seus pais biológicos.

É inegável que o surgimento da verdade sociológica trouxe grandes discussões acerca de qual paternidade deve prevalecer a biológica ou a afetiva, no entanto deve-se analisar no caso concreto, levando em consideração o melhor interesse da criança.

Os nossos tribunais tem entendido:

“EMBARGOS INFRINGENTES. Ação de Anulação de Registro de Nascimento Cumulada com Negatória de Paternidade. Paternidade Socioafetiva. Em prevalecendo a paternidade socioafetiva entre o falecido pai registral e o réu, perfeitamente delineada nos autos, além de incomprovado defeito no ato registral, improcede a ação, ainda que a perícia genética tenha excluídos os autores como avós paternos do réu. Precedentes doutrinários e jurisprudenciais.Embargosdesacolhidos.(Embargos Infringentes nº 70013567888, Tribunal de Justiça do RS, relator José Ataídes S. Trindade)”.

E ainda:

“Agravo de Instrumento.Vindicação de Paternidade.Alegação de existência de filho adulterino registrado pelo marido da mãe. Carência de ação inexistente. Possibilidade de terceiro vindicar a condição de pai. Acolhimento do pedido para obstar, em um primeiro momento, a realização de exame de DNA. Direcionamento da probatória para averiguação da paternidade sociológica.1.A lei nº 8.560/92, ao remover qualquer restrição para o reconhecimento de filhos extramatrimoniais assegura o interesse jurídico para eventual demanda de que tenha essa finalidade. Em decorrência,

também daquele que não figura como o pai registral, mas alega ser o genitor, têm legitimidade para postular, em nome próprio, em ação que visa à vindicação de paternidade.2. Na atualidade, o enfoque valorativo que orienta a formação dos vínculos de paternidade e filiação, em razão dos princípios constitucionais de assistência à criança ( art.227, CF) e de respeito à dignidade da pessoa humana, e , em especial, por força do art.1593 do atual CCB, privilegia a paternidade sociológica.3. Assim, é possível extrair do ordenamento jurídico os fundamentos que conduzem ao reconhecimento da paternidade, revelada pela posse de estado de filho em condições de gerar efeitos jurídicos, tais como a manutenção da relação jurídica de paternidade sem que entre pai e filho haja identidade genética. 4. Por estes motivos, em que pese reconhecer que o autor não é carecedor de ação, merecer ser acolhida a inconformidade dos agravantes para obstar a realização imediata de exame de DNA entre os envolvidos na demanda para que, em primeiro lugar, se proceda a averiguação da existência de posse de estado de filho, pois, como dito, o sistema atual recepciona a formação de vínculos jurídicos de parentesco mesmo se ausente a identidade genética entre o pai jurídico e o filho. Somente após, se constatado que, sob a perspectiva do melhor interesse da criança, não há óbice a que se busque a verdade sob o prisma estritamente genético, é que esta deverá ser viabilizada, aí então com a realização do exame pericial de DNA. Deram Parcial Provimento.(Agravo de Instrumento nº 70012792412, Tribunal de Justiça do RS, relator: Luiz Felipe Brasil Santos).

Dessa forma, fica evidente que a afetividade é uma tendência nas famílias atuais, mas, por outro lado, não há como o legislador

impor a todos a regra do afeto como elemento

formador de família. Por que o afeto decorre da convivência e da reciprocidade de sentimentos entre as pessoas.

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Para Thiago Simões, o afeto está presente nas relações familiares, que se individualizam pelo tratamento recíproco entre os cônjuges e deles com os seus filhos, que acabam se vinculando não apenas pelo sangue, mas também por amor.

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Assim as relações entre pai, mãe e filho transcendem a lei e o sangue, pois não se pode determinar de forma escrita, muito menos comprovar cientificamente, visto que os vínculos advindos dessa relação são sólidos e profundos, são invisíveis aos olhos científicos. No entanto, são visíveis para aqueles que enxergam ilimitadamente, ou seja, aqueles que conseguem realmente compreender os verdadeiros laços que fazem de alguém pai: os laços de afeto. Pais são os que amam e dedicam suas vidas aos filhos. Para ser pai a pessoa tem que estar disposta a dar amor, carinho, atenção, cuidado, segurança emocional, quando o filho necessita. Contudo, esse vínculo, nem o sangue, tão pouco a lei, garante à criança.

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Pode-se então dizer que a concepção da filiação socioafetiva

parte da construção da

paternidade de fato, que se constrói por meio do convívio diário, baseado no afeto, o qual garante à criança uma criação digna

19.

Portanto, é o afeto que cria e delineia os laços familiares, sendo que esse é disseminado e acalentado no dia a dia, por meio da convivência entre pais e filhos. Dessa forma, tem-se que a filiação socioafetiva consiste naquela em que a paternidade não prescinde de vínculo biológico

20.

Pois o relacionamento entre pais e filhos transcende os limites biológicos.

21

Contudo, para melhorar compreensão do que vem a ser filiação socioafetiva, faz se

16

SIMÕES, Thiago Felipe Vargas. A filiação socioafetiva e seus reflexos no direito sucessório. São Paulo: Fiúza, 2008, p. 44. 17

SIMÕES, Thiago Felipe Vargas. A filiação socioafetiva e seus reflexos no direito sucessório. São Paulo: Fiúza, 2008, p. 45. 18

NOGUEIRA, Jacqueline Filgueras. A filiação que se constrói: o reconhecimento do afeto como valor jurídico. São Paulo: Memória Jurídica, 2001, p. 84. 19

JATOBÁ, Clever. Filiação socioafetiva: os novos paradigmas de filiação. Disponível em: http://www.ibdfam.org.br/? artigo&artigo =535 . Acesso em 2 de out. de 2014. 20

SIMÕES, Thiago Felipe Vargas. A filiação socioafetiva e seus reflexos no direito sucessório.São Paulo: Fiúza, 2008, p. 45. 21

NOGUEIRA, Jacqueline Filgueras. A filiação que se constrói: o reconhecimento do afeto como valor jurídico. São Paulo: Memória Jurídica, 2001, p. 85.

necessário entender a posse de estado de filho. Pois é por meio da posse de estado de filho configurada que se tem a filiação socioafetiva.

22

5.1 Posse de Estado de Filho

Para entendermos a filiação socioafetiva necessária se faz definirmos a posse de estado de filho elemento caracterizador da mesma.

Maria Berenice entende que “a filiação pode resultar da posse do estado de filho e constitui modalidade de parentesco civil de ‘outra origem’, isto é, de origem afetiva”, conforme o disposto no art. 1.593 do Código Civil. Sendo assim, destaca que “a filiação socioafetiva corresponde à verdade aparente e decorre do direito à filiação”.

23

No direito brasileiro não temos referência expressa ao instituto da posse de estado de filho

24 diferentemente do que ocorre

no direito alemão, que prevê de forma expressa o instituto. Isso faz com que o tema seja objeto de indagações por parte da doutrina e de controvérsia na jurisprudência.

25

Portanto, para que se caracterize a posse de estado de filho é necessária a existência de alguns elementos, pelo fato de que, deve-se considerar a relação diária entre pais e filhos. A doutrina ressalva algumas características que devem ser observadas para efetiva a posse de estado de filho, sendo que, por unanimidade, defende que é essencial a existência de direitos e deveres entre pais e filhos.

“A posse de estado de filho é uma relação afetiva, íntima e duradoura, caracterizada pela reputação frente a terceiros como se filho fosse, e pelo tratamento existente na relação paterno-filial, em que há o chamamento de filho e a aceitação do chamamento de pai”

26

O estado de filho é regido não apenas por um simples conceito, mas por elementos que para a doutrina são essenciais na constituição desse instituto.

22

SIMÕES, Thiago Felipe Vargas. A filiação socioafetiva e seus reflexos no direito sucessório. São Paulo: Fiúza, 2008, p. 45. 23

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: RT, 2010, p.334. 24

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das Famílias. São Paulo: RT, 2007, p.333. 25

BEZERRA, Christiane Singh; LIMA, Maria Aparecida Singh Bezerra de. Considerações sobre a filiação sócio-afetiva no direito brasileiro. Revista Jurídica Cesumar. Maringá: v.5 n.1 julho/2005, p.200. 26

Boeira, Jose Bernardo Ramos, Investigação de Paternidade,1999, p.60

“O estado de filho afetivo, acrescenta o autor é identificado pela exteriorização da condição de filho, nas seguintes circunstâncias: a) sempre ter levado o nome dos presumidos genitores; b) ter recebido continuamente o tratamento de filho; c) ter sido constantemente reconhecido pelos presumidos pais e pela sociedade, como filho.”

27

A doutrina, ao reconhecer a existência da posse de estado de filho, o faz com a ressalva da necessidade da existência de três elementos inerentes a tal relação: o nome, o trato, e a fama. São esses os elementos que a caracterizam e determinam uma paternidade socioafetiva, porém o nome não é elemento crucial, bastando a fama e o trato para efetivar, desde que revestidos de estabilidade.

Ademais, a doutrina destaca três requisitos para que se possa identificar o estado de filho afetivo, sendo eles: nome, trato e a fama.

28

A) Nome: Com relação ao nome, o fator caracterizador é o uso do nome daquele que considera como pai, a criança ter ou utilizar o nome da família que a cria com base no laço de afetividade.

29

A doutrina leva em consideração a possibilidade do filho não ter o nome do pai que o cria, por ter já ter um nome em seu registro.

B)Trato: O trato diz respeito ao tratamento dispensado á criança no que se refere á educação, à criação e a outros elementos constitutivos de uma relação paterno-filial.

30

É o carinho e o afeto que um indivíduo, sem nenhum laço genético, dispensa a suma pessoa pura e simplesmente em razão do amor.

C) Fama: É a exteriorização e a notoriedade do ato ser pai, ou seja é caracterizada pelo entendimento da sociedade de que determinada pessoa é filho de determinado indivíduo,

27

Orlando Gomes citado por Belmiro Pedro Welter, 2003, p.151 28

BEZERRA, Christiane Singh; LIMA, Maria Aparecida Singh Bezerra de. Considerações sobre a filiação sócio-afetiva no direito brasileiro. Revista Jurídica Cesumar. Maringá: v.5 n.1 julho/2005, p.200. 29

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das Famílias.São Paulo: RT, 2007, p.334. 30

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das Famílias. São Paulo: RT, 2007, p.334.

constituindo uma verdadeira relação de filiação.

31

Dessa forma, na posse de estado de filho existe uma relação afetiva íntima e duradora, na qual a pessoa usa o patronímico do pai e por ele é tratada como filha, além de exercitar todos os direitos e deveres inerentes a uma filiação. Esse exercício é notório, conhecido pelo público, ou melhor, na posse de estado de filho tem-se, por parte do pai, um comportamento para com o filho de cuidados com sua alimentação, instrução, dentre outros, mas, principalmente, a demonstração de amor tanto no âmbito social, quanto na intimidade do lar.

32

Contudo, os requisitos a serem observados dependem também de fatores diversos, como sociais, e, em especial, dos fatores psicológicos, alheios ao direito, que irão variar de acordo com as situações concretas. Pois não é possível estabelecer e esperar um determinado padrão de situações concretas, pois cada pessoa está inserida numa realidade diferente, que precisa ser considerada.

33

No entanto, embora os requisitos apresentados possam ser utilizados para identificar o estado de posse de filho, Paulo Lobo destaca que “essas características não necessitam de estarem presentes, conjuntamente

34, pois não há exigência legal

nesse sentido e o estado de filiação deve ser favorecido, em caso de dúvida”.

35

Os requisitos defendidos pela doutrina para configuração da posse de estado de filho nos levam a deduzir que é por meio da aparência

que todos acabam acreditando num fato, que

juridicamente não é verdadeiro.

Porém, tal fato não pode ser desprezado, visto que a tutela da aparência, segundo Maria Berenice Dias, acaba “[...] emprestando juridicidade as manifestações exteriores de uma realidade que não existe”. Essa verdade aparente é responsável pela caracterização da filiação socioafetiva e a verdade real é o fato de o filho

31

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. São Paulo: RT, 2007, p.334. 32

, NOGUEIRA Jacqueline Filgueras. A filiação que se constrói: o reconhecimento do afeto como valor jurídico. São Paulo: Memória Jurídica Editora, 2001, p. 85-86. 33

BEZERRA, Christiane Singh; LIMA, Maria Aparecida Singh Bezerra de. Considerações sobre a filiação sócio-afetiva no direito brasileiro. Revista Jurídica Cesumar. Maringá: v.5 n.1 julho/2005, p.201. 34

BEZERRA, Christiane Singh; LIMA, Maria Aparecida Singh Bezerra de. Considerações sobre a filiação sócio-afetiva no direito brasileiro. Revista Jurídica Cesumar. Maringá: v.5 n.1 julho/2005, p. 201. 35

LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 212.

gozar da posse de estado de filho, que prova assim o vínculo parental

36.

Dessa forma, para se provar o estado de filiação, pode-se utilizar qualquer meio de prova, desde que admitido em direito: provas testemunhais, documentais, periciais, dentre outras. Tais provas servem de complemento para os dois requisitos alternativos que a lei exige, sendo eles: a existência do começo de prova por escrito, oriundo dos pais, e presunções veementes da filiação resultante de fatos já certos. Para começo de prova por escrito admite-se a utilização de cartas, autorizações para atos em benefícios de filhos, declaração de filiação para fins de imposto de renda ou de

previdência social. 37

Além dessas circunstâncias fáticas

probatórias, faz-se necessário analisar outros aspectos como: o carinho, o ambiente tranquilo no qual a pessoa está inserida, a habitualidade de amor, a orientação, a educação, o vestuário, a alimentação, o tratamento respeitoso e digno, o sentimento do filho, o equilíbrio psicológico, dentre outros.

38

No entanto, precisa ficar claro que a posse de estado de filho não é estabelecida com o nascimento, mas por ato de vontade da pessoa fundado no afeto. Nesse caso, a verdade socioafetiva consolidada irá confrontar tanto a verdade jurídica quanto a biológica. Ou melhor, o vínculo biológico não terá valor ao ser confrontado com o vínculo afetivo, que decorre do convívio, do cuidado e principalmente do amor.

39

Acerca do estado de posse de estado de filho, as Jornadas de Direito Civil promovidas pelo Conselho de Justiça Federal aprovaram alguns enunciados importantes, como o Enunciado

n.103 da I Jornada realizada: Na I Jornada

também foi aprovado o Enunciado n. 10840

com a seguinte redação: “no fato jurídico do nascimento, mencionado no art. 1.603, compreende-se, à luz do disposto no art. 1.593, a filiação consanguínea e também a socioafetiva”.

Seguindo o mesmo entendimento, o Conselho da Justiça Federal aprovou na III Jornada, o Enunciado n. 256, talvez o mais importante dentre os citados, com a seguinte redação: “art. 1.593: A posse de estado de filho

36

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: RT, 2010, p.334. 37

LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 212. 38

WELTER, Belmiro Pedro. A secularização do direito de família. In: FARIAS, Cristiano Chaves de (org.) Temas atuais de direito e processo de família. v.1. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004, p.218. 39

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: RT, 2010, p.333. 40

PORTAL DA JUSTIÇA FEDERAL. Jornadas de Direito civil: enunciados aprovados. Disponível em:

http://daleth.cjf.jus.br/revista/enunciados/IJornada.pdf. Acessado em 9 de out de 2014.

(parentalidade socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil”.

Diante disso, observa-se que o Código Civil abre uma lacuna para que se possa caracterizar a posse de estado de filho, revelando a função social do direito de família. No entanto, vedar o reconhecimento da filiação socioafetiva é violar diretamente à dignidade da pessoa humana

41.

Conforme o artigo 1.603 do Código Civil, a prova da filiação é feita por meio da certidão do registro civil de pessoas naturais, que deve ser lavrado em cartório e preencher os requisitos dos artigos 50 a 66 da Lei 6.015/73. Resumidamente o registro deverá conter o nome do pai e/ou da mãe, se forem casados, o nome dos dois em face do princípio da presunção de paternidade do casamento (artigo 1.597 do CC). Se não forem casados, o nome do pai só será registrado mediante seu consentimento expresso, que poderá ser feito de forma pessoal ou mediante procuração específica (artigo 59 da Lei de Registros Públicos).

42

Imprescindível anotar que o registro civil produz uma presunção de filiação quase absoluta, podendo ser invalidada somente diante de erro ou falsidade e por meio do Judiciário. No entanto, o registro não é mais o único meio de prova da filiação, especialmente quando se trata

de filiação socioafetiva, em que apesar da Para

restar caracterizada a posse de estado de filho a doutrina exige a utilização do nome de família, a presença do tratamento de filho e a reputação de filho perante a sociedade. Parece razoável exigir que se prove que o pai destinava tratamento de filho e que este tratamento fosse notório, configurando a reputação social. No entanto, fazer prova da posse de estado de filho por meio da efetiva utilização do nome de família é desnecessário, já que, em regra, as pessoas são conhecidas pelo prenome. Assim a não comprovação do uso do patronímico não prejudica o acatamento da posse do estado de filho.

43 Segundo ensinamento de Maria Berenice

Dias “A noção de estado de filho não se estabelece com o nascimento, mas em um ato de vontade, que se sedimenta no terreno da afetividade, colocando em xeque tanto a verdade jurídica, quanto a certeza científica no estabelecimento da filiação”.

44

41

SIMÕES, Thiago Felipe Vargas. A filiação socioafetiva e seus reflexos no direito sucessório. São Paulo: Fiúza, 2008, p. 55. 42

CHAVES, Cristiano de Farias; ROSENVALD, Nelson. Direito

de Família. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2010, p. 545. 43

CHAVES, Cristiano de Farias: ROSENVALD, Nelson. Direito de Família. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2010, p. 548. 44

DIAS, Maria Berenice Dias. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: RT, 2010, p. 330.

5.2. Espécies de Filiação Socioafetiva

5.2.1 Adoção Judicial

A adoção judicial é um ato jurídico, um comportamento de amor e afetividade, sendo também solidário, o ato de adotar gera uma família baseada em laços afetivos acima dos laços biológicos.

A adoção atribui a condição de filho ao adotado com os mesmos direitos dos filhos de sangue, transferindo o poder familiar, extinguindo uma filiação e criando e outra, nos termos do artigo 1618 a 1629 do Código Civil.

5.2.2 Adoção a Brasileira

A adoção a brasileira é uma ação pelo qual uma pessoa registra o filho de outrem como se seu fosse, sendo, porém, uma adoção sem o devido processo legal, é uma forma de reconhecimento da paternidade socioafetiva em detrimento da biológica.

O ato da adoção a brasileira é crime, ainda que a intenção dos declarantes seja a melhor possível, estando conduta semelhante tipificada no artigo 299 do Código penal como crime de falsidade ideológica. Os nossos tribunais, no entanto, estão absolvendo os pais que declaram a filiação na abertura dos registros de nascimento de menores, que na realidade não são seus, devido à nobreza do ato.

Nesse sentido:

“Ementa. Ação negatória de paternidade. Adoção a Brasileira. Paternidade Socioafetiva. O registro de nascimento realizado com o ânimo nobre de reconhecer a paternidade socioafetiva não merece ser anulado, nem deixado de se reconhecer o direito de filho assim registrado. Negaram Provimento. (Apelação Cível nº 70003587250, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, relator: Rui Portanova)”.

O adotante a brasileira possui os mesmos deveres e direitos estabelecidos no Código Civil para os pais de filhos biológicos, com o filho adotado, incluindo o dever de alimentos.

5.2.3. Filho de Criação

Os filhos de criação são figuras comuns na sociedade, pois são vários os exemplos de pessoas que foram criadas como filhos de criação por uma família. No entanto, apesar da doutrina e da jurisprudência afirmarem que os filhos de criação, em razão de

ser uma espécie de filiação socioafetiva, merecem proteção jurídica, a realidade fática apresenta-se de modo diferenciado. Restando comprovado a proteção de seus direitos de modo eficaz ainda não ocorre.

Pois há situações em que o menor é agregado pela família e, embora culturalmente receba a denominação de filho de criação, na realidade ele não é tratado da mesma forma que os demais filhos, ou seja, não possui os mesmos direitos e deveres que os demais, tão pouco afeto. Nessas situações, o menor é inserido na família para prestar serviços domésticos e não para exercer o papel de filho. Tal prática é muito comum na realidade da sociedade brasileira, pois as pessoas - como uma prima ou madrinha em melhores condições econômicas – geralmente pegam os menores no interior ou na zona rural e os levam para suas residências para que realizem os serviços domésticos de forma mascarada.

Convém ressaltar que a situação posta é somente para demonstrar que existe essa outra realidade dos filhos de criação sem o afeto, mas esse tema não é objeto de estudo do presente trabalho, que trata especificamente da proteção aos filhos de criação, espécie da filiação socioafetiva. Nessa modalidade a pessoa é criada sem nenhuma distinção entre os demais filhos gozando dos mesmos direitos e deveres perante os pais. A problemática surge, geralmente, quando um direito precisa do crivo do Judiciário, como, por exemplo, no caso de partilha de herança, pensão, dano moral etc.

5.2.3.1 Proteção Jurídica aos Filhos de Criação

O filho de criação é uma das espécies de filiação socioafetiva. Essa modalidade de filiação ocorre nos casos em que, mesmo não existindo nenhum vínculo jurídico – por meio da adoção – ou biológico, os pais criam uma pessoa por mera opção.

45

Nas palavras de Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald

para que seja vivenciada a experiência da filiação não é necessária a geração biológica do filho. Ou seja, par que se efetive a relação filiatória não é preciso haver transmissão de carga genética, pois o seu elemento essencial está na vivência e crescimento cotidiano, nessa mencionada busca pela realização e desenvolvimento pessoal

45

NOGUEIRA, Jacqueline Filgueras. A filiação que se constrói: o reconhecimento do afeto como valor jurídico. São Paulo: Memória Jurídica Editora, 2001, p. 84.

(aquilo que se chama, comumente, de felicidade).

46

Nessa modalidade de filiação socioafetiva não existe vínculo de sangue, nem registral, tão somente vínculo de afeto. Os pais de criação oferecem ao filho todo amor, carinho, cuidado, ou melhor, uma família, “cuja mola mestra é o amor entre seus integrantes; uma família, cujo único vínculo probatório é o afeto”.

47

O filho de criação não possui meios formais de comprovação de vínculo de filiação, no entanto é detentor dos requisitos que configuram a posse de estado de filho, que se revela na reputatio, na nominatio e na tratactus.

Cabe registrar que a inexistência do vínculo biológico não se mostra suficiente para romper o vínculo paterno-filial.

48De forma que,

mesmo comprovada a ausência do vínculo biológico, que possui enorme prestígio como prova pericial, devido ao alto grau de precisão, é possível a comprovação do elo socioafetivo.

O laço socioafetivo depende da comprovação de convivência respeitosa, pública, duradoura e estabelecida aos olhos da sociedade. Há situações em que é possível perceber a afetividade como determinante para o estado de filiação.

Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald citam:

i) na adoção obtida judicialmente; ii) no fenômeno de acolhimento de um “filho de criação”, quando demonstrada a presença da posse de estado de filho; iii) na chamada adoção à brasileira (reconhecer voluntariamente como seu um filho que sabe não ser; iv) no reconhecimento voluntário ou judicial da filiação de um filho de outra pessoa ( quando um homem, enganado pela mãe ou por ter sido vencido em processo judicial, é reconhecido como pai e,a partir daí, cuida deste filho, dedicando amor e atenção.

49

Considerando a importância do tema e a necessidade de proteção jurídica aos filhos de criação, a seguir serão apresentadas algumas

46

CHAVES, Cristiano de Farias; ROSENVALD, Nelson. Direito de Família. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2010, p. 542 47

NOGUEIRA, Jacqueline Filgueras. A filiação que se constrói: o reconhecimento do afeto como valor jurídico. São Paulo: Memória Jurídica Editora, 2001, p. 84. 48

CHAVES, Cristiano. ROSENVALD, Nelson. Direito de Família. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2010, p. 581. 49

CHAVES, Cristiano. ROSENVALD, Nelson. Direito de Família. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2010, p. 593.

decisões dos Tribunais acerca da filiação socioafetiva, especialmente sobre os filhos de criação.

Embora no decorrer do trabalho fique demonstrado

50que o afeto, em determinadas

situações, deve prevalecer, quando se diz respeito aos filhos de criação, não há convergência na doutrina e na jurisprudência

51.

Todavia, alguns autores52

são favoráveis à filiação socioafetiva, bem como sua prevalência sobre a filiação jurídica e biológica em certos casos.

As decisões são fruto de pesquisa jurisprudencial realizada em alguns Tribunais. Na pesquisa foram utilizados termos como: filiação socioafetiva, filiação socioafetiva e filhos de criação. No entanto, para conseguir o resultado desejado, o único termo utilizado foi filhos de criação, pois o resultado apresentado utilizando os demais termos era muito abrangente e envolvia tanto a filiação biológica como a registral e principalmente as ações que visam reconhecer ou desconstituir a paternidade.

Outro fato que merece ser destacado é que, durante a pesquisa conseguiram- se poucas decisões que tratam do assunto, assim tal deficiência leva a concluir que talvez os filhos que se encontram inseridos nessa realidade não saibam que é possível obter a proteção jurídica de seus direitos e deveres decorrentes de sua condição de filho de criação.

As decisões foram classificadas pelos efeitos jurídicos de proteção aos filhos de criação e, quando possível , pelos tribunais.

5.2.3.2 Direito Sucessório e Registro dos Filhos

de Criação

No que diz respeito à sucessão e ao nome dos filhos de criação tem-se uma única e importante decisão no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma Apelação Cível, tendo como presidente Maria Berenice Dias. Embora o seu voto tenha sido vencido, em muito tem a acrescentar, pois demonstra a necessidade da proteção aos filhos de criação.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE MATERNIDADE SOCIOAFETIVA CUMULADA COM PETIÇÃO DE HERANÇA. ‘FILHO DE CRIAÇÃO’. INVIABILIDADE

50

CHAVES, Cristiano. ROSENVALD, Nelson. Direito de Família. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2010, p. 593. 51

WELTER, Belmiro Pedro. Igualdade entre as filiações biológica e socioafetiva. São Paulo: RT, 2003, p.149. 52

Paulo Lôbo, Maria Berenice Dias, Edson Fachin, Belmiro Pedro Welter, dentre outros.

DA PRETENSÃO. A relação socioafetiva serve para preservar uma filiação juridicamente já constituída, modo voluntário, pelo registro( que define, no plano jurídico, a existência do laço – art. 1.603 do Código Civil), jamais sendo suficiente para constituí-la de modo forçado, à revelia da vontade do genitor. Dar tamanha extensão a parentalidade socioafetiva resultará, por certo, não em proteção aos interesses de crianças e adolescentes, mas, ao contrário, em desserviço a eles, pois, se consolidada tal tese, ninguém mais correrá o risco de tomar uma criança em guarda, com receio de mais adiante se ver réu de uma investigatória de paternidade ou maternidade. È bom ter os olhos bem abertos, para não se deixar tomar pela bem intencionada, mas ingênua ilusão de que em tais situações se estará preservando o princípio da dignidade da pessoa humana, pois o que invariavelmente se encontra por trás de pretensões de espécie aqui deduzida nada mais é do que o reles interesse patrimonial. É de indagar se o apelado deduziria este pleito se a falecida guardiã fosse pessoa desprovida de posses!

53

Diz respeito a uma apelação interposta pelo espólio, em face da sentença que julgou procedente o pedido deduzido na ação para reconhecimento de maternidade socioafetiva, cumulada com petição de herança, ajuizada pelo filho de criação. O filho de criação, autor da ação, buscou o estabelecimento de filiação com base no vínculo afetivo a fim de ser reconhecido como herdeiro da mãe de criação falecida.

Maria Berenice Dias, ao proferi voto, enfatizou pontos que merecem destaque diante da nova concepção de família, como a necessidade dos vínculos familiares serem visualizados pela ótica da afetividade, conforme

53

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Sétima Câmara Cível. Apelação Cível n 70014775159. Relator: Luiz Felipe Brasil Santos. Julgado em 28 de junho de 2006. DJ de 12/ 07/ 2006.

estabelece a Constituição Federal. Além do que, a partir do momento que a Constituição reconheceu a união estável como entidade familiar, pode-se entender que houve o reconhecimento do afeto e, consequentemente, lhe foi dado efeitos jurídicos. Em face disso, o afeto passou a ser tutelado juridicamente, tanto nas relações interpessoais como nos vínculos de filiação.

Destacou que “filiação não se constitui somente pelos vínculos de consanguinidade, mas por outras formas também, e aí está a

filiação que ele prefere chamar de sociológica,

que todos chamam de socioafetiva, mas que prefiro chamar de filiação afetiva.”

Maria Berenice Dias acerca do caso apresentado, relata que:

Indiscutivelmente esta criança que foi entregue a esta mulher, ainda neném, antes de ter um ano de vida, ninguém duvida que era seu filho. Assim ele foi criado, assim ele constou no INSS, assim foi indicado no Montepio. Quando ela ficou doente, ele foi nomeado seu Curador. A Lei estabelece quem pode ser nomeado curador. Na lista, estão as pessoas que a lei escolhe, os parentes. A lei não diz que filho de criação ou que um estranho podem desempenhar este múnus.

Mas há mais, como o filho era casado, morava em outro lugar, deixou uma filha morando junto com sua mãe. Ou seja, a neta ficou morando e cuidando da avó. Quando ela ficou doente, quem chamaram, o filho.

O vínculo entre ambos permaneceu durante toda a vida. Ela tinha a guarda de fato desde antes de o filho ter um ano de idade. Na época de ele entrar no colégio, firmou em juízo um termo de guarda e responsabilidade, para criá-lo como se seu filho fosse.

Ela era uma pessoa singela. Ela até outorgou procuração para que um advogado entrasse com o que na época se chamava de legitimação adotiva. Então, como negar o interesse dela em ter aquele

filho como seu? Nunca houve nenhuma manifestação dela no sentido de que não reconhecia ele como filho.

O próprio Código Civil admite a adoção póstuma, contanto que tenha tido início o processo de adoção. A posição de vanguarda é deste tribunal, pelo voto do Des. Luiz Felipe, que admite a adoção mesmo que não tenha iniciado a ação de adoção. O voto brilhante, se transformou em paradigma. Basta estar comprovado o desejo de adotar, o desejo de ter o filho como seu, para admitir-se a adoção. Inclusive já há várias outras decisões nesse sentido. Assim, mesmo que não tenha começado o processo de adoção, é possível o reconhecimento do vínculo de filiação depois da morte.

Portanto, não há como não se reconhecer que essa mulher tinha esse filho com seu. Confesso que não consigo enxergar, nesta busca dele do reconhecimento da filiação, um mero interesse de ordem econômico- financeira. Ela só tem essa casa, onde morava junto com uma filha dele. Se o imóvel não ficar para ele, vai ficar para uma irmã dela, com quem ela não se dava e não convivia. E essa é a situação: ou fica para o filho, com quem conviveu desde que ele nasceu e que cuidou sempre dela, inclusive colocando a filha para morar com ela, ou vai ficar para uma irmã, com quem ela não se dava com que não convivia.

54

Nas considerações finais do voto, a desembargadora alega que não consegue enxergar na situação apresentada nenhum interesse de ordem econômica, porque se as relações se estabelecem pela afetividade, não

acredita que o amor será medido por conta de

haver ou não interesse econômico: “ninguém é meio filho, ou existem vínculos afetivos que se

54

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Sétima Câmara Cível. Apelação Cível n 70014775159. Relator: Luiz Felipe Brasil Santos. Julgado em 28 de junho de 2006. DJ de 12/ 07/ 2006.

estabelecem ou não existem vínculos afetivos!”. Diz também que é imprescindível reconhecer “uma filiação afetiva, com efeitos jurídicos, desde que o menino lhe foi dado sob guarda, para ser criado como se filho fosse”. Pois essa é uma filiação que é reconhecida pela lei.

Em relação aos pais registrais, alega não ser necessários que os cite, pois o filho é maior e não exige a lei que, na adoção de maiores, os pais registrais tenham que concordar. Sendo assim, o único reparo à sentença que diz ser necessário é que, em razão de ser uma ação de investigação de maternidade, deve haver a alteração no registro de nascimento somente na filiação materna, mantendo o vínculo de filiação com relação ao pai biológico.

Diante do voto exposto pela desembargadora Maria Berenice Dias, observa- se que é necessário reconhecer uma filiação com efeitos jurídicos e que, no caso dos filhos de criação, quando maiores, não há necessidade de citar os pais registrais para que concordem ou não. No que diz respeito ao nome, pelo fato de ser uma ação de investigação de filiação

55, defende que deve se alterar o registro

de nascimento, alterando os nomes dos pais biológicos pelos dos pais socioafetivos. No caso em julgado, existe uma peculiaridade, pois nele defende que seja alterado no registro de nascimento somente o nome da mãe biológica, pelo da mãe de criação, tendo em vista que a ação é de investigação de maternidade.

Diante do exposto, evidencia-se que o filho de criação ao ser reconhecido judicialmente como filiação decorrente da socioafetividade, adquire proteção jurídica no que diz respeito ao direito à sucessão, pois não pode existir discriminação quanto à origem da filiação, todos os filhos possuem os mesmos direitos. Sendo assim, o fato de não conceder todos os direitos inerentes à filiação aos filhos de criação, reconhecido judicialmente como uma filiação socioafetiva, significa violar o princípio constitucional o qual estabelece que todo o filho fosse igual, independentemente de sua origem.

5.2.3.3 Direito a Pensão Pós Morte dos Filhos de Criação

Tem-se também na jurisprudência decisões que concederam ao filho de criação o direito ao benefício de pensão por morte do pai militar.

Na Apelação Cível nº 2006 51010105955, cuja relatora foi a juíza federal

55

Belmiro Pedro Welter, em sua obra, tem como um dos pontos principais a busca em demonstrar que se revela viável, no direito brasileiro atual, ação de investigação de paternidade socioafetiva. WELTER<Belmiro Pedro. Igualdade entre as filiações biológica e socioafetiva. São Paulo: RT, 2003, p. 198.

convocada Maria Alice Paim Lyrard, foi concedido o direito à mãe de criação de receber à pensão do militar do filho de criação:

ADMINISTRATIVO – MILITAR - PENSÃO POR MORTE – VIÚVA - MÃE DE CRIAÇÃO - EQUIPARAÇÃO À MÃE ADOTIVA - LEI N 3765/60, ART. 7° - DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. 1- Trata-se de remessa necessária e de recurso de apelação interposto de sentença que julgou procedente o pedido, condenando a União a proceder à habilitação da autora, mãe de criação do militar, à pensão instituída em razão do falecimento de Aspirante a Oficial, em 28/4/2000. 2 – O art. 7° da Lei n 3765/60, com redação vigente à época do óbito do militar, previa que a pensão militar poderia ser deferida à viúva, mãe do de cujus, na falta de pessoas que tivessem preferência na habilitação. 3 – Desnecessidade de que os pais biológicos do de cujus integrem a relação processual, por total falta de interesse. Isto porque, equiparada a situação à adoção, se verificou o rompimento do vínculo com a família biológica, não subsistindo o direito à pensão militar decorrente da morte. Admitir-se a esses pais qualquer direito de cunho patrimonial na atual conjuntura, equivaleria em jogar por terra todo o esforço material e sentimental da apelante, que despendeu os esforços necessários para cuidar do falecido desde seus primeiros dias, para prestigiar a torpeza de seus pais biológicos, que somente agora, quando verificada a possibilidade de algum ganho material, resolveram aparecer e lembrar que tiveram um filho. 4 – Na hipótese, a União, em momento algum contestou a maternidade da autora sendo que o Ministério

da Defesa, no Parecer de nº 043 – Jus, de 14 de março de 2001, reconheceu que “a requerente cumpriu com as exigências legais do instituto” ( da guarda provisória), demonstrado pela “ copiosa documentação que acompanha o processo”administrativo. 5 – Juros de mora fixados me 0,5% ao mês, tendo em vista que a ação foi ajuizada quando já em vigência a MP 2.180-35/2001. 6 – Remessa necessária e recurso parcialmente provido.

56

A apelação cível diz respeito a uma mulher que detinha a guarda de um aspirante oficial do Exército que faleceu aos 23 anos em um acidente de carro. Na primeira instância a mãe de criação do militar ganhou e foi determinada a sua habilitação para receber a pensão. A União recorreu, alegando que a mãe de criação jamais procurou regularizar a situação do filho e que, no registro do militar falecido constavam os nomes dos pais biológicos. Porém, o fato é que o militar foi abandonado recém- nascido pela mãe biológica, deixado na porta da residência da mãe de criação, dentro de uma caixa de papelão, junto a ele estava a certidão de nascimento. Desde então, os pais biológicos nunca procuraram pelo filho. Só após a morte do militar, o pai biológico tentou se habilitar para receber a pensão, mas o pedido foi indeferido.

57 A relatora do processo lembrou que o filho

de criação era uma situação muito comum no Brasil das décadas de 1940 até 1970. Essa relação normalmente ocorria quando os casais criavam a pessoa como filho, motivados pelos sentimentos de paternidade e maternidade, carinho e compaixão. Essa situação corresponderia à adoção, mas que devido a um desconhecimento deixava de ser legalizada.

No entanto, atualmente a condição de filho de criação ainda perdura entre nós, principalmente nos estados do Norte e Nordeste do país. A adoção simples apenas deixou de existir para o conceito positivado no Código Civil de 2002. Porém, cabe indagar como ficam as situações constituídas anteriormente, aqueles filhos que foram criados com afeto pelos

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Tribunal Regional Federal da Segunda Região. Oitava Turma. Apelação Cível n.2006.51.01.010595-5. Relatora: Maria Alice Paim Lyrard. Julgado em 09de setembro de 2008. DJ de 18/9/ 2008. p 384 57

Tribunal Regional Federal da Segunda Região. Notícias. Mãe de criação tem direito a pensão por morte de filho militar em:<http://www2.trf2.jus.br/noticia/materia.aspx?id=275>. Acesso em 20 de set. de 2014

seus pais e irmãos, de que maneira o Estado protegerá seus direitos?

O caso retratado vem de um estado, que figura entre os mais desenvolvidos do País. Daí podermos concluir que a situação dos filhos de criação não é um problema da região Norte ou Nordeste e sim uma situação que abarca milhares de brasileiros, que possuem o que há de mais importante para caracterizar a filiação sociafetiva, que é o afeto, e lhes falta o reconhecimento registral e judicial que se mostra indispensável para a jurisprudência.

Diante de tais decisões, percebe-se que embora sejam poucas as decisões amparando juridicamente os filhos e pais de criação, os julgadores, ao decidir, buscam considerar se realmente nas relações existia o tratamento comum presente entre pais e filhos, ou seja, se ostentam a condição de pai e filho. Ao ser confirmada a existência da relação, sob ela passa a incidir todos os direitos inerentes a filiação.

5.3 Os Efeitos Jurídicos da Paternidade Socioafetiva

Reconhecida a posse de estado de filho na filiação, em decorrência de seus elementos identificadores e do princípio constitucional da igualdade, a mesma gera efeitos jurídicos, tais como o dever de criação, educação, guarda companhia, obediência, entre outros estabelecidos aos pais em relação aos filhos, conforme dispõe o art.1634 do novo Código Civil e o artigo 227 da Constituição Federal, no exercício pleno do poder familiar.

Uma vez reconhecidos a filiação socioafetiva, os filhos também possuem deveres para com os pais afetivos, sendo de assistência e amparo aos pais na velhice, conforme dispõe o artigo 229 da Constituição Federal de 1988.

Portanto os efeitos jurídicos decorrentes da paternidade socioafetiva são recíprocos entre pais e filhos.

5.3.1. Ação de Investigação de Paternidade Socioafetiva

A jurisprudência gaúcha tem admitido a investigação de paternidade socioafetiva, reconhecendo a filiação derivada do afeto e não da consanguinidade.

A ação de investigação paternidade socioafetiva é perfeitamente viável, no entanto, o nosso direito não faz menção objetiva a acerca da filiação sociológica, cabendo ao doutrinador interpretar a lei de modo a viabilizar a ação, conforme disposições legais acima mencionadas que possibilitam através de um esforço de interpretação a sua aplicação no presente caso e aplicar normas constitucionais sobre a filiação sociológica, também mencionadas acima.

O professor Belmiro Pedro Welter afirma:

“Uma vez julgada procedente a ação de investigação de paternidade e/ou maternidade socioafetiva, decorrem os mesmos efeitos jurídicos do arts. 39 a 52 do ECA, que são aplicados á adoção, quais sejam: a) a declaração do estado de filho afetivo; b) a feitura ou a alteração do registro civil de nascimento; c) a adoção do nome (sobrenome) dos pais sociológicos; d) as relações de parentesco como os parentes dos pais afetivos; e) a irrevogabilidade da paternidade e da maternidade sociológica; f) a herança entre pais, filho parentes sociológicas; g) o poder familiar; h) a guarda e o sustento do filho ou pagamento de alimentos; i) o direito de visitas etc....”

58.

Salienta-se que o entendimento doutrinário acima, tem a intenção de dar tratamento igualitário aos filhos, igualando-os aos filhos decorrentes de uma adoção, o que os igualaria aos filhos biológicos, no entanto, a filiação socioafetiva não é adoção e não possuem normas próprias utilizando desta forma as regras contidas nos ECA.

A concessão ao filho do patronímico dos pais afetivos garantiria para o mesmo a integração a determinado grupo social como se parte dele fosse preservando os direitos inerentes a personalidade e individualizando-o na sociedade como membro do seio familiar.

5.3.2. Irrevogabilidade da Filiação Socioafetiva

A irrevogabilidade da filiação socioafetiva encontra-se constitucionalmente disposta nos artigos 226,§§4 e 7, e 227,6 e, de modo infraconstitucional, encontra fundamento nos princípios do melhor interesse da criança e do adolescente, conforme os artigos 1, 6,15 e 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Com a comprovação da verdade afetiva, da posse do estado de filho, seria descabido dar oportunidade para o pai sociológico revogar essa filiação, pois caso isso ocorresse não estaria essa relação protegida pelo princípio da igualdade entre as filiações, já que a adoção e a paternidade biológica, essa última, quando comprovada através de um exame de DNA, não são suscetíveis de revogação.

Salienta-se que a filiação socioafetiva está amparada na relação de afeto, carinho e amor,

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Welter, Belmiro Pedro. Igualdade entre as filiações biológicas e socioafetiva. São Paulo, 2003, revista dos Tribunais.

dedicação, existente entre pai e filho perante a sociedade de forma duradoura e contínua, ou seja na posse de estado de filho, não podendo o pai de uma ora para outra romper com esta relação revogando-a.

A única hipótese de impugnação da filiação socioafetiva seria a não configuração do estado de filho afetivo.

Nesse sentido a jurisprudência:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGAÇÃO DE PATERNIDADE. MANUTENÇÃO DO VINCULO JURÍDICO PATERNOFILIAL, SOCIOAFETIVIDADE. Não prospera a pretensão do apelante que visa, em demandas anulatória de registro civil e alimentos e negatória de paternidade cumulada com exoneração de pensão alimentícia que tiveram julgamento conjunto, atacar o ato de reconhecimento voluntário de paternidade por ele levado a efeito, uma vez que não provou qualquer vício, seja de vontade ou de forma, que tenha maculado o ato jurídico de reconhecimento por ele realizado. Ademais, o apelado conta 14 anos de idade e, ao longo do tempo, conviveu no seio da família como se filho do recorrente fosse, estando caracterizada a posse de estado de filho. É oportuno lembrar que filho não é objeto descartável, que se assume quando convém e se dispensa por ato de simples vontade. NEGARAM PROVIMENTO, À UNANIMIDADE. (Apelação Cível nº 70010807642, Tribunal de Justiça do RS. Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 20/04/2005).

DESTARTE, a justiça não pode impedir que o filho já reconhecido como socioafetivo, venha requerer investigação de sua paternidade biológica, observando-se o direito personalíssimo inserido no rol dos direitos fundamentais, porém caso este reconhecimento seja posterior a sua declaração de paternidade sociológica não poderá tal fato, ensejar perante a nova perfilhação direitos de ordem patrimonial.

59

59

“INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE CUMULADA COM PEDIDO DE ANULAÇÃO DE REGISTRO. Autora que, ao início do feito, já contava com mais de 50 anos de idade, tendo

Conclusão

A composição e estrutura familiar sofreram alterações ao longo da história, influenciadas pelos movimentos sociais de cada época e pelo progresso científico. Isso porque o avanço da ciência traz mudanças sociais que alteram os costumes e, por conseguinte a estrutura e composição familiar.

Tendo em vista que a concepção atual de família trazida pela Constituição Federal possui a finalidade de proteger o indivíduo que a compõe, agasalhando tantas unidades familiares quanto existentes na sociedade brasileira, seria um dissenso, sustentar a taxatividade do art. 226. Isso porque relegaria à ilicitude outros arranjos familiares não contemplados no referido artigo, o que comprometeria a realização do princípio da dignidade humana.

Não obstante a possibilidade do reconhecimento da filiação socioafetiva a partir de uma análise sistemática do ordenamento jurídico pátrio, a jurisprudência brasileira vem se mostrando resistente à probabilidade dos filhos de criação herdarem bens daqueles que os criaram.

Contudo, verifica-se que todas as alegações arguidas pela jurisprudência para inviabilizar a transmissão do patrimônio dos pais afetivos ao filho de criação foram desmistificadas, o que demonstra a viabilidade da equiparação da prole afetiva à prole biológica para todos os efeitos, inclusive sucessórios, desde que comprovada a filiação socioafetiva de forma robusta.

Agradecimentos

Primeiramente a Deus meu Senhor de todas as coisas que ilumina meus passos e me dá força para superar e vencer as dificuldades diariamente.

Aos meus familiares, que me incentivou nesta jornada, com apoio, paciência e amor para alcançar mais este objetivo.

Aos mestres por compartilharem comigo seus conhecimentos, colocando em minhas mãos as ferramentas e o saber, com as quais abriram novos horizontes.

Ao meu orientador, Marcelo Batista pela paciência, dedicação e sugestões que fez com que este pudesse se tornar realidade.

A banca examinadora pela sua atenção e disponibilidade em participar desse momento tão

durante mais de meio século, constado como filha do marido de sua mãe, que a registrou como tal. POSSE DO ESTADO DE FILHO. A filiação, mais do que um fato biológico é um fato social. RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO, NO CASO CONCRETO. Conteúdo imoral na demanda, que, convenientemente, como de regra ocorre, busca a troca de um pai pobre por um pai rico.Apelo desprovido, por maioria, vencida a Relatora. (apelação cível nº 70004989562, tribunal de justiça do RS, Relator: Maria Berenice Dias, julgado em 12/10/2002)”

importante relativo ao meu crescimento pessoal e intelectual.

A todos os colegas de faculdades e amigos que de maneira direta e indireta foram importantes incentivadores para poder chegar ao fim desta etapa e realizar mais um sonho na conclusão do presente trabalho.

Aos meus pais, Alcebiades de Souza e Cleonice Alves, por acreditarem em mim e ter me dado forças para trilhar este caminho.

E por fim, a meu esposo, Paulo de Campos e minha filha Maria Clara de Campos Lopes, que sem dúvidas foram a minha base sólida nessa jornada, agradeço a paciência e o amor de cada um deles.

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jurisprudência e com o novo Código Civil.(Lei n. 10.406,de 10-1-2002), com a colaboração da Prof.Priscila

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