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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Curso de Especialização em História e Culturas Políticas Disciplina: Utopia e imaginação políticas Há uma concepção utópica no pensamento marxista? Renzo Martins da Silva

Há uma concepção utópica no pensamento marxista (revisado maio 2012)

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Page 1: Há uma concepção utópica no pensamento marxista (revisado maio 2012)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Curso de Especia l i zação em Histór ia e Cul turas Pol í t icas

Disc ip l ina: Utopia e imaginação pol í t icas

Há uma concepção utópica no pensamento marxista?

Renzo Mar t ins da S i l va

Be lo Hor izon te , Ma io de 2007 .

HÁ UMA CONCEPÇÃO UTÓPICA NO PENSAMENTO MARXISTA?

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Quando encaminhamos uma aná l i se do desenvo lv imento da ideo log ia

soc ia l i s ta do sécu lo X IX , duas pa lav ras emergem inexorave lmente : u top ia

e c iênc ia . Sendo ass im, qua l s ign i f i cado a t r ibu i r a essas duas

te rmino log ias? Sem o dev ido apro fundamento e uma aná l i se acadêmica de

ta is pa lav ras , utop ia é v incu lada aos sonhos de uma pessoa , ou g rupo de

pessoas , que d i f i c i lmente se concre t i za r ia na v ida rea l . Os caminhos

pensados para a concre t i zação desses sonhos es ta r iam desv incu lados das

cond ições rea is de ex is tênc ia , apresen tando um n íve l e levado de

sub je t i v idade . Por ou t ro lado , a pa lav ra c iênc ia nos poss ib i l i t a v incu lá - la a

uma aná l i se ma is rac iona l dessas cond ições de ex is tênc ia (se jam e las

po l í t i cas , soc ia is , econômicas , re l ig iosas ou cu l tu ra is ) de uma soc iedade

em um de te rminado con tex to h is tó r i co . Esse c ien t i f i c i smo se fundamenta

na re f lexão das in fo rmações e exper iênc ia v iv idas por esses su je i tos

h is tó r i cos no re fe r ido con tex to .

Par t indo mu i tas vezes dessa v isão reduc ion is ta e s imp l i s ta que o

senso comum a t r ibu i a essas duas pa lav ras , podemos d ize r que essa

concepção fo i exc lu ída da teor ia marx is ta?

Segundo o d ic ionár io Houa iss , utop ia v incu la -se “a um pro je to de

na tu reza i r rea l i záve l , i de ia generosa , porém impra t i cáve l ; qu imera ,

fan tas ia ” . Sendo ass im, podemos d ize r que o p ro je to c ien t í f i co -marx is ta se

concre t i zou na v ida rea l?

Cer ta vez , um pro fessor , ana l i sando jun to aos seus a lunos o p rocesso

de conso l idação do soc ia l i smo na URSS, pon tuou as con t rad ições

ex is ten tes en t re a p ropos ta de cons t rução de uma soc iedade soc ia lmente

igua l i tá r ia , ma is jus ta , onde todos os represen tan tes das c lasses soc ia is

que a compusesse ( fossem e les operár ios , camponeses , so ldados ,

admin is t radores burocra tas ou tecnocra tas ) te r iam vez e voz nas

d iscussões e nas dec isões po l í t i cas do Es tado , e aque la que e fe t i vamente

se con f igurou após o p rocesso revo luc ionár io na URSS com a ascensão e

2

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Sta l in ao poder . En t re tan to , o que se ver i f i cou fo i uma ver t i ca l i zação do

poder (uma cen t ra l i zação do poder po l í t i co fundamentada no

un ipar t ida r i smo, na censura , na repressão inexoráve l dos supos tos

opos i to res ao reg ime ins t i tu ído) . Um a luno levan tou en tão a segu in te

ques tão : se rá que podemos fa la r que o soc ia l i smo c ien t í f i co p recon izado

por Kar l Marx e F r iedr i ch Enge ls se concre t i zou? Se não podemos d ize r

que o soc ia l i smo c ien t i f i co é u tóp ico , é de cap i ta l impor tânc ia levan ta rmos

um ou t ro ques t ionamento : é poss íve l i den t i f i ca rmos o e lemento u tóp ico no

pensamento marx is ta?

A nossa p r inc ipa l p reocupação no decor re r desse tex to é ver i f i ca r e

en tender a ex is tênc ia ou não desse e lemento u tóp ico no pensamento

marx is ta , e se a idea l i zação dessa soc iedade soc ia l i s ta encaminhada pe las

c lasses revo luc ionár ias da soc iedade (o p ro le tá r io , o camponês e os

so ldados) , se concre t i zou . Para i sso , fa remos uma suc in ta aná l i se do

desenvo lv imento dessa concepção u tóp ica .

Tan to para Ado l fo Sánchez Vázquez ( 1 ) quan to para Te ixe i ra Coe lho ( 2 ) ,

a u top ia é ine ren te à h is tó r ia da human idade . Podemos iden t i f i cá - la em

me io ao pensamento sagrado das comun idades p r im i t i vas h is to r i camente

conhec idas . Nes tas , a imag inação u tóp ica ( 3 ) , t e rmo exp l i c i tado por Te ixe i ra

Coe lho para es tabe lecer um v íncu lo en t re o sonho e o rea l , é de tec táve l na

fo rmu lação de c renças e lendas que apon tam para um fu tu ro me lhor do que

aque le v iv ido . Na Repúb l i ca i dea l i zada por P la tão , se es tabe lecer ia uma

organ ização soc ia l , econômica , po l í t i ca e admin is t ra t i va per fe i ta e

a tempora l . Apesar de todas as con t rad ições que ho je podemos des tacar

nessa p ropos ta u tóp ica de P la tão (a manutenção da d iv i são soc ia l e t rês

c lasses : aque les que governam, os aux i l i a res e a te rce i ra c lasse

cons t i tu ída pe lo res tan te da popu lação ; o es tabe lec imento de uma

educação somente na ve lh ice ; e le ições por ind icação . . . . ) , e ra um idea l de

soc iedade a ser a lcançada.

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( 1 ) V Á Z Q U E Z , A . S á n c h e z . E n t r e a r e a l i d a d e e a u t o p i a : e n s a i o s s o b r e p o l í t i c a , m o r a l e s o c i a l s m o . R i o

d e J a n e i r o : C i v i l i z ç ã o B r a s i l e i r a , 2 0 0 1 . p á g . 3 5 4 .

( 2 ) C O E L H O , T e i x e i r a . O q u e é U t o p i a . 2 ª E D . , S ã o P a u l o : E d . B r a s i l i e n s e , 1 9 8 1 . p á g . 1 4 .

( 3 ) C O E L H O , T e i x e i r a . O q u e é U t o p i a . 2 ª E D . , S ã o P a u l o : E d . B r a s i l i e n s e , 1 9 8 1 . p á g . 0 8 / 1 1 .

Te ixe i ra , c i tando Kar l Mannhe in , menc iona a ex i tênc ia de “ ( . . . )

d i ve rsos t ipos de menta l idade u top is ta , cada um de les imp l i cando um

programa espec i f i co ” . ( 4 )

O pr ime i ro de les es tá l i gado ao surg imento de uma menta l idade

mess iân ica marcada pe lo fana t i smo re l ig ioso . Para essa cor ren te u tóp ica ,

embora recor ram ao e lemento re l ig ioso como nor teador de seus idea is ,

a lme jam a sua concre t i zação nes ta v ida . Ao con t rá r io daque la v isão

u tóp ica med ieva l , segunda a qua l , a idea l i zação e rea l i zação de uma v ida

me lhor não se comple ta r ia nes ta v ida , mas após f indada nossa ex is tênc ia .

Con tudo , ta is u top ias mess iân icas , não apresen tam uma consc iênc ia

p lena , para não d ize r rac iona l -c ien t í f i ca , in t r ínceca à sua cond ição , que a

poss ib i l i t asse encaminhar uma revo lução soc ia l .

O segundo mode lo de menta l idade u tóp ica apon tado por Te ixe i ra ,

es tá l i gado à ” ( . . . ) p resença de ide ias l i be ra l -human i tá r ias ” ( 5 ) . Um dos

represen tan tes desse mode lo fo i Thomas More . Embora tenha

desenvo lv ido um pro je to de soc iedade ma is jus ta do que aque la apresen ta

por P la tão , a inda ass im apresen tava uma pos tu ra reac ionár ia e

conservadora . More e ra um homem v incu lado ao poder . Advogado

respe i tado , membro da cor te de Henr ique V I I I , não exp l i c i tou em sua obra

ma is conhec ida e pub l i cada em 1516, Utop ia , uma v isão revo luc ionár ia da

rea l idade da qua l faz ia par te . Essa soc iedade de Utop ia não te r ia d ia e

hora marcada para concre t i za r -se . Mu i to menos um mov imento que sa ísse

das camadas popu la res . A con f iguração des te mode lo de soc iedade

rea lmente apresen ta r ia e lementos bem mais jus tos e igua l i tá r ios , como por

exemplo : redução da jo rnada de t raba lho de o i to horas ; a inex is tênc ia da

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propr iedade p r i vada ; e havendo e le ições , mesmo sendo es tas ind i re tas .

Ser ia concre t i zado num fu tu ro inde f in ido e sem assumi r um cará te r de

mov imento revo luc ionár io a r t i cu lado pe las camadas popu la res de fo rma

consc ien te de sua cond ição soc ia l , po l í t i ca e econômica , que v isse na lu ta

a rmada, o ún ico me io de concre t i zação de uma soc iedade soc ia lmente

igua l i tá r ia a t ravés da abo l i ção da p ropr iedade p r i vada burguesa .

( 4 ) C O E L H O , T e i x e i r a . O q u e é U t o p i a . 2 ª E D . , S ã o P a u l o : E d . B r a s i l i e n s e , 1 9 8 1 . p á g . 5 1 / 5 2 .

( 5 ) C O E L H O , T e i x e i r a . O q u e é U t o p i a . 2 ª E D . , S ã o P a u l o : E d . B r a s i l i e n s e , 1 9 8 1 . p á g . 5 2 .

O te rce i ro mode lo apresen tado por Te ixe i ra represen ta uma s in ton ia

com o con tex to aos qua is seus idea l i zadores es tão inser idos . En t re tan to , o

conservador ismo é t raço marcan te . Embora o que impor ta é o aqu i e o

agora , p rocura resga ta r va lo res e c renças do passado sem assumi r uma

pos tu ra revo luc ionár ia . Thomas Hobbes e Wi l l i am Mor r i s se r iam os

idea l i zadores dessa cor ren te u tóp ica .

O quar to t ipo represen ta o p rograma soc ia l i s ta -comun is ta que fo i se

con f igurando no decor re r do sécu lo X IX . Es te rompe com aque la

concepção l i be ra l que a an tecede , buscando dar um cará te r revo luc ionár io

à rea l idade , des tacando a concre t i zação desse novo mode lo u tóp ico a

par t i r do f im do cap i ta l i smo. Nesse con tex to surgem os soc ia l i s tas que

ma is ta rde vão ser denominados por Marx e Enge ls de u tóp ico : R . Owen,

H . de Sa in t ’S imon e C. Four ie r . Es tes , denominados de u tóp icos , es tão

inser idos num con tex to que d iv idem a concepção u tóp ica- l i be ra l dos

sécu los XVI / XVI I e aque la u top ia revo luc ionár ia que fo i se con f igurando

no decor re r do sécu lo X IX ( 6 ) .

Não cabe aqu i nos debruçarmos sobre cada uma dessas p ropos tas

u tóp icas de Owen, Four ie r e Sa in t ’S imon por não cons t i tu i r ob je to de

nossa aná l i se . Mas va le ressa l ta r suc in tamente as razões que levaram

Marx e Enge ls a ro tu lá - los de u tóp icos para ass im re tomarmos as ques tões

levan tadas no in íc io desse t raba lho .

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Marx e Enge ls fundamentaram suas c r í t i cas na imposs ib i l i dade de

ta is “ t eó r i cos u tóp icos” e labora rem seus mode los de soc iedade de fo rma

sub je t i va , sem levar em cons ideração a par t i c ipação das massas

popu la res , sobre tudo o p ro le ta r iado , na condução de uma t rans fo rmação

revo luc ionár ia e to ta l da rea l idade que lhe é ine ren te . A consecução dessa

nova soc iedade imag inada pe los “u tóp icos” , dever ia se dar de fo rma

pac í f i ca e por aque les que t i vessem recursos f inance i ros e maté r ias . E la

surg i r ia ass im, de uma concessão da e l i te l i be ra l -burguesa e de c ima para

ba ixo . E não a t ravés de uma ação revo luc ionár ia das camadas popu la res .

( 6 ) C O E L H O , T e i x e i r a . O q u e é U t o p i a . 2 ª E D . , S ã o P a u l o : E d . B r a s i l i e n s e , 1 9 8 1 . p á g . 5 5 .

Dessa fo rma, essa e l i te l i be ra l -burguesa jama is abr i r ia mão de seus

p r i v i l ég ios po l í t i cos e econômicos em benef i c io de um “bando” de

ag i tadores desva i rados e incompeten tes . Ta is mode los , apesar de

basearem suas teor ias e c r í t i cas nas con t rad ições engendradas pe lo

desenvo lv imento do cap i ta l i smo de seu tempo ( fa lamos ass im do in íc io do

sécu lo X IX , momento do p rocesso de conso l idação do cap i ta l i smo a t ravés

da Revo lução Indus t r ia l ) , possu íam “ ( . . . ) um excesso de ob je t i vos ,

desconhec imento da rea l idade a t rans fo rmar ; f raqueza ou imatu r idade dos

temas h is tó r i cos e soc ia is que podem levar a cabo a revo lução , ass im

como a inadequação dos me ios que se recor re para cumpr i r ob je t i vos - ,

seus es fo rços em consumar sua u top ia redundam em f racasso” ( 7 ) .

A par t i r dessa c r í t i ca fe i ta por Marx e Enge ls aos d i tos pensadores do

soc ia l i smo u tóp ico do in íc io do sécu lo X IX , re tomamos o ques t ionamento

in i c ia l : podemos d ize r que a concepção u tóp ica faz par te da teor ia

marx is ta? A soc iedade idea l i zada por Marx e Enge ls se concre t i zou?

Para en tendermos esses ques t ionamentos , recor re remos as segu in tes

co locações , no tocan te à concepção u tóp ica no marx ismo, de Te ixe i ra ( 8 ) :

6

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E c h e g a - s e c o m i s t o a o l i m i a r d a q u e l a q u e s e r i a a m e n t a l i d a d e u t o p i s t a d e t i p o

s o c i a l i s t a - c o m u n i s t a , i d e n t i f i c a d a e x e m p l a r m e n t e n o s p r o j e t o s m a r x i s t a s . M a s é a q u i

q u e s u r g e o p r o b l e m a : a t e o r i a m a r x i s t a c o n f i g u r a d e f a t o u m a u t o p i a ? S e g u n d o

M e n n h e i m , s i m – p o i s , c l a s s i c a m e n t e , n e n h u m o u t r o p r o j e t o d e s o c i e d a d e p o d e r i a

m e l h o r s e e n c a i x a r n a q u e l a q u e é a q u a r t a f o r m a d e m e n t a l i d a d e u t o p i s t a d o q u e

m a r x i s m o . ”

Só para lembrarmos , o quar to t ipo da menta l idade u tóp ica pon tuada

por Te ixe i ra , passa pe lo es tabe lec imento de aná l i se c r í t i ca da rea l idade

h is tó r i ca e soc ia l , baseada no p ro je to revo luc ionár io . E na perspec t i va de

concre t i zá - la com a der rocada do cap i ta l i smo.

( 7 ) V Á Z Q U E Z , A . S á n c h e z . E n t r e a r e a l i d a d e e a u t o p i a : e n s a i o s s o b r e p o l í t i c a , m o r a l e s o c i a l s m o . R i o

d e J a n e i r o : C i v i l i z ç ã o B r a s i l e i r a , 2 0 0 1 . p á g . 3 5 8 .

( 8 ) C O E L H O , T e i x e i r a . O q u e é U t o p i a . 2 ª E D . , S ã o P a u l o : E d . B r a s i l i e n s e , 1 9 8 1 . p á g . 6 0 .

Vázquez também des taca esse e lemento u tóp ico na obra de Marx da

segu in te fo rma ( 9 ) :

E m b o r a v o l t e m o s m a i s a d i a n t e a e s t e “ m a r x i s m o f r i o ” – e x p r e s s ã o t a m b é m d e

B l o c h - , q u e i n t e r p r e t a à s u a m a n e i r a d e t e r m i n i s t a a c r í t i c a m a r x i s t a c l á s s i c a a o

“ s o c i a l i s m o u t ó p i c o ” , v a m o s d e s t a c a r d e s d e j á q u e a u t o p i a , o u m a i s e x a t a m e n t e u m

a s p e c t o o u i n g r e d i e n t e u t ó p i c o , n ã o s ó f a z p a r t e d o p e n s a m e n t o d e M a r x e d o

m a r x i s m o “ q u e n t e ” , c o m o t a m b é m c o n s t i t u i u m a s p e c t o o u c o m p o n e n t e e s s e n c i a l d e l e ,

e m u n i d a d e i n d i s s o l ú v e l c o m o u t r o s q u e t a m b é m o s ã o , a s a b e r : a c r í t i c a d o e x i s t e n t e ,

o c o n h e c i m e n t o d a r e a l i d a d e q u e s e c r i t i c a e s e p r e t e n d e t r a n s f o r m a r e s u a v o c a ç ã o

p r á t i c a , o u v í n c u l o c o m a a ç ã o .

E Vázquez va i um pouco a lém, des tacando que Marx “ ( . . . ) esca ldado

pe los excessos de imag inação dos “ soc ia l i s t a u tóp i cos ” , f o i mu i t o t ím ido na

desc r i ção da nova soc iedade ( . . . ) ” ( 1 0 ) .

Baseado nessas observações , quando idea l i zamos um fu tu ro me lhor a

par t i r das c r í t i cas que fazemos ao nosso tempo, não podemos d issoc iá - la

do seu cará te r imag ina t i vo . Quando Te ixe i ra exp l i ca no in íc io de seu l i v ro

7

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o que e le denomina de “ imag inação u tóp ica” , ca rac te r i zada pe lo sonho ,

pe lo sen t imento e pe la in tu ição ( o ins igh t ) , como sendo e lementos

fundamenta is para que c r iemos as cond ições necessár ias para a

concre t i zação desses sonhos . O que não podemos de ixar acon tecer , é que

f iquemos apenas ten tando pensar esse mundo que v ivemos apenas na

perspec t i va do rac iona l . Sem o sonho , como menc iona Te ixe i ra , a

rea l idade “ ( . . . ) é uma droga narco t i zan te como ou t ra qua lquer e a v ida ,

uma sequênc ia de bana l idades ins íp idas . ( 1 1 ) ” . E ma is , exc lu indo essa

“ imag inação u tóp ica” da v ida humana, es ta r íamos condenando essa mesma

soc iedade humana à mor te . E nessa l i nha de rac ioc ín io , cons idero

per t inen te a observação de Te ixe i ra quando menc iona que :

( 9 ) V Á Z Q U E Z , A . S á n c h e z . E n t r e a r e a l i d a d e e a u t o p i a : e n s a i o s s o b r e p o l í t i c a , m o r a l e s o c i a l s m o . R i o

d e J a n e i r o : C i v i l i z ç ã o B r a s i l e i r a , 2 0 0 1 . p á g . 3 5 8 .

( 1 0 ) V Á Z Q U E Z , A . S á n c h e z . E n t r e a r e a l i d a d e e a u t o p i a : e n s a i o s s o b r e p o l í t i c a , m o r a l e s o c i a l s m o . R i o

d e J a n e i r o : C i v i l i z ç ã o B r a s i l e i r a , 2 0 0 1 . p á g . 3 5 9 .

( 1 1 ) C O E L H O , T e i x e i r a . O q u e é U t o p i a . 2 ª E D . , S ã o P a u l o : E d . B r a s i l i e n s e , 1 9 8 1 . p á g . 8 e 9 .

É e l a ( a i m a g i n a ç ã o u t ó p i c a – d e s t a q u e m e u ) q u e a p o n t a p a r a a p e q u e n a b r e c h a

p o r o n d e o s u c e s s o p o d e s u r g i r , é e l a q u e m a n t é m e m p é a c r e n ç a n u m a o u t r a v i d a .

E x p l o d i n d o o s q u a d r o s m i n i m i z a d o r e s d a r o t i n a , d o s h á b i t o s c i r c u l a r e s , é e l a q u e ,

m i l i t a n d o p e l o o t i m i s m o , l e v a n t a a ú n i c a h i p ó t e s e c a p a z d e n o s m a n t e r v i v o s : d e

m u d a r a v i d a . ( 1 2 )

E o p io r de tudo , quando neg l igenc iamos esse e lemento d igamos,

imag ina t i vo e sonhador (do ins igh t ) da concepção u tóp ica , co r remos o

r i sco de c r ia r mons t ros que to rnarão essa soc iedade uma verdade i ra

barbár ie . Ou no mín imo se co locarão ac ima da ma io r ia da soc iedade

impondo- lhes sua mane i ra de ver , pensar e ag i r no mundo. Nem que para

i sso se ja necessár io a u t i l i zação da v io lênc ia e e l im inação f í s i ca dos

supos tos opos i to res . Essa d issoc iação f i ca ev iden te , p r inc ipa lmente nos

d ias de ho je , quando Te ixe i ra desenvo lve a segu in te aná l i se :

8

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C o n s c i ê n c i a h o j e m a r g i n a l i z a d a ( a d o i n s i g h t , a i n t u i t i v a – d e s t a q u e m e u ) ,

r e p r i m i d a p o r u m p r o c e s s o c u l t u r a l a o q u a l i n t e r e s s a a m á s c a r a d e u m f a l s o

p e n s a m e n t o r a c i o n a l q u e e n c o n t r a n o e s t a n q u e a m e n t o , n a s e p a r a ç ã o d o s m o d o s d e

p e n s a r , u m a m a n e i r a d e c o n t r o l a r o g r u p o s o c i a l . Q u a n d o a c o n s c i ê n c i a m e r a m e n t e

r a c i o n a l i s t a , q u e s e s e p a r a d a o u t r a ( e q u e p o r t a n t o n ã o é c o n s c i ê n c i a , n e m r a c i o n a l ,

p o r q u e p e r d e u s u a u n i d a d e ) , p r e v a l e c e n a i m a g i n a ç ã o u t ó p i c a ( e n ã o s ó n e s t a ) , d e

f a t o a c a b a p r o d u z i n d o , s e n ã o m o n s t r o s , p e l o m e n o s e x c r e s c ê n c i a s n o s p r o j e t o s

u t ó p i c o s . ” ( 1 2 )

Quando nos deparamos com essa aná l i se de Te ixe i ra , começamos a

en tender as d is to rções na teor ia marx is ta , engendradas a par t i r da

imp lan tação do soc ia l i smo rea l após a Revo lução Russa de 1917 . Mas

devemos de ixar c la ro que essa d is to rção da “ imag inação u tóp ica”

exp l i c i tada por Te ixe i ra , não c r iou mons t ro somente na concepção

soc ia l i s ta marx is ta . Os fasc ismos que emerg i ram no per íodo en t re guer ras

também são exemplos dessa d issoc iação no in te r io r da un idade u tóp ica .

( 1 2 ) C O E L H O , T e i x e i r a . O q u e é U t o p i a . 2 ª E D . , S ã o P a u l o : E d . B r a s i l i e n s e , 1 9 8 1 . p á g . 3 6 .

Essa d is to rção , de cer ta mane i ra também fo i en fa t i zada por Leon

Tro tsky no con tex to da Revo lução Russa . Es te não c r i t i cou a e f i các ia da

fó rmu la revo luc ionár ia de Lên in . Mas c r i t i cou a coop tação da pequena e

méd ia burgues ia , por par te dos d i r igen tes do Es tado , para ob tenção de

p r i v i l ég ios e benesses de um Es tado burocra t i zado . E a i T ro tsky exp l i c i ta :

“Os che fes da c l asse méd ia t i nham sub ido àque las a l t u ras dev ido à f o r ça

f o rm idáve l dos so ldados , enquan to os membros da c l asse ope rá r i a , exce to os

ma is evo lu ídos , es tavam ob r i gados a aca ta r os d i r e to res do mov imen to e

man te r - se em con ta to com e les , com r i sco de f i ca rem sepa rados das massas

camponesas . ” ( 13 )

E a i percebemos que as c r í t i cas fo rmu ladas por T ro tsky , se

con f i rmaram: não se imp lan tou uma D i tadura do P ro le ta r iado como

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precon izou Marx e Enge ls , mas s im, uma D i tadura sobre o Pro le ta r iado ,

como o que es tá apresen tado a segu i r :

Em momento nenhum Trotsky discute a eficácia da fórmula leninista. De sua perspectiva da

revolução como um processo social geral, o que teme é a ruptura entre o partido e a classe. A

anteposição do partido à classe (ou se quiser, do político ao social). Com a burocratização do aparelho

e a subseqüente perda da democracia interna consubstanciada em sua tradicional fórmula: “a

organização do partido substituirá o próprio partido;.o comitê central se sobreporá ao partido; e

finalmente, um ditador se imporá ao comitê central.”

( MIRANDA,Orlando.Introdução. In: Trotsky: Política. SP: Ed. Ática, 1981. )

Ninguém, e não f aço exceção de H i t l e r , ap l i cou ao soc ia l i smo um go lpe

t ão mor ta l . H i t l e r a taca as o rgan i zações ope rá r i as no ex te r i o r . S ta l i n as a taca

no i n te r i o r . H i t l e r des t ró i o marx i smo ; S ta l i n o p ros t i t u i . Não há p r i nc íp i o que

pe rmaneça i n tac to ; não há uma i de ia que não t enha s i do en lameada . A té mesmo

os t e rmos soc ia l i smo e comun ismo fo ram g ravemen te comprome t i dos , ago ra que

a genda rmar i a i ncon t ro l áve l , com d ip l omas de ‘ comun is tas ’ , chama de

soc ia l i smo ao reg ime que impõe . Repugnan te p ro fanação !

( T R O T S K Y , L e o n . S t a l i n e a b u r o c r a c i a . T r o t s k y : P o l í t i c a . S ã o P a u l o , Á t i c a , 1 9 8 1 . )

( 1 3 ) T R O T S K Y , L e o n . C o m o f i z e m o s a r e v o l u ç ã o ; a r e v o l u ç ã o d e n o v e m b r o . 3 ª e d . , S ã o P a u l o : G l o b a l ,

1 9 7 8

Podemos ass im d ize r que , quando Marx aborda o soc ia l i smo

pequeno-burguês no Man i fes to Comun is ta , de ixa nas en t re l inhas o cará te r

reac ionár io dessa c lasse que “dever ia ” se apresen ta r como a verdade i ra

fo rça mot r i z de uma t rans fo rmação revo luc ionár ia da h is tó r ia . E a té num

cer to momento , fo i rea lmente revo luc ionár ia . Mas , quando passou a te r a

poss ib i l i dade de des f ru ta r das s inecuras da es t ru tu ra montada no in te r io r

dessa soc iedade l i be ra l -burguesa , assumiu uma conduta reac ionár ia como

apresen tado nessa passagem de sua obra :

Nos pa í ses onde se desenvo l veu a c i v i l i zação mode rna , f o rmou-se uma

nova pequena bu rgues ia , que es tá suspensa en t re o p ro le ta r i ado e a bu rgues ia

e se recons t i t u i sempre como pa r te comp lemen ta r da soc iedade bu rguesa ; os

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i nd i v í duos que a compõe , no en tan to , são cons tan temen te p rec ip i t ados no

p ro le ta r i ado pe la conco r rênc ia e , com o desenvo l v imen to da g rande i ndús t r i a ,

vêem ap rox imar - se o momen to no qua l desapa rece rão comp le tamen te como

pa r te i ndependen te da soc iedade mode rna e se rão subs t i t u ídos po r capa tazes e

empregados no comérc io , na manu fa tu ra , na ag r i cu l t u ra . ( 1 4 )

Em ou t ro momento dessa mesma obra , quando faz uma aná l i se do

soc ia l i smo conservador ou burguês , esse cará te r reac ionár io pequeno-

burguês novamente insurge :

Uma pa r te da bu rgues ia dese ja remed ia r os ma les soc ia i s pa ra ga ran t i r a

ex i s tênc ia da soc iedade bu rguesa . ( 1 5 )

Será que podemos d ize r que a u top ia marx is ta , mesmo se

fundamentando em métodos c ien t í f i cos na aná l i se das con t rad ições da v ida

humana, em nenhum aspec to se e fe t i vou no p lano rea l? Será que o f im do

soc ia l i smo rea l da URSS em 1991, co locou em xeque os parad igmas

u tóp icos das soc iedades con temporânea?

( 1 4 ) E N G E L S , F r i e d r i c h , M A R X , K a r l . M a n i f e s t o d o P a r t i d o C o m u n i s t a . 3 ª e d . , R i o d e J a n e i r o :

V o z e s , 1 9 9 0 , p á g . 9 0 .

( 1 5 ) E N G E L S , F r i e d r i c h , M A R X , K a r l . M a n i f e s t o d o P a r t i d o C o m u n i s t a . 3 ª e d . , R i o d e J a n e i r o :

V o z e s , 1 9 9 0 , p á g . 9 4 .

O desenvo lv imento e conso l idação do cap i ta l i smo desde o sécu lo

XVI I I vem, pau la t inamente minando a capac idade dos su je i tos h is tó r i cos

de v iab i l i za r suas u top ias em um fu tu ro p róx imo. Ind iscu t i ve lmente , essa

exacerbação do consumismo, do hedon ismo e do ego ísmo, somado à c r i se

mora l e de va lo res pe la qua l as soc iedades a tua is en f ren tam, reduz nossa

ex is tênc ia a um imed ia t i smo sem a dev ida compreensão da rea l idade , nos

imposs ib i l i t ando de p ro je ta r para um fu tu ro me lhor . Mas Vázquez , ao

mesmo tempo que des taca a c r i se dos parad igmas u tóp icos , en fa t i za -os

como cond ição essenc ia l da ex is tênc ia humana:

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Sua desapa r i ção s i gn i f i ca r i a a mor te da soc iedade em que oco r resse .

“Com o abandono das u top ias ” , d i z Mannhe im , “ o homem pe rde r i a sua von tade

de da r f o rma à h i s t ó r i a e , po r t an to , sua capac idade de compreendê - l a . ” ( 1 6 )

Segu indo a mesma l inha de rac ioc ín io , Leandro Konder faz a segu in te

observação :

Sem cede r à t en tação de d i sco r re r ma i s p ro fusamen te sob re o t ema ,

podemos d i ze r que , ao cons t i t u í r em exp ressões das cond i ções p resen tes em

que o u top i s ta sonha o f u tu ro , as u top ias i n f l uem de a lgum modo sob re a

d i spos i ção com que as pessoas passa rão a enxe rga r os p rob lemas do que es tá

po r v i r . ( . . . ) A u top ia é uma fon te que a l imen ta i nqu ie tações gene rosas , nob res

ímpe tos j us t i ce i r os e uma p rec iosa d i spos i ção pa ra a busca da f e l i c i dade

un i ve rsa l . ( 1 7 )

Ass im f i ca ev iden te esse cará te r ine ren te dos parad igmas u tóp icos

em re lação à cond ição humana de ex is tênc ia . Uma soc iedade sem u top ias

es ta r ia fadada a um presen te con t ínuo . Nor tear a h is tó r ia da v ida humana

na Ter ra a um mode lo exc lus ivamente c ien t i f i c i s ta se r ia in ib i r as

poss ib i l i dades , os desa f ios e as incer tezas que a v ida nos co loca . Ser ia

( 1 6 ) V Á Z Q U E Z , A . S á n c h e z . E n t r e a r e a l i d a d e e a u t o p i a : e n s a i o s s o b r e p o l í t i c a , m o r a l e s o c i a l s m o . R i o

d e J a n e i r o : C i v i l i z ç ã o B r a s i l e i r a , 2 0 0 1 . p á g . 3 6 9 .

( 1 7 ) F I L H O , D a n i e l A a r ã o R e i s , C O U T I N H O , C a r l o s N e l s o n e t a l l . O M a n i f e s t o C o m u n i s t a 1 5 0 a n o s

d e p o i s : K a r l M a r x e F r i e d r i c h E n g e l s . R i o d e J a n e i r o : C o n t r a p o n t o , 1 9 9 8 . p á g . 7 1

v ive rmos num mundo to ta lmente p rev is íve l . O que to rnar ia a v ida mu i to

cha ta . É o homem querendo b r incar de Deus . O que na p rá t i ca não de ixa

de ser também uma grande u top ia . São esses desa f ios e incer tezas , e a

poss ib i l i dade de superá- los que nos mantém v ivos e cons t ru indo a nossa

h is tó r ia . Se ja para o “mau” ou para o “bem” . Pensando, é c la ro , que esse

mau e esse bem devem ser re la t i v i zados .

Embora a soc iedade igua l i tá r ia e jus ta p recon izada pe lo marx ismo,

que se e fe t i va r ia a par t i r de uma ação revo luc ionár ia do p ro le ta r iado não

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t enha se concre t i zado , o legado de ixado por esses do is pensadores do

sécu lo X IX é inegáve l . A in t rodução de métodos de aná l i se das re lações

soc ia is , po l í t i cas , econômica , ideo lóg icas e cu l tu ra is , somado às

ca tegor ias c r iadas (ma is va l ia ; l u ta de c lasses , mate r ia l i smo h is tó r i co ,

mate r ia l i smo d ia lé t i co . . . . ) são fundamenta is para uma me lhor compreensão

das con t rad ições das soc iedades humana.

Por tan to , mesmo que cheguemos à conc lusão de que a “u top ia ”

marx is ta não se concre t i zou , é de cap i ta l impor tânc ia tomarmos

conhec imento das c r í t i cas que Marx e Enge ls f i ze ram da soc iedade

cap i ta l i s ta para que ass im, possamos compreendê- la me lhor e p ro je ta rmos

as nossas novas u top ias para um fu tu ro por nós de te rminado . E mesmo

que a concepção u tóp ica marx is ta t i vesse s ido concre t i zada , com

menc iona Te ixe i ra :

“Há sempre um excedente u tóp ico a func ionar como mo la de um novo

c ic lo imag ina t i vo , há sempre a lgo de i r rea l i záve l que busca rea l i za r -se

numa nova p ro jeção .

A imag inação u tóp ica se impõe, quer desenro la r -se . Sempre ex is t iu e

con t inuará ex is t indo , sob pena , em caso con t rá r io , de an iqu i lamento do

homem.” ( 1 8 )

O que f i ca é que p rec isamos de u top ias para nos mante r v i vos . E

mesmo que to rnemos rea l idade par te dessas u top ias pessoa is , que nos

apropr iemos desse excedente u tóp ico e ass im, es tabe lecer novas u top ias

para con t inuarmos nossa jo rnada nos pa lcos da v ida . CARPE DIEM .

( 1 8 ) C O E L H O , T e i x e i r a . O q u e é U t o p i a . 2 ª E D . , S ã o P a u l o : E d . B r a s i l i e n s e , 1 9 8 1 . p á g . 1 2 .

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