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JOÃO ROBERTO PARIZATTO PRÁTICA FORENSE HABEAS CORPUS DIRIGIDO AO STJ FACE A PRISÃO DETERMINADA PELO TRIBUNAL - INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ESPECIAL Fundamento: Art. 5.º, LXVIII da Constituição Federal e arts. 647 e 648 do Código de Pro- cesso Penal. Finalidade: Concessão de liberdade ao paciente face à interposição de recurso especial em seu favor, face à decisão condenatória proferida por tribunal. Oportunidade: Pedido a ser feito ao Superior Tribunal de Justiça. Exmo. Sr. Ministro Presidente do Egrégio Superior Tribunal de Justiça - Brasília-DF. (nome, qualificação e endereço), por seu advogado infra-assinado, com escritório situado à rua ........ , na cidade de ...... , vêm, respeitosamente a presença de Vossa Excelência, impetrar como impetrado tem, em seu favor, nos termos dos artigos 647 e 648 do Código de Processo Penal e artigo 5.º, LXVIII da Constituição Federal, a presente ordem de HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR face à coação que vem sofrendo por parte da Egrégia ..... Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de ...... , e em vista das seguintes razões de fato e de direito: DOS FATOS 1. O paciente após ter sido condenado pelo Egrégio Tribunal do Júri em sessão realizada em data de ....... , na Comarca de .... , à pena de 10 (dez) anos de reclusão, teve em grau de apelação tal reprimenda diminuída para 8 (oito) anos de reclusão, mercê de acórdão proferido pela Egrégia ...... Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de ........... , proferido nos autos da Ap. Crim. n.º ........ 2. Em face de tal ven. acórdão, o eminente relator determinou a expedição de mandado de prisão contra o paciente, consoante está às fls. ...... da apelação e cuja cópia segue em anexo. Na mesma data do acórdão, expediu-se ofício, rogando fosse cumprido o mandado de prisão contra o paciente, o que fora recebido pelo órgão competente (doc. anexo). 3. A tempo e modo, aforou-se nos autos em apreço, o competente RECURSO ESPECIAL, onde várias questões de alta indagação foram suscitadas, cujo recurso é fundado no artigo 105, III, letras “a” e “c” da Constituição Federal, conforme inclusa cópia. Tal recurso fora aforado em data de ...... , estando em processamento junto ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de ....... , consoante se verifica da inclusa publicação (doc. anexo). 4. Consoante se verifica da sentença proferida pelo MM. Juiz Presidente do Tribunal do Júri (doc. anexo), permitiu-se que o réu recorresse em liberdade, já que compareceu a todos os atos processuais, possuindo bons antecedentes e sua conduta após o crime é satisfatória. 5. Inobstante, portanto, tenha o acusado respondido ao processo em liberdade, permitindo-se ao mesmo que este recorresse também em liberdade da sentença do Tribunal do Júri, parcialmente cassada em grau

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JOÃO ROBERTO PARIZATTO PRÁTICA FORENSE

HABEAS CORPUS DIRIGIDO AO STJ FACE A PRISÃO DETERMINADA PELO TRIBUNAL - INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ESPECIAL

Fundamento: Art. 5.º, LXVIII da Constituição Federal e arts. 647 e 648 do Código de Pro-cesso Penal.

Finalidade: Concessão de liberdade ao paciente face à interposição de recurso especial em seu favor, face à decisão condenatória proferida por tribunal.

Oportunidade: Pedido a ser feito ao Superior Tribunal de Justiça.

Exmo. Sr. Ministro Presidente do Egrégio Superior Tribunal de Justiça - Brasília-DF.

(nome, qualificação e endereço), por seu advogado infra-assinado, com escritório situado à rua ........, na cidade de ......, vêm, respeitosamente a presença de Vossa Excelência, impetrar como impetrado tem, em seu favor, nos termos dos artigos 647 e 648 do Código de Processo Penal e artigo 5.º, LXVIII da Constituição Federal, a presente ordem de HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR face à coação que vem sofrendo por parte da Egrégia ..... Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de ......, e em vista das seguintes razões de fato e de direito:

DOS FATOS

1. O paciente após ter sido condenado pelo Egrégio Tribunal do Júri em sessão realizada em data de ......., na Comarca de ...., à pena de 10 (dez) anos de reclusão, teve em grau de apelação tal reprimenda diminuída para 8 (oito) anos de reclusão, mercê de acórdão proferido pela Egrégia ...... Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de ..........., proferido nos autos da Ap. Crim. n.º ........

2. Em face de tal ven. acórdão, o eminente relator determinou a expedição de mandado de prisão contra o paciente, consoante está às fls. ...... da apelação e cuja cópia segue em anexo. Na mesma data do acórdão, expediu-se ofício, rogando fosse cumprido o mandado de prisão contra o paciente, o que fora recebido pelo órgão competente (doc. anexo).

3. A tempo e modo, aforou-se nos autos em apreço, o competente RECURSO ESPECIAL, onde várias questões de alta indagação foram suscitadas, cujo recurso é fundado no artigo 105, III, letras “a” e “c” da Constituição Federal, conforme inclusa cópia. Tal recurso fora aforado em data de ......, estando em processamento junto ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de ......., consoante se verifica da inclusa publicação (doc. anexo).

4. Consoante se verifica da sentença proferida pelo MM. Juiz Presidente do Tribunal do Júri (doc. anexo), permitiu-se que o réu recorresse em liberdade, já que compareceu a todos os atos processuais, possuindo bons antecedentes e sua conduta após o crime é satisfatória.

5. Inobstante, portanto, tenha o acusado respondido ao processo em liberdade, permitindo-se ao mesmo que este recorresse também em liberdade da sentença do Tribunal do Júri, parcialmente cassada em grau

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de recurso para diminuir-se a reprimenda, o Eminente Juiz Relator da Apelação Criminal, entendeu de determinar no acórdão, fosse expedido mandado de prisão contra o paciente.

6. Tal permissão para que o paciente aguardasse em liberdade seu recurso contra a decisão do Tribunal do Júri, se deu face à primariedade, os bons antecedentes do paciente e ao fato de ter este residência fixa e numerosa família no distrito da culpa.

7. Embora tenha sido determinada no ven. acórdão, a expedição de mandado de prisão contra o pa-ciente, o mesmo aforou o competente Recurso Especial que está em processamento junto ao Tribunal de Justiça do Estado de ..........

8. Embora tal recurso não tenha efeito suspensivo, tem-se que em vista das condições peculiares do caso em apreço, notadamente a primariedade e os bons antecedentes do paciente que foram textualmente reconhecidos, tal determinação é injusta, eis que não percorridas as instâncias superiores acerca do processo do paciente.

DO DIREITO

9. A Constituição Federal em seu artigo 5.º, inciso LVII, prescreve que: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

10. FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO, Processo Penal, 4.º Vol., Ed. Saraiva, 1989, p. 298, sustenta que:

Agora, em face do princípio segundo o qual o imputado não pode ser considerado culpado enquanto não transitar em julgado a sentença penal que o condenou, mais se evidencia o direito de apelar em liberdade. Não só de apelar, mas inclusive, de interpor recurso extra-ordinário ou recurso especial, com efeito suspensivo, pois a interposição desses recursos pressupõe a não existência de trânsito em julgado.

11. A jurisprudência como não poderia deixar de ser, tem-se norteado no sentido de que na permanência do Recurso Especial, tem o réu o direito de aguardar em liberdade tal decisão. Basta se verificar que a Egrégia 5.ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, no HC 2.301-3-MG, rel. Min. ASSIS TOLEDO, j. 16-03-94, DJU 04-04-94, p. 6.689, decidiu que:

Recurso Especial. Permanência em liberdade até o seu julgamento. Réu condenado pela prática de homicídio, sendo-lhe assegurado, pelo juiz, o direito de permanecer em liberdade até o trânsito em julgado da sentença. Expedição de carta de sentença, pendente recurso especial. Constrangimento ilegal. Habeas Corpus deferido para sobrestar a expedição da carta de sentença, a fim de que o paciente possa aguardar o trânsito em julgado da sentença em liberdade. (Revista Brasileira de Ciências Criminais, publicada pela Revista dos Tribu-nais, ano 2, n.º 7, Julho-Setembro de 1.994, p. 221).

12. Em caso idêntico ao do paciente, entendeu-se que tem o paciente o direito de aguardar em liberdade a decisão do Recurso Especial, continuando o mesmo em liberdade, até que se efetive o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

13. Mercê do Recurso Especial aforado, não houve o trânsito em julgado da sentença do paciente, fato

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que por si só, obstaria sua prisão. É ressabido, além do mais, que o direito à liberdade é um direito fundamental do cidadão e que a prisão antes da efetiva condenação com o trânsito em julgado da de-cisão penal condenatória, é medida odiosa, injusta e que está reservado somente a casos excepcionais.

14. No caso presente, é de se ressaltar que o paciente respondeu a todo processo em liberdade e até mesmo após o julgamento pelo Tribunal do Júri, fora permitido que o mesmo recorresse em liberdade.

15. Da forma determinada no ven. acórdão recorrido, determinando-se a expedição de mandado de pri-são contra o paciente, tem-se uma coação injusta praticada contra o paciente, mormentemente porque a jurisprudência já assentou que na pendência do recurso especial tem o réu o direito de aguardar em liberdade, porquanto o trânsito em julgado efetivamente não ocorreu.

16. De se observar, à evidência, que em vista de ter-se permitido que o paciente recorresse em liber-dade, não havendo irresignação do Ministério Público a tanto, a determinação do Eminente Relator da Apelação Criminal, incorreu em odioso reformatio in pejus, piorando a situação do recorrente.

17. É ressabido que com a apelação da defesa a situação do réu não pode piorar por ocasião do julga-mento de seu recurso, vedando-se, assim, o prejuízo do recorrente com a interposição dos recursos a si permitidos por norma Constitucional.

18. O Excelso Supremo Tribunal Federal no HC 67.593-RJ, rel. Min. Sepúlveda Pertence, entendeu que:

Recurso. Reformatio in pejus. Sentença condenatória, na qual se condicionara a prisão ao trânsito em julgado. Inadmissibilidade, em apelação de defesa, de que se determine a ex-pedição imediata do mandado de prisão. (RTJ 129/268)

19. Registre-se, ainda, que o paciente é primário, possui bons antecedentes, família numerosa e re-sidência fixa, de modo a não se justificar seja expedido mandado de prisão contra sua pessoa, antes do trânsito em julgado da decisão condenatória, até porque está, ainda, em andamento o Recurso Especial aforado que poderá alterar substancialmente sua situação, até levando-o a novo julgamento pelo Tribunal do Júri.

20. O Supremo Tribunal Federal no julgamento do RHC 63.684-5-MG, em 01-04-86, proclamou que:

É regra geral, informada pela consciência jurídica dos povos civilizados, que a culpa do réu não se presume antes da condenação definitiva. A custódia, antes da sentença final, só se justifica em hipóteses extremas, previstas em lei, cujo texto não comporta interpretação extensiva em desfavor da liberdade da pessoa. (RT 608/419).

21. Aliás, se não há o transito em julgado da sentença, não se pode negar as características da prima-riedade e de ser possuidor de bons antecedentes (RJTAMG 23/271) ao acusado.

22. Tem-se, portanto, que o paciente merece aguardar em liberdade o desfecho final do processo a que responde, ressalvando-se que com o recebimento e provimento do Recurso Especial aforado, haverá situações modificativas da condenação, até porque poderá ser o mesmo levado a novo julgamento pelo Tribunal do Júri, quando a condenação presente desaparecerá.

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23. Nada, portanto, justifica a custódia do paciente antes do reexame da decisão do Tribunal de Justiça do Estado de ......., o que se busca pelo Recurso Especial aforado e que se encontra em andamento.

24. A Justiça como se sabe não é bela somente quando se manuseia um Código e o aplica com rigor, porquanto esta é mais bela ainda quando mergulha na profundeza dos fatos a serem julgados.

25. O paciente sempre confiou na Justiça de seu país e esta hoje é representada por V. Exa., a quem roga seja concedida imediata liminar para se impedir a determinação contida no ven. acórdão da 1.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de .........., até que seja definitivamente julgado o Recurso Especial aforado, sustando-se, assim, a ordem de prisão determinada contra o paciente.

26. A vista do exposto, pede-se seja recebido e processado o presente pedido, para ao final ser conce-dida a ordem de HABEAS CORPUS ora pleiteada, cessando-se a coação praticada contra o paciente, o que se prestará singela homenagem ao Direito e especialmente à aguardada JUSTIÇA. O paciente consigna ter “fé na liberdade sem a qual não há direito, nem justiça, nem paz” (Edouard Couture).

Pede deferimento.

(local e data)

(assinatura e n.º da OAB do advogado)