Helena Petrovna Blavatsky-O Pais Das Montanhas Azuis rev

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helena petrovna blavatsky o pas das montanhas azuis sumRio introduo algumas palavras captulo i captulo ii captulo iii captulo iv captulo v captulo vi

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o pas das montanhas azuis introduo no h religio superior verdade nas palavras de mrio roso de luna ela foi a mrtir do sculo xix. enfrentou a fria e o poder dos missionrios ingleses e a oposio da society for psychical research de londres, devidamente desinformada pelo famigerado casal columb (falsificadores de documentos e chantagistas, entre outras coisas). lutou contra o preconceito da supremacia da filosofia e religies ocidentais sobre a filosofia oriental. tornou-se budista em praa pblica no ceilo (sri lanka), escandalizando europeus fanticos. teve contra si os jornais indianos da poca, financiados pelo governo colonial ingls. viajou sozinha, no sculo passado, pelas amricas, e foi ao tibet, passando por toda a europa, e mais por java, cingapura, nepal e japo. no bastasse ter peregrinado pelos pontos mais diversos do planeta, quando os avies no existiam e as condies eram extremamente precrias, com as observaes que fez e sua capacidade literria, herdada da me, e mais agudssima intuio, escreveu alguns dos mais importantes livros do ocultismo ocidental: isis sem vu, a chave da teosofia, ocultismo prtico, a voz do silncio e o glossrio teosfico. sem sombra de dvida, porm, sua maior obra mesmo a doutrina secreta, monumental tratado de ocultismo, em seis volumes, que entre inmeras peculiaridades apresenta o fato espantoso de conter milhares de citaes

absolutamente exatas de livros que h.p.b. no poderia ter consultado fisicamente! os seis volumes abrangem desde a cosmognese, simbolismo, cincia, religio e filosofia. helena petrovna blavatsky nasceu no ano de 1831, em ekaterinoslav, rssia, e faleceu em londres, no ano de 1891. era filha do coronel hahn e de helena fadeef, princesa da famlia dougorouki. possua capacidade psquica extremamente desenvolvida, que lhe permitia fazer observaes ocultas e se comunicar com os mestres de sabedoria. sob orientao e com o apoio dos mestres de sabedoria, fundou em 1875 a sociedade teosfica, hoje ativa em mais de sessenta pases, tendo sua sede mundial em madras, na ndia. a influncia de blavatsky avassaladora... segundo o depoimento de sua sobrinha, albert einstein tinha a doutrina secreta cabeceira. por meio do livro a chave da teosofia teosofistas ingleses levaram o jovem gandhi a se interessar pela cultura de seu prprio povo. jawaharlal nehru foi membro da sociedade teosfica. a dra annie besant, continuadora de blavatsky, participou de inmeras reunies do congresso nacional indiano. o poeta fernando pessoa traduziu a voz do silncio para o portugus. o pensador jidu krishnamurti nasceu dentro do movimento teosfico. rudolf steiner, criador da antroposofia, foi presidente da seo alem da sociedade teosfica. o msico alexandre scriabin e os pintores pieter mondrian e vassily candinsky foram diretamente influenciados pelos ensinamentos de h.p.b. e da teosofia. toda pliade de escritores e ocultistas foi direta e indiretamente influenciada pela teosofia ou mesmo se desenvolveu em ambiente teosfico. entre eles podemos citar c. w. leadbeater, joffrey hodson, g. r. s. mead, sri ram, edwin arnold, arthur powell, mabel collins, i. k. taimmi, christmas humpheys, subba-raw, flix bermudes, cyril scott, alice a. bailey, hermann hesse, dion fortune, j. j. van der leew, edouard schur, manly p.hall, max heindel. se levarmos em conta a influncia que estas personalidades tm, ou tiveram na poca em que viveram e na atualidade poderemos ter uma idia da presena viva dessa mulher extraordinria nos dias de hoje. apesar de todos os ataques a teosofia, como se v, floresceu nos seus continuadores (diretos ou indiretos), pois nas palavras do mestre m., tendes ainda de aprender que enquanto no houver na sociedade teosfica trs homens dignos da bno de nosso senhor, ela jamais ser destruda. a perseverana de h.p.b. e sua incansvel busca da verdade deram frutos alm do universo visvel... blavatsky revolucionou o ocultismo ocidental; ela seguiu a trilha deixada por seus mestres e custa de grandes sacrifcios cumpriu sua misso tendo em mente as palavras de k. h. lembra-te de que esforo algum jamais perdido, e que para o ocultismo no h passado, presente nem futuro e sim um eterno agora. o editor m. s. t. algumas palavras helena petrovna blavatsky recentemente um importante jornal de londres escreveu em tom sarcstico que os sbios russos, e com maior razo as massas russas, s possuam noes muito confusas sobre a ndia em geral e seus nacionais em particular (1). (1) o editor lembra que estes comentrios so sobre a atualidade de ento, cerca de um sculo atrs. cada russo, conforme o caso, pode responder a essa nova insinuao britnica questionando o primeiro anglo-hindu que encontre, na seguinte forma: - perdoe esta indiscrio: quem lhe ensinou e o que voc sabe com preciso sobre a maior parte das raas da ndia que lhe pertence? como exemplo, que

resolveram seus melhores etnlogos, seus mais ilustres antroplogos, seus fillogos e estatsticos aps um debate de cinqenta anos acerca da tribo misteriosa dos toddes, no nilguiri, que parece ter cado dos cus? que sabe sua real sociedade (por mais que seus membros se ocupem desta questo, com risco de perderem a alma, faz quase meio sculo) para resolver o problema das tribos misteriosas das montanhas azuis, dos anes que semeiam o terror, difundem o espanto e os que se chamam os mulu-kurumbes? dos jaonadis, dos kchottes, dos erulhares, dos baddagues, ou seja, cinco tribos do nilguiri e mais outras dez, menos misteriosas, mas mesmo assim pouco conhecidas pequenas e grandes, que moram nas montanhas? em resposta a todas estas perguntas se, contra tudo o que o mundo esperava, o ingls fosse tomado por um acesso de franqueza (fenmeno bastante raro entre os ingleses) os sbios e os viajantes russos caluniados poderiam ouvir a seguinte confisso, completamente inesperada: - ai! ignoramos tudo dessas tribos. s conhecemos sua existncia porque as encontramos, lutamos com elas e as esmagamos e amide enforcamos seus membros. por outra parte, no temos a menor idia sobre a origem, tampouco sobre a lngua desses selvagens e ainda menos dos nilguirianos. nossos sbios anglo-hindus e os da metrpole quase perdem o juzo por causa dos toddes. verdadeiramente, essa tribo representa um enigma para os etnlogos de nosso sculo e parece um enigma indecifrvel. alm disso, o passado desses seres to escassos, pelo seu nmero, est coberto pelo vu impenetrvel de um mistrio milenar, no s para ns europeus como tambm para os prprios hindus. tudo neles extraordinrio, original, incompreensvel, inexplicvel. assim como os vimos no primeiro dia em que camos sobre eles imprevistamente, imprevisivelmente, assim permaneceu, assim so: enigma de esfinge... assim teria falado ao russo qualquer anglo-hindu honesto. e deste modo respondeu-me um general ingls que encontraremos novamente quando o questionei sobre os toddes e os kurumbes. - os toddes! os kurumbes! exclamou, tomado de sbito furor. houve tempo em que os toddes quase me enlouqueceram e os mulu-kurumbes mais de uma vez deramme febre e delrio. como e por que? voc saber depois. oua. se alguns de nossos imbecis (dunces) funcionrios do governo declarar-lhe que conhece perfeitamente e estudou os costumes dos toddes, fale-lhe por mim que se jacta e mente. ningum conhece essas tribos. sua origem, sua religio, costumes e tradies, tudo isso continua sendo terra incgnita tanto para o homem de cincia quanto para o profano. no que corresponde a seu assombroso poder psquico, como o chama carpentier (2), sua feitiaria desse modo dominante, seus diablicos sortilgios, quem poderia explicar-nos essa fora? trata-se de sua influncia sobre os homens e os animais, que ningum compreende nem interpreta, absolutamente: essa ao benfica nos toddes, malfica nos kurumbes. quem pode adivinhar, definir esse poder que utilizam segundo os seus desejos? entre ns, zombam desse poder, claro, e mofam das pretenses dessas tribos. no acreditamos na magia e qualificamos de prticas supersticiosas e de bobagens tudo quanto depende da f real dos indgenas. e impossvel acreditar nisso. em nome de nossa superioridade de raa e de nossa civilizao, negadora universal, vemo-nos constrangidos a nos afastar dessas estupidezes. (2) carpentier, clebre fisilogo.(nota de blavatsky) - e, no entanto nossa lei reconhece de fato essa fora, quando no em princpio ao menos nas suas manifestaes, j que castiga os que so culpados; e isso sob diversos pretextos velados e aproveitando nmeros vazios na nossa legislao. essa lei reconheceu os feiticeiros, permitindo enfocar com suas vtimas um certo nmero deles. ns os castigamos assim, no s pelos seus sangrentos crimes como tambm pelos seus homicdios misteriosos, nos quais no h derramamento de sangue e que nunca puderam ser legalmente provados nesses dramas to freqentes, aqui entre os bruxos do nilguiri e os aborgines dos vales. - sim, voc tem razo: compreendo que pode rir de ns e de nossos esforos vos prosseguiu , pois a despeito de todo o trabalho no temos adiantado um

centmetro para a soluo desse problema desde o descobrimento desses magos espantosos bruxos das cavernas do nilguiri (montanhas azuis). essa fora verdadeiramente taumatrgica neles o que nos irrita mais que qualquer outra coisa: no estamos numa situao de poder negar suas manifestaes, pois necessitaramos, para isso, lutar a cada dia contra provas irrefutveis. ao rejeitar as explicaes dos fatos, providas pelos indgenas, no fazemos outra coisa que nos perdermos em hipteses elaboradas pela nossa razo. negar a realidade dos fenmenos chamados encantamentos e sortilgios, e alm disso, condenar os feiticeiros forca, nos faz parecer, com nossas contradies, como grosseiros carrascos de seres humanos: pois no s os crimes desses homens no foram ainda comprovados como chegamos at a negar a possibilidade mesma desses homicdios. cabe-nos dizer isto dos toddes. zombamos deles e no obstante respeitosamente essa misteriosa tribo... quem so eles, o que representam? homens ou gnios dessas montanhas, deuses sob os srdidos farrapos da humanidade? todas as conjecturas que se relacionam a eles rebatem como uma bola de borracha que cai sobre uma rocha grantica... pois bem, saiba que nem os anglo-hindus nem os indgenas ensinaram algo de certo acerca dos toddes, nem acerca dos kurumbes. e eles no diro nada, pois nada sabem, e nunca sabero nada... assim me falou um plantador nilguiriano, major-general reformado e juiz nas montanhas azuis quando respondia minhas perguntas sobre os toddes e os kurumbes, que desde muito me interessam. achvamo-nos perto das rochas do lago e quando se calou ouvimos por longo tempo o eco da montanha que despertado por sua voz forte repetia irnico e debilitando-se, nunca sabero nada... nunca sabero nada... e, no entanto interessava muito sab-lo! semelhante descobrimento no concernente aos toddes seria, sem dvida, mais instrutivo que toda a novssima revelao acerca das dez tribos de israel, que a sociedade de identificao (3) acaba de reconhecer, por casualidade e inopinadamente, entre os ingleses. (3) identification society of london; que se estipulou a meta de aprofundar a questo das tribos perdidas. essa sociedade muito rica, e uma das curiosidades da inglaterra (nota de blavatsky) e agora escrevamos o que temos investigado. mas antes ainda ficam por dizer algumas palavras. tendo escolhido em suas lembranas os toddes e os mulu-kurumbes como principais heris, sentimos que abordamos um problema perigoso para ns: penetrar num terreno indesejvel para os sbios e os no-sbios europeus, uma terra que os desgosta. certamente esse problema, estudado nos jornais, no daqueles de que gostam as massas. e sabemos que a imprensa rejeita obstinadamente tudo quanto de perto ou de longe lembra a seus leitores os espritos, espiritismo. no entanto, quando nos referimos s montanhas azuis e s suas misteriosas tribos absolutamente impossvel calar o que constitui seu carter distinto fundamental, essencial. quando se descreve uma regio muito particular de nosso globo, sobretudo os seres que moram nela, misteriosos e muito diferentes de seus semelhantes, impossvel desprezar da narrao os elementos mesmos com os quais se edificou a prpria vida tica e religiosa. em verdade to inadmissvel atuar dessa forma a respeito dos toddes e dos kurumbes como representar hamlet tirando desse drama o papel do prncipe dinamarqus. os toddes e os kurumbes nascem, crescem, vivem e morrem em uma atmosfera de feitiaria. se acreditarmos nas palavras dos aborgines e at na dos velhos habitantes europeus dessas montanhas, tais selvagens esto em constantes relaes com o mundo invisvel. deve-se a isto que nesta florao de anomalias geogrficas, etnolgicas, climticas e outras da natureza, nossa narrao ao se desenvolver enche-se de histrias nas quais se mistura o demonaco assim como o trigo e o joio de irregularidades na natureza humana, do domnio da fsica transcendental: em verdade, a culpa no nossa. sabendo at que ponto esta parte do conhecimento desagrada os naturalistas, agradar-nos-ia certamente zombar, como eles, das longnquas regies e das mais prximas a essa aborrecida comarca; mas nossa conscincia no no-lo permite.

impossvel descrever as novas tribos, as raas so mal conhecidas, sem nos ocuparmos, para no aborrecer os cticos, das manifestaes mais caractersticas, mais destacadas de sua vida quotidiana. os fatos so evidentes. so por casualidade e conseqncia de fenmenos anormais, puramente fisiolgicos, segundo a teoria favorita dos mdicos: devemos consider-los como resultados de materializao (por certo igualmente naturais) de foras da natureza que parecem cincia (em seu atual estado de ignorncia) impossveis, inexistentes, e que conseqentemente ela nega; isso carece de importncia para a meta que perseguimos. apresentamos, como dissemos, apenas fatos. muito pior para a cincia, se nada aprendeu no que corresponde a estas questes e se, conhecendo nada, continua julgando os fatos como absurdos e brbaros, supersties grosseiras e contos de velhas. mas fingir a no-crena e rir da f do prximo em tudo que se admite como pertencente realidade demonstrada no prprio de um homem honrado ou de um pintor exato. qual a medida em que pessoalmente acreditamos na feitiaria e nos encantamentos, o leitor ver nas pginas seguintes. existem grupos completos de fenmenos na natureza que a cincia incapaz de explicar razoavelmente, pois os assinala como derivados da ao nica das foras fsico-qumicas universais. nossos sbios acreditam na matria e na fora; mas no desejam acreditar num princpio vital separado da matria. e, no entanto, quando lhes perguntamos cortesmente o que em essncia essa matria e o que representa a fora que a renova atualmente, nossos propagadores da luz ficam boquiabertos e respondem: no sabemos. nesse caso tanto os sbios podem falar, ainda hoje, dessa tripla essncia da matria, da fora e do princpio vital em forma to deplorvel como os anglohindus dos toddes, que rogamos ao leitor retroceder conosco meio sculo. pedimoslhe que oua a seguinte histria: como descobrimos a existncia do nilguiri (montanhas azuis), hoje o dourado de madras; como l encontramos gigantes e anes desconhecidos at esse dia e entre os quais o governo russo pode achar completa semelhana com suas bruxas e curandeiros. alm disso, o leitor se informar que sob os cus da ndia h uma admirvel comarca onde, a uns trs mil metros de altura, no ms de janeiro, os homens levam somente vestes de musselina e agasalham-se em julho, em mantos de pele, apesar dessa terra estar s a 11 graus do equador. o autor deste livro teve que seguir os hbitos dos aborgines, uma vez que na plancie, uns trs mil metros mais abaixo, havia a temperatura de 118 f sombra fresca das rvores de folhagem mais espessa.

capTulo i faz exatamente sessenta e quatro anos, ou seja, em fins do ano de 1818, no ms de setembro, realizou-se um descobrimento, muito fortuitamente e de natureza extraordinria, perto da costa de malabar e a apenas 350 milhas da ardente terra de dravid chamada madras. esse descobrimento pareceu de tal modo estranho, at incrvel a todo mundo, que ningum no comeo acreditou. boatos confusos, inteiramente fantsticos, relatos semelhantes a lendas estenderam-se em seguida entre o povo, logo mais alto... mas quando se infiltraram nos jornais locais e se converteram em realidade oficial a febre da espera chegou a ser, em todos, um verdadeiro delrio. no crebro dos anglo-madrasianos, de lentos movimentos e quase atrofiados pela preguia, tendo por motivo a cancula, aconteceu uma modificao molecular, para usar a expresso de clebres fisilogos. com excluso dos mudiliares, linfticos que renem em si os temperamentos da r e da salamandra, tudo se comoveu, agitou e comeou a disparar ruidosamente a respeito de um maravilhoso den primaveril descoberto no interior das montanhas azuis (1), provavelmente por dois aptos caadores. [(1) o nilguiri est composto de duas palavras snscritas: nilam, azul e guiri, montanhas ou colinas. essas montanhas so assim chamadas por causa da luz resplandecente sob que aparecem aos habitantes dos vales de maisur e de malabar (nota de blavatsky).] de acordo com o que diziam eles, era o paraso terrestre, embalsamados zfiros e frescor durante o ano todo: comarca elevada acima das eternas brumas do kuimbatur (2) do qual caiam imponentes cascatas, onde a eterna primavera europia vai de janeiro a dezembro. [(2) segundo se supe esse nevoeiro se deve aos fortes calores e s exaltaes dos pntanos; forma-se entre 3000 e 4000 ps acima do nvel do mar e se estende ao comprimento de toda a cordilheira dos montes kuimbatur. esse nevoeiro sempre de uma cor azul resplandecente: nos tempos de mono transforma-se em nuvens que levam gua (nota de blavatsky).] as rosas silvestres, que se levantam do cho quase dois metros, e os heliotrpios florescem ali, lrios do tamanho de uma nfora (3) embalsamam a atmosfera: bfalos antediluvianos, julgando por seu talhe, passeiam livremente e moram na comarca os broddingnags e os liliputenses de gulliver. cada vale, cada desfiladeiro dessa admirvel sua hindu representa um cantinho do paraso terrestre fechado ao resto do mundo... ouvindo estes relatos o fgado dos muito respeitveis pais da east indian company, to atrofiado e sonolento como seu crebro, acordou vida, e a saliva correu-lhe pelos lbios. no comeo ningum sabia qual a regio precisa em que haviam descoberto essas maravilhas e ningum pode saber como e onde buscar esse frescor to atrativo no ms de setembro. finalmente os pais resolveram que era mister sancionar o descobrimento em forma oficial e reconhecer, antes de tudo, exatamente o que se acabava de descobrir. [(3) esta descrio, sem exageros, da flora mais maravilhosa que talvez exista no mundo. matos de rosas de todas as cores trepam pelas casas e cobrem o telhado; os heliotrpios alcanam alturas de vinte ps. mas as mais belas flores so as aucenas brancas, cujo perfume arrebata o corao. do tamanho de uma nfora, crescem nas fendas das rochas desnudas nos matos isolados, da altura de um metro e meio a 2 metros; produzem ao mesmo tempo umas doze flores. estas aucenas no se encontram no cimo, cuja altura inferior a 7000 metros; acham-se somente subindo mais alto. e quanto mais alto se sobe, mais magnficas so; no pico do toddout (prximo aos 9000 ps), florescem 10 meses ao ano (nota de blavatsky)] os dois caadores foram convidados Repartio oficial da presidncia e ento se inteiraram de que na vizinhana de kuimbatur os seguintes acontecimentos tinham lugar... mas antes de tudo, o que Kuimbatur?

kuimbatur a principal cidade da regio que leva esse nome, e esta se acha a umas trezentas milhas de madras, capital da ndia do sul. kuimbatur clebre por muitos pontos de vista. antes de tudo uma terra prometida para o caador de elefantes e tigres, assim como para a caa menor, porque esta regio, alm de seus outros encantos, clebre pelos seus pntanos e espessos bosques. pressentindo a morte os elefantes abandonam, no se sabe porque, os impenetrveis bosques pelos pntanos. ali submergem na lama profunda e se preparam tranqilamente para o nirvana. graas a esse estranho costume os ossos e presas dos elefantes so abundantes nos lamaais e fcil procur-los (ou melhor, era, outrora). digo procur-los no passado. ah! as coisas mudaram inteiramente desde aquela poca da desditosa ndia. hoje no se pode obter coisa alguma neste pas, e ningum consegue algo, salvo o vice-rei; o vice-reinado lhe rende efetivamente honras reais e outorga-lhe enorme quantidade de dinheiro, acompanhada muitas vezes por ovos podres oferecidos pelos iracundos anglo-hindus. entre o outrora e o hoje se abriu um abismo de prestgio imperial, atravs do qual se ergue o espectro de lord beaconsfield. na poca os pais da company obtinham, compravam, descobriam e conservavam. hoje o conselho do vice-reinado recebe, toma, expropria e conserva nada. antes, os pais constituam a fora motriz do sangue da ndia, que se coagula e que de certo sugavam, mas tambm rejuvenesciam vertendo novo sangue nas velhas veias. hoje o vice-rei, com seu conselho s injeta blis. o vice-rei o ponto central de um imprio imenso pelo qual no se sente simpatia alguma e com o qual no tem qualquer interesse comum. segundo a potica expresso de sir richard temple, o vice-rei slido eixo em cujo redor deve girar a roda do imprio... seja: mas essa roda se move, desde algum tempo, com to descontrolada rapidez que ameaa a qualquer momento fazer-se em fanicos. mas, como antes, ainda hoje kuimbatur s conhecida pelos seus bosques e lamaais; a lepra, as febres e a elefantase so ali endmicas (4). [(4) esta enfermidade terrvel e quase incurvel, que pode durar anos, deixando o homem em boa sade do ponto de vista orgnico, muito freqente nesse pas. uma perna se incha desde a planta do p at a panturrilha, logo se incha a outra perna at que ambas, completamente deformadas, adquirem o aspecto de patas de elefante, tanto pelo aspecto como pelo tamanho (nota de blavatsky).] kuimbatur, ou o distrito que leva esse nome, no deve considerar-se um desfiladeiro. situado entre malabar e karnatik, o distrito de kuimbatur penetra em ngulo agudo, at o sul, nas montanhas anemal, ou montes elefanta (5), logo trepa gradativamente at as alturas de maisur, ao norte, como se os ghats (6) ocidentais o aplastassem, com suas espessas florestas quase virgens, muda de rumo em ngulo reto e desaparece nas selvas menos importantes onde moram as tribos silvcolas. l a morada tropical do elefante, sempre verdejante por causa das emanaes dos miasmas de l; tambm se encontra a cobra constritora, mas sua raa se extingue. [(5) da palavra ane, elefante, pois esses animais abundam desde tempos imemoriais nessas montanhas (nota de blavatsky).] [(6) ghats montanhas (nota de blavatsky).] pelo lado de madras, essa massa de montanhas semelhantes, ao longe, a um tringulo retngulo, parece enganchada a outra serrania triangular, ainda maior, aos planos da superfcie montanhosa de dekkan que apia seu extremo setentrional contra os montes vindya, na presidncia de bombaim e suas pontas ocidental e oriental contra as colinas de sakhiadri na presidncia de madras. estas duas cadeias de montanhas, que os ingleses chamam colinas, constituem um lao de unio entre os ghats (7) ocidentais e orientais da ndia. embora as alturas destes se aproximem dos ghats do oeste, perdem progressivamente seu carter vulcnico. [(7) ghats montanhas e guiri, colina (nota de blavatsky).] unindo-se finalmente com os cimos pitorescos e ondulados do maisur ocidental, parecem fundir-se neles, deixam definitivamente de ser considerados como ghats e so chamadas simplesmente colinas. os dois extremos desse tringulo aparente se erguem, na presidncia de

madras, em ambos os lados, esquerda e direita da cidade de kuimbatur, produzindo a aparncia de pontos de exclamao. assemelham-se a duas sentinelas gigantes colocadas pela natureza para vigiar a entrada do desfiladeiro. so dois cumes de ponta aguda, coroados por rochas dentadas, os sops cobertos de verdejantes bosques e rodeados no alto por um eterno cinto de nuvens e brumas azuladas. essas montanhas de pontiagudos cumes so chamadas teperifs da ndia, o nilguiri e o mukkartebet. a primeira chega a 8760 ps, a outra a 8380 ps acima do nvel do mar. durante sculos esses dois cumes foram considerados inacessveis aos simples mortais, pelo povo. essa reputao desde muito tempo havia tomado a forma de lendas locais e toda a comarca, na superstio popular, era tida por santa e, claro, enfeitiada. franquear seus limites, at involuntariamente, era cometer um sacrilgio que s a morte podia castigar. o to-de era a morada dos deuses e das deusas superiores. o suarga (paraso) achava-se ali com o naraka (inferno) cheio de asuras e de pisaches (8). [(8) asuras espritos cantores que enfeitiavam os ouvidos dos deuses com seus cantos, como os gondarvis o fazem com sua msica. pisachis, espritos vampiros. todos eles so deuses divididos em multides de classes (nota de blavatsky).] assim, protegidos pela f religiosa, o nilguiri e o todabet (mukkartebet) permaneceram por muitos sculos completamente desconhecidos do resto da ndia. como, ento, em pocas to longnquas como a da right honourable east india company, nos anos vinte do nosso sculo xix, um europeu qualquer podia conceber o pensamento de se internar na regio interior de uma montanha fechada por todos os lados? no por acreditar nos espritos cantores, mas ante a inacessibilidade dessas alturas ningum era capaz de supor a existncia nessas montanhas de to belas paisagens. e, menos, supor a presena de criaturas viventes que no fossem as feras e as cobras. poucas vezes um sportsman ou um caador da eursia chegava ao p dos enfeitiados montes e insistia para que um chicari (caador) o conduzisse a algumas centenas de ps mais alto. os guias indgenas, de acordo com os chicaris, negavam-se a faz-lo, muito naturalmente, sob um pretexto ou outro. muito amide afirmavam ao saab (9) que era impossvel ir mais alto; j no havia mais bosques nem caa, s se viam cavidades, penhascos, nuvens e cavernas habitadas por malficos silvanos, guardas de honra dos devas. por isso nenhum chicari aceitava, por mais atraente que fosse a soma oferecida, subir mais alto que uma conhecida linha de demarcao nessas montanhas... [(9) saab - este apelido dado pelos indgenas, indiferentemente, aos funcionrios ou aos caadores ingleses e os tigres. para o ingnuo hindu, no existe, na verdade, diferena alguma entre essas duas raas de seres; s que o fuzil do desditoso indgena, cada vez que se produzia um levantamento nacional, no fazia alvo nos ingleses, por uma felicidade que estes no mereciam (nota de blavatsky).] o que o chicari? o representante desse tipo segue sendo semelhante ao das pocas fabulosas do rei de roma. cada profisso se torna hereditria na ndia, logo se converte em casta. assim como o pai foi, assim ser seu filho. geraes inteiras cristalizam-se e parecem petrificar-se numa nica e mesma forma. o chicari leva um traje composto de faca de caa, polvorinhos feitos com chifres de bfalos, o antigo fuzil de pederneira que em dez tiros falha nove e todas essas provises ele as leva no corpo desnudo. muitas vezes tem o aspecto de um ancio decrpito e quando um estrangeiro de corao sensvel se encontra com ele (nem indgena, nem ingls) seu primeiro movimento oferecer-lhe gotas de hoffmann, to oco seu ventre, e parece tomado pela dor. mas a razo pela qual o chicari caminha penosamente abaixado, dobrado em dois, no essa: trata-se de um hbito contrado pelo constrangimento de sua profisso. quando um saab sportsman ordena, basta ensinar-lhe ou dar-lhe algumas rpias e o chicari se endireita instantaneamente e comea a regatear por qualquer coisa. depois de concluir a transao voltar a se inclinar, deslizar nos bosques prudentemente, cobrindo o corpo e embrulhando os ps com ervas aromticas para que as feras no o descubram com a finalidade de no farejarem o esprito do homem.

o chicari permanece assim vrias noites consecutivas, oculto como uma ave de rapina na espessa folhagem de uma rvore, no meio de vampiros menos sanguinrios que ele. sem atraioar sua presena pelo mnimo suspiro o caduco caador se prepara para seguir com sangue frio a agonia de um infeliz cabrito ou um jovem bfalo amarrado por ele rvore para atrair o tigre. logo, abrindo os dentes at as orelhas vista do carniceiro ouve, sem mover um s msculo, o lamentvel balido e aspira com prazer o cheiro do sangue fresco misturado ao odor especfico e forte do carrasco listrado dos bosques. afastando os galhos com prudncia e sem rudo, observa amplamente com olhar agudo o animal que se sacia e quando a fera se acerca pesadamente com suas sangrentas patas sob o solo seco, lambendo os beios e bocejando, depois se virando conforme o hbito de todos os carniceiros listrados para olhar os restos da vtima o chicari faz fogo com o fuzil de pederneira e com segurana tomba a besta ao primeiro disparo. a arma do chicari nunca falha quando atira sobre um tigre a antiga sentena que se tem convertido em axioma entre os caadores. e se o saab deseja divertir-se caando ele mesmo o bar saab (grande senhor dos bosques) ento o chicari, observando de sua rvore o lugar onde foi descansar o tigre, enquanto aparecem os primeiros fulgores da alva, salta de seu esconderijo, corre para o povoado, rene uma multido, prepara uma batida, afadiga-se todo o dia, debaixo das chamas trridas e mortferas do sol, de um grupo ao outro, berrando, gesticulando, organizando, dando ordens at o momento em que o saab n 1, seguro no lombo de um elefante, tenha ferido o saab n 2, momento em que o chicari deve interferir para rematar o animal com seu antigo fuzil... s ento, e no caso de no acontecer algo extraordinrio, o chicari se dirige ao primeiro matagal que achar, e tudo a um tempo faz seu desjejum, almoa, lancha e janta comendo um punhado de pssimo arroz e um gole de gua dos pntanos... e assim, com trs desses hbeis chicaris, em setembro de 1818, no fim das frias estivais dos ingleses, funcionrios agrimensores ao servio da company em expedio de caa no kuimbatur se extraviaram, chegando ao limite perigoso da montanha: o desfiladeiro de guzlekhut, muito prximo clebre cascata de kolakambe (10). [(10) essa cascata tem 680 ps de altura. nas suas proximidades passa hoje o caminho que leva Uttakamand (nota de blavatsky).] por cima de suas cabeas, longe e muito alto sob as nuvens, penetrando em isoladas manchas a fina bruma azul, divisam-se as rochosas agulhas do nilguiri e do mukkartebet. era terra incgnita, o mundo encantado... misteriosas montanhas, morada de desconhecidos devas, colinas azuis. (como diz antiga cano no terno idioma de malaialim). de azul, em verdade. contemplar no importa que ponto do horizonte e da distncia que desejar, do cume ou do p, do vale ou dos outros cumes, ainda com tempo brumoso, at o momento em que deixam de ser visveis, essas montanhas resplandecem como uma preciosa safira, com brilho interno; parecem respirar levemente e confundem, como ondas, suas azuladas selvas que num lugar distante se matizam com reflexos de turquesa e ouro, que surpreendem, ainda com certa reserva de si mesmo, pelo extraordinrio colorido... os agrimensores, desejando tentar a sorte, ordenaram aos chicaris que os levassem mais longe. mas os valentes chicaris se negaram de forma terminante, como se esperava. logo aps o relato dos dois ingleses, inteiramo-nos de que esses dois experimentados caadores e valentes exterminadores de tigres e elefantes fugiram, quando se falou em subir mais alto, atrs da cascata. capturados e trazidos de volta para a catarata os trs se deixaram cair com o rosto tocando o cho, ante a torrente que bramava, e segundo as ingnuas palavras de um dos engenheiros ingleses, kindersley, os esforos combinados de nossos dois ltegos no conseguiram obrig-los a se levantar... antes que houvessem terminado suas ruidosas invocaes dos devas dessas montanhas, suplicando aos deuses no castiglos nem mat-los por tal crime, a eles, inocentes chicaris. tremiam como folhas de

lamo tremedor, retorciam-se no mido solo da aura, como presos de uma crise de epilepsia... ningum atravessou alguma vez os limites da cascata de kolakambe, diziam, e quem entra nessas cavernas no sai delas vivo. essa vez, ou mais exatamente esse dia, os ingleses no conseguiram ir alm da catarata. de bom ou mal grado, tiveram que regressar aldeia, que abandonaram pela manh depois de pernoitar nela. os ingleses temeram extraviar-se sem guias ou sem chicaris e por essa razo cederam. mas no seu foro ntimo juraram obrigar os chicaris ir mais longe na prxima vez. de regresso aldeia, para passar a segunda noite, convocaram todos os habitantes e celebraram conselho com os ancies. o que ouviram no fez mais que aumentar sua curiosidade. os boatos mais extraordinrios corriam entre o povo, perto das montanhas encantadas. numerosos agricultores apelaram autoridade dos plantadores locais e funcionrios da eursia, que conheciam a verdade a respeito dos lugares santos e compreendiam perfeitamente a impossibilidade de ir l. conta-se uma verdadeira epopia a respeito de um plantador ndio que possua todas as virtudes, exceto a f nos deuses da ndia. um bom dia assim disseram os brmanes importantes mister d., que caava um animal e no prestava a mnima ateno a nossas advertncias, desapareceu atrs da cascata; nunca mais se voltou a v-lo. depois de uma semana as autoridades deram a conhecer algumas suposies a respeito de seu provvel destino e graas ao velho macaco sagrado do pagode vizinho. sabe-se que essa respeitvel besta tinha o costume, em seus momentos livres de toda a obrigao religiosa, de visitar as plantaes vizinhas, onde os kulis, cheios de piedade, a alimentavam e mimavam. um dia o macaco regressou com uma bota sobre a cabea. a bota chegava sozinha, privada da perna do plantador, e seu dono se perdera, pois, para sempre: indubitavelmente o insolente fora destroado pelos pisachis. assim o povo entendeu. claro que a company suspeitou dos brmanes do pagode que, desde muito tempo, tinham comeado um processo com o desaparecido, sendo o motivo um terreno do qual era dono. mas os saab suspeitavam sempre e por todas as coisas dos homens santos, particularmente no sul da ndia... as suspeitas no tiveram conseqncia alguma. e o desditoso plantador desapareceu sem deixar qualquer vestgio. passou inteiramente e para a eternidade a um mundo longnquo, e ainda menos estudado, naquela poca, pelas autoridades e pelos sbios, que o das montanhas azuis, o mundo do pensamento incorpreo. na terra, converteu-se em sonho cuja lembrana perptua segue vivendo ainda hoje, sob a forma de bota, atrs de um vidro de armrio, no escritrio da polcia do distrito... conta-se... o que que no se diz sobre esse particular? aqui est: aqum das nuvens chuvosas as montanhas so inabitveis; isto, naturalmente, no que concerne aos simples mortais vivveis para todo mundo. mas alm das iracundas guas da cascata, dizer, nas alturas dos cumes sagrados de toddabet, do mukkartebet e do rongasuami, mora uma tribo no-terrestre, tribo de feiticeiros e semideuses. l reina uma eterna primavera, no h chuvas, seca, calor, frio. no s os magos desse povo no se casam nunca, pois seno morrem e no nascem jamais; seus filhos caem j feitos dos cus e crescem para cima, segundo a caracterstica expresso de topsy em a cabana do tio tom. nenhum mortal logrou ainda chegar a esses cumes; ningum o conseguir, salvo, talvez, depois da morte. ento ter lugar nos limites do possvel, pois assim como o sabem os brmanes e quem poderia estar melhor informado disso? os habitantes do cu das montanhas azuis, por respeito ao deus brahma, cederam-lhe parte da montanha que est embaixo do svarga (paraso). de supor, pois, que naquela poca esse pavimento estava ainda em reparos.... esta a tradio oral que ainda se conserva escrita na recopilao das lendas e tradies locais, traduzida ao ingls do idioma tamil por missionrios. recomendo ao leitor a edio de 1807. estimulados por esses relatos e mais especialmente pelas dificuldades visveis e todos os obstculos que se oporiam sua excurso, nossos dois ingleses resolveram provar mais uma vez aos indgenas que para a raa superior que os

governava a palavra impossibilidade no existia. o prestgio britnico teve que proclamar sua presena em todas as pocas da histria; ou corria o risco de ser esquecido... que no se indignem meus amigos anglo-hindus, zelosos e receosos! que lembrem melhor as pginas escritas sobre a ndia e os ingleses por ali bab (11) [(11) alberight mackay, morto faz dois anos (nota de blavatsky)], um de seus escritores, de quem cada movimento de pena representa sempre uma stira cruel e profundamente certa sobre a situao atual da ndia. quo vigorosas e vivas as cores com as quais se descreveu esse pas-mrtir! contemplai o panorama da ndia, meditai na presena hoje necessria dessas legies de soldados vestidos com o uniforme escarlate e de sais e chuprasis do vice-rei, reluzentes de ouro. os sais so os palafreneiros e recadistas dos funcionrios. os chuprasis so os encarregados dos transportes oficiais do governo, que levam a libr do imprio e esto a servio dos funcionrios, pequenos e grandes. vendido a peso, todo o ouro de suas librs, obter-se-ia uma soma cuja metade bastaria para alimentar centenas de familiares anualmente. somei a isso as despesas dos membros, sempre escarlates de embriaguez, do conselho e das diferentes comisses que constituem habitualmente, ao fim de uma escassez geral; e tenho demonstrado como o prestgio britnico mata a cada ano, mais indgenas do que a clera, os tigres, as cobras peonhentas e os baos (12) hindus, que arrebentam to facilmente (e sempre to oportunamente)... [(12) esse rgo, cujo nome em ingls spleen, na realidade desempenha na ndia um importante papel. o bao indgena o melhor amigo e defensor das cabeas inglesas que, em caso de faltar, seriam inelutavelmente ameaadas pela corda. esse bao to dbil e to tenro, segundo parecer dos juzes anglo-hindus, que basta um peteleco no ventre dos aborgines, basta tocar-lhes delicadamente com o dedo para que desfaleam e morram. a imprensa hindu, desde muito tempo, realiza ruidosa campanha com o tema dessa fragilidade do spleen, desconhecida at a chegada dos ingleses, que chega a entristecer os ingleses... impossvel, dizem, roar um rajah sem que imediatamente, e como feito de propsito, estoure seu bao. os caminhos tortuosos que o governo ingls segue na ndia esto cheios de espinhos (nota de blavatsky).] certo que as perdas provocadas por tal prestgio nas fileiras da plebe so compensadas pelo constante crescimento da tribo dos euro-asiticos. essa raa bastante feia de nativos representa um dos smbolos mais objetivos e felizes da tica ensinada pelos civilizados aos hindus, seus escravos meio selvagens. os euro-asiticos foram postos no mundo pelos ingleses, com a ajuda dos holandeses, franceses e portugueses. constituem a coroa e o imperecvel monumento das atividades dos pais plcidos da east india company. ditos pais, amido, travam relaes legtimas e ilegtimas com as mulheres indgenas (a diferena entre as unies, legais ou no, mnima na ndia; baseia-se na f dos esposos e o grau de santidade das caudas das vacas). mas este ltimo elo das relaes amistosas entre as raas altas e baixas quebrou-se por deciso prpria. hoje, para alegria dos hindus, os ingleses s olham com repugnncia suas esposas e filhos. essa repulsa, verdade, s superada pela profunda averso sentida pelos indgenas vista das inglesas decotadas. duas teras partes da ndia acreditam ingenuamente no boato difundido pelos brmanes, segundo o qual os brancos tm essa cor pela lepra. mas no esse o caso; trata-se do prestgio. esse monstro nasceu depois da tragdia de 1857. varrendo com suas reformas todas as pegadas da ndia inglesa comercial a anglo-ndia oficial cavou entre ela e os indgenas um abismo to fundo que os milnios no chegaro a preench-lo. a despeito do ameaador espectro do prestgio britnico o abismo se faz cada dia mais amplo e a hora chegar em que engolir uma das raas, seja a raa negra ou a branca. assim o prestgio no chega a ser outra coisa que uma medida de autodefesa. e agora posso voltar situao dos habitantes de kuimbatur em 1818. entre dois fogos, o prestgio dos senhores terrestres e o supersticioso espanto dos amos do inferno e sua vingana, os dravidianos viram-se esmagados debaixo dos cornos de

um atroz dilema. no transcorreu uma semana quando os saab ingleses, tendo deixado aos habitantes do povoado a doce esperana de que a tormenta pudesse se dissipar, regressaram ao metropolam, aos ps do nilguiri. e essa vez os ingleses deixaram ouvir o trovo da seguinte declarao; em trs dias chegariam os soldados da guarnio e outros agrimensores, e esse destacamento empreenderia a ascenso dos cumes sagrados das montanhas azuis. aps ouvir essa terrvel notcia vrios lavradores se condenaram Dcharna (morte pela fome) frente porta do saab, com a inteno de prosseguir essa greve at o dia em que os ingleses, mais compreensivos, prometessem renunciar a seu propsito. os munsifs tendo rasgado as vestes, gesto que no lhes requer muitos esforos, cortaram o cabelo de suas mulheres e as obrigaram como sinal de desdita social e dolo geral a arranhar os rostos at o sangue. naturalmente no devia alcanar seno as mulheres. os brmanes liam conjuraes e mantrans em voz alta, enviavam mentalmente os ingleses, com suas intenes blasfematrias, ao narak, a todos os diabos. durante trs dias metropolam retumbou com os gritos e lamentos. em vo: o que foi feito, est feito! aps ter equipado um grupo de valentes, escolhidos entre os membros da company, os novos cristvos colombo resolveram pr-se a caminho, sem guia algum. o povoado ficou vazio como depois de um terremoto; os indgenas fugiram aterrorizados e os agrimensores no tiveram outra sada que procurar eles mesmos o caminho da cascata. extraviaram-se e regressaram. puderam apoderar-se de dois malabarenses enfraquecidos e declararam que estavam prisioneiros: conduzam-nos e lhes daremos ouro; neguem-se e iro de qualquer maneira, pois os arrastaremos pela fora. e depois, em lugar de ouro tero o crcere. naqueles abenoados dias em que reinavam os bondosos pais da company a palavra crcere em madras e em outras presidncias era sinnimo de tortura. esse gnero de suplcio tem lugar ainda hoje, estamos cientes de provas recentes, mas naquela poca a denncia do menor escriba pertencente raa superior era suficiente para condenar o indgena tortura. a ameaa produziu o efeito desejado. os desditados malabares, com a cabea baixa guiaram os europeus at Kolakambe. os fatos que logo aconteceram no deixam de ser estranhos, se que so verdadeiros: porm dessa verdade no se pode duvidar, pelo informe oficial dos dois agrimensores ingleses. antes de os ingleses chegarem cascata, numa rampa, um tigre pulou e arrebatou um dos malabares apesar de sua extrema e pouco apetitosa magreza, e isso ocorreu antes que um dos caadores tivesse tempo de perceber o animal. os gritos do infeliz despertaram a ateno demasiado tarde: ou as balas no fizeram alvo, ou mataram a vtima, que desapareceu com o raptor como se os dois se tivessem metido debaixo da terra, lemos no informe. o segundo indgena, que havia chegado outra virao da rpida corrente, a ribeira proibida, a uma milha mais ou menos da cascata, morreu bruscamente, sem qualquer causa aparente. sucedeu no mesmo lugar onde os agrimensores tinham passado a noite de sua primeira ascenso. evidentemente o terror o matou. curioso ler a opinio de uma testemunha a respeito dessa terrvel coincidncia. no correio de madras, de 3 de novembro de 1818, um dos funcionrios, kindersley, escrevia: aps se ter assegurado da morte real do negro, nossos soldados, mais ainda os supersticiosos irlandeses, ficaram extremamente perturbados. mas whish (nome do segundo agrimensor) e eu compreendemos logo que recuar era desonrar-se inutilmente, converter-se em zombaria perptua de nossos colegas e fechar durante sculos a entrada das montanhas do nilguiri e as suas maravilhas (se existiram verdadeiramente) a outros ingleses. resolvemos prosseguir nosso caminho sem guias, tanto mais quanto os malabarenses e seus compatriotas viventes no conheciam melhor que ns o caminho alm da cascata. vem ento a descrio detalhada de sua difcil ascenso s montanhas, da escalada dos penhascos completamente perpendiculares, at o momento no qual se avistam acima das nuvens, quer dizer, alm do limite de eterna bruma, e divisaram a seus ps as movedias ondas azuis. como relatarei depois de tudo que acharam os ingleses nessas alturas, e j que d. sullivan, coletor do distrito de kuimbatur, relata os fatos em cartas ao governo, que o enviou depois para realizar

um inqurito formal, contentar-me-ei, para evitar qualquer repetio, com o relato superficial e breve das aventuras principais dos dois agrimensores. os ingleses subiram mais alto, longe das fronteiras das nuvens. e ento encontraram uma enorme boa constrictor. um deles, na semi-obscuridade, caiu bruscamente sobre um objeto brando e viscoso. esse objeto moveu-se, ergueu-se com muito barulho de folhas amassadas e se mostrou tal qual era realmente, interlocutor bastante desagradvel. a boa se enrolou maneira de saudao, em volta de um dos supersticiosos irlandeses e antes de receber algumas balas na garganta aberta em par, conseguiu apertar patrick em seu frio abrao com tanta fora que o desditoso morreu em poucos minutos. aps ter matado esse monstro, no sem dificuldade, e tendo medido a pele do animal, viram que a serpente tinha comprimento de vinte e seis ps. logo foi preciso cavar um tmulo para o pobre irlands; essa tarefa foi tanto mais difcil porque os ingleses s tiveram tempo de arrancar o corpo aos que se amontoavam, acudindo de todas as partes. ainda hoje se mostra o tmulo; encontra-se embaixo de um penhasco, algo mais acima que kunur. os primeiros colonos britnicos se cotizaram e enfeitaram o lugar com um monumento conveniente, em memria ao primeiro pioneiro que achou a morte na expedio montanha. nada perpetua a lembrana dos negros, se bem que eram por direito as primeiras vtimas da ascenso e os primeiros pioneiros ainda que involuntrios. aps ter perdido dois pees negros e um homem branco os ingleses continuaram escalando e encontraram uma manada de elefantes, que estavam empenhados numa batalha acirrada. felizmente os animais no perceberam a chegada dos estrangeiros, por isso no os molestaram. em troca, sua apario produziu a imediata fuga do destacamento espantado. quando o grupo britnico quis reunir-se outra vez no se encontrou mais que pequenos grupos de dois ou trs homens. vagaram assim a noite toda no bosque, sete soldados regressaram a diferentes horas do dia seguinte aldeia abandonada na vspera com muita presuno. trs europeus desapareceram sem deixar pegada alguma. quando ficaram ss Kindersley e whish vagaram pelas vertentes da montanha durante vrios dias subindo at os cumes ou baixando outra vez para desfiladeiros. tiveram de se alimentar com cogumelos e bagas que encontraram abundantemente. todas as noites os rugidos dos tigres e o barrido dos elefantes obrigaram a buscar refgio em rvores altas e passar a noite acordados, trocando-se na guarda e esperando a morte de um momento para outro. os devas e outros habitantes misteriosos, guardies das cavernas encantadas, manifestaram-se assim desde o comeo. os desafortunados exploradores quiseram mais de uma vez descer ao povoado; mas a despeito de todos os seus esforos e ainda que descessem em linha reta, encontravam no caminho tais obstculos que eram obrigados a mudar de rumo. e quando queriam rodear uma elevao ou um penhasco, caam numa caverna sem sada. seus instrumentos e todas as suas armas, salvo o fuzil e as pistolas que levavam, tinham ficado em mos dos soldados. assim era impossvel orientar-se, achar o caminho de regresso; s restava subir, subir, sempre mais alto. se lembrarmos que, pelo lado de kuimbatur, o nilguiri se levanta em degraus de rochas perpendiculares at 5000 e 7000 ps por cima do vale de uttakamand, e que muitos penhascos formam terrveis cumes, e mais, que os agrimensores haviam escolhido precisamente esse caminho, fcil imaginar todas as dificuldades que tiveram de superar. e, no entanto subiam pela montanha; a natureza parecia cortar-lhes todas as vias de retorno. muitas vezes tiveram de trepar numa rvore para saltar acima dos despenhadeiros para a rocha seguinte. finalmente, no nono dia de sua viagem e depois de perderem toda a esperana de achar nessas montanhas outra coisa que a morte, resolveram intentar outra vez a descida, seguindo um caminho reto e evitando na medida do possvel qualquer atalho que os afastasse da linha reta. queriam antes de tudo chegar ao cume que tinham pela frente, com a finalidade de examinar as imediaes e reconhecer melhor o caminho que teriam de seguir. encontravam-se ento numa clareira, no longe de uma colina bastante elevada e que lhes pareceu de leve pendente, com pequenas rochas no cume. para chegar colina perecia-lhes que um simples percurso era suficiente,

pois no viam qualquer obstculo exterior. para surpresa dos agrimensores a subida levou duas horas; esgotaram as ltimas foras. coberto de espesso pasto que se chama aqui de acetinado, o terreno da ladeira fcil mostrou-se to escorregadio que os ingleses desde os primeiros passos tiveram que subir a quatro patas, aferrando-se ao pasto e s moitas com a finalidade de no rolar. subir por semelhantes colinas parecia-lhes escalar uma montanha de vidro. finalmente chegaram ao cume depois de esforos incrveis e caram esgotados aguardando o pior, como kindersley escreveu. era a clebre colina dos sepulcros, conhecida hoje em toda a comarca de uttakamand; chama-se cairns na regio. esse nome drudico convm melhor ao carter desses monumentos que pertencem a uma antiguidade desconhecida, mas muito longnqua e que os agrimensores tomaram por rochas. numerosas elevaes da cadeia do nilguiri esto tambm lotadas de semelhantes tmulos. vo discutir sobre esse particular; sua origem e sua histria se perdem numa bruma to impenetrvel como a dos povos que moram nas misteriosas montanhas. contudo, enquanto nossos heris descansavam falaremos desses monumentos; o relato ser breve. quando, vinte anos aps esses sucessos, se realizaram as primeiras escavaes os europeus encontraram em cada sepultura uma grande quantidade de utenslios de ferro, bronze e barro, esttuas de forma extraordinria e ornamentos metlicos, obras rsticas. essas estatuetas evidentemente dolos -, esses enfeites, esses instrumentos, no lembravam em absoluto os objetos anlogos empregados noutros lugares da ndia e outras naes. as obras de argila tm aparncia particularmente bela; parecia ver-se nelas os prottipos dos rpteis (descritos por brose) que se moviam pelo caos no tempo da criao do mundo. no que concerne s prprias tumbas, quanto ao que se conhece da poca em que foram construdas, dos obreiros que as fizeram e da raa cujo ltimo refgio fora na terra, nada se pode dizer; impossvel supor algo, pois todas as hipteses so imediatamente destrudas por este ou aquele argumento irrefutvel. o que significam essas estranhas formas geomtricas feitas com pedra, osso ou argila, o que querem dizer dodecaedros, esses tringulos, esses pentgonos, hexgonos e octgonos muito regulares e finalmente essas imagens de lama com cabea de carneiro ou de asno e corpo de pssaros? os sepulcros, isto , os muros que rodeiam as tumbas, tm sempre uma forma oval e sua altura varia entre um metro e meio e dois metros, construdos com enormes pedras no gravadas e sem cimento algum. o muro rodeia sempre uma tumba cuja profundidade de quatro a seis metros, coberta por uma abbada bastante bem desenhada e construda em pantees, pois os sculos os tm coberto de terra e pedras. a forma dos sarcfagos, semelhante exteriormente dos sepulcros muito antigos noutras partes do mundo, no nos revela, porm, coisa alguma que possa esclarecer sua origem. monumentos semelhantes encontram-se na bretanha, noutras regies da frana, no pas de gales e na inglaterra, assim como nas montanhas do cucaso. naturalmente os sbios ingleses em suas explicaes no puderam deixar de mencionar os partos e os citas que evidentemente deviam possuir a ddiva de ubiqidade. mas os restos arqueolgicos que ali encontramos no tm absolutamente algo de cita; ademais, at agora no se encontraram esqueletos nem objetos semelhantes a armas. tambm nenhuma inscrio, ainda que se exumassem pranchas de pedra mostrando indefinidas pegadas, nas esquinas, que lembravam os hierglifos dos obeliscos de palenque e de outras runas mexicanas. entre as cinco tribos das montanhas do nilguiri e os seres pertencentes s cinco raas totalmente diferentes entre si ningum conseguiu dar a menor informao a respeito desses sepulcros que todo mundo desconhecia. os toddes a tribo mais antiga das cinco tambm nada sabem a respeito. esses sarcfagos no so nossos e no podemos dizer a quem pertencem. nossos pais e nossas primeiras geraes os acharam aqui, ningum os construiu em nossa poca. tal a invarivel resposta dos toddes aos arquelogos. se evocarmos a antiguidade que se atribuem os toddes podemos chegar concluso de que nessas tumbas enterravam os antepassados de ado e eva. os ritos fnebres diferem totalmente em cada uma das cinco tribos. os toddes incineram os seus mortos, com seus bfalos favoritos; os mulu-kurumbes

os enterram sob as guas; os errulares os amarram em cima das rvores. se os caadores extraviados se houvessem recobrado e examinado os arredores que se estendiam em torno deles por todos os lados, numa distncia de vrias dezenas de milhas, certamente se teriam adiantado minha descrio de um dos mais maravilhosos panoramas da ndia. pois se encontravam ento ignorando-o no cume mais elevado dessas montanhas, com excluso do pico de ioddabet, chamado pelos ingleses, no sei por qu, doddibet. custa imaginar e menos ainda descobrir os sentimentos que agitavam ento os dois filhos de albion, cujos olhos contemplavam esse grandioso quadro. de supor que nada semelhante ao entusiasmo de um artista ou de um membro do clube alpino achasse cabimento em seus corpos desfalecidos. tinham fome, estavam meio mortos de cansao e esse estado fsico domina sempre, em circunstncias parecidas, o elemento espiritual de nossa desditosa humanidade. se como hoje fazem amide seus descendentes, sessenta anos depois deles tivessem chegado l em cima a cavalo ou carruagem com molas, com uma dezena de cestos cheios de alimentos para um gostoso piquenique, teriam seguramente experimentado o xtase que sentimos ante o novo mundo que perece estender-se olhada dos homens naquelas alturas. mas naquela poca se assinalava uma hora crtica para toda a presidncia de madras, para os dois ingleses e tambm para ns; se os dois agrimensores tivessem morrido na montanha hoje no se salvariam, todos os anos, centenas de vidas, e nosso verdico relato no se teria escrito... como esse cume se acha extremamente ligado aos sucessos que exporei continuao peo vossa permisso para descrev-lo e expressar, na falta de uma descrio melhor, meu sentimento pessoal. difcil para quem subiu uma s vez na vida a colina dos sepulcros esquec-la logo, e quem escreve estas pginas realizou mais de uma vez essa faanha herclea; a ascenso da montanha por esse caminho escorregadio... assim, apresso-me a formular uma reserva e uma confisso; realizava sempre esse feito herico comodamente sentada numa liteira, por cima de doze cabeas dos cules sempre sedentos, prontos na ndia a arriscar a vida por um punhado de moedas de cobre. na ndia inglesa nada custa acostumar-se a tudo, at se converter em incorrigveis assassinos de nossos desditosos irmos inferiores, dos cules secos, da cor e da magreza do acaju. mas quando se trata das colinas dos sepulcros desejamos e exigimos circunstncias atenuantes, pois na verdade somos culpados frente nossa conscincia. toda magia do mundo, os encantos da natureza que aguardam o viajante no cume, pode paralisar qualquer precauo no s a respeito dos baos do prximo como do prprio. intentei representar-vos esse quadro. subi a esse cume, alcancei 9000 ps acima do nvel do mar. vede esse espao safirino numa circunferncia de quarenta milhas em volta do cimo, at o horizonte das ribeiras de malabar e contemplai; a vossos ps uma imensido que compreende duzentas milhas de largura e de longitude. assim olhamos direita, esquerda, ao sul, ao norte; ela ondulava como um oceano sem margens de elevaes vermelhas e azuis, cumes rochosos, agudos, dentados, arredondados, com formas estranhas e fantsticas; assim como um mar enfurecido onde a safira e a esmeralda se confundem na intensa irradiao do sol tropical, na hora de um enorme ciclone, quando toda a massa lqida est coberta de mastros de navios que soobram ou que naufragaram. assim como o oceano fantasma nos aparece em sonhos... olhai para o norte. o cume da serrania do nilguiri, elevando-se a 3500 ps acima dos planos montanhosos de maisur, lana-se no espao numa gigantesca ponte de quinze milhas de largura e quarenta e nove de comprimento, como surgindo do jellamulai piramidal dos ghats ocidentais e se atira a voar, s loucas, em grades de leves pendentes, com resplandecentes abismos em ambas as vertentes, at os redondos colados de maisur, que espumam em brumas de aveludado azul escuro. l, batendo com as agudas penhas de palkar, essa prodigiosa ponte cai brusca e perpendicularmente, exceto uma faixa montanhosa muito estreita que une uma serrania outra, esmia-se em pequenas rochas e se muda em uma chuva de pedras, que rugem e uivam em uma torrente cujas guas rolam raivosas, querendo alcanar um lmpido rio nascido nas poderosas cavernas da montanha. e contemplai agora o lado meridional da colina dos sepulcros. numa

extenso de cem milhas que encerra toda a zona sudoeste das montanhas azuis, sombrias florestas dormem na impoluta majestade de sua beleza inacessvel e virgem, junto aos infranqueveis lameiros de kuimbatur, cercados pelos montes de kchund de uma cor vermelho-tijolo. mais longe, esquerda, ao oriente desenroscando-se como uma serpente de pedra a crista do ghat se alongando entre duas fileiras de elevadas penhas, vulcnicas e escarpadas. coroados por bosques de abetos que o vento despenteia e torce em todos os sentidos esses imensos anfiteatros de espiralados cumes dentados oferecem vista, estranho espetculo. a fora vulcnica que os arrastou parecia querer dar luz algum prottipo rochoso do homem por vir; pois estas rochas tm forma humana. atravs da bruma que se agita transparente como a fumaa esses grandiosos desertos se movem correndo uns atrs dos outros formar-se a imagem de antigas penhas cobertas de secular musgo que pulam e cavalgam no espao. confundem-se, batem-se, adiantam-se e se destroam umas contra as outras e apressam-se, parecidas a escolares que desejam fugir dos estreitos desfiladeiros para viver nos vastos espaos e em liberdade... e em redor e muito alto, longe e embaixo, aos ps mesmo do turista que est na colina dos sepulcros, em primeiro plano estende-se e se ergue uma imagem muito distinta; serenidade, igual natureza, divina beatitude... em verdade temos aqui um primaveril idlio de virglio, rodeado pelos ameaadores quadros do inferno de dante. outeiros de esmeralda esmaltados com flores, ornamentando a clara face do vale montanhoso onde crescem as embalsamadas ervas e o alto e sedoso pasto. mas em lugar dos cordeiros de nevada brancura, dos pastorezinhos e pastorazinhas, um rebanho de enormes bfalos pretos como o alcatro, e longe a imvel esttua feita, ao parecer, de bronze; a atltica silhueta de um jovem tiralli (sacerdote) com comprida cabeleira encrespada... prevalece neste cume uma eterna primavera. as geladas noites de dezembro e janeiro no podem expuls-la, passado meio-dia. ali tudo frescor, tudo reverdece, tudo floresce exalando perfumes por todo o ano. e as montanhas azuis aparecem nesse cume com todo o encanto de um adolescente que at sorri, atravs de suas lgrimas, e ainda mais belo, talvez, na poca das chuvas que nas outras pocas do ano (14). [(14) na poca das chuvas, quando diluvianas tormentas se lanam contra o p das montanhas, s alguns pingos de chuva caem nas alturas, durante algumas horas do dia, e por intervalos (nota de blavatsky).] de outra maneira, nesses cumes tudo parece nascer como se viesse ao mundo pela primeira vez. a furiosa torrente da montanha ainda est no bero. brota de sua pedra nascente num fio dgua muito fino que logo escapa em gorjeante arroio de transparente fundo, no qual se acham os tomos que constituiro as formidveis rochas futuras. sob seu duro aspecto a natureza se mostra como o smbolo pleno da vida humana; pura e clara nos cumes, semelhante adolescncia e severa, atormentada mais abaixo, assim como a vida nas suas lutas fatais. mas sob o cu, como no vale, a flora prospera o ano todo, oferecendo as ris das cores da paleta mgica da ndia. para aquele que sobe das ribanceiras terrestres s montanhas azuis tudo parece extraordinrio, estranho, selvagem. ali o cule enfraquecido, da cor de acaju, se transforma num todde de elevada estatura, de plido rosto que, assim como uma apario do antigo mundo grego ou romano, com o perfil altaneiro, majestosamente arroupado numa toga de branco linho que ningum leva, em outros lugares da ndia, contempla o hindu com o condescendente desafio de um touro que olha pensativamente um sapo preto. l o gavio dos terrenos baixos, de patas amarelas, converte-se em poderosa guia dos montes; e as secas estpites e as bardanas queimadas os cactos dos campos de madras crescem em gigantescas ervas, em bosques inteiros de juncos, onde o elefante pode brincar audaciosamente no esconde-esconde, sem recear o olhar do homem. o rouxinol russo canta nessas alturas e o cuco pe ovos no ninho do main do sul, de bico amarelo, ao invs do ninho de sua amiga setentrional, a gralha tonta, que nesses bosques se transforma num corvo cruel e preto como a fuligem. os contrastes surgem por todos os lados, as anomalias aparecem em todos os lugares que se possa olhar. da deusa fronde da macieira silvestre surgem nas claras horas

do dia melodiosos sons, gorjeios, cantos dos pssaros desconhecidos nos vales da ndia; no entanto, nos sombrios bosques de pinheiro ressoam por momento os pressagos rugidos do tigre e do chitah e os mugidos do bfalo selvagem...muitas vezes o solene silncio que reina nos cumes quebrado por murmrios misteriosos e doces, estremecimentos e, bruscamente, por um grito rouco... logo tudo cala outra vez, desvanece-se nas embalsamadas ondas do puro ar dos cumes e por muito tempo renasce o silncio que nenhum rudo interrompe. naquelas horas de profundo apaziguamento o ouvido atento, amante da natureza, capaz de ouvir o latejar de seu robusto e poderoso pulso, percebendo sutilmente o movimento perptuo na manifestao muda da gostosa vida das mirades de formaes visveis e invisveis. quele que pode morar neles, custa esquecer os nilguiri azuis! naquele maravilhoso clima a me natureza, juntando suas foras disseminadas, concentra-se numa nica potncia que d nascimento a todos os prottipos de suas grandes criaes. parece alternar na sua produo, quer a das zonas setentrionais, quer a das zonas meridionais do globo terrestre. assim anima despertando atividade, mais tarde volta a dormir, cansada e preguiosa. v-a meio sonolenta na impoluta majestade de uma beleza cintilante de raios solares, embaladas pelas harmoniosas melodias de todos os reinos. encontra-se ativa e selvagem lembrando seu poderio graas s colossais floras de suas selvas tropicais e o rugido de suas feras gigantes. outro passo na zona oposta e a natureza cai novamente, parecendo esgotada por um esforo extremo e dorme deliciosamente nos tapetes das violetas do norte, de miostis e lrios... e nossa me, poderosa e grande, est deitada silenciosa e imvel, acariciada pelos frescos ventos e as tenras asas das borboletas e outros lepidpteros muito estranhos e de beleza encantadora. hoje o p desta colina est rodeado por trplice cerco de bosquezinhos de eucalipto. esses bosquezinhos devem sua existncia aos primeiros plantadores europeus (15). [(15) h quarenta anos, o general morgan com trs libras de sementes dessa rvore, enviadas da austrlia, lanou-as em todas as regies vazias e nos vales ao redor de uttakamand (nota de blavatsky).] aquele que no conhece o admirvel eucalyptus globulus, originrio da austrlia, cujo crescimento mais vigoroso em trs ou quatro anos que o de qualquer outra rvore em vinte anos, ignora o essencial encantamento dos jardins. sendo um incomparvel meio para purificar o ar de todos os miasmas, tais bosques tornam ainda mais saudvel o clima do nilguiri. todos os indgenas que se aturdem com as carcias demasiado montonas e ardentes da natureza hindu e tambm os representantes da europa na presidncia de madras s tem uma impacincia; a de buscar a sade e o repouso no seio mesmo desta natureza, nas montanhas azuis; e estas nunca enganam; ao sintetizar como um imenso ramo todos os climas, todas as flores, a zoologia e a ornitologia das cinco partes do mundo, o gnio dessas montanhas oferece seus tesouros, em nome de sua rainha, ao viajante fatigado que sobe as montanhas azuis, o nilguiri. as montanhas azuis representam o carto de visitas cheio de ttulos e mritos que a natureza, madrasta cruel do europeu na ndia oferece a esse pobre sofredor em sinal de plena reconciliao. a hora da conciliao chegou finalmente para nossos desditados heris. quebrantados e extenuados, sem foras, apenas podiam manter-se sobre os ps. kindersley, mais forte, tinha sofrido menos que whish. aps descansar um pouco deu a volta por cima; queria ver atravs do caos de bosques e de penhas o caminho mais fcil para descer, quando acreditou perceber a fumaa no longe de onde estava. kindersley se apressou a regressar ao amigo para anunciar essa boa notcia, quando de sbito se deteve, estupefato... sua frente estava whish, em p. meio virado de costas, plido como um morto e tremendo de febre. o brao estendido, whish assinalava com gesto convulsivo um lugar muito perto. seguindo a direo do dedo de kindersley viu a algumas centenas de ps primeiramente uma casa, depois homens. essa vista, que em outros momentos os alegraria, provocou neles no poderiam dizer o por qu indizvel terror. a

casa era estranha, de forma completamente desconhecida! no tinha janelas nem porta, era redonda como uma torre; rematava-a um telhado piramidal, embora terminasse em forma de abbada. quanto aos seres humanos os dois ingleses vacilaram, em princpio, consider-los homens. ambos se acharam instintivamente atrs de um mato cujos galhos afastaram e olharam com olhos desorbitados as estranhas silhuetas que se moviam em frente. kindersley fala de um bando de gigantes rodeados por vrios grupos de anes horrivelmente feios. esquecendo sua anterior temeridade e a forma como zombavam dos chicaris os ingleses estavam prontos a consider-los como gnios e gnomos dessas montanhas. mas no tardaram saber que viam ali os grandes toddes, os baddagues, seus vassalos e adoradores, e os pequenos servidores desses vassalos, os selvagens mais feios do mundo; os mulu-kurumbes. os ingleses no tinham mais cartuchos, haviam perdido uma de suas espingardas e se sentindo muito fracos para resistir a um ataque dos anes. prepararam-se, pois para fugir da colina, deixando-se deslizar pelo cho, como bolas, quando de repente notaram outro amigo que os surpreendia pelo flanco. macacos que tinham deslizado at os ingleses, sentados um pouco mais alto que eles, acima de uma rvore, abriram fogo com um projtil bastante desagradvel: lama. sua tagarelice e seus gritos de guerra no tardaram a chamar a ateno de um rebanho de enormes bfalos que pastavam nas proximidades. esses animais por sua vez comeavam a bramir, levantando a cabea em direo ao cume da colina. finalmente os prprios toddes puderam perceber nossos heris, pois aps alguns minutos apareceram repugnantes anes e se apoderaram dos dois ingleses quase mortos. kindersley, como ele mesmo descreve, desfaleceu por causa do fedor que exalavam esses monstruosos selvagens. para surpresa dos dois amigos os anes no os comeram nem sequer fizeram algum mal. passaram todo o tempo pulando e danando nossa frente e riam sem parar, diz kindersley. os gigantes, quer dizer, os toddes, comportavam-se totalmente como gentlemen (sic)! aps satisfazer sua curiosidade evidentemente natural pela presena, como ns soubemos mais tarde, dos primeiros homens brancos que haviam visto, os toddes os fizeram beber um excelente leite de bfalo, serviram-lhes queijos e cogumelos; em seguida os deitaram na casa piramidal onde estava escuro, mas o ar era seco e quente e onde dormiram com sono de pedra at o dia seguinte. os ingleses inteiraram-se mais tarde que os toddes haviam passado a noite toda em conselho solene. alguns anos depois os toddes contaram a mister sullivan o que tinham experimentado nessas memorveis horas (continuavam chamando sullivan, que tinha ganhado sua confiana (e seu amor, de seu irmo paterno (16), palavras que expressam sua venerao maior depois da depai). [(16) por razes que anunciarei mais adiante os toddes no reconheciam parente algum, salvo o pai, e ainda numa forma completamente nominal. o todde considera pai quem o adota (nota de blavatsky).] os toddes disseram-lhe que por muito tempo esperavam os homens que moram nas terras do sol poente. sullivan perguntou-lhes como haviam conseguido prever sua chegada. e os toddes deram a ele, sempre, esta resposta invarivel: os bfalos disseramnos isto , muito tempo atrs; eles sempre sabem de tudo. os ancies essa noite tinham decidido a sorte dos ingleses e virado assim uma outra pgina de sua prpria histria. na manh seguinte, ao perceber que os ingleses tinham dificuldade para andar os toddes deram ordens a seus vassalos; fabricar padiolas para que os baddagues pudessem transport-los. os ingleses viram essa manh que os toddes se despediam dos anes. depois e at o dia do nosso regresso ao nilguiri, no nos vimos mais e no os achamos em parte alguma, conta kindersley. mais tarde se soube, aps os relatos do missionrio metz, que no faltavam motivos para os toddes temerem, por seus hspedes, a presena hostil dos mulu-kurumbes: haviam-lhes ordenado regressar s suas cavernas dos bosques proibindo-lhes severamente olhar os homens brancos. essa proibio, estranha em verdade, explicou-o o missionrio pelo fato de que o olhar do kurumbe mata o homem que o teme e no est acostumado a ele. e como a

aterrorizada repulsa dos ingleses pelos anes tinha sido percebida pelos toddes desde a chegada dos caadores os gigantes proibiram logo aos kurumbes olhar os homens brancos. desditosos de alma grande! quem sabe quantas vezes, depois, os ancies se arrependeram de no ter abandonado aqueles homens ao mau olhado dos mulu-kurumbes! pois o destino do nilguiri dependia de seu regresso Madras e de seu informe. mas assim os bfalos tinham decidido... e eles sabem!. levados com lentido, suavemente, pelos baddagues, sobre padiolas, surpresos e naturalmente alegres por sua feliz e inesperada liberao os ingleses tiveram oportunidade de bem estudar desta vez o caminho e examinar melhor os lugares circundantes. ficaram atnitos ante a diversidade da flora que rene quase todas as famlias dos trpicos s dos climas setentrionais. os ingleses contemplavam velhos pinheiros gigantes, de cujos rudes troncos no se viam as razes cobertas por alos e cactos, as violetas cresciam aos ps das palmeiras e btulas de branca cortia, os estremecidos lamos trmulos refletiam-se nas calmas e mudas guas de uma lagoa, junto flor do loto, flor real do egito e da ndia. encontraram em seu caminho os frutos de todos os pases e bagas de toda a classe, das bananas s mas at as pinhas, morangos e framboeseiras. pas da abundncia, terra abenoada! as montanhas azuis so realmente uma das regies escolhidas pela natureza para as suas exibies universais! durante a descida, centenas de regatos no cessavam de gorjear em volta dos viajantes; a gua clara e s surgia das fendas das penhas, os vapores levantavamse dos mananciais minerais e de todas as coisas emanava um frescor que fazia muito os ingleses haviam esquecido na trrida ndia. na primeira noite dessa viajem uma aventura bastante cmica ocorreu a nossos heris. os baddagues, aps breve deliberao, se apoderaram bruscamente dos ingleses, despiram-nos completamente e apesar de sua desesperada resistncia submergiram-nos na morna gua mineral de uma lagoa e lhes lavaram as chagas e outras feridas. logo os sustentando, um aps outro, nos braos cruzados por cima da gua, justo onde o clido vapor se desprendia, os baddagues entoaram um canto semelhante a uma conjurao, acompanhando-a com caretas e gritos selvagens, como kindersley escreve: que o momento chegou no qual acreditamos seriamente que nos sacrificariam aos deuses dos bosques. os ingleses erraram; mas s puderam se convencer da injustia de suas suspeitas na manh seguinte. aps esfregar-lhes os ps enfermos com uma espcie de ungento preparado com argila branca e ervas sumarentas os baddagues cobriram com cobertores os dois caadores e dormiram literalmente por cima do vapor morno do manancial. quando acordaram no dia seguinte os ingleses sentiam extraordinrio bem-estar em todo o corpo e especialmente muito mais fora nos msculos. todas as dores que sentiam nas pernas e juntas haviam desaparecido como por toque de magia. levantaram-se em boa sade, fortalecidos. verdadeiramente nos sentamos envergonhados frente a esses selvagens de quem havamos suspeitado injustamente, relata whish em carta a um amigo. tarde haviam chegado a um ponto to baixo na ladeira que sentiram novamente o calor; os ingleses observaram ento que tinham passado alm do nvel da bruma e se encontravam j na regio de kuimbatur. whish escreve que o seguinte fato os havia assombrado; ao subir a montanha, viam continuamente as pegadas de animais selvagens; ambos estavam em guarda e tomavam todas as precaues possveis para no cair nas garras de um tigre, dar de frente com um elefante ou uma manada de chiuahs; no entanto, ao regressar, o bosque parecia morto; os prprios pssaros deixavam ouvir seu canto na distncia, sem voar perto de ns... nem sequer uma lebre vermelha saltou no caminho. os baddagues os levavam seguindo um caminho quase invisvel, sinuoso, e parecia que nenhum obstculo o interromperia. no preciso momento do pr do sol, saram do bosque e no tardaram a encontrar os kuibatureses dos povoados disseminados ao p da montanha. mas os ingleses no puderam apresentar os seus guias. quando divisaram distncia os cules que regressavam em grupo de suas tarefas os

baddagues desapareceram instantaneamente, pulando de uma rocha para outra, igual a um bando de macacos atemorizados. os ingleses, milagrosamente salvos, ficaram ss de novo. agora se achavam no limite do bosque; todo o perigo tinha desaparecido. interrogaram os aldees e souberam que os baddagues acabavam de descer muito perto de malabar, em uindi, comarca diametralmente oposta a kuimbatur. uma cadeia de montanhas os separava da cascata de kolakambe e do povoado de onde tinham sado. os malabareses os acompanharam at a estrada e para o jantar os ingleses foram acolhidos pelo munsif (dana) hospitaleira do povo. na manh seguinte conseguiram cavalos e chegaram perto da noite e sem que outra aventura lhes acontecesse aldeia de onde haviam partido para atingir as encantadas montanhas, fazia exatamente doze dias. a notcia do feliz retorno de saabs blasfemos, que regressavam da moradia dos deuses, difundiu-se pela aldeia e arredores com a rapidez de um raio. os devas no haviam castigado os insolentes nem sequer tocado os ferings que acabavam de violar to audaciosamente os cus fechados por sculos ao resto do mundo... que significa isso? acaso eram os escolhidos de saddhu?... estas eram as palavras que se murmurava, multiplicadas, transmitidas de uma aldeia a outra at se converterem no mais extraordinrio sucesso do dia. os brmanes guardavam silncio. os ancies diziam: essa foi, desta vez, a vontade dos devas benditos; mas o que nos reserva o porvir? s os deuses o sabem. a emoo cruzou at bem longe as fronteiras do distrito. multides de dravidianos chegavam para prostrarse ante os ingleses e render-lhes as honrarias que os escolhidos dos deuses mereciam... os agrimensores ingleses triunfavam. o prestgio britnico soltou razes e se manteve firme por muitos anos, ao p das montanhas azuis...

capTulo ii at esta pgina e apesar dos dados que tomei dos relatos publicados por kindersley e whish o meu se parece a uma lenda. como meu desejo, e para que no se suspeite do menor exagero da minha parte prosseguirei minha descrio fundando-me nas palavras do administrador de kuimbatur do high honourable dr.sullivan, extradas dos informes que a east ndia company publicou nesse mesmo ano. assim nosso mito tomar um carter puramente oficial. esta obra no vai aparecer, pois como se poderia supor at agora, na forma de uma importante passagem tirada da histria um tanto fantstica dos caadores famintos e quase moribundos, presas da febre, do delrio provocado pelas privaes, ou como simples chamada histria inventada pelos supersticiosos dravidianos. meu livro h de constituir o reflexo necessrio dos informes de um funcionrio ingls, a exposio de suas estatsticas relacionadas s montanhas azuis. mister d. sullivan viveu no nilguiri e administrou durante muito tempo as cinco tribos. e a lembrana desse homem justo e bom perdurar por muito tempo; continua vivo nas colinas (1) imortalizadas por utta kamand, que havia construdo, com seus floridos jardins, seu belo lago. e seus livros acessveis a todos so o testemunho e confirmao de tudo quanto escrevo. o interesse de nossa narrao no pode seno aumentar, graas a este chamado s autnticas declaraes do antigo coletor de kuimbatur. [(1) seu filho conhecido em toda madras; h alguns anos tem o cargo de um dos quatro membros do conselho do governo geral de madras e vive quase sempre nas montanhas do nilguiri (nota de blavatsky).] verifiquei, nas jornadas de minha estada pessoal do nilguiri, a realidade

das observaes feitas acerca dos toddes e kurumbes por numerosos funcionrios e missionrios; comparei suas declaraes e teorias aos dados dos livros de mister sullivan e s autnticas palavras do general morgan e sua esposa, e respondo pela absoluta verdade de todos esses escritos... renovo este livro na hora em que os agrimensores regressavam Madras aps sua milagrosa salvao. os rumores relacionados nova terra descoberta e a seus habitantes, sua hospitalidade, e, sobretudo ajuda prestada pelos toddes aos heris ingleses cobravam tais propores em sua ressonncia universal que os pais despertaram e acreditaram que deviam atuar seriamente. enviou-se um correio de madras Kuimbatur. essa viagem dura hoje doze horas; realizou-se em doze dias. e deu-se a ordem seguinte ao governador do distrito em nome das autoridades supremas: mister john sullivan, coletor, tem o encargo de estudar a origem das estpidas fbulas divulgadas a respeito das montanhas azuis, verificar sua autenticidade e logo escrever um informe s autoridades. o coletor organizou imediatamente uma expedio; no como a expedio dos agrimensores, simples poro de homens congregados a toda a pressa, que se dispersavam rapidamente, mas um contingente que se equipou como se tivera em vista uma viagem aos oceanos polares. seguia-os um exrcito de sipaios, com vrias dezenas de elefantes de guerra, centenas de chitahs (2) de caa, de pneis. [(2) chitahs, animais domsticos para caar javali, o urso e o veado. todos os caadores da ndia os empregam (nota de blavatsky)] formavam a retaguarda duas dzias de mestres de caa, ingleses. levavam presentes; para os toddes, armas que nunca empregam, para os kurumbes, turbantes para os dias de festa, algo que no tinham usado uma s vez desde o dia de seu nascimento. nada faltava. levavam barracas e instrumentos: mdicos que traziam uma farmcia completa sequer tinham esquecido os bois que deviam matar todos os dias e os prisioneiros indgenas para trabalhar a terra onde fosse necessrio arriscar a vida, sacrificar existncias humanas para fazer saltar rochas ou limpar caminhos. os nicos que faltavam eram os guias autctones; porque os homens dessa profisso voltariam a fugir de todas as aldeias. a sorte dos malabarenses, na primeira expedio, estava ainda viva em todas as memrias. talvez tenham que tomar conta os indgenas, diziam os brmanes aterrorizados e at os ingleses e seu prestgio, acrescentavam os dravidianos apavorados pelo fato de os bara-saabs no sofrerem castigo. trs grandes rajahs enviaram embaixadas a maisur, vadian e malabar com instrues de suplicar ao coletor que deixasse a salvo a regio e suas numerosas povoaes nativas. a clera dos deuses, declaravam, contm-se algumas vezes, mas quando eclode se torna terrvel. a profanao das santas alturas do toddabet e mukkertabet podia ser seguida por terrveis desditas para o pas inteiro. sete sculos antes os reis de tcholli e de pandia, desejando apoderar-se das montanhas, haviam partido frente de dois exrcitos para guerrear com os devas, mas no tinham terminado de atravessar o limite da bruma quando foram esmagados com todas as suas tropas e bagagens por enormes rochas que caram sobre eles. esse dia viu tanto sangue derramado que as penhas se coloriram de prpura numa extenso de vrias milhas; mesmo a terra se tornou vermelha (3). [(3) efetivamente em algumas regies, de modo especial em uttakamand, as rochas e a prpria terra tm a cor do sangue, mas isto se deve presena de ferro e outros elementos. quando chove o cho das ruas das cidades adquire uma cor alaranjado-vermelho (nota de blavatsky).] o coletor mostrou inquebrantvel firmeza. sempre difcil fazer um ingls ceder. o britnico no acredita no poder dos deuses; pelo contrrio, todo objeto cuja posse se presta a controvrsias deve pertencer-lhe por direito divino. assim, em janeiro de 1819, a caravana de mister sullivan se ps a caminho e iniciou a ascenso da montanha pelo lado de denaigukot, quer dizer, deixando de lado a cascata portadora da morte. e aqui que os assombrados leitores podero ler no correio de madras de 30 de janeiro e 23 de fevereiro, que reproduziu os

informes do coletor. abrevio e resumo: ...comprazo-me em anunciar most honourable, East india company e s suas excelncias os senhores diretores que de acordo com ordens recebidas... (data etc) eu parti (todos os detalhes conhecidos)... para as montanhas. foi-me impossvel encontrar guias pois sob o pretexto de que essas elevaes so o domnio dos seus deuses os aborgines me declararam que preferiam o crcere e a morte a uma viagem alm das brumas. assim equipei um destacamento de europeus e sipaios e em 2 de janeiro de 1819 comeamos a ascenso na aldeia do nenaigukot, situada a duas milhas abaixo o p do pico do nilguiri... com a finalidade de conhecer o clima dessas montanhas, comprazo-me em incluir os quadros comparativos desde o primeiro at o ltimo dia da nossa subida. esses quadros revelam o seguinte fato: enquanto na presidncia de madras, entre 2 e 15 de janeiro, o termmetro marcava de 85o a 106o f o mercrio permanecia em 50o f a partir de 100 ps acima do nvel do mar, descendo medida que se aproximavam do cume e marcando s 32o f (0o ramur) altura de 8076 ps nas horas mais frias da meia-noite. hoje, muitos anos depois das primeiras expedies, quando as elevaes nilguirianas esto cobertas de plantaes europias, quando a cidade de uttakamand conta com 12000 habitantes permanentes, quando todas as coisas esto ordenadas, conhecidas, o clima dessa admirvel comarca constitui por si mesmo um fenmeno imprevisto, milagroso; a 300 milhas de madras, a 11o do equador, de janeiro a dezembro, evolui sempre, com uma diferena constante de 15o a 18o f nos meses mais frios e mais quentes do ano, desde a apario at o por do sol, em janeiro como em julho, a 1000 como a 8000 ps de altura. esto aqui as provas irrefutveis das primeiras observaes de mister sullivan: o termmetro fahrenheit marca a 2 de janeiro, a 1000 ps de altura; s 6 da manh, 57o; s 8, 61o; s 11, 62o; s 14, 68o; s 20, 44o. a 8700 ps de altura o mesmo termmetro farenheit assinala a 15 de janeiro. s 6 da manh, 45o; de meiodia s 14, 48o; s 20, 30o; s 2 da madrugada, a gua tinha uma leve capa de gelo. e isto em janeiro, a uns 9000 ps acima do nvel do mar. embaixo, no vale, a 23 de janeiro, o termmetro assinalava s 8 da manh, 83o; s 20, 97o; s 2 da madrugada, 98o. para que essas cifras no cansem demasiado o leitor dou fim a esta determinao do clima nilguiriano com um quadro comparativo da temperatura farenheit de uttakamand, capital atual das montanhas azuis, com as de londres, bombaim e madras; londres..............................50o f uttakamnd (7300 ps)......57o f bombaim............................81o f madras...............................85o f todo doente que fugia do escaldante calor de madras em sua pressa por chegar s bem-feitoras montanhas sarava quase sempre. nos dois primeiros anos que se seguiram fundao de uttakamand, seja de 1827 a 1829, entre os 3000 habitantes j estabelecidos na dita cidade e seus 1313 hspedes de passagem s ocorreram 2 mortes. nunca a taxa de mortalidade de uttakamand excedeu os %; e lemos nas observaes do comit sanitrio: o clima do nilguiri considera-se hoje, com muita razo, o mais saudvel da ndia. a perniciosa ao do clima tropical no persiste nessas alturas, exceto no caso de um dos rgos principais do enfermo estar irremediavelmente perdido. mister sullivan explica do seguinte modo a ignorncia secular na qual permaneciam sumidas as populaes nativas que viviam perto do nilguiri, a respeito dessa maravilhosa comarca: os montes nilguirianos estendiam-se entre 76o e 77o de longitude e entre 11o e 12o de latitude norte. a vertente setentrional continua sendo inacessvel, por causa das rochas quase perpendiculares. ao sul, at umas quarenta milhas do oceano, continuam cobertos ainda hoje de selvas impenetrveis porque impossvel atravess-las; ao oeste e ao leste esto rodeados e cercados por penhas de agudo cume e pelas passagens de khunda. no de estranhar, ento, que por sculos o nilguiri permanecesse completamente desconhecido do resto do mundo; alm disso, na

ndia, estava protegido contra qualquer invaso pela sua natureza totalmente excepcional, por muitos pontos de vista. juntas, as duas cadeias montanhosas, a do nilguiri e a de khunda, abrangem uma superfcie geogrfica de 268.494 milhas quadradas, cheias de rochas vulcnicas, vales, desfiladeiros e penhas. por isso, aps ter chegado ao nvel de 1000 ps o exrcito de mister sullivan viu-se obrigado a abandonar os elefantes, arrastar todas as bagagens, pois era necessrio subir cada vez mais alto escalando as rochas com a ajuda de cordas e pols. no primeiro dia trs ingleses pereceram, no segundo sete indgenas, entre os prisioneiros, foram mortos, kindersley e whish que acompanhavam sullivan, no puderam emprestar ajuda alguma. o caminho que to facilmente seguiam os baddagues, na descida, tinha desaparecido para sempre; toda a pegada parecia suprimida por encantamento; at o dia de hoje ningum conseguiu encontr-lo apesar de longos e minuciosos esforos. os baddagues fingiam no compreender qualquer pergunta; evidentemente os aborgines no tinham a inteno de revelar aos ingleses todos os seus segredos. depois de ter triunfado sobre o principal obstculo, as escarpadas penhas que rodeavam os montes do nilguiri, semelhantes muralha chinesa, aps ter perdido os sipaios e quinze prisioneiros a expedio no tardou a se ver recompensada por todos os seus desgostos diante das dificuldades que ainda a aguardavam. subindo passo a passo as pendentes, cavando degraus nas rochas ou voltando a descer, sustentados por cordas, centenas de ps nos fundos precipcios, os ingleses chegaram por fim, no sexto dia de sua viagem, a um altiplano. l, na pessoa do coletor, a gr-Bretanha declarou que as montanhas azuis eram territrio real. a bandeira inglesa foi erguida sobre uma alta penha, escreveu mister sullivan em tom alegre, e os deuses nilguirianos se converteram em sditos de sua majestade britnica. a partir desse momento os ingleses encontraram sinais de moradas humanas. achavam-se numa regio de majestosa e mgica beleza, mas aps algumas horas esse quadro se desvanece bruscamente, como por milagre; encontramo-nos novamente cercados pela nvoa. tendo se aproximado imperceptivelmente a nuvem nos rodeou por todos os lados apesar de havermos franqueado, fazia muito como acreditavam kindersley e whish o limite das brumas eternas. nessa poca a estao meteorolgica do observatrio de madras no pode descobrir a natureza desse fenmeno estranho e atribu-lo, como hoje, sua verdadeira causa (4). [(4) durante as chuvas da mono, trazidas, sobretudo pelo vento do sudoeste, a atmosfera est sempre mais ou menos carregada de densos vapores. a nvoa, que se forma ao comeo dos cumes, invade as rochas situadas ao p do nilguiri medida que o calor do dia deixa espao ao mido frescor da noite e os vapores descendem. preciso agregar a isto a evaporao constante dos lameiros dos bosques onde as rvores espessas permitem que o cho conserve a umidade e a lagoa e os lamaais no seguem, como nos vales. por isso as montanhas do nilguiri, cercadas por fileira de rochas que sobressaem, mantm durante grande parte do ano os vapores que depois se convertem em nvoa. por cima da bruma a atmosfera permanece sempre muito pura e transparente; a nvoa s se percebe de baixo, no se pode v-la estando no cume. no entanto os sbios de madras no tm podido resolver ainda o problema da cor azul muito viva da bruma, e das montanhas (nota de blavatsky)] mister sullivan em seu espanto s conseguiu comprovar o fenmeno e descrevlo como aconteceu, ento: durante uma hora, escreve, sentimo-nos muito tangivelmente submersos numa nvoa enorme, mo