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INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação. ISSN 2179-7498 Número 5 | dez. 2015 HESPERORNIS: o pássaro do oeste. Arte: Gazy Andraus

HESPERORNIS: o pássaro do oeste. - pucsp.br · HESPERORNIS: o pássaro do oeste ... Professora do Curso de Pós Graduação do Centro Universitário Ítalo Brasileiro- UNIITALO

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INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na

Educação.

ISSN 2179-7498

Número 5 | dez. 2015

HESPERORNIS: o pássaro do oeste.

Arte: Gazy Andraus

INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação.

ISSN 2179-7498

número 5 dez. 2015

============================================================= Publicação Oficial do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade

na Educação (INTERESPE) – Educação: Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa:

Interdisciplinaridade e Espiritualidade: PUC/SP.

=============================================================

INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação Publicação Oficial do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação (INTERESPE) - Educação: Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade: PUC/SP Site: http://www.pucsp.br/interespe/ © Copyright 2015

INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação / Grupo de

Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação (INTERESPE) – Educação: Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade – n. 5 (Dez.. 2015) – São Paulo: PUCSP, 2015.

Periodicidade anual, com possibilidade de números eventuais.

ISSN 2179-7498

.

As opiniões emitidas nas matérias desta Revista são de inteira responsabilidade dos seus autores. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, porém, deve-se citar a fonte.

Revista

INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação

Editor Científico Ruy Cezar do Espírito Santo ([email protected])

Editora Executiva Herminia Prado Godoy (hermí[email protected])

Parceria Ivani Catarina Arantes Fazenda (www.pucsp.br/gepi)

Conselho Editorial Denise Assis ([email protected]) Simone Andrioli Moura Andrade ([email protected]) Gazy Andraus ([email protected])

Pareceristas Ana Maria Ramos Sanchez Varella ([email protected]) Elenice Giosa ([email protected]) Ivnes Lira Garrido ([email protected]) Jaime Paulino ([email protected]) Monica Vieira de Araujo Franco ([email protected]) Rodrigo Mendes Rodrigues ([email protected]) Telma Maria Beneduzzi ([email protected]) Telma Teixeira Oliveira de Almeida ([email protected])

INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação

ISSN 2179-7498 Publicação oficial do INTERESPE- Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação – Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade: PUC/SP.

R. INTERESPE, São Paulo, número 5, Dez, 2015.

SUMÁRIO.

EDITORIAL

Por Herminia Prado Godoy..................................................................................

08-09

HQ.

HESPERORNIS: o pássaro do oeste – Gazy Andraus..................................

11-17

RETROSPECTIVA 2015.

Auto sustentabilidade: criando raízes, movimentos e transformação

na educação – Simone Andrade..................................................................

19-28

ARTIGOS.

1 Na espiritualidade a arte é uma das raízes da sustentabilidade: uma

investigação interdisciplinar. Maria Regina Cerávolo...............................

2 Diálogos e aproximações entre desenvolvimento humano nas

organizações e sustentabilidade numa perspectiva interdisciplinar. Ivnes Lira Garrido........................................................................................

3 A coragem da verdade (Michel Foucault). Denise de Assis..................

30-36

37-42

43-45

PESQUISAS.

Pareceres do Prof. Dr. Ruy Cezar do Espírito Santo em dissertações e

teses dos alunos do Programa de Educação/Currículo da PUCSP:

Tese 1: Leituras, narrativas e metáforas, um sentido para a

comunicação na educação? Ana Maria Ramos Sanches Varella................

Tese 2: A pesquisa da prática avaliativa interdisciplinar em um

programa de pós-graduação em desenvolvimento humano: formação,

políticas e práticas sociais da universidade de Taubaté. Odila Amélia

Veiga França................................................................................................

47-49

50-52

Tese 3: Prática educativa interdisciplinar: limites e Possibilidades na

reverberação de um sonho. Ivone Yared....................................................

53-55

ESPAÇO ABERTO.

1 Como estrelas na Terra, toda criança é especial. Mônica Vieira de

Araújo Franco..............................................................................................

2 Crescendo com aa lições da escola básica. Érika Regina Mozena.........

3 Linguagem poética. Ruy Cezar do Espírito Santo....................................

57-58

59-60

61-62

MOMENTO DE SABEDORIA

Mensagem do Papa Francisco divulgada pela Paróquia Imaculada

Conceição................................................................................................................

LANÇAMENTO DE LIVROS.

1 A grande transformação. Ruy Cezar do Espírito Santo..........................

2 Interdisciplinaridade na pesquisa científica. FAZENDA, TAVARES

e GODOY...............................................................................................................

64-64

66-66

67-67

DIRETRIZES E NORMAS DE SUBMISSÃO E REVISÃO TÉCNICA

PARA AUTORES E PARCERISTAS....................................

68-70 _._,_.___

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EDITORIAL.

Este ano tivemos a oportunidade de presenciar vários eventos que trataram sobre temas envolvendo a transformação do ser humano que entendemos como o despertar o ser espiritual ou essência que todos temos dentro de nós.

No encontro dos Grupos da PUC foi tratado o tema da sustentabilidade. Na ocasião o Prof. Ruy sugeriu como tema e nome ao evento de: Espiritualidade- a raiz da sustentabilidade.

No evento Laudato-Si fomos às pessoas levando a música por meio das crianças que nos enchem de alegria e nos contagiam com seus sonhos, esperanças, fé e certeza de que estão conseguindo participar para a construção de um mundo melhor para viverem.

O Professor Ruy lança seu livro tão esperado “A grande transformação”, que nos convida a uma reflexão profunda sobre nosso papel no mundo e o grande trabalho que temos pela frente de resgatarmos a nós mesmos. Sim estamos esquecidos de nós mesmos, de nossa essência e há muito tempo!

Convivemos com a falta de respeito dos alunos pelos professores, falta de comprometimento dos pais pelos filhos, falta de autoconhecimento, falta de sensibilidade, falta de espiritualidade. É tanta falta que nem sabemos o que temos e em abundância, como por exemplo: vontade, persistência, esperança, amor, fé, compaixão, dentre muitos outros valores escondidos, soterrados pelo medo, desconfiança e insegurança.

Como coordenador-líder do INTERESPE o Professor Ruy Cezar do Espírito Santo estabelece a linha central de pesquisa do Grupo que é: a interdisciplinaridade, a espiritualidade e o autoconhecimento e que pretende:

buscar em todos os campos existenciais as transformações que ocorrem ou devem ocorrer a partir da consciência da espiritualidade presente em cada Ser Humano e que transcende simplesmente uma crença em direção ao universo do ‘saber’. Sim, o que se transforma em nossas vidas a partir da consciência de nossa realidade espiritual? Proponho que as suas reflexões caminhem para um dos campos adiante relacionados e que deverão ser objeto de pesquisa a ser orientada e discutida pelo Grupo. São os seguintes campos: Sexualidade, Saúde, Alimentação, Relacionamento, Brincar, Tecnologia, Educação propriamente dita, Trabalho profissional, Propriedade, Religiosidade, Segurança e Medo, Política , Integração Racial e Meio Ambiente1.

Com este direcionamento cada um já pode desenvolver o seu projeto de pesquisa e colocá-los em prática o mais breve possível em forma de ações que resultem

1 Escrito em e-mail enviado ao grupo no dia 10/11/2015 pelo Prof. Dr. Ruy Cezar do Espírito Santo,

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resultados das transformações observadas em relação a espiritualidade do homem humano em quaisquer desses campos do saber.

Somos seres espirituais vivendo uma vida física e para que o planeta seja preservado com tudo o que ele tem de mais rico é necessário o resgate dos homens para que se olhem, percebam, sintam e ajam como seres espirituais e eternos.

Hoje estamos aqui, já estivemos e voltaremos!

Construamos então um mundo melhor nem que seja para nós mesmos no amanhã!

Paz e Luz!

Herminia Prado Godoy2

2 HERMINIA PRADO GODOY: Pesquisadora e Editora Executiva do Grupo de Estudos e Pesquisa

em Interdisciplinaridade- GEPI e do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade – INTERESPE do Programa de Pós Graduação: Educação/Currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP e Integrante do Grupo de Estudos de Hipnose – GEH da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. Professora do Curso de Pós Graduação do Centro Universitário Ítalo Brasileiro- UNIITALO. Psicóloga Clínica. Pós-doutora em Interdisciplinaridade pelo GEPI/PUCSP (2011). Doutora em Educação/Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP/2011). Mestra em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (Mackenzie/1999). PhD em Regression Therapy em 2000 pela AAPLE (USA). Graduada em Psicologia pela Universidade Paulista (UNIP/1978). Especialista pelo CRP/06 em Psicologia Clínica e Forense. CV: http://lattes.cnpq.br/1130515834292714; E-mail: [email protected]

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HQ

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HESPERORNIS: o pássaro do oeste. Gazy Andraus

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3 GAZY ANDRAUS: Professor da FIG-UNIMESP, Pesquisador do Núcleo de Pesquisa de História em

Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP), do INTERESPE(PUC), Doutor em Ciências da Comunicação da ECA-USP (melhor tese de 2006 pelo HQMIX em 2007), Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNESP, e autor de histórias em quadrinhos autorais adultas,

de temática fantástico-filosófica.; CV: http://lattes.cnpq.br/0256950026952623; Contato:

[email protected]

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Esta história em quadrinhos do gênero fantasia-filosófica foi elaborada em 2006 e terminada em final de 2007 e publicada na revista independente Camiño di Rato, n. 1, em 2008. Este tipo de HQ, eu produzo sob audição de músicas, e em geral, percebo que minha mente trabalha de forma ‘quântica’, pois as ideias vêm de forma bem intuitiva. Meu processo criativo consiste em criar a HQ diretamente à tinta, sendo que os textos vão aparecendo concomitantes aos desenhos, enquanto vai se dando a estruturação das páginas. A palavra ‘Hesperornis’, por exemplo, me veio à mente. Mas é claro, não me era totalmente desconhecida, pois em minha infância e juventude eu lia muito acerca dos animais pré-históricos, e esta era uma ave que existia ao final do reino dos dinossauros. Porém, apesar de me ser um nome conhecido, ela veio do nada em minha cabeça, sem estar em contexto algum, e me bastou para que principiasse a buscar sua imagem em algum livro de animais pré-históricos, para que eu fizesse a primeira página. Na verdade eu não costumo desenhar com base em referências, mas nesse caso eu usei apenas para lembrar-me como ela é, já sabendo que não voava. Geralmente eu desenho da intuição/memória mesmo, como quando fiz HQ como ‘Retorno Evolutivo’ (que saiu no meu fanzine Homo Eternus, no fanzine Matrix e recentemente colorizada pelo meu amigo Del Bianco na revista independente francesa La Bouche du Monde).

O interessante dessa HQ ‘Hesperornis’ é a mensagem que se configura de forma “abrupta” na última página, após a explicação com base em referência de que a ave mergulhava como os pinguins, para caçar... e na última página, minha intuição coloca um homem sentado de joelhos como se orasse. O texto completa a referência do que a ave fazia: a ave não voava, mas mergulhava...e na derradeira página da HQ, especifico e continuo: “...como o homem”. “...como o homem”. Esta informação de certa forma quebra o raciocínio do leitor, passando para um nível de identificação e inquirição existencial: ali o homem não mergulhava literalmente, mas sim, orava. Ou seja, uma metáfora de que o ser humano também “mergulhava”, mas de forma mental, com sua mente, aos abismos das questões mais complexas da filosofia, enquanto que a ave apenas mergulhava de forma material. Ao mesmo tempo, são bípedes as aves e o homem, numa nítida alusão à sua evolução coincidente na história natural, em que é um ser que também detém o potencial de destruição (ou de sustento).

Como se vê, esta simples história em quadrinhos de 5 páginas (que adicionei tons de cinza no programa photoshop), nem é tão simples assim, ainda mais porque pertencente ao gênero da narrativa ‘Fantástico-filosófica’, muito próximo do que seriam os hai-kais (mas nesse caso, as HQ-hai-kais, como essa), pois de informação ‘condensada’ e sequencialização ‘lacunosa’, como na gestalt (completam-se os espaços).

O meu processo criativo ao criar HQ como essas, trava um ‘dueto’ entre a intuição do hemisfério direito (a palavra ‘Hesperornis’ e mudança ‘abrupta’ da ave ao homem), e a organização linear racional do hemisfério esquerdo. Mas nesses casos, é nítido a mim que o hemisfério direito, o da criatividade e intuição, origina a ‘ideia’, e o esquerdo apenas ‘abre o caminho’ de forma inteligível.

Por isso que HQs desse teor parecem muito ‘diferentes’ das HQs pré-planejadas com roteiros antes escritos, já que ali o racional tem uma ativação bem grande, e até

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maior que o intuitivo, muitas vezes, como acontece na maioria das HQ padronizadas. E a mensagem nesta, que demonstra dois seres que buscam mergulhar em si mesmos e se ‘alimentarem’ do que lhes falta (a matéria a um, e a via espiritual a outro) sustenta todos os embates e destinos que regem o homem nessa vida!

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RETROSPECTIVA

2015

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AUTO SUSTENTABILIDADE: criando raízes, movimentos e

transformação na educação. Simone Andrade4

Neste ano de 2015 destaco alguns eventos que nos possibilitaram refletir e vivenciar importantes valores embasados na espiritualidade a partir da educação sustentável e o que trago para este texto são relatos e reflexões oriundas destes eventos. O primeiro foi o IV Seminário Web Currículo e XII Encontro de Pesquisadores em Currículo: Contexto, Aprendizado e Conhecimento e o segundo foi a ‘Raiz da Sustentabilidade’, ambos ocorreram na PUC-SP.

IV SEMINÁRIO WEB CURRÍCULO E XII ENCONTRO DE PESQUISADORES EM CURRÍCULO: contexto, aprendizado e conhecimento.

O encontro ocorreu entre 21 a 23 de Setembro e foi promovido pelo programa de Pós Graduação em Educação: Currículo da PUC – SP em comemoração a 40 anos do programa.

Ao chegar a PUC no dia da abertura do Encontro deparei-me com lindas vozes infantis irradiando alegria e entusiasmo e ao me aproximar, percebi que se tratava do Coral de crianças da instituição LBV. Agradecimento especial ao professor Arnoldo de Hoyos e Maria Sueli Periotto que nos proporcionaram esse momento.

Celebravam o início da primavera ao cantar hino SOS TERRA (de Nilton Duarte):

S.O.S. Terra

Letra e Música: Nilton Duarte

Interpretação: Coral E Grupo de Instrumentistas Infanto juvenis Boa Vontade

4 SIMONE MOURA ANDRIOLI DE CASTRO ANDRADE: Possui graduação em Psicologia pela

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1990) e mestrado em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2010). Atualmente é doutoranda do programa de Educação/ Currículo, na área de Interdisciplinaridade, pesquisadora do Centro de difusão e estudos da Consciência, e pesquisadora dos grupos Gepi ( grupo de estudos e pesquisa em Interdisciplinaridade pela Puc-SP ) e Interespe (Grupo de Estudos da Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação Puc/ SP) , psicólogo autônomo - consultório particular e professora convidada do Centro Universitário Ítalo Brasileiro. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia junguiana CV: http://lattes.cnpq.br/0618029679833651 Contato: [email protected]

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Salve o Planeta,

Você que tem poder ( Refrão)

Salvemos a Mãe Terra,

Não há tempo a perder.

Salve a água, salve o ar,

Salve as matas, os animais.

Dê a eles uma chance

De viver em Paz.

Chance de recomeçar

Novo Mundo, novo Lar,

Sem maldade,

Sem dor.

Mundo sim

só de Amor.

Refrão

Salve a Mãe Terra!

Este momento além de celebrar o início da primavera, marcou a mobilização para o programa de aceleração da Sustentabilidade (PAS), ação que foi desenvolvida por vários grupos de estudo e pesquisa da PUC/SP, como por exemplo, o Núcleo de Estudos do Futuro (NEF), liderado pelo Prof. Hoyos e o grupo de estudo e pesquisa em interdisciplinaridade (GEPI), liderado pela Professora Ivani Fazenda, entre outros.

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Ao som de doces vozes angelicais fomos despertados para refletir sobre uma educação Sustentável: qual é a nossa responsabilidade enquanto educadores no planeta?

Ao mesmo tempo em que as crianças cantaram pelos corredores da PUC, foram proferidas belas palavras por Antonio Dias Figueiredo da Universidade de Coimbra no TUCA. Ele falou sobre a necessidade de redescobrir a Educação pelo desenvolvimento de várias dimensões humanas: capacidade de autor-regulação (impulsos, distrações, emoções, ansiedade, stress, disciplina), empatia, persistência, curiosidade, autoestima, autoconfiança, entre outras. E ainda acrescentou o questionamento do que é ensinar, apresentando a reflexão de Paulo Freire, de que ensinar é criar cidadãos autônomos, capazes de assumir individual e coletivamente seus destinos.

Penso que esse é o tom para esse hino possa ser verdadeiramente ouvido na educação e reverberar em um movimento de desenvolvimento de seres humanos autônomos. Talvez desta forma possamos juntos encontrar formas de salvar o planeta, ajudando resgatar a nossa própria humanidade e auto sustentabilidade.

Para que esse processo ocorra é necessário como nos aponta o palestrante a refletir criticamente, pois caso contrário, o futuro será igual ao passado. Concluo que é preciso descontruir, como bem foi colocado na palestra, desapegar para se chegar ao novo e transformar os contextos.

O palestrante finalizou sua palestra colocando que uma sociedade muito tecnológica necessita de compensações ao nível dos valores e afetividade. A tecnologia pode ajudar no equilíbrio na educação, mas precisa contemplar a autonomia como base na educação.

Finalizo este dia com a palavra gratidão que nos conecta com a nossa espiritualidade e agradeço ao presente compartilhado com colegas do nosso grupo

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GEPI: lançamento do Livro Interdisciplinaridade na pesquisa Científica, das queridas Ivani Catarina Arantes Fazenda, Dirce Encarnacion Tavares e Hermínia Prado Godoy, com um conteúdo que muito embasará nossas pesquisas.

No segundo dia do Evento, a palavra que mais me marcou foi parceria. Tive a oportunidade de vivenciá-la no relato de prática e em oficina apresentada no encontro. No relato de prática, junto com o colega de doutorado, Jerlei Pereira desenvolvemos algumas práticas pedagógicas em sala de aula que foram relatadas no encontro:

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Esse relato foi muito rico, pois nos proporcionou refletir sobre a nossa prática, vivenciar a interdisciplinaridade, bem como, a partir do nosso encantamento e entusiasmo, ‘contagiamos’ outros educadores a trabalhar com a criatividade, dimensão simbólica e o lúdico na educação.

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Na sequência, continuei a vivenciar a parceria com Fátima Sardinha, Ana Maria Tomazzoni na oficina: Vivência interdisciplinar do cuidar e nutrir com consciência.

Nesta oficina trabalhamos a necessidade enquanto educadores de nos conscientizar do autocuidado em todos os aspectos: físico, mental, emocional, energético e espiritual, vivenciamos o cuidado a partir da nutrição o que proporcionou despertar reflexões importantes em relação ao autoconhecimento.

Sentimos que a mesma alegria, beleza e amor que se fizeram presentes na criação da oficina foram refletidos na atividade.

.

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No dia seguinte, destaco a fala que foi trazida pela Professora Ana Maria Saul na Mesa redonda: Currículo e participação em distintos contextos de formação e aprendizagem. Ela nos relembrou partir da sua própria vivência com Paulo Freire, importantes categorias que foram vivenciadas por ele nos contextos de aprendizagem e formação: diálogo, escuta atenta, respeito e espera.

Penso que essas categorias que também são imprescindíveis na interdisciplinaridade contemplam as ‘notas musicais’ que harmonizam o nosso hino em nossas práticas pedagógicas.

No dia 8/10/ 2015 foi realizado um evento organizado pelo Interespe, Gepi e Núcleo de Estudos do Futuro, grupos de Estudo e Pesquisa da PUC/ SP denominado ‘Raiz da Sustentabilidade’ cujo tema foi a educação sustentável. Esta temática que incluiu as dimensões epistemológicas, axiológicas e ontológicas suscitou muitas reflexões a partir das falas de seus líderes (Prof. Ruy Cesar do Espírito Santo, Prof. Ivani C.A. Fazenda e Prof. Arnold Hoyos).

O que destaco para este texto são reflexões sobre a dimensão ontológica que demandam, assim como no relato anterior, movimentos e ações para soluções em relação as crises existenciais e psicológicas que estão sendo observadas na educação. Muitos educadores e alunos apresentam sintomas psicológicos gerados por conflitos e inúmeros desajustes encontrados neste cenário. O planeta passa por inúmeros desajustes de diversas ordens.

Observar a maneira como encaramos os problemas, como sentimos, pensamos e agimos diante de momentos difíceis pode ser um caminho bastante esclarecedor que pode fornecer respostas e soluções criativas para a chamada ‘crise’. Em alguns momentos, podemos sentir que estamos ‘perdidos’, sem rumo ou direção. É uma sensação de como perdêssemos o nosso ‘chão’, a nossa base.

Muitas vezes quando enfrentamos situações na vida reagimos de maneiras diferentes. Podemos utilizar mecanismos de defesa adequados ou não. Podemos tentar negar uma situação de forma consciente ou inconscientemente. Em muitas situações acreditamos que não temos recursos para lidar com a mesma, porque

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somos tomados pela emoção. Nestes momentos que chamamos de crise, nada como distanciar-se emocionalmente para encontrar uma solução plausível.

Nestes momentos, usando a nossa criatividade, podemos criar movimentos para transformar as dificuldades em oportunidades de aprendizado e/ ou desenvolvimento. O primeiro passo para iniciar esse movimento de transformação é o reconhecimento das nossas dificuldades, ou seja, das nossos aspectos mais sombrios.

A partir do momento deste reconhecimento podemos elaborar essas questões para podermos transformá-las e nos recolocarmos na direção a ser seguida que é a do nosso processo de autoconhecimento.

Penso que esse um movimento em direção a nossa auto sustentabilidade: adentrar conscientemente em direção ao processo de autoconhecimento, ou seja, individuar-se, que segundo o conceito de individuação, criado pelo psiquiatra Carl Gustav Jung e é um dos conceitos centrais da sua psicologia analítica. A individuação, conforme descrita por Jung (2002), é um processo que permite o ser humano evoluir de um estado infantil de identificação para um estado de maior diferenciação, o que implica uma ampliação da consciência, possibilitando o ser alcançar o máximo de sua individualidade.

Neste contexto, o ser humano transforma-se constantemente e é capaz de criar soluções criativas inclusive em relação à educação sustentável. Abaixo podemos refletir sobre os ‘momentos de transformação’ elaborados pelo Prof. Ruy Cesar do Espírito Santo, que nos iluminam para que possamos encontrar caminhos de transformação na educação.

São vários os momentos de transformação que estão simbolizados abaixo que Prof. Ruy Cesar do Espírito Santo nos aponta que podem ser desenvolvidos neste processo para que haja maior consciência em várias dimensões ontológicas:

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Dessa forma, a educação pode apontar caminhos com chances de amadure/cimento e crescimento. Nesses dois eventos pudermos perceber e vivenciar valores espirituais que foram: gratidão, parceria, amor, beleza e alegria e que podem nos inspirar para movimentos e transformações.

Às vezes é necessário ‘parar’, refletir e aceitar: mudar a percepção: O que essa situação está pedindo para eu transformar? Algumas práticas, tais como, respiração, meditação, vivência simbólica, recursos artísticos/simbólicos e florais, entre outros, podem ajudar auxiliar no equilíbrio físico, mental, emocional e espiritual.

Portanto, a crise pode gerar sentimento de vazio existencial, mas se conseguirmos amadurecer com a mesma, possivelmente haverá um crescimento em vários níveis. A crise talvez esteja ‘solicitando’ algo que precisa movimentar e/ou mudar, seria, portanto – OPORTUNIDADE DE DESENVOLVIMENTO!

É preciso desenvolvermos a coragem de sairmos das ‘nossas bolhas mentais’ e vivenciarmos ou mudarmos nossas percepções para enfrentarmos nossos aspectos sombrios.

Para podermos despertar o nosso poder transformador, finalizo com uma vivência simbólica de conexão com o Self.

‘ENRAIZAR-SE’

Fique de pé, respire sinta seu corpo, faça movimentos para soltar mãos, pés, pernas, braços, vá soltando todo o corpo.

Respire profundamente até perceber que tudo está se acalmando em você, seu corpo, sua musculatura, a mente, as emoções, os batimentos cardíacos...aos

poucos vai percebendo que está mais tranquilo no aqui e agora. Imagine um lugar na natureza e nesse lugar uma árvore te chama a sua atenção . É

a árvore da vida, onde passado, presente e futuro estão conectados. Você se próxima dela e percebe que são velhos conhecidos.

Você observa como estão as raízes, tronco, galhos, copa, se tem frutos ou não e pode até sentir vontade de tocá-la, ouça como se vocês pudessem se comunicar.

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Se ela pudesse falar algo, o que ela falaria? E se ela pudesse te pedir algo, o que pediria?

É provável que esta árvore já tenha passado por muitas intempéries, ventos, tempestades, dias de verão, dias de inverno, mas perceba que árvore manteve-se

firme e conseguiu se desenvolver.

Suas raízes a ajudaram a se fortalecer e a sustenta-la no transcorrer do tempo. Respirando junto com esta árvore, Sinta esta sensação imensamente fortificante e

gratificante, receba a energia e o equilíbrio da natureza para que você também possa sentir-se conectado e sustentado nos momentos de transformação. Perceba

que você e ela fazem parte da mesma natureza. Com esta consciência, volte para o momento presente plenamente vitalizado.

REFERÊNCIA. JUNG, C. G. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

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ARTIGOS

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1 NA ESPIRITUALIDADE A ARTE É UMA DAS RAÍZES DA

SUSTENTABILIDADE: uma investigação interdisciplinar.

Maria Regina Cerávolo5

RESUMO: O propósito deste ensaio é iniciar a elaboração do percurso do meu doutoramento. Minha tese baseia-se em construir um olhar para outras possibilidades de apreender e produzir uma obra artística. Falo da experiência de olhar e perceber, as várias camadas internas, que uma obra apresenta além dos conceitos pragmáticos e herméticos, necessários, que dominam o ambiente artístico atualmente. O artista não precisa ser rotulado e colocado em categorias para expressar seus sentimentos e suas conexões com o universo.

Palavras-chave: espiritualidade, arte, sustentabilidade.

Minha dissertação de mestrado abordou o conceito-chave de representação artística apoiada em alguns períodos da história da arte e deslocando a grade de estudo para a Semiótica e para os estudos neodarwinistas da cultura. Analisei o processo evolutivo da natureza morta, assim como o das obras que produzi, ao longo de quinze anos de trabalho. Busquei redimensionar a relação entre o artista, a obra e o ambiente, que interagem em tempo real, acrescentando as teorias da comunicação, território pouco explorado para as artes. O tema foi: “Natureza morta: um processo co-evolutivo de comunicação entre corpo e ambiente”.

Na busca de conhecer mais o processo artístico congreguei disciplinas que falavam da forma como a representação se dava, no cérebro e no aparelho visual, buscando um entendimento no corpo e na mente. Apresentei caminhos apoiados nas ciências e busquei elaborar uma dinâmica de integração das diversas disciplinas.

Como arte educadora preocupa-me como a história da arte é ensinada e como é compreendida. Não podemos ficar na rotulação; temos que buscar o entendimento da criação misteriosa, enigmática e mística que fazem uma obra surgir e entender quem está por trás e como ela se realiza. O trabalho artístico é o cerne de grandes questões do ensino, mas hoje ele é relegado à mera distração, atividade sem importância. O entretenimento e a inferência/reflexão devem andar de mãos juntas. Fico a pensar como os estudantes da graduação em artes pensam suas obras, como imaginam fazê-las e como a entendem.

Com os estudos que realizo como pesquisadora convidada, no GEPI – Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade – PUC SP - coordenado pela Profa.Dra Ivani Fazenda – e no INTERESP - Grupo de estudos e pesquisa sobre

5 MARIA REGINA CERÁVOLO DE MELO ZEREY: Arte educadora – Licenciatura plena em Desenho

e Plástica – FAAP 1976. Mestra em Comunicação e Semiótica – PUC SP 2003. Pesquisadora convidada do INTERESP – Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade em Educação – 2015. CV: http://lattes.cnpq.br/8549293748759891 Contato: [email protected]

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interdisciplinaridade e espiritualidade em educação - coordenado pelo Prof. Dr. Ruy Cezar do Espírito Santo - me encanta propor a metáfora do olhar interdisciplinar e espiritual, como uma das raízes da sustentabilidade, trabalhando interdisciplinarmente que busca apreender de forma mais completa e ampla uma obra artística, fruto da conexão entre o homem e o cosmo.

Na grade teórica da interdisciplinaridade encontro as palavras da Prof.ª Ivani Fazenda (1994), que merecem ser aprofundadas:

Entendemos por atitude interdisciplinar, uma atitude diante das alternativas para conhecer mais e melhor, atitude de espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio – desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho – atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas, atitude, pois de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, enfim, de vida. (FAZENDA: 1994, p. 82).

A colocação que inicio aqui é que o material produzido, convencionalmente chamado arte: é a materialização de um momento, época, pensamento, artista, vivência, técnica e de uma realidade inconsciente e sociológica. Junto com Ivani, a semioticista Lucrécia Ferrara (1981) reforça nossa premissa de buscar na arte um entendimento maior, mais profundo e diferenciado em cada ser.

“a arte já não estaria a serviço da realidade..., mas a realidade estaria a serviço da obra de arte que procuraria reinventar a realidade proporcionando uma outra visão dela” (FERRARA, 1981, p. 32).

Posso descrever inúmeros momentos da história da arte, mas quero explorar a apreensão artística entendida tanto no viés de quem a produz como de quem a recebe. A arte passou a ser linguagem e revelou as conquistas da inteligência do homem, modificando a realidade. Na mudança de entendimento da relação simples de comunicação: emissor, mensagem, receptor, a arte passou a comunicar a própria linguagem, ocupando todo o interior do processo. Segundo Ferrara (1981, p.43) a: “Arte deixou de ser comunicação de um significado para ser linguagem que se processa, que se estrutura e nisso engendra o seu significado”.

A arte passou a ser a materialização dos sentimentos, em determinado momento da vida; ela é a vida, a consciência retratada de forma a inquirir o observador, ao mesmo tempo em que dá a ele a possibilidade de adentrar em um estado diferente de observação: o autoconhecimento.

Para aprofundar este pensamento utilizo as palavras de Espírito Santo (2011) para entender e aplicar o autoconhecimento em nossas vidas. Este caminho basilar para a construção de uma nova postura diante do homem e do universo requer a construção de um eixo fundamental apoiado na interdisciplinaridade para captarmos uma obra artística:

Entendo como fundamental, nessa busca de um novo paradigma em educação, a transcendência da fragmentação produzida pelo racionalismo em sua ânsia de superar os velhos dogmas; porém, a

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transição deve ocorrer de forma cuidadosa, para que não caiamos num novo enciclopedismo. (ESPÍRITO SANTO, 2011:39).

A criação de uma obra requer o diálogo entre a consciência e o inconsciente. A obra é fruto das nossas emoções, não só do momento em que está sendo criada, mas dos marcos de sentimento que nos constituem. A educação artística precisa deixar que os sentimentos de cada um aflorem e conduzam a percepção da imagem.

Creio realmente que a transgressão do que denomino corpo emocional, mesmo desconsiderando o transpessoal, leve à considerável ampliação do autoconhecimento, ou seja, da identidade do aluno. (ESPÍRITO SANTO, 2011:46)

A educação tradicional desenvolve normalmente essa porção racional do cérebro, deixando atrofiado o lado intuitivo. Em decorrência dessa situação, inúmeros adultos saem da escola convencidos de sua absoluta incapacidade para desenhar, pintar, fazer poesia ou música. (ESPÍRITO SANTO, 2011:50)

A qualidade de uma realização resulta da forma como expressamos a realidade. Assim, ela depende do profundo desenvolvimento do autoconhecimento. O artista, quando executa uma obra, será tanto mais brilhante na execução quanto mais for senhor de sua emoção e

de sua amplitude espiritual. (ESPÍRITO SANTO, 2011: 51)

Constato que o autoconhecimento é o caminho para este novo conhecimento, buscando as imagens que relacionam com o mundo físico, mas compreendendo aquelas que se formam no estado de consciência mais elevado. Este é o grande desafio interdisciplinar: a observação, a escuta e o respeito por aquilo que é produzido.

Apoiada na História da Arte apresento algumas citações de Ernest Gombrich (1983), que reforçam esta visão de transcendência para o mundo espiritual e de respeito ao próximo:

Uma coisa que realmente não existe é aquilo a que se dá o nome de Arte. Existem artistas. (GOMBRICH, 1983, p. 4).

O que ocorre com a beleza ocorre também com a expressão. De fato, é frequentemente a expressão de uma figura na pintura que nos leva a gostar da obra ou detestá-la. (GOMBRICH, 1983, p. 6).

O artista não obedece a quaisquer regras fixas. Ele simplesmente pressente o caminho a seguir. (GOMBRICH, 1983, p. 16).

Em última análise, os grandes mestres deram-se por inteiro em suas obras, sofreram por elas, suaram sangue sobre elas e, no mínimo, têm o direito de nos pedir que tentemos compreender o que eles quiseram fazer. (GOMBRICH. 1983, p. 17).

Há ali uma procura e uma conciliação de saberes, distintos de outros historiadores, que desde o inicio já colocam o caminho que seguirão, rotulando e indicando suas

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ideias. Gombrich (1983), ao contrário, descreve, investiga, instiga e deixa questões pelo caminho, para que busquemos com ele e verdadeiro sentido.

Com a evolução dos estudos do comportamento do ser humano posso entender que a análise artística é bem mais abrangente. A arte evoca uma profunda consciência de muitos problemas que estão ocultos na mente consciente e inconsciente do artista. O representar não começa por abrir os olhos, mas por construir fisicamente imagens endógenas que o acompanham sem que ele se aperceba disso.

Buscando expandir essa metodologia, penso na interdisciplinaridade como ferramenta fundante para agregar outras correntes, as quais produzam a ação de entender um pouco mais sobre as obras que se apresentam diante de nós.

Na história da arte posso inicialmente citar Kandinsky:

A verdadeira obra de arte nasce do ‘artista’ – criação misteriosa, enigmática, mística. Ela desprende-se dele, adquire vida autônoma, torna-se uma personalidade, um sujeito independente, animado de um sopro espiritual, o sujeito que vive uma existência real – um ser. (KANDINSKY, 1996:125)

A arte é uma criação com a finalidade de desenvolver a alma humana e é a única linguagem que esta entende e se desenvolve. Nas épocas mais caóticas é que a arte se torna mais viva e juntamente com a alma se aperfeiçoam mutuamente.

Transformar um pensamento, sentimento em materialidade é uma tarefa difícil e que exige muita consciência do que se faz. Diferentemente do que é dito e ensinado, a produção artística tem uma força inesgotável, que a faz perpetuar através dos tempos.

Kandinsky nos deixou o legado de buscar a arte abstrata, denominada por ele como arte real, pois apresenta um mundo espiritual, que só pode ser conhecido pela própria arte. Um mundo real!

Observe:

Fig 6 – Kandinsky – Acento en rosa, 1926

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As advertências que dou são justamente meu sentimento e meu conhecimento de entender a arte em camadas mais profundas, mas interligadas a outros saberes e mais completa em sua observação. Como artista plástica, posso dizer que o processo de fazer um trabalho, seja ele em que técnica for, exige do artista sair dos padrões convencionais e buscar outra identidade. Para que isso seja entendido é necessário que se estude e discuta os saberes ligados ao ser humano, um pouco de sua constituição psíquica e emocional. Seu percurso, seu habitat, sua língua, sua história de vida, seu autoconhecimento.

A interdisciplinaridade é um caminho fecundo para tangermos essas inquietações. Teremos a oportunidade de conhecer mais a fundo as vertentes eleitas para entendermos um pouco da expressão artística e de como ela é presente e necessária na vida do homem, desde a vida nas cavernas. Lá, onde a linguagem oral não tinha seus códigos estabelecidos e linguagem visual construía seu mundo, indicava sinais e iniciava o pensamento.

Como arte educadora tenho que contribuir de forma mais abrangente e inquiridora para o olhar a arte.

Apresento a obra de Warlimpirmga Tjapaltjarri, um aborígene artista australiano, conhecido como um dos maiores artistas indígenas.

Warlimpirmga nasceu em fins de 1950, perto do Lago Mackay, a leste de onde Kiwirrkurra se encontra nos dias de hoje, no deserto do Estado da Austrália Ocidental. Sua família e ele viveram de forma nômade; nunca entraram em contato com a sociedade européia. Seu pai morreu quando ele era criança e sua mãe viveu pouco tempo.

Casou-se com a prima, Yalti, por volta de 1980. Ele era um caçador e provedor da família. Caçava com lanças e boomerangs. Em 1984, entrou em contato com pessoas fora da família, quando ele viu pela primeira vez homens de cor branca. Ficou assustado pensando que podiam ser demônios ou mau espírito, pois eram da cor das nuvens no amanhecer.

Continuou vivendo em Kiwirrkurra e, as notícias deste grupo que vivia de forma nômade fizeram manchete nos jornais: a tribo perdida. Começou a pintar em 1987 e suas obras são abstratas, sendo compostas por milhares de pontos e baseiam-se em histórias de sagrados sonhos e canções. Elas focam o Tingari, os ancestrais de Pintupi, o espírito que se acredita ter criado todas as coisas. Pintadas sobre uma tela estendida sobre o chão, as linhas e traços em zigue-zague correspondem aos relatos míticos sobre os pintupis e a formação do mundo desértico que eles habitam.

O modo pelo qual as linhas e curvas narram às histórias permanecem um mistério quase completo.

Vamos observar e dar início ao exercício da procura espiritual que uma obra propõe.

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Warlimpirrnga Tjapaltjarri/ Wilkinkarra (Lake Mackay)

2012/ acrylic on Belgian linen/ 107.00 x 122.00 cm

Papunya Tula Artists catalogue number WT1209032

Warlimpirrnga Tjapaltjarri/ Marawa/ 2012

acrylic on Belgian linen/ 122.00 x 91.00 cm

Papunya Tula Artists catalogue number WT1208014

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REFERÊNCIAS.

CERÁVOLO, Maria Regina. Natureza morta: um processo co-evolutivo de comunicação entre corpo e ambiente. Dissertação de Mestrado, Biblioteca Nadir Gouveia Kfouri. São Paulo: PUCSP, 2003.

ESPÍRITO SANTO, Ruy Cezar. Autoconhecimento na formação do educador. São Paulo: Ágora, 2007.

______ O renascimento do sagrado na educação. Petrópolis: Editora Vozes, 2008.

______ Pedagogia da transgressão. São Paulo: Ágora, 2011.

FAZENDA, Ivani C. A. Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa. São Paulo: Papirus Editora, 1994.

______ Interdisciplinaridade: qual o sentido? São Paulo: Paulus, 2003.

______ A pesquisa em educação e as transformações do conhecimento. Campinas: Papirus, 2012.

FERRARA, Lucrécia DÁléssio. A estratégia dos signos. São Paulo: Perspectiva, 1981.

KANDINSKY, Wassily. Do espiritual na arte. Trad. Álvaro Cabral e Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes,1996.

GOMBRICH, E. H. A História da Arte, Trad. De Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983.

______. Arte e ilusão – um estudo da psicología da representação pictórica, Trad. Raul de Sá Barbosa. São Paulo: Martins Fontes Editora, 1986.

______. Meditações sobre um cavalinho de pau, Trad. Geraldo Gerson de Souza. São Paulo: Editora da Universidade São Paulo, 1999.

______. La Imagen y el ojo, Trad. Alfonso López Lago y Remigio Gómez Diaz. Madrid: Alianza Editorial, 1993.

THE NEW YORK TIMES INTERNATIONAL WEEKLY. Folha de São Paulo, 3 de outubro de 2015.

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2 DIÁLOGOS E APROXIMAÇÕES ENTRE DESENVOLVIMENTO

HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES E SUSTENTABILIDADE NUMA

PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR.

Ivnes Lira Garrido6

RESUMO: Refletir sobre desenvolvimento humano de uma forma interdisciplinar nas organizações deve partir do princípio que as pessoas, as próprias instituições e as culturas serão sustentáveis na medida em que promoverem comportamentos e decisões baseadas em valores, princípios, visão compartilhada do todo e busca de novos olhares sobre si e sobre a realidade ao seu redor. Tais reflexões se relacionam com o significado do ser humano e seu propósito de vida que interfere diretamente no meio que vive podendo ou não colaborar com a construção de um modelo empresarial onde metas e estratégias são colocadas em um contexto mais amplo de sentido e valor. Na escolha de novos paradigmas que dialoguem com esse diferente “olhar” para o ser humano no ambiente organizacional e na sua relação com o ambiente em seu entorno, encontra-se a Interdisciplinaridade como caminho de resgate da totalidade do indivíduo e como alternativa para apreensão e investigação da realidade. Este artigo tem como objetivo iniciar uma “Jornada” de aproximações teóricas entre algumas abordagens sobre o Desenvolvimento Humano nas organizações, Sustentabilidade e a Interdisciplinaridade. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Humano. Sustentabilidade. Interdisciplinaridade.

1 INTRODUÇÃO.

A sociedade, nas últimas décadas, vem obtendo notórios avanços no desenvolvimento tecnológico-científico que impactam diretamente na melhoria das condições de vida observadas através de vários benefícios e em diversos contextos

6IVNES LIRA GARRIDO: Experiência e carreira direcionada à área de Desenvolvimento Humano,

Desenvolvimento Organizacional e Consultoria Interna em empresas nacionais e multinacionais. Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social, Especialista em Gestão de Pessoas e Bacharel em Administração de Empresas. Pesquisador convidado do Inmtra: Interdisciplinaridade: Movimento e Transformação - Núcleo de Estudos e Pesquisas - Universidade Paulista (UNIP) e do Grupo de Estudos e Pesquisa INTERESPE - Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação - PUC/SP. Participante do Grupo de Estudos Líderes de RH ABRH/SP. Coordenador Geral dos Cursos de Pós Graduação e Extensão do Centro Universitário Italo Brasileiro (Uniitalo). Professor Universitário (Graduação e Pós Graduação). CV: http://lattes.cnpq.br/1144010894199292 Contato: [email protected]

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como: maior longevidade, maior conforto, melhor qualidade da saúde biológica, surgimento de novos blocos organizacionais globais que empregam milhões de pessoas, novos investimentos em capacitação técnica de profissionais de diversas áreas, aumento da rede de comunicação entre as pessoas de todo o mundo, criação de novos produtos e recursos, etc.

Este desenvolvimento, nutrido e difundido por um sistema capitalista que busca desenfreadamente o lucro econômico em detrimento dos interesses e cuidados com a qualidade de vida do ser humano e do planeta, não conseguem resolver nem reduzir a violenta crise sócio globalizada, tão evidenciada pelas guerras urbanas e pelo contexto bélico-político-econômico-mundial nem a destruição em massa dos ecossistemas espalhados em toda a Terra. Este cenário tem impacto direto nas organizações e trazem várias consequências e desafios – internos e externos - como maior carga de stress, desmotivação, doenças psicossomáticas, falta de engajamento das pessoas, esgotamento de recursos naturais, crises hídricas e climáticas que interferem na continuidade do negócio, etc..

Refletir sobre o desenvolvimento humano nas organizações de maneira interdisciplinar implica em olharmos para fora e dentro de suas estruturas formais e informais e nos questionarmos como o ser humano está sendo compreendido, tratado e envolvido dentro da tomada de decisões e planejamento das estratégias empresariais bem como aclarar a conexão que o negócio tem com a sociedade, com o planeta e com a própria vida.

Iniciando minha participação no Grupo de Pesquisa INTERESPE – INTERDISCIPLINARIDADE E ESPIRITUALIDADE, liderado pela Profº Drº Ruy Cézar do Espírito Santo, inicio também minha ‘Jornada na busca de encontrar conexões e inter-relações entre as temáticas do desenvolvimento humano nas organizações e a Interdisciplinaridade com o objetivo de ampliar o debate desses assuntos e contribuir com a construção de novos paradigmas que sustentem uma nova maneira de ‘ser’ e ‘fazer’ nas organizações.

2 DESENVOLVIMENTO HUMANO E SUSTENTABILIDADE NAS ORGANIZAÇÕES.

O estudo do desenvolvimento humano em uma perspectiva mais integral e interdisciplinar tem atingido também o mundo dos negócios, sobretudo na compreensão do indivíduo acerca do sentido do seu trabalho e das relações que nascem nesse ambiente organizacional. Isto tem gerado uma ruptura com os modelos tradicionais de gestão que antes privilegiavam apenas a produtividade e aspectos econômicos, ignorando a busca de sentido e realização que exigem os profissionais inseridos nesse mercado bem como a finalidade primordial da existência das organizações no planeta.

Interessante observar o posicionamento de Fazenda (2012) ao afirmar que uma atitude interdisciplinar se fundamenta em um movimento dialético onde o velho pode

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ser revisto e tornar-se novo, ou o novo pode tornar-se velho. Segunda a autora, novo e velho são faces de uma mesma moeda e podem ser revelados/percebidos de uma forma diferente dependendo da perspectiva de quem investiga.

Novas abordagens sobre o mundo dos negócios veem sendo fundamentadas na definição de riqueza/capital como algo muito mais amplo, capaz de inspirar as pessoas a darem o seu melhor em vista de um bem coletivo. Surge assim um novo conceito que é caracterizado por uma consciência de maior significado em que os valores humanos e propósitos globais norteiam suas ações – o capital espiritual.

Zohar e Marshal (2006) descrevem o capital espiritual como a quantidade de conhecimento e habilidades espirituais disponíveis a um indivíduo ou cultura, sendo que o termo espiritual é usado para descrever “princípios, valores e propósitos fundamentais”. Ele é resultante da percepção de uma comunidade ou organização sobre por que ela existe, o que pretende fazer e pelo que assume responsabilidade, complementa os autores. O capital espiritual é uma riqueza que colabora diretamente com a sustentabilidade do planeta, bem como a autorrealização do ser humano. Os autores citados explicam:

As organizações ricas em capital espiritual não são apenas sustentáveis, são evolutivas, porque, ao passar pelo processo de aumentá-lo, a organização se transforma de dentro para fora. Ela se movimenta. Tem vida e adquire um profundo sentimento de propósito e direção... Essas características melhoram a vitalidade interna da organização e também sua capacidade de funcionar eficazmente e de contribuir para o crescimento mais amplo. (ZOHAR; MARSHAL, 2006, p. 48)

Corroborando com essa posição, Arruda (2006) traz uma concepção positiva do desenvolvimento fazendo sua associação ao processo de desdobrar as capacidades de um organismo ou sociedade enquanto dimensão da natureza e ao indivíduo, espécie e coletividade na dimensão do humano. Segundo o autor, o desenvolvimento humano está relacionado aos potenciais intrínsecos do indivíduo ou grupo social e já a evolução está relacionada a fatores ecossistêmicos em conjunto com os fatores de desenvolvimento mencionados.

Em posição antagônica ao sistema econômico vigente, cujos preços determinam a ordem de produção e distribuição dos bens, o citado autor defende uma economia que observe continuamente as reais necessidades, desejos e anseios dos indivíduos e seus grupos, que planeje uma distribuição justa dos recursos existentes sem perder de vista a sustentabilidade da vida humana e do planeta. Continuando sua argumentação, Arruda (2006) afirma que o capitalismo promoveu uma inversão entre meios e fins, defendendo que a parte vale pelo todo. Este capitalismo cujo sistema é centrado no produtivismo e no consumismo, apresenta a atividade econômica como o próprio sentido da existência humana e que por ela se obtém a felicidade e o bem estar. Ele contra argumenta:

Defendo que o desenvolvimento econômico não é mais que um meio para que o indivíduo, a sociedade e a espécie humana provejam as condições favoráveis à satisfação sustentável das suas necessidades. O objetivo é libertar sempre mais o Homo do trabalho

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de responder a essas necessidades, a fim de que possa dedicar mais tempo, saber e energia às atividades de desenvolvimento das suas dimensões superiores, especificamente humanas. Estas são as que levam à sua crescente integração e plenificação enquanto pessoas e coletividades. (ARRUDA, 2006, p. 152)

Ao descrever as características do desenvolvimento no sistema globalizado vigente: objetivo, centrados no bem-estar material, no conforto e na riqueza, fundamentado na técnica, em indicadores quantitativos de produção de bens e serviços e na acumulação de riqueza material, Arruda (2006) aponta para uma alternativa de desenvolvimento que parte do princípio que a diversidade das pessoas e nações, seus recursos materiais e imateriais, atuais e potenciais podem convergir a uma globalidade nova que se materializa em um pensar e agir coletivos frutos de uma co-responsabilidade pelo outro e pelo planeta. Arruda (2006) indica as bases para um desenvolvimento que coloca o ser humano como sujeito central desse caminho, ele descreve:

Pensar que cada pessoa pode ser concebida como centro gerador de si mesma e das coletividades a que pertence, e pensar que cada comunidade humana e nação nessa perspectiva, nos permite acenar para uma globalização diferente, que se constrói de baixo para cima, e que se expande com base em outra lógica e noutro movimento: cresce a partir da concepção de orgânica de noodiversidade, tomando como objetivo a eficiência do sistema para prover o bem-viver e seu usufruto para todos, buscando maximizar os potenciais de complementaridade, de sociabilidade e de irmandade entre as pessoas, as comunidades, as empresas, as nações e os continentes, em redes de relação e intercâmbio a todos os níveis. (ARRUDA, 2006, p. 204)

Ao falar de autodesenvolvimento, Arruda (2006) ainda afirma que nenhum ser humano pode ser desenvolvido por agentes externos, como por exemplo: pais, professores, Estado, organizações, já que o protagonista principal desse caminho de emancipação é ele mesmo. Quando isso não ocorre, consequências como alienação, dominação, subordinação, exploração, dependência, não valorização da subjetividade são percebidas e instaladas na sociedade.

O desafio do autodesenvolvimento aqui consiste em que cada homem, por meio de várias ações sobre o mundo e os outros, por meio da educação, da pesquisa e da reflexão sobre si próprio e suas relações, se construa sempre mais como sujeito consciente e ativo do seu próprio desenvolvimento, conclui o autor.

A sustentabilidade assim passa a ser consequência direta de um processo de autodesenvolvimento que se inicia com a retomada de uma consciência de si e uma visão da totalidade em que está inserido pessoalmente e como organização. Fazenda (2012), por meio da Interdisciplinaridade, nos convida a encontrar um caminho de totalidade através do autoconhecimento. Ela afirma:

Conhecer a si mesmo é conhecer em totalidade, interdisciplinarmente. Em Sócrates, a totalidade só é possível pela

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busca da interioridade. Quanto mais se interiorizar, mais certezas vai se adquirindo da ignorância, da limitação, da provisoriedade. A interioridade nos conduz a um profundo exercício de humildade (fundamento maior e primeiro da interdisciplinaridade). Da dúvida interior à dúvida exterior, do conhecimento de mim mesmo à procura do outro, do mundo... Do conhecimento de mim mesmo ao conhecimento da totalidade. (FAZENDA, 2012, p. 15).

Esse caminho de totalidade só será possível se formos além da fragmentação produzida pelo racionalismo e chegarmos a uma reunificação de saberes que se inicia por um processo de “descortinamento” discorre Prof. Drº Ruy do Espírito Santo em seu livro Pedagogia da Transgressão (2011).

Por meio de um texto poético, Espirito Santo (2011) exterioriza esse processo de “descortinamento” do eu de cada um, tão presente em suas práticas educativas:

Identidade Descobrir o “mais dentro” Aquele sorriso nunca esboçado Aquela tristeza sempre disfarçada Aquela pressa que nos impede de permanecer Conhecer-se para caminhar Deixar seu traço na história Deixar fluir o sorriso Que marcará sua passagem Descobrir os sinais que nos identificam Sinais únicos, originais Marcas que o tempo deixou Tantas vezes ignoradas Permanecer na alegria genuína de existir Percebê-la dentro de si No mais intimo a ser ainda desvelada Saber-se um com a vida Mais ainda uno com os companheiros de jornada Conhecidos e desconhecidos Mais sempre singulares e tocados pela magia do “ser homem” Ser homem Ser único Capaz da dor e do amor Capaz de gestos que ficam

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A prática de uma Sustentabilidade nas organizações e no mundo fundamentada numa perspectiva mais holística-integral exige do ser humano um novo olhar sobre si mesmo, sobre o outro e sobre a realidade, ou seja, um olhar interdisciplinar. Esse olhar será capaz de estabelecer canais de diálogo permanente, parcerias autênticas e construir estratégias sustentáveis baseadas na humildade, na coerência, na espera, no respeito e no desapego – princípios que subsidiam uma prática interdisciplinar segundo Fazenda (2012).

Nesta Jornada em que dou meus primeiros passos na busca de apreender e integrar novos conhecimentos/revelações a partir das interconexões entre as temáticas desenvolvidas nesse artigo, começo também a enveredar também por um novo mergulho nas minhas próprias experiências como Gestor, Empreendedor e como Educador, cheias de dilemas e reflexões interiores, cheias de incertezas e dúvidas, na busca por vestígios e pistas que me levarão a construir pontes entre os diferentes conteúdos e realidades vivenciadas e pesquisadas.

O Grupo de Pesquisa INTERESPE – INTERDISCIPLINARIDADE E ESPIRITUALIDADE, liderado pela Profº Drº Ruy Cézar do Espírito Santo, se torna mais do que nunca uma fonte aberta de inspiração e estímulo para essa Jornada interior e exterior onde o mais importante será desfrutar o caminho, desfrutar as parcerias, desfrutar as descobertas, onde isso irá culminar? Não sei, só sei que Ela continua...

REFERÊNCIAS.

ARRUDA, Marcos. Tornar o real possível: a formação do ser humano integral, economia solidária, desenvolvimento e o futuro do trabalho. Petrópolis, Rj: Vozes, 2006.

ESPÍRITO SANTO, R.C. Pedagogia da transgressão. Campinas: Papirus, 1996

FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 18º ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.

ZOHAR, Danah; MARSHALL, Ian. Capital Espiritual: usando as inteligências racional, emocional e espiritual para realizar transformações pessoais e profissionais. Rio de Janeiro: Best Seller, 2006.

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3 A CORAGEM DA VERDADE (MICHEL FOUCAULT). Denise de Assis7

“Unidade não é uniformidade...”, ouvi certa vez do teólogo Jorge Pinheiro, autor do livro História e Religião de Israel (Origens e Crise do Pensamento Judaico). Lendo os últimos capítulos do livro de Michel Foucault, esta afirmativa do teólogo veio à minha mente. Falar em uniformidade, por vezes remete a pertencer a algum grupo ou instituição e torna-se, de certa forma, ‘fácil’ se adequar ou seguir padrões pelos mais variados motivos: por sobrevivência, por status, pela sensação de poder, por troca de favores e interesses ou simplesmente dizer ou ter a sensação de pertencimento a algum lugar.

Na uniformidade é simples dizer que se está defendendo os interesses de um grupo ou instituição, podendo também externar uma opinião pessoal em nome deste grupo, isentando-se de toda e qualquer responsabilidade.

Na uniformidade, é mais fácil agir ou acreditar no ‘disseram’, ‘fizeram’, ‘culparam’, tomar decisões sobre suposições, construir notícias, lançar boatos, manipular ou distorcer fatos em nome de uma suposta unidade.

Falar em unidade, no entanto, remete a uma escolha subjetiva, pessoal e verdadeira consigo mesmo, com quem se convive ou com o lugar ao qual se pertence. Unidade aponta para a responsabilidade e para a verdade. O sentido da unidade implica o compromisso com a verdade e consigo mesmo. Ao contrário da uniformidade, que pode ser rompida a qualquer momento, na tentativa de sobreviver a qualquer custo, na unidade, existe a dinâmica, a reinvenção, a reformulação de princípios, ideias e valores, a reflexão e a busca pelo compromisso com a verdade. Neste sentido, falar de unidade aponta para uma aproximação com o cinismo. Segundo Foucault:

O cinismo não se contenta, portanto, com acoplar ou fazer se corresponderem numa harmonia ou numa homofonia um tipo de discurso e uma vida conforme apenas aos princípios enunciados no discurso. O cinismo vincula o modo de vida e a verdade a

7 DENISE DE ASSIS: Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (PUC-SP), Mestre em Psicanálise pela Universidade Veiga de Almeida, possui graduação em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá (2007), pós-graduação em Mercado Financeiro, pela extinta Bolsa Brasileira de Futuros-RJ (1995) e graduação em Tecnólogo em Processamento de Dados - Faculdades Integradas Anglo-Americano (1994). Professora Adjunta do Curso de Psicologia da Universidade Paulista (UNIP). Pesquisadora pelo Centro de Teologia, Espiritualidade e Saúde (Duke University - EUA) Observação: Diferencial em duas formações: inicialmente, em Análise de Sistemas e posteriormente, em Psicologia. Possuo experiência de mais de 20 anos na área de desenvolvimento de sistemas para o mercado financeiro e devido à dificuldade em encontrar profissionais que também se interessassem pela área financeira, aos poucos fui me reportando à área de recrutamento e treinamento de profissionais e estagiários; o que me fez ingressar no curso de Psicologia. A pesquisa sobre ciência, espiritualidade, cultura e religião surgiu de maneira informal. Pela formação inicial em ciências exatas tornou-se possível estabelecer um vínculo entre a física e a psicanálise, que fundamentam a minha tese de doutorado; defendida em 07 de maio de 2015. CV: http://lattes.cnpq.br/9723154496568821 Contato: [email protected]

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um modo muito mais estrito, muito mais preciso. Ele faz da forma da existência uma condição essencial para o dizer-a-verdade. Ele faz da forma da existência a prática redutora que vai abrir espaço para o dizer-a-verdade. Ele faz, enfim, da forma da existência um modo de tornar visível, nos gestos, nos corpos, na maneira de se vestir, na maneira de se conduzir e de viver, a própria verdade. Em suma, o cinismo faz 2 da vida, da existência, do bíos o que poderíamos chamar de uma aleturgia, uma manifestação da verdade. (FOUCAULT, 2014, p.150).

Na aula de 14 de março de 1984, Foucault listou os princípios gerais de base do cinismo: “alguns elementos muito comuns, muito correntes, que vinculam manifestamente a prática cínica de um lado, à velha tradição socrática e, de outro, às temáticas comuns às outras filosofias”. (FOUCAULT, 2014, p. 209).

O primeiro princípio fala que a filosofia é uma preparação para a vida: ou você se prepara por meio da razão que organiza a vida, ou prepara a corda com a qual se enforcará.

O segundo princípio, que tem como base o primeiro, implica em ocupar-se antes de tudo de si mesmo, remetendo à regra ‘cuida de ti mesmo’.

O terceiro princípio indica que, para ocupar-se de si mesmo, deve-se estudar apenas o que é realmente útil na e para a existência. Diógenes Laércio cita estas palavras de Diógenes, o Cínico. Este último se espantava com ver os gramáticos estudar tanto os modos de Ulisses e negligenciar os próprios, ver os músicos afinar tão bem sua lira e esquecer o que têm sob os pés, ver os oradores cheios de zelo pelo bem falar, mas nunca preocupados com o bem fazer.

[...] “Tu te preocupas muito com a ordem cósmica, mas não te preocupas nenhum pouco com a tua desordem interior. Logo, se quisermos cuidar de nós mesmos, não é a ordem cósmica, não são as coisas do mundo, não são a gramática, a matemática ou a música que é preciso estudar, mas as coisas imediatamente úteis para a vida, isto é, para o cuidado de si mesmo”. (FOUCAULT, 2014, p. 209, 210).

E o quarto princípio considera que é necessário “tornar a vida conforme aos preceitos que formula. [...] Só pode haver verdadeiro cuidado de si se os princípios formulados como princípios verdadeiros forem ao mesmo tempo garantidos e autenticados pela maneira como se vive” (FOUCAULT, 2014, p.210).

Para que haja unidade é necessário cuidar primeiro de si, para só então ampliar ou estender certos conceitos, ideias ou padrões ao mundo e o terceiro princípio demonstra claramente a importância da verdade. Com uma visão distorcida de si mesmo em um padrão de uniformidade, a dimensão da destruição, nos âmbitos mais diversos, pode ser imensurável.

No meio do turbilhão de informações, modismos e movimentos em que estamos vivendo, parece não sobrar tempo para qualquer tipo de reflexão neste sentido. Talvez 3 seja mais fácil buscar uma uniformidade e quando tudo falhar, culpar os supostos idealizadores pelo fracasso evidente quando se adota um padrão de uniformização, sem questionamentos. Será que não tem sobrado tempo para se questionar se se está vivendo a verdade ou a ‘falta de tempo’ é apenas uma desculpa para não querer refletir sobre isto?

Quem tem coragem de viver a verdade? É muito mais profundo do que simplesmente dizer: quem tem coragem de dizer a verdade?

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REFERÊNCIAS.

FOUCAULT, M. A Coragem da Verdade: O Governo de Si e dos Outros II. Martins Fontes, São Paulo, 2014.

PINHEIRO, J. História e Religião de Israel. Origens e Crise do Pensamento Judaico. Editora Vida, São Paulo, 2007.

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PESQUISAS

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PARECERES DO PROF. RUY CEZAR DO ESPÍRITO SANTO EM

DISSERTAÇÕES E TESES DOS ALUNOS DO PROGRAMA DE

EDUCAÇÃO CURRÍCULO DA PUCSP.

TESE 1: LEITURAS, NARRATIVAS E METÁFORAS, UM SENTIDO PARA A COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO?

ALUNA: Ana Maria Ramos Sanchez Varella8

ORIENTADORA: Profa. Dra. Ivani Catarina Arantes Fazenda

PROGRAMA EDUCAÇÃO CURRÍCULO- PUCSP

DATA: 23/11/2006

RESUMO: Como os princípios e procedimentos da Interdisciplinaridade podem ajudar em mudanças na prática docente? O projeto Incentivo à leitura e pesquisa foi o foco da análise. As considerações revelaram que aulas, com incursão na literatura, mobilizam, no aluno, o sentido de investigar-se, ajudando-o a enfrentar desafios e abrindo novos horizontes em sua vida.

PALAVRAS-CHAVE: Interdisciplinaridade, Comunicação, Leitura, Narrativa, Metáfora.

PARECER: Ana Maria, o seu trabalho, na verdade, deveria chamar-se: Memorial do

GEPI9. Sim, você debruçou-se sobre o histórico de vida deste Grupo gerador dos estudos interdisciplinares entre nós, e conseguiu, com muita garra, chegar à tese que hoje está sendo apreciada. Claro que por trás dessa pesquisa realizada estava sempre a questão fundamental da formação do educador, na linha que você denominou de ‘reconhecimento de si’...

Não tenho dúvida da importância de sua obra no trabalho de formação didático-pedagógica de futuros educadores. A título de ‘provocação’, como costumo fazer nessas ocasiões, levantarei algumas questões sobre as quais gostaria de ouvi-la. A primeira delas diz respeito ao seu entendimento da expressão ‘totalidade educacional’ que você emprega na página 12, combinada com o ‘reconhecimento de si’. Na página 19, citando Ricoeur, você aponta o caráter temporal da experiência humana e adiante, ao falar da objetividade e da subjetividade você situa o tempo da ‘alma’ e o tempo do movimento.

8 ANA MARIA RAMOS SANCHEZ VARELLA: Pós-doutora em Interdisciplinaridade pelo

GEPI/PUCSP. Doutora em Educação/Currículo pela PUCSP. Mestra em Gerontologia e Psicopedagoga pela PUC/SP. Graduada em Letras: Língua Portuguesa e Inglesa. Integrante dos grupos de pesquisa pela PUCSP: GEPI e INTERESPE. CV: http://lattes.cnpq.br/9470675519276604; Contatp: www.anamariavarella.com.br; E-mail: [email protected] 9 GEPI- Grupo de estudos e pesquisa sobre interdisciplinaridade, coordenado pela Profa. Dra. Ivanoi

catarina Arantes fazenda. http://www.pucsp.br/gepi

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Vejo a questão do reconhecimento de si como vinculada ao processo de autoconhecimento, que implicará seguramente numa visão de ‘totalidade’, não só da educação. Não era por outra razão que Sócrates apontava o ‘conhece-te a ti mesmo’ como ‘o principio de toda a sabedoria’...

Ocorre que o desenvolvimento do autoconhecimento implicará, seguramente, na percepção do que você chamou de ‘tempo da alma’ que transcenderá o ‘caráter temporal da experiência humana’ apontado por Ricoeur. Os gregos já nos traziam uma visão de um chronos temporal e ao mesmo tempo um kairós que é o ‘tempo interior’ ou tempo da alma como você denominou. Assim, uma visão de totalidade implicará sempre na consciência do tempo interior, sob pena de permanecermos numa visão fragmentada da realidade que seria fruto do chronos isolado, ou seja , uma visão reducionista, ainda muito presente...

A questão parece complexa, mas, você mesma na página 21 situa a transcendência como sendo o quarto círculo da hermenêutica da totalidade... Percebe?

Por outro lado, na página 124 você enfrenta diretamente a questão do autoconhecimento, aceitando a colocação da referida transcendência do ser humano.

O que eu gostaria que você abordasse nesse momento é o sentido desse ‘reconhecimento’ que você situa no título de seu trabalho. Você o vê como sendo um processo de autoconhecimento? Você o consideraria na linha daquilo que Jung denominava de processo de individuação, com a integração do ego com o self? Aliás, na página 119 a presença de Jung e de sua psicologia analítica na obra de Fazenda é apontada por você.

Julgo importante você se posicionar sobre esse ponto, porque vejo sua obra com toda a qualidade para ser publicada, porém para os estudantes que forem lê-la será importante o esclarecimento desse ponto. Sinto que a Academia muitas vezes ainda resiste a uma afirmação explicita da transcendência do ser humano! Você o fez como referido nas páginas 21 e 124, mas não deixou clara essa posição ao mencionar anteriormente o conceito de ‘reconhecimento de si’.

Gostaria de ouvi-la sobre esse ponto.

A segunda provocação, que não deixa de estar ligada à primeira, diz respeito ao constante da página 23, quando você coloca as questões da identidade e do amor , dentre outras, como as mais instigantes para você, no estudo de Ricoeur. Ocorre que você não foi mais fundo nessas duas questões, que julgo relevantes para seu trabalho. Claro que o ponto relativo à identidade vai vincular-se ao autoconhecimento que acima me referi, porém o amor implicará, a meu ver, em algo que merece um aprofundamento. Sim, o ‘amor’ é considerado como sendo a melhor ‘metáfora’ para você situar a essência da identidade do ser humano. De fato, a Tradição Cristã nos traz uma colocação de que ‘Deus é Amor’ e o Homem ‘Sua Imagem e Semelhança’. Ou seja, a metáfora do amor é utilizada para indicar o ‘Ser Criador’ e o ‘Ser Criado’: o Humano. Repare que o ‘reconhecimento de si’, como você busca em sua tese, nos conduzirá a percepção de que nossa essência obedece a tal metáfora... Nossa identidade a ser reconhecida num plano transcendente deve ser entendida como ‘Amor’... Por que trago esse questionamento? Veja que curiosamente a física quântica, tal como apresentada, dentre outros por Fritjof Capra, nos diz que no coração da matéria, existe pura energia e que a matéria sólida surge como a ‘possibilidade de conexões’, tal como

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descrito na conhecida obra do mesmo autor ‘Ponto de Mutação’... Ora, a metáfora do amor está próxima da ideia de ‘possibilidade de conexões’... Temos aí uma visão do encontro do Conhecimento do Universo com o Conhecimento de Si Mesmo, ou seja, o autoconhecimento. Claro que a implicação de tal percepção trará para a educação todo o fundamento da interdisciplinaridade e todo o ‘acolhimento’, que você largamente apontará, expressamente no trabalho de nossa mestra e orientadora Ivani Fazenda, com o seu fantástico Abraço... Gostaria de ouvi-la sobre tal metáfora do amor no processo de reconhecimento e sua combinação com uma totalidade ‘amorosa’ do universo. Repare que as atas e depoimentos que você traz, no desenvolver desse trabalho expressam, exatamente, tal espírito de acolhimento ou amorosidade... Aliás, na página 124 você ao examinar a distância que a ciência, em grande parte, ainda se afasta da subjetividade e, portanto do autoconhecimento, assim afirma: “Esse fato nos distanciou de nossa interioridade tornando-nos desconhecidos a nós mesmos e prejudicando-nos na nossa relação com o outro”. Percebe?

Veja a importância de você aprofundar tal questão!

A terceira “provocação” vai surgir na página 47 quando você situa a questão da transdisciplinaridade apontando seu medo de que “vire religião”...

Esse é um ponto fundamental a ser tratado nas Academias e este seu trabalho poderá ser um elemento de esclarecimento da matéria. Você mesma na página 124 mostra o problema da desqualificação do conhecimento subjetivo pela ciência contemporânea!

Sim, precisamos saber distinguir ‘crenças e religiões’ de ‘conhecimento’. Quando falo em conhecimento estou incluindo, porque não, o conhecimento hoje desenvolvido da existência de uma transcendência, de onde surge a expressão ‘transdisciplinaridade’, embora muitos neguem tal vinculação. Ubiratan D’Ambrósio já aprofundou tal discussão e mesmo outros educadores, como Rubem Alves, também o fizeram. Eu mesmo em minha obra ‘Renascimento do Sagrado na Educação’ enfrento tal questão. Na verdade, para mim, a própria visão interdisciplinar trazida por Ivani Fazenda, aqui presente, não exclui tal dimensão espiritual do ser humano. A meu ver desnecessária a vinda da expressão transdisciplinaridade, porém, importante situar a transcendência num quadro de totalidade do processo educativo, sem medo de que isto se torne ‘religião’. Em minha obra: O Autoconhecimento na Formação do Educador, procuro demonstrar que as religiões foram fruto do que denomino de ‘adolescência’ do ser humano, que ao chegar a sua maturidade, o que Teilhard de Chardin chamava de ‘Ponto Ômega’, ou processo de conscencialização, caminha para um processo de ecumenismo e superação das divisões ‘espirituais’, que foram a origem das religiões. Claro que estamos ainda no inicio de tal ‘maturidade’. De qualquer foram, gostaria de ouvi-la sobre esse ponto, pois julgo relevante para seu trabalho seu posicionamento sobre tal polêmica.

Ana, sinto que já a provoquei muito! Seu trabalho instiga ainda a várias questões, porém, dentro de minha visão acredito que estamos na hora de dar um passo adiante, dentro das Academias, na direção da dimensão espiritual do ser humano! Meu objetivo é encorajá-la a dar alguns toques sutis, nessa direção, em sua tese, antes de publicá-la. Na verdade não tenho dúvida de que na essência estamos de acordo! Cumprimentos pelo trabalho, extensivos a orientadora de todos nós!

Ruy Cezar do Espírito Santo

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TESE 2: ALFABETIZAÇÃO, HISTÓRIA DE VIDA E FORMAÇÃO A PESQUISA INTERDISCIPLINAR: SENTIDOS E SIGNIFICADOS. ALUNA: Odila Amélia Veiga França10. ORIENTADORA: Profa. Dra. Ivani Catarina Arantes Fazenda PROGRAMA EDUCAÇÃO CURRÍCULO- PUCSP DATA DA DEFESA: 2014

RESUMO: A interdisciplinaridade é a base desta pesquisa, de abordagem

qualitativa, que se vale de uma narrativa entretecida na história de vida e na formação pedagógica da pesquisadora, resgatada pela memória. Trata-se da tese que tem origem no fato pedagógico vivido com o aluno Jairo, no ensino da leitura e da escrita no processo inicial de alfabetização, numa Escola de Emergência Multisseriada, localizada na zona rural do município de Sete Barras, Estado de São Paulo, região sul do Vale do Ribeira, no ano de 1968. O problema de pesquisa, ou a inquietação da pesquisadora e sua busca primeira, está assim formulado: em que sentido a teoria interdisciplinar, tomada como iluminação teórica do estudo do fato pedagógico, pode fundamentar a discussão da formação disciplinar da professora, hoje, pesquisadora? Pode explicar a relação da professora e do aluno Jairo com o saber? Pode fertilizar os caminhos da melhor qualificação docente às novas gerações de educadores? O objetivo precípuo é tomar a experiência como objeto de estudo com fins de realizar a análise crítica dos efeitos da ação alfabetizadora relacionada com a formação disciplinar da pesquisadora. Busca-se fecundar os elementos originários do fato pedagógico, analisar os seus traços mais salientes nas dimensões epistemológica, metodológica e político-pedagógica, confrontadas com a realidade educacional do contexto analisado, para encontrar os sentidos e os significados da experiência aqui colocada à luz da ciência interdisciplinar e fenomenológica. As contribuições do estudo para a formação inicial e continuada de professores da educação básica justificam a relevância social, teórica e político-pedagógica da pesquisa. Defende a pesquisadora que o alcance de resultados satisfatórios no ensino, na aprendizagem e na avaliação do desempenho escolar dos alunos está intrinsecamente ligado à qualidade da formação do professor. Entende que problematizar a realidade educacional é, antes de um exercício salutar, um dever e uma atitude ética de todo educador. Uma docência que se quer repensada e requalificada tem que, fundamentalmente, sondar os seus sentidos e seus

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ODILA AMÉLIA VEIGA FRANÇA: Possui graduação em Administração Escolar para o exercício nas

escolas de 1º e 2º Graus pelo Instituto de Educação Fábio Barreto (1972); Graduação em Pedagogia Habilitação

Ensino das Disciplinas e Atividades Práticas dos Cursos Normais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras

de Santos (1974); Graduação em Supervisão Escolar - Escolas de 1º e 2º Graus - Faculdade de Filosofia Ciências

e Letras Nossa Senhora do Patrocinio (1985); Mestrado em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo (2003); e Doutora em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo. Atualmente é professora Auxiliar Docente da Universidade de Taubaté, e membro do Grupo de Estudos e

Pesquisas Interdisciplinares - GEPI, PUC/SP. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Currículo,

Avaliação e Planejamento Educacional; e, Formação de Profissionais da Educação. Atua principalmente nos

seguintes temas:Currículo, Ensino- Aprendizagem; Supervisâo de Estágio Curricular; Didática e Prática de

Ensino e Metodologias do Ensino Fundamental e Médio e Formação Inicial e Continuada do Profissional da

Educação. CV: http://lattes.cnpq.br/3284641112108058 Contato: [email protected]

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significados em favor da qualidade histórica e sociocultural da comunidade à qual serve. Dada a natureza e a singularidade da pesquisa interdisciplinar, é forçoso respeitar a amplitude e a abrangência do seu campo teórico, entrelaçando-o com outras searas do conhecimento, como a história de vida, a formação docente, a educação dialógica enquanto possibilidade de libertação do ser, por fim, a educação pautada nos fundamentos da fenomenologia e no autoconhecimento.

Palavras-Chave: Interdisciplinaridade. Alfabetização. História de Vida e Formação. Fenomenologia. Autoconhecimento.

PARECER: Emilia! Sinto, na forma em que situei em minha poesia da página 13 de

seu trabalho, que a ‘Odila’ ‘nasceu de novo’ e seu nome agora é ‘Emilia’... Sim, todo seu percurso indica, como constante da página 92, da fala do Professor Cagliari, que estamos diante de uma ‘nova’ pessoa, cujo nome escolhido ‘Emilia’, fica preciso, eis que, sinto-a neste momento com ‘a pá virada’... Minha única sugestão, que trago ao seu projeto de doutorado é uma inclusão mais explicita do autoconhecimento, como proposta de enfrentamento da ‘Agonia’, que você tão bem situa no seu trabalho. Na verdade, você não deixa de considerar sua relevância quando na página 23 vai afirmar, que na resposta ao “quem é você?” temos sempre aquilo que foi anotado: “Sou filha de fulano... meu pai é o médico tal... sou da família... ou ainda, sou engenheira casada com... minha família é tradicional daqui...!”

Enfim, você deixa patente como as pessoas, em geral, ignoram profundamente sua identidade... Tal nível de ignorância é que vai dar origem a Agonia a que me referi acima... Sócrates deixou bem claro que o ‘conhece-te a ti mesmo’ é o principio de toda a sabedoria... Sinto, que o ‘surgimento’ de ‘Emilia’ em sua personalidade e a apresentação deste projeto de doutorado, indica, exatamente, seu percurso na linha de um saber, que será fundamental difundir, com a futura publicação de sua tese! Curiosamente na página 24 você traz uma resposta pessoal ao “quem sou eu?”, que valer à pena anotar:

“Sou um ser inacabado, imperfeito, finito e inconcluso, porém, pensante, crítico e criativo. Ando na estrada que liga o já sabido ao ainda não sabido e cada vez que chego a este último estado, ele não é mais o último, porque descubro o infinito a ser conhecido. Eu sou eu mais as minhas circunstâncias” como dizia Cortella (2.000). Sou e não sou. Certa e errada; justa e injusta; feia e bonita...”.

Quem adoraria ler este seu relato seria Jung, quando se refere à importância da coincidência dos opostos... Na verdade o autoconhecimento vai exatamente nos trazer a consciência da presença potencial de tais ‘opostos’ em nosso interior, sendo que o ‘mistério’ da liberdade, inerente ao Ser Humano, é que vai vivenciar um ou outro dos opostos, nos trazendo infinitas e eternas lições... Assim, o que quero sugerir neste momento a Emilia é que abra um espaço neste belo trabalho, para dar um aprofundamento nesta temática do autoconhecimento. Na página 27 você ainda vai mais fundo na identidade da, então, “Odila”, afirmando que: atingiu o limite máximo de minhas possibilidades”... Aí nasceu a “Emilia”...

De certa forma na mesma página 27, na sequência da frase anterior aqui transcrita, você reconhece o que estou aqui afirmando quando registra: “Sim, porque esta tese matou-me um pouco a cada dia para que a Odila do primeiro dia não mais existisse hoje”...

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Vê como estamos de acordo? Hoje a doutoranda presente é, de fato, e assumidamente a Emilia!

Este ponto que estou aqui insistindo fica claro da sua importância em seu percurso! A ideia do ‘nascer de novo’, que vem da Tradição Cristã tem profundo vínculo com o autoconhecimento e com a ciência, a partir de Einstein e hoje com a obra de Goswami, que lhe recomendo especialmente O Ativista Quântico, livro hoje também presente em vídeo. O que há de relevante em tal questão é que a Educação ainda resiste a tal ponto, apesar dos esforços de Paulo Freire e tantos autores que você trouxe em sua pesquisa, incluindo-se aí sua Orientadora. A resistência é fruto da falta de uma distinção fundamental entre ‘religiosidade’ e ‘espiritualidade’. Trata-se da passagem do universo que chamo de adolescente do Ser Humano, vinculado às crenças, à maturidade, hoje já presente e que vai trazer a visão de uma espiritualidade, que vai além das crenças... Não tenho dúvida de que foram os dogmas presentes nas religiões, que aceleraram a visão materialista, que culminou no século XIX com o surgimento da Igreja da Razão criada por Augusto Comte. Não se trata da superação de um ‘mal’, pois tais crenças fizeram parte da evolução do Ser Humano e estavam associadas ao Universo das Monarquias e Ditaduras tão presentes a tal momento da História. Hoje, claramente caminhamos para o fim de tais ditaduras e mesmo a presença de um novo Papa como Francisco, deixa clara uma nova visão de realidade. Julgo, que chegou a hora da Educação mergulhar fundo em tal questão, lembrando, inclusive que a interdisciplinaridade vai nascer, exatamente, da visão de Unidade do Saber, que será a percepção nascida do autoconhecimento, quando o Ser Humano se percebe parte, do que Goswami chama de Consciência Cósmica, que simboliza uma Unidade essencial em todo o Saber. No fundo é aquilo que Freire chamava de conscientizar antes de alfabetizar... Ou Chardin quando afirma que: “Depois de percorrer longamente o Caminho da análise o Ser Humano chega a luminosa Síntese”

Isto em sua obra: Fenômeno Humano!... Esta síntese é exatamente significada pela interdisciplinaridade! Enfim, Emilia, sua obra resultando do percurso de Odila a Emilia é reveladora do Caminho que a Humanidade fez da adolescência para a maturidade como acima referido. Vou lhe presentear com livro meu denominado: Autoconhecimento na Formação do Educador, para ajudá-la a incorporar ao seu trabalho este ponto do conhecimento de si mesmo, que julgo importante em seu doutorado. Parabéns a você e a sua orientadora pela beleza desta pesquisa e deste percurso da Emilia presente a toda a obra. Abraço grande.

Ruy Cezar do Espírito Santo

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TESE 3: Prática educativa interdisciplinar: limites e Possibilidades na reverberação de um sonho. ALUNA: Ivone Yared11. ORIENTADORA: Profa. Dra. Ivani Catarina Arantes Fazenda PROGRAMA EDUCAÇÃO CURRÍCULO- PUCSP DATA DA DEFESA: 2009 (19/08) RESUMO: Este estudo objetiva investigar o nascimento, a evolução e os primeiros resultados de uma prática educativa interdisciplinar. Apoiado num referencial de autores da Europa, como Agazzi, Braido, Gauthier, Lenoir, Morin, Penati, Sersale e Pinau, do Brasil, Freire, Japiassu e, especialmente, Fazenda, busca inicialmente uma revisão histórica crítica das publicações européias nas décadas de 60 a 90 sobre as questões da interdisciplinaridade na educação, quando a proposta começa a ser estudada. Descreve uma intervenção educativa ao longo de 20 anos a partir da reverberação de um sonho de Dom Bosco. Propõe caminhos para uma educação interdisciplinar, rompendo com a visão fragmentada do saber construído a partir da reflexão sobre o processo de educar interdisciplinarmente em suas diferentes etapas. Pressupõe um educador formado, capaz de criar um ambiente no qual fé, cultura e vida se integram pelas relações educativas. Trata-se de uma investigação aqui denominada pesquisa-ação-intervenção onde o contexto da educação cristã e salesiana, seus limites e possibilidades são considerados. A metáfora do sonho de Dom Bosco revela-se na tessitura do processo como algo que inicia e percorre todo o caminho. A pesquisa evidencia a importância do planejamento que ao ser construído e acompanhado, cuidadosamente, atinge momentos interdisciplinares onde são enfrentadas questões como, por exemplo, a competição velada existente na Escola. O estudo mostra que é possível a transformação curricular, resgatando a dimensão do pastoreio e o papel do educador que vai além da mera transmissão do conhecimento, buscando a evangelização da cultura onde a recuperação do sentido do existir continuamente é questionada. Fé, cultura e vida se acoplam ao cotidiano. Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Educação. Intervenção educativa. Projeto interdisciplinar. Relações educativas.

11Ivone Yared: Possui graduação em Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade Auxilium de Filosofia

Ciências e Letras de Lins (1971), graduação em Habilitação em Inspeção Escolar pela Faculdade Auxilium de

Filosofia Ciências e Letras de Lins (1971), graduação em Habilitação em Supervisão Escolar pela Faculdade

Auxilium de Filosofia Ciências e Letras de Lins (1971), graduação em Habilitação em Administração Escolar

pela Faculdade Auxilium de Filosofia Ciências e Letras de Lins (1972), mestrado em Mestrado em Educação -

Supervisão e Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1994) e doutorado em Educação

(Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2009). Atualmente é membro efetivo -

Observatoire de Paris-Meudon - GEPI e direção e administração - Ginásio escola Normal particular Nossa

Senhora Auxiliadora e Professora no UNISALESIANO -Centro Universitário Católico Auxilium de Lins.. Tem

experiência na área de Educação, com ênfase em Administração Educacional, atuando principalmente nos

seguintes temas: interdisciplinaridade e relação educativa, humanização da cultura, cotidianidade,

interdisciplinaridade e transcendência e interdisciplinarinade e sistema preventivo. CV:

http://lattes.cnpq.br/0742455096308308 Contato: [email protected]

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PARECER: Em sua tese de doutorado, Ivone foi além dos ‘limites e possibilidades na reverberação de um sonho’. Sim, o trabalho deixa clara a ilimitada possibilidade de reverberar um sonho, quando ele se funda naquilo que João Bosco denominava de amorevolezza. De fato, estamos vivendo um momento da História, não só na Educação, em que a percepção do mistério do Amor como metáfora para definir a essência do Ser Humano se faz presente. Na página 83 Ivone situa bem a questão quando cita o Cardeal Alimonda e acaba concluindo que: A amorevolezza é o amor demonstrado, por isso amor afetivo e efetivo, confirmado pelos fatos, perceptível e percebido.

Por que estou partindo desse ponto para comentar o trabalho de Ivone?

Na verdade, João Bosco de forma profética anuncia no século XIX algo que somente viria a ocorrer no século seguinte à sua morte, ou seja, a consciência do Ser Humano da vivência do Amor!

Sim, muito embora a Tradição Cristã enfatizasse que ‘Deus é Amor’ e o Homem Sua Imagem e Semelhança’ é somente a partir de João Bosco no século XIX que tal realidade é retomada, voltada para a Educação naquele momento. Ocorre que a amorevolezza hoje traz uma dimensão que transcende a Educação. Sim daquilo que Ivone traz a partir do texto poético da página 90 nos conduz a uma visão ilimitada de tal realidade. Sim afirma Ivone:

“Conexões e amor...; conectar é criar..., é compadecer: mistério do transformar... e surge a Vida. Vida que sabe que fala que desvela... E tudo entra no ritmo da perene transformação, da infatigável pesquisa da compreensão, de encontrar e reencontrar relações, conexões. Também o educador se encontra dentro deste ritmo, juntamente com o educando, na relação com o saber. E também esta relação pressupõe a relação consigo mesmo”.

Esta conclusão de Ivone traz o sentido profundo da amorevolezza hoje ‘nascendo’ no Caminho da Humanidade. Foi a partir da conscencialização apontada por Chardin em seu: Fenômeno Humano, que aconteceu após percorrermos longamente o Caminho da Análise a chegada à Luminosa Síntese: O Ponto Ômega como mencionou Teilhard de Chardin... (página 300 de sua obra Fenômeno Humano).

Por que trago esta reflexão? Porque o sonho de Ivone significa exatamente tal desvelamento... Sim, na página 183 quando fala de currículo ou 184 de avaliação vamos sentir exatamente a superação do longo caminho da análise percorrido pela “escola bancária” como definido por Freire..

Na página 185 é o ‘Amor’ propriamente dito presente na sala de aula quando citando João Bosco, transcreve: “Os jovens não só devem ser amados, mas também devem sentir que são amados”.

Esta percepção de Ivone contida na expressão de João Bosco a leva a afirmar na mesma página: “Evidencio que a espiritualidade tem diversas conotações e todas elas importantes para a construção da maturidade do educador que reflete por sua vez num amor libertador aos educandos”.

Tal afirmação de Ivone vem de encontro àquilo que Jung chamava de processo de individuação que significa o encontro do ‘ego com o self, ou seja, a integração da espiritualidade na vivência egóica do ser humano. Nesse momento é que ‘nasce’ verdadeiramente a amorevolezza, ou seja, o surgir da consciência da espiritualidade

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que conduzirá seguramente a um efeito ‘libertador’ como afirma Ivone. Aliás, na página 186 está afirmado que: “A espiritualidade vivida como forma de autoconhecimento, de busca de sentido do sentido, de invocação é um tesouro que, como afirma Oliveira, temos guardado em um vaso de barro”.

‘Vaso de barro’ é uma metáfora que indica o ‘inconsciente’ referido por Jung como possuindo a presença de um self ainda ignorado...

Não tenho dúvida que este é o ponto nuclear da Educação nesse momento e é o sonho que considero ilimitado de Ivone: o autoconhecimento como condição do despertar da espiritualidade libertadora! Não é outro o sentido da longa transcrição da página 191 de obra de Ivani Fazenda, trazida por Japiassu e que vai concluir que essa nova Educação vai significar ‘Fazer História!’

É também o que a própria Ivone vai afirma na página 193:

...Percebem que a educação para os valores humanos transforma o ato de educar interdisciplinarmente em possibilidade para a realização da pessoa humana na conquista da paz, da liberdade criativa e da busca da perfeição, permitindo assim a síntese cultural e espiritual da humanidade...

Curioso que essa liberdade referida por Ivone é mesmo fruto do Amor, pois um Pai pode exigir tudo do filho, menos Amor... Sim o Amor somente poderá existir com o exercício de um verdadeiro ‘querer’ humano: ninguém pode ser ‘obrigado a amar...

Assim o mistério da liberdade do ser humano será sempre fruto de um processo de autoconhecimento, com a percepção de um self ‘amoroso’ no ’vaso de barro’ como referido na citação de Ivone... Este o momento de síntese referido por Chardin e que torna ilimitado o sonho de Ivone!

Para finalizar minhas observações vou transcrever trecho de um depoimento de aluna presente na página 73 de meu livro “Renascimento do Sagrado na Educação” e que reflete o surgimento da amorevolezza no processo educativo:

...quando e como saber dizer palavras e frases tão simples como: sim, não, seja bem vindo e não sei veio a melhor parte da aula, onde através de uma simples estratégia , pude emocionar-me e arrepiar-me inteira, através de pequenos e simples olhares, gestos e palavras, causando uma grande confraternização de toda a classe... Quando cheguei em casa, abracei e beijei a minha família de um modo completamente diferente , como eu jamais tinha feito antes e o simples fato de olhar nos olhos e enfrentar os obstáculos com todas as forças, sem, desistir aquela coragem que eu tanto precisava, e tornou-se tudo mais fácil e claro. (T.F. Pedagogia- PUCSP)

Desnecessário qualquer comentário...

Este trabalho comportaria infindas divagações. Fico por aqui não só cumprimentando a autora do trabalho como minha alegria em participar de uma banca plena de amorevolezza...

Ruy Cezar do Espírito Santo

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ESPAÇO ABERTO

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1 COMO ESTRELAS NA TERRA, TODA CRIANÇA É ESPECIAL12.

Monica Vieira de Araujo Franco13

Preguiça, má vontade, falta de atenção, cabeça na lua, esses são alguns aspectos ressaltados às crianças que tem dislexia; um rótulo que se dá sem que os pais e professores investiguem o ‘problema’ que acontece no processo do ensino-aprendizagem o qual inicia na tenra idade, entretanto, será revelado no momento da leitura e da escrita dessas crianças.

O filme nos revela o mundo conturbado e ao mesmo tempo maravilhoso do disléxico que vê o tudo com os outros olhos, o sentir, tocar, experimentar para depois compreender, os seus sentidos estão aflorados, porém a forma de demonstrá-los ao mundo do alfabeto o torna incompreendido.

De um lado letras que dançam, números invertidos, palavras espelhadas, do outro lado imaginação fértil e criativa, imagens que pulsam a cada desenho, revelando assim, um mundo interno cheio de riquezas, possibilidades, uma leitura do mundo através de outras formas, mais significativas ao que chamamos de aprendizagem. Esta está relacionada com todas as maneiras de expressar o que conseguimos abstrair de tudo que vemos, sentimos, temos contato, passando posteriormente, para a grafia, para a comunicação universal em que as palavras são interpretadas por muitos, nos tornando aceitos e compreendidos pela sociedade.

A dificuldade de aprender é revelada em situações simples como: não conseguir amarrar os cadarços dos sapatos, não percebe a lateralidade, não mantém a concentração, não há temporalidade; o pensamento está a ‘todo vapor’, mas a formação da cognição necessita de todos esses aspectos positivamente, os quais terão que ser estimulados diariamente pelo professor, sendo este o seu mediador entre a imaginação e a realidade do aluno.

Quando há o respeito, a dedicação, o amor e a persistência, há muitas possibilidades, pois quem quer encontra meios e quem não quer encontra desculpas; e foi através da vivência e da fé no outro, que o professor de arte demonstrou um ‘olhar’ do possível ao aluno com o mesmo problema que ele enfrentou na sua infância.

A Dislexia é algo difícil de diagnosticar, porém, sempre existiu e o professor foi sábio e audacioso em auxiliar o aluno valorizando o que ele sabia fazer, os desenhos eram códigos que ligavam sua mente ao mundo acadêmico, no qual o professor soube, com muita paciência e disponibilidade, extrair o que havia de melhor em seu ser, a capacidade do aluno através da interpretação e ajuda incessante daquele que um dia superou o desafio de transformar a Dislexia em algo que as pessoas pudessem acessar sem o pré-conceito, e é o Professor, o mestre dessas possibilidades; quando acreditamos em nós abrimos novos caminhos para que o outro encontre motivação para continuar aprendendo, pois a educação se faz a

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Produção e Direção: Aamir Khan. 13

MONICA VIEIRA DE ARAUJO FRANCO: Psicóloga. Integrante do INTERESPE e IN M TRA. Contato: [email protected]

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medida que os nossos horizontes se ampliam quando há a junção da mente, corpo e alma em prol do ser humano.

“Tudo é uma questão de manter a mente certa, a espinha ereta e o coração tranqüilo. A toda hora a todo momento de dentro pra fora de fora pra dentro”. (Música: Serra do luar – Cantora: Leila Pinheiro)

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2 CRESCENDO COM AS LIÇÕES DA ESCOLA BÁSICA.

Erika Regina Mozena14

Desde que eu me entendo por gente eu me vejo dentro da escola e muito feliz. Sempre gostei muito de aprender. A escola era a minha vida. Ficava triste quando as férias se aproximavam. Quando chovia, minha mãe não me deixava ir à escola, pois era longe e eu ia a pé. Nessas ocasiões, então, eu acordava cedinho, procurava não fazer barulho para não acordá-la, não tomava café e saia escondido com medo de ter que ficar em casa.

Sempre admirei o papel do professor e me sentia feliz em dividir os meus conhecimentos com os outros. Minha brincadeira predileta era brincar de escolinha, sendo que eu queria ser a professora. O chato é que ninguém queria brincar comigo.

Assim, desde criança sabia qual seria a minha profissão. Minha dúvida era com relação à série em que eu lecionaria, pois quando estava no primeiro ano eu queria dar aula no primeiro ano, quando passei para o segundo, já era para essa série que eu queria dar aula, e assim sucessivamente.

Um fato engraçado é que eu não me lembro de ficar em casa estudando nos primeiros anos escolares e muito menos se eu tirava boas notas. Apenas duas cenas com relação a isso não me saem da cabeça, uma muito negativa e a outra positiva para mim.

Começarei pela experiência ruim. Eu estava na quarta série e as aulas haviam terminado para quem ‘passou de ano’ e só restava a recuperação para os outros alunos. Como eu abominava férias, pois só ficava em casa, resolvi ir à recuperação. A professora, ‘Dona’ Ivani, gritou comigo na frente de todos os alunos, dizendo que ali eu só estaria atrapalhando, pois já havia passado de ano, e me disse para não aparecer mais. Fiquei profundamente chateada e hoje vejo com tristeza o quanto essa professora perdeu uma oportunidade, pois eu podia de diversas formas auxiliar, tanto a ela, quando aos outros alunos.

A outra cena, que só foi boa para mim, aconteceu no meu primeiro ano escolar. A professora, ‘Dona’ Penha, estava dando uma bronca em um aluno (morador da favela ao lado, diga-se de passagem), dizendo que ele era preguiçoso e não estudava. De repente, ela virou-se para mim e disse ao menino: ‘por que você acha

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ERIKA REGINA MOZENA: é pesquisadora colaboradora no Instituto de Física da UFRGS, onde desenvolve pós-doutorado sobre interdisciplinaridade no ensino de ciências. Possui graduação em Física (Bacharelado e Licenciatura) pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp (1998), mestrado em Ensino de Ciências (Modalidade Física) pela Universidade de São Paulo - USP (2003) e doutorado em Ensino de Física (2014) pela UFRGS. Atuou como formadora de profissionais da educação no projeto "Mão na Massa" na Estação Ciência em São Paulo, além de vários cursos de capacitação de professores pelas secretarias estaduais e municipais de São Paulo. Foi professora de

física de escolas estaduais e particulares do Estado de São Paulo. CV:

http://lattes.cnpq.br/0603505701505775 Contato: [email protected]

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que a Erika tira notas tão boas? Eu não vou nem perguntar a ela, pois tenho certeza que ela chega em casa todo dia e estuda a lição que a gente acabou de aprender’

Aquilo ‘caiu’ sobre mim como uma bomba! Eu não fazia nada daquilo que ela disse! Fiquei até certo ponto assustada e preocupada, uma vez que não estava fazendo o que a professora queria. Mas fiquei muito orgulhosa e, naquele dia, logo que cheguei em casa fui correndo estudar a lição do dia, que eu jamais vou me esquecer, a lição da vaca: “va, ve, vi, vo, vu”!

Antes de me tornar professora, esses episódios marcavam minhas lembranças como fatos corriqueiros, mas depois eu passei a vê-los de forma diferente. Embora a primeira cena tenha me deixado muito chateada, eu acreditava em mim e não me deixei abalar. Em contrapartida, o menino da segunda cena não ‘passou de ano’, e hoje eu penso se ele ainda mora na favela, e o que aconteceu com a sua autoestima depois deste e de uma série de episódios semelhantes que, possivelmente, a escola deve lhe ter proporcionado. Eu não precisava do elogio e o menino, com certeza, também não precisava da comparação.

Hoje, depois de ter abandonado o magistério há um bom tempo e estar me dedicando à pesquisa, enxergo esses episódios sob nova ótica. Não posso julgar as professoras aqui referidas. Ser professor não é só conhecer os conteúdos e saber ensinar. Ser professor é improvisar em meio há muitos condicionantes e demandas, sendo a mais preciosa delas a interação professor-aluno e a tentativa de se estabelecer um ambiente propício ao aprendizado. E como isso é difícil! E o professor acaba fazendo o que pode e como pode.

Não posso julgar, mas posso aprender com esses episódios! E ao me transformar interiormente, consigo cada vez mais contribuir com minha reflexão e os meus saberes docentes para um mundo mais respeitoso e dialógico. Um ideal ainda distante, mas que sempre começa dentro nós!

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3 LINGUAGEM POÉTICA.

Ruy Cezar do Espírito Santo15

O grande desafio da linguagem poética é que ela não se limita às fontes racionais... A linguagem poética vai buscar no ‘mais dentro’ do autor uma inspiração, que transcende a pura racionalidade.

Um exemplo que deixa clara esta questão é quando num exercício proposto em sala de aula a respeito de um filme exibido, solicito ao aluno que faça uma “poesia” sobre o conteúdo daquilo que foi assistido. É impressionante como as diferenças individuais, entre cada aluno, se fazem presentes, diferentemente, de quando se pede um ‘resumo’ daquilo que foi visto.

Fica evidente que a fonte da criatividade ultrapassa os limites da razão buscando naquilo que Goswami chama da ‘consciência cósmica’ a fonte de seu trabalho.

Minha referência aqui a Amit Goswami, diz respeito a sua obra: O Ativista Quântico, que cuida do vínculo entre a ciência e a espiritualidade. Deixa claro o autor como vivemos imersos num universo de um ‘fazer’, sem criatividade, pela ignorância de nossa consciência maior onde a espiritualidade tem sua presença.

Assim, uma linguagem poética terá suas raízes numa consciência ‘desperta, que vai nos remeter ao trabalho profético de Paulo Freire, quando afirmava a necessidade de ‘conscientizar antes de alfabetizar’... Tal conscientização significará o ‘acordar’ para uma linguagem poética, como está aqui sendo refletido.

A linguagem poética traz um traço significativo oriundo da consciência da espiritualidade, que é a ‘beleza’. Sim o Ser Humano é o único ser vivo conhecido capaz de produzir uma Monalisa ou uma Sinfonia, ou ainda, um texto poético... Uma das características de tais realizações é exatamente gerar a ‘beleza’...

Importante consignar aqui a diferença entre um texto estritamente racional e um texto que envolva uma linguagem poética. O estritamente racional normalmente se faz presente num texto científico ou numa tese acadêmica. Não há nada de ‘errado’ nisto, porém ao conscientizar-se a pessoa de sua dimensão espiritual o traço poético, que envolve a beleza se fará presente... O aluno que foi conscientizado antes de receber os conteúdos saberá tornar presente em seus trabalhos a

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RUY CEZAR DO ESPÍRITO SANTO: Professor Titular da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUCSP e professor titular da Fundação Armando Álvares Penteado (FAP) e professor na UNIMESP, no programa latu-sensu denominado "Docência do Ensino Superior". Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade – INPERESPE, e Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade- GEPI do Programa de Pós Graduação: Educação/Currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP. Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/1998). Mestre em Educação/Currículo pela PUCSP (1991). Graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP/1957). CV: http://lattes.cnpq.br/7857468452892458; E-mail: [email protected]

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linguagem poética, que além de trazer a ‘beleza’ trará também sinais de ‘alegria’e ‘amor’...

Não se tratará de escrever uma ‘comédia’ ou uma ‘poesia’ ou mesmo uma ‘declaração de amor’... Na verdade será um ‘retrato’ da totalidade de Alguém que acordou para o autoconhecimento, que como dizia Sócrates é o princípio de toda a sabedoria...

Sim, aquele que ‘ignora’ a si mesmo ‘não saberá o que está fazendo’... Especialmente a nível de uma ‘criação’ pessoal... Ele irá preparar um texto ‘igual aos que os outros fazem’ na sua ‘formalidade’... Não tenho dúvida, que é uma das razões de tantas teses acadêmicas ficarem eternamente nas prateleiras...

A criatividade do Ser Humano trará sempre um traço único no trabalho que o distinguirá de outros já realizados! Estamos diante daquilo que Jean Yves Leloup chama de ‘Normose- A Patologia da Normalidade’... Sim, com tal título Leloup escreveu uma obra de grande relevância para o tema que estamos tratando. Há uma ausência da consciência criativa, como referido, que levará cada um a buscar um “modelo” já existente para se ‘enquadrar’ nele... Como afirmei acima se trata da ausência absoluta da criatividade, que será sempre fruto da consciência de si mesmo... O saber de sua singularidade.

Isto posto, temos que a linguagem poética implicará sempre em algo ‘novo’ e ‘único’, porque traços da personalidade integral do autor se farão presentes, traduzidos, como já referido, na beleza, na alegria e no amor.

Será exatamente isto que trará um ‘encantamento’ para um romance, para um artigo e mesmo para uma tese de doutorado.

Quando oriento trabalhos de finalização de curso com meus alunos insisto que antes de qualquer pesquisa de autores e mesmo de ‘preparar’ um projeto, seja resgatada uma experiência existencial, que deu origem ao ‘tema’ que ele pretende desenvolver... É um convite a tomar ‘consciência’ do porquê daquele tema para seu trabalho... Sempre afirmo que será muito mais simples uma apresentação oral de um trabalho quando ele parte de um acontecimento existencial! O aluno irá resgatar sua própria história! A ‘metodologia’, a busca de autores, enfim a fundamentação do trabalho acontecerá num ritmo muito mais simples do que partir de uma ideia abstrata estritamente racional...

Quero aqui deixar claro, dentro dos limites deste artigo, a relevância do que Freire chamava de conscientizar antes de alfabetizar... No nosso caso é conscientizar antes de “produzir uma obra”...

Um texto poético não será apenas uma ‘poesia’, mas sim, trazer a presença da originalidade do autor na forma como o tema será abordado.

Assim não se tratará de uma linguagem ‘exclusiva’ de alguns autores, mas, de um convite para quilo que Goswami, já acima mencionado, chamava de vivermos o ‘Ser e Fazer’... Nunca nos limitarmos a um simples fazer...

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MOMENTO DE SABEDORIA

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO DIVULGADA PELA

PARÓQUIA IMACULADA CONCEIÇÃO.

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LANÇAMENTOS DOS LIVROS

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Nome do livro: A GRANDE TRANSFORMAÇÃO.

Autor: ESPÍRITO SANTO, Ruy Cezar.

Editora: CRV.

São Paulo – São Paulo.

Ano: 2015.

SINOPSE: Conhece-te a ti mesmo. A frase — inscrita há mais de dois milênios no

portal do oráculo de Apolo, em Delfos — entrou para a história. Mas será que entrou em todas as salas de aula? A essa tarefa se dedica Ruy Cezar do Espírito Santo, professor da disciplina Autoconhecimento na Formação do Educador, do curso de Pedagogia da PUC/SP. Herdeiro do filósofo, Ruy Cezar também questiona a forma como o conhecimento é apresentado aos alunos. Ele contesta a fragmentação do saber e propõe, em vez do ‘conteudismo’, interdisciplinaridade. "O educador deve perceber que sua disciplina é um pretexto para ligar a sala de aula ao universo, ao saber maior." No lugar da avaliação quantitativa, sugere o diálogo. Em dinâmicas de grupo, os alunos podem encontrar o artista que ‘não sabem’ ter dentro de si. Ruy compara isso ao despertar da Bela Adormecida.

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Nome do livro: INTERDISCIPLINARIDADE NA PESQUISA CIENTÍFICA.

Autores: FAZENDA, Ivani Catarina Arantes, TAVARES, Dirce Encarnacion e

GODOY, Herminia Prado.

Editora: Papirus.

Campinas – São Paulo.

Ano: 2015.

Sinopse: Trata-se de um livro que sistematizou os conhecimentos sobre a pesquisa metodológica sob o ponto de vista da Interdisciplinaridade. As bases para se proceder uma Pesquisa Interdisciplinar foram extraídas dos escritos, das aulas, dos depoimentos e palestras da Profa. Dra. Ivani Catarina Arantes Fazenda e de nossas práticas enquanto professoras da Disciplina de Metodologia Científica, da orientação de alunos para a construção de seus trabalhos de pesquisa e de nossa própria prática de pesquisadoras. Descreve as abordagens, os tipos, as técnicas, os instrumentos de pesquisa e como se proceder para a realização das análises dos dados. Pretende ser um instrumento para aqueles que desejam realizar suas pesquisas no campo das ciências humanas em que os dados são subjetivos e não podem coletados e analisados com base numa abordagem tradicional de pesquisa.

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DIRETRIZES E NORMAS DE SUBMISSÃO E REVISÃO

TÉCNICA PARA AUTORES E PARCERISTAS.

O Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na

Educação, teve seu início em 2005. É formado por uma equipe de profissionais

multidisciplinares, que estuda e respeita a diversidade de crenças. Sendo um

grupo Interdisciplinar, estuda o aprofundamento de questões ligadas ao processo do

Autoconhecimento e Espiritualidade dentro e fora da Escola. A linha central do

Grupo INTERESPE é aprofundar a temática Espiritualidade, em diferentes áreas de

conhecimento e nas práticas dos pesquisadores.

CATEGORIAS DE ARTIGOS. Serão publicados: Artigos Originais, Revisões, Atualizações, Resultados de Pesquisas, Resumo e resenhas de livros, Filmes, Relatos e/ou Sugestões de Práticas Interdisciplinares, Comunicações Breves, Depoimentos, Entrevistas, Cartas ao Editor, Notícias, Agenda. Artigos originais: são contribuições destinadas a divulgar resultados de pesquisa original inédita, que possam ser replicados e/ou generalizados. Devem ter a objetividade como princípio básico. O autor deve deixar claro quais as questões que pretende responder. O texto deve conter de 2.000 a 4.000 palavras, excluindo tabelas, figuras e referências. A estrutura dos artigos é a convencional: introdução, métodos, resultados e discussão. A introdução deve ser curta, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento que serão abordados no artigo. Os métodos empregados, a população estudada, a fonte de dados e critérios de seleção, dentre outros, devem ser descritos de forma compreensiva e completa, mas sem prolixidade. A seção de resultados deve se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir interpretações/comparações. O texto deve ser complementar e não repetir o que está descrito em tabelas e figuras. Deve ser separado da discussão. A discussão deve começar apreciando as limitações do estudo, seguida da comparação com a literatura e da interpretação dos autores, extraindo as conclusões e indicando os caminhos para novas pesquisas. Revisões: Avaliação crítica sistematizada da literatura sobre determinado assunto devendo conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão é de no máximo 5.000 palavras. Atualizações: São trabalhos descritivos e interpretativos baseados na literatura recente sobre a situação global em que se encontra determinado assunto investigativo. Sua extensão deve ser de no máximo 3.000 palavras. Notas e informações: São relatos curtos decorrentes de estudos originais ou avaliativos. Podem incluir também notas preliminares de pesquisa. Sua extensão deve ser de 800 a 1.600 palavras.

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Cartas ao editor: Inclui cartas que visam a discutir artigos recentes publicados na Revista ou a relatar pesquisas originais ou achados científicos significativos. Não devem exceder a 600 palavras. Observação: Trabalhos que ultrapassem as extensões acima estipuladas serão objeto de análise por parte do Conselho Editorial.

AUTORIA. O conceito de autoria está baseado na contribuição substancial de cada uma das pessoas listadas como autores, no que se refere sobretudo à concepção do projeto de pesquisa, análise e interpretação dos dados, redação e revisão crítica.

PREPARO DOS ARTIGOS. Os artigos devem ser digitados em letra arial, corpo 12, no Word, plataforma PC, incluindo página de identificação, resumos, referências, tabelas e numeração das páginas. Sugerimos que sejam submetidos à revisão do Português por profissional competente antes de ser encaminhado à publicação. Os artigos devem ser encaminhados ao Portal de Revistas Digitais da PUCSP: http://revistas.pucsp.br/index.php/interdisciplinaridade

PROCESSO DE ESCOLHA DOS ARTIGOS. Os editores encaminharão os artigos para os pareceristas que procederão a análise obedecendo as normas da ABNT para a avaliação do material recebido e responderão ao autor do artigo avaliado de forma clara e objetiva no prazo máximo de 30 dias pelo Portal de Revistas Digitais da PUCSP: http://revistas.pucsp.br/index.php/interdisciplinaridade Artigos recusados, mas com possibilidade de reformulação, poderão retornar como novo trabalho e devem ser reapresentados no site do portal. Artigos aceitos sob condição serão retornados aos autores pelo site do portal para alterações necessárias e normatização solicitadas.

NORMAS DA ABNT UTILIZADAS NA ELABORAÇÃO DOS ARTIGOS. NBR 14724:2001 - Informação e documentação - Trabalhos acadêmicos - Apresentação. NBR 10520:2001 - Informação e documentação - Apresentação de citações em documentos.

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NBR 6022:2003 - Informação e documentação - Artigo em documentação periódica e científica impressa – Apresentação. NBR 6023:2002 - Informação e documentação- Referências- Elaboração. NBR 6024:2003 - Informação e documentação- Numeração progressiva das seções de um documento. NBR 6028:2002 - Informação e documentação- Resumos - Apresentação: noções básicas. NBR 12256:1992 - Apresentação de originais.

OBSERVAÇÕES GERAIS.

1. As pesquisas que envolvam seres humanos devem mencionar a devida aprovação

prévia pelo Comitê de ética da instituição de origem.

2. Caberá aos autores a total responsabilidade sobre o conteúdo dos artigos publicados.

3. Os artigos devem conter: nomes completos dos autores com suas titulações acadêmicas, instituição, departamento e disciplina a que pertencem, endereço para correspondência e, telefones, palavras-chaves em português e em inglês (NBR 12256 - 1992), resumo do artigo, (no máximo 250 palavras) em português e em inglês (NBR 6028 - 2002), e referências (NBR 6023-2002).

4. As tabelas, gráficos, figuras, desenhos feitos por profissionais e fotografias que permitam boa reprodução, devem ser citados no texto em ordem cronológica e, devem ser enviadas com título, legenda e, respectiva numeração. As ilustrações escanerizadas deverão ser enviadas na forma original e no formato .tif ou .jpg e ter no mínimo 270 dpi. As fotografias não devem permitir a identificação dos sujeitos, preservando assim o anonimato. Caso seja impossível, deve-se incluir uma permissão do sujeito, por escrito, para a publicação de suas fotografias. Deve-se também incluir a permissão por escrito para reproduzir figuras já publicadas, constando um agradecimento para a fonte original (NBR 12256 - 1992).