Historia Da Africa pesquisa

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Historia Da Africa pesquisa

Citation preview

  • LICENCIATURA EM HISTRIA

    HISTRIA DA FRICA

  • EaD

    2

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    EaD

    LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICALICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    PRESIDENTE DA

    REPBLICA

    Dilma Roussef

    MINISTRO DA EDUCAO

    Fernando Haddad

    SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

    PRESIDENTE DA CAPES

    Jorge Guimares

    DIRETOR DE EDUCAO A DISTNCIA DA CAPES

    Joo Teatini

    GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

    GOVERNADOR

    Jaques Wagner

    VICE-GOVERNADOR

    Otto Roberto Mendona de Alencar

    SECRETRIO DA EDUCAO

    Osvaldo Barreto Filho

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

    REITOR

    Lourisvaldo Valentim da Silva

    VICE-REITORA

    Adriana do Santos Marmori Lima

    PR-REITOR DE ENSINO DE GRADUAO

    Jos Bites de Carvalho

    COORDENADOR UAB/UNEB

    Silvar Ferreira Ribeiro

    COORDENADOR UAB/UNEB ADJUNTO

    Daniel de Cerqueira Ges

    EaD

  • RAPHAEL RODRIGUES VIEIRA FILHO

    LICENCIATURA EM HISTRIA

    HISTRIA DA FRICA

    EDUNEBSalvador

    2012

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP).

    Catalogao na Fonte BIBLIOTECA DA COORDENAO UAB / UNEB

    VIEIRA FILHO, Raphael Rodrigues V657 Histria da frica / Raphael Rodrigues Vieira Filho. Salvador: COORDENAO UAB / UNEB, 2012. 76p. ISBN: 978-85-7887-108-6

    1. Histria 2. Historia da frica 3. Continente Africano 4. Civilizao Africana. I. Raphael Rodrigues Vieira Filho II. Ttulo. III. Universidade Aberta do Brasil. IV. COORDENAO UAB / UNEB

    CDD: 960

    UNEB 2012

    Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida ou gravada, por qualquer meio eletrnico, mecnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, da Coordenao UAB/UNEB.

    Depsito Legal na Biblioteca Nacional

    Impresso no Brasil 2012

    COLABORADORES

    SUPERVISO DE MATERIAL DIDTICO

    Andra Santos Tanure

    Flvia Souza dos Santos

    Tatiane Nogueira Nunes

    PROJETO GRFICO e CRIAO

    Joo Victor Souza Dourado

    Carla Cristiani Honorato de Souza

    REVISORES

    Carla Honorato

    Flvia Goulart Mota Garcia Rosa

    Teresinha Quadros

    NORMALIZAO

    Susane Barros

    DIAGRAMAO

    Teodomiro Arajo

    EDITORA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    DIRETORAMaria Nadja Nunes Bittencourt

    COORDENADOR EITORIALRicardo Baroud

    O contedo deste Material Didtico de inteira responsabilidade do(s)/da(s) autores (as), por cuja criao assume(m) ampla e total responsabilidade quanto a titularidade, originalidade do contedo intelectual produzido, uso de citaes de obras consultadas, referncias, imagens e outros elementos

    que faam parte desta publicao.

    Esta Editora filiada

    Editora da Universidade do Estado da Bahia - EDUNEB.

    Rua Silveira Martins, 2555 - Cabula

    41150-000 - Salvador - BA

    www.eduneb.uneb.br

    [email protected] Tel. + 55 71 3117-5342

    COORDENAO UAB/UNEB

  • 5LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    EaDUNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Caro (a) Cursista.

    Estamos comeando uma nova etapa de trabalho e para auxili-lo no desenvolvimento da sua aprendizagem estruturamos este material didtico que atender ao Curso de Licenciatura em Histria na modalidade de educao distncia (EaD).O componente curricular que agora lhe apresentamos foi preparado por profissionais habilitados, especialistas da rea, pesquisadores, docentes que tiveram a preocupao em alinhar conhecimento terico-prtico de maneira contextualizada, fazendo uso de uma linguagem motivacional, capaz de aprofundar o conhecimento prvio dos envolvidos com a disciplina em questo. Cabe salientar, porm, que esse no deve ser o nico material a ser utilizado na disciplina, alm dele, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), as atividades propostas pelo Professor Formador e pelo Tutor, as atividades complementares, os horrios destinados aos estudos individuais, tudo isso somado compe os estudos relacionados a EaD. importante tambm que vocs estejam sempre atentos as caixas de dilogos e cones especficos que aparecem durante todo o texto apresentando informaes complementares ao contedo. A idia mediar junto ao leitor, uma forma de dialogar questes para o aprofundamento dos assuntos, a fim de que o mesmo se torne interlocutor ativo desse material. So objetivos dos cones em destaque:

    convida o leitor a conhecer outros aspectos daquele tema/contedo. So curiosidades ou informaes relevantes que podem ser associadas discusso proposta.

    apresenta notas, textos para aprofundamento de assuntos diversos e desenvolvimento da argumentao, conceitos, fatos, biografias, enfim, elementos que o auxiliam a compreender melhor o contedo abordado.

    neste campo, voc encontrar sugestes de livros, sites, vdeos. A partir deles, voc poder aprofundar seu estudo, conhecer melhor determinadas perspectivas tericas ou outros olhares e interpretaes sobre determinado tema.

    consiste num conjunto de atividades para voc realizar autonomamente em seu processo de autoestudo. Estas atividades podem (ou no) ser aproveitadas pelo professor-formador como instrumentos de avaliao, mas o objetivo principal o de provoc-lo, desafi-lo em seu processo de autoaprendizagem.

    Sua postura ser essencial para o aproveitamento completo desta disciplina. Contamos com seu empenho e entusiasmo para juntos desenvolvermos uma prtica pedaggica significativa.

    Setor de Material DidticoCoordenao UAB/UNEB

    EaDUNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

  • EaD

    6 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIAEaD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    REA DE AMBIENTAO

    Registros de Identi cao Pessoal

    Nome:Telefones: E-mail:Residncia:Municpio/Plo do curso EaD:

    Registros de Identi cao do Curso

    Endereo de acesso sala de aula virtual: Perodo de execuo desta disciplina: de_______ _____/ ______/______ Quem so os orientadores desta disciplina?

    Categoria Responsvel por Nome E-mail

    Prof. Autor Elaborar o mdulo impresso

    Prof. Formador Planejar e organizar a sala vitual

    Tutor a distncia Mediar os estudos no ambiente

    Tutor presencial Mediar os encontros presenciais

    Coord. de Plo Apoiar as aes do curso no local

    Registros de Identi cao da Turma

    Nome Onde encontrar Telefones E-mail

  • 7LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    EaDUNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Apresentao da disciplina

    Ultimamente, voc deve ter ouvido falar muito na frica, nos interesses polticos e comerciais despertados no governo e nas empresas brasileiras por este continente. Dependendo de onde voc mora, capaz at de ter conhecidos trabalhando na frica.

    Recentemente tivemos uma copa do mundo de futebol na frica do Sul e isso exps ainda mais o continente aos olhos de todo o globo.

    O presidente Luiz Incio Lula da Silva elegeu as relaes com o continente africano como prioritrio para as aes diplo-mticas. Alm disso, uma das primeiras leis aprovados no seu primeiro mandato foi a Lei n. 10.639/2003, que obriga todos os nveis educacionais, entre outras coisas, a incluir em seus currculos o estudo da Histria e Cultura da frica e de seus descendentes.

    A humanidade comeou no continente africano, portanto do ponto de vista cronolgico o mais intenso de todos em relao a histria.

    A frica um continente rico em beleza e em recursos naturais e humanos.Sua diversidade de povos e culturas milenares so surpreendente e a diversidade religiosa fascinante.

    Muulmanos, cristos das mais variadas denominaes, e adeptos das religies tradicionais africanas convivem, na mesma cidade, no mesmo bairro, e s vezes na mesma famlia.

    Ento, como um continente to grande, com tanta histria, com uma variedade de povos to grande, pode ser to pobre do ponto de vista econmico?

    Esse um dos motivos que torna a Histria do continente africano instigante. Porm, durante longos perodos a frica ficou esquecida, assim como sua histria e todo seu legado de ideias, filosofia, religiosidade e desenvolvimento tecnolgico.

    Depois de um longo perodo de descaso, recentemente, retomou-se o interesse pela Histria da frica principalmente para ns brasileiros.

    Os mercados africanos so de grande interesse para as potncias mundiais, no s as maiores economias mundiais, mas tambm as potncias em desenvolvimento o chamado BRIC (Brasil, Rssia, ndia, China) e os grandes recursos naturais do continente atraem cada vez mais empresas para explor-los.

    Diversos programas de ps-graduao tm elaborado e desenvolvido projetos sobre o continente e atividades envolvendo pesquisadores africanos e brasileiros tomam vulto nas universidades e centros de pesquisa.

    Projetos nas reas de desenvolvimento regional e local, educacionais, Biodiversidade, Sociologia, Antropologia, Lngua e Literatura, Sade e tambm na rea de Histria, cada vez mais atraem pesquisadores brasileiros para os diversos pases africanos.

    Essa disciplina reflexo desse novo interesse sobre o continente africano, e tambm, visa atender a Lei n. 10.639/2003. Ela visa o incio de um instigante caminho rumo apreenso do conhecimento sobre o continente africano, suas civilizaes, histrias, sua diversidade e beleza.

    Este mdulo apenas uma forma de inseri-lo em alguns aspectos da Histria da frica e instig-lo a buscar temas e as-suntos em outras fontes para enriquecer seus conhecimentos sobre esse continente lindo e com tantas nuances em sua diversidade de culturas e histrias.

    Esperamos que voc, ao final do mdulo, aproveite os instrumentos aqui propostos e busque temas para discusso sobre a Histria da frica e se sinta estimulado a fazer novas viagens, mesmo que virtuais, ao continente africano.

    Bons estudos.

    O Autor

  • EaD

    8 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIAEaD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Anotaes

  • 9LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    EaDUNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    SUMARIOCAPTULO 1 - O CONTINENTE AFRICANO 11

    frica: continuidades e descontinuidades 16

    As matrizes da educao brasileira e um pequeno histrico das reivindicaes dos Movimentos Sociais at a promulgao da lei 10.639/2003

    20

    CAPTULO 2 - O QUE OS EUROPEUS CONHECIAM DA FRICA? 25

    As diversas fontes para a Histria do continente africano na antiguidade 27Documentos entre os sculos VI a.C. e II a.C. 27Documentos do imprio romano sculo I a.C. at o sculo IV d.C. 29Documentos escritos em rabe 30

    CAPTULO 3 - AS GRANDES CIVILIZAES AFRICANAS NA ANTIGUIDADE 33

    De que cor eram os egpcios? 35Kush e Axum 38

    Kush 38Axum 40

    CAPTULO 4 - FRICA AO SUL DO SAARA: A IMPORTNCIA DA RELIGIO E DO COMRCIO

    45

    Muitos povos andavam por muitos caminhos 50Ghana, Mali e Songhai 52

    Ghana 52Mali 55Songhai 57

    CAPTULO 5 - O TRFICO ESCRAVO NO ATLNTICO SUL 61

    A escravido na frica 63A montagem do trfico no Atlntico Sul 66

    Costa do Ouro e Costa dos Escravos 69Reino do Kongo e Ndongo 70Costa Oriental 72

    REFERNCIAS 74

  • EaD

    10 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIAEaD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Anotaes

  • EaDUNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    CAPTULO 1O Continente africano

  • EaD

    12 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIAEaD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Anotaes

  • EaD

    13LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Vamos comear falando um pouco do continente africano e de seus dados geogrficos, importncia geoestratgica e para a Histria, afinal a humanidade veio de l.

    Ele ocupa cerca de 30 milhes de quilmetros qua-drados, uma rea de 20,3% da terra firme do globo ter-restre. Esses nmeros o colocam como o terceiro maior continente em extenso. o segundo mais populoso, com 900 milhes de pessoas, perdendo apenas para a sia. Falando mais de 1000 lnguas diferentes, divididas em pelo menos quatro famlias lingusticas distintas. Alm dessa diversidade de lnguas faladas, na frica se desenvolveram diversas formas de escrita.

    Os hierglifos egpcios, uma das formas mais antigas da humanidade, no so os nicos, outros sistemas [...] como o merodico, o nbio antigo, o copta, o tifinagh, o geez e o bamun. Ideogramas estilizados nsidibi, inventado pelos ejagham da Nigria e do Camares e muitas outras tipologias de sinais grficos [...], foram desenvolvidas e utilizadas em diferentes regies afri-canas, alm dessas ainda temos diversas lnguas que foram [...] vertidas para o alfabeto rabe ou adaptaes do mesmo [...] (SERRANO; WALDMAN, 2007, p. 93-95) (grifo dos autores).

    Porque se diz que a frica marcada pela oralidade, quando podemos enumerar tantas formas escritas?A quem interessa esconder essa diversidade de escritas desenvolvidas no continente africano?

    Geograficamente o continente africano est limitado pelo oceano Atlntico oeste; ao norte pelo Mediter-rneo, o que o torna muito prximo da Europa, sendo separados no estreito de Gibraltar por menos de 15 qui-lmetros na menor distncia entre os dois continentes; a leste pelo oceano ndico e a noroeste se limita com a sia pelo Mar Vermelho, pela pennsula do Sinai e o Golfo de Aden. Sua vasta extenso territorial permite uma variedade climtica e de ecossistemas, diversidade onde os homens aprenderam a conviver, proporcionando, entre

    outros fatores, uma diversidade de culturas.Trs quartos do continente africano se encontram

    entre os trpicos de Capricrnio e de Cncer, portanto, nesta regio o clima quente e mido com pouca varia-o durante o ano e invernos secos. Dentro desta mesma regio, existe uma infinidade de microclimas,ocasionado pelo relevo acidentado do interior.

    Os desertos do Saara e Calaari, que se encontram no limite desta faixa o primeiro no Trpico de Cncer e o segundo no Trpico de Capricrnio , so exemplos des-sa diversidade, pois no apresentam chuvas regulares, os dias so quentes e secos e as noites frias, clima tpico de reas desertas tropicais ou em vias de desertificao como a nossa regio de caatinga. Alm deles, podemos tambm falar das vrias cadeias de montanhas com pi-cos que chegam mais de 5800 metros de altura, como o Quilimanjaro, que destoa completamente da paisagem do entorno, pois apresenta em todas as pocas do ano neve em seu cume. Alm disso, o clima na microrregio contendo cadeias de montanhas sofre as influncias da altitude apresentando temperaturas mais amenas.

    Procure imagens do Quilimanjaro, veja como ele imponente e como nossas ideias pr-concebidas do continente africano ficam abaladas com a imagem de um pico coberto de neve e animais, como elefantes e girafas, passado prximo a ele.

    Nos extremos nor te e sul do continente, existe a influncia do chamado clima mediterrnico com temperaturas mais amenas que no resto do continente e com invernos midos. Apesar de serem pequenas essas regies, elas tambm apresentam em seu interior interrupes por conta de acidentes geogrficos como os Atlas ao norte e a Cadeia do Cabo, ao sul.

    REGISTRE SUA IDEIA

  • EaD

    14 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Existe uma polmica geogrfica sobre uma poro de terras de no mais de 61.000 km2, a pennsula do Sinai, que liga a frica sia e em cuja regio foi construdo o Canal de Suez. A polmica se essa poro de terra, que pertence ao Egito, fica na frica ou na sia. Com a construo do canal de Suez em meados do sculo XIX, adotou-se como divisa entre os dois continentes esse marco artificial, porm para alguns estudiosos a polmica continua, considerando o golfo de Aqaba como marco divisor, portanto incluindo a pennsula na frica.Outra curiosidade que desde os tempos faranicos foram feitos canais de comunicao cortando o Saara com as guas do Rio Nilo e do Mar Vermelho, fazendo a conexo entre o Mediterrneo e o Mar Vermelho. Rica em petrleo, gs natural e o mais importante, em depsitos subterrneos de gua, essa regio foi disputada por Israel e Egito, ocasionando diversos conflitos, mas desde 1979 foi devolvido para o Egito como parte das negociaes conhecidas como Acordos de Camp David, de 1978.

    Os continentes africano, europeu e asitico esto muito prximos e unidos pelo Mediterrneo. Existem estudos sobre a Histria geolgica da terra colocando esses trs continentes e ainda mais as Amricas, Antr-tica e a Oceania unidos, ou seja, toda a poro de terras firme do globo formaria um nico e enorme continente, chamado Pangeia, banhado por apenas um oceano, o Pantalassa.

    Anote suas ideias:Essa ligao de todos os continentes, em perodo remoto, j nos remete s vrias formas de unio que deveriam tambm vigorar entre os seres humanos, mas no isso que acontece atualmente.Existe disseminado por todo o continente africano a ideia de solidariedade entre os membros do grupo, mesmo agora com o fenmeno da urbanizao quando um parente chega, ele recebido como um filho e permanece na casa o tempo que for necessrio, no se pensa em hotel. Pense e depois anote, de que forma o mundo poderia ser diferente se os vnculos entre os seres humanos fosse maior, e se, a humanidade fosse tratada como responsabilidade de todos os povos.

    Bom, deixamos esse questionamento para vocs pensarem e procurarem outros subsdios para o debate. Vamos, agora, nos concentrar no continente africano, suas continuidades e descontinuidades.

    Pesquise em um atlas, ou mesmo na internet, e tente localizar os continentes, mares e acidentes geogrficos que foram citados no texto e preencha o Mapa Mudo do Continente Africano abaixo, com legendas. Faa cpias antes, pois voc pode utiliz-lo para outras atividades.

  • EaD

    15LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Figura 1 Mapa Mudo do Continente Africano.

    Fonte: PACHECO, Felippe Jorge Kopanakis. Cartografia do Projeto ABA. CIEAA/Universidade Estadual de Goias. Disponvel em: . Acesso em: 20 out. 2010.

  • EaD

    16 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    frica: continuidades e descontinuidades

    Falar em continuidades, descontinuidades e frica pode remeter a diversos temas e assuntos. Vamos ex-plorar alguns deles, a comear pela histria geolgica da Terra.

    a ideia conhecida com Teoria da Deriva Continental, formulada por Alfred Wegener no incio do sculo XX, se-guindo formulaes originais de um cartgrafo do sculo XVI, Orthelius, e tambm do gegrafo Snider-Pellegrini, de meados do sculo XIX, que j haviam desenhado a unio dos continentes Africano e Americano em seus mapas. Segundo essa ideia, h pelo menos 200 milhes de anos atrs, havia somente um mega continente que foi se separando com o passar do tempo. (MOURA, 2010)

    Baseada em suposies lgicas e modelos matemticos sobre o deslocamento das placas tectnicas, na forma e recorte dos continentes que aparentemente se encaixam como em um grande quebra-cabea e em achados fsseis semelhantes presentes em stios arqueolgicos de continentes diferentes, quando veio a pblico, essa teoria foi motivo de chacotas no mundo cientfico da poca, que explicava os vestgios arqueolgicos semelhantes em continentes diferentes com a teoria das Pontes Continentais, ou seja, ligaes por terra entre os continentes, hoje submersas.

    Wegener, o proponente da teoria da Deriva Conti-nental, ficou desacreditado nos clubes de cincia, mas continuou suas expedies para encontrar provas de sua idia, falecendo em uma dessas excurses na Groenln-dia em 1930. No entanto, com o tempo, as pesquisas dele e de outros, ficou provada a validade de sua teoria.

    A Teoria da Deriva dos Continentes com as novas evidncias a seu favor proporcionada por novas pesqui-sas ganhou mais adeptos e superou a Teoria das Pontes insulares ligando os continentes. (MOURA, 2010)

    Para ver um mapa de Pangeia acesse:

    Para ver uma animao de Pangeia e sua separao formando os continentes atuais, acesse:

    Para saber mais sobre a origem dos continentes acesse:

    Vamos agora falar de uma descontinuidade para alguns e continuidade para outros: O Saara.

    As ligaes da frica com os outros continentes muito antiga e slida. Porm, dentro da prpria frica, existe esse importante marco geogrfico que poderia ser um fator de separao, mas foi responsvel por diversos processos de aproximaes, deslocamentos, enfrentamentos, articulaes e relocaes, proporcio-nando e impedindo expanses de reinos e imprios, mas tambm servindo de refgio e proporcionando uma grande identificao de culturas e povos.

    Assim comenta essa unio o estudioso da Geografia e Histria da frica, senegals, ex-diretor da UNESCO, M. Amadou-Mahtar MBow (2010):

    Certamente, a histria da frica norte-saariana esteve

    antes ligada quela da bacia mediterrnea, muito mais que

    a histria da frica subsaariana mas, nos dias atuais,

    amplamente reconhecido que as civilizaes do continente

    africano, pela sua variedade lingustica e cultural, formam

    em graus variados as vertentes histricas de um conjunto

    de povos e sociedades, unidos por laos seculares. (MBOW,

    2010, p. XXII)

    O Saara o maior deserto quente do mundo, perdendo em tamanho apenas para a Antrtica que tambm considerada um deserto, um deserto gelado. Ocupando grande faixa do norte do continente africano, tendo como divisas, a oeste o oceano Atlntico; a leste o Mar Vermelho e ao norte a cordilheira de Atlas e o Mediterrneo.

    Ao sul, o Saara se limita com uma grande rea semirida de savana denominada Sahel e nesse caso, esse limite portando mvel, pois as dunas de areia e

  • EaD

    17LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    a formao dessa vegetao dependem das condies climticas, ventos, tempestades midas ou de areia, humidade relativa, temperaturas mdias, para ocorrncia ou no de vegetao em um determinado ano ou perodo de alguns anos.

    Dentro dessa faixa compreendida como Sahel, o Saara tambm se limita com a bacia do Rio Niger, o terceiro maior em extenso da frica e em menor escala com a bacia do Rio Senegal. Alm desses dois rios, o Nilo tambm corta o deserto do Saara, mas na direo sul para o norte.

    O Saara uma importante baliza regional dentro do continente africano, pois para fins de estudos, os pesquisadores costumam agrupar os povos, pases e as culturas existentes no sul do Saara e nomin-las de subsaarianas e as do norte do Saara so denominadas como setentrionais, ou apenas do norte africano.

    Alguns pesquisadores, principalmente europeus e norteamericanos, tambm denominam as regies e povos do norte do Saara como frica Branca e os do sul como frica Negra, para evidenciar uma separao, tanto geogrficas como culturais, entre esses povos, pases e culturas. Essa ideia de descontinuidade tem incio com os estudos clssicos sobre a antiguidade, nos quais o Mediterrneo era o elo de ligao entre as civilizaes, portanto, tudo que no estava banhado por ele, no merecia ateno.

    As ideias de separao da frica pelo Saara ganharam fora, impulsionadas por uma srie de discusses sobre as razes das diferenas entre os diversos povos, sobre a cientificidade do conhecimento histrico, sobre a vali-dade das teorias Darwinistas para explicar os fenmenos e evoluo das sociedades ideias promovidas desde o final do sculo XVIII, mas consolidadas, sobretudo, no sculo XIX quando surgem as teorias de Darwin. Alm disso, o florescimento do positivismo e a rpida expanso dos institutos de pesquisa e as sociedades de cincias ajudaram a difundir as ideias de superioridade dos europeus sobre os outros povos.

    Na histria das Cincias Naturais existe uma diferena entre o evolucionismo que um conceito bem antigo, foi sugerido por Santo Agostinho e foi reavivado por um bilogo, Jean-Baptiste Lamarck que no final do sculo XVIII estudou a adaptao dos moluscos da Bacia de Paris e suas diferenas e o Darwinismo que explicou cientificamente a evoluo com o estudo de vrias espcies e diferentes evidncias.

    Depois de Hegel, que apontou a aistoricidade dos povos ao sul do Saara, as ideias apontadas no pargrafo acima ficaram mais fortes, destacando duas razes para isso: a primeira porque a Histria seria prpria do Velho Mundo, ento os povos descobertos recentemente no podiam ter histria; a segunda por considerar que esses povos no tinham autonomia para realizar grandes feitos, entrando na histria pelas mos dos europeus. (KI-ZERBO, 1999, p. 10; HERNANDEZ, 2008, p. 19-20)

    Durante algum tempo, talvez um sculo, essas ideias de separao e essas nomenclaturas de frica Branca e frica Negra vigoraram e tiveram grande prestgio entre os estudiosos de forma geral, porm, elas passaram a ser questionadas, primeiro pelos estudiosos oriundos da prpria frica e depois pelos novos projetos de pesquisas incluindo pesquisadores de vrias partes do mundo.

    Essas ideias comearam a ruir, pois foram encon-tradas continuidades histricas, ligaes estreitas entre os povos dessas duas regies que antigamente se acreditava separadas pelo Saara desde o surgimento do Homo sapiens sapiens no globo, em novas pesquisas arqueolgicas e lingusticas.

    O processo de desertificao da regio comeou cerca de 10 mil anos atrs mais ou menos no mesmo perodo da centralizao de vrios estados africanos con-forme veremos mais frente. um tempo relativamente curto, provocando migraes, ocupaes, encontros, desencontros, miscigenaes, incompreenses, com-preenses e adaptaes populacionais, tecnolgicas e culturais.

    Alm disso, apesar da diversidade de povos e cul-turas existentes no continente africano, subsiste uma complexidade identitria e cultural ligando povos dos dois lados do deserto. Essa continuidade identitria no foi levada em conta por essas denominaes e ideias de frica Branca e frica Negra, identidades e culturas compartilhadas por vrios povos que se desenvolveram no interior e nas granjas do Saara, especializando-se na travessia de homens e mercadorias e sempre carregan-do junto com os artigos de venda das caravanas ideias, sabedorias, religiosidades, tecnologias, etc. , fazendo a ligao entre as regies.

    [...] junto s bacias hidrogrficas formaram-se sociedades

    e culturas como as do rio Nilo, rio Nger, rio Congo, rio Zam-

    beze. Havia [sic] rotas comerciais com ciclos de longa dis-

    tncia, a arqueologia descobriu vestgios de rotas transaari-

    anas, tornando visvel uma rede de conexes do interior do

    continente com as zonas litorneas e da para outros espaos

    geogrficos. (SILVA, 2007, p. 15)

  • EaD

    18 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Portanto, fica evidenciado que culturas e sociedades estavam ligadas em toda a frica e no h motivos para pensarmos em separaes entre frica Branca e frica Negra para organizao e classificao dentro do conti-nente. Tambm muito utilizado o critrio geogrfico para organizar e classificar os pases em blocos geogrficos frica do Norte, Ocidental, Central, Oriental e Meridional , porm esse critrio questionado pelos estudiosos africanos, pois esses blocos geogrficos muitas vezes se confundem com limites colnias europeus estabelecidos no sculo XIX.

    Outras formas de construir continuidades agrupar povos, culturas e pases no continente utilizando para fins de estudos a depender dos objetivos: a) as bases lingusticas nativas faladas ou os idiomas europeus implantados; b) os recursos minerais existentes; c) as tradies de produo agrcola; d) as formas religiosas dominantes; e) os limites impostos pelos pases euro-peus responsveis pela colonizao de determinadas regies. Tambm podem ser utilizados outros critrios histricos menos precisos, como os limites de deter-minados imprios anteriores colonizao europeia, ou os povos vassalos deste ou daquele rei, antes da colonizao.

    O continente africano abriga enormes recursos na-turais, o que sempre despertou a cobia dos vizinhos. Em seu interior, existem jazidas de metais preciosos, pedras preciosas, gs natural, petrleo, tem uma rea ensolarada enorme, ventos constantes, enfim uma infinidade de recursos energticos a serem explorados. Alm disso, como j foi dito, sua populao a segunda maior entre os continentes, perdendo apenas para o continente asitico.

    Outra forma de continuidade a prpria Histria dos homens na Terra, que nos guarda surpresas.

    Segundo Charles Darwin, foi na frica que apare-ceram os primeiros homens, teoria contestada durante muito tempo pelos cientistas europeus.

    A teoria de Darwin foi comprovada por diversos achados arqueolgicos do final do sculo XIX e, tambm, muitos do sculo XX. Mas agora, no sculo XXI, desco-bertas importantes realizadas desde o final do sculo XX, mas datadas e publicadas somente no incio do sculo XXI tm demonstrado que alm da antiguidade do surgimento dos homens, tambm existiu algo muito mais importante no continente africano para as cincias que estudam a evoluo humana.

    Charles Robert Darwin nasceu em 1809, no interior da Inglaterra em Shrewsbury, revolucionou a cincia moderna com a Teoria da Evoluo.

    Procure nos stios da internet que existem vrias biografias e comentrios disponveis sobre esse cientista revolucionrio.Ver:

    < h t t p : / / n a t u r l i n k . s a p o . p t / a r t i c l e .aspx?menuid=17&cid=2407&bl=1>

    Para quem preferir veja o documentrio:CHARLES Darwin. A Voz da Evoluo. Londres: Produo: BIO. THE BIOGRAPHY CHANNEL. Distribuio: Log On. 2009. 1 DVD.

    A hiptese da origem nica, baseada nas ideias de Darwin e mais aceita atualmente pelas comprovaes arqueolgicas, paleolgicas, da primatologia, antropolo-gia fsica e os estudos genticos recentes , os Homo sapiens teriam surgido no continente africano entre 400.000 e 250.000 anos atrs e migrado para vrias partes do mundo, partindo de um epicentro que se acre-dita ser o sudoeste africano. De l eles migraram para sia e depois foram para Europa, Oceania e Amricas.

    At pouco mais de uma dcada atrs, os estudiosos das vrias cincias que estudam a evoluo humana acreditavam que somente quando os homens se fixaram no continente europeu, por volta de 30.000 40.000 anos atrs, tiveram uma repentina evoluo, explicada por uma mutao gentica afetando principalmente o crebro, provocando uma mudana de hbitos e formas de comunicao, facilmente perceptveis nos vestgios encontrados na Frana Caverna de Chauvet datados de 30.000 a.C e Lascaux 17.000 a.C e Altamira na Espanha, com vestgios datados entre 19.000 e 14.000 a.C. composto de pinturas e objetos de cotidiano. (NO-VOS, 2006)

    Porm, com as descobertas, primeiro do stio ar-queolgico de Blombos composta de objetos de uso cotidiano, objetos de artes, uso pessoal e decorativos na frica do Sul, e posteriormente nos montes Tso-dilo, em Botsuana compostos principalmente de arte rupestre e objetos de uso religioso , a comunidade cientfica comeou a reformular essa tese. (MORIN, 2002; HOMEM, 2006)

  • EaD

    19LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    O stio arqueolgico de Blombos fica no sul a frica do Sul, distante aproximadamente 300 quilmetros da cidade do Cabo. Neste stio so realizadas pesquisas h mais de 15 anos lideradas pelo Prof. Dr. Christopher Henshilwood, incluindo equipes de vrias partes do mundo. At o momento, foram encontrados e datados objetos de mais de 75.000 anos compondo um acervo de peas de uso cotidiano, artes e ornamentos pessoais. O conjunto destas descobertas revolucionou as teorias sobre a evoluo dos homens.

    Reforando as ideias darwinianas de evoluo gradual das espcies, essas novas descobertas arqueolgi-cas indicam que as demonstraes de criatividade e sensibilidade, sinais do desenvolvimento do crebro e consequentemente do pensamento lgico, surgiram na frica cerca de 75.000 anos antes do que se acreditava, pelos vestgios j citados encontrados no continente europeu, contrariando um pensamento antes consoli-dado desde o final do sculo XIX, processo conhecido como Revoluo Cultural do Paleoltico Superior, com forte influncia principalmente nos centros europeus de difuso do conhecimento cientfico.

    O stio arqueolgico de Tsodilo considerado um Patrimnio da Humanidade pela UNESCO, desde 2001, localiza-se no noroeste de Botsuana, em pleno deserto do Calaari - pode ser grafado tambm Kalahari ou Calari. O acervo comprende mais de 4.500 pinturas e outros registros em uma rea de aproximadamente 10 km2, com datao de 70.000 a 80.000 anos. Alm disso, ele tem um forte significado religioso para o povo San servindo de local de peregrinao. Pelas novas descobertas, principalmente de uma escultura de cabea de cobra, provavelmente uma pton africana serpente parecida com nossa sucuri, a pton africana pode chegar at a 6 metros de comprimento , acredita-se que seja o mais velho local de celebrao religiosa da humanidade conhecido, com pelo menos 40.000 anos de uso contnuo.

    Alguns pesquisadores consideram os San como os pais de toda a humanidade outros pesquisadores consideram os povos axumitas , pois nos stios arqueolgicos de suas terras ancestrais foram encontrados os vestgios mais antigos de populaes Homo sapiens sapiens. Alm disso, a semelhana entre as reconstituies dos esqueletos encontrados e os san notvel. Habitam hoje em terras da frica do Sul, Butsuana e Nambia.

    O atraso nestes estudos explicado em parte pela ideia de que uma modificao gentica afetando todo o corpo humano, mais diretamente o crebro dos homens proporcionou uma evoluo na capacidade cognitiva, acarretando o surgimento da representao simblica mais elaborada.

    Essa simples modificao teve como consequncia uma maior capacidade de comunicao, atravs das mltiplas formas de linguagens, como a fala, as artes, a religiosidade, a capacidade de domesticao de plantas e animais fazendo surgir a agricultura e o pastoreio , e consequentemente uma capacidade de organizao de sociedades mais complexas. Segundo essas ideias isso s aconteceu em um determinado local, uma regio especfica do sul da Europa, e de uma forma repentina.

    A nova capacidade de transmisso do conhecimento vai aos poucos transbordar da Europa para outras partes do globo atravs das vrias formas de relacionamentos entre as populaes, tais como migraes e os contatos provocados pelas disputas por novas reas mais prop-cias para a coleta e produo de alimentos. Essa teoria denominada de difusionista.

    Pelas pesquisas com base na teoria difusionista, a agricultura e a pecuria teriam surgido na sia e migraram com as populaes seminmades que se fixaram na regio Sul da Europa e da essa tecnologia foi disseminada para o restante do litoral do Mediterrneo.

    Vrios trabalhos contestam essa viso difusionista, principalmente com relao ao surgimento da agricultura, dando a primazia da domesticao de plantas e animais para as populaes do interior do continente africano.

    Essa forma de ver uma regio do globo como deten-tora da capacidade para o racional e para a criatividade e consequentemente da gestao de tcnicas e conheci-mentos, bem como tambm da capacidade de transmiti--los e express-los leva a desdobramentos maiores e prejudiciais para toda a humanidade, como veremos mais adiante, mas voltemos para o caso especfico do continente africano.

    Segundo Ki-Zerbo (2010), uma forma de ver a frica foi construda Histricamente da seguinte forma:

  • EaD

    20 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Abatido por vrios sculos de opresso, esse continente

    presenciou geraes de viajantes, de traficantes de escravos,

    de exploradores, de missionrios, de procnsules, de sbios

    de todo tipo, que acabaram por fixar sua imagem no cenrio

    da misria, da barbrie, da irresponsabilidade e do caos [...]

    Esse filme desarticulado e parcelado, que no seno a

    imagem de nossa ignorncia, ns o transformamos por uma

    deformao deplorvel ou viciosa, na imagem real da histria

    da frica tal como efetivamente se desenrolou. (KI-ZERBO,

    2010, p. XXXII)

    Os debates sobre o surgimento do pensamento l-gico e do desenvolvimento da capacidade cerebral dos homens um bom exemplo de como o continente afri-cano foi desprezado e desprestigiado pela comunidade cientfica, durantes vrios sculos.

    Os vestgios existentes nos montes Tsodilo, estando a cu aberto, so conhecidos h sculos pelos explo-radores europeus, mas s recentemente comearam a ser pesquisados com mais afinco, por equipes multidis-ciplinares e multinacionais e de forma mais sistemtica, revelando vrias formas de religiosidade e cultos muito mais antigas do que se acreditava at a poucos anos atrs.

    Pense e depois anote os motivos do atraso das pesquisas sobre o surgimento do pensamento lgico no continente africano.

    Quais as consequncias disso e quem se beneficia com isso?

    As matrizes da educao brasileira e um pequeno histrico das reivindi-caes dos Movimentos Sociais at a promulgao da lei 10.639/2003

    Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tsticas (IBGE) as pessoas que se declararam pretos e pardos na ltima Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD 2009) totalizaram 51,1% do total de brasileiros, e portanto, mais da metade dos entrevistados so considerados afrodescendentes. Porm, o percentual correspondente presena de negros nas universidades brasileiras muito inferior a este nmero.

    O lugar das populaes negras na sociedade brasileira o lugar da excluso. Essa forma de no ver essa popu-lao tem consequncias bastante danosas para toda a sociedade, j que uma parcela importante das pessoas no atendida ou tm seus talentos aproveitados. A escola brasileira foi sempre um lugar de reproduo dessas ideias de excluso das populaes no brancas, pois foi criada e cresceu tendo como base a civilizao judaico-crist.

    Os povos, lnguas nativas e tecnologias encontradas aqui no momento de ocupao pelos portugueses pe-rodo conhecido como colonial , as variadas e diversas lnguas, populaes e conhecimentos para c trazidas do continente africano, no so lembrados e considerados pelos sistemas educacionais, que sempre escolhem o patrimnio civilizatrio europeu e norteamericano como privilegiado, tanto nas metodologias/teorias, como nos pontos de vistas e prticas adotadas.

    Na frica, atualmente so conhecidas mais de 1000 lnguas africanas divididas em quatro grandes famlias e que antes da chegada dos portugueses no continente africano, no sculo XV, estima-se que o nmero ainda fosse duas vezes maior.

    As diversas expresses culturais africanas foram desenvolvidas por milhares de sociedades ao longo de milhares de anos, desenvolvendo tecnologias milenares e variadas, adaptadas aos materiais encontrados e tam-bm aos diversos ecossistemas das quais sobrevivem/sobreviveram e nos quais habitam/habitavam. Essas variadas tcnicas, filosofias, inspiraes, materiais e formas de expresso chegaram at ns atravs das pessoas trazidas forosamente para trabalhar, nos mais diversos setores da sociedade brasileira.

    possvel participar de diversas exposies virtuais sobre arte africana pela internet. Tente achar alguma e veja parte desse patrimnio.

    Verifique a Sala de Exposio Virtual da Secretaria do Estado da Cultura da Bahia, como exemplo, no site a seguir:

    REGISTRE SUA IDEIA

  • EaD

    21LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Existe uma memria viva pulsante em nossa socieda-de brasileira, conforme enfatizam Deoscoredes M. dos Santos (Mestre Didi) e Juana Elbein dos Santos (1997), ela est enraizada nas multiplas heranas recebidas do continente africano e se amplifica nas experincias dessas populaes no Brasil.

    A ancestralidade extravasa a comunidade afro-brasileira e expande, modela, compe e recompe diversas manifestaes culturais brasileiras, mesmo de grupos que aparentemente no tm nenhuma ligao e afinidade com esse patrimnio civilizatrio. Desta forma, as manifestaes culturais tambm portam essa influncia civilizatria africana, composta ao longo dos anos por todos os grupos e povos para c trazidos e tambm pelas adaptaes e reestruturaes promovidas aqui por eles e seus descendentes.

    Apesar de todas essas nuances, no temos em nosso sistema educacional a valorizao dos componentes fundamentais de nossas tradies, culturas, formas de agir e pensar vindos do continente africano. Ele continua distante de nossos cursos, parecendo longe de nossa histria, mas no entanto, estamos intimamente ligados.

    A implementao da Lei n. 10.639/2003 que obriga o ensino de Histria e Cultura Africana e Afro-brasileira em todos os nveis de ensino, permitiu aos gestores repensar possibilidades de utilizao de novos temas, materiais, metodologias e aes para o atendimento des-sa obrigatoriedade legal. Tambm nos instiga a pensar e transformar nossas aulas, adaptando suportes e tcnicas para conseguir alcanar os objetivos da lei em referncia.

    As discusses para implantao da Lei n. 10.639/2003 no foram isoladas, elas fazem parte de um conjunto de lutas pela incluso das populaes negras e de temas e assuntos referentes a Histria e Cultura pertinentes a essas populaes na educao formal brasileira iniciada no sculo XIX, portanto essas reivindicaes so bas-tante antigas e tm uma histria.

    A Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (SECAD), do Ministrio da Educao (MEC), disponibiliza gratuitamente vrios livros completos em formato digital para consulta e leitura na pgina de publicaes do Ministrio da Educao.

    Veja:

    Agora vamos fazer uma pequena introduo da histria das lutas pela educao formal das populaes negras, somente como subsdios para pesquisas mais aprofundadas que podero ser feitas partindo das refe-rncias citadas.

    As populaes negras j haviam percebido a im-portncia da educao formal para a superao de sua situao de desigualdade na sociedade brasileira, desde o sculo XIX, poca em que alguns estudantes negros pioneiros adentraram nas brechas do sistema educa-cional e iniciaram uma trajetria exitosa de estudos, ou ainda em iniciativas individuais como a do negro Cosme, do Quilombo da Fazenda Lagoa Amarela no Maranho, que criou uma escola para as crianas, em 1838. (CRUZ, 2005, p. 28)

    Conforme Gonalves e Silva (2000, p. 136), existia uma proibio formal de escravizados frequentarem os bancos escolares, at 1879, quando da Reforma enca-beada por Lencio de Carvalho, porm antes disso, associaes abolicionistas e republicanas mantinham cursos voltados para os escravizados e libertos a fim de coopt-los para suas causas.

    A preocupao com a educao das populaes negras j constava dos projetos polticos de Perdigo Malheiros, em meados do sculo XIX, mas esses projetos no foram concretizados da forma como foram pensados e excluram as populaes negras do convvio escolar. (FONSECA, 2001).

    Agostinho Marques Perdigo Malheiro (filho),foi um eminente jurista que defendeu a abolio. Escreveu A escravido no Brasil: ensaio histrico-jurdico-social, obra que influenciou os debates sobre o processo de libertao dos escravos no Brasil. Suas preocupaes iam alm da simples abolio, compreendendo o escravizado que seria libertado e o j liberto como pessoas que deveriam ser integrados sociedade brasileira de forma efetiva.

    As preocues com a educao formal voltam com fora nas aes de vrias organizaes negras das dca-das de 1910, 1920 e 1930, quando elas fundam escolas, publicam jornais e promovem clubes de leitura, festas e outras atividades de cunho cultural para proporcionar uma formao condizente com os padres aceitos por toda a sociedade da poca. A instruo das populaes

  • EaD

    22 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    negras era uma das principais preocupaes da Frente Negra Brasileira, que promoveu um curso preparatrio para o ginsio como forma eficaz de promover ascenso da populao negra. (CRUZ, 2005, p. 28)

    Segundo Santos (2005, p. 22), no final da dcada de 1940, o jornal Quilombo, dirigido por Abdias do Nas-cimento, [...] j indicava a necessidade de educao formal para os negros como uma condio necessria superao da excluso scio-racial a que estavam submetidos.

    Na dcada de 1950, sob a liderana de Florestan Fernandes e Roger Bastide em So Paulo, uma srie de pesquisas encomendadas pela UNESCO sobre as po-pulaes negras constata a no existncia da propalada Democracia Racial. Os estudos tambm constataram que a educao formal era muito importante para os grupos negros, principalmente nos grupos denominados nos estudos como integrados. (CRUZ, 2009, p. 10-11)

    Apesar de diversos estudos indicarem a existncia de alunos negros, escravizados, libertos e livres, no sculo XIX, no sistema de educao formal, e ainda as vrias propostas alternativas de educao para as populaes negras no sculo XX, o sistema educacional formal brasileiro no conseguiu incluir em seus projetos as experincias histricas dessas populaes no currculo escolar, uma vez que sua matriz civilizatria escolhida pelos administradores da educao brasileira a euro-cntrica.

    A inadequao da escola para as populaes ne-gras, as formas de excluso de suas experincias e de seus diversos saberes j haviam sido detectadas pelos intelectuais negros e por parte dos movimentos sociais negros desde o final da dcada de 1940.

    Entre as propostas do I Congresso do Negro Brasi-leiro, ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, em 1950, estavam includas [...]o estmulo ao estudo das reminis-cncias africanas no pas [...] e a formao de Institutos de Pesquisas, pblicos e particulares, com esse objetivo (NASCIMENTO, 1968, apud SANTOS, 2005, p. 23).

    Ou seja, j havia uma preocupao com a incluso da Histria e Cultura Afro-brasileira nos currculos escola-res. Essas reivindicaes tomam maior vulto em 1978, com a abertura poltica, a reorganizao dos movimentos sociais negros e a maior propagao na mdia em geral de suas ideias e solicitaes e depois com as discusses preparatrias para a constituinte, empreendidas pela sociedade civil em geral.

    Um marco dessas manifestaes foi a Marcha Zumbi dos Palmares Contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida, empreendida em Braslia no ano de 1995. No documento entregue a Fernando Henrique Cardoso, presidente do Brasil na poca, haviam vrios itens, entre eles os espe-cficos que tratavam das questes educacionais eram:

    Implementao da Conveno Sobre Eliminao da Dis-criminao Racial no Ensino.

    Monitoramento dos livros didticos, manuais escolares e programas educativos controlados pela Unio.

    Desenvolvimento de programas permanentes de treina-mento de professores e educadores que os habilite a tratar

    adequadamente com a diversidade racial, identificar as prti-

    cas discriminatrias presentes na escola e o impacto destas

    na evaso e repetncia das crianas negras (EXECUTIVA,

    1996 apud SANTOS, 2005, p. 25).

    As respostas governamentais vieram aos poucos. Primeiro foi criado o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) para propor aes especficas para as populaes negras, em 1995. Um ano depois, em 1996, apareceram aes afirmativas no texto do Programa Nacional de Di-reitos Humanos (PNDH). Foram tornados obrigatrios os quesitos cor/raa no Plano Nacional de Qualificao do Trabalhador (PLANFOR), no Registro da Relao Anual de Informaes Sociais (RAIS) e do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (CAGED). (RODRIGUES; GO-MES, 2006)

    Com relao s questes educacionais, no prprio PLANFOR foram traados, como uma das metas priori-trias, o atendimento das populaes negras e somente em 2003 foi sancionada a Lei n. 10.639 que tornou obrigatrio o ensino de Histria e Cultura da frica e dos Afro-brasileiros. Portanto, das primeiras reivindi-caes dos movimentos sociais negros at uma ao efetiva do estado no sentido de visibilizar a incluso no sistema educacional do estudo das contribuies das populaes negras na histria do Brasil, se passaram mais de 70 anos.

    Agora que voc foi informado sobre como foram s lutas para incluso da Histria da frica, de temas liga-dos colaborao das populaes negras na Histria do Brasil e como ocorreu historicamente a aprovao de Lei n. 10.639/2003 vamos passar a olhar a Histria do continente africano com mais ateno.

  • EaD

    23LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    SUGESTO DE ATIVIDADE 1:Como temos um contedo bastante extenso e poucas pginas para desenvolv-lo, propomos a vocs criarem seu prprio glossrio. Uma boa estratgia para isso anotar as palavras que no conhece em uma folha, conforme vai lendo o texto, sem a preocupao de procurar no primeiro momento, pois muitas vezes o prprio texto elucida seu significado. Se for resolvido com o texto, anote a palavra e seu significado, se no foi, procure em dicionrios, na internet, ou outros livros.

    SUGESTO DE ATIVIDADE 2:Pesquise sobre reserva de vagas na universidade brasileira, principalmente as aes propostas para as populaes negras.

    SUGESTO DE ATIVIDADE 3:Para uma ideia da diversidade no continente africano, procure na internet msicas das diversas regies africanas.

    Solomon Linda, msico sulafricano;Oliver Mtukudzi, cantor do Zimbabwe; Qorchak, msico da Eritria, (tambm procure por Korchach);Helen Meles, cantora da Eritria, (vdeos muito interessantes, pois ela uma cantora engajada no movimento nacionalista da Eritria);Muda Scheda & Meron Teferi, msico etopes;Mohamed Red, cantor popular marroquino;Nayem Alal, grupo musical ativista do Saara Ocidental;

    possvel encontrar vdeos dos artistas. Veja alguns e anote tudo que achar diferente. Um bom roteiro comear observando em cada uma das msicas: os instrumentos musicais utilizados e sua quantidade, a forma de cantar, as imagens exploradas, procure observar a sonoridade das palavras. Depois compare aos pares e procure semelhanas e diferenas. Se preferir, para facilitar, voc pode elaborar uma tabela com parmetros como: instrumentos utilizados, lngua, imagens, e etc..

    Sobre o evolucionismo de Darwin o melhor ler o prprio livro do autor:

    DARWIN, Charles. A Origem das Espcies.

    Disponvel em: .

    Tambm possvel acessar o livro em:

    Para aprofundar a discusso sobre o surgimento da agricultura e pecuria:

    MBOKOLO, Elikia. As civilizaes materiais. In: MBOKOLO, Elikia. frica Negra: histria e civilizaes. Salvador: EDUFBA; So Paulo: Casa das fricas, 2009. p. 64-75

    PORTRES; R.; BARRAU, J. Origens, desenvolvimento e expanso das tcnicas agrcolas. In: KI-ZERBO, Joseph. Histria Geral da frica I: Metodologia e Pr-Histria da frica. 2. ed. rev. Braslia: UNESCO, 2010. p. 781-802.

    Uma boa dica de leitura para aprofundar as questes sobre educao das populaes negras, alm dos j citados do texto, so os artigos:

    GONALVES, Luiz Alberto Oliveira. Negros e educao no Brasil. In: LOPES, Eliane Maria Teixeira; FARIA FILHO, Luciano Mendes; VEIGA, Cynthia Greive (Orgs.). 500 anos de educao no Brasil. Belo Horizonte: Autntica, 2000. p. 325-346.

    VEIGA, Cynthia Greive. Escola pblica para os negros e os pobres no Brasil: uma inveno imperial. Revista Brasileira Educao. n. 39, set./dez. 2008, p. 502-516.

    Sobre as possibilidades de utilizao da Lei n. 10639/2003 ver:

    BRASIL, MINISTRIO DA EDUCAO. Educao anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal n 10.639/03. Braslia: Secretaria da Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (SECAD), 2005.

    MUNANGA, Kabengele. (Org.) Superando o racismo na escola. 2. ed. Braslia: Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade, 2005.

    Existem diversos artigos em revistas eletrnicas sobre a Lei n. 10.639/2003, as diversas propostas de como implant-la e mais recentemente sobre a lei 11.645/2008. Para uma leitura inicial ver:

  • EaD

    24 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIAEaD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Anotaes

  • EaDUNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    CAPTULO 2O que os europeus

    conheciam da frica?

  • EaD

    26 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIAEaD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Anotaes

  • EaD

    27LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Como vimos na introduo, a histria dos primeiros homens na terra comeou na frica e se espalhou por todo globo terrestre. Alm disso, vimos tambm que o Continente Africano est ligado ao continente europeu e asitico pelo Mar Mediterrneo, e que de longa data os contatos, relaes comerciais, intercmbios, trocas de experincias e tecnologias entre esses trs continentes. Ento, porque se diz que na poca das grandes nave-gaes sculo XV e XVI os europeus descobriram a frica?

    Uma das explicaes est no pensamento de Hegel, j referido anteriormente, sobre a aistoricidade dos po-vos africanos. Outra estaria na forma de hierarquizao dos povos e culturas, promovido pelos precursores do racismo cientfico e s contestadas de forma mais vee-mente em meados do sculo XX por novos estudiosos preocupados em desfazer as ideias de inferioridade e submisso dos povos colonizados.

    Esse um bom debate, mas a principal desculpa utilizada para no se incluir a Histria da frica nos compndios escritos nos sculos XIX e XX, foi de que no existiam documentos escritos e uma historiografia africana que servisse de base para os enciclopedistas.

    As diversas fontes para a Histria do continente africano na antiguidade

    Podemos, grosso modo, dizer que existem diversos tipos de testemunhos escritos sobre a frica e que eles eram conhecidos de muito tempo pelos europeus, afinal, os primeiros escritos falando do continente africano so mais ou menos da mesma poca dos primeiros escritos sobre os continentes europeu e asitico.

    Vejamos as pocas e caractersticas principais dessas fontes:

    Escritos entre os sculos VI e II a.C., narram na sua maioria sobre epopeias e excurses pela frica;

    Escritos romanos consistindo principalmente em relatrios, relatos de viagens e de conquistas, co-brindo desde o sculo I a.C. at o sculo IV d.C.;

    Escritos rabes, principalmente sobre o norte da frica, iniciando no sculo VIII d.C. e indo at o sculo XVII d.C.;

    Escritos de europeus consistindo em relatrios de administradores coloniais, relatos e impresses de viagens, crnicas e ensaios descritivos da

    estada entre os reinos e povos africanos, cobrem desde o sculo XVI at o sculo XX;

    Escritos de africanos e afrodescendentes produ-zidos nas diversas lnguas europeias, produzidos principalmente a partir do incio do sculo XX;

    Agora vamos nos deter em alguns desses grupos de testemunhos para dar uma ideia geral sobre documentos antigos servindo de fonte para os estudos da Histria do continente africano, pois as mais recentes, do sculo XVI em diante, sero exploradas frente no texto.

    Documentos entre os sculos VI a.C. e II a.C.

    O conjunto de escritos anteriores aos romanos muito importante, pois revelam as chamadas civilizaes antigas habitantes do continente africano e cuja pujana fez os fencios os maiores comerciantes da antiguidade empreenderem vrias viagens para montar postos de trocas e feitorias no litoral dessas regies.

    Encontramos algumas informaes sobre essas viagens em um texto sobre o pioneirismo da navegao portugusa no sculo XV, publicado nas Memorias de Litteratura Portugueza, de 1814, de autoria de Antonio Ribeiro do Santos (1814, p. 327-364).

    Neste histrico das navegaes pela costa africana, Santos fala do Priplo de Hannon, um rei de Cartago, que empreendeu sua viagem para fundar novas colnias e conhecer os povos das terras desconhecidas e que deixou seus relatos depositados no templo de Molosh (GIORDANI, 1985, p. 18), em Cartago, prximo da atual cidade de Tunis, na Tunsia.

    Hannon, navegando com uma frota de mais de 60 embarcaes pelo Mediterrneo, passou pelas Colunas de Hercules, hoje Estreito de Gilbratar. (KI-ZERBO, 1999, p. 108)

    Para alguns estudiosos, essa viagem foi bastante longa chegando at a Ilha do Prncipe, hoje So Tome e Prncipe, ou at mais longe, conseguindo fazer a cir-cunavegao de todo o continente at o Golfo Arbico. Na verso mais curta os barcos de Hannon teriam sado Cartago, passado nas Colunas de Hrcules, por Lixo ou Lixus e chegou ao mximo at as atuais ilhas Canrias, fazendo apenas uma viagem pela costa do atual Marro-cos. (JABOUILLE, 1995)

  • EaD

    28 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Existem vrias tradues do Priplo de Hannon que chegaram at ns, principalmente escritas em grego, mas tambm existem alguns textos em latim.

    Jos Bonifcio de Andrada e Silva, famoso por ser amigo de Dom Pedro I e por sua atuao na independncia do Brasil, era um estudioso de geogra a histrica e traduziu uma das verses do Priplo de Hannon, que foi publicada na coleo coordenada em: SOUSA, Alberto (coord.). Os Andradas. So Paulo: Typographia Piratininga, 1922.

    Outra viagem bastante comentada nos escritos do sculo XVIII e XIX, sobre a navegao pelo litoral do continente africano a empreendida por Sataspes. Por volta de 475 a.C., seu tio Xerxes ordenou como forma de punio que Sataspes contornasse toda a costa da frica. Saindo do Egito com apenas um navio, atraves-sou as Colunas de Hrcules, [...] teria ladeado a costa para o sul, at ao pas ocupado por homens de pequena estatura, vestidos de folhas de palmeira e habitando em aldeias, talvez os Pigmeus (KI-ZERBO, 1999, p. 108).

    Dando continuidade narrativa utilizando como fonte os escritos de Antonio Ribeiro dos Santos (1814), temos:

    [...] aterrado das tormentas, ou anojado da prolixidade do

    caminho, ou falto de mantimentos, no acabou de passar a

    Lybia [como era chamado o territrio ao sul do Saara, na

    antiguidade]; recuou sobre seus passos [...] dando causa,

    que o navio no poderia ir por diante, impedido dos grossos

    mares; e que Xerxes no lhe dando credito, o mandou justiar.

    (SANTOS, 1814, p. 333)

    As duas expedies pelo litoral do continente africano ocorreram mais ou menos no mesmo perodo, sculo V a.C., porm, existem informaes, relatadas por Herdo-to (2006, p. 321), sobre uma viagem de reconhecimento patrocinada pelo fara Neco II ou Necao II no sculo VI a.C.. No existem maiores informaes sobre ela a no ser o roteiro inicial que saindo do Mar Vermelho, deveria dar a volta em toda a costa do continente africano e voltar para o Egito e que ela durou cerca de trs anos para sua total execuo.

    Os estudiosos de geografia histrica afirmam ser pos-svel essa viagem, pois evitava as correntes martimas contrrias do Cabo da Boa Esperana e do litoral da costa

    Oeste para que parte do Norte para o Sul e se favorecia das correntes de vento sempre a favor da rota traada.

    O termo frica para designar todo continente s foi adotado aps consolidadas as conquistas romanas no sculo I d.C.. Na antiguidade eram utilizados vrios termos para designar cada uma das partes conhecidas, tais como Lybia, Cirenaica, Tripolitnia, Aethiopia, Nbia, Aznia, entre outros.

    As informaes produzidas por essas expedies so bastante acanhadas se limitando apenas s infor-maes sobre o litoral e algumas notas sobre os povos encontrados. Nenhuma delas se aventurou pelo interior do continente, ou pelo menos no nos legou essas infor-maes. Outro detalhe importante que somente foram relatados com maior mincia, ou sobreviveram at ns, os fragmentos sobre regies j bastante conhecidas.

    Outras expedies de circunavegao do continente africano so citadas por Antonio Ribeiro dos Santos, como a frota de [...] Salomo enviva a Ophyr: Ella partia do porto de Asiongaber no Mar Roxo, esquipada por marinheiros Tyrios; a de Mago, que por volta de 330 a.C conseguiu fazer a volta completa no litoral da frica; a viagem de Menelo, [...] que descreveo Homero (SANTOS, 1814, p. 334-339) (grifos do autor). Porm, todas estas ltimas carecem de comprovao de outras fontes alm da simples citao por um ou outro autor.

    Alguns autores tambm colocam como importantes as informaes contidas nas vrias tradies escritas da Bblia. Principalmente no Velho Testamento, existem vrias citaes a regies do Egito e outras partes do Norte da frica.

    So importantes as informaes, sobretudo, refe-rentes aos hbitos sociais e formas de organizaes religiosas, de administrao e polticas contidas no Velho Testamento, porm, a utilizao destas informaes tem sido questionada nos ltimos anos pelos estudiosos de forma geral pela impreciso dos dados relatados.

  • EaD

    29LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    O prprio Herdoto o pai da Histria na poca de seu exlio esteve no Egito e fez pequenas incurses pelo norte da frica, chamada por ele de Lybia ou Lbia. Seus relatos sobre o mundo antigo misturam suas impresses de viagem com informaes tomadas de outros autores citados por ele. Ele comenta o exlio de Sataspes, o empreendimento do fara Neco, alm de outras expedies, em seu livro Histria.

    possvel obter uma verso em portugus da obra atravs do eBooksBrasil:

    HERDOTO. Histria. 2006. Disponvel em: .

    Alm de Herdoto outros escritos antigos chegaram at ns trazendo informaes sobre a frica como os de: [...] Menandro, Aristodemo, Filocoro [...] os papi-ros deste perodo aparecem escritos em grego ou em demtico escrita ainda mais cursiva que o hiertico (DJAIT, 2010, p.88).

    Documentos do imprio romano sculo I a.C. at o sculo IV d.C.

    Segundo KI-ZERBO (1999, p. 109), os romanos en-viaram pelo menos uma expedio de reconhecimento dos postos avanados dos derrotados cartageneses, fundadas por Hannon. Polbio foi o encarregado de pres-tar as informaes sobre elas. Ele navegou pela costa da frica enumerando rios que podem ser identificados hoje.

    Tambm outros sbios antigos a servio dos romanos escreveram sobre a regio do Magreb, foram eles [...] Estrabo, Diodoro da Siclia; Salustio (-87 a -35); Tito Lvio; pio; Plnio; Tcito; Plutarco (sculo +I) e Ptolo-meu (sculo + II), sem contar os numerosos escritores menores (DJAIT, 2010, p. 90).

    Claudio Ptolomeu citado acima, autor do mais clebre mapa da antiguidade, tambm esteve a servio dos generais romanos no norte do continente africano, no sculo II d.C.. Colheu informaes valiosas para formulao de sua representao cartogrfica do mundo conhecido em sua poca.

    Segundo Djait (2010), outros textos deste perodo so muito importantes para encontrarmos dados sobre a Histria do continente africano na antiguidade:

    [...] o Priplo do Mar da Eritria, obra annima que calculam-os ter sido composta em cerca de 230 (datada anteriormente

    do sculo I); a Topografia Crist de Cosmas Indecopleustes

    (535 aproximadamente). Esses escritos representam a base

    de nossa informao sobre a Etipia e o chifre oriental da

    frica. (DJAIT, 2010, p. 89) (grifos do autor)

    Esse conjunto documental, alm de nos legar dados importantes sobre a geografia da costa africana oriental, tambm deixou inscritas importantes informaes sobre os povos destas regies.

    No perodo de dominao crist bizantina no norte do continente africano, cuja lngua oficial era o latim, os sbios Victor de Vita e Coripo deixaram sua contribuio sobre o continente africano. Seus escritos so muito importantes como fontes de informaes sobre o cha-mado serto africano, pois [...] penetraram no interior do continente, fazendo emergir da obscuridade essa frica por tanto tempo esquecida (DJAIT, 2010, p. 92).

    Portanto, esses dois autores relatam sobre regies no deslindadas por outros textos, mas ainda no ex-ploram a parte ocidental do continente, ou seja, a maior parte do interior do continente africano continuava uma incgnita at pouco depois da dominao romana e posteriormente a bizantina.

    Existem estudos que destacam que o cristianismo teve uma grande disseminao na frica, sendo sua expanso no continente africano anterior ocorrida na Europa.

    Ainda hoje existem grupos de cristos desde o sculo I d.C alguns fundados por So Marcos, o evangelista , no Egito, na Etipia e em outras partes do Norte da frica que, mesmo com as perseguies sofridas, continuam sem descontinuidade ao longo dos anos. Esses grupos so compostos principalmente de seguidores da Igreja Copta Ortodoxa que no esto ligados nem Igreja Catlica Apostlica Romana e nem Igreja Catlica Apostlica Ortodoxa , mas alm deles tambm existem, em menor nmero, grupos que aderiram ou a Igreja Catlica Romana ou a Ortodoxa.

  • EaD

    30 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Detivemo-nos em pormenorizar as fontes antigas, porque elas so at hoje mencionadas nos livros sobre a Histria da frica, mas estas, quase sempre no so detalhadas.

    Uma das explicaes para sua farta meno seria a sua fcil leitura, so todas escritas em lnguas europeias ou j foram publicadas, em sua verso total ou em excertos, dentro de outras obras de autores em lnguas europeias.

    No prximo item ser apresentada uma pequena amostragem de textos um pouco mais difceis de encontrarmos e de lermos, j que se encontram na sua grande maioria em rabe.

    Documentos escritos em rabe

    A documentao escrita em rabe tem duas carac-tersticas muito importantes e diferenciadas. O primeiro grupo representado pelos escritos de estudiosos muulmanos, africanos, rabes ou mesmo da pennsula Ibrica, que reportam suas viagens a Geografia ou a Histria da ocupao e expanso do islamismo partindo da pennsula rabe, passando pelo Norte do continente africano e chegando at a pennsula Ibrica e sul da Frana. Tambm fazem parte desse primeiro grupo os documentos produzidos pelas diversas administraes e governos muulmanos nessas regies ocupadas.

    No segundo grupo, encontramos escritos produzidos por sbios e/ou estudiosos africanos que aprenderam a escrita rabe ou pela converso ou por qualquer outra razo e fizeram anotaes das tradies antes trans-mitidas oralmente, produzindos compndios histricos dos reinos e imprios africanos anteriores expanso islmica e os contatos entre os povos tradicionais e os grupos islamizados. Algumas lnguas africanas, com os contatos com isl, foram grafadas utilizando o alfabeto rabe, produzindo outras linguagens, que tambm fazem parte deste grupo de fontes.

    Djait (2010) menciona, fazendo parte das fontes escritas em rabe por funcionrios da administrao ou sbios islmicos, que so importantes reservas de informaes :

    [...] as grandes tarikh (al-Tabari, al-Dinawari, al-Baladhori

    dos Ansab al-Ashraf) focalizadas no Oriente [... e ainda,]

    uma crnica at recentemente quase desconhecida: a tarikh

    de Khalifa b.Khayyat [...] uma obra fundamental que parece

    no ter sido explorada em todas as suas dimenses: o Kitab

    Wulat Misr wa Qudhatuha, de Kindi [...] (DJAIT, 2010, p. 95)

    (grifos do autor)

    Tarikh ou tarikh uma palavra rabe para se referir tanto s memrias ou dirios pessoais escritos por viajantes ou administradores, como compndios de informaes sobre um determinado local.

    Outros autores tambm so indicados para o perodo entre os sculos IX e XI d.C., como Cadi al-NuMan, al--Raqiq, Ibn al-Idhari, alm dos gegrafos Surat al-Ardh, Ibn Khordadhbeh, Yakub, al-Masudi, Ibn Hawkal e al--Biruni. (DJAIT, 2010, p. 97)

    Para um perodo posterior, entre os sculos XII e XV, so mencionadas as seguintes obras, por Djait (2010):

    [...] o Kamil, de Ibn al-Athir, at o Kitab al-Ibar, de Ibn

    Khalduri, passando por Ibn al-Idhari, al-Nuwairi, Ibn Abi

    Zar, al-Dhahabi. Testemunhas de seu tempo, esses homens

    realizaram tambm um esforo de sntese dos acontecimentos

    dos sculos anteriores. Nuwairi to importante para os

    Mamelucos como para a conquista do Magreb [...] (DJAIT,

    2010, p. 100) (grifos no original).

    Sobre o segundo grupo de fontes escritas em rabe, temos poucas informaes. So mencionadas em diver-sos livros a sua existncia, porm, em nenhuma delas possvel encontrar referncias que no foram escritas antes do sculo XIX.

    Para uma melhor compreenso da importncia dessas fontes, ver o captulo:

    DJAIT, H.. As fontes escritas anteriores ao sculo XV. In: KI-ZERBO, Joseph. Histria Geral da frica I: Metodologia e Pr-Histria da frica. 2. ed. rev. Braslia: UNESCO, 2010. p. 77-104.

  • EaD

    31LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Como est a elaborao de seu glossrio?

    Anote as palavras que no conhece em uma folha conforme vai lendo o texto, sem a preocupao de procurar no primeiro momento, pois muitas vezes o prprio texto elucida seu significado. Se foi resolvido com o texto anote a palavra e seu significado, se no foi, procure em dicionrios, na internet, ou outros livros.

    SUGESTO DE ATIVIDADES 2Retome o texto e tente fazer um quadro sntese das fontes e perodos da Histria da frica.

  • EaD

    32 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIAEaD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Anotaes

  • EaDUNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    CAPTULO 3As grandes civilizaes

    Africanas na Antiguidade

  • EaD

    34 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIAEaD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Anotaes

  • EaD

    35LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Agora que conhecemos um pouco mais a respeito dos registros e informaes existentes que podem servir para escrever a Histria africana, falaremos um pouco dos antigos povos, reinos e imprios da frica iluminados por essas diversas fontes, pois apesar de nossa ementa indicar que devemos estudar a Histria africana a partir das grandes navegaes, no podemos cometer o mesmo erro dos estudos que somente do importncia a Histria do continente africano quando inicia o perodo de feitorias e primeiras experincias de colonizao mo-derna dos europeus na frica, no sculo XV d.C.

    Na introduo da sua Histria Geral da frica, Mahtar MBow (2010), pesquisador renomado da geografia e histria africana, diretor geral da UNESCO durante as dcadas de 1970 e 1980, assim comenta esse esqueci-mento da Histria da frica como disciplina importante:

    [...] o continente africano quase nunca era considerado como

    uma entidade histrica. Em contrrio, enfatizava-se tudo o

    que pudesse reforar a ideia de uma ciso que teria existido,

    desde sempre, entre uma frica branca e uma frica ne-

    gra que se ignoravam reciprocamente. Apresentava-se fre-

    quentemente o Saara como um espao impenetrvel que tor-

    naria impossveis misturas entre etnias e povos, bem como

    trocas de bens, crenas, hbitos e ideias entre as sociedades

    constitudas de um lado e de outro do deserto. Traavam-

    se fronteiras intransponveis entre as civilizaes do antigo

    Egito e da Nbia e aquelas dos povos subsaarianos. (MBOW,

    2010, p. XXII)

    Essa viso limitada, criticada por MBow, tem como base a ideia de aistoricidade dos povos fora dos dom-nios europeus, j referida anteriormente. Mas tambm o professor senegals aponta outros motivos:

    [...] outro fenmeno que grandes danos causou ao estudo

    objetivo do passado africano foi o aparecimento, com o trfi-

    co negreiro e a colonizao, de esteretipos raciais criadores

    de desprezo e incompreenso, to profundamente consoli-

    dados que corromperam inclusive os prprios conceitos da

    historiografia. Desde que foram empregadas as noes de

    brancos e negros, para nomear genericamente os colo-

    nizadores, considerados superiores, e os colonizados, os

    africanos foram levados a lutar contra uma dupla servido,

    econmica e psicolgica. Marcado pela pigmentao de

    sua pele, transformado em uma mercadoria entre outras, e

    destinado ao trabalho forado, o africano veio a simbolizar,

    na conscincia de seus dominadores, uma essncia racial

    imaginria e ilusoriamente inferior: a de negro. Este processo

    de falsa identificao depreciou a histria dos povos africa-

    nos no esprito de muitos, rebaixando-a a uma etno-histria,

    em cuja apreciao das realidades histricas e culturais no

    podia ser seno falseada. (MBOW, 2010, p. XXII)

    Alm disso tudo, as chamadas civilizaes antigas africanas so o bero de muitas das tecnologias, base do pensamento e filosofias, das formas de religiosida-de, organizao poltica, padres comportamentais e alimentares, musicalidades, formas de comunicao e outras coisas, influentes ainda hoje em vrias partes do globo e no s na frica. Portanto, vamos estudar um pouco desses antigos povos antigos.

    De que cor eram os egpcios?

    O Egito das pirmides e dos faras talvez seja a mais forte lembrana da frica que temos na memria, mas no a identificamos como africana, porque ser?

    Em primeiro lugar o Egito, por seu rpido e pujante desenvolvimento tecnolgico, poltico, religioso e social marcou toda a regio do Mediterrneo e com isso pro-vocou a cobia de outros povos. Portanto, com certeza, em toda a histria da humanidade, o territrio egpcio foi o mais invadido e ocupado por outros povos. Essa sua exuberncia e as invases e ocupaes, tambm provocaram diversas migraes voluntrias e foradas de outros povos para seu territrio.

    Por um lado, isso foi benfico para toda a huma-nidade, pois os contatos, mesmo os acontecidos nas guerras e ocupaes, levaram a uma troca de tecnologias e elementos de cultura, religiosos, padres culturais e alimentares, enfim, estabeleceram modos de vida bas-tante similares em regies totalmente diversas.

    Por outro lado, elas provocaram a descaracterizao de elementos tpicos dos egpcios, como por exemplo, o modo de se pronunciar as palavras em sua prpria lngua, que foi esquecido devido as diversas ocupaes e que somente aparecem hoje em cultos religiosos.

  • EaD

    36 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    A ltima invaso do territrio egpcio ocorreu na Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando tropas israelenses invadiram a Pennsula do Sinai. Na antiguidade, fencios, persas, gregos e romanos invadiram o Egito. Aps a invaso, Roma imps dinastias aliadas aos seus interesses na chefia do estado, sendo contestada em revoltas religiosas e populares.

    No final do perodo antigo e incio do medieval, do ocidente, o Egito foi conquistado por Bizncio, depois por islmicos e ainda por turcos. Napoleo invadiu o Egito em 1798, portanto, o seu territrio ficou sendo um protetorado francs por um pequeno perodo. Depois disso, voltou ao domnio dos turcos e mais tarde, em 1882, foi invadido pelas tropas da Gran Bretanha e anexado ao Imprio Britnico.

    Vamos falar um pouco da Histria desse povo ento.A regio do vale do rio Nilo tem uma histria antiga de

    ocupao humana de grupos caador-coletores e tam-bm de plantadores de gros, mas com a desertificao do hoje Saara, as populaes migraram para junto das reas mais frteis banhadas pelo rio.

    Vestgios arqueolgicos indicam a convivncia de grupos de complementares e que a crescente e rpida se-dentariazao dessas comunidades levou centralizao poltica e religiosa formando pequenos cidade-Estados chamados nomos. Com a necessidade de grandes obras para utilizao das guas do Nilo, aconteceu um movi-mento de centralizao maior ainda do poder, formando dois grandes grupamentos de nomos, o Baixo Egito e o Alto Egito, comprovada pelos vestgios urbanos e gran-des construes j por volta de 6.000 a.C..

    O Baixo Egito tinha uma regio limitada ao Norte pelo Mediterrneo e ao Sul pela primeira cachoeira do Nilo. Grosso modo, podemos dizer que compreendia a regio do Delta do Nilo, seu clima mais ameno, com chuvas mais abundantes e terras mais frteis.

    O Alto Egito compreendia a extenso de terras ao Sul da primeira cachoeira. Com um clima mais inspito, porm com terras frteis, favorecia as culturas de junco e papiro, alm disso, tambm existiam na regio grandes recursos minerais. Por volta do ano 3.200 a.C. Mens I se torna o senhor das duas terras unificando o Egito.

    Existe uma grande polmica quanto cor dos egpcios antigos, fomentada pela imagem veiculada das camadas dirigente de hoje e dos faras e mesmo do povo , principalmente no cinema, e constante nos meios de comunicao de massa. Alimentada por estudos sobre a

    representao de Clepatra, interpretada por atrizes com esteritipos europeus, essa discusso tem levado o meio acadmico a se movimentar em diversas pesquisas.

    Segundo o historiador Elikia MBokolo (2009):

    H j cerca de duzentos anos que a questo das relaes

    entre o Egito faranico e a frica Negra se tornou um dos

    problemas mais tratados na historiografia africana e um dos

    pontos de fixao privilegiados pela memria negro-africana.

    Mas contrariamente s idias difiundidas na opinio corrente,

    este debate muito mais complicado do que pode parecer a

    princpio. (MBOKOLO, 2009, p. 53)

    Parece uma discusso infrutfera, porm, no seu cer-ne est a afirmao da ideia de primazia e protagonismo do desenvolvimento administrativo, religiosos, cientfico e tecnolgico e de quem so os verdadeiros herdeiros de todo legado da grande civilizao egpcia, os europeus ou os africanos.

    A arte egpcia de vrios perodos no se furtou a representar o povo, os sacerdotes e os faras de forma bastante ecltica e podemos dizer inclusive que no antigo Egito havia uma combinao de cores e etnias, proporcionada pelo encontro de diversos povos oriundos de diferentes regies atrados pela pujana egpcia em todo perodo faranico e alm dele.

    Tambm podemos dizer com base nestas repre-sentaes que a maioria dos representados tem traos marcadamente negros, pois apesar da miscigenao sempre presente no Egito, a maioria da populao era de negros, assim como na maior parte do tempo tambm a sua elite.

    Na historiografia egiptloga existe um debate bastante acirrado sobre a dinastia da qual fez parte Clepatra. Alguns pesquisadores acreditam que s foi possvel seu reinado graas s influncias romanas, portanto, ela teria sido colocada no poder pelos romanos e desta forma, fazia parte da nobreza egpcia, mas j estava bastante miscigenada e j havia incorporado costumes romanos. Outros estudiosos acreditam que mesmo com os contatos e trocas culturais com os romanos, a nobreza egpcia deste perodo preservava suas expresses culturais prprias.

    Sobre o debate especfico da imagem e cor de Clepatra leia os artigos:SHOHAT, Ella. Des-orientar Clepatra: um tropo moderno da identidade. Caderno Pagu, n. 23, jul./dez. 2004.

  • EaD

    37LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    BALTHAZAR, Gregori da Silva. Plutarco e a Ocidentalizao de Clepatra. In: NEARCO: Revista Eletrnica de Antiguidade. Rio de Janeiro: UERJ/NEA, v. 4, n. 6, 2010.

    Sobre a cor dos egpcios ver:DIOP, Cheikh Anta .Origem dos antigos egpcios. In: MOKHTAR. Gamal. Histria Geral da frica II: frica Antiga. 2. ed. rev. Braslia: UNESCO, 2010. p. 1-35.

    Existe tambm um autor ingls chamado Martin Bernal, que causou um verdadeiro furor quando do lanamento da obra Atenas Negra, no traduzida para o portugus, quando afirmou com base em exaustivas pesquisas, que a cultura grego-romana tem suas bases nas culturas fencia e egpcia, e que esta uma cultura africana e negra. Sustentando a retomada da viso denominada de modelo antigo, que vigorou at o sculo XVIII e foi substituda pela ideia que a civilizao grego-romana baseada na chamada cultura indoeuropia, denominada modelo ariano, parte autctone do continente europeu e parte trazida por migraes da sia e Oriente Prximo.

    possvel ver a discusso sobre a cor dos egpcios de uma forma bastante ldica. Existem dois filmes que trabalham com faras em tempos diversos. So indicados para crianas, mas podem ser utilizados tambm por adultos.A RAINHA sol: A esposa amada de Tutankhamon. Ttulo Original: La reine soleil. Philippe Leclerc. Produo: Olivier Zuratas. Frana/Blgica/Hungria: RENZO FILMS; Distribuio: FOCUS: 2007. 1 DVD.ASTERIX e Obelix: Misso Cleopatra. Ttulo Original: Astrix & Oblix: Mission Cloptre. Direo: Alain Chabat. Produo Executiva: Pierre Grunstein. Fana: Katharina/Ren Productions/ TF1 Films Produticon/Chez Wam; Distribuio: Pathe Distribuition: 2002. 1 DVD.Veja os filmes e anote os principais personagens e como eles so retratados, tanto do ponto de vista fsico como psicolgico, nos filmes. Preste, tambm, ateno nas questes de gnero e poder apontadas nos filmes.

    O reinado de Clepatra representa tambm a proemi-nncia das mulheres nas sociedades africanas de uma forma geral. Alm dela, existem muitas outras mulheres com participao destacada na histria egpcia. Tambm em alguns dos templos mais importantes, as mulheres eram centrais, como as Divinas Esposas, as Divinas Adoradoras de Tebas, alm das mulheres que funciona-vam como orculos, portanto conselheiras dos faras.

    Graas a grande fertilidade das terras do vale do Nilo e as tecnologias desenvolvidas para a utilizao das guas, como canais de irrigao e drenagens, manejo e preparao de fertilizantes, a agricultura alcanava alta

    produtividade permitindo uma organizao da sociedade de tal forma que pessoas podiam se dedicar integral-mente religiosidade, proteo e administrao do estado. Essa separao, portanto, criava segmentaes no interior da sociedade com hierarquia rgida e tambm a criao de formas de garantir o sustendo dessas pes-soas, os tributos.

    Na base da sociedade estavam os escravos, em quase todo o perodo faranico composto por estran-geiros responsveis pelo trabalho nas grandes obras , depois, vinham os camponeses livres a quem cabia produzir para todos e tambm eventualmente trabalhar nas grandes obras , a seguir, os artesos citadinos e no topo da pirmide social estavam os militares, os sacerdotes, os nobres que compunham a burocracia do estado. Acima de todos, acumulando a chefia dos exr-citos, dos sacerdotes, do judicirio, e da administrao civil, estava o fara.

    A estrutura de poder e social permaneceu a mesma durante todo o perodo faranico mesmo com os perodos de ocupao sudanesa, persa e assria , que vai desde a unificao at aproximadamente o sculo I a.C., quando as foras romanas se instalaram no Egito e iniciaram uma srie de modificaes, a comear pela estrutura religiosa, reformularam o sistema jurdico e a administrao introduzindo tradies romanas, mas tambm adaptaram formas egpcias para aproximarem o estado dos novos sditos romanos. (DONADONI, 2010)

    No Egito tambm existia uma for te organizao religiosa que inclua o fara como principal lder. Em algumas oportunidades os egpcios experimentaram o monotesmo. Alguns pesquisadores da histria das religies identificam nestas oportunidades e no Zoroastrismo, os fundamentos de todas as religies monotestas surgidas na antiguidade clssica, j que foram anteriores, por exemplo, ao judasmo base das trs maiores religies monotestas da atualidade: o prprio judasmo, o cristianismo e o islamismo.

    Toda ocupao ainda mais as pacficas implica em adaptaes, transformaes e adies, porm, com a ocupao militar romana, o Antigo Egito se transformou de tal maneira que no mais conseguiu retomar sua vida autnoma, pois aps os romanos se sucederam outros povos na ocupao, como bizantinos, muulmanos, europeus e recentemente israelenses.

  • EaD

    38 LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Kush e Axum

    Os reinos de Kush e Axum se desenvolveram no noroeste africano e tiveram uma grande proeminncia na histria, pois influenciaram diversos outros povos, com suas culturas.

    Segundo importantes descobertas arqueolgicas, essa regio compete com o sudoeste africano pelo ttulo de bero do Homo sapiens sapiens e disputa com o Egito a primazia da organizao de sociedades complexas por volta de 6.000 a.C., ou seja elas foram organizadas na mesma poca.

    Kush

    Conforme a tradio bblica, Kush ou Cuxe, ou Cuche, ou Cus, a depender da tradio utilizada foi povoada primeiramente por Cuche, um dos filhos Can que por sua vez era filho de No, chegando regio aps o salvamente do dilvio.

    Se existe uma polmica quanto a cor dos antigos egpcios, o mesmo no acontece com Kush e Axum, ambas surgidas na regio denominada de Nbia, uma denominao usual na antiguidade para designar a por-o de terras ao Sul do Egito e irrigadas pelo Nilo. Alguns pesquisadores apresentam esse territrio com uma extenso maior ou menor, mas sempre sob a influncia tanto climtica como cultural do Nilo.

    As primeiras organizaes sociais centralizadas na regio foram contemporneas do Alto Egito e do Baixo Egito e os achados arqueolgicos confirmam as intensas trocas comerciais e culturais entre essas regies, porm, destacando uma identidade prpria nas manifestaes artsticas encontradas em Kush desde esse perodo inicial, alm de tambm oferecer pistas de um pujante comrcio com outras regies africanas e asiticas das quais era vizinha privilegiada.

    Com a construo de vrios fortes para proteo do Sul do territrio egpcio obra da primeira dinastia unificada por volta de 3.200 a.C. as relaes entre as regies se ressente um pouco, porm, as trocas comer-ciais continuam, pois os egpcios necessitavam de vrios produtos locais, como os minerais, sobretudo o ouro.

    Outros produtos locais interessavam ao Egito, vinham [...] de Wawat: incenso, marfim, leos, bano, peles de leopardo, penas de avestruz (MBOKOLO, 2009, p. 78). Tambm as trocas polticas entre as duas regies

    banhadas pelo Nilo eram frequentes, pois alguns faras e parte da nobreza egpcia entre 2.000 a.C. e 1.500 a.C. eram oriundos desta regio.

    As proximidades tanto de fronteiras como culturais eram enormes entre os egpcios e os kushticas tambm podem ser chamados de cuxitas ou cuchitas, dependendo da tradio evocada levando vrias vezes a invases de parte a parte, em diversos episdios. Os melhor documentados foram a submisso de Kush pelo fara Tutms I, por volta de 1.500 a.C., e a tomada de poder do Egito por uma dinastia kushtica, a chamada XXV ou dinastia etope, por volta de 700 a.C..

    Alm dessas existem tambm outras incurses e invases. Ver:

    SHERIF. Nagm-El-Din Mohamed. A Nbia antes de Napata (3100 a 750 antes da Era Crist). In: MOKHTAR. Gamal. Histria Geral da frica II: frica Antiga. 2. ed. rev. Braslia: UNESCO, 2010, p. 235-272.

    Leclant (2010) fala de um perodo pouco anterior a dominao da dinastia etope no Egito: Na primeira metade do II milnio, a chamada cultura de Kerma cor-respondia ao rico e prspero reino de Kush, mencionado nos textos egpcios (LECLANT, 2010, p. 273). O perodo tambm marcado por imponentes construes e um florescimento das artes de forma geral.

    A prosperidade, talvez ocasionada pela explorao do comrcio das diversas mercadorias importantes para todo o Norte da frica e oriente, como ouro, incenso, leos e outras especiarias, fez de Kush uma potncia e a levou a se arriscar nas conquistas blicas do territrio de seu vizinho ilustre do Norte, fundando a XXV dinastia no trono egpcio, por volta de 710 a.C.. Essa dinastia reinou no trono do Egito por cerca de um sculo.

    Neste perodo tambm foram realizadas muitas viagens patrocinadas pelos faras nbios para desbra-vamento e conhecimento de outras terras.

    Vestgios arqueolgicos deste perodo, encontrados no M-

    xico, apontam para o contato com viajantes nbios. Uma das

    maiores expresses dessa proximidade so as esculturas

    olmecas representando africanos. Em algumas, possvel

    distinguir ornamentos iguais aos utilizados na Nbia. (LOPES;

    ARNAUT, 2005, p. 22-23)

    Pesquisadores especializados na Histria e Cultura egpcia consideram que aps a retirada do poder fara-

  • EaD

    39LICENCIATURA EM HISTRIA - HISTRIA DA FRICA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    nico, os kushticas sofreram um retrocesso se afastando cada vez mais da cultura do delta do Nilo, porm, no en-tendimento de Sherif (2010), Kush continua assegurando as especificidades africanas prprias de sua cultura, mas tambm recebendo influncias externas:

    Na realidade, trata-se de uma cultura africana que ora se

    firma em sua especificidade ora procura alinhar-se civili-

    zao egpcia ela mesma, alis, africana. De tempos em

    tempos, chegam ecos do Mediterrneo, particularmente aps

    a fundao de Alexandria. (SHERIF, 2010, p. 278)

    Para proteger a nobreza das investidas estrangeiras, foi decidido mudar a capital de Kush de Napata para Mroe, provavelmente no sculo IV a.C.. A regio da nova capital tinha clima mais agradvel, reas propcias agricultura ir