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http://salaconvivio.com.sapo.pt História da Idade História da Idade História da Idade História da Idade História da Idade Contemporânea Contemporânea Contemporânea Contemporânea Contemporânea Apontamentos de: Ana Peixoto Email: [email protected] Data: 2000/01 Livro:Introdução à História do Nosso Tempo - Do Antigo Regime aos Nossos Dias René Rémond Gradiva 1994 Nota: O resumo do livro foi efectuado de acordo com os objectivos expressos no Caderno de Apoio para cada um dos capítulos. As respostas às actividades que se encontram também no mesmo Caderno foram compiladas (fornecidas pela assistente da cadeira). No final, encontra-se um glossário de conceitos e noções retirados quer do Dicionário de História da Edit. Universal quer de outros materiais de apoio existentes no mercado. A Sala de Convívio da Universidade Aberta é um site de apoio aos estudantes da Universidade Aberta, criado por um aluno e enriquecido por muitos. Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor , para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O autor não pode, de forma alguma, ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes neste documento. Este documento não pretende substituir de forma alguma o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão. A Universidade Aberta não tem quaisquer responsabilidades no conteúdo, criação e distribuição deste documento, não sendo possivel imputar-lhe quaisquer responsabilidades. Copyright: O conteúdo deste documento é propriedade do seu autor, não podendo ser publicado e distribuido fora do site da Sala de Convívio da Universidade Aberta sem o seu consentimento prévio, expresso por escrito.

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Apontamentos de: Ana PeixotoEmail: [email protected]: 2000/01

Livro:Introdução à História do Nosso Tempo -Do Antigo Regime aos Nossos DiasRené RémondGradiva1994

Nota: O resumo do livro foi efectuado de acordo com osobjectivos expressos no Caderno de Apoio para cada um doscapítulos. As respostas às actividades que se encontramtambém no mesmo Caderno foram compiladas (fornecidas pelaassistente da cadeira). No final, encontra-se um glossário deconceitos e noções retirados quer do Dicionário de História daEdit. Universal quer de outros materiais de apoio existentesno mercado.

A Sala de Convívio da Universidade Aberta é um site de apoio aos estudantes daUniversidade Aberta, criado por um aluno e enriquecido por muitos. Este documento éum texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor , para que possa auxiliarao estudo dos colegas. O autor não pode, de forma alguma, ser responsabilizado poreventuais erros ou lacunas existentes neste documento. Este documento não pretendesubstituir de forma alguma o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão.

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História da Idade Contemporânea Introdução à História do Nosso Tempo – I Parte: O Antigo Regime (1750-1789)

1 / 95 1. O HOMEM E O ESPAÇO: MUNDO CONHECIDO E MUNDO IGNORADO

1.1 Caracterize a situação do mundo quanto às relações e à comunicação entre as várias regiões

Em 1750, para a humanidade, o mundo não existe como uma unidade. Não é concebido como tal. Não existe simultaneidade. As invenções técnicas estão ainda por chegar: não se conhece a revolução dos meios de comunicação, nem a revolução dos transportes. No séc. XVIII, o homem desloca-se a passo ou a cavalo. É o passo do cavalo e velocidade dos navios à vela que condicionam as comunicações, ritmam a transmissão das notícias ou das ideias, medem a distância. O mundo surge aos contemporâneos de 1750 incomparavelmente mais extenso e vasto do que actualmente. O homem encontrava-se então mais longe do homem. Tal situação implica todo o género de consequências.

1.2 Aponte as consequências políticas, sociais e económicas dessa situação Consequências políticas: devido ao distanciamento é difícil constituir associações políticas duráveis; é complicado os governantes administrarem os seus povos; os impérios demasiado vastos estão condenados à decomposição. Os agrupamentos políticos são naturalmente mais restritos. Consequências sociais: os indivíduos não saem de um círculo restrito - aldeia, paróquia, uma região geograficamente limitada – e ignoram o resto do mundo, vivendo assim numa dependência muito estrita no interior desse pequeno grupo. Consequências económicas: Os mercados são limitados. O que existe é uma economia de subsistência para produzir tudo o que se precisa, pois as trocas são quase inexistentes.

1.3 Refira as etapas de reconhecimento do mundo pelos homens e da apropriação do espaços

O reconhecimento do mundo é uma consequência dos Descobrimentos. Em 1750, por iniciativa dos Ocidentais, o conhecimento geográfico do mundo já fez grandes progressos. A epopeia geográfica foi escrita por alguns países europeus devido a vários factores, nomeadamente os seguintes: Factores intelectuais ou morais: curiosidade, motivos científicos, de ordem religiosa como a vontade de levar até aos limites da Terra a mensagem do cristianismo. Motivos comerciais: a procura de novas vias de acesso às riquezas da Ásia. Motivos políticos: a vontade de poder das Nações. Meios científicos: aperfeiçoamento dos instrumentos de navegação; desenvolvimento da astronomia e hidrografia. Meios técnicos: o navio é o meio de exploração. Reencontramos o avanço cronológico dos países marítimos em relação aos países continentais: primeiro Portugal, depois Espanha. No século XVIII estes impérios coloniais já estão em declínio. Tomaram-lhes o lugar a França, a Inglaterra, as Províncias Unidas e mesmo os países escandinavos. Muito mais tarde, Alemanha e Itália juntar-se-ão ao grupo das potências coloniais. A Rússia tem também o seu lugar nesta lista, embora se expanda na Ásia através de uma espécie de dilatação da própria massa territorial, e não, como aconteceu aos outros países. Estes factos remetem-nos para a seguinte conclusão: houve um avanço da Europa Ocidental e depois da Europa Central. Estas duas Europas correspondem por um lado às sociedades marítimas (burguesia numerosa, e activa e uma economia com um comércio externo apreciável), por outro, às sociedades continentais (orientadas para a terra e cuja economia é totalmente agrária).

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2 / 95 Em meados do séc. XVIII subsistem ainda grandes manchas brancas nos mapas da época ou assinaladas por terra incognita. É no séc. XIX que os exploradores vão resolver estes enigmas. Na segunda metade do séc. XVIII a curiosidade científica é intensa e as técnicas progridem, havendo expedições de todos os géneros. O regresso às origens da história é outra etapa da procura empreendida pelo homem. As conquistas dos pólos efectuam-se em 1909 e 1911. Nas vésperas do primeiro conflito mundial o homem tem um conhecimento praticamente total do globo.

1.4 Comente a afirmação “a época do mundo acabado começou” A expressão original de Valery – “a época do mundo acabado começou” – refere-se à tomada de consciência que a Terra é finita e ao conhecimento do globo, apesar de haver ainda vastos espaços que só lentamente foram desbravados pelo homem. Tomou-se consciência da finitude do espaço terrestre e dos seus limites. O crescimento da população mundial conduziu a grandes movimentos migratórios e à ocupação de espaços ainda inexplorados pelo homem. O conhecimento do mundo e o movimento da expansão, sobretudo dos países europeus, agudizou os conflitos pelo domínio de vastas regiões do globo entre as potências contemporâneas. Observe o mapa sobre as navegações dos europeus e o progressivo conhecimento do mundo. Discrimine as principais etapas da explorações geográfica do globo terrestre pelos europeus. As principais etapas da exploração geográfica do globo iniciam-se com as viagens dos descobrimentos nos séculos XV e XVI, onde os portugueses tiveram um papel pioneiro. Nos séculos seguintes esse processo continuou com a exploração do interior dos continentes, nomeadamente na América e, já no século XD(, na África A exploração dos pólos foi a etapa mais difícil, devido às duras condições climáticas. A última etapa dos homens na qualidade de exploradores iniciou-se com as viagens espaciais. O mapa assinala as viagens mais importantes e os nomes dos que as realizaram. Na pp. 22-26 o manual aborda o assunto. Caracterize a situação do mundo quanto às comunicações entre as várias regiões no século XVIII. Apesar dos progressos realizados na época moderna, o mundo não está unificado e muitas sociedades vivem isoladas, segundo ritmos ancestrais. Veja o manual pp.19-22. 2 O POVOAMENTO

2.1 Caracterize a chamada revolução demográfica Em 1750 o nº efectivo de seres humanos é avaliado em 700 milhões. Em pouco mais de duzentos anos a população quintuplicou. Esta comparação justifica a expressão revolução demográfica. As causas são múltiplas: algumas têm a ver com a diminuição da mortalidade, outras com as modificações da economia e da sociedade. Os efeitos desta revolução demográfica são inumeráveis e estão na base de todos os nossos problemas contemporâneos.

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3 / 95 2.2 Mostre qual era a distribuição da população a nível mundial no século XVIII Em 1750 a repartição da população é muito desigual e o crescimento não se produziu em todos os continentes ao mesmo ritmo. A esmagadora maioria da população mundial encontra-se na Europa, Ásia e África. A Ásia é o continente mais povoado de todos. A Europa lidera o quadro da densidade demográfica. Em África, a população diminui drasticamente em resultado da hemorragia demográfica do tráfico de escravos. A América do Norte encontra-se em 1750 praticamente vazia, mas registará um salto de 1 milhão para 43 milhões de habitantes em 1870. A América Latina tem também bastantes habitantes devido aos impérios coloniais portugueses e espanhóis. Só em 1750 se reconhecerá a existência da Oceânia, provavelmente apenas com 1 milhão de indígenas. Esta descontinuidade contribui uma grande diversidade de condições de vida, de mentalidades, de civilizações.

2.3 Refira as consequências demográficas do tráfico de escravos durante a Idade Moderna

Desde o século XVI que a população da África negra diminuía, devido ao tráfico de escravos, que provoca uma hemorragia demográfica: este facto constitui o primeiro grande movimento migratório da história moderna. O tráfico de escravos estava intimamente ligado ao comércio triangular que se estabeleceu entre três continentes: Europa, África e América. A matéria-prima oriunda dos navios das costas atlânticas eram, em África, negociadas e trocadas por escravos. Estes seguiam a bordo dos navios para o Novo Mundo onde eram vendidos, Graças ao produto da venda os navios regressavam a França e Inglaterra com rum, açúcar e tabaco. Esta hemorragia está na origem da penúria actual de certos estados da África central. O tráfico desorganizou as trocas, abalou os fundamentos das sociedades. Para a América, desde a abolição da escravatura em 1863, subsistem as sequelas como a segregação e a integração racial.

2.4 Explique a relação que existe entre a população e as subsistências disponíveis nos países.

Na economia de Antigo Regime, a capacidade de um país para sustentar a sua população é limitada pelo volume dos recursos alimentares. Todas as sociedades de Antigo Regime vivem na obsessão da escassez. Até meados do séc. XIX a vida da população e as suas possibilidades de crescimento demográfico são ritmadas pela produção dos cereais, entre outros bens alimentares. Apercebemo-nos da fatalidade dos processos atmosféricos que ritmam a capacidade da agricultura e, consequentemente, o quantitativo da população.

2.5 Refira de que forma a revolução agrícola abriu novas perspectivas ao precário equilíbrio entre a população e os recursos alimentares

Em alguns pontos privilegiados, os homens começam a subtrair-se a esta dependência. A revolução agrícola, os progressos da agronomia, a integração do gado na agricultura, a supressão do pousio e, em consequência, a reconquista de um terço do solo abrem a esperança de perspectivas inesperadas.

2.6 Explique o problema do excedente de mão-de-obra e das massas indigentes no Antigo Regime

No Antigo Regime, a situação caracteriza-se, na maior parte dos países europeus por um excedente de mão-de-obra. A revolução demográfica precedeu a revolução industrial, ou seja, o crescimento da população antecedeu a expansão das possibilidades de emprego.

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4 / 95 Toda uma população excedentária de indigentes está à espera de trabalho. O que por vezes se chama «quarto estado» é constituído por vários milhões destes seres errantes. Teremos de esperara pela revolução industrial e pelos seus efeitos, para que, pelo menos na Europa, se reabsorva a pouco e pouco o excedente de população. Observe os dados quantitativo dos quadros e gráfico e discrimine a distribuição da população mundial por continentes e países Para responder de forma correcta a esta questão deve ter em conta o que diz o manual, pp. 29-33, e os quadros. É importante assinalar o grande crescimento demográfico dos vários continentes, em especial da Europa, da Ásia e da América, de 1750 a 1870, discriminando os números respectivos. Pode, inclusive, calcular alguns aumentos em termos percentuais para dar uma ideia mais precisa desse fenómeno demográfico. No caso da Europa, é de destacar o caso da Grã-Bretanha, que tem um crescimento extraordinário, decorrente do próprio desenvolvimento económico. Pelo contrário, Portugal acompanha a considerável distância esse processo de aumento da população. Identifique as áreas do globo onde o crescimento é mais acentuado Para identificar as áreas do globo onde o crescimento é mais acentuado precisa de analisar com atenção os dados e de fazer alguns cálculos. Na Europa, será importante destacar os países mais desenvolvidos e a Rússia; que parte duma base demográfica já elevada; na Ásia, a gigantesca China e a Índia; na América, os Estados Unidos e alguns países da América do Sul. Mostre a importância do crescimento da população europeia e as respectivas causas O crescimento da população europeia prende-se com o desenvolvimento económico, com a melhoria das condições sanitárias e de saúde. A Europa conseguiu ultrapassar o ciclo negro das sociedades de Antigo Regime, que associava maus anos agrícolas, fomes e pestes. A esperança média de vida aumentou e as taxas de mortalidade baixaram, repercutindo positivamente no crescimento da população. Analise o movimento emigratório da população europeia no século XIX utilizando os dados fornecidos pelo manual (p. 32) e pelo quadro apresentado. A emigração de europeus para outros continentes, nomeadamente para a América, para a Austrália e, posteriormente, para África foi elevadíssima. Deve discriminar os números que o comprovam e destacar as principais zonas do mundo para onde se deslocaram. Nessas regiões reproduziram o modo de vida e a cultura europeia com as necessárias adaptações ao meio. O caso da conquista do Oeste americano e das terras de fronteira marcou, profundamente, o imaginário dessas sociedades forjadas em condições agrestes. A partir dos elementos disponíveis no manual e neste caderno analise o problema da escravatura e as respectivas consequências para o continente africano. A escravatura é praticada pelos homens desde a Antiguidade mais remota, contudo só na época moderna se massificou. As principais vítimas desse tráfico foram os povos africanos. Vitimas e protagonistas, visto que se desenvolveram reinos e sociedades que serviram de intermediários entre os negreiros europeus e as populações indefesas do interior que capturavam para trocar junto à costa. Os números são falíveis, mas impressionantes. Traduzem uma autêntica hemorragia populacional para África, com graves consequências socio-económicas e culturais, porque eram os mais jovens e válidos as presas mais apetecidas pelos traficantes.

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5 / 95 3 A ORGANIZAÇÃO SOCIAL DE ANTIGO REGIME

3.1 Defina os conceitos ou noções de ordem, classe, renda fundiária, usurário, direitos feudais, servidão, obrigações comunitárias, aristocracia, burguesia, sociedade rural e sociedade urbana

Vd. glossário.

3.2 Caracterize as sociedades rurais explicitando as diferenças entre as várias regiões da Europa

É de sublinhar a esmagadora predominância da sociedade rural sobre a sociedade urbana. A superioridade do campo estende-se a todos os aspectos da vida social. É válida para a distribuição dos homens e também para o rendimento nacional. Em 1780 os rendimentos dos campos asseguram quase três quartos do rendimento nacional total. A forma habitual de aplicar o dinheiro é na terra. Embora, o rendimento dos capitais aplicados no comércio interno e externo seja infinitamente mais remunerador do que os benefícios da renda fundiária (rendimento proporcionado pela posse da terra). No entanto, numa sociedade em que os valores rurais predominam, só a posse da terra é digna de consideração. É ela que está na origem da ascensão social. No cume, os proprietários exploradores que têm suficientes bens para não precisarem de arrendar terras alheias. No mais baixo da escala estão aqueles que trabalham a terra sem a possuir.

3.3 Caracterize as sociedades urbanas mostrando a importância das cidades em geral, das cidades portuárias e das burguesias.

Só uma pequena minoria vive na cidade. Grosso modo, as regiões urbanas desenham uma espécie de faixa orientada de noroeste para sueste da Europa ocidental, que é composta pelas cidades hanseáticas, flamengas, alemãs e pelas grandes cidades da Itália setentrional. A maior parte das cidades são portos. A cidade é um centro de trocas. Foi do comércio que nasceu a maior parte dos grandes centros urbanos. Esta correlação tem consequências quanto à composição social da população urbana: burguesia de comércio e de função.

3.4 Caracterize as burguesias das sociedades pré-industriais quanto à sua composição social

A burguesia é, antes de mais, constituída por mercadores e negociantes. Ao seu lado, coexiste uma burguesia intelectual e da administração, uma burguesia das profissões liberais, a que gravita à volta dos parlamentos. Esta burguesia está desigualmente desenvolvida através da Europa. A sua amplitude depende do grau de desenvolvimento dos países, o qual varia em função do desenvolvimento económico e da difusão dos conhecimentos. No Ocidente encontra-se uma burguesia importante sem equivalência no Leste, onde só se encontra um campesinato de servos e uma aristocracia de grandes proprietários. Onde não existe burguesia o Estado é forçado a substituí-la – é o poder que desenvolve o país. O código dos valores sociais desvia, assim, os capitais do comércio ou da indústria e esteriliza-o na compra de terras.

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6 / 95 3.5 Distinga entre ordens e classes As ordens são grupos em que a sociedade se divide com um estatuto definido e regulamentado a nível jurídico. A classe não tem essa expressão. É apenas uma simples realidade de facto e fundamenta-se na desigual distribuição de riqueza existente e nas diferenças socio-económicas que daí resultam entre os vários grupos sociais. Pertence-se a uma ordem por nascimento. Também se pode ascender por vocação no caso do clero ou por via de cartas de enobrecimento, no caso da nobreza.

3.6 Analise a organização social característica do Antigo Regime A sociedade do Antigo Regime está dividida em 3 ordens e assenta originariamente na diferenciação de funções. O clero reza pela comunidade, presta culto a Deus e está liberto de todo o trabalho servil; a nobreza assegura a defesa e a protecção, também julga e lança direitos feudais; o terceiro estado, o povo, trabalha. A sociedade do antigo regime assenta na desigualdade, que é tida como legítima, pois é a expressão da diferença das dignidades, das tarefas e das situações. Cada ordem tem o seu estatuto próprio, pois o antigo regime desconhece leis únicas. Ele parte do reconhecimento da diversidade das situações e consagra-a juridicamente. O antigo regime é o regime da lei particular, isto é, dos privilégios inerentes ao nascimento e às funções desempenhadas. Estes privilégios comportam um sistema de direitos e de deveres que se equilibram. Esta sociedade assenta na diversidade, na pluralidade das ordens, na hierarquia e na multiplicidade das leis. De resto, não se trata de uma sociedade fossilizada: pode ascender-se ao clero por vocação e à nobreza através de cartas de enobrecimento dadas pelo rei.

3.7 Exponha os sinais de envelhecimento dessa organização social e os respectivos factores de transformação

Esta situação transforma-se no séc. XVIII. A evolução da governação, das relações sociais e da economia rompeu com o equilíbrio entre direitos e deveres. A opinião pública toma consciência disso. 1º factor de transformação – Político: Desenvolve-se uma forma de regime mais recente: a monarquia absoluta, em que o poder se concentra nas mãos de um soberano único, rompendo-se, assim, o equilíbrio tradicional entre deveres e direitos. À nobreza é retirada uma série de funções, sociais e militares, que passam para a mão do rei. Este reduz o papel da nobreza a uma serventuária do culto monárquico: a corte. 2º factor de transformação – Económico: A evolução da economia empobrece a nobreza, já que a terra perde a sua importância em detrimento da economia monetária, das trocas comercias. A evolução enriquece a burguesia que contribui mais activamente para o desenvolvimento do país. Cresce, também o seu papel político: é a partir dela que os soberanos recrutam ministros e funcionários. 3º factor de transformação – Espiritual/Ideias: A evolução dos espíritos e das ideias começa a sentir como inaceitável, porque injustificada, a persistência da desigualdade e da permanência da sociedade dividida em ordens.

3.8 Explique a reacção nobiliárquica às transformações sociais que se foram dando no Antigo Regime

Vendo a sua posição ameaçada e a fortuna a diminuir, a nobreza procura conservar e preservar uma ordem que lhe era vantajosa e reforça disposições jurídicas e o seu lugar junto do soberano. Reage também contra os camponeses repondo em vigor muitos direitos caídos em desuso. Deste modo, a burguesia e o campesinato vão solidarizar-se nas origens da revolução de 1789. A reacção nobiliárquica torna-se assim odiosa face aos olhos dos contemporâneos, porque vai contra o sentido da evolução económica, social e também intelectual. O

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7 / 95 movimento das ideias e a sua difusão vai atacar os próprios fundamentos da sociedade do antigo regime. Leia o sub-capítulo sobre a sociedade rural (pp.36-41) e o excerto do texto de P. Vilar. Caracterize a situação social dos camponeses na transição do feudalismo para o capitalismo, nas várias regiões da Europa. O processo de transição do feudalismo para o capitalismo nos campos caracteriza-se pela libertação dos camponeses de todas as peias de carácter feudal, nomeadamente da servidão e de todas as obrigações que pesavam sobre eles, em particular as corveias. Ao mesmo tempo, os camponeses perdem o direito ao usufruto das terras, que passam a ser exploradas directamente pelos proprietários ou são arrendadas por preços tanto mais elevados quanto maior for a procura de terras. Os pequenos proprietários endividam-se e perdem as terras para os credores. Dá-se, assim, um processo de desapropriação e de concentração da propriedade que expulsa muitos camponeses das terras. Os campos ocupam cada vez menos mão-de-obra nas sociedades contemporâneas. A privatização dos baldios e terrenos comunais também constituiu um processo dramático de desapropriação das comunidades, que estavam habituadas a utilizar essas terras desde tempos ancestrais. Na sua resposta deve desenvolver estas questões e mostrar que o processo ocorreu de forma diferenciada nas várias regiões da Europa. 4 AS FORMAS POLÍTICAS DO ANTIGO REGIME

4.1 Defina os conceitos de feudalismo, suserania, vassalagem, servidão, oligarquia, colegialidade, patriciado, monarquia, república, despotismo, absolutismo e soberania.

Vd. glossário.

4.2 Caracterize os cinco tipos distintos de organização política das sociedades europeias de Antigo Regime : sociedades feudais, repúblicas patrícias, monarquia absoluta, despotismo esclarecido e o regime britânico

Feudalismo Aristocrático • É o tipo mais antigo e sobreviveu até ao séc. XIX ou XX; • Modelo adaptado às sociedades rurais da Idade Média; • Ausência de um poder central; • Existência de laços pessoais completado pela servidão (relações no interior das

ordens e entre o senhor e o camponês – vassalo e suserano); • Está ligado a uma economia assente na propriedade e na exploração da terra; • Nas mãos da nobreza; • Outros sinais do feudalismo: as Instituições representativas; o método electivo e a

colegialidade política. • Organização política que cobre uma área reduzida e que entra em declínio com o

avanço geral da sociedade. Repúblicas Patrícias

• Ligadas à cidades, cobrindo espaços restritos. • Governam-se livremente; • O poder é detido por uma minoria do tipo colegial e electiva;

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• O patriciado detém o poder, sendo o povo mantido na dependência. • Organização política que cobre uma área reduzida e que entra em declínio com o

avanço geral da sociedade. Monarquia absoluta

• Constituída nos sécs. XVI e XVII, na Europa Ocidental; • Aparecimento favorecido pela evolução da sociedade, da economia, da administração

e dos espíritos; • Sobrepõe-se ao que resta do feudalismo e das repúblicas patrícias; • O soberano é único e detém o poder pessoal; • O poder não é partilhado e reside nas mãos do rei; • O rei não reconhece nem autoridade, nem suserania nem mesmo a do papa; • A soberania do rei é absoluta também no interior onde todos lhe obedecem e onde

tudo lhe está subordinado – é esta concepção que preside à noção de monarquia absoluta.

Despotismo esclarecido

• Os déspotas esclarecidos empenham-se em reforçar a sua autoridade e vencer os mesmos obstáculos que os monarcas absolutos.

• Os déspotas reduzem os privilégios e utilizam o poder para racionalizar a governação e unificar os seus povos e os seus territórios.

• Estas características são um decalque do modelo da monarquia absoluta, mas há diferenças. (vd. 4.4)

Regime Britânico No final do Antigo Regime, o regime político britânico contém algumas características que o distinguem dos outros regimes contemporâneos.

• Apresenta-se como monarquia hereditária, mas não é absoluta. • Uma aristocracia poderosa detém o essencial do poder, o monopólio da administração

local, os poderes de polícia e de justiça, não havendo centralização. • A aristocracia inglesa é formada por gente aberta à fortuna e ao talento e está

representada no Parlamento, com largas atribuições que limitam a acção do monarca em determinados aspectos.

• Gabinete britânico é independente do rei e delibera sem a sua presença. • Existem partidos que ocupam os lugares electivos da Câmara dos Comuns. • Temos, portanto, um regime representativo, electivo, aristocrata e liberal, onde há

liberdade de consciência, liberdade de culto religioso, pluralidade de opiniões políticas expressas na imprensa.

4.3 Mostre a modernidade da monarquia absoluta e os limites do absolutismo Quatro factores jogam a favor do absolutismo: • A evolução das ideias devolveu o valor à ideia de Estado, do poder real que é também a

mais perfeita da autoridade delegada por Deus; • Este movimento é reforçado pela burguesia das cidades que, em conflito com a

autoridade episcopal e senhorial, se vira para o rei protector. A autoridade real protege contra as arbitrariedades do feudalismo, garante a ordem contra a insegurança, é um factor de progresso em favor do desenvolvimento económico e social. A monarquia conta, assim, com simpatias e aliados;

• As transformações da sociedade beneficiam a autoridade real porque dá uma resposta adequada aos problemas resultantes da evolução geral. É a modalidade de governo mais bem adaptada às exigências do tempo.

• É constituída uma administração que proporciona à monarquia os meios para as suas ambições, esmagando imunidades, corroendo privilégios e destruindo tudo o que

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ensombra a autoridade do rei. Sem esta administração não teria havido monarquia absoluta, que é a forma de governo mais racional e a que atinge o mais alto grau de eficácia.

Limites do Absolutismo: • O absolutismo ainda não conseguiu fazer desaparecer os vestígios do feudalismo e as

liberdades das cidades; • O rei não goza de todas as facilidades práticas que o progresso técnico põe à disposição; • A maioria dos soberanos não estão seguros dos seus agentes; • As finanças reais estão em má situação, não existe uma administração responsável pela

cobrança do imposto e a organização social que distingue as ordens privilegiadas reduz as receitas fiscais, privando a monarquia de rendimentos substanciais.

4.4 Compare a monarquia absoluta e o despotismo esclarecido assinalando os traços distintivos

O que distingue o despotismo esclarecido do modelo da monarquia absoluta é: • Terem aparecido mais tarde (séc. XVIII) e noutros lugares (leste da Europa - Áustria,

Prússia e Rússia); • Permitiu a estes países recuperar o atraso em relação à monarquia absoluta e

empreender ou acelerar a sua modernização; • Nascido mais tarde é mais moderno que a monarquia absoluta. • É ao movimento das luzes que vai buscar a sua justificação (e não ao direito divino, já

que esta parte da Europa não é católica); • É uma etapa do movimento que vai romper os laços entre a Igreja e o soberano; • Evidencia-se também pelo seu espírito de racionalidade. A simplicidade elimina os rivais,

a uniformização facilita a acção dos poderes públicos e reforça a sua autoridade; • Caracteriza-se ainda por práticas intervencionistas que fundam uma tradição autoritária

que perdurará até ao séc. XX.

4.5 Identifique os traços comuns dos regimes anteriormente mencionados • São quatro os traços comuns: • A quase universalidade da forma monárquica; • Todos os regimes anteriores à revolução são regimes tradicionais, colhendo a sua

justificação na historicidade – é o que se chamará, em 1815, o princípio da legitimidade; • Inicia a dissociação entre a Igreja e o Estado; • Nenhum admite a pluralidade das opiniões e das instituições (salvo o regime britânico).

Não há nada que se assemelhe à democracia.

4.6 Ponha em relevo a originalidade da experiência dos Estados Unidos. A coexistência de 13 estados lembra as Províncias Unidas: existem semelhanças entre o carácter oligárquico, a descentralização, algumas instituições dos novos Estados unidos e a experiência duas vezes secular das Províncias Unidas. O caso americano é original: é a primeira vez que uma colónia reivindica a sua independência e rompe os laços com a metrópole. Em 1783, separados da Grã-Bretanha elaboram um novo sistema político pela presença de um texto constitucional (1787) que ainda hoje regula o funcionamento dos poderes públicos. As assembleias são eleitas, existe um equilíbrio entre o governo federal e os estados, existem liberdade públicas e o princípio da separação de poderes.

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10 / 95 Confronte o texto de C. Parain (p. 27 CA) com o que leu no manual. Caracterize o feudalismo nas suas linhas essenciais. No manual, pp. 52-56, a abordagem centra-se nos aspectos políticos que caracterizam as sociedades feudais. O autor destaca a ausência de poder centralizado, os laços pessoais entre os que detêm o poder nessas sociedades - as chamadas relações feudo-vassálicas - a importância da terra e da propriedade fundiária e as relações entre os senhores e os que deles dependem em termos de sobrevivência - a servidão. Atenção: o feudalismo não ignorou o dinheiro, como se diz na p. 54. Aliás, o dinheiro é conhecido e utilizado desde tempos muito anteriores ao feudalismo. Também não parece correcto alargar a utilização do termo a fenómenos recentes das economias contemporâneas, como os cartéis e as grandes concentrações financeiras e económicas (p.56). Mas sobre esses aspectos é importante que façam a vossa reflexão pessoal. Charles Parain faz uma abordagem do feudalismo centrada nos aspectos socioeconómicos, numa perspectiva de análise marxista. Caracteriza as relações sociais de produção e a base económica, sobre a qual se ergue uma superestrutura política marcada pela inexistência de Estado soberano. A expressão feudal pode ser aplicada a todas as sociedades que reunam as condições que sintetiza, isto é, economia agrícola, relações de dependência pessoal e um regime de propriedade da terra com características específicas, ausência de poder centralizado e soberano. Discrimine os traços políticos fundamentais do despotismo esclarecido ou iluminado tendo em conta o texto de P. Hazard (pp 28-30 CA). O despotismo esclarecido ou iluminado é um fenómeno típico do século XVIII e tributário da filosofia das luzes. Um misto de tradição autoritária secular das monarquias europeias e de vontade dos soberanos de modernizar os seus países, adaptando-se aos novos tempos. Os traços políticos fundamentais são o laicismo e a secularização do poder e da sociedade, racionalismo e vontade de impor uma nova ordem social, económica e administrativa, mais conforme com a modernidade, estatismo e preocupação com a educação e a cultura. Deveriam ser desenvolvidos estes pontos na resposta. Identifique as principais figuras dos estados europeus que praticaram o despotismo esclarecido O texto de Paul Hazard regista as principais figuras, sem esquecer o nosso Marquês de Pombal. Faça as fichas de acordo com as instruções anteriores. 5 AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

5.1 Caracterize o estádio das relações políticas e diplomáticas internacionais Na Europa, os Estados mais importantes não possuem uma unidade política de facto, apenas uma unidade simbólica (o caso do Sacro-Império Romano-Germânico). As relações políticas entre os Estados europeus assentam em uniões dinásticas e em delicados equilíbrios de poderes. Em geral, as potências da época partilham entre si os Estados mais fracos (caso da Polónia). No plano internacional, as potências europeias dispõe de impérios coloniais e gerem grandes empórios comerciais. O império britânico está em franca expansão e a revolução industrial vai possibilitar os meios necessários para construir no séc. XIX o maior império do mundo.

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11 / 95 A unidade política nacional, o desenvolvimento das técnicas e da economia, o avanço dos meios e das estratégias militares, a cobrança de impostos que aumenta o orçamento de Estado, foram factores determinantes para a consecução das políticas imperialistas.

5.2 Caracterize as relações entre a Europa e os outros continentes e entre os estados europeus

Na Europa, os Estados mais importantes não possuem uma unidade política de facto, somente uma unidade simbólica. É o caso do Sacro-Império Romano-Germânico. As relações políticas entre os Estados europeus assentam em uniões dinásticas e em delicados equilíbrios de poderes. As potências da época, geralmente, partilham entre si os Estados mais fracos, como no caso da Polónia. No plano internacional, as potências europeias dispõem de impérios coloniais e gerem grandes empórios comerciais. O império britânico está em franca ascensão e a revolução industrial vai possibilitar à Grã-Bretanha os meios necessários para construir, no séc. XIX, o maior império do mundo. A partir do texto de Corvisier (p.32-33 CA) situe os principais pontos de conflito no continente europeu na segunda metade do século XVIII A resposta à questão encontra-se no próprio texto, devendo-se destacar o conflito austro-prussiano e a expansão russa e austríaca à custa de estados como a Polónia e a Turquia. A questão balcânica começa a esboçar-se com o declínio do império turco e a aspiração dos povos cristãos à independência. Os conflitos de interesses nessa área entre as potências europeias e a dificuldade de estabelecer unidades políticas estáveis nesse pequeno xadrez de povos e culturas é muito antigo. Mostre a crescente importância que os interesses coloniais assumem nos conflitos europeus Na segunda metade do século XVIII, a rivalidade colonial opõe ingleses e franceses na Índia, onde se defrontam as respectivas companhias comerciais por um mercado e um comércio altamente lucrativo. Na América, o duelo entre os ingleses e os franceses foi bastante duro e conduziu à guerra. A França perdeu o Canadá e a Louisiana, mas ficou com a Martinica, Guadalupe e São Domingos. A parte ocidental da Louisiana ficou para os ingleses e, a leste do Mississipi e Nova Orleães, os territórios foram cedidos à Espanha, pela perda da Florida conquistada pelos ingleses. A Inglaterra acaba por triunfar em toda a parte. Veja sobre o assunto a obra já citada de André Corvisier, pp.43 0-434. Analise a importância do Atlântico e das relações triangulares entre Europa-África-América no séc. XVIII A resposta a esta questão requer uma análise atenta do mapa, destacando os produtos que circulam entre os três continentes. Deve-se salientar a importância da África como fornecedora de mão-de-obra escrava para as plantações e minas americanas,, a América como fornecedora de matérias-primas para as indústrias europeias e de metais preciosos, a Europa como fornecedora de produtos industrializados para o mercado das colónias, as quais, por causa do "pacto colonial”, não podiam instalar as suas próprias industrias.

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12 / 95 1 AS ORIGENS DA REVOLUÇÃO

1.1 Problematize a questão do conjunto das causas que deram origem à Revolução Francesa.

Existe uma simultaneidade e um prolongamento de fenómenos de agitação social e política que se relacionam com uma situação de mal-estar e de mudança que caracteriza a passagem do Antigo Regime para a época contemporânea, nos dois lados do Atlântico. É isso que justifica a interrogação e a expressão “era das revoluções”. Começou com a revolução inglesa ainda no séc. XVII, e a república de Cromwell, continuou com a independência dos Estados Unidos e com a Revolução Francesa e, já no séc. XIX com as revoluções liberais pela Europa e as independências dos países latino-americanos. Trata-se de uma época de mudança estrutural das sociedades que foi acompanhada de um intenso processo revolucionário. No início os historiadores oscilavam entre uma explicação de tipo propriamente político (a crise das instituições) e a que põe em relevo o movimento das ideias, o despertar dos espíritos, o factor ideológico. Mais tarde, as explicações voltaram-se para as estruturas da sociedade e para o papel da economia. Também a luta de classes ou o movimento dos preços seria potenciais causas desencadeadoras da revolução. Mas todas tiveram o seu nível de importância já que isoladamente são impotentes para dar conta da totalidade do processo revolucionário.

1.2 Discrimine essas causas em factores de ordem económica, financeira, social, política e ideológica, distinguindo os de carácter estrutural dos conjunturais.

Os factores estruturais são aqueles que se prendem com a organização da economia e da sociedade, caracterizados pela longa duração. O imobilismo da sociedade do Antigo Regime e a necessidade de mudança profunda da sua organização foram factores determinantes da revolução. As novas ideias concebidas pelos teóricos foram um ponto de partida importante para angariar novos adeptos, com o objectivo de implantar uma nova sociedade. As novas ideias começaram por ser veiculadas em círculos restritos – leitores da Enciclopédia, jornais e livros – mas foram-se alargando a novas camadas. A adaptação e simplificação dessas ideias fê-las chegar a camadas mais amplas que se mobilizaram para instaurar um novo regime, considerado mais justo e fraterno. No aspecto económico, são estruturais a forma de organização da produção da riqueza e da distribuição dos bens, geradores de bloqueios ao desenvolvimento e de grandes desigualdades sociais. O regime de propriedade e de arrendamento, os entraves impostos à livre circulação das mercadorias, o sistema corporativo são aspectos que a burguesia desejava mudar para instituir uma economia de mercado, liberta de peias. No aspecto social, são de carácter estrutural o regime de ordens ou estados, a hierarquização rígida, a promoção com base no nascimento, em vez do mérito, um ordenamento social em pirâmide que privilegia uma pequena minoria. No aspecto político, destaca-se um regime monárquico baseado no poder pessoal do rei e absolutista, com um sistema fiscal injusto e deficitário. Os plebeus eram praticamente os únicos que suportavam o Estado com os seus impostos. A organização social era caracterizada pela desigualdade entre os súbditos e a diversidade entre as províncias. Nenhum imposto era geral para todos os súbditos nem comum a todo o reino. A Capitação incidia sobre a riqueza de cada uma, mas tanto o clero como a nobreza remiram-se de a pagar e só os plebeus ficaram a pagá-la. A Talha também só caía sobre os plebeus. A Gabela (imposto sobre o sal) variava de região para região e só prejudicava os plebeus.

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13 / 95 Os factores conjunturais são de curta duração, com oscilações cíclicas que caracterizam um determinado período. A sua conjugação funciona como detonador do processo revolucionário: Maus anos agrícolas, subida de preços e dificuldades de abastecimento, aumento dos impostos, desequilíbrio nas relações de poder e acumulador de tensões, motivadas pelas reacções dos privilegiados e por medidas régias (p.e., a reacção nobiliárquica inflexível e a incapacidade do rei para resolver os problemas financeiros. De acordo com Paul Hazard (textos p. 36 ss.), analise a importância do movimento das ideias do séc. XVIII no eclodir da Revolução Francesa O movimento de ideias do século XVIII teve uma influência decisiva no eclodir da revolução francesa e nos princípios que orientaram as mudanças revolucionárias. A ideia da liberdade e da igualdade perante a lei, que não é ainda a igualdade social, a legitimidade de lutar contra os privilégios, a defesa da "maior felicidade para o maior número" e do contrato que deve estar na origem de todo o sistema de governo dos povos, o laicismo e o racionalismo, a busca de uma nova ordem social mais justa caracterizam esse movimento ideológico e repercutiram nas transformações da revolução. Devem ser desenvolvidos estes tópicos, tendo em conta os textos de Paul Hazard e o manual, pp. 92-93. De acordo com A. Soboul (textos p.39 ss.) caracterize o Terceiro Estado e os factores da rebelião que germinava no seu seio. O Terceiro Estado é composto por vários estratos sociais, desde a burguesia, proprietária de bens e enriquecida, à vasta massa dos sans cullotes ou, como se diria em português, dos pés-rapados, da arraia-miúda. Em comum têm o facto de terem o mesmo estatuto na sociedade de ordens do Antigo Regime, que os esmaga com deveres e impostos e não lhes concede quaisquer direitos. Por razões diversas, tanto a burguesia, como as classes populares urbanas e os camponeses têm fortes razões de queixa contra o regime monárquico. As dificuldades de abastecimento de pão e os impostos excessivos são os factores que despoletam a rebelião. Com base nos textos de Soboul e no manual, deve desenvolver os aspectos referidos. 2 O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO E OS SEUS EFEITOS

2.1 Explique as várias etapas da revolução e os antecedentes próximos que explicam o desencadeamento do processo revolucionário.

A França ao escolher a via revolucionária para repor a ordem não executa de uma só vez a refundição total. Trata-se, pois, de uma sucessão de revoluções, individualizadas, cada uma com o seu espírito. Distinguem-se várias fases: Fase 1: A crise pré-revolucionária opõe ao poder real a resistência dos privilegiados. É caracterizada pela rebelião (a revolução dos juristas – Maio/Junho de 1789) contra o absolutismo e os seus agentes locais, os intendentes; Fase 2: É o momento decisivo da revolução, aquele em que se opera a transferência da soberania, que passa da mão do rei para a representação da nação – A Assembleia Constituinte (9 de Julho de 1789). Toda a obra da Constituinte, administrativa, social, financeira, jurídica revela o cunho liberalista. Embora limitando os poderes do rei, não deixa de conservar no novo regime o princípio da monarquia. Fase 3: A jornada popular de 10 de Agosto de 1792 (obra da arraia-miúda, dos sans cullotes), derruba a monarquia, executa o rei e proclama a república. O terror é um aspecto desta

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14 / 95 revolução. Estabelece-se um governo concentrado, autoritário, que em nada fica atrás do absolutismo da monarquia. Fase 4: À margem, surge uma revolução autónoma, a dos camponeses que querem a emancipação completa da terra e a supressão do feudalismo. A revolução realiza-se por sucessivos saltos, cujas fases são separadas por rupturas da legalidade e que se resumem por lado através das revoltas populares, e através dos golpes de Estado, por outro.

2.2 Analise os factores objectivos e os factores psicológicos que estão presentes no desenrolar do processo revolucionário – as subsistências, o medo, a guerra, a questão religiosa, a vontade e as paixões dos protagonistas.

A incerteza do abastecimento, aliada à psicologia das multidões revolucionárias, suscita nervosismo, irritação e conduz ao sentimento de insegurança. O medo, sob todas as suas formas, afecta todas as e todos os partidos políticos. Os partidos contam com o medo para desencorajarem ou isolarem os revolucionários e estes empregam o terror contra os seus adversários. A guerra é o factor mais determinante, embora em 1790 se viva em paz. Porém, dois anos mais tarde a assembleia legislativa declara guerra ao rei da Boémia e da Hungria, introduzindo-se um dado novo que vai modificar o sistema de relações e desencadear consequências incalculáveis, entre elas o destino da revolução dependerá da condução da guerra. A guerra engendrará o terror. Sobre a questão religiosa, é certo que a revolução a principio não era anti-religiosa apesar de anticlerical. Os revolucionários quiseram regenerar a Igreja e esta iniciativa apenas conduziu à ruptura. O papa condenou a constituição civil do clero e levou ao cisma e à perseguição. O conflito entre a religião e a Igreja católica pesará durante 150 anos na Europa (divórcio entre a nova França e a França cristã do passado). As estes factores juntam-se outros de natureza subjectiva. É preciso contar com as intrigas da corte, a conspiração aristocrática e com a política do «quanto pior melhor». As intrigas contribuíram para erradicar da opinião pública o lealismo monárquico. Foi a convergência de todos estes factores que imprimiu à história da revolução o seu andamento irregular. Leia os textos de A. Soboul (p.44 e ss.) e descreva as etapas fundamentais das reacções dos estados europeus à Revolução Francesa. 1ª Etapa (1789-1792) Os acontecimentos em França suscitam fora das suas fronteiras a comiseração dos soberanos, a curiosidade e a simpatia por parte da opinião pública. Exercem nos seus seus vizinhos um certo contágio e geram reacções em cadeia. Desenham-se movimentos contra os príncipes, senhores e bispos, contra os privilégios. A revolução deixa de ser exclusivamente francesa, passa a ser também da Europa. Cresce para a margem esquerda do Reno e para a Itália do Norte. 2ª Etapa (1792-1799) Consequência da primeira. É a ruptura da França com os soberanos. Período caracterizado pela guerra. O antigo regime é incapaz de adoptar e conceber a mesma estratégia que a revolução. Mantêm os antigos métodos diplomáticos e militares enquanto que a revolução recorre a meios inéditos e mais eficazes. A invasão, a guerra, a ocupação conduzem à abolição do antigo regime. As ordens são suprimidas, o feudalismo abolido, as corporações dissolvidas, as congregações dispersas, a igualdade civil proclamada e as instituições da França revolucionária. O directório provoca a formação de repúblicas irmãs como é o caso de Itália onde nascem muitas repúblicas.

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15 / 95 3ª Etapa Dominada pela personalidade de Napoleão. A revolução fora até à margem esquerda do Reno e à Itália do Norte. Napoleão estende o seu domínio às extremidades da Europa. O grande império no seu apogeu cobre metade da Europa, a qual se encontra política, social e administrativamente unificada e o bloqueio continental reforça ainda a homogeneidade desse todo. Demonstre a injustiça social do sistema fiscal do Antigo Regime. Partindo dos elementos fornecidos pelo texto de Soboul sobre o sistema fiscal do Antigo Regime, trata-se de mostrar sobre que camadas da sociedade recaem os impostos e de que forma se foram multiplicando. O imposto directo, que recai sobre o rendimento dos plebeus, e se desdobrou em talha, capitação e vigéssimo, afinal sempre pago pelos mesmos grupos sociais. Os impostos indirectos, que recaem sobre a circulação e o consumo, pagos pela burguesia comerciante e os mais pobres, como no caso da odiada gabela. O sistema da contratação fomenta, ainda, mais injustiças. Estes são os tópicos que deveria desenvolver Explique a importância da crise financeira no eclodir da revolução. A crise financeira foi um elemento fundamental para o eclodir da crise e da revolução. For causa dos problemas financeiros sucederam-se vários ministros e o rei viu-se obrigado a convocar os Estados Gerais. A fraqueza do poder, incapaz de solucionar os problemas financeiros, numa conjuntura de crise socioeconórnica e de mudança de valores e de mentalidades foram o rastilho da revolução. A partir da cronologia da página 47 ss. estabeleça as principais etapas do processo revolucionário, relacionando-as com a análise de R. Rémond. A síntese que fizemos das etapas da revolução (p- 49 do Caderno) discriminam os principais momentos desse processo, mas para compreendê-lo não basta a leitura da cronologia e do manual. Deve consultar uma obra de história universal indicada no início ou a de Albert Soboul várias vezes citada. 3 A OBRA DA REVOLUÇÃO

3.1 Exponha as consequências políticas da revolução francesa, o modo como alterou a própria noção de política e as respectivas práticas e a organização administrativa. • A crescente importância do Estado; • Uniformização a nível nacional; • Centralização e especialização da administração pública; • Regimes constitucionais e parlamentares; • Sistemas eleitorais censitários;

A soberania nacional rege as relações entre os Estados, a nível das relações internacionais Com a revolução transforma-se a noção de política. No Antigo Regime é um domínio reservado a um reduzido nº de pessoas, de uma minoria restrita. O segredo envolve as decisões. Com a revolução, a política torna-se a coisa de todos, a coisa pública. Esta evolução traz como consequências a publicidade das decisões, a liberdade de imprensa, a publicidade dos trabalhos parlamentares. Conduz ao governo de opinião. O campo da política alarga-se e estende-se a todas as actividades que até então não relevam da acção dos poderes públicos. Com a revolução, sectores que antes eram da responsabilidade da iniciativa privada (assistência pública) passam a ficar englobadas pelo poder público. A instrução incumbe também aos poderes públicos. Sendo a felicidade um direito do indivíduo o Estado será o responsável pela manutenção dessa condição.

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16 / 95 A publicidade dos debates e a extensão da política a todos os domínios têm uma importância acrescida tanto a nível da dignidade moral como a nível psicológico. A política surge como uma das actividades mais elevadas. A eleição torna-se o processo universal de designação, apesar de só uma parte dos cidadãos terem direitos políticos. As assembleias inovam ao nível dos procedimentos regulares e oficiais – deliberações públicas. A revolução criou também a imprensa e a liberdade de imprensa, fazendo com que haja uma ligação estreita entre a actividade jornalística e a actividade política. Paralelamente, surgem os agrupamentos que proporcionam uma ligação entre as assembleias e os cidadãos, como clubes e sociedades populares, que se tornam centros vivos da vida política. É nesta época que aparece o militante, as lutas partidárias e as relações entre partidos políticos e poderes públicos. Em termos de organização administrativa Foi desmantelado o aparelho existente e aplicou-se a filosofia da descentralização. Os poderes administrativos passaram para órgãos eleitos pelas colectividades locais, que gozavam de autonomia administrativa. Mas o espírito centralizador voltou a impor-se, apoiado nos sectores mais à esquerda – os montanheses.

3.2 Distinga, no aspecto político, a obra da Assembleia Constituinte, do governo revolucionário, do directório e do consulado.

A Assembleia Constituinte é o órgão que tem como finalidade elaborar a Constituição. Decretou o fim do feudalismo e aboliu a servidão. A Assembleia Constituinte dirige-se contra o absolutismo monárquico e os seus agentes. Reorganiza completamente o aparelho de Estado, adopta o quadro do departamento, transfere todos os poderes administrativos para os eleitos das colectividades locais. As administrações municipais e departamentais, compostas por membros eleitos, administram-se livremente, sem controle dos representantes de Estado. É a experiência mais profunda de descentralização que a França conheceu. O governo revolucionário Apoiado na montanha, afirma a unidade e restabelece a centralização. As sociedades, filiadas no clube dos Jacobinos constituem uma Segunda administração que controla a primeira, denunciando e substituindo funcionários ineficazes. Os Jacobinos eram os defensores de posições mais radicalmente liberais. Este aparelho é um dos artífices da vitória. O Directório Coma nova Constituição aprovada em 1795, o poder executivo passou para um grupo de cinco directores – o Directório (vigorou durante 4 anos). O sistema fiscal actual ainda advém do Directório. Assegurará o essencial dos recursos do Estado até à adopção do imposto sobre o rendimento, durante a 1ª Guerra Mundial. O Directório adopta ainda, em termos militares, o sistema de recrutamento à medida das necessidades. O Consulado Em 1799, dá-se o golpe de estado que põe Napoleão no Poder (o 18 de Brumário – 9Nov1799) e demite o directório. O Consulado estabiliza as instituições e lança as bases da administração moderna. A reforma consular de Napoleão estabeleceu uma administração centralizada, que se desdobra em direcções e ministérios, sendo rigorosamente hierarquizada, especializada e servida por um corpo de funcionários nomeados (um novo tipo social). Simplicidade, uniformidade, especialidade, definem uma ordem administrativa racional e sistemática que atinge a eficácia.

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17 / 95 Esta ordem é exportada por toda a Europa e mesmo além dela pelos exércitos da revolução e do Império.

3.3 Analise as transformações ocorridas nas relações entre a religião e a sociedade civil

Mesmo antes da revolução, o movimento das ideias e a política dos Estados tinham já alterado a situação: o racionalismo combate o domínio político da Igreja e o absolutismo monárquico pugnou pela sua emancipação. A revolução retoma este movimento e prolonga-o aprovando a constituição civil do clero em 1790. O clero perde o seu estatuto, os seus privilégios, é despojado das suas atribuições na sociedade civil: o registo civil, transferido para as municipalidades, é-lhes retirado e os seus bens são confiscados, as ordens religiosas dissolvidas e o culto é muitas vezes entravado. Com Napoleão e a assinatura da Concordata em 1801, a Igreja vê a sua situação oficial novamente reconhecida embora de uma forma diferente: deixa de ser a única religião reconhecida (regime do pluralismo religioso). Despojada, depende do Estado.

3.4 Caracterize as mudanças essenciais da ordem social que foram obra da revolução e a forma como foram fixadas e corrigidas pelo Código Napoleónico. • Declínio da nobreza tradicional e do clero; • Igualdade dos cidadãos perante a lei; • Promoção dos cidadãos com base no mérito individual; • Ascensão da burguesia; • Criação da sociedade burguesa; • Regime dos princípios individualistas e leis do mercado.

A revolução destruiu a sociedade do Antigo Regime. A sociedade nova caracteriza-se pela liberdade, liberdade do indivíduo, liberdade da terra, da iniciativa individual. São abolidos os direitos feudais e a servidão, os monopólios e as regulamentações que paralisavam a invenção e a iniciativa. É aí que reside a verdadeira revolução. A revolução instaura como prática a igualdade civil. É o fim dos privilégios e das distinções sociais. É suprimida a justiça senhorial, eclesiástica e municipal. Instaura a igualdade perante o imposto de sangue, o recrutamento e a igualdade no acesso aos empregos civis e militares. Aparece o funcionário, como novo tipo social e os plebeus podem aceder a qualquer posto militar. O exército e a administração pública tornam-se vias de promoção social. As carreiras dos marechais e dos prefeitos constituem êxitos sociais inconcebíveis no antigo regime. Napoleão conservou o essencial das conquistas sociais da revolução mas corrigiu algumas e moderou algumas audácias, traduzindo-se no Código Napoleónico - código civil francês, que tem a marca do imperador. O individualismo da revolução é temperado pelo princípio de autoridade a todos os níveis e em todas as comunidades (a do pai na família, a do patrão no trabalho). Esta filosofia social estende-se a todos os domínios: é ela que inspira a reorganização administrativa. Caminha-se para uma espécie de neocorporativismo.

3.5 Caracterize o novo sistema de sociedade que emerge com a revolução. A revolução é incontestavelmente burguesa pelos seus autores; a composição das assembleias mostra-o bem.

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18 / 95 A revolução serve os interesses da burguesia devido às vantagens na abolição dos constrangimentos sociais e nas desigualdades jurídicas. A igualdade civil favorece também a burguesia, proprietária, industrial, comerciante. Em pontos importantes, as assembleias revolucionárias ou o consulado trouxeram restrições ao exercício das liberdades e à aplicação dos princípios de igualdade, em proveito da burguesia em detrimento de outras classes.

3.6 Caracterize o novo sistema das relações internacionais e a importância da própria ideia de nação nesse quadro.

A revolução precipitou a tomada de consciência da pertença a uma comunidade nacional e é a partir desse momento por adesão voluntária que se é cidadão francês. Vários movimentos ratificaram esta aceitação da unidade nacional que culmina na festa da federação (14 de Julho de 1790). A adesão vai para a nação e não para a coroa. Com a revolução acaba a diplomacia tradicional, fundada nas alianças dinásticas, nas combinações matrimoniais, nas convergências dos soberanos. Ela introduz o princípio da soberania nacional que estende às relações internacionais e que terá como consequência o movimento das nacionalidades no séc. XIX e, fora da Europa, o movimento de descolonização. Leia os textos de A. Soboul (p. 52 ss) e analise as transformações políticas e administrativas decorrentes da obra da Assembleia Constituinte (1789-91). A Assembleia Constituinte foi responsável pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, cujas virtudes e limites Soboul analisa num dos textos seleccionados, por uma Constituição liberal, pela implantação. dum sistema eleitoral censitário, com a famosa divisão em cidadãos activos e passivos, pela reestruturação administrativa e a descentralização. Estes são os aspectos que importa analisar para responder à questão. Discrimine as medidas tomadas em relação à Igreja pela Assembleia Nacional e as reacções do Vaticano. A Assembleia Nacional estabeleceu a Constituição Civil do clero e pôs à disposição da nação os bens do clero, suscitando fortes reacções da Igreja francesa e do Vaticano. A subordinação do clero ao Estado e a laicização do poder não agradaram à hierarquia da Igreja. Estes tópicos devem ser desenvolvidos na resposta, com base no excerto de Soboul no manual, pp. 112-113. Caracterize do ponto de vista político-administrativo e social o governo revolucionário liderado pelos montanheses. É o governo duma pequena-burguesia radical que elimina à esquerda e à direita os seus adversários de forma cruel, num período de “grande terror”. As medidas políticas são as mais democráticas, no sentido em que se preocupam com uma maior igualdade social e consagram o direito à assistência pública, ao trabalho e á instrução. O sufrágio é alargado a todos os homens e a soberania popular. No campo administrativo, a política jacobina e montanhesa é centralizadora, como reacção ao federalismo dos sectores conservadores.

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19 / 95 4 O CONTINENTE AMERICANO (1783-1825)

4.1 Caracterize a situação demográfica e política do continente americano. O império francês tem essencialmente o Canadá e a Luisiana, na América do Norte; O império britânico, as 13 colónias na orla atlântica da América do Norte; Portugal detém o Brasil; O império espanhol detém a América Central e a do Sul, com excepção do Brasil O continente é pouco povoado face à sua extensão. A desigualdade social é patente no regime colonial.

4.2 Exponha os principais factos relacionados com a emancipação das colónias francesas, britânicas, portuguesas e espanholas na América.

O império francês é a primeira vítima do confronto com a Inglaterra. É obrigada a ceder o Canadá à Grã-Bretanha e a Luisiana à Espanha, que a recupera mas que depois a vende aos Estados Unidos, por não Ter meios para a conservar. O império britânico teve o mesmo fim: com a revolta dos colonos, ajudados pela França e pela Espanha, rompem os laços que os unem e conquistam a sua independência. Causas da emancipação das colónias portuguesas (1822) e espanholas (1836) :O movimento de independência dos dois impérios é obra dos colonos, dos crioulos, que se ressentiram do monopolismo dos altos cargos do clero e do governo. Por outro lado, os encargos financeiros não eram compensados por nada de positivo. Outra das causas é a influência da irradiação das ideias filosóficas europeias. Todo um conjunto de relações deixa uma elite intelectual crioula atenta à Europa. Mas será da ocupação da P.I. pelos exércitos napoleónicos que provém a independência das colónias espanholas e portuguesas.

4.3 Identifique as causas da ruptura dessas colónias com as respectivas metrópoles e, em especial, a repercussão das próprias revoluções liberais europeias.

Os impérios espanhol e português foram afectados pela Revolução Francesa, pela independência americana e também pela ocupação da P.I. pelas tropas de Napoleão. O movimento de independência é, principalmente e quase exclusivamente, obra dos colonos, devido ao ressentimento causado pela monopolização de altos cargos e ao pesado jugo infligido pela metrópole. A influência e a irradiação das ideias filosóficas, já que numerosos colonos são instruídos, contam-se igualmente entre as causas da ruptura.

4.4 Explique a importância da posição norte-americana no processo das independências do sul do continente, consubstanciada na Declaração de Monroe (1823)

Os independentes – como Bolívar e San Martín - que pretendem libertar a América Latina e do Sul do império espanhol beneficiam do apoio da Grã-Bretanha que foi a primeira nação a reconhecer os seus governos bem como do apoio dos Estados Unidos que se opõe à intervenção da santa Aliança. A Declaração de Monroe (1823) situa-se nesta conjuntura e diz que a América é um continente livre e que cada um dos continentes deve evitar intervir nos assuntos do outro.

4.5 Explique as razões do fracasso da unidade latino-americana e as suas repercussões no futuro político daquela região.

A falência da unidade e a instabilidade política constituem um duplo malogro político.

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20 / 95 Com a independência, a unidade da América é quebrada e divide-se numa vintena de fragmentos de dimensões muito desiguais sendo que a maior parte não tem condições de viabilidade. As razões deste malogro prendem-se com um continente pouco povoado, demasiado vasto, com núcleos populacionais dispersos por quilómetros, a hostilidade inglesa e norte-americana que não têm o menor interesse em encorajar a unidade, actuando, sobretudo, com vista ao seu desmembramento. Este continente não conhece circunstâncias para a sua unificação política. Nenhum destes Estados conseguirá criar instituições estáveis. Desde 1825, que a América Latina é uma longa cadeia de golpes de estado, de ditaduras, de revoluções.

4.6 Analise os factores que contribuíram para o sucesso da experiência dos E.U. e para as evolução do regime liberal para a democracia.

Desde a Constituição de 1787, souberam preservar a sua unidade e criar para si instituições estáveis. A Constituição instaura um regime de dupla originalidade. A existência de duas Câmaras fornece uma solução nas relações entre os treze estados e o estado federal. No que diz respeito às relações entre os poderes, a União Americana é a primeira experiência moderna da forma republicana num estado alargado. O regime de 1787 é um regime liberal que reserva o poder a uma classe abastada, instruída, de proprietários ricos. Não existe sufrágio universal mas a evolução tenderá no sentido de uma democracia efectiva. Nas eleições de 1800, Thomas Jefferson, candidato do Partido Republicano vence e retoma a orientação aristocrática dada pela presidência de Washington. Paralelamente, a sociedade transforma-se com a exploração dos territórios do Oeste. À medida que se formam estes estados criam-se condições democráticas para o sufrágio universal e não prevêem discriminação em função do dinheiro ou da educação. Em 1828, entra na casa Branca o general Jackson, que personifica a corrente mais democrática. Nas relações externas, os E.U. afirmam-se já como uma potência e estão em vias de conquistar a sua independência económica e que se desenvolve com a adopção de uma tarifa protectora/barreira alfandegária. Analise os textos das páginas 60 ss., complemente com informação do manual e exponha as causas e o processo da ruptura das colónias espanholas e da portuguesa com as respectivas metrópoles. As causas são múltiplas, mas convém destacar o papel dos crioulos desejosos de tomar o poder, numa sociedade que conserva o elitismo e a mania das origens aristocráticas. A crise política na Península Ibérica, por causa das guerras napoleónicas, determinou uma ausência da Espanha e a fuga da família real portuguesa para o Brasil. Se neste último o processo da independência foi pacifico e se fez por uma transição de poder de pai para filho, dentro da família real portuguesa, no caso dos outros países da América Latina desencadearam-se tremendas guerras civis, com consequências nefastas na economia e até no crescimento demográfico. Por isso, Pierre Chaunu fala do “tempo das catástrofes”. A guerra civil opôs lealistas e patriotas, destacando-se como lideres independentistas Bolívar e San Martin. A intervenção inglesa a favor das independências e do controlo dos mercados latino-americanos foi decisiva Os novos Estados fragmentaram-se e iniciaram os conflitos por causa das fronteiras. O desenvolvimento destes pontos não dispensa a leitura do capitulo da obra indicada. A partir dos mapas de P. Chaunu analise o problema das divisões rácicas da população do continente americano e a importância dos crioulos na estrutura social da América Latina.

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21 / 95 Os mapas e os gráficos mostram o peso relativo dos brancos, mestiços, índios e negros na América, por volta de 1820. Pode constatar-se que os brancos dominam na América do Norte, E.U. e Canada. Os mestiços estão em maioria na América Central e Sul. Os índios, apesar das chacinas, ainda são dominantes no México, na América Central, na Argentina e Bolívia. Os negros só são majoritários; em 1820, no Brasil, nas Antilhas e Cuba + Porto Rico, países de grandes plantações e de prática do esclavagismo até bastante tarde. Os negros têm grande peso também na sociedade dos F.U. A mestiçagem e o fenómeno do crioulo é, por conseguinte, uma característica das sociedades latino-americanas.

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22 / 95 1 A EUROPA EM 1815

1.1 Caracterize a situação na Europa em 1815 no aspecto político – restauração monárquica e dinástica

Após a segunda abdicação ao trono de Napoleão e da assinatura das actas do Congresso de Viena, a situação caracterizava-se pela restauração – regime estabelecido em França entre 1815 e 1830. A designação, no entanto, adapta-se a toda a Europa. Restauração dinástica: Os soberanos do antigo regime vingaram-se de Napoleão, escolhendo Viena para a realização do congresso. Viena era a capital de um dos poucos países que não foram perturbados pela revolução e porque a dinastia dos Habsburgos era o símbolo da ordem tradicional, do antigo regime. Os soberanos destronados – pela revolução e por Napoleão – voltam a subir ao trono. Restauração monárquica Na nova Europa já não se pensa na república e o princípio da legitimidade monárquica triunfa inequivocamente. A legitimidade é essencialmente histórica e tradicionalista e reside no valor reconhecido à duração. A restauração implica o retorno integral ao antigo regime. A restauração assim definida, é mesmo a contra-revolução. Em 1815 era uma virtualidade do triunfo dos reis. Mas a restauração não restabelece por inteiro a situação de 1789.

1.2 Exponha as mudanças entretanto verificadas no mapa político da Europa, das instituições, da administração e das sociedades

Nem todos os monarcas foram repostos e subsistem grandes modificações territoriais. Geograficamente, o mapa está profundamente alterado. 1815 marca uma etapa na racionalização do mapa político europeu. Diminui o número de parceiros e os estados reagrupam-se de maneira mais coerente. As três potências continentais cresceram dentro da própria Europa: Rússia, Prússia e Áustria. Do ponto de vista institucional, sob as aparências de um regresso ao antigo regime e sob a cor da restauração, fazem-se apreciáveis concessões ao espírito da época e à reivindicação de um texto constitucional (Carta Constitucional: concessão de liberdades, quase todos os aspectos do programa liberal). A Carta Constitucional permitiu recuperar para um lugar cimeiro o papel do monarca e anula princípios mais radicais implantados na fase inicial. No caso português, a Carta é uma concessão feita aos súbditos; o rei tem o poder moderador e é o chefe do executivo. A soberania popular é negada e a monarquia institui-se como regime hereditário e representativo. As cartas constituem um travão à implementação de ideias políticas mais radicais. A organização administrativa é mantida tal como está: racional, uniforme, hierarquizada, eficaz. As estruturas sociais transformadas pela revolução mantêm-se e aproximam os países onde elas se verificaram, contribuindo para a unificação da Europa ocidental.

1.3 Caracterize os dois campos políticos que se opõe na Europa, entre 1815 e 1848 – os absolutistas ou ultras e os liberais

Sob a aparência da restauração prevaleceu uma solução de compromisso, que como qualquer outra é instável e exposta a investidas de sentido contrário, aos ataques de duas facções extremas.

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23 / 95 Os ultras querem voltar ao passado, para eles a revolução é satânica. Visam o restabelecimento integral da Europa de outrora. É este também o programa da santa Aliança. Os liberais não aceitam a derrota da revolução e não aceitam os tratados de 1815. O termo “liberdade” continua a ser a sua palavra de ordem. Desenha-se uma solidariedade internacional contra os soberanos e as potências estabelecidas. A oposição entre estes dois campos políticos, vai levar à agitação que abalará a Europa entre 1815 e 1848. Observe a evolução do mapa político da Europa (CA p 64 e ss). Confronte-a com a análise de R. Rémond sobre as modificações resultantes do Congresso de Viena. O Sacro-Império Romano-Germânico, dissolvido por Napoleão, não é restabelecido. Em sua substituição, a Confederação Germânica apenas se lhe assemelha vagamente. O mapa simplifica-se: desapareceram muitos pequenos estado e alguns foram integrados nos reinos ou grão-ducados; desapareceram repúblicas como Génova e Veneza; nas Províncias Unidas prevalece o estado monárquico; diminui o n.º de parceiros reagrupando-se os Estado de uma maneira mais coerente. A Grã-Bretanha expandiu-se fora da Europa, mas as três grandes potências continentais cresceram dentro da própria Europa. A Rússia obtém uma grande fatia da Polónia; posteriormente tira a Finlândia à Suécia e a Bessarábia ao Império Otomano. A Prússia faz o mesmo e a sua superfície passa quase para o dobro. A Áustria perde a Bélgica mas torna-se senhora da Itália estendendo a tutela sobre a Alemanha. Geograficamente, o mapa sai profundamente modificado. Esquematize as principais mudanças que se registam no mapa político da Europa, como consequência do impacto das guerras napoleónicas e dos tratados entre as potências vencedoras. Após a derrota de Napoleão, a Europa vive um período, de 1815 a 1830, de restauração das forças conservadoras e das dinastias tradicionais. Os Habsburgos restabelecem o seu poder e o chanceler Metternich domina a política externa europeia, de 1815 a 1848. O mapa político da Europa simplifica-se com o desaparecimento de muitos pequenos estados e a incorporação de cidades livres, de domínios eclesiásticos e de repúblicas, como Génova e Veneza, nos remos e grão-ducados. O principio unitário também prevaleceu nos Países Baixos, que constituem um reino sob a dinastia de Orange. As três potências continentais vencedoras cresceram dentro da própria Europa: a Rússia, a Prússia e a Áustria. Só a Grã-Bretanha cresceu fora da Europa, firmando-se como uma talassocracia a nível mundial. Veja a pp. 141-142 do manual e confronte com os mapas para desenvolver a resposta. Tendo presente o exemplo português da Carta Constitucional, analise a importância da adopção das cartas constitucionais pelos regimes monárquicos europeus, no quadro duma mudança política de sentido liberal e moderada. A Carta Constitucional é um acto de favor régio aos súbditos, uma concessão. A Carta não só não afirma o princípio da soberania popular, como concede ao rei um importantíssimo papel na ordenação constitucional. No caso português, o rei é o único detentor do poder moderador e o chefe do poder executivo, que exerce através dos seus ministros. O regime monárquico, hereditário e representativo, a perpetuação da dinastia de Bragança, e a religião católica mantêm a tradição. A divisão dos poderes, o sistema representativo bicamarário, Câmara dos Pares e Câmara dos Deputados, a consagração dos direitos dos cidadãos, agrupados em liberdade, segurança individual e propriedade, entre outros como o direito de instrução, de socorro público, de igualdade perante a lei, apesar de garantir a nobreza hereditária e as suas regalias, e a independência do poder judicial são os aspectos progressivos do constitucionalismo moderado de feição liberal. Um misto de tradição e de progresso, as Cartas Constitucionais foram um importante passo na evolução política dos regimes monárquicos.

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24 / 95 2 A ERA DO LIBERALISMO

2.1 Exponha os princípios fundamentais da ideologia liberal, ao nível filosófico e político.

Nível filosófico O liberalismo é uma filosofia global e também uma filosofia política subordinada à ideia de liberdade. É uma resposta sobre a liberdade, sobre as relações de cada um com os outros, sobre a sua relação com a verdade. É também uma filosofia individualista porque coloca o indivíduo à frente da razão de Estado, dos interesses do grupo e da colectividade. É também uma filosofia de história, que é feita pelos indivíduos e não pelas forças colectivas. Por fim, uma filosofia do conhecimento e da verdade: o liberalismo acredita na descoberta progressiva da verdade pela razão individual. Fortemente racionalista opõe-se ao jugo da autoridade. No plano político, o parlamentarismo é a tradução desta confiança no diálogo. Esta filosofia do conhecimento tem como consequências: rejeição dos dogmas impostos pelas igrejas; a afirmação do relativismo da verdade e a tolerância. Nível político O liberalismo desconfia radicalmente do Estado e do poder, rejeitando todo o poder absoluto, combatendo, portanto, a monarquia absoluta. O combate liberal é contra o antigo regime, os regimes totalitários, ditaduras e autoridade popular. Para evitar o regresso ao absolutismo e ao poder sem limite, o liberalismo propõe um conjunto de fórmulas institucionais: Princípio da separação dos poderes Princípio do equilíbrio de poderes Princípio da descentralização Princípio da limitação do campo de actividade (o Estado deve deixar actuar livremente a iniciativa privada) Princípio da definição de regras de direito para o exercício do poder (a Grã-Bretanha foi a que melhor soube traduzir este princípio com o parlamentarismo) O liberalismo também emancipa todos os membros da família e manifesta-se contra as autoridades intelectuais ou espirituais.

2.2 Caracterize do ponto de vista sociológico o liberalismo. O liberalismo, enquanto filosofia, é a expressão de um grupo social – da burguesia. Os seus doutrinadores são recrutados das profissões liberais e da burguesia mercantil. O liberalismo é o disfarce do domínio de uma classe. É a doutrina de uma sociedade burguesa que impõe os seus interesses, os seus valores e as suas crenças. Inversamente, o liberalismo revela que ele também é uma doutrina de conservação política e social, combatendo sucessivamente dois adversários, o passado e o futuro, o antigo regime e a democracia futura. O liberalismo evita entregar ao povo o poder que ele arrancou ao monarca, reservando-o para uma elite. O aspecto conservador sobressai quando os liberais detêm o poder.

2.3 Analise as várias etapas da marcha do liberalismo na Europa e a sua expressão na colónia inglesa da Índia com o programa do self-government.

Foi apenas em Inglaterra, Países Baixos e Escandinávia que o liberalismo transformou a pouco e pouco e regime e a sociedade por via das reformas. Nos outros países, recorreu ao modo revolucionário.

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25 / 95 1ª Etapa – 1820 Toma a forma de conspirações militares (o exército é, na época, o seu instrumento) que se saldam por um malogro. 2ª Etapa – 1830 É de maior amplitude e abala e demole o edifício político em vários países. Na França o regime liberal sucede à restauração. A Bélgica é uma realização exemplar do liberalismo, fruto da aliança entre liberais e católicos. Mas, as revoluções falham em quase todos os outros países. Outras tentativas A unidade italiana realiza-se sob a égide do liberalismo. O liberalismo triunfa ainda nos Países Baixos, na Escandinávia, na Suiça. Só mais tarde consegue triunfar na Alemanha e mais tarde ainda na Áustria. Na Rússia, só triunfa após a revolução de 1905. O liberalismo desenvolve-se primeiro na Europa ocidental e alarga-se a pouco e pouco ao resto da Europa. Também em vários territórios colonizados ele consegue triunfar – Índia. O partido do Congresso, fundado na Índia em 1855, por instigação das autoridades britânicas, é de inspiração liberal. É implementado o programa self-goverment (formado por uma elite anglo-indiana), que estende à Índia as instituições parlamentares desenvolvidas em Inglaterra um século antes.

2.4 Descreva os resultados políticos e sociais da instauração dos regimes liberais Resultados políticos: Os regimes liberais organizam-se a partir de determinados princípios – separação de poderes com poderes equilibrados para evitar tentações absolutistas; descentralização; Estado de direito, em que o poder está definido por regras. A aplicação destes princípios varia consoante as características de cada país, mas existem alguns traços comuns: O regime reconhece-se pela existência de uma Constituição. Nalguns casos, é o soberano que a autoriza, noutros é aprovada pelos representantes da Nação. Todas as Constituições tendem a limitar o poder. A decisão política é partilhada entre a Coroa e os representantes da Nação, através das Câmaras. Geralmente, existem duas Câmaras – a Baixa e a Alta, a dos Comuns e dos Pares. As eleições, são em geral censitárias. Se o sufrágio fosse universal estaríamos perante uma democracia. O liberalismo instaurou as liberdades públicas de opinião e discussão, bem como a laicização do ensino. Resultados sociais: A sociedade liberal assenta na igualdade de direito, mas não exclui a diferença das condições sociais, a disparidade de fortunas, e a repartição desigual da cultura. A sociedade liberal assenta essencialmente no dinheiro e na instrução – os seus dois pilares. O dinheiro é um elemento de emancipação social que abre possibilidades de mobilidade (dos bens e das pessoas, no espaço). Mas é também um elemento de opressão. Para uns chega a ser a despromoção social e a miséria. Toda uma população indigente perdeu a protecção garantida pela rede de laços pessoais e passa a viver numa sociedade na qual as relações são jurídicas, impessoais e materializadas no dinheiro. A instrução é elemento libertador mas, a sua privação lança a população na dependência. Todos podem estudar mas somente um pequeno número. Aos restantes estão reservadas as funções subalternas da sociedade. O liberalismo é uma sociedade aberta mas também desigual, que a democracia vai pôr em causa. Vai abrir as portas àqueles que as sociedades liberais entreabriram a uma minoria.

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26 / 95 Exponha os princípios fundamentais das ideologias políticas liberais, integrando na sua exposição a análise do discurso de A. Thiers (CA p. 67) O liberalismo tem como núcleo central da sua ideologia a ideia de liberdade e o discurso de Thiers ilustra bem essa preocupação. Enuncia cinco condições para o exercício pleno dessa liberdade: condições de segurança e de protecção dos indivíduos contra a arbitrariedade do poder e a violência; liberdade de imprensa e de formação da opinião pública; liberdade eleitoral para os cidadãos escolherem os representantes; liberdade dos representantes eleitos pelo povo controlarem os actos do poder; exercício do poder pela maioria. Thiers profere o seu discurso em 1864 e, por isso, constata-se que o pensamento liberal já evoluiu no sentido da aceitação do poder da maiorias, isto é, caminha para um demoliberalismo. Contudo, os regimes liberais ainda conservam por todo o lado os sistemas censitários e a impossibilidade de voto das mulheres. O pensamento político liberal caracteriza-se pelo individualismo, pela aceitação do poder representativo e da necessária divisão dos poderes, pela defesa da tolerância e da separação entre a Igreja e o Estado, pelo laicismo, pela defesa de formas de limitação do poder central, como a descentralização politico-administrativa, pela não intervenção do Estado em matéria económica e social. Os liberais defendem um Estado de direito e a liberdade da sociedade civil, por oposição ao intervencionismo estatal. Desenvolva estes pontos através da leitura do manual e de obras de referência. Sistematize, de forma esquemática, os aspectos que caracterizam os regimes políticos liberais europeus no séc. XIX. Para fazer o esquema deve reler com atenção o manual, pp. 155-159. Aí são sistematizados os aspectos característicos dos regimes políticos liberais: constitucionalismo, representatividade do poder, sufrágio censitário, igualdade perante a lei e desigualdade de tracto, de acordo com os níveis de riqueza, descentralização, liberdade e laicismo.

3 A ERA DA DEMOCRACIA

3.1 Caracterize o ideário da democracia A democracia recusa as distinções, as discriminações e todas as restrições, pelo que reivindica a abolição do censo e aplicação do direito de voto para todos. Para os democratas não há democracia sem sufrágio universal. A soberania popular é também um valor intrínseco à democracia implicando que a totalidade dos indivíduos (o povo) incluindo as massas populares, seja soberana. Os democratas suprimem as restrições dos liberais (que reconheciam o exercício das liberdades apenas àqueles que já possuíam as necessidades capacidades intelectuais ou económicas) e reivindicam a liberdade para todos, bem como os meios necessários para exercer essa liberdade. Evolutivamente, a democracia não se confina à igualdade jurídica e civil, mas interessa-se também pela igualdade social. De destacar: A implantação do sufrágio universal; A instituição da representação proporcional; A liberdade de voto; A elegibilidade de todos os cidadãos; O alargamento da base do recrutamento dos candidatos políticos; O alargamento da representatividade do parlamento (especialmente da Câmara Alta, nos sistemas bi-camarários); A supressão dos lugares inamovíveis; De um modo geral, todos os procedimentos que visam a largar a participação dos cidadãos na vida política e o controlo destes sobre o exercício do poder.

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27 / 95 E condições socio-culturais Condições de vida razoáveis para a maioria da população; Uma classe média forte e extensa; Educação e informação da generalidade dos cidadãos; Desenvolvimento da consciência cívica e política Estes são alguns requisitos para a duração e maturidade das democracias. Na sua ausência, o golpismo e a tendência para regimes autoritários são muito fortes.

3.2 Compare os princípios liberais com os democráticos, estabelecendo as diferenças. A democracia retoma a herança das liberdades públicas do liberalismo, mas dá-lhe um alcance mais amplo, provocando algumas rupturas com o liberalismo. A primeira diferença relaciona-se com a abolição do voto censitário e a aplicação do sufrágio universal. Na democracia impera a soberania popular em vez da soberania nacional. A soberania nacional é exercida por uma minoria de cidadãos. A soberania popular implica a totalidade dos indivíduos – o povo – como soberano. Na democracia alarga-se ao máximo o princípio da liberdade para todos. Os democratas defendem também a igualdade social, o que implica introduzir medidas como a democratização do ensino e uma política democrática de rendimentos.

3.3 Relacione as concepções democráticas com as mudanças socioeconómicas e culturais

Surgem novas camadas sociais resultantes de três ordens de mudanças: Revolução técnica As transformações mais visíveis são as que dependem da economia e estão ligadas à revolução industrial. Esta revolução técnica suscita novas actividades profissionais, novas condições de trabalho e novos tipos sociais. Numericamente importantes, surgem os operários da indústria, como uma nova classe, que vêm do campo para a cidade, contribuindo para o crescimento dos aglomerados urbanos. O crédito abre possibilidades à economia moderna, constituindo-se grandes estabelecimentos bancários e sucursais que vão gerar mais emprego. A revolução económica suscita, pois, outras actividades geradoras de alterações na composição da sociedade. Desenvolvimento do sector terciário O desenvolvimento da administração leva a que o Estado tome a seu cargo sectores como os correios e o ensino. Os profissionais de todas estas actividades constituem uma burguesia intermédia situada nas camadas populares. O desenvolvimento do ensino A difusão da instrução contribui para aperfeiçoar esta classe média. A esta difusão junta-se o desenvolvimento do jornalismo e dos meio de informação.

3.4 Identifique a democracia com os grupos sociais cujos interesses expressa melhor Estas modificações criam novos tipos sociais que se juntam aos precedentes e no sentido de uma diferenciação crescente. A aristocracia tradicional continua a persistir e a ser poderosa. Abaixo dela, encontra-se a sociedade burguesa que ascendeu ao poder com o liberalismo. Perante a ameaça que a democracia representa para as suas prerrogativas tende a reaproximar-se da aristocracia unindo-se as duas classes contra o perigo comum representado pela democracia e pelas classes populares. Esboça-se uma terceira sociedade,

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28 / 95 composta pelo povo miúdo, pela burguesia das classes médias, pelos operários e camponeses representa a maioria da população. Tanto a sociedade aristocrática como a burguesa retardarão o estabelecimento da democracia.

3.5 Analise as etapas da marcha das sociedades em direcção à democracia social e política

A era liberal opera uma transição entre o antigo regime e a democracia. O liberalismo é o adversário da democracia mas é também dele que recebe uma herança: os regimes constitucionais representados pelas câmaras electivas. Estas, de carácter restritivo, evoluem no sentido do seu alargamento, com a universalidade imposta pela democracia. Esta progressão consiste na transformação do procedimento eleitoral, com a ampliação dos eleitores, e na dilatação das atribuições das instituições representativas.

3.6 Discrimine a importância do sufrágio universal e das medidas tomadas para a sua concretização no estabelecimento dos regimes democráticos.

A adopção do sufrágio universal foi bastante importante na medida em que veio contribuir para eliminar as restrições que limitavam a cidadania. Apesar de tudo o sufrágio é só semi-universal já que as mulheres ficarão arredadas ainda durante um século (depois do fim da Segunda Guerra), pelo preconceito de que apenas teria direito a voto aquele que pudesse exercê-lo com independência (na mesma situação estão os criados ou os filhos adultos que habitem na casa dos pais). Nas vésperas da Primeira Guerra, o sufrágio universal entrou nos costumes e na legislação.

3.7 Analise a evolução dos sistemas eleitorais quanto à liberdade de voto, à elegibilidade e representação parlamentar, no sentido da maior democraticidade dos regimes políticos europeus.

Os sistemas eleitorais diferem de país para país nas modalidades da sua aplicação. Na Bélgica institui-se paralelamente o voto plural que restabeleceu uma certa desigualdade (em função da instrução e dos encargos familiares). Na Prússia recorreu-se ao sistema de classes (categorias por valores dos impostos). Na Grã-Bretanha os aglomerados urbanos não estão representados proporcionalmente. Nos EUA os negros tinham se superar uma prova se quisessem votar . Após a Primeira Guerra Mundial vários países adoptam um novo modelo de escrutínio, instituindo-se a representação proporcional. Implementa-se aos poucos o exercício de livre voto, para que a consulta seja sincera. Outra inovação é o segredo de voto (aos poucos adopta-se o envelope e a câmara de voto); Os países revogam progressivamente as cláusulas que subordinam a elegibilidade a um determinado nível de instrução ou ainda à diferença de sexo. Institui-se o subsídio parlamentar, outro critério da democratização das instituições, alargando-se assim o recrutamento do pessoal político. O aparecimento dos partidos deu um apoio económico que era indispensável aos eleitos de origem popular. Sob a influência do espírito democrático as relações entre a câmaras alta e baixa evoluem. Suprimem-se os lugares inamovíveis da câmara alta

3.8 Explique o conceito, utilizado pelo autor, de democracia autoritária Paralelamente à forma representativa e parlamentar existe a forma directa e autoritária do regime democrático. No primeiro caso, o povo soberano delega o seu poder em representantes. No outro, confia-o a um executivo que evita as assembleias parlamentares.

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29 / 95 Existe assim uma democracia que associa o apoio popular e a autoridade, que encontrou a sua expressão com o regime de Bonaparte.

3.9 Caracterize os partidos modernos O aparecimento dos partidos são a consequência lógica do papel crescente das consultas eleitorais e respondem a necessidades funcionais. São intermediários entre os indivíduos e as instituições, seleccionam candidatos, propõem programas. São também a resposta espontânea à mutação da vida política. De facto a cada tipo de eleitorado corresponde um tipo de partido. Durante a era liberal os partidos pouco mais são do que clubes, círculos mundanos, facções. Com o sufrágio universal e a democracia mudam de dimensão e de natureza. Enquanto escolas de pensamento, tornam-se centros de reflexão, formulam uma doutrina, uma ideologia, que propagam, assegurando a educação política. De partidos de notáveis passam a partidos de militantes e tornam-se unidos internacionalmente.

3.10 Descreva o processo que conduziu ao aparecimento dos partidos modernos na cena política

O aparecimento dos partidos são a consequência lógica do papel crescente das consultas eleitorais e respondem a necessidades funcionais. São intermediários entre os indivíduos e as instituições, seleccionam candidatos, propõem programas. Os partidos tornam-se permanentes. Em 1848 e mesmo em 1871, são meras comissões que surgem ao aproximar-se o acto eleitoral para depois desaparecerem após a consulta. Pouco a pouco estas comissões tendem a perpetuar-se. Ao mesmo tempo tecem contactos e federam-se. Começam também a ter outras funções: enquanto escolas de pensamento, tornam-se centros ideológicos e asseguram uma educação política. Alargam as suas bases, democratizam-se. Passam a partidos de militantes e tornam-se unidos internacionalmente .

3.11 Analise a importância da instrução, da informação, do serviço militar e das reformas fiscais no processo de democratização das sociedades contemporâneas.

A democratização do regime e da sociedade não se limita às instituições. O alargamento do direito de voto a todos os cidadãos exige que a instrução primária seja o prolongamento uma exigência lógica do sistema. Do mesmo modo, a difusão da informação e a liberdade de expressão impõem-se como necessárias para que a democracia não se reduza a um simulacro. A igualdade política solicita a igualdade social, a igualdade de oportunidades, o apagamento das distinções, que encontrarão o seu aplicativo numa repartição equitativa dos encargos fiscais e militares.

3.12 Distinga as posições liberais e as democráticas em relação à participação dos cidadãos na vida política, ao acesso á educação, à cultura e á informação e á incidência dos encargos fiscais, nomeadamente sobre a polémica questão do imposto progressivo sobre o rendimento.

Instrução Posição liberal: Raciocinavam na perspectiva de uma vida política restrita: interessavam-se quase exclusivamente pelo ensino secundário; Posição democrática: Ao instituírem o sufrágio universal, procuram alargar o ensino a todos os cidadãos. A universalidade implica a obrigatoriedade e a gratuitidade do ensino, mas com a preocupação ideológica de não fazer crescer a influência dos seus adversários (direitas tradicionalistas e a Igreja) Informação e Cultura

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30 / 95 Posição liberal: O condicionamento e os encargos financeiros eram entraves à possibilidade da imprensa florescer. Posição democrática: Liberalização do regime jurídico, aumento da clientela (devido ao alargamento do ensino). Obrigações militares Posição liberal: associam o alistamento de voluntários ao recrutamento mas só chamam parte de uma classe (por regime censitário). O regime militar dura entre cinco e sete anos, sendo, portanto de longa duração. Posição democrática: A desigualdade não faz parte dos princípios democráticos. Deste modo reduzem o tempo do serviço militar para três ou dois anos e tornam necessário incorporar a totalidade do contigente. O serviço militar universal foi um agente de democratização e um factor de transformação social. Fiscalidade Posição liberal: Cobrir as despesas com as receitas e assegurar a repartição dos encargos pelo alargamento da base de tributação. A distribuição dos encargos não corresponde às possibilidades contributivas dos indíviduos. Posição democrática: Lançamento do imposto sobre o rendimento que exige uma declaração contributiva e a sua verificação. Este imposto enfrenta resistências ao recear-se que perturbe as situações adquiridas e que abra portas à inquisição fiscal. Porém, o financiamento do esforço da Primeira Guerra Mundial ultrapassará os obstáculos para a sua aceitação. Leia o texto sobre “O Liberalismo e a Democracia” (CA p.71) e estabeleça as diferenças entre o pensamento político liberal e o democrático, partindo da análise que J. Barradas faz das ideias de A. Herculano. Deve mostrar a associação que o pensamento político democrático estabelece entre liberdade e igualdade, vendo-as como duas faces duma mesma moeda, ao contrário dos liberais. A defesa da soberania popular, o sufrágio universal, o alargamento do próprio conceito de povo, a universalidade dos direitos e a defesa da redução das desigualdades sociais como condição para o exercício pleno das liberdades dos cidadãos são alguns dos princípios que distinguem a democracia do liberalismo. O último é individualista e avesso ao igualitarismo, prefere os mecanismos da concorrência e da selecção dos mais fortes à regulamentação das sociedades, mesmo se os objectivos são uma maior justiça social. Contudo, como já referimos, o pensamento liberal evoluiu no sentido do demoliberalismo, aceitando o sufrágio universal e a necessidade de maior igualdade social. As tremendas desigualdades sociais geradas pelo desenvolvimento do capitalismo e a constatação da concentração económica e de poder que acompanha esse processo, contrária aos ideais dos liberais da primeira metade do século XIX, estiveram na base dessa mudança. Disserte sobre a importância do acesso á educação e à informação para o exercício pleno dos direitos e deveres dos cidadãos, tendo por base a sua experiência pessoal de vivência num regime democrático. Desenvolva a dissertação de acordo com os tópicos apresentados, demonstrando a interiorização das noções aprendidas nestes capítulos e uma reflexão pessoal.

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31 / 95 4 A EVOLUÇÃO DO PAPEL DO ESTADO

4.1 Caracterize o papel do Estado nas sociedades contemporâneas Uma ideia base do liberalismo preconiza a iniciativa individual como o motor de toda a actividade. O Estado deve evitar substituir-se à iniciativa individual e abster-se de controlar a iniciativa privada ou mesmo de a regulamentar. A intervenção do Estado é permitida apenas para reprimir e sancionar as infracções. O Estado deve assumir uma postura de neutralidade jurídica e fiscal. Deste modo, compete ao Estado: • Promulgar as leis e fazê-las aplicar, sancionando violações; • Arbitrar litígios entre particulares; • Manter a ordem pública interna; • Garantir a segurança externa e a defesa da colectividade junto doutros países; • Cobrar verbas para suprir despesas do seu funcionamento. No início, a máquina burocrática era reduzida e o Estado era apenas um pequeno corpo à superfície da sociedade, mas alargou-se com o tempo e aumentou o nº de departamentos estatais, funcionários, etc. Aos poucos, transformou-se num polvo que acaba por controlar a vida dos cidadãos, substituindo-se à iniciativa privada em muitos aspectos (por exemplo no domínio do progresso da tecnologia, pacífica ou militar).

4.2 Analise a atitude dos liberais em relação ao Estado e o papel que lhe atribuem No princípio da Restauração, a situação era marcada por dois fenómenos distintos: o movimento das ideias e a prática das instituições. O movimento das ideias era dominado por uma clara desconfiança em relação ao poder: os princípios da separação de poderes e o cuidado no seu equilíbrio denunciavam uma vontade de reduzir o domínio e o poder do Estado. Posteriormente, a revolução ao fazer tábua rasa do passado irá beneficiar e abrir caminho à acção do poder estatal, que graças a uma administração centralizada disporá dos meios que faltavam aos seus antecessores. Em relação ao Estado os liberais entendiam que este devia evitar substituir-se ao papel da iniciativa individual, já que esta era o motor de toda a actividade válida. Deveria também ter um papel neutro não só em relação a todos os agente da vida económica como também a nível jurídico e fiscal. Deste modo as funções do Estado reduziam-se a um núcleo muito restrito de atribuições – as únicas cujo exercício era indispensável ao funcionamento normal de uma sociedade. Concluindo, o Estado era apenas um pequeno corpo à superfície da sociedade.

4.3 Discrimine os indicadores e as causas de cada vez maior intervenção do Estado na vida das sociedades

Depois da idade de ouro do liberalismo (séc. XIX), o Estado começa a intervir cada vez mais na vida das sociedades. São vários os indicadores desta evidência: • O progresso na estrutura dos governos, com a multiplicação de departamentos

ministeriais, e o crescimento notável do número de funcionários; • O aumento do orçamento público torna-se o instrumento de uma política social e

económica e o Estado é chamado a corrigir desigualdades sociais e a estimular as actividades, quando antes assegurava apenas o funcionamento dos serviços públicos.

Esta mudança na intervenção do Estado na sociedade ocorreu a nível geral das sociedades e decorreu de factores objectivos, técnicos e sociológicos:

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32 / 95 • Preocupação com o exercício de certas profissões (arquitecto, engenheiro, médico,

farmacêutico) que poderia pôr em causa a integridade e a segurança dos cidadãos. O papel do Estado é antes de controle e inspecção, ao impor regras, ao certificar-se da sua observância e ao sancionar transgressões; O Estado age ainda com o mesmo espírito ao regulamentar as condições do emprego e do trabalho;

• As situações excepcionais cuja gravidade das consequências obrigam também os governos a tomar medidas de excepção no casos das catástrofes naturais e as calamidades de que também fazem parte as grandes crises económicas. O alargamento das suas atribuições é ainda maior nas consequências das guerras;

• Noutros domínios como o progresso da tecnologia, pacífica ou militar, levou o Estado a tomar o lugar de uma iniciativa privada enfraquecida ou impotente.

De acrescentar os factores de mentalidade. O reconhecimento das aplicações do ideal igualitário da democracia, a aspiração à justiça, fizeram parecer anacrónica a noção liberal de não intervenção e de neutralidade do Estado. É o fim da abstenção do Estado.

4.4 Explique as consequências desse maior intervencionismo do Estado ao nível do aparelho político-administrativo, dos orçamentos, das fronteiras entre o público e o privado e do actual questionamento desse excessivo peso na vida social

Um dos maiores efeitos é a deslocação da fronteira entre o privado e o público, levando a uma maior socialização, ao aumento de parte das actividades e de equipamentos colectivos. No entanto a intervenção do Estado não ocorreu sem controvérsia, por exemplo, no domínio da saúde, da economia ou da instituição escolar. Mais do que uma evolução linear no sentido do aumento indefinido do papel do Estado, o esquema alternativo dá melhor conta da realidade. Destaca-se o golpe desferido pela revolução de 1889 nas intromissões do Estado. O Estado não é amado: discorda-se entre aquilo que dele se espera e o que ele oferece. As ideologias contemporâneas partilham quase todas de uma aspiração à emancipação das pequenas comunidades e ao definhamento do estado. Sistematize de forma esquemática, todos os sectores onde o intervencionismo do Estado se faz sentir nas sociedades actuais, confrontando a leitura do manual com a sua experiência pessoal Nas sociedades actuais, o Estado é omnipresente desde o nascimento até à morte dos cidadãos. Através de medidas de protecção da família ou de imposição do controlo da natalidade, como na China, o Estado condiciona o numero de nascimentos e intervém em todas as esferas da vida social: na economia, na educação, na saúde, na segurança, na assistência, nas construções de obras sociais e de infraestruturas colectivas, no ambiente, nos direitos e deveres dos cidadãos, no exercício das actividades profissionais, no abastecimento e no consumo, na habitação, na cultura... Parece que quase nada consegue escapar à intervenção do Estado, seja através de leis e regulamentos que definem o exercício das actividades ou através de subsídios e investimentos públicos que condicionam e orientam a actividade privada. O Estado tornou-se um Leviathan. Dispõe de uma máquina político-adrninistrativa gigantesca e precisa de orçamentos cada vez mais elevados para gerir a coisa pública. Essa é a principal razão da sua crise actual. Mesmo os Estados mais desenvolvidos e ricos têm enormes défices orçamentais que crescem como uma bola de neve, por causa dos juros da dívida pública. Estes tópicos devem ser desenvolvidos com exemplos concretos, extraídos da sua experiência, do intervencionismo do Estado.

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33 / 95 5 MOVIMENTO OPERÁRIO, SINDICALISMO E SOCIALISMO

5.1 Defina os conceitos ou noções de movimento operário, sindicalismo, socialismo, social-democrata, anarquismo, anarco-sindicalismo, marxismo.

Vd. glossário

5.2 Identifique as origens dos ideais socialistas As origens do socialismo são anteriores à revolução industrial. A reivindicação da igualdade e a fórmula da partilha foram, aplicadas, em primeiro lugar, à propriedade da terra. A pré-história do socialismo demonstra que ele não se reduz à filosofia das sociedades industriais, podendo haver, como já houve, um socialismo das sociedades rurais. Reciprocamente, o movimento operário poderia ter bebido a sua inspiração noutra doutrinas. As primeiras reacções de defesa operária em Inglaterra e a elite operária olham para o passado, que lhes parece uma idade de ouro, em reacção contra o individualismo liberal. Estes exemplos sublinham o encontro fortuito (séc. XIX) entre o movimento operário e o socialismo. O socialismo absorveu pouco a pouco as preocupações da classe operária, fez suas as reivindicações dela e é nela que se apoia. Por seu turno, o movimento operário deve ao socialismo o essencial da sua inspiração, dele recebendo a sua estratégia. Para discernir a história deste encontro, é necessário ir às suas origens, isto é à formação de uma nova categoria social saída da revolução industrial.

5.3 Caracterize a chamada «questão social» que decorre do processo da industrialização e da aplicação do liberalismo

A revolução industrial provoca alterações de vária ordem. São os operários de origem rural que vão constituir os batalhões das novas indústrias. Paralelamente surge também uma nova categoria de dirigentes industriais que dispõem de capitais. De um lado temos o capitalismo industrial, financeiro e bancário; do outro, a massa assalariada. Entre estes dois grupos, a dissociação acentua-se. Os seus interesses são contrários e o liberalismo concorre para esse antagonismo. O interesse dos patrões é baixar os salários e dos trabalhadores é defendê-los. As condições de trabalho são extremas: sem limite de duração, mão-de-obra infantil, sem descanso semanal, baixos salários. O crescimento demográfico aumenta o desemprego. Estas condições agravam-se pelas condições de habitação, equivalente aos actuais bairros de lata. Eis a condição operária.

5.4 Analise as causas que impulsionam os movimentos operários nos países industrializados ou em vias disso

A passagem da classe operária ao movimento implica uma tomada de consciência desta condição operária e um esforço de organização. A ordem social saída da Revolução Francesa, dificulta a organização de um movimento operário. A doutrina que prevalece é o liberalismo que tem por princípio deixar actuar livremente a iniciativa individual, pelo que decretou a dissolução de todas as associações e coligações. Este conjunto de disposições legislativas atrasa a constituição do movimento. Por razões de ordem sociológica as reacções de defesa teriam sido também lentas, porque ao lado das condicionantes jurídicas, a nova classe que emerge não tem tradições de luta e é constituída por indivíduos desenraizados do seu meio natural. O movimento operário não nasce destes elementos mas sim dos artífices e dos oficiais, uma espécie da aristocracia do trabalho que vai lançar as bases do movimento. O primeiro objectivo do movimento é obter uma modificação da legislação para conquistar a igualdade jurídica. A Grã-Bretanha é o primeiro país a reconhecer a liberdade de associação

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34 / 95 e cinquenta anos depois concede aos sindicatos um reconhecimento de pleno direito. Surge o grande surto das trade unions inglesas e dos bourses de travail em França.

5.5 Identifique as razões que presidem ao desabrochar do socialismo nas sociedades do séc. XIX

O movimento operário na sua forma sindical propôs-se a vários objectivos em simultâneo: o primeiro visa melhorar as condições materiais de vida, numa palavra, tudo o que respeita ao trabalho. O segundo, é mais geral: trata-se de transformar a sociedade, de preparar o advento de uma ordem social mais justa para o conjunto da sociedade através tanto da acção profissional operária como através da acção política, do sindicato, do partido. A acção política identificar-se-á com o socialismo. Aqui vamos encontrar, pois, a conjunção entre o fenómeno social e o desenvolvimento de um pensamento – o socialismo. O socialismo moderno pretende ser a reposta aos problemas resultantes da revolução industrial. Põe em causa a iniciativa individual, a concorrência, a propriedade privada, postulados em que se fundava a economia liberal do séc. XIX. No princípio do socialismo radica um duplo protesto: revolta moral contra as consequências sociais e uma indignação contra o absurdo das crises económicas. O socialismo reage contra o individualismo, criticando o liberalismo individualista, a propriedade privada dos meios de produção. Propõe uma doutrina de organização social, não política, já que o essencial do problema reside nas questões sociais e na organização da sociedade. Na verdade, os meios que utilizará para alcançar o seu objectivo vão modificar-se. O socialismo tornar-se-á uma força política, que se transforma em partido político para a conquista ou o exercício do poder.

5.6 Mostre a importância do marxismo como sistema ideológico e na transformação do ideário socialista numa força política

Esta evolução do social para o político, da escola para o partido, está ligada à evolução interna do socialismo. As escolas, os sistemas, os doutrinários são muitos e têm como base comum a crítica do liberalismo e a substituição da propriedade privada pela socialista. Porém divergem nas modalidades práticas e também na filosofia geral. Uma destras escolas vai ofuscar as restantes: o marxismo. Foi em parte porque o marxismo prevaleceu que o socialismo se politizou. Circunstâncias internas e externas contribuiram para a vitória do marxismo. A partir de 1870-80 torna-se a filosofia reconhecida no movimento operário, na maioria dos países. Como o marxismo suscita a formação de partidos, torna-se necessário contar com os partidos socialistas, que se organizam, recrutam adeptos e se desenvolvem. Em 1900 o socialismo é ainda um fenómeno circunscrito à Europa. Em 1914 a sua evolução para o plano das forças organizadas está concluída.

5.7 Indique o significado da constituição de Internacionais Socialistas e o respectivo papel nas lutas políticas.

A Internacional (associação internacional de trabalhadores) nasce da solidariedade internacional dos trabalhadores, que resulta da sua identidade de interesses e da sua oposição a um capitalismo igualmente internacional, para conquistar uma força política que se ramifica depois pelos diferentes países. O internacionalismo tem, pois, um carácter fundamental. A I Internacional começa em 1864 e terminará em 1874, não resistindo à guerra franco-alemã. A II Internacional constituída em 1889 é uma internacional só de partidos, estando os sindicatos ausentes. Esta Internacional é social democrata.

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35 / 95 Incapaz de susterem a corrida à guerra, o movimento terminará a seguir ao primeiro conflito mundial A III Internacional, foi a fórmula seguinte de espírito mais radical, da qual a Rússia bolchevique é o seu melhor exemplo.

5.8 Distinga o ideário socialista das concepções do liberalismo Uma vez que combate a ordem estabelecida, não só os vestígios do antigo regime, o conservadorismo político ou social, como também o liberalismo, cujos defeitos estavam na origem da sua revolta, o socialismo constitui uma força de oposição política, a que se junta uma oposição a todos os valores reconhecidos (as instituições políticas, o regime económico, o sistema de relações sociais, a moral burguesa, a filosofia, a religião). O socialismo não é só uma solução económica, é também uma filosofia. Com o triunfo do marxismo, o materialismo predomina.

5.9 Explique o significado original de social-democracia e a relação dessa ideia com o socialismo

Advém das características da II Internacional, cujos partidos que a ela aderem se reclamam do socialismo marxista. É uma internacional social-democrata, socialista e democrática, na qual o socialismo sonha alargar a democracia política em democracia social. No sistema de forças os seus aliados estavam sobretudo à esquerda. Leia o excerto do Manifesto de 1848 (Marx e Engels) no CA p. 79ss e aponte algumas das ideias fundamentais que caracterizam o pensamento marxista O pensamento marxista caracteriza-se por uma posição filosófica materialista, que se traduziu na chamada concepção materialista da história. Nesta perspectiva, o processo histórico decorre do desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais de produção, que se cristalizaram ao longo do tempo em vários sistemas socioeconómicos: o esclavagismo, o feudalismo, o capitalismo e, por fim, o socialismo e o comunismo, onde se verificaria a abolição da propriedade privada e a redistribuição social da riqueza. No sistema capitalista, a riqueza socialmente produzida por todos os assalariados é apropriada de forma privada pelos detentores dos meios de produção - isto é, das fábricas, das terras e do próprio capital - sob a forma de lucro. O que se pretende é mudar radicalmente essa realidade social, através da luta dos partidos operários e da revolução. O marxismo não pretende acabar com toda e qualquer forma de propriedade, mas só com aquela que permite a exploração do trabalho alheio em beneficio privado. O marxismo chamou a atenção para a importância da luta de classes e para o respectivo antagonismo como motor da história. O controlo estatal da economia, a educação gratuita, a assistência social e a saúde públicas generalizadas, o imposto fortemente progressivo, como forma de redistribuir os rendimentos, a extinção do direito de herança, a progressiva abolição. das desigualdades sociais, a total laicização do Estado e da sociedade são as propostas mais importantes dos comunistas, logo no início. São também favoráveis ao internacionalismo proletário, dai a palavra de ordem do Manifesto Comunista - Proletários de todos os países, uni-vos!

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36 / 95 6 AS SOCIEDADES RURAIS

6.1 Discrimine a importância do mundo rural no séc. XIX. O mundo da terra não evolui ou fá-lo lentamente. Contudo a condição camponesa é a da esmagadora maioria da humanidade. Mesmo nos países mais evoluídos, os rurais representam 75% da população. Depois da 1ª Guerra só na Inglaterra e na Alemanha é que a população camponesa se queda abaixo dos 50%. E são os camponeses que asseguram a subsistência da humanidade.

6.2 Caracterize a situação dos camponeses e os problemas agrários O problema da fome e das subsistências foi primeiro um problema das sociedades rurais antes de se estender às cidades. O imperativo alimentar é a preocupação mais antiga e constante das populações. O segundo problema é o da terra: Há demasiada procura para a pouca terra disponível. O êxodo rural, o afluxo às cidades e o trabalho industrial são as únicas saídas juntando-se-lhes a emigração (em cem anos a América recebeu cerca de 60 milhões de europeus). O terceiro problema é o da apropriação da terra, pois muitas vezes a terra não é de quem a trabalha. Os regimes agrários são variados (arrendamento, meação, servidão). Onde o feudalismo desapareceu sucedeu a propriedade burguesa. Outros grupos monopolizam progressivamente a terra principalmente aqueles aos quais o camponês é obrigado a recorrer quando necessita de dinheiro. O outro problema é o do endividamento permanente das sociedades rurais. Esta é a alternativa quando a terra não retribui nada.

6.3 Analise as transformações que se verificam ao nível da agricultura e respectivas consequências.

Apesar de, no geral, a agricultura ser de características tradicionais e a economia de subsistência, surgem no séc. XIX algumas agriculturas modernas com modos de organização industrial (EUA, Canadá, Alemanha, certas regiões de França, Escandinávia, Países Baixos e Inglaterra). Embora venham a obter resultados superiores debatem-se com os mesmos problemas da agricultura tradicional pela via da economia de mercado. O agricultor tem de desembaraçar-se rapidamente das colheitas através dos canais de comercialização. Se sobrevem uma má colheita poderá recorrer ao crédito, não através de um usurário local, mas do banco – é esta a diferença.

6.4 Explique as reacções dos camponeses à evolução política das sociedades contemporâneas

O campesinato tem o hábito secular de se submeter. Contudo, de longe em longe, faz irrupções bruscas no processo político. Tem aspirações à liberdade, à emancipação das tutelas que pesam sobre si e à propriedade efectiva da terra que fecunda com o seu trabalho. No fim do séc. XVIII, na Europa Ocidental a revolução aboliu os vestígios da sociedade feudal e beneficiou todos os camponeses. O czar Alexandre II aboliu também a servidão em 1848 e veio emancipar dezenas de milhões de servos russos. Tal não resolve a questão agrária mas os camponeses passam a ser pessoas livres. O séc. XIX restringe progressivamente a extensão da escravidão e vem a condenar o tráfico de escravos. Nos países mais evoluídos, o movimento democrático encontrou a sua significação plena com o desenvolvimento da instrução, a difusão dos jornais e o serviço militar veio a ter consequências na transformação dos campos. Na vida política o sufrágio universal veio a transferir para o campesinato o poder a prazo. Tomando consciência de si mesmo, este organiza-se. As escolhas eleitorais do camponês exercem-se em sentidos diferentes, muitas vezes num sentido conservador (em França, por exemplo, o sufrágio universal reforçou a autoridade dos conservadores). Depois os seus

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37 / 95 votos deslocam-se para candidatos mais avançados. Posteriormente deslizam mais para a esquerda. Experimentam o associativismo e descobrem as virtudes do sindicalismo. Por vezes até se constituem em partidos. Algumas das mais recentes revoluções começaram por revoluções camponesas. O Partido Comunista Chinês apoiou-se no campesinato e foi a reforma agrária que lhe trouxe o apoio das massas. O mesmo se passou com a revolução de Castro, em Cuba. Analise a evolução da população rural e da população urbana, com base nos dados estatísticos do quadro do CA p.84 Deve analisar com atenção os dados, mostrando a partir deles a progressiva perda de peso da população rural e o crescimento da população urbana. Na sua resposta, jogue com as percentagens e distinga os níveis de industrialização dos países, consoante a importância da respectiva população urbana. Tenha em atenção os anos quando fizer análise comparativa entre os países. Caracterize a situação social dos camponeses no séc. XIX, jogando com todas as informações que colheu nos capítulos anteriores e no excerto de Dreyfus da p.85 do CA A transição do feudalismo ao capitalismo nos campos e o próprio desenvolvimento da economia de mercado e da concorrência são os aspectos que condicionam mais fortemente a vida dos camponeses, em vastas regiões da Europa. A par dos ritmos ancestrais e da dificuldade de se adaptar ás mudanças técnicas e sociais, os camponeses vão lutando pela sobrevivência. Contudo, para muitos deles passou por emigrar para as zonas urbanas ou para outros continentes, como a América. Os campos foram despovoando-se e o nível de vida dos que ficaram só lentamente melhorou, com a introdução de novas técnicas e um aumento da produtividade. Apesar do século XIX ser marcado por uma tendência secular de baixa dos preços que afectou de modo bastante negativo o rendimento dos agricultores. 7 O CRESCIMENTO DAS CIDADES E DA URBANIZAÇÃO

7.1 Analise o fenómeno do crescimento urbano nas sociedades contemporâneas A distinção entre rurais e citadino é uma das linhas de clivagem decisivas da humanidade: diferencia géneros de habitat, tipos de relações e modos de vida. É com o afluxo de habitantes dos campos que as aglomerações urbanas crescem. As relações das cidades com o seu ambiente natural modificaram-se e ampliaram-se. Constitui-se progressivamente um novo género de vida. Desde 1800 que o fenómeno urbano sofreu uma aceleração irresistível. As cidades tornaram-se grandes cidades, multiplicaram-se e a sua população aumentou vertiginosamente. A sua aparência modificou-se e as suas funções diversificaram-se. Estas mudanças fizeram surgir uma série de problemas: subsistência, escoamento, abastecimento, circulação, administração e ordem pública.

7.2 Discrimine as causas do crescimento urbano e as respectivas consequências, ao nível da ocupação do espaço, das comunicações, do abastecimento, da ordem e da segurança e no aspecto sociopolítico

Causas: O crescimento urbano é um fenómeno demográfico e é alimentado pelo superpovoamento dos campos que não conseguem assegurar a subsistência de uma população excedentária. O êxodo rural veio responder ao apelo das cidades que necessitavam cada vez mais de mão-de-obra. A revolução técnica (invenção de máquinas e uso de novas fontes de energia) origina a concentração de mão-de-obra à volta dos novos

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38 / 95 centros de produção. O comércio, as novas formas de distribuição, os bancos, as redes de transportes, a generalização da instrução, etc. criam novos postos de trabalho Portanto, para além do sector industrial também o terciário concorre para explicar o crescimento urbano. A estes convém juntar elementos de psicologia colectiva: a cidade é um forte atractivo e é a esperança de um trabalho regular e remunerado, à incerteza das colheitas, a entrada numa economia regulada pelo dinheiro. Consequências em termos de extensão espacial: O afluxo de novos habitantes leva à extensão da cidade no espaço. O terreno não tarda em faltar e a sua raridade provoca a subida de preços. A carestia de terrenos no centro da cidade origina o aparecimento de bairros e a sua diferenciação social. Os que não têm dinheiro suficiente são empurrados para a periferia. Consequências em termos de comunicações internas: Á medida que os aglomerados se expandem as distâncias aumentam e as relações distendem-se. Os meios de comunicação permitem às cidades retomar o impulso para conquistar o espaço circundante. Reordena-se o coração das velhas cidades e conservam-se arruamentos. Consequência em termos de abastecimento: cria-se uma densa rede de canalizações e constroem-se aquedutos. O abastecimento alimentar das cidades leva a procurar cada vez mais longe quantidades cada vez mais consideráveis. De referir também o abastecimento em força motriz, luz e energia. Consequências em termos de ordem e segurança: Contra a ameaça permanente do fogo as cidades protegem-se contra a sua propagação (construções de pedra ou metal, ruas mais largas, serviço de bombeiros). As epidemias recuam com o progresso da ciência. Os flagelos sociais acompanham o crescimento das cidades (miséria, pauperismo, criminalidade, prostituição) e as administrações tentam corrigir a situação para que os flagelos sociais recuem paulatinamente. Consequências em termos de sociais e políticos: A sede do poder confunde-se com a grande cidade pelo que esta se encontra sujeita às oscilações de humor da população. O receio leva a fazer-se obras importantes: abertura de passagens para a cavalaria ou artilharia; substituição do empedrado pelo macadame; constituição de forças policiais. O estabelecimento do sufrágio universal torna-o o regulador da vida política e a insurreição torna-se uma violação do direito dos cidadãos. Os distritos urbanos organizam-se e formam-se comunidades urbanas. As administrações são levadas a intervir no funcionamento dos serviços colectivos. A passagem das sociedades agrárias para um novo modelo de existência social organizado em torno do fenómeno urbano constitui talvez o maior acontecimento histórico do séc. XX. Analise o crescimento populacional das cidades de vários continentes entre 1800 e 1910 com base nos dados fornecidos no quadro da p. 87 do CA Construa a sua resposta a partir dos dados do quadro, mostrando o extraordinário crescimento das cidades. Repare no caso especial das cidades dos países europeus mais industrializados e da América do Norte e do Sul, por causa da emigração maciça doutros continentes. Relacione o crescimento urbano com o desenvolvimento dos transportes, tendo em conta o mapa das grandes cidades e das vias férreas da Europa de 1830 a 1870, p. 88 CA É nítida a relação entre o crescimento das cidades e a rede de caminhos de ferro. Deve mostrá-lo na sua resposta, jogando com vários exemplos extraídos da análise do mapa. As maiores cidades, como Londres e Paris, situam-se no entroncamento de importantes redes de vias férreas, construídas antes de 1840. A facilidade de transportes atrai a actividade económica, as indústrias e a fixação das populações.

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39 / 95 A partir do caso da cidade de Paris, caracterize a evolução duma grande urbe no séc. XIX e o respectivos problemas, p. 89 CA As cidades crescem à custa dos terrenos agrícolas que as cercam e eram a sua fonte de abastecimento de produtos frescos. E isso que as figuras mostram em relação ao caso de Paris. Os problemas decorrentes desse crescimento urbano vêm enunciadas no manual, pp. 229-234. 8 O MOVIMENTO DAS NACIONALIDADES

8.1 Refira os principais factores que caracterizaram o movimento das nacionalidades O movimento das nacionalidades pressupõe a existência de nacionalidades e o despertar do sentimento de pertença a estas nacionalidades. O fenómeno só conta quando é entendido conscientemente. O movimento das nacionalidades no séc. XIX foi em parte obra de intelectuais (escritores, linguistas, filósofos, historiadores, filósofos políticos). Faz intervir interesses e estes actuam quando, por exemplo, o desenvolvimento da economia apela á superação dos particularismos, à unidade. Assim, na origem do movimento das nacionalidades confluem a reflexão, o impulso do sentimento e o papel dos interesses.

8.2 Relacione numa perspectiva temporal o movimento das nacionalidades com os três fenómenos do séc. XIX – o liberalismo, a democracia e o socialismo

Em comparação com o liberalismo, a democracia e o socialismo o movimento das nacionalidades cobre um período mais longo no tempo, estendendo-se por todos o séc. XIX, enquanto os outros três se sucedem nesse período, sendo portanto seu contemporâneo. Depois, enquanto o domínio do liberalismo se restringe durante muito tempo à Europa ocidental, quase todos os países conheceram crises ligadas ao fenómeno nacional (Grã-Bretanha vs. Irlanda; França vs. Alsácia e Lorena; Espanha vs. regiões basca e catalã; no Japão o sentimento nacional inspira a modernização). O fenómeno nacional aparece, portanto, como universal e não é marcado por uma dada ideologia nem tem cor política uniforme. Tanto coabita com a esquerda como com a direita. Estabeleceu, no entanto, menos alianças com o socialismo por que este se define como internacionalista.

8.3 Identifique as duas fontes que originaram o nacionalismo A primeira fonte foi a Revolução Francesa, pela influência das suas ideias (uma vez que a independência e a unidade nacionais decorrem directamente dos princípios de 1789), pela forma como mostrou o que pode o patriotismo da «grande nação» e, também, pelas reacções que provocou, talvez a forma de acção que mais contribui para o despertar do sentimento nacional. Pelas seus princípios e pelo seu exemplo, a revolução suscitou um nacionalismo democrático. A segunda fonte é o «historicismo» ou tradicionalismo que pouco ou nada deve à revolução. Está ligado à redescoberta do passado, definindo-se pela história, pela língua, pela religião. Tende a conservar ou a restaurar a ordem social e política de antigo regime. Apoia-se na Igreja. Esta dualidade do nacionalismo explica a complexidade da história e a ambivalência dos fenómenos.

8.4 Analise as movimentações do nacionalismo entre o período de 1815 e 1914 Em 1815, no Congresso de Viena, os soberanos preocupados em destruir a obra da revolução e não levaram em consideração, na reconstrução da Europa, a aspiração à

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40 / 95 independência oprimindo assim o sentimento nacional e a ideia liberal. Daí a acção conjunta dos movimentos das nacionalidades e dos movimentos de oposição à Santa Aliança entre 1815 e 1830-40. Entre 1830 e 1850 os movimentos de tipo nacional são conduzidos por uma ideologia democrática e expandem-se com a revolução de 1848. Fracassam rapidamente em 1849-50 e é restaurada a Europa do Congresso de Viena. É na terceira geração do movimento das nacionalidades entre 1850-70 que se alcança o triunfo, porque o princípio das nacionalidades é então admitido como um princípio de direito internacional. Reúnem-se fragmentos dispersos de uma mesma nacionalidade e emancipam-se. Em 1870 o mapa europeu está profundamente modificado. Surgiram novas potências nascidas da aspiração á independência e á unidade nacional. O nacionalismo situou-se à esquerda desde o início do séc. XIX com uma tendência liberal e democrática enquanto noutros países se torna aliado do conservadorismo. Nos finais do séc. XIX com o nascimento de uma consciência de classe operária e a crescente difusão das ideias socialistas o nacionalismo virou-se à direita. O socialismo contribuiu indirectamente para esta evolução do nacionalismo. Deste modo, o nacionalismo, sempre receptivo a todas as ideologias, volta-se para as doutrinas reaccionárias, contra-revolucionárias. Alia-se ao conservadorismo político e social. Quando a guerra rebenta em 1914 o comportamento das forças internacionalistas nessa prova de fogo permanece uma das incógnitas da conjuntura.

8.5 Explique que o princípio das nacionalidades é um princípio do direito internacional Esta é uma das regras da política francesa do II Império, um dos critérios para o reconhecimento dos governos. É em virtude deste princípio que os principados danubiano subtraídos ao Império Otomano podem fundir-se. É também este princípio que inspira na Argélia a sua política dita do reino árabe que reconhecia a existência de uma personalidade argelina. Estes movimentos apoiam-se nos povos mas em detrimento da liberdade individual, o que representa a mutação mais profunda. Bismarck apoia-se no povo contra os particularismos regionais e atinge o seu objectivo ao fim de três guerras e graças a alianças externas contra a Áustria e a França. A unidade italiana é alcançada quando Piemont se alia à França ou à Alemanha de Bismarck. Em 1870 o mapa da Europa surge profundamente modificado. Nascem novas potências da aspiração à independência. Faça um resumo sobre os caracteres do movimento das nacionalidades, relacionando o contributo e a difusão das ideias liberais e socialistas na eclosão desses movimentos (vd. texto p.91 do CA) Como se pode constatar através do manual nas pp. 235 e 236, o movimento das nacionalidades, à semelhança do movimento operário, nasceu de uma condição social e da tomada de consciência dessa condição, pressupondo, ao mesmo tempo, a existência de nacionalidades e o despertar do sentimento de pertença a estas nacionalidades. No séc. XIX, nem todos os países da Europa eram independentes e democráticos. Continuavam a existir alguns impérios liderados/governados por regimes autoritários, casos do Império Austríaco, do Russo e do Turco. Todos eles incluíam nas suas fronteiras nações que aspiravam libertar-se e tomar-se países independentes. Outros povos estavam desde há séculos divididos em vários estados e principados mais ou menos independentes. Era o caso da Alemanha e da Itália. O movimento das nacionalidades, foi em parte, também, o resultado das manifestações de intelectuais que através das sua obras deram conta de uma memória e de um sentimento nacional que se encontravam adormecidos. Para completar o seu trabalho e desenvolver as ideias aqui apresentadas, deve consultar o manual onde poderá encontrar mais informação sobre estas matérias. Elabore um comentário descrevendo as principais dificuldades e momentos que fizeram parte do processo de unificação da Itália e da Alemanha (vd. textos p. 93 do CA)

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41 / 95 Como pode ver nos textos de apoio pp. 92 e 93 e o manual na p. 242, o Congresso de Viena confirmou e consolidou a fragmentação tanto da Alemanha (dividida em 39 Estados autónomos), como da Itália que tinha Estados submetidos ao Império Austríaco. É certo que desde o final do Império Romano, a Itália não constituía um Estado unificado. Como pode verificar no mapa da p.92, os principais Estados eram os que pertenciam à Igreja ( sob a autoridade do Papa), o Reino da Sicília, o Reino da Sardenha, o Piemonte, etc. Todos eles tinham a consciência de fazerem parte de uma única Nação, ou seja, possuíam a mesma língua, as mesmas tradições e um passado comum, o mesmo acontecia, aliás, com os Estados Alemães. Como pode ver também no texto da p. 93, a unificação italiana, apesar de territorialmente conseguida após uma longa luta contra os austríacos, estava longe de ser total, ou por problemas financeiros, ou por questões políticas em particular com a Igreja. No caso da Alemanha, sendo um mosaico de pequenos Estados, o processo foi liderado pela Prússia ( o mais importante de todos), através do seu 1º ministro que pode ser considerado o principal artificie da unificação alemã. Essa unificação foi feita de vontades, mas também de guerras. A principal guerra é a chamada franco-prussiana A França receava uma Alemanha unificada e forte ( a história e os acontecimentos posteriores confirmaram os seus receios). A França sai derrotada e perde a Alsácia Lorena. Em 1871 a unificação está concluída. Não deixe de consultar as pp.241 a 245 do manual. 9 RELIGIÃO E SOCIEDADE

9.1 Demonstre de que forma a importância do fenómeno religioso é um aspecto importante da vida das sociedades contemporâneas

Em primeiro lugar, a adesão a uma crença religiosa tem naturalmente efeitos sobre o comportamento dos indivíduos em sociedade. Além disso, o fenómeno religioso comporta geralmente uma dimensão social: é vivido numa comunidade. A fé exprime-se num culto celebrado publicamente. De modo que a religião suscita a existência de comunidades confessionais no interior da sociedade global. Esta não pode também ignorar o fenómeno religioso e a Igreja não pode esquecer-se que os seus fieis pertencem a uma nação.

9.2 Reconheça que as relações entre as Igrejas e os Estados é apenas o vértice de uma pirâmide de relações complexas e múltiplas

Estas relações dizem respeito a muitos outros planos da realidade: movimentos de ideias, cultura, opinião pública, mentalidade, classes sociais. É a história das sociedades que apela à evocação do fenómeno religioso. Por outro lado as relações sofreram variações e alterações na sua importância, por exemplo sob o antigo regime as sociedades civil e eclesiástica entrecruzavam-se de forma intima.

9.3 Identifique os grandes acontecimentos históricos que marcaram a situação religiosa da Europa desde o séc. XVI até aos finais do séc. XIX

Os grandes acontecimentos são a reforma, o movimento das ideias e a Revolução Francesa. A Reforma quebrou a unidade da cristandade medieval e retalhou o mapa religioso da Europa distinguindo-se três Europas religiosas (a ortodoxa, a protestante e a católica). Obedecia a uma inspiração religiosa, exprimia uma vontade de retorno ao essencial, de purificação, de aprofundamento. A Reforma teve ainda outra consequência: a coincidência entre confissão e pertença política: a escolha entre o catolicismo e a reforma fez-se com frequência por iniciativa dos soberanos e a regra prevê que os súbditos os sigam. Desta

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42 / 95 foram o fenómeno religioso torna-se também um elemento de distinção e de consciência nacional. A existência de minorias religiosas acaba por ser tolerada. Com o movimento das ideias reivindica-se o reconhecimento público da liberdade religiosa e da igualdade de todos os cultos perante a lei. Este facto implica um abrandamento dos laços entre o Estado e a igreja oficial. O movimento das ideias reivindica a autonomia da sociedade civil e transporta em embrião a laicização do Estado, a secularização da sociedade, a separação das duas ordens, a religiosa e a profana. É a Revolução Francesa que transcreve, pela primeira vez, no direito e na prática, as reivindicações do espírito filosófico. O divórcio parece irrevogável entre uma Igreja católica que representa o passado, a autoridade, o dogma e um universo que representa a liberdade, o progresso e o futuro.

9.4 Mostre de que forma o movimento das ideias é o reconhecimento público da liberdade religiosa e da igualdade de todos os cultos perante a lei

Este facto implica um abrandamento dos laços entre o Estado e a igreja oficial. O movimento das ideias reivindica a autonomia da sociedade civil e transporta em embrião a laicização do Estado.

9.5 Compreenda de que forma a mutação social que correspondeu à industrialização e à urbanização levou à desintegração dos quadros tradicionais da sociedade e à ruptura dos hábitos colectivos que sustentavam a vida religiosa

A descristianização contribui também para enfraquecer a autoridade das igrejas. Massas humanas, cada vez mais numerosas, começam a desinteressar-se de qualquer crença religiosa. A regressão da prática religiosa é um indício de um desinteresse crescente pelas igrejas e pela religião. A descristianização resulta de um desfasamento no tempo. Em primeiro lugar, o clero não soube aproveitar as novas ideias, teorias e sistemas. Em segundo lugar, a classe operária era uma realidade social nova e a igreja não reconheceu a importância desta nova classe tendo negligenciado a sua evangelização. Indirectamente, o trabalho industrial, a fábrica, a cidade tiveram também efeitos negativos sobre a fidelidade religiosa com a desintegração dos quadros tradicionais e a ruptura dos hábitos colectivos. É esta transformação das relações que se expressa quando se diz que as nossas sociedades passaram de uma situação de cristandade para um estado de diáspora. Apesar de tudo o fenómeno religioso não desapareceu e demonstra mesmo uma persistência surpreendente em países que tentaram asfixiá-lo (Rússia, Polónia, Irlanda...). Partindo dos textos (CA p. 96ss) justifique se o conteúdo dos mesmos são a confirmação da crescente secularização da sociedade e o reconhecimento de novas perspectivas filosóficas e políticas Como diz o próprio autor, René Rémond, o fenómeno religioso, independentemente da opinião que se tenha acerca dos seus dogmas, é um aspecto importante da vida das sociedades, ou seja, é um fenómeno social. Esta dimensão social do fenómeno religioso pautou, ao longo da história, as relações entre as duas realidades sociais - a civil e a eclesiástica. Esta proximidade e as relações que envolvia, afectavam todo o campo da existência social. As reformas iniciadas no século das Luzes e as novas condições proporcionadas pelas revoluções liberais alteraram o relacionamento da sociedade e do Estado com a Igreja. Para este novo relacionamento e para o despertar da "modernidade" contribuíram, entre outros factores, os movimentos das ideias, a cultura, a opinião pública, as mentalidades, as classes sociais. Foi, sobretudo, no campo da educação/ensino que se fez sentir o sentido geral da mudança. Até ao séc.XVII, com raras excepções, o ensino dependia da Igreja e quase todos os docentes eram eclesiásticos, em particular nos países de predominância católica. No séc.

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43 / 95 XIX, o ensino passa a ser encarado como uma das obrigações do Estado e compete a toda a sociedade o dever de instruir e ser instruída, ou seja, o saber tem outras fontes e outros intervenientes para além da Igreja e da religião. Ensinar e aprender passa a ser um objectivo fundamentalmente cívico, estamos perante a laicização do saber. Ensinar é, essencialmente, formar cidadãos e transmitir conhecimentos, independentemente das convicções religiosas de cada indivíduo. Esta e outras matérias sobre o assunto podem ser aprofundadas no manual nas pp. 245 a 252. Tendo em atenção os conteúdos do capítulo, elabore um comentário referindo se o texto sobre o Concílio Vaticano II é a confirmação da importância social do fenómeno religioso ou a conclusão de um longo processo de renovação da Igreja nos últimos cem anos. Como já se disse, o fenómeno religioso continua a assumir uma importância relevante na vida das sociedades contemporâneas. O tratamento dado ao tema por René Rémond demonstra isso mesmo, ou seja, o fenómeno religioso conserva uma importância social e continua a ter um papel no devir das sociedades políticas. Veja-se o caso do Islão no mundo árabe, do catolicismo em Timor, das seitas em diversos países, como os Estados Unidos, Brasil e até Portugal. Quanto ao Concilio Vaticano II, foi, simultaneamente, o culminar de um processo de contestação à inércia da hierarquia da Igreja e o arranque de uma nova orientação mais humanista e com preocupações sociais a qual veio traduzir uma maior aproximação à sociedade. Este tema poderá ser desenvolvido, consultando o manual. 10 AS RELAÇÕES ENTRE A EUROPA E O MUNDO

10.1 Demonstre como a Europa do séc. XIX não está isolada e estende a sua acção ao mundo inteiro

Um dos factores que concorre para explicar este facto deriva do fenómeno de mentalidade, da curiosidade, do desejo de conhecimento, do gosto pela aventura, portanto, da disponibilidade de espírito. Este dinamismo associado a outros trunfos conferiram à Europa uma superioridade em termos de avanço cronológico sobre todos os outros continentes. É uma superioridade dupla: superioridade técnica (consequência do pensamento científico) e superioridade na arte de governar (foi a primeira a saber administrar grandes aglomerados humanos). Finalmente, o prestígio da sua civilização assegurou a sua influência duradoura e prolongada.

10.2 Reconheça que a desigualdade de facto e a desigualdade de direito modelaram as relações intercontinentais desde os alvores dos tempos modernos até ao fim do processo de colonização

A superioridade de facto e o avanço cronológico levam a que as relações entre a Europa e os outros continentes se estabeleçam numa base de desigualdade. A Europa vai reforçar a sua superioridade de facto através de uma superioridade de direito, de poder, de organização.

10.3 Identifique as várias formas de desigualdade no processo de colonização As várias formas de desigualdade são: a dominação colonial; as desigualdades políticas, económicas e culturais. A dominação colonial é a desigualdade fundamental entre metrópoles e colónias. Estas não têm soberania nem personalidade reconhecida. As populações autóctones estão também

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44 / 95 sujeitas a um regime jurídico diferente do dos cidadãos da metrópole. No trabalho, mantém-se o regime de corveia sob o nome de trabalhos forçados. Avançado no domínio económico a Europa não pode deixar de encontrar sistemas económicos que estão em desvantagem. Nas colónias a dependência e a desigualdades económicas são mais acentuadas. No que toca à cultura é a Europa que transporta as suas ideias e os seus valores. Foi este o sistema que regulou as relações extra-europeias.

10.4 Mostre de que forma as várias etapas da conquista do mundo sofreram os mais diversos incidentes e não se processou através de um desenvolvimento linear.

Há factores que contrariam a expansão colonial. Após o Congresso de Viena, 1815, no momento do restabelecimento da paz, o que se verifica é que a Europa continental conserva apenas restos de impérios. Para a Grã-Bretanha o saldo é inverso – nessa data ela é a única grande potência colonial. Um segundo factor prende-se com o estado de espírito da opinião pública europeia que crê que a conquista colonial pertence ao passado. Os reveses da Inglaterra nos E.U., da Espanha e de Portugal, dão crédito à ideia que as colónias enveredarão pelo caminho da independência. A hegemonia europeia sobrepõe-se à expansão ultramarina.

10.5 Explique as razões por que no séc. XIX a conquista colonial não provém de uma vontade sistemática dos Estados e é antes consequência de uma sucessão desordenada de iniciativas

Estas iniciativas são quase sempre privadas e antecedem a intervenção dos Estados. São geralmente as ordens missionárias que tomam estas iniciativas: a história da colonização é inseparável da evangelização. No caso da Alemanha, foram as câmaras do comércio de duas cidades que estiveram na origem da vocação colonial alemã e que obrigaram o governo alemão pelas suas iniciativas.

10.6 Refira os factores que contribuem para que a partir de 1880 uma série de mudanças importantes comecem a dar à expansão colonial da Europa uma fisionomia nova

O número de interessados na expansão alarga-se. Às antigas potências coloniais (Portugal, Espanha, Países baixos, GB e França) juntam-se os Estados recém unificados. Guilherme II passa para uma Weltpolitik (política mundial) ambicionando colónias. A Itália aspira também constituir um império. A opinião pública começa a tomar consciência das vantagens de uma expansão colonial e faz renascer o sentimento imperialista que se prolonga às dependências coloniais. Por fim os factores económicos são também determinantes. O desenvolvimento industrial, a necessidade de matérias primas, a preocupação com o escoamento das mercadorias estimulam a conquista colonial. Surge o imperialismo económico. O aumento do número de competidores, a rarefacção das terras disponíveis a pressão económica suscitam rivalidades entre as potências europeias, arriscam-se a engendrar conflitos internacionais e irá enfraquecer o seu prestígio junto dos povos colonizados. É assim que a 1ª guerra será vista do exterior como uma guerra civil.

10.7 Identifique os vários factores de penetração económica, com origem na Europa, sobre todos os outros continentes.

A influência da Europa não se restringe à dominação colonial, a europeização realiza-se também por outras vias. O Império Otomano, o Egipto e a China são três exemplos de

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45 / 95 penetração económica do continente europeu. O império otomano vive numa situação de protectorado e dado o estado das suas finanças e em consequência dos empréstimos concedidos pela Europa é colocado sob tutela. Fica assim desapossado do controle dos seus recursos, tendo que dar em concessão portos, caminhos de ferro. Com o Egipto passa-se o mesmo. Incapaz de reembolsar as suas dívidas, o Egipto passa para o domínio da Grã-Bretanha que gere as finanças, as comunicações, os portos. A China é obrigada a abrir portos ao comércio, depois a abrir mão do controle das finanças e por fim a ceder porções do seu território aos britânicos e aos franceses. O Japão declara guerra à China e fica com uma porção do território. A Alemanha e a Itália entram na corrida. Dá-se a sublevação dos Boxers, os 55 dias de Pequim, uma reacção xenófoba aos acontecimentos. No final a China continua ainda mais subjugada. Os EUA também se estrearam no Japão obrigando-o a abrir portos ao seu comércio embora o processo não vá até ao fim. A história do Japão tem a sua originalidade: a revolução japonesa (meiji) vai dar uma inflexão diferente às relações entre este país e o ocidente, a partir de 1868. Para o jovem imperador o Japão teria de assegurar todos os trunfos que faziam a superioridade europeia (a técnica, a economia, a política) se não queria que fosse reduzido à condição de colónia. Desta forma, o Japão vai tornar-se independente por via de uma reforma (meiji) escolhida deliberadamente e com espírito de continuidade. Controlando a modernização do Japão, o imperador pode subtraí-lo à tutela dos EU.

10.8 Mostre que ao lado da colonização declarada e da penetração económica a europeização exerceu-se, também, pela exportação de seres humanos

A Europa exportou-os para as suas colónias mas só uma minoria emigrou para lá. Nas colónias a presença europeia reduz-se aos quadros militares, comerciais. No total alguns milhões. Milhares de britânicos foram para a Índia. No séc. XIX a emigração ultramarina é um dos grandes fenómenos demográficos da história do mundo. Os seus efeitos são agravados pelo maquinismo que gera o desemprego tecnológico. O crescimentos demográfico, o superpovoamento da Europa induz uma parte da população a emigrar. As grandes vagas de emigração coincidem com as crises económicas. A par das razões económicas também há aqueles que emigram por razões ideológicas (irlandeses, judeus...). A partir de 1840 a emigração toma uma grande amplitude principalmente na Grã-Bretanha e Irlanda e o volume não pára de crescer até 1914. Vão sobretudo para o norte e sul do continente americano. Nos EU entraram 32 milhões; na América do Sul, 8 milhões. Nos destinos de emigração os europeus fundaram sociedades semelhantes às do continente de origem. Contudo, como também fugiram do despotismo e da desigualdade de condições fundaram sociedades que assentavam na liberdade e na igualdade. Deste modo, as novas Europas têm este duplo carácter de semelhança e de originalidade. A influência da Europa estendeu-se ao mundo inteiro.

10.9 Analise as consequências e os efeitos da europeização do mundo Efeitos: A Europa foi durante muito tempo o centro da decisão. As grandes potências são todas europeias, com excepção para os EUA (embora este seja um filho europeu pela sua composição humana e pelas características da sua civilização). Consequências económicas: Foi a Europa que definiu a configuração do mundo, é o relógio do mundo, é o centro, o pólo. Foi ela que garantiu a exploração dos recursos, assegurou a redistribuição dos produtos à escala do globo, dos géneros alimentares, dos homens, dos capitais. Consequências culturais: São as mais duradouras. Todos os povos tiveram a Europa como modelo e imitaram-na. Estas imitação estendeu-se às instituições políticas. As constituições são uma forma de europeização. Esta afecta ainda a organização da sociedade, as relações entre grupos. A língua do colonizador tornou-se a língua nacional, especialmente nos países

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46 / 95 que tinham várias línguas (p.e. Índia). A irrupção da cultura europeia levou à desnacionalização dos quadros sociais, políticos e intelectuais das colónias e a sobreposição de uma elite ocidentalizada. Através da evangelização, o Ocidente oferece as diferentes variantes do cristianismo, do catolicismo ou protestantismo. Também leva consigo a distinção entre sociedade civil e religiosa. O islão não separa as duas. Todas estas influências exercem-se em sentido único. Consequências da colonização: A colonização tanto inspirou a imitação como a rejeição, os movimentos de rebelião, as guerras que os indígenas travavam contra o invasor. Estas duas reacções de sentido posto são as duas fontes dos nacionalismos coloniais que, desde antes de 1914, opuseram obstáculos à colonização. Existem vários exemplos: a derrota dos italianos face aos etíopes; a resistência dos boers aos britânicos; a declaração de guerra dos EU à Espanha retirando-lhe os restos do seu império colonial; a revolta dos chineses contra os europeus; a derrota da Rússia pelo Japão (1905-6). Nas vésperas de 1914 a situação já é ambivalente. Já há sinais premonitórios do recuo da supremacia europeia. Com base nos textos da p. 103ss do CA procure avaliar as consequências da Conferência de Berlim e a consequente partilha de África e procure esclarecer a posição de Portugal ao invocar direitos históricos sobre alguns territórios africanos Apresentamos alguns aspectos que nos parecem pertinentes sobre a Conferência de Berlim e a posição de Portugal relativamente à partilha do Continente Americano. Assim: A conferência de Berlim foi a partilha do continente africano, tomado o palco da disputa entre as grandes potências industrializadas europeias. Foi, também, o entravar do projecto português do mapa-cor-de-rosa que marcava a ligação territorial das colónias de Angola a Moçambique, base do império português em África; as deliberações saídas da Conferência vão obrigar Portugal a acelerar o ritmo das suas explorações, mau grado a cedência de território - reconhecimento do estado do Congo, sob a tutela dos belgas e, posteriormente o ultimatum britânico - como, sobretudo, o obrigavam a estabelecer normas de ocupação de facto, para os quais Portugal era incapaz de fazer frente face ao poderio militar e económico de algumas potências europeias, em particular a Inglaterra; Embora em desvantagem, Portugal firma tratados de limites com a França e a Alemanha pelos quais, em troca de algumas concessões territoriais, estas potências lhe reconhecem a soberania em territórios africanos e começa a lutar, numa corrida contra relógio) com a Inglaterra que se opunha às aspirações portuguesas. Realizaram-se varias expedições, de carácter geográfico e militar, pelo interior do Continente africano e dentro do espaço em que Portugal considerava dispor de direitos históricos; Se é verdade que o Ultimatum abalou o nosso sonho centro africano, não pôs de facto fim ao chamado Terceiro Império. O Ultimatum, independentemente do comportamento inglês e da sua instrumentalização por parte da classe política, veio, efectivamente, mostrar a urgência da ocupação no terreno das colónias africanas. De facto, desde a década de cinquenta, tinham sido efectuadas várias viagens por parte de exploradores portugueses com o objectivo de afirmarem a soberania de Portugal nos territórios do continente africano, não obstante o aproveitamento económico permanecer inexistente. Só a partir do acordo anglo-português de 1891 (consequência do Ultimatum), que garantia a integridade das colónias, são investidos capitais nessas regiões. Deste modo, são tomadas, não só militarmente, medidas significativas no sentido de afirmar a soberania portuguesa nessas áreas. Aplicam-se capitais no lançamento de infra-estruturas como o caminho-de-ferro e em actividades extractivas, como a exploração de diamantes. Poderá completar estas informações lendo os textos do caderno de apoio e o cap. 10 do manual. Faça um resumo caracterizando os principais factores de preponderância europeia no Mundo nos inícios do séc. XX

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47 / 95 A chamada europeização do mundo radicou em processos históricos que foram desde a dominação colonial à influência económica e cultural. Esses países; apesar de politicamente independentes, dependiam na totalidade das potências europeias. Deste modo, o Colonialismo e o "Neo-colonialismo" foram, efectivamente, um dos principais aspectos da política e da acção dos Estados europeus, nos finais do século XIX e princípios do XX. A Europa estendeu os seus impérios a todas as partes do globo. Da Sibéria à Nova Zelândia, do Saara ao Amazonas, a par da colonização política a colonização económica e cultural europeia conquista os novos Estados (América Latina). Tudo isto, graças as concessões que os europeus obtinham para a exploração de matérias-primas, de transportes e comunicações. Com a política de crédito e investimento que concediam podiam explorar a mão-de-obra e os mercados desses países, sem necessidade de domínio político directo. É certo que a europeização do mundo exerceu-se, fundamentalmente, por razões de ordem económica, mas não podemos esquecer e subvalorizar que este domínio teve, também, profundos efeitos culturais sobre o mundo inteiro, quer isto dizer, que a civilização ocidental chegou a todas as partes da Terra - mundializou-se. Complete o seu conhecimento sobre o assunto consultando o manual nas pp.272 a 277.

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48 / 95 1. A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

1.1 Enumere as causas que estiveram na origem do primeiro conflito mundial As origens são múltiplas. Algumas causas são imediatas, nomeadamente a da crise militar e diplomática com o atentado de Sarajevo, apesar de ter surgido num contexto já portador das virtualidades de guerra. Uma resposta de ordem jurídica aponta para o Tratado de Versalhes o qual atribui a responsabilidade da guerra à Alemanha. A segunda explicação é de ordem económica: a guerra teria resultado da conjuntura e da inadequação das estruturas. Na verdade a economia alemã estava em plena expansão e a sua política comercial fá-la entrar em conflito com a Grã-Bretanha e com a França e fá-la fechar-se ao comércio externo. Também é necessário apontar factores políticos, militares e psicológicos que são desenvolvidos na questão a seguir.

1.2 Analise os factores políticos, militares e psicológicos que marcaram o período que antecedeu o primeiro conflito mundial

As dificuldades internas e externas do Estados concorrem para esta análise. Vários estados europeus debateram-se com grandes dificuldades. É o caso da Rússia que se debate com uma agitação revolucionária desde a revolução de 1905 e que ainda não se recompôs da sua derrota frente ao Japão no mesmo ano. É também o caso da Áustria-Hungria dilacerada pelas reivindicações das nacionalidades. O movimento das nacionalidades, a aspiração à independência nacional e a reivindicação da unidade ou do separatismo são aspectos de um fenómeno que foi causa determinante do conflito. Estes elementos são agravados pela expansão ultramarina e pela corrida aos raros territórios ainda disponíveis. Com a chegada de Guilherme II, após a demissão de Bismarck, a Alemanha passa de uma política de equilíbrio para a Weltpolitik, de inspiração aventureira. Depois de 1900 a situação internacional passa para a chamada «paz armada» com os sistemas de alianças e a corrida aos armamentos os quais fazem crescer o mecanismo da generalização do conflito. Eis a originalidade desta guerra mundial que se estendeu á Europa e ao mundo em consequência da «paz armada». Também os factores psicológicos como o receio do cerco e a prevenção que explicam a aquiescência ou a resignação à guerra. Desde 1905 as crises sucedem-se: Tânger, Marrocos, Bósnia-Herzgovina, Balcãs. A Europa no verão de 1914 está à mercê de um acidente que relacionando todos estes elementos fará da situação diplomática uma máquina infernal.

1.3 Caracterize os três aspectos que contribuíram para singularizar a primeira guerra mundial

Estes três aspectos foram: a duração no tempo; a extensão geográfica; e as novas formas de guerra (efectivos; recursos, novas armas; guerra psicológica). Duração no tempo: nenhum dos beligerantes conseguiu assegurar vantagens decisivas e a guerra vai prolongar-se e estender-se ao longo de centenas de quilómetros. Extensão geográfica: A duração tem como consequência a extensão do espaço. Os dois sistemas adversos tentam atrair os países neutros. O jogo dos compromissos e das alianças envolve numerosos países no conflito. De um lado a Sérvia, o Montenegro, a Rússia, a França, a Bélgica e a Grã-Bretanha (no total, 240 milhões de efectivos). Do outro lado os dois impérios centrais, Áustria-Hungria e Alemanha (no total 120 milhões). Estes levam vantagem estratégica devido à sua posição geográfica. A Entente está dividida em duas frentes que não comunicam entre si. As cinco grandes potências estão, assim, reunidas na guerra pela primeira vez desde 1815 (Alemanha, Áustria, Rússia, França e Grã-Bretanha). Á medida que a guerra se prolonga cada um dos campos tenta persuadir os países neutros para inverterem o equilíbrio das forças. De facto o único meio dos governos neutros assegurarem benefícios é passarem à beligerância. O primeiro a juntar-se aos impérios centrais é o Império Otomano. Para além destes factores que explicam o alargamento do

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49 / 95 conflito há que contar com a opinião pública que pressiona os governos a favor da guerra (p.ex. Itália).

1.4 Explique as razões que fizeram para que as dimensões do conflito não se limitassem apenas ao continente europeu

Com a adesão do Império Otomano a guerra estende-se à Ásia (o império ocupa território europeu e asiático) e o Médio Oriente é também arrastado. Em 1915, a Itália junta-se aos aliados, e bem assim a Bulgária, a Roménia, a Grécia, Portugal. Ao todo são 14 países europeus. As colónias seguem o destino das metrópoles (9 décimos do território africano são possessão colonial). O Japão, devido à pressão da opinião pública, também entra no conflito, assim como a China. Em 1917 entram os EUA. No total estão 35 estados envolvidos e todos os continentes estão representados. Este alargamento é uma consequência do prolongamento da guerra.

1.5 Explique a expressão «guerra total» Precisamente por ser uma guerra de posições, reclama o envolvimento de forças cada vez maiores daí poder empregar-se a expressão «guerra total». A mobilização dos efectivos é levada a um grau até então desconhecido, são centenas de milhões de homens. Foi necessário forjar com todos os recursos uma indústria de guerra, criar fábricas de armamento e recrutar, em substituição dos homens, mão-de-obra feminina. A guerra põe em jogo novas armas: a guerra militar desdobra-se em guerra económica para paralisar o adversário, determinam-se bloqueios e lança-se a guerra submarina. A população civil é amplamente mobilizada. Os bombardeamentos das capitais e das cidades e a propaganda são elementos que servem para desgastar a moral.

1.6 O fim do conflito Em 1917 os dois campos aproximam-se da ruptura. Sem dúvida que a entrada dos EUA nesse ano deixa antever o restabelecimento do equilíbrio e mesmo a sua inversão, com vantagem para o Ocidente. A Rússia em primeiro e depois a França levam ao fim da guerra. A primeira revolução russa em 1905 e depois a segunda, em 1917, traz consequências para a história da guerra. Militarmente para a Alemanha, era um dos principais beligerantes que ficava de fora do jogo. Politicamente a revolução russa desperta sentimentos e desejo de paz. Em França e Itália acordam os fermentos da divisão, com greves e motins. A França é a peça fulcral da coligação. A chegada de Clemenceau à presidência do conselho esmaga o derrotismo e, em 1918, a situação inverte-se. Com o fortalecimento da moral, a boa coordenação das tropas e a intervenção americana a vitória dá-se em 11 de Novembro. Tendo em linha de conta os documentos da p.109ss do CA disserte sobre a situação internacional e os acontecimentos políticos, em particular da Europa, que antecederam o primeiro conflito mundial Para responder a esta questão não basta dissertar sobre as causas circunstanciais e imediatas da 1ª Grande Guerra, como foi o atentado de Sarajevo e o respectivo encadeamento de acontecimentos que se seguiram - crise militar e diplomática - e que tomaram a situação insustentável na Europa. Como diz o próprio autor, isso não passa de uma resposta provisória Tudo isso veio juntar-se a um conjunto de factores diferentes e de natureza muito complexa. A partir do momento em que a Alemanha faz reconhecer os seus direitos coloniais na Conferência de Berlim, os outros estados europeus tomam consciência do verdadeiro poder do Reich.

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50 / 95 Até 1914 a Alemanha não deixará de crescer. A sua população aumentará 25%, a sua riqueza 50%, o seu rendimento nacional 100%. A Alemanha tomou-se a principal adversária da lnglaterra. A França, desde a perda da Alsácia-Lorena, também se mostrava preocupada com a expansão industrial alemã. A Rússia, com pretensões a territórios á entrada do mar Negro, colidia com os interesses Austríacos e Alemães. A Itália também tinha as suas pretensões no Trieste e no Tirol meridional, pertença de Turcos e Austríacos. Deste modo, para além das pretensões territoriais e dos antagonismos económicos, deve salientar-se o papel dos nacionalismos, que passam a assumir uma variedade de formas particularmente perigosas, entre as quais destacamos pela sua actualidade: o Pan-eslavismo da Rússia, o Nacionalismo Sérvio, Revanchismo francês e o Pangermanismo. Esta era, em traços largos, a situação europeia na primeira década do nosso século. Perante este equilíbrio instável qualquer conflito, por mais pequeno que fosse, poderia desencadear um conflito de consequências imprevisíveis. Em suma e para alargar esta informação sobre o assunto, consulte o manual nas pp.283 a 287. A primeira guerra mundial preparada com base e meios do séc. XIX diferenciou-se de todas as guerras até aí travadas. Elabore um resumo realçando a sua extensão, a sua duração , os seus meios e estratégias e os seus efeitos. Deve salientar e aprofundar no seu resumo alguns dos seguintes aspectos: -foram introduzidos novos métodos de luta; a guerra aberta, à excepção de alguns ataques de infantaria, foi substituída pela guerra de trincheiras; -intensos bombardeamentos de artilharia sobre as trincheiras e novas armas de destruição massiva; -intensa luta diplomática (de ambos os lados), no sentido de gerar apoios e minar por dentro os próprios impérios; -salientar que este conflito envolveu cerca de 65 milhões de combatentes, com 10 milhões de homens e 20 milhões de feridos ou mutilados. Este foi o balanço trágico de um conflito com a duração de quatro anos de combates, de bombardeamentos, massacres, fomes e epidemias. Veja, com atenção, o que o autor diz sobre o assunto nas pp.287 a 294. 2 AS CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA

2.1 Descreva as transformações territoriais mais visíveis resultantes do fim da primeira guerra mundial

O mapa da Europa sai profundamente alterado. Os vários tratados são assinados entre 1919-1920: Tratado de Versalhes, Tratado de Sévres, Tratado de Trianon, Tratado de Saint-Germain, Tratado de Neuilly. Estes tratados consagram a derrota dos grandes impérios. Quatro deles desaparecem ou são amputados. Os dois conjuntos históricos Áustria e o Império Otomano são desmembrados e multiplicam-se os estados (são criados ou reconstituídos a Polónia, a Checoslováquia, a Finlândia, os estados bálticos, sem contar com os que aumentam o seu território, como a Roménia ou a Sérvia. Com o fim do império dos Habsburgos, a Áustria e a Hungria são separadas. Forma-se a Roménia, uma das grandes beneficiárias da paz. Forma-se o grande reino da Jugoslávia (agrega a Sérvia, o Montenegro, a Bósnia e a Herzegovina). Nasce o estado da Checoslováquia. A Rússia perde possessões a favor da Roménia e da independência da Polónia e da Finlândia. Formam-se três estados bálticos: Estónia, Letónia e Lituânia. O ex-império otomano, a Turquia, é reduzido no seu território e novos estados se erguem: Iraque, Síria, Líbano, Palestina e a Transjordânia.

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51 / 95 Dos quatro impérios o menos atingido é a Alemanha: perde território europeu (principalmente a favor da Polónia) e todas as colónias. As soluções territoriais marcam o recuo do germanismo e o progresso dos eslavos. O equilíbrio das forças e dos blocos étnicos modificou-se profundamente no interior da Europa.

2.2 Demonstre que a vitória dos aliados é também a vitória das democracias e da democracia

O mapa da Europa sai profundamente alterado. Os vários tratados são assinados entre 1919-1920: Tratado de Versalhes,Tratado de Sévres, Tratado de Trianon, Tratado de Saint-Germain, Tratado de Neuilly. Estes tratados consagram a derrota dos grandes impérios. Quatro deles desaparecem ou são amputados. Os dois conjuntos históricos Áustria e o Império Otomano são desmembrados e multiplicam-se os estados (são criados ou reconstituídos a Polónia, a Checoslováquia, a Finlândia, os estados bálticos, sem contar com os que aumentam o seu território, como a Roménia ou a Sérvia. Com o fim do império dos Habsburgos, a Áustria e a Hungria são separadas. Forma-se a Roménia, uma das grandes beneficiárias da paz. Forma-se o grande reino da Jugoslávia (agrega a Sérvia, o Montenegro, a Bósnia e a Herzegovina). Nasce o estado da Checoslováquia. A Rússia perde possessões a favor da Roménia e da independência da Polónia e da Finlândia. Formam-se três estados bálticos: Estónia, Letónia e Lituânia. O ex-império otomano, a Turquia, é reduzido no seu território e novos estados se erguem: Iraque, Síria, Líbano, Palestina e a Transjordânia. Dos quatro impérios o menos atingido é a Alemanha: perde território europeu (principalmente a favor da Polónia) e todas as colónias. As soluções territoriais marcam o recuo do germanismo e o progresso dos eslavos. O equilíbrio das forças e dos blocos étnicos modificou-se profundamente no interior da Europa.

2.3 Identifique os princípios e as práticas que a Sociedade das nações universalizou no campo das relações internacionais

Os princípios e as práticas foram: a discussão pública, a deliberação parlamentar, a solução da questões através da maioria dos sufrágios. A Sociedade das Nações é a universalização do regime parlamentar e, aparentemente, o triunfo definitivo do direito sobre a força, a instauração de uma ordem jurídica que destrona as soluções de violência.

2.4 Ponha em relevo os problemas e as transformações que a guerra provocou a nível mundial, pela sua duração, extensão e características.

A guerra provocou toda a espécie de mudanças. A profundidade dos efeitos destas mudanças depende por um lado do grau de participação na guerra e por outro lado da posição dos beligerantes no fim do conflito. Consequências demográficas: as perdas humanas são consideráveis: cerca de 9 milhões de mortos. Vão provocar uma diminuição da natalidade ao longo de várias gerações. Esta perda demográfica atinge também a defesa nacional, a economia que priva de produtores e consumidores; repercute-se na actividade intelectual do país; a ausência de pais desorganizou as famílias. As destruições económicas: A reconversão de uma economia virada para a guerra é problemática. O peso da dívida aumentou consideravelmente. A guerra deixa ao Estado, além do fardo das dívidas, vítimas de guerra. Uma parte apreciável do orçamento público destina-se ao pagamento das pensões de guerra. A estes encargos juntam-se, no caso dos vencidos, as reparações. Os aliados conseguiram inscrever no Tratado de Versalhes o reconhecimento pela Alemanha da sua culpabilidade. Mas, a Alemanha vai faltar às obrigações impostas o

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52 / 95 que contribui para originar as graves crises financeiras que vão abalar a estabilidade das moedas europeias. Perturbações sociais: A guerra criou um novo tipo social: o do antigo combatente, que é também um grupo de pressão poderoso. Em Itália, o fascismo recrutará muitos antigos combatentes. A guerra fez aparecer os novos ricos ao enriquecer os produtores e intermediários de armas. No outro campo, o dos pobres e vítimas da inflação sofreram o contragolpe da desvalorização da moeda. Nos países vencidos a situação é ainda mais agravante. A guerra acelerou o êxodo rural, contribuiu para agravar a crise da habitação e dissociar as estruturas tradicionais. A mão-de-obra feminina começa a trabalhar nas fábricas. Todas estas perturbações explicam que o fim da guerra tenha provocado um tão grande surto de agitação social. Os anos de 1919-21/2 são assinalados por uma efervescência revolucionária. Perturbações espirituais: São talvez as mais duradouras e a experiência da guerra desenvolve dois efeitos de sentido contrário: a religião (despertou o sentimento religioso ou afastou muitos dos caminhos da fé) e o patriotismo (estimulou o pacifismo ou por outro lado exasperou o orgulho nacional) Perturbações posicionais: A guerra abalou os fundamentos da preponderância da Europa e permitiu uma ascensão rápida de outros continentes (v.g. americano). Modificações políticas: a guerra mudou o papel do Estado (ver reposta a seguir).

2.5 Analise de que forma a guerra modificou, no plano político, o papel e a função do Estado.

O ano de 1918 representa a vitória da democracia política e também o fim do liberalismo. Durante a guerra o Estado teve de tomar em mãos a direcção da economia, regulamentar as actividades, mobilizar recursos. Alargou a sua intervenção às relações entre os grupos sociais. O fim da guerra voltou a exigir a intervenção estatal para desmobilizar e reconverter a máquina de guerra. O reforço do papel do Estado e a extensão das atribuições do poder público não beneficiaram todos os poderes. A evolução processou-se em proveito do executivo e em detrimento das assembleias. Na verdade, o executivo estava melhor preparado, a política exigia decisões rápidas. As assembleias são demasiado numerosas para uma decisão rápida. Neste contraste entre os princípios declarados e a realidade, reside um dos germes da crise que a democracia parlamentar vai atravessar no período entre as duas guerras. Elabore um comentário sobre a nova fisionomia da Europa saída da guerra, destacando as principais alterações ocorridas no mapa político e territorial No comentário deve ser destacado que uma das consequências mais notórias, após o término da guerra, foram as transformações territoriais e as novas fronteiras geográficas no espaço europeu. Assim, a Alemanha perdeu a Alsácia-Lorena e parte da antiga Prússia para além de todas as suas colónias. A Áustria foi obrigada a reconhecer a independência da Hungria, Checoslováquia, Jugoslávia e Polónia Perdeu cerca de 73% do seu antigo território e 75% da sua população. Ficou reduzida a um Estado pequeno e sem acesso ao mar. A Bulgária cedeu território à Roménia, à Jugoslávia e Grécia. A Hungria perdeu 71% do seu antigo império e 60% da sua população. Cedeu território à Checoslováquia, à Roménia e à Jugos1ávia A Turquia teve de entregar à Grécia quase todo o território da chamada Turquia europeia. Como se pode constatar ( veja-se o mapa dos textos de apoio), a Europa definiu um novo mapa político, onde muitas das novas fronteiras geográficas não tiveram em conta factores étnicos, históricos e culturais. Veja o manual nas pp.294 a 297. A partir do texto sobre o Tratado de Versalhes (p. 114ss do CA) faça um resumo e analise a situação em que ficou a Alemanha.

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53 / 95 Com o fim de se estabelecerem as condições de paz, tiveram lugar entre 1919 e 1920, várias conferências nos arredores de Paris - Versalhes, Saint-Germain, Neuilly, Triannon e Sévres. De todas elas saíram tratados fixando as indemnizações de guerra, as condições de desmilitarização e a definição do novo mapa político da Europa Embora com a finalidade de consolidar a paz, estes tratados vieram criar novos focos de tensão no continente europeu. Destes tratados, destaca-se pela sua importância o de Versalhes. Nele ficou definida a situação da Alemanha, que resultou numa paz imposta, isto é, perdeu territórios na Europa (Alsácia-Lorena, Eupen, parte da Posnania e da Prússia). Perdeu todas as suas colónias, teve de entregar a maior parte dos seus navios mercantes, viu as suas forças armadas reduzidas e limitadas a voluntários e foi-lhe exigido o pagamento de 33 biliões de dólares como indemnização de guerra. Tudo isto, no entender de toda a Alemanha, não passou de uma humilhação e teve como consequência o abrir caminho para outras soluções políticas, em particular o nazismo. Veja os textos que abordam o assunto no caderno de apoio. 3 O PÓS-GUERRA (1919-1929)

3.1 Reconheça que no período pós-guerra as dificuldades internacionais prevaleceram sobre os factores positivos

Nem todos os problemas nascidos da guerra foram resolvidos. De imediato surge um conjunto de dificuldades internacionais. As fronteiras permanecem indecisas e contestadas e certos estados recusam reconhecer as disposições territoriais. Rivalidades opõem os vencedores entre si. A América regressa ao seu isolacionismo e neutralidade deixando a Europa entregue a si própria. As divergências acentuam-se entre a Grã-Bretanha e a França. A França resolve-se a fazer a Alemanha pagar e os britânicos, fiéis à sua política de equilíbrio continental, querem ajudar a Alemanha a reerguer-se. A França penhora-lhe a região mais produtiva. Só em 1923 o governo alemão aceita pagar as reparações. Mas a ameaça mais grave não está ligada à suspeição relativa à hegemonia francesa ou à eventualidade do rearmamento alemão. O principal factor de inquietação é a revolução soviética.

3.2 Explique que o principal factor de instabilidade e inquietação para a Europa, no pós-guerra, era a revolução soviética

A revolução constitui um perigo interno e externo. Externo para os seus vizinhos imediatos, jovens nações como a Polónia, estados bálticos, Finlândia, Roménia, que temem uma retaliação que restabeleceria o domínio russo. O perigo interno ameaça a existência de todos os regimes políticos e da ordem social e que se prende com a própria natureza da revolução. Os «dez dias que abalaram o mundo» provocam por todo o lado reacções e repercussões e aparece como a herdeira das revoluções de 1789 e de 1848. O mito da revolução cristaliza as aspirações de renovação, de paz, de internacionalismo. A solidariedade patriótica prevaleceu no geral. A revolução bolchevique sobrevem durante uma crise grave da esquerda europeia. Em 1929 é criada a III Internacional, destinada a rivalizar a segunda. A partir de então opõem-se as internacionais nas esferas política e sindical. Em cada país esta rivalidade origina cisões. Uma vaga revolucionária varre a Europa. Os países vencidos oferecem um terreno de eleição às acções de bolchevização encorajadas pela III Internacional.

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54 / 95 3.3 Analise quais foram as reacções dos governos ocidentais à revolução soviética A reacção foi pronta: os governos esmagam as revoluções ou falham os movimentos revolucionários. Desta forma a revolução foi repelida para a sua origem: a Rússia. O governo bolchevique resiste durante o período do chamado comunismo de guerra (centralização política, instauração do terror policial). Em 1920 os exércitos brancos são esmagados. A Rússia reconhece a independência dos seus vizinhos com o Tratado de Riga (1921). O governo russo abandona a política de expansão revolucionária e ensaia a construção do socialismo num só país. Ao comunismo de guerra sucede a NEP, a nova política económica. A Itália de Mussolini é a primeira potência a reconhecer a Rússia soviética. Os EUA só em 1933, com Roosevelt.

3.4 Caracterize os factores de estabilidade e desanuviamento resultantes do pacto de Locarno (1925)

O Pacto de Locarno assinala a transição de uma situação de força para um regime contratual. È em 1925 que a Alemanha voluntariamente adere às disposições territoriais do Tratado de Versalhes. No ano seguinte é admitida na Sociedade das Nações. Os anos 1925-30 são o melhor período da história desta instituição. É também o período das conferências internacionais. O clima é de desanuviamento internacional. A maior parte dos países reduziram as suas forças militares a um nível muito baixo. A ordem interna foi-se apaziguando. As rivalidades partidárias circunscrevem-se às questões clássicas. As principais potências ultrapassaram as suas dificuldades económicas, financeiras, sociais. A União Soviética vive uma situação diferente devido à originalidade do seu regime e ao estado das suas relações com o resto do mundo. Fechada sobre si própria recupera e reconstitui a sua economia. A Europa continua a ser o centro do mundo. Distinga com base nos documentos das p. 118ss do CA as fases pelas quais passou a revolução soviética, destacando o envolvimento das democracias ocidentais Para desenvolver esta actividade não deixe de consultar a cronologia do caderno de apoio. Como, certamente, deve ter reparado o calendário russo não corresponde ao calendário ocidental. Para um melhor esclarecimento sobre a cronologia russa, podemos dizer que a primeira revolução russa de 1917 é chamada revolução de Fevereiro, apesar de ter sido em Março; a revolução de Novembro é dita de Outubro, isto porque os Russos só adoptaram o calendário gregoriano muito depois dos outros países europeus. Em 1917, o calendário russo estava 13 dias atrasado em relação ao resto do mundo. O envolvimento das democracias ocidentais manifesta-se no apoio aos anti-revolucionários, cuja proveniência radica nos mais variados sectores da sociedade russa: Cossacos, Ucranianos, Bálticos, social-democratas, camponeses desiludidos, descontentes da paz com a Alemanha. Sete mil Japoneses, cinquenta mil franceses, trinta mil ingleses e americanos juntaram-se ás chamadas tropas "Brancas” do general Denilcine e do almirante Koltchak. Duraram mais ou menos dois anos os combates que se estenderam por todo o território russo, tendo como resultado a capitulação dos adversários dos bolcheviques e na rendição das tropas “Brancas”. Complete o assunto lendo o manual nas pp. 310 a 314, onde obterá mais informações. Refira se os momentos áureos da Sociedade das nações reflectem, também, a confiança dos Estados que a ela aderiram, numa renovação das instituições e no desanuviamento internacional Como pode reconhecer após a leitura das pp. 314 a 318, a Sociedade das Nações, nasce da ideia da criação de uma liga em que todos os estados cooperassem para a preservação da paz. Foram seus membros fundadores 32 potências vencedoras e 13 estados neutrais. Mais tarde, foram admitidos a Áustria (1920), a Alemanha (1926) e a União Soviética (1934). A

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55 / 95 Sociedade das Nações esteve longe de atingir os objectivos propostos pelos seus fundadores. Os E.U.A., por ironia do destino, rejeitaram em votação do Senado a instituição cuja criação tinha sido inspirada pelo seu presidente. Ainda assim, a S.D.N., dirimiu alguns conflitos e interveio para solucionar problemas, tais como: 1920, um diferendo entre a Suécia e a Finlândia; 1925, impediu um ataque grego à Bulgária; 1932, diferendo entre a Colômbia e o Peru: -reprimiu o tráfico de ópio; -ajudou países na profilaxia de doenças contagiosas. Contudo, não conseguiu evitar, talvez dai o seu grande fracasso, acontecimentos de grande repercussão internacional, a saber: 1931, a conquista da Manchúria pelo Japão; 1935, a conquista da Etiópia pela Itália; e, sobretudo: 1939, a eclosão da Segunda Guerra Mundial. 4 A CRISE DAS DEMOCRACIAS LIBERAIS

4.1 Demonstre que a crise das democracias reside na conjunção de dois factores: dos ataques que lhe são dirigidos do exterior pelo fascismo e pelo comunismo e, também, das suas imperfeições de ordem interna

É precisamente esta conjunção que provoca a sua gravidade. O comunismo e o fascismo afiguram-se mais dinâmicos e mais bem adaptados, valem-se de uma eficácia considerada superior, colhem argumentos nas deficiências internas da democracia e pretendem instaurar uma ordem mais justa e igualitária. A crise da democracia está no sentimento, na inadequação dos princípios e das instituições da democracia clássica às circunstâncias. Reside aí o elemento comum a todos os países. É precisamente por se ter tornado uma tradição que a democracia sofre. Nos países acabados de nascer a democracia é prematura pois a opinião pública não está preparada para a acolher.

4.2 Caracterize de que forma a democracia se impôs aos novos Estados que resultaram do desmembramento do império dos Habsburgos e dos Czares

As jovens nações adoptaram com entusiasmo as instituições dos vencedores, aos quais deviam a sua independência. Porém não estavam reunidas as condições para que um regime parlamentar pudesse funcionar. E isto devido ao facto de terem estado durante muito tempo submetidas a um domínio estrangeiro e privadas da sua personalidade nacional. Nesta parte da Europa também não existia o equivalente á burguesia ocidental. A instrução elementar está muito pouco difundida. Acrescente-se igualmente as diversidades e rivalidades étnicas. A democracia parlamentar mostra-se impotente para fundar uma nação unificada.

4.3 Reconheça que por toda a Europa entre 1920 –30 a democracia clássica caracterizada pela ligação aos princípios liberais, cede o lugar a regimes autoritários.

Rapidamente as instituições parlamentares são varridas por golpes de força que as substituem por regimes autoritários. A Itália deu o exemplo com a marcha sobre Roma e o estabelecimento do fascismo em 1922. O modelo é imitado e outros países enveredam pela mesma via na década de 20-30: Polónia, Turquia, Grécia, Jugoslávia, Hungria, Áustria. É toda a Europa oriental, danubiana e balcânica, a mesma Europa do despotismo esclarecido, que dois séculos mais tarde recorre a formas de governo que ilustram a sua posteridade. Nesta região só a Checoslováquia é a excepção, devido a ser uma das primeiras regiões a industrializar-se, por ter uma numerosa classe operária, um sindicalismo, uma social-

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56 / 95 democracia. O contágio autoritário estende-se aos países mediterrânicos da Europa Ocidental. Para além da Itália, também Espanha começa com uma ditadura militar e real e depois com a ditadura franquista. Em Portugal, a ditadura técnica e discreta de Salazar governará entre 1926-74. De juntar ainda a ditadura estalinista da União Soviética e fora da Europa, os regimes autoritários na América Latina ou no Japão (casta militar). Nos jovens estados, a democracia parece prematura; nos velhos afigura-se ultrapassada.

4.4 Mostre que durante este período, existe uma crise das instituições representativas acompanhada de uma alteração do mecanismo tradicional da democracia parlamentar.

Os governos caem na dependência estreita dos parlamentos. Em vários países o sinal é da desorganização dos poderes. O executivo parece impotente para conceber e aplicar uma política a longo prazo. Os inconvenientes destas situação seriam poucos se aquele tivesse atribuições restritas ou o período fosse calmo. Mas depois de 1818 a relação entre os privados e o Estado modificou-se, tendo a guerra ampliado o campo de acção dos poderes públicos. Durante este período de crise estabelece-se um novo tipo de relações entre o executivo e o legislativo, em benefício ora de um, ora de outro. Já não se pode falar de equilíbrio, mas de confusão. Eis um conjunto de sinais de desregulação da democracia clássica.

4.5 Reconheça que o período entre as duas guerras é marcado pelo aparecimento, ou pelo reforço, de novas forças políticas que põem em questão o sistema no qual assentava a democracia clássica

As novas forças põem em questão o funcionamento da democracia clássica. O sufrágio universal não subvertera as condições de exercício de poder; a sociedade passou de tipo individualista para uma sociedade de grupos. Gera-se um movimento para constituir grupos de reivindicação. É o surto dos sindicatos e de um novo sindicalismo. A posição do Estado modifica-se: tem novas responsabilidade, mas está cercado pelas forças sociais. Aparece um novo tipo de partido: partidos operários, primeiros socialistas e a seguir à guerra comunistas. Passa-se de uma democracia de notáveis para uma democracia de massas.

4.6 Explique em que medida a grande crise económica de 1929 abalou as estruturas económicas, sociais, intelectuais e políticas em que assentava a democracia clássica

Esta crise é diferente das anteriores pelas suas repercussões. É, em primeiro lugar uma crise de crédito que estala na Bolsa de Nova Iorque, cuja perda é de 18 mil milhões. Esta crise atinge outros sectores da economia americana e transmite-se à Europa devido aos laços estabelecidos desde a guerra: queda das cotações, restrição da produção. Indústrias e bancos declaram falência. Verifica-se a redução das receitas fiscais e a economia abranda. A crise gera o desemprego de 30 milhões. Consequentemente a opinião pública perde a confiança nas instituições democráticas. A crise amplia o fenómeno do fascismo. Amplos sectores da opinião pública estão prontos a escutar os apelos dos agitadores. Para a política dos Estados é notável que a falência do sistema liberal obrigue o poder público a intervir, daí tomar nas mãos a direcção da economia e a sua intervenção na esfera monetária. As relações externas são também afectadas pela política económica dos governos que fecham os países às importações. Assim, entre 1929-32, a grande depressão levou ao abandono dos princípios liberais. È mais um argumento a favor do autoritarismo e do totalitarismo.

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57 / 95 A partir do texto sobre a situação económica entre 1919 e 1930, p. 121 do CA, faça uma análise sobre as consequências que teve a crise económica no desencadear das crises políticas ocorridas nas democracias liberais Como orientação de resposta para esta actividade podemos avançar com alguns dados que nos parecem pertinentes. Assim, entre 1919 e 1929, assistiu-se a um aumento da produção da ordem dos 64% e que teve a ver com:

• progressos tecnológicos • concentração de capitais • formação de sociedades financeiras (Holdings) • novos métodos de trabalho (taylorismo).

No entanto, este crescimento foi um tanto ilusório, ou seja, fez no mesmo sentido, aumentar a produção e o desemprego, reduzindo o poder de compra e acentuando drasticamente o desequilíbrio entre a produção (excessiva) e o consumo (insuficiente). Estamos perante um período de Deflação (queda dos preços) que afecta sobretudo a agricultura. A 24 de Outubro de 1929 (Quinta-Feira negra), a Bolsa de Valores de Nova Iorque é abalada por múltiplas ordens de venda As cotações descem vertiginosamente, implicando a bancarrota. O Crash bolsista afectou toda a economia, arruinando os investidores e lançando no desemprego milhões de trabalhadores. O colapso sentiu-se em todo o mundo, a saber:

• na Alemanha, metade da população masculina entre os 16 e os 30 anos ficou no desemprego;

• a falência do maior banco austríaco, o Creditanstalt, levou à falência diversos bancos; • a libra inglesa desvalorizou cerca de 40%; • o Japão perdeu o mercado americano que era o seu principal comprador; • a América do Sul teve uma crise de superprodução, porque não conseguia • escoar os seus produtos; o café no Brasil era utilizado como combustível nas

locomotivas; a Argentina abateu grande parte da sua reserva de gado; • em 1931 o desemprego em 28 dos países mais ricos atingiu os 27 milhões de

indivíduos; • a produção mundial de aço baixou de 1024 milhões de toneladas para 50,7 milhões.

Este foi o cenário da chamada Grande Depressão. Quebrou-se a confiança e a livre iniciativa. O Estado acentuou a sua intervenção de várias formas – New Deal nos E.U.A.; Nazismo na Alemanha; Frentes Populares em França e Espanha; consolidação dos regimes fascistas onde já existiam. Refira se a configuração política da Europa que é apresentada no mapa da p. 121 do CA, na década de 30, reflecte as consequências da grande depressão de 1929 Estamos convictos que as dificuldades económicas e os graves conflitos sociais decorrentes da Grande Depressão estiveram na razão directa das alterações e configurações políticas da Europa. Para melhor desenvolver este tema nada melhor que ler com atenção as pp 318 a 330 do manual. 5 O COMUNISMO E A UNIÃO SOVIÉTICA

5.1 Analise qual o alcance político e sociológico da revolução soviética A revolução soviética é comparável às revolução de 1789, pela sua duração e pela extensão no espaço. A semelhança da primeira, a revolução soviética modificou um país, estabeleceu uma nova ordem política e social. O seu alcance também ultrapassa o quadro nacional. As analogias estendem-se às relações com os países vizinhos e a revolução soviética também foi banida pela Europa civilizada. Sai vencedora. Tal como a revolução francesa, fez corresponder o governo revolucionário francês ao terror soviético, com o endurecimento

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58 / 95 interno e o comunismo de guerra. Ela divide os países estrangeiros e exerce influência em algumas camadas das suas populações. Portanto, dentro dos limites da antiga Rússia é a história da revolução contra s forças contra-revolucionárias. Fora dela é o contágio do comunismo, os laços com a III Internacional, o Komintern e outras tantas estruturas.

5.2 Identifique os factores mais relevantes que marcaram a revolução soviética Distinguem-se três momentos na revolução soviética:

• Comunismo de guerra (1917-1921); • Nova Política Económica, NEP (1922 –1927/8); • Edificação do socialismo, Estaline (1927/8-1939).

COMUNISMO DE GUERRA (1917-1921) Fase dominada pela guerra interna externa. Uma guerra que é imposta aos bolcheviques, um parte uma herança do regime derrubado. Com a guerra civil o governo bolchevique está cercado por forças contra-revolucionárias. Trotsky organiza o exército vermelho. Institui-se o terror em resposta à acção contra-revolucionária. O regime é rigoroso em todos os domínios. É a ditadura do proletariado, a que vai preparar a era estalinista. Em 1921 os exércitos brancos foram batidos. A revolução está salva e o essencial preservado. NOVA POLÍTICA ECONÓMICA (1922-1927/8) A situação exige um abrandamento das coacções. É preciso fazer renascer a confiança, estimular a iniciativa. É esta a inspiração da NEP. O governo empenha-se em reorganizar a economia antes de retomar a marcha para a instauração do socialismo. Regressa-se à liberdade económica, recorre-se aos capitalistas e técnicos estrangeiros. A sociedade reconstitui-se aos poucos, edifica-se uma nova lasse, os kulaks, grandes ou médios proprietários. Os resultados da NEP geram a rivalidade para a sucessão de Lenine (m. 1924). Durante vários anos o conflito entre Trotsky (romântico, homem do exterior, a revolução imediata e geral) e Estaline (realista, homem do interior, a edificação do socialismo num só país) irá dilacerar o PC da União Soviética. A partir de 1927/8, Estaline tornar-se-á o senhor incontestado da União Soviética até à sua morte em 1953. A EDIFICAÇÃO DO SOCIALISMO (1927/8-1939) Caracteriza-se pela edificação do socialismo e pela instauração de um poder concentrado, absoluto e totalitário. Quanto ao socialismo, trata-se de aplicar a doutrina em duas direcções paralelas: através da sucessão dos planos quinquenais para dotar a Rússia de uma poderosa indústria pesada; e através da colectivização dos campos. É liquidada a classe dos kulaks e o fim da NEP. Impõem-se os kolkozes e os sovkhozes. É empreendido um grande esforço miltar. Politicamente, Estaline é o senhor absoluto, porque o estado é controlado pelo partido. Este é um exemplo que se vê em todos os regimes totalitários: a confusão entre Estado e o partido. Porém a submissão da administração ao partido está conforme à doutrina. Estaline é o secretário-geral do partido, do qual o Estado depende. Em 1936 é feita uma nova constituição que parece inteiramente democrática, mas é moderada pela ditadura do partido. Neste ingressa-se por recomendação e é objecto de depurações periódicas. A URSS entra num período de terror crónico. A consequência é o estabelecimento de um poder extraordinariamente concentrado em Estaline.

5.3 Caracterize a influência do comunismo no mundo, tendo em atenção o internacionalismo da sua ideologia

A ideologia assume-se como internacionalista, nega e combate o nacionalismo e procura estender-se a todo o universo. A estrutura internacional de que a revolução soviética se recorre, com a criação da III Internacional, acompanhada de uma Internacional Sindical Revolucionária, com o Komintern como instância suprema, concorre para tal irradiação. Junta-se a estas a acção diplomática de estado soviétivo.

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59 / 95 5.4 Explicite quais as direcções, tanto no espaço social como político, em que o

comunismo vais exercer a sua acção. A acção do comunismo vai exercer-se, por um lado, nas sociedades industrializadas e, por outro, nos países subdesenvolvidos, nas sociedades coloniais. Nas sociedades industrializadas o comunismo ateia a luta de classes entre o proletariado e a burguesia capitalista, retomando a tradição de um dos ramos do movimento operário, o do socialismo e beneficiando da decepção da social-democracia. Nos países que foram chamados subdesenvolvidos e que, a seguir à 1ª Guerra Mundial, estão todos ainda em situação de subordinação colonial o comunismo vai cristalizar as aspirações nacionais à independência. Parece um paradoxo que o marxismo possa fazer causa comum com movimentos de inspiração nacionalista. Porém , aos olhos do comunismo a colonização é uma das formas de exploração do homem e é o prolongamento da dominação capitalista. Aos lideres nacionalistas a URSS aparece como modelo a imitar. É na China que a reaproximação é levada mais longe Leia o texto da p. 124 do CA e elabore um comentário explicitando a afirmação que Lenine utilizou para definir a Nova Política Económica (NEP): “Capitalismo de Estado num Estado Proletário” Na actividade 1 do capitulo referente ao Pós-Guerra abordamos o percurso da Revolução Soviética, onde destacamos as dificuldades da conquista/tomada definitiva do poder por parte dos bolcheviques. Essas dificuldades foram também de natureza económica, obrigando os bolcheviques a abandonar a sua linha política que eles designavam por comunismo de guerra (nacionalização de todos os meios de produção). Em 1921, instituíram a Nova Política Económica (NEP) de que constavam mais ou menos as seguintes medidas:

• manutenção das nacionalizações apenas nos sectores vitais da economia; • propriedade privada de parte dos terrenos agrícolas; • livre concorrência no mercado interno dos produtos agrícolas; • reintrodução do pagamento dos salários; • entrada de capitais e técnicos estrangeiros; • contactos comerciais com países capitalistas; • pequenas empresas privadas; • plano de electrificação e outras infraestruturas básicas.

Grosso modo, a Nova Política Económica, utilizando mecanismos de mercado e assimilando alguma tecnologia ocidental (dai a frase de Lenine transcrita no enunciado da actividade), foi responsável na altura pela recuperação económica da União Soviética. A NEP continuou em vigor até 1928, sendo substituída pelos Planos Quinquenais da responsabilidade da política estalinista. Para completar a sua informação sobre o tema consulte o manual nas pp. 332 a 335. Faça um resumo sobre o evoluir e a consolidação do Estado Soviético e esclareça se a política da economia planificada de Estaline é a continuação da Nova Política Económica (NEP). Os Planos Quinquenais da URSS ou economia planificada, consistiam, essencialmente, na sujeição de toda a produção a um programa elaborado pelos organismos estatais. Deste modo, a livre iniciativa desaparecia para dar lugar à estatização e burocratização da produção económica. Assiste-se à instauração de um poder de Estado concentrado, praticamente absoluto e totalitário. A autoridade e o poder do Estado, assentes na planificação da economia, vai surpreender a opinião pública mundial, habituada após anos e anos de prática de liberalismo económico (p.336). Nenhum país tinha ainda feito semelhante experiência, isto é, de uma direcção autoritária da economia, nem da definição de objectivos a médio prazo.

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60 / 95 Até aí a economia fora sempre empírica e pragmática. Não deixe de consultar o manual nas pp.335 a 339. 6 OS FASCISMOS

6.1 Refira que o fascismo torna-se um elemento essencial do quadro político e sociológico da Europa a partir dos anos 30

O fascismo é a terceira linha de forças do período entre as duas guerras, juntamente com a crise da democracia clássica e a irradiação da experiência soviética. O nome de fascio designa as associações de antigos combatentes e que tomaram o poder em Itália em 1922 (Mussolini). Originalmente um agrupamento, o fascismo acabará por rotular um regime. A partir de 1935 a opção entre fascismo e antifascismo torna-se a principal linha de separação. Para R. Remond impõem-se três questões: 1. Será o fascismo um fenómeno exclusivamente italiano? 2. O fascismo é original ou uma variante de uma forma tradicional? 3. Por que motivos o fascismo triunfou numas regiões e noutras não? As respostas deverão basear-se nas experiências do período entre as duas guerras.

6.2 Caracterize o aspecto ideológico e a dimensão sociológica dos fascismos Entre 1919 e 1939 existem várias variantes do fascismo. Na sua maioria, os fascismos definem-se progressivamente, com excepção do nacional-socialismo que surge completamente constituído. Em 1923 Hitler redigia o Mein Kampf e só ascendeu a chanceler dez anos depois. Os dez anos não alteraram o seu programa. Á partida, este movimento representa um conjunto de aspirações. O fascismo italiano só se define depois de tomar o poder e não antes. É por reacção que os movimentos fascistas se afirmam contra os adversários, as restrições. O fascismo é um combate.

6.3 Identifique as componentes de vária ordem que se unem no fascismo Foi a reacção de um nacionalismo ferido que fez com que o fascismo encontrasse na Alemanha o seu país de eleição. Porém, a Itália, embora fazendo parte dos vencedores, tem o sentimento de ter merecido pouca atenção dos outros aliados. Assim se explica a anomalia que o fascismo italiano constitui. A jovem nação italiana é vítima de um nacionalismo exacerbado – um meio de eleição para a eclosão do fascismo. O nacionalismo é a primeira componente do fascismo. O fascismo reagiu contra a democracia parlamentar e a filosofia liberal e transformaram em argumento a inadaptação das estruturas tradicionais às novas necessidades. A democracia em vez de concorrer todas as energias para um objectivo comum, cultiva as divisões. Daí a aspiração fervorosa dos fascismos à unidade. A unidade é o princípio de todos os movimentos. Os valores da democracia são também opostos ao do fascismo. A democracia dedica-se a preservar os direitos individuais. O fascismo é anti-individualista e exalta valores de grupo, da comunidade nacional. A palavra de ordem do nacional-socialismo é Ein Volk. Tudo o que sustenta a diversidade e o pluralismo é suprimido pelo fascismo (partidos, sindicatos) e em sua substituição sucedem-se organizações unitárias fiéis ao regime e ao partido. É uma religião de grupo, a unidade do povo reunido à volta do chefe. O fascismo também é antiliberal, ao ser contra todas as liberdades que possam enfraquecer a autoridade do poder. Instaura a censura, a vigilância policial e abre os campos de concentração. A democracia apresenta-se como um regime racional. O fascismo é anti-intelectualista. É a vingança do instinto, do culto da força física. Daí a importância atribuída à encenação, às grandes cerimónias, às paradas.

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61 / 95 O fascismo é o adversário da democracia mas não se identifica com o conservadorismo tradicional. À sua maneira, o fascismo emana da democracia pois sem a revolução de 1789 e a transferência de soberania do rei para o povo ele seria inconcebível. O fascismo reclama a soberania nacional. Tanto o fascismo como a democracia consultam o povo: o Fűhrer recebe o poder do povo e é ele o chefe legítimo do povo alemão. Outra divergência é a da proveniência dos chefes: Tanto Hitler como Mussolini eram homens do povo, não pertenciam a qualquer casta. Os dirigentes da contra-revolução eram oriundos sobretudo da aristocracia tradicional.. Passa-se o mesmo com os aderentes ao movimento fascista. São desenraizados, antigos combatentes, desempregados, marginais, aventureiros. Analogias não faltam entre o totalitarismo do comunismo e o do fascismo (parcialidade do Estado, métodos policiais, subordinação ao partido) No entanto, as suas ideologias são diferentes: o marxismo-leninismo afirma a universalidade da luta de classes enquanto que o fascismo quer suprimi-la; o primeiro é universalista mas o fascismo não procura converter o mundo aos seus valores, cultiva antes a diferença e é contra todos os universalismos. O fascismo exalta a grandeza da nação e aspira à hegemonia de uma raça. Deste modo parece ao autor que o fascismo seja um fenómeno original. Embora seja possível encontrar-lhe antecedentes a combinação é nova e distingue radicalmente o fascismo de todas as experiências anteriores.

6.4 Caracterize as variedades nacionais dos movimentos fascistas As variedades dependem do passado do país e da doutrina. Em Itália, o fascismo exalta a grandeza de Roma, a glória do Império Romano. O exemplo alemão é diferente. Aos elementos tradicionais anti-semitas e socializantes, Hitler sobrepõe o racismo. As raças superiores devem preservar a pureza biológica. Na hierarquia a raça ariana. Esta doutrina é uma fé, um dogma que inspira uma política, que dita uma legislação (as leis de Nuremberga) que levará ao extermínio de 6 milhões de judeus. Os movimentos fascistas tiveram sucesso numas regiões e desaires noutras. Primeiro elemento de explicação: tradições intelectuais e políticas antigas. Na Alemanha, o nacional socialismo insere-se numa tradição nacionalista, pangermanista, anti-semita. Em Espanha, o franquismo liga-se ao mito da hispanidade do século do ouro. Segundo factor: a posição dos países saídos da guerra, os derrotados e aqueles em que o sentimento nacional foi rebaixado pelos aliados. O fascismo encontra terreno fértil na Alemanha, na Itália, nos países da Europa danubiana. Terceiro factor: as convulsões sociais que se seguem às crises económicas. Os países que melhor resistiram à crises em virtude da sua economia ser menos vulnerável (França) forma menos afectados pelo fascismo. Quarto factor: A gravidade do perigo comunista. Quanto mais próximo se afigura o perigo – e está mais próximo na Alemanha do que na França - mais violenta é a reacção Quinto factor: O fascismo utiliza as dificuldades da democracia como argumento.

6.5 Mostre em que medida foram os fascismos responsáveis pela eclosão da segunda guerra mundial

O revanchismo está na própria génese do nacional-socialismo. Um dos aspectos da guerra é ser uma tentativa de desforra dos vencidos da véspera. A guerra procede dos fascismos de várias maneiras. Decorre da sua doutrina e das forças que ele desencadeia, dos sentimentos a que apela: exaltando a aventura, predispõe os espíritos a desejarem a guerra Toda a nação está armada. O fascismo italiano e o nacional-socialismo alemão orientam toda a economia para a preparação da guerra. A guerra é uma necessidade doutrinal, passional, sentimental e de política interna. Os fascismos não serão a única causa do conflito mas constituem um risco objectivo de guerra. Faça um comentário explicando a aceitabilidade e a dimensão sociológica dos vários regimes fascistas

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62 / 95 Reveja os conteúdos das actividades referentes ao cap.4. As dificuldades económicas e os conflitos políticos e sociais devidas à 1ª Guerra Mundial e à Grande Depressão levaram a que alguns regimes parlamentares fossem destituídos, casos da Espanha, Portugal, Bulgária, Grécia, Polónia, Itália e depois a Alemanha. No seu lugar surgiram outras formas de governo autoritários e ditatoriais - o fascismo/nazismo. Os países aqui referidos quase todos apresentam um percurso comum até à instauração dos fascismos, a saber:

• crise financeira • quebra acentuada da actividade económica • inflação, anarquia das instituições e impasses parlamentares • enfraquecimento da autoridade do Estado • instabilidade governativa e mudanças sucessivas de governos.

Amplas camadas da população, desiludidos pela situação política e económica a que tinham chegado os seus países, aderem em massa e apoiam regimes baseados em doutrinas que se fundamentam na autoridade, totalitarismo e nacionalismo, pontos essenciais dos partidos fascistas, que em pouco tempo por todos os países já referidos tentam chegar ao poder e pôr em prática estes princípios. Deve aprofundar estes pontos aqui referidos e ler com atenção o manual nas pp.344 a 357. A partir dos textos da p. 126 do CA estabeleça as diferenças ou semelhanças dos vários regimes autoritários bem como as principais influências do fascismo português Para responder a esta actividade é necessário uma leitura atenta das páginas do manual que abordam o assunto, assim como o livro sugerido. No entanto, indicamos-lhe, resumidamente, alguns aspectos sobre os quais a sua resposta deve incidir e que são pontos importantes da doutrina dos vários fascismos, a saber: Totalitarismo - o Estado congrega todos os interesses e toda a lealdade dos seus súbditos. O Estado transcende a vida pública e abarca as mais diversas manifestações da actividade social: a vida familiar, económica, intelectual, religiosa, etc.; Nacionalismo - a nação provém da consciência activa e duradoura da existência de laços de solidariedade unindo antepassados, contemporâneos e vindouros. Unidade étnica; Corporativismo - os interesses individuais e de classe subordinam-se aos interesses do Estado; Autoritarismo - o cidadão não tem direitos mas apenas deveres; Antiparlamentarismo - é preciso não haver nada que ponha entraves ao poder exercido pelo chefe do governo, desligado de qualquer controlo do parlamento; Monopartidarismo - tem de acabar todo o pluralismo social e político, ou seja, unidade e unicidade do poder para unir os cidadãos numa fé comum; Ruralismo - um apoio às gentes do campo, portadoras das tradições ancestrais e históricas e por simbolizarem a reacção contra tudo o que a cidade representava -intelectualismo, urbanidade e sociedade industrial. Nalguns casos como a Itália e a Alemanha; Militarismo - as nações que não se expandissem acabariam por definhar e morrer; Racismo - supremacia étnica era a única que contribuía para o progresso da sociedade; Fanatismo - exaltação das instituições, dogmatismo; rituais e intolerância. 7 AS ORIGENS DO SEGUNDO CONFLITO

7.1 Caracterize as origens da segunda guerra mundial A guerra não resulta de uma causa única, aparece como o resultado de factores cujos efeitos se multiplicam: É a herança dos anos 1919-30, a questão das reparações e a do desarmamento; É a grande crise económica de 1929-30 que leva os países a fecharem-se;

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63 / 95 É a instauração dos regimes autoritários de natureza fascista e vontade da hegemonia; É a inversão das alianças (Itália-Alemanha=Eixo Roma-Berlim); É a conquista da Etiópia pela Itália e a remilitarização da Renânia; É a consumação do Anschluss de Hitler ao desmembrar a Checoslováquia e a Polónia (1939)

7.2 Explique em que medida a nova configuração diplomática da Europa e a herança dos anos 1919/30 são decisivos no agravamento da situação internacional

A configuração diplomática da Europa opõe dois campos: o dos vencedores (amarrados às cláusulas dos tratados) e o dos vencidos (o campo revisionista dos tratados). A questão das reparações marcou a conjuntura até 1928. A partir desse ano as atenções viram-se para a questão do desarmamento. Porém a Alemanha ao retirar-se da conferência do desarmamento e ao votá-la ao seu insucesso vai conduzir ao agravamento da conjuntura internacional em 1933. A grande crise económica de 1929-30 leva a que os países se entrincheirem atrás das suas fronteiras económicas fazendo rarear as relações comerciais. Os nacionalismos económicos reanimam os nacionalismos políticos e militares e conduzem os Estados para formas de economia de guerra.

7.3 Identifique o encadeamento das várias crises que preenchem os anos de 1934-39 Estas crises são o primeiro capítulo de dez anos de crise, sendo o segundo capítulo o da própria guerra e o da queda do Reich. Em 1934, Hitler dirige primeiro os seus esforços para a Áustria, o velho sonho do Anschluss, a reunificação. Nos anos seguintes o nacional-socialismo joga com o princípio do direito dos povos. Apresentando-se como o herdeiro do movimento das nacionalidades, consuma o Anschluss ao desmembrar a Polónia e a Checoslováquia. Em 1935 a frente, constituída pela Inglaterra, França e Itália, desagrega-se. A Itália vira-se para a Alemanha e constituem o Eixo Roma-Berlim. O sistema de forças opõe agora, dois a dois, os quatro grandes da Europa. Itália conquista a Etiópia em 1936. No mesmo ano, Hitler reocupa a margem esquerda do Reno (estava-lhe interdita pelo Tratado de Versalhes). O governo francês entre o agir e o ceder acabou por ceder – é a etapa capital para a guerra e o descalabro da Sociedade das Nações. A partir de então o Eixo divide a Europa em duas e isola o leste do oeste. A Alemanha estabelece o pacto anti-Komintern com o Japão ao qual vão aderir a Itália, a Espanha e a Hungria. O sistema triangular Berlim-Roma-Tóquio partilha o mundo. O capitulo seguinte abre em 1936 com a guerra civil de Espanha, um ensaio da Segunda Guerra Mundial onde se esboçam os traços da guerra total. Em 1938, a Áustria é anexada à Alemanha com a cumplicidade da Itália. No mesmo ano, o destino da Checoslováquia é decidido na conferência de Munique. A Checoslováquia é desmantelada e os alemães dos Sudetas são integrados no Reich. Em 1939 é assinado, em segredo, o Pacto Germano-Soviético entre Estaline e Hitler. O acordo prevê que a URSS cobre parte da Polónia dividida. Em 1 de Setembro desse ano, a Alemanha invade a Polónia e começa a guerra.

7.4 Refira os principais acontecimentos ocorridos durante a guerra de Espanha e que levaram ao triunfo dos nacionalistas

Em 1936 a Frente Popular ganhou as eleições(a Espanha era uma república desde 1931). Em resposta os conservadores formaram a Frente Nacional e apoiados pelo exército e liderados por Franco deram início à guerra civil. As forças nazis de Hitler e as fascistas de Mussolini apoiaram a Frente Nacionalista. As brigadas internacionais e a URSS procuraram apoiar a Frente Popular. A guerra de Espanha foi um ensaio da Segunda Guerra Mundial: bombardeamento das cidades abertas, destruição de Guernica, ataques de terror sobre a população civil: esboçam-se os traços da guerra total. A guerra chega ao fim em 1939 com o triunfo dos nacionalistas.

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64 / 95 7.5 Analise os factores que estiveram na base da convocação da conferência de

Munique Com o triunfo dos nacionalistas espanhóis a França fica cercada pela Espanha franquista, pela Itália e pela Alemanha. Encara agora a possibilidade de um conflito em três fronteiras (Reno, Alpes e Pirinéus). Depois da anexação da Áustria por Hitler, é vez da Checoslováquia (ocupava uma posição estratégica capital). Três milhões de alemães (nas montanhas dos Sudetas) faziam parte da população. Hitler usa mais uma vez o método da desagregação interna (servindo-se dos alemães dos Sudetas) e externamente vai isolá-la dos seus aliados. A opinião pública está dividida entre o desejo de Hitler de regresso dos seus irmãos de raça e a hegemonia hitleriana. Procura-se uma solução de compromisso através de concessões da Checoslováquia à Alemanha. Mas, as reivindicações de Hitler aumentam. Mussolini intromete-se e propõe uma conferência a quatro (Alemanha, Itália, França e Grã-Bretanha) – a Conferência de Munique (1938). É praticamente concedido tudo exigido por Hitler. Exponha em que medida a conferência de Munique foi um fracasso A Alemanha aceitou parar as anexações após a ocupação da região dos Sudetas. A Checoslováquia é desmantelada, os alemães dos Sudetas são integrados no Reich. Para uma parte da opinião pública, a conferência de Munique assegura a paz, para outros a guerra é já uma certeza. Em 1939, Hitler desrespeita os seus compromissos e invade a Checoslováquia. A partir do texto da p. 128 do CA analise as razões evocadas pela Alemanha para a recuperação do que entendiam ser os seus dirigentes o seu espaço vital. 0 seu comentário deve incidir sobre alguns dos aspectos que passaremos a referir. Espartilhada dentro dos limites territoriais impostos pelo Tratado de Versalhes, a Alemanha viveu como que em crise permanente de identidade. Na ânsia de encontrar alternativas para a crise, a "solução” foi o regime autoritário e ditatorial de Hitler, apoiado pelos grandes banqueiros e industriais. Hitler começa então a falar da grande Alemanha que urge reconquistar. Lança-se numa onda de expansionismo militar orientada para a ocupação de territórios que considerava pertença do espaço alemão. Na sequência de uma política militarista (1935) e de um claro desrespeito do Tratado de Versalhes, em Março de 1936 ocupa a Renânia, em 1938 é a vez da Áustria, anexa as províncias dos Sudetas, da Boémia e da Morávia Estas ocupações confrontam o que Hitler delineara em 1936: "Estamos superpovoados e não podemos subsistir dentro do nosso território. A solução definitiva reside num alargamento do nosso espaço vital, fonte de matérias-primas e de subsistência do nosso povo. 8 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

8.1 Enumere as principais características que marcaram a segunda guerra mundial São elas: extensão no espaço, a longa duração (quase 6 anos) e intensidade crescente que fizeram desta guerra ainda mais total que a precedente.

8.2 Refira a amplitude e extensão geográfica do segundo conflito mundial O nº de países de fica à margem do conflito é mais reduzido do que na 1ª Guerra Mundial. Inicialmente é por iniciativa da Alemanha que a guerra alastra (1940: invasão da Dinamarca, Noruega, Bélgica, Holanda e Luxemburgo). A Itália passa também à guerra e ataca a Grécia. Itália e Alemanha (o Eixo ) invadem a Jugoslávia e a Grécia em 1941. É sempre por iniciativa do Eixo que a guerra alastra a novos sectores. As alianças invertem-se e, nesse ano, abrem-se as hostilidades contra a URSS. Depois é a abertura da guerra noutra frente por parte do Japão (ataca os EUA – Pearl Harbour; ataca possessões da Grã-Bretanha e da Holanda no Sueste asiático; ataca a Manchúria e a China). 1942 marca o auge do conflito: ameaça japonesa à Índia e Austrália; as tropas do Eixo estão no norte de África, os combates continuam na Europa. Une-se depois ao conflito europeu contra as democracias ocidentais e

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65 / 95 a URSS. Todos os continentes estão envolvidos na guerra e as operações desenrolam-se no Pacífico e no Atlântico, em simultâneo. Em 1943 inicia-se a derrocada do Eixo e em 1944-45 verifica-se o contra-ataque aliado: o desembarque na Normandia (Dia “D”). A Alemanha capitula Maio de 1945. Prossegue a guerra no Pacífico. Em Agosto são lançadas as bombas atómicas em Nagasáki e Hiroxima e o Japão capitula em Setembro desse ano. Termina a guerra.

8.3 Explique que a sua duração pelos meios e vicissitudes dos beligerantes é maior que o conflito precedente

A duração da guerra decorre da sua extensão geográfica. O conflito durará mais de 68 meses, quase seis anos. A Primeira Guerra durou 52 meses.

8.4 Demonstre que pelos recursos mobilizados pelos beligerantes a intensidade da guerra foi ao mesmo tempo o seu efeito e a sua causa

Todos os recursos dos beligerantes são mobilizados. A Alemanha ocupa a Europa quase toda. No campo adversário, os EUA tornam-se o arsenal das democracias e imprimem à segunda parte do conflito a característica que se tornará dominante, a de uma guerra industrial. Pela primeira vez são realizadas operações aeronavais. A desmoralização também ocupa um lugar importante. Os beligerantes procuram atingir o poderio industrial do inimigo desferindo golpes na sua economia e no moral das populações. A Alemanha tinha aberto essa via com o bombardeamento contra cidades abertas. A guerra usa a propaganda e a acção sobre a opinião pública. É o primeiro conflito no qual a rádio é chamada a desempenhar um papel. A luta desenrola-se na Europa, na Ásia, em todos os mares, em África. O auge do conflito é 1942. A partir dos mapas da p. 131 s do CA faça um balanço sobre a extensão geográfica do conflito mundial de 1939-45 Os mapas e o texto dão uma ideia sobre o alcance e extensão da Segunda Guerra Mundial. Desde a invasão da Polónia em Setembro de 1939 pelos alemães, praticamente todas as potências europeias estão envolvidas no conflito. Nos finais de 1941, o Japão ameaça todos os interesses ocidentais no Extremo-Oriente e ataca a armada americana em Pearl Harbour, no Hawai. Em finais de Dezembro de 1941, um bloco de 26 nações - Os Aliados -, confrontam-se com as potências do Eixo Berlim-Roma-Tóquio. Praticamente todo o planeta está envolvido neste conflito: é a Guerra Total. Elabore um comentário sobre se a liberdade, a justiça, a tolerância, o progresso, o bem estar das sociedades, justificavam o esforço de uma geração e que se traduziu na barbárie da 2ª grande guerra O tratamento desta questão deve ser fundamentado através de uma opinião pessoal. Deste modo, as sugestões serão escassas. No entanto, não deixaremos de alertar para situações como foram os casos da violência anti-semita, as medidas repressivas por parte dos alemães nos territórios ocupados - aldeias inteiras foram riscadas do mapa por represálias para desencorajar a resistência ao invasor/ocupante. Cerca de 60 milhões de pessoas sucumbiram pela fome, pelo terror, pela violência e pela metralha. Cidades inteiras sofreram o poder destruidor das armas que o homem criou para o extermínio, sobretudo a arma atómica. Sangue, suor e lágrimas foram as vivências da maioria das populações durante o conflito. Não foram apenas os soldados os protagonistas. Mulheres, velhos e crianças souberam desempenhar importantes e decisivas missões em defesa da sua Pátria e sobretudo da sua liberdade. Veja ou leia algumas das sugestões apresentadas e elabore o seu comentário sobre o assunto.

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66 / 95 9 AS CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA

9.1 Refira quais as consequências negativas decorrentes do segundo conflito mundial 1º Crise demográfica, com a perda de 60 milhões de pessoas, a maioria mão-de-obra activa. A crise não é homogénea, o Leste foi mais sacrificado que o Ocidente (a URSS foi a mais afectada). O nazismo deixou uma marca sanguinolenta com a morte de 6 milhões de judeus. 2º Crise económica, com a afectação de todos os países participantes devido ao facto de se ter tratado de uma guerra de movimento. As cidades precisavam de ser reconstruídas. O sistema de transportes e a indústria ficaram seriamente afectados, provocando uma queda da produção industrial. Os países recorreram a empréstimos e os orçamentos nacionais ficaram debilitados. A inflação subiu e as moedas desvalorizaram 3º Crise de valores, com o desalento provocado pelas destruições, pelos crimes do holocausto nazi, pelo elevado número de mortos. Junta-se o grande número de traumatizados de guerra psicologicamente instáveis. Parte das elites sociais, políticas, administrativas e militares encontra-se marginalizada porque se comprometeu com o ocupante. A outra parte foi destruída pela guerra.

9.2 Explique quais foram as transformações territoriais delineadas nos acordos de Ialta Realizada em Fevereiro de 1945 entre os três grandes do bloco aliado no período terminal da guerra. Decidiu-se o desmembramento e ocupação da Alemanha em quatro zonas (americana, inglesa, francesa e soviética); a fixação das fronteiras da Polónia, a divisão da Coreia em duas zonas de influência (EUA e URSS).

9.3 Demonstre em que medida a Conferência de Potsdam consagrou a ocupação comum e total da Alemanha

Na Conferência de Potsdam, realizada em Julho e Agosto de 1945 após a capitulação da Alemanha, para além da ratificação das decisões tomadas em Ialta (entre elas, o desmembramento da Alemanha em quatro zonas (americana, inglesa, francesa e soviética), definiu-se um estatuto especial para Berlim (encravada na zona de influência soviética), e também ela dividida em quatro zonas. Danzig passou para a Polónia e a Prússia Oriental foi dividida entre a URSS e a Polónia. A soberania alemã é transferida para os aliados.

9.4 Analise em que sentido a vitória dos aliados é não só uma vitória dos estados democráticos, mas também da democracia enquanto ideia e instituição

Em 1918 vira-se a derrocada dos grandes impérios e as dinastias colapsam (Alemanha, Áustria-Hungria, Rússia e Império Otomano). O fenómeno repete-se em 1945 com outras dinastias. Vários monarcas pagam com a perda do trono o seu enfeudamento à Alemanha nazi. Só um pequeno número de Estados, subsistem na Europa como monarquias. A forma monárquica, a mais difundida em 1914, torna-se excepção em 1945. É neste ano que acabam por desaparecer as monarquias autoritárias do séc. XVIII. É a derrota definitiva do antigo regime político e a vitória da democracia que triunfa também sobre o fascismo (Espanha e Portugal são a excepção, já que os dois regimes susbsistirão até à morte dos respectivos fundadores).

9.5 Identifique as principais forças políticas que desenham a fisionomia dos novos regimes saídos da guerra

O sistema das forças políticas exprime um crescimento da esquerda; as direitas tradicionais estão desacreditadas e desorganizadas. Três forças se salientam, as mesmas na maior parte dos países: o socialismo democrático da II Internacional; o comunismo, aliada da URSS; a democracia cristã. De uma maneira geral, estas forças mostram-se insuficientes para

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67 / 95 constituírem por si mesmas, uma maioria, um governo. Deste modo vão governar de forma concertada (França=tripartismo). O socialismo que triunfa é um socialismo difuso. Na época, toda a gente se reclama do socialismo: essencialmente, a esperança de conciliar a liberdade e a justiça. Só governará sozinho na Grã-Bretanha, através do Partido Trabalhista. Nos outros países participa em coligação. O comunismo angariou muitas simpatias pela sua participação na luta contra o ocupante. A URSS, pela sua resistência goza de um prestígio que se projecta nos diferentes partidos comunistas. Aos olhos da opinião pública conjugou-se a ideia nacional e o comunismo, a ideia do sentimento patriótico e o partido comunista. Na medida em que se nacionalizou, o comunismo tornou-se uma grande força política na maior parte dos países europeus. A democracia cristã fez boa figura na resistência aos regimes autoritários, fez frente ao fascismo italiano e ao nacional-socialismo. Vai receber os leitores desamparados que escolherão à falta de melhor os candidatos da democracia cristã. Esta força é um dado novo do sistema de forças políticas e é também uma componente essencial da nova Europa política.

9.6 Explique que a coligação destas forças políticas opera profundas transformações que afectam simultaneamente as instituições políticas, as estruturas económicas, as relações sociais e a organização do trabalho

Transformações políticas: Elaboração de novas constituições de inspiração mais democrática; inovações no regime eleitoral (a regra é a representação proporcional e o direito de voto alargado às mulheres, em França); nas relações entre os poderes verifica-se o triunfo do regime parlamentar (assembleia soberana), reflexo da opinião pública, detendo todos os poderes e mantendo os governos na sua dependência.; a tendência é para um reduzido número de partidos, segundo o modelo dos partidos operários. Transformações económicas: É a reforma das estruturas com a nacionalização de certos sectores industriais. As nacionalizações obedecem a preocupações de ordem ideológica (Valorização da propriedade colectiva), de ordem moral (sancionar empresas que colaboraram com o inimigo) e de ordem pragmática (a unificação de empresas é a melhor solução para realizar as reformas indispensáveis). São nacionalizados os sectores de base, as fontes de energia, o gás , os transportes, os estabelecimentos bancários e as companhias de seguros). Transformações sociais: são adoptadas importantes reformas que visam corresponder ao desejo da opinião pública. As reformas sociais procuram por em prática um plano de protecção e de cobertura dos riscos sociais tão completo quanto possível: adopção da segurança social, a generalização do abono de família, etc. Isto vai ao encontro de um dos objectivos enunciados na Carta Atlântica (Agosto, 1941): libertar a humanidade do medo, da fome, da miséria.

9.7 Relacione em que medida a Carta Atlântica de 1941 pode ser considerada como preparatória da Conferência de S. Francisco e da adopção da Carta das Nações Unidas

A Sociedade das Nações (1919-20) nascera da ideia de alargar a democracia às relações internacionais. A Carta Atlântica de 1941 pode ser equivalente ao conteúdo da declaração wilsoniana. Na Carta Atlântica, Roosevelt proclamou as quatro liberdades fundamentais: a liberdade de pensamento e de palavra, de crença, libertação da miséria e do medo. Em 1942, no Pacto de Washington, os aliados envolvidos comprometeram-se a não subscrever qualquer armistício em separado. Os mesmos princípios foram retomados na Carta do Atlântico Norte. Os governos procuram retirar ensinamentos do malogro da Sociedade das Nações. Uma das razões imputadas era a igualdade fictícia ente grandes e pequenos.

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68 / 95 Quando se adopta a Carta das Nações Unidas, em 1945, estabelece-se a distinção entre os cinco grandes e os outros. A capacidade de resistência, a sua acção e em muitas situações a sabotagem por parte da população civil foi um dado importante e valioso no alcance da vitória por parte dos aliados. Tendo em conta estes aspectos, faça um comentário destacando o papel das resistências no desmoronamento dos regimes autoritários e a sua contribuição para a constituição de novas forças políticas no espaço europeu Nos países que foram ocupados, a capacidade de resistência das populações foi um elemento importante. Organizando-se por vezes em luta armada contra o ocupante, ou prestando apoio a elementos da espionagem aliada. A sua acção de oposição, informação e sabotagem foi um aspecto valiosíssimo na preparação da vitória das tropas dos países aliados. Terminada a guerra, a resistência desempenhou um papel relevante no assegurar da ordem e da paz e contribuiu para a democratização dos regimes, das instituições da vida política e das relações sociais nos países onde se tinha constituído como força importante na luta armada contra as tropas invasoras. Aprofunde estes aspectos lendo o manual nas pp.378 a 380 e verificará como o papel das resistências foi um factor preponderante na democratização e preparação do futuro político nos vários países europeus participantes na guerra. Para evitar um fracasso semelhante ao da Sociedade das Nações, a fundação da ONU tinha como objectivo fundamental manter a paz mundial promovendo a solução pacífica dos diferendos. Interprete o significado destas palavras sobre o papel que a ONU tem desempenhado, desde a sua fundação até aos nossos dias. Descendente directa da Carta do Atlântico, a ONU é criada com o fim de precaver e evitar a ocorrência de novos conflitos e desastres como o da Segunda Guerra Mundial. O segundo passo remonta ao pacto de Washington (1942), no qual delegados de 26 países assinaram a Declaração das Nações Unidas. Outras conferências se seguiram durante e após o conflito mundial, mas em 26 de Junho de 1945, em S. Francisco, delegados de 50 países assinaram a cana das Nações Unidas e entrou em vigor em 24 de Outubro de 1945. Assim nasceu a ONU, cujos principais objectivos são a manutenção e consolidação da paz mundial, a resolução de conflitos pela via do diálogo, o desenvolvimento económico e social, assim como a cooperação entre os povos. A sua organização compõe-se dos seguintes elementos:

-Assembleia Geral -Conselho de Segurança -Secretariado -Tribunal Internacional de Justiça -Conselho de Tutela -Conselho Económico e Social.

Apesar da eclosão de numerosos conflitos internos e regionais entre os seus países membros, por vezes de difícil resolução, apesar disso, o papel da Organização permitiu que os conflitos se mantivessem limitados e localizados de modo a que nenhum deles degenerasse em conflito à escala mundial. Mesmo em situações de quase ruptura total entre países e blocos, a ONU como fórum de encontro internacional tem incentivado o diálogo e estancado as situações.

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69 / 95 10 A GUERRA FRIA

10.1 Reconheça de que forma a guerra fria teve a sua origem, fundamentalmente, num desacordo doutrinal entre os aliados que combateram a Alemanha

A guerra fria iniciou-se em 1947, com a expansão soviética e a militarização do Leste Europeu, que Churchill chamou a «cortina de ferro». A questão alemã agudizou as tensões entre as duas superpotências a partir desse ano, quando foi criado um estado alemão ocidental a partir da fusão das partes francesa, inglesa e americana. Na verdade, os EUA e a Inglaterra queriam que o mundo permanecesse como em 1939, mas com a redistribuição das áreas coloniais das potências do Eixo a internacionalização do Ruhr, a URSS fez questão de querer entrar na exploração desta zona e reivindicou igualmente os acessos aos mares Báltico, Mediterrâneo, Índico e Pacífico. O bloqueio a Berlim pela URSS e a resposta americana, terminou com a criação da RFA e a RDA. A URSS temia um avanço sobre o seu território do poder capitalista. As economias ocidentais temiam a influência do socialismo. A guerra fria foi marcada por uma corrida aos armamentos dos dois blocos e as duas superpotências reagiram com medidas de reforço interno.

10.2 Distinga quais as duas noções diferentes de democracia, tanto para o ocidente como para o leste

Um e outro pretendem-se democráticos, mas referem-se a duas noções diferentes de democracia. Para o Ocidente, a democracia é a plena expressão das liberdades individuais herdadas dos regimes liberais, implica o pluralismo doas opiniões políticas e das formações organizadas. Para o Leste, a democracia, porque põe a tónica na justiça a instaurar e na igualdade a promover, acarrreta a suspensão da liberdades individuais: em vez de tolerar o pluralismo, identifica-se com o monopólio de um partido que exerce uma ditadura absoluta.

10.3 Caracterize a doutrina de Truman bem como o Plano Marshall O ano de 1947 assinala a ruptura definitiva entre os aliados da véspera. O governo dos EUA vai renunciar ao isolamento ao tomar consciência do seu poderio e das responsabilidades daí decorrentes. O presidente Truman, que teve um papel decisivo na guerra fria vai substituir a Grã-Bretanha na Grécia e na Turquia, devido a toda a espécie de dificuldades económicas que os trabalhistas estavam a ter, e porque a Grécia e Turquia pareciam estar ameaçadas pelas pretensões soviéticas. Assim, os EUA vão fazer correr um ferrolho diante destes dois países criando um obstáculo à penetração soviética. A doutrina Truman que consistia na ajuda aos países devastados pelo conflito bélico, foi secundado pelo Plano Marshall que visava sustentar e reforçar os princípios da liberdade individual e a verdadeira independência da Europa, prestando auxilio aos países que participassem no programa comum de reconstrução. O auxilio técnico, financeiro e económico à Europa, por parte dos Estados Unidos, teve como consequências, por um lado, a constituição de um bloco ocidental ou capitalista, liderado pela estratégia americana, pôr outro lado, a constituição de um bloco de leste ou comunista, liderado pelos soviéticos, apoiados na denominada doutrina Jdanov. Em 1947, constituem-se definitivamente os dois blocos antagónicos, desfazendo-se assim a aliança que os tinha mantido na luta contra o nazismo. Desde 1947 até à queda do Muro de Berlim, a rivalidade e o estado de tensão político/militar pautaram as relações entre os dois blocos.

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70 / 95 10.4 Analise as razões fundamentais do alastramento da guerra fria para fora da

Europa A guerra fria, pela sua própria natureza, tolera mal a neutralidade. Nenhum dos dois blocos aceita de bom grado que terceiros fiquem de fora. Um e outro esforçam-se por arregimentar o maior número de parceiros possível. É o momento da pactomia dos EUA, a edificação de pacto sobre pacto (pacto do Atlântico, o ANZUS, o OTASE ou ainda o CENTO. É a estratégia do cordão sanitário de 1919 retomada numa outra escala, cercando além da URSS, as democracias populares e a China comunista. Os EUA envolveram-se em todas as frentes em que a URSS interveio: no conflito israelo-árabe, na guerra do Vietname contra os vietnamitas do norte, desencadeando um movimento anticomunista a nível mundial.

10.5 Explique os princípios da denominada «coexistência pacífica» 1953 assinala o desaparecimento de Estaline (um dos responsáveis pela guerra fria), a paz na Coreia e o fim da guerra da Indochina. O mundo parece entrar então numa fase de desanuviamento. Estabelece-se um novo modo de relacionamento entre a URSS (Khuchtchev) e os EUA (Eisenhower), no sentido da détente e da cooperação. É a denominada «coexistência pacífica»: os dois gigantes resignam-se a viver um com o outro. Aliviaram-se as tensões e os conflitos da guerra fria e a tensão de pré-conflito nuclear. Persistiriam apenas conflitos localizados dos quais o mais grave terá sido a crise dos mísseis de Cuba. A situação evoluiu notavelmente desde os tempos em que Truman correra um ferrolho diante da expansão soviética ou em que Estaline tentava, através do bloqueio de Berlim, fazer com que os EUA cedessem na Europa. Decidiu-se que o bloco capitalista não interferiria no bloco socialista e vice-versa. Face ao antagonismo ideológico, à competição pela hegemonia e à devastação do continente europeu, disserte sobre as consequências da Doutrina Truman e o consequente Plano Marshall. O desenvolvimento e resolução desta actividade deve incidir sobre os aspectos referentes à reconstrução económica da Europa. A devastação na sequência da guerra era total e impunha-se reconstruir todas as estruturas dos países afectados pelo conflito. Só os Estados Unidos estavam em condições para o fazer, isto é, de prestar auxilio económico e financeiro aos europeus. A doutrina Truman que consistia na ajuda aos países devastados pelo conflito bélico, foi secundado pelo Plano Marshall que visava sustentar e reforçar os princípios da liberdade individual e a verdadeira independência da Europa, prestando auxilio aos países que participassem no programa comum de reconstrução. O auxilio técnico, financeiro e económico à Europa, por parte dos Estados Unidos, teve como consequências, por um lado, a constituição de um bloco ocidental ou capitalista, liderado pela estratégia americana, pôr outro lado, a constituição de um bloco de leste ou comunista, liderado pelos soviéticos, apoiados na denominada doutrina Jdanov. Em 1947, constituem-se definitivamente os dois blocos antagónicos, desfazendo-se assim a aliança que os tinha mantido na luta contra o nazismo. Desde 1947 até à queda do Muro de Berlim, a rivalidade e o estado de tensão político/militar pautaram as relações entre os dois blocos. Com base nos mapas (p.140ss CA) faça uma análise sobre os choques político-militares e as áreas geográficas de influência, dos dois grandes blocos do pós-guerra O antagonismo político, económico e militar e o clima de guerra fria entre os dois blocos gerou o que se denominou por equilíbrio pelo terror. Cada bloco procurou alargar a sua área de influência. E neste contexto que têm lugar as várias crises, nos mais diversos lugares e que marcaram as relações entre os dois blocos, liderados pelas duas superpotências. Como poderá ver nos mapas do caderno de apoio, o primeiro foco de tensão surge com o bloqueio de Berlim em 1948, segue-se a guerra da Coreia (1950/53), invasão da Hungria

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71 / 95 (1956), construção do muro de Berlim (1961), crise dos mísseis em Cuba (1962), guerra do Vietname (1963/75), invasão da Checoslováquia (1968), guerra do Yon-Kippur (1973), guerra de Angola e de Moçambique (1975/...!) e guerra do Afeganistão. Nestes conflitos, apesar de terem um carácter regional, neles estiveram directa ou indirectamente envolvidas as duas superpotências. Contudo, não obstante estes confrontos, desenvolveu-se, desde os finais da década de 50 uma política de diálogo, no sentido de não ingerência nos assuntos internos dos países pertencentes às suas áreas de influência. Foram tentativas no sentido de chegar a denominada Coexistência Pacífica, consignada na Conferência de Helsínquia. Simultaneamente, tinham lugar cimeiras entre as superpotências, com o intuito de reduzir os arsenais nucleares que culminaram nos tratados SALT I e SALT II, e conduziram ao ciclo permanente de conferências entre os governantes máximos das duas superpotências a partir de 1985. 11 O MUNDO COMUNISTA A PARTIR DE 1945

11.1 Caracterize os elementos fundamentais de unidade de todos os países que aderiram à comunidade dos povos comunistas

O mundo comunista é um universo diferente do resto do mundo e tem uma unidade própria. O comunismo é um factor ambíguo que desencadeia duas ordens de consequências: divisão e unificação. Como factor de reagrupamento, associa povos muito diferentes e sobrepõe á sua divisão uma política comum sendo o marxismo-leninismo o cimento desta associação. Todos estes países estão empenhados na construção de uma ordem que pretende romper radicalmente com o passado. Em conjunto, ambicionam propagar além-fronteiras a doutrina que os une e estendê-la ao mundo inteiro. Estas três características definem a originalidade deste agrupamento. O marxismo-leninismo é a doutrina; a revolução transformou a teoria em prática; o Komintern através da III Internacional Socialista promoveu a revolução comunista a nível mundial. A URSS é reconhecida como o exemplo a seguir.

11.2 Identifique as etapas da formação do mundo comunista 1ª Etapa: Começa com a revolução de Outubro de 1917, que dá origem, em 1922, à URSS, uma república não parlamentar, um estado federado. A designação tem, no espírito dos seus fundadores, vocação para agregar em qualquer pare do mundo todos os povos que optem por segui-la no caminho da construção de uma sociedade socialista. Lenine detém o poder. Nesta altura a URSS ficou isolada e marginalizada pela Europa. Quando Lenine morre, Estaline assume o poder e o seu objectivo é fazer da URSS uma grande potência e edificar o socialismo num só país, embora não renunciando ao alargamento da sua experiência por intermédio dos partidos comunistas de outros países. Aos poucos sai do seu isolamento.. Em 1934 é admitida na Sociedade das Nações. A ambição pela intervenção externa leva-a a assinar o pacto germano-soviético com Hitler em 1939. Em 1941, com o ataque de Hitler, A URSS integra os aliados até à derrota do Reich. 2ª Etapa: O fim da guerra leva à transformação de oito estados em democracias populares (Polónia, Roménia, Bulgária, Hungria, Checoslováquia, Jugoslávia, Albânia e RDA). Estes países satélites da URSS aderem à ideologia e seguem o modelo soviético estabelecendo com ele laços de subordinação. O governo soviético integra-os num sistema unificado em termos políticos e económicos (COMECON) e militares (Pacto de Varsóvia). Esta segunda etapa do alargamento do bloco comunista deve tudo à acção da União Soviética. 3ª Etapa: Nesta etapa Moscovo pouco participa. Trata-se da instauração do comunismo na China, cuja origem é quase tão antiga como a da URSS, mas que levou cerca de trinta anos a instaurar (para Moscovo bastou um golpe), em 1949. Há desde então um segundo bloco

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72 / 95 levando a que se constitua um vasto conjunto asiático que apresenta em relação à URSS diferenças consideráveis. Uma destas diferenças prende-se com o facto de o comunismo chinês ser um comunismo de camponeses enquanto que a Revolução de Outubro fora feita pelos operários. 4ª Etapa: Prende-se com a revolução cubana, liderada por Fidel Castro, em 1959, contra um regime opressivo. Esta revolução tem mais a ver com as insurreições liberais do séc. XIX do que com a revolução soviética. Repelido pelos EUA que apoiam os contra-revolucionários, Castro encontra assistência na URSS e integra-se no bloco comunista. A revolução cubana inspira os revolucionários da América central e meridional (Bolívia, Colômbia, Peru, Nicarágua, Salvador). 5ª Etapa: Nos anos 70, aproveitando-se do apagamento momentâneo dos EUA que recuam após o fracasso do Vietname, Brejnev desencadeia uma acção no mundo inteiro com o apoio de Cuba, e pratica uma intervenção activa em alguns países africanos. Esta acção suspende- se com a invasão do Afeganistão em 1979 (em 1985 acabam por retirar as tropas). Nota final: Assim se constituiu um bloco imenso repartido por quatro continentes (A URSS; as oito democracias populares do Leste; seis países asiáticos; Cuba e vários países africanos.

11.3 Analise os factores que contribuíram para que o mundo comunista estivesse longe de ser um conjunto harmonioso

No seu interior conheceu tensões dramáticas, chegando às confrontações e á intervenção armada. O PCUS, depois de 1956, nunca conseguiu reconstituir a homogeneidade do bloco que Estaline impusera. A parte da Europa submetida desde 1945 ao domínio soviético foi periodicamente abalada por revoltas (Alemanha Oriental, Hungria, Polónia), consequências da desestanilização com a não aceitação da servidão a Moscovo nem o alinhamento ideológico. Em 1968 foi a vez da Checoslováquia. Temendo o contágio, Brejnev levou a cabo uma «normalização», pondo fim à Primavera de Praga, implementando assim a sua doutrina, legitimando a ingerência nos assuntos internos de um país satélite. Estes acontecimentos demonstravam que o comunismo não conseguira a adesão das populações, já que a abolição da propriedade capitalista não fizera desaparecer todos os vestígios anteriores (desigualdades). A oposição irredutível da sociedade civil ao comunismo sucedeu na Polónia (greve dos estaleiros navais de Gdansk, 1988)que arrancou ao poder concessões inéditas num regime comunista, através do reconhecimento de um sindicato independente. As evoluções ulteriores foram precipitadas e tornadas possíveis pelas mudanças na direcção da URSS.

11.4 Descreva os resultados políticos ocasionados pela apresentação do relatório de Nikita Khruchtchev ao XX Congresso PCUS em 1956

Desde a morte de Estaline (1953) que a história da URSS desenhava uma linha quebrada. Sucedeu-lhe Nikita Kruchtchev, que denunciou no Relatório do Congresso (1956) os erros da política brutal estalinista. Inaugura uma tentativa de liberalização. O movimento não tardou a findar sem êxito. De resto, apenas dizia respeito à direcção da economia, não comportando qualquer mudança no plano ideológico. Afastado do poder, sucedeu-lhe Brejnev em 1964 e triunfou o imobilismo, salvo em matéria de política externa em que a URSS praticou uma política ofensiva (penetração em África e invasão do Afeganistão. O acesso à direcção suprema da URSS, em 1985, por Gorbatchev, abriu um novo capítulo na história interna e dos povos cujo destina dela dependiam. Faça um comentário sobre o sistema político da União Soviética desde os tempos da consolidação do estado estalinista até à Primavera do Leste em 1989/90, não esquecendo todas as etapas da constituição do bloco comunista. O seu comentário deverá fazer referência a alguns dos seguintes aspectos:

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73 / 95 O estado soviético sob a direcção política de Estaline mobilizou todas as suas forças na tentativa da recuperação económica e no enquadramento e fortalecimento da sociedade socialista. Até às recentes reformas políticas e, mais concretamente, ao seu desmembramento, o Estado soviético era concebido como uma organização federal de repúblicas socialistas com tendências centralizadoras. O funcionamento do Estado decorria da existência de sovietes e o poder estabelecia-se através de uma cadeia hierárquica muito rígida que, em última instância, conduziam ao Soviete Supremo, ao Praesidium e ao Conselho de Ministros. O regime era fortemente centralizado e o Partido Comunista da União Soviética (PCUS), era o traço de união entre todos os órgãos de poder. Para se ocupar um cargo político era necessário ser-se membro do partido. A Constituição soviética reconhecia o papel dirigente do Partido Comunista, cuja organização reflecte o princípio do centralismo democrático. Este foi o modelo exportado para as chamadas democracias populares do Leste europeu. Embora com algumas dissidências pelo meio, o modelo manteve-se até à queda do muro de Berlim. 1948 - a Jugoslávia afasta-se de Moscovo; 1968 a chamada Primavera de Praga; 1980 - criação do Sindicato Solidariedade na Polónia; 1985 - Gorbatchev inicia reformas na URSS que se estendem aos países satélites; 1989 - (Janeiro) pressionados pelas manifestações populares os governos comunistas cedem lugar a regimes pluripartidários; 1989 - (Novembro) queda do muro de Berlim; 1990 - (Outubro) unificação da Alemanha. A Perestroika significou uma tentativa de ultrapassar o processo de estagnação. Foi também uma tentativa de democratização, de encorajamento da iniciativa e da criatividade, uma crítica e uma autocrítica em todas as esferas da sociedade soviética. Leia Perestroika de Gorbatchev e comprove. Nesta actividade apresentamos em forma de itens, alguns pontos muito resumidos da situação na União Soviética em 1984/5, e que o ajudarão a contextualizar a obra de Mikhail Gorbatchev, a saber: a sociedade soviética debatia-se com graves problemas económicos e de atraso tecnológico em relação ao Ocidente; escassez de produtos agrícolas e bens de consumo; excessivo peso da centralização a da burocratização no sistema económico e político; fuga de quadros e agravamento dos fenómenos de dissidência e de oposição ao regime. O principal objectivo da política de Gorbatchev era reformar a sociedade soviética e reformular a sua política com o exterior. Em suma, esta foi a sua Perestroika. 12 DESCOLONIZAÇÃO

12.1 Caracterize o alcance histórico do acesso das colónias à independência A descolonização alterou profundamente o estado das relações entre os continentes, a vida das antigas colónias e a das metrópoles. É necessário situar o fenómeno nas vésperas da Primeira Guerra Mundial. Nesta altura, o mundo era quase inteiramente dominado pela Europa. Durante a Segunda Guerra não houve qualquer movimento que abalasse a coesão dos impérios e a fidelidade das colónias às metrópoles. Depois de 1945 a situação transforma-se radicalmente. É uma das mais rápidas viragens da História . Para edificar os grandes impérios colónias tinham sido necessários quatro ou cinco séculos, mas bastarão duas décadas para os desmembrar. Não é do fim da guerra que data a reivindicação da independência, porque antes dela já existiam fenómenos percursores: colónias britânicas da América do Norte; colónias ibéricas da América Latina. Mas entre estes e as lutas pela descolonização nos anos 1945-60 existem diferenças. Nos casos das Américas do Norte e do Sul, quem combate são os descendentes das metrópoles. O verdadeiro nome é secessão e

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74 / 95 não descolonização. Os movimentos de verdadeira emancipação são desencadeados por populações autóctones. A descolonização traz consigo a reafirmação das origens e a contestação da universalidade da civilização europeia.

12.2 Analise quais as origens do movimento de emancipação das colónias O fenómeno procede da colonização por um laço de filiação. É nos contactos com os colonizadores que os povos tomam consciência da sua identidade e foi da Europa que retiraram a inspiração para os seus movimentos e o modelo a imitar. Tal como os nacionalismos europeus, os coloniais convergem na aspiração comum de se tornarem donos do próprio destino. Por um lado as principais potência colonizadoras haviam saído enfraquecidas do conflito e incapazes de se oporem a movimentos locais. No Oriente, o Japão demonstrara a fraqueza das potencias coloniais com a rapidez do seu expansionismo durante a guerra. A guerra fria favoreceu os movimentos de independência. Estes foram usados pelas superpotências como estratégia para a demarcação de grandes áreas de influência. Por outro lado, na Conferência de Bandung (1955), os países do Terceiro Mundo deram expressamente apoio à causa da liberdade e da independência dos povos submetidos ao domínio estrangeiro. Finalmente, a ONU, em 1960, expressou o direito à autodeterminação dos povos colonizados. Estes factores estimularam os movimentos nacionalistas a empreender guerras de libertação. Entre 1945 e 1955 sucederam-se os movimentos de independência no Médio Oriente e Sudoeste Asiático e a partir de 1955 em África, a partir do Norte muçulmano para Sul.

12.3 Compare as concepções ideológicas dos movimentos de emancipação dos povos colonizados com os movimentos nacionais que caracterizaram a Europa do séc. XIX.

Á sua maneira, a história dos movimentos nacionalistas do séc. XX constitui um prolongamento do movimento das nacionalidades do séc. XIX. As lutas dos povos coloniais a partir de 1945 são como um ressalto do combate conduzido pelas nacionalidades contra a dominação otomana, dos Habsburgos ou contra a russificação dos alógenos. A descolonização inscreve-se na continuidade da história europeia e surge como a universalização de um fenómeno histórico cuja ideia fora, em primeiro lugar, concebida pela Europa. Assim, a descolonização significa, de alguma forma, o recuo da Europa como potência mas é também a vitória dos seus princípios e uma consequência da sua penetração. A curva ideológica dos movimentos de emancipação reproduz a sucessão das filosofias que inspiraram na Europa a acção dos movimentos nacionais. As primeiras gerações receberam os ensinamentos do liberalismo e da democracia. Os primeiros a conquistarem a independência tornaram-se um exemplo para os outros. Elabore uma análise sucinta explicando o contexto histórico em que se desencadeou o processo da descolonização. Deve procurar orientar a sua analise para os seguintes aspectos, a saber: Até 1939 confiança das potências coloniais quanto à solidez dos seus impérios; A partir da Segunda Guerra Mundial, a grande maioria dos territórios (nações) colonizados irão tomar-se independentes. Preconizam o direito a autodeterminação; A Segunda Guerra Mundial confirmou as fraquezas das potências europeias e fez ressurgir os movimentos nacionalistas liderados por burguesias e elites locais afastadas dos centros de decisão administrativos; O contacto destes elementos com a cultura europeia e com as ideais de liberdade, a sua aliança com os camponeses sem terra e os grupos urbanos mal remunerados irão constituir a base social e política para a constituição dos movimentos nacionalistas de libertação;

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75 / 95 Ter em conta os diferentes processos e modalidades de descolonização que dependeu, na maioria das vezes, da atitude da potência colonizadora e da importância da população branca no território, bem como das características muito distintas das culturas locais. Casos de “culturas sofisticadas" Índia e Sudoeste Asiático) e “culturas tribais" (África Negra). A curva ideológica dos movimentos de emancipação no denominado Terceiro Mundo reproduz a sucessão das filosofias que inspiraram na Europa a acção dos movimentos nacionais. Interprete estas palavras tendo em conta o que foram os movimentos nacionalistas no séc. XIX. Para desenvolver esta actividade sugerimos a releitura do cap.8 (III Parte) e respectivas actividades. No entanto, não esqueça que a força crescente dos movimentos nacionais, alicerçou-se na liderança das burguesias e elites locais emergentes, muitas vezes afastados dos cargos administrativos de responsabilidade, tomam contacto crescente com a cultura europeia, os seus ideais de liberdade, justiça, democracia e, ainda, com o seu modelo de Estado-nação. Leia as pp. 406 a 410 do manual. 13 O DESPERTAR DA ÁSIA

13.1 Identifique os factores que levaram a Ásia a antecipar-se a África no processo de descolonização

De facto, a Ásia precedeu a África na via de emancipação em cerca de meio século. 1º Factor: As características da própria Ásia: é um continente com civilizações muito antigas, que não sofre do complexo de inferioridade relativamente ao Ocidente (invenções técnicas, sofisticação dos costumes, respeito pela sua tradição) 2º Factor: Quando a Europa obriga a Ásia a abrir-se à sua penetração, contava já com conjuntos politicamente organizados; 3º factor: A Ásia entrara em contacto com a Europa mais cedo do que a África, dispondo, assim, de uma experiência mais longa e que lhe ensinara a arte de lidar com o Ocidente. No princípio do séc. XX, a Ásia está quase totalmente submetida ao Ocidente. O domínio europeu unifica em certos casos, divide noutros, mas a sua influência nos costumes e nas crenças mantém-se superficial. O Japão conseguiu manter a independência.

13.2 Analise a originalidade e o sucesso da experiência japonesa para conseguir a sua modernização/desenvolvimento económico e social

O alcance do exemplo japonês foi considerável. Único grande país asiático que soube preservar a independência, mostrou a via para o conseguir, que outros países seguiriam: renovar-se, tomando a iniciativa das reformas. A sua originalidade consiste no facto de se tratar de uma modernização conduzida no interior e não imposta pelo exterior. Foi também a primeira nação não-europeia a vencer uma europeia (URSS, 1904-05). Em 1854, os EUA forçaram o Japão a abandonar a sua política isolacionista e a abrir-se ao comércio ocidental. Em 1868, o jovem imperador Mutsu-Hito inicia a chamada revolução meiji, a revolução das luzes, que sugere uma analogia com o movimento das luzes que a Europa conhecera no séc. XVIII, em particular com o despotismo esclarecido. Mutsu-Hito reestruturou o poder político, incentivou o aumento demográfico, lançou as bases da industrialização, reorganizou as finanças públicas, criou um sistema bancário e monetário moderno; construiu uma rede ferroviária e contratou técnicos estrangeiros. O êxito do Japão deve-se ao facto de ter sabido justapor as contribuições externas e as imitações ao respeito pelas tradições. O novo poderio do Japão é rapidamente colocado ao serviço de uma grande ambição: uma visa a dominação económica e a outra visa a expansão armada e a construção de um vasto

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76 / 95 império. Anexou a Coreia e atacou a China. No entanto, não conseguiu eliminar a resistência chinesa e o conflito entre os dois funde-se o conflito mundial. A capitulação do Japão em 1945 desmorona a sua ambição hegemónica. Desde então, o Japão sofreu transformações. Adoptou um regime semelhante ao das democracias ocidentais. O imperador foi preservado mas perdeu o essencial dos seus poderes. O país fez prova de um admirável dinamismo e atingiu um nível tecnológico superior ao dos países mais avançados.. É também referência em matérias como a competitividade nos mercados externos.

13.3 Descreva o processo por que passou a transformação da sociedade chinesa A China seguiu um percurso completamente diferente do Japão. A história da China é feita de uma sucessão de crises e revoluções em que a unidade esteve por diversas vezes em risco. Uma vez que não se conseguiu reformar, a transformação efectua-se pela via revolucionária. Com a revolução de 1911 a república é proclamada e a dinastia manchu derrubada. O poder é confiscado pela general Shikai, o primeiro de uma longa série de «senhores da guerra». Sucede a fragmentação interna pelo regresso ao feudalismo. Após a morte de Shikai passa a haver dois governos rivais. Sun Yat-sem emprenha-se na união e aproxima-se da União Soiética. Com a sua morte Kai-chek rompe com os comunistas e principia uma guerra civil que ainda não terminou completamente (Taiwan é governada pelos seus sucessores) A relação de forças é muito desigual entre as duas Chinas e desvantajosa para os comunistas, mas estes apoderam-se de toda a China continental graças à fraqueza dos adversários e ao génio de Mao. Em 1949 os comunistas sobem ao poder e é proclamada a República Popular da China. Entre 1950 e 1961 encetam-se relações de amizade com a URSS e adopta-se o modelo soviético na planificação da economia (planos quinquenais) e a colectivização das terras). O regime é decalcado do marxismo-leninismo: o partido detém o essencial do poder. Em 1961 rompe com a URSS, procurando que a sociedade chinesa adoptasse o maoísmo, um modelo de comunismo original, que devia contar com uma mobilização de massas para se atingir o comunismo. Em 1966 criou a Revolução Cultural (uma revolução dentro de outra) mas esta revelar-se-á um enorme fracasso Após a morte de Mao (1976) a China desembaraça-se da sua influência: a desmaoização corresponde à desestalinização. Com Tem Hsiao-Ping tem a ambição de fazer da China uma grande potência económica. O paralelismo com as reformas de Gorbatchev é impressionante. Contínua, no entanto, sem indícios de uma evolução para um sistema democrático.

13.4 Analise a evolução do movimento de emancipação do subcontinente indiano O terceiro grande conjunto asiático, a Índia, apresenta um terceiro tipo de evolução. A Índia era uma colónia britânica, mas a metrópole manteve a soberania de centenas de principados ao lado dos territórios que dependiam da sua administração directa. Esta diversidade não impede que a Índia conheça a unidade: a rede ferroviária, a adopção da língua do colonizador permite às populações comunicar entre si. Nos finais do séc. XIX existe já uma elite anglo-indiana que aspira ao self-goverment. A seguir à Primeira Guerra, como retribuição do seu auxílio, a Índia esperava reformas que associasse os nacionalistas ao governo. Tal não aconteceu e a decepção está na origem de um movimento de resistência. Ghandi impõe-se como figura representativa da Índia. O período entre os dois conflitos mundiais é caracterizado por negociações e rupturas. Em 1945 a Índia encontra-se quase na mesma situação que em 1919. Contudo, a mudança é rápida. Em 1947, o governo trabalhista concede a independência à Índia que passa, quase sem transição, ao estatuto de independência total. A Índia oferece o exemplo de colónia melhor preparada para dispensar o colonizador. A unidade do continente indiano não resistiu ao anúncio da independência: a iniciativa de separação veio da parte dos muçulmanos, que formavam um quinto da população, e que não aceitavam ser uma minoria num Estado dominado pelos hindus No

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77 / 95 mesmo ano da independência da Índia, a península é desmembrada (Índia, Paquistão, Ceilão e Birmânia) o que deu origem a movimentos separatistas que têm contestado os limites territoriais e reivindicado a independência.

13.5 Refira em que medida o sueste asiático, apesar de ser uma encruzilhada de civilizações, conjugou uma certa unidade nas reivindicações das independências dos vários estados.

O sueste asiático abrange a Indochina, a Malásia e a Indonésia. A maior parte da região estava dependente do Ocidente antes de 1939 e existia já desde essa altura o sentimento nacional e a reivindicação da independência. A Indonésia torna-se independente em primeiro lugar, após pressão dos EUA sobre a Holanda. A questão da Indochina é mais complexa devido à guerra da Coreia e ao Vietname. Este ganhará a independência por etapas. No termo desta história a Ásia emancipou-se completamente, mas está longe de ser homogéneo: na Ásia encontram-se alguns dos povos mais pobres do mundo; outros países descrevem expansões fulminantes, como o Japão, o qual tem na sua esteira um conjunto de outros países que constituem uma zona de prosperidade. A Índia também é uma grande potência. Esta região do mundo divide-se também entre os grandes sistemas políticos os quais, por sua vez, vão corresponder aos resultados económicos (caso dos países sob o regime comunista). A partir do texto da p. 148 CA, faça uma breve exposição escrita, referindo em que medida as circunstâncias internacionais tornaram possível a emergência e afirmação da economia japonesa. Fortemente devastado pela guerra, a reconstrução e recuperação económica do Japão iniciou-se sob a orientação dos Estados Unidos. O chamado milagre económico japonês permitiu melhorar o nível de vida da sua população em todos os aspectos. Vários factores contribuíram para esse "milaqre”: Reconstrução e expansão económicas, feitas a partir de indústrias que aproveitaram toda a recente inovação tecnológica; Existência de mão-de-obra em grande número e a baixos custos, dotada de grande disciplina, produtividade e um espírito especial para assimilar, reproduzir e melhorar os produtos estrangeiros; Elevado sentido de organização, de empenho na actividade profissional, responsáveis por um clima especial de entendimento dentro das empresas; Excelente organização comercial, que permitiu ao Japão aumentar as suas exportações. A partir de 1960 o Japão toma-se a terceira potência mundial. Nas décadas de 1970 e 1980 assistiu-se à expansão dos produtos japoneses pelo mundo, à afirmação das multinacionais japonesas e a um aumento do volume do seu comércio. Procure mais informações nas pp.412 a 415 do manual. Procure fazer uma comparação entre a política e o contributo de Mao Tsé-Tung na construção da República Popular da China e a política seguida pelos actuais dirigentes chineses. Entre 1949 e 1952, logo após da tomada do poder por parte dos comunistas, a política de Mao Zedong orienta-se para a reconstrução económica e a instauração de uma nova sociedade. Desse modo, foram implementadas algumas medidas, a saber;

• recuperação da produção agrícola e industrial; • abolição da velha organização social e familiar; • instauração da igualdade entre o homem e a mulher (Lei do casamento de 1950); • expropriação de terras aos grandes proprietários absentistas e distribuição de

pequenas parcelas aos camponeses. De 1953 a 1957, a política da China segue o modelo soviético de colectivação, socialização e planificação.

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78 / 95 Em 1958, Mao renuncia ao modelo soviético e decide o Grande Salto em Frente. Trata-se de encontrar uma via original para a construção do socialismo. O quadro desta experiência são as comunas populares. O balanço é um desastre. Segue-se um reajustamento da economia, com alguma abertura ao exterior e autorização da propriedade privada. Contudo, Mao opõe-se a esta abertura política e económica e, em 1966, lança a Revolução Cultural, uma autêntica catástrofe social e política. Com desaparecimento de Mao Zedong tem lugar uma nova era na China. Deng Xiaoping assume, em 1981, o poder e inicia uma nova política, baseada num conjunto de reformas, a saber:

• desmaoização da economia e da sociedade (apoiam-se pequenas empresas privadas e proíbe-se a afixação de jornais de parede, uma prática da Revolução Cultural);

• aceleração do desenvolvimento económico (indústria, agricultura, ciência, técnica e defesa);

• abertura ao ocidente e reatamento de relações políticas e económicas com os Estados Unidos, Japão e Europa Ocidental.

Contudo, a China ainda esta longe de ser um pais democrático, onde a justiça social e as liberdades fundamentais do Ser Humano sejam respeitadas. Aliás, alguns acontecimentos nos últimos anos (Tianamen) atestam essa realidade. 14 O ISLÃO E O MUNDO ÁRABE

14.1 Enumere o vasto conjunto de territórios designado por «mundo árabe» O termo impõe uma precisão: refere-se a três realidades geográficas, étnicas e culturais. 1ª realidade geográfica: desde o Tauro e das margens do Mediterrâneo oriental até ao planalto iraniano (o Irão e a Anatólia não fazem parte dele). Em rigor só esta porção de superfície pode ser designada por mundo árabe. 2ª realidade: inclui todo o norte de África, em que as populações não são árabes mas arabizadas pela conquista e conversão religiosa. O arabismo passa a constituir um facto de civilização: designa a impregnação por uma cultura comum, ligada à difusão do islão; o árabe impõe-se como língua sagrada e língua de cultura. A religião constitui o princípio unificador. 3ª realidade: o mundo muçulmano, sendo o seu centro a península arábica, com Medina e Meca (as cidades santas) na Arábia Saudita. Como o islão é uma religião universal, as suas fronteiras estendem-se por milhares de quilómetros (extremo oriente, China, ex-URSS, África negra, Bósnia, Europa e EUA).

14.2 Explique em que medida a queda do império otomano foi um factor capital para a independência e unidade do nacionalismo árabe

O movimento das nacionalidades tocou também o mundo árabe. As suas origens são análogas àquelas que inspiraram os povos europeus: procura das origens, consciência de identidade, reacção contra o domínio estrangeiro. No início do séc. XX, o mundo árabe e arabizado está fragmentado e submetido à dominação estrangeira tanto dos Otomanos como das nações cristãs. O despertar do mundo árabe aspira á independência e à unidade: refazer a unidade da nação árabe, traduzir a comunidade de crença – a umma – numa comunidade política. O despertar foi precipitado pela Primeira Guerra Mundial, para o qual o mundo árabe foi arrastado por fazer parte do Império Otomano. A queda deste império em 1918 é um acontecimento capital, de importância comparável ao desmoronamento do império dos Habsburgos. A Turquia fica reduzida a Constantinopla e à Anatólia. Kemal fará da Turquia uma nação. Apesar de libertados do jugo turco, as dissensões levam a melhor sobre a aspiração unitária com a constituição de vários reinos. Do mesmo modo que o desaparecimento do império austrohúngaro conduziu á fragmentação da Europa danubiana, a

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79 / 95 queda do império otomano conduz ao esboroamento do Médio oriente (pode falar-se de uma balcanização). As populações árabes só mudaram de amos: as potenciais ocidentais substituem Constantinopla. França e Grã-Bretanha dividem entre si os mandatos (Líbano e Síria para a França; Palestina, Iraque e Transjordânia para a Grã-Bretanha).

14.3 Explique em sentido o fortalecimento do nacionalismo árabe foi a principal causa do enfraquecimento do domínio político ocidental no médio oriente.

O nacionalismo árabe não renuncia aos seus objectivos e em poucos anos subtraiu-se ao domínio político ocidental. A Grã-Bretanha renuncia ao seu mandato sobre o Iraque; a França concede a independência ao Líbano e à Síria. Após a expulsão da França, todo o Médio Oriente é uma zona de influência britânica. Os movimentos nacionalistas minam bases estratégicas e económicas e atacam os seus vassalos (rei da Transjordânia, dinastia iraquiana, no Egipto, o rei Faruk é obrigado a abdicar). Os movimentos combatem tanto a supremacia económica do Ocidente como a sua hegemonia política. São de referir neste âmbito a nacionalização do canal do Suez e a nacionalização do petróleo pelo governo iraniano que infligem grande desprestígio e lesam os interesses do Ocidente. O Ocidente acaba por aceitar a afronta. No Médio Oriente foi indirectamente sobre os escombros do império otomano que se estabeleceu a independência dos Estados da região (Líbia, Tunísia, Argélia, Marrocos). Em 1962, o mundo árabe, do golfo Pérsico ao Atlântico, conquistou inteiramente a independência.

14.4 Analise os factores que impediram o nacionalismo árabe de se constituir numa grande nação unificada.

Factor 1: As contradições entre as ambições concorrentes dos Estados, cada um sonhando realizar a unidade sob a sua autoridade (Nasser do Egipto; Kadhafi da Líbia. Hussein do Iraque); Factor 2: As diferenças entre os regimes e o antagonismo das ideologias. O mundo árabe está divido entre monarquias e repúblicas; Factor 3: A própria religião que constitui a referência comum divide por vezes mais radicalmente ainda do que todos os outros factores ( o ódio entre sunitas e xiitas é uma das componentes das inimizades entre o Iraque e o Irão) O único elemento que estabelece alguma unidade no mundo fragmentado é a existência de Israel – os exércitos sírio, jordano, iraquiano, convergem para o liquidar, mas saem derrotados. A partir de 1967 Israel ocupa a Cisjordânia e desde então que os habitantes dos territórios ocupados têm reivindicado uma pátria (OLP).

14.5 Caracterize a presença do islão no mundo. O islão é uma das grandes religiões universais que não se circunscreve às circunstâncias de lugar e de tempo. Um homem em cada seis é muçulmano. O mundo muçulmano é, pois, uma componente fundamental do mundo de hoje. Ao contrário do cristianismo – que recebeu do Evangelho a distinção entre o religioso e o político, entre a consciência individual e a colectiva – o islão ignora a laicidade e a diferença entre as condutas privadas e os comportamentos colectivos. A lei religiosa é a lei dos Estado, o Corão é simultaneamente o código civil e a constituição. Esta confusão proíbe aos muçulmanos a mudança de religião, exclui a liberdade de outros cultos e condena os cidadãos de outra religião ao estatuto de menoridade. As sociedades onde o islão domina vivem sob o regime da religião de Estado. Existe também uma osmose entre a fidelidade às prescrições do Corão e o sentimento nacional (embora tal não seja exclusivo do islão) no caso da observância escrupulosa do Ramadão.

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80 / 95 No caso do Afeganistão, a resistência ao exército soviético procedeu quer da rejeição de uma ideologia ateia quer do impulso de independência de um povo invadido. O mundo islâmico é percorrido há algumas décadas por um movimento de renovação que se caracteriza pela rejeição de qualquer valor estrangeiro e por uma interpretação literal do Corão (fundamentalismo). Milita para que a charya, a lei religiosa, se torne a lei do Estado e se imponha a todos, crentes ou não. O despertar do fundamentalismo muçulmano comporta, pois, uma incógnita, cujo desfecho interessará a todos. Explique se as condições internacionais que criaram o Estado de Israel foram condição suficiente para a unidade e emancipação do mundo muçulmano. Dentro do mundo Árabe são numerosas as causas e divergências que entravam a sua unidade. Contudo, o único factor que consegue alguma unidade “no mundo fragmentado” é o Estado de Israel. Terminada a 2ª Guerra, a Inglaterra viu-se incapaz, na Palestina, de resolver os conflitos entre palestinianos árabes e judeus. Depois da grande afluência de judeus à terra dos seus antepassados, logo a seguir à Guerra, e incapazes de solucionar o problema, os ingleses abandonam a região que fica sob a alçada da ONU. O resultado é a criação, em 1948, do Estado Judaico de Israel. A proclamação da independência de Israel incendiou as rivalidades entre os judeus e os palestinianos, bem como os Estados Árabes vizinhos. Estas rivalidades terão como consequências os graves conflitos que ao longo dos anos se têm verificado - 1956, 1967, 1973, 1981, etc.. Ainda hoje, apesar dos acordos de Madrid e da criação do Estado Palestiniano, a situação não está resolvida. Se a vizinhança do Estado de Israel, por um lado tem sido um factor permanente de tensões, por outro lado, ele tem sido um factor de alguma unidade e convergência dos povos pertencentes ao muçulmano. Veja com atenção o ponto 14.3 do manual, onde obterá mais dados para desenvolver esta actividade. Considerando a existência de uma civilização muçulmana, elabore um comentário sobre a seguinte questão: Conseguirá o Islão desembaraçar-se da sua antiga civilização tradicional à medida que se for aproximando da industrialização e das técnicas modernas? O mundo muçulmano abrange uma população de mais de 500 milhões de habitantes, desde o Norte de África ao Extremo Oriente. De certo modo, o que todos estes povos têm em comum é a obediência à religião islâmica, a qual determina fortemente, aos mais diversos níveis, a vida dos seus habitantes. Assim, como resistirá o Islão e a sua civilização, perante o avanço da industrialização e das novas tecnologias? Como disse um dia Fernand Braudel, esta questão não é privativa do Islão. Deste modo, equivalerá a dizer que a civilização moderna, a da máquina, a do cérebro electrónico, da automação, do átomo, esta civilização, para bem ou para mal, vai uniformizar o mundo, varrer dele as outras civilizações? A maquinaria, com as suas inúmeras consequências, é bem capaz de distorcer, de destruir e reconstruir muitas estruturas de uma civilização. Pensamos que não todas: só por si, ela não é uma civilização. Incapaz de destruir os particularismos regionais, como poderia a técnica aniquilar poderosas personalidades como são as grandes civilizações fundadas sobre religiões, filosofias, valores humanos e morais fundamentalmente diferentes. Para terminar estes tópicos sobre esta actividade, convocamos mais uma vez Fernand Braudel: "Para o islão, onde a vida religiosa comanda todos os actos da vida, a técnica apresenta-se como um circulo de fogo a transpor de repente, para deixar de ser uma velha civilização e rejuvesnecer nas chamas do tempo presente.” (Fernand Braudel, Gramática das Civilizações, p.l 20)

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81 / 95 15 OS OUTROS MUNDOS

15.1 Defina as noções ou conceitos de desenvolvimento, subdesenvolvimento e em vias de desenvolvimento económico, de Terceiro Mundo, de apartheid, de pan-africanismo, de ditadura militar, de caudilhismo, de populismo e O.U.A.

Vd. Glossário.

15.2 Reconheça que o subpovoamento, as rivalidades étnicas, o atraso económico e a ausência de elites letradas, conduziram, sobretudo, a África Negra a suportar durante mais tempo a presença colonial europeia

Este continente é o exemplo mais acabado da colonização e fora objecto de uma partilha integral entre as potências europeias pela Conferência de Berlim, em 1885. Suportou durante mais tempo a presença colonial devido aos factores já enumerados que explicam que não tivessem aparecido movimentos de revoltas até ao final da segunda Guerra Mundial. É a partir de 1945 que se inicia o movimento de independência que se realiza a ritmos e por vias diferentes mas com o mesmo resultado final, pelo menos em termos políticos. A Grã-Bretanha é a primeira a conceder a independência: Gana e Nigéria; a França concederá também a independência às suas colónias da África negra por etapas e sem violência o mesmo não acontecendo com o Congo belga. Portugal também se opunha à ideia de perder os últimos vestígios do seu antigo império, pelo que só em 1974 se concedeu a independência às colónias.

15.3 Explique em que medida na maioria destes países a dependência económica susbsistiu para além do fim da subordinação política

A situação económica da maioria destes países não era satisfatória pelo que a sua dependência subsistiu para além da sua subordinação. Muitas vezes a prosperidade colectiva estão dependentes de uma monocultura ou de um único recurso mineral. Porém, não sendo o país produtor o senhor da fixação dos preços, uma simples diminuição da procura pode levar os produtores à ruína. A venda dos produtos nacionais não é suficiente para formar um capital que permita o investimento em novas fontes de riqueza, daí a cooperação com as antigas colónias.

15.4 Identifique os factores que simultaneamente contribuíram para a instabilidade política e para o subdesenvolvimento da América Latina

A América latina foi conquistada trezentos anos antes de África e emancipou-se antes da colonização em massa do continente africano. A democracia teve no entanto muitas dificuldades em implantar-se e o seu enraizamento é ainda precário. Tal facto dever-se-á à herança de trezentos anos de ocupação, das circunstâncias da independência, da inexistência de uma burguesia, da presença de uma massa de camponeses sem terra, ou do povoamento índio dos Andes ? Seja como for o poder foi tomado com frequência por generais cujos regimes satisfazem algumas aspirações populares (caudilhismo). Exploraram o sentimento nacional contra a dominação dos EUA e procederam à nacionalização de alguns recursos nacionais. A instabilidade crónica e as convulsões políticas (guerrilhas, terrorismo) encontram uma das suas explicações numa das mais desiguais repartições da riqueza – a opulência está lado a lado com a miséria extrema. A economia destes países padece de um desequilíbrio estrutural nas suas relações externas. Uns estão dependentes do mercado internacional por terem uma economia de monocultura; os mais avançados envolveram-se numa política de investimentos e contraíram grandes empréstimos o que os conduziu a um assustador endividamento externo.

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82 / 95 15.5 Distinga os contrastes fundamentais entre países desenvolvidos e países em

vias de desenvolvimento. Economias subdesenvolvidas e muito frágeis (supremacia do sector primário; produção artesanal e tradicional; regime de monocultura; dividas externas; fraca rede de transportes); sociedades instáveis e em permanente crise (baixo rendimento per capita; desigualdades sociais graves; alta taxa demográfica e de mortalidade infantil; desemprego, carência de técnicos especializados, subnutrição das populações); dependência política e violência (conflitos pelas fronteiras; ditaduras, situações de neocolonialismo; conflitos étnicos e tribais; rivalidades económicas) Com base nos documentos da p. 154 CA elabore uma síntese explicando os factores de distinção entre o mundo desenvolvido e o subdesenvolvido. Refira também o porquê da designação da divisão Norte-Sul Para responder a esta actividade deve ter em conta alguns dos seguintes aspectos, a saber: a emergência do terceiro mundo surge como um dos factos decisivos da. história contemporânea. A sua localização apresenta algumas coincidências. Situa-se, sobretudo, no Hemisfério sul e coincide, quase sempre, com as antigas zonas coloniais; nos últimos tempos surgiu a consciência das diversas dimensões do subdesenvolvimento que afecta quase todos os países do terceiro Mundo, no aspecto humano, económico e político; um dos problemas fundamentais do Terceiro Mundo é o aumento espectacular da população, sobretudo porque não tem sido acompanhado por um correspondente aumento da produção; as economias do Terceiro Mundo revelam um profundo desequilíbrio, que resulta do contacto não harmonioso entre a sociedade tradicional e o mundo industrializado, isto é, existem factores de dependência a diversos níveis, a saber: • dependência económica e as trocas comerciais com os países desenvolvidos, • a necessidade de recorrer à tecnologia dos países industrializados, • a cooperação militar com os países desenvolvidos, que implica despesas elevadíssimas,

agrava os conflitos e acentua a sua dependência política, a prevalência dos modelos culturais ocidentais, que o desenvolvimento das comunicações acentuou.

A consciência do subdesenvolvimento que afecta a generalidade do Terceiro Mundo e a fraca eficácia das ajudas internacionais tem revelado a necessidade de se pensar uma nova ordem económica mundial. Esta tarefa só será viável com um crescente diálogo Norte-Sul, ou seja, entre os países desenvolvidos do hemisfério Norte e os do Sul subdesenvolvidos. Esta divisão Norte-Sul é a mais grave divisão internacional e está na base de muitos conflitos actuais. Disserte sobre a homogeneidade e validade da designação de Terceiro Mundo tendo em linha de conta a coexistência dos grandes conjuntos geográficos e demográficos que o compõem A noção de Terceiro Mundo é recente e prolonga a de subdesenvolvimento. Ela apresenta uma conotação predominantemente geopolítica, e surgiu também por oposição ao mundo industrializado, capitalista e "socialista". De facto, actualmente, esta noção não fará grande sentido se for considerada por oposição aos sistemas e modelos políticos/económicos apresentados. A definição de Terceiro Mundo será mais correcta se for analisada do ponto de vista da sua heterogeneidade, ou seja, a nível: geográfico e demográfico, económico e social, político. Com efeito, o Terceiro Mundo apresenta uma profunda heterogeneidade, com condições naturais e demográficas muito distintas; níveis de riqueza económica muito diversos; sistemas económicos e políticos diferentes e, muita vezes, antagónicos. Toda esta heterogeneidade toma difícil agrupar países para efeitos de análise, sobretudo como é o caso da realidade do Terceiro Mundo. Apesar de tudo, o critério menos discutível é integrá-los em conjuntos geográficos e, muitas vezes, mesmo continentais: América Latina, Mundo Muçulmano, Sudeste Asiático e África Negra.

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83 / 95 Faça uma leitura atenta do cap. 15 e encontrará grande parte dos conteúdos aqui apresentados. 16 E A EUROPA?

16.1 Reconheça e aponte os factores que contribuíram para o enfraquecimento do continente europeu durante a primeira metade do séc. XX.

A partir de 1918 a Europa tomou consciência da fragilidade da sua civilização. Até ao conflito russo-japonês a Europa não perdera uma guerra. Depois conheceu grandes infortúnios. Os dois conflitos mundiais foram essencialmente europeus. Certos aspectos do reordenamento territorial que se seguiu à Primeira Guerra Mundial causaram prejuízos a todo o continente: a destruição da Áustria-Hungria, fragmentando a Europa danubiana, criou uma zona de fragilidade, alvo de cobiça. As consequências são piores após a Segunda Guerra: a Europa deixa de existir como potência já que os vencedores são exteriores ao continente (a Grã-Bretanha é insular e está mais próxima dos grandes espaços ultramarinos; a Rússia está entre a Europa e a Ásia; os EUA ficam para lá do oceano). A Europa já não conta como potência militar e a sua segurança depende da protecção dos dois grandes (Pacto de Varsóvia/URSS e Aliança Atlântica/EUA). Está também arruinada pelo esforço empreendido na guerra; a ajuda provém dos EUA com o Plano Marshall. O sistema de relações internacionais deixou de gravitar à sua volta deslocando-se para os EUA com a realização de conferências importantes (a ONU tem aí a sua sede). Para além disso a Europa não está unida, tem um linha divisória que passa a meio do continente (Europa Ocidental/Europa Oriental ou do Leste). Percebe-se que, terminada a guerra, diante da acumulação das ruínas, a Europa tenha tido uma sensação de decadência e pensado que a sua história chegara ao fim.

16.2 Analise quais teriam sido as principais causas do dinamismo europeu a partir da década de 60.

Quinze anos depois do fim das hostilidades a Europa reencontra a prosperidade. Esta inversão da tendência explica-se através dos seguintes factores: Factor 1(Causas externas): Toda a economia mundial (entre 1950 e 1973) viveu uma fase de expansão sem precedentes pelo seu ritmo e pela sua regularidade. O impacto da ajuda trazida pelos EUA, através do Plano Marshall, foi decisivo. Factor 2 (Causas internas): A Europa também se ajudou a si mesma. Em grande medida, o milagre europeu foi fruto do trabalho e do empenho dos europeus (mão-de-obra qualificada, competência técnica, elevado nível de instrução, capacidade de invenção e de organização) e igualmente por uma grande vontade política devido à longa tradição de intervenção estatal. A tendência irá inverter-se em 1973 e 1979 com o choque petrolífero que relança a inflação e que deixa a economia europeia muito mal tratada. Teriam sido os anos 50-70 um verão de São Martinho? No decurso das últimos duas décadas os países da Europa Ocidental superaram com sucesso as provações a que foram sujeitos. A democracia parece mais firme e é hoje o regime de toda a Europa ocidental. Esta universalidade regional também facilita a reaproximação entre estes povos que durante muito tempo combateram uns contra os outros. O movimento que promove a unificação europeia, e que é radicalmente novo na história, autoriza uma visão menos pessimista do futuro. Desde 1948 que se afirma a vontade de trabalhar para a união no Congresso em Haia. Em 1952 institui-se a CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço) e 1957 a CEE, com o Tratado de Roma. A Comunidade alargou-se com a entrada de novos parceiros e a união desenvolveu-se em duas outras linhas. Alargou o campo das suas competências que hoje extravasam da economia (política agrícola comum, das pescas, da siderurgia, da formação,

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84 / 95 do ensino, da investigação). O Acto Único (1993) unificou as trocas e a livre circulação de pessoas e bens. A unificação monetária vigora desde 2002, com o Euro, embora sem a adesão, para já, da totalidade dos membros. A instâncias da Comunidade intervêm na legislação dos Estados (directivas de Bruxelas). A Europa começa desenvolver uma acção comum em política externa e tenta falar a uma só voz.

16.3 Identifique os factores de unidade, bem como os possíveis fermentos de divisão do mundo de amanhã.

Factores de unificação 1º Factores técnicos: Um conjunto de dados de ordem material, que resultam do progresso técnico(revolução dos transportes; profusão de invenções; meios de comunicação e difusão da informação); 2º Factores linguísticos: A difusão de algumas grandes línguas, que se tornaram universais, é um factor de compreensão e de aproximação; 3º Factores económicos: As economias nacionais e mesmo continentais são cada vez mais interdependentes. O mundo económico já não constitui senão um conjunto único. 4º Factores culturais: os costumes, os gostos, os tempos livres tendem a uniformizar-se e, portanto, a aproximar os homens; 5º Factores político-ideológicos: existência de um fundo de ideias comum, em grande parte inspirado no Ocidente, um património comum de valores; Fermentos de divisão Os mesmos factores descritos tanto podem aproximar como criar antagonismos entre povos e continentes, suscitando novas divisões e a instabilidade dos regimes ou a violência crónica em alguns países. O mesmo acontece com a interdependência das economias. Todos os anos o hiato entre os países mais desenvolvidos e os menos desenvolvidos tende a alargar-se, evoluindo no sentido inverso ao da unificação do mundo As ideologias são também responsáveis por uma parte das guerras que dilaceram o mundo. O futuro do mundo será, mais provavelmente, um compromisso precário, constantemente posto em questão, mas também permanentemente restaurado.

16.4 Comente, se do ponto de vista do autor, a afirmação de que a Europa “é a chave para a inteligência do mundo contemporâneo” está correcta.

Foi da Europa que se partiu à descoberta dos outros continentes e não o contrário. Foi por isso que a Europa presidiu às tentativas de unificação do globo por meio da constituição dos impérios coloniais. A sua preponderância económica não era menos discutível. Esta era a sua situação no início deste século, que marcou o apogeu do poder e da irradiação do continente europeu. As guerras em que o continente se dilacerou levaram-no a deixar de existir como potência. Os vencedores são exteriores ao continente. Quinze anos depois do fim das hostilidades, a Europa ocidental consegue uma recuperação espectacular e reencontra a prosperidade. Nos anos sessenta passou a empreender, a investir, a inovar. O milagre europeu foi fruto do trabalho e do engenho dos próprios europeus. No decurso das últimas décadas a democracia parece mais firme. Caíram os regimes ditatoriais. O comunismo desmoronou-se. As capitais do Leste voltaram-se para o Ocidente. A Europa, hoje, pode ser menos forte economicamente, mas é uma fonte de cultura. A difusão linguística abriu caminho a uma profunda influência cultural. As ideias, os sistemas filosóficos, os modelos de organização política continuam a ser importados da Europa ou dos seus países que são seus herdeiros directos, como os EUA. Se o mundo tivesse de convergir para uma civilização comum, esta civilização deveria certamente muito às ideias que surgiram na Europa. Faça um resumo, formulando a sua opinião, sobre a constituição e vicissitudes da Comunidade Económica Europeia, desde o Tratado de Roma (1957) até ao começo da verdadeira União Europeia, formalizada com o Tratado de Maastricht.

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85 / 95 Apresentamos alguns tópicos que poderão ajudar na elaboração do resumo sobre a União Europeia, a saber: Em 1950 é criada a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço; Em 1957, pelo tratado de Roma é criada a Comunidade Económica Europeia e a Comunidade Europeia da Energia Atómica, cujos objectivos são a eliminação progressiva dos direitos alfandegários nas trocas entre os seis países membros; Países membros em 1957: eram a França, Alemanha Federal, Bélgica, Itália, Holanda e Luxemburgo; em 1973, entraram a Dinamarca, Inglaterra e Irlanda; em 1981, a Grécia; em 1986, Portugal e Espanha; em 1994, Áustria, Suécia e Finlândia. A comunidade Europeia tem procurado desenvolver o Mercado Agrícola Comum, através de uma Política Agrícola Comum PAC); Fundos mais conhecidos da Comunidade: FEOGA, FEDER e Fundo Social Europeu; Instituições Comunitárias: Conselhos de Ministros, Comissão Europeia, Parlamento Europeu, Tribunal de Justiça, Comité Económico e Social; Em 1986, foi assinado o Acto Único Europeu com o objectivo de relançar a Europa Comunitária, Em 1992, assinatura do Tratado de Maastricht com o objectivo de criar uma verdadeira União Europeia. Faça um balanço sobre a integração de Portugal na Comunidade Europeia. Quanto a esta actividade deixemos ao seu critério o desenvolvimento da resposta. No entanto, ocorre-nos dizer que, neste momento, a experiência ainda é curta e devemos ter alguma prudência ao pronunciar-nos sobre ela. Dito de outro modo, não há apenas um lado cor-de-rosa e tranquilizador sobre a União Europeia. Existem muitas sombras e vazios que carecem de ser desvendados e explicados. Neste momento estamos perante um problema económico de primeira linha e de valor capital e estratégico para Portugal, o problema da Agricultura. A política da PAC está a ter consequências irreversíveis de primeira linha, que arrasta o mundo camponês (veja-se o caso de Portugal), fortemente enraizado, um mundo admirável mas cuja produtividade é como os números indicam, bastante medíocre. O problema neste momento ou é de resignação, ou então, modernizar e mecanizar de forma que o campo terá que passar a produzir mais com menor número de produtores. Pensamos que a situação é difícil porque não encontramos sinais de urna economia em expansão, de forma que absorva a desafectação do mundo agrícola. Com base nos textos e tendo em atenção que o Mundo na década de 90 do séc. XX assistiu à desagregação do mundo socialista, ao termo da guerra fria, e entre outras coisas ao anúncio do fim das ideologias, elabore um comentário exprimindo a sua opinião sobre as perspectivas da sociedade contemporânea, para o séc. XXI Perante esta questão ocorre-nos responder formulando outra pergunta à semelhança de Fernand Braudel: "De que é ainda capaz, para o mundo de amanhã, a civilização europeia?" É, ainda, sintonizado com as palavras de Fernand Braudel que respondemos à questão acima formulada, ou seja, será necessário dizer que essa parece ser urna das preocupações menores dos construtores da Europa. As belas discussões sobre alfândegas, níveis de preços e produção, tal como as mais generosas das suas reciprocas concessões, falam apenas com espírito de cálculo. Parecem nunca afastar do nível puramente técnico, de especialistas habituados ás notáveis especulações da economia dirigida e do planning. E ninguém há-de negar que elas são indispensáveis. Mas é conhecer mal os homens dar-lhes por único alimento estas sábias contas que fazem tão triste figura ao lado dos entusiasmos, das loucuras não destituídas de sabedoria que abalaram a Europa de outrora e de ontem. Poder-se-á edificar uma consciência colectiva europeia apenas com números? Não vai ela, pelo contrário, escapar-lhes, ultrapassá-los de modo imprevisível? É inquietante constatar que a Europa, ideal cultural a promover, vem em último lugar na lista dos programas em execução. Não há preocupação com uma mística, ou com uma ideologia,

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86 / 95 ou com as águas falsamente calmas da revolução, nem com as águas vivas da fé religiosa. Ora, a Europa nada será se não se apoiar nas velhas forças que a fizeram, que nela actuam ainda profundamente, numa palavra, se ignorar todos os seus humanismos vivos. Não tem opção: ou se apoia neles, ou, fatalmente, de um dia para o outro, eles dilaceram-na e afogam-na: A Europa dos povos, belo programa: ainda a formular.

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Conceitos e Noções ABSOLUTISMO Sistema político no qual todos os poderes dependem da autoridade de uma só pessoa sem sofrer quaisquer restrições. Neste sentido, o poder é absoluto nos planos executivo e legislativo. O conceito não se pode dissociar da Igreja uma vez que segundo aquele é Deus que concede o direito de governar. O sistema foi utilizado na Europa nos sécs. XVII e XVIII. ACTO ÚNICO EUROPEU Reformas dos Tratados de Paris e de Roma assinada em 1986 pelos países membros da então CEE. Nele forma definidos alguns objectivos: a instituição (até 1993) de um mercado único que permitisse a livre circulação de mercadorias e pessoas; a cooperação tendente a uma harmonização a vários níveis entre os estados-membros; cooperação política , por forma a criar uma plataforma única de representação da Comunidade face a estudos e organizações internacionais. (v. União Europeia) APARTHEID Política de segregação racial do governo da África do Sul entre 1948 e 1994. Os não brancos não partilhavam os mesmos direitos de cidadania com a minoria branca. O termo também tem sido aplicado a outras formas de separação racial, noutras partes do mundo. ARISTOCRACIA Elite social ou sistema de poder político associado à posse de riqueza fundiária. As aristocracias estão ligadas à monarquia com a qual entram geralmente em conflito no que respeita a direitos e privilégios. Na Europa do séc. XIX, o seu suporte económico ficou debilitado devido inflação e à queda dos preços dos bens agrícolas, conduzindo à sua destituição como força política a partir de 1914. BLOQUEIO DE BERLIM Bloqueio imposto pelas forças soviéticas entre Junho de 1948 e Maio de 1949, que consistiu no fecho da entrada dos sectores ocidentais de Berlim. Tratou-se de uma tentativa de impedir os outros aliados (EUA, França e Grã-Bretanha) de unificarem a parte ocidental da Alemanha. BURGUESIA Designação aplicada à classe social colocada acima dos operários e camponeses e abaixo da nobreza. No contexto doutrinário social-marxista o termo foi aplicado a todas as classes possidentes como forma de as distinguir do proletariado. CARTA ATLÂNTICA Acordo no respeito dos povos à autodeterminação e liberdade estabelecido entre os EUA e a Inglaterra (1941). CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS Assinada em 1942 por 40 países, em que se acordou, por um lado, o empenhamento na guerra e, por outro, a assinatura conjunta do tratado de paz. CAUDILHISMO O termo caudilho é de origem espanhola e é sinónimo de líder. Foi utilizado em relação aos ditadores que surgiram durante o movimento de independência da América Latina (1808-26).

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88 / 95 CLASSE Conjunto de pessoas e grupos considerados como uma unidade social na escala hierárquica da sociedade COLEGIALIDADE Conjunto de indivíduos que pertencem a um círculo eleitoral em que todos têm igual dignidade COLONIALISMO Processo dinâmico que consiste no estabelecimento de práticas políticas e socioculturais de uma sociedade (metrópole) militar, economicamente dominante e com interesse em perpetuar a dependência, e a diferença entre uma e outra num território habitado por povos e culturas dominados (colónia). COMUNISMO Socialismo revolucionário baseado nas teorias dos filósofos políticos Marx e Engels, acentuando a propriedade comum dos meios de produção e uma economia planificada. Politicamente procura derrubar o capitalismo através da revolução do proletariado. O primeiro país comunista foi a URSS depois da Revolução de 1917. Como ideologia de um estado-nação sobrevive na China, em Cuba, na Coreia do Norte, em Laos e no Vietname. CONFERÊNCIA DE POTSDAM Conferência realizada em Potsdam, Alemanha, em 1945 com os representantes dos EUA, da Inglaterra e da URSS. Aí decidiram enviar um ultimato ao Japão exigindo a sua rendição incondicional e estabeleceram-se os princípios político-económicos que iriam regulamentar o tratamento da Alemanha após o termo do segundo conflito mundial. DEMOCRACIA Sistema de governação em que o poder é exercido pelo povo através de representantes eleitos por sufrágio universal. A democracia desenvolveu-se a partir das revoluções francesa e americana DEMOCRACIA LIBERAL O termo passou a ser usado para distinguir as democracias ocidentais de outros sistemas políticos que se dizem democráticos. Os conceitos subjacentes são o direito a um governo representativo e o direito à liberdade individual. As principais características são a existência de mais do que um partido, processo de governo e de debate político abertos e separação de poderes. DEMOLIBERALISMO No séc. XX, a democracia e o liberalismo e as concepções políticas que traduzem acabaram por se fundir nesta designação própria do discurso político contemporâneo. O demoliberalismo combina princípios de ambos os conceitos e afirma-se como uma síntese. Retoma do liberalismo a ideia da liberdade, da tripartição do poder e da afirmação do estado de direito e o respeito pelos direitos individuais dos cidadãos. Por outro lado, é sensível ao problema da igualdade social, a favor do sufrágio universal e do alargamento das liberdades a todos os cidadãos. Uma das suas batalhas tem sido a educação, a base para formar cidadãos mais conscientes. DESCOLONIZAÇÃO De uma concessão gradual após a I Guerra Mundial passou a um processo intensificado na sequência da Segunda Guerra Mundial, caracterizado pela autodeterminação das colónias relativamente às metrópoles, constituindo-se como estados independentes.

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89 / 95 DESPOTISMO Forma de poder absoluto e arbitrário exercido por um déspota ou autocrata cuja vontade não é controlada pela lei ou pelas instituições políticas. DÉTENTE Diminuição da tensão política e descontracção das relações tensas entre nações (v.g. o fim da Guerra Fria, 1989). O termo foi usado pela primeira vez na década de 1970, para descrever o diminuir da tensão entre o Leste e o Ocidente, sob a forma de acordos comerciais e intercâmbios culturais. DIREITOS FEUDAIS Prestações em serviços ou impostos lançadas sobre os colonos pelo senhor em razão da sua superioridade sócioeconómica. O senhor tanto podia ser um nobre ou um clérigo. DITADURA MILITAR Tipo de governo em que o executivo, aqui com autoridade absoluta, absorve ou dispensa o poder legislativo. ERA MEIJI Reinado do imperador japonês Mutso-Hito (1867-1912) que se caracterizou pelo derrube do xogunato bem como pela construção de um estado moderno, mais centralizado e ocidentalizado. ESTADO-NAÇÃO Comunidade politicamente organizada, com poderes soberanos sobre um dado território. Um Estado pode englobar diferentes nações, entendendo-se por nação o conjunto de indivíduos identificados por origem, língua e cultura comuns. Na ordem internacional, o Estado é entendido como um sujeito soberano de direito internacional. ESTALINISMO Comunismo totalitário baseado nos métodos políticos de Estaline. O poder encontra-se exclusivamente nas mãos do Partido Comunista, organizado segundo linhas rígidas hierárquicas. O líder é propagandeado como sendo o pai da Nação, altruísta e benevolente. A política económica é baseada na industrialização e na colectivização da agricultura. O debate e oposição são implacavelmente reprimidos pela polícia secreta. FAIR DEAL Política de melhoria das condições sociais advogada pelo presidente dos EUA, Harry Truman, entre 1945-53. FASCISMO Sistema político e social introduzido em 1919 por Mussolini em Itália e seguido pela Alemanha de Hitler em 1933, caracterizado pelo estabelecimento de uma ditadura totalitária e repressiva das liberdades individuais e colectivas, bem como pela promoção do culto ao chefe, do nacionalismo, do corporativismo e do imperialismo, que atraiu as classes trabalhadoras mediante o uso de meios de comunicação e da demagogia. Também preparava os cidadãos para a mobilização económica e psicológica para a guerra. O fascismo foi essencialmente um produto da crise económica e social dos anos que se seguiram à Grande Guerra. FEUDALISMO Sistema medieval de ordenamento social, político e económico, tipificado pela instituição do feudo, factor divisível da propriedade e das obrigações recíprocas entre suseranos e vassalos. O feudalismo foi reforçado por um sistema legal complexo e apoiado pela Igreja. Gradualmente veio a dar lugar ao sistema de classes como forma dominante de estratificação

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90 / 95 social. O sistema declinou a partir do séc. XIII, devido às revoltas dos camponeses e ao crescimento da economia financeira, com comércio e industria. FEUDO Propriedade ou domínio territorial concedida pelo suserano ao vassalo sob condição de vassalagem e obrigatoriedade de prestação de tributo e assistência militar existente desde o séc. XI até ao fim da Idade Média. FUNDAMENTALISMO Designa em religião a defesa incondicional dos princípios básicos ou dos artigos de fé. O fundamentalismo cristão surgiu no EUA, logo a seguir à Grande Guerra como reacção ao modernismo teológico. O fundamentalismo islâmico insiste na observância rígida da lei muçulmana da Charya. GLASNOST Política de liberalização da sociedade da URSS implementada em 1986 por Gorbatchev. Entre os aspectos resultantes desta política encontrava-se uma maior liberdade de expressão e informação e uma maior abertura nas relações com os países ocidentais. Veio no seguimento da Perestroika. GUERRA FRIA Expressão criada para caracterizar o estado de tensão entre os EUA e a URSS a seguir à Segunda Guerra Mundial, clima que se estendeu posteriormente aos aliados destes dois países até 1990. As manifestações de guerra fria foram diversas, desde o conflito verbal e diplomático, o envolvimento em conflitos regionais, a corrida ao armamento e a conquista do espaço até à competição aos níveis científico, tecnológico e desportivo e à criação de estruturas político-militares antagónicas. O fim da guerra fria foi oficialmente declarado na Conferência para a Segurança e Cooperação na Europa (Paris, Nov. 1990) IMPERIALISMO Sistema político que preconiza o domínio de um governo para além das suas fronteiras. Pode ser exercido por meio de governo directo ou através do controlo dos mercados dos bens e matérias-primas, por exemplo. LIBERALISMO Doutrina político e social que advoga o governo representativo, a liberdade de imprensa, de expressão e de credo religioso, a abolição dos privilégios de classe, a utilização dos recursos do Estado para protecção do bem-estar do indivíduo e o comércio livre internacional. O liberalismo desenvolveu-se entre os sécs. XVII a XIX. No início do séc. XX o seu ideário modificou-se com a aceitação do sufrágio universal e uma certa intervenção do Estado na economia. MARXISMO Doutrina económica e social desenvolvida por Marx que assenta na teoria política da revolução operária, da instalação da ditadura do proletariado como etapa de transição para uma sociedade sem classes e sem Estado – o comunismo. MARXISMO-LENINISMO Teoria e programa de acção introduzido por Lenine que consistiu em adaptar o marxismo às circunstâncias históricas da Rússia dos princípios do séc. XX, relacionadas, em particular, com o peso que na revolução teve o campesinato, dada a relativa fragilidade da classe operária, e com a construção do centralismo democrático, em oposição ao aprofundamento de uma democracia de base (sovietes). O termo foi utilizado pelo ditador Estaline para definir

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91 / 95 as suas próprias opiniões como a posição ortodoxa do marxismo (padrão de medida da pureza ideológica) MOVIMENTO OPERÁRIO Expressão que designa as movimentações operárias (criação de associações e sindicatos, manifestações, greves, imprensa e a criação de partidos operários) iniciadas no princípio do séc. XIX como reacção más duras condições de trabalho. NACIONALISMO Movimento político que procura de forma consciente unificar uma nação, criar um Estado ou libertá-lo do domínio estrangeiro (eventualmente imperialista). Estimulados pela Revolução Francesa, os movimentos nacionalistas tornaram-se um factor importante na política europeia do séc. XIX. Levado ao extremo, o nacionalismo pode produzir sistemas e regimes políticos perigosos (Alemanha nazi, 1930) NACIONAL-SOCIALISMO Nome oficial para o movimento ideológico e político do nazismo na Alemanha (v. fascismo) NAZISMO Ideologia do Partido Nacional-Socialista Alemão, liderado por Hitler de 1921-41. Baseada no nacionalismo e no racismo, exalta a supremacia da raça ariana e do Estado sobre o indivíduo. Preconizava um Estado totalitário, baseado no sistema de partido único. O nazismo opunha-se ao marxismo e o liberalismo, bem como às ideias de individualismo e universalidade, proclamadas pela Revolução Francesa. Durante a década de 1930 as ideias nazis espalharam-se na Europa tendo levado à formação de partidos semelhantes embora só os da Áustria, Hungria e Sudetas tivessem adquirido maior importância, colaborando na ocupação alemã da Europa (1939-45). Com a vitória dos aliados o partido foi banido da Alemanha e os seus elementos condenados no Tribunal de Nuremberga. NEW DEAL Conjunto de reformas sócio-económicas empreendidas, a partir de 1933 por Roosevelt, para superar os efeitos da Grande Depressão de 1929 e que traduziram pela intervenção do Estado na banca e no crédito, pela desvalorização do dólar, reajustamento entre o nível salarial e os preços, incentivo à produção e execução de grandes obras do Estado como forma de combater o desemprego. ONU Veio no seguimento da Sociedade das Nações. Associação de países para a paz, segurança e cooperação internacional fundada em 1945 na Conferência de São Francisco, com a adopção da carta das Nações Unidas, assinada por 51 países. Objectivos: assegurar a paz no mundo; proteger os direitos do Homem no mundo inteiro; procurar resolver conflitos pela via do diálogo; desenvolver económica e socialmente as nações. A sua organização compreende: Conselho de Segurança; Assembleia Geral; Secretariado; Tribunal Internacional de Justiça, Conselho de Tutela, Conselho Económico e Social e Organismos especializados (FMI, OMS, UNESCO...). OTAN/NATO Teve por base o Tratado do Atlântico Norte, no qual se estipulou que «um ataque armado na Europa ou na América do Norte, contra um ou mais países-membros, será considerado um ataque contra todos eles» Formada em 1949 com o objectivo de constituir uma defesa colectiva dos principais países da Europa Ocidental e dos EUA contra a possível ameaça da URSS. A NATO é composta por forças militares de todos os países membros e sob a doutrina de que a agressão a um era considerada uma agressão geral.

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92 / 95 Depois do desmantelamento do Pacto de Varsóvia (19991) foi estabelecido no âmbito da NATO o Conselho de Cooperação do Atlântico Norte, que inclui as antigas repúblicas soviéticas e cujo objectivo é a edificação de uma maior segurança na Europa. OLIGARQUIA Forma de governo em que o poder está na mão de poucas pessoas ou de poucas famílias(v.g. governo paramilitar da família Duvalier do Haiti – 1957-86) ORDEM Posição, classe ou categoria a que pertencem as pessoas ou coisas num conjunto racionalmente organizado ou hierarquizado. PACTO DE VARSÓVIA O bloco socialista, como resposta à NATO, formou em 1955 o Pacto de Varsóvia, estabelecendo cooperação militar entre os países comunistas da Europa de Leste sob o comando da URSS e cujos princípios eram idênticos aos da NATO. Foi dissolvido em 1991 juntamente com a URSS. PAN-AFRICANISMO Movimento anti-colonial que acredita na unidade inata entre todos os africanos negros e entre os seus descendentes noutros continentes, defendendo a existência de uma África unida. Foi fundado em 1900 em Londres. O apoio ao movimento foi estimulado pela invasão da Etiópia pela Itália em 1933. Tem sido parcialmente integrado em movimentos mais alargados do Terceiro Mundo. PERESTROIKA Movimento de reestruturação levado a cabo por Mikhail Gorbatchev em 1985 que procurava modernizar e adaptar aos novos tempos o Estado soviético (com a abertura da economia através da privatização de sectores económicos e da promoção da iniciativa individual) para além de pretender reestruturar o comunismo a partir do seu interior. Foi seguida da política de liberalização da sociedade a Glasnost. Veio posteriormente a conduzir ao desmembramento do bloco de Leste. PLANO MARSHALL Favorecimento de ajuda económica à Europa Ocidental pelo presidente democrata (1945-53) dos EUA Harry Truman, como forma de impedir o avanço do socialismo, e que visava propiciar um desenvolvimento acelerado nos países mais favorecidos por este investimento: França, Grã-Bretanha, Alemanha Ocidental, Itália, Holanda e Bélgica. O Estado deveria garantir o pleno emprego, controlar a inflação e equilibrar a balança de pagamentos (aplicação das teorias de Keynes) POPULISMO Sistema político que defende e promove a influência do elemento popular, denegando valor ou sentido crítico às classes mais sofisticadas. REPÚBLICA Forma de governo em que o chefe de Estado é eleito pelos cidadãos ou seus representantes tendo o exercício do cargo duração limitada SINDICALISMO Organização de trabalhadores cujo objectivo é a regulamentação das relações entre as entidades patronais e os trabalhadores que representam, promovendo e defendendo os interesses dos sócios. Os sindicatos preocupam-se particularmente com salários, condições de trabalho, segurança e despedimentos.

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93 / 95 SOBERANIA O poder que o Estado tem de fazer leis e impô-las colectivamente, diferenciando governante de governados. O seu sentido e uso vulgarizou-se a partir do Tratado de Vestfália (1648) coma divisão da Europa em Estados independentes (e de fronteiras precisas) e com o fim da supremacia do Papa. SOBERANIA NACIONAL Autoridade absoluta de um Estado dentro do seu território. SOCIAL-DEMOCRACIA Corrente ideológica dos finais do séc. XIX e é, na sua origem, uma corrente político-ideológica reformista que estava representada na II Internacional, constituída em 1889 que agrupava todas as organizações que se reviam, em simultâneo, nas ideias socialistas e na democracia parlamentar. Esta corrente continua, actualmente, agrupada em torno da Internacional Socialista, que reúne as diversas correntes e sensibilidades do socialismo democrático. SOCIALISMO Ideologia surgida no séc. XIX como reacção às injustiças e desigualdades sociais, com o objectivo de estabelecer uma sociedade sem classes, substituindo a propriedade privada dos meios de produção, distribuição e troca pela propriedade colectiva. SOCIEDADE DAS NAÇÕES Fundada em 1917 na Conferência de Paz de Paris com o objectivo de promover a paz. Foi assinada por 63 países que se comprometeram a preservar a integridade territorial de todos e a submeter as disputas internacionais a esta organização. A Sociedade das Nações viu a sua actividade bloqueada pelas rivalidades internacionais e pela necessidade de unanimidade nos processos de tomada de decisão. Foi dissolvida em 1946 e deu lugar à ONU. SUFRÁGIO UNIVERSAL Sistema de votação adoptado progressivamente pelas democracias desde os finais do séc. XIX, caracterizado pelo facto de os cidadãos participarem nos processos eleitorais sem qualquer distinção, logo que atingem a maioridade. SUSERANIA Domínio de um senhor com vastos recursos económicos, sociais e políticos de cujos vassalos dependem, outros que rendem homenagens ou pagam tributo. TERCEIRO MUNDO Expressão que designa o conjunto de países que apresentam características de subdesenvolvimento ou que se encontram em vias de desenvolvimento, habitualmente também designados como Países do Sul, que se situam sobretudo na África, América Latina e Sueste Asiático. TERCEIRO REICH Termo criado nos anos 20 e utilizado pelos nazis para designar a Alemanha durante os anos de ditadura de Hitler, após 1933. A ideia de Terceiro Reich baseou-se a existência de dois impérios alemães anteriores (Sacro-império romano-germânico, do período medieval; a Confederação Germânica depois do Congresso de Viena; o terceiro seria o Anschluss, ou a reunificação do antigo império) TOTALITARISMO Surgiu como reacção ao liberalismo do séc. XIX e entende o Estado como valor absoluto ao qual se devem subordinar todos os indivíduos. Neste sentido, o totalitarismo conduz à

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História da Idade Contemporânea Conceitos e Noções

94 / 95 existência de uma orientação política e ideológica única, sustentada por uma elite social esclarecida que governa, e à repressão de quaisquer ideologias que se oponham. TRATADO DE MAASTRICHT Entrou em vigor em 1nov1993, data a partir da qual a CE passou a ser designada por UE. As questões cobertas pelo tratado incluem o processo de tomada de decisão da UE e o estabelecimento de uma cooperação mais estreita na política externa e militar. Entre os objectivos do tratado contam-se: o fortalecimento das economias dos Estados-membros, de modo a ser estabelecida uma união económica e monetária, incluindo uma moeda única estável; uma política externa e de segurança comum; a livre circulação de pessoas; uma maior união entre os povos europeus. TRATADO DE ROMA Data de 1957, foi assinado por seis países europeus (Bélgica, Holanda e Luxemburgo, RFAlemanha, França e Itália –a Europa dos Seis) e é através dele que se funda a CEE. Ficaram assim abolidas tarifas e barreiras alfandegárias entre os membros. TRATADO DE VERSALHES Tratado assinado em 1919 entre os países aliados para pôr fim à I Guerra Mundial declarando a Alemanha responsável pelo conflito e condenando-a apagar indemnizações. TRIPLA ENTENTE Aliança entre a Inglaterra, a França e a Rússia entre 1907 e 1917. Em 1911 tornou-se uma aliança militar e serviu de base para a conjugação de poderes contra as potências centrais (Alemanha e Áustria-Hungria) durante a I Guerra Mundial UNIÃO EUROPEIA Conhecida até 1993 como CE, é uma organização intergovernamental constituída por quinze Estados europeus (Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Reino Unido e Suécia), que possui instituições e uma estrutura decisória próprias. O objectivo dos seus fundadores era a construção de uma Europa unida por meios pacíficos, criando condições propícias ao crescimento económico, à coesão social entre as diversas populações europeias e uma maior integração política entre os governos dos seus estados-membros

FIM

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História da Idade Contemporânea Introdução à História do Nosso Tempo – IV Parte: O século XX: De 1914 aos nossos dias