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26/09/2015 1 Transtornos de Personalidade e Implicações Forenses PUC Goiás Prof.ª Otília Loth Personalidade Personalidade é uma totalidade relativamente estável e previsível de traços emocionais e comportamentais que caracterizam a pessoa em sua vida cotidiana. A personalidade se configura em função das necessidades do sujeito e das exigências do ambiente, estando assim, em constante modificação. Personalidade O modelo psicobiológico de Personalidade de Cloninger estrutura a personalidade da seguinte forma: Temperamento + Caráter = Personalidade (biológico) (social)

Homicídio, emoção, personalidade e impulsividadeprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17963... · Controle dos impulsos . 26/09/2015 3 ... A falta de regulação

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Transtornos de Personalidade e

Implicações Forenses

PUC Goiás

Prof.ª Otília Loth

Personalidade

Personalidade é uma totalidade relativamente

estável e previsível de traços emocionais e

comportamentais que caracterizam a pessoa

em sua vida cotidiana.

A personalidade se configura em função das

necessidades do sujeito e das exigências do

ambiente, estando assim, em constante

modificação.

Personalidade

O modelo psicobiológico de Personalidade de

Cloninger estrutura a personalidade da

seguinte forma:

Temperamento + Caráter = Personalidade

(biológico) (social)

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Personalidade

Desta forma, a estruturação do caráter

determinará uma adequada ou inadequada

adaptação dos traços hereditários do indivíduo

diante dos vários eventos ambientais ao longo

de sua vida.

Agres

sivida

de

Normas

Sociais Normas

Sociais

Agressivid

ade

Transtornos de Personalidade

Um padrão duradouro de comportamento e

experiências internas que desviam de forma

marcante das expectativas da cultura do

indivíduo, é pervasivo e inflexível, tem início

ainda na adolescência ou no adulto jovem, é

estável no tempo, e leva ao desconforto ou

prejuízo.

Critérios diagnósticos

A. Um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. Este padrão manifesta-se em duas (ou mais) das seguintes áreas:

1. Cognição (isto é, modo de perceber e interpretar a si mesmo, outras pessoas e eventos);

2. Afetividade (isto é, variação, intensidade, labilidade e adequação da resposta emocional);

3. Funcionamento interpessoal;

4. Controle dos impulsos

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Critérios diagnósticos

B. O padrão persistente é inflexível e abrange uma

ampla faixa de situações pessoais e sociais.

C. O padrão persistente provoca sofrimento

clinicamente significativo ou prejuízo no

funcionamento social, ocupacional ou em outras

áreas importantes da vida do indivíduo.

D. O padrão é estável e de longa duração, podendo

seu início remontar à adolescência ou começo

da idade adulta.

Critérios Diagnósticos

E. O padrão persistente não é melhor explicado

como uma manifestação ou conseqüência de

outro transtorno mental.

F. O padrão persistente não é decorrente dos

efeitos fisiológicos diretos de uma substância

(por ex., droga de abuso, medicamento) ou

de uma condição médica geral (por ex.,

traumatismo craniano).

Transtornos de Personalidade

Um aspecto de destaque em sujeitos com TP é que eles apresentam maior vulnerabilidade a manifestarem outras perturbações psiquiátrica, como depressão, ansiedade e quadros delirantes, assim como se envolverem em condutas delituosas.

A falta de regulação dos impulsos, modulação afetiva e controle da ansiedade são as principais causas.

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CLASSIFICAÇÃO

AGRUPAMENTO A (bizarros, excêntricos)

Paranóide Esquizóide Esquizotípico

AGRUPAMENTO B (dramáticos, emotivos, erráticos)

Anti-social Limítrofe - Borderline Histriônico Narcisista

AGRUPAMENTO C (ansiosos, medrosos)

Evitante Dependente Obsessivo-compulsivo

DSM - IV

Transtorno da Personalidade Paranóide

Prevalência: 0,5-2,5% na população geral, 10-30% em contextos de internação

psiquiátrica e 2-10% em ambulatórios de saúde mental. Mais frequente em

homens.

Complicações: psicose reativa breve frente a situações estressantes, evolução

para transtorno delirante persistente (paranoia e outros);

Comorbidades: risco aumentado para depressão, TOC, agorafobia e abuso ou

dependência de substâncias.

Transtorno da Personalidade Paranóide

Para o individuo com este transtorno o mundo é um

lugar perigoso e as pessoas têm sempre intenções

malévolas em seus atos, o que produz uma postura

hiper-vigilante.

O sentimento exarcebado de desconfiança sem

fundamento leva essas pessoas a distorcerem as

situações, ocasionando muitas vezes a transposição

da fantasia para uma ameaça real, que pode se

traduzir de uma hostilidade verbal a um

comportamento violento, como o homicídio.

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Transtorno da Personalidade Paranóide

Nos casos de homicídios cometidos por

pessoas com este transtorno, costuma-se

considerar o artigo 26 do Código Penal:

“Quando o sujeito tem a capacidade de

entendimento ou de autodeterminação

presente, mas prejudicada”.

Assim, costuma-se aplicar a semi-

imputabilidade.

Transtorno da Personalidade

Esquizoide

Distanciamento social, preferência por atividades solitárias,

ausência de desejo ou prazer em amizades ou atividades

sexuais;

• Indiferença a opinião alheia;

• Afeto frio, achatado ou indiferente;

• Sem amigos próximos ou confidentes, exceto familiares;

• Passividade em situações adversas e ausência de habilidades

sociais freqüentes.

Transtorno da Personalidade Esquizóide

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Mais comum em homens;

Relatos esparsos de prevalência aumentada em familiares

de portadores de esquizofrenia e transtorno esquizotípico;

Complicações: psicose reativa breve em resposta a estresse;

Pode ocorrer como antecedente pré-mórbido de

esquizofrenia ou transtorno delirante.

Transtorno da Personalidade Esquizóide

Transtorno da Personalidade

Esquizóide

O aspecto central deste transtorno é um padrão de distanciamento de relacionamentos sociais e uma faixa restrita de expressão emocional em contextos interpessoais.

Não é comum indivíduos acometidos por este transtorno terem problema com a justiça. No entanto, o sujeito pode reagir de forma agressiva a tentativas insistentes de aproximação.

Transtorno da Personalidade

Esquizóide

Por terem um comportamento estereotipado

desde a adolescência, é comum que sejam

vítimas de bullying, o que já foi motivou

muitos jovens esquizóides a cometerem crimes

bárbaros, como os casos de atiradores de

massa nos EUA e Europa.

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TRANSTORNO DE PERSONALIDADE

ESQUIZOTÍPICA

• A. Um padrão invasivo de déficits sociais e interpessoais, marcado por desconforto agudo e reduzida capacidade para relacionamentos íntimos, além de distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento excêntrico, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por pelo menos cinco dos seguintes critérios:

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE

ESQUIZOTÍPICA

1. Idéias de referência (excluindo delírios de referência);

2. Crenças bizarras ou pensamento mágico que influenciam o comportamento e são inconsistentes com as normas da subcultura do indivíduo (por ex., superstições, crença em clarividência, telepatia ou "sexto sentido"; em crianças e adolescentes, fantasias e preocupações bizarras);

3. Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões somáticas;

4. Pensamento e discurso bizarros (por ex., vago, circunstancial, metafórico, super elaborado ou estereotipado)

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE

ESQUIZOTÍPICA

5. Desconfiança ou ideação paranóide;

6. Afeto inadequado ou constrito;

7. Aparência ou comportamento esquisito, peculiar ou excêntrico;

8. Não tem amigos íntimos ou confidentes, exceto parentes em primeiro grau;

9. Ansiedade social excessiva que não diminui com a familiaridade e tende a estar associada com temores paranóides, ao invés de julgamentos negativos acerca de si próprio.

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PREVALÊNCIA

Prevalência de 2 a 6% na população geral, distribuição

entre os sexos desconhecida;

Evidência de prevalência aumentada em familiares de

portadores de esquizofrenia e vice-versa, além de

agregação familiar do próprio transtorno.

Complicações: episódios psicóticos transitórios e

evolução para esquizofrenia;

Comorbidades: depressão em 30-50%.

CLASSIFICAÇÃO

AGRUPAMENTO A (bizarros, excêntricos)

Paranóide Esquizóide Esquizotípico

AGRUPAMENTO B (dramáticos, emotivos, erráticos)

Anti-social Borderline Histriônico Narcisista

AGRUPAMENTO C (ansiosos, medrosos)

Evitativo Dependente Obsessivo-compulsivo

DSM - IV

• Padrão constante de desrespeito e violação dos direitos dos

outros e das normas sociais desde juventude;

• Comportamento e discurso sedutor e mentiroso,

freqüentemente coagindo por interesse ou prazer próprio;

• Impulsividade ou dificuldade de planejamento futuro;

• Irritabilidade e agressividade;

• Irresponsabilidade e imprudência;

• Ausência de remorso e indiferença ou racionalização ao

sofrimento alheio;

• Pode ocorrer promiscuidade, ausência de empatia, cinismo,

arrogância, e abuso dirigido a crianças.

Transtorno de Personalidade

Antissocial

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Prevalência de 3% em homens e 1% em mulheres;

Estudos de agregação familiar e adoção revelam contribuição de

componentes genéticos e ambientais para este transtorno;

Complicações: alterações do humor, problemas legais e morte

prematura;

Comorbidades:

Eixo I: depressão maior, transtornos ansiosos e de

somatização, abuso e dependência de substâncias, transtornos

do controle de impulsos, roubo patológico.

Eixo II: personalidades narcisista, histriônica e borderline.

Transtorno de Personalidade Antissocial

Sentimento de grandiosidade (importante e especial),

necessidade de admiração, falta de empatia e inveja crônica;

• Fantasias de sucesso, poder, brilhantismo e beleza

ilimitados, ou amor ideal;

• Tirar vantagem de outros para benefício próprio;

• Atitude arrogante;

• Podem acompanhar o quadro: auto-estima frágil, com

hipersensibilidade a criticas; intenso sentimento de vergonha e

humilhação; exibicionismo; medo de ter suas imperfeições

reveladas.

Transtorno de Personalidade Narcisista

Prevalência menor que 1% na população em geral, mais

comum em homens;

Pais narcísicos constituem fatores predisponentes por

criarem um senso irreal de grandiosidade. Além disso, muitas

pessoas narcísicas são realmente talentosas, bonitas e

inteligentes.

Comorbidades:

Eixo I: depressão maior, abuso e dependência de

substâncias;

Eixo II: borderline, anti-social, histriônica e paranóide.

Transtorno de Personalidade Narcisista

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• Excessiva teatralidade, emocionalidade e busca por atenção;

• Comportamento sedutor ou provocativo;

• Necessidade de ser o centro das atenções;

• Superficialidade emocional;

• Sugestionabilidade;

• Aparência física chamativa;

• Crença de que as relações sociais são mais intimas do que são

realmente;

• Podem ocorrer: dificuldade em alcançar intimidade nos

relacionamentos; necessidade de excitação e estimulação;

promiscuidade ou aversão sexual.

Transtorno de Personalidade Histriônica

Prevalência de 2 a 3% na população geral, mais freqüente

em mulheres;

Complicações: comportamento suicida ou hipocondríaco

freqüente; relacionamentos interpessoais instáveis,

superficiais e geralmente não gratificantes; problemas

conjugais.

Comorbidades: depressão maior, transtornos conversivo e

de somatização.

Transtorno de Personalidade Histriônica

• Características centrais: instabilidade afetiva, impulsividade,

instabilidade nos relacionamentos interpessoais e cognição alterada.

• Esforços para evitar abandono real ou imaginário;

• Relacionamentos interpessoais intensos e instáveis, alternando

idealização e desvalorização;

• Auto-imagem e sentimento do eu persistentemente alterado;

• Impulsividade em 2 áreas potencialmente auto-lesivas;

• Comportamento auto-destrutivo recorrente (suicídio, ameaças, auto-

mutilação);

• Sentimento crônico de vazio;

• Raiva intensa e inapropriada, difícil de controlar;

• Ideação paranóide ou sintomas dissociativos transitórios,

relacionados a estresse.

Transtorno de Personalidade Borderline

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Prevalência de 2% na população em geral, mais comum

em mulheres (75% dos casos);

Fatores predisponentes: trauma (abuso físico ou sexual,

hostilidade) na infância, perda parental precoce,

temperamento vulnerável.

Complicações: sintomas psicóticos relacionados em

resposta a estresse, morte prematura ou seqüelas de

comportamento suicida / auto-destrutivo.

Comorbidades: depressão maior, abuso e dependência de

substâncias, transtornos alimentares (principalmente bulimia

nervosa).

Transtorno de Personalidade Borderline

CLASSIFICAÇÃO

AGRUPAMENTO A (bizarros, excêntricos)

Paranóide Esquizóide Esquizotípico

AGRUPAMENTO B (dramáticos, emotivos, erráticos)

Anti-social Limítrofe Histriônico Narcisista

AGRUPAMENTO C (ansiosos, medrosos)

Evitativo Dependente Obsessivo-compulsivo

DSM - IV

• Preocupações com detalhes, regras, organização, listas ou agenda

de forma que o objetivo principal é perdido;

• Perfeccionismo que interfere com o término da tarefa;

• Dedicação excessiva ao trabalho e produtividade X atividade de

lazer e amizade;

• Hipercrítica, excesso de escrúpulos, inflexibilidade moral e ética;

• Relutância em delegar tarefas a não ser que esteja submisso ao seu

jeito;

• Dificuldade em jogar fora objetos sem valor ou utilidade;

• Rigidez e teimosia.

Transtorno de Personalidade Obsessivo Compulsivo

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Prevalência de 1% na população geral, sendo 2 vezes

mais comum nos homens;

Associação com o “Espectro Obsessivo-compulsivo”;

Complicações: estresse e dificuldades frente a novas

situações que demandam flexibilidade;

Comorbidade: Transtornos ansiosos e depressão.

Transtorno de Personalidade Obsessivo Compulsivo

• Hipersensibilidade a avaliações negativas, inibição social e

sentimentos de inadequação;

• Preocupações e medo de críticas, rejeição e desaprovação em

situações sociais, com evitação associada;

• Indisposição de se envolver com outros exceto quando há

certeza de aprovação, restrição a relacionamentos íntimos,

relutância em assumir riscos ou se engajar em novas

atividades;

• Inibição em novas situações sociais por sentimento de

inadequação;

• Idéias de inaptidão social, ser desinteressante ou inferior.

Transtorno de Personalidade Evitativa

Prevalência de 0,5 a 1% na população geral, com

distribuição igual entre os sexos;

Comorbidade: Transtornos ansiosos, principalmente

fobia social, e depressão.

Transtorno de Personalidade Evitativa

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• Necessidade excessiva de ser cuidado, levando a passividade,

submissão, medo de separação e dependência interpessoal.

• Dificuldade de tomar decisões sem o reasseguramento e conselho

de outros;

• Necessidade de que outros assumam a responsabilidade por grandes

áreas de sua vida;

• Dificuldade em expressão desaprovação por medo de perda de

suporte;

• Falta de iniciativa;

• Medo exagerado de ser incapaz de cuidar de si, com desconforto

quando sozinho e preocupações com abandono;

• Busca urgente por um outro relacionamento após o término de um

relacionamento íntimo

•Baixa auto-estima;

Transtorno de Personalidade Dependente

O transtorno de personalidade mais freqüente (DSM-IV),

não há diferença na distribuição entre os sexos;

Comorbidade: depressão maior, transtornos ansiosos e

de ajustamento.

Transtorno de Personalidade Dependente

Cluster A

• isolamento, baixa dependencia de gratificação

Tipos:

- Paranóide: desconfiança

- Esquizóide: isolamento, indiferença afetiva

- Esquizotípica: excentricidade, crenças estranhas

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Cluster B

• Impulsividade, comportamentos excêntricos

Tipos:

- Anti-social: desrespeito ao outro, falta de remorso

- Histriônica: teatralidade, sedução

- Narcisista: arrogância, baixa auto-estima

- Borderline: ambivalência afetiva, auto-destrutividade

Cluster C

• Ansiedade, apreensão, alta esquiva ao dano

Tipos:

- Obsessivo-compulsiva: meticuloso, escrupulosidade

- Evitativa: esquiva fóbica

- Dependente: preocupações com o abandono

DIAGNÓSTICO

Clínico-descritivo: história de vida

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Tratamento

• Psicoterapia

• Tratar as comorbidades

• Prevenção de complicações

• Terapia farmacológica específica visando reduzir:

- Instabilidade afetiva

- Impulsividade

Obrigada!