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IMUNIZAÇÃO NO BRASIL: HISTÓRIA E CONCEITOS SOB A ÓTICA DA ENFERMAGEM

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IMUNIZAÇÃO NO BRASIL: HISTÓRIA E CONCEITOS SOB A

ÓTICA DA ENFERMAGEMLILIAN GRAZIELEMÔNICA CASSIANO

VALDECI FERREIRA

FORTALEZA2010

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APRESENTAÇÃO

Apesar das políticas públicas de saúde atuais não funcionarem tão bem quanto no papel, podemos dizer que, certamente, elas já melhoraram muito pelo simples fato de existirem e por tratarem do assunto com vistas à realidade do coletivo, pois se norteiam e deliberam suas decisões a partir de princípios que veem o ser de cuidado em sua totalidade, visando suas necessidades como biopsicossociais e não mais só pela necessidade da cura da patologia como prezava a medicina curativa até meados dos anos 80.

O assunto apresentado com maior ênfase nesse livro é a Imunização, peça integrante na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros e das políticas de saúde pública do Brasil. O surgimento do Programa Nacional de Imunização (PNI) foi um importante marco na história da saúde do país.

Por isso, no primeiro capítulo, nos propusemos a fazer um breve apanhado histórico da saúde coletiva no Brasil, partindo do “descobrimento” do país até a criação do PNI. Relevamos fatos que tiveram maior importância para o surgimento deste programa, contudo, não fizemos esse retrospecto partindo da visão de historiadores e sim de promovedores de saúde, pois nos detemos a repassar ao leitor informações e conceitos do ponto de vista do enfermeiro.

Depois do retrospecto histórico, definimos os conceitos e a importância da imunização e do programa relacionado a tal fim, o PNI, pois nesse segundo capítulo apresentamos como se dá o funcionamento deste programa e apontamos quais os tipos de medicamentos que são utilizados para cada indivíduo em cada faixa etária. Nesse mesmo capítulo expomos as tabelas que funcionam como paradigmas a serem seguidos e que indicam quando cada medicamento deve ser administrado em cada período da vida.

No terceiro e último capítulo, falamos do papel do enfermeiro no PNI, definimos as atribuições pertinentes, não só ao enfermeiro, mas, à equipe de enfermagem. Dessa forma nos vimos na obrigação de não apresentar tais atribuições apenas de maneira subjetiva e sim de detalhá-las, para que assim se possa perceber o real valor da equipe de enfermagem dentro do Programa Nacional de Imunização.

Esperamos que o leitor tire bom proveito das informações aqui destacadas e que essas poucas palavras consigam instigar cada um deles à uma leitura mais aprofundada sobre o assunto que é de extrema importância não só para os profissionais da saúde, mas, também, para todos os outros membros da sociedade que utilizaram, utilizam ou utilizarão os serviços de imunização. Já que o conhecimento do usuário, em relação ao PNI, o levará a fazer melhor uso desse programa e assim ajudar a si mesmo e o país.

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SUMÁRIO

1. RETROSPECÇÃO HISTÓRICA: DA DOENÇA À IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO (PNI) NO BRASIL.........................................................................4

2. IMUNIZAÇÃO E PROGRAMA NACIONAL DE SAÚDE: CONCEITOS E FUNCIONALIDADE..............................................................................................................................7

2.1 Tipos de Imunidade..................................................................................................................7

2.2 Programa Nacional de Imunização.........................................................................................7

2.2.1 Calendário Básico Nacional de Vacinação da Criança (Fonte: Ministério da saúde – Adaptado)............................................................................................................................................8

2.2.2 Calendário Nacional de Vacinação do Adolescente (Fonte: Ministério da saúde – Adaptado)............................................................................................................................................9

2.2.3 Calendário Básico Nacional de Vacinação do Adulto e Idoso (Fonte: Ministério da saúde – Adaptado)...............................................................................................................................9

3. O PAPEL DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NO PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO......................................................................................................................................10

3.1 Avaliação de Processo............................................................................................................10

3.2 Avaliação de Resultados........................................................................................................10

3.3 Atendimento ao Usuário........................................................................................................11

4. REFERÊNCIAS.............................................................................................................................12

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IMUNIZAÇÃO NO BRASIL: HISTÓRIAS E CONCEITOS SOB A ÓTICA DA ENFERMAGEM

1. RETROSPECÇÃO HISTÓRICA: DA DOENÇA À IMPLANTAÇÃO DO

PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO (PNI) NO BRASIL

á no início de sua existência até muito tempo depois da famigerada independência, o nosso país foi utilizado

como ponto de embarque e desembarque dos grandes navios mercantilistas que ora viajavam para negociar nas índias e ora vinham apenas para buscar o que lhes interessavam, aqui mesmo, em nossas terras.

J

Devido à chegada e saída de pessoas dos mais diversos lugares do mundo e, também, à precariedade que havia na qualidade de vida da época, eis que surgem os primeiros problemas relacionados à proliferação de doenças que atingiam, principalmente, os índios que morriam às centenas, fazendo com que hoje percebamos isto como um verdadeiro genocídio ocasionado pela falta de responsabilidade dos indivíduos ditos civilizados e pela sua voraz ganância.

Contudo, este problema, que de início teve como causadores: a falta de princípios éticos e morais daqueles que se diziam colonizadores e; os atos inescrupulosos, atribuídos aos mesmos, sempre movidos pelo sofrimento de muitos desfavorecidos e a favor do deleite de poucos poderosos no decorrer da existência do nosso país, não foi fácil conter os surtos e epidemias de doenças até então desconhecidas.

Muitos foram os anos, e porque não dizer, séculos, de descontrole sobre as doenças e de sofrimento da população durante este período de descaso com a saúde, fator que aumentou demasiadamente o número de mortes causadas por epidemias em nosso país.

É aceitável que na época da “Descoberta do Brasil” e nos primeiros períodos que a sucederam (como o período da Colonização, da Monarquia e do início da República) houvessem mortes ocasionadas por doenças hoje vistas como de prevenção ou cura simples, já que nestes períodos ainda não havia políticas ou até mesmo tecnologias ou descobertas medicinais que pudessem evitar tamanha problemática.

No entanto, esse problema ainda perdurou por muitos séculos até ser implantada a primeira campanha de vacinação no Brasil. Demora esta que já não era mais motivada pela falta de tecnologias e descobertas medicinais, mas sim pela omissão daqueles que deveriam promover políticas públicas de saúde que beneficiassem, mesmo que minimamente, o povo.

Deixando para trás os fatos desumanos dos primórdios da nossa história e a falta de recursos da época, nos voltamos para um período mais recente em que os fatos também não se diferenciavam tanto da nossa história regressa, já que a imensa desigualdade social relacionada ao direito à saúde ainda se fazia presente em nossa sociedade nos séculos XIX e XX. Mesmo durante o início do “presidencialismo democrático”, ainda houve total descaso e omissão do governo no que diz respeito à impetração de políticas públicas de saúde.

A Proclamação da República, por exemplo, funcionara apenas no papel, pois continuava a colaborar apenas com a burguesia da época, sendo esta bem representada pelo coronelismo e seus votos de cabresto.

Diante desses acontecimentos, Não fica difícil entender o porquê das cidades brasileiras terem ficado tanto tempo entregue às epidemias.

No início do século XX, cidades, como a do Rio de Janeiro, tinham sua população atingida por doenças graves devido a

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falta de compromisso do governo com a situação sanitária do país, o que comprometia desde a saúde coletiva até mesmo ao comércio exterior, pois os empresários não permitiam mais que seus navios atracassem nos portos das cidades brasileiras.

As epidemias aumentaram substancialmente, ao ponto de diminuir os ganhos do país com o afastamento desses navios. Por conta dessas percas, surge uma medida desesperada do então presidente do Brasil, Rodrigues Alves, que nomeia Oswaldo Cruz ao cargo de Diretor do Departamento Federal de Saúde Pública, este último promete erradicar a febre-amarela.

A partir de ações autoritárias dos “guardas sanitários” (figuras marcantes do movimento intitulado Campanhista), Oswaldo Cruz, mesmo sob críticas e revoltas do povo, consegue manter o controle do mosquito vetor da febre amarela. Devido ao sancionamento da lei Federal nº 1261, de 31 de outubro de 1904, que obrigava a vacina antivaríola em todo o território nacional, surgiu a Revolta da Vacina, um grande movimento popular contra a obrigatoriedade da vacinação.

Apesar de toda a arbitrariedade que o movimento campanhista atribui aos seus serviços, suas ações serviram como modelo para o atual sistema de imunização, graças à diminuição dos casos das doenças que se propôs tratar.

Em 1920, Carlos Chagas, sucessor de Oswaldo Cruz no cargo de Diretor do Departamento Nacional de Saúde, houve uma grande melhora da saúde pública brasileira, pois o mesmo introduziu a propaganda e a educação sanitária como integrantes de um novo modelo de saúde.

Medidas de saneamento, como assistência hospitalar e a criação de órgãos especializados no combate à tuberculose, à lepra e às doenças venéreas, foram expandidas para alguns estados do Brasil, o que melhorou consideravelmente a situação caótica em que o país se encontrava.

Todavia, esse movimento visava apenas os estados e as cidades que faziam parte da economia agro-exportadora da época, erradicando ou controlando as doenças que poderiam prejudicar os lucros advindos da exportação. Assim fica explícito que desde o final do século passado até o início dos anos 60 o modelo campanhista ainda predominou, tendo sido este apenas melhorado por ações que não visaram o bem-estar geral do povo e sim os ganhos econômicos.

Depois desse importante marco na história do sanitarismo brasileiro outro grande acontecimento, que marcou o surgimento da previdência social no Brasil, adveio de movimentos de trabalhadores que reivindicavam melhores condições de trabalho e de qualidade de vida, principalmente os trabalhadores imigrantes europeus, como os “anarquistas” italianos.

Devido a esses movimentos trabalhistas, no ano de 1923, surgiram as CAP’s (Caixas de Aposentadoria e Pensão) que traziam também outros benefícios como a assistência médica. Esse tipo de previdência não arrolava os trabalhadores rurais, pois de acordo com a lei que criavam as CAP’s (Lei Eloy Chaves) os beneficiados seriam apenas aqueles trabalhadores dos centros urbanos.

A assistência médica aplicada na época seguia uma visão cartesiana de intervenção direta, pois só havia ação da assistência médica voltada à cura da doença e não à promoção da saúde coletiva.

Depois do nascimento da previdência social no Brasil, outro acontecimento importante que modificou a prestação de saúde no país foi a crise dos anos 30, que foi comandado por Getúlio Vargas.

Logo após essa vitória, o então presidente Getúlio Vargas, cria os Ministérios do Trabalho, da Educação e Saúde e da Indústria e Comércio.

Durante o período em que Getúlio esteve no governo, foram promulgadas duas constituições, a de 1934 que implantou o

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Estado Novo e a de 1937, que centralizou o poder presidencialista o que caracterizou o início da ditadura.

Neste período de crescimento industrial, houve grande aumento da massa assalariada e uma tendência a imigração de indivíduos de outros estados e cidades para os locais chamados pólos, onde foi crescente o surgimento de favelas. Mesmo estas favelas tendo como moradores um grande número de assalariados, a aglomeração nesses locais não contemplados por serviços do governo como, por exemplo, os serviços de saneamento básicos, fez com que o número de doenças aumentasse nestes aglomerados.

Houveram algumas mudanças na Previdência do Estado Novo, como por exemplo, a substituição das antigas CAP’s pelos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP’s). Contudo, os trabalhadores rurais ainda continuavam sem direito a participarem das mesmas, pois os IAP’s representavam classes de trabalhadores urbanos.

Com o início do regime militar, foi implementado a unificação dos IAP’s, que após a fusão foi denominado de Instituto Nacional de Previdência Social, que por influência dos muitos IAP’s que já contavam com serviços e hospitais próprios, o que findou mantendo a visão privatizante de criação de complexos médicos-industriais.

Foi neste contexto em que a assistência médica curativa predominava que o Ministério da Saúde fundou o Programa

Nacional de Imunização (PNI), criado em 1973 e institucionalizado pelo decreto nº 78.231 de 12 de agosto de 1976.

No entendimento de Temporão (2003, p. 602),

Os anos 1970, década de contrastes e de enfrentamento de múltiplos modelos e projetos no campo da saúde, foram determinantes na atual configuração do sistema de saúde brasileiro. Foi um tempo de introdução de propostas racionalizadoras, do planejamento como instrumento do desenvolvimento de políticas públicas, do surgimento de iniciativas que propugnavam a universalização dos cuidados em saúde e da estruturação de um novo campo de saber e práticas, o denominado movimento sanitário brasileiro.Com o surgimento do PNI, o

processo de imunização por imunobiológicos que antes era prestado somente para doenças específicas como a varíola e a febre amarela, a vacinação foi incorporada na rotina dos serviços de saúde.

Esse programa, apesar de ser nacional, visou a descentralização dos serviços por meio de normas e parâmetros técnicos para: a utilização de imunobiológicos, fornecimento destes para estados e municípios; coordenação e supervisão do uso desses imunobiológicos; participação na produção de imunobiológicos fabricados no país.

Atualmente o rol de doenças que são contempladas com essa medida de prevenção foi ampliado, sendo que hoje os calendários básicos contam com 12 vacinas. Esses números nos mostram que aquilo que antes foi chamado de modelo campanhista e que até gerou a revolta da vacina incentivou positivamente à criação do PNI brasileiro, reconhecido pela Organização Mundial de Saúde por alguns feitos marcantes como a erradicação da poliomielite e da varíola, fazendo do nosso programa de imunização algo de sumo importância e necessidade para a manutenção da saúde do povo brasileiro.

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2. IMUNIZAÇÃO E PROGRAMA NACIONAL DE SAÚDE: CONCEITOS

E FUNCIONALIDADE

munização é o ato ou efeito de imunizar que se define pela aquisição de proteção imunológica contra doenças de caráter

infeccioso. Esta prática tem objetiva aumentar a resistência de um indivíduo contra tais infecções a partir do uso de imunobiológicos.

IA imunização é feita por intermédio

de vacinas (Imunização Ativa), imunoglobulinas (Imunização Passiva) ou até mesmo por soro contendo anticorpos (Imunização Passiva).

2.1 Tipos de Imunidade

As vacinas são usadas para induzir a imunidade ativa e por isso são chamadas de imunizantes ativos, pois a administração da mesma em um indivíduo sadio resultará numa resposta intrínseca, biológica, que ativará a produção de anticorpos específicos e estes, por sua vez, serão responsáveis por criar uma resposta contra o corpo estranho, criando assim uma defesa duradoura do organismo por meio de células de memória que estarão aptas a combater uma provável infecção daquele microorganismo que fora apresentado durante a vacinação. Assim, a imunidade é induzida contra futuras infecções pelo mesmo microorganismo e se manterá ativa durante muitos anos.

A imunização passiva consiste na indução de anticorpos administrados no indivíduo, estes anticorpos agirão contra uma infecção particular. A imunidade passiva é temporária, tem curta duração e mantém o indivíduo imunizado por apenas poucas semanas ou meses. Por outro lado sua resposta é mais rápida que a da vacina, já que no caso da imunidade passiva os anticorpos já estão prontos para agir contra a infecção.

Existem dois tipos de anticorpos, aqueles colhidos dos humanos, chamados imunoglobulina e aqueles que são oriundos dos animais, denominados soros. Aqueles são

abstraídos de humanos previamente imunizados e estes de animais hiperimunizados.

2.2 Programa Nacional de Imunização

O Programa Nacional de Imunização (PNI) surgiu na tentativa de erradicar doenças que assolavam a população brasileira. Atravessou várias barreiras desde o seu processo de estruturação até a sua consolidação, as vezes por divergências políticas, outras pelas dificuldades de se implantar intervenções a nível nacional.

No entanto, como já vimos no primeiro capítulo, foi criado com base no movimento campanhista de Oswaldo Cruz, que empregava imunobiológicos na tentativa de imunizar os indivíduos contra determinadas doenças, no caso em questão a varíola e a febre amarela.

A princípio o PNI foi instituído, de acordo com seu documento conceitual, com o intuito programático que relacionava as seguintes exigências

seria preciso estender as vacinações às áreas rurais, aperfeiçoar a vigilância epidemiológica em todo o território nacional, capacitar laboratórios oficiais para a respaldarem com diagnóstico, instituir pelo menos um laboratório nacional de referência para o controle de qualidade das vacinas, racionalizar sua aquisição e distribuição e uniformizar as técnicas de administração ... além de promover a educação em saúde para aumentar a receptividade da população aos programas de vacinação (BENCHIMOL, 2001, p. 320).As melhoras na cobertura das

vacinações só aumentaram a cada ano. Nos seus 27 anos de existência, o PNI ampliou a

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cobertura vacinal média da população, em menores de um ano, para 90% (Brasil, 1998).

Todo esse esforço rendeu ao Brasil, em 1994, o certificado internacional de erradicação da poliomielite. Tudo graças à estratégias bem elaboradas, como por exemplo, o estabelecimento dos dias nacionais de vacinação (estratégia que teve início em 1980 e que até hoje é mantida), que permitiu ampliação significativa da cobertura vacinal.

Desta forma, os resultados são facilmente evidenciados e todos esses resultados são frutos do esforço do país em consonância com seu povo, pois aquele lutou para ampliar o nível de proteção da população contra as doenças infecto-contagiosas

preveníveis por imunização enquanto que este aderiu as campanhas proporcionadas pelo PNI.

Atualmente o PNI é estruturado, além das campanhas nacionais, por calendários que preconizam requisitos básicos para a vacinação a qualquer período do ano.

O Ministério da Saúde adota, atualmente, três calendários, são eles:

da criança; do adolescente; do adulto e idoso.

Estes calendários serão apresentados aqui de maneira simplista para que o leitor possa entender e utilizar de forma correta os serviços do PNI.

Idade Vacinas Doses Doenças evitadasAo Nascer BCG Dose Única Formas Graves de Tuberculose

Hepatite B 1ª Dose Hepatite pelo vírus B1 mês Hepatite B 2ª Dose Hepatite pelo vírus B

2 meses

VOP (Vacina Oral contra Pólio)

1ª Dose Poliomielite (Paralisia Infantil)

Tetravalente (DTP+HIB) 1ª Dose Difteria, tétano, coqueluche, meningite e outras infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b

VORH (vacinal Oral de Rotavírus Humano)

1ª Dose Diarréia por Rotavírus

4 meses

VOP (Vacina Oral contra Pólio)

2ª Dose Poliomielite (Paralisia Infantil)

Tetravalente (DTP+HIB) 2ª Dose Difteria, tétano, coqueluche, meningite e outras infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b

VORH (vacinal Oral de Rotavírus Humano)

2ª Dose Diarréia por Rotavírus

6 meses VOP (Vacina Oral contra Pólio)

3ª Dose Poliomielite (Paralisia Infantil)

Tetravalente (DTP+HIB) 3ª Dose Difteria, tétano, coqueluche, meningite e outras infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b

Hepatite B 3ª Dose Hepatite pelo vírus B9 meses Febre Amarela Dose Única Febre Amarela12 meses SCR (Sarampo,

caxumba e rubéola)Dose Única Sarampo, caxumba e rubéola

15 meses VOP (Vacina Oral contra Pólio)

Reforço Poliomielite (Paralisia Infantil)

DTP (Tríplice Bacteriana)

1º Reforço Difteria, tétano e coqueluche

4 a 6 anos DTP (Tríplice Bacteriana)

2º Reforço Difteria, tétano e coqueluche

SCR (Sarampo, caxumba e rubéola)

Reforço Sarampo, caxumba e rubéola

2.2.1 Calendário Básico Nacional de Vacinação da Criança (Fonte: Ministério da saúde – Adaptado)

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Idade Vacinas Doses Doenças EvitadasDe 11 a 19 anos (na

primeira visita ao serviço de saúde)

Hepatite B 1ª Dose Hepatite pelo vírus BdT (Dupla tipo adulta) 1ª Dose Difteria e tétano

Febre Amarela Dose Única Febra AmarelaSCR (Tríplice viral) Dose Única Sarampo, caxumba e rubéola

1 mês após a 1ª dose de hepatite b

Hepatite B 2ª Dose Hepatite pelo vírus B

6 meses após a 1ª dose de hepatite b

Hepatite B 3ª Dose Hepatite pelo vírus B

2 meses após a 1ª dose de dT

dT (Dupla tipo adulta) 2ª Dose Difteria e tétano

2 meses após a 2ª dose de dT

dT (Dupla tipo adulta) 3ª Dose Difteria e tétano

A cada 10 anos por toda a vida

dT (Dupla tipo adulta) Reforço Difteria e tétanoFebre Amarela Reforço Febre Amarela

2.2.2 Calendário Nacional de Vacinação do Adolescente (Fonte: Ministério da saúde – Adaptado)

Idade Vacinas Doses Doenças Evitadas

A partir de 20 anosdT (Dupla adulto) 1ª Dose Difteria e Tétano

Febre Amarela Dose Única Febre AmarelaSCR (Tríplice viral) Dose Única Sarampo, caxumba e rubéola

2 meses após a 1ª dose de dT

dT (Dupla adulto) 2ª Dose Difteria e Tétano

2 meses após a 2ª dose de dT

dT (Dupla adulto) 3ª Dose Difteria e Tétano

A cada 10 anos por toda a vida

dT (Dupla tipo adulta) Reforço Difteria e tétanoFebre Amarela Reforço Febre Amarela

60 anos ou maisInfluenza Dose anual Influenza (gripe)

Pneumococo Dose Única Pneumonia causada por pneumococo

2.2.3 Calendário Básico Nacional de Vacinação do Adulto e Idoso (Fonte: Ministério da saúde – Adaptado)

Cada um desses calendários representa um esquema a ser seguido, sempre respeitando os critérios de idade, tipo de vacina, doses e, explicita também, quais doenças evitadas por cada vacina.

No caso do calendário de adolescente, será utilizado somente nos casos de adolescente sem comprovação de vacina anterior.

Em alguns casos especiais, como de pessoas que trabalham em instituições fechadas ou profissionais de saúde, algumas vacinas estão liberadas mesmo que fora do período de vacinação ou que estes não correspondam aos critérios pré-estabelecidos pelos calendários.

Algumas vacinas, como a febre amarela, serão utilizadas para áreas de risco, não sendo obrigatória nas outras regiões.

3.

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4. O PAPEL DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NO PROGRAMA

NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO

enfermagem é a profissão que preza pelo bem-estar físico e mental dos indivíduos que necessitam de

cuidados. Ela não se relaciona apenas com a cura de doenças, mas sim com a promoção e a prevenção das mesmas junto às comunidades.

AA enfermagem tem demonstrado

solidez em todos os âmbitos em que presta seus serviços. No PNI não poderia ser diferente, conhecimentos baseados em pesquisas científicas desviam os conhecimentos empíricos oriundos de hábitos ou de tradições, assim facilitam as tomadas de decisões.

Sendo assim, fica claro a importância dos profissionais de enfermagem para a manutenção dos serviços do PNI, seja fazendo o papel de gestores, de educadores ou de agentes ativos da promoção da saúde durante campanhas.

Cabe à enfermagem o planejamento, organização, supervisão e execução das atividades de enfermagem em unidade de saúde, bem como fazer parte na elaboração multiprofissional de programas de saúde direcionados à coletividade de responsabilidade da unidade de saúde (ALEXANDRE; DAVID, 2008, p 107).As atribuições supracitadas dizem

respeito à organização geral dos locais de vacinação. No entanto, quanto à vacinação em si, cabe a enfermagem: avaliação do processo através do desenvolvimento de formas de monitoramento, e avaliação de resultados pela averiguação de estados de mudança ou metamorfose ocorrida na realidade.

4.1 Avaliação de Processo

O enfermeiro é responsável pela manutenção da sala de vacina e de seus acessórios, pois a sala de vacina é o local destinado à administração de imunobiológicos e por isso deve garantir a máxima segurança dos procedimentos. Algumas das atribuições do enfermeiro em relação ao bom funcionamento das salas de vacina e à avaliação de processos

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que contribuam para esse bom funcionamento são:

Manter a sala de vacinas sempre viável e aberta para prestação de serviços ao público;

Operacionalizar o controle sobre as condições de higiene e limpeza das geladeiras de estoque, assim como da disposição do lixo final produzido na sala de vacina;

Supervisionar a qualidade do acondicionamento dos imunobiológicos, acompanhando o registro e o Controle de Temperatura;

Atentar para as normas técnicas corretas na administração dos imunobiológicos pelo pessoal responsável pela administração;

Verificar a obediência ao esquema de vacinação proposto pelo Ministério da Saúde;

Estar disponível para tirar dúvidas quanto ao tipo de vacina a ser utilizada em casos não rotineiros;

Viabilizar treinamentos e reciclagens em caso de mudança de técnicas;

Solicitar manutenção de equipamentos, assim como solucionar a manutenção adequada da rede de frios;

Organizar as campanhas de vacina nacionais ou outra qualquer em área de responsabilidade da unidade de saúde;

Verificar dados das campanhas e assim propor projetos que aumentem a cobertura vacinal.

Modelo de Sala de Vacinação (Fonte: Ministério da saúde – Adaptado)

4.2 Avaliação de Resultados

Em relação a este tópico, o enfermeiro age como pesquisador/cientista, pois a partir de estudos embasados no cientificismo faz levantamentos sobre a funcionalidade dos serviços prestados. Com isso ele consegue avaliar os erros e acertos e assim melhorar a cobertura dos serviços vacinais. Para isso é necessário que o enfermeiro siga os seguintes parâmetros:

Avalia e busca soluções que visem diminuir oportunidades perdidas de vacina;

Avalia se o serviço vem melhorando no acolhimento e nas orientações após a realização das reciclagens;

Acompanha as temperaturas das geladeiras que acondicionam as vacinas sempre após a ocorrência de manutenção dos equipamentos ou da rede elétrica;

Realizar estudos estatísticos sobre a cobertura vacinal e o controle das doenças transmissíveis para a abrangência da unidade de saúde;

Oferecer o retorno estatístico à comunidade que recebe o serviço e à equipe de saúde da unidade.

4.3 Atendimento ao Usuário

Além de todas as técnicas e rotinas citadas anteriormente, o enfermeiro deve ser capaz de entender a subjetividade de cada indivíduo que necessita da unidade de saúde, já que deverá realizar atendimento individualizado, tratando com equidade e empatia cada usuário.

A equipe de enfermagem colabora em todos os âmbitos do PNI, mas é ela a responsável pelo atendimento do usuário, por isso deve tomar alguns cuidados para que este atendimento seja satisfatório e livre de riscos como infecções cruzadas, são eles:

Realizar atendimento individualizado seguindo a ordem de chegada e observando a critérios éticos e humanitários;

Indagar ao responsável pela criança ou a usuário (quando adulto), quanto: às condições de saúde atual ou à ocorrência de reações adversas quando da tomada de doses anteriores;

Solicitar a apresentação da carteira de vacinação para verificar se as doses foram

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seguidas corretamente e verificando a necessidade de complementação do calendário vacinal, segundo o ciclo de vida;

Orientar sobre possíveis reações, esperadas ou adversas, sem causar apreensões ao usuário;

Preparar o imunobiológico para a administração, sempre atentando para os cuidados com a profilaxia.

Técnica de lavagem das mãos antes de iniciar a vacinação.

A enfermagem, portanto, assume papel de suma importância no Programa Nacional de Imunização, pois une todos os critérios que regem este programa, fazendo dele um dos programas mais bem sucedidos no Brasil.

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5. REFERÊNCIAS

ALEXANDRE, Lourdes Bernadete S. P.; DAVID, Rosana. Vacinas: orientações práticas. Ed. Martinari, São Paulo, 2008.

BENCHIMOL, J. L.. Febre amarela: a doença e a vacina, uma história inacabada. Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, 2001.

BRASIL, Ministério da Saúde. Programa Nacional de Imunizações. PNI 25 anos. 1998 Brasília, Fundação Nacional de Saúde.

TEMPORÃO, José Gomes. O Programa Nacional de Imunização: origens e desenvolvimento. História, Ciências, Saúde- Manguinhos, v. 10, n. 2, p. 601-617, 2003.