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Edição 2014/1 Ano 5 - N. 13 IERGS - Instituto Educacional do Rio Grande do Sul NEM TUDO É BULLYING A dor do amadurecimento pode ser uma ótima oportunidade para educar Pág 08, 09 e 10 Sexualidade “o educador não deve se omitir” Pág 12 Afeto na aprendizagem Pág 07 Brincando de matemática Pág 13

Informação Educação - IERGS

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A Informação Educação 2014/1 traz questões sobre bullying, sexualidade e novas oportunidades no universo do ensino. Boa leitura.

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Edição 2014/1Ano 5 - N. 13IERGS - InstitutoEducacional doRio Grande do Sul

NEM TUDO É

BULLYINGA dor do amadurecimento

pode ser uma ótimaoportunidade para educar

Pág 08, 09 e 10

Sexualidade“o educador não deve se omitir”

Pág 12

Afeto naaprendizagem

Pág 07

Brincando dematemática

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índice

Editorial

04 | Entrevista

05 | Um Novo Capítulo no Ensino

07 | O Afeto na Aprendizagem

08 | Nem Tudo é Bullying

11 | Ludicidade: páginas par mudaro mundo

12 | Sexualidade em Sala de Aula

13 | Brincando de Matemática

A educação direciona a sociedade através dos seus indivíduos. Portanto, cabe a cada um dos atores envol-vidos no ‘processo do saber’ assumir que possui grande importância para o desen-volvimento de crianças, jovens e adultos. Ensinar é algo frágil e provocador, que invade e transforma as pes-soas o tempo todo. Por isso, expandir nossos conceitos sobre as inúmeras realida-des é fundamental em res-peito às individualidades do ser humano. Essa edição da Revis-ta Informação mostra como o professor também se transforma no orientador e amigo. É o mestre e o exem-plo de mudanças internas, pessoais e sociais. Contrapondo os desa-fios enfrentados pela educa-ção no século 21, destacamos como o comprometimento

pedagógico é determinante para modificar o ensino no Brasil e ainda inspirar as fu-turas gerações de cidadãos. Nesse sentido, o afeto surge como uma das principais ferramentas educativas. Nosso convite é para que você reflita sobre o que é educar. Há ou não uma su-perproteção sobre as crian-ças? Se os pequenos não podem experimentar, como saberão quem são ou serão? Hoje, nos encontra-mos assim, discutindo a re-alidade à volta, a violência das sociedades infantis e os casos de sucesso. Afinal, o aprender desperta, mas o educar, também.

Boa leitura.

EXPEDIENTERevista Informação Educação

IERGS – Instituto Educacional do Rio Grande do Sul

Diretoria Geral: Saul HoegenDiretoria de Pós-Graduação:

Silvana HoegenJornalista: Jonas Amar (MTB/RS

14.065)Arte : Guilherme Vargas

Mídia: Diogo Luz PintoMarketing: Danielle Siqueira

[email protected]

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ENtrevista

Professor há 43 anos e refe-rência no desenvolvimen-to do trabalho voluntário entre jovens, Carlos Al-berto Barcellos conta um pouco da sua história e da paixão de estar em sala de aula. Aos 63 anos, o profes-sor de sociologia em Porto Alegre segue dando au-las e construindo centros de voluntariado juvenil.

Como escolheu ser professor?Quando tu nasces para algo, existe uma mágica que ‘mexe os pauzinhos’. Com 17 anos, assumi uma sala de aula com 35 crianças e ensinei português e matemáti-ca, mesmo sem curso de magistério. Aos 19 fiz o curso, me formei e fui dar aulas no La Salle Canoas.

São quantos anos de profissão?Já passei por umas dez escolas em 43 anos de profissão.

Somente escolas?De 1977 até 1996, eu fui voluntário da ONG Anistia Internacional. Eu tinha o objetivo de trabalhar a questão dos di-reitos humanos em sala de aula com os jovens. Nesse período, aqui no RS, discu-ti com a ONG a questão da liberdade de Nelson Mandella, da ditadura no Chile, Argentina e no Uruguai. Em outro perío-do muito importante, ajudei um grupo de meninos e meninas que resolveu atuar com sexualidade, trabalho comunitário, meio ambiente e terceira idade. Havia uma ebulição de atividades sociais na minha escola, o que fez surgir a Parceiros Voluntários, lidera-da por Jorge Ger-dau Johannpeter.

Que outros pro-jetos o professor participou?Em janeiro de 2003, surgiu o projeto ‘Tribos’, levantando as bandeiras do meio ambiente, cultura e educação para paz. O ‘Tribos na Trilha da Cidadania’ cresceu e tem hoje em torno de 500 escolas participando no RS e de-senvolvendo trabalhos nas suas comuni-dades. Ainda em 2003, a Fundação Thia-go de Moraes Gonzaga criou o ‘Fórum Vida Urgente’, onde passamos a debater conhecimentos para diminuir as mor-tes e a violência no trânsito. A partir dai me dediquei à construção de centros de voluntariado juvenil e sigo até hoje nos programas voluntários do colégio Maria Imaculada.

Quantos alunos já passaram pelo ensino do professor?

Ao longo da minha carreira, nesses 43

anos, eu imagino que aten-di cerca de 40 mil alunos.

Qual a maior difi-culdade enfren-

tada pelo professor no trabalho?

Em sala de aula, quando começou a questão do protagonismo juvenil, a grande dificuldade foi poder engajar mais gente. Hoje o reconhecimento público é um atestado de que há uma sociedade atenta ao trabalho que reduz índices de bullying e agressividade nas escolas. São experiências que envolvem o afeto.

Há diferenças entre escolas públi-cas e particulares na questão dovoluntariado?Com o colégio Maria Imaculada ganha-mos o terceiro lugar no prêmio Escola Voluntária 2013. E das dez escolas fi-nalistas no prêmio, apenas duas eram particulares. No RS, das 500 escolas in-tegrantes do Parceiros Voluntários, 75% são públicas, quebrando o paradigma de que somente instituições particulares são capazes de reproduzir experiências positivas como essas.

O que o motiva mais a continuar trabalhando com educação?

O que me alimenta em ser professor é o prazer que sinto de entrar numa sala de aula. É o mesmo que eu senti aos 16 anos. A grande for-ça que me faz se-

guir adiante são os jovens.

O que falta para alcançarmos uma educação melhor?

Falta algo que é fundamental: força po-lítica e um estado gestor. É preciso apli-car na educação o que manda a Cons-tituição. Professores bem formados e remunerados e escolas aparelhadas para atender às demandas dos alunos. A pergunta que fazemos hoje é: como nossos jovens aprendem? Precisamos de um projeto claro de formação.

Que nota a nossa educação merece hoje?Vou ser bonzinho, mas vou dar uma nota de seis a sete, em função de tudo que falta. Se universalizar os problemas das escolas públicas, vamos cair no erro de tratar todas da mesma maneira. E o mesmo acontece com as escolas parti-culares. Infelizmente, ainda não consi-go dar aulas em uma escola da periferia da mesma maneira como dou em uma particular.

Professor Carlos Alberto Barcellos, no colégio Maria Imaculada, de Porto Alegre

Foto: divulgação SINEPE/RS

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InformAção | Educação

Um novo capítulo no ensino:o comprometimento pedagógico

Elisandra Vedovelli há três anos busca seus pequenos alunos dis-postos em fila nas áreas comuns do Co-légio Marista Rosário, de Porto Alegre. De mãos dadas com os ajudantes do dia, ela os guia à sala de aula para mais uma etapa no aprendizado delas, deixando de ser a tia Elis para assumir o papel da professora Elisandra. Pedagoga há sete anos, nada parece ser desproposital nas

suas ações em aula: a própria escolha seus ajudantes possui toda uma política interna, que todos seguem à risca den-tro do universo particular do Colégio.

- Os ajudantes são escolhidos seguindo uma ordem alfabética, de-pois por idade, ou também do menor ao maior. Tudo é conversado e explicado, assim, antes mesmo das aulas começa-rem, eles já desenvolvem certa auto--organização. As crianças adoram estar juntas e são sempre muito carinhosas – explica a professora Elisandra – Mesmo

depois da aula eu recebo esse carinho de beijos e abraços na saída e até brinco com eles: “há quanto tempo não nos ve-mos, não é mesmo?”.

A troca de carinhos vindos de quem ainda nem completou meia dú-zia de anos não está totalmente descri-ta nos livros acadêmicos, mas é parte integrante de ser professora. Elisandra experimenta essa realidade desde o ma-gistério, no começo da sua carreira. A pedagoga sempre atuou entre o apren-dizado e o afeto das crianças, e percebe que há um processo educativo esco-lar diferente, despertado cada vez mais cedo entre as turmas iniciais.

- É uma tendência a socializa-ção escolar acontecer cedo. Por isso o nosso trabalho é bastante lúdico, para que as crianças consigam se adaptar, sendo estimuladas de acordo com a idade delas. Algumas começam na es-cola lendo e escrevendo, por exemplo, enquanto outras ainda não chegaram a esse processo. Então o que fazemos é um tratamento do aluno e não de um todo. Pensamos todas as possibilidades para que a criança não se sinta invadida – comenta a professora Elisandra.

A dedicação de pedagogos com o ensino inicial tem se tornado uma poderosa alternativa na educação antecipada de crianças

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Parte dessa preocupação com o indivíduo é difundida nas propostas das instituições de ensino, mas se desen-volve mesmo quando há interesse dos profissionaisde educação. Em função do olhar educativo, muitos projetos escola-res e conteúdos programáticos estão no rol das responsabilidades dos pedago-gos. Por outro lado, é comum encontrar pontos de dificuldade e insegurança frente às modificações sociais.

Samantha Lima, pedagoga e doutora em educação, diz ser necessário buscar uma nova reflexão sobre o que é o processo educativo. Para a professora convidada nos cursos de pós-graduação do IERGS/UNIASSELVI, o agente esco-lar deve vivenciar as transformações existentes e buscar novas formas didáti-cas para promover o processo de ensino aprendizagem com seu aluno.

- É preciso entender o desen-volvimento tecnológico, assim como o aprimoramento de novas maneiras de pensar sobre o saber e o processo pe-dagógico, sem que o pedagogo seja um mero espectador dos avanços estrutu-rais de nossa sociedade, mas um instru-mento de enfoque motivador desse pro-cesso - destaca a doutora.

A velocidade com que algumas descobertas acontecem pode transfor-mar a sala de aula em um ambiente de pouca relevância para o conhecimento. O pedagogo, nesse caso, atua em uma

sociedade de mudanças rápidas, onde a educação se apresenta como um feno-meno de muitas faces.

O ensino contemporâneo exige um profissional cada vez mais dinâmico e flexível, que transforme os desafios em possibilidades de aprendizado. E es-ses desafios surgem todos os dias, garan-te a professora Elisandra Vedovelli.

- Meus alunos de séries iniciais trouxeram para a sala de aula questões sobre os protestos públicos de 2013, dis-cutindo o por quê de as pessoas estarem reunidas pelas ruas de Porto Alegre. Isso também é o reflexo de que os pais mantêm a cultura de ler e conversar com eles sobre os fatos. No Dia do Índio fiz questão de conversar com eles sobre quem é essa figura hoje, onde e como vive e o que faz. Essas crianças já trazem uma bagagem muito grande que precisa ser aproveitada para a educação delas – garante a pedagoga.

Sensível, o educador pedagogo permite atuar nas várias instâncias da prática educativa. Mesmo assim, tra-ta-se de uma aptidão a ser estimulada continuamente, com vistas a dar condi-ções para a produção de novos saberes, habilidades, atitudes e valores, tanto ao profissional, quanto ao pequenino.

Deficit de atenção

Nos Estados Unidos, pelo menos 9% das crianças em idade escolar foram diagnosticadas com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção

com Hiperatividade).Na França, o percentual é infe-

rior 0,5%.Os psiquiatras americanos

consideram o TDAH como um distúrbio biológico e tratam com

medicamentos estimulantes psíquicos.

Os franceses veem o TDAH como uma condição médica que tem causas psicossociais. Em vez de

tratar os problemas de concentra-ção com drogas, eles optam pela psicoterapia ou aconselhamento

familiar.

Frustração: as criançasprecisam dela

Não importa onde ou quando, decepções acontecem. E estará

tudo bem. Tentar não desa-pontar as crianças só as está

privando de uma experiência importante. As crianças tam-bém precisam entender que, ao longo da vida, é normal se

decepcionar. Atender ao dese-jo delas é agradável, mas nem sempre deve-se satisfazê-los.

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buscar um copo de água e de ser bem mais independente – diz Libanês.

O pedagogo vê nas possibili-dades de independência do aluno um verdadeiro processo de inclusão, onde o professor sabe que possui um estudante que deseja adquirir conhecimento e ser ouvido. É questão de encontrar a me-lhor maneira de atingi-los e ajudar na conquista dos seus objetivos. Pablo Bes é defensor da ideia de que o investimento nas relações afeti-vas deve sempre ocorrer e em qualquer nível da educação.

- Muitos estudantes encontram no professor o amigo e conselheiro com quem podem contar em momentos ruins. Da mesma forma, também já en-contrei apoio nos meus alunos e isso foi determinante para a superação dos pro-blemas - completa Bes.

É visto que mestres saibam dar voz a seus alunos, pois é desta relação, do diálogo interessado entre as partes, que nascem os conhecimentos e os va-lores realmente significativos e úteis. A preocupação pode ser determinante para a construção de uma relação de aprendizagem que seja cada vez mais saudável e humanizada.

Mas como bus-car o afeto?

Para o pedagogo, o primeiro ponto é o interesse. Impor-tar-se com as suas atividades e com o aluno é manter um olhar diferen-ciado sobre a pro-fissão. Isso ajuda a perceber os senti-mentos dos estu-dantes, ouvi-los e a respeitá-los. Entre-tanto, mesmo que todos os professo-res sejam capazes de desenvolver relacio-namento de amizade com seus alunos, tudo demanda tempo e dedicação.

- É necessário que se estabeleça uma relação de confiança, onde o aluno possa enxergar na pessoa do professor alguém com quem ele pode contar em todos os aspectos, não só em sala de aula – salienta o pedagogo.

Depois de ter estudado com ou-tros profissionais também marcantes na sua trajetória, hoje Libanês é orientador de alunos PCD (Pessoa Com Deficiên-cia), na faculdade IERGS/UNIASSELVI. Alguns surdos, outros cegos, ou com necessidades cognitivas específicas, o professor reconhece que muitos deles demandam maior atenção. Mas deixa claro que não os vê como pacientes e sabe que eles estão na faculdade com mesmo objetivo de todos os demais es-tudantes: aprender.

- O aluno PCD geralmente vem de um berço familiar onde rece-be muito afeto, o que pode resul-tar em certa incapacidade. Na universidade, ele entra na sala de aula tentando reencontrar no professor o mesmo auxílio

que tinha em casa, porém ele ganha a descoberta de ir ao banheiro sozinho,

O afeto na aprendizagemContatos mais humanizados têm aproximado professores e alunos e vêm contribuindo para casos de sucesso e superação

Hoje pedagogo, o especialista em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), Libanês Medeiros de Lima, lembra per-feitamente o nome da primeira pro-fessora: Maria Amélia, ou Tia Amélia, como recorda melhor. Poucos esquece-riam um personagem tão marcante do início das suas vidas sociais. Na maioria dos casos, professo-res são lembrados pelo destaque profis-sional e humano que exercem sobre os estudantes. Trata-se de um vínculo es-pecial que ultrapassa o relacionamento mestre e aluno. É uma convivência afe-tiva, com troca de experiências, preocu-pações e amizade.

Pedagogo especializado em ges-tão e planejamento escolar e especia-lista em Educação Infantil, o professor/tutor do IERGS/UNIASSELVI Pablo Ro-drigo Bes tem certeza que a afetividade proporciona um aprendizado bem mais prazeroso. Para ele, o vínculo afetivo permite ao aluno transformar o mo-mento da instrução em uma experiên-cia realmente significativa, envolvendo os sentidos e as emoções.

- O que não podemos esquecer é que, quando falamos em afeto, trata-mos de situações e experiências que nos atingem positiva ou negativamente desde o nosso nascimento. É a mais pura condição de ser “afetado” por alguma dessas vivências. Os professores pre-cisam ter essa percepção, pois muitos alunos trazem consigo inúmeros pro-blemas sociais e essas relações afetivas já deixaram marcas na formação de sua personalidade e caráter – adverte Bes.

Alunos do IERGS Jaqueline W. dos Santos (E), Kéli Teixeira da Silva (C) e Bruno Pimentel Codemartori em palestra na faculdade, ao lado do professor

Libanês Medeiros de Lima (D).

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Comportamentos agressivos entre jovens geram infinitos debates sociais, prendendo a atenção de educadores e

familiares. Embora combatida com fre-quência, nem toda conduta provocativa

é preconceituosa e pode, sim, ser uma oportunidade para educar

NEM TUDO É

BULLYING

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Ainda na adolescência que lhe confere os seus 14 anos, a estudante porto-alegrense Julia Duarte da Silva percebe em seus amigos da oitava série certa alegria em brincadeiras que explo-ram qualidades físicas de outros adoles-centes do grupo. Para a jovem, a farra às vezes surge por causa da limitação na fala de uma colega – o que é bastante co-mum em função dos aparelhos ortodon-ticos tão usados pelos adolescentes – ou, ainda, em razão do sobrepeso de outro amigo. Em casos mais ousados, comen-tários da vida pessoal ou envolvendo familiares viram piadas maliciosas nas inúmeras formas de expressão existen-tes hoje entre os estudantes. Nada inco-mum, atitudes como essas dão início a cenas agressivas dentro e fora das salas de aula. - Alguns anos atrás, uma me-nina realmente tinha a intenção de me bater na escola, mas eu nunca soube o porquê. Fiquei com medo, como qual-quer adolescente, e falei para a minha família. Eles foram ao colégio e conver-saram com a diretora e o susto nunca passou disso – relembra a jovem Julia. Certamente, a confiança de Ju-lia em seus familiares, a preocupação deles e a disposição dos educadores for-maram uma condição favorável para resolver o problema ainda pontual. Mas nem sempre os acontecimentos são per-cebidos de forma tão fácil, o que pode deixar a vida escolar bem mais árdua para os adolescentes. - Crianças querem chamar atenção porque às vezes se sentem infe-riores, eu acho. Talvez agredir os outros seja uma forma de eles voltarem a se sentir vistos – sugere a estudante. Em um contexto geral, a socie-dade já identifica a prática de bullying através de algumas características pe-culiares de agressão física e psicológica e também em comportamentos mais destrutivos. Para colaborar com o com-bate à violência, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou uma campanha com cartilhas alertando pais e educa-dores a como prevenir e enfrentar si-tuações como essas. Para ajudar quem está mais vulnerável, as cartilhas tra-zem informações reunidas pela médica psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva e mostra como lidar com esse fenomeno na comunidade e na escola. - As crianças tendem a se com-

portar em sociedade de acordo com os modelos domésticos. Muitos deles não se preocupam com as regras sociais, não refletem sobre a necessidade delas no convívio coletivo e sequer se preocu-pam com as consequências dos seus atos transgressores. Nos casos de bullying, a instituição escolar é corresponsável, pois é nela que os comportamentos agressivos e transgressores se eviden-ciam ou se agravam na maioria das ve-zes - reflete a psiquiatra Ana Beatriz. De fato, algumas escolas públi-cas vêm mostrando uma postura mais efetiva contra o bullying e já contam com orientação padronizada diante a maioria dos casos, comunicando os Con-selhos Tutelares e as secretarias de edu-cação nessas situações. Por outro lado, algumas instituições tendem a encaram os casos de bullying como um aspecto negativo de imagem corporativa e o tra-tam de forma mais isolada e interna. Pedagogo especialista em edu-cação em Porto Alegre, Jonas Camargo reforça que o bullying é um conjunto mais específico de ações agressivas. Brincadeiras inconvenientes, conflitos ou ofensas pontuais que resultam em uma mágoa ou raiva passageira, em princípio, não se encaixariam nas suas práticas. Segundo o professor, estas se-riam sim o resultado de atividades cul-turais, sem violência gratuita e persis-tente. A vítima de bullying, por outro lado, é exposta a uma opressão infun-dada e repetitiva, causando prejuízos que podem ser irreversíveis em muitos casos. - Nossa sociedade vem se cons-truindo através dos erros. Somente as-sim sabemos como devemos acertar. Com as crianças não é diferente. Elas precisam errar seus comportamentos umas com as outras para que possam aprender a forma correta, com auxílio de um adulto – garante Camargo.

A DOR DO AMADURECIMENTO

Com a popularidade, o termo bullying navega entre o conceito de violência e o rótulo raso para pequenos conflitos no ambiente escolar ou desen-tendimentos aparentemente normais. Para o bem da garotada, esse não é o melhor dos cenários, defendem os espe-cialistas. - Considerar tudo bullying é tão

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- Não se ensina nada sobre a complexidade de amizades, os inimigos e as relações em geral. Em vez disso, é apenas sugerido que, toda vez que se sentir vitimizada, a criança poderá con-tar com terceiros para resolver os seus problemas – ela critica. A interferência desmedida de pais e educadores nas discórdias infan-tis poderia, de forma negativa, alimen-tar as dificuldades da criança para se re-lacionar. Trata-se de uma realidade que acontece na sociedade em geral, tanto quanto nas escolas. E, a longo prazo e sem restrições, os resultados podem ini-bir o desenvolvimento dos jovens cida-dãos.

VEJA QUE:

- A superproteção pode atrapa-lhar o desenvolvimento das crianças, alertam especialistas.

- O desconhecimento, a preci-pitação na análise e a disseminação de casos têm colaborado para banalizar o problema.

- A identificação do bullying é mais comum no ambiente escolar, em-bora também ocorra em outros espaços.

- A maior incidência de bullying, ocorre atualmente no espaço virtual, devido à falsa sensação de anonimato e impunidade. É o cyberbullying.- Por causa de bullying, muitos jovens já deixaram de frequentar aulas, mudaram de escolas ou desistiram de estudar.

nocivo quanto achar que nada é – alerta José Ernesto Bologna, especialista em psicologia e fundador do grupo ETHOS - Desenvolvimento Humano e Organi-zacional. Uma das primeiras a levantar essa discussão foi a doutora em psico-logia e pesquisadora inglesa Helene Guldberg. A doutora denuncia o flores-cimento do que ela chama de “indústria do bullying”, na obra ‘Reclaiming Chil-dhood: freedom and play in an age of fear’ (Reivindicando a infância: liberda-de e brincadeira em uma era de medo). O fenomeno teria encontrado terreno fértil para crescer porque vivemos em uma época marcada pelo excesso de proteção e de fiscalização das crianças, assim como pela falta de confiança de que as pessoas, de modo geral, sejam ca-pazes de solucionar seus problemas por conta própria. - É cada vez mais assumida como verdade a ideia de que os indiví-duos precisam de terceiros, ou seja, de especialistas que resolvam suas dispu-tas ou lhes digam como se relacionar com o outro – explica Helene – Isso é negativo, pois mina a independência e a autonomia – diz. A tese da doutora Helene não se trata de negar a existência do bullying, nem de minimizar sua gravidade, mas de delimitá-lo com maior rigor. Dessa forma, apenas um episódio que real-mente merece essa classificação deve receber uma intervenção recomendá-vel que envolva mais agentes. Outro aspecto defendido é o de não simplificar ao extremo os casos de violência e divi-dir as crianças em vítimas e agressores. Para a doutora inglesa, isso seria dimi-nuir demais os relacionamentos.

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LUDICIDADE: páginas para mudar o mundoSugerido em muitas propostas pedagógicas como instrumento para o ensino na educação

infantil, o lúdico assume um caráter de liberdade de expressão, onde elementos como a imaginação, os desejos e a alegria são totalmente permitidos

obra “Manual da mamãe pré-escola”. O livro da aluna de pós-graduação do IERGS/UNIASSELVI foi pensado para crianças, mas, acima de tudo, para que os pais fortaleçam o vínculo existente entre eles.

De forma criativa, a professo-ra conta a história de “Fofucha”, perso-nagem responsável por apresentar os pequenos ao universo escolar, dos pro-fessores e da sala de aula, sem esquecer dos amigos e das regras existentes nesse ambiente social.

- Todos formam fila e ninguém se empurra, pois a história faz com que as crianças entendam a importância que esse processo tem. Eles começam a observar as filas do banco e a do onibus e isso contribui para diminuir a ansie-dade e a agressividade na educação in-fantil – comenta a orgulhosa professora.

Brincar educa? Em princípio, a resposta é afirmativa. Ao divertir-se, a criança explora seus limites físicos e mentais, tornando-se fundamental no desenvolvimento cognitivo, social e pessoal dela.

Mestre em ciências da educa-ção e neuropsicopedagoga, a professora tutora de pedagogia do IERGS/UNIAS-SELVI, Daniela Hirschamnn, diz que as técnicas lúdicas estão intimamente in-seridas no processo de ensino-aprendi-zagem.

- O lúdico é uma estratégia in-substituível para ser usada como estí-mulo na construção do conhecimento humano e na progressão de diferentes habilidades, além disso, é uma impor-tante ferramenta de progresso pessoal e de alcance de objetivos institucionais – garante Daniela.

Para a professora, brincar é uma atividade espontânea e natural da criança, que é benéfica por estar cen-trada no prazer, despertando emoções e sensações de bem-estar.

Se a educação vem de casa, o envolvimento lúdico pode vir também. A pedagoga e educadora assistente Joa-na Juenemann Mendonça parece ter se inspirado nesta realidade para dar cor a um dos seus projetos mais especiais: a

Rico em imagens e com histó-rias típicas do cotidiano dos pequeninos que estão entre os dois e seis anos, a lin-guagem do livro estimula a afetividade, ensinando os pais a conversar de acordo com o universo lúdico dos seus filhos.

- Quando a criança chega à pri-meira série, ela mostra outro compor-tamento com o professor, exatamente porque o livro abrange o respeito e a va-lorização desse profissional. É uma ex-plicação total da realidade, de maneira lúdica, mas real – define Joana.

O projeto vem sendo trabalha-do desde 2011 em algumas escolas de séries iniciais de Porto Alegre. A inicia-tiva, inclusive, chegou a ser indicada ao Prêmio RBS de Educação 2013. – O lúdico é uma manifestação cultural que se caracteriza por divertir e entreter quem participa, sem importar a idade – finaliza Daniela Hirschamnn.

As brincadeiras têm capacidade de influenciar em áreas do desenvolvi-mento motor, na inteligência e sociabili-dade. Mas é a ludicidade que ajuda o pe-queno a lidar com o mundo, brincando e formando sua personalidade através da experiência de sentimentos como o amor e o medo.

Joana Juenemann Mendonça recebe bolsa deestudos do IERGS

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Sexualidade em sala de aulaMesmo sabendo que o bebê “sai da barriga da mãe”, outras respostas complementares ainda susci-tam dúvidas e ansiedade em quem trata sobre sexualidade com crianças. Aos professores também

cabe estar atentos aos sinais para ajudar na orientação dessa realidade

Comportamentos in-fantis que demons-

tram a sexualidade da criança são, muitas vezes, difíceis de se-rem trabalhados, seja em casa ou na escola. Brincadeiras de des-coberta sexual, masturbação e atitudes que aparentam homos-sexualidade também são fatos comuns observados no cotidiano infantil, mas seguidamente pou-co compreendidos, isso quando não malconduzidos.

A especialista Alessan-dra Bohn, psicopedagoga e mes-tre em educação no RS, desta-ca que é necessário buscar um maior entendimento teórico so-bre a sexualidade infantil. Para a professora, pode haver uma dis-torção de realidade entre as expectati-vas dos pais e a real condição da criança. - A sexualidade da criança co-meça no imaginário dos pais, antes mes-mo do nascimento. Todos têm expectati-vas em relação a seus filhos, consciente ou inconsciente, e uma delas diz respei-to à sexualidade da criança. Ao nascer, ela pode corresponder ou não à expec-tativa e se desenvolverá conforme for a aceitação do sexo da criança pelos pais – alerta Alessandra.

Conhecimento também é o ponto de partida que a psicóloga pau-lista Marina Rodrigues Almeida defen-de em seus estudos sobre a curiosidade sexual. Para a especialista, há uma or-dem sequencial sobre a sexualidade da criança que, segundo ela, existe já a par-tir do nascimento.

• 1ª - descobrimento do próprio corpo;• 2ª - eliminação de excreções;• 3ª - diferenciação dos sexos;• 4ª - nascimento;• 5ª - puberdade;• 6ª - adolescência.

- Para responder aos questiona-

mentos de ordem sexual das crianças, deve-se ter claro que se ela tem idade para perguntar, tem idade para ouvir a resposta. O tom de voz, o olhar e a pos-tura de quem responde devem ser va-lorizados para que não sejam artificiais nem repressores – argumenta a psicólo-ga.

Mesmo respeitando a inocência da criança, é preciso satisfazer a curio-sidade infantil com honestidade, lem-brando que saber por que e de onde vem a pergunta é extremamente importante para a segurança dela. Em relação aos comportamentos sexuais observados em sala, como beijos, exploração do cor-po do colega e jogos sexuais, o educador pode se pautar sobre os mesmos princí-pios que usa para outras condutas ina-dequados em aula. É preciso demons-trar que entende a curiosidade, mas que a escola é um lugar onde se deve respei-tar a vontade dos outros e que os alunos estão lá para aprender e brincar.

- O educador não deve se omitir. Ao contrário, deve orientar brincadei-ras e comportamentos adequados, mas sem passar valores morais reprovado-res, como se a curiosidade fosse algo ne-gativo, feio ou pecaminoso – diz Marina.

A promoção de uma consciência humanizado-ra é possível de ser incen-tivada desde cedo. O fato de meninas usarem rosa e meninos, azul, são ques-tões que devem ser deba-tidas e esclarecidas em sala de aula, mostrando que há diferenças entre o real e o imaginário social e midiático.

Para a psicopedagoga Alessandra Bohn, crian-ças e adolescentes procu-ram corresponder às ex-pectativas dos adultos.

O problema é quando elas acabam se expondo inadequadamente e recebem rótulos distorcidos de seu gênero sexu-al. -A sexualidade infantil é ine-rente a qualquer criança e sua demons-tração é particular a cada uma. Aos edu-cadores cabe conhecê-la, respeitá-la e conduzi-la de forma adequada, sem es-timulação nem repressão, tendo sempre em mente uma reflexão de sua própria sexualidade - reforça Marina. Na dúvida, os pais nem sempre devem ser a primeira alternativa bus-cada. Antes, pode-se procurar algum profissional da escola para discutir com ele o assunto. Afinal, qualquer forma de discriminação é crime.

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Brincando de matemáticaCriatividade e sensibilidade tornam a matéria mais divertida e ganham a confiança de estudantes

Eis o ‘pesadelo’ dos jovens alu-nos. De fato, a matemática carrega esse estereótipo há gerações. Para alguns, a disciplina possui um entendimento qua-se inatingível, impossível de ser apren-dido. Segundo João Francisco Staffa, matemático, professor da rede pública e mestrando em educação em ciências e matemática, esta aversão à matéria pas-sa pela falta de interesse. Muitas vezes, o preconceito é ocasionado pelo pouco conhecimento no assunto. - Temos tendência de perder o interesse por aquilo que não consegui-mos compreender, ou para aquilo que não vemos uma aplicabilidade imediata. O desafio do professor reside exatamen-te em criar estratégias que atinjam posi-tivamente os alunos, instigando a von-tade de aprender e retirando qualquer estigma sobre à disciplina – defende o matemático. Angela Maria Pinto leciona ma-temática e biologia há 16 anos na Escola Estadual de Ensino Médio Presidente Kennedy, na cidade de Cachoeirinha, região metropolitana de Porto Alegre. Para a professora, parte do déficit no aprendizado de matemática é decorren-te da falta de atenção. - Ainda existe muita dificulda-de, pois matemática é raciocínio lógico. As crianças têm problemas de prestar atenção, então fica complicado apren-der. Com mais maturidade, a partir da adolescência, o aprendizado se torna

um pouco menos confuso – admite An-gela. Entre o quinto e o sexto ano do Ensino Fundamental estaria o grande obstáculo no ensino da matemática, se-gundo a professora. Nessa fase, as crian-ças passam a ter aulas com mais de um educador e precisam se adaptar a diver-sas formas de didática. Nesse aspecto, o lado afetivo contaria bastante para o interesse da criança com a matéria.

O matemático João Staffa é co-nhecido por desenvolver e utilizar jogos no ensino da disciplina, abordando con-teúdos de todas as etapas do aprendiza-do e alterados graus de dificuldade. Com os desafios, ele permite aos alunos criar estratégias para resolver as questões, mas também aguça diferentes compor-tamentos no ambiente escolar. Os estí-mulos da matemática incitam condutas de respeito, ética e motivação nos estu-dantes. - Acredito que isso tenha liga-

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ção com as características dos jovens. Eles pre-cisam participar ativamente, sentirem-se in-cluídos. É necessário “fazer” a aula junto com o professor, mas também com os colegas e não ficar simplesmente ouvindo – diz o professor. Em sua maioria, atividades coletivas fazem da sala de aula um ambiente mais des-contraído para o aprendizado. Sem artifícios criativos, a matemática pode parecer, por ve-zes, extremamente cartesiana ou até duvido-sa, dependendo da maneira como é abordada. O grande objetivo da matéria, nesse caso, é o desenvolvimento do raciocínio lógico e a re-solução de problemas, inclusive de qualquer área do conhecimento, onde a matemática pode ajudar a solucioná-los.

Dinâmica do troca - a partir do 7º ano do Ensino Fundamental

Conteúdo: pode haver vários conteúdos envolvi-dos simultaneamente, a critério do professor.

Organizados em círculo, cada aluno recebe uma folha;

Em seguida, o professor passa questões de conte-údos já estudados, que devem ser desenvolvidas da forma mais rápida e completa possível;

Ao passar o tempo estipulado para cada exercí-cio, os alunos precisam colocar o nome na ques-tão que resolveram e passar a folha ao colega à direita e assim sucessivamente;

Nessa atividade, os alunos revisam conteúdos estudados durante o ano de forma diferente e se sentem corresponsáveis pela atividades do colega, aprendendo de maneira coletiva. A partir desta dinâmica, os alunos são instigados a criar soluções sintéticas em um tempo pré-determi-nado, exercitando tais habilidades. Além disso, a atividade pode ser um excelente instrumento de avaliação para o professor verificar as dúvidas pontuais de cada aluno.

Bingo da tabuada - a partir do 3º ano do Ensino Fundamental

Conteúdo envolvido: operação de multi-plicação com números naturais.

Cada aluno recebe uma cartela, contendo números que são os resultados da tabua-da;

O professor sorteia e anuncia a operação que será realizada pelos alunos;

Todos devem procurar as respostas em sua cartela;

O primeiro aluno a completar a tabela vence o jogo.

Os alunos podem confeccionar as tabelas como preparação. Este tipo de jogo pode ser adaptado a outros conteúdos.

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